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25, 26 e 27 de maio de 2022, Curitiba, PR, Brasil

PUCPR – PPGEM
Escola Politécnica
Laboratório de Pesquisa em Usinagem – LAUS

COMPORTAMENTO DA POTÊNCIA E DA ENERGIA ELÉTRICA ATIVA


NO PROCESSO DE ROSQUEAMENTO COM MACHO MÁQUINA
Paulo Vinicius da Silva Resende, IFG/ Câmpus Goiânia, paulo.vinicius@ifg.edu.br
Leonardo Rosa Ribeiro da Silva, UFU/ FEMEC, leorrs@ufu.br
Geovanne Pereira Furriel, IFGoiano/ Câmpus Trindade, geovanne.furriel@ifgoiano.edu.br
Sebastião Gonçalves Lima Júnior, IFG/ Câmpus Goiânia, sebastiao.junior@ifg.edu.br
Paulo Rosa da Mota, IFG/ Câmpus Goiânia, paulo.mota@ifg.edu.br

Resumo. O monitoramento de grandezas dos processos de usinagem é fundamental para o controle e


aperfeiçoamento da qualidade do produto acabado e redução de custos. O presente trabalho tem como proposta
estudar o comportamento da potência elétrica ativa e energia elétrica ativa no processo de rosqueamento com
macho máquina. O objetivo é estudar e demonstrar o efeito da variação da velocidade de corte empregada nas
grandezas elétricas que são contabilizadas pelas concessionárias de energia elétrica e que, diretamente afetam
o custo de produção. Para isso, os ensaios de rosqueamento foram conduzidos com macho máquina M6x1 no
ferro fundido vermicular com trajetória padronizada para operação a seco com 10 m/min e 30 m/min. Como
resultado, observou-se que, no ciclo total, o aumento da velocidade de corte incrementou até 10 % o consumo
energético. Apenas nos tempos ativos de usinagem dos furos, o emprego de 30 m/min apresentou picos de
potência até 46 % maiores na aceleração e avanço da ferramenta, bem como na reversão, quando comparados
com a condição de 10 m/min. Entretanto, em regime permanente de corte, o patamar de potência elétrica
reduziu até 16 % como efeito da facilidade na remoção de material e que, associado ao menor tempo de
processamento, reduziu o consumo de energia elétrica. Por fim, é sugerida a investigação do comportamento de
demais parâmetros energéticos em diferentes máquinas-ferramenta e machos de corte em trabalhos futuros.

Palavras-chave: rosqueamento, macho máquina, grandezas elétricas.

1. INTRODUÇÃO

O último Anuário de Energia Elétrica do Ministério de Minas e Energia, EPE (2021) divulgou, dentre vários dados,
o Consumo Industrial por Gênero de Atividades com a base de dados do ano anterior, 2020. Destes resultados, o
consumo de energia elétrica no setor fabricação de máquinas e equipamentos foi de 2 578 GWh, apresentando redução
de 5,5 % se comparado com o ano 2019 em virtude da pandemia de Covid-19. Além disso, cabe ressaltar a
predominância da demanda de energia elétrica pelo setor industrial perante os demais ramos da economia, com 37,5 %
em face do segundo colocado com 16,9 %, o setor comercial. Estes resultados indicam que, mesmo com o recuo
causado pela pandemia, o setor industrial é o consumidor predominante da matriz energética e que, segundo o próprio
levantamento, ocupa a 25ª posição dentre as tarifas mais baixas, fazendo com que o setor industrial tenha constante
atenção ao consumo de energia com impacto na redução de custos de produção e melhoria na competitividade.
Essa característica industrial força o setor produtivo a se renovar constantemente, melhorando os produtos já
disponíveis ou até mesmo criando novos projetos. Na usinagem isso não é diferente. Diversos fabricantes de máquinas e
ferramentas buscam soluções para a melhoria da sua linha de produção e de produtos, pesquisando ou acompanhando os
clientes no chão-de-fábrica. O estudo detalhado dos processos de usinagem, realizados principalmente em condições
reais de corte, busca investigar as influências dos diferentes parâmetros de usinagem (velocidade de corte (Vc), avanço
(f), profundidade de corte (ap), material da peça e da ferramenta, condição de lubrificação, entre outros) sobre o
desempenho na qualidade do produto acabado, no desgaste das ferramentas e produtividade (SHAW, 1984).
Diversos trabalhos já foram publicados na área de rosqueamento interno com machos de corte, em busca de
respostas, tais como a influência dos níveis de desgastes nessas ferramentas, intensidade das forças e dos torques nos
processos de rosqueamento, vida das ferramentas, mecanismos de desgastes e outras investigações de fenômenos
(BEZERRA, 2003; REIS, 2004; DA MOTA et al., 2005; PEREIRA et al., 2020). No entanto, as grandezas elétricas
envolvidas nesse processo de usinagem ainda demandam melhor entendimento e estudos sistêmicos, tendo em vista que
a cinemática do processo com aceleração do eixo da ferramenta, o conjugado requerido para o torque, a desaceleração
com reversão de rotação e avanço axial implicam diretamente no consumo de energia e perturbações na rede elétrica de
suprimento da máquina-ferramenta, conforme relatado na literatura para sistemas de potência trifásico de corrente
alternada (BOYLESTAD, 2010; RESENDE et al., 2019; WEG, 2019).
Neste sentido, o presente trabalho tem como proposta aprimorar o entendimento acerca do comportamento da
potência elétrica e o consumo de energia elétrica no processo de rosqueamento com macho de corte. A partir da
discretização entre o tempo de espera (standby) e os movimentos passivos e ativos de usinagem, foi possível identificar
que a velocidade de corte empregada no processo influencia a intensidade de potência elétrica drenada da rede e os
picos de amplitude devido a reversão do cabeçote e mudança da direção de avanço na entrada e saída do macho de
corte. Ao final são propostas futuras investigações a serem realizadas.
RESENDE, P.V.S. R.; DA SILVA, L. R. R.; FURRIEL, G. P.; LIMA Jr., S. G.; DA MOTA, P. R.
Comportamento da Potência e da Energia Elétrica Ativa no Processo de Rosqueamento com Macho Máquina

