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1. Introdução
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JOSÉ ELI DA VEIGA, professor titular da Faculdade de Economia (FEA) e orientador do Programa de Pós-Graduação
do Instituto de Relações Internacionais (IRI) da Universidade de São Paulo. Página web: www.zeeli.pro.br
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Report by the Commission on the Measurement of Economic Performance and Social Progress,
September, 2009, 291 p. (www.stiglitz-sen-fitoussi.fr).
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O “DS” é tratado no terceiro capítulo, depois de esmiuçadas as “clássicas questões do PIB” (capítulo 1) e
as abordagens para a mensuração da “qualidade de vida” (capítulo 2). É claro que seria muito mais coerente
abordar essas duas questões como partes do tema muito mais amplo que é o “DS”. No entanto, nada
impede que a leitura seja feita em ordem inversa, pois os capítulos são independentes e foram elaborados
por três subgrupos que trabalharam separadamente.
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2. Síntese
Feita assim, essa síntese pode sugerir que o relatório “chove no molhado”,
como disseram alguns jornalistas apressados depois de parcas entrevistas com
“céticos” 4 sobre os resultados dos trabalhos da Comissão coordenada por
Stiglitz, Sen e Fitoussi. Mas esse é um julgamento muito superficial sobre o
conteúdo de um relatório que provavelmente terá mais influência que
qualquer iniciativa anterior que tenha pretendido sugerir mudanças das
maneiras convencionais de se medir sustentabilidade, qualidade de vida e
desempenho econômico.
Claro, foi criada uma falsa expectativa sobre o trabalho comissão, como se
ela já fazer uma proposta concreta de radical substituição do PIB por algum
outro indicador sintético que pudesse medir simultaneamente o
desenvolvimento e sua sustentabilidade, tendo a qualidade de vida e o
desempenho econômico como partes integrantes do desenvolvimento. E não
há dúvida que o relatório está muito longe disso. Ele até evita qualquer
discussão sobre as noções de desenvolvimento ou de progresso social, a
primeira utilizada no título do terceiro capítulo e a segunda no título da
própria Comissão.
Mas o que mais interessa não é saber se realmente surgiu algo de novo para os
infindáveis debates conceituais sobre o desenvolvimento e o progresso. O que
importa é avaliar se as recomendações do relatório poderão iluminar o
intricado processo que levará - em futuro certamente distante – a uma
maneira consensual de se medir avanços e recuos no rumo do
desenvolvimento sustentável (ou do ecodesenvolvimento). Neste sentido, a
contribuição da Comissão é muito positiva. Mesmo que não tenha construído
novos indicadores, seu relatório final esclarece quais são os principais
obstáculos e mostra o que precisará ser feito para que possam ser superados.
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Talvez mais por ciúmes ou ressentimentos do que por divergências racionais.
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A rigor, isso poderia ser interpretado como uma adesão à abordagem da Pegada
Ecológica. Porém, o relatório sintetiza muito bem as várias críticas já feitas à
metodologia da pegada, destacando cinco problemas: os que se referem a terras
utilizadas pela agropecuária, a terrenos destinados à construção, a recursos
pesqueiros e florestais, e à maneira de calcular a pegada carbono, que já
constitui mais de 50% da pegada ecológica. 5 (p. 245-247) E são ainda mais
incisivas e meticulosas as críticas aos demais indicadores de sustentabilidade já
propostos, como as várias tentativas de corrigir os cálculos de PIB ou o ESI
(Environmental Sustainability Index) (p.248-262).
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As mais recentes dessas críticas são francesas: Le Clezio (2009) e CGDD (2009).
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“… the sustainability issue is about what we leave to future generations and whether we leave enough
resources of all kinds to provide them with opportunity sets at least as large as the ones we have had
ourselves.” (p. 250)
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Para começar, a Comissão quer que todo o acúmulo já existente sobre avaliações
subjetivas de bem-estar seja incorporado em avaliações de qualidade de vida. E
isso, mesmo depois de apontar quais são as questões ainda não resolvidas pelas
pesquisas voltadas à aferição de satisfação com a vida e de experiências
hedônicas. A conclusão é que as agências oficiais de estatística devem começar a
levar a sério e incluir em suas pesquisas o tipo de questões que já se mostraram
válidas em levantamentos menos abrangentes e não-oficiais. (p 145-151)
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Isto é, sobre: 1) as oito dimensões das condições objetivas e oportunidades (saúde, educação, atividades
pessoais, voz política, conexões sociais, condições ambientais e insegurança pessoal e econômica); 2) as
desigualdades; 3) as ligações entre dimensões; e 4) o problema da agregação.
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A produção pode aumentar enquanto a renda diminui e vice versa, desde que se
leve em consideração a depreciação, os fluxos de renda para dentro e para fora
do país, e as diferenças entre os preços de produção e de consumo. Além disso,
mesmo a renda e o consumo não serão bons indicadores de desempenho se não
estiverem cotejados à riqueza. Para que se tenha um verdadeiro balanço da
economia nacional, é preciso imitar a contabilidade das empresas, pois nestas
são cruciais as contas de patrimônio e as do endividamento. Não é possível
continuar fechando os olhos para o que acontece com os ativos de uma nação
(capital físico/construído; capital humano/social e capital natural/ecológico).
6. Conclusão
Não se pode prever quanto tempo será necessário para que tal trindade surja e
se torne consensual. Mas as diretrizes já estão disponíveis.
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Referências
HÁK, Tomás, Bedrich Moldan & Arthur Lyon Dahl (eds.) (2007) Sustainability
Indicators; A Scientific Assessment. Washington D.C.: Island Press.