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Faculdade de Farmácia
2020
Universidade de Lisboa
Faculdade de Farmácia
2020
Resumo
Esta monografia tem como objetivo, uma revisão da literatura para obter informação
sobre a doença inflamatória intestinal e sobre estudos clínicos que comprovem a aplicabilidade
das plantas na DII, a nível da prevenção e ação terapêutica. As plantas abordadas são
Andrographis paniculata, Artemisia absinthium, Boswellia serrata, Curcuma longa, Aloe vera
e Cannabis sativa, destacando as suas propriedades fitoquímicas e as suas aplicações
farmacológicas.
3
Abstract
4
Abreviaturas
6-MP – 6-Mercapturina
6-TP – 6-Tioguanina
2-AG – 2-Araquidonoilglicerol
AEA - Anandamida
AZA - Azatioprina
CBD - Canabidiol
COX-2 – Ciclo-oxigenase-2
CsA – Ciclosporina A
CU – Colite Ulcerosa
DC - Doença de Crohn
5
DGS – Direção Geral de Saúde
Hp – Helicobacter plorim
IgG – Imunoglobulina G
IL – Interleucina
IFN – Interferão
LOX - 5-lipoxigenase
LTB4 – Leucotrieno B4
MPO - Mieloperoxidase
MTX – Metotrexato
6
NOD2 – Nucleotide-binding Oligomerization domain-containing protein 2
NO – Óxido nítrico
TAC – Tacrolimus
Th – Célula T efetora
THC - Δ9-tetrahidrocanabinol
TL1A - TNF-like 1A
UE – União Europeia
7
Índice
1 Introdução.............................................................................................................................. 10
2 Métodos ................................................................................................................................. 12
3 Sistema Digestivo .................................................................................................................. 13
3.1 Caraterização .................................................................................................................. 13
3.2 Doença Inflamatória Intestinal ....................................................................................... 14
3.2.1 Epidemiologia ......................................................................................................... 14
3.2.2 Etiopatogenia ........................................................................................................... 16
4 Doença de Crohn ................................................................................................................... 23
4.1 Manifestações Clínicas ................................................................................................... 23
4.2 Diagnóstico..................................................................................................................... 24
4.3 Classificação................................................................................................................... 25
5 Colite Ulcerosa ...................................................................................................................... 25
5.1 Manifestações Clínicas ................................................................................................... 26
5.2 Diagnóstico..................................................................................................................... 27
5.3 Classificação................................................................................................................... 27
6 Terapia Farmacológica na DII............................................................................................... 28
6.1 Grupos farmacológicos usados na DII ........................................................................... 29
6.1.1 Aminossalicilatos .................................................................................................... 29
6.1.2 Corticosteróides ....................................................................................................... 30
6.1.3 Imunomodeladores .................................................................................................. 31
6.1.4 Antibióticos e Probióticos ....................................................................................... 33
6.1.5 Fármacos biológicos ................................................................................................ 34
7 Plantas Medicinais................................................................................................................. 36
7.1 Plantas medicinais em Portugal...................................................................................... 36
7.2 Plantas Medicinais na atualidade ................................................................................... 37
8 Plantas Medicinais com ação na Doença Inflamatória Intestinal .......................................... 38
8.1 Andrographis paniculata ................................................................................................ 39
8.2 Artemisia absinthium ..................................................................................................... 41
8.3 Boswellia serrata ............................................................................................................ 43
8.4 Curcuma longa ............................................................................................................... 46
8.5 Aloe vera ........................................................................................................................ 48
8.6 Cannabis sativa ............................................................................................................... 50
9 Conclusão .............................................................................................................................. 54
Referências Bibliográficas ....................................................................................................... 56
8
Índice de Figuras
Índice de Tabelas
9
1 Introdução
Atualmente, ainda não existe uma terapia curativa da DII, sendo o objetivo do
tratamento manter a doença em remissão. A terapia farmacológica comummente usada, inclui
anti-inflamatórios específicos, como os aminossalicilatos e corticosteróides, os
imunomodeladores na doença ligeira a moderada, e os fármacos biológicos quando a
terapêutica anterior se revela insuficiente para controlar a doença. Apesar da terapêutica
convencional, resolver a maioria das situações clínicas, a componente económica associada aos
tratamentos, bem como os efeitos secundários graves que podem ocorrer, levam a que as
pessoas se interessem e procurem alternativas terapêuticas ou terapêuticas coadjuvantes.
10
produtos de origem vegetal e plantas com propriedades medicinais. Estas apresentam
constituintes únicos com propriedades anti-inflamatórias, antioxidantes, entre outras.
Deste modo, esta monografia tem como objetivo realizar uma revisão bibliográfica
sobre a temática da DII, no que concerne à sua etiopatogénese, manifestações clínicas,
terapêutica farmacológica e ainda a contextualização e descrição das principais plantas
medicinais relacionadas com a DII - Andrographis paniculata, Artemisia absinthium, Boswellia
serrata, Curcuma longa, Aloe vera, Cannabis sativa – evidenciando as suas caraterísticas
fitoquímicas, farmacológicas, o seu modo de administração, a evidência científica quanto à sua
eficácia e segurança, recorrendo para isso a estudos clínicos.
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2 Métodos
12
3 Sistema Digestivo
3.1 Caraterização
O Sistema Digestivo é um dos sistemas orgânicos mais complexos e de maior
relevância. Inclui as vias gastrointestinais (boca, faringe, esófago, estômago, intestino delgado
(duodeno, jejuno, íleo), intestino grosso, reto, ânus) e os órgãos acessórios (glândulas salivares,
pâncreas, fígado e vesícula biliar), que não são parte integrante das vias, porém secretam
substâncias no seu interior por ductos conectantes. O sistema digestivo está sob controlo neural
tanto localmente pelo sistema nervoso entérico quanto pelo sistema nervoso central (1,2).
13
da via gastrointestinal através de uma camada de células epiteliais e entram na corrente
sanguínea ou linfática – absorção. Enquanto ocorrem os processos anteriores, a contração dos
músculos lisos na parede da via digestiva, misturam o conteúdo do lúmen com as várias
secreções e movem os conteúdos através do tubo digestivo da boca até ao ânus – motilidade
(1,2).
A Doença Inflamatória Intestinal (DII) constitui uma doença crónica idiopática que
afeta aproximadamente 10 milhões de pessoas em todo o mundo e na Europa atinge já os 3,4
milhões de pessoas. A incidência e prevalência tem aumentado ao longo do tempo, tanto na
população adulta como na pediátrica (3).
A sua incidência aumentou no século XX nos países desenvolvidos, nomeadamente na
Europa, América do Norte, Austrália e Nova Zelândia. Este aumento está associado à
industrialização e urbanização uma vez que se relaciona com fatores como a dieta e estilos de
vida, acesso a medicação, acesso a melhores condições de higiene e saneamento básico, a
alterações na exposição microbiana e a poluentes e a um melhor acesso a cuidados de saúde e
métodos de diagnóstico (4,5).
Tradicionalmente considerada uma doença dos países ocidentalizados a epidemiologia
das doenças inflamatórias intestinais nos últimos vinte anos está em mudança em todo o mundo,
expandindo-se também a países recém-industrializados, como consequência de parâmetros
como a migração do meio rural para o urbano e alterações do estilo de vida. Estudos
epidemiológicos mais recentes sugerem que a incidência e prevalência está a aumentar de forma
consistente na América do Sul, Europa Oriental, Ásia e África (5,9).
A DII é geralmente diagnosticada em indivíduos jovens e com baixa mortalidade.
Comparando nas últimas décadas os dois subtipos de DII, tem-se observado que a incidência
da DC se aproxima dos valores da CU, quando antes a incidência e prevalência da CU era
superior à da DC (4,5,9).
A incidência e prevalência da CU tem aumentado ao longo do tempo em todo o mundo.
As mais elevadas incidências de CU foram descritas no norte da Europa (24,3 por 100.000),
Canadá (19,2 por 100.000) e Austrália (17,4 por 100.000). As taxas de prevalência são mais
elevadas na Europa (505 por 100.000), Canadá (248 por 100.000) e nos EUA (214 por 100
14
000). Na Europa, parece haver diferenças na incidência da CU, com os países localizados nas
regiões norte e oeste com maior incidência relativamente aos países orientais. O pico de início
da doença ocorre aproximadamente entre os 30 e 40 anos. Não parece existir uma distribuição
de género específica na CU (7).
