Você está na página 1de 35

A IRA E O JUÍZO DE DEUS

Jesiel Rodrigues [Edição 2023]

A ira do Eterno se aplica a nós, como servos Dele? A noiva de Cristo está
sujeita às consequências da ira divina? Questionamentos como estes sempre
são feitos.

Nesse conteúdo tentaremos transmitir o que cremos a respeito da ira do


Criador, seus juízos e a relação disso com o arrebatamento e a vida cristã
neste mundo e na eternidade. Tentaremos também mostrar a diferença entre
as diversas manifestações da ira divina.

1
I] A IRA, OS JUÍZOS E O ARREBATAMENTO

1] IRA E JUÍZOS HISTÓRICOS

A ira e os juízos do Eterno diante do pecado humano, têm se manifestado


durante toda a história, inclusive na "era da Igreja". Um exemplo disso
encontra-se na destruição de Jerusalém, em 70 d.C.

Nas passagens de Daniel 9:26, Mateus 24:2, Marcos 13:2, Lucas 19:41-44 e
Lucas 21:20-24, a Palavra é clara em profetizar a destruição de Jerusalém e
tal profecia se concretizou em 70 d.C.

As passagens de Lucas 19:41-44 e Lucas 21:20-24 mostram que o ocorrido


em 70 d.C em Jerusalém foi fruto da ira e dos juízos do Criador sobre Israel.
Então, inicialmente, percebemos que a ira e os juízos divinos se manifestam
sem a necessidade da retirada da Igreja do planeta Terra.

Naquela ocasião, o número de vítimas entre os cristãos foi mínimo, pois


nossos irmãos conheciam as profecias do Mestre e tomaram suas
providências fugindo da cidade a tempo.

Tampouco encontramos bases históricas para afirmar que um cristão está


necessariamente isento de qualquer dano físico oriundo da ira do Altíssimo e
dos juízos Dele neste mundo.

No aspecto histórico, o maior exemplo disso é a própria morte, surgida após


o primeiro juízo do Senhor sobre a raça humana. Todos nós, salvos ou não
salvos, nascidos de novo ou ímpios, morremos, como fruto desse juízo divino
(Romanos 5:12).

Levando esse princípio aos dias tribulacionais, não há maiores diferenças


entre morrer do coração, de falência múltipla dos órgãos, ou abruptamente,
vítima de um terremoto, maremoto, guerra ou até mesmo perseguição por
causa de nossa fé.

Todos, excetuando aqueles que estiverem vivos no momento da volta


gloriosa de Cristo, sofrerão a morte. Uns com a certeza gloriosa da
ressurreição em Cristo. Outros com o sofrimento da incerteza e a expectativa
de juízo eterno.

Consequentemente, não encontramos precedentes históricos que justifiquem


o deslocamento de pessoas (arrebatamento) anterior à manifestação da ira
do Eterno, com o objetivo de isentar o povo Dele de morrer ou sofrer danos
físicos resultantes de calamidades ou cataclismos.

2
2] A IRA TRIBULACIONAL

Todas as correntes escatológicas que falam sobre o arrebatamento, com


exceção do pós-tribulacionismo, defendem, de alguma forma, que a Igreja
deve ser retirada da Terra para não passar pela ira do Criador durante a
tribulação.

O pré-tribulacionismo sustenta que a ira do Altíssimo compreende toda a


tribulação de 7 anos. Então, de acordo com esse modelo, o arrebatamento se
daria imediatamente antes da tribulação, para só então começar o
derramamento da ira divina sobre a Terra.

Já o midi-tribulacionismo e o modelo pré-ira defendem que a ira divina será


derramada a partir da metade da tribulação. O midi-tribulacionismo coloca o
arrebatamento como um evento que ocorrerá na metade do período
tribulacional, vindo logo após a grande tribulação de 3 anos e meio.

No modelo midi-tribulacionista, a ira do Senhor começará a ser derramada a


partir desse momento e se estenderá por toda a grande tribulação de 3 anos
e meio.

Já o modelo pré-ira sustenta que a ira do Senhor será derramada já no final


da grande tribulação, no sétimo selo e que, pouco antes da vinda de Jesus,
seremos arrebatados para não passarmos por essa ira.

Também existem aqueles que pregam o "arrebatamento parcial" ou por


etapas. Para estes, uns poucos escolhidos, chamados de "primícias" serão
arrebatados antes da ira e o resto da Igreja, os que não fazem parte dessas
“primícias” serão arrebatados no momento da volta gloriosa de Cristo.

Com esses detalhes, você já tem uma ideia resumida daquilo que essas
correntes defendem. Aqui não vamos deter-nos para contra argumentar uma
por uma, pois não é o propósito deste conteúdo.

Nesse site já há um considerável número de artigos que abordam o pré-


tribulacionismo, onde respondemos aos principais argumentos pré-
tribulacionistas, mostrando sua pouca sustentação bíblica e histórica,
inclusive na questão que toca a ira durante a tribulação.

Porém, de forma resumida, podemos dizer que todos esses modelos


interpretativos negam que o arrebatamento ocorrerá nos padrões que foram
mostrados objetivamente por Cristo em Mateus 24:29-31.

Ou seja, negam que o arrebatamento ocorrerá logo após a grande tribulação,


pois, de acordo com seus postulados, a Igreja não passará pela ira do Criador,
derramada na grande tribulação.

3
Vamos concentrar-nos aqui em mostrar porque cremos que a ira divina
derramada durante a tribulação não requer que a Igreja seja arrebatada ou
retirada da Terra.

Da mesma maneira que a ira do Altíssimo e Seus juízos têm se manifestado


em determinados momentos da história, seja trazendo consequências gerais,
como no Dilúvio, por exemplo, ou consequências locais, como as pragas no
Egito, o juízo do Senhor virá sobre a Terra num período de intensa tribulação
e maldade, denominado de "tribulação" (7 anos que antecedem o regresso
de Jesus) ou "grande tribulação" (os últimos 3 anos e meio da tribulação).

Porém, convém destacar que muitos juízos divinos durante a tribulação serão
específicos e não gerais (Apocalipse 6:8, 9:1-4, 16:2, 16:10). Outros
fenômenos devastadores ocorrerão por causa da própria interferência
humana decaída na natureza.

Também, como já vimos, o fato de ser vítima de uma grande calamidade,


como um terremoto, um maremoto ou um asteroide caindo do céu, pode
incidir sobre um filho do Eterno, pois estamos à mercê disso todos os dias.

Nossa esperança não é a de ficarmos ilesos fisicamente neste mundo


para sempre, mas temos como esperança a glorificação corpórea na vinda
do Senhor (I Corintios 15:23-52). O evangelho não nos promete isenção de
danos físicos ou até mesmo da própria morte como consequência desses
fenômenos. Nossa esperança é espiritual e eterna.

É óbvio que o Eterno Pai protege aqueles a quem Ele quer proteger e as
profecias nos mostram que haverá sobreviventes que permanecerão vivos
até a gloriosa volta do Messias (I Coríntios 15:51).

É um desejo lícito querer permanecer vivo até o fim. Nós também temos esse
desejo. Porém, como bons soldados, devemos estar preparados para morrer
também.

Como veremos a seguir, o principal texto usado pelos modelos que defendem
o arrebatamento anterior à volta gloriosa de Cristo, aponta para o Dia do
Senhor e não para a tribulação. Cremos firmemente que o Dia do Senhor não
pode ser confundido com o período tribulacional. São coisas distintas, como
já comentamos em nosso livro A IGREJA E A TRIBULAÇÃO.

Por outro lado, a presença de santos durante o período tribulacional é


inconteste, até mesmo para os modelos que pregam o arrebatamento
anterior àquele ensinado em Mateus 24:31.

Só que, para esses modelos, os santos na tribulação, descritos no Apocalipse,


são cristãos desviados que "ficaram para trás" mas que, usando sua imensa
força de vontade e determinação, conseguem vencer a tribulação e santificar-
se, sendo salvos por isso...

4
3] A IRA NO DIA DO SENHOR

É importante ter atenção neste ponto. O apóstolo Paulo, no contexto da


passagem usada por muitos para sustentarem que o arrebatamento ocorrerá
antes da volta gloriosa de Cristo, diz assim:

"Mas, irmãos, acerca dos tempos e das estações, não necessitais de que se
vos escreva; Porque vós mesmos sabeis muito bem que o dia do Senhor virá
como o ladrão de noite..." (I Tessalonicenses 5:1-2)

Logo após, seguindo a mensagem, ele escreve:

"Porque Deus não nos destinou para a ira, mas para a aquisição da salvação,
por nosso Senhor Jesus Cristo" (I Tessalonicenses 5:9)

Se você observar atentamente as passagens relacionadas ao Dia do Senhor,


verá que esse dia é o glorioso dia da volta de Jesus Cristo, em poder e
majestade. Tal regresso ocorrerá logo após a grande tribulação (Mateus
24:29-31). Portanto, nos parece um erro chamar a tribulação de "Dia do
Senhor" como o faz o pré-tribulacionismo.

Assim, o texto utilizado pelo modelo pré-tribulacionista e por qualquer outro


modelo que use I Tessalonicenses 5:9 para sustentar que seremos
arrebatados antes da tribulação, na metade da tribulação ou, até mesmo,
antes da gloriosa volta do Senhor logo após a grande tribulação, não fala da
tribulação, mas da ira do Senhor que será derramada no Dia do Senhor (leia
Apocalipse 6:12-17, Mateus 24:29-31, Joel 2:31, Apocalipse 19:11-21). Veja
o que o Salvador mostra que ocorrerá no dia em que Ele regressar:

"Mas no dia em que Ló saiu de Sodoma choveu do céu fogo e enxofre, e os


consumiu a todos. Assim será no dia em que o Filho do homem se há de
manifestar" (Lucas 17:29-30). Os ímpios serão destruídos repentinamente
nesse dia, assim como os sodomitas o foram no dia que Ló e família foram
retirados.

Essa é a razão porque as nações, que entregarão seu poder e domínio à besta
(Apocalipse 17:16-17), ao perceberem o engano de ter adorado ao anticristo
e blasfemado do Senhor durante a tribulação, se lamentarão quando virem o
glorioso sinal de Jesus nos céus (Mateus 24:30).

