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Earp
Maria Inês Galvão Souza, Doutora em Artes Cênicas (Unirio), Especialista nos
Fundamentos da Dança de Helenita Sá Earp, Professora Adjunta IV da Universidade
Federal do Rio de Janeiro, UFRJ.
Resumo
Este trabalho tem por objetivo refletir sobre as aproximações entre o Sistema Laban e os
Fundamentos da Dança de Helenita Sá Earp, pioneira da Dança como docente de um
curso de graduação brasileiro, sendo a primeira a lecionar uma disciplina com
conteúdos de Dança na Escola Nacional de Educação Física e Desportos na
Universidade do Brasil. Os estudos de Earp dividem-se em parâmetros, sendo eles:
Movimento, Espaço, Forma, Dinâmica e Tempo. Sua teoria foi atravessada pelo diálogo
com a Anatomia, a Educação Somática, a Filosofia, a Matemática e pelos estudos de
Laban e Mary Wigman. Earp chegou a estudar com Wigman fora do Brasil. Este paper
destina-se a realizar uma análise comparativa entre os estudos de Earp e os de Laban, na
tentativa de localizar os pontos de aproximação e afastamento entre os parâmetros dos
Fundamentos da Dança de Helenita Sá Earp e as categorias de Análise de Movimento
de Rudolf Laban (CORPO, ESPAÇO, ESFORÇO e FORMA).
Rudolf Laban e Helenita Sá Earp
Helenita Sá Earp nasceu no Rio de Janeiro em 1919. Neste período Laban já era
considerado um dos grandes nomes da Dança na Europa e liderava os programas de
verão no Monte Veritá. Estava também em contato direto com as vanguardas artísticas,
especialmente com os Dadaístas. Laban e Earp eram de diferentes gerações e
possivelmente partes dos estudos de Laban influenciaram a pesquisa de Earp.
Helenita Sá Earp foi responsável pela introdução da Dança nas universidades
brasileiras, no ano de 1939, quando se torna catedrática da cadeira de Ginástica Rítmica
na Escola Nacional de Educação Física e Despostos da Universidade do Brasil (UFRJ).
Com a implantação do I Curso de Especialização em Dança e Coreografia da UFRJ, em
1943, criou também sua companhia de dança que se tornou um pólo de produção
artística em linguagens coreográficas. No ano de 1970, cria o Departamento de Arte
Corporal (DAC).
Abordagens Filosóficas
Parâmetro DINÂMICA
Como se aplica a força ao movimento? Por onde e de que forma a energia conecta um
movimento ao outro?
1) Intensidade: diferentes graus da força aplicada (suave, moderado, forte, fortíssimo).
2) Noções de peso e leveza.
3) Passagem da força: transferência da força de uma parte para outra (próximas ou
distantes) que pode ser de forma contínua, sem interromper o movimento ou
descontínua, com interrupção do movimento.
4) Entrada de força: salientar a parte que inicia o movimento.
5) Acentos – são acelerações do movimento com uma pausa brusca.
6) Impulsos – pequenos e grandes impulsos realizados por pequenas ou grandes partes.
7) Modos de execução dos movimentos – diferentes maneiras de aplicar a força gerando
movimentos de qualidades semelhantes. Dividem-se em:
a) Conduzido – movimento caracterizado pela continuidade na contração da
musculatura, não sendo modificada abruptamente a força aplicada ao movimento. É
caracterizado também pelo controle total da condução.
b) Ondulante – é um movimento conduzido que produz uma sinuosa no corpo e nas
partes em ação, de tal maneira que coordena curvas ascendentes e descendentes com
uma ligação constante.
c) Percutido – é um movimento caracterizado pela força explosiva com uma parada
abrupta.
d) Lançado – é caracterizado por uma força explosiva (menos intensa que a do
movimento percutido). O movimento parte de um impulso inicial que vai levar a parte
lançada ao limite do seu alongamento muscular e articular.
e) Balanceado – é um movimento cujo impulso inicial (com força média) desloca a
parte do corpo e o retorno desse movimento é feito pela ação da gravidade, podendo
haver a recuperação do impulso por outra parte ou pelo corpo como um todo (existe um
aproveitamento da força de um movimento para o outro).
f) Vibratório – o movimento se realiza pela contração máxima da musculatura em
isometria. Quando a contração chega ao limite da força aplicada a musculatura,
consequentemente a parte, começa a vibrar.
g) Pendular – é um movimento conduzido com a mesma trajetória em sentidos opostos,
como um pêndulo, caracterizando um movimento simétrico.
