Disciplina de Educação Patrimonial Prof. Me. Allan Alves da Mata Ribeiro 7º Período de Licenciatura em História (Noturno)
RESENHA IV DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL
Resenha do texto: MELLO, Juçara da Silva Barbosa; BARRA, Sérgio Hamilton da
Silva. Ensino de História, Patrimônio Cultural e Memória Social: desafios e possibilidades de uma comunidade escolar em Madureira/RJ. REVISTA BRASILEIRA DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO, v. 17, p. 132-162, 2017.
No artigo “Ensino de História, Patrimônio Cultural e Memória Social: desafios
e possibilidades de uma comunidade escolar em Madureira/RJ”, escrito a quatro mãos por Juçara Mello e Sérgio Hamilton da Silva, somos apresentados a resultados parciais de uma pesquisa realizada com estudantes da educação básica do bairro da Madureira. Nela, os pesquisadores buscaram investigar as relações entre Patrimônio, memória social, Espaço, e as respectivas possibilidades para o Ensino de História. Recentemente, a área do patrimônio e das políticas patrimoniais tem se aberto para a participação de novos atores e de novos segmentos sociais que antes eram marginalizados. Dentro desse cenário de abertura, tem se valorizado a experiência coletiva de recepção dos patrimônios, partindo da relação que os sujeitos coletivos estabelecem com os bens ao seu redor. Para o autor isso se relaciona profundamente com a globalização e o fim das grandes narrativas, fazendo com que outras histórias possam ser contadas, partindo das vivências dos sujeitos e do respeito à amplitude de referências culturais. Seguindo essa linha, cada vez mais o ensino de História tem também deslocado o seu “centro de gravidade” dos docentes para os alunos, buscando compreender suas necessidades e, a partir disso, construir estratégias de ensino-aprendizagem em História. Para entender as necessidades dos alunos é preciso compreender onde eles se inserem, seu universo cultural e de que forma eles se relacionam com esse local, sendo necessário aprofundar-se na problemática da memória. A memória é regida pela necessidade, seja a de preservar a própria identidade ou a de formar nexos entre passado e presente. A memória pode ser construída, formada e disputada, tendo nisso a Educação Patrimonial em História um importante papel, podendo ser o potencializador da construção de novas identidades afirmativas e emancipatórias. Buscando investigar as dimensões e relações entre o patrimônio cultural, a memória e o ensino de história, o projeto de pesquisa “Memória, História e Patrimônio Cultural: desafios e perspectivas na educação básica” tem sido desenvolvido em parceria com a comunidade escolar do Instituto de Educação Carmela Dutra, presente no bairro da Madureira. Antes de falarmos sobre os resultados da pesquisa precisamos compreender o local em que é realizada, ou seja, a Madureira. A formação da cidade do Rio de Janeiro, baseada na divisão entre Zona Sul (local de pessoas mais privilegiadas) - Zona Norte (local das pessoas mais pobres) relegou ao bairro da Madureira a marginalidade, o abandono e a miséria. No entanto, com a chegada da Copa do Mundo de 2014 e com ela a expectativa de receber grandes levas de turistas, o bairro passou a receber atenção da gestão de Eduardo Paes, que buscou evidenciar, de forma estereotipada, a identidade carioca de base afro-brasileira que emana do bairro da Madureira, como o samba, o pagode e os terreiros de religião de Matriz-Africana. Dentro desse cenário de forte vida cultural e ao mesmo tempo de marginalização, a pesquisa teve como sua primeira tarefa realizar um diagnóstico da leitura da comunidade escolar acerca da temática do patrimônio cultural. Para isso foram analisadas duas enquetes, uma realizada em 2014, com alunos do primeiro ano do Ensino Médio, e outra em 2016. Se na enquete de 2014 tivemos um resultado relativamente negativo, com um conhecimento muito baixo por parte dos alunos acerca dos patrimônios culturais, sendo capazes de citar somente patrimônios materiais e distantes do seu bairro como o Cristo Redentor, em 2016 os resultados foram mais animadores, com mais de 36 bens diferentes sendo citados, dentre eles 9 da região de Madureira. Na pergunta seguinte a este grupo, na qual foi questionado o que os alunos consideravam patrimônio na Madureira, o número de respostas subiu para dezesseis. Algumas conclusões podem ser retiradas desse levantamento: a) o patrimônio cultural ainda é visto como algo extremamente distante do cotidiano das pessoas, o que tem uma profunda relação com a forma como foram tocadas as políticas de preservação patrimonial pelo Estado brasileiro, sendo encabeçadas por intelectuais e homens de governo distante das necessidades e demandas do povo; b) ainda predominam, no imaginário das pessoas, os patrimônios materiais e arquitetônicos; c) os bens lembrados pelos entrevistados não foram lembrados pela sua beleza arquitetônica ou somente pela sua permanência física, mas sim pela sua importância cultural para aqueles indivíduos e para aquela comunidade, como é o exemplo do Mercadão de Madureira, que não somente é um mercado importante para o cotidiano dos moradores da Madureira, como também é palco de diversas manifestações culturais e festas, como a festa de Iemanjá. É dentro desse cenário que os autores chamam a atenção para a importância de uma Educação Patrimonial intimamente conectada com a Educação Histórica e que se baseie tanto na crítica do patrimônio enquanto uma fonte primária para o trabalho histórico, quanto para aprofundar e disputar as diversas formas de pertencimento e identidade a partir da memória das comunidades em torno de seus patrimônios.