A incidência e prevalência da DC é mais elevada nos países desenvolvidos do que nos
países em desenvolvimento, e nas áreas urbanas relativamente a áreas rurais. A maior incidência
anual é no Canadá (20,2 por 100.000), norte da Europa (10,6 por 100.000), Nova Zelândia (16,6
por 100.000) e Austrália (29,3 por 100.000). A prevalência é mais elevada na Europa (322 por
100.000), Canadá (319 por 100.000) e nos EUA (214 por 100.000). As áreas de reduzida
incidência e prevalência têm registado um aumento constante nas taxas da DII, em paralelo com
o seu desenvolvimento. A Ásia, no qual alguns países estão a adotar um estilo de vida
industrializado está a ser relatado um aumento na incidência anual da DC (0,54 por 100.000).
Entre as populações que emigram de regiões de baixa incidência para regiões de elevada
incidência e se a emigração ocorreu muito cedo na vida, observou-se um aumento da incidência
na primeira geração de descendentes dos indivíduos emigrantes. Estes dados sugerem que
fatores ambientais e as exposições no início da vida são fatores desencadeadores da DC. O pico
de início da doença ocorre geralmente entre os 20 e 40 anos, com alguns estudos a referir um
pico com menor incidência descrito entre os 50 e 60 anos. Não parece também existir uma
distribuição de género específica na DC (8).
A situação epidemiológica das DII em Portugal não é bem conhecida, havendo na
literatura apenas um estudo que reportou estimativas da incidência e prevalência a nível
nacional da DC e CU. Este estudo foi realizado entre 2003 e 2007 aplicando uma abordagem
fármaco-epidemiológica, sendo baseada no consumo de medicamentos anti-inflamatórios
intestinais, para estimar a prevalência da DC e CU nesse período e, indiretamente estimar as
incidências médias. Os resultados permitiram concluir que a prevalência da DII quase duplicou
de 2003 para 2007, aumentando de 86 novos casos para 146, por cada 100 000 habitantes. O
aumento evidenciou ser constante nos 20 distritos estudados. Os distritos com maior incidência
de DII foram Lisboa e Porto (173 e 163 por 100 000 habitantes, respetivamente) (10).
Relativamente à prevalência da DC, esta aumentou de 43 casos em 2003 para 73 em
2007 por 100 000 habitantes, sendo a faixa etária mais expressiva compreendida entre os 17 e
os 39 anos. Na CU a prevalência também sofreu um aumento de 42 casos em 2003 para 71 em
2007 por cada 100 000 habitantes, sendo a faixa etária com maior expressão compreendida
entre os 40 e os 64 anos. No contexto europeu, Portugal situa-se num ponto intermédio, com
uma tendência a aproximar-se dos países com mais elevadas prevalências da DII (10). Neste
15
estudo constata-se algumas limitações, apesar de se concluir alguns dados epidemiológicos.
Porém, é necessário a realização de mais estudos a nível nacional, para se obter dados que
descrevam a realidade completa da DII em Portugal.
3.2.2 Etiopatogenia
16
3.2.2.1 Suscetibilidade Genética
17
muito expressada pelas células epiteliais e que confere um efeito protetor na barreira intestinal.
Outra associação relaciona-se com a região do complexo major de histocompatibilidade classe
II perto da cadeia α, que tem uma importância significativa na suscetibilidade genética da CU
(16,17).
Os genes comuns associados à DC e CU incluem o gene IL23 R que codifica uma
subunidade do recetor da citocina pró-inflamatória IL-23, o gene MDR1 que codifica a
glicoproteína-P relacionada com o transporte transmembranar celular e o gene DLG5 que
codifica uma proteína scaffold importante na manutenção da integridade do epitélio intestinal
(20). Estas mutações genéticas são um risco acrescido, mas não significa necessariamente que
a doença se vá manifestar. Contudo, quanto mais mutações ocorrerem, mais elevado o risco de
desenvolvimento da doença, nomeadamente nos indivíduos jovens e com uma progressão da
doença mais preocupante (19).
18
capacidade invasiva da mucosa intestinal. Conjuntamente com a disbiose bacteriana, poderá
existir um papel importante da presença de vírus e fungos na alteração do microbioma intestinal.
A integridade do epitélio intestinal e a produção de substâncias defensoras são cruciais
para evitar o contato entre os antigénios luminais e o tecido linfóide da mucosa, de forma a
prevenir a ocorrência de inflamação e a manter intacta a função de barreira do intestino. No
entanto, na DC verificou-se uma redução de aproximadamente 50% na secreção epitelial de
defensinas o que comprova a alteração desta função na DII. Do mesmo modo, a disrupção do
mutualismo entre o microbioma intestinal e o hospedeiro humano, compromete a barreira
epitelial intestinal, pois expõe o epitélio intestinal desencadeando o processo inflamatório.
(3,8,56,78,79,80).
Tabaco
O tabaco foi o primeiro fator de risco associado de forma inequívoca à DII e é também
o mais estudado. Vários estudos sugerem que este efeito resulte da geração de um stress
oxidativo mediado por radicais livres, bem como de alterações imunológicas e do microbioma
intestinal, influenciados pelo fumo do tabaco e ocasionando diferentes efeitos na CU e na DC
(23). Verificou-se que o consumo do tabaco se associa a um risco mais elevado na DC e a um
risco paradoxalmente reduzido na CU. O tabagismo ativo tem um efeito protetor no
desenvolvimento da CU e a cessação tabágica encontra-se associada a um maior risco de
desenvolver a patologia ou ao recrudescimento dos sintomas durante o primeiro ano após a
cessação. Pelo contrário, na DC, o risco parece ser duas vezes superior nos atuais fumadores,
em comparação com os indivíduos que nunca fumaram. Os ex-fumadores apresentam um
aumento do risco de DC, mas em menor magnitude. (3,22,23,24).
19
Apendicectomia
Fármacos
O uso dos antibióticos parece ter influência no risco de desenvolver a DII, devido à
desregulação do microbioma intestinal (26). Investigações desenvolvidas mostraram que o uso
da terapêutica antibacteriana no primeiro ano de vida, associa-se a um risco até três vezes maior
de desenvolver DII em idade pediátrica, melhor demonstrado na DC do que para a CU. Nos
adultos que realizaram terapêutica antibacteriana nos últimos 2 a 5 anos possuem um risco
acrescido de DC e CU, observando-se uma relação dose-resposta. Contudo, esse risco é menor
do que aquele determinado para a faixa etária pediátrica (26,27).
Os contracetivos orais, podem influenciar o risco de desenvolver DII, devido aos efeitos
associados aos estrogénios que alteram a permeabilidade intestinal. Os níveis de estrogénios e
androgénios endógenos, potenciam o desenvolvimento de doenças autoimunes e alteram o
microbioma intestinal (28) Assim, alguns estudos evidenciam que os usos de anticoncecionais
estrogénicos estão associados a um maior risco de desenvolver DC e CU, independentemente
da redução da dose, mas reversível com a suspensão da terapêutica (3,28).
Os anti-inflamatórios não-esteróides (AINEs) podem ser um fator de risco para a DII,
por processos que alteram as respostas imunitárias inatas e adquiridas e a disrupção da barreira
intestinal. O seu risco é mais elevado no caso de uma maior dosagem, frequência e duração da
toma. O uso pontual e a toma de ácido acetilsalicílico não demonstraram essa associação
(3,29,30).
Infeções gastrointestinais
20
autoimunes e doenças inflamatórias como a DII (31). Estas evidências relevam o papel
importante do microbioma intestinal na modulação do sistema imunitário após o nascimento.
A infeção gástrica por Helicobacter pylori tem sido associada a um efeito protetor para a DC e
CU, sendo mais predominante na DC. Os estudos sugerem que este efeito se relaciona com a
capacidade da Hp de induzir tolerância imunológica e limitar as respostas inflamatórias (3,32).
