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Psicodinâmica do Trabalho: um estudo sobre o prazer e o sofrimento no

trabalho

-a Psicodinâmica do Trabalho de Christophe Dejours, e teve como objetivos analisar


os sintomas biopsicossociais e os sentimentos de prazer e/ou de sofrimento
relacionados com o trabalho;

-A identificação com as tarefas, a liberdade para falar no trabalho e a


solidariedade entre colegas são os principais reveladores de prazer.

-Por outro lado, o estresse, o desgaste, os sentimentos de insatisfação, de


injustiça, de indignação e esgotamento emocional, revelaram ser os principais
indicadores de sofrimento. Os principais sintomas assinalados foram: físicos
(alterações de sono, dores de cabeça e dores no corpo); sociais (dificuldades no
relacionamento familiar e o desinteresse pelas pessoas); e psíquicos (irritabilidade
e tristeza);

-A Psicopatologia do Trabalho surgiu com o foco na análise dos processos psíquicos


que os trabalhadores empregam na confrontação com a sua realidade de trabalho,
ou seja, debruçando-se sobre o papel do trabalho na génese da doença mental
(Dejours; Abdoucheli, 1994);

-Deste modo, a Psicopatologia do Trabalho recebeu a nova denominação de


“Psicodinâmica do Trabalho”, abrindo, assim, um novo campo de pesquisa que aborda,
além do sofrimento, o prazer no trabalho e a sua organização. A Psicodinâmica do
Trabalho tem por objeto a análise da vivência subjetiva de prazer, de sofrimento e
das estratégias de mediação (defensivas) do sofrimento utilizadas face à
organização do trabalho (Azevedo; Lobo, 2013);

-Binómios da psicodinâmica do trabalho

-Os trabalhadores não são sujeitos passivos relativamente à organização do


trabalho. São ativos do ponto de vista externo e interno, no sentido em que
mobilizam estratégias (defensivas) para enfrentar as situações que colocam em
risco a sua integridade.
-Rocha e Cardoso (2009) afirmam que dentre o leque das estratégias defensivas
individuais, a sublimação é a mais usada;

-As estratégias coletivas de defesa traduzem um conjunto de normas e acordos


entre os trabalhadores;

-Essas estratégias coletivas constituem a ideologia defensiva;

-Na concetualização do termo “trabalho”, Dejours (1993) faz a distinção entre


condições de trabalho e organização do trabalho. Por condições de trabalho,
entende-se as caraterísticas relacionadas com o conteúdo ergonómico do trabalho
(exigências físicas, químicas, biológicas, condições de higiene e de segurança) e as
caraterísticas antropométricas do posto de trabalho, que se repercutem sobre as
condições físicas do trabalhador;

-Constata-se que as condições de trabalho afetam o corpo do trabalhador (a sua


componente física). Contudo, a organização do trabalho exerce maior influência ou
pressão sobre o aparelho psíquico;

-Dejours e Abdoucheli (1994) subdividiram a organização do trabalho em dois


grandes aspetos: a “divisão do trabalho” e a “divisão de homens”. A primeira
compreende a divisão de tarefas entre os operadores, ritmo e o modo operatório
prescrito, o que confere sentido e interesse ao trabalho para o sujeito. A segunda
diz respeito à partilha de responsabilidades, hierarquia, comando e controlo, o que
incita, sobretudo, as relações interpessoais, mobilizando o investimento afetivo
(ex.: amor, ódio, amizade, solidariedade ou confiança);

-Vários autores salientam o papel do reconhecimento como indicador de prazer no


trabalho, por constituir uma recompensa ou retribuição simbólica e por fortalecer a
identidade psicológica e social (Areosa, 2013; Dejours, 2009). Existem dois tipos de
reconhecimento: por um lado, aquele que advém dos superiores hierárquicos ou
chefias, apelidado de julgamento de “utilidade”; e, por outro, o reconhecimento por
parte dos colegas, denominado de julgamento de “beleza” (Dejours, 2012; Dejours;
Abdoucheli, 1994).

