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TEORIA DOS TRATAMENTOS

TÉRMICOS DOS METAIS

ILIA NOVIKOV

Tradução
Joel RegueiraTeodósio


'
1

A moderna tecnologia fez com que não só a distância fisica


entre os povos e setores da sociedade, mas também a distância entre as
idéias, fosse encurtada.
Ao patrocinar a publicação do livro Teoria dos Tratamentos
Térmicos dos Metais de Ilia Novikov a Billiton Metais S.A. e a Valesul
Alumínio S.A. abrem uma porta de comunicação entre a indústria e as
comunidades científica e acadêmica no sentido do avanço e aprimora-
mento dos processos metalúrgicos no Brasil com a integração da teoria à
prática, com evidentes vantagens para todos.
Billinton Metais S.A. e Valesu! Alumínio S.A., convictos de Editora UFRJ
que o conhecimento não pode ter limites, vêem nesta edição uma forma 1994
de estimular e difundir o conhecimento em sua área de atuação.
, Copyright© 1994 by Ilia Novikov
Prefácio à edição brasileira

Coordenação de Produção
LeilaName
Capa
Alice Brito
Projeto Gráfico e Desenho Técnico
Janise Duarte
Revisão
Alexander Mark Salz

Ficha Catalográfica elaborada pela Durante minha estada no Brasil mantive um estreito relacio-
Divisão de Processamento Técnico - SIBI/UFRJ
namento com pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Ja-
N943 Novikov, Ilia
neiro (UFRJ), especialmente da Coordenação dos Programas de Pós-
graduao~ão de Engenharia, (COPPE), onde proferi conferências ao longo
Teoria dos tratamentos térmicos dos metais / Ilia
Novikov; trad. de Joel Regueira Teodósio. - Rio de Janeiro:
de dois meses. Esta experiência me deixou convencido do elevado nível
Editora UFRJ, 1994. científico dos docentes e 'doutorandos daquela instituição, para não fa-
568 p.; 160 x 230 cm (série Paradigma) lar dos engenheiros formados, cujo trabalho, no campo da Metalurgia
1 Inclui bibliografia
Física, pude observar durante a visita que fizemos à. fábrica VALESUL,
1, do Rio de Janeiro.
1. Metalurgia Física. 2. Metais - Tratamento térmico -
Teoria. !. Título Meu objetivo é que esta tradução para o Português facilite os
coo 669.96
estudos sobre a teoria doi; tratamentos térmicos, que é um aspecto fun-
damental da Metalurgia Física, reduzindo a escassez de bibliografia dis-
ISBN 85-7108-078-X ponível neste assunto em Língua Portuguesa.
As duas primeiras edições russas de Teoria dos Tratamentos
Editora UFRJ Térmicos dos Metais foram traduzidas para o Inglês, Chinês e Árabe.
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Forum de Ciência e Cultura
Esta tradução foi feita a partir da quarta edição russa, já revista e com-
Av. Pasteur, 250/sala 1.06 - Rio de Janeiro plementada de acordo com as novas descobertas neste ramo da ciência,
CEP 22295-900 dando conta do surgimento de novos métodos e novos tipos de trata-
Tel.: (021) 295-1397 (021) 295-1595 r. 35/39
FAX: (021) 295-2346
mentos térmicos.
A importância desta tradução figura também na competência
Conselho Editorial
do professor Joel Reguei~a Teodósio, que, além de conhecedor do idioma
Darcy Fontoura de Almeida, Gerd Bornheim, Gilberto Velho
Giulio Massarani, José Murilo de Carvalho, Margarida de ' russo, é especialista em Metalurgia Física, disciplina que leciona na
Souza Neves, Silviano Santiago, Wa:iderley Guilherme dos Santos UFRJ. Por este motivo, estou certo de que a tradução se deu com fide-
lidade, sem qualquer possibilidade de erro.
Apoio Para escrever este livro servi-me de resultados experimentais
Billiton Metais S.A.Nalesul Alumínio S.A. próprios, em particular sobre a homogeneização de lingotes, influência
Fundação Universitária José Bonifácio
ii l. /. Novikov
Sumário
de diversos fatores no tamanho de grão recristalizado, natureza do su-
peraquecimento de latão bifásico, processo de decomposição de soluções Introdução
1
sólidas superresfriadas em ligas de alumínio (curvas-C, temperalidade), 2
1 Breve esboço histórico
têmpera com fusão superficial e outros. Fique claro que o livro, an- 2 Classificação dos tipos de tratamentos térmicos 7
tes de mais nada, baseia-se em resultados experimentais de trabalhos
realizados em diversos países.
Por fim,' aproveito para enviar as mais sinceras saudações a PARTE I RECOZIMENTO DE PRIMEIRO TIPO
todos os brasileiros com os quais convivi, tanto no Rio de Janeiro como
em outras cidades do Brasil, em cujas universidades realizei conferências. Capítulo 1. Recozimento de homogeneização 13
1.1 Modificações na estrutura das ligas submetidas ao recozi-
Moscou, maio de 1993. 13
mento de homogeneização
1.1.l Modificações principais na estrutura 15
1.1.2 Modificações Secundárias na Estrutura 24
1.2 Modificações nas propriedades das ligas com. o recozi-
mento de homogeneização 27
1.2.1 Ligas fundidas 27
1.2.2 Ligas deformadas 28
1.3 Homogeneização com aquecimento a temperatura acima
da linha solidus de não-equilíbrio 30

Capítulo 2. Recozimento de recristalização e recuperação 35


2.1 Modificações na estrutura do metal submetido a trata-
mento de deformação a frio 35
2.1.1 Modificações na forma e na orientação cristalográfica dos
grãos 35
2.1.2 Modificações na estrutura interna dos grãos 36
2.2 Modificações nas propriedades dos metais submetidos a
trabalho de deformação a frio 44
2.2.1 Encruamento 44
2.2.2 Anisotropia de propriedades 46
2.3 Modificações na estrutura devido ao recozimento de recu-
peração 47
2.3.1 Relaxamento 48
2.3.2 Poligonização 50
2.4 Recristalização primária e tratamento de recristalização 57
2.4.1 iVlecanismo de snrgimcnto dos núcleos recristalizados 60
2.4.2 Temperatura ele início de recristalização 65

lll
2.4.3 Influência da composição da liga na temperatura de início 4.l. Termodinâmiq das transformações de fases 137
de recristalização 68 4.2 Papel da estrutura dos contornos entre as fases, durante
2.4.4 Temperatura de final de recristalização 71 as transformações de fases 148
2.4.5 Crescimento de grão durante a recristalização primária 4.~: Nucleação homogênea e heterogênea de fases 151
71
2.5 Crescimento normal de grão 73 4.~u N ucleação nos contornos de grão 152
2.6 Texturas de recristalizaç.ão 7·9 4.~:.2 Nucleação nas discordâncias 156
2.6.1 Lei:s básicas da formação da textura de recristalização 4.~:.3 Nucleação nas falhas de empilhamento 156
79
2.6.2 Natureza da textura de recristalização 81 4.~:.4 N ucleação nas inclusões 157
2.7 Recristalização secundária 83 4.~:.5 Nucleação em microdescontinuidades 157
2.7.1 Leis da recristalização secundária 83 4A Formação de fases metaestáveis intermediárias 158
2.7.2 Natureza da recristalização secundária 85 Cinética de transformação de fases 163
2.8 Dimensão do grão recristalizado 87
2.8.1 Influência da temperatura e tempo de recozimento 88 Capítulo5. Recozimento dos aços 173
2.8.2 Influência do grau de deformação 90 5.1 Formação da austenita com o aquecimento 173
2.8.3 Influência da composição química e da constituição de
5.1.1 Mecanismo e cinética da austenitização 173
fases 94 5.1.2 Tamanho de grão da austenita 181
2.8.4 Diagramas de recristalização 95 5.2 Estrutura hereditária e transrecristalização da austenita 185
2.8.5 Estruturas multigranulares 97 5.3 Transformação .da austenita, por difusão, durante ores-
2.9 Modificações das propriedades dos metais submetidos a
friamento 188
recozimento de recuperação e recristalização 98 5.3.1 Transformação perlítica 188
2.9.l Restauração durante o recozimento 99 5.3.2 Transformação da austenita nos aços hipoeutetóides e
2.9.2 Endurecimento durante o recozimento de recuperação 106 hipereutetóides 194
2.9.3 Modificações da resistência elétrica com o recozimento 109 5.3.3 Influência dos elementos de liga na transformação perlí-
2.10 Anisotropia de propridades dos metais recozidos 110 tica 201
2.10.1 I3ordeamento 110 5.4 Variedades de tratamentos térmicos dos aços 203
2.10.2 Aço texturado para transformador 113 5.4.1 Recozimento pleno 204
2.11 Escolha dos regimes de recozimentos de recuperação e
5.4.2 Recozimento não-pleno 206
recristalização 114 5.4.3 Recozimento de esferoidização 206
2.11.1 Recozimento de recuperação 114 5.4.4 Recozimento isotérmico 210
2.11.2 Recozimento de recristalização 116 5.4.5 Normalização 212
5.4.6 Patenteamento 214
Capítulo 3. Recozimento de alívio de tensões. 121
3.1 Origem e papel das tensões residuais 121 Capítulo6. Recozimento dos ferros fundidos 217
3.2 Diminuição das tensões residuais com o recozimento 126 6.1 Recozimento de grafitização do ferro fundido 218
6.1.1 Recozimento de maleabilização do ferro fundido branco 218
6.1.2 Recozimento de. eliminação de coquilhamento 226
PARTE II RECOZIMENTO DE SEGUNDO TIPO 6.1.3 Recozimento de amolecimento à baixa temperatura 226
6.2 Normalização do ferro fundido 227
Capítulo 4. Princípios gerais da transformação de fases no
estado sólido 137 Capítulo 7. Recozimento dos metais e ligas não-ferrosas 229
7.1 Recozimento de heterogeneização 229
lV
V
7.Ll Recozimento de heterogeneização para amolecimento de 9.4.2 Subestrutura 284
semifabricados deformados 230 9.4.3 Passagem de um tipo de morfologia da martensita para
7.1.2 Recozimento de heterogeneização para melhorar a defor- o outro tipo 286
mabilidade dos lingotes 233 9.5 Cinética das transformações martensíticas 288
7.1.3 Recozimento de heterogeneização para elevação da re- 9.5.1 Variedades de cinética 288
sistência à corrosão 234 9.5.2 Estabilização térmica da austenita 296
7.1.4 Influência do sobreaquecimento no lingote de latão 9.6 Influência da deformação na transformação martensítica 299
(a+ ,B) 235 9.6.1 Martensita de tensão e martensita de deformação 299
7.2 Recozimento com transrecristalização de fase 236 9.6.2 Efeito de memória e superelasticidade 302
9.6.3 Estabilização mecânica da austenita 306
9.7 Variações das propriedades das ligas com a têmpera em
martensita 307
PARTE III TÊMPERA
9.7.1 Endurecimento com a têmpera 307
9.7.2 Variações da plasticidade com a têmpera 311
Capítulo 8. Têmpera sem transformação polimórfica 241 9.8 Transformação bainítica 313
8.1 Variação das propriedades com a têmpera sem transfor- 9.8.1 Estrutura da bainita 313
mação polimórfica 243 9.4.2 Cinética da transformação bainítica 314
8.2 Aquecimento e resfriamento na têmpera sem transforma- 9.4.3 Mecanismo da transformação bainítica 316
ção polimórfica 245 9.4.4 Propriedades mecânicas do aço com estrutura bainítica 319
8.2.l Aquecimento na têmpera 245 9.9 Temperabilidade dos aços 321
8.2.2 Resfriamento durante a têmpera 248 9.9.1 Temperabilidade e velocidade crítica de resfriamento 321
9.9.2 c'aracterísticas da temperabilidade 325
Capítulo 9. Têmpera com transformação polimórfica 255 9.10 Têmpera volumétrica dos aços 328
9.10.1 Aquecimento de têmpera 328
9.1 Particularidades da transformação rnartensítica, em aço 9.10.2 Resfriamento durante a têmpera 329
ao carbono 255 9.10.3 Variedades de têmpera 331
9.2 Termodinâmica das transformações martensíticas 259 9.10.4 Têmpera com tratamento a frio 334
9.2.1 Temperatura de início da transformação martensítica 264 9.10.5 Têmpera a partir de temperaturas do intervalo
9.2.2 Reversibilidade da transformação martensítica 265 intercrítico 335
9.3 Mecanismo da transformação martensítica 267 9.11 Têmpera superficial dos aços 337
9.3.1 Mecanismo de cisalhamento (martensítico) e de trans- 9.11.l Têmpera com aquecimento por indução. 337
formação normal da rede 267 9.ll.2Têmpera com aquecimento laser 340
9.3.2 Equilíbrio termo-elástico de fases 270 9.11.3 Têmpera com aquecimento de chama de combustão 341
9.3.3 Condições para ocorrência das transformações normal e
martensítica 271
9.3.4 Geometria cristalina da transformação de austenita em Capítulo 10. Têmpera com fusão superficial 343
martensita 273 10.1 Princípios gerais da formação da estrutura, durante res-
9.3.5 Invariância dos planos de hábito da martensita, e de- friamento ultra-rápido da massa líquida 344
formação de acomodação na transformação martensítica 276 10.1.1 Microestrutura 345
9.3.6 N ucleação da martensita 278 10.1.2 Composição de fases 346
9.4 Microestrutura e subestrutura das ligas temperadas em 10.2 Variações de estruturas e propriedades na têmpera com
martensita 280 fusão superficial 349
9.4.l Microestrutura 280 10.2.1 Têmpera dos ferros fundidos 350

Vl Vll
10.2.2 Têmpera dos aços 351
10.2.3 Têmpera das ligas de metais não-ferrosos 352 12.2 Variações das propriedades mecânicas com o revenido
dos aços. Escolha do regime de revenido 450
12.2.1 Aços ao carbono 450
12.2.2 Aços ligados 455
PARTE IV ENVELHECIMENTO E REVENIDO 12.3 Fragilidade de revenido 457
12.3.1 Fragilidade irreversível de revenido 457
Capítulo 11. Envelhecimento 357 12.3.2 Fragilidade reversível de revenido 459
11.1 Termodinâmica dos processos de precipitação desde a
solução sólida 360
11.l.l Decomposição espinoidal 362
11.1.2 Decomposição pelo mecanismo de nucleação e cresci- PARTE V TRATAMENTO TERMOMECÂNICO
mento de núcleos 364
11.l.3 Variações de Estrutura com o Envelhecimento 367
Capítulo 13. Variações das estruturas do metal, com trata-
11.l.4 Tipos de precipitados 368
mento de deformação a quente 475
11.l.5 Forma de distribuição espacial dos precipitados 368
11.l.6 Variações estruturais com a decomposição espinoidal 374 13.1 Modificações estruturais durante a deformação a quente 476
11. l. 7 Decomposições contínua e descontínua 376 13.1.1 Recuperação dinâmica 477
11.1.8 Estágios de decomposição da solução com endureci- 13.1.2 Recristalização dinâmica 479
mento por dispersão 386 13.1.3 Variações estruturais após o término da deformação a
11.2 Variação das propriedades das ligas com o envelheci- quente 482
mento 406
11.2.l Natureza do endurecimento com o envelhecimento 406 Capítt:Jo 14. Tratamento termomecânico das ligas
11.2.2 Valor do endurecimento com a formação de precipita- envelhecíveis 491
dos de diversos tipos 408
11.2.3 Influência do tempo e da temperatura de envelheci- 14.1 Tratamento termomecânico à baixa temperatura
(t.t.m.b.t.) 491
mento nas propriedades mecânicas das ligas 411
11.3 Influência da composição da liga no envelhecimento 419 14.2 Tratamento termomecânico à alta temperatura
419 (t.t.m.a.t.) 497
11.3.1 Influência da composição nos sistemas binários
11.3.2 Influência da composição nos sistemas ternários 421 14.3 Tratamento termomecânico preliminar (t.t.m.p.) 500
11.3.3 Influência de pequenas adições e impurezas 423
11.4 Escolha do regime de envelhecimento 425 Capítulo 15. Tratamento termomecânico dos aços tempera-
11.4.1 Escolha da temperatura e da duração do envelhecimento 425 dos em martensita 503
11.4.2 Envelhecimento por degraus 428
A
15.l Tratamento termomecânico à baixa temperatura
.,
1 11.4.3 Envelhecimento sob tensão 434

(t.t.m.b.t.) 503
~.....· 11.5 Recuperação após o envelhecimento 435
15.2 Tratamento termomecânico à alta temperatura

!'·'.
•.

{1 (t.t.m.a.t.) 505
Capítulo 12. Revenido 439 15.3 Tratamento termomecânico com deformação durante a
12.1 Mudanças de estrutura com o revenido dos aços 440 transformação perlítica 508
' 12 .1.1 Revenido dos aços ao carbono 440 15.4 Laminação controlada 509
12.1.2 Influências dos elementos de liga 447 15.5 Tratamento termomecânico preliminar ( t. t.m. p.) 510
t

Vlll IX
Prefácio à quarta edição
Capítulo 16. Princípios das variações de composição e estru-
tura com o tratamento termoquímico 511
16.l Formação da zona monofásica de difusão 512
16.2 Formação de zona polifásica de difusão 514
16.3 Particularidades da estrutura da zona de difusão 525

Capítulo 17. Variedades de tratamentos termoquímicos 529


17.l Saturação com não-metais por difusão 531
17.2 Saturação com metais por difusão 537
17.3 Remoção dos elementos por difusão 538

Apêndice 541 O livro foi escrito de acordo corno programa curricular do curso
"Teoria dos Tratamentos Térmicos", ministrado pelo autor há muitos
-;45
Bibliografia anos no Instituto de Aços e Ligas de Moscou.
A teoria dos tratamentos térmicos é uma disciplina central na
preparaçã? dos metalurgistas físicos e térmicos. Antes deste tema, o es-
tudante deve assimilar a físico-química, cristalografia, rnetalografia, bern
corno ter conhecimentos sobre os defeitos da estrutura cristalográfica das
propriedades mecânicas e dos métodos de in,.;.estigação dos metais. Por
sua vez, a teoria dos tratamentos térmicos é a base para o estudo da
tecnologia dos tratamentos térmicos, e para tópicos de cursos especiais
de metalurgia física, tais corno "Aços Ligados" e "Ligas de Metais não-
ferrosos".
Nas duas últimas décadas a teoria dos tratamentos térmicos
desenvolveu-se muito rapidamente. Para este desenvolvimento o que
mais contribuiu foi a maior utilização de suposições científicas e de
métodos experimentais de física dos metais. O objetivo era o enten-
dimento mais profundo da natureza, dos mecanismos e da cinética das
variações estruturais, bem como dos princípios das modificações das pro-
priedades dos metais e ligas, sujeitos à ação do calor. Corno resultado,
foram detalhadamente estudados os processos de tratamentos térmicos
de materiais metálicos novos e dos utilizados há muito tempo. Em um
mesmo livro texto não é possível descrever tanto a teoria geral dos tra-
tamentos térmicos quanto as particularidades dos tratamentos térmicos
de grupos específicos de ligas.
No livro são feitas as análises das variações, estruturais e de pro-
priedc.dcs, provocadas pela ação do calor no metal. Nestas análises, uma

X
iv !. !. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais V

grande atenção é dedicada às modificações estruturais, como a recris- têmp,era superficial em martensita com a utilização do aquecimento laser
talização, transformação martensítica, decomposição da solução sólida, (§9.11, item 2), envelhecimento sob tensão (§11.2, item 2 e §11.5, item
homogeneização e outras, encontradas com freqüência durante os trata- 3), revenido sob tensão (§12.2, item 2), e laminação controlada (§15.4).
mentos térmicos de diversos grupos de materiais metálicos. Foram ampliadas as informações sobre a formação da austenita (§5.1),
O livro está estruturado de acordo com a conhecida classificação sobre os efeitos da memória de forma (§9.6, item 2), sobre a cinética
dos tipos de tratamentos térmicos do acadêmico A. A. Bochivar, e com a do envelhecimento (§11.2, item 5), e sobre a variação das proprieda-
classificação e terminologia recomendadas para os tratamentos térmicos des de resistência em função do tempo de envelhecimento (§11.3, item
pela Comissão de Padronização do Comitê de Ajuda Mútua Econômica. 3). Foram também incluídas modificações e complementações em outras
São apresentados mais detalhadamente os processos de reco- partes.
zimento, têmpera, revenido, envelhecimento e os tratamentos termo- O autor agradece ao coletivo da cátedra de tratamentos térmi-
mecânicos. São vistos menos detalhadamente os tratamentos termoquí- cos e física dos metais do Instituto Politécnico dos Urais (cátedra do Prof.
micos. Isto porque estes últimos são estudados em proporções diferentes M. 1. Goldstein), pela análise crítica detalhada do manuscrito, ao acadê-
pelos estudantes das diversas especialidades, e para o estudo minucioso mico V. D. Sadoviski, aos professores V. M. Gasovi, S. S. Diachenco, V.
dos mesmos geralmente se recorre a cursos especiais. C. Zclotorevisk, V. Iu. Novikov, A. G. Raschtadt, Iu. A. Skakov, V. M.
Durante a exposição da teoria geral dos tratamentos térmicos, Schatlivitsev, M. A. Xtremiliu e ao doutor A. 1. Novikov, pela discussão
cada tipo de tratamento foi analisado com base em exemplos das ligas de partes específicas e pelas observações que ajudaram a melhorar o
ferrosas ou de metais não-ferrosos, que foram investigados mais detalha- livro.
damente e, como regra, têm maior significação prática.
No apêndice do final do livro, são mostradas as composições
químicas dos aços e ligas de metais não-ferrosos, que foram mencionados
no texto.
Na quarta edição deste livro texto, foram incluídas comple-
mentações e correções de acordo com o novo programa curricular do
curso. Também foram consideradas as conquistas na teoria dos trata-
mentos térmicos durante os oito anos que transcorreram desde a primeira
edição.
No livro texto foi incluído um capítulo sobre um novo tipo de
tratamento térmico: a têmpera com fusão superficial (cap. X). Os espe-
cialistas que conheceram o livro manuscrito expressaram uma oposição
de ponto de vista, sobre a utilidade de especificar a têmpera com fusão
superficial, como um tipo independente de tratamento térmico. O au-
tor está convencido da legitimidade e da necessidade desta especificação,
pois as variações de fases e estruturas durante o citado tratamento (que
determinam sua principal vantagem), em princípio se diferenciam das
modificações estruturais e de fases durante os outros tipos de têmpera.
As partes novas incluídas são as relativas a: transformação eu-
tetóide anormal nos aços (§5.3, item 2), recozimento de heterogeneização
para melhorar a defonnabilidade dos lingotes (§7.1, item 2), têmpera
dos aços desde temperaturas do intervalo intermediário (§9.1, item 5),
Introdução

Tratamentos térmicos são os processos de tratamento das peças


de metais e ligas, através da ação do calor, com o objetivo de modificar
suas estruturas e propriedades em determinada direção.
Esta ação pode também combinar-se com ações química, de
deformação, magnética e outras.
O tratamento térmico é o método mais propagado na técnica
moderna para modificar as propriedades dos metais e ligas. Nas usi-
nas metalúrgicas e de construção mecânica, o tratamento térmico é urn
dos grupos mais importantes do processo tecnológico de produção de
serniprodutos e peças de máquinas. O tratamento térmico é empregado
corno operação intermediária para melhorar as propriedades tecnológicas
(deformabilidade sob pressão, usinabilidade e outras). Também é em-
pregado corno operação final para dar ao metal ou liga urn conjunto
de propriedades mecânicas, físicas e químicas, as quais garantem as
características necessárias para a utilização das peças. Quanto mais
responsável for a estrutura, como regra, mais componentes tratados ter-
micarnente são incluídos.
A teoria dos tratamentos térmicos é parte da metalugia física.
O principal na metalurgia física é o estudo das relações entre as es-
truturas e as propriedades tecnicamente importantes dos metais e li-
gas. Com o aquecimento e o resfriamento, varia a estrutura do material
metálico. Isto possibilita a modificação das propriedades mecânicas,
físicas e químicas, e influi no comportamento destes materiais durante a
fabricação e utilização.
A teoria dos tratamentos térmicos consiste no estudo das mo-
dificações das estruturas e propriedades do metal ou liga sujeito à ação
do calor, e que não desaparecem após o término do tratamento.
/. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 3
2

Pela profundidade e pela diversidade de variações estruturais reirns se deparavam com uma brusca melhoria da qualidade das armas
que surgem como resultado dos tratamentos térmicos, não se pode com- e instrumentos de trabalho feitos de ferro.
pará-los nem com a ação mecânica nem com qualquer outro tipo de ação A descoberta da via úmida para produção de ferro, e a pos-
no metal. terior cementação e têmpera, foi uma das conquistas mais importantes
na história da sociedade humana. O estudo metalográfico da técnica
Galega (Europa Central) de forjamento mostrou que a cementação de
1. Breve .~sboço histórico. p~;as de ferro (facas pontiagudas) e a posterior têmpera das mesmas em
.água, já era conhecida no ínicio do milênio antes de nossa era. Contudo,
O homem utiliza o tratamento térmico desde os tempos anti- este tipo de tratamento térmico de endurecimento era, naquele tempo,
gos. As análises de descobertas arqueológicas permitem fazer conclusões pouco utilizado.
sobre o tempo de surgimento e o caráter das operações de tratamentos Na Grécia e Roma Antigas o tratamento térmico de endureci-
térmicos. No período de transição da idade da pedra para a do bronze mento do aço era bem conhecido, o que é confirmado pelas menções dos
(na época neolítica), surgiram as primeiras peças metálicas obtidas por autores antigos sobre a têmpera. Na Odisséia de Homero (sécs. VIII-VII
forjamento com a ajuda do martelo de pedra, de ouro e cobre naturais, antes de nossa era), na nona canção lê-se: "Como o ferreiro submerge o
e depois de cobre fundido do minério. machado ou a ferramenta incandescente na água fria, e o ferro começa a
A utilização do forjamento a frio entre os homens primitivos sib:Jar com borbulhamento, o ferro é mais forte quando temperado em
foi prejudicada pelo fenômeno de encruamento. Este dificultava a con- fogo e água" (Tradução de P. A. Xyiski). Aristóteles (Século IV antes
formação das peças com gumes finos e pontas agudas. Para restauração de nossa era) assinalou que se obtém melhor aço com o aquecimento do
da dutilidade, os ferreiros deviam aquecer na chama o cobre forjado a ferro na fornalha várias vezes. Este tratamento conduzia à carbonetação
frio. As evidências mais longínquas sobre a utilização deste tipo de reco- do ferro e garantia elevada resistência após a têmpera, bem como elevada
zimento de recristalização datam. de cinco mil anos antes de nossa era, e dureza da peça. Aristóteles lembrou a têmpera do aço no óleo. Plínio,
foram obtidas com a investigação de peças forjadas (por exemplo facas) o Velho, (séc. I), escreveu que peças finas do aço eram temperadas em
de cobre fundido da época da cultura neolítica no sul da Turquia. Sem óleo, para evitar o empeno e trincamento.
recozimento intermediário de recristalização para restaurar a dutilidade, A análise metalográfica dos descobrimentos arqueológicos eu-
seria impossível a fabricação por forjamento de folhas finas de cobre e ropeus mostra que o aço (ferro carbonetado) e a têmpera das peças de
folhas de bronze. Estas folhas serviam para a elaboração de vasilhas, o aço entraram em uso generalizado desde os séculos V-VI antes de nossa
que ocorreu em quantidade significativa dois mil anos antes de nossa era era. A têmpera das ligas de cobre também foi conhecida pelo homem
(na idade do broµze). ainda antes de nossa era. Investigações relativamente recentes de folhas
Desta maneira, o recozimento de recristalização foi a primeira de bronze de alto teor de estanho (Itália, séculos V-IV antes de nossa
operação de tratamento térmico. Foi utilizado, inicialmente, cinco milê- era) e cristais de Sármata (Volga, sécs. IV-II antes de nossa era), mos-
nios antes de nossa era. traram que estas peças foram temperadas em martensita na água, com
A têmpera surgiu muito depois do recozimento. A produção 0 objetivo principal de melhorar o brilho do cristal durante o polimento.

metalúrgica do ferro começou no final do ano dois mil antes de nossa Na Idade Média utilizaram-se as mais variadas operações tec-
era. O ferro era então obtido diretamente do minério de ferro, por via nológicas: têmpera em líquidos, têmpera em corrente de ar, têmpera
úmida. Devido ao baixo teor de carbono, as armas deste ferro não po- localizada de lâminas, revenidos de baixa, média e elevada temperatura,
diam ser endurecidas por têmpera. Nos primeiros períodos de utilização cernentação, proteção do aço contra a descarbonetação durante o aque-
do ferro, a têmpera era realizada simultaneamente com a cementação. cimento, recozimento de recristalização e outras.
Ao aquecer a peça bruta em fogo de carvão vegetal para o forjamento, Estudos de micro-estruturas, análises por raios-x e medidas de
isto é, ao realizar, a carbonetação e em seguida resfriar em água, os fer- rnicro<lurezas de muitas centenas de descobertas antigas dos séculos X-

Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 5
L L Novikov
4 ------------

XV mostraram que 90% das ferramentas de trabalho e armas de aço fusão e fundição do aço. Apesar disto, durante os ensaios de artilharia,
que foram analisadas encontavam-se no estado tratado termicamente. muito freqüentemente as armas de aço fraturavam.
Destes 90%, um terço estava temperado, e o restante temperado e reve- Muitas armas pesadas de aço, sem motivos visíveis, se rompe-
nido. A cementação em carvão vegetal ou substâncias semelhantes era ram na guerra entre a Prússia e a Áustria, no ano de 1886. Estabeleceu-
utilizada em facas, espadas, lanças, limas, cortadores e outros instru- se uma crise de credibilidade do aço como material destinado às armas
mentos. O tratamento térmico de armas de corte e de perfuração foi de artilharia, e iniciou-se o retomo aos canhões de bronze.
bastante desenvolvido na Idade Média. Por exemplo, limas famosas de Em 1886, na usina de fundição de aço Oburrov, em Peter-
aço de "damasco" possuíam excelentes propriedades de corte e elastici- sburgo, Dimitri Konstantinovichi Chernov (1839-1921) foi convidado
dade, graças à combinação de fabricação por meio de fusão, forjamento para o cargo de técnico em fundição. Em 1868, na sociedade técnica da
e tratamento térmico. Rússia, Chernov apresentou o extraordinário relatório "Análise crítica
Não conhecendo as transformações internas do metal, os mes- dos artigos de Lavirov e Kalakutrisk sobre o aço e as armas de aços,
tres da Idade Média atribuíram a obtenção de elevadas propriedades com e as investigações particulares de D. K. Chernov sobre este mesmo as-
o tratarnenro térmico às forças sobrenaturais. Os métodos de tratamento sunto" 1 . Neste relatório ele anuncia os resultados do trabalho de elu-
térmico do aço, particularmente das armas resfriadas, foram descritos cidação das causas dos defeitos das peças de aço forjado. Observando
detalhadamente na literatura da Idade Média. Se forem suprimidos al- em microscópio as amostras preparadas da boca das armas, e estudando
guns detalhes e conjecturas dos receituários de tratamentos térmicos da sob lupa a estrutura das fraturas nos locais de rompimento, Chernov
Idade Média, grande parte destes receituários mostra-se justificável do chegou à conclusão de que o aço é tanto mais resistente quanto mais
ponto de vista do termista moderno. refinada for sua estrutura. Então, ele "passou a procurar a causa da .
obtenção de estrutura refinada do aço". A~, investigações comparativas
O tratamento térmico foi utilizado na Idade Média corno ope-
do aço após forjamento a várias temperaturas mostraram que "as mo-
ração tecnológica. Porém, seu desenvolvimento como ciência tornou-
dificações na estrutura do aço devem ser relacionadas com a influência
se possível apenas a partir de meados do século XIX. Até esta época, da temperatura, e não propriamente com o trabalho mecânico". Após
os conhecimentos do homem sobre os tratamentos térmicos eram re-
esta conclusão, era necessário, para cada tipo de aço com determinado
presentados por um conjunto de receituários, elaborados com base em
teor de carbono, achar as temperaturas com as quais se modifica a estru-
experiências de muitos séculos. Estes receituários, freqüentemente va-
tura. D.K.Chernov expressou a suposição genial de que as modificações
liosos, eram transmitidos de geração para geração. Às vezes se perdiam superficiais que se mostram visíveis em peças forjadas incandescentes,
através dos séculos os segredos da realização de operações isoladas, mas resfriadas desde duas temperaturas diferentes, estão relacionadas com as
surgiam novamente. Porém, a verdadeira natureza dos processos que modificações da estrutura no interior das mesmas. Chernov determinou
ocorriam no metal, durante o tratamento térmico, permaneceram corno estas temperaturas a olho nu, e as denominou de pontos Q e Q.. "O aço,
enigma. por mais duro que esteja, com o posterior aquecimento abaixo do ponto
O desenvolvimento técnico no Século XIX procurou transfor- a não recebe têmpera, por mais rápido que o mesmo seja resfriado".
mar o tratamento térmico, de arte em ciência. Em meados do século Para obter fratura de granulação fina, é necessário aquecer o aço um
XIX o exército e a marinha tentaram tornar mais resistentes os canhões pouco acima do ponto Q.
de bronze e ferro fundidos e, conseqüentemente, produzir armas de aço Desta maneira, D.K.Chernov, em 1868, descobriu as trans-
mais potentes. Iniciou-se a ampla produção de armas de artilharia de formações estruturais internas no aço e relacionou essas transformações
aço nos anos cinqüenta do século passado. Neste período era extre- com 0 regime calorífico da forja e a tecnologia do tratamento térmico.
mamente agudo o problema da fabricação de armas de canhão de aço,
com resistência elevada e garantida. Os eminentes metalurgistas daquele
1 Memória da Sociedade Técnica da Rússia, 1868, 7, p.399.
tempo, entre eles o General P.M. Oburrov, conheciam o receituário de
Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 7
/. /. Novikov

ligas de alumínio através de aquecimento e têmpera". Foi mostrado que


Foi este grande me~alurgista russo. que estabeleceu as bases científicas a resistência ao escoamento plástico das ligas fundidas de alumínio com
do tratamentos térmicos. cobre cresce, como resultado da têmpera, uma vez e meia.
O relatório básico de D.K. Chernov foi traduzido para muitas
línguas, e suas propostas sobre as regras de tratamento dos aços entra- Em 1906 o engenheiro alemão A. Vilm (1869-1937), ao inven-
ram em prática nas usinas de diversos países. Os trabalhos de Chernov tar o duralumínio, descobriu o envelhecimento após a têmpera, que é
nos campos da metalurgia física e tratamentos térmicos obtiveram re- um dos métodos básicos de endurecimento das ligas. Em 1919 o me-
conhecimento inter!1lacional. O conhecido metalurgista-físico americano talur.gista americano P. Merik (1889-1957) descobriu a natureza do en-
.f\.. Sover,. referindo-se a Chernov, escreveu: "Vós fundastes a teoria dos velhecimento dos duralumínios, relacionando o endurecimento durante
tr~taÍnentos térmicos dos aços, com mãos de mestre, e vossos alunos o envelhecimento com a formação de precipitados dispersos na solução
acrescentaram relat~vamente pouco a vossas proposições fundamentais". sólida supersaturada. Esta foi uma das conquistas mais eminentes da
A atividade de Chernov foi brilhantemente caracterizada em seu sepul- teoria dos tratamentos térmicos: através dos diagramas de equilíbrio,
tamento, pelo metalurgista-físico francês, professor A. Porteven: com a variação de solubilidade dos componentes no estado sólido, se tor-
nou ;possível.predizer a faixa de composições das ligas na qual é possível
Chernov foi (undador e dirigente de uma nova escola. Seus primeiros tra-
balhos servir~m de fundamento para posterior progresso surpreendente no
o endurecimento por precipitação.
campo da metalurgia do aço, no qual a intervenção da ciência manifestou- A partir dos anos vinte de nosso século, é caractérístico para o
se verdadeiramente revolucionária. Uma vida tão bela, que recebeu uma
desenvolvimento da teoria dos tratamentos térmicos o estudo detalhado
valorização itlternacional, é uma. elevada honra para a Rússia.
da natureza, mecanismo e cinética das transformações estruturais no
O eminente seguidor de D.K.Chernov, engenheiro francês Flo- estad.o sólido, com a ajuda de diversos tipos de métodos físicos de in-
res Osmond (1849-1912), utilizou em 1886 o termopar Le-Chatelier para vestigação, e antes de tudo pela análise de raios-X. Durante duas a três
determinar os pontos críticos do aço durante a análise térmica. Os tra- décadas foram acumuladas informações gerais sobre os princípios das
balhos de Osmond confirmaram e desenvolveram as conclusões de Cher- modificações da estrutura e das propriedades dos metais e ligas, sujeitos
iiov, .e atraíram a atenção de muitos metalúrgicos e químicos para o à açã.o do calor. Desde o final da década de cinqüenta, para revelar as
problema das transformações estruturais nos metais. Estes trabalhos modificações de subestrutura com o tratamento térmico, cada vez mais
· tan1bém serviram de estímulo suplementar para amplas investigações amplamente passou-se a utilizar o método de microscópio eletrônico de
. experimentais neste campo. transmissão (difração) .
A história da metalurgia física do final do século XIX e início
Na etapa atual o estudo dos defeitos da rede cristalina dos me-
do século XX caracteriza-se pela ampla aplicação dos estudos termodi-
tais é característico para a teoria dos tratamentos térmicos. Isto porque
n~micos sobre os eqµilíbrios heterogêneos aos sistemas metálicos. Em
estes defeitos proporcionam uma forte influência que, com freqüência, é
qíversos países tiveram início os trabalhos sistemáticos de construção dos
decisiva no mecanismo e nas leis das modificações estruturais.
(liágramas de equilíbtio. Estes diagramas de equilíbrio mostram quais as
possíveis transformações de fases nas ligas e, conseqüentemente, forne- Simultaneamente ao desenvolvimento das propostas teóricas,
ceiµ os dados iniciais para a análise dos principais tipos de tratamentos foram .elaborados novos métodos de tratamentos térmicos, como por
térmicos. exemplo o tratamento termomecânico, o revenido e o envelhecimento
As primeiras investigações fortes no campo dos tratamentos sob tensão, a têmpera com fusão superficial e outros.
térmicos das ligas nãp-ferrosas foram realizadas no início do século XX. Com a soma de grande quantidade de investigações, formou-se
Em 1900, A.A. Baikov (1870-1946) demonstrou em ligas de cobre com a teoria dos tratamentos térmicos, a qual permite fundamentar cientifi-
~:-:->
: antimônio que a poss~bilidade de têmpera existe não apenas para os aços, camente a elaboração de processos tecnológicos e obter ligas com dadas
' 1•*' como anteriormente se considerava, mas também para ligas não-ferrosas. propriedades.
Em 1903 foi patente<i.do na Alemanha "o método de enriquecimento de
L L Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 9

2. Classificação dos tipos de tratamentos ténnicos. Os tratamentos térmicos subdividem~se em propriamente tér-
mico, termomecânico e termoquímico. O tratamento térmico inclui ape-
nas a ação térmica no metal. O termomecânico combina a ação térmica
Qualquer processo de tratamentÓ térmico pode ser descrito com com a deformação plástica, e o termoquímico combina as ações térmica
um gráfico. que mostre a variação da temperatura com o tempo. Por e química.
este gráfico pode-se determinar a temperatura de aquecimento, o tempo
O tratamento propriamento térmico inclui os seguintes tipos
de .~quecimento e resfriamento, as velocidades média e verdadeira de
básicos: recozimento de primeiro tipo; recozimento de segunto tipo;
aquecimento e resfriamento e· a duração geral do ciclo de tratamento.
Perém, pela forma deste gráfico, não é possível dizer nada sobre o tipo têmpera com transformação polimórfica; têmpera sem transformação
de tratamento térmico com o qual estamos lidando. Não se determina o polimórfica; revenido e envelhecimento. Estes tipos de tratamentos
térmicos aplicam-se tanto aos aços como aos metais e ligas não-ferrosas.
tipo de tratamento térmico pelo caráter da variação da temperatura com
Cada tipo de tratamento térmico subdivide-se em vários, específicos para
0 tempo, mas sim pelo tipo de modificações de fases e de estrutura no
as ligas com diversas composições.
metal. Baseando-se nesta última observação, A. A. Bochivar elaborou
uma classificação que abarca Uma grande quantidade de variantes dos Os processos suplementares durante o tratamento de deforma-
tratamentos térmicos de metais e ligas ferrosas e não-ferrosas. ção a quente, a fundição, a solda e outras operações tecnológicas são
Com base na classificação de A. A. Bochivar, a Comissão de tipos específicos de tratamentos térmicos. Por exemplo, a têmpera par-
Padronização do Comitê de Ajuda Mútua Econômica elaborou a clas- cial ou total acontece com o· resfriamento acelerado de lingotes, após
sificação dos tipos e variedades dos tratainentos térmicos dos aços e a solidificação dos mesmos. Durante a retificação de peças pode ocor-
metais e ligas não-ferrosas, bem como as correspondentes terminologias. rer revenido, devido ao aquecimento superficial. Durante a solda, e
Na figura 1 está indicado o esquema de classificação dos tipos básicos de sob a influência da zona termicamente ativada da mesma, pode ocorrer
tratamentos térmicos dos metais e ligas 2 • recozimento de recristalização etc. Os processos suplementares de tra-
tamentos térmicos são úteis, mas podem provocar também modificações
TRATAMENTO TÉRMICO indesejáveis na estrutura e nas propriedades das peças.
As denominações industriais dos processos específicos de tra-
TERMOQUIMICO
tamentos térmicos apareceram ao longo da história, e não se basearam
TERMOMECÃNICO
no caráter das transformações internas no metal ou liga, mas nos meros
sinais externos. Por isto, às vezes é utilizado o mesmo termo para deno-
...<> minar tratamentos térmicos diferentes, completamente diversos por suas
....
o
.Si<>
..ºº ~ essências físicas. Por exemplo, o aquecimento com a ultrapassagem do
.!~
w
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ºo ":Eo o
o Q. OQ. o: 0 IL a: ~ iA: ...i !! o õ ponto crítico, exposição e resfriamento ao ar, geralmente é denominado
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w processos que se relacionam ao recozimento de 2.Q. tipo, e nos aços de alto
o:a. '"'"
"'"' o w
"' carbono pode se formar martensita, isto é, pode ocorrer têmpera com
transformação polimórfica. Já algumas ligas não-ferrosas são submetidas
à têmpera sem transformação polifórmica, com este mesmo tratamento
Figura l. Esquema de classificação dos tipos de tratamentos térmicos térmico.
dos metais e ligas.
Pode-se citar muitos exemplos semelhantes a este. Em relação
2 ·Ef m complementação à classificação da Comissão de Padronização do Comitê de
a isto, para algumas denominações industriais dos tratamentos térmicos
às vezes é difícil entender qual a essência física dos processos, ou qua~
·Ajtiàa·Mútua Econômica, o autor incluiu neste esquema o novo tipo de tratamento
térmico, denominado "têmpera com fusão superficial" (cap. X). •
,
!. !. Novikov PARTE1
10
Recozimento de primeiro tipo

os processos a que se referem. Nestes casos, em lugar de fixar-se nos


termos industriais, ou paralelamente aos mesmos, é necessário utilizar a
terminologia científi~a da classificação dos tratamentos térmicos.

O recozimento de primeiro tipo elimina, parcialmente ou total-


mente, o afastamento do estado de equiliôrio originado com um trata-
mento térmico qualquer. Além disto, neste recozimento não há trans-
formação de fases. O recozimento de primeiro tipo pode ser precedido
de fundição, tratamento de deformação, soldagem, tratamento térmico
e outros processos tecnológicos.
Dependendo do grau de afastamento das condições de equillí-
brio, se diferenciam os seguintes recozimentos de primeiro tipo: homoge-
neizaçào, recuperação, recristalização e recozimento de alívio de tensões.
Os processos que eliminam o afastamento do estado de equihôrio são es-
pontâneos, e o aquecimento de recozimento do primeiro tipo conduz
apenas à aceleração destes processos. Os parâmetros básicos do recozi-
mento de primeiro tipo são a temperatura de aquecimento e o tempo de
exposiç:ão. As velocidades de aquecimento e resfriamento desempenham
papel secundário.
Recozimento de homogeneização
capítulo 1

O recozimento de homogeneização é um tratamento térmico


cujo processo principal é a liquidação das conseqüências da segregração
dendrítica.

1.1. Modificações na estrutura das ligas submetidas ao recozi-


mento de homogeneização.

Como resultado da segregação dendrítica, surgem microhetero-


geneidades químicas no interior dos cristais da solução sólida. Na matriz
da liga podem surgir fases de não-equilíbrio, em excesso. Por exemplo,
na liga X 1 da figura 2, com a cristalização em condições de equilíbrio, a
composição em todo o volume da solução sólida o: acompanha a curva
bs. A cristalização termina no ponto de equilíbrio da linha solidus s,
sem a formação do eutético. Com a cristalização em condições de não-
equilíbrio, a composição das camadas da solução o: que se formam mais
tarde estão mais ricas em componente B. A composição das camadas da
solução o: que se formam antes não consegue variar segundo a linha bs.
A composição média dos primeiros cristais da liga X 1 varia segundo a
linha bc. A cristalização termina na temperatura eutética (ponto m).
Ao terminar a cristalização da liga X 1 , a concentração do ele-
mento de liga na célula dendrítica (na seção lateral das dendritas) está,
no mínimo, com o teor médio. Enquanto isto, na camada superficial a
composição corresponde ao ponto de máxima solubilidade na tempera-
tura eutética (ponto a, fig. 2). Esta liga, nas condições de equilíbrio, de-
veria ser monofásica. Como resultado da segregação dendrítica cristali-
l. l. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 15
capítulo 1

za-se um eutético de não-equilíbrio, cuja quantidade é cm/ce. Muito fre- ficiênci.as (defeitos):
üentemente, o eutético de não-equilíbrio transforma-se em fase /3 de ori- L Geralmente diminui a dutilidade da liga, se surgir em excesso a
~em eutética. Esta fase se localiza nos contornos das células dendríticas fase frágil, como resultado da segregação dendrítica. Particu-
(a fase a de composição igual ao ponto a do eutético cristaliza-se em larmente, diminui muito a dutilidade com a formação ao longo
forma de placas, e não se distingue estruturalmente). O ponto k no dos contornos das células dendríticas, de camadas compostas
diagrama de equilíbrio (fig. 2) é o limite de concentração que surge nes- de partículas grosseiras de compostos frágeis (intermetálicos,
tas condições do eutético de não-equilíbrio. Na faixa de velocidade de carbonetos etc.).
resfriamento durante a cristalização que se verifica nas condições de 2. As seções centrais das células dendríticas e seus contornos, os
produção, a difusão na solução sólida se reduz fortemente. A fase de quais possuem diferentes composições químicas, formam pa-
não-equilíbrio, em excesso, cristaliza-se com uma concentração excessi- res microgalvânicos. Por isto a segregação intercristalina da
vamente baixa de elemento de liga. solução sólida diminui a resistência à corrosão eletroquímica.
O surgimento de fase de não-equilíbrio (em excesso) na solução
sólida geralmente diminui também a resistência à corrosão.
:J;. Com tratamento de deformação, como a laminação e a pren-
sagem, as microsseções que possuem diferentes composições
químicas se esticam. Pode então surgir uma estrutura linear.
Esta estrutura produz anisotropia de propriedades na peça e
eleva a propensão para fratura intergranular e fibrosa. Na
direção transversal pode-se observar uma forte diminuição do
alongamento relativo, da redução de área e resistência ao im-
pacto.
4. A segregação dendrítica diminui a temperatura solidus da liga,
o que, como regra, é indesejável. Por exemplo, com o aque-
A x, 8
cimento rápido da peça durante tratamento de deformação ou
Figura 2. Solidus de não-equilíbrio A'ka no sistema de tipo eutético têmpera, é possível fundir parcialmente a mesma. Funde-se a
e curva de variação média bc da composição da solução sólida com
segregação dendrítica na liga X1 (esquema).
parte na qual se encontra o eutético de não-equilíbrio.
5. A estrutura e as propriedades da liga fundida são instáveis com
o tempo. Nas peças que trabalham com temperatura elevada,
Como exemplo, os dados abaixo correspondem à concentração gradualmente e espontaneamente se homogeneiza a composição
do segundo componente, para a solubilidade limite na temperatura eu- da solução sólida e elimina-se a fase em excesso. Estes proces-
tética ou peritétíca (a), bem como para o limite de concentração ( k) que sos provocam a aceleração da fluência e também a modificação
surge na fase de não-equilíbrio, nas condições de fundição em coquilha: gradual das propriedades, as quais podem ultrapassar o limite
do permissível.
Sistema Al-Cu Al--Mg Mg-Al Cu-Sn Para eliminação dos defeitos da estrutura de fundição, o lingote
a% .......... 5,7 15,4 12,7 13,5 ou a peça moldada são submetidos ao recozimento de homogeneização.
k% .......... 0,1 0,5 0,1 4,0 1.1.1. Modificações principais na estrutura. Nas ligas monofá-
sicas, como por exemplo no sistema cobre-níquel com solução sólida
Como resultado do afastamento das condições de equilíbrio no contínua, o principal processo durante o recozimento de homogeneização
processo de cristalização, a fundição de ligas contém as seguintes insu- é o nivelamento da composição química dos grãos da solução sólida.
/. /. Novikov
Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 17
capítulo 1
Com isto elimina-se a segregação intercristalina (fig. 3). Nas ligas que
contêm fase de não-equilíbrio em excesso, como por exemplo a liga X 1 limite na temperatura de homogeneização (por exemplo, ponto r na
da figura 2, acontecem dois processos principais durante o recozimento temperatura Tr, fig. 2). Esta concentração na camada periférica da
de homogeneização: nivelamento da concentração dentro dos grãos da solução a mantém-se constante, até o momento em que ainda exista a
solução sólida e dissolução da fase de não-equilíbrio em excesso. Na fase f3 em excesso (fig. 4).
base destes processos encontra-se a difusão. Por isto, o recozimento de
homogeneização também é chamado de difusional.
J3 a: jJ

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1.
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iq"
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1.
r .Ll

" p '1

Figura 4. Esquema de distribuição do elemento de liga através da seção


da célula dendrítica da solução a com fase f3 em seus contornos nos
momentos inicial (1), intermediário (2) e final (3) da homogeneização
(ponto r_, fig. 2 - A composição da liga se encontra à direita do ponto
!:_). .

O nivelamento da composição dentro da célula dendrítica é o


elemento controlador da homogeneização, o qual determina a velocidade
Figura 3. Microestruturas da liga Cu - 203 Ni . lOOX. e o tempo para a completa dissolução da fase f3 em excesso. Se separar-
a) após a fundição; b) após recozimento a lOOºC durante 40 horas. mos convencionalmente um processo do outro, isto é, o nivelamento da
composição dentro da fase a e a dissolução (em a) da fase f3 em excesso, é
possível descrever esquematicamente o seguinte modelo. O nivelamento
Na figura 4 mostra-se esquematicamente a distribuição do ele- da composição dentro da solução a leva à diminuição de sua concen-
mento de liga através da seção da célula dendrítica. A seção pq corres- tração no contorno com a fase /3, até um nível abaixo do ponto r nas
ponde à seção da célula dendrítica da primeira fase (a), e o corte hp figuras 2 e 4. A camada periférica da célula torna-se subsaturada em
à seção da segunda fase ((3) no contorno da célula dendrítica. A des- relação à fase (3. Por isto a fase /3 dissolve-se, elevando a concentração na
continuidade vertical da concentração no contorno da célula dendrítíca camada periférica da solução a, até estabelecer o equilíbrio. Este pro-
corresponde à distribuição da segunda fase.
cesso continua. Gradualmente o contorno a/ /3 mistura-se, no sentido
No início do recozimento de homogeneização, no contorno entre da fase (3 que continua dissolvendo-se. Nessas condições, a composição
a célula dendrítica e a fase (3 em excesso, estabelece-se a concentração de da fase a, ao longo da seção da célula dendrítica, tende a se nivelar
equilíbrio da solução o:. Esta concentração corresponde à solubilidade (linhas pontilhadas, fig. 4, correspondentes aos diferentes momentos do
processo de homogeneização).
18 l. l. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 19
capítulo 1

na direção perpendicular à seção.

l= -D 8c (1)
8x
O coeficiente de difusão D depende da natureza da liga, tipo e
composição da solução sólida, tamanho de grão e, de maneira particu-
larmente forte, da temperatura:
D= Ae-Q/RT (2)

onde R é a constante dos gases; T é a temperatura; Q é a energia de


ativação da difusão; A é uma constante, que praticamente não depende
o J s 7 t,h
Figura 5.
2
"
Variação da fração volumétrica (V) da estrutura solubili-
da temperatura.
A temperatura entra na expressão do coeficiente de difusão
zada e da estrição relativa a 400ºC (7/J) em função do tempo de ho-
mogeneização a 5002., do lingote de duralumínio D16 de 150 mm de
como expoente. Conseqüentemente, urna elevação relativamente pe-
diâmetro (I.1. Novikov; B.C. Zoloterevsk; T.N. Churbakov). quena da temperatura deve acelerar significativamente a difusão. Ge-
ralmente, o recozimento de homogeneização se faz a uma temperatra de
A fase f3 em excesso deve se dissolver de acordo corn o diagrama 0,9 a 0,95 Trusão, em escala absoluta, e perto do ponto de solidificação
de equilíbrio. Se isto acontecer, após sua completa dissolução, dentro de da liga. Algumas vezes, a temperatura de homogeneização encontra-·se
algum intervalo de tempo conclui-se o nivelamento da concentração no no intervalo de 0,8 a 0,9 Trusão·
interior da solução a. Se a composição da liga é tal que nas condições A energia de ativação da difusão, Q, promove a transferência
de equilíbrio ela não deve ser monofásiica, então corn a homogeneização dos átomos de um local para outro da rede. O átomo adquire de seus
dissolve-se apenas o excesso de não-equilíbrio da segunda fase (ou de vizinhos o e.xcesso de energia indispensável para esta transferência. Isto
várias fases). Nestas condições, após o recozimento permanece alguma porque os <Í•tomos trocam, continuamente, energia cinética. Pelo fato
quantidade de outra(s) fase(s) em equihbrio (fig. 4 e 5). A experiência de a energia de ativação encontrar-se corno expoente, ela exerce forte
corn ligas de alumínio mostra que o tempo para completa eliminação influência no valor do coeficiente de difusão.
da segregação intercristalina muitas vezes supera o tempo de completa A energia de ativação da difusão é menor para os elementos
dissolução (tp) do excesso da fase de não-equilíbrio. Registre-se que o que se dissolvem intersticialmente do que para os elementos que se dis-
tempo tp pode ser facilmente determinado, analisando-se a estrutura solvem substitucionalmente. Por exemplo, os elementos de liga que se
através de microscopia ótica. Para o estudo da cinética de nivelamento dissolvem substancialrnente na austenita possuem muito menor mobili-
da concentração no interior da solução sólida, é indispensável a uti- dade do que o carbono que se dissolve intersticialmente. A energia de
lização de análise através de microscopia eletrônica, mais cara e com- ativação para difusão do carbono na austenita, em aço médio carbono,
plexa. É inteiramente admissível, na maioria dos casos, avaliar o tempo é aproximadamente de 130 kcal/rnol. Já a energia de ativação para di-
para o término da homogeneização, através do tempo de conclusão da fusão dos elementos de 'liga mais importantes na austenita é geralmente
dissolução do excesso de fase de não-equilíbrio. super:tor a 250 kcal/mdl. A velocidade de difusão do carbono na auste-
nita é várias vezes maior que a velocidade de difusão dos elementos de
De acordo com a primeira lei de Fick, a corrente I de massa que liga mais importantes.
difunde, isto é, a quantidade de massa que atravessa a unidade de seção, Os lingotes d~ aço ao carbono geralmente não são submetidos
na unidade de tempo, é proporcional ao gradiente de concentração g~, ao recozimento de homogeneização. Isto porque, com o aquecimento
Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 21
20 I. I. Novikov capítulo 1

Com a diminuição das dimensões da seção dendrítica, cresce o


durante o tratamento de deformação a quente, devido à difusão rápida gradiente médio de concentração ao longo de sua seção. Isto conside-
do carbono na austenita, consegue-se liquidar a segregação dendrítica. rando constante a diferença de concentração na solução, entre o contorno
Nos aços ligados, para eliminar a segregação intercristalina e dissolver e 0 centro da célula. Assim sendo, de acordo com a lei de Fick, deve ser
excesso de carboneto de proveniência eutetóide, é necessário submeter acelerada a difusão. As dimensões da célula dendrítica também influem
os mesmos a um aquecimento especial (recozimento de homogeneização) na velocidade de homogeneização através da espessura da fase em ex-
entre 1050ºC e 1250°C. cesso. Isto porque, com a diminuição das dimensões da célula dendrítica,
Da lei de Fick deduz-se que o fluxo de difusão deve diminuir diminÚi também o tamanho da fase em excesso.
à medida que ocorre homogeneização. Isto porque o gradiente de con- É possível utilizar-se dois caminhos para a aceleração da ho-
centração g~· diminui com a homogeneização. Isto deduz-se do gráfico mogeneização. Estes caminhos são regu_lados pela ~icr?est~utura._ O
ilustrativo mostrado na figura 5, no qual a diminuição da quantidade da primeiro caminho é a elevação da veloc1~ade de cnstaliza~ao d~ hga.
fase em excesso, durante o recozimento do lingote de duralumínio D16, Quanto maior a velocidade de cristalizaçao, menores as d1mensoes ~a
nos trinta minutos iniciais do aquecimento é significativamente maior do célula dendrítica e mais finas as partículas da fase em excesso, as qualS
que nas últimas sete horas. se cristalizam nos contornos da célula dendrítica. Por isto os lingo-
Um tempo de exposição excessivamente grande, durante a ho- tes e peças fundidas, fabricadas com grande velocidade de resfriamento,
mogeneização, é irracional. Isto porque é pouco efetivo e conduz à uti- homogeneizam-se mais rapidamente. Ao mes:no te~po, nestas pe~, a
lização desnecessária de energia elétrica (calorífica), e à queda inútil de homogeneização é mais completa. Elas se d1ferenc1~m, desta man~1r_:i,
produtividade. A elevação da temperatura de recozimento é muito mais por serem de melhor qualidade. Por exemplo, o lingote de fund1çao
efetiva do que o prolongamento do tempo de exposição. contínua, com pequena espessura, homogeneiza-se mais _rapidamente ~ue
O tempo de exposição no recozimento de homogeneização situa- 0 lingote de grande espessura. Também as peças fun~1das em coqmlha
se, geralmente, no intervalo de algumas horas até dezenas de horas (não homogeneizam-se mais rapidamente que as peças fundidas em molde de
contando com o tempo de aquecimento). A elevação da temperatura areia.
possibilita a diminuição do tempo de recozimento. Outro caminho de aceleração de homogeneização é a destruição
O tempo de homogeneização total depende não apenas da tem- da estrutura do lingote, com trabalho mecânico. Sendo assim, em lu-
peratura de recozimento mas também da natureza da liga. Esta última gar do recozimento prolongado de homogeneização ~e lingotes de aços
determina a mobilidade de difusão dos componentes na solução sólida. ligados, utiliza-se um prévio tratamento de deformaçao a quente.
A microestrutura inicial do lingote da liga exerce forte influência no Várias fases em excesso podem caracterizar-se por possuirem
tempo de homogeneização. A velocidade de homogeneização depende velocidades de dissolução substancialmente diferentes. Assim, no du-
da espessura das partículas da fase em excesso, e da dimensão da seção ralumínio D16 a velocidade de dissolução no recozimento de homoge-
dendrítica da fase matriz. neização das fases em excesso diminui na seguinte ordem: ·S(Ah Cu
O tempo de término da dissolução da fase em excesso Tp de-
Mg); e (Cu Ah); Mg2 Si.
pende da espessura média m das partículas que se dissolvem, segundo a
Quando os elementos que fazem parte do composto, têm dife-
relação:
-
t p-am rentes velocidades de difusão na solução sólida, durante o período de
b (3)
dissolução uma fase em excesso pode transformar-se em outra. Por
onde a e b são constantes para cada liga e cada temperatura de re- exemplo, no duralumínio D16 na fase S(Al2 Cu Mg~, que estás~ ~issol­
cozimento de homogeneização. O expoente desta fórmula, para ligas vendo, é maior a velocidade de difusão do Mg na liga de alumm10, em
de alumínio, situa-se entre 1,2 e 2,5. Naturalmente, com a diminuição relação ao Cu. Por isto, esta fase se transforma na fase-9 (Cu Ah), que
da espessura, o tempo e dissolução das inclusões diminui. Na prática, se dissolve.
verifica-se que m varia quase que linearmente com tp.
Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 23
capítulo 1
Difusão ascendente durante o recozimento. No recozimento de
homogeneização das ligas de muitos componentes, a redistribuição por liga com 0,49C para a liga com 0,57C. Isto se explica pelo fato ~~ que,
difusão dos elementos, separadamente, na solução sólida, pode ser signi- em primeiro lugar, o silício aumenta e o manganês diminui a ~tiv:dade
ficativamente mais complexa do que predizem as teorias clássicas de do carbono na austenita. Em segundo lugar, a mobilidade de difusao do
difusão. Isto sem considerar a interação dos componentes com a solução silício e manganês é muito menor que a do carbono. Durante o recozi-
sólida. Uma das manifestações desta interação é a difusão ascendente, mento o manganês e o silício não conseguiram redistribuir-se. Enquanto
' . .
isto, o carbono da liga com silício, onde sua atividade era maior, migrou
isto é, o fluxo de componentes no sentido do aumento do gradiente de
concentração. para a liga com manganês. Isto aconteceu até o momento em que se
A difusão ascendente e outros fenômenos da complexa redis- equilibraram as atividades do carbono em ambos os lados do contorz:o
tribuição dos componentes torna-se compreensível com a utilização dos entre as amostras. Cabe salientar que, com a elevação da concentraçao
princípios da termodinâmica dos processos irreversíveis. De acordo com de carbono na austenita, sua atividade aumenta. Se o tempo de recozi-
estes princípios, a força motriz do movimento de difusão, em geral, não mento aumentar até o ponto em que a concentração de Si e Mn nas duas
é o gradiente de concentração e sim o gradiente de potencial químico µ. amostras forem iguais, a concentração de carbono também será igual.
Este gradiente µ é proporcional ao fluxo de difusão: Desta maneira , no caso desta experiência, no início do recozimento tem
lugar a difusão ascendente do carbono e, posteriormente, estabelece-se
/}µ o equilíbrio.
l=-M-- (4)
lJx

A primeira lei de Fick só é válida para soluções ideais, nas quais


os fluxos de difusão dos diferentes elementos não interagem entre si.
O potencial químico de um determinado componente i na so-
lução real depende de sua atividade termodinâmica ai:

µi = µicte + RTinai 20 10 o 10 20
(5) Distancia do contorno,mm

onde µicte é o potencial químico de algu.ma condição padrão, o qual


depende apenas da temperatura. Figura 6. Redistribuição do carbono na composição da amost:a: ~pó~
recozimento a 1050ºC durante 13 dias (Darken). A amostra m1cial a
Na solução real, a atividade define o potencial químico do ele- esquerda continha 0,49%C, 3,8%Si, e à direita 0,57%C e 6,453Mn.
mento, como também define sua concentração na solução ideal. Se na
seção vizinha da solução sólida a atividade de determinado componente
i for igual a 1,0, este componente não se distribui. O gradiente da ati- Pode-se prever um quadro análogo com o recozimento do aço,
vidade é a força motriz da difusão. no qual existem microvolumes com diferentes c?nce:itrações de silício
A experiência clássica de Darken demonstra o papel do gra- e outros elementos, devido à segregação intercnstalma. Com o rec_:i-
diente de atividade no surgimento da difusão ascendente. Duas lâminas zimento, a rápida difusão ascendente do carbono ele:a ª, conc_entra?ª.º
fortemente aderidas uma à outra, das ligas Fe 0,49C, 3,8Si e Fe, 0,57C, do mesmo nos microlocais mais ricos em silício , devido a ma10r at1v1-
6,45 Mn, foram recozidas até o campo monofásico. Após o recozimento, dade do carbono. Somente após um recozimento prolongado, quando
a diversas distâncias do limite entre as lâminas, mediu-se a concentração 0 gradiente de concentração do silício desaparece~ é que se eq~ilibra a

de C (fig. 6). Em lugar da difusão "normal" de carbono, a partir da se- concentração de carbono através do volume dos graos de ~~stemta. Se a
gúnda liga onde a concentração de carbono é maior, a difusão se deu da homogeneização não for concluída, forma-se estrutura fe~ntica ~~U:- ores-
friamento, nos locais austeníticos de grande concentraçao de si11c10 e ao
Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 25
/. /. Novikov
capítulo 1

pouca solubilização dos componentes, os quais não entram nas fases de


mesmo tempo de baixa concentração de carbono. Nos locais de pequena não-equilíbrio e, após a cristalização, encontram-se na matriz da solução
concentração de silício forma-se estrutura perlítica. Conseqüentemente, sólida. Então, durante o recozimento de homogeneização, ocorrem dois
quando o recozimento não se prolonga suficientemente, não se destrói processos simultâneos: dissolução da fase de não-equilíbrio em excesso,
a concentração e a microestrutura não-homogênea, nas ligas de muitos na solução sólida que não está saturada em relação a esta fase, isto é, a
componentes. verdadeira homogeneização da liga; e a precipitação de outras fases que
Para análise quantitativa das possibilidades de redistribuição estão saturadas na solução sólida. Este segundo processo é a heteroge-
por difusão no aço, é útil saber que, em geral, os elementos formadores neização da estrutura. Esta heterogeneização desempenha importante
de carboneto. baixam a atividade do carbono na austenita e os elementos papel no recozimento da homogeneização de muitas ligas de alumínio.
não-formadores de carboneto elevam esta atividade. A maioria das ligas de alumínio contêm manganês, e algumas
1.1.2. Modificações secundárias na estrutura. Paralelamente às contêm zircônio e cromo. Com a cristalização rápida dos lingotes em
modificações principais na estrutura, vistas acima, e que constituem a fundição contínua, estes elementos migram, parcial ou totalmente, para
essência da homogeneização, podem ocorrer modificações secundárias a solução sólida à base de alumínio. As temperaturas eutética e pe-
na estrutura que devem ser levadas em consideração para a escolha do ritética correspondentes aos sistemas binários estão próximas do ponto
regime de tratamento térmico. de fusão do alumínio. No sistema Al-Mn é de 658ºC; Al-Zr é 660,SºC
Crescimento de grão. Nas ligas que experimentam transforma- e Al-Cr é 661,4ºC. A temperatura de recozimento de homogeneização
ção polimórfica, durante a homogeneização podem surgir grãos grandes dos lingotes de ligas de alumínio está na faixa de 450-SSOºC, que é signi-
na região de fase estável, a alta temperatura. Assim, durante o recozi- ficativamente inferior às temperaturas indicadas das reações eutética e
mento de homogeneização dos aços ao carbono, que se dá a alta tempe- peritética. Nestas temperaturas, eutética e peritética, tem-se a solubi-
ratura, surgem grãos grandes de austenita. Nos lingotes estes grãos se lidade máxima dos elementos que estamos considerando. Sendo assim,
destroem durante os últimos passos do tratamento com deformação. Nos na faixa de 450-550ºC, a solubilidade de equilíbrio destes elementos é
produtos desbastados de aços ao carbono, para eliminar um indesejável muito menor do que a solubilidade limite. Nestas condições, nos siste-
reaquecimento faz-se, após o recozimento de homogeneização, um reco- mas binários as solubilidades nas temperaturas eutética ou peritética e
zimento de segundo tipo ou uma normalização: Isto diminui o tamanho a 500ºC são, respectivamente, 1,4 e 0,34% Mn; 0,28 e 0,05% Zr; 0,72
de grão (§5.4). e 0,19% Cr. Por isto, no recozimento de homogeneização dos lingo-
tes com solução sólida supersaturada de manganês, cromo e zircônio,
Coalescimento das fases em excesso. Se a liga não é monofásica
precipitam-se compostos intermetálicos constituídos destes elementos.
no estado de equilíbrio, as fases livres, que não conseguem se dissolver
A heterogeneização da estrutura durante o recozimento de ho-
completamente na temperatura de homogeneização, podem coalescer.
mogeneização pode influenciar fortemente no comportamento da liga no
No recozimento muito prolongado, estas fases podem arredondar-se. Por
tratamento posterior, ou nas propriedltdes da peça. Por exemplo, a de-
e:emplo, nas ligas de alumínio os cristais extensos de silicieto Mg 2 Si que
sagregação da solução sólida de alumínio supersaturada de manganês,
nao se transformam completamente em solução sólida, tornam-se mais
cromo e zircônio, durante o recozimento de homogeneização dos lingo-
compactos com temperatura de recozimento suficientemente elevada. Da
tes, pode manifestar-se na magnitude do efeito de prensagem (§14.3). Os
mesm~ maneira modifica-se a forma de algumas fases em excesso, nos
aços ligados. aluminetos dispersos destes metais de transição elevam a temperatura
de início de recristalização da liga. Se ela é maior que a temperatura
, . Heterogeneização da estrutura. Para transformação em solução de aquecimento para a têmpera, então o artigo semi-fabricado defor-
sohd~ da fase de não-equilíbrio em excesso, escolhem-se temperaturas de
mado, após completado todo o tratamento térmico, está no estado não
recozimento de homogeneização, de tal forma que seja elevada a solubili-
recristalizado. Por isto, está com resistência elevada. Alta temperatura
dade dos componentes que estão na forma destas fases em excesso. Nas
ligas d e vanos
·' · componentes, para estas temperaturas, pode-se verificar e prolongado tempo de exposição no recozimento de homogeneização
/. /. Novikov Teoria dos tratamentos t~rmicos dos metais 27
capítulo 1

dos lingotes condicionam o coalescimento dos produtos precipitados na corn o recozimento a 490ºC durante 3,0 horas, esta fração eleva-se para
solução saturada, e a densidade dos aluminetos decresce. Corno cone. 0,8%.
seqüência, decresce a temperatura de início de recristalização do semi- À porosidade 9ue se desenvolve no aquecimento das ligas, cha-
fabricado defonhado. Se esta temperatura for menor que a temperatura ma-se de porosidade secundária, para diferenciar da primária, que se
de aquecimento para a têmpera, o efeito de prensagem, isto é, a elevação desenvolve durante a cristalização. Quanto maior a temperatura de
da resistência do material não-recristalizado, deixa de acontecer. Desta recozimento, rnais elevada é a porosidade secundária.
maneira, para garantir urna utilização proveitosa da heterogeneização Uma das causas da porosidade secundária é a difusão de hi-
da estrutura dos lingotes, deve-se escolher o regime de recozimento que drogênio na solução só~ida que está supersaturada com este elemento.
proporcione a indispensável dispersão e densidade dos aluminetos dos Esta :supersaturação se' dá durante a cristalização rápida. Outra causa
metais de transição. pode ser o efeito de Kirkandal, que é a corrente de difusão de átomos de
A heterogeneização da estrutura do lingote pode acontecer não divernos componentes ern condições de não-equilíbrio. Através de meca-
apenas durante o recozimento isotérmico, mas também no período de nismos de difusão de lacunas, nas regiões da solução sólida onde ocorrer
resfriamento dei;>de a temperatura de recozimento. Geralmente a velo- difusào mais rápida de átomos, surge excesso de lacunas. Aparece, então,
cidade de resfriamento dos lingotes após o recozimento não é regulada. a porosidade de difusão.
Nas condições da produção, o resfriamento se dá junto com o forno, ou A elevação da porosidade com o recozimento normal de ho-
retira-se a carga do forno e resfria-se ao ar. Com o resfriamento dimi- rnoge:aeização não é grande em valor absoluto. Muitas vezes isto pode
nui a solubilida~e dos elementos de liga (cobre, manganês e outros), na manifestar-se nas propriedades da peça, particularmente quando a po-
matriz de alumírüo. Com resfriamento muito lento, formam-se partículas rosidade se forma durante a deformação plástica a quente.
ásperas de Cu Ah, fase Se outras fases. Com o aquecimento no trata-
mento sob deforinação, estas partículas não se dissolvem completamente, J.2. Modificações nas propriedades das ligas com o recozimento
e se estendem na direção da deformação principal, prejudicando assim as
de homogeneização.
propriedades mecânicas, particularmente a dutilidade na direção trans-
versal. Para eliminar estas e outras conseqüências indesejáveis da hete-
rogeneização da! estrutura do lingote das ligas de alumínio, é necessário 1.2.1. Ligas fundidas. A modificação mais importante nas proprie-
resfriar rapidamente ao ar, desde a temperatura do recozimento de ho- dades, devido ao recozimento de homogeneização, é a elevação da duti-
mogeneização. lidade da liga fundida. A escolha do regime de recozimento do lingote
deve 'ievar em consideração a dutilidade máxima na temperatura da pri-
Têmpera. O resfriamento ao ar dos lingotes de aços ligados, meira operação de deformação que será utilizada, e não a dutilidade na
desde a temperatura do recozimento de homogeneização, pode provo- temperatura ambiente .. Por exemplo, se o lingote da liga D16 é desti-
car total ou parcialmente têmpe11a com tansformação rnartensítica nas nado à prensagem, a dutilidade máxima é determinada na temperatura
camadas superfibais (por exemplo, nos lingotes de aços 1X2H4BA e de prensagem, que é ig\.ial a 400ºC (fig. 5).
40XH2MA). Se os defeitos superficiais do lingote não forem eliminados As propriedades mecânicas das peças moldadas devem ser me-
com a casca de óxido que é raspada, torna-se necessário, após o recozi- didas na temperatura de utilização das mesmas, como por exemplo a
mento de homogeneização, realizar um revenido de amolecimento a alta
temperatura ambiente.
temperatura.
A medida que se dissolve uma fase frágil, a dutilidade aumenta.
Desenvólvimento de porosidades secundárias. Com a elevação Terminada a dissolução, a dutilidade deixa de variar (fig. 5). O alonga-
do tempo de exposição do recozimento de ligas fundidas de alumínio, às mento relativo, bem como o encurtamento relativo, dos lingotes de ligas
vezes surgem porosidades. Assim, se na amostra inicial da peça fundida de alumínio na temperatura de deformação a quente, corno resultado da
de duralumínio D16, a fração volumétrica de poros for igual a 0,5%, homogenei.z:ação, eleva-se de 1,5 a 3,0 vezes.
28 /. /. Novikov
Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 29
capítulo 1
Se o objetivo do tratamento de homogeneização é elevar a du-
tilidade, o tempo ótimo de recozimento deve ser o tempo de completa neto. Nas peças, apesar da laminação a quente e da têmpera, mantém-se
dissolução das fases de não-equilíbrio em excesso. um acúmulo grande de carbonetos eutéticos. Nestes casos encontram-
se os gumes cortantes de ferramentas e as superfícies de rolamento de
A elevação da dutilidade dos lingotes de aços ligados, ligas de a-
bolas.
lumínio e outros metais diminui os defeitos de fissura durante o primeiro
tratamento de deformação a quente. Ao mesmo tempo, permite elevar A homogeneização do lingote pode não apenas melhorar, mas
a velocidade de deformação· e melhorar o estado das bordas (diminui os também piorar as qualidades dos produtos finais. Por exemplo, a ho-
rasgos das barras laminadas a quente). mogeneização do lingote de duralumínio Dl6 a 490ºC durante um dia
O significado da homogeneização é particularmente grande para aumenta em vários pontos percentuais o alongamento relativo das cha-
as peças moldadas, pois as mesmas não são submetidas a posterior de- pas temperadas e envelhecidas. Mas, ao mesmo tempo, diminui o limite
formação plástica que modifica a estrutura. Nas peças moldadas de de resistência1 em 10-15 MPa. A causa de alguma diminuição da re-
ligas de alumínio e magnésio não se emprega o recozimento de homoge- sistência é o comportamento do manganês durante a homogeneização do
neização, como uma operação independente. A homogeneização acon- lingote. Como já foi mencionado, em temperatura próxima a 500ºC~ a
tece limitadamente durante a operação de aquecimento antes da têmpera solubilidade do manganês no alumínio é relativamente pequena. Entao,
0 supersaturamento do manganês na solução durante a cristalização faz
da peça moldada. Este aquecimento se dá em elevada temperatura e
por tempo prolongado . Nas condições de fabricação, isto possibilita a com que a mesma se decomponha. A saída do manganês da solução du-
máxima eliminação da quantidade da fase livre, na solução sólida. rante a homogeneização do lingote e o coalescimento das partículas de
compostos intermetálicos de manganês que se formam diminui um pouco
1.2.2. Ligas deformadas. Apesar de no tratamento de deformação a a resistência da chapa recristalizada de duralumínio após o tratamento
quente ocorrerem modificações na matriz da liga, estas modificações não térmico ter sido completado (têmpera e envelhecimento).
são totalmente suficientes para destruir completamente a influência da A influência mais visível, na prática muito importante, que o
estrutura da peça fundida, antes do posterior trabalho de deformação recozimento de homogeneização exerce, está nos índices de plasticidade,
a frio. A "hereditariedade" da estrutura do lingote com segregação resistência ao choque e características de fadiga das fibras transversais
dendrítica não-destruída manifesta-se na diminuição da dutilidade da das peças (tiras prensadas, perfis, peças forjadas e o_utr~s), à medida q~e
liga deformada a frio. Isto se explica pelo fato de que, com o trabalho as fases frágeis, em excesso, alongam-se segundo a direçao de deformaçao
de deformação a quente, apesar da forte trituração e "transformação" principal.
da estrutura, não se destrói completamente as microheterogeneidades
da liga, provocadas pela segregação dendrítica. A homogeneização do O recozimento de homogeneização dos aços, que exige grande
lingote eleva a dutilidade da liga deformada a frio, melhora o estado do gasto de combustível e significa perda de metais na care.pa, ~ emprega.do
produto laminado a frio, permite reduzir os recozimentos intermediários, apenas nos aços ligados de elevada qqalida~e, para ap~1caç~es de maior
responsabilidade. A temperatura de recozimento esta no mtervalo de
eleva o grau de estiramento na laminação a frio e melhora a estabilidade
da chapa, inclusive em estampagem profunda. 1050 a 1250ºC. Apenas os aços ao carbono para usinagem são submetidos
ao recozimento de homogeneização. Nos aços para usinagem mantém-
A hereditariedade da estrutura da peça fundida é muito estável, se elevada a quantidade de enxofre para melhorar a usinabilidade. A
e manifesta-se nas propriedades durante o trabalho das peças. Isto, ape- quantidade de enxofre é de 0,2% a 0,3%, em lugar dos habit~ais 0,04% a
sar de no ciclo tecnológico a estrutura da liga experimentar fortes mu- 0,06%. O enxofre migra fortemente para os contornos de grao .dur~nte a
danças, tal como no trabalho de deformação, na têmpera, recozimento cristalização, provocando a fragilidade a quente durante a lammaçao. O
e em outros tratamentos. Nos aços de alto carbono, ligados com cromo
e tungstênio, podem surgir carbonetos eutéticos, como resultado da se-
gregação dendrítica. Este fenômeno denomina-se segregação de carbo- 1 A mudança do limite de resistência de ligas leves deformadas em 10 - 15 MPa ~em
interesse prático. Já para a maioria dos aços esta variação pode passar desapercebida.
Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 31
30 L L Novikov
capítulo 1

recozimento de homogeneização a 1150ºC elimina a fragilidade a quente Em relação a este fato, vejamos as condições em que se encon-
dos aços para usinagem. · tra o lingote, durante a homogeneização em uma temperatura maior que
A maioria dos lingotes das ligas de al~mínio, que vão ser confor- a solidus de não-equilíbrio e menor que a solidus de equilíbrio. Como
mados por deformação, é submetida ao recoziµiento de homogeneização. por exemplo, a temperatura T1 da figura 7. Na temperatra Ti, a solução
Isto eleva a conformabilidade p~r deformação ,e melhora as propriedades sólida, à base de alumínio está não-saturada em relação às inclusões no
mecânicas (semifabricado). A ~emperatura do recozimento geralmente líquido, as quais estão em não-equilíbrio. O elemento de liga do líquido
encontra-se no intervalo entre 4$0 e 550ºC. Escolhe-se a temperatura de (cobre) irá se difundir para a solução de alumínio, e a inclusão que
acordo co~ o tipo de liga e o tipo de produtd intermediário (semifabri- não está em equilíbrio termodinâi;nico é reabsorvida. Desta maneira,
c:ado). ' o aquecimento acima da linha solidus de não-equilíbrio, porém abaixo
da solidus de equilíbrio, não provoca sobreaquecimento com fusãõ. Isto
Qs lingotes das ligas de magnésio qu~ vão ser conformados por
porque as partículas fundidas desaparecem no processo de aquecimento
deformação são submetidos à hpmogeneizaçãp entre 390 e 405ºC, com
isotérmico do recozimento de homogeneização. Em muitos lingotes in-
os mesmos objetivos pelos quaj.s se homogeiieiza os lingotes das ligas
dustriais, o eutético de não-equilíbrio é reabsorvido logo no período de
de alumínio. Freqüentemente a homogeneizaç~o se faz simultaneamente
aquecimento e antes da temperatura de homogeneização.
com a operação de aquecimentQ do lingote, anterior ao tratamento de
deformação. Para isto eleva-se o tempo de exposição no forno.
Quando o recozimento de homogen('!ização possibilita uma e-
650
levação substancial da velocidaide de deformação, como por exemplo
na prensagem, os gastos de pro9ução com o mesmo são bastante com-
600
pensados, pois eleva-se a produtividade dos outros processos que são
complexos. u
~550~Q.._.,;;:;,;:.;;;..;;...~~----..,
::l
õ
8_ 500 O( oC + CuAl2
1.3. Homogeneização com aquecimen~o a temperatura acima da
likha solidus de não-eq~ilíbrio. , ..
E
r150LL~...L~.....L~...J.~~"---'
AI 10 20 30 40 Cu
Teor% {em peso)
Em alguns casos o grau1 de homogeneização com recozimento a
1

temperatura próxima, porém interior, à linha 1solidus de não-equilíbrio, Figura 7. Diagrama de equilíbrio AI-Cu a) Solidus de não-equilíbrio
da liga Al-2,3%Cu; b) Solidus de equilíbrio da liga Al-:-2,3%Cu.
pode revelar-se insuficiente. Não se consegue!a indispensável homoge-
neização total, ou geralmente se consegue co$ prolongados tempos de
exposição não utilizados na pro~ução. Além dµito, é sempre desejável a A refusão devido à oxidação intergranular não é perigosa. Isto
diminuição do tempo de homogelÍleização. Por i.sto é bastante atraente a porque, em primeiro lugar, na superfície do lingote da liga de alumínio
possibilidade de realizar o recoziiuiento de hon!iogeneização a uma tem- existe uma película densa de óxido. Em segundo lugar, a possibilidade
peratura superior à linha solidus de não-equiµorio. Este recozimento de corrosão intergranular, na camada fina superficial, não existe no caso
c0m o aquecimento entre as linhas solidus de Eiq_uilíbrio e não-equilíbrio dos lingotes (diferentemente de peças fundidas, arames e outras peças
é .realizado, na produção, em lingotes de várias ligas de alumínio. de se<;ão fina).
Geralmente, o recozimento de lingot~ industriais de ligas de Os processos de homogeneização com aquecimento acima da
alumínio causa apreensão devido à possibilid~de de sobreaquecimento linha solidus de não-equilíbrio se dão muito mais rapidamente do que
(§8.2), por causa da temperatura acima da solidus de não-equilíbrio. nos recozimentos habituais abaixo desta linha solidus de não-equilíbrio.
L l. Novikov
Teoria dos tratamentos térmicos dos metais ----~33
32 capítulo 1

A principal inconveniência do recozimento com aquecimento


acima da temperatura solidus de não-equilíbrio é o desenvolvimento
V,% significativamente maior de porosidade (fig. 8). Às causas do desen-
5!5ºC volvimento de porosidade no recozimento habitual (§1.1), pode-se acres-
1,5
centar aqui o seguinte (segundo E. D. Zarrarov): a solução sólida à
1,0 490ºC base de alumínio, com a cristalização rápida do lingote, fica supersa-
turada de hidrogênio. A solubilidade do hidrogênio no líquido é muito
0,5 maior que nos cristais. Por isto, o hidrogênio da solução sólida super-
saturada migra para a fase líquida, a qual pode aparecer com o aqueci-
O 2 4 6 8 !O !2 !4 16 '·" mento acima da temperatura solidus de não-equilíbrio. A solidificação
isotérmica posterior das partículas líquidas de não-equilíbrio é relativa-
Figura 8. Variação da fração volumétrica (V) de poros, em relação à mente lenta. Isto conduz à migração de hidrogênio, das regiões que se
duração do recozimento do duralumínio D16, em temperaturas abaixo cristalizam, formando-se assim poros gasosos. Ainda não está detern:i-
e acima da Solidus de não-equilíbrio (508°C) (LI. Novikov; V.S. Zolo-
torevsk; A.V. Kurbatov).
nado com precisão se estes poros podem ser eliminados com a deformaçao
a quente do lingote e quais as conseqüências nas propriedades da peça.
O recozimento de homogeneização com aquecimento acima da tempe-
Por exemplo, a temperatura solidus de não-equih'brio do duralumínio
ratura solidus de não-equilíbrio, nas ligas tecnológicas de alumínio, é
Dl6 é aproximadamente igual a 508ºC, enquanto a temperatura solidus
chamado de "homogeneização a alta temperatura". Só é utilízado após
de equilíbrio é próxima de 530ºC. O tempo de solubilização da fase de
cuidadosa análise que permita determinar a exclusão das conseqüências
não-equilíbrio em excesso, no lingote industrial de 150 mm de diâmetro
recozido a 515ºC, é 2,5 vezes menor que no lingote recozido a 480ºC. indesejáveis.
A causa da forte aceleração da homogeneização com o aqueci-
mento acima da temperatura solidus de não-eqúilíbrio não está na pre- BIBLIOGRAFIA
sença da fase líquida e sim na elevação dos coeficientes de difusão dos ele-
mentos de liga, com o aumento da temperatura. A causa propulsora do NOVIKOV, LI. ZOLOTOREVSKI V.G.S. Dendritinaia likivatria I' spalavar M:
processo de solubilização de fase, abaixo e acima da temperatura solidus Nauka, 1966, p.155.
de não-equilíbrio, é a difusão dos átomos dos elementos de liga, através GOLIKOV, I.N., MASLENKOV, S.B. Dendritinaia likivatsia I' staliare e splavar M:
dos contornos entre as fases, para a zona central da célula dendrítica. Metallurguia, 1977, p.233.
Por si só, a ultrapassagem do ponto da linha solidus de não-equilíbrio não ZOLOTOREVSKI, V.S. Structura e prochinasti litir aliuminevir splavov M: Me-
é crítica com relação ao processo de homogeneização. Porém, a elevação tallurguia, 1981, p.191.
da temperatura de recozimento apenas em 20 ou 30ºK pode aumentar
fortemente o coeficiente de difusão, por exemplo em duas vezes.
A homogeneização em temperatura superior à solidus de não-
equilíbrio diminui significativamente o prolongamento do recozimento.
Ao mesmo tempo, possibilita a obtenção da dutilidade tecnológica in-
dispensável ao tratamento posterior de deformação. Para algumas ligas
é possível elevar a redução da espessura e a velocidade de deformação,
como por exemplo a velocidade de prensagem. Além disto, elevam-se os
índices de plasticidade dos semiprodutos deformados, particularmente
na fibra transversal.
Recozimento de recristalização e recuperação.
capítulo 2

O recozimento de recristalização é um tratamento térmico em


ligas ou metal deformado. Neste recozimento o principal processo é a
recristalização.
O recozimento de recuperação é um tratamento térmico de me-
tal o'll: liga deformada. Neste recozimento o principal processo é a recu-
peraçiio.
Estes dois tratamentos térmicos são freqüentemente aplicados
após 1:rabalho de deformação a frio.

2.1'. Modificações na estrutura do metal submetido a tratamento


de deformação a frio.

A deformação plástica produz modificações estruturais no me-


tal. Estas modificações incluem as mudanças na forma dos cristais, na
orientação cristalográfica espacial e na estrutura interna de cada cristal.
2.1.1. Modificações na forma e na orientação cristalográfica dos
grãos. A forma do agregado muda, com a ação da força externa durante
o tratamento de deformação, em conseqüência da deformação plástica
de cada cristal, de acordo com o modo principal de deformação. A prin-
cipal mudança de forma dos cristais consiste no alongamento segundo
a direção principal de deformação, por exemplo, segundo a direção de
laminação ou de estiramento. Com a elevação do grau de deformação a
frio, os grãos alongam-se demasiadamente e a estrutura torna-se fibrosa.
36 l l Novikov
Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 37
capítulo 2
Com a deformação plástica, a rede cristalográfica dos grãos
adquire uma orientação espacial preferencial. Surge a textura de de- Tabela 1. Textura de Laminação
! ormação. Esta é uma das principais conseqüências provenientes da
tendência do deslizamento em cada grão se dar segundo determinados Energia
Falha
plano e direção cristalográfica da rede espacial, a qual se move em relação
Tipo de Empilha
ao eixo de deformação da peça. Por exemplo, na deformação de um m~ Material mento
Rede
nocristal, a direção de deslizamento move-se, aproximando-se do eixo de (MJ/m2 ) Textura
deformação. Principal Complementar
O caráter da textura de deformação depende do tipo e das C.F.C AI 135 {112} < 111 > {135} < 112 >
condições do tratamento de deformação, em particular do modo principal C.F.C Cu 70 {135} < 112 > {110} < 112 > + {112} < 111 >
de deformação. Depende também do tipo de rede cristalográfica e da C.F.C. Ag,L68, <30 {110}< 112 > {110} < 100 >
energia de falha de empilhamento. 12X18H9
A textura axial de estiramento se caracteriza pelo fato de que e.e.e Fe-a 140 {112} < 110 > + {111} < 110 >
a rede cristalina gira em torno da direção cristalográfica paralela ao eixo {100} < 110 >
do arame, resultando no seguinte: H.C. Mg - {0001} < 1120 > -
Tipo de rede .... C.F.C. C.C.C. H.C
Textura .......... <111> + <100> <100> <1010>
restante perde-se na forma de calor. A energia armazenada no metal é
"retida" na forma de energia dos defeitos da rede cristalina, os quais
Nos metais C.F.C. a textura cristalográfica é dupla: em alguns se formam com a deformação plástica. Também armazena-se energia
cristais o eixo do arame torna-se paralelo à direção < 111 >, enquanto na forma de energia elástica, devido ao surgimento de tensões residuais
em_ outros torna-se paralelo à direção < 100 >. Por exemplo, após 0 (cap. III).
estiramento do arame de cobre deformado 98%, suas orientação< 111 > A principal modificação na estrutura interna de cada cristal
e < 100 > correspondem, respectivamente, a 64% e 36% de todos os com deformação a frio é elevação da densidade de discor4âncias (em
cristais. No arame de alumínio tem-se respectivamente 92% e 8%. relação ao comprimento total de discordância, por unidade de volume).
. ~ textura de laminação caracteriza-se por planos e direções No metal policristalino bem recozido, a densidade de discordância é de
cnst~lográficas paralelos ao plano e à direção de laminação (tab. 1). Nos 106 a 108 cm- 2 • Com a deformação a frio de alguns pontos percentuais,
metaIS C.F.C. a textura depende da energia de falha de empilhamento. a densidade cresce para 109 a 1010 cm- 2 . Coma forte deformação {30 a
Os materiais de baixa energia de falha de empilhamento (prata, latão a 40% ou mais), cresce para 1011 a 1012 cm- 2 . Conseqüentemente, com a
d~ alto teor de zinco e aço inoxidável austenítico) têm textura bastante deformação a frio, a densidade de discordâncias pode elevar-se em cinco
diferente dos metais de média (cobre) e alta (alumínio) energia de falha ou seis expoentes.
de empilhamento. Com a deformação plástica também eleva-se a concentração de
Por análise de raios-X determinou-se que a textura de defor- lacunas geradas através das bordas das discordâncias em hélice que estão
mação a frio aparece para redução de 10 a 20%. No metal deformado, deslizando.
nem todos os cristais têm a orientação ideal predominante. Em todo No processo de formação da estrutura, durante o recozimento
caso, com a elevação do grau de deformação, os componentes da textura do material deformado a frio, o único papel importante é devido aos di-
surgem mais claramente.
versos tipos de modificações localizadas na orientação da rede cristalina.
2.1.2~ Modificações na estrutura interna dos grãos. Até 10% da Estas modificações surgem como resultado da deformação plástica. Em
energia despendida na deformação a frio é absorvida pelo metal. A parte nossos dias, a acumulação de dados detalhados sobre estas mudanças de
orientação no interior dos grãos do material policristalino, após trata-
Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 39
capítulo 2

não se tem modificação macroscópica na orientação do cristal, com a


mento de deformação com redução média e elevada, é de grande inte-
formação da estrutura celular.
resse. Estas modificações na orientaçào da rede cristalina serão vistas
Não há correlação entre a estrutura celular no volume do grão e
adiante. as linhas de deslizamento. Isto se observa através dos sinais de saída das
Estrutura celular. Na maioria dos metais, mesmo com pequeno grau discordâncias, na superfície. do metal previamente polida. A distância
de deformação (5 a 10%), começa a formar-se a estrutura celular: as entre as linhas de deslizamento é muito menor que o tamanho da estru-
discordâncias distribuem-se de tal forma no volume do grão que os en- tura celular de discordâncias. Estes e outros fatos mostram que a estru-
trelaçamentos entre elas formam paredes flexionadas (contornos) com as tura celular surge como resultado do processo de relaxamento, devido à
regiões vizinhas. Dentro destas paredes a densidade de discordâncias é redistribuição das discordâcias no volume do cristal. Este relaxamento
visivelmente menor do que nas paredes (fig. 9). O tamanho médio des- se dá quando o deslizamento de discordâcias torna-se· difícil, devido à
tas células é de 0,5 a 2,0 micra, e a espessura das paredes é bastante elevação da densidade de discordâcias. Com a formação dà estrutura
menor. Com o aumento do grau de deformação, na faixa de deformação celular, as discordâcias .redistribuem-se com participação obrigatória de
média para alta, o tamanho das células varia pouco. Porém, a densidade deslizamento cruzado. Nas ligas de energia de falha de empilhamento
de discordâncias nos contornos das paredes eleva-se. muito baixa (latão a cqm 30% Zn, aço inoxidável austenítico e outros),
o deslizamento cruzadq é tão difícil que não surgem estruturas celula-
res. Nestes materiais as discordâncias formam, durante o deslizamento,
aglomerações planares nos planos de cisalhamento.
Bandas de deformação e de transição. Nos materiais cristalinos
cada grão deforma-se com a aplicação de uma carga externa. Esta de-
forma..ção se dá com a ação mútua complexa dos grãos vizinhos. Com
esta influência de regiões vizinhas a um grão, pode haver movimento
forçado (em direções opostas ou em diferentes graus na mesma direção).
Como resultado da infü,tência de região vizinha podem ocorrer, no inte-
rior do grãà; desorientações na escala de dezenas de graus. Por exem-
plo, no alumínio policristalino deformado 40%, nos limites de um grão
observam-se desorientações de até 50°.
As regiões dentro das quais as orientações mudam pouco, mas
que estão desorientadas (de alto ângulo) em relação às regiões vizinhas
do mesmo cristal, chamam-se bandas de deformação. No alumínio e nas
ligas de alumínio, as bandas de deformação são reveladas em microscópio
ótico, em amostra atacada com óxido: dependendo da orientação cris-
talogr:ilica, a película transparente de óxido, sob a luz polarizada, varia
de cor. As bandas de deformação, com deformação média e alta, se
Figura 9. Estrutura celular do bronze de cromo e zircônio (0,38)3 Cr;
0,073 Zr), após tração de 53 - Micrografia eletrônica - Filme fino orientam segundo a direção de laminação (fig. 10).
12000X (V.!v!. Rosemberg; A.I. Novikov). Em casos menos freqüentes, os cristais têm a mesma orientação
em ambos os lados das bandas de deformação. Neste caso, chama-se
falha de banda.
Devido à eliminação de discordâncias de mesmo sinal, as pare-
O contorno entre as bandas de deformação vizinhas é, ele pró-
des das células vizinhas ficam desorientadas da 1!!.a 2!!.. As orientações enc
prio, uma região de maior ou menor espessura, através da qual muda a
tre os contornos das células vizinhas são variadas. Por isto, no conjunto,
40- - - - /. /. Novikov
Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 41
capítulo 2

Figura 10. Alongamento das bandas de deformação (BD) ao longo da


direção de laminação e das bandas de cizalhamento (BC) a um ângulo
de 30-40° em relação à direção de laminação. Liga de alumínio com
103 Mg; 0,13 Ti e 0,13 Zr, após laminação a frio com redução de
703. Amostra polida e oxidada, utilização de luz polarizada (V.V.
Istomin).
Figura 11. Microbandas (assinaladas com letras) na banda de transição de
cobre após laminação a frio com redução de 903. Micrografia eletrônica
orientação de uma banda para a banda vizinha. Esta região denomina-se de filme fino (Ridka e Rachinson).
banda de transição.
No microscópio ótico as bandas de transição são visíveis, seja A seção transversal da banda de transição consiste de duas
na forma de linhas finas, seja na forma de contornos entre regiões de até dez ou quinze microbandas. Duas microbandas vizinhas fazem um
diferente contraste. Por isto, elas podem, metalograficamente, não se ângulo de até 5°. Ao mesmo tempo, é muito importante o fato de
diferenciar de contornos de grãos alongados. Em geral, a diferença de que, em uma banda de transição, a desorientação entre as microbandas
estrutura entre os grãos e as bandas de deformação, que estejam com tem o mesmo sinal. Isto significa que a desorientação acumula-se ao
grande desorientação em relação ao grão ou banda vizinha, consiste ape- passar de um extremo para outro da banda de transição. Assim, por
nas da diferença de textura do contorno. exemplo, no cobre laminado com redução de 90%, o ângulo entre micro-
bandas vizinhas é de 4°. Um grupo de uma dezena destas microbandas
A micrografia eletrônica de transmissão de filme fino é tal, que
proporciona urna desorientação da ordem de 40°, entre as bandas de
a banda de transição entre bandas de deformação consiste, ela própria,
deformação.
de um conjunto de microbandas com contornos quase que paralelos
Não estão determinados a causa e o mecanismo de formação da
(fig. 11). Estes contornos são dois planos paralelos de paredes de dis-
cordâncias, e consistem de planos {111} no cobre e de planos {110} no microbanda. A microbanda é um elemento independente da microestru-
tura. As microbandas não se formam como resultado do alongamento
ferro. A espessura de uma microbanda é da ordem de 0,1 a 0,3 micra.,
e o comprimento pode ser de dezenas de micra. A própria microbanda, das células, quando se eleva o grau de deformação. Por isto, não é com-
ao longo de seu comprimento, consiste de partes ligeiramente desorien- pletamente correto designar a microbanda, como às vezes acontece, de
tadas (não mais que l a 2º) divididas em subcontornos. As microbandas célula alongada. As microbandas isoladas surgem nos primeiros estágios
estendem-se ao longo das bandas de transição, isto é, ao longo da direção da deformação, ao mesmo tempo em que se formam as células. É visível
de laminação, quando a deformação é elevada. o fato de que as microbandas através do volume do cristal estão direta-
mente relacionadas com linhas de deslizamento na superfície.
Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 43
/. /. Novikov
capítulo 2

Com a elevação do grau de deformação, a quantidade de mi- A banda de cisalhamento 1 tem uma espessura da ordem de
crobandas aumenta. Com elevadas deformações, elas se agrupam. As 1 mícron, e consiste de microbandas que fazem contornos de pequeno
microbandas isoladas, e também as agrupadas, giram e ficam paralelas ângullo (fig. 13). É assim chamada porque faz parte de deformação,
ao plano de laminação. Entre as microbandas conservam-se células que por cisalhamento, bastante localizada. Com uma deformação maior que
pouco se modificam. O ângulo de desorientação entre a microbanda e a 90%, quase toda a deformação plástica se concentra nestas bandas.
região de célula que acompanha. a mesma não é maior que alguns graus.
Nas soluções sólidas d1e muito baixa energia de falha de empi-
lhamento, tanto as microbandas como as células não se formam. Isto
porque a formação destas estruturas, ao que tudo indica, está relacio-
nada com deslizamento cruzado.

Bandas de Cizalhamento. Com deformação próxima de 70%, dos


metais de estruturas e.e.e. e e.F.C., nas seções que se encontram entre
a direção de laminação e a normal ao plano de laminaçã~, pode surgir urn
:sistema de bandas paralelas. Estas bandas fazem um ângulo de 30 a 40°
com a direção de laminação. São chamadas de bandas de cisalhamento
(fig. 12). No plano de laminaçào elas são perpendiculares à direção de
laminação. Fre~üentemente pode-se observar dois sistemas de bandas de
cisalhamento distribuídos na forma de "espigas" ou cruzando-se mutua-
Figura 13. Microbandas na banda de cizalhamento em liga de alumínio
mente. Ao contrário das bandas de transição, as bandas de cisalhamento
com 10% Mg, 0,1% Ti, e 0,1% Zr, após laminação a frio com redução
podem cruzar os contornos de grão. Quando a deformação é elevada, 11 de 70%. Micrografia eletrônica em filme fino (V.V. Istomin).
elas podem atravessar toda a espessura da chapa.

Desta maneira, com a elevação do grau de deformação a frio, au-


menta a densidade de discordâncias e a concentração de lacunas. Estas
discordâncias e lacunas aparecem na rede cristalina com desorientação
localizada (bandas de deformação e transição e bandas de cisalhamento).
Se a 1energia de falha de empilhamento não for muito baixa, formam-se
microbandas e estruturas celulares.
Na figura 14 estão desenhadas esquematicamente as caracterís-
ticas acima citadas e as particularidades das estruturas do metal for-
temente deformado, e que possui elevada ou média energia de falha de
empilhamento. No interior das bandas de deformação estão mostradas

1 A "banda de cisalhamento" (shear band) não deve ser confundida com a "banda
de deslizamento" (slip band). A banda de deslizamento é observada no microscópio
Figura 12. Bandas de cizalhamento após laminação a frio com redução ótico após pequeno deslizamento, na superfície da amostra polida. Aparecem como
de 90% no cobre (Ridka e Rachinson). linhas,. cada uma das quais é a aresta de grupos de planos de deslizamento vizinhos
e tran:5versais à superfície.
Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 45
44 /. /. Novikov capítulo 2

Pequenas deformações (até 10%), como regra, influem muito


as estruturas celulares, e no interior das bandas de transição e de ci- mais significativamente no limite de escoamento do que no limite de re-
salhamento estão desenhadas as microbandas. sistência. Em algumas ligas submetidas a elevados graus de deformação,
o limite de escoamento pode aumentar de 5 a 8 vezes ou mais.

350.----------~ 8,%
300 75

~ 250 12
i.

g
~ 200 g

~ 1SO 6

100 ó' 3

so .___.____._ __,__ __,__, o


o 20 40 60 80
ê= L-Lox/00%
Figura 14. Esquema da estrutura do grão do metal deformado a frio, Lo
com bandas de deformação (BD), bandas de transição (BT) e bandas
de cizalhamento (BC). Figura 15. Variação das propriedades mecãnicas do duralumínio Dl6,
em função do grau de redução durante a laminação a frio (A.V. Tre-
tiakov; K.M. Radchenko).

2.2. Modificações nas propriedades dos metais submetidos a tra- O alongamento relativo decresce rapidamente, a partir de de-
balho de deformação a frio. formações relativamente pequenas (fig. 15). A deformação elevada, ao
aumentar o limite de resistência e a dureza em 1,5 a 2,0 vezes, diminui
0 alongamento relativo em 10 a 20 vezes, e em alguns casos, em 30 a 40
2.2.1. Encruamento. Geralmente, com o encruamento, eleva-se o vezes ou mais.
endurecimento devido ao tratamento de deformação. Em seu sentido A elevação dos índices de resistência à deformação, bem como
mais amplo, o encruamento é o conjunto de modificações estruturais e a diminuição dos índices de plasticidade, com o aumento do grau de de-
das correspondentes mudanças nas propriedades, devido à deformação formação a frio, são devidos ao aumento da densidade de discordâncias.
plástica. Nos metais encruados, devido ao aumento da densidade de discordâncias,
Com o aumento do grau de deformação a frio, elevam-se os dificulta-se o deslizamento. Ao mesmo tempo, dificulta-se a geração e
índices de resistência à deformação (limite de escoamento, dureza e limite deslizamento de "novas" discordâncias.
de resistência). A dutilidade limite (alongamento relativo e estrição) Os contornos de células e de subgrãos são barreiras para o movi-
diminui (fig. 15). Com a deformação do metal até níveis maiores que 50 mento de discordâncias. A diminuição da distância entre estas barreiras
a 60%, geralmente o limite de resistência e a dureza aumentam cerca de (diminuição das dimensões das células) possibilita o endurecimento, que
1,5 a 2,0 vezes e, em alguns casos, 3,0 vezes. Este aumento depende da acompanha a elevação do grau de deformação.
natureza do metal e do tipo de tratamento de deformação.
46 /. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 47
capítulo 2

A condutividade dos elétrons diminui com os defeitos pontuais as propriedades se aproximam, nas diversas direções. Este metal é quase
e de discordâncias. Por isto, o aumento da quantidade de defeitos da isotrópi[co. No metal texturado, com orientação cristalográfica preferen-
rede, com a deformação plástica a frio, conduz à elevação da resistência cial, existem direções ao longo das quais determinada propriedade tem
elétrica. Enquanto as propriedades mecânicas com elevada deformação valor elevado, e outras nas quais o valor é baixo. Por isto, a textura de
modificam-se em dezenas de vezes, a resistência elétrica dos metais puros deformação induz a anisotropia de propriedades.
geralmente cresce em 2. a 6% .
. Nas ligas deformadas a frio observam-se modificações de re- 2.3. Modificações na estrutura devido ao recozimento de recupe-
sistência elétrica, que variam pelo grau e até pelo sinal. ração.
Muitas ligas contêmemetais de transição, entre elas muitas uti-
lizadas amplamente na produção. São ligas de níquel-cromo (Ni-Cr), O tratamento de deformação a frio faz com que o metal se
alumel (Ni-Ct-Al-Mn-Si) e alpaca (Cu-Ni-Zn). Nestas ligas surge o de- encontre em estado de não-equilíbrio, devido à elevação da energia de
nominado estado K, que consiste na elevação da resistência elétrica, em Gibbs. A tendência do metal encruado é de, espontaneamente, passar
comparação com a resistência da solução sólida de átomos distribuídos para um estado mais estável, com menor energia de Gibbs. O estabele-
estatisticamente de maneira i1~ualitária. cimento do processo conduz, basicamente, à diminuição da quantidade
O aparecimento do estado }( explica-se pela redistribuição dos total de defeitos da rede cristalina. Estes defeitos são redistribuídos pe-
átomos, por difusão. Nesta redistribuição o número de interações entre los grãos e formam-se configurações mais estáveis. Estes processos se dão
os átomos de diversos tipos torna-se maior ç.o que o previsto estatistica- por difusão dos átomos. Sendo assim, a temperatura exerce influência
mente, para a solução sólida desordenada. O sintoma mais característico nos mesmos.
do estado K é a diminuição significativa da condutividade elétrica com Com exceção dos materiais de baixo ponto de fusão, na maioria
a deformação a frio. Isto se explica pelo fato de que a deformação a frio dos metais e ligas metálicas na temperatura ambiente, a mobilidade
modifica quafüativamente o estado K. Com a distribuição de átomos dos átomos não é suficiente para garantir o desenvolvimento ativo do
de diversos tipos, a liga fica no estado de sdlução sólida desordenada. processo, de tal maneira que diminua a energia de Gibbs, do material
2.2.2. Anisotropia de propriedades. As propriedades dos metais encruado. Para eliminar parcialmente ou completamente o encruamento,
deformados a frio são diferentes nas diversas direções. A anisotropia em tempo aceitável na prática, é necessário realizar um aquecimento-
de propriedades deve-se a dois motivos: estrutura fibrosa e textura de recozimento após o processo de deformação a frio.
deformação. O aquecimento do metal encruado se faz a uma temperatura
Ao longo da amostra, a quantidade de contornos de grão através homóloga2 relativamente baixa, (para os metais de pureza habitual, é
da seção transversal é significativamente maior que na seção longitudi- inferior a 0,3 Tfusão ). Após este aquecimento, através de microscopia
nal. Nos contornos de grão concentram-se precipitados não metálicos, ótica niio se observam modificações de forma e tamanho dos grãos defor-
corno por exemplo óxidos. Naturalmente, as propriedades mecânicas mados, pois não surgiram novos grãos recristalizados. Ao mesmo tempo,
do metal nas seções transversal e longitudinal são diferentes. Por isto, este recozimento de recuperação conduz a urna modificação sensível de
nos produtos sernifabricados por tratamento mecânico, são diferentes algumas propriedades do metal. Com ajuda de análise por raios-X, mi-
as amostras "longitudinais" e "transversais" e, correspondentemente, as croscopia eletrônica e outros métodos diretos e indiretos, detectam-se as
propriedades "longitudinais" e "transversais". Geralmente os índices de modificações na estrutura interna dos grãos deformados.
plasticidade e resistência ao choque sáo menores na seção transversal do O conjunto de todos os processos espontâneos de modificação
que na seção longitudinal. da den8idade e redistribuição dos defeitos nos cristais defarmados, os
Cada cristal ~ anisotrópico. Suas propriedades dependem da 2 Temperatura homóloga ou correspondente, é como se denomina a relação de de-
direção cristalográiica. No metal com orientação aleatória dos cristais, terminada temperatura com a temperatura de início de fusão, em escala absoluta.·
48 /. /. Novikov
Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 49
capítulo 2

quais se dão antes do início da recristalização, denomina-se recuperação.


A escolha deste termo está relacionada a processos com mecanismos onde K é uma constante para cada temperatura. Esta constante K
diversos, os quais conduzem à restauração parcial ou total de algumas depende da energia de ativação Q do processo, de acordo com a lei de
propriedades do meteria! encruado, no sentido do valor que tinham antes Arrenius:
Q
da deformação a frio. K = Aexp(--)
RT
(7)
Se a recuperação se dá sem a formação e migração de subcontor-
nos dentro dos grãos deformados, denomina-se recuperação de primeiro O relaxamento é o fenômeno mais diversificado a baixa tem-
tipo ou relaxamento. Se durante a recuperação formam-se e migram, peratura entre os fenômenos de transformação espontânea do metal en-
no interior dos grãos, contornos de pequeno ângulo, denomina-se recu- cruado, no sentido de atingir um estado mais estável. Experiências com
peração de segunto tipo ou poligonização. cobre e ouro deformado na temperatura do hélio líquido mostram que
2.3.1. Relaxamento. Nossos conhecimentos sobre os mecanismos de a resistência elétrica começa a diminuir, já na temperatura próxima
relaxamento não se baseiam na observação direta da estrutura dos de- a 190ºC. Com a elevação da temperatura, a curva de transformação
feitos cristalinos. Baseiam-se nos resultados de estudos da cinética de da resistência elétrica contém alguns relevos, correspondentes a vários
transformação da condutibilidade elétrica, na liberação de energia ar- estágios de relaxamento e vários mecanismos dos processos de dimi-
mazenada durante o encruamento, e em outros dados indiretos. nuição da energia armazenada na deformação. Estes processos estão
relacionados à redistribuição dos defeitos pontuais e à diminuição de
A velocidade do relaxamento é máxima nos instantes iniciais,
sua concentração que está em excesso, para dada temperatura.
e diminui paulatinamente com o aumento do tempo de recozimento
isotérmico (fig. 16). A característica principal do relaxamento é a au- Os átomos auto-intersticiais se aniquilam nas regiões de dis-
sência do período de incubação. A modificação das propriedades se dá cordância, e quando encontram as lacunas. As lacunas migram para as
desde o início do recozimento. discordâncias e contornos de grãos, aniquilando-se nestes locais.
Outros processos de relaxamento são o reagrupamento de dis-
cordâncias e a aniquilação mútua de discordâncias de sinais opostos.
No interior dos grãos deformados, as discordâncias estão distribuídas
8l irregularmente. No aquecimento, devido à ativação térmica, há movi-
"O
o mento simples e cruzado, bem como escorregamento de discordâncias a
"O
o.>
·;::: curta distância. Tudo isto conduz ao reagrupamento das discordâncias
Cl.
o de tal modo que os picos energéticos se nivelam. Durante o tempo de
à:: reagrupamento, as discordâncias de sinais opostos se aniquilam ao se en-
Témpo contrarem. Com isto, a densidade de discordâncias diminui um pouco.
No estágio do relaxamento, todos os movimento de discordân-
Figura 16. Esquema de variação das propriedades físicas com a re-
laxação. cias são de caráter localizado.
A observação direta da estrutura de discordâncias, em filme fino
de alumínio deformado à temperatura ambiente no próprio microscópio
Pode-se considerar a velocidade de diminuição ou crescimento eletrônico, mostra que durante o relaxamento ocorrem apenas pequenas
(l::..X) de uma propriedade qualquer como sendo inversamente propor- redistribuições de discordâncias. Com isto, a densidade de discordâncias
cional ao tempo de relaxamento (t):
não diminui substancialmente. Nos metais e ligas tecnológicas, as dis-
cordâncias estão fixamente mescladas, de tal maneira que, complemen-
âi'.l.X K
(6) tarmente, é dificultado o movimento das discordâncias no intervalo de
&t t temperaturas do relaxamento.
I. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 51
capítulo 2

É bastante evidente que, após o tratamento de deformação a manchas alongadas em manchas ordenadas, sendo que a configuração de
frio, a modificação estrutural mais importante no relxamento dos metais cada mancha de asterismo inicial conserva-se. Este efeito foi descoberto
e ligas de pureza comercial é a diminuição do excesso de concentração inicialmente por S.T. Konobeeviski e LI. Mirer em 1932, com o recozi-
de lacunas. mento de cristal fletido de sal gema (sal de pedra). Eles mostraram que
A velocidade de eliminação dos defeitos pontuais depende da se pode considerar que este material divide-se espontaneamente durante
temperatura e da energia de ativação para difusão. A energia de ativação a recuperação em fragmentos ou blocos levemente desorientados, dentro
da difusão Q, nos metais, cresce linearmente com a elevação da tempe- dos quais os planos cristalográficos estão perfeitamente orientados. Cada
ratura de fusão. Considerando Q = aTp, tem-se que exp(-Q/RT) = bloco produz um ponto de difração preciso no filme de Laue. A pequena
exp(-aTF/ RT). Daqui conclui-se que o valor de exp(-Q/ RT) deve distância entre estes pontos de difração e a manutenção da configuração
ser aproximadamente o mesmo em todos os metais, para as temperatu- geral das manchas de asterismo inicial confirmam o pequeno ângulo de
ras que mantenham a mesma relação com a temperatura ~e fusão; con- desorientação dos blocos.
seqüentemente, de acordo com as equações (6) e (7), as velocidades de re- Este tipo de recuperação tem como característica um recozi-
laxamento em metais diversos, para a mesma temperatura homóloga de mento,, através do qual os grãos do metal subdividem-se em partes que
recozimento, encontram-se aproximadamente no mesmo nível. Quanto estão levemente desorientadas em termos de orientação cristalográfica.
maior a temperatura de fusão, maior deve ser a temperatura de recozi- Para diferenciar este recozimento daquele em que não se formam sub-
mento, para atingir-se o mesmo efeito de relaxamento. Assim, no cobre grãos, E.F. Barmeta, A.A. Bochivar, G. S. lgdonov e la.S. Umansky o
e níquel laminados a frio, a maior parte de excesso de lacunas criada denominaram, em 1937, de "recuperação de segundo tipo".
durante a deformação desaparece durante o recozimento a 20 e lOOºC Em 1949 o metalurgista inglês R.Kan descobriu que o mono-
respectivamente. Estas temperaturas correspondem a uma temperatura cristal fletido de zinco durante o recozimento divide-se em blocos, ao
homóloga de 0,21 Tp. Para o alumínio à temperatura ambiente é maior mesmo tempo em que o eixo de curvatura do cristal fletido divide-se em
na escala homóloga (O, 3lTp ). Por isto, após a deformação a frio do segmentos que são os lados de um polígono. Este fenômeno foi denomi-
alumínio, o relaxamento à temperatura ambiente elimina praticamente nado poligonização (de polígonos).
todo o excesso de lacunas. A teoria das discordâncias permitiu explicar o mecanismo da
poligonização. A curvatura residual do cristal está relacionada com o
Os átomos estranhos e de elementos de liga podem tornar-se
excesso localizado de discordâncias em aresta, de mesmo sinal (fig. 17a).
causadores de defeitos pontuais. Por exemplo, a energia de deformação
A cada discordância corresponde um plano atômico vertical incompleto,
dia rede em torno do átomo estranho diminui, se uma lacuna aproxima-
o qual estaria retirado da parte superior do cristal. Estes planos atuam
se da região deformada. O ganho em energia permite a atração mútua
como cunhas que flexionam o cristal. Com o recozimento, as discordân-
entre o átomo estranho e a lacuna. Além da atiação elástica, existe entre
cias de mesmo sinal redistribuem-se, empilhando-se urna em cima da
eles a atração eletrostática. Na solução sólida os átomos estranhos·e de
outra em forma de parede (fig. 17b). Com isto, o campo de tração de
elementos de liga, ao dificultarem a migração das lacunas, diminuem a
uma discordância interage com o campo de compressão da outra. Sendo
velocidade de relaxamento.
assim, as energias elásticas das discordâncias se compensam mutuamente
2.3.2. Poligonização. O filme de Laue de um monocristal deformado de maneira significativa. A parede de discordâncias não possui campo de
tem como característica principal o asterismo, que é o alargamento ra- tensão elástica de longo alcance. Conseqüentemente, a formação da pa-
dial dos pontos correspondentes aos feixes de raios-X. Os asterismos rede de discordâncias é um processo que se dá vantajosamente do ponto
são explicados pelo fato de que a orientação da rede cristalina muda de vista energético. Por isto ele deve se dar espontaneamente, mesmo
continuamente com a deformação. Por exemplo, com a flexão. Con- que pa.ra seu desenvolvimento seja indispensável a ativação térmica.
seqüentemente, os raios difratados revelam-se como pontos alongados. A parede de discordâncias no cristal flexionado forma-se como
O recozimento em determinadas condições conduz à desintegração das resultado combinado de processos de deslizamento e escorregamento de
Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 53
52 /. /. Novikov
capítulo 2

l. .L com discordâncias mescladas. Estes contornos se formam como resul-


.L
tado de deslizamentos simples e cruzado, bem como de escorregamento
.L
de discordâncias. O processo mais lento é o de escorregamento .
.L J.
O ângulo de desorientação entre subgrãos vizinhos, também
o neste caso, é determinado pelo excesso de discordâncias de mesmo sinal
..... no subcontorno. O volume do subgrão está livre ou quase livre de dis-
..... cordâncias. A estrutura de subgrãos diferencia-se da celular porque as
.....
..... células estão arrodeadas por um volume que contém paredes com dis-
.....
..... cordâncias entrelaçadas, enquanto o subgrão é arrodeado de um contorno
.....
..... na forma de rede de planos de discordâncias (fig. 18 e 19) .
d

Figura 17. Esquema da Poligonização a) distribuição caótica das dis-


cordâncias em aresta no cristal flexionado; h) paredes de discordâncias
após a poligonização.

discordâncias. Fica claro, pelo esquema simples das fig. 17a e 17b, que
apenas o deslizamento de discordâncias nos planos horizontais não pode
colocar as mesmas uma acima da outra, na forma de parede vertical.
Para isto é indispensável o escorregamento, que consiste no comple-
mento ou dissolução dos planos atômicos incompletos. Isto se dá com
um processo de difusão lento. A velocidade de escorregamento, por ser
o processo mais lento, é que determina a velocidade de empilhamento
Figura 18. Estrutura poligonizada da liga AMg6, recozida a 325ºC e
das discordâncias na parede. 30 minutos, após laminação a frio com redução de 45% - Micrografia
A parede de discordâncias do mesmo sinal é um contorno de eletrônica de filme fino (V. V. Istomin).
pequeno ângulo, o que divide os subgrãos vizinhos em redes levemente
desorientadas. Desta maneira, na recuperação surgem os subgrãos, como Se surgirem estruturas celulares com a deformação plástica
conseqüência da formação das paredes de discordâncias, as quais se cons- (fig. 9), a poligonização no recozimento não se dá p~la formação de
tituem em contornos de pequeno ângulo. Para isto é indispensável o subgrãos a partir de discordâncias distribuídas aleatoriamente. A po-
aquecimento, para ativar o escorregamento de grande número de dis- ligonização, neste caso, se dará pelo desenvolvimento das estruturas
cordâncias. A temperatura de recozimento para a poligonização deve celulares existentes. Nas células mal formadas e arrodeadas comple-
ser maior do que para o simples relaxamento. tamente de contornos, o volume das paredes torna-se mais estreito e
Os simples contornos de inclinação, que consistem de algumas planar. O volume das células se purifica mais em ~iscordâncias e estas
discordâncias em aresta, e o correspondente subgrão na forma de lâminas células transformam-se, paulatinamente, em subgraos.
paralelas, através de todo o cristal, são observados após a deformação Recorrendo ao ataque químico, é possível observar metalografi-
e o recozimento que se segue, quando age apenas um sistema de desli-
camente os contornos dos subgrãos. No microscópio eles se apresentam
zamento. Nos metais policristalinos submetidos a deformações médias como uma fila de pits de corrosão, cada um dos quais correspondendo
e elevadas, sempre o cisalhamento se dá em vários sistemas de desliza-
ao local de saída, na superfície polida, das discordâncias que compõem
mento. Por isto, durante o recozimento formam-se contornos de subgrãos
54- - - - - /. /. Novikov
Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 55
capítulo 2

P' P" da mesma maneira que na formação dos subcontornos nos primeiros
.L .L estágios da poligonização. Esta migração é o processo mais lento, e
..!......,,... J. desempenha importante papel.
J.-A":;: Foi observado o crescimento de subgrãos pela coalescência, a-
través do recozimento direto de filme fino no microscópio eletrônico.
~i)­ A observação direta mostrou a gradual destruição do subcontorno e o
J. desaparecimento do contraste entre os subgrãos. Isto significa que os
J. subgriios adquirem a mesma orientação cristalográfica.
J.
.L Os estágios de coalescência de dois subgrãos estão mostrados na
p figura 20. É completamente visível que o desaparecimento dos subcon-
tornos deve ser acompanhado de alguma rotação de uma rede (fig. 20b),
Figura 19. Esquema de confluênda de contornos vizinhos de pequeno ou de ambas as redes dos subgrãos. Isto porque deve se formar uma
ângulo, conduzindo ao crescimento do subgrão. única orientação da rede, na região onde antes existiam subgrãos leve-
mente desorientados.
os contornos de baixo ângulo. A espessura de todos os contornos de
subgrãos é vista na superfície polida na forma. de redes de linhas finas
no interior dos grãos. Por sua vez, os contornos ,de grãos aparecem como
linhas mais grossas.
Os grãos que se formam na poligonização tendem a crescer com
o aumento do tempo e a elevação da temperatura de recozimento. Fo-
ram determinados, experimentalmente, dois mecanismos para este cres-
cimento:_ a migração dos subcontornos e a coalescência de subgrãos.
Na figura 19 está esquematizada uma rede que se formou em
Y, de três subgrãos, distribuídos entre os con~ornos P, P', P". Duas
paredes de discordâncias P' e P" próximas se ~nem. Com isto, a parede
P se prolonga (a rede tripla se transforma em dupla). Com a confluência
dos subcontornos e a transformaçião da rede tripla, dois subgrãos cres-
cem a expensas do terceiro. A desorientação d<?s subgrãos próximos ao
contorno que se formou é igual à soma das desorientações dos subcon-
tornos que desaparecem. A força motriz deste. processo é a tendência do
cristal diminuir a energia de subcontornos. · e
Figura. 20. Estágios de coalescimento de dois s~bgrãos a) estrutura
Na figura 19 as direções mostradas pefas fiexas são as direções antes do coalescimento; b) rotação de um subgrao; e) estrutura logo
nas quais devem se deslocar as discordâncias que participam do processo após 0 coalescimento; d) estrutura final em conseqüência de migração.
de confluência dos contornos P' e P". É claro que esta confluência
existe como resultado conjunto de deslizamento e escorregamento. O
O contorno entre os subgrãos desaparece paulatinamente, assim
deslizamento, sozinho, não pode cionduzir à distribuição igualitária das
discordâncias que existem, após a confluência d.as paredes. Conseqüen- como as discordâncias saem deste contorno para os subcontornos que
temente, no crescitnento dos subgrãos, há migiração dos subcontornos, estão ao redor do subgrão. Por isto, às vezes se diz que o contorno
"esparrama-se". Propõe-se assim que, na esparramação do subcontorno,
Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 57
56 I. /. Novikov
capítulo 2

subcontorno. Como já foi visto, isto conduz ao aumento do ângulo de


o papel principal cabe ao escorregamento das discordâncias.
desorientação de subgrãos vizinhos. Ao mesmo tempo, tanto no estágio
Pelo esquema da figura 20b é visível que a rotação do subgrão,
de poligonização como na recristalização localizada, os contornos per-
durante_ o coalescimento, é possível apenas no caso em que os átomos,
manecem sempre de pequeno ângulo. Isto significa que a estrutura des-
que estao em volta do subcontorno, saem das partes sombreadas. Con-
tes contornos é descrita por um esquema de discordâncias, como por
seqüentemente, a difusão é o processo que controla a coalescência. A
exemplo o da figura 17b, e o ângulo de desorientação entre os subgrãos
velocidade de coalescência é proporcional ao coeficiente de autodifusão
vizinhos não supera 10-15º (na maioria das vezes os subgrãos vizinhos
e inversamente proporcional ao cubo do diâmetro do subgrão. Se ~
estão desorientados até 1°).
subgrão for grande, os átomos devem se difundir em uma longa distância.
A temperatura de início da poligonização não é uma constante
Para subgrãos muito grandes ou alongados, o mecanismo de crescimento
física bem determinada, como por exemplo o ponto de fusão. Isto porque
dos mesmos, através da coalescência, pode não funcionar.
a poligonização consiste na formação gradual de subgrãos, através da
A eliminação dos subcontornos é um processo espontâneo sem-
pre relacionado com a diminuição da energia. Além disso, se d~rante
formação de paredes de discordâncias a partir de discordâncias sepa-
radas, bem como do desenvolvimento de subgrãos. Da mesma forma,
a eliminação dos subcontornos cresce a desorientação do contorno que
quando há formação de estrutura celular no metal deformado, a poligo-
se forma a partir dos subgrãos que se fundem, a energia deste contorno
nização consiste no desenvolvimento das células existentes e na gradual
aumenta. Se nestes contornos as condições de desorientação são maiores
transformação das mesmas em subgrãos.
que nos contornos que desaparecem, o estímulo termodinâmico para a
A característica mais importante dos metais é a energia de falha
coalescência se mantém. Seja E a energia de contorno devido ao aumento
de empilhamento. Ela influi fortemente na tendência à poligonização.
do ângulo de desorientação. O fato é que o crescimento D.E com D.X
Quanto menor a energia de falha de empilhamento, tanto mais larga-
na região de grande ângulo é menor que na região de pequeno ângulo.
mente estendidas estão as discordâncias. Isto dificulta o desenvolvimento
Por isto, a diminuição da energia com o desaparecimento dos contornos
dos processos de escorregamento e deslizamento cruzado, indispensáveis
de pe<_!ueno ângulo, que acontece na região de baixo ângulo, supera a
à poligonização. No alumínio que possui elevada energia de falha de
elevaçao de energia de contorno de grande ângulo de desorientação.
empilhamento e, conseqüentemente, as discordâncias estão fracamente
A observação da estrutura do filme fino aquecido na coluna
divididas, a poligonização acontece com mais facilidade.. No latão a, que
do microscópio eletrônico mostrou que podem desaparecer ao mesmo
tem baixa energia de falha de empilhamento, geralmente não se observa
tempo, vários contornos que separam os subgrãos vizinhos. Sendo assim
é possível não apenas a coalescência de um par de subgrãos, mas també~ poligonização.
Os átomos estranhos que formam a atmosfera de Cotrell di-
uma coalescência de grupo. ·
ficultam a poligonização, pois tornam mais difícil a redistribuição das
_Com a elevação do tempo e da temperatura de poligonização,
discordâncias através do deslizamento e do escorregamento. Para deter-
os subgraos podem crescer bastante, até 10 µm. Este crescimento é li-
minada temperatura de recozimento, quanto mais puro o metal, mais
mitado pelas orientações cristalográficas dos grãos deformados iniciais.
A_ coz:figuração do asterisma no filme de Laue se mantém. Esta poligo- rapidamente ele poligoniza.
mzaçao prolongada foi denominada de recristalização localizada (in situ).
M~s ~ :ecrist~lização localizada não é uma variedade da recristalização 2.4. Recristalização primária e tratamento de recristalização.
prrmana _habitual. Esta última tem como característica a formação de
nov~s g~aos~ separa~os na matriz por contornos de grande ângulo. A
A partir de determinada temperatura de recozimento do metal
re~nst~hz~çao localizada, por sua natureza, não é um processo de re-
deformado a frio, há uma forte modificação de sua microestrutura, que
cnstalizaçao, mas sim de poligonização.
está relacionada com o processo denominado recristalização. Mesmo com
. O crescimento do subgrão durante a poligonização está rela- pequeno aumento no microscópio ótico, pode-se distinguir novos grãos
cionado ao aumento do excesso de discordâncias de mesmo sinal no
Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 59
58 - - - /. /. Novikov
capítulo 2

recristalizados, mais ou menos equiaxiais, ao lado dos grãos deformados,


que estão alongados. À medida que aumenta o tempo ou a temperatura
de recozimento, a área da superficie polida que está ocupada com no-
vos grãos cresce e, ao mesmo tempo, os antigos grãos deformados vão
desaparecendo. A análise de raios-X e, posteriormente, de filme fino
em microscopia eletrônica, mostraram que os novos grãos equiaxiais se
diferenciam dos antigos grãos alongados da matriz deformada, não ape-
nas pela forma, mas, o que é muito importante, mais pela estrutura 10 100
interna, que tem uma diminuição brusca da densidade de discordâncias. Tempo de exposiçõo,min.

