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A importância da História do Pensamento Econômico e

do pluralismo metodológico em economia com base na


perspectiva da Escola Austríaca

Eduardo Angeli*

Palavras-chave Resumo Abstract


Pluralismo crítico, O artigo procura entender a importância do es- The paper aims to analyze the role that history
História do Pensamento tudo da História do Pensamento Econômico e of economic thought and methodological
Econômico, Escola da existência do pluralismo de metodologias pluralism can play in Economics. In order to
Austríaca, F. A. Hayek, em Economia. Para isso, levanta dois argumen- achieve such a goal, it presents two arguments
Israel Kirzner. tos associados à Escola Austríaca: a abordagem related to the Austrian School of Econo-
de Kirzner para a descoberta de oportunidades mics: the role played by the entrepreneur in
Classificação JEL no processo de mercado como analogia ao que Kirzner’s approach to the market process as
B00, B41, B53. acontece na relação entre teoria econômica e an analogy to what is seen in the history of
História do Pensamento Econômico, e a defesa economic thought, and Hayek’s arguments for
Keywords da liberdade por Hayek como incentivo à chan- liberty as a defense of freedom of research and
critical pluralism, History ce de variação e fuga do modo convencional de the existence of methodological pluralism.
of Economic Thought, se fazer ciência econômica. Sob uma perspec- It is argued that, under the Austrian point of
Austrian School of tiva austríaca, tanto a História do Pensamento view, history of economic thought and
Economics, F. A, Hayek, Econômico quanto o pluralismo metodológico methodological pluralism might be more
Israel Kirzner. podem ser mais apreciados pela profissão. appreciated by economists.

JEL Classification
B00, B41, B53.

*Professor do Departamento de
Economia da UFPR

DOI: http://dx.doi.org/10.1590/0103-6351/1381 Nova Economia_Belo Horizonte_24 (1)_33-50_janeiro-abril de 2014 33


1_Introdução
A História do Pensamento Econômico (HPE) é o campo de Dito isso, o presente texto possui, além desta introdução,
conhecimento do economista permanentemente posto em duas seções argumentativas, seguidas de uma breve conclusão.
xeque em termos de sua relevância e necessidade (Tolipan, Na seção 2, procuro argumentar que a HPE não de-
1989). Sua existência só é aceita pela maioria da profissão ve servir como confirmação da certeza atual detida pela
na medida em que sirva como relato da trajetória predeter- teoria econômica. Ao contrário: ela mostra as batalhas,
minada, teleológica, da ciência ao estado atual, tido como as dúvidas e a vasta gama de possibilidades de desenvol-
conhecimento correto, verdadeiro. O processo de erro e vimentos teóricos que podem surgir em cada ponto do
acerto vivenciado pelas gerações anteriores serviria, então, tempo histórico de nossa profissão. Não se deve contentar
como a história da imperfeição do passado, da trajetória em mostrar como esse ou aquele pensador contribuiu pa-
progressista do conhecimento científico, em que cada acer- ra o estado atual do conhecimento, mas sim apontar sua
to passa a ser incorporado ao estado atual da ciência. força teórica, os desdobramentos possíveis de suas con-
Foley (2009) observa que os principais teóricos da ci- tribuições e as limitações do arcabouço que erigiu. Dessa
ência econômica, quando se aventuram a escrever sobre forma, o papel e a relevância da HPE na formação de um
HPE, acabam por fazer Whig history, o tipo de história que, economista estão longe da mera curiosidade histórica ou
na sua definição, “reads back the presumptions of cur- da maneira como o processo de tentativa e erro do passado
rent scholarship into the old texts” (Foley, 2009, p. 27). O trouxe a ciência econômica a um estado mais próximo da
mesmo Foley (2009) atribui a Sraffa a constatação de que, verdade hoje. Nesse sentido, a construção de uma analogia
quando a modelagem matemática e estatística detém pa- entre uma teoria econômica sobre o funcionamento dos
pel proeminente como ferramentas livres de erros se apli- mercados e o que acontece na ciência econômica pode ser
cadas ao entendimento dos fenômenos sociais, a história útil para a compreensão deste último movimento. Contudo,
da ciência acaba por se tornar “submerged and forgotten” ao contrário de Stigler (1982), a analogia que proponho na
(Foley, 2009, p. 28), já que, quando se atinge um conheci- seção 2 tem como base a contribuição de Israel Kirzner
mento superior, a história de como se chegou a ele se torna para a teoria do processo de mercado.
desnecessária. Na seção 3, busco me posicionar em favor do pluralismo
Semelhantemente, a metodologia da economia cos- em Economia como uma postura metametodológica que
tuma ter valor reduzido para a maior parte da profissão. deve prevalecer em nossa área do conhecimento. Para isso,
Os argumentos contra tal área do conhecimento do eco- apresento rapidamente o programa do pluralismo crítico,
nomista variam entre a simples irrelevância e a arrogân- associado principalmente ao trabalho de Bruce Caldwell, e
cia e intrusão que marcariam o comportamento de seus mostro que, com base em um ponto de vista hayekiano, é
praticantes diante do trabalho dos verdadeiros praticantes conveniente que exista espaço para a pluralidade de meto-
da ciência econômica (Hoover, 1995). Subjacente a esse jul- dologias de pesquisa na Academia de Economia. A analogia
gamento, está a ideia de que o papel que a metodologia aqui se dá com o liberalismo que Hayek defendeu para a
atribui a si é o de ditar regras de boa ciência e delimitar o “Grande Sociedade”, tendo em vista tanto o problema do co-
que é científico ou não na disciplina. nhecimento quanto sua abordagem evolucionária.