O risco de desenvolvimento de DII, está aumentado em adultos após episódios de infeções
gastrointestinais agudas e em crianças com uma exposição precoce e repetida a antibióticos,
principalmente durante o primeiro ano de vida (33,34). Todos os antibióticos parecem estar
envolvidos, sendo que as fluoroquinolonas e o metronidazol foram mais associados ao
aparecimento de novos casos de DII (81).
Dieta
A dieta pode alterar o microbioma intestinal e deste modo ter uma influência no
desenvolvimento da DII, podendo diminuir ou potenciar o risco (35). Os dados epidemiológicos
demonstram um aumento da incidência da DII nos países desenvolvidos e em desenvolvimento,
relacionado provavelmente com a ocidentalização dos estilos de vida, nomeadamente nos
hábitos alimentares (36,37,38). O consumo de lípidos e de proteína animal, como os ácidos
gordos saturados e polinsaturados do tipo ómega-6 aumentou consideravelmente, porém, a
ingestão de vegetais, fruta, cereais integrais e ácidos gordos polinsaturados do tipo ómega-3
tem vindo a diminuir (36,38,39). Uma dieta rica em fibras associa-se a um menor risco de DC,
mas não de CU (3). Tanto a fruta como os vegetais provaram diminuir o risco de DII, em que
a fruta se associa a uma redução do risco mais evidente para a DC e os vegetais para a CU, no
entanto estas diferenças não são descritas por todos os autores (39,40,41,42).
Em estudos recentes, a importância da vitamina D deixou de ser reduzida ao
metabolismo do cálcio, e tem sido apontada na patogénese e evolução da DII. Nos doentes
recém-diagnosticados, é frequente a existência de défice de vitamina D. A normalização dos
níveis desta vitamina, associa-se a uma redução significativa do risco de DC e possivelmente
da CU (3,43,44).
Para além dos fatores supracitados existem outros com influência no desenvolvimento
da DII como: amamentação, tipo de parto, obesidade, atividade física, exposição a poluentes,
modificações no ciclo do sono, stress, humor deprimido, que parece estar associado ao risco de
DC, mas não com CU, o que pode corroborar que fatores psicológicos contribuem para o
desenvolvimento da DC. No entanto, alguns fatores apresentam dados pouco uniformes na
relação com o desenvolvimento da DII (3,21,45,46).
21
3.2.2.4 Sistema Imunitário
22
4 Doença de Crohn
4.1 Manifestações Clínicas
A DC caracteriza-se por um processo inflamatório crónico trasmural podendo afetar
qualquer porção do trato gastrointestinal, desde a cavidade oral até à zona perianal. As áreas
mais vulgarmente afetadas são o íleo e o cólon. Trata-se de uma patologia descontínua, pois
existem zonas de inflamação de distribuição irregular, com a presença das caraterísticas “skip-
lesions” (zonas de mucosa normal intercaladas com zonas inflamadas) (54,55,56). Os sintomas
podem ser insidiosos, heterogéneos, variam com a localização e gravidade da doença e alguns
doentes podem mesmo apresentar sintomas durante vários anos antes do diagnóstico. Os
sintomas principais relatados pelos doentes são a diarreia e a dor abdominal. Outros sintomas
relacionados incluem a anorexia, perda ponderal, fadiga, febre, anemia e hematoquezias.
A DC pode apresentar vários padrões: o padrão estenosante, o padrão penetrante
(fistuloso) ou o padrão inflamatório não estenosante e não penetrante (57). De acordo com a
localização da zona afetada variam as manifestações clínicas. A doença gastroduodenal pode
apresentar epigastrialgias, disfagia, náuseas e emese. Quando existe envolvimento íleo-cólon,
manifesta-se por perda de peso, diarreia crónica, febre ligeira, leucocitose e dor no flanco
inferior direito, mimetizando muitas fezes uma apendicite aguda. Se a zona afetada for a
jejunoileal está associada com uma má-absorção tendo como consequência défices nutricionais
e défices de minerais e proteínas, podendo resultar noutro tipo de complicações. Na doença
cólica, os sintomas podem ser parecidos com os da CU, existindo uma diarreia crónica com
sangue e muco e dor abdominal inferior. A DC tem complicações graves com a progressão da
doença como fístulas, abcessos e estenoses, que podem resultar numa oclusão intestinal
(55,57,58). Aproximadamente entre 4 e 16% dos casos de doença cólica vão apresentar
estenoses no cólon e desenvolver fístulas colo-entéricas, colo-duodenais e colo-gástricas com
necessidade de tratamento cirúrgico. Mulheres com DC, 10% desenvolvem fístulas retovaginais
e 33% dos doentes vão ter doença perianal como fístulas e abcessos, sendo esta por vezes a
primeira manifestação da patologia (56,57).
As manifestações extraintestinais da DC podem ocorrer em 43% dos doentes e incluem:
23
• Dermatológicas - eritema nodoso, psoríase, pioderma gangrenoso (mais comum na
CU)
• Perianais – abcessos, fístulas, fissuras, mariscas
• Articulares – artrite periférica, espondilite anquilosante, sacroileíte
• Ósseas - osteoporose, osteopenia, osteonecrose (verifica-se mais cabeça do fémur)
como resultado do uso dos corticosteróides
• Hepato-pancreato-biliar – colelitíase, pancreatite, esteatose hepática, colangite
esclerosante primária (CSP) (mais comum na CU). Devido à natureza progressiva da
CSP, pode ocorrer outras complicações, como cirrose hepática, hipertensão portal,
colangiocarcinoma e neoplasia maligna do cólon.
• Neoplasia maligna – existe na DC um risco acrescido de desenvolver neoplasia
coloretal e neoplasia do intestino delgado, relativamente à população em geral. Existe
também um risco ligeiramente acrescido de linfomas.
• Doenças tromboembólicas – existe um risco três vezes maior de sofrer uma embolia
pulmonar e uma trombose venosa profunda relativamente à população em geral.
• Doenças inflamatórias – pericardite, asma, bronquite, esclerose múltipla e artrite
reumatóide (56,57).
4.2 Diagnóstico
O diagnóstico da DC resulta de uma avaliação clínica (sintomas gastrointestinais e
extraintestinais), em combinação com testes bioquímicos, avaliação endoscópica, estudos
histológicos e imagiológicos. É necessário questionar o doente sobre diversos aspetos como, a
história familiar de DII, hábitos tabágicos, intolerâncias alimentares, medicação (toma
prolongada de antibióticos ou AINEs), viagens recentes e infeções gastrointestinais. No exame
físico, avaliar se existem sinais de desidratação, desnutrição, toxicidade sistémica, anemia e
má-absorção. Por rotina em doentes com DC, deve-se fazer um exame da região perianal, para
observar a presença de lesões cutâneas, lesões do canal anal e fístulas associadas a abcessos ou
não (8,59,60,61).
24
4.3 Classificação
A classificação de Montreal (2005) é usada a nível internacional para classificar
fenotipicamente a DC. Categoriza os doentes de acordo com a idade em que são diagnosticados,
com a localização da região anatómica afetada e com o padrão evolutivo da doença, sendo que
estas variáveis são importantes no prognóstico da doença (8,61). Estudos recentes apontam, que
em 35-45% dos casos, a zona afetada é o íleo terminal e o cólon proximal, 30% está restrita ao
intestino delgado (íleo terminal), 20 % está limitada ao cólon e menos de 5% na doença
gastroduodenal superior. O jejuno é raro estar afetado isoladamente (8,62).