Então, se formos coerentes com o contexto de I Tessalonicenses 5:9,


veremos que Paulo ensina aos irmãos em Tessalônica que estaremos livres
da ira do Senhor que será derramada no dia em que Ele se manifestar em
glória no Dia do Senhor. Ira essa que será o começo do juízo final de Criador
sobre os homens. O texto de Apocalipse 19:11-21 descreve esse momento,
relacionado ao Armagedom.

5
Momentos antes seremos arrebatados para presenciar Sua vitória sobre o
anticristo, descer com Cristo à Terra e reinar com Ele para sempre.

4] OS EFEITOS ETERNOS DA IRA DIVINA

Quando falamos em "ira" nossa tendência natural é relacionar a ira de Deus


à ira humana, como se os sentimentos divinos estivessem limitados a nossas
concepções e como se tais sentimentos devessem ser entendidos de acordo
a nossa natureza emocional deturpada pela queda.

Porém, a ira do Criador é muito diferente da ira humana. Não é um


sentimento descontrolado, fruto de instabilidade emocional, como ocorre
entre nós. É necessário compreender que as Escrituras trazem paralelismos
entre as características divinas e humanas.

Termos como "a mão de YHWH", descrevendo o agir Dele ou "a boca de
YHWH", descrevendo Sua Palavra, procuram trazer esse entendimento eterno
a nossas mentes limitadas.

Nesse contexto devemos entender a ira divina. Ela faz parte dos atributos
perfeitos do Eterno Pai e traz desdobramentos eternos. Faz parte de Sua
justiça. O Criador, em Sua infinita sabedoria e soberania, possui elementos e
capacidades que não possuímos para julgar retamente.

Note que Paulo, na passagem de I Tessalonicenses 5:9, contrapõe o termo


"ira" ao termo "salvação". Cremos que a passagem de I Tessalonicenses 5:9
deve ser entendida com a clareza que o texto expõe.

Não fomos destinados à ira, mas à salvação em Cristo Jesus. Já vimos que
não há bases históricas, lógicas e escriturísticas para dizer que "salvação" em
I Tessalonicenses 5:9 não é salvação e sim arrebatamento, nem para afirmar
que "ira" não é ira e sim tribulação. Veja o que Paulo escreve em Romanos
5:9-10 e compare com I Tessalonicenses 5:9:

"Logo muito mais agora, tendo sido justificados pelo seu sangue, seremos
por ele salvos da ira. Porque se nós, sendo inimigos, fomos reconciliados com
Deus pela morte de seu Filho, muito mais, tendo sido já reconciliados,
seremos salvos pela sua vida" (Romanos 5:9-10)

Agora veja o que Paulo ensina aos mesmos tessalonicenses que haviam
recebido a primeira epístola:

"E a vós, que sois atribulados, descanso conosco, quando se manifestar o


Senhor Jesus desde o céu com os anjos do seu poder, como labareda de fogo,
tomando vingança dos que não conhecem a Deus e dos que não obedecem
ao evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo;

Os quais, por castigo, padecerão eterna perdição, ante a face do Senhor e a


glória do seu poder, quando vier para ser glorificado nos seus santos, e para

6
se fazer admirável naquele dia em todos os que creem (porquanto o nosso
testemunho foi crido entre vós)" (II Tessalonicenses 1:7-10)

Neste texto fica claro que o nosso encontro com o Messias se dará em Sua
volta gloriosa (como labareda de fogo), trazendo sobre aqueles que nos
atribulam o castigo eterno (não a grande tribulação!).

Então, vemos que estaremos livres da ira do Altíssimo que se manifestará no


Dia do Senhor e que essa ira trará consequências eternas sobre aqueles que
rejeitarem o amor do Eterno Pai.

É o que Paulo chama de "castigo eterno". Estar longe do Criador, sabendo


que não há mais esperança é o maior de todos os castigos. Ali, de acordo
com o Senhor Jesus, haverá "choro e ranger de dentes".

Todo aquele que crê e que nasceu de novo estará livre desse juízo e dessa
ira, pois o Pai, pela Sua Graça, nos salvou. E Ele quer salvar a todos. Basta
crer em Jesus, obedecendo a Sua Vontade e Sua Palavra.

Quem crer e for batizado estará isento e livre da ira eterna do Criador. Esta
é a Graça de Altíssimo.

5] A IGREJA PERMANECERÁ NA TERRA DURANTE A TRIBULAÇÃO

Um dos principais argumentos usados por aqueles que defendem o


arrebatamento da Igreja antes da ira, é o amor de Jesus pela Igreja. Tal
argumento apela para nossa área sentimental e emotiva. Como poderia o
noivo amoroso deixar sua preciosa noiva sofrer os horrores tribulacionais?

Esse argumento torna-se lógico para cristãos acostumados ao conforto que a


moderna sociedade ocidental oferece e que nunca sofreram uma perseguição
mortal nem nunca passaram grandes necessidades e sofrimentos físicos e
emocionais como resultado da pregação do evangelho.

Tais irmãos tendem a esquecer que o propósito central de nosso encontro


com o Senhor (arrebatamento) é o de estarmos glorificados Nele para
começar a reinar com Ele!

Não deve ser nossa esperança principal com relação ao arrebatamento a


preservação de nossa integridade física em função dos sofrimentos
tribulacionais. Pelo contrário, a Palavra revela que seremos perseguidos
(Lucas 21:12-19, João 16:1-4, II Timóteo 3:12).

A Palavra também revela que os santos estarão na Terra durante a tribulação


(Apocalipse 7:14, Apocalipse 12:11, Apocalipse 20:4) e que o número de
mártires só será completado na tribulação (Apocalipse 6:9-11).

7
A certeza que temos é que o Pai estará conosco durante a perseguição e
destruirá aqueles que nos perseguem (Mateus 28:20, II Tessalonicenses 1:7-
10).

Sem dúvidas, a grande tribulação será um período horripilante. Jesus revelou


que nunca antes houve nem depois haverá um período semelhante (Mateus
24:21).

Porém, será que os irmãos em Tessalônica, ao receberem a missiva de Paulo,


tiveram a mesma concepção de muitos modernos irmãos ocidentais sobre o
que seja a "preservação da ira"?

Começaram eles a pular de alegria, pelo fato de lhes ser prometido que não
sofreriam danos físicos durante a tribulação? Cremos que não.

Em primeiro lugar, não podemos esquecer que aqueles irmãos já estavam


sendo impiedosamente perseguidos, causando, inclusive, muitas mortes (I
Tessalonicenses 2:14, II Tessalonicenses 1:4-10).

Consequentemente, vemos que Paulo não estava prometendo que eles não
sofreriam danos físicos ou até mesmo a morte, pois tais consequências já
eram uma realidade no dia a dia daqueles irmãos.

Paulo os ensina, através de todas as cartas aos tessalonicenses, a esperar a


justiça divina, a qual traria castigo definitivo sobre aqueles que os
perseguiam. Em segundo lugar, Paulo lhes escreve sobre o Dia do Senhor,
que será o dia da gloriosa vinda de Jesus, logo após a grande tribulação.

6] A PROTEÇÃO DIVINA DURANTE A TRIBULAÇÃO

Cremos firmemente que muito serão protegidos pelas poderosas mãos de


Deus durante a tribulação. Há vários precedentes bíblicos que nos mostram
isso.

No Egito, o Senhor protegeu Seu povo escolhido enquanto castigava o Egito


com severas pragas que, por sinal, são idênticas em parte às pragas
apocalípticas. O povo de Israel não precisou ser transportado do Egito, mas
recebeu a sobrenatural proteção do Altíssimo no Egito.

Em outros casos, como os de Noé, Ló e dos irmãos de Jerusalém em 70 d.C,


o Senhor providenciou meios, revelações e ajuda a Seus servos para que
pudessem se proteger da ira.

Paulo nos ensina que haverá irmãos vivos no momento da volta gloriosa do
Senhor (I Coríntios 15:51, I Tessalonicenses 4:15). Isso só será possível com
a poderosa proteção do Senhor durante a grande tribulação, pois cremos que
humanamente não será possível sobreviver a ela, sobretudo na qualidade de
cristão perseguido pelo sistema da besta.

8
Ao mesmo tempo em que muitos serão martirizados pela besta (Apocalipse
6:9-11, Apocalipse 7:14, Apocalipse 14:12-13, Apocalipse 20:4), outros
serão protegidos (Apocalipse 3:10, Mateus 24:22).

Porém, ambos os grupos, mortos ou vivos, receberão a glorificação quando


soar a última trombeta, na volta gloriosa de nosso Senhor (I Coríntios 15:50-
42, Mateus 24:31). Quer morramos ou quer vivamos, somos do Senhor!
(Romanos 14:8)

7] UM SÓ ENCONTRO

É interessante notar que os sinais detalhados pelo Senhor em Mateus 24:29,


os quais são relembrados em Apocalipse 6:12-17 e que já haviam sido
profetizados em Joel 2:31 e em outras passagens das Escrituras, apontam
para o Dia do Senhor.

Esse dia que será o dia da manifestação gloriosa do Senhor Jesus e ocorrerão
logo após a grande tribulação. Então, esperar o nosso encontro com o Senhor
imediatamente após a maior de todas as aflições que o mundo já viveu parece
ser a postura mais coerente.

O derramamento dos juízos divinos durante a tribulação será concretizado


durante todo o período e será incrementado até o final.

Porém, mesmo em meio às 7 últimas pragas, que poderão ocorrer em


semanas ou dias e que cairão, se formos coerentes com a comparação de
Mateus 24:29-31, Apocalipse 6:12-17 e Joel 2:31, logo após o período
tribulacional, há um alerta para a vigilância e perseverança dos santos em
Apocalipse 16:15, inserida entre a sexta e a sétima taça, que é a taça final
quando é dito "Está feito".

Ou seja, a Palavra nos diz que nos encontraremos com o Senhor logo após a
grande tribulação (Mateus 24:29), logo após os sinais que antecedem o Dia
do Senhor (Mateus 24:30-31, Apocalipse 6:12-17, Joel 2:31) e que devemos
vigiar até os momentos da última taça da ira (Apocalipse 16:15).

