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TRATAMENTO DE ESGOTOS SANITÁRIOS

PROF. NEMÉSIO NEVES BATISTA SALVADOR


Departamento de Engenharia Civil - Universidade Federal de São Carlos
SÃO CARLOS, 2012

Capa: ETE Araraquara, SP. (Cortesia do DAAE de Araraquara, 2010).


SUMÁRIO
Página

1. Introdução 01
2. Características dos Esgotos Sanitários e Grau de Tratamento 02
2.1. Características Qualitativas 02
2.2. Características Quantitativas 04
2.3. Grau de Tratamento 05
3. Tipos de Tratamento mais Empregados – Principais Características, 07
Parâmetros de Projeto e Pré-dimensionamento
3.1. Tratamento Preliminar 07
3.1.1. Calha Parshall 07
3.1.2. Sedimentação/ caixas de areia 09
3.1.3. Gradeamento 12
3.2. Tratamento Primário 16
3.2.1. Sedimentação/ decantadores 16
3.2.2. Lagoas anaeróbias 18
3.2.3. Reator anaeróbio de manta de lodo e fluxo ascendente 21
3.2.4. Reator anaeróbio compartimentado 25
3.2.5. Fossas sépticas 27
3.2.6. Filtro Biológico Anaeróbio 31
3.3. Tratamento Secundário 33
3.3.1. Lagoa facultativa 33
3.3.2. Lagoa Aerada 36
3.3.2.1. Lagoa aerada de mistura completa 36
3.3.2.2. Lagoa aerada facultativa 40
3.3.3. Lagoa de Sedimentação 41
3.3.4. Lodos Ativados 43
3.3.4.1. Lodos Ativados Convencional 43
3.3.4.2. Lodos Ativados por Aeração Prolongada – Valo de Oxidação 45
3.3.4.3. Lodos Ativados por Batelada (fluxo intermitente) 47
3.3.5. Tratamento por Membranas 53
3.3.6. Filtro Biológico Aeróbio 57
3.3.7. Biodisco 61
3.3.8. Biofiltro Aerado Submerso 64
3.3.9. Flotação por ar dissolvido 69
3.3.10. Disposição Controlada do Esgoto no Solo 77

ii
3.3.10.1. Irrigação/ infiltração lenta 77
3.3.10.2. Infiltração rápida 78
3.3.10.3. Escoamento superficial 79
3.3.10.4. Sumidouro 80
3.3.10.5. Valas de Infiltração 82
3.3.11. Valas de Filtração 84
3.3.12. Wetland 85
3.4. Tratamento Terciário 91
3.4.1. Lagoas de Maturação 91
3.4.2. Desinfecção por Radiação Ultravioleta 92
3.4.3. Desinfecção por cloração seguida de descloração 96
3.4.4. Desinfecção por ozonização 99
3.5. Tratamento e Condicionamento de Lodo 105
3.5.1. Desidratação física de lodo/ leitos de secagem 105
3.5.2. Secagem mecânica de lodo/ centrífugas 107
4. Fatores/ Atributos a Considerar na Escolha do Tipo e Localização do 109
Tratamento
4.1. Meio Físico 110
4.2. Meio Biótico 113
4.3. Meio Antrópico 114
5. Características das Diversas Tipologias de Tratamento e Análise de 116
Alternativas
5.1. Indicadores das Tipologias de Tratamento 116
5.2. Gases de Efeito Estufa Gerados no Tratamento de Esgoto 123
5.3. Análise de Alternativas 124
6. Arranjos de Tratamento Sugeridos 125
6.1. Sistemas Unifamiliares – até 500 habitantes 125
6.2. Sistemas para 500 – 5.000 habitantes (pequenas comunidades) 128
6.3. Sistemas para 5.000 – 20.000 habitantes (cidades de pequeno porte) 130
6.4. Sistemas para 20.000 – 50.000 habitantes (cidades de pequeno a médio 132
porte)
6.5. Sistemas para mais de 50.000 habitantes (cidades de médio porte) 135
7. Bibliografia 136

iii
TRATAMENTO DE ESGOTOS SANITÁRIOS

1. APRESENTAÇÃO/ INTRODUÇÃO

Este trabalho apresenta processos/ tipologias de tratamento de esgotos sanitários, critérios e


parâmetros de projeto e exemplos de pré-dimensionamento das principais unidades de
tratamento para uma população padrão de dez mil habitantes, com a finalidade de mostrar a
metodologia de obtenção de suas dimensões, área, consumo de energia elétrica, quantidade de
lodo produzida, eficiência esperada etc. Com isto, podem ser feitas simulações de alternativas
de tratamento para comunidades de diversos portes, possibilitando a comparação dos
resultados dessas alternativas e subsidiando a escolha daquela mais adequada.
Foram ainda elaboradas propostas de alternativas de tratamento para as diversas escalas/
porte de populações, levando conta os fatores intervenientes mais significativos. Buscou-se
identificar e propor, além de soluções tradicionais, alternativas simples e de baixo custo, com
tipologias de tratamento com pouca ou nenhuma demanda de energia, exigência de mão-de-
obra de baixo a médio nível de qualificação e facilidade de reposição de peças e equipamentos.
São apresentadas as principais características dos esgotos de interesse sanitário e ambiental,
assim como para o seu tratamento. As tecnologias e alternativas identificadas e descritas são
as usuais no Brasil e passíveis de aplicação na região, embora algumas delas sejam mais
sofisticadas e só se justificam em casos particulares ou especiais, onde se tenha um requisito
ambiental mais rigoroso ou específico.
Como subsídios à análise e escolha de alternativas de tratamento, são apresentados fatores do
meio físico, biótico e antrópico que influenciam e/ ou são influenciados por essas alternativas.
São apresentados indicadores das características dos diversos processos e alternativas para o
suporte à sua análise e tomada de decisão (custos, requisitos de área, demanda de energia
elétrica, produção de lodo etc.), bem como sugestões de arranjos de sistemas de tratamento
para diversas faixas de população.
Foram compilados as características e parâmetros de projeto e elaborado o pré-
dimensionamento dos principais processos e unidades de tratamento, para a população de
10.000 habitantes, sendo que para a alternativa de fossa séptica seguida de filtro biológico
anaeróbio e infiltração dos esgotos no solo, foi feito o pré-dimensionamento para 75 pessoas.
O objetivo é mostrar a metodologia de cálculo e as dimensões, consumo de energia, produção
de lodo etc. dessas alternativas, de forma a subsidiar a sua análise e escolha.
Cabe ressaltar que as informações e dados constantes neste trabalho devem ser utilizados
como referência e não esgotam todas as alternativas e nem possuem um caráter determinístico
e conclusivo quanto àqueles processos e alternativas melhores e mais adequadas, que devem
ser analisadas e escolhidas à luz da realidade e condições locais, caso a caso.

1
2. CARACTERÍSTICAS DOS ESGOTOS SANITÁRIOS E GRAU DE TRATAMENTO

2.1. Características Qualitativas

Os esgotos sanitários possuem inúmeros poluentes/ contaminantes de efeitos nocivos ao meio


ambiente e à saúde humana. Esses poluentes/ contaminantes são expressos por parâmetros
de qualidade que caracterizam os esgotos, permitindo a associação com os diversos efeitos.
Os principais parâmetros característicos dos esgotos, de importância para o seu tratamento, são:

- Sólidos suspensos
São responsáveis pela matéria particulada e pela turbidez dos esgotos e a sua remoção se
deve a aspectos ecológicos (fração orgânica da matéria particulada) e estéticos (turbidez).
Parte dos sólidos suspensos é sedimentável, podendo ser removida por gravidade, através de
processos mais simples de tratamento.

- Sólidos dissolvidos
Correspondem à matéria dissolvida e conferem cor aos esgotos, sendo sua remoção
necessária do ponto de vista ecológico (fração orgânica da matéria dissolvida) e estético (cor).

- Sólidos grosseiros
São devido à presença nos esgotos de materiais/ objetos de maior tamanho, como pedaços de
pano, frascos plásticos, etc., a maior parte descartada indevidamente nas instalações sanitárias
ou adentrando a rede de esgotos através de ligações clandestinas de águas pluviais à mesma.
A presença de sólidos grosseiros nos esgotos está ligada à falta de conscientização/ educação
ambiental e geralmente, quanto menor o nível de instrução da população, maior a quantidade
de sólidos grosseiros.
Os sólidos grosseiros, se não removidos, podem obstruir tubulações e outros componentes da
ETE, assim como causar problemas estéticos nos corpos d’água receptores. A quantidade
média de sólidos grosseiros removida nas ETEs varia de 10 a 40 L por 1000 m³ de esgoto.

- Areia
A areia é carreada pela água do subsolo que se infiltra na rede de esgotos pelas juntas das
tubulações, poços de visita, caixas de passagem, etc., além de ser trazida também pelas
ligações clandestinas de águas pluviais.
O teor médio de areia é em torno de 30 a 40 L por 1.000 m³ de esgoto, a qual deve ser
removida, caso contrário poderá produzir a abrasão de peças/ componentes da ETE, bem como
o assoreamento de algumas unidades de tratamento (ex: decantadores, digestores de lodo).

2
- Demanda Bioquímica de Oxigênio - DBO5
Representa a demanda de oxigênio para degradar (oxidar) bioquimicamente, pela ação de
bactérias aeróbias, durante cinco dias e a 20 ºC, a matéria orgânica biodegradável contida em
um litro de esgoto. Neste trabalho, a DBO5 será denominada apenas DBO e representa
indiretamente a quantidade de matéria orgânica biodegradável do esgoto.
No tratamento aeróbio é fornecido oxigênio artificialmente para degradar a matéria orgânica e
remover a DBO, com o objetivo de evitar que o oxigênio dissolvido do corpo receptor seja
utilizado na degradação dessa matéria, sofrendo significativa depleção, com graves danos
ecológicos, podendo mesmo significar a “morte” desse corpo receptor por anaerobiose.

- Demanda Química de Oxigênio – DQO


Corresponde às substâncias do esgoto oxidáveis por dicromato de potássio em meio ácido e
elevada temperatura, sendo o dicromato a fonte de oxigênio. No caso, as substâncias oxidáveis
são compostas por matéria orgânica biodegradável (DBO), matéria orgânica não biodegradável
(ex: solventes) e substâncias inorgânicas redutoras (sulfetos, amônia, nitritos). A DQO
representa também indiretamente, a quantidade de matéria orgânica degradável quimicamente
e para o esgoto doméstico, a ela costuma ser aproximadamente o dobro da DBO.

- Nitrogênio total
O nitrogênio total compreende as diversas formas de matéria nitrogenada (suspensa e
dissolvida) do esgoto, quais sejam: nitrogênio orgânico, amônia, nitrito e nitrato. As três
primeiras formas tendem a se oxidar a nitrato, que é nutriente para algas e macrófitas
aquáticas, promovendo a eutrofização dos corpos receptores, principalmente lagos, pela
proliferação excessiva daqueles organismos.

- Fósforo total
O fósforo total possui uma fração orgânica e uma inorgânica (fosfato). A fração orgânica tende
também o ser oxidada a fosfato, que é nutriente para as plantas aquáticas, promovendo,a
exemplo do nitrato, a eutrofização dos corpos d’água.

- Óleos e graxas
Compreendem as substâncias oleosas/ graxas solúveis em n-hexano, devendo ser removidas
dos esgotos por contribuírem para a sua DBO e por motivos estéticos, uma vez que se
constituem em materiais flutuantes nos corpos d’água receptores.
O quadro seguinte apresenta os principais parâmetros físico-químicos característicos dos
esgotos sanitários, com seus valores típicos.

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Quadro 01. Parâmetros físico-químicos característicos dos esgotos sanitários.
Contribuição per capita
Concentração
Parâmetro (g/hab.dia)
Faixa Típico Unidade Faixa Típico
Sólidos Totais 120-220 180 mg/L 700-1350 1100
Em suspensão 35-70 60 mg/L 200-450 400
Fixos 7-14 10 mg/L 40-100 80
Voláteis 25-60 50 mg/L 165-350 320
Dissolvidos 85-150 120 mg/L 500-900 700
Fixos 50-90 70 mg/L 300-550 400
Voláteis 35-60 50 mg/L 200-350 300
Sedimentáveis mL/L 10-20 15
Matéria orgânica
Determinação indireta
DBO5 40-60 50 mg/L 250-450 350
DQO 80-130 100 mg/L 450-800 700
DBO última 60-90 75 mg/L 350-600 500
Determinação direta
COT 30-60 45 mg/L 170-350 250
Nitrogênio Total 6-112 8 mgN/L 35-70 50
Nitrogênio orgânico 2,5-5- 3,5 mgN/L 15-30 20
Amônia 3,5-7 4,5 mgNO3-N/L 20-40 30
Nitrito -0 -0 mgNO2-N/L -0 -0
Nitrato 0-0,5 -0 mgNO3-N/L 0-2 -0
Fósforo 1-4,5 2,5 mgP/L 5-25 14
Fósforo orgânico 0,3-1,5 0,8 mgP/L 2-8 4
Fósforo inorgânico 0,7-3 1,7 mgP/L 4-17 10
pH 6,7-7,5 7-0
Alcalinidade 20-30 25 mgCaCO3/L 110-170 140
Cloretos 4-8 6 mg/L 20-50 35
Óleos e Graxas 10-30 20 mg/L 55-170 110

Fonte: Von Sperling (1996).

Outra característica de interesse dos esgotos sanitários diz respeito a sua qualidade
microbiológica, relacionada à presença de organismos patogênicos provenientes das fezes
humanas – bactérias, vírus, protozoários, vermes (helmintos) e fungos.
Os patogênicos revestem-se de grande importância para a saúde humana/ pública,
devendo ser removidos dos esgotos através de seu tratamento.
A presença de fezes humanas é indicada pelas bactérias coliformes fecais, às quais
estão associados os patogênicos. A concentração ou número médio de coliformes fecais nos
esgotos sanitários varia de 106 a 108/100 mL.

2.2. Características Quantitativas

As características quantitativas relevantes dos esgotos para fins de tratamento são a vazão e as
variações de vazão. A vazão dos esgotos sanitários é função das características culturais e
sócio-econômicas da população, sendo uma porcentagem da vazão de água potável
consumida, geralmente em torno de 80 %. A contribuição média per capta de esgoto sanitário
de origem doméstica varia entre 100 e 250 L/habxdia, dependendo das características da
cidade e dos hábitos de sua população.

4
Dois fatores que contribuem para o aumento da vazão são a infiltração de água do
lençol freático na rede de esgoto e a existência de ligações clandestinas de águas pluviais à
mesma. Este último causa sérios problemas para o tratamento.
As variações da vazão de esgoto são também funções das características da
comunidade/ cidade e dos hábitos de sua população. Nos horários de pico ou de maior
contribuição de esgotos, durante o dia, a vazão chega a 150 % da vazão média diária. Nos
horários de menor contribuição, de madrugada, a vazão cai para cerca de 50 % (cidades
grandes) ou para até 20 % (cidades pequenas) da vazão média.

2.3. Grau de Tratamento


Em função dos processos/técnicas e da eficiência de remoção de determinados
poluentes, o tratamento é classificado em preliminar, primário, secundário e terciário.

- Tratamento preliminar
O tratamento em grau preliminar remove basicamente sólidos grosseiros e areia, sendo a
remoção dos demais poluentes muito pouca ou desprezível.
As unidades mais comuns de tratamento preliminar são as grades e os desarenadores (caixas
de areia), onde ocorrem apenas processos físicos. Elas são empregadas no início do
tratamento, à montante das demais unidades.

- Tratamento primário
O tratamento primário sucede o preliminar e nele ocorrem basicamente processos de
sedimentação, digestão anaeróbia do esgoto/lodo e decaimento microbiano natural, ao longo do
tempo. Há também a secagem natural ou mecanizada dos lodos.
A remoção de poluentes é baixa: sólidos suspensos (50 - 80 %), DBO e DQO (40 - 75 %),
nitrogênio (10 - 25 %), fósforo (10 - 20 %) e coliformes fecais (30 - 40 %). O principal objetivo do
tratamento primário é uma remoção menos dispendiosa de carga poluidora, visando a
economia no tratamento secundário subseqüente, principalmente de energia elétrica.
Os tipos usuais de tratamento primário são os decantadores, onde ocorre só a sedimentação e
os reatores com sedimentação e digestão anaeróbia - fossa séptica, filtro anaeróbio, lagoa
anaeróbia, reator anaeróbio de manta de lodo e fluxo ascendente, reator anaeróbio
compartimentado.
O tratamento em grau primário não proporciona o atendimento aos requisitos/ padrões legais de
remoção de poluentes, necessitando ser complementado por tratamento secundário, no
mínimo, geralmente com o emprego de processos aeróbios.

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- Tratamento secundário
No tratamento secundário, podem ser empregados basicamente os seguintes processos:
sedimentação (lodo secundário); coagulação/ floculação química e flotação; digestão anaeróbia
do esgoto/ lodo; digestão aeróbia do esgoto/ lodo, com aeração natural (fotossíntese por algas)
e artificial; decaimento microbiano natural ao longo do tempo e pela ação de radiação
ultravioleta (lagoas facultativas). Há ainda a secagem natural ou mecanizada dos lodos.
As eficiências de remoção de poluentes são maiores, atingindo valores elevados (satisfatórios)
para alguns deles. Em média, verificam-se os seguintes valores de remoção: sólidos suspensos
(80 - 95 %), DBO e DQO (70 - 98 %), Nitrogênio (30 - 50 %), Fósforo (20 - 60 %) e coliformes
fecais (60 - 99,9 %).
As eficiências do tratamento secundário são suficientes para cumprir os padrões legais de
emissão de efluentes, mas quanto aos padrões de qualidade ambiental, vai depender do
poluente considerado e da qualidade da água, da vazão e da classificação do corpo receptor.
Geralmente, a remoção de nutrientes e principalmente de coliformes fecais é insuficiente,
requerendo tratamento em grau terciário.
Os processos de tratamento secundários mais empregados no Brasil são: lagoa facultativa,
lagoa aerada de mistura completa, lagoa aerada facultativa, Lodos ativados convencional, lodos
ativados por aeração prolongada, filtros biológicos aeróbios, biodiscos, biofiltros aerados
submersos, flotação por ar dissolvido, e disposição controlada de esgotos no solo. Em alguns
casos, como nos processos de flotação e de disposição de esgotos no solo, podem ser
atingidos altos níveis de remoção de nutrientes e/ou coliformes, compatíveis com o grau
terciário de tratamento.

- Tratamento terciário
O tratamento terciário tem por objetivos o polimento dos efluentes secundários e a remoção de
nutrientes e de coliformes fecais/ patogênicos. Nele podem ocorrer os processos seguintes:
a) remoção de nutrientes - coagulação/ floculação química e precipitação ou flotação; adsorção
natural (disposição de esgotos no solo) ou em colunas de carvão ativado; absorção por
metabolismo de plantas; desnitrificação em reatores biológicos; troca iônica; osmose reversa.
b) remoção de coliformes/ patogênicos – decaimento natural no tempo e pela radiação
ultravioleta (lagoas de maturação); infiltração e decaimento natural no solo; desinfecção por
cloro, ozônio ou por aplicação artificial de radiação ultravioleta.
O tratamento em grau terciário permite a remoção de até 95 % de nitrogênio, até 99 % de
fósforo e a remoção completa (100 %) de coliformes fecais/ patogênicos. Entretanto, ele é
bastante dispendioso e por isso, muito pouco praticado no Brasil.

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3. TIPOS DE TRATAMENTO MAIS EMPREGADOS – PRINCIPAIS
CARACTERÍSTICAS, PARÂMETROS DE PROJETO E PRÉ-DIMENSIONAMENTO

3.1. Tratamento Preliminar

3.1.1 Calha Parshall

a) Principais Características

A calha Parshall tem duas funções:


- Regular a velocidade V na caixa de areia
- Servir como medidor de vazão

A Figura 1 mostra vistas das calhas Parshall da ETE Araraquara, SP, pré-construídas em fibra
de vidro, notando-se as escalas e dispositivo de medição de vazão.

Figura 1. Vistas das calhas Parshall da ETE Araraquara, SP (Cortesia do DAAE de


Araraquara, 2010).

b) Critérios e Parâmetros de Projeto

Pop. Projeto = 10.000 hab


Consumo méd. água per capita: q = 250 (L/hab.dia)
Coef. Retorno água / esgoto: C = 0,8 (80%)
Coef. Dia maior consumo: K1 = 1,3
Coef. Hora de maior consumo: K2 = 1,5
Coef. Hora de menor consumo: K3 = 0,3

7
Cálculo das vazões de projeto
Qmin = Pop x q x C x K3 (L/s)
86400
Qmin = 10000 x 250 x 0,8 x 0,3
86400
Qmin = 6,94 L/s
Qmed = Pop x q x C x K1 (L/s)
86400
Qmed = 10000 x 250 x 0,8 x 1,3
86400
Qmed = 30,09 L/s
Qmax = Pop x q x C x K1xK2 (L/s)
86400
Qmax = 10000 x 250 x 0,8 x 1,3 x 1,5
86400
Qmax = 45,14 L/s

Especificação da calha
Dados:
Qmin = 6,94 L/s
Quadro 2 ⇒ Especificação da Parshall ⇒ garganta w
Qmax = 45,14 L/s w = 3”

Quadro 02. Dimensões e capacidade da Parshall (cm).


W A B C D E F G K N Capac. (L/s)
pol cm Qmin Qmax
3 7.6 46.6 45,7 17,8 25,9 61,0 15,2 30,3 2,5 5,7 0,85 53,8
6 15,2 62,1 61,0 39,4 32,1 61,0 30,5 61,0 7,6 11,4 1,42 110,4
9 22,9 88,0 86,4 38,0 57,5 76,3 30,5 45,7 7,6 11,4 2,55 251,9
12 30,5 137,2 134,4 61,0 84,5 91,5 61,0 91,5 7,6 22,9 3,11 455,6
18 45,7 144,9 142,0 76,2 102,6 91,5 61,0 91,5 7,6 22,9 4,25 696,2
24 61,0 152,5 149,6 91,5 120,7 91,5 61,0 91,5 7,6 22,9 11,89 936,7

c) Pré-Dimensionamento

Equação da Parshall:
Q = k x (Ha)n
Os valores de k e n podem ser obtidos do quadro seguinte:

8
Quadro 03. Parâmetros da equação da Parshall.

w K
N
(m) Unidade métricas Unidades americanas
3'' 0,076 1,547 0,176 0,0992
6'' 0,152 1,580 0,381 2,06
9'' 0,229 1,530 0,535 3,07
1' 0,305 1,522 0,690 4,00
11/2' 0,457 1,538 1,054 6,00
2' 0,610 1,550 1,426 8,00
3' 0,915 1,566 2,182 12,00
4' 1,220 1,578 2,935 16,00
5' 1,525 1,587 3,728 20,00
6' 1,830 1,595 4,515 24,00
7' 2,135 1,601 5,306 28,00
8' 2,440 1,606 6,101 32,0

Determinação da altura da água na Parshall (Ha)


Qmax → Qmax = K x (Ha)n
0,045 = 0,176 x (Ha)1,547
Hamax = 0,41 m
Qmin → Qmin = K x (Ha)n

0,007 = 0,176 x (Ha)1,547


Hamin = 0,12 m

Determinação de z (rebaixo da calha Parshall)


Qmin = Hamin – z
Qmax Hamax –z

z = Qmax. Hamin – Qmin . Hamax


Qmax – Qmin

z = 0,045 x 0,12 – 0,007 x 0,41 z = 0,07 m


0,045 – 0,007

9
3.1.2 Sedimentação/ caixas de areia

a) Principais Características

A sedimentação é empregada para separar os sólidos suspensos dos esgotos por gravidade.
No caso de material inorgânico fino, como areia, são utilizados desarenadores para a remoção
de partículas com diâmetro maior ou igual a 0,2 mm, que podem causar problemas na ETE,
como a obstrução e abrasão de equipamentos e assoreamento de algumas unidades,
reduzindo o seu volume útil.
A desarenação é também tratamento em grau preliminar, sendo que a exemplo do
gradeamento, para unidades unifamiliares, grupos de residências ou mesmo pequenas
comunidades, geralmente não há necessidade de desarenação.
Em pequenas e médias cidades são geralmente empregadas para desarenação caixas de areia
comuns, de área retangular e com limpeza manual, construídas em concreto armado ou
alvenaria (Figura 03). Em cidades de maior porte empregam-se caixas de areia mais
sofisticadas e eficientes, aeradas e de limpeza contínua e automatizada.
O tempo de detenção hidráulica em uma caixa de areia comum é em torno de 20 a 30 s e,
portanto, ela é uma unidade compacta, não ocupando grande área na ETE, mas que requer
operação trabalhosa.
Normalmente são construídas duas caixas de areia, ficando uma em operação enquanto a outra
se encontra desativada, em limpeza para a remoção de areia ou em manutenção.
A limpeza manual da caixa de areia, por meio de pás, deve ser feita pelo menos uma vez por
semana, ou quando o depósito de areia do fundo da caixa estiver cheio.
A areia removida é contaminada e com granulometria muito heterogênea, não servindo para
utilização na construção civil. Assim como o material gradeado, ela deve ser armazenada em
recipientes apropriados ou caçambas e disposta adequadamente, em aterros sanitários ou
valas.

Figura 2. Sistema de caixas de areia de limpeza manual seguidas de Calha Parshall. Fonte: Mendonça e outros (1990).

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b) Pré Dimensionamento

Determinação da altura d’água na caixa de areia


H = Ha – z ou Hmax = Hamax – z
Hmax = 0,41 – 0,07 = 0,34 m
Hmed = 0,32 – 0,07 = 0,25 m
Hmin = 0,12 – 0,07 = 0,05 m

Determinação do comprimento L
V → Velocidade horizontal do fluxo
V = cte = 0,3 m/s
Vs → Velocidade de sedimentação da partícula
Para que a partícula fique retida,
l = v.t (1) e
H = vs.t (2)
Dividindo (1) por (2):
l=v-.H
Vs
Os valores de Vs podem ser obtidos no quadro seguinte.

Quadro 04. Valores da velocidade de sedimentação.

Tamanho das partículas (mm) Vs (cm/s) (valores práticos)

1,0 10,0

0,5 5,0

0,3 4,0

0,2 2,0

0,1 0,9
Fonte: Adaptado de MENDONÇA (1990).

Removem-se partículas com diâmetro ≥ a 0,2mm


Nesta condição limite, Vs = 2 cm/s
l = 0,3 (m/s) x H = 0,3 x H = 15 x H
2 (cm/s) 2 x 10-2

11
Para regime turbulento (caixa de areia na prática)
Adota-se um coeficiente de segurança de 50% (1,5)
L = 1,5 x l ou L = 1,5 x 15 x H
L = 22,5 x H
Utilizando a altura correspondente a vazão máxima, tem-se:
L = 22,5 x 0,34 → L = 7,65 m

Determinação da largura da caixa de areia (B)


Q=S.V
S = Q = Qmax e S=BxH
V V

B= _Qmax = 0,04 = 0,44 m


Hmax . V 0,34 x 0,3

Determinação da profundidade do depósito de areia (p)


Quantidade média de areia depositada = 30 – 40 L areia
1000m3 esgoto
Intervalo de limpeza : 7 dias
Volume de esgoto em 7 dias
Vol = Qmed (m3/dia) x 7 dias
Vol = 30,09 x 86,4 x 7 = 18198 m3

Volume do depósito para 7 dias


Vd = 30 x 10-3 x Vol = 30 x 10-3 x 18198
1000 1000
3
Vd = 0,55 m de areia

Profundidade do depósito
Vd 0,55
p= =
LxB 7,65 x0,44
p = 0,16 m

Verificação da velocidade (V)


Quadro 05. Determinação de da velocidade na caixa de areia.
Q (m3/s) Ha (m) H = Ha - z (m) S = H x B(m2) V = Q/s (m/s)
Qmin = 0,007 0,12 0,05 0,022 0,31
Qmed = 0,03 0,32 0,25 0,11 0,27
Qmax = 0,045 0,41 0,34 0,15 0,30
As velocidades estão dentro do limite tolerável (± 10%) (OK)

12
3.1.3 Gradeamento

a) Principais Características

O gradeamento faz parte do tratamento preliminar e para pequenas cidades, ele pode ser feito
por meio de grades de barras metálicas com limpeza manual, tendo por finalidade reter os
sólidos suspensos grosseiros. Pode-se também empregar grades mecanizadas ou peneiras
rotativas, de limpeza automatizada, que possuem maior custo.
As grades, dependendo do espaçamento entre suas barras, podem ser classificadas como
grosseiras – espaçamento de 4,0 a 10,0 cm; médias, de 2,0 a 4,0 cm; e finas, de 1,0 a 2,0 cm.
Em cidades de pequeno porte utiliza-se geralmente apenas uma grade média, com barras
espaçadas de 2,0 a 2,5 cm. Em cidades médias podem ser utilizadas uma grade grosseira, de
espaçamento 4,0 cm e uma fina de 1,0 a 2,0 cm. Para unidades unifamiliares, grupos de
residências ou mesmo pequenas comunidades, não há necessidade de gradeamento.
A limpeza da grade deve ser efetuada diariamente, sempre que ela estiver obstruída em cerca
de 50 % de sua área útil e o nível d’água se elevar em função do aumento da perda de carga,
atingindo um nível máximo pré-determinado no canal da grade.
O material gradeado é contaminado e deve ser armazenado em recipientes apropriados para
posterior disposição em aterros sanitários. Na falta destes, deve ser enterrado em valas,
tomando-se o cuidado para não contaminar o lençol freático, fazendo-se o fundo das valas
compactado e a 1 m do nível deste.

b) Critérios e Parâmetros de Projeto


Esquema das Unidades de Tratamento
Um tratamento preliminar típico é composto das seguintes unidades (Figura 03).

