Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
COSERIU
LIC O E S DE
LINGÜÍSTICA GE
o
i
o
o
l
o
l
i
f
e
o
c
i
t
s
í
D
g
Indústria e Co
i
I V
LIÇÕES DE
LINGÜÍSTICA GERAL
(Edição revista e corrigida pelo autor)
CLP-Brasil. Catalogação-na-fonte
Sindicato Nacional dos Editores
Editore s dc Livros
Livros,, RJ.
Traduçã
Tra dução
o de
de’’: Lczionc di lingüist
lingüistica
ica generale
Bibliografia
ISBN: 85-215-0024-6
1. Lingüística 1. T ít
ítul
ulo
o II. Série.
CDD -4 1 0
80- ^ CDU
CDU - 801
801
SUMÁRIO
Notaa do ed
Not edit
itor
or italian
ita liano,
o, V
Apresentação, Vil
Prefácio da tradução brasileira, VIII
1. Premis
Premissas
sas históricas da lingüística modmoderna,
erna, 1
2 . A ideologia positivista
positivi sta na lingüíst
lingüística
ica 11
3. O antipositivismo, 21
4. A lingüística entre o positivismo e o antipositivismo, 27
5. Unidade e diversidade da lingüística atual, 37
6. O estruturalismo, 45
7. O princípio da funcionalidade, 59
8. Oposição, sistematicidade e neutralização, 71
9. As transformações, 81
10 . Criatividade e técnica lingüística. Os três níveis da linguagem, 91
11. A língua funcional, 101
12 . Sistema, norma e falar concreto, 119
Bibliografia, 127
NOTA
NOTA DO EDITO
EDITOR
R ITALIA
ITALIANO
NO
APRESENTAÇÃO
Nasc ido de um
Nascido umaa série de aulas dad
dadas
as em cur
curso
so de atuali
atu alizaç
zação
ão pa
para
ra pprof
rofess
essore
oress
de ensino secundário, este volume, de autoria de um dos estudiosos contemporâ
neos de maior prestígio da teoria da linguagem, trata de maneira original os proble
mas que levam à compreensão das modernas teorias lingüísticas.
A lingüístic
lingüísticaa moderna - mesmo em sua extrema
extrem a diversid
diversidade
ade de temas, concei
concei
tos e hipóteses, de que vem aqui oferecida uma breve mas completa apresentação —
é inte
interpre
rpretad
tada,
a, em suas
suas raízes históricas
histó ricas e ideológica
ideológicass que a aprox
aproximam
imam a outr
outras
as
experiências fundamentais da cultura filosófica e científica contemporânea, como
uma reação aos princípios do positivismo, entendido como metodologia geral das
ciências.
A originalidade da contribuição de Coseriu está, entretanto, em ter inserido a
consideração estrutural e funcional em uma concepção dinâmica da língua e identi
ficado três níveis da linguagem como atividade umversalmente humana: o nível
universal (ouvimos talar em um quarto ao lado sem compreender o que se diz ou
quem fala): o histórico (individualizamos que se está falando a língua x, x , isto é,
segundo uma técnica historicamente determinada) e o individual (somos (somos capazes de
dizer: É Pedro quem
qu em fa
fala
la).
). A estes níveis deveriam se referir as diferentes disciplinas
lingüísticas (entre elas a “gramática”), porque a eles correspondem também três
planos
plan os fun
funcio
cionai
naiss ou de “c “coo n te
teúú d o ” lin
lingü
güíst ico:: a designação, o sign
ístico significa
ificado do e o
sentido.
senti do.
nossos cursos de Letras. Já nesta edição, nos casos que por ora se nos impuseram,
tomamos a liberdade de assim proceder, com o devido beneplácito do Autor.
Outra importância de que se reveste a contribuição de Eugenio Coseriu: insis
tir em que a missão precipua da lingüística é ser a ciência das línguas, e não a
ciência do falar por meio das línguas. A consideração estrutural e funcional numa
concepção dinâmica da língua parece-nos o caminho seguro para a lingüística teó
rica
línguapoder contribuir
materna fundamentalmente para aperfeiçoar a descrição e o ensino da
ou estrangeira.
Em atenção ainda às características de compêndio didático destas Liç Liçõe s,
ões,
acrescentamos, na bibliografia, a indicação da existência de tradução para a língua
portu
po rtugu
guesa
esa das obras
obra s a í in
inserida
seridas.
s.
A tradução deste livro contou com a colaboração da Sr.a Dulcemar Silva
Maciel que preparou a primeira versão da metade do texto e que, por motivo de
saúde, teve de se afastar da empresa. A ela nossos sinceros agradecimentos. A
redação definitiva desta parte e do final da obra é de nossa inteira responsabilidade,
bem como
co mo as ad
adap
aptaç
taçõe
õess de exe
exemp
mplos
los par
paraa a lín
língua
gua portu
po rtugu
gues
esaa e as not
n otas
as de pé de
páginas, indic
indicada
adass pela
p ela abr
abrevi
eviatu
atura
ra (E.B
(E.B.).
.).
cendo Oa presente
fundo a texto
línguacontou com a aclarou
portuguesa, supervisão permanente
muitos do Autor
passos, propôs que, conhe
melhores solu
ções de versão para muitos outros e expurgou algumas falhas de tradução. Cabe
ainda lembrar que o texto ora oferecido ao leitor não segue simplesmente a edição
italiana original, mas apresenta uma radical correção e reelaboração do manuscrito
destinado a uma segunda edição italiana, ainda não vinda a lume.
Pelas
Pelas qualidades e pel
pelasas perspecti
perspectivasvas aqui lem
lembradas
bradas é que pom
pomos
os nas mãos de
profes
pro fessore
soress e aluno
alunoss esta
estass Liç ões,, certo de que marcarão uma fase no ensino da
Lições
lingüística entre nós.
Por tudo isto, agradecemos ao dileto amigo Prof. Eugenio Coseriu a autoriza
ção de verter ao português este livro e Ao Livro Técnico a oportunidade de agasa
lhá-lo na coleção em tão boa hora entregue à coordenação de Carlos Eduardo
Falcão Uchôa.
Evanild
Eva nildo
o Bechara
1
1.
1.1.
1. Para
Para oferecer uma idéia
idéia panorâmica da llingüística
ingüística moderna
mod erna toma-se neces
sário, antes de tudo, colocá-la no seu contexto histórico, tanto mediato quanto
imediato e, após ter procurado quais os motivos e intuições do passado que servem
de base a teorias e orientações atuais, apresentar destas uma síntese orgânica, que
perm
pe rmita
ita form
fo rmul
ular
ar um
umaa serie de pr
prop
opos
osta
tass satis
sa tisfa
fató
tória
riass a respe
res peito
ito do pr
prob
oble
lema
ma fu
funn
damental: “Que ssee entende,
entend e, hoje, por li
linguage
nguagem?” m?”
1.
1.2.
2. Comecemos por uma observação
observação óbvia: quem que querr que depois de ter seguido
um curso de lingüística em uma universidade italiana, se detenha no estudo da cha
mada lingüística moderna, entendendo como tal as várias correntes surgidas das
primeira
prim eirass décadas
déca das d o noss
nossoo scculo
scc ulo,, é su
surp
rpre
reen
endi
dido
do pe
pela
la diferen
dife rença
ça en tr
tree os pr
prob
oble
le
mas e os argumentos desta e daouela. É envolvido, por assim dizer, numa sensação
de novidade,
século maisasaparente
XIX com do que
formulações da real, quando“moderna”,
lingüística cortfronta acomo
pesquisa lingüística
se entre estas duasdo
existisse uma evidente rutura.
Há mais
mais ainda: quem procura
pro curarr um segur
seguroo nexo cond
co ndut
utor
or entre as vá
vária
riass ex
expe
pe
riências da lingüística moderna e imaginar que poderá encontrar uma explicação
coerente de certos fatos em manuais introdutórios, se sentirá frustrado e perceberá
que os manuais, introduzindo o leitor, na realidade, numa determinada visão da
lingüística, oferecem não um panorama completo mas sim setorial, com desconhe
cimento freqüente de algumas orientações que outros manuais, por seu tumo, põem
em evidência.
A lingüística moderna apresenta uma tal variedade de temas, concepções e
hipóteses
sificar de (formuladas muitas
esotérica), que vezes numa
o iniciante, linguagem
apesar que não
de fascinado, nãohesitaríamos
deixa de ficarem clas
tam
bém atur
at urdi
dido
do.. Da
Daíí os lingüista
lingü istass de pro
profis
fissão
são ed
educ
ucad
ados
os pa
para
ra trab
tr abal
alha
harr segund
seg undoo
2 LIÇÕES DE LINGÜISTICA GERAL
1.3.
1.3. Primeiramente foi as assina
sinalado
lado o caráter de aparente novidade, próprio da lin
güística moderna. Ora, é oportuno distinguir entre novidade efetiva e desenvolvi
mento, com roupagem moderna, de temas já conhecidos. Isto posto, não há dúvida
de que a lingüística moderna encara, de um lado, problemas sobre a natureza e
estrutura da linguagem que a lingüística tradicional havia desprezado; por outro
lado, ela não se ocupa ocup a absolutamente com indaga
indagações
ções históricas; ou então, procura
pro cura
just
ju stif
ific
icaa r a hi
hist
stór
ória
ia (dese
(d esenv
nvolv
olvim
imen
ento)
to) pa
part
rtin
indo
do da desc
descriç
rição
ão (est
(e stru
rutu
tura
ra).
). E ntre
nt reta
tant
nto,
o,
é evidente, antes de tudo, que, dado o caráter abstrato e quase filosófico dessas
pr eocu
preo cupa
paçõ
ções
es,, a lingü
lin güís
ístic
ticaa atua
atuall deve reel
re elab
abor
orar
ar e des
desenvo
envolve
lverr a seu mo
modo
do tais
temas e problemas que, constituindo-se em interesses culturais particulares, caduca
ram e não foram considerados como objetos de ciência, principalmente na segunda
metade
me tade do século XIX
XIX..
1.4.
1.4. É opinião comum
comum,, introduz
introduzida
ida na realidade pelos estudiosos dess
desses
es período
períodos,
s,
que a lingüística científica é aquela que se segue à difusão da comparação como
estudo sistemático das correspondências entre as línguas. Mas se a esta visão, tão
legítima quanto estreita, opusermos uma outra que considera lingüística qualquer
forma de reflexão sobre a linguagem, a lingüística moderna parecer-nos-á um re
to
tomm o a temas ess
essenc
enciai
iaiss da especulação lingüistica do século XVI
XVIII,
II, a qual, por sua
vez, reelaborava
güidade motivos
clássica sobre
clássica intrínsecamente
a origem e as cara ligados
caracterís ticas às
cterísticas da discussões
linguagem.mantidas já na anti
linguagem.
Distinguindo
Distingu indo por
portan
tanto
to a lingüística histórica e compara
comparadada da lingüísti
lingüística
ca ger
geral
al,,
teremos o seguinte quadro da sucessão dos interesses lingüísticos através dos tem
pos: . .
1.5. No Ren
1.5. Renascim
ascimento
ento e no século XIX prevaleceu o histo
historicism
ricism o, e é natural
natu ral que
dessa natureza fosse também a lingüística de tal período, enquanto a preocupação
que hqje domina a disciplina, de modo geral, é, como dissemos, de caráter teórico
e descritivo.
descritivo. Por este motivo a lingüística moderna,
mod erna, em sua col
colocação
ocação essenc
essencial
ial,, não
é absolutamente nova, antes retoma às suas tradições mais antigas. Trata-se de um
retorno não declarado explícitamente e até mesmo por vezes ignorado pelos pró
prioss lingüistas
prio lingü istas..
1.5.1. O esquema
1.5.1. esque ma seguinte mo
mostra
stra a sucessão
sucessão e a intercessão das orien
orientaçõe
taçõess da
lingüística através
através dos tempos:
temp os:
máticaé dos
(isso fora estoicos,
do sign quenpdistinguem
signo),
o), entreSóoruialvov
ii a, “coisa”.
ãy iia, se explica e crqíKnvôpevov e, fora
que esta distinção destes,
seja atri
b
buu íd a a Saussure
Sau ssure porq
po rque
ue se inte
in terr
rromom pe u a lin
linha
ha teór
te óric
icaa no
n o de
deco
corr
rrer
er do
doss séculos.
Também esta distinção entre uso primário das palavras e uso “reflexivo”
(aplicado às próprias palavras) não é nova, pois aparece já em forma explícita no
magis tro de Santo Agostinho, onde, a respeito de verbum, se diz que é uma pa
De magistro
lavra ( verbum ), do mesmo modo que o são “casa!’, “cão”, “livro”, e que significa
“palavra” (“verbum
( “verbum ”). De Depoi
pois,
s, tal distinção é retomada
retoma da outras ve veze
zess na história das
das
reflexões sobre linguagem, particularmente na lógica medieval, que distingue a sup
posi
po siti
tioo form al is “hipótese formal” ou “funcional” (consideração da linguagem
fo rm alis
como linguagem primária) da su supp
ppos
ositi
itio'
o'ma
mate
teria lis “hipótese material” (considera
rialis
ção da linguagem como “metalinguagem”).
Trata-se
Trata-se ainda de um retom
reto m o a questões já ex
existentes;
istentes; isto nos dever
deveria
ia con
con
vencer de que muitos motivos e problemas da lingüística atual não são “novos”
mas, retomados
retom ados e redescobertos
redescobertos no curso da história, voltam hoje a ser postos à luz.
luz.
temporâneos, sincrónicos”)
(aufeinanderfolgend e fatosdiacrônicos”),
“sucessivos, que se sucedem um depoisnadoobra
e Saussure, outro, sucessivos
Cours de lin
guist
gu istiq
ique
ue gén
généra le ( Curso de lingüística geral), publicação póstuma de 19163, re
érale
toma estas definições e as traduz por fa its it s sync
sy nchr
hron
oniq uess e termes successifs. E
ique
depois de Gabelentz, Dittrich, em uma obra de 1904 sobre a psicologia da lingua
gem, faz distinção entre as duas formas de lingüística, que chama respectivamente
synch
sy nchro
ronis
nistis ch e metachronistisch4.
tisch
3 Cons
Consulte-
ulte-se
se a tradução italiana des
desse
se livio,
livio, dota
dotada
da de amplo comentário, feita ppor
or T.
de Mauro, Corso di lingüistica generóle, Laterza, Bari, 1968.
4 Tr
linguagemTrat
|,ata-
a-se
se se
onde da declara
obra
obra Grundzüge der Sprachpsychologie [Fundamentos de psicologia da
que o objetivo da psicologia da língua é entender “a língua como
pro dutoo humano
produt human o . . . no seu condiciona
condic ionament
mentoo através da organizaçã
organizaçãoo psicofísica e da atividade
da coletividade
coletividade lingüística”
lingüística”..
6 LIÇÕES DE LINGÜISTICA GERAL
Na reali
realidade,
dade, esta dis
distin
tinção
ção,, tampé
tam pémm atri
at ribu
buídídaa co
corr
rren
entetemm en
ente
te a Saussure,
Sauss ure,
está implícita em toda a gramática desde que existe uma disciplina gramatical, por
que nenhuma gramática jamais descreveu o fa fala
lar r , o desempenho, mas sempre pre
tendeu descrever a língua , o saber lingüístico, a langue, a competência. Isto, natu
ralmente, de modo implícito. Depois, de modo explícito, a distinção aparece na
Enciclo
Enc iclopéd
pédia
ia das ciências filos
fil osóf icass de Hegel, parágrafo 459, dedicado à lingua
ófica
gem.. A fórm
gem fórmula
ula ddee He
Hegel
gel é mu muitíss
itíssimo
imo simples: “ Die Red R ed e und ihr System, die
Sprache ” , ‘o falar e seu sistema
sistema,, a línlíngu
gua’
a’.. O cursivo é do próp pr óprio
rio Hegel, e parece
indicar um uso técnico para esses termos, ainda correntes com o mesmo valor na
língua alemã. Entretanto, na obra de Gabelentz acima citada, esta distinção não é
apenas formulada mas também discutida e tomada como fundamento de uma dis
tinçãoGabelentz
correspondente entrena
distingue disciplinas
“linguagem” lingüísticas, descritivas
( Sprache ) o “falar”e históricas.
(Rede), a “língua”
(Einzelsprache) e a “faculdade da linguagem” (Sprachvermogem), no Curso de lin-
güíst
gü ica geral de Saussure, acham-se, através de conceitos praticamente análogos a
ística
estes, os termos parole
parole,, langue e fa
facu
cu lté langage Pod
lt é d e langage Poder-
er-se-
se-ia
ia ob
obter
ter daí o següinte
esquema:
Re de (Saussure, paro
Rede parole)
le)
{ Einzels
Ein zelsprac he (língu
prache (línguaa determ inada; Saussu
Sprachvermógen (Saussur e, e, fa
facu
cu lte
Saussure,
re, langue )
lt e d e langage)
1.5.6. Ou
1.5.6. Ouveve-s
-see fala
falarr freque
frequentem
ntem ente da teoria
teo ria da arbitrarieda
arbitrariedade
de do signo
signo lingüís
tico (árbitraire du signe, na terminologia de Saussure), segundo a qual as palavras
consideradas em si não são motivadas naturalmente, isto é, não existe relação de
causa entre a palavra e a coisa significada ou designada. A palavra mesa não se asse
melha de modo nenhum ao objeto “mesa” nem ao respectivo conceito, e neste sen
tido é arbitrária. Esta teoria também foi atribuída a Saussure. Em recente artigo
PREMISSAS HISTÓRICAS DA LINGOfSTICA MODERNA 7
sobre oprobíenla5, demonstrei que se trata, porém, de uma tradição iniciada com
Aristóteles e que o arbitraire du signe é a forma moderna da teoria aristotélica se
gundo a qual o signo funciona não naturalmente, mas irará avvdivnpv “segundo
uma instituição”, de acordo com as tradições estabelecidas socialmente. Encontrei
também uma tradição ininterrupta, através de Boécio e da filosofia escolástica até a
época moderna, da determinação do signo como arbitrário. E também o termo “ar
bit
b itrr á r io
io”” rem
re m on
onta
ta à antig
an tigüid
üidad
ade,
e, hsNoctes atticae de Aulo Gélio. Novamente intro
duzido por Júlio César Escalígero em lugar de ex instituto, ex institutione (cor
rente na filosofia e na especulação lingüística medieval), foi depois retomado por
muitos autores, dentre os quais podemos recordar Hobbes, no De homine (1658) e
Schottel, na sua gramática alemã Au sf
sfüh
üh rl
rlic
iche
he A rb eit
ei t von de r Teuts
Te utsch
chen
en Ha
Haub t
ubt
Sprache (1663). A expressão “arbitrariedade do signo” ocorre entretanto não ape
nas como noção, mas também como termo, a partir de obras em língua latina até
obras em língu
línguas
as modernas.
1.5.7. Assi
1.5.7. Assim
m proce
procedendo
dendo,, pode-se
pode-se chegar a descobrir
desco brir tamb
também ém os precede
precedentes
ntes de
proble
pro blema
mass cien
ci entí
tífi
fico
coss pa
parti
rticu
cular
lares
es,, com
co m o oc
ocor
orre
re com
co m certa
ce rtass noçõ
no ções
es gra
grama
matica
ticais.
is.
Em recénte artigo sobre categorias de pessoa, Émile Benveniste6 sustenta que as
pesso as gra
pessoas grama
matica
ticais
is são so
some
ment
ntee a prim
pr imei
eira
ra e a segun
se gunda,
da, porq
po rque
ue a tert erce
ceir
iraa éé,, ao con
co n
trário,, a não-pessoa; a primeira e a segun
trário segunda,
da, de
de fato, enenqua
quanto
nto pessoas que parti
cipam efetivamente do diálogo, são, na realidade, pessoas, enquanto a terceira, ou
melhor, a chamada terceira pessoa, enquanto aquilo de que se fala, não é necessa
riamente pess
pessoa,
oa, mas pode ser uma coisa qualq qualquer,
uer, ainda uma idéia abstra abstrata:ta: numa
análise extrema, todo o resto do mundo.
Também esta teoria e esta interpretação das pessoas gramaticais se encontram
na obra
ob ra já citada de Harris:
Harris: em pequena
peque na nota
not a ao pé
pé de pági
página,
na, eele
le suste
sustenta
nta que exi exis
s
tem somente a primeira e a segunda pessoas, enquanto a terceira é a não-pessoa
(aliás
(aliás Harris
Harris encampa expressamente um umaa tese de Apolônio Díscolo).
1.6.
1.6. Tudo o que disse
dissemos
mos não pretende
preten de diminuir os mé
méritos
ritos da lingüística mo
moder
der
na, mas mostrar que ela não está fora da tradição, como se ouve dizer seguidamente,
e que, ao contrário, retoma posições teóricas sobre a linguagem existentes desde a
5 E. Co
Cose
seri
riu,
u, L 'arbitra
'arbitraire
ire du sig
signe
ne,, Zu r Spàtgeschic hte eines aristotelischen Begriffes [A
Spàtg eschichte
arbitrariedade
arbitrariedade do sigsigno
no.. Sobre a história tardia de um u m conceito
conce ito aritot
a ritotélico \, Archiv für das
élico\,
Studium der neueren Sprachen und Literaturen, CXIX, vol. 204, N. 2, 81-112, 1967 (Agora
inserido em Tradición y novedad en la ciencia de dell lenguaje, p. 13-61. Gredos, Madrid, 1977.)
6 E.
E. Benveniste interessou-
interessou-se
se pela primeira vez por esta questã qu estãoo em Structures des
relations de per
personne
sonne dans le verbe
verbe [Estruturas relações de pessoa no verbo], Bulletin de la
[Estruturas de relações
Société de Linguistique, XLI11, vol. 1, N. 126, 946 e numa segunda vez em La nature des
pronom
pro nomss ]A natureza dos prono mes] no volume de homenagem For Román Jakobson (Haia,
pronomes]
1956). Ambos os artigos se acham agora recolhidos em Problémes de linguistique génerale génerale
l], Paris, 1966. Desta obra existe trad
[Problemas d
Maria dee lingü
da Glorialingüisti
istica
Novak ca gera
egeral],
Luiza Neri, com revisão de Isaac N.traduçã
uçãoo para
Salum, o portu
portugués
Companhia gués de
Editora
Nacional, São Paulo, 1976.
8 LIÇÕES DE LINGÜISTICA GERAL
do Curso de Saussure,
determiñados iisto
sto é, o estu
sistemas lingüísticos.estudo
do das
Entre os caracterís
características
ticas afetivasmais
lógicos, desempenha e eexpressi
xpressivas
ou mer vas j s dío
mesmo papel da retórica antiga a chamada pragmática, ou seja, o estudo da lingua
gem em seu uso na vida prática (nas relações humanas).
A dialética, ao contrário, abandonada como disciplina no século passado
(depois
(depo is de 183
18300 também
tamb ém no n o ensino universitário; recor
recorde-se
de-se que o uso da pal palavr
avraa
tese, parà indicar o trabalho de doutorado, provém da dialética, pois que se apresen
tava, de fato, uma determinada tése, que era defendida), foi retomada pelos lógicos
modernos no estudo da sintaxe lógica da linguagem. A gramáti gramática,
ca, retóri ca e dialé-
retórica
tica correspondem, respectivamente, na distinção proposta por Rudolf Carnap e por
outros lógicos modernos, a sem semánt ica (que trata, na realidade, da gramática em
ántica
geral), pragm ática e sin
pragmática sinta
taxe
xe lógica da linguagem.
linguag em.
1.
1.7.
7. Assinalamos
Assinalamos os problemas
problem as lingüístico
lingüísticoss da época clássica,
clássica, da Idade Médi Médiaa e do
século XVIII, e recordamos também que certas noções ou distinções se aproximam
de llegel e Gabelentz. Ao menos em certo sentido, estas idéias e posições estiveram
presen
pre sentes
tes ta
tamb
mbém
ém ququan
ando
do a lingü
lin güíst
ística
ica foi dodomm inada
ina da po
porr ou
o u tro
tr o s inte
interess
resses;
es; po
porr isso
devemos modificar nosso esquema do desenvolvimento das idéias lingüísticas e ter
presen
pre sente
te que a pro
p roble
blemá
mátic
ticaa lingüís
ling üístic
ticaa é e foi
f oi sem
sempre
pre comple
com plexa.xa. De fato,
fat o, qu
quan
ando
do se
afirma que o objetivo essencial da lingüística é a teoria ou a descrição, isto não
implica a ausência total de temas históricos: eles são apenas menos importantes e,
obviamente, com respeito ao problema principal da descrição, a história lingüística
se faz só de modo parcial e em função da própria descrição. Inversamente, quando
os objetivos essenciais da lingüística foram a comparação e a história, a descrição
certamente daí não desapareceu, mas passou, por assim dizer, ao segundo plano e,
no caso, foi feita em função da história. Assim, se no século XIX a linha principal
de desenvolvimento da lingüística passa pela lingüística histórica, pela comparação
lingüística’, pela história das línguas e pela gramática histórica, ao mesmo tempo se
desenrola, debaixo desta mesma linha, a lingüística/teórica e descritiva, que con
tinua a tradição do século XVIII, tradição mais antiga e jamais desaparecida, a que
perte
pe rtenc
ncem
em estud
est udios
iosos
os da envenverga
ergadur
duraa de um H umbo
um boldldt,t, na primeira
prim eira me
metad
tadee do
referido século, e de um Steinthal e Gabelentz, na segunda metade. Deste ponto de
vista, a lingüística atual constitui um retorno, em primeiro plano, à lingüística
teórica e descritiva; de certo modo, ela retoma a problemática do século XVIII,
poré
po rémm em ou
outra
trass direçõ
dir eções,
es, im
impo
posta
stass pela ampla
amp la ex
expe
periê
riênc
nciaia do século
sécu lo XIX, qu
quan
ando
do
a lingüística histórica se tinha tornado a lingüística por excelência.
1.8.
1.8. Rec
Recapitula
apitulando
ndo:: os temas teóricos e descritivos da lingüística atual recuam à
Antigüidade e à Idade Média, e sobretudo ao século XVIII; os históricos e compara
tivos, à lingüística do Renascimento e do século XIX. Isto no que tange ao contexto
histórico geral necessário
rico imediato, da lingüística atual.
se faz ter Entretanto,
presente que no aque concerneatual
lingüística ao contexto
constituihistó
uma
reação à lingüística imediatamente precedente. Para compreender nas suas raízes
dialéticas a lingüística do início do século até hoje, é preciso lembrar uma reação
decisiva a determinada ideologia, a dos neogramáticos, que outra coisa não era
senão a forma que a ideologia evolucionista e positivista assumiu na lingüística.
Não será su
surp
rpre
reen
endedent
nte,
e, p o rt
rtan
an to
to,, que as reaçõ
reações
es a ideo
ideologia
logiass do
doss neo
neogra
gramá
má
ticos sejam contemporâneas, na lingüística, a outras reações que se manifestam
parale
pa ralelam
lament
entee em o u tr
troo s se
setor
tores
es da cu cultu
ltura,
ra, e, de modo
mo do pa
parti
rticu
cular
lar,, na filosofia
filos ofia..
Fixar-se-á, como data inicial, o período em torno de 1900, durante o qual foram
várias as reações ao positivismo, desde a Es Estét ica de Croce8 até o chamado intui-
tética
’ B. Croc
Croce,
e, Estétic
Estéticaa come
com e scienza dellespre
de llespressione
ssione e lingüistica
lingüistica generóle {Estética
{Estética co mo
como
ciencia da expressão e lingüistica geral\, Laterza, Barí, 11.a ed., 1965.
10 LIÇÕES DE LINGÜISTICA GERAL
2.1. Se em ce
certo
rto sentido se
se pode considerar
considera r que a lingüística atual volta a posições
já assum
assumidas
idas em ou tras
tra s épocas
épo cas — se não
nã o ex atam
at am en te p o r uma
um a discip
dis ciplina
lina es
espe
pecí
cífic
ficaa
que, além do mais, não existia, pelo menos no que conceme à problemática da
linguagem
linguage m —, duas observações,
observações, porém,
poré m, devem ser feitas a ess essee propó
pro pósito
sito : freqüente-
mente não se trata senão de tentativas não desenvolvidas posteriormente, e os laços
aos quais nos referimos são fortuitos. Em outras palavras: não se trata de um
retorno efetivo a uma lingüística
lingüística já existen te, malgrado aquela
aquelass tentativas se tenham
tomado motivos fundamentais da lingüística atual.