Montreal
Idade de Diagnóstico (A) A1: Abaixo dos 16 anos
A2: Entre os 17 e os 40 anos
A3: Acima dos 40 anos
Localização da região anatómica L1: Íleo
afetada (L) L2: Cólon
L3: Íleo-Cólon
L4: Doença isolada do tubo digestivo
superior*
Padrão evolutivo da doença (B) B1: Não estenosante e não fistulizante
B2: Estenosante
B3: Fistulizante
p: Doença Perianal*
25
5 Colite Ulcerosa
5.1 Manifestações Clínicas
Na colite ulcerosa, ao contrário da DC, o processo inflamatório afeta apenas a mucosa
e submucosa, ou seja, não é transmural. Atinge essencialmente a região do cólon e do reto,
muitas vezes com uma demarcação abrupta de mucosa inflamada e não inflamada. O curso da
doença é marcado por períodos de remissão e exacerbação, cuja causa pode ser o tratamento
farmacológico, a não adesão à terapêutica ou patologias concomitantes. Um dos sintomas
característicos da CU é a presença de diarreia crónica com sangue e muco, que alerta o doente
e deste modo a CU tem tipicamente um diagnóstico mais precoce. Associado a este sintoma
inclui-se também as retorragias, tenesmo, urgência defecatória, incontinência fecal, defecações
noturnas, desconforto abdominal, sendo que a dor abdominal tende a ser menos marcante
relativamente à DC. Nas situações mais graves pode existir febre, astenia e anorexia
(7,57,61,63).
A CU pode classificar-se de acordo com a localização e extensão da doença em proctite,
colite esquerda e colite extensa (pancolite). A forma mais comum de CU é a proctite, uma
inflamação limitada ao reto, que cursa habitualmente com tenesmo, urgência defecatória,
retorragias e secreções muco-sanguinolentas. Até 10% dos doentes com proctite e colite
esquerda pode apresentar algum grau de obstipação paradoxal, pois o trânsito intestinal
proximal fica mais lento. A colite esquerda que se estende do cólon distal até ao ângulo
esplénico, habitualmente apresenta-se com dor abdominal, diarreia muco-sanguinolenta que
pode ser noturna e/ou pós-prandial. Na colite extensa, existe um atingimento de todo o cólon,
no qual a diarreia sanguinolenta e a dor abdominal nesta situação são mais proeminentes. Pode
ocorrer nestes casos de pancolite um quadro de megacólon tóxico, que pode evoluir para uma
perfuração intestinal e levar a uma peritonite (7,57,58,63).
As manifestações extraintestinais podem ocorrer em cerca de um terço dos doentes com
CU. A artrite periférica parece ser a manifestação extraintestinal mais comum, sendo a colangite
esclerosante primária e pioderma gangrenoso mais comuns na colite ulcerosa do que na doença
de Crohn. Sendo as restantes manifestações descritas anteriormente na DC mais raras na CU
(7,63).
26
Figura 3 – Extensão da doença na Colite Ulcerosa. Adaptado de (63).
5.2 Diagnóstico
O diagnóstico da CU, tal como acontece na DC, resulta da avaliação clínica (sintomas
gastrointestinais e extraintestinais), em combinação com elementos analíticos, avaliação
endoscópica, estudos histológicos e imagiológicos. Uma história clínica completa é necessária
da mesma forma que na DC. Relativamente à avaliação endoscópica, a colonoscopia com
ileoscopia e realização de biópsias em várias zonas do intestino (incluindo íleo terminal e reto)
são os métodos preferenciais para diagnosticar e avaliar a gravidade da doença. No caso de uma
agudização grave deve realizar-se um raio-X abdominal e confirmar a presença da doença ativa
através de sigmoidoscopia como método de primeira linha. Clostridium difficile é um
importante precipitante de crises e está associado a um risco acrescido de cirurgia e mortalidade,
pelo que deve ser avaliado aquando do diagnóstico e exacerbações. Para além de confirmar e
diagnosticar com precisão a CU, também é importante definir a extensão e a gravidade da
inflamação, para direcionar o doente para o tratamento mais adequado e prever um prognóstico
(7,57,63,64).
5.3 Classificação
27
Tabela 2 – Classificação de Montreal da Colite Ulcerosa. Adaptado de (65).
28
Figura 4 - Modelo da pirâmide terapêutica como abordagem no tratamento da DII.
O fármaco mais antigo deste grupo é a sulfassalazina que é constituída pela sulfapiridina
ligada ao 5-ASA por uma ligação azo. Esta ligação previne a absorção a nível do estômago ou
intestino delgado e os seus componentes só são libertados na parte distal do intestino delgado
e no cólon, devido às bactérias residentes que clivam a ligação azo pela enzima azoredutase,
libertando o 5-ASA ativo. Embora inativa terapeuticamente, a sulfapiridina pode causar efeitos
adversos nos doentes a tomar sulfassalazina. Alguns dos efeitos são dependentes da dose
(cefaleias, fadiga e náuseas), que podem ser diminuídos quando o fármaco é tomado às
29
refeições. Pode também ocorrer reações alérgicas como erupção cutânea, febre, hepatite,
síndroma de Stevens-Johnson, anemia hemolítica e supressão medular. Para preservar o efeito
terapêutico da messalazina (5-ASA) sem que ocorram efeitos adversos da sulfapiridina, vários
compostos de segunda geração foram desenvolvidos: os pró-fármacos, onde estão incluídos a
balsalazida e a olsalazina e os compostos de messalazina revestidos sensíveis ao pH e de
libertação modificada (66,68).
Os 5-ASA têm várias formulações farmacêuticas, em que para além da via oral no caso
de doença extensa, existe também terapêutica tópica na forma de enemas, supositórios e
espumas, quando a doença é distal. A associação destas vias pode potenciar o aumento da
eficácia do tratamento (67).
Os fármacos 5-ASA induzem e mantêm a remissão na CU e são considerados os
fármacos de primeira linha no tratamento da CU ativa ligeira a moderada. A eficácia na DC é
menos contundente, apesar de alguns estudos demonstrarem, no máximo, benefícios
moderados. Porém muitos médicos utilizam os fármacos 5-ASA como terapêutica de primeira
linha para a doença ligeira a moderada que afete o cólon ou o íleo distal (56,63,66).
Os compostos de segunda geração supracitados, diferentemente da sulfassalazina, são
bem tolerados e na maioria dos estudos clínicos, a frequência de eventos adversos assemelha-
se ao que é observado com o placebo. Por motivos ainda não esclarecidos, a olsalazina pode
estimular a ocorrência de diarreia secretora em 10% dos doentes e não deve ser confundida com
DII ativa. Podem ocorrer reações de hipersensibilidade com todos os aminossalicilatos, porém
menos comuns do que com a sulfassalazina. Está descrito que tratamentos com altas doses de
aminossalicilatos, pode causar lesão tubular renal e em casos raros nefrite intersticial (66,69).
6.1.2 Corticosteróides
Os corticosteróides constituem uma das melhores opções terapêuticas da DII ativa
moderada a grave, induzindo a remissão das exacerbações agudas e promovendo um rápido
alívio sintomático. Estes interagem com os seus recetores nucleares, e desta interação ocorre a
supressão da inflamação. Alguns dos efeitos são a inibição do recrutamento e proliferação de
células imunitárias, a inibição da expressão de moléculas de adesão no tecido inflamado e a
regulação negativa da produção de citocinas inflamatórias e do fator NFkB (66,67).
Os corticosteróides são eficazes para induzir a remissão tanto na CU como na DC, mas
devem ser evitados na terapêutica de manutenção. O tratamento prolongado (tipicamente
superior a doze semanas) está associado a efeitos secundários severos e irreversíveis. Entre
30
estes destacam-se alterações eletrolíticas, osteoporose, osteonecrose, úlceras pépticas,
cataratas, disfunções endócrinas, suscetibilidade superior a infeções e distúrbios psiquiátricos.
Para além disso, alguns doentes tornam-se dependentes e outros refratários aos corticosteróides.
O uso a longo termo também não evita complicações nem a progressão da doença (66,70).
6.1.3 Imunomodeladores
Os imunomodeladores, são fármacos imunossupressores que são utilizados na DII como
modificadores imunológicos para reduzir o processo inflamatório (82). Associados a outros
fármacos ou isoladamente podem ser a melhor opção terapêutica em certas situações, como as
seguintes: ineficácia ou parcial eficácia dos aminossalicilatos, dos corticosteróides e dos
antibióticos; após indução da remissão com corticosteróides e para manter essa remissão,
permitindo retirar os corticosteróides, principalmente nos casos de dependência dos mesmos;
podem ser utilizados para o tratamento primário de fístulas; prevenção de recidivas da doença
após cirurgia e as tiopurinas e o metotrexato podem ser utilizados em terapia concomitante com
os biológicos, para aumentar a sua eficácia e reduzir a formação de anticorpos antifármacos
(72,73).