Figura 3. Esquema de um tratamento preliminar.

13
Quadro 6. Espaçam ento entre barras
Espaçamento
Tipos Em polegadas Em centímetros
Grades Grosseiras Acima de 1 1/2 4,0 a 10,0
Grades Médias 3/4 a 1 1/2 2,0 a 4,0
Grades Finas 3/8 a 3/4 1,0 a 2,0

Especificação da grade
As dimensões mais usuais das grades podem ser vistas no quadro seguinte.

Quadro 7. Dim ensões típicas de grades


Seção da Barra
Tipos Em polegadas Em centímetros
Grades Grosseiras 3/8 x 2 0,95 x 5,00
3/8 x 2 1/2 0,95 x 6,35
1/2 x 1 1/2 1,27 x 3,81
1/2 x 2 1,27 x 5,00
Grades Médias 5/16 x 2 0,79 x 5,00
3/8 x 1 1/2 0,95 x 3,81
3/8 x 2 0,95 x 5,00
Grades Finas 1/4 x 1 1/2 0,64 x 3,81
5/16 x 1 1/2 0,79 x 3,81
3/8 x 1 1/2 0,95 x 3,81

c) Pré Dimensionamento
Grade média
Espaçamento entre barras, a = ¾” ou 2 cm
Espessura das barras, t = 3/8” ou 0,95 cm
Seção das barras = 3/8 x 1 ½” ou 0,95 x 3,81 cm
Inclinação da grade = 45 º
Velocidade de passagem na grade:
Vmin = 0,6 m/s
Vmax = 1,0 m/s (adota-se V= 0,8 m/s)

Perda de Carga na grade (h)


Área útil do escoamento na grade: Au
Seção do escoamento a montante da grade: S
Eficiência da grade: E = a/(a + t) = 0,677
Au = Q/V = 0,045/0,8 = 0,056 m2
S = Au/E = 0,056/0,677 = 0,083 m 2
Velocidade do escoamento a montante da grade: Vo = Q/S = V x E = 0,54 m/s

14
- Grade limpa
Fórmula de Metcalf & Eddy:
h= (1/0,7) x (V2 - V02 )
2g
h= 1,42 x [(0,8)2 – (0,54)2] = 0,025 m
2x9,8

- Grade suja
(obstrução de 50% da área útil)
V = 2 x 0,8 = 1,6 m/s
h = 1,42 x [(1,6)2 – (0,54)2 ]
2x9,8 = 0,165 m

Largura do canal da grade (b)


Q = S x Vo = b x H x Vo ou,
b = Q/(H x Vo) = 0,045/(0,34 x 0,54) = 0,25 m

Verificação da velocidade de passagem (V)

Quadro 8. Determinação da velocidade na grade.


Q (m3/s) H (m) S = b x H (m2) Au = SxE (m2) V=Q/Au (m/s)
Qmin = 0,007 0,05 0,013 0,009 0,78
Qmed = 0,03 0,25 0,063 0,042 0,71
Qmax = 0,045 0,34 0,085 0,057 0,79

As velocidades estão compatíveis (OK).

Quantidade de material gradeado


Segundo PESSÔA & JORDÃO (1997), para grades médias, tem-se, pelo Quadro 8:

Quadro 8. Quantidade média de material gradeado.


Espaçamento a (cm) Material (L / 1000 m 3 esgoto)
2,0 38
2,5 23
3,5 12
4,0 09

∴ Material gradeado = 0,038 x 2600 = 99 L/d.

15
A Figura 4 ilustra um tratamento preliminar, vendo-se em primeiro plano a grade e as caixas de
areia de limpeza manual.

Figura 4. Vista de um tratamento preliminar típico – grade e caixas de areia.


Fonte: Soares (2008).

3.2. Tratamento Primário

3.2.1 Sedimentação/ decantadores

a) Principais Características

DEC
A sedimentação é ainda empregada para separar por gravidade os sólidos suspensos
orgânicos dos esgotos, sendo feita por meio de decantadores. Ela pode ser classificada como
primária e secundária.
A sedimentação primária é aplicada aos esgotos brutos, após o tratamento preliminar, sendo
um tratamento em grau primário, com remoção de DBO em torno de 30 a 50% e de sólidos
suspensos entre 40 e 60 %.
Para os decantadores primários o tempo de detenção hidráulica é em torno de uma hora e o
lodo produzido pode ser removido de forma contínua ou intermitente; neste caso, pelo menos
uma vez ao dia, dependendo das condições de armazenamento no poço de lodo do decantador
e da temperatura do esgoto, cujos valores elevados podem promover a decomposição do lodo e
a geração de gases, provocando o seu arraste para a superfície.
O lodo primário, com cerca de 2 a 3 % de teor de sólidos, não é estabilizado e a sua
decomposição exala fortes odores ofensivos; portando, ele deve passar por um processo de
digestão visando estabilizá-lo antes de sua secagem e disposição. Cabe salientar que o lodo

16
primário, pelas suas características, particularmente por ser muito putrescível, é muito ruim de
ser trabalhado e por isso, tem-se evitado o emprego de decantadores primários.
A sedimentação secundária é feita geralmente após um reator biológico, com o objetivo de
separar os sólidos, compostos predominantemente pela biomassa produzida no reator. São
utilizados nesse processo decantadores secundários ou lagoas de sedimentação de lodo.
A remoção da DBO particulada nos decantadores secundários é elevada, assim como a de
sólidos suspensos, sendo superior a 90 %. O tempo de detenção hidráulica é em torno de 1,5 a
2 horas, dependendo das condições de sedimentabilidade da biomassa.
O lodo secundário produzido, com cerca de 1 % de sólidos, pode ser também removido de
forma contínua ou intermitente, ao menos uma vez ao dia.
Alguns lodos secundários já são estabilizados, como os gerados pelo processo de lodos
ativados por aeração prolongada, por lagoas aeradas e por filtros biológicos aeróbios de baixa
taxa e, portanto, podem ser encaminhados diretamente para a secagem e disposição.
Outros tipos de lodos secundários, como os produzidos por Lodos ativados convencional e por
filtros biológicos aeróbios de alta taxa não são estabilizados e devem ser submetidos à digestão
antes da secagem e disposição final.
Os decantadores são geralmente construídos em concreto armado, em duas ou mais unidades,
com área retangular ou circular e dotados de dispositivo de remoção de lodo mecanizado ou
hidráulico, no caso de unidades de menor porte. Sua profundidade varia de 3 a 4 m e o
diâmetro pode chegar a 30 m.
Em pequenas ETEs pode-se usar um decantador de baixo custo, o do tipo “Dortmund” (Figura
5), mais compacto e simples, com remoção hidráulica de lodo e que dispensa o emprego de
ponte giratória motorizada e de raspadores mecânicos. Ele possui uma maior profundidade e
menor diâmetro, tendo paredes laterais bastante inclinadas para facilitar a sedimentação e a
remoção do lodo.

Figura 5. Esquema de um decantador tipo “Dortmund”. Fonte: Pessôa e Jordão (1997).

17
Para ETEs de maior porte são empregados decantadores com raspadores mecânicos de lodo

fixados em ponte giratória (Figura 6). Estes decantadores são mais eficientes que os do tipo

“Dortmund”; porém mais dispendiosos.

afluente

Figura 6 Esquema de um decantador mecanizado. Fonte: SAAE Itabira (2006).

b) Critérios e Parâmetros de Projeto

- Vazão: Qmed = 2600 m3/d


- Período de detenção para Qmed, (t): 1,0 - 1,5 h (decantadores primários) e 1,5 - 2,0 h
(decantadores secundários)
- Taxa de aplicação superficial para Qmed, (Ts): 16 - 32 m3/m2.d (decantadores secundários) e
30 - 50 m3/m2.d (decantadores primários)
- Profundidade (H): 3,0 – 4,5 m
- Eficiência de remoção de SSED: 80 – 90 %

c) Pré-Dimensionamento (Decantador Primário)

- Sólidos Suspensos no esgoto bruto (SS) = 280 mg/L


- Número de unidades: 2
- Altura adotada (H): 3 m
- Taxa de aplicação superficial adotada: 40 m3/m2.d
- Área de decantação (A): A = Q/Ts = 2600/40 = 65 m2
- Diâmetro dos decantadores (D):
2 x (π x D2/4) = A ou, D = (2 x 65 / π)1/2 = 6,43 m
Adotados dois decantadores de D = 6,40 m

18
- Volume de cada decantador (V):
V = [π x (6,4)2 / 4] x 3,0 = 96,46 m3
- Verificação do período de detenção (t): t = V/Q = 1,55 h (OK)
- Produção de lodo:
Eficiência de remoção de SS adotada: 50 %
Densidade do lodo decantado: 1020 kg/m3
Concentração de sólidos no lodo: 0,030 (3,0%)
Quantidade em peso dos sólidos afluentes aos decantadores:
Qmed x SS = 2600 x 280 x 10-3 = 728 kg/d
Volume de lodo secundário produzido por dia (VL):
VL = (0,5 x 728) = 11,89 m3/d (encaminhado para digestão).
(1020 x 0,030)

3.2.2 Lagoas anaeróbias

a) Principais Características

LAn
Lagoas anaeróbias constituem-se na mais simples e econômica forma de tratamento, onde
ocorrem basicamente dois processos: a sedimentação e a digestão anaeróbia da matéria
orgânica do esgoto. O tratamento é em grau primário, com remoções de 40 a 60 % de DBO e
de 50 a 70 % de sólidos suspensos.
O tempo de detenção hidráulica nas lagoas anaeróbias varia de quatro a seis dias, tendo sido
mais utilizado cinco dias e sua profundidade é de 3,0 a 5,0 m. As lagoas são construídas
geralmente em duas ou mais unidades, em terra compactada, com área quadrada ou circular,
sendo impermeabilizadas internamente com argila compactada e/ou manta plástica, para a
proteção do lençol freático.
O lodo produzido é pouco, sedimentando-se no fundo e formando um volume morto, que após
determinado tempo (entre dois e cinco anos) necessita ser dragado. Este lodo, com cerca de 5
a 10 % de sólidos, já é estabilizado e pode ser encaminhado diretamente para secagem e
disposição final/ aproveitamento na agricultura.
Lagoas anaeróbias não demandam energia elétrica, exigem pouca área, requerem escavações
profundas, mas não utilizam estruturas. Elas produzem maus odores e por serem a céu aberto
o controle dos gases não pode ser feito; desta forma, recomenda-se que as lagoas sejam
situadas distante da zona urbana, preferencialmente a 1.000 m, no mínimo.

19
O efluente das lagoas anaeróbias deve ser encaminhado para tratamento secundário
complementar, geralmente lagoas facultativas ou aeradas.
As Figuras 7 e 8 ilustram sistemas de tratamento composto por conjunto de lagoas anaeróbias
em paralelo seguidas de lagoas facultativas.

Figura 7. Conjunto de lagoas anaeróbias e facultativas. Fonte: Nucci e outros (1978).

Figura 8. Vista aérea do sistema de lagoas anaeróbias e facultativas da ETE de Lins, SP.
Fonte: Piveli (s/d).

20
b) Critérios e Parâmetros de Projeto

- Número de lagoas: duas em paralelo


- Período de detenção (t): 3 – 6 dias
- Profundidade (h): 3 – 5 m
- Eficiência média de remoção de DBO (E): 50 – 60%
- Taxa de aplicação volumétrica (Tv): 0,05 – 0,4 kgDBO/m3.d
- Taxa de aplicação superficial (Ts): 2000 – 4000 kgDBO/ha.d
- DBO afluente (So): 280 mg/L
- Vazão média (Q): 2600 m3/d
- Taxa anual de acumulação de lodo: 0,03 – 0,04 m3/hab.ano

c) Pré-Dimensionamento

- Período de detenção adotado: t = 4 d


- Volume das lagoas (V): V = Q . t = 2600 x 4 = 10400 m3 (2 lagoas de 5200 m3)
- Profundidade adotada: 4,2 m
- Área de cada lagoa (A): A = 5200/4,2 = 1238,10 m2
- Dimensões da lagoa a meia profundidade: 35,2 x 35,2 m
- Taxa de aplicação volumétrica: Tv = (2600 x 280 x 10-3)
(2 x 35,2 x 35,2 x 4,2)
Tv = 0,07 kg/m3.d
- Taxa de aplicação superficial: Ts = (2600 x 280 x 10-3)
(10-4 x 2 x 35,2 x 35,2)
Ts = 2937,8 kg/ha.d
- Dimensões das Lagoas:
Conforme esquema da Figura 9, tem-se as seguintes dimensões:

L + nxH

L H/2 1

H/2 n

L - nxH

Figura 9. Seção de uma lagoa.

21
- Dimensões das lagoas no fundo, considerando talude 1 : 2 :
L – nxH = 35,2 – (2x4,2) = 26,8 m (26,8 x 26,8 m)
- Dimensões das lagoas na superfície:
L+ nxH = 35,2 + (2x4,2) = 43,6m (43,6 x 43,6 m)
- Dimensão das lagoas no coroamento (Lt), considerando a borda livre de 0,5 m:
Lt = 43,6 + 2x0,5x2 = 45,6 m
- DBO efluente das lagoas considerando 50% de eficiência: Se = 0,5 x 280 = 140 mg/L
- Freqüência de remoção de lodo:
n = ½ (Vol lagoa, m3) x [(taxa anual de acumulação de lodo) x população]-1
n = ½ (35,2 x 35,2 x 4,2 x 2) x [0,04 x 10000]-1
n ≈ 13 anos

3.2.3 Reator anaeróbio de manta de lodo e fluxo ascendente

a) Principais Características

RAFA
O RAFA, também conhecido como reator UASB, promove o tratamento em grau primário,
sendo derivado da fossa séptica, com alguns aperfeiçoamentos. É um reator de fluxo
ascendente dotado de um sistema de distribuição de fundo (difusores), de cortinas para melhor
direcionar o fluxo do esgoto e dos gases produzidos, de uma câmara de sedimentação de lodo
e de uma câmara de acumulação dos gases.
Há no primeiro terço RAFA a formação de uma manta suspensa de lodo, composta de colônias
de bactérias que podem ficar na forma de grânulos ou de flocos biológicos. O fluxo atravessa
essa manta havendo a digestão do esgoto e a formação de mais biomassa, a qual sedimenta
posteriormente, precipitando-se em contra-fluxo, adensando a manta e se acumulando no fundo
do reator, de onde é descartada na forma de lodo, já estabilizado.
O efluente do reator é recolhido junto a superfície por meio de canaletas ou tubos perfurados e
encaminhado para tratamento complementar, geralmente por meio de filtro biológico anaeróbio
ou por um processo secundário, como filtros biológicos aeróbios, lodos ativados, flotação por ar
dissolvido, etc.
O tempo de detenção no reator é de 6 a 12 horas e sua eficiência é maior que os outros
reatores anaeróbios, podendo chegar a 75 % de remoção de DBO e a 80 % de sólidos
suspensos.
22
O RAFA tem uma lâmina d’água entre 4,0 e 4,5 m e altura total em torno de 5 m, podendo ter a
área quadrada ou circular. É construído em concreto armado e possui estrutura pesada, o que
ao lado do sistema de distribuição e das cortinas encarecem a sua implantação.
O reator demanda muito pouca energia elétrica, apenas para elevar o esgoto, a fim de vencer a
carga hidráulica. Requer muito pouca área, escavação e movimentação de terra. Tem baixa
produção de lodo e gera maus odores, que podem ser controlados uma vez que o reator é
fechado, possibilitando a coleta e o tratamento dos gases.
A Figura 10 apresenta a planta, corte e detalhes de um RAFA de área circular e a Figura 11
mostra o corte e detalhes de um RAFA de área circular e seção transversal na forma de tronco
de cone.

Figura 10. Vistas e detalhes de um RAFA de área circular. Fonte: Campos e outros (1999).

Figura 11. Corte e detalhes de um RAFA de área circular e seção transversal em forma
de tronco de cone. Fonte: Campos e outros (1999).

23
b) Critérios e Parâmetros de Projeto

Princípios de Funcionamento

Figura 12. Esquema de um RAFA. Fonte: CAMPOS e outros (1999).

- Período de detenção hidráulica (t): 6 – 9h para Qmed ou 4 – 6h para Qmax


- Carga hidráulica volumétrica (CHv): CHv ≤ 5 m3/m3.d para Qmed
- Carga orgânica volumétrica (Cov) para Qmed: Cov ≤ 15 kg DQO/m3.d
( 2,5 a 3,5 kgDQO/m3.d para esgotos domésticos)
- Carga biológica do lodo (CB) para Qmed
Durante a partida: 0,15 ≤ CB ≤ 0,40 kg DQO/kg SVS.d
Em regime : CB ≤ 2,0 kg DQO / kg SVS.d
- Velocidade ascendente do fluxo (Va):
Va = 0,5 - 0,7 m/h (para Qmed)
Va = 0,9 - 1,1 m/h (para Qmax)
- Profundidade do digestor: 2,5 – 3,5m
- Eficiência de remoção de DBO e DQO (E): 65 – 75%
- Concentração de sólidos no efluente (SS): SS = (250/t) +10 (mg/L)
- Área de influencia dos distribuidores (Ad): 2 – 4 m2
- Taxa de liberação de gases (Tg): 1,0 m3gas/m2.h ≤ Tg ≤ (3,0-5,0) m3gas/m2.h
- Produção de biogás (Vg): Vg = 0,15 – 0,25 m3gas / kg DQO removido
- Teor de metano no biogás: 60 – 80%
- Inclinação das paredes do decantador: > 45º (50 – 60)
- Profundidade do decantador: 1,5 – 2 m

24
- Altura total do reator: 4 – 5m
- Tempo de detenção no decantador 1,5 – 2 h (para Qmed)
- Taxa de aplicação no decantador: 0,6 – 0,8 (para Qmed)
- Velocidade nas passagens para o decantador: menor que 2,0 m/h para Qmed
- Produção de lodo (SS): (0,10 – 0,20) kg SS/kg DQO aplicada
- Concentração de sólidos no lodo: 2 – 5%
- Densidade do lodo: 1,02 – 1,04 kg/L
- Quantidade de inoculo para partida do reator: 10% do volume do reator

c) Pré-Dimensionamento

- DBO afluente: So = 280 mg/L = 0,28 kg/m3


- DBO efluente: Se = 84 mg/L = 0,084 kg /m3 (eficiência de 70%)
- DQO afluente: So’ = 500 mg/L = 0,50 kg/m3
- DQO efluente: Se’ = 150 mg/L = 0,15 kg/m3 (eficiência de 70%)
- Vazão média: 2600 m3/d = 108,33 m3/h
- Vazão Max: 3900 m3/d = 162,5 m3/h
- Período de detenção adotado p/ Qmed (t): 8h
- Volume do reator (V): V = Q x t = 108,33 x 8 = 867 m3
- Altura da lamina d’água do reator(H):
Velocidade ascensional (Va) adotada: 0,5 m/h para Qmed
H = Va x t = 0,5 x 8 = 4,0 m
Adiciona-se 0,20m para manter uma altura adequada dos distribuidores em relação ao fundo.
Portanto, H adotado = 4,2 m
- Área do reator (A) : A = V / H = 867 / 4,2 = 206,4 m2
- Dimensões: 2 células de seção quadrada de 10,20 x 10,20 m
- Verificação da carga hidráulica volumétrica (CHV): CHV = 2600/867 = 3 m3/m3.d (OK)
- Verificação da carga orgânica volumétrica (COV):COV=2600x0,5/867 = 1,5 kg/m3.d (OK)
- Produção de lodo: SS = 0,15 x Qmed x So’ = 0,15 x 2600,0 x 0,5 = 195,0 kg SS/d
- Densidade do lodo do RAFA (d): 1020 kg/m3
- Concentração de sólidos no lodo do RAFA (C): 0,03 (3%)
- Volume total de lodo para secagem (VL): VL = P lodo / (dxC) = 195 / (1020 x 0,03) = 6,4 m3/d
- Volume de lodo seco (VLS), com d = 1100 kg/m3 e C = 0,3 (30%):
- VLS = 6,4 x (1020x0,03 / 1100x0,3) = 0,59 m3/d
- Produção de biogás: 0,20 x Qmed x (So’ – Se’) = 0,2 x 2600 x (0,5 – 0,15) = 182 m3/d.

25
3.2.4 Reator Anaeróbio Compartimentado

a) Principais Características

É também um processo primário de tratamento, mais simples e também menos eficiente que o
RAFA, com remoção de DBO e de sólidos suspensos variando entre 60 e 70 %.
O reator é formado por três ou mais compartimentos dispostos em série e o esgoto é
introduzido por meio de tubos junto ao fundo do primeiro compartimento, o qual percorre com
fluxo ascendente, sendo recolhido junto à superfície para alimentar da mesma forma o
compartimento seguinte, junto ao fundo, e assim por diante.
Em cada compartimento se forma uma espécie de manta de lodo devido à sedimentação da
biomassa em contra-fluxo, sendo que periodicamente há retirada de lodo, já estabilizado, do
fundo do reator.
O tempo de detenção hidráulica do reator é de 12 a 16 horas e a profundidade da lâmina d’água
varia entre 2,5 e 3,5 m. O reator tem compartimentos de área retangular e pode ser construído
de concreto armado ou alvenaria estruturada. Por ser menos profundo que o RAFA, o reator
pode ser construído enterrado, com possibilidade de dispensar a elevação do esgoto afluente;
além disso, por não possuir sistema de distribuição complexo e cortinas, seu custo de
implantação é inferior ao do RAFA.
O reator compartimentado tem baixa produção de lodo, requer muito pouca área, demanda
escavações pouco profundas e pouca movimentação de terra. Possui estrutura pesada e
produz maus odores, que a exemplo do filtro anaeróbio e do RAFA podem ser controlados
devido o reator ser um tanque fechado.
As Figuras 13 e 14 apresentam com cortes esquemáticos longitudinais de dois reatores
anaeróbios compartimentados.

Figura 13. Corte longitudinal esquemático de um RAC Figura 14. Corte longitudinal esquemático de um RAC.
Fonte: Campos e outros (1999). Fonte: Javarez Júnior (2007).

26
b) Critérios e Parâmetros de Projeto

- Eficiência média de remoção de DBO e DQO: 60 – 75 %


- Número de compartimentos: 3 – 5 (usual 3)
- Tempo de detenção hidráulica total para Qmed (t): 12,0 – 18,0 h
- Altura da lâmina d´água (h): 2,5 – 3,5 m
- Carga orgânica volumétrica (COV): 0,5 – 2,0 kg DQO/m3.d (usual 1,0 kg DQO/m3.d)
- Velocidade ascencional do fluxo nos compartimentos (Va): 0,4 – 0,7 m/h

c) Pré-Dimensionamento

- Número de compartimentos: 3
- Vazão dos esgotos (Q): 2.600,00 m3/d = 108,33 m3/h
- DQO dos esgotos brutos = 0,5 kg/m3
- Tempo de detenção adotado: 12 h
- Volume total do reator:
V = Q x t = 108,33 x 12 = 1300 m3
- Volume de cada compartimento (Vc): Vc = 1300/3 = 433,33 m3
- Tempo de detenção em cada compartimento (tc): 4 h
- Velocidade ascencional adotada: 0,7 m/h
- Altura da lâmina d´água (H): H = Va x tc = 0,7 x 4 = 2,8 m
- Área de cada compartimento (A):
A = Vc/h = 433,33/2,8 = 154,76 m 2
- Dimensões de cada compartimento: 7,2 x 21,6 m
- Dimensões do reator: 21,6 x 21,6 m
- Carga de volumétrica de DQO (COV):
COV = DQO x Q/V = 0,5 x 2600 = 0,99 kg DQO/m3.d (OK)
12,5 x 37,5 x 2,8

- Produção de lodo: similar à do RAFA.

3.2.5 Fossas Sépticas

a) Principais Características

FS

27
A fossa séptica é um processo simples e econômico de tratamento, em grau primário, visando
atender a poucos usuários (máximo de 500 pessoas) em unidades unifamiliares, grupos de
residências, prédios e pequenas comunidades. Ela é bastante empregada em locais sem redes
de esgotos, na zona rural e em áreas litorâneas; em condomínios, chácaras, pousadas,
alojamentos provisórios, pequenos hotéis, etc.
Na fossa ocorrem os processos de sedimentação e digestão anaeróbia da matéria orgânica do
esgoto. O tempo de detenção hidráulica varia de 12 a 24 horas, dependendo do volume de
esgoto a ser tratado, sendo que neste período a matéria orgânica suspensa é digerida, com
remoção de cerca de 50 a 60 % da DBO e de 50 a 70 % dos sólidos suspensos.
O lodo sedimentado no fundo da fossa sofre a digestão por um período mais prolongado,
permanecendo nela por um tempo que pode variar de um a cinco anos, período fixado entre
uma limpeza e outra da fossa, nas quais o lodo é removido. Durante a sua permanência na
fossa o lodo sofre uma redução de volume, mas ocupa parte do volume da mesma, o qual deve
ser dimensionado para a armazenagem do lodo em digestão e digerido, em função do período
de limpeza pré-fixado.
As fossas podem prismáticas (Figura 15) ou circulares, construídas em alvenaria revestida
internamente com argamassa de cimento de forma a garantir a sua estanque idade.

Figura 15. Corte longitudinal de uma fossa séptica prismática de câmara simples. Fonte:
www.quimLab.com.br/PDF-A/Manual%20de%20Esgotamento%20Sanit%E1rio.pdf

28
Podem também serem feitas de anéis de concreto pré-moldado ou mesmo de caixas de
fibrocimento dispostas em série (Figuras 16 e 17). Elas devem ser fechadas, providas de
inspeções (tampões de fechamento hermético) para a manutenção e a retirada do lodo. Sua
profundidade normalmente varia entre 1,50 e 3,0 m.
As Figuras 16 e 17 ilustram um sistema de fossas proposto pela EMBRAPA (EMBRAPA
Instrumentação, 2002), construído com caixas de fibrocimento dispostas em série.

Figura 16. Esquema de um conjunto de fossas de caixas de fibrocimento dispostas em


série. Fonte: EMBRAPA Instrumentação (2002).

Figura 17. Conjunto de fossas de caixas de fibrocimento já implantado.


Fonte: EMBRAPA Instrumentação (2002).

29
Os gases produzidos nas fossas são liberados junto com seus efluentes, mas por segurança,
recomenda-se que elas sejam ventiladas, para se evitar riscos de explosão em eventuais casos
de obstrução/ entupimento das mesmas. O lodo das fossas é estabilizado e pode ser
encaminhado diretamente para a secagem e disposto no solo, de forma adequada, tomadas as
precauções já mencionadas no item 3.1.5.
As fossas costumam ser seguidas de outras unidades para a complementação do tratamento,
como filtros biológicos anaeróbios, sumidouros, valas de infiltração e valas de filtração.
Elas não demandam energia elétrica, requerem muito pouca área, demandam escavações
pouco profundas, requerem muito pouca movimentação de terra, utilizam estrutura pouco
pesada, produzem pouco lodo e liberam maus odores, principalmente devido ao gás sulfídrico,
produzido nos processos anaeróbios.

b) Critérios e Parâmetros de Projeto (NBR–7229/93 da ABNT)

Quadro 09. Contribuição diária de esgoto (C) e de lodo fresco (Lf) por tipo de prédio e de
ocupante . Fonte: ABNT (1993).

Prédio Unidade C (L/d) Lf (L/d)


Residência padrão alto Pessoa 160 1
Residência padrão médio Pessoa 130 1
Residência padrão baixo Pessoa 100 1
Hotel (exceto lavanderia e cozinha) Pessoa 100 1
Alojamento provisório Pessoa 80 1
Fábrica em geral Pessoa 70 0,3
Escritório Pessoa 50 0,2
Edifícios públicos ou comerciais Pessoa 50 0,2
Escolas e locais de longa permanência Pessoa 50 0,2
Bares Pessoa 6 0,1
Restaurantes e similares Refeição 25 0,1
Cinemas, teatros e locais de curta permanência Lugar 2 0,02
Sanitários públicos bacia sanitária 480 4,0

30
Quadro 10. Tempo de detenção dos despejos (T). Fonte: ABNT (1993).
T
Contribuição média diária (L)
Dias Horas
Até 1.500 1,0 24
de 1.500 a 3.000 0,92 22
de 3.001 a 4.500 0,83 20
de 4.501 a 6.000 0,75 18
de 6.001 a 7.500 0,67 16
de 7.501 a 9.000 0,58 14
Mais de 9.000 0,50 12

Quadro 11. Taxa de acumulação de lodo, K (dias), em função da temperatura do mês mais
frio, θf (oC). Fonte: ABNT (1993).
Intervalo entre limpezas da fossa
(anos) Valores de K (d)
o
θf ≤ 10 C 10 oC ≤ θf ≤ 20 oC θf ≥ 20 oC
1 94 65 57
2 134 105 97
3 174 145 137
4 214 185 177
5 254 225 217

Quadro 12. Profundidade útil mínima e máxima da fossa (m). Fonte: ABNT (1993).
Volume útil da fossa (m3) Profundidade mínima (m) Profundidade máxima (m)
Até 6,0 1,20 2,20
de 6,0 a 10,0 1,50 2,50
maior que 10,0 1,80 2,80

c) Pré-Dimensionamento

- Número de funcionários considerado para o projeto (N): 75


- Contribuição per capta de esgotos (C): 70 l/func.xd (Quadro 10)
- Contribuição per capta de lodo fresco (Lf): 0,3 l/func.xd (Quadro 10)
- Contribuição média diária de esgotos (L):
L = N x C = 75 x 70 = 5.250 l/d = 5,25 m3/d

31
- Temperatura média do mês mais frio (θf): 16,5 º C
- Período de detenção na fossa (T) em função de L : T = 0,67 d (Quadro 11)
- Taxa de acumulação de lodo na fossa (K) em função de θf, para limpeza anual: K = 65,0 d
(Quadro 12)
- Volume útil (V):
V = 1.000 + [N x (CxT + KxLf)] = 1.000,0 + [75,0 x (70,0x0,67 + 65,0x0,3)] = 5.980,0 L = 5,98 m3
- Dimensões adotadas para a fossa:
Profundidade = 1,30 m (Quadro 13)
Largura = 1,50 m
Comprimento = 3,00 m (razão 1:2)

3.2.6 Filtro Biológico Anaeróbio

a) Principais Características

FBAn

O filtro biológico anaeróbio é considerado um tratamento em grau primário, com remoção de


DBO em torno de 60 % e onde ocorre a digestão anaeróbia do esgoto e a sedimentação do
lodo produzido, que sofre o mesmo processo.
O filtro é composto de um tanque de seção retangular ou circular, contendo um leito fixo
submerso no qual fixam-se bactérias formando um biofilme, responsável pela degradação do
esgoto. Nos interstícios do leito existem ainda flocos de bactérias que contribuem também para
o processo.
O filtro possui fluxo ascendente, sendo que afluente adentra pela sua parte inferior e o efluente
é recolhido na parte superior, junto à superfície líquida, por meio de canaletas ou tubos
perfurados. Embora menos comuns, existem também filtros com fluxo descendente.
O filtro não deve tratar esgoto sanitário bruto, sob pena de sofrer obstrução e por isso,
geralmente ele é precedido por uma fossa séptica, servindo como complementação ao
tratamento efetuado por ela.
O lodo formado é oriundo em sua maior parte do desprendimento do biofilme do leito e se
sedimenta no fundo do filtro, em um poço, de onde é removido periodicamente, em intervalos
de tempo similares aos da fossa séptica ou mesmo inferiores.