Se no metal fortemente deformado a densidade de discordâncias é de


1011 - I0 12 cm- 2 , após a recristalização ela diminui para 106 - l08 cm- 2 • Figura 21. Desenvolvimento da recristalização primária a várias tempe-
raturas, no alunúnio de pureza 99.96%, após tração de 103 (Anderson
A estrutura de poligonização é mais perfeita que a matriz de- e Mehl).
formada. Porém, os grãos recristalizados diferem da estrutura de poli-
gonização, pois os mesmos estão separados da matriz por contornos de Durante algum tempo não aparecem novos grãos. Este tempo
alto ângulo, em vez de contornos de pequeno ângulo, como acontece com se denomina período de incubação. Com a e~ev.aç~o do g,rau de ~e­
os subgrãos. Esta diferença tem um significado fundamental. formaçiio e da temperatura de recozimento, d1mmm o penodo de m-
Graças à rápida migração dos contornos de alto ângulo, os grãos cubação da recristalização primária.
recristalizados "caminham" intensamente pela matriz deformada. Os A cinética de recristalização primária se diferencia, radical-
subgrãos, no estágio de poligonização, têm a orientação do cristal defor- mente da cinética de recuperação. A recuperação não tem perí.od?
mado. Já o crescimento do grão recristalizado, que está rodeado de con- · ' baça-0 Sua velocidade é máxima no início do processo e dnn1-
d e meu
torno de alto ângulo, pode estar relacionado com a forte desorientação . , · (fi 16) J'
nui ininterruptamente durante o aquecimento isotern;1co g. , · a
em relação à rede cristalina. na recr:istalização ocorre 0 contrário. Ela começa apos u_m p:nodo de
A formação de grãos com, estrutura mais per/eita, rodeados de · b ,. a- e sua velocidade (incremento de volume recnstahzado por
meu a.,. 0 , · dº · · A
contornos de alto ângulo, e o crescimento destes grãos a expensas dos unidade de tempo) cresce do zero até um má~o, e d_epo:s immu~".-
grãos iniciais deformados da mesma fase, denomina-se recristalização interrupção do crescimento da maioria dos graos, devido a competiçao
primária ou tratamento de recristalização. entre eles, conduz à extinção da recristalização.
A cinética de recristalização é semelhante à cinética de trans- A cinética de transformação da recristalização primária sob
formação de fase. Em ambos os casos, em condições isotérmicas, ela temperatura constante obedece muito satisfatoriamente à equação de
se expressa através de uma curva de tipo senusoidal, cujo caráter está Avram.
(8)
explicado no §4.5 (compare as fig. 21 e 68).
Na análise da cinética de recristalização primária, opera-se com de V /V é a fração volumétrica recristalizada no tempo t; B é um
os mesmos parâmetros V.A.N e V.L.C., utilizados na cinética de trans- on t º N V L C . t , da temperatura e do
coeficiente que depende da V.A. . e · · ., IB o e,
formação de fase. Velocidade de aparecimento de núcleos de recrista-
grau de deformação, e k' está no intervalo de 1 a 4. , . ,
lização (V.A.N.) é a quantidade de núcleos de grãos recristalizados que · lºizaçao
- primaria e .a ener-
surgem por unidade de tempo e unidade de volume. Velocidade linear 0 estímulo termodinâmico da recrista , ,
gia armazenada durante a deformação plástica, a qual e~ta ass;ciada as
de crescimento (V.L.C.) é a velocidade de deslocamento do contorno de
grãos. Estes dois parâmetros crescem exponencialmente com a elevação discordâncias. Estas discordâncias formam est:u~ur~s _1rr~!ud:~e:id:;~
da temperatura. redes de células ou subcontornos planares. A dimumiçao
/. l. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 61
60
capítulo 2

de discordâncias, durante a recristalização primária, conduz à liberação de discordâncias e a correspondente diferença de energia entre
da maior parte da energia armazenada. Esta liberação é detectada por os dois lados do contorno de alto ângulo estão representadas
análise calorimétrica. pela diferença de dimensões dos contornos das células. O con-
A diminuição de energia no volume dos cristais, a qual acontece torno que se move "varre" de seu caminho os defeitos cristalinos
com a elevação da perfeição de suas estruturas, supera o desenvolvimento . do grão deformado. A elevação da energia superficial, com a
de energia superficial. Isto acontece inclusive para .tamanhos muito pe- formação da "língua", é compensada pela diminuição da ener-
quenos dos grãos recristalizados. Não é inevitável que o tamanho de gia armazenada durante a deformação.
grão do metal recristalizado seja maior que no metal deformado. Ter-
minada a recristalização primária, o somatório das áreas das superfícies
dos grãos deformados que cresceram a partir de vários núcleos pode ser
maior que o somatório das áreas das superfícies dos grãos deformados
que foram eliminados. Apesar disto, a energia de Gibbs do metal recris-
talizado é menor que a do metal deformado. Isto se deve à diminuição
da densidade de discordâncias no interior dos grãos.
2.4.1. Mecanismo de surgimento dos núcleos recristalizados. O
mais importante no mecanismo de surgimento de grãos recristalizados é a
formação, em todos os materiais, e em quaisquer condições, de contornos
de grande ângulo. Estes contornos rodeiam parte do material que está
com elevada perfeição estrutural. Dependendo do estado particular do
material deformado, e do processo de recuperação que se dá nos estágios
iniciais do recozimento, os locais e mecanismos concretos de surgimento
dos núcleos recristalizados podem ser os mais variados. Figura 22. Esquema de formação da saliência no contorno através de
Os núcleos de recristalização podem surgir: sua migração para o lado encruado (Bek).
a) diretamente nos contornos de grão do material deformado e
b) no interior dos grãos, nos locais de forte modificação localizada A parte na qual tem início o movimento do contorno de ~to
da orientação da rede cristalina. Estes locais são as bandas de ângulo pode ser um subgrão perfeito ou uma região.relativamente rr:aio_r.
transição, bandas de cisalhamento, falhas de banda e proximi- A formação da saliência. também pode ser precedida pela coalescenc1a
dades de grandes inclusões. · de subgrãos, perto do contorno de alto ângulo (fig. 23).
a) O surgimento de núcleo recristalizado, diretamente nos contor- A microssaliência que "se infiltra" no grão vizinho se diferencia
nos de.grãos deformados, dá-se devido à migração de uma pe- dele pela menor densidade de discordâncias e, correspondentemente, pela
quena parte (da ordem de 1 µm) do contorno de grande ângulo. menor energia de volume. Isto possibilita a migração rápida do contorno
Esta migração forma uma saliência ou "língua" (fig. 22). A de ângulo, em todas as direções. A microrregião de dimensões da ordem
força motriz desta migração é a diferença de energia armaze- de 1 µ,rn onde tem início a formação do grão recristalizado, pode conter
nada entre as partes que estão em ambos os lados do contorno. contorn~ de pequeno ângulo. Mesmo assim, gradualmente será formada
O contorno avança para dentro do grão com maior densidade a desorientação de alto ângulo.
de discordâncias, estruturas irregulares de discordâncias, es- O mecanismo de surgimento de grãos recristalizados, pelo cami-
truturas grosseiras, paredes de células e até subcontornos de nho da migração de uma região onde já e~istia contorno ~e alto âng~lo,
estrutura poligonizada. Na figura 22, a diferença na densidade . foi observado no alumínio, cobre, prata, mquel e ferro, apos deformaçoes .
Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 63
I. I. Novikov
capítulo 2

das de transição e as bandas de cisalhamento (o papel das inclusões será


mostrado no §2.8, item 3). Os embriões capazes de se transformarem
em núcleos recristalizados são os fragmentos de microbandas que se for-
mam durante a deformação a frio (§2.1 item 2), ou também os subgrãos
maiores que se formam durante a poligonização, que ocorre no estágio
inicial do recozimento.
Figura 23. Esquema .de formação .da saliência com coalescimento do
As microbandas separadas crescem a expensas das microban-
subgrão próximo ao contorno BG de alto ângulo: a) antes do coalesci-
mento; b) após o coalescimento dos subgrãos e migração .da região .do das vizinhas. O crescimento se dá na direção transversal das bandas
contorno de alto ângulo. de transição, através da flexão lateral de regiões separadas no contorno
longitudinal das microbandas. Pelo fato de existirem fortes modificações
pequenas e médias. de orientação da rede do grão deformado na direção transversal das ban-
b) O surgimento de núcleos recristalizados no interior dos grãos das de transição, o crescimento da microbanda conduz, gradualmente,
deformados está relacionado com modificações localizadas na à transformação do contorno de pequeno ângulo em contorno de grande
curvatura da rede. Este relacionamento ajuda a compreender ângulo. Com isto, forma-se o núcleo de recristalização. Estes núcleos for-
o modelo da figura 24. O processo de formação do núcleo é mados de microbandas alongadas têm, no estágio inicial, uma forma bas-
visível pelo fato de a mudança forte (apesar de relativamente tante instável: seu comprimento ao longo das bandas de transição pode
suave) d:a orientação cristalina (fig. 24a) passar por uma espécie chegar a 20-50 µm, e a largura não passa de alguns micra. Posterior-
de condensação, transformando-se no contorno de alto ângulo mente, a migração rápida do contorno de alto ângulo na direção trans-
(fig. 24b). No interior do núcleo a orientação da rede é próxima versal faz com que os novos prãos se tornem relativamente equiaxiais.
à orient&ção média da região inicial com rede encurvada. Exa- A figura 25 mostra os grãos alongados que se formam nas ban-
tamente por isto, nesta região, surge o núcleo recristalizado, das de transição ao longo da direção de laminação, bem como nas bandas
que se diferencia da mat:riz deformada pela sua orientação. de cisalhamento na forma de espiga durante o estágio inicial da recris-
O modelo é muito simples, mas reflete corretamente o surgi- taliza<;ão.
mento do núcleo recristalizado, nos locais de forte curvatura localizada Com a elevação do grau de deformação, cresce a quantidade de
na rede do material deformado. bandas de transição e bandas de cisalhamento. Com isto, aumenta o
número de núcleos de recristalização.
Outra possibilidade de surgimento de núcleos recristalizados é a
poligonização que tem lugar no primeiro período do recozimento. Como
resultado da aceleração da migração de alguns subcontornos, ou mesmo
da coalescência em grupo de subgrãos, pode aparecer um subgrão que
a b se diferencie dos vizinhos pelas dimensões substancialmente maiores e
maior desorientação. Este subgrão tem preponderância para o cresci-
mento. Consideremos que ele se encontre em uma região de maior cur-
Figura 24. Esquema de formação do núcleo de recristalização na falha
de banda(Chiumon). a) curvatura da rede na falha de banda antes da vatura na rede, isto é, com excesso de discordâncias de mesmo sinal. A
formação da região recristalizada; b) núcleo de recristalização. aceleração de seu crescimento conduz à acumulação de maior quantidade
de discordâncias do mesmo sinal no subcontorno. Tudo isto transforma
Para deformações médias, e particularmente para as grandes, 0 subgrào em um núcleo de recristalização rodeado de contorno de alto

os principais locais de súrgimento de núcleos recristalizados são as ban- ângulo.


/. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 65
capítulo 2

locidade. Estes subgrãos podem atingir um tamanho grande bem como


elevada perfeição na rede. Nestas condições, os contornos entre eles
permanecem de baixo ângulo e baixa mobilidade. Esta poligonização
dificulta a recristalização, devido à diminuição da energia acumulada,
que é o estímulo termodinâmico da recristalização.
A poligonização bastante prolongada (recristalização localiza-
da) conduz à formação de superestruturas bastante perfeita$, com redes
estáveis de contornos de pequeno ângulo que rodeiam os grandes sub-
grãos. O nível de perfeição destas subestruturas é tal que não se observa
recristalização primária até º"ponto de fusão. Por isto, em determi-
nadas condições que são características do recozimento após pequenas
deformações, pode-se dizer que a poligonização é um processo concor-
Figura 25. Grãos recristalizados (claros) que se formam ao longo das
bandas de transição e bandas de cizalhamento no estágio inicial da rente à recristalização.
recristalização do cobre, recozido a lOOºC após laminação a frio com Se, no metal deformado, existem regiões com curvaturas da rede
redução de 90% (Ridka, Rachinson). bastante localizadas, a aceleração do crescimento dos subgrãos nos locais
preferenciais conduz à formação de grandes subgrãos, que crescem a
Para que se realize qualquer dos ~ecanismos de formação de expensas dos vizinhos. Estes subgrãos grandes "adquirem" rapidamente
núcleos vistos acima, o papel condutor cabe ao processo de difusão. a desorientação angular em seus contornos, e transformam-se em núcleos
Particufarmente, a difusão é indispensável para a migração dos subcon- de recristalização. Esta poligonização é a etapa inicial da recristalização
tornos e coalescência de subgrão {§2.3). Por isto, a formação dos núcleos e é característica para o recozimento dos policristais, após deformações
de recristalização é um processo termicamente ativado, que é acelerado médias e elevadas.
com a elevação da temperatura.
S. S. Goreliki resolveu denominar pré-recristalização esta poli-
S. S. Goreliki chamou atenção para o fato de que, no pro- gonização que conduz à formação de núcleos de recristalização. Isto para
cesso de formação dos núcleos de recristalização, a redistribuição e ani- diferenciar da poligonização estabilizada, que dificulta o surgimento de
quilação parcial de discordâncias de sinais opostos conduzem à elevação grãos recristalizados.
momentânea da concentração de lacunas, corno se fossem "injetadas"
lacunas no metal. 2.4.2. Temperatura de início de recristalização. Durante o regime
de trabalho do tratamento térmico, bem como com outros objetivos, é
A recuperação que precede a recristalização exerce urna in-
indispensável saber fixar, experimentalmente, o início do surgimento de
fi uência dupla na formação dos núcleos de recristalização.
grãos recristalizados, através de um método relativamente simples. Na
O relaxamento deve, em um ou outro grau, dificultar o surgi- resolução da maioria das tarefas práticas, o início convencional da re-
mento de núcleos de recristalização. Isto porque a diminuição da con- cristalização é determinado não só com a ajuda de microscópio ótico,
centração de lacunas, durante o relaxamento, desacelera os processos observando-se o surgimento dos primeiros grãos equiaxiais que geral-
de difusão, os quais controlam a velocidade de formação dos núcleos de mente são mais brilhantes e surgem no fundo da matriz deformada que
recristalização.
está mais fortemente atacada, como também por método de raio-X, pelo
A poligonização exerce uma influência mais complexa. Consi- surgimento de pontos de manchas (injeções) nas linhas de interferência
deremos que em um metal levemente deformado não existem mudanças dos raios-X difratados. Cada uma destas manchas corresponde à di-
localizadas significativas em termos de curvatura da rede, e que através fração de um grão recristalizado de dimensões de 2-5 µm. Por microsco-
do volume do metal formam-se e crescem os subgrãos com a mesma ve- pia ótica, determina-se com segurança o tamanho do grão recristalizado
1

Teoria dos tratamentos térn:iicos dos metais 67


1 /. /. Novüwv
capítulo 2

· · d"rme.....,soes
apQs atmgir ...
1 -d e 10- 50 µm. A's vezes otrmc10
· ' · d a recnsta
· lizaçao
-
é determinado peld início da queda intensiva na ureza ou na resistência.
Porem, como s~ ~~rá adiante no §2.9, este mét do não é aplicavel para
todos os materiais•
A temper~tura de surgimento dos gr- recristalizados, isto é, a
temperatura .de inJ:io de recristalli;ação (T,!) nã é uma constante física
conio o ponto de fij1são.
·. Ao çontr4rio da temperatura de equil brio de fases, a tempe- -+-- Grau de deformóçl5o
rati.tra ·de início dt recristalização depende do tempo de recozimento,
conio se depreenda;·da análise da figura 21. Se tempo de recozimento Figura 26. Influência ~o grau de deformação na temperatura .de início
de recristalização..
é dEt 1.000mih, a r ristalização ptimária a 325, 350 e 370ºC consegue
ser totalmente co pleta, e a 310'<'C ela apen tem início. No tempo
diferenciá-la de todas as qutras temperaturas de início de recristalização
de iecozimento dei 10 min tem início a recrist · ação a 370ºC. Para
·que têm significado mais ~mplo (T'j.).
temperatur~ men~.res não se formar~m- ai~da 1vos grãos. Conseqüen- Com a elevação ao grau de pureza do metal, a temperatura de
temente, para um ~empo de 1.000 mm., T,. = 310ºC, e para 10 min. é
Tj. = 370ºC. i limiar de recristalização diminui:
Outto fat~ que infiui fortemente na t mperatura de início de Pureza AI ... 99,7 99,9 99,99 99,9992
recr~talizaçã@ é o au de deform~ão durante tratamento mecânico. • T,?PC ...•.... 240 200 100 -45
Com a elevação do au de deformação, a temper tura de início de recris-
tali~ação ciimfnui ( g. 26). Isto se explica porq a elevação do grau de A. A. Bochivar mostrou que existe uma relação simples entre
deformação aumen~a a densidade de discordânci e a energia acumulada a temperatura de limiar de recristalização e a temperatura de fusão dos
durante a deformaÇão. Sendo assim, cresce o tímulo termodinâmico . metais. A recristalização tem início a uma temperatura que se constitui,
para a recristji.lizaçf.o. . • para todos os metais, na mesma fração da temperatura de fusão em
A dE1nsida~e de discordânc.ias e a corr~pondente energia acu- · escala absoluta. ExatamE1nte,
mulada durante a ~eformação crescem com a clevação do grau de de-
1

formação, mas est~ crescimento se dá de man~·a limitada. O mesmo


Trp = (O, 3 - O, 4)TF (9)

acon~ece comi a te*1.peratura de início de rec · talização, que diminui O coeficiente (ff,3,.0,4) nesta fórmula refere-se a.Os metais de
com. a elevaç~.· do igrau de deformação, atingi do determinado limite pureza tecnológica relativamente elevada (próxima de 99,99%). Para
para um dado temJto de recozimento (fig. 26).
metais especialmente pur?8,
Comi a ele'[ação do tempo de recozime to de um metal forte-
men~ deformado, diminui a temperatura de i ício de recristalização. 'frv =(O, 25- O, 3}TF
Esta diminuição t+bém não é ilimitada e atin e um valor aproxima-
damente constante, em uma a duas horas de ecozimento. A menor
1
Através da regra de A. A. Bochivar, pode-se avaliar, em pri-
temReratura de iní~io de recristalização do me al ou liga, correspon- meira aproximação, a terhperatura de limiar de recristalização para os
dente a uma grandt deformação (mais que 60'- 0%) e a um tempo de ' metais de conhecida tem~eratura de fusão .. Por exemplo, é possível ava-
reco2timento de um~ a duas horas, de alguma aneira pode servir de liar a temperatura de inídio de recristalização do chumbo:
cara<;terística do m~terial. Chamaremos, daqui ra diante esta tem-
peratura de temperittura de limiar de recristaliza ão (Trp, fi~. 26), para (372 + 273)0, 4 - 273 = ..:....33ºC
/. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 69
capítulo 2
A diminuição do tamanho de grão inicial (antes da deformação)
conduz à diminuição da temperatura de início de recristalização. Isto núcleos de recristalização e facilita-se o crescimento dos mesmos. Com
porque, nos metais de grão mais fino, maior é a densidade de contornos a elevação da concentração de átomos estranhos, as regiões próximas às
de alto ângulo, nos quais surgem os núcleos de recristalização; ao mesmo discordâncias se saturam dos mesmos. Por isto a elevação da tempera-
tempo, maior é a energia acumulada durante a deformação. tura de início de recristalização atinge um limite.
2.4.3. Influência da composição da liga na temperatura de A energia de atração entre o átomo de impureza que tem raio
início de recristalização. RII ·e a discordância em cunha é proporcional ao fator de diferenciação
de dimensões. Este fator é Rik-Rº, onde R 0 é o raio de átomo da matriz,
A variação da temperatura de início de recristalização com a
composição da liga num sistema binário é não-uniforme e diferente para tanto em solução sólida substitucional como em solução sólida intersti-
cial. O raio desta esfera dura que é introduzida no local da rede onde se
as diversas ligas. Vê-se na figura 27 uma das variantes típicas desta
variação. Apenas na região monofásica, e num pequeno intervalo de encontra o átomo de impureza não produz alteração volumétrica. Por
concentração, observa-se uma relação simples. Pequenas adições quase isto, a temperatura de início de recristalização cresce tanto mais rapida-
sempre elevam a temperatura de início de recristalização, embora, com a mente quanto maior for o fator de diferenciação dos átomos de adição.
elevação da temperatura de início de recristalização chegue a um limite Quanto mais puro o metal inicial, tanto mais fortemente atuam
(parte ab fig. 27). os elementos de adição. Nos metais iniciais menos puros já existem
atmosferas de impurezas que dificultam a recristalização.
Nos poucos casos em que pequenas adições elevam a tempe-
ratura de início de recristalização, provavelmente o metal inicial estava
com impurezas. Estas impurezas elevam fortemente a temperatura de
início de recristalização, e os elementos de liga que se adiciona unem-se
/ a estas impurezas e retiram-se da solução sólida.
a
I
I Em muitos sistemas, ao atingir-se o máximo na região de con-
O( I 0(+/3 centração relativamente baixa (décimos de fração percentual), atempe-
I
ratura de início de recristalização diminui. Esta diminuição pode ser
8, 0(o --------- explicada pela influência do elemento de liga na estrutur~ da liga de-
formada. Se a adição diminui a energia de falha de empilhamento da
Figura 27. Variação da temperatura de início de recristalização em
função da composição das ligas em um sistema binário (esquema). Li-
solução sólida, as discordâncias se dissociam fortemente. ? de~lo~a­
mento cruzado das mesmas é dificultado, e com a deformaçao plastica
nha pontilhada - contorno de região monofásica.
formam-se regiões com grande excesso de discordâncias de mesmo sinal.
Nesta solução sólida a temperatura de início de recristalização deve ser
Os átomos de adição são facilmente atraídos pelas discordân- menor que na liga com menos elementos de adição, nas quais é maior a
cias, formando a atmosfera de Cotrell. Estas atmosferas mescladas im- energia de falha de empilhamento.
pedem a redistribuição de discordâncias, que é indispensável para a
formação dos núcleos de recristalização. Estas impurezas freiam não A influência da composição no valor de T~, na região de gran-
apenas o surgimento, mas também o crescimento de núcleos de recris- des concentrações, está condicionada principalmente pela modificação
talização. Isto porque elas são atraídas para os contornos dos núcleos. da força de ligação interatômica. Assim, consideremos uma .liga _em_ que
Com o aquecimento do metal até temperaturas mais elevadas, estas a temperatura de fusão reduz-se fortemente e ~ força de hgaç~o _mte-
ratômica diminui, com a adição de elemento de hga. Nestas cond1çoes, a
atmosferas de impurezas se destroem, devido ao movimento fortalecido
pelo calor. Como resultado, estabelece-se a possibilidade de formação de temperatura de início de recristalização diminui continuamente na região
de grandes concentrações da solução sólida (parte bc, fig. 27).
71
Teoria dos tratamentos térmicos dos metais
capítulo 2

entre 0,6 e 0,8 T fusão.


A influência de pequenas adições em metais puros é tal, que 2.4.4. Temperatura de final de recristalização. A temperat~ra na
centésimos e décimos de frações percentuais de adição podem elevar qual desaparece completamente a matriz deformada, para determ~ado
em cem graus ou mais a temperatura de início de recristalização. Em tempo de recozimento, denomina-se temperatura de final de rec,nsta-
comparação, a elevação em alguns pontos ou décimos percentuais na lização 'J'/. A determinação experimental desta t~m~era:ura se da, com
concentração dos elementos de liga, em solução que está na faixa de 0 auxílio de microscopia ótica, observando-se a ehmmaçao dos residu~s
grandes concentrações, muda levemente a temperatura de início de re- da matriz fortemente deformada. Também se dá por raios-X, atraves
cristalização (no máximo em dezenas de graus). A relação entre as tem- da eliminação de linhas no filme de Debeye, e pela quantidade de ma~­
peraturas de início de recristafüação e de fusão, nas soluções sólidas, é chas em filmes, devido à difração dos grãos recristalizados. .A q~an:i­
maior que nos metais puros. Nas ligas de soluções sólidas monofáskas, dade máxima destas difrações corresponde ao término da recnstalizaçao
o valor de T:/TF atinge no máximo 0,6 (em comparação com 0,25-0,4 rimária. Ao mesmo tempo, o crescimento normal de grão que se segue
nos metais). p
diminui . - reens
a quantidade de graos . t a 1.izad os.
Quando se atravessa pela fronteira de solubilidade para a região A observação contínua da recristalização primária de bronzes de
bifásica, a temperatura de inído de recristalização pode diminuir um cobre e alumínio, no microscópio eletrônico de emissão de fóto~s, r~ve~ou
pouco (parte cd, fig. 27). Esta diminuição se explica pelo fato de que, e Pa ra algum intervalo de temperatura, a recristalização nao ehmma
se as partículas de fase f3 são bastante grandes, próximo às mesmas (na qu ' · ·
completamente os grãos deformados. A curva e' senus01·da l , ana'loga a'
matriz da fase a) acumulam-se discordâncias. Isto facilita o surgimento da figura 21. Porém, ela se torna horizontal com uma gra~de pa:te
de núcleos de retristalização (§2:.8 item 3). O crescimento posterior da de metal não recristalizado. Conseqüentemente, para determmado m-
fração volumétrica da fase /3 se dá com o aumento da composição do tervalo de temperaturas, a recristalização pr~ária ~tinge o_ esta~~ de
segundo componente na liga. Com isto, a distância entre as partículas "saturação". Quanto maior a temperatura, maior sera a fraçao max~a
da fase /3 diminui tanto, que freia. a formação e o crescimento dos núcleos recristalizada que corresponde a este estado (fig. 28). A extrapolaç~o
de recristalização na fase a (parte de, fiig. 27). das curvas da figura 28 até o ponto de Qi = 0% e QR ~ 10~% ~ermite
A influência da composição da liga na temperatura de início obter a temperatura de início {T;) e de final (T/) d~ r:cnstal~açao. Em
de recristalizaçãq, mostrada na figura 27, pressupõe que a liga, antes da temperatura· superior a T /, com tempo de expos1çao suficientemente
deformação a frio, estava em estado de equilíbrio com a ajuda de recozi- prolongado, a recristalização se dá até o final. . . , .
mento. Suponhamos que a liga tilnha uma composição à direita da linha Todos os fatores que modificam a temperatura de imcio de re-
de equilíbrio no diagrama de fases, e foi temperada antes da deformação cristalização influem na temperatura de final de recris~aliza7ão. Quanto
a frio. Com isto ela ficou uma solução sólida supersaturada, e sua decom- maior a T;, maior (geralmente, mas nem sempre) sera a Tr ·
posição pode influenciar, de maneira complexa, a temperatura de início
de recristalizaçãq. A decomposi<;ão da solução supersaturada pode di- 2.4.5. Crescimento de grão durante a recrist~.liz~ç~o primária.
ficultar a redistribuição de discordâncias e a migração de contornos de Os grãos recristalizados crescem através da migraçao r~pida de se~ co:i-
pequeno ângulo, ou seja, dificultar a formação de núcleos de recrista- tornos para dentro da matriz deformada. A força motriz desta migraçao
lização. O resultado depende de que a decomposição se efetive antes é a diferença entre a energia elástica dos cristai~ em 8:m~os os :ados do
do início da recristalização, ou simultaneamente. Depende também do contorno, d evi"do a' d.i1•rerença de densidade de discordanc1as. .D1ferente-
li -
mente d.o crescimen· t o normal de grão (§2 ·5) ' durante a recnsta zaçao
tipo e da dispersào da decomposição. Se a decomposição se dá antes do
· , · os graos
prrmana - nugr · am a partir.do centro de curvatura.
. Os contornos
.
início da recristalização, e se a elevação da temperatura induz o coalesci-
.' l
d e a lt o angu o, ao se moverem "varrem" os defeitos da rede da matnz
mento ou a solubilização dos precipitados, a influência na recristalização ' · l
minho aumentando assim o vo ume com
se torna fraca. A temperatura de início de recristalização destas ligas deforma d a que encont ram no Ca ' . ~ .
. per f"e1ça
ma10r • =-o e com menor densidade de d1scordancias.
é maior do que das ligas próximas a elas pela composição, ou seja, das
ligas monofásicas. A temperatura de início de recristalização se encontra
Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 73
capítulo 2

V5 1 º!.
2.5. Crescimento normal de grão.
80

60
Com o término da recristalização primaria, eliminam-se os
40 grãos deformados, e há uma forte diminuição da energia de Gibbs. Ao
20 mesmo tempo, a estrutura torna-se instável devido ao aumento da su-
o ._.,______._ __.__ __.__~-~
perfície dos contornos dos grãos recristalizados e à tensão superficial
Ti 160 200 240Ti 280 320 360 desequilibrada destes contornos.
r r
Temperatura '?C

Figura 28. Variação da fração volumétrica recristalizada (V s) no estágio de


"saturação", em função da temperatura de recozimento do cobre estirado
a frio com deformação de 48% (Comte Form).

A velocidade média da migração do contorno de grão, durante


a recristalização primária, depende da temperatura:

-Q
V=V0 e RT {10) Figura 29. Esquema de variação da energia de Gibbs com a trans-
ferência de um átomo através do contorno entre o grão deformado (D)
e o recristalizado (R).
onde Q é a energia de ativação para o processo de migração.
A migração do contorno de alto ângulo durante a recristalização Vejamos a constituição da estrutura granular, em modelo de
primária pode ser vista como a transferência irregular de átomos indivi- duas dimensões. Na confluência entre três grãos (fig. 30a), as forças de
duais ou de grupos de átomos, do grão deformado para o recristalizado. tensão superficial devem estar em equilíbrio. Nos metais e lig~ mo-
Durante o movimento vibratório, de tempos em tempos, os átomos de nofásicas a tensão superficial em todos os contornos de grande angulo
ambos os lados do contorno se descolam de um grão e unem-se ao outro pode ser' consideradà igual. Sendo assim, a força de tensão superficial
grão. Por sua natureza, este mecanismo é de difusão (dá-se na direção ao longo do contorno de grão estará em equilíbrio quando / = 2/ cos ~
de autodifusão dos átomos, perpendicularmente ao contorno).
ou cos ~=!e~= 60º.
Na figura 27 está esquematizada a variação da energia de Gibbs, Consequentemente, a configuração de equilíbrio se dá quando
durante a transferência de um átomo através do contorno entre grãos.
os grãos fazem entre si um ângulo de 120º.
Está claro que, devido à diferença 6.G na energia de Gibbs, relacio-
nada com a diferença em densidade de discordâncias nos dois lados do No modelo de grãos de suas dimensões, a configuração hexago-
contorno, a transferência de átomos do grão recristalizado para o defor- nal de lados retos corresponde à configuração de tensão superficial em
mado exige vencer uma elevada barreira potencial (Q + 6.G). Já para equiHbrio. Esta configuração de contornos é mecanicamente estável.
transferência no sentido contrário, esta energia é Q. Desta maneira, a No metal real, durante a recristalização primária, os grãos têm
freqüência de transferência atômica no sentido do grão deformado para contatos entre si em vários momentos e em vários pontos de suas su-
o recristalizado deve ser maior do que no sentido inverso. Isto determina perfícies. No final da recristalização p:imária, eles _têm uma forma não
a "absorção" do grão deformado pelo grão recristalizado. exata, várias dimensões e várias quantidades de graos.
74 1. 1. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 75
capítulo 2

T õ
8

5
.4
8
Figura 31. Modelo .b~dimensional da estrutura do metal com grãos de
várias quantidades de contornos {as setas indicam o sentido da mi-
b 1~ação dos grãos).

perficial, eles tendem a diminuir de tamanho. Cada contorno se endireita


5 com a migração no sentido do centro de sua curvatura. Este sentido, na
.4 figura 31, está mostradb por setas. Na figura 30b, as linhas contínuas
B
representam os contornbs que se endireitaram, e as linhas descontínuas
representam sua situação inicial na configuração de equihbrio.
e A migração do contorno se dá no sentido do centro de curvatura,
porque na superfície côncava os átomos estão mais ligados ao vizinho de
Figura: 30. ~s,quema dos contc)rnos na confluência de três grãos em
diversqs mon\entos do recozimento: a) antes do recozimento; .b) após o
seu próprio grão do qilie na superfície convexa. A transferência não
estabelecime4to do e.quilíbrio dás forças de tensão superficial no ponto compensada de átomos;através do contorno possibilita o crescimento do
triplo, ,atrav~ do encurvamento dos contornos; c) após o endireita- grão com contorno cônclivo, às custas dos grãos com contQrnos convexos.
mento :dos
.
coptomos,
'
quando se destrói o equilíbrio no ponto triplo. Ü' endireitamento dos contornos destrói o equilíbrio antes con-
seguido, na confluência de três grãos (na figura 30c, o ângulo no vértice
No mod,lo bidimension~l, estes grãos se constituem de figuras do grã~ A torna-se menor que 120°). Para atingir o equilíbrio na con-
de: vários âqgulos !e várias quantidades de lados, como por exemplo 3, 4, fluência dos três grãos; os contornos novamente se encurvam por mi-
6, [50 etc. (f;.g. 31~.
1
gração, e assim por diainte. Desta maneira, os grãos B e C nas figuras
A verifi9ação das condições de equilíbrio da força de tensão 30 crescem gradualmente às ~ustas do grão A.
superficial na con~uência de três grãos, vista acima, depende do número No modelo bidimensional de estrutura granular, os grãos com
deilados do grão. Para grãos de menos de seis lados, o mesmo deve ter os um número de lados m~or que seis devem crescer, e os grãos com número
coµtornos côncav~s do lado do grão, e para grãos de mais de seis lados, de lados me.nor que sei& são "absorvidos" pelos vizinhos. No metal real,
o mesmo de:ve ter! contornos côncavos do lado do grão vizinho. 0 grão com um lado que tem superfície côncava cresce a expensas do
Os conttjrnos se encurvam na migração, com um deslocamento vizinho. O mesmo grão em outro extremo tem lado convexo e se auto-
si~ultâneo do pqnto de confiuêticia tripla. Na figura 30b as linhas absorve pelo vizinho. No final, cresce o tamanho médio de grão.
coµtínu~ r!prese~tam ~ co~tornos. ~ncurvados. na confluência tripla Durante o recbzimento isotérmico os grãos crescem, e a con-
em equihbqo, a~ a nugraçao. As linhas pontilhadas representam a
figuração de contornos. aproxima-se do equihbrio .. A força motriz de
sitfl~Ção inicial dfs contornos, na confluência tripla em não-equilíbrio. migra·ção dos contornos decresce gradualmente. Durante a análise da
Porem, os contorqos encurvados são instáveis. Sob a ação da tensão su-
estrutura da amostra sólida, deve-se considerar que a configuração de
Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 77
76 l. l. Novikov
capítulo 2

Integrando obtém-se:
equilfhrio tridimensional dos contornos de grãos é mais complexa que a D 2 =D~ +M1t (12)
bidimensional.
No espaço, o equilíbrio da força de tensão superficial responde onde D 0 é o diâmetro inicial do,s grãos recristalizados e t é o tempo de
à compactação a partir dos grãos: quatorze contornos, sendo alguns recozimento.
encurvados. Suponhamos que esta configuração de equilíbrio idealizada Se o tamanho de grão inicial for muito menor que os correntes,
seja conseguida durante o recozimento. Na superfície da amostra polida e
as dimensões dos grãos serão diferentes, e os ângulos da confluência de D2 << D2
o '
três contornos serão diferentes de 120°. então
O crescimento de uns grãos recristalizados às custas dos grãos D= Bt 1! 2 (13)
vizinhos, também recristalizados, denomina-se crescimento
Os dados experimentais mostram que a variação do tamanho
normal de grão 3 • médio de grão nos metais e ligas monofásicas, durante o recozimento,
O estímulo termodinâmico do crescimento normal de grão é a
obedece à expressão
energia do contorno de grão, e a condição obrigatória de seu crescimento (14)
é o não-equilfbrio da tensão superficial, o qual tende a endireitar os
contornos encurvados e formar configuração de equilíbrio dos contornos, onde n = (O, 1 - O, 5)
e B constante, a qual depende da temperatura.
nas confluências tríplices. O desvio do expoente n. do valor teórico de 1/2 para valores
A velocidade de migração dos contornos é tanto maior quanto menores, isto é, o crescimento de grão menos intensivo, é causado pelo
mais forte for a curvatura do contorno, isto é, quanto menor for o raio de freio do contorno, devido à solubilização de átomos estranhos e inclusões,
curvatura. Consideremos que o raio de curvatura dos contornos de grão bem como por outros motivos.
em equilíbrio seja proporcional ao seu diâmetro D (r = pD). Nestas Os átomos estranhos à solução sólida estão fortemente ligados
condições, a velocidade do crescimento de grão deve ser inversamente ao contorno do grão. A migração do contorno está relacionada ao movi-
proporcional ao diâmetro do grão D, e diretamente proporcional à tensão mento dos átomos estranhos em direção ao mesmo. O contorno que está
superficial r (energia de contorno de grão): migrando encontra em seu caminho os átomos estranhos, distribuídos no
corpo do grão "absorvido". Com isto, acumulam-se misturas de átomos
dD no contorno, fortalecendo a frenagem do mesmo.
dt =K1/pD, (11) Se o contorno que está migrando encontrar uma inclusão de
seg1;1nda fase, ele deve contornar a mesma. Posteriormente, o contorno
onde K é constante e depende exponencialmente da temperatura, se desprega da inclusão (fig. 32). Pelo fato de que a força motriz do
crescimento de grão diminui, as inclusões podem depois de algum tempo
(K=Ae - )
-Q freiar completamente o crescimento de grão. Quanto maior for a fração
KT volumétrica de inclusões f é menor seu tamanho d., tanto menor será o
3
tamanho final de grão D;;:,
conseguido durante o recozimento:
Na literatura traduzida (para o russo) e na estrangeira, a recristalização primária
freqüentemente é chamada simplesmente de recristalização, e o crescimento normal (15)
de crescimento de grão (grain growth). O último termo é impossível de ser reconhe-
cido corno oportuno, uma vez que durante a recristalização primária também crescem
os novos grãos. N.T - Apesar desta observação do autor, traduzimos como "cresci-
Conseqüentemente, o maior obstáculo ao crescimento de grão é
mento normal de grão". Isto também diferencia da recristalização secundária que é a elevada dispersão de inclusões, com grande fração volumétrica das mes-
um crescimento "anormal" de grão. Além disto, o termo "crescimento de grão" é mas. O efeito de barreira de grandes inclusões separadas não é grande.
generalizado entre os rnetalurgistas brasileiros.
I. I. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 79
capítulo 2

O crescimento normal de grão pode diminuir fortemente a tex-


tura que surge durante a recristalização primária. Explica-se o "freio
de textura" pelo fato de que os contornos de grão com pequeno ângulo
de desorientação (e isto é característica da textura perfeita) exercem di-
minuiçào na energia de superfície e, de acordo com a fórmula (11), a
velocidade de crescimento de grão deve ser menor.
O crescimento normal de grão às custas de outros grãos aná-
logos da mesma fase deve, obrigatoriamente, ser precedido da recrista-
lização primária.
Freqüentemente considera-se que o crescimento normal de grãos
a expensas dos vizinhos não se dá nas folhas (não deformadas). Esta
hipótese é válida apenas para os metais de baixa pureza, nos quais as
impure2:as, que se concentram nos contornos de grão, impedem o cresci-
mento durante o recozimento. Nas folhas de metais e ligas monofásicas
puras, durante o recozimento sem deformação prévia, os grãos podem
Figura 32. Encurvamento dos contornos de grão entre as partículas de crescer rapidamente; isto é, de fato pode ocorrer crescimento normal de
Al203 durante o recozimento (lOOºC, 20 horas), após deformação a grão.
frio da. liga de cobre desoxidada. com 0,2% AI 50.000X (E.P. Danclia,
M.D. Teplitsik; V.M. Rosemberg).

2.6. Texturas de recristalização.


Em condições de força motriz de migração do contorno bas-
tante grande, durante algum tempo as inclusões de segunda fase podem
aderir ao contorno. Posteriormente, estas inclusões se despregam dos 2.6.1. ][,eis básicas da formação da textura de recristalização.
contornos. Ao apoderar-se, durante seu trajeto, das inclusões do grão Foram determinadas experimentalmente três variantes de interligação,
vizinho, o contorno que está migrando deixa através de si uma zona livre entre as orientações cristalográficas do. metal deformado e do recristali-
destas inclusões. Após a separação das inclusões do contorno, elas ficam zado. Em primeiro lugar, a textura de deformação pode se identificar
enfileiradas no interior do grão que cresceu. com a textura de recristalização, isto é, os grãos recristalizados adqui-
Durante o recozimento de folhas finas, quando o tamanho de rem aquelas orientações preferenciais que tinham os grãos deformados
grão fica semelhante à espessura da folha, o crescimento dos grãos torna- iniciais. Em segundo lugar, a textura pode transformar-se em uma tex-
se mais lento. Porém, o grão ainda continua a crescer na superfície tura de recristalização que se diferencia da mesma. Este caso é o mais
da folha. Quando o tamanho de grão na superfície da folha torna-se freqüente. Em terceiro lugar, os grãos recristalizados podem ter uma
duas a três vezes maior que a espessura da mesma, o crescimento cessa orientação cristalográfica aleatória (randômica), ao mesmo tempo que o
completamente. metal deformado inicial estava texturado.
Denomina-se "efeito de espessura" a ação inibidora da superfí- O caráter e o grau de perfeição da textura de recristalização
cie livre. Uma das causas desta ação é a formação de valas de ataque dependem do tipo de tratamento de deformação, do grau e temperatura
térmico nos locais de saída dos contornos de grão na superfície. As da última deformação, da temperatura e tempo do último recozimento,
valas se formam durante o recozimento, devido à evaporação de átomos do grau de deformação intermediária, da temperatura de recozimento
dos contornos de grão, os quais ficam ligados. É como se houvesse a intermediário, da composição em elementos de liga, das impurezas, do
"fixação" dos contornos às correspon~entes regiões da superfície. tamanho do grão antes da deformação a frio e de outros fatores. Con-
/. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 81
80
capítulo 2

seqüentemente, muito mais fatores influenciam na textura de recrista- de recozimento para os mesmos metais e ligas, particularmente as de pu-
lização do que na textura de deformação. reza comercial, pode estar ligada às diversas composições de impurezas
Durante o recozimento abaixo de determinadas temperaturas, que não são controladas.
a textura de recristalização é qualitativamente idêntica à textura de
deformação. A diferença pode consistir no reforço de alguns e no en- 2.6.2. Natureza da textura de recristalização. Para explicar a
fraquecimento de outros componentes da textura. Assim sendo, se um textura que se forma durante a recristalização, foram propostas duas
arame de cobre trefilado a frio tem textura axial < 111 > e < 100 >, hipóteses: nucleação orientada e crescimento orientado. De acordo com
após a recristalização primária a sua textura será a mesma. Porém, o a primeira hipótese, na matriz deformada formam-se apenas aqueles
número de grãos com a orientação < 100 > cresce às custas dos grãos núcleos de grãos recristalizados que têm a orientação cristalográfica
correspondente à textura posterior de recristalização. De acordo com
com orientação < 111 >.
O caso mais brilhante e de maior significação prática de modi- a segunda hipótese, na matriz deformada surgem núcleos de diversas
ficação da textura durante a recristalização é a formação de uma textura orientações. Parte deles, porém, graças à relação de orientação com a
matriz, tem maior velocidade de crescimento. Esta hipótese explica, de
de cubo {100}< 100 > bastante perfeita em metais C.F.C., com média e
maneira lógica, porque nos metais C.F.C. a rede dos grãos recristali-
elevada energia de falha de empilhamento. A textura de cubo se forma
zados freqüentemente encontra-se girada em relação à rede dos grãos
durante o recozimento de recristalização do cobre, níquel, alumínio e de
deformados, em torno do eixo < 111 >, de um ângulo de 30 a 45º. Me-
muitas ligas à base destes elementos. Assim, por exemplo, no cobre a
didas diretas mostraram que no alumínio os grãos estão girados de 40º
textura de laminação é {135} < 112 >,a qual se transforma em textura
em torno do eixo < 111 >, e no cobre, de 30°. Os contornos entre estes
de cubo: nos grãos recristalizados os planos {100} aparecem paralelos
grãos adquirem uma mobilidade de rara grandeza.
aos planos de laminação e as direções < 100 > orientam-se perfeitamente
ao longo da direção de laminação. A hipótese de crescimento preferencial não explica, com con-
Nos metais C.F.C. e nas soluções sólidas com energia de falha sistência, a forte influência de heterogeneidades localizadas da estrutura
de empilhamento bastante baixa (prata, latão-a com 30% Zn, aço ino- do metal deformado, na formação da textura de recristalização. Estas
xidável austenítico), a textura de laminação {110}< 112 > transforma- heterogeneidades, como foi mostrado no §2.4, desempenham importante
se na textura de recristalização {113}< 112 >. papel na formação dos núcleos de recristalização primária.
Como regra, quanto mais perfeita a textura de deformação, É difícil supor que existe algum mecanismo de formação da
mais precisamente forma-se a correspondente textura de recristalização. textura de recristalização que atue em todos os metais e em todas as
As pequenas adições e impurezas presentes na solução sólida condições de tratamento. A análise atual dos dados experimentais con-
exercem excepcional influência no caráter e grau de perfeição da textura duz, fatalmente, à unificação das duas hipóteses, de nucleação orientada
de recristalização. As impurezas podem evitar a formação de tal ou qual e de crescimento preferencial. É muito preciosa a visualização dos meca-
textura de recristalização, e podem também fortalecer a perfeição desta nismos de formação da textura de recristalização, que nos dá as intensas
textura. O importante é que, em primeiro lugar, as impurezas e peque- investigações conduzidas nos últimos anos por microscopia eletrônica,
nas adições, que influenciam fortemente na textura de recristalização, sobre as particularidades da estrutura do metal após forte deformação
geralmente não têm influência na textura de deformação. Em segundo a frio, e nos primeiros estágios de recristalização. Estas investigações
lugar, o resultado desta influência na textura de recristalização depende incluem a medição direta das orientações cristalográficas, em regiões lo-
não apenas da concentração, mas também do grau de deformação, da calizadas. Verifiquemos, na base destas investigações, como se forma a
temperatura de recozimento e de outros fatores tecnológicos. Aqui não textura de cubo no cobre recristalizado, após forte deformação a frio.
existem leis simples. A contradição entre os dados de diversos investi- As microbandas nas bandas de transição que se tranformam
gadores sobre a variação do caráter e grau de perfeição da textura de em núcleos de recristalização têm a orientação de cubo {100} < 100 >.
recristalização em função do grau de deformação, temperatura e tempo No interior destas microbandas, a densidade de discordâncias é me-
82_ _ _ _. /. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 83
capítulo 2

nor, devido à recuperação rápida de caráter dinâmico (durante a de- 2. 7. Recristalização secundária.
formação) ou estático (durante o recozimento). A análise cristalográfica
mostrou que exatamente no cristal com orientação de cubo durante a
laminação existe urna situação particular. As discordâncias, nos siste- 2. 7.1. Leis da recristalização secundária. Durante o crescimento
mas ativos de qeslizamento, têm vetores de Burgers ortogonais entre normal de grão, os grãos crescem mais ou menos regularmente, e o metal
si. Conseqüentemente, não interagem elasticamente, isto é, não podem pode ser caracterizado por um tamanho médio de grão. Este crescimento
formar configurações estáveis. Desta maneira, a existência de microban- de grão que denominamos normal foi visto no §2.5.
das alongadas com textura de cubo nas bandas de transição do cobre
deformado, bem como a tendência especial de nucleação dentro destas Em determinadas condições, após o recozimento revela-se uma
estrutura que consiste de grande quantidade de grãos pequenos e, em
microbandas, fazem delas embriões da formação da textura de cubo, na
número muito menor, de grãos grandes (às vezes, gigantes). Estes grãos
recristalização. Devido ao fato de que o volume total de bandas, com
atingem dimensões de alguns centímetros (fig. 33). Esta estrutura surge
orientação de cubo, é uma fraçãio muito pequena do volume do metal, o
como resultado de crescimento desigual de grãos, e se denomina recrista-
método de raios-X não pode registrar a existência da componente {100}
lização secundária: a maioria dos grãos cresce muito lentamente ou, na
< 100 > na textura de laminaçào (tabela 1).
prática,, não cresce. Os grãos restantes crescem até grandes dimensões,
Nas bandas de deslizamento formam-se núcleos de recrista-
"absorvendo" os grãos menores à sua volta.
lização com orientações randômicas. Isto dificulta a formação de textura
de cubo perfeita na recristaliza1ção. Além disto, as bandas de desliza-
mento, ao cruzarem as bandas die transilção, fazem com que as microban-
das, nestas últimas, se tornem mais curtas (fig. 14) e, conseqüentemente,
menos efetivas para a nucleação de grãos recristalizados com orientação
de cubo. Grãos iniciais (antes da laminação) grandes possibilitam o de-
senvolvimento de bandas de deslizamento no cobre. Isto enfraquece a
própria textura de cubo na recristalização. Desta maneira, interferindo
no desenvolvimento de bandas de transição e de bandas de deslizamento,
é possível controlar a textura de recristalização.
A influência das impurezas na textura de recristalização é com-
plexa. Isto, ao que tudo indica, está relacionado à ação delas na mobi-
lidade dos contornos de baixo ângulo e alto ângulo, durante a formação
dos núcleos de recristalização e crescimento de grão a partir destes Figura 33. Contorno entre grãos pe.quenos e grão grande .que se forma
núcleos. no zinco, como resultado da recristalização secundária durante o reco-
A hipótese de nucleaçáo orientada, e também de crescimento zimento a 200ºC·60X (Burk).
orientado, permite entender porque a textura de recristalização (caráter
e grau de perfeição) é de múltipla formação. Também permite entender A recristalização secundária tem início em determinada tempe-
porque esta textura depende de uma quantidade maior de fatores - muito ratura (na figura 34, Trs = 925ºC). Abaixo desta temperatura apenas
mais que para a textura de deformação. Na formação da textura de tem lugar o crescimento normal de grão, muito lento. Na temperatura
deformação, a principal influência é da especificidade de deslizamento de 925ºC, e durante uma hora, passado o período de incubação da re-
de discordâncias. Já na textura de recristalização, influem a estrutura cristalização secundária, o tamanho do grão aumenta, por exemplo, em
inicial do metal deformado e a velocidade de migração dos contornos de 50 vezes, atingindo 10 mm. A maioria dos grãos a 925ºC tem dimensão
vários tipos, os quais, por· si só, dependem de muitos fatores. próxima a 0,02 mm.
l. l. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 85
84
capítulo 2

A dimensão dos grãos é máxima na temperatura Trs· Com seja, não é um crescimento anômalo de grão, mas um acontecimento
o crescimento da temperatura acima da Trs a dimensão diminui, de- inerente a muitos metais e ligas. Ela se manifesta nas regiões puras
vido ao maior número de centros de recristalização secundária. Acima dos metais e nos metais de pureza tecnológica, como por exemplo no
da Trs acelera-se o crescimento normal de grão na matriz e, em tem- Fe, Cu, Ag, Zn, Ni, PT, Ti, AI, W e Ta. Também se manifesta nas
peraturas suficientemente elevadas, o crescimento normal de grão e a ligas de diversas bases, como por exemplo nos aços austeníticos e para
recristalização secundária tornam-se processos concorrentes (curvas 1 e transformadores, ligas de alumínio e magnésio, cobre e muitas outras.
2 na figura 34 se aproximam). A 1200ºC tem lugar apenas o crescimento Durante o reaquecimento de um aço que possui, hereditariamente, grão
normal e regular de grão. Desta maneira, a recristalização secundária fino, a recristalização secundária da austenita conduz ao aparecimento
se dá em determinado intervalo de temperatura, no qual o crescimento de diferenças em tamanhos de grão (§5.1)
normal de grão é relativamente lento. 2.7.2. Natureza da recristalização secundária. As experiências
demonstram que, em vários metais e ligas em diversas condições de tra-
10,0 ,- ,
1
....
\
tamento, como também para diferentes espessuras das chapas, o cres-
cimento irregular de grãos pode ser devido a várias causas. Porém, de
1 \
qualquer maneira, a condição indispensável para o desenvolvimento de
E 2' \ recristalização secundária é o que chamamos de estabilização da matriz.
E 1,0 11 ' ..
18 1 Isto significa a existência de fortes obstáculos para o crescimento da
a, 1
1 maioria dos grãos que se formam durante a recristalização primária. Se
i!l 1 a matriz está, como um todo, estabilizada, então o crescimento de grãos
o 0,1 1
.r. 1 isolados, devido à existência de poucos obstáculos, qualquer que seja a
e
o 1
E I causa, é a essência da recristalização secundária. Conseqüentemente, na
o
~
0,01 análise das causas da recristalização secundária, em cada caso concreto
1200 é indispensável estabelecer, em primeiro lugar, por que a matriz está
Temperatura recozimento,'!! e estabilizada; em segundo lugar, por que grãos isolados podem crescer
sem obstáculos, absorvendo a matriz estabilizada.
Figura 34. Variação do tamanho de grão em função da temperatura de As causas de estabilização da matriz recristalizada podem ser:
recozimento durante 1 hora, em chapas de liga Fe - 3% Si de espessura
0,35mm. 1 - tamanho de grão da matriz estabilizada que cresceu du-
a) partículas dispersas ou segregação de impurezas nos contornos;
rante o crescimento normal de grão; 2 - tamanho de grão que cresceu b) "inibição por textura";
durante a recristalização secundária. c) "efeito de espessura". Todas estas causas foram vistas no§2.5,
quando se estudou os motivos de inibição do crescimento de
Os grãos que crescem durante a recristalização secundária fre- grão. O papel de inibição das partículas dispersas, da "inibição
qüentemente têm orientação cristalográfica preferencial, pois a textura por textura" e do "efeito de espessura" foi mostrado experi-
de recristalização secundária sempre se diferencia da textura de recris- mentalmente para vários casos concretos de recristalização se-
talização primária, e é mais perfeita. cundária.
O caráter e o grau de perfeição da textura de recristalização se- É mais complexo esclarecer quais, entre os grãos recristalizados
cundária dependem do regime do tratamento de deformação, dos recozi- da matriz estabilizada, podem crescer, isto é, servir de centro para a
mentos intermediários e finais, da espessura da chapa e de outros fatores. recristalização secundária. Quanto a isto, é importante entender porque
A recristalização secundária não é um fenômeno raro ou um estes grãos são capazes de exceder, em dimensões, seus vizinhos, no
estágio inicial da recristalização secundária. Entende-se o grande cres-
caso particular de crescimento de grão, como às vezes se considera. Ou
J. J. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 87
capítulo 2

cimento posterior, pois sempre existe a "força motriz" do crescimento do aço para transformador, forma-se a perfeita textura de aresta {110}
dos grãos maiores (dimensão D M) às custas dos vizinhos ménores (di- < 100 >, deve-se também explicar por que, exatamente os grãos com
mensão Dv), a;qual é proporcional à diferença de dimensões e à energia esta orientação são capazes de um crescimento exagerado. Talvez isto
de contorno de 'grãos: esteja condicionado ao aumento da mobilidade dos contornos dos "grãos
de aresta" na matriz .de recristalização primária.
F ~ (DM - Dv}yf DtDv (16) Co~ideremos que a causa de estabilização da matriz seja a tex-
tura perfeita que surge durante a recristalização primária. A maioria dos
A força motriz F é a diminuiç;ã.o da ~nergia de Gibbs do sistema, grãos está separada por contornos de pequeno ângulo de desorientação
por unidade de volume. Durante o cresciuiento dos grãos maiores às e, correspondentemente, tem baixa energia de contorno de grão. Con-
custas dos men,ores, a força mt>triz é a dimlnuição da energia total de seqüen:temente, estes contornos são de baixa mobilidade. Nas condições
contorno de griµ). Durante a recristalização secundária, o tamanho de de "inibição por textura" são capazes de crescer, seletivamente, aque-
grão da matriz •Dv permanece praticamente inalterado. À medida que les poucos grãos cuja orientação diferencia-se fortemente da orientação
os grãos selecionados crescem, isto é, com o aumento de D M, a força principal da matriz estabilizada, e que ao mesmo tempo tem tamanho
motriz cresce progressivamente. grande para possibilitar a força motriz de seu crescimento a expensas
Voltemos à questão de quais os grãos que tornam-se centro da dos seus vizinhos.
recristalização secundária. ' . Pelo que foi exposto, pode-se entender por que os centros de
Após o término da recristalização! primária, sempre existem recristalização secundária compreendem apenas um grão entre 105 - 106
grãos, cujas dimensões estão acima da mé<fia. Quanto maiores estes grãos dla matriz.
grãos, menor a· sua quantidade. Consideren;tos que a matriz está esta-
bilizada por partículas dispersas de segunda lfase. Devido à distribuição
irregular destas partículas, os contornos dos grãos maiores podem estar 2.8. Dimensão do grão recristalizado.
significamente l;nenos bloqueados do que os contornos da maioria dos
grãos. Sendo a~sim estes grãos são capazes de crescer preferencialmente.
A ação inibidor/l, das partículas depende de sua dispersão, da fração vo- A dimensão do grão recristalizado é uma das características
lumétrica (fórm. (15)) e do caráter de sua distribuição, da capacidade principais do metal recozido. Como regra, o tempo de recozimento ex-
para o coalescimento e para a solubilizaçãof .Se· a influência inibidora cede a duração da recristalização primária. Por isso, todos os fatores
é fraca, a matriz não fica estabilizada sufiqientemente, e tem lugar o que foram descritos como influenciadores da recristalização primária e
crescimento normal e regular de grãos.. Se a ~ão inibidora é exagerada- do posterior crescimento normal do grão, influem na dimensão do grão
mente forte, como por exemplo para :fração !volumétrica muito elevada do metal recozido.
da partículas, a matriz fica "su:perestabiliza~a". Nestas condições, não A dimensão do grão no final da recristalização primária de-
se encontram grãos capazes de crescimento, 'e não se processa a recris- pende da relação entre a velocidade de nucleação e a velocidade linear
talização secundária. de crescimento. Quanto maior a velocidade de nucleação e menor a de
Nos aços para transformadores (Fe - 3% Si) a matriz é esta- crescimento linear, tanto menor será o grão no momento do término da
bilizada com partículas de nitreto de alumínio ou sulfeto de manganês, recristalização primária. O contrário também é verdadeiro. Depois do
com fração volumétrica de 0,0(11 - 0,1 % e dimensões 20º - 100° A0 • A término da recristalização primária, o grão aumenta de tamanho corn
900 - lOOOºC estas partículas começam a cqalescer ou solubilizar. Sua o crescimento normal de grão. Por isto, no final, o tamanho de grão
ação inibidora se enfraquece. Nestas condições, os grãos maiores da também é influenciado pela velocidade linear de crescimento de grão
matriz recristalizada começam a crescer rapidamente, às custas dos vi- após a recristalização primária (por enquanto não estamos considerando
zinhos menores. Pelo fato de que, durante~ recristalização secundária a recristalização secundária).
Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 89
88 l. /. Novikov
capítulo 2

Os principais fatores que influenciam no tamanho final do grão


recristalizado são a temperatura e o tempo de recozimento, o grau de
deformação, a composição química e a constituição de fases da liga. 300

2.8.1. Influência da temperatura e tempo de recozimento. A


E
velocidade de nudeação e a velocidade linear de crescimento aumentam ~

com a elevação da temperatura. Se a velocidade linear de crescimento .8 200


aumentar mais intensamente que a velocidade de nudeação, o tamanho .,a.
'O

de grão no final da recristalização primária é maior para temperatura o


~
e
mais elevada. Se ambos os parâmetros variam com a temperatura no ~ 100
mesmo grau, o tamanho do grão durante a recristalização primária não {!.

deve depender da temperatura. Se a velocidade de nucleação aumen-


tar mais intensamente com a temperatura do que a velocidade linear de 400 500 600
300
crescimento, então o tamanho de grão, no momento do término da re- Temperatura de recozimento, 9C
cristalização primária, deve ser tão menor quanto maior a temperatura
de recozimento. Os últimos casos têm sido observados reiteradamente, Figura 35. Variação do tamanho de grão recristalizado do alumínio e
durante o recozimento do alumínio, de ligas de alumínio, latão e de suas ligas, em função da temperatura de recozimento· durante l hora
outras ligas. (LI. Novikov) 1- Al de pureza 99. 7%; 2- AI - 1,2% Zn; 3- Ai- 0,6% Mn;
À primeira vista pode parecer que estes fatos não concordam 4- AI - 0,55% Fe.
com a apresentação habitual sobre o crescimento de grão com a elevação
da temperatura de recozimento. A aparente contradição é explicada pelo temperatura facilita a transferência de átomos de um grão para outro.
fato de que o conceito acima anunciado refere-se ao tamanho de grão no Além disto, com a elevação da temperatura de recozimento, podem ser
momento do término da recristalização primária e, geralmente, a con- destruídas as segregações de átomos de impurezas dos contornos de grão
tinuação do recozimento supera a duração da recristalização primária. e, parcialmente, é possível solubilizar o excesso de fases que inibem a
Em último caso, o aumento do tamanho de grão com a elevação da tem- migração dos contornos durante o crescimento de grão.
peratura de recozimento é explicado pela intensificação do crescimento 2.8.2. Influência do grau de deformação. O grau de deformação
de grão após a recristalização primária. Na figura 35 mostra-se o caráter influi de maneira particularmente forte no tamanho de grão ao término
mais típico do tamanho de grão com a temperatura de recozimento para da recristalização primária (fig. 37 e 38). Pelo fato de a continuação do
tempo constante de exposição.
Com a elevação do tempo de recozimento, o tamanho de grão
o
~oor-~~-=::o========~
cresce limitadamente. Para cada temperatura de recozimento, o ta- 900ºC
~~ 80
manho de grão atinge um limite (fig. 36). As principais causas da dimi- "' 60
nuição da velocidade de crescimento isotérmico de grão são a diminuição ~
.e:
e SOOºC
o
da extensão de seus contornos e, correspondentemente, da energia de E
~ 20 L__ _J__ ___L_ __,__ __,
contorno de grão (força motriz do crescimento); o endireitamento dos
o 160 320 460 640
contornos, a aproximação dos ângulos de confluência tripla em termos Tempo de exposição, min.
de equilíbrio e a acumulação de impurezas nos contornos.
Se durante o recozimento se atinge o limite de tamanho de grão Figura 36. Influência do tempo de exposição no tamanho de grão
do níquél, para duas temperaturas de recozimento (I.I. Novikov; I.L.
para determinada temperatura, é possível aumentar o tamanho de grão
com novo recozimento a uma temperatura mais elevada. A elevação da Rogelberg).
I. I. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 91
capítulo 2

recozimento geralmente ultrapassar o tempo de recristalização primária, grau de deformação crítica corresponde à situação em que esta heteroge-
gráficos semelhantes aos mostrados na figura 38 refletem a influência neidade torna-se maior. Devido à diferença em energia volumétrica acu-
do grau de deformação no tamanho de grão final, atingido após cres- mulada (densidade de discordâncias) dos grãos vizinhos, durante o aque-
cimento de grão. O crescimento de grão apenas aumenta a dimensão cimento dá-se a migração rápida de contornos individuais, em distâncias
do mesmo, mas não muda qualitativamente o caráter da dependência da da ordem de grandeza do tamanho de grão. Em outras palavras, grãos
dimensão dos cristais com o grau de deformação no momento do término iniciais isolados crescem às custas de grãos vizinhos encruados em maior
da recristalização primária. grau.
A densidade geral de discordâncias e o excesso de discordâncias
de mesmo sinal, para a deformação crítica, ainda não é suficiente para
provocar o surgimento de novos contornos de alto ângulo, bem como
dos núcleos para recristalização primária. Conseqüentemente, durante
0 recozimento após a deformação crítica, não se dá a recristalização
primária. Um grão pouco deformado cresce às custas de outros grãos
deformados, pois a força motriz desta recristalização é a diferença, em
energia volumétrica, de grãos vizinhos deformados não uniformemente.
Na região distante e acima da deformação crítica, a densidade
geral de discordâncias e o excesso de discordâncias de mesmo sinal é
tão elevado que, durante o recozimento, forma-se rapidamente grande
Figura 37. Macroestrutura de lâmina de alumínio puro recozida a quantidade de núcleos de recristalização primária que abarcam todo o
500°C após tração com diversos, graus d·e deformação (cifras na figura). volume do metal.
Tamanho natural. Com este processo não pode concorrer o menor crescimento
dos griios deformados às custas dos vizinhos, através da migração dos
Com uma deformação crítica relativamente baixa (geralmente contornos iniciais. Isto porque a diferença em energia armazenada de
de 1 a 5 %), durante o recozimento surgem grãos bastante grandes, grãos vizinhos deformados é incomparavelmente menor que a dif,:rença
que às vezes atingem alguns centímetros. O mecanismo de formação de de energia volumétrica entre os grãos deformados e os novos graos re-
grãos grandes com recozimento após deformação crítica difere qualitati- cristalizados.
vamente do mecanismo de recristalização no domínio pós-crítico, isto é, Durante o recozimento após deformação que pouco excede a
com maior grau de deformação. crítica, quando a quantidade de núcleo~ de recristali~ação ai~da é p~­
S.S. Goreliki estudou e analisou experimentalmente, com maior quena, concorrem dois processos: crescimento de grao a.traves da mi-
detalhamento, as modificações estrutura.is durante o recozimento de me- gração dos contornos iniciais e crescimento de novos grãos a partir dos
tal com deformação crítica e com deformação próxima da crítica, logo núcleos de recristalização primária. Com o segundo processo o tamanho
abaixo e logo acima desta deform~ção. Estas modificações consistem no médio de grão é menor do que durante o recozimento que se segue à
seguinte: deformação crítica.
Com o recozimento após deformação abaixo da crítica, dá-se Quanto maior a temperatura de recozimento, tanto menor a
o deslocamento dos contornos de alto àngulo dos grãos deformados, a deformação crítica (fig. 38). Isto é perfeitamente compre~nsível, pois
pequenas distâncias, em décimos e centésimos de frações volumétricas quanto maior a temperatura de recoz!me~t~, menor a d1ferenç~ ,n:-
do grão. Ocorre também poligonização. cessária na energia armazenada entre graos v1zmhos para poder ter m1c10
Com a elevação do grau de deformação, no domínio abaixo 0 processo de crescimento de grão, devido à elevação da mobilidade dos
do crítico, surgem vários grãos com heterogeneidade de encruamento. O átomos.
Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 93
I. I. Novikov
capítulo 2

bastante o grau de deformação crítica. Outros elementos (por exemplo,


o zinco e o cobre no alumínio), mesmo em grandes quantidades, agem
levemente. A forte influência de pequenas quantidades de manganês é
explicada pelo fato de que ele, ao contrário do zinco e do cobre, é muito
pouco solúvel no alumínio sólido, e forma partículas dispersas de Al6 Mn.
Estas partículas inibem a migração dos contornos dos grãos deformados
T.
iniciais.
e ê
cr2 cr1 Grau de deformoçêfo
6
E
::;;-.
Fig~ra 38. Influência do grau de deformação no tamanho de grão
obtido com posterior recozimento a duas temperaturas: êcr - grau de
,g 4
Q,
deformação crítica.
"'
"O

_ge 2
o
Com a elevação da temperatura de deformação, aumenta a de- E
o
fori:iação crítica que se tinha no recozimento anterior (fig. 39). Para 1-

ma10res temperaturas de deformação, é necessária uma maior redução o 2 4 6 8 10 12 14 16 18


p~~a se atingir a indispensável heterogeneidade de encruamento de grãos Grou de deformação , ºlo

v1zmhos. Isto porque, durante a própria deformação, tem-se a res-


tauração parcial do encruamento que se produz. Figura 40. Influência do grau de deformação no tamanho de grão
recristalizado do alumínio com adições de manganês. Recozimento a
500ºC, 30 min. (B.E. Zarrarov; LI. Novikov; l.L. Rogelberg; Iau-Min-
Chin) 1- AI de pureza 99.7%; 2- Al - 0,3% Mn; 3- AI - 0,6% Mn;.

Nos gráficos de tamanho de grão recristalizado versus grau de


deformação pode-se observar descontinuidades (fig. 38 e 40), como.tam-
bém crescimento harmonioso de grão (fig. 41). No último caso, a curva
ascendente (à esquerda de fcr) correspondente à aceleração do cresci-
mento de grãos iniciais selecionados, às custas de vizinhos. Isto devido
100 200 300 400 à elevação da heterogeneidade de encruamento, com o aumento do grau
Temperatura de deformação, <?C
de deformação no campo abaixo da deformação crítica.
Figura 39. Variação do grau de deformação crítica do alumínio em Sob graus de deformação muito elevados e com alta tempera-
função da temperatura de deformação. Recozimento a 450ºC e 30 tura de recozimento para o alumínio, o cobre e algumas ligas, revela-se o
min. (B.E. Zarrarov; LI. Novikov; l.L. Rogelberg; Iau-Min-Chin). surgimento de um segundo máximo no tamanho de grão (fig. 41). Em ca-
sos particulares, como por exemplo para o cobre eletrolítico com grande
estiramento (maior que 80%) e temperatura de recozimento acima de
A deformação crítica decresce com a elevação da pureza do me-
lOOOºC, o grão é maior que para o primeiro máximo corresponde à de-
tal. Os elementos de liga influem de várias maneiras na grandeza do grau
de ~eformação crítica. Alguns elementos (como, por exemplo, o man- formação crítica. É possível supor que, devido à textura perfeita que
ganes no alumínio, fig. 40), mesmo em pequenas quantidades, elevam surge durante elevados graus de deformação e altas temperaturas de re-
L /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 95
capítulo 2

Estes subgrãos são capazes de crescer durante o aquecimento.


Neste crescimento eles acumulam desorientação angular e o subcontorno
transforma-se em contorno de alto ângulo, formando o grão que é em-
brião da recristalização (o modelo de formação do embrião de recrista-
lização no pólo de curvatura da rede, fig. 24).
O tamanho final dos grãos recristalizados depende da distância
E.cr -- entre as partículas grosseiras. Se esta distância é grande, os grãos re-
Grau de deformoçõo
cristalizados estão bastarite livres para se de8envolverem. Se a fração
volumétrica da segunda fase é grande e, conseqüentemente, a distância
Figura 41. Ihfiuência do grau de deformação no tamanho de grão
entre suas partículas é pequena, estas partículas irão inibir o crescimento
obtido com pÓsterior recozimento.
dos grãos recristalizados. Com isto, o tamanho médio dos grãos deve ser
da mesma ordem da distância média entre partículas.
co~imento, os grãqs grandes se formam como resultado da recristalização
secµndária, a qualise dá em condições de forte inibição por textura (§2. 7). Próximo às partículas de pequena dimensão (inenos ~ O, lµm),
durante a deformação plástica, não surge na matriz a curvatura de
2.~.3. lnfluênciii da composi~ão química e da constituição de rede, a qual permitiria o surgimento de núcleos de recristalização. Se
f~s. Em geral pode-se considerar que o grão diminui com a elevação as partículas são bastante dispersas e uniformemente distribuídas no
da ~uantidade de ~mpurezas no metal. A causa disto é, principalmente, volume, e a distância entre elas é pequena, as mesmas dificultam o
a ix!.ibição do cresd~mento normal de grãos após recristalização primária. surgimento de grãos recristalizados, bem como inibem a migração de
Os elemeftos que constituem fases difíceis de solubilizlil.r no me- subcontornos. Estas partículas podem também dificultar o crescimento
tal ibase infl µenci~m de maneira particularmente forte no tamanho de de grãos já formados, tornando-se assim barreiras para a migração de
grã,p. Na figµra 5$ mostra-se que o zinco, que se encontra solubilizado contornos de grande ângulo. Por exemplo, a laminação a frio da liga Al,
em iquantidade rel~tivamente grande, diminui pouco o tamanho de grão 6,5% Mg, 0,2% Se com distribuição uniforme de partículas A~S6, de ta-
do b.lumínio. Ao rhesmo tempo, o manganês e particularmente o ferro, manho próf(imo a O, 03µm e que tem pouca tendência ao coalescimento,
que, formam o co~osto Al6Mn, de difícil solubilização, e o FeAla, que é conduzirá a uma temperatura de início de recristalização 2\)0ºK maior
quajse insolúyel, in.~bem fortemente o crescimento de grão após a recris- que para, liga Al, 6,5% Mg.
tali~ação prlln.ária, · 2.8.4. Diagramas de recristalização. Não é possível representar a
Um~ an~ise mais detalhada mostra que o papel das fases em variação do tamanho de grão em função de todos os fatores acima vistos
exc~, na fqrma~ da estrutura de recristalização, depende fortemente em um tipo de diagrama. São bastante dífundidos os diagramas de re-
das! dimensões de ~uas partículas e da distância entre as mesmas. Em cristalização tridimensionais. Eles mostram a dependência do tamanho
relai,ção às ligas m?nofásicas, a segunda fase pode tanto facilitar como de grão do metal ou liga, com o grau de deformação e temperatura
iniqir a recriStalizaição primária (fig. 27). de recozimento, para determinado tempo de exposição (fig. 42). Estes
diagramas dão a possibilidade de escolher, em primeira aproximação, o
Se as par~ículas de segunda fase são suficientemente grandes
regime de recozimento para se obter a estrutura desejada.
(dirp.ensões de 0,5-: 1 µm), durante a.deformação plástica da fase matriz
acuinulam-se ime<liatamente, próximo às particulas, discordâncias de As seções (cortes) verticais do diagrama tridimensional de re-
mesmo sinal; e surgem curvaturas .localizadas da rede cristalina. Nesta
1
cristalização, para graus de deformação constantes e temperatura de
regi~o da matriz, fiurante a deformação plástica ou durante o último recozimento constante, são gráficos dos. tipos representados respectiva-
aqu~imento, form~m-se subgrãos com grande ângulo de desorientação, mente nas figuras 35 e 38. Na superfície inferior do diagrama de re-
com~iderando-se aIJ\lbos os lados do subgrão. cristalização freqüentemente encontra-se uma curva, que representa a
96 /. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 97
capítulo 2

variação da temperatura de início de recristalização em função do grau iguais em dimensões (por exemplo, apenas grãos pequenos ou apenas
de deformação (linha pontilhada fig. 42). grandes). Porém, pode-se observar uma indesejável estrutura multigra-
nular: As formas básicas são:
1) Estrutura multigranular uniforme - alternância homogênea de
grãos pequenos e médios ao longo do volume;
2) Estrutura multigranular zonal - distribuição de grãos grandes
em determinadas zonas da peça;
3) Estrutura multigranular alinhada - alongamento de grãos gran-
400
{\J

~ des ao longo da direção principal de deformação;


><
"'E 4) Estrutura multigranular ilhada - grupos de grãos muito grandes
::>.
ó ou muito pequenos, distribuídos heterogeneamente pelo volume
'2
"' da peça.
~~ ~ As causas e condições de surgimento de estrutura multigranu-
o v
.'g 160 soo º;
lar são totalmente diversificadas. Podem se diferenciar até no caso do
; 120 700 i? mesmo tipo de estrutura multigranular, para as diversas ligas e peças.
;g so 600 /
g. 40 500 # A estrutura multigranular uniforme pode surgir no estágio ina-
~ "-J__L_J__J__~J__:...::::=-:=-::t:::.::=:==.==_,,,_j~ ~
cabado de recristalização secundária.
o 5 10 15 20 30 50 75
Grau de deformação, ºlo O caso mais simples de estrutura multigranular zonal é o seu
surgimento para a deformação crítica do metal, em determinadas zonas
Figura 42. Diagrama de recristalização do ferro eletrolítico. Trabalho da peça. Sob deformação fortemente localizada, o grau de deformação
inicial : forjamento e recozimento a 930°C. Tratamento final: recalque diminui, desde uma deformação muito acima da crítica, como por exem-
a frio e recozimento de 1 hora (Obergofer, Ortel).
plo na borda de um orifício perfurado, até deformação nula (distante
desta borda). Neste caso, sempre em alguma parte da peça tem-se de-
Ao utilizar-se o diagrama de recristalização, é indispensável formação de grau crítico. Neste local, surgem grãos grandes durante o
considerar fortemente as condições nas quais ele foi obtido, a saber: aquecimento. Se não é possível eliminar tecnologicamente a deformação
tempo de recozimento, velocidade de aquecimento durante o recozi- crítica, há a possibilidade de evitar a estrutur~ multigranular. Para
mento, tipo de tratamento de deformação, conteúdo de impurezas, ta- isto, recusa-se o recozimento de recristalização e procede-se apenas ao
manho inicial de grão e outras. Por isto, cada diagrama de recristalização recozimento de recuperação.
deve ser acompanhado de informações detalhadas sobre o estado inicial O alinhamento na distribuição de partículas dispersas na peça
e o tratamento final do metal. Ao não se considerar pequenas variações deformada pode conduzir à estrutura multigranular alinhada, durante o
e composições de impurezas, e também diferentes fatores que influem
recozimento de recristalização.
substancialmente no tamanho de grão, isto conduz, significativamente, A segregação zonal no lingote conduz à macro-heterogeneidade
à diminuição do valor do diagrama de recristalização, como sendo quan- na composição química da peça deformada. Nas regiões de diversas com-
titativamente característico do metal. Estes diagramas fornecem rapi- posições, são variadas as velocidades de recristalização primária, cre:-
damente dados semiquantitativos, que permitem a orientação sobre a cimento normal de grão e recristalização secundária. Isto conduz as
influência do grau de deformação e da temperatura de recozimento, no estruturas multigranulares, zonal ou ilhada.
tamanho de grão do metal ou liga.
Controlando as condições de solidificação do lingote, o regime
2.8.5. Estruturas multigranulares. Após o recozimento de recrista- do recozimento de homogeneização, as condições de tratamento mecâni-
lização nas diversas partes da peça, os grãos podem ser exemplarmente co e também a composição da liga, é possível combater o surgimento de
L L Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 99
capítulo 2

estrutura multigranular. Devido às diversas causas e formas de surgi~


mento da estrutura multigranular, para cada peça concreta é necessário
preparar sua produção tecnológica que garanta a obtenção de uma es-
trutura granular homogênea.
Na maioria dos casos é desejável obter, com o recozimento, não
apenas uma estrutura homogênea, mas também de grão pequeno. Se o ·ºoe
«U
J;;
metal (liga) não contém transfo.nnação polimórfica, a estrutura granular ·;;;
Recuperação 1Recristaiizoção l Crescimento
grosseira Qbtida durante o recozimento de recristalização não se elimina "'
o: 1primária 1 de grão
com qualquer tratamento térmico posterior. Isto porque esta estrutura Ti
granular grosseira corresponde ao estado de diminuição de energia de r
Tempo de recozimento
Gibbs.
. O recozimento de recristalização é utilizado para obtenção, in- Figura 43. Esquema da. variação das propriedades de resistência do
tencional, de estrutura de grãos grosseiros em bicristais e monocristais metal encruado em função do tempo de recozimento isotérmico.
indispensáveis para trabalhos ~e investigação e aplicações técnicas es~
pecíficas. Nos monocristais e nos bicristais aplica-se o método denomi- de recuperação (fig. 16): com a elevação do tempo de recuperação, a
nado de deformação crítica e um regime especial de recozimento. velocidade de diminuição das propriedades de resistência diminui. Se
no término da recuperação ainda não se restabeleceram as propriedades
2~9. Modificações das propriedades dos metais submetidos are- de resistência, então a recristalização primária elimina completamente o
cozimento de recuperação e recristalização. encruamento. Sendo assim, com o aumento do tempo de recozimento,
a velocidade de diminuição das propriedades de resistência inicialmente
se eleva. Após algum tempo esta velocidade permanece inalterada. De-
Durante o recozimento do metal encruado, as propriedades se
pois ela diminui em correspondência perfeita com a curva senusoidal de
modificam no sentido contrário das mudanças que se processam durante
aumento do volume recristalizado (fig. 21).
a deforma~ão a frio. Mais especificamente, os indicadores de resistência
à deformação (limite de resistência, o limite de escoamento, a dureza) Na figura 44 é visto que a dureza do alumínio encruado, subme-
diminuem, e os indicadores de elasticidade (alongamento e encurtamento tido a recozimento isotérmico, no início dinlinui com a recuperação. De-
relativos) aumentam. · pois, inicialmente de maneira rápida e em seguida lentamente, se pro-
2.9.1. Restauração durante o recozimento. Dependendo da tem- cessa uma intensa restauração com a recristalização primária.
peratura e da duração do recozimento, com uma ou outra intensidade, A manutenção do encruamento durante a recuperação é carac-
processam.;se várias modificações estruturais no metal, e de maneira va- terística do cobre, níquel e prata. É visível, e às vezes de maneira signifi-
riada acontece a restauração. cativa, a queda parcial do encruamento antes da recristalização primária,
Na figura 43 mostra-se, esquematicamente, três casos típicos de durante o recozimento do alumínio, ferro e titânio. Elimina-se completa-
modificação das propriedades de resistência com a elevação da duração mente o encruamento, no período de recuperação de monocristais defor-
do recozimento a temperatura constante. No período de incubação até mados de metais refratários com rede e.e.e. (volfrâmio, molibdênio).
o início da recristalização prim4ria, quando há apenas recuperação, o Isto também acontece com ligas de alumínio e magnésio. Do ponto de
encruamento na prática pode diminuir (curva 1), diminuir parcialmente vista prático, é importante o fato de que ligas de alumínio-magnésio
(curva 2) e diminuir completamente (curva 3). reestabilizam-se significativamente, até na temperatura ambiente. Isto
. O.caráter das modificações das propriedades de resistência, an- se deduz a partir dos seguintes dados, para o magnélio contendo 6%
tes do início da recristalização, corresponde completamente à cinética Mg:
Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 101
100 I. I. Novikov
capítulo 2

seus volumes, então as propriedades de resistência podem diminuir sen-


22 sivelmente.
20
O limite de escoamento ay relaciona-se com o tamanho de
subgrão d., de acordo com a relação de Hall-Petch:
(IJ 18
I -1

~ 16 (ly = ªº + KdT (17)


c:S 44 De acordo com esta relação, o crescimento de subgrão na po-
12'----'----'~----'-~~~~-'-~~~~-'-~~-'--~~__J ligonização conduz à diminuição do limite de escoamento, durante a
1 2 4 10 100 1000 10000
Tempo de recozimento, min.. recuperação.
A recristalização primária diminui radicalmente a densidade de
Figura 44. Diminuição da dureza do alumínio puro encruado em função discordâncias e "varre" os contornos de subgrãos. Isto conduz a uma
do aumento do tempo de recozimento para várias temperaturas. Es- forte restauração que é proporcional à fração volumétrica recristalizada.
tado inicial - tração a frio com deformação de 20% (Loran, Batis). Com a elevação da temperatura de recozimento no intervalo e T/r:
(fig. 45), ou com o aumen~o do tempo de reco~imento com t~m~er~tur~
Tempo exposição o 10 dias 4 meses 2 anos 12,5 anos constante (à direita de r;,
fig. 45), as propriedades de resistencia di-
aRMPa 500 480 455 440 435 minuem intensamente, devido à recristalização primária. Além disto, a
co~tinuação da recuperação nos grãos deformados que não absorveram
Na figura 45 mostram-se, esquematicamente, os casos típicos a recristalização acumula determinada restauração. Isto é indicado pela
de dependência das propriedades de resistência com a temperatura de diminuição de microdureza dos grãos não-recristalizados.
recozimento, para duração constante do mesmo. Até a temperatura
de início de recristalização, o encruamento pode conservar-se comple-
tamente (curva 1), ser eliminado parcialmente (curva 2), ou eliminado
completamente (curva 3). No primeiro caso, a restauração intensiva tem
início na temperatura de recristalização primária. No segundo e terceiro
casos não é possível determinar a temperatura r:
através da restauração.
Por isto, o bem conhecido método de determinação de através da T:,
modificação das propriedades de resistência, nem sempre pode ser utili-
Recuperoçõo
zado.
Se no intervalo da recristalização primária as propriedades de Ti Tf
r r
resistência caem fortemente, no intervalo de crescimento normal de grão Temperatura de recozimento
diminuem levemente.
As propriedades de resistência dependem da estrutura de dis- Figura 45. Esquema da Variação das propriedades. de resistência do
cordâncias e do tamanho de grão. Se durante o recozimento de recu- metal encruado, em função da temperatura de recozimento.
peração tem lugar apenas o relaxamento, cuja mudança estrutural prin-
cipal consiste na diminuição da concentração de defeitos pontuais, e na Após a substituição completa dos gr~os enc~uados pelo~ grãos
densidade de discordâncias varia muito pouco, então o endurecimento recristalizados, que são significativamente mais perfeitos, ? crescnnento
da deformação, no fundamental, conserva-se. Se durante o recozimento normal de grão pode diminuir apenas um pouc? as prop:ie?ades de re-
de recuperação desenvolve-se a poligonização, que está relacionada com sistência através do aumento do grão. Em particular, o hm1te de escoa-
a formação e crescimento de subgrãos com limpeza de discordâncias em mento diminui com 0 crescimento normal de grão após recristalização
Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 103
L L Novikov
capítulo 2

pp.mária, qe acotdo com a relação de Hall-Petch (neste caso, na fórmula primária, quando se elimina a maior parte do encruamento, e modificam-
(Í7), 4 é 0 diâmetro de grão).
1 se um pouco durante o crescimento normal de grão (fig. 47 e 48). A
A difer~nça nas possibilidades de restauração durante o recozi- dutilidade máxima é atingida em algum intervalo de temperatura, no
Jl1ento de recupe~ação está relacionada à diversidade da tendência para a domínio do crescimento normal de grão. A partir de determinada tempe-
p~ligonização. Pfi.ra os metais com determinado tipo de rede, a facilidade ratura (T1 , fig. 47 e~ 800ºC, fig. 48), a dutilidade decresce lentamente,
c~m que se dá a '.POligonÍzação depende da energia de falha de empilha- à medida que o crescimento de grão prolongado conduz à formação de
~ento. Por exe1*plo, o alumínio tem energia de falha de empilhamento grãos excessivamente grandes. Este fenômeno denomina-se superenve-
si~nificativàmente maior que o cobre. Sendo assim, a poligonização no lhecimento durante o recozimento de recristalização.
a
allumínio desenvdlve-se mais fortemente, o que conduz uma restauração
si$nificativa dur~nte o recozimento de recuperação. Em alguns metais
C\C.C. de elevada temperatura de fusão, como por exemplo o Jl10libdênio
e ~olfrâmio, a p<;>ligonização desenvolve-se de maneira particularmente
af1iva. Por isto, n~stes metais, gra.nde parte da restauração se dá durante
o ~ecozimerl.to de recuperação (fig. 46).
1 .

Figura 47. Influência da temperatura de recozimento nas propriedades


mecânicas do metal deformado (esquema segundo um dos casos vistos):
>
::z: i T/ Ti e T-2 - T~mperaturas de iníc.ia e final de recristalização,
T.r'
o 360 r'
~::J sobreaquecimento e queimadura.

o 320~---'-~~1-~..J.......J
600 1000 1400 1800
Temperatura de recozimento,9C - - - - - - - - t p J.{OH.m
0,0178
0,0176
600 Of)174
Figura 46. Influência da.temperatura de recozimento <luante 1 hora, na
dureza do vol!râÍlio fundido eletronicamente e deformado com redução é1. 0,0172
~ 400
de 50%, a 80QºC (Alen). 0,0170

200 20
. A restaujração durante o recozimento de recuperação pode a-
ceJ!erar-se e .elevat-se. Isto introduz na peça, durante o recozimento o o 200 400 600 800
: i '

p~uenas tensões, Estas tensões, que ia.ão t:onsistem de encruamento Temperatura recozimento, 9C
si!fificativo, aceleram o deslocamento de discordâncias, indispensável
para o desenvolviµiento da recuperação. Figura 48. Influência da temperatura de recozimento de uma hora
1 Os indic~ores de plasticidade durante o recozimento após de- na resistência elétrica e propriedades mecânicas do cobre M1 (A.P.
forimação a frio t;eralmente modificam-se em sentido contrário à va- Smiriaguin).
riap.o das propri~ades de resistência: no domínio da recuperação cres-
cerp relativament€i pouco; elevam-se fortemente durante a recristalização
L L Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 105
capítulo 2

Para temperaturas de recozimento muito elevadas (acima de


T2 , fig. 47), diminuem bruscamente a dutilidade e a resistência, o que
se chama de queimadura: forte oxidação intercristalina e fusão parcial
de impurezas nos contornos de grão. Por exemplo, ao recozer um arame
de cobre a lOOOºC em atmosfera de ar, ele se torna tão frágil devido à
oxidação intercristalina que pode romper durante um dobramento.
3 9 15
A recristalização secundária também provoca grãos muito gran- Grau de deformação, ºlo
des, bem como estrutura multigranular. Isto diminui os indicadores de
plasticidade. Figura 49. Variação do alongamento relativo de chapa de alumínio
de pureza 99,7%, recozida a 450°C em função do grau de deformação
Na região próxima à deformação crítica, o aumento do grau de prévia a 20ºC (A. Iu. Zolotorevsk; V.E. Zarrarov; 1.1. Novikov; 1.L.
deformação prévia (antes do recozimento) diminui o alongamento rela- Rogelberg).
tivo dos metais e ligas recozidas. Esta diminuição atinge um mínimo,
como a deformação crítica. Acima da deformação crítica, o alonga- quena solubilidade na solução sólida). Nos contornos de alto ângulo, que
mento relativo cresce (fig. 49). Abaixo da deformação crítica, com o se formam durante a recristalização primária, a segregação de impurezas
aumento do grau de deformação, a diminuição de dutilidade deve-se ao e a decomposição de fases em excesso se manifestam mais fortemente.
incremento de encruamento que é retido após o recozimento. O au- Aqui nucleiam fissuras fragéis que se desenvolvem através dos contornos
mento de dutilidade na região de deformação acima da crítica está re- e no interior dos grãos. Por isto, o recozimento de cristalização pode
lacionado à formação de maior número de grãos pequenos durante o elevar radicalmente (em 200-300ºK) a temperatura de transição dútil-
recozimento de recristalização (fig. 38). A dutilidade mínima do metal frágil do cromo, molibdênio e volfrâmio, em comparação com o estado
recozido, após deformação crítica, está condicionada, em primeiro lugar, deformado (fig. 50). É importante do ponto de vista prático que estes
aos grãos grandes; em segundo lugar, ao grau máximo de encruamento. metais, submetidos a deformação que os encrua, tenham sua dutilidade
Na região acima da deformação crítica, o encruamento é eliminado com aumentada (curvas 2 e 3). Já com a recristalização, que diminui o en-
a recristalização primária. Já para a deformação crítica, o encruamento cruamento, estes metais fragilizam fortemente (curva 1). Neste sentido,
se conserva parcialmente após o recozimento (isto se demonstra direta- os contornos de pequeno ângulo dos subgrãos comportam-se diferente-
mente, através de medidas de dureza). Isto porque, neste último caso, os mente: a poligonização nestes metais geralmente baixa a temperatura
grãos grandes crescem através do aumento de dimensões de alguns grãos limite de fragilidade (curva 4, fig. 50).
encruados às custas de outros, ao invés de crescerem através da substi-
tuição completa dos grãos deformados por novos grãos recristalizados, 2.9.2. Endurecimento durante o recozimento de recuperação.
os quais têm baixa densidade de discordâncias. Há muito já foi observado que, no recozimento a baixa temperatura
A mudança de dutilidade com o recozimento de recristalização de alguns metais e ligas, antes do início da recristalização, elevam-se
de metais do grupo VI A, de elevado ponto de fusão (Cr,Mo,V), diferen- significativamente a dureza, o limite de resistência e, particularmente,
cia-se dos outros metais. Como é sabido, estes metais, abaixo de alguma os limites de escoamento e de elasticidade (linha pontilhada, fig. 45).
temperatura, que depende de sua pureza, da velocidade de deformação Cada um destes materiais tem uma temperatura ótima de recozimento,
no ensaio e de outros fatores, encontram-se no estado frágil. A transição para a qual o endurecimento é máximo (tab. 2).
do estado dútil para o frágil está relacionada com a formação de se- O endurecimento na região de temperatura de recuperação apa-
gregação intergranular de átomos de impurezas (carbono, oxigênio e ni- rente contradiz o próprio conceito de recuperação. Este conceito está
trogênio), que se encontram em solução sólida. Também existe a decom- relacionado com a eliminação parcial do encruamento, bem como com
posição de carbonetos, óxidos e nitretos (nos metais do grupo VI A com a recuperação das propriedades, no sentido que tinham antes da de-
pureza tecnológica, o teor de inclusões de impurezas supera sua muito pe- formação .. Por isto, o endurecimento durante o recozimento de recu-
Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 107
106 l. l. Novikov
capítulo 2

80
o'!.
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-100 o 100 200 300 400
Temperatura do teste, \?C o
N
~
::l
Figura 50. Variacão da estricção relativa. do molibidênio em função da o
100 L----'------''------'
temperatura, no estado recristalizado (1), após deformação de 25% a o 100 200 300
frio (2) e 683 (3), e após recozimento de recuperação de meia hora a Temperatura, \?C
870°C do material deformado (oi). (Imgrem).
Figura 51. Influência da temperatura de recozimento na dureza do
peração, às vezes, foi explicado como erro experimental. Além disto, bronze de alumínio laminado a frio (I.L. Rogelberg).
o aumento absoluto do limite de elasticidade, em determinados casos,
supera 100-500 MPa. Este fato não apenas está distante do quadro de 0limite de elasticidade para o nível inicial de 400MPa. O fenômeno de
erros de experiência, mas também permite a utilização industrial de re- amolecimento com a repetição da deformação a frio é bastante original.
cozimento a baixa temperatura, após deformação a frio, para elevar o A natureza do endurecimento durante o recozimento de recu-
limite de elasticidade de molas e membranas em 100-170% (tab. 2). peração é diferente para as diversas ligas.
O fenômeno de endurecimento durante o recozimento de reu- A causa mais geral deste endurecimento é a fixação das dis-
peração, particularmente da maioria das ligas de cobre e níquel, foi es- cordâncias móveis no material inicial deformado, como também de áto-
tudado minuciosamente. O valor do endurecimento depende da com- mos solúveis, impurezas e elementos de. liga nas paredes de discor~~ncias
po8ição da solução sólida. Para a maioria das ligas, o efeito de endureci- que surgem durante a poligonização (como, por exemplo, o alum1mo em
mento durante o recozimento cresce com a elevação da quantidade de ele- soluções à base de cobre). Isto está de acordo com o fato de ~ue, par~
mentos de liga na solução sólida (fig. 51). Geralmente, o endurecimento os metais de pureza mais elevada, a grandeza deste endurecimento e
durante o recozimento aumenta com a elevação do grau de deformação menor.
a frio (tab. 2). Porém, encontra-se também a tendência oposta. Às ve- Nas ligas concentradas à base de cobre e níquel, outra causa
ze& o endurecimento é precedido de uma pequena restauração "normal" , do endurecimento por recozimento de recuperação é o su:gime~to _de
durante a recuperação (fig. 51). regiões com ordenação próxima. O despregamen50 d~s _dIBc01~_danc1as
da atmosfera e a destruição da região de ordenaçao prox1ma sao a ex-
É interessante observar que o endurecimento por recozimento plicação para 0 amolecimento por deformação a frio, após o recozimento
a baixa temperatura é, ele próprio, reversível: a deformação a frio após
de recuperação.
recozimento conduz ao amolecimento. Um recozimento posterior produz Com 0 endurecimento por recozimento de recuperação, o limite
novamente o endurecimento, etc. O amolecimento se dá com redução de elasticidade cresce muito mais significativamente do que a dureza ou
de 1 a 5 %. Por exemplo se, após laminação a frio do níquel puro,
0 limite de resistência. Isto é compreensível, pois o valor do limite de
qO, 005 = 400 MPa, o recozimento a 200"C eleva o limite de elasticidade
elastici.dade caracteriza-se pela resistência do material para deformação
até 480MPa. Uma posterior laminação a frio com redução de 3% diminui
Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 109
108 l. l. Novikov
càpítulo 2

2.9.3 •. Modificações da resistência elétrica com o recozimento.


Tabela 2. - Aumento máximo do limite de elasticidade A resistência elétrica se modifica de maneira complexa com o recozi-
( ~)
P , meia
apos . h ora em temperatura ótima (ToT) (E.N.
mento. Na maioria dos metais deformados, a resistência elétrica se resta-
Spektor; S.S. Goroleki; A.G. Raytadt).
belece em grau significativo, com o recozimento de recuperação (fig. 48).
Material €% ~ 100% TotoC r:oc Considera-se habitualmente que; com a elevação da tempera-
Cu (99,98%) 75 10 150 200 tura do recozimento de recristalização, a resistência elétrica diminui (se
Cu-7%Al 7 35 280 450 ela aumentou com o·encruamento), Porém, os dadé:>s experimentais não
90 170 280 350 .coincidem com esta previsão. No cobre, níquel, prata, alumínio, ferro e
Cu - 32% Zn 60 100 200 250 em muitas ligas, a elevação da temperatura do recozimento de recrista-
Ni (99,99%) 60 40 200 350 lização, após a habitual diminuição da resistência elétrica, provoca, por
Ni - 20% Cr 10 40 400 800 motivos inexplicáveis, a elevação anômala da mesma (fig. 48).
65 170 400 600 Se a resistência elétrica diminui com a deformação a frio, como
Nb (radiação eletrônica com no cromo, alumel e prata alemã, então, naturalmente, o recozimento con-
< 0,01% C,N,O) 90 40 950 1100 duz ao crescimento desta resistência. Isto se reflete no restabelecimento
Nb (0,02% C; 0,03% O; do estado-k, destruído pela deformação prévia.
0,02% N 80 120 1000 1200 Finalmente, mencionamos que as várias propriedades começam
a se modificar para diversas temperaturas de recozimento. Por exemplo:
Obs: ê -·grau de redução da deformação a frio antes do
a resistência elétrica geralmente começa a eair, durante o recozimento,
recozimento. '
antes que tenha início o forte decréscimo da resistência ao escoamento
plástico (fig. 48). Isto porque a resistência elétrica· pode diminuir,. signi-
plástica muito pequena. Nesta resistência influi fortemente a estrutura
ficativamente, pela diminuição da concentração de defeitos pontuais, ao
inicial de discordâ~cias (antes do início do teste mecânico), e esta estru-
passo que a queda intensiva do limite de escoamento torna-se possível
tura _pouco se mod1fi~ :m relação ao teste. Ao mesmo tempo, para de-
apenas quando diminui bruscamente a densidade de discordâncias.
termmadas dureza e hm1te de resistência, que caracterizam a resistência
do n:_at~rial co~ elevada deformação plástica, a estrutura inicial de dis-
cord.:1'~cias modifica-se fortemente durante o próprio processo do teste
2.10. Anisotropia de propridatks dos metais recozidos.
mecamco: cresce a densidade de discordâncias e elas se redistribuem
form~n~o novas estruturas de discordâncias. Por isto, a fixação de dis-
~ord~ncias na _est~utura inicial, durante o recozimento de recuperação, No metal recristalizado que possui cristais orientados aleatoria-
mflm de maneira mcomparavelmente maior no limite de elasticidade do mente, as propriedades vetoriais dos cristais em separado distribuem-se,
que no limite de resistência. O crescimento do limite de escoamento aO 2 estatiscamente, de maneira equitativa em todas as direções macroscó-
pode. s:r uma ordem de grandeza menor do que o aumento do limite de picas do volume do policristal. Com a presença de textura de recrista-
elast1c1dade aO, 002 da mesma liga. lização, o metal recozido é anisotrópico. Sua anisotropia é tanto mais
A elevação do limite de elasticidade com o recozimento de re- forte quanto mais perfeita for a textura. Acima de tudo, a anisotropia de
cuperação_ é um fenômeno geral. É propriedade dos metais e ligas de propriedades é prejudicial. Porém, em casos particulares, é necessário
todos os tipos de rede, bem como dos metais de elevada pureza. se obter peças nas q\lais alguma propriedade deve ser mais forte em
determinada direção. A obtenção do metal recozido isotrópico ou, ao
. A__ linha pontilhada na figura 45 é bastante típica e verifica-se contrário, de metal com anisotropia acentuada de propriedades, é uma
mm~ frequentemente esta variação das propriedades de resistência em importante tarefa científica e tecnológica.
funçao da temperatura de recozimento.
no I. I. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 111
capítulo 2

2.10.1. Bordeamento. A textura d,e recristalização mais prejudicial A anisotropia de propriedades é representada em gráfico pe-
se dá no caso em que a folha ou fita é destinada à estampagem profunda. las coordlenadas propriedade versus ângulo com a direção de laminação
A folha ou fita laminada a frio é aquecida antes da estampagem. Se, (fig. 53).
durante o aquecimento, surgir uma textura de recristalização suficiente-
mente perfeita, a folha torna-se anisotrópica. É fácil convencer-se disto,
recortando amostras planas para tração, a diversos ângulos da direção de
laminação (fig. 52). Uma expressão particularmente acentuada de aniso- ;,!! 60
o
tropia de propriedades mecânicas é observada nos metais e ligas de rede
C.F.C. recozidos, os quais maniJfestam textura de cubo {001} < 100 >,
caracterizada pelo excessivo grau de perfeição. Por exemplo, em uma
tira de cobre, com textura perfeita de cubo, o alongamento relativo na
d~reção de laminação e na direção transversal à mesma é igual a 16%,
enquanto na direção que faz 45° com a direção de laminação é de 73%.
É. fácil entender a diferença acentuada no valor do alongamento relativo
nestas direções. Considerando-s<: que a tração de um monocristal de co- o 45 90
Ângulo com a direção
bre, perpendicularmente ao plano de cubo {100}, produz pequeno alon- de Jomínação, grous
gamento relativo, constata-se que o alongamento relativo com tração do
m;onocristal, perpendicularment4~ ao plano decaédrico {110}, é grande. Figura 53. Anisotropia do alongamento relataivo da chapa de cobre
No caso da textura de cubo, o eixo da amostra de tração recortada ao recozido contendo textura de cubo (Bolduin).
longo ou transvei;salmente à direção de laminação está perpendicular aos
planos {100}. Já o eixo da amostra tracionada e recortada a um ângulo Com a estampagem de um copo de folha anisotrópica, surge
de 45° com a direção de laminação está~ perpendicular ao plano {110}. o bordeamento, que são bordas onduladas (fig. 54). A altura da borda,
devido à estampagem, por exemplo, de uma lata de alumínio, atinge
15-25% da altura da lata. O surgimento do bordeamento, também de-
nominado orelhamento ou linguamento, é o resultado do estiramento
diferenciado do metal nas diversas direções com a correspondente dife-
renciação no afinamento das paredes do corpo. Dependendo do tipo de
textura, encontram-se quatro ou seis saliências de borda, distribuídas
simetricamente.
Na produção em massa de copos por estampagem, o bordea-
mento torna-se um sério problema: as bordas onduladas devem ser
cortadas e enviadas para refusão. Com isto, elevam-se as perdas do
produto laminado. Já a diferença de espessura no copo é geralmente
insuperável.
O tamanho das bordas onduladas é tanto maior quanto maior
Figura 52. Esquema de corte de amostras para rutura, na determinação
for o número de grãos que tenham a mesma orientação cristalográfica.
da anisotropfa de propriedades mecânicas na folha de cobre recozido. Por isto, é compreensível que o tamanho das bordas onduladas dependa
do regime do tratamento. É possível encontrar condições ótimas de
laminação e recozimento, para as quais não surjam as bordas ondula-
112 /. /. Novikov
Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 113
capítulo 2

Desde meados dos anos 30, começou-se a investigar tecnolo-


gicamente para se obter aço de transformador com acentuada textura
de recristalização, que permitisse a maior permeabilidade magnética na
direção de laminação e perdas mínimas por histerese. Isto tudo em
prejuízo das propriedades magnéticas em outras direções. A direção de
magnetização no aço texturado é preparada de tal maneira, que a direção
de laminação da folha coincide com a direção de fluxo magnético.
Atualmente a indústria produz em grande escala aço para trans-
formador, laminado a frio, com textura de aresta {110} < 100 >, deno-
minada textura de Gauss.
Na textura de aresta, a aresta do cubo < 100 >, isto é, a
direção de magnetização mais fácil, é paralela à direção de laminação,
e as superfícies {110} do dodecaedro rômbico são paralelas ao plano de
laminação. A direção < 111 >, de difícil magnetização encontra-se a um
ângulo de 54, 7° da direção de laminação, e a direção de magnetização
Figura 54. Copo estampado de alumínio com quatro bordas onduladas. intermediária < 110 > é diagonal à direção de laminação.
As folhas industriais com O, 2-0, 5 mm e textura de Gauss
das. Por exemplo: para se obter cobre e latão isotrópicos, geralmente submetem-se à laminação a frio, recozimento a 850ºC e recozimento
recomenda-se que não seja grande a última redução, e que não seja ele- prolongado a llOOºC, em atmosfera de hidrogênio.
vada a temperatura do último recozimento.
Na formação da textura aguda de Gauss {110}< 100 >, influi
Com uma composição química favorável, é possível obter copos fortemente a estrutura da tira inicial laminada a quente. Na camada
sem bordas onduladas, para uma ampla margem de graus de deformação superficial surge, durante a laminação a quente, textura de aresta. Du-
e temperatura de recozimento. Por enquanto, obtém-se esta composição, rante o primeiro recozimento da folha laminada a frio, após recrista-
bem como o regime de tratamento, apenas empiricamente. lização primária, tem-se alguma quantidade de cristais com textura de
2.10.2. Aço texturado para transformador. Pode-se considerar Gauss, apesar da maioria estar nas camadas superficiais. Durante o
que o aço para transformador é o exemplo industrial mais importante recozimento final a elevada temperatura, e durante a solubilização par-
de material cuja textura de recristalização é útil. A folha do aço no cial e coalescimento de nitretos e sulfetos, desenvolve-se a recristalização
núcleo do transformador sofre ciclos contínuos de magnetização. Cerca secundária. Esta recristalização secundária cria uma aguda textura de
de 4% do gasto geral de energia elétrica perde-se no aquecimento do aresta {110} < 100 >. Os grãos assim orientados têm vantagem de
núcleo do transformador. dimensões, e crescem às custas de grãos com outros componentes da
textura. Além disto, a recristalização secundária se desenvolve da su-
Os transformadores de elevada qualidade são providos de per-
perfície para a seção central da folha. O ataque químico, ao expulsar os
das mínimas na magnetização, ao longo da direção do fluxo magnético.
centros de recristalização secundária da camada superficial, enfraquece
O aço para transformador contém 2, 8-3, 5% Si e o mínimo a textura de aresta no aço para transformador.
possível de quantidade de carbono. As propriedades magnéticas do mo-
A laminação a frio (e o recozimento) do aço para transformador
nocristal de ferro-silício são altamente anisotrópicas: a permeabilidade
que possui textura de aresta eliminou praticamente a laminação a quente
magnética µmax ao longo da direção < 100 > é 30 vezes maior que ao
industrial, do núcleo dos transformadores de tensão. Sua aplicação per-
longo da direção < 111 >.
mite diminuir a massa e os gabaritos dos transformadores potentes em
/. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 115
capítulo 2

29-253, como também diminuir fortemente a perda de energia elétrica efetivamente por que é tão ampla a prática de recozimento de recu-
n~ economj.a popular. peração para amolecimento.
Para os metais de alto ponto de fusão do grupo VI A (Mo e W),
211. Escolha dos regimes de recozimentos de recuperação e o recozimento de recuperação é a única possibilidade de amolecimento
rercristafização. após o tratamento de deformação, pois eles se fragilizam fortemente
com a recristalização. O recozimento de recuperação destes metais e
das ligas à base dos mesmos nã<,> apenas ajuda a eliminar parcialmente
, Os parâmetros básicos do recozimento dos metais e ligas en- o endurecimento de deformação, mas também baixa a temperatura de
ctuados sãp a t~mperatura e a duração. Eles determinam o caráter e transição do estado dútil para o estado frágil (fig. 50).
ai plenitude das modificações estruturais durante o recozimento, bem O recozimento de recupe)."ação, além de elevar a dutilidade, tem
ci>mo as propri~ades do metal e da liga após o recozimento. Em casos como objetivo diminuir as tensões residuais, estabilizar as propriedades
pb,rticulares, qu~ serão vistos abaixo, também desempenham papel im- e aumentar a resistência contra a corrosão.
pbrtante a veloc~dade de aquecimento até a temperatura de recozimento Para escolher o regime de recozimento de recuperação é indis-
eia velocidade de resfriamento a partir desta temperatura. pensável conhecer a T; (para determinado grau de deformação).
2].11.1. Recoz~mento de recuperação. O recozimento de recupera- O recozimento de recuperação para endurecimento é utilizado
ç~o pode ser de amolecimento ou de endurecimento. para elevar as propriedades de elasticidade de molas e membranas. Sua
a) O recozimento de recuperação com amolecimento é utilizado temperatura ótima (§2.9) é levantada experimentalmente.
para o aumento de dutilidade, com conservação parcial do en- Durante o recozimento de recuperação de ligas de cobre (bronze
durecimento da deformação. Ele é utilizado quando não é obri- de alumínio e cromo e liga de cobre-níquel) deformadas a frio, pode-se
~tório ou não é desejável o completo amolecimento que se encontrar fragilidade de "fogo". Isto é devido à formação de poros ao
atinge ~m o recozimento de recristalização. O recozimento longo dos contornos de grão. Os poros surgem durante o recozimento,
de rec~peração para amolecimento serve, antes de tudo, como sob a ação de tensões residuais. Por analogia aos poros ql,le se formam
operação final a que se submete a peça que exige éombinação sob deforD!lação plástica, cresce, em con8eqüência, a condensação de la-
d~ res~tência e dutilidade. cunas. Para combater a fragilidade de.fogo, deve ser mínima a duração
As follias de alumínio das marcas AD, AD1 e outras são pro- do recozimento, em correspondência com o intervalo de temperatura
d;uzidas em gr~de quantidade,. após recozimento de recuperação para crítica.
~molecimento a; 150-300ºC (a temperatura do recozimento depende do 2.11.2. Recozimento de recristalização. Pelas condições de ins-
cpnteúdo de impurezas no alumínio, o qual influencia na T;). Aplica- talação e pelo objetivo, pode-se destacar algumas variedades de recozi-
s~ o recozimento de recuperação para amolecimento ao magnálio para mento de teqjstalização:
~ssegurar posteriores operações de flexão, rebordamento e outras. a) Recozimento de recristalização plena, denominado simplesmen-
! No §2.9 já foi assinalada a facilidade de poligonização das ligas te recristalização, é uma das operações de tratamento térmico
de alumínio-magnésio, a qual se matlifesta no amolecimento durante o mais amplamente utilizadas.
rbcozimento de recuperação. Este recozimento, para as ligas AMg1 e O recozimento de recristalização é utilizado industrialmente:
AMg2 a 150-180ºC, assegura a combinação de elevação de resistência como primeira operação inicial antes do tratamento de deformação a frio
~ plasticidade (em relação ao estado recristalizado). Isto é suficiente (para dar ao material maior dutilidade); como processo intermediário en-
~ara a operação posterior, incluindo deformação plástica. As folhas de tre opex·ações de deformação a frio (para eliminação do encmamento);
dlumínio e magJ!lálio constituem a maior parte dos produtos planos pro- e como tratamento térmico final (de saída), para dar ao produto pré-
4uzidos pelas usinas que trabalham com ligas leves. Por isto entende-se fabricado ou à peça a indispensável dutilidade. O recozimento de recris-
116 l. l. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 117
capítulo 2

talização dos aços, metais e ligas não-ferrosas, é utilizado após laminação na rugosidade. da super~cie após acabamento e na diminuição do alon-
a frio de folhas, chapas e lâminas, trefilação a frio de arames e varas, gamento relativo. Os graos grandes surgem porque, no caso de aqueci-
estampagem a frio e outros tipos de tratamento por deformação a frio. mento lento, a recristalização primária tem início a temperaturas relati-
Na produção de semiprodutos e peças de metais e ligas não- vamente baixas e a partir de pouca quantidade de núcleos. Após aqueci-
ferrosas, o recozimento de recristalização, como operação independente mento rápido até a temperatura elevada (por exemplo, aquecimento em
de tratamento térmico, é muito mais difundido do que na tecnologia de banho de sal até 500ºC), desenvolve-se imediatamente a recristalização
fabricação do aço. Isto se explica pelo fato de que, em comparação com primária, a partir de muitos núcleos, e obtém-se grãos pequenos.
o aço, a fração de metais e ligas não-ferrosas submetida a tratamento de A velocidade de resfriamento a partir da temperatura de re-
deformação a frio é bem maior. cozimento de recristalização não influi nas propriedades dos metais e
O regime ideal de recozimento pode ser escolhido através do ligas monofásicas. Produtos semifabricados de ligas de cobre às vezes
gráfico de variação da temperatura com as propridades (fig. 47 e 48). são resfriados em água para melhorar a segregação ·superficial de óxidos.
Assim, para o restabelecimento da dutilidade do cobre, pode-se reco- Se a liga é capaz de endurecer com têmpera e envelhecimento, então, a
mendar um recozimento de uma hora, a 500-700ºC (fig. 48). O limite velocidade de resfriamento a partir da temperatura de recozimento de
superior de temperatura de recozimento é escolhido abaixo da tempe- recristalização, deve ser. regulamentada. Assim, para liga de alumínio
ratura de reaquecimento ("" 800ºC), e o inferior, pouco acima da r; B95, no endurecimento térmico através de recozimento apo$ deformação
("' 400ºC). Para determinados graus "geométricos" de deformação da a frio, além do processo básico de recristalização, pode acontecer outro
peça, partes da mesma se deformam não uniformemente. Para as partes colateral - o endurecimento parcial por têmpera e posterior envelheci-
com menor grau de deformação, a recristalização termina com tempera- mento. Como resultado, não se consegue o indispensável amolecimento
turas mais elevadas. do material com o recozimento. Por isto, a liga B95 deve ser resfriada
Na escolha do regime de recozimento pode-se utilizar diagramas lentamente no forno, a partir da temperaura do recozimento de recris-
de recristalização (do tipo da fig. 42). Deve-se evitar a obtenção de talização (38ü-430ºC), até a temperatura de 150ºC (com velocidade
grãos muito grandes, bem como heterogeneidade de tamanho de grão. inferior a 30ºK/hora).
Para isto, deve-se prever os limites relacionados com a utilização dos b) O recozimento de recristalização para obtenção de grão ul-
diagramas de recristalização. trafino adquiriu nos últimos tempos um significado cada vez
Sobre a quantidade do material recozido nem sempre se pode maior. Denomina-se ultrafino o grão com tamanho menor que
julgar pelas propriedades mecânicas. Outros índices e casos particulares ,..., lOµm. A estrutura de grão ultrafino é comparável com a
dependem do tamanho do grão recristalizado. Assim, por exemplo, grão de subgrão. Diferencia-se deste último apenas pelos contor-
grosseiro é causa de surgimento de casca de laranja - característica de nos de alto ângulo. Deve-se ter folhas de estruturas ultrafinas
peça rugosa após embutimento profundo, estiramento etc. de grão, destinadas a model<>s de dutilidade superior - tubos
No material com grão grosseiro, a heterogeneidade de deforma- destinados a pequena pressão gasosa e peças de configuração
ção plástica dos diversos grãos aparece particularmente forte. A hetero- complexa. O recozimento, para obtenção de grão ultrafino, se
geneidade de deformação dos grãos grandes na superfície livre da peça, dá em condições de uma quantidade muito elevada de núcleos
também se apresenta na forma de casca de laranja. Com grão pequeno de recristalização. Além disto, a liga deve ter uma espécie de
não é visível esta rugosidade. segurança, para obstaculizar o rápido crescimento dos grãos
A velocidade de aquecimento até a temperatura de recozimento, recristalizados, durante a modelagem ultradútil, a qual se pro-
em geral não tem significação. Porém, em casos particulares, é indis- cessa a temperaturas elevadas. Em algumas ligas de alumínio,
pensável acelerar o aquecimento. Assim, com aquecimento lento até como por exemplo na de tipo B95, estas condições são facil-
a temperatura de recozimento, de semifabricados de liga de alumínio mente obtidas.
marca AMr, crescem grãos que se tornam muito grandes. Isto se reflete A folha é preparada segundo o seguinte esquema (fig. 55). Ini-
/. l. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 119
118
capítulo 2

4 zado para obtenção de grãos colunares fortemente alongados.


Mistura-se uma zona relativamente estreita, aquecida até a
temperatura de recristalização, com o restante da peça fria.
Desta maneira, constrói-se um ríspido gradiente de tempera-
2
tura. Os cristais crescem na direção do movimento da zona
quente, "absorvendo" na frente móvel de recristalização todos
os novos grãos. Nesta direção, na parte recristalizada da peça,
a quantidade de contornos de grãos transversais diminuirá ra-
dicalmente. É possível melhorar algumas propriedades como,
Figura 55. Esquema de tratamento para obtenção de estrutura ultra- por exemplo, a resistência térmica.
fina em chapas de liga B95; 1- têmpera; 2- recozimento de heteroge-
neização; .3- laminação; 4- recozimento de recristalização. O recozimento de recristalização por gradiente após deformação
crítica serve, na prática de laboratório, para fabricação de grandes mo-
cialmente a placa é temperada em água a partir de 470ºC, para obter su- nocristais.
persaturação da solução de alumínio. Depois promove-se o recozimento
de heterogeneização (§7.1) a 400ºC durante 10 horas, para precipitação,
desde a solução sólida, de grande quantidade de partículas da fase M(Mg
Zn 2 } de dimensões próximas a lJ.1.m. Com a posterior laminação a frio
para redução de 70-80%, surgem curvaturas na rede cristalina, próximas
a estas partículas. Sob um recoúmento rápido posterior a 470ºC du-
rante 5 minutos, aparecem grãos recristalizados localizados (§2.4, item
1). Consegue-se a obtenção de grão ultrafino durante o recozimento com
aquecimento rápido em banho de sal. O papel de segurar os contornos
de alto ângulo é desempenhado pela difusão das partículas de AlrCr
de tamanho menor que O,lµm. Estas partículas foram precipitadas da
solução sólida de alumínio durante o recozimento de homogeneização do
lingote (§1.1, item 2).
c) O recozimento de recristalização incompleta se realiza entre as
temperaturas T,. e T/, com o objetivo de eliminação parcial
do encruamento. Ele permite, por exemplo, fabricar folhas
semi-endurecidas de ligas de alumínio não endurecíveis termi-
camente. Obtém-se estrutura parcialmente recristalizada e par-
cialmente poligonizad.a.
d) Recozimento para textura. É utilizado para oter propriedades
anisotrópicas úteis para aço de transformador, ligas de ferro-
níquel com ciclo de histerese retangular e alguns outros mate-
riais. A escolha do regime ideal de recozimento é, neste caso
uma tarefa bastante complexa.
e) Recozimento de recristalização Zonal (com gradiente). É utili-
Recozimento de alívio de tensões.
capítulo 3

Durante tratamento de pressão, fundição, soldagem, tratamen-


to térmico, polimento, tratamento de corte e outros processos tecnológi-
cos, podem surgir tensões internas na peça. Estas tensões se acomodam
mutuamente no interior do corpo, sem a participação de pressão externa.
Na maioria dos casos as tensões internas se conservam após o término do
processo tecnológico. Por isto elas são denominadas tensões residuais.
Consideram-se importantes apenas as tensões que se acomodam
ponderadamente, ern todo o volume do corpo, ou ern urna parte macros-
cópica do mesmo. Estas tensões também são denominadas zonais ou
tensões de J2. tipo, para diferenciar das tensões de 22- tipo (microtensões),
as quais se acomodam ponderadamente no volume de cristais isolados
ou parte dos mesmos.
O recozimento de alívio de tensões é um tratamento térmico,
no qual o principal processo é a relaxação parcial ou total das tensões
residuais zonais.

3.1. Origem e papel das tensões residuais.

As causas do surgimento de macrotensões internas (tensões de


12. tipo) são a deformação plástica desigual e a modificação diferenciada
de um volume específico, em diversos pontos do corpo.
O exemplo simples descrito a seguir explica o surgimento de
tensões residuais durante a deformação plástica desigual, nas diversas
partes do metal (fig. 56). Consideremos que se lamina tiras do metal
122 /. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 123
capítulo 3

em um cilindro encruado e que os diâmetros no centro são significati- tensões internas não surgiriam. Porém, com o aquecimento e o resfria-
vamente maiores do que nas extremidades. A camada central das tiras mento, sempre existe gradiente de temperatura entre as seções do corpo.
recebe maior redução do que as da extremidades. Se a peça fosse com- Por isto, as modificações do volume específico acima indicadas, entre os
posta, por exemplo, de varas cilíndricas coladas umas as outras, então diversos pontos de metal, se processam heterogeneamente. Como resul-
cada uma destas varas receberia um estiramento correspondente à sua tado dis;to, surgem as tensões internas.
redução: as varetas centrais deveriam ser estiradas mais que as da ex- São diferentes as tensões internas térmicas e as de fase (estru-
tremidade. Porém, na realidade, as tiras do metal formam um corpo turá), as quais surgem, respectivamente, como resultado de contração
monolítico, no qual as camadas centrais e da extremidade não podem, ou expansão térmica, e como resultado da transformação de fase no
isoladamente uma da outra; se estirar em diferentes comprimentos. Por estado s.Slido. As tensões internas podem surgir praticamente com qual-
isto as camadas centrais que tendem a se estirar mais fortemente irão quer tratamento, além do que uma operação tecnológica pode condu-
experimentar uma influência de resistência das camadas das extremi- zir à formação de várias tensões residuais, que se diferenciam pela sua
dades, e ficam aquém do estiramento que teriam. Em outras palavras, origem térmica, de fase, e tensões de deformação plástica heterogênea.
nas camadas centrais têm origem tensões internas de compressão. As Por exemplo, com o tratamento mecânico a quente, além das tensões
camadas da extremidade, ao contrário, sob a ação das camadas centrais, que se formam devido à heterogeneidade de deformação plástica, po-
ficarão mais estiradas do que estariam pela redução que sofrem. Por dem surgir tensões térmicas bem como tensões de fases. Isto acontece
isto, nas camadas das extremidades, surgem tensões internas de tração. se a liga deformada a quente resfria-se rapidamente, e nela tem lugar
As tensões de vários sinais interagem mutuamente dentro das tiras e transformação de fase. Com a fundição, a soldagem e a têmpera, sur-
conservam-se no metal após o término da laminação. gem tensões térmicas e de fase. As diferentes tensões residuais, quanto
1
às suas origens, acumulam-se, e muito freqüentemente produzem um
/...., •':--.....(
2 diagrama complexo.
/ De acordo com a denominação do processo tecnológico, diferen-
\
...
--
/
3 ciam-se as tensões residuais de fundição, soldagem, têmpera, polimento
_,..___
•~ e outras .
\ /
As tensões residuais se manifestam no comportamento da peça
'-...!:: /
/
durante o tratamento, utilização, e até durante o armazenamento em
_ _..,_ Direção de laminação depósito.
As tensões residuais, ao se acumularem com as tensões de tra-
Figura 56. Surgimento de tensões residuais na tira devido às diferentes balho, podem se fortalecer ou enfraquecer.
reduções das camadas centrais e das extremidades durante a laminação Como regra, as tensões residuais de tração são mais perigosas
do cilindro encubado. 1 - tira antes da laminação; 2 - tira após a la- pois, acumulando-se com as tensões trativas de esforços externos, con-
minação; :3 - camadas centra.is da. tira. no caso de estar sem redução( sem
ação mútua com as camadas vizinhas).
duzem à ruptura, mesmo que estes esforços não sejam elevados.
Particularmente perigosas são as tensões trativas durante a
tração triaxial. Como é sabido, o estado de tensões durante a tração
O volume específico modifica-se com a contração e expansão triaxial é 0 mais "duro". Isto porque a tensão tangencial que pro-
térmicas, com a solidificação, com a transformação de fase no estado voca fluxo plástico é extraordinariamente pequena, quase nula, e como
sólido e com as mudanças de composiçào química das camadas super- conseqüência formam-se condições apropriadas para ruptura fácil. As
ficiais. Se a contração e expansáo térmicas, a solidificação da massa tensões residuais são particularmente perigosas também para peças de
líquida e a transformação de fase no estado sólido fossem processos si- baixa dutilidade, e para peças que se tornam frágeis com a diminuição
multâneos e de mesmo grau ao longo de todo o volume do corpo, as de temperatura.
Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 125
124 l. l. Novikov
capítulo 3

Sob elevadas tensões residuais, a fratura freqüentemente se dá penamentos particularmente freqüentes e fortes formam-se com o trata-
com esforços de valor pouco significativo (particularmente esforços de mento de corte, à medida que a separação da camada de metal destrói o
choque). Assim, por exemplo, podem surgir fissuras em aços fundidos equilfbrio das tensões residuais. Por exemplo, ao retirar-se tiras (caso da
com a limpeza dos mesmos por martelo pneumático, e até com corrente fig. 56), das camadas de um dos lados nos quais atuam tensões de tração,
de ar da terra (devido à adição das tensões térmicas residuais). Lingotes o conjunto de tiras se encurva no plano do desenho, devido à liquidação
grandes de ligas de alumínio de baixa d utilidade, fabricados por fundição do equilíbrio entre as tensões residuais trativas e compressivas.
contínua, podem fraturar algum tempo após o término da fundição. A modificação espontânea das dimensões e o empenamento da
Isto devido a uma pequena sacudida casual ou à carga de impacto. A peça armazenada se dá devido à gradual redistribuição das tensões re-
energia elástica liberada com a fratura é tão grande que uma parte do siduais com a relaxação. A velocidade da relaxação (diminuição) de
lingote pesando centenas de quilos é arrancada com forte estalido e voa tensões depende do nível inicial das mesmas: quanto maior o nível, mais
à distância de alguns metros. rapidamente se dá a relaxação. Nas diversas partes da seção da peça,
As tensões residuais trativas nas estruturas soldadas às vezes o valor das tensões residuais varia. Então, devido à desigualdade na
conduzem a sérias avarias. A fratura de pontes soldadas e de soldas velocidade de relaxação, à temperatura ambiente, liquida-se o equilíbrio
completas de navios freqüentemente está relacionada com a formação interno inicial de forças e momentos. Com isto, as tensões residuais se
de grandes tensões residuais, próximas à fratura. É conhecido o caso redistribuem, e estabelece-se um novo estado de equilíbrio. O valor do
de juntas soldadas que fraturam, devido às tensões residuais trativas, empenamento é tanto maior, quanto maior for a diferença no grau de
com a ação de fatores externos pouco significativos, como por exemplo relaxação das tensões residuais nos diferentes locais da seção. Por outro
o choque da alavanca durante a limpeza de uma cobertura de gelo. O lado, o empenamento será tanto maior, quanto menor for a rigidez da
problema de tensões residuais em estruturas soldadas despertou atenção peça durante o encurvamento. Às vezes, após a montagem de um equi-
particularmente grande depois que juntas soldadas se partiram ao meio, pamento, formam-se folgas ou apertos inadmissíveis em peças acopladas,
durante navegação ou ancoramento. as quais anteriormente estavam exatamente ajustadas uma à outra.
As tensões residuais trativas são especialmente prejudiciais nas Criando-se tensões residuais controladas, que se leve em con-
camadas superficiais, quando a peça trabalha sob carga cíclica. Isto sideração nas tensões de trabalho, é possível elevar as propriedades de
porque estas tensões possibilitam a fratura por fadiga (lembremos que utilização do metal. Antes de tudo, criam-se intencionalmente tensões
a fratura por fadiga nasce na superfície da peça). residuais de compressão na camada superficial que dimunuem os perigos
A ação prejudicial das tensões residuais se manifesta na eleva- das tensões trativas de trabalho. Com este objetivo utiliza-se encrua-
ção da atividade química geral do metal. Particularmente prejudicial é o mento, nitretação (§17.1) e outros tipos de tratamento superficial dos
fortalecimento da corrosão intercristalina, sob a ação de tensões residuais metais.
trativas (agretamento temporário do latão). Na imensa maioria dos casos o valor, sinal e distribuição das
No metal com tensões residuais existem regiões de deformações tensões residuais através do volume da peça não são conhecidos. Para
elásticas de vários sinais. A medição das deformações elásticas, assim determinar estas características, é necessário destruir a peça.
originadas, é baseada em métodos mecânicos de determinação do va- O método de raio-X permite avaliar, através de modificações
lor e do sinal das tensões residuais (as tensões são calculadas pela de- relativas nas distâncias interplanares, apenas as tensões residuais na
formação). camada superficial. Por isto, sempre é possível esperar que as tensões
As tensões residuais podem provocar alteração da forma (empe- residuais não-controláveis, devido a tratamento por pressão, fundição,
namento) e modificação das dimensões da peça, durante seu tratamento, soldagem, têmpera e outros tipos de tensões residuais, possam piorar
utilização ou armazenamento em depósito. O empenamento forma-se as propriedades do metal, e acarretar perigo durante o tratamento e a
como resultado da deformação por flexão e torção, que surgem durante utilização da peça. Geralmente, é desejável eliminar totalmente, ou pelo
a eliminação do equilíbrio das tensões e dos momentos internos. Em- menos parcialmente, as tensões residuais não-controláveis.
126 /. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 127
~~-~--~---

capítulo 3

3.2. Diminuição das tensões residuais com o recozimento. resultado desta deformação, as tensões residuais diminuem até o valor
do limite de escoamento.
O excesso de energia na região deformada elasticamente pode O limite inferior de temperatura para diminuição das tensões
diminuir, sem destruição da integridade do corpo. Isto acontece se residuais não é muito exato. Isto porque nas diversas partes do corpo
o alívio das tensões residuais ocorrer através de deformação plástica. atuam tensões residuais tangenciais que se diferenciam pelo seu valor.
Conseqüentemente, para se conseguir eliminação total ou parcial das Com tensões superiores ao limite de escoamento é gerada uma
macrotensões residuais da peça, é indispensável introduzir na mesma grande quantidade de discordâncias. O deslizamento destas discordân-
um escoamento plástico. cias conduz a uma deformação plástica bastante rápida. Pode-se consi-
As tensões residuais diminuem com o recozimento através de derar que o grau de alívio das tensões residuais, através deste mecanismo,
dois caminhos: é determinado pela temperatura de recozimento, e não pela duração.
1) Em conseqüência de deformação plástica, sob condições em que Vejamos o segundo caminho de diminuição das tensões resi-
estas tensões superam o limite de escoamento; duais, quando seu valor é menor que o limite de escoamento. Suponha-
2) Como resultado de fluência com tensões abaixo do limite de mos que, em algum momento de teste da amostra em tração, cesse a
escoamento. elevação da deformação e se fixe a amostra nas garras da máquina de
rutura, submetida a uma carga. Corno é sabido, ocorrerá relaxação de
Vejamos o primeiro caminho. As tensões residuais estão no
tensão na amostra. Nesta experiência, as tensões decrescem, no início
domínio elás~ico. Pela lei de Hooke são proporcionais ao módulo de
rapidamente, e depois cada vez mais lentamente. Finalmente, atinge-se
elasticidade e ao va,lor da deformação elástica. Com a elevação da tempe-
algum nível prático de tensão, que permanece inalterado. A deformação
ratura, o módulo de elasticidade diminui um pouco. Conseqüentemente,
total da amostra é a sorna da elástica e da plástica.
as tensões residluais diminuem também um pouco. O limite de escoa-
mento também cai com a elevação de temperatura. Além disto, esta
queda no limite de escoamento é significativamente mais intensa do que f.g = f.e + f.p (18)
a diminuição .das tensões residuais {fig. 57).
O comprimento da amostra, que se encontra nas garras da
máquina, permanece inalterado. As tensões na amostra diminuem. Isto
porque decresce a deformação elástica com a elevação simultânea (e igual
em valor) da deformação plástica. Esta deformação plástica desenvolve-
., se em condições de fluência. A relaxação para determinada deformação
total desenvolve-se pelo caminho de fluência sob tensão decrescente.
'º.,"'"'e:
f-
Na peça com tensões residuais menores que o limite de escoa-
1
mento, a deformação elástica pode, com o tempo, transformar-se em
t 1
IT _ _ _ _ __
..___ _...J._1
deformação plástica .
- - Temperatura Na faixa de temperaturas onde as tensões residuais são menores
que o limite de escoamento (abaixo de T1 , fig. 57), a fluência é o único
Figura 57. Esquema da influência da temperatura nas tensões residuais mecanismo possível de decréscimo das mesmas. Com tensões menores
(1) e no limite de escoamento (2). que o limite de escoamento, não ocorre multiplicação em massa e desliza-
mento massivo de discordâncias. O escoamento plástico lento realiza-se
Acima de alguma temperatura (T1 ), o limite de escoamento através do deslocamento de uma quantidade limitada de discordâncias
fica abaixo das tensões residuais e ocorre a deformação plástica. Como pouco móveis. Ao se encontrarem com obstáculos (entrelaçamentos de
128 /. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 129
capítulo 3

discordâncias, partículas dispersas, contornos de grão), inibe-se o desli- panhada de empeno da peça. O ideal para o recozimento de relaxação de
zamento de discordâncias. O consumo de discordâncias de baixa mobili- tensões é seu tipo clássico, quando se desenvolve uma lenta deformação
dade conduz à extinção da fluência, e o decréscimo das tensões residuais plástica com uma diminuição igual e simultânea de deformação elástica.
fortalece ainda mais esta extinção. Com isto, as dimensões lineares, nas direções da ação das forças, não se
As flutuações de energia térmica ativam o deslizamento. Com modificam.
o aumento da duração do recozimento, as flutuações térmicas atraem Quanto maior o nível inicial das tensões, mais rápido ocorre,
ao deslizamento as discordâncias situadas menos favoravelmente, e aju- no primeiro período, o alívio das tensões, e maior o perigo de empeno.
dam as discordâncias a superarem e contornarem os obstáculos. Para O prolongamento a cada temperatura concreta de recozimento,
temperaturas de recozimento superiores a 0,5 T fusão, os obstáculos corresponde o nível final de tensões residuais. Neste caso, não é vantajoso
são contornados pelas discordâncias em movimento, tal como acontece o prolongamento do recozimento (fig. 58)
durante a habitual fluência à temperatura elevada. Para escolher o regime industrial de recozimento, deve-se re-
Também à temperatura ambiente, as tensões residuais nas pe- correr a experiências, pois cada peça concreta caracteriza-se por sua
ças diminuem um pouco, como conseqüência da fluência. Quanto maior distribuição de tensões residuais, antes e após o recozimento.
a temperatura, mais elevadas as flutuações térmicas e mais rápida e Em muitos casos, a diminuição das tensões residuais é um pro-
completa a diminuição das tensões residuais (fig. 58). cesso secundário, que se realiza com uma variedade de operações de tra-
tamentos térmicos, os quais, ao mesmo tempo, modificam a estrutura
da matriz e as fases. Por exemplo, as tensões de fundição diminuem
com recozimento de homogeneização. Com elevado revenido do aço,
ao lado dos processos básicos de transformação da martensita em sor-
T,
bita, diminuem as tensões de têmpera. As tensões residuais, que surgem
como resultado do tratamento de deformação a frio, diminuem durante
T. o recozimento de recristalização, o qual tem como objetivo principal a
eliminação do encruamento.
Tempo Recozimento Denomina-se tratamento de alívio de tensões, aquele que é reali-
zado como operação autônoma de aquecimento, sem outras modificações
Figura 58. Diminuição das tensões residuais ( u) com o aumento do estruturais.
tempo de exposição em duas temperaturas (T2 > Tl). A utilização do recozimento para diminuição de tensões é limi-
tada por aquelas modificações indesejáveis de estruturas de fases, que
Se a peça é aquecida até uma temperatura (superior a T1, podem ocorrer durante o aquecimento. Por exemplo, para eliminação
fig. 57) na qual o limite de escoamento permanece menor que as tensões suficientemente completa das tensões de têmpera em peças de ligas
residuais, de início ocorre um rápido alívio de tensões, até o valor do de alumínio endurecidas termicamente, é indispensável aquecê-las até
limite de escoamento. Isto é conseqüência da reprodução massiva e do temperaturas próximas a 230-260ºC. Porém, com estas temperaturas,
deslizamento de discordâncias. Posteriormente, este mecanismo de de- ocorre sobre-envelhecimento nas ligas de alumínio, acompanhadas da
formação plástica transforma-se em fluência, conduzindo à relaxação diminuição de resistência. Para eliminação completa das macrotensões
gradual de tensões, a qual se extingue com o tempo. residuais após tratamento de deformação a frio, é desejável fazer o re-
O alívio rápido de tensões residuais com temperaturas eleva- cozimento a tais temperaturas, nas quais ocorre a recristalização. Com
das, às vezes torna-se perigoso. Isto é devido à distribuição heterogênea isto, porém, elimina-se o endurecimento por deformação a frio, o que
das tensões através das seções e do comprimento da peça, o que pode em muitos casos -é inadmissível. Por isto, deve~se contentar com eli-
conduzir à destruição do equilíbrio interno das forças e momentos, acom- minação não completa das tensões residuais, a baixas temperaturas, ou
J. I. Novikov Teoria dos .tratamentos térmicos dos metais 131
130 · - - - - - - - - - -
capítulo 3

estabelecer urn cornprornisso de atingir urna eliminação rnais completa de ferro fundido cinzento com veios grosseiros de grafita, a relaxação
das tensões, com alguma piora nas propriedades mecânicas e em outras foi mais rápida. Pode-se predizer que o armazenamento à temperatura
propriedades. ambiente do ferro fundido cinzento conduz à relaxação, principalmente
A velocidade de aquecimento, e particularmente de resfriamen- das tensões de pico próximo às inclusões de grafita. Isto evita o empeno
to, durante o recozimento, deve ser pequena. Isto para não introduzir da peça, embora haja pouca relaxação das tensões residuais médias.
novas tensões térmicas internas. O armazenamento do ferro fundido cinzento, por vários meses
O recozimento para diminuição das tensões residuais é ampla- nas atuais condições da produção, dificilmente é utilizado como possibi-
mente utilizado. Ele diminui as tensões residuais trativas prejudiciais, lidade básica de prevenção do empeno. Para acelerar a estabilização das
que são perigosas, particularmente em estado de tensão triaxial; permite dimensões, utiliza-se recozimento do ferro fundido, entre 500 e 600ºC,
elevar a carga externa admissível; eleva a resistência à fadiga e carga de durante 2 a 4 horas.
choque; diminui a tendência à fratura frágil, à corrosão intercristalina e Os aços são recozidos para diminuição de tensões, geralmente
à fadiga por corrosão; estabiliza as dimensões e previne empeno da peça. a temperaturas um pouco abaixo da temperatura crítica Ac 1 .
Se a tensão de trabalho, durante a utilização da peça, for re- As folhas laminadas a frio e estampadas, de cobre, níquel,
lativí}.rnente baixa (distante do limite de escoamento), e as exigências titânio e as ligas deformadas com base nestes metais, são recozidas para
básicas da peça forem uma elevada estabilidade de dimensões e de forma, alívio das tensões residuais, a temperaturas não superiores à de início
então, para precaver a torção, não é obrigatório proceder a urna dimi- de recristalização. Isto para garantir a elevada resistência que é carac-
nuição significativa das tensões residuais. Podem servir de exemplo as terística dos metais encruados. Utiliza-se arnplarnente o recozimento de
peças de precisão de equipamentos: e aparelhos, pouco carregadas, de alívio de tensões, ern latões contendo mais de 20% Zn, pois eles se ca-
ferro fundido cinzento. A prática antiga de precaver o empeno destas racterizam pela forte tendência à corrosão sob tensão (doença sa,zona~.
peças fundidas era deixá-las armazenadas à temperatura ambiente, du- Se o lingote de fundição contínua de ligas de alumínio de-
rante alguns meses e até alguns anos. Este método de estabilizar as formáveis não for submetido ao recozimento de homogeneização, na
dimensões do ferro fundido cinzento denomina-se envelhecimento natu- sua preparação rotineira, deve-se proceder a um recozimento a 300-
ral1. Conforme revelou-se após al1~um tempo, o armazenamento pro- 350ºC antes do corte, para aliviar as tensões residuais. Isto para evitar
longado de ferro fundido baixa as tensões residuais, ao todo em 5-20%, o perigo de destruição do lingote durante o corte. Para o alívio de
apesar deste armazenamento previnir o empeno da peça. Isto porque tensões de soldagem nas estruturas volumosas de especial responsabi-
o empeno do ferro fundido cinzento é provocado pela relaxação, prin- lidade, constróem-se fornos especiais, com grande espaço de trabalho,
cipalmente das tensões de pico nos locais de concentração das mesmas, para colocar nos mesmos toda a peça.
próximo aos veios de grafita. Para um nível geral não elevado de tensões Sobrecar~~as momentâneas para alívio de tensões residuais.
residµais, próximo de tais concentrações corno nas partículas de grafita,
Corno já foi assinalado, a relaxação das tensões residuais com
é possível aproximar-se de escoamento. Nestes locais rapidamente há
o recozirÍlento ocorre apenas como resultado do desenvolvimento de de-
relaxação das tensões. Para demonstração disto, carregou-se com igual
formação plástica. Se as tensões residuais forem significativamente infe-
tensão inicial amostras de aço, ferro fundido com grafita esferoidizada e
riores ao limite de escoamento, elas relaxam lentamente em conseqüência
ferro fundido cinzento. Ern seguida, durante rneio ano acompanhou-se
do desenvolvimento da fluência. Para alívio mais rápido e pleno das
a relaxação de tensões. Revelou-se que nas amostras de aços as tensões
tensões residuais, utiliza-se a sobrecarga, com diversos tempos, na peça.
relaxaram mais lentamente. Nas amostras de ferro fundido com gra-
Estas sobrecargas, somadas às tensões residuais, provocam deformação
fita esferoidizada a relaxação foi um pouco mais rápida. Na amostra
plástica em toda peça ou em partes separadas da mesma.
1 Este proêesso n.ii.o tem nenhuma relação com o tipo amplamente conhecido de As possibilidades mais antigas de criar sobrecargas momentâ-
tratamento térmico, que é o envelhecimento natural após têmpera §11.5. nea, são a vibração coercitiva e a percurssão, a partir de todos os lados
132 1. I. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 133
capitulo 3

do lingote do ferro fundido. Este método simples é bastante efetivo para O método de choque térmico consiste na criação de tensões
evitar o empenamento. Para estabilizar as dimensões do ferro fundido, térmicas com o rápido aquecimento da peça. A existência de sobrecarga
também pode-se utilizar tensões estatisticamente momentâneas. Por momentânea possibilita a relaxação das tensões residuais. O método
exemplo: nos equipamentos compridos, cria-se um momento fletor com mais simples consiste em deixar os lingotes de ferro fundido em fornos
a ajuda de uma alavanca. que possuam grandes diferenças de aquecimento.
Para eliminar tensões residuais, e ao mesmo tempo corrigir se- Para diminuir as tensões de têmpera em chapas estampadas
mifabricados de ligas de alumínio (varas, tubos e outros) traciona-se a e outras peças de ligas de alumínio, impossív-eis de recozer devido ao
1-3% em máquina especial para tração. inadmissível amolecimento, recomenda-se utilizar tratamento de resfria-
Os tratamentos térmicos puros também criam sobrecargas mo- mento com posterior choque térmico. A têmpera da peça se faz em
mentâneas. Para isto utilizam-se duas possibilidades: choque térmico e nitrogênio líquido ( -196º0) e, em seguida, aquece-se rapidamente até
ciclos térmicos. temperatura não elevada, em água fervida ou em corrente de vapor.
O ciclo térmico é utilizado mais oportunamente nas ligas que O resfriamento prévio em nitrogênio líquido permite elevar as tensões
contêm fases com grande diferenciação quanto ao coeficiente de dilatação térmicas durante o choque térmico com temperatura não elevada de
térmica linear, como por exemplo o silumínio. Os ciclos térmicos subme- aquecimento.
tem-se às peças de silumínio, que mostram exigências especialmente for-
tes de estabilidade de dimensões durante a armazenagem ou utilização
em aparelhos de elevada precisão. As peças de silumínio do tipo AL2 e
AL9 são resfriadas até a temperatura de -40º0 e -196º0. Em seguida
são aquecidas até a temperatura ambiente e colocadas no forno, que é
aquecido até 150º0 (ou coloca-se imediatamente no forno). Depois as
peças são resfriadas até a temperatura ambiente e novamente são tra-
balhadas a frio. Durante três ciclos deste tratamento (o último deve ser
sempre a operação de aquecimento), as tensões residuais diminuem de
30-70%. Geralmente, o recozimento prolongado, na temperatura supe-
rior do ciclo térmico (150°0), implica numa diminuição significativa das
tensões residuais.
Devido à grande diferença no coeficiente de dilatação térmica
das fases de alumínio e silício (aproximadamente 6,5 vezes), surgem mi-
crotensões nos contornos entre as fases. Com o tratamento a frio, estas
microtensões se fortalecem e, adicionando-se às tensões residuais, pro-
vocam deformação plástica significativa durante o aquecimento. Desta
maneira, a alternância de resfriamento até temperaturas negativas, e
posterior aquecimento, fortalece o escoamento plástico microlocalizado.
Isto favorece um alívio mais pleno das tensões residuais.
Ao ciclo térmico natural (com ciclos não regulares de modi-
ficações de temperatura, sob o sol,' vento e chuva), estão submetidos
os ferros fundidos quando armazenados sob céu aberto. As sobrecar-
gas que surgem durante este tempo possibilitam maior estabilização das
dimensões do que o armazenamento dos lingotes em recinto fechado.
PARTE II
O recozimento de segundo tipo

O recozimento de segundo tipo é baseado na utilização de trans-


formações difusionais {normais) de fases, durante o resfriamento dos
metais e ligas. 1
Em princípio, a possibilidade de utilização do recozimento de
segundo tipo para a liga pode estabelecer-se pelo diagrama de fases
(equilíbrio). Vários tipos de transformações de fases acontecem no es-
tado sólido: polimórfica, eutetóide, solubilização de uma fase em outra
durante o aquecimento, como também a decomposição oposta durante
o resfriamento, e outras.
O recozimento de segundo tipo pode se processar com modi-
ficação completa da composição de fases. Quando as fases que exis-
tiam na temperatura ambiente desaparecem no aquecimento, as fases
estáveis em temperaturas elevadas desaparecem durante o resfriamento.
Um exemplo é a transformação da perlita em austenita e a desintegração
da austenita com a formação da perlita (fig. 74).
Se as mudanças na composição de fases se relaciona apenas à
variação de solubilidade dos componentes no estado sólido, a fase matriz
na qual se dissolvem as fases em excesso é estável, tanto em baixas como
em elevadas temperaturas. Durante o aquecimento e o resfriamento de
ligas deste tipo, modifica-se apenas quantitativamente a relação entre as
fases (incluindo o completo desaparecimento de uma das fases durante
o aquecimento). Um exemplo é a solubilização de CuAlz na solução
de alumínio durante o aquecimento, e a precipitação deste composto
intermetálico durante o resfriamento (fig. 7).