Dizendo
Dizend o “ten tativas” e “não desen
desenvol
volvida
vidass posteriorm ente”
ente ” , se
se subentende a
afirmativa de qúe na maioria dos casos faltam laços históricos efetivos, falta uma
tradição ininterrupta da antigüidade à lingüística atual; e em alguns casos estes
laços, se existentes, escapam a uma análise filológica.
Serve como exemplo a diferença entre sincronia e diacronia e, na prática,
entre exame sincrónico e exame diacrõnico de fenômenos lingüísticos, que já
aparece em François Thurot, no final do século XVIII, depois no prefácio da gramá
tica espanhola de Andrés Bello e também no prefácio à gramática alemã de K.
Heyse. Não se pode, porém, estabelecer um fio condutor entre essas posições
teóricas. Na lingüística atual, ao contrário, há efetivamente uma continuidade;
todavia, se estes princípios são retomados, não constituem um retomo motivado ou
historicamente consciente, porquanto muitas vezes não interessa a alguns lingüistas
do nosso tempo uma visão histórica da sua disciplina, e lhes interessam ainda menos
eventuais laços históricos com a tradição. Mais que qualquer outra coisa, uma
identidade geral de posição pode conduzir por vezes a afirmações similares ou aná
logas ou até mesmo quase idênticas, sem que, na realidade, entre estas, haja efetiva
mente uma relação de dependência histórica. Assim é que não se dirá que Benve-
nistee recordado anteriormente
nist anteriorme nte a propósito do modo de interpre
interpretar
tar os p ronomes
12 LIÇÕES DE LINGÜISTICA GERAL
pessoais (c
(cf.
f. 1.5
1.5.7)
.7),, retom
ret omee prop
pr opri
riam
am en
ente
te Harri
Ha rris;
s; ao cont
co ntrá
rári
rio,
o, ele cert
ce rtam
amen
ente
te
ignorava que Harris havia dito a mesma coisa em pequena nota ao pé de página: é
simplesmente o modo de pôr o problema, ou melhor, a atitude geral que pode
conduzir também a soluções análogas dos mesmos problemas. Isto no que diz
respeito ao propósito do contexto histórico mais amplo da lingüística atual.
2.2. No con texto histórico
2.2. histórico imediato, entretan to, a lingüí lingüística
stica atu
atual
al representa uma
série de reações diferentes à chamada ideologia dos neogramáticos. A este respeito,
poré
po rém,
m, são necessár
nece ssários
ios algun
algunss eescl
sclare
arecim
cimenentos
tos..
A lingüística como ciência com um método próprio de indagação surgiu nos
prim
pr imeir
eiros
os anos de 1800 co comm o lin
lingügüís
ístic
ticaa co
com m pa
para
rada
da e hi
hist
stór
óric
ica,
a, sem ob
obvia
viame
mente
nte
nenhuma ideologia positivista, que ainda não existia como tal, emprestada de uma
ideologia romântica que apenas em parte é conservada e continuada pelo positi
vismo. A lingüística comparada e histórica se afirma sobretudo como lingüística
indo-européia, gramática comparada das línguas indo-européias, e principalmente
das línguas clássicas, románicas e germânicas.
Porr volta de 1870,
Po 1870, p or um lado segui seguindondo-se
-se a um desenvol
desenvolvimento
vimento interno
intern o
porém
por ém nã
nãoo sem ligações
ligaçõe s co
com
m a ideolo
ide ologia
gia pr
prededom
om in
inan
ante
te na cult
cu ltur
uraa da époc
ép oca,
a, po
porr
ou tro lado através
outro através da influência de um grande
grande lingüista alemão,
alemão, August Schleicher1,
surge a chamada escola dos neogramáticos, cujos primeiros representantes foram
Karl Brugmann, Berthold Delbrück, Hermann Osthoff e August Leskien.
2.3. Dura
Durante
nte o século passado, a lingüística foi
foi uma ciência qu
quase
ase que exclusiva
mente alemã, embora não faltassem representantes também em outras nações. G. I.
Ascoli, por exemplo, foi, na Itália, um neogramático; sua polêmica com os neogra
máticos se refere, no caso, a questões de prioridade, para precisar quem primeiro
sustentara idéias análogas. Também Saussure foi, no início de sua carreira, neogra
mático, tendo, entre outras coisas, até mesmo estudado em um centro de lingüís
tica dos neogramáticos, Leipzig. Do mesmo modo, o francês Antoine Meillet, no
que concerne a método e ideologia, foi um estudioso neogramático. A gramática
comparada e de reconstrução é, em sua quase totalidade, de caráter neogramático,
não obstante
obs tante deri
derivaçõe
vaçõess e reaçõe
reaçõess parci
parciais.
ais.
2.4. Como a nós interessa não ta nto o desenvolvimento
desenvolvimento histórico da gramática
comparada (que se pode comodamente achar nos manuais de história da lingüística),
mas sobretudo de um lado a atitude e de outro o fundamento histórico da ideologia
sobre que esta se baseia, deveremos considerar a ideologia neogramática não
somente com relação ao desenvolvimento da lingüística mas ao da cultura em geral1
geral 1
1 As suas
suas obras m
mais
ais conhecidas fforam
oram o Compendium der vergleichenden Grammatik
der indogermanischen Sprachen |Compêndio de gramática comparada das línguas indoeuro-
péias),
1861) Kurz
K urzer
er Abriss
[Breviario einer Laut
de fonética - und
Laeut morfología
un d Formenlehr
Form
daenlehre
e der
de rlíngua
primitiva indogerm
indogermanischen
anischen Urs
Urspra
indoeuropéia | eprache
che
Die (Weimar,
darwinsche
Theorie und die Sprachwissenschaft (Weimar, 2.a ed., 1873) [A teoria de Darwin e a lingüís-
tica].
A IDEOLOGIA POSITIVISTA NA LINGÜISTICA 13
imediata
significa o(àsprincípio
vezes nade experiência física).
substância em Ficará
relação em seguida mais claro que coisa
à lingüística
2.4.3. O princíp
p rincípio
io do evolucionismo signi
significa
fica que os fatos singu
singulares
lares são conside
rados duas vezes: em si próprios e na sua evolução. Em outras palavras, se presume
que o fato singular se modifique e que também as classes tenham seu desenvolvi
mento, quase em círculo fechado; ou seja uma vez criada a abstração “gênero
literário”, sustenta-se que os gêneros literários têm um desenvolvimento determi
nado, que se poderia estudar como tal. Típico é o caso do crítico francês Brune-
tière, segundo o qual os gêneros
gêneros literários nasceriam, se desenvol
desenvolveriam
veriam e morreriam
à semelhança dos organismos naturais.
2.4.4. 0 princípio
prin cípio do naturalism
naturalismoo signif
significa
ica antes de tudtudoo que os fatos ssãoão redu
zidos à classe dos fatos naturais; aissim vimos para os gêneros literários e assim será
visto em seguida para as línguas. Em geral, considera-se que todos os fatos estejam
sujeitos às leis da causalidade e da necessidade, como na natureza. Os diversos fatos
são po
portan
rtantoto considerados como fatos natur naturais
ais e como tais sã sãoo concebidos; a conse
conse
qüência metodológica disto é apl aplicar
icar aos fatos uma metodologia naturalista, ppara ara a
qual aquilo que se pro procu
cura
ra nonoss fatos são aass suas
suas causas, uma legalidade de tipo
natural, satisfeita quando se consegue, como se acredita, descobrir algumas leis que
os regulam, como, por exemplo, algumas leis de desenvolvimento. Segundo o prin
cípio formulado por po r August
Augustoo Comte, “ savoir
savoir pou r prévoir afí
afínn de pourvo
pourvoir”
ir” (“ saber
paraa pre
par prever
ver a fim de prover
pro ver”” ), imagina-se que o conhco nhec
ecim
imen
ento
to dos fat
fatos
os e sua ggene
ene
ralização
ralização nos
n os perm
permitiriam
itiriam estabelecer-lhes normas gerais,gerais, que nos possibilitariam, por
sua vez, prever desenvolvimentos ulteriores.
u lteriores.
2.5. Tem-se
Tem-se porta
po rtanto
nto a convicção de que uma ci
ciência
ência chega
chega à sua ma
maturidad
turidadee na
medida em que é capaz de prever. Neste caso, qual será o comportamento nos
confrontos da linguagem, levando-se em conta aquilo que já é observado a respeito?
Em outras palavras; como se manifestou na lingüística esta ideologia que prevalecia
em todas as disciplinas?
Podem-se encontrar
várias classes, uma apenas
de sonsalguns traços.idênticos
a , outra de sons e, etc.,nesses diversos
mediante umasonse constituir
operação de
generalização. Como é possível delimitar as classes e estabelecer, por exemplo, que
se passou de um o aberto para um o médio ou fechado, dado que na realidade
existem apenas diferenças graduais, é um outro problema, que os princípios posi
tivistas não podem resolver. Porém a consideração do fato singular e sua sucessiva
generalização levam-nos, entre outras coisas, a considerar sons análogos em línguas
diferentes como unidades efetivamente existentes em cada uma dessas línguas.
Assim, em italiano e em francês há uma classe de e fechados fechados,, como por p or exemplo em
[vénti] “vinte” e [parlé], “parlé, parlef\ e uma de e abertos, como em [vènti]
“ventos” e' [parléJ, “parlais". Também em espanhol voltam estas classes, mas sim
plesm
ple sment
entee com
comoo classes de sonsson s sem funçõ
fun ções
es distin
dis tintas
tas no âm bi bito
to do signific
sig nificado
ado::
uma afirmação
afirmação com o esta, porém , extrapola
extra pola os llimites
imites da lingüística positipositivist
vista.
a.
No que diz respe
res peito
ito à gram
gr amáti
ática
ca,, proc
procurava
urava-se
-se estab
es tabelelec
ecer
er a acepçã
ace pçãoo em cacada
da
frase de uma forma gramatical determinada e construir, depois, mediante abstração
e generalização, tipos de acepções e significados típicos. Uma obra que, de certo
modo, se pode considerar capital e que reflete exatamente este tipo de ideologia,
são as Vorlesungen über Syntax (Lições de sintaxe) de Jacob Wackernagel, publi
cadas em Basiléia, nos anos de 1920 e 1924.
Wackernagel, examinando nessas lições áj partes do discurso nas línguas
clássicas e, entre as modernas, especialmente no*alemão, procufá de início estabele
cer o significado contextual, ou seja, os tipos de significados. Do aoristo, por
exemplo, diz que pode ser puntual, ingressivo, terminativo, etc., com base em teste-
• munhos de textos te xtos greg
gregos.
os. Aplicando este métodom étodo ao italiano,
italiano, ao imperfeito
impe rfeito do
indicativo, por exemplo, encontrar-se-iam vários tipos de imperfeito, entre os quais
um que é efetivamente passado (ieri si diceva cosi ) e um que não o é necessaria
mente (como aquele que aparece em contextos condicionais, por exemplo, se m i
piaceva, lo com co m prav o),, um durativo e um, ao contrário, momentâneo (como o da
pr avo)
linguagem jornalística e administrativa em frases como la polizia si recava al domi-
cilio del bandito e lo arrestava). Achamos então uma série de significados não
redutíveis a um valor únjco, porque os do aoristo grego não se podem reduzir ao
único valor terminativo ou ingressivo, nem os do imperfeito ao valor durativo ou
punt
pu ntua
ual:
l: são tip
tipos
os diversos
diver sos de valo
valores,
res, e ne
neste
ste p o n to se esgota
esg ota a general
gen eraliza
ização
ção que
parte
pa rte do exaexame
me do fato
fa to singular. A gengenera
eraliz
lizaçã
açãoo se realiz
realizaa ex
exat
atam
am en
ente
te pa
part
rtin
indo
do
disto, seja do ponto de vista físico, por exemplo no estudo dos sons, seja do ponto
de vista do conteúdo, como na determinação do valor das formas do verbo. Em
2.5.2. O princíp
prin cípio
io da substância signifi
significa
ca que os fatos, no nosso caso os lingüís
ticos, são considerados não em suas relações funcionais, mas sim na sua substan-
cialidade. E, se se trata de aspectos materiais, estes são considerados na sua materia
lidade. Temos assim dois modos de identificar os fatos entre línguas diversas: pela
identidade (ou analogia) material e pela identidade do conteúdo determinado ou
“da fala” (acepção), enquanto na história de uma mesma língua se tem como base
da identificação a analogia material e, do ponto de vista do conteúdo, novamente a
constância da “acepção”, isto é, o mesmo valor determinado em textos diferentes
(e não um valor que eventualmente
even tualmente justifique
justifiqu e acepções
acepções diversas
diversas nestes
nestes textos).
O modo como são apresentados os problemas implica estes dois tipos de
identificação. Por exemplo, diz-se que em italiano, como em espanhol, há um e
aberto e um e fechado, um o aberto e um o fechado. Estes fatos, enquanto substan
ciais, existem efetivamente tanto em espanhol quanto em italiano, pois também em
espanhol aparecem um e aberto e um o aberto, ainda que nem sempre com con
textos fonéticos análogos àqueles italianos. Observando, por exemplo, que em
espanhol se diz [(ièrde] (verde) com e aberto antes de r e [késo] (queso) com e
fechado,
tem e que, enquanto
o o aberto, [ròsa ]entretanto,
{esposa] tem, (que se pronuncia comse r conclui
o fechado, forte inicial
que osde fatos
palavra)
do
espanhol e do italiano são idénticos, porque em ambas as línguas existem as classes
dos e abertos e fechados (cf. italiano [détto] e [sètte]) e o abertos e fechados (cf.
italiano [còtto] e (sótto]). E na história de uma língua, os fatos são considerados
idênticos se há entre ele
eless relação
relação de continuidade material (po(porr exemplo, Iat.Iat. bovem
fr. boeuf, lat. nigrum fr. noir), mesmo que a sua função, conforme teremos oportu
nidade de observar, não seja a mesma.
Do ponto de vista do significado, assim como se estabelecem sobre a base das
acepções os valores funcionais em uma língua, também se identificam como valores
funcionais acepções análogas de línguas diferentes, sem se perguntar, por exemplo,
se o papel de um determinado tempo do verbo é o mesmo em relação ao sistema de
que faz parte. Pergunta-se, entretanto, se a possibilidade de exprimir determinadas
1 B. Mig
Miglio
liorini, Dal nome
rini, no me proprio al nome
nom e comune. Stud
St ud i sem
semantici
antici sul mu
mutam
nomi di persona in nomi comuni negli idiomi romanzi {Do nome próprio ao comum. Estudos
tament
ento
o dei
de i
semânticos
semânt icos sobre a mudança dos nomesnom es próprios
próprio s a com um nos idiomas romá nicoss]. Olschki
románico
Firenzi, reimpressa em 1968.
2.5.4. Finalmente,
Finalm ente, o naturalismo
naturalism o em lingüística sign
signifi
ifica
ca que aass língu
línguas
as deveri
deveriam
am
ser consideradas como organismos naturais,, dotados de um desenvolvimento pró
prio;
pri o; fala-se
fala-se entã
en tãoo de “vid
“vida”a” das línguas
líng uas e das palav
palavras,
ras, com metáf
me táfora
oras,
s, nã
nãoo há
dúvida, mas também as metáforas têm o seu porquê e refletem uma determinada
ideologia.
ideol ogia. Também se falfala,
a, ppor
or exemp
exemplo,
lo, de línguas-“
línguas-“ mães” , de líng
línguas-“filhas”
uas-“filhas” , de
“famílias” de línguas, e em parte essas metáforas estão estabelecidas na terminolo
gia corrente, e não apenas na lingüística. Ao mesmo tempo, os fatos lingüísticos são
interpretados em sentido causal, e se pode perguntar, por exemplo, qual é a “causa”
de uma determinada mudança lingüística. E, sendo a evolução o problema principal,
observa-se que se passa de um estádio de língua A a um de língua B e se pergunta
quais são as “causas” de tal “evolução”. Não se considerando, com efeito, a criativi
dade lingüística como fato primário, tem-se, entretanto, como objeto primário de
estudo a condição objetiva dos fatos e a partir desta passa-se a examinar a sua
“ evolução” , que cons
constitui
titui sempre o problem a por excelência deste tipo de lingüís
tica. Quan
Qu anto
to às “ causas” , considera-se que podem
po dem ser análog
análogas
as àquelas
àquelas observávei
observáveiss
no estudo dos fatos da natureza; fala-se até mesmo da influência do clima ou do
ambiente geográfico no desenvolvimento das línguas, como na história da literatura
Hippolyte Taine tenta explicá-la referindo-se a influências e determinações diversas,
entre as quais o ambiente geográfico, social etc.
Também a história lingüística se faz, mais ou menos, desta maneira; e se não é
possível fazê-la assim - sen
sendo
do a empresa
emp resa m uito
ui to difíc
difícil
il —, considera-se que convém
conv ém
limitar-se a registrar os “fatos” de um desenvolvimento, sem explicá-los. Quanto à
metodologia, por se julgar científica por excelencia a das ciências naturais, consi
dera-se que a lingüística poderá ser ciência verdadeira e própria somente quando
chegar a se assemelhai a estas, isto é, quando puder estabelecer leis de causalidade
análogas às das ciências naturais.
Característico deste tipo de lingüística é o conceito de “lei fonética”, segundo
o qual os desenvolvimentos fonéticos observados entre dois ou mais estádios
diversos de uma mesma língua são regulares e sem exceção.
Sirvam de exemplo os seguintes fatos:
lat. plãn
pl ãnum
um , p lê
lênn um pian
pi an o, p ien
ie n o , i. é, PL > /pj/
lat. jl
jla f lo r em >
a m m a, flo > it
ital
ital.
al... fiam
ital fi o re , i. é, FL > /íj/
fi am m a, fio /íj /
:éctum, octõ > ital.
ital. tett o, o tto, i.
tetto, é, CT
CT> > /tt/
/tt/
[
O Antipositivismo
3.0. À ideologia
ideologia positivista suceder
sucederam-se
am-se outra
outras,
s, em paparte
rte antipositivistas,
antipositivista s, em
part
pa rtee ainda
ain da pres
presas
as àque
àq uela
la ide
ideolog
ologia,
ia, mas to
toda
dass apu
apurad
radas
as no que tange
tan ge à sup
supera
eraçã
çãoo do
positivi
posi tivismo
smo do fim do sécuséculo
lo XIX.
Que significa em geral antipositivism
antipositivismoo em relação ao positivismo?
positivismo?
3.1.1. Em prime
primeiro
iro lug
lugar,
ar, o prin
princípio
cípio do indivíduo e da conseqüente gener generalização
alização
é substituido pelo da universalidade do individuo. Tal principio metodológico está
totalmente paten
patente,
te, p or exemplo, no posiciposicionamento
onamento da ffenomenol
enomenología
ogía de Hus
Husser
seri,
i, •
para
pa ra a qua
quall nenh
ne nhum
um in indi
divi
vidu
duoo é só e excl
e xclusiv
usivam
ament
entee in
indi
divi
vidu
duo,
o, mas cp
cpnt
ntém
ém em si a
próp
pr ópria
ria univers
univ ersali
alidad
dade.e. A memesasa sob
sobre
re a quaquall esc
escrevo
revo é simple
sim plesm
sment
entee um a mesa
me sa
reconhecida como tal; é também ‘mesa em geral’. De modo análogo, qualquer
indivíduo não é simplesmente indivíduo, e, neste sentido, impossível de ser repe
tido, mas é também um modo geral de ser. Para sermos exatos, este princípio não
foi criado por Husseri, pois ascende a Aristóteles através do próprio mestre de
Husseri, Brentano. Teve todavia um realce particular na fenomenología, concepção
filosófica que,
que , com
comoo vimos (cf. 1.8), se se afirmo
afirmouu nos primord
primordiosios do nosso século.
Nc
N c an
antip
tipos
ositiv
itivism
ismoo (n a sua
su a form
fo rmaa fen ornen ológica)
ológ ica) observa-se que a unive
un iversa
rsa
lidade não é conhecida através da generalização, pois esta operação já implica uma
intuição da universalidade. Não podemos, assim, estabelecer o que é a tragédia
considerando diversas tragédias, porque, para delimitar nosso campo de observação,
devemos de algum modo saber o que é “tragédia”. Senão, por que não examinamos
também casas, árvores, cadeiras, etc., mas apenas tragédias? Em outras palavras,
antes de afirmar algo sobre alguma coisa, devemos ter um ‘conhecimento antepredi
cativo’, uma intuição essencial do que é a coisa por ser examinada. Isto implica que
a teoria é necessária antes mesmo da observação dos fatos, porque aquela não é o
resultado da generalização, mas sim a base e suporte desta.
3.1.2. Devemos
Devemos porém distinguir dois conceitos que q ue aparecem na ideologi
ideologiaa añti-
añti
V i
-
positiv
pos itivista
ista:: o de gene
generalid ade e o de universalidade. Esta distinção significa, entre
ralidade
outras coisas, que o ser das coisas (“essência”) nãò se pode identificar com a
abstração. A generalidade, aquilo que efetivamente se encontra ñas coisas e que se
podee abs
pod abstrai
trair,
r, é cons
co nsti
titu
tuid
idaa de cara
caracte
cteres
res cons
co nsta
tant
ntes
es,, que podem
po dem tam
também
bém não ser
necessários, mas que simplesmente se acham nas coisas. A universalidade é, ao
contrário, o modo de ser das coisas, e tal .modo é necessário porque é o conjunto
dos caracteres sem os quais as coisas não seriam o que são (uma coisa não seria
aquilo que é).
Tomemos um fácil exemplo: supondo que se tenham encontrado somente
folhas verdes, poderíamos pensar que o caráter “verde” fosse necessário às folhas.
Penetrando porém m ás de perto p erto no conceito de “ folha” , ver verific
ificamos
amos que o caráter
“verde” não é absolutamente necessário, mas apenas um fato empírico de generái-
dade: as folhas poderiam ter também uma outra cor e desempenhar suas funções
mesmo se não fossem verdes.
Recordemos também outro exemplo, aristotélico: diz-se que somente o
homem ri e que o fato de rir é aquilo que se chama o seu pr prop riu m. Tá fato,
opriu
poré
po rémm , nã
nãoo é neces
necessário
sário papara
ra a defini
def inição
ção do ho
hom m em
em;; é simple
sim plesm
sment
entee um fato
fa to de
ordem gerá. Que todos os homens riam e que somente o homem ria não pertence à
definição,
definição, à eessê
ssênci
nciaa do “hom em” .
Em outras páavras, esses fatos poderiam também achar a sua justificação na
essência das coisas, mas, em primeiro lugar, são fatos simplesmente observados
comoo gerás.
com ge rás. E se ooss fatos gerás não podem ser justificados pela universáidade,
universá idade, não
são necessários nem se apresentam ainda como tás.
Eis agora um exemplo lingüístico muito simples deste princípio. Algumas
línguas não têm sílabas fechadas; de fato, as sílabas têm apenas esta estrutura:
(c)(c)c+ v; isto éé::
Enquanto existem línguas sem sílabas fechadas, não existem línguas sem
sílabas abertas, ou melhor dizendo, não conhecemos tais línguas; trata-se simples
mente de uma constatação empírica geral. Entretanto, uma língua que não tivesse
O ANTI POSITIVIS
POSIT IVISMO
MO 23
esta característica e que, por exemplo, não tivesse sílabas do tipo de la na, stra da,
da,
seria ainda uma língua? Certamente que sim. Isto porque não vemos nenhuma
necessidade de não considerar como língua um sistema de expressão só pelo fato de
não posssuir sílabas deste tipo. Portanto, mesmo se todas as línguas efetivamente
apresentassem este caráter, ou seja, se as sílabas abertas fossem efetivamente gerais
em todas as línguas, como parecem sê-lo para as línguas até aqui observadas, este
dado não seria um caráter universal das línguas. De fato, não se faz necessária esta
condição para que
que um a língua sej
sejaa “língua” .
3.1.4. Em ger
geral,
al, o prin cíp
cípio
io estrutur
estrutural
al do sistema de re
relaçõe
laçõess substitui, na reação
reação
ao positivismo, o princípio do fato isolado e individual. Em lugar de partir do
indivíduo para chegar ao sistema e de descobrir dedutivamente as estruturas, é com
base em uma
um a con
consid
sidera
eração
ção sistem
sis temátic
ática,
a, e com pr
proc
oced
edim
imen
ento
to to
tota
talm
lm ente
en te co
cont
ntrá
rário
rio ,
que se procura estabelecer até a individualidade do simples indivíduo. Assim proce
dendo, pode-se
pode-se chegar mesmo a neg negar
ar qualquer
qualqu er importâ
importância
ncia ao fato isolado e a consi
derar as relações entre as coisas como único fato efetivamente real, enquanto indiví
duos e fatos isolados seriam apenas pontos unidos entre si por determinadas rela
ções funcionais. Os
Os po
ponto
ntoss extrem
ext remos,
os, os próprios
próp rios fatos,
fato s, os fatos isola
isolados
dos ligados
ligados entre
3.1.5. Nest
Nestes
es dois
dois senti
sentidos,
dos, po
portanto
rtanto,, é substituído o princípio do indivíduo: o
indivíduo não é somente concebido como tal (não se esgota nele), mas contém um
modo universal de ser, a sua universalidade. O indivíduo é conhecido não apenas
como fato isolado, mas no interior de uma estrutura, em um sistema de relações.
Também na lingüística atual, ao princípio positivista do fato isolado e da
generalização com base no fato isolado se opõe, como veremos, o princípio da
universalidade do fato e, por vezes, também o do sistema e da estrutura nos quais o
fato isolado é observado.
3.2. Ao princípio
princíp io da substância se
se opõe, no antipositivismo,
antipositivismo, o princípio da fun
ção, ou seja, procura-se determinar a essência das coisas e dos objetos, não na base
da sua substância, mas sim de sua função. À oposição entre substância e função,
dois conceitos da história bastante complexa, o filósofo Emst Cassirer dedicou um
livro
livro inteiro
inteiro.2
.2
O conceito de função encontra-se praticamente em todas as.várias formas do
antipositivismo. Segundo Heidegger, por exemplo, a essência do martelo se revela
no martelar, porque não é possível estabelecer a essência do martelo somente
segundo a sua substância específica, material, mas para fazê-lo é necessário consi-
derá-lo na sua função. Às vezes, porém, o conceito de função é compreendido não
1 O ter
ermo
mo func
fu nctiv
tivoo foi introduzido por Hjelmslev, a respeito do qual assim se pronuncia:
“Com a introdução do termo técnico funç ão pretendemos evitar a ambigüidade no uso conven
função
cional que dele se faz na linguagem científica, onde designa não só a dependência entre dois
terminais mas ainda um ou os dois próprios terminais —este último quando a respeito de um
deles se declara que é ‘funçãfunção’o’ do ou
outro.
tro. A intro
introduçã
duçãoo do termo técnico func
fu nctiv
tivoo permite
evitar esta ambigüidade, e o próprio objetivo se dá não dizend dizendoo que um functivo ‘é função’
função ’ do
outro, mas afirmando ao contrário, que tem função com o outro” (L. Hjelmslev, Prolegóme Prolegómenos nos
a una teoria del lenguaje , Credos, Madrid, 1971, pág. 56). (E.B.)
1 E. Cassirer, Substanzbegriff und Funktionsbegriff [Substância e junção], Berlim,
1910.
O ANTIPOSITIVISMO 25
no sentido ativo que implica, mas sim como conceito matemático de função. Neste
caso a função aparece reduzida à relação, pois, como se sabe, o conceito matemá
tico de função é dado pela relação
relação que ssee estabelece
estabelece entre dois elementos
elemento s que, como
mencionamos em 3.5, são chamados functivos. Também em lingüística, e precisa
mente em uma corrente atual, a glossemática da escola de Copenhague, o conceito
de função é reduzido quase inteiramente ao conceito de relação.