32
O tempo de detenção hidráulica do filtro varia de 12 a 24 horas, dependendo do volume de
esgoto e sua profundidade varia de 1,5 a 3,0 m, devendo o nível de sua lâmina d’água ficar 10
cm abaixo do nível da lâmina da fossa que o precede, devido à perda de carga no leito.
Sendo um processo anaeróbio, o filtro não consome energia elétrica e requer muito pouca área,
demandando pouca escavação e pouca movimentação de terra, mas utiliza estruturas pesadas,
por ser geralmente construído em concreto armado ou alvenaria estruturada (cintada). O leito
pode ser feito de pedras (brita no 4), peças cerâmicas ou material plástico, sendo que
experiências com o uso de cilindros de bambu obtiveram sucesso.
A produção de lodo do filtro, que já é estabilizado é bastante baixa, mas ele liberara maus
odores, aspecto que pode ser resolvido com a cobertura hermética do filtro, possibilitando então
o armazenamento e o recolhimento dos gases que podem ser tratados ou dispersados na
atmosfera em uma altura adequada.
As Figuras 18 e 19 mostram cortes transversais e longitudinais de filtros biológicos anaeróbios
de fluxo ascendente e descendente respectivamente.

Figura 18. Cortes de um filtro biológico anaeróbio de fluxo ascendente.


Fonte: Campos e outros (1999).

Figura 19. Cortes de um filtro biológico anaeróbio de fluxo descendente.


Fonte: Campos e outros (1999).

33
b) Critérios e Parâmetros de Projeto (NBR–7229/93 da ABNT)
Similares aos da fossa vistos nos Quadros 10 e 11.

c) Pré-Dimensionamento

- Volume útil (Vf):


Vf = 1,6 x N x C x T = 1,6 x 75,0 x 70,0 x 0,67 = 5.628,0 L = 5.63 m3
- Dimensões adotadas para o filtro:
Largura = 1,50 m (mesma da fossa)
Profundidade = 1,20 m (10 cm a menos que a da fossa)
Comprimento = 5,63 = 3,13 m (adotado 3,20 m)
(1,20x1,50)

3.3. Tratamento Secundário

3.3.1 Lagoa facultativa

a) Principais Características

LFac

A lagoa facultativa é o mais simples e sustentável dos tratamentos secundários, onde ocorrem
fundamentalmente quatro fenômenos:
- Sedimentação de matéria orgânica, particularmente nas lagoas que recebem esgotos brutos;
- Decomposição anaeróbia do lodo do fundo e do esgoto na região inferior da lagoa;
- Decomposição aeróbia do esgoto na região superior da lagoa;
- Fotossíntese na região superior da lagoa.
Na região superior da lagoa, enquanto as bactérias decompõem aerobiamente o esgoto,
produzem gás carbônico e nutrientes, que são aproveitados pelas algas na realização da
fotossíntese, liberando oxigênio a ser usado pelas bactérias na decomposição do esgoto,
fechando assim um ciclo simbiótico que permite um tratamento aeróbio natural, sem a
necessidade de introduzir artificialmente oxigênio no processo.

34
Na região intermediária da lagoa, onde a penetração da luz não ocorre o dia todo, existem
bactérias chamadas facultativas, por terem metabolismo duplo: aeróbio quando há fotossíntese
e oxigênio disponível e anaeróbio, quando não há fotossíntese nem oxigênio; daí a
denominação de lagoa facultativa.
Para efeito do presente trabalho, a lagoa facultativa foi considerada como processo aeróbio,
fenômeno mais importante e que lhe dá a característica de tratamento secundário. A aerobiose
na região superior evita que esse tipo de lagoa produza maus odores, devido principalmente à
oxidação do gás sulfídrico.
A lagoa facultativa é relativamente eficiente, removendo de 70 a 90 % da DBO, de 30 a 50 %
do nitrogênio total, de 20 a 60 % do fósforo total e em até 99 % os coliformes fecais. Em função
de possuir uma baixa densidade de biomassa suspensa, seu período de detenção hidráulica é
elevado, de 10 a 20 dias e sua profundidade varia entre 1,2 e 2,0 m.
A lagoa tem geralmente o formato retangular e é de construção simples, em terra, sendo
impermeabilizada internamente com argila compactada e/ou manta plástica.
A produção de lodo na lagoa facultativa é praticamente desprezível; ela não requer escavações
profundas, mas exige muita área e grande movimentação de terra; não demanda estruturas
nem energia elétrica, mas requer luminosidade.
A operação e a manutenção são relativamente simples, dispensando mão de obra qualificada.
Entretanto, deve-se atentar para a possibilidade da lagoa produzir algas cianofíceas em
quantidade significativa, com o risco de liberação de cianotoxinas para o meio ambiente.
As lagoas facultativas costumam ser precedidas de lagoas anaeróbias, associação esta
conhecida como “Sistema Australiano” e que resulta em significativa redução de área quando
comparada à adoção de lagoas facultativas somente. Lagoas facultativas e o “Sistema
Australiano” são ilustrados na Figura 20.

a) Princípios de Funcionamento

Figura 20. Fenômenos intervenientes no funcionamento de uma lagoa facultativa.

35
b) Critérios e Parâmetros de Projeto

- Período de detenção (t): 10 – 20 dias


- Profundidade (h): 1,5 – 2,5 m
- Eficiência média de remoção de DBO (E): 80 – 90 %
- Taxa de aplicação superficial (Ts) = 150 – 350 kgDBO/ha.d (Método das Cargas Superficiais)
- DBO suspensa no efluente : 1 mgSS/l = 0,3 – 0,4 mg/L de DBO5
- SS do efluente: SS ≤ 50 mg/L
- Coeficiente de remoção de DBO (K): 0,30 – 0,35 d-1 (a 20 ºC)
- Razão largura / comprimento: 1:2 a 1:4
- Método Racional Teórico (para mistura completa):
  1 
E (%) = 1 −   × 100
  1 + kt 
- Valores do coeficiente de remoção de DBO (K) em função da temperatura:
K(T ºC) = K(20 ºC) x (1,085)T-20 (Quadro 13):

Quadro 13. Valores de k. Fonte: PESSÔA & JORDÃO (1997).

Temperatura (ºC) 15 20 25

K (d-1) 0,24 0,35 0,53

c) Pré-Dimensionamento

- DBO afluente : 140 mg/L (com 50% de eficiência de remoção nas lagoas anaeróbias)
- Vazão média do afluente: 2600 m3/d
- Eficiência adotada: 80%, a 20ºC

  1 
- Período de detenção: Método Racional Teórico → 80 = 1 −   × 100 , donde t = 11,43 d
  1 + 0,35t 
- DBO efluente solúvel : (1-0,80) x 140 = 28 mg/L
- Eficiência global (Et): [(280-28)/280]x 100 = 90%
- DBO efluente total: DBOt = DBO efsol + DBO susp
Considerando SSef = 50 mg/L e DBOsusp = 0,3 (mg/L)/(mg/LdeSS)
DBOt = 28 + (0,3 x 50) = 43 mg/L
- Volume da lagoa: V = Q x t = 2600 x 11,43 = 29718 m3
- Profundidade adotada: 2,0 m
- Área da lagoa a meia profundidade: 29718 /2 = 14859 m2

36
- Taxa de aplicação superficial: (2600 x 140 x 10-3) = 245 kgDBO/ha.d
(14859 x 10-4)

- Dimensões da lagoa:
Considerando a relação largura(B)/comprimento(L) 1:2,5, têm-se Bx 2,5B = 14859m2
B = 77 m e L = 193m
- Dimensões no fundo com talude 1:2
77 – 2 x 2 = 73 m
193 – 2 x 2 = 189 m
- Dimensões na superfície:
77 + 2 x 2 = 81 m
193 + 2 x 2 = 197 m
- Dimensões no coroamento, com borda livre de 0,5 m:
81 + 2 x 0,5 x 2 = 83 m
197 + 2 x 0,5 x 2 = 199 m

3.3.2 Lagoa Aerada

3.3.2.1 Lagoa Aerada de Mistura Completa

a) Principais Características

LAer

A lagoa aerada é um tratamento secundário, com eficiências similares às da lagoa facultativa;


só que possui tempo de detenção hidráulica inferior, entre 3 e 5 dias, e também área
significativamente menor, pois tem maior profundidade e aeração artificial, por meio de
difusores ou aeradores mecânicos.
A lagoa aerada de mistura completa possui uma densidade de biomassa suspensa mais
elevada exige a implantação de decantadores ou de lagoas de sedimentação à jusante (vide
esquema da Figura 21), para remoção dessa biomassa e clarificação do efluente. Sua
construção é praticamente a mesma das outras lagoas, com forma quadrada ou retangular,
possuindo alguns dispositivos adicionais, como placas de concreto no fundo, sob os aeradores
mecânicos, a fim de evitar erosão pelo vórtice produzido por eles.

37
Esse tipo de lagoa possui requisito relativamente médio em termos de área, exige lagoas de
sedimentação posteriores, demanda escavações profundas, provoca média movimentação de
terra, não utiliza estruturas pesadas, não produz maus odores, mas gera mais lodo e pode
liberar aerossóis patogênicos.
A lagoa tem um elevado consumo de energia elétrica, que pode ser diminuído com a adoção de
um tratamento primário anaeróbio prévio. De qualquer modo, a utilização de equipamentos de
aeração requer uma maior manutenção.
A Figura 21 ilustra lagoas aeradas mecanicamente, podendo ser observados os aeradores
superficiais de turbina.

Figura 21. Vistas das lagoas aeradas da ETE Araraquara, SP.


(Cortesia do DAAE de Araraquara, 2010).

b) Critérios e Parâmetros de Projeto

- Período de detenção (t): 3 – 4 dias


- Profundidade (h): 2,5 – 4,5 m
- Equações básicas:
Se = So ou
(1+K . Xv . t)

t = (So – Se) (I)


(K . Xv . Se)

onde: So – DBO afluente (200 – 300 mg/L)


Se – DBO efluente solúvel (20 – 30 mg/L)
K – Constante de remoção de DBO (0,010 – 0,04 L/mg.d)
Xv – Sólidos voláteis suspensos na lagoa (50 – 200 mg/L)
Xv = Y. (So – Se) (II)
(1+ Kd x t)

onde: Y – Coeficiente de síntese ou produção de lodos ( 0,4 – 0,8, usualmente 0,6)


Kd – Coeficiente de respiração endógena (0,03 – 0,08, usualmente 0,06)

38
- DBO efluente total (Se’)
Se’= DBO solúvel (Se) + DBO suspensa (particulada)
DBO suspensa = (0,4 – 0,8) mgDBO5 / mg Xv
Se’= Se + (0,4 – 0,8) x Xv

Pré-Dimensionamento
- So = 280 mg/L
- Se adotado: 25 mg/L
- Determinação de t e Xv:
Adotando-se K = 0,025 , Y = 0,6 , Kd = 0,06 e substituindo nas Equações (I) e (II):
t = (280 – 25)
(0,025 x Xv x 25)

Xv = [0,6 (280 – 25)]


(1+0,06 x t)

Tem-se um sistema de duas equações e duas incógnitas (t e Xv), que resolvido fornece:
t = 3,18 d e Xv = 129 mg/L
- DBO efluente total da lagoa aerada (Se’)
Se’= Se + 0,6 x Xv = 25 + 0,6 x 129 = 102,4 mg/L
- DBO efl. final da lagoa de sedimentação (Se”), adotando-se uma eficiência de remoção de Xv
de 90%
Se”= 25 + (1 - 0,9) x 77,4 = 33 mg/L
 280 − 33 
- Eficiência total do sistema: E =   × 100 = 88%
 280 
- Volume da lagoa: V = Q x t = 2600 x 3,18 = 8268 m3
- Área da lagoa, com profundidade adotada de 3,0 m: A = 8268/3,0 = 2756 m2
- Dimensões da lagoa: 43x60 m (adotando-se uma razão entre as dimensões dos lados de 1 : 1,5).

Dimensionamento dos aeradores


- Requisitos de oxigênio (O2) para o processo: 1,1 - 1,4 vezes a carga de DBO5 removida da
lagoa aerada. Adotando-se 1,2, tem-se:
O2 = 1,2 x Q (So – Se) = 1,2 x 2600 (280 – 25) x 10-3 = 795,6 kg O2/d = 33,15 kg O2/h
- Taxa de transferência de oxigênio dos aeradores no campo (N)
  (β × Csw − Cl )  
N = No × α  1,024 (T −20)  , onde:
  Cs  
T – temperatura dos esgotos (na lagoa)
No – Taxa de transferência de O2 nas condições padrão, fornecida pelos fabricantes (1,5 – 2,0
kg O2/Kwh)

39
α - taxa de transferência de O2 nos esgotos (na lagoa) / taxa de transferência de O2 na água
pura (condições padrão) ( = 0,7 p/ esgotos sanitários)
β - teor de saturação de O2 nos esgotos / teor de saturação de O2 na água pura (β = 0,9 para
esgotos sanitários)
Csw – teor de saturação de O2 na água pura (tabelado em função da altitude e temperatura)
Cl – teor de O2 na lagoa (0,5 – 2,0 mg/L)
Cs – teor de saturação de O2 na água pura, a 20ºC e ao nível do mar (9,17 mg/L)
Considerando uma altitude de 180m, a 20ºC, Csw = 9,0 mg/L.
Adotando-se CL = 1,0 mg/L e No = 1,8 kg O2 / kwh, tem-se:

  (0,9 × 9,0 − 1,0 ) 


N = 1,8 × 0,7  1,024 ( 20− 20)  = 1,8 x 0,54 = 0,98 kg O2 / kwh
  9,17  
- Potencia requerida para o processo (P):
P = O2 /N = 33,15 (kg O2 / h) / 0,98 (kg O2 / kwh) = 33,8 kw
- Potência requerida para mistura completa (P’)
Considera-se uma densidade de potência mínima de 3 w/m3 de lagoa. Portanto a potência
necessária será:
P’= 3(w/m3) x Vol = 3 x 8268 = 24,8 kw
Considera-se o maior dos valores e como P>P’, toma-se P = 33,8 kw.
Sendo 1 CV = 0,74 kw, P = 46 CV
Adota-se 4 aeradores de 13,6 CV cada, com motor de 15 CV, conforme especificações
apresentadas na figura e o quadro a seguir.

Quadro14: Especificações de aeradores tipo Cone e Turbina. Fonte: MENDONÇA (1990).


Modelo Potência Capacidade
Diâmetro Nominal N. de
Tipo de Acionamento Externo A B C* Absorvida Motor Oxigenação Pás
Horário Anti-Horário Mm mm Mm mm KW CV CV KgO2/h Quant.
SA-01-01 SA-01-11 660 800 660 680 2 2,7 3,0 4,0 6
SA-01-02 SA-01-12 900 1080 900 680 4 5,4 6,0 8,0 6
SA-01-03 SA-01-13 900 1080 900 680 5 6,8 7,5 10,0 9
SA-01-04 SA-01-14 1140 1380 1140 680 6 8,2 10,0 12,0 6
SA-01-05 SA-01-15 1140 1380 1140 680 8 11,0 12,5 16,0 9
SA-01-06 SA-01-16 1140 1380 1140 680 10 13,61 15,0 20,0 12
AS-01-07 SA-01-17 1420 1680 1420 680 13 18,0 20,0 26,0 9
SA-01-08 SA-01-18 1420 1680 1420 680 16 22,0 25,0 32,0 12
SA-01-09 SA-01-19 1650 1980 1650 860 22 30,0 40,0 44,0 9
SA-01-10 SA-01-20 1650 1980 1650 860 27 36,7 50,0 54,0 12
SA-02-01 SA-02-06 1800 1800 800 860 22 30,0 40,0 50,6 9
SA-02-02 SA-02-07 2000 2000 1000 860 31 42,0 50,0 71,3 12
SA-02-03 SA-02-08 2200 2200 1200 1060 37 50,0 60,0 85,1 14
SA-02-04 SA-02-09 2300 2300 1300 1060 49 67,0 75,0 112,7 16
SA-02-05 SA-02-10 2500 2500 1500 1260 64 87,0 100,0 147,2 18
*Valor para turbina fixa. Para turbina flutuante acrescentar 200mm.

40
Figura 22. Detalhes de Aeradores Tipo Cone e Turbina. Fonte: MENDONÇA (1990).

3.3.2.2 Lagoa Aerada Facultativa

LAerF

A lagoa aerada facultativa é similar à lagoa aerada de mistura completa, mas tem uma
densidade de potência de aeração menor, o que faz com que a biomassa se sedimente na
própria lagoa, formando um lodo em seu fundo. Este lodo, assim como o esgoto na região
próxima ao fundo sofrem decomposição anaeróbia, ocorrendo ainda a presença de bactérias
facultativas nessa região.
A lagoa aerada facultativa tem praticamente as mesmas eficiências da lagoa aerada de mistura
completa; porém demanda um tempo de detenção hidráulica maior, entre 5 e 8 dias e
consequentemente, uma maior área. Além disso, exige periodicamente, a cada cinco anos em
média, a dragagem do lodo de seu fundo, operação dificultada pela interferência com o sistema
de aeração.
A Figura 23 ilustra um sistema de lagoas aeradas facultativas, notando-se a ausência de lagoas
de sedimentação de lodo, que no caso, não são necessárias.

41
Figura 23. Sistema de lagoas aeradas facultativas. Fonte: CETESB (1989).

3.3.3 Lagoa de Sedimentação

a) Principais Características

LSed

As lagoas de sedimentação são utilizadas quando o tratamento secundário é feito por meio de
lagoas aeradas, as quais sucedem, com o objetivo de sedimentar e separar o lodo produzido.
As lagoas de sedimentação são implantadas em duas ou mais unidades. Possuem um período
de detenção hidráulica de cerca de um dia, com remoção de DBO particulada e de sólidos
suspensos elevada, superior a 90 %. A biomassa é sedimentada acumulando-se no fundo e
formando um volume morto de lodo, que após determinado tempo (entre cinco e dez anos)
necessita ser dragado. Este lodo, com cerca de 5 % de sólidos, já é estabilizado e pode ser
encaminhado diretamente para secagem e disposição final.
As lagoas são construídas de forma simples, em taludes de terra, com profundidade em torno
de 3 m. Elas podem ser interiormente impermeabilizadas com manta plástica e/ou argila
compactada, a fim de proteger o lençol freático.
A Figura 24 ilustra um conjunto de lagoas aeradas de mistura completa e lagoas de
sedimentação.

42
Figura 24. Lagoas aeradas e lagoas de sedimentação de lodo. Fonte: Campos (1991).

b) Critérios e Parâmetros de Projeto

- Lagoas de sedimentação são empregadas após a lagoa aerada de mistura completa


- Período de detenção na lagoa de sedimentação (ts): 1 – 2 d (usualmente 1d)
- Eficiência de remoção de SS e Xv na lagoa de sedimentação (E): 80 - 90%
- DBO efluente final da lagoa de sedimentação (Se”):
Se”= Se + (0,4 – 0,8) x Xv x (1 – E).

c) Pré-Dimensionamento
- Número de unidades: duas em paralelo
- Volume das lagoas de sedimentação, com período de detenção (ts) adotado de 1,0 d:
Vol = Q x ts = 2600 x 1,0 = 2600 m3
- Área das lagoas (A), com profundidade de 3,0m (deixa-se 1 m para acúmulo de lodo):
A = 2600/3,0 = 867 m2
- Dimensões das lagoas: 20,8X20,8 m (INCORRETO) de lado
- Volume de lodo acumulado nas lagoas (Vt) em t anos:

 Mov  
(
 Klv  1 − e )
− klv×t
+ t × Mof 
   × 100 
Vt =   
1000  sólidos sec os 
onde: Mov – massa de SVS retidos na lagoa por ano ( kg SSV/ano)
Mof – massa de SS fixos retidos por ano ( kg SSf/ano)
Klv – Coef de degradação dos SVS em condições anaeróbias (ano-1) = 0,4 – 0,6 ano-1
Sólidos secos – porcentagem de sólidos secos no lodo (8%)
Densidade do lodo úmido: 1000Kg/m3

43
SVS = 0,75 x SS e SSf = 0,25 x SS
Portanto: SSf = 1/3 SVS
Mov = 2600(m3/d) x 0,129(kgSVS/m3) x 365(d/ano) x 0,9 = 110179 kg SVS/ano
Mof = 2600(m3/d) x 0,129 (kgSVS/m3) x 1/3 x 365(d/ano) x 0,9 = 36726 kg SVS/ano
Assumindo Vt = 1/3 vol da lagoa, tem-se:
 110179  
 ( )
 1 − e −0,5×t + t × 36726
3900  0,5   ×  100 
=  
3 1000  8 
3900/3 = [(110179/0,5) x (1 – e- 0,5xt) + (t x 36726)]/1000 x (100/8)
t = 0,82 anos ≈ 10 meses (período para remoção do lodo).

3.3.4 Lodos Ativados

3.3.4.1 Lodos Ativados Convencional


a) Principais Características

LAC

O tratamento por Lodos ativados convencional é um dos mais utilizados mundialmente, mas
hoje no Brasil só se justifica para grandes instalações.
O processo, em grau secundário, compreende uma decantação primária seguida de um reator
biológico ou tanque de aeração, onde ocorre o crescimento de biomassa, com uma floculação
biológica e a decomposição aeróbia do esgoto. Em seguida, os flocos e o esgoto são
submetidos à uma decantação secundária para a separação de fases, com a produção de lodo
sedimentado e do efluente final clarificado. Parte do lodo sedimentado é recirculada para o
tanque de aeração para semear ou “ativar” o processo e o excesso de lodo segue para as
operações de digestão e secagem (vide esquema da Figura 25).
Os lodos ativados são eficientes em termos de remoção de DBO e sólidos suspensos, entre 85
e 95 %; removem de 25 a 40 % de nutrientes e até 90 % de coliformes fecais. O tempo de
detenção hidráulica total é 0,4 a 0,6 dias, com cerca de seis a dez horas no tanque de aeração.
Nos Lodos ativados convencional a área requerida é pequena, não sendo exigida muita
movimentação de terra; as escavações são profundas e as estruturas pesadas, todas em
concreto armado; produz muito lodo, mas não gera maus odores e pode liberar aerossóis
patogênicos. A manutenção é alta e a operação complexa, necessitando de mão de obra
especializada.

44
Figura 25. Esquema do processo de lodos ativados convencional.
Fonte: Von Sperling (1996).

O consumo de energia elétrica é alto, tanto para a aeração como para a elevatória de
recirculação de lodo, cuja vazão é elevada, pode ser até igual à vazão de esgoto afluente à ETE
(taxa de recirculação de 100 %).
A Figura 26 apresentada a seguir ilustra uma ETE por lodos ativados convencional.

Figura 26. ETE por lodos ativados convencional. Fonte: Nucci e outros (1978).

45
3.3.4.2 Lodos Ativados Aeração Prolongada – Valo de Oxidação

a) Principais Características

LAAP

O tratamento por lodos ativados modalidade aeração prolongada é uma variante dos lodos
ativados convencional, com algumas alterações no sentido de aumentar a eficiência e
simplificar o tratamento.
A sedimentação primária é suprimida, sendo os esgotos após o tratamento preliminar
encaminhados diretamente ao reator biológico ou tanque de aeração. Com isto, não há
produção de lodo primário, o que é uma vantagem.
No tanque de aeração a densidade de biomassa chega a ser duas vezes superior à dos Lodos
ativados convencional, devido a uma maior vazão de recirculação do lodo secundário, que pode
atingir até três vezes a vazão de esgoto afluente à ETE (taxa de recirculação de 200 %).
O tempo de detenção hidráulica no reator também é mais elevado, variando de 16 até 36
horas, resultando consequentemente em um volume maior para o mesmo. A eficiência de
remoção de DBO do tratamento é superior, de 93 a 98 %; já as remoções de sólidos
suspensos, nutrientes e coliformes fecais são similares às dos Lodos ativados convencional.
A produção de lodo no sistema de aeração prolongada é maior, mas por outro lado, dado o
grande tempo de reação no tanque de aeração, este lodo encontra-se digerido aerobiamente,
sendo já estabilizado. Isto dispensa a sua digestão anaeróbia, mediante o emprego de
digestores, unidades de grande porte e que são assim suprimidas.
Apesar de requerer um reator de maior porte, com a supressão dos decantadores primários e
dos digestores, a área total dos lodos ativados por aeração prolongada resulta inferior à dos
lodos ativados convencional.
Entretanto, o consumo de energia elétrica com o sistema de aeração e com a elevatória de
recirculação de lodo é bem maior, sendo este o aspecto negativo dos lodos ativados por
aeração prolongada, o que pode colocá-lo em desvantagem em relação ao processo
convencional, principalmente quando se tratar de grandes instalações.
Para pequenas ETEs, a aeração prolongada pode ser competitiva. Um exemplo é o valo de
oxidação, sistema desenvolvido na Holanda e muito utilizado para comunidades de pequeno
porte (Figura 27).
No sistema de valo de oxidação, a sedimentação secundária pode ser feita no próprio no
próprio reator biológico, com a parada do sistema de aeração para o descarte do lodo,
dispensando-se assim o decantador secundário. Esta opção, no entanto, é menos freqüente.

46
Uma variante mais aperfeiçoada do valo de oxidação, o sistema carrossel (Figura 28), tem sido
utilizado também para comunidades de grande porte na Holanda e na Alemanha, com sucesso.

Figura 27. ETE por aeração prolongada - valo de oxidação. Fonte: Campos (1991).

Figura 28. ETE por aeração prolongada – sistema carrossel. Fonte: Cordeiro (2007).

47
3.3.4.3 Lodos Ativados por Batelada (fluxo intermitente)

a) Principais Características

LAB

O LAB é outra variante dos lodos ativados convencional, sendo as modificações principais as
seguintes:
- o esgoto é tratado de forma intermitente, em ciclos, com o emprego de dois ou mais reatores;
- não possui decantadores primários nem secundários, sendo a sedimentação secundária feita
no próprio reator biológico;
- não possui recirculação de lodo; a ativação do processo se faz deixando parte do volume do
lodo sedimentado no reator, para semear o esgoto a ser tratado no ciclo seguinte;
- poder ser projetado para modalidade de aeração prolongada, o que produz um lodo já
estabilizado aerobiamente.
Neste processo, o esgoto é introduzido alternadamente nos reatores, onde sofre o tratamento
em ciclos cujo número varia de três a seis, com duração de quatro a seis horas no sistema
convencional e de seis a oito horas na aeração prolongada. O esgoto é então aerado em
regime de mistura completa e após a sua decomposição os aeradores são desligados,
ocorrendo a sua sedimentação; em seguida o excesso de lodo é descartado para a secagem,
sendo deixada uma parte no reator que é misturado ao esgoto afluente para dar início ao
próximo ciclo. Uma vez cheio, enquanto um reator cumpre o restante de seu ciclo, o(s) outro(s)
reator (es) são alimentados com esgoto, alternando-se assim, sucessivamente, o tratamento em
cada um deles. A Figura 29 ilustra o esquema de operação de um ciclo do LAB.

48
Figura 29. Esquema de operação do LAB. Fonte: Von Sperling (1997).

O LAB apresenta eficiências similares às do sistema convencional e por dispensar


decantadores e digestores ele é muito compacto, além de não gerar maus odores. Por isto, ele
vem sendo empregado para pequenas comunidades, condomínios e indústrias, com pouca
disponibilidade de área e onde os requisitos de eficiência de tratamento são elevados.
Este processo demanda menos estruturas pesadas e pouca movimentação de terra e
escavação; no entanto, requer cuidados operacionais e de manutenção, sendo que a operação
pode ser em grande parte automatizada. Além disso, produz bastante lodo e pode liberar
aerossóis patogênicos, possuindo também um elevado consumo de energia elétrica, que é a
sua desvantagem.
A Figura 30 apresenta um arranjo de três reatores de lodos ativados por batelada operando em
paralelo.