Os imunomodeladores incluem a azatioprina (AZA), a 6-mercaptopurina (6-MP), o
metotrexato (MTX), a ciclosporina A(CSA) e o tracolimus (TAC).
As tiopurinas são um grupo terapêutico de imunossupressores, que inclui a 6-
mercaptopurina (6-MP) e a azatioprina (AZA), que demonstraram eficácia no tratamento da
DII, pois suprimem o sistema imunitário inibindo o processo inflamatório. Estes fármacos,
possuem um metabolismo complexo, ainda não completamente compreendido, mas pensa-se
que a ação terapêutica resulte da inibição da síntese do DNA, RNA e proteínas, da inibição da
proliferação celular e da ação bloqueadora da estimulação dos linfócitos T (66,83,84).
A azatioprina é um pró-fármaco que é convertido em 6-mercaptopurina, que depois de
metabolizado resulta, entre outros, no metabolito 6-tioguanina (6-TG), a molécula ativa com
31
ação terapêutica. As tiopurinas são eficazes para a manutenção da remissão da CU e da DC,
porém a resposta clínica pode demorar semanas ou meses, pelo que, numa fase inicial são
associados a outros fármacos com um início de ação mais rápido, como os corticosteróides ou
um fármaco biológico (82,84,85).
As tiopurinas podem causar mielotoxicidade, com neutropenia ou pancitopenia,
hepatoxicidade e nefrotoxicidade, pelo que, parâmetros bioquímicos devem ser monitorizados
regularmente. Outros efeitos adversos incluem: cefaleias, febre, erupções cutâneas, intolerância
gastrointestinal, hepatite, pancreatite e suscetibilidade aumentada a infeções. As tiopurinas
devem ser usadas com precaução em jovens (com idade <35 anos) e em pessoas mais velhas
que apresentam risco aumentado de desenvolver neoplasias malignas nomeadamente linfomas.
Apesar destes efeitos adversos graves decorrentes da utilização das tiopurinas, os benefícios
parecem justificar o risco (66,84,85).
O metotrexato (MTX) é um análogo estrutural do ácido fólico que inibe
competitivamente a ligação do ácido dihidrofólico à dihidrofolato redutase, inibindo a síntese
de purinas e pirimidinas. Aumenta a adenosina celular reduzindo a acumulação de leucócitos,
a síntese de TNF-α e a atividade das células T. O metotrexato é uma alternativa terapêutica às
tiopurinas e apresenta um início de ação mais rápido. A via de administração do MTX deve ser
preferencialmente parentérica, pois a via oral associa-se a variabilidades na absorção e à
redução dos níveis de fármaco (66,85).
As indicações para a sua utilização são as mesmas que para as tiopurinas, no entanto,
ele é geralmente reservado para o tratamento da DC refratária a outros tratamentos ou quando
os doentes não toleram outros imunomodeladores. Contudo, estudos recentes evidenciam que
o MTX não é eficaz como terapia de indução ou manutenção na CU (75). Os principais efeitos
adversos incluem: náuseas, emese, diarreia, estomatite, alopécia, mielotoxicidade, pneumonite
e hepatotoxicidade. A administração concomitante de ácido fólico reduz a incidência das
reações adversas (66,84). Devido à sua teratogenicidade, o tratamento com MTX está
contraindicado na gravidez, sendo recomendável um intervalo de alguns meses, entre a
suspensão da terapêutica e a conceção (86).
Ciclosporina A e o tacrolimus, são inibidores da calcineurina e constituem outro tipo de
imunomoduladores, utilizados em situações especiais. Suprimem a produção de citocinas pró-
inflamatórias, como a IL-2, TNF-α e IFN-γ, inibindo os linfócitos T e deste modo, o
desenvolvimento do processo inflamatório (66,84,85). A CsA é sobretudo utilizada na CU
severa, refratária à corticoterapia. Nestes doentes, é administrada por via intravenosa, para se
conseguir um controlo rápido da doença, minimizando a necessidade de uma colectomia (87).
32
Não existem ainda evidências científicas que comprovem a sua eficácia no tratamento da DC.
O tacrolimus é um imunomodelador mais potente do que a CsA na inibição da resposta
inflamatória, e pode ser usado na CU refratária e na DC perianal fistulizante. Os efeitos
adversos associados ao tracolimus são iguais aos da ciclosporina e incluem nefrotoxicidade,
neurotoxicidade, hepatite, hipertensão, hipercolesterolemia e aumento do risco de infeções
(83,87).
33
necessárias para atingir esse controlo. Assim, outra possibilidade de restaurar a homeostasia
intestinal é por meio dos probióticos (88).
Os probióticos são microrganismos vivos não patogénicos administrados para melhorar
o equilíbrio microbiano intestinal, através de vários mecanismos, incluindo a redução do pH
intestinal, a diminuição da colonização e invasão por organismos patogénicos e modificação da
resposta imunitária do hospedeiro. Neste grupo inclui-se a levedura Saccharomyces boulardii
ou bactérias de ácido láctico, como Lactobacillus e Bifidobacterium (74).
O efeito potencial dos probióticos no tratamento da DII não está totalmente esclarecido,
mas alguns estudos mostraram que a associação de várias estirpes de probióticos, como o VSL
# 3, induziram a remissão em pacientes com CU ativa ligeira a moderada (74). De acordo com
a ECCO, o probiótico E. coli Nissle é o único efetivo na manutenção da remissão na CU. A
utilização de probióticos não é consensual para ser utilizada de forma prolongada na DC (74).
Embora os probióticos, de um modo geral sejam bem tolerados, alguns efeitos adversos,
principalmente distensão abdominal e flatulência, podem ocorrer. Os estudos publicados ainda
são escassos, para perceber qual o probiótico ideal, a dosagem ideal, e quais os doentes que
efetivamente beneficiam com o seu uso, pelo que, não devem ser tomados de forma
generalizada (74).
34
Os fármacos biológicos mais utilizados incluem os inibidores do TNF-α (Infliximab,
Adalimumab, Golimumab, Certolizumab pegol), os inibidores das interleucinas
(Ustekinumab) e os antagonistas das integrinas (Vedolizumab, Natalizumab) (85).
No que concerne, à terapêutica biológica da DII do adulto, a DGS refere que “na Europa
em geral e em Portugal, em particular, estão autorizados dois tipos de anticorpo anti-TNF na
doença Inflamatória Intestinal: (1) o Infliximab, anticorpo monoclonal IgG1, quimérico, de
administração intravenosa, administrado às 0,2 e 6 semanas para impregnação e de 8-8 semanas
para manutenção, na dose de 5 mg/Kg; (2) o Adalimumab, anticorpo monoclonal IgG1,
completamente humano, de administração subcutânea, administrado em fase de impregnação
nas doses de 160, 80 e 40 mg de 2-2 semanas e posteriormente, de 40 mg de 2-2 semanas para
manutenção” (92).
35
7 Plantas Medicinais
7.1 Plantas medicinais em Portugal
No mundo ocidental, principalmente nas últimas décadas, tem-se assistido a um
renovado interesse pelas plantas medicinais na prevenção e tratamento de algumas patologias.
Como acontece com os medicamentos convencionais, espera-se que os medicamentos à base
de plantas também sejam seguros, eficazes e com qualidade adequada. No entanto, os
regulamentos sobre produtos fitoquímicos variam de país para país, e estes produtos não
existem apenas na forma de medicamentos, mas também como produtos com uma
regulamentação menos rígida, como os suplementos alimentares. Assim, nem sempre é fácil
para os consumidores, diferenciar os produtos de alta qualidade dos de baixa qualidade, pelo
que novos aspetos legislativos têm sido elaborados (94,95).
As plantas medicinais definem-se como toda a planta em que um ou mais dos seus
órgãos, contêm substâncias que podem ser utilizadas para fins terapêuticos ou que são
precursoras para a síntese de fármacos (96).