3.3. Ao princípio
prin cípio da eevoluç ão se opõe a consideração do estado
volução estado das coisas, istoé,
a consideração da essência
essência dos objetos vist vistaa de maneira atem poral. Afir Afirma-
ma-se,
se, então,
em clara ligação com q .primeiro princíp prin cípio,
io, que a universalidade da d a coisa não se
pode
po de es
estab
tabel
elec
ecer
er atrav
através
és de seu desen
de senvovolv
lvim
imenento,
to, po rq
rqueue se a co
coisa
isa te
temm um a unive
un iver
r
salidade própria, tal universalidade deve ser permanente e se encontrar em cada
momento do seu desenvolvimento. Não é possível, por exemplo, estabelecer a
essência da arte estudando-lhe as origens, como pretendiam os estudiosos de orien
tação positivista. Se estes propuserem achar as origens da arte no trabalho ou no
jog
jo g o, es
espec
pecial
ialme
mente
nte co
com m base n o estu
es tudd o das mamaninifes
festaç
taçõe
õess dos
do s povos
pov os pri
primit
mitivo
ivoss e
até mesm o das do m und o animal, animal, tal pro postapo sta po de ainda ser válida em sent sentido
ido
genético, mas a este tipo de explicação se alia a consciência de que o esquema
jog
jo g o -*• arte o u trab
tr abal
alho
ho -*• arte
art e nã
nãoo exexpl
plica
ica o que é a arte ar te,, po rq
rque
ue o m o m en to
essencial é justamente esta passagem de um para outro, isto é, do trabalho ou do
jo g o à arte.
arte . Ta
Tamb
mbémém o pr prob
oblem
lem a das origens
origen s p od e ser
se r obvi
ob viam
am ente
en te di
disc
scut
utid
ido,
o, mas no
campo fenomenológico importa sobretudo sublinhar que a origem não explica
necessariamente o ser atual e que, pelo contrário, para se poder falar de mudanças,
é necessário
necessário con hecer o ser perm anen anentete das ccoisa
oisas.
s.
3 H
H.. Ricke
Ric kert,
rt, Kulturwiss
Kulturwissenschaft
enschaft und Naturwissenschaft
Naturwiss enschaft [C
[Ciên cia da cultura e ciência da
iência
natureza], Tübingen, 1899. Trad. esp. Cien cia cultural y ciencia natural, Buenos Aires, Espasa-
Ciencia
Calpe, 1943.
4 E. Cassirer, Log
Logik
ik der Kulturwisse
Kulturwissenscha/ten
nscha/ten [L [Lógica da ciência da cultura], Goteborg,
ógica
1942; dela existe
e xiste uma tradução inglesa
inglesa com o títu
título
lo The Logic ofthe Humamties, Univeisity of
Yale, 1960; trad. esp. Las ciencias cult ura, México, Fondo de Cultura Económica, 1951.
ciencias de la cultura,
4
A Lingüís
Lingüística
tica e n tre o .
Positivismo e o Antipositivismo
1 L. Bl
Bloo
oomf
mfie ield
ld,, Lan
Langua ge [A Linguagem], New York, 1933.
guage
1 E. Sapir,
Sapi r, La
Lang
nguauage.
ge. A n ¡ntr
¡ntroduc
oduction
tion to the Stud
St ud y of
ofSp
Sp ee ch [A lingua
linguagem. Introduç ão
gem. Introdução
ao estudo
feita pelo lingüista New York,
da fala],brasileiro 1921. Mattoso
Joaquim Deste livro existe
Câmara Jr.excelente tradução
(Acadêmica, Rio depara o portugués
Janeiro, 1954).
voltar antes a Sapir que a Bloomfield, mas também Chomsky, cuja preparação
filosófica é escassa e unilateral, depende de diversas correntes neopositivistas, em
boraa o seu pens
bor pe nsam
amenento
to original
orig inal tenh
te nhaa orie
or ient
ntaç
ação
ão m uiuito
to di
dife
fere
rent
nte.
e. D aí o fato
fat o de se
encontrar, na sua obra, uma série de contradições, sobretudo do ponto de vista
teórico.
. Portanto, ainda que estejam presentes na lingüística motivos antinaturalistas
que afloram sobretudo em duas correntes, primeiro no idealismo lingüístico e de
pois na gramá
gra mátic
ticaa trans
tra nsfo
form
rmaci
acion
onal,
al, o qu
quararto
to pr
prin
incí
cípi
pioo não é aplicado
apli cado com coe
coe
rência e, neste sentido, a lingüística atual continua a ser de tipo positivista.
4.3.1.1.. Ao aplica
4.3.1.1 aplicar-s
r-see o prin
princíp
cípio
io da universalidade ao fato isolado, acontecerá
aconte cerá
pronu
pro nunc
nciad
iados
os por
po r um ún
único
ico indi
in divi
vidu
duo,
o, achare
ach aremo
moss um a série efeti
efe tiva
vame
ment
ntee infin
in finita
ita
que passaria, por exemplo, de a a um e muito aberto, daí a um e aberto, a um e
médio, e gradualmente a um e mais fechado, a um i aberto, a um / fechado, etc.,
não havendo nunca um limite. Os limites são estabelecidos porque se intui uma
unidade su
suii gener is, o fonema, um ponto de referência fônica que pode ser intuido
g eneris,
no âmbito da nossa língua ou da de outrem. Dizemos, portanto, que o italiano tem
determinadas classes de sons, tais como e aberto, e fechado, o aberto, o fechado,
porq
po rque
ue em ita italia
liano
no exisex istem
tem tam
ta m bém
bé m efe
efeti
tiva
vass difer
di ferenç
enças
as fo
fone
nemá
mátic
ticas
as co
corre
rresp
spon
on
dentes a tais classes. E se estabelecemos classes análogas para o espanhol, fazemo-lo
do ponto de vista do italiano (ou de outras línguas que possuem tais fonemas). De
fato, se não conhecêssemos outras línguas, não pensaríamos absolutamente em
estabelecer estas diferenças para o espanhol; simplesmente apontaríamos uma só
classe de e, que iria das formas mais abertas às mais fechadas.
4.3.1.2. Analogamen
Analo gamente, te, procura-se o significado e o valor geral
geral de determ
determinad
inadas
as
formas. Em certo sentido, volta-se também aqui a uma intuição antiga, manifestada
nos próprios nomes das categorias gramaticais. Uma categoria gramatical se chama,
porr eexe
po xemp
mplo
lo,, aoristo ou imperfeito porque estes nomes, em sua definição originária,
constituíam uma espécie de definição abreviada. Foi precisamente ao procurar esta
belece
belecerr o como
definida valor
valo r fu
fund
ndam
amen
entatall e abran
ab range
gente
nte des
destas
tas cate
categor
gorias
ias que a prim
p rimeir
aoristo, isto é, tempo “indeterminado”, em relação aos valores
eiraa delas
dela s foi
gerais dos outros tempos do verbo grego. Analogamente, com imperfeito, enquanto
termo técnico, damos uma definição resumida da função de certas formas do verbo,
com o reconhecimento implícito de certo valor unitário, ainda que se possa discutir
se a definição é justa ou não. A formulação explícita do conceito de fonema
corresponde, do mesmo modo, a uma intuição antiga, que já se manifestara, por
exemplo, na invenção do alfabeto, composto de um número finito de letras: todos
os alfabetos, de fato, implicam princípios fonemáticos, ainda que não sejam sempre
formulados ou aplicados com coerência. Muito an antes
tes de que ssee falass
falassee de
de “ fonema
fone ma”” ,
houve tentativas, na história da língua italiana, de introduzir letras diferentes para
os mdois o e para os dois e, porque já se intuíra que, em italiano, os dois o e os dois e
era
eram unidades
un idades funcionais diferentes.
diferentes.
geográfica à luz de relações espaciais, na base das quais se procurou também trazer
algumas deduções de caráter geral. As correntes sociológicas da lingüística se con
centram, ao contrário, nas relações entre a variedade da língua e a estrutura (estrati-
ficação) da sociedade. E já houve lingüista que quis achar analogias entre as estru
turas das línguas e as estruturas sociais; e, mesmo que seja duvidoso até que ponto
as relações deste tipo possam ser válidas, é digno de nota o fato de que se haja, pelo
menos, pensado na possibilidade de estabelecê-las. A estilística de tipo idealista se
prop
pr opõe
õe estabe
est abelece
lecerr a relação entre
en tre um fato
fat o expressivo
expressi vo individual
indiv idual dum te texx to e o
resto do próprio texto. Por isso não se diz mais; “Esta é em si uma expressão
metafórica e tem tal valor", mas, pelo contrário, prefere-se enunciar a coisa assim;
“Esta expressão tem um valo valorr diferente depen
dependend
dendoo do texto
tex to em que
que sese encontre”
enco ntre” .
Uma mesma metáfora pode ser ora sublime, ora vulgar, uma vez que o valor expres
sivo de cada fato é determinado pelas relações com o resto do texto. A estilística de
tipo idealista é portanto fundada sobre este princípio: não mais levantar, por exem
plo, catál
catálogos
ogos de m etá
etáfor
foras
as ou de desvios de um uso lin lingü
güíst
ístico
ico consid
con siderad
eradoo como
com o
“n
“normal”
ormal” , masmas si
sim
m pretender
preten der ser o exame das relaç relações
ões efet
efetivas
ivas em um texto deter
minado, em que os fatos registrados no catálogo podem assumir valores totalmente
diversos. No estruturalismo se trata de relações na própria língua , relações entre
uma forma e outras formas, entre um conteúdo e outros conteúdos da mesma
língua. E de relações se trata também na gramáticagramática tran sforma
sfor madodo nal, precisamente
de relações
relações entre a “e “estru
strutura
tura superficial”
superficial” e a chamada “ estrutu
estr utura
ra profunda”
profu nda” , e, em
particu
par ticular,
lar, de relações de equiequivalên
valência
cia na desi
designaç
gnação,
ão, por
po r ex
exememplo
plo,, en
entre
tre uma
um a cons
trução ativa e a constru
construção
ção pass
passiva
iva equivalente no “ meaning” (ou seja, seja, no fundo,
quanto à realidade extralingüística designada).
Concluindo: apesar da grande variedade de relações, o conceito mesmo de
relações está presente em cada corrente da lingüística atual. Neste sentido se pode
dizerr que não somente a lingüística
dize lingüística es
estrutu
trutural,
ral, mas to
toda
da a lingüística atual é “ anti-
anti-
atomista
atomi sta”” .
cional,
uma novaonde todos os
maneira de fatos são considerados
formular as regras que como
unem jáosconhecidos e o que
diversos fatos; se estuda
supõe-se que éa
análise dos fatos já tenha sido totalmente feita e que haja apenas a necessidade de
uma maneira coerente de apresentá-los.
4.3.2.1. O princípio
prin cípio da função se lig ligaa em parte ao precedente:
preced ente: trata-se de estabele
cer não mais relações materiais, mas sim funcionais, de identificar, portanto, as
unidades lingüísticas com base na sua função, o que em parte foi sem dúvida feito
pela lingüís
ling üística
tica tradic
tra dicion
ional,
al, mas que na atua atuall se torn
to rnaa um prprin
incí
cípi
pioo ex
expl
plíc
ícito
ito..
Voltando mais uma vez às nossas classes de sons, perguntar-se-á: estas classes
que, seja em italiano ou em espanhol, podem ser estabelecidas do ponto de vista
físico, são ou não clas classes
ses funcionais? Para o italiano se se responderá que são, porqu porquee
servem para distinguir significados, ou melhor, distinguem significantes que têm
significado diverso, enquanto em espanhol não o são, porque não distinguem signifi
cantes que tenham significado diverso. Em espanhol tanto faz pronunciar por exem
plo a palav
palavrara queso “ queijo”
queijo” , com e aberto ou fechado (como efetivamente se
pronu
pro nunc ncia
ia /k
/kés
ésoo /),
/) , ao passo qu quee em italia
ita liano
no alguns pares
par es de palavras, por
po r ex
exemempl
plo,
o,
légge-
légge- lè lègg
gge,
e, acc étta -ac cètta, pesc a , se distinguem exclusivamente por meio
cèt ta, pésca pesca
da oposição entre e fechado e e aberto. Em espanhol, portanto, há um só fonema
¡e¡, que se realiza às vezes como /é l e e às vezes como [é], enquanto em italiano, pelo
menos em sílabasílaba tônica, se encontram
encon tram dois fonemas: /é/ /é / fechado e /è/ aberto.
Não se ad admimitintindo
do mais a iden
id entif
tifica
icação
ção com base na substa
sub stanci
ncia,
a, reconh
reconhece-s
ece-see
como unidade aquilo que é funcionaimente unitário. Analogamente, a propósito do
significado (ou conteúdo), não se fala, por exemplo, de diversos valores do presente
ou do imperfeito, isto é, de diversos fatos de substancia significativa encontrada
efetivamente nos textos, mas se procura estabelecer uma função que corresponda a
este complexo de significados textuais efetivamente existentes. Portanto, reduzir as
unidades à função das próprias unidades não significa absolutamente que se ignore a
sua variedade efetiva. Sabemos muito bem que várias são, por exemplo, as realiza
ções de um fonema, e também que algumas delas são obrigatórias em certos contex
tos. Afirma-se apenas que o que importa em primeiro lugar na técnica lingüística é
esta unidade de função, enquanto menos importante é o modo pelo qual se realizam
no falar as unidades lingüísticas. Não se exclui, assim, que as formas do verbo
tenham várias acepções, mas se procura achar a unidade funcional de tais formas,
em
não vista
apenasde como
uma definição que, de acepções,
soma de diversas certo modo, resuma,
valor de fato,
que poderá sero individualizado
valor unitário,
4.3.2.3. A idéia
idéia de funcionalidade está presente, po
portan
rtan to, na descrição
descrição da língua
dos textos, na história lingüística (na medida em que até agora foi feita história
funcional das línguas), na comparação lingüística e também nas aplicações da lin
güística ao ensino das línguas estrangeiras (a chamada lingüística aplicada).
de que aa história
inverte seria menos
ordem seguida importantepositivista
pela lingüística do que a descrição sincrónica.
e, em lugar Ou então
de gramática se
fundada
34 LIÇÕES DE LINGÜISTICA
4 Veja
Vejam-s
m-see de M.
M. Bartoli
Bart oli as seguintes
segu intes obras: Intr
Introdu zioncc alia neolinguistica [Introdução
oduzion
à neolinguistica), Genebra, 1925; em colaboração com G. Bertoni, Bre Breviario di neolinguistica
viario
[Breviario de neolinguistica| STEM, Moderna, 1928; e mais os artigos inseridos em Saggi di
lingüistica spaziale [Estudos de lingüistica espacial], Rosenbcrg & Sellier, Torinò, 1945; e, em
colaboração com G. Vidossi, Lin Lineam
eamenti
enti di lingüistica spaziale [Ru
lingüistica spaziale Rudim en tos de lingüistica
dim entos
espacial]. Le Litigue Estere, Milano, 1943.
cronologia relativa das referidas formas, manifestada, por assim dizer, nas condições
sincrónicas: da descrição se chega à história.
Também alguns lingüistas históricos afastados, por sua formação, de qual
quer ligação com o estruturalismo chegam às vezes a formulações deste tipo. A
lingüística tradicional nos habituou, por exemplo, a partir do latim para chegar ao
italiano, do indo-europeu ao anglo-saxão, logo ao inglês médio da época de Chaucer
e finalmente ao inglês moderno. Entretanto alguns lingüistas, mesmo operando
ainda em âmbito historicista, afirmam hoje que uma história mais racional seria
aquela que, partindo por exemplo do italiano atual, procurasse explicar como se
formou este idioma, vale dizer que propõem uma história que, considerando os
fatos atualmente válidos em italiano, explique o seu complexo percurso histórico,
não se interessando em como o latim se transformou, mas sim em como se formou
o italiano. Alguns trabalhos que se fundamentam em tal concepção descrevem de
fato como se formou tal ou qual língua e, de certo modo paradoxalmente, tomam
como ponto de partida o de chegada, para explicar historicamente como e por que
se chegou a este e não
n ão a ou
outro
tro res
resulta
ultado
do.. Para o it
italiano
aliano esta tes
tesee tem sido sust
sustenta
enta
da por um lingüista que pode ser chamado histórico por excelência: Vittore Pisani5.
4.3.4.1. Com a difusão dos princíp
princípios
ios do antipositivismo na lingüística, não é mais
tomado, como ponto de partida, o fato individual, ao qual se segue abstração e
generalização, mas em
singular, que vem primeiro elugar
delimitado se considera
descrito com basea universalidade
na posição que mesmo
ocupadonuma
fato
estrutura, numa rede de relações. Em segundo lugar, não se tem mais interesse pela
substância, isto é, de que coisa é feito um objeto, mas sim pela função (que faz,
para que serve este obobjet
jeto).
o). A definiç
def inição
ão e a ide
identi
ntific
ficaç
ação
ão dos fat
fatos,
os, no noss
nossoo caso
das unidades lingüísticas, baseiam-se na sua função, e não na sua constituição ime
diata, material. Também se, por vezes, as duas coisas se distinguem e não se afirma
que a unidade depende da funcionalidade, não há dúvida de que é nesta última que
se põe maior atenção. Com efeito, as duas coisas (unidades e funções), por vezes se
distinguem: é o caso de Daniel Jones que, no seu livro dedicado à fonología, dá uma
definição substancial do fonema, formulada do ponto de vista da substância física6.
Jones define de fato o fonema como uma família de sons; ou antes, deseja distinguir
o que o fonema é na sua constituição material do que o fonema/az, da sua função
distintiva. A atitude geral da lingüística atual é, entretanto, não distinguir aquilo
que uma coisa é daquilo que uma coisa fa z , mas considerar, não apenas em primeiro
lugar mas exclusivamente, aquilo que a coisa fa z , e definir os objetos do ponto de
vista da sua função.
pr
proc
noocededim
imen
artigo ento
to,, pode
sobre pod e ser cita
citado
a etimologia dodoaoit.menos
me nos o “mét
messa, mmis
étod
odo
sa””o, seguido
missa em que pseorsustenta
A nt
nton
susten onin
taino
o Pagl
queP aagliar
iaro7
o7
etimo
logia não é apenas registrar o desenvolvimento de formas e significados, mas recons
trução de uma situação originária, compreensão de tal situação e da inovação na
forma ou no significado que surgiu nesta situação. No artigo supracitado é recons
truída uma determinada situação na base da qual é explicada a inovação por que o
lat. missa que, enquanto participio de mittere, significava
significava simples
simplesmente
mente “ enviada” ,
passou a significar
signific ar “ missa” no sehtid
seh tidoo que
qu e damos
dam os hoj
hojee a esta
est a palavra.
5
Unidade e Diversidade da
Lingüística Atual
5.1.1. Os quatro
qua tro princíp ios que discutimos at
atéé agora deveriam
deveriam pelo menos con sti
tuir a unidade de uma lingüística não positivista. Tal unidade, porém, não implica
ausência de diferenças que, ao contrário, são notáveis na lingüística atual e consti
tuem motivo de interesse pela multiplicidade das correntes e das orientações. A lin
güística tradicional (pelo menos assim se diz) era mais unitária, e isto porque nela
não se colocavam problemas gerais de concepção ou de método.
5.1.2 . Se as diferenças
diferença s en
entre
tre duas lingüísticas são devidas apenas ao objeto
obje to que se
examina, tais diferenças são de pouca relevância, ao menos para quem, como nós,
se interessa pela ideologia que subjaz aos dois métodos. Se, por exemplo, se faz geo
grafia lingüística, toma-sc para exame um aspecto determinado do objeto “lingua
gem” e se consideram as diferenças lingüísticas no espaço. Esta disciplina, entre
tanto, determinada como é pelo seu objeto particular, precisamente por aquele
objeto que ela escolhe no objeto “linguagem” como seu tema peculiar, exige obvia
mente também uma metodologia particular. Muito mais importantes são as diferen
ças que se devem à diversidade na concepção geral da linguagem e/ou da ciência.
lística dos textos será por conseguinte considerada como disciplina primária, en
quanto o resto será construido sobre a base e do ponto de vista da estilística, da
qual o idealista se ocupará em primeiro lugar ou quase exclusivamente.
Segundo o estruturalismo, que considera a linguagem primordialmente no
seu aspecto técnico-instrumental e sobretudo enquanto estrutura, o-interesse pri
mário da lingüística será, pelo contrário, a descrição da língua, a “gramática’*. E,
em tal ámbito, o estruturalismo dará maior relevo às partes nas quais as estruturas
po dem
pode m ser depr
de pree
eend
ndid
idas
as de m odo
od o mais imed
im edia
iato
to:: fonolo
fon ología
gía,, morf
mo rfolo
ología
gía e sinta
sin taxe
xe..
Por outro
ou tro lado,
lad o, dará me
menor
nor relevo àquela parte na qual as estruturas
estrut uras não se
se obser
vam de modo imediato mas são, como se costuma dizer, “abertas”, isto é, no léxico.
oa léxico,
léxico , que org
gramática; organi
e a aniza
zauagem
ling
linguagdeem
maneira
seria imediata
seria con stituídoa mundo
mund
de umo extralingüístico, de outro lado,
es trato léxico, correspondente
ao mundo enquanto conhecido e dominado pelo homem por meio da linguagem, e
dum outro estrato , gramatical,
gramatical, correspondente
corresp ondente à combinação dess desses
es elementos, is
isto
to
é, do mundo já transformado em linguagem. A lexicología deveria ser, portanto, a
prim
pr imei
eira
ra discip
dis ciplin
linaa lin
lingü
güís
ístic
tica,
a, e n q u a n to estu
es tudo
do lin
lingü
güís
ístic
ticoo do m od
odoo e da or
orde
demm
em que é organizado o mundo. Também as diferenças entre as línguas postas em
relevo pelo neo-humboldtismo são sobretudo as lexicais, porque se supõe que a um
léxico diferente corresponde uma maneira diferente de organizar, e, assim, de con
ceber a experiência do mun do exterior.
5.2.3. O chamado
chamad o “marrismo
“ marrismo”” isto é, a metodo
metodologia
logia lingüística
lingüística do lingüista sovié
sovié
tico N. J. Marr, hoje caído em desagrado na própria U.R.S.S. depois da condenação
oficial do partido através de duas célebres intervenções de Stalin2, sublinha primei-
1 Record
Recorde-s
e-see de J. Trier, criador da teoria do “campo
“campo semântico”
semântico” (al.
(al. Bed
Bedeutu
eutungsngsfeld ), a
feld),
obra fundamental (de que só apareceu o voL I) Der Deutsch D eutschee Wortschatz im Sinnbezi
Sinn bezirkrk des
Verstandes [ Ovocabulário alemão na área conceituai do entendimento | , Heidelberg, 1931. As
idéias gerais de L. Weisgerber acham-se particularmente expostas em Muttersprache und
Gertesbildung \L(ngua materna e formação do espirito ), Gottingen, 3.a ed., 1941, e em Da Dass
Gesetz der Sprache [A lei da língua], Heidelberg, 1951.
J A obra de N. J. Marr
Marr constituiu
constitu iu a doutrina
dou trina oficial ddaa lingüíst
lingüística
ica so
soviétic
viéticaa ainda depois
da morte desse estudioso, ocorrida em 1934. Suas teorias foram contestadas por J. V. Stalin, em
dois artigos, O marxismo na li lingüística
ngüística c A propósito
prop ósito de
d e alguma
algumass questões relativ
relativas
as à lingüí stica,,
lingüística
aparecidos na Pra vda, respectivamente a 20 de junho e 4 de julho de 1950. Entre os maiores
Pravda,
lingüistas
uma teoriadafundamental
União Soviética
mentedeve-se
fundamentalmente hoje citar Sebastian
gerativo-transfor macional Konstantinovic
gerativo-transformacional Saumjan, promotor
exposta em Struktumaja de
lingvistika,
Moscou,-1965 |tradução italiana de E. Rigotti , , Lingüistica dinámica,
diná mica, Laterza, Bari, 19701.
5.2.4. Em bora po
porr motivos totalme
tota lme nte diversos,
diversos, também
tamb ém a gramática transforma-
cional, que considera a língua do ponto de vista da capacidade de construir frases
(ou melhor, todas as frases possíveis, já ditas ou não), identifica o corpo central da
lingüística com a sintaxe, a que se relacionam, de um lado, a fonología e a fonética,
e, de outro, a lexicología e a semântica, conforme um esquema como o seguinte:
semântica
t t t
sintaxe
i i i
f o n é tic a
5.2.5. Voltaremos
Voltare mos mais adian
adiantete a este tema;
tema ; agora nos interessa assinalar assinalar que a
próp
pr ópri
riaa organi
org anizaç
zação
ão das discip
dis ciplin
linas
as lingü
lin güíst
ística
icass e o p o n to de pa
part
rtid
idaa ttam
am b ém na des
des
crição pode ser diferente segundo a atitude e a concepção que se elegem. Por isso
estilística, gramática, lexicología e sintaxe apresentam-se alternativamente como
disciplinas primárias ou, em certos casos, como disciplinas exclusivas.
5.3. As difdiferenças
erenças no inte
interior
rior de uma determinada
determina da corrente
corren te da lingüística, inclu
sive
sive do estruturalism o, podem-se ainda reconduzir
recon duzir a mod
modos
os de conceber
con ceber a linguag
linguagem
em
(ou melhor, em certos casos não a linguagem em geral, mas a língua como sistema),
ou a maneiras de conceber a ciência. Certos aspectos que podem parecer discutíveis
ou até mesmo errados, são justificáveis nos próprios limites das diversas concep
ções, com base nos princípios adotados como fundamentais. Vejamos algumas des
tas diferenças devidas, precisamente, a princípios teóricos ou metodológicos.
3 Veja-se mais ad
adia
iant
ntee 6.4.
5.3.2. Partindo
Partind o de uma concepção particular da ciê
ciência,
ncia, Bloomfield
Bloomfield exc
exclui
lui da lin
güística o estudo do significado lexical, ao passo que admite o do significado gra
matical. A exclusão do significado lexical se prende à premissa de que o que as pala
vras significam, no tocante ao mundo extralingüístico, não pode ser estabelecido
pela
pe la lin
lingü
güíst
ística
ica,, mas apenas
apena s pelas disc
disciplin
iplinas
as que se oc ocup
upam
am das coisas designadas.
design adas.
O significado
significado de “sal” , é, segundo Bloomfield, um problem p roblemaa da quími
qu ímica
ca e não um
prob
pr oblem
lemaa lingü
lin güíst
ístico
ico.. Esta
Es ta tes
tese,
e, op
opos
osta
ta àquel
àq uelaa ne
neo-
o-hu
humb
mbololdt
dtian
ianaa segund
seg undoo a qual a
lexicología é a disciplina lingüística primária, foi criticada com freqüência, sem
que se levasse em conta a extrema coerência interna do pensamento de Bloomfield.
Na realida
real idade,
de, ele renrenun
uncia
cia ao sig
signif
nificad
icado,
o, ainda
ain da que sabend
sab endoo peperfe
rfeita
itam
m en
ente
te que
qu e as
palavras significam
sign ificam e que o sign significa
ificado
do é, p o rt
rtan
anto
to,, fu
fund
ndam
am en
entoto da linguagem.
linguag em. Mais
Mais
ainda: tod todasas as definições contidas
contid as em Langua
Language ge são feitas com base no significado,
e sempre se lêem fórmulas do tip o: tal unidade é uma forma x com um significado
tipo:
y . Entretanto, a exclusão do significado é devida à concepção particular que da
também pornos
observado uma máquina
fatos bem construída.
exteriores Portanto,não
de comportamento, se opode
significado não pode
ser estudado ser
objeti
vamente. Bloomfield entende de fato a ciência como objetividade absoluta, como
objetividade fisicista: deve, por isso, excluir de seu âmbito o significado.
