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Trânsitos e margens nas cartas a

Murilo Miranda
Mônica Gomes da Silva1

Resumo
Na correspondência do jornalista Murilo Miranda, editor da Re-
vista Acadêmica, é possível conhecer aspectos do trabalho de
escritores que se propuseram a criar e difundir a moderna lite-
ratura brasileira, exercendo, também, as funções de crítica lite-
rária, editoração e tradução, entre as décadas de 1930 e 1940. Nas
cartas a Murilo, registram-se os trânsitos culturais de Luís Mar-
tins, Lídia Besouchet e Newton Freitas. A partir de margens, físi-
cas ou figurativas, esses autores evidenciam as disputas simbó-
licas do cenário literário daquele momento e que, depois, repon-
taram na consolidação de um repertório crítico sobre o Moder-
nismo. Assim, o artigo propõe a leitura e análise dessas cartas,
com destaque para as questões concernentes à inserção e à cir-
culação das obras dos escritores selecionados. Para a fundamen-
tação teórica, recorrem-se aos estudos de Antonio Candido
(2011), Lívia Rangel (2016), Luiz Lafetá (2000) e Sérgio Miceli (1979).
Destaca-se, por fim, a importância da Revista Acadêmica como
espaço de uma crítica estética (LAFETÁ, 2000) e de projeção da
literatura modernista, cuja dinâmica se revela nas cartas a Murilo
Miranda.
Palavras-chave: Cartas. Crítica literária. Literatura modernista.
Murilo Miranda. Revista Acadêmica.

Abstract
In the letters received by the journalist Murilo Miranda, editor of
the Revista Acadêmica (Academic Magazine), one can get to
know some aspects of the work of writers who set out to shape
and spread the modern Brazilian literature, also producing liter-
ary criticism, publishing, and translating in the decades of 1930
and 1940. The letters sent to Miranda also refer to the cultural
transits of Luís Martins, Lídia Besouchet, and Newton Freitas. By
means of actual or figurative images, those writers evince the
symbolic disputes in the literary scene, which, later on, emerged
Revista de in the consolidation of a critical repertoire about Modernism.
Crítica Genética Thus, this article proposes reading and analysis of these letters,
ISSN 2596-2477 highlighting issues concerning the insertion and circulation of
the works by the authors studied herein. The theoretical back-
N. 50 • 2023 ground of this article comprises the studies of Antonio Candido

Submetido:
18/05/2023
1 Doutora em Estudos Literários pela Universidade Federal Fluminense. Prof.ª Adj. de
Aceito: Literatura Brasileira na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. Participante
11/09/2023 e líder do Grupo de Pesquisa e Extensão LEIA (Leitura, Escrita, Identidade e Artes)
voltado para o estudo e a promoção da leitura literária. Desenvolve pesquisas na
área de literatura brasileira, literatura comparada e correspondência literária. E-
mail: mgs@ufrb.edu.br.
(2011), Lívia Rangel (2016), Luiz Lafetá (2000) and Sérgio Miceli
(1979) In conclusion, this article highlights the relevance of the
Revista Acadêmica as a suitable environment for aesthetic criti-
cism (Lafetá, 2000), and projection of the Modernist Literature,
whose dynamics is disclosed in the letters sent to Murilo Mi-
randa.
Keywords: Letters. Literary criticism. Modern Literature. Murilo Mi-
randa. Revista Acadêmica.
Manuscrítica n. 50 – 2023 Ateliê

Introdução
Em Noturno da Lapa, Luís Caetano Martins (1907-1981) recorda o grupo acadêmico
e boêmio que frequentava o bairro central do Rio de Janeiro na década de 1930.
Presente na variada galeria intelectual revivida pelo escritor carioca, “Lá está Mu-
rilo Miranda, o bom, o fiel, o dedicado Murilo, homem que tem o culto da amizade
e que, neste particular, será sempre o mesmo, através dos anos [...] tem um ar
juvenil e malicioso de garoto que está a arquitetar uma travessura...”.2

A descrição do jovem Murilo Miranda (1912-1971) ressalta qualidades que o trans-


formaram num dos mais profícuos e diligentes editores entre os anos de 1930 e
1940. Estando à frente da Revista Acadêmica (1933-1948), junto com Lúcio do Nas-
cimento Rangel (1914-1979) e Moacir Werneck de Castro (1915-2010), o jornalista
carioca se notabilizou pelo arrojo em promover a arte moderna no Brasil, quando
persistiam fortes resistências às artes plásticas e literaturas de linhas modernistas,
aliado a uma dedicação fraterna aos colaboradores do periódico, mesmo nas re-
fregas do campo literário ou no auge da repressão do Estado Novo (1937-1945).

Desse modo, percorrer a correspondência passiva de Murilo, permite delinear um


rico painel da vida literária e cultural durante o “‘boom’ do mercado do livro” 3 e a
consequente profissionalização do escritor brasileiro. Atualmente, grande parte
das cartas destinadas ao editor da Revista Acadêmica está no “Acervo Murilo Mi-
randa” na Fundação Casa de Rui Barbosa (FCRB).4 As missivas abrangem desde a
sua atuação à frente da Revista Acadêmica até os demais cargos desempenhados
após o fim do periódico. Encontram-se reunidas cartas referentes ao trabalho no
Serviço de Alimentação da Previdência Social (SAPS), à chefia do Teatro Municipal
do Rio de Janeiro, quando foi diretor por duas vezes (1956-1957 e 1965-1967), ao
mandato de vereador do Rio de Janeiro (1959-1962), à direção da Rádio Ministério
da Educação e da Cultura e Rádio Roquete Pinto (1961-1964) e à direção do Serviço
de Documentação do Ministério de Transportes (1968-1971).

No que tange às cartas que compreendem a publicação da Revista Acadêmica,


existem duzentos e sete documentos relativos a oitenta e cinco remetentes. São
cartas, predominantemente, em português, mas há, também, textos em espa-
nhol, inglês e francês, comprovando o alcance da revista em outros países. Desta-
cam-se entre os missivistas, um expressivo grupo de escritores de diferentes pon-
tos do Brasil, além daqueles oriundos do antigo Distrito Federal e que, eventual-
mente, frequentavam as sedes que abrigaram a redação da revista. Verifica-se, na

2 MARTINS, Luís. Noturno da Lapa. 3. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2004, p. 121.
3 MICELI, Sérgio. Intelectuais e classe dirigente no Brasil (1920-1945). São Paulo, Rio de Janeiro:
Difel, 1979, p. 78.
4 Foram identificados outros documentos do autor e de seus correspondentes nos seguintes
acervos: Centro de Documentação e Pesquisa (CEDOC – FUNARTE); Centro de Pesquisa e
Documentação de História Contemporânea do Brasil — Fundação Getúlio Vargas (CPDOC-FGV,
Arquivo Gustavo Capanema); Fundação da Biblioteca Nacional (FBN — Coleção Murilo Miranda);
Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo (IEB-USP — Acervo Mário de
Andrade) e Instituto Moreira Sales (Arquivo/Coleção: Érico Veríssimo).