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Por fim, na conclusão, sumarizo os argumentos apre- que estavam inseridos, mas sem que se perca de vista a
sentados ao longo do trabalho. possibilidade de conectá-los, de modo direto ou indireto,
Antes, contudo, cabe um esclarecimento: penso na Es- à realidade corrente por meio do aproveitamento crítico
cola Austríaca, a que faço alusão já no título do presente ar- de suas construções teóricas e de maneiras de avaliação
tigo, como a linha de pensamento de Menger, Mises, Hayek, do sistema capitalista que permitam a interpretação da
Kirzner e seus seguidores, e concordo com Boettke (1998) realidade atual. Segundo Tolipan, a HPE “deve recuperar
quando esse a define valendo-se do tripé (i) individualis- para analisar e esquecer; ela deve liberar o atual dos sin-
mo metodológico e subjetivismo, (ii) ênfase nos proces- tomas do passado. Ela deve ser teórica e orientada pelas
sos de mudança e no agente que os desencadeia e conduz, dificuldades presentes. Num sentido profundo, crítica e
e (iii) atenção ao arcabouço institucional que permite a analítica” (Tolipan, 2002, p. 149, grifos no original).
emergência de uma ordem espontânea. É sobre esse tripé Certamente não se pode captar o que há de essencial,
que é erigida a especificidade do austrianismo no pensa- justa e plenamente, na obra de um grande autor sem re-
mento econômico, qual seja, a unificação da abordagem correr às questões imediatas (teóricas e concretas) que o
tipicamente econômica da agência individual guiada pelo impulsionaram a tentar fazer avançar a compreensão do
interesse próprio com a abordagem sociológica preocupa- sistema que busca desvendar. Esse tem sido um erro co-
da com instituições sociais. mum no estudo da história das ideias em nossa disciplina,
qual seja, a descontextualização completa e o corte cirúr-
gico de conceitos e ideias que possam servir a certo arca-
2_Os clássicos do pensamento e a postura do bouço teórico estranho ao qual foi originalmente criado.
economista diante da teoria convencional Exemplo típico desse movimento, aliás citado por Tolipan
Nesta seção, procuro argumentar que o estudo do pensa- (1989), é o da incorporação da teoria da renda clássica pela
mento de um grande economista só se justifica na medida teoria marginalista de produtividade e remuneração dos
em que nele se busquem alternativas ao estado atual da fatores, sem contudo referir-se ao conceito de excedente
ciência econômica. Os clássicos do pensamento econômi- ou à divisão de classes que a precediam.
co (em sentido amplo) podem contribuir à compreensão Por outro lado, não se trata de “jogar, da bacia, o bebê
das relações entre os homens em certo sistema social, o junto com a água”. Volto a ressaltar que os clássicos escre-
capitalismo, que, a despeito de suas diversas mutações e ca- veram estimulados por problemas por eles detectados em
racterísticas particulares,1 permanece com traços, digamos, sua época, mas que isso não seja um impedimento à bus-
essenciais, que se propagam no tempo e no espaço. ca, neles, de inspiração e ferramentas para os problemas
Ainda que questões locais certamente influenciem na enfrentados pela profissão hoje. Smith, imerso em uma
constituição dos dramas intelectuais que impulsionam os Escócia atrasada e que vivenciava uma variante peculiar
clássicos a refletirem sobre o mundo que os rodeia, isso do iluminismo (Cerqueira, 2006), estava preocupado em
não implica que não tenham nada a dizer sobre nosso atu- criticar os fisiocratas ao mostrar que o crescimento da ri-
al estado econômico. Por isso, a utilização dos autores do queza das nações estava ligado ao grau de divisão do traba-
passado deve ser feita com conhecimento do contexto em lho e ao tamanho do mercado; Ricardo, preocupado com

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o fechamento do comércio de cereal inglês e seu impacto O austrianismo contemporâneo pode ser visto como
sobre a taxa de acumulação capitalista, vista como motor uma corrente de pensamento que promove a construção
do progresso, quando criou a teoria das vantagens compa- da teoria contemporânea como uma espécie de extensão
rativas e a explicação da origem da renda da terra;2 Marx, do passado da ciência econômica. Boettke (2002) percebe
em entender de que maneira o capital submete de modo que os adeptos da Escola Austríaca contemporânea fazem
cada vez mais intenso o trabalho a seu processo de valo- um uso instrumentalista da HPE, usando o passado para
rização de si mesmo, sugando trabalho vivo e procurando, construção teórica atual de sua abordagem – e não devem
ao mesmo tempo, livrar-se desse empecilho, só para se ver se envergonhar por isso, diz ele, já que esse tipo de leitura
unificado a ele nas crises que esse mesmo processo gera; vem servindo não só à Economia, mas também às demais
Keynes, em tomar posição em favor do capitalismo como Ciências Humanas em seu desenvolvimento. De acordo
sistema econômico eficiente, em oposição ao planejamen- com ele, o que os austríacos, em geral, fazem quando reali-
to central, ainda que apontasse os problemas trazidos pela zam uma leitura instrumental da HPE não é propriamente
valorização exacerbada do indivíduo e do love of money.3 história intelectual, que se preocupa muito mais com a
Já Hayek escreveu no clima da guerra fria, em que a disputa contextualização do pensamento de um autor para enten-
entre os sistemas econômicos estava em seu momento má- der como e o porquê de seus escritos, mas sim um diálogo
ximo, e qual seria o vencedor, na disputa cotidiana, parecia entre os autores do passado e os teóricos presentes, trazen-
realmente incerto ao “homem da rua”. Mais do que isso, es- do os antigos de volta ao debate. Assim, “older ideas, like
creveu durante o auge do chamado “Estado de bem-estar contemporary ideas, are examined for their logic and how
social” e das políticas estatais de regulação, controle e “do- they fit in the refinement of the basic concepts in economic
mesticação” da dinâmica capitalista. É nesse clima político science” (Boettke, 2002, p. 353).
que Hayek procura mostrar a superioridade do sistema de Ludwig von Mises (1960), ao comentar a relevância do
mercado em relação às suas alternativas. livro seminal de Kirzner (2009), afirma que “[e]ssays on
A contextualização política e teórica dos autores pre- the history of economic thought are to be appreciated not
gressos é importante na compreensão do pensamento de only purely as history”.4 Antes, penso, só se pode encontrar
determinado autor, mas que nisso não se encerre o traba- utilidade neles ao servirem de instrumento de avaliação
lho do economista praticante de HPE, tampouco inviabilize crítica do estado atual de nosso conhecimento a respeito
o diálogo construtivo teórico entre o presente e o passa- dos fenômenos econômicos, baseando-se na observação e
do. O contexto particular em que cada um dos clássicos no estudo das tentativas realizadas no passado para deci-
da história da profissão escreveu não deve desencorajar a frar o funcionamento da economia, tanto na busca por uma
busca, neles, de perguntas, trilhas, pistas e possíveis cami- melhor maneira de se delimitar e abordar o objeto, quanto
nhos que foram deixados abertos ao longo dos desenvol- em alternativas ao próprio tipo de raciocínio e interpreta-
vimentos posteriores. Assim, na procura pela crítica e por ção que realizamos.
caminhos alternativos com base na força teórica de seu Nessa perspectiva, a linha divisória entre teoria econô-
pensamento, pode-se encontrar justificativa e motivação mica e HPE acaba por se tornar obscura. Não há delimitação
para o estudo da contribuição de um autor de porte. clara entre ambos os terrenos. O fazer HPE é da mesma