Para criticar este princípio, indubitavelmente errado, é necessário ter presente
a própria concepção da ciência em Bloomfield, observando, por exemplo, que a
objetividade da lingüística não deve ser entendida no sentido em que possam ou
devem ser objetivas as ciências naturais, ou então que a objetividade que se procura
não é uma objetividade fisicista, como aquela que pode ser observada por uma má
quina. Se a objetividade consiste na completa adequação ao objeto, no caso do
objeto
obje to linguagem, a ccom omplet
pletaa adequaç
adequação ão cai .por terra
te rra se eliminamos o único ele
mento
me nto que a perm ite: o signifisignificado.
cado. Por
Po r iss
isso,
o, tam
também
bém no behaviorismo, o ssignif ignifi
i
cado, que, segundo esta concepção não pode ser estudado com base na introspec
ção, é examinado com critérios distributivos, istò é, identificando todos os con
textos e todas as situações em que um elemento lingüístico ocorre. Com efeito, na
obra de Bloomfield e de seus seguidores o significado, do qual se deve inevitavel
mente falar de algum modo, é reduzido operativamente às combinações de uma
palavra
palav ra ou à tota
to talid
lidad
adee das situ
situaçõ
ações
es em que se empreem prega.
ga. Que seja pr
prat
atic
icam
amenente
te
impossív
impo ssível
el examinar a totalidade das ssituaçõ
ituações
es é já um outro
ou tro pro
problema
blema e, ao mesmo
tempo, uma das mais graves dificuldades que se apresentam ao querer considerar
o signif
significad
icadoo de um pon ponto
to de vista
vista estritam
estritamente
ente bloom
bloomfieldiano.
fieldiano.
p
poo r ex
exem
empl
plo,
o, um e aberto por um e fechado na sílaba tônica de uma palavra espa
nhola e de umau ma italiana; em espanho
espanhol,
l, o si
signifi
gnificado
cado permanece o mesmo, enq
enquan
uanto
to
em italiano, pelo menos em alguns casos, muda (cf. outra vez légge-lègge, pésca-
ca, etc.); e p
pèsca,
pès por
or isso em italiano são duas unidades diferentes e em espanhol
espanhol uma
só, isto é, um único fonema com duas variantes ou “alofones”. No que concerne à
descrição, esta se realiza de acordo com a substância fônica (ou seja, indicam-se os
traços articulatorios ou acústicos efetivos destas unidades); assim, uma unidade
como ital. /b ¡ será definida como consoante oral, oclusiva, sonora, bilabial. Disto
pode
po demm os dedu
de duzizirr cla
claram
ram ente
en te qu
quee a esc
escola
ola de Praga, nã
nãoo ig
igno
noran
rando
do o significa
sign ificado,
do,
se refere a ele na identificação dos fonemas e, não ignorando a substância, se refere
a ela na descrição.
Segundo a orientação glossemática, que também admite a consideração do
significado, a identificação dos fonemas pode igualmente acontecer com critérios
funcionais, isto é, mediante o método da comutação. Impossível é, porém, a des
crição do ponto de vista da substância fônica, porque a glossemática não admite a
substância, que corresponderia a um uso —quer fônico, quer gráfico, ou com qual
quer outra substância —da língua, e não à língua em geral (como forma pura). Por
tant
ta nto,
o, para a descri
descrição
ção se recorre
recorre à distribu
distribuição
ição:: não se dirá, por exem
exemplo,
plo, de uma
unidade como o ital. /ô/ que é consoante oral, oclusiva, sonora, bilabial, mas que
se pode encontrar em tais e quais posiçOes, por exemplo, no início ou no interior
de uma palavra, e nunca no fim. A descrição, ou como se costuma dizer de modo
inexato, a “definição” das unidades será feita na glossemática com critérios distri
butiv
bu tivos
os,, sem re
reco
corr
rrer
er à su
subs
bstâ
tânc
ncia,
ia, e sem dize
di zerr qu
quee / ò / é uma
um a co
cons
nsoa
oant
ntee or
oral,
al, oc
oclu
lu
siva, etc., porque se procuram os traços comuns ao fonema //>/ e aos grafemas b, B.
No bloo
bl oom
m fieldi
fie ldism
smoo estr
es trit
itoo a iden
id entif
tific
icaç
ação
ão nã
nãoo pode
po de ser fei
feita
ta co
comm base em cricri
térios funcionais, porque não é lícito se referir ao significado. Sem negar que os
fonemas sejam distintivos, nega-sc, entretanto, que se possa recorrer àquilo que nós
como falantes sabemos e que sabem também os falantes que examinamos. Excluído
o recurso ao significado, a identificação se faz mediante a distribuição, e assim se
dirá: dois eleme
elementos
ntos diverso
diversoss que aparecem exatam ente no mesmo co conte
ntexto
xto per
tencem a fonemas
exclusiva”, se onde diversos.
aparece APelo não contrário,
aparece Bcom base na chamada
ou vice-versa, “distribuição
tratar-se-á muito pro
vavelmente
vavel mente do mesmo fonema; mas já que este este critério nem se sempre
mpre é suficiente,
suficiente,
acrescenta-se também, para a identificação, a exigência da semelhança fônica. De
fato, o critério distribucional é insuficiente, porque certos elementos, cuja distri
buiçã
bu içãoo é “e“excl
xclusi
usiva”
va” , dific
di ficilm
ilmenente
te po
pode
deria
riam
m ser at atri
ribb uí
uído
do s ao mesmo
mes mo fonfonema
ema.. Por
exemplo, /p/ e //i/ em inglês, jamais se acham no mesmo contexto, mas o primeiro
pode
po de es esta
tarr na posiç
po sição
ão final de pal palavr
avraa ou sílaba
síl aba,, on
onde
de jamais
jam ais apa
aparece
recerá
rá o segund
seg undo,
o,
e vice-versa. Muitas palavras inglesas terminam de fato por ng (em grafia fonética
Iv l) , mas nenhuma com //*/ aspirado. Ora, segundo o critério da distribuição exclu
siva, ter-se-ia de dizer que se trata do mesmo fonema, o que é obviamente contradi
tado pela ausência de semelhança fônica. Ao contrário, no caso do italiano, onde
existem diversos tipos de /n /n¡¡ (o que está antes de l k / é diferente do que está antes
de /t/, etc.), e o tipo palatal [ñ] (diante de /c/ em maneia, diante de Ig l em matigia,
etc.), mas não diante de /r/, se diz que este [ñ] e [tj] pertencem ao mesmo fonema,
recorrendo ao critério da distribuição exclusiva ou complementar. A descrição, po
rém, poderá perfeitamente ser feita do ponto de vista da substância, porque o
bloom
blo omfie
fieldi
ldism
smoo ad
admm ite a sub
s ubstâ
stânc
ncia
ia fôn
fônica;
ica; o so
som
m [ú
[ú],
], em italia
ita liano
no,, será ide
identi
ntific
ficad
adoo
com [n], [17] na base da distribuição complementar, e se dirá que todos os três per
tencem ao mesmo fonema /n/, o qual poderá ser descrito em termos de fonética
acústica e articulatoria, po
porr exemplo, coir
coiriú
iú “consoante
“ consoante nasa
nasall não bil
bilabi
abial”
al” .
Este exemplo serve para patentear o modo pelo qual a coerência com uma
determinada concepção implica conseqüênc
conseqüênciasias metodológicas
metodológicas até mesmo nas nas opera
ções de descrição: a escola de Praga reali realiza
za a identificação
identificaçã o mediante
me diante o ssignificado,
ignificado,
porq
po rque
ue o adadm
m ite
ite,, e realiza
real iza a des
descriç
crição
ão me
media
diant
ntee a sub
substâ
stânc
ncia,
ia, po
porq
rque
ue tam
ta m bém
bé m a
admite. Para a glossemática, entretanto, a identificação se faz mediante o signifi
cado, mas a descrição não se faz mediante a substância, mas sim através de critérios
distribucionais.
distribucionais. No bloomfieldismo acontece exatam ente o contrário contrário:: a identifica
ção é feita através da distribuição, porque o significado está excluído, e a descrição
é feita através da substância.
desta forma. O morfema será considerado tanto no seu aspecto material, como
desinencia, por exemplo, quanto no funcional, indicando qual seja a função dessa
desinência, etc.;
et c.; fal
falar-
ar-se-á
se-á assim
assim da função
fun ção do morfema
mo rfema artigo, preposição, desi
desi--
néncia, etc.
Num
N umaa oouu tra
tr a corr
co rren
entete da lin
l ingü
güíst
ística
ica,, qu
quee não cocorre
rresp
spon
onde
de,, porém
po rém , nem mesmo
mes mo
à divisão entre lingüística européia e lingüística americana, sendo própria da norte-
americana e de uma parte da escola de Praga, morfema significa unidade mínima de
forma lingüística; já para ela, no veniamo do nosso exemplo, o morfema lexical lexical ven
é seguido do gramatical iamo. Os morfemas são então as unidades últimas que se
pode
po demm sesepa
parar
rar e iden
id entif
tific
icar
ar em forforma
mass lin
lingü
güíst
ística
icass nã
nãoo passíveis
passív eis de divisão ulteri
ult erior.
or.
Segundo esta concepção, morfema, enquanto forma lingüística mínima, pode coin
cidir também com uma forma lexidãl: di, e, ogni, è, enquanto não ulteriormente
divisíve
divi síveis,
is, serão classificados como com o m morfemas.
orfemas.
Na conc
co ncep
epção
ção glosse
glo ssemá
mátic
tica,
a, en tr
tret
etan
an to,
to , morfema significa elemento gramati
cal, porém não enquanto forma lingüística do ponto de vista da substância, mas
exclusivamente quan q uantoto à sua função: a própria função gramatica gramaticall é morfema. Por
exemplo, no latim rosae, o morfema não é ae, mas sim o genitivo; no italiano il
tavolo, il não é morfema, mas morfema é a função do artigo, a atualização que se
exprime através de il. Morfema é, pois, a própria função gramatical, e neste sentido
é um fato de conteúdo, não de expressão, fato conceituai e não material. Portanto,
um glossemático dirá que a palavra Giovanni contém o artigo, e, à objeção óbvia de
que o referido artigo falta, replicará que ele está implícito, porque, ainda que não
apareça o artigo material, a sua função deve ser considerada implícita em Giovanni.
Os nomes próprios, por isso, para o glossemático, têm implícito o morfema de
artigo, porque, enquanto já atualizados, não têm necessidade de ser ulteriormente
atualizados, mediante anteposição ou, em outras línguas, posposição de um artigo.
Com efeito, dizendo Giovanni estou aludindo a uma pessoa determinada, ao passo
que, se digo libri-ne ho letti molti [de[de livros,
livros, li mu
muitos
itos],
], estou-me referin
referindo
do a livro
livross
de um modo
mo do não especificado
especificado;; será diferente
diferen te se
se eu disser/' libri che ho leito mi
sono
so no pi
piac
aciu ti [os livros que li me agradaram], porque, ainda que não os indicando
iuti
pa
part
rtic
icul
àqueles,ular
armm ente
en te,, es
certamente esto
touumais
alud
al udin
indo
do a livrosquedete
numerosos, de term
nãormin
inad
li;ados
os,, isto
neste istsentido,
o é, aos tanto
que li,Giovanni
op
opos
osto
toss
quanto i libri, com o dizia Bally, estão “ atualizado
atualizados” s” . Por isso é possível dizer que
os nomes próprios “contêm” a função de artigo mesmo sem ostentar-lhe a subs
tância correspondente.
5.5. Concluindo,
Concluind o, antes de proce
proceder
der à leitura de uma obra de lingüística
lingüística atual, é
necessárioo pprocu
necessári rocurar
rar saber
sab er a que escola ou concepção ela perte
pertence;
nce; assim
assim não pro
cedendo, será difícil e, além do mais, incoerente criticar as afirmações que lhe são
específicas. Já que tais afirmações só podem ser discutidas à luz da concepção ge
ral, impõe-se-lhe, ao leitor, remontar-lhe aos princípios para poder eventualmente
contentarr tal ou qual conseqüência particular.
contenta
6
O Estruturalismo
6.2.1. Ini
Inicia-
cia-se
se o estru turalturalism
ism o europ
europeueu com FerdFerdinan
inand d de Saussure, precisa
mente com seu Curso de lingüistica geral.
Saussure, com ser um ponto de partida, representa também um ponto de che
gada, porque, como dissemos, para certos conceitos, remonta a Georg von derGa-
bele
be lent
ntz1.
z1. E n tr e ta n to nã
nãoo são claras as relaçõe
rela ções,
s, co nq ua nto
nt o ger
geralm
alm ente
en te reco
reconhe
nhecid
cidas,
as,
com outros estudiosos, entre os quais cabe menção particular ao sociólogo francês
Emile Durkheim. Além disto, ainda que não se saiba como e quando ocorreu, é
evidente a afinidade de pensamento entre Saussure e dois estudiosos poloneses que
ensinavam na Rússia: Ja Jan
n Baudouin de Courte
Co urtenay
nay , de origem fr francesa,
ancesa, que por
volta do ano de 1870 ensinava na universidade de Kazan’, e seu discípulo Mikolay
Kruszewski, professor na mesma universidade. Baudouin de Courtenay e Krus-
zewski são os precursores e, de certo modo, os fundadores da fonologia, mais no
sentido psicológico do que objetivamente funcional, porque introduziram o con
ceito de “ fonema” , como unidade psíquica d
dee so
sons
ns diferentes na pr
pronúncia.
onúncia. Ambos
escreveram suas obras em russo, e Baudoin de Courtenay também em alemão, não
1 E. Cos
Coseriu,
eriu, em extenso artigo inserido agora, em espanhol, no livro
livro Tradición y
novedad en la ciencia dei lenguaje,
lenguaje, Gredos, Madrid, 1977, “Georg von der Gabclantz y la
lingüística sincrónica”, mostra que as relações entre o lingüista alemão e Saussure não são
simples coincidencias, mas refletem decisiva influencia, que passaram despercebidas à maioria
dos estudiosos das raízes do pensamento lingüístico do mestre de Genebra. (E.B.)
estando ainda muito claro até que ponto Salissure as tenha utilizado122.. De outra
part
pa rte,
e, a no
noçãçãoo de fone
fo nemm a tinh
ti nh a sido
sid o in
intu
tuid
id a , em 1876
18 76,, por
po r J.
J . Win
Wintele
teler,
r, que aten
at ento
touu
para
pa ra as difer
dif erenç
enças
as fônic
fô nicas
as a ququee corr
co rres
espo
pond
ndemem dif
difer
erenç
enças
as quer
qu er de sign
signific
ificado
ado lexi
le xi
cal, quer gramaticais, ao lado daquelas diferenças a que nío corresponde nenhuma
diferença deste tipo. O vocábulo fo n e m a já tinha sido usado por Saussure no seu
livro M
Mém
émoi
oire
re sur le sy
s y st
stém
ém e p r i m i t i f de s voyell
voy elles
es ind
indoo -eur
-europé
opéenn
ennes
es [Memoria so bre
sobre
o sistema primitivo das vogais indo-européias], aparecido em 1878. K.ruszewski ado-
tou-o em 1880 para indicar o equivalente psíquico do som, e de modo análo análogo
go o
usou em 1895 Baudouin de Courtenay.
“estruturalismo”
com a dou
doutrina (com Viggo
trina lingüística Brindai),
lev,ea depois,
de Hjelmslev,
Hjelms glossemátiporca.volta de 1935, se identificou
glossemática.
Se estas escolas são mais ou menos caracterizáveis como saussurianas (a pri
meira através da distinção entre langue e pa rolee refletida em âmbito fonológico com
parol
O ESTRUTURALISMO 47
pres
pr esen
enta
tant
ntes
es da escola
esc ola de Praga.
6.2.3. Na União Soviética a orientação estruturaestru tura l é representada por L. V V.. Scer
Scerba
ba e
sua escola, cujo estruturalismo é todavia diferente daquele que poderíamos definir
como centro-
centro-europeu.
europeu.
O estruturalism
estrutu ralism o inglê
inglêss provém de dois filões: um fonético,
foné tico, cujas origens
devem ser buscadas em Henry Sweet e Daniel Jones, e um etnológico, pela impor
tância assumida por Bronislaw Malinowski em ámbito lingüístico. Como verdadeiro
fundador
fund ador da esco
escolala lingüística
lingüística ing
ingle
lesa
sa pod
pode-s
e-see considerar J. R. F irth s , cuja
cuja ativi
ativi
dade principal
principal pode ser situada em tom o dos anos 50; atualm ente a escola é re re
pr esen
es enta
tada
da po r M. A. K. HalHallid
liday,
ay, W. Haas e W. S. AlieAlien
n - o prim
pr imeir
eiro,
o, co
conh
nhec
eced
edor
or
de chinês e o terceiro, de línguas clássicas, entre as quais principalmente o sáns
crito: os iinteress
nteresses
es da escola
escola não ssão,
ão, portan
po rtan to,
to , de caráter exclusivamente especu
especu
lativo —e outros, entre os quais o-veterano foneticista David Abercrombie. A escola
inglesa pode, de certo modo, ser considerada um elo de ligação entre o estrutura
lismo europeu e o norte-americano.
Pike, Benjamin Lee Whorf, E. Pike e E. A. Nida. A obra principal de Sapir, como já
o dissemos, foi A linguagem,
lingu agem, publicada cm 1921, em Nova
Nova Iorque.
6.3.1. Entreta
En treta nto deve-
deve-se
se considerar como verdadeir
verdadeiroo fundador
funda dor do estruturalismo
americano Bloomfield que, além de Boas
Boas e Sapir, teve presente as idéias
idéias de Saussure.
Bloomfield foi um lingüista muito bem informado, como mostra a vasta bibliogra
fia de Lan
Langua ge , enquanto não se pode dizer o mesmo de seus seguidores que.em
guage
geral, não têm tido o cuidado de pesquisar as raízes do pensamento de seu mestre,
de cuja vasta cultura dio fé também numerosas e muitas veZes ásperas recensões
pu blicad
publi cadas
as nos pri
prime
meiro
iross anos
ano s da revista da Soc
Socied
iedade
ade lingü
lin güíst
ística
ica americ
am ericana
ana Lan
L an--
guage.. Bloomfield criou uma metodologia e uma terminologia na lingüística descri
guage
tiva norte-americana, se bem que, mais do que de estruturalismo (embora este ter
mo seja correntemente usado nos Estados Unidos), seria adequado falar de “descri-
tivismo”
tivismo” norte-americano, que é uma metodologia nova, enquantoenqua nto para o resto (par
(pa r
ticularmente para a lingüística histórica) Bloomfield reelabora substancialmente a
lingüística tradicional, compreendendo-se aí também a geografia lingüística. De
fato, a segunda parte de Languag
Languagee é um excelente compêndio da ideologia neogra-
matical referente à lingüística histórica e encerra também um panorama muito bem
feito da geografi
geografiaa lingüística.
* Merece
erece referência particular a obra de Z. S S.. Harr
Harris,
is, Meth
Methods
ods in St
Stru
ru du
dura
rall Ling uistics
Linguistics
|Métodos na lingüística estrutural], Chicago, 1951, republicada com o título Strudural Lin-
guistics [Lingüística estrutural ], ], Chicago, 1963.
1 H. A.
A. Gleas
Gleasonon Jt.
J t. ,A n Introduc tion to Descriptive Linguistics (Intr
Intr oduction odução à lingüística
Introdução
descritiva J, Ne
New
w York, 1955, 2.a ed., 1961. Desta obra há tradução portu portuguesa
guesa de João Pin
gúelo, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1978.
* Recor
Recordem-
dem-se,
se, entre
en tre as obras priprincipais
ncipais de N
N.. A. Chomsky, Syntactic Structures Estru-
IEstru-
turas sintáticas], Ha
Haia,
ia, 1957 e os escritos reunidos
reunid os em Saggi linguistici \Estudos lingüísticos],
trad. italiana, 3 vols., Boringhieri, Torino, 1969-70, onde estão incluídos também os Aspectos
da teoriae da
Meireles sintaxe,
Eduardo de Raposo,
Paiva 1965. Desta última
Armênio obraEditor,
Amado há tradução portuguesa
Coimbra, 1975. de José Antônio
O ESTRUTURALISMO 49
nam na expressão. Este procedimento se mostra evidente até pelos nomes adotados,
como por exemplo o de “ glossemáti
glossemática”
ca” : as unidade
unidadess mínimas, da expressão
expressão ou do
conteúdo (segundo Hjelmslev a função de signo se põe entre duas entidades, uma
expressão e um conteúdo)9, são chamadas por Hjelmslev de gl gloss
ossem as , e a análise
emas
da língua se propõe, justamente, depreender os glossemas e mostrar, depois, como
estes se combinam em unidade de ordem superior, ou figu ras.. O que caracteriza esta
figuras
ciência é a aspiração à descoberta das unidades lingüísticas, e os procedimentos que
elaa emprega são —para usar
el usar um termo próprio da gramática gerativa
gerativa - procedim en
tos “ de descoberta” : busc
busca-
a-se
se descobrir os elementos
elemento s mínim os e estabelecer os mé
todos para tal descoberta em uma língua determinada e também para línguas que
não sese conhecem, cujas
cujas estruturas dev
devem
em ser efetivamente
efetivamente “ descobertas” .
9 Veja-s
Veja-see L.
L. H
Hjelm
jelmslev
slev,, Pro
Prolegome
legomena
na to a Theory o f Lang
Languag Prolegómenos à teoria da
uagee [Prolegómenos
língua \t trad.
trad. inglesa de F. J. Whitfield (Baltimore, 1953) do original dinamarquês aparecido em
1943, p. 30.
termo técnico desta corrente, uma competência (competence ) que atua na concre
tização do desempenho (performance).
A descrição se apresenta sob forma de regras (rules) e não de listas ou de pa
radigmas classificatórios dos elementos reencontrados na lingua: tal método abs
trato e sintético de apresentar a descrição, sob forma de regras dispostas em certa
ordem, se chama, como já foi mencionado, método gerativo, porque “gera” ou
define determinadas estruturas que podem ser'recursivas. Regras de transformação
se encontram também na gramática tradicional e, em parte com finalidades descri
tivas, na obra de Gabelentz, já várias vezes citada, na qual um capítulo bastante im
port
po rtan
ante
te traz
tr az prec
precisam
isament
entee o tí
títu
tu lo : Verwandlung der S'dtze in Satztheile [Trans-
form
fo rmaç
ação
ão das orações
oraç ões em memb
me mbro oraç ão]10.. Ainda que não se possa apurar ne
ross da oração]10
nhum liame histórico entre Gabelentz e Chomsky, este capítulo e os fatos que o
autor nos apresenta pertencem à mesma série dos tratados na gramática transfor-
macional. Idéias “transformacionais” encontram-se aliás na mesma gramática tradi
cional, e também na obra de certos lingüistas não estruturalistas ou estruturalistas
não “ortodoxos” de nosso século, como por exemplo na Gramática inglesa e na
Filosofia
Filoso fia da gr
gramátic
amática a de Otto Jespersen 11 e em alguns estudos
estu dos de W
Wal
al ter Porzig 12
e de J. Kuryfowicz.
6 .6 . Como já dissemos
dissemos,, o conc
conceito
eito de estrutur
estr uturaa não é unívoco;
unívoc o; existem dela pelo
menos três, poden
podendo-s
do-see entender
entend er como estrutu
estrutura:
ra: a ) a config uração ;b
configuração ; b ) a estrutura
paradigm
para digmátic
áticaa; c) a estrutura sintagmática.
6 .6 . 1 .
O conceito
conc eito de “ configuração” ao que aqui aludimos não é propriame prop riamente
nte
estruturalista, trias se encontra em Saussure e foi retomado por Bally e na lexico
logía chamada estrutural de Georges Matoré13, na França. Não se trata, neste caso,
de analisar unidades lingüísticas em elementos menores que as compõem, nem tam
pouc
po ucoo de relações efetivas
efet ivas en
entre
tre ele
eleme
mento
ntoss do en
enun
uncia
ciado
do,, mas sim de laços exte
ex tern
rnos
os
que subsistem entre as unidades lingüísticas por semelhança material ou de con
teúdo, ou então por associação, também entre elementos contrários. Uma confi-
10 Gabelentz, Die Sprachwissenschaft , loc. cit. pp. 436-70. Como, entretanto, fiz notar
na introdução à recente reedição, este autor não pensa porém que a gramática sintética possa
substituir a analítica (p. 35).
1' Devem
Devem se serr part
particul
icularm
armente
ente lembradas as seguintes obras teórica
teóricass de O. Jespersen
Ipron. yéspersen, e não géspersen | I.a I.ang
nguag
uage,
e, íts
ít s Nature, Developmen
Developmentt and
an d Origin A
Origin tA ling
linguag em,,
uagem
sua
su a natureza, evolução e origemorigem ], Londres 1922, PhU PhUosop
osophyhy o f Grammar
Grammar [Filosofia
[Filosofia da gramá
gramá--
tica], Londres, 1924, além da importantíss
impor tantíssima/!
ima/! Mod
Modem
em English
English Grammar
Grammar [Gram
[Gramátic
ática a do ing lés
inglés
moderno
modern \, Copenhague, 1909-49, em sete volumes.
o \,
1J *• Lembre-se
Lembre- se de W. Porzig o vvolu
olume
me Da
Dass Wti
Wtinde
nderr der Sprac
Sprache.
he. Probleme MethMethode un d
ode und
Ergebni
Erg ebnisse
sse der modernen Sprachwissenschaft
Sprachwissenschaft [A mar maravi
avilha
lha da lingua
linguagem
gem.. Problema
Problemas, s, métod
m étodosos e
objetivos da lingüistica moderna], Berne, 1950, de que há tradução espanhola publicada pela
Gredos, de Madrid.
' *1 G. Matator
oré,
é, La mét
méthode
hode en lexicologie.
lexicologie. Domaine français [O mét método
odo em lex lexico
icología.
logía.
ínio francês |, Paris, 1953.
Domínio
Dom
O ESTRUTURALISMO 51
finitas (do grego vapábevypa., “modelo”) dentro das quais se opera uma escolha em
cada momento de falar. Por exemplo, o nosso amigo chegou hoje, enquanto sin
tagma, tem uma determinada estrutura combinatoria, porque, como ensina a escola
elementar, o nosso amigo se combina com chegou hoje, o nosso com amigo, o com
nosso, chegou com hoje. Uma representação gráfica desta estrutura, que indique
como estes elementos se acham combinados, dará um gráfico em forma de árvore,
as
assim
sim estruturada:
estruturada :
O ESTRUTURAUSMO 53
q u a i s n a s ce
ce u m s i g n i ffii c a d o d i f e r e n t e . A s s im
im , s e a e s c o l h a s e r e f e r e a t o d a a o r a ç ã o ,
escolher-se-á entre a oração positiva ou afirmativa e a negativa, pela qual a oração
i n t e i r a o nosso amigo chegou hoje
hoje s e o p õ e a o nosso amigo não chegou hoje-,
hoje-, o u e n
t ã o a s d u a s o r a ç õ e s c o n t ê m i g u a lm
lm e n t e u m a d e c l a r a ç ã o , em
e m f o r m a p o s i ttii v a e e m
f o r m a n e g a t i v a e s e o p õ e m , p o r t a n t o , i g u a l m e n t e , à o r a ç ã o i n t e r r o g a t i v a chegou
chegou
hoje o nosso amigo?
Além disso, o sintagma o nosso amigo
amigo poderia opor-se a o amigo nosso, por
nosso, por
que, em português, à diferente posição do adjetivo em relação ao substantivo, antes
ou depois dele, pode corresponder significado diferente: o nosso amigo
amigo não subli
nha o fato de que não seja também seu, enquanto o amigo nosso (exceto nosso (exceto em deterdeter
minadas circunstâncias em que a posposição ou anteposição do possessivo é obriga
tória, como, entre outras, em construções do tipo Nos Nossa sa Senh
Senhora,
ora, fi
filh
lh o m eu não
não
fa z isso, etc.)
isso, etc.) pode indicar que se trata de amigo nosso e não seu. Por exemplo, dir-
se-á este é um livro meu, e não de um outro autor, autor, do mesmo- modo que Dante
disse o amigo meu, e não da ventura ventura (l'amico mio, e non de la ventura, Inferno, Inferno,
II. 61). Analogamente entre o homem pobre pobre e o pobre homem
homem se observa a escolha
entre duas estruturas diversas, porque os dois sintagmas têm significado diverso.
Assim, também, se dizemos a senhorita tem um vestido verde, não verde, não se elimina
imediatamente elegante, feio, bonito,
bonito, etc. (isto porque o vestido poderia ser verde verde
e bonito, verde e elegante, verde e feio, feio, etc.), mas sim branco, vermelho, azul, azul, etc.
Se numa frase se encontra a palavra dia, dia, elimina-se imediatamente nessa posição
hora, semana, ano,
ano, etc. Enfim, o número gramatical é, na maior parte das línguas
conhecidas, singular e plural, mas, se uma língua, além desses números, possui tam
bém o dual,
dua l, a escolh
escolhaa será feita
feit a entre
en tre essas três
t rês possibili
poss ibilidade
dadess em vez de en tr tree duas.
Este é o sentido que damos ao termo paradigm
termo paradigma. a.
é, sem a unidades
diversas parte queou
pode constituir
também o elemento
de todo comum,
um paradigma o tertium
como,
comparationis, de
referindo-se ao que cha
mava “base de comparação”
comparação ” , observou Trubetzk
Tru betzk oy nos seus
seus Fun
F un da m ento
en toss d e fo n o -
logía1ss .
logía1
' 5 Ve
Veja
ja-se
-se,, na tradução italiana da obra de Trubetzkoy
Trubetzkoy,, a pág.
pág. 81. Há desse livro versões
para o francês (aí,
(a í, a pág.
pág. é 69),
69 ), inglês
inglês (p. 68) e espanhol (p. 60).