36
Os medicamentos à base de plantas, são comercializados em Portugal como
Medicamentos não Sujeitos a Receita Médica (MNSRM), pelo que, devem ser produzidos para
não necessitarem de vigilância médica. Assim, devem ser administrados exclusivamente de
acordo com uma dosagem e posologia especificadas; possam ser administrados por uma ou
mais vias (oral, externa ou inalatória); sejam comprovadamente não nocivos quando utilizados
nas condições especificadas, de acordo com a informação existente e reputada suficiente e
possam demonstrar, de acordo com informação existente e reputada suficiente, efeitos
farmacológicos ou de eficácia plausível, tendo em conta a utilização e a experiência de longa
data (98).
37
preparações tradicionais à base de plantas tem aumentado, numa altura em que os custos com
a saúde são muitos elevados e com uma constante política de austeridade nos vários países
(94,99).
De forma a superar essas limitações da terapêutica atual, houve uma necessidade clínica
de identificar fármacos eficazes e simultaneamente seguros, e recentemente vários fitoquímicos
38
demonstraram resultados promissores. Esses fitoquímicos induzem um amplo espectro de
atividade, como a redução do stress oxidativo, a supressão da inflamação e proliferação celular,
modulação de várias vias de transdução de sinal e indução da apoptose. O grupo dos
fitoquímicos com propriedades anti-inflamatórias incluem os terpenóides, polifenóis,
compostos organossulfúricos, fitoesteróis, alcalóides, entre outros. São compostos bioativos
não nutritivos, presentes em plantas (folhas, flores, frutos), vegetais e grãos. Pesquisas
adicionais usando estudos clínicos em humanos são necessárias para confirmar os efeitos
benéficos destes compostos com ação na DII (103).
39
Figura 5 - Estrutura química dos principais compostos de Andrographis paniculata (106).
40
doentes que tomavam concomitantemente messalazina. Porém, são necessários mais estudos
para avaliar a segurança e eficácia da A. paniculata no tratamento da CU (108).
Devido à falta de estudos adequados, os requisitos para um uso bem estabelecido não
podem ser realizados. Não existe uma preparação monocompetente à base de A. paniculata,
para a qual 15 anos de uso medicinal na UE, possa ser confirmada a partir da literatura ou com
base na visão geral do status regulamentar, de acordo com a informação disponível. A.
paniculata não tem nenhuma monografia oficial na UE. Porém, a andrographis herba que
consiste, nas partes aéreas secas da planta é descrita numa monografia da OMS (2004), no qual
é possível verificar a existência de várias formas de administração, como o medicamento bruto,
cápsulas ou comprimidos. Na DII, a diarreia é um sintoma característico, sendo que a posologia
descrita neste caso, é uma decocção de 3-9 g de medicamento bruto em dose única, conforme
necessário ou dois comprimidos de 500 mg quatro vezes ao dia, após as refeições e ao deitar.
Os produtos que contêm A. paniculata foram considerados seguros durante os estudos clínicos
em adultos. A segurança não foi avaliada em crianças e durante a gravidez e lactação (130).
41
com 10 pessoas. Foram administrados durante 6 semanas 750 mg de pó seco de A. absinthium
três vezes ao dia ou placebo. Durante este período, tomaram concomitantemente a mesma
dosagem de messalazina oral. O doseamento sérico de TNF-α foi feito no início e após 3 e 6
semanas. Ao fim das 6 semanas, o grupo administrado com A. absinthium apresentou uma
significativa redução na concentração de TNF-α de 24.5 pg/ml para 8 pg/ml, em comparação
com o grupo controlo que decresceu de 25.7 pg/ml para 22.1 pg/ml. O efeito benéfico induzido
pela A. absinthium foi associado a uma diminuição significativa dos níveis séricos de TNF-𝛼
em comparação com aqueles obtidos no grupo placebo. Este resultado, torna-se interessante
para investigar a A. absinthium em condições clínicas consideradas mediadas por um aumento
na produção de citocinas pró-inflamatórias, como o TNF-𝛼 (106,110).
Existem evidências de que haja principalmente duas substâncias ativas responsáveis pelo
efeito anti-inflamatório demonstrado por A. absinthium na DII. A cardamonina, que reduz a
libertação de óxido nítrico (NO), a expressão de iNOS e a atividade de sinalização de NFκB,
juntamente com a redução da libertação de TNF-α em linhagens celulares de macrófagos. O
flavonóide, p7F (tetrametoxi-hidroxiflavona), é outra substância com potenciais efeitos anti-
inflamatórios e antioxidantes, que suprimiu os níveis séricos de TNF-α e inibiu a ativação do
NFκB in vivo. A artemisina e o seu metabolito artesunato, presente em A. absinthium, embora
em quantidades muito reduzidas, também pode contribuir para os resultados obtidos nesta
planta (110,111).
42
Figura 6 - Estrutura química dos principais compostos de Artemisia absinthium (106).
Tradicionalmente é utilizada como chá para uso oral, após proceder à trituração da planta.
Na monografia disponibilizada pela EMA, as preparações de Artemisia absinthium são obtidas
por secagem e trituração ou pulverização das folhas, pela expressão do suco das folhas ou pela
formação de um extrato líquido. O Herbal Medicinal Products Committee (HPMC) concluiu
que, com base no seu uso de longa data, estas preparações podem ser utilizadas para a perda
temporária de apetite e transtornos gastrointestinais. Estes medicamentos só devem ser usados
em adultos. No momento da avaliação do HPMC, não foram relatados efeitos colaterais. Não
devem ser tomados por doentes que são hipersensíveis ao absinto e a outras plantas da família
Asteraceae e também não devem ser tomados por doentes com obstrução das vias biliares, com
colangite ou doença hepática (131).
43
Os principais compostos ativos são o ácido β-bosvélico (β-BA), o ácido 11-ceto-β-
bosvélico (KBA) e o ácido acetil-11-ceto-β-bosvélico (AKBA), que se pensa que contribuam
amplamente para as suas atividades farmacológicas. Estudos in vitro demostraram que estes
compostos diminuíram a formação de leucotrienos, bloqueando a via da 5-lipoxigenase, o que
pode ser responsável pelo seu efeito benéfico, pois os leucotrienos estão envolvidos na
patogénese da DII. Da mesma forma, os ácidos bosvélicos parecem inibir diferentes vias
celulares, incluindo a ativação do fator de transcrição NF𝜅B, que induz a expressão e ativação
de citocinas pró-inflamatórias como TNF𝛼, IL-1𝛽 e IL-6, que são determinantes para o
desenvolvimento e manutenção da inflamação intestinal. Foi demonstrado também, que
extratos de B. serrata diminuíram o stress oxidativo decorrente da inflamação intestinal, pois
reduziram a peroxidação lipídica e simultaneamente aumentaram os níveis de superóxido
dismutase (SOD) (106,111).
44
sulfassalazina (3 g por dia dividido em 3 doses) durante 6 semanas. Nos 20 doentes tratados
com goma-resina B. serrata, 18 doentes melhoraram alguns parâmetros estudados, como as
propriedades das fezes, estudos histopatológicos, observação de biópsias da mucosa do reto
através da microscopia eletrónica de varrimento, bem como, a melhoria de parâmetros
sanguíneos (hemoglobina, ferro sérico, cálcio, fósforo, proteínas, leucócitos totais e
eosinófilos). No grupo dos doentes tratados com sulfassalazina, 6 de 10 doentes mostraram os
mesmos resultados nos mesmos parâmetros. A remissão da doença foi alcançada em 14 de 20
pacientes que tomaram B. serrata, em comparação com 4 de 10 que receberam sulfassalazina
(104,114,115,116).
Holtmeier et al., realizou um estudo com o objetivo de avaliar a eficácia e segurança da
terapia de longo prazo com um novo extrato de B. serrata na manutenção da remissão em
doentes com DC. Neste estudo randomizado, duplamente-cego, controlado por placebo e
multicêntrico, foram tratados 42 doentes com o extrato Boswelan (800 mg três vezes por dia,
após as refeições, para aumentar a biodisponibilidade do ácido bosvélico) e 40 doentes tratados
com placebo, durante 52 semanas. Após 12 meses, não houve diferença significativa em relação
à manutenção da remissão, tempo de recidiva ou gravidade dos sintomas. Os eventos adversos
foram semelhantes em ambos os grupos, nenhum dos quais foi considerado de magnitude grave
(117,118).