Categoria ESFORÇO
A partir de suas teorias podemos estar aqui hoje, corpos com trajetos tão
diversos colocando em prática a nossa liberdade nas nossas danças e nos nossos
discursos: Ligia Tourinho, com formação em Dança, Teatro e no Sistema Laban. Inês
Galvão, com formação em Dança, Teatro e nos Fundamentos da Dança. Este artigo é
mais um resultado de nossa parceria consistente de trabalho e de nossa admiração por
nossos mestres e consciência da importância de seus trabalhos.
Mais do que responder as nossas próprias questões, este artigo tem o objetivo de
manter vivo o espírito curioso e criativo de artistas do corpo que se interessam pela
linguagem do movimento como necessidade vital e que fazem de sua dança uma arma
sensível para o desenvolvimento de uma sociedade mais humana e justa.
1
TOURINHO, Lígia Losada; SOUZA, Maria Inês Galvão. A Preparação Corporal para a Cena como
Evocação de Potências para o Processo de Criação. In ARJ, V.3, n.2, p. 178 a 193. Natal: UFRN,
2016.
infiltre em sua forma de vida, em seus impulsos até chegar a seus
movimentos2 (LABAN, 2001, p.120).
Bibliografia:
BARTENIEFF, Irmgard. Body Movement: coping with the environment. New York:
Routledge, 2002.
BRADLEY, Karen. Rudolf Laban. London and New York: Routledge, 2009.
EARP, Helenita Sá. As Atividades Rítmicas Educacionais segundo nossa orientação
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GUALTER, Katya; PEREIRA, Patrícia. Apostila da Disciplina Fundamentos da
Dança. Rio de Janeiro: DAC/ EEFD/ UFRJ, 2000.
LABAN, Rudolf. Una Vida para la Danza. México: Ríos y raíces, 2001
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LIMA, André Meyer. A Poética da Deformação na Dança Contemporânea. Rio de
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Rio de Janeiro: 7 Letras, 2008.
MOORE, Caroline. Meaning in Motion: Introducing Laban Movement Analysis.
Colorado: MoveScape Center, 2014.
2
Livre tradução do trecho: “El propósito da vida, tal como lo concibo, es el cultivo de la esencia humana
em oposición a la del robot, es um llamado para salvar a la humanidad de parecer em medio de uma
espantosa confusión. La imagens de um festival de futuro, um conglomerado de vida em el que todos los
celebrantes em comunión de pensamiento, sentimiento y acción tratan de alcanzar uma meta bien
definida: la de enriquecer su própria luz interior. ? Podrá todo esto ser expresado por médio de la danza?
Unicamente si lós participantes creen saber que la danza posee uma vida ética, y solo cuando sean
capazes de permitir que esta experiencia se infiltre em su forma de vida y em sus impulsos hacia el
movimento”.
3
Frase de Helenita Sá Earp que abria a coreografia “Técnica em Arte” , obra remontada em 1988 por Ana
Célia de Sá Earp.
MOTTA, Maria Alice. Teoria Fundamentos da Dança – Uma Abordagem
Epistemológica à Luz da Teoria das Estranhezas. Dissertação de Mestrado, Ciência
da Arte, Instituto de Arte e Comunicação, Universidade Federal Fluminense, 2006.
PRESTON-DUNLOP, Valerie. Rudolf Laban: An Extraordinary Life. Hampshire:
Dance Books Ltda, 2008.
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para a Cena como Evocação de Potências para o Processo de Criação. In ARJ, V.3,
n.2, p. 178 a 193. Natal: UFRN, 2016.