49
Figura 30. Arranjo de três LABs operando em paralelo. Fonte: Von Sperling (1997).

b) Critérios e Parâmetros de Projeto


- Número de unidades (n):
n ≥ 2 (usual 2 - 3 unidades para cidades de pequeno porte)
- Número de ciclos operacionais por dia (m):
m = 3 - 6 ciclos, dependendo da duração do ciclo e do número de reatores
- Duração dos ciclos:
Sistemas convencionais: 4 – 6 h; aeração prolongada: 6 - 8 h
- Ciclos operacionais típicos (Quadro 15):

Quadro 15. Características dos ciclos de um LAB.


Fase Duração (h) Aeração
Enchimento Te = 2 – 3 Ligada/desligada
Reação Tr = 2 – 3 Ligada
Sedimentação Ts = 1 Desligada
Descarga Td = 0,5 Desligada
Repouso Trep = 0,5 Desligada/ligada
Total Tc = 6 – 8

50
- Concentração de sólidos voláteis no reator (Xv): 1500 –3500 mg/L
- Idade do lodo (θc):
Sistemas convencionais: θc = 4 – 10 d
Aeração prolongada: θc = 20 – 25 d
- Alturas no reator (Figura 31):

Figura 31. Esquema geral dos volumes de um LAB.

- Altura de enchimento: He
- Altura de transição: Htr = 10 – 20% de He
- Altura de reação: Hr
- Altura de lodo: HL = Hr
- Altura total: H = 3,5 – 4,5 m (para aeração mecânica)
H = He + Hr + Htr
- Volume de reação (Vr):
Yxθ c xQmed x( So − Se)
Vr = sendo,
X v x(1 + f b xkd xθ c )

0,8
fb = onde,
1 + 0,2 xkd xθ c
fb – fração biodegradável do esgoto
Y – coeficiente de produção celular (0,4 – 0,8 kg SVS/kg DBO removida)
kd – coeficiente de respiração endógena
So – DBO afluente ao reator
Se – DBO efluente
Xv – sólidos voláteis suspensos no reator
SS – sólidos totais suspensos no reator

51
- Produção de lodo e relação Xv/SS no reator, em função dos parâmetros cinéticos: Quadro 16
seguinte:

Quadro 16. Produção de lodo e Xv/SS. Fonte: Von Sperling e outros (1996).

SS no Decant. Coeficientes θc - Idade do lodo (d)


-1
Relação afluente Primário Y (g/g) Kd(d ) 2 6 10 14 18 22 26 30
Não Não 0,5-0,7 0,07-0,09 0,89 0,87 0,85 0,84 0,83 0,82 0,81 0,81
SSV/SS Sim Sim 0,5-0,7 0,07-0,09 0,79 0,76 0,75 0,73 0,72 0,71 0,71 0,71
(g/g) Sim Não 0,5-0,7 0,07-0,09 0,75 0,73 0,71 0,70 0,69 0,69 0,68 0,68
0,5 0,09 0,50 0,42 0,37 0,33 0,31 0,29 0,28 0,28
0,6 0,08 0,60 0,51 0,45 0,41 0,38 0,36 0,34 0,34
Não Não 0,7 0,07 0,71 0,61 0,55 0,50 0,47 0,44 0,42 0,40
0,5 0,09 0,83 0,75 0,70 0,67 0,65 0,63 0,63 0,63
0,6 0,08 0,96 0,87 0,81 0,78 0,75 0,73 0,71 0,71
SS/Sr Sim Sim 0,7 0,07 1,04 0,95 0,88 0,84 0,80 0,78 0,76 0,74
(kgSS/ 0,5 0,09 1,08 1,00 0,95 0,92 0,90 0,88 0,88 0,88
/kgDBO5 0,6 0,08 1,23 1,14 1,09 1,05 1,02 1,00 0,98 0,98
removido) Sim Não 0,7 0,07 1,29 1,20 1,13 1,08 1,06 1,03 1,01 0,99

• Contribuição per capita: DBO= 50g/hab.d; SS= 60g/hab.d


• Eficiências de remoção no decantador primário: DBO= 30%; SS= 60%

- Volume de enchimento do reator (Ve):


Qmed (m3 / h) x 24 / n
Ve =
m
- Tempo de ciclo (Tc): Tc = Período de geração do esgoto/m
- Tempo de enchimento (Te): Te = Tc/m
- Tempo do reator ativo (Ta): Ta = Tc x (Vr/V)
- Tempo de reação (Tr): Tr = Ta - Te
- Volume de transição (Vtr): Vtr = (0,1 – 0,2) x Ve
- Tc = Te + Tr + Ts + Td + Trep
- Volume total do reator (V): V = Ve + Vr + Vtr
- Área do reator (A): A= V/H
- Velocidade de sedimentação (vs):
vs = a x e- (b x SS/1000) (m/h)
- Tempo de sedimentação (Ts):
Ts = (He + Htr)/vs

52
c) Pré-Dimensionamento

- Parâmetros adotados:
n=2 m = 3 ciclos/reator.d
H = 4,20 m Y = 0,6
-1
Kd = 0,08 d θc = 20 d
3
Q = 2600 m /d
So = 280,0 mg/L = 0,28 kg/m3
Se = 14,0 mg/L = 0,014 kg/m3 (eficiência de 95%)
Xv = 2000 mg/L = 2,0 kg/m3
Relação Xv/SS = 0,69 (Quadro 25)
- Volume de reação (Vr):
fb = 0,8/(1 + 0,20x0,08x20) = 0,606
(0,6 x 20 x 2600 / 2) x(0,28 − 0,014)
Vr = = 1053,41 m3
2,0 x(1 + 0,606 x0,08 x 20)
Qmed / n 2600,0 / 2
- Ve = = = 433,33 m3
m 3
- Vtr = 0,2 x Ve = 0,2 x 433,33 = 86,67 m3
- V = 1053,41 + 433,33 + 86,67 = 1573,41 m3
- A = V/H = 1573,41 / 4,2 = 374,62 m2
- He = Ve/A = 433,33 / 374,62 = 1,16 m
- Hr = HL = Vr/A = 1053,41 / 374,62 = 2,81 m
- Htr = Vtr/A = 86,67 / 374,62 = 0,23 m
- Tempo de ciclo (Tc): Tc = 24/3 = 8 h
- Tempo de enchimento (Te): Te = Tc/m = 8/3 = 2,66 h
- Tempo ativo (Ta):
Ta = Tc x (Vr/V) = 8 x (1053,41 / 1573,41) = 5,36 h
- Tempo de reação (Tr): Tr = Ta – Te = 5,36 – 2,66 = 2,7 h
- Velocidade de sedimentação (vs):
Considerando-se sedimentação média a ruim: a = 7,4 e b = 0,59
vs = a x e- (b x SS/1000) = 7,4 x e- (0,59 x 2000,0/0,69x1000) = 1,37 m/h
- Tempo de sedimentação (Ts): Ts = (He + Htr)/vs = (1,16 + 0,23)/1,37 = 1,02 h
- Tc = Te + Tr + Ts + Td + Trep
Portanto,
Td + Trep = 8 – 2,66 – 2,7 – 1,02 = 1,62 h
Admitindo-se Td = Trep , tem-se Td e Trep = 0,81 h
Desta forma, o ciclo operacional do reator será (Quadro 17):

53
Quadro 17. Ciclo operacional resultante.
Fase Duração (h)
Enchimento 2,66
Reação 2,7
1,02
Sedimentação
0,81
Descarga
0,81
Repouso
8,0
Total

- Produção de lodo:
De acordo com o Quadro 17, com θc = 20 d, Y = 0,6 e sem decantação primária, para cada kg
de DBO removida há produção de 1,0 kg de SS. Portanto, a quantidade de lodo (QL) será:
QL = Qmed x (S0 – Se) x 1,0 = 2600,0 x (0,28 – 0,014) = 691,6 kg/d
Volume de lodo (VL): VL = QL/d x C onde,
3
d – densidade do lodo: 1005 kg/m
C – concentração de sólidos no lodo: 0,015 (1,5%)
Portanto, VL = 691,6 / 0,015x1005 = 45,88 m3/d
Volume do lodo após secagem (VLS), com d = 1100 kg/m3 e C = 0,3 (30%):
VLS = 45,88 x (1005 x 0,015 / 1100 x 0,3) = 2,1 m3.
- Dimensionamento do sistema de aeração: similar ao da lagoa aerada (Item 3.3.2).

3.3.5 Tratamento por Membranas

a) Principais Características

O tratamento de efluentes por Biorreatores à Membrana (BRM – Membrane Biological


Reactors) integra em seu processo duas etapas, sendo a primeira biológica (geralmente lodos
ativados) seguido de um processo físico (micro ou ultra filtração por membrana). (PROVENZI,
2005)
Nestes sistemas, as membranas funcionam como uma barreira, retendo a biomassa, para que
esta seja retornada ao reator, sendo que o tipo de material retido se dará pelas características
adotas no sistema, conforme Quadro 18.

54
Quadro 18: Caracteristicas das membranas utilizadas para o tratamento de água
residuária. (Fonte: SCHNEIDER e TSUTIYA; JUDO e JEFERSON, 2005)

a
µm = 1x 10-6
b
SCHNEIDER e TSUTIYA (2001)
c
SILVA (1999)

A membrana, ainda, é substituta do decantador secundário e permite atingir concentrações de


biomassa muito mais elevadas no tanque de aeração do que aquelas atingidas em sistemas de
lodos ativados convencionais. (TORRES, 2004)
No caso da eficiência em remoção de DBO no MBR pode-se chegar a valores maiores que
97%, em se tratando de remoção de sólidos ela é superior a 99% e a remoção de bactérias
pode chegar até 99,9999%, segundo TORRES (2004).
Normalmente os MBR apresentam grandes vantagens, podendo citar: obtenção de efluente
com alta qualidade (físico-química e microbiológico), não exigem grandes espaços (unidades
compactas), geram pouco lodo e podem ser aplicados em um vasto campo (industrial,
ambiental e/ou doméstico), segundo PROVENZI (2005)
Entretanto, uma das principais limitações do processo é a formação de incrustações nas
membranas, reduzindo o fluxo do permeado, aumentando o consumo de energia e a
necessidade de limpezas frequentes e/ou substituições das membranas (PROVENZI, 2005).
O sistema de MBRs apresenta duas configurações comercialmente disponíveis para tratamento
de efluentes, sendo elas: módulo externo ou submerso ao biorreator, conforme Figura 32.

55
Figura 32: Módulo de membranas interna e externa ao biorreator. Fonte: TORRES (2004).

No processo onde a membrana é instalada no lado externo do reator a operação é feita em


fluxo cruzado, ou seja, a solução ou suspensão escoa paralelamente a superfície da
membrana, enquanto o permeado é transportado transversalmente a mesma (SILVA, 2009).
Nesta configuração, a velocidade tangencial é responsável por arrastar as partículas que
tenderiam a se depositar sobre a superfície da membrana. Sendo o permeado podendo ser
recuperado por diferença de pressão positiva gerada pela vazão de circulação do lodo e por
uma válvula reguladora de pressão (SILVA, 2009).
Quando o modulo é submerso no tanque de aeração, exige-se a turbulência, promovida pela
aeração, que irá minimizar o deposito de partícula na superfície da membrana, que gera um
efeito similar ao do fluxo cruzado. O permeado é obtido por uma diferença de pressão
provocada pela coluna de liquido no interior do reator e/ou aplicando-se vácuo no lado
permeado (SILVA, 2009).

b) Critérios e Parâmetros do Projeto

Os Quadros 19 e 20 descrevem alguns parâmetros adotados no tratamento por membranas.

56
Quadro 19: Operação e desempenho típico de biorreatores por membranas.
Parâmetros Unidades Valores
Dados Operacionais
2
DQO kg/m .d 1,2 – 3,2
Sólidos Suspensos Totais mg/L 5.000 – 20.000
Sólidos Suspensos Voláteis mg/L 4.000 – 16.000
F/M gDQO/gSSV 0,1 – 0,4
Tempo de Retenção de Sólidos d 5 – 20
Τ h 4–6
2
Fluxo L/m .d 600 – 1100
Aplicação de Vácuo kPa 4 – 35
Demanda de Oxigênio mg/L 0,5 – 1,0
Dados de Desempenho
DBO do efluente mg/L <5
DQO do efluente mg/L <30
NH3 do efluente mg/L <1
Nitrogênio total do efluente mg/L <10
Turbidez NTU <1
Figura: METCALF E EDDY, 2003 apud STEPHENSON ET AL., 2000.

Quadro 20: Características típicas adotadas pelas tecnologias de membranas no


tratamento de águas residuárias
Membranas µm Pressão Operacional Dados de Fluxo
Lb/in2 kPa Gal/ft2.d L/m2.d

Microfiltração 0,08 -2,0 1 – 15 7 – 100 10 - 40 405 – 1600


Ultrafiltração 0,005 – 0,2 10 – 100 70 – 700 10 – 20 405 – 815
Nanofiltração 0,001 -0,01 75 - 150 500 - 1000 5 - 20 200 -815
Figura: Adaptado de METCALF E EDDY, 2003 apud CRITES E TCHOBANOGLOUS, 1998.

Quadro 21: Consumo típico de energia e valores de recuperação do sistema de


membranas
Membranas Pressão Operacional Consumo de energia Recuperação
Lb/in2 kPa 1000Gal m3 de Produção
%
Microfiltração 15 100 0,1 0,4 94 – 98
Ultrafiltração 75 525 0,8 3,0 70 -78
Nanofiltração 125 875 1,4 5,3 80 – 85
Figura: Adaptado de METCALF E EDDY, 2003.

57
3.3.6 Filtro Biológico Aeróbio

a) Principais Características

FBAer

O FBAer é um processo secundário de leito fixo não submerso, onde o esgoto, após tratamento
primário, é lançado por meio de distribuidores rotativos, percolando no leito pelos seus
interstícios, em fluxo descendente.
No leito, que pode ser de pedras (brita 4) ou material plástico, desenvolve-se um biofilme
composto preponderantemente de bactérias aeróbias que entram em contato com o esgoto,
promovendo a sua degradação.
O filtro possui um sistema de ventilação, natural ou forçada, que faz com que o ar se desloque
ascendentemente, em contra-fluxo, aerando o esgoto e provendo oxigênio às bactérias. Parte
da biomassa que se desenvolve no leito é carreada pelo esgoto e sedimentada posteriormente
em um decantador, resultando em um lodo secundário.
Os filtros podem ser de baixa e alta carga. No de baixa carga, não ocorre a recirculação do
efluente final para o filtro e o lodo produzido já é estabilizado. No filtro de alta carga, parte do
efluente é recirculada para o mesmo, ativando o processo e fazendo com que seu o volume e a
sua área sejam significativamente reduzidos em relação ao de baixa carga.
A eficiência de remoção de DBO do filtro de alta carga é ligeiramente inferior (80 a 90 %) ao de
baixa carga (até 93%) e as eficiências de ambos em relação aos demais parâmetros são
similares às dos Lodos ativados convencional.
O consumo de energia elétrica e produção de lodo são superiores aos do filtro de alta carga,
sendo que este lodo não é estabilizado, necessitando ser digerido. Este aspecto negativo é
minimizado quando se tem previamente um tratamento primário anaeróbio, ao qual o lodo pode
ser encaminhado para a digestão.
O filtro biológico aeróbio normalmente é de forma circular, construído em estrutura de concreto
armado pesada, particularmente quando o meio filtrante é de pedras. De um modo geral, requer
pouca área, tem baixo consumo de energia elétrica (ventilação/ aeração natural), demanda
pouca escavação e movimentação de terra, possui média a alta produção de lodo para FBAer
de baixa e alta carga respectivamente, não gera maus odores nem aerossóis, mas pode atrair
moscas, no caso do filtro de baixa carga.
Um esquema de funcionamento do filtro biológico aeróbio é mostrado na Figura 33.

58
Figura 33. Esquema do Filtro Biológico Aeróbio. Fonte: Chernicharo e outros (2001).

b) Critérios e Parâmetros de Projeto

O quadro seguinte resume as características principais dos diferentes tipos de filtros biológicos
aeróbios.

Quadro 22. Características de filtros biológicos. Fonte: CHERNICHARO e outros (2001).


Condições Baixa Taxa Taxa Alta Taxa Taxa Super Grosseiro
operacionais Intermediária Alta

Meio suporte Pedra Pedra Pedra Pedra Pedra/Plástico


Taxa de
aplicação 1,0 a 4,0 3,5 a 10,0 10,0 a 40,0 12,0 a 70,0 45,0 a 185,0
3 2
(m /m .dia)
Carga Orgânica
volumtétrica 0,1 a 0,4 0,2 a 0,5 0,5 a 1,0 0,5 a 1,6 Até 8
3
(kgDBO/m .d)
Recirculação Mínima Eventual Sempre** Sempre Sempre

Moscas Muitas Variável Variável Poucas Poucas

Arraste de
Intermitente Variável Contínuo Contínuo Contínuo
biofilme

Profundidade (m) 1,8 a 2,5 1,8 a 2,5 0,9 a 3,0 3,0 a 12,0 0,9 a 6,0

Remoção de
80 a 85 50 a 70 65 a 80 65 a 85 40 a 65
DBO* (%)

Nitrificação Intensa Parcial Parcial Limitada Ausente


Fonte: Adaptado de METCALF & EDDY (1991) E WEF (1996)
*Faixas de remoção de DBO típicas para alimentação do FBAer com efluentes de decantadores
primários. Para a alimentação do FBAer com efluentes de reatores anaeróbios são esperadas
eficiências menores.
** Para efluentes de reatores anaeróbios, a recirculação é normalmente desnecessária

59
- Taxa de aplicação superficial (Ts):
Ts = Qmed/A , onde A é a área do filtro.
- Taxa de aplicação volumétrica (Cv):
Cv = Qmed x DBOafl/V , sendo V o volume ocupado pelo meio filtrante
- Altura (H) do meio suporte: H = 1,8 – 3,0 m (usual 2,0 – 2,5 m)
- Material de enchimento dos filtros: pedra britada (brita 4), com diâmetro entre 5 e 8 cm, anéis
de PVC e recheio plástico (pacote de PVC)
- Características do material de enchimento dos filtros (Quadro 23):

Quadro 23. Características do enchimento de filtros. Fonte: adaptado de CHERNICHARO


e outros (2001).
Material Índice de vazios (%) Superfície específica Peso específico
(m2/m3) aparente (kg/m3)

Pedra 35 –60 (50) 50 – 80 (55) 1350


Anéis de PVC 90 104 -
Pacote PVC com 95 98 35
fluxo cruzado 45o

- Ventilação dos filtros

Área livre para ventilação ≥ 1 % da área do filtro

Área de vazios da laje suporte ≥ 15 % da área do filtro


- Eficiência de remoção de DBO (E):
 1 
E (%) =   x 100 onde,
 1 + 0,443 x Cv / F 
1+ r
F - fator de recirculação: F = 2
sendo,
 r 
1 + 
 10 
r - razão de recirculação: r = Qr/Qmed = 0,5 - 3,0 (usual 0,5 – 1,0)
- Produção de lodo no filtro:
Lodo (kgSS/d) = Y x Qmed x (So – Se), onde:
Y - coeficiente de produção de lodo: 0,7 – 1,0 (0,8) kg SS/Kg DBO removida, sendo SSV/SS =
0,75 – 0,85
So - DBO afluente ao filtro
Se - DBO solúvel efluente
- Volume de lodo produzido (VL):
VL (m3/d) = Lodo produzido (kgSS/d)/dxC onde,
D - densidade do lodo: 1005 – 1040 kg/m3 (1020)
C - concentração de sólidos no lodo do decantador secundário que sucede o filtro: 1 - 2%.
60
c) Pré-Dimensionamento

- Número de unidades: 2
- Vazão (Q): Q = Qmed = 2600 m3/d
- DBO afluente (So): So = 84 mg/L = 0,084 kg/m3 (considerando 70% de remoção no
tratamento primário, por meio de um RAFA)
- Material: pedra britada (brita 4)
a) Filtro de baixa taxa, sem recirculação
- Eficiência de remoção esperada nos filtros: 80%
- DBO efluente solúvel: 16,8 mg/L = 0,0168 kg/m3
- Eficiência global (Et) do sistema (RAFA + filtros):
Et = (280,0 – 16,8)/280 x 100 = 94%
- Altura do meio filtrante (H): 2 m
- Taxa de aplicação superficial: Ts = 4 m3/m2.d
- Área dos filtros (A):
A = Q/Ts = 2600/4 = 650 m2
- Volume do meio filtrante (V): V = A x H = 650 x 2 = 1300 m 3
- Diâmetro dos filtros (D):
1/2
2 x (π x D2/4) = A ou, D = (2x 650/π) = 20,34
Adota-se dois filtros com D = 20,40 m
- Verificação da taxa de aplicação volumétrica (Cv):
2600,0 x 0,084
Cv = QxSo/V = = 0,17 kg/m3.d (OK)
1300,0
b) Filtro de alta taxa
- razão de recirculação adotada (r): 0,5 (50%)
- Vazão afluente (Q): Q = Qmed + 0,5xQmed = 2600 x 1,5 = 3900,0 m3/d
- Taxa de aplicação superficial adotada (Ts): 25 m3/m2.d
- Área dos filtros (A): A = Q/Ts = 3900/25 = 156 m2
- Altura do meio filtrante (H) adotada: 2,5 m
- Volume dos filtros (V): V = A x H = 156 x 2,5 = 390,0 m3
- Diâmetro dos filtros (D):
2 1/2
2 x (π x D /4) = A ou, D = (2x 156/π) = 9,97
Adota-se dois filtros com D = 10,0 m
- Verificação de Cv, desprezando-se a DBO do efluente recirculado:
2600,0 x 0,084
Cv = QxSo/V = = 0,56 kg/m3.d (OK)
390,0

61
- Eficiência de remoção de DBO (E):
1 + 0,5
F= 2
= 1,36
 0,5 
1 + 
 10 
 1 
E (%) =   x 100 = 77,9 %

 1 + 0,443 x o,56 / 1,36 
- DBO solúvel do efluente (Se):
Se = (1 –E) x So = (1 – 0,779) x 84,0 = 18,6 mg/L
- Eficiência global do sistema (Et): (280 – 18,6)/280 x 100 = 93,4 %
- Produção de lodo nos filtros:
Coeficiente de produção de lodo adotado (Y): 0,8 kg SS/ kg DBO removida
Produção de lodo = y x Qmed x (SO – Se) = 0,8 x (0,084 – 0,00186) = 136,0 kg SS/d
Produção de lodo volátil: 0,75 x 136,0 = 102,0 kg SVS/d
- Produção de lodo no RAFA:
DQO afluente no RAFA: 500 mg/L = 0,5 kg/m3
- Produção de lodo = 0,15 kg SS/kg DQO x 0,5 x 2600,0 = 195 kg SS/d
- Produção total de lodo no sistema (RAFA + filtros), considerando 90% de eficiência de
remoção de SS nos decantadores e 20% de remoção de sólidos voláteis no lodo dos
decantadores enviados ao RAFA
Produção de lodo = 195,0 + 0,9 x (136,0 – 0,2x102,0) = 299,0 kg SS/d
Densidade do lodo do RAFA (d): 1020 kg/m3
Concentração de sólidos no lodo do RAFA (C): 0,03 (3%)
Volume total de lodo para secagem (VL): VL = P lodo/ dxC = 299/ 1020x0,03 = 9,8 m3/d
Volume de lodo seco (VLS) , com d = 1100 kg/m3 e C = 0,3 (30%):
VLS = 9,8 x (1020x0,03 / 1100x0,3) = 0,91 m3

3.3.7 Biodisco
a) Principais Características

BDisc

O biodisco - BDisc também é uma variante do filtro biológico aeróbio, sendo composto por um
reator ou tanque com uma série de discos de plástico de superfície corrugada de até 3,8 de
diâmetro, ligeiramente espaçados e montados paralelamente em um eixo horizontal.

62
Os discos são parcialmente imersos no esgoto (efluente primário) introduzido no tanque e giram
com o eixo lentamente, impulsionados por um motor. Entre os discos há formação e fixação de
uma biomassa, a qual, durante o movimento contínuo de rotação decompõe o esgoto quando
imersa no mesmo e recebe aeração quando se encontra fora do líquido, exposta à atmosfera
(vide Figura 34).
À medida que a biomassa cresce, ela vai se desprendendo dos discos e ficando em suspensão
no tanque, ativando o processo e aumentando sua eficiência. Parte dessa biomassa é carreada
com o efluente do reator, sendo encaminhada a um decantador, onde ocorre a sedimentação e
descarte de lodo secundário. Este lodo não é estabilizado e necessita ser digerido, podendo ser
encaminhado a um reator anaeróbio, no caso deste ser utilizado como tratamento primário. A
quantidade de lodo produzida é média, mas superior à do filtro biológico de baixa carga.
As eficiências do BDisc são similares às do filtro biológico aeróbio de baixa carga, com a
remoção de DBO atingindo até 93 %. O consumo de energia elétrica é relativamente baixo,
assim como os requisitos de área; não requer estrutura muito pesada e não há geração de
maus odores nem de aerossóis. Sua operação e manutenção são moderadas, sendo indicado
para pequenas comunidades; entretanto, por diversas razões, principalmente de ordem
econômica, o biodisco não tem sido muito utilizado no Brasil.
A Figura 34 mostra esquematicamente o funcionamento de um biodisco.

Figura 34. Esquema de funcionamento de um biodisco. Fonte: Von Sperling (1996).

63
b) Critérios e Parâmetros de Projeto (Chernicharo e outros, 2001).

Quadro 24. Resumo de parâmetros de dimensionamento de Biodiscos. Fonte


Chernicharo e outros (2001).
Nível de tratamento

Parâmetro Secundário Nitrificação


Secundário com de efluente
nitrificação secundário
3 2
Taxa de aplicação hidráulica (m /m .d) 0,08 - 0,16 0,03 - 0,08 0,04 - 0,10
2
Carga orgânica superficial (g DBOsolúvel/m .d) 3,7 - 9,8 2,4 - 7,3 0,5 - 1,5
2
Carga orgânica superficial (g DBO/m .d) 9,8 -17,2 7,3 - 14,6 1,0 - 2,9
Máxima carga orgânica superficial no 1º. estágio
19 - 29 (14*) 19 - 29 (14*) -
(g DBOsolúvel/m2.d)
Máxima carga orgânica superficial no 1º. estágio
39 - 59 (30*) 39 - 59 (30*) -
(g DBOI/m2.d)
Carga orgânica superficial de N amoniacal
- 0,7 - 1,5 1,0 - 2,0
(g N-NH4+/m2.d)
Tempo de detenção hidráulica (horas) 0,7 - 1,5 1,5 - 4,0 1,2 - 2,9
DBO do efluente (mg/L) 15 - 30 7 – 15 7 – 15
N-NH4+ efluente (mg/L) - ‹2 ‹2
* Cargas usualmente utilizadas em projeto

- Diâmetro dos discos/ rodas (meio suporte): 1,2 - 3,3 m


- Área superficial da roda: 170 - 4.000 m2
- Largura: 0,9 – 2,5 m
- Comprimento do eixo: 1,5 - 8,0 m

c) Pré-Dimensionamento

- Tratamento do efluente do RAFA, em nível secundário


- Carga de DBO efluente do RAFA e afluente ao BDisc: S0 = 218,4 kgDBO/d
- Carga orgânica superficial adotada (Cs): 14,0 g DBO/m2.d = 0,014 kg DBO/m2.d (Quadro 25)
- Área do meio suporte (A): S0/Cs = 218,4 / 0,014 = 15.600 m2
- Número de rodas/ discos adotado: 4
- Área superficial de cada roda: 4.000 m 2
- Superfície total: 4 x 4.000 = 16.000 m2
- Diâmetro da roda: 3,5 m
- Largura por roda: 2,4 m

64
- Comprimento de cada tanque: 2x3,5 + 2,4 + 2x2,4/2 = 11,8 m
- Largura de cada tanque: 6 m (eixo de 7,2 m)
- Profundidade útil de cada tanque: 3,0 m
- Número de tanques adotado: 2 tanques em paralelo, com 2 rodas por tanque
- Área total dos tanques: 2 x 6 x 11,8 = 141,6 m2
- Volume total dos tanques: 2 x 6 x 11,8 x 3 = 424,8 m 3

Decantador secundário
- Idem Item 3.3.8, alternativa b.

3.3.8 Biofiltro Aerado Submerso


a) Principais Características

O biofiltro aerado submerso - BAS é um tratamento em grau secundário, de desenvolvimento


mais recente e combina princípios do filtro biológico anaeróbio (leito fixo submerso, fluxo
ascendente) com do filtro aeróbio (aeração, processo aeróbio). O fluxo de ar é sempre
ascendente, enquanto que o fluxo de esgoto pode ser também descendente.
O esgoto afluente ao BAS dever ser previamente tratado em grau primário e a aeração é feita
mediante insuflação de ar comprimido, por sopradores. O meio filtrante pode ser de plástico ou
granular, neste caso, brita com granulometria variável, de quatro à zero e também areia grossa,
de diferentes granulometrias, quando se deseja um efluente mais clarificado.
Nesses reatores, o leito filtrante deve ser lavado para evitar colmatação, com água ou esgoto
tratado pressurizado e ar. O intervalo entre as lavagens varia entre 24 e 48 horas, mas para a
associação do reator anaeróbio de fluxo ascendente (RAFA) com o BAS, que vem sendo
bastante utilizada no Brasil, as lavagens podem ser mais espaçadas, a cada três dias.
O BAS tem uma eficiência de remoção de DBO entre 70 e 85 %, mas a sua associação com o
RAFA permite se atingir até 95 %. A remoção de sólidos suspensos pode chegar a 90 % e a de
coliformes fecais é similar à dos lodos ativados convencional, mas a de nutrientes é superior.
No BAS pode não haver necessidade de sedimentação secundária, mas existe geração de lodo
pelo crescimento e desprendimento da biomassa do leito e também nas operações de lavagem.
Este lodo não é estabilizado e no caso da associação com o RAFA, deve ser a ele
encaminhado para digestão.