1 Sobre o mecanismo de transformações normais ver §9.3


L L Novikov
136 Princípios gerais da transformação
de fases no estado sólido
A utilidade prática do recozimento de segundo tipo consiste capítulo 4
na força com que as mudanças estruturais influem nas propriedades do
metal e da liga. Seu significado objetivo é bastante diferenciado, e será
evidenciado quando forem vistos diversos tipos concretos de recozimento.
Os principais parâmetros de recozimento de segundo tipo são:
temperatura de aquecimento, tempo de exposição a esta temperatura e
velocidade de resfriamento. A temperatura de aquecimento e o tempo de
exposição garantem plenamente as mudanças estruturais indispensáveis,
como por exemplo a solubilização das fases em excesso. A velocidade de
resfriamento deve ser suficientemente pequena para permitir, durante a
diminuição da temperatura, a ocorrência das transformações inversas de
fases. Na base destas transformações está a difusão (ou a autodifusão).
Geralmente, no recozimento, as peças são resfriadas junto com o forno, 4.1. Termodinâmica das transformações de fases.
ou no ar externo ao forno.
Como o recozimento de segundo tipo se baseia na utilização
Como é sabido, sob temperatura e pressão constantes, todos
de transformações de fases no estado sólido, veremos inicialmente os
os processos espontâneos no sistema se dão no sentido da diminuição
princípios gerais destas transformações.
da energia de Gibbs. O estado de equilíbrio caracteriza-se pelo va-
lor mínimo da energia de Gibbs. A energia de Gibbs (ou potencial
isotérmico-isobárico), função característica principal do sistema, é de-
terminada pela seguinte reação:

G=H-TS (19)

onde H é a entalpia, S a entropia e T a temperatura,


Igualando sinteticamente as du:as primeiras leis da termodinâ-
mica, tem-se que

ac a2 c
(-)p = -S e(-)P = -(-)P < O
as
âT âT 2 âT
isto é, a primeira e a segunda derivadas são grandezas negativas. Isto
significa que, com a elevação da temperatura, a energia de Gibbs sempre
diminui e as curvas que mostram a variação da energia de Gibbs em
função da temperatura (fig. 59) devem ser inclinadas com a concavidade
para o eixo da temperatura (e não ao contrário, como são erradamente
traçadas) freqüente.
Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 139
138 L 1. Novikov
capítulo 4

O grau de super-resfriamento cresce com a elevação da velo-


Vejamos a transformação de fases em um sistema de um com-
cidade de resfriamento. Conseqüentemente, o super-resfriamento está
ponente, e em particular a transformação polimórfica no metal.
relacionado com alguma dificuldade na transformação de fases.
Se duas fases de um sistema de um componente podem estar G. Tamman introduziu as características quantitativas do pro-
em equilíbrio, então as curvas de energia de Gibbs destas fases devem cesso de solidificação da massa fundida - número de núcleos que surgem
cruzar-se (fig. 59). por unidade de tempo e unidade de volume, isto é, velocidade de nu-
cleação (V.N.), e a velocidade de crescimento linear dos cristais (V.L.C.).
Com a elevação do super-resfriamento, ambas crescem, atingindo um
máximo e depois caindo até o zero. Denominam-se curvas de Tamman
os gráficos da variação da velocidade de nucleação de solidificação e da
velocidade de crescimento dos cristais, em função de super-resfriamento.
Posteriormente, foi estabelecido que os processos de cristaliza-
ção, para formação de fases no estado sólido, submetem-se aos mesmos
princípios gerais dos processos de cristalização do líquido. A figura 60
mostra curvas de Tamman para a decomposição eutetóide no aço.
V.L.C,
mm/seg . - - - - - - - - - - - - . . .
4T2
- Temperatura T
0,007 V.N
_1_
Figura 59. Variação da energia de Gibbs de duas fases, em função da mnl.S
0,005
telllperatura.

0,003
O ponto de cruzamento das curvas demonstra equihbrio da
energia de Gibbs das duas fases, e corresponde à temperatura de e-
quilíbrio estável (To).
o 100 200 300 400
No gráfico da figura 59 é visto que, abaixo da temperatura To Grou de super- resfriamento, cac
a fase a possui menor energia de Gibbs que a fase {3. Como o sistem~ 1 1 1 J
723 623 523 423 323
tende a diminuir sua energia de Gibbs, durante o resfriamento a fase {3 Temperatura de tronsformação,9C
deve, em temperaturas abaixo de T0 , transformar-se em fase a.
A temperatura de transformação durante o resfriamento é me- Figura 60. Variação da velocidade de nucleação e da velocid3.de linear
nor do que a temperatura de transformação inversa da fase durante 0 de crescimento das colônias de perlita, elll função do grau de super-
a~ue~imento. Este fenômeno denomina-se transformação com histerese resfriamento no aço com 0,8%C (por I.L. Mirlsina).
termica. Por exemplo, o estanho branco transforma-se em cinzento, so-
me~te com forte resfriamento abaixo de zero, embora a temperatura de As relações, obtidas experimentalmente, podem ser explicadas
ec:imlíbrio da modificação entre branco e cinzento seja igual a +13ºC. A com a ajuda das previsões da termodinâmica e da física estatística.
diferença entre a temperatura de equihbrio estável de duas fases (To) e a
À primeira vista parece que o embrião de cristalizaª'° apresenta
temi:;ieratura real de transformação durante o resfriamento denomina-se
um conjunto pequeno de átomos, por exemplo uma célula elementar da
grau de super-resfriamento ( L:l.T).
Teoria dos tratamentos ténnicos dos metais 141
140 l. l. Novikov
capítulo 4

nova fase. Esta célula cresceria em conseqüência da gradual aderência


de átomos da fase matriz. Porém, urna análise mais detalhada mostra
que isto não se processa assim.
Vejamos o processo isotérmico de formação da fase a na matriz
da fase {3, em alguma temperatura T1 abaixo To (Ver fig. 59).
Com a formação de uma partícula de fase a, a energia de Gibbs
do sistema diminui, pois na temperatura T1 a nova fase é mais estável e
possui menor energia de Gibbs do que a fase f3 inicial. A diminuição da
energia de Gibbs com a formação de um cristal da fase a é D.Gv = V Âg,
Figura 61. Variação da mudança da energia de Gibbs na formação do
onde V é o volume do cristal, D.g a diferença de energia específica de
cristal, em função do seu tamanho (T2 < T1, fig. 59).
Gibbs entre as duas fases na temperatura T1 (ver fig. 59) 1 .
Com o surgimento do novo cristal, está associado o apareci- Conseqüentemente, quanto menor o tamanho da partícula, ma-
mento da superfície de separação entre a fase nova e a inicial. Na ior é a fração da energia total, que está sob a forma de energia interfacial.
formação desta superfície dispende-se energia. A energia superficial Se surgir uma partícula com tamanho menor que algum ao, o aumento
(~ais exatamente ~ da interface) do cristal, D.Gs = S-y, onde S é
da energia de Gibbs, em conseqüência da formação da nova superfície
a área da superfície do cristal e "f a energia da interface por unidade de (+D.Gs), supera a diminuição da energia de Gibbs que o~orre como r~­
área ("!, tensão superficial). sultado da transformação de parte do volume da fase matriz na fase maIS
Desta maneira, com a formação da partícula da nova fase no estável (-.ó.Gv ). Como resultado, a energia de Gibbs do sistema au-
interior da matriz, a energia de Gibbs do sistema se altera. Por um lado, menta (+.ó.G). Quanto maior o tamanho da partícula, em comparação
deve diminuir em conseqüência da transformação de algum volume da com algum tamanho crítico acn menor a influência da energia interfa-
fase f3 na fase a mais estável. De outro lado, aumenta em conseqüência cial. Nestas condições, o surgimento de cristais com dimensões maiores
da formação da superfície de separação, com energia interfacial em ex- que a0 conduz à diminuição da energia de Gibbs do sistema (-D..G)
cesso. Como resultado, a modificação real da energia de Gibbs, com a (fig. 61).
formação de um cristal, é a soma algébrica: Se surge um cristal da nova fase com tamanho menor que o
crítico seu crescimento posterior deve ser acompanhado de elevação da
D.G = -D.Gv + D.Gs ou D..G = -VD..g + S-y (20) energi~ de Gibbs. Este cristal é instável, e é reabsorvido pela f~e ini-
cial. Se, por qualquer caminho, surge um cristal com tamanho ma10r que
Se considerarmos a forma do cristal como sendo cúbica, o crítico acri ele pode crescer espontaneamente, pois seu crescimento é
D..G = -a3 D.g + 6a2 -y, onde a é a aresta do cubo. Toda esta última acompanhado de diminuição da energia de Gibbs. Conseqüentemente, os
dedução pode ser conseguida também para cristais de qualquer outra núcleos de cristalização são apenas aqueles embriões da nova fase, capa-
forma. Como D.g e 'Y são constantes para determinada temperatura zes de crescerem espontaneamente, os quais têm dimensões não menores
T 1 , então D..G é função das dimensões do cristal (fig. 61). O significado que determinado valor crítico ªcr·
físico desta dependência consiste no seguinte: quanto maior a partícula, O tamanho crítico do embrião é determinado igualando a zero
maior a relação entre sua superfície e seu volume. Por exemplo, para a primeira derivada de D..G em relação a a, pois para a = acn a função
o cubo, se a= 10, então S/V = (6 x 10 2 )/10 3 = 0,6; se a= 1, então
passa por máximo:
S/V = (6 X 12 )/1 3 = 6.
1 Neste caso, como energia específica de Gibbs entende-se a energia de Gibbs por â.ó.G = -3a2 D._g + 12acr/ = O, de onde acr = 41 / D..g (21)
unidade de volume. âa cr
l. l. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 143
142
capítulo 4

Como a tensão superficial praticamente não varia com a eleva- energia de interface são compensados com a diminuição da energia de
ção do grau de super-resfriamento, e ó..g cresce continuamente (fig. 59), volume de Gibbs.
0 tamanho crítico do embrião diminui com a elevação do super-resfria-
De onde se obtém, no sistema fechado, a energia necessária à
mento. Isto está representado na figura 61,, na qual a curva pontilhada formação do embrião crítico?
corresponde ao maior super-resfriamento. Os átomos em vibração no cristal trocam continuamente ener-
Agora resta explicar de que maneira, dentro da fase matriz, gia cinética entre si. Devido ao movimento térmico caótico, a energia
surge a partícula com tamanho não menor que determinado valor crítico. é distribuída heterogeneamente entre os átomos. Em determinado mo-
Na formação do embrião crítico gasta-se energia (+ó..Gcr), mento é diferente a energia dos diversos átomos, num mesmo átomo a
pois forma-se uma superfície entre fases (fig. 61). Esta energia pode ser energia modifica-se de um momento para outro. Sempre existem átomos,
ou grupos de átomos, cuja energia cinética é maior ou menor do que o
,expressa em função de ó..g e 1:
valor médio.
(22) O desvio da energia de seu valor médio denomina-se flutuação
energética. A elevação da flutuação da energia em um grupo de átomos
, Substituindo aqui o valor de acr da expressão (21), obtém-se: da fase matriz pode assegurar a energia de formação do embrião crítico.
ó..Gcr = -( 4// ó..g) 3 Ó..g + 6(4/ / ó..g) 2 /, isto é, O embrião crítico forma-se ali onde uma parte da fase matriz, de ta-
manho não menor que o crítico, possui elevação de energia não menor
(23) que determinado nível.
Desta maneira, a rede da nova fase tem menor reserva de ener-
Com a elevação do grau de super-resfriamento, o valor de / gia de Gibbs do que a rede da fase matriz. Apesar disto, a transformação
praticamente não se altera, e ó..g cresce (fig. 59). Então, a energia de de uma fase para a outra, que se dá com a formação do núcleo de crista-
formação do embrião crítico diminui rapidamente com a elevação do lização, ocorre através de um estado intermediário, no qual há elevação
super-resfriamento (é inversamente proporcional ao quadrado de ó..g). de energia de Gibbs, acima da energia da fase inicial.
A energia de formação do embrião crítico, para determinado Agora é possível explicar a variação da velocidade de nucleação
·super-resfriamento, pode ser expressa em função da energia de superfície. da nova fase em função do super-resfriamento. Com a elevação do grau
'Da fórmula (21) tem-se que ó..g = 41/acr. Substituindo este valor na de super-resfriamento, diminui o tamanho crítico do embrião e a ener-
•expressão (22), obtém-se: gia para sua formação. Conseqüentemente, quanto maior o grau de
super-resfriamento, menor a flutuação necessária, no que diz respeito ao
3 41' 2 6a~r'Y nível de energia e às dimensões geométricas da mesma. Por isto, com a
Ó.. G cr = -acr - + 6a cr'
'Y = --
acr 3 elevação do grau de super-resfriamento, aumenta o número de embriões
críticos que surgem por unidade de tempo e unidade de volume, como
Como 6a~ é a superfície do embrião, S, então: resultado da flutuação energética. Esta quantidade de núcleos deve ser
proporcional a e-1::.Gcr/kT.
(24) O embrião crítico permanece como núcleo de recristalização,
apenas quando agrega a si um ou alguns átomos da fase matriz. A
Desta maneira a energia de formação do embrião crítico é igual freqüência de adesão de átomos ao embrião é proporcional ao fator
à terça parte de sua energia interfacial 2 • Os restantes dois terços da e-Q/kT, onde Q é a energia de ativação da transferência do átomo
através do contorno de fase.
·2 A tensão superficial é diferente nos vários contornos do cristal. Sendo assim, a grosso
Conseqüentemente, a velocidade de nucleação de cristalização,
mod.o, na fórmula da energia de formação do embrião crítico deve-se substituir S-y
pela soma Si-n + Srr2 + ... + Sn/n, onde n é o número de contornos.
ao depender da probabilidade de formação de determinadas flutuações
144 I. I. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 145
capítulo 4

energéticas, bern como da probabilidade de adesão de átomos ao embrião no estado sólido, inclui-se urna contribuição positiva de determinada
crítico, pode ser expressa pela seguinte fórmula: parcela elástica l:::..Ge1, indispensável na equação (20).
{25) (26)

Na temperatura de equilíbrio das duas fases, To, onde o grau de Ao somar l:!.Ge1, não considerado na dedução das fórmulas (21),
super-resfriamento t::..T = O e a força motriz de transformação l:!.g = O {23), {24) e (25), não mudam as conclusões sobre o caráter da variação
(fig. 59), acr = oo, de acordo com a expressão (21). Nestas condições, t::..G da energia de Gibbs durante a tranformação isotérmica, em função
a transformação não pode ocorrer (o fator e-6.Gcr/kT na equação (25) é do tamanho do embrião (fig. 61). Também não mudam as conclusões
nulo). sobre o caráter da variação da velocidade de nucleação em função do
Corn a elevação do grau de super-resfriamento, diminui rapida- grau de super-resfriamento (fig. 66). Esta adição influi apenas nos va-
mente a energia l:::..Gcr de formação do embrião crítico. Correspondente- lores de acn l:::..Gcr e J. Às vezes, esta influência pode ser muito forte.
mente, cresce rapidamente a quantidade de flutuações térmicas na base Por exemplo, corn urna elevação de 25% no volume específico, a trans-
das quais surgem os embriões críticos. formação do estanho branco em cinzento está relacionada ao surgimento
Entretanto, simultaneamente à diminuição da temperatura, di- de l:!.Ge1, bastante elevada. Isto faz com que esta transformação se de-
minui a probabilidade de adesão dos átomos ao embrião crítico. A ener- senvolva espontaneamente, apenas com urna temperatura de -20ºC, e
gia de ativação Q não depende da temperatura, e o fator e-Q/kT na mesmo assim, muito raramente (a temperatura de equilíbrio para as
fórmula (25) decresce rapidamente com a diminuição da temperatura, duas formas modificadas de estanho é +13ºC).
tendendo para zero quando a temperatura se aproxima do zero absoluto. A explicação teórica do caráter da variação da velocidade linear
Desta maneira, de um lado, com a elevação do grau de super- de crescimento dos cristais em função do grau de super-resfriamento é
resfriamento cresce a diferença da energia volumétrica de Gibbs, que é a possível através de análise análoga à apresentada para a velocidade de
força motriz da transformação, e diminui o tamanho crítico do embrião nucleação.
e a energia de sua formação, o que permite a elevação da velocidade de Os valores rnáxirnos da velocidade de nucleação e da veloci-
nucleação. Por outro lado, com a elevação do grau de super-resfriamento, dade linear de crescimento correspondem a diferentes graus de super-
diminui a mobilidade dos átomos, dificultando com isto a nucleação. resfriamento. Além disto, o ramo ascendente da curva de velocidade
Corno resultado da influência simultânea dos dois fatores opos- de nucleação está inclinado para o lado de maiores super-resfriamentos.
tos, a curva de Tamman passa por um máximo. O importante é que (fig. 60).
a velocidade de nucleação pode ficar insignificantemente pequena, em As velocidades de nucleação e de crescimento linear dos cristais
temperaturas distantes do zero absoluto (fig. 60). Aplicando um super- determinam a velocidade geral de transformação de fases. A velocidade
resfriamento suficientemente grande, podemos eliminar a transformação média de transformação isotérmica de fases cresce inicialmente com a
por difusão no estado sólido. Esta é a base da têmpera das ligas. elevação do grau de super-resfriamento, atinge um máximo, e depois de-
Durante a transformação no estado sólido atua ainda outro cresce (fig. 62). 3 Experirnentalrnente determina-se a velocidade média
fator, que dificulta o aparecimento de núcleos de transformação. A de transformação de fases corno sendo o inverso do tempo de trans-
nova fase se diferencia da inicial também pela estrutura e pelo vo- formação isotérmica completa.
lume específico. Como a transformação desenvolve-se em meio à elas- Neste capítulo, a apresentação da análise termodinâmica da
ticidade cristalina, a mudança do volume específico provoca o apare- nucleação da nova fase foi relacionada com as condições isotérmicas. As
cimento de energia de deformação elástica em urna ou em ambas as
3 Em 4.5 será mostrado que a. verdadeira. velocidade de crescimento volumétrico na
fases. Isto dificulta a transformação e eleva a energia de Gibbs. Con-
transformação isotérmica modifica-se regularmente .durante .a. transformação. Por
seqüentemente, na mudança da energia de Gibbs com a transformação isto, aqui se considera a. velocidade média..
146 /. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 147
capítulo 4
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Figura 62. Variação da velocidade média• de transformação de fase, em To -Grau de superaquecimento fiT
- Temperatura T
função do grau de super-resfriamento.

velocidades de nucleação e de crescimento linear da nova fase também Figura 63. Variação da velocidade média de transformação de fase em
função do grau de super-aquecimento. '
são medidas experimentalmente para determinados super-resfriamentos.
Já· na prática, a maioria dos tratamentos térmicos obedecem a processos
de resfriamento contínuo. Isto não está considerado em nossas deduções, Por isto, para a formação do embrião crítico, não é satisfatório ape-
obtidas para transformação de fases. Isto poque o resfriamento contínuo nas a flutuação energética, mas também é indispensável a flutuação de
dos metais se dá através de uma quantidade inumerável de graus de concentração. Na solução sólida com determinada composição química
super-resfriamento. Quanto mais rapidamente se resfria o metal, tanto média, existem regiões com maior e menor teor de um ou outro com-
m~nos se consegue formar núcleos de cristalização da nova fase, em cada
ponente. Evidentemente, quanto maior o afastamento da composição
grau de super-resfriamento. Ao mesmo tempo, mais fortemente há o média e maior o tamanho da região com este afastamento, tanto menor
super-resfriamento da fase matru1. a probabilidade de flutuação de concentração nos limites da fase inicial.
Por exemplo, para nuclear cementita contendo 6,67% C a partir da aus-
Até agora neste capítulo viu-se a transformação de fases no
tenita de composição eutetóide (ü,8% C), é indispensável uma elevação
re~friamento. As proposições básicas da teoria da flutuação para a nu-
localizada da concentração de carbono, aproximadamente de oito vezes.
cl~ação da nova fase são válidas para o processo de transformação de
Na austenita: existem regiões pobres e ricas em carbono. Cálculos ba-
fases no aquecimento. Com a elevação do grau de superaquecimento
seados na teoria das probabilidades mostram que em lcm3 de austenita
acima de To, cresce a diferença de energia de Gibbs entre a fase ini-
com composição eutetóide, existem 3, 3 x 10 16 regiões ricas em carbono,
cial e a nova (fig. 59). Ao mesmo tempo decresce o tamanho crítico do
de tamanho igual a 6 células elementares. Com concentração de 6,67%
embrião e a. energia para sua formação.
C tem-se apenas 1000 regiões ricas em carbono, porém com 24 células
A diferença básica entre a transformação de fase no aqueci-
elementares (ao todo, em lcm3 de austenita encontram-se 2, 14 x 1022
mento e no resfriamento é a crescente elevação da mobilidade dos átomos,
células elementares).
com o afastamento da temperatura de equihôrio das duas fases. Por isto,
com a levação do grau de superaquecímento, cresce intensamente a ve- Deve-se considerar a diferença entre flutuação de composição
locidade de transformação, em conseqüência da diminuição do tamanho dentro de uma fase e dentro de uma mistura dispersa de duas fases. A
crítico do embrião, da energia para a sua formação, bem como pela flutuação de concentração surge e se extingue ininterruptamente. A cada
elevação da mobilidade dos átomos (fig. 63). Isto explica que na trans- temperatura corresponde uma composição média de solução, indepen-
formação no estado sólido atinja-se, habitualmente, muito menor grau dentemente da distribuição momentânea dos valores. Esta distribuição
de snperaquecimento do que grau de super-resfriamento. existe na fase metaestável, por exemplo com super-resfriamento, até o
. _ Com as transformações de fases, formam-se fases que se dife- início da transformação. Já o sistema bifásico não pode ser caracteri-
renciam da fase inicial, muito freqüentemente, pela composição química. zado pelo equilíbrio de distribuição de partículas de fases, através de
/. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 149
148
capítulo 4

seus volumes. Isto porque estas partículas tendem, indefinidamente, a coerentes. Se na transformação de fases garante-se a coerência entre as
crescer no início às custas da fase inicial e depois pelo coalescimento de fases, isto significa que os vizinhos de qualquer átomo da fase inicial
partículas vizinhas que pertencem à mesma fase. permanecem como vizinhos deste mesmo átomo na nova fase (§9-3).
A necessidade de flutuação de concentração em adição à flu- A não-correspondência entre as duas redes pode ser compen-
tuação energética dificulta a nucleação da nova fase. Isto se dá parti- sada às custas de deformação elástica, apenas no caso em que a diferença
cularmente nos casos em que as composições das fases inicial e nova se de distâncias interatômicas nas fases que se conjugam for suficientemente
diferenciam fortemente. A termodinâmica dos processos de formação de pequena.
fases que se diferenciam da inicial pela composição está mais detalhada-
Na figura 64a é visto que, com o afastamento. a partir do centro
mente exposta no §10-3.
para a periferia, a curvatura dos planos atômicos verticais é crescente. É
bastante evidente que, com a elevação da área do contorno coerente, deve
4.2. Papel da estrutura dos contornos entre as fases, durante as crescer também a deformação elástica no mesmo. Por isto, o contorno
trans/onnações defases. puramente coerente entre as fases é possível apenas para superfícies re-
lativamente pequenas das fases. Estas superfícies são tanto menores,
A energia interfacial no contorno entre as fases nova e inicial quanto maior for a não-correspondência de suas redes.
depende da estrutura deste contorno. Diferenciam-se três tipos de con- Com a elevação das dimensões do embrião pode-se atingir um
tornos entre as fases: coerente, semicoerente e incoerente. momento no qual a compensação da ri.ão-correspondência das paredes
No contorno coerente a rede de uma fase atravessa suavemente das duas fases fique mais vantajosa energeticamente. Isto não se dá
para a rede de outra fase (fig. 64a) e os.planos atômicos não se interrom- como resultado de deformação coerente por toda a superfície de se-
pem neste contorno. Apenas encurvam-se um pouco, como se estivessem paração, mas freqüentemente às custas de discordâncias (fig. 64b). Es-
continuando na outra fase. Esta deformação elástica, denominada coe- tas discordâncias se denominam estruturais ou discordâncias de não-
rente, permite o acoplamento suave das redes das duas fases, sendo que correspondência. Nos intervalos entre elas observa,-se coerência das re-
a distância interatômica nelas é sempre diferente. Se a nova fase é mais des das duas fases. O contorno entre as fases, quando tetn esta es-
rígida que a inicial, a deformação coerente concentra-se, basicamente, trutura, denomina-se semicoerente. Se, por exemplo, o. grau de não-
na fase inicial e vice-versa. correspondência das duas redes é e= (aa - a13)/a13 = 0,01, e o vetor
de Burgers das discordâncias estruturais é igual a uma distância. inte-
ratômica no plano de acoplamento, então, para a compensação da não-
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 ir,.
111111111~ correspondência das redes, em contorno semicoerente, as discordâncias
fl1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 devem estar distantes uma da outra de 1/0,01=100 distâncias inte-

«j jli' i' i '(1~


ratômicas. Quanto maior o grau de não-correspondência das redes,
maior a densidade de discordâncias no contorno semicoerente. Com ele-
vado grau de não-correspondência das redes das duas fases, a distância
a b entre as discordâncias estruturais diminui tanto que elas perdem a indi-
vidualidade (misturam-se vigorosamente). Este contorno entre as fases
Figura 64. Esquema da estrutura dos contornos entre os cristais das denomina-se incoerente. A mesma denominação têm as próprias fases
fases a e {3. Coerente (a), e semicoerente (b). que se distribuem por estes contornos. Do exposto, conclui-se que o
protótipo do contorno incoerente é o contorno de grão de alto ângulo de
Se entre os cristais das duas fases tem-se contorno coerente, ou uma fase, e o protótipo do contorno semicoerente é o contorno de baixo
alguma coerência, ambas as fases (e seus cristais) também se denominam ângulo.
150 !. !. Novikov
Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 151
capítulo 4

De acordo com cálculos realizados, a energia entre fases de con-


Na amostra polida elas estão distribuídas paralelamente uma à outra ou
torno coerente não supera 20 M din/m 2, a do contorno semicoerente é de
fazendo determinado ângulo. Esta estrutura denomina-se Windmons-
200-500 M din/m2, e a do contorno incoerente é de 500-LOOO M din/m 2.
taten, pelo nome do investigador austríaco A. Windmonstaten, um dos
Conseqüentemente, para as diversas condições, a energia de formação do
primeiros a observar, em 1808, em meteorito de ferro-níquel, traços de
embrião crítico con~endo contorno coerente deve ser a menor, e a velo-
planos entrelaçados.
cidade de formação destes embriões a mais elevada.
Na figura 64 é visto que a rede do embrião, separado da fase ini-
cial t>or contornos coerente ou semicoerente, é sempre orientado cristalo- 4.3. Nucleação homogênea e heterogênea defases.
graficamente de determinada maneira, em ralação à rede da fase inicial.
Daqµi não se deve concluir a proposição inversa, de que duas fases com
orientação mútua regular de suas redes são obrigatoriamente coerentes. A nucleação de fase que ocorre de maneira completamente ca-
Em primeiro lugar, a rede da fase não-coerente pode possuir orientação sual nos diversos locais do volume da fase inicial denomina-se homogê-
regµlar em relação à rede da fase inicial, porque o embrião da nova fase ti- nea.
nha :contorno semicoerente. Depois, com o crescimento do cristal, o con- Um dos mecanismos da nucleação homogênea é a formação de
torno entre as fases ficou incoerente e sua orientação conservou-se igual embriões críticos por flutuação (§4.1). As próprias flutuações energética
à prévia. Em segundo lugar, se o embrião desde o início tem contorno in- e de composição são resultado do movimento térmico caótico e o surgi-
coerente, ainda assim há possibilidade de orientação regular de sua rede mento delas em diversas regiões da fase inicial tem um caráter proba-
em J!elação à rede da fase inicial. A mudança de orientação submete-se bilístico. Por isto, a distribuição através do volume da fase inicial, de
a princípios, cuja essência foi formulada mais acertadamente por P.D. embriões que surgem à base de tais flutuações, também é casual.
Dankov, como princípio da correspondência de orientação e dimensão: A teoria clássica da nucleação homogênea foi desenvolvida de
"A ~ransformação química na superfície do corpo sólido desenvolve-se conformidade com a condensação do vapor e cristalização do líquido.
de tal maneira, que a configuração atômica da fase sólida inicial se con- Porém, desde o início se sabia que este processo ocorre nas paredes do
serw,i, (ou quase se conserva) na nova fase. A rede cristalográfica da nova recipiente ou molde, como também nas partículas em suspensão, isto é,
fase, que surge durante o processo, conjuga-se com a rede cristalina da nas superfícies· prontas já existentes.
fase inicial, em planos cristalográficos semelhantes, cujos parâmentros
Na massa fundida sempre estão presentes, em mistura, partí-
se diferenciam um do outro minimamente". Do ponto de vista termo-
culas de análise química não-controlada - óxidos, nitretos, carbonetos,
dinâmico, a causa da orientação regular entre duas fases consiste em
sulfetos e outras. As inclusões estranhas, em grande quantidade, servem
que, durante a cristalização em meio anisotrópico, "uma energia su-
como catalisadores. Por isto, nas condições habituais, não temos em
perfiicial mínima garante-se para a máxima semelhança de distribuição
vista a nucleação espontânea e homogênea no interior do volume do
dos átomos nos grãos em contacto da velha e nova fase" (S. T. Kono-
líquido puro, mas sim a nucleação nas partículas de outras fases que
bevski).
possuem superfícies. Por isto esta nucleação foi chamada de heterogênea.
O princípio da correspondência de orientação e dimensão, ou,
abreviadamente, de correspondência estrutural, como também se deno- A nucleação heterogênea não contradiz a teoria clássica de flu-
mina o princípio de Dankov-Konobevski, aparece mais claramente na tuação, para formação de embrião crítico. Se a energia entre as fases,
no contorno do embrião com a inclusão, for menor que no contorno
formação da fase coerente. Porém, ele pode também determinar a
com a massa líquida, então a energia de formação do embrião crítico
oriei;i.tação do embrião incoerente, pois, também neste caso, a orientação
regular é capaz de diminuir a ener~?.a do contorno incoerente. será menor 4 . A elevação da velocidade de nucleação nas superfícies já
formadas das partículas, devido ao crescimento do super-resfriamento,
O princípio da correspondência estrutural dá uma das explica-
ções da tendência ao surgimento de nova fase orientada regularmente.
4 Menor numerador na fórmula (23).
Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 153
152 l. l. Novikov
capítulo 4

é explicada como no caso da cristalização homogênea, pela diminuição sua tensão superficial. Os elementos ativos na superfície, ao diminuírem
das dimensões do embrião crítico e da energia para sua formação. a tensão superficial da solução, devem concentrar-se espontaneamente,
absorvendo-se próximo da superfície, pois com isto diminui a energia de
No estado sólido as condições para nucleação preferencial em
Gibbs do sistema. A atividade superficial pode acontecer não apenas
determinados locais é ainda mais favorecida, pois na fase inicial existe
nas soluções líquidas, mas também nas sólidas. Os elementos solubili-
uma multiplicidade de locais com energia de Gibbs elevada, o que possi-
zados que diminuem a energia de Gibbs dos contornos intercristalinos,
bilita a transformação. Estes locais são os contornos de grãos e subgrãos
e que enriquecem a zona perto do contorno, são denominados segrega-
da fase inicial, inclusões dispersas de outras fases, discordâncias e falhas
dos no contorno. O enriquecimento espontâneo dos contornos de grãos
de empilhamento.
pelos elementos solubilizados é denominado de segragação de equilíbrio.
O termo nucleação heterogênea foi propagado para todos os
Isto para diferenciar da elevação de não-equilíbrio da concentração na
casos de nucleação preferencial na fase sólida, independentemente da
solução sólida, perto dos contornos de grão na segregação dendrítica. Se
natureza dos locais nos quais se formam os núcleos.
a segregação dendrítica é gradualmente reabsorvida com o recozimento,
Na nucleação heterogênea no estado sólido, pode-se enunciar a segregação de equilíbrio, ao contrário, se fortalece com a elevação do
duas causas de diminuição da energia para formação do embrião crítico: tempo de exposição isotérmica.
1) diminuição da energia entre as fases no contorno já existente Uma das causas da segregação de equilíbrio é a interação elás-
de separação entre o embrião e a matriz e; tica entre os átomos do elemento solúvel e o contorno entre as fases. Nas
2) eliminação total ou parcial de defeitos da rede na fase inicial soluções substitucionais a rede fica alterada devido à não-correspondên-
com a correspondente energia de Gibbs associada aos mesmos. cia de dimensões dos átomos dos componentes, em torno dos átomos
Vejamos, separadamente, a nucleação heterogênea, em cada um do elemento básico da solução. No contorno intergranular os átomos
dos tipos de locais preferenciais para a formação dos embriões. são distribuídos incorretamente, e existem regiões de rarefação e de con-
4.3.1. N ucleação nos contornos de grão. A facilidade de nucleação densação. Os átomos do elemento soluto de diâmetro maior que o do
nos contornos de grão da fase inicial pode ser explicada da mesma ma- metal base tendem a ficar nas regiões rarefeitas dos contornos de grão.
neira que a nucleação preferencial dos cristais nas inclusões da massa Já os átomos do elemento soluto, com diâmetro menor do que o do sol-
líquida. Este fenômeno pode ser interpretado também de maneira um vente, tendem a ficar nas regiões condensadas do contorno intergranular.
pouco diferente: com a formação do embrião da nova fase, desaparece Nas soluções intersticiais, os átomos do elemento soluto também
alguma parte do contorno entre fases. Com isto, a energia de contorno provocam alterações no volume do cristal. Isto porque seus diâmetros
em excesso na fase inicial ÃGcont é liberada e utilizada na formação do são maiores que os locais intersticiais da rede, nos quais eles se in-
embrião da nova fase, isto é, na construção do contorno entre fases e na troduzem. Estes átomos também se introduzem de maneira mais fa-
compensação da energia elástica que surge. Neste caso, a expressão (26) vorável energeticamente, nos contornos intergranulares e em regiões de
pode ser escrita da seguinte forma: rarefação.
Desta maneira, a força motriz da segregação de equilíbrio é a
(27) diferença na energia de deformação da rede em torno dos átomos do
elemento soluto, entre o volume do cristal e o contorno intergranular.
Esta diferença representa a energia E de interação elástica entre o átomo
Conseqüentemente, devido à contribuição negativa de 6.Gcont,
a energia de formação do embrião crítico diminui em termos de variação do elemento soluto e o contorno de grão. A concentração do elemento
total da energia de Gibbs. soluto no contorno Ccont depende do valor de E e da concentração do
Existem outras causas para a nucleação preferencial nos con- mesmo elemento no volume do grão Co:
CoeE/kt
tornos de grão. É sabido do curso de físico-química que uns ou óutros
Ccont = 1 + CoeE/kt (28)
componentes da solução líquida, de maneira diferenciada, influem na
/. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 155
154
capítulo 4

Quanto maior a não-correspondência dimensional dos átomos, é maior do que no corpo do grão. Se a adição eleva o ponto líquidus
maior será a energia elástica de interação E e, conseqüentemente, maior da solução, então k > 1 e, conseqüentemente, o elemento soluto está
Ccont· Na rede C.C.C. as dimensões dos locais intersticiais, onde se dis- subsegregado no contorno. Sua concentração na solução líquida é menor
solvem os átomos intersticiais, são menores que na rede C.F.C .. Por isto, do que na solução sólida, e no contorno intergranular é menor do que
na rede e.e.e. os átomos intersticiais devem segregar-se mais fortemente no corpo do grão. Contudo, não é possível fazer a previsão quantitativa
nos contornos intergranulares. esperada, do grau de surgimento de segregação ou subsegregação no
Com a elevação da temperatura, a segregação de equilíbrio é contorno, baseando-se no método exposto. Isto se deve, talvez, ao fato
afetada pelo movimento térmico. Sob temperatura suficientemente ele- de que o contorno de grão não é idêntico à estrutura da solução líquida.
vada, ela se dissolve completamente. A segregação de equih'brio do elemento no contorno, ou ao
Em volta dos átomos do elemento soluto, o volume da rede sem- contrário, a ausência de elemento subsegregado no contorno pode in-
pre está deformado. Conseqüentemente, sempre existe uma interação e- fluenciar fortemente na nucleação da nova fase no contorno de grão.
lástica destes átomos com os contornos inte:rgranulares. Como resultado, Além disto em princípio, é possível aqui tanto facilitar como dificul-
' ,
todos os elementos solutos, em um ou outro grau, devem estar segregados tar a transformação de fases. E particularmente importante observar
no contorno. Contudo, existem dados experimentais nos quais alguns que, para um teor total não significativo na solução liquida, do ele-
elementos são subsegregados no contorno: sua concentração no contorno mento que segrega no contorno, sua concentração no contorno inter-
de grão é menor que no volume. Isto significa que, além da interação elás- granular da solução sólida pode ser suficientemente elevada para influir
tica, subsiste também interação química dos átomos do elemento soluto na transformação de fases. Diferentes ligas fundidas da mesma marca,
com os contornos intergranulares. Esta interação química (dependendo por força de circunstâncias casuais, contêm quantidades desiguais de
das particularidades da estrutura eletrônica dos átomos) pode possibi- impurezas que segregam no contorno, não-controláveis pelos métodos
litar segregação de equilíbrio no contorno, como também pode superar habituais de análise. Por isto, estas ligas fundidas podem se diferen-
a atração elCIBtica e provocar a purificação da zona próxima à fronteira ciar, substancialmente, pela velocidade de nucleação da nova fase nos
em termos de átomos do elemento soluto. contornos de grão. Devido à segregação de equilíbrio, pequenas adições
A segregação de determinado elemento ou a subsegregação no homeopáticas especialmente introduzidas influem fortemente na trans-
contorno de um solvente concreto podem ser avaliadas razoavelmente, formação de fases. Por exemplo, adições de boro em milésimos de fração
utilizando a proposição sobre analogia entre a estrutura da massa líquida percentual dificultam a decomposição da austenita nos contornos inter-
e a estrutura desordenada no contorno do grão. Desta analogia deduz- granulares.
se que a relação entre a concentração do elemento soluto no volume e Os contornos de grão influem não apenas na nucleação, mas
no contorno intergranular deve ser igual à relação entre a concentração também na velocidade de crescimento dos núcleos de nova fase. Se a nova
deste elemento na solução sólida (C801) e líquida (Cliq)· Isto significa a fase se diferencia da inicial pela composição química, então o crescimento
igualdade dos coeficientes de distribuição: difusional de seu embrião pelo contorno de grão se dá mais rapidamente
do que pelo corpo do grão. Isto se explica pelo fato de que, como é sabido,
Cvol = Csol = k a velocidade de difusão pelo contorno de grão, onde a estrutura é mais
(29) poderosa, é maior do que pelo volume do grão. A energia de ativação
Ccont Ctiq
da difusão no contorno de grão é, aproximadamente, duas vezes menor
O valor de k é determinado facilmente pelo diagrama de e-quilí- do que na difusão pelo volume. O valor da energia d~ ativação .ent:a
brio, na proximidade do ponto de fusão do componente base da solução. em grau exponencial na fórmula da variação do coeficiente de d1fusao
Se a adição diminui o ponto líquidus, então k < 1 e, conseqüentemente, o em função da temperatura (D = Ae-QfRT). Sendo assim, a diferença
elemento soluto deve estar segregado no contorno. Sua concentração na citada no valor da energia de ativação implica grande diferença entre os
solução líquida é maior do que na solução sólida, e no contorno de grão coeficientes de difusão no contorno e no volume dos grãos. Por exemplo,
156 /. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 157
capítulo 4

no ferro-1 a lOOOºC, o coeficiente de autodifusão pelos contornos de grão A solubilidade do elemento de liga deve ser, no caso geral, diferente em
é 103 vezes maior que no interior dos mesmos. redes de diversos tipos. Da mesma maneira os átomos, ao se distribuírem
O papel dos contornos de grão na transformação por difusão entre os defeitos de empilhamento. Ao mesmo tempo, no resto da rede
cresce com a diminuição da temperatura. Isto está relacionado ao fato da fase inicial formam-se atmosferas de Suzuki, as quais possibilitam
de que a mobilidade de difusão no volume do grão fica bastante baixa. nucleação de fases, que se diferenciam da inicial. Por estas duas causas,
Os contornos de grão começam a influenciar sensivelmente na velocidade as discordâncias alongadas, nas quais os defeitos de empilhamento unem
de transformação de fase por difusão, em temperaturas inferiores a O, 75 discordâncias parciais, são locais de nudeação preferencial da nova fase.
Tfusão.
4.3.4. Nucleação nas inclusões. Freqüentemente, na fase inicial,
4.3.2. N ucleação nas discordâncias. Em torno da discordância exis- existem inclusões de óxidos, carbonetos, nitretos, intermetálicos e de
tem campos de tensões elásticas. Por exemplo, no caso de discordâncias outras fases. As inclusões podem facilitar a nucleação da nova fase, pelas
em aresta, abaixo da aresta do plano atômico incompleto encontra-se mesmas causas da nucleação heterogênea na solução líquida: a energia de
região de tração e, acima desta aresta, região de compressão. Por isto, a. formação do embrião crítico diminui se a energia superficial no contorno
não-correspondência estrutural entre o embrião e a fase inicial pode ser, do embrião com a inclusão for menor do que com a fase matriz. Isto é
parcial ou totalmente, compensada pelas discordâncias. Isto serve como mais provável no caso em que a rede da inclusão é isomorfa em relação
uma das causas de formação preferencial de embriões nas discordâncias à rede do embrião.
.
com contornos semicoerente ou incoerente. Com a formação deste em-
'
As inclusões podem acelerar a nucleação não apenas direta-
brião, a energia elástica da rede da fase inicial é eliminada em alguma mente, mas através da formação de discordâncias. Durante o tratamento
região próxima à linha de discordância. Isto significa que na fórmula térmico, devido à diferença no coeficiente de dilatação térmica entre a in-
(26) o termo aditivo b..Gcont torna-se negativo: a energia elástica da clusão e a matriz, surgem tensões tais, que se generalizam discordâncias
discordância possibilita a nudeação ao somar-se com a força motriz da na fase matriz. Nestas discordâncias pode nuclear, preferencialmente, a
tranformação b..Gv. Por uma estimativa, como resultado disto, a ve- nova fase.
locidade de nudeação nas discordâncias é 1078 vezes maior do que a Durante a solidificação de solução líquida, a formação de nú-
velocidade de nucleação homogênea. cleos de cristalização nas inclusões de ponto de fusão mais elevado é
Outra causa da nudeação preferencial nas discordâncias é a o mecanismo básico da nucleação heterogênea. Já nas transformações
formação de atmosfera de Cottrell dos átomos do elemento soluto ao no estado sólido, a nucleação direta nas superfícies das inclusões, como
longo da linha de discordâncias. Se o embrião diferencia~se da fase ini- regra, desempenha papel secundário, em comparação com a nucleação
cial pela composição em elemento de liga, é evidente que ele se forma nos diversos tipos de defeitos da rede (contorno de grão, subgrão, dis-
mais facilmente onde já existe segregação deste elemento. Finalmente, cordâncias). A quantidade destes defeitos ao longo do volume é habi-
a energia de ativação da difusão, ao longo da discordância em aresta, é tualmente muito maior do que a quantidade de inclusões.
duas vezes menor do que no volume do grão que está distante da dis-
4.3.5. Nucleação em microdescontinuidades. Os microporos ga-
cordância. A aceleração da difusão através dos tubos da discordância
facilita o crescimento difusional do embrião da nova fase. Isto se dá sosos e de contração, as microtrincas e outras descontinuidades surgem
particularmente em baixas temperaturas, quando a difusão no volume nos contornos e no interior dos grãos, durante a cristalização, a de-
do grão da fase inicial fica muito lenta. formação pla.Stica e o tratamento térmico. Nestes locais, bem como na
superfície livre da peça, pode ser fortemente facilitada a nucleação da
4.3.3. N ucleação nas falhas de empilhamento. A falha de em- nova fase, pois aqui está ausente a continuidade de resistência elástica
pilhamento, por exemplo na rede cúbica de faces centradas, é a rede entre cristais que surgem com diversos volumes específicos. Estes locais
hexagonal co~pacta, e vice-versa. Se a nova face possui rede deste tipo, são particularmente efetivos em nucleação preferencial, quando o termo
a falha de empilhamento ajuda na preparação da nucleação da nova fase. adicional b..Gcont na fórmula (26) é grande. Um exemplo é a nucleação
158 l. l. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 159
~~~~~~~~~-

capítulo 4

de grafitas nas microdescontinuidades da austenita, e a transformação Se traçarmos uma tangente às curvas de energia de Gibbs de duas fases
do estanho branco em cinzento, a qual se inicia na superfície aberta da em equilíbrio, os pontos de tangência (a e b) mostram as composições
amostra. das fases em equilíbrio, a determinada temperatura. No caso geral es-
A dispersão das partículas da nova fase e o caráter de sua distri- tas composições não correspondem aos pontos de mínimo das curvas em
buição no volume da liga com a nu.cleação heterogênea são determinados questão. Isto porque as condições de equih'brio heterogêneo, do sistema
pela quantidade e distribuição dos locais de nucleação heterogênea. Ao constituído de mais de um componente, não são alcançadas com energia
contrário da nucleação homogênea, os núcleos de transformação de fases mínima de Gibbs de cada fase, mas sim pela igualdade dos potenciais
da nucleação heterogênea podem estar distribuídos bastante heteroge- químicos do componente nas fases vizinhas.
nemente no volume da liga, como por exemplo nos contornos de grão.
Muito freqüentemente os cristais da nova fase estão distribuídos pelos
contornos de grão da fase matriz. Isto produz contornos claramente de-
lineados. Porém, eles podem se distribuir com bastante uniformidade no
volume da liga. Isto acontece quando os próp#e>s locais preferenciais de T1
nucleação estão distribuídos uniformemente peÍ~ {rolume da fase inicial. 1l
.o
0
Isto é possível, por exemplo, no caso de nucleação nas discordâncias, -8
falhas de empilhamento e inclusões. A modificação da quantidade e do o
-~ 1-11--'--------+-L.I
caráter dos locais de nucleação heterogênea, sob a ação do tratamento Q)
e:
w
térmico, da deformação plástica e outros meios, é um dos caminhos mais
efetivos de regularização da estrutura que se obtém com tranformações
de fases. Por exemplo, o refino de 1~rão da fase inicial (e em conseqüência t
a elevação da superfície total dos contornos) ou a elevação da densidade
de discordâncias, com a deforma<;ão pla.5tica, elevam a quantidade de b
núcleos de transformação de fases. A Ca Co B

Figura 65. Diagrama de equilíbrio (a) e variação da energia de Gibbs


4.4. Formação de fases metaestá1,eis intermediárias. em função da composição na temperatura T1 (b).

A formação de fase estável conduz a um sistema no estado de


energia absoluta mínima de Gibb.s. Contudo, em determinadas condi- A energia de Gibbs da mistura de fases sempre é uma grandeza
aditiva, e representa os pontos da linha reta que une os valores da energia
ções, nucleia e cresce fase meta.estável, e não fase de estabilidade abso-
luta. A formação de fase metaestável conduz a um sistema com estado de Gibbs das fases em equilíbrio. Conseqüentemente, qualquer ponto na
linha ab, como por exemplo G 1 (fig. 65b), mostra a energia de Gibbs
de energia relativa mínima de Gibbs.
da mistura das fases em equilíbrio com composições a e b (aqui não se
Vejamos o caso de transformação da fase inicial de equilíbrio
considera a energia superficial do contorno entre as fases).
a, para a nova fase estável {J, a qual se diferencia da inicial pela estru-
tura e composição. Utilizemos para isto o método da termodinâmica A parte fa da curva de Gibbs da fase a relaciona-se com a
geométrica, incluindo o gráfico de energia de Gibbs versus composição. região de composição da fase a (de A até Ca), onde ela é estável para
Corno é conhecido dos cursos de físico-química e metalografia, a temperatura em questão, e a parte ag onde ela é metaestável. No
à temperatura constante cada fase se caracteriza por sua curva de de- último caso, a energia de Gibbs da fase a é maior do que da mistura
pendência da energia de Gibbs com a composição desta fase (fig. 65). a+ f3 da mesma composição (por exemplo, na liga Co, G2 > G1). Se a
160 I. !. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 161
capítulo 4

composição da fase a encontra-se à direita de Ca, então deve precipitar- pode desempenhar papel decisivo nas primeiras etapas de formação dos
se a fase f3 a partir de a, até o momento em que a composição da fase cristais da nova fase. Isto se dá quando é elevada a ~elação entre suas
inicial não atinge o equilíbrio (Ca)· Se a composição da fase a estiver à superfícies e o volume, e também quando é alta a influência da energia
esquerda do ponto Ca, e a mesma estiver em contato com a fase (3, esta interfacial na energia total de Gibbs do cristal.
última irá solubilizar-se na fase a, até o momento em que não atingir a Os valores da energia interfacial nos contornos da fase a com
composição de equilíbrio Ca. as fases /3, (3' e /3" podem ser muito diferentes entre si. Suponhamos que
Suponhamos que em algum sistema subsista não apenas a fase a rede cristalina da fase /3 estável seja radicalmente diferente da rede da
estável, mas que seja também possível, em determinadas condições, a fase inicial a, e que por isto não é possível surgir contorno coerente. Ao
formação de fases metaestáveis (3' e /3", com energias de Gibbs superiores mesmo tempo, suponhamos que a estrutura das fases metaestáveis /3'
à da fase f3 (fig. 66). A fase mataestável /3' se diferencia da estável e /3" seja mais próxima da estrutura da fase inicial a, e que os contor-
apenas pela estrutura, e a fase (3" pela estrutura e pela composição. Em nos entre as fases a/ (3' e a//3" possam ser coerentes ou semicoerentes.
equih'brio estável com a fase /3, encontra-se a fase a de composição Ca. A energia entre as fases em tais contornos é muito menor do que no
Em equilíbrio metaestável com as fases (3' e /3" encontram-se as fases- contorno incoerente a/ (3.
a, ,de composições C' e C" respectivamente. Pode-se fazer a afirmação Se o ganho da energia interfacial supera substancialmente a
geral de que a solubilidade da fase metaestável na outra fase é sempre perda em energia volumétrica de Gibbs, de acordo com a fórmula (26)
superior à solubilidade da fase estável. a energia de formação do embrião crítico ó.Gcr da fase metaestável será
menor que a da fase estável. Com isto, a velocidade de nucleação da
fase metaestável, de acordo com a expressão (25), será maior. No caso
de contornos coerente ou semicoerente das fases metaestáveis, para di-
"'
Ll
Ll minuição de ó.Gcr o ganho de energia interfacial deve também superar
Cê)
o desenvolvimento da energia elástica relacionada com estes contornos.
"'
"O
Se no sistema puderem existir várias fases metaestáveis, para
.Q
::'.'
Q) dado grau de super-resfriamento, com a elevação do tempo de exposição
e
w irá formar-se, inicialmente, fase metaestável, devido à maior velocidade
t de nucleação. Para esta fase, é mínima a energia de formação do em-
brião crítico. Em seguida, surgem fases metaestáveis com maior ener-
A Ca C' C" Co 6 gia de formação do embrião crítico. Em última instância surge a fase
estável, pois a energia de ativação de sua formação é a mais alta e,
Figura 66. Esquema para análise do equilíbrio entre a fase estável a e conseqüentemente, a velocidade de nucleação é a mais baixa.
as fases metastáveis f3 e (3 1 • Desta maneira, a seqüência de f armação de fases é regulada
não pelo nível da energia volumétrica de Gibhs, mas pelo valor da bar-
Na liga de composição C 0 , a energia de Gibbs da mistura a+ f3 reira energética para nucleação da nova fase, a qual depende fortemente
é menor do que da mistura a+ /3' ou a+ f3"(G 1 < G 2 < G 3). Daqui da energia interfacial dos contornos entre as fases. Quanto maior esta
pode-se concluir que a diminuição da energia de Gibbs com a formação barreira, isto é, maior a energia de ativação para formação do embrião
da fase estável é maior do que com a formação da fase metaestável: crítico, mais tarde se forma a fase correspondente. Esta lei denomina-se
(G4 -Gi) > (G4 - G2) e (G4 - G1) > (G4 - G3). Contudo, esta análise "regra das etapas".
não considera o papel da energia interfacial (na figura 66 apresentam-se Quando, após a formação da fase /3", surge a fase (3' rela-
gráficos da variação da composição em função da energia volumétrica tivamente mais estável, em torno de seus cristais, na fase inicial a,
de Gibbs). Além disto, corno foi mostrado no §4.1, a energia interfacial estabelece-se o equilíbrio de concentração C'. Ao mesmo tempo, no
162 L /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 163
capítulo 4

cqntorno com a fase (J", estabelece-se a concentração da solução a, C" não for solubilizada toda a fase (3 11 • Conseqüentemente, a fase mais
(fig. 67). O nivelamento difusional da composição na solução a tende estável (3' cresce, às custas da solubilização da fase menos estável (J",
a diminuir sua concentração no contorno com a fase (J". Isto conduz à pelo caminho da transferência, por difusão, do componente B através
si.ia solubilização na matriz. Gra,ças a esta alimentação adicional com o da solução a da matriz.
segundo componente da solução a no contorno com a fase (3", enquanto Analogamente, com o surgimento da fase estável f3 deve so-
ela não desaparecer completamente, deve possuir concentração do ponto lubilizar-se a fase (3'. Isto corresponde à regra geral: a formação de
C". Se as condições se modificam durante o processo de nivelamento da uma fase mais estável leva à solubilização da fase menos estável que
composição da matriz, e a fase /~" se solubiliza na mesma, o. resultado se formou anteriormente, a qual geralmente denomina-se intermediária.
deste nivelamento de composição pode ser delineado esquematicamente, No final das contas, o sistema pode chegar ao estado que se caracteriza
pela linha pontilhada da figura 67. pela energia mínima absoluta de Gibbs.
Fatores de concentração também podem possibilitar a formação
de fase intermediária. Se a fase estável se diferencia acentuadamente da
fase inicial pela composição química, para sua nucleação são necessárias
grandes flutuações de composição, e para seu crescimento é indispensável
C' uma transferência de massa, por difusão, relativamente grande. Se neste
mesmo sistema é possível existir fase metaestável com composição mais
próxima da fase inicial, sua formação é mais vantajosa cineticamente,
particularinente com alto super-resfriamento, no qual são mais lentos os
processos difusionais.
Um exemplo cla8sico é a formação, a partir da austenita, de
cementita metaestável no lugar da grafita estável. A composição da
austenita (não mais que 2,14% C) é muito mais próxima da cementita
(6,67% C) do que da grafita (100% C). É completamente evidente que
as flutuações de concentrações, indispensáveis para a nucleação da ce-
mentita, são muito mais prováveis que as flutuações de concentração in-
dispensáveis à nucleação da grafita. A velocidade de crescimento por di-
Figura 6í'. Gradiente de concentração do componente B na solução a, fusão de cristais de cementita também é maior que os de grafita. Além do
na região entre os precipitados {111 e {3' (C" e C', fig. 66). fator de concentração, a nucleação de cementita é possibilitada, também,
pelo fator de estrutura: a cementita é mais próxima estruturalmente da
austenita do que da grafita, e a energia entre fases em seu contorno com
De acordo com este esquema, a transferência do componente a austenita deve ser menor.
B 'desde o contorno a/ (J" para o contorno a/(J' eleva a concentração da
solução a próximo ao contorno o:/ /3'. Este último fica supersaturado
eni relação à fase {J'. Em conseqüência disto, a fase {J' se precipita 4.5. Cinética de transfonnação de fases.
na. superfície preparada da partícula (J', e a concentração da solução a
decresce até o equilíbrio (C'). Ao mesmo tempo, próximo ao contorno
a/ {J", a solução da matriz permanece subsaturada em relação à fase /3", A cinética dos processos de cristalização no estado sólido é de-
a qual solubiliza-se na mesma. Com isto, eleva-se a concentração da terminada por dois parâmetros: a velocidade de nucleação para trans-
solução a até o equilíbrio (C"). Estes processos prosseguem enquanto formação e a velocidade linear de crescimento destes núcleos. Como
164 l. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 165
capítulo 4

foi mostrado acima, ambos os parâmetros de cristalização dependem do dentro de um tempo intermediário determinado, e medir a propriedade
grau de super-resfriamento ou de superaquecimento. ou estudar a microestrutura das amostras temperadas, à temperatura
A cinética de transformação de fases para determinado super- ambiente.
resfriamento, ou superaquecimento, é representada por curva de cinética, Método análogo é utilizado para constituir as curvas de cinética
que apresenta o desenvolvimento da estrutura qualitativamente nova, de transformação, que ocorre com o aquecimento. Neste caso, as amos-
que se forma com o tempo (fig. 68). tras com temperatura inicial abaixo do ponto de equilíbrio de fases são
rapidamente levadas à temperatura que corresponde a determinado grau
de superaquecimento.
Todos os processos isotérmicos de cristalização caracterizam-se
pela seguinte cinética (fig. 68). Inicialmente, o volume que experimenta
transformação cresce aceleradamente, e no final da transformação o in-
cremento deste volume torna-se bruscamente lento. Desta maneira, para
temperatura constante, a velocidade volumétrica real de transformação
modifica-se no próprio processo de transformação. Em cada instante,
a velocidade volumétrica real de transformação é determinada grafica-
mente pela tangente trigonométrica do ângulo de inclinação da tangente
à curva de cinética.
A pequena velocidade volumétrica no período inicial é explicada
pela pequena quantidade de núcleos de transformação, e pela pequena
---- Tempo superfície da nova estrutura que se compõe. Gradualmente cresce a
quantidade de núcleos, elevam-se as dimensões da nova fase e a superfície
Figura 68. Cinética de transformação de fases com temperatura con&- total da frente recristalizada. Por isto, a velocidade volumétrica de
tante: 1) curva de cinética; 2) variação da velocidade volumétrica real transformação, proporcional à área desta superfície, cresce.
de transformação em função do tempo de exposição isotérmica; oa - Contudo, esta velocidade não pode crescer continuamente com
período de incubação; ob - tempo para transformação completa.
0 tempo de exposição isotérmica. A intervenção de processo mais lento, o
qual se expressa particularmente de maneira mais clara no final de trans-
A curva de transformação que ocorre com resfriamento é cons- formação, é explicado pelo fato de que os cristais em crescimento esbar-
truída da seguinte maneira. As amostras são aquecidas até uma tem- ram entre si, e nos locais de união seu crescimento é encerrado, isto é, a
peratura acima do ponto de equilíbrio de fases. Nesta temperatura elas superfície da frente de transformação diminui. A velocidade volumétrica
podem demorar quanto tempo se quiser, no estado de fase inicial. Em real de transformação atinge um máximo, no ponto que corresponde à
seguida, as amostras são levadas rapidamente à temperatura abaixo do curvatura na curva de cinética. Essse ponto é atingido aproximada-
equilíbrio de fases, isto é, à temperatura que corresponde a determinado mente quando metade do volume passa por transformação. Agora é
grau de super-resfriamento. Pode ser usado banho de sal ou óleo, como compreensível por que cada grau de super-resfriamento caracterizou-se,
também banho de metal fundido. acima, pela velocidade média de transformação'(fig. 62).
A amostra deve ser fina para receber rapidamente a tempera- A cinética de transformação isotérmica de fase caracteriza-se
tura registrada. O grau de transformação nas amostras que se encon- por uma curva senusoidal. O tipo mais geral é bem representado pela
tram em temperatura estabilizada é acompanhado pela modificação de equação de Avram (8), na qual, para este caso, Vi/Vo é a fração vo-
alguma propriedade, como por exemplo magnética ou elétrica. Pode- lumétrica que foi transformada no tempo t, e o coeficiente B depende
se também temperar as amostras a partir da temperatura em questão, da velocidade de nucleação e da velocidade de crescimento linear.
Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 167
166:___ _ _ _ _ _ _ _ __ l. l. Novikov
capítulo 4

super-resfriamento conduz à elevação do período de incubação (oa3 <


A.N. Kolmogar realizou uma análise matemática da cinética oa 4 < oa5 ), e também eleva-se o tempo de completa transformação
de transformação de fase, com o controle de velocidade de nucleação (ob3 < ob4 < ob5 ), pois diminui a mobilidade dos átomos.
constante (n) e velocidade de crescimento linear (c) também constante.
Além disto, as condições de análise foram tais, que os cristais da nova
fase, até o momento de esbarrarem uns nos outros, possuíam forma
esférica:
vt/V0 = 1 - exp ( ·-3nc
7í 3t 4) (30 )

Desta equação, deduz-se que a modificação da velocidade linear


de crescimento, como por exemplo com a elevação do grau de supera-
quecimento, deve influenciar na fração volumétrica transformada, de
maneira significativamente mais forte do que a modificação da velocidade
de nucleação. o ª3 04b3 ª2. ª5b4 ª1
-Tempo
De acordo com a equação (30), no período inicial da exposição
isotérmica, a fração de volume transformado é muito pequena, e cresce
Figura 69. Curvas de cinética para vários graus de super-resfriamento:
muito lentamente com o tempo. Por isto, a parte inicial da curva senusoi- T1 > T2 > T3 > T4 > Ts.
dal praticamente coincide com o eixo da abscissa no trecho oa (fig. 68).
O período oa denomina-se incubação. No período de incubação
a quantidade de novos cristais formados é tão pequena, que a transfor-
mação não é detectada pelos métodos usuais de investigação. O final
do período de incubação (ponto a, fig. 68) é o início da transformação
detectada pelos métodos utilizados. Quanto mais sensível o método de
investigação, menor é o tempo em que se detecta o surgimento da nova
estrutura que se forma.
Do ponto de vista prático, o grau insignificante de transfor-
mação no período de incubação não é levado em consideração. Por
isto, é mais útil falar do final do período de incubação como sendo o
início da transformação. Isto, sempre considerando que no início da
transformação já se formou alguma quantidade da nova estrutura que
Figura 70. Curvas de cinética para vários graus de superaquecimento:
está se constituindo. Por exemplo, o início da transformação efetiva no
Ti < T2 < T3 < T4 < Ts.
aço é fixado quando se tem 0,5-1% de perlita.
Nas figuras 69 e 70 estão representadas curvas de cinética, para
vários graus de super-resfriamento e superaquecimento. De acordo com Com a elevação do grau de superaquecimento (fig. 'TO), o pe-
as leis representadas graficamente nas figuras 60 e 62, inicialmente, com ríodo de incubação e o tempo de completa transformação diminuem
a elevação do grau de super-resfriamento diminui o período de incubação progressivamente (oa 1 > oa 2 > oa3 > oa4 > oas ~ ~b1. > ob2 ?'
(oa 1 > oa 2 > oa3, fig. 69) e encurta o tempo de completa transformação ob > ob ) . Isto porque, ao mesmo tempo em que d1mmm a estab1-
(ob 1 > ob 2 > ob3 ). Isto se explica pelo fato de que o estado da fase inicial lid~de te:modinâmica da fase inicial, cresce a mobilidade dos átomos
se torna menos estável. Com determinado grau de super-resfriamento
(fig. 63).
atinge-se o menor período de incubação (oa 3 ). O posterior aumento do
168 I. l. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 169
capítulo 4

Para a resolução de muitas questões de tratamentos térmicos, b5 , é a curva de final de transformação. Ela mostra a variação do tempo
não se necessita construir curvas de cinética. É suficiente conhecer o de transformação completa, em função do grau de super-resfriamento.
período de incubação e o tempo de transformação total a várias tempera- Ambas as curvas são denominadas de curvas-e. A curvatura da curva-C
turas. Estes valores são representados nos diagramas de transformação corresponde à velocidade máxima da transformação (fig. 71b).
isotérmica. Na figura 71a está representado um diagrama de trans-
O diagrama de transformação isotérmica no aquecimento está
formação isotérmica, o qual ocorre com super-resfriamento. Este dia-
representado na figura 72 (compare com as de cinética de transformação
grama foi construído com as curvas cinéticas mostradas na figura 69.
na figura 70). As curvas a1 -a2-a3-a4 -a5 e bi -b2-b3-b4-b5 mostram
Na figura 71a, os segmentos representados, em correspondência com
os dados obtidos, por determinados métodos, para o início e final de
as temperaturas, por horizontais a partir da ordenada e até os pontos
transformação. Para temperatura suficientemente alta, devido à grande
ai, b1 , a2, b2 , b2, etc, são proporcionais aos segmentos oa1, ob1, oa2, ob2,
mobilidade dos átomos, a transformação é praticamente instantânea.
etc, na figura 69.
Por isto as curvas de início e de final de transformação se juntam e
To To terminam no eixo das ordenadas.

E
::J

~
Q)
a.
E
~

t a
_ _ velocidade médio
b
-Tempo Tempo
de transformação

Figura 71. Diagrama de transformação isotérmica que ocorre com Figura 72. Diagrama de transformação isotérmica que ocorre com o
super-resfriamento (a), e variação da velocidade média de transforma- super-aquecimento, To - Temperatura de equilíbrio de fases.
ção em função do grau de super-resfriamento (b). To - Temperatura
de equilíbrio de fases.
Os primeiros diagramas de decomposição isotérmica da ~us­
tenita foram construídos em 1930 pelos cientistas americanos Bem e
Para construir o diagrama de transformação isotérmica não é
Davenport. Na década de,trinta os metalurgistas soviéticos S. S. Stein-
completamente obrigatório determinar, previamente, as curvas de ci-
berg, N.A. Minkevichi, V.D. Sadovski e outros investigaram amplamente
nética. É suficiente o caminho experimental de determinar, a cada
a decomposição da austenita em condições isotérmicas. O método de es-
temperatura, os tempos do período de incubação e de transformação
tudo da cinética de transformação de fases com a ajuda do diagrama de
completa. As amostras são aquecidas a uma temperatura acima de To
decomposição isotérmica da fase super-resfriada, o qual se den~mina
e, rapidamente, são transferidas para uma temperatura abaixo de To.
também diagrama-e ou curvas em forma de e, mostrou-se excepcional-
Determina-se, então, os tempos de surgimento da nova estrutura que se
mente frutífero na teoria do tratamento térmico. O número de diagra-
forma e de eliminação do restante da estrutura inicial.
mas de transformação isotérmica de fase super-resfriada, publicado para
A curva à esquerda, a 1a 2a3 a 4a 4, é a curva de início de trans- 3 1 ' . 102
0 aço, constitui uma quantidade da ordem de 1~ . P:-ra o a u~mio,
formação. Ela mostra a variação do valor do período de incubação, em e para 0 titânio, 102. Os diagramas em C tam,~m sao const~mdos para
função do grau de super resfriamento. A curva à direita, bi -b2 - b3 -b4 - o ferro fundido, algumas ligas de cobre, de uramo e outras ligas.
Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 171
170 /. /. Novikov
capítulo 4

A ampla utilização dos diagramas de transformação isotérmica Qualitativamente, esta conclusão é correta. Quantitativamen-
é possibilitada pelo fato de que os mesmos são construídos nas coor- te, porém, é impossível determinar o início de transformação durante
denadas temperatura versus tempo, as quais representam o regime de resfriamento contínuo, pelo cruzamento da curva de resfriamento com a
aquecimento e resfriamento dos tratamentos térmicos. curva-C, a qual é construída para condições isotérmicas. A questão é
que o período de incubação oa1 foi obtido pela investigação das amos-
Com a ajuda dos diagramas-C, é particularmente fácil analisar tras durante a exposição isotérmica à temperatura T1 . Agora nos in-
os diferentes tipos de tratamentos isotérmicos, incluindo a aceleração do teressa a amostra que se resfria continuamente com a velocidade V1·
resfriamento e o tempo de exposição à temperatura constante, como por Durante o período de incubação, esta amostra encontra-se em tempera-
exemplo no recozimento isotérmico e na temperatura isotérmica (§5.4 turas variáveis, superiores a Ti. Em temperaturas superiores, durante
e 9.9). Através do diagrama-e, pode-se determinar, diretamente, os o período de incubação, as transformações ocorrem mais lentamente do
tempos de início e final de transformação da fase super-resfriada até que na temperatura T1 . Conseqüentemente, na amostra resfriada con-
determinada temperatura, como também, em correspondência com a tinuamente até atingir a temperatura T1, o grau de transformação deve
exigência da tarefa, escolher o regime de tratamento isotérmico. ser menor do que na amostra que durante o mesmo tempo encontrava-se
na temperatura T 1 em condições isotérmicas. Por isto, na amostra res-
Mais complexa é a análise pelo diagrama de transformação iso- friada continuamente com a velocidade v1 , a temperatura de fixação do
térmica, dos processos de transformação de fase que acontecem durante início da transformação deve estar abaixo da temperatura T1 , determi-
o resfriamento contínuo. E exatamente estes processos predominam na nada pelo ponto de cruzamento da curva de resfriamento com a curva-C,
prática do tratamento térmico. Através dos diagramas de transformação construída em condições isotérmicas.
isotérmica, pode-se fazer algumas conclusões qualitativas durante estas
Para análise quantitativa das transformações que ocorrem du- j:
análises. Por exemplo: na figura 73 a curva 1 mostra o início de trans-
rante resfriamento contínuo, deve-se utilizar os diagramas que receberam
formação em condições isotérmicas da fase super-resfriada. As curvas
a denominação de termocinéticos.
V1 e v2 relacionam-se a dois regimes de resfriamento contínuo. Conside-
rando que os pontos a 1 e a 2 determinam o início de transformação com Os diagramas termocínéticos de transformação de fases são
resfriamento contínuo, a figura 73 mostra de modo evidente que, com construídos utilizando-se resfriamento contínuo de amostras, cujas tem-
maior velocidade de resfriamento v2, a transformação se inicia com um peraturas no período de resfriamento são anotadas por oscilógrafos.
maior super-resfriamento (To - T2 > T 0 -·Ti). Pode-se medir alguma característica da amostra no processo de seu res-
friamento (por exemplo, seu comprimento por método dilatométrico) e,
T Inicial com desvio desta característica em relação a modificações suaves, deter-
~--

minar o início da transformação.


Outra possibilidade consiste no resfriamento, com o mesmo re-
gime, de uma série de amostras. Em vários momentos, tempera-se em
água. Em seguida, observa-se suas estruturas ou propriedades. Assim,
determina-se o início e o final da transformação (ou o grau de trans-
formação), para um determinado regime de resfriamento. Por exemplo,
Tempo
os pontos r 1 e r 2 mostram o início da transformação, para as velocida-
des de resfriamento v1 e v 2 (fig. 73). Em correspondência, a curva 2 na
Figura 73. Curvas de início de transformação de fase super-resfriada, figura 73 mostra o início da transformação com várias velocidades. Esta
em condições isotérmicas (1) e com resfriamento contínuo (2). curva relaciona-se ao diagrama termocinético, no qual se pode, com pos-
sibilidade análoga, contruir curvas de final de transformação, bem como
172 /. !. Novikov Recozimento dos aços
capítulo 5
curvas que correspondem a determinado grau de transformação durante
o resfriamento contínuo a várias velocidades (fig. 138).
A discrepância na localização das linhas do diagrama termo-
cinético e do diagrama de transformação isotérmica, os quais têm sen-
tido idêntico, pode ser bastante substancial, como no caso do aço. Pode
também ser pouco substancial, como no caso dos duralumínios. É im-
possível prever, de antemão, o valor desta discrepância. Os métodos
propostos para transformar os diagramas de transformação isotérmica
em diagramas termocinéticos têm valor bastante precário. Por isto, para
as ligas industriais, é melhor construir os diagramas de transformação O recozimento dos aços (recozimento de 22. tipo) é o trata-
dos dois tipos, embora os diagramas termocinéticos sejam difíceis de mento térmico cujos processos principais são a austenitização e a poste-
construir. rior transformação perlítica.
Os diagramas termocinéticos também podem ser construídos
para as transformações que acontecem durante o aquecimento.
5.1. Formação da austenita com o aquecimento.

5.1.1. Mecanismo e cinética da austenitização. Antes da forma-


ção da austenita a estrutura inicial é sobretudo uma mistura da fase a
(C.C.C.) e carboneto. Nos aços ao carbono a austenita em tempera-
tura pouco superior ao ponto A 1 contém aproximadamente 0,8% C, ao
mesmo tempo em que a ferrita na estrutura inicial contém centésimos
percentuais de carbono (fig. 74). De que maneira surge região de fase
'Y com rede C.F.C. e teor relativamente elevado de carbono? Há muito
se discute esta questão na literatura. Os dados experimentais até agora
acumulados indicam dois estágios de formação de núcleos de austenita.
O primeiro estágio é a transformação polimórfica a - / por mecanismo
de cisalhamento, com aparecimento de austenita metaestável com pouco
carbono 1 . O segundo estágio é a elevação da concentração de carbono
nesta austenita, isto é, aproximação da composição de equilfürio, como
conseqüência da solubilização de partículas de carboneto na austenita.
No mecanismo de transformação a - / de reconstrução da rede
com a formação de núcleos de austenita, ocorrem os seguintes processos:

1 Quanto a esta questão é indispensável consultar o §9.4, no qual se comparam os

mecanismos de cisalhamento e transformação normal.


174 l. l. Novikov
Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 175
capítulo 5

1600-------------------~

1539
r
!" -.
1500rrr---.. '
ó'
1400 1392ºC

1300

1200

o 1100
o•
~
~
.,
E
a.
E
~ --
-~
I
•a

0,6
b
500Lº-~-~~-___J_____JL~-'---'--~-~--' ;l. 0,4
o 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0 ü
Fe e
TeorC:,% (em peso) o 2
~ 0,2
Figura 74. Diagrama de equilíbrio do sistema Fe-C.

o 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20
(ormação de agulhas (mais exatamente placas) das primeiras regiões de Distância, mm 10-2
fase 'Y, surgimento de relevos na superfície polida da amostra, e "he-
rança" de subestruturas de discordâncias com a transformação o: - 'Y
Figura 75. Microestrutura (a) e distribÚição de carbono nas fases (b),
(§15.2). Com pequena espessura do núcleo, cuja formação está rela- após têmpera do aço 20 desde 730°C (I.B.Dochechikino),600X. Na
cionada com a duplicação da superfície de contorno, o ganho em ener- impressão reduzida em 1/3.
gia volumétrica de Gibbs é suficiente para o desenvolvimento da trans-
formação, apenas no caso em que o novo contorno for coerente (possuir (esferoidita), os núcleos de austenita surgem próximos às partículas de
baixa energia). Este contorno é, exatamente, a característica para a carbonetos, distribuídas nos contornos de grão de ferrita.
transformaçíio por cisalhamento (M.A. Stremel). À medida que cres-
cem os núcleos, seus contorno,s passam de coerentes para incoerentes, e Nos aços hipoeutetóides as primeiras regiões de austenita sur-
e\ mecanismo de cisalhamento muda para o mecanismo de crescimento gem, preferencialmente, nos contornos de grãos e subgrãos da ferrita em
qormal dos grãos de austenita. Com isto, os núcleos de fase 1 em forma excesso, e nos contornos das colônias de perlita. Na figura 75a é vista a
de agulhas desaparecem, e a partir deles formam-se os grãos habituais região 1 de austenita, que surge próximo à colônia de perlita, e a região
equiaxiais. 2 de austenita que se forma na ferrita livre, do aço 20. Na figura 75b
mostra-se a distribuição de carbono ao longo da linha traçada na figura
Os núcleos de austenita formam-se preferencialmente nos con- 75a. O aço foi aquecido a 730ºC com exposição de 1 minuto. Na região
tornos de grão da ferrita. Nos aços com estrutura granular de perlita 1 o teor de carbono atinge até 0,53%, e na região 2, até 0,18%. Isto
176 /. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 177
capítulo 5

é completamente natural, pois a primeira região está mais próxima da


fonte de carbono (cementita na colônia de perlita). Com a elevação da
temperatura, as regiões de austenita devem se aproximar do equilíbrio
determinado pela linha GS.
Pode-se prever dois casos de crescimento dos núcleos de auste-
nita. No primeiro caso a austenita encontra-se em contato com a ferrita
t
o
e
e
1---()K
A F

Fr- A - F

e a cementita, as quais são absorvidas pelo crescimento espontâneo do .e


o
(.)

grão de austenita. No segundo caso, o grão de austenita é totalmente <!>


"O
o
cercado de ferrita, e o carboneto se dissolve na ferrita, enquanto o con- 'º<.>. a
b
torno 7 /a não atinge a partícula de carboneto. Ambos os casos foram ~

detectados por observação direta do desenvolvimento da transformação


perlita-austenita, no microscópio eletrônico de transmissão.
Analisemos a formação isotérmica da austenita nos dois casos
indicados, na temperatura T1 da figura 76.
1,L..__ª ~J~hl \J, Distônçia através da seção
VI
Figura 77. Esquema da distribuição da concentração de carbono com
o crescimento da austenita que se encontra em contato com a ferrita e
cementita (a) e completamente rodeada de ferrita (b).

a composição da austenita para a esquerda do ponto a na figura 77a.


Com isto, a austenita fica subsaturada em relação à cementita, a qual se
solubiliza, restabelecendo o equilíbrio de concentração do ponto a. No
contorno com a ferrita a difusão de nivelamento eleva a concentração de
carbono na austenita, deslocando a mesma para a direita do ponto b na
Figura 76. Esquema da região de aço do diagrama de equilíbrio ferro- figura 77a. Com isto, a austenita fica subsaturada em relação à ferrita, a
cementita. qual se transforma em austenita, elevando nela a concentração de ferro,
até a composição de equilíbrio do ponto b. Desta maneira, o grão de
Se a austenita faz contorno com a ferrita e com a cementita, a austenita cresce do lado da ferrita e do lado da cementita.
concentração de equilíbrio da mesma no contorno com a ferrita deve ser a A velocidade de movimentação do contorno entre as fases, com
indicada pelo ponto b, e no contorno com a cementita, pelo ponto a. No o crescimento de uma das fases às custas da outra, é inversamente pro-
interior do grão de austenita estabelece-se um gradiente de concentração
porcional à diferença de concentração no contorno (o valor desta di-
ab (fig. 77a). No contorno da austenita com a cementita existe um ferença muda, pois varia a concentração no volume que está em cresci-
grande salto ak de concentração de carbono, e no contorno com a ferrita mento). Como a diferença de concentração no contorno austenita/ferrita
um salto menor bd. é significativamente menor que no contorno austenita/cementita (bd < <
A velocidade de crescimento isotérmico do grão de austenita é ak), a velocidade de crescimento do grão da austenita no lado da ferrita
controlada pela difusão de carbono, desde o contorno austenita/cementi- é muito maior que no lado da cementita. Como resultado, no momento
ta para o contorno austenita/ferrita. A difusão de nivelamento diminui do ·desaparecimento dos espaços da ferrita, a perlita sempre fica sem
a concentração de carbono no contorno austenita/ cementita, deslocando completa solubilização de cementita. A própria transformação perlita-
178 1. 1. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 179
~~~~~~~~~~~~~·~~~-

capítulo 5

austenita encerra-se com o desaparecimento dos espaços de ferrita. Em


seguida, continua a dissolver-se a cementita residual. Ao término desta
solubilização, a austenita está heterogênea em composição de carbono.
Nos locais onde antes encontrava-se a cementita, a concentração de car-
bono na solução / é maior. Para nivelamento da composição da aus-
tenita, é necessário um tempo complementar, após o término da trans-
formação de fase.
Se os grãos de austenita estão completamente cercados de fer-
rita (fig. 77b), de acordo com o diagrama de equilíbrio da figura 76 a
concentração de carbono na ferrita próximo ao contorno desta com a
cementita deve ser representada pelo ponto e, e no contorno desta com
a austenita, pelo ponto d. Neste caso,, a velocidade de crescimento da Figura 78. Diagrama de formação isotérmica da austenita em aço
hipoeutetóide com 0,45%C, com estrutura inicial de ferrita e perlita
austenita é controlada por difusão de carbono desde o contorno fer-
(Rose e Strasburg).
rita/ cementita até o contorno ferrita/austenita.
A difusão de nivelamento na ferrita, no contorno ferrita/cemén-
método experimental, sobre alguma quantidade de austenita, como por
tita, conduz à solubilização de carboneto, e no contorno ferrita/austeni-
exemplo 1ou3%. Uma análise metalográfica minuciosa sempre detecta a
ta, conduz à. transformação em austenita (o contorno ferrita/austenita
formação das primeiras porções de austenita, logo após a ultrapassagem
movimenta-se no lado da ferrita).
através do ponto A 1 , isto é, a linha de início real da transformação
No aço hipoeutetóide o tamanho de grão da ferrita de estrutura
encontra-se praticamente na temperatura A1. Isto está relacionado com
livre (em excesso) é de uma a duas ordens maior do que os espaços
a facilidade de nucleação da austenita com o cisalhamento a - / de
de ferrita na perlita. Por isto, o tempo de desaparecimento da ferrita
transformação da rede. Aqui não há contradição com a teoria geral de
livre supera o tempo de desaparecimento da perlita. Após a eliminação
transformação de fases, pois, em princípio, a transformação de fases pode
da ferrita livre, nos locais de seus grãos a concentração de carbono na
desenvolver-se a qualquer pequeno grau de superaquecimento acima da
austenita é menor, e dá-se o processo de nivelamento da composição no
temperatura de equilíbrio. Um exemplo conhecido da transformação
interior dos grãos de austeníta.
de fases com grau de superaquecimento praticamente nulo é a fusão de
Na figura 78 mostra-se a construção experimental do diagrama
cristais.
de formação isotérmica da austenita, a partir da estrutura ferrita-perlita
do aço hipoeutetóide. A linha 1 caracteriza o surgimento da auste- A cinética de formação isotérmica da austenita caracteriza-se
nita, a linha 2 a eliminação dos espaços de ferrita na perlita e, con- pela habitual curva senusoidal (fig. 79). Esta cinética obedece à equação
seqüentemente, a eliminação da própfia perlita, e a linha 3 a eliminação de Avram (8). Neste caso, vt/Vo é a fração volumétrica de austenita
da ferrita livre. O contorno 4 hachuriado corresponde à eliminação com- formada, e to tempo de transformação de fases. Na figura 79 percebe-
pleta de carboneto. Como após esta eliminação a austenita fica algum se que as curvas senusoidais de formação da austenita, para qualquer
tempo heterogênea quanto ao teor de carbono, à direita do contorno 4 temperatura, partem do ponto de tempo nulo de exposição. Sendo assim,
deve-se encontrar uma linha não apresentada na figura 78, que corres- está ausente o período de incubação.
ponde ao térmirro do nivelamento (homogeneização) da concentração de À primeira vista pode parecer inteiramente incompreensível por
carbono na austenita, a várias temperaturas. quê, na perlita, a transformação a - "( ocorre a temperaturas distantes
Os diagramas de formação isotérmica da austenita são de tal do ponto de equilíbrio dos ferros a e ~( (910º C). A questão está em
tipo, que a linha 1 representada na figura 78 não indica o início real que, nos aços, a ferrita sempre contém carbono solubilizado. A linha
de transformação. Indica sim, os dados detectados, por determinado GP no diagrama de equilíbrio ferro-cementita (fig. 74) mostra que uma
180 /. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 181
capítulo 5

cinéticos de formação da austenita, através dos resultados experimentais


de aquecimento contínuo de amostras, a várias velocidades. É impor-
tante que, para velocidades elevadas, como por exemplo, aquecimento
por indução ou laser até temperaturas mais elevadas, o tempo de aus-
tenitização completa seja menor que no aquecimento lento no forno, até
temperaturas mais baixas.
101
Com a elevação da dispersão da estrutura inicial, diminui o
t, seg
tempo término de todas as etapas da austenitização.
Figura 79. Curvas cinéticas de formação da austenita a várias tem- A homogeneização da austenita nos aços ligados é muito mais
peraturas, no aço com 1,0%C, 0,6%Cr, 0,5%W e 1,1%Mn (Dirnifeld, demorada. Os elementos de liga estão distribuídos heterogeneamente
Korevar e Bantspiker).
entre a ferrita e os carbonetos. Os elementos não-formadores de carbo-
netos encontram-se na ferrita, e os formadores de carbonetos, na maio-
quantidade muito pequena de carbono na solução sólida faz decrescer ria, encontram-se nos carbonetos. No final da transformação perlita-
bruscamente a temperatura de início de transformação a - /. O ponto austenita, esta última não está uniformizada. Nas regiões da austenita
P corresponde a um conteúdo de carbono próximo a 0,1% (at.) na correspondentes à área de ferrita eliminada há diferença de concentração
ferrita. Conseqüentemente, para 1.000 átomos de carbono, o limite de não apenas de carbono, mas também de elementos de liga, em relação
estabilidade da rede C.C.C. do ferro torna-se quase 200ºK menor. às regiões correspondentes à área de carboneto eliminado.
O tempo de término das várias etapas de formação da austenita A velocidade de difusão do carbono na austenita é várias vezes
diminui com a elevação da temperatura ( Curvas 1-4, fig. 78). superior à dos elementos de liga. Apesar disto, sua concentração não
Se os núcleos de austenita encontram-se em contato com a fer- pode se homogeneizar, até que desapareça o gradiente de concentração
rita e a cementita, (fig. 77a), a velocidade do processo de austenitização dos elementos de liga. A explicação deste fato, através do cálculo da
deve ser proporcional ao coeficiente de difusão do carbono na austenita, influência dos elementos de liga na atividade termodinâmica do carbono,
e ao gradiente de concentração CaxCb, onde X é a seção do grão de foi dada no §1.1.
austenita em crescimento, Ca e Cb são as concentrações de carbono nos
De toda a exposição sobre a cinética de austenitização, conclui-
pontos a e b da figura 77a. O coeficiente de difusão cresce exponencial-
se que o tempo de exposição no aquecimento é determinado pelo tempo
mente com a elevação da temperatura. Ao mesmo tempo, cresce o inter-
de condução dos processos mais lentos, que são a solubilização dos car-
valo de concentração Ca - Cb em correspondência com a discrepância
bonetos e a homogeneização da austenita. No aquecimento do aço hi-
das linhas GS e SE no diagrama de equihbrio Fe-C. Além disto, com
poeutetóide com reduzido tempo de exposição pode-se, a temperaturas
o crescimento da temperatura, diminui a diferença de concentração no
superiores ao ponto A3, obter estrutura de austenita e carboneto.
contorno austenita/ferrita (reduzem-se as cordas que unem as linhas GP
e GS). Isto também acelera o crescimento da austenita, às custas da 5.1.2. Tamanho de grão da austenita. Devido à quantidade muito
ferrita. grande de núcleos de formação de austenita, no final da transformação
Com o crescimento da velocidade de aquecimento, eleva-se a a - 1 forma-se austenita de pequeno tamanho de grão. Este grão de
temperatura de término de todas as etapas de austenitização. Isto austenita, que se denomina "inicial", tem geralmente 10-20 µm.
é visto com a comparação qualitativa das posições dos pontos de in- Com a elevação da temperatura, a velocidade de nucleação da
terseção dos raios V1 e V2 de aquecimento, esquematicamente desenha- austenita aumenta mais que a velocidade linear de crescimento dos cris-
dos, com a linha 3 de desaparecimento da ferrita no diagrama de trans- tais. Conseqüentemente, o tamanho de grão inicial de austenita resulta
formação isotérmica da figura 78. Para obtenção dos correspondeu~ menor. Sendo assim, com aquecimento rápido até temperaturas elevadas
tes dados quantitativos, é indispensável construir os diagramas termo- e com curtos tempos de exposição, pode-se obter austenita de pequeno
182 /. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 183
capítulo 5

tamanho de grão, o que é importante no tratamento térmico com elevada de grão 3 corresponde à estrutura com m = lmm- 2 e D= lmm. O
velocidade de aquecimento. número 6, à estrutura com m = 512 mm- 2 e D= 40 µm. O número
Com o término da austenitização, os grãos de austenita são 14, à estrutura com m = 131072 mm- 2 e D = 20µm. Da fórmula
céj.pazes de crescer. A força motriz deste crescimento é a energia de con- (31) conclui-se que, com o crescimento do número de grão N em uma
torno de grão. Com a elevação da temperatura, acelera-se o crescimento unidade, dobra o valor de m. Para determinação rápida do número do
de grão da austenita. Os grãos podem crescer uniformemente, como no grão, utiliza-se o método de comparação da estrutura que se investiga,
crescimento normal de grão após recristalização. Porém, pode-se obser- com uma estrutura de referência da escala padrão (com igual ampliação).
var também crescimento anormal, quando pequena quantidade de grãos A elevação da concentração de carbono na solução possibilita
grandes de austenita cresce às custas da maioria de grãos pequenos, en- o crescimento de grão. Isto pode ser explicado pela diminuição da linha
q~anto que estes não desaparecem. Pela sua essência este processo é solidus da liga, e a correspondente elevação da temperatura homóloga,
de recristalização secundária (§2.7). Os grãos pequenos são estabiliza- com temperatura constante de recozimento. A elevação do teor de car-
dos contra o crescimento, pelas partículas dispersas, em particular as de bono acima do limite de solubilidade na austenita (linha ES do diagrama
nitreto de alumínio. de equih'brio Fe- Fe3 C) dificulta o crescimento de grão da austenita. Isto
Embora a austenita se transforme, com o resfriamento, em ou- se explica pela ação inibidora das partículas de cementita.
tras fases, o tamanho de seus grãos é uma característica importante do Quase todos os elementos de liga inibem o crescimento de grão
aço. Isto se explica pelo fato de que todas as estruturas que a.parecem da austenita. O manganês constitui exceção, pois ele fortalece o cres-
com resfriamento lento ou rápido do aço formam-se nos limites de cada cimento de grão da austenita. O V, Ti, Al, Zr, W, Mo, Cr inibem
grão de austenita. Quanto menor o tamanho de grão da austenita, me- fortemente o crescimento de grão da austenita. Já o Ni e Si agem mo-
nor a malha de ferrita livre em seus contornos, menor o tamanho das deradamente.
colônias de perlita (§5.3) e menores as dimensões dos cristais de marten- Considera-se a causa básica desta ação dos elementos de liga
sita (§9.4). Por isto, ao grão pequeno na região austenítica corresponde como sendo a formação de carbonetos de difícil solubilização na auste-
pouca fratura cristalina, e ao grão grosseiro de austenita corresponde nita, os quais são barreiras para o crescimento de grão. Os elementos
grande fratura cristalina do aço, em temperaturas onde não mais existe Ti, Zr, e V, formadores ativos de carbonetos, inibem mais fortemente o
a austenita. A variação do tamanho de grão da austenita é particular- crescimento de grão do que o Cr, W e Mg, pois os carbonetos daqueles
mente sensível à resistência ao choque, a qual decresce com o aumento primeiros elementos são mais estáveis e mais difíceis de se solubilizarem
do tamanho de grão. A temperatura de transição dútil-frágil se eleva na austenita.
com o aumento do tamanho de grão de austenita (§12.3). Diferentes aços fundidos da mesma marca podem diferenciar-se
O tamanho de grão da austenita é caracterizado por números fortemente quanto à tendência ao crescimento do grão autenítico. Isto
convencionais de uma escala padrão de microestrutura. A cada número porque eles contêm quantidades diferentes de partículas dispersas de
N do grão corresponde determinada quantidade média de grãos m na carbonetos, nitretos e outras fases de difícil solubilização, as quais são
área de lmm 2 da amostra, bem como uma dimensão espacial D destes barreiras para o crescimento do grão de austenita. A dispersão e distri-
grãos. buição destas partículas dependem não apenas das condições de fundição
No fundamento da constituição da escala padronizada de mi- do aço e do tratamento de deformação a quente. Depende, também,
croestrutura situa-se a fórmula: dos tratamentos térmicos prévios (recozimentos). Conseqüentemente, a
tendência do aço ao crescimento de grão durante o aquecimento depende,
(31) além de sua composição quanto aos componentes básicos, da qualidade
metalúrgica da tecnologia de produção. Quer dizer, da história que pre-
A escala padrão possui 18 números de grãos· -3 -2 -1 O 1 2 cede o tratamento térmico. Em relação a isto, diferenciam-se os aços de
··· 14. Quanto maior o número do grão, menor é seu ta~a~ho'. 0 n~m~r~
1 gramtla.ção grosseira hereditária dos aços de granulação fina hereditária.
184 l. l. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 185
capítulo 5

Nos aços de granulação grosseira hereditária, os grãos crescem ditária a 930ºC ainda detém o crescimento intensivo de grão, e no aço
intensamente com temperaturas não muito superiores ao ponto Ac3· Nos de granulação grosseira hereditária, a esta temperatura, desenvolvem-se
aços de granulação fina hereditária, obtém-se pequeno tamanho de grão grãos grandes.
austenítico num amplo intervalo de temperaturas: do ponto Ac3 até 950- Os aços com grão austenítico de números 6 a 14, isto é, de
lOOOºC. A ultrapassagem deste limite de temperatura conduz o aço de tamanho de grão menor que 40 µm, são considerados de granulação
granulação fina hereditária ao superaquecimento. Aqui, por superaque- fina, e os de grão de número 5 para baixo são considerados de granulação
cimento subentende-se o aumento intensivo do grão e, correlativamente, grosseira.
a queda da resistência ao choque 2 • Para temperaturas muito elevadas, Desta maneira, diferencia-se o grão austenítico hereditário do
os grãos nos aços de granulação fina hereditária podem aparecer até grão austenítico verdadeiro. O grão hereditário é obtido nas condições-
maiores do que no aço de granulação grosseira hereditária. padrão de teste tecnológico, e caracteriza a tendência do aço ao cresci-
O alumínio influencia particularmente no crescimento de grão mento de grão. O grão verdadeiro é aquele que se obtém como resultado
austenítico, com o aquecimento do aço. Os aços de granulação fina he- de uma ou outra operação de tratamento térmico. Ele pode ser maior
reditária recebem na concha, antes do vazamento, adições próximas a ou menor que o grão hereditário, dependendo de que a temperatura
0,053 A€. As menores partículas de nitretos e óxidos de alumínio ini- de aquecimento do aço, durante o tratamento térmico, esteja acima ou
bem o crescimento de grão da austenita. O crescimento intenso de grão abaixo de 930ºC.
no aço de granulação fina hereditária, acima de 950-llOOºC, é explicado
pela solubilização e, possivelmente, pelo coalescimento das partículas,
5.2. Estrutura hereditária e transrecristalização da austenita.
que são barreiras. Nos diversos locais não se dá, concomitantemente, o
enfraquecimento do efeito de barreira. Pode então surgir heterogenei-
dade de tamanho de grão, como característica do superaquecimento do Com o resfriamento de todos os aços ao carbono e da maioria
aço de granulação fina hereditária. dos aços ligados, a austenita passa por transformação perlítica, mar-
Para determinar a tendência do aço ao crescimento de grão, tensítica ou bainítica (sobre as duas últimas, cap. IX). Com a repetição
utiliza-se uma prova tecnológica padronizada, descrita a seguir. Cemen- do aquecimento, quando novamente se forma austenita, e para deter-
ta-se um aço hipoeutetóide a 930ºC durante 8 horas, seguindo-se de minadas condições, as dimensões, forma e orientação cristalográfica de
resfriamento lento. Determina-se o tamanho do grão pela malha de car- seus grãos podem ser as mesmas dos grãos iniciais de austenita, an-
boneto que circunda os contornos de grão de austenita. O aço hipereu- tes da primeira transformação em perlita, martensita ou bainita. Estas
tetóide aquece-se até 930ºC, e após exposição durante 3 horas se resfria dimensões, forma e orientação cristalográfica dos grãos denominam-se
lentamente. O tamanho de grão é determinado pela malha de carbo- hereditariedade da estrutura. Este fenômeno foi estudado mais detalha-
netos secundários que se distingue ao longo dos contornos dos grãos de damente nos trabalhos de B.D. Sadovski, cujos resultados experimentais
austenita. Outro método consiste no aquecimento de oxidação da amos- estão indicados em citações circunscritas.
tra polida, durante 3 horas a 930ºC. Os contornos de grão da austenita O surgimento da hereditariedade de estrutura depende da es-
são revelados pelas malhas de óxidos. trutura inicial (antes da repetição do aquecimento) do aço, de sua com-
No teste do grão hereditário a temperatura de aquecimento de posição, da velocidade deste aquecimento e da temperatura de austeni-
930ºC é a escolhida pelas seguintes considerações. Para a maioria dos tização. A estrutura hereditária mais clara surge quando, antes da re-
aços, a temperatura de aquecimento para vários tipos de tratamentos petição do aquecimento, o aço possui estrutura martensítica ou bainítica.
térmicos não supera 930ºC. Além disto, o aço de granulação fina here- Para os aços com estrutura de ferrita - perlita, geralmente não se repete
a estrutura austenítica inicial. Se o aço foi superaquecido anteriormente
2 Não se deve confundir este entendimento com o superaquecimento na teoria de e tinha grãos grandes de austenita, então durante a repetição do aque-
transformação de fases. cimento até temperatura de A3 + (30-50ºK) a austenita, ao nuclear em
!. !. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 187
capítulo 5

muitos locais, torna-se de grão fino. Aqui, só se repetem grãos grandes discordâncias através de forças externas para a formação de núcleos, no
de austenita, quando a estrutura ilnicial é de Windmonstaten. caso que estamos analisando a elevação da densidade de discordâncias
Para as estruturas martensítica e bainítica, bem como para a surge por encruamento interno de fase.
estrutura de Windmonstaten, o traço geral é a ordenação cristalográfica: O encruamento de fase é a elevação da densidade de discordân-
nos limites do volume de um grão de austenita que desaparece, as pla- cias na nova fase, no curso da transformação de fases. Ele pode surgir em
cas de fase a possuem determinada orientação cristalográfica. Com o qualquer transformação de fases, devido à diferença de volume específico
aquecimento do aço, os núcleos de fase /, por sua vez, estão orientados entre a velha e a nova fase, como também na transformação martensítica,
regularmente em relação às placas de fase a. Como resultado disto, no quando a acomodação da deformação obrigatoriamente acompanha a
voÜ1me dos grãos austeníticos iniciais, para superaquecimentos pequenos transformação de cada cristal (§9.3). A elevação da densidade de defeitos
aciina do ponto A3 , formam-se exatamente aqueles grãos de austenita na nova fase também pode surgir devido à "passagem" de discordâncias
que se denominam reconstituídos. da fase inicial para a nova.
Desta maneira, para a reconstituição do grão de austenita du- Se nos grãos grandes reconstituídos de austenita existe uma
rante o reaquecimento do aço é indispensável, em primeiro lugar, o surgi- densidade de discordâncias suficientemente elevada, isto facilita o de-
mehto de hereditariedade com o resfriamento (formação de um complexo senvolvimento de recristalização primária, cujos núcleos se formam por
de cristais a com ordenação cristalográfica nos limites de cada grão ini- uma das possibilidades conhecidas (§2.4):
cial de austenita). Em segundo lugar, é necessário o aparecimento de a) "utilização" de subgrão em crescimento com alto ângulo de de-
hereditariedade com o último aquecimento do aço (passagem do com- sorientação;
plexo citado de cristais a para grão de austenita reconstituído). b) extração de "línguas" nos contornos de grão da austenita.
Quando, com o resfriamento, a austenita passa por transforma- Após o término da recristalização primária da austenita, há o
ção perlítica e não surge estrutura de Windmonstaten, os grãos livres e habitual crescimento normal dos novos grãos, com a elevação da tempe-
as colônias de perlifa que se formam não possuem forte regularidade de ratura ou o aumento do tempo de exposição.
orientação cristalográfica, em relação à rede inicial de grãos austeníticos. Desta maneira, no caso de aparecimento de estrutura here-
Neste caso, as colônias de perlita e os grãos livres de ferrita não formam ditária no aço, tem-se duas etapas de formação de estrutura de grão
um complexo único de ordenação cristalográfica, nos limites do volume fino. A primeira etapa é a formação de grãos reconstituídos de fase /,
do grão de austenita inicial. No interior desta estrutura, com o último com a elevação da densidade de discordâncias, a partir da ordenação
aquecimento, surgem núcleos de austenita bastante desorientados uns cristalográ.fica do complexo de cristais de fase a, nos limites do volume
em relação aos outros. O grão de austenita obtido será menor que o do grão austenítico inicial. A segunda etapa é a nucleação e crescimento
inicial. de cristais mais perfeitos da fase /, isto é, a recristalização que leva à
Se durante o aquecimento do aço acima do ponto A 3 , ini- constituição da estrutura hereditária.
cialmente herdou-se grão grande de austenita, então com a posterior O término da transformação de fases e o término da recris-
elevação da temperatura e às vezes também com a elevação do tempo de talização primária da austenita podem ser separados por intervalos de
exposição, o grão de austenita reconstituído, em lugar de crescer, dimi- temperatura de dezenas e até centenas de graus. Por exemplo, se o
nui. Este refino de grão, numa região de temperatura onde não se tem lingote de aço ao carbono 35L possui estrutura grosseira de Windmons-
qualquer transformação de fases, ocorre como resultado da nucleação de taten, com o aquecimento habitual até 850ºC reconstitui-se o grão inicial
novos grãos de austenita, em grande quantidade de locais, nos limites do de austenita, e com aquecimento a 900-960ºC, isto é, 100-150ºK, acima
volume de cada grão reconstituído. Este processo de transrecristalização de Ac3 refina-se o grão e liquida-se com a hereditariedade da estrutura
da estrutura, tanto pela aparência externa como pelo conteúdo físico, é inicial do lingote. Quanto mais houver estrutura de placas de ferrita de
um fenômeno de recristalização. Apenas, ao contrário da habitual recris- Windmonstaten, tanto maior é a temperatura de transrecristalização da
talização primária, quando é indispensável a elevação da densidade de estrutura.
1. 1. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais
188
capítulo 5

Para construir a estrutura de hereditariedade no aço ligado, o


aquecimento geralmente deve ser significativamente maior em relação ao
ponto Ac3 do que no aço ao carbono. Por exemplo, para correção do
grão grosseiro dos lingotes do aço 20X13L, os mesmos são aquecidos até é:::>
1100-1150ºC, isto é, aproximadamente 300ºK acima de Ac3. õ
~ 400
a.
O grão inicial de austenita é reconstituído com baixas velocida- E
{E.
des de aquecimento (graus por minuto), características do aquecimento
habitual do forno. Com a aceleração do aquecimento, enfraquece-se o 10
efeito de reconstituição do grão inicial. Se o aço temperado e não re- -'ln tempo(seg)
venido é aquecido muito rapidamente (centenas de graus por segundo),
novamente aparece uma forte hereditariedade de estrutura. Esta in- Figura 80. Diagrama de decomposição isotérmica da austenita no aço
fluência complexa da velocidade de aquecimento ainda é difícil de se eutetóide. A - austenita estável; As - austenita superresfriada; F -

explicar, pois não existem dados sólidos sobre o mecanismo de trans-


e-
ferrita; carboneto.

formação para vários graus de reaquecimento.


temperatura podem ser determinados por vários métodos. A análise
Em 1868 D.K. Chernov estabeleceu que, para a correção de da microestrutura é o mais simples. Além deste, existem outros mais
aço de granulação grosseira, determinada por fratura, é indispensável o sólidos, porém mais difíceis. Após vários tempos de exposição no banho
aquecimento acima do ponto b. O ponto b de Chernov é habitualmente de sal, as amostras são temperadas em água. A austenita não decom-
identificado como o ponto crítico Ac3 • Contudo, conclui-se do trabalho posta isostermicamente transforma-se em martesita, a qual é bem dife-
de V. D. Sadovski que o ponto b sempre corresponde à temperatura de renciada, no microscópio, dos produtos de decomposição da austenita.
transrecristalização da estrutura e de correção da granulação grosseira, Com a transformação eutetóide da austenita, aumenta o vo-
e, dependendo da composição e da estrutura inicial do aço, pode não lume específico, cai a resistência elétrica e o aço passa do estado para-
coincidir com Ac3, e às vezes ultrapassar Ac3 de 200-300ºK. No último magnético para o ferromagnético. Baseando-se nas investigações das mo-
caso, o ponto b corresponde à temperatura de início de recristalização dificações destas propriedades físicas, existem métodos dilatométricos,
primária da austenita, e a própria recristalização é conseqüência do en- elétricos e magnéticos de determinação dos tempos de início e final de
cruamento de fase que surge com a transformação. transformação. O método magnético permite determinar quantitativa-
mente o grau de transformação da austenita, em qualquer momento da
5.3. Transformação da austenita, por difusão, durante o resfria- exposição isotérmica. Isto porque a intensidade de magnetização da
mento. amostra é proporcional à quantidade de fase a ferromagnética (a auste-
nita é paramagnética).
5.3.1. Transformação perlítica. A transformação básica que ocorre
À temperatura de 727ºC a austenita se encontra no estado de
equilíbrio termodinâmico com a mistura de ferrita e cementita. Para ini-
com o recozimento durante o resfriamento do aço é a decomposição eu-
tetóide da austenita, na mistura de ferrita e cementita. A cinética da ciar a decomposição da austenita, é indispensável seu super resfriamento
transformação eutetóide é representada pela curva em forma de C no abaixo de 727ºC.
A estabilidade da austenita super-resfriada caracteriza-se pelo
diagrama de transformação isotérmica da austenita (fig. 80).
período de incubação, isto é, o intervalo de tempo (a partir do eixo
O diagrama em C é construído da seguinte maneira. As amos-
das ordenadas até a curva-C à esquerda, figura 80), durante o qual não
tras finas do aço são aquecidas até completa austenitização. Em seguida
se detecta, pelos métodos habituais, o aparecimento de produtos da
são transferidas rapidamente para o banho de sal a temperatura abaixo
do ponto crítico. O início e o final de decomposição da austenita a dada decomposição.
190 l I. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 191
capítulo 5

No aço eutetóide próximo à temperatura de 550º, a austenita


super-resfriada é menos estável. Como regra, nesta mesma temperatura
tem-se a máxima velocidade de nucleação e de crescimento do eutetóide
(fig. 60).
No período de incubação ocorrem na austenita super-resfriada
processos preparatórios de redistribuição do carbono.
A perlita cresce a partir de centros separados, na forma de
colônias (fig. 81 e 82). Os núcleos da colônia de perlita podem ser de
cementita (fig. 81a) ou de ferrita, os quais nucleiam facilmente nos con-
tornos de grão da austenita. Com o alargamento das placas de cemen-
tita, a austenita próxima empobrece-se em carbono, criando-se assim as
condições para nudeação de placas de ferrita, através da transformação 10,hni ,
r-----; __ •
polimórfica / -+ a. Estas placas de ferrita formam-se adjacentes às
de cementita.(fig. 8lb). Já com o alargamento das placas de ferrita, as Figura 82. Estrutura da perlita próximo ao contorno da colônia (Vi-
quais praticamente não contêm carbono, este reflui para a austenita. lela).
Como resultado disto, criam-se condições favoráveis para surgimento de
novas placas de cementita, e assim por diante (fig. 8lc e d). Esta al-
ternância repetida de nucleação de placas de ferrita e cementita não é a
única possibilidade de crescimento lateral das colônias eutetóides. Outro
mecanismo de crescimento lateral, estabelecido experimentalmente, é a
ramificação de ambas as fases, o que pode conduzir tanto à formação
de placas paralelas como à formação de estrutura em forma de leque
(fig. 83).

~,~f
'.) d o

-~ 9 b
Figura 83. Ramificações da cementina nas colônias de perlita do aço
eutétóide - Micrografia de microscópio eletrônico, após desapareci-
mento da ferrita 540X (Im.N.Taran).
Figura 81. Esquema de nucleação e crescimento de duas colônias de
perlita (Meil e Hegel). Se a colônia de perlita nucleia a partir de um centro de fer-
rita, no contorno de dois grãos 11/12 de austenita, e esta colônia cresce
192 /. I. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 193
capítulo 5

no grão 71, então a rede da ferrita desta colônia acopla-se com a rede Com a elevação do grau tl.T de super-resfriamento, cresce
do grão 72 "estranho". Este grão 72 é o abrigo para a nucleação da tl.Gvol· Isto permite o desenvolvimento de maior superfície ferrita/aus-
colônia. À medida que os grãos 71 e 12 são orientados mutuamente de tenita. Sendo assim, diminui a espessura das lamelas de perlita.
maneira arbitrária, então a ferrita em "seu" grão é separada da auste- A espessura das lamelas de perlita é a característica estrutu-
nita, por contorno com elevada energia e grande mobilidade. A situação ral mais importante. Com sua diminuição, crescem as propriedades de
é análoga ao caso de nucleação da colônia de perlita, a partir de centro resistência do aço.
de cementita. Para decomposição da austenita no aço eutetóide, no intervalo
Dentro da colônia de perlita, as placas de ferrita e cerp.entita de temperaturas entre A1 e 650ºC, a espessura das lamelas nas colônias
estão acopladas por contornos (101)cem e {112}Fer ou (OOl)cem e {125}Fer é igual a 0,5-1 µm. A constituição bifásica da colônia, neste caso, é
. Os planos cristalográficos correspondentes nas redes de ferrita e cemen- bem visível em microscópio ótico de aumento médio. Este eutetóide
tita possuem estruturas muito próximas. é denominado perlita. Na decomposição da austenita no intervalo de
Além do crescimento lateral, há também o crescimento no topo temperaturas aproximadamente de 650 a 600ºC, a distância entre as
das placas de ferrita e cementita (fig. 81b e c). Diante do topo das placas partículas é de 0,4-0,2 µm e a constituição bifásica da colônia é reve~
de ferrita e cementita, a concentração de carbono na austenita é, corres- lada apenas com grandes aumentos no microscópio ótico (a resolução no
pondentemente, aumentada e diminuída. Ou seja, existem gradientes de microscópio ótico é ~ O, 2 µm). Este eutetóide se denomina sorbita. A
concentração perpendicular e paralelo à frente de transformação (com o decomposição da austenita no intervalo de temperatura entre 600-500ºC
crescimento de uma fase, o gradiente de concentração é apenas perpen- resulta em uma mistura eutetóide muito fina, com espessura das lamelas
dicular à frente de transformação). O crescimento da colônia de perlita de aproximadamente 0,1 µm. A constituição bifásica deste eutetóide é
é controlado pela redistribuição difusional do carbono, paralelamente denominada trostita e é revelada apenas com microscópio eletrônico.
à frente de transformação no volume de austenita e também direta- Com resfriamento contínuo as estruturas citadas do aço ao car-
mente no contorno da colônia de perlita. O crescjmento cooperativo da bono eutetóide se formam nas seguintes condições: a perlita com resfria-
colônia bifásica, através da redistribuição dos componentes por difusão, mento do aço a partir do estado austenítico, juntamente com o forno, à
é a maior particularidade característica da transformação perlítica. velocidade de alguns graus por minuto; a sorbita no resfriamento ao ar,
Para dado grau de super-resfriamento da austenita, é constante com velocidade de resfriamento de algumas dezenas de graus por minuto,
a velocidade de crescimento da colônia, bem como a espessura das la- e a trostita no resfriamento em óleo com velocidade de resfriamento de
melas (espessura total das lamelas (placas) de ferrita e cementita ou, algumas dezenas de graus por segundo.
o que é o mesmo, distância entre os pontos médios das lamelas mais No aço com 0,8%C as durezas de perlita, sorbita e trostita são
próximas da mesma fase.) Zinner demonstrou que a espessura das la- iguais, aproximadamente, a 170-230 HB, 230-330 HB e 330-400 HB,
melas depende dos sequintes fatores: 1) quanto mais finas as lamelas respectivamente.
de ambas as fases, tanto menor o caminho para difusão do carbono A subdivisão bastante convencional da estrutura perlítica na
na frente de transformação, e mais rapidamente completa-se sua re- própria perlita, sorbita e trostita, apesar de envelhecida, continua a ser
distribuição, a qual é indispensável para o crescimento cooperativo da utilizada, particularmente na prática dos tratamentos térmicos do aço.
colônia; 2) com o crescimento da superfície total que separa as lame- A transformação perlítica no aço eutetóide se desenvolve por de-
las, diminui a diferença tl.Gvol - tl.G sup, que é a força motriz resultante composição difusional da austenita, no intervalo de temperaturas desde
para a transformação. Para dado grau de super-resfriamento, isto é, A 1 até a temperatura próxima da curvatura ("nariz") da curva-C
para determinado valor da diferença de energia de Gibbs entre a auste- (fig. 80). Abaixo desta curvatura da curva-C, no intervalo aproximado
nita e a perlita (tl.Gvot), estabelece-se uma espessura de lamelas, para de 500 a 250ºC, ocorre uma transformação de outro tipo, a bainítica.
a qual é máxima a velocidade de crescimento que dirige os fatores cita- A bainita é intermediária entre a perlita e a martensita, e por isto será
dos. discutida após a análise da transformação martensítica (§9.8).
194 !. I. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 195
capítulo 5

Ao lado da espessura das lamelas no interior da colônia de per- No caso de resfriamento contínuo, a ferrita livre começa a se
lita, uma característica estrutural importante é o tamanho da colônia. formar com super-resfriamento da austenita abaixo do ponto A3 , conti-
Na fratura dos aços estas colônias se comportam como grãos indepen- nuando a nuclear e crescer até temperatura abaixo do ponto Ai. Com
dentes. As dimensões das facetas da fratura, em média, são iguais ao o crescimento da ferrita, o carbono acumula-se na austenita diante da
tamanho das colônias de perlita. Com a diminuição do tamanho das '
frente de transformação, pois a ferrita quase não contém carbono. Em
colônias de perlita, denominadas grãos eutetóides, a resistência ao cho- temperaturas abaixo de Ai, nestas regiões da austenita enriquecidas com
que do aço cresce. carbono, nucleiam-se as colônias de perlita. Para isto, a composição da
As colônias de perlita nucleiam nos contornos de grãos de aus- austenita não deve atingir obrigatoriamente a concentração de 0,8%C.
tenita. Por isto, com a diminuição do tamanho de grão da austenita, Na perlita (sorbita e trostita), que se forma a partir da austenita com
reduz-se também o tamanho das colônias de perlita (para d.ado grau menos de 0,8%C, é maior a fração das lamelas de ferrita. Este eutetóide
de super-resfriamento da austenita). Com o crescimento do grau de com maior teor de ferro do que a concentração de equilíbrio foi deno-
super-resfriamento da austenita, as colônias de perlita ficam um pouco minado quase eutetóide por A.A. Bochivar. Os aços hipereutetóides são
menores. Nem o tamanho de grão da austenita, nem o tamanho das mais ricos em carbono, em relação ao ponto de composição S.
colônias de perlita, influem na espessura das lamelas, a qual depende A velocidade de crescimento cooperativo da colônia bifásica,
apenas da temperatura de transformação. relacionada com a difusão a curta distância paralela à frente de trans-
5;3.2. Transformação da austenita nos aços hipoeutetóides e hi- formaçiio, é significativamente elevada (ao contrário da difusão a grande
pereutetóides. Viu-se acima a transformação da austenita no aço de distância perpendicular à frente de transformação, no crescimento da
cqmposição eutetóide. Nos aços hipo e hipereutetóides, a transformação ferrita). Com isto, a transformação perlítica abarca rapidamente todo o
perlítica deve ser precedida da formação de fases livres de ferrita e cemen- volume da austenita. Por isto, após o início da transformação perlítica,
tita secundária (fig. 74). Nos diagramas de transformação isotérmica da praticamente se encerra a formação de ferrita hipoeutetóide.
austenita, dos aços hipo e hipereutetóides, devem estar traçadas as li- A quantidade relativa da estrutura livre da fase em excesso
nhas de início de formação das fases livres (fig. 84). depende do grau de super-resfriamento da austenita. Com o aumento
da velocidade de resfriamento, diminui quantitativamente a capacidade
de crescimento isolado da ferrita livre ou da cementita secundária. Com
A3 super-resfriamento bastante elevado, evita-se completamente a formação
As
de fase livre com estrutura independente, e o aço de composição não
~ eutetóide adquire estrutura pura quase eútetóide.
~
As
:::>
õ Desintegração estrutural da perlita. No aço hipoeutetóide com
Q;
o.
E
pequena quantidade de austenita com composíção eutetóide, como por
~ exemplo em aço contendo até 0,1 %C, durante resfriamento lento, a fer-
rita que se forma na transformação eutetóide cresce nos grãos de ferrita
1 _ _ _ Tempo
livre, e a cementita eutetóide fica sob a forma de pequenas partículas de
cementita livre, ao longo dos contornos destes grãos. Aqui existe com-
pleta analogia com o surgimento do eutético (a+ {3), onde partículas de
Figura 84. Diagrama de decomposição isotérmica da austenita no aço f3 situam-se nos contornos dos cristais a primários, nos quais cresce a
hipoeutetóide. A - austenita estável As - austenita super-resfriada; fase a de origem eutética (isto ocorre no caso em que a massa fundida
F_ - ferrita; C - carboneto. tem pouco líquido eutético e ele cristaliza-se no espaço estreito entre os
cristais primários).
196 l. l. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 197
capítulo 5

A desintegração da perlita ao longo das camadas intermediárias a austenita que se desintegra até a cementita, é indispensável para o
de cementita de estrutura livre (elas se confundem, às vezes, com cemen- seu crescimento. Este ingresso ocorre através do invólucro de ferrita.
tita terciária que se forma desde a ferrita), baixa a qualidade da folha Com temperatura T2 na figura 76, a concentração de carbono na ferrita,
de aço para estampagem profunda, pois ocorrem rupturas através destas próximo ao contorno com a austenita, é representada pelo ponto f e,
camadas intermediárias. No recozimento de recristalização da folha la- próximo do contorno com a cementita, pelo ponto g. O gradiente de
minada a frio de aço 08Kp, não se deve superar a temperatura Ai, para concentração no invólucro de ferrita é pequeno. Porém, a mobilidade do
que não apareça austenita, a qual durante o resfriamento lento produz carbono na rede C.C.C. da ferrita é elevada, e o fluxo de difusão através
cementita de estrutura livre na forma indesejada. da ferrita é capaz de alimentar a cementita, a qual cresce durante a
No aço hipereutetóide, o eutetóide pode também desinte- transformação eutetóide anormal.
grar-se estruturalmente. A cementita formada como resultado da de- No processo de transformação eutetóide, seu mecanismo pode
composição eutetóide, para super-resfriamento muito pequeno abaixo de mudar de anormal (junto à cementita secundária) até normal. Em tem-
A 1 (acima de ~ 700ºC), estratifica-se na cementita secundária, perma- peraturas inferiores a ~ 700ºC, a velocidade de transformação eutetóide
necendo próximo às partículas de ferrita de estrutura livre (fig. 85). Esta normal é muitas vezes maior, e a transformação anormal é sufocada. Por
transformação eutetóide, que se processa com fases separadas no espaço, isto, com a aceleração do resfriamento e, correspondentemente, com o
denomina-se anormal, para diferenciar da transformação eutetóide nor- elevado super-resfriamento da austenita, a transformação anormal pode
mal, na qual ocorre crescimento cooperativo de ferrita e cementita na ser completamente sufocada.
forma de colônia, com alternação regular das duas fases. Com a trans- O desenvolvimento de transformação anormal no aço hipereu-
formação anormal, o eutetóide desintegra-se em conglomerados ásperos tetóide é possibilitado por impurezas de oxigênio. Por isto, após a ce-
de ferrita e cementita, os quais não possuem a constituição característica mentação do aço com mistura de carvão vegetal e carbonato de bário,
do eutetóide. o qual contém muito oxigênio, na camada carbonetada freqüentemente
forma-se estrutura anormal. Ela é prejudicial, pois com partículas áspe-
ras de ferrita é necessário maior tempo ou temperatura de austenitização
mais elevada, para aquecer a peça antes da têmpera. Caso contrário,
após a têmpera, no local de austenita com pouco carbono, manifestam-
se "manchas macias". O cromo (décinio de fração percentual) e o man-
ganês (mais que 0,6%) sufocam completamente a transformação anormal
da perlita nos aços hipereutetóides.
Forma e constituição da ferrita hipoeutetóide. A ferrita livre nos
aços hipoeutetóides encontra-se em duas formas: como grãos compactos
mais ou menos equiaxiais e como plaquetas de Windmonstaten orien-
tadas (fig. 86). A ferrita hipoeutetóide na forma compacta forma-se
nos contornos de grãos da austenita e as plaquetas se formam dentro
dos grãos austeníticos, embora, freqüentemente, tenham início nos grãos
compactos de ferrita.
Figura 85. Aço hipereutetóide com estrutura anormal, 300X A ferrita de Windmonstaten é observada apenas nos aços que
(Im. Taran). contêm menos de 0,4%C, e em condições nas quais os grãos de aus-
tenita são suficientemente grandes. Este tipo de grão existe em aço
Durante a transformação eutetóide anormal, quando a cemen- fundido e também no aço aquecido até 1100-1200ºC (fenômeno de su-
tita é rodeada de um invólucro de ferrita, o ingresso de carbono, desde peraquecimento). Com a diminuição do tamanho de grão da austenita,
I. I. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 199
capítulo 5

de Windmonstaten em comparação com o crescimento da martensita é


hipoteticamente explicado pelo fato de que, diferentemente do cisalha-
mento fácil de contorno coerente da interface martensita-austenita, o
contorno de Windmonstaten da interface ferrita/austenita possui cons-
tituição tal, que não pode permitir seu cisalhamento fácil (R.I.Entin).
O mecanismo de formação da plaqueta de Windmonstaten é parecido
com o mecanismo da martensita, e explica por que nela, ao contrário dos
grãos-a: equiaxiais, há elevação da densidade de discordâncias em 1 a 2
ordens de grandeza e, ao mesmo tempo, aparecem relevos característicos
na superfície polida da amostra.
Supõe-se que os grãos equiaxiais de ferrita crescem através da
transformação da rede por difusão normal, com transferência irregular
de átomos através do contorno 7/0:. A nucleação preferencial de ferrita
compacta nos contornos de grão da austenita é explicada pela elevação
da mobilidade de difusão do ferro nestes locais, o que é indispensável
para a realização do mecanismo normal de transformação 7 - ü. Quanto
maior o grão de austenita, menor é o papel do contorno na nucleação
Figura 86. Microestrutura do aço hipoeutetóide, lOOX; a - estrutura da ferrita através do caminho normal. Correspondentemente, maior é a
de Windmonstaten; b - mesmo aço após recozimento completo.
fração de ferrita de Windmonstaten.
Outra hipótese é o mecanismo de crescimento das plaquetas de
diminui a fração de ferrita de Windmonstaten. A estrutura de Wind-
Windmonstaten através da migração de degraus de seus contornos lar-
monstaten maiis perfeita aparece com a aceleração do resfriamento do
gos. Esta migração foi diretamente observada no microscópio eletrônico
aço.
(a altura dos degraus era da ordem de 10-103 Aº). Supõe-seque as regiões
A ferrita de Windmonstaten forma-se no intervalo entre A 3 -
planas e largas da superfície das plaquetas têm coerência completa ou
50ºC até 600-550ºC. Com a elevação do teor de carbono do aço, diminui
coerência parcial com os contornos, e são praticamente imóveis (como
a fração de ferrita de Windmonstaten na estrutura do aço.
os contornos coerentes das maclas). Ao mesmo tempo, nos degraus de
A formação da ferrita de ~iVindmonstaten é cristalograficamente
grande mobilidade dos contornos incoerentes, pode completar-se, através
ordenada. A orientação da ferrita submete-se ao princípio da corres··
dos mesmos, a transferência difusional rápida dos átomos da austenita
pondência estrutural: {llO}Fer {lll}Aust· Estes planos são os mais
para a ferrita. Ao passar por um degrau ao longo das plaquetas de fer-
compactos das redes C.C.C. e C.F.C., e possuem constituição muito
rita (setas horizontais, fig. 87), isto significa que esta plaqueta engrossa
próxima. O plano de hábito de cada plaqueta de ferrita é próximo ao
(degrau vertical) na altura do degrau.
plano {lll}Aust· Na segunda hipótese considera-se que o relevo na amostra po-
Existem duas hipóteses sobre o mecanismo de formação da fer-
lida não reflete obrigatoriamente a transformação por cisalhamento, e
rita de Windmonstaten. A primeira hipótese relaciona sua formação
observa-se em uma série de ligas com transformação normal.
à transformação 't - o: da rede por cisalhamento, que se caracteriza
O modelo de crescimento dos cristais de ferrita hipoeutetóide,
pela relação mútua ordenada dos átomos que se transferem (como na
através do movimento dos degraus ao longo do contorno 70:, apresenta
formação da martensita )3 . O crescimento lento dos cristais de ferrita
grande interesse. Isto porque ele permite entender particularidades im-
3 Para verificar o mecanismo de formaçã.o da ferrita de Windmonstaten deve-se ler o portantes da estrutura ferrítica em alguns aços ligados com elementos
§9.3. que são fortes formadores de carbonetos (Nb, V, Ti, Mo, W e outros).
200 /. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 201
capítulo 5

A
t
~­~ .