Não há nenhuma direção bíblica clara que nos revele um arrebatamento


anterior ao ajuntamento dos escolhidos descrito pelo Senhor em Mateus
24:29-31. Os irmãos primitivos, aos quais foram originalmente dirigidos os
evangelhos e as epístolas, não tinham qualquer noção sobre uma ou diversas
manifestações do Senhor antes daquela que Ele mesmo havia prometido no
sermão profético.

O apóstolo Paulo escreve aos Coríntios e mostra a ordem em que ocorre a


ressurreição dentro do plano do Criador:

"Mas cada um por sua ordem: Cristo as primícias, depois os que são de Cristo,
na sua vinda" (I Coríntios 15:23)

9
II] IRA ORGE E IRA THUMOS, UMA DIFERENÇA CRUCIAL

Quando falamos em ira de Deus, o melhor seria utilizar o plural, "iras". O


idioma grego tem uma riqueza linguística que, muitas vezes, supera os outros
idiomas. Um claro exemplo disso é a palavra "mundo". Em nossos Novos
Testamentos em português aparece várias vezes a palavra "mundo"

No entanto, no original grego a palavra traduzida como "mundo" tem diversas


aplicações. Vejamos um singelo exemplo, que é a explicação que o Messias
dá de sua parábola do joio e do trigo:

"Então, tendo despedido a multidão, foi Jesus para casa. E chegaram ao pé


dele os seus discípulos, dizendo: Explica-nos a parábola do joio do campo. E
ele, respondendo, disse-lhes: O que semeia a boa semente, é o Filho do
homem.

O campo é o mundo [kosmos]; e a boa semente são os filhos do reino; e o


joio são os filhos do maligno. O inimigo, que o semeou, é o diabo; e a ceifa é
o fim do mundo; e os ceifeiros são os anjos. Assim como o joio é colhido e
queimado no fogo, assim será na consumação deste mundo [aeon]" [Mateus
13:36-40].

Então, vemos que a passagem fala de "dois mundos" diferentes, apesar que
em nossa tradução portuguesa só apareça o termo "mundo" para os dois
casos.

Na passagem em questão, o Senhor explica a seus discípulos que o mundo


kosmos, ou seja, toda a criação ou a terra física, é o campo.

Ao mesmo tempo, mostra que haverá a consumação do mundo aeon, que é


o sistema de valores, poderes malignos e pecado que governa este mundo
atual.

10
1] OS DIFERENTES SIGNIFICADOS DE IRA

No Novo Testamento encontramos dois termos gregos para descrever quase


a totalidade de vezes que aparece a palavra "ira". Essas palavras são, de
forma transliterada, orge e thumos. Há uma diferença substancial entre uma
e outra.

A partir do entendimento dessa diferença, poderemos ter uma compreensão


melhor do contexto no qual elas aparecem. Em nosso caso, poderemos ter
uma melhor compreensão das profecias bíblicas.

A] A IRA ORGE

A ira do tipo orge está relacionada a uma atitude ou resolução definitiva de


tomar vingança. É uma disposição de espírito mais permanente e duradoura
em sua natureza.

Poderíamos exemplificá-la como a sentença judicial em que o juiz decide


aplicar a pena definitiva a um criminoso condenado. Já não há mais apelação
e o castigo será executado em definitivo.

Nos diversos versículos em que aparece esse termo no Novo Testamento, sua
aplicação é quase que exclusivamente dirigida à ira divina.

As únicas vezes em que se aplica ao homem é para mostrar que o ser humano
não pode ou não deve experimentá-la. A ira orge é a ira do Criador, baseada
na perfeita justiça e no perfeito conhecimento que Ele possui. Podemos
encontrar sua aplicação em diversos textos, tais como:

"Aquele que crê no Filho tem a vida eterna; mas aquele que não crê no Filho
não verá a vida, mas a ira [orge] de Deus sobre ele permanece" [João 3:36]

"...E esperar dos céus a seu Filho, a quem ressuscitou dentre os mortos, a
saber, Jesus, que nos livra da ira [orge] futura" [I Tessalonicenses 1:10]

"Porque Deus não nos destinou para a ira [orge], mas para a aquisição da
salvação, por nosso Senhor Jesus Cristo" [I Tessalonicenses 5:19]

"E iraram-se as nações, e veio a tua ira [orge], e o tempo dos mortos, para
que sejam julgados, e o tempo de dares o galardão aos profetas, teus servos,
e aos santos, e aos que temem o teu nome, a pequenos e a grandes, e o
tempo de destruíres os que destroem a terra" [Apocalipse 11:18]

"E, havendo aberto o sexto selo, olhei, e eis que houve um grande tremor de
terra; e o sol tornou-se negro como saco de cilício, e a lua tornou-se como
sangue; E as estrelas do céu caíram sobre a terra, como quando a figueira
lança de si os seus figos verdes, abalada por um vento forte.

11
"E o céu retirou-se como um livro que se enrola; e todos os montes e ilhas
foram removidos dos seus lugares.

E os reis da terra, e os grandes, e os ricos, e os tribunos, e os poderosos, e


todo o servo, e todo o livre, se esconderam nas cavernas e nas rochas das
montanhas; E diziam aos montes e aos rochedos: Caí sobre nós, e escondei-
nos do rosto daquele que está assentado sobre o trono, e da ira [orge] do
Cordeiro.

Porque é vindo o grande dia da sua ira [orge]; e quem poderá subsistir? "
[Apocalipse 6:12-17]

Vemos, então, que a ira "orge" é uma decisão definitiva. De acordo com a
revelação bíblica, essa ira começará a manifestar-se visivelmente num
determinado momento, relacionado ao toque da sétima trombeta [veja
Apocalipse 11:15-18] e à chegada do Dia do Senhor [veja Apocalipse 6:12-
17].

É interessante notar as expressões "veio a tua ira (orge)" em Apocalise 11:18


e "é vindo o grande dia da sua ira (orge)" em Apocalipse 6:17.

Fica bastante claro que a ira orge só se manifestará em nosso plano a partir
desse momento específico, que é o toque da sétima trombeta e a chegada do
Dia do Senhor.

A partir dessa manifestação inicial, os efeitos dessa ira serão eternos e


definitivos. Essa ira se manifestará na forma de julgamentos perfeitos e
sentenças justas.

Existe a clara promessa de que a Igreja será livre dessa ira [I Tessalonicenses
5:9, I Tessalonicenses 1:10, Romanos 5:9].

No entanto, é necessário ter em mente o momento exato em que ela


começará a manifestar-se e esse momento está relacionado ao próprio dia
em que o Senhor Jesus se manifestará gloriosamente no céu, logo após a
maior de todas as tribulações, não antes [Mateus 24:29-31].

12
B] A IRA THUMOS

A ira do tipo thumos é uma decisão temporária que, ao contrário da ira orge,
pode ter um final. É uma indignação que pode ser específica e passageira.
Pode surgir e desaparecer. No entanto, pode se transformar também na ira
ORGE, a qual, como já vimos, é uma permanente atitude e determinação de
fazer justiça.

Nas Escrituras, essa ira é relacionada ao Pai Eterno, mas também se relaciona
com atitudes humanas. Vejamos alguns exemplos:

"E todos, na sinagoga, ouvindo estas coisas, se encheram de ira [thumos]"


[Lucas 4:28]

"Pela fé deixou o Egito, não temendo a ira [thumos] do rei; porque ficou
firme, como vendo o invisível" [Hebreus 11:27]

"Por isso alegrai-vos, ó céus, e vós que neles habitais. Ai dos que habitam na
terra e no mar; porque o diabo desceu a vós, e tem grande ira [thumos],
sabendo que já tem pouco tempo" [Apocalipse 12:12]

"E vi outro grande e admirável sinal no céu: sete anjos, que tinham as sete
últimas pragas; porque nelas é consumada a ira [thumos] de Deus"
[Apocalipse 15:1]

"E ouvi, vinda do templo, uma grande voz, que dizia aos sete anjos: Ide, e
derramai sobre a terra as sete taças da ira [thumos] de Deus" [Apocalipse
16:1]

Então, vemos que nessas passagens fala-se de uma ira restrita e passageira.
No aspecto profético, é importante perceber que, enquanto a ira orge vem a
partir da sétima trombeta e o Dia do Senhor, ou seja, no momento
relacionado à gloriosa vinda do Filho para estabelecer o juízo do Eterno Pai,
a ira thumos é "consumada" nas sete últimas pragas [Apocalipse 15:1]

13
C] CONCLUSÃO

A principal conclusão do que vimos é que cada vez que aparecer no original
a palavra grega thumos, o texto estará falando de decisões, juízos e emoções
primordiais e passageiras.

Cada vez que aparecer no original a palavra grega orge, o texto estará
falando de uma ira definitiva e de uma justiça estabelecida. Uma ira que vem
necessariamente depois que a ira thumos já passou.

Então, não podemos confundir a ira tribulacional [Apocalipse 15:1], com


aquela que vem apenas a partir da sétima trombeta ou o Dia do Senhor
[Apocalipse 11:18 e Apocalipse 6:12-17], pois a primeira é thumos e a
segunda é orge.

A ira orge só se manifestará no momento relacionado à volta gloriosa e


poderosa de Cristo.

A ira thumos se aplica a toda a história, alcançando seu clímax nas sete taças,
nos momentos finais da grande tribulação, pois até mesmo no momento em
que as sete últimas taças estejam sendo derramadas sobre a Terra, estará
sendo manifestada a ira thumos [Apocalipse 15:1].

A Igreja, enquanto Corpo de Cristo, está livre, através da salvação espiritual,


da ira orge do Altíssimo, que é a ira permanente e definitiva.

No entanto, nos momentos em que a ira thumos estiver sendo manifestada,


e ela já o vem sendo há muito tempo, apenas alcançando sua consumação
nas sete taças, não há nenhuma revelação bíblica que permita afirmar que a
Igreja não estará na Terra quando tal ira se manifeste, até porque, como já
salientamos, essa ira tem se manifestado ao longo de toda a história.

Obviamente, o clímax da ira thumos ocorrerá na grande tribulação e, mais


especificamente, quando forem derramadas as sete taças [Apocalipse 15:1].

