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O mercúrio onipresente O homem que entrou pelo cano

(Fragmento)
Abriu a torneira e entrou pelo cano. A
Os venenos ambientais nunca seguem princípio incomodava-o a estreiteza do tubo.
regras. Quando o mundo pensa ter descoberto Depois se acostumou. E, com a água, foi
tudo o que é preciso para controlá-los, eles seguindo. Andou quilômetros. Aqui e ali ouvia
voltam barulhos familiares. Vez ou outra um desvio, era
a atacar. Quando removemos o chumbo da uma seção que terminava em torneira.
gasolina, ele ressurge nos encanamentos Vários dias foi rodando, até que tudo se
envelhecidos. Quando toxinas e resíduos são tornou monótono. O cano por dentro não era
enterrados em aterros sanitários, contaminam o interessante.
lençol freático. Mas ao menos acreditávamos No primeiro desvio, entrou. Vozes de
conhecer bem o mercúrio. Apesar de todo o seu mulher. Uma criança brincava.
poder tóxico, desde que evitássemos Então percebeu que as engrenagens
determinadas espécies de peixes nas quais o giravam e caiu numa pia. À sua volta era um
nível de contaminação é particularmente branco imenso, uma água límpida. E a cara da
elevado, menina aparecia redonda e grande, a olhá-lo
estaríamos bem. [...]. interessada. Ela gritou: “Mamãe, tem um homem
Mas o mercúrio é famoso pela capacidade dentro da pia”.
de passar despercebido. Uma série de estudos Não obteve resposta. Esperou, tudo quieto.
recentes sugere que o metal potencialmente A menina se cansou, abriu o tampão e ele
mortífero está em toda parte — e é mais desceu
perigoso pelo esgoto.
do que a maioria das pessoas acredita. BRANDÃO, Ignácio de Loyola. Cadeiras
Proibidas. São Paulo: Global, 1988, p. 89.
A incapacidade de ser verdadeiro

Paulo tinha fama de mentiroso. Um dia


As Amazônias chegou em casa dizendo que vira no campo dois
dragões-da-independência cuspindo fogo e
Esse tapete de florestas com rios azuis que os lendo fotonovelas.
astronautas viram é a Amazônia. Ela cobre mais A mãe botou-o de castigo, mas na semana
da metade do território brasileiro. Quem seguinte ele veio contando que caíra no pátio da
viaja pela escola um pedaço de lua, todo cheio de
região não cansa de admirar as belezas da buraquinhos, feito queijo, e ele provou e tinha
maior gosto de queijo. Desta vez Paulo não só ficou
floresta tropical do mundo. No início era assim: sem
água e céu. sobremesa como foi proibido de jogar futebol
É mata que não tem mais fim. Mata contínua, durante quinze dias.
com árvores muito altas,cortada pelo amazonas, Quando o menino voltou falando que todas
o as borboletas da Terra passaram pela chácara
maior rio do planeta. São mais de de
mil rios desaguando no Amazonas. É água que Siá Elpídia e queriam formar um tapete voador
não acaba mais. para transportá-lo ao sétimo céu, a mãe decidiu
levá-lo ao médico. Após o exame, o Dr.
SALDANHA, P. As Amazônias. Rio de Janeiro: Ediouro, 1995. Epaminondas abanou a cabeça:
– Não há nada a fazer, Dona Coló. Este
menino é mesmo um caso de poesia.

DRUMMOND, Carlos. Contos plausíveis. Rio de Janeiro: Record.


O HOMEM DO OLHO TORTO ASA BRANCA

No sertão nordestino, vivia um velho Quando olhei a terra ardendo


chamado Alexandre. Meio caçador, meio Qual fogueira de São João
vaqueiro, Eu perguntei a Deus do céu
era cheio de conversas — falava cuspindo, Por que tamanha judiação.
espumando como um sapo-cururu. O que mais Que brasileiro, que fornalha
chamava a atenção era o seu olho torto, que Nem um pé de plantação
ganhou quando foi caçar a égua pampa, a Por falta d’água, perdi meu gado
pedido Morreu de sede meu alazão.
do pai. Alexandre rodou o sertão, mas não Inté mesmo a asa branca
achou a Bateu asas do sertão
tal égua. Pegou no sono no meio do mato e, Entonce eu disse: adeus, Rosinha
quando acordou, montou num animal que Guarda contigo meu coração.
pensou Hoje longe, muitas léguas
ser a égua. Era uma onça. No corre-corre, Numa triste solidão
machucou-se com galhos de árvores e ficou sem Espero a chuva cair de novo
um olho. Alexandre até que tentou colocar seu Pra mim voltar, ah! Pro meu sertão.
olho Quando o verde dos teus olhos
de volta no buraco, mas fez errado. Ficou com Se espalhar na plantação
um Eu te asseguro, não chove não, viu
olho torto. Que eu voltarei, viu, meu coração.

RAMOS, Graciliano. Histórias de Alexandre. Editora Record. In Luis Gonzaga e Humberto Teixeira. Luiz Gonzaga.
revista Educação, ano 11, p. 14 Vinil/CD, BMG. Brasil, 2001
CACHORROS

Os zoólogos acreditam que o cachorro se A criação segundo os negros Nagôs Olorum.


originou de uma espécie de lobo que vivia na
Ásia.
Depois os cães se juntaram aos seres humanos Só existia Olorum. No início, só existia Olorum.
e Tudo o mais surgiu depois. Olorum é o Senhor
se espalharam por quase todo o mundo. Essa de todos os seres. Certa vez, conversando com
amizade começou há uns 12 mil anos, no tempo Oxalá, Olorum pediu: – Vá preparar o mundo! E
em que as pessoas precisavam caçar para se ele foi. Mas Oxalá vivia sozinho e resolveu casar
alimentar. Os cachorros perceberam que, se não com Odudua. Deste casamento, nasceram
atacassem os humanos, podiam ficar perto deles Aganju, a Terra Firme, e Iemanjá, Dona das
e Águas. De Iemanjá, muito tempo depois,
comer a comida que sobrava. Já os homens nasceram os Orixás. Os Orixás são os
descobriram que os cachorros podiam ajudar a protetores do mundo.
caçar, a cuidar de rebanhos e a tomar conta da
casa, além de serem ótimos companheiros. Um BORGES, G. et al. Criação. Belo Horizonte: Terra, 1999
colaborava com o outro e a parceria deu certo.

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NORDESTINO

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