65
O BAS tem boa eficiência, elevado consumo de energia elétrica, média produção de lodo,
demanda muito pouca área, possui estrutura pesada, praticamente não requer escavação ou
movimentação de terra, não gera maus odores nem aerossóis e exige alguma qualificação de
mão de obra, assim como maiores cuidados operacionais e de manutenção. A Figura 35 mostra
o esquema de um BAS operando em série com um RAFA.

Figura 35. Esquema de um BAS operando em série com um RAFA.


Fonte: Chernicharo e outros (2001).

b) Critérios e Parâmetros de Projeto

- Considerados dois tipos de BAS: BF (com leito/ meio granular) e FBAS (leito/ meio
estruturado), sendo que o FBAS deve ser seguido de decantador secundário.
- Coeficiente de produção de lodo no BF e no FBAS: Y = 0,75 kgSST/kgDBOremovida
- Concentração esperada para o lodo de descarte do decantador secundário: C = 1%
- Densidade do lodo: γ = 1020 kgSST/m3

Quadro 25. Resumo de parâmetros de dimensionamento de ETEs do tipo RAFA + BAS.


Fonte: Chernicharo e outros (2001).
Parâmetro RAFA BAS RAFA + BAS
Carga orgânica volumétrica (kg DBO/m3.d) 0,85 – 1,2 3,0 – 4,0 -
Carga orgânica superficial (kg DQO/m2.d) 15,0 – 18,0 55 – 80 -
Eficiência de remoção de DBO (%) 65 – 75 60 – 75 85 – 95
Eficiência de remoção SS (%) 65 – 75 60 – 75 85 – 95
Eficiência de remoção DQO (%) 60 – 70 55 – 65 80 – 90
Taxa de aeração (N m3/kgDBOremovida) - 25 – 40 -
Produção de lodo (kgST/kgDQO removida) 0,15 – 0,20 0,25 – 0,40 -
Teor de SV no lodo (%SV/ST) 0,50 – 0,60 0,55 – 0,80 -
Eficiência de digestão do lodo aeróbio no RAFA (%SV) 0,15 – 0,25 - -

66
Quadro 26. Taxas de aplicação superficial para o projeto de decantadores secundário
após BAS. Fonte: Chernicharo e outros (2001).
Taxa de aplicação superficial m3/m2dia
Nível do tratamento
Para Qmed Para Qmax
DBO = 20 a 30 mg/L – sem nitrificação 16 a 32 40 a 48
DBO ≤ 20 mg/L – com nitrificação 16 a 24 32 a 40

c) Pré-Dimensionamento

Dados:
- População: 10.000 habitantes
- Vazão mínima: Qmin = 600 m3/d = 25,0 m3/h = 6,95 L/s
- Vazão média: Qmed = 2600 m3/d = 108,3 m3/h = 30,09L/s
- Vazão máxima: Qmax = 3900 m3/d = 162,5 m3/h = 45,13L/s
- Trata o efluente de um RAFA
- Eficiência de remoção de DQO esperada para o RAFA: 70%
- Eficiência de remoção de DBO esperada para o RAFA: 70%
- Eficiência de remoção de SST esperada para o RAFA: 70%
- Concentração média de DBO afluente ao RAFA: 280 mg DBO/L
- Concentração média de DQO afluente ao RAFA: 500 mg DQO/L
- Concentração média de SST afluente para o RAFA: 300 mg /L
- Carga orgânica afluente ao RAFA, DBO: 728 kgDBO/d
- Carga orgânica afluente ao RAFA, DQO: 1300 kgDQO/d
- Carga de SST afluente ao RAFA: 780 kgDQO/d
- Carga efluente do RAFA afluente ao Biofiltro, DBO: S0 = 218,4 kgDBO/d
- Carga efluente do RAFA afluente ao Biofiltro, DQO: S0’ = 390 kgDQO/d
- Carga efluente do RAFA afluente ao Biofiltro SST: = SS = 234 kgSST/d

Alternativas de Cálculo:
a) Uso do RAFA, seguido de BF (leito de pedras)
b) Uso de RAFA, seguido de FBAS (leito estruturado)
c) Uso de RAFA, seguido de FBPAS com recheio de peças de plástico

Cálculos:

a) Pré-Dimensionamento do BF (leito de pedras)


- Serão utilizados biofiltros aerados submersos, com fluxo ascendente, e enchimento de pedras
com porosidade média de aproximadamente 40% e a seguinte disposição:
67
1ª camada: 30 cm de brita 3
2ª camada: 30 cm de brita 2
3ª camada: 40 cm de brita 1
4ª camada: 100 cm de brita 0
- Características do efluente final: DBO < 30 mL/L, DQO < 90 mg/L, SS < 30mg/L
- Carga orgânica volumétrica: Cv = 4,0 kgDBO/ m3d conforme Quadro 26.
- Volume do biofiltro:
S0 218,4 kgDBO dia
V= = kgDBO = 54,6m3
CV 4 3
m dia

- Área do BF:
V 54,6
Com altura do leito filtrante de 2 metros, A = = = 27,3m 2
h 2
Biofiltro de seção circular de 5,7 metros de diâmetro, dividido em 4 partes (unidades) iguais
Qmed 108,3
- Velocidade ascensional ou taxa de aplicação hidráulica: v = = = 3,97 m
A 27,3 h

- Demanda de ar (sem nitrificação): pelo Quadro 26, taxa de aeração = 40Nm3ar/kgDBO,


tendo-se: Qar = 40 Nm 3 / kgDBO ⋅ 218,4kgDBO / dia = 8.736 Nm 3 ar / dia

A vazão de ar por unidade será de 1.984 m3/dia, com pressão de 5,0 m.c.a.
- Produção de lodo para desaguamento
No BF:
Plodo = Y ⋅ S0 = 0,75kgSS / kgDBO ⋅ 218,4kgDBO / d = 163,8kgSS / d
Considerando-se 75% dos sólidos voláteis:
Plodo − volátil = 163,8kgSS / d ⋅ 0,75 = 122,85kgSSV / d
No RAFA:
• Produção no tratamento primário do esgoto (RAFA):
Plodo = Y ⋅ S0 = 0,28kgSS / kgDBO ⋅ 728kgDBO / d = 203,84kgSS / d
• Produção total, incluindo o lodo secundário retornado ao RAFA (com 20% de redução de lodo
volátil)
Plodo = 203,84kgSS / d + (163,8 − 0,20 ⋅ 122,85) = 343,07 kgSS / d

b) Pré-Dimensionamento do FBAS (leito estruturado)


- Serão utilizados filtros biológicos aerados submersos, com fluxo ascendente, e enchimento de
pedras (escolhida brita 4), com área superficial específica de 70m2/m3 e 57% de vazios
(porosidade).
- Carga orgânica superficial: Cs = 70gDQO/ m2d = 0,035kgDBO/ m2d
- Carga orgânica volumétrica: Cv = área superficial específica do meio de enchimento x Cs, ou

68
Cv = 70m 2 / m3 ⋅ 0,035kgDBO / m 2 d = 2,45kgDBO / m3d
- Volume do FBAS (V):
( )
V = S e / Cv = (218,4kgDBO / d ) 2,5kgDBO / m3d = 87,36m3
- Área do FBAS (A):
Com altura do leito de pedras de 3,0 metros:
A = V / h = 87,36m 3 3m = 29,12m 2
- Dimensões do BAS:
Serão utilizadas 2 unidades de 14,6 m2 cada, circulares, com diâmetro de 4,3 m e volume total
de enchimento de 87,6 m3.
Altura da câmara de entrada = 0,7 m
Altura de água sobre o material de enchimento = 0,3 m
Altura total útil = 3 + 0,7 + 0,3 = 4 m.
- Demanda de ar (sem nitrificação)
Adotando-se uma taxa de aeração de 40Nm3ar/kgDBOaplicada:
( ) ( )
Qar = 40 Nm 3 / kgDBO ⋅ S e = 40 Nm 3 / kgDBO ⋅ (218,4kgDBO d ) = 8736 Nm 3ar d
• Vazão na unidade = (8736 / 24 · 2) = 182 Nm3ar/hora ou 3,03 Nm3ar /minuto
• Distribuição de ar por bolhas grossas, através de tubos perfurados ou difusores de bolhas
grossas
- Produção de lodo
Produção do lodo no FBAS:
Plodo = Y ⋅ S e = 0,75kgSS / kgDBOaplicada ⋅ 218,4kgDBO / d = 163,8kgSS / d
Com 75% de sólidos voláteis:
Plodo = 163,8kgSS / d ⋅ 0,75 = 122,85kgSSV / d

Pré-dimensionamento do decantador secundário


- De acordo com o Quadro 25, a taxa de aplicação superficial máxima deve estar entre 16 e 32
m3/m2d. Adotado o valor de qA = 24 m3/m2d, resulta:
(
A = Qmed q A = 2600m 3 d ) (24 m /m d ) = 108,3m
3 2 2

- Adoção de 2 decantadores circulares, tipo “Dortmund”, com descarga hidráulica de lodo, que
terão: diâmetro = 8,4 m; profundidade útil junto a parede = 3,5m e área superficial = 55,4 m2.
- Taxa de aplicação superficial máxima resultante:
q A = Qmáx−h / A = (3900m3 / dia ) 2 ⋅ (55,4m 2 ) = 35,2m3 / m 2 dia (OK)
- Volume de lodo: para lodo removido do decantador, com 1% de sólidos, tem-se:
( )
Vlodo = Plodo /( g ⋅ C ) = (163,8kgSS / d ) 1020kg / m3 ⋅ 0,01 = 16,06m3 / d

69
- Lodo para desaguamento
Produção de lodo no RAFA:
Plodo = Y ⋅ DBOaplicada = (0,28kgSS / kgDBOaplicada ) ⋅ (728kgDBO / dia ) = 203,9kgSS / d
- Produção total, incluindo o lodo secundário retornado ao RAFA, considerando 20% de redução
do lodo volátil:
Plodo = (203,9kgSS / d ) + (163,8 − 0,20 ⋅ 122,85) = 343,13kgSS / d

c) Pré-Dimensionamento dos FBAS com recheio de peças de plástico


- Serão utilizados filtros biológicos aerados submersos, com fluxo ascendente, com enchimento
de peças de plástico dispostas aleatoriamente, com área superficial específica de 130 m2/m3 e
95% de vazios.
- Carga orgânica superficial: Cs = 70gDQO/ m2d = 0,035 kgDBO/ m2d
- Carga orgânica volumétrica: Cv = área superficial específica do meio de enchimento x Cs, ou,
Cv = 130m 2 / m3 ⋅ 0,035kgDBO / m 2 d = 4,55kgDBO / m3d
- Volume do FBAS (V):
V = Se / Cv = (218,4kgDBO / d ) (4,55kgDBO / m3d ) = 48m3
- Área dos FBAS:
Com altura do leito de 3,0 metros:
A = V / h = 48m3 3m = 16m 2
- Dimensões:
Serão utilizadas 2 unidades de 8 m2, circulares, com diâmetro de 3,2 m e volume total de
enchimento de 16,1 m3.
Altura da câmara de entrada = 0,7 m
Altura de água sobre o material de enchimento = 0,3 m
Altura total útil = 3 + 0,7 + 0,3 = 4 m.
- Demanda de ar (sem nitrificação)
Necessidade de ar para aeração igual à da alternativa b
- Decantadores Secundários
Idêntico a alternativa b
- Produção de lodo
Idêntico a alternativa b
- Lodo para desaguamento.
Idêntico a alternativa b.

70
3.3.9 Flotação por ar dissolvido

a) Principais Características

FAD

A flotação por ar dissolvido - FAD vem sendo utilizada como pós-tratamento de efluentes de
reatores anaeróbios. É um processo físico-químico secundário, em ocorre uma separação das
fases sólida e líquida no sentido contrário ao da sedimentação, com o lodo formado se
deslocando para a superfície do flotador, de onde é retirado por um raspador superficial.
A modalidade empregada para o tratamento de esgotos sanitários é a flotação por ar dissolvido
com recirculação pressurizada, onde ocorre a pressurização de uma parte do efluente já
clarificado, recirculando e misturando esta com o esgoto afluente ao flotador (vide Figura 31).
A parte do efluente a ser recirculada é bombeada/ pressurizada e entra em contato com ar
injetado em uma câmara de saturação, onde ocorre a dissolução e saturação deste ar no
líquido. Este é submetido em seguida à pressão atmosférica com a formação de microbolhas,
que vão auxiliar no processo de flotação.
Antes da mistura com o efluente recirculado, o esgoto afluente é submetido à coagulação
química e floculação com o emprego de coagulantes químicos – polímeros ou sulfato de
alumínio ou cloreto férrico, com adição ou não de cal.
Geralmente tem-se preferido utilizar o cloreto férrico e cal, por razões técnicas, econômicas e
ambientais, uma vez que o alumínio é prejudicial ao meio ambiente, causando danos ao solo e
à saúde humana.
A mistura composta pelo afluente floculado, efluente recirculado e microbolhas de ar adentram
ao tanque de flotação onde os flocos são arrastados pelas microbolhas para a superfície,
formando um lodo flotado estabilizado, que é raspado e encaminhado diretamente para a
secagem.
O tratamento por flotação apresenta boa eficiência de remoção de DBO e sólidos suspensos,
atingindo valores superiores a 85 % e 95 % respectivamente, obtendo-se efluentes bastante
clarificados. Há que se ressaltar ainda a ótima redução de fósforo total e de coliformes fecais,
podendo chegar a 90 % e 99,9 % respectivamente. No caso de elevada remoção de fósforo, o
FAD pode ser considerado compatível com tratamento terciário.
O tanque de flotação possui tempo de detenção hidráulica baixo, de 20 a 30 minutos. Pode ser
de formato retangular ou circular, construído em concreto armado ou chapa metálica.
Embora demande um investimento inicial não muito elevado, a FAD é um tratamento
sofisticado, recomendado para cidades de médio e grande porte, com restrições de área e

71
principalmente, quando se tem necessidade de um efluente de elevada qualidade, com baixos
teores de fósforo, visando o controle de eutrofização no corpo receptor.
A FAD requer baixo a médio consumo de energia elétrica e muito pouca área, muito pouca
escavação e movimentação de terra, utiliza estruturas não pesadas, tem baixa a média
produção de lodo, não gera maus odores e aerossóis, exige o uso de produtos químicos e tem
um elevado nível de operação e manutenção, demandando mão de obra qualificada.
As Figuras 36 e 37 mostram respectivamente um esquema de funcionamento de um flotador e
a câmara de flotação de um dos flotadores da ETE São Carlos, com o detalhe da escumadeira.

Figura 36. Esquema de funcionamento de um flotador por ar dissolvido.


Fonte: Chernicharo e outros (2001).

Figura 37. Vista da câmara de um flotador da ETE São Carlos.


(Cortesia do SAAE de São Carlos, 2011)

72
b) Critérios e Parâmetros de Projeto

- Eficiência esperada para remoção de DBO5 para o Flotador: de 40% a 70%


- Eficiência esperada para remoção de DQO para o Flotador: de 30% a 60%
- Eficiência esperada para remoção de SST para o Flotador: de 80% a 90%
- Eficiência esperada para remoção de bactérias para o Flotador: de 80% a 90%
- Dosagem de polieletrólito: 0,4 a 1,0 mg/L
- Densidade do lodo: δ = 1035 kgSST/m3
- Relação ar/sólido (A/S):
Qr ρ ar ⋅ s a ⋅ ( f ⋅ P − 1)
A/ S = ⋅ , onde:
Q Xa
A/S: 0,04 a 0,06 kg ar/kg SS afluente
ρ ar : densidade do ar, 1,3 mg/mL
Sa: solubilidade do ar na água, á pressão atmosférica, 16 mL/L para 28ºC
P: pressão absoluta (atm)
Xa: concentração de SS total afluente ao flotador
f : fração de saturação do ar dissolvido na pressão P, no flotador, que varia de 0,5
(pressurização total a 0,8 (com recirculação)
Q: vazão afluente ao flotador
Qr: vazão de recirculação

Quadro 27. Parâmetros de projeto para um FAD. Fonte: Chernicharo e outros (2001).
Parâmetro Faixa de variação
Pressão (kPa) 200 a 480
Razão de circulação (%) 15 a 30
Relação ar-sólido (kg de ar/kg SS) 0,005 a 0,100
Taxa de escoamento superficial (m3/m2⋅h) 0,48 a 9,76
2
Carga de sólidos (kg/ m ⋅h) 2,0 a 24,4
Tempo de detenção no flotador (min) 30
Eficiência de remoção de sólidos (%) 70 a 98,6

73
- Sistema FAD completo composto por:
Tanque de mistura rápida/coagulação do efluente do RAFA;
Tanques de floculação;
Tanques de depósito e preparo de coagulantes;
Bombas de dosagem de coagulantes;
Tanques de pressurização, com respectivas válvulas de segurança e controle de pressão;
Bombas de recirculação/pressurização de efluentes clarificado;
Compressor de ar;
Tanques de flotação;
Tanques de recebimento do lodo do flotador;
Recalque do lodo para os leitos de secagem e, eventualmente, para o RAFA.

c) Pré-Dimensionamento

Dados:
- População: 10000 habitantes
- Vazão mínima: Qmin = 600 m3/d = 25,0 m3/h = 6,95 L/s
- Vazão média: Qméd = 2600 m3/d = 108,3 m3/h = 30,09L/s
- Vazão máxima: Qmáx = 3900 m3/d = 162,5 m3/h = 45,13L/s
- Trata o efluente do RAFA
- Eficiência de remoção de DQO esperada para o RAFA: 70%
- Eficiência de remoção de DBO esperada para o RAFA: 70%
- Eficiência de remoção de SST esperada para o RAFA: 70%
- Concentração média de DBO afluente ao RAFA: 280 mg DBO/L
- Concentração média de DQO afluente ao RAFA: 500 mg DQO/L
- Concentração média de SST esperada para o RAFA: 300 mg /L
- Carga orgânica afluente ao RAFA, DBO: 728 kgDBO/d
- Carga orgânica afluente ao RAFA, DQO: 1300 kgDQO/d
- Carga de SST afluente ao RAFA: 780 kgDQO/d
- Efluente do RAFA afluente do flotador, DBO: S0 = 218,4 kgDBO/d
- Efluente do RAFA afluente do flotador, DQO: S0’ = 390 kgDQO/d
- Efluente do RAFA afluente do flotador SST: SS = 234 kgSST/d
- Concentração de P: 6,3 mg/L
- Carga de P efluente ao RAFA afluente ao flotador: P = 16,38 kg/d
- Concentração de N-NTK: 46 mg/L
- Carga afluente de N-NTK: 119,6 kg/d
- Temperatura do esgoto: T = 23ºC (média do mês mais frio)
- Concentração esperada para o lodo de descarte do flotador: C = 3,5%

74
- Será considerada apenas flotação com ar dissolvido visando também remoção de fósforo e
DBO: DBO ≤ 40 mg/L e P ≤ 1 mg/L.
- Coagulante a ser utilizado: cloreto férrico comercial (FeCl3.6H2O) com 90% de pureza

Cálculos:
Remoção de fósforo com uso de produtos químicos:
Necessidade de produtos químicos:
- Remoção para P ≤ 1,0 mg/L: 2 kg de metal trivalente para cada kg de fósforo. Necessidade de
Fe + + + = 2 ⋅ 6,3 mg L = 12,6 mg L ou 2 ⋅ 16,38 kg d = 32,76 kg d
Coagulação/mistura rápida e floculação:

Mistura rápida:
- Tanque com tempo de detenção de cerca de 5 s, para a vazão máxima de 45,13L/s,
resultando num volume útil de 0,25 m 3, com dimensões de 0,6m x 0,6m x (hu = 0,4 m)
- Será utilizado um misturador rápido, tipo turbina axial, com motor de 0,75 CV.

Floculação:
- 3 tanques em série, com tempo de detenção de cerca de 15 minutos para a vazão máxima.
- Volume total de câmaras de floculação: VT-flc = (15 · 45,13 · 60)/1000 = 40 m3
- Volume de cada câmara: VC-flc = 13,5 m 3
- Dimensões dos compartimentos de floculação: 2,4m x 2,4m x (hu = 2,4m) (borda livre = 0,4 m)
- Potência requerida para turbinas de floculação:
2
( )( ) 2
( )
P = µ ⋅ V ⋅ G f = 1,029 ⋅ 10 −4 kgf ⋅ s / m 2 ⋅ 13,5m 3 ⋅ G f s −2 = 0,00139 ⋅ G 2f (kgf ⋅ m / s ) (W)
2
P = 0,00139 ⋅ 9,81 ⋅ G f (W)
3ª câmara (Gf = 30s-1): P = 12 W
2ª câmara (Gf = 60s-1): P = 49 W
1ª câmara (Gf = 90s-1): P = 110 W
- Serão utilizados para a floculação agitadores do tipo turbina axial, um por câmara, com motor
de velocidade ajustável, com P = 0,5 CV, por agitador.

Dosagem de coagulantes:
- Consumo médio de FeCl3: dosagem de 67 mg/L - consumo será igual a
(0,067 kg
m3
) ⋅ (2600 ) = 174,2
m3
d
kg
dia

- Capacidade de dosagem para vazão máxima: 0,075 kg m 3 ⋅ 162,5 m ( )( 3


h ) = 12,19kgFeCl
3 h

75
- Sistema de dosagem: O FeCl3 será diluído a 40%, portanto a dosagem máxima será de
12,19/0,4 = 30,5 kg/hora. Serão utilizadas bombas para a dosagem, com capacidade de 3 a 30
L/hora.
- Armazenamento: 2 tanques com capacidade para armazenagem de 30 dias
- Capacidade de cada tanque: 174,2x30/2 = 2613 kg
- Densidade do FeCl3: 1.400 kg/m3
- Volume de cada tanque: 2613/1400 = 1,86 m3 , com diâmetro de 1,2 m, altura útil de 1,7 m e
altura total de 2,2 metros, de fibra de vidro, localizados próximo à entrada da ETE.

Depósito e dosagem de polieletrólito:


- Considera-se um sistema de aplicação de polieletrólito com capacidade para aplicar até 1,0
mg/L, para vazão máxima. Polieletrólito estimado para a vazão média:
Dosagem de 0,4 mg/L: 0,0004kg / m3 ⋅ 2600m3 / dia = 1,04kg / dia

Dosagem de 1,0 mg/L: 0,001kg / m3 ⋅ 2600m3 / dia = 2,6kg / dia

Aplicação de polieletrólito:
- Dosado próximo a entrada da primeira câmara de floculação, aplicado diluído a 0,1% com
automatização
- Vazão máxima afluente será de: 188 m3/h e para uma dosagem de 1,0 mg/L :
0,001kg / m 3 ⋅ 162,5m 3 / h = 0,1625kg / h
- Para aproximadamente 28% de princípio ativo do polimento em emulsão, tem-se, para a
( )
vazão da emulsão: 162,5m3 / h 0,28L / h = 580,4m3 / h = 0,58L / h
- Para solução de polimento diluída a 0,1%, a ser aplicada ao lodo, tem-se:
(0,1625kg / h) 0,001 = 162,5kg / h = 162,5L / h
- A pressão de água para alimentação da unidade diluidora/ dosadora deverá estar na faixa de
20 a 70 m.c.a.

Sistema de flotação com recirculação:


Concentração de SS afluente ao flotador:
- SS efluente do RAFA: 113 mg/L
- SS resultante da coagulação/floculação (lodo químico): para efluente final com P ≤ 1,0 mg/L e
fósforo disponível de 6,3 mg/L, o coagulante FeCl3.H2O (270,5 g/Mol) reagirá com o fósforo,
formando FePO4 (151 g/Mol), deixando um residual de pelo menos 0,3 mg/L de fósforo solúvel,
reagindo, portanto, preferencialmente com 6,0 mgP/L. O excesso de coagulante reagirá
formando Fe(OH)3 (107 g/Mol). Assim:
- Dosagem de cloreto férrico comercial, com 90% de pureza de 67 mg/L, que representa 60
mg/L de FeCl3.6H2O, ou (60 x 10-3)/(270,5) = 0,222 x 10-3 Mol/L.

76
- Concentração de P de 6,0 mg/L para reagir com o coagulante, que representa (6,0 x 10-3)/(31)
= 0,194 x 10-3 Mol/L.
- Tem-se portanto a formação de 0,194 Mol de FePO4/L ou 0,194 x 151 = 29,3 mgSS/L relativos
ao FePO4 formado.
- Excesso de FeCl3.6H2O para formação de Fe(OH)3 = (0,222 – 0,194) x 10-3 Mol/L ou 0,028 x
10-3 Mol/L de Fe(OH)3 produzido, ou 0,028 x 107 = 3mgSS/L, relativos ao Fe(OH)3 formado.
- Total de lodo químico formado: 29 + 3 = 31 mg/L.
- Concentração de SS total afluente ao flotador: SS = 90 + 31 = 121 mg/L.
Vazão de recirculação para geração de água saturada de ar:
Qr ρ ar ⋅ sa ⋅ ( f ⋅ P − 1)
A/ S = ⋅ , com:
Q Xa
A/S: 0,04 a 0,06 kg ar/kg SS afluente
Sa: 16 mL/L para 28ºC
P: 6 bar (escolhido)
Xa: Concentração de SS total afluente ao flotador: 121 mg/L
f: para tanque de pressurização, com recheio de peças de plástico e esgoto, adotado 0,6 (a
favor da segurança)

Qr/Q:
(0,04a0,06) ⋅ 121 = 0,08 a 0,13 (8 a 13 %)
1,3 ⋅ 16 ⋅ (0,6 ⋅ (6 − 1) )
- Adotar-se-á capacidade de recirculação de 15% por linha (Quadro 32), que corresponde a
recirculação de 3,4 L/s (12,2m3/hora), para metade da vazão máxima (2 tanques) e pressão P
de 6 bar. Serão utilizados 3 conjuntos moto- bomba, um para cada linha e uma reserva.

Tanque de pressurização para geração de água saturada de ar:


Um tanque por linha, recebendo a vazão de recirculação de 3,4 L/s, com:
- Pressão no tanque: 6 bar (relativa)
- Tempo de detenção: aproximadamente 3 minutos para 3,4 L/s
- Volume útil do tanque de pressurização: Vp = 0,61 m3 (com recheio de anéis de PVC)
- Dimensões do tanque: diâmetro = 0,8 m, altura cilíndrica = 1,2 m.

Compressor de ar:
3 compressores (um por linha e um reserva), com capacidade:
- Vazão de ar: a 28°C a incorporação é de 16mL/L a 1 bar, ou ainda, 16 x 6 = 96 mL/L a 6 bar,
para uma eficiência de 100% de dissolução no tanque de pressurização (f = 1).

- Qmax ⋅ar = 0,016 ⋅ 6 ⋅ (3,4 ⋅ 60) = 19.58 L de ar


min
- Pressão relativa do tanque de pressurização = 6 bar
- Utilização de 1 compressor de pistão para 20 L/min e 6 bar por linha.

77
Tanques de flotação:
- N° de tanques: 1 tanque por linha (2 tanques no total)
- Taxa de escoamento superficial: 7,5 m 3/m2.h = 180 m3/m2.d
- Vazão média do dia de maior contribuição: 15 + 4,5 = 19,5 L/s (por tanque)
- Área superficial necessária: A = (19,5 x 86,4)/180 = 9,36 m2 por tanque
- Dimensões: comprimento: 3,8 m, largura:2,5 m, profundidade útil:2,8 m
- Área superficial por tanque: 9,5 m2
- Volume por tanque: 26,6 m3
- Tempo de detenção (para 19,5 L/s) = 22,7 ≈ 23 minutos.
- Taxa de escoamento superficial, para vazão máxima afluente ao sistema de flotação de 22,5
L/s = q A = [(22,5 + 4,5) ⋅ 86,4] 9,5 = 246m3 / m 2 ⋅ dia = 10,25m3/m2 h. (OK)

(
- Tempo de detenção para (27 L/s): qh = 26,6m3 ) (0,0180 m3
s ⋅ 60 s min ) = 24,6 min

Lodo do sistema de flotação:


Estimativa de produção de lodo no sistema de flotação:
• Dosagem de cerca de 67 mg/L de FeCl3 comercial, e desconsiderando os SS do efluente do
sistema de flotação, tem-se:
- Vazão média de esgoto: 30 L/s = 2600 m3/dia.
- Produção de lodo químico: (2600 · 31)/1000 = 80,6 kg/dia
- SS proveniente do RAFA: 234 kg/dia
- Produção total de lodo no sistema de flotação = 80,6 + 234 = 314,6 kg/dia
- Teor de sólidos do lodo = 3,5% (adotado)
- Densidade do lodo: g = 1035 kg/m3
- Volume do lodo: (314,6 kg/dia) / (1035 kg/m3x0,035) = 8,68 m3/d.

Sistema de remoção e coleta:


- O tanque único de recolhimento de lodo flotado terá volume superior a 6 m3.

3.3.10 Disposição Controlada do Esgoto no Solo

A disposição controlada no solo tem como característica básica o não emprego de energia para
os processos de tratamento/ decomposição do esgoto. O consumo de energia limita-se aos
casos de bombeamento e/ou aspersão do esgoto.

78
Existem basicamente cinco tipos de disposição controlada de esgoto no solo: infiltração
subsuperficial, terras úmidas (WETLANDS), irrigação, infiltração rápida e escoamento
superficial.
Os três últimos tipos são formas de disposição superficial, que além de tratamento, se
constituem em práticas agrícolas, devendo ser executadas com critério, dentro dos bons
preceitos da Engenharia Agronômica.