Figura 87. Esquema de crescimento do cristal de ferrita através de


migração dos degraus ao longo de sua superfície. ••••••••••••••••••
•••••••••••••••••••
•••••••••••••••••••••
Nestes aços, em determinadas condições de tratamento, com a formação F
de ferrita hipoeutetóide a partir da austenita, aparecem no interior dos
cristais - a partículas muito dispersas de carbonetos NbC, VC, M0 2 C,
etc. (fig. 88). Estas partículas, freqüentemente, possuem tamanho me-
nor que IOA0 , e a distância entre suas cadeias varia entre 5 e 50A0 . Estas
"fileiras" densas de partículas de carbonetos excessivamente dispersas na
ferrita hipoeutetóide podem ser observadas apenas com o microscópio
eletrônico de resolução suficientemente elevada. Com menores aumentos Figura 89. Esquema de nucleação e crescimento de precipitado de
os grãos de ferrita parecem monocristais. A formação destas estruturas carbonetos entre as fases.(Ronikomb).
é explicada pela separação do carboneto no contorno entre as fases 'Y /a,
embora as partículas de carboneto nucleiem nas facetas planas imóveis, As cadeias de partículas de carboneto, que aparecem no período
e consigam crescer apenas um pouco no tempo de migração rápida dos de formação da ferrita hipoeutetóide, receberam a denominação de preci-
degraus ao longo do contorno das facetas. No próprio degrau, devido pitados interfaciais. Estes precipitados são muito dispersos, não apenas
à sua rápida mobilidade, o carboneto não consegue dividir-se (fig. 89). porque estabilizam significativamente a ferrita, mas tapibém porque re-
Na borda de cada novo degrau forma-se uma nova cadeia de partículas sistem mais fortemente ao coalescimento sob aquecimento prolongado,
dispersas de carbonetos. A distância entre as cadeias é variada e igual em comparação com as partículas de carbonetos que se separam da mar-
à altura dos degraus correspondentes. tensita durante o revenido do aço. Isto se explica pelo fato de que na
ferrita hipoeutetóide é menor a densidade de discordâncias e de subgrãos
que aceleram a difusão e, conseqüentemente, o coalescimento, do que no
aço revenido. A elevação da resistência das partículas dispersas ao coa-
lescimento é importante para os aços resistentes ao calor.
A formação intencional de estrutura de ferrita hlpoeutetóide
•••••••••••••••••••
•••••••••••••••••• com partículas de carbonetos, atravessadas dispersamente entre as fases,
••••••••••••••••••••• é um método interessante de endurecimento dos aços. Para obtenção de
F
tal estrutura no aço, deve-se aquecer até a solubilização do carboneto
Figura 88. Cadeia de precipitados de CV entre as fases de um aço na austenita, e resfriar aceleradamente para expulsar as partículas de
resistente ao calor, contendo 0,1% C; 0,3% Cr; 0,5 Mo; 2,4% V e 0,6% carboneto diretamente da austenita, até o início da formação da ferrita
Mn. Transformação isotérmica a 700°C durante 15 min. Micrografia hipoeutetóide.
eletrônica de filme fino(Danlop e Ronikomb).
5.3.3. Influência dos elementos de liga na transformação per-
lítica. Na prática, os elementos de liga são excepcionalmente impor-
202 /. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 203
capítulo 5
tJ
tantes para influenciar na cinética de decomposição da austenita. Com e Ai
exceção do cobalto, todos os elementos de liga amplamente utilizados,
quando dissolvidos na austenita (Cr, Ni, Mn, W, Mo, V e outros), retar-
e"'
~
E
dam a transformação perlítica, deslocando para a direita a parte superior i2
da curva-C.
A natureza da elevação da estabilidade da austenita super- t --Tempo
a b

resfriada, sob a influência dos elementos de liga, é bastante complexa.


Nos aços ao carbono a transformação perlítica está relacionada com a
transformação 'Y - a da rede e com a redistribuição de carbono. Já nos Figura 90. Diagramas esquemáticos de decomposição isotérmica em
aços ligados, além disto, deve-se adicionar a formação de carbonetos es- aços ao carbono(a) e ligados(b). Para a mesma velocidade de resfria-
peciais e a redistribuição difusional dos elementos de liga, os quais têm mento, o grau de super-resfriamento D.T2 > D.Ti.
solubilidades diferentes na ferrita e no carboneto.
Os elementos de liga solubilizados na austenita possuem pe- (fig. 90) 4 •
queno coeficiente de difusão, às vezes dezenas e centenas de milhares de Com a elevação do super-resfriamento diminui a distância inter-
vezes menor que o do carbono. Além disto, alguns deles (Mo, W) dimi- lamelar. Por isto o aço ligado, para a mesma velocidade de resfriamento,
nuem a difusão do carbono na rede 'Y. Por outro lado, alguns elementos revela-se mais resistente após a transformação perlítica.
( Cr, Ni) retardam a transformação 'Y - a, a qual é parte constituinte da
transformação perlítica.
Desta maneira, os elementos de liga podem retardar a trans- 5.4. Variedades de tratamentos térmicos dos aços.
formação perlfüca pelos seguintes motivos: 1) formação de carbonetos
especiais e indispensável redistribuição difusional dos elementos de liga O fator básico, do qual depende a microestrutura do aço após
na austenita, cujos átomos têm mobilidade incomparavelmente menor o recozimento de segundo tipo, é o grau de super-resfriamento da aus-
que os átomos de carbono; 2) retardamento da difusão do carbono; 3) tenita. A variedade de recozimento de segundo tipo é diferenciada prin-
diminuição da velocidade da transformação polimórfica 'Y - a. Depen- cipalmente pelas capacidades de resfriamento e graus de super-resfri-
dendo da composição do aço e do grau de super-resfriamento da auste- amento da austenita, bem como pela localização da temperatura de
nita, um ou outro dos fatores citados é o decisivo. Por exemplo, com a aquecimento em relação ao ponto crítico.
adição de 0,8% de Mo ao aço eutet6ide ao carbono, a duração da decom-
O grau necessário de super-resfriamento da austenita é atin-
posição completa da austenita, numa temperatura próxima à curvatura
gido sob resfriamento contínuo ou sob tratamento isotérmico. Na figura
da curva-C, cresce em quatro ordens de grandeza (!). A causa disto é a
91, por exemplo, para um aço hipoeutetóide, estão traçados esquema-
necessidade de redistribuição difusionaL dos componentes na austenita,
ticamente os regimes de resfriamento, correspondentes aos vários reco-
em relação à formação do carboneto (Fe, Mo)23 C6.
zimentos básicos de segundo tipo: (1) o pleno; (2) o isotérmico; (3) o
Um efeito mais forte é provocado pela ligação simultânea com recozimento de normalização e (4) o patenteamento
vários elementos. O retardamento da decomposição da austenita pela
Nos aços hipereutetóides utiliza-se o recozimento de esferoi-
ação dos elementos de liga é amplamente utilizado para elevar a tempe-
dização e a normalização.
rabilidade do aço (§9.9).
Aqui, nesta seção sobre recozimento de segundo tipo, é im- 4 O aço ligado é um sistema de muitos componentes. De acordo com a regra..das
portante assinalar que os elementos de liga conduzem ao maior super- fases, além da temperatura eutetóide, tem-se um intervalo de temperaturas euteto1de,
resfriamento da austenita, sem mudança na velocidade de resfriamento mostrado na figura 90 por sombreamento.
204 /. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 205
capítulo 5

ao super-resfriamento (fig. 92), deve-se resfriá-los durante 0 recozimento


com uma velocidade menor do que no aço ao carbono. Se, durante 0
recozimento, o aço ao carbono pode ser resfriado com velocidade de
200ºK/hora, no aço ligado a velocidade é de 100 a 30ºK/hora.
~
.a A transformação da austenita com o recozimento pleno é con-
~ cluída a temperaturas significativamente superiores ao nariz da curva-C.
~ Por isto, o resfriamento da peça pode se dar no forno até 500-600ºC e
~tL__-_.,;;::::::s..J depois, no ar calmo, se não houver perigo de tensões térmicas: Se u~
dos objetivos do recozimento pleno é diminuir as tensões na peça de
-Tempo configuração complexa, deve-se promover o resfriamento no forno até
, .
proxuno da temperatura ambiente. '
Figura 91. Variedades básicas de recozimento do segundo tipo do aço
hipoeutetóide. A estrutura do aço hipoeutetóide após o recozimento é cons-
tituída de ferrita livre e perlita.
5.4.1. Recozimento pleno. Para a realização do recozimento pleno Os objetivos básicos do recozimento pleno são os seguintes: eli-
do aço hipoeutetóide, aquece-se até temperatura de 20 a 40ºK acima do minação de estruturas defeituosas, que surgem com tratamento anterior
ponto Ac3 (fig. 92). do metal (fundição, deformação a quente, solda e tratamento térmico),
amolecimento do aço diante de tratamento de corte, e diminuição de
tensões.
No aço hipoeutetóide o recozimento elimina as estruturas pre-
judiciais - granulação grosseira e a ferrita de Windmonstaten (fig. 86.)
Os grãos grosseiros da austenita podem se formar durante a solidificação
do lingote e do cordão de solda, devido ao superaquecimento na zona
próxima ao cordão e nos lingotes submetidos à homogeneização a 1100-
1200ºC. Nestes casos pode aparecer estrutura grosseira de Windmons-
taten, que diminui fortemente a resistência ao choque do aço.
No recozimento com aquecimento até Ac3 + (20-40)ºK forma-se
austenita de grão pequeno, a partir da qual, com o resfriamento, forma-
se estrutura ferrita-perlita de granulação fina uniforme. Se, no aço com
OOO·L-~~~--'.1...-~~~~.L-~~~~-'-:--' ferrita de Windmonstaten, durante o aquecimento tem-se um grão inicial
o 0,5 1,0 1,5 de austenita grosseiro, para ~tingir estrutura transrecristalizada deve-se
Fe Teor,% (em peso) e
conduzir um recozimento a alta temperatura. O mesmo acontece quando
Figura 92. Temperaturas de aquecimento dos aços para recozimento de
no aço, antes do aquecimento, havia estrutura martensítica ou banítica,
segundo tipo. 1 - Recozimento completo; 2 - Recozimento incompleto; formadas devido à subtempera com aceleração do resfriamento do lingote
3 -Recozimento de esferoidização; 4 - Normalização. ao ar, dos cordões de solda, do laminado a quente e dos forjados de aço
ligado. Por exemplo, o lingote de aço 20X13L deve ser recozido a 1100-
O resfriamento durante o recozimento se dá com velocidade l 150ºC, o que é aproximadamente 300ºK acima do ponto Ac3. Com
pequena, para que a austenita se decomponha com pequeno grau de este aquecimento atinge-se o ponto b de Chernov, o qual corresponde à
super-resfriamento. Como nos aços ligados a austenita é mais propensa temperatura de recristalização primária da austenita.
Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 207
206 /. /. Novikov
capítulo 5

O objetivo normal do recozimento pleno é de refinar o grão. Como resultado forma-se uma estrutura de perlita granular (es-
Este objetivo é contraditório ao objetivo do recozimento para elevar o feroidita), e por isto este recozimento é denominado de esferoidização.
tamanho de grão. O recozimento de grão grande através do aquecimento As pequenas partículas de cementita na temperatura de recozimento no
a 950-llOOºC é utilizado nos aços de muito baixo carbono para melho- intervalo A 1 - Acm s~o obtidas como resultado da divisão das plaquetas
rar a usinibilidade. Estes aços produzem cavacos muito pegajosos e de de cementita. Com a divisão, as plaquetas dissolvem-se nas regiões mais
difícil separação, capazes de soldarem-se ao instrumento de corte, o que finas e nos locais de saída (na superfície) dos sobcontornos entre as fases
cementita/austenita, na cementita ou na austenita.
produz superfície áspera. A melhoria da q~alidade da su~erfície, e .ª
maior separação dos cavacos nos aços de bauco carbono sao poss1veIS No local de saída do subcontorno, na plaqueta de cementita
pela estrutura com colônias grosseiras de perlita lamelar, obtid~ com que se encontra na superfície entre as fases, as forças de tensão superfi-.
recozimento a alta t '-'mperatura, o que aumenta o tamanho de grao. cial são heterogêneas. Isto é um estímulo para solubilização localizada
da cementita, até uma configuração superficial que nivele estas forças
Finalmente deve-se sublinhar que, se a estrutura de superaque- (fig. 95). As ranhuras de solubilização com convexidade no sentido das
cimento do aço pode ser eliminada com recozimento (ou normalização),
paredes de austenita estão ao longo da linha de saída do subcontorno,
já a queimadura relacionada com oxidação nos contornos de grão da na superfície da plaqueta.
austenita é um produto defeituoso que não se elimina.
É conhecido o fato de que a solubilidade da partícula depende
5.4.2. Recozimento não-pleno. O recozimento não-pleno do aço do raio de curvatura de sua superfície, e esta dependência expressa-se
hipoeutetóide é realizado com aquecimento até temperatura acima de pela equação de Thomson-Freidel:
AC1 porém baixo de Ac3 (fig. 92.) Este recozimento é utilizado limita-
d.am~nte nos aços hipoeutetóides. Com a temperatura do recozimento lnCr/c00 = 27V/KTr, (32)
não-pleno, a ferrita livre não é eliminada. Conseqüentemente, o recozi-
onde Cr é a concentração da solução, próxima ao contorno entre fases,
mento não-pleno não pode eliminar os defeitos do aço acima indicados,
com raio r; C 00 é a concentração da solução, próxima ao contorno plano;
que estão relacionados com formas e tamanhos indesejáveis da ferrita
"Y é a energia superficial (entre as fases) no contorno de fases; e V é o
livre.
volume atômico.
O recozimento não-pleno do aç;o hipoeutetóide é utilizado para Quanto menor o raio de curvatura do contorno, tanto mais
amolecer diante do tratamento de corte, pois como resultado da trans- próximo de seu equilíbrio está a concentração na solução. Conseqüente-
formação eutetóide no recozimento não-pleno, forma-se perlita macia. mente, próximo às paredes com protuberâncias, nas rachaduras de so~u­
O recozimento não-pleno de amolecimento permite economizar tempo e bilização na cementita (fig. 93), a concentração de carbono na austemta
diminuir o custo do tratamento. será maior do que no resto da superfície plana da partícula. O nivela-
mento de composição na austenita diminui a concentração de carbono na
5.4.3. Recozimento de esferoidização. Nos aços hipereutetóides
mesma, próximo às ranhuras das paredes com protuberâncias. Como até
geralmente qão é utilizado o recozimento pleno com aquecimento acima
aqui a austenita está subsaturada em relação à cementita, esta última
de Acm (linha ES). Isto porque, com resfriamento lento após este aqueci-
dissolve-se e o contorno se endireita. Isto, por sua vez, leva ao rompi-
mento, formam-se redes grosseiras de cementita secundária, que pioram
mento do equilíbrio da força de tensão superficial na saída do subcon-
as propriedades mecânicas. Nos aços hipereutetóides ao carbono, utiliza-
torno, seguido de restabelecimento do equilíbrio com o aprofundame~to
se amplamente o recozimento com aquecimento até 740-780ºC, seguido
da ranhura, e assim por diante. Como resultado, a plaqueta de cementita
de resfriamento lento. Depois deste aquecimento fica na áustenita grande
será repartida, em conseqüência da solubilização pelo seu subcontorno.
quantidade de partículas de cementita não-solubilizada, que no resfria-
mento servem como centros de cristalização durante a decomposição da A divisão das plaquetas de cernentita pode ser acelerada, utili-
austenita. zando deformação plástica a frio ou a quente, numa temperatura abaixo
!. !. Novikov
Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 209
capítulo 5

~C/A 3C/A
A ~~

e 1IJ'C/C
1
280

Figura 93. Solubilização de ranhura nos locais de saída dos subcon-


CD
tornos da cementita (mostrados através de pontos), na superfície de :e
separação cementita-ferrita. 200
~
o"'
de A 1 . Com isto, as plaquetas de cementita não são destruídas como 160,____.,____..____..____.__.
antes se pensava e sofrem deformação plástica. Com o aquecimento 720 760 800 840 880
após deformação a frio e durante a deformação a quente, formam-se Temperatura de recozimento, <?C
subcontornos através de poligonização. Isto possibilita a divisão das pla-
quetas de cementita. Como foi mostrado em filme fino de microscópio Figura 94. Variação da dureza do aço para rolamento XX15, em função
eletrônico, as plaquetas de cementita se dividem não apenas pela ace- da temperatura de recozimento, para três velocidades de resfriamento.
(Ia.R.Rausin); OºK / h:l-100; L-300; 3-5.
leração de sua dissolução nas saídas dos subcontornos, mas também nos
locais de elevação da densidade de discordâncias na cementita.
Após a divisão das plaquetas, suas partículas menores se esferoi- limite superior não deve ser muito elevado, pois do contrário forma-se
dizam. Próximo às extremidades e aos picos das partículas de cementita perlita lamelar durante o resfriamento devido à solubilização dos precipi-
com pequeno raio de curvatura, a concentração de carbono na austenita tados de carboneto na austenita. Como as linhas A 1 e Acm encontram-se
é maior em relação ao equilíbrio (32). O nivelamento da composição na composição eutetóide, para os aços próximos da composição eutetóide
no interior da austenita conduz à elevação da concentração, próximo às o "intervalo de recozimento" é particularmente estreito. Por exemplo,
regiões do contorno com alto raio de curvatura, onde a austenita fica para os aços Y9A e YlOA, os limites deste intervalo são 740-750ºC, ao
supersaturada e precipita cementita. A diminuição paralela da concen- mesmo tempo em que, para os aços YllA, Y12A e Y13A, os limites são
tração de carbono na austenita, próximo à extremidade e ao pico, conduz de 750-780ºC.
à solubilização do mesmo. Como resultado, o gradiente de concentração A estrutura final depende da velocidade de resfriamento e da
na austenita é restabelecido, e o processo de solubilização da cementita temperatura do recozimento de esferoidização. Quanto menor a velo-
nas regiões de menor raio de curvatura do contorno, bem como a di- cidade de resfriamento, maior será o tamanho até o qual crescem os
visão da cementita em regiões com maior raio de curvatura, conduz ao glóbulos de carboneto com a decomposição da austenita. Regulando a
arredondamento das partículas. velocidade de resfriamento, pode-se obter estrutura de perlita globular
Desta maneira, a esferoidização da cementita se dá pela passa- desde granulação fina até granulação grossa. A perlita mais fina possui
gem de carbono através da solução sólida que envolve a cementita. dureza superior.
O mecanismo visto acima, de divisão da plaqueta e esferoi- Na figura 94 mostra-se a influência do regime do recozimento
dização de partículas de uma fase que se encontra em equilíbrio com a
de esferoidização na dureza. Com a elevação da temperatura de recozi-
solução sólida, é geral para ligas de diversas composições.
mento até 800-820ºC, a dureza diminui devido ao desenvolvimento da
No regime de recozimento de esferoidização do aço hipereu- esferoidização. Com posterior elevação da temperatura do recozimento,
tetóide, é característico o estreito "intervalo de recozimento" em termos a dureza cresce devido ao aparecimento, cada vez em maior quantidade,
de temperatura. Seu limite inferior deve ser acima do ponto Ai, e o de perlita lamelar.
210 _ _ __ !. !. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 211
~~~~~~~~--~~~-

capítulo 5

Os aços ao carbono e liga.dos para instrumentos e rolamentos


são submetidos a recozimento de esferoidização. O aço com estrutura
de perlita granular possui menor dureza e é facilmente usinado, o que
é particularmente importante, por exemplo, para linha de trabalho au-
tomiitico na produção em série de rolamentos. Além disto, a perlita
granular é a estrutura inicial ótima antes da têmpera. Com estrutura
inicial de perlita granular,· é menor a tendência ao crescimento de grão
austenítico, mais amplo é o intervalo admissível de temperaturas de
têmpera, menor é a tendência ao fissuramimto com a têmpera e maior é
a resistência e a tenacidade do aço tempera.do (pequenos glóbulos unifor-
memente distribuídos no aço hipereutetóide martensítico temperado).
Por isto, as usinas metalúrgicas produzem os aços instrumen-
tais 'recozidos, com estrutura de perlita granular. O aço forja.do para
rolamento também é recozido para se obter perlita granular.
Se, com um único recozimento não é obtida cementita comple-
tamente esferoidizada, pode-se utilizar recozimento pendular ou cíclico,
que é semelhante ao de esferoidizaç,ão. Por exemplo, o aço ao carbono
aquece-se, alternadamente, algumas vezes até 740ºC, e resfria-se até Figura 95. Microestrutura do aço hipereutetóide Yl2 após recozimento
pendular (cementita granular),300X.
680°C. Em cada aquecimento as plaquetas de cementita dissolvem-se
parcialmente na austenita. A solubilização se dá, majoritariamente, na
borda e no pico da plaqueta. Com a solubilização e precipitação alter- Quanto mais próxima do ponto A1 estiver a temperatura de
nad(1.s, a plaqueta de cementita arredonda-se gradualmente (fig. 95). exposição isotérmica, tanto maior a espessura de lamelas na perlita, e
menos duro o aço. Porém, é maior o tempo de transformação. Como o
Infelizmente, nas condições das usinas é muito difícil estabele-
significado básico do recozimento isotérmico é o amolecimentodq.aço, na
cer vibração controlada de temperatura, com a amplitude de 40ºK no
prática se escolhe urna temperatura de exposição isotérmica (30-lOOºK
intdvalo de temperatura exigido.
abaixo da temperatura A 1 ), para a qual se obtém amolecimento sufi-
5.4.4. Recozimento isotérmico. O pequeno grau de super resfria- ciente do aço com intervalo de tempo relativamente. pequeno.
mento da austenita, indispen8ável no recozimento, pode ser obtido não O recozimento isotérmico possui duas vantagens, em compara-
apenas com resfriamento contínuo do aço no forno. Outro caminho é o ção com o recozimento habitual. Antes de tudo ele pode levar a um
resfriamento escalonado, com exposição isotérmica no intervalo de tem- ganho de tempo, se a soma dos tempos de resfriamento acelerado, ex-
peraturas da transformação perlítica. (fig. 91). Este tratamento térmico posição isotérmica e posterior resfriamento acelerado, for menor que o
denomina-se recozimento isotérmico. Após o aquecimento até tempera- tempo de recozimento contínuo e lento da peça no forno.
tura acima de Ac3, o aço é resfriado aceleradamente até a temperatura Pode-se obter um ganho particularmente grande de tempo com
de exposição isotérmica, a qual se encontra abaixo do ponto A 1 . Em o recozimento isotérmico de aços ligados através do super resfriamento
segu~da realiza-se resfriamento acelerado ao ar. As peças pequenas de estável da austenita.
configuração simples podem ser resfriadas em água aquecida. Outra vantagem do recozimento isotérmico é a obtenção de
O tempo de exposição isotérmica deve ser um pouco maior que o estrutura mais uniforme, pois com a exposição isotérmica a temperatura
tempo de completa transformação isotérmica da austenita, determinado se nivela ao longo da seção da peça, e a transformação em todo o volume
·pelo diagrama -C. do aço ocorre com o mesmo grau de super resfriamento.
Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 213
212 /. /. Novikov
capítulo 5

A normalização é amplamente utilizada em lugar do recozi-


5.4.5. Normalização. Na normalização o aço é aquecido até a tem-
mento, para eliminação de defeitos do aço, que surgem durante a la-
peratura de 30-50ºK acima da linha GSE e resfriado ao ar (fig. 92). A
minação a quente e tratamento térmico: granulação grosseira, estrutura
aceleração do resfriamento em comparação com o recozimento pleno pos-
de Windmonstaten, estrutura alongada. Em muitos casos a norma-
sibilita um super resfriamento da austenita um pouco maior (fig. 91).
lização dá melhores resultados que o recozimento. Por exemplo: a estru-
Por isto, com a normalização, obtém-se uma constituição do eutetóide tura alongada no aço (fig. 96) é facilmente eliminada pela normalização,
mais fina (perlita fina ou sorbita) e um tamanho do grão eutetóide me- pois, com elevado super-resfriamento da austenita, a ferrita divide-se
nor. Além disto, a fase livre decresce parcialmente (ferrita ou cementita
não apenas pelas escórias internas e pelas inclusões de sulfetos, mas em
secundária). Conseqüentemente, forma-se o quase-eutetóide. Desta ma-
todo o volume do material.
neira, a resistência do aço após normalização deve ser maior do que a
resistência após o recozimento.
A normalização é utilizada antes de tudo como operação in-
termediária para eliminar os constituintes prejudiciais, e para melhoria
geral da estrutura antes da têmpera, assim como para o amolecimento do
aço antes da usinagem. Desta maneira, do ponto de vista do tratamento
intermediário, a normalização tem o mesmo significado que o recozi-
mento. A normalização é mais vantajosa que o recozimento (utiliza-se
menos o equipamento do forno). Por isto ela deve ser preferida em
relação ao recozimento, se ambos os tipos de tratamento dão o mesmo
resultado. Porém, nem sempre a normalização pode substituir o reco-
zimento como operação de amolecimento do aço. Isto se explica pelo
seguinte. A tendência da austenita ao super-resfriamento cresce com a
elevação de sua composição em carbono e elementos de liga. Por isto, a
diferença nas propriedades após o recozimento e a normalização depende
da composição do aço. Por exemplo, a dureza dos aços contendo 0,2;
0,45 e 0,83C após o recozimento é igual, respectivamente, a 120, 160 e
180 HB, e após a normalização é igual a 130, 190 e 240 HB.
A normalização é utilizada amplamente, em lugar do recozi- Figura 96. Estrutura alongada do aço hipoeutetóide(no fundo de ferrita
mento de amolecimento, nos aços baixo carbono, nos quais a austenita é visível a inclusão alongada de escoria),300X.
super-resfria fracamente. Porém ela não pode substituir o recozimento
de amolecimento nos aços de alto carbono, os quais endurecem sensivel- Se a estrutura inicial do aço é ordenada cristalograficamente
mente com resfriamento ao ar, devido ao super-resfriamento significativo (por exemplo, na de Windmonstaten)_, para garan~ir ~ transrecrista-
da austenita. No que se refere aos aços de média e alta liga, durante o lização da estrutura da austenita, aphca-se normahzaçao a alta tem-
resfriamento ao ar podem formar martensita, isto é, ocorre têmpera ao ar peratura com aquecimento acima do ponto b de Chernov (§5.2). Por
(§9.9) Aqui deve-se precisar o conceito de normalização. Entende-se por exemplo,' nos lingotes de aço 35L deve-se aquecer na normalização até
normalização aquele tratamento térmico do aço, no qual o ;esfriamento 950-970ºC, isto é, aproximadamente 150ºC acima de Ac3.
ao ar conduz à decomposição da austenita no intervalo de temperatura ·~ No aço hipereutetóide a normalização elimina a rede gros~eira
da transfarmação perlítica. Por isto, se o resfriamento ao ar do aço li- de cementita secundária. Com aquecimento acima do p~nto Ac~ (linha
gado produz martensita, como no aço 18X2H4BA, então este processo ES), a cementita secundária se solubiliza. Com o posterior resfriamento
não tem nenhuma relação com a normalização.
1
214 /. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 215
capítulo 5

acelerado ao ar, não se consegue formar rede grosseira de cementita, a mentita secundária não conseguem se formar, e o conjunto da estrutura
qual diminui as propriedades do aço. Por exemplo: se após laminação é denominado quase-eutetóide.
a quente nos aços instrumentais Yll e Y13 tem-se rede grosseira de
Após patenteamento o arame é submetido a uma trefilação a
cementita antes do recozimento de esferoidização, a rede é eliminada frio com elevada redução total. Habitualmente obtém-se arame com re-
por normalização com aquecimento até 850°, seguido de resfriamento
sistência ao escoamento de 1500-2000 MPa. No aço Y9A, obtido com
acelerado com ajuda de ventiladores. fundição de arco a vácuo para eliminação da influência prejudicial das in-
Muito freqüentemente a normalização serve para pulverização clusões não metálicas e das impurezas, após o patenteamento e trefilação
geral da estrutura antes da têmpera. Se o aço antes da têmpera possui a frio com redução total de 993, atinge um nível recorde da resistência
partes grosseiras de ferrita livre, com o aquecimento na têmpera a aus- · ao escoamento de 5.000 MPa.
tenita não consegue seguir a homogeneização. Regiões da austenita que O patenteamento desempenha um duplo papel na obtenção do
correspondem aos locais de jazimento de inclusões grosseiras de ferrita estado de elevada resistência. Em primeiro lugar, graças ao patentea-
ficarão empobrecidas de carbono, e após a têmpera não adquirão a du- mento, o arame é capaz de ser submetido a grande redução na trefilação a
reza necessária. Após a normalização preventiva pulveriza-se as partes frio, sem se romper. Isto é conseguido pela estrutura perlítica de lamelas
de, ferrita livre, o eutetóide torna--se mais disperso e facilita-se a rápida finas e pela ausência de grão livre de ferrita, o qual provoca rompimento
fo1:n1ação de austenita homogêne~L no aquecimento antes da têmpera. com forte tensão. Em segundo lugar, após a deformação plá.<>tica a frio
A normalização também é utilizada como tratamento final em da mistura ferrita-cementita, na qual a espessura de lamelas é menor
aços hipoeutetóides de médio e alto carbono, se a exigência é de pro- ainda do que após o patenteamento, consegue-se a combinação de ele-
priedades moderadas e não é obrigatória a têmpera com alto revenido. vada resistência com cargas de torção e flexão. Os contornos entre· as
A normalização também é utilizada como tratamento térmico lamelas de ferrita e cementita constituem-se em barreiras impenetráveis
final em aço baixo carbono e de baixo elemento de liga, como por exem- para as discordâncias, e o limite de resistência do arame patenteado au-
plo o aço de alta resistência para construção da marca 16G2AF, endu- menta de acordo com a relação de Hall-Petch (17), na qual d, neste caso,
reeido com carbonitretos. A normalização deste aço permite combinar é a espessura de lamelas.
alta resistência com baixa temperatura de transição dútil-frágil. No patenteamento é necessária uma temperatura elevada de
Finalmente, assinalamos que a velocidade de resfriamento no ar aquecimento (habitualmente 870-920ºC) para homogeneização da aus-
depende da massa de peça e da relação entre sua superfície e seu volume. tenita. A velocidade do arame deve ser tal, que o tempo de permanência
Em conseqüência disto, estes fatores manifestam-se na estrutura e nas no banho seja um pouco superior ao tempo de término da transformação
propriedades do aço normalizado. perlítica. Caso contrário, na saída do arame do banho, a austenita que
não conseguir decompor-se em perlita transforma-se em bainita inferior
5.4.6. Patenteamento. Para obter cabos, mola e corda de piano de
ou martensita. Com isto a propriedade de dutilidade do arame diminui
elevada resistência, utiliza-se tratamento isotérmico, conhecido desde a
bruscamente.
década de 1870, e que recebeu a. denominação de patenteamento. O
Embora o patenteamento seja um processo específico, é um tipo
ar<Jme de aço ao carbono contendo de 0,45 a 0,853C aquece-se no forno
de transformação de fases quanto aos principais indícios de classificação.
at~ temperatura de 150-200ºC acima de Ac3 , e é levado a um banho de
O patenteamento permanece como um recozimento de segundo tipo, e é
chumbo ou de sal à temperatura de 450-550ºC, e enrolado em cilindro .
uma das variedades de tratamento isotérmico.
A decomposição da austenita se dá próximo ao nariz da curva-C, perto
do limite inferior do intervalo de temperatura da transformação perlítica
(fig. 91). Na saída do banho o arame possui estrutura de ferrita e ce-
mentita, com espessura de lamelas muito pequena. Ela habitualmente é
·denominada §lorbita de patenteamento e trostita. A ferrita livre ou a ce-
Recozimento dos ferros fundidos
capítulo 6

Os componentes básicos do ferro fundido são: o ferro, o carbono


e o silício. Além disto, os ferros fundidos comuns contêm manganês,
fósforo e outros elementos. Não levando em consideração a complexi-
dade da composição do ferro fundido, as mudanças estruturais princi-
pais com seu recozimento podem ser analisadas qualitativamente, com
o uso do diagrama de equilíbrio do sistema de dois componentes Fe-C.
Como é sabido, neste sistema a austenita e a ferrita podem encontrar-se
em equilíbrio estável com a grafita (linhas pontilhadas, fig. 74), e em
equilíbrio metaestável com a cementita (linhas cheias).
Em comparação com a cementita, a grafita nucleia e cresce mais
dificilmente na matriz metálica. Para nucleação da grafita, necessita-se
de flutuações de concentração muito maiores. Isto porque a grafita é
praticamente 100% de carbono (a solubilidade do ferro na grafita é in-
significante) e a cementita contém 6,67%C. No crescimento do cristal
de grafita é necessária a quase completa retirada dos átomos de ferro
da frente móvel de seu contorno com a matriz metálica. Por isto, a
formação de cementita metaestável, em determinadas condições, como
por exemplo durante o resfriamento acelerado, é cineticamente mais fácil
do que a formação da grafita estável. Contudo, o equilíbrio metaestável
da austenita ou da ferrita com a cementita corresponde a uma energia
mínima relativa de Gibbs, enquanto que o equilíbrio estável com a gra-
fita corresponde a uma energia mínima absoluta de Gibbs. Por isto a
exposição do ferro fundido em elevadas temperaturas deve, no final das
contas, conduzir à substituição da cementita pela grafita.
/. !. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 219
capítulo 6

O silício, níquel, alumínio e outros elementos possibilitam a zento, a grafita cresce na massa líquida em forma não-desejável de ro-
grafitização, enquanto o manganês, cromo, vanádio, magnésio, césio, setas ramificadas que parecem caranguejos, cujas seções na amostra po-
enxofre e outros, dificultam. lida possuem a forma de veios encurvados. Com o recozimento do ferro
As transformações de fases com tratamento térmico dos ferros fundido branco (fig. 97) a grafita, denominada carbono de recozimento
fundidos incluem aqueles processos básicos que se encontram nos aços. aparece com uma forma significativamente mais compacta e útil para
Ao mesmo tempo existem, complementarmente, processos complexos as propriedades mecânicas (fig. 98). Apesar de não se deformar o ferro
relacionados com o comportamento da fase grafítica. fundido maleável, seu alongamento relativo encontra-se nos limites en-
Os trabalhos da escola de K. P. Bunin são uma notável con- tre 2 e 20% (dependendo da estrutura), ao mesmo tempo que no ferro
tribuição ao estudo de transformações de fases nos ferros fundidos e em fundido branco o alongamento relativo não supera 0,23, e no cinzento
particular na grafitização. Neste capítulo, a análise dos processos de re- não é maior que 12%.
cozimento dos ferros fundidos é baseada, principalmente, na sintetização
I
dos resultados dos trabalhos desta escola. 900-1050°C
As variedades do recozimento de segundo tipo dos ferros fun-
didos são o recozimento de grafitização e a normalização.

6.1. Recozimento de grafitização do ferro fundido.

Tempo
O recozimento de grafitização do ferro fundido é um tratamento
térmico, no qual o principal processo consiste na formação de grafita com
desaparecimento concomitante, parcial ou total da cementita. Figura 97. Gráfico de recozimento do ferro fundido branco para maleá-
vel.: 1 e II - primeiro e segundo estágios da grafitização.
Ao recozimento de grafitização são submetidos os ferros fundi-
dos brancos, cinzentos e os de elevada resistência (modificados).
6.1.1. Recozimento de maleabilização do ferro fundido branco. A composição inicial de fases do ferro fundido branco é a mesma
O ferro fundido branco é muito frágil, devido à grande quantidade de ce- que dos aços: ferrita e cementita. Por isto o mecanismo de sua auste-
mentita eutética em sua estrutura. O atual processo de obtenção de ferro nitização ocorre inicialmente com a transformação perlita-austenita e
fundido maleável através de recozimento de grafitização do branco foi in- depois há a solubilização da cementita secundária e a homogeneização
ventado no início do século XIX. Atualmente o ferro fundido maleável é da austenita em C e Si.
amplamente utilizado nos materiais para construção mecânica, por com- Primeiro estágio da grafitização. Durante a exposição por 10 ho-
binar simplicidade e baixo custo na obtenção de peças com detalhes, bem ras a 900-1050ºC ocorre o principal estágio da grafitização (fig. 97).
como pelas elevadas propriedades mecânicas. No final do mesmo, toda a cementita de origem eutética e o excesso
Para produzir ferro fundido maleável, utiliza-se lingotes de ferro de cementita secundária são substituídos por grafita, e a estrutura de
fundido branco hipoeutético, contendo 2,2-3,1%C; 0,7-1,53Si; 0,3- austenita-cementita transforma-se em austenita-grafita.
l,0%Mn e até O,OS3Cr. Os teores de silício, que facilita a grafitização, A hipótese sobre a decomposição da cementita com a imediata
e do manganês e cromo, que a dificultam, são regulados de tal ma- separação da grafita a partir desta decomposição, através da reação Fe3C
neira que a cristalização da grafita na massa líquida, diminui e torna --+ 3Fe + C, não está de acordo com muitos fatos. Em particular, a forma
possível a nucleação mais rápida para a grafitização durante o recozi- do carbono de recozimento no ferro fundido maleável não corresponde à
mento. Lembremo-nos de que, na cristalização do ferro fundido cin- forma dos cristais iniciais de cementita.
220 /. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 221
capítulo 6

No volume do lingote, os locais que servem para nucleação he-


terogênea da grafita são as descontinuidades, aglomerados de lacunas,
microvazios de contração e gasosos e microfissuras abertas no contorno
de austenita com inclusões não-metálicas, devido à diferença entre suas
dilatações térmicas. Os locais de nucleação da grafita podem ser poros
de fusão surgidos durante a homogeneização da austenita. Por exem-
plo, durante a homogeneização da composição da austenita, após a saída
dos átomos de silício das regiões ricas deste elemento, fica um excesso
de lacunas que formam os poros. Isto pode explicar a aceleração da
grafitização sob a ação do silício, o que acontece mesmo levando em
consideração que o silício retarda a difusão do carbono na austenita.
Após a formação dos núcleos de grafita, na austenita existe
um gradiente de concentração de carbono, pois a solubilidade limite da
cementita na austenita é maior do que a da grafita (no diagrama de
equilfbrio da figura 74, a linha ES encontra-se à direita da linha E'S').
Por exemplo, se o primeiro estágio de grafitização se dá à temperatura
T* (fig. 99), a composição da austenita no contorno corrr a cementita
Figura 98. Microestrutura do ferro fundido maleável, à base de ferrita, é expressa pelo ponto b, e no contorno com grafita, pelo ponto a. A
120X. homogeneização da concentração de carbono na austenita torna a mesma
subsaturada em relação à cementita (no contorno austenita/cementita
Está demonstrado que a grafitização do ferro fundido branco a composição da austenita desloca-se para a esquerda do ponto b). Ao
no primeiro estágio consiste de nucleação de grafita no contorno aus- mesmo tempo, a austenita fica supersaturada em relação à grafita (no
tenita/ cementita e longe dos cristais de cementita. Ao mesmo tempo, contorno austenita/grafita a composição desloca-se para a direita do
o crescimento da grafita se dá com a passagem de átomos de carbono ponto a). Como resultado, há a contínua solubilização da cementita,
através da austenita, desde o contorno austenita/cernentita para o con- até a própria extinção, e o contínuo crescimento da grafita.
torno austenita/ grafita. Concomitantemente com o crescimento da gra- Além da transferência de átomos de carbono através da solução
fita, ocorre a solubilização de cementita na austenita. sólida, para a grafitização é necessário ainda um outro processo. Trata-se
O volume específico da grafita é algumas vezes superior ao da da evacuação de átomos de ferro da superfície do contorno em cresci-
austenita. Por isto, a nucleação homogênea da grafita na matriz metálica mento, para libertar a grafita com espaço "vital". K.P. Bunin assinalou
densa é pouco provável. É muito elevada a componente elástica ÀGel que exatamente este processo de difusão, e não o fluxo de átomos de car-
na fórmula (26). As discordâncias, subgrãos e contornos de alto ângulo bono, é que controla a velocidade de crescimento das inclusões de grafita.
são, qualitativamente, locais pouco efetivos de nucleação heterogênea da Isto porque a mobilidade difusional dos átomos de ferro é muitas vezes
grafita, devido ao elevado valor de ÀGel. menor que a dos átomos de carbono.
Corno é conhecido, o estanho cinzento, que tem volume es- A forma da grafita depende da temperatura de recozimento e
pecífico em um quarto maior que o estanho branco, nucleia preferencial- da composição do ferro fundido. No recozimento o carbono espalha-se
mente na superfície livre da amostra de estanho branco. Evidentemente, mais rapidamente pelos contornos de alto ângulo e pelos subcontornos,
na grafitização onde o volume específico da nova fase se diferencia ainda pois através deles mais rapidamente se conduzem os átomos de ferro.
mais do volume específico da fase inicial, a nucleação da grafita também Esta grafita ramificada indesejável se fortalece com o crescimento da
surge majoritariamente na superfície livre da austenita. temperatura. Com isto, após o recozimento em temperaturas acima de
L L Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 223
capitulo 6

cementita eutetóide, PI representa o final da formação eutetôide, e, BH,


o final da grafitização da cementita da perlita.

700
~ T1 1---f:E:-~,.i!!:=..:.._

F +G

Fe -e,%
1 10 10 10
Figura 99. Região do diagrama de equilíbrio Fe-C. As linhas cheias Tempo (seg)
são de equilíbrio estável, e as pontilhadas de equilíbrio meta.estável
(esquema). Figura 100. Diagrama de transformação isotérmica da austenita no
ferro fundido maleável, contendo em %: 2,9C; 0,88Si; 0,36Mn; 0,095
1050 - 1070ºC, as propriedades mecânicas do ferro fundido se apresen- (K. P. Bunin e col. ).
tam muito baixas. Isto determina o limite superior de temperatura do
pr4ueiro estágio de grafitização. Vejamos a transformação da austenita super-resfriada até a
As adições e impurezas exercem uma influência complexa na temperatura T 1 • Inicialmente, sem incubação, forma-se grafita na su-
grafitização, durante o recozimento. Por exemplo, a grafita em forma perfície que possui inclusões. Começando no instante correspondente ao
compacta pode ser obtida com adição de ~ O, 1% de magnésio. ponto 1 (linha OD ), ao lado de grafita forma-se também ferrita eutetóide,
Durante o resfriamento do ferro fundido, após o primeiro está- isto é, dá-se a decomposição eutetóide pelo modelo A -+ F + G. Este
gio da gratifização, a composição da austenita modifica-se segundo a processo termina no ponto 2 com a completa eliminação da austenita.
linha E' S', e precipita-se dela a grafita secundária. Este estágio da gra- Com a decomposição eutetóide, a grafita estratifica-se naquela
fitização é denominado intermediário. A grafita secundária estratifica-se que se formou no primeiro estágio intermediário de grafitização, e o eu-
nas inclusões, e normalmente não forma estrutura independente. tetóide ferrita-grafita não se forma como estrutura independente, cons-
Segundo estágio da grafitização. A matriz metálica do ferro fundido tituída de mistura dispersa de fases.
maleável se forma com a decomposição eutetóide da austenita. A decomposição eutetóide A -+ F + G pode se dar de ma-
Para a obtenção de matrilz puramente ferrítica, o resfriamento neira normal ou anormal. Durante a decomposição normal, a austenita
no intervalo de temperaturas da decomposição eutetóide deve ser lento encont.ra--se todo tempo em contato com a ferrita e a grafita que se for-
(fig. 97). Aqui. se dá o segundo estágio da grafitização: a austenita se mam a partir dela. No contorno com a grafita, a austenita possui con-
decompõe pelo modelo A-+ F + G. centração do ponto g, e no contorno com a ferrita, do ponto h (fig. 99).
É facil acompanhar a sucessão de modificações estruturais no A homogeneização da composição da austenita conduz a mesma à su-
segundo estágio da grafitização pelo diagrama de transformação isotér- persaturação em carbono, no contorno A/G. A precipitação de grafita e
mica da austenita no ferro fundido . Na figura 100, a linha OD representa a diminuição da concentração de carbono no contorno A/F, provocam
o início da formação da ferrita eutetóide, BE o início da formação de a transformação 'Y -+ a e a formação de ferrita.
224 /. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 225
capítulo 6

A transformação eutetóide anormal tem início nos casos em que O desenvolvimento do segundo estágio da grafitização pode ser
a ferrita cerca completamente a grafita, e interrompe-se o contato da aus- conseguido não apenas com resfriamento lento no intervalo de tempe-
tenita com a grafita. No contorno com a grafita, a ferrita tem composição raturas eutetóide, mas também com exposição isotérmica após resfria-
do ponto d, e no contorno com a austenita sua composição é a do ponto f. mento normal e não lento (área achuriada, fig. 97). Com resfriamento
Apesar de ser elevado o gradiente de concentração de carbono, a difusão contínuo ocorre transformação perlítica da austenita, e a posterior ex-
do elemento soluto na rede e.e.e. da ferrita se dá muito rapidamente. o posição prolongada conduz à grafitização da cementita da perlita. Aqui,
carbono transfere-se desde o contorno F /A para o contorno F / G, onde a o mecanismo de grafitização é, em princípio, o mesmo que no primeiro
ferrita fica supersaturada em carbono e precipita grafita, restabelecendo estágio. Apenas, a grafitização se dá através da transferência de carbono
a composição representada pelo ponto d. No contorno F /A a diminuição não através da austenita, mas sim através da ferrita, desde o contorno
da concentração de carbono na ferrita (deslocando a composição para F/C até o contorno F/G. A limitação do processo é dada pela eva-
esquerda do ponto !) torna a ferrita subsaturada em relação à austenita, cuação de átomos de ferro na ferrita, desde a superfície da grafita em
e ocorre a transformação "{ -+ a, com formação de ferrita de composição crescimento.
do ponto f. Conseqüentemente, na transformação eutetóide anormal a Na figura 100, com temperatura T2 a cementita da perlita de-
grafita não se precipita da austenita, mas sim da ferrita. saparece, no momento correspondente ao ponto 6. Quanto mais baixa
Em temperaturas acima do ponto B da figura 100, isto é, para a temperatura de exposição isotérmica, maior o tempo exigido para. se
super-resfriamentos relativamente baixos da austenita (ou resfriamento atingir este momento (inclinação da curva BH).
contínuo lento) a ferritização completa da matriz ocorre diretamente com Juntamente com a grafitização da cementita da perlita, durante
a decomposição eutetóide, pelo modelo A -+ F + G. Para resfriamentos a exposição isotérmica, ocorre a separação das lamelas da cementita e es-
elevados (abaixo da temperatura B da figura 100), ocorre a possibilidade feroidização da cementita. Os mecanismos desses processos são análogos
de formação da perlita (linha BE). Por exemplo, na temperatura T2 , após aos mecanismos vistos no §5.4, para os processos de obtenção da esfe-
precipitação sem incubação da grafita, ocorre no período assinalado pe- roidita nos aços.
los pontos 3-4 a decomposição eutetóide pelo modelo A -+ F + G. A Mantendo teor elevado de manganês (até 1%) , é possível retar-
partir do momento correspondente ao ponto 4, inicia-se a transformação dar a grafitização da cementita da perlita, para conservar a perlita e,
perlítica (A -+ F + C) . .No momento correspondente ao ponto 5, am- com ajuda de esferoidização, obter ferro fundido maleável com matriz
bos os processos eutetóides (A -+ F + G e A -+ F + C) conduzem à de esferoidita.
eliminação completa da austenita, e a estrutura do ferro fundido con- O ferro fundido com matriz de perlita granular diferencia-se
siste de grafita de recozimento, ferrita e perlita. Quanto maior o grau pela combinação de elevada resistência e alta dutilidade, bem como
de super-resfriamento, (ou maior a velocidade de resfriamento com di- pela boa usinabilidade e elevadas propriedades antifricção. Com <IR =
minuição contínua da temperatura), maior a fração d~ austenita que se 600MPa e alongamento relativo de 10%, ele pode substituir aço fundido
decompõe pelo esquema A -+ F + C. Se o resfriamento do lingote no e aço forjado. Com ferro fundido maleável de perlita granular prepara-se
intervalo de transformação eutetóide não se tornar lento, obtém-se ferro até peças de responsàbilidade, como eixos de conexão e eixos de distri-
fundido maleável puramente_perlítico. Sua estrutura consiste de grafita buição.
de recozimento na matriz perlítica. O recozimento de ferro fundido branco para maleável é um
A perlita é aproximadamente 2,5 vezes mais resistente e dura processo prolongado, com duração de dezenas de horas. Na produção, o
que a ferrita, porém é menos dútil. Por isto, com a elevação da quanti- recozimento de ferro fundido maleável é a operação mais cara, influen-
dade de perlita na estrutura do ferro fundido maleável, crescem as pro- ciando fortemente no custo da fundição. Por isto foram aperfeiçoadas
priedades de resistência, e a dutilidade diminui. Por exemplo, no ferro várias possibilidades de aceleração do recozimento.
fundido maleável ferrítico de marca KT37-12, O"R = 370MPa e 8 = 12%, Bastante efetiva é a exposição prévia a temperaturas próximas
e no ferro fundido perlítico de marca KT63-2 O"R = 130MPa e 8 = 2%. a 400ºC durante aproxim~damente 6 horas, para elevar a quantidade de
/. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 227
226
capítulo 6

centros de grafitização no primeiro estágio. 6.2. Normalização do ferro fundido.


Pequenas adições de modificadores (0,02% Ae e 0,003% B)
também aceleram a grafitização. O tratamento térmico de endurecimento do ferro fundido cin-
A têmpera prévia da peça de ferro fundido branco em óleo ace- zento não teve a ampla difusão do tratamento térmico do aço. Isto se
lera bruscamente a grafitização, graças à formação de grande quantidade explica pelo fato de que os veios de grafita, que atuam como entalhes,
de submicrotrincas de têmpera, preenchidas com carbono de recozimento diminuem fortemente a resistência e a dutilidade da matriz metálica.
no primeiro estágio de grafitização. Porém,. este tratamento é utilizado Por isto, a modificação de sua estrutura com o tratamento térmico não
apenas em pequenas peças de formato simples. produz grande efeito de endurecimento, e freqüentemente não é rentável.
6.1.2. Recozimento de eliminação de coquilhamento. Nas seções São mais efetivos os tratamentos térmicos dos ferros fundidos para obter
finas dos lingotes de ferro fundido cinzento e de ferro fundido de elevada formas de grafita mais vantajosas. Em particular, nos ferros fundidos
resistência com grafita em forma de nódulos, devido à aceleração do de elevada resistência, com grafita nodular. A normalização está rela-
resfriamento, cristaliza-se a ledeburita, isto é, o ferro fundido obtido é cionada corn o tipo de tratamento térmico do ferro fundido, o qual eleva
branco. Para melhorar a usinabilidade e elevar a dutilidade, realiza-se a resistência, a dureza e a resistência ao desgaste.
recozimento de grafitização para eliminar o coquilhamento dos lingotes. A normalização do ferro fundido é o tratamento térmico no
Os ferros fundidos cinzentos e de elevada resistência contêm qual os processos principais são a austenitização seguida de
maior quantidade de silício do que o maleável (até 3,3%). Por isto a transformação perlítica. A normalização é aplicada principalmente
grafitização desenvolve-se mais rapidamente. Sendo assim, o tempo e nos lingotes com matriz de ferrita e ferrita-perlita, e raramente no ferro
a temperatura de recozimento para eliminação de coquilhamento são fundido de matriz perlítica. Aquece-se o lingote até 850-950ºC, e após
menores do que no recozimento do ferro fundido branco para maleável. exposição d.e 0,5-3 horas resfria-se em ar calmo ou com corrente de ar.
Para eliminar o coquilhamento, o lingote é aquecido até 850-950ºC. Após. Nos lingotes de formato complexo, para eliminar as tensões residuais
exposição de 0,5-5 horas, resfria-se ao ar. Dependendo da velocidade de recomenda-se, a partir da temperatura de aproximadamente 500ºC, res-
resfriamento e da composição da matriz do ferro fundido, nas regiões friar no forno.
mais coquilhadas obtém-se perlita ou ferrita-perlita. Com aquecimento, há inicialmente a austenitização, que inclui
6.1.3. Recozimento de amolecimento à baixa temperatura. Es- a transformação a - 'Y, a solubilização da grafita e da cementita da per-
. te recozimento é utilizado em lingotes de ferro fundido cinzento com lita na austenita (se a matriz contém perlita). Após a austenitização,
matriz de perlita ou perlita-ferrita, para diminuição da dureza, melho- a estrutura do ferro fundido consiste de austenita e grafita. Com aque-
rando assim a usinabilidade e elevando a resistência à fadiga. O lingote cimento posterior, a grafita dissolve-se parcialmente na austenita, em
é aquecido a 670-750ºC durante 1-4 horas, para grafitização parcial da correspondência com o curso da linha S'E' e, quantitativamente, cresce
cementita da perlita. Paralelamente ocorre a esferoidização parcial da o carbono combinado.
cementita. O mecanismo destes processos é o mesmo que durante a ex- No caso de aceleração do resfriamento ao ar, há decomposição
posição isotérmica no segundo estágio da grafitização do ferro fundido perlítica da austenita, e toda a matriz adquire estrutura de perlita ou
maleável. sorbita. Consegue-se o endurecimento com a normalização graças a dois
Finalmente assinalamos que o recozimento de grafitização é fatores: eliminação da ferrita de estrutura livre (elevação da concen-
também utilizado em aços hipereutetóides, ligados com silício (1-2%) tração de carbono combinado em cementita), e elevação da dispersão da
ou níquel (5-10%), o que possibilita a formação de grafita. As inclusões perlita. A dureza do ferro fundido cresce de 150 HB para 200-250 HB. O
de grafita compacta no aço hipereutetóide garante boas propriedades an- efeito de endurecimento depende da estrutura inicial. Obtém-se maior
tifricção e resistência ao desgaste. A resistência e o limite de tenacidade endurecimento com a normalização do ferro fundido ferrítico pois esta
do aço grafitizado são maiores do que do ferro fundido maleável. matriz macia de ferrita é substituída pela matriz perlítica mais dura.
228 l. l. Novikov
Recozimento dos metais e ligas nãojerrosas
capítulo 7
Com a normalização do ferro fundido perlítico, eleva-se apenas a dis-
persão do eutetóide. Porém, mesmo neste caso, a resistência ao desgaste
pode crescer em uma vez e meia.

O recozimento de segundo tipo para metais e ligas não-ferrosas


não é, tecnologicamente, tão amplamente utilizado quanto nos aços e
ferros fundidos.
Em muitos metais e ligas não-ferrosas industriais, como por
exemplo os latões, bronzes e ligas eletrotécnicas de níquel, estão au-
sentes as transformações de fase no estado sólido, e não se utiliza nas
mesmas o recozimento de segundo tipo. Outras ligas não-ferrosas pas-
sam por transformações de fases no estado sólido. Porém, o recozimento
de segundo tipo provoca mudanças de propriedades tais que seu emprego
não tem utilidade.
Dependendo do tipo das transformações de fases, os recozi-
mentos de segundo tipo se diferenciam em duas espécies: recozimento
·.de heterogeneização e recozimento com transrecristalização de fase. ~i
1

7.1. Recozimento de heterogeneização.

O recozimento de heterogeneização é um tratamento térmico


cujo processo principal consiste na possibilidade de maior precipitação
de uma ou algumas fases, a partir da fase matriz.
Na imensa maioria das ligas a fase matriz é uma solução sólida
com base no metal principal, e a fase livre tem como base o soluto.
A este tipo de material estão relacionadas todas as ligas endurecíveis
termicamente: de alumínio, magnésio, cobre, níquel e outras ligas, como
por exemplo o duralumínio, bronze de berílio, eléctron, nimonic. Entre
as ligas não-ferrosas, este grupo é o mais abudante.
Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 231
230 /. /. Novikov
capítulo 7

para diminuir ao máximo o grau de concentração na solução sólida (em


A quantidade relativa de fases que se dissolvem completamente
correspondência com a linha ac, fig. 101).
na solução sólida com o aquecimento, e que se precipita de volta com
0 resfriamento lento, não ultrapassa 10-153 do volume da liga. Com
esta transformação de fases não ocorre aquela modificação radical da
estrutura através de todo o volume, como no recozimento de aços ao
carbono com aquecimento acima do ponto A3. O tipo de rede cristalina
da fase matriz não se modifica com a solubilização nela ou a preci-
pitação a partir dela. O recozimento, que inclui apenas processos de
solubilização e (ou) precipitação, conduz apenas à modificação de con-
centração dos componentes na fase matriz e à quantidade, tamanho e
também forma das partículas das fases precipitadas. Estas mudanças
estão baseadas na utilização do recozimento de heterogeneização. Os
seus objetivos podem ser os mais va.riados. Na discussão da possibi-
lidade de obtenção de grão ultrafino em folhas de liga B95 (fig. 55)
já foi visto o recozimento de heterogeneização antes da laminação a
frio, utilizado para precipitação de partículas, as quais possibilitam A
B, 0/o --
a elevação da quantidade de núcleos de recristalização durante o re-
cozimento de recristalização (§2.11 item 2). Abaixo veremos outros
casos de utilizaçã.o do recozimento de heterogeneização de ligas não- Figura 101. Esquema para explicação da escolha do regime de recozi-
mento pleno (T RP) e não pleno (TN p) de amolecimento por hetero-
ferrosas.
geneização.
7.1.1. Recozimento de heterogeneização para amolecimento
de semifabricados deformados. Em muitas ligas, a estrutura hete- Quanto menor a concentração na màtriz da solução, e maior a
rogênea com a precipitação de fase livre a partir da matriz da solução, distância entre as inclusões, maior a estabilização com o recozimento.
que ocorre no resfriamento lento desde a temperatura de recozimento, A maioria das ligas de alumínio estabilizadas termicamente são
conduz à estabilização, utilizada com vários objetivos. submetidas a recozimento de completo amolecimento a 380-420ºC du-
O recozimento pleno de amolecimento é utilizado para todas rante 10--60 minutos, com posterior resfriamento a velocidade não maior
as ligas estabilizáveis termicamente (tipo duralumínio, aérea e outras). que 30ºK/ hora.
O objetivo do recozimento é amolecer o material, torná-lo dútil diante No recozimento completo, além do processo básico de hetero-
da estampagem, fllexão, bordeamento e outras operações de tratamento geneização, pode ocorrer também a recristalização, a qual exerce sua
por pressão a frio. A aceleração do resfriamento ao ar de bobinas lami- influência na estabilização. Por exemplo, quando isto ocorre, devido à
nadas a quente, desde a temperatura de laminação, conduz à têmpera baixa temperatura final de laminação a quente, a folha fica encruada.
parcial (subtêmpera). O recozimento de heterogeneização para amole- Contudo, o regime de recozimento para completo amolecimento é esco-
cimento das bobinas, por exemplo de duralumínio, permite, na poste- lhido a partir da exigência de estrutura de heterogeneização, que estabe-
rior laminação a frio, elevar o grau de redução sem recozimento inter- lece resfriamento lento, ao passo que no recozimento de recristalização
mediário. pura de ligas monofásicas a velocidade de resfriamento não tem signi-
ficação.
No recozimento de amolecimento completo aquece-se a liga até
O recozimento incompleto de amolecimento (ou reduzido), que
a temperatura da região monofásica, como por exemplo até a tempera-
estabiliza termicamente as ligas, é conduzido em temperatura abaixo da
tura Trp na figura 101, e depois, muito lentamente, no forno, resfria-se
232 /. /. Novikov
Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 233
capítulo 7

solvus, para que, durante a exposição, a precipitação de segunda fase


O recozimento de amolecimento reduzido da maioria das ligas
diminua fortemente a concentração na matriz da solução (até o ponto Q
de alumínio é realizado a 350-370ºC com exposição de 2-4 horas, e
na temperatura Trp da figura 101). resfriamento no ar ou na água.
Para muitos sistemas é característica a grande variação de solu-
O recozimento de heterogeneização para amolecimento é utili-
bilidade no estado sólido, na região de temperaturas elevadas, e é muito
zado não apenas nas ligas de alumínio. Por exemplo, o latão (a+ /3),
fraca esta variação na região de temperaturas mais baixas (compare as
como resultado de aceleração do resfriamento desde a região (3, após
inclinações das regiões solvus ab e bc na figura 101). Por isto, o resfria-
tratamento de deformação a quente, tem reduzida d utilidade (devido
mento desde a temperatura de recozimento incompleto pode ser mais
à grande quantidade de fase (3). Este defeito pode ser eliminado com
rápido (no ar ou na água), de tal forma que não surja um supersatura-
resfriamento lento, durante o qual precipita mais plenamente a fase a
mento tão forte na matriz da solução.
dútil, a partir da fase /3 (Por exemplo, a liga com 40% Zn, fig. 103).
Devido às temperaturas menores do recozimento incompleto,
o tempo de exposição nesta temperatura deve ser maior do que no re-
T,ºC
cozimento completo. Contudo, a duração total do tratamento térmico
diminui devido ao posterior resfriamento rápido.
goo
Na figura 102 mostra-se que, para estabilização máxima do du-
ralumínio D 16 , a temperatura de recozimento no caso de resfriamento
700
no forno deve ser próxima a 380-400ºC, e no caso de resfriamento ao
ar, próxima a 350-370ºC. Para temperaturas de recozimento mais, a~tas,
as fases de Cu Al2 se dissolvem rapidamente na solução de alumm10, e
com o resfriamento posterior ao ar ocorre subtêmpera, a qual eleva a
resistência.
I
I
I
!00 .__....___._~-~~
Cu !O 20 JO 40 50
320 ln,%

Figura 103. Diagrama de equilíbrio do sistema Cu-Zn.


ó:'. 240
::!!
ó
..g200 7.1.2. Recozimento de heterogeneização para melhorar a defor-
mabilidade dos lingotes. No tratamento de deformação a quente das
ligas de alumínio, a melhoria da deformabilidade é conseguida quando a
concentração dos elementos de liga na solução sólida à base de alumínio
é mínima, e as partículas da fase livre não são muito grandes e pos-
Figura 102. Influência da temperatura de recozimento após laminação suem forma compacta. Nos lingotes destinados à prensagem, o tamanho
a frio no limite de resistência do duralumínio Dl6, para duas velocida- ótimo das partículas da fase livre encontra-se no intervalo de 1 a 5 µm.
des d~ resfriamento (segundo dados de V.A. Livanov e S.M. Voranov).:
As partículas de tamanho maior diminuem a dutilidade, e as menores
1 - Resfriamento no forno até 200ºC 2 - Resfriamento ao ar.
se solubilizam rapidamente na temperatura de prensagem. Com isto, a
deformabilidade piora devido à elevação da concentração dos elementos
234 /. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 235
capítulo 7

de liga na solução de alumínio. de dispersão e com distribuição ótima das partículas de segunda fase
O recozimento de homogeneização pode não garantir a defor- permitir a elevação da resistência à corrosão, esta estrutura recebe um
mabilidade ótima para o lingote. Com a aceleração do resfriamento recozimento de heterogeneização. Por exemplo: a resistência máxima à
desde a temperatura de homogeneização, a quantidade de elementos de corrosão sob tensão do magnálio de marca AMg6 é garantida pela es-
liga na solução sólida encontra-se diminuída, e com resfriamento lento trutura bifásica, na qual a fase ,6(Ah Mg2 ) é distribuída uniformemente
podem precipitar-se partículas de fase livre a partir da solução sólida, nos grãos da solução de alumínio. Isto se consegue com recozimento do
cujo tamanho é maior que 10 µm. magnálio a 320ºC, antes da última deformação a frio.
Se o lingote, após o término da homogeneização, for resfriado
7.1.4. Influência do sobreaquecimento no lingote de latão (o:+
abaixo da linha solvus até a temperatura de estabilidade mínima da
solução sólida super-resfriada, e permanecer nesta temperatura, após (3). Os contornos de grãos em ligas fundidas são bastante estáveis. Nu-
um tempo relativamente curto a concentração de elementos de liga na ma liga fundida monofásica, como por exemplo no latão o:, os grãos
praticamente não crescem com o aquecimento.
solução de alumínio diminui bruscamente (por exemplo, em 3 horas a
350ºC no caso da liga D 16 ). Apesar disto, precipitam-se partículas da O latão (o:+ ,6) comporta-se de outra maneira (fig. 10a). Com
fase livre, com tamanho de 1 a 5 µm. Como resultado de tal recozimento a passagem da região o: + (3 para a ,6, é possível nos lingotes um
de heterogeneização do lingote, a pressão de prensagem diminui, e cresce forte crescimento de grão (fenômeno de sobreaquecimento). O tamanho
de 1,5 a 3 vezes a velocidade limite admissível de saída (velocidade para a de grão f3 pode alcançar alguns centímetros (fig. 104). O crescimento
qual ainda não aparecem fissuras). Isto permite elevar substancialmente brusco de grão é causado pelo encruamento de fase devido à variação do
a pr~dutividade da instalação de prensagem. Melhora muito a defor- volume específico com a dissolução da fase a na fase f3 (A. A. Bochivar).
mabilidade na prensagem das ligas AD33 e AD35, do sistema Al-Mg-Si Este crescimento também pode ser causado pela diferença entre os coefi-
(tab. 3). cientes de dilatação térmica das duas fases. Há uma heterogeneidade de
distribuição da fase a de um lado para o outro dos contornos de grão (J.
Isto provoca uma desuniformidade no encruamento localizado. O con-
Tabela 3. Pressão máxima de prensagem Pmax e velocidade limite admissível torno de grão (J migra no sentido da região mais encruada, "limpando"
de saída (ver) na. prensagem de lingotes de ligas de alumínio (V. V. Zarrarov). as discordâncias no seu caminho: um grão /3 cresce às custas do vizinho.
Depois que grãos isolados "escapam adiante" em suas dimensões, eles
Regime de Regime de
Recozimen- Pmax Ver Recozimen- Pmax Ver
crescem às custas da massa dos grãos menores (neste estágio o processo
Liga Liga é análogo à recristalização secundária).
to do lin- MP a m/mim to do lin- MPa m/mim
gote• gote* Quanto menor a fase a na estrutura inicial, tanto menor deve
AD33 1 105 40 Dl6 1 180 4,0 ser o encruamento de fase com o aquecimento do lingote de latão (a
2 95 110 2 160 6,0
AD35 1 105 35 + (3), e, menor a tendência ao crescimento de grão. Por exemplo: no
2 95 170 ! B95 1 160 1,7 lingote de latão com 40% Zn, a fração volumétrica da fase (J na tempera-
D1 1 165 5,3 1
2 150 2,1
2 150 10,4 1 tura ambiente constitui 80%, e no latão com 45% Zn, aproximadamente
5% (fig. 103). Em correspondência com o processo indicado, o cresci-
* Regime 1 Lingote resfriado no ar desde a temperatura de homogeneização. mento violento de grãos (3 é observado apenas na primeira liga. Com a
* Regime 2 - Após homogeneização utiliza-se recozimento de heterogeneiza- modificação repetida da temperatura (20 ~ 820ºC), resfriamento lento
ção. para maior precipitação de fase a e rápido aquecimento para garantir
forte encruamento de fase, o lingote pequeno de latão com 40% Zn pode
7.1.3. Recozimento de heterog1eneização para elevação da re- transformar-se paulatinamente em monocristal de fase /3 (após o último
sistência à corrosão. Se uma estrutura bifásica com determinado grau aquecimento se realiza têmpera).
Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 237
236 1. l. Novikov
capítulo 7

O urânio abaixo de 668ºC possui rede a romboédrica e de


668ºC até 774ºC, rede (J tetragonal. No início do desenvolvimento ' da
teoria atômica foi estabelecido que, se uma peça de urânio policristalina
for submetida a aquecimento e resfriamento repetidos, em temperatura
de existência da fase a, ele muda suas dimensões. Com trabalho por
pressão, a peça alonga-se fortemente, "cresce" em uma direção e reduz-
se na outra (fig. 105).

Figura 105. "Crescimento" de vara de urânio laminada a 300ºC(Chi-


zuik e Kelman).: acima - vara antes da ação de variação de calor.
abaixo - mesma vara após 3.000 variações de ação de calor, no intervalo
de 50-550° e.
Figura 104. Grão gigante que se forma com o super-aquecimento do
lingote de latão( a+ /3). Diminuição de 2,5 vezes. O fator mais importante que determina o valor do "cresci-
mento" do urânio é a textura, a qual surge durante o tratamento por
Do diagrama de equilíbrio Cu-Zn (fig. 103) conclui-se que a pressão na região a. A orientação preferencial dos cristais na peça de
quantidade de fase a no latão (a + (3), com a diminuição do teor de zinco, urânio conduz a uma forte anisotropia de dilatação térmica. Por causa
cresce de O até 1003. Na estabilização térmica das ligas de alumínio, disto, durante os ciclos térmicos surgem tensões e modificações dirigidas
magnésio e cobre, a quantidade da segunda fase é relativamente pequena, nas dimensões da peça. Para evitar o fenômeno indesejável de "cres-
e as mudanças de volume com a solubilização destas fases não conduzem cimento" do urânio, é necessário eliminar a textura que se forma com
a um encruamento de fase suficientemente forte. Por isto, nestas ligas tratamento por pressão na região a.
no estado fundido, o aquecimento com passagem através do limite de Se a barra de urânio com grande manifestação de textura é
solubilidade na região monofásica, com raras exceções, não conduz ao aquecida até temperatura da região (J (acima de 668ºC), e depois res-
forte crescimento de grão da solução sólida da matriz. friada, ocorre a transrecristalização de fase, além do que os cristais a for-
mados com a transformação polimórfica (3 ~ a não adquirem orientação
7.2. Recozimento com transrecristalização defase. preferencial. Conseqüentemente, a transrecristalização de fase elimina
a textura. Como resultado disto, em todas as direções o coeficiente de
dilatação térmica permanece igual. Depois deste tratamento térmico, a
O recozimento com transrecristalização de fase é um tratamento velocidade de "crescimento" da vara de urânio com a ação de variação
térmico no qual o principal processo é a transformação polimórfica nor- térmica diminui bruscamente.
mal ou a transfarmação eutetóide. Este recozimento conduz à trans-
Quanto maior o tamanho de grão, mais rigorosa a aspereza da
formação radical por todo o volume do material.
superfície da peça de urânio, que surge com a ação de ciclos térmicos
A transformação polimórfica nos metais pode ser utilizada para
repetidos. O grão de urânio pode dimiuir com transrecristalização de
eliminação de textura e modificação do tamanho de grão. Com relação
fase. O tamanho dos grãos a diminui com a aceleração do resfriamento
a isto, um interessante exemplo é o tratamento térmico do urânio (de-
desde o estado (J.
nominado tratamento térmico (J).
238 /. /. Novikov PARTE III
Têmpera
Por analogia com o urânio, a transformação polimórfica pode
ser usada em outros metais e soluções sólidas não-ferrosas, para eli-
minação da textura e refino do grã.o.
A transformação eutetóide em ligas não-ferrosas ainda é rara-
mente utilizada como base do recozimento de 22. tipo.
Concluindo, assinalamos que, nas transformações polimórfica e
eutetóide, o aquecimento acima do ponto crítico pode conduzir ao forte
crescimento dos grãos deformados, e também dos grãos dos metais e
ligas fundidas e deformadas.
A têmpera é um tratamento térmico no qual o principal processo
é a formação de estrutura de não-equiliôrio durante a aceleração do
resfriamento.
Existem três tipos de têmpera que se diferenciam, em princí-
pio, um do outro: têmpera com transformaçãó polimórfica, têmpera sem
transfarmação polimórfica e têmpera com fusão superficial.
A têmpera com transformação polimórfica (ou têmpera em ma-
tensita) é utilizada pelo homem há muito tempo, antes de nossa era.
Durante muitos séculos esta foi a possibilidade básica de endurecimento
dos aços. Atualmente, a têmpera em martensita é utilizada não apenas
no aço, mas também em ligas não-ferrosas.
A têmpera sem transformação polimórfica foi descoberta no li-
miar do século XX. Sua utilização industrial começou ao mesmo tempo
em que se passou a utilizar duralumínio na construção aérea. Desde as
décadas de 20 e 30, a têmpera sem transformação polimórfica, junta-
mente com o envelhecimento, tornou-se a possibilidade básica de endu-
recimento da.S ligas à base de metais não-ferrosos.
A têmpera com fusão superfieial é um novo tipo de tratamento
térmico, o qual tem utilização significativamente mais estreita, em com-
paração com os dois primeiros tipos de têmpera. Ela surgiu na década
de 70, quando iniciou-se a utilizar o aquecimento da peça por raios laser
na indústria.
Os parâmetros básicos de qualquer tipo de têmpera são a tem-
peratura de aquecimento, o tempo de exposição e a velocidade de res-
friamento.
A temperatura de aquecimento e o tempo de exposição de-
vem ser tais que ocorram as modificações de fase necessárias, como por
240 /. /. Novikov
Têmpera sem transformação polimórfica
capítulo 8
exemplo a formação de fase estável em elevadas temperaturas a partir
de uma ou várias fases estáveis em baixas temperaturas, solubilização
de fase livre na matriz e outras. Neste sentido, a têmpera é análoga ao
recozimento de 22 tipo.
A velocidade de resfriamento na têmpera deve ser suficiente-
mente grande para que sejam evitadas, durante a diminuição de tempe-
ratura, as transformações de fases por difusão bem como a formação de
estrutura metaestável. Nisto a têmpera se diferencia do recozimento de
22 tipo.
A têmpera sem transformação polimórfica é um tratamento tér-
mico de fixação em temperatura mais baixa, do estado adquirido pela liga
em temperaturas mais altas.
A têmpera sem transformação polimórfica é utilizada em qual-
quer liga na qual uma fase se dissolve parcial ou totalmente na outra.
Por exemplo, na liga Co da figura 106, com o aquecimento até Ttemp. a
fase f3 se dissolve na matriz de fase a. Com o retorno em resfriamento
lento, a fase /3 se precipita a partir da fase a, na qual a concentração
do componente /3 diminui em correspondência com o caminho da linha
solvus Nb*
Como as composições das fases a e f3 são diferentes, a preci-
pitação da fase /3 está relacionada com redistribuição dos componentes
por difusão. Com resfriamento suficientemente rápido, a redistribuição
por difusão, necessária para nucleação e crescimento de cristais da fase
/3, não se consegue processar. Com isto, a fase f3 não se precipita a
partir da fase a. Após este tratamento térmico (têmpera), na tempera-
tura ambiente a liga consiste de uma fase a, como na temperatura de
têmpera.
Na temperatura de aquecimento de têmpera Ttemp-, a solução
sólida da liga Co está subsaturada. Depois da têmpera, a solução a
na temperatura ambiente possui a mesma composição que na tempera-
tura de têmpera. Porém, ela está supersaturada, pois a solubilidade da
solução corresponde ao ponto b.
Desta maneira, com a têmpera sem transfarmação polimórfica,
f arma-se solução super-saturada. Esta têmpera, em princípio, não é uti-
*A linha solvus é a denominação da curva de limite de solubilidade no estado sólido.
242 /. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 243
capítulo 8

ferentes temperaturas tem-se diferenciação na composição química das


fases.

8.1. Variação das propriedades com a têmpera sem transformação


polimórfica.

A variação das propriedades com a têmpera depende da com-


posição de fase e das particularidades da estrutura da liga nos estados
inicial e temperado, das condições de t€:mpera, .dos tratamentos prévios
e de outros fatores. A direção e o valor dá variação das propriedades em
ligas diversas são bastante diferenciados.
Figura 106. Esquema para a explicação da têmpera sem transformação
Encontra-se a afirmação errônea de qí.le a têmpera sempre con-
polimórfica. duz ao endurecimento, além do que os termos "têmpera" e "endureci-
mento" com freqüência são considerados, erroneamente, como sinôni-
lfaada em metal puro. A têmpera sem transformação polimórfica, como mos. Na realidade, têmpera pode tanto endurecer como amolecer as
analisada para a liga Co, é ampllamente utilizada em ligas de alumínio, ligas. Em algumas ligas a têmpera eleva a resistência e diminui a plasti-
magnésio, níquel, cobre e outras ligas, bem como em alguns aços ligados. cidade. Em outras, ao contrário, diminui as características de resistência
e eleva os índices de plasticidade. Em outras eleva a resistência e a plas-
Com a têmpera nem sempre se fixa um estado monofásico. Por
ticidade. Finalmente, em muitas outras ligas nas quais, em princípio,
exemplo, na liga C 2 (fig. 106), em qualquer temperatura, até mesmo a
pode-se utilizar a têmpera, ela praticamente não modifica as proprieda-
eutética subsiste a fase {3. Na temperatura de têmpera Ttemp., nesta
des.
liga, endontra-se a solução sólida com solubilidade do ponto m e fase li-
Nas ligas industriais não se observa um forte endurecimento
vre f3 não dissolvida. Com resfriamento suficientemente lento, devido à
com uma brusca diminuição simultânea da plasticidade, quando as mes-
precipitação da fase f3 a partir da solução a, a composição desta última
mas são submetidas à têmpera sem transformação polimórfica.
deve modificar-se de acordo com a linha mb. Com resfriamento rápido
Com a têmpera sem transformação polimórfica de ligas defor-
ocorre a têmpera: a fase f3 não consegue precipitar-se a partir da solução
madas, o caso mais freqüente é a elevação da resistência com a con-
oi e a composição desta última na temperatura de têmpera é determi-
n~da pelo ponto m. Conseqüentemente, a liga temperada C2 consiste servação de elevada plasticidade, a qual pouco se diferencia da plasti-
cidade da liga recozida. Um exemplo típico é o de duralumínio Drn
da mistura da solução a de composição do ponto m e fase livre f3 que
(tab. 4).
não se dissolveu com o aquecime111to de têmpera. Com a têmpera da liga
Mais raramente, encontram-se ligas nas quais a resistência di-
C 2, fixa-se o estado que era estável na temperatura de aquecimento de
minui com a têmpera, e cresce fortemente a plasticidade, em comparação
têmpera.
com o estado recozido. O exemplo típico é o bronze de berílio BpB2
Ao se iniciar o estudo de tratamentos térmicos, às vezes há en- (tab. 4). No aço inoxidável com cromo-níquel 12X18H9, o alongamento
gano em se considerar que a têmpera é utilizada apenas para aquelas relativo com a têmpera após a laminação a quente cresce desde 20 até
ligas, como por exemplo na liga Co da figura 106, na qual a ordenada 45%. Nos semifabricados de ligas como o bronze de berílio e o aço
no diagrama de equilíbrio cruza a linha de equilíbrio de fases no estado 12X18H9, para elevar a plasticidade, antes da deformação a frio, não se
sblido. Porém, como foi mostrado no exemplo da liga C2, isto não é faz recozimento prévio, mas sim têmpera.
absolutamente obrigatório. Em princípio, a têmpera sem transformação A elevação ou diminuição da resistência com a têmpera de-
polimórfica é sempre possível, quando no estado de equilfbrio em di- pende do seguinte. Com a elevação da concentração de elemento de
/. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 245
244
capítulo 8

Tabela 4. Propriedades mecânicas de ligas em lingotes nos estados recozido e


da fase livre, como na liga de alumínio AL8 (dissolve-se Ah Mg 2 ) e na
temperado. liga de magnésio ML5 (dissolve-se Mg7 Ali 2 ). Após a têmpera estas
ligas são praticamente monofásicas (tab. 4). Nas ligas de alumínio e
<Tfü MPa 8% <Tfü MPa 8% silício Al9, com a têmpera cresce a plasticidade, graças à dissolução
Liga Reco- Tempe- Reco- Tempe- Liga Lingo- Tempe- Lingo- Tempe- das partículas, bem como devido ao coalescimento e dissolução plena do
zida rada zida rada te rada te rada silicieto Mg2 Si.
D16 200 300 25 23 AL8 150 300 1 12 A significação básica da têmpera sem transformação polimórfi-
BpB2 550 510 22 46 AL9 160 200 2 6 ca é a preparação da liga ·para o envelhecimento. A têmpera de algumas
MLs 160 250 3 9
ligas (Bp B2, 12x18 H9) é utilizada como a operação intermediária de
amolecimento (no lugar do recozimento), antes da deformação a frio. Fi-
liga na solução sólida, aumenta a resistência. Por isto, a solução super- nalmente, a têmpera serve como tratamento térmico final para fornecer
saturada na liga temperada é mais resistente do que na solução menos à peça a complexidade necessária de propriedades. As ligas monofásicas
ligada da liga recozida. A resistência da liga recozida é determinada pela temperadas podem possuir plasticidade significativamente maior e re-
resistência da solução matriz, e também pelo tamanho e estrutura das sistência à corrosão mais elevada do que envelhecida. A liga AL8 de
partículas de fase livre, bem como pela distância entre estas partículas. alumínio fundida é utilizada apenas no estado temperado, exatamente
Consideremos que na liga recozida a inibição ao movimento das dis- por este motivo.
cordâncias na fase livre não tem grande influência na resistência da mis-
tura bifásica (devido à grande distância entre as partículas). Neste caso,
8.2. Aquecimento e resfriamento na têmpera sem· transformação
com a têmpera há endurecimento da solução, graças ao fato de que a
polimórfica.
elevação da solubilização de elementos de liga compensa o amolecimento
relacionado com a dissolução da fase livre. Com isto, a resistência da
liga aumenta. Se a dissolução da fase livre conduzir a forte amoleci- 8.2.1. Aquecimento na têmpera. A possibilidade de dissolver o
mento, o qual supera o crescimento da resistência relacionado com a máximo possível de fases livres na fase matriz é a premissa básica inicial
elevação da concentração na solução matriz, então a liga amolece com para escolha da temperatura de têmpera.
a têmpera. O efeito total ·depende do valor da mudança de solubili- Se a liga se encontra numa região do diagrama de equilíbrio
dade com o aquecimento de têmpera e o crescimento da resistência da na qual é possível com aquecimento passar inteifamente para a região
solução matriz, que se dá com cada ponto percentual de elemento que monofásica (liga Co, fig. 106), a temperatura de têmpera deve encontrar-
se solubiliza. se acima da linha solvus do sistema binário. Com aquecimento da liga
Com a têmpera de lingotes de ligas, habitualmente crescem a Co a uma temperatura abaixo de T0 , conserva-se a fase /3 não dissolvida,
resistência e a plasticidade em relação ao estado recozido dos mesmos e a matriz de solução a fica menos ligada do que na têmpera a partir de
(ligas AL8, AL9 e ML5, tab. 4). Na estrutura dos lingotes de ligas indus- uma temperatura acima de To.
triais as fases livres encontram-se habitualmente na forma de partículas O limite superior do intervalo de temperaturas para evitar su-
relativamente grandes, com elevadas distâncias entre elas. Após a dis- peraquecimento é escolhido abaixo do ponto solidus da liga, levando-se
solução das mesmas, a resistência da liga fica maior, devido à maior em consideração a possibilidade de queda da temperatura e o controle

j
quantidade de elementos de liga na matriz da solução. exato da mesma. No limite da linha solidus é destruida a ligação entre os
Para inclusões grosseiras e frágeis da fase livre, por exemplo grãos, e com a ação das tensões da têmpera surgem fissuras intercrista-
inter-metálicos, ocorre descolagem e deslizamento na liga fundida. Por linas. Podem não se manifestar fissuras pequenas, porém elas diminuem
isto, a plasticidade da liga após a têmpera revela-se maior. A plastici- a dutilidade, tenacidade e resistência à fadiga. Com o superaquecimento
dade cresce de maneira particularmente forte com a dissolução completa podem aparecer poros de contração, principalmente nos pontos de con-
/. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 247
capítulo 8

fluência tripla dos grãos. As propriedades mecânicas diminúem com o 510ºC, na liga D16, de 490 a 500ºC, e no duralumínio de alto magnésio
superaquecimento, devido à formação, no processo de têmpera, de ca- D19P, de 502 a 508ºC. Nos duralumínios, o limite superior do intervalo
madas intercristalinas de fase frágil, como resultado da cristalização de de temperaturas de têmpera pode diferenciar-se do ponto solidus, ao
não-equilíbrio de regiões fundidas, ricas em elementos de liga. Além todo, de alguns graus. A manutenção da temperatura de aquecimento
disto, o superaquecimento causa penetração rápida pelas regiões fundi- de têmpera em um intervalo muito estreito é possível apenas em banhos
das de componentes da atmosfera do forno, o que conduz à formação de sal e fornos com circulação forçada de água.
de óxidos e bolhas gasosas. Na amostra polida, um superaquecimento Um exemplo oposto são as ligas deformadas e fundidas de
pequeno reflete-se na forma de engrossamento dos contornos de grão. O alumínio, na base do sistema Al-Zn-Mg, nas quais o intervalo possível
superaquecimento é o defeito mais perigoso e U-reversível. de temperaturas é uma ordem de grandeza (!) maior do que nos du-
A amplitude possível do intervalo de temperaturas de têmpera ralumínios, e consiste de aproximadamente 150°0. As ligas deste sis-
é determinada, em um sistema de dois componentes, pela "forquilha" tema podem ser temperadas desde temperaturas de 350-500°0. É claro
entre pontos solídus e solvus. Na figura 106 é visível que na liga C~ o que estas ligas são incomparavelmente mais fáceis de aquecer antes da
intervalo possível de temperaturas de têmpera é maior do que na liga Co. têmpera, sem perigo de superaquecimento ou subaquecimento.
Na têmpera de ligas fundidas, que, diferentemente das defor-
Se o intervalo possível de temperaturas de têmpera é suficien-
madas, não passam por recozimento prévio dc:J homogeneização ou por
aquecimento tecnológico para trabalho de deformação a quente, é ne- temente amplo, dentro deste intervalo escolhe-se a maior temperatura
possível de aquecimento, para reduzir a duração da solubilização das
cessário levar em consideração a fusão do eutético de não-equilíbrio (li-
fases livres. Contudo, a temperatura limite de têmpera pode ser limi-
nha pontilhada, fig. 2). Há o caso em que, para a dissolução completa
tada não pelo solidus mas pelo crescimento de grão na liga deformada.
da fase livre nas ligas fundidas, é necessário aquecer até temperatura
Além disto, em alguns semifabricados é necessário conservar a estrutura
acima do ponto solidus de não-equilíbrio (por exemplo, acima do ponto
não recristalizada, após o trabalho a frio. Por isto, a temperatura de
m na liga X1, fig. 2). Neste caso, faz-se um aquecimento por degraus:
aquecimento de têmpera não deve ultrapassar a temperatura de início
na temperatura do primeiro degrau, que deve estar abaixo do ponto so-
lidus de não-equilíbrio, dissolvem-se as fases de composição possível, e de recristalização (§14.3).
a temperatura final de têmpera pode subir sem perigo de superaqueci- O tempo de exposição na temperatura de aquecimento de têm-
mento. Por exemplo, os lingotes de seção grande da liga ML5, antes do pera é escolhido de tal modo que seja concluído o processo de solubi-
aquecimento até 415ºC, devem permanecer 3 horas na temperatura de lização das fases livres. Quanto mais dispersas as fases livres, mais rapi-
375ºC. damente elas se solubilizam. Freqüentemente (mas nem sempre) semi-
Se o teor de elemento de liga supera, o limite de solubilidade, fabricados deformados são menos expostos na temperatura de têmpera
e a liga não pode passar para o estado monotásico, como por exemplo do que as ligas fundidas. Isto porque, naqueles, as partículas grossei-
C2 na figura 106, a temperatura de aquecimento de têmpera é escolhida ras de fase livre foram solubilizadas durante o recozimento de homoge-
o mais perto possível da temperatura eutética (peritética), levando-se neização dos lingotes, e o tratamento de deformação triturou a estrutura.
em consideração as possibilidades tecnológicas de evitar o superaqueci- Por exemplo, as folhas de liga de alumínio são expostas de 10-40 minu-
mento. tos na temperatura de aquecimento de têmpera, e os lingotes facetados
Dependendo do sistema de ligação, do conteúdo dos elementos de, 2-6 horas (às vezes, mais de 10 horas).
de liga, e de qual a intensidade de influência da dissolução incompleta das Nas folhas finas (0,5- lmm) de ligas de alumínio laminadas a
fases livres nas propriedades mecânicas, o intervalo de temperaturas de frio, com boa estrutura após trabalho de deformação, e que não contêm
têmpera consiste de graus ou dezenas de graus (não mais de lOOºC ). Por partículas grossas de fases livres, a exposição na temperatura de têmpera
exemplo, nos duralumínios de várias marcas, o intervalo de temperaturas é ao todo de 1-3 minutos. Isto permite, com elevada velocidade (até
de têmpera oscila entre 5 e 15ºC. Na liga Dl seus limites são de 495 a 50m/min), atravessar o equipamento de têmpera contínua.
Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 249
248 1. L Novikov
capítulo 8

O tempo de solubilização das fases livres com o aquecimento


de têmpera, em lingotes de ligas fundidas, está relacionado à espessura
t
G
de suas seções (3). As peças fundidas em molde de areia devem ser
aquecidas mais tempo para a têmpera do que as peças fundidas em
coquilha. Isto se deve à estrutura de fundição mais grosseira. Quanto cx+fo
mais espessa for a seção da peça fundida e, conseqüentemente, menor a
velocidade de resfriamento durante a fundição, tanto mais espessas as A e'o
partículas da fase em excesso. Nestas condições, o tempo de exposição
na têmpera oscila desde dezenas de minutos até 10-20 horas. Figura 107. Variação da energia de Gibbs das fases o e f3 e da mis-
tura bifásica o + {3, em função da composição do sistema binário à
8.2.2. Resfriamento durante a têmpera. A compreensão da "têm- temperatura T1 (:ver fig. 106).
pera" geralmente está associada à idéia de resfriamento rápido. Na
realidade, muitas peças são temperadas em água. Contudo, durante a A velocidade de formação dos centros de precipitação de nova
têmpera não existe obrigatoriamente resfriamento rápido. O importante fase, na solução super-resfriada, como no caso da transformação de fase
é, ap~nas, que durante o resfriamento não haja decomposição da solução no metal puro, é determinada pela expressão (25).
matriz. Dependendo da velocidade com que se dá esta decomposição
pode-se variar a velocidade de resfriamento durante a têmpera. Par~ No caso da decomposição da solução sólida, Q representa a
algum~ ligas, é ~brigatória a têmpera em água fria. Para outras ligas,
energia da ativação para a difusão do elemento que difunde mais len-
nas quaIS as soluçoes se decompõem lentamente, é possível haver têmpera tamente. Esta difusão é indispensável para a formação dos centros de
com resfriamento ao ar. Existem muitas ligas industriais à base de ferro precipitação da nova fase, a qual se diferencia da solução matriz pela
níquel, alumínio e magnésio, que são temperáveis ao ar. · ' sua composição.
De acordo com a fórmula (25), a velocidade de formação dos
Cinética de decomposição da solução super-resfriada. Se uma
núcleos, da fase livre, na liga Co da figura 106, varia com a elevação do
amostra fina da liga. Co (fig. 106) encontra-se na temperatura
· 1'.t·empera,
grau de super-resfriamento abaixo de To. Inicialmente, deve crescer a
no estado de solução sólida subsaturada, e se ela for transferida rapida-
velocidade, devido à elevação de ÃGvol e, correspondentemente, à dimi-
mente para um meib à temperatura Ti < To, então a solução a encontra-
nuição da energia de formação do núcleo crítico Ã.Gcr· Posteriormente,
se supersaturada. Isto porque, na temperatura T 1 , a solução saturada
a velocidade decresce, devido à diminuição da mobilidade difusional dos
tem composição correspondente. ao ponto r. O grau de supersaturação
átomos. Conseqüentemente, o período de incubação·:._ tempo para que
pode ser caracteriz~do pela relação C0 /C 1 •
se determina experimentalmente o início da decomposição - diminui
, ~a temperatura T1 a solução supersaturada de composição com o grau de super-resfriamento e, posteriormente, cresce. Esta va-
Co. esta simultaneamente super-resfriada em relação à temperatura T0 • riação se dá segundo a curva-C (fig. 108).
Acrma desta temperatura, tem-se uma fase estável a, e abaixo dela
tem-se duas fases estáveis a+ {3. O grau de super-resfriamento é ÃT ~
O início da decomposição da solução super-resfriada é deter-
To - T1. Quanto menor a temperatura do meio para o qual se transfere minado pela variação de alguma propriedade, como por exemplo a re-
sistência ou a condutividade elétrica. Habitualmente uma propriedade,
a amostra, que foi aquecida até a temperatura Ttêmperai tanto maior
durante uma exposição isotérmica, varia suavemente. Então, como con-
o grau de super-resfriamento e o grau de supersaturação da solução
sólida. dição de início de decomposição considera-se, por exemplo, a elevação
ou diminuição da propriedade em 2 ou 5%. Propriedades diferentes ini-
O estímulo termodinâmico para a decomposição da solução ciam uma variação visível, em diferentes estágios da decomposição da
super-resfriada é a diferença ÃGvo1 entre sua energia de Gibbs G e
a energia de Gibbs G2 da mistura bifásica (fig. 107). 1 solução.
250 L l. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 251
capítulo 8

velocidade de resfriamento contínuo que permita evitar a decomposição


da solução, ou, mais precisamente, que evite a variação de determi-
400
nado valor da propriedade escolhida. Se, no centro da seção da peça,
a velocidade de resfriamento for maior que Ver, a peça fica inteiramente
350 temperada. A velocidade crítica é determinada por uma reta, desde o
ponto correspondente à temperatura de exposição antes da têmpera,_ e
300-
tangente à curva-C no início convencional de decomposição da soluçao
super-resfriada. .
O valor de Ver depende da sensibilidade do método que foi esco-
~ ~o
lhido para determinar a curva-e, de início de decomposição. Por ~xem­
ln tempo (seg)
plo, para o duralumínio marca D16, quando a curva-e é determmada
pela sensibilidade à corrosão intergranular, Ver = 550ºK/seg. Quando a
curva-e é determinada pela variação de 2% no limite de resistênci~ ~a
Figura 108. Cur.vas C de início de decomposição da solução super-
liga envelhecida, Ver = 90ºK/seg. Se o critério de início de decomposiçao
resfriada da liga D16(V.G.Davidov; I.I.Novikov; E.D.Zarrarov): 1 -
aparecimento da sensibilidade 1\ corrosão intercristalina 2 - :variação for a variação em 5% da resistência, então Ver= 20ºK/seg. .
da resistência ao escoamento, em 2%. No §4.5 foi mostrado que a avaliação quantitativa. no resfna-
mento contínuo não deve ser realizada através da curva-C de decom-
Por exemplo, no duralumínio, a sensibilidade à corrosão inter- posição isotérmica, mas sim através do diagrama termocinét~co. P?ré~,
cristalina, relacionada com a precipitação da fase em excesso nos con- estes diagramas, para as ligas temperáveis sem transformaçao polimor-
tornos de grão, manifesta-se antes do que a variação de ªR (fig. 108). fica, são ainda poucos. Por isto, torna-se necessário utilizar as curvas-e
Na construção das curvas-e mede-se racional.mente aquela pro- de decomposição isotérmica. . . . ,
priedade, a qual, para dado grupo de ligas, ou para dado tipo de peça, O diagrama termocinético de transformação da fase micial ~ta
é uma das mais importantes na prática, e a que é sensível à maioria deslocado para a direita e para baixo, em relação à curva-C coi:s~rm~a
dos estágios iniciais da decomposição da solução. O "início" da decom- em condições isotérmicas (fig. 73). Por isto, o cálculo com·a utihzaç_ao
posição da solução é fixado experimentalmente, fixando-se em condições da tangente a esta curva-e resulta num valor maio:_ d~ que o verdadeiro
conjunturais (momentâneas), qual é este início. Por isto, a comparação valor de Ver· Em determinados casos, o aumento nao e grande. ,
de curvas-e de várias ligas só tem sentido quando o método de deter- A temperabilidade para dada velocidade de resfr~a~ento ~ tan-
minação das mesmas for igual para todas. to maior quanto menor for Veri isto é, quanto mais P8:~ a direita ~stiver a
Se a curva-e é construída com a ajuda de propriedades me- curva-e. Para a comparação qualitativa da temperab1lidade de diferentes
cânicas, como regra estas propriedades não são medidas imediatamente ligas, pode-se comparar a posição de suas curvas-e, não levando em
após a têmpera gradual (por etapas) com várias exposições na tempera- consideração Ver· . A

tura do degrau de têmpera. São medidas após o endurecimento comple- Uma característica quantitativa é a profundidade de ~emper~ em
mentar por envelheciménto, o qual reage no restante da solução sólida determinado meio de resfriamento - distância da superfície :es~iada
supersaturada, ajudando na determinação do início de decomposição na até a camada para a qual dada propriedade (~or exemplo, _hm1te de
temperatura do degrau de têmpera. escoamento limite de resistência ou dureza), apos o envelhecimento da
p eç a , não difira mais que 5% da correspondente propriedade na camada
Temperabilidade e velocidad€: crítica de resfriamento durante
superficial. . ,
a têmpera. O critério quantitativo de estabilidade da solução sólida
Para a comparação da temperabilidade de difer_entes ligas_ e
super-resfriada é a velocidade crítica de resfriamento (Ver) - menor
cômodo utilizar 0 diâmetro crítico, que é o diâmetro máxuno da seçao
Teoria dos tratamentos térmicos dos metais
253
252 !. !. Novikov
capítulo 8

de uma barra, a qual, em determinado meio de resfriamento, tempera-


se completamente. Abaixo, como exemplo, relacionam-se os valores do
diâmetro crítico (der), para a têmpera de ligas de alumínio em água fria.

Ligas · · · · · · · · · B95 Dl Dl6 Dl9 1201 AB AK4-l


der' mm · · · · · · · · · 120 150 150 150 150 150 250

Fatores que influem na estabilidade da solução super-resfria- 250


da. A estabilidade da solução sólida supersaturada e, conseqüentemen-
te, a temperabilidade, dependem do teor dos elementos da liga, e da
estrutura da liga antes da têmpera. o 10 1 10
Nas ligas com base em diferentes elementos, e nas ligas com base ln tempo (seg)
no mesmo elemento mas com diferentes elementos de liga, são diversas
Figura 109. Cur.vas C de início de decomposição isotérmica de solu-
as mobilidades de difusão dos átomos (valor de Q na fórm. (25)). A
ção super-resfriada de alumínio, em correspondência com a .variação do
energia de formação do núcleo crítico depende da energia de superfície limite de resistência em 2% (V.G.Davidov; V.V. Zarrarov; E.D.Zarra-
do contorno entre a matriz e o precipitado, bem como da energia de rov; I.I.Novikov): a - ligas Dl6 e A91s(na base do sistema Al-Zn-Mg);
deformação elástica que surge devido à diferença dos volumes específicos b- liga Al-4% Zn-1, 9% Mg -O, 6% Mn -0, 2% Zr com estrutura não
das fases. Por isto, a velocidade de nucleação da fase que se precipita é recristalizada( 1) e recristalizada( 2).
diferente, para sistemas diversos (fórm. (25)). Assim, na~ ligas à base do
sistema alumínio-cobre-magnésio (duralumínio), a precipitação se dá na turação ~ > ~' e o estímulo termodinâmico D.Gvol > G~01 (fig. 107).
solução sólida de alumínio super-resfriada, de muito baixa estabilidade. Conseqüentemente, a curva-C de início de decomposição da liga C~ deve
Já nas ligas à base do sistema Al.:...zn-Mg (tipos 1915 e 1925), é muito estar deslocada para a direita, em comparação com a curva-C da liga
elevada a estabilidade (fig. 109a). A diferença de estabilidade da solução Co.
super-resfriada das ligas à base destes dois sistemas predetermina uma As inclusões dispersas de intermetálicos e outras fases, que se
gra~de diferença na tecnologia dos seus tratamentos térmicos. Se a liga
encontram na liga à temperatura de têmpera, podem diminuir a esta-
do tipo d~ralumínio é, necessariamente, temperada em água, já a liga à
bilidade da solução super-resfriada, iniciando sua decomposição. Com
base do sistema Al-Zn-'-Mg pode ser temperada com resfriamento no ar
isto está relacionada a ação de pequenas inclusões de metais de transição
c~lm,o. A ~rensagem de semifabricados das ligas 1915 e 1925 geralmente
(Mn, Cr, Ti), nas ligas de alumínio. No recozimento de homogeneização
nao e seguida da operação de têmpera. Eles são auto-temperáveis com o
de lingotes, no aquecimento para deformação e no aquecimento para
resfriamento dos perfis e tubos ao ar, desde a temperatura de pre~agem. têmpera da solução sólida que está supersaturada destes elementos an-
A têmpera com resfriamento ao ar é amplamente utilizada em tes da cristalização da massa fundida, precipitam-se aluminetos disper-
aços austeníticos piro-resistentes envelhecidos, contendo endurecimento sos destes metais de transição. Eles servem de catalizador para a preci-
int:rmetálico. Também é amplamente utilizada em ligas de níquel piro- pitação, desde a solução das fases básicas, durante o resfriamento da liga
res1stentes "nimonic", ligas de magnésio tipo "eléctron", e outras. desde a temperatura de têmpera. Com isto cresce a velocidade crítica
Nos limites de um sistema, com o crescimento da concentração de resfriamento (diminui a temperabilidade).
do elemento de liga, aumenta a supersaturação da solução sólida. Con-
Com a elevação da pureza da liga de alumínio, diminui a quan-
seqüentemente, diminui sua estabilidade. Por exemplo, na liga Co mais
ligada que liga C~ (fig. 106), na temperatura Ti, o grau de su~ersa- tidade de partículas de fases não-dissolvidas, que contêm ferro e cromo.
254 /. /. Novikov Têmpera com transformação polimórfica
capítulo 9
Graças a isto, eleva-se a estabilidade da solução sólida supersaturada.
Por isto, as ligas Dl6r e B95pr de elevada pureza possuem maior tem-
perabilidade do que as ligas D16 e B95.
A temperatura de têmpera pode ser menor que a tempera-
tura de início de recristalização. As ligas com estrutura não recris-
talizada e poligonizada possuem menor estabilidade da solução sólida
super-resfriada (fig. 109b), devido à fucilidade de nucleação das fases
em excesso nas discordâncias e subcontornos.
A elevação do tamanho do grão recristalizado pode diminuir
substancialmente a velocidade crítica do resfriamento para têmpera. Por
exemplo, com a elevação do tamanho de grão do duralumínio D16, desde A têmpera com transfarmação polimórfica é um tratamento
15 até 50µm, diminui em 1,5 vez a Ver· térmico de metal ou liga no qual o principal fenômeno é a transfarmação
Durante a têmpera em água, surgem mais tensões residuais, e martensítica da fase estável em elevada temperatura. Por isto, este tra-
empeno da peça. Por isto, ali onde isto é possível, diminui-se a veloci- tamento térmico geralmente é denominado têmpera em martensita. Em
dade de resfriamento, utilizando-se têmpera em água aquecida e eferves- princípio, esta têmpera é utilizada em todos os metais e ligas, nos quais,
cida. Ultimamente, para a têmpera de ligas de alumínio, utiliza-se como com o resfriamento, modificam-se as redes cristalinas.
meio mais brando de têmpera, soluções de polímeros em água. Alguns
aços piro-resistentes são temperados em éileo. são temperados em óleo.
9.1. Particularidades da transformação martensítica, em aço ao
carbono.

A transformação martensítica foi descoberta com a têmpera


do aço. Abaixo veremos suscintamente as particularidades mais carac-
terísticas da transformação martensítica em comparação com a trans-
formação perlítica, nos aços ao carbono, os quais, mais evidentemente,
apresentam esta transformação martensítica.
l. A transformação martensítica ocorre sob um resfriamento rá-
pido do aço ao carbono desde uma temperatura acima de A1 ,
como por exemplo resfriamento na água. Com isto, evita-se 'a
decomposição, por difusão, da austenita em uma mistura de
duas fases (ferrita e cementita), a qual se diferencia brusca-
mente da austenita inicial pela composição. A concentração
de carbono na martensita é a mesma que na austenita inicial.
Em conseqüência, diferentemente da transformação perlítica, a
transformação martensítica é não-difusional.
256 l. l. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 257
capítulo 9

2. A transformação da austenita em martensita no resfriamento A

inicia-se em uma temperatura Mi, que é característica da marca


de cada aço. Esta temperatura também se denomina de Ms
(o índice consiste da primeira letra das palavras "início" -
"start")- A temperatura de início da transformação marten-
sítica não depende da velocidade de resfriamento, para um am-
plo diapasão de velocidades. Por outro lado, a temperatura de
início de transformação perlítica diminui com a elevação da ve-
locidade de resfriamento (§5.3). Ao contrário da transformação
perlítica, a transformação martensítica é impossível de ser evi-
tada, mesmo com as velocidades de resfriamento mais elevadas.
A formação da martensita ocorre num determinado intervalo de
10 10 10 10
temperaturas, entre o ponto martensítico superior Mi e o ponto ln tempo (seg)
martensítico inferior, denominado de M 1 (o índice consiste da
primeira letra das palavras "final" - "finish"). No diagrama-e Figura 110. Diagrama C com os pontos martensíticos do aço com
de transformação da austenita super-resfriada, existem horizon- 0,8%C
tais nas temperaturas Mi e Mt (fig. 110). Estas horizontais A - austenita estável; As - super-resfriada; Ar - residual; M - mar-
tensita; F - ferrita; C - carboneto. -
indicam o início e o final da transformação martensítica. A
variação das temperaturas de início e final da transformação
martensítica, em função do teor de carbono, está mostrada na significado físico de intervalo de tempo durante o qual se dá
figura 111. a transformação martensítica. A horizontal Mi corresponde à
3. Na temperatura M; apenas se inicia a transformação, surgindo temperatura abaixo da qual, bastante rapidamente, na prática,
os primeiros cristais de martensita. Para desenvolver a trans- "instantaneamente", forma-se alguma quantidade de marten-
f armação martensítica, é necessário resfriar continuamente o sita.
aço ao carbono, no intervalo martensítico Mi - M f. Se o res- 5. A martensita forma-se na forma de agulhas, que crescem com
friamento for interrompido e o aço ao carbono permanecer no velocidade muito elevada (da ordem de 1 Km/seg), em qual-
interior deste intervalo, a transformação martensítica se inter- 800 .......~~~~~~~~
rompe quase que imediatamente. Esta particularidade distin-
gue muito claramente a cinética da transformação martensítica ~- 600
~ \
da perlítica. Esta última, como mostra o diagrama-e, sem- ~ 400 \
pre se processa até o final, para uma temperatura constante ~ 200 \~ Mi
abaixo de A1, isto é, termina com a completa eliminação da ~ \~
' ,,
austenita, se for suficientemente grande o tempo de exposição
isotérmica. Após a transformação martensítica que se forma
o
Mf'----
-200'--__.i.~-'-~-'---''----'
quase que "instantaneamente" durante o resfriamento, perma- Fe 0,4 0,8 1,2 1,6 e
Teor, ºlo (em peso)
nece alguma quantidade de austenita residual.
4. Ao contrário da transformação perlítica, a transformação mar- Figura 111. Variação da temperatura de início (M;) e final (M1) de
tensítica nos aços ao carbono não tem período de incubação. O transformação martensítica em função do teor de carbono no sistema
comprimento da horizontal J\1; na figura 110 não tem nenhum Fe-C.
!. !. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 259
258
capítulo 9

quer temperatura, inclusive abaixo de OºC. Após a formação


"instantânea", a agulha de martensita não cresce. A quan-
tidade de martensita com o resfriamento abaixo do ponto Mi
não aumenta em conseqüência do crescimento das agulhas já
formadas. Este aumento se deve ao surgimento "instantâneo"
de cada vez mais agulhas novas. Esta particularidade também
diferencia radicalmente a transformação martensítica da perlíti- G
ca. No processo de desenvolvimento da transformação perlítica,
não apenas formam-se novas colônias, mas também crescem t
aquelas formadas anteriormente (fig. 81).
6. Entre as redes dos cristais de martensita e da austenita inicial,
existe uma relação determinada de orientação cristalográfica.
Há uma orientação regular da rede de martensita, em relação
à rede de austenita. Ao mesmo tempo, na transformação perlí-
tica, as redes das fases que entram na mistura eutetóide podem
estar orientadas aleatoriamente em relação à rede do grão inicial
r, ô-"1.-'>êi"'.....
de austenita.
7. Com a transformação ma,rtensítiica nos aços ao carbono, forma-
se um relevo característico na superfície polida da amostra. Isto f Tzh---~-1--::::C...-~~
1 Tj
evidencia a variação de forma do volume da austenita transfor-
mada. Na transformação perlítica não surge este relevo. O
relevo característico no plano superficial da amostra original A r e'o
pode servir de importante sinal externo da transformação mar- 8,%
tensítica no aço. Figura 112. Região do diagrama de equilíbrio do sistema com poli-
Como se explicou mais tarde, a transformação martensítica des- morfismo de solução sólidá (a) e curvas de energia de Gibbs versus
composição para as fases a e f3 e várias temperaturas (b):
coberta com a têmpera do aço ao carbono e do aço ligado é um dos meios
T'oT~ - linha de temperaturas de equilíbrio da energia de Gibbs das
fundamentais de reestruturação da rede cristalina, e é propriedade dos fases a e f3 de mesma composição.
mais diversos tipos de substâncias cristalinas, metais puros, ligas à base
de ferro e sem carbono, ligas de metais não-ferrosos, compostos semi- 9.2. Termodinâmica das transfonnações martensíticas.
condutores etc.
Para a teoria dos tratamentos térmicos, as investigações mais
importantes da transformação martensítica são as dos sistemas Fe-C Comecemos a análise termodinâmica com o caso mais simples
(fig. 74) e Fe-Ni (fig. 115). (fig. 112) do sistema caracterizado pela solução sólida polimórfica, e
Ambos os sistemas apresentam exclusividades de grande inte- ausência de equilíbrios trifásicos (eutetóides, peritetóides). Com o res-
resse prático: o Fe-C como base dos aços, e o Fe-Ni como base de urn friamento suficientemente lento da liga Co (fig. 112a), no intervalo de
grupo relativamente recente de ligas envelhecidas em martensita, de ele- temperaturas entre os pontos 1 e 2, acontece a transformação polimórfica
vada resistência.
Abaixo veremos, com exemplos destes sistemas, as leis básicas
das transformações martensíticas.
260 /. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 261
capítulo 9

Para qualquer temperatura, as soluções a e /3 à base do compo- temperatura T2 em questão, de equilíbrio metaestável, formar-se-ia na
nente A caracterizam-se por suas curvas de composição versus energia liga C0 uma mistura estável de fases de diferentes composições ªª' + f3b'.
de Gibbs (fig. 112b). Na temperatura T0 , a curva da energia de Gibbs Para qualquer liga do sistema em questão é possível, por de-
da fase f3 encontra-se abaixo da correspondente curva da fase a. Isto terminado meio, assinalar no diagrama de equilíbrio a temperatura de
é, a solução /3, para qualquer composição, é mais estável que a solução igualdade da energia de Gibbs das fases metaestáveis a e f3 de mesma
a(Gf3 < Ga)· As curvas Ga e Gf3 partem do ponto de equilíbrio das duas composição. O lugar geométrico dos pontos de tais temperaturas é a
fases à base do componente puro A (ver a temperatura correspondente linha T0 T6 na figura 112a.
To, (fig. 59).
Em qualquer liga, com super-resfriamento da fase inicial f3 até
Com a diminuição da temperatura até Ti, T2 e T3, crescem uma temperatura abaixo da linha To T6, a energia de Gibbs da mesma
as energias de Gibbs das fases a e (3. Além disto, as curvas Ga e Gf3 torna-se maior que a da fase a de mesma composição. Sendo assim,
se cruzam. A tangente comum às duas curvas de energia de Gibbs surge o estímulo termodinâmico G = Gf3 - G a da transformação po-
determina a concentração de fases que se encontram em equilíbrio em limórfica (3 -+ a, sem modificação da composição. Por exemplo, na
determinada temperatura (§4.4). Por exemplo, a tangente ab na figura liga C0, com a transformação da fase /3 de composição C0 na fase a de
112, b, caracteriza o equilíbrio da fase a de composição a' com a fase (3 mesma composição, este estímulo ("força motriz" da transformação) na
de composição b', na temperatura T2 (fig. 112a). temperatura T3 é igual ao trecho mn.
Consegue-se o equilíbrio estável ªª' + /3b', com resfriamento As transformações sem redistribuição dos componentes, chama-
muito lento, quando a transformação polimórfica é acompanhada de das não-difusionais 1 ou não-seletivas, são possíveis, também, durante a
redistribuição difusional dos componentes, entre a fase nova e a fase cristalização de soluções líquidas. Porém, é geralmente difícil conseguir
inicial. Com a aceleração do resfriamento da liga, desde a região /3, esta estes super-resfriamentos durante a cristalização de líquidos metálicos,
redistribuição dos componentes pode ser completamente inibida. para que se obtenha a cristalização não-difusional da solução líquida.
Comparemos, para diferentes temperaturas, os valores das ener- Já no estado sólido, devido à mobilidade difusional bastante menor dos
gias de Gibbs das fases a e /3, de mesma composição, correspondente à átomos, muito freqüentemente obtém-se um super-resfriamento abaixo
liga de composição Co. de To T6, onde é obtida a possibilidade termodinâmica de transformação
polimórfica completamente não-difusional da solução sólida. Cinetica-
Na temperatura T 1 , Gf3 < Ga (pontos d e f na fig. 112b). Na mente, esta transformação nas condições de baixa mobilidade dos átomos
temperatura T 2 , Gf3 = Ga (ponto g), e na T3 , Gf3 > Ga (pontos m é possível pois realiza-se pelo caminho particular do mecanismo mar-
e n). Conseqüentemente, a energia de Gibbs da fase inicial /3 cresce tensítico de transformação da rede (§9.3). A fase formada desta maneira
mais intensamente com o resfriamento do que a energia de Gibbs da denomina-se martensita.
fase a de mesma composição. Abaixo de alguma temperatura T2 (para Com as transformações martensítica não-difusional e "normal"
a liga C 0 ), as fases trocam de lugar em relação ao valor da energia de difusional, forma-se uma fase na liga C0 , a qual, na temperatura am-
Gibbs: a fase inicial possui maior energia de .Gibbs que a nova fase. biente, é a solução sólida subsaturada do componente B no componente
As curvas de variação da energia de Gibbs em função da temperatura, A estável em baixa temperatura (solução a saturada no ponto r ).
de duas soluções sólidas de mesma composição, distribuem-se cruzando
Na liga Có mais ligada (fig. 112a), como resultado da trans-
analogamente as curvas correspondentes a duas fases à base do mesmo
formação não-difusional, forma-se a fase martensítica a. Esta fase, na
metal puro (fig. 59). A diferença de princípio consiste em que, no caso
temperatura ambiente, é uma solução sólida supersaturada do compo-
do metal puro, o ponto de cruzamento das curvas de energia de Gibbs é
nente B no componente A estável em baixa temperatura. Isto porque,
a temperatura de equilíbrio estável. Já no caso da liga, é a temperatura
nesta liga, a composição (Có) da martensita encontra-se à direita do
de equilíbrio metaestável da solução a de mesma composição. Se fosse
possível ocorrer redistribuição difusional dos componentes, então, na 1 Sobre a utilização deste termo, ver §9.3
Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 263
l. l. Novikov
capítulo 9

Na temperatura ambiente, é muito pequena a solubilidade do


ponto de saturação da fase o:, em condições de equilíbri~ (r); . Con-
seqüentemente, a martensita nas ligas pode ser uma soluçao solida su- carbono no ferro a (fig. 74). Por isto, no aço ao carbono, a martensita
persaturada ou: subsaturada do elemento de liga no componente básico que se forma pela transformação polimórfica não-difusional da austenit_a
sempre é uma solução supersaturada de carbono no ferro o:. Quanto mais
estável em baixa temperatura.
carbono na austenita inicial, mais carbono na martensita. Com o au-
Vejamos agora, como exemplo, as transformações das ligas Fe- mento da saturação de martensita em carbono, cresce a tetragonalidade
C, no sistema de tipo eutetóide. da rede: a relação dos eixos ~ = l +o, 046 c, onde e é a concentração
A decomposição da austenita na mistura ferrita-carboneto está de carboiio em 3 (peso). No ferro puro, ~ = l (rede cúbica), e na mar-
relacionada com a redistribuição do carbono por processo de difusão, .tensita contendo 23 de carbono, ~ = 1, 09. A natureza da desfiguração
através do deslocamento dos átomos a urna distância que supera muito tetragonal da rede da martensita será esclarecida no §9.3.
o parâmetro da rede da austenita.
No sistema que contém transformação eutetóide, pode-se traçar
Com o resfriamento rápido do aço ao carbono (têmpera em no diagrama de equilíbrio uma linha de temperaturas de energias de
água - centenas de graus por segundo), consegue-se resfriar fortemente Gibbs iguais, das duas soluções sólidas. A linha T 0 na figura 113 mostra
a austenita, que não se decompõe, por difusão, na mistura de duas fases. as temperaturas de equilíbrio metaestável da austenita super-resfriada
Po~ém, a austenita não pode se conservar até a temperatura ambiente,
com a martensita, as quais possuem a mesma concentração em carbono.
para qualquer velocidade de resfriamento, tão alta quanto se queira. Cada ponto na linha To corresponde, para um aço de determinada com-
Isto porque, no aço ao carbono, a energia de Gibbs, a pàrtir de alguma posição, a interseção das curvas de energia de Gibbs da austenita e da
temperatura T0 , apresenta-se maior que a energia de Gibbs da solução martensita (fig. 114). Pelo fato de serem iguais as composições químicas
sólida de ferro a supersaturada em carbono (martensita). A martensita das duas soluções, o sistema Fe-C de dois componentes comporta-se
possui composição igual à composição da austenita, diferenciando-se da como um sistema de um componente (compare fig. 114 e 59).
mesma pelo tipo de rede cristalina.
A martensita é uma fase metaestável. Ela está ausente do
diagrama Fe-C (fig. 74), pois, em condições de equilíbrio, quando o sis-
tema possui energia mínima absoluta de Gibbs, a estrutura do aço abaixo
do ponto A 1 (727ºC) consiste da mistura de duas fases estáveis: ferrita e 800
cementita. Em qualquer temperatura, a martensita possui maior energia
de Gibbs do que esta mistura. Porém, abaixo da temperatura To, ela pos- (.)600
o
sui menor energia de Gibbs do que a austenita super-resfriada. Quando, e
em condições de grande resfriamento, não pode haver decomposição di- .;:!400
fusional da austenita na mistura ferrita -- cementita, o que eonduziria i
o sistema à energia mínima absoluta de Gibbs, a austenita, através de ~200
um processo não-difusional, transforma-se em martensita. Isto conduz
o sistema à energia mínima relativa de Gibbs. A austenita tem rede OFLe~__J0~,5=---:-'1,~0~~1~,5C---~c
cúbica de faces centradas do ferro 'JI, e a martensita tem rede tetragonal, conteúdo,% (em peso)
próxima à rede cúbica de corpo centrado do ferro o:. Abaixo do ponto
Figura 113. Variação das temperaturas (T 0 ) de equilíbrio d~ _:nergias
A 1 , não pode persistir, estavelmente, a rede do ferro f. Com eleva- de Gibbs da austenita e da martensita de mesma compos1çao, e da
dos super-resfriamentos, nas condições de baixa mobilidade dos átomos, temperatura M; em funcão do teor de carbono no sistema Fe-C.
acontece a transformação polimórfica -y ..__, a. Porém, o carbono não
consegue precipitar-se da solução, na forma de fase carboneto.
264 /. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 265
capítulo 9

A temperatura Mi pode servir como característica de uma liga


de determinada composição (para dado regime de tratamento prelimi-
nar). Na figura 110, a horizontal na temperatura Mi mostra que a trans-
formação martensítica, em dado aço, tem início a uma temperatura que
"'
.e
.o é independente da velocidade de resfriamento .
(9
.,
'O A composição da liga, em geral, influi fortemente na tempera-
o
·~ tura de início da transformação martensítica. Com a elevação do teor
.,e de carbono do aço, o ponto Mi diminui fortemente: nos aços contendo
w
menos de 13C, ela se encontra acima de 200ºC, e com teor de carbono
t próximo a 23 encontra-se próxima à temperatura ambiente (fig. lll).
O teor de carbono nem sempre é o mesmo no aço e na auste-
Mi Md To Ad Ai
_ Temperatura nita. Isto porque o carbono participa da composição dos carbonetos.
Os carbonetos, que coexistem com a austenita, por si só, não influem no
Figura 114. Variação das energias de Gibbs da austenita (G A) e da
ponto Mi. Com a elevação da temperatura de têmpera, quando os car-
martensita (G M), em função da temperatura. bonetos se dissolvem na austenita e eleva-se a concentração de carbono
na mesma, o ponto Mi decresce.
9.2.1. Temperatura de início da transformação martensítica. A 1 A variação da composição influi na temperatura de início da
transformação martensítica não pode ter início a qualquer temperatura,
por menor que seja o super-resfriamento em relação à temperatura T0 .
l~ transformação martensítica, pois modifica-se a temperatura To, e tam-
bém o grau de super-resfriamento T 0 - Mi. Em particular, as inclusões,
Aqui, existe analogia com a transformação polimórfica no sistema de um ao aumentarem o módulo de elasticidade da matriz (austenita), dificul-
componente (§4.1). A formação do cristal de martensita relaciona-se não tam a formação da martensita: Gei cresce e, correspondentemente, o
apenas com a diminuição da energia volumétrica de Gibbs ( G vol na grau de super-resfriamento To - Mi eleva-se.
fig. 114), mas também com o surgimento de energia superficial (entre 9.2.2. Reversibilidade da transformação martensítica. O es-
fases) ( G sup) e, o que é particularmente importante, com a energia quema da figura 114 mostra que a liga temperada em martensita, com
da deformação elástica ( G ee) que dificulta a transformação. A energia um aquecimento até uma temperatura acima de To, pode passar por
de deformação elástica surge, em primeiro lugar, devido à variação do uma transformação inversa martensita-austenita. Isto quando se atingir
volume específico durante a transformação de fases (com a transformação l determinado grau de superaquecimento, e determinada força motriz G.
1
/-+a nas ligas à base de ferro, o volume específico aumenta em 2-33). Em analogia ao ponto Mi, denomina-se Ai a temperatura de formação
Em segundo lugar, devido à coerência das redes da martensita e da fase
inicial (sobre isto, é mais conveniente ver o §9.3). ) não-difusional da austenita (fig. 114 e 115).
A formação da austenita a partir da martensita é possível ape-
Como resultado, tem-se a diminuição da energia de Gibbs do nas nas condições em que se impede a redistribuição difusional dos com-
sistema, G = - Gv 0 1+ Gsup+ Gel· Paraterinícioatransformação ponentes na rede da martensita. Para isto, a temperatura To não deve
rnartensítica, é necessário super-resfriar a austenita o bastante, abaixo ser alta, e deve-se aquecer rapidamente.
da temperatura de equilíbrio metaestável entre a mesma e a martensita, Nos aços ao carbono, a transformação martensítica inversa náo
para que o estímulo termodinâmico da transformação ( Gv 0 1) alcance o foi descoberta. Isto pode ser explicado pela elevada. mobilidade dos
valor necessário. Por isto, a temperatura de início da transformação mar- átomos de carbono na solução: com o aquecimento, a decomposição
tensítica (ponto martensítico Mi) encontra-se sempre abaixo da tempe- difusional da martensita (revenido) se dá antes de atingir a temperatura
ratura T0 . No sistema Fe-C, o valor de To -Mi~ 200-250ºK (fig. 113). A;.
266 I. I. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 267
capítulo 9

800 9.3. Mecanismo da transformação martensítica.

600 9.3.1. Mecanismo de cisalhamento (martensítico) e de trans-


formação normal da rede. O estudo das transformações martensíti-
&:. 400 \ cas levou à hipótese de que, dependendo das condições, pode haver dois
\ mecanismo de transformação da rede - por cisalhamento (martensítico)
~ cc 1
_;: 200 e o denominado "normal".
.,~ 1
"- I Transformação Normal - Com a transformação polimórfica
E O I
í!'- I
normal, os cristais da nova fase crescem por um caminho desordenado,
I não havendo relação mútua de transferência dos átomos através do con-
- 200
torno. Os átomos, arrancados da rede da fase inicial por ativação
Fe 10 20 30 40 N; térmica, como por exemplo da rede de ferro /, unem-se à rede da nova
% (ot)
fase, como por exemplo de ferro a, um a um (ou em pequenos gru-
pos). Como resultado, o contorno do cristal a migra para o lado do
Figu_r~ 115. Variação da temperatura de início da transformação mar-
~ens1t1ca durante o resfriamento (Mi), da transformação martensítica
cristal T a nova fase "come" a fase matriz. Esta translação de átomos
m:ersa (A;) e_da temperatura calculada '.Tb = 1/2(M; +Ai) de equilí- através do contorno da fase que se decompõe, que não depende uma da
brio das e_nerg1as d~ Gibbs da a~stenita e da martensita, em função do outra e que é desordenada, é parecida com o processo de autodifusão
t_eor de m~uel no sistema Fe-N1 (s~~undo dado de Kaujman e Koen): do crescimento dos cristais na recristalização primária. Esta translação
lm~a pontilhada - contorno das reg1oes a e 'Y no diagrama de equilíbrio
diferencia-se deste último processo apenas pela procedência do estímulo
estavel.
termodinâmico. No caso da recristalização primária, a diferença da ener-
gia de Gibbs do grão inicial para o novo é devida à grande estrutura de
. A tran~formação inversa da martensita foi observada nas ligas
defeitos dos grãos iniciais (deformados), da mesma fase. Já na trans-
do sistema Fe-N1 (com elevado teor de níquel, quando 0 ponto é bastante
formação polimórfica do metal, o estímulo termodinâmico é a diferença
~aixo), n8:8 !i~as de cobre (por exemplo, nos bronzes de alumínio), e nas
da energia de Gibbs de duas fases, com diferentes redes cristalinas. Como
ltgas de t1tamo. Nestas ligas, a transformação inversa da martensita
na recristalização, a transformação desordenada da rede (transformação
contém_ tod?s os traços principais da direta. A velocidade de aqueci-
mento mflm pouco no ponto Ai. A transformação tem início a uma normal), pode ocorrer apenas a elevadas temperaturas.
Transformação por cisalhamento (martensítica). O mecanismo
temperatura (Ai) e termina em uma temperatura mais elevada (A ).
de transformação da rede, durante a transformação martensítica, foi
Por exemplo, na liga Fe-32, 5% Ni, a temperatura Ai = 300 - 310°6 e
descrito nos trabalhos clássicos de G. V. Kurdjimov. · O mecanismo
A1 = 400-410ºC. Com a transformação inversa da martensita, observa-
por cisalhamento (martensítico} da transformação de fase diferencia-se
se um relevo na superfície polida da amostra, além do que, às vezes, ele
pelo caráter ordenado, cooperativo, de relação mútua na translação dos
r:produz o r:Ie,~o da transformação direta. Tal como na transformação
átomos, de tal maneira que os vizinhos de qualquer átomo na fase ini-
direta, os cnsta1s, na transformaçáo inversa, formam-se muito rapida-
mente. cial permanecem como seus vizinhos na nova fase martensítica. Nisto
consiste a principal particularidade da transformação da rede, por ci-
A diferença entre as temperaturas Ai e Mi (histerese de tem- salhame11to, o que permite entender muitos traços característicos da
peratura) pod: ser tanto _de alg~~s graus como. de centenas de graus. transformação martensítica, e antes de tudo a coerência no contorno
Uma g:and~ h_isteresc esta cond1c1onada a uma .elevada energia de de- do cristal de rnartensita em crescimento.
formaçao elast1ca da matriz ( Ge1 ), o que obstaculiza a formação nela Na realidade, se com a transformação os vizinhos de qualquer
dos cristais da nova fase. ' ' átomo na fase inicial permanecem corno vizinhos na nova fase, também
268 /. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais
capítulo 9

devem se conservar, no contorno de fases, em torno de cada átomo, os ausência de redistribuição difusional dos componentes. Com efeito, se
antigos vizinhos. Isto é, o contorno deve ser coerente (fig. 64). os átomos não trocam de lugar durante a transformação, e cada átomo
A coerência, o acoplamento elástico das duas redes, no con- não muda sua vizinhança. Então, a concentração da solução sólida que
torno entre as fases martensítica e a inicial, condicionam a possibilidade se forma deve ser, exatamente, aquela da fase inicial (por exemplo, a
da movimentação extraordinariamente rápida do contorno, na direção concentração de carbono na martensita é a mesma que na austenita).
da matriz, mesmo em temperaturas muito baixas. Isto porque, para 0 A ausência de redistribuição difusional dos átomos, por si só,
movimento "cisalhante", não se exige difusão com migração dos átomos não é um sinal determinante da transformação rnartensítica. Em pri-
em distâncias maiores que as interatômicas. No contorno há apen~ meiro lugar, em metais puros, como por exemplo o ferro, que se consti-
translação cooperativa dos átomos, em distâncias menores que as inte- tuem de átomos do mesmo tipo, durante a transformação polimórfica não
ratômicas. Como resultado, há a translação do próprio contorno na se pode, em geral, falar desta redistribuição. Ao mesmo tempo, também
direção da fase inicial, isto é, o crescimento do cristal de martensit~. em metal puro, em determinadas condições, ocorre a transformação po-
Com o crescimento do cristal de martensita, acumula-se de- limórfica martensítica, que se distingue da transformação normal, no
formação elástica no contorno coerente até que, finalmente se alcance mesmo metal. Em segundo lugar, nas ligas, é possível a formação da
o limite de escoamento e comece a distensão das tensões elásticas de- nova fase de mesma composição da inicial, através da transformação
vido à destruição da coerência. Neste momento, quando no cont~rno normal da rede. Esta transformação é denominada massiva2 •
do cristal de martensita com a fase matriz surge a distribuição desorde- A transfarmação massiva, que é uma variedade da normal,
nada dos átomos, torna-se impossível o movimento de "cisalhamento" ocorre em conseqüência da translação do contorno coerente entre as
do contorno. Com isto, cessa o crescimento rápido do cristal, pelo me- fases, na direção da fase inicial, como resultado da passagem desorde-
canismo martensítico. O posterior crescimento do cristal de martensita nada dos átomos, a curta distância, no raio deste contorno. A difusão
seria possível, apenas, através da passagem desordenada dos átomos a uma maior distância, necessária para a redistribuição difusional dos
através do contorno. Como a transformação martensítica ocorre em u~ componentes, não é exigida aqui. Em relação a este fato, a velocidade
intervalo de temperaturas onde a autodifusão se dá muito lentamente de crescimento da fase massiva é relativamente grande (atinge o va-
o crescimento do cristal de martensita após a destruição da coerênci~ lor próximo a lcm/seg) 3 , e a transformação pode ocorrer inclusive no
deve, na prática, não ocorre.
período de resfriamento para têmpera.
. Desta maneira, o mecanismo visto, de transformação da rede Os cristais massivos (ao contrário das agulhas finas de marten-
por c1salhamento, explica duas particularidades importantes da trans- sita), têm contornos curvos de forma irregular.
formação martensítica: a elevada velocidade de crescimento dos cristais
A transformação massiva ocorre nas soluções sólidas terminais
de martensita, e,m. condições de pequena mobilidade dos átomos (até
com base no metal (por exemplo,· nas ligas Fe-Ni contendo até 6% (at)
temp.eraturas prox1mas do zero absoluto), e a rápida interrupção de seu
crescimento. de Ni), e nas fases intermediárias (por exemplo, a transformação {3-+ a
no latão com 37-38% (at) Zn).
A translação cooperativa, e na mesma direção, dos átomos,
durante a transformação por cisalhamento, provoca a mudança macros- Se a fase f3 das ligas do sistema da figura 112 for super-resfriada
cópica da forma do volume transformado. No lugar da saída do cristal até uma temperatura abaixo da linha Tor (contorno da região a), mas
de martensita, na superfície livre da fase inicial, há inclinação da corres- acima da linha de temperatura de início da transformação martensítica
po~den~e. região correspondente da superfície. Isto explica a formação
obngatona do relevo, com a transformação martensítica. Este relevo se 2 O termo foi proposto, partindo da denominação do produto da transformação - "fase
massiva" (em analogia com as denominações de outras transformações - perlítica e
dá no plano da superfície da amostra inicial.
martensítica). . .
. ·Na transformação polimórfica das soluções sólidas, pelo meca- 3 Mais ou menos, esta. velocidade é cinco ordens menor que a velocidade de cresci-
nismo martensítico, é também característica outra particularidade. É a mento do cristal de martensita.
/. l. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 271
270
capítulo 9

M; (não mostrada na figura 112), estabelece-se a possibilidade de trans- O contorno entre as fases desloca-se durante a elevação da tem-
formação normal (3 -+ a, sem redistribuição difusional dos componen- peratura, em sentido contrário ao que percorreu no resfriamento. É
tes. Isto é, a transformação massiva. Com o super-resfriamento da fase importante assinalar que, no caso do equilíbrio termo-elástico, o deslo-
/], até temperaturas da região bifásica, abaixo da linha To T6, porém camento inverso da martensita tem início não acima de To (fig. 114), mas
acima da linha T0 r (e, ao mesmo tempo, acima da temperatura Mi), em abaixo da temperatura de início da transformação martensítica direta,
princípio, são possíveis dois tipos de tnmsformação normal: massiva, e isto é, Ai< Mi.
com redistribuição difusional dos componentes, de acordo com a posição As condições básicas para haver equilíbrio termo-elástico são:
da linha de equilíbrio de fases, no diagrama de equilíbrio. Neste caso, a 1) acumulação de muita energia elástica, que possa compensar o aumento
transformação massiva ocorre com maior probabilidade, em temperatu- de Gvol no resfriamento, para tornar-se um tipo de força motriz da
ras abaixo da linha Tor· transformação inversa com o aquecimento; 2) ausência de processos de
As transformações polimórficas normais em metais puros são, relaxação, os quais podem destruir a coerência no contorno entre as fases,
pelo conteúdo, massivas, embora a utilização deste entendimento para bem como o equilíbrio termo-elástico. Se a coerência for totalmente
os metais puros não tenha vantagem especial, pois não existem outras destruída, a transformação inversa da rnartensita pode iniciar-se apenas
tn:msformações normais nos metais puros. com superaquecimento da martensita acima de To (Ai> T0 ).
Freqüentemente a transformação martensítica é denominada A descoberta de cristais "termo-elásticos" de martensita serviu
adifusional. Este termo deve ser entendido não como ausência de re- de brilhante confirmação da veracidade da suposição sobre a coerência
distribuição difusional dos componentes, o que também é propriedade do contorno entre a rnartensita e a fase inicial, bem como sobre o pa-
da transformação normal massiva nas ligas, mas sim como ausência de pel condutor da correlação entre Gvol e G El, na termodinâmica da
transferências desordenadas de átomos que são características da auto- transformação martensítica. Posteriormente, revelou-se que o equilíbrio
difusão. termo-elástico representa interesse prático muito grande, em relação à
elaboração das ligas capazes de "memorizar" a forma (§9.6).
9.3.2. Equilíbrio termo-elástico de fases. A suposição sobre o cres-
cimento coerente permitiu a G. V. Kurdjirnov predizer o fenômeno de 9.3.3. Condições para ocorrência das transformações normal e
equilíbrio termo-elástico entre os cristais de martensita e da fase ini- martensítica. As condições básicas, necessárias para o aparecimento
cial Isto foi posteriormente revelado em bronzes de alumínio, latão e deste ou daquele mecanismo de transformação da fase estável em alta
outras ligas. A essência deste fenômeno consiste no seguinte: o cresci- temperatura, foram analisadas por G. V. Kurdjimov.
mento coerente do cristal de martensita resulta da variação da energia Se a temperatura de equilíbrio estável do metal puro é sufi-
de Gibbs G = - Gvol + Gsup + G BI· A acumulação de energia de cientemente alta, corno por exemplo 911 ºC para o ferro, 882,5ºC para
deformação elástica da rede pode conduzir a que o crescimento do cris- o titânio, 865ºC para o zircônio e 660ºC para o urânio, então podem
tal de martensita com a diminuição de temperatura seja interrompido ocorrer ambos os mecanismos de transformação da rede. Com super-
ainda antes da destruição da coerência: a elevação de GBI se dá. mais resfriamentos relativamente pequenos, onde a mobilidade atômica é sufi-
rapidamente que a elevação da "força motriz"· Gv 0 1, e a força motriz cientemente elevada, ocorre transformação polimórfica normal com rees-
resultante G fica igual a zero. Então, estabelece-se o equilíbrio termo- truturação desordenada da rede. A transformação martensítica não pode
elástico entre a martensita e a matriz. Este equilíbrio se desloca em um ocorrer ~om pequenos super-resfriamentos, e por isto não estabelece con-
ou outro sentido com a variação de temperatura: com a diminuição de corrência com a transformação normal. Isto se explica pelo fato de que,
temperatura, Gvol aumenta e o cristal cresce enquanto não estabelece durante a transformação desordenada da rede, a deformação elástica dos
novo equilíbrio termo-elástico (ou não é destruída a coerência). Com a cristais da fase inicial é condicionada apenas pela variação do volume
elevação da temperatura, Gvol diminui e o cristal reduz-se de tamanho específico, e na transformação rnartensítica também é condicionada pela
(se, durante o resfriamento, o contorno não se tornou incoerente). coerência da rede da fase inicial com o cristal de martensita. O grande
272 l. I. Novikov
Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 273
capítulo 9

valor de G El na transformação martensítica exige maior estímulo ter-


modinâmico ( Gvol) para o desenvolvimento da transformação e, con- transformação normal/ --ta se torna impossível, e observa-se apenas a
transformação martensítica da rede.
seqüentemente, maior super-resfriamento da fase estável em alta tem-
peratura do que é exigido para o desenvolvimento da transformação O caso oposto é a ligação do cobalto com elementos que elevam
normal. Com o crescimento do grau de super-resfriamento, aumenta tanto a temperatura de equilíbrio das duas fases que além da trans-
a velocidade de transformação desordenada da rede, a qual atinge um formação martensítica ocorrer com super-resfriament~ suficientemente
valor máximo, e em seguida diminui em correspondência com a curva- grande, existe também a possibilidade de transformação normal (para
pequenos graus de super-resfriamento).
C (fig. 71). Com super-resfriamentos relativamente elevados, quando
a diferença entre a energia de Gibbs das duas fases torna-se suficiente 9.3.4. Geometria cristalina da transformação de austenita em
para haver transformação martensítica, esta ocorre muito antes do que ':11arten_si_ta. Para o enten~imento da estrutura da martensita nos aços,
a transformação normal, a qual consegue se iniciar muito lentamente a e necessano saber a geometria de transformação cristalina da rede C.F.C.
baixa temperatura. Por exemplo, no ferro puro (contendo 0,0015%C), da austenita para a rede tetragonal de corpo centrado da martensita
a temperatura Mi é igual a 750ºC, o que corresponde ao grau de super- a qual é próxima da rede C.C.C. do ferro a. A mudança simples d~
resfriamento próximo de 160ºC. Com o super-resfriamento do ferro-1 forma da célula elementar da austenita, conhecida na literatura como
até temperaturas localizadas no intervalo 911-750ºC, há transformação deformação de Bein, mostrada a seguir, permite estabelecer o caráter
normal / --t a, e abaixo de 750ºC dá-se a transformação martensítica da geometria cristalina da transformação martensítica no aço (fig. 116).
'Y --ta.
Os metais com elevada temperatura de equilíbrio de fases nem
sempre recebem estes elevados graus de super-resfriamento, necessários
para iniciar a transformação martensítica. Assim, por exemplo, para
ocorrer o mecanismo martensítico de transformação polimórfica em a-
mostra de ferro, deve-se superaquecer fortemente na região /, e res-
friar muito rapidamente para obstaculizar o desenvolvimento de trans-
formação normal, com menores graus de super-resfriamento. {010)

Se no metal puro a temperatura de equihbrio entre as duas fases


é relativamente baixa (por exemplo 400ºC no cobalto e 196ºC no lítio),
devido à pequena mobilidade atômica, ocorre apenas a transformação a
martensítica, e não se observa, geralmente, a reestruturação desordenada
da rede.
Figura 116. Deformação de Bein da rede de austenita (a) que se trans-
De toda esta exposição, conclui-se que a existência da transfor- forma em rede de martensita (b).
mação "normal" é completamente condicionada, e que a transformação
martensítica não é menos habitual para transformações de fases no es-
Na figura 116a estão indicadas duas células cúbicas elementares
tado sólido.
vizinhas da rede C.F.C. da austenita. Os átomos de ferro assinalados por
Nas soluções sólidas à base de metais polimórficos, a ocorrência círculos estão distribuídos nos vértices do cubo e no centro das faces. Os
deste ou daquele mecanismo de transformação depende de qual é o ele- átomos de carbono, que se solubilizam no ferro nos espaços intersticiais,
mento de liga que modifica a temperatura de equilíbrio entre as duas ocupam estatisticamente de maneira uniforme os vazios octaédricos da
fases. Por exemplo, no ferro ligado com níquel e manganês, pode bai- rede C.F.C. 4 . _Os vazios octaédricos marcados com cruzes localizam-se
xar tão fortemente a temperatura de equilíbrio das duas fases, que a
4 Para simplificação 11ão _estão indicados todos os locais dos átomos de ferro e carbono.
/. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 275
capítulo 9

nos centros das arestas e no centro dos volumes das células unitárias localização preferencial ao longo de um dos eixos cristalográficos. Desta
(fig. 116a). Todos estes locais são equivalentes estruturalmente, e não maneira, a deformação tetragonal da rede da martensita corresponde
se diferenciam. à energia mínima de Gibbs, graças à minimização da energia de de-
A rede e.F.e. da austenita pode ser dividida não apenas em formação elástica da rede, relacionada com os átomos solutos de carbm·n
células elementares cúbicas, mas também em células elementares tetra- com sua localização ordenada.
ganais (na figura 116a ela é indicada por linhas grossas). Nesta célula te- Com a elevação da temperatura, a ordenação longínqua dos
tragonal da austenita, a relação entre os parâmetros ~ = ./2, ao mesmo átomos de carbono deveria ser destruída. Porém, isto obstaculiza o
tempo em que, na rede da martensita, experimentalmente, estabeleceu- estado de tensão elástica do cristal de martensita na matriz da austenita
se que o grau de tetragonalidade de ( ~) < 1, 09. Na deformação de Bein, residual. Graças a isto, a ordenação longínqua no ferro a (martensita)
transforma-se de maneira muito simples a rede da austenita (fig. 116a) conserva-se em todas as temptraturas nas quais a martensita ainda não
na rede de martensita (fig. 116b). Esta transformação consiste no acha- é submetida à decomposição.
tamento da célula tetragonal da austenita ao longo de seu eixo e, e na Um papel importante no desenvolvimento das hipóteses sobre o
simultânea elevação das dimensões ao longo do eixo a. mecanismo de transformação martensítica foi a descoberta, por método
Na rede e.F.e. da austenita, os átomos de carbono, de maneira de raios-x, das relações de orientação cristalográfica entre as redes das
estatisticamente uniforme, estão distribuídos pelos vazios octaédricos, fases inicial e martensítica. Para as ligas de ferro são conhecidas três
ao longo das três direções da aresta do cubo 1100], 1010] e (001] (cruzes, relações principais de orientação das redes de austenita e martensita:
fig. 116a). Porém, nesta mesma rede da austenita, os átomos de car- Kurdjimov-Sachs; Nixiam e Greniguer - Troiano.
bono estão distribuídos seletivamente em relação às direções das arestas A relação de orientações de Kurdjimov-Sachs. Com base em aço
da célula tetragonal: eles se localizam apenas no centro da aresta ao carbono com 0,5-l,4%e pode ser escrita da seguinte forma: (111) A li
longo de IOOl], e no centro das faces horizontais da célula tetragonal,
(101) Me llIO] A li llll]M·
isto é, também ao longo da direção (001]. No término da transformação,
É fácil explicar este tipo de orientação recíproca: o plano mais
os átomos solutos de carbono continuam distribuídos na rede da mar-
compacto {111} na rede e.F.C. está mais próximo, em termos de estru-
tensita, nos locais octaédricos, apenas ao longo da direção [001], não
tura atômica, do plano mais compacto {110} da rede e.e.e., e a direção
ocupando os locais nas direções (100] e (010] (fig. 116b). Ao localizar-se
mais compacta < 110 > da rede e.F.e. é mais próxima em estrutura
entre os átomos de ferro, nas fileiras paralelas ao eixo (001], os átomos
atômica da direção mais compacta< 111 > da rede e.e.e .. Semelhante
de carbono não permitem que a deformação de Bein transforme a rede
orientação recíproca das redes satisfaz mais plenamente o princípio de
e.F.C. em e.e.e., com relação entre os parâmetros igual à unidade. O
correspondência de estrutura. A rede e.F.C. da austenita possui quatro
grau de tetragonalidade da rede deformada de martensita, ~, aumenta de
planos cristalográficos equivalentes da família { 111}, exatamente os pla-
maneira diretamente proporcional à concentração de carbono na mesma.
nos (111), (TU), (lil) e (lll), e seis direções cristalográficas equiva-
A mobilidade dos átomos de carbono, mesmo na temperatura
lentes da família < 110 >. Por isto, para urna posição do cristal de
ambiente, é suficiente para que ao término da transformação eles possam
austenita são possíveis 24 orientações cristalográficas de martensita, as
se redistribuir e ocupar os locais octaédricos próximos que estão vazios,
quais satisfazem a relação de Kurdjimov-Sachs.
ao loilgo das direções [100] e [010], com a simultânea eliminação da te-
A relação de orientação de Nixiam (baseada na liga de _!erro
tragonalidade. Para isto é suficiente o movimento difusional a distância
com 27-34% Ni) pode ser escrita na forma (111) A li (101)M e [121] A
muito pequena, nos limites de uma célula elementar. Contudo, na rea-
lidade, a rede da martensita conserva a tetragonalidade na temperatura li IIOI] M.
ambiente. A análise teórica mostrou que entre os átomos de carbono A relação de Greniguer-Troiano. (baseada na liga Fe-22%
na martensita passa a existir uma interação de deformação recíproca, a Ni-0,8%C). É intermediária entre as relações de Kurdjimov-Sachs e Ni-
qual torna vantajosa termodinamicamente a distribuição ordenada com xiarn.
Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 277
capítulo 9

A deformação de Bein explica convincentemente como, com o


e
auxílio de deslocamento atômico muito curto, a rede C.F.C. da austenita
pode transformar-se na rede tetragonal de corpo centrado da martensita.
Sozinha ela não explica a obtenção, por exemplo, das 24 orientações
de Kurdjimov-Sachs, pois as arestas da célula elementar da marten-
sita ficam paralelas às arestas da célula tetragonal inicial da austenita
(fig. 116). Para obter as relações de orientação de Kurdjimov-Sachs são
necessárias trajetórias mais complexas do movimento atômico do que na
deformação de Bein. A trajetória verdadeira do movimento dos átomos
na transformação martensítica não é conhecida. Formalmente, todos os
dados experimentais da relação de orientações entre as redes da auste- L
nita e martensita podem ser obtidos complementando a deformação de Figura 117. Relevo no plano inicial da superfície FGEH da amostra,
Bein com rotação da rede da martensita, na qual ficam paralelos os pla- durante a formação, na mesma, de plaquetas de martensita ABCDL-
nos correspondentes e as direções correspondentes, nas redes das fases MNO (segundo Bilbie Cristian).
inicial e martensítica.
9.3.5. Invariância dos planos de hábito da martensita, e de- caso da transformação com uma superfície de separação entre os cristais
formação de acomodação na transformação martensítica. Após inicial e de martensita: a invariância desta superfície previne a formação
a descoberta das relações de orientação cristalográfica, o estudo quanti- de macrodeformações elásticas nas fases inicial e de martensita.
tativo do relevo no plano da superfície polida da amostra desempenhou Surge a questão de como acontece a invariância do plano de
um papel extraordinariamente importante no entendimento da geome- separação entre as fases, se, durante a transformação martensítica mo-
tria cristalina das transformações martensíticas. O aparecimento deste difica-se a célula elementar, isto é, deforma-se a própria rede cristalina.
relevo sempre acompanha a transformação martensítica, devido à va- O esquema indicado na figura 118 ajuda a responder esta questão.
riação de forma do volume transformado.
Na figura 117 o plando FGHE da superfície relaciona-se com
a posição inicial da amostra de austenita. Com a formação do cristal
ABCDLMNO da martensita, a superfície da amostra na região ABCD
inclina-se em relação a um plano inicial. Como mostrou a experiência,
a linha AB permanece não-inclinada (não gira), e os traços do tipo
STT'S', que até a transformação estavam como linhas retas, ficam di- a b
retamente inclinados na região ABCD da superfície e, continuamente,
em toda sua extensão. Desde que isto é exatamente o que acontece em
relação a qualquer superfície inicial selecionada da amostra, tira-se a
conclusão de que, no processo de transformação martensítica, o plano e d
de hábito ABML do cristal de martensita é, macroscopicamente, apro-
ximadamente invariante. O plano de hábito é o que separa as fases de
Figura 118. Tipos de deforma,;ão durante a transformação martensitica
martensita e austenita, e o mesmo não se desfigura nem gira (qualquer (segundo Bilbie e Cristian).
traço neste plano permanece inalterado em comprimento e direção).
A invariância do plano de hábito garante o mínimo de de"
formação elástica durante a transformação. Isto é mais fácil de supor no Na figura 118a, indica-se uma região da fase inicial antes da
278 /. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 279
capítulo 9

transformação, e na figura 118b, esta mesma região após a transforma- a nucleação da martensita. é o problema mais difícil da transformação
ção, que se constitui de um tipo modificado de rede. É bem visível martensítica. A hipótese de nucleação homogênea, relacionada com a
como a variação da forma e dimensões das células elementares, isto é, formação flutuante do embrião de tamanho crítico, é rechaçada pela
a deformação homogênea da rede, conduz à macrovariação da forma da maioria dos investigadores. Isto porque, devido à elevada energia de
região transformada. deformações elásticas, a energia de formação homogênea do embrião
A variação macroscópica de forma da região da fase inicial crítico é tão alta que a probabilidade de seu aparecimento por flutuações
pode se dar em princípio por qualquer caminho, sem modificação das é insignificante.
células elementares: por deformação plástica através de cisalhamento A maioria das hipóteses sugere a nucleação heterogênea. Os
(fig. 118c), ou também por madagem. centros de transformação se restringem a submicrorregiões particulares
A combinação entre a deformação da rede (modificação da na fase inicial. Além disto, em metais e ligas diferentes, a natureza e
célula unitária) e a deformação plástica, por exemplo o cisalhamento constituição destas regiões de nucleação podem ser variadas. Os contor-
(fig. 118d), pode conservar inalterada a forma inicial da macrorregião, nos e subcontornos são excluídos, pois as experiências mostram que eles
apesar da ocorrência de transformação de fase (o tipo de rede da figura não são locais de formação preferencial dos cristais de martensita.
118d se diferencia da inicial da fi.gura ll8a). É evidente que a superfície Como evidência direta da nucleação heterogênea, considera-se
lateral do plane de hábito do cristal da nova fase da figura 118d é in- os resultados experimentais de investigação da transformação marten-
variante apenas em escala macroscópica: devido ao desenvolvimento do sítica, em liga com partículas dispersas contendo Fe-30,2%Ni. Aproxi-
cisalhamento formam-se degraus microscópicos. madamente 1/20 da quantidade total de partículas com diâmetros......, 40
Desta :naneira, a principal conseqüência do fato determinado µm e menos permanecem na fase austenítica, não se transformando em
experimentalmente, a respeito da invariância do plano de hábito do cris- martensita, mesmo até -196ºC. Por outro lado, na amostra habitual,
tal de martensita, consiste em que sua formação deve conter não apenas Mi = -20ºC. Isto explica o fato de que a martensita não nucleia homo-
a modificação do tipo de rede cristalina, mas também a deformação geneamente, e a probabilidade de nucleação heterogênea em partículas
plástica simultânea, a qual surge em conseqüência de cisalhamento e precipitadas de austenita diminui quando decrescem as dimensões das
maclagem. Esta deformação complementar (acomodação) é uma parte mesmas.
inalienável do rr:ecanismo de transformação rnartensítica, que garante o Os locais de natureza mais simples de nucleação heterogênea da
mínimo de energia de deformação elástica na superfície invariante que martensita são encontradas nos casos em que, a partir da rede C.F;C.
separa as fases. Esta conclusão é particularmente importante para o da austenita, forma-se martensita com rede hexagonal compacta (H.C.).
entendimento da subestrutura da martensita (§9.4). Os defeitos de falha de empilhamento na fase C.F.C., os quais surgem
Experimentalmente, foram determinados vários planos de há- com a dissociação de discordâncias, são camadas intermediárias finas de
bito dos cristais de martensita. Nas ligas à base de ferro, os planos de rede H. C.. Por isto, apresentam-se como se fossem formadas de dois
núcleos regulares de martensita hexagonal. Esta situação existe no caso
hábito mais característicos são os {225} A; {259} A; {3,10,15} A e {111}
A. A letra A aqui indica que o índice do plano de separação das duas da transformação f3cFC-+ aHc no coba:lto.
fases é para os eixos cristalográficos da rede de austenita. Nos aços com elevada composição em manganês (mais que
103), e também nos aços inoxidáveis cromo-níquel, forma-se o que se
O tipo de hábito está relacionado com a espécie de deformação
chama de martensita -E, a qual possui rede H.C., e a partir dela pode-se
de acomodação da rede durante a transformação martensítica. Por
formar a habitual martensita a com rede cúbica de corpo centrado ou
exemplo, a teoria prediz que, se esta deformação se dá através do ca-
tetragonal de corpo centrado. Os defeitos de "falha de empilhamento na
minho da maclagem pelo plano {112} M, então o hábito da martensita
austenita são núcleos preparados de martensita -E. No aço com elevado
será {3,10,15i} A.
teor de manganês, e nos aços inoxidáveis austeníticos cromo-níquel, de-
9.3.6. Nucleação da martensita. A questão de como se apresenta vido à energia de falha de empilhamento muito baixa, as discordâncias
Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 281
280 /. /. Novikov
capítulo 9

durante sua formação na matriz da austenita, e é análoga à forma de


se dissociam muito fortemente e, conseqüentemente, existe nucleação
maclagens mecânicas. É um caso extremamente raro o aparecimento
substancial de martensita -é hexagonal.
da superfície maior da agulha no plano da amostra polida( fig. 120). As
A observação direta em microscópio eletrônico de transmissão
seções livres dos cristais de martensita na superfície da amostra, com
mostra que nos aços inoxidáveis a nucleação da martensita -e de fato
pequenas aumentos do microscópio, constituem uma impressão falsa de
aparece nos defeitos de falha de empilhamento da austenita. Além disto,
que são cristais em forma de agulhas. Historicamente apareceram os ter-
a martensita -a nucleia nos locais de acumulação de discordâncias. mos "agulhas grossas" e "agulhas médias" de martensita, amplamente
O papel das discordâncias na nucleação da martensita -a é in-
difundidos.
discutível. Porém, não é ainda claro em que consiste, concretamente,
este papel. Por uma hipótese, um grupo de algumas discordâncias
na rede C.F.C. forma tal configuração que transforma a respectiva mi-
crorregião em núcleo com rede e.e.e .. Outra hipótese analisa as dis-
cordâncias como fontes de campos de tensões internas, as quais dimi-
nuem a energia de formação do embrião crítico (atingindo até mesmo a
nucleação sem barreira).
A nucleação da martensita também é vista como resultado da
perda de estabilidade mecânica da rede de austenita no estado prévio
ao martensítico. Como confirmação disto, alega-se o fato da queda do
módulo de elasticidade da austenita perto do ponto Mi, para algumas
ligas.

9.4. Microestrutura e subestrutura das ligas temperadas em mar-


tensita.
Figura 119. Formação de distribuição em armaduras das ~r;l1lhas de
martensità e austenita residual (fundo claro), no aço com 1,S~(oC: tem-
9.4.1. Microestrutura. Durante a investigação da estrutura de aços perado, 552X (Krauss e Mader). Nas lâminas são vistos os. IIlldnbes.
temperados ao carbono e também de ligas à base de ferro sem carbono,
surgem dois tipos morfológicos principais de martensita: acicular e pla-
quetas {massivas, pacotes) Os hábitos da martensita acicular, dependend()< ~a composição
Estes dois tipos de martensita se diferenciam pela forma de lo- da liga, podem ser os planos {225}A e {259}A no sistema.Fe-C e 3, 10,
calização mútua dos cristais, das subestruturas e também pelo plano de 15}A no sistema Fe-Ni.
hábito. · As a ulhas vizinhas não-paralelas freqüentemente fo.rmam ~m
A martensita acicular (também denominada de agulhas, de g.
conjunto parecido a uma armad ura d e v1·gas (fig · 119). Em _vista ,da. m-
baixa temperatura e de maclagem) é um tipo "clássico", bem conhecido, terferência da ação a grande distância dos campos das tensoes.elast1ca:'
de martensita. Ela é mais claramente revelada nos aços de alto car- de cada agulha, estas suas localizações regulares na fase matrn p:rm1-
bono temperados e nas ligas de ferro sem carbono e com concentração , ·
tem o rmmmo d e energi·a elas'·tica total dos campos de todo o conJunto
elevada de um segundo elemento, como por exemplo nas ligas de Fe-Ni de cristais aciculares.
contendo mais de 28%Ni. Os cristais de martensita possuem a forma de As agulhas que surgem em primeiro lugar (perto do ponto Mi)
agulhas finas com formações retilíneas (fig. 119). Esta forma de agulhas
de martensita corresponde ao mínimo de energia elástica de deformação, camm iam a t raves
· l , de todo 0 grão de austenita, desmembrando o mesmo
282 l. l. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 283
capítulo 9

em seções. As agulhas de martensita, em conseqüência dos mecanis-


mos de sua formação, não podem atravessar o contorno do grão da fase
matriz. Por isto, o tamanho máximo das agulhas de martensita é limi-
tado pelo tamanho dos grãos austeníticos.

Devido à diminuição da temperatura formam-se, na austenita


seccionada, novas agulhas de martensita, cujos tamanhos são limitados
Figura 121. Esquema de formação de agulhas de martensita de vários
pelas dimensões da seção da matriz (fig. 119 e esquema na fig. 121). À comprimentos, em um grão de austenita.
medida que prossegue a transformação martensítica, o grão de austenita
se divide em seções cada vez menores, nas quais se formam agulhas Nos locais de encontro das agulhas de martensita que cres-
de martensita cada vez menores. Com tamanho de grão austenítico cem inclinadamente uma em relação à outra, podem surgir maclagem
pequeno, por exemplo para pequenos superaquecimentos do aço acima mecânica e microtrincas. Com o crescimento do grão austenítico, cres-
das temperaturas Ac3, as agulhas de martensita são tão pequenas que cem as agulhas de martensita, e se eleva a formação de microtrincas nos
a constituição "acicular" na amostra polida não é vista, e a martensita
locais de encontro das agulhas.
se denomina sem estrutura. Esta martensita é mais desejável.
A martensita em forma de plaqueta (também denominada pla-
ca, maciça, de alta temperatura e de não-maclagem), é ~m tipo rr;o:-
fológico amplamente difundido, se observado em aços baixo ou rr:ed10
carbono temperados, na maioria dos aços ligados para. construçao, e
nas ligas de ferro sem carbono e relativamente pouc~ ligadas., c~mo por
exemplo Fe-Ni com concentração menor que 28% ~1. Os _cristais desta
martensita possuem forma de plaquetas finas de onentaçoes exemplar-
mente iguais, adaptadas umas em relação às outras, e formando plaque~
tas de eixos mais ou menos iguais. O plano de hábito dàs plaquetas e
0 { 111} A. As plaquetas de martensita são separadas por contornos de
pequeno ângulo. . · .
As larguras das plaquetas são exatamente iguais, e enco~tra-s,e
no diapasão de alguns micra até fração de m~cra (~,1- a ,0~2 µm, ~sto, e,
pode encontrar-se no limite de resolução do m1croscop10.ot1co ~~te ,ª~em
deste limite). Por isto as "plaquetas" do cristal, no m1croscop10 ot1co,
ou são completamente invisíveis ou não são reveladas como estrutura
de plaqueta fina. Em relação a isto, na estrutura ~a amostra, aparecem
a- 122) · Por isto a martens1ta
pacotes d e p laque t as (fi o· . com
. esta .estrutura
foi denomiuada empacotada ou maciça, para d1ferenc1ar da acicular.
Figura 120. Caso raro de distribuição das agulhas de martensita na Nos ar;os ligados para construção, no interior dos pacot:s de
superfície da amostra polida. 750X (A.P. Guliaev; E.V. Petunin). martensita e entre os cristais desta fase, encontra-se uma camada mter-
mediária de austenita residual, de espessura igual a 20-50Aº. ~m ~
grão de austenita podem se formar várias pla~uetas de martens1ta. s
Após a têmpera conserva-se, na temperatura ambiente, entre grãos de ferrita se formam com transformaçao normal. . A_s _?l~uetas
as agulhas de martensita, uma austenita residual (fig. 119). · se ei·r
de martens1ta 1 ercnc1·arn deles não apenas
. pela constitmçao mterna
284
Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 285
capítulo 9

da ocorrência destas subestruturas nem sempre é feita experimental-


mente. Os fatos analisados adiante são vistos com a suposição de que
estamos tratando com subestruturas de transformação.
A subestrutura da martensita acicular caracteriza-se pelo fato
de que, mesmo no microscópio ótico, pode-se verificar uma linha média
na seção da agulha, ou, mais exatamente, uma zona média mais atacada,
denominada midrib 5 (fig. 119).
O microscópio eletrônico mostrou que a zona média é uma
reg1ao densa de distribuição de camadas intermediárias de macias fi-
nas e paralelas. O plano de maclagem na martensita, em ligas na base
de ferro, é antes de tudo o {112}M. A espessura dos planos de macla-
gem, dependendo da composição da liga e das condições de formação da
martensita, oscila entre algumas dezenas até dez A 0 •
Em ambos os lados das zonas médias de maclagem, encontram-
se regiões periféricas de agulhas de martensita, nas quais são vistas dis-
cordâncias com densidade relativamente baixa (109 -1010 cm-2).
Figura 122. Martensita em plaqueta (pacote) na liga Fe-1,94%Mo, A largura da zona de maclagem na agulha de martensita de-
temperada. 200X (Krauss e Mader). pende da composição da liga. Assim, nas ligas Fe-Ni, com a elevação do
teor de níquel, a largura desta zona cresce, enquanto toda a seção da
indicada, que pode não ser revelada por microscópio ótico mas t b, agulha de martensita não ficar ocupada por maclas de transformação.
Pe 1os con t ornos estendidos
.
de forma tortuosa.
, am em
Na medida em que a subestrutura e o plano de hábito do cris-
. , . A formação das plaquetas de martensita apresenta todos os si- tal dependem do caráter da deformação de acomodação durante a trans-
nais basicos d~ diferenciação da transformação martensítica. Ao mesmo formação martensítica, é natural que seus planos de hábito e a subestru-
t:m?~' ~ surgimento de relevo na superfície polida corresponde à cons- tura estejam mutuamente relacionados. Assim, nas ligas Fe-Ni, o desvio
titmçao mterna das plaquetas. do hábito desde o plano {3,10,15}A é observado com a diminuição do
~:·2. S~best.rutura. A ilustração de microscópio eletrônico reve- conteúdo de níquel de 333 para 303. Isto é acompanhado pela dimi-
em :nmtas ligas uma estrutura fina muito complexa de cristais de nuição da densidade de maclas de transformação {112}M nas agulhas de
martens1ta, com grande quantidade de discordâncias e maclas. Esta su- martensita, e pela diminuição da largura das zonas destas macias. Além
be~tr~tura pode surgir por dois caminhos, em princípio diferentes: em disto, as próprias agulhas ficam menos retilíneas em sua forma, e mais
pnmeiro lugar pela deformação plástica de acomodação ( cisalhamento dentilhadas. A complexidade da subestrutura das agulhas com o desvio
?u mac~agem), a qua~, como foi mostrado no §9.3, é parte constituinte do hábito desde o plano {3,10,15}A indica a complexidade de caráter da
mseparavel do mecamsmo martensítico de transformação da rede. Em deformação de acomodação na transformação martensítica.
s:gundo .lug~r, p_ela deformação plástica após a formação da marten- A martensita em forma de agulhas consiste, no caso geral, de
s:ta, devido a açao do meio elástico que envolve os cristais de marten- zonas médias de maciagem e zonas periféricas de cisalhamento. Em
~~~ª· P~de-se falar, no primeiro caso, de subestrutura primária de trans- relação a este fato, foi levantada a hipótese sobre o estágio duplo de de-
e maçao, e no segundo caso, de subestrutura secundária de deformação formação das agulhas de martensita. Inicialmente, na formação da agu-
orrespondentemente, diferencia-se o entendimento de machge d . lha (futuro midrib) o papel principal é desempenhado pela deformação
transformaçao- d a mac 1agem d e d e formaç·ao
_ ~ . ' m e
' (mecan1<·a)
, . · A d" · -
11erenciaçao 5 Do inglês midrib, redução de midale ribbon (zona média).
Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 287
i86 L /. Novikov
capítulo 9

