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11/04/2015 FFOBS ­ Fazenda Jones 2

Fazenda Jones 2
Escrita por: Ana Aguiar
Betada por: Gabriella

CAPÍTULOS: [PRÓLOGO] [1] [2]


[3] [4] [5] [6] [7] [8] [9] [10]
[11] [12] [13]

Prólogo

So don’t say that you just want to run away


(Então não diga que você só quer fugir)
Replay all the things that I tried to say
(Repita todas as coisas que eu tentei dizer)
I’m 21 so you getting off
(Eu tenho 21, você está saindo)
I’m coming over
(Eu estou chegando)

Quando algo desastroso acontece, você começa a questionar o sentido de tudo.


Mergulha em reflexões que jamais imaginaria fazer e que em situações comuns você
ficaria tipo “pare de pensar nisso e viva a vida”. Mas sua vida está completamente
ferrada, então o que resta é pensar em tudo o que fez e se arrepender até seus olhos
secarem. E se eu não tivesse ido? Se eu tivesse ficado, nada disso teria acontecido.
Seria a mesma coisa? Não. Por que eu? Porque é assim e não há nada pra fazer, já
está feito. Por que não eu? Por que tudo tem que dar certo? As coisas acontecem
por algum motivo, nada é em vão. Qualquer fato tem sua consequência, por mais
que você não perceba. Tudo é assim. Você só tem que viver. Mas acaba complicando
algo óbvio.
E como eu compliquei.

Sabe quando você soluça e chora ao mesmo tempo? Eu estava assim, voltando pra
Londres. Duas pessoas chegaram a perguntar se eu estava perdida e queria ajuda, de
tão grave que parecia ser. Na verdade, eu não sabia o motivo que me deixava tão
emotiva. Ou sabia muito bem, porque tinha um emaranhado de acontecimentos e
sentimentos passando rápido pela minha cabeça. Estava tão confusa que não
conseguia definir nada.
E continuava, lá no fundo, tentando omitir o fato de estar completamente
apaixonada pelo meu próprio primo.
Quando estamos sentindo algo que, pela sociedade e pela ordem natural, é errado,
ficamos afirmando o contrário na nossa mente, tentando nos convencer do oposto.
O problema é que não estava funcionando comigo, era tão forte que nada que eu

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pensasse ou tentasse colocar no lugar ficava por muito tempo. E o curioso de tudo é
que quanto mais me afastava de Bolton, mais aquilo ficava claro e estampado em
meu rosto. A distância e a ausência fazem com que o sentimento se triplique e o
desespero tome conta de nós.
E o pior de tudo era que, além da impossibilidade de qualquer coisa dar certo, ele iria
ter um filho de outra garota.
Acho que arrasada seria o melhor adjetivo para me descrever. Arrasada, chocada,
desesperada, deprimida, perdida... Tudo misturado, juntos formavam o meu interior
detonado.
E quando eu achava que todos os fatos já estavam expostos com seus devidos
representantes sentimentais delimitados, mais coisas preenchiam minha cabeça. Eu
provavelmente não o veria por um tempo, ele iria para Oxford e provavelmente
assumiria sua família por lá, enquanto eu teria de me virar em Londres. Com a
sensação eterna de que algo estava faltando.

Cheguei na estação de St. Pancras atrasada, ou achava que estava, porque eram
nove horas da noite e Bri provavelmente já estaria entrando na sala de cirurgia. Meu
pai me esperava no meio de todos aqueles desconhecidos e não demorei para
encontrá­lo. O abracei, tentando esconder a expressão de quem passara um dia
inteiro chorando (eu realmente tinha passado um dia inteiro chorando).
­ Como está? – perguntou me encarando, e eu olhei pro chão.
­ Bem. Desculpe atrapalhar seus planos, mas Bri precisa de mim.
­ Tudo bem, não se preocupe. Onde ele está?
­ No London Bridge. Pode me levar até lá?
­ Claro. – concordou ele, pegando as minhas malas.
Por mais que estivesse me sentindo desequilibrada e deprimida, era bom estar de
volta. Eu pertencia àquela cidade, meu lugar era ali. Não conseguiria me imaginar em
outro lugar. Aquilo me deixou melhor, mas logo a melancolia voltaria e nada poderia
me deixar pra cima.
Bem, talvez uma pessoa.
Pensando nisso, eu sorri involuntariamente e por um momento me imaginei
abraçando Bri, sentindo o seu abraço apertado. Ele tinha uma forma de abraçar que
dava a impressão de que estávamos sempre nos despedindo, era tão forte e tão
cheio de sentimentos...
Eu definitivamente precisava daquele abraço mais do que qualquer coisa, e se eu não
o fizesse, aquele peso enorme em minhas costas não iria dar folga.
O trânsito em Londres não mudava nunca. Isso nos fez atrasar uma hora, eu estava
quase desistindo de ir de carro – se eu começasse a correr em direção ao hospital,
pelo menos daria a impressão de que eu estava indo mais rápido, por mais que fosse
apenas uma impressão.

Quando entramos na recepção do hospital, eu saí em disparada na frente do meu pai


como se soubesse pra onde ir.
­ , dá pra se acalmar? Ele deve estar no meio da cirurgia, não vai adiantar nada essa
pressa toda. – ouvi a voz de meu pai ecoar na recepção silenciosa. Nos aproximamos
do balcão da recepcionista.
­ Como posso ajudá­los? – perguntou a mulher gorda do outro lado do balcão.
­ Meu amigo foi internado, ele vai fazer ou deve estar fazendo uma cirurgia pra
remover o apêndice.
­ Como é o nome dele? – Ela me encarava sem nenhuma demonstração de comoção
por Bri estar com apendicite. Bom, ela deveria ver milhões de pessoas com apendicite
naquele hospital, e por isso achava que tinha o direito de fazer pouco caso.
­ Brian Langdon. – respondi apreensiva, começando a batucar no mármore. Ela
encarou meus dedos e depois olhou pra tela do computador, digitando o nome de
Bri.
­ Ele está no quinto andar, lá eles lhe informarão da situação do garoto. Como se
chamam?

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Ela abriu a gaveta e tirou dois adesivos brancos de dentro.


­ Jones e Jack Jones. – respondeu meu pai, percebendo que eu estava demorando
pra responder. Ela escreveu os nomes nos adesivos e nos entregou. Agradecemos e
nos afastamos pro elevador.
­ Eu vou passar a noite com o Bri. – Já fui avisando enquanto colava o adesivo por
cima do moletom.
­ Você nem sabe se ele vai passar a noite aqui.
­ Claro que vai, quem é que tira o apêndice e volta pra casa como se tivesse ido
comprar pão?
­ Tudo bem, depois resolvemos isso. – disse meu pai impaciente, apertando o botão
do quinto andar no painel. – Como foi essa mísera semana na fazenda?
Engoli em seco e senti meu coração acelerar.
­ Normal, nada de empolgante. Sabe como eu não gosto de natureza.
Ele me olhou com um ar de reprovação familiar.
­ Vai me fazer voltar?
­ Eu bem que gostaria, mas não vou te obrigar mais a fazer nada que não quiser.
Pelo menos você reviu seus avós e seus primos.
Não respondi. Sentia que ele estava bravo comigo e não queria piorar a situação.
Não sei por que, mas tinha a sensação de que todo mundo sabia o que eu tinha feito
e se eu cometesse algum deslize, as pessoas iam começar a verbalizar o fato. Graças
a Deus nossa mente é particular e pelo menos nela temos privacidade e somos livres
pra sermos o quão confusos e perdidos quisermos. Esqueci momentaneamente do
assunto quando as portas do elevador se abriram e um vasto corredor branco e
iluminado surgiu.
Engoli em seco e coloquei as mãos no bolso do casaco enquanto saía do elevador
junto de meu pai. Tentei não parecer apressada e desesperada até chegarmos ao
balcão de informações do andar, onde as enfermeiras ficavam. Não precisamos nos
dar ao trabalho de perguntar nada, uma voz preencheu o corredor logo que
surgimos no balcão em frente à sala de espera.
­ Não acredito que o Brian fez vocês virem até aqui!
A mãe de Bri se aproximou e nos cumprimentou, parecendo estar ali há bastante
tempo. O que eu perdi, afinal?
­ Não, senhora Langdon, vim por conta própria. Ele disse pra não vir, mas é do Bri
que estamos falando, eu não poderia deixá­lo sozinho. – falei com um sorriso
discreto e ela me deu um abraço esmagador. A senhora Langdon sempre gostou de
mim mais do que qualquer outra garota que tenha aparecido na vida de Bri, sem
querer me gabar, mas ela realmente acha que nós temos um caso. E adora isso.
­ Bri está descansando, saiu da cirurgia faz uma hora. Vá ver se ele pode te receber
enquanto eu falo com o seu pai, é o quarto 522.
Concordei com a cabeça, vibrando pelo fato de poder vê­lo sozinha. Já seria bem
tenso olhar pra ele depois de tudo. Na verdade, qualquer coisa que eu vá fazer daqui
em diante vai ser tensa, eu preciso me internar numa clínica de reabilitação.
Reabilitação cardíaca.
Fiquei tonta de tanto encarar os números das portas e andar rápido ao mesmo
tempo, mas finalmente achei o quarto 522, que era no final do corredor. Senti as
mãos tremerem, mas preferi ignorar. Respirei fundo vinte vezes e bati na porta.
Não houve resposta.
Abri devagar e entrei, fechando a porta atrás de mim. O quarto estava demasiado
escuro, iluminado apenas pelo abajur na cabeceira da maca onde Bri dormia. Bri.
Sorri instantaneamente quando encarei seu rosto sereno e sem preocupações. Fiquei
alguns segundos o observando e repassando em minha mente o que eu sempre
soube: não conseguiria viver sem ele. Dei alguns passos cuidadosos até a beirada da
maca e acariciei seus cabelos, mas ele não deu sinal de vida. Com certeza estava sob
algum medicamento, sua respiração era profunda. Deveria acordá­lo?
Depositei um beijo em sua bochecha, acreditando que seria impossível ele acordar
daquele sono concentrado. Errado.
Brian abriu os olhos e demorou algum tempo até me focalizar, e quando o fez abriu

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o maior sorriso que pôde.