Cremos que o Senhor protegerá sobrenaturalmente a muitos nesses


momentos. No entanto, não há base bíblica alguma para sustentar que a
Igreja será retirada da Terra antes das sete taças da ira do Criador (thumos)
ou antes que se consume a grande tribulação, como ensina os modelos pre-
tribulacionista, midi-tribulacionista e pré-ira.

A promessa que temos é que seremos livres e salvos da ira orge [I


Tessalonicenses 1:10, I Tessalonicenses 5:9, Romanos 5:9]. Essa ira
começará a manifestar-se no plano físico no Dia do Senhor, quando Ele
aparecer nos céus em glória, como Rei e Juiz.

Naquele grande dia, logo após a grande tribulação, a Igreja se encontrará


nos ares com o grande Rei, pois ela já está salva e livre dessa ira [Mateus
24:29-31, II Tessalonicenses 2:1-3).

14
III] OS MÁRTIRES DE APOCALISE 20:4

Neste tópico vamos abordar a passagem de Apocalipse 20:4. Esse texto,


apesar de apontar claramente para a presença de mártires que morrerão
durante a grande tribulação e que participarão da primeira ressurreição,
colocando essa primeira ressurreição como um evento que ocorrerá no
momento da gloriosa volta do Salvador logo após a grande tribulação (Mateus
24:29-31), tem sido mencionada por alguns para sustentar um
arrebatamento anterior à manifestação gloriosa de Jesus.

O raciocínio dessas pessoas parte da seguinte premissa: Se o texto de


Apocalipse 20:4 menciona apenas a ressurreição dos martirizados durante o
governo da besta (grande tribulação), então deve haver outra ressurreição
anterior envolvendo os "não martirizados", ou seja, aqueles que foram
arrebatados antes da tribulação (para os pré-tribulacionistas) ou durante a
tribulação (para os midi-tribulacionistas).

1] O ENTENDIMENTO PRIMITIVO

Em primeiro lugar, cremos que é necessário considerar qual o entendimento


que nossos irmãos primitivos tinham quando receberam as cartas
apocalípticas. Apesar de aplicar-se a nós também, elas foram escritas
originalmente para os irmãos do final do século I.

Qual era a mentalidade deles, formada em grande parte pelos ensinos orais
recebidos dos próprios apóstolos e do Messias? Sabemos que eram irmãos
que viviam sob constante perseguição e tribulação. O escritor Russel Norman
Champlin, em seu livro comentado de Mateus, Volume I, página 182, diz:

"...O Apocalipse foi escrito para uma igreja composta de mártires em


potencial, uma igreja que haveria de sofrer a ira romana, e não escapar da
mesma. O Apocalipse é um manual para os mártires.

Não foi escrito para os judeus e nem para satisfazer a curiosidade a respeito
do futuro, mas a fim de mostrar a uma igreja que sofria como as coisas
piorarão, e como os crentes devem postar-se firmes em tempos de tribulação.

O livro do apocalipse é essencialmente um aviso a igrejas para que resistam


em meio a mais feroz perseguição..."

Concordamos em gênero, número e grau com Champlin. Não há nenhum


documento, registro ou tradição proveniente dos séculos I, II e III que aponte
para algum tipo de crença em duas ou mais vindas ou manifestações futuras
do Senhor ou que expresse a esperança de ser arrebatado para não sofrer o
martírio ou a perseguição da besta.

15
Todos os textos dos primeiros 3 séculos que chegaram até nós, ou seja,
textos escritos décadas depois do livro de Apocalipse e do versículo em
questão (Apocalipse 20:4), mostram claramente que nossos primeiros irmãos
acreditavam e esperavam apenas uma vinda ou manifestação gloriosa do
Ungido.

Um regresso logo após a grande tribulação e logo após os sinais do Dia do


Senhor, para derrotar o anticristo (que eles relacionavam a alguns
imperadores romanos de plantão) e iniciar o Seu reino aqui na Terra.

Eles não tinham esperança alguma a respeito de um arrebatamento anterior


a isso, como "primícias", até porque o fato de serem degolados por uma
autoridade global, nos moldes descritos em Apocalipse 20:4, já fazia parte
do seu dia a dia...

A base da fé escatológica deles estava baseada nas Palavras proferidas pelo


Mestre no Monte das Oliveiras, poucos dias antes de ser crucificado. Essa
base foi passada geração a geração nos primeiros séculos.

Basta ver os escritos de Irineu, que foi discípulo de Policarpo que, por sua
vez, foi discipulado pelo próprio escritor do Apocalipse, João. Também, é
notável a sujeição que Paulo mostra ao que tinha sido ensinado pelo Salvador
décadas antes.

Se seguirmos a simplicidade daquilo que foi ensinado pelo Senhor e seguido


pelos apóstolos, evitaremos muitos problemas. Por exemplo, o Senhor
afirmou que em Sua vinda haverá toque de trombeta (Mateus 24:31).

Então, quando Paulo menciona que a ressurreição dos mortos e


transformação dos que estiverem vivos se dará ante a última trombeta (I
Coríntios 15:52), está referindo-se ao que já havia sido ensinado pelo Mestre.

Não está referindo-se à 4ª, 5ª, 6ª ou 7ª trombeta do Apocalipse, até porque


o Apocalipse foi escrito décadas depois e os irmãos em Corinto não tinham
ideia ainda das revelações que seriam dadas a João em Patmos. A última
trombeta soará logo após a grande tribulação, no Dia do Senhor (Mateus
24:29-31).

O Senhor Jesus ensinou que a nossa recompensa seria dada "na ressurreição
dos justos" (Lucas 14:14). Isso aponta para uma única ressurreição. Não para
uma ressurreição em etapas como é defendida por pré e midi tribulacionistas.

Diante disso surgem as perguntas: Será que os martirizados pela besta, por
guardar o testemunho de Jesus e a Palavra do Pai, não se prostrando diante
da besta, não podem ser incluídos entre os justos, apenas porque em
Apocalipse 20:4 não são mencionados aqueles que não foram martirizados
pela besta? Não são eles de Cristo também? Ou seriam eles justos "de
segunda categoria" ou da "série B"?

16
Paulo é claro enquanto à ordem da ressurreição:

"Mas cada um por sua ordem: Cristo as primícias, depois os que são de Cristo,
na sua vinda" (I Corintios 15:23).

Que vinda é essa mencionada por Paulo? É aquela ensinada por Jesus em
Mateus 24:29-31 ou é uma não mencionada por Ele e oculta até para os
próprios irmãos em Corinto?

Vemos então que o entendimento que nossos irmãos primitivos tinham era
que haveria uma ressurreição dos justos, da qual participariam os justos de
todas as épocas, inclusive aqueles que seriam degolados pela besta durante
a grande tribulação.

A essa ressurreição João deu o nome de primeira ressurreição (Apocalipse


20:4), antepondo-se à segunda ressurreição, que ocorrerá logo após o
Milênio e que será dirigida aos não salvos.

Eles não tinham qualquer entendimento a respeito de uma ressurreição


anterior à primeira ressurreição (!) ou a subdivisões dessa ressurreição. Isso
mostra que tais ideias não faziam parte da doutrina ensinada pelo Senhor e
pelos apóstolos.

2] A EXPERIÊNCIA DE JOÃO

Em segundo lugar, devemos considerar o teor das experiências que João teve
em Patmos. O questionamento levantado por pré e midi tribulacionistas, de
que apenas os mártires da besta ou os "salvos da tribulação" farão parte da
ressurreição descrita em Apocalipse 20:4 e que a Igreja será arrebatada
antes disso, parte da premissa que João estava vendo um filme nos padrões
hollywoodianos, numa sequência linear de eventos, com atores, resenha,
figurantes, etc, todos estrategicamente colocados para o que espectador
tenha uma visão geral do enredo.

Ou seja, se João não mencionou em sua descrição de Apocalipse 20:4 os "não


degolados pela besta", logo, deve haver uma ressurreição anterior, dizem
eles... Porém, nós não cremos nisso.

João recebia seguidas revelações, onde ele visualizava aquilo que o Senhor
queria que ele visse naquele momento, nada mais. Um dos principais
objetivos das cartas apocalípticas é trazer conforto espiritual e verdadeira
esperança aos que eram e serão atribulados.

O estilo narrativo do livro de Apocalipse não permite sustentar que, pelo


simples fato dos não degolados pela besta não serem citados em Apocalipse
20:4, eles não farão parte daquela ressurreição. Pelo contrário, as Escrituras
são claras em afirmar que essa ressurreição ocorrerá na vinda do Senhor
(uma só).

17
3] O TEXTO ORIGINAL

É bom destacar que João, em Apocalipse 20:4, relata não uma visão da
ressurreição em si, mas sim de tronos e pessoas assentadas neles, o que nos
remete ao início do período Milenal. Ele escreve "E vi tronos...".

Ou seja, pessoas que estavam exercendo autoridade com Jesus. Vejamos o


exemplo de Mateus 19:28, onde o Senhor promete aos Seus apóstolos que
estes se assentariam sobre 12 tronos, julgando as tribos de Israel.

Na passagem de Apocalipse 20:4, logo após descrever os tronos, João se


detém para explicar quem eram os irmãos martirizados que haviam
experimentado a primeira ressurreição.

Neste ponto é importante saber de um detalhe que é fundamental para ter


um real entendimento da passagem em questão. Preste atenção: a segunda
expressão "E vi" (...E vi as almas daqueles que foram degolados...) não
aparece no original grego. Ela foi acrescentada posteriormente pelos
tradutores.

É isso que dá a falsa impressão de que aqueles irmãos ressuscitados (os


degolados durante a grande tribulação) estavam experimentando uma
ressurreição posterior aos dos outros. Vejamos o original grego de Apocalipse
20:4, palavra por palavra, de acordo com o textus receptus compilado por
Robert Estienne:

Kai (E) eido (eu vi) thronos (tronos), kai (e) kathizo (eles assentaram-se) epi
(sobre) autos (eles) kai (e) krima (poder de julgar) didomi (foi dado) autos
(a eles). Kai (E) psuche (as almas) pelekizo (dos degolados) dia (pelo)
marturia (testemunho) Iesous (de Jesus) kai (e) dia (pela) logos (palavra)
theos (de Deus) ... zao (viveram) kai (e) basileuo (reinaram) meta (com)
Christos (Cristo) chilioi (por mil) etos (anos).