O ESTRUTURALISMO 55
tura análoga à da oração afirmativa, com mais um elemento “operador” que ficaria
combinado com o núcleo:
núcleo : a interrogação. Po r este
este motivo, fatos de oposição
oposição são
são
reduzidos na gramática transformacional a fatos de combinação e, se isto não é pos
sível, apresentam-se pelo menos de modo análogo, como acontece no caso da aná
lise lexical.
bachelor
ser huma
humano
no animal
animal
(“solteiro”) (“escudeiro”)
16 Veja-
Veja-se
se de J. J. Katz e J. A. Fodor, The Structure Theoryy [A estrutura
Structure o f a Semantic Theor
de uma teoria semântica), in Langu age, vol.
Language, vol. 39, 170-210, 1963 e depois
depo is inserido em The-
Structure o f La
Langu
nguage
age,, coletânea preparada por estes dois autores, Prentice-Hall, New Jersev,
1964.
O ESTRUTURALISMO 57
O Princípio da Funcionalidade
7.1. 0 estrutural
7.1. estruturalismo
ismo ou, melhor dizendo, o estruturalismo propriamente di to.s e
atribui a finalidade de examinar e analisar a língua nos seus elementos funcionais e
estabelecer os paradigmas das unidades da língua, depois de tê-las reduzido aos ele
mentos mínimos, com um procedimento de identificação e de análise das mesmas
unidades. A orientação geral é, portanto, analítica.
O problema que enfrenta este tipo de estruturalismo analítico se diferencia,
destarte, daquele que enfrenta a gramática transformacional gerativa, que consiste,
ao contrário, em apresentar, de modo coerente e mediante regras, a técnica que o
falante usa na execução do falar, a sua competência, entendida como sendo o saber
concem ente à formação das das fras
frases
es “corretas” . Também os outros tipos de estru tu
ralismo
ralismo concebem a llíngua
íngua com o saber, e iden tificar e aanalisar
nalisar as unidades da língua
consiste, por isso, em identificar e analisar as unidades do saber lingüístico do fa
lante.. A diferença resi
lante reside,
de, todavi
todavia,
a, na orientação: o estrestruturalismo
uturalismo enf renta o pro
blema
ble ma da desc
de scob
obert
ertaa e da análise da língu
lín guaa (tam
(t am b é m de um a llín
íngu
gu a desc
de scon
onhe
heci
cida
da),
),
enquanto a gramática transformacional gerativa enfrenta o problema de apresentar
este saber sob a forma de regras de “produção” das frases (excluindo, portanto, o
caso de uma língu a desconhecida).
desconhecida).
Na realid
rea lidade
ade trata-s
trat a-see de duas
dua s m etod
et odol
olog
ogiaias,
s, em ce rtrto
o sent
se ntid
ido,
o, para
paralela
lelass e que
pode
po deri
riam
am co
coop
oper
erar
ar;; e n tr e ta n to , o estru
es tru tura
tu rali
lism
sm o tr
trad
adic
icio
iona
nall id
iden
enti
tifi
fica
ca a des
descriçã
criçãoo
com a análise, enquanto a gramática transformacional gerativa identifica a descri
ção com a apresentação, sem, na realidade, oferecer métodos de análise ou de iden
tificação.
Nos prim
pr imor
ordi
dios
os do estru
es tru tura
tu ralis
lismm o, mais
ma is u m a vez G ab abel
elen
entz
tz havia visto
vis to clara
clar a
mente que a gramática, a descrição da língua, devia ter dois aspectos, um analítico
e outró sintético, e, além da necessidade analítica de descobrir as unidades simples,
afirmara, com respeito à parte da gramática que chamou “ sintética” , que se se fazia
fazia
necessário estud
necessário estudar
ar a ma
maneira
neira pela qual as unidades são combinadas e usadas no fala
falar,
r,,,
estabelecendo as regras de produção das frases (entre as quais também as “transfor
mações”).
7.2. São quatro os princípios do estruturalismo analítico que, embora não tenham
7.2.
sido nunca expostos de maneira explícita, se podem deduzir das diferentes afirma
ções dos estruturalistas:
*
a) o princípio da fu
func
ncio
iona
nalid
lidad e, com um importante corolário que diz res
ade,
pe
peito
ito ao significado
signif
significado, da icado,
qual ,depende
e precis
pre cisam
ament
entee à postu
intimamente poostulaç
lação
ão do
método da ca
cará
ráte
terr unitá
comutação;un itário
rio do própri
pró prioo
b) o pr
prin
incí
cípi
pioo da oposição, que tem como corolário metodológico a análise
em traços distintivos;
c) o princípio da si
sist
stem
emat
atic
icid adee ;
idad
d) o princípio da neutralização.
Os primeiros
primeiros trê
trêss princípios
princ ípios caracterizam o estrutu
estruturalism
ralismoo em geral
geral;; o qu
quarto
arto
é próprio do estruturalismo europeu e, conquanto uma conseqüência dos outros,
não é reconhecido pelo estruturalismo norte-americano que, limitando-se em geral
à parte material da lingu
linguagem,
agem, apresenta os cas
casos
os de neutralização como de “ di dis
s
tribuição lacunar”.
7.3.1. Pode-
Pode-se
se formular
form ular do seguinte mo
modo
do o princ
princípio
ípio da funcionalidade: uma uni
dadee “ material”
dad material” qualquer exist
existee como unidade funcional
funcional duma lí língua
ngua - quer didizer,
zer,
como fafo de langue e não apenas como fato de pa paro le (ou como fato de langue não
role
funcional) —se na mesma língua lhe corresponde também uma unidade de signifi
cado, e vice-versa. Funda-se este princípio, portanto, no postulado da solidariedade
entre
ent re os dois planos da llingu
inguagem:
agem: o da expressão ou sig signi
nific
fican te, ou plano “ma
ante,
terial” da linguagem, e o plano do conteúdo ou do sig signi
nific
ficad
adoo , ou plano puramente
mental da linguagem. A uma unidade de língua no plano da expressão, deve (em
geral) corresponder uma unidade no plano do conteúdo, diferente das outras uni
dades da mesma língua;
língua; e a uma unidade de conteúdo
conte údo de deve
ve (em princípio) corres
corres
pond
po nder
er um
umaa unid
u nidad
adee de expres
ex pressão.
são.
7.3.2.1. Se tomarmos
tomarm os por exemplo o italiano, em Vamico (o amigo), il libro (o li-
vro), Io studente (o estudante), teremos três elementos materiais bem identificáveis,
diferentes no plano da expressão (/' il, lo). Mas a estes três elementos corresponde
no plano
pla no do conteú
co nteúdo
do um valor único e não três valores
valores diferen
diferentes;
tes; por
po r isso,
isso, do
pon
p on to de vista da langue, eles constituem apenas uma variação não funcional do
plano
pla no da express
exp ressão.
ão. Se não há variação
varia ção no plan
planoo do co
cont
nteú
eúdo
do,, trata
trata-se
-se de uma só
unidade
unida de de expressão, da qual se dirá:
dirá : a unidade
unida de —o morfema, que é o artigo mas
culino —é constituída, em italiano, dessas três formas — l\ l \ il, lo —, que têm uma
parti
pa rticu
cular
lar dis
distrib
tribuiç
uição
ão segundo
segun do o cont
co ntex
exto
to fônico.
fôn ico. Esta
Estass três
trê s form
formasas co
cons
nstitu
tituem
em
O PRINCIPIO DA FUNCIONALIDADE 61
uma unidade só e, segundo a terminologia que os lingüistas norte-americanos usam
nestes cas
casos,
os, são “ alomorfes”
alomorfes” de um só ““morfema”
morfema” .
7.3.3.3. Consideremos agora uma ação verbal verbal no seu ato de desenvolvimento entre
doiss pontos
doi ponto s (que podem tam também
bém coincidir), se seja,
ja, por
po r exemplo, o ato de “escrever'’.
“escrever'’.
Em italiano, com sto
sto,, stavo
stav o scriven do, se indica, em geral, uma ação não interrom
scr ivendo,
pidaa ou tam
pid também
bém uma
um a ação
açã o dura
du rado
dour
uraa in
inte
terr
rrom
om pi
pida
da de qu
quan
ando
do em ququan
ando
do.. Em es
panhol
pan hol e por
portug
tuguês
uês a açã
açãoo co
consi
nsider
derada
ada enentr
tree dois po
pont
ntos
os se expr
ex prim
ime,
e, como
co mo em ita
ita
liano, com a perífrase com est estar
ar estoy escri
escribie ndo / estou escreve
biendo ndo (ou a escre-
escrevendo
O PRINCIPIO DA FUNCIONALIDADE 63
/ dois livros,
livros, e também due virtü virtü / duas virtudes,
virtudes, por exemplo em qu el l’ l’uomo
uomo ha
ha
due virtü, modestia
modestia e paz
pazien
ienza,
za, ma nononn ha una
un a ter
terza
za virt
virtü,ü, la bont
bo ntà
à / aquele home m
tem duas virtudes, modéstia e paciência, mas não tem uma terceira virtude, a bon-
dade), usando explícitamente du
dade), duee / doisdu
doisduas
as,, mas em si amano
am ano m ol olto
to / amamse
amamse
muito, due
due / dois
dois estío implícitos, se sabemos que esta expressão corresponde a
quei due si vogliono molto bene bene / aqueles dois se querem muito bem. Existe,
bem. Existe, por
tanto, no italiano e no português o plural limitado a dois, ou seja, o dual? A res
posta
po sta é obvia
ob viame
mente
nte não,
não, porque, além de ambedue, ambo (que
ambo (que agora são antiquados
e já o eram talvez quando Dante escrevia Am A m b o le man p er lo do lo lorr m i morsi.
mors i. In -
fern
fe rnoo XXXIII, 58) e entrambi,
entrambi, ao ao lado do portugués ambos
ambos (antigamente
(antigamente e hoje em
desuso: ambosros dois, ambos de dois, ambos a dois dois e os dois ambos), não
ambos), não existem
nestas línguas formas específicas que exprimam este número. O dual existia porém
como categoria e unidade funcional, por exemplo, no grego ático e no sánscrito,
que tinham formas
formas específicas para para exprim ir est
estee cconteú
onteú do no nome e no verbo; e
algumas línguas têm até um trial, isto é, referência especial a três.
7.3.4.1. Por hom ofonia po de ac ontecer ontece r que a formas idênticas correspondam va va
lores diversos. L ei,, por exemplo, em italiano, tem pelo menos dois significados: lei
Lei lei
“ ela”
ela” , e lei,
lei, “o senhor, a senhora, você” (por exemplo, em: Lei, pr profe
ofesso
sso re . . . ,
“ o senhor professor
professor”” )- E nalg nalguns
uns con tex tos até pode haverhaver ambigüi
ambigüidade;
dade; por exem
plo: lei
lei [[“ela”
“ela” ] dice delle cose giuste e giuste e lei
lei [“prof
[“professor
essore”
e” ] dice delle
delle cosegiu ste. Pela
ste. Pela
forma material destas palavras poder-se-ia supor que se trata da mesma unidade fun
cional. Mas isso só é lícito se também os conteúdos puderem ser reduzidos a um sig
nificado unitário; se não, é preciso considerar os contextos nos quais os dois con
teúdos aparecem. E, no caso do nosso exemplo, o lei, lei, pronome de tratamento res
peito
pe itoso
so (c (com
om o em lei, professore)
professore) aparece com freqüência em combinações dife
rentes das de lei, lei, “ ela”
ela” , prono me feminino da terceira p pessoa
essoa do singul
singular,
ar, de
de ma
neira que s maioria das vezes vezes não há dificuldade para p ara distinguir o lei
lei que pode ser
substituído por voi voi d doo lei que
lei que não admite esta substituição mas pode ser substituído
po r um nom no m e co comm um ou p rópr ró prio
io,, fem inino
ini no {la ragazza, Marcella, Giovanna,
Giovanna, etc.).
Em tais casos (de ambigüidade por homofonia) poder-se-á, portanto, considerar
como pertencentes à forma gramatical (ou lexical), além da constituição material
das formas lingüísticas, também as suas combinações E para distinguir os signifi
cados, poder-se-á empregar a técnica das substituições exclusivas. Desta maneira.
torna-se relativamente fácil estabelecer que se trata de unidades diferentes, não obs
tante a identidade na constituição material.
material.
7.3.4.2. Certos casos porém são difíceis de resolver. Por exemplo, como estabe
lecer se caro, em italiano (ou em português), é um ou dois elementos, quer dizer,
se o caro de il pane è caro [“o pão é caro” ] é ou não a mesma coisa que o caro de
mio caro Luigi [“meu caro Luís”]. Poder-se-ia observar que também neste caso as
combinações são diferentes, mas a diferença não será simples e obrigatoriamente
exaurida do contexto; com efeito, em certas situações, mesmo raras, se poderá
dizer
mo sequeestealguém reputa
não custa “caro”
muito, (“querido”,
e que um amigo “amado”) o pouco
foi “caro” pão queque
para alguém tem,gastou
mes
muito dinheiro com ele. O problema subsiste, portanto, para diversos casos, nos
quais é duvidoso responder se se trata de uma ou de duas unidades de conteúdo,
assim como, no nível da expressão, se poderá perguntar se um dado som corres
pond
po ndee a um só fone
fo nem
m a ou a dois
doi s fon
fonema
emass em tal ou qual língu
lín gua.
a. Tais casos são to
davia marginais.
também
tem), nãodiferença
é menos de expressãoadmitir
necessário (pelo menos nas combinações
que também as diferentesque as formas
acepções admi
possíveis
duma mesma forma pertencem a uma única zo zona
na do signific ado e que tudo aquilo
sign ificado
que pertence a esta zona constitui manifestação do mesmo significado, como valor
de língua. Distinguir-se-á, justamente, entre significado e acepção, entre significado
funcionalmente
funcionalm ente autôn
au tônom
om o ——ouou “ signi
signific
ficado
ado dede língua” — e “ significado
significado de fala”
fala” ,
ou entre significado constante e ocasional. Isto, como princípio, parece simples,
mas do ponto de vista descritivo é complicado. Vejamos que procedimento seguir
para
pa ra iden
id entif
tifica
icarr um signi
significad
ficadoo un
unitá
itári
rio,
o, is
isto
to é, em que consist
con sistee a unida
uni dade
de do signi
ficado de uma forma lingüística.
7.4.2. É muito difícil, po porr exemplo, reduzir à unidade cada um dos tempos do
verbo. Assim, o imperfeito, em italiano e português, pode indicar ação repetida ou
ação única (e até momentânea), e mesmo uma ação hipotética: da ragazzo leggevo
spesso q ue l libro / quando menino, lia freqüentemente aquele livro ; alie tre di sta- sta-
notte leggevo quel libro / às três da madrugada lia aquele livro ; se com pravo,
s e ieri lo compravo,
oggi leggevo quel libro / se o com comprav
prava
a o n tem
te m , hoje
ho je lia a
aque le livro. Não obstante
quele
isto, estas acepções, à primeira vista heterogêneas (e o elenco de variedades não se
esgota aqui) podem ser reunidas num valor único de “não atual”, em oposição ao
plano
pla no do pres
pr esen
ente
te (p
(pre
reté
téri
rito
to — pr
prese
esente
nte — fufutu
turo
ro),
), en
enfe
feix
ixad
adoo sob o valor
val or único
ún ico de
“ atual” . Em ououtros
tros cas
casos,
os, o si
signif
gnifica
icado
do unitário pode ser interp
interpretado
retado co como
mo aquele
aquele
que justifica
justifica (pod
(podee explicar)
explicar) as varia
variantes
ntes (acepções), ainda que não as as “ conten
contenha”
ha” .
Certo é, por ooututro
ro lado, que partind
partindoo das
das variantes
variantes não se se che
chegaga nem
nem a justificar um
O PRINCIPIO DA FUNCIONALIDADE 65
afeto (ou com ironia) dirá: “Que casinha!” / Che Che casetta!
casetta! O diminutivo pro
diminutivo profess
fesso-
o-
rino / pr
rino prof
ofes
esso
sorz
rzin
inho
ho não implica necessariamente a baixa estatura do professor em
questão;
ques tão; pode se trata r d dee uma diminuição subjeti
subjetiva,
va, correspo
correspondente
ndente a um modo
afetuoso de apresentá-lo, adotado por exemplo, pela sua mãe, a sua mulher ou a sua
amada. Pois bem, estes diversos valores que se podem encontrar no uso do diminu
tivo, e que vão do afeto até a ironia, não podem se justificar reciprocamente nem
pode
po dem m just
ju stifi
ifica
carr um significado
signi ficado un
unitá
itário
rio.. Com
Co m efei
ef eito
to,, são às vezes até
a té cont
co ntra
radi
ditó
tóri
rios
os
entre si (por exemplo Che beü'omino\ beü'omino\ / Que belo homenzinho\),
homenzinho\), pode ser dito
acerca de um menino bom e sério, no sentido positivamente afetivo, ou de um ho
mem que fez muitas trapaças, no sentido irônico-depreciativo, e portanto negativa
mente afetivo) e não apresentam nenhuma unidade. Pode-se, pelo contrário, consi
1 Tal
Tal denominação ocorre também nas gramáticas
gramáticas do português: “Nomes dc matéria ou
massa são aqueles que denotam substâncias sem limites definidos, as quais não constituem
unidades: água. ferro. ouro. ar vinho”
vinho ” (M. Said Ali, Gramática secundária, 53).
secundária, 53). (E.B.)
a) Joã
Joãoo se lava A reflex
reflexivo
ivo próprio
b) Joã
Joãoo e An a se esbo
es bofet
fetei
eiam
am A ^ B reflex
reflexivo
ivo recíproco
recíproco
c) a letra d se escreve assim A reflexivo
reflex ivo impessoal
se excluir que os homens sejam o objeto direto da ação de escrever ou que cada um
se escreva a si mesmo, como também a frase signifique que é hábito escrever as pa
lavras
lav ras “ os homens”
hom ens” , a ação indicada só pode ser recíproca
recíp roca:: A escre
escreve
ve a B e B es
creve a A. Se, ao contrário, também a segunda possibilidade é excluída porque o
sujeito não pode ser agente, se passará ao terceiro significado e teremos uma frase
do tipo c), a letra d se escreve assim, Roma se escreve com R maiúsculo, porque o
conhecimehto da realidade nos exclui tanto a interpretação reflexiva como a recí
proc
pr ocaa (p o r ex
exem
emplo
plo,, no caso de:
de : as coisas se escrevem quando se pensa nelas). Que
não se trata de um fato de língua mas que esta passagem de uma interpretação a
outra é determinada pelo nosso conhecimento da realidade, demonstra-o a eventua
lidade de imaginar como realidade — uma realidade, obviamente,obviam ente, “surrealista”
“ surrealista” e
válida
.ta nto : apenas
.tanto como
“ Olhem, ficçãome
prefiro —,escrever
o fatoerdeassim.
escrev uma
assim.””letra
Istosepoderia
escreveracontece
a si mesma
r, pore dizer
acontecer, por-
exemplo,
em Al
Alic
icee no Pais das Maravilhas
Maravilhas..
O PRINCIPIO DA FUNCIONALIDADE 67
funcional, que se passou a uma outra unidade, ou seja, que a diferença introduzida
é “traço distintivo na língua considerada. Se, pelo contrário, no outro plano não
acontece nada, isto é sinal de que a mudança no primeiro não é funcional, ou seja,
que ficamos dentro da mesma unidade da língua.
7.5.3. Ainda um exem plo: a palavra velho / vecchio pode-se referir, em português
e em italiano (e o fato pode repetir-se igualmente em outras línguas), a um homem,
a um cão ou a uma casa. Em si, o ser “velho” destas três coisas é, sem dúvida, dife
rente, mas em italiano e em português exprimimo-lo do mesmo modo, com a mes
ma palavra velho / vecchio : a prová da comucomutação
tação mostra que os os traços “ dito de
pessoas huma
hu mana
nas”
s” , “ di
dito
to de cães (o u de ou
outro
tro s animais)”
anim ais)” , “ di
dito
to de ca sa s(
s(ou
ou de ou
ou
tras coisas do mesmo tipo)” não são, portanto, traços distintivos do significado
“velho” / “vecchio” em português e em italiano. Em latim, ao contrário, no pri-
Em latim, por
portanto
tanto,, os traços “ dito de pesso
pessoas”
as” , “ dito de aanim
nimais
ais oü plan
tas” , “ dito de coi
coisas
sas”” eram, neste caso, traços distintivos, pois determinavam três
unidades de conteúdo, com expressão diferente. Uma distinção em parte análoga
faz-se (ao falar da “idade” de seres e coisas) em italiano e, até certo ponto, tam
bém em por portug
tugué
ués,
s, para
par a o cont
co ntrá
rário
rio de “ velh
velho”
o” , mas dif
difere
erenci
nciand
andoo apenas
ape nas,, du
dum
m
lado, “ ser
seres
es vivos
vivos”” (homens, animais,
animais, plantas) e, de de outro
ou tro lado
lado,, “cois
“ coisas”
as” : gio vanee
giovan
ove m / nuovo - no
- jove novo
vo..
qualquer
não temostipoumadepalavra
“branco” (brilhante
especial ou opaco)
para um branco éopaco,
simplesmente ¿raneo,
por exemplo, de umit. bianco:
tecido,
ou para um branco como o do leite. Isto é, se em portugués ou em italiano substi
tuimoss no
tuimo n o signif
significad
icadoo “branco” o traço “ brilhante” pelo traço “opaco” , nada acon
tece necessariamente no plano da expressão, pois que a palavra usada é sempre
branco it. bianco, e somente se quisermos especificar diremos branc branco o com o a neve ¡
bianco come la neve, branco como o mármore / bianco como il marmo, como o
leite / come il latte, etc. Em latim, ao contrário, para um branco brilhante deve
mos dizer candidus, e para um branco opaco, albus\ e a distinção se torna ainda
mais complexa pela existência de uma terceira palavra canus (lembremo-nos dos
cabelos brancos, da canicie, em portugués as cas).
Não impo
im porta
rta a este respeito
resp eito,, que ce
certo
rtoss “ significados”
significados ” sejam pen
pensad
sadosos e bem
conhecido
conh ecidoss pela denom
d enominação
inação das coisas
coisas designadas; o que importa
impo rta é se a língua
faz ou não distinção e se em cada caso existem ou não existem limites semânticos
dados na língua mesma. Nós, por exemplo, ainda que distinguindo a avó materna
da paterna, chamamos a ambas avós (vovós), it. nonne, enquanto os suecos, não
somente as distinguem como nós, na realidade extralingüística, mas as distinguem
também lingüísticamente, chamando à avó materna mormor (literalmente (literalmente “mãe da
mãe) e a avó paterna, fa rm o r (“mãe
farm (“mãe do pai”). Se, por exemplo, em um livro portu
guês ou italiano se fala de avó, it. nonna, o sueco que o traduza deverá se pergun
tar se se trata de avó materna ou paterna e, se o texto não o explicitar, deverá de
cidir por conta própria se chamará àquele personagem de mormor ou ou fa
farm or.. Ana
rm or
logamente ao traduzir do inglês para o português ou para italiano, devemos intro-
O PRINCIPIO OA FUNCIONALIDADE 69
duzir certas distinções, isto é, adotar certos traços distintivos que o inglés normal
mente nío utiliza mas que em nossas línguas sáo indispensáveis. No caso de “ami
go” / “ ami
amiga”
ga” , a distinção pod erá ser imediata, se o tex to inglés inglés especificar que ssee
trata de urna girl
urna girl-fri
-friend
end.. Ma
Mas,
s, por exemplo, no caso de “ cozinheiro”
cozinheiro” / “ cozi
cozinhei
nheiza”
za” ,
se a diferença nf nffo é especificada
especificada pelo contexcont ex to, o leitor portugu ês ou italiano po
derá perguntar-se o que designa cook e, no caso de nío lhe ser dado, pelo texto,
nenh um esclarecimento, deverá decid de cid ir a seu
seu critério se traduz irá por cozinheiro,
cozinheiro,
it. cuoco,
cuoco, ou
ou por cozinheira,
cozinheira, it. cuaca.
unidade
tivos. funciona
Assim que, numa
comolíngua permite analisar
conseqüência essa unidade
do princípio nos seus
da oposição, traços
se dirá quedistin
uma
unidade lingüística é constituída por uma série de traços distintivos, precisamente
porr to
po todo
doss aquele
aqueless tra
traço
çoss que a opõem
op õem de modo
mo do im
imed
ediat
iatoo a ou
outra
trass unid
unidade
adess da llín
ín
gua. Assim, nossa unidade fb / será, em relação às outras consoantes do italiano:
oral + oclusiva + labial + sonora.
Portanto, certos elementos constantes numa unidade não são constitutivos
dela se não implicam uma oposição a outras unidades. A aspiração, por exemplo,
que na maior parte dos contextos da palavra acompanha a pronúncia de /p/, /t/ e
/k/ em inglês, não é um traço distintivo destas consoantes, porque nenhuma oposi
ção é caracteriz
cara cterizada
ada apenas po porr este ffato
ato;; nenhum
nen hum pa
parr de palav
palavras
ras ingl
inglesas
esas se dis
dis
tingue no plano do significado porque uma delas começa com /p/, f fii / ou /k/, aSpi-
73
OPOSIÇÃO, SISTEM ATI CIDADE
CIDADE E NEUT
NEUTRALI
RALIZAÇÃ
ZAÇÃOO
rados e a outra não: pronunciando table com /t / aspirado, [th], como efetiva
efetivamente
mente
se pronuncia,
pronu ncia, ou com / t / não aspirado, [t], o significado será o mesmo. Analoga
mente, na pronúncia do italiano central, as vogais que precedem uma consoante
simples são longaá, enquanto as que precedem uma consoante dupla (“intensa”)
são breves. Entretanto, quer proferidas longas ou breves, as vogais nestes casos não
se opõem, em italiano, a nenhuma outra possível articulação das referidas vogais,
ou seja, em italiano, nenhum par de palavras poderia ser distinguido no plano do
conteúdo com base na oposição entre vogal breve e vogal longa, diante de con
soante simples ou dupla, porque, nesta posição, o fato de serem as vogais longas ou
breves
brev es é obrig
ob rigató
atório
rio..
8.1 .3. O que se vem dizendo das unid
8.1.3. unidades
ades lingüísticas va vale
le ta n to para as unidades
unidade s
da expressão como para as do conteúdo, que também podem ser analisadas em tra
ços distintivos. Por exemplo, o presente, em italiano, será “atual” enquanto oposto
ao imperfeito, e “presente” enquanto oposto ao passado remoto e ao futuro. Efeti
vamente, o presente do italiano (e románico) é determinado por uma diferença de
plano
pla no do te
tem
m p o ( “ atua
at ual”
l” / “não
“n ão atua
at ual”
l” ) e, no pl
plan
anoo da atual
atu alid
idad
adee p o r uma
um a dife-*
rença de “perspectiva” (passado —presente —futuro). Neste sentido é que o pre
sente (com o qualquer outro tem tempo
po do verbo) pode ser ser aanal
nalisa
isado
do com base nas nas opo-
sições em que ele entra. E se numa língua não houvesse a possibilidade de um tem
po “ina
“i natu
ocorressetual
al”
a ”possibilidade
(c
(com
om o o im
impe
perf
dorfei
eito
to ro
futuro,rom
moán
ánic
ico)
o),, o pres
presente pr
nãoesen
ente
te nã
serianãoo seria
seri a “ atua
“presente” at ual”
l” ; mesmo
e ao se não
nã o
tempo
tem po não-futuro e não-não-pas
passado
sado,, mas, p o r exemplo, somente um “não-passado”,
“não-passado”,
com o acontece
acon tece com o presente
prese nte inglês
inglês e alemão: de fato,
fat o, nessas línguas
línguas,, os tempos
tem pos
não perifrásticos são apenas aqueles que se chamam presente e pretérito, e o pre
sente, opondo-se somente ao pretérito, funciona simplesmente como “não-pas
sado”, vale dizer, ao mesmo tempo como presente e futuro.
8.1.4. Os elem en
entoí
toí que, ao menos em ccerta
erta posição, são constan
constantes
tes e todavia nnão
ão
constituem uma oposição, e portanto não são funcionais, dizem-se redundantes , e
têm uma espécie de função auxiliar, a da redundância, que reforça a função prin
cipal.