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correspondência, a amplitude da rede intelectual articulada por Murilo Miranda


que inclui intelectuais da Bahia, Ceará, Espírito Santo, Minas Gerais, São Paulo, Rio
de Janeiro, Rio Grande do Norte e Rio Grande do Sul.

Através das cartas, emergem os trânsitos desses escritores em torno do eixo edi-
torial formado pelos estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul,
quando as três unidades federativas chegaram a concentrar 61% das editoras.5
Rastreiam-se, portanto, os contatos e os deslocamentos dos colaboradores da Re-
vista Acadêmica que delineiam uma cartografia literária e editorial. Por outro
lado, nota-se uma parcela de escritores que se situou, geografica ou figurativa-
mente, às margens desses centros culturais hegemônicos; seja pela distância fí-
sica, no caso dos exilados em decorrência da política repressiva do Estado Novo,
seja pela distância simbólica, no caso dos autores cuja produção não encontrava
uma repercussão crítica favorável.

De acordo com o levantamento realizado no “Acervo Murilo Miranda”, voltamos


nossa atenção para as cartas dos autores que, não obstante a relevância para a
criação e promoção da literatura modernista e duma crítica consonante à moder-
nidade literária, foram obliterados e/ou recebem pouco destaque nos estudos so-
bre a literatura das décadas de 1930 e 1940. Longe de estabelecer uma causalidade
direta, cogitamos se essa presença discreta não está configurada nas tensões que
transparecem nas cartas, em que o peso dos juízos sobre esses autores contribuiu
para estipular contornos/apagamentos para a publicação e leitura das suas obras.

Destarte, o recorte contempla as cartas que problematizam esse afastamento,


como o já mencionado Luís Martins e o casal de escritores Lídia Besouchet (1908-
1997) e Newton Freitas (1909-1996). Encontram-se, no “Acervo Murilo Miranda”, o
total de treze cartas de Luís Martins ao editor da Revista Acadêmica. Em contra-
partida, no “Acervo Luís Martins” da FCRB, são preservados dez documentos da
troca epistolar entre os dois jornalistas, com a cópia de duas cartas de Luís Martins
e oito cartas de Murilo; totalizando, portanto, vinte e três cartas. Quanto aos de-
mais correspondentes, há um volume mais restrito: uma carta de Lídia Besouchet
e duas de Newton Freitas a Murilo. Apesar da desproporção nos totais das corres-
pondências, acreditamos que seja possível uma leitura comparativa das cartas,
tendo em vista os trânsitos e as margens vivenciados pelos artistas durante o pe-
ríodo de publicação da Revista Acadêmica.

Para contemplar os objetivos propostos, o artigo se divide em mais duas seções.


A segunda seção apresenta o trânsito desses escritores e os trabalhos que passam
a desempenhar em razão dos deslocamentos realizados. A terceira seção se con-
centra na discussão crítica presente nas cartas a respeito das margens crítico-li-
terárias que os missivistas estão situados. Para tanto, a fundamentação teórica é
composta pelos estudos de Antonio Candido (2011), Daniel Rincon Caires (2018),
Luiz Lafetá (2000), Lívia Rangel (2016) e Sérgio Miceli (1979). Fazem parte da base
consultada os exemplares da Revista Acadêmica pertencentes à Coleção Plínio
Doyle da FCRB e as memórias de Luís Martins (2004) sobre o grupo boêmio da
Lapa de 1930 e 1940.

5 MICELI, ibidem, p. 84.

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Por fim, nas cartas a Murilo Miranda, retomamos os aspectos do trabalho desses
intelectuais, seus percursos e ações para a participação na cena literária. Ressalta-
se, por conseguinte, o papel mediador de Murilo Miranda que, nas páginas da Re-
vista Acadêmica, franqueia um espaço para a produção crítico-literária desses es-
critores, ensaiando dispositivos interpretativos que façam frente à modernidade
literária, realizando uma crítica estética.6

Desvios, trânsitos e paradas nas cartas a Murilo Miranda


Os dias, os meses, os anos passaram, a vida aos poucos se refez; [...] a injustiça de
que fora vítima passou a entrar no rol das coisas peremptas, tão distanciada da
memória dos homens que, agora mesmo, ao evocá-la, parece-me estar a revolver
ossos de cadáveres antigos num cemitério de velharias.7

O ano de 1937 marca o recrudescimento da repressão do governo de Getúlio Var-


gas (1882-1954), quando é instaurado o Estado Novo. Intensificam-se a censura e
as prisões de vários intelectuais sob a acusação de atividade comunista. A dita-
dura varguista criou uma espécie de índex de obras “subversivas”, ou seja, aquelas
que eram acusadas pelos censores de participação/propagação do “cosmopoli-
tismo bolchevique”. No Brasil, a exemplo do que acontecia nos governos totalitá-
rios da Europa, repudia-se uma suposta “aliança do movimento comunista inter-
nacional com a arte moderna” 8.

Como consequência, livros foram proibidos, recolhidos e destruídos; vários escri-


tores foram enviados para as prisões. A extinta Colônia Penal de Dois Rios, em Ilha
Grande no Rio de Janeiro, foi o destino de intelectuais como Graciliano Ramos
(1892-1953) e Newton Freitas. Os escritores, independente do grau de engaja-
mento político, eram mandados para a cadeia, sejam os militantes dos partidos
políticos de esquerda, sejam aqueles cujas obras estavam ao largo da ideologia
estado-novista.

Entretanto, as ambiguidades e as contradições permeavam as ações do governo


que chegou a ser patrono de obras de modernistas como Cândido Portinari (1903-
1962) e Heitor Villa-Lobos (1887-1959). Sobre o cabo de força que se instala entre
governo e intelectuais, Antonio Candido pondera que

este processo foi cheio de paradoxos, inclusive porque o intelec-


tual e o artista foram intensamente cooptados pelos governos

6 LAFETÁ, Luiz. 1930: a crítica e o Modernismo. São Paulo: Duas Cidades; Ed. 34, 2000, p. 37.
7 MARTINS, op. cit., p. 32.
8 CAIRES, Daniel Rincon. A estética nacionalista de Carlos Maul. Encontro Anpuh, História e
Democracia, precisamos falar sobre isso. Guarulhos, UNIFESP-SP, 3 a 8 de setembro de 2018,
p. 8. Disponível em:
<https://www.encontro2018.sp.anpuh.org/resources/anais/8/1530363519_ARQUIVO_Aesteticana
cionalistadeCarlosMaul-r.pdf>.