2. METODOLOGIA

Os testes de rosqueamento foram conduzidos na fresadora CNC Petrus 50100R da fabricante DebMaq. A potência
total instalada declarada pelo fabricante é 12,5 CV, com rotação máxima do eixo árvore de 8 000 rpm e velocidade
máxima de deslocamento da mesa de 10 000 mm/min. Como variáveis de entrada, conforme ilustrado na Fig. 1(a),
foram empregados:
(a) Material: Barra retangular de Ferro Fundido Vermicular com dimensões de 35 mm de largura, 250 mm de
comprimento e 80 mm de espessura, fixado na morsa;
(b) Ferramentas de corte: para fabricar os pré-furos foi utilizada uma broca de metal duro escalonada (SPLS),
revestidas com TiN, cujas dimensões são Ø 5,0 mm x Ø 7,0 mm x 76 x 38 mm, haste 1885 HE7. A geometria da broca
(cônica) entre os diâmetros de 7 mm e 5 mm usina o chanfro necessário para a abertura das roscas. Em seguida, a rosca
foi usinada com o Macho máquina ISO 529 M6x1 6H (Canal reto).
(c) Parâmetro de corte e condição de lubri-refrigeração: A velocidade de corte (Vc) foi variada em dois níveis,
sendo elas 10 m/min e 30 m/min. Os testes foram conduzidos a seco e a trajetória de usinagem foi padronizada para a
realização dos testes.
Os ensaios foram conduzidos com trajetória padronizada para a realização de três pré-furos de 5 mm igualmente
espaçados com 10 mm no corpo de prova e posteriormente usinada a rosca M6x1, conforme ilustrado na Fig. 1(b). A
distância entre a superfície da peça e o macho de corte foi de 20 mm, para possibilitá-lo atingir a Vc programada.

(a) (b)
Figura 1: Representação esquemática: do processo de rosqueamento (a), da trajetória dos furos rosqueados (b).

Como variáveis de saída, foram avaliadas as seguintes grandezas através do software de análise:
(a) Potência Ativa : É a parcela da potência aparente que realiza trabalho, ou seja, que é transformada em
energia mecânica no período ativo delimitado.
(b) Energia Ativa : É a parcela da energia contabilizada pela concessionária de energia associada à
realização de trabalho (energia mecânica) de toda a máquina para a execução do processo no período ativo delimitado.
Para a aquisição dos sinais elétricos nos cabos de alimentação da máquina ferramenta (L1, L2, L3, N, GND), foi
utilizado um Analisador de Energia do fabricante Fluke® modelo 435 conforme ilustrado na Fig. 2(a), com alicates
amperímetros modelo i400S (C1, C2, C3, CN) cuja faixa de medição para corrente elétrica de 40 A e sensibilidade de
10 mV/A, enquanto para tensão elétrica as pontas de prova (T1, T2, T3, N, GND), respectivamente 300 V e 10 mV/V.
É esquematizado na Fig. 2(b) a ligação entre fase e neutro das respectivas fases, cuja tensão nominal é de 220 V, de
maneira que os dados foram adquiridos com intervalo de 250 ms, sendo armazenados instantaneamente no cartão de
memória para ser, posteriormente, processado no software PowerLog® v.5.8 desenvolvido pelo mesmo fabricante do
analisador, no qual realiza o cálculo das grandezas a partir dos sinais elétricos dos sensores conforme a norma
IEEE 1459 (IEEE, 2014). Cabe ressaltar que a taxa de amostragem real deste instrumento é de 200 kS/s, ou seja, a taxa
de leitura dos dados de tensão e corrente elétrica, e que após os cálculos dos parâmetros elétricos selecionados, o
sistema grava os dados referente ao período de 250 ms, ou seja, indica a leitura de 4 períodos a cada segundo.