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forma fazer teoria econômica. Se se quiser, é fazer a crítica de Hayek). Contudo, após a sua “transformação” (Caldwell,
da teoria econômica. A teorização, assim, surge também “na” 1988a) e o alargamento de seus interesses rumo à Filosofia,
e “como” posição crítica à teoria convencional. Como coloca Ciência Política e outros campos do saber, tomou posição,
Tolipan a respeito da obra de Sraffa, o sentido da HPE é o em geral, contra-Whig.6 Boettke (2001) argumenta que
“que recusa a função meramente rememorativa e apologéti- Hayek fazia uso do pensamento pregresso com o objetivo
ca da história do pensamento e a trata como teoria e crítica de avançar na teorização econômica atual: “[H]e used intel-
no sentido forte dos termos” (Tolipan, 2002, p. 148). lectual history primarily for his present theoretical purpose.
De acordo com Boettke (2000), há quatro modos não To Hayek, doing intellectual history was one way in which
excludentes de se realizar a leitura dos clássicos. O primei- one did contemporary theorizing” (Boettke, 2001, p. 120).
ro é a Whig history, nome dado à leitura feita por aqueles Boettke (2000) reconhece que a posição favorável a lei-
vistos como vencedores nos principais debates acadêmi- turas instrumentalistas e oportunistas pode causar estra-
cos. O segundo é contra-Whig history, a história escrita nheza aos puristas da HPE, na medida em que, em geral,
por aqueles percebidos como derrotados. A terceira é a lei- só se reconhece como academicamente válida a leitura de
tura de antiquário, preocupada sobretudo com a recons- antiquário, que procura apenas recompor a intenção ori-
tituição da intenção do autor ao escrever seus textos e com ginal do autor ou destacar uma antecipação esquecida na
a sua contextualização. Por fim, a quarta é a instrumental,5 história do pensamento, o que acaba por tornar de valor re-
que se preocupa principalmente com o objetivo do leitor. duzido para os estudantes de economia a dedicação à HPE.
Boettke (2000) propõe, então, uma matriz com as quatro Um dos principais nomes da Escola Austríaca contempo-
células que contenham as combinações entre os diferentes rânea, Boettke conta que, por seu trabalho ser repleto de
modos de se realizar a leitura (Whig e antiquário, Whig e referências a autores considerados clássicos na Economia,
instrumental, contra-Whig e antiquário, contra-Whig e ele pode ser tido, pela convenção da profissão, como um
instrumental). De acordo com ele, todas essas quatro com- historiador do pensamento ou qualquer coisa do tipo, isto
binações possuem seu valor histórico, inclusive as de cará- é, tudo, exceto um teórico.
ter instrumentalista, baseado na argumentação de cunho A despeito disso, ele próprio se considera um teórico
kirzneriano que apresentamos abaixo. em Economia e Economia Política. A diferença de opiniões
Na interpretação de Boettke (2002), é inegável que a a que Boettke (2000) se refere pode ser atribuída à percep-
Escola Austríaca contemporânea realiza uma leitura ins- ção, pela maior parte da profissão, de que há um processo
trumentalista da HPE, trabalhando na aderência da teoria que Arida (1983) chamou de “superação positiva”: tudo o
econômica com os membros pregressos da tradição. Os que havia de relevante nos pensadores econômicos do pas-
founding fathers Menger, Böhm-Bawerk e Mises seriam sado foi incorporado ao estado presente da teoria, está con-
praticantes de Whig history, ao passo que Hayek faria tido na fronteira do conhecimento. Desta forma, o estudo
uso instrumental do pensamento pregresso, ao mesmo das ideias pode ser feito, mas de modo desconexo da rea-
tempo em que publicou trabalhos tipicamente Whig ao lização da pesquisa teórica na fronteira do conhecimento.
tratar de teoria monetária e ciclo econômico (antes, por- Para Boettke (2000), porém, não se deve desprezar a pos-
tanto, do que Caldwell, em 1988, chamou de transformação sibilidade de que a profissão tenha cometido equívocos, que

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conhecimento precioso tenha se perdido ao longo do tempo, A etapa científica da Economia, ao contrário, seria ca-
ou que soframos do que ele chama de “memória insuficien- racterizada pela existência de uma comunidade que dia-
te” – o que faz lembrar a “espessura temporal reduzida” com loga entre si e constrói sua teorização valendo-se da con-
a qual Arida (1983) qualifica a fronteira do conhecimento na tribuição dos pares e dos autores da geração anterior: “An
concepção hard science que domina a ciência econômica. essential element of a science is the cumulative growth of
A constatação de Boettke (2000) é que, na perspectiva knowledge, and that cumulative character could not arise
convencional, por ele identificada principalmente ao no- if each generation of economists faced fundamentally new
me de George Stigler, é possível se fazer uma analogia do problems calling for entirely new methods of analysis” (Sti-
“mercado” de ideias com o mercado competitivo eficiente gler, 1982, p. 61). Nessa comunidade científica, ganha desta-
normalmente tratado na teoria econômica, em que não se que a existência da apresentação de propostas, de debate
encontram oportunidades de lucro puro a serem exploradas. e de crítica mediante conferências e revistas acadêmicas,
Stigler (1982) se propõe a procurar entender o progresso por exemplo.
da ciência econômica com base na compreensão de econo- Mais do que isso, Stigler (1982) dá a entender que a exis-
mia que possui. Os demandantes nesse mercado seriam os tência dessa comunidade científica como que leva a Eco-
que buscam “ideias e métodos” que possam ser aplicadas nomia a, ao longo do tempo, descartar as propostas teóri-
para o entendimento do universo econômico; esses aca- cas e metodológicas infrutíferas. Desse modo, a entrada no
bam, em geral, por adquirir ideias já prontas e testadas. Já mainstream e a criação de linhas de pesquisa relevantes
aqueles engajados na busca de novas ideias são ofertantes, e progressivas, sugere Stigler (1982), acontecem após as
na medida em que oferecem ideias e métodos àqueles que abordagens terem passado pelo crivo da crítica dos pares,
os vão aplicar, e demandantes, por terem que recorrer à de maneira que o domínio da profissão é feito por ideias
ciência econômica contemporânea e pretérita para buscar já testadas e aprovadas. O tempo e a crítica da comuni-
pistas para os novos caminhos. O problema, então, é sa- dade científica, então, seriam encarregados de separar e
ber em quais caminhos procurar, já que é de se supor, diz dar prosseguimento às ideias que possam gerar frutos. Diz
ele, que a história da ciência econômica, como ademais de ele: “[T]he overwhelming majority of these new ideas will
todas as ciências, deve estar repleta de equívocos. Subja- prove to be sterile - in fact, quite possibly all the new ideas
cente à abordagem de Stigler para a evolução da ciência of a period of years will prove to be sterile. Only afterward,
(econômica), está a noção de que há uma espécie de pro- with the fullness of knowledge that history sometimes
cesso cumulativo no avanço do conhecimento. De fato, ao provides, can we identify the truly fertile ideas of a period”
comentar o caráter pré-científico do mercantilismo, Stigler (Stigler, 1982, p. 63).
afirma que uma das características da literatura mercanti- Ora, nesse caso, dificilmente haveria ideias corretas e
lista era que “most mercantilists propose their own views aproveitáveis a serem exploradas nos autores mais antigos
without any attempt to utilize or improve upon the work que já não tenham sido apropriadas pelos participantes
of other mercantilists”, o que acabava por levar a que “the- desse “mercado.”7 Mais do que isso, dado o alto grau de
re was no cumulative improvement in the doctrines being exigência para os estudantes atingirem a fronteira do co-
propounded” (Stigler, 1982, p. 58). nhecimento e para os já treinados não ficarem defasados,