4~ acomod.ação por maclagem. Devido à excehcional velocidade de cres- Tabela 5. Formação das martensitas em fotma de plaquetas
e de agulhas (kraus e modes)
q1mento da agulha, o calor da transformação hão consegue se dissipar, e
lj. temperatura na superfície da agulha cresce ortemente, o que conduz à . Conteúdo do segundo componen~e da liga em %
:rp.udança do mecanismo de deformação de ac modação: a passagem da Sistema . ,
Martens1ta em plaquetas Martetjsita em agulhas
qiaclagem 'para o deslizamento de discordânc as (é bem conhecido que Fe-C ~ 1,0 0,6- 2,0
q>m a diminuição de temperatura nos metais oro rede e. e. e., sob d~ Fe-N o, 7-2,5
fürmação plástica rápida, o deslizamento é su stituído pela maclagem). Fe-Ni 29-34
. A subestrutura da martensita em fo a de plaquetas diferencia- Fe-Cr
s~. qualit~ti··.~ente da subestrutura da marte,sita em forma de agulhas,
pela ausenc1a de zona de camada intermediár'a de macla fina. A subes-
tfutura de. martensita em forma de plaquet possui uma constituição
Com a diminuição da temperatura, a
resistência ao cisalha-
mento cresce rapidamente e, a partir de algum~ temperatura fica maior•
cpmplexa de discordâncias, para a qual é cara terístico o entrelaçamento que a resistência à maclagem (fig. 123). Por isto, para temperaturas.
d~ discordâncias com elevada densidade, da o dem de 1011 - 1012cm-2.
mais baixas, é mais provável que a transformação martensítica forme\
~sta é a mesma densidade de discordâncias exi tente no metal após forte
martensita acicular, e para temperaturas mais eilevadas forme martensita
d~formação a frio. As camadas intermediári de maclagem podem ser em plaquetas. Daqui, compreende-se porque nhs ligas do sistema Fe-C,
eticontrada$ na plaqueta da martensita, porém sua densidade é incompa- Fe-N e Fe-Ni, para pequenos teores do segundo componente, formam-se
riivelmente menor do que no midrib da marten ita em forma de agulhas. plaquetas, e para teores maiores forma-se martensita acícular (tab. 5) ..
. A •subestrutura da austenita residual iferencia-se da subestru- Esta passagem está relacionada, logicamente, com a diminuição da tem-
t~ra da austenita inicial pela maior densidade de defeitos, os quais sur- peratura Mi (fig. 111). Com teores maiores, por exemplo de carbono, em
g~.m ~ela qeformação plástica localizada da ustenita, sob a ação dos temperatura relativamente baixa do intervalo riiartensítico, a resistência
c~1sta1s de martensita. Na austenita próxima s cristais de martensita, ao cisalhamento é maior que à maclagem, e forma-se martensita acicu-
ºt'ervam-se planos de acumulação de discord ~ das, entrelaçamentos de lar. A passagem de um tipo morfológico parh. o outro ocorre em um,
d~cordâncias e defeitos de empilhamento.
intervalo de composições.
9.~.3. Pas~agem de um tipo de morfolo ia da martensita para
o outro tipo. Os dois tipos básicos de marte sita se diferenciam pelas
mtcro e subestrutura, bem como pelo plano d . hábito. É inteiramente
ló~ico concluir que o papel condutor na formaç da martensita acicular,
d~ modo ex~remo no primeiro estágio, é <lesem enhado pela deformação
de: acomod~~ através de maclagem, e que ni formação da martensita
ell\l plaquetas e desempenhado pela deformaçãq de acomodação, através
de! cisalhamento.
.
11

O tipo de martensita que se forma dep nde das relações, na aus-


ten,.· 1ta, entre as tensões cr~ti~~ tang~nciais que rovocam o cisalhamento
e q. rnaclagem. Se para o m1c10 do c1salhament é necessário tensão tan-
ge*cial maior do que para o início da maclagem, forma-se rnartensita aci-
1.

Figura 123. Esquema de variação das tensões cliíticas de cisalhamento


e de maclagem (Ter}, em função da temperatura.
cular. B.as..ea.ndo-se nesta constatação, é fácil etplicar muitos princípios
dai passagem de um tipo de martensita para o utro, e antes de tudo a
influência da composição da liga na morfologia da rnartensita (tab. 5).

1
288 !. !. Novikov Teoria dos tratamentos térm(cos dos metais 289
capítulo 9

É também compreensível a razão de, na nmrtensita em plaque- As relações entre as quantidades de martensita e austenita, que
tas, parte dos cristais possuir camada intermediária de macias. São os caracterizam as curvas da figura 124, são determinadas por magnetôme-
cristais que se formaram na parte inferior do intervalo martensítico, e tro (pelo desvio do ponteiro do magnetômetro), utilizando o fato de que
como eles surgiram em último lugar, o tipo morfológico permaneceu o a austenita é paramagnética e a martensita, ferromagnética. Também
de plaquetas. são determinadas pela variação da condutividade elétrica e pelo método
Nos sistemas como o Fe-Cr, em cujo diagrama de equilíbrio a de dilatometria.
região / é estreita, a temperatura Mi para qualquer concentração do
elemento de liga é tão elevada que a martensita acicular geralmente não E
se forma (tab. 5). ·;;; a b e
e:
2
A estabilização da austenita por qualquer caminho, isto é, a o
elevação da tensão crítica que provoca o cisalhamento, deve possibilitar .,E
a formação de martensita acicular, inclusive com temperatura Mi cons- "'.,o
"'
:2
tante. O carbono está entre os mais fortes estabilizadores da austenita, "E
o
e por isto a elevação de seu teor é particularmente efetiva cm agir para o
:::>

o desenvolvimento de maclagem durante a transformação martensítica.


Mf Mj Mi
Nas ligas de titânio, a elevação do teor do elemento de liga Temperatura Temperatura Tempo
diminui a temperatura Mi. Isto conduz à mudança da morfologia e
Figura 124. 'D:ansformação martensítica atérmica (a), explosiva (b) e
da estrutura da martensita. Por exemplo, nas ligas temperadas do sis-
isotérmica plena (e).
tema Ti-Mo, com a elevação do teor de molibdênio a microestrutura
torna-se claramente acicular, e no interior das agulhas de martensita o
entrelaçamento de discordâncias se modifica cada vez mais em macias. A transformação atérmica (fig. 124a e 125, curva 1) caracte-
Finalmente assinalamos que a constituição geral do metal ou riza-se pela suave elevação da quantidade de martensita, durante res-
liga submetidos à transformação martcnsítica diferencia-se da consti- friamento contínuo da temperatura, no intervalo martensítico Mi-MF.
tuição do mesmo material após transformação desordenada da rede, A suspensão do resfriamento conduz à suspensão quase total da trans-
pela quantidade maior de defeitos, maior desenvolvimento de contor- formação. Quando a amostra no estado austenítico é transportada para
nos e subcontornos e maior densidade de discordâncias e de camadas o banho com temperatura inferior a Mi, a transformação se dá com velo-
intermediárias de maclas. cidade muito grande durante alguns segundos. Neste curto intervalo de
tempo a temperatura da amostra é homogeneizada e torna-se a mesma
que a temperatura do banho. Durante a exposição isotérmica poste-
9.5. Cinética das transformações martensíticas. rior, a martensita não se forma, apesar da grande quantidade de fase
inicial (austenita). Mais precisamente, a velocidade de transformação
9.5.1. Variedades de cinética. Convcncionalmente, pode-se sepa- isotérmica da austenita é muito pequena (daí a denominação de trans-
rar três tipos de transformações martensíticas, diferenciados pela sua formação "atérmica").
cinética: atérmica, explosiva e isotérmica plena. A quantidade de austenita residual após a têmpera, com res-
A transformação atérmica é observada nos aços ao utrhono e friamento até a temperatura ambiente, depende da composição da fase
nos aços ligados com ponto martensítico Mi acima de lOOºC. A explosiva, austenítica inicial, que está de fato relacionada com a localização do
nas ligas dos sistemas Fe-Ni e Fe-Ni-C com ponto Mi abaixo da tempe- ponto martensítico superior. Com a elevação do teor de carbono, o
ratura ambiente, e a isotérmica plena nas ligas dos sistemas Fe-Ni-Mn e ponto Mi decresce (fig. 111) e, quantitativamente, a austenita residual
Fe-Ni-Cr, com ponto Mi também abaixo da temperatura ambie11te. na temperatura ambiente é maior. Por exemplo, com a têmpera a par-
290 /. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 291
capítulo 9

tir do estado austenítico, nos aços com 0,6 e 1,2%C, esta quantidade é
igual, respectivamente, a 2% e 20%. Nos aços de alto carbono ligados,
é possível reter 60% de austenita residual após têmpera. 80
A austenita residual se conserva também em temperaturas a- ~
2
baixo do pon,to final da transformação martensítica M f. Ao atingir este ·;;; 60.
~
ponto, a curva martensítica permanece horizontal, o que corresponde t:
o
a praticamente nenhuma variação na relação entre as quantidades de E
martensita e austenita residual (fig. 124a). .,
A transformação atérmica representa maior interesse prático, -g
~
pois, ao contrário da explosiva e da isotérmica plena, que são carac- § 20
::i
terísticas principalmente para a região de temperaturas negativas, ela o
ocorre em temperaturas acima da ambiente, isto é, nas condições habi- o '::7-:---~-L-.llL...__.._ _J
tuais de têmpera das ligas industriais. -200 -100 o 100
Temperatura, ºC
A transformação explosiva caracteriza-se pelo aparecimento,
aos saltos, com explosões, de determinada quantidade de martensita, Figura 125. Curvas de transformação martensítica 1 -. °' com res-
para temperatura abaixo de Mi ou um pouco acima (fig. 124b e 125, friamento contínuo de ligas de ferro com níquel (M.D. Percas; V.M.
Kardonsk):
curvas 2 e 3). A quantidade de martensita, que se forma explosiva-
1 - 293 Ni, Mi = -lOºC; 2-313 Ni; Mi = -63ºC; 3 -323Ni, Mi=
mente, depende da composição da liga e da localização do ponto Mi, -·97ºC.
oscilando de alguns pontos percentuais até, por exemplo, 70%. A ex-
plosão é acompanhada de um efeito sonoro (audível como se fosse uma gas de ferro, para as quais é característica a transformação martensítica
rachadura) e de uma elevação momentânea da temperatura, às vezes de isotérmica, pode-se utilizar resfriamento rápido das amostras até a tem-
30ºK, devido à rápida liberação do calor latente da transformação. peratura do nitrogênio líquido (-196ºC). Com posterior reaquecimento,
A transformação isotérmica plena (fig. 124c e 126) pela sua a austenita passa por transformação martensítica isotérmica, com velo-
cinética lembra em aparência a transformação normal de fase (fig. 68). cidade que depende da temperatura.
Com a exposição isotérmica, após algum período de incubação, a trans-
Em princípio, a diferença entre as cinéticas da transformação
formação martensítica desenvolve-se aceleradamente, e em seguida se
martensítica isotérmica e da transformação desordenada de fase consiste
extingue gradualmente.
em que a transformação martensítica não ocorre até a completa extinção
Da mesma maneira que na transformação normal de fase, a
da fase, isto é, conserva-se austenita residual. A quantidade de marten-
velocidade da transformação isotérmica martensítica depende da tem-
sita formada isotermicamente oscila de fração percentual até dezenas de
peratura. Assim, por exemplo, na liga de ferro com 23,4%Ni, 33%Mn e
pontos percentuais, dependendo da composição da liga e da temperatura
0,06%C, a transformação martensftica é acelerada com a diminuição da
de exposiçãÕ isotérmica. Por exemplo, na figura 126 está indicado que
temperatura, se -50 até -120ºC, e: torna-se lenta com a posterior dimi-
após 9 horas de exposição na temperatura de -50ºC forma-se aproxi-
nuição (fig. 126). O período de incubação se reduz, com a diminuição de
madamente 1% de martensita, e a -20ºC, mais que 50%.
temperatura, até -120ºC, e depois cresce. Isto permite construir a curva.-
e da transformação martensítica isotérmica (fig. 127), em analogia com As experiências mostram que não se deve contrapor brusca-
a habitual curva-C de transformação desordenada de fase. mente as transformações atérmica e explosiva com as isotérmicas. Nas
Como há um período de incubação, a transformação isotérmica ligas para as quais é característica a cinética atérrnica, após a rápida
martensítica pode ser completamente evitada, utilizando resfriamento formação "atérmica" de determinada fração de martensita, com res-
rápido da austenita até temperaturas muito baixas. Assim, naquelas li- friamento até dada temperatura, pode se formar isotermicamente uma
292 !. !. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 293
capítulo 9
-50
60
-120"C -75
o
50
(..) -100
o
o
40 E -125
e
"if!.
"'Ea. -150
{!!.
Ê 30
·o;
e: -175
~
o
E 20 10 102 103 104 105
dl ln tempo (seg)
"O
dl
-g
~ 10 Figura 127. Diagrama C da transformação isotérmica da austenita
o em martensita, na liga Fe -23,43Ni - 3,33Mn. As cifnL' nas cur-
::J
o vas indicam a quantidade de martensita que se forma (O.P.~lasimov;
A.J.Niconorov).

Tempo,h.
Após a formação extremamente rápida, o crescimento do cristal
Figura 126. 'fransformação isotérmica da austenita em martensita, a de martensita é interrompido. A elevação de quantidade de martensita
várias temperaturas, da liga Fe - 23,4%Ni - 3,3%Mn (O.P. Maximov; com a diminuição de temperatura, nas transformações atérmica e ex-
A.L Niconorov).
plosiva, ou com a elevação do tempo de exposição na transformação
isotérmica, ocorre em conseqüência da formação de novos cristais, e não
quantidade complementar de martensita. Após a "explosão" de marten- pelo crescimento dos que se formaram anteriormente. Esta particula-
sita, também pode-se formar uma quantidade significativa de martensita ridade mais importante da transformação martensítica é visivelmente
"isotérmica", em temperaturas inferiores à de explosão. Pequena quanti- demonstrada com a ajuda de microfilmagem veloz.
dade de martensita isotérmica pode formar-se a temperaturas um pouco
acima da temperatura de explosão. Um traço característico da cinética de todas as transformações
martensíticas é sua autocatalização: a formação das primeiras agulhas,
Os cristais de martensita, independentemente do tipo de ci- possibilita o surgimento de uma quantidade ainda maior de agulhas, e
nética de transformação, crescem com excepcional velocidade a qual- assim por diante. Em conseqüência deste processo, um pequeno espaço
quer temperatura, inclusive em temperaturas bastante baixas. Através de tempo é valoroso para a reação.
da variação de resistência elétrica que acompanha a formação de cada O processo de autocatalização aparece mais claramente na
agulha, foi determinada a velocidade de seu crescimento e o tempo de transformação explosiva. A transformação explosiva resulta do fato de
formação. A velocidade ele crescimento da agulha de martensita (no que a formação ele uma agulha provoca, com intensidade não lenta, a
plano da agulha) mostrou-se ela ordem de 1 km/seg, independentemente reação de aparecimento de uma série de agulhas. A causa de autocata-
da temperatura de transformação. O midrib das agulhas de martensita lização é considerada como sendo o campo de tensão elástica na borda
na liga Fe-Ni forma-se no tempo da ordem de 10- 7 seg, e toda a agulha das agulhas de martensita em crescimento, o qual possibilita o apareci-
(após o seu engrossamento mais lento) forma-se em ~ 10- 6 seg. Para mento de novas agulhas, ou mesmo a deformação plástica da austenita,
comparação, indicamos que a "explosão" dura 10- 4 - io- 3 seg. que acompanha o crescimento do cristal de martensita.
294 /. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 295
capítulo 9

Uma manifestação clara da explosão ocorre quando as agulhas temperatura no intervalo martensítico, a velocidade de transformação é
possuem hábito {259}. Mostrou-se que, exatamente com este hábito, nas relativamente pequena. Se a temperatura To é acentuadamente maior
bordas das agulhas de martensita surgem elevadas tensões na austenita, que a ambiente, a transformação isotérmica pode ser observada apenas
as quais estimulam o aparecimento de novas agulhas. Com a formação na região de temperaturas próximas ao ponto Mi, e com temperatu-
de agulhas de martensita com hábito {225} não se observa explosão. ras relativamente baixas (habitualmente negativas, e mais raramente
Por isto, a agulha de martensita com hábito {259} e com faixas médias na temperatura ambiente). Entre estes intervalos de temperaturas,
características de maclagem às vezes é denominada martensita explosiva. onde se verifica experimentalmente transformação isotérmica, pode ha-
Não existe diferença acentuada entre a transformação explosiva ver uma região de temperaturas na qual a transformação isotérmica
e a atérmica habitual. Com a variação da composição da liga ocorre ocorre com elevada velocidade, e por isto tem-se a impressão de ausência
urna passagem gradual da transformação atérmica para a clara mani- de isotermicidade. Com estas afirmações não se exclui que, em geral, a
festação de transformação explosiva. Por exemplo, no sistema Fe-Ni própria transformação atérmica aconteça, pois ela é uma transformação
contendo 29%Ni a transformação caracteriza-se como tipicamente de isotérmica habitual, que ocorre com elevada velocidade a cada tempe-
cinética atérmica. Já no mesmo sistema, contendo 31 e 32% Ni dá-se a ratura, no período de resfriamento durante a têmpera. Exatamente por
cinética explosiva, além do que o valor da explosão na liga com 32%Ni isto, nas ligas para as quais é característica, como um todo a cinética
é maior que na liga com 31%Ni do (fig. 125). "atérmica", freqüentemente revela-se, em um outro grau, a' formação
A transformação explosiva pode ser considerada corno uma va- isotérmica da martensita durante a parada do resfriamento.
riedade da atérmica, quando o processo de autocatalização se revela A descoberta de G.V. Kurdjimov e 0.P. Maximov da trans-
particularmente mais claro. Por sua vez, a transformação atérmica, em formação isotérmica plena da martensita levou diretamente à demons-
princípio, não se diferencia da isotérmica. Ambas estas variedades da tração de que a nucleação de cristais de martensita depende da tem-
cinética das transformações martensíticas, como mostrou G.V. Kurdji- peratura e do processo de ativação térmica, como qualquer processo de
mov, devem ser consideradas como representantes iguais da variação da nucleação de cristais da nova fase (§4.1). Em relação a este fato, o
velocidade de nucleação da transformação em função da temperatura. próprio entendimento de "transformação atérmica" é contraditório com
A velocidade do crescimento dos cristais de martensita não de- a natureza térmica da formação dos núcleos. A denominação mais apro-
pende do valor da temperatura. Por isto, a observação de que, com a ximada, porém menos difundida, de "transformação não-isotérmica",
diminuição da temperatura, inicialmente cresce e depois diminui a velo- indica apenas o fato de que a martensita se forma a várias temperaturas
cidade de transformação isotérmica (fig. 126 e 127), está condicionada durante o resfriamento, e não apenas em uma temperatura.
apenas à variação da velocidade de nucleaição dos cristais de martensita As particularidades mais importantes das transformações mar-
em função da temperatura. tensíticas são a interrupção da formação de martensita com a presença
Como em qualquer transformação de fase, a velocidade de nu- de fase inicial (austenita) não consumida e a necessidade de diminuição
cleação da rnartensita N = Ae-~Gcr/kT.-Q/kT (fórm. (25)). da temperatura para reinício da transformação. A transformação mar-
Em alguma região intermediária de temperaturas ainda não tensítica se desenvolve em conseqüência da formação de novos cristais, e
muito baixas, a diminuição da energia de formação dos embriões pode não devido ao crescimento dos que se formaram anteriormente. Por isto,
conduzir a uma transformação tão rápida, que nem o período de in- a interrupção da transformação significa a interrupção da formação de
cubação, nem a isotermicidade da transformação (seu desenvolvimento núcleos de martensita. Devido ao fato de que o mecanismo de nucleação
no tempo) são experimentalmente detectáveis. da martensita não está solidamente estabelecido, a análise da particu-
Dependendo da composição da liga e do valor absoluto do To laridade mais importante das transformações martensíticas tem apenas
é possível encontrar vários casos observados experimentalmente. Po; uma explicação através de suposições.
exemplo: se o ponto To é baixo, a qualquer temperatura manifesta- O enfoque atual parte da hipótese de nucleação heterogênea
se transformação isotérmica (fig. 126 e 127), assim como a qualquer da martensita, nas regiões de austenita previamente preparadas com
296 /. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 297
capítulo 9

uma constituição particular (§9.3). Estas regiões especiais de austenita


diferenciam-se umas das outras pelas dimensões. Quando, durante o
resfriamento, o estímulo termodinâmico da transformação - a diferença
entre as energias de Gibbs da austenita e da martensita - atinge deter-
minado valor, as regiões especiais indicadas da austenita transformam-se
em embriões ativos de martensita, capazes para o crescimento. Próximo
ao ponto Mi, apenas as regiões da austenita nas quais é mínima a ener-
gia de formação do embrião de martensita são centros de transformação.
Com a eliminação destas regiões, interrompe-se a transformação. Para Tempera! ura
seu reinício é necessário diminuir a temperatura, para aumentar a dife-
rença entre as energias de Gibbs da austenita e da martensita. Figura 128. Curvas de martensita para diversas estabilizações da auste-
A extinção da transformação martensítica na exposição iso- nita: T; - temperatura na qual se interrompe o resfriamento e reàliza-;;e
a exposição;
térmica também é possibilitada pela divisão do grão de austenita ~m 1 - curva de resfriamento contínuo; 2,3 - curvas correspondentes a
partes cada vez menores (fig. 121). Com a redução das dimensões destas diversas exposições (t) na temperatura T;, com t3 > t2.
partes, diminui o tamanho dos novos cristais de martensita. Por isto, a
fração volumétrica de martensita formada, a partir de cada um de seus transformação martensítica com posterior resfriamento do aço na região
embriões, torna-se menor. de temperaturas negativas. Ao mesmo tempo, após a têmpera em água
9.5.2. Estabilização térmica da austenita. Por estabilização tér- e exposição na temperatura ambiente, eleva-se a quantidade de auste-
mica da fase inicial, entende-se a dificultação de sua transformação em nita residual. Por isto, o estudo da estabilização da austenita apresenta
martensita, como resultado da ação do calor. interesse para o tratamento tecnológico do aço resfriado (§9.10).
A estabilização térmica da austenita, geralmente denominada A medição do efeito de estabilização, é freqüentemente reali-
apenas estabilização, é observada durante a parada momentânea do res- zada pela histerese de temperatura = Ti - Mi (fig. 128).
friamento da liga de ferro, no intervalo de transformação martensítica O grau de estabilização da austenita depende da temperatura
atérmica. Se o resfriamento é interrompido numa temperatura Ti < Ti de interrupção do resfriamento e da exposição a esta temperatura. Se
Mi (porém maior que M 1 ) e faz-se, nesta temperatura, uma exposição, após a interrupção do resfriamento a liga é aquecida até alguma tempe
a austenita se estabiliza. A estabilização manifesta-se pelo fato de ratura Te> Ti, o grau de estabilização depende de Te e do tempo de
que, com o reinício do resfriamento, a transformação não tem início exposição a esta temperatura.
imediatamente na temperatura Ti, mas sim após o super-resfriamento Com a diminuição de Ti, isto é, com o crescimento da quanti-
da austenita até alguma temperatura Mi' (histerese) (fig. 128). Com dade de martensita presente durante a exposição de estabilização, au-
isto, freqüentemente, forma-se menos martensita do que no resfriamento menta o grau de estabilização. Mais complexa é a influência do tempo
contínuo (a curva martensítica 2 na fig. 128 está abaixo da curva 1) e a de exposição. Com a elevação do tempo de exposição na temperatura Ti
quantidade de austenita residual aumenta. Recomeçando na tempera- ou Te, o grau de estabilização pode crescer continuamente (curvas 2 e
tura Mi' a transformação martensítica pode ocorrer explosivamente (por 3, fig. 128). Para temperaturas suficientemen.te elevadas, o aumento do
exemplo, nas ligas Fe-Ni-C). tempo de exposição, inicialmente, conduz ao crescimento e em seguida
O caso mais simples de tratamento térmico que inclui a estabi- à diminuição do grau de estabilização. Quanto maior a temperatura Te,
lização da austenita pode ser observado quando o ponto Mi se encontra mais rapidamente atinge-se o máximo de .
acima e J1f1 abaixo da temperatura ambiente, além de Ti ser igual a No aço com l,43C e 53Ni foi descoberto que o valor de , após
20ºC. Assim, a exposição do aço ao carbono na temperatura ambiente, passar por um máximo, decresce e torna-se negativo, devido ao aumento
após têmpera habitual na água, estabiliza a austenita, dificultando a do tempo de exposição na temperatura Te. Isto significa que grandes
300 L l. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 301
capítulo 9

formação martensítica. Este estímulo é, exatamente, a formação de A martensita de deformação nucleia nas regiões preparadas pela de-
novos locais de nucleação da martensita, sob a ação da deformação. Isto formação plástica.
é compreensível se considerarmos que os embriões de martensita podem Em temperaturas acima de Mi, a martensita de tensão pode
ser determina.dos grupos de discordâncias estendidas. Quanto maior a formar-se apenas no intervalo Mi-Miu. Acima da temperatura Miu, no
temperatura e, correspondentemente, menor Gv 01 , tanto maior deve intervalo Miu - Md, pode formar-se apenas a martensita de deformação.
ser a deformação capaz de provocar transformação martensítica (tre- A martensita de tensão e a martensita de deformação podem surgir tanto,
cho bc na figr 129). Acima da temperatura Md, nenhuma deformação nos intervalos indicados como em temperaturas mais baixas. Por exem-:
plástica pode transformar a austenita em martensita, através de de- pio, foi descoberta experimentalmente a formação destes dois tipos de
formação. martensita no intervalo Mi - MiP, quando a carga suplementar provoca
deformação plástica da fase inicial. Sob a ação da tensão de carga suple-'
e mentar, em temperaturas abaixo de Mi, a martensita de tensão forma-se
em complemento à martensita de resfriamento.

-~
A autocatalização, característica de qualquer transformação
martensítica (§9.5), por sua essência é resultado do início da influência,
das tensões. Apenas, neste caso, as tensões surgem na fase inicial du-
rante o aparecimento de cada cristal novo de martensita.
O efeito de formação da martensita, sob a ação da deformação,,
encontrou utilização prática diversificada.
Mj Mj
Temperatura A elevada tenacidade dos aços com austenita mecanicamente,
instável (por exemplo o aço 30 x lOGlO com ponto Mi = -40ºC) é ex-
Figura 129. Tensões que influem na transformação martensítica com plicada pela formação de martensita na camada superficial da peça, soh
deformação elástica (trecho ab)no intervalo Mi - Mi", e com deforrna- a ação de microchoques hidráulicos. O núcleo da peça permanece aus-
cão plástica (tr&ho bc) no intervalo Mi" - Md (esquema segundo Alson
e Koen).· tenítico.
Nos anos 60 surgiu uma nova classe de aços se alta resistência,
designado aço TRIP ou TIP 6 • Estes aços, ligados com cromo, níquel,,
Em ligas de ferro com energia de falha de empilhamento rela- molibdênio, manganês e outros elementos, possuem· pontos Mi e Md'
ti~an:ente elevada, a martensita forma-se na austenita com deformação abaixo da temperatura ambiente. No estado austenítico a 400 - 600ºC,.
plast1ca pelo esquema / -+ a, e nas ligas com baixa energia de falha de
os açÓs TRIP são encruados para elevação da resistência. Com isto,
empilhamento, pelo esquema/ -+ e -+ a (sobre a martensita e ver §9.3). precipitam-se carbonetos nas discordâncias, a austenita empobrece em:
. Em_~elação com o exposto, dev ~:>diferenciar: 1) A marten- carbono e o ponto Md eleva-se até uma temperatura acima da ambiente.,
sita de resfriqmento, que se forma sem a açào de <lcfnrmação elástica Este aço tem o valor de combinar a elevação da resistência (graças ao
ou plástica, mas apenas como resultado da diminuição de temperatura encruamento e envelhecimento por deformação da austenita) com dutili-.
abaixo do ponto Mi; 2) A martensita de tensão (stress-assisted marten- dade muito elevada. Quando, durante a tração da amostra na tempera-
si~e ),_que se forma so_b ação da tensão da carga suplementar (deformação tura ambiente, inicia-se a deformação localizada, sob sua ação forma-se
elastica); 3) martens1ta de deformação plástica, resumidamente marten- martensita, endurecendo a amostra no local, e a deformação se difunde
sita de deformação (strain-induced martensite), que se forma como re- nas regiões vizinhas da austenita. Desta maneira, a formação da mar-.
sultado da deformação plástica da fase inicial. A rnartensita de tensão
nucleia tios mrsmos locais de fase inicial onde nucleia a martensita de 6TIP - Transformação induzida pela plasticidade. (inglês-Transformation Induceq
resfriamento. As tensões apenas facilitam sua nucleação nestes locais. Plasticity, ou TRIP).
302 l. l. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 303
capítulo 9

tensita, sob a ação da deformação plástica, previne o desenvolvimento Antes já foi mencionado que a transformação martensítica é,
de deformação localizada (formação do pescoço), o que garante elevado obrigatoriamente, acompanhada de variação da forma do volume trans-
alongamento relativo (até 100-1503). A insuficiência dos aços TRIP é formado. Também mencionou-se que, no caso da martensita termoelás-
a dificuldade de obtenção de grandes reduções a temperaturas relativa- tica, as fases passam por um caminho inverso àquele que atravessaram
mente baixas, quando é grande a resistência à deformação e se exige um durante a transformação direta.
equipamento potente.
Nas ligas que possuem EMF, o mais importante são as duas se-
9.6.2. Efeito de memória e superelasticidade. O interesse pelas guintes influências da deformação. Em primeiro lugar, sob a influência
leis da influência da deformação na transformação martensítica cresceu da deformação acima de M f, nucleiam cristais com orientações preferen-
na década de 70, devido à utilização industrial do efeito de memória da ciais, ou cristais que crescem preferencialmente às custas da fase inicial.
forma e superelasticidade. Neste último caso, são aqueles cristais que se formaram antes e que
possuem aquela orientação preferencial citada. Em segundo lugar, se
O efeito de memória da forma (EMF) é um fenômeno no qual, a deformação é conduzida ao término da transformação direta (abaixo
após a obtenção de determinada forma da peça durante a elevação de de MF ), os cristais de martensita orientados mais favoravelmente cres-
temperatura, ela adquire nova f arma com uma temperatura mais baixa, cem às custas dos cristais orientados menos favoravelmente. Favorável
e depois de novo aquecimento restabelece-se a f arma inicial da peça. é aquela orientação que, ao se formar, corresponde à macrovariação da
O EMF manifesta-se externamente de maneira não-usual. Por forma da amostra que está submetida à carga suplementar.
exemplo, se um arame durante a elevação de temperatura é enrolado em Com o aquecimento após a deformação, a transformação in-
forma parecida com espiral e torna-se retilíneo na temperatura ambiente, versa da martensita conduz à eliminação dos cristais de martensita que
com um posterior aquecimento ele se enrola por si próprio em espiral da crescem durante a deformação. Se os contornos entre as fases permane-
mesma forma que a inicial. cem coerentes (ou semi-coerentes), isto é, se houve cisalhamento, então
A superelasticidade é um fenômeno no qual a amostra suporta a forma inicial da amostra é restabelecida. Isto está longe de ser pro-
deformação reversível, 1-2 ordens de grandeza (!) maior que as de- priedade de todas as ligas. Por exemplo, nas ligas Fe-Ni (fig. 115) os
f armações dos materiais metálicos, até o limite convencional de elasti- contornos entre as fases não se movimentam reversivelmente e está au-
cidade. As ligas metálicas que possuem superelasticidade comportam-se sente o efeito de memória da forma.
como a resina. Na figura 130 estão descritas a elevação da quantidade de mar-
O EMF e a superelasticidade estão relacionados ao mesmo tensita termo-elástica durante o resfriamento, e a diminuição de sua
fenômeno: reversibilidade da macrodeformação da amostra, condicio- quantidade durante o posterior aquecimento.
nada ao movimento de contornos cisalhantes entre cristais, com trans- Se for adicionada uma carga à amostra na região de temperatu-
formação por cisalhamento. O termo "cisalhamento", aplicado ao con- ras AF < Td < MiP, nela inicia-se a formação de martensita de tensão e
torno, é utilizado com o mesmo sentido para as discordâncias. Com o modifica-se a forma da amostra. Na figura 131 mostra-se a relação entre
movimento por cisalhamento, os átomos deslocam-se em relação a seus a tensão e a variação de forma, para este caso. Na região AB ocorre
vizinhos a uma distância menor que a interatômica. Não há corrente de deformação elástica da matriz inicial (austenita) igual a e:~. Na região
lacunas e outros defeitos pontuais, e a energia de ativação é substancial- BC com tensão constante 7 , a deformação se dá em conseqüencia da
mente menor que a energia de ativação da autodifusão. variação de forma do volume transformado, durante a formação de mar-
Nas diferentes ligas, e mesmo em uma liga em condições di- tensita de tensão. Com a deformação ocorrendo até o ponto C, forma-se
ferenciadas, podem atuar vários mecanismos de restauração da forma. martensita de deformação elástica (região CD). Com posterior elevação
Entre eles, o mais importante para utilização industrial é o relacionado
com a transformação inversa da martensita após a deformação. 7 Nas condições reais a região BC possui pequena inclinação.
304 l. l. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 305
capítulo 9

su lsu1
deformação elástica da martensita (até o ponto E), e depois ocorre trans-
l 1
formação inversa da martensita em austenita (região EF). Após esta
1 1
1 1 transformação, a deformação elástica da austenita desaparece (região
1 1 FA).
l 1 A maior parte da deformação inversa é condicionada à trans-
11 formação martensítica (região EF). Esta deformação é igual aproxima-
o 11
damente a 7%, ao passo que a região normal de elasticidade dos metais
11 policristalinos não ultrapassa o limite de décimos de fração percentual
11 (na figura 131 as regiões de deformação elástica normal AB e CD, em
comparação com a região EF, não estão mostradas em escala). A de-
formação BC recebeu a denominação de superelástica.
Ao deformar a amostra no intervalo de temperaturas Mp <
Figura 130. Variação da quantidade de martensita termoelástica com Td < Ai (fig. 130), após a deformação elástica da matriz inicial Eet
resfriamento e aquecimento.
(região AB na figura 132a), nela ocorrerão transformações de fase e de
estrutura, o que garante a deformação na região BC. Com a retirada da
da tensão da carga suplementar (acima do ponto D), ocorre deformação
carga desaparece apenas a deformação elástica constituída (região CD).
plástica e destruição da amostra.
A deformação condicionada pela transformação não inicia a desapare-
cer enquanto a temperatura não ultrapassar Ai, quando se estabelece
a posssibilidade de haver transformações inversas (região EF na figura
132b ). Com aquecimento acima do ponto Ai, a deformação condicio-
nada pela transformação desaparece completamente, e restabelece-se a
forma inicial da amostra, isto é, ocorre o efeito de memória de forma.
No intervalo de temperaturas Ai < Td < Ap, a deformação
8
restaurada é a soma de deformações EsE + EEMF (superelástica + de
efeito de memória de forma). O intervalo de temperaturas da deformação
que conduz à ocorrência separada e simultânea do efeito de memória de
forma e de superelasticidade está mostrado na figura 130.
As primeiras ligas industrias com efeito de memória de forma
_ _______,...._.___
A 1'--..,..---r--
._ _.. t: su
foram as ligas nitinol, à base do intermetálico Ni Ti, que, em alta tem-
peratura, suportam a transformação martensítica
Nas ligas de nitinol com ponto Mi acima da temperatura am-
Figura 131. Esquema que ilustra o aparecimento de superelastici-
biente (por exemplo a liga com 50% (at) Ni e 50% (at) Ti) prepara-se
dade. €~l e €::J. são deformações elásticas da austenita e da martensita,
respectivamente. estrutura que se autodesenvolve, particularmente a austenita. Com a
€su. - deformação superelástica. elevação da temperatura atribui-se à peça a forma de utilização exigida,
segundo a maior parte de seu volume ou de seu comprimento. Depois,
a peça é torcida (deformada) à temperatura ambiente, para ser trans-
Se durante o carregamento da amostra as tensões não forem portada em forma compacta. Após chegar ao local de destino, aquece-se
além do ponto D, durante o descarregamento, inicialmente desaparece a a peça para restabelecer a forma e ela autodesenvolve a forma inicial.
306 1. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais
capítulo 9

período de deformação, pode influir na cinética da transformação mar-


e tensítica durante o resfriamento posterior. Ela é capaz de intensificar
a transformação martensítica posterior, através da elevação da tempe-
ratura de início de transformação, da elevação da velocidade de trans-
formação e da diminuição da quantidade de fase inicial residual. Porém,
ela também é capaz de causar influência inibidora, através da dimi-
nuição da temperatura de início de transformação, da desaceleração da
a transformação e da elevação da quantidade de fase inicial residual ( es-
tabilização mecânica da austenita). O resultado depende do grau de
deformação, da temperatura de deformll.\ão e das propriedades da fase
inicial, isto é, da composição da liga.
Uma pequena deformação prévia geralmente ativa a transfor-
mação martensítica durante o resfriamento posterior, e a deformação
elevada dificulta esta transformação (fig. 133). Isto se explica pelo fato
de que as deformações pequenas criam uma tal perturbação estrutural
na fase inicial, e um campo de tensões localizado, que promovem uma
vantagem energética na nucleação da martensita nas respectivas regiões.
b Já as grandes deformações criam perturbações tão fortes na estrutura
perfeita da fase inicial, que dificultam o crescimento coerente do núcleo
de martensita já nos estágios iniciais. Quanto maior a temperatura de
Figura 132. Esquema que ilustra o efeito de memória de forma: deformação e menor o limite de elasticidade da fase inicial, tanto menor
a - diagrama tensão X deformação; b - variação do restabelecimento o grau de deformação para ocorrer estabilização mecânica.
da deformação, em função da temperatura de aquecimento.

Esta estrutura de autodesenvolvimento representa grande interesse na 9. 7. Variações das propriedades das ligas com a têmpera em
técnica cósmica. martensita.
As ligas de nitinol com ponto Mi próximo a -150ºC (por exem-
plo a liga com 50% (at) Ti, 3-4% (at) Fe e o restante de níquel) são uti- 9. 7.1. Endurecimento com a têmpera. A principal influência que
lizadas para confecção de mangote de união e tubulações de compressão. acompanha a têmpera em martensita é o endurecimento, a elevação de
A deformação destas peças, por exemplo para elevação do diâmetro in- dureza. Exatamente graças ao endurecimento é que se descobriu na
terno do mangote, é realizada em nitrogênio líquido. Após a instalação Antigüidade a têmpera dos aços, hoje amplamente utilizada.
do mangote no tubo da junta, ele é reaquecido· até a temperatura am- A natureza do forte endurecimento com a têmpera dos aços
biente, e restabelece-se sua forma inicial (de antes da deformação), o que representou um enigma durante muitos séculos. Agora parece incrivel-
garante uma união completa e resistente do tubo. mente ingênua a suposição existente na Idade Média sobre as forças
sobrenaturais que provocariam o endurecimento com a imersão da peça
Muitas outras hipóteses de utilização prática do EMF e da su-
incandescente na água, bem como as tentativas no limiar do século XX
perelasticidade são cultivadas. Mais baratos que o nitinol para as apli-
de relacionar a elevada dureza do aço temperado com transformação do
cações são as ligas de cobre que possuem estas propriedades.
carbono em diamante.
9.6.3. Estabilização mecânica da austenita. A deformação plás- Na compreensão do mecanismo de endurecimento com a têm-
tica, quando não provoca diretamente a formação da martensita no pera, o papel decisivo foi desempenhado pela explicação da natureza
308 l. l. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 309
capítulo 9

ção desordenada da rede. Nestas condições, a martensita caracteriza-


se pela elevação da densidade de defeitos: camadas intermediárias de
maclas e discordâncias (§9-4). A densidade de discordâncias da marten-
sita atinge até 10 10 - 1012 cm- 2 , isto é, em ordem de grandeza, atinge
um valor igual ao metal deformado a frio. Os contornos das maclas
e dos entra.laçamentos das discorcâncias servem como barreiras para o
I deslizamento de discordâncias, isto é, endurecem a martensita. O en-
cruamento de fase que surge com a transformação martensítica, em um
ou outro grau, exerce influência na resistência de todos os metais e ligas
temperáveis em martensita.
-200 -150 -'I()() -50 o
Temperatura, ºC Vejamos o papel do carbono no endurecimento dos aços com
a têmpera. Com a elevação do teor de carbono na martensita, sua du-
reza cresce continuamente. Aqui, deve-se prestar atenção ao fato de
Figura 133. Variação da velocidade inicial da transformação mar- que a dureza do aço temperado e a dureza dos cristais de martensita
tensítica isotérmica, em função da temperatma, na liga Fe -17,23;
Cr-9,13 e Ni, após deformação da austenita a:IOOºC com reduções de não são iguais. Isto porque o aço temperado possui austenita residual.
8 e 17% (G.V. Kurdjimov; 0.P. Maximov; A.V. Niconorov). A dureza do aço temperado a partir de uma temperatura da região
austenítica, quando aumenta o teor de carbono no aço, passa por um
da própria transformação martensítica, e pelo estudo da estrutura da máximo na concentração de 0,9%C e depois diminui, devido ao aumento
martensita. Os traços gerais dos mecanismos de endurecimento com da fração volumétrica de austenita residual macia (fig. 134). A têmpera
a têmpera em martensita são agora inteira~ente entendidos. Porém, do aço com 1,98%C, a partir de uma temperatura acima de A.cm, pro-
muitos de seus detalhes importantes ainda exigem explicações. duz uma dureza igual à do aço com 0,1% temperado. Por outro lado,
A tentativa de explicar a grande dureza do aço temperado por se os aços hipereutetóides forem temperados a partir da temperatura
apenas uma causa, qualquer que seja, não é :confirmada experimental- Ac1 + (35 - 60)ºK, como se faz na prática (fig. 143), a composição da
mente. Pode--se afirmar, com certeza, que o endurecimento com têmpera austenita na temperatura de têmpera e o nível de dureza de todos os
em martensita do aço é resultado da influência de alguns mecanismos aços hipereutetóides serão praticamente os mesmos.
de inibição do movimento das diiscordâncias. A capacidade do aço em elevar a dureza com a têmpera é deno-
O papel mais importante em todas as teorias do endurecimento minada endurecibilidade. A endurecibilidade caracteriza-se pela máxima
através da têmpera do aço é desempenhado justamente pelo carbono. dureza que pode se obter com a têmpera de dado aço, na superfície da
Contudo, é necessário ter em vista que a tran$formação martensítica no peça.
ferro puro e em ligas sem carbono é capaz de conduzir à elevação das Com a transformação martensítica da austenita, forma-se uma
propriedades de resistência em 3 - 4 vezes, em 'comparação com o estado solução no ferro-a supersaturada de carbono. A supersaturação é tanto
recozido. Assim, em comparação com a esttutura ferrítica normal, a mais forte quanto maior o teor de carbono da austenita. É interessante
dureza do ferro após a transformação martensítica cresce de 60 HV para que, com o crescimento do teor do carbono, a força interatômica na
200 HV. e o limite de escoamento de 200 para 900 MPa. Na liga de martensita não se fortalece; ao contrário, enfraquece um pouco. Isto
ferro recozida, com 8% Cr e 0,45% Ni, o lim~te de escoamento é igual é condicionado pelo aumento da distância entre os átomos de ferro,
a 200 MPa, e esta mesma liga temperada desde l.OOOºC tem limite de sob a ação dos átomos intersticiais de carbono, Porém, apesar disto,
escoamento de 800 MPa. o carbono eleva a dureza da martensita. Isto se explica antes de tudo
A martensita difere das fases de mesma composição química, pelo fato de que os átomos de carbono solubilizado intersticialmente
porém formadas com resfriamento lento em conseqüência da transforma- na rede de ferro-a dificultam o deslizamento de discordâncias na mar-
Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 311
310 /. /. Novikov
capítulo 9

HRC Resumindo, pode-se concluir que o forte endurecimento dos


aços com a têmpera em martensita é condicionado pela supersaturação
50 da solução a em carbono, pelo surgimento de grande quantidade de
camadas intermediárias de macias, pela elevação da densidade de dis-
50 cordâncias com a transformação martensítica, pela formação de atmos-

40 ~ feras de átomos de carbono nas discordâncias, e pela precipitação de


1\0 partículas dispersas de carbonetos a partir da solução a. A influência de
o~
JO o e\ cada um destes fatores no endurecimento total com a têmpera não foi
estabelecida definitivamente.
20
Fe 0,2 0,5 !,O 1,4 J,8t;% Ao se iniciar o estudo dos tratamentos térmicos, freqüentemen-
te considera-se endurecimento do aço temperado como fenômeno exclu-
Figura 13_4. V~riação da dureza em função da composição de duas ligas sivo, que tem o efeito de aumentar a dureza. Com efeito, a dureza do
Fe-C, apos a tempera das mesmas desde a região austenítica (Litvinch
Keizer e Beiker). ' aço eutetóide no estado recozido é de 180 HB, e no temperado é de 650
HB. Conseqüentemente, a têmpera eleva sua dureza em 3,5 vezes.
tensita (é o que se denomina mecanismo de endurecimento por solução Consegue-se o endurecimento dos metais e ligas também por
sólida). outros métodos. Com a deformação plástica a frio, facilmente se eleva
a dureza em duas ou até três vezes. Elevando a concéntração de ele-
, ~o período ,da têmpera ou durante o armazenament; do aço mento de liga na solução sólida, particularmente na soluçào intersticial,
apos a tempera, os atomos de carbono nos cristais de martensita for- pode-se elevar a dureza em várias vezes. Por exemplo, a dureza da
mam atmosferas nas discordâncias, fixando as mesmas. Nos aços com solução de titânio com 0,730 é três vezes maior que a dureza do titânio
elevado ponto Mi, por exemplo nos aços ao carbono contendo menos que puro (os átomos de oxigênio são intersticiais na rede de titânio-a).
0,53C (Mi> 300ºC, (fig. 111), no período de resfriamento de têmpera Consegue-se forte endurecimento das ligas através de precipitação por
formam-se, no intervalo martensítico, condições mais favoráveis para envelhecimento. Por exemplo, o envelhecimento do bronze ao berílio
d~composição parcial da martensita, com a precipitação de partículas na temperatura de 350ºC conduz à elevação da dureza em quatro vezes
dispersas de carbonetos, isto é, há autorevenido (§12.2). Além disto, em comparação com o estado temperado. Confrontando os exemplos
o carbono em qualquer aço, nas velocidades usuais de têmpera, con- citados, o efeito de endurecimento por têmpera dos aços não supera os
segue formar segregações nos defeitos da rede de austenita, acima do outros, particularmente se considerarmos a ação simultânea de vários
ponto Mi. As segregações de carbono na austenita são herdadas pela
mecanismos de endurecimento.
martensita. Como a martensita está supersaturada em carbono, estas
Nas ligas de outros sistemas (sem ser à base de ferro), o en-
segregações ficam nos locais de nucleação de partículas de carboneto.
durecimento com a têmpera em martensita pode ser causado pela ação
Com isto coincide o fato de que, com velocidades muito elevadas de res-
dos mesmos mecanismos que na têmpera dos aços e das ligas de ferro
friamento, a dureza dos cristais de martensita mostra-se quase uma vez
sem carbono. O mais geral é o mecanismo de encruamento de fase, que
e meia menor do que após a têmpera normal.
é propriedade de toda transformação martensítica nos metais e ligas, e
Devido à ação dos mecanismos de endurecimento indicados a- que consiste na elevação de densidade de defeitos de rede cristalina.
cima, o carbono exerce uma influência tão forte no endurecimento da
martensita, que a dureza do aço temperado praticamente não depende 9.7.2. Variações da plasticidade com a têmpera. A têmpera dos
aços ao carbono conduz á díminuiçãD brusca de todos os índices de plas-
do te~r ~e- elementos de liga, os quais se solubilizam na martensita por
subst1tmçao. A dureza é determinada apenas pela concentração de car- ticidade. O alongamento relativo e a extrição dos aços de alto carbono
bono. temperados é igual a zero. No tempo em que se considerava que a
Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 313
312 /. /. Novikov
capítulo 9

transformaç.ão martensítica só ocorria nos aços, geralmente sublinhava- diminuem a resistência da rede de martensita ao deslizamento de dis-
se que a martensita era dura, porém frágil. Quando se descobriu a cordâncias e diminuem o grau de fixação das discordâncias pelos átomos
transformação martensítica nas ligas de ferro sem carbono e nas ligas de impureza de carbono e nitrogênio. A elevada mobilidade de dis-
de metais não-ferrosos, verificou-se que a fragilidade não é uma pro- cordâncias na martensita de ferro-níquel garante o alívio de tensões no
priedade geral inerente a qualquer martensita. Agora está estabelecido cume das trincas, elevando assim a resistência à fratura frágil.
que a baixa resistência à fratura frágil da martensita nas ligas de ferro Não considerando o problema da fragilidade das soluções sólidas
está relacionada à presença na rede e.e.e., de elementos intersticiais - de rede e.e.e. contendo elementos intersticiais, deve-se sublinhar que
carbono e nitrogênio. os metais e ligas temperados em martensita geralmente possuem índices
A causa básica da brusca fragilização dos aços carbono tem- de d utilidade bastante elevados. Isto apesar de que, após a transforma-
perados é a pequena mobilidadle das discordâncias na martensita, que ção martensítica, devido à elevação da densidade de defeitos da rede, os
contém carbono. Isto se manifesta, em primeiro lugar, pela elevação índices de plasticidade devem ser menores do que após transformação
da resistência da rede da solução interisticial ao deslizamento de dis- polimórfica com reestruturação desordenada da rede.
cordâncias, e em segundo lugar, à fixação das discordâncias pelas atmos-
feras dos átomos de carbono. Devido à baixa mobilidade das discordân- 9.8. Transformação bainítica.
cias, não ocorre relaxação de tensões no cume das trincas frágeis, em
conseqüência da deformação plástica. Com isto se explica a baixa re-
9.8.1. Estrutura da bainita. Nos aços ao carbono, abaixo do nariz da
sistência da martensita à propa1~ação da trincas.
curva-O e no intervalo aproximado de 500-250°0, ocorre a transformação
A nucleação de trincas frágeis possibilita a concentração lo-
bainítica. Ela é também denominada transformação intermediária -
calizada de microtensões, próximo à aglomeração de discordâncias na
entre a perlítica e a martensítica. A cinética desta transformação, bem
martensita. Conseqüentemente, a martensita dos aços ao carbono pos-
como a estrutura obtida, possuem traços da cinética e da estrutura que
sui baixa resistência à nucleação e, particularmente, baixa resistência ao
ocorrem nas transformações perlítica com difusão e martensítica sem
desenvolvimento de trincas frágeis. Nos aços de alto carbono pode-se
perceber as microtrincas logo após a têmpera, mesmo antes de aplicar difusão.
Corno resultado da transformação bainítica, forma-se urna nüs-
carga externa.
tura de fase a (ferrita) e carbonetos, denominado bainita. As partículas
O quadro muda bruscamente se o carbono é retirado da com-
de carbonetos na bainita são muito dispersas, e podem ser descobertas
posição da liga. Os aços denominados martensíticos envelhecidos, com-
postos de ligas de ferro sem carbono e com níquel, cobalto, molibdênio apenas por microscopia eletrônica.
Diferenciam-se as bainitas superior e a inferior, que se formam,
e titânio, após a têmpera em martensita diferenciam-se pelos elevados
respectivamente, nas partes superior e inferior do intervalo intermediário
índices de plasticidade (ô = 14 - 203; = = 70 - 803). Esta liga
de temperaturas (o limite convencional entre elas é de 350º0). A bainita
no estado temperado pode ser conformada por pressão na temperatura
superior tem urna estrutura plumosa e a bainita,inferior é acicular, pare-
ambiente, com elevadas reduções, ao mesmo tempo em que o aço alto
cida com a martensita. Pelo tipo de microestrutura, é difícil diferenciar
carbono temperado, devido à fragilidade, geralmente é impossível de
conformar por pressão à temperatura ambiente. a bainita inferior da rnartensita revenida.
Análises por microscopia eletrônica mostraram que a subestru-
Os elevados índices de plasticidade das ligas de ferro sem car-
tura da fase a da bainita superior é análoga à subestrutura da martensita
bono após a têmpera em martensita são explicados pelo seguinte: na
martensita dos aços temperados martensíticos envelhecidos, contendo em forma de plaquetas dos aços baixo carbono, e a estrutura da fase a
não mais que 0,033C, existem discordâncias livres. O níquel e o co- da bainita inferior é próxima da rnartensita dos aços com teor de car-
balto em grande quantidade nesses aços (por exemplo, aço com 18%Ni bono mais elevado. Na bainita superior, a fase a consiste de plaquetas
e 83Cci) elevam a mobilidade das discordâncias na martensita, pois eles de largura igual a 5-10 µm e espessura menor que 1 µm, e as partículas
!. !. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 315
314
capítulo 9

de carbonetos se distribuem entre as plaquetas e/ou pelos contornos e


no interior das mesmas. Conseqüentemente, na bainita superior os car-
bonetos precipitam-se principalmente da austenita. Na bainita inferior
, 1as de carbonetos encontram-se no interior das agulhas de fase'
as particu
a, isto é, os carbonetos formam-se com sua decomposição. No interior
da fase a, tanto na bainita inferior como na superior, a densidade de
discordâncias aumenta.
Os produtos da transformação isotérmica da austenita super- ln tempo (seg)
resfriada no intervalo intermediário de temperaturas, por suas proprie-
Figura 135. Diagramas de decomposição isotérmica da austenita de
dades físicas, pela composição e estrutura de fases, são próximos aos
aços ligados, com separação das curvas-C das transformações perlítica
produtos da martensita revenida do aço temperado, se as temperturas e bainítica.
da transformação bainítica e do revenido forem as mesmas. 8 A fase a - aço com 0,433C; l,223Cr; 0,823Mn; e 0,112v.: 1 - início de
ferrítica na bainita é uma solução supersaturda de carbono no ferro-a. formação da ferrita; 2 - início da formação da perlita; 3,...., final da
A fase de carboneto na bainita superior é a cementita, e na transformação perlítica; 4 - início de formação da bainita; 5 - final da
formação da bainita.
bainita inferior é carboneto ê, o qual é substituído pela cementita com b - aço com 0,43%C e 3,52%Cr: 1 - início de formação da perlita; 2 -
a elevação do tempo de exposição (como no revenido do aço). final da transformação perlítica; 3 - início de formação da bainita; 4 -
Nos aços ligados, os carbonetos especiais, que se formam no final da formação da bainita.
intervalo perlítico, não surgem na transformação bainítica. O teor dos
elementos de liga no carboneto-e e na cementita da bainita é o mesmo austenita de elevada estabilidade, no qual a decomposição perlítica não
que na austenita inicial. Aqui existe completa analogia com o revenido ocorre durante várias horas. Neste intervalo, também, o super-resfria-
dos aços ligados (§12.1, item 2). Conseqüentemente, os elementos de mento ainda não é suficiente para a transformação bainítica (fig. 135b).
liga não se redistribuem durante a transformação bainítica. A temperatura máxima da curva-C de início de transformação bainítica
Nos aços ligados com cromo, o carboneto geralmente pode não é designada pelo ponto Bi (ou Bs ).
se formar e a bainita consiste da fase a e austenita residual.
A cinética de transformação bainítica é parecida com a cinética
9.4.2. Cinética da transformação bainítica. No intervalo bainítico
da perlítica, não apenas pela existência do período de incubação, mas
de temperaturas, da mesma maneira como no perlítico, a austenita
também pelo caráter do crescimento do volume durante a exposição
super-resfriada começa a decompor-se após algum período de incubação.
isotérmica: inicialmente a fração volumétrica de austenita transformada
Nos aços ligados com elementos formadores de carbonetos (Cr W Mo
cresce aceleradamente, e depois lentamente (curva cinética, fig. 68).
e outros), abaixo das curvas e de decomposição perlítica, loc~liza~-se Além disto, em muitos aços ligados, a transformação bainítica tem par-
as ~:irvas C de início e final de transformação bainítica (fig. 135). As ticularidade característica da transformação martensítica: ela não se
reg1oes de transformações perlítica e bainítica nestes aços podem se cru- dá até a completa eliminação da austenita. A cada ponto na curva-C
zar parcialmente. Por exemplo, na figura 135a mostra-se que a 500ºC de final de transformação bainítica, (por exemplo a curva Y da figura
e durante 100 seg começa a transformação bainítica, que, em 60 mi- 135b), corresponde determinada (e variada) quantidade de austenita re-
nutos aproximadamente do início de exposição isotérmica, passa para sidual. Com o afastamento da temperatura de transformação do ponto
transformação perlítica. Bi, cresce a quantidade de bainita (desde zero na temperatura Bi), e
Nos aços de alta liga, as curvas C de transformações perlítica diminui a quantidade de austenita residual (aqui há analogia com a
e bainítica podem ser separadas por um intervalo de temperaturas de diminuição da quantidade de austenita residual com a diminuição da
8 Por isto, após o capítulo XII deve-se estudar novamente o §9.8 temperatura de transformação martensítica (§9.5).
316 /. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 317
capítulo 9

Na maioria dos aços, durante a transformação bainítica cresce 1) em que seqüência se completam os processos de transformação
substancialmente o teor de carbono (e o parâmetro da rede) na austenita. / --; a, de redistribuição do carbono e de precipitação de car-
Em alguns aços, com a elevação da exposição isotérmica, a concentração boneto;
de carbono na austenita começa a decrescer, e nos aços de alto carbono 2) qual é o mecanismo de formação da ferrita;
esta concentração diminui desde o início da transformação bainítica, o 3) de qual fase (ferrita ou austenita) precipita-se o carboneto.
que está relacionado com a precipitação de carboneto da austenita. A maioria dos pesquisadores considera que, em todo o intervalo
A austenita, que não se transforma no intervalo bainítico, com de temperaturas da transformação bainítica, a ferrita se forma a par-
o resfriamento do aço até a temperatura ambiente, transforma-se par- tir da austenita pelo mecanismo martensítico. Como argumentos desta
cialmente em martensita. Neste caso, o ponto Mi encontra-se abaixo hipótese são citados os seguintes fatos: formação de relevo no plano da
em relação à temperatura Mi d•e transformação martensítica do aço a superfície polida da amostra (na transformação perlítica não surge re-
partir da austenita inicial. A austenita após a transformação bainítica levo); a existência, nos aços ligados, de austenita residual após o término
não é homogênea em composição de carbono, e a martensita forma-se da transformação bainítica (a transformação perlítica sempre vai até a
nas regiões mais ricas em carbono. extinção da austenita); a semelhança entre as microestruturas da bai-
A transformação bainítilca, como também a perlítica, pode o- nita inferior e da martensita revenida; a proximidade cristalográfica da
correr não apenas com a exposiçào isotérmica, mas também com resfria- ferrita com a bainita e a martensita; a semelhança entre a estrutura da
mento contínuo (ver na fig. 138 a interseção da curva de resfriamento bainita superior e da martensita de baixo carbono.
com a curva de início de transformação bainítica, no diagrama de cinética O mecanismo da transformação bainítica, a peculiaridade de
de transformação). sua cinética e a proximidade com as transformações perlítica e mar-
tensítica podem ser explicados da seguinte maneira. A transformação
O tamanho de grão austenítico praticamente não influi na ci-
nética de transformação bainítica. bainítica ocorre em temperaturas abaixo de 500-450º, isto é, abaixo do li-
miar de recristalização do ferro. Isto significa que no intervalo bainítico
Nos aços ao carbono, a transformação bainítica não é isolada da está, na prática, inibido completamente o movimento por difusão dos
perlítica. Por exemplo, no aço eutetóide a perlita e a bainita formam-se átomos do componente básico, o ferro. Por isto, torna-se impossível a
no intervalo de temperaturas ,...., 400 - 600ºC. Para temperaturas mais formação de ferrita pelo caminho da transformação desordenada da rede,
elevadas, domina na estrutura o produto da transformação perlítica, e é isto é, inibe-se a transformação perlítica. Porém, acima de 200 - 250ºC
difícil evidenciar pequenas regiões com bainita superior. Para tempera- ainda há a difusão suficientemente ativa do carbono, que induz a possi-
turas mais baixas, domina a estrutura da bainita. bilidade de precipítação de carboneto a partir da austenita e da ferrita.
Experiências minuciosas mostraram que o início de decompo- Existem comprovações de que, durante o período de incubação,
sição da austenita nas transformações perlíticas e bainíticas, em aços o carbono se redistribui na austenita inicial antes da transformação
ao carbono, caracteriza-se por curvas C separadas. Porém, como os bainítica. As regiões de austenita, com menor concentração de carbono,
períodos de incubação destas transformações são muito próximos, para sofrem transformação martensítica.
a mesma temperatura, a decomposição da austenita dos aços ao carbono Os cristais da fase a formam-se no intervalo intermediário de
é descrita por uma única curva-C (fig. 80). temperaturas através do crescimento coerente e com interação elástica
com a fase inicial, isto é, exatamente como crescem as agulhas de mar-
9.4.3. Mecanismo da transformação bainítica. A transformação
tensita na transformação abaixo do ponto rnartensítico Mi. Porém, di-
bainítica inclui os seguintes processos básicos: transformação da rede,
ferentemente da transformação rnartensítica pura, para a qual é carac-
redistribuição do carbono e precipitação de carboneto. O mecanismo da
terística a formação "instantânea" das agulhas de rnartensita, durante
transformação bainítica ainda permanece em discussão.
a transformação bainítica as agulhas de fase a crescem relativamente
São discutíveis as seguintes questões importantes: devagar. Isto se explica porque, no intervalo intermediário de tempera-
318 I. I. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 319
capítulo 9

turas, a fase a só pode formar-se a partir da fase / pobre em carbono; /3 são parecidas às relações de orientação no latão que foi submetido à
conseqüentemente, a velocidade de crescimento dos cristais de fase a é transformação martensítica. Além disto, a precipitação de agulhas de
controlada pela velocidade de retirada dos átomos de carbono por di- fase a que analisamos diferencia-se qualitativamente da transformação
fusão. Com a retirada destes átomos, eleva-se o ponto Mi da austenita martensítica pura, pelo fato de ocorrer redistribuição difusional do zinco:
perto do contorno com a fase o:, e a reestruturação martensítica se dá a fase a contém menos zinco do que a fase inicial /J. Estas particulari-
em temperatura acima do ponto Mi que caracteriza o aço em questão. dades permitiram relacionar a formação das agulhas da fase a no latão
No momento da transformação martensítica a concentração de /3 super-resfriado, com a transformação bainítica.
carbono não muda, e varia apenas a rede, formando-se solução super- Na transformação bainítica do latão /3, inicialmente ocorre a
saturada. Por isto, logo após a transformação / ---+ a inicia-se, nesta transformação martensítica /3 ---+ a da rede, sem difusão, e em seguida, a
ocasião, a precipitação de carboneto (cementita ou carboneto e) a partir redistribuição difusional dos componentes entre as fases a e (3, seguindo
da solução, isto é, de fato ocorre o revenido (§12.1). os contornos o://3 que se movimentam lentamente. A transformação
Nas regiões da austenita que se enriquecem em carbono antes bainítica no latão, como no aço, desenvolve-se naquele intervalo de tem-
da transformação / ---+ a, podem prncipitar-se carbonetos. peraturas onde a mobilidade atômica do componente básico (cobre) já é
Os elementos de liga solubilizados por substituição não con- muito pequena, e a mobilidade do outro (zinco) ainda é suficiente para
seguem se redistribuir durante a transformação bainítica, e o teor dos levar a efeito sua retirada da fase martensítica, a partir do contorno
mesmos é igual na ferrita e na austenita. entre as fases, o qual está em movimento.
A diferença estrutural entre as bainitas superior e inferior está 9.4.4. Propriedades mecânicas do aço com estrutura bainítica.
relacionada à diferença de mobilidade do carbono nas partes superior e A bainita é mais resistente do que a perlita, além do que, suas proprie-
inferior do intervalo de temperaturas da transformação bainítica. dades de resistência se elevam com a diminuição da temperatura de
Nas temperaturas elevadas da transformação bainítica, a fase transformação isotérmica (fig. 136).
a contém pouco carbono, o qual consegue retirar-se para a austenita,
no contorno em movimento, e precipita-se carboneto diretamente da /f 1600 ~-----------.
:E
austenita que está entre as agulhas de fase o:. Forma-se então a bainita ~ 1400
superior. Em temperaturas de transformação mais baixas, devido à ~
~ 1200
menor mobilidade do carbono, a fase a fica supersaturada do mesmo, e .,
as partículas de carboneto precipitam-se dentro da agulha-o:. Forma-se ]; 1000
então a bainita inferior. ·e
:::i 800
O termo "transformação bainítica" foi inicialmente proposto 600 L.--L..--J'---'---'---'---'---'---'
no estudo das transformações isotérmicas dos aços. Posteriormente, foi
difundido para várias ligas não-ferrosas: latão /3, bronzes de alumínio e
estanho, ligas de titânio e outras.
No latão de fase /3, durante o resfriamento p~de precipitar-se
:~1
350 4 50 550 650
Temperatura de transformação, ºC
7!51J

fase a (fig. 103). Com pequenos super-resfriamentos, a fase a precipita-


se pelo caminho normal de difusão. Com grandes super-resfriamentos, Figura 136. Variação das propriedades mecãnica.s do aço eutetóide, em
por exemplo abaixo de 350ºC na liga com 41 %Zn, a fase a se forma em função da temperatura de transformação da austenita.
agulhas finas, produzindo relevo na superfície polida da amostra. As
lâminas de fase a: consistem de fileiras regulares de defeito de empilha- A elevação da resistência da bainita está condicionada pelo pe-
mento, como na martensita, a qual, no latão (3, forma-se em tempera- queno tamanho dos cristais de ferrita, pela precipitação dispersa dos
turas abaixo de OºC. As relações de orientação das redes das fases a e carbonetos, pela elevação da densidade de discordâncias fixadas pelos
/. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 321
320
capítulo 9

átomos de carbono e pela deformação da rede de ferrita devido à sua A têmpera bainítica (§9.10) é utilizada na obtenção de estru-
supersaturação em carbono e elementos de liga. tura bainítica. Além disto, nos denominados aços bainíticos, a estrutura
bainítica forma-se com resfriamento no ar a partir da temperatura de
O limite de escoamento da bainita está relacionado às dimen-
conformação a quente, ou com simples tratamento térmico de aqueci-
sões dos cristais de ferrita, através da relação de Hall-Petch (17), pois
mento até o estado austenítico e resfriamento ao ar. Nestes aiços a curva-
os contornos dos cristais-a: servem como barreiras efetivas para o movi-
C de transformação bainítica deve estar fortemente deslocada no sentido
mento das discordâncias. Com a diminuiçao da temperatura de trans-
do eixo das ordenadas, e a precipitação de ferrita livre, ao contrário, deve
formação isotérmica no intervalo bainítico, os cristais de ferrita resultam
ser mais lenta para que a mesma não se precipite durante o resfriamento
menores, devido à retirada mais lenta na austenita dos átomos de car-
contínuo, até o início da transformação bainítica. Esta exigência é satis-
bono, a partir do contorno a:/1. Esta é uma das causas principais da
feita, por exemplo, em aço de baixo carbono ligado com boro e 0,53 Mo.
elevação das propriedades de resistência da bainita.
As partículas de carbonetos, que se encontram no interior da
fase a:, inibem o movimento de discordâncias. Esta inibição é tanto 9.9. Temperabilidade dos aços.
mais efetiva, quanto maior for sua quantiidade por unidade de volume, e
quanto mais homogeneamente estas se distribuem. Na bainita superior 9.9.1. Temperabilidade e velocidade crítica de resfriamento.
as partículas de carboneto estão distribuídas principalmente nos contor- Durante a têmpera em martensita, o aço deve ser resfriado a partir da
nos dos cristais de ferrita. Por isto, não influenciam substancialmente temperatura de têmpera, de tal maneira que a austenita não consiga pas-
no endurecimento. Com a diminuição da temperatura de transformação, sar por decomposição em mistura da ferrita e carboneto, e fique super-
cresce a dispersão dos carbonetos,, e os mesmos ficam distribuídos basi- resfriada abaixo do ponto Mi. Para isto, a velocidade de resfriamento da
camente no interior da ferrita, elevando sua resistência. peça deve ser maior que a crítica. A velocidade crítica de resfriamento
A ferrita da bainita possui maior densidade de discordâncias é a velocidade mínima na qual a austenita não se decompõe na mistura
do que a ferrita livre no aço hipoeutetóide. As discordâncias na fer- f errita-carboneto.
rita bainítica estão fixadas pelas atmosferas de átomos de carbono, e Em primeira aproximação, a velocidade crítica de resfriamento
exercem significativa influência no endurecimento. O mecanismo de en- durante a têmpera é determinada pela inclinação da tangente à curva-
durecimento por solução sólida dos elementos solubilizados substitucio- C de início de decomposição da austenita (fig. 137). Com este método
nalmente, pelo visto, eleva um pouco a resistência da bainita. de determinação, obtém-se um valor aproximadamente 1,5 vez superior
Na figura 136 está indicado que a plasticidade, com a pa,ssagem à verdadeira velocidade crítica. Pode-se obter a verdadeira velocidade
da região perlítica para a bainítica, decresce e depois cresce novamente, crítica (Ver) com a utilização do diagrama de cinética de transformação.
com a diminuição da temperatura. A diminuição da plasticidade está Na figura 138 este diagrama está representado para o aço 35GC. As in-
relacionada com o fato da estrutura da bainita superior ser relativamente terseções da curva de resfriamento com as linhas do diagrama de cinética
grosseira. As partículas de carbonetos, distribuídos pelos contornos dos de transformação mostram as temperaturas de início e final das respec-
cristais de ferrita, diminuem a plasticidade da bainita. Já na bainita tivas transformações, e as cifras nas curvas indicam a dureza Brinell no
inferior, as partículas de carbonetos encontram-se no interior da fase a, final do resfriamento. A velocidade mínima de resfriamento na têmpera
e por isto a plasticidade desta é mais elevada. em martensita do aço 35GC deve ser tal, que não se inicia a trans-
formação bainítica (A--+ B).
O aço com estrutura de bainita inferior, como regra, possui
maior tenacidade para a mesma dureza e resistência do que o aço após A velocidade de resfriamento na superfície da peça pode ser
têmpera em martensita e revenido. A tenacidade é particularmente ele- maior que a crítica, e, no centro, menor. Neste caso, na camada super-
vada nos aços ligados com cromo, nos quais a bainita consiste de fase a ficial a austenita se transforma em martensita, e no centro da peça há
e austenita rica em carbono, não existindo fase de carboneto. transformação perlítica, isto é, a peça não fica totalmente temperada.
322 /. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 323
capítulo 9

Ver
2

Tempo _.

Figura 137. Determinação da velocidade crítica de têmpera pelo dia-


~ b
grama e. Fignra 139. Temperabilidade do cilindro
vc e v 3 - velocidades de resfriamento no centro e na superfície da peça. a - Temperabilidade não-transversal
1 - início de decomposição da austenita. 2 - final de decomposição da b - Temperabilidade transversal. 1 - curva de distribuição das veloci-
austenita. dades de resfriamento pelo diâmetro do cilindro; 2 - velocidade crítica
de resfriamento (camada sombreada, temperada em martensita).
A temperabilidade é uma das características mais importantes do aço.
Entende-se por temperabilidade a profundidade de penetração da zona Se o centro da peça é resfriado com uma velocidade maior que
temperada. a crítica, a peça tempera-se totalmente em martensita (figura 139b).
Como se vê na figura 139, para a elevação da temperabilidade da peça
A temperabilidade depende, antes de tudo, da velocidade de
resfriamento. Na figura 139 mostra-se a curva de distribuição da ve- de dada seção, é necessário elevar a velocidade de resfriamento (curva 1
desloca-se para cima), ou diminuir a velocidade crítica de têmpera: em
locidade de resfriamento, pelo diâmetro de uma amostra cilíndrica em
comparação com o valor da velocidade crítica. A superfície circul~r da ambos os casos as seções sombreadas de zona temperada irão crescer.
peça é resfriada com uma velocidade maior que a crítica, e por isto A velocidade crítica de resfriamento depende de todos os fatores
está temperada em martensita. O núcleo do cilindro é resfriado com que influem na velocidade de decomposição da austenita. Os fatores que
uma velocidade menor que a crítica, e por isto não está temperado em elevam a resistência à decomposição da austenita super-resfriada, isto
martensita. Na peça maciça de grande seção, pode-se encontrar, após é, que deslocam as curvas e
para a direita, elevam a temperabilidade
a têmpera, toda uma gama de estruturas: uma suave passagem desde (com o deslocamento da curva-C para a direita, a tangente à mesma
a martensita na superfície, passando pela trostomartensita, trostita e localiza-se sob um ângulo menor).
sorbita, até perlita no centro. Para a nucleação eutetóide são necessários enriquecimentos e
empobrecimentos localizados da solução 'Y em carbono. Por isto, quanto
T,~~~~~==~~~~I mais homogênea a austenita, maior a resistência à decomposição eu-
tetóide e maior a temperabilidade.
800
Com o aumento do tamanho verdadeiro do grão da austenita,
diminui a superfície total de contorno de grão na qual inicia, preferen-
cialmente, a decomposição, e a temperabilidade se eleva.
A elevação da temperatura de aquecimento e do tempo de ex-
512 495 388 J02 235 posição antes da têmpera conduzem à homogeneização da concentração
0'-~~~'--~~--'~~~--'~~~~

! 10 102 t,seg na solução /, e ao crescimento do tamanho de grão da austenita, isto


Figura 138. Diagrama termocinético do aço 35GC contendo O 343C· é, eleva-se a estabilidade da austenita super-resfriada. Por isto, com
10-1>1 /O s·1 (K.F. Starodubov; Im.E. Borkovski;
701, n; 0,7 50- ' V.V. Parusov).
' · o crescimento da temperatura de aquecimento e da exposição antes da
1
324 I. I. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 325
capítulo 9

têmpera, eleva-se a temperabilidade do aço. O primeiro fator é mais É particularmente efetiva a ligação complexa, na qual as influências úteis
efetivo. dos elementos em separado na temperabilidade se reforçam mutuamente.
A composição química da austenita influi fortemente na tem- Por exemplo, para o aço com 0,43C e 3,53Ni, a velocidade crítica de
perabilidade. Com a elevação da concentração de carbono na austenita, têmpera é de 150º K/seg, e a adição de 0,753 Mo diminui esta veloci-
ela se torna mais estável e a velocidade crítica da têmpera diminui. Os dade para aproximadamente 4ºK/seg.
aços de composição próxima à eutetóide são os que têm menor veloci- A elevação da temperabilidade com a ligação é utilizada em
dade crítica, isto é, são os mais temperáveis. A maior velocidade crítica duas direções. Em primeiro lugar, a utilização de aço ligado garante
dos aços hipereutetóides explica-se pelo fato de que os mesmos são tem- a temperabilidade ao longo de seções de dimensões tais, que seria im-
perados não da região austenítica, mas de uma temperatura acima de possível temperar inteiramente ao se utilizar aço ao carbono. Por exem-
A 1 , porém abaixo de Acm (fig. 143). Com a elevação do teor de car- plo, na têmpera em água do aço 45, o diâmetro crítico é igual a 20 mm, ao
bono no aço hipereutetóide, não se eleva a concentração de carbono na passo que a peça do aço 40 x H2MA de diâmetro igual a 120mm tempera-
austenita para temperatura normal de têmpera (A1 + 35 - 60) º K, e se completamente com resfriamento em óleo. Em segundo lugar, para
a quantidade de cementita cresce. As partículas de cementita são em- as peças de seção pequena, a substituição do aço ao carbono pelo ligado
briões da transformação perlítica e diminuem a resistência da austenita permite utilizar resfriamento de têmpera menos brusco. Utilizando aço
super-resfriada. Por isto, com a elevação do teor de carbono no aço ao carbono, pode-se temperar ao longo de toda a peça de seção pequena,
hipereutetóide, a velocidade crítica de têmpera cresce. Se o aço hipereu- em água. Porém, neste caso, podem surgir grandes tensões residuais in-
tetóide for temperado com temperatura acima! de Acm (desde a região desejáveis, bem como empeno e trincas, particularmente nas peças de
austenítica), a velocidade crítica de resfriamento diminui continuamente forma complexa. Com a utilização de aço ligado, a têmpera em água
com a elevação do teor de carbono do aço. lsto porque, neste caso, pode ser substituída pela têmpera mais branda em emulsão, óleo ou até
aumenta a concentração de carbono na austenita. ao ar.
A temperabilidade dos a1~os ao carbono e de baixa liga cresce 9.9.2. Características da temperabilidade. A característica mais
significativamente com a adição de boro, numa quantidade de milésimos simples é a profundidade de temperabilidade da peça, em um determi-
de fração percentual. Isto tem utilização prática. nado meio de resfriamento. A profundidade de temperabilidade pode
A elevação da temperabilidade pela influência de quantidades ser determinada pelo método do ensaio de têmpera, pela macrografia da
muito pequenas de boro é explicada pelo fato de que este elemento na fratura e distribuição da dureza na seção da peça. O aço temperado em
austenita é ativo na superfície. Ele se segrega nos contornos de grão martensita é frágil; na zona temperada a peça possui granulação fina
da austenita, o que foi comprovado experimentalmente, dificultando aí homogênea cinza-opaca e, freqüentemente, a fratura do tipo de porce-
a nucleação de ferrita livre. Supõe-se de maneira geral que o boro, ao lana. O núcleo não-temperado é mais viscoso; nele a fratura é levemente
segregar-se nos contornos, não modifica de nenhuma maneira a estrutura fibrosa e de aspereza não-uniforme. A fronteira entre estas duas zonas
daquelas microrregiões dos contornos, as quais são locais potenciais para é muito bem observável na seção fraturada.
nucleação da ferrita livre. Na macrografia, as zonas temperada e não-temperada são ata-
Os aços de mesma marca, porém de diferentes fusões, possuem cadas diferentemente, e por isto se diferenciam com bastante precisão.
temperabilidades diferentes. Isto se explica pela diferença no tamanho A distribuição de dureza pela seção do cilindro temperado está
de grão da austenita, pela influência de quant.dades incontroláveis de mostrada na figura 140. É característica a intensa variação da du-
impurezas dissolvidas e de inclusões de óxidos, nitretos, sulfetos e outros. reza, a determinada distância da superfície da amostra. Além disto,
Com exceção do cobalto, todos os elementos de liga solubiliza- esta distância corresponde à fronteira entre as zonas temperada e não-
dos na austenita dificultam sua decomposição, ;diminuem a velocidade temperada, reveladas pela fratura e pela macrografia.
crítica de têmpera e melhoram a temperabilidade. Com este objetivo, Convencionalmente, considera-se profundidade de temperabili-
utiliza-se amplamente adições de manganês, níquel, cromo e molibdênio. dade a distância da superfície resfriada até a camada de estrutura se-
326 1. 1. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 327
capítulo 9
70
obtém-se uma faixa de curvas de temperabilidade, pois, de fusão para
fusão, varia a temperabilidade. Por isto, o aço de determinada marca
u
o::
o 50
caracteriza-se por um campo de temperabilidade (fig. 142). Como índices
.,
N
(cifras indicadas) de temperabilidade da marca, podem servir as durezas
8 40 13----'l.----~-i-~
máxima e mínima a determinada distância da extremidade resfriada, ou
as distâncias máxima e mínima desde a extremidade até os pontos com
dada dureza (por exemplo, "semimartensítica").
7-t-•
38mm --+-'-

Figura 140. Distribuição de dureza através do diâmetro da amostra de


aço 60, temperado a partir de 815ºC. 1- têmpera em água; 2- têmpera
em óleo; HRC 8 M - dureza do aço com estrutura semimartensítica.

mimartensítica (50% de trostita e 50% de martensita). Na região desta


camada a distância da superfície da peça influi muito fortemente na du-
reza. Por isto, a profundidade de temperabilidade, definida através da
distância da superfície resfriada até a camada com estrutura _semimar-
tensítica, pode ser precisamente determinada pela medição da dureza da
b
peça, e utilizando dados comparativos sobre a dureza dos aços de com-
posição semelhante, com estruturasemimartensítica (HRC 5 M, fig. 140).
Figura 141. Equipamento (a) e amostra (b) para a têmpera de topo:
A vara de diâmetro igual a 38 mm, de aço 60 temperado em água, possui 1 - tubo de nivelamento para garantir pressão constante; 2 - recipiente
profundidade igual a 7mm, e temperado no óleo, 0,4mm. de pressão; 3 - suporte; 4 - amostra 5 - tubo, 6 - caixa de saída.
A característica da temperabilidade pode ser também o diâme-
dtro crítico, isto é, o diâmetro máximo da seção para a qual, em deter-
Velocidade de resfriamento, desde 700°C 1ºK/seg
minado meio de resfriamento, a têmpera é total.
10555
Para determinar a temperabilidade dos aços ao carbono e dos 42 13:; 1op 5,9 4,5 3,6 3,0 2,5
aços ligados, com exceção dos temperáveis ao ar, utiliza-se amplamente
o método de têmpera do topo (método Jominy). A amostra padrão, após 50
aquecimento no forno, é conduzida rapidamente em um equipamento 40
especial, no qual a mesma é resfriada com água a determinada pressão, 30
apenas a partir da extremidade (fig. 141). Após completo resfriamento u
o:: 20
da amostra, retificam-se rasgos na profundidade de 0,5mm, ao longo o
da superfície e em lados diametralmente opostos da amostra. Ao longo ~ 10

do comprimento destes rasgos, a cada 1, 5 - 3mm, mede-se a dureza o" o L.LL.LJ-~-~~,..---::~~~..,.--......,..~


3 6 12 18 24 30 36 42 48
em escala RC, e constrói-se a curva de temperabilidade de coordena- Distância da extremidade resfriada, mm
das dureza versus distância da extremidade resfriada. Quanto menor a
temperabilidade do aço, mais rapidamente cai a dureza com o afasta- Figura 142. Curva de temperabilidade do aço 40.
mento da extremidade. Para várias fusões de um aço da mesma marca,
328 !. !. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 329
capítulo 9

9.10. Têmpera volumétrica dos aços. 800 - 880ºC (para cada marca de aço recorre-se, experimentalmente, ao
seu menor intervalo de temperaturas de têmpera). Os aços com maior
Na têmpera volumétrica da peça aquece-se até determinada teor de elementos formadores de carbonetos (W, Mo, V, Cr) são tem-
temperatura, que é igual ao longo de todo o volume da mesma. perados desde temperaturas mais elevadas, às vezes próxima da solidus,
para passar para a austenita grande quantidade de carbonetos de difícil
9.10.1. Aquecimento de têmpera• .AB transformações do aço du- solubilização. Por exemplo, o aço rápido P6M5 é temperado desde tem-
rante o aquecimento foram indicadas no §5.1. A temperatura de aqueci- peraturas de 1200 - 1300ºC, e o aço para estampagem X12Fl, desde
mento de têmpera dos aços ao carbono pode ser escolhida pelo diagrama temperaturas de 1030 - 1050ºC.
de equilíbrio (fig. 143). O aço hipoeutetóide é temperado desde uma
O tempo de exposição na temperatura de aquecimento para
temperatura que ultrapassa o ponto À3 em 30 - 50ºK. No aço de gra-
têmpera deve ser tal que a austenita fique homogeneizada. A velocidade
nulação fina hereditária, permite-se aquecimen~o mais elevado. Com a
de aquecimento é desejável que seja máxima, por questões de elevação
têmpera desde temperatura abaixo do ponto À3 (têmpera incompleta),
da produtividade. Em alguns aços de elevado teor de elementos de liga,
ao lado da martensita permanece a ferrita livre, a qual baixa a dureza
como por exemplo os aços rápidos, utiliza-se têmpera a partir de alta
do aço temperado e piora as propriedades mecânicas após o revenido.
temperatura. Para diminuir as tensões térmicas, utiliza-se o aqueci-
mento por degraus.
1000~---

~ 900 9.10.2. Resfriamento durante a têmpera. Antes de tudo, o regime


é 800
de resfriamento na têmpera deve garantir a profundidade de temperabi-
~ 700 l\zic~~:f:~::::'.~~~~ lidade desejada. Ao mesmo tempo, o regime de resfriamento deve ser tal,
~ 600 0,8 F + C2 que evite o surgimento de tensões de têmpera que conduzam ao empeno
~ 500.__ __.._ __L__:._---''----' da peça e à formação de fissuras de têmpera.
Fe 0,5 1,0 1,5 .e As tensões de têmpera dividem-se em tensões térmicas e tensões
% Carbono
estruturais. Durante a têmpera sempre ocorre um gradiente de tempe-
raturas ao longo da seção da peça. As tensões térmicas surgem por
Figura 143. Intervalos de temperatura de aquecimento, para os aços causa da diferença entre as compressões térmicas das camadas superfi-
ao carbono.
ciais e interiores. Com a transformação martensítica, o volume cresce
em alguns pontos percentuais. A camada superficial atinge a tempera-
Os aços hipereutetóides são temperados desde temperatura que tura de transformação martensítica antes do que o núcleo da peça. Em
ultrapassa o ponto A 1 em 35 - 150º K. Com têmpera desde a tem- diferentes pontos da seção da peça, a transformação martensítica (e a
peratura entre A 1 e Acm, os aços hipereutetÓides, além da marten- elevação de volume correspondente) não acontece no mesmo momento.
sita, possuem cementita secundária, que eleva a resistência ao desgaste Isto provoca o surgimento das tensões estruturais.
da peça. O aquecimento até temperaturas acima de Acm é prejudi- O valor total das tensões de têmpera cresce com a elevação da
cial, pois obtém-se menor dureza do aço temperado, devido à solubi- temperatura de aquecimento da têmpera, e com o aumento da velocidade
lização de partículas duras de cementita, e eleva-se a quantidade de de resfriamento. Isto porque em ambos os casos eleva-se o gradiente de
austenita residual (fig. 134). Também cresce o tamanho de grão aus- temperaturas ao longo da seção da peça. A elevaçáo do gradiente de
tenítico, eleva-se a descarbonetação superficial e crescem as tensões da temperaturas conduz ao crescimento das tensões térmicas e estruturais.
têmpera.
Para os aços é mais provável o surgimento de trincas de têmpe-
A temperatura de aquecimento de têmpera da maioria dos aços ra no intervalo de temperaturas abaixo do ponto martensítico, quando
ligados, instrumentais e para construção, encontra-se no intervalo de aparecem tensões estruturais e forma-se a fase martensítica, que é frágil.
330 L L Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 331
capítulo 9

Acima do ponto martensítico surgem apenas as tensões térmicas. Além Tabela 6. Velocidades de resfriamento do aço em diversos meios
disto o aço encontra-se no estado austenítico, e a austenita é dútil.
Como indica o diagrama-C, o resfriamento rápido é necessário Velocidade de resfriamento em ºK/seg. no intervalo de
Meio de resfriamento
na zona de menor estabilidade da austenita super-resfriada. Para a 650 - 550 300 - 200
maioria dos aços esta zona encontra-se no intervalo de 650 - 400ºC. Àgua a 18°C 600 270
Acima e abaixo deste intervalo de temperaturas, a austenita é muito Àgua a 74°C 30 200
mais resistente à decomposição do que próximo ao nariz da curva-O, e a Solução aquosa de 10%
peça pode ser resfriada com relativa lentidão. O resfriamento mais lento NaOH em àgua a 18°C 1200 300
é particularmente importante se conduzido a partir das temperaturas de Ôleo Mineral 100 - 150 20- 50
300 - 200ºC, abaixo das quais forma-se martensita na maioria dos aços.
Com resfriamento lento acima do nariz da curva-C diminuem apenas as PK-2, que é uma solução aquosa (O, 5 - 2, 5%) de ácido semi-acrílico de
tensões térmicas, enquanto no intervalo martensítico. diminuem ambas sal incompleto de ferro.
as tensões: térmica e estrutural.
Os meios de têmpera mais amplamente utilizados são a água
9.10.3. Variedades de têmpera. Não existe um meio de resfria-
fria, a solução aquosa de 10% NaOH ou NaCl, e óleo.
mento que produza resfriamento rápido no intervalo de temperaturas de
Na tabela 6 estão indicados os valores da velocidade de resfria-
650 - 400ºC, e resfriamento lento acima e principalmente abaixo deste
mento para amostras pequenas de aços, em dois meios diferentes. Até
intervalo. Por isto, utilizam-se diversas variedades de têmpera, para
agora não se encontrou o líquido de têmpera que resfrie rapidamente no
garantir o necessário regime de resfriamento.
intervalo perlítico e lentamente no martensítico.
A água fria é o meio de resfriamento mais barato e mais e- Para diminuir a velocidade de resfriamento no intervalo mar-
nergético. Ela resfria rapidamente, tanto no intervalo perlítico como tensítico, utiliza-se a têmpera em dois meios (fig. 144). Inicialmente, a
no intervalo martensítico. A adição de sal ou de álcalis eleva a poten- peça é resfriada em água, e após uma rápida exposição, é conduzida para
cialidade de resfriamento da água no intervalo perlítico. A principal o óleo. Por isto esta variedade de têmpera é denominada de têmpera em
insuficiência da água é a grande velocidade de resfriamento no intervalo óleo através da água.
martensítico.
O óleo mineral resfria lentamente no intervalo martensítico
(esta é sua principal qualidade). Porém, ele resfria lentamente também
no intervalo perlítico (esta é sua insuficiência básica). Por isto, o óleo é
utilizado para têmpera dos aços com boa temperabilidade.
A água aquecida não pode substituir o óleo, pois o aquecimento
diminui bruscamente a velocidade de resfriamento no intervalo perlítico,
e praticamente não varia esta velocidade no intervalo martensítico.
Uma classe relativamente nova de meio de resfriamento são os
polímeros dissolvidos em água, os quais, dependendo da concentração Tempo
do polímero, podem ocupar quanto à capacidade de resfriamento uma
situação intermediária entre a água e o óleo. Diferentemente do óleo de
Figura 144. Têmpera através da água para o óleo (têmpera em dois
têmpera, as soluções aquosas de polímeros, durante a têmpera dos aços,
meios).
não aquecem e não precipitam humo. Além disto, essas soluções são 1 - regime normal 2 - não-manutenção ·na água; 3 - manutenção com-
mais baratas que o óleo. Como exemplo, tem-se o meio de resfriamento pleta na água.
332 /. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 333
capítulo 9

O resfriamento rápido na água previne a transformação perlíti- O diagrama-e ajuda na escolha do regime de têmpera gradual.
ca, e o posterior resfriamento lento no óleo diminui as tensões de têmpera A temperatura do meio aquecido (temperatura de "escalagem") é es-
no intervalo martensítico. O momento de maior responsabilidade é a ex- colhida perto do ponto martensítico (20 - 30º K acima), na região de
posição na água, ,cuja duração é estabelecida para cada peça concreta. elevada estabilidade da austenita super-resfriada. O tempo de exposição
Tanto a superexposição corno a exposição insuficiente na água podem no meio aquecido (comprimento da "escalagem") deve ser menor que
conduzir a defeitos. Com a decomposição parcial ou total da austenita o período de incubação na respectiva temperatura. A têmpera gra-
obtém-se a diminuição da dureza. Com a superexposição surgem mai~ dual é mais fácil de ser executada do que a têmpera no óleo através da
for~emente as tensões de têmpera, que podem conduzir ao empeno e à água, e produz resultados mais estáveis. Outra vantagem importante da
formação de trincas. Sem levar em consideração as insuficiências indi- têmpera gradual é a homogeneização da temperatura ao longo da seção
cadas, a têmpera em óleo através da água é amplamente utilizada na da peça, através da exposição em meio aquecido. A transformação mar-
fabricação de ferramenta de corte de aço ao carbono (o aço ao carbono tensítica após esta exposição ocorre com resfrfamento lento simultâneo
possui temperabilidade baixa, e a ferramenta de corte fabricada com por todo o volume. Como resultado disto, diminuem as tensões de
estes aços não deve ser temperada em óleo). têmpera. Finalmente, a vantagem significativa é que o aço na tem-
peratura de "escalagem" encontra-se no estado austenítico. Depois de
Outra possibilidade de diminuição da velocidade de resfria- retirada do meio aquecido, a peça é por algum tempo dútil e é possível
mento no intervalo martensítico, é com a têmpera gradual (fig. 145). A endireitá-la quanto à ocorrência de empeno. Isto é particularmente va-
pei;a aquecida até a temperatura de têmpera é rapidamente mergulhada lioso para as peças finas e compridas, em cuja têmpera, mesmo no meio
no banho com meio aquecido, e em seguida, conduzida ao ar ou mergu- aquecido, ocorre o indesejável empeno. Freqüentemente, endireita-se a
lhada em óleo frio. A primeira têmpera em meio aquecido foi descrita peça manualmente. Porém, os melhores resultados são com a correção
por D.K. Chernov. No conhecido relatório "Sobre a preparação de aços do empeno por pressão. A correção pode continuar durante o resfria-
para projéteis com capacidade de penetração", em 1885, D.K. Chernov mento abaixo do ponto Mi, pois, no momento imediato à transformação
anunciou que o aço para projéteis, com a têmpera em massa fundida de martensítica (porém não após seu término), a plasticidade é elevada.
chumbo com estanho, adquire a mesma dureza que em têmpera na água O defeito básico da têmpera gradual é a pequena velocidade de
fria.
resfriamento no meio aquecido (comparar curvas 1 e 2, fig. 145). Por
isto, a utilização da têmpera gradual em aços ao carbono é limitada a
peças de pequena seção (até 8 - 10 mm de espessura). As peças de
·-~ maior seção resfriam-se lentamente no meio aqi.wcido, e a austenita con-
segue passar por decomposição eutetóide. As peças de aços ligados, nas
quais é menor a velocidade crítica de resfriamento, são mais simples de
submeter-se à têmpera gradual. Assim, por exemplo, a têmpera gradual
é amplamente utilizada no tratamento de ferramentas e componentes de
máquina de aço ao cromo (XX15, XBG e 9XC).
Tempo Um tipo diferente de têmpera gradual é a têmpera em meio
aquecido, cuja temperatura é um pouco abaixo do ponto martensítico.
A menor temperatura de "escalagem" garante grande temperabilidade,
Figura 145. Têmpera em água e meios aquecidos. l - na água; 2 - e como a quantidade de martensita ainda não é elevada, conservam-se
gradual; 3 - isotérmica. vantagens básicas de têmpera gradual. Porém, o endireitamento da peça
nesta têmpera é impossível.
334 /. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 335
capítulo 9

A têmpera gradual é utilizada em três grupos de meios aqueci- austenita residual. Esta austenita residual transforma-se em martensita
dos: óleo mineral, salitre fundido e álcalis fundido. com o resfriamento do aço temperado até uma temperatura abaixo do
Se o comprimento da "escalagem" que se encontra no inter- ponto M f. O resfriamento do aço abaixo do ponto M f não possui o
valo de transformação bainítica for maior que o tempo de decomposição sentido de que o mesmo conduz à completa transformação martensítica.
isotérmica da austenita, a operação de tratamento térmico é denominada O significado básico do tratamento a frio é a estabilização das
austêmpera ou têmpera bainítica (curva 3, fig. 145). dimensões da peça. A estrutura do aço temperado com grande quanti-
A brusca diminuição das tensões de têmpera e do empeno é a dade de austenita residual não é estável. Já na temperatura ambiente,
vantagem importante da austêmpera. Além disto, a austêmpera tem a austenita residual transforma-se gradualmente em martensita. Esta
outra vantagem. Com a transformação bainítica, em alguns aços liga- transformação é acompanhada de elevação do volume, e as dimensões
dos, conserva-se maior quantidade de austenita residual, a qual não se da peça variam. Em peças como as bolas do rolamento das rodas os
transforma em martensita durante o resfriamento posterior à exposição calibres e outros instrumentos de medidas, as dimensões devem se U:an-
isotérmica. A austêmpera destes aços garante elevada tenacidade sob ter com espessuras de micra. Para estabilização das dimensões destas
choque, diminui bruscamente a sensibilidade ao entalhe em comparação peças, faz-se tratamento a frio. Em muitos casos não se exige profundo
com o aço temperado em martensita e· revenido. Conseqüentemente, a resfriamento abaixo de zero, sendo suficiente resfriar a peça em água
austêmpera permite elevar a resistência de construção do aço. Adiante com temperatura de +5 até lüºC.
se comparam as propriedades do aço 30 x GC após têmpera normal com Outra importância do tratamento a frio é a elevação da dureza
_revenido e com austêmpera: e resistência ao desgaste da ferramenta de cobre, matrizes e instrumentos
de medidas.
O trabalho a frio eleva a dureza e resistência ao desgaste, e
Tabela 7. elimina as trincas de retífica das peças de aços ligados para construção,
Têmpera desde 880°C na CTR'MPa CTo,2MPa KCU din/cm 2
submetidos à cementação. Na camada cementada de elevado carbono,
água e revenido a 520°C 1100 850 45
após a têmpera, conserva-se significativa quantidade de austenita, a qual
Austêmpera desde 880ºC em
diminui a dureza do aço. Em conseqüência da decomposição da mesma
Salitre a 300ºC 1650 1300 60
durante a retificação, surgem as trincas.
O tratamento a frio pode elevar as propriedades magnéticas
dos magnetos permanentes, como resultado da passagem suplementar
9.10.4. Têmpera com tratamento a frio. Em muitos aços o in- de austenita para martensita ferro-magnética.
tervalo martensítico (Mi - MI) prolonga-se até temperaturas negativas No trabalho a frio deve-se considerar o fenômeno de estabi-
(fig. 111). Neste caso, no aço temperado conserva-se austenita residual, lização da austenita (§9.5). A separação no tempo entre as operações de
a qual pode ser convertida completamente em martensita ao se resfriar têmpera e trabalho a frio conduz em alguns aços à forte estabilização da
a peça até temperaturas abaixo da ambiente. Por sua essência, este austenita na temperatura ambiente. Esta estabilização diminui o efeito
tratamento a frio (proposto em 1937 por A.P.Guliaev) é continuação do do trabalho a frio. Por isto, o limite desejável deste intervalo é regula-
resfriamento interrompido na temperatura ambiente, que não é crítica mentado. Assim, para as pastilhas de medição de aço X, o intervalo não
para o metal. pode ultrapassar 30 minutos.
O tratamento a frio pode ser utilizado sempre que o ponto Geralmente para trabalho a frio exige-se temperaturas abaixo
Ivl f se encontrar abaixo de Oº C. O efeito do tratamento a frio depende de -80ºC.
da quantidade de austenita residual na temperatura ambiente. Com a
elevação do teor de carbono no aço, o intervalo martensítico diminui para 9.10.5. Têmpera a partir de temperaturas do intervalo in-
urna região de temperaturas mais baixas, aumentando a quantidade de tercrítico. Durante muito tempo considerou-se que o não-aquecimento
336
/. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 337
capítulo 9

até a temperatura Ac3 deve conduzir a defeitos na têmpera. Realmente, intercrítico, e conduzindo-se o resfriamento em dois estágios: no m1c10
com esta têmpera incompleta, nos aços de médio carbono, a resistência lentamente, com velocidade de 5 - 30ºK/seg, e depois na água. No pri-
e a dureza obtidas são menores que após a têmpera a partir da região meiro estágio de resfriamento, da austenita precipita-se a "nova" ferrita,
austenítica, devido à presença de ferrita macia em suas estruturas. e no segundo precipita-se martensita. Com isto surge o efeito de auto-
No final da década de 70, a têmpera a partir de temperaturas do regulação de estrutura: quanto maior a temperatura de aquecimento,
intervalo inter-crítico Ac 1 - Ac 3 passou a ser estudada detalhadamente, maior a quantidade de austenita no aço, menor o teor de carbono na
para utilizações cada vez mais amplas, particularmente n~ indústria ~u­ mesma e menor a estabilidade desta austenita, isto é, obtém-se mais
tomobilística. São os denominados aços de duas fases femta-martensita, ferrita no estágio de resfriamento lento. Como resultado, se, no mo-
(abreviadamente ADF). Estes aços de baixo carbono e baixa liga (as mento de início do resfriamento, a fração volumétrica de austenita era
marcas típicas são 06XGCIU e 06G2CIU) são temperados a partir de de 50-653, após a têmpera obtém-se aproximadamente 253 de marten-
temperaturas da região a+/, para se obter matriz ferrítica de baixo ta- sita.
manho de grão com ilhas de martensita homogeneamente distribuídas na O regime concreto de tratamento térmico (temperatura no in-
mesma. A fração volumétrica da martensita consiste de 15-25%. ,Estes tervalo intercrítico e velocidade de resfriamento lento) é escolhido para
materiais são denominados aços de "estrutura dupla", ou duo-fase. cada aço, considerando-se a exigência complexa de propriedades tecno-
Os ADF diferenciam-se pela elevada dutilidade tecnológica nas lógicas e experimentais. Por exemplo, com quantidade de martensita
peças de chapas estampadas e recalcadas a frio. A boa estampabilidade igual a 10-18%, <JR ;::: 450MPa, e com quantidade de martensita igual a
do ADF é condicionada pelo fato de que, graças à sua composição es- 20-283, <J R ;::: 550MPA. Porém, o alongamento homogêneo diminui com
pecífica e à sua estrutura, eles têm baixo limite de escoamento; estão a elevação da fração volumétrica de martensita.
ausentes áreas de escoamento na curva de tração; é baixa a relação
<Jo, 2 /<Jy e, correspondentemente, há um alongamento mais homogêneo.
9.11. Têmpera superficial dos aços.
O alto coeficiente de resistência à deformação garante resistência sufi-
cientemente elevada após a preparação das peças estampadas a frio ou
Muitas ligas devem possuir elevada dureza superficial, elevada
recalcadas.
A têmpera dos aços hipoeutetóides, a partir de temperaturas resistência da camada superficial e núcleo tenaz. Esta combinação de
do intervalo intercrítico, caracteriza-se pelas particularidades descritas a propriedades na superfície e no interior da peça é conseguida com a
seguir, as quais vêm do diagrama de equilíbrio. No aço de determinada têmpera superficial. Para a têmpera superficial, a peça de aço deve ser
composição, com a elevação da temperatura de têmpera no intervalo aquecida até a temperatura austenítica, apenas numa região da camada
intercrítico, cresce a fração volumétrica de austenita e diminui o teor de superficial com determinada espessura. Este aquecimento deve se dar
carbono na mesma. Correspondentemente, eleva-se a fração volumétrica rapidamente para que o núcleo, em conseq'úência de condução térmica,
de martensita e diminui a concentração de carbono na mesma, o que também não seja aquecido até a temperatura de têmpera. Os diversos
eleva a velocidade crítica de resfriamento para têmpera, <' também eleva- tipos de têmpera superficial se diferenciam pelo método de aquecimento.
se a temperatura de início de transformação mart.r,Hsíti( "· 9.11.1. Têmpera com aquecimento por indução. Como é conhe-
Para diminuir o limite de escoamento dJ ADF, é desejável subs- cido, com a elevação da freqüência de variação da corrente, cresce a
tituir parcialmente a ferrita da estrutura inicial em ferrita transrecristali- heterogeneidade de distribuição da mesma ao longo da seção do con-
zada. Esta ferrita é obtida com o resfriamento da austenita desde a tem- dutor. Com elevadas freqüências, pode-se considerar que a corrente~
peratura de aquecimento no intervalo intercritico: também é desejável só existe praticamente em uma camada superficial fina. Na utilização
diminuir, nesta ferrita, os teores de cromo e fósforo, que dimminuem deste efeito de superfície está baseado o aquecimento por indução de
a dutilidade. Consegue-se a elevação da fração de ferrita transrecris- elevada freqüência para a têmpera superficial, proposta por V.P Vo-
talizada com a elevação da temperatura de aquecimento no intervalo logdin em 1935. A peça é colocada no indutor, com corrente de elevada
338 1. 1. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 339
capítulo 9

freqüência. Para os aços de construção, pode-se considerar que, acima A têmpera de alta freqüência é desejável para o aço com es-
do ponto Kurie, a profundidade de penetração da corrente em mm é trutura inicial refinada. Para isto pode-se utilizar normalização, e, em
casos particulares, a têmpera normal com elevado revenido em sorbita.
ô~ 500/Vf (9.1) Com a elevação do grau de superaquecimento, a velocidade
de nucleação da austenita cresce mais rapidamente do que sua velo-
onde f é a freqüência da corrente em Hertz. Na camada com essa es- cidade de crescimento linear. Por isto, nas condições de aquecimento
pessura dispende-se aproximadamente 87% de toda energia calorífica. de alta freqüência, que se diferencia pelo forte superaquecimento acima
Conseqüentemente, a profundidade de penetração da corrente diminui dos pontos Ai e A3, bem como pela ausência de exposição na tempe-
com a elevação de sua freqüência. Assim, por exemplo, para o aço 45 a ratura máxima, forma-se tamanho de grão austenítico muito pequeno.
850ºC, esta variação é ilustrada pelos seguintes dados: Seu tamanho pode encontrar-se no intervalo de 2-7 µm (até n!!. 14 pela
padronização GOT). Ao mesmo tempo, no aquecimento no forno antes
da têmpera, geralmente formam-se grãos austeníticos de tamanho maior
Tabela 8. que 10 µm (n2. 7-10).
f Hz 50 10.000 70.000 400.000 Devido à elevada velocidade de aquecimento e à ausência de
2,1 0,9
exposição na temperatura máxima, os ciclos dos processos de difusão
6mm 80 5,5
mostram-se incompletos, e o carbono distribuiu-se não uniformemente
nos microvolumes da austenita. Por exemplo, no aço 40 podem formar-
Após o aquecimento no indutor, na superfície aquecida espalha- se microvolumes de austenita contendo 1,7%C e grãos muito pequenos,
se, com um injetor, o líquido de têmpera (como injetor pode servir o isto é, a grande extensão dos contornos de grãos e a desuniformidade na
próprio indutor, na forma de tubo com orifício). distribuição de carbono fazem com que a austenita fique menos resistente
A velocidade de aquecimento por indução de elevada freqüência à transformação perlítica. Por isto, após o aquecimento por indução,
atinge até 300-500ºK/seg, o que é 2-4 ordem(!) maior que a velocidade exige-se um resfriamento de têmpera intensivo.
normal de aquecimento no forno. A elevada velocidade do aquecimento Nos microvolumes de austenita com diferentes concentrações
por indução condiciona importantes particularidades da transformação de carbono formam-s~ cristais de martensita que também se diferenciam
de fase e da estrutura que se obtém. pela composição. Nas regiões de austenita com menor concentração de
Na figura 78 é visto que, com a elevação da velocidade de aque- carbono, o ponto Mi é mais elevado (fig. 113), e podem precipitar-se
cimento, a transformação de fase se desloca para a região de tempera- carbonetos dispersos durante o resfriamento dos cristais martensíticos,
turas mais altas. A isto deve-se acrescentar que nos aços hipoeutetóides entre Mi e a temperatura ambiente. A austenita com grão muito pe-
a elevação da temperatura no aquecimento por indução ultrapassa a queno transforma-se em cristais pequenos de martensita.
difusão do carbono. Como resultado, a ferrita livre transforma-se em As particularidades acima indicadas da estrutura martensítica
austenita de baixo carbono. após aquecimento por indução condicionam a elevação da resistência à
Conseqüentemente, a temperatura de têmpera a alta freqüência fratura frágil e uma dureza um pouco maior (4-6 pontos RC acima da
deve ser maior que a temperatura de têmpera com aquecimento normal têmpera com aquecimento no forno).
no forno. Quanto maior a temperatura de têmpera de alta freqüência, A têmpera com aquecimento de indução por alta freqüência,
tanto maior a velocidade de aquecimento e mais grosseira a ferrita livre. que se diferencia pela maior produtividade, é utilizada amplamente para
Por exemplo, o aço 40 com aquecimento no forno é temperado desde a a elevação da dureza superficial das peças, elevando a resistência ao des-
temperatura de 840 - 860ºC, e no aquecimento por indução com veloci- gaste e à fadiga. A elevação do limite de resistência à faàiga é pos-
dade de 250ºK/seg, é temperado desde 880 - 920ºC, e com velocidade sibilitada pelas menores tensões residuais nas camadas superficiais. A
de aquecimento de 400ºK/seg desde 930 - 980ºC. profundidade de penetração da corrente geralmente não supera a profun-
340 /. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 341
capítulo 9

didade de temperabilidade dos aços ao carbono. Por isto, não se exige resistência, resistência ao desgaste e resistência à fadiga da camada su-
a utilização de aço ligado com maior temperabilidade. A têmpera com perficial.
elevada freqüência é amplamente utilizada em peças de aços ao carbono As vantagens principais da têmpera a laser, ainda menos utili-
baratos, contendo 0,4%C ou mais. zada que a têmpera de alta freqüência, são: a oxidabilidade da superfície
Para cada configuração da peça é necessário preparar seu indu- (tempo insignificante de permanência do metal em elevada tempera-
tor e detalhar seu regime de tratamento. Por isto, a têmpera superficial tura); a ausência praticamente completa de empenamento; a possibi-
com aquecimento por indução é rentável na produção em série de um lidade de tratamento das regiões da superfície de difícil acesso e que
mesmo tipo de peça, como por exemplo na indústria automobilística. exigem endurecimento.