3.3.10.1 Irrigação/ infiltração lenta

a) Principais Características

A irrigação/ infiltração é o sistema que exige mais área superficial por unidade de esgoto
tratado. Este processo visa tanto o tratamento do esgoto como o fornecimento de matéria
orgânica ao solo e de água e nutrientes às plantas (Figura 38).

Figura 38. Sistema de irrigação/ infiltração lenta no solo. Fonte: Braile e Cavalcanti (1979).

Na utilização de esgoto doméstico para irrigação, é fundamental considerar a sua qualidade


microbiológica quanto a coliformes fecais e, principalmente, quanto a protozoários e helmintos,
cujos ovos e cistos podem permanecer vivos no solo por longo período.
Para culturas consumidas cruas, campos esportivos, gramados e jardins públicos, segundo a
OMS (Chernicharo e outros, 2001), é recomendado o uso de esgoto com no máximo 200
coliformes fecais por 100 mL e 1 (um) ovo de nematóides intestinais, o que corresponde ao
esgoto desinfetado ou tratado por série de lagoas de maturação.
Em culturas de cereais, plantas de uso industrial, forrageiras, prados e plantas arbóreas, com a
exposição de trabalhadores ou público, são recomendados os limites máximos de 1.000
coliformes fecais e 1 (um ) ovo de nematóides intestinais, correspondente ao tratamento prévio
por desinfecção ou por lagoas de estabilização e lagoa de maturação.

79
Para as mesmas culturas anteriores, sem a exposição de trabalhadores ou público, não existem
limitações de ordem microbiológica, mas é recomendado o uso de esgoto tratado em nível
primário (efluentes de sedimentação primária, de fossas sépticas ou outros reatores
anaeróbios).
O processo de irrigação depende ainda de uma série de outros fatores, como aspectos sócio-
econômicos, clima, qualidade do solo, topografia, tipo de cultura e relação solo-água-planta, etc.
Ele é considerado como tratamento secundário, podendo chegar ao grau terciário, em função
da elevada remoção de nutrientes, mas é passível de gerar problemas de odores.
Existem basicamente os seguintes tipos de irrigação: aspersão, gotejamento, inundação e
cristas e sulcos.
A irrigação por aspersão é a mais exigente em termos de qualidade dos esgotos, pois além da
formação de aerossóis, a presença de sólidos suspensos pode ocasionar a obstrução dos
aspersores. Este método não é indicado para culturas de frutas e hortaliças que são
consumidas cruas.
A irrigação por gotejamento é utilizada em áreas menores, sendo aplicada em culturas de maior
produtividade/ valor agregado e/ou em períodos/ regiões de grande carência de água. Os
requisitos de qualidade são os mesmos da irrigação por aspersão.
Na irrigação por inundação, o esgoto é aplicado a áreas maiores, com taxas mais elevadas,
sendo distribuído em parcelas de solo divididas por curvas de nível. Não há problemas quanto à
presença de sólidos suspensos no esgoto e os riscos de contaminação são menores, mas este
método não é indicado para culturas de hortaliças ou de frutos que ficam em contato com o
solo. A irrigação por cristas e sulcos é o mais aconselhável dos métodos, podendo ser também
empregada em grandes áreas, sendo o esgoto aplicado em pequenos sulcos próximos uns dos
outros, entremeados por pequenas cristas ou espigões. Os riscos de contaminação são ainda
menores e também não existem problemas quanto a sólidos suspensos, mas valem as mesmas
restrições da irrigação por inundação.

3.3.10.2 Infiltração rápida

a) Principais Características

O processo por infiltração rápida, considerado como tratamento secundário, também pode
atingir grau terciário e é utilizado para solos permeáveis, mais arenosos e planos, sendo que a
maior parte do esgoto aplicada ao solo é percolada no mesmo.
Ele é indicado apenas para culturas arbóreas ou cujos frutos não ficam em contato com o solo,
e para locais onde o lençol freático é mais baixo, com profundidade superior a três metros. Os
requisitos de qualidade do esgoto são os mesmos da irrigação.

80
O esgoto é aplicado a áreas extensas, em bacias construídas em curvas de nível. As taxas de
aplicação são elevadas, sendo que este método apresenta maior risco de problemas de erosão,
devendo no caso, serem redobradas as precauções com a conservação do solo. Os riscos de
problemas de odores são menores que na irrigação.
A Figura 39 ilustra o processo de disposição de esgoto no solo por sistema de infiltração rápida.

Figura 39. Sistema de disposição de esgoto no solo por infiltração rápida.


Fonte: Braile e Cavalcanti (1979).

3.3.10.3 Escoamento superficial

a) Principais Características

O escoamento á superfície é indicado para áreas com solos de baixa permeabilidade e


declividade moderada, entre 2 e 8 %, para evitar problemas de erosão e aumentar o tempo de
escoamento/ tratamento do esgoto.
O esgoto é aspergido ou lançado sobre o terreno plantado geralmente com gramíneas, que
formam uma espécie de filtro biológico natural, com uma microfauna que irá decompor o esgoto
durante o processo de escoamento, removendo a matéria orgânica, os nutrientes, os sólidos em
suspensão e outros poluentes.
A eficiência de remoção de poluentes neste processo é similar às dos processos de tratamento
biológico secundário e por isso, o escoamento superficial pode ser considerado também como
um tratamento em grau secundário.
No terreno podem ser plantadas junto com as gramíneas outras espécies de maior valor
econômico, cujos frutos ou sementes não entrem em contato com o solo, como o milho, por
exemplo.

81
A Figura 40 ilustra o esquema do tratamento por escoamento superficial.

Figura 40. Sistema de disposição de esgoto no solo por escoamento superficial.


Fonte: Braile e Cavalcanti (1979).

3.3.10.4 Sumidouro

a) Principais Características

SUM

Sumidouros ou poços absorventes se constituem numa forma de infiltração subsuperficial, por


meio da qual efluentes primários, principalmente de fossas sépticas e de filtro anaeróbios são
dispostos no solo.
Eles costumam ser profundos (2 a 8 m), desde que não haja o comprometimento do lençol
freático. Para tanto, o nível do fundo do sumidouro deve estar pelo menos a 1,5 m acima do
nível máximo do lençol, condição prevalente no final do período de estiagem.
Os sumidouros são geralmente escavados manualmente e têm suas paredes laterais revestidas
de tijolos sem rejunte ou de anéis de concreto perfurado, a fim de promover a infiltração de
forma homogênea. O fundo do sumidouro é revestido com uma camada de brita 1. Geralmente
os sumidouros têm área circular, mas podem ser quadradas ou retangulares. Devem ser
construídos sempre dois ou mais sumidouros, operando em paralelo.
O sumidouro é considerado tratamento secundário, mas pode atingir eficiências compatíveis
com o tratamento terciário, pois no solo ocorrem elevadas remoções de nutrientes,
principalmente de fósforo, superior a 90 % e de coliformes fecais, superior a 99,99 %.
Para o projeto e construção de sumidouros deve-se fazer previamente ensaios de infiltração no
solo, seguindo as disposições das normas NBR 7.229/1993 e NBR-13.969/1997 da ABNT.

82
Os sumidouros são empregados para solos permeáveis, com altos coeficientes de
permeabilidade (maiores que 40 l/m 2/d) e lençol freático profundo.
O sumidouro atende a poucos usuários, sendo recomendado para unidades unifamiliares,
grupos de residências, prédios e pequenas comunidades. Não demanda energia elétrica, requer
muito pouca área, demanda escavações profundas, provoca pouca movimentação de terra,
depende do nível do lençol freático, utiliza muito pouca estrutura, não produz lodo nem maus
odores, exige muito pouca operação e manutenção.
A Figura 41 ilustra dois tipos de sumidouro, com os respectivos detalhes.

Figura 41. Vistas de dois tipos de sumidouros. Fonte: CETESB (1989).

b) Critérios e Parâmetros de Projeto (NBR-13.969/1997 da ABNT)

- Entrada no sumidouro a 0,50 m abaixo do nível do terreno


- Fundo do sumidouro no mínimo 1,5 m acima do nível máximo do lençol freático
- Mínimo de dois sumidouros por fossa
- Distância entre sumidouros: mínimo de 6,0 m.

83
c) Pré-Dimensionamento

- Profundidade do lençol freático no período chuvoso: 7,0 m


- Taxa de infiltração do solo: TI = 70,0 L/m2xd
- Área de infiltração necessária = L/TI = 5250,0/70,0 = 75,0 m2
- Número de sumidouros: dois
- Área de infiltração por sumidouro: 75,0/2 = 37,5 m2
- Profundidade total adotada para o sumidouro: 5,5 m (fundo do sumidouro a 1,5 m acima do
nível do lençol freático)
- Profundidade útil do sumidouro: 5,00 m
- Diâmetro do sumidouro (D), considerando infiltração só pela superfície lateral: π x D x H =
37,5 donde D = 37,5/(3,14x5,0) = 2,39 m
(adotados dois sumidouros de 2,4 m de diâmetro e 5,5 m de profundidade cada um)

3.3.10.5 Valas de Infiltração

a) Principais Características

As valas de infiltração são também uma forma de disposição subsuperficial de esgotos pré-
tratados no solo, sendo empregadas como alternativa aos sumidouros, para casos de solos
menos permeáveis (coeficiente de infiltração entre 25 e 40 l/m2/d) ou de lençol freático raso.
As valas têm geralmente profundidade entre 0,7 e 1,2 m, largura de 0,5 a 1,0 m e comprimento
de no máximo 30 m. A exemplo do sumidouro, o fundo das valas deve estar pelo menos 1,5 m
acima do nível máximo do lençol freático.
Elas são compostas de tubos drenantes envoltos em leito de brita, sobre o qual é colocado
papel alcatroado, lona plástica ou manta geotêxtil para posterior reaterro, conforme ilustrado na
Figura 42.
Um campo de infiltração é formado por um conjunto de valas paralelas, espaçadas de 1,0 m,
sendo possível fazer o aproveitamento do mesmo como área de lazer - jardim gramado, campo
de futebol, etc.
A exemplo dos sumidouros, o projeto e a execução das valas de infiltração devem seguir
também as disposições das normas NBR 7.229/1993 e NBR-13.969/1997 da ABNT.
Como os sumidouros, as valas de infiltração são tratamento secundário, com eficiências
similares ou mesmo superiores às deles, no caso de remoção de nutrientes, podendo atingir
portanto, o grau terciário.

84
Figura 42. Vista de um campo de infiltração e respectivas valas. Fonte: CETESB (1989).

As valas atendem a poucos usuários, não demandam energia elétrica, possuem requisito médio
em termos de área, não demandam escavações profundas, provocam pouca movimentação de
terra, dependem do nível freático, não utilizam estruturas, não produzem lodo nem maus odores
e exigem um nível muito baixo de operação e de manutenção.

b) Critérios e Parâmetros de Projeto (NBR-13.969/1997 da ABNT)

- Comprimento máximo da vala 30 m


- Distância entre as valas: 1,0 m
- Largura de cada vala: 0,5 a 1,0 m
- Profundidade de cada vala: 0,70 a 1,20 m
- Declividade das valas: 1: 300 a 1:500
- Fundo das valas no mínimo 1,5 m acima do nível máximo do lençol freático

c) Pré-Dimensionamento

- Taxa de infiltração do solo: TI = 70,0 L/m2xd


- Área de infiltração necessária = L/TI = 5250,0/70,0 = 75,0 m2
- Comprimento adotado para as valas: 20,0 m

85
- Largura de cada vala adotada: 0,7 m
- Profundidade das valas: 1,0 m
- Número de valas (n), considerando infiltração só na superfície do fundo das valas: nx0.70x 20
= 75,0 m2 donde n = 5,35 (adotadas 6 valas)
- Largura do campo de infiltração: 6x0,7 + 5x1,0 = 9,2 m (dimensões do campo de 9,2 x 20,0 m)

3.3.11 Valas de Filtração

a) Principais Características
As valas de filtração não são processos de disposição de esgoto no solo, mas sim uma forma
de pós-tratamento com geração de um efluente superficial, a ser disposto num corpo receptor.
Elas são empregadas em caso de solos impermeáveis ou de baixa permeabilidade, com
coeficiente de infiltração inferior a 25 L/m2/d. Suas dimensões são similares às das valas de
infiltração, com a profundidade podendo chegar a 1,5 m.
As valas são compostas de dois tubos drenantes paralelos verticalmente e envoltos em um leito
de areia grossa, sendo que o esgoto drenado do tubo superior percola descendentemente o
leito de areia onde é degradado/ tratado e depois é recolhido pelo tubo inferior, sendo
conduzido a uma caixa de reunião de onde, juntamente com os efluentes das demais valas, é
encaminhado para a disposição final (vide Figura 43).

Figura 43. Vista de um sistema de filtração e respectivas valas. Fonte: CETESB (1989).

86
As VF promovem tratamento em grau secundário, com boas eficiências de remoção de poluentes,
mas podem estar sujeitas à colmatação, dependendo do teor de sólidos suspensos do seu afluente.
As vantagens e desvantagens das valas de filtração são similares às das valas de infiltração, com a
diferença de que elas dependem da profundidade do lençol freático apenas do ponto de vista
construtivo, uma vez que não há infiltração do esgoto.

b) Pré Dimensionamento

Suas dimensões são similares às das valas de infiltração, com a profundidade podendo chegar
a 1,5 m (vide Item 3.3.12).

3.3.12 Wetland
a) Principais Características

WL

O termo “wetlands” caracteriza áreas ou ecossistemas naturais que ficam parcial ou totalmente
inundados durante o ano. As wetlands naturais correspondem aos brejos, banhados, várzeas e
manguezais de pouca profundidade, manguezais, e aos igapós na Amazônia.
As wetlands são ótimos sistemas de retenção e remoção de poluentes, por diversos processos:
precipitação e filtração de sedimentos, absorção e adsorção de nutrientes, decomposição de
matéria orgânica por microrganismos do solo e das raízes das plantas, nitrificação e
desnitrificação, entre outros (Figura 44). Além disso, as plantas aquáticas macrófitas que se
desenvolvem nesses ecossistemas promovem a aeração do meio, pela transferência de
oxigênio através de suas raízes e rizomas.

Figura 44. Esquema de funcionamento de uma wetlands. Fonte: Chernicharo e outros (2001).

87
Tendo em vista, porém, as restrições ambientais para o lançamento de efluentes em áreas
naturais com a finalidade de tratamento, foram desenvolvidos para tanto sistemas de wetlands
construídas (WL), nos quais que procura utilizar os princípios e processos das wetlands
naturais.
Os sistemas de wetlands construídas podem ser de fluxo superficial ou subsuperficial; com fluxo
horizontal ou vertical (ascendente ou descendente); de superfície líquida livre ou confinada; e
com macrófitas aquáticas flutuantes, emergentes, ou submersas.
As WL de fluxo superficial são bacias ou canais povoados com macrófitas, de fluxo horizontal,
geralmente longos e estreitos para se evitar curtos-circuitos.
Essas WL podem conter um leito de 10 a 50 cm de altura, situado abaixo da superfície do
esgoto a ser tratado, e que serve de substrato para macrófitas emergentes e/ou submersas. No
caso de não haver leito, são utilizadas macrófitas flutuantes.
Nas WL de fluxo superficial a superfície líquida é sempre livre e pode ocorrer a produção de
maus odores e a proliferação de insetos/ mosquitos, havendo conforme o caso, a necessidade
de seu controle.
As WL de fluxo subsuperficial podem ter a superfície livre ou confinada, sendo dotadas
obrigatoriamente de leito ou substrato de 30 a 80 cm de altura, com macrófitas emergentes e/ou
submersas, e através do qual o esgoto percola, sofrendo o tratamento. Desta forma, o leito
funciona também como elemento filtrante.
No caso da superfície do esgoto ser livre, acima do leito, podem ser cultivadas também
macrófitas flutuantes, havendo a possibilidade de geração de maus odores e de ter de ser feito
o controle de insetos/ mosquitos.
O fluxo subsuperficial pode ser descendente, com sistema de drenagem de fundo, e
ascendente, com alimentação pelo fundo e sistema coletor de superfície. Neste segundo caso,
se a superfície líquida for livre, o esgoto exposto já se encontra tratado, o que pode minimizar o
problema de odores e de insetos/ mosquitos.
As plantas têm de ser constantemente manejadas e as mais comumente utilizadas em WL são:
- flutuantes: Eichornia crassipes (popularmente conhecida como aguapé), Salvinea molesta
(salvínea), Sperrodela (erva de pato);
- emergentes: Typha latifolia (taboa); Juncus (junco); arroz;
- submersas: Isoetes lacustris, Elodea canadensis.
As espécies submersas são menos utilizadas. Também já foram empregadas em WL
gramíneas (braquiária), sendo que se pode utilizar seqüências de diferentes espécies ou
mesmo sistemas combinados, com varias espécies misturadas.

88
As WL devem receber preferencialmente esgoto tratado em grau primário, sendo também
alimentadas com efluente secundário. Elas possuem boa eficiência de remoção de poluentes,
sendo registrados até os seguintes valores: DBO (95 %), sólidos suspensos (95 %), nitrogênio
total (70 %), fósforo total (90 %) e coliformes fecais (99,9 %).
As Figuras 45 e 46 ilustram dois tipos ou sistemas construtivos de WL.

Figura 45. Sistema de wetlands construído em terra, de fluxo misto (descendente e horizontal).
Fonte: Campos e outros (1999).

Figura 46. Sistema de wetlands em alvenaria, de fluxo misto. Fonte: Leopoldo e Conte (1997).

89
Do ponto de vista construtivo, as WL são relativamente simples, podendo ser construídas em
terra ou alvenaria em terrenos relativamente planos, de declividade até 3 %. As WL em terra
devem ser impermeabilizadas com argila compactada e/ou manta plástica, a fim de se proteger
o lençol freático. Geralmente elas possuem sistemas de distribuição de afluente e de coleta de
efluente compostos de trincheiras de pedras (brita no. 1 a 4) ou de tubos de PVC perfurados.
Para o leito costumam ser utilizados os seguintes materiais: cascalho brita (no 1 a 4), pedrisco,
areia, solo, ou mesmo resíduos orgânicos (palha de arroz, cascas de árvores).
As WL promovem tratamento em grau secundário, podendo chegar a terciário; exigem grandes
áreas e devem ser localizadas fora da área de inundação dos corpos d’água. São de
construção simples e relativamente econômica; não demandam grande movimentação de terra/
escavação. Praticamente não consomem energia elétrica; possuem baixo nível de operação e
manutenção, não requerendo mão de obra especializada; não produzem lodo; são suscetíveis a
entupimentos; podem gerar maus odores e insetos/ mosquitos.

A Figura 47 mostra o esquema de uma wetland em uma pequena comunidade.

Figura 47. Esquema de Wetland em Comunidades pequenas.


Fonte: http://www.fujitaresearch.com/reports/wetlands

b) Critérios e Parâmetros de Projeto

- As wetlands podem ser de fluxo superficial ou de fluxo sub-superficial. Para cada um dos tipos
existem parâmetros a serem considerados, como visto no Quadro 28.

90
Quadro 28. Parâmetros de projeto de wetlands.
Parâmetros Fluxo Superficial Fluxo Subsuperficial
Tempo de Detenção (dias) 5 – 14 2–7
Altura da coluna d’água (m) 0,1 – 0,5 0,1 – 1,0
Razão Comprimento : largura do 2:1 a 10:1 0,25:1 a 5:1
leito
Controle de mosquitos Requer Não Requer
Frequência de colheita (ano) 3-5 3–5
DQO5 máxima (Gm-2d-1) 8 7,5
-2 -1
DQO máxima (Gm d ) 3,2 – 6,4 3,0 -6,0
Carga hidráulica (Lm-2d-1) 7 -60 2 – 30

- Valores para porosidade (n): 0,42 para solos coesivos; 0,35 a 0,40 para areias; 0,25 para
cascalho
- Valor para a constante de degradação biológica (KT): considerando T = 20ºC; K20 = 0,8/d
- Profundidade (d): entre 0,30 e 0,80 m
- Tipos de macrófitas que podem ser utilizadas em wetlands (Quadro 28).

Quadro 28. Macrófitas utilizadas em wetlands.


Plantas Emergentes Plantas Submergentes Plantas Flutuantes
Scirpus sp. Elodea nuttallii Lemna sp.
Phragmites australis Egeria densa Spirodela sp.
Typha sp. Ceratophyllum demersum Eichhornia crassipes
Canna flaccida Wolffia arrhiza
Eleocharis sp. Azolla caroliniana
Juncus sp.

c) Pré-Dimensionamento
Dados:
- População de projeto: 10.000 habitantes
- Vazão de projeto: 2.600 m3/d
- DBO do esgoto bruto: S = 280,0 mg/L
- DBO afluente à wetlands: S0 = 140 mg/L = 0,140 g/L (considerando tratamento anterior com
eficiência de 50 %)
2600000 L 0,140 g g
- Carga de DBO afluente à wetlands: C a = ⋅ = 364000
d L d
- DBO efluente da wetlands: Ce = 30 mg/L (assumido)
- Constante de degradação biológica adotado (KT): 0,8/d
- Profundidade adotada (d): 0,60 m
- Porosidade considerada (n): 0,30

91
Cálculos:
- Determinação da área com fluxo sub-superficial:
(ln Ca − ln Ce) (ln 140 − ln 30)
AT = Qmed = 2.600. = 27.814m 2
KT ⋅ d ⋅ n 0,80 ⋅ 0,60 ⋅ 0,30

- Para proporção comprimento(L) : largura(B) de 3:1, tem-se: B x 3B = 27.814 m2.


Portanto, B = 96 m e L = 290 m
Qmed 2.600.000
- Carga Hidráulica: CH = = = 93L / m2.d
AT 96 x 290
- Tempo de detenção hidráulica: t = V/Qmed = 96x290x0,6/2.600 = 6,4 d.

3.4. Tratamento Terciário

3.4.1 Lagoas de Maturação


a) Principais Características
As lagoas de maturação se constituem em sistemas simples e naturais de polimento e
desinfecção de efluentes, onde ocorrem basicamente três processos: decomposição aeróbia da
matéria orgânica residual, remoção de coliformes/ patogênicos por decaimento no tempo e
remoção pela ação da radiação ultravioleta.
Elas possuem grande volume e área, com tempo de detenção hidráulica entre 10 e 20 dias,
dependendo da eficiência desejada. Sua profundidade é pequena, em torno de 80 cm, de modo
a permitir maior aproveitamento da luz e eficiência da radiação ultravioleta.
As lagoas de maturação são sistemas de baixo custo, construídas de forma similar às lagoas
facultativas; não demandam escavações profundas, mas produzem grande movimentação de
terra. São de operação e manutenção simples, sem necessidade de mão de obra qualificada;
não requerem energia elétrica; não geram lodo nem maus odores.
A Figura 47 apresenta esquematicamente um sistema de lagoas anaeróbias, facultativas e de
maturação operando em série.

Figura 47. Sistema de lagoas de maturação em série. Fonte: Gonçalves e outros (2003).

92
b) Critérios e Parâmetros de Projeto

- Profundidade (h): 0,8 - 1,0 m


- Período de detenção : t > 10 dias
- Número de coliformes fecais (CF) no esgoto bruto (No) : NMP = 106 - 108/100 mL
- Redução de bactérias considerando uma lagoa com mistura completa, (Ne):
Ne = No / (1+Kb x t), sendo:
Ne – número de bactérias após o tempo t
No – número de bactérias inicial afluente
Kb – constante de decaimento das bactérias (Kb = 2,6 d-1, a 20ºC)
- Redução de bactérias considerando n lagoas com mistura completa em série:
Ne = No / [( 1+ Kb .t1) (1+ Kb . t2) ... (1 + Kb . tn)
Sendo t1, o período de detenção da primeira lagoa, t2 da segunda lagoa e tn da enésima lagoa
- Variação de Kb com a temperatura: Kb (TºC) = Kb (20ºC) x (1,1)T-20.

c) Pré-Dimensionamento

Considerando-se as lagoas anaeróbias, facultativa e de maturação em série, o número de CF


afluente ( esgoto bruto) de 107/100mL e o efluente de 103/100mL, a 20 ºC, tem-se:
103 = 107 / (1+ 2,6x4) (1+ 2,6 x 11,43) (1+ 2,6 x t)
donde, t = 10,6 d (OK)
- Volume da lagoa: V = Q x t = 2600 x 10,6 = 27560 m3
- Profundidade adotada: 1,4 m
- Área da lagoa a meia profundidade : 27560 / 1,4 = 19685,7 m2
- Dimensões: Considerando-se a relação largura (B)/comprimento (L) = 1 : 2,5 tem-se:
B = 89m e L = 220 m (a meia profundidade).

3.4.2 Desinfecção por Radiação Ultravioleta


a) Principais Características

UV

A desinfecção por UV é um processo físico, de uso mais recente no Brasil e apesar de


relativamente simples, carece ainda no País de um maior desenvolvimento, principalmente em
escala industrial e de maior porte.

93
O processo consiste em fazer o efluente passar por um tubo ou por um canal de pequena
profundidade (5 – 20 cm) e submete-lo à radiação UV, proveniente de um conjunto de lâmpadas
especiais, colocado próximo à superfície líquida ou um pouco imerso (Figura 48).

Figura 48. Esquema de funcionamento da UV. Fonte: Chernicharo e outros (2001).

As lâmpadas de UV, alongadas, são as mesmas lâmpadas comerciais de vapor de mercúrio, só


que sem o revestimento interno branco, que absorve a radiação ultravioleta. Sua aquisição é
fácil e seu custo não é elevado. A radiação UV possui efeito biocida, sendo que os sistemas de
desinfecção por UV podem promover a eliminação de até 99,99 % de coliformes fecais e
organismos patogênicos. As fotos da Figura 49 ilustram o sistema de desinfecção por UV da
ETE São Carlos, SP, com lâmpadas submersas.

Figura 49. Vistas das instalações de desinfecção por UV da ETE São Carlos, SP.
(Cortesia do SAAE de São Carlos, 2011).

94
A desinfecção por UV é um processo simples, de baixo investimento inicial e baixo nível
operacional e de manutenção. Requer pouca área e mão de obra com médio grau de
especialização, demandando alguns cuidados com a proteção e segurança do operador. O
consumo de energia elétrica não é tão elevado, sendo que não utiliza produtos químicos nem
gera problemas ambientais.

b) Critérios e Parâmetros de Projeto


- Espessura Lâmina Líquida: L = 4 cm
- Dose efetiva: D = 21 mJ/cm2
- Tempo de exposição mínima: tmin = 40 s
- Período de produção de esgoto: T = 24 h
- Concentração de coliformes fecais no efluente desinfetado: N ≤ 1000 NMP/100mL

Quadro 29. Principais parâmetros de dimensionamento de reatores UV com lâmpadas


emersas. Fonte: Gonçalves e outros (2003).
Tipo de efluente a ser tratado Primário Anaeróbio Secundário Terciário
Aeróbio Aeróbio
Transmitância (%) 15 - 40 15 – 25 30 – 50 60 -85
Absorbância (cm-1) 0,6 - 0,8 0,4 - 0,8 0,3 - 0,5 0,2 - 0,4
Dose aplicada (mJ/cm2) 130 - 175 90 – 155 80 – 135 70 - 135
3
Densidade de potência (Wh/m ) 8 - 11 5,5 - 9,5 4–7 2,5 - 5,5
Potência instalada (W/hab) 3,0 - 4,5 2,0 - 4,5 2,0 - 3,5 1,5 - 3,5
Potência consumida (kWh/hab.d) 5,0 - 6,5 3,0 - 6,5 2,5 - 4,0 1,5 - 3,0

c) Pré-Dimensionamento

Dados:
- População: 10.000 habitantes
- Vazão média: Qméd = 2600 m3/d = 108,33 m3/h
- Vazão máxima: Qmáx = 3900 m3/d = 162,5 m3/h
- DBO esgoto bruto: 280 mg/L
- DBO do efluente, a ser desinfetado: 28 mg/L (eficiência de 90 % na ETE)
- Concentração média de Sólidos Suspensos no efluente: 25 mg/L
- Turbidez média no efluente: 18 UT
- Densidade média de coliformes fecais no efluente a ser desinfetado: No =1,0 X 106 NMP/100mL
- Tipo de reator: canal
- Posicionamento das lâmpadas: emersas
- Tipo de lâmpada: baixa pressão e baixa intensidade
- Transmitância média: Tr = 0,59 %
- Potência nominal de cada lâmpada: P = 30 W

95
- Comprimento de onda da lâmpada: 254 nm
- Potência efetiva de cada lâmpada a 254 nm (Pe): Pe = 8,3 W
- Eficiência da reflexão de radiação UV (254 nm) ou fração de energia que efetivamente atinge
o líquido (f): f = 0,7 (70%)
- Comprimento da lâmpada: 0,90 m

Cálculos:

1   1  u⋅a
- Absorbância (A): A = log  = log  = 0,229
 Tr   0,59  cm

- Coeficiente de Absorbância (x): x = A ln(10) = 0,229 ln(10) = 0,527


- Intensidade Média de Radiação UV em uma Lâmina Líquida de Espessura L (Im):
Io Io
Im =
x .L
(
1 − e −α L ) =
0,527 ⋅ 4
(1 − e ( −0,527⋅4 ) ) = 0,417 I o

Onde: Io – Intensidade de UV aplicada no meio líquido (mW/cm2)


- Dose efetiva para atingir o padrão de efluente proposto, nas condições dadas: D = 21 mJ/cm2

- D = I m . t mín = 21 mJ
cm 2
Da = I o . t mín , ou I m t mín D
- Dose Aplicada (Da): Da = = = 50,4 mJ/cm2
0,417 0,417
Da
- Dose Aplicada por volume (Dav):
Da v =
L
0,278
, ou
Dav = 3,5 (W h ) / m 3

Onde: 0,278 – fator de conversão


Qmáx . Dav
- Número de lâmpadas (n): n= Pe . f , ou n ≅ 98 lâmpadas

V = Qmáx .t mín , ou
- Volume do reator (V): V = 1,81 m 3
V
- Área total necessária para a câmara de desinfecção (Ae): Ae = L , ou Ae = 45,25 m 2
OBS: As lâmpadas podem ser dispostas em seis módulos, cada um com largura de 0,95 m e
comprimento de 8 m
- Área total do reator (At): 6 x 0,95 x 8 = 45,6 m2 (5,7 x 8 m)
n . Pe . f .t min
- Verificação da dose efetiva aplicada no reator (mJ/cm2): Da ( reator ) = 10. At

98 x 8 , 3 x 0 , 7 x 40
Da ( reator ) = 10 x 45 , 6 = 49,9 mJ/cm2

96
3.4.3 Desinfecção por cloração (CL) seguida de descloração (CLD)

a) Principais Características

CL
A desinfecção por cloração só deve ser aplicada aos efluentes de ETEs em último caso, quando
for necessário o controle de organismos patogênicos que possam colocar em risco imediato a
saúde da população. Isto porque os compostos de cloro são prejudiciais à biota do corpo receptor
e, sobretudo, porque a cloração gera substâncias organocloradas de efeito cancerígeno.
Para pequenas comunidades é recomendado o uso de solução de hipoclorito de sódio, aplicada
por meio de dosadores simples, de carga constante ou do tipo “pinga – pinga”. Dependendo da
qualidade do efluente tratado, a dosagem de cloro ativo varia de 2 a 15 mg/L e o tempo de
contato, de 15 a 45 minutos, sendo usual 30 minutos, para que ocorra a eliminação total dos
coliformes fecais e dos organismos patogênicos.
Em comunidades de médio e maior porte pode ser usado o cloro gasoso, cuja aplicação é
similar à dos sistemas de tratamento para potabilização de água (ETAs).
Com o intuito de se minimizar os efeitos dos compostos de cloro e a formação de
organoclorados, recomenda-se, após a desinfecção, fazer a descloração do efluente, mediante
o emprego de carvão ativado ou de agentes redutores, como o dióxido de enxofre, o bissulfito
de sódio, etc. Recomenda-se ainda, que a desinfecção seja feita preferencialmente com a
utilização do dióxido de cloro, que gera menos subprodutos organoclorados que as demais
formas de cloro (Figura 50).