O verbo "didomi" (foi dado) aponta uma ação que já tinha ocorrido no
passado. Já o verbo "zao" (viveram) é usado no Novo Testamento para indicar
o estado de uma pessoa que já havia sido ressuscitada momentos antes e
que já estava exercendo suas atividades vitais de forma plena (Lucas 15:32,
Apocalipse 2:8, Apocalipse 13:14).

Ou seja, os irmãos de Apocalipse 20:4 já tinham recebido poder para julgar


e reinar e já tinham ressuscitado momentos antes!

Não vemos razões convincentes para dividir aquilo que é indivisível. O Corpo
de Cristo é um só. Haverá uma ressurreição dos justos (primeira) e outra
ressurreição dos injustos (segunda). É nisso que os irmãos primitivos criam
e é nisso que nós acreditamos.

Cremos que o argumento do silêncio não é válido nesta questão. Por exemplo,
usando o mesmo raciocínio do silêncio utilizado no questionamento levantado
por pré-tribulacionistas e midi-tribulacionistas a respeito de Apocalipse 20:4,
poderíamos afirmar que apenas os martirizados pela besta vencerão a

18
segunda morte, ficando de fora todos os cristãos que na história não
perderam suas vidas nas mãos do anticristo. É só usar o mesmo raciocínio da
pergunta no versículo 6 do capítulo 20:

"Bem-aventurado e santo aquele que tem parte na primeira ressurreição;


sobre estes não tem poder a segunda morte".

Ou poderíamos, ainda usando o mesmo raciocínio do silêncio em Apocalipse


20:4-6, afirmar que apenas eles (os martirizados pela besta) reinarão com
Cristo no Milênio, ficando de fora do reino os "não degolados"...

Obviamente, ninguém aceitaria esse raciocínio nosso, pois sabemos que todo
aquele que nasce de novo passou da morte para a vida e reinará eternamente
com Cristo!

Da mesma forma, não vemos razões para crer que, pela simples ausência
dos não martirizados pela besta em Apocalipse 20:4, devamos cogitar que
haverá uma ressurreição anterior à primeira (?!), que não fora ensinada por
Jesus, nem pelos apóstolos e nem sequer mencionada entre os primeiros
irmãos.

19
IV] O JULGAMENTO DE MATEUS 25:31-46

Uma das passagens escatológicas mais discutidas é a que foi registrada por
Mateus no final da detalhada exposição profética feita pelo Senhor Jesus no
Monte das Oliveiras, dias antes de Sua crucificação e gloriosa ressurreição.

Essa passagem está contida em Mateus 25:31-46. Se nas passagens bíblicas


teoricamente mais fáceis de interpretar devemos ter o máximo de cautela
para não adotar a posição de infalibilidade interpretativa, muito mais
devemos fazer isso com o texto em questão.

No entanto, não podemos fugir da tentativa de compreendê-lo em sua


plenitude, pois é Palavra de Deus para nós. Que o Espírito do Criador possa
nos guiar nessa incessante caminhada.

As palavras do Mestre em Mateus 25:31-46 têm gerado diversas


interpretações. São usadas até mesmo por aqueles que pregam a justificação
perante o Criador através das boas obras, ideia que não refutaremos neste
artigo, pois encontra-se tão afastada da verdade redentora revelada no
evangelho e ministério de Cristo que não merece ser incluída num artigo que
visa, principalmente, trazer alguma luz sobre a passagem, tendo como base
inegociável o amor e a justiça do Eterno Pai.

As dúvidas e diferentes interpretações relacionadas a essa passagem


geralmente se relacionam com o tempo e a forma como será concretizada
essa profecia dita pelo Salvador.

Os fatos narrados pelo Mestre em Mateus 25:31-46 se darão imediatamente


após a Sua gloriosa volta ou após o Milênio? Essa passagem é um forte
argumento amilenista? É o Juízo Final? Todos os acontecimentos narrados na
passagem ocorrerão no mesmo momento, numa sequência temporal
imediata?

Todos os elementos simbólicos usados pelo Senhor englobam a totalidade


das pessoas que existirão naquele momento? É um julgamento de nações ou
de pessoas? Essas e outras questões serão abordadas neste artigo.

Cremos que, acima de tudo, deve haver discernimento espiritual para a


perfeita compreensão das Escrituras e esse discernimento está à disposição
de todo aquele que nasceu de novo, está em comunhão com o Altíssimo e
pede por ele.

Durante muito tempo, nós interpretamos essa passagem seguindo a vertente


mais aceita pela ortodoxia dispensacional, ou seja, como um juízo sobre as
nações existentes no momento da volta de Cristo.

Nesse entendimento, o qual é seguido pela grande maioria dos que já leram
o texto, as ovelhas são as nações que ajudarão ou ajudam de alguma forma

20
os "irmãos pequeninos" (Israel) e os bodes são aqueles que se opõem e
oporão a Israel.

No entanto, nunca tínhamos feito um estudo mais detalhado sobre o texto.


Esse artigo é fruto desse estudo e rogamos ao Eterno que seja útil para quem
o ler.

1] AS NAÇÕES

Se formos a nossas bíblias, veremos que na maioria delas a passagem em


questão começa com o subtítulo de "Julgamento das Nações". Obviamente,
esse subtítulo não faz parte do escrito original do Evangelho, sendo
acrescentado pelos tradutores e editores muito depois.

Sem dúvidas, o texto descreve um julgamento e as nações são o alvo desse


julgamento. Logo, o subtítulo, quando diz tratar-se do "julgamento das
nações" não foge à realidade do texto.

No entanto, cremos que o ponto inicial a ser tratado é o que realmente


significa no texto o termo "nações". A partir do correto entendimento do que
realmente significa esse termo, poderemos chegar a uma compreensão mais
apropriada.

O termo grego usado para "todas as nações" em Mateus 25:32 é pas ethnos.
A palavra ethnos sozinha é muitas vezes usada no Novo Testamento para
descrever as nações gentílicas, excluindo Israel (por exemplo, Mateus 4:14,
Mateus 6:32, Lucas 21:24).

Porém, se formos considerar o contexto imediato da mensagem do Senhor,


veremos que, durante as revelações que Ele proferiu no sermão da Montanha,
o uso do termo "todas as nações" (pas ethnos) se refere à totalidade
representativa das nacionalidades existentes:

"Então vos hão de entregar para serdes atormentados, e matar-vos-ão; e


sereis odiados de todas as nações (pas ethnos) por causa do meu nome"
(Mateus 24:9)

"E este evangelho do reino será pregado em todo o mundo, em testemunho


a todas as nações (pas ethnos), e então virá o fim" (Mateus 24:14)

Também podemos ver Jesus utilizando o mesmo termo em Mateus 28:19,


quando Ele comissiona os discípulos:

"Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações (pas ethnos), batizando-os


em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo" (Mateus 28:19)

Então, a aplicabilidade do termo "todas as nações" em Mateus 25:32 não


parece apontar para a totalidade absoluta de todas as pessoas de todos os
tempos, até porque muitos que estão mortos só serão ressuscitados após o
Milênio (Apocalipse 20:11-13).

21
Considerando como a expressão é utilizada em todos os textos anteriores,
ela parece descrever, no contexto de Mateus 25:31-46, todas as nações,
povos e etnias existentes no momento da gloriosa vinda do Ungido, deixando
transparecer que todas essas nações estarão sendo representadas naquele
momento pessoalmente por grande parte de seus habitantes.

O termo não sugere uma aplicação institucional para nações, como se


estivesse falando de repúblicas ou países, mas de "todos os povos" ou "todas
as pessoas existentes naquele momento".

2] O PROPÓSITO DA PARÁBOLA

Jesus revela que todas as nações serão reunidas diante Dele e que haverá
uma separação (Mateus 25:32). Esse é o tema principal do texto sobre o qual
estamos meditando. Dois grupos de pessoas sendo separados e destinados a
realidades distintas.

Cremos que, quando falamos em separação, não devemos dissociar este


texto de outros semelhantes, os quais trazem também revelações do Senhor
a respeito da separação que ocorrerá no fim dos tempos. As revelações das
Escrituras devem ser compreendidas como um conjunto harmonioso (Salmos
119:160).

Jesus, ao mencionar essa separação, em todo momento fala de dois grupos.


Convém lembrar que antes de falar sobre a separação usando a figura das
ovelhas e dos bodes (Mateus 25:33), Ele já a tinha mencionado utilizando
outras figuras, todas elas, assim como a separação de bodes e ovelhas, bem
familiares e de fácil compreensão para os seus ouvintes.

Ele havia falado sobre o joio e o trigo (Mateus 13:24-43) e dos peixes bons
e estragados (Mateus 13:47-48). Vejamos cada um desses textos:

"Deixai crescer ambos juntos até à ceifa; e, por ocasião da ceifa, direi aos
ceifeiros: Colhei primeiro o joio, e atai-o em molhos para o queimar; mas, o
trigo, ajuntai-o no meu celeiro...

Assim como o joio é colhido e queimado no fogo, assim será na consumação


deste mundo. Mandará o Filho do homem os seus anjos, e eles colherão do
seu reino tudo o que causa escândalo, e os que cometem iniquidade.

E lançá-los-ão na fornalha de fogo; ali haverá pranto e ranger de dentes.


Então os justos resplandecerão como o sol, no reino de seu Pai. Quem tem
ouvidos para ouvir, ouça" (Mateus 13:30 e 40-43).

"Igualmente o reino dos céus é semelhante a uma rede lançada ao mar, e


que apanha toda a qualidade de peixes. E, estando cheia, a puxam para a
praia; e, assentando-se, apanham para os cestos os bons; os ruins, porém,
lançam fora.

22
Assim será na consumação dos séculos: virão os anjos, e separarão os maus
de entre os justos" (Mateus 13:47-49)

Logo, cremos que a narrativa sobre os bodes e as ovelhas deve ser entendida
sob esse contexto maior. O Messias utilizava figuras de fácil compreensão
para que aqueles que O ouviam pudessem entender a mensagem.