­ ... – sussurrou, segurando minha mão que estava apoiada no colchão ao seu lado.
– Volte pro mato, estou interrompendo seu trabalho no campo.
Não acredito que até nessas horas ele conseguia fazer piadinhas.
­ Langdon, dá pra você esquecer isso? Estou aqui e não vou voltar. Como se sente?
Ele se mexeu um pouco e fez uma expressão de dor.
­ Como se tivessem arrancado meu apêndice.
­ Bom, na verdade eles fizeram isso.
­ Exato. – murmurou sorrindo e acariciou meu rosto, me fazendo corar e aumentar a
frequência cardíaca. Não sei por que ainda fico assim, depois de todos esses anos ao
seu lado.
­ Não teria sido tão incrível na Califórnia sem você. Eu sei que estava esperando ouvir
isso.
Semicerrei os olhos para a sua ironia.
­ Quando eu estiver sóbrio, você vai me contar tudo o que aconteceu naquela
fazenda, porque eu sei que tem muita coisa fervendo nessa sua cabecinha confusa.
Wow. O encarei sem expressão por um tempo, do que esse garoto sabia? Por acaso
implantou algum chip no meu corpo e observou todos os meus passos?
­ Por que diz isso?
­ Porque eu te conheço mais do que qualquer pessoa nesse mundo. Agora me dê um
abraço, estou sentindo falta disso.
Sorri e me aproximei, o envolvendo com cuidado. Ficamos abraçados por um longo
minuto e eu tive a leve sensação de que eu talvez fosse ficar bem. Ele tinha esse
poder de fazer todos os meus problemas evaporarem. Talvez fosse disso que eu
precisava.

°°°

O frio agonizante e prematuro de novembro me fez amaldiçoar mentalmente por ter


passado adiante a minha jaqueta de couro. Quer dizer, quem é que joga fora
jaquetas de couro? Elas são úteis mesmo no estado posterior ao velho e surrado. Eu
precisava renovar o meu guarda­roupa, ainda mais agora que minha vida tinha
mudado o rumo e eu me mudaria em breve.
­ Ainda estou tentando entender o motivo de você ter trocado Oxford pela
Universidade de Londres.
Vovó colocou a mão na testa como se uma dor de cabeça muito forte a estivesse
incomodando. Eu era essa dor de cabeça, sem motivo, é claro.
­ Quantas vezes a senhora vai me perguntar isso? – murmurei, pegando a carta da
Universidade em cima da escrivaninha. – Eu fui aceito. Eles disseram que sou um
diamante bruto, vovó, preciso ser polido. Por mais que isso seja estranho. – encarei
o nada tentando decifrar aquela metáfora – Sabe o que significa um garoto do
interior ser aceito em uma universidade de Londres? É tipo ganhar o Grammy.
John me encarou com uma expressão irônica. Antes que todos fiquem confusos e
perguntando de onde ele surgiu, John é meu melhor amigo de Londres, e estava em
Bolton para, além de me visitar, esclarecer as dúvidas da minha família.
­ Senhora Jones, eu acho que o seu neto tem razão. As notas dele foram tão altas
que chamaram a atenção de uma das maiores universidades do mundo. Não acha
que ele deve considerar isso? E ainda tem o emprego... Você esqueceu de falar de
novo do emprego.
Hm, verdade. Já era a vigésima nona vez que eu listava os motivos da minha
mudança interior – metrópole.
E era a vigésima nona vez que eu emitia o principal motivo de ir para Londres.
­ Eu já sei do emprego. O que eu quero dizer é que Mary está grávida. Vai deixá­la
aqui em Bolton? Danny, já conversamos sobre isso milhares de vezes, não o culpo de
ter feito essa burrice... – vovó fez uma pausa – Na verdade eu culpo sim, seu
irresponsável, mas não é o fim do mundo. Acho errado você fugir da garota agora
que ela precisa de você. Vai me dizer que não vai assumir a criança?

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Aquilo estava parecendo aqueles programas em que as pessoas fazem teste de DNA
pra provar de quem é o filho.
Na verdade isso é muito estranho. Vou ter um filho. Da garota que eu não amo.
Por que eu simplesmente tinha que me apaixonar pela minha prima, e não pela mãe
do meu filho?
EU VOU TER UM FILHO.
Estremeci quando ela tocou nesse assunto.
No dia em que Mary me disse que estava esperando um bebê (o zigoto vinha de mim
também) fiquei em choque. Acho que foi a pior coisa que já aconteceu comigo, não
que eu odeie o bebê, mas simplesmente não quero ter um filho. Não me preocupei
em parecer feliz com a notícia, porque o que eu mais odeio é mentir. E bom, nem ela
estava sorrindo, então eu não tinha obrigação de pegá­la no colo e girar de alegria.
O meu desespero foi dobrado, porque quando você está apaixonado pela menina
que vai ter um filho seu, não é tão ruim, afinal vai ser tudo natural e a criança vai ser
o resultado do amor do casal. E eu não podia facilitar mais ainda escolhendo minha
própria prima pra gostar. E nem posso me conformar com o “acontece nas melhores
famílias”, porque não, isso não acontece nem nas piores famílias.
Mas acho que lidei bem com a situação, e no mês seguinte fiquei tentando entender
como Mary conseguira ficar grávida de mim se na única vez que transamos ela tinha
tomado anticoncepcional e eu estava usando camisinha. Camisinhas furam, não é?
Era a única explicação. Um furo mudou completamente a minha vida.
A única coisa que poderia me alegrar era ser aceito na Universidade de Londres, o
que aconteceu, me deixando, confesso, pasmo. Garotos do interior não têm muitas
esperanças, se quer saber. Além de ser aceito, recebi uma proposta de estágio, o que
não me fez pensar duas vezes e deixar meu antigo sonho de ingressar em Oxford
para trás. Até agora, evitei tocar no assunto principal que rege minha vida,
simplesmente não quero que me achem dependente e babaca a ponto de colocar
como objetivo principal ficar com a garota que eu amo. Porque eu simplesmente
largaria tudo por ela. Toda essa besteira de universidade e estágio, não significa
nada perto do que sinto por ela. Eu poderia ser um mendigo ignorante, ou um
camponês só com a roupa do corpo, mas se tivesse ao meu lado, nada mais
importaria.
Durante minha vida inteira, tive que enterrar o que eu sentia por ela, isso significa
que eu poderia desenterrar a qualquer momento (na prática, quando a visse
novamente) e foi exatamente o que fiz. Nosso relacionamento sempre foi regado de
brigas, discussões e ódio profundo, até o momento em que nossos instintos não
resistiram e rolou.
Simples assim, mas ela adora resistir. Ah, e eu não vou negar que é irresistível esse
jeito dela de resistir, colocando o orgulho na frente de tudo. O maior prazer do
homem é o desafio. Coloque uma garota bonita e que não o queira em sua frente, e
o objetivo de sua vida, a partir do momento em que for rejeitado, será conquistá­la e
levá­la para cama, para depois a encarar de manhã com uma expressão de “eu sabia
que era isso que você queria”. Sim, somos uns canalhas desgraçados, mas a verdade
é essa, nua e crua. É claro que entre eu e era muito mais do que um simples jogo de
sedução. Era muito mais. Até pelo fato de que o que queríamos era proibido,
proibido no sentido literal mesmo, vocês com toda a certeza acham incesto um nojo,
mas com ela é diferente. Não a vejo como prima ou irmã ou qualquer membro da
minha família. A vejo como mulher. Não sei explicar, só sei que é diferente.
E tirá­la de mim bem quando estávamos pela primeira vez realmente juntos
(secretamente, claro), foi mais doloroso do que saber que eu iria ter um filho.
E lá vamos nós de novo com o filho. Eu me sinto totalmente irresponsável e não
preparado para cuidar de uma criança. Posso ouvir na minha mente ecos do tipo
“cuidar de cavalos é uma coisa, Daniel, mas um FILHO... você passou de todos os
limites possíveis. Achei que era um rapaz responsável”. Concordo, na verdade eu sou
muito responsável. Tanto que isso se torna mais um motivo para deixar Bolton.
Minha família está me achando um vagabundo com bosta na cabeça, inclusive os pais
de Mary. O que eu acho totalmente injusto, eu não fiz essa criança sozinho.

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Resumindo, Mary ficaria em Bolton e eu a enviaria meu salário do estágio todos os


meses, porque alguma coisa eu teria que fazer em prol desse bebê. Eu sei que posso
parecer meio desajeitado, mas vou aprender a cuidar da criança. Quer dizer, eu
preciso. Por mais que não pretenda casar com Mary, acredito que metade da
responsabilidade é minha. Não posso ver essa criança como um problema, um bebê
é uma dádiva, me sinto mal pensando dessa forma. Mas realmente as proporções da
minha vida mudaram de direção, eu querendo ou não.
­ Vovó, eu não estou fugindo da Mary, eu estou tentando resolver a situação. E é
claro que eu vou assumir a criança, quem a senhora pensa que eu sou? Eu posso
não estar demonstrando emoções, na verdade eu não sou transparente, mas estou
me importando sim.
Abri o roupeiro e comecei a tirar as camisas do cabide. Minhas roupas não eram nada
urbanas, todas eram surradas e velhas.
­ Senhora Jones, pode relaxar, o Danny está fazendo a coisa certa. O que não está
certo é ele ficar aqui parado, vendo a vida passar e não fazer nada a respeito. Ele está
arcando com as responsabilidades, vai sustentar a Mary e o bebê.
Vovó pensou nas palavras de John, não sei por que ela via mais credibilidade nele do
que em mim. Às vezes desconfio que ela queria ser avó dele.
­ Ainda não entendo como o seu pai concordou com isso. – murmurou ela pegando
as camisas da minha mão e começando a dobrar tudo de novo, já que eu estava
fazendo tudo errado. Vovó era como minha mãe, afinal eu nunca soube direito o
paradeiro da verdadeira. Meu pai nunca esteve disposto a conversar comigo sobre
isso, por mais que eu insistisse. Ele agia como se ela nunca tivesse existido, mas não
perdi as esperanças, lá no fundo eu ainda espero me encontrar com ela.
­ Ele confia em mim, sabe que eu sou responsável. – ela parou de dobrar as camisas
e me encarou cética – Tirando o ocorrido com a Mary! Ela não respondeu, apenas fez
uma cara desconfiada e continuou arrumando a minha mala. Ficamos em silêncio por
longos minutos, John me encarando com sua expressão tensa. Eu sabia que ele
estava esperando que vovó desistisse de concordar com a minha ida sem volta
aparente à Londres.
­ Acho que está tudo aí... – falou ela por fim, depois de fechar o zíper da mala. Eu só
tinha uma mala e uma mochila. – Não vai nem esperar seus tios chegarem de
Manchester?
­ O trem sai às oito, se esperarmos vamos perder. Eu prometo comunicação
instantânea. Papai já deve estar chegando para me dar as últimas instruções.
­ Não se esqueça de visitar a sua prima, já que vão morar na mesma cidade. Vão
poder se ver bastante.
Senti o olhar de John e o encarei brevemente. Ele sabia de boa parte da história, eu
nunca poderia esconder algo tão importante dele.
­ Claro. – respondi, respirando fundo. Um mês já havia se passado desde o dia em
que deixara a mansão de Phillip às pressas porque seu melhor amigo estava com
apendicite. Pra falar a verdade, eu fiquei com um pouco de ciúmes, quer dizer, a
gente estava junto e ela me largou por outro cara. Não da forma que parece, mas
mesmo assim... De qualquer jeito, depois Mary veio me dar a notícia do bebê e eu
me senti totalmente sem moral para sentir ciúmes de qualquer coisa em relação à .
Ouvimos a porta da casa bater e a voz do meu pai, da minha irmã e de vovô
ecoaram pelos corredores. Peguei a mala e John arrancou a mochila das minhas
mãos. Descemos até a sala de estar.
­ Pronto? – perguntou meu pai com um sorriso acolhedor colocando a mão no meu
ombro. Eu não podia reclamar de falta de apoio, ele sempre ficou do meu lado nas
situações difíceis. Senti minha irmã me abraçando na cintura.
­ Vamos sentir sua falta, Danny. – disse ela e eu me abaixei, a abraçando direito.
­ Não se preocupe, vamos nos ver em breve. Vou trazer algumas coisas pra você de
Londres.
Ela abriu um grande sorriso e me abraçou de novo. Bons tempos em que alguns
presentes satisfaziam nossas tristezas. Levantei e vovô me olhou sério. A rigidez que
meu pai não tinha pertencia a ele, e confesso que tinha um pouco de medo. Mas

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logo seus lábios se abriram num sorriso discreto.


