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Instituto de Letras – IL
18 de dezembro de 2023
A língua é moldada por diversas influências e adaptada ao longo do tempo de acordo
com a evolução cultural, social e histórica de uma comunidade linguística. O Português
Brasileiro (PTBR) apresenta particularidades que o distingue de outras variantes da língua
portuguesa. Este trabalho visa realizar uma análise morfossintática do PTBR, utilizando como
referencial teórico o modelo do continuum linguístico, que permite compreender as variações
aplicadas ao grau do português no aumentativo e diminuitivo presentes na língua.
De acordo com Câmara Jr. (1970), existem três critérios que podem ser usados para
diferenciar a flexão da derivação:
Para a análise do grau no PTBR, ainda segundo Câmara Jr. (1970), “ no critério da
regularidade, a caracterização de aumentativo e diminutivo em um substantivo é um processo
híbrido, uma vez que para o grau aumentativo ocorreria uma irregularidade (faca – facão, mas
não pedra – *pedrão), portanto um processo derivativo, e, para o diminutivo, regularidade
(faca – faquinha; pedra – pedrinha), caracterizando um processo flexional.”
Para poder diferenciar essas duas morfologias é preciso usar critérios que ajudem a
agrupar um afixo como derivacional ou flexional. Usaremos cinco critérios mais relevantes na
tentativa dessa determinação:
● relevância sintática;
● aplicabilidade;
● mudança de classe;
● excludência e recursividade;
Um mesmo afixo pode ser considerado flexional por um critério e derivacional por
outro. Por isso mesmo, o levantamento de critérios objetivos deve ser visto como didático;
não como uma palavra final acerca do estatuto morfológico de afixos.
Dados de uso:
A coleta de dados para esta análise foi conduzida utilizando uma variedade de fontes.
Mensagens de grupos do aplicativo Whatsapp, comentários de vídeos no youtube,
comentários em comunidades do facebook que registram diferentes estilos de uso da língua.
Substantivo – Carta – Cartinha.
Elicitação:
Substantivo – Casa – Casarão/Casão.
Substantivo – Carro – Carrão.
Substantivo – Abraço – Abração.
Substantivo – Beijo – Beijinho – Beijão.
Espontâneos:
Adjetivo – Novo – Novinho. YouTube/Podcast – Jovem Nerd.
Substantivo – Bebida – Bebidinha. YouTube/Podcast – Jovem Nerd.
Adjetivo – Bonito – Bonitinho. YouTube/Podcast – Jovem Nerd.
Substantivo – Camarão – Camarãozinho. YouTube/Podcast – Jovem Nerd.
A derivação cria vocabulário novo e sempre forma uma nova palavra. A flexão, ao
contrário, representa as diferentes formas de uma mesma palavra, sendo assim, não cria
vocabulário novo. A partir da alegação de que a flexão não cria vocabulário novo por
representar as diferentes formas de uma mesma palavra, a literatura sobre o PTBR confirma
essa afirmação, considerando que a flexão se apresenta como um processo morfológico de
articulação de desinências indicadoras das diferentes categorias gramaticais , sob a forma de
afixos, para adaptar um item lexical a um contexto. Assim, os parâmetros ordem e criação de
vocabulário novo, podem ser questionados a depender do contexto de uso.
Existem afixos que podem aparecer juntos na mesma palavra. Apesar de terem
significados contrários um ao outro, -inho e -ão não poderiam ser usados em uma mesma
palavra, porém, o uso é bastante comum. Por exemplo, a palavra 'cartão' não necessariamente
significa uma “carta grande" e é possível ser modificado por um afixo diminutivo, não
implicando, com isso, qualquer incompatibilidade semântica. Em uma busca no Google pela
palavra ‘cartãozinho’ é possível encontrar uma infinidade de exemplares.
Exemplo:
Conclusão
Em relação ao grau do Português Brasileiro, quando aplicamos os critérios de Payne
(2006), notamos algumas particularidades típicas da derivação, como a não relevância para a
sintaxe, uma vez que não exige a concordância e tende a não ter o mesmo efeito semântico
quando aplicado, dado que pode expressar semântica dimensional ou avaliativa. No entanto, o
fato de não mudar a classe da palavra nem alterar de modo considerável a raiz atribuem
características flexionais a esses morfemas.
Porém, o fato de ocorrer em eixos de seleção paradigmáticos regulares pode ser
atribuída apenas ao sufixo -inho(a), mas não aos demais sufixos de diminutivo e aumentativo
do português, que também apresentam aplicabilidade limitada.
Dessa forma, o sufixo -inho(a) seria classificado como flexional por se encaixar a
maior parte das características prototípicas desse fenômeno, enquanto os demais morfemas de
grau, como o -ão, encaixam-se melhor na classe dos morfemas derivacionais. O modelo de
continuum permite que os processos morfológicos sejam vistos de forma holística e linear, e
não de uma forma engessada que queira estabelecer uma palavra final sobre cada tipo de
morfema.
Das diferenças entre flexão e derivação. Em Gonçalves, C.A. Iniciação aos estudos
morfológicos: flexão e derivação em português. São Paulo: Contexto, 2011, pp.11-89.
SLIDES.
MAGALHÃES, Marina Maria Silva; FERREIRA, Dimitria Giovanna Costa. O Continuum entre
flexão e derivação nos sufixos intensificador e atenuativo da língua Guajá. Cadernos de
Etnolingüística, v. 9, n. 1, p. 1-16, 2021.
Vídeos:
YouTube/PodCast: Jovem Nerd
“Um jantar romântico” UM JANTAR ROMÂNTICO 😬❤️🔥 e
“Foi tudo uma mentira” FOI TUDO UMA MENTIRA 😐🤔
Dados escritos:
Grupos de Whatsapp; Comunidades no Facebook; Comentários de internautas no YouTube.