Nesse caso específico, a mensagem da separação que haverá no fim entre


justos e injustos que haverá no fim.

O modus operandi usado na separação do joio e do trigo, dos peixes e das


ovelhas e dos bodes diferem em sua operacionalidade, mas o resultado final
é a obtenção de dois grupos bem definidos.

Um grupo reunido para entrar no Reino e outro grupo reunido para ser
castigado. Essa separação fica bem patente nas três passagens em foco.

Sob esse princípio maior da contextualidade das Escrituras, entendemos que


o propósito da figura utilizada em Mateus 25:31-46, a simbologia dos bodes
e das ovelhas, visa mostrar o conceito de separação que o Mestre já havia
ensinado antes.

A forma de separação, se atentarmos bem para o costume de cada atividade


usada por Jesus como exemplo, é diferente.

O modus operandi para a separação do trigo e do joio difere da operação feita


pelo pescador para separar os peixes bons dos maus, assim como a
separação de bodes e ovelhas tem peculiaridades que a difere das outras.

Vejamos: na separação do joio e do trigo, o joio era reunido primeiro,


colocado em molhos e depois queimado. O que ficava, obviamente, era o
trigo.

No caso dos peixes, o pescador se assentava na praia após a pescaria e ia


tirando um a um os peixes da rede. Os bons eram colocados de um lado e os
estragados de outro, formando dois amontoados de peixes. Os bons eram
aproveitados e os estragados eram descartados.

Com relação às ovelhas e os bodes, o pastor fazia uma grande fila e ia


separando um a um, conforme se aproximavam dele.

Consequentemente, não cremos que essas diferenças operacionais entre as


parábolas citadas seja motivo para crer que elas se referem a acontecimentos
distintos nem cremos que tais diferenças possam ser usadas separadamente
para sustentar determinada doutrina...

O propósito maior do Senhor era o de mostrar àqueles homens, através de


figuras didáticas, o que haveria de ocorrer em Sua vinda no fim dos tempos.

Sendo assim, não há suficiente base para negar veementemente que as


ovelhas de Mateus 25:31-46 seja uma figura da Igreja, a menos que se

23
interprete a passagem de forma desconexa com as outras passagens onde o
Salvador fala da separação que haverá no fim.

Entendemos ser muito mais prudente interpretar Mateus 25:31-46 à luz de


Mateus 13:47-49 e Mateus 13:30-43, do que apegar-se à diferença
operacional inerente à parábola em relação às outras, pois nesse caso
teríamos que defender, no mínimo, 3 formas diferentes de separação na
vinda de Cristo, baseados na forma de separação diferenciada de cada uma
das atividades mencionadas pelo Mestre nas 3 parábolas em questão (joio e
trigo, peixes bons e ruins e ovelhas e bodes) (!).

Entendemos que todas essas figuras usadas pelo Senhor mostram que
haverá, por ocasião de Sua gloriosa vinda, uma separação entre justos e
injustos.

Essa é a mensagem central. Sendo assim, temos que considerar todo o


contexto bíblico para discernir que separação é essa e como será feita. Vamos
buscar tais respostas na soma da Palavra...

3] A REUNIÃO DOS ÍMPIOS (BODES, JOIO, PEIXES RUINS)

O que as Escrituras nos mostram sobre reunião de ímpios e justos no fim dos
tempos, quando o Ungido voltar? O que a Palavra nos diz sobre esses dois
grupos de pessoas sendo reunidas com propósitos diferentes na consumação
dos séculos?

Já no Antigo Testamento, os profetas Joel e Zacarias nos mostram que o


Senhor realizaria um ajuntamento de ímpios no fim dos tempos:

"Porque, eis que naqueles dias, e naquele tempo, em que removerei o


cativeiro de Judá e de Jerusalém, congregarei todas as nações, e as farei
descer ao vale de Jeosafá; e ali com elas entrarei em juízo, por causa do meu
povo, e da minha herança, Israel, a quem elas espalharam entre as nações e
repartiram a minha terra" (Joel 3:1-2)

O profeta Joel situa esse ajuntamento das nações dentro do Dia do Senhor,
como pode ser visto no contexto (Joel 2:30-32).

Mais ou menos 3 séculos depois de Joel, o profeta Zacarias também revela a


respeito desse ajuntamento no mesmo contexto do Dia do Senhor:

"Eis que vem o dia do SENHOR, em que teus despojos se repartirão no meio
de ti. Porque eu ajuntarei todas as nações para a peleja contra Jerusalém; e
a cidade será tomada, e as casas serão saqueadas, e as mulheres forçadas;
e metade da cidade sairá para o cativeiro, mas o restante do povo não será
extirpado da cidade. E o SENHOR sairá, e pelejará contra estas nações, como
pelejou, sim, no dia da batalha" (Zacarias 14:1-3)

24
Sabemos que a revelação bíblica é progressiva. Aquilo exposto por Joel e
Zacarias foi aprofundado na revelação recebida por João em Patmos. O que
nos diz a revelação apocalíptica a respeito?

"E o sexto anjo derramou a sua taça sobre o grande rio Eufrates; e a sua
água secou-se, para que se preparasse o caminho dos reis do oriente.

E da boca do dragão, e da boca da besta, e da boca do falso profeta vi sair


três espíritos imundos, semelhantes a rãs. Porque são espíritos de demônios,
que fazem prodígios; os quais vão ao encontro dos reis da terra e de todo o
mundo, para os congregar para a batalha, naquele grande dia do Deus Todo-
Poderoso.

Eis que venho como ladrão. Bem-aventurado aquele que vigia, e guarda as
suas roupas, para que não ande nu, e não se vejam as suas vergonhas. E os
congregaram no lugar que em hebreu se chama Armagedom" (Apocalipse
16:12-16)

Então, se formos submissos ao ensinamento do Senhor Jesus e à soma de


Sua Palavra, entenderemos que o joio será reunido no Armagedom ou "Vale
de Josafá" nos momentos que antecedem a gloriosa volta de Cristo.

Ali, as nações de todo o mundo, ludibriadas pelos três espíritos malignos,


numa tríplice atuação do mal, se reunirão com o propósito último de
exterminar definitivamente o povo judeu e apossar-se de Jerusalém.

Cremos que, quando essa marcha mundial contra Jerusalém ocorrer, a


população na Terra será muito menor do que a atual, pois o período
tribulacional causará grande quantidade de mortes (Apocalipse 6:8,
Apocalipse 9:18).

Então, é viável pensar que grande parte das pessoas existentes naquela
época, excetuando, é claro, a Igreja e algumas pessoas das nações,
marcharão contra Jerusalém. Ali, essas pessoas ("nações") serão julgadas e
sentenciadas pelo próprio Senhor Jesus.

Não apenas por terem subido contra Jerusalém, mas por terem recebido a
marca da besta e adorado a sua imagem. O resultado da sentença é
claramente exposto e se encaixa perfeitamente com a narrativa da
condenação e sentença sobre os bodes:

"E seguiu-os o terceiro anjo, dizendo com grande voz: Se alguém adorar a
besta, e a sua imagem, e receber o sinal na sua testa, ou na sua mão,
também este beberá do vinho da ira de Deus, que se deitou, não misturado,
no cálice da sua ira; e será atormentado com fogo e enxofre diante dos santos
anjos e diante do Cordeiro.

E a fumaça do seu tormento sobe para todo o sempre; e não têm repouso
nem de dia nem de noite os que adoram a besta e a sua imagem, e aquele
que receber o sinal do seu nome" (Apocalipse 14:9-11)

25
"E vi o céu aberto, e eis um cavalo branco; e o que estava assentado sobre
ele chama-se Fiel e Verdadeiro; e julga e peleja com justiça. E os seus olhos
eram como chama de fogo; e sobre a sua cabeça havia muitos diademas; e
tinha um nome escrito, que ninguém sabia senão ele mesmo.

E estava vestido de uma veste salpicada de sangue; e o nome pelo qual se


chama é a Palavra de Deus. E seguiam-no os exércitos no céu em cavalos
brancos, e vestidos de linho fino, branco e puro.

E da sua boca saía uma aguda espada, para ferir com ela as nações; e ele as
regerá com vara de ferro; e ele mesmo é o que pisa o lagar do vinho do furor
e da ira do Deus Todo-Poderoso.

E no manto e na sua coxa tem escrito este nome: Rei dos reis, e Senhor dos
senhores. E vi um anjo que estava no sol, e clamou com grande voz, dizendo
a todas as aves que voavam pelo meio do céu: Vinde, e ajuntai-vos à ceia do
grande Deus; Para que comais a carne dos reis, e a carne dos tribunos, e a
carne dos fortes, e a carne dos cavalos e dos que sobre eles se assentam; e
a carne de todos os homens, livres e servos, pequenos e grandes.

E vi a besta, e os reis da terra, e os seus exércitos reunidos, para fazerem


guerra àquele que estava assentado sobre o cavalo, e ao seu exército. E a
besta foi presa, e com ela o falso profeta, que diante dela fizera os sinais,
com que enganou os que receberam o sinal da besta, e adoraram a sua
imagem.

Estes dois foram lançados vivos no lago de fogo que arde com enxofre. E os
demais foram mortos com a espada que saía da boca do que estava
assentado sobre o cavalo, e todas as aves se fartaram das suas carnes"
(Apocalipse 19:11-21).

Agora, voltemos ao texto de Mateus 25:31-46 e vejamos o que acontecerá


com os bodes:

"...E irão estes para o tormento eterno" (Mateus 25:46)

Ou seja, a mesma sentença citada em Apocalipse 14:9-11 e Apocalipse


19:11-21... Uma reunião dos ímpios (joio, peixes estragados, bodes) cuja
destinação será o "tormento eterno" (Mateus 25:46, Apocalipse 14:9).

Cremos, então, que o julgamento dos "bodes" de Mateus 25:31-46 será o


momento em que as nações que subirem contra Jerusalém no final da
tribulação, assim como aqueles que tiverem aceito a marca da besta e
adorado a mesma como a um deus, serão sumariamente julgados e
destinados ao "tormento eterno". A soma da Palavra aponta para esse
momento único.

