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Palavras:

características e
composição

Fundamentos de Morfologia e Sintaxe


CARONE (1988), Cap.2 p.31 a 45
O que ● Entender melhor o que é a palavra, o que a
caracteriza, como se compõe e as diferentes
queremos propriedades que pode apresentar
com esse ● Observar as relações que os morfemas

texto? definem entre si para produzir essa unidade,


ver a relevância dos fenômenos e
classificações que aprendemos até agora
em aplicação
● Identificar novas propriedades dos
morfemas que se revelam quando
começamos a ver como essas unidades
exercem influência sobre os níveis
sintagmáticos superiores
As categorias de Bloomfield (1933)
Carone começa sua exploração da palavra com os conceitos de formas
livres e formas presas.

Essa distinção não é inerente ao nível morfológico. Atenção para o fato de


que formas livres são simplesmente aquelas que “podem constituir,
isoladas, um enunciado suficiente para a comunicação” (p.31) - mas essa
forma pode ser de qualquer nível de construção. Mas, é claro, nos interessa
aqui o que ela nos revela em particular no nível do vocábulo!

Lembrando que essa distinção faz muito mais sentido quando ignoramos
comentários metalinguísticos.
Formas Livres vs. Formas Presas

Formas Livres: Formas Presas¹:


‘Suficientes para serem enunciado’ Algo que seria um enunciado interrompido
pode até ocorrer, mas nos causa a
Qualquer enunciado completo é, por impressão nítida de algo incompleto, para
definição, forma livre: - “Entregaram para além do que pode estar implícito: -
ele” pode deixar uma série de informações “Entregaram para…”
implícitas, mas sua estrutura está
completa tal que se diz suficiente Formas presas não tem uma forma mínima
a priori (se definem por precisarem de mais
Interessa muito mais o conceito de forma componentes para comunicar), mas sua
livre mínima, isto é, o conceito aplicado ao distinção com a forma livre mínima ajuda
menor nível sintagmático possível. bem a diferenciar morfema de vocábulo.
¹ A aplicação da forma presa para além do nível dos morfemas
e vocábulos é uma extrapolação minha: não está em Carone!
“A proposta de Bloomsfield
pretende levar à compreensão
[da palavra], mas apresenta
lacunas…” (p.33)

Por que essa distinção não


define palavras?
Palavras ≠ Uma forma livre mínima pode ser um vocábulo, mas

Forma Livre não necessariamente!

Mínima “Palavra pode ser constituída:

● de uma forma livre mínima: leal;


● de duas formas livres mínimas: couve-flor;
● de uma forma livre e uma ou mais presas:
leal-dade, in-feliz-mente;
● apenas de formas presas: re-abert-ur-a.” (p.32)

Note que algumas formas presas são morfemas, mas


a forma livre mínima que corresponde a um vocábulo
não será necessariamente o único morfema de seu
vocábulo! Forma livre mínima também ≠ morfema!
Expandindo as categorias de Bloomfield

Algumas palavras não são nem propriamente livres, porque não podem
constituir um enunciado, mas também não são tão ‘presas’ quanto os morfemas
que integram um vocábulo, já que possuem mais mobilidade dentro de um
sintagma ou oração.
De acordo com Carone, Bloomfield ainda tenta resolver essa questão para uma
classe específica, os artigos, dizendo que comutam com demonstrativos (que
são formas livres), portanto “pertencem ao mesmo paradigma” e são formas
livres.
Esse argumento tem alguns problemas…
Adição de Como o nome diz, dependem de outros vocábulos, no

Câmara Jr.: que diz respeito tanto ao seu significado (seu


significado está frequentemente associado à função
Formas que contraem com outro elemento), quanto à sua

Dependentes realização fonética (muitos são átonos, e, portanto,


precisam se vincular à outra unidade entoacional).

Ao contrário de um morfema preso, contudo, admitem


intercalações, inversões - i.e., tem mobilidade em uma
oração:
Critérios de “Estável internamente” (Lyons apud. Carone, p.33)

coesão da ● Os morfemas de uma palavra não mudam de


palavra: posição, nem se intercalam, livremente: in-feliz,
mas *feliz-in, *fel-in-iz; com-prov-ada-mente boa,
mas *com-prov boa ada-mente
● Dito de outra forma, morfemas em uma palavra
são inseparáveis e irreversíveis.

“Mobilidade de posição” (Carone, ibid.)

● Como unidade, tem alguma liberdade quanto à


posição que ocupa numa frase: “Eu não quis te
incomodar” / “Não quis eu incomodar-te”
Vocábulo
Fonológico vs.
Formal

Outra forma de tentar distinguir unidades


móveis em uma língua é através da
observação de grupos entoacionais.
Tal como uma divisão semântica, a
fonologia encontra níveis recursivos de
construções sintagmáticas: uma delas
identifica estruturas aproximadamente
equivalentes à palavras.
Isso não significa dizer que são iguais às
palavras tal como normalmente as
compreendemos - daí a distinção entre
vocábulos fonológicos e formais.
Lexemas e Retomamos a distinção que fizemos dos dois
Gramemas tipos de significado dos morfemas: referencial
ou gramatical
(Morfemas)
Lexema: semântica articulada a uma realidade
extralinguística (significado referencial). São
também pré-requisito para emprego de prefixos
e sufixos (no português pelo menos). Classe
aberta.

