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MONITORAMENTO DE CORRENTE ELÉTRICA NO PROCESSO DE TORNEAMENTO

Dário Carvalho Viveiros, Universidade Federal do Piauí


João Gabriel Alves de Castro, Universidade Federal do Piauí
Luana Pereira Santos Vicente, Universidade Federal do Piauí

Resumo: Para a usinagem da maioria das máquinas-ferramentas, é necessário a utilização de energia elétrica como
fonte de energia principal. Diante disso, as potências desenvolvidas, derivam das diferentes condições de corte, sendo
estas avaliadas em termos de tensão e corrente consumidos. Dessa forma, a análise da energia na usinagem é capaz de
auxiliar os usuários a tomarem decisões mais beneficentes. Para este trabalho, propõe-se o monitoramento de uma
corrente elétrica demandada, com base na variação dos parâmetros de corte durante o torneamento do aço AISI 1945.
Ademais, para o processo experimental, utilizou-se um sensor Hall para medição da corrente, influenciada pelas
condições de corte, avanço e profundidade de corte. Assim, com base nos dados encontrados, pode-se concluir que os
fatores apresentados, possuem, de sua forma, efeito no consumo da corrente elétrica do motor.

Palavras-chave: Potência, condições de corte, avanço, velocidade de corte, torneamento.

1 INTRODUÇÃO

As potências necessárias para a usinagem (potência de corte e potência de avanço) são resultadas dos produtos das
componentes da força de usinagem pelas respectivas componentes da velocidade (FERRARESI, 1977). A potência de
usinagem pode ser medida, experimentalmente por meio da tensão e da corrente elétrica consumida, entretanto, devido à
natureza nem sempre linear dessas grandezas e a defasagem de tempo entre elas, a obtenção dessa potência não é uma
operação tão simples. Entretanto, dentre outros tipos de monitoramento, ele é considerado um processo de baixo custo,
de tecnologia, operação relativamente simples e de fácil instalação (LIMA, 2021).
A estimativa de potência de usinagem por meio da potência elétrica pode ser realizada desde que se tenha um bom
entendimento da teoria da eletricidade. Deve-se ter em mente que apenas a potência ativa, ou efetiva, é usada pela
máquina-ferramenta e, mesmo assim, se medida na entrada do motor, sofrerá um decréscimo devido ao rendimento
mecânico desse motor (MACHADO et al., 2015). Com isso, a fim de avaliar o efeito do avanço e profundidade de corte
na corrente elétrica máquina ferramenta, esta variável de saída foi monitorada durante o torneamento do aço AISI 1045
sob diferentes condições de corte.

2 METODOLOGIA

Os ensaios de torneamento foram utilizados no torno mecânico convencional TCK-1660ECO da fabricante Veker,
com potência nominal de 3,3 kW. O material usinado nos ensaios foi o aço AISI 1045 em estado normalizado, com dureza
Brinell entre 170 e 210HB e geometria cilíndrica de 49,60mm de diâmetro e 98,95mm de comprimento (o comprimento
usinado em cada condição foi em torno de 25mm). A ferramenta de corte utilizada foi de metal duro revestido da classe
P, com designação ISO TNMG160408R-M.
Diferentes condições de corte foram testadas pela variação de avanço e profundidade de corte conforme
especificado na Tabela 1. A velocidade de corte (Vc) foi de aproximadamente 120m/min, praticamente constante para
todos os ensaios.
Tabela 1 – Condições de corte utilizadas no trabalho.
Condição de corte Avanço (f) – mm/rot Velocidade de corte (vc) – m/min
C1 0,2276 1,0
C2 0,3544 1,0
C3 0,3544 1,5

O parâmetro de saída analisado nos ensaios foi a corrente elétrica (valor eficaz – RMS) da máquina-ferramenta,
medida com auxílio de um conjunto composto por um Arduino com circuito eletrônico e sensor de efeito Hall não invasivo
para a aquisição de corrente elétrica, montado em uma das fases do motor elétrico trifásico da máquina-ferramenta. O
sinal de corrente elétrica adquirido pelo sensor foi exportado para uma planilha a uma taxa de aquisição de
aproximadamente um ponto por segundo. A partir do sinal adquirido, foram calculados média e desvio padrão do sinal
durante o intervalo de corte (remoção de material) para cada condição de corte testada.

Figura 1 – Círculo eletrônico responsável pela recepção de sinal dos sensores de efeito Hall e transmissão desse sinal para
um computador na forma de planilha.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Tabela 2 – Medidas de corrente elétrica obtidas nos ensaios.

Condição de corte Corrente Elétrica (A) -- 𝑰 + 𝝈𝑰 Incremento percentual (%)

E1 10,18 ± 0,20 -

E2 10,71 ± 0,14 5

E3 13,34 ± 0,11 26

Os dados de corrente e força de corte para os 3 ensaios foram sumarizados na Tabela 2. O sinal de corrente obtido
para o ensaio 1 foi plotado na Figura 2. Nota-se a princípio, a corrente nula da máquina desligada, seguida do trecho da
corrente em vazio, relativa ao funcionamento do torno. Na região 4, observou-se variação da corrente (Tabela 2), devida
à remoção de material, com valores de incremento percentuais de 5% do primeiro para o segundo ensaio; 26% do segundo
para o terceiro; e de 31% do primeiro para o terceiro.
Figura 2 – Sinal de corrente medido para as condições de corte 1, com dados obtidos do aparato de medição.

A variação entre os dois primeiros é explicada pelo aumento de esforços mediante incremento da velocidade de
avanço. Por sua vez, o aumento de corrente do segundo para o 3º ensaio está em consonância com o aumento da
profundidade de corte. Ambos esses parâmetros de corte modificam o esforço necessário para que haja remoção de
material, resultando em modificação na corrente associada (Aslan, 2020).

4 CONCLUSÃO

Assim, baseado nos resultados obtidos, mostrado na Tabela 2, fica perceptível o efeito do avanço e da velocidade
de corte na potência de corte requerido pela máquina-ferramenta, onde o aumento dos valores desses parâmetros de corte,
ocasionaram um aumento significativo da corrente elétrica consumida pelo motor.

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASLAN, Abdullah, 2020. “Optimization and analysis of process parameters for flank wear, cutting forces and vibration
in turning of AISI 5140: A comprehensive study”. Journal of the International Measurement Confederation, Vol.
163, No. 107959. Doi: https://doi.org/10.1016/j.measurement.2020.107959.
FERRARESI, D. Fundamentos da usinagem dos metais. [S.I.]: Editora Blucher, 1977.
LIMA, R. O. C. Monitoramento do desgaste da ferramenta de hss no processo de torneamento através da potência
consumida. Revista Eletrônica de Engenharia Mecânica, v. 3, n. 2, p. 126-136, 2021.
MACHADO, A.R., ABRAÃO, A. M., COELHO, R. T., DA SILVA, M. B. Teoria da usinagem dos materiais. 1.ed. São
Paulo: Blucher, 2009.

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