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posteriores a 1930, devido ao grande aumento das atividades es-


tatais e às exigências de uma crescente racionalização burocrá-
tica. Nem sempre foi fácil a colaboração sem submissão de um
grupo intelectual que se radicalizava, com um Estado de cunho
cada vez mais autoritário. Resultaram tensões e acomodações,
com incremento da divisão de papéis no mesmo indivíduo. [...] A
sua margem de oposição vem da elasticidade maior ou menor do
sistema dominante, que os pode tolerar sem que eles deixem com
isto de exercer a sua função corrosiva.9

Assim, no âmbito das tensões entre Estado e intelectuais, fossem estes “declara-
damente de esquerda” ou meros “simpatizantes” dotados de “uma atitude de
análise e crítica em face do que se chamava incansavelmente a ‘realidade brasi-
leira’” 10, houve um considerável movimento de punição aos potenciais divergen-
tes do sistema. Dentre eles, Luís Martins, Lídia Besouchet e Newton Freitas sofre-
ram os reveses daquela onda repressora. A atmosfera de “radicalização” 11 era for-
mada por uma aguda tomada de consciência que culminaria numa acirrada po-
larização política e religiosa.

Desse modo, a violência ditatorial é um dos eixos da incursão memorialista de Luís


Martins. Em Noturno da Lapa, o jornalista recorda os fatos que determinaram a
rotação radical numa trajetória que se apresentava bem-sucedida e coloca em
perspectiva a gravidade dos acontecimentos daqueles dias. Se “a poeira do tempo
cobriu tudo [...] a memória do insignificante episódio” 12; a lembrança das denún-
cias que levaram à censura do romance Lapa (1936) e as perseguições políticas
pela conduta “comunista” causavam emoção passados vinte e sete anos.

No esforço de evocar a “Montmartre carioca”, o autor relativiza o impacto dos


acontecimentos e faz um balanço de perdas e ganhos, reatando as pontas da vida
entre o rapaz efusivo e o escritor nostálgico da aventura lapiana. Nesse mundo
redivivo, circulam Murilo Miranda e Newton Freitas, parte da “ópera” literária e
boêmia daqueles anos e que seriam, em maior ou menor medida, atingidos pela
ditatura estado-novista.

No caso de Luís, a denúncia do escritor petropolitano Carlos Maul (1889-1973), crí-


tico nacionalista da extrema-direita, foi o mote para o processo criminal contra o
escritor. O romance Lapa foi condenado por ser “imoral”, pois o linguajar e a te-
mática seriam “indecentes”, o “baixo calão” e a descrição da zona de meretrício
do Distrito Federal foram suficientes, numa teia de revanches e despeitos, para
incriminar o seu autor. Inicialmente, o ministro Gustavo Capanema, com base no
parecer favorável ao romance feito por Carlos Drummond de Andrade, rejeita as
acusações. Contudo, de forma insidiosa, o processo seguiu para a Chefatura de

9 CANDIDO, Antonio. A revolução de 1930 e a cultura. In: _____. A educação pela noite. 6. ed. Rio
de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2011, p. 236.
10 CANDIDO, ibidem, p. 229.
11 Ibidem.
12 MARTINS, op. cit., p. 32.

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Polícia que era comandada pelo Capitão Filinto Strubing Müller (1900-1973), notó-
rio chefe da repressão do governo Vargas.

A partir desse momento, a situação se complica para Luís que se afasta, momen-
taneamente, do Rio de Janeiro. Embalde, pois o jornalista é exonerado da chefia
do serviço de imprensa do Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Comerciários
(IAPC) e tem um mandado de prisão decretado, se tornando procurado pela Co-
missão de Repressão ao Comunismo.

Ao início de 1938, muda-se, definitivamente, para São Paulo, fixando-se na fa-


zenda de Santa Teresa do Alto, em Jundiaí, de propriedade de Tarsila do Amaral
(1886-1973), então companheira do jornalista. Dentro do espírito contraditório do
tempo, mais adiante, o escritor ocuparia um cargo de inspetor federal do ensino
secundário em São Paulo: “Assim, aquele mesmo governo, que em janeiro me
mandava prender como elemento subversivo, em março aceitava-me como hu-
milde peça na engrenagem de sua máquina administrativa... Entenda-se!” 13. O
exílio paulista vai se prolongando e Luís voltaria ao Rio de Janeiro, alguns anos
depois, em viagens esporádicas, nas quais acompanha o ocaso da atmosfera de
sortilégio da Lapa e a ascensão de Copacabana como reduto boêmio.

Se há um sabor agridoce na aceitação dos rumos tomados em função das “torpi-


dades” da ditadura e de seus colaboradores, na correspondência de Luís Martins
a Murilo Miranda encontramos um testemunho mais imediato e menos contem-
porizador das consequências advindas desse deslocamento forçado. Surpreende-
mos, nas cartas, um relato mais rico sobre a sua vida com Tarsila, o que não apa-
rece no livro de memórias escrito sob a influência da separação traumática após
uma união de dezoito anos. Corrobora-se a importância da artista em sua vida e o
empenho de Luís em aprender e expandir seu ofício: “Ela o apresentou à pintura
moderna e ele fez de si mesmo um importante crítico de arte”.14

Acompanhamos, na correspondência, o ir e vir dos missivistas entre as duas capi-


tais e o envio de colaborações para a Revista Acadêmica. Com exceção de uma
missiva, postada do Rio de Janeiro em dezembro de 1944, as cartas de Luís Martins
são remetidas da fazenda de Tarsila ou da cidade de São Paulo. Elas dão conta dos
novos projetos literários, o silêncio que vai pesar sobre a sua obra por parte da
crítica no Distrito Federal e o trabalho para se projetar como jornalista em terras
paulistas. Murilo escreve do Rio de Janeiro, reporta uma viagem a São Paulo para
promover a Revista Acadêmica e encontrar Luís e Tarsila, organiza uma homena-
gem à Tarsila num dos números temáticos do periódico e pede auxílio ao casal
para seu empreendimento de maior envergadura, o “Clube do Livro”, uma coleção
pertencente à editora da revista. A correspondência inicia-se em 1940, pouco
tempo após a mudança para São Paulo, e termina em 1953, quando Luís estava
recém-casado com Anna Maria Martins (1924-2020), grávida da filha do casal, Ana
Luísa Martins (1953).

13 Ibidem.
14 CASTRO, Ruy. Apresentação. In: MARTINS, Luís. Lapa. 2. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2004,
p. 31.

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Assim como Luís Martins, Lídia Besouchet e Newton Freitas tiveram as suas traje-
tórias alteradas pelo governo Vargas. Se Luís foi um dos tantos escritores “que
manifestavam a [...] ‘consciência social’”,15 um boêmio que foi prejudicado por uma
“reportagem” sobre a prostituição na Lapa, o casal possuía um engajamento mais
fervoroso e sofreu severas consequências em razão disso.