­ Não faça besteiras agora que não vai ter nenhum limite perto de você. – disse ele
bagunçando meus cabelos. Mais algumas recomendações que eu já esta careca de
saber e John começou a me cutucar.
­ Faltam vinte minutos, se perdemos esse trem o próximo só sai amanhã.
­ Vamos, então. Tem certeza que pegou tudo? – disse meu pai testando o peso da
minha mala.
­ Só faltam os livros, mas você vai me mandar pelo correio.
Nos despedimos mais uma vez, John pegou sua mochila que estava em cima do sofá
e eu peguei minha mala e minha mochila. Saímos da casa e entramos com meu pai
em sua caminhonete rumo à estação de trem.

Capítulo 1

Os livros empoeirados que eu tirava das caixas por conta da mudança me faziam
espirrar cada vez que eu os pegava na mão e passava o pano para tirar o pó. Eu
tinha um pequeno problema de rinite e estava sentindo que meu nariz coçava mais
do que o normal. Pelo menos a estante estava começando a encher e aquilo me dava
um pouco de orgulho, afinal o que eu tinha de mais precioso era a minha coleção de
livros. Sorri lendo os títulos e verificando se os livros estavam em ordem de
qualidade, estipulado por mim, claro.
Fazia exatamente uma semana que eu havia me mudado para um apartamento no
centro de Londres com a minha melhor amiga Alice, aquilo me dava uma sensação
inexplicável de liberdade e responsabilidade. Eu finalmente tinha minha própria casa
e poderia fazer o que quisesse com ela. Vocês deveriam experimentar, é maravilhoso.
­ No que está pensando?
Levei um susto e me virei, dando de cara com Alice atirada na minha cama de
solteiro. Uma colcha branca a revestia, combinando com as cortinas também
brancas. As paredes eram de um rosa fraco, pintadas por mim mesma (outro feito
desprezado que ninguém considera) e os móveis eram igualmente brancos, como a
escrivaninha e o meu armário. Em breve uma das paredes seria decorada com alguns
dos modelos que eu, como aprendiz de design de moda, estava criando.
­ Em como meus livros ficam bonitos na minha nova estante.
Ela começou a ascender e apagar as luzinhas em metro que eu havia colocado
decorando a parte superior da minha cama, me fazendo a encarar sem entender o
gesto.
­ Não preciso nem dizer que elas vão queimar e você vai correr pela cidade atrás de
mais né?
­ Desculpe. Não desvie do assunto, não estou falando dos seus pensamentos não­
fixos. Se é que me entende.
A olhei cética. Alice era meio confusa às vezes, aquilo me deixava apreensiva, eu
nunca conseguia juntar as partes da frase e entender o que ela estava tentando
dizer. Ou eu que era meio lerda.
­ Eu te conheço,Mell, por favor, não venha pra cima de mim com essa cara de “não
sei do que você está falando”, porque comigo não cola. Você anda estranha e
pensativa desde que voltou das suas férias naquela cidade. Eu posso fingir que não
percebi, mas meus princípios me impedem de tal ato.
Sua mania de falar difícil também me deixava confusa.
Encarei o chão e soltei o ar pesadamente. Não poderia mais esconder da minha
melhor amiga algo tão importante na minha vida, e ficar com toda aquela apreensão
dentro de mim estava me deixando louca e tensa a cada hora que passava. Bem, já

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havia se passado muitas horas desde o momento em que pisei em Londres, então
você poderia ter uma ideia de como eu estava me sentindo.
­ Sabe o significado de “sigilo absoluto”?
­ Está de brincadeira, né?
­ Enfim, você não pode contar pra ninguém o que eu vou te falar. É tipo o meu
segredo mais profundo e agonizante. Se eu descobrir que alguém sem ser você e...
bem, quem está envolvido ficar sabendo, acho que me atiro no Tâmisa e deixo a
correnteza me levar.
­ Nossa, meu Deus do céu, se você matou alguém é melhor nem me contar. Odeio
essas coisas, depois você vai presa e vão me interrogar. Eu não vou saber mentir...
­ Acredito que a intensidade do crime seja a mesma. – comentei pensativa.
­ Quer saber? Vamos dar uma volta, ir até a Starbucks e comer alguma coisa.
Podemos conversar lá sobre isso.

A Oxford Street estava lotada de pessoas caminhando apressadas, turistas tirando


fotos, entregadores de amostra de jornais e mais alguns avulsos de sempre. O que
me fez questionar o fato de ter inventado de ir a pé com Alice até o café no meio de
uma tarde de sábado.
Entramos na Starbucks que, por incrível que pareça, não estava tão lotada como eu
esperava que estivesse. Fizemos nossos pedidos pro atendente (devo comentar aqui
que ele era uma graça, o que comprova a minha teoria de que só contratam caras
gatos pra trabalhar naquele lugar) e nos sentamos no sofá mais afastado possível de
contato humano. Não queria correr nenhum risco de alguma pessoa começar a
prestar atenção na minha novela particular.
Depois de bebermos nossos cafés e darmos algumas mordidas nos donnuts, senti o
olhar de Alice sobre mim.
­ Eu não faço ideia de por onde começar. – Confessei, o que era verdade, havia tanta
coisa na minha cabeça que eu não conseguia achar o início, o meio e o fim dos fatos.
­ Comece pelo começo.
Eu sabia que ela iria vir com essa brilhante ajuda, então respirei fundo e dei mais um
gole no meu café.
­ Eu fiz algo terrível, Alice. Nojento, estranho, imperdoável. Depois de ouvir a história,
você não vai mais querer morar comigo. Tem certeza que quer saber a verdade?
Ela me encarou com os olhos semicerrados e entendi de imediato.
­ Fui obrigada a passar um tempo na fazenda dos meus avós em Bolton,
praticamente toda a minha família por parte de pai mora por lá, inclusive meu primo
Danny. Eu sempre o odiei com todas as minhas forças, tendo os meus motivos, já
que ele me infernizou a infância inteira e cortou o meu cabelo sem que eu visse. Eu
amava o meu cabelo.
"Enfim, fazia algum tempo que eu não o via e bem... assim como eu, ele tinha
crescido. E ficou bonito. Eu quero dizer muito bonito, do tipo “meu Deus do céu vou
morrer”. Tinha uma tensão sexual entre a gente inexplicável, eu me sentia
desconfortável perto dele, tipo quando você fica muito perto do cara que está afim.
Dava pra cortar a tensão com uma tesoura.
Nós ficamos pela primeira vez numa festa do amigo dele, falando assim parece que
foi muito tempo, mas foi preciso apenas uma semana pra tanto desastre acontecer.
No dia seguinte, nós... hum, fizemos aquilo... no meio do mato. Foi a coisa mais
prazerosa da minha vida. Foi selvagem e agressivo, embaixo de uma tempestade
inexplicável.
É claro que aquela não foi a única vez. Fomos convidados para ir num torneio de
Pólo na casa de um amigo da família, e na primeira noite Danny surgiu no meu
quarto e acabamos transando de novo. É difícil dizer isso em voz alta, você me
conhece, mas foi perfeito. Sabe quando você está com a pessoa que ama, nada mais
importa além de vocês dois, o mundo para do lado de fora? Pois é. Ele foi carinhoso
e delicado, eu não tinha a noção de que aquele caipira podia se comportar de uma
forma tão... fofa.
O fato é que eu não consigo ficar mais nenhum minuto sem pensar nele e nos

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poucos momentos que passamos juntos e isso me consome de uma forma


avassaladora a cada dia que passa. Eu me sinto culpada, entende? Ele é o meu
primo.
Bom, é claro que não podia terminar assim. Danny tem uma amiga, Mary, e ela é tipo
toda perfeita e meiga, dava até raiva. No meu último dia em Manchester, na mansão
dos amigos da família, Danny me contou que Mary estava grávida. Dele. Eles tinham
transado antes de eu chegar lá e ele não tinha nem me contado. Eu fiquei arrasada.
Só sei que o perdoei na hora, eu estava indo embora, não fazia diferença. Mas agora
não sei se conseguiria falar com ele de novo. De uma forma ou de outra, ele me traiu
por não ter me contato algo tão importante.
Agora Mary vai ter o bebê e bom, eles vão ser uma família. E eu ainda estou
apaixonada por ele, quer dizer, eu sempre estive, na verdade. Nunca assumi dentro
de mim, muito menos pra alguém."
Alice não tinha expressão definida no rosto, parecia digerir toda a história e
compreender todos os fatos. Depois de alguns segundos de silêncio, algumas
lágrimas já haviam caído do meu rosto, ela me encarou.
­ Puxa, você estava com tudo isso entalado e não me contou?
­ Eu não queria que você pensasse que eu sou algum tipo de vadia por fazer isso
com o próprio primo. Não quero que as pessoas pensem isso de mim, eu não sou
assim. Se você quiser cortar as relações eu vou entender completamente.
Ela arregalou os olhos e levantou de repente, largando a caneca na mesa de apoio na
nossa frente e sentando ao meu lado.
­ Como você pode pensar uma coisa dessas de mim? Eu nunca vou te abandonar,
sua tolinha, muito menos agora que precisa de mim. Vem cá.
Alice me abraçou e senti um peso sair das minhas costas. Afinal, eu podia contar com
alguém pra dividir a desgraça. Não segurei as lágrimas seguintes, que acabaram
molhando o moletom dela.
Nos afastamos uns minutos depois e ela me olhou sorrindo. Como ela podia sorrir
num momento daqueles? Eu estava deprimida e sem vontade de viver!
­ Não acredito que minha amiga está apaixonada. Isso é muito fofo.
­ Alice, isso é incesto. Fui fisgada pela doença. – murmurei secando as lágrimas que
pingavam do meu queixo.
­ Você realmente acha que é a única garota que pegou o primo? É sério? Até eu já
peguei meu primo.
A encarei assustada com um meio sorriso de alívio.
­ Não! Não transamos, mas nós demos um selinho uma vez num “Verdade e
Desafio”. E eu não gostava dele e ele era feio.
Fiquei séria novamente, encarando um ponto fixo com o olhar perdido.
­ Mas não se preocupe, não é crime transar com a pessoa que amamos. Bom, agora
o que você vai fazer é esquecer um pouco o acontecido e bola pra frente, não é? O
jogo continua! Existem milhões de garotos em Londres, no mundo, loucos pra
namorarem você e com certeza um deles vai fazer você esquecer o seu primo que vai
ser pai. Nossa, você realmente escolheu o cara errado.
Aquela conclusão me fez rir um pouco, por mais deprimente que a situação fosse.
Não queria parecer pessimista, mas nenhum garoto iria me fazer esquecer Danny
Jones. Era um fato, e eu teria que conviver pra sempre com aquela paixão enterrada
no peito.
­ Eu sinto falta dele.
­ Vocês vão poder se ver no natal.
Como se aquilo resolvesse todo o problema.
­ Alice, eu não sei mais o que fazer. Achei que com o tempo conseguiria equilibrar
minha vida de novo, mas estou na mesma merda. Amando­o mais do que nunca.
Ótimo.
­ Você acha que em um mês vai conseguir esquecer e superar o que aconteceu? Isso
vai demorar alguns meses, amiga. E sabe, é a vida. Temos que viver ela de qualquer
forma e enfrentar os desafios impostos pela mesma. Se isso aconteceu com você,
deve ter um bom motivo. Dê graças a Deus que ele não é o seu irmão. Sempre tem