26
4] A REUNIÃO DOS JUSTOS (OVELHAS, TRIGO E PEIXES BONS)

Da mesma forma que a Bíblia mostra a reunião dos ímpios diante da vinda
do Senhor e a separação dos mesmos para o juízo, revela que os justos, os
escolhidos ou Igreja, como se queira denominar, serão reunidos também.

Se a Igreja era um mistério para os profetas do Antigo Testamento, imaginem


a reunião da Igreja no momento da gloriosa volta de Cristo...

No entanto, esse mistério começou a ser revelado por nosso Salvador. Ele
detalha claramente quando e como se dará essa reunião sublime:

"E, logo depois da aflição daqueles dias, o sol escurecerá, e a lua não dará a
sua luz, e as estrelas cairão do céu, e as potências dos céus serão abaladas.

Então, aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem; e todas as tribos da terra


se lamentarão e verão o Filho do Homem vindo sobre as nuvens do céu, com
poder e grande glória.

E ele enviará os seus anjos com rijo clamor de trombeta, os quais ajuntarão
os seus escolhidos desde os quatro ventos, de uma à outra extremidade dos
céus" (Mateus 24:29-31)

O Messias revela cronologicamente os detalhes. Imediatamente após a


grande tribulação, os sinais que antecedem o Dia do Senhor se manifestarão
e o próprio sinal Dele aparecerá nos céus.

As "tribos da terra" (ímpios já reunidos contra Jerusalém, como vimos


anteriormente), se lamentarão diante dessa gloriosa aparição divina. O
Senhor aparecerá no céu juntamente com os Seus anjos.

Os justos, justificados por Cristo e pertencentes ao Seu Corpo, serão reunidos


nos ares no momento em que a última trombeta tocar.

Nesse momento, os mortos em Cristo ressuscitarão e os que estiverem vivos


serão transformados, todos recebendo corpos glorificados para, logo depois
desse encontro nos ares, descer à Terra com o Senhor (I Coríntios 15:51-52,
I Tessalonicenses 4:15-18, Zacarias 14:1-4).

No momento em que Cristo Jesus descer à Terra com todos os Seus anjos e
com a Sua Igreja glorificada, Ele pousará Seus pés no Monte das Oliveiras e
exercerá juízo contra as nações reunidas ali no Armagedom.

Então, nesse momento podemos ver claramente os dois grupos de pessoas


simbolizados pelo Senhor na passagem de Mateus 25:31-46 como "bodes" e
"ovelhas".

De um lado, a maior parte dos habitantes da Terra, representando todas as


nações, reunidos contra Jerusalém.

Pessoas que estarão ali sob as ordens espirituais malignas da besta, do falso
profeta e de satanás com o intuito de destruir definitivamente Israel e
levantar-se contra o Pai (Apocalipse 16:12-16).

27
Pessoas que receberam o sinal da besta e a adoraram. De outro lado, a Igreja
de Cristo, reunida por Ele próprio e por Seus anjos nos ares imediatamente
antes.

Entendemos que ali, naquele exato instante, no Dia do Senhor, se dará a


sentença para os ímpios que estiverem reunidos contra Israel (morte e
tormento eterno) e para a Igreja (o convite para entrar no Reino juntamente
com Ele):

"Então, dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim,
malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos" (Mateus
25:41)

"Então, dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu
Pai, possuí por herança o Reino que vos está preparado desde a fundação do
mundo" (Mateus 25:34)

Os profetas do Antigo Testamento também referem-se a esse dia decisório


de julgamento:

"Eis que vem o dia do SENHOR, em que teus despojos se repartirão no meio
de ti. Porque eu ajuntarei todas as nações para a peleja contra Jerusalém; e
a cidade será tomada, e as casas serão saqueadas, e as mulheres forçadas;
e metade da cidade sairá para o cativeiro, mas o restante do povo não ser á
extirpado da cidade.

E o SENHOR sairá, e pelejará contra estas nações, como pelejou, sim, no dia
da batalha. E naquele dia estarão os seus pés sobre o monte das Oliveiras,
que está defronte de Jerusalém para o oriente; e o monte das Oliveiras será
fendido pelo meio, para o oriente e para o ocidente, e haverá um vale muito
grande; e metade do monte se apartará para o norte, e a outra metade dele
para o sul...

E o SENHOR será rei sobre toda a terra; naquele dia um será o SENHOR, e
um será o seu nome " (Zacarias 14:1-4 e 9)

"Multidões, multidões no vale da decisão; porque o dia do SENHOR está perto,


no vale da decisão" (Joel 3:14)

Por sua vez, o apóstolo Paulo nos mostra que apenas os corporalmente
glorificados herdarão o reino do Altíssimo. Essa é mais uma forte base para
crermos que o convite feito pelo Senhor Jesus para que ovelhas herdem o
Reino, se refere à Igreja:

"E agora digo isto, irmãos: que a carne e o sangue não podem herdar o reino
de Deus, nem a corrupção herdar a incorrupção" (I Coríntios 15:50)

28
5] AS NAÇÕES NO MILÊNIO: ISRAEL E OS RESTANTES

Neste ponto, muitos já estarão perguntando: E as nações que habitarão o


Milênio e serão governadas por Cristo e Sua Igreja?

Afinal de contas, a interpretação mais aceita dentro do dispensacionalismo,


como já vimos, é que o "Julgamento das Nações" de Mateus 25:31-46 é um
julgamento que define critérios para que determinadas nações entrem no
Milênio e outras não.

Nesse modelo de interpretação, todas as nações ou etnias existentes no


momento da vinda de Cristo, como, por exemplo, Inglaterra, Brasil, Portugal,
etc, etc, estarão diante de Cristo e Ele estabelecerá que nação entra no
Milênio ou não em função do tratamento que essas nações ou povos tiveram
com Israel, geralmente relacionado aos "pequeninos" da passagem.

Cremos que indiretamente no julgamento das nações (Mateus 25:31-46)


haverá a instituição desse critério de entrada, porém não a nível nacional,
mas pessoal. Já vimos que a expressão "todas as nações", no contexto de
Mateus 25:31-46, é muito mais pessoal que nacional.

Como observaremos mais adiante, haverá pessoas que, embora pertencendo


a nações que subirão com a besta contra Jerusalém, não subirão. Também,
haverá pessoas que, embora não pertencendo à Igreja nem a Israel, não
receberão, por algum motivo, o sinal da besta.

Então, não entendemos que Mateus 25:31-46 descreve um julgamento sobre


nações, mas, como já vimos, sobre os dois grandes grupos de pessoas que
estarão vivas por ocasião da volta do Salvador: os injustos e os justos (bodes
e ovelhas), os quais, logicamente, fazem parte de "todas as nações"...

Porém, esses dois grandes grupos deixam de lado duas grandes exceções:
os restantes das nações, os quais não subirão contra Jerusalém e o
remanescente da nação de Israel.

Lembremos, antes de nada, que o propósito do Senhor naquele momento era


o de mostrar aos discípulos que haveria uma separação entre justos e
injustos, com destinos bem diferentes para cada um desses dois grandes
grupos de pessoas.

Não nos deteremos muito aqui para mostrar que Israel é um elemento à parte
dos bodes e das ovelhas de Mateus 25:31-46, posto que há um tratamento
especial do Senhor em relação à nação israelense no tempo em que ocorrer
a volta de Cristo. Ao estudar o livro de Zacarias, entre outros, o leitor poderá
facilmente discernir esse propósito:

"Naquele dia o SENHOR protegerá os habitantes de Jerusalém; e o mais fraco


dentre eles naquele dia será como Davi, e a casa de Davi será como Deus,
como o anjo do SENHOR diante deles.

29
E acontecerá naquele dia, que procurarei destruir todas as nações que vierem
contra Jerusalém; Mas sobre a casa de Davi, e sobre os habitantes de
Jerusalém, derramarei o Espírito de graça e de súplicas; e olharão para mim,
a quem traspassaram; e pranteá-lo-ão sobre ele, como quem pranteia pelo
filho unigênito; e chorarão amargamente por ele, como se chora
amargamente pelo primogênito"(Zacarias 12:8-10).

"Naquele dia haverá uma fonte aberta para a casa de Davi, e para os
habitantes de Jerusalém, para purificação do pecado e da imundícia...

E farei passar esta terceira parte pelo fogo, e a purificarei, como se purifica
a prata, e a provarei, como se prova o ouro. Ela invocará o meu nome, e eu
a ouvirei; direi: É meu povo; e ela dirá: O SENHOR é o meu Deus" (Zacarias
13:1 e 9).

O próprio Senhor Jesus estabeleceu que a nação israelense estaria presente


em Seu Reino e que haveria um tribunal e juízos específicos para essa nação
durante o Milênio:

"E Jesus disse-lhes: Em verdade vos digo que vós, que me seguistes, quando,
na regeneração, o Filho do homem se assentar no trono da sua glória,
também vos assentareis sobre doze tronos, para julgar as doze tribos de
Israel" (Mateus 19:28)

Sabendo que há um tratamento específico do Senhor em relação a Israel, o


que retira a nação israelense do contexto do julgamento de Mateus 25:31-
46, vamos refletir agora sobre a outra exceção desse julgamento: os
"restantes" das nações.

Como já vimos, cremos que as palavras "...vinde benditos do meu Pai, possui
por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo...",
se referem à Igreja.

No entanto, entendemos que esse convite feito à Igreja para que a mesma
herde o Reino, trará consequências indiretas refletidas nas nações (gentios)
que entrarão no Milênio, da mesma forma que Raabe viu refletida sobre si e
sua família o procedimento que teve a respeito do povo escolhido do Eterno,
quando o mesmo estava prestes a entrar na Terra Prometida (Josué 2:1-24).

Apesar de ser prostituta e pertencer a um povo condenado à destruição, seu


ato de proteção aos servos do Senhor tornou-se um ato de fé (Hebreus
11:31), que propiciou seu livramento da morte naquele momento.

A revelação bíblica é enfática ao mostrar que haverá esse grupo de


"restantes" das nações, os quais entrarão no Milênio e estarão submissas ao
reinado de Cristo:

"E acontecerá que, todos os que restarem de todas as nações que vieram
contra Jerusalém, subirão de ano em ano para adorar o Rei, o SENHOR dos
Exércitos, e para celebrarem a festa dos tabernáculos.