O arco dos acontecimentos que precipitaram o exílio de Newton e Lídia coincide


com o cerco a Luís Martins e nos reportam as diferentes dimensões do crescente
endurecimento da polícia política do governo Vargas, entre 1935 até o início do
Estado Novo. Em 20 de fevereiro de 1936, ano de publicação de Lapa, Newton Frei-
tas é preso e Lídia Besouchet entra para a clandestinidade.

Embora ambos tivessem se posicionado contrários ao Levante Armado de 1935,


um dos principais motivos deflagradores da leva de prisões que, em 1936, encheu
os cárceres do regime de presos políticos, a filiação de Newton ao Partido Comu-
nista do Brasil (PCB) e a participação na Aliança Nacional Libertadora (ANL) foram
fatores decisivos. Newton Freitas esteve à frente de uma das sessões da ANL, a do
Diretório do Distrito Federal, e Lídia Besouchet foi uma das principais ativistas e
porta-vozes da União Feminina do Brasil (UFB). Tanto ele, quanto Lídia integraram
as caravanas da ANL promovidas em prol da luta revolucionária, conforme histo-
riciza Lídia Rangel16 a partir da recuperação e da análise da documentação sobre
a militância de ambos.

Newton Freitas foi prisioneiro por pouco mais de um ano. A pena foi cumprida na
Casa de Correção e na Colônia Correcional de Dois Rios. É realizada uma campa-
nha pela Associação Brasileira de Imprensa (ABI) que conseguiu a liberdade do
jornalista em 19 de março de 1937. No entanto, a censura não arrefeceu e a peça
teatral de autoria de Newton Freitas, O genial Rebouças, encenada pela Compa-
nhia Álvaro Moreyra e Eugênia Álvaro Moreyra é proibida e retirada de cartaz, logo
após a estreia em agosto de 1937.

O alerta soa para os dois escritores, os quais estavam sob a vigilância do mesmo
Capitão Filinto Müller, e decidiram se mudar para o Rio Grande do Sul, quando
houve uma breve oposição estadual ao governo Vargas. No estado gaúcho se or-
ganizaram para deixar o país, o que aconteceria em janeiro de 1938. O primeiro
destino é a cidade de Montevidéu e a parada seguinte é “cidade-pampa”, isto é
Buenos Aires, um ponto de convergência de exilados políticos latino-americanos
e europeus. Newton Freitas entra na capital portenha, em 18 de fevereiro de 1938,
e tenta estabelecer redes de contato e de trabalho. É importante ressaltar que as
relações com o PCB estavam esgarçadas, pois Lídia Besouchet havia sido expulsa
do partido pela ligação com a dissidência trotskista e Newton Freitas havia rom-
pido com o partido assim que pisou em terras uruguaias. Em julho de 1938,

15 CANDIDO, op. cit., p. 229.


16 RANGEL, Lívia de Azevedo Silveira. Lídia Besouchet e Newton Freitas: mediações políticas e
intelectuais entre o Brasil e o Rio da Prata (1938-1950). 2016. 282 f. Faculdade de Filosofia, Letras
e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2016.

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quando Lídia, finalmente, chega a Buenos Aires, o isolamento dos dois era agra-
vado pela ruptura com o PCB, que os colocaram numa situação de marginalidade
entre os exilados.

Se Luís Martins precisou de um largo afastamento temporal para trazer a lume os


fatos daqueles anos, os escassos registros autobiográficos publicados por Newton
Freitas não foram reeditados17 e os demais textos pessoais encontram-se arquiva-
dos no Fundo dedicado ao escritor no Instituto de Estudos Brasileiros (IEB). O es-
critor se propôs a denunciar a degradação das viagens e a permanência nos pre-
sídios do Estado Novo através do romance Porão, mas a iniciativa não vai à frente,
apesar dos anúncios na imprensa. Lídia, por sua vez, elaborou um romance auto-
biográfico que permaneceu inédito. Segundo os registros remanescentes, os ori-
ginais foram destruídos pela escritora. Sobre o interdito que caiu sobre o livro Ci-
dade-Pampa, Lívia Rangel tece considerações indicando as marcas profundas da
experiência exílica de Lídia Besouchet:

Acredita-se, por exemplo, que há na sequência de seus gestos: es-


crever, submeter à apreciação de seus pares e desistir da narra-
tiva, uma forte questão simbólica. A decisão por apagar os rastros
de sua memória do exílio sugere que Lídia escreveu, em primeiro
lugar, ainda que de forma inconsciente, para lidar com uma situ-
ação traumática, com rupturas mal digeridas e com os sentimen-
tos estranhos advindos do isolamento da pátria, da família e dos
amigos.18

Lívia Rangel se detém no protagonismo de Lídia e Newton como mediadores cul-


turais durante os doze anos de permanência em Buenos Aires e na potência cria-
tiva despertada — entre dores e descobertas — quando “se tornaram efetiva-
mente escritores no exílio”19. Assim, atravessado o interregno mais desafiador, Lí-
dia e Newton se projetaram no cenário jornalístico e editorial bonaerenses e con-
quistam cargos ligados à representação oficial do Brasil na Argentina. Newton
ocupou um cargo Serviço de Imprensa da Embaixada do Brasil e Lídia passou a
trabalhar para o Escritório de Propaganda e Expansão Comercial do Brasil em Bu-
enos Aires vinculado ao Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio.

Não obstante a nova condição, o casal continuou sendo vigiado pela ditadura do
Estado Novo e tinha a correspondência espionada.20 Em 1940, eles ensaiam uma
breve incursão pelo Brasil — Newton em junho, Lídia em novembro — e percebem
um ambiente conflagrado. Em 1945, fazem nova viagem como o último alento po-
lítico de Newton. Até 1947, Newton faz breves retornos por conta da articulação

17 Os relatos “Porão” e “Colônia” referentes à experiência carcerária permaneceram nas páginas


do extinto jornal O Dia (SP). Os textos foram publicados entre junho e julho de 1937, um período,
imediatamente, posterior à libertação de Newton Freire. Uma versão em espanhol foi publicada
no jornal uruguaio Justicia em outubro de 1937 (“La Bodega: impressiones de la cárcel”).
18 RANGEL, ibidem, p. 143.
19 Ibidem, p. 166.
20 Ibidem, p. 202.

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que resultou na criação do Partido Socialista Brasileiro (PSB). Em 1950, partem da


Argentina para novas terras estrangeiras até 1981, quando voltam, definitiva-
mente, para o Brasil.

Desse intenso percurso do casal, podemos captar, na correspondência remanes-


cente com Murilo Miranda, justamente, os primeiros momentos do exílio ainda
recoberto de dúvidas, desencontros e dificuldades, quando Lídia e Newton orga-
nizam a antologia Diez escritores de Brasil (1939) e a recém-adquirida estabilidade
laboral em Buenos Aires.