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o custo de oportunidade para se dedicar ao estudo do pen- ly-removable ignorance which “inefficiently” remains after all
samento dos autores pregressos é muito alto. known worthwhile, cost-benefit-calculated efforts have been
Na opinião de Boettke (2000), porém, podem sim exis- made to remove known ignorance” (Kirzner, 1999, p. 10, n. 21).8
tir erros cometidos no curso do desenvolvimento da ciên- Quer me parecer, portanto, que, seguindo Boettke (2000),
cia ao longo do tempo, de modo a haver “oportunidades de pode-se falar da existência de uma espécie de oportunidade
ganho não exploradas” no mercado de ideias. A analogia de ganhos ainda não percebidos e capturados na leitura
utilizada por ele, ainda que de forma implícita, é com a dos clássicos da Economia. O processo de mercado – no
abordagem austríaca do processo de mercado, e, mais es- caso, mercado de ideias – de forma alguma garante que
pecificamente, com o papel que Israel Kirzner (e. g. 1973) dá erros não sejam cometidos e que todos os ganhos sejam
ao empresário que consegue perceber a existência desses explorados, sob uma perspectiva austríaca. O mercado não
erros e oportunidades. é perfeito e competitivo no sentido neoclássico convencio-
Kirzner adota uma perspectiva explicitamente mise- nal. Assim como Hayek, o economista teórico atual pode se
siana para estudar o processo de mercado rumo ao equi- valer do trabalho de “mining the past” (Boettke, 2001, p. 121)
líbrio, em que não existem oportunidades de ganho não para avançar sua pesquisa.
exploradas. Nesse processo, papel central é dado ao em- Com isso, de um ponto de vista austríaco e, mais espe-
presário (entrepreneur) que possui um “estado de alerta” cificamente, kirzneriano, a História do Pensamento Econô-
(alertness) que o leva a notar a existência desses erros e, mico pode ser compreendida como um esforço de se bus-
sobre eles, extrair ganhos extraordinários, num movimen- car, nos autores pregressos, modos de se corrigir, criticar e
to que, ao mesmo tempo, aumenta o grau de coordenação aprimorar a teorização econômica contemporânea. Se for
entre os indivíduos e leva o mercado a um estado mais pró- entendido que o processo de avanço da ciência econômi-
ximo do equilíbrio (que, destaque-se, nunca é alcançado). ca não necessariamente conduz à exploração de todas as
Nas palavras de Kirzner, “[t]he emphasis was thus on the oportunidades de ganho intelectual no estudo dos clássi-
entrepreneur as the person who alertly (but “passively”) cos do passado, é possível que o retorno a eles possa levar à
simply noticed the opportunities generated by the earlier descoberta e à utilização de conhecimento válido que havia
errors, which errors were seen as arising from unanticipat- passado despercebido, como resultado de uma espécie de
ed independently-caused, changes in underlying market ignorância involuntária. Cumpriria, assim, ao pesquisador
circumstances” (Kirzner, 1999, p. 7). engajado na HPE um papel análogo ao do entrepreneur na
De um ponto de vista kirzneriano, deve ser enfatiza- abordagem de Kirzner ao processo de mercado: descobrir
do que as oportunidades de ganho estão lá, presentes, como e explorar as oportunidades até então ignoradas que levem
que à espera de alguém que as perceba e explore. Não são à aderência crítica da HPE à teorização econômica atual.
“criadas”, nem tampouco se sabe de sua existência como se Nas palavras de Ricardo Tolipan, “[a] história do pensa-
existisse uma espécie de “ignorância calculada” e racional. A mento não deve ser uma mera retrospecção, isto é, um relato
oportunidade simplesmente não é percebida até que o empre- que culmina acriticamente no presente. Também não deve
sário, dotado do estado de alerta, nota-a e a explora. É a sheer ser um relicário, depósito de vestígios sacralizados. Estes são
ignorance, que Kirzner define como “undeliberate, costless- procedimentos da apologia do atual” (Tolipan, 2002, p. 149),

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ou seja, os clássicos do pensamento econômico não devem lectual que o retorno a autores pretéritos é capaz de trazer
ser tratados, quando convém, como gênios que anteviram e para a tentativa de avanço do debate contemporâneo.
limparam o caminho para a certeza que hoje se possui; mes-
mo para aqueles que enxergam a HPE como extensão crítica
e progressiva da teoria econômica, os clássicos do passado 3_Sobre a pluralidade de métodos e
não devem ser tratados como santos inspirados, infalíveis abordagens em Economia
e inerrantes, autores de um cânon sagrado que deve ser es- Assim como Cavalieri (2009), meu objetivo nesta seção é
tudado à exaustão para que nele se encontre a verdadeira justificar a existência do pluralismo em Economia. Contu-
resposta aos questionamentos humanos. do, ao contrário dele, procuro tal justificativa baseando na
Isso implica que a história do pensamento econômico abordagem de Hayek à mudança institucional. Pluralismo
que não se faça teoricamente estéril traz em seu bojo a pode ser entendido como a existência de uma variedade de
noção de que o conhecimento humano é imperfeito, mas programas de pesquisas em Economia, bem como de um
capaz de ser aprimorado num processo que não é necessá- ambiente institucional na Academia que ofereça algum
rio e nem pode ser dado como certo. Só assim se justifica espaço para posições divergentes do que é considerado
a existência de paradigmas concorrentes em economia, de conhecimento e método hegemônicos na profissão.9
escolas heterodoxas, à margem e críticas ao mainstream. Além disso, minha posição é que o objetivo de estudos
A leitura dos clássicos do passado serve justamente ao na área de metodologia da Economia não deve ser mos-
levantamento de questões a favor e contra o paradigma trar a possibilidade de se “fazer ciência”, conforme essa é
dominante, ao seu método e às respostas e soluções que pregada pelo núcleo duro de nossa disciplina, tampouco
oferece. A relação entre o estudo da história do pensamen- demarcar critérios de cientificidade ou estabelecer normas
to e a existência de abordagens alternativas é direta. Dun- para a pesquisa em Economia. Não vejo o método como
can Foley é correto quando afirma que “history of thought uma “Meca” da economia positiva, espécie de motor da ci-
can contribute to the intellectual diversity of the econom- ência a empurrá-la em direção a explicações cada vez mais
ics profession […]. [A] more diverse profession would be neutras e próximas da verdade objetiva, e baseada em fatos,
an intellectually stronger profession, and the history of e não em valores, como Blaug (cf. Prado, 1991, cap. 12), nem
thought, in my view, is one path to reproducing diversity” como Sociologia da ciência.
(Foley, 2009, p. 29). A meu juízo, a reflexão metodológica deveria fazer parte
Na próxima seção, procuro justificar a existência do da formação de qualquer economista e ser sua preocupação
pluralismo metodológico em Economia com base em uma permanente. Ela é uma postura crítica em relação às hipóte-
analogia com o liberalismo apregoado por F. A. Hayek. Tal- ses e ao tipo de raciocínio praticado pelo economista segui-
vez o resgate ora tentado do pensamento de Hayek, autor dor dessa ou daquela vertente de pensamento, na medida em
consagrado do passado relativamente recente dessa ciên- que procura compreender os fundamentos das explicações
cia (da Economia), para tentar aproximá-lo de um tópico dadas pelos profissionais e as bases de suas doutrinas.
relevante e atual da metodologia da Economia, possa ser- Isso não implica, obviamente, que todos os economis-
vir como exemplo mesmo da possibilidade de ganho inte- tas deveriam ter a metodologia como área de pesquisa, mas