O ensaio confirmou a boa tolerabilidade de um novo extrato de B. serrata (Boswelan)
até 52 semanas de tratamento. No entanto, a superioridade deste em relação ao placebo na
terapia de manutenção da remissão na DC não pôde ser demonstrada. Porém, existem
evidências científicas de que os ácidos bosvélicos têm ações biológicas a nível celular e
molecular, sugerindo que B. serrata pode ser eficaz no tratamento da doença inflamatória
intestinal, pois o efeito é comparável ao tratamento convencional. No entanto, são necessários
ensaios clínicos ampliados com preparações padronizadas e estabelecimento de dosagens
adequadas (117).
O Committee for Orphan Medicinal Products (COMP) em 2002, deu um parecer
favorável a um pedido de designação de medicamento órfão, com base na atividade potencial,
do extrato de resina de B. serrata para o tratamento do edema peritumoral derivado de tumores
cerebrais. É um extrato que pode inibir a produção de leucotrienos, pois estes parecem
contribuir para o edema peritumoral no cérebro. No momento da apresentação do pedido da
designação de medicamento órfão, os glucocorticóides foram autorizados, por serem úteis no
tratamento a longo prazo, mas podiam induzir efeitos colaterais graves, sendo que o extrato
45
poderia oferecer um perfil de segurança melhor. Em 2006, o medicamento foi retirado do
Registo Comunitário de medicamentos órfãos, a pedido do promotor (132).
46
pode prevenir essa resposta inflamatória. Esta inibição é de particular importância e é
considerada um suposto alvo para intervir na DII, uma vez que a indução por diversas vias de
sinalização é fundamental na patogénese da doença. Na DII a indução pode ocorrer por meio
da ativação da isoforma do recetor Toll-like 4, sendo que os níveis do recetor Toll-like 4 e do
NFkB no tecido inflamado são suprimidos de forma significativa pelo tratamento com
curcumina na colite experimental. Além disso, após a administração de curcumina na colite
experimental, ocorre alteração na modulação da resposta imunitária com redução da produção
de citocinas pró-inflamatórias, como TNF𝛼, IL-1𝛽, IL-12 ou IFN𝛾 e aumento da expressão de
citocinas anti-inflamatórias (106).
Num estudo piloto, Holt et al., descreveu o uso da curcumina em doentes com proctite
ulcerosa e DC com o objetivo de avaliar os potenciais benefícios. Cinco doentes com proctite
ulcerosa receberam 550 mg de curcumina, duas vezes por dia durante um mês e, posteriormente,
550 mg três vezes por dia durante o mês seguinte. Todos os doentes apresentaram melhoria dos
parâmetros clínicos, laboratoriais e endoscópicos, com uma redução da terapêutica
concomitante (corticosteróides e imunossupressores) em quatro doentes. Os cinco doentes com
DC foram tratados com 360 mg de curcumina três vezes por dia, durante um mês e depois com
360 mg quatro vezes ao dia, durante os dois meses seguintes. Dos cinco doentes com DC, quatro
tiveram uma diminuição da atividade da doença (118, 121).
Num estudo randomizado, duplamente cego e multicêntrico de Hanai et al., avaliou a
eficácia da curcumina como terapia de manutenção em doentes com CU em remissão. Quarenta
e cinco doentes receberam 2 g de curcumina por dia, concomitantemente com sulfassalazina ou
messalazina e quarenta e quatro doentes receberam placebo juntamente com sulfassalazina ou
messalazina, durante 6 meses. As taxas de recidiva foram significativamente menores no grupo
da curcumina em comparação com o grupo placebo. Contudo, no final do acompanhamento, 6
meses após o final do estudo, a diferença deixou de ser estatisticamente significativa (121).
Outro estudo piloto, randomizado, duplamente cego foi realizado por Singla et al., em
doentes com CU distal ligeira a moderada. Foram administrados a quarenta e cinco doentes um
enema de preparação de curcumina padronizado (NCB‐02) juntamente com 5‐ASA oral ou
enema placebo com 5‐ASA oral. Cada enema de NCB-02 continha 140 mg de preparação de
NCB-02 dissolvidos em 20 ml de água. Foi observada uma resposta clínica e endoscópica com
remissão da doença no grupo tratado com curcumina em comparação com o grupo placebo.
Este estudo evidencia de que o uso do enema de curcumina (NCB-02) pode melhorar a CU
distal ligeira a moderada (121).
47
Lang et al., investigou a eficácia da curcumina na indução da remissão em doentes com
CU ativa ligeira a moderada. Realizaram um estudo multicêntrico, randomizado, duplamente
cego e controlado por placebo, no qual 50 doentes com CU ligeira a moderada ativa, foram
tratados com messalazina. Os doentes foram divididos aleatoriamente em grupos e foram
tratados com 3 g por dia de curcumina ou placebo, durante um mês, juntamente com a
messalazina. Observou-se uma resposta clínica com remissão da doença na quarta semana,
sendo estatisticamente significativa no grupo tratado com curcumina em comparação com o
placebo. O tratamento adjuvante com messalazina e curcumina produziu melhores resultados
em comparação com a combinação de placebo e messalazina, na indução da remissão clínica e
endoscópica. Não foram descritos efeitos adversos relevantes neste estudo. A curcumina ou
enema de curcumina podem ser usados com segurança e melhorar os resultados do tratamento
de doentes com DII. Contudo, ensaios clínicos com períodos de estudo mais extensos e com
um maior número de participantes são necessários para conclusões mais precisas (121).
A avaliação de C. longa pelo HMPC, apenas considerou as preparações obtidas por
secagem, pulverização ou trituração do caule ou o material vegetal que é colocado num solvente
para dissolver os compostos e formar um extrato líquido. O solvente pode ser evaporado para
obter um extrato seco. As preparações de C. longa são geralmente na forma de chá para beber
e nas formas sólidas e líquidas para tomar por via oral. As conclusões do HPMC sobre a
utilização destes medicamentos de curcuma longa para o alívio de problemas digestivos ligeiros
baseia-se no seu uso de longa data. Isto significa que, embora não haja evidência suficiente dos
ensaios clínicos, a eficácia destes medicamentos é plausível e há evidências de que têm sido
usados com segurança desta forma há pelo menos 30 anos, incluindo pelo menos 15 anos na
UE. Além disso, o uso pretendido não requer supervisão médica. O uso em crianças não foi
estabelecido em consequência da falta de dados adequados. Devido à possível estimulação da
secreção biliar C. longa não é recomendada em caso de obstrução do ducto biliar, colangite,
doença hepática, cálculos biliares e quaisquer outras doenças biliares (133).
Aloe vera (L.) Burm. f. pertence à família Xanthorrhoeaceae. É uma planta tropical
amplamente utilizada na medicina tradicional de vários países, para diversas condições,
principalmente dermatológicas e gastrenterológicas. Em terapêutica, utiliza-se o gel da Aloe
vera, que corresponde ao suco viscoso do parênquima mucilaginoso que está no interior das
48
folhas, sendo extraído após a eliminação dos tecidos mais externos, ricos em derivados
antraquinónicos. O gel contém vários compostos ativos, como mananas acetiladas,
polimananas, antronas, cromonas e C-glicosídeos antraquinónicos. Contém, ainda, lectinas,
aminoácidos, enzimas, sais minerais e taninos. Este gel contém mais de 70 compostos ativos
com propriedades antioxidantes, anti-inflamatórias, antivirais, antibacterianas,
antienvelhecimento, antidiabéticas e cicatrizantes (95,122).
A atividade anti-inflamatória e antioxidante atribuída à Aloe vera tem sido usada
empiricamente no tratamento da CU. Estes efeitos relacionam-se com as propriedades
imunomodeladoras do gel. Um estudo no qual foi induzida colite em ratos, usando dextrano
sultato e sódio (DSS), o gel produziu uma diminuição da inflamação da mucosa cólica,
relacionada com uma regulação negativa dos mediadores inflamatórios. Foi relatado neste
estudo, que o composto ativo do gel como a aloesina tem um papel essencial no controlo da
inflamação intestinal, pois é um forte inibidor do leucotrieno B4 (LTB4) que pode ativar e
recrutar células inflamatórias na mucosa lesada. A aloína e a emodina também contribuíram
para a inibição da progressão da doença, pois reduziram a atividade da mieloperoxidase (MPO),
uma enzima que está envolvida na atividade dos neutrófilos. Estes compostos também
reduziram significativamente a expressão de citocinas pró-inflamatórias, como TNF-𝛼 e IL-1𝛽.