-Do binómio prazer/sofrimento, destacam-se como indicadores de prazer no


trabalho a realização profissional e a liberdade de expressão;

-os indicadores de sofrimento, como o esgotamento emocional e a falta de


reconhecimento, são geradores de doença, de descompensação psicossomática e
psíquica;

-O sofrimento traduz a luta do sujeito contra pressões e forças (oriundas da


organização do trabalho) que o empurram na direção da doença, da desestabilização
psíquica e somática (Dejours; Abdoucheli, 1994).

-Dejours (1993) distingue duas formas distintas de sofrimento: o criativo, no qual o


sujeito produz estratégias e soluções adaptativas, de modo a manter a sua saúde
diante das pressões do trabalho; e o patológico, no qual o sujeito faz escolhas
prejudiciais para a sua saúde e vida (por exemplo, o consumo de drogas e/ou
bebidas alcoólicas, chegando a um extremo como as tentativas de suicídio em
ambiente laboral).

-O sofrimento apresenta-se, assim, como uma resistência interativa entre o


psiquismo do trabalhador e a organização do trabalho, adquirindo o significado de
patológico quando não é exteriorizado através da liberdade de expressão no local
de trabalho;

-As transformações que ocorreram no mundo do trabalho desencadearam mudanças


sociais e tecnológicas a nível global, que exigem a adaptação de todas as realidades
de trabalho.Os professores universitários não são exceção.

Sofrimento psíquico e trabalho

-é possível verificar que a saúde do professor é um debate que se torna cada vez
mais necessário, pois trata-se de uma categoria profissional propensa a sofrimento
psíquico, principalmente por conviver em seu ambiente de trabalho com conflitos e
adversidades relacionados às condições e à organização do mesmo;

-A Psicopatologia do trabalho, de Christophe Dejours, busca o nexo causal entre


determinadas organizações e condições de trabalho e o adoecimento mental;

-Dejours (1992) pretendeu compreender o sofrimento psíquico no trabalho, os


costrangimentos organizacionais e a desestabilização psicológica dos indivíduos.

-para este autor o sofrimento não se manifesta porque os sujeitos uscam


ativamente se proteger e defender por meio de mecanismos ou estratégias e
defesa.

-A patologia surgiria então quando se rompe o equilíbrio e o sofrimento não é ais


contornável, ou seja, quando o trabalhador já utilizou todos os seus recursos
ntelectuais e psicoafetivos para dar conta da atividade e demandas impostas pela
rganização, e percebe que nada pode fazer para se adaptar e/ou transformar o
rabalho.

-Para este autor, o sofrimento é inerente ao trabalho. Se o indivíduo não ncontra


possibilidades de superação e transformação desse sofrimento em prazer, ste se
transforma em fonte de sofrimento patológico. Este último, por sua vez, corre
quando os trabalhadores não encontram meios de dar vazão a esse sofrimento, ois a
maneira como o trabalho é organizado bloqueia as possibilidades de expressão e de
negociação.

SOFRIMENTO NO TRABALHO NA VISÃO DE DEJOURS


-O sofrimento no trabalho constitui-se uma das conseqüências da insistência do ser
humano em viver em um ambiente que lhe é adverso.
-A gênese do pensamento dejouriano, sobre o sofrimento humano, encontra se nos
fundamentos do desenvolvimento industrial do século XIX, caracterizado pelo
crescimento da produção, êxodo rural e concentração de novas populações urbanas,
portanto, com destacado cunho sociológico.

-Foi à época da Primeira Guerra Mundial que os operários organizados e com força
política conquistam aquilo que Dejours chama, literalmente, de direito à vida; e, a
partir de então, os trabalhadores buscaram salvar o corpo dos acidentes, prevenir
as doenças profissionais e as intoxicações e assegurar aos trabalhadores cuidados e
tratamentos convenientes (DEJOURS, 1998).

-Foi a partir do início dos anos 80 que a Psicopatologia do Trabalho se


preocupou em fundamentar a clínica do sofrimento, na relação psíquica com o
trabalho.