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algo pior pra te colocar pra cima.


­ Bom, daí eu realmente iria me matar. – falei e rimos.
­ O que você acha de fazermos um cinema particular no nosso novo apartamento
lindo hoje de noite? Dá pra ver na sua cara que está com saudades das nossas noites
babando pelos irmãos Winchester.
­ Sabe que não é uma má ideia? Dean deve estar com saudades.
Levantamos do sofá e saímos do estabelecimento, discutindo qual dos episódios
iríamos ver naquela noite. Alice tinha todas as temporadas em DVD e eu me
aproveitava ao máximo.
Uma melodia bonita interrompeu nossa discussão.
­ THIS YEAR I WANT YOU ALOOONE!
Quatro garotos surgiram na nossa frente completamente alegres, dois deles
seguravam violões e um deles cantava uma das músicas mais fofas que eu já ouvi na
minha vida.
O que cantava parou de tocar e esticou a mão pra um dos outros dois que só estava
rindo descontroladamente.
­ Boa tarde garotas! Acredito que apreciem um bom rock americano, estou certo?
Eu e Alice nos olhamos meio rindo.
­ Acho que sim, por quê? – respondeu Alice. O garoto se enfiou entre a gente e nos
entregou dois panfletos.
­ Somos o The Maine e vamos fazer um show na próxima sexta­feira no Black Beard.
Eu sei, isso é incrível e vocês estão sendo formalmente convidadas por parte da
banda. Nosso vocalista está voltando de uma viagem hoje, então resolvemos sair e
trabalhar um pouco. O que acabaram de ouvir foi apenas uma amostra da nossa
música.
­ Vocês parecem ser bons. – murmurei lendo o panfleto que continha uma foto deles
e as informações do show.
­ Ah, quem recebe esse panfleto da gente ganha 20% de desconto no ingresso. Ou
seja, vocês estão com sorte.
­ Não ligue pro Kennedy, ele só está chamando garotas. Mas é verdade, o desconto,
digo. – falou um deles que tinha o cabelo liso pelos ombros e uma expressão muito
fofa no rosto.
­ Como se você não estivesse adorando. Enfim, nós realmente adoraríamos que
vocês fossem nos ver. Como se chamam? – voltou a falar Kennedy com um sorriso
presunçoso no rosto. O outro garoto com violão voltou a tocar.
­ Meu nome é Mell e essa é a Alice. – respondi da forma mais meiga possível. O que
foi? Eles eram fofos.
­ Mell, Alice, contamos com a presença de vocês. Não nos deixem esperando.
­ Vamos pensar no seu caso, espertinho. – disse Alice com uma expressão marota.
Todos riram e se despediram, voltando a caminhar e fazer baderna pela rua,
entregando panfletos e tocando suas músicas. Isso que eu chamava de força de
vontade.
­ Uma banda inteira acabou de nos cantar. Estou me sentindo tão gostosa. – ouvi
Alice murmurar encarando o papel nas mãos. – Hm, o mais interessante deles não
estava presente, que ótimo.
Olhei pro papel depois de rolar os olhos.
­ Eles têm um espírito contagiante! – comentei olhando os detalhes no panfleto.
­ Por isso acho que devemos ir a esse show! Vamos, né? Desconto, cara.
­ Não acredito que você cogitou essa possibilidade.
­ Mell, você é a pessoa que mais precisa conhecer novos garotos e bancar a groupie
por aqui e você sabe bem o motivo. Nem que eu tenha que te arrastar, nós vamos
nesse show. A música era tão bonitinha!
A olhei sem expressão pensando na possibilidade de ser flertada novamente por
garotos fofos. Foi um pouco tentador.
­ Já vi que serei cruelmente forçada a ir nesse show, querendo ou não.
­ Só estou fazendo meu trabalho, querida.

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°°°

Dava pra sentir da entrada do lado de fora o cheiro forte de maconha. John me
olhou com um sorriso discreto tentando disfarçar o odor e me deu vontade de rir. Eu
tinha arranjado o lugar mais poluído envolto em névoa de maconha e cigarro que
alguém poderia arranjar pra morar. Ele abriu a porta e logo uma música alta invadiu
os meus ouvidos. Não sei como os vizinhos não reclamavam daquela bagunça toda,
ou talvez eles reclamassem sim e eram eles que ignoravam.
­ Bem vindo ao lar! Seu quarto é no último andar, mais conhecido como sótão.
O olhei cético.
­ “Lar” não é a palavra que eu escolheria pra descrever essa orgia.
­ Orgia só nos fins de semana, a gente é bem discreto. E você vai ter que pagar pelo
que utilizar, se é que me entende.
­ Não, eu não entendo. – murmurei o seguindo até a sala de estar completamente
bagunçada, cheia de roupas, embalagens de comida e outros objetos não
identificados pelo chão.
­ O baseado, cara. A gente não planta essas coisas. Nem temos um jardim, mas com
certeza se tivéssemos, teríamos uma plantação de maconha.
­ Hum... Tudo bem. – concordei o olhando estranho. Senti em seguida um forte tapa
na cabeça que fez toda a sala girar. – OUTCH!
­ Qual é a boa, Jones? – perguntou Garrett com os olhos meio fechados. Ele estava
meio sonolento, fazendo eu me questionar sobre como ele teve força de me dar um
tapa daqueles.
­ Quanto tempo vai ficar alojado? – Uma voz diferente falou e eu olhei para um
Kennedy se entupindo de salgadinho.
­ Bem, eu ia ficar um ano... Mas eu posso arranjar outro lugar se vocês não quiserem
me aguentar tanto tempo.
­ Não, tá tranqüilo cara. É sempre bom ter mais alguém pra trocar uma ideia. Vem
cá, John, você não tem noção das gatas que a gente convenceu de ir ao show sexta.
John o olhou com uma expressão marota enquanto abria a geladeira da cozinha que
era a continuação da sala de estar.
­ Ele nem sabe se elas vão mesmo. – cortou Pat colocando a mão no meu ombro. –
E aí, meu?
­ Oi, Pat.
­ Enfim, aposto que se o John estivesse com a gente elas nem iriam pensar. Quer
dizer, você sempre as convence. É muito injusto.
­ Desculpe se as garotas não resistem quando eu falo com elas do meu jeito quero­
te­foder. Vou te ensinar, Danny. Sempre dá certo. – disse John tirando uma garrafa
de cerveja de dentro da geladeira.
­ Onde está o Jared? – perguntei olhando em volta e ignorando o último comentário
de John.
­ Boa pergunta. – respondeu ele se jogando no sofá.
­ Se aquele desgraçado estiver com alguma mulher eu vou me matar. E depois matar
ele. – falou Kennedy parando pra pensar no que disse segundos depois.
­ Mas, você teria que matar ele primeiro e depois se matar. – concluiu Garrett. Meu
Deus, eu odiava conversa de gente chapada.
­ Vocês me dêem licença, mas eu preciso tomar banho. Você deveria fazer o mesmo.
– disse olhando sério para John. Ele estava fedendo, ou provavelmente era o lugar
que estava fedendo.
­ Danny, se você começar com essa mania de banho todos os dias eu vou ser
obrigado a te colocar porta a fora.
Um minuto de silêncio. Todos começaram a rir e eu olhei de um para o outro
estático. E eu pensava que era o caipira.
Deixei­os rindo descontroladamente sozinhos e subi dois andares até o sótão, que
provavelmente seria o dobro da sujeira já que era... bom, era um sótão. Não estava
tão errado, era mais pó do que oxigênio. Concluí que eu mesmo teria que limpar
aquele lugar. Joguei minhas coisas em cima da cama e entrei no banheiro