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apenas que ela é útil a todos e deveria fazer parte de seu na medida em que a leitura dos clássicos de certa corrente
treinamento como ferramenta relevante. Nas palavras da e o enfrentamento de seus dilemas e limites podem servir
pós-keynesiana Sheila Dow: como norte à reflexão que se proponha a avançar a ciência
econômica, especialmente quando se pretende traçar um
[M]ethodological awareness would be extremely caminho crítico à corrente dominante dentro da profissão.
useful for all economists […]. For Post
Isso, contudo, não pressupõe nenhuma postura acadêmica
Keynesian theory like any theory, to develop,
de erguimento de muros entre as escolas, ou de impossibili-
not all economists should be concentrating on
foundations all the time. But the rationale for dade de diálogo ou de aproveitamento mútuo de conceitos e
acquiring methodological awareness is that ideias; ao contrário, na medida em que a metodologia possa
it can be drawn from the subconscious to the servir ao aumento e à facilitação do diálogo entre os econo-
conscious level when the need arises mistas adeptos das diferentes escolas de pensamento.11
(Dow, 1999, p. 17). De acordo com Van Bouwel (2005), pode-se falar de ao
menos cinco razões em defesa de uma postura pluralista
Assim como Mises (2006, prefácio) dá a entender que em Economia. A primeira delas é a motivação ontológica,
avanços em estudos epistemológicos não acontecem de que se baseia na posição de que o mundo é complexo (ou
modo separado do avanço dos campos científicos propria- o que o autor chama de disunity) e, portanto, nenhuma
mente ditos, e muito menos por indivíduos que não este- teoria sozinha seria capaz de dar conta das várias facetas
jam engajados na pesquisa científica, o mesmo, acredito, existentes na realidade social. A segunda, quase comple-
pode ser dito com relação à metodologia.10 Nesse sentido, mentar à primeira, é assentada nas limitações cognitivas
ela não precisa ser colocada à margem como um campo dos investigadores, explicitando a incapacidade intelectual
do saber necessariamente separado das áreas de estudo de se lidar plenamente com os diversos ângulos por meio
da ciência econômica substantiva e trabalhado por um cír- dos quais se podem abordar o objeto de pesquisa social.
culo restrito e fechado de profissionais, mas integrado às A terceira motivação apresentada por Van Bouwel (2005)
reflexões e às tentativas de avanço do economista. é a existência de particularidades históricas e geográficas, de
Além da crítica ao pensamento econômico, especial- modo que uma teoria não seria capaz de explicar todas as
mente do mainstream, Dow (1999) diz que o estudo da me- manifestações econômicas em todas as eras e em todos os
todologia também se mostra profícuo como forma de se lugares, ainda mais pelo fato de a realidade ser mutável. A
estabelecer limites e fronteiras entre as diferentes escolas quarta é a motivação pragmática, que dá espaço à justi-
de pensamento, bem como servir de parâmetro para de- ficativa de que diferentes abordagens podem ser válidas
bates internos a cada uma delas, sendo, assim, importante na medida em que diferentes objetivos e diferentes tipos
enquanto criador e norte de novas agendas de pesquisa. As- de perguntas possam existir. Por fim, a quinta motivação
sim, há utilidade e até necessidade de se estabelecerem os é a estratégica, que Van Bouwel (2005) diz existir apenas
limites entre escolas de pensamento e tradições intelectuais porque membros de escolas marginalizadas na profissão
como forma de se facilitar tanto o debate acadêmico (e até procuram defender o pluralismo para que possam justifi-
político) quanto o desenvolvimento intelectual individual, car a própria pesquisa e as opções teórica e metodológica.

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Semelhantemente, Fernandez (2011) expõe seis possí- objetivo, o trabalho do estudioso da metodologia da Econo-
veis motivos candidatos à razão de existência da metodolo- mia é “undertakes critical evaluations of the strenghts and
gia como área de estudo do economista. São eles: simples- limitations of various research programs in economics
mente para nada, para entreter economistas às vésperas da and economic methodology” (Caldwell, 1988b, p. 234, grifo
aposentadoria, como atividade para quem não consegue no original), o que pode ser enriquecido por estudos sobre
trabalhar com modelos, como reguladora e guardiã do que a trajetória do movimento das ideias ao longo do tempo, a
é ciência em Economia (ou seja, com um papel prescritivo), contextualização do surgimento e do avanço dos programas
como mecanismo de estudo e reflexão sobre as práticas dos de pesquisa e, claro, da retórica aplicada à Economia.
profissionais de Economia (um caráter descritivo) ou co- Para cumprir seu propósito, a ferramenta fundamen-
mo defensora do pluralismo.12 As três primeiras, continua tal do pluralista é a crítica dos programas de pesquisa e das
Fernandez (2011), desprezam a validade da metodologia, ao novidades que emergem continuamente no pensamento
passo que as três últimas atribuem a ela papel relevante, econômico. Nesse sentido, a metodologia tal como propos-
de modo que são as usualmente adotadas pelos metodólo- ta por Caldwell (e.g. 1988b) é o oposto da visão dominante
gos.13 Interessante também é a observação feita pelo autor segundo a qual o papel da metodologia é como que propor
de que adotar uma postura pluralista não significa ser con- fórmulas para se fazer ciência econômica e, portanto, pode
traditório no nível individual. Ou seja, o economista que ser chamada de uma posição metametodológica. Em seu
se filia claramente a uma escola de pensamento e defende artigo originado em 1985 (Caldwell, 1988b), Caldwell chama
suas posições teóricas, metodológicas e sua doutrina pode, essa posição de “pluralismo metodológico”, mas, pouco de-
sim, se posicionar favoravelmente à existência e valor de pois, em 1990, afirma que a posição que defende é “probably
outras correntes com base no reconhecimento dos limites better dubbed critical pluralism” (Caldwell, 1990, p. 65).
cognitivos seus e de seus pares diante de uma realidade A crítica que caracteriza a posição do pluralista tem o
complexa e passível de mudança. objetivo de compreender o programa de pesquisa e apontar
Um dos principais nomes associados ao pluralismo em suas fraquezas, com a intenção de se buscar o avanço do co-
Economia é o de Bruce Caldwell. Sua postura pluralista, ar- nhecimento econômico. Ela pode assumir diversos aspectos,
gumenta (Caldwell, 1988b), é resultado de uma reflexão que passando pela crítica interna, dizendo respeito à coerência
o levou a descartar outros possíveis papéis para a metodolo- e ao rigor lógico de determinado projeto de pesquisa, até a
gia, entre os quais o de propor uma maneira inequívoca de sua capacidade de explicar a realidade e a sua possibili-
se fazer ciência econômica, de escolher entre paradigmas dade de sustentação empírica, passando por outros como
diferentes e de demarcar o que é e o que não é científico contribuição para o ensino de economia, possibilidades de
em Economia. Segundo ele, o papel da metodologia deve ser analogia com outras áreas do conhecimento e simplicida-
buscado tendo por base uma perspectiva pluralista, para a de. Em suas palavras, o propósito do pluralista
qual “the primary purpose of methodological work in eco-
nomics is to enhance our understanding of what economic [I]s not to demarcate, nor to find the ‘best’ the-
science is all about and, with luck, by so doing, to improve it” ory by comparing rival theories against a set of
(Caldwell, 1988b, p. 234, grifos no original). Para cumprir esse immutable standards, but to find the strengths