30
E acontecerá que, se alguma das famílias da terra não subir a Jerusalém,
para adorar o Rei, o SENHOR dos Exércitos, não virá sobre ela a chuva. E, se
a família dos egípcios não subir, nem vier, não virá sobre ela a chuva; virá
sobre eles a praga com que o SENHOR ferirá os gentios que não subirem a
celebrar a festa dos tabernáculos.

Este será o castigo do pecado dos egípcios e o castigo do pecado de todas as


nações que não subirem a celebrar a festa dos tabernáculos" (Zacarias 14:16-
19)

Nesse texto de Zacarias, fica bastante claro que entrarão no Milênio pessoas
pertencentes a nações que oficialmente subirão contra Jerusalém no
Armagedom.

Deixamos claro que há uma enorme diferença entre herdar o Reino e entrar
no Reino. Através da revelação da Palavra sabemos que os que aceitarem o
sinal da besta serão julgados e sentenciados ao fogo eterno, bebendo no
cálice da ira do Altíssimo (Apocalipse 14:9-10).

Logo, essas pessoas citadas por Zacarias, embora pertencendo a nações que
estarão sob o comando da besta e que subirão contra Jerusalém no derradeiro
convite maligno (Apocalipse 16:13-14), são pessoas que não receberão o
sinal da besta e nem farão parte dos exércitos da besta, se formos coerentes
com a revelação bíblica.

O profeta Ezequiel também nos mostra o mesmo cenário, quando Israel for
definitivamente restaurado e livrado:

"Assim diz o Senhor DEUS: No dia em que eu vos purificar de todas as vossas
iniquidades, então farei com que sejam habitadas as cidades e sejam
edificados os lugares devastados.

E a terra assolada será lavrada, em lugar de estar assolada aos olhos de


todos os que passavam. E dirão: Esta terra assolada ficou como jardim do
Éden: e as cidades solitárias, e assoladas, e destruídas, estão fortalecidas e
habitadas.

Então saberão os gentios, que tiverem ficado ao redor de vós, que eu, o
SENHOR, tenho reedificado as cidades destruídas, e plantado o que estava
devastado. Eu, o SENHOR, o disse e o farei" (Ezequiel 36:33-36).

Repetimos que, o fato desse restante das "nações" (gentios) entrarem no


Milênio, não significa necessariamente que tais pessoas serão salvas na
eternidade, até porque "nações" serão enganadas por satanás e subirão
contra Jerusalém no final do Milênio na rebelião final contra Deus (Apocalipse
20:8-9).

31
6] OS CRITÉRIOS DO JULGAMENTO

O entendimento que estamos propondo neste artigo opõe-se ao ensino do


dispensacionalismo ortodoxo, principalmente na questão do critério.

Muitos poderão questionar: se o critério utilizado por Cristo é o das boas


obras, então não se trata da salvação da Igreja ou da condenação eterna dos
ímpios, mas apenas de um critério para a entrada no Reino ou a proibição de
entrar nele.

No entanto, convidamos você a refletir mais uma vez conosco. Para começar,
devemos considerar a quem originalmente Jesus disse aquelas palavras.

A sua audiência, quando Ele proferiu as profecias de Mateus 25:31-46, era


composta dos mesmos discípulos que O tinham ouvido desde o início de Suas
Palavras proféticas (Mateus 24:1-2).

Aqueles discípulos não tinham ainda completo conhecimento do amor do Pai,


a qual seria plenamente manifestada na cruz dias após.

Para eles, havia coisas que o Senhor não havia revelado, pois não poderiam
suportar naquele estágio de maturidade (João 16:12). Jesus lhes falou de
acordo com esse contexto.

A plenitude dos planos do Pai naquele momento eram um mistério, logo, é


bastante compreensível que não tenha sido mencionada pelo Messias ao
referir-se ao momento em que as ovelhas serão destinadas ao Reino e os
bodes serão julgados.

O Senhor Jesus menciona como critério de julgamento em Mateus 25:31-46


um dos pilares de Sua doutrina. Trata-se do amor ao próximo, o qual, dentro
da narrativa de Jesus, se torna também uma expressão do amor a Deus:

"... Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes meus pequeninos
irmãos, a mim o fizestes" (Mateus 25:40)

Cremos que o Senhor não está aqui falando apenas de boas obras, mas das
verdadeiras obras, aquelas que se originam da fé e são um fruto visível dessa
fé (Tito 3:14, Efésios 2:10).

Sabemos muito bem que a salvação é um dom do Eterno. É Graça mediante


a fé (Efésios 2:8). Logo, o Senhor está abordando algo que vai muito além
das boas obras.

Um outro ponto a ser considerado é que a abordagem da passagem, quando


enfoca a separação de bodes e ovelhas com seus destinos diferentes, não
está centrada na salvação, mas na condenação dos ímpios (bodes) e na
recompensa para os justificados (ovelhas). Aos bodes é destinado o tormento
eterno e às ovelhas o Reino eterno.

Vemos que no Apocalipse é revelado que o critério usado para a condenação


é o das obras. Isso fica patente no Juízo Final, logo após o Milênio. Os mortos

32
de todas as eras que rejeitaram a graça do Pai mediante a fé serão julgados
pelas suas obras (Apocalipse 20:13).

Logo, está em perfeita sincronia com a revelação bíblica afirmar que os bodes
de Mateus 25:31-46 serão julgados e sentenciados tendo como critério as
suas obras, tal qual aponta o Senhor Jesus em Mateus 25:41-46.

Por outro lado, o convite feito às ovelhas não pode ser caracterizado como
salvação no sentido mais amplo da palavra, mas como parte inerente dessa
salvação. O convite para entrar no Reino é uma recompensa, uma
consequência para quem já é salvo.

É uma benção originada pela salvação. Afinal, as ovelhas estarão ali após
terem sido arrebatadas para encontrarem-se com Jesus nos ares e após
terem sido corporalmente glorificadas (Mateus 24:29-31, I Coríntios 15:50-
52).

Logo, as ovelhas já terão vencido a morte. Já estarão plenamente salvas


quando receberem o convite para entrar no Reino.

Então, entendemos que o critério das boas obras, além de ser interpretado
sob o prisma da capacidade de compreensão dos interlocutores de Jesus
naquele momento, deve ser discernido sob os aspectos de condenação para
os ímpios e recompensa para a Igreja.

7] OS PEQUENINOS

E os "pequeninos" citados pelo Mestre? Aqueles que, necessitados, recebem


o amor das ovelhas e o desprezo dos bodes?

Dentro do contexto de nosso entendimento sobre a passagem, o termo


"pequeninos irmãos" (Mateus 25:40) ou "pequeninos" (Mateus 25:45) se
refere a pessoas que, de alguma forma, são carentes de uma ajuda, seja por
sua condição ou por sua idade.

O termo grego traduzido como "pequeninos" é elachistos. Ele é usado, além


de Mateus 25:40 e Mateus 25:45, em Mateus 2:6, Mateus 5:19, Lucas 12:26,
Lucas 16:10, Lucas 19:17, I Coríntios 4:3, I Coríntios 6:2, I Coríntios 15:9 e
Tiago 3:4.

Em todas essas passagens, o termo se refere a um conceito de menor


importância em relação a outra coisa. Se aplicado a pessoas, o termo
descreve pessoas necessitadas, impossibilitadas ou carentes. Pessoas
menosprezadas e desassistidas.

Então, cremos que nas passagens de Mateus 25:40 e Mateus 25:45, o termo
não deve ser compreendido de outra forma. Entendemos que os "pequeninos"
citados pelo Senhor retratam as pessoas mais necessitadas do amor do
próximo.

33
A verdadeira expressão de nossa fé e o verdadeiro fruto dela se mostra no
amor ao Criador e ao próximo. Tiago escreve nesse contexto:

"A religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, é esta: Visitar os órfãos e
as viúvas nas suas tribulações, e guardar-se da corrupção do mundo" (Tiago
1:27)

Logo, a verdadeira vida cristã frutífera, através da fé, redundará sempre em


amor ao próximo e ao Altíssimo e isso se tornará visível através de ações e
obras.

A verdadeira fé sempre gerará verdadeiras obras e tudo isso ocorre pela graça
do Pai. A verdadeira Igreja do Senhor é conhecida através desses frutos do
Espírito Santo.

Esperamos que esse estudo tenha trazido algum esclarecimento sobre a


passagem de Mateus 25:31-46. Não queremos ser conclusivos, mas cremos
que a passagem em questão merece uma atenção especial, devido às
dificuldades de interpretação.

Procuramos entender a passagem a partir do sentido que as Palavras de Jesus


tiveram para os discípulos que estavam a ouvir Cristo tiveram naquele dia
em que Ele revelou as profecias no Monte das Oliveiras.

Também, nos sujeitamos à correlação dela com as revelações semelhantes


que o Senhor Jesus já havia feito antes. Por último, oferecemos como base
textos do Antigo e do Novo Testamento para melhor explicar nossa posição.

Cremos, então, que quando o Mestre se assentar no trono de Sua glória,


imediatamente após a Sua volta, Ele estabelecerá esse juízo descrito em
Mateus 25:31-46, convidando oficialmente Sua Igreja, arrebatada e reunida
momentos antes, a entrar no Reino.

Ao mesmo tempo, será decretado o castigo para aqueles que adoraram a


besta e receberam o seu sinal, os quais estarão reunidos nas proximidades
de Jerusalém quando o Senhor proclamar essa sentença.

Será um juízo pré-milenal, diferente do Juízo Final. Este último ocorrerá


somente depois do Milênio e envolverá todos os mortos de todos os tempos,
excetuando, obviamente, a Igreja.

34
ÍNDICE

PÁGINA 002] A IRA, OS JUÍZOS E O ARREBATAMENTO

PÁGINA 010] IRAS ORGE E THUMOS, UMA DIFERENÇA CRUCIAL

PÁGINA 015] OS MÁRTIRES DE APOCALIPSE 20:4

PÁGINA 020] O JULGAMENTO DE MATEUS 25:31-46

35

Você também pode gostar