Não é p o rtan
rt an to co
comm plet
pl etam
am ente
en te exat
ex atoo dizer-se
dizer-s e que em ita italia
liano
no não
nã o te
temm im
im
port
po rtân
ânci
ciaa ser a vogal lo long
ngaa ou brebreveve,, visto
vis to qu
que,
e, se é ver
verdad
dadee que
qu e tal opos
op osiçã
ição,
o, de
perr si, n ão pe
pe perm
rmite
ite fazer
faz er disti
di sting
ngui
uirr dduas
uas palavras,
palavr as, no falar,
fal ar, a dura
du raçã
çãoo lon
longa
ga ou breve
das vogais contribui, todavia, para diferençar melhor ou para fazer prever se a con
soante seguinte é simples ou geminada e, em certo sentido, pode até mesmo subs
tituir a sua realização porque, pronunciando uma vogal longa, ainda que depois, por
outras razões, a consoante simples seguinte se pronuncie geminada, o signo lingüís
tico é entendido exatamente em virtude da duração longa da vogal. Dizendo, por
exemplo, vocalle (em vez de vocale) mas com um a particularmente prolongado, o
significa
signi ficado
do da pala
palavra
vra se com
compreenderia
preenderia perfeitam
perf eitamente,
ente, graças à ma maior
ior duração do a.
8.4.0. O princípio
princíp io da neutralização que, como mencionamos, é típico sobretudo
do estruturalismo europeu, toma em consideração precipua as restrições ao prin
cípio da oposição, constituídas justamente pelos casos de suspensão das oposições,
quer dizer de “neutrali
“neutralização”
zação” .
8.4.1. Dissem
Dissemos
os que duas unidades entre si opostas têm uma parte comum e outra
diferente, e dissemos que este tipo de oposição é freqüente nas línguas. No entanto,
as oposições têm a miúdo a seguinte forma: uma unidade, é constituída somente
pelaa part
pel pa rtee com
co m um de duas un
unid
idad
ades
es e a o u tr
traa un
unid
idad
adee além de
desta
sta pa
parte
rte,, te
temm algo a
mais.
mai s. De modo
m odo que, p or exemplo, ssee di
dissemo
ssemoss que, no caso dede /p / e /b/, o traço
tra ço dis
tintivo é o fato de que /p/ é surdo, se poderia também dizer que /p/ é simples
mente não sonoro, e que /b/, além de tudo o que possui /p/, tem também a sono
ridade. No léxico, por exemplo, na oposição dia/noite, a primeira unidade pode
significar também dia e noite juntos (24 horas), ao passo que o segundo significa
somente noite, e nunca dia. Na gramática, o masculino em italiano (e em portu
guês)
guê s) não se opõe ao feminino por co conter
nter um traço distintivo particular, mas ssóó por
não ser feminino, ao passo que o feminino é caracterizado por um traço distintivo
sário distinguir o gênero gramatical, enquanto outro tanto não se pode dizer do
feminino. Lendo Gli studenti dovranno sostenere un certo numero di esami {Os
estudantes terão de prestar certo números de exames) ninguém pensa que se trate
somente de estudantes homens, mas que também a frase inclui as estudantes, ao
passo que,
que , se eescre
screvêsse
vêssemos
mos L e stu de
dent
ntes
esse
se dovra
do vrann
nnoo . . . (As estudantes terão — ) ,
ninguém
ninguém poderia pensar que os estudantes homens também fos fossem
sem obrig
obrigados
ados a pres-
tar aquele número de exames. Neste sentido, o masculino funciona como termo
negativo da oposição como não feminino, ao passo que o feminino é sempre e ex-
clusivamente termo positivo. Até um termo como uomo (homem) pode assumir um
sentido indeterminado. Dado um título como L ’uom uo m o, qu esto
es to sco
scono
nosc
sciu
iuto
to (O h o -
mem, esse desconhecido), quem teria pensado nos anos em que o livro correspon-
dente teve muita aceitação, que se tratasse somente do homem, e não também da
mulher, isto é, que não se tratasse do ser humano em geral independentemente do
sexo?
A, aoé,passo
isto pauma
sso que
coisaas pode
oposições lingüísticas
lingüística
ser não-A e tam s bém
têm quase
também A (mas sempre
sem preoa contrário:
não form
con A nãoHAJ
a [ não-A
trário: podeI ,
ser não-A).
Por exemplo, o singular, em relação ao plural, é nas nossas línguas não mar
cado, neutro, negativo (“não plural”), por isso se pode dizer iitaliano è cosi [o
italiano é assim], no sentido de “gli italiani sono cosi”, mas nas línguas podem, na
turalmente, existir também oposições com um termo especial para o valor neutro
e outros termos para os valores positivos. Em italiano, uomo [homem], como con
trário de donna [mulher], indica também a parte comum a “uomo” [homem] e
“donna” [mulher] e significa também “ser humano em geral”, enquanto donna s sóó
denota o feminino; em latim, homo significa indistintamente “homem” e “mulher”,
enquanto fem
fe m in
inaa é termo exclusivo, exatamente como vir, “varão”. Em alemão
existem Me
Menscnsch, Mannn e Frau: o primeiro signi
h, Man signific
ficaa homem e mulher indistinta
mente, de maneira que uma mulher poderá dizer de si mesma: ich bin ein Mensch,
mas não ich bin ein Mann, porque Ma Mannnn (que significa também “marido”) é mar-'
cado da mesma maneira que seu oposto Frau (que significa ainda “esposa”).
8.4.5. 0 term
ter m o marcado,
m arcado, ao conservar sempre
sempre seu valo
valor,
r, permite usos
usos estilísticos
tais que de outro modo seriam difíceis de explicar. Com efeito, esse termo adquire
valores estilísticos quando usado em sentido “contraditório”. Por outro lado, os
termos com que se combina devem ser adaptados a seu significado “de língua” e,
neste caso, a expressão inteira passa a ter um particular valor estilístico.
estilístico.
Vejamos algum exemplo. Se em alemão se usa o termo marcado Frau [mu- [mu -
lher] aplicado a um homem (varão), dado que esta palavra mantém seu valor femi
nino, a expressão significa que se atribuem a tal homem características feminis. Se
aplicarmos a uma cidade a palavra gio vanee ( “jo v e m " , que em italiano se aplica às
giovan
não-coisas, isto é, como vimos, a homens, animais e plantas), essa cidade será con
siderada como ser vivo, e mediante a expressão città giovane, ou faremos alusão à
parte
pa rte jovem
jov em da popu
po pula
laçã
çãoo o u ao fa
fato
to de que
qu e tal cidade
cid ade,, dadada
da a sua ativida
ativ idade,
de, se as
semelha, por suas características, a um ser vivo jovem.
Em outras palavras, não se deve supor que o termo marcado não possa ser em
pre gado em com
pregado combin
binaçõ
ações
es que nã
nãoo co
corr
rres
espo
pond
ndem
em ao seu signi
significa
ficado;
do; ao co
cont
ntrá
rári
rio:
o:
precis
pre cisam
ament
entee porq
po rque
ue conserva
cons erva sem
sempre
pre o seu significa
sign ificado,
do, as express
exp ressões
ões com que apapa
a
rece combinado adquirem um valor especial.
funcional.
Também oposições entre duas unidades de conteúdo podem ser neutraliza
das, precisamente nos casos em que não seja necessário especificar uma delas ou
quando aludimos efetivamente apenas ao valor genérico, comum às duas unidades.
Em tais casos se emprega o termo neutro, como vimos acima no caso de gi om o
giom
[dia] aplicado a “giomo” [dia] e “notte” [noite]. Porém é claro que, se desejamos
indicar apenas a notte [noite], certamente não diremos g io m o . Análogo é o caso
gio
do francês dominer / maitriser (aproximadamente “dominar” / “dominar, senho-
rear” : dominer, não marcado, usa-se para coisas ou seres vivos, ao passo que mai-
triser, marcado, só pode ser aplicado a seres vivos, enquanto dotados de intencio-
nalidade;
nalidad e; por conseguinte, em circunstânci
circunstâncias
as em
em que não queremos ou não é neces
sário especificar, podemos usar simplesmente dominer. Assim, pode-se dizer ies
étrangers dominent Ia ville [os estrangeiros dominam a cidade] e les montagnes
dominent la vallée [as montanhas dominam o vale], sem nenhuma necessidade de
especificar, porque, pelos termos étrangers e montagnes, se sabe que se trata de
pessoas no priprime
meiro
iro caso e de coisas no segund
seg undo.
o. Se, en tr
tret
etan
an to
to,, se diz, les mon-
tagnes maitrisent la ville [as montanhas senhoreiam a cidade], está-se dando a mon-
tagnes um valor de seres vivos e se alude a “montanhas dotadas de intencionali-
dade”. Ao contrário, les étrangers maitrisent la ville [os estrangeiros senhoreiam a
cidade] não terá esse valor estilístico, porque maitriser se usa para especificar que
se trata de pessoas (como tais, dotadas de intencionalidade), e não de coisas.
São “neutralizáveis” as oposições que podem ser suprimidas em certos con
textos ou situações. Este é um dos fatos mais característicos da linguagem, e paja
s
As Transformações
9.1. O que de novo a gramáticgramáticaa gerativa trans
transform
form acional
acion al acrescenta às noções
tradicionais do estruturalismo é, sem dúvida, o conceito de transformação, que,
embora em si não seja original, se pode considerar como um dado novo porque o
pró prio
pr io fato
fat o de acen
ac entu
tuar
ar a im po
portâ
rtâ nc
ncia
ia do fenô
fe nô m eno
en o re
repr
pres
esen
enta
ta uma
um a notáv
no tável
el in
ino
o
vação metodológica.
As raízes do conceito são tradicionais e, em certo sentido, até óbvias. Já nos
fins do século passado, Louis Couturat, lógico francês, considerava palavras como
partida, chegada,
chegada, etc. transformações nominais de verbos como partir,
como partir, chegar,
chegar, etc.,
e a gramática comparada das línguas indo-européias (particularmente do celta) se
interessava pelos chamados nomes de ação ou nomes verbais. Na oração Jo oração João
ão parte,
parte ,
podem
po dem os tra trans
nsfo
form
rm ar o ver
verbo
bo em subs
su bsta
tant
ntiv
ivoo e dizer
diz er a partida de João
João (e em
algumas línguas célticas atuais esta é a única construção possível); a relação entre
João
Joã o e pa
parte
rte se mantém em a partida de João,
João, porque Jo
João
ão é o “sujeito” ou, pelo
menos, o agente da ação verbal presente também em parti em partida.
da. A novidade passou de
Couturat a Jespersen que, no livro Fil Filos
osof
ofia
ia da gr
gram
amát
ática
ica11, considerou vocábulos
como beleza
beleza e par
partid
tida
a transformações de um predicado nominal ( Mari Maria a é bela -*-*■a
■a
beleza de Maria) ou
Maria) ou de um predicado verbal ( Joã João
oppar
arte
te -* a par
partid
tida
a d e João
Jo ão ). Sobre
). Sobre
tal princípio insistem, ampliando-lhe o conteúdo, o alemão W. Porzig e o polonês J.
Kuryíowicz, sendo este último particularmente importante porque funda em trans
formações sucess
sucessiva
ivass um
umaa sua teo
teoria
ria da derivação.
1 Vej
eja-
a-se
se 6.
6.5.
5.
AS TRANSFORMAÇÕES 83
9.3.2. O seguinte exemplo é válido para muitas línguas: o genitivo latino Iulia Iuliaee e o
seu correspondente italiano ou português d i Giulia Júlia ) podem ter valor “sub
Giulia {de Júlia)
jetivo
jet ivo”” ou “ objet
ob jetivo
ivo”” . A m o r Iuliae
Iul iae pode implicar Iu
Iutía aliq uem,, “Júlia ama
tía am at aliquem
alguém”
alg uém” , ou aliquis amat luliam, “ alguém ama Júlia Júlia”” . Usando este tipo de genit genitivo
ivo
não se faz qualquer distinção formal, mas os falantes fazem a distinção semântica,
nã
nãoo entendendo
ente ndendo algo
algo que se seja
ja ao mesmo ttempoempo “ sujei
sujeito”
to” e “ obje
objeto”
to” ; Iuli ae ou será
Iuliae
agente ou paciente do amor. O mesmo se há de dizer da expressão italiana Vamore
di Giulia {o amor de Júlia), que pode si signi
gnific
ficar
ar “o amor de Júlia (por Paulo)” ou “o
amor de Paulo (por Júlia)”, mas não uma e outra coisa concomitantemente. Trata-
se, portanto, de um sincretismo sintático (cf. 8.5).
funcionam como sujeito ou como objeto; em outras palavras, porque sabemos que
tais genitivos se acham em relação com outras expressões em que o termo em
questão funciona como sujeito ou como objeto. Essas outras expressões não ambí
guas vão constituir, segundo a gramática transformacional, a chamada estrutura
prof
pr ofun
undada (denominação proveniente da terminologia psicanalítica): assim, o geni
tiv o . objetivo e o subj
subjetivo
etivo implicam duas diferentes “e
“estrut
strutura
urass profundas”
profunda s” e a
interpretação deles depende das relações que caracterizam as “estruturas profundas
respect
res pectiva
ivas”
s” , que se transformam numa idêntica “ estrutura super
superfici
ficial”
al” . No cas
casoo
aqui examinado, a “estrutura superficial” é ambígua e, segundo a gramática trans
formacional, só pode ser esclarecida à luz de duas diferentes “estruturas profun
das”.
84
LIÇÕES DE LINGÜISTICA GERAL
9.4. Conclui
Conclui-se-se daí que os falantes têm consciência de dois tipos de estrutura estru tura
lingüística: a superficial —aquela que efetivamente aparece —e a profunda, que está
apenas implícita e da qual resulta a primeira. As duas estruturas podem ser iguais ou
diferentes. Acabamos
Acabam os de ver um caso de ddivergênc
ivergência
ia entre
ent re as duas “estrutu
“est ruturas”
ras” . Um
exemplo do mesmo fato pode ser o seguinte: em Giovanni portó Giulia Giulia a Londra e
po i alia pazz ia (João levou Julia a Londres e depois à loucura), as construções a
pa zzia
Lond
Lo ra (a Londres) e alia pazzia (à loucura) são materialmente análogas e gramati
ndra
calmente funcionam ambas como adjuntos adverbiais. Porém este modo de coorde
nar se apresenta estranho e insólito, enquanto seriam perfeitamente “normais”
coordenações como Giovanni po rtó Giul Giulia
ia a Londra e popoii a Pa rigii (João levou Júlia
Parig
a Londr
Londres es e depois a Paris)
Paris),, Giovanni portó
po rtó Giulia
Giulia prima al ia pazzia e po i al suicidio
alia
{João levou Júlia primeiro à loucura e depois ao suicídio). A coordenação no nosso
exemplo, não é “normal” (ou tem um particular valor estilístico), porque os fatos
designados pelas duas circunstâncias não são análogos, pois conduzir a Londres é
diferente de conduzir à loucura, e, embora segundo a gramática corrente (e estrutu
ral) essa diferença não subsiste, do ponto de vista do conteúdo pensado ou da
realidade designada (“estrutura profunda”), no primeiro caso se trata de conduzir
lia (“objeto”) a um lugar (Londres), no segundo de transformar Júlia em sujeito
Júlia
Jú
da loucura: se João levou Júlia a ponto de tornar-se louca, o adjunto à loucura tem
uma “estrutura profunda” diversa da de a Londres. Também neste cas casoo a “estrutu
“estrutu
ras superficiais” idênticas correspondem “estruturas profundas” diferentes: num
caso Júlia é objeto de levou, no outro é sujeito de enlouquecer, e o adjunto à
loucura impl implica
ica,, na sua “estrutura profunda” , um umaa oração
oração como: {Por causa de
João
Jo ão ) Júl
Júliaia {em Lo ndre
nd res) ic o u louca, que, unida a uma outra, Jo
s) ffic João
ão levou Júl ia a
levo u Júlia
re s, se transforma com aquela na oração inicial Jo
Lo nd res, João
ão lev
levou
ou Júl
Júlia
ia a Lo
Lond res e
ndres
depois à loucura.
AS TRANSFORMAÇÕES 85
9:4.4. A unida
unidade
de de função
fun ção,, neste ccaso,
aso, não pode ser entendida
entend ida senão
senão como
com o uni
dade de transformação: o chamado “possessivo” não é outra coisa que o adjetivo
correspondente ao “genitivo” de um pronome pessoal (adjetivo que, por sua vez,
pode
po de ser su
subs
bsta
tant
ntiv
ivad o: mio -* il mi
ado: mio),
o), isto é, representa o resultado de urna única
transformação “real” (implícita na língua). Assim é que se diz il libro ddii Giovanni, il
padre
pa dre d i Giovanni,
Giova nni, la ppar
arte
tenz
nzaa d i Giov
Giovann
anni,i, usando sempre a preposição di. Entre
tanto, se em lugar de Giovanni usamos o pronome pessoal io, io, il libro “di io
io”” (como
mais ou menos dizem as crianças que começam a falar) tomar-se-á/7 mió libro ou il
libro mio.e il padre “di io ” passará a il mió padre ou il padre mió, la partenza “di
io ” se transformará em la mia pa parten
rtenza,
za, assim como di Roma pode ser transformado
em romano. Analogamente com tu, lui, lei, noi, voi, loro: il libro di lui (que pode
também não transformar se) passará a il libro suo ou il suo libro e, em certos casos
de ambigüidade, il libro suo di lui, il libro suo di lei, especialmente usado nas
respostas a perguntas do tipo de “Di chi è il libro?” [D [Dee que
quemm é o llivrol]
ivrol] “È suo ddii
hiC' (em português E seu dele
de le).
). Isto, como se sabe, não ocorre em inglês e alemão,
onde dois diferentes adjetivos possessivos distinguem uma terceira pessoa masculina
(inglês his book, alemão sein B u ch)ch ) da correspondente feminina (inglês her book,
alemão ihr Buch2).
Bu ch2).
9.5.1. Por
“reais”) ou
outro
devem tro lado,
ter seu com
lugar o já gramática
numa ssee aludiu,completa
as
as “ transform
transformações”
de umaações”
língua (ainda as
as não
como relações
entre os paradigmas, relações que os falantes conhecem e podem “atualizar” (utili
zar) no seu falar.
Com efe ito, nnoo que to ca à gramática ,de sua língua, o falante conhece três
ordens de fatos: a) sabe qu quee funciona, isto é, sabe como é feita a expressão material
da língua: conhece-lhe a “ morfología”
morfo logía” ou a “ consconstituição”
tituição” ; b) conhece
conhece (intuitiva
(intu itiva
mente) o p
por
orqu
quêê das diversas construções, vale dizer, as suas funções; c) conhece as
3 Cabe
Cabe lembra
lembrar, ue ihr Buch significa
r, entretanto, qque significa também "il loro libro
libro"" (o livro deles).
deles).
AS TRANSFORMAÇÕES 87
intuitivamente,
modo que tais aspec as construções
tos não são einteiramente
aspectos as funções descritos
(o qu
quêê e o po rq uê ) da sua língua, de
e examinados. E nas gra gramáti
máti
cas de línguas estrangeiras se insiste sobretudo no que e no po porq uê “ diferenciai
rquê diferenciais” s” , o
que significa que esses aspectos vêm de preferência considerados na medida em que
não correspondem à língua materna do aluno. Por exemplo, uma gramática tradi
cional escrita para italianos que deseje aprender o inglês dirá que o artigo italiano il il,,
lo, la, i, gli corresponde ao inglês the th e e tratará, de modo particular, como se fossem
exceções ou “desvios” aqueles usos de the th e que não concordam com o uso do artigo
em italiano.
Quanto
Qua nto aos aaspectos
spectos “ rela
relacionais
cionais”” , estes, na gra gramática
mática de língua m aterna, só
esporadicamente vêm tratados, e, na maioria dos casos, só como expedientes da
descrição funcional (cf. 9.2). E nas gramáticas de línguas estrangeiras eles são consi
derados principalmente do ponto de vista prático; assim, ensina-se numa gramática
latinaa de que m odo se exprimem , nessa
latin nessa língua, o instrum ento ento,, o fim, a “ matéria” ,
etc., ou então, segundo que regras se passa do discurso direto ao indireto (por
exemplo,
exem plo, que tod
todas
as as orações declarativas, iinclus nclusive
ive as interrogativas
interrogativ as “ retórica
retóricas”
s” , se
constroem, no discurso indireto, com o infinitivo, enquanto as orações subordina
das e as independentes não declarativas se constroem com o subjuntivo).
As gramáticas
gramáticas estrutu rais do tip o “ bloom bloomfieldiano”
fieldiano” (cf. *6.3
*6.3.1.1.)
.) ssee concentram
parti
pa rticu
cular
larm
m ente
en te na “ cons
co nsti
titu
tuiç
ição
ão”” m ate
ateria
rial,l, isto é, na descriç
des crição
ão “ m orf orfoló
ológic
gica”
a” ,
enquanto tratam de maneira muito sucinta das funções e, em geral, deixam de lado
as “relações” (ou, pelo menos, não as distinguem das funções propriamente ditas).
A gramática inspirada nos principios da Escola de Praga também ignora, por seu
turno,, as “ rela
turno relações”
ções” , embora considere com igual
igual interesse
interesse os aaspectos
spectos “ constituc
con stitucio
io
nais” e funcionais das línguas: isto pelo menos nas intenções, porque até hoje
nenhuma gramática completa foi escrita conforme os princípios dessa escola e, em
geral, o estruturalismo de tipo plagúense se dedicou muito pouco a certos níveis da
gramática (em particular, à sintaxe das orações e do período).
Por sua vez, a glossemática se dedica com particular interesse à identificação e
descrição das funções, ocupando-se pouco da parte físico-material da gramática e
desatende as “relações”.
A gramática transformacional, finalmente, se ocupa da “constituição” e das
“relações” e, como no âmbito da expressão, também na gramática ignora —e até
deliberadamente —a parte central e determinante da língua: as funções (no sentido
de que não faz delas objeto nem de descrição nem de indagação). É sintomática, a
este respeito, a posição que assumem os transformacionalistas em relação aos fone
mas:: o fato da gramática transformacion
mas transformacional
al ignorar (e poder,
pod er, efetivamente,.para seus
seus
fins ignorar) as unidades funcionais interpreta-se como inexistência das unidades
mesmas. No caso dos conteúdos gramaticais não se chega a este ponto, mas, como
na gramática transformacional o próprio sentido da comutação (cf. 7.6) ainda não
foi compreendido corretamente, supõe-se que a lingüística não disporia de nenhum
“procedimento de descoberta” das unidades funcionais.
Assim, atualmente, tem-se a seguinte “distribuição” dos centros de interesse:
Escola de Praga
Glossemática
* *
gramática g r a m á ti c a g r a m á tic a
“constitucional” funcional “relacionai”
4 1
t t ♦
Bloomfieldianismo ♦ 1
__ __
I___________
_________ ____
I ____
____
__
gramática tradicional
gramática transformacional
AS TRANSFORMAÇÕES 89
a) cons
construçõ
truções
es diferente
diferentess para funções análo
análogas:
gas: é o caso acima cita
citado
do do artigo,
variável em italiano e uniforme em inglés;
b) dive
diversida
rsidadede de funçõe
fun çõess para
par a co
cons
nstr
truç
uçõe
õess análogas
anál ogas ou difer
dif eren
entes
tes:: é o caso do
pret
pr etér
érit
itoo inglês, opos
op osto
to ao imimpe
perf
rfei
eito
to c pr
pret
et.. pe
perf
rf.. [it. passat
pas satoo rem
re m ot
oto]
o] no
italiano e do uso do condicional perifrástico com sh shou ld +
ould + infinitivo, diferen
te do condicional italiano, quer pela forma, quer pelo conteúdo;
c) diversidade nas nas relaçõ
relações,
es, isto é, nnas
as passagens possíveis de um paradigma paradi gma a
outro; desejando traduzir ao inglês o italiano il mio amico e una lua amica.
onde os elementos são individualmente opostos (il/una, mio/ tua. tua. amico/
amica) e apresentam
aprese ntam uma estru
estrutura
tura paralela, devemos
devemos renunciar ao paral paralelis
elismo
mo
e à homogeneidade estrutural c dizer m y friend and a gir girl-
l-fr
frie
iend
nd o f you
your.
r.
9.6.2. Assim,
Assim, também
tam bém , em latim três difer diferentes
entes funçõe
funçõess distinguem as as três formas
R om a e, R om am e R
Rom Roo m ã . como complementos circunstanciais de lugar; outro tanto
ocorre em espanhol (e em português), onde existem, respectivamente, en (em ) Roma, Roma,
a Roma, de Roma, embora o que o latim indica através de desinências, o espanhol
(e o português) o exprimam através de preposições: entre o latim e o espanhol (ou o
portug
por tuguês
uês)) há dif
difer
eren
ença
ça de “ cocons
nsti
titu
tuiç
ição
ão”” , mas não há (pr
( prat
atic
icam
am en
ente
te)) dif
difere
erenç
nçaa de
funções. Se, ao contrário, traduzirmos para o italiano ou francês, observaremos uma
diferença não só de “constituição” (pelo uso das preposições em vez de desinên
cias), mas ainda de funções: embora in Roma e en Rome não estejam totalmente
fora de uso, pelo menos em certos contextos, a expressão normal correspondente ao
locativo Ro m ae é a Ro Roma
ma,, à R
Roo m e , que coincide com a de movimento a um lugar
(Romam —a Roma, à Rome) e só se distingue daquela que denota movimento de
proc
pr ocedê
edênci
nciaa ( Rom
R om a = da Roma, de Rome). Entre o espanhol (ou o português) de
um lado e o italiano e o francês do outro, não há (quase) diferença de “consti
tuição” , mas há diferença de função: e o espanhol e o português
portuguê s com
compartilharão
partilharão,, por
por
sua vez, da diferença de “constituição” (mas não de função), em relação ao latim,
com o inglês e o alemão (que usam, respectivamente, nos três casos at e in. to e
nac/i, from e von).
Se considerarmos,
considerarm os, outrossim, as “ transform ações” , isto isto é, as “ relaçõ
relações”
es” ,
observaremos que também estas são diferentes. Com efeito, diz-se em espanhol en
9.7.1. As “ transformações”
transformações” ((tan
tan to as “ re
reai
ais”
s” q uanto
uan to as que, no fundo,
fund o, não são
são mais
que conexões entre paradigmas) são particularmente importantes, quer no ámbito
da descrição de uma mesma língua, quer no da comparação entre línguas diferentes,
quando são específicas de certas línguas ou quando constituem procedimentos
formativos, possibilidades abertas —e eventualmente ilimitadas —de produção (ou
criação)
criação) lingüística.
ling üística.
»
9.7.3. Como exemplos do segundo caso podem os apontar, apo ntar, mormente
morm ente no campo da da
“conversão” entre categorias verbais (partes do discurso) e da formação de palavras,
onde mais claramente — e de manei maneirara mais
mais imediata e ge gera
rall — se paten
patenteia
teia a
criatividade lingüística
ling üística “ aberta” . Ass
Assim,
im, perante
peran te o francês, o alemão é caracteri
zado, entre outras coisas, por uma possibilidade de transformações em série e por
uma criatividade atual que o francês não conhece: enquanto em alemão todo verbo
podee ser subs
pod su bstan
tantiv
tivad
adoo (gehen “ir” , das Gehen “ o ir
ir”” , “ a ida”)
ida”),, isto não ssee dá em
francês, e os poucos casos que nessa língua se nos deparam, não constituem casos
“ abertos” le
manger, pordeexemplo,
pro
produtividade
dutividade atual, ma
não significa mas
s tão de
a ação somente
comer,casos
casos ojá que
mas fixados lexicalmente:
se come (a comida).
Apenas em textos filosóficos o infinitivo substantivado é bastante usual em francês
(provavelmente por influxo alemão).
alemão).
Entre as línguas románicas, o espanhol, o português e o romeno conhecem
essa mesma possibilidade aberta do alemão (e em romeno o chamado infinitivo
“longo” é quase sempre um substantivo). Em italiano, o infinitivo substantivado é
muito mai
maiss freqüente do que em francês,
francês, mas menos do que em espanhol e romeno;
entretanto, a possibilidade “aberta” é virtualmente a mesma (com efeito, o uso
deste infinitivo, com preposições, é, pode-se dizer, ilimitado: cf. dal dire al fare,
va cominciato co l dire etc.).
aveva
ave
10.1.1. A linguagem
linguagem é um a atividade hum ana universal que se realiza individual
individual
mente, mas sempre segundo técnicas historicamente
mente, historicamente determinadas
determinadas (“ lín
línguas”).
guas”). Com
efeito, todos os seres humanos adultos e normais falam e, em certo sentido, falam
sempre (o oposto de falar é o calar que, a rigor, só pode ser concebido com
referência ao próprio falar: como um “não falar ainda” qu um “ter cessado” de
falar”). Por outro lado, todo falante fala individualmente (mesmo no diálogo): a
linguagem
linguagem não é nunnunca
ca atividade “ coral” . Por fim, a linguagem se apre apresenta
senta sempre
como historicamente determinada, como “língua” (italiano, português, francês,
alemão, etc.); não há fa
há fala r que
lar que não seja fa
seja fala
larr um
u m a língua.