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and weaknesses of whatever program they are ciências, de modo a se selecionar as explicações que mais
investigating. If they do their job well, we will se aproximem, de forma progressiva, do conhecimento ver-
have a better understanding of what economic dadeiro, o que tornaria inexistente uma função para escolas
science is, and with luck that will lead to its alternativas à corrente dominante, como a Escola Austríaca.
improvement (Caldwell, 1988b, p. 240).
A resposta que ele oferece é que o critério de popularidade
acadêmica não deve ser visto como uma demarcação entre
A despeito de o pluralismo crítico ser fruto de certa de- o que é verdadeiro ou falso ou de qual o melhor sentido
cepção com a possibilidade de se usar a metodologia para para que se alcance o progresso da ciência, tampouco que
o estabelecimento de receitas científicas para a Economia se devem efetuar julgamentos com base em uma “coun-
ou a demarcação entre o que é e o que não é científico de ting-heads theory of truth” (Boettke, 1998, p. 1), até porque
forma inquestionável, ele não implica a descrença na exis- a história mostra que paradigmas impopulares em certo
tência de uma realidade compreensível ou a desistência da momento podem, no momento seguinte, tornarem-se do-
busca da “verdade”. Cavalieri escreve sobre Caldwell que minantes – e isso não só nas soft sciences.
Na realidade, o que se vê na ciência econômica é o que
[O] pluralismo crítico não pretende ser uma Foley (2009) chama de tendência à “reciclagem de ideias” que
filosofia da ciência. O pluralismo crítico é,
aparecem sob o disfarce de novas abordagens, tendência es-
antes de tudo, uma posição de economista. E,
sa por ele exemplificada mediante a referência à reintrodu-
embora Caldwell note, num texto mais recente,
sua simpatia pela visão realista quanto à ção de conceitos como progresso técnico endógeno e efeito
ontologia do ser social […] – significando que transbordamento na chamada “nova teoria do crescimento”.
o autor concorda com a ideia de uma verdade Na visão de Boettke (1998), as correntes alternativas
una, e que o objetivo da ciência é perseguir a exercem a dupla função de lidarem com temas margina-
clarificação dessa verdade – essa posição não lizados pelo mainstream e de oferecerem modelos dife-
traz grandes consequências para sua sugestão, rentes de se abordar os problemas já tratados pela maioria
pois o núcleo duro de sua tese encontra-se no dos economistas. Assim, a função de economistas identi-
nível metametodológico (Cavalieri, 2009, p. 170). ficados, por exemplo, com a Escola Austríaca, é tanto a de
perguntar questões antes não perguntadas quanto a de res-
Talvez por isso Caldwell admita possuir postura crítica ponder de maneira criativa às questões ainda sem resposta
em relação à agenda de pesquisa de autores como McCloskey, satisfatória, o que deve passar também por trabalhos em
envolvendo o estudo da retórica na Economia e a solução de que os economistas saiam com “dirtier hands” ao invés
controvérsias entre os participantes da profissão. Em suas de apenas assumirem uma postura crítica sobre como os
palavras, “the opposition to it from methodologists like me outros analisam a realidade.14
was inevitable, given the anti-epistemological foundations A meu ver, a razão, digamos, evolucionária quando apli-
which were chosen for its grounding” (Caldwell, 1990, p. 70). cada ao estudo do movimento da ciência, em particular a
O professor Peter Boettke se pergunta, a certa altura, econômica, aponta justamente a conveniência e a necessi-
se não existe uma espécie de processo evolucionário nas dade de se admitir a existência de paradigmas concorrentes

Nova Economia_Belo Horizonte_24 (1)_33-50_janeiro-abril de 2014 Eduardo Angeli 43


ao mainstream, e não o contrário. Dessa forma, a defesa talaxia”) é essa plataforma na qual os indivíduos podem
do liberalismo político – que pode, em certo sentido, ser buscar os próprios interesses e divergir do comportamen-
pensado como um tipo de pluralismo, já que “[n]a política, to esperado. Deve ser entendido também que é no sistema
pluralismo tem sido sinônimo de liberdade de expressão, de mercado que a cooperação anônima e inconsciente de
direito de discordar da opinião dominante, respeito à di- um sem-número de pessoas é possível de acontecer.
vergência, em suma” (Bianchi, 1992, p. 139) – pode levar a Segundo Arnold (1980), o arcabouço teórico hayekiano
uma posição liberal/pluralista na Academia, em que sejam para a existência da “Sociedade Aberta” está assentado so-
valorizados os “méritos de uma sociedade dinâmica e di- bre três fundamentos: o primeiro é a liberdade, o segundo
versificada” (Bianchi, 1992, p. 139). Fernandez (2011) também é a existência de regras gerais e o terceiro é um ambiente
vê um paralelo entre o pluralismo no campo da ciência concorrencial (entendido como livre entrada e saída), tudo
e a sociedade democrática, com aquele sendo a postura isso envolvido por determinado código moral. Para Arnold
científica compatível com esta última. (1980), Hayek coloca como fundamento primeiro da “Socie-
Segundo a abordagem hayekiana, o desencadeamento dade Aberta” a liberdade, na medida em que é ela que per-
do processo de mudança do arcabouço institucional parte mite ao indivíduo fazer uso do conhecimento que possui
do indivíduo quando esse busca se adaptar melhor a seu para o próprio benefício, o que pode trazer o progresso de
ambiente. Caso obtenha sucesso (aplicando uma tecnolo- todos, se tivermos em mente uma explicação de tipo “mão
gia, por exemplo, que lhe permita obter maior lucro), será invisível”. A existência de liberdade, contudo, está condi-
imitado por outros de seu grupo. A mudança parte do in- cionada à adoção de regras gerais, nome dado ao conjunto
divíduo “inovador” que em geral vislumbra uma melhor de regras que caracterizam e regem uma sociedade e que
maneira de agir e tem a ousadia de levá-la adiante. Depois, são anônimas, no sentido de não serem dirigidas a pessoas
tendo sucesso, é imitado (Birner & Ege, 1999, p. 766). específicas, e sem um propósito específico e predefinido.
De acordo com Ebner (2005), a abordagem de Hayek à Para Hayek, a abordagem evolucionária apoia a or-
evolução institucional ocorre em três momentos: variação, dem social livre, entre outros motivos, justamente por ser
transmissão e seleção.15 Por variação, entende-se a mudan- nessa que os indivíduos podem desfrutar da liberdade de
ça, nem sempre explícita ou deliberada (vale dizer, comu- adaptação às mudanças do ambiente em que estejam inse-
mente aleatória), de hábitos, rotinas e tecnologia por parte ridos, das condições locais de produção, das preferências
de indivíduos que buscam atingir determinados objetivos e, especialmente, do conhecimento. Analogamente, talvez
em um mundo permeado pela incerteza e num ambiente seja correto pensarmos que, na Academia, a liberdade de
concorrencial. Tal mudança pressupõe a existência de uma se poder adotar diferentes programas de pesquisa e dife-
plataforma institucional ou jurídica de caráter negativo, ou rentes perspectivas de trabalho funcionaria como meca-
seja, que permita à ação humana ser livre dentro de certos nismo preventivo contra uma possível tomada de posição
limites, ao invés de definir precisamente os passos exatos unânime ao redor de uma postura metodológica ou, pior,
que a ação terá, além de apresentar alguma tolerância pa- de propostas de políticas públicas que sejam equivocadas.
ra aqueles que quebrem o sistema de regras. Birner e Ege Liberdade, para Hayek, é “that condition of men in
(1999) notam que, para Hayek, a ordem de mercado (“ca- which coercion of some by others is reduced as much as