Porém, o mecanismo de ação da aloesina permanece não esclarecido. Sabe-se que ocorre um
bloqueio da ativação da via do NF𝜅B, inibindo a expressão de genes pró-inflamatórios como o
TNF-𝛼 (106).
49
O valor clínico do gel de Aloe vera, no tratamento da CU ligeira a moderada foi avaliado
por Langmead et al., através de um estudo randomizado, duplamente cego e controlado por
placebo. Trinta doentes foram tratados com 100 ml de gel A. vera por via oral e 14 tomaram
100 ml de placebo, duas vezes por dia, durante quatro semanas. A remissão clínica ocorreu em
9 (30%), a melhoria em 11 (37%), e a resposta clínica em 14 (47%) dos doentes tratados com
A. vera comparativamente com 1 (7%), 1 (7%) e 2 (14%), respetivamente, nos doentes tratados
com placebo. A resposta clínica foi superior no grupo tratado com A. vera, mas não
significativa. Os efeitos adversos no grupo tratado com o gel foram: distensão abdominal, dor
nos pés, dor de garganta, edema do tornozelo, acne e eczema. Estes eventos foram de pouca
gravidade e não claramente associados ao tratamento. O gel de A. vera parece ser eficaz em
alguma proporção de doentes com CU ativa. Porém, mais estudos são necessários utilizando
diferentes doses e num maior número de doentes (106,111,118,123).
As preparações à base desta planta de acordo com o HPMC, apenas abrangem as obtidas
ao cortar a folha perto da base para permitir que o suco escorra. Este suco seco é colocado em
água para dissolver os compostos e formar um extrato líquido. A água é evaporada para se obter
um extrato seco. As preparações de aloés estão geralmente disponíveis na forma sólida e líquida
para serem tomadas por via oral.
A monografia disponibilizada pela EMA não contempla o seu uso na DII. Apenas vem
estabelecido o seu uso na terapia de curto prazo da obstipação ocasional. Os medicamentos de
A. vera só devem ser usados por adultos e em crianças com idade superior a 12 anos e não
devem ser tomados por mais de uma semana. Estas conclusões baseiam-se na existência de
dados bibliográficos que fornecem evidência da sua eficácia e segurança quando utilizadas
desta forma, abrangendo um período de pelo menos 10 anos na UE (134).
A espécie Cannabis sativa L. é uma planta anual que pertence à família Cannabaceae.
É nativa do Centro e do Oeste da Ásia, mas tem uma distribuição geral subespontânea, ou seja,
desenvolve-se com facilidade fora do seu ambiente comum, sendo atualmente encontrada em
várias partes do mundo. Esta planta tem várias designações comuns, como cânhamo, a resina é
conhecida por haxixe e a parte fumada é geralmente denominada marijuana ou liamba. Na
50
Europa, com exceção da Holanda, tanto as sumidades floridas da Cannabis sativa como a
resina, o seu uso está proibido, devido aos seus efeitos psicoativos (95,111).
Apesar de ser universalmente conhecida pela sua finalidade recreativa, é também usada
para certas condições médicas, embora o seu uso ainda seja controverso. Há evidências da
eficácia da terapêutica da cannabis em várias condições clínicas, incluindo o tratamento da dor
crónica em doenças oncológicas, emese induzida por quimioterapia, espasticidade em doentes
com esclerose múltipla e na anorexia em doentes infetados com VIH (111).
51
Figura 10 – Estrutura química dos principais constituintes de Cannabis sativa (106).
O primeiro relato do uso da cannabis na DC em humanos foi descrito por Naftali et al.,
que realizou um estudo observacional retrospetivo, para avaliar a atividade da doença, o uso de
medicamentos, a necessidade de cirurgia e a hospitalização antes e depois do uso da cannabis
em 30 doentes com DC. Dos 30 doentes, 21 melhoraram significativamente após o tratamento
com cannabis e foi reduzida a necessidade de outro medicamento. Quinze dos doentes foram
sujeitos a 19 cirurgias durante um período médio de 9 anos antes do uso de cannabis, mas
durante um período médio de 3 anos de uso de cannabis só 2 doentes necessitaram de cirurgia.
Os dados de segurança deste estudo não foram descritos (124,126).
O mesmo grupo de estudo, realizou um ensaio clínico randomizado prospetivo para
determinar se a cannabis induzia a remissão em doentes com DC, em 21 doentes com resposta
refratária aos corticosteróides, imunomodeladores e inibidores do TNF-α. Os doentes foram
divididos aleatoriamente em grupos que receberam cannabis, duas vezes por dia, na forma de
cigarros contendo 115 mg de THC ou placebo contendo flores de cannabis das quais o THC foi
extraído. A atividade da doença e os testes laboratoriais foram avaliados durante 8 semanas de
tratamento e 2 semanas depois. A remissão clínica completa foi alcançada em 45% do grupo
de cannabis e 10% do grupo placebo (P = 0,43), no entanto, sem significado estatístico. Os
doentes tratados com cannabis, 90% demonstraram uma resposta clínica e 25% interromperam
a terapia com corticosteróides. O uso de cannabis foi associado a melhorias significativas, no
apetite, na dor e no sono, mas não demonstrou melhorias nos marcadores bioquímicos, como a
proteína C reativa (PCR). Não se observaram diferenças nos efeitos adversos entre os grupos
(124,127).
Um estudo mais recente realizado por Naftali et al., investigou o CBD oral em 19
doentes com DC refratários à terapia convencional (corticosteróides, tiopurinas ou inibidores
do TNF-𝛼) e foram randomizados para receber 10 mg de CBD oral ou placebo duas vezes por
dia, durante 8 semanas. A atividade da doença e os parâmetros laboratoriais foram avaliados
52
durante o estudo e 2 semanas depois. O CBD foi seguro, mas não teve efeitos benéficos. Este
estudo piloto introduziu o uso de uma formulação oral de cannabis como uma opção terapêutica
na DII. Mais estudos são necessários com diferentes dosagens e maior número de doentes para
avaliar a eficácia na DC (124,128).
Assim, a cannabis pode melhorar os sintomas clínicos, mas não demonstrou evidência
na melhoria da atividade da doença. Grandes estudos prospetivos, randomizados, controlados
com preparações padronizadas de cannabis e um acompanhamento de longo prazo são
necessários para avaliar a eficácia da cannabis na DII.
53
9 Conclusão
A DII é uma doença com grande relevância e expressão a nível mundial, com uma
incidência e prevalência crescente, nomeadamente nos países desenvolvidos. Da revisão teórica
realizada ressalta-se uma etiopatogenia multifatorial impulsionada por alterações imunológicas,
suscetibilidade genética, influência de fatores ambientais e pelo desequilíbrio do microbioma
intestinal. O tratamento convencional da DII envolve o uso aminossalicilatos, corticosteróides,
imunomodeladores e fármacos biológicos, com o objetivo de controlar e diminuir o processo
inflamatório, eliminar sintomas e alcançar a remissão da doença. No entanto, as terapias atuais
não são eficazes em todos os doentes e frequentemente têm efeitos colaterais graves. Assim, o
uso da medicina complementar e alternativa está a aumentar, nomeadamente, a fitoterapia.
Embora os medicamentos à base de plantas não sejam amplamente reconhecidos pelos clínicos,
provavelmente no futuro serão de uso mais comum, devido a uma maior disponibilidade de
acesso e com evidências mais consistentes para um uso seguro e eficaz.
54
No futuro, a realização de novos ensaios clínicos, abrangendo um número superior de
participantes é fundamental, para demonstrar a viabilidade da fitoterapia na prática clínica, que
de forma isolada ou em combinação com a terapia convencional possa ser mais uma via para o
tratamento dos doentes com DII.
55
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