10.1.2.
10.1.2. Dentro da lingua
linguagem
gem se podem distinguir por tan to três níve
níveis:
is: um univer-
sal, outro histórico
sal, histórico e outro individual,
individual, que de resto se distinguem mais ou menos
claramente também do ponto de vista prático. Por exemplo, quando dizemos que
uma criança ainda não fala, não queremos dizer com isso que ela ainda não fala
italiano ou outra língua, mas que não realiza ainda a faculdade geral de falar;
referimo-nos ao nível universal. Assim também estamos diante do nível universal
quando ouvimos falar num aposento vizinho, mas que não entendemos nem o que
se diz nem quem fal fala.
a. Nesse
Nesse nível captam os certos aspectos “ sintomático s” da
linguagem, porém, não compreendendo os significados lingüísticos como tais, pode
mos incorrer em interpretações errôneas. Assim, não conhecendo a língua nem o
caráter de quem fala, podemos vir a confundir um modo de falar barulhento, mas
na realidade afetuoso, com uma rixa. Pode ainda acontecer que ao ouvir uma língua
estrangeira se tenha a impressão, no nível universal, de um falar irritado, quando se
trata apenas de uma característica prosódica dessa língua (é o que acontece com
freqüência aos italianos ao ouvir falar alemão).
Se, por outro lado, percebemos que se está falando numa língua x, identifica
mos o nível histórico da linguagem, vale dizer, o falar, segundo uma técnica deter
minada. E se, finalmente, dizemos E Pedro qu quem
em fala, identificamos também o
nível individual da linguagem.
línguas románicas,
crianças. Entretanto,significa “acariciar,
não o usa amimar”
aquele que, e se usaalguma
conhecendo especialmente aplicado
das outras línguasa
románicas, percebe nele uma aproximação que o faz ser sentido como vulgar: a
interferência, portanto, pode ser, como neste caso, “negativa”.
rada como evepyeta, como bwapn<: ou como epyov, como fato de criação (atividade
criadora ou, pelo menos, como atividade), como fato de técnica
técnica (“ potencialidade”
potencialidade” ,
saber) ou como pr
p r o d u to , e, isto, a cada um dos trés níveis que distinguimos. O
resultado da combinação desses dois critérios (níveis e pontos de vista) é uma
distinção de nove seções na estrutura geral da linguagem.
ponn tos
po to s de évépyeux búvctptx epyov
, .. vista atividade saber
níveis p
pro
rodd u to
totalidade do
nível universal
universal f a l a r e m g er al sa b e r e l o c u c i o n a l
“falado”
si
sign
gnos”
os” , ffá-l
á-loo considerando-a como atividade, como fala falar.
r. Quem
Quem,, por outro lado,
lad o,
define a linlinguag
guagem
em com
comoo “ faculdade de falar (ou exprimir-se)”
exprimir-se)” , já a considera
considera como
sa
saber
ber oouu “ potencial
potencialidade”
idade” . E uma defini
definição
ção como aquela
aquela que, em certo conte
c onte xto,
dá Ludwig
Ludwig Wittgenstein — “ a linguagem
linguagem é a totalida
tota lidade
de das orações” — refere-s
refere-se,
e,
evidentemente, a ela como “ prod produto”
uto” . Tal div
divers
ersida
idade
de de enfoques, conqua
conquanto
nto num
outro sentido, ocorre tapibém com a h'ngua, no nivel histórico da linguagem. Os
antigos concebiam a língua como determinação concreta do falar; com efeito, refe
rindo-se às línguas, usavam verbos especiais (como, p. ex., em grego, òttu uÇeiv u Çeiv
“falar ático”) ou advérbios, isto é, justamente, determinações de uma atividade (p.
ex., em latim: latine loqui, graece loqui, vale dizer, “falar latinamente, “falar grega-
men
mente”).
que te”). 0 falante
falan
se realiza emte atos
moderno,
mod lingüísticos
erno, ao contrário, cconcebe
oncebe
(as línguas “se eem-g
m-gera
erall ea “se
sabem” lí
língua
ngua como saber
falam”). sabe
E osr
lingüistas e gramáticos consideram com freqüência a língua, não só como língua
“ab strata
strata”” , elaborada com o “ pro
produ
duto”
to” (assim, F
F.. de Saussure
Saussure diz que daquilo que
que é
efetivamente a langue se pode dar uma idéia através de uma gramática e de um
dicionário).
10.3.1. Também a pesq
pesquisa
uisa lingüística,
lingüística, como descr
descrição
ição e como
com o história, interes
sa-se sobretudo com o aspecto técnico da linguagem, isto é, com o saber lingüístico,
o que é, sem dúvida, perfeitamente compreensível, pois que o aspecto técnico é o
que apresenta maior uniformidade e, destarte, pode mais facilmente tornar-se
objeto de ciência. Não obstante, toda filosofia da linguagem digna deste nome e
ainda uma lingüística que tenha consciência de sua tarefa deveriam insistir, de modo
parti
pa rticu
cula
lar,
r, na criati
cri ativid
vidade
ade lin
lingü
güís
ístic
ticaa (que
(q ue,, aliás, im
impre
pregna
gna també
tam bém
m as técnic
téc nicas
as do
falar, que são essencialmente técnicas abertas). E, no que diz respeito à técnica, pelo
menos deveriam estudar-lhe de modo adequado os três níveis.
10.4.1. A lingüís tica d o falar deveria estudar, em primeiro lugar, a técnica univer
lingüística
sal do falar como tal1. Com efeito, se é verdade que falamos sempre conforme uma
1 Cf.
Cf. E. Co
Cose
seriu
riu,, Determ
Determinación
inación y entorno.
entor no. Dos problemas de una lingüística de
dell ha
hablar;
blar;
“Romanistisches Jahrbuch”, V, 1955-56, p. 29-54 (e agora também in Teoría del lenguaje y
lingüística general, Madrid 1972 3.a edición, p. 282-323). Há tradução do livro para português a
cargo da Editora Presença, Rio de Janeiro, 1979.
fazer o de
medida levantamento dos Mas
sua utilização. gestos
comquefreqüência
se usam senuma
tratacomunidade e estabelecer
de fatos efetivamente “unia
versai
versais”
s” . E, como
com o qu
quer
er que seja, a possibilidad
possibilidadee de utilização de tais fatos
fato s no falar é
uma possibilidade
possibilidade “universal”
“universal” .
10.4.2. Assim
Assim também os con
contex
textos
tos ex
extralingü
tralingüísticos
ísticos a que se faz alusão
alusão (implí
(im plí
cita) no falar podem ser de validade ampla ou limitada, mas a sua utilização e o
saberr utilizá-los pertencem à técnica
sabe técnica uuniver
niversal
sal da linguage
linguagem.
m. Certos context
con textos
os va
lem (virtualmente, pelo menos) para toda a humanidade: assim o contexto geral da
experiênci
exper iênciaa do mundo
mund o e de sua “ normalidade” . Todos dize dizemos,
mos, por exemplo,
Saímos de casa (e expressões equivalentes em outras línguas), pressupondo que se
po
pode
de
perceb
per sair,
cebem osque
emos “fooara”
“f ra ”p oum
rta
rt a baru
nãorulh
ba está
esotáe tran
lho trpens
peanca
cada
nsamda,
amos, :que
os: A
Alg uco
lgucont
émntin
inua
ua haven
passa hav
n
na endo
do pressupondo
a rua, um “ fo
fora
ra”” . que
Ou
a rua continua existindo e que o mundo não sofreu, entretanto, mudança radical.
Todos dizemos o sol brilha no céu, sem que tenh tenhamamosos necessidade de aclarar a que
sol e a que céu fazemos alusão, porque em nosso contexto “natural” conhecemos
um único sol e um único céu: não é que se trate de nomes próprios, mas sim de
nomes comuns individualizados mediante o contexto “natural”. Analogamente,
num contexto muito mais limitado, o rio poderá designar sem ambigüidade o rio
que passa pela nossa
nossa cidade, por exemplo.
O mesmo poderá dizer-se, mutatis mutandis, dos contextos culturais. Em
diversas comunidades do mundo se sabe que neste momento e já há bastante tempo
há um só papa: por isso o papa, sem ser ser nome pprópróprio,
rio, é uma expressão individuali
zada graças a um contexto (praticamente) universal, tal como o dou tor, o farmacêu-
tico podem sê-lo em contextos bem mais limitados, por exemplo numa povoação
onde haja um único médico e um só farmacêutico.
1 Veja-se
Veja-se 4.4
4.4.4.
.4.1.
1.
10.5.3. Tomemos,
Tomem os, para exem
exemplo,
plo, as chamadas expressões idiomáticas, isto é, as as
expressões semánticamente “inanalisáveis” (vale dizer, cujo valor global não corres-
po ndee à som
pond somaa dos
do s valor
valoreses de líng
lí nguaua dos seus elemel emen ento
tos)
s) e que,
qu e, por
po r conseq
con seqüêüênc
ncia,
ia, se
traduzem por inteiro, como se fossem textos ou fragmentos de textos. Pois bem,
também o italiano M i dispia ce (port. Tenho pena), usado como “texto” autônomo
dispiace
e tomado em sentido absoluto, deve ser traduzido desta maneira e corresponde, por
exemplo, em alemão, a Es t u t m ir leid, e a I am sorry, sorr y, em inglês. Entretanto, está
claro que Mi dispiace
disp iace não é em italiano uma expressão que não admite análise,
como, por exemplo, in quattro e qua ttr ’o tto tt o (port. num abrir abrir e fech ar d ’olhos) ou
tagliare la corda (port. " safar -se”, “ir-se embora”), que não valem pelo que signi-
safar-se
ficam literalmente, mas sim como um todo e só podem ser traduzidas por expres-
sões globais de valor análogo (assim, por exemplo, a tagliare la corda —ou a levare
le tende — pode corresponder em espanhol espanhol tomar las de Villadiego, que ao pé da
letra significa em italiano “prendere quelle di Villadiego”): M dispia ce só se torna
Mii dispiace
expressão idiomática no momento da sua tradução porque não é passível de análise
do ponto de vista de outras línguas, como o alemão e o inglês. Ao contrário, do
pon
p onto
to de vista do própr ó prio
pr io italia
ita liano
no,, a exp
expres
ressão
são re repr
pres
esenenta
ta tã
tãoo so
somm en
ente
te um uso do
verbo dispiacere, de modo que, se a tradução fosse feita no nível da língua, te-
ríamos como correspondências o alemão Es m is isfa lltt m ir c o inglês I dislike
fall disl ike it ,
porq
po rqua
uant
ntoo nest
ne stee nível
nív el (e em o u tro tr o s text
te xtos
os)) o italia
ita liano
no dispiacere vale, com efeito, o
mesmo que o alemão misfallen e o inglês to dislike (este último dito da pessoa a
quem alguma coisa desagrada).
narra mais ou menos essa situação, deveremos juntar um danke schõn se aversão é
do italiano ao alemão; se ocorrer o inverso, omitiremos a expressão de agradeci
mento.
I
10.6.1. De resto,
resto , a distinção
distin ção entre
en tre os três níveis da linguagem acima delimitado
delim itadoss —
o do falar em geral,
geral, o da líng
língua
ua e o do te text
xtoo — deve ser feita
feita também
també m para as
disciplinas lingüísticas parciais (incluída também a gramática), uma ve¿ que as
tarefas dessas disciplinas são diferentes consoante o nível a que se referem. Destarte,
a gramática concernente
concern ente aos nossos
nossos três níveis será, res
respectivamente:
pectivamente: gram ática geral
gramática
(não “gramática universal” —de todas as línguas —, coisa impossível e absurda, mas
sim teoria-gramatical: gramática cujo propósito consiste em definir as categorias
verbais
verba is — “ partes do discurso
discurso”” —, e as categorias, aass funções e os pro
proced
cedim
imento
entoss
gramaticais), gra
gramát
mática
ica descrit iva (dessa ou daquela língua em particular) e análise
des critiva
grama
gra matica l (de deter
tical determinado
minado tex to).
devemos
existe nessa língua:descrever
também a um
uma a língua
— não determinada
definir! — “orefere-se,
adjetivo em
comiingl
nglés”
és” , sea ogramática
efeito, adjetivo
descritiva, cujo objetivo, entre outras coisas é “descrever” as categorias verbais
própri
pró prias
as dess
dessaa língu
lín gua,
a, vale diz
dizer,
er, iden
id entif
tifica
icarr essas cat
catego
egorias
rias e es
estab
tabele
elecer
cer os eesq
sque
ue
mas materiais da sua expressão (operações, de resto, interdependentes). Enfim, em
relação ao texto, a tarefa da gramática é a análise gramatical, isto é, a identificação
das funções
funções gramaticais
gramaticais efetivamente express
expressas as num tex
texto.
to. Com efeito, muitas ve veze
zess
as funções gramaticais só podem ser identificadas no nível do texto, ou, então,
apresentam aspectos e matizes justificáveis só em razão de determinado texto.
Ocorre isto, em parte, por ser possível uma coincidência parcial entre esquemas
materiais dc diferentes categorias (p. exemplo, substantivo e adjetivo em: o sábio
fran cé s),, em
fr an cés) parte porque certas determinações gramaticais podem estar dadas im
plic
pl icita
itamm en
ente
te,, graças
graç as aos “ c on text
te xtoo s” (cf.
(c f. 10.4
10 .4,2
,2.).
.).
10.7.1. A' designação é a referência à “ realidade” , isto é, a relação cada vez det
deter
er
minada
min ada eentre
ntre uma expressão lingüística e um “ estad
estadoo de coisas
coisas”” , en
entre
tre signo
signo e
“coisa” designada. A designação pode corresponder a um significado de língua (que
representa sua possibilidade), mas pode também não corresponder a ele e ser “meta
fórica . Assim,
Assim, ao ao ver um pr preto
eto na rua, pode-s
pode-see dizer de brincadeira Guarda un
p o ’quel
qu el bi
bion
ondi no (port. Veja o lourinhó), e neste caso biondino está aqui como
dino
desig
des igna
nação
ção ddee um “ preto”
preto ” , embora no italiano não si
signi
gnifiq
fique
ue “ preto ” .
ressaltando
um texto de esta
certaoumaneira
aquela “literário”
particularidade, ou, em outras palavras, oferecendo-nos
O plano do sentido é, portanto, importantíssimo e deveria ser estudado pelos
lingüistas muito mais do que o fazem atualmente. Infelizmente, de uma lingüística
do sentido só se vêem por enquanto delineadas as intenções.
A Língua Funcional
11.0.1. Passemos
Passemos agora a exam inar mais
mais de perto
pe rto o objeto tradicional
tradic ional da lingüís
tica, isto é, o plano histórico da linguagem. Este plano pode ser identificado, como
vimos, com o plano das línguas, das tradições técnicas, historicamente determina
das, da linguagem de certas comunidades. Constitui aspecto fundamental da lingua
gem o manifestar-se
manifestar-se ela sempre como língua: co conq
nqua
uanto
nto criação, isto é, produ
produção
ção
contín ua de ele
elementos
mentos novo
novos,
s, e,
e, po rtanto , nes
neste
te sentido, “ liber
liberdade”
dade” , por outro
lado, a lingua
linguage
gem
m é, ao mesmo tempo, “historicidade”
“h istoricidade” , técnica histórica e tradição,
vínculo com outros falantes presentes e passados. Em suma, solidariedade com a
história atual e com a história anterior da comunidade dos falantes. Este fato tão
característico da linguagem foi com muita nitidez enunciado porGiovanni Gentile,
no breve capítulo dedicado à linguagem do seu Sumário de pedagogia,
pedagogia, onde, depois
de haver falado da liberdade da linguagem
linguagem como criação, acrescenta: “ En tão que r
dizer que em vez de escrivaninha (tavolino) posso dizer caneta {penna)\ Abstrata
mente, sim, mas
mas concretamen te não; porque
porqu e eu que
que ffalo
alo tenho
tenh o uma história por
po r
trás de mim, ou me lhor dizen
dizendo,
do, d entro de mim e sou eu mesmo esta história: por
isso é que digo e devo só dizer escrivaninha , e não outra coisa”.1
Não se tra
tr a ta p o rtan
rt an to de uma
um a lim itaçã
ita ção
o da libe
liberdad
rdadee (com
(c om o vez p or o u tr
traa se
pen sa), mas da di
pensa), dime
mensã
nsão o histó
his tóric
ricaa da linguagem,
lingua gem, que coinci
coi ncide
de co
com
m a pró
p rópr
pria
ia hi
histsto
o
ricidade do homem. Aliás, a liberdade humana não é arbítrio individual, é liberdade
histórica e, como quer que seja, seja, a língua não ssee “impõe” ao indivíduo (embora is isso
so
frequentem ente ssee costume dizer):dizer): o indivíduo dispõe dela para manifestar sua li-
1 G. G Gen
enti
tile
le,, Sommario di pedagog
pedagogia
ia,, I, Sansoni, Firenze, 5.a ed., 1954, p. 65. Veja-se
E. Coseriu, Der Mensch undun d sein Sprache, in “Ursprung und Wesen des Menschen” (Tübingen,
seinee Sprache, in
1968), agora em trad. esp. em E. Coseriu, El hombre lenguaje, Madrid, Gredos, 1977,
hombr e y su lenguaje,
p.
p. 32.
32.
be rdade
berda de de expres
exp ressão
são.. E es
esta
ta lib
liber
erda
dade
de é quase ilim
ili m ita
itada
da no pl
plan
anoo do te x to , onde
on de
os sentidos, embora não os significados, podem ser e realmente são sempre novos.
’ Charles Ba
Bally,
lly, em “Le
“ Le Français Modeme
Mo deme”” , • jl. VIII, 1940, p.
p. 19
195.
5.
11.1.3. É certo
ce rto porém que o conh
conhecim
ecim ento das coisas
coisas e as idéias
idéias e opiniões acerca
dessas mesmas coisas justificam provérbios, locuções, modos de dizer e assim por
diante. Ora, não se pode pôr em dúvida a eficácia da expressão p pôô r o carro dian te
di ante
dos bois, com uma metáfora que põe logo em relevo um contexto claramente para
doxal: o car carro
ro dev
devee esta
estarr puxa
puxadodo pelos bboisois e iss
issoo só pode ocorre
oc orrerr se estiver atrás
desses
des ses mesmos bois: se antes, impediria imp ediria sua marcha
marcha,, ou, fora da me metáfor
táfora,
a, impe
diria o regular desenvolvimento de certo processo. Ao contrário, se disséssemos,
porr exem
po ex emplo
plo,, p
pôr
ôr o ffii m ant
antes
es do pr
prininci
cipi o ou p o r o carro ant
pio antes d a casa, a expressão
es da
ou seria pouco eficaz ou seria pobre de sentido. Entretanto, é evidente que a expres
são p
pôô r o carro dian boi s (it. me
di an te d os bois metiere
tiere il ccar ro innanzi ai bu oi ), como a sua cor
arro
respondente francesa m ettr e la cha rruee devant les boe ufs, deve sua força às “coisas”
charru
5 A ex
exem
empl
plif
ific
icaç
ação
ão do Autor re
restr
strin
inge
ge-s
-see aaoo sul
sul do Br
Brasil, com
comoo decl
declar
ara.
a. N
Naa ma
maio
iorr parte
parte
do país, o português coincide com a idéia que os falantes de espanhol têm do cavalo. (E.B.)
104
10 4 LIÇÕES DE LINGÜISTICA GERAL
11.1.4. Também
Tam bém as linguagens
linguagens técnicas —on
—onde de osos significados
significados coincidem com as as
designações (no sentido de que são objetivamente motivados) —pertencem à tradi
ção que se refere ao conhecime
conhec imento
nto das ““cois
coisas”
as” , e isto nã
nãoo vale
vale apenas para as lin
guagens
guag ens das ciências e das técnicas ccon
onstitu
stituída
ídass ccom
omoo tais,
ta is, senão, também
tam bém para
par a o
léxico da ci
ciência
ência e técnica populares: para tudo
tud o o que, numa tradição lingüística,
é “nomenclatura” (nomes de utensílios e suas partes, nomes de plantas ou de ani
mais no nível das espécies, etc.). Essas nomenclaturas extrapolam o saber lingüís
tico comocientífico
de saber tal, pois ou
implicam
técnico,umainda
saberque
relativo às próprias
popular. De fato, coisas, ou seja, um tipo
tais nomenclaturas não
são suficientemente familiares a todos os falantes de uma comunidade lingüística,
mas tão somente a certos grupos (nem sempre os mesmos), e, por outro lado, é
pe rfei
perf eita
tam
m en
ente
te possível
poss ível co
conh
nhec
ecer
er bem umaum a língua
lín gua e de
desco
sconhe
nhece
cer,
r, p o r ex
exem
empl
plo,
o, as
denominações de flores ou de peixes. Na maioria das vezes o falante comum se
limita a usar p nome genérico (essa flor por essa dália, esse peixe por esse cheme )
ou então se contenta com saber vagamente que se trata de flores ou de peixes, dei
xando aos entendidos e aos estudiosos de botânica ou de zoologia popular o conhe
cimento mais exato das “coisas” e respectivos nomes. Ao atribuir o significado le
xical às ciências das coisas45
coisas4,5 L. Bloomfield tinha, pois, razão no que diz respeito à
linguagem técnica, mas, ao mesmo tempo, se equivocava atribuindo às ciências das
coisas todo significado lexical, isto é, considerando, em suma, todo significado
como “téc“técnico”
nico” : a definição dos
dos “sign
“ signific
ificados”
ados” dos 300.000 e tantostanto s termos da
química pertencem, sem dúvida, à química, mas não existe nenhuma ciência a que
se possa pedir a definição de significados como, por exemplo, “andar”, “trazer”,
“pedir”
“pe dir” , “q
“querer”
uerer” , que são
são conteúdos
conte údos da língua portuguesa e de mais nenhum outro out ro
saber.
4 Veja-se
Veja- se 5.
5 Esta ddisti
istinção
nção já foi
foi prenunci
prenunciada
ada anterio
anteriormente
rmente em 1.5
1.5.3.
.3.
A LINGUA f u n c i o n a l 105
11.2.3.
11.2.3. Po r motivos análogo
análogos,
s, essa
essa mesma distinção tem importância particular
também para a gramática. Por exemplo, é erro assaz freqüente nas gramáticas esco
lares asseverar que todas as classes de palavras podem funcionar como sujeito, até
mesmo um adjetivo, porque se pode dizer "verde” é um atributo, ou atributo, ou um advérbio,
pois Dante
Da nte já disse o sim e o não briga
brigamm dentro de m im (i (ill si e i no nel cap
capo
o mi ten-
dona, Inf. VIII, 111). Ora, na realidade só uma classe de palavra pode ser sujeito:
dona,
o substantivo (como nome ou pronome). Entretanto, todas as palavras do “léxico”
próp
pr óprio
rio da metali
me talingu
nguage
agem
m são, ju st
stam
am e nte,
nt e, sub
substa
stanti
ntivo
vos:
s: o nome
no me de um a leletra,
tra, de
uma palavra (que pode ser adjetivo, verbo, advérbio, etc.), de uma categoria —tudo
é substantivo enquanto nomenome de alguma coisa. E mais ainda: na metalin metalinguage
guagemm até
orações inteiras e fragmentos de palavras passam a “nomes” e “substantivos” (p.
ex., "Dizeme" é um imperativo, "di” è a primeira silaba de “d i z e m e e m “D “Di
11.2.4. Do utra pa
11.2.4. parte,
rte, se o léxico me
metalingü
talingüístico,
ístico, por sser
er virtual e ilimitado,
ilimita do, não
é estruturável (de fato, na metalinguagem as “palavras” criam-se à vontade, no mo
mento mesmo da sua utilização), o uso da metalinguagem pode também manifestar
uma técnica própria numa determinada trad ição lingüísti
lingüística;
ca; ou seja.
seja. pode haver
uma gram
gramática
ática da metalinguagem (gramática, na realidade, muito pouco estudada,
mas que mereceria sê-lo com mais atenção). Em italiano, por exemplo, valem para
este caso certas regras relativas ao uso do artigo; diz-se “fiu fi u m e ” (rio) é um
u m substan-
tivo masculino, “are" é uma desinência de infinitivo, “piü ” (mais) e “m en o" (me- (me -
nos) form am comparati
comparativos vos (ao lado de " l ’a (o, (o , a) do nominativo singulaf’, " ia (o a)
longo do tem a” , etc.], dissessee il fium e (o rio)
etc .], e ssee ssee dissess rio) n
nãoão mais
mais estaríamos no âmbito
da metalinguagem, e sim da linguagem primária. Em grego grego antigo, os nomes metalin-
güísticoss são todos neutro
güístico neu tros; assim é que, ssee ò injroÇ significa
s; assim significa “o cavalo” , como
com o ani
mal, tò inirÇ significa “a palavra t m rof” . Do mesmo modo, se ore sig signif
nifica
ica “quan
“qua n
do”, rò ôre passa a significar (além de “o quando”, substantivado) “a palavra Ôre”.
O único sinal desta utilização no âmbito metalingüístico é portanto o artigo neutro,
com patente
patentess sincretismos
sincretismos quandoqua ndo a ppalav
alavra
ra de que sese trata
trat a já é de per si um neutro.
7 Sobr
Sobree os vá
vári
rioos pr
prob
oble
lema
mass qu
quee a ddis
isti
tinç
nção
ão su
susc
scit
ita,
a, ve
veja-se E. riu, Sincronia,
E. Coseriu,
discronia e historia, 2.a cd., Madrid. 1973, trad. port.. Rio de Janeiro, Presença, 1979.
Comparem-se em português modos de dizer como: sói acontecer, em que pese a.
asstsfo no Rio [ - moro), aluguer (por
(por aluguel), etc. (E.B.)
A LINGUA f u n c i o n a l 107
os falantes:
falantes: tod o fa to subjetivamente “diacrònico”
“d iacrònico” deverá ser descrito na sua pró
pró
pr ia “ sin
pria sincro
cronia
nia”” (vale dizer,
dize r, n o seu fu
func
ncio
iona
namm ento
en to).
).
11.4.1. No estado
estado de língua “sincrónico
“sinc rónico”” é preciso distingu
distinguirir duas espécies
espécies de tra
dição: a técnica livre
livre do discurso e o dis
discurs
curso
o re petido . A técnica livre compreende
os elementos da língua e as regras “atuais” pertinentes à sua modificação e combi
nação, ou seja,
seja, aass “ palavras
palavras”” e os instrume
instru mentos
ntos e p
proc
rocedim
edim ento s lexicais
lexicais e gram
gramati
ati
cais
cais.. 0 discur
discurso
so repetido, por seu tum o, com preendepreend e tud o o que, no fal falar
ar de uma
comunidade, se repete tal e qual, como discurso já produzido ou combinação mais
ou m enos fixa, com o fragmento, longo ou cu rto, do “já falado” . As Assi m, il buon
sim, buon
milanese é é um fato de técnica livre, enquanto il buon samaritano
samaritano (combinação já
existente como tal) é um fato de discurso repetido9. Por este prisma, um discurso
conc reto pode amiúde
amiúde ser anál
análogo
ogo a um quadro e xec utad
utado,
o, em parte, por “ collage”
collage” :
no quadro além das partes pintadas com a técnica do pintor que o compõe, po
dem-se encontrar também porções tomadas de outras telas, compostas por outros
pintor
pin tores.
es.
10 Por exemplo,
exemplo , encontram-sc em Carlos Drummond de Andrade e ou outros
tros autores,
antigos e modernos, numerosos enxertos de trechos de Camões, como neste passo: "Confessei
lhe. em meu saber de ignoignoran
rancias
cias fe
feit
ito,
o, que . . . " (Caminhos
(Caminhos de João Bra Brandão
ndão).). De Camões se
petrificaram
petrificar am expressões como “ por mare maress nunca dantes
dan tes navegados”, “é tarde,
tard e, Inés é morta
mo rta”,
”,
“se vão da lei da morte libertando", “cesse tudo o que a antiga musa canta”, “outro valor mais
alto se levanta”, transcrições fiéis ou variantes que são freqüentes nos discursos, literários ou
não, escritos ou orais, do brasileiro escolarizado. (E.B.)