Figura 50. Esquema da cloração com dióxido de cloro. Fonte: Chernicharo e outros (2001).

97
b) Critérios e Parâmetros de Projeto

- Tempo de residência no tanque de contato (mistura rápida): t1 = 5 - 10 s


- Gradiente de mistura no tanque de contato: G = 1500 a 3000 s-1
- Tempo de residência no tanque de contato (para vazão média): t2 = 30 min
- Tempo de residência no tanque de descloração: t3 = 10 min
- Concentração de coliformes fecais no efluente desinfetado: N ≤ 1000 NMP/100mL

c) Pré-Dimensionamento

Dados:
- População: 10000 habitantes
- Vazão mínima: Qmin = 600 m3/d = 6,95 L/s
- Vazão média: Qméd = 2600 m3/d = 30,09L/s
- Vazão máxima: Qmáx = 3900 m3/d = 45,13L/s
- Concentração de coliformes fecais do afluente: No = 1x107 NMP/100mL (Média anual)
- Viscosidade do líquido (esgoto): m = 0,001 kg/m

Cálculos:

Tanque de Mistura Rápida:


- Volume do tanque de mistura: V1 = Qmax x t1 = 45,13 x 5 = 225,7 L = 0,226 m3
- Dimensões do tanque de mistura: 0,5x0,5x0,9 m
kgf ⋅ m
- Potência do misturador: P = m ⋅ V 1 ⋅ G 2 = 0,001 ⋅ 0,226 ⋅ (1500) 2 = 508,5 = 5,1kW
s
508,5
P= = 6,8CV
75

Tanque de contato:
- Volume do tanque de contato: V2 = Qmed x t2 = 30,09 x 30 x 60 = 54 m 3
- Dimensões do tanque de contato: L ⋅ B ⋅ H = 15,0 ⋅ 1,8 ⋅ 2,0m

C = ( N N O )3 − 1
N 1
−3
- Concentração de cloro aplicado: = [1 + 0,23 ⋅ C ⋅ t ] (0,23 ⋅ t )
No , donde:  

 1

(
C =  1Χ10 7 1Χ103 )3 − 1 (0,23 ⋅ 30) = 3,0mg / L
ou,  

98
- Concentração de cloro aplicado para vazão máxima:
t min = V Qmáx = 54000 45,13 = 1196 s ≅ 20 min
Para tempo mínimo de contato: C (concentração de cloro residual):

 1

C = ( N N O )3 − 1 (0,23 ⋅ t )
1
(
C =  1Χ10 7 1Χ103 )
3 − 1 (0,23 ⋅ 20) = 4,47mg / L
  , ou  

Dosador de solução de cloro:


- Desinfetante utilizado: hipoclorito de sódio na concentração de 5 mg/L de Cl
- D = Qmed ⋅ C = 30 x5 = 150mg / s = 540 g / h = 0,54kg / h
- Solução de hipoclorito (10%): 5,4 L/h
- Dosador de hipoclorito: 10,0 L/h

Tanques de hipoclorito:
- Armazenamento por 2 meses:
- Volume do tanque: 5,4 x 24 x 60 = 7,8 m3

Tanque de descloração:
- Volume: V = Qméd ⋅ t 3 = 30 ⋅ 10 ⋅ 60 = 18000m 3 = 18m 3

- Dimensões do tanque de descloração: 5 x 1,8 x 2,0 m

3.4.4 Desinfecção por Ozonização

a) Principais Características

O Ozônio (O3) é uma forma alotrópica, de alta energia, do oxigênio. È um gás instável, de cor
azul, solúvel em água, de alto poder oxidante e com ação desinfetante intensa e mais rápida
que o cloro (LEME, 2007).
Dentre as técnicas empregadas na geração de ozônio destaca-se o “processo corona” que
através de uma descarga elétrica, 8 a 20 quilovolts, em um fluxo gasoso de ar ou oxigênio puro
convertem moléculas de oxigênio em ozônio (LEME, 2007).
Como fonte de oxigênio pode-se utilizar o próprio ar atmosférico pressurizado (concentração
ótima econômica de ozônio 20g N/m3 a 40g N/m3) ou oxigênio puro (concentração ótima
econômica de ozônio 60g N/m3 a 70g N/m3). Entretanto, devido a sua elevada instabilidade
recomenda-se que a produção do gás ozônio seja próxima a estação que irá consumi-lo.
(LEME, 2007)

99
Uma vez produzido o gás utiliza-se a câmara de contato para realizar o contato da fase liquida
com a gasosa e é nela que irá ocorrer à reação de desinfecção e oxi-redução. Existem
diferentes configurações da câmara de contato, podendo-se destacar o método da câmara de
difusão de bolhas, reator equipado com turbina, reator com injetor de gás ozônio, reator tipo
tubo em “U” (Figura 51) e misturadores estáticos (Figura 52).

Figura 51. Reator tipo tubo em “U”. Fonte: Leme (2007), adaptado de
Chernicharo et al. (2004).

Figura 52: Esquema do sistema de ozonização em continuo com o misturador estático.


Fonte: Dalsasso; Sens; Hassemer (2004).

100
Segundo Mônaco (2006), é importante ressaltar que alguns aspectos básicos devem ser
observados no momento de dimensionamento do tanque, tais como: Velocidade e dimensão
das bolhas formadas; Modo de distribuição na fase liquida; Altura do tanque; Direção do fluxo
gás - liquido; Concentração de ozônio; Temperatura e Ph; Tempo de Contato e modo de coleta
do gás ozônio excedente.
As principais vantagens encontradas são a elevada capacidade de destruição de vírus e
bactérias, em um curto intervalo de tempo; o aumento da concentração de oxigênio dissolvido
no efluente ozonizado; e a atividade germicida praticamente independente do pH. Entretanto,
um dos maiores desafios é a formação de região de circuito hidráulico, ou seja, caminhos
preferenciais do ozônio que acarretam em baixo contato de microorganismo ao agente de
inativação (MÔNACO, 2006).

b) Critérios e Parâmetros de Projeto

- Em função da baixa solubilidade do ozônio na água, Leme (2007), descreve que o sistema
requer aplicação na fase liquida com alta eficiência de transferência. Logo a aplicação do
ozônio é realizada pela dispersão do gás na água ou no efluente em torno de: 0.4 a 5 g
O3/m3.

- Solubilidade do ozônio na água varia de acordo com a temperatura e concentrações no


gás de alimentação nas CNTP (20 oC e 1 atm), conforme Quadro 30.

Quadro 30: Solubilidade do ozônio na água em função da temperatura e da


concentração de ozônio no gás de alimentação
Temperatura 0 5 10 15 20 25 30
Constante de Henry (atm/mol) 1940 2180 2480 2880 3760 4570 5980
Concentração de ozônio no gás Solubilidade de ozônio em água
-1
Mg L ppm-vol (mg L-1)
12,07 6.044 8,31 7,39 6,50 5,60 4,29 3,53 2,70
18,11 9.069 12,47 11,09 9,75 8,40 6,43 5,29 4,04
24,14 12.088 16,62 14,79 13,00 11,19 8,57 7,05 5,39
36,21 18.132 24,92 22,18 19,50 16,79 12,86 10,58 8,09
Fonte: LEME (2007) adaptado de USEPA (1986).

- Tamanho das bolhas: 3 a 5 mm


- Profundidade típica de instalação dos difusores de gás: 5 a 6 metros.
- Transferência de massa de ozônio para liquido: Qg/QL ≤ 0,15
Sendo Qg a vazão do gás e QL vazão do liquido.
- Velocidade descendente do liquido em reator do tipo “U” 1,6 a 1,8 m/s.

101
- Fator Ct, que corresponde à concentração de ozônio residual a ser mantida durante certo
tempo na água para a obtenção de uma desinfecção eficiente. Este por sua vez varia de acordo
com o tipo de microorganismo a ser eliminado. No quadro 31 pode-se analisar os valores de CT
necessários para eliminar cistos de Giárdia em água. Já no quadro 32 os valores para os
demais microorganismos.

Quadro 31: Valores de CT, em mg.min/l, propostos pela EPA para inativação de cistos de
Giárdia em água com pH entre 6 e 9.
Temperatura (oC)
Inativação
10 15 20 25
1 log 0,48ª 0,32ª 0,24ª 0,16ª
1,5 log 0,72 0,48 0,36 0,24
2,0 log 0,95 0,63 0,48 0,32
2,5 log 1,2 0,79 0,60 0,40
3,0 log 1,4 0,95 0,72 0,46
Fonte: LEME (2007) apud LANGLAIS et al. (1991)
(a) Fator CT.

Quadro 32: Valores de CT (mg.min/L) para ClO2 e O3 em pH de 6 a 7


Microorganismo Temperatura ClO2 O3
Escherichia coli 5 0,4 a 0,75 0,002
Pólio 1 5 0,2 a 6,7 0,1 a 0,2
20 - 0,08b
Rota Virus
5 0,2 a 2,1 0,006 a 0,06
b
5 ± 125 0,5 a 0,6
Cistos de Giárdia lamblia
25 <15b 0,17b
Cistos de Giárdia muris 5 7,2 a 18,5 1,8 a 2,0
Naegleria gruberi (NEG) 5 15,47ª 4,23b
Fonte: LEME (2007) apud HOFF (1987), (a) CHEN (1985), (b) WICKRAMANAYAKE et al.
(1984)

- Tempo de Contato: 2,3 min. – 9mg/L e 4,6 min. A 17mg/L para inativação de Escherichia coli e
outros coliformes fecais. (ASSIRATI, 2005)
- Concentração ou dose de ozônio residual (C) para desinfecção de esgotos secundários: 5 a
15 mg/L. Ainda, podemos identificar outras doses para desinfecção de coliformes totais e para
atingir a Resolução Conama n0 20/86 (vide Quadros 33 e 34)

102
Quadro 33: Doses típicas para desinfecção de coliformes fecais
Contagem inicial Dose de ozônio, mg L-1
Desinfecção de efluente
de coliformes Efluente padrão, MNP/100 mL
MNP/100 mL 1000 200 23 <2,2
7 9
Bruto 10 - 10 15 – 40
Primário 107 - 109 10 – 40
De lodos ativados 105 – 106 4–8 4 – 10 16 – 30 30 – 40
De lodos ativados filtrados 104 – 106 6–8 4 – 10 16 – 25 30 – 40
De tanque séptico 107 - 109 15 – 40
De filtro de areia descontinuo 102 - 104 4–8 10 – 15 12 - 20 16 – 25
Fonte: LEME (2007) adaptada de WHITE (1998) apud TCHOBANOGLOUS (2003).

Quadro 34: Doses de ozônio utilizadas para atingir normas estabelecidas pela OMS (1989)
e pela Resolução Conama n0 20/86.
Doses (mg L-1)
Norma Finalidade Padrão NMP/100 mL Filtro
Lagoa
Ra ADb
3
OMS Reuso agrícola E. coli ≤ 10 8 - 21 2-7 ≤4
Descarga em corpo E. coli ≤ 103 8 – 21 2-7 ≤4
Conama n0 Receptor de classe 2 C. totais ≤ 5.103 10 – 35 8–9 ≤4
20/86 Descarga em corpo E. coli ≤ 200 11 – 34 4–9 <5
Receptor de classe 1 C. totais ≤ 103 12 - 35 9 – 12 4 – 5
Fonte: LEME (2007) apud ASSIRATI (2005)
(a) Ozônio aplicado com recirculação do efluente
(b) Aplicação direta de ozônio

c) Pré Dimensionamento

- Vazão do efluente (Qef)


Qef = pop. Contribuição/hab.dia . 0,8 . k
Qef = 10.000hab . 0,25 m3/hab.dia . 0,8. 1,3
Qef= 2600 m3/dia = 0,030 m3/s

- Capacidade de geração de ozônio


CGoz= pop. Contribuição/hab.dia . 0,8. DO3
CGoz= 10.000hab . 0,25 m3/hab.dia . 0,8. 1,3 . 0,005 kg O3/m3
CGoz= 13 kg O3/dia
CGoz= 13 kg O3/dia . 30 dias/mês = 390 kg O3/mês

- Vazão de projeto de Ozônio


Qoz= CGoz/massa especifica O3
Qoz = 13 kg /dia = 6,07 m3/dia
2,14 kg/m3
Qoz = 6,07 m3/dia . 30 dia/mês = 182,1 m3/mês

103
- Taxa de dispersão do O3 do efluente
TDO = CGoz/Qef
TDO= 13 kg O3/dia = 0,005 kg O3/m3 = 5g O3/m3
2600 m3/dia

- Determinação da Vazão de O2
Adotar gerador comercial com rendimento de 10% em peso (kg) O3 para cada kg de O2.
Considerando massa especifica do oxigênio de 1,44 kg/m3.
Capacidade de oxigênio (CO2) = CGoz / rendimento decimal
CO2 = 13 kg O3/dia = 130 kg O2/dia
10%
100%
QO2 = CO2/ massa especifica
QO2 = 130 kg O2/dia = 90,28 m 3/dia
1,44 kg/m3

- Determinação da concentração inicial do ozônio na entrada do reator


Adotar um sistema de misturador estático com eficiência geral de transferência assumida de
80%.
Eficiência de transferência (er) = [O3]entrada – [O3]saída
[O3]entrada
0,8 = 1 – [5 mg/L] / [O3]entrada
[5 mg/L] / [O3]entrada = 1-0,8
[O3]entrada = 5mg/L/ 0,2 = 25 mg/L

Dimensionamento do Reator

Unidade de desinfecção com ozônio = tipo “Tubo em U”


Diâmetro único e altura de 3m
Velocidade de descida da mistura gás-liquido m= 1,8 m/s
Tempo de contato no reator : 1 minuto
Relação Qg/Qef = 0,15
Qg = Qef . 0,15
Qg = 0,030 m3/s . 0,15
Qg = 4,5.10-3m3/s
- Diâmetro do tubo de alimentação descendente (Dtd )
Área do tubo = (Qef + Qg)/Vd
Área do tubo = (0,030 + 3,45.10-3 )/1,8
Área do tubo = 0,019 m2
Dtd = [(Área do tubo . 4)/ 3,1416]0,5
Dtd = [ (0,019 . 4)/ 3,1416]0,5
Dtd = 0,156m

104
- Velocidade ascendente (Vasc)
Vasc = Hr / tempo de contato
Vasc = 3m / 60 s
Vasc = 0,05 m/s

- Diâmetro do reator (Dr)


Área do reator = [(Qef + Qg)] / Vasc] + área do tubo de descida
Área do reator = [(0,030 + 4,5.10-3) / 0,05m/s] + 0,019
Área do reator = 0,71 m2
Dr = [(Área do reator . 4)/ 3,1416]0,5
Dr = [ (0,71 . 4)/ 3,1416]0,5
Dr = 0,95 m

- Volume acumulado no reator durante o tempo de contato


Volume acumulado = 0,69 . 3 = 2,07 m 3/min.
Volume acumulado diário = 2,07 m3/min. . 60 min/hora . 24 horas/dia
Volume acumulado diário = 2.980,8 m 3

3.5. Tratamento e Condicionamento de Lodo

3.5.1 Desidratação física de lodo/ leitos de secagem

a) Principais Características

LSec

Leitos de secagem são tanques a céu aberto onde ocorre a fase sólida do tratamento, com a
desidratação do lodo, basicamente devido a dois fenômenos: evaporação e drenagem através
de um sistema drenante no fundo dos leitos.
A evaporação e consequentemente a performance da secagem dependem fundamentalmente
das condições climáticas - climas frios e úmidos não são recomendados para o emprego de
leitos de secagem.
Os leitos de secagem são sistemas simples e de baixo custo de tratamento de lodo, não
requerendo o uso de energia elétrica nem de produtos químicos; entretanto, demandam
relativamente grandes áreas.
Normalmente são construídos três ou mais leitos, em alvenaria, de área retangular e
profundidade variando de 0,5 a 0,8 m, com lâmina d’água de 30 a 80 cm. O fundo dos leitos é

105
revestido de tijolos sem rejunte, assentados sobre uma camada de areia grossa, por onde
percola a água.
O lodo, pré-estabilizado, performance nos leitos entre 15 e 30 dias até a sua secagem,
dependendo das condições climáticas, quando então é removido manualmente com rodos e
pás ou em ETES maiores, mecanicamente.
A desidratação é complementada pelo sistema de drenagem, composto da camada de areia e
de camadas de pedrisco e brita com transição granulométrica, além de tubos drenantes sob a
camada de brita, para escoar a água drenada. Entre as camadas de areia e de brita pode ser
usada uma manta geotêxtil, dispensando a camada de pedrisco e a transição granulométrica.
Vem sendo pesquisado ainda pesquisado o uso da manta diretamente sobre a camada de brita,
dispensando no caso, também as camadas de areia e de tijolos.
A água drenada, dependendo de sua qualidade, é geralmente descartada com o efluente final
da ETE, mas dependendo do seu grau de poluição, pode ser retornada para o início do
tratamento da fase líquida.
O lodo seco, com teor de sólidos variando de 30 a 40 %, possui consistência de terra úmida e
pode ser retirado em caçambas ou caminhões basculantes. Ele é ainda patogênico, contendo
principalmente ovos e cistos de vermes, mas tomando-se os devidos cuidados de manuseio/
proteção para os empregados, ele pode ser utilizado para fins agrícolas como fonte de matéria
orgânica para o solo, em plantações de espécies de maior porte (milho) ou arbóreas (café,
eucaliptos).
A Figura 53 ilustra um sistema de leitos de secagem e a Figura 54 mostra o corte transversal de
um leito, com detalhes de seu sistema de drenagem.

Figura 53. Esquema de um sistema de leitos de secagem.


Fonte: Cleverson, Von Sperling e Fernandes (2001).

106
Figura 54. Corte transversal de um leito de secagem. Fonte: Pessôa e Jordão (1997)

b) Critérios e Parâmetros de Projeto

- Número de unidades: escolher preferencialmente números pares, com n ≥ 2 (possibilita


manutenção sem parar o processo)
- Duração do ciclo de secagem (T): T = Ts + TL

Onde: TS = Tempo de secagem


TL = Tempo de limpeza
- Volume por ciclo (VL): VL = Ql ⋅ T

- Área de secagem (A): A = VL hl

- Proporção comprimento/ largura dos leitos: 5:1, 4:1, 3:1 (escolha conforme área disponível)
- Altura da camada de lodo (hl): 0,3 a 0,5 m

c) Pré-Dimensionamento

Dados:
- População de Projeto: 10.000 habitantes
- Vazão de lodo efluente do LAB: QL = 45,88 m 3/d (Item 3.3.4.3)
- Número de leitos de secagem: n = 4 unidades, com revezamento para limpeza
- Tempo de secagem: TS = 20 d
- Tempo de limpeza: TL = 10 d
- Altura do lodo hl = 0,30 m
- Proporção adotada: 4:1

107
Cálculos:
- Duração do ciclo de operação do leito de secagem: T = Ts + TL = 20 + 10 = 30d

- Volume a ser seco por ciclo: V L = Ql ⋅ T = (45,88 m ) ⋅ 30d = 1376,4m 3


3
d

( )
- Área dos leitos de secagem: A = VL hl = 1376,4m3 0,3m = 4588 m 2

- Dimensões: 4 leitos de 1156 m2 , com comprimento L = 68 m e largura B = 17 m

3.4.2 Secagem mecânica de lodo/ centrífugas

SMec

A secagem mecânica do lodo é utilizada quando se tem restrições de área e para instalações
(ETEs) de maior porte. Os equipamentos mais empregados nesse processo são a centrífuga, o
filtro prensa de placas, o filtro prensa de esteira e o filtro a vácuo, sendo que normalmente,
todos eles requerem o condicionamento prévio do lodo com coagulantes químicos.
Recentemente no Brasil, as centrífugas vêm ganhando mais espaço por terem uma série de
vantagens, como operação contínua, compacidade, boa eficiência, menor manutenção,
facilidade operacional e aplicabilidade a instalações de pequeno até grande porte.
As Figuras 55 e 56 mostram respectivamente o esquema do processo de centrifugação e uma
centrífuga.

Figura 55. Esquema do processo de centrifugação.


Fonte: Cleverson, Von Sperling e Fernandes (2001).

108
Figura 56. Ilustração de uma centrífuga para secagem de lodo. Fonte: Muñoz (2001).

a) Critérios e Parâmetros de Projeto

- Número de unidades: n ≥ 2 (possibilita manutenção sem parar o processo)


- Vazão máxima de lodo a ser desaguado (Qmáx): Qmáx = Qméd .k 2 , onde:

Qméd = Vazão média de lodo produzido, a ser desidratado


K2 = coeficiente de pico ou da hora de maior produção de lodo =1,5

b) Pré-Dimensionamento

Dados:
- População de Projeto: 10.000 habitantes
- Vazão de lodo efluente do LAB: Qmed = 45,88 m3/d (Item 3.3.4.3)
- Número de centrífugas: n = 2 unidades, uma operante e outra de reserva
- Capacidade unitária: Cap = 6,5 m3/h, considerando-se uma centrífuga de eixo-horizontal,
modelo FP 500/1, da Pieralise, com capacidade nominal de 6500 L/h.

Cálculos:
- Vazão máxima de lodo a ser desaguado (Qmáx):
Qmáx = (45,88 m d ⋅1,5) = 68,82 m3 d = 2867,5 L / h
3

- Tempo de funcionamento:
T = 24h [(6500 L h ) 2867,5 L h ] = 10,59h ≅ 10h36 min .

109
4. FATORES/ ATRIBUTOS A CONSIDERAR NA ESCOLHA DO TIPO E
LOCALIZAÇÃO DO TRATAMENTO

São inúmeros os fatores/ atributos a serem considerados nas alternativas técnicas e locacionais
de uma estação de tratamento de esgotos, inerentes aos meios físico, biológico e antrópico.
Não existe, a priori, um melhor ou mais vantajoso processo de tratamento e a sua definição vai
depender de cada caso, em função de um criterioso estudo de concepção/ alternativas, de
forma apontar aquela de menor custo global, menor impacto sobre o meio ambiente e melhor
aceitação pela comunidade, satisfazendo os aspectos técnicos e sanitários e os padrões da
legislação ambiental pertinente.
A seguir, são apresentados os principais fatores ambientais, com exemplos de sua interferência
nos processos e na escolha do tipo de tratamento.

4.1. Meio Físico

4.1.1. Área disponível

- Tamanho da área
Influencia para os processos que demandam grandes áreas e quando o custo da terra é
elevado.
- Forma da área
Interfere no arranjo e no formato das unidades de tratamento.

4.1.2. Topografia/ relevo

- Declividade/ clinometria
Declividades ou classes de declividades (clinometria) acentuadas podem inviabilizar
determinados processos. Ex: irrigação, lagoas de estabilização.
- Cota altimétrica
Altitudes muito elevadas podem implicar em menos radiação/ energia solar, restringindo o
emprego de certos processos, como lagoas facultativas (menos fotossíntese).

4.1.3. Material inconsolidado / pedologia


- Tipo de solo
Pode influenciar a adoção de sistemas de disposição no solo ou que demandem muita
escavação/ movimentação de terra;

110
- Teor de argila
Idem, podendo também, por exemplo, facilitar o emprego de lagoas de estabilização ou
wetlands impermeabilizadas com argila compactada;
- Teor de areia
Podem na influenciar na adoção de sumidouros, sistema de infiltração rápida, lagoas de
estabilização, etc.
- Permeabilidade
Idem.
- Solos hidromorfos
São ruins para fundações, podendo inviabilizar economicamente processos de tratamento que
exigem estruturas pesadas.

4.1.4. Substrato rochoso/ geologia


- Tipo de formação
Arenitos, por exemplo, podem influenciar na localização da ETE, por exemplo, para que fique
fora de suas áreas de afloramento/ de recarga de aqüífero.
- Permeabilidade da rocha
Menor ou maior fragilidade à infiltração de esgoto.
- Afloramento de rocha
Pode inviabilizar sistemas com obras enterradas ou que demandam grandes escavações, como
lagoas.
- Resistência do solo
Em caso de baixa resistência, aumento do custo de fundações, podendo inviabilizar
economicamente sistemas de tratamento com estruturas pesadas.
- Nível freático
O nível raso pode prejudicar a opção por lagoas, infiltração rápida, sumidouros e unidades
enterradas, enquanto que para o nível profundo se dá o contrário. O risco de contaminação do
lençol freático e de poços rasos é maior.
- Gradiente piezométrico (direção e sentido de escoamento do aqüífero)
Pode influenciar na localização do tratamento e de sistemas de disposição de lodo, que devem
situar-se à montante do aqüífero em relação a poços de abastecimento de água potável.

4.1.5. Hidrografia
- Localização do corpo receptor
Pode influenciar na localização da ETE e na opção por processos que não geram maus odores,
no caso de proximidade da zona urbana.

111
- Localização do ponto de lançamento
Se o ponto de lançamento for à montante de captações de água, os requisitos de qualidade dos
efluentes serão maiores, exigindo processos de tratamento mais eficientes.

4.1.6. Fatores hidrológicos

- Vazão mínima de referência (Q7,10)


Quanto menor Q 7,10 , maior deverá ser a eficiência do tratamento.
- Vazão máxima (nível máximo de cheia)
Influencia na localização da ETE.
- Turbulência do corpo receptor
Quanto maior a turbulência melhor a autodepuração do corpo receptor e consequentemente, a
eficiência do tratamento poderá ser menor.

4.1.7. Qualidade da água do corpo receptor

- Classificação nos termos da Resolução CONAMA 357/2005


Dependendo da classificação do corpo receptor, os requisitos de tratamento podem ser maiores
(ex: Classe 1) ou menores (ex: Classe 4).
- Nível efetivo de poluição
Corpos d’água menos poluídos suportam maiores cargas poluidoras e portanto, demandam
menor eficiência de tratamento; por outro lado, corpos d’água saturados de poluição podem
exigir níveis mais elevados de tratamento, visando a sua recuperação.
- Condições de autodepuração do corpo receptor
Quanto melhores as condições de autodepuração, menores os requisitos de tratamento.

4.1.8. Fatores climáticos


- Temperatura
Afeta diretamente a eficiência do tratamento e a secagem do lodo, sendo que para ambos os
casos, quanto maior a temperatura, mais favorável.
- Pluviosidade
Quanto maior a pluviosidade pior para alguns processos de tratamento (lagoas facultativas,
lagoas de maturação, irrigação) e para a secagem do lodo em leitos.
- Umidade relativa do ar
Desfavorável para irrigação e secagem do lodo em leitos.

112
- Luminosidade
Influencia na performance de lagoas de facultativas, lagoas de maturação, irrigação e secagem
de lodo em leitos.
- Regime de ventos: direção e sentido dos ventos (Rosa dos Ventos)
Tem relação com a dispersão de gases de odor ofensivo gerados por processos anaeróbios, os
quais devem ser localizados a sotavendo das zonas urbanas em relação aos ventos
predominantes.
O Quadro 35 seguinte ilustra, através de uma matriz de ponderação, o grau de influência dos
fatores do meio físico sobre alguns processos/ características de tratamento.
A matriz ode servir como referência, no sentido de orientar a escolha de alternativas de
tratamento, em função condições e especificidades do meio físico de uma determinada região
ou local onde se estuda a possibilidade de implantação da ETE.

