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“Mensagem”: resumo da obra de Fernando Pessoa

Míope, tímido, cortês, sempre metido em ternos escuros. Com o salário


contado de redator ambulante de cartas comerciais, morava como
inquilino em casas de parentes ou em quartos de pensão. Dado a
especulações esotéricas, gostava de passar as horas em tabernas e cafés.
A vida de Fernando Pessoa (1888-1935) nada teve de extraordinária.
“Exceto seus poemas”, pontua o poeta mexicano Octavio Paz.

Nascido em Lisboa, mas tendo passado toda a infância e juventude em


Durban, na África do Sul, Pessoa é por unanimidade considerado, ao lado
de Luís Vaz de Camões (1524-1580), o melhor poeta em sua língua, além
de ser aplaudido como um dos maiores de todos os tempos em qualquer
idioma. Morto aos 47 anos, vítima de cirrose hepática, Fernando Pessoa
deixou uma quantidade surpreendente de poesias, escritos
autointerpretativos, ensaios e pequenos contos policiais.
Fernando Pessoa, juntamente com Mário de Sá-Carneiro (1890-1916) e o
pintor português Almada Negreiros (1893-1970), forma o grupo que
tentaria levar o vanguardismo a Portugal. Das reuniões na cerveja Jansen
sairia a revista Orpheu. Os jovens defendiam a integração de Portugal ao
cenário da modernidade europeia. Para tanto, pregavam o inconformismo
e exaltavam a atividade poética acima de tudo. penas duas edições, a
revista foi a responsável pela introdução da vanguarda em Portugal. E dos
heterônimos pessoanos.
Corre, então, o ano de 1915, e em Pessoa já irrompera diferentes poetas.
São chamados de heterônimos porque tinham estilos e personalidade
próprios. Os principais são Alberto Caeiro, que representa a força mítica
de um Portugal ainda apegado ao paganismo; Álvaro de Campos, que
exalta a civilização industrial; e o clássico Ricardo Reis. A única obra
publicada por Pessoa em vida foi “Mensagem“, em 1934, juntamente com
o “Cancioneiro”. O livro “estruturado para compor um vasto painel
simbólico e artístico da história das grandezas lusitanas” expressa a
personalidade lírica, saudosista e patriótica do poeta. Divide-se em três
partes, com várias subdivisões organizadas de forma fragmentária.

Na primeira parte, chamada Brasão, conta-se a história das glórias


portuguesas. Os versos fazem um breve resumo de grandes figuras da
história lusitana, desde dom Henrique, fundador do Condado até o infante
dom Henrique (1394-1460), fomentador da expansão ultramarina
portuguesa, e Afonso de Albuquerque (1462-1515), dominador do
Oriente. É apresentado ainda o mito de Ulisses, que, segundo a lenda,
teria fundado a cidade de Ulissepona, depois Lisboa.
Mar Português é o título da segunda parte, na qual se descrevem as
conquistas marítimas que alçaram Portugal a lugar de destaque no cenário
mundial durante os séculos 15 e 16. Em versos como “E outra vez
conquistaremos a Distância/ Do mar ou outra, mas que seja nossa!”,
Pessoa procura despertar o país do estado de letargia em que se
encontrava.

A última parte, O Encoberto, apresenta o misticismo que cerca a figura de


dom Sebastião, rei de Portugal, cuja frota foi dizimada em ataque aos
mouros em 1578. O fato de o corpo do monarca não ter sido encontrado
na batalha de Alcácer-Quibir sempre suscitou no imaginário popular a
esperança de que o rei regressaria para recuperar os triunfos do passado.
Pessoa profetiza, então, um Quinto Império, que marcaria a supremacia
de Portugal.

Fernando Pessoa confiava em obter com “Mensagem” o prêmio literário


Antero de Quental, promovido pelo governo por meio do Secretariado de
Propaganda Nacional. Foi-lhe concedido o segundo lugar por causa do
reduzido número de páginas.

Título: Mensagem
Autor: Fernando Pessoa

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