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is possible in society” (Hayek, 1960, p. 11). Para o austríaco, o De qualquer modo, mais importante do que a liber-
conceito relevante de liberdade é social (de um homem pa- dade que certo indivíduo desfruta, é a existência de um
ra com outro) e se refere à liberdade da coerção e do arbítrio ambiente institucional (em sentido amplo) que dê a possi-
exercidos por uma pessoa sobre outra pessoa. De acordo bilidade às pessoas de tentarem fugir do que é considerado
com ele, o valor da liberdade está precisamente em dar ca- usual ou consensual, de maneira que uma pessoa possa se
pacidade às pessoas agirem conforme os próprios planos (e beneficiar não só do conhecimento alheio, mas mais ainda
não, sob coerção, a atender fins alheios)16. Mais do que isso, da liberdade de outrem. Segundo o austríaco,
a defesa da liberdade por Hayek se assenta na existência, no
construto teórico do austríaco, de ignorância por parte das [M]ajority action is, of necessity, confined to
the already tried and ascertained, to issues on
pessoas.17 A sociedade livre, portanto, deve ser decorrência
which agreement has already been reached in
de ela ser formada por indivíduos que não possuem conhe-
that process of discussion that must be
cimento perfeito e que não têm certeza sobre o que o futuro preceded by different experiences and actions
trará. Se houvesse homens oniscientes, diz Hayek (1960, cap. on the part of different individuals. The
2), o argumento pela liberdade seria bastante enfraquecido. benefits I derive from freedom are thus largely
Mas, já que o conhecimento é limitado e passível de mu- the result of the uses of freedom by others, and
dança, é conveniente que se permita às pessoas fazer uso mostly of those uses (Hayek, 1960, p. 31-32).
do conhecimento local e particular que está disperso na
sociedade, e que não pode ser coletado e processado por A liberdade de que fala Hayek (1960, cap. 2), assim, não
uma pessoa ou por um comitê central, bem como que os é liberdade apenas da coerção e do arbítrio alheios, mas
indivíduos possam realizar experimentos e mudanças pa- também liberdade para poder fugir do comportamento e
ra, por meio de um processo de tentativa e erro, poderem do pensamento convencionais, bem como para se utilizar
se adaptar às circunstâncias sempre variáveis do ambiente. conhecimento exclusivo ao próprio benefício, tudo isso en-
De fato, Hayek afirma que mais importante do que garantir volvido num processo de tentativa e erro em que prevalece
a existência de instituições que possam elevar o grau de uma espécie de disciplina competitiva de mercado. Dessa
previsibilidade por parte das pessoas é dar a chance de elas forma, é possível à sociedade preservar a liberdade (o que
poderem aprender e usar esse conhecimento. por si só, para Hayek, tem valor), aumentar o grau de utili-
A liberdade, para Hayek, é relevante na medida em que zação do conhecimento existente e o grau de coordenação
permita o comportamento distinto do senso comum exis- entre os indivíduos, além de se valer da possível eficiência
tente e representado na opinião da maioria, ainda que, no advinda do processo evolucionário de regras e instituições.
construto hayekiano, as instituições e as regras sejam es- Da mesma forma, é meu argumento que, na pesquisa
pécies de depósitos de conhecimento social acumulado ao econômica, deve ser adotada postura pluralista no sentido
longo de gerações através de um processo evolucionário. de se incentivar a multiplicidade de formas de abordagens,
Elas são necessárias, muitas vezes acompanhadas de al- enfoques e perspectivas ao se tratar do objeto de estudo
gum tipo de enforcement, para que a ordem espontânea do economista (cuja definição e delimitação também são
não seja esfacelada. fontes de enorme controvérsia). Se tivermos a contribui-

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ção de Hayek em mente, podemos pensar que, se tomar tal mo de metodologias na Academia são importantes fatores
posição pluralista, a profissão pode se beneficiar de diver- no aumento do grau de compreensão, por parte dos eco-
sas maneiras, tais como: nomistas, do objeto que se propõem a estudar. Para isso,
1_ do conhecimento disperso existente entre os levantou dois argumentos associados à Escola Austríaca:
praticantes da disciplina, conhecimento referente a abordagem de Kirzner para a descoberta de oportunida-
não só às peculiaridades da economia de certo des no processo de mercado como analogia ao que aconte-
país ou região, mas também, por exemplo, de ce na Economia, e a defesa da liberdade por Hayek como
determinada cadeia produtiva ou setor da incentivo à chance de variação e fuga do modo convencio-
economia, bem como de uma ou outra escola de nal de se fazer ciência econômica.
pensamento ou posição metodológica; De acordo com Foley (2009, p. 29), “neglect of its own
2_ do processo evolucionário que poderá atuar no history carries much more intellectual peril for a social
sentido de favorecer aqueles que vierem a oferecer science like economics” em relação a ciências capazes de
soluções criativas e diversas do usual e que, ao realizar testes controlados e repetidos em laboratório, co-
levantarem proposições convincentes, poderão mo a Física (ainda que a relação entre certeza científica
ser seguidos. Nesse sentido, a crença na existência e testes que corroborem a teoria não seja direta e precisa,
de uma espécie de processo evolucionário na alerta ele). A existência de liberdade acadêmica e de um
ciência econômica é um forte argumento em ambiente científico aberto a abordagens alternativas pare-
favor da pluralidade de abordagens, e não o ce-me pode ser vista como uma espécie de prevenção a que
contrário, como se a existência de um paradigma ocorra algo parecido com um processo de lock-in com um
absolutamente dominante fosse prova de que paradigma ineficiente ou, no caso, incorreto, no sentido de
a evolução já cuidou de eliminar os que se não permitir aproximações permanentes do entendimento
mostraram menos eficientes.18 da realidade concreta. Como diz Foley, o desprezo pela HPE
Subjacente a essa distinção está a noção de um pro- é perigoso, e esse “intellectual danger is that the consensus
cesso evolucionário, ao invés de uma visão estática, como formed at any moment by the sociology of a discipline may
se a evolução tivesse já alcançado seu termo. be one-sided or just plain wrong” (Foley, 2009, p. 29).
Caldwell (1994, cap. 13) mesmo enxerga como uma das
tarefas dos metodólogos do período pós-positivista a atu-
ação na construção de um ambiente acadêmico em que Notas
“both novelty and criticism can operate freely” (Caldwell, 1
O professor José Carlos Braga capitalismo como maneira de
1994, p. 245) dentro da Economia. (1996) observa que economistas se analisar e compreender seu
políticos do porte de Marx (livre arranjo e sua dinâmica. Isso,
concorrência/monopolização) e claro, não significa adesão a uma
Schumpeter (capitalismo disperso visão etapista ou de trajetória
4_Considerações finais e competitivo/capitalismo predeterminada e necessária
trustificado), entre outros, das economias e das formas de
O artigo procurou argumentar que o estudo da História enxergaram a necessidade de se organização social. Em suas
do Pensamento Econômico e que a existência do pluralis- partir para a periodização do palavras, “[é] preciso assumir que