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visivelmente abandonado, que acredito ter sido em alguma época branco, pois agora
estava bege e meio fedorento. Por que eu não aluguei um apartamento mesmo? Ah
sim, você não vai morar sozinho em Londres nem por cima do meu cadáver!, a voz
de vovó ecoou na minha mente. Como se morar com eles diminuísse a
responsabilidade e a possibilidade de eu me tornar um vagabundo sem vida.
Toda aquela confusão não tinha me deixado pensar no motivo principal que movia o
meu corpo e me fazia ter vontade de viver. Nossa, isso foi muito emocional, tenho
que parar de pensar como um poeta abandonado e desolado. Tirando a parte do
poeta, era assim mesmo que eu me sentia. Saber que a garota da sua vida está na
mesma cidade que você te deixa um tanto apreensivo, com a sensação de que a
qualquer momento ela vai bater na sua porta e se declarar. Bom, eu duvidava muito
que Mell faria algo do tipo, ela é tão orgulhosa e reservada que nem deve ter
assumido pra si mesma que gostou de tudo o que aconteceu entre a gente. Não vou
negar que eu tinha uma ponta de esperança lá dentro, que pessoa apaixonada não
tem?
Resolvi deixar de lado minha ponderação sobre a situação atual do meu coração
mórbido e tirei a camisa, entrando novamente no banheiro agora pra valer. Eu teria
que ignorar o fato de que aquela peça tinha um leve estilo pós segunda guerra
mundial, decadência e sujeira pichadas nas paredes. Tentei não encostar em nada
quando tirei a roupa por completo, já estava com um pouco de nojo de estar ali
dentro de calças, bom, sem elas era o desafio do dia. Eu já devia esperar que a água
quente ou demoraria pra dar o ar da graça ou não viria. Passados cinco minutos de
espera, desisti e me enfiei na raça embaixo da água gelada, segurando um gemido
de dor do choque do frio com o quente do meu corpo. Enquanto me esfregava com
uma velocidade recorde, concluí que eles nem deviam pagar a água quente, já que
tomavam banho tipo uma vez a cada três dias. Onde fui me hospedar, Deus do céu.
Terminei o banho nada relaxante e me enrolei na toalha branca pendurada na
parede. Eu não tinha tempo e nem condições físicas de fazer uma análise minuciosa
pra saber se tinha algum corpo não identificado grudado nela. O frio gritava mais
alto. Saí do banheiro sentindo que a qualquer momento eu poderia cair duro no
chão com as rajadas de vento insistentes que se seguiam entrando pelas frestas da
janela no teto do quarto. Quando a porta se abriu me fazendo dar um pulo pro lado
e tentar tapar a parte de cima do meu corpo. Não que isso fosse necessário, mas
reflexo a gente não discute.
­ O que você acha de uma pizza gordurosa?
­ Eu acho que você poderia bater antes de entrar. – respondi irritado encarando um
John com olhar carregado.
­ Tanto faz. Você é louco de tomar banho com esse frio? – perguntou ele se jogando
na minha cama singela. Eu o encarei descrente.
­ Não vou nem responder essa besteira. – murmurei me dirigindo até a mala em cima
da cama e começando a tirar as roupas de dentro. John me encarava com os olhos
apertados.
­ Como está se sentindo? – perguntou deliberadamente. Eu o olhei estranho.
­ Com frio.
­ Não estou falando disso. Sabe, eu sou uma pessoa observadora. Precisamos ser
assim quando compomos letras. Elas descrevem comportamentos e sentimentos.
Você está transparecendo preocupação e intenso nervosismo.
O estudei por alguns segundos silenciosos e cocei os olhos afastando a repentina
confusão mental.
­ Não, você apenas me conhece melhor do que ninguém.
­ Diga­me o que te preocupas e eu dar­te­ei uma solução.
­ Por que diabos você está falando difícil?
­ Dei uma fumada braba há uns minutinhos. Enfim, qual é o teu problema?
­ Ela.­ murmurei simplesmente pegando algumas camisetas, atravessando o quarto e
colocando dentro de uma das gavetas da cômoda de madeira.
­ Sua prima?
­ Não, minha avó.

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­ Você sabe que se procurar ela vai foder com tudo, não é? – disse ele, ignorando
minha ironia falha.
­ É por isso que eu estou preocupado e nervoso.
Ele pensou um pouco encarando o teto do quarto.
­ Faça o que o seu coração mandar.
­ Não tinha algo menos clichê pra me falar? – falei agora colocando algumas calças
jeans dentro da segunda gaveta.
­ A vida não tem mistério nenhum. Nós que complicamos ela. Se você está afim da
garota, e ela o mesmo, pra quê ficar nessa frescura de “oh nunca mais podemos nos
ver, eu vou ter um filho e você é minha prima”. Por favor né.
John fazia tudo parecer tão simples, mas eu sabia que na minha cabeça não era. Ele
não sabia como era ter um peso na consciência que não te abandona nunca. Ele não
sabia como era ter sua família inteira te pressionando a fazer uma coisa, sendo que a
sua vontade era de desistir de tudo e fugir. Não, a vida não é nada simples.
­ Você fala como se um filho fosse um pão de queijo. É uma pessoa. E aborto é
desumano.
­ Você com seus papinhos de naturalista.
­ Não precisa ser biólogo pra saber essas coisas.
­ Você nem é biólogo ainda.
­ John, quer fazer o favor de deixar eu me vestir? Eu estou morrendo.
John levantou da cama resmungando e arrastou suas alpargatas enfiadas de mal
jeito até a porta.
­ Eu falaria algo marcante antes da minha saída triunfal pra te deixar pensando,
mas... meus neurônios foram queimados demais hoje. Vamos pedir pizza, esteja lá
embaixo em sei lá quanto tempo leva.
Ele bateu a porta e eu imediatamente coloquei uma blusa com mangas compridas e
uma calça de moletom marrom. Roupa de mendigo. Como se aquela casa inteira
fosse diferente.

Capítulo 2

Apesar de aquela manhã de segunda­feira estar ensolarada, eu sentia uma leve e


desconfortável dor de garganta, que me obrigou a colocar um cachecol em volta do
pescoço. Alice me encarava desde o nosso apartamento sem entender.
­ Raro dia de sol, quando podemos fingir que está calor o bastante pra sair de
manga curta e você de cachecol. Eu não te entendendo.
Suspirei tirando os cabelos do rosto que insistiam em tapar minha visão enquanto
andávamos pela avenida. A rotina já estava começando e boa parte das pessoas já se
apressava para seus devidos empregos e tarefas. Um homem de terno e gravata
esbarrou em mim, me ignorando completamente, e eu bufei de raiva.
­ Qual o problema das pessoas em serem educadas hoje em dia?
Alice tomou um gole do seu copo de café com uma expressão irônica.
­ Você não está muito bem hoje.
­ Eu estou me sentindo doente. Belo começo de semestre.
­ Pra mim isso se chama dor de amor.
A olhei sem paciência e ela começou a rir. Não entendia essa garota, estava sempre
rindo de tudo, por mais que a minha situação fosse complexa.
­ Eu nem vou responder esse seu comentário sem fundamento.
­ Eu tenho fundamentos, que aliás são o seu comportamento desde que voltou
daquela fazenda da sua família. Está toda desconfiada, irritada e nervosa. Você fica
assim quando está gostando de alguém que não quer. Lembra do Will? Pois é. Você
praticamente me espancava quando eu falava dele, só porque o garoto não gostava

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de você.
­ É, mas agora é diferente. E eu nem estou doente por causa disso, então por favor
coopera com a minha situação de extremo mal estar, porque eu estou quase
desmaiando aqui nessa calçada.
­ Você vai ficar bem disposta logo, mais precisamente sexta­feira, porque alguns
meninos bonitos nos convidaram pra sair e nós vamos nos divertir muito.
­ Eles não nos convidaram pra sair, eles apenas nos convidaram pra assistir o show
deles.
­ É a mesma coisa. Droga, corre! O ônibus acabou de parar.
Fui puxada bruscamente pela rua em direção à parada do nosso ônibus, sem tempo
de perceber esse motivo. Alice me enfiou dentro do veículo e entrou atrás de mim.
Um cheiro estranho entrou pelas minhas narinas e eu quase vomitei.
­ Será que eu estou grávida? – perguntei sentando em um dos bancos estilo sofá,
virados pro corredor. Ela sentou ao meu lado e riu.
­ De gêmeos.
­ Estou falando sério, eu não menstruei ainda e já passou um mês desde que eu...
né.
­ Calma, é normal atrasar às vezes. Aposta quanto que vai vir essa semana? Eu
sempre acerto.
­ Mas, e o meu enjôo e a doença?
­ Eu já te expliquei o que é isso, pare de ser neurótica. Eu aqui morrendo de inveja
sua, que pode comentar sobre a vida sexual com a amiga. Nem isso eu tenho.
­ Ah, quer trocar? Transar duas vezes com o próprio primo é um ato muito invejável.
Quem me dera estar no seu lugar.
­ Eu sou a única virgem da turma.
­ Sorte sua. Não muda nada ser virgem ou não.
­ Muda sim, você já teve dois homens e eu só tive casinhos imbecis. Ter um homem
aqui no sentido de ter mesmo.
­ Isso por acaso me faz melhor do que você?
­ Te faz mais adulta. Você aí cheia de aventuras...
­ AVENTURAS? – perguntei alto demais e uma senhora, que provavelmente estava
escutando toda a conversa, arregalou os olhos pra gente. – Eu estou arrependida de
cada merda que eu fiz nessas férias e você consegue falar disso como se fosse algo
pra lembrar e se orgulhar? Me sinto suja e impura todas as vezes que me lembro do
episódio. Isso pra você é algo bom?
­ É. Você disse que seu primo é lindo e fofo. CLARO QUE É!
­ Eu não vou te explicar de novo tudo que está acontecendo na minha cabeça. Você
não consegue entender a gravidade da situação. Ele. Vai. Ter. Um filho. De. Outra
garota. Eu provavelmente nunca mais vou vê­lo de novo.
­ Cala a boca, Mell. Acha que a família não vai mais permitir ele nos jantares porquê o
garoto vai ser pai?
­ Não é assim.
­ Sabe desde quando eu não sinto borboletas no estômago por alguém? Desde o
ensino médio. Então por favor, reverta essa angústia pra algo bom, se apoiando na
minha desgraça amorosa. Eu estou aqui pra isso.
­ Eu juro que se você vier com esse assunto de novo enveneno seu copo de suco.
­ E, além de todas essas tramas amorosas suas, você tem o Bri. Que provavelmente
está nos esperando agora.
­ O que você quer dizer com isso?
­ Quero dizer que o garoto gosta de verdade de você e deve levar isso em conta, já
que está tão sofrendo por causa desse Daniel aí.
­ Ele é apenas meu amigo. Sempre foi e sempre vai ser.
­ Isso aí Mell, vamos ignorar o seu diário e todas aquelas páginas com o nome do
Langdon.
­ Alice, quer por favor parar de lavar a roupa suja dentro do ônibus, em público?
Você faz questão de expor a minha vida em voz alta.
­ Acho que deveria ouvir a sua amiga e dar uma chance pro Bri.

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Uma voz nos interrompeu e uma mulher lá pelos seus quarenta anos nos olhava
receosa, sentada ao lado de Alice. Alice sorriu pra mulher concordando.
­ Dá pra gente ter uma conversa particular por aqui? – perguntei irritada e a mulher
voltou a se encostar no banco meio assustada com a minha grosseria.
­ Não precisa ser assim com as pessoas! – sussurrou Alice me repreendendo. Eu rolei
os olhos.
­ Não agüentou mais esse povo mal educado. Já é o segundo hoje que faz o favor de
me tirar do sério. Terceiro né, tem você.
­ Mell, seu humor de manhã é tão invejável quanto os homens que estão aos seus
pés.
Fiquei encarando Alice sem expressão por longos segundos até ela perceber a
besteira que disse.
­ Não tem homem nenhum aos meus pés, pare de inventar coisas. Vamos parar por
aqui?
Eu realmente estava um pouco tensa demais, assumo com muita dificuldade. A partir
do momento em que entrei no ônibus e fiquei enjoada instantaneamente, somado
com a minha menstruação atrasada, meu corpo doendo e o tempo desde que eu
não transava, resultou num medo extremo de estar esperando um bebê. Ou eu
estava neurótica, mas aquilo ficou cutucando a minha cabeça pelo resto da manhã, e
o que eu menos precisava agora e o que mais poderia complicar tudo era eu
esperando um filho de Danny. Quer dizer, o garoto já vai ter um filho com aquela
Taylor Swift e eu não quero que o meu filho com ele tenha uma madrasta dessas e
que ainda tenha que dividir o pai com outra criança. Não que eu esteja querendo que
exista uma criança mesmo, mas... tudo bem, eu tenho que parar com isso. Só de
pensar nesse garoto eu já fico apreensiva, inquieta e tensa. E provavelmente
conviver com ele não diminuiria a tensão.