9.11.2. Têmpera com aquecimento laser. A tecnologia laser co- 9.11.3. Têmpera com aquecimento de chama de combustão.
meçou a ser utilizada industrialmente para tratamentos térmicos há re- Com combustão de mistura de oxigênio e combustível gasoso, por exem-
lativamente pouco tempo. Como regra, a fonte de radiação é o gás C0 2 plo acetileno, forma-se uma chama com elevada temperatura. A chama
laser de ação contínua. de gás e oxigênio com temperatura de 2.000 - 3.000ºC tem sua ponta
de combustão dirigida para a peça. Esta se aquece rapidamente na
A particularidade da têmpera com laser é a alta concentração
região de sua superfície, com profundidade de 2-4mm, até a tempera-
de energia em uma camada superficial fina (geralmente até 1 mm). Esta
tura da região austenítica. Em seguida, a região aquecida é salpicada
camada aquece-se em um tempo extraordinariamente curto (centésimos
com água sob pressão, através de um orifício na parte resfriada do ponto
de frações de segundos até as elevadas temperaturas de têmpera). O
de têmpera.
restante do volume da peça permanece a frio. Quando a região aquecida
sai de baixo do feixe (por exemplo, como resultado do deslocamento da A têmpera com aquecimento de chama de combustão é util-
peça), ela resfria-se rapidamente devido à transmissão de calor para as mente aplicada quando as têmperas de alta freqüência e de laser não
camadas vizinhas das peças que estão frias. são rentáveis por inaplicabilidades práticas: nas condições de economia
de reparo (entre elas a campestre), na têmpera superficial das peças de
A têmpera a laser é conduzida tanto com fusão como sem fusão
elevadas dimensões (por exemplo cilindros de laminador, grandes engre-
da camada superficial. O primeiro caso, em princípio, diferencia-se de
nagens). As insuficiências desta possibilidade simples de endurecimento
todos os demais tipos de tratamentos térmicos, e é um tipo indepen-
superficial são a regulagem não precisa da espessura e da temperatura
dente de têmpera que será analisado no capítulo X. Adiante, veremos
da camada que se tempera, e a possibilidade de forte superaquecimento
sucintamente a têmpera a laser sem fusão superficial. Ela inclui as mes-
inclusive com fusão.
mas transformações de fases que a têmpera habitual em martensita. A
diferença básica de têmpera a laser da têmpera com indução superfi-
cial consiste no aquecimento extremamente mais rápido (em 2-4 ordens)
até as temperaturas elevadas (graças à concentração muito elevada de
energia na camada fina), bem como no resfriamento mais rápido (graças
às camadas frias vizinhas). A velocidade de aquecimento do laser é de
10 4 - 106 ºKíseg, e a velocidade de resfriamento é de 103 - 106 ºK/seg.
Este regime calorífico condiciona as seguintes particularidades
estruturais: .'Srão austenítico extremamente pequeno; elevado grau de
desuniforrnidade na distribuição do carbono nos microvolumes da aus-
tenita e, corréospondentemente, na martensita; a elevação da quantidade
de austenita residual; partículas dispersas de carbonetos, que não con-
seguem se solubilizar. A estrutura dispersa determina a elevação da
Têmpera com fusão superficial
capítulo 10

A têmpera cqm fusão superficial é um tratamento térmico no


qual o principal processo é a rápida solidificação da camada superficial
com a f armação de estrutura metaestável.
Com elevada concentração de energia na camada superficial fina
da peça, esta camada pode aquecer-se até temperaturas em que passa
inteiramente para o estado líquido, e após a interrupção do aquecimento
solidifica-se com velocidade muito grande de resfriamento, devido à dis-
sipação rápida de calor dentro do volume frio. Com esta auto-têmpera
da camada fina fundida (sem utilização de meios especiais de têmpera),
na superfície da peça pode se formar uma estrutura que melhora suas
propriedades de utilização.
A fusão durante o tratamento térmico sempre foi considerada
como um defeito que, como regra, não se podia corrigir. Já foi visto no
§1.3 o recozimento de homogeneização com passagem através do ponto
solidus de não-equilíbrio (também uma variedade não tradicional de tra-
tamento térmico), e que inclui o surgimento de microrregiões líquidas
distribuídas por todo o volume. Analisamos aqui um tipo de têmpera
relacionado com o surgimento de uma camada contínua fundida, na su-
perfície macroscópica da peça. Esta camada possui uma espessura não
habitual (geralmente da ordem de 10-imm). Isto faz com que seu sqrgi-
mento, e posterior solidificação, não modifique a forma da peça, isto é,
estamos lidando com tratamento térmico da peça e não com a formação
da peça a partir da massa líquida, o que levaria à fabricação por fundição.
Pode-se por vários meios obter a camada fundida de dada es-
pessura pequena, em determinada região da superfície da peça. Para
isto, utiliza-se no aquecimento um fluxo energético dirigido de elevada
344 l. l. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 345
capítulo 10

energia, tal como os raios laser e feixe eletrônico, utilizados em grande metálico rotativo com formação contínua de película fina; filamentos
extensão para endurecimento superficial das peças. Particularmente de finos a partir da massa líquida, e outras.
grande alcance para este objetivo de aquecimento são os gases laser com Na têmpera com fusão superficial da peça, a velocidade de
ajuda tecnológica de ação contínua (por exemplo laser Co2, que, diferen- resfriamento durante a solidificação da camada fundida, graças à sua
temente dos raios eletrônicos, não exigem vácuo). O valor qualitativo pequena espessura e à rápida dispersão de calor no interior da peça
do aquecimento com laser na têmpera com fusão superficial é a possibi- fria, geralmente tem o valor da ordem de 10 4 -10 6 ºK/seg, e pode atingir
lidade do tratamento de regiões de fortes contornos. Tendo em vista os com a utilização de laser especial 10 10 ºK/seg. Por isto, a têmpera com
elevados gastos, o maior efeito econômico da utilização de aquecimento fusão superficial, ao se relacionar à tecnologia do tratamento térmico das
laser é conseguido com tratamento de regiões de pequena responsabili- peças, pode ser vista como um caso parcial de têmpera desde o estado
dade, na superfície de peças de produção em série (por exemplo, de ferro líquido no suporte particular que dispersa o calor.
fundido cinzento). Para compreender as modificações de estrutura e as proprie-
Na têmpera com fusão podem aparecer pequenas heterogenei- dades que resultam da têmpera com fusão superficial, é necessário des-
dades na superfície lisa inicial da peça. Isto é resultado do processo crever previamente, de maneira geral, a formação das estruturas com
de contração e precipitação gasosa durante a solidificação. Assim, por resfriamento ultra-rápido da massa líquida.
exemplo, após retificação de peça de ferro fundido cinzento, as hete- 10.1.1. Microestrutura. Nas velocidades habituais de resfriamento,
rogeneidades em sua superfície possuem dimensões de 0,5 µm, e após os primeiros cristais da solução sólida à base de metais crescem na forma
têmpera laser com fusão, estas heterogeneidades atingem alturas de <lendrítica. Com a elevação da velocidade de resfriamento ( v), elevam-se
80µm. No caso de necessidade de eliminação deste tipo de defeitos, as dendritas ramificadas, diminui a espessura de seus ramos e, corres-
faz-se retífica com pastilha abrasiva. pondentemente, diminuem as dimensões das células dendríticas, ou seja,
a seção (d) dos ramos da dendrita no plano da amostra polida:

10.1. Princípios gerais dafonnação dQ, estrutura, durante resfria- (34)


mento ultra-rápido da massa líquida.
onde A e n são constantes que se diferenciam pouco nas diferentes ligas
com o mesmo metal base. Isto permite utilizar a fórmula (34) para
Na tecnologia tradicional de fundição, a velocidade de resfria- precisar a velocidade de resfriamento durante a cristalização de camadas
mento na solidificação de lingotes, mesmo CQm seções muito finas, não finas da massa líquida, com a variação do valor de d.
ultrapassa 103 ºK/seg. O resfriamento da maSsa líquida com velocidade As dimensões das dendritas, diferentemente da espessura de
superior a 103 -10 4 ºK/seg é denominado ultra-rápido ou têmpera desde seus ramos, não têm relação significativa com a velocidade de resfria-
o estado fundido. mento, pois dependem fortemente da existência, na massa líquida, de
A solidificação ultra-rápida da masi>a líquida é utilizada nos núcleos de cristalização, da direção da dispersão do calor e de outros fa-
processos metalúrgicos de pulverização (grãos, escamas), nos processos tores. Por exemplo, com elevadas velocidades de resfriamento na direção
de fundição para fabricação de lingotes finos: de películas e lingotes de da dispersào de calor, podem formar-se dendritas longas (na direçào de
arame. Existe uma variedade de possibilidq,des de obtenção de velo- dispersào do calor) e finas.
cidades de resfriamento elevadas e super-rápidas da massa líquida nas Ao atingir determinadas velocidades de resfriamento ("' 10 6
condições de laboratório e em indústrias: pulverização da massa líquida ºK/seg para as ligas de alumínio), a forma dendrítica dos primeiros
em pequenas partículas; centrifugação da massa líquida em cilindro de cristais modifica-se para forma não-dendrítica: a partir de múltiplos
cobre de alta rotação, e com espalhamento da mesma em película fina na núcleos conseguem se formar grãos pequenos e compactos em ramos,
superfície do cilindro; deposição de fluxo fino da massa líquida em disco (grãos subdendríticos). Suas dimensões (menores que 10 µm) diminuem
346 /. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 347
capítulo 10

com a elevação da velocidade de resfriamento, pela mesma lei (34) que Até velocidades de resfriamento bastante elevadas, nos primei-
vale para as dimensões das células dendríticas. ros cristais da solução sólida pode desenvolver-se segregação intracrista-
O eutético nas velocidades habituais de resfriamento cresce na lina: as composições das regiões, antes e depois da formação da solução
forma de colônias. Cada colônia eutética é um bicristal de duas fases, sólida, podem se diferenciar bruscamente, como na cristalização habi-
com crescimento de cristais ramificados de duas fases diferentes. O cris- tual.
tal de cada uma das fases nesta configuração possui múltiplas agulhas Com a elevação da velocidade de resfriamento, as ramificações
com varetas e outras formas de ramificação, além do que, na extensão, das dendritas que se cristalizam em primeiro lugar, na solução sólida,
terminam na superfície polida, isto é, o quadro é de regiões devidamente são mais finas, e sua quantidade é maior. Ao mesmo tempo cresce a
pequenas das duas fases. fração total do volume junto dos contornos destas ramificações, que são
Uma das fases do eutético é condutora: seus ramos crescem enriquecidas devido à segregação intracristalina dos elementos de liga
com algum adiantamento, e entre eles formam-se na massa líquida os (por exemplo, cobre e magnésio nas ligas de alumínio). Como resultado,
ramos da segunda fase. Com a aceleração do resfriamento, fortalecem- cresce o teor total de elementos de liga nos cristais primários e, cor-
se as ramificações da fase condutora e, conseqüentemente, da segunda respondentemente, diminui a fração volumétrica de compostos em cuja
fase. Também a espessura das ramificações de ambas as fases diminui na composição entram estes elementos (por exemplo Cu Al 2 e Mg 2 Si nas
colônia eutética. Ocorre dispersão geral da estrutura dentro da colônia. ligas de alumínio).
Atingindo velocidades de resfriamento suficientemente elevadas Com velocidades de resfriamento excepcionalmente elevadas,
(ordem de 106 ºK/seg), a estrutura de colônias eutéticas desaparece. Em torna-se possível a cristalização sem difusão (sem redistribuição): a com-
lugar delas aparecem estruturas muito finas de conglomerado de fases, posição da solução sólida formada é a mesma da massa líquida inicial.
cuja formação pode ser explicada pela nucleação, com elevados super- A possibilidade termodinâmica da cristalização sem redistribuição dos
resfriamentos, de múltiplos núcleos de cristalização de ambas as fases componentes surge quando a massa líquida é super-resfriada abaixo da
eutéticas. temperatura de equilíbrio entre a energia livre do líquido e da solução
sólida de mesma composição. Para análise pode-se aqui utilizar o es-
Ao atingir determinada velocidade de resfriamento, a separação
quema da figura 112, trocando o significado de {3 por L (líquido) e G13
dos primeiros cristais na forma de fase com estrutura constituída inde-
por GL·
pendente pode ser completamente afastada, e toda a estrutura torna-
Para a têmpera com fusão superficial, é de grande interesse
se quase-eutética (ver o fenômeno análogo com a formação do quase-
ampliar a região de soluções sólidas com a cristalização ultra-rápida.
eutetóide, no §5.3). Por exemplo, na liga hipoeutética Fe-3, 5%C, está
Pode-se distinguir três casos desta ampliação, os quais veremos com o
ausente a austenita primária e só existe ledeburita, embora, de acordo
exemplo do sistema eutético.
com o diagrama de equilíbrio, o teor eutético de carbono seja de 4,3%.
No primeiro caso a cristalização ocorre sem variação da quan-
Quanto maior a velocidade de resfriamento, tanto mais ampla a região
tidade e do tipo de fase formada (fig. 146). Com resfriamento rápido, a
de composições da liga com estrutura quase-eutética. O quase-eutético
cristalização eutética pode iniciar-se a temperaturas significativamente
possui estrutura de colônia, e com velocidades de resfriamento muito ele-
abaixo do ponto de equilíbrio eutético. Por isto, a composição das ca-
vadas apresentam-se como uma estrutura fina de conglomerado de fases,
madas periféricas dos cristais primários a continua a variar seguindo a
cujos cristais cresceram a partir de uma multiplicidade de núcleos.
continuação pontilhada da linha solidus a partir do ponto de limite de
10.1.2. Composição de fases. Com a têmpera desde o estado líquido,
observam-se mudanças diferentes de composição de fases (em compa-
ração com o equilíbrio), que são diferentes para os diversos sistemas,
J
!
solubilidade a. A composição da fase-a no eutético (ou quase-eutético)
irá localizar-se na continuação pontilhada da linha solidus. Assim, por
exemplo, em ligas AI-Si, nas quais não se encontra nenhuma fase além
diversos intervalos de velocidades de resfriamento e para as diversas da solução a do silício no alumínio e do próprio Si, isto acontece quando
ligas do mesmo sistema. se atinge as mais elevadas velocidades de resfriamento. Com velocidade
348 /. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 349
capítulo 10

de resfriamento da ordem de 10 4ºK/seg a concentração do silício na fase Com velocidades elevadas e ultra-elevadas de resfriamento, po-
o: atinge 2-33 (nas condições de equilíbrio o limite de solubilidade do dem cristalizar, a partir da massa líquida, fases metaestáveis, as quais,
silício é de 1,653 ). geralmente, não estão no dado sistema. Podem também cristalizar-se
fases, as quais, nas condições de equilíbrio, não devem ser encontradas
na dada liga, mas que existem em outras ligas do mesmo sistema. É
muito elevada a quantidade de tais fases com a têmpera desde o estado
líquido, e é bastante complexo prognosticar o surgimento das mesmas.
Na prática, é muito importante que, com a solidificação rápida
pode ser completamente eliminada a cristalização de fases intermediárias
separadas, as quais pioram as propriedades da peça.
O caso limite de variação da composição de fases com solidi-
A B , ºlo
----t1-
ficação rápida, é a obtenção de liga no estado amorfo, na forma de vidro
metálico, quando se elimina o processo de cristalização. A composição
Figura 146. Ampliação da região de solução a com resfriamento ultra- das ligas obtidas no estado amorfo, com velocidades de resfriamento de
rápido da massa líquida.
106 -108 ºK/seg, é bastante distante das composições das ligas padrão
para construções e equipamentos. Por isto, o problema da formação
O segundo caso de ampliação da região de soluções sólidas é en- de vidros metálicos, em relação à utilização de têmpera com fusão da
contrado no sistema eutético de equilíbriio metaestável, com participação camada superficial, ainda não representa grande interesse prático.
de compostos metaestáveis, como por exemplq a cementita (no lugar da
grafita) no sistema Fe-C. Co,m equilíbrio metaestável, a concentração
da solução é sempre maior do que no equilíbrio estável (compare os 10.2. Variações de estruturas e propriedades na têmpera com
pontos E e E' na figura 74). Por isto, a cristalização, de acordo com fusão superficial.
o diagrama de equilíbrio metaestável, conduz à formação de solução
sólida mais concentrada (tanto de cristais prii:nários como de eutético).
No caso do sistema Fe-C, a diferença de concentração entre os pontos Na têmpera com fusão superficial, no estágio de solidificação,
E e E' é muito pequena, enquanto em 'outros sistemas ela pode ser bas- ocorrem modificações de fases e estruturas que, geralmente, não são
tante maior. Por exemplo, no sistema Al-Mn, no eutético de equilíbrio possíveis com aquecimento sem fusão. Além disto, durante o resfria-
estável com o composto Al6 Mn, participa a solução a com 1,83 Mn, e mento rápido na camada superficial completamente solidificada, ocor-
no equilíbrio metaestável em temperatura mais baixa (com participação rem processos característicos da têmpera em martensita e da têmpera
da fase Al4 Mn) encontra-se solução a com '""'43Mn. sem transformação polimórfica. Devido à ultra-elevada velocidade de
O terceiro caso de ampliação da região de soluções sólidas é a resfriamento na têmpera com fusão superficial, a estrutura, por sua mor-
cristalização sem difusão, quando é completa a eliminação de formação fologia e pela composição de fases, diferencia-se qualitativamente do que
da segunda fase, e a composição da solução sólida é a mesma da massa é obtido se a mesma peça passa pelo estado de fundição. Desta maneira,
líquida inicial.. corno resultado da têmpera com fusão superficial, surge uma estrutura
Para a têmpera com fusão superficial, é muito importante a que não se pode obter nem com têmpera de aquecimento no estado sólido
formação de novas fases intermediárias metaestáveis, com a elevação nem com a fundição da peça.
da velocidade de resfriamento. O exemplo simplista é a formação de Cresce continuamente o número de ligas e de peças, bem como
cementita eutética, em lugar de grafita, no sistema Fe-C. Isto ocorre o campo de aplicação da têmpera com fusão superficial. Atualmente este
com a acelerru;ão do resfriamento no diapasão de velocidades habituais. tipo de têmpera é utilizado, basicamente, para elevação da resistência
350 J. J. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 351
capítulo 10

de vários tipos de desgaste, e para a elevação da dureza e resistência à As reg1oes de austenita primária que se formam a tempera-
corrosão. turas mais elevadas devem conter menos carbono e, correspondente-
mente, ponto Mi mais elevado. Nestas regiões ocorre transformação
10.2.1. Têmpera dos ferros fundidos. A maioria das peças de ferro martensítica. A velocidade de resfriamento diminui fortemente com o
fundido cinzento com veios de grafita, dos ferros fundidos de elevada re- decréscimo da temperatura, e é possível um auto-revenido da marten-
sistência com grafita nodular e dos ferros fundidos forjados, é inutilizada sita formada, com o aparecimento de ferrita e partículas dispersas de
devido à deterioração superficial. Considerando que para maquinaria carboneto. Desta maneira, a camada superficial após a têmpera con-
este tipo de material fundido é o mais barato, é de grande interesse a siste de austenita, carboneto de origem eutética e fase-a formada pelo
elevação da resistência ao desgaste das peças de ferro fundido, com o auto-revenido, a qual pode constituir-se de martensita de baixo car-
auxílio da têmpera com fusão superficial. bono ou de ferrita. Nesta camada, a austenita é metaestável, e como
Com o aquecimento a laser, a grafita se dissolve parcialmente ou seu ponto Mi encontra-se próximo à temperatura ambiente, por ação
completamente na camada líquida superficial. Com o posterior resfria- mecânica ela pode transformar-se em martensita de tensão ou marten-
mento rápido, há a solidificação na forma de ferro fundido branco. São sita de deformação (§ 9.6).
possíveis duas hipóteses de formação da estrutura com a cristalização. A elevação da dureza em 3-5 vezes e a pulverização da estrutura
No primeiro caso - forma-se inicialmente dendritas de aus- da camada superficial dos ferros fundidos cinzentos maleável e de alta
tenita primária, e depois se cristaliza a ledeburita. O eutético pode resistência condicionam a significativa elevação da resistência ao desgaste
se degenerar: a austenita do mesmo cresce nas dendritas de austenita da superfície de trabalho. A ausência de grafitas, que são centros de
primária, entre as quais distribui-se uma rede quase contínua de cernen- erosão no fluxo com partículas abrasivas em suspensão, condiciona a
tita eutética. elevação da resistência a este tipo de desgaste.
No segundo caso, a massa líquida com determinado regime Na têmpera dos ferros fundidos com fusão superficial, geral-
de aquecimento é fortemente superaquecida. Em conseqüência disto, mente se formam três zonas: 1) a vista acima, que é a zona de completa
também passa por grande super-resfriamento. Como resultado elimina- fusão; 2) zona de transição, de fusão parcial, com grande quantidade
se a formação de austenita primária, e todo o volume da camada líquida de grafita; 3) zona de aquecimento até temperaturas acima de AJ, sem
solidifica-se na forma de estrutura austenita-carboneto de lâminas finas. fusão, onde ocorre transformação em martensita, com o resfriamento.
Na terceira zona, perto do limite com a segunda, há muita austenita
No primeiro caso, a dureza da camada superficial é de 600-
residual. Isto porque a concentração de carbono na mesma deve ser
800 HV, e no segundo vai até 1200 HV. É geralmente difícil executar o
próxima ao limite, na temperatura eutética.
segundo caso na produção, devido à formação de trincas.
A profundidade da zona de completa fusão, dependendo do re-
A concentração de carbono na austenita de origem eutética, e gime de tratamento (a potência específica de irradiação e a velocidade
também nas camadas periféricas dos cristais primários de austenita, deve de deslocamento da peça em relação ao feixe), oscila nos limites de 0,05
ser próxima ao ponto limite de solubilidade no sistema de Fe-C-Si, para até 1 mm.
o caso de equilíbrio com a participação de carboneto (......, 1, 63C). Com
O ferro fundido é o primeiro material de ampla utilização in-
esta concentração de carbono na austenita do sistema bifásico Fe-C, o
dustrial temperado com fusão superficial.
ponto martcnsítico Afi é próximo da temperatura ambiente (fig. 111 ).
Nos ferros fundidos a austenita com alto teor de carbono contém man- 10.2.2. Têmpera dos aços. A quantidade de têmpera dos aços com
ganês, além de outros elementos que baixam o ponto Mi até a tempera- fusão superficial, em comparação com a têmpera superficial em mar-
tura abaixo da ambiente. Como resultado, na zona de completa fusão, tensita (sem fusão), é menos vista do que nos ferros fundidos. Uma
após o resfriamento até a temperatura ambiente, conserva-se muita aus- das possíveis direções de sua utilização é a pulverização de carbonetos
tenita (mais da metade do volume de toda a camada). primários em aços ligados para elevar a tenacidade (as partículas gros-
352 /. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 353
capítulo 10

seiras de carbonetos podem ser destruídas pelo fogo). Com têmpera


normal, é difícil obter elevação substancial da tenacidade, sem dimi-
nuição da dureza. Nos aços rápidos P6M5 pode-se encontrar partículas
bastante grandes de carbonetos primários, que diminuem a tenacidade.
Se este aço é submetido a aquecimento com laser até completa fusão da
camada superficial, então, com posterior solidificação rápida da massa
líquida (V resf. ~ 5.10 4 ºK/seg), a cristalização dos carbonetos é, na
prática, completamente eliminada, e a camada superficial é solidificada
na forma de dendritas de austenita, as quais, com o posterior resfria-
mento, transformam-se em martensita. O teor de carbono e de elemen-
tos de liga nesta martensita é praticamente igual ao teor médio, existente
no aço. Após recozimento a 770ºC durante 4 horas, precipitam-se da
martensita carbonetos muito dispersos de tamanho menor que 1 µm, dis-
tribuídos homogeneamente por todo o volume da camada. A peça reco-
zida pode ser submetida a tratamento mecânico para obtenção da forma
necessária do gume cortante, após o que é conduzida à têmpera normal Figura 147. Germinação de grão de austenita desde a superfície fun-
e ao revenido. Como resultado, sem diminuição da dureza, consegue-se dida, que se formou com aquecimento laser do aço 37xH3MF. 250x
elevar a tenacidade. (V.D. Sadovsk; T.I. Tabatchikova; V.M. Uminov. A. A. Ocintseu).
Com o aquecimento a laser até a fusão da superfície dos aços,
em determinadas condições é possível observar-se o efeito de crista- nea. Assim, por exemplo, o bronze marca BpAJ9-4 no estado normal,
lização: formam-se, a partir da massa fundida, grãos de austenita, que consiste de solução a à base de cobre, eutetóide a + 7 2 e fase de com-
são continuação dos grãos do limite da zona não fundida (fig. 147). ponente de ferro. Estas fases, na têmpera com fusão superficial, não
10.2.3. Têmpera das ligas de metais não-ferrosos. A têmpera conseguem se formar a partir da massa líquida (V resf ~ 106 ºK/seg). Há
com fusão superficial pode ser utilizada para elevar a resistência ao cristalização na forma monofásica (provavelmente /3), não havendo no
desgaste de peças de silumínio. Com solidificação rápida da camada estado sólido a decomposição com formação de fases a e 'Y2· A camada
fundida, a microestrutura pulveriza-se bruscamente: formam-se cristais monofásica possui resistência aumentada contra a corrosão e ação de
pequenos de solução a à base de alumínio, silício e outras fases, entre cavitação.
as. quais compostos de ferro, que diminuem a dutilidade. Além disto, A têmpera com fusão superficial é ainda pouco estudada. À me-
a supersaturação da solução a mostra-se elevada, em comparação com dida que aprofundamos nossos conhecimentos sobre a mesma, e também
a têmpera normal. Isto é resultado da ampliação da região de solução com a elevação da obtenção de equipamentos eletrônicos para sua uti-
a com a solidificação rápida, com a simultânea diminuição da fração lização industrial, este novo tipo de tratamento térmico sem nenhuma
volumétrica das fases livres que têm origem na cristalização (Si, Cu dúvida irá expandir-se. A busca de campos de aplicação deste trata-
Al2, Mg2 Si e outras). A supersaturação mais elevada da solução sólida mento deve em primeiro lugar se dirigir às ligas nas quais, com solidi-
condiciona grande crescimento da dureza durante o revenido. Todas es- ficação rápida, formam-se novas fases metaestáveis (inclusive amorfas),
tas fases também determinam a elevação da resistência ao desgaste do ampliam-se substancialmente as regiões de solução sólida, e também
silumínio. A dureza de vários silumínios cresce em 1,5 vez após este eliminam-se a cristalização de fases prejudiciais.
tratamento.
Na têmpera com fusão superficial de bronzes de alumínio de
muitos componentes, pode-se obter uma estrutura monofásica hornogê-
PARTE IV
Envelhecimento e Revenido

As ligas temperadas encontram-se no estado metaestável e pos-


suem energia de Gibbs aumentada. Com a têmpera sem transformação
polimórfica, e com a esmagadora maioria dos casos de têmpera com
transformação polimórfica, formam-se soluções sólidas supersaturadas,
e as ligas temperadas tendem a diminuir sua energia de Gibbs. Como
resultado disto, a solução sólida se decompõe. Mesmo na temperatura
ambiente podem formar-se precipitados desde a solução supersaturada.
Contudo, na maioria das ligas, a mobilidade da difusão atômica na tem-
peratura ambiente não é suficiente para a decomposição da solução, no
grau necessário e com um tempo útil. Por isto, para modificar a estru-
tura e as propriedades da liga temperada, elas são aquecidas: submetem-
se a envelhecimento e revenido.
Foi estabelecido historicamente que, para umas ligas, por exem-
plo de alumínio, utilizou-se principalmente o termo "envelhecimento";
para outras, por exemplo aços ao carbono - "revenido"; para terceiros,
por exemplo bronzes e ligas de titânio, ambos os termos foram utiliza-
dos com vários sentidos. Relativamente há pouco tempo, foi proposto
o termo "revenido" para ser utilizado nas ligas que foram submetidas
à têmpera com transformação polimórfica, e o termo "envelhecimento"
para o caso de têmpera sem transformações polimórficas. Esta classi-
ficação é utilizada neste livro.
O importante dos processos de envelhecimento e revenido da
maioria das ligas industriais é a decomposição da solução sólida me-
taestável. Com isto, a liga passa para um estado mais estável, embora
normalmente esteja longe do verdadeiro equilíbrio, que é caracterizado
pelo mínimo absoluto da energia de Gibbs. Os processos de decom-
356 /. /. Novikov Envelhecimento
capítulo 11
posição da solução supersaturada da liga temperada ocorrem esponta-
neamente na transformação de precipitação com ação do calor.
O fato de haver aquecimento da liga não é contraditório com a
suposição sobre os processos espontâneos que ocorrem na liga durante
o envelhecimento e o revenido. Isto porque o aquecimento é necessário
apenas para acelerar a difusão, que se situa na base de todas as modi-
ficações de fases com decomposição das soluções supersaturadas.
Os parâmetros básicos do envelhecimento e do revenido são a
temperatura e o tempo de exposição. As velchcidades de aquecimento
e resfriamento geralmente desempenham, pap~l secundário. A exceção O envelhecimento é um tratamento térmico de liga submetida
consiste no fenômeno especial de fragilidade de revenido de aços ligados, a têmpera. sem transfarmação polimórfica, cujo processo principal é a
com resfriamento lento desde a temperatura de revenido (§ 12.3). decomposição da solução sólida supersaturada.
Em 1906 o engenheiro alemão Alfred Vilm descobriu um fe-
nômeno natural de envelhecimento: a permanência de liga de alumínio
temperada contendo cobre e magnésio (duralumínio), na temperatura
ambiente, conduz à elevação da dureza.
Vilm recebeu a patente de capacidade de enriquecimento dos
duralumínios, compreendendo têmpera das ligas com posterior envelhe-
cimento natural, que tem como resultado a elevação de dureza e limite.
de escoamento.
Em 1919 os pesquisadores americanos Merick, Valtenberg e
Scott publicaram um famoso artigo no qual, pela primeira vez, foi feita
uma análise da natureza do envelhecimento do duralumínio, relacionada
com a mudança de solubilidade do composto Cu Al 2 no alumínio. Com o
aquecimento da liga, o composto Cu Al2 passa para a solução sólida e não
consegue precipitar-se de volta durante o resfriamento rápido (têmpera).
A posterior permanência da liga na temperatura ambiente conduz à pre-
cipitação gradual, desde a solução supersaturada, de partículas muito
dispersas de Cu Ah que, devido a esta dispersão, não podem ser vis-
tas em microscópio. Estas partículas provocam o endurecimento. Esta
hipótese simples e convincente explicou os dados experimentais então
existentes.
A ausência de endurecimento durante a exposição da amostra
temperada, a uma temperatura de -180ºC, foi explicada pela baixa
velocidade de formação dos precipitados. O aparecimento de endure-
cimento, com a elevação da temperatura de exposição até a ambiente
358 /. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 359
capítulo 11

e até lOOºC, foi relacionado ao fato de que a mobilidade dos átomos Considerando estas contradições e uma grande quantidade de
torna-se suficiente para a precipitação de Cu Ah de forma dispersa. O outros dados experimentais, em 1932 Merick propôs a explicação a se-
cresci:rnento da dureza durante o envelhecimento a 200ºC, atingindo o guir, sobre o endurecimento durante o envelhecimento, o que é um de-
máximo de endurecimento, e a posterior diminuição da dureza, foram ex- senvolvimento de sua hipótese inicial. O endurecimento a quaisquer
plicados pela formação de partículas de Cu Ah com determinado grau de temperaturas de envelhecimento ocorre com o tempo. A exposição é
dispersão, que corresponde à dureza máxima, e posterior coalescimento necessária para o desenvolvimento dos processos de difusão, que estão
destas partículas. na base da decomposição da solução sólida supersaturada. Com tem-
A elevação do efeito de endurecimento com o envelhecimento, peraturas aumentadas, a difusão dos átomos de cobre garante a própria
como resultado do aumento da temperatura de aquecimento antes da precipitação de partículas de Cu Al2, que põem uma cunha nos planos
têmpera, foi. relacionado com a solubillização mais completa de Cu Ah de deslizamento. Na temperatura ambiente, os processos de difusão ape-
durante o aquecimento, a formação de solução mais supersaturada du- nas preparam a solução sólida para a formação dos cristais de CuA1 2, e
rante a têmpera e o conseqüente aparecimento, durante o revenido, de não se precipitam, propriamente, as partículas de Cu Al 2. Merick anun-
maior quantidade de precipitados dispersos a partir desta solução. ciou a hipótese de que, em conseqüência da difusão, forma-se na solução
Djefris e Archer, em 1921, desenvolveram a hipótese de Me- sólida supersaturada um acúmulo de segregação de átomos de cobre, os
quais não se separam da matriz da rede através de uma superfície di-
rick sobre o endurecimento por dispersão, e propuseram a teoria geral
visória. A constituição destas regiões na solução sólida de alumínio é
de endurecimento das ligas por partículas dispersas de qualquer origem.
obtida, da maneira necessária, para o posterior surgimento, nestes lo--
De acordo com esta teoria, as partículas duras dispersas, agindo como
cais, de partículas de Cu Ah, ou mesmo qualquer composto metaestável
espinhas, põem uma cunha no plano de deslizamento da liga. Com o coa-
intermediário. Devido ao acúmulo de átomos de cobre, deve ocorrer con-
lescimento das partículas, quando não varia seu volume total, mas ape-
tração localizada da rede, e estas regiões da solução sólida fortemente
nas diminui sua quantidade, muitos planos de deslizamento se libertam
desfiguradas dificultam o deslizamento plástico, provocando o endureci-
das espinhas e ocorre o amolecimento. A dureza e resistência máxima
correspondem a algum grau crítico de dispersão das partículas duras. mento.
Consegue-se facilmente este grau de dispersão com a decomposição das Estas previsões foram perfeitamente confirmadas .. Em 1935, os
soluções sólidas supersaturadas. pesquisadores alemães Besserman e Birts, no estágio de endurecimento
máximo das ligas AI-Cu, determinaram por raios-X a formação de fases
A primeira teoria que explicou o endurecimento do duralumínio
intermediárias na solução supersaturada, conhecidas como ' para dife-
com envelhecimento à temperatura ambiente, através da precipitação de
renciar da fase de equilíbrio - Cu Al 2. Em 1938, Guinné, na França, e
partículas de Cu Ah desde solução sólida supersaturada, já na década
Prestou, na Inglaterra, independentemente um do outro, interpretaram
de 20 esbarrou com urna série de contradições. A precipitação de Cu Al2
os efeitos das dimensões difusas dos diagramas de Laue de cristais AI-Cu
e o correspondente empobrecimento da solução sólida em cobre deve-
com envelhecimento natural, como resultado da formação, na solução su-
ria conduzir à diminuição da resistência elétrica. Mas, na realidade, a
persaturada, de pequenas regiões ricas em cobre. Posteriormente, estas
resistência elétrica cresce com o envelhecimento natural. Além disto,
regiões foram denominadas zonas de Guinné-Preston (zonas GP).
com a precipitação de CuAh desde a solução sólida, deveria crescer o
parâmetro de sua rede, devido ao menor (do que no alumínio) diâmetro Desta maneira, a posição inicial da teoria Merick, sobre o fato
atômico do cobre solubilizado substitucionalmente. Contudo, análises de que o envelhecimento das ligas está relacionado com a mudança da
de raios-X não revelaram variação no parâmetro da rede com a liga solubilidade da fase livre, e que o endurecimento com o envelhecimento
ocorre como resultado da formação de precipitados dispersos com a de--
atingindo dureza máxima, mas apenas depois do superenvelhecimento.
composição da solução sólida supersaturada, mostrou-se basicamente
Com a elevação das temperaturas, quando ocorre o amolecimento, o
parâmetro da rede cresce, o que confirmaria diretamente a precipitação correta e excepcionalmente fecunda. Isto apesar de, com o tempo, a
suposição inicial ter sofrido uma série de especificações substanciais e
de Cu Al2 desde a solução sólida.
36_0_ _ __ /. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 361
capítulo 11

ter sido posteriormente complementada com a hipótese sobre o papel de tura. Veremos inicialmente o caso mais simples, quando se precipita a
fases intermediárias antes da precipitação. fase que se diferencia da matriz apenas pela composição.
Toda a história do surgimento e desenvolvimento de hipóteses Na figura 148a descreve-se o diagrama de equilíbrio com uma
sobre o envelhecimento das ligas é bastante instrutiva. A descoberta série contínua de soluções· sólidas a altas temperaturas. A linha MKN,
por Vilm do envelhecimento do duralumínio é difícil de ser subestimada. freqüentemente denominada curva de estratificação (em analogia com a
Porém, por si só, ela não podia se tornar a base para o entendimento curva correspondente para soluções líquidas), é o limite de solubilidade
do envelhecimento de novas ligas, pois não era completamente clara, na solução sólida. Com o resfriamento da liga abaixo desta linha, da
naquele tempo, qual a natureza do fenômeno, e em quais ligas se poderia solução sólida inicial precipita-se outra solução sólida com a mesma rede
esperar o envelhecimento. cristalina, porém com outra composição química.
A formação das bases da teoria do envelhecimento é um exem-
plo real de como uma hipótese científica, correta em linhas gerais, e que
reflete a natureza de um fenômeno novo e importante, serviu de funda- a
mento para o posterior progresso surpreendentemente rápido, na teoria e
aplicação das investigações dos metais. Se, no período após a descoberta
de Vilm sobre o envelhecimento do duralumínio, e até o aparecimento
da teoria de Merick, não foi encontrada nenhuma liga envelhecida, após
a publicação desta teoria, já nos anos 20, o envelhecimento foi previsto
e aplicado em dezenas de ligas de alumínio, ferro, níquel e outros me-
tais. Assim, foram preparadas novas ligas industriais endurecidas por
énvelhecimento. No iníc.io da década de 30 cresceu rapidamente o fluxo
de informações sobre variações estruturais durante o envelhecimento em
diversos grupos de ligas. Nas últimas décadas foram obtidos resultados
mais importantes, com a ajuda de métodos de microscopia eletrônica,
que permitem comprovar a formação de precipitados.
A fabricação de novas ligas envelhecidas, com elevadas pro-
priedades mecânicas e particularidades físicas, a preparação de regi-
mes ótimos de seus tratamentos térmicos, continua com extensas in-
vestigações do mecanismo e princípios do envelhecimento, em diversos
grupos de ligas. Isto tornou-se uma das direções principais no desenvolvi-
A B
mento da atual metalurgia física, além do que, de antemão, os trabalhos
teóricos aplicados neste campo baseiam-se nas proposições gerais iniciais Figura 148. Diagrama de equilíbrio com as curvas de estratificação
MKN e espinoidal RKV (a); curvas de dependência da energia de Gibbs
da teoria do envelhecimento, propostas por Merick.
em relação à composição, para tês temperaturas (b).

11.1. Termodinâmica dos processos de precipitaçfio desde a solu- Acima do ponto crítico K, por exemplo na temperatura T 1,
ção sólida. para qualquer concentração é estável a fase única, e a curva de variação
da energia de Gibbs da solução sólida, em função da sua composição,
No caso geral, da solução sólida supersaturada, precipita-se a tem a concavidade voltada para cima em toda sua extensão (fig. 148b).
fase que se diferencia da matriz pela composição química e pela estru- Com a diminuição da temperatura, cresce a energia de Gibbs dos com-
362 /. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 363
capítulo 11

{},
ponentes e da solução sólida (curva da energia de Gibbs à temperatura 1
T2 ). Para temperaturas mais baixas (por exemplo T3 ), e com calor
de troca suficientemente positivo das soluções sólidas concentradas, a
curva de energia de Gibbs, em sua região central, encurva-se com abau-
lamento para cima. Então, em alguma região do sistema apresenta-se
estável não uma solução sólida, mas uma mistura bifásica de soluções
com diferentes composições. Estas composições podem ser determinadas
traçando-se uma tangente à curva de energia de Gibbs (§4.4). A região
da curva aS1S2b localiza-se acima da tangente ab e, conseqüentemente,
mostra que a solução sólida não é estável à temperatura T3. Isto porque,
nesta região, a energia de Gibbs de uma fase sempre é maior do que a Figura 149. Esquema para explicar a decomposição espinoidal da liga
energia da mistura de fases da mesma composição média (por exemplo, corno sistema de soluções sólidas vizinhas contínuas.
G1 > G2).
Se, por qualquer caminho, obtém-se na temperatura T3 uma (~~~) = O (fig. 148b). Estes pontos denominam-se espinoidais. Com
solução sólida instável, ela deve se decompor na mistura bifásica das a elevação da temperatura, os pontos espinoidais 8 1 e 8 2 nas curvas
soluções sólidas, a qual possui menor energia de Gibbs. Esta decom- isotérmicas de energia de Gibbs gradualmente aproximam-se. Quando a
posição pode se dar por dois caminhos principais, que se diferenciam. temperatura atinge o valor crítico (K na figura 148a), eliminam-se os do-
11.1.1. Decomposição espinoidal. Vejamos a decomposição iso- bramentos: a curva de energia de Gibbs, em todas as regiões, apresenta
térmica da solução sólida termodinamicamente instável, com energia concavidade para cima ~ ~~~~ > O. Se, no diagrama de equilíbrio, a várias
de Gibbs G 1 , na liga de composição Co (fig. 149). O estado natural temperaturas, marcam-se composições que correspondam aos pontos es-
de equilíbrio, com energia de Gibbs G 2 < Gi, não pode surgir ime- pinoidais (por exemplo 8~ e S~ na figura 148a), obtém-se a curva RKV,
diatamente, pois é pouco provável que, como resultado de flutuações denominada espinoidal. A solução sólida que for super-resfriada até tem-
na solução sólida de composição Co, existam muitas regiões de com- peraturas abaixo da espinoidal pode passar por decomposição espinoidal.
posições de equilíbrio Ca e Cb, as quais estão longe de Co. É mais
No esquema visto, em todos os estágios de decomposição es-
provável que, inicialmente, como resultado de flutuações, surjam regiões
pinoidal, estão ausentes barreiras energéticas. Na realidade, estas bar-
com composições Cp e Cq (por exemplo), próximas da composição ini-
reiras podem surgir devido ao aparecimento de energia de deformação
cial Co. Com isto, diminui a energia de Gibbs até o valor G3 < G1.
elástica da rede. As regiões da solução sólida com diferentes concen-
Na liga em questão, por pequena que seja a diferença de composição da
trações, apesar de se caracterizarem pelo mesmo tipo de estrutura,
solução sólida instável, ocorrerá a diminuição da energia de Gibbs e, con-
diferenciam-se quanto ao volume específico. Como o contorno entre es-
seqüentemente, para início da decomposição não é exigida a formação de
tas regiões é coerente, então com seu aparecimento tem-se uma energia
embriões críticos. Por isto esta decomposição, denominada espinoidal,
de deformação elástica das regiões com diferentes parâmetros da nde.
imediatamente abarca todo o volume da fase inicial. A elevação da di-
ferença de concentração deve conduzir à diminuição contínua da energia O surgimento de energia elástica durante a decomposi<;ào es-
de Gibbs (série de retas, fig. 149), até que se estabeleça o equilíbrio de pinoidal produz uma influência de sinal posistivo na energia de Gibbs,
diferença de concentração Ca-Cb. o que não foi considerado no esquema da figura 148b. Este fato pode
A decomposição espinoidal a dada temperatura pode ocorrer significar a necessidade de, para o início da decomposição espinoidal,
em qualquer liga cuja composição se encontra na faixa da região da curva haver um super-resfriamento complementar da solução sólida inicial, de
de Gibbs que apresenta curvatura para baixo, isto é, ali onde (~~~) < O. dezenas e centenas de graus em relação à localização da "espinoidal
Esta região é limitada pelos pontos de dobramento 8 1 e 8 2 , nos quais química" RKV da figura 148a. Diferentemente desta linha, existe uma
364 Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 365
!. !. Novikov
capítulo 11

linha inferior de temperaturas de início de decomposição espinoidal, cal- Desta maneira, ao contrário da decomposição espinoidal, na
culada considerando-se a deformação elástica no contorno coerente entre qual a energia de Gibbs decresce continuamente, no caso em questão, a
as fases, e que se denomina "espinoidal coerente". transformação é acompanhada inicialmente da elevação e posteriormente
da diminuição da energia de Gibbs. Isto significa que existe barreira
A primeira idéia sobre a decomposição .espinoidal, adiantada
termodinâmica para a formação de regiões suficientemente grandes da
por Gibbs no século XIX com exemplo em ligas líquidas, foi durante
nova fase, mesmo sem considerar o papel da energia do contorno entre
muito tempo considerada nos cursos clássicos de termodinâmica. De-
as fases e da energia de deformação elástica da rede. Conseqüentemente,
pois, quando em meados da década de 20 difundiu-se rapidamente a
no caso em questão, para que a decomposição da solução tenha início
teoria de cristalização através da formação e crescimento de núcleos da
e ocorra espontaneamente com a diminuição da energia de Gibbs, são
nova fase, a decomposição espinoidal foi quase esquecida. Nos últimos
necessários os embriões.
tempos o interesse por ela ressurgiu, parcialmente em relação à possibili-
A decomposição deste tipo não possui uma denominação abre-
dade de obtenção dos produtos de decomposição, através de tratamentos
viada especial, pois é habitual e é a mais difundida nas ligas metálicas.
térmicos. Estes produtos estão homogeneamente distribuídos pelo vo-
Às vezes ela é denominada decomposição pelo mecanismo de nucleação
lume da liga (§11.2).
e crescimento de núcleos para se diferenciar da decomposição espinoidal.
11.1.2. Decomposição pelo mecanismo de nucleação e cresci- Nos sistemas com decomposição no estado sólido, ela ocorre na região
mento de núcleos. Analisemos a decomposição isotérmica da solução entre as curvas de decomposição MKN e espinoidal RKV (fig. 148). Nos
sólida, cuja decomposição não se encontra na região espinoidal (fig. 150). sistemas para os quais se exige super-resfriamento abaixo da linha es-
Sua energia de Gibbs G 1 é maior que a da mistura bifásica G 2 • Se, pinoídal coerente para haver decomposição espinoidal, a decomposição
como resultado de flutuações, nos diferentes estágios da decomposição, normal pode ocorrer também em temperaturas abaixo da espinoidal
formam-se duas fases de composições Cf e Cq, próximas a Co, a ener- química.
gia de Gibbs desta mistura será maior do que a da solução inicial Co A decomposição espinoidal é mais provável de ser encontrada
(G3 > G 1 ). Isto é inevitável, pois a curva de energia de Gibbs, fora do nos sistemas onde a rede da nova fase é a mesma da fase inicial. Ao
intervalo espinoidal, tem concavidade para cima. Somente com o apa- mesmo tempo, a decomposição normal ocorre em qualquer sistema com
recimento de grande diferença de composição, por exemplo Cm-'Cn, a mudança de solubilidade dos componentes no estado sólido. Os siste-
energia de Gibbs diminui (G4 < G 1 ). mas com fases intermediárias (compostos) são mais utilizados para o
envelhecimento de ligas. Ao precipitar-se a fase diferencia-se da solução
sólida inicial não apenas pela composição, mas também pelo tipo de rede
(j
cristalográfica. Tudo o que foi analisado a respeito do esquema de de-
composição normal e não-espinoidal, para o sistema com decomposição
(fig. 150), relaciona-se também ao sistema com fase intermediária
o
(fig. 151). A significação de ambos os gráficos é a mesma. A diferença
entre eles consiste apenas em que, na figura 151, a curva de energia de
Gibbs da segunda fase G(J é independente, e não é continuação da curva
correspondente da solução a da matriz.
A fJ Acima não se considerou de nenhum modo o papel da energia
interfacial e da energia de deformação elástica, na forrnaçào da nova
Figura 150. Esquema para explicar a dccompütiição, pelo mecanismo
de nucleaçilo e crescimento, da liga Co no sistema de soluções sólidas
fase, pelo mecanismo de nucleação e crescimento. Nas figuras 150 e 151,
vizinhas. a diferença G 1 - G 2 é o estímulo termodinâmico da transformação. Seu
papel é análogo ao papel de G na figura 59, no caso da transformação
366 /. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 367
capítulo 11

e sólida inicial, por exemplo na liga C0 (fig. 152), o tamanho do embrião


crítico aumenta com a elevação da temperatura de envelhecimento, pois
com isto diminui a supersaturação da liga.

Figura 151. Esquema para explicar a precipitação da fase f3 desde a


solução a, pelo mecanismo de nucleação e crescimento nas ligas Coe
C'o.

de fase sem variação de composição. O valor G vol = G 1 - G 2 repre-


senta a diminuição da energia de Gibbs por unidade de volume devido
à decomposição da solução, (G1 e G2 são as energias de Gibbs por vo- Figura 152. Dimensão do nucleo crítico para diversas supersaturações
da solução só li da (esquema).
lume específico, da fase inicial e da mistura de fases em equilíbrio, res-
pectivamente). Porém, na variação geral da energia de Gibbs devido
à decomposição da solução sólida, em G também exercem influência
11.1.3. Variações de estrutura com o envelhecimento. As va-
dois termos: o aumento G sup da energia superficial (entre fases) e
riações básicas de estrutura com o envelhecimento relacionam-se com
a elevação da energia de Gibbs devido ao surgimento de deformação
as diversas etapas de decomposição da solução sólida supersaturada, a
elástica da matriz e da nova fase G E!. Então, na formação de cris-
qual é obtida como resultado da têmpera da liga. A decomposição da
tais no meio elástico: G = - Gvol + Gsup + GEJ. A formação da
solução supersaturada é um processo difusional. Por isto, o grau de de-
superfície nova e o aparecimento de deformação elástica obstaculizam a
composição, o tipo de precipitação desde a solução, a forma e dispersão
decomposição da solução.
dos precipitados, bem como· outras características estruturais, depen-
Durante a análise da transformação de fase sem variação da dem da temperatura e da duração do envelhecimento e, obviamente, da
composição, no §4.1, foi mostrado que, com a elevação do grau de super- natureza da liga, de sua composição química e dos componentes básicos.
resfriamento, devido ao aumento de Gvol diminui o tamanho acr do Além disto, na estrutura da liga envelhecida influem as impurezas, a
embrião crítico, bem como a energia Gcr para sua formação. Pode-se temperatura de aquecimento e a velocidade de resfriamento durante a
mostrar que no caso de precipitação desde a solução sólida, que ocorre têmpera, a deformação plástica após a têmpera (antes do envelheci-
com variação de composição, o tamanho crítico do embrião e a energia mento), a duração da permanência da liga envelhecida na temperatura
para sua formação também diminuem com o crescimento de Gvol· Por ambiente antes do envelhecimento artificial e outros fatores.
exemplo, na figura 151 na solução sólida C~ que é mais ligada, a força A variação da estrutura da liga envelhecida em função de gran-
motriz da decomposição é maior que na liga Co (G~ - G~) > (G 1 - G 2 ) . de quantidade de fatores, e os múltiplos estágios do processo de decom-
Por isto, com temperatura de envelhecimento constante T 1 , o tamanho posição da solução sólida supersaturada, em combinação com a grande
do embrião crítico da nova fase diminui com o crescimento da concen- dispersão de precipitados, particularmente nas primeiras etapas da de-
tração da solução sólida inicial, isto é, com a elevação do grau de su- composição, complicam demasiadamente o estudo das variações estrutu-
persaturação Co/C1 (fig. 152). Com concentração constante da solução rais durante o envelhecimento. Os principais métodos de estudo da cons-
l. l. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 369
------
capítulo 11

tituição das ligas envelhecidas são a microscopia eletrônica e a análise lâminas finas (geralmente na forma de discos), equiaxial (geralmente
por raios-X. esférica ou cilíndrica) e acicular.
Além disto, são úteis os dados obtidos no estudo da variação A forma do precipitado é determinada por dois fatores concor-
das propriedades mecânicas e físicas durante o envelhecimento, particu- rentes: energia superficial (entre fases) e energia de deformação elástica,
larmente a resistência elétrica. Este estudo' das propriedades permite que tendem ao mínimo. A exigência de energia superficial mínima con-
fazer previsões sobre o caráter e as conseqüências das variações estru- diciona a tendência à forma equiaxial do precipitado e ao aparecimento
turais, antes de tudo nos estágios iniciais da decomposição, quando são de formas facetadas com tensão superficial mínima em todos os contor-
limitadas as possibilidades de métodos diretos de análise estrutural. nos. A energia de deformação elástica é mínima para o precipitado na
forma de lâminas finas. Dependendo de qual dos dois fatores indicados
11.1.4. Tipos de precipitados. Dependendo da estrutura da su-
é o predominante, a forma do precipitado é próxima da equiaxial ou de
perfície de separação entre o precipitado e a matriz, distinguem-se três
lâminas finas.
tipos de precipitados: plenamente coerente, parcialmente coerente e in-
Nos precipitados de coerência plena ou parcial, a deformação
coerente.
elástica, provocada pelo acoplamento suave das redes no contorno coe-
No precipitado plenamente coerente, toda a superfície de se-
rente, propaga-se do contorno para dentro da matriz e do precipitado
paração com a matriz é coerente, e a rede da matriz em torno do pre-
(fig. 153a-b ). A energia de deformação elástica das redes da matriz e
cipitado é deformada elasticamente (fig. 153a). No precipitado parcial-
do precipitado é tanto maior, quanto mais elevada for a não-correspon-
mente coerente, apesar de um dos contornos com a matriz ser coerente,
dência entre estas redes. Com diferença não superior a 3% entre os
o restante pode ser semicoerente. (fig. 153b) ou até incoerente. O pre-
diâmetros atômicos dos componentes da solução sólida substitucional, a
cipitado incoerente não possui nenhum contorno coerente com a matriz
forma do precipitado coerente é determinada pela exigência de energia
(fig. 153c). Nas ligas de AI-Cu envelhecidas, as zonas GP e a fase /1
superficial mínima, como sendo próxima à esférica. Para diferença de
são exemplos de precipitados plenamente coerentes. A fase / é parcial-
5% entre os diâmetros atômicos, o fator decisivo é a elevação da energia
mente coerente e a Cu-Ab é incoerente (suas estruturas estão mostradas
de deformação elástica, e formam-se lâminas finas (freqüentemente em
adiante, fig. 166).
forma de disco) de precipitados. Às vezes os precipitados coerentes têm
a forma acicular, a qual acarreta maior energia de deformação elástica
1.' '' 1
do que o precipitado em forma de disco, porém menor que na forma
1 1 if

equiaxial. Exemplos das diversas formas das zonas de Guinné-Preston


,_,_ .... - (precipitado coerente) são mostrados na tabela 7.
~
Com a formação de precipitados incoerentes, não surgem as
<- ....
1- ..... tensões tangenciais, porém aparecem sempre tensões normais. Isto por-
11 \
que, devido à diferença de volumes específicos entre a matriz e o pre-
11
cipitado, surgem, inevitavelmente, compressões ou trações hidrostáticas
a b e multidirecionais (Na fig. 153c isto não está indicado). Isto é fácil de pre-
Figura 153. Esquema de estrutura da matriz com precipitação com- ver, impondo a colocação, em uma cavidade ela matriz elástica flexível,
pletamente coerente (a), parcialmente (b) e n~o coerente (c). de uma inclusão áspera com dimensões maiores que a cavidade: em
torno de tal inclusão, na matriz deve surgir uma região ele compressão
multidirecional.
11.1.5. Forma de distribuição espacial dos precipitados. Cálculos realizados para precipitados incoerentes de forma es-
Forma dos precipitados. Nas ligas envelhecidas, as partículas preci- feroidal, com os semieixos a e e em condições tais que toda a deformação
. pitadas desde a solução sólida encontram-se nas seguintes formas básicas: elástica estava concentrada na matriz, mostraram o seguinte (fig. 154):
370 /. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 371
capítulo 11

com a formação de precipitado esférico ( ~ = 1), a energia de deformação tes, com determinada distância uns dos outros, chamada parâmetro de
elástica da matriz é máxima. Com a formação de precipitados na forma modulação da estrutura À (fig. 155 e 156).
de disco fino ( ~ «: 1), ela é mínima, e com forma acicular ( ~ » 1)
possui valor intermediário.

o 2 3

Figura 154. Variação da energia de deformação elástica da matriz E,


em função da relação axial ; do precipitado incoerente, que possui
forma de esferóide (Nabarro).

Figura 155. Estrutura modulada na liga Cu-33%N; -15%Fe, com


>. = 25, 4Aº, após envelhecimento a 775°C durante 15 min. Micrografia
Tabela 7. Formas das zonas de Guinné-Preston em eletrônica de filme fino (Batler e Tomaz).
diversos sistemas

Formas das zonas Diferença entre os diâ- Ó parâmetro de modulação geralmente não ultrapassa algumas
de Sistema metros atômicos em % centenas de distâncias interatômicas. Por isto, no microsc9pio ótico, a
Guinné-Preston
estrutura modulada não é revelada. O melhor método de seu estudo é
Esfera Al-Ag + 0,7 a análise por microscopia eletrônica de füme fino.
Al-Zn -1,9
Al-Zn-Mg + 2,6 Em algumas ligas a estrutura modulada surge nos estágios ini-
Cu-Co - 2,8
ciais da decomposição, e em outras ela aparece algum tempo após o
Disco AI-Cu - 11,8 início da decomposição. ·
Cu-Be - 8,8
As estruturas moduladas nas diversas ligas, dependendo do re-
Agulha Al-Mg-Si + 2,5
Al-Cu-Mg - 6,5 gime de tratamento térmico, diferenciam-se por sua morfologia. Em
alguns casos, observam.:.se lâminas finas de precipitados, distribuídas a
distâncias uniformes uma da outra, e paralelas a determinado plano cris-
talográfico. Em outros, partículas dispostas periodicamente em forma
Estrutura modelada. A tendência à energia mínima de deformação de fios, os quais podem formar-se em redes tridimensionais de fios mu-
elástica influi não apenas na forma, mas também na localização mútua tuamente perpendiculares e paralelos a determinadas direções da matriz,
dos precipitados. A exigência de energia elástica mínima durante a de- como por exemplo as direções de elasticidade macia< 110 >nos cristais
composição da. solução sólida condiciona a formação em uma série de de rede cúbica. Esta rede de partículas, que é uma variedade de estrutura
ligas denominadas estruturas moduladas (ou periódicas}, para as quais modulada, apresenta-se como uma série de partículas de forma cú_bica,
é característica a localização espacial ordenada dos precipitados coeren- paralelas à direção < 110 > da rede cúbica da matriz (fig. 156).
372 /. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 373
capítulo 11

rada, mas sim durante o coalescimento lento, quando algumas partículas


crescem e outras decrescem. A particularidade deste processo de coa-
lescimento é que, devido à ação elástica mútua das partículas de fase
1', crescem seletivamente as partículas distribuídas favoravelmente, e
decrescem as outras partículas. Em conseqüência disto desenvolve-se a
estrutura modulada.
Influência das tensões de cargas externas. As tensões abaixo do li-
mite de escoamento macroscópico, agindo no período de envelhecimento,
modificam a forma dos precipitados, suas orientações e a distribuição
recíproca na matriz. Os campos de tensões da carga externa interagem
mutuamente com os campos de tensões dos precipitados, os quais se
constituem com tal forma, tal orientação e distribuição recíproca, que
garantem a mínima energia elástica de todo o sistema. Parcialmente,
Figura 156. Estrutura modulada na liga Ni-6,7%Al envelhecida a
a formação destes precipitados é vantajosa energicamente, diminuindo
750ºC durante 96 horas. Micrografia eletrônica de filme fino. Os pre-
cipitados -y'(Nb AI) distribuem-se segundo a direção< 100 >. a não-correspondência entre as redes dos precipitados e da matriz. A
relação entre os módulos de elasticidade dos precipitados e da matriz
A estrutura modulada surge com o envelhecimento das ligas, deve influir de alguma maneira.
nas quais os precipitados formam, em torno de si, um campo relativa- A morfologia dos precipitados depende da direção cristalográfi-
mente forte de tensões elásticas. Isto se deve, por exemplo, à grande ca de aplicação da carga externa de tração ou compressão. Por exemplo,
diferença nos volumes específicos das fases inicial e nova. Um exemplo no envelhecimento (170ºC) de monocristal da liga Al-3, 7%C sob carga
clássico são as ligas endurecidas por precipitação para ímãs permanen- de tração aplicada segundo o eixo [001], quase todos os precipitados da
tes, relacionados aos sistemas Cu-Ni--Fe e Cu-Ni-Co. Nestas ligas a fase ', em forma de disco, ficam localizados com seus planos crista-
solução sólida com rede C.F.C fica supersaturada com a têmpera, e o lográficos (100) e (010) sendo os planos de hábito. Já com compressão
envelhecimento conduz à sua decomposição em duas soluções. No es- segundo o mesmo eixo, quase todos os discos da fase ' estão distribuídos
tado de equilíbrio estas duas soluções também possuem redes C.F.C., no plano (001). Conseqüentemente, os discos da fase ' estão orienta-
que se diferenciam uma da outra e da matriz pela composição. Con- dos paralelamente ao eixo de tração e perpendicularmente ao eixo de
seqüentemente, são diferentes o parâmetro da rede e o volume específico compressão.
(um sistema bifásico análogo é descrito na figura 148a). No exemplo visto, não é a própria fase ' que durante sua
Outro exemplo de ligas com estrutura modulada, detalhada- precipitação reage à ação da carga. A ação da carga impõe a formação
mente estudado, são as ligas de níquel envelhecidas, particularmente do orientada da zona GP, a qual transforma-se em fase ', com o aumento
tipo nimonic, nas quais, durante a decomposição da solução com rede da exposição.
C.F.C supersaturada, precipita-se fase 1' coerente, que também pos- Sob a influência da carga aplicada, cresce a ordenação na dis-
sui rede C.F.C. No estudo das ligas bifásicas Cu-AI, foi mostrado que, tribuição espacial dos precipitados. Por exemplo, na liga de níquel com
inicialmente, formam-se durante o envelhecimento partículas 1' caotica- 153 Cr e 103 AL durante o envelhecimento normal, formam-se pre-
mente distribuídas que, gradualmente, ficam enfileiradas com o prolon- cipitados esféricos de fase 1', estatisticamente distribuídos de maneira
gamento do tempo de envelhecimento. Estas filas de partículas ficam desordenada na matriz. Sob a ação de carga externa durante o envelhe-
paralelas às direções < 100 > da matriz (fig. 156). Este enfileiramento cimento, precipitam-se 1' elipsoidais, estruturadas na forma de cadeias
·não ocorre no próprio processo de decomposição da solução supersatu- ao iongo de determinadas direções cristalográficas.
374 !. !. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 375
capítulo 11

11.1.6. Variações estruturais com a decomposição espinoidal.


No estágio inicial da decomposição espinoidal surgem misturas de fases
com elevada dispersão, cujas redes são coerentes e atravessam suave-
mente uma para outra, e o contorno entre fases não é brusco, mas for-
temente difuso. Em que esta mistura de fases se diferencia da flutuação
de composição que sempre existe na solução sólida, inclusive aquelas
que ocorrem acima da curva espinoidal RKV da figura 148a? Nas flu-
tuações de composição, as regiões vizinhas na solução sólida também se Figura 157. Esquema de evolução da distribuição do elemento de liga
caracterizam por diferentes concentrações e, correspondentemente, dife- na solução sólida supersaturada, nos vários estágios (I-III) da decom-
rentes parâmetros da rede. Como já foi indicado no §4.1, as flutuações posição espinoidal (a) e da decomposição pelo mecanismo de nucleação
e crescimento (b). (Dje Kan). Ver concentração Coe Cb nas fig. 149
de composição surgem e desaparecem continuamente. Na decomposição
e 151.
espinoidal, as regiões da solução sólida com elevação e diminuição da
concentração, com origem nas flutuações, tornam-se estáveis. Elas não propaga-se rapidamente pela rede da matriz. Surgem sucessivamente,
apenas deixam de desaparecer mas, ao contrário, crescem. cada vez mais, novos clusteres, com espaçamentos iguais um do outro,
Na figura 157a mostra-se, esquematicamente, a seqüência da o que se denomina comprimento de onda de concentração.
variação da flutuação casual de composição, à medida que se desenvolve
a decomposição espinoidal. No primeiro momento (I, fig. 157a) formou- Nas ligas do sistema Cu-Ni-Fe, foram estudadas mais detalha-
se na solução sólida um cluster do elemento solúvel (acima da concen- damente as variações de estrutura, com a decomposição espinoidal, para
tração média Co), rodeado de uma zona com concentração diminuída. as ligas que se encontram, em termos de composição, no centro da região
A atração preferencial recíproca dos átomos de mesmo tipo conduz de decomposição no diagrama de equilíbrio. Nas fotografias de micros-
ao momento seguinte (por exemplo II, fig. 157a), com elevação ainda copia eletrônica, obtidas pelo método de filme fino, as regiões claras se
maior da concentração no cluster e posterior união dos correspondentes relacionam com as regiões ricas em cobre, e as escuras com as ricas em
componentes que estão perto da zona. Este processo é garantido pela ferro e níquel (fig. 155). Na solução sólida Cu-Ni-Fe, como em muitos
ocorrência de difusão (fig. 157a indicada por setas), o que corresponde outros cristais com rede cúbica, que se caracterizam pela significativa
a um coeficiente de difusão negativo. Isto ocorre porque, na fórmula anisotropia do módulo de elasticidade, a. decomposição espinoidal se dá
do coeficiente de difusão D, um dos fatores entra na segunda derivada ao longo de cada uma das três direções < 100 > de elasticidade macia.
da energia de Gibbs em relação à concentração. Como na região de de- Por isto, durante a decomposição espinoidal das ligas Cu-Ni-Fe, em
. - espmo1
compos1çao 82G < O (§ 11.1 ) , então D < O. Este importante
· ºd a 1 &C'i primeiro lugar se forma a estrutura modulada, que consiste de regiões
traço diferencia a decomposição espinoidal da decomposição normal pelo em forma de fios separados por contornos indefinidos (tecido de cesto).
mecanismo de nucleação e crescimento, analisado posteriormente. À medida que aumenta o tempo de envelhecimento, cresce a amplitude
Os átomos de mesmo tipo na matriz inicial, localizados externa- da concentração e do comprimento de onda de concentração. A es-
mente à zona de união, também experimentam atração mútua preferen- trutura modulada torna-se áspera, e os contornos entre os precipitados
cial. Como a força de suas atrações mútuas é de curta ação, os átomos coerentes tornam-se menos indefinidos. A coerência se perde (devido
indicados não sentem a existência do cluster formado, e experimentam ao crescimento de tensões elásticas), além do que, nos contornos entre
apenas a influência dos átomos da zona de união que estão diretamente fases, formam-se estruturas de discordâncias. A perda da coerência é
fronteiriços aos mesmos. Por isto, eles se separam da zona de união e acompanhada de eliminação da estrutura modulada e de forte aspereza
formam novos clusteres, também rodeados de zonas de união. Desta dos precipitados como resultado do coalcscimento.
maneira, a formação de um cluster conduz à formação de outro vizinho, Não existem traços morfológicos. básicos característicos apenas
e assim por diante. Este processo na forma de ondas de concentração da estrutura obtida com decomposição espinoidal. A decomposição es-
376 /. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 377
capítulo 11

pinoidal não resulta obrigatoriamente em estrutura modulada, e esta A velocidade de crescimento do precipitado é controlada pelo
não está obrigatoriamente vinculada à decomposição espinoidal, como coeficiente D de difusão volumétrica na rede da matriz.
antes era considerado. Junto com a anisotropia elástica dos cristais, é A particularidade característica deste processo é a diminuição
bastante provável a formação de estrutura modulada durante a decom- contínua, através de todo o volume dos grãos iniciais, da concentração de
posição espinoidal, na forma de tecido de cesto. elementos de liga. Por isto, a decomposição é denominada de contínua.
A termodinâmica e o mecanismo da decomposição espinoidal A orientação cristalográfica dos grãos da fase inicial não se modifica com
prevêem a sua homogeneidade. A formação preferencial de precipitados a precipitação contínua.
nos contornos de grão ou nas discordâncias durante a decomposição es- A decomposição contínua, durante o envelhecimento, subdivi-
pinoidal não é observada. Na prática é bastante importante que, para a de-se em homogênea (ou geral) e localizada. A distinção entre as duas
decomposição espinoidal, seja característica a estrutura altamente dis- se dá pelas características estruturais.
persa e homogênea por todo o volume dos grãos da fase inicial. Na decomposição homogênea, os precipitados distribuem-seu-
Devido à ausência de traços estruturais específicos, nem sempre niformemente pelo volume do grão. A nucleação durante a decomposição
é fácil estabelecer se em dada liga a decomposição é ou não espinoidal. homogênea pode ser homogênea ou heterogênea (§4.3). No último caso,
Para as ligas industriais, nas quais ocorre efetivamente a decomposição os locais preferenciais de nucleação (discordâncias, acumulação de lacu-
espinoidal durante o envelhecimento, pode-se relacionar as ligas de ímã nas e outras) estão homogeneamente distribuídos pelo corpo do grão.
duro tipo cunife e cunico para preparação de espirais e ligas de alta Na decomposição localizada, a precipitação é distribuída não
resistência do sistema Cu-Ni-Sn. uniformemente pelo corpo do grão. Os produtos da decomposição apre-
11.1.7. Decomposições contínua e descontínua. sentam-se nos contornos de grãos e subgrãos, nos planos de deslizamento
e outros locais. A nucleação durante a decomposição localizada é hete-
Decomposição contínua. Na decomposição contínua formam-se e rogênea.
crescem, na solução supersaturada inicial, precipitados isolados de fase
Zonas livres de precipitados. No envelhecimento de algumas ligas
livre. Como o precipitado é enriquecido de um dos componentes, a fase
(de alumínio, titânio, ferro, níquel e outros), junto dos contornos de
matriz é empobrecida deste componente, e nela existe um gradiente de
grão da matriz da solução sólida não ocorre decomposição e vê-se de-
concentração.
finidamente zonas livres de precipitados (fig. 158 e 159). Nas ligas de
Os cristais da fase livre crescem seguindo a difusão normal de-
alumínio, a largura destas zonas consiste; habitualmente, de centenas ou
crescente: o fluxo de átomos (seta, fig. 157b) é dirigido no sentido do
dezenas de frações de micra, e elas são visíveis apenas em microscópio
decréscimo de concentração, e o coeficiente de difusão D é positivo. O
eletrônico. Nas ligas de titânio {J, após o envelhecimento, a zona livre de
último fato é condicionado pelo motivo de que, fora da região de decom-
precipitados possui largura da ordem de vários micra, e são bem visíveis
posição espinoidal, é positiva a segunda derivada da energia de Gibbs,
no microscópio ótico.
em relação à concentração (~ >O). Deve-se comparar este fato com A existência de zonas adjacentes aos contornos e livres dos pro-
a decomposição espinoidal através de difusão ascendente, com valor ne- dutos da decomposição da solução não contradiz o fato de que os con-
gativo de D.
tornos de grão facilitam a nucleação da nova fase. Aqui não se considera
Os precipitados que crescem na decomposição contínua sugam o próprio contorno, mas a região contínua adjacente. Freqüentemente é
os elementos de liga da fase matriz, unindo os mesmos por todo volume, possível observar precipitados no contorno e, adjacente ao mesmo, uma
até o equilíbrio de concentração Ca (fig. 151e157b). zona livre de precipitados (fig. 158)
Com a elevação da duração t do envelhecimento, o tamanho r O surgimento de zonas adjacentes aos contornos e livres de
do precipitado na decomposição contínua cresce, aproximadamente, pela precipitados pode ser explicada de duas maneiras. Se a decomposição
lei parabólica: inicia-se desde o contorno, e aí nucleia a fase rica em um dos compo-
r = (Dt) 112 (35) nentes, com o crescimento ela suga este componente da região adjacente
378 /. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 379
capítulo 11

Figura 158. Zona junto ao contorno livre de precipitados na liga Al- Figura 159. Zona junto ao contorno livre de precipitados (claras) na
5,9% Zn-2,9%Mg, após envelhecimento a 180ºC e 3 horas. Micrografia
liga de titânio BT15, temperada na fase (3 desde a temperatura de
eletrônica de filme fino (Anvin; Lorimer; Nicolson).
900°C durante 15 horas. Fundo escuro - forte presença de fase (3, na
qual precipitou fase a dispersa, 200 x (I.I. Novikov; O. V. Kasparov;
ao contorno. A decomposição que se inicia posteriormente, no corpo I. Polkin).
do grão, não caminha nesta zona, trazendo consigo o precipitado, de-
vido à diminuição da supersaturação da solução matriz nesta zona, (ver da concentração, em relação ao restante da região do grão, onde a con-
região da zona junto ao precipitado, na figura 158). Esta explicação centração de lacunas em excesso se conserva elevada (fig. 160).
não se aplica à zona da solução não decomposta do contorno, na qual
Os clusteres de lacunas, como se notou anteriormente, facilitam
não existem partículas (ver a zona estreita através do contorno limpo na
a nucleação de precipitado, particularmente se o volume específico au-
.. ~gura 158).
menta com a decomposição. As lacunas de têmpera também possibilitam
A causa mais geral de surgimento de zonas livres de precipita- o crescimento difusional dos núcleos da nova fase. Pode-se considerar
dos é a aglomeração de regiões de lacunas próximas ao contorno, devido que, para alguma supersaturação da solução em elementos de liga, isto
ao fluxo no contorno. A concentração de equilíbrio de lacunas diminui é, para determinada temperatura de envelhecimento T1, a decomposição
exponencialmente com o decréscimo de temperatura. Na têmpera, este em um tempo determinado ocorre apenas nas regiões do corpo do grão
decréscimo no interior do grão não é conseguido no grau necessário, e a onde a concentração de lacunas não é inferior a algum valor crítico C1.
rede fica fortemente supersaturada de lacunas. No primeiro estágio do A curva 1 na figura 160 caracteriza a distribuição de concen-
resfriamento de têmpera, quando as lacunas nas temperaturas elevadas tração de lacunas através da seção da solução matriz na liga temperada.
ainda têm alta mobilidade, elas tendem para os contornos de grãos, que Vê-se que, para a temperatura T1 de envelhecimento, não ocorre de-
são sumidouros de lacunas. Como resultado da concentração de lacunas composição na zona de largura ob 1 junto ao contorno, pois ali a concen-
junto aos contornos de grão, em alguma zona manifesta-se a diminuição tração de lacunas está abaixo de C 1 . Para temperatura mais baixa de
Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 381
380 /. /. Novikov
capítulo J1

dos da mesma está adjacente uma zona livre de precipitados, devido


g"' '
ao sumidouro de lacunas no contorno. Nesta zona a soluçoo possm a
- .
::J
u
..!2 concentração inicial de elementos de liga.
-8 Na análise dos princípios que regem a influência de diversos
o
'º~e, fatores na largura das zonas livres de precipitados, reiteradamente pri-
'EC2 vilegiou-se o estudo das ligas de alumínio e titânio. O papel destas zonas
8e durante a utilização das ligas envelhecidas ainda não é, em muitos casos,
o
u definitivamente esclarecido.
Antes de tudo, considera-se que as zonas livres de precipitados
são prejudiciais, pois devido ao menor limite de escoamento é nelas que
Figura 160. Esquema de distribuição da concentração de lacunas junto se locaÜzam as deformações plásticas, as quais conduzem à fratura in-
aos contornos de grão, para vários regimes de têmpera:l - têmpera tergranular. De acordo com uma das hipóteses, a fraqueza interna da
desde a temperatura Tl; 2 - têmpera desde a temperatura Tz >Ti; zona generaliza facilmente as discordâncias, as quais deslizam ao longo
3 - Têmpera desde a temperatura T2 com resfriamento lento. do contorno do grão, formando áreas de acumulação junto aos pontos
de tríplice confluência, onde as trincas intergranulares são nucleadas.
envelhecimento, T2 , a supersaturação da solução em elementos de liga é A zona livre de precipitação e deformada plasticamente é um
maior do que na temperatura T 1 , e a decomposição pode ocorrer com anodo em relação ao restante do grão e serve como causa de aceleração
concentração de lacunas mais baiixa (a concentração crítica de lacunas da fratura intergranular com a corrosão sob tensão.
C 2 < C 1 ). Correspondentemente, a zona livre de precipitados a uma Contudo, existe outro ponto de vista de acordo com o qual
temperatura mais baixa de envelhecimento deve ser ob2 < ob1. as zonas analisadas são úteis, pois nelas as tensões se relaxam comple-
Com a elevação da temperatura de aquecimento antes da têm- tamente. Estas tensões se concentram nos locais de interrupção dos
pera, cresce a concentração de equilíbrio das lacunas, e torna-se mais planos de deslizamento com o contorno de grão. Quanto mais larga a
abrupto seu gradiente perto do sumidouro que é o contorno de grão zona macia, tanto mais plenamente ocorre esta relaxação e, correspon-
(curva 2, fig. 160). Por isto, para a mesma temperatura de envelheci- dentemente, mais difícil a nucleação e crescimento da trinca.
mento e, correspondentemente, para a mesma concentração de lacunas, Não é simples obter uma conclusão direta do papel das zonas
reduz-se a zona de solução não decomposta, com o aumento da tempe- livres de precipitados. Isto porque, com a variação de suas larguras,
ratura de têmpera (ob4 > ob1). devido à modificação do regime de tratamento térmico, mudam imedia-
Se o resfriamento for mais lento durante a têmpera, consegue-se tamente outras características estruturais que influem nas propriedades
reunir mais lacunas no contorno de grão (compare as curvas 2 e 3), e a da liga.
zona livre de precipitados manifesta-se mais larga (ob3 > ob4). Decomposição descontínua (celular). Com a decomposição descon-
Desta maneira, para reduzir a zona junto ao contorno livre tínua, nos grãos da solução inicial supersaturada as, nucleiam e crescem
de precipitados, deve-se elevar a temperatura de têmpera, aumentar a células (colônias) de mistura bifásica a 1 + (J, que possuem estrutura em
velocidade de têmpera e diminuir a temperatura de envelhecimento. A forma de perlita (fig. 161). A fase a 1 no interi?r_ d3; célula ter_n, a ~esma
deformação plástica da liga temperada, antes do envelhecimento, que fa- rede que a fase inicial as. Porém, sua compos1ç~~ ~ a de eqmlibno ~a~a
cilita a decomposição da solução supersaturada, pode interromper com- dada temperatura de decomposição, ou intermed1ana entr~ a compos~çao
pletamente o surgimento destas zonas. inicial e a de equilíbrio. Esta transformação pode ser descrita da segumte
É possível o caso em que se encontra imediatamente no con- forma:
torno intergranular uma estreita zona livre de precipitados, que une os as _, a1 + f3 (36)
elementos de liga que se segregaram no contorno. Em ambos os la-
382 /. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 383
capítulo j 1

o parâmetro da rede da solução matriz varia suavemente devido à gra-


dual diminuição de sua concentração por todo o volume. As linhas
do diagrama de raio-X, correspondentemente, deslocam-se. Com a de-
composição descontínua, distingue-se no diagrama de raios-X dois siste-
mas linhas: um que corresponde à solução inicial a 8 , com determinado
parâmetro da rede, e outro da solução a1 com concentração final e com
seu parâmetro de rede. Com o desenvolvimento da decomposição des-
contínua, as linhas do diagrama de raios-X não se deslocam, isto é, os
parâmetros das redes das soluções a de duas composições não variam.
Gradualmente enfraquece a interferência da solução com concentração
inicial, pois ela diminui quantitativamente, e fortalecem-se as difrações
da solução com concentração final.
A decomposição descontínua inicia-se desde os contornos de
grãos. Com pequena distância entre as lâminas nas células, ou com
forte ataque da região transformada, ela revela-se no microscópio ótico
na forma de regiões escuras, geralmente bastante diferenciadas dos grãos
claros da solução inicial.
A orientação cristalográfica da fase a1, no interior da célula, é
Figura 161. Colônia de decomposição descontínua na liga Ni-203 diferente da orientação inicial da fase as no mesmo grão em que cresce
Cr-93 Nb. Envelhecimento a 850ºC e 2 horas, após têmpera desde a célula. Além disto, a orientação da fase a1 no interior da célula é
1180ºC. 1350X (A. Y. Parchitadt; O. M. Xovova; N. N. Yeveling.
a mesma do grão vizinho no outro lado do contorno, onde se iniciou a
transformação descontínua. Desta maneira, o avanço da frente da célula
A composição média da mistura bifásica a 1 + /3, no interior da de decomposição descontínua no lado de um grão é acompanhado da
célula, é a mesma composição da solução inicial as. reorientação da rede cristalina da fase matriz. Pode-se examinar este
A decomposição desenvolve-se com o avanço da frente da célula fenômeno com o avanço do contorno intergranular no lado do grão co-
na fase inicial, em conseqüência do crescimento cooperativo das fases a 1 mido. Isto é parecido, externamente, com a formação de saliências, como
e /3, analogamente ao crescimento da colônia de perlita. as línguas durante a recristalização primária, quando regiões separadas
Durante a transformação, a concentração da fase inicial per- com contornos de alto ângulo encurvam-se e avançam no lado de um dos
manece invariável todo o tempo, enquanto a solução não desaparece grãos (fig, 22).
completamente. No contorno entre a célula e a solução inicial, em uma Na decomposição descontínua a fase livre precipita-se da matriz
zona estreita, ocorre um brusco gradiente de concentração, desde a ini- atrás do contorno intergranular, o qual avança no lado do grão vizinho.
cial da solução as até a concentração da solução a 1 dentro da célula. O estímulo termodinâmico para o avanço do contorno intergranular é a
Por isto, a decomposição é denominada descontínua, para diferenciar diferença entre as energias volumétricas de Gibbs da solução inicial su-
da contínua, na qual a concentração de elemento de liga diminui suave- persaturada e da mistura bifásica no interior da célula ( G1 -G2, fig. 151).
mente na solução inicial. Isto porque ela é gradualmente sugada como Se as composições das fases no interior da célula não atingem o valor
resultado do crescimento da fase livre /3. de equilíbrio, a formação desta mistura conduz à diminuição da energia
Através de diagramas de raios-X, a decomposição descontínua volumétrica de Gibbs, embora não seja com o limite de possibilidade.
foi descoberta em primeiro lugar por N.V. Ageev, M. Jansen e G. Zaks, O mecanismo de nucleação da célula de decomposição descontí-
na liga de prata com cobre em 1930. Com a decomposição contínua, nua não está esclarecido com exatidão. Uma das suposições, baseada na
384 /. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 385
capítulo 11

constituição da frente de transformação, é a seguinte: o contorno de grão quais aquelas em que o crescimento das partículas separadas de fase-{3,
migra e os elementos solúveis se segregam junto ao mesmo, precipitando-- pelo mecanismo de decomposição contínua, ocorre com velocidade muito
se na forma de partículas que se consolidam localmente no contorno. A baixa ou, na prática, é plenamente eliminado. A distância entre as la-
continuação da migração faz com que o contorno se encurve entre as melas no interior da célula diminui com o decréscimo da temperatura de
partículas, e estas se distendem com o crescimento, seguindo atrás dos envelhecimento.
contornos que avançam (fig. 162). Assim, formam-se alternâncias de Durante o crescimento da colônia, a espessura de lamelas no
partículas de fases a 1 e {3, isto é, nucleia célul;i, na forma de perlita atrás interior das colônias mantém-se aproximadamente constante. Esta es-
do contorno em avanço. Outras suposições e hipóteses de nucleação pessura é característica de cada temperatura de envelhecimento. Isto é
da célula consideram a repetição da nucleação da lâmina da fase {3, no garantido pela elevação da quantidade de lâminas (lamelas) na colônia,
contorno em migração do grão-a.
como resultado da divisão das lâminas e não através de nucleações re-
petidas.
Para temperaturas mais baixas de decomposição descontínua,
as células vizinhas crescem a partir do mesmo contorno, em ambos os
lados, isto é, em direções diretamente opostas.
A deformação plástica da solução inicial supersaturada, ao ele-
var na mesma a densidade de discordância, pode tanto acelerar como
retardar a decomposição descontínua. Na prática é muito importante
que apenas uma pequena adição de um terceiro elemento à liga de
dois componentes também pode acelerar ou retardar a decomposição
descontínua. Uma das causas do retardamento da decomposição des-
Figura 162. Esquema de formação da célula. de decomposição des-
contínua, que leve até sua completa eliminação, é a dificuldade de mi-
contínua com migração do contorno (Furnele e Clark). gração dos contornos, em virtude da segregação de um terceiro elemento
nos mesmos.
Entre as ligas industriais que passam por decomposição des-
O mecanismo de crescimento da célula já formada é mais claro. contínua na prática de produção encontram-se o bronze de berílio (por
Em frente à extremidade das lâminas ou fios de fases a 1 e {3, a con- exemplo de marca BpB2 ), as ligas de magnésio na base do sistema Mg-
centração do elemento de liga B na matriz é, respectivamente, elevada e Al-Zn (por exemplo, de marca ML5), e as ligas austeníticas ferrosas da
diminuída (tem-se em consideração que a fase f3 é enriquecida do compo- marca 36HXTIU.
nente B, e a fase a 1 é empobrecida do mesmo). Da mesma maneira que Durante o envelhecimento, geralmente procura-se evitar a de-
no crescimento da colônia perlítica na austenita, durante o crescimento composição descontínua. Isto porque a estrutura bifásica com precipi-
cooperativo da célula bifásica na decomposiç~ descontínua, os compo- tados incoerentes, após a decomposição descontínua, é mais grosseira e,
nentes se redistribuem difusionalmente ao longo do contorno interfásico correspondentemente, menos resistente do que após o endurecimento ha-
da matriz com a célula. Já na decomposição contínua, o crescimento do bitual por dispersão, quando se formam precipitados dispersos coerentes
precipitado é controlado pela difusão volumétrica perpendicular à su- ou semicoerentes. Além disto, as lâminas incoerentes de precipitados da
perfície do precipitado. A velocidade de difusão ao longo do contorno fase livre nos contornos de grãos fragilizam as ligas.
interfásico da matriz com a célula é muito maior que a volumétrica, e Pode-se evitar completamente decomposição descontínua pre-
o caminho de difusão é muito curto, pois a distância entre as lâminas judicial nos bronzes de berílio, realizando forte deformação a frio (mais
da célula é pequena. Por isto, a decomposiçã:o descontínua é capaz de de 90%) ou acrescentando pequenas adições, como por exemplo 0,2% Co
ocorrer rapidamente, em temperaturas relativamente menores, entre as ou 0,1% Mg.
I. I. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 387
386
capítulo 11

Nas ligas de magnésio, o resfriamento lento durante a têmpera


eleva o volume que é submetido à decomposição descontínua, durante
o envelhecimento. Nos lingotes temperados com resfriamento ao ar, os
contornos de grãos são fortemente demarcados na amostra polida, como
resultado da decomposição descontínua. Eles conseguem caminhar até
a superfície, durante a têmpera com resfriamento lento.
o '-----'--=----'----'
Às vezes a decomposição descontínua é útil. Se, com a decom- 10 10
2 3 10 104
posição descontínua, precipita-se fase coerente com a matriz, como a Lnt (mln)
fase 1' (tipo Ni3 Al) na liga 36HXTIU, após o envelhecimento obtém-se
Figura 163. Variação do crescimento de resistência elétrica p da liga
uma estrutura dispersa e elevam-se as propriedades mecânicas. Al-1,23 (at) Mg2 Si, em função da duração do envelhecimento (t) a
11.1.8. Estágios de decomposição da solução com endureci- 30ºC, após têmpera desde 520°C (Bela e Takachima).
mento por dispersão.
do cobre e alumínio, que condicionam deformação elástica significativa
Formação das zonas de Guinné-Preston. Nas ligas de alumínio da rede, a forma das zonas GP nas ligas de alumínio-cobre é de lâminas
e nos bronzes de berílio endurecidos por dispersão na temperatura am-
finas em forma de disco.
biente, imediatamente após a têmpera, cresce a resistência elétrica
(fig. 163). Isto se explica pela formação, na solução sólida supersatu-
rada, de acumulação de átomos de elementos de liga. São os clusteres
que dispersam as ondas eletrônicas. É possível qÚe parte dos clusteres
consigam formar-se já no período do resfriamento de têmpera. Inicial- o o 0 8 0 8 08 0 8
mente, é muito pequeno o tamanho dos clusteres, e não estão esclare-
cidos os modelos de suas estruturas. Após algum tempo, os clusteres
podem crescer tanto que provocam efeitos de difração no diagrama de
~ººº
~-8-S-
raios-X dos rnonocristais, e nos eletrogramas de filme fino. Os clusteres
que apresentam modelo de estrutura são denominados zonas de Guinné-
Preston. Eles têm também a mesma rede cristalina que a solução da
º~oºo o
º~ºo ºº
matriz. Porém, devido à diferença entre os diâmetros atômicos do metal
Figura 164. Modelo de estrutura da solução sólida de cobre no alumí-
base e do elemento de liga, a acumulação de elementos de liga provoca
nio, com zona GP (segundo Gerald).
variação localizada da distância interplanar.
Na figura 164 está descrita a proposta de Gerald do modelo de
estrutura da zona GP na liga de alumínio. Os átomos de cobre ocupam Nas ligas Al-Ag e Al-Zn, a diferença entre os diâmetros atô-
um dos planos {100} e, em ambos os lados deste plano, os planos parale- micos dos átomos de adição e do alumínio é pequena. A deformação
los consistem apenas de átomos de alumínio. Como o diâmetro atômico elástica da rede não é elevada, e a forma das zonas GP é esférica
do cobre é menor do que o do alumínio, os planos preenchidos com (tab. 7). Os átomos de prata e zinco formam clusteres esféricos, em
átomos de alumínio estão deslocados para o lado do plano com átomos torno dos quais a solução é empobrecida em elementos de liga.
de cobre. Diminui o deslocamento das camadas atômicas da posição O tamanho das zonas GP depende da composição da liga, da
normal com a eliminação da zona GP do centro. De acordo com este temperatura e duração do envelhecimento, e é de 1-10 µm. Assim, por
modelo, quatorze camadas atômicas, em ambos os lados do plano central, exemplo, a zona de GP em forma de disco nas ligas Al-·Cu tem diâmetro
permanecem imóveis. Devido à grande diferença dos diâmetros atômicos da ordem de 10 µm.
388 /. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 389
capítulo 11

A formação de clusteres é um processo difusional, relacionado (durante muitas horas, dias e noites) de excesso significativo de lacunas
com o deslocamento de átomos do elemento de liga na rede da solução de têmpera, apesar da quantidade substancialmente alta de sumidouros
sólida. A particularidade mais importante da.cinética de formação dos para as mesmas (discordâncias, contornos de grão).
clusteres é a velocidade elevada de difusão dos átomos dos elementos A seguir apresenta-se uma das hipóteses para a superação desta
solutos. Os clusteres se formam até em temperaturas negativas (nas dificuldade.
ligas Al-Zn a -lOOºC). As lacunas estão associadas aos átomos dos elementos solutos
O coeficiente de difusão dos elementos de liga na solução de em pares, e o crescimento da zona é garantido pela migração destes pares.
alumínio, à temperatura ambiente ou mais baixas, pode ser calculado Ao se aproximarem da zona, os pares se dissociam em lacuna e átomo
pela velocidade de crescimento dos clusteres, por exemplo pela fórmula do elemento de liga, o qual se junta à zona. A elevação da concentração
(35). Os valores destes cálculos mostraram que são obtidos, por extra- de lacunas livres nos contornos da zona implica que a direção de sua
polação, valores de coeficiente de difusão muitas ordens superiores que migração é para a matriz, onde elas se encontram com os átomos do
os determinados para altas temperaturas, com, experiências normais de elemento soluto e formam novos pares. Como junto do contorno da zona
difusão. Esta diferença para a solução de cobre no alumínio, à tempe- a concentração dos pares é menor do que distante dele, eles migram para
ratura ambiente, é de 108 (!). a zona e se dissipam fornecendo à zona o átomo do elemento de liga, e
A anomalia de elevadas velocidades de difusão na formação assim por diante. A' zona age como uma bomba que extrai átodios do
dos clusteres, durante o envelhecimento, é condicionada pela supersa- elemento soluto da matriz e empurra lacunas para a matriz. Parte das
turação de lacunas na solução sólida, devido à têmpera. A concentração lacunas livres se aniquila nos sumidouros, e por isto cai a velocidade de
de equilíbrio de lacunas na temperatura de têmpera é muitas ordens su- difusão que garante a formação e crescimento da zona.
perior à que ocorre na têmpera de envelhecimento. Durante a têmpera, Na discussão da natureza das zonas GP, geralmente elas são
uma parte significativa de lacunas não consegue ser eliminada nos su- comparadas com as fases intermediárias metaestáveis. Com isto, fre-
midouros, e a solução sólida apresenta-se supersaturada não apenas de qüentemente se acentua que a zona GP não é uma nova fase, mas uma
elementos de liga, mas também de lacunas. Os mecanismos de difusão região da solução sólida inicial enriquecida em elementos solutos. Ao
nas soluções substitucionais são por lacunas. Por isto, as lacunas de contrário das fases intermediárias que se caracterizam por uma rede
têmpera aceleram bruscamente a migração de. átomos do elemento de própria, a zona GP possui a mesma rede da solução matriz. Ela apenas
liga, o que condiciona a velocidade muito elevada de formação dos clus- é deformada devido à diferença dos diâmetros atômicos do soluto e do
teres em temperaturas relativamente baixas. solvente. Entre a zona GP e a matriz em torno da mesma não há um
Com a elevação da temperatura de aquecimento de têmpera contorno preciso de separação. Em algumas ligas, as zonas GP (cluste-
.
cresce a supersaturação de lacunas na solução sólida e acelera-se a for-
'
res) formam-se sem incubação, imediatamente após a têmpera ou até no
mação dos clusteres. O efeito contrário é produzido pelo resfriamento período do resfriamento da têmpera. Ao mesmo tempo, as fases inter-
lento na têmpera, pois mais lacunas conseguem fluir para os sumidouros mediárias e as estáveis surgem após algum período de incubação. Todos
(para as discordâncias, contornos de grãos e superfície livre da amostra) estes fatos evidenciam a diferença entre as zonas GP e as fases inter-
no período do resfriamento de têmpera. mediárias e estáveis. Por isto, as zonas GP freqüentemente são denomi-
Após o rápido crescimento da resistência elétrica no período nadas pré-precipitados, para diferenciar dos verdadeiros precipitados de
inicial de envelhecimento (reação rápida). decorrem, geralmente, algu- fases intermediárias e de fases estáveis que têm, qualitativamente, outra
mas dezenas de minutos, e a resistência cresce lentamente com o pro- estrutura.
longamento do tempo (fig. 163). No período deste crescimento lento da Diferentemente deste modelo estrutural, que considera as zo-
resistência elétrica (reação lenta), a velocidade de difusão, que garante nas de GP como pré-precipitados, do ponto de vista termodinâmico
a formação de zonas, torna-se, anomalamente, ainda mais elevada. A é possível considerá-las como fases metaestáveis independentes, inter-
dificuldade teórica básica consiste em explicar a conservação prolongada mediárias entre a solução matriz e a fase estável. Esta abordagem surge
390 L L Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 391
capítulo 11

de muitas particularidades importantes do comportamento das zonas rede da matriz. Por analogia à curva de decomposição, que se relaciona
GP. Ao contrário das flutuações de concentração, que surgem conti- com o equilíbrio estável de duas fases com mesma rede (fig. 148a), no
nuamente e desaparecem com movimentos de calor, as zonas GP são diagrama de equilíbrio pode existir uma curva de equilíbrio metaestável
estáveis durante longo tempo (em temperaturas baixas é um tempo in- entre a solução matriz e as zonas GP (curva pontilhada, fig. 165). Em
definidamente longo). Foi estabelecido experimentalmente que, com a qualquer temperatura, a curva, por exemplo mn, deve unir os pontos
elevação da duração do envelhecimento, cresce o tamanho das zonas. de composição das zonas GP (no lado direito da curva em forma de
Além disto, as zonas maiores crescem às custas da dissolução das me- cúpula) e da solução matriz empobrecida (no lado esquerdo). Aqui a
nores, isto é, exatamente como ocorre no coalescimento de partículas de solução matriz empobrecida em elementos de liga e as zonas GP são
fases. A dada temperatura de envelhecimento, a composição das zonas vistas como fases metaestáveis, que se formam a partir da solução sólida
não depende da composição da liga. Finalmente, o mais importante é inicial de mesmo tipo.
que as zonas GP em dado sistema possuem sua linha solvus (fig. 165): As zonas GP se diferenciam de outras fases intermediárias pela
elas se formam apenas com super-resfriamento da solução matriz abaixo constituição dos contornos que as separam da matriz. As zonas GP são
desta linha. Se na liga existem zonas GP, elas se dissolvem na matriz precipitações completamente coerentes, e por isto os contornos que as
com o aquecimento até uma temperatura superior à sua linha solvus. separam da matriz são indefinidos.
Aqui existe plena analogia com a precipitação e solubilização de fases Do exposto, é evidente que o termo pré-precipitado, utilizado
estáveis. para as zonas GP, é bastante condicional, pois pode ser considerado
como precipitado coerente.
O mecanismo de nucleação das zonas GP é pouco estudado. A
e densidade de discordâncias na liga temperada e posteriormente recris-
talizada é igual a 10 7 - 108 cm- 2 . No caso da nucleação heterogênea
nas discordâncias, o número de zonas por unidade de área deveria ser
caracterizado por este valor. Na realidade, porém, a densidade de pre-
cipitados de zonas GP (número de zonas por unidade de volume) é da
-----------.... -..... .....
'\
ordem de 10 18 cm- 3 e, por unidade de área, de 10 12 cm- 2 . Considera-se
que; para os clusteres, é bastante característica a nucleação homogênea
por flutuações de concentração.
\
\ Se a zona GP é vista como uma fase, durante sua nucleação a
IO 20 30 40 variação de energia de Gibbs da liga é G = - G vol + G sup + G El·
Cu,0/o(at) Devido à coerência da zona com a matriz, pode-se desprezar a existência
de Gsup· Nas zonas de pequeno tamanho (nos estágios iniciais de sua
Figura 165. Diagrama de equilíbrio do sistema Al-Cu, com a linha formação) o valor de GE1 também é muito pequeno. Então, com a su-
solvus da zona GP (segundo Bitone Rollenson) e a cônica mn.
persaturação suficientemente alta, a barreira energética para nucleação
da zona GP deve ser pequena, o que explica o aparecimento de clusters
Desta maneira, as zonas GP podem ser vistas como uma se- imediatamente após a têmpera, ou mesmo durante o resfriamento de
gunda fase, que se encontra em equilíbrio metaestável com a solução têmpera.
matriz. O fato de que a zona não se diferencia da matriz pelo tipo Um grande significado prático é o de que as zonas GP nucleiam
de rede não contradiz esta suposição. Isto porque, por exemplo, no facilmente por todo o volume de solução sólida matriz, e produz-se uma
sistema com uma série contínua de soluções sólidas (fig. 148a), a fase estrutura homogênea de decomposição, com elevada densidade de pre-
estável que se precipita sob a linha de decomposição possui a mesma cipitados (§11.3).
!. !. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 393
capítulo 11

A rede da fase estável é tetragonal, com parâmetros a =


o o
6,07 A e e = 4,87 A A estrutura da fase nos planos (001), (010)
e (100) (e de quaisquer outros planos) difere fortemente da estrutura
da matriz, e por isto o precipitado de fase é completamente incoe-
rente.
A rede da fase intermediária 11 é tetragonal, e a composição
da fase é Cu ah. Na estrutura 11 , parte dos planos está ocupada apenas
por átomos de alumínio, e parte apenas por átomos de cobre. O preci-
pitado /1 é plenamente coerente, além do que, através do plano (001),
Figura 166. Células elementares das fases intermediária estável ( ) e a conexão com a matriz de alumínio é ideal (em 11 como no alumínio,
o
metaestáveis ( ' e "), as quais podem precipitar-se da liga da solução a parâmetro da rede a= 4,04 A). Nos planos {010) e (100) a coerência
de alumínio durante o envelhecimento das ligas AI-Cu (Rornbogen).
é garantida com grande deformação elástica, pois próximo às camadas
o

Precipitação de fases estáveis e intermediárias. Na maioria das ocupadas por átomos de cobre a distância interplanar diminui (1,82 A
o
ligas industriais envelhecidas, pode precipitar-se, da solução supersatu- no lugar de 2,02 A).
o
rada, a fase metaestável, cuja estrutura é intermediária entre a da matriz A espessura máxima do precipitado /1 é de 100 A, e o diâ-
e a da fase estável (tab. 8). Em alguns sistemas precipitam-se duas fases º
metro, de até 1500 A Eles também são denominados zonas GP2 , para
intermediárias metaestáveis.
diferenciar das zonas G P 1 que possuem a rede da matriz e que foram
Com a formação cio núcleo de qualquer precipitado, a variação acima designadas de GP. Atualmente, mais freqüentemente, se utiliza a
total da energia: de Gibbs consiste de três termos: G = - Gvol + denominação "e não GP2 , pois a rede destes precipitados se diferencia
Gsup + GEi· da rede da matriz.
A energia de Gibbs da fase metaestável é maior do que a da A rede da fase intermediária ' é tetragonal, com parâmetros
o o
estável, e a formação de seu núcleo na matriz provoca menor diminuição a= 4,04 A e c = 5,80 A A composição é a do composto Cul 2 . Através
na energia volumétrica de Gibbs. A causa que condiciona a precipitação do plano (001), o precipitado acicular / possur contorno coerente com
de fase intermediária em lugar da estável é a energia significativamente a matriz, e com redes idealmente conectadas. Através dos planos (010)
menor no contorno com a matriz e, correspondentemente, um menor e (100) é significativa a não-correspondência da estrutura de ' com a
aumento de Gsup com a formação do núcleo (§4.4). Por isto, o traço da matriz, e o contorno entre as fases é semicoerente. Desta maneira,
geral mais importante da estrutura de todas as fases intermediárias nas a partícula da fase ' é parcialmente coerente, e o campo de tensões
ligas envelhecidas é que ela garante, no mínimo, um contorno coerente elásticas em torno delas é menor do que em torno dos precipitados coe-
entre o precipitado e a matriz. Os precipitados de fase intermediária rentes da fase /1 e em torno das zonas GP. A forma das partículas da
são, em geral, parcialmente coerentes, e às vezes plenamente coerentes. fase ' é bem vista na figura 167, onde as lâ~inas estão distribuídas
Nas ligas envelhecidas de AI-Cu foram detalhadamente estuda- paralela e perpendicularmente ao plano do filme fino.
das as coerências parcial e plena dos precipitados de fases intermediárias. As fases intermediária e estável nucleiam heterogeneamente, di-
Na figura 166 mostra-se a célula elementar da fase estável (CuA1 2 ) ferentemente das zonas GP, para as quais é característica a nucleação
e das fases intermediárias metaestáveis / e ". Também apresenta-se homogênea. A exceção é da fase estável Al3 Se na ligas de alumínio, que
a célula elementar do alumínio, que caracteriza aproximadamente a es- nucleiam homogeneamente, de mar,eira uniforme por todo o volume da
trutura da matriz (sem considerar os átomos de cobre na solução a da matriz. Isto se explica pelo fato de que o composto Al 3 Se é a única
mat~iz, o parâmetro da rede está um pouco diminuído). fase estável nas ligas de alumínio cuja precipitação é completamente
394 /. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 395
capítulo 11

partículas semi-coerentes nas discordâncias, e pode até ser negativo: a


energia elástica das discordâncias facilita a nucleação.
Com a nucleação de precipitados incoerentes da fase estável,
com elevada energia superficial (entre fases), o papel determinante na
fórmula (26) é desempenhado pelo valor de Gsup, e não por GEt·
Com a formação de precipitados incoerentes nos contornos de grão que
são superfícies prontas de separação, o termo Gsup que dificulta a
nucleação apresenta-se diminuído, isto é, a nucleação de precipitados
incoerentes nos contornos de alto ângulo é facilitada.
Para os precipitados coerente e semicoerente, a energia super-
ficial (entre fases) é significativamente menor que nos precipitados in-
coerentes. Por isto, para nucleação dos mesmos, o papel determinante
na fórmula (26) é desempenhado pelo valor do termo GE1, e não por
Gsup·
As discordâncias e os contornos de grão servem como locais de
nucleação preferencial também porque neles se formam segregações de
Figura 167. Lâminas da fase ' perpendiculares (1) e paralelas (2) ao átomos do elemento soluto: atomosferas de Cotrell nas discordâncias, e
plano (001) do filme fino e zonas GP (3), na liga Al-3% Cu, envelhecida
·segregações de equilíbrio nos contornos de alto ângulo. Como as fases
a 130oC durante 18 dias. Mícrografia eletrônica de filme fino (Filipes).
intermediária e estável caracterizam-se pelo aumento da concentração de
elemento de liga, elas se formam mais facilmente nas regiões da matriz
coerente com a matriz, graças à correspondência estrutural muito acen-
já ricas destes elementos.
tuada.
Nos contornos de grão a precipitação de fase estável pode apa-
Os locais preferenciais de nucleação das fases intermediárias recer até no período do resfriamento de têmpera. Isto ocorre particular-
(durante o envelhecimento) são as discordâncias isoladas, os contornos mente na têmpera de algumas ligas de alumínio em água quente.
de pequeno ângulo (paredes de discordâncias), os defeitos de empilha- Se as fases intermediária e estável possuem um maior volume
mento e, supostamente, os clusteres de lacunas. As fases intermediárias específico do que a matriz, é natural que suas nucleações sejam facilita-
também podem nuclear-se nas zonas GP. das nos clusteres de lacunas. Estes núcleos formam-se rapidamente na
Os precipitados incoerentes de fase estável nucleiam preferen- matriz devido à supersaturação da mesma com lacunas de têmpera.
cialmente nos contornos de alto ângulo e nos clusteres de lacunas. Além Os defeitos de empilhamento servem de locais de nucleação
disto, as fases estáveis podem nuclear-se nos precipitados de fases inter- heterogênea, apenas nos casos em que a estrutura dos precipitados é
mediárias que surgiram anteriormente. idêntica à estrutura do defeito do empilhamento. Por exemplo, nas ligas
A nucleação de precipitados de fases intermediárias nas discor- Al-Ag a fase intermediária 1' possui rede H.C, e o defeito de empilha-
dâncias é facilitada principalmente pela não-correspondência estrutural mento na rede C.F.C, como se sabe, é uma camada intermediária fina
do núcleo com a solução matriz, o que é total ou parcialmente compen- de rede H.C. Conseqüentemente, a banda de defeito de empilhamento
sado pela rarefação ou condensação próximo à extremidade do plano entre as discordâncias parciais na solução sólida de prata no alumínio,
extra. As plaquetas de fases intermediárias nucleiam com tal orientação que são ricas em átomos de prata (átomos fera de Sisuk), é um núcleo
nas extremidades das discordâncias, que os campos de tensão destas pla- preparado da fase 1'.
quetas e das discordâncias anulam-se parcialmente. Na fórmula (26), o Como foi demonstrado no §4.4, a solubilidade das fases me-
termo GEl que dificulta a nucleação é pequeno com a precipitação de taestáveis sempre é superior à solubilidade das fases estáveis. Vejamos
396 l. l. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 397
capítulo 11

um sistema hipotético em que na solução a podem formar-se fase (3' As linhas solvus das fases intermediárias ' e ", bem como das zonas
metaestável e fase f3 estável. GP, construídas experimentalmente para o sistema AI-Cu, estão na
Na figura 168 a curva G2 descreve a variação da energia de figura 170.
Gibbs em função da composição da fase a, a qual pode diferenciar-se
com a formação de zonas GP (por analogia com a curva de energia
de Gibbs para a temperatura T3 na figura 148b). A tangente geral aos
ramos da c.:urva da energia de Gibbs dá a composição da matriz (Ca-GP ),
que se encontra em equilíbrio metaestável com as zonas GP, as quais
são aqui vistas como fases metaestáveis de mesma rede que a matriz.

t
{j

Figura 169. Diagrama de equilíbrio, com as linhas solvus da fase estável


{3, metaestável {3 1 e zonas de GP (esquema).
A Co:-JJ Ca-9P C0
B,%-
Ca-JJ'
Figura 168. Variação da energia de Gibbs em função da compooição que Cinética e sucessão de formação de precipitados com o en-
se estratifica com a formação das zonas GP na solução a supersaturada. velhecimento. É visto na figura 168 que na liga de composição Co
Fase met,aestável {3' e estável {3. a diminuiçào da energia de Gibbs com a precipitação de fase estável
(3 é maior que na formação de fase (3 1 intermediária e de zonas GP:
A fase intermediária [3' e a fase estável f3 possuem rede cris- ad > ac > ab. Contudo, isto não significa que, com o envelhecimento,
talográfica própria, diferente da rede da matriz, e por isto as curvas seja sempre mais improvável a formação da fase estável. Na figura 168,
de energia de Gibbs G'p e G13 não são continuacões de Ga· A tan- no eixo das ordenadas estão os valores da energia volumétrica de Gibbs.
gente geral às curvas Ga e G(:J determina a composição (Ca-(:J), que se No §4.4 foi mostrado que a seqüência de formação de fases não é regu-
encontra em equilíbrio metaestável com a fase intermediária [3'. Analo- lada pelo nível alcançado pela energia volumétrica de Gibbs, mas sim
gamente, determina-se a composição da matriz (Ca-(:J) que se encontra pelo valor de barreira energética para nucleação da nova fase.
cm equilíbrio com a fase estável. É visível que Ca-GP > Co:-/3' > Ca-(:J· A barreira energética para nucleação é a energia de formação
A figura 168 corresponde a determinada temperatura e não do embrião crítico ( G cr' sem considerar o termo elá.'itico, que consiste
muda qualitativamente para outras temperaturas: a solubilidade das de um terço da energia superficial) (fórm.24). Nas zonas GP a ener-
zonas GP será sempre maior que a da fase [3', e a solubilidade da fase (3' gia superficial é mínima, e nos precipitados incoerentes de fase estávé'.l
deve ser maior que a solubilidade da fase /3. No diagrama de equilíbrio, e, max1ma.
,· e onsequen
·· t ement e, cªP
cr < Gf3'
cr < Gf3cc e orr, ", o en-
sob a linha de solubilidade da fase (3 estável, devem localizar-se a linha velhecimento, a barreira energética de nucleação do precipitado forma-
solvus (solubilidade) da fase (3' intermediária e das zonas GP (fig. 169). se não apenas devido ao aparecimento da superfície de separação, mas
398 !. !. Novikov
Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 399
capítulo 11

também devido à deformação elástica da rede. A deformação elástica


com a formação do núcleo semicoerente de precipitado da fase /3' pode
ser maior que na nucleação de precipitados incoerentes da fase (3. Então,
a desigualdade GfJ'cr < GfJcr é correta apenas no caso em que o ganho zE ~i--~~r-~~~-::..~~~~~
em energia superficial supera a possível perda em energia de deformação E Tg..t-~-:::::;;11io.--~~~-".....-~~~
elástica. A velocidade de nucleação de precipitados na liga envelhecida ~ Tjl--1rr::-~~~~~~~-""~~~­
é determinada pela fórmula 25, na qual Q é a energia de ativação para ~ ',,
difusão do elemento que difunde mais lentamente.
Quanto maior a velocidade de nucleação, tanto menor o período
Tg
de incubação, que é o tempo até a detecção, por determinado método,
do início da precipitação. Com a elevação da temperatura de envelheci-
mento, o período de incubação inicialmente reduz-se, devido ao aumento Figura 171. Curvas C de formação das fases intermediária {3' e estável
da mobilidade de difusão atômica e, posteriormente, eleva-se devido à f3 durante a decomposição da solução supersaturada da liga envelhecida
diminuição da supersaturação da solução sólida. (esquema): TGP; o.Tf3' e Tf3 - temperaturas solvus de precipitação
As zonas GP, bem como as fases intermediárias e estável, carac- na liga (o da fig. 169).
terizam-se por suas curvas-C (fig. 171). Os ramos superiores das curvas-
C se aproximam, assintoticamente, das temperaturas solvus Tcp1Tf3' e 25, a velocidade de nucleação do precipitado é determinada apenas pelo
TfJ. valor de Gcr· Em primeiro lugar aparecem os precipitados para os
quais a energia de formação do embrião crítico é mínima, e posterior-
mente precipita-se a fase com maior valor de Gc r· Por exemplo, na
temperatura T 1 de envelhecimento, após o período de tempo tcp sur-
gem as zonas GP. Em seguida, ao atingir o momento t(J', surge a
fase intermediária /3', e após a exposição t(J surge a fase estável (3.
Esta seqüência de formação dos precipitados é freqüentemente escrita
na forma esquemática a~ GP~ /3 1 ~ {3.
Na temperatura T 2 de envelhecimento, superior à temperatura
solvus das zonas GP, inicialmente precipita-se da solução supersaturada
a fase /3', e depois a fase /3, isto é, a -4 /3 1 -4 (3. Na temperatura T 3
de envelhecimento, superior à temperatura solvus da fase /3', a partir da
2
solução supersaturada pode precipitar-se apenas a fase estável {3. Isto
4 Cu
%(empeso) corresponde à regra geral: quanto menor o grau de supersaturamento da
solução sólida, em relação à fase estável, tanto menor a quantidade de
Figura 170. Linha solvus da zona GP, das fases intermedirias 1 e 11
transfarmações intermediárias. Anteriormente, esta regra foi demons-
no sistema Al-Cu (GP e 11 segundo dados de Bitone Roleson; ' trada com o exemplo de uma liga: o grau de supersaturação da solução
segundo dados de Rosnbozen). diminui com a elevação da temperatura de envelhecimento. Isto é jus-
tamente assim, também, para ligas com diferentes composições, para
temperatura constante de envelhecimento. Por exemplo, se considerar-
Para dada temperatura de envelhecimento, isto é, para uma
mos a liga com quantidade relativamente baixa de elementos de adição,
mobilidade difusional constante dos átomos, e de acordo com a fórmula
com composição à esquerda do ponto Co:-GP na figura 169, para a tem-
400 !. !. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 401
capítulo 11

