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João Pedro Pereira de Barros de França

Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)


Disciplina de Educação Patrimonial
Prof. Me. Allan Alves da Mata Ribeiro
7º Período de Licenciatura em História (Noturno)

RESENHA IV DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL

Resenha do texto: MELLO, Juçara da Silva Barbosa; BARRA, Sérgio Hamilton da


Silva. Ensino de História, Patrimônio Cultural e Memória Social: desafios e
possibilidades de uma comunidade escolar em Madureira/RJ. REVISTA
BRASILEIRA DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO, v. 17, p. 132-162, 2017.

No artigo “Ensino de História, Patrimônio Cultural e Memória Social: desafios


e possibilidades de uma comunidade escolar em Madureira/RJ”, escrito a quatro
mãos por Juçara Mello e Sérgio Hamilton da Silva, somos apresentados a resultados
parciais de uma pesquisa realizada com estudantes da educação básica do bairro
da Madureira. Nela, os pesquisadores buscaram investigar as relações entre
Patrimônio, memória social, Espaço, e as respectivas possibilidades para o Ensino
de História.
Recentemente, a área do patrimônio e das políticas patrimoniais tem se
aberto para a participação de novos atores e de novos segmentos sociais que antes
eram marginalizados. Dentro desse cenário de abertura, tem se valorizado a
experiência coletiva de recepção dos patrimônios, partindo da relação que os
sujeitos coletivos estabelecem com os bens ao seu redor. Para o autor isso se
relaciona profundamente com a globalização e o fim das grandes narrativas, fazendo
com que outras histórias possam ser contadas, partindo das vivências dos sujeitos e
do respeito à amplitude de referências culturais. Seguindo essa linha, cada vez mais
o ensino de História tem também deslocado o seu “centro de gravidade” dos
docentes para os alunos, buscando compreender suas necessidades e, a partir
disso, construir estratégias de ensino-aprendizagem em História.
Para entender as necessidades dos alunos é preciso compreender onde eles
se inserem, seu universo cultural e de que forma eles se relacionam com esse local,
sendo necessário aprofundar-se na problemática da memória. A memória é regida
pela necessidade, seja a de preservar a própria identidade ou a de formar nexos
entre passado e presente. A memória pode ser construída, formada e disputada,
tendo nisso a Educação Patrimonial em História um importante papel, podendo ser o
potencializador da construção de novas identidades afirmativas e emancipatórias.
Buscando investigar as dimensões e relações entre o patrimônio cultural, a
memória e o ensino de história, o projeto de pesquisa “Memória, História e
Patrimônio Cultural: desafios e perspectivas na educação básica” tem sido
desenvolvido em parceria com a comunidade escolar do Instituto de Educação
Carmela Dutra, presente no bairro da Madureira.
Antes de falarmos sobre os resultados da pesquisa precisamos compreender
o local em que é realizada, ou seja, a Madureira. A formação da cidade do Rio de
Janeiro, baseada na divisão entre Zona Sul (local de pessoas mais privilegiadas) -
Zona Norte (local das pessoas mais pobres) relegou ao bairro da Madureira a
marginalidade, o abandono e a miséria. No entanto, com a chegada da Copa do
Mundo de 2014 e com ela a expectativa de receber grandes levas de turistas, o
bairro passou a receber atenção da gestão de Eduardo Paes, que buscou
evidenciar, de forma estereotipada, a identidade carioca de base afro-brasileira que
emana do bairro da Madureira, como o samba, o pagode e os terreiros de religião de
Matriz-Africana.
Dentro desse cenário de forte vida cultural e ao mesmo tempo de
marginalização, a pesquisa teve como sua primeira tarefa realizar um diagnóstico da
leitura da comunidade escolar acerca da temática do patrimônio cultural. Para isso
foram analisadas duas enquetes, uma realizada em 2014, com alunos do primeiro
ano do Ensino Médio, e outra em 2016. Se na enquete de 2014 tivemos um
resultado relativamente negativo, com um conhecimento muito baixo por parte dos
alunos acerca dos patrimônios culturais, sendo capazes de citar somente
patrimônios materiais e distantes do seu bairro como o Cristo Redentor, em 2016 os
resultados foram mais animadores, com mais de 36 bens diferentes sendo citados,
dentre eles 9 da região de Madureira. Na pergunta seguinte a este grupo, na qual foi
questionado o que os alunos consideravam patrimônio na Madureira, o número de
respostas subiu para dezesseis.
Algumas conclusões podem ser retiradas desse levantamento: a) o
patrimônio cultural ainda é visto como algo extremamente distante do cotidiano das
pessoas, o que tem uma profunda relação com a forma como foram tocadas as
políticas de preservação patrimonial pelo Estado brasileiro, sendo encabeçadas por
intelectuais e homens de governo distante das necessidades e demandas do povo;
b) ainda predominam, no imaginário das pessoas, os patrimônios materiais e
arquitetônicos; c) os bens lembrados pelos entrevistados não foram lembrados pela
sua beleza arquitetônica ou somente pela sua permanência física, mas sim pela sua
importância cultural para aqueles indivíduos e para aquela comunidade, como é o
exemplo do Mercadão de Madureira, que não somente é um mercado importante
para o cotidiano dos moradores da Madureira, como também é palco de diversas
manifestações culturais e festas, como a festa de Iemanjá.
É dentro desse cenário que os autores chamam a atenção para a importância
de uma Educação Patrimonial intimamente conectada com a Educação Histórica e
que se baseie tanto na crítica do patrimônio enquanto uma fonte primária para o
trabalho histórico, quanto para aprofundar e disputar as diversas formas de
pertencimento e identidade a partir da memória das comunidades em torno de seus
patrimônios.

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