Gramema: gramaticais (i.e., não-referenciais).


Diversos tipos e comportamentos. Classe
fechada. Vamos subdividi-los a seguir:
Gramemas: subclassificações

Divisão 1: Gramemas > Palavras gramaticais vs. Morfemas presos


● Palavras Gramaticais = Palavras Instrumentais.
● Morfemas presos = Afixos
Divisão 2: Palavras Gramaticais > Endofóricas vs. Exofóricas
● Endofóricas: conexão com um ‘núcleo’ - “meu livro”
● Exofóricas: ponte de conexão entre dois elementos - “bolo de chocolate”
Divisão 3: Morfemas presos > Derivativos vs. Flexionais
● Derivação: definem variações semânticas opcionais
● Flexão: formas distintas obrigatórias de uma mesma palavra
Esquema Geral da Carone
Formação de Palavras
(no português)
Recursos disponíveis

● Composição
● Derivação
● Reduplicação
● Abreviação / Lexicalização de siglas
● Onomatopeias
Composição Construção que se cristaliza e adquire as
características de palavra: inseparabilidade e
irreversibilidade. Também tem semântica própria.

Palavra formada de “duas palavras portadoras de


radical” (p.37). Carone diferencia entre a
justaposição e a aglutinação. A tendência é que o
composto vá aglutinando, dada a mudança na
estrutura de tom.

O composto ainda permite discernir uma relação


sintática entre os seus morfemas.

Frequentemente, mas nem sempre, marcados com


hífen. E cuidado! Na nova ortografia, também
morfemas se separam com essa marca gráfica:
p.ex., pós-graduação.
Derivação Aplicação de afixos a um radical, gerando uma
distinção semântica que supera um nível
gramatical. Obs.: Carone começa a falar de afixos
nesse sentido mais restrito (em comparação com o
capítulo anterior, onde incluiu flexão).

É opcional: ou em termos de seleção de palavra


(ter; obter; reter), ou de expressividade (gato;
gatinho).

Flexão é mutuamente excludente, derivação não:

● Coloc-a-∅-mos – Coloc-á-va-mos –
Coloc-a-re-mos – *Coloc-a-va-re-mos
● Pai – Paizinho – Paizão – Paizãozinho
Grau é Ao contrário das outras classes flexionais, grau:

Derivação ● não exige concordância:

(ou: atributos
○ *leoa lindo / leozinha lindona
● não exprime sempre a mesma qualidade
típicos da semântica (i.e., não designam sempre coisa
derivação) maior ou menor)
○ Uso expressivo: “cidadezinha horrível”
● pode ser utilizado com várias classes de
palavra
○ agorinha; juntinho de; incompetentizinho
● muitas vezes, alterna entre itens lexicais¹
○ sombra – sombrinha
¹ Minha observação - não está ○ camisa – camisola
explicitamente no texto da Carone
Derivação: Derivação pode ser aplicada sucessivamente e
recursivamente:
mais
propriedades
● pôr – posição – posicionar – posicionamento
● mover – mobilizar – mobilização –
desmobilização

Não exclui flexão! Pelo contrário: se cria um


substantivo, verbo ou adjetivo, já se pressupõe
flexão dessas formas de qualquer jeito.

Também permite algo como uma “falsa


recuperação” – Carone chama de derivação
regressiva aqui. Nem sempre é simples saber que
palavra é derivada, e qual é o chamado primitivo.
Derivação: Como distinguir primitivos de derivados?

mais ● Critério semântico ajuda, mas o diacrônico é

questões
que define

Em todo caso, pode-se igualmente seguir Hjelmslev


(1971) e ignorar a questão: importa apenas a raiz e
os morfemas derivacionais que estabelecem se é
substantivo ou verbo.

Parassíntese: alguns derivados surgem somente


com aplicação simultânea de prefixo e sufixo
(en-tarde-cer).
Outros Reduplicação: mamãe; titio, etc. Me parece até uma
versão mais restrita do grau diminutivo.
formadores Siglas: (ou acrônimo, etc.) nomes extensos de
de palavra instituições, fenômenos ou invenções, que
simplificamos pegando as primeiras partes (fonemas,
(em sílabas ou nome de letras) das palavras que integram.

português) ● Laser = Light Amplification by Stimulated Emission of


Radiation; empréstimo de uma sigla estrangeira!

Abreviação: às vezes nomes são grandes demais, e


arranjamos um jeito mais eficiente (alguns diriam
preguiçoso) de transmitir a mesma ideia

Onomatopeia: blablabla (olha a reduplicação)


Diferenças entre
Prefixos e Sufixos
Prefixos não alteram a classe gramatical
do lexema!

Sufixos frequentemente mudam: muitos


são usados especificamente para formar
substantivos, verbos, adjetivos e advérbios!
Outra classificação
afixal
Carone traz uma divisão diferente
das unidades linguísticas, feita por
Hjelmslev. Não precisamos nos
adentrar nela, mas é interessante
ver um método diferente
Senti falta de uma definição
importante nesse texto…

Que termo faltou? Qual dos


conceitos que nós vimos
melhor substituiria ele?

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