Bri não estava nos esperando na frente da universidade quando chegamos e eu achei
aquilo muito estranho, já que ele nunca fura com seus compromissos. Passei a
manhã inteira, além de nervosa por causa dos meus enjôos e atraso da menstruação,
preocupada com o sumiço de Bri. A universidade de Londres era bem grande, eu
sabia muito bem disso, mas não justificava o desaparecimento estranho dele.
Minha angústia se anulou quando avistei, no final da manhã, Bri parado na frente do
campo principal do meu prédio encarando o chão com as mãos nos bolsos. Ele ficava
tão lindo com aquele blazer dele, aliás Bri tinha uma mania irresistível de se vestir
bem no dia a dia. Aquele garoto ainda me mataria de tão fofo. Quando me viu
colocando a mochila nas costas desajeitada sorriu ternamente.
­ Minha linda! – exclamou ele me abraçando forte e beijando o meu pescoço. Quem
precisa de ar mesmo? Envolvi seu tronco com meus braços e não me preocupei em
sair do abraço no primeiro minuto. Para meu desgosto, Bri percebia que quando eu
abraçava as pessoas por mais tempo que o normal eu estava com algum problema.
Ele me afastou, sem tirar as mãos da minha cintura e olhou nos meus olhos. Desviei
e encarei o chão. – Qual o problema?
­ Nada, eu deveria ter um problema? – respondi meio rápido olhando pros lados
nervosa. Bri semicerrou os olhos pra mim.
­ Você já deveria saber que tentar me enganar dá no mesmo que tentar enganar a si
mesma. Pode ir falando, o que você tem?
­ Eu estou meio doente, meu corpo dói, assim como a minha garganta.
­ Não estou falando disso.
­ Meu emocional está ótimo se quiser saber.
­ Eu sei de um lugar que vai te fazer bem, vamos hoje de tarde. Pode chamar a Alice
se quiser, vai ser divertido.
­ Pra onde você quer me arrastar, Langdon?

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Acordar não seria bem o que eu fiz naquela manhã de segunda­feira, pelo simples
fato de haver uma espécie desconhecida de ninho no telhado exatamente acima do
meu “quarto”. Passaram a noite arranhando com as unhas por todos os lados. “Abrir
os olhos” seria o mais adequado depois do despertador estridente gritar ao meu
lado. Levantei da cama já batendo com a cabeça no teto de madeira e soltei um
palavrão alto. Entrei no banheiro e instantaneamente lembrei que eu estava na casa
de John e ele não tinha água quente e aquela casa era mais fria que do lado de fora.
Quase chorei quando a água gelada me nocauteou no pescoço, a única coisa que
tinha servido era pra me acordar. Saí do banheiro depois de fazer toda a higiene que
nenhum membro daquela casa fazia e dei uma olhada nas minhas roupas enquanto
tremia de frio. Eu realmente estava meio desleixado no quesito “moda”, eu precisava
dar um jeito naquilo. E nada melhor do que pedir ajuda para alguém que tem uma
banda e sabe que roupas deixam as garotas mortas. Não que eu queira deixar
alguma morta, mas eu pelo menos preciso ficar apresentável, lembrando que estou
com bolsa na faculdade.
Tirei da gaveta uma camiseta branca, uma camisa xadrez que era tudo o que eu
tinha no momento, uma calça jeans mais justa e peguei da mala que eu ainda não
tinha desfeito um Vans branco. Me vesti, ajeitei meu cabelo da melhor maneira
possível e peguei minha bolsa de atravessar – que deixando bem claro não é de
mulher, como o John vive dizendo, é só uma forma mais fácil de carregar livros – e
saí do quarto na verdade muito confiante.
Pra variar, como eu esperava, a casa estava num silêncio ensurdecedor. Eu previa
que os vagabundos só iriam acordar lá pelo meio dia, então parti pra luta sem me
atrever a acordar um deles e levar um soco na cara.
A universidade de Londres na verdade era bem longe da casa de John, eu tinha que
pegar o metrô e um ônibus pra chegar do outro lado da cidade, mas foi o que eu
consegui, então não estava em condições de reclamar. Nem tempo de tomar café eu
tinha, quem precisa de alimento quando se tem uma bolsa integral em uma das
maiores faculdades do país? Eu que não.
Os portões estavam movimentados quando me aproximei da entrada, cheio de
adolescentes ricos que provavelmente pagaram para estar ali e não fizeram por
merecer, não que eu tenha algo a ver com isso, mas comentar não fazia mal. Mordi
um pouco forte meu lábio inferior, resultado do meu nervosismo, suspirei e entrei. O
prédio de biologia e medicina por sorte não ficava tão longe, era o mais cheio de
gente amontoada também. O acabamento de todos os blocos eram antigos, como
se fossem da época vitoriana ou algo do tipo. Eu suspeitava que aquele lugar de
noite deveria ser bem assombrado, porque de dia já dava pra intimidar. Mas, na
verdade era bem bonito, comparando com o que temos mais próximo de uma
faculdade em Bolton.
Me enfiei no amontoado de gente até conseguir entrar no prédio e, seguindo sem
sucesso algumas placas, fui parar em todos os lugares possíveis menos na secretaria.
Escolhi um corredor e desisti no meio, dando meia volta e encarando confuso os
murais até alguém me cutucar no ombro.
­ Precisa de ajuda?
Uma garota de pele morena e cabelos ondulados muito bonitos me encarava
sorrindo. Ela lembrava um pouco a Nicole alguma­coisa das Pussycat Dolls e isso me
deixou um pouco animado pra começar uma conversa. Lembrando que ela que
chamou a minha atenção. Eu não podia simplesmente começar a ignorar todas as
garotas que começarem a falar comigo porque iria ter um filho. Culpa, vá a merda.
­ Na verdade eu preciso sim. – respondi meio rindo e ela riu junto, cruzando os
braços e me olhando com curiosidade de cima a baixo.
­ Você não é daqui, seu sotaque do interior te denuncia. E seu estilo diferente e
bonito também.
­ Ahn, é, eu sou de Bolton, obrigado. – falei meio desconcertado coçando a nuca sem
saber o que fazer. – É... você sabe onde é a secretaria?
­ Claro, vem comigo. – disse ela me pegando pela mão e me puxando pro lado
oposto do qual eu estava decidido a ir antes de ela me interromper. Depois de nadar

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entre muitos corredores lotados paramos na frente de uma grande porta de vidro. –
Aqui está... como se chama?
­ Daniel Jones.
­ Prazer, sou Michelle. Se precisar de mais alguma coisa pode me encontrar no quinto
andar, eu curso medicina.
­ Obrigado, agora eu preciso me localizar. Ahn, nos falamos depois.
­ Com certeza. – respondeu ela sorrindo e se afastou toda graciosa. Desviei os olhos
de onde ela estava há poucos segundos e empurrei a porta de vidro, sentindo um ar
gelado me envolver completamente. Fiquei algum tempo parado encarando o
grande balcão na minha frente até uma mulher com os cabelos presos pra trás com
pauzinhos me olhou e fez sinal para me aproximar.
­ Como posso ajudá­lo? – perguntou ela me encarando por cima dos óculos de grau.
­ Eu tenho bolsa aqui, vim de Bolton, não sei muito bem meus horários e pra onde
devo ir.
­ Ah, você é o garoto de Bolton! O coordenador quer conversar com você depois,
chamarão você durante a manhã. Ele deixou pessoalmente seus documentos. Você
vai fazer estágio no London Aquarium, estou vendo aqui. – falou ela rápido demais,
tirando de um saquinho uma folha.
­ Acho que sim, ele me ofereceu essa possibilidade.
­ Vai adorar trabalhar lá. É muito agradável. Aqui estão suas coisas. Os horários, os
números das salas e os documentos do seu estágio.
­ Obrigado. Não têm muitos bolsistas aqui?
­ Tem um monte. Vocês devem ser realmente muito bons pra conseguir uma bolsa
nessa universidade cara.
­ É, eu acho que sim. Bom, obrigado pela ajuda.
­ Não tem de quê, querido. Boa sorte.
Sorri para a mulher estranhamente simpática e saí da sala, tirando do saquinho os
meus horários. As pessoas estavam sendo muito simpáticas comigo, isso não é nada
normal. Espero que isso não seja sinônimo de me ferrar em outra área da minha
vida. Tipo o amor.

°°°

Nunca durma de tarde quando você está se sentindo sonolenta. Você vai ser
automaticamente anestesiada e nem sua amiga gritona te acordará.
­ Mell, o Bri está tipo CHEGANDO. Dá pra você levantar dessa cama? Eu já vou ter
que segurar vela pra vocês, nem sei porquê eu estou indo nesse troço. É né, quem
sabe eu não encontro alguém pra transar já que nem isso eu fiz ainda.
Gemi por longos segundos e levantei devagar da cama, minha cabeça girando e
latejando. Entrei no banheiro sem dar ouvidos aos dramas de Alice, ela estava
ficando boa naquilo. Lavei o rosto e coloquei de volta minha maquiagem, fazendo
logo em seguida uma trança embutida no cabelo que já não estava mais tão curto
assim. Voltei pro quarto e encontrei Alice sentada na minha cama encarando o chão
com um olhar vazio, provavelmente esperando que eu a consolasse pelo fato de
ainda ser virgem. Grande merda, eu daria tudo pra ser virgem de novo. TUDO. Abri
meu roupeiro e tirei lá de dentro um vestido jeans justo, que na parte de cima era
em estilo corpete. Coloquei por cima um cardigã amarelo fraco e All Star preto.
­ Já sabe pra onde aquele garoto vai nos levar?
­ Não, ele não me disse. – respondeu ela levantando da cama e saindo do quarto. Saí
atrás dela antes pegando a minha bolsa. No momento em que chegamos na sala no
andar de baixo a campainha tocou.
­ Estão prontas pra tarde mais fofa do mundo? – perguntou Bri quando abrimos a
porta e saímos o encarando impacientes.
­ Quer falar logo, Langdon? Eu posso ser alérgica. – falou Alice apreensiva enquanto
descíamos até a calçada, onde o carro de Bri estava estacionado. Sim, aquele babaca
tinha um carro e eu não.