Ao comparar os deslocamentos dos correspondentes de Murilo Miranda, entre-


veem-se as semelhanças das trajetórias desviadas pela violência política que mar-
cou aquele período. Obrigados a abandonarem a cidade do Rio de Janeiro, princi-
pal foco repressivo, Luís vê recair o silêncio sobre a sua literatura da Lapa e Lídia e
Newton precisam abdicar do ativismo de esquerda. Contudo, a necessidade de
ressignificar vidas e carreiras profissionais, nos novos destinos, revelou-se um pro-
cesso potente e criativo. Desse modo, as cartas a Murilo são uma “terceira mar-
gem”, uma espécie entre-lugar para esses exilados, uma fresta entre a terra de
partida e a terra de chegada, no árduo, mas estimulante exercício de transforma-
ção de si.

A “terceira margem”: literatura e crítica nas cartas a Murilo


Miranda
No começo de minha permanência em São Paulo, eu procurava parecer-me, de
certa forma, com o carioca da Lapa que fora anos antes. Tanto que, ainda em 1952,
o poeta Domingos Carvalho da Silva observava: “Não sei por que Luís Martins não
é um grande escritor. Sei que ele escreve bem, e muito. É cronista. Poeta. Crítico
de arte. Ficcionista. Talvez, no entanto, o prejudique uma virtude rara, a de amigo
extravasante e conversador-mestre!” (A outra causa apontada por Domingos era
minha incapacidade de fazer política literária...).21

Em Noturno da Lapa ecoam reverberações bandeirianas — para além do título da


obra — quando Luís Martins retoma o “temps jadis”, refletindo sobre “A vida in-
teira que podia ter sido e não foi”. Embora seja grato à terra paulista, onde se firma
como profissional da imprensa e constitui família, reside, nas memórias, certa me-
lancolia resultante duma ruptura abrupta com a vida pregressa e que deixou, em
suspenso, predições e virtuais oportunidades. O escritor, cujo romance de estreia
granjeia boa recepção, sendo colocado ao lado de prosadores como Graciliano Ra-
mos e Jorge Amado, de repente, vê a obra ser banida e o segundo romance, A
terra come tudo (1937), “morre[r] de morte natural, quase no ovo, antes que se
pudesse avaliar suas qualidades”.22

21 MARTINS, op. cit., p. 275.


22 CASTRO, op. cit., p. 30.

Trânsitos e margens nas cartas a Murilo Miranda 90


Manuscrítica n. 50 – 2023 Ateliê

Na correspondência com Murilo Miranda, percebe-se o intento em reatar os fios


partidos da sua produção pela censura e a súbita mudança do Rio de Janeiro. Para
Luís, Murilo é um interlocutor fiel e que ajuda a romper o silêncio do banimento
literário que o missivista reclama, ironicamente, de ter sido lançado sobre si. A
“política literária” e a sua incapacidade para fazê-la aparecem mais nuançadas,
ora dotadas de humor, ora marcadas pela decepção, do que nas memórias. O con-
traponto entre as “praças” de publicação, isto é, as diferenças para publicar entre
Rio e São Paulo estão entre as preocupações de quem precisa de alternativas para
seguir produzindo. Pode ser feito, ademais, um histórico de colaborações do es-
critor para a Revista Acadêmica e a relevância que o periódico adquire nesta re-
tomada.

Murilo publicou, com regularidade na Revista Acadêmica, os textos do escritor,


sejam literários ou críticos, bem como abriu debates e divulgou comentários so-
bre as obras literárias de Luís. Assim, nos cinquenta e oito exemplares da Revista
Acadêmica pertencentes à Coleção Plínio Doyle,23 há textos de Luís em doze nú-
meros, a partir de agosto de 1939 (n. 45) até o último número da revista, em de-
zembro de 1948 (n. 70). A revista reservou, também, anúncios e comentários sobre
a obra de Luís Martins. Ela anuncia, entre as novidades literárias em janeiro de 1936
(n. 16), o romance Prostituição, que depois teria o título, por sugestão de Jorge
Amado, modificado para Lapa. Existem cinco textos, compreendendo notas, co-
mentários e cartas, contando com uma análise do romance Lapa, bem próximo
ao seu lançamento (n. 23, 11/1936), e algumas apreciações relativas ao romance Fa-
zenda (1941), entre fevereiro de 1939 (n. 42) até julho de 1947 (n. 68).

A troca epistolar entre Murilo e Luís, que foi preservada, inicia-se em 1940, quando
Murilo decide prestar homenagem à Tarsila do Amaral e pede que Luís seja o “fac-
tótum” para viabilizar o número. No retorno da viagem de Murilo à capital paulista,
ele comenta sobre uma possível segunda edição do romance Lapa que deveria
ganhar o subtítulo “do Rio” já “que esta aqui de S. Paulo evidente não dava para
um romance e é daqui que a gente sente melhor a outra. Não é bairrismo.” 24. A
percepção de que Luís estava adaptado ao novo ambiente é indicada de forma
provocativa: “Ou se é, está plenamente justificado porque a Lapa do Rio justifica
tudo, inclusive o romance de nosso caro amigo que, pelo jeito, está aderindo a S.
Paulo.”25

Luís, em 28 de agosto de 1940, responde ao pedido de Murilo e lamenta o desen-


contro de ambos em São Paulo, informando levar uma vida de menor agitação na
fazenda: “Lá é ótimo, há paisagem, há conforto, há material a colher e, principal-
mente, os burros não são bípedes... Inaugurei um campo de futebol e estreei na
posição de goal-keeper engolindo vagarosamente a primeira bola que foi para o

23 Não fazem parte da coleção os seguintes números: n. 21 (08/1936); n. 22 (09/1936); n. 24 (12/1936);


n. 25 (01/1937); n. 26 (03/1937); n. 30 (09/1937); n. 31 (10/1937); n. 33 (01/1938); n. 34 (04/1938); n. 43
(04/1939); n. 59 (01/1942) e n. 60 (05/1942).
24 MIRANDA, Murilo. [Correspondência Fundo Luís Martins, FCRB]. Destinatário: Luís Martins. Rio
de Janeiro, s.d. 1 carta datilografada.
25 Ibidem.

Trânsitos e margens nas cartas a Murilo Miranda 91


Manuscrítica n. 50 – 2023 Ateliê

arco...” 26. A partir daí a correspondência versa sobre a preparação do número da


Revista Acadêmica em homenagem à Tarsila que sai com data de setembro de
1940, apesar de existirem cartas falando da preparação na gráfica em outubro do
mesmo ano. Desde o pedido de colaborações, a concepção do número, a estraté-
gia editorial para que o número ganhe interesse do público são os assuntos das
cartas de Murilo que pede: “um retrato bem de artista de cinema, para o público
pensar que se trata de alguma nova estrela e comprar a Revista como se fosse um
órgão de Hollywood, como se fosse um órgão de Hollywood!”.27

Fig. 1. Revista Acadêmica, n. 51, setembro/1940.