11 Seria o mesm
mesmoo que,
que , em português ocorreria com a substituição
substitu ição de gato por o gato,
um gato, gata, etc. em pass
passou
ou pelo assunto com como o gato po r bras
brasasas.. Não mudaria de todo o.
sentido da expressão ainda quc.se dissesse como lebre por bra sas,, por exemplo. (E.B.)
brasas
A LINGUA f u n c i o n a l 109
aqueles que não conhecem as óperas de que fazem parte. Ñas comunidades protes
tantes (na Inglaterra, na Alemanha, na Suécia, nos Estados Unidos) está difundido
o conhecimento da Bíblia e são freqüentes as alusões a esse texto; o que já não
pode
po deria
ria ocor
oc orre
rerr nas comu
co munid
nidade
adess católica
cató licass onde
ond e o co
conh
nhec
ecim
imen
ento
to da B íblia
íb liaéé quase
nenhum, de modo que tais referências correriam aí o risco de passar despercebidas,
na maior parte das vezes. E na comunidade grega antiga, pelo menos na de certo
nível cultural, eram amiudadas as alusões à mitologia e a Homero.
fogem
pr
prec
ecip
ipuopordaisso
uo desacrição
uma
descriç consideração
ão es
estru
trutu rall é aestrutural?
tura técnic Poisim
téc nicaa livre; bem,
impo rta,é, patente
porta po
porém que rvar
rém,, obse o objeto
observar qu
que,e,
se os elem
elementos
entos ddoo discurs
discursoo repetid
rep etidoo análogos aos da técnica
técn ica livre
livre ( “ palavras” , ins
trumentos gramaticais) não são comutáveis, as suas combinações, ou seja, as unida-
des deste discurso, correspondem funcionalmente à unidade de diversos níveis da
técnica livre, com os quais são comutáveis, e podem, por isso, ser considerados
como unidades “não analisáveis” da mesma técnica, nos níveis de estruturação gra
matical em que funcionam.
Deste ponto de vista certas formas do discurso repetido não pertencem de
modo algum à técnica idiomática, porquanto não eqüivalem a unidades combiná-
veis
veis dela: tais formas são aquela
aquelass que corresp
correspondem
ondem a textos
tex tos inteiros (ou a fr
frag
ag
mentos de textos de sentido completo), como as citações e os provérbios. Nestes
casos não pode haver oposições no interior da técnica idiomática, mas apenas entre
um e outro
outr o texto : na real
realidade,
idade, tra
trata-
ta-se
se de uma forma da “literatura”
“lite ratura” (tom ada aqui
em sentido amplo, incluindo também moral, ideologia, etc.), de tradições literárias
inseridas na tradição lingüística e que por isso deveriam ser estudadas pela lingüís
tica do texto e pela filologia. E, com efeito, uma disciplina filológica —a paremio-
logia ou ciência dos provérbios (do grego trapoipia “prové“ provérbi
rbio”
o” ) - em part
partee se
ocupa desses fatos. Entretanto, há outras formas pertencentes ao mesmo tipo e que
deveriam ser estudadas mais do que na verdade o são; é o que acontece, por exem
plo, com os chachama
madodoss wellerismos, isto é, os modos de dizer introduzidos por - ou
acompanhados de —uma das formas seguintes ou formas equivalentes: como dizia
aquele que, como disse o outro, etc.12 e que por isso pretendem referir-se a uma
reação verbal de alguém numa determinada situação (mesmo que muitas vezes se
trate de reações e situações imaginárias, como, por exemplo: Que não é uma situa-
ção agradáve
agradávell não é, co mo dizia aquele a quem
que m q
quebravam
uebravam nozes na cabe
cabeça).
ça).
Outras formas de discurso repetido correspondem funcionalmente a “sin
tagmas” (combinações de palavras) da técnica livre, são comutáveis com sintagmas
(se opõem a eles) e, por isso, deveriam ser estudadas em nível sintagmático. Assim,
porr ex
po exem
emplo
plo,, cavá
cavárs
rsel
ela
a pe r il r otto delia cuffia corresponde, mais ou menos, em por-1
delia por- 1
tugues a “sair de uma situação perigosa com pouco ou nenhum dano”. A este mes
mo tipo pertencem rendere pan per focaccia (port. “pagar na mesma moeda”), ve ve--
dersela brutta, farsi vivo, faria franca, etc.13 Um terceiro tipo é constituído pelas
“perífrases lexicais”, que correspondem a uma só palavra da técnica livre, assim,
p
por
or exem
ex empl
plo,
o, o it. in quatro e quatr'otto, equivalente a “rapidamente”, “imediata
mente” e que se opõe a adagio, lentamente, no nível das unidades lexicais.14 Aná
logo é o caso de tagliare la corda (port. “sumir”, “ir-se embora”), levare le tende
(po rt. “ levantar acampam
acampamento”
ento” , “ ir-s
ir-see emb
embora”
ora” ), a mano a man (port. “gradual
mente”), etc. Por fim, um quarto tipo funciona em nível dos morfemas, isto é, dos
instrum
inst rumento
entoss gramaticais; é o que acontece com as “ expressões de comparação
com paração””
quedefuncionam
po
pode como
ver em escuro morfemas de superlativo absoluto (“elativo”), conforme se
que nem breu = escurissimo, vermelho como um camarão = ver-
melhissimo, mais feio que a morte = feis
fe issi
simm o (cf. em italiano contento come una
Pasqua = co nt
nten
en tí
tíss
ssim
im o).
o) .
Os tipos segundo, terceiro e quarto aqui apontados do discurso repetido evi
denciam que ele deveria ser estudado como uma larga seção autônoma do saber
idiomático”.'
seus apróprios
um adjeti vo “falantes
djetivo próprio”e: pelos
línguafalantes
portugu
port de
uguesaoutras línguas,
, língua
esa, habitualmente
italiana, através
língua inglesa, de
língua
frances
fran a, etc.), esta técnica não é nunca perfeitamente homogênea. Muito ao con
cesa,
trário:
trár io: em geral
geral represen
representa ta um conj
conjun
unto
to aassa
ssazz com
complexo
plexo de
de tradições lingüísticas
historicamente conexas, mas diferentes e só em parte concordantes. Em outros ter
mos: um umaa líng
língua
ua histó
histórica
rica apresenta sempre variedade interna. Mais Mais precisamente,
precisam ente,
podem
po demosos nela
ne la enco
en conn trar
tr ar difere
di ferença
nçass mais ou menos
men os pr
prof
ofun
unda
dass pe
perte
rtenc
ncen
ente
tess subs
su bsta
tan
n
cialmente a três tipos: a) diferenças diatópicas, isto é, diferenças no espaço geográ
fico (do grego b i á “através de” e rórrof “lugar”); b) diferenças diastráticas, isto é,
diferenças entre os estratos sócio-culturais da comunidade lingüística (do gr. 6 iá e
o latim stra
st ra tu
tumm ); e c) diferenças diafásicas, ou seja, diferenças entre os diversos
tipos de modalidade expressiva (do gr. 5iá e ¡pácnÇ “expres “e xpressão”
são” ) 15. As variedades
lingüísticas que caracterizam —no mesmo estrato sócio-cultural —os grupos “bio-
terminavam em eva, iva (avea, partia por aveva, partivà), ou se usavam palavras co
mo augello, alma, que raramente se teriam usado em prosa (e nunca na língua fala
da
da).
). Som
Somente
ente nos últimos setente anos ssee alterou es essa
sa tradição e ho
hoje
je nenhum poeta
escreveria mais como Carducci, um dos últimos representantes desta tradição lin-
güístico-retórica da poesia italiana. Um caso bastante diferente é o da literatura an
tiga grega, onde as diferenças diafásicas sao muito profundas, por corresponderem
a diferenças de tipo “ diat
diatópi
ópico”
co” caracterizado
caracte rizado ras
ras dos
dos vários
vários gêneros liliterários:
terários: es-
creve-se a poesia épica em dialeto ‘"homérico” (essencialmente jônio), a lírica (poe
sia mélica) monódica em eólio, a lírica coral em dórico, enquanto a prosa, a tragé
dia e a coméd
comédiaia (ressalvadas
(ressalvadas aass partes corais) são em áático;
tico; e o pres
prestígio
tígio da tradição
tradiçã o
homérica é tamanho
tam anho,, que até a idade
idade bizantina (e(e ainda nesta) quem quer que esc escre
re
vesse poesia épica —e até, simplesmente, poesia em hexámetros —adotava, em es
sência, o dialeto homérico.
apresentam diversidade“dialetos
diversidade deste ponto
posociais”);
nto de vista:
vista: unidades sinstráticas
sinstrá ticas níveis
níveis de lín -
gua (são os chamados e unidades de modalidade ou expressiva, sem
diferenças diafásicas, isto é, unidades sinfásicas ou estilos de língua (por exemplo:
estilo familiar, estilo literário épico, etc.).
Neste sesenti
ntido
do,, pode-s
pode-see dize
dizerr que uma lín
língua
gua histór
his tórica
ica não é bem um sistema
sist ema
lingüístico e sim um diassistema, um conjunto mais ou menos complexo de “dia
letos” , “ níveis”
níveis” e “estilos
“estilos de
de língua” :
letoss
Dialeto
Dia
l '
/ lEstilos
íng ua de
N
í
v Estilos de
e / língu a
i
s
\ Estilos de
/ lí n g u a
11.5.5.
11.5.5. Por is
isso
so uma língua
língua histórica não po
pode
de ser descrita estrutural
estrutu ral e funcional
corresponde exatamente, porque também numa língua desse tipo há pelo menos
diferenças
diferenças “estilísticas”.
“estilísticas” .
11.6.1. O objeto
11.6.1. ob jeto pró
próprio
prio da descrição lingüística, entend
ent endida
ida como descrição
descrição es
estru
tru
tural e funcional, é, justamente, a “língua funcional” ou, repetindo mais uma vez:
um só “dialeto”, considerado em determinado “nível” e num determinado “estilo
de língua”. Isto porque só no âmbito de tal tipo de língua, e não numa língua his
tórica considerada em sua plenitude, é que tém validade, de modo não ambíguo, as
oposições, estruturas e funções que se encontram numa tradição idiomática, bem
como as suas relações sistêmicas (mesmo que uma oposição, estrutura ou função
possa ser ccom
omum
um a várias lílíngu
nguas
as func
funciona
ionais).
is).
Ao contráno, tratando-se de uma língua histórica, a descrição estrutural de
veria ser feita separadamente por cada uma das línguas funcionais que nela se dis
tinguem:: à “ coleção
tinguem coleção”” de línguas funcionais de deveria
veria a rigor
rigor correspo
corre sponde
nderr uma “ co
co
leção” de descrições.
Neste sent
se ntid
ido,
o, a desc
descrição
rição estr
es trut
utur
ural
al nã
nãoo pode
pod e ser apenas
apen as sinc
sincrónic a (como já
rónica
se admite geralmence), mas deve ser (e, na realidade, é necessariamente) também
sintóp
sin tópica
ica,, sins
sinstrátic a e sinfásica. Quando
trática se fala de gramática estrutural do inglês
(“ do francês”
francês” , “ do italiano”
italiano” , “do pportuguês”
ortuguês” ), sempre
sempre sese entende,
enten de, com efeito, qque ue
se trata ‘de um tipo determinado de inglês’ (‘de francês’, ‘de italiano’, ‘de portu
guês’). Uma gramática estrutural “italiana” (= “do italiano”) e mesmo uma gramá
tica descrit
descritiva
iva “ do italiano” - isto é, uma de descriç
scrição
ão simultânea
simultânea de todas as as modali
dades
dad es do italiano (dialetos, níveis,
níveis, estilos de língua) - é tarefa
tarefa de tod o impo
impossí
ssível
vel..
É bem verdade qque ue na lingü
lingüística
ística estrutural
estrutura l a exigência de se limitar,
limita r, em cada caso,
à língua funcional se acha na maioria das vezes implícita. Só raramente ela se reco
nhece explícitamente. Assim, por exemplo, isto se dá com D. Jones, Z. Harris —
que, no seu livro dedicado à lingüística estrutural, alude também, embora de forma
um tanto vaga, ao caráter unitário da língua que se descreve estruturalmente —e,
em certo sentido, com Chomsky, que, nos As Aspepect
ctos
os da teor
teoria
ia da sinta xe - embora
sin taxe
se
sem
m fazer asas disti
distinções
nções que aqui propusemos - afirma afirma praticam
praticamente,
ente, com se seuu con
ceito de ‘falante-ouvinte ideal’, a necessidade científica da unidade da “língua” en
quanto objeto de descrição (mas, por outro lado, parece querer identificar tal lín
gua unitária simplesmente com a língua histórica).
A LINGUA f u n c i o n a l 115
trata-se, saber)
supõem na realidade, daquilo
a respeito que os falantes
do florentino. destes outrosdotipos
É característico dialetaiso sabem
florentino fenômeno (ou
da chamad
ch amadaa “gorgia” , ou se seja,
ja, a aspiração da consoa
consoante nte velar surda c simples e
intervocálica (e menos da bilabial surda p e da dental surda /). O florentino tem,
preci
pr ecisam
samen
ente,
te, trê
trêss tipo
ti poss de c ( = k ): um simples aspirado, intervocálico; um simples
não aspirado, depois da consoante, e um reforçado (“duplo”), ainda em início de
palavra,
palav ra, pe
pelo
lo co
conh
nhec
ecididoo fen
fenôm
ômenenoo de “ refo
re forç
rçoo ini
inicial
cial”” , dep
depois
ois de o x íto
ít o n o s , dep
depois
ois
de uma série de monossílabos vocálicos ou terminados em vogal (a, è, e, da, piu,
etc.) e em alguns outros casos. Diz-se, por isso, la hasa, i hani, mas in cas casa,a, pper casa,,
er casa
un cañe, il cañe (ou iccane) e a ccasa. Entretanto, quem imita o florentino (e o
11.6.4. E, naturalm
natura lment
ente,
e, o que vale
vale para a variedade diatópica
diatóp ica val
valee em prop
proporçã
orçãoo
ainda maior para a variedade diastrática (porquanto é constante a comunicação
entre
ent re níveis dife
diferentes),
rentes), e mais ainda para a varieda
variedade
de diafásica,
diafásica, j á que tod
todoo falante
fala diversos “estilos de língua”. Neste sentido, todo falante é, dentro de sua língua
histórica, plurilingüe ou “poliglota”. É bem verdade que o saber “interdialetal” é.
16 Trata-se do esc
escrit
ritor
or italiano Cario
Cari o Emílio
Emíli o Gadda (1
(1893-
893-1973
1973)) que, nas suas obras, ssee
serve amiúdè de um idioma privativo, à maneira do dialeto dos expressionistas. Pelo seu estilo
tem sido comparado a James Joyce. (E.B.)
A LINGUA f u n c i o n a l 117
12
! 4. tipo li
lingü
ngüís
ísti
tico
co
técnica virtual 3. sistema
sistema
2. norma
técnica
técn ica realizada: 1. falar con
concreto
creto
O fa
fala
larr co
conc
ncre
reto
to mais ou menos corresponde a pa a parole
role de F. de Saussure e se
pode
po deria
ria ta
tam
m bé
bémm chama
cha marr “ fala
fala”” (n o sent
se ntid
idoo de pr
proc
oces
esso
so,, de
d e di
dinâm
nâm ica,
ica , qu
quee cco
o nt
ntém
ém o
vocábulo discurso),
discurso), tendo-se de compreender o termo português no sentido saussu-
12
1200 LIÇÕES DE LINGÜISTICA GERAL
12.2.1. Observ
Observe-se
e-se que a norm a da LíngLíngua
ua,, o sistema e o tipo lingüístico
lingüís tico não con
consti
sti
tuem variedade interna da língua histórica, mas representam a medida ou o grau de
estruturação dessa mesma língua. É çportuno, a este respeito, distinguir, com
Flydal,3 arquitetura e estrutura: a di
divers
versida
idade
de interna na
n a língua, isto é, o fato de na
mesma língua histórica coexistirem, para funções análogas, estruturas diferentes (e
vice-versa) representa a “arquitetura” e o fato da técnica lingüística ser estruturada
(isto é, apresentar oposições funcionais na expressão e no conteúdo) constitui a
“estrutura” da língua. Ou melhor: a circunstância de uma língua histórica encerrar
uma coleção de línguas funcionais, em parte coincidentes, em parte diferentes,
representa a sua arquitetura ou “estrutura extema”, enquanto a circunstância de,
entre os elementos duma mesma língua funcional (isto é, de uma língua unitária e
homogênea), existirem determinadas relações, constitui a “estrutura interna”, ou
simplesmente a estrutura, desta língua.
simplesmente a estrutura, desta língua.
12.2.2. Disse-
Disse-se,
se, po
porr exe
exempmplo,lo, que há falantes italianos que us usam
am udire e se
sentir e,
ntire,
enquanto outros falantes empregam apenas se sentir e. Ora, este não é um fato de
ntire.
estrutura, mas de arquitetura do italiano: não podemos examinar os dois usos
simultaneamente, confundindo-os e declarando, por exemplo, que se ntiree tem um
sentir
significado não bem delimitado, porque ora significa “perceber através de outros
órgãos sensoriais” (port. “sentir”) e também “ouvir”, ora somente “perceber
através
atrav és dede ou
outros
tros órgãos senso
sensoriais
riais”” (po rt. “sen
“sentir”),
tir”), e não tam também
bém “ouvir” . Na
realidade, o significado de se senti re é perfeitamente claro em qualquer dessas duas
ntire
estruturas, mas estas estruturas se acham parcialmente superpostas na diversidade
interna do italiano.
A oposição entre pret. perfeito composto [it. pass passatoato prossim o J e pret. perfei
pro ssimo
to [it passa
passato
to rem ot o] (ho fa tto
re m oto] tt o ¡fe ci ) não se encontra nem pode ser estudada em
¡feci
geral, em toda a extensão do italiano, porque nas várias regiões da Itália são diferen
tes as oposições em que entram estas formas: em algumas regiões existem fe c i e ho
fa tt
ttoo , em outras só aparece ho fatto ou só fe c i , e aí é obviamente impossível estabe
lecer uma oposição entre as duas formas, uma vez que só se usa uma delas. Ainda
neste caso estamos diante de um fato de arquitetura do italiano, e também aqui não
3 Ó lingüista
lingüist a por
portugu
tuguês
ês José G. Herculano
Hercula no de Carvalho (Teoria da linguagem, Coimbra,
1973,1, p. 273, adotando a tricotomía de E. Coseriu, preferiu o termo esquema (de Hjelmslev)
a sistem a, “para evitar ocultar que também a norma é sistema”. Entre nós brasileiros, Mattoso
sistema,
Câmara preferia discurso ao termo fala fala,, para evitar a idéia errada de que o conceito só sc apli
cava à língua oral. O Prof. Coseriu não usa neste caso o termo discurso porque este termo,
como já se viu (10.2.2.), o reserva para um dos níveis da linguagem em geral. (E.B.)
3 Art. cit., particularmente
particularmente na na pp.. 244
244..
F i :----------------- F2
V , ------------------ Vj
Isto é: formas análogas (ou praticamente idênticas) para valores diferentes ou,
de modo inverso, formas diferentes para valores análogos (ou praticamente idên
ticos). Na essência, isto não é diferente do que se dá quando se trata de línguas
históricas distintas. Só quantitativamente, e não qualitativamente, a variedade no
interior da arquitetura de uma língua é diversa da que ocorre entre línguas históri
cas independentes; e, às vezes, nem mesmo quantitativamente. Acerca deste último
caso, cabe lembrar aqueles dialetos italianos que apresentam o máximo de diferencia-
123.1. O fa
fala
larr conc reto apresenta a técnica
co ncreto técnica li
lingüística
ngüística ccomo
omo técnica efetivamente
realizada; de
exemplo, e esta se reconhece
um quadro, como
dizemos: Quetaltécnica
no mesmo
nesse sentido
quadro',em
ou que, falando,
Quanto por
à técnica,
não M nada
nada que diz er. Entretanto, naturalmente, além da realização da técnica, o
dizer.
falar concreto contém também toda uma série de determinações próprias que, no
fundo , o fazem,
fazem, em
em qualquer caso
caso,, “inédito”
“inéd ito” .
4 Ver
Ver ou
outro
tross exemplos dos vário
várioss setores e planos da norma
norm a no estudo citado na nota 1
deste capítulo, Siste
Sistema,
ma, norma y habla.
habla.
NORMA
NORM A
SISTEMA
5 An
Anal
alog
ogam
amen
ente
te,, pod
poder
erem
emos
os tter
er,, eent
ntre
re num
numer
eros
osos
os outros
outros ex
exem
empl
plos
os em port
portug uguêuês,
s, o
seguinte caso, acompanhando a par e passo o modelo apresentado pelo nosso autor: peda
pe da la r /
pe d a teja r / repedalejar / repeda lejamen to / repedalejador / repedalejista / repedalejfstico / repe-
dalejisticamente / repedalejisticizar. (E.B.)
Nc ste se
Ncste sent
ntid
idoo —e graças, jus
j us ta
tamm e nt
nte,
e, ao sistema
sist ema,, que
qu e é em essê
essência
ncia sis
sistem
temaa de
possibi
pos sibilida
lidades
des —, umumaa língu
lín guaa nã
nãoo é apena
ap enass aqu
aquilo
ilo que já está
est á feito
fe ito p o r me
meio
io da sua
técnica, mas é também aquilo que, mediante esta mesma técnica, se pode fazer; não
é somente passado e presente, mas possui uma dimensão de futuro. O italiano, por
exemplo, como o português, são o italiano e o português “existentes” (já realizados)
e ainda.a sua possibilidade infinita de ulteriores (e em parte inéditas) realizações.
I
6 Ve
Veja-
ja-se
se o est
estudo
udo já citado Sincronia
Sincronia,, diacronia y tipologia.
tipologia.
BIBLIOGRAFIA
Para qu
quee ssee oriente
orien te acerca de problemas discutidos
discu tidos nestas páginas
páginas e a fim de ’
que neles se aprofunde, pode o leitor recorrer às seguintes obras:
BALLY, Charles. L
Lin
ingg uistiq
ui stiquu e générale
gén érale e t linguis
ling uistiqu
tiquee frança ise. 4.a ed. fieme,
française.
Francke,
Franc ke, 1965
1965.. Há tradu
tradução
ção italiana com apêndice de C C.. Segr
Segre.e. Milano,
Milano, II
II
Saggiatore, 1971.
BENVENISTE, Émile. Pro
Problém
blém es d e lin
lingu
guistiq
istique
ue gén érale. Paris, Gallimard, 1966.
générale.
Há tradução brasileira de Maria da Gloria Novak e Luiz Neri, com revisão de
Isaac Nicolau Salum. São Paulo, Cia. Editora Nacional, 1976.
BLOOMFIELD, Leonard. Language. New York, Holt, Rineh
Rinehart
art and Winston, 1933
1933..
CHOMSKY, Noam. Saggi linguistici, trad.: A. de Palma e outros. Torino,
Boringhieri, 1969-70. 3 v. De algumas obras de Chomsky há traduções brasi
leiras saídas na Vozes Editora e dos A sp
spec toss há tradução portuguesa pelo
ec to
Armênio Amado —Editor.
COSER1U, Eugenio. Teoria del ¡inguaggio e lingüistica generóle. Sette studi. Trad.
R. Simone. Barí, Laterza, 1971. Dos estudos ai inseridos só três se repetem na
coletânea homônima em espanhol, com cinco estudos, Teoria del lenguaje y
lingüística general (Madrid, Gredos, 1973, 3.a ed.) de que se fez tradução
brasileir
bras ileira,
a, saí
saída
da no Rio d e Ja
Jane
neiro
iro,, Prese
P resença
nça,, 1979.
____
______
____
___
_ Sincronia, diacronia e historia. Madrid, Gredos, 1978, 3.a ed.; trad.
p
poo rt..
rt .. Rio de Ja
Jane
neiro
iro,, Pre
Presen
sença,
ça, 1979.
______
_________
___ Principios
Principios de semántica estructural. Madrid, Gredos, 1977.
_
____ Tradición y noveda
nov edadd en la ciencia del lenguaj
lenguaje.
e. Estu
Estudios
dios de histori
historiaa de la
lingüistica. Madrid, Credos, 1977.-
_
____ E
E l ho m br
bree y su lenguaje. E studi
stu dioo s d e teo
teoria
ria y m eto
etodd o lo
logí
gíaa ling
lingüistica
üistica..
Madrid, Gredos, 1977.
_
____ Gramática, semántica, universales. Estudios de lingüistica funcional. Ma
Ma
drid, Gredos, 1978.
FIRTH, John Rupert. Papers in ling
linguis
uistics
tics ¡93
¡934
419
1951
51.. London, Oxford University
Press, 1957.
GABELENTZ, Georg von der. Die Sp Sprac
rachw
hwisse
issensc
nscha
haft,
ft, Ih
Ihre
re A ufga
uf gabe
ben,
n, M eth
ethod
oden
en
und bisherigen Ergbnisse. Leipzig, Tauchnitz, 1891. 1.a ed. Reimpressão da
2.a ed. de 1901, com introdução de E. Coseriu. Tübingen, Verlag TBL, 1969.
2.a
2. a ed. 1972. Este imp
importa
orta nte estu
estudo
do de E. Coseriu
Coseriu encontra-se, em eespanhol,
spanhol,
na já citada Tradi
Tradición
ción y novedad.
GLEASON JR., Henry Alian. A n in
intro
tro d u ctio
ct ionn to desc
de scrip
riptive
tive linguistics. New York,
Holt, Rinehart and Winston, 1955. Nova edição revista em 1961 e anos poste
riores. Desta obra há tradução portuguesa de João Pingúelo, Lisboa, F.
Calouste Gulbenkian, 1978.
HARRIS, Zellig S. Structural linguistics. Chicago, University of Chicago Press,
1963.
HJELMSLEV, Louis. Pro
Prolegó
legóme
meno
no to a theo
th eo ry o f languege. Trad. Francis J.
Whitfield. Madison, The University ofWisconsin Press, 1963. A obra acha-se
traduzida a várias línguas e há ed. espanhola na Gredos, de Madrid, 1971.
__________ Language. A n in
intro
tro d u ctio
cti o n . Trad. Francis J. Whitfield. Madison, The
University
Univers ity ofWisconsin
ofW isconsin Press,
Press, 1970. Também esta obra está traduzida a vvár árias
ias
línguas, com versão espanhola publicada pelo Gredos, Madrid, 1971. 2.a ed.
aumentada.
JAK.OBSON, Román. Ess
Essaa is d e lingu
lin guisti
istiqu
quee générale. Trad. N. Ru
Ruwet.
wet. Paris, Ed. de
Minuit, 196
1963.
3. Algun
Algunss dos artigos estão traduzid
traduzidos m Li
os para português eem Ling
ngüis
üis--
tica e comunicação. Tra d. IzidoI zidoro
ro Blikstein e José Paulo Paes,
Paes, São Paulo,
Cultrix, 1977. 9.a ed.
BIBLIOGRAFIA 129
_________
_________ N u o vi saggi di critica sem ántica.. Firenze
semántica e Messina, D’Anna, 1956.
_________
_________ A ltltrr i saggi d i critica sem
semánt
ántica.
ica. Firenze e Messina, D’Anna, 1961.
P1SANI, Vittorio.
Vittorio. L
Lin
ingu cultu re. Brescia, Paideia, 1969.
gu e e culture.
Introdu ções e ex
exposições
posições históricas
históricas da lingüística se encontram em
em::
APRESJAN, Ju. D. E
D. Elém
lém en ts sur les idées
idé es eett les m éth od es d e la ling
linguis
uistiq
tique
ue str
struc
uctu-
tu-
rale contemporaine.
contemporaine. Trad. do russo de J.-P. de Wrangel, Paris, Dunod, 1973.
Há traduções para
p ara outra s lín
línguas
guas..
*
130 LIÇÕES DE LINGÜISTICA GERAL
ROBINS, A sh o rt h isto
ist o ry o f linguis
linguistics.
tics. London, Longmans,-1967.
Trad.Robert Henry.
bfasileira de Luiz Martins Monteiro de Barros, Rio de Janeiro, Ao Livro
Técnico, 1979.