peratura de envelhecimento T 1 as zonas de GP não podem se formar na tipo de rede e a passagem alotrópica nos limites do volume do preci-
mesma. pitado, sem participação da matriz (1, fig. 172). Este caminho pode
Na tabela 8 estão citados exemplos da sucessão de surgimento realizar-se apenas para pequena diferença na estrutura dos precipitados,
de precipitados, em ligas de vários sistemas, com o prolongamento da e por isto é encontrado raramente. Na investigação das ligas AI-Cu en-
duração do envelhecimento ou o aumento das temperaturas de envelhe- velhecidas, obteve-se dados experimentais que podem ser tratados como
cimento (com tempo de exposição constante). A tabela não demonstra reestruturação direta das zonas de GP em precipitados da fase (3', os
a sucessão de precipitação no envelhecimento em regimes industriais, quais foram por esta razão denominados G P2.
mas sim a possibilidade, para cada liga, do número de estágios de preci-
pitação, em um diapasão amplo de temperaturas e tempos de exposição
durante o envelhecimento (entre eles os regimes não utilizados indus-
trialmente). Por exemplo, para a maioria das ligas, o regime de enve- J
lhecimento é escolhido de tal maneira que não se precipite fase estável
(§11.3 e 11.4).
1-fl
1àbela 8. Estágios de decomposição da solução supersaturada em ligas industriais
a
Figura 172. Três variantes de nucleação, na matriz a, da fase f3 mais
Sistema Liga Estágios de decomposição estável com a presença da fase /3' menos estável, a qual formou-se
AI-Cu AL71 Zonas GP ·--+ 8" _, 8' --. e (Cu Al2) anteriormente.
Al-Ag AL81 Zonas GP·--+ /3 1 _, /3 lAb .\1g 2 )
Al-Cu-Ag Dl6 Zonas GP·--+ S' _, S Ab Cu Mg)
Al-Cu-Mg-Fe-Ni AK41 Zonas GP--+ S' --+ S Mg2 Si) O segundo processo é a nucleação da fase {J' na..o:; zonas GP e o
Al-Mg-Si . AD35 Zonas GP·-> {3' _, /3 Mg2 Si) crescimento dos precipitados {J' na matriz e, analogamente, a nucleação
Al-Zn-Mg 1915 Zonas GP·-> n'--+ n Mg Zn2) --+)--+ T (Ab Mg3 Zn3 )
Al-Zn-Mg-Cu B95 Zonas GP--+ M' _, M [Mg (Cu Zn)2] de fase f3 nos precipitados f3' e o crescimento das partículas f3 na matriz
Cu-Be B2 Zonas GP ·-> 7' --+ ·y (Cu Be) (2, fig. 172).
~~~~~~~~~~~~~-

O terceiro processo é a nucleação independente da fase mais


estável na matriz, longe dos precipitados de fase menos estável e das
Para a teoria e prática d.o envelhecimento (§11.5), é muito im-
zonas GP (3, fig. 172).
portante como nucleiam e crescem os precipitados mais estáveis, se
existir anteriormente a formação de precipitados menos estáveis. O Acima da temperatura solvus da fase intermediária, a fase es-
processo de decomposição da solução supersaturada, descrito na forma tável {J pode precipitar-se apenas da matriz. É possível dizer com an-
a-> GP -> {J' -> {J, mostra apenas a sucessão no tempo (com tempe- tecedência quais serão os locais de sua nucleação preferencial em tem-
ratura constante) ou a sucessão com a elevação da temperatura (para peraturas mais baixas de envelhecimento quando anteriormente já se
exposição constante), de aparecimento dos diversos tipos de precipita- precipitou a fase intermediária. Por exemplo, nas ligas AI-Cu e fase
dos. Não se deve tratar esta descrição como se, sempre, em conseqüência (Cu Al 2 ), nos estágios inic.iais da decomposição, nucleia nos contornos de
de reestruturação da rede, as zonas GP se transformassem em fase {J', grão da matriz, e, nos estágios posteriores, nos contornos de separação
e a fase {J' em fase {J. da fase {J' com a solução de alumínio. Nestas mesmas ligas, a fase ' nos
estágios iniciais da decomposição precipita-se nas discordâncias, e nos
São possíveis três processos de formação de precipitados mais estágios mais atrasados nucleia nos precipitados da fase ". Algumas
estáveis. O primeiro processo é a transformação direta dos precipitados investigações indicam que a fase 11 não se forma pela reestruturação e
menos estáveis nos mais estáveis, já indicado, isto é, a modificação do crescimento das zonas GP, mas sim pela precipitação direta da matriz.
402 /. J. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 403
capítulo 11

Os múltiplos dados mostram que nas ligas do sistema Al-Zn- lhecida podem aparecer precipitados incoerentes de fase estável, antes
Mg os precipitados da fase rJ', no envelhecimento artificial, nucleiam nas que no volume do grão apareçam precipitados parcialmente coerentes
zonas GP que se formam no envelhecimento natural. Este fenômeno é da fase metaestável. Isto é possibilitado pela ausência de discordâncias
utilizado na escolha dos regimes de envelhecimento (§11.5). No bronze no volume do grão, que são locais de nucleação heterogênea da fase
de berílio, a fase 1' também nucleia nas zonas GP. metaestável. Outro caso de precipitação de fase estável antes da me-
Ao se formar tardiamente, a fase estável /3 nucleia nos preci- taestável será visto no §14.1.
pitados da fase metaestável /3', que surgiu anteriormente. Neste caso, No §4.4 demonstrou-se que a formação de fase mais estável deve
para temperaturas abaixo do ponto de intersecção das curvas-C destas conduzir à solubilização da fase menos estável. No envelhecimento das
fases, o período de incubação para formação da fase /3 pode ser signifi- ligas esta regra desempenha um import:1.nte papel. Próximo às zonas
cativamente menor do que na sua precipitação independente a partir da GP, a concentração da solução matriz é ig,·1al a Ca-GP (fig. 168 e 169).
matriz. Correspondentemente, em lugar da continuação suave da curva- Depois da formação da fase intermediária /3', no contorno com a matriz
C (região oa na figura 173), deve-se encontrar um ramo ob deslocado estabelece-se na solução a concentração Ca-f3'· Conseqüentemente, sur-
para a esquerda. ge na matriz um gradiente de concentração Ca-GP - Ca-fJ'· A difusão
Temperatur~
:!~ seletiva na matriz, na direção deste gradiente, forma uma solução super-
saturada em relação à fase /3' e torna a mesma subsaturada em relação à
zonas GP. Como resultado, os precipitados de fase {J' irão crescer como
resultado da solubilização simultânea das zonas GP.
~
3 Analogamente, após a formação da fase estável {3, a concen-
-o
o
tração da solução no contorno com ela Ca-f3 < Ca-f3', e os precipitados
irão crescer como resultado da dissolução simultânea da fase /3'.

i Na figura 174 vê-se uma série de regiões com zonas esféricas


GP formadas anteriormente, e com agulhas de fase 1' formadas poste-
riormente.
Figura 173. Curvas C de precipitação, a partir da solução supersa-
turada, das fases estável (/3) e metaestável (/3 1 ). Esquema para duas Próximo das agulhas, os campos Claros são as regiões da matriz
e
variantes de curvas da fase /J. onde as zonas GP se solubilizaram com o avanço simultâneo das agulhas
1'.
Se a fase /3' não exerce influência no início da nucleação da Coalescimento dos precipitados. No processo de decomposição con-
fase fJ, em princípio é possível também algum deslocamento da curva oa tínua da solução sólida, eleva-se o volume total de precipitados, e a con-
para a direita, no sentido de maiores exposições, devido à diminuição da centração do elemento de liga na solução diminui. Quando a composição
supersaturação da solução matriz com a formação de fase fJ'. da solução matriz torna-se próxima à de equilíbrio na temperatura de
Em temperaturas próximas da linha solvus da fase /3', o período envelhecimento, o volume total de precipitados deixa de variar. Porém,
de incubação de sua formação pode ser maior do que o da fase estável a estrutura da liga envelhecida é instável: os precipitados dispersos ten-
{3. Então, na sucessão de aparecimento durante o envelhecimento, as dem ao crescimento através do coalescimento.
fases trocam de lugar. Este caso particular deve ocorrer num intervalo Os precipitados na liga envelhecida, separados um do outro na
muito estreito de temperaturas de envelhecimento, de T1 até Tf3', onde rede da matriz, não podem crescer por coagulação, da mesma maneira
é menor a supersaturação da matriz em relação à fase {J' (fig. 172). que coalescem as gotas de mercúrio sob a ação de tensão superficial.
A fase metaestável pode nuclear após a fase estável também A força motriz do coalescimento é a diferença de energia de
por outros motivos. Por exemplo, nos contornos de grãos da liga enve- Gibbs entre as partículas maiores e as menores. No coalescimento da
Teoria dos tratamentos :-té::_r:_-m~i:.::c:.::o:::s_:d_:o_:s_:m___:_e_ta_:1S.::..__________ 405
404 l. l. Novikov
capítulo 11

t
A CG er - B ,0 /o

Figura 175. Variação da energia de Gibbs em função da composição


da solução o:(G,.), dos precipitados grosseiros (Gg) e pequenos (G:)
da fase (3.

assim o equilíbrio de concentração no contorno da solução. Esta mesma


difusão eleva a concentração da solução no contorno com o precipitado
grande, e a solução aqui fica supersaturada, precipitando-se então_f~e-,8,
mantendo assim o equilíbrio de concentração Ca. A fase-,8 prec1p1ta-se
na superfície já pronta das partículas grandes, as quais crescem por
este caminho com a simultânea solubilização das partículas menores,
Figura 1'74. Estrutura da liga Al-153 Ag, ten;iperada desde 520oC e
envelhecida a 160oC durante 10 dias. Micrografia eletrônica de filme
até a completa eliminação destas. Conseqüentemente, o coalescimento
fino, 22.500X (Clark). dos precipitados durante o envelhecimento o~orre e~ conseqüê_ncia da
condução de matéria através da solução matriz (devido ao gradiente d:
liga, devido às diferentes condições localizadas de crescimento, são diver- concentração), com a solubilização dos precipitados menores e o cresci-
sos os tamanhos dos precipitados. Quanto menor o precipitado, tanto mento dos maiores.
maior a fração de átomos distribuídos em sua superfície (em relação a
todos os átomos do precipitado) e, conseqüentemente, maior a energia
média de Gibbs por mol do precipitado.
Na figura 175 a curva de energia de Gjbbs dos precipitados me-
nores de fase fJ(G~) localiza-se acima da curva de energia de Gibbs das
partículas maiores desta mesma fase (ag). Pelo esquema da figura 175,
é visto que a concentração da solução a:, que se encontra em equilíbrio
com os precipitados menores da fase fJ (Cp), deve ser maior que a da L_, _ __
solução em equilíbrio com os precipitados maiores (Ca). Esta mesma ~Distância
conclusão segue-se da equação (32).
Desta maneira, na solução matriz existe um gradiente de con- Figura 176. Gradiente de concentração do elemento de liga na solução
centração do elemento de liga, entre os precipitados de diferentes ta- o:, entre os precipitados grosseiros e pequenos da fase f3 (Cc e Cp
manhos (fig. 176). Este gradiente também provoca diretamente o coa- fig. 175).
lescimento. A difusão seletiva diminui a concentração da solução em seu
contorno com os precipitados pequenos, e estes se solubilizam, mantendo
406 1. 1. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 407
capítuloll

O raio médio f das partículas durante o coalescimento varia decomposição da solução sólida supersaturada. Pode-se enunciar três
com a elevação do tempo de envelhecimento, de acordo com a equação causas principais do endurecimento:
de Lifichitsi-Slezov: 1) inibição do movimento das discordâncias pelos campos de ten-
(37) sões elásticas na matriz em torno dos precipitados;
onde f o é o raio médio inicial do precipitado, antes do coalescimento, e 2) endurecimento pelo cruzamento das discordâncias através dos
precipitados;
B = 8 D., C00 V 2 /9KT (38) 3) endurecimento com o envolvimento das partículas pelas discor-
Aqui, D é o coeficiente de difusão; ; é a energia superficial do con- dâncias.
torno do precipitado com a matriz; C 00 é a concentração de equilíbrio O campo de tensões elásticas surge inevitavelmente com a for-
da solução matriz no plano da superfície de separação com a fase li- mação de precipitados coerentes e semicoerentes, pois a coerência das
vre; e V é o volume do precipitado para cada átomo do elemento so- redes é garantida pela deformação elástica próximo ao contorno de se-
luto. paração (fig. 153a-b) O valor das tensões elásticas é tanto maior quanto
. A velocidade de coalescimento aumenta com o crescimento de maior for a não-correspondência d!mensional das estruturas da matriz e
D e ; . O coeficiente de difusão se eleva exponencialmente com o cresci- do precipitado, quanto maior o módulo de elasticidade da matriz e maior
mento da temperatura, e por isto o coalescimento se acelera fortemente a área do contorno coerente. Para o avanço das discordâncias através
com a elevação da temperatura de envelhecimento. Isto também acon- da matriz deformada elasticamente são necessárias tensões superiores à
tece com o aumento de C 00 devido à elevação da temperatura. tensão média do campo de deformações elásticas em torno dos precipita-
O coalescimento é a única variação de estrutura da liga enve- dos. O endurecimento correspondente é resultado da influência da ação
lhecida, após a precipitação da fase estável. Porém, isto não significa à grande distância dos precipitados nas discordâncias.
que coalescem apenas os precipitados da fase estável. Analogamente, O endurecimento pelo cruzamento através das partículas é o
também podem coalescer os precipitados da fase intermediária e as zo- resultado da ação mútua mais próxima das discordâncias e dos precipi-
nas de Guinné-Preston, pois a concentração da solução que se encontra tados, quando as discordâncias passam através dos precipitados e eles
em equilíbrio com eles depende do tamanho dos precipitados correspon- se deformam junto com a matriz.
dentes (entre eles as zonas GP). Por· isto, o coalescimento pode ocorrer
A rede de precipitado não é idêntica à rede da matriz, mesmo
nos diversos estágios de decomposição· da solução. Porém, do ponto de
se tratando de coerência plena do precipitado. Por isto as discordâncias
vista prático, o maior interesse é representado pelo coalescimento como
que atravessam os precipitados com seu vetor de Burgers destroém a
estágio conclusivo da decomposição.
disposição dos átomos ao longo do plano de deslizamento. Quanto mais
Para os precipitados incoerentes das fases estáveis, é carac- se diferencia a estrutura do precipitado no plano de cruzamento da es-
terística a grande energia superficial, o que possibiiita o coalescimento trutura da matriz com mesmo plano, mais acentuadamente se destrói a
dos precipitados. A fase estável Ah Se, q~e se diferencia por ser um disposição dos átomos dentro do precipitado e maior é a tensão exigida
precipitado coerente nas ligas de alumínio, dificilmente coalesce, devido para o cruzamento das discordâncias através dos precipitados. No caso
ao pequeno valor de 'Y·
de precipitados coerentes (Zonas GP), a energia superficial no plano de
cruzamento tem o valor da ordem de 102 m dinas/m2 , e no cruzamento
11.2. Variação das propriedades das ligas com o envelhecimento. através de partícula incoerente é da ordem de 103 m dinas/m 2 (como no
contorno de alto ângulo).
11.2.1. Natureza do endurecimento com o envelhecimento. O O módulo de cisalhamento do precipitado geralmente é maior
endurecimento com o envelhecimento é resultado da inibição do mo- do que o da matriz. Quanto mais rígido for o precipitado, mais dificil-
vimento das discordâncias pelos precipitados que se formaram com a mente as discordâncias cruzam o mesmo.
,.

Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 409


408 /. /. Novikov
capítulo 11

Uma outra causa da inibição ao movimento das discordâncias escoamento. Esta elevação é proporcional ao quadrado da amplitude da
é a formação de saliências no precipitado que foi cruzado e o correspon- onda de concentração (fig. 157a). Por exemplo, na liga de cobre com 9%
dente aumento de sua superfície, com a qual ,está relacionada a energia Ni e 6% Sn o limite de escottmento atinge até 500 MPa. Por isto, a inves-
excedente. tigação de ligas nas quais é possível a decomposição espinoidal deve-se
considerar como um dos caminhos possíveis de fabricação de molas e de
O endurecimento com o envolvimento das partículas pelas dis-
cordâncias surge quando as discordâncias não cruzam os precipitados. outros materiais com elevado limite de escoamento.
Surgiram recentemente ligas industriais do sistema Cu--8i-Sn,
N:este caso, é necessário elevar a tensão para que as discordâncias con-
tornem os precipitados. denominadas espinoidais, que após têmpera, deformação a frio e en-
velhecimento, são próximas do bronze de berílio quanto ao nível das
A tensão crítica de cisalharnento é inversamente proporcional
propriedades de resistência.
à distância l entre as partículas:
Os precipitados semicoerentes da fase intermediária podem oca-
sionar forte influência no endurecimento, se a distância entre eles for
Tcrit = Gb/l (39)
pequena. Pelos mais diversos motivos, o campo de tensões em torno
dos precipitados semicoerentes é mais fraco que em torno dos coerentes.
onde G é o módulo de cisalhamento e b o vetor de Burgers da dis-
Conseqüentemente, o endurecimento correspondente ao envelhecimento
cordância.
deve ser menor. Contudo, os precipitados de fase intermediária sã.o mais
11.2.2. Valor do endurecimento icom a formação de precipi- fortes do que as zonas GP, diferenciando-se da matriz pela estrutura
tados de diversos tipos. O valor do endurecimento depende do tipo e, por isto, quando as discordâncias cruzam os mesmos, tem-se grande
de precipitado, sua estrutura, propriedades, tamanho, forma, caráter e destruição da disposição dos átomos. Conseqüentemente, cada precipi-
densidade de distribuição, grau de não-correspondência entre as redes tado de fase intermediária é capaz de provocar resistência mais forte ao
da matriz e do precipitado e também da temperatura de experiência. cruzamento das discordâncias do que a zona GP. Com densidade de
Graças à nucleação homogênea, a densidade de distribuição das precipitados suficientemente elevada, é possível obter maior resistência
zonas GP é bastante maior, e a distância entre elas geralmente é bas- da liga envelhecida, em comparação com o estágio de decomposição cor-
º ' respondente às zonas. Por outro lado, se a densidade de precipita.dos da
tante pequena (da ordem de 100 A). Por isto, para que as discordâncias
contornem as zonas GP, exige-se maiores tensões que para o cruzamento fase intermediária é significativamente mep.or do que a das zonas GP,
das mesmas. Se a diferença entre os diâmetros atômicos do soluto e do as tensões capazes de encurvar as discordâncias entre as partículas po-
solvente não for grande, a energia de deformações elásticas da matriz é dem ser menores que as tensões exigidas para o cruzamento das zonas
pequena, e o endurecimento pelo cruzamento das zonas GP é a única de GP. Neste caso, a resistência da liga, no estágio de precipitação da
causa da elevação da resistência com o envelhecimento (por exemplo, fase intermediária, é menor do que no estágio das zonas.
nas ligas Al-Ag e Al-Zn). Com grande diferença entre os diâmetros Os precipitados da fase estável' geralmente são incoerentes com
atômicos, como por exemplo nas ligas Al-Cu e Cu-Be, em torno das a matriz. Em torno deles não existem campos de tensões elásticas, e
zonas GP formam-se campos significativos de tensões elásticas, os quais a distância entre as partículas é suficientemente elevada. Com isto, as
exercem influência na inibição ao movimento das discordâncias pelas discordâncias sob ação de tensões relativamente pequenas podem con-
zonas e no endurecimento com o envelhecimerito. torná-los. Por isto, a influência das fases estáveis geralmente provoca
A decomposição espinoidal em seus diversos estágios tem estru- endurecimentc1 significativamente mais fraco no envelhecimento do que
turas diferenciadas, quanto às regiões coerentes com elevada dispersão e as zonas GP e as partículas das fases metaestáveis.
diferentes concentrações dos componentes, be'm como pela homogenei- Vejamos o papel do tipo de precipitado, com exemplo nas li-
dade de distribuição das mesmas por todo o volume do grão. Por isto, gas Al-Cu. A figura 177 indica as curvas de crescimento das tensões
esta decomposição espinoidal pode garantir grande elevação do limite de de escoamento verdadeiras durante a deformação de cristais da solução
,

410 /. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 411


capítulo 11

sólida supersaturada Al-4% Cu, na qual os envelhecimentos prévios re- torno deles, na matriz, são maiores as tensões elásticas (ver ~ não-
sultaram em precipitados de tipos diferentes: zonas GP, 11 , ' ou correspondência estrutural das redes da matriz e da fase /1 atraves dos
fase . A figura 177 permite comparar os valores da tensão inicial planos (010) e (100), fig. 166). Os precipitados da fase /1 diferenciam-
(crítica) de escoamento (limite de escoamento) com a capacidade do se mais acentuadamente da matriz pela estrutura. Por isto, devem pro-
endurecimento por deformação, que é o crescimento da tensão de es- vocar maior endurecimento com o cruzamento dos mesmos pelas dis-
coamento com a elevação do grau de deformação (pelas inclinações das cordâncias, pois, com isto, destrói-se mais fortemente a disposição dos
curvas). átomos, do que com o cruzamento das zonas GP.
As tensões iniciais de escoamento na liga com precipitados de
gp e" e e fase ' são menores do que na liga com fase 11 , e o endurecimento
por deformação é maior (as curvas de tensões verdadeiras na figura 177
são bastante inclinadas). Isto se explica pelo fato de que as distâncias
entre os precipitados da fase ' eram suficientemente elevadas, e as
discordâncias se movimentam entre elas com tensão menor do que a
necessária para cruzar as partículas. Com o aumento do grau de de-
formação, em torno dos precipitados eleva-se o número de noes de dis-
cordâncias, os quais retêm cada discordância em deslizamento. Estes
noes dificultam a passagem das discordâncias posteriores, o que explica
o 2 4 6 o 2 4 6 80 2 0 crescimento intensivo da resistência à deformação com a elevação do
grau de deformação.
Figura 177. Curvas tensão verdadeira X alongamento verdadeiro, da Observa-se um quadro análogo na liga com precipitados de fase
liga Al-43 Cu, com matriz monocristalina e precipitados de diversos estável. Estes precipitados são completamente incoerentes com a
tipos. (Fain; Birne; Kelle).
matriz (fig. 166), e a distância entre eles é ainda maior (da ordem de 1
µm). Então, a tensão inicial de escoamento (limite de escoamento) na
As ligas com zonas GP e precipitados coerentes da fase /1 liga com fase estável (Cu Alz) é significativamente menor do que nas
diferenciam-se pela elevada tensão inicial de escoamento (limite de es- ligas com zonas GP e precipitados das fases ' e /1 (fig. 177). Já o
coamento) e pelo pequeno valor do endurecimento por precipitação. As coeficiente de endurecimento por deformação (inclinação das curvas) na
inclinações das curvas de tensões verdadeiras da liga com zonas GP e liga com fase é maior do que nas ligas com zonas GP ou fase 11 ,
fase /1 não são grandes. devido ao acúmulo de noes de discordâncias em torno dos precipitados.
Para os monocristais, cujos resultados experimentais estão in- 11.2.3. Influência do tempo e da temperatura de envelhe-
dicados na figura 177, a distância entre os centros das zonas GP e entre cimento nas propriedades mecânicas das ligas. O limite de re-
o
os precipitados de fase 11 , são respectivamente iguais a 150 e 250A sistência, o limite de escoamento e a dureza da liga crescem com a
Se colocarmos as distâncias entre os precipitados na fórmula (39), o elevação do tempo de revenido, atingem um máximo e depois decres-
valor da tensão crítica necessária para movimentar as discordâncias é cem (curvas T2 e T3, fig. 178).
algumas vezes maior do que os valores experimentais da tensão inicial O envelhecimento até atingir o máximo nas propriedades de
de escoamento. Investigações em microscópio eletrônico na liga Al-4 % resistência (parte ascendente das curvas) é designado endurecedor. À
Cu mostraram que as discordâncias não contornam as zonas GP e os direita do máximo (ramo descendente) temos o envelhecimento amolece-
precipitados de fase 11 , mas sim cruzam as mesmas. dor ou sobreenvelhecimento . Este se subentende como amolecimento em
Os precipitados da fase /1 elevam mais fortemente o nível da relação à liga que é submetida ao envelhecimento de tempo menor. Já
tensão de escoamento da liga Al-Cu do que as zonas GP, pois em em comparação com a liga inicial temperada (ponto inicial do eixo das
Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 413!
4\12 /. /. Novikov
capítulo 11

de resistência, na passagem do envelhecimento para o sobreenvelheci-I


mento, pode ser provocada por várias causas. i Uma causa é a elevação!
da distância entre os precipitados anteriormehte formados, devido ao:
coalescimento. Outra causa é a troca de pre~ipitados menos estáveis[
pelos mais estáveis, o que é caracterizado p{jla menor quantidade de'
partículas por unidade de volume da matriz. {\. terceira causa possíve~
do sobreenvelhecimento é a diminuição ou eliminação dos campos de
tensões elásticas na matriz, com a troca dos p~ecipitados coerentes, ini-i
cialmente pelos semicoerentes e depois pelos i~coerentes. '
t~ t2 '
Se a temperatura de envelhecimento for bastante baixa, o su-
Tempo envelhecif'lento
perenvelhecimento não é atingido, e a liga endurece devido à elevação d8j
Figur(l. 178. Esquema de variação das propriedades de resistência, em densidade de zonas GP e o crescimento das mesmas, além do que estes
função da duração do envelhecimento, a várias temperaturas (T1 < processos e os correspondentes endureciment~ desenvolvem-se amorti-i
T2 < T3)· zadamente (curva Ti. fig. 178). Assim se comporta, por exemplo, o du-
ralumínio com envelhecimento na temperatura ambiente. (fig. 179a-b).
otpenadas), o superenvelhecimento da liga pode ser significativamente
mais forte.
O endurecimento com a elevação do tempo de envelhecimento,
nq ramo aséendente das curvas, pode ser provocado por diversas causas.
Eiln primeko lugar, é possível o caso em que, no estágio de envelheci-
m~nto endurecedor, a densidade de precipitados é bastante elevada, o
q~e impede~ as discordâncias de contornarem os precipitados. Então as
d~cordânci~ cruzam os mesmos, com tensão aplicada suficientemente
al~a. O ªllimento das propriedades de resistência com a elevação da
d*ação de envelhecimento é condicionado, nestes casos, ao crescimento
ddr> precipi~ados (em particular das zonas GP), ao aumento da densi-
b
daile de sua distribuição na matriz e ao surgimento de partículas de fases
m*'is estáveis, difíceis de serem cruzadas (por exemplo ' em comple-
m~nto a " nas ligas Al-Cu). Em segundo lugar, é possível o caso em
qur, no estágio endurecedor do envelhecimento, a8 discordâncias contor-
na.fn os preeipitados. Nestes casos, o crescimento das propriedades de
re~istência com o aumento da duração do revenido é condicionado pela
ele~ação da densidade de precipitados com o desenvolvimento da decom- 1o 2 4 8 16 32
po$ição e, correspondentemente, com o crescimento da tensão crítica do Tempo envelhecimento, h

cis~lhamento (fórm. 39).


Figura 179. Variação das propriedades mecâp.ic'.15 de perfis de du-
No:envelhecimento da liga as discordâncias não cruzam os pre- ralumínio D16, em função do tempo de envelhec1mento, a 18, 150 e
cip,itados, mas apenas contornam os mesmos, com tensões menores do 200ºC.
qu~ as necessárias para o cruzamento. A diminuição das propriedades
416 I. I. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 417
capítulo 11

tros fatores. Pode-se apenas dizer que, antes de tudo, o endurecimento


máximo é atingido na liga em que, no interior dos grãos de solução su-
persaturada formaram-se zonas GP e precipitados da fase intermediária
metaestável, ou apenas precipitou-se esta fase (com elevada densidade
de seus precipitados). Por exemplo, no duralumínio D 16 , o endureci-
mento máximo com envelhecimento artificial (160ºC) é conseguido no
estágio de formação de precipitados parcialmente coerentes, de fase S'
intermediária. Na liga B95, o endurecimento máximo com envelheci-
Figura 181. Esquema de variação da dureza da liga envelhecida (H),
em função do tempo de exposição, com temperatura de envelhecimento mento (125ºC) é conseguido também no estágio de precipitação da fase
constante. intermediária M' (tab. 8).
Na liga de alumínio com 4% Cu, com temperatura de enve-
nas quais o envelhecimento é de múltiplos estágios. Em algumas ligas, a lhecimento de 130ºC, o endurecimento máximo corresponde à estrutura
inflexão se transforma em platô. Na figura 182, para a liga Al-4% Cu, com precipitados das fases ' e 11 (fig. 182). Os precipitados coerentes
11 induzem deformações elásticas mais fortes na matriz do que os pre-
mostra-se a variação da dureza em função do tempo de envelhecimento,
na qual participam os precipitados dos três tipos: zonas GP, " e ' cipitados semicoerentes da fase '. Contudo, os precipitados de ' são,
significativamente, mais difíceis de serem cruzados pel.as discordâncias.
Por isto, a existência dos precipitados ' e 11 em determinada
120 relação condiciona a resistência máxima da liga envelhecida. O sobreen-
100 velhecimento da liga de alumínio com 4% Cu na temperatura de 130ºC
pode se relacionar, em primeiro lugar, à diminuição da densidade de
80
precipitados ", os quais são gradualmente trocados pelos precipitados
60 '. Como resultado disto, enfraquecem os campos de tensões elásticas
Tempo envelhecimento,dias na matriz e cresce a distância média entre as partículas. Em segundo
lugar, o superenvelhecimento está relacionado com o coalescimento dos
Figura 182. Variação da dureza Vicker da liga de alumínio com 4% Cu
precipitados '.
em função do tempo de envelhecimento a 130ºC (Sihok, Ri! e Rarde).
Para escolher na prática o regime de temperatura de envelheci-
mento, freqüentemente constrói-se um gráfico de coordenadas resistência
Se a inflexão, o platô ou o mínimo encontram-se no intervalo de x temperatura de envelhecimento (fig. 183). Neste gráfico, sempre exis-
exposições relativamente não-elevadas, nos quais, por qualquer motivo, tem regiões de elevação e diminuição da resistência com o crescimento
o envelhecimento não foi estudado, o estabelecimento experimental da da temperatura de envelhecimento. Ao se analisar estas curvas deve-
variação das propriedades de resistência em função do tempo de envelhe- se entender que os pontos unidos no ramo ascendente (ou descendente)
cimento é descrito pela curva mais simples com um máximo (fig. l 79a). podem relacionar-se a diversos estágios do envelhecimento nas diversas
Nas diversas ligas, e nas diversas temperaturas de envelheci- temperaturas. Por exemplo, com exposição Ti, e com crescimento da
mento de uma liga, o máximo de endurecimento corresponde a vários temperatura de envelhecimento desde Ti até T3, a resistência aumenta
estados estruturais. Sem experiência é impossível predizer qual deve ser, continuamente (fig. 178). Junto com isto, os pontos a e b correspondem
em dada liga, a estrutura concreta que garanta o máximo de endureci- aos estágios de endurecimento por envelhecimento nas temperaturas Ti
mento. A resposta depende de qual o estágio possível de decomposição e T 2 , e o ponto e ao estágio de sobreenvelhecimento na temperatura T3 .
nesta liga para dada temperatura de envelhecimento, qual a estrutura Se o tempo de exposição for igual a t 2 , com o crescimento da tempera-
de precipitados, qual a densidade de precipitados de cada tipo e de ou- tura de envelhecimento desde Ti até T 3, a resistência decresce (pontos e
Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 419
418 /. !. Novikov
capítulo 11

11.3. Influência da composição da liga no envelhecimento.


e j). Além disto, na temperatura Ti a liga encontra-se no estágio de en-
du,recimento por envelhecimento, e nas temperaturas T2 e T3 , no estágio
de sobreenvelhecimento. 11.3.1. Influência da composição nos sistemas binários. Na fi-
gura 184 a linha Amnp mostra, esquematicamente, como o teor do ele-
mento clle liga, na liga binária, influi no crescimento da dureza por en-
e"
·u velhecimento, no regime que garante o máximo de endurecimento. 1 Um
~
,!!! gráfico semelhante pode também caracterizar a ~nfluência da composição
"'
<D
a: no crescimento do limite de resistência ou do limite de escoamento, com
t,_____ _ envelhecimento.
- Temperatura envelhecimento

Figura 183. Esquema da variação da resistência, em função da tempe-


ratura de envelhecimento, com tempo constante.

M. V. Zarrarov, generalizando os dados para ligas de diversas


bases, estabeleceu que a temperatura de envelhecimento para resistência
e dureza máximas consiste de determinada fração da temperatura solídus
(em escala absoluta):
Tenv. = (O, 5 - O, 6) TFusão (40) t
Esta relação empírica não deve ser vista como uma fórmula que Amm -e
permite calcular exatamente, pelo ponto de fusão, a temperatura de en-
velhecimento para o máximo de resistência. Ela permite estimar apenas
Figura 184. Esquema de variação da possibilidade de crescimento
o nível destas temperaturas, como orientação, no caso de comparação de máximo da dureza, com o envelhecimento, em fonção da composição
ligas com pontos solidus fortemente diferenciados e, conseqüentemente, da liga, no sistema de dois componentes. H - diferença de valor da
com mobilidades de difusão basta!1te diferentes para os componentes na dureza das ligas temperada e envelhecida.
mesma temperatura (por exemplo, ligas à base de metais diferentes).
Com a elevação da temperatura de envelhecimento, a resistên- Nas ligas com concentração do componente f3 abaixo de C1 não
cia da liga pode mostrar-se menor do que no estado inicial temperado é possível o envelhecimento, pois nelas é impossível se obter solução
(fig. 183). Este forte sobreenvelhecimento é provocado pelo coalesci- sólida supersaturada (não é possível a têmpera). Em todas as ligas com
mento dos precipitados e pela forte diminuição dos elementos de liga concentração do elemento de liga acima de C1, com a têmpera fixa-se
na matriz. O correspondente tratamento térmico às vezes é designado, uma solução sólida supersaturada, e é possível o envelhecimento. Se es-
imprecisamente, de recozimento, apesar de a essência dos processos aqui tas ligas são submetidas ao envelhecimento com um regime ótimo para
ser a mesma do envelhecimento habitual: decomposição da solução e cada uma delas, garantindo o máximo de endurecimento, é possível es-
coalescimento dos precipitados. perar que com a elevação da concentração do segundo elemento haja um
O alongamento relativo com o endurecimento por envelheci- crescimento de dureza cada vez maior com envelhecimento (região mn).
mento diminui significativamente (fig. 179b), e, com o desenvolvimento
do sobree_nvelhecimento, antes de tudo varia não significativamente, con- 1 A influência da temperatura e do tempo de envelhecimento na resistência máxima
das diversas ligas do mesmo sistema pode diferenciar-se substancialmente.
tinuando a decrescer levemente ou a crescer também levemente.
420 [. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 421
capítulo 11

Este crescimento deve atingir um máximo e depois decrescer gradual- 11.3.2. Influência da compos1çao nos sistemas ternários. Os
mente (região np ). princípios da influência da composição no envelhecimento das ligas dos
Na liga C 3 , em condições mais simples pode-se obter densi- sistemas ternários são, qualitativamente, os mesmos dos sistemas de
dade mais elevada de precipitados do que na liga C2. Isto é devido ao dois componentes. Conhecendo a seção isotérmica na temperatura de
maior supersaturamento da solução sólida. Conseqüentemente, na liga têmpera (linhas contínuas, fig. 185), bem como a uma temperatura mais
C3 pode-se obter maior endurecimento do que na liga C2. baixa, como por exemplo a ambiente (linhas pontilhadas), pode-se pre-
dizer se é possível, em geral, o envelhecimento para qualquer liga que
Teoricamente,o efeito do envelhecimento deve ser máximo na
interesse, e para as ligas da região monofásica onde se deve esperar um
liga C 5 , cuja composição é a do ponto de limite de solubilidade na tem-
grande endurecimento. Por exemplo, a liga 1 não é capaz de envelhecer,
peratura eutética. Já na prática, não é possível obter solução a de
pois na temperatura ambiente encontra-se na região monofásica. As li-
composição C 5 , pois para isto se exigiria temperar a liga exatamente da
gas 2, 3, 6 e 7, cujas composições encontram-se no mesmo patamar, são
temperatura eutética de fusão. A temperatura de têmpera, para evitar
análogos às ligas C 2 , C 3 , C 6 e C1 do sistema binário da figura 184, no
o superaquecirnento, é escolhida abaixo da temperatura solidus. Por
que diz respeito aos efeitos do envelhecimento. ·
isto, a máxima supersaturação da solução e o máximo endurecimento
por envelhecimento são obtidos com concentração do elemento de liga
na solução um pouco à esquerda do ponto limite de solubilidade, corno
por exemplo na liga de composição C4.
A diminuição do endurecimento na região np é explicada pelo
seguinte: nas ligas C6 e C 7 temperadas desde a mesma temperatura, a
solução a possui a mesma composição (ponto r ); conseqüentemente, nes- a+ J3+ 1
tas ligas, a densidade de precipitados na fase a, após o envelhecimento à
mesma temperatura, será a mesma, e o crescimento da dureza da solução
a, em ambas as ligas, deve ser igual. Porém, nas ligas temperadas C6 e
C 7 , além dos cristais primários a, encontra-se também a fase livre /3 do
eutético. Na liga C 7 ela é maior e a fase a menor do que na liga C6 (rs > A
rg). O endurecimento por envelhecimento ocorre como resultado da
decomposição da solução a. Por isto, devido à menor quantidade da Figura 185. Seções isotérrrúcas do sistema ternário na temperatura de
têmpera (linhas cheias) e na temperatura ambiente (linhas pontilha-
solução a, o crescimento de dureza na liga C 7 deve ser menor do que na
das).
liga C6 . Em outras palavras, para o mesmo crescimento da microdureza
dos cristais primários o:, a dureza de toda a liga C 7 com o envelhecimento
cresce mais fracamente devido à maior quantidade de fase f3 lastreada. Na temperatura de têmpera as ligas 2 e 3 estão situadas na
A resistência da liga envelhecida depende do nível inicial, que é região monofásica a e, na temperatura ambiente, na região bifásica a+(J.
a resistência da liga temperada. A resistência da solução a aumenta com Conseqüentemente, elas podem ser temperadas em solução o: supersatu-
o crescimento, na mesma, da concentração do elemento de liga. Por isto, rada e submetidas ao envelhecimento. A supersaturação da solução na
a liga mais próxima, em composição, do ponto limite de solubilidade na 3
liga é maior do que na liga 2, e por isto a liga 3 deve endurecer mais for-
temperatura eutética, possui resistência elevada no estado temperado temente com o envelhecimento (analogia plena com as ligas binárias C2 e
e maior endurecimento com o envelhecimento. Daqui vem a conclusão C 3 , fig. 184). As ligas 6 e 7 também são capazes de endurecer com o enve-
de que a composição da liga envelhecida mais resistente encontra~se, no. lhecimento. Como elas se encontram no mesmo patamar, a composição
diagrama de equilíbrio, mais próxima do ponto limite de solubilidade. da solução a nas mesmas, para a temperatura de aquecimento antes da
/. L Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 423
422
capítulo 11'

têmpera, é igual (ponto r). Porém, o valor do endurecimento com o e orienta o pesquisador para determinada região de fases do diagrama
envelhecimento da liga 7 deve ser menor devido à maior quantidade de de equilíbrio.
fase f3 lastreada, a qual não se dissolve na solução a com o aquecimento
antes da têmpera (analogia plena com as ligas C6 e C7 , fig. 184). 11.3.3. Influência de pequenas adições e impurezas. As adições
As ligas 4, 5 e 8 também podem ser submetidas ao envelheci- especiais e as impurezas ocasionais contidas na liga, em milésimos a
mento. Elas diferem das ligas 2, 3, 6 e 7 pelas fases que precipitam. Na décimos de frações percentuais, às vezes influenciam fortemente na ciné-
liga 4 pode precipitar-se a fase'/', e, nas ligas 5 e 8 as fases /3 e 'Y· tica de decomposição da solução, bem como na estrutura e propriedades
Geralmente, não se consegue predizer em qual região de fases da liga envelhecida.
se localizam as ligas mais resistentes com o envelhecimento, pois, mesmo A influência das adições, relacionadas com a formação direta
se forem conhecidas a composição e as estruturas das fases estáveis, não de nova fase, não será vista adiante, pois tal adição age como um com-
se sabe nada sobre o tipo e a estrutura dos precipitados intermediários ponente normal da liga. Os mecanismos da influência de pequenas
metaestáveis. E estes precipitados, como regra, é que garantem o en- adições podem ser diversos quando não provocam, qualitativamente,
durecimento máximo com o envelhecimento. Como exemplos demons- modificações de fase na liga. A adição pode se caracterizar pela ele-
trativos, podem servir as ligas industriais à base do sistema Al-Zn- vada energia em relação às lacunas, e seus átomos na solução sólida
Mg (tipo 1915). Nestas ligas, de acordo com o diagrama de equilíbrio agem como armadilhas para as lacunas. Esta ação é manifestada pelas
estável, na solução a de alumínio encontra-se um ponto T de confluência adições de Cd, ln, Sn e Be na solução de alumínio-cobre.
tripla {Ah Mg 3 Zn3 ). Com o envelhecimento, que garante elevada re-
Os átomos de impurezas ao se apoderarem de lacunas conduzem
sistência, precipita-se fase r/, que é intermediária entre a solução a e a
à diminuição da participação das mesmas na transferência de átomos do
fase 77(Mg Zn 2 ). Não é possível predizer, por enquanto, um caso seme-
elemento de liga básico (cobre nas ligas AI-Cu) para zonas GP. Pe-
lhante.
quenas adições de Cd, ln, Sn e Be detêm a formação e fortalecimento
Apesar de determinadas limitações, os diagramas de equilíbrio das zonas GP nas ligas Al-Cu, e o endurecimento por envelhecimento é
são bastante valorosos na escolha da composição e do regime de trata-
retardado.
mento térmico da liga envelhecida. Ele indica em que região de com-
posições deve-se procurar a liga para envelhecimento e permite escolher A adição pode se segregar no contorno de separação da matriz
o intervalo de temperaturas de ti'impera (§8.2), bem como o nível da com o precipitado, diminuindo aí a energia superficiall. Assim, na liga
temperatura de envelhecimento para o máximo de resistência (equação Al-43 Cu, no contorno da fase ' com a solução de alumínio 'Y =
40). Ao mesmo tempo, revela para comprovação experimental as com- 1530m din/m2 , e nesta mesma liga com adição de 0,13 Cd r = 250m
posições das ligas próximas ao limite de solubilidade na temperatura de din/m2 . Com a diminuição da energia superficial, de acordo com a
têmpera. Quanto maior a diferença no limite de solubilidade entre as fórmula (24), a energia de formação do embrião crítico decresce, isto é,
temperaturas eutética (peritética) e ambiente (C5 - Ci, fig. 184), tanto cresce a quantidade de precipitados por unidade de volume. Além disto,
maior o endurecimento que se deve esperar com a têmpera e envelheci- a diminuição da barreira energética na nucleação dos precipitados, sob
mento das ligas, pois com a têmpera pode-se obter maior supersaturação ação da adição, pode reduzir o período de incubação. Assim, na liga
da solução sólida. Al-3,53 Cu a 160ºC, o período de incubação para formação da fase '
Se já for conhecido que no sistema triplo A-B-C as ligas da é de~ 3 horas, e a adição de 0,15% Cd diminui o mesmo para rv 1 hora.
região bifásica a+ f3 endurecem fortemente com o envelhecimento, então De acordo com as fórmulas 37 e 38, com a diminuição da ener-
em outro sistema A-B-D as ligas endurecíveis termicamente devem ser gia superficial o coalescimento dos precipitados é retardado. Por exem-
procuradas, antes de tudo, na região de composições onde, da solução plo, pequena adição de cádmio diminui ern 5 ·vezes a velocidade de coa-
a, pode se precipitar a fase {3. Esta aproximação facilita substancial- lescimento de precipitados de fase ' na liga AI-Cu. A inibição do
mente- a busca de ligas de elevado endurecimento com o envelhecimento coalescimento é particularmente valorosa para as ligas termo-resistentes
424 /. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 425
capítulo 11

envelhecidas, nas quais, por este caminho, dificulta-se o amolecimento pequena adição de prata nas ligas Al-Zn-Mg. Sob sua influência, nestas
durante a utilização da peça em temperaturas elevadas. ligas diminuem os precipitados de fase 171 •
Outro efeito importante, na prática, de pequenas adições de A introdução de pequenas adições e o controle do teor de im-
cádmio, é a diminuição da temperatura solvus da fase " nas ligas Al- purezas são os caminhos mais efetivos de condução dos processos de
Cu. Assim, na liga Al-53Cu, a adição de 0,153 Cd diminui a tempera- envelhecimento.
tura solvus da fase 11 , desde ,...., 210 para ,...., 170ºC e, simultaneamente,
acelera a formação da fase '· Como resultado, na lilga com cádmio a 11.4. Escolha do regime de envelhecimento.
170ºC, no lugar de fase /1 precipita-se a fase ', que é mais forte endu-
recedora (com suficiente densidade de seus precipitados). Exatamente
isto condiciona a ação benéfica de pequena adição de cádmio em algumas 11.4.1. Escolha da temperatura e da duração do envelheci-
ligas industriais na base do sistema Al-Cu, para as quais a temperatura mento. Após a avaliação preliminar do nível da temperatura de enve-
do regime industrial de envelhecimento é, como regra, 170-180ºC. lhecimento, através da relação (40), ou por analogia com outras ligas à
base do mesmo metal, escolhe-se experimentalmente o regime de enve-
Desta maneira, a mesma quantidade pequena de adição pode,
lhecimento, construindo gráficos semelhantes aos das figuras 178 e 183.
por vários motivos, influenciar no processo de envelhecimento em vários
Como se sabe, o envelhecimento se subdivide em natural, que
intervalos de temperaturas. A adição de 0,15-0,20 Cd à liga Al-53 Cu,
ocorre na temperatura ambiente, e artificial, que exige aquecimento até
ao deter a formação de zonas GP, retarda e diminui o endurecimento
determinada temperatura.
no envelhecimento natural. Esta mesma adição eleva a densidade de
Na maioria das ligas envelhecíveis, a permanência na tempera-
precipitados de fase ' a 220ºC, aumentando assim o endurecimento.
tura ambiente após a têmpera não produz as mudanças de propriedades
Finalmente, esta mesma adição na temperatura de envelhecimento de
necessárias para que possam ser utilizadas na prática. As propriedades
liga 170ºC conduz à substituição da fase ", menos efetiva como endu-
mecânicas das ligas temperadas de cobre, níquel e muitas outras, geral-
recedora, pela fase ' que é mais efetiva.
mente não variam na temperatura ambiente, pois ela é demasiadamente
Outro mecanismo de influência de pequena adição está rela- baixa para o desenvolvimento suficiente dos processos de difusão nas
cionado à sua inclusão na composição das zonas GP e nas zonas de mesmas.
estabilização. Inclusões de 0,253 Si na liga AKY-1 (sistema Al-Cu- Nas ligas de alumínio (duralumínio e outras), a formação das
Mg-Fe-Ni) elevam a densidade de precipitados da fase S', e diminuem zonas GP com o envelhecimento natural conduz a um forte endureci-
estes precipitados a 190ºC, aumentando com isto a própria resistência mento, amplamente utilizado na indústria.
da liga. Supõe-se que os átomos de silício entram na composição das O efeito de envelhecimento natural e artificial caracteriza as
zonas GP e produzem zonas estáveis até temperaturas mais elevadas, condições de suas ocorrências. Porem, por si só, não determina o caráter
de tal modo que é nelas, e não nas discordâncias, que nucleia a fase S' a das modificações estruturais na transformação da solução sólida. Ex-
190ºC. Como a densidade de distribuição das zonas GP, que nucleiam cluindo as ligas de fusão fácil, nas quais o envelhecimento natural ocorre
homogeneamente, é muito elevada, a densidade de precipitados da fase em elevada temperatura homóloga (para as ligas de chumbo-aproxima-
S' apresenta-se elevada. damente 0,5 TF ), o que conduz à decomposição, pode-se considerar
A concentração dos átomos de pequena adição na fase que se que, na maioria das ligas, o envelhecimento natural conduz apenas à
precipita pode diminuir sua energia volumétrica de Gibbs, o que diminui formação de clusteres. Ao mesmo tempo, com o envelhecimento ar-
a energia de formação do embrião crítico e aumenta a densidade de tificial, dependendo da temperatura e da duração, a decomposição da
precipitados (com o deslocamento, para baixo, da curva G 13 na figura solução permanece no estágio de zonas ou no estágio de precipitação de
151, eleva-se a diferença de energia de Gibbs G 1 - G 2 , que é o estímulo · fases intermediárias, ou vai até o coalescimento de precipitados da fase
termodinâmico da transformação). É possível que, desta maneira, atue a estável. .
/. l. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 427
426
capítulo 11

LN. Fridliander propôs, paralefarnente ao conceito de envelhe- Tabela 9. Regimes de envelhecimento e propriedades da liga Al9
cimento natural e artificial, o conceito de envelhecimento de zona e de
fase. O envelhecimento de zona das ligas de alumínio pode ser natural Variedades de Designação Temperatura Exposição CTR cro,2 6%
ou artificial e termina no estágio de formação das zonas GP. O en- envelhecimento do regime aquecimento ºC em horas MPa MPa
velhecimento de fase das ligas de alumínio, como regra, é artificial. A Sem têmpera prévia T1 170-180 5-17 170 .140 2
Incompleto T5 145 -155 1-3 230 170 4
exceção é para a exposição de muitos anos na temperatura ambiente, Completo T5 195 - 205 2-5 240 210 2
das ligas na base do sistema Al--Zn-Mg. O importante, na prática, é Estabilizador T1 215 - 230 3-6 190 140 4,5
que a liga, após os envelhecimentos de zona e de fase, caracteriza-se por
propriedades complexas e diferentes. Na escolha do regime ótimo de envelhecimento, corn freqüência
São características para o envelhecimento de zona das ligas de a exigência é a necessidade de conseguir o máximo de resistência. Po-
alumínio o grande alongamento relativo (8 > 10 - 153), a significa- rém, para muitas peças, o critério de regime ótimo de envelhecimento
tiva diferença entre o limite de resistência e o limite de escoamento não é a resistência máxima, mas a combinação de diversas propriedades.
(ao,2/aR =O, 7 - O, 8), a elevada resistência ao choque e a resistência à Dependendo do regime, das variações estruturais e da obtenção
corrosão sob tensão. O envelhecimento de zona é apenas endurecedor. de urn conjunto de propriedades, o envelhecimento artificial pode ser
O endurecimento de fase pode ser endurecedor e amolecedor subdividido ern completo, incompleto, sobreenvelhecirnento e envelheci-
(sobreenvelhecirnento). 2 Para o envelhecimento de fase endurecedor são mento de estabilização (que correspondem aos regimes e propriedades
características a diminuição do alongamento relativo, a pequena dife- indicados na tab. 9 para lingote da liga AL9 de alumínio).
rença entre o limite de resistência e o limite de escoamento (CTo,2/CTR = O envelhecimento artificial completo é• conduzido a tal tempe-
O, 8 - O, 95), a diminuição da tenacidade e a diminuição da resistência à ratura e tal duração que garante a obtenção de resistência máxima.
corrosão sob tensão.
O envelhecimento artificial incompleto é urn envelhecimento
A subdivisão ern envelhecimento de zona e de fase é signifi- corn exposição mais curta ou corn temperatura rnais baixa do que o
cativamente casual. Ern primeiro lugar, é casual a própria subdivisão
completo. Seu objetivo é elevar a resistência com conservação suficiente
de precipitação em zonas GP e em fases interrnPdiárias (§11.2), o que da dutilidade. Os regimes de envelhecimento incompleto correspondem
encontrou atração na denominação dupla de zonas GP2 e fase ". Em aos ramos ascendentes das curvas nas figuras 178 e 183. Alguma perda
segundo lugar, com a decomposição da solução, as zonas GP são gradual-
na possibilidade de crescimento da resistência é compensada pela menor
mente substituídas por precipitados das fases wtumediárias, e podem
diminuição da dutilidade.
conviver muito tempo com estes precipitados (fig. 182). Em terceiro lu-
gar, us momentos do surgimento das fases intermediárias ou da completa
O sobreenvelhecimento é urn envelhecimento corn temperatura
mais elevada ou com maior exposição do que o completo. Seu objetivo
eliminação das zonas GP podem não se refletir nas curvas de variação
é obter a combinação de maiores resistência, plasticidade e resistência à
das propriedades.
corrosão, bem corno melhor condutividade elétrica e outras propriedades.
Sem uma investigação direta das estruturas, medindo apenas
Os regimes de sobreenvelhecimento correspondem aos ramos descenden-
as propriedades, não se pode dizer com certeza com quais estados es-
tes das curvas nas figuras 178 e 183. Ern comparação com o envelhe-
truturais estamos lidando. Contudo, a subdivisão em envelhecimento de
cimento incompleto, o sobreenvelhecirnento, para a mesma resistência,
zona e de fase, não lewmdo em consideração sua condicionalidade, é útil.
garante maior grau de decomposição da solução sólida e coalescimento
Isto porque permite se orientar na escolha do regime de envelhecimento
dos precipitados, o que permite, corn freqüência, se combinar o conjunto
para obtenção de determinadas propriedades complexas.
exigido de diversas propriedades.
2O superenvelhecimento no estágio de coalescimento dos precipitados pode ser de- O envelhecimento de estabilização é uma variedade de sobreen-
nominado envelhecimento de coalescimento. velhecimento, cujo objetivo é a estabilização das propriedades e das di-
428 1. 1. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 429
capítulo 11

mensões da peça. formar uma maior quantidade de núcleos de precipitação no degrau de


As ligas resistentes ao calor, pré destinadas a uma prolongada temperatura mais baixa, quando é elevada a supersaturação da solução
utilização, geralmente são submetidas a um envelhecimento com tempe- sólida (na figura 152 o grau de supersaturação C 0 /C 1 cresce com adi-
ratura superior à de trabalho. Caso contrário, durante a utilização da minuição da temperatura T1). Posteriormente, no degrau de tempera-
peça ocorrerá na mesma uma ativa modificação de estrutura, que con- tura elevada, obtém-se o grau necessário de decomposição da solução e
duz ao amolecimento e instabilidade das propriedades da peça. Muito o tamanho ótimo dos precipitados. Como resultado, consegue-se uma
freqüentemente, o tratamento térmico das ligas termo-resistentes é rea- densidade mais elevada e uma distribuição mais homogênea dos precipi-
lizado no regime de ·sobreenvelhecimento. tados, do que é possível com o envelhecimento de apenas um degrau e
Deve~se escolher o regime de envelhecimento considerando as
com temperatura elevada.
condições da têmpera. Com o aumento da temperatura de aquecimento Suponhamos que pelas condições de utilização seja necessário
antes da têmpera, na região monofásica (acima de To na liga Co da figura ter uma liga envelhecida artificialmente e com precipitados de fase inter-
106), o envelhecimento é acelerado, devido à elevação da concentração mediária. Se esta fase, na temperatura ótima de envelhecimento, nucleia
de lacunas de têmpera, a qual entra como multiplicador exponencial heterogeneamente nas discordâncias, contornos de grãos e subgrãos, a
na expressão 25 para a velocidade de nucleação da nova fase. Desta densidade de seus precipitados é significativamente pequena. Se ela for
maneira, a curva-C de decomposição da solução na figura 171, com a capaz de nuclear nas zonas GP, então um envelhecimento prévio etn
elevação da temperatura de têmpera, desloca-se para a esquerda. Além temperatura mais baixa, entre as quais a temperatura ambiente, pode
disto, este deslocamento é maior na região de baixa temperatura, onde elevar bruscamente a densidade de precipitados da fase intermediária e
o papel das lacunas de têmpera é particularmente elevado. diminuir a mesma no degrau de envelhecimento na temperatura elevada.
Algumas ligas são submetidas a envelhecimento sem aqueci- Um exemplo são as ligas à base do sistema Al-Zn-Mg (tipo 1915), cu-
mento especial da têmpera. Nestes casos, a supersaturação da solução é jos envelhecimentos a 150-175ºC garantem a elevação da resistência à
conseguida com a aceleração do resfriamento desde a temperatura final corrosão. Nestas ligas as zonas GP formam-se no degrau de baixa tem-
de solidificação do lingote ou do tratamento de deformação a quente. O peratura (lOOºC), as quais elevam a densidade de precipitados da fase
endurecimento aqui obtido não atinge o máximo de possibilidade para ri' (tab. 8) no degrau de envelhecimento à temperatura elevada {175ºC),
dada liga, devido à menor supersaturação da solução sólida3 . Porém 0 e como resultado do envelhecimento duplo consegue-se a combinação de
efeito econômico (exclusão da operação de têmpera) faz com que e~te resistência elevada e resistência à corrosão sob tensão. Aqui o papel do
envelhecimento seja útil para uma série de peças. Para ligas isoladas, degrau de envelhecimento à baixa temperatura pode ser cumprido pelo
como por exemplo para a liga ML12 do sistema Mg-Zn-Zr o envelhe- envelhecimento natural durante um mês. Porém, é mais efetivo realizar
cimento do lingote sem um aquecimento especial antes da ~êmpera é 0 o primeiro degrau a lOOºC durante 10-20 horas.
meio básico de tratamento térmico. Outro exemplo de envelhecimento duplo é o da liga B95. Se
A velocidade de resfriamento após o envelhecimento não influi esta liga ;or submetida a envelhecimento de zona de um degrau, para
nas pr?priedades da liga. Habitualmente, as peças são resfriadas ao ar, resistência máxima pelo regime T 1 (120ºC, 24 horas), a resistência à
a partir da temperatura de envelhecimento. corrosão revela-se diminuída. Já o envelhecimento duplo pelo regime T 3
(115ºC, 5 horas+ 165ºC, 25 horas) com urna resistência de escoamento
~~·~·2· Envelhecimento por degraus. O envelhecimento que ocorre
um pouco menor, garante elevada resistência ao a.gretamento por cor-
m1c1almente com exposição a uma temperatura e posteriormente a outra
rosão e à esfoliação por corrosão, bem como uma simultânea tenacidade
temperatura, é den_om~nado envelhecimento por degraus. Como regra, a
elevada. No primeiro degrau formam-se as zonas GP, que possibilitam,
temperatura do pnme1ro degrau é escolhida abaixo da temperatura do
no segundo degrau, a nucleação de uma grande quantidade de precipi-
segundo. O objetivo básico do envelhecimento de dois degraus (duplo) é
tados de fase M'. Além disto, precipita-se a fase estável M (Mg, Cu)
3 Ver o regime T1 na tabela 9. Zn 2 , e ocorre coalescirnento parcial dos precipitados.
Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 431
l. l. Novikov
capítulo 11

A proposição de algumas possibilidades de prevenir a dimi-


Nas condições de fabricação das peças nem sempre é possível
nuição de propriedades das ligas envelhecidas artificialmente é condicio-
a colocação imediata no forno, logo após a têmpera, para proceder ao
nada à permanência após a têmpera. A primeira possibilidade, que é
envelhecimento artificial, isto é, entre a têmpera e o envelhecimento
a mai~ simples, porém nem sempre utilizável, é a limitação do tempo
artificial é inevitável um intervalo, que às vezes é bastante longo. Con-
de permanência, com o armazenamento da peça após a têmpera em
seqüentemente, 0 envelhecimento natural gerahnente precede o artificial,
temperatura menor (no gelo). Outra possibilidade é o curto tempo (1:
mesmo que não tenha sido especialmente planificado. O envelhecimento
3 min) de aquecimento intermediário das peças das ligas tipo avial, ate
artificial de fato torna-se o degrau de elevada temperatura de envelhe-
,...., 250ºC, antes do envelhecimento final a 160-170ºC. Durante este aque-
cimento duplo(; envelhecimento natural não-planificado é denominado
cimento, as zonas GP que se formaram no envelhecimento natural são
permanência após a têmpera). Por isto, as leis do envelhecimento por
completamente solubilizadas, e a liga apresenta-se no estado análogo ao
degraus representam um interesse mais amplo do que pode parecer à
recém-temperado (tratamento de restauração no §11.6). A possibilidade
primeira vista. Estas leis são bastante complexas, e com freqüência não
mais efetiva é a introdução de pequenas adições que detêm o envelheci-
correspondem ao esquema simples, d.escrito acima, da influência benéfica
mento natural.
do pré-envelhecimento.
A diminuição das propriedades devido à permanência após têm-
Vejamos o caso importante, na prátiqa, do papel do envelheci- pera não é característica apenas das ligas Al-Mg-Si. Ela é observada
mento natural, com base no exemplo de ligas do sistema Al-Mg-Si, que também nas ligas envelhecidas de outros sistemas. No próprio sistema
se encontram na seção Al-Mg2 Si ou próxima dela (ligas do tipo avial). Al-Mg-Si é maléfica a influência da permanência, nas propriedades da
Nestas ligas formam-se durante o envelhecimej:lto natural zonas de GP liga contendo não menos de ,...., 13 Mg 2 Si. Na liga com 0,83 Mg2 Si,
acirculares, ricas em magnésio e silício, e com o envelhecimento natu- o preenvelhecimento no ambiente não diminui, mas sim aumenta a re-
ral (l 70ºC) forma-se a fase metaestável [J' (tab. 8). O endurecimento sistência, no estado de envelhecimento artificial. Isto se explica pelo
máximo é alcançado com o envelhecimento artificial. fato de que, devido à menor quantidade de Mg e Si e, correspondente-
Há muito é sabido que o intervalo entre a têmpera e o envelhe- mente, devido à menor supersaturação da solução sólida na liga recém-
cimento artificial das ligas do tipo avial diminui· sua resistência no estado temperada com 0,83 Mg2 Si, a fase f3 nucleia a l 70ºC apenas hetero-
envelhecido artificialmente. Uma das explicações da influência maléfica geneamente, nas discordâncias, e obtém-se uma estrutura grosseira. O
do envelhecimento natural leva ao seguinte: com a formação das zonas pre-envelhecimento ambiente, ao formar zonas GP, que são cen~ros de
GP durante o envelhecimento natural, a solução matriz em torno delas nucleação de fase {3', refina a estrutura da liga com 0,83 Mg2 S1 enve-
se empobrece dos elementos da liga. Com o aquecimento até a tempe- lhecida artificialmente, e produz uma distribuição mais homogênea das
ratura de envelhecimento artificial, o grau de S\J.persaturação da solução partículas desta fase.
diminui ainda mais, pois cresce a solubilidade de equilíbrio ( C1 na fi- Desta maneira, o envelhecimento por degraus, dependendo da
gura 152). A cada grande supersaturação corresponde sua possibilidade composição da liga e das temperaturas dos degraus, pode ser benéfico
mínima de tamanho de precipitados (entre eles as zonas GP). Com a ou prejudicial.
diminuição da supersaturação, este tamanho cresce. Com o aquecimento
Se as zonas GP não influem no caráter da precipitação da fase
da liga envelhecida naturalmente, até a temperatura do envelhecimento
metaestável, o envelhecimento de zona não se manifesta. no postcricr i.?n-
artificial, as pequenas zonas GP se solubilizam, e apenas as maiores
velhecimento de fase. Por exemplo, as propriedades do durnlmnínio DI6
servem como centros de nucleação da fase (3', e a estrutura obtida é
após envelhecimento artificial (de fase) não dependem da duraç~ do i~1-
grosseira. Mas, se após a têmpera, a liga for imediatamente submetida
tervalo entre a têmpera e o envelhecimento, não levando em cons1deraçao
ao envelhecimento artificial, no seu período inicial a supersaturação da
que a permanência na temperatura ambiente conduz ao desenvolvimento
solução será elevada, e nela nucleia, homogeneamente, maior quantidade
de precipitados menores de fase {3'. de envelhecimento de zona.
43..:2:___ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _1._J_._M-:-o_v-,-ikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 433
capítulo 11

J\.o papel·· fü> pre-envelhecimento relaciona-se estreitamente a


Tabela 10. Crescimento da resistência ao escoamento .e
questão do papel da velócidade de aquecimento no envelhecimento de um do limite de escoamento, de ligas industriais, como re-
degrau. Getà1.ÍIÍeI1te nã? se presta atenção na velocidade de aquecimento sultado de envelhecimento completo.
até' a temperatura de .envelhecimento. .Contudo, os estágios iniciais da
decomposiçfu> éórn ·aquecimento lento. podem inHuir. nas propriedades Metal Marca da. ÂTfü % Âro,2,% ro,2/TR
dá 'ligâ!'éhv~llfü'ciâa. '<Assim,·· por exemplo, o aquecimef1to lef1to até a base · liga
1c--~-----:--"'."""
Após Após
temliêratúr{{idê· erivelli~cimento .• de'' algumas .. ligas .de. alumfüio permite Têmpera Revenido

alguma:.·. 'e.léV8ç·'····.·.ao"" Ti BT22 72 80 0,\)3


, ' " ' f" "" ~ . .•. ·. ª.·.e... s_·
't ·! • (Y" i · 1 ;
. .· .· ~··.·as··.··.·
;.· !'
.u . . ·. e. siStêndas
·.r.
; · ·, .•. '· ·
....··. ·.. ·. .
; ·,. , , - ' ,_
.. . · Cú BpB2 160
. :AdU)á.'f~i.disc.utido.o envelbecimen.to duplo,·110 qual o,primeiro Al Dl6 50 80 0',73
de~r~u ~e..d~".'ª a b~ix~ teinperat~rà.. É incqmparavelmente mais ràra a 1915
AL9
70
20
170
·90
0,50
0;55
uti~izru;~ ~é urn enyelhecimento inici~l com temperatura alta e ttm pos- Mg ML5 2 40 0,34.
terior com. téÍiiperatu~a mais baixa. Um interessante exemplo deste tra-
tamento térmico é o envelhecimento da niminic EI437B (sistema Ni-Cr-
contra em equilrbrio com. as .partículas de pequeno raio é .maior. que a
Al-'l'i):' Cbfu'~' ênvêlhec1rriento ·dêsta liga,. à partir da miltriz de solução
cóncentração da solução no contorno com partículas maiores. Durante
de níqúefcoiiitede n,F.C. precipifa-se fase, coerente 1' ,de comp~sição
o envelhecimento prévio a 850ºC, precipitam-se partícul~ da fase 7' de
Nia (Al 'Ti)\' 'que 'tamoornpossui rede C.F:C·. A impqrt~te. partic~lari­ o .' '· --~·--- -- '

dade ~~'\fgá!:consiste. no fato d,e qu~ o endurec;,fo1ento pot •envelhecime.11t9 tamanho. reli:ttiva:mente maior {"" 20A), e com o epvylhecimento posterior
Cl"esce co§)à:enifiiç§;)'dcheor volUmétrico da fase 1' e praticamente .não a7ÓOºC a decomposição. complementar.se ci;i às,cust~. c;lq crescimept9
déperide' d.fr 'tàma:i1!:iC> d.e seús precipitados para um amplo diapa8ão de destas partíc~las. ·Nos contornos das mesmas, a concentração da solução
a
dilliefrsões'. Eiit rel~,ão isto,• para. alcançar. o·. endurecimento maximo, é é menor,. e a correspondente supersaturação.é maior;. do que no caso de
necessário 'proc~rar ooter precipitados com maior quantidade possível de precipitação de partículas muito dispersas com o envelhecünento ~~ico.
fase t ·qMntó rnen?r a temperatura de envelhecimento, tanto menor o Com isto, garante-se a grande economia de tempo na decompos1çao a
lirnitede'~hibiÜd~edos elementos de ligana~olução de níquel e,.con- 700ºG, q qual, é uma orde,m (!) .de grandeza m~1wr_ q~e.o tempo par~
sequentehleht~,'Iíla19rdéve.ser aprecipitação de,fas,e 7' ..,.Assim, a 700ºC conseguir· a mesma quantidade volum,étrica de. prec1p1ta~os da fase I
pode~SEi Õbt~{á~roximadâJnente 15% (em volume) de fase 1', ~ a 850ºC éom eµvelhecime.nto únicp. Esta possibilidade deaceler~çao d.o envelhe,-
apenas ~!?ó=·· (}ontudo,pàfâse obter. o endurecimento . máximo a 700ºC, cimento. não é utilizada par a a$.. ligas cujos regimes de, ervelhec;imento s~o
ci:méspôndéiité á 15o/O.:(em Volume.de fasé·1'),··são neces~árias exposições escolhidos através da consideração de se obter umadi~persão limitada,-
que duram algumas centenas de horas. Já se a nimonic inicialmente é mente elevada bem como uma limitação na densidade deprecipitados.
exposta duas horas a:850ºC, então o envelhecimento posterior a 700ºC Os v~lores .de crescimento das propriedades de, resistência das
durante apenas dez horas garante a precipitru;ão ,....., 15% (em volume) ligas industÜàis envelhecidas podem s.er julgados pelos dados da_ ta-
de fase 1'. Desta maneira, o envelhecimento duplo 850 + 700ºC, com bela 10. Nela .as difere~ças entre os valores das. propried<J.des das ligas
uma exposição total de aproximadamente doze horas, produz o mesmo envelhecidas e temperadas são relacionadas aos valores das propriedades
. ternperad:. a 1n1c1a ' ~e" ~ol~,.,~cT'r': e.o "OS ""DG';rn.Oc: do
. .. i·. ·~r),.,"' C:.aüc.!v
efeito que o envelhecimento único a 700ºC durante algumas centenas de da liga i e. e '"Li-;'"· cc ''o'·<>''-'U
i v

horas. cimento para enclnrecirnen.to DJ.rixirno.


O papel da exposição prévia em alta temperatura resume-se () lirnite df~ escoaxncr:t·~.o cJ.eva-·~_;;.: 1naj~:; fortcr.n.ente corn err=,re-·
no seguinte. Ao 700ºC precipitam-se partículas dispersas de fase r' (de lhecimento do que o limite de resistência, e a relação Jo,2/aR creses. Este
é um quadro típico do envelhecimento artificial completo.
dimensões de A), que coalescem muito lentamente. De acordo com a
O bronze de berílio e a liga 1915 de alumínio, à base dos sis-
equação de Tohmson-Freidel (32), a concentração da solução que se en-
temas Al-Zn-Mg, endurecem fortemente com o envelhecimento, e a liga
434 !. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 435
capítulo 11

ML5 de magnésio endurece fracamente (por isto a liga ML5 é mais a carga é aplicada na mesma direção que tinha durante o envelheci-
freqüentemente utilizada no estado temperado). mento.
As ligas que endurecem com o envelhecimento são denominadas
endurecidas termicamente, endu11ecidas por dispersão ou enriquecidas. O 11.5. Recuperação após o envelhecimento.
tratamento térmico das ligas endurecíveis é uma das principais tarefas
da metalurgia física.
O fenômeno de recuperação após o envelhecimento5 foi desco-
11.4.3. Envelhecimento sob tensão 4 • Nos últimos anos foi mos- berto no duralumínio. Se o duralumínio envelhecido naturalmente é
trado que a carga, aplicada no período de envelhecimento, pode melho- aquecido até temperatura. aproximada de 220ºC, exposto durante 20-
rar substancialmente algumas propriedades de utilização das ligas. Isto 60 segundos e resfriado rapidamente, suas propriedades retornam aos
acontece principalmente para as características de resistência às peque- valores característicos do estado recém-temperado.
nas e às microdeformações plásticas (os limites de proporcionalidade e de A essência do fenômeno de recuperação consiste em que as zo-
elasticidade e resistência à relaxação), com a resistência ao escoamento nas G p, que surgem com o envelhecimento natural, solubilizadas com o
e o alongamento relativo praticamente constantes. A melhoria indicada
aquecimento da liga acima de suas temperaturas solvus (acima de ~ap,
das propriedades é utilizada na preparação de elementos elásticos, como
porém abaixo de Tf3, para a liga C 0 da figura 169), e as fases metaestav~is
por exemplo membranas de bronze de berílio. e estaveis não conseguem se formar devido à curta exposição. O resfria-
Com o crescimento da carga aplicada, .o efeito conseguido é mento rápido fixa a solução sólida supersaturada. A. temperatura de
maior. Contudo, devido ao desenvolvimento de deslizamepto plástico trabalho do duralumínio na recuperação (250ºC) está longe da tempe-
(fluência) no período do envelhecimento, pode surgir uma modificação ratura de aquecimento antes da têmpera (rv 500ºC), necessária para a
indesejável na configuração da peça. Para: evitar isto e, simultanea- solubilização das fases estáveis.
mente, atingir o efeito máximo de melhoria das propriedades, pode-se . Após o trabalho de recuperação, o duralumínio é capaz de en-
utilizar um carregamento gradual programado à medida que endurece durecer com envelhecimento natural. A repetição do tratamento de re-
a liga durante o envelhecimento. Por exemplo, no bronze de berílio cuperação amolece novamente a liga, e assim por d!ante (fig. 186). A
BpBHT 19Mg, após o envelhecimento normal a 340ºC por quatro horas, cada aquecimento até a temperatura de recuperaçao, sempre se con-
o limite de elasticidade é de <To oos = 730 MPa, e, após envelhecimento
com elevação gradual da tensifu a cada hora (com sua manutenção no
segue, em pequeno grau, provocar envelhecimento irreversível ?e
fase
(particularmente nos contornos de grão). Por isto, com cada ciclo, as
nível 0,65 <To,2), <To,oos = 950 MPa. propriedades afastam-se um pouco daquelas da liga ~e~éi;i-tempe!a~a.
As variedades destes tratamentos térmicos são o envelhecimen- Particularmente, fortalece-se a inclinação do duralumm10 a corrosao m-
to complementar sob tensão, após o envelhecimento sem carga de tensão, tercristalina.
e o envelhecimento duplo com carga de tensão em um de seus degraus. O tratamento de recuperação deve ser utilizado quando se exige
A melhoria das propriedades do bronze de berílio, como re- restabelecer a dutilidade do duralumínio em flexão e rebordeamento,
sultado do envelhecimento sob tensão, pode ser explicada pelo fato de entre outros e a retêmpera é indesejável devido ao empenamento. A
que se precipitam principalmente aquelas partículas de fase 1' (tab. 8), insuficiência'iógica básica do tratamento de recuperação é a necessidade
cujos planos de hábito são paralelos ao eixo de aplicação da carga ou de controle rigoroso (com precisão de até 10 segundos) do tempo de
mantêm com ele um pequeno ângulo (§11.2, item 2). Com isto eleva-se a exposição da peça em banho salitroso. Se esta exposição for mai~ curta
densidade de distribuição das partículas, ao longo do eixo de tensão, du- que a ótima, nem todas as zonas GP se solubilizam, e o amolec1me~to
rante o envelhecimento. No processo de utilização do elemento elástico, não será completo. Com sobreexposição, o endurecimento ocorre devido

4 também denominado envelhecimento dinâmico 5 Não se deve confundir com a recuperação após a deformação a frio.
Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 437
436 I. /. Novikov
capítulo 11

solvus das zonas GP, mostrada na figura 170, não é a solvus efetiva,
pois ela indica a temperatura de solubilização das zonas formadas du-
rante 10 dias no envelhecimento natural. A verdadeira linha solvus das
zonas GP no sistema AI-Cu deve estar acima da delineada na figura 170.
Por exemplo, na liga Al-4% Cu, a temperatura máxima de existência
das zonas GP é igual a"' 275ºC, e não 180ºC.
23i56 0123456 A recuperação pode ser observada nãü apenas após o enve-
•. OI 23456
lhecimento com a formaçãó das zonas GP, e não apenas nas ligas de
.DuraçOo ooenl/elhecimenfo, dias .
alumínio. O tratamento de recuperaçãü, em princípio, pode solubilizar
as zonas GP e os precipitados de fases metaestáveis nas ligas de diversos
figura.186, Váriação da tensão. de. escoàffiento do dúralt1mín.io çom
o envelhecimento natural. e .tratamento duplo d{). restauração após. o sistemas. Para cada liga e cada regime de envelhecimento é necessário
envelhecimento (D. A. Petrov). .· · levantar sua temperatura (Tr) e tempo de exposiçãü (tr) para o tra-
tamento de recuperação. Por exemplo, para duralumínio envelhecido
aü irlÍ~i() c16 ehi~iheciill~nto def<lS~. Pcir éstasr3:fões, e ta~béríl d~viclo à naturalmente, recomenda-se os seguintes regimes:
dirr1inu~ção ?e re,sistência à corrosãü,. a .recuperação ap 0s e,nvelhe,cimento
Dl D16 D19
dC>s duralúrníl1ios nãü encontra utiliia,çfül· ' •.. >> ·.·. '' < •• • •. 240-250 265-275 270-280
TrºC
. ·•. .·. O..feI1Õilleno1à recuperaçâD ~esempe,11ha um. i~ran?e pape,1 na tr, seg 20-45 15-30 10-5
teor.ia, do envelhecimento .•Istü por~ue permite à~;tliar ·~·. estabilidade d~
zoI1as GP, oBtiêlas em diÍe,rentes condições de 'énvelhecím~nto, e também
permite determinar a temperatura de solubiliz~çãó das mesmas.
j\temperatura de aquecime,nto para recuperaçaocompleta elas
proprie?;tdes (tempe,ratura de solubilizaçâD das... zonas. GP), .no caso ge-
r;al, /1~0 (c9µsta11te PâÍ'ª ?ª?ª liga......• Ela .depépde, da e,sta~ilid~de da8
füI1as.é' ~os •. yalores d~teII11Jerat~rª. e'tempo.de. formação àas.II1ésmas.
Quanto ni~iof a dur'aÇão 'do eµ~elhécimerito.a. bai~a •. teillperatura, ll1aís
fo.rtese e~Hyeisas z?ólli> ,GP, elli~ior,deve, .• ser a temperatura de aque~
cirneµto pa;f ~ .lt cornpfot~. solubiliz11;çãD delas. ·.Esta. temper~tura. crítica
de i~cuperação. { carafterísticá. de fada. liga envelheci.da à de,tenninadp,
temperatura; e cresce com a elevaç~ da temperat~;â de envelh~cimenfo,
devido à elevaçãü da .estabilidade das zonas de. GP. O limite máxiillo
póssívêlde té'mperatlira, até a qual ~ zonas GP makestftveis podem
subsistir, corresponde ao ponto dei curva soivus das zonas 116 diagrama
de equilíbrio metaestável (fig. 169).
Do exposto, conclui-se que é impossível determL;.::;, "·
tura solvus das zonas GP, aquecendo, por exemplo, a liga envelhecida
naturalmente. Nestas experiências não se determina o limite máximo
possível de temperatura na qualsubsistem as zonas GP em dada liga,
mas sim alguma temperatura abaixo da solubiÚzação das zonas que se
formaram em determinado tempo na temperatura ambiente. A linha
Revenido
capítulo 12

O revenido é um tratamento térmico da liga (ou metal} tempe-


rada em martensita, no qual os processos principais são a decomposição
e (ou) a recuperação e recristalização da martensita.
Adiante veremos apenas os processos de revenido dos aços, pois
eles constituem a esmagadora maioria das ligas industriais temperáveis
em martensita. Apesar da multiplicidade de investigações do revenido
com ampla participação de análise de raios-X, microscopia eletrõnica
e medidas de diversas propriedades físicas, até hoje são discutíveis as
análises dos principais processos em separado, que ocorrem durante o
revenido dos aços. As causas disto são as múltiplas variações estrutu-
rais que ocorrem paralelamente, a elevada dispersão das partículas nos
estágios iniciais do revenido e a dificuldade em decifrar as estruturas dos
precipitados.
A estrutura do aço temperado é metaestável. Com o aqueci-
mento após a têmpera, em conseqüência do aumento da mobilidade dos
átomos, formam-se as condições para os processos de modificação da es-
trutura do aço, na direção de um estado de maior equilíbrio. O caráter
destes processos é determinado por três importantes particularidades da
estrutura do aço temperado: solução sólida fortemente supersaturada
que é a martensita; elevação da densidade, na martensita, dos defeitos
cristalinos da rede, que são as discordâncias; contornos de pequenos e de
alto ângulo; camadas intermediárias duplas; e a existência, em muitos
aços, de quantidades significativas de austenita residual.
A decomposição da martensita com precipitação de carbonetos
é o principal processo de revenido dos aços. Os princípios da decom-
posição da martensita são, em muito, parecidos com os princípios da de-
composição da solução supersaturada durante o envelhecimento das ligas
440 !. !. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 441
capítulo 12

que foram submetidas à têmpera sem transformação polimórfica. De- a elevação do teor de carbono na austenifa cresce a supersaturação da
pendendo da temperatura e da duração do revenido, a decomposição da solução a, decresce a temperatura Mi, ocorre a passagem da martensita
martensita ocorre através dos estágios de pré-precipitação, precipitação em forma de plaquetas (massiva) para a inartensitaetn forma de agulhas
de carbonetos intermediários metaestáveis, precipitação da cementita e e cresce a quantidade de aústertita residúal. Tudo isso reflete-se nos
coalescimento. processos do revenido.
As variações estruturais com o revenido podem se tornar com- A Segregaçâo de cdrbono nd~ c'ríSfais. de
tn'àrtensita'é a pri~
plexas com a decomposição da austenita residual. meira modificação estrutural durànte .ó. re\lenido d8s .aços a:ó' c~rborto.
A elevação da densidade de discordâncias provocada pela de- São possíveis dois processos, diferentes por natureza,'· àe segregaÇão do
formação de acomodação, durante a reestruturação martensítica da rede, carbono: •formaÇãO tre atmosféra8 de 1impureza8 no~:rdéféitos ·<la rede e
faz com que a subestrutura da martensita se pa.reça com a subestrutura surgimento de clusteres.
de um metal encruado (§9.4). Como resultado,, forma-se no revenido o Os defeit~s da rede cristalina: siolocais mais vantajosos, ener-
estímulo ao desenvolvimento de poligonização e recristalização. geticamente, para os· átomos de carbono,· do que ··ÍIB posições ·normais
Ao. processo de revenido é oportuno r.elacionar .a ,totalidade destes átomos na rede da rrra:rtensita:. ·Os átomos •de··ca:ibono gravitam
de quaisquer modificações estruturais durante o aquecimento após a elasticamente nas discordâncias e paredes de discordâncias'. Estas se-
têmpera em martensita, e não apenas a decomposição da solução. su- gregações de carbono conseguem formar-se· nas estruturas defeituosas
persaturada. da martensita, já no período de resfriamént0 de têmpera (se.:o pónto Mi
Então, o aquecimento após a têmpera de metais puros e po- for elevado), e na temperatura ambiente; Ímed:ia:tamentea:pósa têmpera:
limórficos nos~·quais··houve· transformação .. martensíti:ca, ··e as. ligas ·em Outro processo de segregii.ção nãb está relá:dolíadc/cbfu a atra-
que a martensita não é .uma solução supersatura:da {por exemplo, a ção dos átomos de carbono para os defeitos estrút'lka'.is: Com tempera-
liga C 0 temperada, fig. 112), também devem ser relacionadas com .o re- tura do revenido de até ....., lOO"G; na ina:rtensita dos aços'de alto carbono
venido. Em todos estes· materiais, com a transformação· martensí.tica são revelados, por micrografia eletrônica,"os clústere8; que sãó áreas de
surge a elevação da densidade de discordâncias. Como resultado disto, acumulação de átoü1~s de carbono. É natural que a formaçãó'destesdus-
apresenta-se.a possibilidade de realizaro revenido,.no quaL as modi- teres ·esteja relà:ciona'.da com• 0 1déslocamentó' sigriifieativb dos·âtbfüos dé
ficações estruturais consistem apenas dos processos de poligonização e ferro isto é com a distorsão elástica da-rede de ·martensíta. ··'Com a
recristalização. Este revenido, por princípio, .diferencia-se do envelhe- elev~ção da temperatura de revenido, es'tes clü~teres se fó'rtalecem: A
1

cimento, o qual. é utilizado apenas nas liga8 que· contêm. solução sólida
supersaturada, 1. ·
formação de clusteres de átoniôs de carbono pode' Ser''tratàda 'éomo o
estágio de zona da decomposiçâo da.solução, analogamente à segregação
de concentração.· durante ·o· revenido das soluções sólidas'substitUcionais.
12.L Mudanças de estnitura com. o revenido dos aços. Na martenslta tecéín-temperâa;:t,· a··redisftibuiÇao•dó carbono
já é sentida a -40ºC.Inicialmente, paraéada cluste('lêm·'ap~nas'alguns
12.1.1. Revenido dos. aços ao carbono. O. caráter das variações átomos de carbono. Os clusteres se fortalecem gradualmente, 'e o teor
estruturais com o revenido dos aços ao carbono depende da temperatura de carbono nos mesmos fica correspondente à cOrriposiÇão que pode ser
e da duração do revenido, bem como do teor de carbono do aço. Com descrita com a fórmula Fe 4 C. Este processo é controlado pela difusão do
carbono.
1 Estas propostas de conceito de revenido dos metais puros e das soluções sólidas
A Precipitação de carbonetos intermediários desde a marten-
não-saturadas, com estrutura martensítica, são condicionais. O correspondente tra-
tamento térmico, em princípio, pode ser relacionado também ao recozimento. Con-
sita é o estágio de modificações estrutural no revenido, que se segue à
tudo, a obrigatoriedade de têmpera prévia e a estrutura específica da martensita segregação de átomos de carbono. Começa com a té:tnperatura aproxi-
permitem considerar, neste caso, o termo revenido. mada de lOOºC, onde se verifica experimentalmente o carboneto e:(Fe2 C)
Teoria das tratamentos térmicos dos metais 443
442 L /. Novikov
capítulo 12

metaestável, o qual se diferencia da cementita pelo tipo de rede (hexa- supersaturada, e o crescimento da partícula Fe3 C é acompanhada.da.so-
gonal para o carboneto & e rômbica paia a cementita. ). lubilização de partículas de carboneto menos estável formadas anteno_r-
O carboneto intermediário precipita-se diretamente dos clus- mente (§4.4). No segundo, a cementita forma-se com a reestruturaçao
teres de carbono através de pequena reestruturação de suas redes, com da rede de carboneto intermediário em rede Fe 3 C (nos limites do volume
simultâneo aumento da relação entre as concentrações de carbono e ferro, da partícula de carboneto intermediário.) _
Ele pode também precipitar-se diretamente da solução a, independen- Com a elevação da temperatura e (ou) o aumento da duraçao
temente dos clusteres de carbono. Nos aços contendo menos de 0,2%C, do revenido, cresce a relação Fe/C no carboneto: de ,...., 2(E e 'TJ) até
o carboneto & não se forma. ,...., 2, 5(x) e 3 (cementita).
O carboneto & é orientado em relação à matriz, de tal maneira O coalescimento e esferoidização da cementita é o estágio con-
que (0001) e //(Oll)M, com o que se garante coerência na superfície de clusivo dla formação de carbonetos durante o revenido. Em temperaturas
separação das fases. Em baixas temperaturas o carboneto & precipita- relativamente baixas, a cementita cresce na forma de agulhas dispersas,
º Com a semicoerentes com a matriz. O tamanho das agulhas de cementita é dife-
se na forma de agulhas ou fios muito dispersos (100-lOOOA). renciado. A concentração de carbono na solução a, próximo às partículas
elevação da temperatura ou continuação do revenido, as partículas de relativamente pequenas, é maior do que próximo às maiores (fórm. 32)-
carboneto & crescem. Esta diferença de concentração garante a difusão de carbono na soluçao
A formação prévia de carboneto intermediário em lugar da ce- a, desde a 5 partículas menores de cementita até as maiores. Como re-
mentita Fe3 C mais estável pode ser explicada pelo fato de que, no con- sultado da difusão de nivelamento, a solução a torna-se subsaturada,
torno da martensita com o carboneto &, o acoplamento da rede é melhor próximo às partículas pequenas, e supersaturada próximo às maiores.
e, conseqüentemente, a energia superficial é menor do que no contorno As partículas menores de cementita se solubilizam e as maiores crescem.
da matriz com a cementita. A cementita precipita-se da solução a em partículas grandes, longe de
De acordo com algumas investigações em microscópio eletrô- seus cumes e bordas, e a forma das partículas maiores é próxima ~a
nico, a primeira fase que se precipita da martensita não é o carboneto esférica. Desta maneira, a transferência de massa através da soluçao
& hexagonal, mas sim o carboneto "7(Fe2 C) com rede rômbica, a qual realiza-se com o coalescimento e esferoidização da cementita, durante
também se acopla bem com a rede da martensita. Este carboneto é 0 revenido do aço. Abaixo de 350ºC estes processos se desenvolvem
revelado com temperaturas de revenido de 100-200ºC. Nos aços de alto muito fracamente. Na verdade, o coalescimento e .esferoidização intensi-
carbono, após o revenido a 250-300ºC, predomina a precipitação de vos iniciam-se a 350-400ºC. Acima de 600ºC, todas as partículas de ce-
carboneto rômbico x(Fes C2), que desloca os carbonetos 1/· mentita são esféricas e ocorre apenas o coalescimento das mesmas. Com
Nos aços com elevado ponto Mi, isto é, em muitos aços para exposição isotérmica, o coalescimento da cementita se des:nvol:e inten-
construção, a decomposição parcial da martensita com a precipitação samente durante um tempo curto (primeira hora), e depois extmgue-se.
de. carboneto intermediário consegue ocorrer durante o resfriamento de O tamanho médio das partículas de cementita cresce com o aumento da
têmpera no intervalo rilartensítico. Conseqüentemente, no período da temperatura de revenido.
têmpera, nestes aços, ocorre o auto-revenido. A decomposição da austenita residual desempenha um papel
A Formação de cementita Fe 3 C, com estrutura igual ou próxi- substancial nos processos de revenido dos aços de alto carbono, quan~o
ma da estrutura da cementita do aço recozido, ocorre em temperaturas é encontrada em quantidade significativa. A decomposição da austemta
superiores a 250ºC, e é mais ativa no intervalo 300-400ºC. ocorre ativamente no intervalo de temperaturas de aproximadamente
A cementita Fe3 C é urna fase mais estável, que possui menor 200-300ºC. A austenita residual, durante o revenido, transforma-se em
energia de Gibbs do que o carboneto intermediário. bainita inferior.
Foram estabelecidos doiis mecanismos de nucleação da cemen- Acima a atenção principal foi dada à formação de carbonetos
. tita. No primeiro a cementita precipita-se diretamente da solução a durante o reve~ido. Não menos importantes enquanto variações da es-
444 /. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 445
capítulo 12

trutura da fase matriz são a diminuição da concentração de carbono na átomos através da solução a. Por isto, acima de 150ºC, simultanea-
solução a e à, modificação da subestrutura e microestrutura da fase a. mente à decomposição bifásica, ocorre o crescimento difusional normal
A diminúição da concentração de carbono na solução a se dá das partículas de carboneto. Porém, apesar de tudo isto, até 300ºC os
em todos os intervalos de temperatura8 de precipitação de carboneto, a cristais çle carboneto crescem lentamente e. permanecem extremamente
partir desta fase. Pela variação do diagrama de difração de raio-X, G.V. pequenos. A cinética desta decomposição caracteriza-se pelo fato de que
K urdjifuov subdiviâiu· a decompüsição da marterisita em dois estágios. a
a solução e~pol;>r~ce rapidament~ em carbono, e em um tempo inter-
. OprímêÍro estágio de decoinposi~ão da martensita é denomi- mediário relativamente curto que depende da temperatura. Depois disto
nado decomposição bifásica (abaixo de 150ºC). o empol;>recimento da solução em carbono extingue-se rapidamen,te. A
' l\.' mobi:lfdlllie dÓs átomos dê carbono eni temperaturas abaixo 300ºC permanece aproxi,madamente 0,1 %C na solução a. Acima desta
de 150P é áirida extremamente pequena. Esta mobilidade é plenamente temperatura, .a análise habituaj.de raios~X não revela diferença entre as
sufieienté parà. gárantir a formação· de agulhas de carbonetos às custas redes da solução a e do ferro a. Abaixo de 300ºC, o grau de tetrago-
do carbono· dà · ma:rtensita que está· mais próxima. Porém, ela não é nalidade ( ~ > 1) ainda é mensurável. A 400ºC ou a uma temperatura
suficiente para garantir o cresci~ento das partículas de carboneto que um pouco superior,·. a. S()lução ~. livra-se completamente do carbono em
se precipitam, 'às éustas de difusão dô carbono de regiões da martensita excesso e completa-se a passagem da martensita para ferrita.
que ainda não passaram por decomposição e que possuem a concen- A recuperação e a recristalização da fase a ocorrem em um
trâçãQ iriicíalHevadâ de carbono: Como resultado desta decomposição, amplo intervalo. de temperaturas de revenido. O d.esenvolvimento des"
a matteusita tbrnai:se nã,o;.uniforme, ·com diferentes teores de carbono tes processos é retido com a precipitação dE) partículas de carbonetos,
nas divérsas'regiõeso Naquelas 'regiões onde se precipitam os carbonetos, que fixa,m .as• di~cordâncias isoladas, as. paredes de discordâncias e os
a coridintf~fil'>'deicarbonoe,· cón8eqüentémenté, o grau de tetragonali- contornos de grande ângulo. A fixação é mais fraca nos aços de baixo
dade, são menores do que nas regiões que não sofn~ram decomposição. carbono, cmde os processos correspondentes foram estudados mais de-
Coexistem' duas' soluções sólidas com diferentes concentrações de car- talhadamente.
bono, du:rante'lôrtgo tempo, devido à ba:ixa velocidade de difusão. É por É difícil dizer qual o limite inferior de temperaturas para a recu-
isto que a decompósi~ãoé denominada bifásica. A. decomposição bifásica peração por. rexenidQ.. A variação das estruturas de discordâncias da fase
da rn.artensità nãó sé desenvolve' ém cónseqüência do crescimento das a, diferenciaçlas precisamente com análise por microscopia eletrônica,
partícul'as. de. ;catbóneto' em regiões éni tomo das mesmas, de. solução inida~se com temperaturas próximas. a 400ºC. O prolongamento da
ei:npo_bréc1da em carbono. Desenvolve-se; sim, como resultado da preci- existência de contornos .de pequeno ângulo nas. lâminas. de martensita,
p1taçao 1e novas pàrtículas de carboneto, nas regiões de martensita com em temperaturas de, revenido...acima de 400ºC, cai bruscamente em fra-
a concentração inieia:l de carbdno.
ções de segund~s. 'u in do~ mecanismos deste fenômeno pode ser .o. des-
As pa:ftíéufas que se precipitam a baixas temperaturas são ex- moronamento das paredes de discordâncias, o qual fo~ lembrado quando
tremamente pequenas. Por isto, elas se encontram em equilíbrio coloi- se viu a coalescênci~ de subgrãos durante o recozimento do metal defor-
dal metaestável com a solução em tomo das mesmas, as quais contêm mado a frio (§2.3) .. No primeiro moment.o do revenido ainda é pequena a
carbono em excesso (fórm. 32). Para o posterior empobrecimento em quantidade de precipitados de carbonetos e, por isto, não são ainda efeti-
carbono das regiões da solução que envolvem os carbonetos, é necessário vos na fixação dos contornos de pequeno ângulo e discordâncias isoladas.
o crescimento das partículas de carboneto.
Depois, a precipitação de grande quantidade de partículas de carbone-
O segundo estágio da decomposição da martensita é o empo- tos estabiliza a estrutura da martensita. A extensão das lâminas de fase
brecimento em carbono da solução a, com o simultâneo crescimento a, nos aços de baixo carbono, conserva-se até elevadas temperaturas de
das partículas de carboneto (150-300ºC). A velocidade de difusão do revenido.
carbono em temperaturas superiores a 150ºC é suficiente para garan- Durante o revenido dos aços não foram observadas a formação
tir o crescimento das partículas de carboneto, com a transferência de de núcleos de recristalização da fase a e o desenvolvimento dos mesmos
446 l /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 447
capítulo 12

em grãos recristalizados, de maneira semelhante com o que ocorre na re- que, no intervalo de temperaturas da segunda transformação, continua
cristalização primária do metal deformado a frio. Isto, apesar da elevada a decomposição da martensita.
densidade de discordâncias na martensita.
Após revenido suficientemente prolongado a elevadas tempera- A terceira " transformação" com revenido está relacionada ao
turas (acima,...., 600ºC), como resultado do coalescimento das partículas intervalo de temperaturas de 300-400ºC. Neste intervalo de tempe:a-
de cementita, a consolidação dos contornos se enfraquece e ocorre o turas reduz-se o comprimento das amostras. A natureza da terce1:a
crescimento de grãos recristalizados, através da migração dos contor- transformação continua em discussão. No intervalo desta transformaçao
nos iniciais de alto ângulo. Com isto, a microestrutura perde os traços eliminam-se os carbonetos intermediários e termina a precipitação de
morfológicos característicos das lâminas de martensita. Fe3 C desde a martensita.
Nos aços de alto carbono, devido à forte inibição da migração A estrutura obtida após o revenido do aço em temperaturas
dos contornos de grão pelas partículas de cementita, o crescimento de abaixo de 300ºC é denominada martensita revenida. No microscópio
grãos recristalizados de fase a se dá ainda mais dificilmente, e o caráter ela diferencia-se da martensita de têmpera, pelo maior ataque, devido
acicular da estrutura conserva-se até temperaturas de revenido de apro- aos precipitados de carboneto. Após o revenido a 300-450~C revela-se
ximadamente 650ºC. uma estrutura acircular particularmente muito atacada. No mtervalo de
Do exposto vê-se que, durante o revenido do aço temperado, temperaturas de 450-650ºC obtém-se sorbita de reveni40. Su~ estru,tu.ra
ocorrem processos diversificados, os quais se sobrepõem um ao outro, de duas fases revela-se nitidamente com altos aumentos do m1croscop10.
quanto ao tempo e intervalo de temperaturas de seu desenvolvimento. Temperaturas mais elevadas de revenido conduzem à perda d~ sorbita
Todos os limites de temperaturas acima indicados, para va- do tipo acicular, e a mesma adquire estrutura claramente pontilhada.
riações estruturais de diversos tipos, são bastante condicionais. Eles
diminuem com a elevação da duração do revenido e deslocam-se para 12.1.2. Influências dos elementos de liga. A mobilidade de difusã_o
cima ou para baixo com a variação do teor de carbono do aço. dos átomos dos elementos de liga solubilizados no ferro-a por substi-
Tradicionalmente, utiliza-se dividir três intervalos de tempera- tuição é muitas ordens de grandeza menor que a _mobil~d~de de difusão
turap, que correspondem a três transformações .durante o revenido dos dos átomos de carbono que estão solubilizados mterst1cialmente. Em
aços ao carbono. Esta subdivisão, baseada em seu tempo na análise temperaturas de revenido abaixo de 400ºC não ocorre, na matriz, r:dis-
das variações volumétricas durante o revenido, é bastante condicional. tribuição por difusão dos elementos de liga. Inicialmente, da soluç_ao a
Porém, como primeira aproximação, pode-se utilizá-la. precipita·-se carboneto e, e depois cementita, ~as quais, a concen.traçao de
A primeira "transformação" durante h revenido está relacio- elementos de liga é a mesma que na martens1ta. Os atamos ~e elemen-
nada ao intervalo de temperaturas de 100-200ºC. Nestas temperaturas, tos de liga nas redes de carboneto intermediário e d~ cementit~, que se
as amostras temperadas se encurtam. Como a martensita é a estru- formam em temperaturas inferiores a,...., 400ºC, substituem parcialmente
tura de volume específico maior, entre todas as que compõem o aço, os átomos de ferro: (Fe Cr)3 C (FeV)3 C), e assim por diante.
relaciona-se esta primeira "transformação" à sua decomposição. A cementita precipita-se na forma de películas finas e agulhas
A segunda "transformação" durante o revenido está relacionada grosseiras nos coqtornos de grão de alto ângulo, e também na forma de
com o intervalo de temperaturas de 200-300ºC. Com a exposição neste agulhas orientadas no interior da matriz a.
intervalo, o comprimento da.<; amostras de aço de médio e alto carbono No primeiro estágio de decomposição da martensita, isto é, na
aumenta. Este aumento é tanto maior quanto maior o teor de carbono decomposição bifásica em temperaturas inferiores a 150º?, os ,ele~entos
do aço. O volume específico da austenita é o menor, e a quantidade de liga não apresentam nada de substancial para exercer mflu_en~1a. I~to
de austenita residual aumenta com a elevação do teor de carbono no está de acordo com que, no primeiro estágio, o processo prmc1pal e ª
aço. Por isto, a segunda transformação é relaçionada com a decom- nucleação de partículas de carbonetos, o que depende, basicamen~e, ~a
posição da cementita. Além disto, evidentemente, deve-se ter em vista - da soluçao
supersaturaçao - a em car b ono e d o cresci·mento por d1fusao
448 I. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 449
capítulo 12

dos precipitados. d.e carbonetos. Nos aços ao carbono, este crescimento Coni a elevação da temperatura ou o aumento do prolonga-
é muito fraco. mento do. revenido,. alguns. carbonetos intermediários. metaestá veis po-
N.o segu.ndo estágio de decomposição da martensita muitos ele- dem ·ser. substituídos por .outros, mais estáveis. .Por exemplo, nos aços
mentosde. µgaJn~u~m f.ortemente, ao tornar mais lento o crescimento com .molibdênioe tungstêniO, os primeiros carbonetos especiais quy se
das. pa,rtíc,~Ias, d.~ 1.:arb<:metos e ·ªº conservai: a solução ~ supersaturada formam durante orevenido.e.após a.cernel1titasão. ?s ca~bonet?s.. rvre2C
em ca~qo~?~. ~~to~. ~ c9p_s~ryar o estado de martensita revenida até tem- (Mo~Cou \VzC). Sinmltan~a.ITie11~e cbn1ele, ?:u fogo após,.· surge o éàr-
J?eratl1r~ dy 450-5QOºC. Assim é que, por exemplo, atuam as adições boneto Me23 0 6, e em, seguida~· càrbo~etoMe6C .. ·..·.· ...···.· . • ..
de Cr, w, Mo, V, Coe Si. A retenção da decomposi9ão da martensita . . · . . . 1:
seqüê~c.ia. dé forlllação de çarbonetbs, nestes açós, po~e ser
é explicada por duas causas. deséri:tà de forlriâ esqüeriíátida: · · · · · · ··
Ê,~ primeh:o lugar, os elementos. de liga como o vanádio, mo- Fe3 C.-,... Me2 G ~ Me23 G6 --+. Me6 G·
libdênio,. cóbalto. e cromo.diminuem a velocidade de difusão do carbono
na solução Q'.. Isto pãopodeexplicar a influência de retenção que exerce Os elementos de liga influem na velocidade de coalescimento das partí-
o.silído; 9 qual n~o. <fÍrninui o.coeficiente de.difusão do carbono no ferro. Ç1f!cét$.<;ie . . çai;bpp#os'. Q.~1Jquel.~.c@lera,, o coal,escin;iento ;e o.çromo, mo-
A segunda.causa é a efevação da resistência das ligações interatômicas na libdênio, tungstênio, vanádio,e vários outros el,eme11tos reta,,rdam. Os
r~d~ da.s9luçãgq?s9,b..~ influ~nciade eleil1entos como o Co, Si, Cr, Mo e elementos que fortalecem as ligações interatômicas nas redes da solução
?s
\V, c,oii. 'gµ~is. se 1ifis.ultf a passagem dos ~tomos através do contorno a e docarbon~to. (em último. cas?, forte~ forII1a.9o~~s de S8:.~9?ne;t~sJ~ ,e
soluçã?. (); carbé:meto' e, conseqüenteillente, dificulta-se a decomposição que dimi!lu~rii a velócidad,e d~ ~ifüsãodo c.a~?.ºI1º na.•s~luça.? ~· ~1fi.~':l~
da auste~itá'.. . . .. . . . .. taiil'tarito a.pa~sàgern d()s átor~os atrav.és do cqnto.~no .cétrlH?I1~t<;>-s.?~l1~ªº
0: cómb a fransferêncfa. de càrbo.no ·através. da solúç~<). Estes elefri~I1-
.os elementos de liga influem fortemente nas transformações de
tos detêma ~olubilizaçãodaspartículas pequenas e o crescinientodas
carbonetos durante o revenido, quando as temperaturas são acima de
450~C, pois torna-se possível a redistribuição dos mesmos por difusão. maiores durante o coale~ciment9, .·. .·. .·. . ...·.. .. . ,.
Os próprios elemerit.os ~.\le entram Ila composição dos carboI1e~
Como resultado ;desta influência,. formam-se. carbonetos especiais. São
possíveis 'dois mecanismos. de surgimento ·dos mesmos. Em primeiro tos especiaii devem dífdµdir na sólllç~°,. ci;, des~e.as partí?l1lâ~pequenas
lugar; a:concentração de· elementos de liga formadores de carbonetos·au- cf~'dü:boiletos; qu~ ~e ~9foíJíliiani;·~arà as II1ªiO,res, q~e ~res.ceII1: .1?y~.i.do
nienta na cementita como resultado da redistribuição dos mesmos por
à:' pequeria v~loéidilde d'e1iifu~ão dos êléme.n.t~s ,de. liga, p c.oale~c1rnento
difusão entre a solução a e a cementitaó Este aumento é de tal ordem dos 'car&o~etos especi~s.sé dá l~I1tªII1eht~: A,~t a celll~n~ita ligada (,~e,
Cr)JC no a_ço.ao carbonoconi adiÇ'ão deap'ena:s 0,1%Cr coaJesce Il'lu1to
que transforma. a cementita em carboneto especial. Por exemplo, a ce-
mentita ligada (Fe Cr)JC transforma~se em (Cr.Fe)r C 3 • Em segundo mais lentamente que o FihC .. ·. ·. •. < .. ·..... ·.· •.•· · ·• < . ·. , . <. ••...·. ·.•.·· ·• .

lugar, o carboneto especial pode nuclear diretamente da solução a super- Os. proce~sos ~{poli~oriizaçã°, erecristalizétçã°, ~ uranty •? reve-
nidópodeni ser deÜdos·pela aç~~ de adiÇõ~s de, eleIIlentos. ~e 'liga: ~m
satur.ada d.e elern,ent9 de liga. Inicialmente, próximo às discordâncias,
primeiro lugar, isto se deve à .lentidao dos processos d'~ des~ocamento
formam-se .clusteres de átomos de elementos de liga e de carbono, de
por difusão· das discordâncias, e ein segundo lugar como :_esultado da
dimensões 3-5 10-9 cm. Com a elevação da temperatura até "' 550ºC
fixação das discordâncias nos contornos de pequeno e alto a~gulo pelas
eles se transformam em partículas de carbonetos especiais, como por
exemplo VC ou MozC. partículas dispersas de carbonetos especiais de difícil coalesc1mento .. Os
carbonetos de Nb e Ti altamente dispersos são particularmente efetivos
É muito importante que os precipitados destes carbonetos como em relação a este fenômeno. Estes carbonetos se formam para pequenos
o VC, TiC, Mo2C e W2C sejam muito menos solúveis do que as partícu- (não mais que 0,1%)teores de adições no aço. . · ...· .. ·.··
las de cementita (§12.3). Um dos motivos disto é a pequena mobilidade A maioria dos elementos de liga eleva o intervalo de tempe-
de difusão dos átomos dos elementos de liga. raturas de decomposição da austenita residual. Se, nos aços ao car-
Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 451
450 l. l. Novikov
capítulo 12

bono, durante o revenido, a austenita residual se decompõe no intervalo


de 200-300ºC, no aço ligado ela se conserva até 500-600ºC. O aço de
alto carbono e alta liga temperado, como por exemplo os aços rápidos,
contém grande quantidade de austenita residual. Se este aço é revenido a
500--600ºC, a austenita residual adquire condições para a transformação
martensítica, que se dá com o resfriamento desde a temperatura de reve-
nido. A causa disto é a precipitação de carbonetos da austenita residual
e seu empobrecimento em carbono e elementos de liga com o revenido
a alta temperatura. Como resultado, o ponto martensítico se eleva, e
a
a austenita residual se torna capaz para transformação martensítica, 100 200 300 400 500 600
com o resfriamento desde a temperatura de revenido. Tempêratura revenldo, ºC

Figura 187. Variação da dureza do aço ao carbono, de diversas com-


12.2. Variações das propriedades mecânicas, com o revenido dos posições, em função da temperatura de reveuido (G.V. Kurdjimov).
aços. escolha do regime íle revenido.
carbono solubilizado na solução a exerce grande influência no endureci-
12.2.1. Aços ao carbono. O aço ao carbono temperado caracteriza- mento da martensita (§9.7), o empobrecimento da solução em carbono
se não apenas pela elevada dureza, mas também pela tendência muito com a precipitação de carbonetos intermediários (por exemplo ê), já nas
grande à fratura frágil. Além disto, surgem durante a têmpera tensões temperaturas baixas de revenido, provoca o amolecimento.
residuais significativas. Por isto a têmpera dos aços ao carbono geral- Com o crescime~to da temperatura de revenido, fortelece-se
mente não é utilizada como operação final, embora possa fornecer alta o amolecimento devido às seguintes causas: 1) diminuição da concen-
resistência ao aço (uR = 1300-2000 MPa). Para elevação da tenacidade tração de carbono na solução o:; 2) destruição da coerência no contorno
e diminuição das tensões residuais, após a têmpera utiliza-se o revenido. carboneto-matriz e eliminação das microtensões elásticas; 3) coalesci-
A decomposição da martensita deveria conduzir ao endureci- mento dos carbonetos e elevação da distância entre as partículas; 4)
mento por dispersão e, no caso geral, a variação das propriedades de desenvolvimento de recuperação e recristalização. Nos diversos interva-
resistência em função da temperatura de revenido deveria ser, qualitati- los de temperaturas prevalecem as ações de diversos fatores de amoleci-
vamente, a mesma que durante o envelhecimento das ligas não-ferrosas. mento, em correspondência com a intensidade de desenvolvimento destas
Contudo, é visto na figura 187 que, até a temperatura de revenido de ou daquelas variações estruturais (§12.1). Nos aços de alto carbono, que
aproximadamente lOOºC, a dureza do aço temperado praticamente não contêm significativa quantidade de austenita residual, a decomposição
se modifica, ou cresce suavemente (em 1-2 unidf!-des RC). Com a poste- desta com a precipitação de carbonetos detém a queda de dureza, e
rior elevação da temperatura de revenido, a dureza diminui suavemente. no intervalo de temperaturas de 200-250ºC eleva um pouco a mesma.
Por que a decomposição da martensita com a precipitação de (fig. 187).
O revenido endurecedor do aço ao carbono temperado não tem
partículas pequenas de carbonetos em temperatura baixa de revenido do
aço temperado não provoca o aumento de dureza, analogamente ao endu- significado prático. Por isto, freqüentemente se relaciona o revenido de
recimento nos duralumínios e outras ligas envelhecidas? Isto se explica quaisquer aços com a suposição de amolecimento obrigatório, apesar
pelo fato de que a elevada mobilidade dos átomos de carbono faz com desta suposiçã.o ser enganosa, como será mostrado adiante.
que eles consigam formar segregações nas discordâncias, já no período As características de resistência dos aços ao carbono (limite
de resfriamento de têmpera. Além disto, o aumento de dureza por dis- de resistência, limite de escoamento e dureza) diminuem com a elevação
persão pode ocorrer até o estágio de endurecimento máximo. Como o da temperatura de revenido acima de 300ºC, e os indicadores de plastici-
452 /. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 453
capítulo 12

da.de (alongamento e redução rela~ivô~). elevam-se continuamente lentos(ciurante muitos anos) de decomposição.da rnartensita,.passagem
(fig. 188). A tenacidade ao choque começa à crescer intensamente com da aµstenita residual para. martensita ,e eliminação de tensões. Todos
o revenido acima de 30Q,~C: 9s aÇos com. estrutura sorbítica revenidos estes Jenômenos conduzem à gradual variação das dimensões da peça.
a 600ºC possuem tenacida;de .máxima 'àó ·au{que. Alguma diminuição f>aÍ:a p~ças ,como instrumentos ,de medida df) ~leva.da çlasse de precisão
da tenacidade ao cho9;1;leC:,9mte!IÍperaturas de
revenido acima de 600ºC e rolament()s .de precisão .µão. deye J:i.ayerv,ari_açiio ci~ ciimen~ões, rnesmo
pode ser explicada rf~Ú.S,'fa~o··'ae. q~~ as partí~u1a:s de cenientita ao longo de alguns,Il}i~ra. Por ,isto, é,necessádo ~stabiliza;r; as dirneJ1l)Õ.es da peça.
dos contornos dos g~o~ ,fériíticos crescem em çonseqüência da solubi- Á influência nialéfica da austenita residual é destruí<!~; qpninµii;içiq .~)la
lização das partícula:s'no interior da fase a, e t<;>rnam-se bastante gros- ql,lantida~k cqrn tratamento a.f~iq (§~)0); ,G.o:nsegue-l)e;J:l.,el)tabilização
', ,,,
seiras. da martensita e, do esta<:lo de ,te!lsões ,çom \}ai:x,:olçv1311i<;lq .(~l)tal:>ili~actor)
JiB , ~y,MPa a l00-180;,G_e exposição. de até .30_ e,,àf;ve~es,)pO -hora$.
2800 ........---'--------.70 . . · O rTl.édio revenido C:m tr()stita (350-450ºG).,é urn~operaç&o re-
600 2400 lativamente rara. Ela é utiliza.d.a quando é ne.cessária a cqmbinação de
elevada resistência e elasticidade corri suficie1;1te tenacidac;le .. O m,édi()
2000 r~v~nido é ~mpregad~ em rnolas-·e r~ssortes. . .. -. . - .
O alto revenido em sorbita (450--,650ºC) é ampla:rllente utiljzado.
na :indústria mecânica;· para P:eÇas de aços de c9u.struçãq,: as qua,i~ 1 ,det
vem se caracterizar não apenas. pel~ resistênc~a sufi<;iente 1 : rn11S. tiµn,bém
p~la boa resistência às cargas de ··cpoque. p texnpo de ~ep<:posiçao•no
alto revenido. (geralmente de algumas horas). é; esçoll;lido, par,a _se obter a
otimização. <J.e determina<;lo conjunto de propriedades'.
A estrutura so,rbítica. de quase-e1.itetóicie .pode ser . obtida cor:n
normalização diretamente da austenita, durante o resfriamento do aço.
Figura)88. Influência da te1l1pereatura !fe revenido IJ.as, prppriedades., Além disto, obti§m~1>e .dure~a iguai..à,qo,,aç9. .apó()· n~veilicio .y.le,yaci,q. ,,(:fplf;-
mecâi1ic'.15 do aço 45. . . .. . . ' . . . . . ' •. tudo, para a mesma dur~za; a redução ,relativa e a tenacidade ao choque
são maiores .no aço .rev,eµido, . Ist9, se. explica )Jela: di,sperl)ão çla I!lis-
tura ferrita:-cementi ta,. já, .que. a forma da. c;eme!ltita .:influi ,forte.mente, na
Pelas temperaturas de aquecimento, diferenciam-se ,os reveni-
dos baixo, médio e alto. · .. , redução relaÚva e tena~idade aoch?qti~. t;Ja,,sor,b,ità,.ql?Mda:,p~lac~ern~:
pqsição d,a al;lstenita,.!1.. cei;neiltita possl1i,fo,r,ma c;ie . ~gulha.s.~011gas, e na
O baixo revenido em martensita revenida (120~250~C) é' utili-· sorbita de-revenido ·a forma. é ,de ag_l.).lllas çurta,s ;COm e:x:tngn,idades ane;--
zado ámplamerite após a têmpera das peças de instrumentos cerhentadós ciÇndadas, '~u forma esfe~oid~i, o que ·g~f.a,ÍÍt(l ~it~rÍa,cid~~ ·.rná~.'el~yàda
e·cianetados e após têmpera superficial. O objetivo do baixo revértido é
a diminuição de tensões residuais de têmpera. A temperatura do baixo do aço. A dupl3r operaÇão de.,obt~nçã()
da sor_b.ita çoxp.,t~IJ).~era ~lt~
e
revenido é escolhida para que a dureza e resistência ao desgaste não di- revenido denomina-se melhoramento. Esta operação é utilizada nos aços
minuam ou decreçam levemente. A exposição na temperatura de. baixo médio carbono, contendo de 0,35 até 0,63C.
revenido geralmente não ultrapassa 1 ou 3 horas. Com aumento poste- Estes aços são denominados melhoráveis, para difen;mciar dos
rior da exposição diminuem muito fracamente as tensões residuais. aços baixo carbono para cernentai;ão.
Urna variedade de baixo revenido é o revenido estabilizador. No Qualitativamente, a. têmpera reflete~se, fortemente nas propi:ie-
aço ternperàdo, me8mo na temperatura ambiente, e mais ainda, corno
resultado das oscilações das temperaturas climáticas, ocorrem processos
o
. dades do aço após alto .revenido. Durante 'o melhoramento a, peça
deve ser totalmente calcinada. Caso contrário, após o alto revenido,
454 - - - - !. !. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 455
capítulo 12

as camadas internas de mesma dureza possuirão menor tenacidade ao


choque do que as camadas externas. Isto porque as primeiras conterão (.)

cementita acicular, e as segundas, pontilhadas ou granulares. Se durante a::


I
o resfriamento a precipitação de ferrita livre nas camadas internas não o
N
for completamente afastada, diminui não apenas a tenacidade ao cho- e
::J
que, mas também o limite de resistência, a dureza e, particularmente, a o 40'--~--'-~~--'-~-'---'
resistência à fadiga. o 200 400 600
Temperatura revenido ,ºC
Por exemplo, a peça bruta de aço 45 de diâmetro 15 mm é com-
pletamente calcinada na água, e no centro da mesma, após o revenido
Figura 189. Endurecimento secundário com o revenido de aço com
elevado, obtém-se estrutura de sorbita granular que se caracteriza pelas
0,32% e l,36%V (Ke)
seguintes propriedades: CíR = 800 MPa; o·0 , 2 = 650 MPa; /5 = 16% e
KCV = 100 din/cm 2 . As camadas centrais da peça bruta com diâmetro
de revenido do processo tecnológico permitiu, na metalurgia pesada,
de 100 mm são resfriadas com velocidades significativamente menores
evitar a construção de grande quantidade de fornos de revenido. Em
do que a crítica para têmpera. Com isto, nas camadas centrais obtém-se
comparação com a têmpera normal, o endurecimento ela placa é suple-
estrutura acicular de sorbita com ferrita livre, que se caracteriza pela
mentar e ocorre graças ao fato de que, nas condições ele intensa dispersão
· diminuição dos indicadores de resistência e de plasticidade, em com-
calorífica, imediatamente na saída do trem de laminação, é dificultado
paração com a estrutura de sorbita granular: Cí R = 700 MP a Cío 2 = 450
MP a; /5 = 13%; e KCV = 50 din/ cm 2 • '
o desenvolvimento de recristalização da austenita deformada (§15.2, en-
durecimento com T.T.M.A.T.).
A velocidade de resfriamento desde a temperatura de revenido
não influi nas propriedades mecânicas dos aços. Se não houver perigo 12.2.2. Aços ligados. Os elementos de liga, que dificultam a decom-
de tensões residuais, pode-se realizar resfriamento acelerado. posição ela martensita e o coalescimento de carbonetos (§12.1), deslocam
Às vezes, a têmpera e o reveniclo são reunidos em uma só o limite de temperatura de início de amolecimento intenso com o reve-
operação, denominada têmpera com auto-revenido. A peça é submersa nido, de 200-300 para 450-550ºC. A elevação da resistência a quente
ou salpicada de água. As camadas externas são temperadas em mar- elo aço temperado, isto é, a resistência do mesmo em amolecer com o
tensita e, posteriormente, são revenidas às custas do calor elas camadas aquecimento, é um dos objetivos básicos da adição de elementos de liga
internas da peça. É desta maneira que se realiza a sorbitização das nos equipamentos de produção.
camadas superficiais da cabeça de trilhos. Para os aços de construção ligados é bastante importante que
Nos aços baixo carbono, nos quais o ponto de final de trans- os carbonetos especiais precipitam com revenido elevado em forma mais
formação martensítica MF encontra-se acima de 30ºC, as variações es- dispersa do que a cementita. Isto garante o aumento de tenacidade, pois
truturais características do revenido conseguem ocorrer no intervalo mar- os microvazios (focos de fratura) nucleiam mais dificilmente próximo às
tensítico Mi - M1 e abaixo da temperatura M 1 . partículas pequenas de carbonetos especiais do que próximo às partícu-
O fenômeno deste auto-revendo foi utilizado por K.F. Storodu- las maiores de cementita.
bovi, no estudo do processo de endurecimento térmico de placas. Este
processo consiste cm que, nas condições de fluxo contínuo do pro<luto do Endurecimento secundário. Nos aços com adições ele titánio, mo-
trem de laminaçào, resfria-se intensivamente com água, diretamente na libclênio, vanádio ou tungstênio, com a elevação da temperatura de re-
saída do trem de laminação. As peçàs de aço baixo carbono (armações venido, após o amolecimento normal provocado pela decomposição da
de cimento armado, chapas e outras), após alcançarem a temperatura martcnsita e coalescimento das partículas ele ccmentita, a dureza cresce
Mf, são resfriadas ao ar. Com este resfriamento interrompido ocorre (fig. 189). Este fenômeno que se manifesta após o revenido a 500-600ºC
a têmpera com auto-reveniclo. A exclusão ela opernção independente é denominado de endurecimento secundário.
456 /. /. Novikov Teori4 dos tratamentos térmicos dos metais 457
capítulo 12

As causas do endurecimento secundário são a formação de clus-


teres de átomos de elemento de liga e de carbono (a isto corresponde,
freqüentemente, o máximo de endurecimento)e a substituição das partí-
2
culas relativamente grandes de cementita que se solubilizam pelos preci-
pitados significativamente mais dispersos de carbonetos especiais (TiC,
VC, Mo2C ou W2C). .
O coalescimento destas partículas conduz à diminuição da du-
20 3o . t,min
reza. As partículas de carboneto Me 6 C se formam imediatamente com
forma relativamente grosseira, e não conduzem ao endurec;imento.
Figura 190. Resistêtlçia à r:laxaÇão dó aço 50XFA após revenido nor-
A adição de cromo, que detém o ainolecimen.to élúrante o reve- mal (1) e após revertido sob tensãc(a 350ºÔ (2) (A. G. Parchtod).
nido, possibilita pouco o endurecimento secundário, ou não provoca em <7r-tensão de relaxação· <7<} - tensão. lniCial, igual ao limite de elastici-
nada este endurecimento. Isto porque as partículas de carboneto Cr 7 C 3 dade.
geralmente coalescem a 550ºC, ao contrário dos carbonetps como Mo2C
e, particularmente, o w 2e (o coeficiente de difusão do tungstênio na mento. Elas influem na migráção dos átomos de carbono e, correspon-
solução a é menor do que o do molibdênio). . . dentemente, na precipitação de carbonetos. Estes processos em termos
É bastante importante que, duran.te o eµdtn:eci~ento .secun- de modelos estruturais ainda são pouco estudados. Está estabelecida
dário, paralelamente ao crescimento do limite de escoa~ento a detertçãó da .passagem de carboneto e para o<carbdneto de fase mais
.· .. -· .,, também
..

eleva-se a tenacidade, devido à solubilização das partículas relativamente estável e a diminúiçã:o 'dé suas pártículâs:
grosseiras de cementita.
Revenido sob tensão. O revenido sob tensão 2 melhora muitas pro-
priedades de utilização dos aços, relacionadas com a resistêncià a peque- 12.3, Fragilidade de revenido.
nas e a microdeformações com cargas prolongadas e de curta duração:
os limites de proporcionalidade e de elasticidade, resistência ·a relaxação
(fig: 190) e outras propriedades. Este revenido mostrou-se muito efetivo
para a solidez de diversos tipos de elementos elásticos: molas, membra- A fragilidade de revenido é inerente a muitos aços. O pro-
nas etc. blema da fragilidade de revenido tornou-se. agudo. no período da Primeira
Durante o revenido a peça deve ser carregada na mesma direção Guerra Mundial, quando se fratutaraín produtos d~·peças de aços ligados
que é utilizada, e o valor da tensão deve ser 0;6-0,7 do limite de escoa- de grande seção (carcaças de canhões). Como resultado do resfriamento
mento na temperatura de revenido. A vitalidade da mola de aço 50x lento desde a temperatura de alto reveliido, a t~nacidade ao choque do
aço ligado se apresentou algumas vezes (e até em ordem de grandeza)
FA após revenido de uma hora sob tensão, a 360ºC, mostrà~se dez vezes
menor qúe após o resfrianrnnto eni águà desde a mesma temperatura.. o
maior do que após o revenido habitual. A resistência à relaxação sob
estado de fragilidade. de revenido praticamente não se reflete em outras
tensão cresce quatro vezes.
propriedades à temperatura ambiente.
Além das variações estruturais nas soluções sólidas substitu-
cionais, sublinhadas na discussão do envelhecimento sob tensão (§11.2,
12.3.l. Fragilidade irreversível de revenido. Nos gráficos de te-
ítem 2 e §11.5, item 3), durante o revenido sob tensão dos aços, as
nacidade ao choque a 20ºC versus temperatura de revenido pode-se en-
discordâncias podem desempenhar um importante papel. São as dis-
contrar dois fossos, correspondentes ao desenvolvimento de dois tipos de
cordâncias que se formam e se redistribuem no processo de carrega-
fragilidade de revenido (curva 1, fig. 191). No intervalo de temperaturas
2 Tamliém denominado de revcnido dinâmico. de aproximadamente 250-400ºC, desenvolve-se a fragilidade irreversível
458 I. !. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 459
capítulo 12
160,-----------'--

140
J O grau de desenvolvimento da fragilidade irreversível de reve-
nido não depende da velocidade de resfriamento desde a temperatura de
N 120 revenido.
E
~ A respeito da natureza desta fragilidade de revenido, continuam
>-:>100
a se manifestar pontos de vista contrários, e até dados contraditórios.
õ
fso Na investigação de alguns aços, no estado de fragilidade de ievenido, foi
Q)
detectada a fratura intergranular (através dos contornos dos grãos gran-
"'
.§"60
o des de austenita) e fraturas intragranulares. É possível que este tipo de
o contradição seja condicionada pela diferença de pureza dos materiais in-
g4o
·g vestigados. Assim, por exemplo, o caráter intergranular da fratura não
<OJ
1n20 aparece no aço de fusão a vácuo no laboratório, com teor muito baixo
·m
de fósforo. Nos aços de pureza industrial estabeleceu-se a segregação de
&. o '-::-':--::~~~~-'-~-'-~.J__J
200 300 400 500 600 fósforo nos contornos de grãos grandes de austenita que se desenvolvem
Temperatura revenido,ºC em temperaturas da região /· Esta segregação de fósforo pode ser a
causa da fratura intergranular, para este estado estrutural· do aço, que
Figura :91. Variação da resistência ao choque (tenacidade) .a 20ºC, é característico do estado do aço com fragilidade irreversível de reve-
em funçao da temperatura de revenido do aço 37X:H3A (L.B. Smirnov; nido.
V. D. Sadovsk 1 -_Após têmpera normal e revenido de uma hora com
posterior resfriamento na água; 2 - Após T.T.M,A.T Nos aços ligados e ao carbono de elevada pureza, após o reve-
nido nas mesmas temperaturas, a fratura é intragranular. Neste caso,
de re~enido. A ~enacidade ao choque do aço temperado, após revenido através de microscopia eletrônica, revelou-se a relação entre a fragili-
neste mtervalo, e menor 3 do que após revenido de 250ºC. dade irreversível de revenido e a decomposição da austenita residual.
Se o aço fragilizado que foi revenido a 250-400ºC for conduzido Nas lâminas de rnatensita, entre as mesmas, encontram-se camadas fi-
a temperaturas mais elevadas para ser transformado para o estado tenaz nas de películas de austenita residual (fração volumétrica de 1-53), o
, a re~etição do rev~?ido a 250-400ºC não retorna o aço ao estado frágil'. que eleva a tenacidade ao choque do aço temperado. Com o revenido,
' Por isto esta fragilidade de revenido que se desenvolve a 250-400ºC é esta austenita decompõe-se, como regra, na região de temperaturas de
denominada irreversível. 300ºC, formando películas de carboneto entre as plaquetas de fase a. Es-
tas partículas de carboneto possibilitam a nucleação e desenvolvimento
A fragilidade irreversível, em maior ou menor grau, é proprie-
de trincas de.fratura intergranular (em relação ao contorno do grão aus-
dade· de todos os aços, tanto os ligados como os aços ao carbono. Ela
surge mais nitidamente nos aços ligados de baixo carbono os quais após tenítico inicial). Esta estrutura do aço revenido é parecida com a bainita
a têmpera e baixo revenido (abaixo de 250ºC), possuem' tenacid~de ao superior. Os elementos de liga que dificultam a precipitação de carbo-
choque relativamente alta. Nos aços de alto carl,iono, após a têmpera e neto da austenita residual (Si, AI) deslocam o intervalo de fragilidade
o baixo revenido, a tenacidade ao choque é tão pequena.que após a fra- irreversível de revenido para temperaturas mais elevadas.
gilização com revenido de 250ºC-400ºC é impossível analisar os mesmos Como não se aprendeu a evitar a fragilidade irreversível de
com ensaios normais com choque. revenido, como regra não se utiliza o médio revenido.

3 Os valores gerais indicados aqui e adiante, dos limites ~uperior e inferior de inter- 12.3.2. Fragilidade reversível de revenido ... O segundo fosso na
valos de tempera~u~as de fragilidade, são condicionais. Eles dependem, em primeiro curva de tenacidade ao choque acontece no intervalo de temperaturas de
lugar, da compos1çao do aço e da duração do revenido.
revenido de aproximadamente 450-600ºC (curva 1, fig. 191). Também
Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 461
460 I. I. Novikov
capítulo 12

a tendência do aço à fragilidade de revenido. É necessário medir a tena-


são indicados. com freqüência valores de 375 e 575ºC, respectivamente,
cidade ao choque em várias temperaturas, entre as quais temperaturas
para os limites inferior e superior deste intervalo.
negativas, isto é, construir as denominadas curvas em série.
Na figura 191 são claramente revelados os dois fossos de te- Se o aço não se encontra no estado de fragilidade de revenido,
nacidade ao choque, assim como o intervalo es.treito d~ tfü:nperaturas mesmo assim, com a diminuição de temperatura, intervém a conhecida
de revenido (próximo éJ, 450ºC),.. nçi"qual qcorr(j fr?gilidade dy revenido. fragilidade a frio dos metais, com a transição da fratura dútil para a fra-
Em muitos aços esta corcunda pa.éU:rva de tep.acidade ao .choque pode tura frágil, que é acompanhada de uma brusca queda na tenacidade ~
não existir de· nenhuma maneira,e erítãq ten1~seuma amplà faixa de choque, em um estreito intervalo de temperaturas (curva 1, fig. 192;.
temperàturas
.'
' '-
de revenido, após
' ' .
o' ,. qual
~ ~ : ..
.,
diminui
.;.. ; .
, .,
a . ténacidade
- ; ,, -
, -:
ao chà-
, O desenvolvimento da fragilidade de revenido ·desloca o intervalo de
que. transição de fratura dútil para frágil, para uma região de temperatu-
A fragilização após alto revenido pode surgir como resultado ras mais elevadas (curvas 2-4).
do aquecimento até 400-600ºC (independente da velocidade posterior de
resfriamento), e como resultado do revenido com temperaturas acima de
600ºC e posterior resfriamento lent~u10 interyalo de 600:-450ºC. O res- ~
~~
~~t~
friamento rápido desde as temperaturas de revenido superiores a 600ºC,
corno por exemplo na água, previ:i;ie.o desenvolvimento defragilidade de 1
revenido. o resfriamento rápido aí:><?s reyenido ·ª 45ü-6üüºC não previne
a fragilidade de revenido. Desta maneira, a permanência no intervalo
perigoso de temperaturas, de baixo (com aquecimento e exposição) ou ~O:: -20Cí-i!50•100-50 O . 50 100 l50 200
de cima (com resfriamento lento) conduz, qualitativamente, ao mesmo Temperatura do teste,ºC
resultado. ·
Figura 192. Variação da resistência ao choqne do a<;o com 0,423 C,
A particularidade mais importante da fragilização com alto re- 0,773 Cr, 0,763 i\'ln e 0,03G3 P, cm função da temperatura do teste,
venido é a sua reversibilidade. Se o aço, fragilizado como resultado do após revenido de uma hora a ü20ºC com resfriamento na água (1) e
rcvenido acima de 6üüºC e po~terior resfriamento lento, ou comei resul- com velocidade ele resfriamento de GGO (2), 100 (3) e 9º1</h (4)
tado do revenido a 450-600° (com qualquer velocidade de resfriamento),
é novamente aquecido até· temperaturas superiores a 600ºC e resfriado Se a tendência do aço à fragilidade de revenido é avaliada pelos
rapidamente, a tenacidade aÜ choque é restabelecida. Se, após isto, o resultados experimentais de apenas uma temperatura, pode-se deparar
aço permenece novamente no intervâIO perigoso de temperaturas de reve~ com os seguintes casos (fig. 193). Para temperatura experimental T2, os
nido, então se repete a fragilização.• Novo aquecimerito acimà de 600ºC valores da tenacidade ao choque, nos dois estados, diferenciam-se for-
com resfriamento tápidó destrói a fragilização, e assim por diante. Por temente (exatamente este caso corresponde às condições experimentais
isto, este fenômeno é denominado Jfagílidade reversível de revenido. O da fig. 191). Já para a temperatura experimental T1, que pode ser a
alto revenido é amplamente utilizado em diversos aços para construção. ambiente, geralmente não é possível revelar a tendências à fragilidade
Por- isto, a fragilidade reversívr:~l de revenido foi estud;ida com de revenido pelo valor da tenacidade ao choque. Isto acontece cu1bora,
det dunu1te muitas décadas. na realidade. exista esta fragilidade (a curva 2 na fig. 19'.3 está desl,Jcada
geralmente ~<:::1T1-sc cu1 para a direita em relação à curva 1). Também não é possível rcveLtr fra-
gilidade de revenido com experiências em baixa temperatura T:i· Desta
A.vai;a.çio quc..ntLativa da tendência do aço à fragiiidade de re·· maneira, apesar dos gráficos existentes na literatura sobre a variw.;ão da
venido. Pelos valores da tenacidade ao choque, medido à mesma tem-· tenacidade ao choque (a 20ºC) em função da temperatura de reveniclo
peratura (geralmente na temperatura ambiente), não é possível avaliar representarem significativo interesse, a ausência de fossos de tenacidade
462 !. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 463
-~~~~~~~~~~~~~--~~~

capítulo 12

ao choque nestes gráficos é conclusiva sobre a ausência de tendência do adições de molibdênio (0,2-0,3%) diminuem a fragilidade de re-
aço à fragilidade de revenido. venido, e com maior teor deste elemento eleva-se a fragilidade
de revenido. Com a diminuição· do teor de carbono no aço, a
fragilidade de revenido diminui, porém não é completamente
eliminada.
2) O mais importante é o fato de que o aço ligado de pureza muito
elevada decididamente não tende à fragilidade. de revenido, a
qual é provocada pela existência de diversas impurezas nos
T1 T2 T,
aços industriais e, antes de tudo, fósforo, estanho, antimônio e
Témperatura do teste arsênico. Se no aço de muita pureza adiciona-se, isoladamente,
0,01% de impurezas, de acordo com a tendência decrescente em
Figura 193. Esquema da variação da resistência ao choque, em função provocar a fragilidade de revenido ( Tx ), elas têm a seguinte
da temperatura do teste, para o aço sem tendência à fragilidade de ordem de seqüência: Sb, P, Sn, As. Com a elevação do teor de
revenido (1) e para o aço no estado de fragilidade de revenido (2). cada impureza indesejável, Tx cresce.
3) A velocidade e o grau de crescimento da fragilidade de revenido
Para avaliar, condicior.almente, a temperatura de transição do variam com a temperatura e o tempo de exposição do aço no
estado dútil para o frágil (Tx), também denominada temperatura crítica intervalo perigoso de temperaturas (450-600ºe). Esta variação
de fragilidade e limiar de fratura a frio, são utilizados vários critérios: é descrita pelas curvas-e de obtenção de determinados valores
temperatura de obtenção de determinado nível de tenacidade ao choque Tx (fig. 194). 4 Em alguma temperatura de revenido (550ºC,
(por exemplo, 30 din/cm 2 ); limite superior ou temperatura média do in- fig. 194) os estágios iniciais de fragilização aparecem com rapi-
tervalo de transição; temperatura para a qual 50% da fratura é ocupada dez significativamente maior do que em temperaturas maiores
por consistência dútil (fibrosa), e outros . ou menores.
O aumento de Tx como resultado do revenido, isto é, o valor Em temperaturas um pouco acima do nariz da curva-e, em
de Tx, serve como uma sólida medida quantitativa do·desenvolvimento muitos aços, o grau de fragilização passa por um máximo com o aumento
da fragilidade de revenido. do tempo de exposição.
4) Independente do grau de desenvolvimento da fragilidade de re-
Princípios de desenvolvimento da fragilidade de revenido. Adi- venido, um aquecimento repetido de curta duração (alguns mi-
ante serão vistos os princípios básicos do desenvolvimento da fragilidade nutos) até temperaturas superiores a GOOºe, e com posterior
reversível de revenido: resfriamento rápido, pode destruir completamente a fragilidade.
1) Os aços ao carbono que contêm menos 0,5% Mn não tendem à 5) O aço no estado de fragilidade de revenido possui estrutura
fragilidade reversível do revenido. Esta fragilidade aparece ape- de ferrita e carboneto, e a fratura nas experiências de choques
nas nos aços ligados. Os elementos de liga influem de diversas ocorrê majoritariamente através dos contornos dos grãos ini-
maneiras na tendência à fragilidade de revenido. Infelizmente, ciais de austenita. Quanto maior o tamanho de grão inicial de
exatamente os elementos de ligas mais amplamente utilizados austenita, tanto maior Tx. Isto acontece como resuH.ado do
crorno. níquel e manganês -- possibilitam o desenvolvimento desenvolvimento da fragilidade de revenido.
da fragilidade de revenido. Separadamente, estes elementos G) A fragilidade no intervalo de temperaturas de 450-600º é pro-
agem mais fracamente do que com a introdução conjunta dos priedade não apenas dos aços temperados em martensita. Ape-
mesmos no aço. A fragilidad<::· de revenido ocorre mais for-
4 As curvas-e de fragilização, além da forma, nada têm a ver em comum com as
temente nos aços crorno-níqnel e cromo-manganês. Pequenas conhecidas curvas-e de transformação de fases.
464 /. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 465
capítulo 12

revenido não possui precipitados particulares pelos contornos de grão e,


conseqüentemente, a hipótese de solubilização-precipitação não é consis-
tente.
o Outra hipótese explica a fragilidade de revenido através do au-
5 450 mento da concentração de impurezas nas camadas próximas aos contor-
~
8.400 nos de solução sólida. Isto foi confirmado pelo aumento do ataque dos
e contornos de grão com a solução de ácido pícrico, no estado de fragili-
~350L-..~~--'L-~~~~~~~-'--~~~-I
0,1 10 100 1000 dade de revenido. A hipótese sobre o papel condutor da segregação de
Tempo exposição,horas
impurezas foi plenamente confirmada na década de 70 em uma série de
trabalhos, nos quais foi utilizado o método de espectroscopia Auger, que
Figura 194. Curvas C de obtenção dos valores das temperaturas de permite determinar a concentração dos elementos em camada superficial
limite de fragilidade (Tx), com o revenido do aço com 0,393 C; 0,773 monoatômica. Com este método revelou-se a segregação de fósforo e ou-
Cr; 1,263 Ni; 0,793 Mn; e 0,153 P (segundo dados de Djafe e Bajum). tros elementos de impurezas na superfície da fratura do aço, no estado de
As cifras nas curvas são temperatura Tx, ºC.
fragilidade de revenido. A medida de suas concentrações (como também
das concentrações dos elementos de liga) na superfície da fratura também
sar de acontecer em grau menor, ela ocorre nos aços com estru-
mostrou que o desenvolvimento da fragilidade de revenido (aumento de
tura bainítica e, ainda mais fracamente, nos aços com estrutura
Tx) está diretamente relacionado ao crescimento da concentração de im-
perlítica. Além do mais, isto acontece, em todos os casos, com
purezas próximo aos contornos dos grãos grandes de austenita (fig. 195)
fragilização reversível. Nos aços com elevada tendência à fra-
gilidade de revenido recomenda-se também que, com o aqueci-
mento, se resfrie aceleradamente no intervalo perigoso de tem-
peraturas.
A teoria da fragilidade de revenido deve explicar todos estes
fatos.
Papel das impurezas. Desde que a fragilidade de revenido não surge 300
nos aços de muita pureza, a condição indispensável de seu desenvolvi- 200
mento é a presença de impurezas prejudiciais (P, Sb, Sn, As). Para o
entendimento dos princípios básicos e da natureza do desenvolvimento
da fragilidade é necessário antes de tudo estabelecer o comportamento b
destes elementos durante o revenido. o 200 40'.) 600 8X) ICXXl
Há muito tempo os pesquisadores apoiaram as hipóteses de so- Tempo revenido, h
lubilização-precipitação, de acordo com a qual a tenacidade ao choque
Figura 195. Variação da conceutrn<;ão de Sb e \ i 110 contorno de grão
decresce devido à precipitação de alguma fase pelo contorno de grão, na fratura (Cont), em função elo tempo ele rcwnido a 490ºC, do aço
como por exemplo os fosfetos. Com o aquecimento até ,....., 650ºC estas com 0,008% C; 1,73 Cr; .3,53 Ni e 0,07G Sb !Otane: Fendje; f'>fak-
fases passam para a solução a e, com resfriamento lento, precipitam- Magon; I\'luljord)
se e fragilizam o aço. O resfriamento rápido previne a precipitação
das fases diminuindo a fragilidade de revenido. Contudo, a análise de Como resultado da segregação de equilíbrio, a concentração de
microscopia eletrônica mostrou que o aço no estado de fragilidade de impurezas prejudiciais na superfície da fratura pode su pernr cm dezenas
/. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 467
capítulo 12

e centenas de vezes a concentração média no aço. A concentração habi-


tual de impurezas prejudiciais no aço de pureza industrial é de milésimos-
centésimos de frações percentuais, e na superfície de fratura ela é medida
em percentagens inteiras. A espessura da camada de segregação próxima
ao contorno é de alguns diâmetros atômicos.
A natureza física (mecanismo) de fragilização devido às se-
gregações de P, Sb, Sn e As não é esclarecida. De acordo com uma
suposição, os elementos de impurezas diminuem a energia superficial e, T~ T~ T~"
no mesmo montante, diminuem a energia de formação de trinca inter- Temperatura
granular. Não há confirmação direta desta s;uposição. De acordo com
outra suposição, os elementos de impurezas prejudiciais, que substituem Figura 196. Variação do limite de escoamento S e da resistência à
fratura frágil So (esquema), em função da temperatura.
os átomos de ferro devido ao maior diâmetro atômico dos mesmos em
relação ao do ferro, elevam a distância média entre os átomos das ca-
madas superficiais em ambos os lados do contorno. Como resultado, nos contornos de grãos. A segregeção é controlada pela aproximação,
o acoplamento entre os grãos vizinhos é enfraquecido. Quanto mais o por difusão, dos átomos do elemento para o contorno de grão, além do
diâmetro atômico da impureza superar o diâmetro atômico do ferro, mais que a concentração de impurezas na camada próxima ao contorno cresce
forte será sua ação de fragilização. Com isto pode-se explicar porque suavemente (fig. 195a), tendendo a um valor limite característico para