Murilo dá conta dos contratempos que atrasavam a impressão, desde os proble-


mas com a tipografia, mas também as restrições decorrentes da Segunda Grande
Guerra Mundial que havia eclodido no ano anterior: “Se os tempos fossem outros
poderia fazer uma coisa melhor, quanto à parte gráfica. Mas a guerra fez do [anún-
cio] quase uma miragem. O asfalto está duro, irmão!” 28. Nas cartas de Luís, são
relatadas as viagens de amigos comuns, como Rubem Braga para São Paulo e os
préstimos de envio de material, as suas limitações em solicitar textos sobre Tarsila
em São Paulo e o anúncio uma nova fase da pintura de Tarsila que tem como
principal obra o Casamento caipira, cuja reprodução está na revista em homena-

26 MARTINS, Luís. [Correspondência Fundo Luís Martins, FCRB]. Destinatário: Murilo Miranda. São
Paulo, 28 ago. 1940. 1 carta datilografada.
27 MIRANDA, Murilo. [Correspondência Fundo Luís Martins, FCRB]. Destinatários: Luís Martins e
Tarsila do Amaral. Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, s.d. 1 carta datilografada.
28 MIRANDA, Murilo. [Correspondência Fundo Luís Martins, FCRB]. Destinatário: Luís Martins. Rio
de Janeiro, 01 out. 1940. 1 carta manuscrita.

Trânsitos e margens nas cartas a Murilo Miranda 92


Manuscrítica n. 50 – 2023 Ateliê

gem à pintora junto com um poema de Murilo. Neste número, é publicado o po-
ema “Ballade des dames du temps jadis” de Luís, num tom elegíaco sobre sua
extinta vida boêmia pela Lapa:

Vocês se lembram? Escapei da forca


E andava tristonho nas ruas da Lapa.
As madrugadas todas amargas
Deixavam nos olhos um tom de ressaca
E nós vivíamos nas madrugadas
Talvez procurando as neiges d’antan. [...]29

Murilo tece elogios ao texto e informa o projeto gráfico para “O seu poema, em
belo negrito, corpo 10, encima uma página externa, como se fôra u’a manchette,
como se fôra manchette! Gostei dele, como costumo gostar do poeta que você
é”.30 Sobre a publicação dos textos, é recorrente, na correspondência, o zelo de
Luís com as revisões dos textos enviados — uma das cartas com indicações erratas
é divulgada na revista (n. 57) a modo de desculpas — e a disposição de Murilo em
seguir as indicações e um tratamento especial no projeto gráfico da revista.

Reafirmam-se, em 1941, os laços de amizade entre os escritores e entra no foco da


correspondência a publicação do novo romance de Luís, Fazenda, o número em
homenagem a Carlos Drummond de Andrade, a representação informal da Re-
vista Acadêmica junto a Editora Martins – o “José Olympio daqui” — e se faz pre-
sente a atuação de Tarsila como crítica.

Nas cartas a Murilo, o romancista evidencia os efeitos que a repressão fez incidir
sobre suas obras, lançando uma sombra sobre sua divulgação, conforme já havia
indicado em cartas anteriores, na qual fala de um “boicote” crítico. Apesar de Luís
estar refazendo a carreira em São Paulo, há uma dificuldade em obter espaço, por
lá, para lançar o novo romance. Em carta de 2 de abril de 1941, o missivista agra-
dece a Murilo sua disposição em promover o livro: “creio que o Fazenda tem sido
muito menos criticado que o Lapa e mesmo do que A terra come tudo. Tem ha-
vido uma espécie de onda de silêncio contra ele, que só agora a sua generosa ati-
tude vai desfazer”.31

De fato, na Revista Acadêmica, o romance é tratado em quatro números. Um


pouco antes, em fevereiro de 1939 (n. 41), é noticiada a elaboração do romance
sobre a “decadência do café”. Em atendimento à carta de abril de 1941, o número
54 da Revista Acadêmica traz crítica de Ribeiro Couto sobre o Fazenda, junto com
retrato de Luís Martins pintado por Tarsila do Amaral. Em junho de 1941, a revista
(n. 55) reúne diversos comentários e análises sobre o livro na página de abertura

29 MARTINS, Luís. “Ballade des dames du temps jadis”. In: CASTRO, Moacir Werneck de, MIRANDA,
Murilo (Org.). Revista Acadêmica, n. 51, setembro/1940.
30 MIRANDA, Murilo. [Correspondência Fundo Luís Martins, FCRB]. Destinatário: Luís Martins. Rio
de Janeiro, s.d. 1 carta datilografada.
31 MARTINS, Luís. [Correspondência Murilo Miranda, FCRB]. Destinatário: Murilo Miranda. São
Paulo, 02 abril 1941. 1 carta datilografada.

Trânsitos e margens nas cartas a Murilo Miranda 93


Manuscrítica n. 50 – 2023 Ateliê

com notas de jornalistas e editores, alguns dos quais indicados na carta de Luís,
como Carlos Lacerda, Henrique Pongetti, Edgard Cavalheiro, entre outros.

No âmbito das discussões literárias da revista, um dos tópicos mais aprofundados


é sobre o “romance social” e a obra de Luís Martins integra o debate sobre o gê-
nero. Nesse sentido, a Revista Acadêmica aproxima-se da característica da nova
crítica literária em 1930 conforme indica Luiz Lafetá 32, quando se procura deixar
os estudos biográficos em prol de uma crítica estética que põe em questão “a
rotinização e o desenvolvimento do ideário modernista, sua diluição e as relações
que isso mantém com os problemas políticos e sociais do momento.”.

Assim, realiza-se uma enquete sobre os melhores romances brasileiros, são publi-
cados artigos sobre o gênero no Brasil, suas características formais e temáticas e
Fazenda é classificado como romance social, um “retrato” do interior paulista. Al-
guns anos após a primeira edição do romance, a polêmica de Carlos Lacerda sobre
o gênero faz com que o romance de Luís Martins retorne à revista. Em carta de 06
de julho de 1946, Luís Martins responde ao texto de Carlos Lacerda, “Destinação
social do romance brasileiro” em abril e novembro de 1945 (n. 65 e 66), no qual
afirma que, dentro da voga regionalista, não haveria um grande romance sobre a
cultura do café. Luís retoma as palavras de Lacerda, quando do lançamento de
Fazenda, e aponta a inconsistência da análise. Em julho de 1947 (n. 68), são repro-
duzidas, integralmente, a carta de Luís Martins sobre o texto de Lacerda e a pri-
meira impressão registrada pelo polemista, em particular.