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­ Você é alérgica a peixes? – perguntou ele destrancando o carro. Entramos e o


olhamos perdidas.
­ Não que eu saiba. Depende, camarão me deixa inchada.
­ Não vamos comer os peixes. Seria crime ambiental ou alguma coisa assim.
­ AONDE NÓS VAMOS? – gritou Alice fazendo eu e Bri nos encolhermos.
­ Vamos ao London Aquarium, o lugar mais mágico da cidade depois do Madame
Tussauds.
­ Eu AMO esse lugar. – disse Alice com os olhos brilhando, fazendo Bri rir.
­ Nunca fui lá. – comentei encarando os prédios que passavam por nós.
­ Você mora aqui desde sempre e nunca foi no aquário? – perguntou Bri como se já
não soubesse disso. – Mais um motivo pra isso ser uma urgência.

Chegamos no Tâmisa em poucos minutos, o London Aquarium ficava em uma das


duas margens onde sempre havia uma quantidade imensa de turistas. Não era
diferente na frente do aquário. Bri estacionou o carro na rua mais próxima e fomos
caminhando pela margem até o prédio antigo e comprido. Na base havia a palavra
“Aquarium” bem grande em dourado. Bri e Alice riam de algo que eu não estava
interessada em saber quando entramos pela entrada principal, disputando por um
lugar com as milhões de pessoas de outros lugares do mundo. Logo no saguão havia
uma grande bilheteria onde poderíamos escolher quais sessões do aquário visitar e
os preços delas. Não muito diferente do museu do Louvre, mas imagine ele com
muita água e peixes nadando. Deixamos Bri cuidar dos ingressos enquanto
observávamos as pessoas na nossa volta.
­ Esses lugares turísticos são infestados de gatinhos gringos. Tipo italianos e
franceses estonteantes.
A olhei sem ânimo.
­ Você está mesmo levando a sério isso de arranjar alguém pra transar? Dá pra
relaxar e curtir a vida enquanto não foi violada e tem o seu selo ainda?
­ Você fala isso porque está toda “oh dei pro meu primo que horror”. Toda na
experiência.
­ Para de falar isso perto do Bri. Ele não sabe ainda.
­ Ele nem está perto. E você não vai contar pra ele nunca? O garoto merece saber.
­ Não. Ele ficaria furioso e provavelmente nunca mais falaria comigo.
­ Pare de ser idiota.
Passados alguns minutos de discussão entre eu e uma Alice neurótica, Bri apareceu
na nossa frente segurando três ingressos coloridos.
­ Esses ingressos nos dão acesso a todas as áreas do aquário. Saibam que a área dos
predadores custou tipo um salário mínimo.
­ A gente te paga depois. – murmurou Alice arrancando da mão dele seu ingresso e
saindo na frente. Passamos pela entrada para os corredores, onde uma grande
cortina escura separava os tanques 270º graus do mundo real. Havia um funcionário
que verificava os bilhetes e eu já podia ver uma luz azul e hipnotizante passar pelas
frestas da cortina.
Entregamos nossos bilhetes para o cara, que nos deu pulseiras de identificação.
Passamos pela cortina e instantaneamente meu queixo caiu. Era como estar imersa
no oceano respirando oxigênio e caminhando ao mesmo tempo. Uma música calma
de fundo fazia do ambiente entorpecente, nos fazendo sentir que estávamos em
outro mundo, onde tudo era lindo e mágico. Peixes de todas as espécies e tamanhos
nadavam pelos nossos lados e por cima das nossas cabeças. Muitas pessoas
sentavam nos bancos em frente aos vidros e tiravam fotos, torcendo para que algum
peixe colorido aparecesse de fundo.
Alice se entreteve logo com uma arraia gigante, grudando o rosto no vidro
parecendo uma criança alucinada. Bri observava o movimento de alguns peixinhos
dentro de corais lilases e aproveitei para me afastar até um corredor mais vazio do
que aquele inicial, onde todos paravam impressionados e gastavam todas as
memórias das câmeras.
Acabei me encontrando na área das tartarugas, animais calmos que nadavam

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devagar, alguns mais velhos sendo seguidos por filhotinhos. Me perdi observando
toda aquela natureza na frente dos meus olhos, o lugar estava mais silencioso que
nos primeiros corredores. Tocava no fundo uma das minhas músicas preferidas,
Roslyn, e aquilo me deixou calma por alguns minutos, coisa que não acontecia há
muito tempo.
­ ...vocês podem encontrar essa espécie mais precisamente na Austrália, elas migram
para se reproduzir.
Minha atenção se esvaiu das tartarugas quando uma voz levemente familiar atingiu
meus ouvidos. Eu estava de costas pro corredor, de frente pro aquário,
provavelmente havia um grupo de pessoas ouvindo a explicação do funcionário
daquele corredor. Fechei os olhos devagar e respirei fundo, me xingando
mentalmente e me obrigando a parar de ser neurótica como Alice e imaginar coisas.
Minha respiração aumentou a velocidade e eu me virei devagar.
Danny estava ali.
Senti o chão desaparecer debaixo dos meus pés e um desespero inexplicável me
atingir, me deixando sem saber o que fazer. Eu não conseguia me mexer, a única
coisa que mexia era meu peito para cima e para baixo em alta velocidade. Não sei
como eu ainda estava em pé.
Danny estava com um uniforme do London Aquarium e explicava o que eu não
estava mais prestando atenção para alguns turistas que tiravam fotos empolgados.
Duas crianças faziam perguntas umas atrás das outras para ele que respondia com
simpatia. Não demoraria para ele me perceber parada que nem um zumbi do outro
lado do corredor, e foi só eu pensar nisso que seu olhar se desviou das tartarugas e
me encarou. Não me reconheceu de primeira, então voltou a olhar de volta o
aquário, mas, percebendo quem eu era, me olhou estático. Tudo isso em milésimos.
Ficamos nos encarando por um longo tempo, até os turistas desistirem de tentar
chamar a atenção de Danny e fazer novas perguntas. Se afastaram sem entender o
desprezo momentâneo dele. Encarei o chão respirando com dificuldade e num ato de
pura infantilidade comecei a me direcionar pra saída do corredor. Me virei
completamente e comecei a andar rápido, sem saber direito pra onde ir. O lugar
estava meio escuro e entre um corredor e outro uma penumbra em tons de azul
atrapalhava mais ainda a visão. Senti uma mão em meu braço me segurando
levemente. Meus joelhos falharam.
Danny me olhou com uma expressão de desapontamento mesclado em confusão.
­ O que está fazendo aqui? – Me ouvi perguntar, num sussurro falho e sem forças.
­ Eu faço estágio aqui. – respondeu ele simplesmente.
Ah, meu Deus. Como eu sentia falta dele. Daquela voz meio rouca, daqueles olhos
que, por mais escuro e estranho que fosse aquele lugar, estavam mais azuis do que
nunca. Do perfume. Ele continuava usando o mesmo perfume que, desde a primeira
vez naquelas férias, me deixou com as pernas bambas. Como eu o amava e não tinha
coragem de assumir.
­ Não. Você não pode estar aqui. Era pra você estar em Oxford. – falei negando com
a cabeça e olhando pros lados, segurando as lágrimas que já se formavam nos
cantos dos meus olhos.
­ Eu ganhei uma bolsa na universidade de Londres.
Eu estudava lá. Ele simplesmente não podia estudar lá também, aquilo iria me matar
lentamente.
­ Danny eu... preciso ir. – falei sem pensar e fiz menção de me afastar, mas ele
segurou a minha mão e me puxou novamente. Aquilo quase me matou.
­ Você não pode simplesmente ir. – disse ele se aproximando de mim numa distância
perigosa, me fazendo andar pra trás até sentir algo sólido nas costas. Droga, sem
saída. – Nós, ahn, nós...
­ Nós não temos nada nem nunca vamos ter. Me esquece, Daniel. Pela primeira e
última vez, eu preciso seguir a minha vida. Sem você.
Ele entrelaçou os nossos dedos, me fazendo ofegar nervosa, sem tirar seus olhos dos
meus por nenhum minuto sequer.
­ Eu não vejo isso. Neles.

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Eu sabia que ele estava se referindo aos meus olhos e abaixei o olhar obrigando uma
lágrima a escorrer.
­ Você não sabe do que está falando. – falei tentando soltar meus dedos dos dele
mas ele os apertou me impedindo do ato.
­ Eu te amo, Mell. Não faça isso comigo.
Senti mais algumas lágrimas escorrerem e pingarem na minha roupa e logo depois
os dedos dele limpando o meu rosto. Aquilo não estava acontecendo. Olhei devagar
para o seu rosto e simplesmente neguei com a cabeça, derrubando mais lágrimas
silenciosas.
­ Mell?
A pronúncia do meu nome fez Danny se afastar de mim assustado. Alice estava
parada há alguns metros da gente.
­ Eu... estava dando um tempo no barulho.
­ É, dando um tempo com um cara.Mell, você já não está com problemas demais pra
ficar de flerte com o cara que trabalha aqui? Achei que seu primo estava te
impedindo de enxergar outros homens. É só te deixar sozinha né.
Danny me olhou com um sorriso imperceptível e eu desviei o olhar. Alice SEMPRE
estraga tudo.
­ Por que vocês duas não conseguem ficar comigo? Não, sério, que eu saiba a gente
veio junto.
Ótimo. Muito ótimo. Bri surgiu atrás de Alice nos encarando sem entender. – Qual o
problema?
Alice e Danny me olharam para saber o que eu ia responder. Droga, eu estava tão
ferrada que era capaz de mergulhar num daqueles tanques e nunca mais voltar.
Passei a mão no rosto desconfortável.
­ Esse é o meu primo, Danny. – soltei rápido encarando o chão e ouvi Alice soltar
uma exclamação de incredulidade.
­ Ele é mesmo lindo. – disse Alice e eu a olhei desesperada.
­ O quê? Ahn, Bri, esse é o meu primo. Danny, esse é o meu melhor amigo Bri. – falei
rápido tentando anular a frase desnecessária de Alice, mas Bri a olhou bravo. Danny
estendeu a mão e Bri a apertou meio receoso.
­ Hm, você é o Danny. Da fazenda. – murmurou ele sério e eu senti um tom de
ciúmes na voz dele.
­ É. – respondeu Danny simplesmente. – Estou estudando em Londres agora.
­ Ah, bom pra você. Onde está estudando? – perguntou Bri tentando manter uma
conversa normal. Danny, não responda pelo amor de Deus.
­ Na universidade de Londres.
Bri levantou as sobrancelhas.
­ Nós estudamos lá também. Mell, como não sabia que seu primo estava na nossa
universidade?
Encarei Bri e pigarreei nervosa. O olhar de Danny em cima de mim estava
praticamente me queimando.
­ Ele não me contou. Ahn, vamos embora? Eu não estou me sentindo muito bem.
Bri e Alice ficaram em silêncio por alguns segundos e murmuraram em concordância.
Danny encarou Alice.
­ Ah, essa é a Alice, estou morando com ela. – falei, percebendo que havia anulado
Alice da conversa depois daquele fora gigantesco.
­ Oi. – respondeu Danny sorrindo e ela sorriu de volta.
­ Então vamos, paguei rios de dinheiro nesse troço pra você se sentir mal. Mell, você
é tão conveniente. – falou Bri se afastando e percebi que a raiva dele não era por eu
estar fazendo ele jogar dinheiro fora. Era por causa de Danny.
­ Nos vemos. – murmurou Danny e eu não respondi, apenas encarei o chão. Danny
sorriu para Alice e se afastou. Senti uma torneira ser aberta embaixo dos meus olhos
depois que Danny desapareceu de vista. Alice correu pra me segurar, já que eu
estava praticamente caindo no chão.
­ Meu Deus do céu. – murmurou ela me abraçando e eu a abracei de volta,
soluçando de desespero. – Tudo bem, Mell, vai ficar tudo bem.