(a) (b)
Figura 2: Analisador de Energia Fluke® v.435II (a), detalhamento da montagem (b).
XXIV COLÓQUIO DE USINAGEM
PUCPR – PPGEM
25, 26 e 27 de maio de 2022, Curitiba, PR, Brasil

3. RESULTADOS

Na Figura 3(a) são ilustradas as curvas de Potência Ativa (Pa [W]) no ciclo de rosqueamento com Vc de 10 m/min.
Nota-se inicialmente que a potência elétrica solicitada pela máquina-ferramenta mantém em 720 W no período de
espera (standby), ou seja, quando apenas os computadores, tela de comando e iluminação estão acionados. Com o início
do ciclo, o eixo árvore (spindle) é acionado em rotação referente à velocidade de corte definida atingindo o pico de
1500 W, bem como os eixos X, Y e Z, até o posicionamento com o pré-furo 1. Em seguida, o spindle é desacelerado,
fazendo com que a rotação seja ajustada para iniciar o sincronismo com o eixo Z, sentido axial do furo. Na janela
delineada referente aos Furos 1, 2 e 3 representam o tempo ativo de corte, momento em que a ferramenta entra em
contato com a peça e remove material na forma de cavaco. Nota-se o afastamento para cima entre a curva do teste com
a atuação do macho de corte perante ao ensaio em vazio sem usinagem na peça, tendo em vista que a remoção de
material impõe determinada carga no eixo motor que por sua vez drena maior potência da rede elétrica. Para cada um
dos furos usinados notam-se dois picos seguidos de um patamar constante, sendo o primeiro associado ao desbaste e o
segundo do retorno do macho de corte. Entre as janelas delineadas dos furos, nota-se que a movimentação dos eixos
para novo posicionamento implicou na potência para o mesmo patamar dos tempos passivos de usinagem, quando
apenas os eixos cartesianos movimentam-se. Após a usinagem das roscas nos três furos, o posicionamento a mesa
retorna para o ponto inicial, bem como o eixo árvore, fazendo com que seja registrado novamente um pico em torno de
1500 W.
Na Figura 3(b) são ilustradas as curvas de Potência Ativa (Pa [W]) no ciclo de rosqueamento com Vc de 30 m/min.
Na mesma perspectiva de análise da condição anterior, nota-se que a potência em standby permanece constante, mas o
acionamento do eixo árvore e os movimentos cartesianos implicaram em potência em torno de 1050 W, 25 % maior que
na condição com 10 m/min. Com efetivo ciclo de rosqueamento, a aceleração, desaceleração e reversão registraram
picos em torno de 2200 W, ou seja, 46 % maior que a condição de testes com 10 m/min.

(a) (b)
Figura 3: Potência no ciclo de furação: 10 m/min (a), 30 m/min (b)

Ao analisar os tempos ativos de corte nas janelas delineadas para cada um dos furos usinados, nota-se que o patamar
de potência elétrica é maior quando empregada a menor velocidade de corte, ou seja, em torno de 870 W para 10 m/min
e 750 W para 30 m/min. Provavelmente isso ocorreu devido ao aumento da temperatura durante o processo de
usinagem, o qual ocasionou menores forças e torques com velocidade maior que 10 m/min e consequentemente,
menores níveis de energia.
Na Figura 4(a) é ilustrada a energia elétrica ativa (Ea [Wh]) dos regimes de testes, contabilizando o tempo ativo,
passivo e de espera da máquina. Nota-se que tanto para o teste com o processo de rosqueamento como naqueles sem a
peça o acionamento do eixo árvore para atingir a velocidade de corte de 30 m/min implicou em maior energia elétrica
consumida. No entanto, ao avaliar apenas o tempo ativo, janela delineada nas Figs. 3(a) e 3(b), o emprego de maior
velocidade implicou na redução da energia, tendo em vista que para Vc = 10 m/min o tempo do ciclo de corte e reversão
foi cerca de 8 segundos, enquanto para 30 m/min foi reduzido para 5 segundos.
RESENDE, P.V.S. R.; DA SILVA, L. R. R.; FURRIEL, G. P.; LIMA Jr., S. G.; DA MOTA, P. R.
Comportamento da Potência e da Energia Elétrica Ativa no Processo de Rosqueamento com Macho Máquina

(a) (b)
Figura 4: Energia ativa: no ciclo total de usinagem (a), no período ativo de usinagem (b)