Conforme visto, Luís não se omite e, pelas cartas a Murilo, há um diálogo cons-
tante sobre a recepção da sua obra. Por outro lado, o escritor se firma na atividade
de crítico e vemos um incremento das suas contribuições sobre literatura e artes
plásticas. Elas vão sobrepujar, em quantidade, os textos literários enviados para a
revista. Os artigos, notas e ensaios de Luís Martins tratam desde as personagens
femininas de Machado de Assis até a poesia de Jorge de Lima. As cartas dão a
conhecer o envio de textos para os números comemorativos de Lasar Segall e
Bruno Giorgi, mostrando, assim, o seu processo em se consolidar como crítico de
artes plásticas.

Em carta de 11 de junho de 1943, Luís se coloca ao lado de Murilo na reação contra


a campanha difamatória que Lasar Segall sofreu de um grupo de extrema-direita,
que tinha entre os seus integrantes o mesmo escritor que denunciaria o romance
Lapa, Carlos Maul. A exposição dedicada ao pintor, no Museu Nacional de Belas
Artes, foi hostilizada e a Revista Acadêmica, por seu turno, faz uma contraposição
ao reacionarismo produzindo estudos sobre a arte moderna e demonstrando as
qualidades de pintores como Lasar Segall e Cândido Portinari, outro artista alvo
de ofensivas semelhantes. Em São Paulo, Luís publicaria uma crônica sobre Lasar
Segall e enviaria nova colaboração para a Revista Acadêmica.

A correspondência se encerra cinco anos após o fim da Revista Acadêmica. Luís


se encontrava, plenamente, estabelecido em São Paulo e relata uma intensa ati-
vidade jornalística e editorial, assim, o escritor se vê como um “‘jongleur’ que atira

32 LAFETÁ, op. cit., p. 38.

Trânsitos e margens nas cartas a Murilo Miranda 94


Manuscrítica n. 50 – 2023 Ateliê

para o ar três ou quatro bolas ao mesmo tempo [...] além das 3 crônicas, acabei
uma antologia encomendada pelo Martins, fiz uma conferência sobre poesia na
Biblioteca e uma outra sobre pintura em Itu; julguei o prêmio Fábio Prado (en-
saio)”.33

De forma emblemática, a amizade entre Murilo e seus missivistas possui coinci-


dências que mostram o contexto e afinidades que os uniam. Assim, no mesmo
número da Revista Acadêmica que anuncia a estreia literária de Luís Martins está,
lado a lado, a nota sobre o livro O genial Rebouças de Newton Freitas. Ainda que
haja uma menor frequência de colaborações de/sobre Newton para a revista, sa-
lienta-se a atitude de resistência à censura ao Estado Novo por parte da redação
da revista. Assim, o escritor recém-saído do cárcere analisa o romance Angústia
de Graciliano Ramos (n. 27, 05/1937), que voltava da mesma experiência como pri-
sioneiro político. É divulgada, também, uma nota sobre “O Porão”, cuja publicação
era feita pelo jornal O Dia, e o projeto de que ele seja apresentado como livro (n.
29, agosto/1937).

Fig. 2. O Porão. Revista Acadêmica, n. 29, agosto/1937, [p. 8].

Passando para a correspondência entre Lídia Besouchet, Newton Freitas e Murilo


Miranda, as poucas cartas subsistentes testemunham fases importantes do exílio
do casal de jornalistas. Recuperam-se os primeiros anos de Lídia e Newton em
Buenos Aires e o trabalho para se inserir no mercado editorial bonaerense. A con-
dição de mediadores culturais, produzindo estudos sobre o Brasil e traduções de
literatura brasileira, possui uma função vital conforme nota Lívia Rangel, já que

No esforço para existir no exílio, contra o apagamento de suas


identidades, e ao mesmo tempo estimulados pela diversidade e
pelo contraste da paisagem, das pessoas e das ideias, Newton e

33 MARTINS, Luís. [Correspondência Murilo Miranda, FCRB]. Destinatário: Murilo Miranda. São
Paulo, 11 maio 1953. 1 carta datilografada.

Trânsitos e margens nas cartas a Murilo Miranda 95


Manuscrítica n. 50 – 2023 Ateliê

Lídia se apegaram aos temas que remetiam ao país de origem, à


nação, às “raízes” de um lugar de pertencimento, um pertenci-
mento interrompido, suspenso, irrecuperável em seu aspecto pri-
mordial, mas possível do ponto de vista da criação e da reflexão.34

Nesse sentido, as cartas funcionam como uma ponte para o Brasil, com a expres-
são da saudade e a reafirmação de laços fraternos e identitários. As cartas de New-
ton são datadas parcialmente, a primeira é de janeiro de 1940 e a segunda, pelos
dados internos, se situa entre 1945 e 1946. Assim como acontece com Luís, Murilo
ajuda a reduzir a sensação de isolamento experimentada pelos missivistas: “Final-
mente o Brasil me escreve. Alguém do Brasil. Graciliano, Rubem mesmo, Angione
Costa, ninguém me responde uma carta.” 35. A carta põe em cena os estranha-
mentos e as incompreensões que a falta de respostas e a distância ajudam a in-
tensificar.

Contudo, o receio de um desaparecimento se contrapõe à disponibilidade para o


envio e recebimento de trabalhos como retribuição à ajuda de Murilo em encami-
nhar as obras do escritor para que sejam avaliadas e divulgadas no Brasil: “Obri-
gado pela sua gentileza. Mande-me material e suas ordens. Estou disposto a tra-
balhar grátis para v. Pode também publicar — transcrever — os artigos que achar
convenientes”.36

A carta indica o interesse que a obra de Jorge de Lima despertava na Argentina, o


poema “Essa nega Fulô” é selecionado para compor uma antologia de poetas sul-
americanos para uma publicação italiana. Newton se propõe a escrever sobre o
poeta alagoano e pede outras obras para que possa traduzir e divulgar no país
platino. Ele comenta a recepção positiva do livro Diez escritores de Brasil, organi-
zado em parceria com Lídia Besouchet, e a intenção de produzir uma segunda
edição.

Reaparece o tema do silêncio que a censura impôs aos que foram, forçosamente,
obrigados a abandonar seu lugar de origem: “Felizmente a crítica argentina, chi-
lena, paraguaia está nos tratando bem. Do Brasil nada espero. A ditadura literária
reina. Sinto-lhe os efeitos daqui: Que importa! [...] Estou tão longe...” 37. Na carta,
Newton se disponibiliza a distribuir a Revista Acadêmica e Murilo abre espaço no
periódico (n. 48), anunciando a antologia Diez escritores de Brasil em fevereiro de
1940. Naquele mesmo ano, aparece o conto “A Baía de meus avós” de Newton
Freitas, na Revista Acadêmica (n. 50) em julho de 1940, fruto da perspectiva nos-
tálgica e da interlocução com Murilo.