o antimômio é muito mais forte fragilizador do aço do que o fósforo, a dada temperatura (fórm. 28). Simultaneamente, Tx também cresce
quando as concentrações destes elementos (quantidades de átomos na suavemente (fig. 195b ).
superfície intergranular) forem iguais. Nos aços contaminados com fósforo e para temperatura de reve-
Para análise posterior, utilizaremos' o esquema clássico do a- nido bastante alta, o valor de Tx passa por um máximo após a obtenção
cadêmico A.F. Io e (fig. 196), que explica a'transição do material do da concentração de equilíbrio do fósforo no contorno de grão. Isto se
estado dútil para o frágil. Esta explicação é de que, com a diminuição dá porque o revenido prolongado conduz ao amolecimento <lo corpo do
da temperatura, o limite de escoamento (St) cresce intensivamente, e grão, ao mesmo tempo em que permanece inalterada a resistência à fra-
a resistência à ruptura (S 0 ) pouco se modifica. Na temperatura de tura intergranular. Então, a diminuição do.limite de escoamento conduz
transição T~, as curvas St e S 0 se cruzam. Abaixo de T~, o material fra- à diminuição de Tx, como mostra a fig. 196.
tura fragilmente, pois a resistência à fratura frágil (curva 1) é alcançada Nos aços contaminados com antimônio, com o aumento do tem-
antes de que se possa atingir o limite de escoamento (curva 2). Se no po de revenido Tx não passa por um máximo. Isto porque o antimônio,
estado de fratura frágil o acoplamento dos grãos, isto é, a resistência que se difunde muito mais lentamente que o fósforo, após o amolecimento
à fratura intergranular, é menor (curva 3), então para o mesmo limite com o revenido ainda continua a se segregar no contorno, diminuindo aí
de escoamento (curva 2) a temperatura de transição mostra-se maior a resistência à fragilidade.
(T~' > T~). O aumento do limite de escoamento (curva 4), sem mo- Com o aumento da temperatura, o processo difusional de for-
dificação da resistência do contorno de grão (curva 3), pode reforçar a mação de segregação no contorno de grão é acelerado e, simultanea-
fragilidade de revenido (T!;' > 7~'). mente, diminui o valor absoluto da segregação de equilíbrio, o qual decai
A utilização deste esquema e dos dados experimentais sobre a com o movimento de calor. A ação destes fatores condiciona o caráter
segrega(;ão de impurezas pode explicar os fatores básicos da ocorrência em forma de C das curvas de tempo de obtenção de determinada Tx
de fragilidade de revenido. (fig. 194).
Está mostrado experimentalmente que a temperatura de transi- Os cálculos mostram que a variação do tempo de obtenção de
ção Tx cresce com a elevação da concentração de impurezas prejudiciais dado grau de segregação de equilíbrio do fósforo, em função da tem-
468 /. J. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais
capítulo 12

peratura, é descrita por curvas-C análogas às curvas-C de Tx· Quanto impureza e do elemento de liga se unirem com mais força, quando juntos,
menor o teor total de fósforo no aço, mais para a direita estão locali- do que os átomos de ferro com esta impureza, então as segregações de
zadas as curvas-C de determinado grau de segregação de equilíbrio e, impurezas e de elementos de liga serão fortificadas mutuamente. Exata-
correspondentemente, menor a tendência do aço à fragilidade reversível mente assim comportam-se o P e Ni, P e Cr, Sb e Ni, Sb e Mn, e também
de revenido. outros pares de impurezas com elementos de liga. Um segundo elemento
de liga pode fortalecer complementarmente a segregação de impureza.
Em temperaturas superiores a 600-650ºC as segregações de im-
Por exemplo, o níquel e o cromo juntos exercem maior segregação do
purezas são completamente eliminadas (Sb) ou se encontram em nível
antimônio do que o simples conjunto de efeitos de suas influências sepa-
muito baixo (P). Com o resfriamento posterior do aço em água as se-
radamente.
gregações não conseguem se restabelecer.
A elevação da concentração de impurezas prejudiciais nas ca-
Os aços para construção, de fusão por arco elétrico aberto, madas próximas aos contornos de solução sólida, sob a ação de adição de
contêm 0,01-0,02%P; 0,005-0,01% Sn; 0,002-0,005% Sb e 0,005-0,01% liga, enfraquece a ligação intergranular (8 0 , fig. 196) e é uma das causas
As. No aço obtido por conversor a oxigênio e por Siemens-Martin, o da elevada tendência dos aços ligados à fragilidade de revenido, quando
teor típico de fósforo é ainda menor: 0,02-0,03% e 0,025-0,035%, res- contém Cr, Ni e Mn.
pectivamente. Quanto mais impurezas no aço, maior sua concentração A precipitação de carbonetos durante o revenido pode influir
no contorno do grão (fórm. 28). Por isto, apesar de o antimônio ele- na cinética de segregação das impurezas. Vejamos esta influência, to-
var Tx significativamente mais do que o fósforo (com igual concentração mando como exemplo a liga Fe-C-Ni-Sb. Devido ao fato de que é muito
de impurezas no contorno), e como nos aços industriais o fósforo está pequena a solubilidade do níquel no carboneto, em comparação com sua
em maiores quantidades (centésimos de frações percentuais) do que o solubilidade na fase a, com a precipitação de carbonetos os átomos de
antimônio (milésimos de frações percentuais), o fósforo exerce maior níquel separam-se do contorno ferrita-carboneto, onde se forma uma es-
influência na elevação de Tx durante o revenido. Além disto, em com- treita camada de solução a com excesso de níquel em não-equilíbrio, o
paração com o antimônio, o fósforo segrega muito mais rapidamente nos qual é reabsorvido lentamente.
contornos de grãos. Levando tudo isto em consideração, o fósforo deve Se não existe precipitação de carbonetos, o principal processo
ser visto corno a impureza mais prejudicial e, para diminuição da fragi- é a segregação de átomos de antimônio no contorno de grão. A dimi-
lidade de revenido, em primeiro lugar, é necessário purificar o aço em nuição do potencial químico do níquel e o enriquecimento da camada em
relação a este elemento. antimônio permite a aproximação dos átomos de níquel para o contorno,
Papel dos elementos de liga. No desenvolvimento da fragilidade de o qual, ao diminuir aí o potencial químico do antimônio, fortalece sua
revenido, os elementos de liga desempenham um papel que não é menor segregação. A segregação conjunta de antimônio e níquel irá continuar,
do que o das impurezas. As ligas Fe-C, que contêm a mesma quanti- até que não se estabeleça o equilíbrio de potencial químico µ'f,l,nt = µNj 1
dade de impurezas prejudiciais que o aço, não têm tendência à fragilidade e µ cont
Ni
_ µvol
- Sb
reversível de revenido. Nas ligas de ferro-carbono as segregações de im- Os contornos de grão que se enriqueceram anteriormente em
purezas prejudiciais são tão pequenas que não provocam fragilidade de níquel provocam uma segregação mais rápida do antimônio e, por isto,
revenido. Com a presença de elementos de liga (Ni, Cr e Mn) as se- a precipitação de carbonetos que conduz ao enriquecimento em níquel
gregações ele impurezas prejudiciais aumentam bruscamente. Com isto, pode acelerar em grnu o.tenso o desenvolvimento de fragilidade de re-
os próprios elementos de liga que niio formam segregações em equilíbrio venido nos estágios iniciais.
nos aços de elevada pureza, com a presença de impurezas prejudiciais, Os elementos de liga podem elevar 1"'.,; não apenas através da
segregam nos contornos de grão (fig. 195a). Conseqüentemente, pode-se elevação das segregações das impurezas prejudiciais, bem como do en-
falar da ação mútua do elemento de liga e da impureza na solução a, pos- fraquecimento do próprio acoplamento S 0 dos grãos, mas também ele-
sibilitando suas segregações conjuntas. Supõem-se que, se os átomos de vando o limite de escoamento St (fig. 196). Este, por exemplo, é Ó
470 /. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 471
capítulo 12

papel do cromo em muitos aços ao deter o amolecimento durante o 1) diminuição do teor de impurezas prejudiciais;
revenido. () aço cromo-níquel contaminado com fósforo possui uma 2) aceleração do resfriamento desde a temperatura de alto reve-
tendência significativamente maior à fragilidade reversível de revenido nido (acima de 600ºC);
do que o aço ao níquel. Isto é devido, principalmente, ao maior limite 3) introdução de pequenas adições de rnolibdênio (0,2-0,3%);
de escoamento e em menor medida, à elevação da segregação de fósforo. 4) utilização de tratamento termornecânico à alta temperatura
Com o aumento 'do teor de carbono nos aços cromo-níquel, a fragilidade (§15.2)
de revenido cresce mais fortemente em conseqüência do fortalecimento Na preparação dos aços de alta resistência com elevado limite
dos contornos de grão (o teor de carbono não influi na segregação de de escoamento, é oportuno, para evitar o crescimento da fragilidade de
fósforo). revenido, diminuir o limite admissível do teor de impurezas indesejáveis.
Não foi ainda esclarecida a natureza do enfraquecimento da Infelizmente, no processo de fusão do aço não se consegue a pureza em
fragilidade reversível de revenido sob a influ~ncia de pequenas adições relação à impureza prejudicial básica: o fósforo. Por isto, tem grande
de molibdênio e tungstênio. Uma das suposições é a brusca diminuição significado, aqui, a utilização da carga mais pura possível.
do limite de solubilidade do fósforo na fase a com a ação do molibdênio e, () resfriamento rápido desde a temperatura de revenido acima
correspondentemente, a diminuição da segregação de fósforo na solução de 600ºC é o meio mais barato e simples de evitar a fragilização do reve-
sólida e próximo ao contorno. nido. Contudo, em primeiro lugar, este meio não permite a eliminação
Papel dos contornos de grão austenítico. A fratura preferencial da fragilidade de revenido no centro das peças maciças e, em segundo lu-
através dos contornos iniciais dos grãos austeníticos,· dos aços que se gar, com o resfriamento na água de peça contendo arestas e furos podem
encontram no estado de fragilidade de revenido, está relacionada com a formar trincas (particularmente nos aços com elevado teor de carbono.)
segregação de impurezas prejudiciais nestes contornos.
Deve-se considerar que, após o alto revenido, não existem grãos
austeníticos como tais. Os contornos iniciais de grãos austeníticos nos
aços revenidos são as separações entre os cristais de fase a e os grãos
vizinhos, onde se encontram partículas de carbonetos. A fratura ocorre
através dos contornos a/a e a/carboneto.
A segregação forte de impurezas prejudiciais ocorre apenas nos
contornos de alto ângulo. No aço revenido todos os contornos a/ a ao
longo dos contornos iniciais de grãos austen'íticos são de alto ângulo,
ao contrário dos contornos internos entre as lâminas dos cristais de
fase a que se formam durante a transformação martensítica. A pre-
cipitação preferencial, durante o revenido, dos cristais maiores de carbo-
netos através dos contornos iniciais de grãos 'austeníticos e, correspon-
dentemente, o fortalecimento das segregações nos contornos a/carboneto
tamabém podem ser causas da fratura localizada nesta região.
Quanto maior o grão inicial de austeníta maior será Tx no es-
tado de fragilidade de revenido, pois com grãos grandes a trinca inter-
cristalina em desenvolvimento raramente modifica sua direção.
Medidas contra a fragilidade reversível do revenido. As medidas
básicas contra a fragilidade de revenido do aço são as seguintes:
PARTE V
Tratamento Termomecânico

A deformação plástica modifica o caráter da distribuição e eleva


a densidade dos defeitos da estrutura cristalina: discordâncias, lacunas,
falhas de empilhamento, contornos de pequeno e alto ângulo. Os defeitos
da rede cristalina influem fortemente na formação da estrutura das ligas
durante as transformações de fases. Por isto, a deformação plástica antes
das transformações de fases, ou no período de desenvolvimento destas
transformações, pode ser utilizada para formar uma estrutura otimizada
da liga tratada termicamente.
O tratamento termomecânico (T. T.M.) é um tratamento tér-
mico que inclui a defarmação plástica. Graças à elevação da densidade
de defeitos, esta defarmação plástica influi na f armação da estrutura
durante as transfarmações de fases que ocorrem durante a ação térmica.
Conseqüentemente, não é possível relacionar ao T.T.M.* qual-
quer conjunto de operações de deformação, aque~imento e resfriamento.
Por exemplo, se a deformação plástica ocorre após todas as operações
do tratamento térmico, estamos lidando não com T.T.M., mas com um
tratamento térmico habitual seguido de tratamento de deformação. Tal
deformação plástica, como por exemplo a laminação a frio após en-
velhecimento, pode produzir encruamento e elevar as propriedades de
resistência, porém ela não influi na formação da estrutura durante as
transformações de fases, pois estas transformações ocorreram antes da
deformação.
Se a deformação plástica for conduzida antes do tratamento
térmico, mas não causar determinada influência na formação da estru-
tura final da liga com as transformações de fases, então esta combinação
*Mais precisamente, deveria ser chamado de tratamento térmico com deformação.
474 /. /. Novikov
Variações das estruturas do metal, com tratamento de
deformação a quente
de·· deformação plástica seguida de tratamento térmico também não se
pode relacionar com o T.T.M. Por exemplo: a laminação a frio com pos- capítulo 13
terior aquecimento para têmpera, durante o qual ocorre recristalização,
não é uma parte constituinte do T.T.M., pois a estrutura recristalizada
caracteriza-se pela baixa densidade de defeitos da estrutura cristalina.
Os processos de deformação plástica e tratamento térmico du-
rante o T.T.M. podem ser reunidos em uma única operação tecnológica.
Porém, podem ser conduzidos em momentos diferentes, como por exem-
plo com o intervalo de vários dias. É importante, apenas, que as trans-
formações de fases ocorram em condições de elevação da densidade de
defeitos da rede, produzida pela deformação plástica.
Em nossos dias utiliza-se industrialmente, e são tentados, vários Durante dezenas de anos considerou-se que no processo de tra-
modelos de T.T.M., que incluem tratamentos a quente e (ou) deformação tamento de deformação a quente sempre ocorre a recristalização. Exata-
plástica a frio, a qual produz determinada influência na formação das es- mente neste fato é que se via a diferença entre os tratamentos a quente e a
truturas da liga durante o envelhecimento e as transformações perlítica, frio. A partir dos anos 60, as investigações detalhadas dos mecanismos
bainítica e martensítica. de deformação plástica a quente revelaram o engano desta afirmação.
Antes de entrar na análise das modificações da estrutura e das Revelou-se que a verdadeira estrutura que se forma diretamente no pro-
propriedades do metal com o T . T.M., é necessário verificar como se cesso de deformação a quente é, com freqüência, desfigurada pela re-
forma a estrutura com tratamento de deformação a quente (as variações cristalização que ocorre durante o resfriamento desde a temperatura do
estruturais durante a deformação a frio já foram vistas em 2.1). final da deformação a quente. O resfriamento muito rápido da amostra,
no momento de interrupção da deformação a quente, ajuda a revelar a
estrutura que se formou naquele momento. A resistência à deformação é
regulada pela modificação de estrutura. Por isto, pode-se também obter
informação valiosa sobre a essência dos processos que ocorrem durante a
deformação a quente, analisando a forma das curvas de tensão verdadeira
S versus deformação verdadeira e (fig. 197). 1 Estas curvas geralmente
são obtidas com experiências de torção ou compressão a quente.
A velocidade de deformação (e) 2 verdadeira durante o trata-
mento de deformação a quente encontra-se no .intervalo de 10- 2 -10- 3
seg- 1 . Ela é determinada pelo tipo de tratamento e de equipamento uti-
lizado. Por exemplo, durante a prensagem esta velocidade é, no mínimo,
da ordem de 10- 2 -10- 3 seg- 1 , e durante a forja com martelo é, no
1 e= ln t';•onde e0 é o comprimento inicial da amostra, e e é seu comprimento em
dado momento da deformação.
2e = i ;lf, onde e é o comprimento da amostra, e t é o tempo.
476 /. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 477
capítulo 13
S,MPa S,MPa
140 ap.10-• a arrumação das discordâncias em paredes (poligonização) e com a re-
-roo
1,5.10"' cristalização como resultado da "limpeza" das discordâncias pelos con-
30.1cr tornos de alto ângulo que se movimentam. Os processos de restauração
que ocorrem durante a deformação também possuem suas particulari-
4 0.10" dades, que serão vistas adiante. Em relação a estas particularidades,
6,5.10'"2 foram introduzidos os termos recuperação dinâmica (entre elas a poli-
gonização dinâmica) e a recristalização dinâmica, que se diforenciam
3,5.10-2 da recuperação estática e recristalização estática, as quais ocorrem com
6,0.10" 5 3,7.10-3
20 aquecimento após a deformação a frio ou com o término da deformação
20
a b a quente (durante a exposição ou resfriamento após a deformação).
o 0,2 0,4 0,6 013 '1,0e o 0,5 '1,0 1,5 2p 2,5e 13.1.1. Recuperação dinâmica. Se houver recuperação dinâmica
como o único processo de restauração durante a deformação a quente,
Figura 197. Variação da tensão verdadeira S em relação à deformação
então as curvas tensão x deformação possuem a forma mais simples: o
verdadeira e (os dados nas curvas são as velocidades de deformação crescimento da tensão diminui suavemente até atingir determinado valor
em seg- 1 ). a- ferro armco, 700°C (Immeridjen e Jonas); b- aço com que não depende do grau de deformação posterior (fig. 197a). Se o me-
0,253C, llOOºC (Rossard). tal inicial foi recozido e possuía estrutura recristalizada com densidade
de discordâncias da ordem de 10 6 -10 8 cm- 2 , no período de endureci-
máximo, da ordem de 10 1 -103 seg- 1 . A resistência à deformação de- mento por deformação a densidade de discordâncias cresce suavemente,
pende fortemente da velocidade de deformação. Então, os gráficos S-e atingindo o estágio de fixação do seu valor na ordem de 10 10 cm- 2 .
são construídos para diversas velocidades (fig. 197).
No estágio de endurecimento por deformação ( encruamento a
Em cada ciclo real de tratamento de deformação a quente, a quente), inicialmente formam-se novelos de discordâncias e, posterior-
temperatura do metal se modifica de maneira complexa. Ela pode elevar- mente, estruturas celulares. Gradualmente formam-se estruturas de
se devido ao calor adiabático ou diminuir devido à perda de calor nos subgrãos, isto é, ocorre poligonização dinâmica. No estágio de fixação de
equipamentos mais frios e no meio ambiente. Para simplificação da escoamento ficam constantes o tamanho médio dos subgrãos, suas deso-
análise das experiências de laboratório, a construção dos gráficos S-e é rientações e a densidade média de discordâncias no interior dos subgrãos.
realizada em condições próximas à isotérmica.
Com o crescimento do grau de deformação, a velocidade de
geração de discordâncias pouco se modifica, e a velocidade de aniquilação
13.1. Modificações estruturais durante a defonnação a quente. das mesmas cresce devido à elevação da densidade de discordâncias até
o momento em que se nivela a velocidade de geração. Isto também cor-
Nas etapas iniciais da deformação a quente sempre ocorre en- responde à obtenção do estágio de fixação do escoamento. Com a dimi-
durecimento por deformação, relacionado com a elevação da densidade nuição da temperatura ou com a elevação da velocidade de deformação,
de discordâncias. Os processos de restauração e amolecimento, com adi- os processos de restauração por recuperação conseguem ocorrer em me-
mi~uição da densidade de discordâncias durante a deformação a quente, nor grau para o mesmo valor de deformação. Por isto, o estágio de
poaem ser apenas de recuperação e recristalização. fixação do escoamento encontra-se no intervalo de O, 1 a O, .5, depen-
Os processos de amolecimento durante a deformação a quente dendo da temperatura e da velocidade de deformação.
são análogos aos processos de amolecimento durante o aquecimento após No estágio de fixação do escoamento os subgrãos permanecem
a deformação a frio: com a recuperação, diminui a densidade de dis- equiaxiais, até deformações muito grandes. Ao mesmo tempo, os grãos
cordâncias como resultado do deslocamento e deslizamento cruzado, com se inclinam fortemente na direção do escoamento. A conservação da
478 /. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 479
capítulo 13

equiaxialidadle dos subgrãos pode ser explicada pelo processo de repoli- A expressão é exp( Q/ RT) = Z é denominada Parâmetro de
gonização, que é a repetição, muitas vezes, da poligonização. Consiste na Ziner-Holomon. Este parâmetro caracteriza a influência simultânea da
destruição dos contornos de subgrãos e em nova formação dos mesmos, velocidade e da temperatura de deformação na tensão de escoamento.
nos mesmos locais. Com isto, o tamanho médio dos subgrãos permanece O deslizamento cruzado e o deslocamento de discordâncias são
constante. os principais processos elementares da recuperação dinâmica, durante
Quanto maior a temperatura e menor a velocidade de deforma- a deformação a quente. Com a elevação da energia de falha de em-
ção, menor é a tensão no estágio de fixação do escoamento, menor é a pilhamento e, correspondentemente, com a diminuição da largura das
densidade total de discordâncias, e maiores os subgrãos. discordâncias estendidas, a ocorrência destes processos é facilitada. Por
A recuperação dinâmica pode se desenvolver também durante isto, a recuperação dinâmica dos metais com maior energia de falha de
a deformação a frio. Contudo, neste caso, ela não conduz ao estágio de empilhamento se dá mais intensamente e conduz à formação de estru-
fixação do escoamento: o endurecimento por deformação se dá conti- turas mais perfeitas, com subgrãos mais fortalecidos do que nos metais
!
1
nuamente, e a recuperação dinâmica consiste, apenas da diminuição do com baixa energia de falha de empilhamento (e na mesma temperatura
1. coeficiente de endurecimento por deformação, com o crescimento da de- homóloga). Os metais nos quais se dá desenvolvimento ativo de recu-
formação. A densidade de discordâncicas nas paredes das células cresce peração dinâmica durante a deformação a quente são, por exemplo, AI,
t durante a deformação a frio, ao mesmo tempo em que, no estágio de Fe-a:, Mo, W, Zn, Be e Zn. A introdução de adições que entram em
fixação do escoamento na deformação a quente, a densidade total de solução sólida e diminuem a energia de falha de empilhamento dificulta
1 discordâncias permanece constante. Estas diferenças no comportamento a recuperação dinâmica. Esta adição pode conduzir ao crescimento da
do metal durante as deformações a quente e; a frio são condicionadas tensão de escoamento em uma ordem de grandeza, durante a deformação
pelas diferenças nos mecanismos da recuperação dinâmica. Durante a a quente.
deformação a frio, o único mecanismo da recuperação dinâmica é o des- Durante a deformação a quente podem ocorrer processos que
lizamento cruzado das discordâncias, o qual permite às discordâncias complicam o tipo de curvas S-e. A tensão de escoamento após a obtenção
contornarem as barreiras e, desta maneira, diminuir o coeficiente de do estágio de fixação do escoamento pode diminuir suavemente em con-
endurecimento por deformação. Durante a defprmação a quente, a recu- seqüência do calor adiabático do metal deformado. A diml.nuição desta
peração dinâmica, além do deslizamento cruzado, inclui também o deslo- tensão pode também ser provocada pelo coalescimento de precipitados,
camento de discordâncias. Por isto, estabelece-:se a possibilidade de poli- que possibilitam a difusão acelerada de elemento solubilizado, através
gonização e mantém-se constante a densidade total de discordâncias, isto das paredes de discordâncias. Se, durante a deformação a quente, a
é, atinge-se o estágio de fixação. O deslocamento de discordâncias, como solução se decompõe com a formação de precipitados dispersos, a tensão
processo mais lento, controla o mecanismo de recuperação dinâmica du- de escoamento cresce.
rante a deformação a quente. O limite inferior da região de temperaturas
de deformação a quente pode se considerar, condicionalmente, como a 13.1.2. Recristalização dinâmica. Nas curvas tensão-deformação,
temperatura homóloga de O, 5Tp, acima da qual se dá ativamente odes- a recristalização dinâmica se manifesta pela queda da tensão de escoa-
locamento de discordâncias. mento. No estágio de fixação do escoamento são possíveis dois tipos de
A tensão T no estágio de fixação do éscoamento durante a de- comportamento do metal (fig. l 97b). Para velocidades de deformação
formação a quente não depende do grau de deformação, mas é determi- mais elevadas, a tensão de escoamento após a queda torna-se constante3,
nada pela temperatura T e pela velocidade de deformação é: e para velocidades mais baixas a tensão de escoamento oscila em torno
de algum nível médio, o qual é tanto menor quanto menor for a velo-
Tn = Aéexp(Q/ RT) (4.1)
3 Com velocidades suficientemente altas, devido ao calor adiabático da amostra, pode
onde Q é a energia de ativação da deformação plástica; A e n são cons- ocorrer uma queda suave da tensão, no estágio de fixação do escoamento (curva
tantes (n=3-6). superior, fig. 197b)
480 l. l. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 481
capítulo 13

cidade de deformação. Com o crescimento do grau de deformação, a temperatura e menor a velocidade de deformação, tanto maiores e mais
amplitude da oscilação da tensão diminui gradualmente, e a curva 8-e perfeitos os grãos recristalizados.
se nivela. Com baixa velocidade de deformação, os ciclos de recrista-
A investigação de amostras resfriadas bruscamente, cujas de- lização conseguem terminar antes que as regiões recristalizadas em pri-
formações foram interrompidas em diferentes estágios, permitiu esta- meiro lugar consigam atingir a densidade crítica de discordâncias, e co-
belecer o quadro a seguir sobre as variações estruturais. Inicialmente, mece novo ciclo de recristalização. Por isto, com pequena velocidade
ocorre endurecimento por deformação com recuperação dinâmica pa- de deformação, inicialmente observa-se uma perfeita alteração de que-
ralela (regiões ascendentes das curvas de tensões verdadeiras). Se a das (amolecimento de recristalização) e elevações (endurecimento por
recuperação dinâmica se desenvolve fracamente, com a elevação da den- deformação) da tensão de escoamento. Como estes processos são dife-
sidade de discordâncias formam-se as condições para o aparecimento de rentes, em intensidade, nas diversas regiões do macrovolume da amostra,
núcleos de recristalização dinâmica. Com pequenas velocidades de de- e também por motivos casuais, haverá o término da coincidência de fase
formação, eles surgem através do mecanismo de abaulamento localizado da oscilação, ao longo do volume. Então, diminui a oscilação da tensão
dos contornos de alto ângulo existentes (fig. 22) e, com velocidades ele- de escoamento, e a curva S-e se nivela (fig. 197b ).
vadas, as paredes das células acumulam cada vez mais discordâncias, Com altas velocidades de deformação, a velocidade de aumento
transformando-se em contornos de alto ângulo que nucleiam a recrista- da densidade de discordâncias é maior que a velocidade de recrista-
lização dinâmica. lização, e até o término do primeiro ciclo de recristalização se atinge a
Enquanto os grãos recristalizados que possuem menor resistên- densidade crítica de discordâncias, isto é, se inicia o segundo ciclo de
cia ocupam pequena parte do volume do metal, a tensão de escoamento recristalização. Como resultado desta superposição de ciclos de recris-
ainda continua a crescer. Com a elevação do volume total das regiões talização, a tensão de escoamento não oscila: em seguida ao pico de
recristalizadas, o amolecimento supera o endurecimentD por deformação, tensão ela cai até determinado nível, intermediário entre as resistências
e a tensão de escoamento decresce. Conseqüentemente, o grau crítico à deformação das regiões recristalizadas e não-recristalizadas.
de deformação, que corresponde ao início de recristalização dinâmica, é
As particularidades c.aracterísticas da estrutura do metal no
uµia deformação um pouco menor do que a que corresponde ao pico de
estágio de recristalização dinâmica são as seguintes:
tensão verdadeira de escoamento.
a) desuniformidade da estrutura através do volume do metal e
A recristalização dinâmica se diferencia da estática em que os
no interior dos grãos isolados, devido ao fato de que algumas
grãos recristalizados que surgem com baixa densidade de discordâncias
regiões acabam de se recristalizar, e as regiões que recristali-
durante seu crescimento se encruam gradualmente devido à continuação
zaram antes foram submetidas a encruamento e recuperação
da deformação e neles então se eleva a densidade de discordâncias. As
dinâmica;
regiões que se recristalizam em primeiro lugar iniciam a se encruar antes,
e nelas mais rapidamente atinge-se novamente a densidade crítica de b) contornos de grãos heterogêneos e serrilhados, devido à forma-
discordâncias, necessária para a nucleação de novos grãos recristalizados, ção de "línguas" durante a nucleação de novos grãos;
os quais, em seguida, se encruam, e assim por diante. A alternância c) surgimento de colônias de novos grãos, principalmente perto
repetida do ciclo de recristalização dinâmica e encruamento dos grãos dos contornos dos cristais iniciais:
recristalizados corresponde ao estágio de fixação do escoamento com d) grãos equiaxiais (que se diferenciam dos grãos alongados do
tamanho médio de grão não variável. estágio de recuperação dinâmica).
O encruamento dos grãos recristalizados diminui a diferença de Com o forte desenvolvimento de recuperação dinâmica, a den-
densidade de discordâncias nos dois lados do contorno em movimento. sidade crítica de discordâncias, necessária à nucleação de centros de
Como esta diferença é a força motriz da migração do contorno, a veloci- recristalização, pode não ser atingida até os mais altos graus de de-
dade de crescimenteo dos grãos recristalizados diminui. Quanto maior a formação. Nestas condições., geralmente não tem início a recristalização
/. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 483
482
capitulo 13

dinâmica. Exatamente esta situação se observa na prensagem de semi- Os dois primeiros processos têm análogos durante o recozimento
fabricados de ligas industriais de alumínio. Nos metais de energia de após deformação a frio, e a recristalização metadinâmica pode ocorrer
falha de empilhamento relativamente baixa (Cu, Ni, Co, Fe-y, Ag, Au, apenas após a deformação a quente.
Pb), o deslizamento cruzado e o deslocamento de discordâncias e, corres- Os tipos de processos de restauração, suas cinéticas e a in-
pondentemente, a recuperação dinâmica, são dificultados. Assim sendo, fluência no amolecimento dependem do estágio em que foi interrompida
com deformação a quente suficientemente alta, pode-se conseguir a den- a deformação a quente. Na figura 198a vê-se a curva de escoamento do
sidade crítica de discordâncias necessária para a nucleação de centros de aço ao carbono no estado austenítico a 780ºC, e na figura 198b a cinética
recristalização dinâmica. de amolecimento durante exposição isotérmica após deformação, e após
Se o grau de deformação for menor que o crítico, como por a interrupção da compressão a quente com vários graus de deformação.
exemplo durante a laminação, nestes metais lidamos apenas com a re- A curva 1 na figura 198b corresponde à interrupção da compressão a
cuperação dinàmica. quente no estágio de início do endurecimento por deformação (ponto ·
Os elementos de liga que diminuem a energia de falha de empi- correspondente 1 na curva de escoamento fig. 198a). Neste caso, o en-
lhamento dificultam a recuperação dinâmica, e, ao mesmo tempo, facili- cruamento no término da deformação ainda é bastante pequeno para
tam a obtenção da densidade crítica de discordâncias, necessária para a que, na exposição após a deformação, seja possível a recristalização
recristalização dinâmica. Na avaliação do papel das adições de elemen- estática, e o amolecimento após a deformação ocorre apenas por re-
tos de liga, deve-se considerar a possibilidade de dificultação da recris- cuperação estática. Esta recuperação tem início imediatamente após o
talização dinâmica, devido à inibição da migração dos contornos de alto término da deformação a quente (sem período de incubação) e se dá
ângulo pelas partículas dispersas. com dificuldades, extingüindo-se em aproximadamente 100 seg (saída
Entre as ligas industriais, nas quais com deformação a quente da curva 1 na horizontal, fig. 198b ).
suficientemente elevada surge recristalização dinâmica, relacionam-se os

,=r: ,
aços ao carbono e ligados no estado austenítico, ligas de níquel resistentes ~100
º~
ao calor e latão. O grau crítico de deformação, necessário para o início o
•O
da recristalização dinâmica, diminui com o crescimento da velocidade de 215
deformação e com a diminuição de temperatura.
Desta maneira, dependendo do tipo do metal, da composição
.1 ::>
o
liso
....
da liga, da temperatura e do grau e velocidade de deformação, podemos o 0,2 0,4 º" ~
Q)
"O

~25
ter durante o tratamento de deformação a quente apenas a recuperação b
dinâmica, ou recristalização dinâmica, que pode ocorrer junto com are-
to' 102 io3 104 105 106
cuperação. Em qualquer caso, para a deformação a quente, ao contrário Exposiçoo,seg
da deformação a frio, após o endurecimento por deformação há o estágio
de fixação do escoamento.
Figura 198. Curvas de escoamento do aço com 0,683 C, deformado
13.1.3. Variações estruturais após o término da deformação a por compressão a 780ºC, na velocidade de 1,3 x 10- 3 seg- 1 (a), e
variação do grau de amolecimento deste aço, em função da exposição
quente. Em todos os estágios da deformação a quente, no metal existe
a 780ºC após a deformação (b) (Djeik e Jonas): 1-4 exposições após
,a elevação da densidade de discordâncias, a qual serve de estímulo termo- deformações verdadeiras de, respectivamente, 0,055; 0,098; 0,24 e 0,41.
dinâmico para os processos de restauração após a deformação. Existem
três tipos de processos de restauração independentes, que ocorrem com
o término da deformação a quente: recuperação estática, recristalização A curva 2 corresponde à interrupção da compressão a quente
estática e recristalização metadinâmica. no estágio do endurecimento por deformação. Porém, o grau de de-
484 /. l. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 485
capítulo 13

formação é maior (ponto 2 correspondente, fig. 198a), e o encruamento antes do que se inicia a manifestar o amolecimento devido à recrista-
é suficiente para o desenvolvimento de recristalização estática durante lização metadinâmica que está em desenvolvimento.
a exposição que se segue à deformação. Esta recristalização inicia-se A curva 4 na figura 198b corresponde ao amolecimento após a
em aproximadamente 10 4 seg (período de incubação) a partir do início interrupção da deformação a quente no estágio de fixação do escoamento
da exposição e conduz ao completo amolecimento (segunda ascensão da (ponto 4, fig. 198a). Aqui não há parada do amolecimento pelo término
curva 2). Com a elevação da velocidade de deformação até certo grau, da recuperação estática, pois até este momento já se desenvolveu forte-
cresce a densidade de discordâncias. Como resultado, acelera-se a re- mente o amolecimento por recristalização metadinâmica. O novo é que a
cristalização estática durante a exposição que se segue à deformação (a recristalização metadinâmica conduz ao completo amolecimento em um
velocidade de recristalização com o aquecimento após a deformação a tempo menor do que o período de incubação da recristalização estática,
frio é pouco sensível à velocidade de deformação a frio). a qual, por isto, não ocorre.
No período de incubação ocorre apenas recuperação estática, Quanto maior o grau de deformação a quente até o início do
a qual se desenvolve um pouco mais rapidamente e conduz a um maior estágio de fixação do escoamento, mais rápido ocorre o amolecimento
amolecimento, em comparação com o caso precedente (o platô da curva durante a exposição que se segue à deformação e menor o grão recris-
2 é maior que o da curva 1). talizado. A elevação do grau de deformação no estágio de fixação do
A curva 3 é particularmente interessante e caracteriza o amo- escoamento não influi nem na velocidade de amolecimento nem no ta-
lecimento após deformação, a qual é interrompida no estágio de início manho do grão com a exposição após a deformação. A velocidade de
de recristalização dinâmica, porém ainda não tendo atingido o estágio amolecimento após a deformação cresce com o aumento da temperatura
de fixação de escoamento (ponto 3 na queda após o pico de tensão, de deformação a quente.
fig. 198a). Neste caso, o amolecimento ocorre em três etapas. A pri- Os grãos que se formam durante a exposição pós-deformação
meira e terceira ascensões na curva 3 são análogas à ascensão na curva 2 diferenciam-se dos grãos que surgem no estágio de recristalização dinâ-
e correspondem à recuperação estática e recristalização estática que tem mica pela ausência de subestruturas e pelos contornos menos tortuosos.
início após o período de incubação. O novo é a ascensão intermediária A influência dos três processos vistos de restauração no amo-
na curva 3, que corresponde à recristalização metadinâmica (após a lecimento pós-deformação depende do grau de deformação, o que está
dinâmica), a qual, ao contrário da recristalização estática clássica, ocorre indicado esquematicamente na figura 199. Neste esquema, ec é o grau
sem período de incubação. crítico da deformação a quente, necessário para o início de recristalização
Quando a deformação é interrompida no estágio de recrista- estática, ed é a deformação no momento do início da recristalização
lização dinâmica, não se conseguindo encruar os grãos recristalizados dinâmica, e ey é a deformação que corresponde ao início do estágio de
que nuclearam, estes estão capazes para o crescimento em condições fixação do escoamento. Por exemplo, com a deformação ex o grau de
estáticas, logo após o término da deformação a quente. Muitos con- amolecimento por recuperação estática caracteriza-se pelo trecho ab, por
tornos de alto ângulo dos grãos recristalizados, que têm os dois lados recristalização metadinâmica pelo trecho bc, e por recristalização estática
com diferença brusca de densidade de discordâncias, migram no sentido (clássica) pelo trecho cd, cujo total dá 100%.
dos grãos mais encruados pela deformação a quente, e podem continuar Se a deformação e < ec, o amolecimento é resultado apenas
esta migração logo após o término da deformação. Com isto, tem-se a da recuperação estática e, às vezes, não se dá completamente (região
particularidade mais importante para a prática da recristalização meta- sombreada-grau de amolecimento não pleno). Se ec < e < ed, a recu-
dinâmica: a ausência de período de incubação e a ocorrência de recris- peração estática e a posterior recristalização estática conduzem ao amo-
talização com crescimento dos grãos no curto período de resfriamento lecimento pleno. Se ed <e< ey, a recristalização metadinâmica também
do metal desde a temperatura de deformaçao. exerce influência no amolecimento, cuja fração cresce com a elevação do
A primeira extinção do amolecimento (pequeno platô, fig. 198b) grau de deformação a quente. Com e> ey, isto é, no caso de fixação do
é resultado de que o amolecimento devido à recuperação estática termina escoamento, todo amolecimento pós-deformação é garantido pela recu-
486 J. J. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 487
capítulo 13

Recuperoçõo Recuperacco
dinâmica din8mica
1Recristalização
I metadinõmica
Recuperaçlio Recrlslolizoç<io
estática estática
1
1 Recuperação Recristalizaçoo
.a 1 estática dinomica
eced ,ey
Grau de deformação e
·RécrlatoHzações metadinomico
e estático

Figura 199. Esquema da influência do grau de deformação a quente, na Figura 201. Esquema de combinação dos processos dinâmicos e estáticos,
fração de amolecimento após deformação, sob ai ação da recuperação durante prensagem a quente com elevada redução.
estática, recristalização clássica estática e recristalização metadinâmica
(Djeik e Jonas). e o segundo para os metais com baixa energia de falha de empilhamento.
Se entre os passes não há recristalização estática, e o encrua-
peração estática e pela recristalização rnetadinârnica (sem participação mento se acumula, apesar do grau de deformação relativamente pequeno
da recristalização estática). A influência da recuperação estática no em cada passe, e com determinado grau total de redução de laminação
amolecimento pós-deformação geralmente não ultrapassa 503. a quente, a recristalização dinâmica é possível e inicia-se na zona de
Corno conclusão vejamos as possíveis combinações dos proces- deformação.
sos de restauração estática e dinâmica, durante o trabalho de deformação Na prensagem a quente, freqüentemente se atinge um grau de
a quente nas condições industriais (fig. 200 e 201). deformação muito grande. Se na zona de deformação ocorreu ape-
nas recuperação dinâmica, com o resfriamento do semiproduto pren-
sado, dependendo do grau, velocidade e temperataura de deformação,
e também da energia de falha de empilhamento, pode ocorrer apenas a
recuperação estática (fig. 20la), ou é possível também a recristalização
clássica (fig. 20lb). Se durante a deformação a quente desenvolve-se
recristalização dinâmica, na saída da prensa ocorre a recristalização me-
tadinârnica (e clássica) no semi-produto (fig. 201c).
Durante a laminação a quente, com redução suficientemente
Figura 200. Esquema de combinação dos processos estático e dinâmico, alta em um passe é possível a combinação dos processos de restauração,
durante laminação a quente com redução não-elevada. tal como acontece na prensagem.
Para que nas peças deformadas a quente (semiprodutos) se
Na laminação a quente, o grau de deformação em um passe obtenha um controle, como por exemplo estrutura completamente não-
geralmente é relativamente pequeno, e na zona de deformação (entre recristalizada, é desejável, no caso de ligas industriais, possuir dados
os cilindros) ocorre apenas recuperação dinâmica que não modifica a comprovadores de seu estado estrutural, após o tratamento em um re-
forma dos grãos. Na saída dos cilindros, no metal que se resfria, pode gime concreto.
ocorrer apenas recuperação estática, e os grãos permanecem alongados Durante o tratamento de deformação a frio, o grau de de-
(fig. 200a), ou é possível também recristalização estática como resultado formação é o principal parâmetro que determina o nível de energia ar-
da qual se formam grãos equiaxiais (fig. 200b). O primeiro caso é carac- mazenada e, correspondentemente, a passagem (com posterior aqueci-
terístico para os metais com elevada energia de. falha de empilhamento, mento) da estrutura não-recristalizada para a recristalizada. Já no tra-
488 /. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 489
capítulo 13

tamento de deformação a quente, a acumulação de energia e o estado


estrutural obtido dependem também da temperatura e da velocidade de
deformação, e estes parâmetros oscilam em limites amplos para a mesma
liga. Por exemplo, as velocidades de deformação durante a prensagem a
quente e a forja com martelo podem diferenciar-se em cinco ordens de
grandeza (!).
Os processos industriais de tratamento de deformação são rea-
lizados, freqüentemente, no estágio de fixação do escoamento da de-
formação a quente, no qual tanto a tensão de escoamento como o valor
da energia aculumada não dependem do grau de deformação (fig. 197).
Então, para simplificação da análise, a influência do grau de deformação
a quente na estrutura obtida pode não ser considerada. Iu. M. Vainblat
propôs, para as ligas de alumínio, um diagrama de estados estruturais 10-'1cr1 10-' 1 10 102 10'
com grandes reduções, isto é, no estágio de fixação do escoamento, para é,seo-•
determinadas velocidades de deformação (fig. 202). Para as ligas de
alumínio que são endurecidas termicamente, é importante conhecer a Figura 202. Diagrama de estados estruturais da liga de alumínio, marca
AB, deformada com redução de 50% ~ aqueéida antes da têmpera até
estrutura, nem tanto no estado recém-deformado, mas após o aqueci- 520ºC; e- velocidade; Td- temperatura de deformação (Iu.M. Vainblat).
mento, até a temperatura que precede a têmpera, a qual pode estar
tanto acima como abaixo da temperatura de início de recristalização
A linha AA que termina na região I de estados pré-críticos onde
(é o que se denomina endurecimento estrutural, possibilitado pela con-
não há recristalização e que vem desde a região de estados pós-críticos é
servação, durante a têmpera, da estrutura não-recristalizada) (§14.2).
denominada linha de estados críticos. Qualquer ponto nesta linha corres-
Por isto, é oportuno que os diagramas de estados estruturais das ligas
ponde à temperatura de início de recristalização (após a deformação no
industriais de alumínio sejam construídos para condições padronizadas
estágio de fixação do escoamento), que é igual à temperatura de aqueci-
de aquecimento antes da têmpera (520ºC para a liga AB da figura 202).
mento antes da têmpera: (Tir)fix = Ttemp· Conseqüentemente, pode-se
No diagrama de estados estruturais, a linha AA termina na
concluir que qualquer ponto na linha de estados críticos AA corresponde
região I de deformação a quente após a qual, com o aquecimento antes
ao mesmo nível de energia acumulada. Naturalmente, quanto maior a
da têmpera, não há recristalização. A linha AA caracteriza a interação
temperatura de deformação, tanto maior deve ser a velocidade crítica
entre dois parâmetros críticos da deformação a quente: velocidade crítica
de deformação para acumular suficiente energia para o início da recris-
de deformação e temperatura crítica de deformação. Com velocidade talização.
abaixo da crítica e temperatura acima da crítica não há recristalização
A linha BB na figura 202 é o limite temperatura-velocidade da
durante o posterior tratamento térmico padronizado. Por exemplo, se
região II, onde a recristalização, com o aquecimento anterior à têmpera,
a liga AB (fig. 202) é deformada com velocidade próxima a 10- 1 seg- 1 ,
ocorre plenamente, isto é, nesta linha (T/)fix = Ttemp· Entre as linhas
a estrutura não-recristalizada, na peça temperada, pode ser obtida con-
AA e BB encontra-se a região III de recristalização parcial. Finalmente,
duzindo a deformação a temperaturas superiores a 400ºC. Por outro
a linha CC termina na região IV, na qual a recristalização ocorre ime-
lado, se a iíga é def~rmada a 400ºC, a estrutura não-recristalizada após
diatamente após o término da deformação a quente, sem aquecimento
a têmpera pode ser obtida apenas com velocidades de deformação me-
complementar (ver acima a recristalização metadinâmica).
nores que 10- 1 seg- 1 . Durante o tratamento de deformação a quente, a
velocidade crítica da deformação desempenha um papel semelhante ao
do grau crítico de deformação no tratamento de deformação a frio.
Tratamento termomecânico das ligas envelhecíveis
capitulo 14

Na figura 203 estão citados os esquemas de T. T. M. das ligas


envelhecíveis. As linhas serrilhadas assinalam a deformação plástica.

14.1. Tratamento termomecânico à baixa temperatura (t.t.m.b.t.).

O T.T.M.B.T. das ligas envelhecíveis é o primeiro que sur-


giu (anos 30) e o mais amplamente empregado nos tratamentos ter-
momecânicos industriais.
O objetivo básico do T.T.M.B.T. é a elevação das propriedades
de resistência.
No T.T.M.B.T. inicialmente as ligas são submetidas à têmpera
habitual, e depois, antes do envelhecimento, à deformação a frio (fig. 203).

Tempo-

Figura 203. Esquema de tratamento termomecânico de ligas envelhe-


cidas.

Em comparação com o envelhecimento sem deformação prévia,


com o T.T.M.B.T. obtém-se limite de resistência e limite de escoamento
492 /. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 493
capítulo 14

mais elevados e menores índices de plasticidade. Na figura 204 mostra-se que a temperatura de envelhecimento de 450ºC é bastante baixa para
a influência do grau de deformação a frio na dureza da liga de níquel o Nimonic, e com a ausência de encruamento a frio a decomposição da
temperada (Curva 1), e para a mesma liga envelhecida após a deformação solução supersaturada desenvolve-se muito lentamente nesta tempera-
(Curva 2). tura. Se após a têmpera o envelhecimento for realizado à temperatura
ótima para o endurecimento máximo (próximo a 700ºC), o efeito da
introdução de encruamento a frio será significativamente menor.
Em primeira aproximação pode-se afirmar qtyl o encruamento
a frio, ao elevar a densidade de defeitos nos cristais da solução supersa-
turada, torna a mesma menos estável termodinamicamente e acelera o
envelhecimento. Contudo, os dados experimentais e a análise mais de-
talhada mostram que a influência do encruamento, no envelhecimento,
pode ser bastante complexa. O caráter desta influência depende do re-
gime de têmpera, de deformação e de envelhecimento, da natureza da
liga, e para a mesma liga depende do tipo de precipitação durante o
envelhecimento.
o 20 40 60 BO
Grou de redução, ºlo
Vejamos inicialmente a influência da deformação a frio no en-
velhecimento de zona. Pode parecer que a deformação, elevando a den-
sidade de discordâncias e a concentração de lacunas, deve acelerar o
Figura 204. Influência do grau de redução no estiramento após têmpera
desde lOOOºC, na dureza de tiras a frio e arame envelhecido de 4mm
envelhecimento de zona. Porém, em primeiro lugar, as zonas surgem
de diâmetro, de liga Nimonic-90 (segundo dados de V. Betteridja): 1- homogeneamente, e não nas discordâncias. Em segundo lugar, as dis-
tiras a frio; 2- deformação + envelhecimento a 400ºC, 16 horas. cordâncias são locais efetivos de acumulação de lacunas. A deformação
plástica muito forte eleva a concentração de lacunas (relação entre quan-
tidade de lacunas e o número de átomos), ao todo em 10-6 . Ao mesmo
O endurecimento por T.T.M.B.T. é causado por dois motivos. tempo, a têmpera produz uma supersaturação significativamente mais
Em primeiro lugar, a deformação a frio produz encruamento, e o poste- forte de lacunas na rede: a concentração de lacunas de têmpera atinge
rior endurecimento por dispersão tem início com um nível mais elevado valores da ordem de 10- 4 .
de dureza. Em segundo lugar, o que é particularmente importante, a
A "limpeza" de grande quantidade de lacunas de têmpera pe-
deformação a frio aumenta o efeito de endurecimento por dispersão. As-
las discordâncias que deslizam durante a deformação plástica da liga
sim, com a ausência de encruamento a frio, o endurecimento da liga
temperada pode superar, completamente, o ingresso relativamente pe-
Nimonic-90, como resultado do envelhecimento a 400ºC, é muito pe-
queno de lacunas no cristal, geradas nas extremidades das discordâncias
queno: ao todo, 15 HV. Com o aumento do grau de deformação a frio,
que deslizam. Como resultado, a deformação plástica da liga temperada
o endurecimento por envelhecimento cresce continuamente (curvas 1 e
retarda o envelhecimento de zona, pois o excesso de lacunas desempe-
2 na fig. 204 se separam). Com redução de 903, o aumento de dureza
nha importante papel na passagem difusional dos átomos dos elementos
como resultado do envelhecimento foi de 175 HV. Conseqüentemente,
solutos para as zonas em crescimento (§11.2).
no caso analisado, o encruamento a frio elevou o endurecimento por
envelhecimento em uma ordem de grandeza (!). Este forte efeito de en- Nas ligas com pequena concentração de elementos solutos, o en-
durecimento por T.T.M.B.T., em comparação com o endurecimento por cruamento a frio pode retardar a formação de zonas durante o envelhe-
tratamento térmico no esquema habitual (têmpera + envelhecimento) 1
cimento devido à atração dos àtomos deste elemento pelas discordâncias
é nm fenômeno relativamente raro. Isto é possibilitado pelo fato de e correspondente empobrecimento deles na matriz.
49__:4_ _ _ _ _ __ /. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 495
capítulo 14

O crescimento lento das zonas na liga encruada manifesta-se no Por exemplo, na liga não-encruada Al-4%Cu, durante o enve-
endurecimento lento 'ê\J;fa diminuição do aumento de resistência através lhecimento a 150ºC a fase ()' é revelada por raios-X dentro de 15 dias, e
do envelhecimento. Este resultado é obtido, por exemplo, com a de- a fase (CuAl 2 ) geralmente não aparece. Após deformação a frio com
formação a frio do duralumíniorecém-temperado.Por isto,oT.T.M.B.T. redução de 90% e com envelhecimento à mesma temperatura, inicial-
com o envelhecimento de zona como operação final geralmente não é mente (em 5 minutos) revela-se a fase e, posteriormente (dentro de 30
utilizado. minutos), a fase '. O surgimento da fase metaestável ' após a preci-
Se durante a têmpera a peça foi resfriada com relativa lentidão, pitação da fase estável é devido ao seguinte. Após a deformação a frio
como por exemplo na têmpera ao ar, e a rede não ficou fortemente su- com grande redução, por todo o volume dos cristais da solução sólida,
persaturada de lacunas de têmpera, o envelhecimento lento de zona após a rede está deformada tão fortemente que os precipitados semicoerentes
a ação do encruamento pode não ocorrer. Mais.do que isto, neste caso, o da fase ' não podem se formar. Além disto, nas regiões fortemente
encruamento é capaz até de acelerar o envelhectimento de zona devido à deformadas, a nucleação dos precipitados inc~rentes da fase () fica em-
elevação da concentração de lacunas móveis ptovenientes da destruição pobrecida. Dentro de algum tempo, a relaxação e a poligonização que
das discordâncias que acumulam as lacunas formadas durante o resfria- ocorrem na temperatura de envelhecimento produzem, em regiões isola-
mento lento da têmpera. Além disto, nestas condições, a aceleração do das, uma rede de tal perfeição cristalina, que nestes locais nucleiam os
envelhecimento de zona pode ser também resultado da geração de la- precipitados semicoerentes da fase ()' (na condição de que nestas regiões
cunas nas extremidades das discordâncias que deslizam. Nestes casos a solução ainda não se decompôs com a formação de fase ()).
o T.T.M.B.T., que inclui o envelhecimento de zona, pode ser utilizado Se a solução sólida sofreu decomposição parcial antes da de-
para o endurecimento complementar da liga. formação a frio, isto se reflete na cinética do envelhecimento final e nas
Um interesse incomparavelmente maior apresentaoT.T.M.B.T. propriedades da liga. Por exemplo, no caso de deformação a frio da liga
que inclui o envelhecimento de fase. As discordâncias facilitam a nu- Al-4%Cu recém-temperada, a dureza máxima durante o envelhecimento
cleação para precipitação das fases. Por isto, .na liga encruada, com a a 160ºC é conseguida dentro de 20-30 horas, e se esta mesma deformação
elevação da densidade de discordâncias, o envelhecimento de fase ocorre é realizada após o envelhecimento natural, o endurecimento máximo a
mais rapidamente, e a densidade de precipitados com o correspondente 160ºC é conseguido dentro de 8-10 horas. Esta aceleração do envelheci-
endurecimento é mais elevada do que no envelhecimento da liga não- mento artificial é explicada pelo fato de que, com a deformação plástica
encruada. Quanto maior o grau de deformação a frio, maior é a densi- da liga envelhecida naturalmente, as discordâncias são fixadas pelas zo-
dade· de discordâncias e, correspondentemente, maiores a densidade de nas GP e, com o posterior envelhecimento, próximo às discordâncias
precipitados e o endurecimento por envelhecimento de fase (fig. 204). já se tem regiões ricas em cobre, nas quais é facilitada a nucleação
Com o aquecimento de envelhecimento após a deformação a de fase B'. Conseqüentemente, neste caso, para a aceleração do enve-
frio, como regra, não ocorre a recristalização, mas desenvolvem-se os lhecimento artificial é vantajoso deformar a liga após o envelhecimento
processos de relaxação e poligonização que diminuem um pouco o endu- natural.
recimento por T.T.M.B.T. É necessário ter em vista a influência mútua
O pré-envelhecimento (antes da deformação plástica) pode não
destes processos com a decomposição da liga: 'os precipitados inibem a
apenas acelerar o envelhecimento final, mas também aumentar o endu-
poligonização, e a poligonização, se ocorrer, nodifica a densidade e o
recimento após o mesmo.
caráter da distribuição dos precipitados.
O encruamento a frio não apenas acelera a decomposição da Em relação ao exposto, para ligas de alumínio envelhecidas na-
solução, mas também eleva a densidade de precipitados. Ele pode pro- turalmente, é necessário controlar o intervalo de tempo entre a têmpera
vocar o surgimento de fase, a qual, sem encruarnento e no mesmo regime e a deformação a frio, no T.T.M.B.T.
de envelhecimento, não se precipita. É também capaz de modificar a O pré-envelhecimento pode ser não apenas natural, mas tam-
seqüencia do surgimento das fases durante o eiwelhecimento. bém artificial. Para as ligas de diversas bases deve-se experimentar
496 /. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais
capítulo 14

amplamente os complicados esquemas deT.T.M.B.T., do tipo têmpera velhecimento geralmente é denominado de tratamento termomecânico.
--+ envelhecimento --+ deformação a frio --+ envelhecimento. Porém, de fato, é tipicamente um T.T.M.B.T.
Pode-se obter o aumento de resistência utilizando a deformação Graças à simplicidade tecnológica e à eficiência do processo, a
a frio após o envelhecimento (sem T.T.M.13.T.). Em comparação com quantidade de ligas de diversas bases envelhecíveis que são submetidas
este tratamento, o T.T.M.B.T. permite, com igual resistência, obter a T.T.M.B.T. irá se expandir. Porém, sempre devem ser consideradas
uma dutilidade mais elevada, menores tensões residuais e uma estrutura as possibilidades de conseqüência negativa, com"O T.T.M.B.T.: a dimi-
termicamente mais estável. nuição da dutilidade, característica da maioria das ligas; a diminuição
Em nossos dias, o T.T.M.B.T. é utilizado na tecnologia de da resistência à fluência de algumas ligas de alumínio; a anisotropia de
produção de semiprodutos e peças envelhecidas de cobre, alumínio e propriedades e outras.
ligas austeníticas.
Como resultado da laminação a frio antes do envelhecimento, 14.2. Tratamento termomecânico à alta temperatura (t.t.m.a.t.).
o limite de escoamento do bronze de berílio BvB2 cresce complementar-
mente em 203.
Com o T.T.M.B.T. de ligas austeníticas para molas do tipo No tratamento termomecânico à alta temperatura se realiza a
36HTiu, com redução de 503, o limite de elasticidade a 0 002 mostra-se deformação a quente, têmpera desde a temperatura de deformação a
20-303 superior do que após têmpera e revenido. ' quente e envelhecimento (fig. 203).
Às vezes o T.T.M.B.T. é utilizado para a obtenção do aumento A essência do T. T.M.A. T. consiste em que, após a deformação
a quente e a têmpera, obtém-se uma solução sólida supersaturada com
das propriedades de resistência, mesmo que não seja grande em valores
estrutura não-recristalizada, isto é, com aumento da densidade de de-
absolutos, mas que seja importante na utilização prática. Por exem-
feitos (contornos de subgrãos, discordâncias livres). Como resultado,
plo, utilizando o T.T.M.B.T. nas chapas industriais de liga de alumínio
surgem, após o envelhecimento da liga com esta estrutura, propriedades
1201, incluindo laminação a frio com redução de 7-103 antes do envelhe-
mecânicas elevadas. Na maioria dos casos, o ótimo é a matriz poligoni-
cimento a 175ºC, ao,2 cresce 30MPa, em comparação com o tratamento
habitual (envelhecimento após retificação das chapas temperadas). zada na liga temperada.
Para a realização do T.T.M.A.T. deve-se, no mínimo, cumprir
O objetivo do T.T.M.B.T. pode não ser apenas o endureci-
três condições: 1) obtenção no final da deformação a quente de uma
mento. Recomenda-se deformar as ligas de alumínio do tipo AMg6 a frio
estrutura não-recristalizada; 2) prevenção da possibilidade de recrista-
em 30-403, com posterior envelhecimento a 220ºC, durante algumas ho-
lização após a deformação a quente; 3) atingir o grau necessário de
ras. Nos primeiros 20 minutos do aquecimento após a deformação, ocorre
supersaturação da solução sólida para o envelhecimento.
a poligonização e, depois, a precipitação homogênea de fase (A13 Mg 2 )
nos subcontornos. Esta estrutura garante o aumento da resistência à Se as duas primeiras condições não são cumpridas, e a liga tem-
corrosão sob tensão. Os semiprodutos de ligas envelhecidas de alumínio perada estiver completamente recristalizada, então estamos lidando não
(perfis, painéis, tubos e chapas) após a têmpera são obrigatoriamente com o T.T.M.A.T. mas com a têmpera realizada desde a temperatura
corrigidos por distensão ou estiramento. O grau de redução não é maior de aquecimento da deformação. Teríamos, neste caso, uma combinação
que 3%. Porém, até a deformação a frio pequena, do grau de 1-33, das operações de deformação a quente seguida de têmpera, que seria
pode elevar fortemente o endurecimento com o posterior envelhecimento vantajosa economicamente. Porém, ela não conduz à melhoria das pro-
artificial. Por exemplo, o limite de escoamento do duralumínio Dl6 en- priedades, em comparação com o tratamento térmico habitual, que inclui
velhecido a 190ºC, como resultado da utilização, antes da deformação, o aquecimento especial antes da têmpera.
de uma distensão de 1,5%, cresce de 400 para 455 MPa. O processo A utilização do T.T.M.A.T. é limitada pelos fatores descritos
tecnológico pelo esquema têmpera --+ deformação de correção --+ en- a seguir.
498 /. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 499
capítulo 14

a - A liga pode se diferenciar por um intervalo tão estreito de tem-


peraturas de aquecimento para a têmpera, que não é possível,
na prática, manter a temperatura de tratamento de deformação
~ •• 1J~~_(, ,. -')~·
a quente, nestes limites estreitos (por exemplo, nos limites de
± 5ºK para o alumínio D16);
b - O intervalo ótimo de temperaturas de deformação a quente • 1 . " ..f• • . , ; ·' - ~

pode se encontrar significativamente abaixo do intervalo de


temperaturas de aquecimento para a têmpera. Por exemplo,
na prensagem de ligas de alumínio, a velocidade de deformação
sem a ocorrência de trincas superficiais é tão menor quanto
maior a temperatura. Se a exigência for aumentar significativa-
mente a temperatura de deformação a quente até a temperatura ........ : ) .....::.. ' , : . . . :; ~ ·rb\'11'ç!:.::..' . .• .:
de aquecimento para têmpera, deve-se diminuir a velocidade de
deformação e a produtividade da produção decresce;
' ·. ·-·':·· · . ··' a·,;··
....,._' .:., 1~ · ,:· ó~
":"\l•
.·. ····-·· ~ :·,I~-' . ~
c - Na liga com estrutura não-recristalizada, a decomposição da
solução super-resfriada pode ocorrer' significativamente mais Figura 205. Microestrutura da liga de titânio f3 (BT15), após têmpera
rápido do que na liga recristalizada (fig. 109b). Se esta liga pos- habitual (a), e após T.T.M.A.T (b). 300X (C.G. Glazunov; I.C. Pol-
sui temperabilidade não-elevada, nas condições do T.T.M.A.T. knin).
a temperabilidade pode ser ainda inferior e não se garante a
têmpera ao longo de toda a peça; O endurecimento por T.T.M.A.T. conserva-se até temperaturas
d - Com elevada tendência da liga para a recristalização, é difícil superiores do que após o T.T.M.A.T. O aumento da resistência a quente
produzir, no momento do término da deformação, a estrutura após o T.T.M.A.T. está relacionado com os contornos serrilhados de
não-recristalizada. grãos, os quais dificultam a fratura intergranular, e com a presença, nos
O T.T.M.A.T. é utilizado para aumentar as propriedades de contornos de subgrãos, de partículas consolidadas de precipitados.
resistência da liga, em comparação com as propriedades da mesma liga Das ligas de alumínio, apenas aquelas à base dos sistemas Al-
com estrutura recristalizada. A resistência com T.T.M.A.T. cresce como Mg-Si (AD35) e Al-Zn-Mg (1915) são submetidas amplamente ao
resultado da elevação geral da densidade de defeitos já no estado tempe- T.T.M.A.T. O alumínio se caracteriza pela elevada energia de falha de
rado, e durante o envelhecimento há uma decomposição mais uniforme empilhamento, e a poligonização no mesmo ocorre muito facilmente. Na
da solução supersaturada, através do volume dos grãos (a fase que endu- prensagem de ligas de alumínio, como regra, forma-se estrutura poligo-
rece se precipita pelos contornos de subgrãos e nas discordâncias isoladas nizada bastante estável e, por isto, para obtenção e conservação desta es-
no interior dos mesmos). trutura não é necessária nenhuma medida especial durante o T.T.M.A.T.
A decomposição mais uniforme da solução é também carac- As ligas de alumínio indicadas caracterizam-se pelo amplo in-
terística para muitas ligas de grãos refinados, e o encurvamento de tervalo de temperaturas de aquecimento anterior à têmpera (de 300 a
seus contornos (fig. 205) garante elevado nível de resistência após o 500ºC para as ligas à base do sistema Al-Zn-Mg) e possuem tempe-
T.T.M.A.T. Diferentemente do T.T.M.B.T., que diminui sensivelmente rabilidade muito elevada (fig. 109a). Tudo isto prediz a simplicidade
a dutilidade, o endurecimento complementar por T.T.M.A.T. é conse- tecnológica do T.T.M.A.T. Na prensagem de perfis de paredes finas (de
guido com o nível de d utilidade praticamente• imutável. Nas ligas de espessura até 12mm), o resfriamento ao ar garante temperabilidade ao
alumínio o T.T.M.A.T. pode até aumentar a dutilidade e a tenacidade longo de toda a espessura. Nos perfis mais espessos de ligas AD:{5 e 1915,
ao choque. os mesmos são resfriados na água, diretamente da prensa. O T.T.M.A.T.
Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 501
capítulo 14

de ligas envelhecíveis é utilizado na indústria bastante mais raramente 40%. Este crescimento ocorre Jª no estado recém-temperado, devido
do que o T.T.M.B.T., devido às limitações tecnológicas acima indicadas ao aumento da densidade de defeitos. O envelhecimento da liga não-
e ao menor efeito de endurecimento. recristalizada produz maior endurecimento, elevando a diferença entre
Na produção, recomenda-se o processo que inclui o T.T.M.B.T. as propriedades dos semiprodutos recristalizados e não-recristalizados.
e o T.T.M.A.T.: é o denominado tratamento termomecânico à alta e Já a plasticidade é maior nas ligas no estado recristalizado. Por isto, os
baixa temperatura (T.T.M.A.B.T.). No T.T.M.A.B.T. inicialmente se semiprodutos são produzidos tanto com estrutura recristalizada e duti-
realiza a têmpera desde a temperatura de deformação a quente e depois a lidade maior, como com estrutura não-recristalizada e maior resistência.
deformação a frio e o envelhecimento (fig. 203). Após o T.T.M.A.B.T. a Por exemplo, nas varas de duralumínio DlPa- ~ 3SOMPa e 8 2:: 14%, e
resistência obtida é maior e aplasticidademenor doqueapósoT.T.M.A.T. nas varas DlPPa- 2:: 480MPa e ô ;:::: 10%.
Como já foi sublinhado, nas ligas de alu~Ínio desenvolve-se in-
14.3. Tratamento termomecânico preliminar (llm.p.). tensamente a poligonização, o que produz uma rede estável de subcon-
tornos. Por isto, nelas é facil se obter estrutura não-recristalizada, par-
ticularmente com a prensagem.
A essência do tratamento termomecânico preliminar consiste As adições de manganês, zircônio e outros elementos anti-recris-
em que o semiproduto, obtido após deformação a quente no estado não- talizadores, que formam aluminetos dispersos (AC6 Mn, AC8 Zr e outros),
recristalizado, conserva a estrutura não-recristalizada também com o aumentam a temperatura de início de recristalização e, com isto, pos-
aquecimento anterior à têmpera. O T.T.M.P. diferencia-se doT.T.M.A.T. sibilitam a obtenção de estrutura não-recristalizada com a deformação
pelo fato de que as operações de deformação a quente e aquecimento an- a quente. Particularmente importante é que estas adições, que estão
terior à têmpera são separadas (fig. 203). presentes em muitas ligas de alumínio, possibilitam a conservação da
O T.T.M.P. é amplamente utilizado na tecnologia de fabricação estrutura não recristalizada após o aquecimento para a têmpera.
de semiprodutos de ligas de alumínio. Há muito se sabe que os semi- O endurecimento estrutural das ligas de alumínio (T.T.M.P.) é
produtos prensados de ligas do tipo "duralumínio", "Avial" e outras se utilizado amplamente e há muito tempo, na produção em série de semi-
diferenciam significativamente pela resistência mais elevada do que os fabricado de elevada tonelagem, e é um exemplo de utilização industrial
laminados e forjados. Este fenômeno foi denominado efeito de prensa. efetiva de tratamento termomecânico.
A diferença de resistência era condicionada pelo fato de que os semipro-
dutos prensados, após a têmpera, tinham estrutura não-recristalizada,
e os laminados e forjados tinham estrutura recristalizada. Posterior-
mente mostrou-se que as chapas e estampados, de uma série de ligas,
após a têmpera, também encontram-se no estado não-recristalizado e
caracterizam-se pelo aumento de resistência.
No lugar dos termos efeito de prensa, efeito de laminação etc,
V.L Dobatkin propôs o termo geral endurecimento estrutural, pelo qual
entende-se o aumento de resistência dos semiprodutos tratados termica-
mente, condicionado à conservação, após a têmpera, de estrutura não-
recristalizada. As propriedades da liga no estado de endurecimento es-
trutural geralmente são comparadas com as propriedades da mesma liga
no estado recristalizado. O crescimento do limite de resistência e do
limite de escoamento, em conseqüência da conservação da estrutura
não-recristalizada das ligas envelhecidas de alumínio, consiste de 10 a
Tratamento termomecânico dos aços temperados
em martensita
capítulo 15

O processo de T.T.M. dos aços começou a ser intensamente


estudado em meados dos anos 50 devido à procura de novos métodos de
aumento da resistência das construções.

15.1. Tratamento termomecânico à baixa temperatura


(t.t.m.b.t.).

No T. T.M.B. T. a austenita super-resfriada é deformada na


regiao de elevada estabilidade, porém obrigatoriamente abaixo da tem-
peratura de início da recristalização. Posteriormente, transforma-se a
austenita em martensita (fig. 206). Depois disto, realiza-se baixo reve-
nido (não mostrado na fig. 206).
Em 1954 foi descoberto o forte endurecimento, como resultado
da deformação plástica da austenita super-resfriada com têmpera pos-
terior, desde a temperatura de deformação. Este processo, denominado
ausforming, permitiu aumentar o limite de resistência dos aços ligados
para construção, até 2800-3000 Mpa, e com 8 = 5, 7%. Os índices de
dutilidade e tenacidade ao choque obtidos não foram inferiores e, em
alguns casos, até superiores do que após o tratamento térmico habitual,
o qual garante <TR = 1800 - 2200 MPa. É compreensível que após atin-
gir a "resistência superior" dos aços, o método de ausforming despertou
enorme interesse.
Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 505
capítulo 15

( j í " F ' - - - - - - -.....

IO 20 30 40 50
Grou de redução , %

Figura 207. Dependência da tensão de escoamento com estrição rela-


tiva constante, em relação ao grau de redução no T.T.M.A.T., no aço
55XGP (M.L. Beinstein).
Figura 206. Esquemas de tratamentos termomecânicos a alta tempera-
tura (T.T.M.A.T.) e à baixa temperatura (T.T.M.B.T.) de aço ligado, O T.T.M.B.T. é admissível apenas para os aços ligados, que
temperável em martensita.
possuem significativa estabilidade da austenita super-resfriada.
A introdução do T.T.M.B.T. na produção é fortemente preju-
A causa do endurecimento do aço por T. T.M.B. T. é a here-
dicada pela necessidade de utilização de equipamentos potentes para o
ditariedade, na martensita, da estrutura de discordâncias da austenita
tratamento de deformação, pois para a obtenção de elevada resistência
deformada.
o aço deve ser submetido a grandes reduções (não menos que 50%), em
A deformação a frio não pode endurecer fortemente o aço com temperaturas tais que a resistência à deformação seja muito elevada.
estrutura martensítica, pois a martensita que contém carbono é frágil e Outra insuficiência substancial do T.T.M.B.T. é a pequena re-
não suporta grande redução. Já a austenita, em temperaturas inferio- sistência à fratura frágil do aço fortemente endurecido.
res à temperatura de início de recristalização, pode ser deformada com
grandes reduções, com as quais cresce, fortemente, a densidade geral de
discordâncias. 15.2. Tratamento termomecânico à alta temperatura
(t.t.m.a.t).
Com a transformação martensítica, os vizinhos de qualquer
átomo na austenita permanecem os vizinhos deste mesmo átomo na
No T. T.M.A. T. a austenita é deformada na região de sua es-
martensita. Por isto, as discordâncias durante a transformação 'Y --+ a:
tabilidade termodinâmica e depois é realizada a têmpera em martensita
pelo mecanismo martensítico não são eliminadas e são "transferidas"
(fig. 206). Com isto a martensita herda a subestrutura da austenita
da fase inicial para a nova, isto é, a martensita herda a estrutura de-
não recristalizada que se forma durante a deformação a quente. Após a
formada da austenita. A densidade de discordâncias muito elevada na
têmpera realiza-se um baixo revenido.
martensita, fixadas pelos átomos de carbono e pelas partículas de car-
O objetivo básico do tratamento térmico habitual com defor-
bonetos, possibilita a obtenção de valor recorde da resistência após o
mação (laminação, forjamento) a quente, que exclui aquecimento es-
T.T.M.B.T.
pecial antes da têmpera, é o efeito econômico. O objetivo principal
O refino dos cristais de martensita explica o nível aceitável do T.T.M.A.T. é o aumento das propriedades mecânicas do aço. Na
dos índices de dutilidade do aço que se encontra no estado de elevada elevação da resistência por T.T.M.A.T. podem se conservar imutávei_s os
resistência. índices de plasticidade, como por exemplo a redução relativa (fig. 207).
;506 il L L Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 507
capítulo 15
. 1

Em comparação com a têmpera habitual e revenido, para mes- O regime do T.T.M.A.T. é escolhido' para que no início da .
p:ia resistência, o T.T.M.A.T. permite obtJr índices mais elevados de transformação martensítica a austenita possua! estrutura desenvolvida '
• l . ºdad
N~~
1

de poligonização. O grau de deformação a quepte no T.T.M.A.T. não ·


p astici aços ao .carl;>onP para constrf.ção mecânica, de baixa e deve ser demasiadamente grande, pois, do contrário, desenvolve-se re-
ni.édia liga, com o T'.tM.A.T. atinge.:.se os guintes níveis de proprie:- cristalização, a qual diminui o endurecimento(~. 207}. A utilização de .
j:lades mecânicas: <TR = 2200 - 2600 MPa <To,2 = 1900 - 2200 Mpa; deformação com redução total igual à redução alta em um passe suaviza i

fj = 7,8%; = 25- 403. . . a deformação e possibilita o desenvolvimento de poligonização dinâmica.


Após o T.T.M.A.T. as propriedade de resistência são menores Após o término da deformação dos açoslao carbono e baixa liga, :
e os índices de plasticidàde màiores do que pós o T.T.M.B.T. é necessária uma têmpera não lenta para evitai] recristalização estática
Com a ajuda do T.T.M.A.T. pode se diminuir bruscamente a e conservar a estrutura poligonizada até o inícid da transformação mar-
fragilidade reversível e irreversível de reveni o (fig. 191). tensítica. .
· O aumento do limite de resist ncia até 2200 MPa sem M.L. Bernestein e A.G. Rarxtadt descobriram o interessante fe-
~.T.M.A.T. também não é difícil. Para ist se eleva o teor de carbono nômeno de herança do endurecimento do T. T.MiA. T. com a repetição do
ho aço e se realiza a têmpera hàbitual com aixo revenido. Porém, após tratamento térmico. Mostrou-se que o endurecimento por T.T.M.A.T.
~ste tratamento térmico habitual, o aço se caracteriza pela tendência conserva-se quando o aço é retemperado com: pequeno tempo de ex-
friuito ·elevada à fratura frágil, e pela grande sensibilidade ao entàlhe na posição na temperatura de aquecimento anterioi- à têmpera, ou se o aço •
!>Uperfície da peça. As trincas de fadiga n te aço se propagam rapi- endurecido por T.T.M.A.T. é inicialmente subrp.etido a alto revenido e
tlamente devido às tensões localizadas nas xtremidades das trii;icas, o depois retemperado. A estrutura formada com a d~formação a quente
~ue condl!Iz à súbita fratura frágil, com ten s menores que o limite de da austenita, e que foi uma vez herdada com ttanstormação "'( -+ a do
~scoamento. O aço com elevados valores de imite de resistência e limite T.T.M.A.T., conservou-se de determinada maneira com o alto revenido e
~e escoamento, porém com baixa resistênt·a à propagação de trincas, pela segunda vez foi herdada durante a retêmper~ com as transformações
pão pode,ser útilizado nas construções de el vado carregamento. a -+ 'Y e 'Y -+ a. A "transmissão" das discordân<bias da fase a para a fase '
· A potencialidade mais important do T.T.M.A.T. é sua ex- /é fácil de prever, ao considerar o mecanismo de deslocamento da trans-
traordinária capacidade para aumentar, ao esmo tempo, os índices de formação a -+ 'Y· A curta exposição durante aJ têmpera repetida evita
resistência e a resistência à propagação de !trincas (tenacidade de fra- o desenvolvimento de recristalização da austen~ta, a qual aniquilaria a
~ura). 1 estrutura poligonizada e o endurecimento do T:T.M.A.T. prévio.
. O melhor conjunto de propried~es mecânicas do aço após O T.T.M.A.T., apesar de endurecer menos fortemente, possui·
T.r.T.M.A. T. é atingido quando a martensit se forma da austenita que uma indiscutível vantagem sobre o T.T.M.B.T. Çom ele está relacionada
possui mn bom desenvolvimento de estrutu a poligonizada. Nesta aus- a elevação simultânea da resistência e da tenacidade à fratura· e elevada·•
~enita, obtém-se plaquetas e cristais signific4tivamente menores de mar- possibilidade tecnológica (para a deformação não se exigem equipamen-
tensita. O tamanho dos cristais pequenos clie martensita não vai além tos com potência especial). O T.T.M.A.T. é Uitilizável não apenas nos.
Uos limit~s das dimensões dos subgrãos dd austenita. Nos aços com aços ligados com o aumento da estabilidade da 31ustenita super-resfriada, ·
mistura morfológica de martensita do T.T.M.A.T. com a austenita poli- mas também nos aços ao carbono e de baixa liga.
gonizada, elevá-se a fração de martensita e~acote (massiva) às custas O esquema clássico do T.T.M.A.T. p['esume a têmpera obri-
tias lâminas da mesma. Os cristais de marte ita herdam a estrutura de gatória em martensita. As variedades de T.T.N!.A.T. são a deformação
~iscordâncias dos subcontornos da austenitai deformada a quente. Estas a quente do aço no estado austenítico e a aceler~ão do resfriamento com
e mitras particularidades da estrutura dos J.ços revenidos à baixa tem- a posterior transformação bainítica (fig. 208, qurva 1). A elevação do:
. peratura,. após o T.T.M.A.T., possibilitam la obtenção do conjunto de conjunto das propriedades mecânicas com est(l tratamento é. condicio- '
propriedades mecânicas, acima indicado. 1 nada à diminuição das dimensões das plaquet~ dos cristais bainíticos.

1
Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 509
capítulo 15

A deformação a quente da austenita retarda a transformação bainítica, entre as reduções. As partículas esféricas de carbonetos dispersos podem
isto é, eleva-se a temperabilidade bainítica com o T.T.M.A.T. nuclear nas discordâncias da austenita e também podem surgir como re-
sultado da fragmentação das lâminas de carboneto e da esferoidização
das mesmas, com a deformação acelerada. Existe uma temperatura
ótima de deformação, acima da qual os subgrãos e as partículas de car-
bonetos obtidos são maiores, e abaixo da qual não se formam contornos
de subgrãos perfeitos, o que se reflete negativamente na tenacidade do
aço. O grau total de redução para se obter estrutura ótima não deve ser
menor que 703.
A deformação plástica da austenita diminui o período de in-
cubação da transformação perlítica. Isto é diretamente oposto à sua
influência na transformação bainítica.
A insuficiência básica do isoforming é a elevada resistência do
aço à deformação, com a diminuição das temperaturas do tratamento
de deformação.
Tempo

Figura 208. Esquemas de tratamentos termomecânicos, com deformação 15.4. Laminação controlada.
na região ailstenítica e posterior transformação bainítica (1), e com de-
formação durante a transformação perlítica (2).
A laminação controlada é uma laminação a quente com regime
controlado, que inclui a programação das temperaturas de início e final
de deformação, a redução e a velocidade de resfriamento.
15.3. Tratamento tennomecânico com deformação durante a trans- Os aços de baixo carbono com microadições de elementos for-
f onnação perlítica. madores de carbonetos e nitretos, como o vanádio, nióbio e titânio, são
submetidos à laminação controlada. Por exemplo, o aço 09G2FB, que
No tratamento conhecido pela denominação de "isoforming", o contém 0,063 V, 0,043 Nb e até 0,01'53 N.
aço, após a austenitização, é resfriado até uma temperatura de trans- O objetivo da laminação controlada é a formação de estrutura
formação perlítica e é deformado durante ·est<t transformação (fig. 208, de pequeno grão de ferrita poligonizada e partículas dispersas de car-
curva 2). Este tratamento conduz à formação de estrutura de subgrão bonitretos, o que garante o aumento (em 100 - 150 MPa) do limite de
fino na ferrita (com tamanho de subgrão menor que lµm) e à subs- escoamento, a diminuição da temperatura de transição dútil-frágil e a
tituição das lâminas (lamelas) de carbonetos da perlita por partículas melhoria da soldabilidade.
esféricas dispersas uniformemente distribuídas, de tamanho da ordem de Na laminação controlada, durante a deformação e as pausas
10- 2 -10- 1 µm. Em comparação com o aço de estrutura ferrita - per- entre as reduções, ocorrem os seguintes processos: encruamento e re-
lita obtida após o tratamento habitual de deforma·)o a quente, o aço cristalização da austenita, sua transformação em ferrita, precipitação de
após o isoforming possui limite de escoamento mais elevado e, o que é carbonetos e nitretos de vanádio, nióbio e titânio desde a austenita e a
particularmente valioso, tenacidade bruscamente elevada. A resistência ferrita, e poligonização da ferrita.
à propagação de trincas pode se elevar em uma ordem de grandeza(!). A laminação é iniciada com temperaturas acima de 950º C. A
A estrutura perfeita de subgrão de ferrita se forma como re- deformação plástica com temperaturas em decréscimo e. precipitação de
sultado de poligonização durante a deformação plástica e nos intervalos carbonetos da austenita possibilita a formação de grãos austeníticos com
Princípios das variações de composição e estrutura
com o tratamento termoquímico
uma rede de subcontornos e zonas de discordâncias. A partir destes grãos capítulo 16
austeníticos forma-se grande quantidade de pequenos grãos de ferrita.
Os carbonitretos dispersos impedem o crescimento dos grãos de ferrita.
A ferrita que se forma poligoniza-se, e no interior da mesma precipitam-
se partículas de carbonitretos ainda mais dispersas (de tamanho até 50
o
A), que condicionam o endurecimento do aço por dispersão.
As variações estruturais indicadas permitem tratar a laminação
controlada como uma variante do T.T.M. Após a laminação controlada,
o aço não é submetido a tratamento térmico.
As baiixas temperaturas do final da laminação controlada {700
- 800º C), e as reduções significativas (até 20%) nestas temperaturas, O tratamento termoquímico é um tratamento térmico que com-
exigem grandes esforços de laminação, e são necessários laminadores bina a ação do calor com a ação química, e cujo resultado é a variação
especiais. Apesar disto, a laminaçào controlada é utilizada na indústria da composição e da estrutura nas camadas superficiais e, às vezes, em
pesada dos aços mais simples e relativamente baratos, para construção todo o volume da peça.
industrial, construção de pontes, gasodutos e ou.tros objetivos. Para a variação da composição química, a peça é aquecida em
meio ativo. Durante a exposição, a peça é enriquecida de elementos
15.S. Tratamento termomuânico preliminar (t.t.m.p.). do meio exterior, por difusão. Além disto, o tratamento termoquímico
pode ser utilizado para eliminar, por difusão, as impurezas da peça e,
em casos isolados, tembém os componentes básicos.
O T.T.M.P. é conduzido pelo esquema de deformação plástica
A imensa maioria dos processos industriais de tratamentos ter-
a frio - t aquecimento de pré-recristalização (recuperação) - t têmpera
moquímicos inclui o enriquecimento, por difusão, das camadas superfi-
com aquecimento rápido e curta exposição __, revenido.
ciais da peça com metais ou não-metais do meio exterior ativo. P~ra
Antes da deformação, a estrutura inicial é uma mistura de fer- isto, são utilizados meios gasoso, líquido ou sólido. O mais conhecido
rita e carbonetos. A deformação a frio aumenta a densidade de dis- destes processos é a cementação ( carbonetação de peças de ~ço cor_n
cordâncias, e a reestruturação da mesma durante o aquecimento de pre- carvão vegetal a temperaturas elevadas), que é uma das operaçoes mais
recristalização forma estrutura de ferrita poligonizada. Com a têmpera antigas de tratamento térmico, utilizada desde antes de nossa era.
posterior com aquecimento rápido e curta exposição, a estrutura é her-
Pode-se disti.Ílguir três processos que ocorrem simultaneamente
dada nas transformações a ....... 'Y e / - t a, e são obtidos cristais de
o
martensita fragmentados. Conseqüentemente, mecanismo de endure-
e garantem o enriquecimento da peça com elementos do meio exterior. O
primeiro processo é a formação do elemento qu~ico no est_ado at~°!"ico
cimento com T.T.M.P. é o mesmo que no caso da obtenção de resistência
ativo (ín statu nascendi) como resultado de diversas reaçoes qmm1cas
elevada com têmpera repetida após T.T.M.A.T~
(capítulo XVII) e também como resultado de vaporização. Em casos
O tratamento termomecânico preliminar é tecnologicamente isolados, como por exemplo no ingresso de átomos do metal diretamente
simples. O intervalo entre a deformação a frio e o aquecimento não é, da massa líquida, este estágio não existe.
de nenhuma maneira, controlado. Não são exigidos equipamentos espe- O segundo processo é a adsorção dos átomos na superfície da
ciais para a deformação. O T.T.M.P. com utitlização do aquecimento de peça. O processo de adsorção pode incluir a simples adsorção física,
curta duração antes da têmpera, em banhos de sal ou fluidos de elevada
pureza, é um método efetivo de endurecimento de chapas laminadas a
frio e tubos de paredes finas.
512 l. l. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 513
capítulo 16

na qual formam-se as camadas monoatômicas ou poliatômicas de ad- O valor de er f (Z), denominado função error, encontra-se em tabela
sorção em toda a superfície da peça, ou em suas regiões ativas se for- especializada. 1
mam as camadas graças às forças de atração de Wan-der-Wall. Simul-
taneamente, também é possível a adsorção química, com o surgimento ..-
-~
)(
de fortes ligações químicas entre os átomos adsorvidos e os átomos da
õ
superfície metálica. A adsorção é sempre um processo exotérmico que .g
u.
conduz à diminuição da energia de Gibbs. ~
O terceiro processo durante o tratamento termoquímico é a di- iu co
fusão dos átomos adsorvidos desde a superfície para o interior da peça. ã Co
A adsorção ocorre muito rapidamente, e a difusão se dá lentamente. A o '-''--~~~~~~~~~

X0,5
profundidade da zona de variação da composição {zona de difusão) e a - Distância da superfÍCie,X
distribuição da concentração no interior da mesma dependem, princi-
palmente, do desenvolvimento da difusão. Por isto, na análise do tra- Figura 209. Distribuição de concentração na zona monofásica de di-
tamento termoquímico, a atenção básica é outorgada aos princípios da fusão, enriquecida em vários instantes, com concentração constante na
difusão. superfície 0 8 •

Com o aumento do tempo de exposição a zona de difusão cresce,


16.1. Fonnação da zona monofásica de difusão.
e o teor do elemento que difunde cresce nesta zona (fig. 209). A área
sob a curva de distribuição da concentração do elemento, através das
Vejamos o processo de penetração por difusão do elemento, seções da peça, caracteriza a quantidade geral do elemento na zona de
desde a superfície para o interior da peça. Em qualquer ponto da zona difusão, para dado tempo de exposição.
de difusão, a uma distância X da superfície da peça, a concentração C Se, como índice qualitativo da profundidade de penetração do
da solução varia no tempo t, de acordo com a segunda lei de Fick: elemento que difunde, escolhe-se a distância x desde a superfície até o
ôC =Dô 2 C ponto com qualquer concentração determinada, então da equação (43)
(42) deduz-se que:
ôt ôx 2
Daqui para diante, para simplificar, consideramos que o coeficiente de ~Vvt =de,
difusão D não depende da concentração.
donde
Para ser resolvida a equação (42), deve-se escolher determi- X= Kffl, (45)
nadas condições limites. Em nosso caso pode-se utilizar a resolução do
espaço semi-infinito com concentração constante na superfície (fig. 209). onde K é constante.
No ponto distante x da superfície da peça, a concentração C(t,x) de- Desta maneira, a profundidade da zona de difusão varia propor-
pende da concentração na superfície 0 8 , da concentração inicial C0 no cionalmente à raiz quadrada do tempo de exposição, com temperatura
volume, do coeficiente de difusão D e do tempo t desde o início do pro- constante. Para elevar a profundidade da zona de difusão, por exemplo,
cesso: em duas vezes, deve-se elevar o tempo de exposição em nove vezes.
C(x, t) = Cs - (Cs ~ C 0 ) erf (~ffl) (43) Nos processos reais de tratamento termoquímico, a lei parabó-
lica de crescimento da zona de difusão, expressa pela fórmula (45), pode
Na difusão em metal puro, C 0 =O e
ser eliminada devido à variação da concentração na superfície da peça
C(x, t) = Cs[l - er f(~VDt)] (44) l Nas fórmulas (43) e (44), Z = ~v'Dt
L l. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 515
capítulo 16

(por exemplo, com grande atividade do meio envolvente, a concentração


es pode crescer). I, impulso/min
A variação da profundidade da zona monofásica de difusão com
a temperatura, como mostram as experiências, é exponencial ou próxima
da exponencial. Isto era de se esperar, considerando que o próprio coefi-
ciente de difusão que entra na fórmula 45 cresce exponencialmente com
o: aumento de temperatura (fórmula 2).
Os princípios simples vistos. acima, de formação da zona de di-
fusão, são válidos para solução sólida de dois componentes. Os princípios a
de formação da zona de difusão na solução de muitos componentes são
significativamente mais complexos, pois a variação da concentração de o 25 50 o 50 100
um elemento influencia na atividade termodinâmica dos outros elemen- X,..t/m
tos e na distribuição dos mesmos. 2 Por exemplo, na silicietação, que é a Figura 210. Distribuição de carbono (segundo oo resultados de análise
saturação difusional do aço em silício, a atividade do carbono, próximo
e
radiométrica) após saturação, por difusão, do aço com 0,14% e silício
(a) e Cromo (b) a 950ºC (G.V. Cherbeàinsk; V.I. Chaidurov).
à superfície da peça, onde o teor do silício é maior, é aumentada e o
carbono afasta-se da superfície (fig. 210a). Na crometação por difusão
Consideremos que, durante a carbonetação do ferro à tempera-
o quadro é diretamente inverso. O cromo diminui a atividade do car-
tura T 1 (acima de 9llºC), a concentração de carbono na superfície da
pono na austenita e nas camadas superficiais onde tem mais cromo a
peça cresce do ponto a (ferro puro) até o ponto b, não atingindo o limite
toncentração de carbono se eleva, e a camada adjacente mais profunda
da região austenítica (fig. 211, I).
fica empobrecida de carbono (fig. 210b) Esta redistribuição, que à pri-
meira vista não é usual (difusão ascendente), em ambos os casos se Na temperatura do tratamento termoquímico, a zona de di-
dá no sentido da diminuição do gradiente de atividade. Em geral, nos fusão, em qualquer instante, possui estrutura austenítica com concen-
ítÇOS Sítturados .com elementos forma.dores de carbonetos, os quais di- tração variável de carbono, que diminui com a distância desde a su-
minuem a atividade do carbono, pode-se esperar o enriquecimento em perfície para o interior da peça (curva, fig. 211, II).
carbono nas camadas superficiais e o empobrecimento do mesmo nas ca-
Com resfriamento lento desde a temperatura de carbonetação,
madas seguintes. Também, com saturação de elementos não-formadores
ocorrem transformações de fases na austenita, de acordo com o diagrama
de carbonetos, os quais elevam a atividade do carbono, deve-se esperar
de equilíbrio Fe-C. Na região da zona de difusão contígua à superfície
o afastamento do mesmo da superfície.
e que possui concentração de carbono superior a 0,83, na temperatura
ambiente encontra-se cementita secundária e perlita, e na região com
16.2. Formação de zona polifásica de difusão. concentração menor que 0,83, ferrita livre e perlita. Com o afasta-
mento da superfície, devido à contínua diminuição da concentração de
carbono, gradualmente é eliminada a rede de cementita secundária, e a
Na zona monofásica de difusão, com o resfriamento da peça estrutura torna-se puramente perlítica. A seguir, diminui gradualmente
desde a temperatura do tratamento termoquímico podem ocorrer trans- a quantidade de perlita, e a estrutura se torna ferrítica (fig. 212).
(ormações de fases: transformação polimórfica da solução sólida, trans-
formação eutetóide, precipitação de fase livre e outras. Desta maneira, no caso analisado, durante o tratamento ter-
moquímico, a zona de difusão é monofásica e, como resultado da trans-
2Sobre o papel da atividade termodinâmica dos elementos nos processos de difusão, formação durante o resfriamento, ela torna-se bifásica em toda sua seção.
yer §1.1. (ferrita + cementita).
516 /. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 517
capítulo 16

Figura 211. Parte do diagrama de equilíbrio do sistema Fe-C (I) e


curvas de distribuição do carbono segundo a profundidade da zona de
difusão (II), após cementação na temperatura T1 (esquema).

As novas fases podem aparecer diretamente no processo de


variação difusional de composição, na temperatura do tratamento ter-
moquímico. A difusão que é acompanhada do surgimento de novas fases Figura 212. Microestrutura da zona de difusão após resfriamento lento
é denominada reativa (ou de reação). desde a temperatura de cementação do ferro, 200X.
Em princípio, a possibilidade de ocorrência da difusão reativa
é estabelecida pelo diagrama de equilíbrio. No sistema com soluções dimensões atômicas) pois, ao surgir, ela separa os elementos que reagem.
sólidas em série, sem intervalos, não é possível a difusão reativa e, em O crescimento posterior da nova fase é garantido pela difusão de um ou
qualquer sistema com solubilidade limitada no estado sólido, pode ocor- de ambos os elementos que reagem através da camada formada.
rer este tipo de difusão.
Foram propostas duas explicações sobre o mecanismo de forma- O outro mecanismo da difusão reativa inclui, obrigatoriamente,
ção de novas fases por difusão reativa. Em uma delas, diretamente na a obtenção do limite de solubilidade durante a intervenção do elemento
superfície de seperação do metal com o meio que o cerca, ocorre reação que difunde do meio externo. Após isto, cria-se a possibilidade de
química com formação de compostos. Esta reação é vista como o pri- formação desta fase, a qual, de acordo com o diagrama de equilíbrio, deve
meiro processo da difusão reativa, e determina sua essência (V.E.Buga- se encontrar em equilíbrio com a solução supersaturada (D.A. Prokochi-
kov). A nova fase se forma como resultado do surgimento de forças kim). Esta difusão, apesar de habitual, é denominada reativa. Porém,
de interação química entre os elementos que reagem. Desta maneira a essência do processo não é determinada pela reação química na su-
pode-se formar apenas uma camada de união muito fina (da ordem das perfície, mas pela saturação (mais precisamente, a supersaturação) da
I. I. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 519
518
capítulo 16

solução inicial com o elemento que difunde. Por isto, é mais correta forma-se fase 1 de composição do ponto d. Com a posterior intervenção
a denominação difusão acompanhada de transformação de fase. Toda
1 do componente B, sua concentração na fase / cresce gradualmente, con-
·a análise posterior se baseia exatamente nesta suposição sobre o surgi- duzindo ao deslocamento do contorno / / j3 para o interior da peça.
,mento de novas fases durante o tratamento termoquímico. Pode-se admitir as particularides características descritas a se-
Vejamos a difusão do elemento B na peça de elemento A na guir, da zona polifásica de difusão.
:temperatura T1 (fig. 213). Com o aumento do tempo de exposição, na A seqüência da f armação de fases com as variações difusio-
camada superficial cresce suavemente a concentração do elemento B na nais da composição corresponde à seqüência de suas distribuições no
'solução a (fig. 214), até que, com suficiente atividade do meio exterior, diagrama de equilfbrio (a - t j3 - t / , fig. 213). As fases surgem nesta
·não seja atingido o limite de solubilidade (ponto a, fig. 213). Ao atingir ordem, com o aumento da concentração do elemento que se difunde na
este momento (t 2 , fig. 214), com a posterior intervenção do elemento B camada superficial da peça, com a elevação do tempo de exposição e,
do meio exterior, a fase a fica supersaturada com este elemento e na nesta mesma ordem, elas se distribuem na zona de difusão, porém no
camada superficial precipita-se fase f3 de composição b (fig. 213). Como sentido do núcleo para a superfície (Ver o instante te, fig. 214). Se
1resultado, na camada superficial a concentração cresce rapidamente se- alguma fase não é revelada experimentalmente na zona de difusão, ge-
gundo ab. ralmente através de microscópio ótico ou método de raios-X, isto não
significa que ela "desapareceu" durante a formação da zona. Devido à
baixa velocidade de crescimento por difusão, sua espessura é tal que,
para cada duração do tratamento termoquímico, esta fase não se revela
experimentalmente. Com maior tempo de exposição, a fase "desapare-
cida" geralmente é revelada.
Cada fase em crescimento possui um gradiente de concentração
através da espessura. Sem este gradiente, a penetração por difusão do
elemento no interior da peça, isto é, a formação da zona de difusão, seria
impossível.
A % 8
Na zona de difusão a composição das fases nos contornos de
Figura 213. Diagrama de equilíbrio do sistema bifásico A-B. separação com as camadas vizinhas é determinada pelas composições
das fases que se encontram em equilzôrio no diagrama de equilzôrio (por
A continuação da intervenção do elemento B desde o meio ex- exemplo, os pontos a e b ou e e d na fig. 213). Isto se deve ao fato de que
, terior aumenta, gradualmente, sua concentração por toda a camada da a nova fase se forma apenas depois de se alcançar o limite de saturação
fase /J. Os átomos B difundem continuamente desde a superfície da peça da fase inicial.
• para o contorno que separa as fases ct e (3. Este elemento penetra na fase Não existe a região bifásica na zona de difusão, com a saturação
' a e evita que a mesma fique em estado supersaturado junto ao contorno de um elemento no outro, isto é, existe apenas a camada monofásica
• //a. Por isto, com a intervenção contínua do elemento B desde o meio (fig. 214). Isto se explica pelo fato de que, na mistura bifásica, a com-
exterior, no contorno {3/a da solução supersaturada precipita-se, conti- posição de cada fase é imutável, quaisquer que sejam suas relações quan-
' nuamente, a fase /3, e este contorno desloca-se para o interior da peça titativas, e é determinada pelos pontos correspondentes no diagrama de
(Ver.ª localização limite das camadas nos instantes t 3 e t 4 , na figura equilíbrio (por exemplo, a e b na figura 213). Ao mesmo tempo, para
' 214). o crescimento difusional da camada, é necessário um gradiente de con-
Quando na camada superficial atinge-se o limite de concen- centração na fase de composição variável. Por isto, o crescimento da
tração do elemento B na fase /3, em dada temperatura (ponto e, fig. 213), camada bifásica, na qual a composição de cada fase é constante ao longo
e quando, posteriormente, a fase f3 fica supersaturada, nesta camada da seção, geralmente é impossível pela transferência difusional do ele-
/. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 521
520
capítulo .16

mento desde a superfície para o interior da peça, através desta camada


bifásica. e

Figura 215. Esquema da seção isotérmica do sistema temário A-B-C,


que explica a seqüencia de formação de camadas, durante a difusão do
elemento C na liga C 0 (segundo A.P. Guliaev).

o-01stâncio do superfície
Com a variação da composição média da camada a+ 8 segundo
Figura 214. Distribuição da concentração do elemento B na zona de
a linha bd,. as composições das fases a e {) variam segundo as linhas kg e
difusão, após saturação do metal A na temperatura T1, em diversos pr. Com a posterior intervenção do componente C na zona de difusão,
momentos t 1 - t 6 (diagrama de equilíbrio A-B, na fig. 213). a composição média na superfície varia rapidamente do ponto d para
o J, como resultado da troca da fase Ôr pela fase Is· Em seguida,
a composição média da camada bifásica varia segundo a linha fg, e
A camada bifásica pode crescer durante o tratamento termoquí- as composições das fases a e /, segundo as linhas gg' e sg (a linha
mico do metal não-puro e da liga, ou também por saturação do metal pontilhada gg' na fig. 215 foi desenhada para indicar as composições de
com os dois elementos, por difusão. Nestes casos, na zona de difusão, equilíbrio das fases a e /). Com isto, a fase a se transforma na fase 'Y e,
lidamos com um sistema triplo, no qual as composições das fases em finalmente, na camada superficial fica apenas a fase /, cuja composição
equilíbrio na região bifásica estão supersaturadas. se modifica segundo o raio, no sentido do componente C.
Suponhamos que na liga de dois componentes de composição Desta maneira, após o tratamento termoquímico, na própria su-
C 0 difunde-se o elemento C (fig. 215). Com relação constante entre os perfície encontra-se a camada / e, atrás da mesma, as camadas bifásicas
componentes A e B na zona de difusão, sua composição varia segundo a+/, a+ 8 e a+ /3 (fig. 216).
a linha C0 C. O elemento C se solubiliza nas fases a e /3 e, quando a
A análise conduzida com a utilização da seção isotérmica do
composição média da camada bifásica a + f3 varia segundo a linha Coa,
sistema ternário é válida apenas nas condições de relação constante entre
a composição da fase a varia segundo a linha hk e da fase /3 segundo a
as concentrações dos componentes A e B, em qualquer ponto da zona de
linha mn. A camada trifásica não pode se formar pois, de acordo com a
difusão, e quando as fases, nas camadas bifásicas, durante todo tempo
seção isotérmica, as composições das três fases O:k, f3n e Ôn encontram-se
encontram-se em equilíbrio.
em equilíbrio constante, e através da camada trifásica não é possível a
difusão para o interior da peça. Por isto, quando a composição média Vejamos a cinética do crescimento das camadas monofásicas
da camada bifásica a + f3 atinge o ponto a, ela varia rapidamente até com o tratamento termoquímico, baseando-se na análise dos processos
o ponto b: como resultado da troca da fase ,Bn pela fase Ôp, forma-se a de difusão, feita por A.A. Popov. Com a difusão do elemento B no
camada bifásica ak + 8p. metal A, no tempo dt o contorno da fase f3 desloca-se no sentido da fase
- ..- Y -

522 l. l. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 523


capítulo 16

onde t é o tempo. Daqui, a velocidade de deslocamento do contorno da


camada no sentido da fase a
dL Dp(!!f/) - Do:( flf!)
(46)
dt = C(J/a

A solução desta equação, nas condições de concentração constante na


superfície da peça, mostra que a espessura da camada da nova fase (L)
a cresce com a elevação do tempo de exposição (t), pela lei parabólica:
b
a (47)

O - Distância da superfície Esta fórmula é análoga à equação (45) para o crescimento da zona de
Figura 216. Distribuição da concentração média do elemento C na difusão durante o tratamento termoquímico sem formação de novas fases.
zona de difusão da ligaC0 (fig. 215). Porém, o coeficiente de proporcionalidade K depende de uma quantidade
significativamente grande de fatores.
a segundo o valor dL (Ver o correspondente diagrama de equilíbrio na Da equação (46) conclui-se que a espessura da camada da nova
fig. 213, e a distribuição do elemento na zona de difusão na fig. 217). O fase é tanto maior quanto mais intensa for a difusão na mesma, mais
aumento do volume a camada da fase {3, dv = sdL, onde sé a superfície lenta a difusão na camada de fase vizinha e menor o gradiente de con-
de separação das fases a e {3. centração no contorno de fases.
A fase f3 contém mais componentes B do que a fase a. O Se a zona de difusão consistir de camadas de várias fases, a es-
gradiente de concentração na superfície de separação das mesmas é igual pessura da camada intermediária ({3 na fig. 214) depende da relação en-
a e /310: (fig. 213). o aumento do volume da fase f3 em dv eleva a tre as velocidades de deslocamento de seu contorno e, conseqüentemente,
quantidade de elemento B na camada da fase em dv C/310:· do desenvolvimento dos processos de difusão em cada uma das fases.
Realizaremos todos os cálculos para a unidade de superfície A direção dos fluxos de difusão nas camadas está mostrado com
de separação (s=l). Então, dv Cf3/o: = dv Cp/o: (região sombreada, setas na figura 214. O fluxo de difusão do elemento B no interior da
fig. 217). camada para o contorno f3 /a, mantendo em torno dele a supersaturação
A difusão na fase f3 aproxima os átomos B para a superfície de da fase a, tende a deslocar este contorno para a direita e aumentar a
separação f3 /a, e a difusão na fase a afasta os átomos B desta superfície. espessura da camada {3. O fluxo de difusão do elemento B no interior
A quantidade do elemento B que se aproxima do contorno {3/a, através da camada a, a partir do contorno {3/a, diminui em torno dele a super-
da fase {3, é assinalada por dm(J, e a quantidade do elemento B que saturação da fase a e tende a deslocar este contorno para a esquerda.
se afasta deste contorno através da fase a é assinalada por dma. A Analogamente, o fluxo do elemento B no interior da camada 1 para o
diferença dmf3 - dmo: é igual à elevação geral do teor do elemento B na contorno / / f3 tende a deslocar o contorno para a direita, diminuindo
camada de fase (J, com o deslocamento dL do seu contorno. a espessura da camada {3. Isto obstaculiza o fluxo do elemento B no
Conseqüentemente, dL C(J/a = dmf3 - dmo:· Considerando interior da camada, a partir do contorno 1 / {3.
a primeira lei de Fick (fórm. 1), podemos escrever (com cálculo por O fluxo de difusão através da camada da fase, de acordo com a
unidade de área da superfície de separação das fases): primeira lei de Fick, é tanto mais intenso quanto maior for o coeficiente
de difusão no interior desta fase e maior o gradiente de concentração
âC(J âCa através da espessura da camada. Por sua vez, o gradiente de concen-
dL C{3/a = D{3( âX )dt - Da( âX )dt, tração é tanto mais intenso quanto mais fortemente se diferenciarem as
l. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 525
524
capítulo 16

diagrama de equilíbrio podem crescer tão lentamente que suas camadas


no interior da zona de difusão· não possam ser reveladas.
Devido à variação simultânea diferenciada dos coeficientes de
difusão dos gradientes de concentração no interior das fases e dos gra-
dientes de concentração em seus contornos, a velocidade de crescimento
da camada de cada fase, determinada pela equação (46), pode modificar-
se de maneira complexa com a elevação da temperatura do tratamento
termoquímico. Por exemplo: na nitretação (§17.2) a espessura da ca-
mada de fase é cresce com o aumento da temperatura do processo apro-
ximadamente até 700º C, e depois diminui (fig. 218). Além disto, com
- Distância da superfície bastante freqüência, a variação da espessura da camada com a tempe-
ratura é próxima da exponencial (curva para a fase/, fig. 218).
Figura 217. Distribuição do elemento B na zona de difusão, nos mo-
mentos de tempo t1 (1) e t1 + dt (2). ·

composições nos dois lados do contorno e menor for a espessura da ca-


mada. As composições nas camadas do contorno, como já foi salientado,
são determinadas de acordo com os· pontos no diagrama de equilíbrio,
como por exemplo os pontos b e c para as camadas da fase {3 (fig. 213 e
214). Conseqüentemente, com coeficiente de difusão constante, o fluxo
do elemento difusor através da camada de determinada espessura cresce
com a ampliação da região de fase homogênea no diagrama de equilíbrio
(trecho bc, fig. 213).
Temperatura, °C
Do exposto, conclui-se que a espessura da camada da nova fase,
Figura 218. Influência da temperatura de nitrogenação do ferro du-
na zona de difusão geralmente não pode crescer com a elevação da tem- rante 6 horas, na espessura das camadas das fases <:e-y (Iu.M. Lartin).
peratura segundo uma lei exponencial, pois ela não depende apenas do
coeficiente de difusão nesta dada fase.
A espessura das camadas de fases, com a elevação da tempe-
ratura durante o tratamento termoquímico, varia de diversas maneiras. 16.3. Particularidades da estrutura da zona de difusão.
Ela depende da relação dos fluxos de difusão na camada e nas camadas
adjacentes. Por exemplo, se, com a elevação da temperatura, a largura A zona de difusão na amostra pode aparecer atacada graças
da região de homogeneidade de fases no diagrama de equilíbrio mudar à modificação da composição química da camada superficial. Na zona
pouco, então a ampliação ~;erá da camada daquela. fa:õe cujo coeficiente rnonofásica a concentração varia suavemente, desde a superfície para o
de difusão se eleva rnais. interior da peça (fig. 209) e, por isto, no microscópio o contorno desta
Se com o aumento da temperatura do tratamento térmico os zona está destruído ou, mais freqüentemente, não se revela.
coeficientes de difusão nas camadas vizinhas se elevarem aproximada- Se a difusão é acompanhada de transformações de fases, a es-
mente no mesmo valor, a ampliação será da camada daquela fase na trutura da zona de difusão se diferencia bruscamente da estrutura das
qual se amplia mais fortemente a região de homogeneidade no diagrama camadas mais profundas. A diferença no tipo de rede e no gradiente
de equilíbrio_ As fases com regiões de homogeneidade muito estreitas no de concentração, no contorno da nova fase com a inicial, condiciona a
526 /. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 527
capítulo 16

brusca diferença no ataque em ambos os lados do contorno ou possibilita da nova fase nestes locais, na forma de rede de cristais. Contudo, com
a gravaçãD química do próprio contorno, na forrria do que se denomina temperaturas relativamente elevadas, nas quais geralmente são realiza-
linha de difusão (fig. 219). dos os tratamentos termoquímicos, nivela-se .a diferença nas velocidades
de difusão, entre os contornos e o volume dos grãos.

-/

Figura 219. Microestrutura da zona de difusão, após saturação do ferro


com molibidênio, a 1200°0 durante 12 horas. 200X (G.N. Dubinin).

A distância da superfície da peça até o contorno com a solução


inicial (L 1 na fig. 214) geralmente é utilizada como a profundidade con-
dicional da zona de difusão (de fato, sua profundidade L 2 é maior em
valor para a camada da soluçãD sólida inicial de composição variada).
Os cristais da nova fase que se formam na zona de difusão
possuem forma colunar (fig. 219). Isto se explica pelo fato de que os
cristais da nova fase crescem apenas nos contornos das camadas das
diversas fases, onde devido ao fluxo de difusão do elemento se obstaculiza
o alargamento· da nova fase. À medida que se deslocam os contornos das
camadas para dentro da peça, nesta direção também crescem os cristais
da nova fase.
Se com o resfriamento desde a temperatura do tratamento ter-
moquímico ocorre transformação polimórfica, os cristais colunares da
nova fase, que se formam com saturação difusional, podem ser subs-
tituídos por cristais equiaxiais da fase que surge qurante o resfriamento.
A difusão pelos contornos de grãos se dá mais rapidamente do
que no corpo dos mesmos. Por isto,durante o tratamento termoquímico,
às vezes pode ocorrer penetração mais profunda dp elemento que difunde
através dos contornos de grãos da fase inicial, bem como a precipitação
Variedades de tratamentos termoquímicos
capítulo 17

Na indústria é utilizada uma multiplicidade de tratamentos ter-


moquímicos que se diferenciam pelos elementos que se difundem, pelo
tipo e composição do meio externo, pelos processos químicos, pelas
técnicas de execução e outras características.
Dependendo do estado de agregação do meio externo no qual
introduz-se a peça que está sendo tratada, diferenciam-se os tratamentos
termoquímicos em meio sólido, líquido e gasoso.
Os átomos do elemento difusor ingressam da substância sólida,
diretamente nos locais de seus contatos com a superfície da peça. Este
processo é pouco efetivo e pouco utiliz(l<lo. Geralmente o meio sólido
é utilizado para produzir gás ativo ou fase gasosa, da qual os átomos
ingressam na peça. Por exemplo, na cementação os átomos de carbono
do carburante sólido (carvão vegetal) que difundem no aço formam-se
do óxido de carbono (2 e o -+e+ e 02), e o carvão vegetal é necessário
apenas para a formação da fase gasosa. Outro exemplo é a crometação
por difusão no meio "sólido", quando a peça é empacotada -no pó de
cromo ou da liga ferro-cromo. Com o aquecimento, o cromo vaporiza
e seus átomos ingressam na· peça, principalmente da fase gasosa, e não
nos locais de contato direto do pó com a superfície da peça.
No tratamento termoquímico em meio líquido, os átomos do
elemento difusor na peça formam-se como resultado de reações químicas
no sal fundido (por exemplo, no NaCN durante a cianetação do aço), ou
ingressam diretamente no metal fundido (por exemplo, de massa fundida
de alumínio durante a aluminetação do aço por difusão).
No tratamento termoquímico em meio gasoso, o elemento difu-
sor forma-se como resultado das reações de dissociação (CH 4 -+ C + 2 H 2 ),
530 /. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 531
---
capítulo 1'7

dispersão (2 C O__, C + C 02), troca (CrC12 + Fe-. Cr + Fe Ch) oure-


Tabela 11. Variedades de Tratamentos Termoquímicos.
constituição (V Cl2 + H 2 ->V +2 H Cl).
O meio gasoso e a fase gasosa ativa, que se formam com o aque- Saturação com não-metais Saturação com metais Remoção dos elementos
cimento da peça no meio sólido, servem, nos processos industriais, como. por difusão por difusão por difusão
os fornecedores dos elementos dos átomos que enriquecem as camadas Carboneta.ção (cementação) Aluminetação Desidrogenação
superficiais das peças. Nitretação Crometação por difusão Desoxidação
Para o tratamento termoquímico é mais conveniente o meio ga-
Cia~~~~~~ Cromocalorização Descarbonetação
soso puro: sua composição é fácil de controlar, é aquecido rapidamente Nitrncementação Calvanização por Remoção de conjunto
até a temperatura desejada, permite mecanizar e 'automatizar completa- difusão de impurezas
mente o processo de tratamento termoquímico e realizar imediatamente Boretação Cupretação por difusão
a têmpera (sem repetição de aquecimento). Silicietação Titanetação
Os exemplos citados mostram que a classificação dos métodos Sulfetação Beliretação
de tratamento termoquímico pelo estado de agregação do meio no qual Sulfocianetação Vanadetação
a peça é introduzida nem sempre coincide com a essência físico-química Saturação de oxigênio*
do processo de tratamento. Oxigenação. interna*
Baseando-se nas características físico-químicas da fase ativa que
fornece o elemento difusor, G. N. Dubinin propôs os seguintes métodos de • Saturação de oxigênio é superficial, e oxigenação interna é a saturação de
classificação dos tratamentos termoquímicos: s~turação da fase sólida; todo o volume da peça com oxigênio com o objetivo de formação de óxidos
saturação da fase vaporizada; saturação da fase gasosa; e saturação da dispersos.
fase líquida. De acordo com esta cllassificação, a cementação do aço no
carburante sólido deve se relacionar com o método de saturação da fase 17.1. Saturação com.não-metais por difusão.
gasosa, e a crometação por difusão no cromo pulverizado com o método
de saturação da fase vaporizada. A superfície do aço, saturada em carbono e nitrogênio, ou si"
Pela característica da variação da composição química da peça multaneamente com estes elementos, é o processo de tratamento ter-
tratada, todas as variedades· de tratamentos termoquímicos podem. ser moquímico mais amplamente utilizado.
divididas em três grupos: saturação com não-metais por difusão, sa- O carbono e o nitrogênio se solubilizam intersticialmente no
turação com metais por difusão e remoção dos .elementos por difusão. ferro, e por isto podem difundir rapidamente a uma profundidade signi-
Estes grupos incluem os diversos processos industriais de tratamento ficativa. Os meios ativos contendo estes elementos são baratos, e as fases
termoquímico (tab. 11). que se formam com a participação de carbono e nitrogêneo no processo
Cada processo de tratamento termoquímico pode se realizar de saturação, ou com posterior tratamento térmico, modificam brusca,-
por :Vários métodos (com saturação de fase gasosa, vaporizada, líquida mente as propriedades mecânicas e físico-químicas do aço.
ou sólida) e com a utilização das técnicas mais variadas (por exemplo, Carbonetação ( cementação ). A cementação é aplicada em peças de
na obtenção da fase gasosa ativa, no espaço do forno ou em gerador aços com baixo teor de carbono (geralmente até 0,253).
separado). Na cementação com carburante sólido, a peça é introduzida na
Adiante, com exemplos qualitativos, veremos rapidamente al- caixa cheia de carbono vegetal, com mistura de 20-253 de BaC0 3 . Com
gumas variantes típicas de tratamentos. Estes exemplos se relacionam, o aquecimento, o carbono do carvão vegetal une-se ao oxigênio do ar que
principalmente, com os aços, pois o tratamento termoquímico dos ferros se encontra na caixa de cementação, entre as partículas do carburante,
fundidos e metais e ligas não-ferrosas é utilizado muito mais raramente e forma óxido de carbono:
na indústria.
2 e (carvão) + 02 -> 2eo
532 /. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 533
capítulo 17

Em contato com o ferro, o óxido de carbono produz carbono atomizado: cementação gasosa, a espessura da camada carbonetada de 1,0 a 1,3 mm
é obtida a 920ºC durante 15 horas e a lOOOºC durante 8 horas. Para
2CO-+ C02 +e (atomizado) prevenir forte superaquecimento (crescimento do grão austenítico), a
cementação. a alta temperatura é aplicada ao aço de granulação fina
Este carbono ativo in statu nascendi é absorvido pela austenita e se hereditária.
difunde para o interior da peça. A concentração de carbono na camada superficial da peça ge-
A adição de BaC03 intensifica fortemente o processo de ce:- ralmente é de 0,8-1,03 e não atinge o limite de solubilidade na tempe-
mentação, fornecendo uma quantidade· complementar de óxido de car- ratura de cementação. Conseqüentemente, não se forma rede de Fe3 C
bono e o correspondente carbono ativo: na temperatura de cementação, e a camada superficial, como o núcleo,
encontra-se no estado austenítico. Após resfriamento lento, a camada
BaC 03 + C (carvão)-; BaO +2 C O cementada, com concentração variável de carbono, consiste de ferrita e
cementita e caracteriza-se por uma estrutura escalonada, típica dos aços
e hipereutetóide, eutetóide e hipoeutetóide (fig. 212).
2 c o-; c 02 + c (atomizado) A cementação é uma operação intermediária, cujo objetivo é
o enriquecimento da camada superficial em carbono. A exigência de
Para a cementação gasosa, na qualidade de carburante utiliza-se o gás endurecimento da camada superficial da peça é obtida com têmpera
natural (constituído basicamente de CH 4 ), atmosfera controlada obtida após a cementação. A têmpera deve não apenas endurecer a camada
em geradores especiais e também hidrocarburantes líquidos (querosene, . superficial, como também corrigir a estrutura de superaquecimento, a
benzol e outros), com gotas que caem no espaço hermético de trabalho qual surge devido à exposição de muitas horas do aço na temperatura
do forno, onde se forma a fase gasosa ativa. O fornecedor básico de de cementação.
carbono nos carburantes gasosos é o metano: CH 4 - ; 2 H 2 + C. Na Após a cementação em carburante sólido, as peças de responsa-
atmosfera controlada obtida artificialmente, o fornecedor é o óxido de bilidade são submetidas a uma têmpera dupla, pois os teores de carbono
carbono. no núcleo e ria superfície da peça são diferentes. A temperatura ótima
Dependendo da composição da mistura gasosa e da composi- de aquecimento antes da têmpera depende do teor de carbono do aço
ção do aço, a atmosfera· no forno pode ser càrbonetante, descarbone- (fig. 143).
tante e neutra. No último caso, a concentração de carbono no aço está A primeira têmpera é realizada com aquecimento até 850-900ºC
em equilíbrio para dada composição na mistura gasosa, e el')ta concen- (acima do ponto AC3 do núcleo da peça) para que haja completa transre-
tração (e, mais fortemente, a correspondente atividade termodinâmica cristalização com a diminuição do grão austenítico no aço hipoeutetóide.
do carbono) denomina-se potencial de carbono de dada atmosfera. Se a No aço ao carbono, devido à baixa temperabilidade, após a primeira
concentração de carbono no aço é menor que aquela que corresponde ao têmpera o núcleo da peça consiste de ferrita e perlita. No aço ao car-
equilíbrio com a atmosfera, ocorrerá carbonetação. . bono, no lugar da primeira têmpera, pode-se utilizar a normalização.
A cementação gasosa é o processo básico na produção em série, No aço ligado, de temperabilidade ao longo de toda a seção, o núcleo da
(! a cementação em carburante sólido é utilizada na produção de peque- peça consiste de martensita com pouco carbono. Esta estrutura garante
nas séries. A profundidade de cementação, dependendo da destinação a elevação da resistência e suficiente tenacidade do núcleo.
da peça e da composição do aço, geralmente encontra-se nos limites de Após a primeira têmpera, a camada cementada apresenta-se
0,5-2,0 mm. com superaquecimento e ·com a quantidade de austenita residual au-
A cementação é realizada a 910-930ºC, e, às vezes, para ace- mentada. Por isto, utiliza-se a segunda têmpera desde temperatura de
leração, a 1000-1050ºC. Com o aumento de temperatura decresce o 700-700ºC, que são ótimas para os aços hipereutetóides. Após a se-
tempo de obtenção da dada profundidade de cementação. Assim, na gunda têmpera, a camada superficial consiste de martensita de agulhas
/. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 535
capítulo 17

finas com elevado teor de carbono, e inclusões globulares de cementita Nos contornos das camadas e+ /~oc/'r' e 1'/a + Ysoc na temperatura
secundária. ambiente (que correspondem aos contornos c//1 e 1' /a na temperatura
Na cementação gasosa, antes de tudo, utiliza-se uma única de nitretação ), a concentração de nitrogênio varia por degraus. Estes
têmpera desde o aquecimento de cementação, após manter a peça às degraus correspondem aos trechos ab e cd no diagrama de equilíbrio
temperaturas de 840-860ºC. Após a têmpera, a peça cementada sempre (fig. 220). Os contornos das camadas e/e+ /~ec correspondem aos con-
é aquecida até 160-180ºC para diminuir as tensões residuais. tornos entre fases das regiões e e e+ 1' no diagrama de equilíbrio (8, 10
A cementação é amplamente utilizada na construção mecânica N à temperatura ambiente). O gradiente de concentração de nitrogênio
para aumentar a dureza e resistência ao desgaste das peças, com con- nos contornos das camadas e/e+ /sec não deve existir.
servação de elevada tenacidade dos seus núcleos. O volume específico Na temperatura de nitretação de 800ºC, com o afastamento da
da camada cementada e temperada é maior do que o núcleo. Por isto, superfície da peça, deve-se observar a ordem de camadas e -t 1' -t / -t
surgem na peça tensões compressivas significativas. As tensões residuais a. Com resfriamento lento a austenita se decompõe, nas temperaturas
de compressão ao atingirem 400-500 MPa aumentam o limite de dura- abaixo de 590ºC, produzindo a mistura eutetóide a + / 1 , e nas cama-
bilidade da peça. das a e e surgem precipitados secundários da fase / 1 • Na temperatura
O baixo teor de carbono (0,08-0,215%) garante a elevada tena- ambiente, após resfriamento lento, deve existir a seguinte seqüência de
cidade do núcleo. A cementação é aplicada aos aços de marca 01, 10, 15 camadas, da superfície para o centro da peça: e -t é + /sec -> 1' -t
e 20, e nos aços ligados 12XH3A, 18XGT e outros. Aqui a significação eutetóide (a+ / 1 ) -ta+ 'Ysec -> a.
básica dos elementos de liga é o aumento de temperabilidade e, corres- Nos aços ligados, o nitrogênio forma nitretos muito dispersos
pondentemente, das propriedades mecânicas do núcleo da peça de aço de alumínio, cromo, molibdênio e outros elementos. Em conseqüência
cementado. disto, a camada nitretada possui dureza que supera, em muito, a dureza
dos aços cementados.
Nitretação. A nitretação da peça é realizada em amoníaco, o qual
se dissocia com o aquecimento, produzindo o nitrogênio monoatômico
ativo: 2 NH 3 _, 2 N +6 H. 900 911ºC

No sistemas Fe-N, nas temperaturas de nitretação, formam-se


as seguintes fases (fig. 220): solução a de nitrogênio no ferro (ferrita de
nitrogênio), solução /de nitrogênio no ferro (austenita de nitrogênio),
fase / 1 intermediária de composição variável, com rede CFC (esta fase
tem a fórmula Fe 4 N) e fase é intermediária, com rede HC e uma am-
pla região de homogeneidade (de 8,1 até 11,1% N na temperatura am-
biente).
Se a nitretação é realizada na temperatura de 550ºC, que é
menor que a eutetóide (590ºC), inicialmente forma-se solução a e depois
fase / 1 e, finalmente, fase e. Com o afastamento da superfície, no ferro
nitretado deve existir a seguinte ordem de camadas: e -t 1' /a.
500..._--1.~-L~..LL..:._U,.___J
Com a diminuição da temperatura, a região de solução a: e, par-
024 6 810
ticularmente, de fase e, no diagrama de equilíbrio, se encurta (fig. 220). Fe _ N,% (peso)
Por isto, nas camadas a e e deve surgir precipitação secundária. Com
Figura 220. Diagrama de equilíbrio do sistema Fe-N.
o afastamento da superfície, na temperatura ambiente, as camadas se
alternam na seguinte ordem: e -> é + /~ec -t "{ 1 -t a: + /~ec -t a.
r
536 /. /. Novikov 1
Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 537
capítulo 17

A formação da camada nitretada é acompanhada da elevação do A cianetação dos aços é realizada no banho contendo N aCN,
volume específico, e surgem na superfície tensões compressivas residuais a 820-960ºC, durante 30-90 minutos. Com a oxidação do cianureto de
(de até 800 MPa). As tensões compressivas residuais elevam o limite de sódio, formam-se o nitrogênio monoatômico e o óxido de carbono.
durabilidade das peças nitretadas. 1 A vantagem da cianetação em relação à cementação é a duração
A camada fina de fase e (0,01-0,03mm) protege bem o aço da significativamente menor do processo e as mais elevadas resistência ao
corrosão em atmosfera úmida e em outros meios. A nitretação aumenta desgaste e à corrosão (graças ao nitrogênio na camada superficial). A
a dureza, resistência ao desgaste, limite de durabilidade e também a defieiência do processo é a utilização dos sais venenosos de ciahtiretos.
resistência à corrosão dos aços. A nitrocementação ·dos aços, também denominada cianetação
A nitretação com o objetivo de aumentar a dureza e a re- gasosa, realiza-se a 850-870ºC durante 2-10 horas no meio contendo
sistência ao desgaste é ampliada aos aços do tipo 38X2MluA. Antes amoníaco e ga8 carburante. Em comparação com a cementação gasosa,
da nitretação, a peça é temperada e revenida a alta temperatura para a nitrocementação possui as seguintes vantagens: menot temperatura
aumentar a resistência e a tenacidade do núcleo. A nitretação é reali- do processo e, conseqüentemente, menor crescimento de grão, maior
zada a 500-520ºC. Devido à baixa temperatura e, correspondentemente, resistência ao desgaste e menor empeno das peças.
à baixa mobilidade dos átomos de nitrogênio, o processo é prolongado
(24-90 horas). A espessura da camada nitretada é de 0,8-0,6mm. Pode-
se diminuir a duração da nitretação elevando a temperatura. Porém, 17.2. Saturação com metais por difusão.
com isto, cai fortemente a dureza, devido ao coalescimento dos nitretos
dos elementos de liga. O processo de nitretação prolongado para elevar Os metais se solubilizam substitucionalmente no ferro e em ou-
a dureza e resistência ao desgaste é vantajoso apenas para as peças de tros metais. Por isto, eles difundem mais lentamente na peça que os
responsabilidade. não-metais. Como regra, a saturação com metais por difusão é realizada
A aceleração da nitretação é atingida com a utilização de des- com temperaturas mais elevadas do que a saturação com não-metais.
carga luminescente entre o anodo e a peça que é catodo (a peça é bom- ' ' Exemplos típicos são a alurninetação e a crometação.
bardeada com nitrogênio que se forma no plasma da descarga). A aluminetação é utilizada para aumentar a crosta de óxidos
Para aumentar a resistência à corrosão as peças de diversos dos aços e, raramente, dos ferros fundidos. São também alumineta-
aços (principalmente dos aços ao carbono) são nitretadas. Como aqui das as chapas de tubos de condução gasosa e de ligas de níquel termo-
não é exigida elevada dureza, escolhe-se elevada temperatura do processo resistentes. Com o aquecimento da peça que se alumineta, em meio
(600-700ºC) e a duração do processo de 15 minutos até 10 horas. Foi oxidante, forma-se em sua superfície uma placa fina e resistente de Ah
encontrada alguma utilização para a nitretação de ferros fundidos de 0 3 , que protege a peça de uma oxidação posterior. A profundidade da
elevada resistência e ligas de titânio. aluminetação, dependendo do método e do regime, é de 0,2-0,8 mm.
A nitretação das ligas de titânio é um dos poucos exemplos de Uma maior propagação foi obtida pela alm;ninetação de peças
utilização industrial de tratamento termoquímico de ligas de metais não- de aço fabricadas de pó, com saturação de fase gasosa. A mistura pulve-
ferrosos. Após a nitretação eleva-se a resistência ao desgaste e diminui rizada consiste de ferro-alumínio, amoníaco de cloro e óxido de alumínio.
o agarramento da peça em condições de fricção. Na presença de NH 4 Cl forma-se cloreto gasoso de alumínio Al Cl3 , que é
fornecedor de átomos ativos de alumínio. O óxido de alumínio previne a
Cianetação e nitrocementação. A saturação da superfície da peça aglomeração das partículas de ferro-alumínio. A alurninetação realiza-se
com carbono e nitrogênio simultaneamente, em sal de cianureto fundido, a 950-1050ºC durante 3-12 horas.
é denominada cianetação e, em meio gasoso, nitrocementação. A relação A crometação por difusão permite aumentar a resistência à cor-
entre carbono e nitrogênio na zona de difusão pode ser controlada com rosão e a resistência ao desgaste das peças de aço. Uma maior utilização
a variação da composição do meio e da temperatura do processo. foi obtida pela crornetação das misturas pulverizadas de ferro-cromo (ou
/. /. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 539
538
capítulo 17

cromo), amoníaco de cloro e óxido de alumínio, a 1000-1050ºC, com corrosão (um teor total elevado destes elementos no volume da liga ga-
~xposição de 6-12 horas. O clorPto gasoso Cr Ch que se forma é forne- rante o necessário nível de resistência).
tedor dos átomos ativos de cromo. Também utíliza-se a crometação em Os processos de tratamentos termoquímicos, graças à inesgotá-
vácuo, a 1000-1050ºC, durante algumas horas, com saturação da fase vel variedade de meios químicos ativos, e à riqueza de possibilidades de
gasosa, a qual é obtida com a vaporização do pó de cromo. variação das propriedades das camadas superficiais e de todo o volume
Para aumentar a resistência à corrosão e a resistência da crosta das peçiis, são amplamente utilizados na indústria. Eles se desenvolvem
41.e óxido, a camada superficial deve possuir estrutura de solução sólida rapidamente, conquistando novas áreas de aplicação.
àútil de cromo no ferrcra. Se um dos objetivos da crometação for a
elevação da dureza, na camada superficial devem se formar carbonetos
~e croµio (Cr23 C6, Cr1 C3). Para isto, escolhe-se o aço que contenha
mais de 0,4% Cr. A espessura da camada crom~tada geralmente não
µltrapassa 0,2 mm.

17.3. Remoção dos elementos por difusão.

A remoção de impurezas prejudiciais com !aquecimento a vácuo


~ outros meios é uma variante importante de tratamento termoquímico
para uma série de peças. Na base deste tratamento encontra-se o pr<r
tesso de descolamento por difusão dos átomos do núcleo para a superfície
lia peça e a remoção do elemento desde a superfície. Como regra, exige-
se a remoção completa das impurezas prejudiciais (por todo o volume, e
não apenas das camadas superficiais). Um exemplo é a desidrogenação
das ligas de titânio, com aquecimento a vácuo, para prevenir a fragili-
dade por hidrogênio e elevar a tenacidade ao choque. A desidrogenação
~ reali;i:ada a 670-700ºC durante 2-6 horas e pressão não maior que
10- 4 GPa.
Para a separação do conjunto de impurezas prejudiciais nos me-
tais refratários os mesmos são aquecidos em vácuo. •Há muito é utilizada,
industrialmente, a descarbonetação completa dos aços para transforma-
ô.or, com recozimento das chapas em hidrogênio.
Às vezes, para modificar as propriedades qa camada superficial,
~1tiliza-se a remoção incompleta de um dos componentes básicos da liga.
Uma variante original de tratamento termoquímico é o trata-
,mento térmico a vácuo com sublimação de um ou vários elementos de
figa (C.E. Bokistein e M.B. Bronfin). Por exemplo: a exposição a 500ºC,
· 9 horas em vácuo de 10-3 Pa, de amostras de liga Al-4,53 Zn-2,0%Mg,
~ondúz à sublimação de zinco e magnésio de sua camada superficial.
Graças a isto, cresce significativamente a resistência ao agretamento por
Apêndice

Tabela 12. Composição química(% em peso) dos aços e ligas de metais não ferrosos
citados no livro Aços
Marca e Si Mn Cr Ni Outros
08KP 0,05-0,11 $0,03 0,25-0,50 $0,10 $0,25 -
08 0,05-0,12 0,17-0,37 0,35-0,65 $0,10 0,25 -
10 0,07-0,14 0,17-0,37 0,35-0,65 $0,15 $0,25 -
15 0,12-0,19 0,17-0,37 0,35-0,65 $0,25 $0,25 -
20 0,17-0,24 0,17-0,37 0,35-0,65 $0,25 $0,25 -
35L 0,32-0,40 0,17-0,37 0,16-0,8 - - -
40 0,37-0,45 0,17-0,37 0,50-0,80 $0,25 $0,25 -
60 0,57-0,65 0,17-0,37 0,50-0,80 $0,25 $0,25 -
Y8A o, 75-0,84 0,15-0,30 0,15-0,30 - - -
Y9A 0,85-0,94 0,15-0,30 0,15-0,30 - - -
YlOA 0,95-1,04 0,15-0,30 0,15-0,30 - - -
YllA 1,05-1,14 0,15-0,30 0,15-0,30 - - -
Yl2A 1,15-1,24 0,15-0,30 0,15-0,30 -· - -
Yl3A 1,25-1,35 0,15-0,30 0,15-0,30 - - -
X 0,95-1,10 0,15-0,35 0,15-0,40 1,30-1,65 - -
9x 0,85-0,95 1,2-1,6 0,30-0,60 0,95-1,25 - -
xI36 0,90-1,05 0,15-0,35 0,80-1,10 0,90-1,20 - 1,2-1,6 w
xl2Flx1Fl 1,25-1,45 0,15-0,35 0,15-0,40 11,00-12,50 - 0,7-0,9 V
P6M5 0,80-0,88 ::;o,5 ::;0,1 3,8-4,4 - 5,5-6,5 w
5,0-5,5 Mo
1,7-2,l V
xxl5 0,95-1,0 0,17-0,37 0,20-0,40 l,30cl,65 - -
18xGT 0,17-0,23 0,17-0,37 0,80-1,10 1,00-1,30 $0,30 0,03-0,09 Ti
12xH3A 0,09-0,16 0,17-0,37 0,30-0,60 0,60-0,90 2,75-3,15
38x2MlmA 0,35-0,42 0,20-0,45 0,30-0,60 1,35-1,65 $0,3 0,15-0,25 Mo
o, 70-1,10 AI
55x6P 0,52-0,60 0,17-0,37 0,9-1,2 ::;0,25 0,001-0,003I3
30x6C 0,28-0,35 0,90-1,20 0,80-1,10 0,80-1,10 ::;0,30 -
50xFA 0,46-0,54 0,17-0,37 0,05-0,08 0,8-1,l - 0,1-0,2 V
YoxHMA 0,37-0,44 o, 17-0,37 0,50-0,80 0,60-0,90 1,25-1,65 0,15-0,25 Mo
18x2HYI3A 0,14-0,20 0,17-0,37 0,25-0,55 1,35-1,65 4,00-4,40 0,80-1,20 w
30xlOG10 0,28-0,32 0,5-0,6 0-11 9-11 - -
12xl8H9 ::;0,12 ::;o,8 ::;2,0 17,0-10,0 8,0-10,0 -
20xl3L 0,16-0,25 ::;o,s $0,8 12,0-14,0 - -
36HT!ulm 0,5 $0,5 0,8-1,2 11,5-13,5 34,5-36,5 2,8-3,2 Ti
1GG2AF 0,M-0,20 0,3-0,G 1,3-1,7 - - 0,08-0,11 V
0,015-0,025 N
OGxGC 0,05-0,08 0,3-0,5 1,1-1,1 0,4-0,7 - -
06G2C 0,05-0,08 0,4-0,G 1,4-1,7 - - -
542 !. l. Novikov Teoria dos tratamentos térmicos dos metais 543

Tabela 13. Ligas de Alumínio Tabela 15. Ligas de Titânio

AI Cu Mg Zn Mn Si Fe Outros Marca AI Mo Cr Outros


1arca
ADI $ 99,3 $ 0,05 $ 0,05 $ 0,1 $ 0,025 $ 0,30 $ 0,30 - BT8 5,8-7,0 2,8-3,8 - 0,20-0,35 Si
AD $ 98,8( $ 0,1 $o, 1 $ 0,1 $o, 1 $ 0,50 $ 0,5 - BT15 2,3-3,5 6,5-7,5 9,5-11,5 -
$ 0,2 $ 0,5, $O, 1 1,0- 1,6 $ 0,6 $o, 7 - BT22 4,5-5,9 4,0-5,5 0,5-2,0 4,0-5,5 V
\MT Base
~Mgl " $ 0,01 0,5-1,8 - - $ 0,05 $ 0,05 - 0,5-1,5 Fe
~Mg2 " $o, 1 1,8- 2,8 $ 0,2 0,2 - 0,6 $ 0,4 $ 0,4 -
~Mg6 " $O, 1 5,8-6,8 $ 0,2 0,5 -0,8 $ 0,4 $ 0,4 0,02-0,10 Ti
0,001- 0,005 Ele Tabela 16. Ligas de Níquel

\D33 " O, 15 - 0,4( 0,8-1,2 $ 0,25 $ O, 15 o, 4 - 0,8 $ 0,7 -


Marca Cr Ti AI Outros
\D35 " $o, 1 0,8-1,4 $ 0,2 0,5- 0,9 0,8-1,2 $ 0,5 -
XH77TIUP 19-22 2,4-2,8 O,G0-1,0 $0,01 B
AB " o, 1 - 0,5 0,45-0,9( $ 0,2 o, 15 - 0,35 0,5 -1,2 $ 0,5 -
EI437B 18-21 1,8-3,0 0,8-2,0 15-21 Co
Dl " 3,8- 4,8 0,4 - 0,8 $ 0,3 0,4-0,8 $ 0,7 o, 7 -
Dl6 " 3, 8 - 4, 9 1, 2 - 1,8 $ 0,3 0,3 - 0,9 $ 0,5 $ 0,5 -
Dl9 " 3, 8 - 4,3, 1,7-2,3 $ 0,1 0,5-1,0 $ 0,5 $ 0,5 b, 0002 - o, 005 1Be
Tabela 17. Ligas de Cobre
)19P " 3, 2 - 3, 7' 2, 1- 2,6 $o, 1 0,5 - 0,8 $ 0,3 :::; 0,3 Kl, 0003 - o, 005 Be
KY-l " 1, 9 - 2, 5 1,4-1,8 $ 0,3 $ 0,2 $ 0,35 b,8-1, 0,8-1,3 Ni Marca Teores dos elementos
1201 " 5,8- 6,8 $ 0,02 $o, 1 0,2 - 0,4 $ 0,2 $ 0,3 0,02 - O, 1 Ti
L70 69,0- 72,0 Cu, resto Zn
O, 1- O, 25 Zr
BhB2 1,8-2,l Be, 0,2-0,5 Ni
0,05 - O, 15 V
BhHT1,9Mg,9Mr 1,85-2,1 Be. 0,2-0,1 Ni
1915 " $o, 1 1,3-1,8 t3,4-4,( 0,2-0,G :::; 0,3 $ 0,4 O, 15 - O, 22 Zr
0,1-0,25 Ti, 0,07-0,13 Mg
0,08-0,2 Cr
BhAJ9-1 8-10 AI, 2-1 Fe
895 " 1,4-2,0 1,8-2,8 5,0- 7,( 0,2 - O,G $ 0,5 :::; 0,5 O, 1- O, 25 Cr
AL2 " $ 0,6 $o, 1 $ 0,3 s o,~; 10, o -13,( $ 0,8 -
AL7 " 4,5 -5,0 $ 0,3 $ 0,2 $ 0,1 $ 1,2 $ 1,0 -
AL8 " $ 0,3 9, 5 - 11, 5 $ 0,1 $ 0,1 $ 0,3 $ 0,3 -
AL9 " $ 0,2 o, 2 - 0,4 $ 0,3 s o,~; G,0- 8,0 $ 0,6 -

s ligas Dl6Y e B95py diferenciam-se das ligas Dlü e B95 pelo menor teor de impurezas: D16Y
O, 3 Fe; 2: O, 25; 2: O, 1 Zn; 895 py: 2: O, 25 Fe; 2: O, 1 Si.

Tabela 14. Ligas de lVlagnésio

Marca AI Zn Mn
ML5 7,5-9,0 0,2-0,8 0,15-0,5
ML12 - 4,0-5,0 0,G-1,1 Zr
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