-Um dos mais cruéis golpes, que o homem sofre com o trabalho é a frustração de
suas expectativa iniciais sobre o mesmo, à medida que a propaganda do mundo do
trabalho promete felicidade, e satisfação pessoal e material, para o trabalhador;
porém, quando lá adentra, o que se tem é infelicidade e, na maioria das vezes, a
insatisfação pessoal e profissional do trabalhador, desencadeando, então, o
sofrimento humano nas organizações.

-Os sofrimentos insuspeitos não se apresentam de uma maneira uníssona, no


pensamento de Dejours (1993); eles estão associados a fatores históricos,
laborativos e àqueles favoráveis ou não para a vida do trabalhador, relacionados à
própria vida humana e ao trabalho

-São discriminados como:


a) sofrimento singular (dimensão diacrônica): é herdado da história psíquica de cada
indivíduo;
b) sofrimento atual (dimensão sincrônica): ocorre quando há o reencontro do sujeito
com o trabalho;
c) sofrimento criativo: quando o sujeito produz soluções favoráveis para sua vida,
especialmente, para sua saúde; e
d) sofrimento patogênico: é ao contrário do sofrimento criativo, ou seja, quando o
indivíduo produz soluções desfavoráveis para sua vida e que estão relacionados à
sua saúde.
-as investigações na área da Psicopatologia do Trabalho centram-se, não mais na
direção das doenças mentais, mas, nas estratégias elaboradas pelos trabalhadores
para enfrentarem, mentalmente, a situação de trabalho.

-Dejours (1994) traz uma abordagem bastante ampla sobre o conceito de


sofrimento do trabalho, em especial, pode-se destacar sua abordagem sobre a
ambivalência “bem-estar” e “loucura”, e sua visão sobre o “teatro do trabalho”.

-Quando Dejours fala da ambivalência bem-estar e “loucura” quer dizer que o


sofrimento no trabalho pode ser entendido “como o espaço de luta que ocorre o
campo situado entre, de um lado, o bem-estar, e, de outro, a doença mental ou a
loucura” (DEJOURS, 1993, p. 153).

-O bem-estar está relacionado à idéia de ambiente gratificante e, assim, quando o


mesmo é realizado em tal ambiência, leva os trabalhadores a gostarem do produto
realizado. Já, a idéia de sofrimento está relacionada à subjugação do trabalho e,
quando isso ocorre, se imprime raiva ao produto. Percebe-se, assim, que o trabalho
está conformado pelo afeto.

-A origem do sofrimento, por sua vez, tem suas raízes na história singular de toda
pessoa. O autor diz que o sofrimento repercute naquilo que ele chama de “teatro do
trabalho”, ao entrar numa relação com a organização do trabalho.

-Dejours quer dizer, com isso, que o sofrimento é individualizado e depende da


construção social e psíquica de cada pessoa. E que isso, invariavelmente, acaba
repercutindo no ambiente de trabalho, em seu “teatro”, com os seus “personagens”
(patrão, empregado, supervisor, colega de trabalho), “seu enredo” (a estrutura de
poder e hierarquia, preconceitos, valores), “o cenário” (o macroambiente, o
desemprego, a instabilidade, as incertezas); até mesmo, “espectadores” (família,
amigos, adversários), que, afinal, “aplaudiram” ou não, numa analogia com a vida real,
o fruto de uma vida, aprovando-a ou não.

-Esse “teatro do trabalho”, na grande maioria das vezes, acaba, por fim, a se
converter em um verdadeiro “drama” da vida real, de maior ou menor intensidade de
sofrimento, dependendo do conjunto “personagem, enredo,
cenário, platéia”, que pode ser mais opressivo ou não.

-Por exemplo, em uma sociedade, extremamente, machista, a mulher tende a


apresentar um nível de sofrimento no trabalho maior do que em sociedades mais
liberais, convivendo com iguais cobranças, menores salários, dentre outras perdas,
como o assédio sexual, os estigmas da fragilidade e da inferioridade intelectual.
Logo, percebe-se que a normalidade, mesmo com todo o esforço para obtê-la, é
muito difícil, senão impossível de se obter, ante um meio tão adverso em que se
converte esse “teatro laborativo”.

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