Quadro 35. Matriz ponderada de fatores do meio físico x processos de tratamento.


Fonte: Salvador (2002).

113
Fatores físicos Relevo Solo Clima

Regime de ventos
Permeabilidade

Granulometria

Luminosidade
Nível freático

Temperatura
Pluviosidade

Evaporação
Declividade

Resistência
Textura
Processos de tratamento
Características de
implantação/funcionamento
Área 5 5
Escavação/mov. de terra 2 2 2 5
Impermeabilização 5 5 5 4
Lagoa facultativa Reações bioquímicas 1 5 2
Mistura e renovação de O2 5 4
Penetração da luz 5
Área 5 5
Escavação/mov. de terra 2 2 2 5
Lagoa anaeróbia - Impermeabilização 5 5 5 4
lagoa facultativa Reações bioquímicas 1 5 2
Mistura e renovação de O2 5 4 2
Penetração da luz 5
Produção de maus odores 5
Área 5
Escavação/mov. de terra 2 2 2 5
Lagoa aerada de mistura Impermeabilização 5 5 5 4
completa - lagoa facultativa Reações bioquímicas 1 5 2
Mistura e renovação de O2 5 4 2
Penetração da luz 5
Área 4
Lagoa aerada de mistura Escavação/mov. de terra 2 2 2 5
completa - lagoa de Impermeabilização 4 5 5 4
decantação Reações bioquímicas 1 5 2
Mistura e renovação de O2 4 2
Área 1
Escavação/mov.de terra 1 1 2 3
Lodos ativados Fundações 5 3
convencionais Estruturas 5
Reações bioquímicas 5
Produção de maus odores 1
Área 1
Lodos ativados por Escavação/mov.de terra 1 1 2 3
aração prolongada Fundações 4 3
Estruturas 4
Reações bioquímicas 5
Área 1
Escavação/mov. de terra 1 1 2 3
Lodos ativados de Fundações 5 3
fluxo intermitente Estrutura 4
Reações bioquímicas 5
Produção de maus odores 1
Área 1
Escavação/mov.de terra 1 1 2 3
Filtros biológico aeróbio Fundações 5 3
Estrutura 5
Reações bioquímicas 5
Área 1
Reator anaeróbio de Escavação/mov.de terra 1 1 2 3
manta de lodo Fundações 5 3
Reações bioquímicas 5
Produção de maus odores 5 4
Área 1
Escavação/mov. de terra 1 1 2 3
Filtro biológico anaeróbio Fundações 5 3
Reações bioquímicas 5
Produção de maus odores 5 4
Área 1
Escavação/mov. de terra 1 1 2 3
Reator anaeróbio Fundações 4 3
compartimentado Reações bioquímicas 5
Produção de maus odores 5 4
Área 5 5
Forma de disposição 5 5 5 5 5 4
Disposição no solo Escavação/mov. de terra 3 2 2 4
Reações bioquímicas 2 5 3
Produção de maus odores 5 3

Obs.: O grau de influência dos fatores físicos sobre as características do tratamento varia de
muito baixo (1) à muito alto (5).

4.2. Meio Biótico

4.2.1. Vegetação nativa (áreas florestais)


A presença de áreas florestais ou mesmo fragmentos de vegetação nativa pode influenciar na
localização da ETE ou na necessidade de se optar por processos mais compactos, que
resultem em menor desmatamento.

114
4.2.2. Fauna aquática
- Ictiofauna
Dependendo das espécies de peixes presentes no corpo receptor, os requisitos de tratamento
podem ser menores ou maiores (espécies nobres).

4.2.3. Flora aquática

- Algas e macrófitas aquáticas


Para corpos d’água eutróficos, com alta população de plantas, pode ser necessário tratamento
em grau terciário, visando a remoção de nutrientes e o controle dessa flora.

4.3. Meio Antrópico


4.3.1. Bacias de esgotamento/ conformação da rede coletora e interceptores

Dependendo das características das bacias de esgotamento e do sistema de coleta e transporte


dos esgotos, pode ser conveniente fazer o tratamento descentralizado, com várias ETEs nas
diversas bacias; neste caso, pode ser necessário o emprego de processos mais compactos e
eficientes, que não produzam maus odores.

4.3.2. Vazão do esgoto a ser tratado

Grande vazão vai requerer ETE de maior porte e processo de tratamento mais eficiente e
compacto.

4.3.3. Uso e ocupação do solo no entorno da(s) área(s) disponível(eis) para o tratamento

O uso e a ocupação do solo influenciam tanto na localização da ETE como na escolha do


processo. Áreas mais adensadas requerem tratamento mais compacto e sem odores ofensivos,
podendo inviabilizar alguns tipos de ETE (ex: lagoas); áreas de valor paisagístico requerem
processos de tratamento mais estéticos.

115
4.3.4. Sistema viário / distância à(s) área(s) disponível(eis) para o tratamento

O sistema viário e a distância da área da futura ETE podem influenciar a alternativa,


principalmente com relação ao transporte de lodo para o seu destino final. A distância pode
também afetar a localização da ETE em função do custo dos emissários de esgoto.

4.3.5. Disponibilidade e custo de energia elétrica

A disponibilidade de energia elétrica e o custo da linha de transmissão afetam a localização da


ETE; o custo da energia, o processo a ser adotado, em função de seu consumo.

4.3.6. Aspectos culturais e hábitos da população

População com maior grau de escolaridade e nível econômico tende a ser mais exigente quanto
ao tratamento, principalmente com relação a odores, aspectos estéticos e desvalorização
imobiliária pela implantação da ETE em sua vizinhança. Em cidades-dormitório, onde a
população é mais ausente, essa tendência é menor.

4.3.7. Valor da terra/ desapropriações

O valor da terra é um fator fundamental tanto para o custo de desapropriação como para a
resistência à implantação da ETE devido a desvalorização imobiliária em suas proximidades,
condicionando a sua localização e escolha do processo de tratamento.

4.3.8. Recursos humanos e tecnológicos


A qualidade e o valor da mão de obra disponível no local, bem como os custos para a sua
formação/ qualificação podem ser decisivos na escolha do processo de tratamento, mais ou
menos sofisticado. Além disso, os recursos tecnológicos disponíveis, principalmente para a
manutenção da ETE e fornecimento de componentes/ equipamentos de reposição, vão também
influenciar na escolha do processo.

116
4.3.9. Disponibilidade financeira

A disponibilidade ou não de recursos em curto prazo, bem como os custos de financiamento e


de operação e manutenção podem fazer com que se processos de processos maior ou menor
investimento inicial em oposição aos de menos ou mais despesas de médio e longo prazo.
Existe uma tendência dos administradores públicos de adotar as soluções de menor
investimento inicial, o que pode resultar em grandes equívocos, com maiores custos globais.

5. CARACTERÍSTICAS DAS DIVERSAS TIPOLOGIAS DE TRATAMENTO E ANÁLISE


DE ALTERNATIVAS

5.1. Indicadores das Tipologias de Tratamento

Os Quadros 36 a 40 apresentam indicadores de características de diversas tipologias de


tratamento de esgotos sanitários, obtidos através de levantamento da literatura especializada e
de informações de terceiros (órgãos de saneamento) e do autor.

117
Quadro 36. Eficiência mínima esperada por processo de tratamento. Fonte: NPIU/USP (2003).

118
Quadro 37. Área máxima ocupada e custos de implantação, operação e manutenção.
Fonte: NPIU/USP (2003).

119
Quadro 38. Requerimento de energia elétrica por processo de tratamento.
Fonte: NPIU/USP (2003).

120
Quadro 39. Produção de lodo esperada por processo de tratamento.
Fonte: NPIU/USP (2003).

121
Quadro 40. Características e Indicadores de Alguns Tipos de Tratamento de Esgotos Sanitários.

Eficiência de Remoção (%) Requisitos Custos *** Tempo de Lodo


Tratamento Área Potência Implantação Operação Detenção Produzido
DBO N P Coliformes
(m²/hab) (w/hab) ** (R$/hab) (R$/hab.ano) Hidráulica (d) (l/hab.d)
Tratamento Preliminar (Gradeamento e
0-5 ~0 ~0 ~0 < 0,001 ~0 10 - 40 6 - -
Desarenação)
Tratamento Primário - DEC (Decantação) 35 - 40 10 - 25 10 - 20 30 - 40 0,03 - 0,05 ~0 90 - 130 4 0,1 - 0,5 1,6 - 3,6
Fossa Séptica – FS 50 - 60 10 - 25 10 - 20 60 - 90 0,04 ~0 80 4 0,5 - 1,0 0,3 - 0,6
Filtro Biológico Anaeróbio – FBAn 60 - 70 10 - 25 10 - 20 60 - 90 0,3 ~0 130 12 0,5 - 1,0 0,2
Fossa Séptica e Filtro Anaeróbio 70 - 80 10 - 25 10 - 20 60 - 90 0,2 - 0,4 ~0 130 - 260 16 1-2 0,3 - 0,8
Reator Anaeróbio de Fluxo Ascendente -
60 - 75 10 - 25 10 - 20 60 - 90 0,05 - 0,10 ~0 90 - 160 6 0,2 - 0,5 0,2 - 0,4
RAFA
Reator Anaeróbio Compartimentado - RAC 50 - 70 10 - 25 10 - 20 60 - 90 0,15 ~0 80 4 0,5 - 0,75 0,3 - 0,6
Lagoa Anaeróbia – Lan 50 - 60 10 - 25 10 - 20 60 - 96 0,5 - 1,0 ~0 30 - 90 6 3-5 0,1
Lagoa Facultativa – Lfac 70 - 85 30 - 50 20 - 60 60 - 99 2–5 ~0 40 - 120 6 10 - 30 -
Lagoa Anaeróbia e Lagoa Facultativa 70 - 90 30 - 50 20 - 60 60 - 99,9 1,5 - 3,5 ~0 50 - 110 6 15 - 25 0,1
Lagoa Aerada Facultativa – LaerF 70 - 85 30 - 50 20 - 60 60 - 96 0,25 - 0,5 1,0 – 1,7 50 - 110 28 5 - 10 0,3
Lagoa Aerada de Mistura Completa e
70 - 90 30 - 50 20 - 60 60 - 99 1,0 - 2,5 1,0 – 1,7 50 - 140 30 12 - 20 -
Lagoa Facultativa - LAer e LFac
Lagoa Aerada Mistura Completa e
70 - 85 30 - 50 20 - 60 60 - 99 0,2 - 0,5 1,0 – 2,2 50 - 110 35 4-7 0,5
Lagoa de Sedimentação - LAer e LSed
Lodos Ativados Convencional - LAC 85 - 95 30 - 40 * 30 - 45 * 60 - 90 0,2 - 0,3 1,5 – 3,5 260 - 520 30 0,4 - 0,6 3,0 - 4,1
Lodos Ativados Aeração Prolongada -
93 - 98 15 - 30 * 10 - 20 * 60 - 90 0,25 - 0,35 2,5 – 4,5 180 - 360 38 0,8 - 1,5 1,9 - 3,3
LAAP
Lodos Ativados por Batelada - LAB
85 - 95 30 - 40 * 30 - 45 * 60 - 90 0,2 - 0,3 1,5 – 5,0 220 - 360 30 - 38 0,4 - 1,2 1,9 - 4,1
(Fluxo Intermitente)
Filtro Biológico - FB (Baixa Carga) 85 - 93 30 - 40 * 30 - 45 * 60 - 90 0,5 - 0,7 0,2 – 0,6 220 - 400 25 NA 1,1 - 1,6
Filtro Biológico - FB (Alta Carga) 80 - 90 30 - 40 * 30 - 45 * 60 - 90 0,3 - 0,45 0,5 – 1,0 180 - 320 25 NA 3,0 - 4,1
* Remoção adicional de nutrientes pode ser obtida por modificações no processo. ** Os requisitos energéticos não incluem o eventual bombeamento de esgoto bruto. *** Base Jul/2011. NA: Não aplicável.

122
Quadro 40 (Continuação)...

Eficiência de Remoção (%) Requisitos Custos *** Tempo de Lodo


Tratamento Área Potência Implantação Operação Detenção Produzido
DBO N P Coliformes
(m²/hab) (w/hab) ** (R$/hab) (R$/hab.ano) Hidráulica (d) (l/hab.d)
Biofiltro Aerado Submerso – BAS 190 - 210 22
Biodiscos – Bdisc 85 - 93 30 - 40 * 30 - 45 * 60 - 90 0,15 - 0,25 0,7 – 1,6 300 - 500 25 0,2 - 0,3 1,9 - 2,7
Vala de Filtração – VI 80 30 25 99,9 1,2 ~0 80 2 NA -
Flotação por Ar Dissolvido – FAD 50 - 80 40 - 50 70 - 90 90 - 99,9 0,05 1,3 150 14 30 min. -
Infiltração Lenta – IrrigL 94 - 99 65 - 95 75 - 99 > 99 10 – 50 ~0 50 - 90 4 NA -
Infiltração Rápida – IrrigR 86 - 98 10 - 80 30 - 99 > 99 1–6 ~0 30 - 100 5 NA -
Infiltração Subsuperficial – SUM (Sumidouro),
90 - 98 10 - 40 85 - 95 > 99 1–5 ~0 30 - 70 6 NA -
VI (Vala de Infiltração)
Escoamento Superficial – Esup 85 - 95 10 - 80 20 - 50 90 - 99,9 1-6 ~0 30 - 70 NA -
Wetlands – WL (Terras Úmidas) 80 - 85 50 90 99,9 4 ~0 130 9,6 2 - 14 -
Lagoa de Maturação – LMat 20 30 30 99 - 99,99 2–3 ~0 60 - 140 6 3 - 10 -
Cloração – CL (Hipoclorito) - - - 99,9 - 99,99 < 0,01 ~0 20 - 40 1-2 15 - 30 min. -
Cloração e descloração – CLD
- - - 99,9 - 99,99 < 0,01 ~0 20 - 50 2-4 25 - 45 min. -
(Hipoclorito)
Desinfecção por Ultravioleta – UV - - - 99 - 99,99 < 0,01 0,2 – 0,5 30 - 60 2,0 - 3,0 20 - 50 seg. -
Desinfecção por Ozônio – DOz - - - 99,9 - 99,99 < 0,01 0,3 30 - 70 26 5 - 15 min. -
0.02 - 0,45 Ciclo de (30 - 60 %
Leitos de Secagem de Lodo – LSec - - - - ~0 60 8
20 - 30 d de sólidos)
(30 - 40 %
Centrífugas de Lodo – SMec - - - - < 0,01 0,8 – 1,5 20 - 100 6 - 24 Ciclo de 2 h
de sólidos)
* Remoção adicional de nutrientes pode ser obtida por modificações no processo. ** Os requisitos energéticos não incluem o eventual bombeamento de esgoto bruto. *** Base Jul/2011. NA: Não aplicável.
Fonte: Dados baseados em informações de terceiros e do autor e obtidos/ adaptados de: Arceivala (1981); ASCE & AWWA (1996); Chernicharo et al (2001); EPA (1979, 1981,
1992); Gonçalves (2003); Metcalf & Eddy (1991); NPIU/USP (2003); Prioli et al (1993); Von Sperling (1996).

123
Deve ser ressaltado que os dados constantes dos quadros anteriores representam valores
médios e que, portanto, esses quadros devem ser tomados apenas como referência para
subsidiar a pesquisa de alternativas de tratamento, não devendo ser utilizados para a
determinação de custos e orçamentos, áreas, consumo de energia, etc. No caso, para a
obtenção dessas informações, devem ser feitos pré-dimensionamentos das alternativas de
tratamento.

5.2. Gases de Efeito Estufa Gerados no Tratamento de Esgoto

O conceito dos créditos de carbono surgiu a partir da sensibilização para a necessidade de


reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE) a fim de combater o agravamento do
aquecimento global, discutido e formalizado no Protocolo de Quioto (1997). Este criou três
mecanismos para reduzir as emissões de carbono, um deles se refere diretamente aos países
em desenvolvimento: o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). Por meio dele, cada
tonelada de carbono que deixe de ser emitida em um país em desenvolvimento, devido a
adoção de novas tecnologias, poderá ser negociada com os países industrializados e usada
como forma de cumprirem suas metas de redução de emissões, determinadas em Quioto
(MCT, 2009). O MDL foi criado com o objetivo de fomentar o desenvolvimento sustentável
mediante transferência de tecnologia e incentivo a um novo padrão de desenvolvimento com
base na conciliação entre crescimento econômico, inclusão social e respeito ao meio ambiente.
A emissão de GEE acontece devido a diversas atividades, dentre elas o tratamento de águas
residuárias, tanto domésticas quanto industriais. O tratamento de esgotos sanitários ou
domésticos está relacionado a emissões de metano (CH4) e óxido nitroso (N2O). Nas estações
de tratamento de águas residuais (ETEs), a geração desses gases de efeito estufa ocorre
principalmente por meio de processos biológicos de tratamento. O tratamento biológico de
esgotos resume-se a atividade de microrganismos, principalmente bactérias, que se alimentam
da matéria orgânica dos próprios resíduos. Nesse processo metabólico, diversos produtos são
gerados, dentre eles, os GEE. Essa decomposição pode ocorrer por meio de três rotas: aeróbia
e anóxica (produtoras de N2O) e anaeróbia (produtora de CH4).
No Brasil, a emissão de metano, por exemplo, em ETEs representa 2,1% do total das emissões
nacionais (MCT, 2009), enquanto que o tratamento de apenas 34,6% do esgoto gerado nas
cidades (MC, 2008) potencializa a geração desse gás no setor. Nesse sentido, o MDL vem ao
encontro dessa demanda municipal, de modo a incentivar e motivar a instalação e
modernização de ETEs, por meio da aquisição de tecnologias mais produtivas e limpas.
Além de potencial contribuinte para a mudança climática, o setor de esgotamento sanitário nos
países em desenvolvimento, inclusive no Brasil, apresenta diversas deficiências, em termos de
cobertura e de eficiência. Desta maneira, adotar alternativas de tratamento com menor
124
geração de GEE, evitar a sua emissão ou capturar esses gases nas ETEs é tanto uma
preocupação como uma oportunidade para a atual situação do esgotamento sanitário do país,
contribuindo para a qualidade de vida da população e do meio ambiente.
Maiores informações sobre o MDL e projetos para a obtenção de créditos de carbono podem
ser encontradas no site do Ministério da Ciência e Tecnologia.
(http://www.mct.gov.br/index.php/content/view/4007.html)

5.3. Análise de Alternativas

A partir das informações, dados e indicadores dos processos e tecnologias de tratamento e das
condições ambientais locais, conforme apresentado nos itens anteriores, procede-se a uma
análise e escolha de alternativas, conforme procedimentos seguintes:
a) Levantamento hidrográfico e hidrológico da bacia e do corpo receptor dos esgotos, com
a determinação das vazões máximas e mínimas (Q7,10).
b) Levantamento da qualidade das águas do corpo receptor, seus usos múltiplos, sua
Classe de acordo com a resolução 357/2005 do CONAMA, requisitos de qualidade/
ambientais, etc.
c) Levantamento de outros dados físicos da região e áreas disponíveis – topografia,
geologia, regime de ventos/ ventos predominantes, distância, etc.
d) Levantamento florístico e faunístico da bacia e do corpo receptor.
e) Levantamento do uso e ocupação do solo e da infraestrutura da região, bacia e local -
sistema de coleta de esgotos existente, vias e acessos, disponibilidade de energia,
cadastro imobiliário, áreas disponíveis, etc.
f) Pesquisa mão de obra, materiais de construção e equipamentos na região, custos, etc.
g) Estudo e pré-dimensionamento de alternativas tecnológicas e locacionais de tratamento
- mínimo de três alternativas.
h) Determinação dos custos de investimento (desapropriações, construção, equipamentos,
infraestrutura, etc.) das alternativas consideradas.
i) Determinação dos custos de operação (mão-de-obra, energia elétrica, produtos
químicos, etc.) e manutenção (reposição de peças e equipamentos, etc.) por toda a vida
útil da ETE (mínimo de 20 anos).
j) Análise de viabilidade técnica e ambiental das alternativas – modulação da ETE,
eficiência do tratamento, impactos ambientais da ETE, aspectos sanitários e sócio-
econômicos envolvidos, medidas mitigatórias, etc. (desejável consulta pública).
k) Análise econômico-financeira do empreendimento, considerando o valor presente de
todos os custos de operação e manutenção durante a vida útil da ETE, somado aos
custos de investimento.
125
l) Escolha da melhor ou mais vantajosa alternativa, com base nos procedimentos
anteriores, sendo que a priori, não existe um processo ou tipo de tratamento melhor. A
decisão, a ser tomada preferencialmente também mediante consulta pública, vai
depender dos resultados da análise efetuada, sendo recomendada a alternativa que for
técnica e ambientalmente viável e que tiver o menor custo de implantação, operação e
manutenção ao longo da vida útil da ETE.
É evidente que para pequenas comunidades ou comunidades isoladas o procedimento é
simplificado, mas em linhas gerais, deve seguir a mesma linha de raciocínio anterior.

6. ARRANJOS DE TRATAMENTO SUGERIDOS

A seguir são apresentados em caráter sugestivo, esquemas de alternativas/ arranjos de


sistemas de tratamento, para comunidades muito pequenas, desde unidades unifamiliares, até
comunidades de maior porte, com população igual ou superior a 30 mil habitantes. Dependendo
das condições locais, outros arranjos podem ser mais adequados.
As alternativas foram formuladas para as diversas faixas de porte das comunidades/ população,
especificadas no Quadro 01, tendo sempre por objetivo atender aos padrões de lançamento de
efluentes da legislação pertinente - Artigo 34 da Resolução 357/2005 do CONAMA. Quanto ao
atendimento dos padrões de qualidade das águas, a definição da alternativa vai depender caso
a caso, de cada corpo receptor e sua classificação nos termos da referida Resolução.
Em linhas gerais, recomenda-se o emprego de processos simples, com tratamento primário
anaeróbio e secundário com baixo consumo de energia e facilidade de operação e manutenção,
além dos cuidados para compatibilizar a solução de esgotos com a de abastecimento de água
potável, a fim evitar a contaminação desta, principalmente nas pequenas comunidades
unidades unifamiliares.

6.1. Sistemas unifamiliares – até 500 habitantes

a)

FS

SUM

126
b)

FS VI

c)

FBAn
FS

LMat

d)

FS VF

WL

e)

FS FBAn
WL

f)

FS VF CL

127
g) Fase sólida

LSec

Para unidades unifamiliares ou pequenos grupos de residências, a solução aconselhada é a


fossa séptica seguida de infiltração no solo, de preferência por sumidouros ou valas de
infiltração – alternativas (a) e (b), que são eficientes do ponto de vista do ponto de vista de
remoção de DBO (ambiental) e de patogênicos (saúde). Deve-se procurar utilizar fossas de
câmara simples, de material barato e de fácil construção, como as mostradas nas Figuras 8, 9 e
10.
Sempre que possível, deve-se também segregar o esgoto primário para que só ele seja
encaminhado ao tratamento, enquanto que as demais águas servidas podem ser reusadas.
Quando não for viável a infiltração do esgoto no solo (baixa permeabilidade), as alternativas são
o emprego de filtro biológico anaeróbio (c), vala de filtração (d), ou wetlands (d). Se o requisito
de qualidade físico-química do efluente for maior, pode-se empregar um polimento com
wetlands após o filtro anaeróbio (e) e se houver restrições quanto a qualidade microbiológica, é
possível o emprego de lagoa de maturação (c) ou cloração com hipoclorito (f), por meio de
sistema dosador simples.
A cloração deve ser a última opção, mas pelo menos irá produzir uma menor quantidade de
substâncias organocloradas, tendo em vista tratar-se de pequenas populações e baixas vazões
de esgoto.
Dada à baixa permeabilidade do solo, pode ser verificada a viabilidade de não se utilizar manta
plástica no wetlands, fazendo-se apenas a compactação de seu fundo.
Devido às baixas vazões, o impacto ambiental dessas comunidades geralmente é muito
pequeno, mas a questão da poluição biológica é sempre preocupante, pois basta apenas o
efluente de uma residência para disseminar doenças de veiculação hídrica.
Além do risco de contaminação do aqüífero e dos poços rasos, existe também a possibilidade
de inundação do sistema de abastecimento de água por ocasião das cheias. Portanto, o
sistema de tratamento de esgotos deve ser localizado à jusante das habitações, o mais distante
possível, no mínimo 30 m. Fossas sépticas e filtros anaeróbios devem ter fechamento
hermético, a fim de evitar uma maior contaminação no caso de serem inundados.
Com relação a desidratação do lodo (fase sólida), recomenda-se o emprego de leitos. Se
houver possibilidade de dispor o lodo diretamente no solo, sem secá-lo, isto deve ser feito em

128
locais afastados (mais de 30 m) de residências, de sistemas de abastecimento de água e de
plantações rasteiras de frutas e hortaliças.

6.2. Sistemas para 500 – 5.000 habitantes (pequenas comunidades)

a)

Tratamento
Preliminar

LFac

b)

Tratamento
Preliminar LAn

LAn LFac

c)

Tratamento
Preliminar LAn

LAn LFac LMat

CL

d)

Tratamento
Preliminar LAn

LAn LFac

ESup

129
e)

Tratamento
Preliminar

RAC FBAer

WL

f)

Tratamento
Preliminar

LAB

g) Fase sólida

LSec SMec
ou

Em comunidades com população acima de 500 habitantes, o uso de fossa séptica e de


sistemas de infiltração torna-se difícil e deve-se empregar tratamento preliminar. Além disso, em
função de maiores requisitos de qualidade do efluente, são adotados processos secundários
aeróbios.
Dessa forma, as alternativas propostas inicialmente são lagoa facultativa (a), sistema
australiano de lagoas (b, c) e escoamento superficial (d), quando houver disponibilidade de
área; caso contrário, devem ser empregados reatores anaeróbios compactos, como o RAC (e),
seguidos de unidades secundárias simples, FBAer ou WL (e).

130
Se houver necessidade de tratamento mais compacto e com melhor qualidade do efluente,
pode-se empregar o LAB (f). Caso seja necessário desinfecção, as alternativas são LMat ou CL
(c), esta última se houver restrições de área, podendo também ser utilizado UV.
Para a fase sólida é recomendado prioritariamente ainda leitos de secagem, mas se não houver
área suficiente à secagem mecanizada poderá ser adotada.

6.3. Sistemas para 5.000 – 20.000 habitantes (cidades de pequeno porte)

a)

Tratamento
Preliminar LAn

LAn LFac

LMat

b)

Tratamento
Preliminar
INF
LAn

RAC IRR

c)

Tratamento
Preliminar

LAn LAer LSed

LAerF

131
d)

Tratamento
Preliminar

RAC FBAer

UV

RAFA

e)

Tratamento
Preliminar

RAC

BAS

RAFA UV

f)

Tratamento
Prelim inar

LAB

LAAP

132
g) Fase sólida

LSec SMec
OU

Para comunidades de menor porte, entre 5.000 e 15.000 habitantes, pode ser tentado ainda o
emprego de lagoas de estabilização facultativas e de maturação (a), em caso de disponibilidade
de área e de necessidade de desinfecção. Outra opção é o uso de LAn ou RAC seguidos de
sistemas de disposição no solo, INF ou IRR (b), sendo que para IRR não se deve utilizar
aspersão ou gotejamento, por restrições de qualidade microbiológica.
Entretanto, sistemas mais compactos são geralmente requeridos e neste caso, as alternativas
são lagoas aeradas de mistura completa ou facultativas (c). Se houver ainda maiores restrições
de área, as alternativas podem ser: reatores anaeróbios RAC ou RAFA e filtros biológicos
aeróbios FBAer (d); RAC ou RAFA e biofiltro aerado submerso BAS (e); e lodos ativados por
batelada LAB ou por aeração prolongada LAAP (f).
Em caso de desinfecção, para este porte de ETE, já se aconselha o uso de UV ou de dióxido de
cloro. Quanto à fase sólida, usar LSec ou SMec.

6.4. Sistemas para 20.000 – 50.000 habitantes (cidades de pequeno a médio porte)
a)

Tratamento
Preliminar

LAn LAer LSed

LAerF

b)

LAn

Tratamento FBAer
Preliminar
RAFA

BAS

133
c)

INF
Tratamento
Preliminar
RAFA

IRR

d)

Tratamento
Preliminar

LAAP

LAB

e)

Tratamento
Preliminar
RAFA FAD

f) Fase sólida

LSec SMec
OU

134
Para cidades de médio porte, o uso de lagoas de estabilização facultativas é mais restrito
devido a problemas de área/ movimentação de terra e as opções são: LAer e LSed ou LaerF
(a); LAn ou RAFA e FBAer ou BAS (b); RAFA e INF ou IRR, exceto por aspersão ou
gotejamento (c).
Em caso de insuficiência de área podem ser adotados LAAP ou LAB (d) ou RAFA e FAD (e),
este último, em caso de necessidade de remoção de nutrientes, principalmente fósforo. Para
desinfecção, UV ou dióxido de cloro e para a fase sólida, LSec ou SMec.

6.5. Sistemas para mais de 50.000 habitantes (cidades de médio porte)

a)

Tratamento
Preliminar

LAn LAer LSed

LAerF

b)

Tratamento
Preliminar
RAFA
BAS

FBAer

135
c)

Tratamento
Preliminar
LAAP
RAFA

d)

INF
Tratamento
Preliminar
RAFA

IRR
LAn

e)

Tratamento
Preliminar
RAFA FAD

f) Fase sólida

LSec SMec
OU (limitação de área)

136
As alternativas para as cidades de maior porte são similares às de médio porte, mas sempre
com o emprego de tratamento primário anaeróbio, visando a economia de energia. Deve-se
utilizar prioritariamente o RAFA, que requer pouca área é um dos reatores mais eficientes.

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