4. CONCLUSÕES

Com os resultados deste trabalho, conclui-se que:


 Os maiores picos de potência elétrica em função dos movimentos de corte e reversão foram observados com o
emprego de 30 m/min;
 O patamar de potência elétrica no rosqueamento com 10 m/min foi 870 W enquanto na condição com 30 m/min
foi de 750 W, fato que colabora para o entendimento do efeito do aumento de velocidade de corte na capacidade de
remoção de material;
 Os picos de acionamento do eixo árvore antes do ciclo de rosqueamento são superiores àqueles de aceleração
para rosquear, o que pode indicar que a rotação programada não seja atingida durante o processo. Logo, é necessário
confirmar a hipótese mediante a aquisição de dados da rotação real no eixo árvore em futuros testes;
 A energia elétrica ativa total do processo de rosqueamento estudado foi até 10 % maior quando aumentada a
velocidade de corte de 10 m/min para 30 m/min. Por outro lado, a energia apenas nos tempos ativos de usinagem foi
reduzida com aumento da velocidade de corte em função do menor tempo de execução da rosca;
 É necessário estudar e modelar a relação entre desgaste da ferramenta, produtividade e parâmetros de energia
elétrica no processo de rosqueamento com machos de corte em diferentes máquinas-ferramenta.

5. REFERÊNCIAS

BEZERRA, A. A. Estudo do Desgaste no Roscamento com Alta Velocidade em Ferro Fundido. Tese de Doutorado,
209 p. Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, 2003.
BOYLESTAD, Robert L. Introductory Circuit Analysis. Edinburgh Gate: Editora Pearson Education Limited, 2010.
DA MOTA, P. R.; REIS, A. M. ; SILVA, M. B. ; GONCALVES, R. A. “Tapping Operation at High Cutting Speed”.
18th International Congress of Mechanical Engineering, Ouro Preto MG, v. 1, p. 1-10, 2005.
EPE, Empresa de Pesquisa Energética. “Anuário Estatístico de Energia Elétrica 2020”. Ministério de Minas e Energia–
MME. Brasília–DF, 2021. Disponível em: <https://www.epe.gov.br/pt/publicacoes-dados-
abertos/publicacoes/anuario-estatistico-de-energia-eletrica> Acesso em: 09 fev. 2022.
IEEE - The Institute of Electrical and Electronics Engineers, IEEE, “Trial-use Standard Definitions for the Measuremet
of Electric Power Quantities under Sinusoidal, Nonsinusoidal, Balanced, or Unbalanced Conditions”. Std
1459:2010. New York, January 30, 2010.
PEREIRA, I. C.; VIANELLO, P. I.; BOING, D.; GUIMARÃES, G.; DA SILVA, M. B. “An approach to torque and
temperature thread by thread on tapping”. The International Journal of Advanced Manufacturing
Technology, v. 106, n. 11, p. 4891-4901, 2020.
REIS, A. M. Avaliação de Desempenho de Diferentes Materiais de Ferramenta no Processo de Rosqueamento Interno
de Ferro Fundido Cinzento, através do Monitoramento do Desgaste. Tese de Doutorado, 192 p. Universidade
Federal de Uberlândia, 2004.
RESENDE, P. V. S.; SIQUEIRA, I. L. “Considerações sobre Potências Elétricas no Torneamento Convencional”.
XXIII Colóquio de Usinagem. Universidade Federal de Uberlândia. Uberlândia/MG, 2019.
SHAW, M.C. Metal Cutting Principles. 3ª ed. Cambridge: Oxford University Press. 594 p. 1984.
WEG. “Motores Elétricos: Guia de Especificação – Apostila de Treinamento”. Joinville/ SC, Revisão 22, 2019.
Disponível em: <https://static.weg.net/medias/downloadcenter/h32/hc5/WEG-motores-eletricos-guia-de-
especificacao-50032749-brochure-portuguese-web.pdf>. Acesso em: 02 fev. 2022.
XXIV COLÓQUIO DE USINAGEM
PUCPR – PPGEM
25, 26 e 27 de maio de 2022, Curitiba, PR, Brasil

6. AGRADECIMENTOS

Agradecemos a Tupy S/A, à OSG Ferramentas, a Universidade Federal de Uberlândia (UFU) pela concessão do
materiais e ferramentas de corte, ao Departamento de Eletrotécnica do IFG pelo aparato e analisador de elétrica e ao
Núcleo de Pesquisa em Fabricação (NUPEF) do IFG-Câmpus Goiânia, pela infraestrutura necessária para execução dos
ensaios.

7. RESPONSABILIDADE PELAS INFORMAÇÕES

O(s) autor(es) é (são) os únicos responsáveis pelas informações incluídas neste trabalho.

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