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o objeto da Economia não é um ao capitalismo como sistema economia da informação e como um meio para início de
campo ‘autocontido’. Está aberto econômico” (Fonseca, 2010, p. 432). economia do conhecimento, conversa entre economistas, e não
à história, tem determinações 4 associada ao nome de outro instrumento para barrá-las.
Boettke (2002), no entanto,
teóricas, mas não se ajusta a austríaco, Hayek. 12
ressalta que a obra de Mises, Fernandez não fala
determinismos, mecanismos 9
em geral, parece dar suporte à Cavalieri, por sua vez, fala precisamente de pluralismo
automáticos e formalismos
visão convencional no trato do de pluralismo como uma metodológico, mas sim de
lógicos” (Braga, 1996, p. 121).
pensamento econômico pregresso. justificativa para “a existência pluralismo epistemológico, que
2
Schumpeter (2006), em sua obra Já Hayek, ainda segundo Boettke legitima de um conjunto de assevera a impossibilidade
de enorme fôlego e erudição sobre (2002), em seus cursos na London discursos diferenciados, em de se estabelecerem critérios
HPE, fala do “vício ricardiano”, School of Economics, procurava termos razoavelmente não definitivos para a escolha entre
que ele define como o hábito utilizar os autores pregressos da complementares, dentro de um diferentes metodologias, o que
de se estabelecer relações entre disciplina de forma integrada à universo de objeto científico conduz à defesa da existência
agregados macroeconômicos teoria econômica contemporânea. comum” (Cavalieri, 2009, p. 168). de múltiplas metodologias e
tomando como dadas certas 5 Fernandez (2011) observa que do pluralismo como atitude
Em texto publicado
variáveis, e erigir, a partir dessa usualmente o pluralismo é a metodológica.
posteriormente, Boettke (2001)
base frágil, um enorme edifício postura adotada por metodólogos 13
substitui o termo instrumental Em particular, segundo
de proposições de política heterodoxos.
por opportunistic. Fernandez (2011), metodólogos
econômica que já eram, por 10
6 Caldwell parece não concordar heterodoxos tendem a ser
assim dizer, buscadas e desejadas “Hayek is best appreciated as
com isso. Na perspectiva dele, prescritivos, já que são
ex-ante pelo teórico. A questão an opportunistic reader of the
o trabalho do estudioso da heterodoxos precisamente por se
é que, além de serem fruto de history of political, philosophical,
metodologia da economia se colocarem em oposição a outra
uma pressa para a proposição de and economic thought, and one
constitui na crítica dos programas categoria, o que requer em alguma
diagnósticos e soluções para o who waffles between a Whig and
de pesquisa e, de certa maneira, medida uma postura de levantar
mundo concreto, e da atribuição contra-Whig perspective in his
ele como que está acima desses e publicar questões problemáticas
de relações espúrias de causa readings” (Boettke, 2001, p. 126).
programas, e não participando de de um corrente em confronto
e efeito, elas, se examinadas, 7
Stigler (1982) não descarta seu avanço e batalhas. Em suas com alguma ideia de como se
revelar-se-ão tautológicas, já que, a possibilidade de, nesse palavras, “studying methodology deveria abordar determinado
pelo que é tomado como dado e processo de seleção e entrada is not the same thing as problema econômico.
pelo que é tido como variável, o no mainstream da profissão, studying economics […]. One 14
resultado é certeiro. Assim, diz Em conversa pessoal, o
autores importantes que dariam does not study theology or the
ele, Ricardo mostrou que os professor Boettke relatou
contribuições relevantes ficarem sociology of religion to become
lucros dependem do preço do que seus estudantes devem
excluídos. Um caso citado por more religious. One does it to
trigo, de forma irrefutável, porque escrever teses que procurem
ele é o de Augustin Cournot. Do understand religious phenomena
os lucros “could not possibly aplicar os conceitos misesianos,
ponto de vista de Stigler, essa é better” (Caldwell, 1990, p. 65-66).
depend upon anything else, since hayekianos ou mengerianos a
uma evidência de que a ciência Leijonhufvud e Bob Coats
everything else is ‘given,’ that casos concretos – modelo que
não dá “saltos”, mas é um parecem concordar com essa
is, frozen” (Schumpeter, 2006, p. ele aprendeu de seu orientador
processo contínuo e progressivo. separação entre o metodólogo e a
448). Segundo ele, ao menos nessa na Universidade George Mason,
8 comunidade dos economistas (cf.
questão de método, Keynes está ao Nisso pode ser encontrada Don Lavoie, e ao qual procura
Fernandez, 2011).
lado de Ricardo, não de Malthus. uma distinção fundamental em dar continuidade. Ao mesmo
relação à abordagem neoclássica 11
3 Em entrevista disponível em tempo, propõe o desafio de que
De acordo com Fonseca da chamada “economia da http://youtu.be/onNYh6Ewjd 4 , escrevam artigos austríacos,
(2010), “sua [de Keynes] crítica informação”. Barbieri (2006) Peter Boettke fala da metodologia bebendo abundantemente em
ao liberalismo não se e stende explicita a distinção entre

Nova Economia_Belo Horizonte_24 (1)_33-50_janeiro-abril de 2014 Eduardo Angeli 47


autores como Mises e Hayek, mas seja mais adaptada, em todos
sem citar os nomes. O caso mais os ecossistemas, que, nesse caso,
bem-sucedido desse esforço do podem ser comparados aos
professor Boettke talvez seja o diferentes problemas e áreas do
de Peter Leeson e seu projeto de saber do economista.
pesquisa sobre auto-organização
e anarquismo entre os piratas (e.g.
Leeson, 2007).
15
Hayek fala que “[e]conomics has
from its origins been concerned
with how an extended order of
human interaction comes into
existence through a process of
variation, winnowing and sifting
far surpassing our vision or our
capacity to design” (Hayek, 1988, p.
14 , grifo meu).
16
“Coercion is evil precisely
because it thus eliminates an
individual as a thinking and
valuing person and makes him a
bare tool in the achievement of
the ends of another” (Hayek, 1960,
p. 21).
17
“[T]he case for individual
freedom rests chiefly on the
recognition of the inevitable
ignorance of all of us concerning
a great many of the factors
on which the achievement of
our ends and welfare depends”
(Hayek, 1960, p. 29).
18
Fernandez (2011) usa uma
analogia biológica evolucionária
para defender o pluralismo
em economia. Segundo ele,
pode-se enxergar a existência
de diferentes escolas como se
fossem concorrentes, mas cada
uma possui um diferente nicho
ecológico, de maneira que não
há uma escola que prevaleça,

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