A carta de Lídia Besouchet é datada de 25 de abril de 1940 e traz o timbre do “Es-


critório Comercial do Brasil”. Há outra disposição, pois o casal encontrava-se na

34 RANGEL, op. cit., p. 182.


35 FREITAS, Newton. [Correspondência Murilo Miranda, FCRB]. Destinatário: Murilo Miranda. s.l., 12
jan. 1 carta manuscrita.
36 Ibidem.
37 Ibidem.

Trânsitos e margens nas cartas a Murilo Miranda 96


Manuscrítica n. 50 – 2023 Ateliê

iminência de viajar para o Brasil, Newton já estava de partida para a primeira opor-
tunidade de rever o país e os amigos. Lídia agradece a nota publicada na Revista
Acadêmica sobre a antologia de escritores brasileiros e a intermediação de Murilo
para enviar as obras dela e Newton para Mário de Andrade.

A escritora descreve o cenário literário de Buenos Aires, criticando a prevalência


de um passadismo artístico e duma poesia nos moldes simbolistas europeus. Os
“parnasianos da terra” predominam e, para a autora, há poucas publicações de
literatura moderna. Desse modo, a publicação da literatura brasileira moderna,
ainda que incipiente, é vista como uma forma de atualizar o público argentino
sobre “as cousas boas de Brasil”: “Já a gente se arrebenta quando me falam de
Lobato e Jubiabá. Parece que dos vivos, nada mais entrou nesta Argentina.” 38. Por
outro lado, a figura do jovem tradutor Raúl de Navarro, um dos mais produtivos
tradutores de literatura brasileira na Argentina, aparece com destaque e com uma
produção que se diferencia no cenário europeizado.

Naquele momento, a autora estava preparando o livro sobre o Barão de Mauá,


Desarrollo industrial del Brasil e se coloca como eventual representante da Re-
vista Acadêmica. Ela produz uma reportagem, para a imprensa argentina, sobre
a obra de Cândido Portinari, que havia sido homenageado na publicação de Mu-
rilo (n. 48, 02/1940).

Por fim, encontramos o mesmo tipo de iniciativa na segunda carta de Newton,


quando ele tenta articular uma exposição para o pintor Lasar Segall na Argentina:
“Faça todo o possível para ele vir pois o homem tem aqui um ambiente bastante
favorável. Mallea, Romero Brest, Payró, Seoane, Martinez Estrada, e todos com
quem já conversei se mostram encantados com a ideia.” 39. A carta se detém na
repercussão positiva da obra de Segall, os salões e museus que receberiam a ex-
posição do artista em Buenos Aires e comprova a participação ativa de Newton
como um embaixador da arte brasileira em terras bonaerenses.

Considerações Finais
No entanto, vamos nos juntar todos no número
da Acadêmica, juntos para toda vida!40
Sérgio Miceli (1979), ao tratar da vida intelectual dos anos 1930 e 1940, elege as
memórias como uma das fontes fundamentais para estudar as condições de tra-
balho e a relação dos escritores brasileiros com o poder do Estado. O investimento
no gênero memorialista, seja para os autores consagrados, os “herdeiros”, seja

38 BESOUCHET, Lídia. [Correspondência Murilo Miranda, FCRB]. Destinatário: Murilo Miranda.


Buenos Aires, 25 abril 1940. 1 carta datilografada.
39 FREITAS, Newton. [Correspondência Murilo Miranda, FCRB]. Destinatário: Murilo Miranda. s.l.,
s.d. 1 carta manuscrita.
40 MIRANDA, Murilo. [Correspondência Fundo Luís Martins, FCRB]. Destinatários: Luís Martins e
Tarsila do Amaral. Rio de Janeiro, s.d. 1 carta datilografada.

Trânsitos e margens nas cartas a Murilo Miranda 97


Manuscrítica n. 50 – 2023 Ateliê

para os ressentidos “primos pobres”, se mostrou um rico material para abordar a


expansão do mercado editorial brasileiro e a instabilidade e complexidade com as
instâncias de poder.

Nesse sentido, conhecer a correspondência desses intelectuais nos permite fazer


um instantâneo dessas relações, sem o filtro e a relativização das “coisas peremp-
tas”. Ademais, o retrato ganha novas tonalidades, pois revivem sensações e per-
cepções que seriam embotadas num relato mais tardio. Assim, a leitura da corres-
pondência de Murilo Miranda, editor da Revista Acadêmica, abre uma janela para
esse passado quando a censura e a repressão traziam consequências irreversíveis
para os acusados de atividades subversivas. Murilo é o interlocutor que se dispõe
a reunir aqueles que foram dispersos e, de algum modo, silenciados no auge da
ditadura daquele período.

O corpus do trabalho priorizou a troca epistolar do editor da Revista Acadêmica


com Luís Martins, Lídia Besouchet e Newton Freitas que sofreram com a perse-
guição política durante a década de 1930. Unem os três missivistas os trânsitos
que precisam realizar para escapar do cerceamento editorial e o trabalho para re-
criarem novas condições profissionais, redirecionando vidas e carreiras. As cartas
contam essas tentativas de reatar os laços com o local de origem, as preocupações
em transpor o ostracismo literário e continuarem atuantes nos debates culturais.
Como uma “terceira margem”, elas fazem a travessia entre dois extremos de difícil
conciliação, a vida passada e a vida a ser construída num novo destino.

Entretanto, as marcas dessas experiências exílicas e de obliteração crítica se fa-


zem sentir na escassez de novas edições das obras desses autores, à exceção das
memórias e do romance Lapa de Luís Martins, embora os três escritores tenham
sido importantes protagonistas e mediadores culturais naquele momento. Por-
tanto, evidencia-se o papel fundamental de Murilo Miranda que, com a Revista
Acadêmica, “juntou” essas trajetórias e lhes deu vez e voz “para toda vida”.

Agradecimentos
Aos funcionários do Arquivo-Museu de Literatura Brasileira (AMLB) pelo auxílio
gentil e atencioso para esta pesquisa resultante do estágio de Pós-Doutorado re-
alizado na Fundação Casa de Rui Barbosa (2022-2023). À Prof.ª Dr.ª Mayra Moreyra
Carvalho pela rica interlocução a respeito da vida e obra do casal Newton Freitas
e Lídia Besouchet.

Referências Bibliográficas
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Braga Miranda. Instrumento de pesquisa: não possui. Estágio de tratamento:
não organizado. Dimensão: 2,18 m. Arquivo-Museu de Literatura Brasileira
(AMLB) da Fundação Casa de Rui Barbosa (FCRB).

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Trânsitos e margens nas cartas a Murilo Miranda 100

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