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­ Não, não vai. – falei com a cara enterrada no ombro dela.


­ Isso foi muito estranho. – disse ela afagando as minhas costas. – Mas, uma coisa eu
concordo: você tem todos os motivos possíveis pra se apaixonar por ele. O cara é
tipo o sonho de qualquer garota.
­ Você não está ajudando.
­ Sem falar na voz dele. Como você conseguiu ficar ouvindo essa voz sem se agarrar
nele? Opa.
­ Alice, quer fazer o favor de me consolar e falar mal dele?
­ Caipira nojento.
A olhei sem ânimo e limpei meu rosto, agradecendo aos céus por minha maquiagem
ser a prova d’água.
­ Qual o problema? – ouvi a voz de Bri se aproximando novamente. Ele olhou pro
meu rosto sem entender. – Estava chorando?
­ Ela teve um ataque repentino de alergia, tivemos que parar pra garota espirrar.
Foram tipo vinte espirros seguidos.
­ Você precisa mesmo ir pra casa, vamos. – disse Bri me pegando pela mão. Alice nos
seguiu me ajudando a caminhar, eu ainda estava meio tonta.
Quem não ficaria tonta.

Capítulo betado por Gabriela Andriani

Capítulo 3

Eu só queria um tempo. De tudo. Da minha vida embaraçada ­ onde cada fio fazia o
favor de se enrolar da forma mais complexa possível, dificultando drasticamente o
desenrolar final. Ou talvez apenas nem houvesse desenrolar final, eu ficaria naquela
angústia e falta de vontade pro resto da minha vida. Pelo menos enquanto eu ainda
sentisse nem que fosse um pingo de amor pelo Danny. Eu sabia que quando eu me
libertasse daquele sentimento impulsivo e insano eu conseguiria viver em paz
novamente, mas quem disse que seria fácil? E quem disse que eu queria parar de
pensar nele. Por mais errado que fosse, por mais inconveniente e sem explicações
que fosse o fato de eu estar apaixonada por ele, eu gostava disso. Lá no fundo era
bom, um calor agradável que me fazia sorrir ao lembrar do próprio sorriso dele, de
como ele olhava nos meus olhos de uma forma que me deixava transparente, ele
sabia de tudo o que estava acontecendo pelos meus olhos, malditos denunciadores.
Quando ele me tocava a corrente elétrica que chegava no meu coração agoniado era
forte demais pra ser explicada com palavras. Só sentindo pra entender, e só com ele
que eu me sentia assim. Nenhum outro garoto fez eu me sentir assim antes, como se
o ar que eu respirava não fosse suficiente quando eu estava longe dele. Agora eu
sabia que todas as vezes que nos encontrássemos de novo (não seriam poucas já
que ele estava estudando na minha universidade) me fariam sentir tudo isso de uma
vez só e em poucos segundos. Não sei se vou sobreviver por muito tempo,
simplesmente a ausência desse garoto me deixa no escuro.

O fluxo da minha pulsação aumentou quando Alice me acordou naquela manhã, com
uma expressão preocupada. Era só eu abrir os olhos que o meu coração começava a
bater mais rápido.
­ Como está se sentindo? Você se trancou no quarto ontem, nem tivemos tempo de
conversar.
Passei os dedos nos olhos tentando focalizar Alice na minha frente.
­ Eu precisava ficar sozinha, não que tenha adiantado alguma coisa.
Alice sorriu fraternalmente e tirou uma mecha de cabelo do meu rosto.
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­ Você vai ficar bem, eu prometo. Está tudo confuso agora, mas o nó vai se desfazer
com o tempo.
Eu sentei na cama e senti o quarto girar. Existe ressaca de amor? Porque era o que
eu estava sentindo.
­ Você já se apaixonou? Tipo, de verdade. Como se você fosse capaz de fazer
qualquer coisa por ele?
­ Não. Eu sou virgem, se eu já tivesse me apaixonado, não seria mais virgem.
Rolei os olhos e me atirei pra trás já desistindo de começar uma conversa matinal
profunda com Alice. Ela simplesmente não entendia nada, pra ela o que importava
era o sexo. Espero realmente que ela se apaixone.
­ É só que... não está certo. Está tudo errado. Como eu pude deixar chegar nesse
ponto?
­ Ué, porque não tem como controlar as coisas do coração.
Como ela sabia responder isso se nunca tinha se apaixonado? Decorou falas de
filmes? Provavelmente.
­ Quem sabe você não se arruma e tenta parar de sofrer um pouco? A sua alma já
deve estar toda ferida e você só tem dezoito anos. Imagina quando for velha, não vai
nem conseguir carregar todo esse peso.
­ Eu não vou pra universidade hoje. – gemi, me tapando novamente com as
cobertas até a cabeça. Alice riu sarcástica.
­ É, vai ficar evitando a vida pra sempre? Uma hora ou outra você vai ter que
enfrentar essa rival e a melhor forma de fazer isso é o mais cedo possível.
­ Não consigo olhar pro mundo. Tudo me lembra ele.
­ Claro, seu cérebro deve ter um grande “Danny” tatuado, você olha pra parede e
lembra como ele ficava bonito encostado em paredes. Você olha pro céu e lembra
como os olhos dele ficavam azuis sob o céu azul. Se for pensar assim, tudo vai
lembrar ele mesmo. Para com isso e levanta.
­ Quando você começar a gostar de alguém eu vou te encher tanto o saco e vou
fingir que não sei pelo que você está passando. A vingança vai ser doce.
­ Isso nunca vai acontecer porque eu não sou nem metade melodramática. Nem vou
verbalizar meus sentimentos pra você.
Olhei para Alice séria, depois levantei da cama meio tonta.
­ Você já verbaliza sua falta de sexo, imagina quando fizer.
Entrei no banheiro e fechei a porta, deixando pra trás uma Alice replicando minha
deixa com argumentos falhos. Abri o chuveiro e enquanto esperava a água
esquentar, encarei meu rosto cansado no espelho. Quem me conhecesse diria que eu
estava com alguma doença grave, eu parecia um zumbi com ressaca. Desci meus
olhos para minha barriga e um senti um frio na mesma. Ainda estava com medo da
possível gravidez, eu era completamente neurótica em relação a isso, mas sempre fui
cuidadosa. Eu precisava dar um jeito nessa angústia, minha vida já estava muito
tensa pra mais um problema martelar na minha cabeça.

°°°

Por incrível que pareça, quando desci os dois andares que me separavam da vida,
John e Pat estavam se olhando sem ânimo sentados na bancada que dividia a
cozinha da sala de estar. Pat bebericava sem vontade um copo de suco de laranja e
John mordia um donnut, segurando um cigarro na outra mão. Não preciso nem
comentar a falta de noção de uma pessoa que fuma de manhã cedo.
­ Jones, nem te vi ontem de noite. – murmurou John me olhando com os olhos
pesados e uma voz fanha. Sentei ao lado de Pat e puxei o jornal para dar uma
revirada enquanto ainda não precisava correr pra universidade.
­ Fiquei no estágio até tarde. – respondi virando a primeira página e dando de cara
com uma foto da Lady Gaga vestida de carne crua. Suspirei de desgosto e virei para
a seguinte. – Aliás, tive um encontro tenso ontem.
­ Do que está falando? – perguntou ele me empurrando um prato com donnuts. Fitei
a comida com receio, não fazendo ideia de onde ele tinha tirado aquilo e então

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pesquei um.
­ Minha prima.
­ FALA SÉRIO! – gritou ele empolgado me olhando faminto. Pat se engasgou com a
risada.
­ Ela estava lá com os amigos, foi muito desagradável. Principalmente a parte que ela
me deu um fora lindo.
John me olhou cético. Ele sabia que eu não iria desistir assim tão fácil.
­ Eu fiz o que manda o manual dos primos desolados. Me abri. Não adiantou merda
nenhuma.
­ Claro que adiantou.
­ Na verdade, ela começou a chorar e a gente quase se beijou. Eu quase a beijei,
enfim.
­ É disso que eu estou falando! Drama no meio dos peixes, Danny, sua vida é um
mar de emoções. Sabe o que é esse jogo todo de conquistas e resistências? Eu não
tenho isso faz um bom tempo.
­ Sim, você come as garotas e nem sabe o nome delas.
­ Seus amores já estão suficientes.
­ Podemos escrever algumas músicas sobre a agonia do Danny. – murmurou Pat e
John virou o rosto lentamente para o amigo com uma cara predadora.
­ Pat, você é a pessoa mais genial que existe na face da terra. Danny, nos mantenha
informado de todos os seus passos com sua prima.
Olhei de um para o outro indignado.
­ Minha vida não é tema pra música! Acham que eu vou deixar vocês exporem
minhas intimidades? Nem pensar. – falei continuando a ler o jornal. John me deu um
tapa repentino na cabeça.
­ Pare de viadagem, vamos escrever hits. Você vai ficar famoso como o protagonista
dos nossos sucessos depressivos.
­ E eu lá quero ser famoso.
Um anúncio no canto inferior da página do jornal me chamou a atenção. Um pub no
centro estava precisando de alguém aos sábados à noite para se apresentar. Eu tinha
que ganhar uma grana. Rasguei a parte que me interessava, enquanto John
paparicava ao fundo sobre como a vida real influenciava suas inspirações e em como
eu poderia participar disso.
­ O que é isso? – Ele parou de falar me olhando sem entender.
­ Eu procurando um bico extra.
­ Você vai morrer de tanto trabalhar!
­ Você deveria fazer o mesmo, em vez de ficar o dia inteiro nessa caverna fumando e
fingindo que está escrevendo músicas. Eu sei que você não escreve faz um bom
tempo.
John me olhou ofendido com uma cara engraçada.
­ Saiba que escrever músicas não é pra qualquer babaca. Tente você.
­ Escrever eu não sei, mas tocar... – Entreguei a ele o pedaço rasgado e ele leu
concentrado.
­ Ah, vai ser nossa concorrência, é? – perguntou ele com um sorriso malicioso
enquanto Pat puxava o papel da mão dele e lia também.
­ Vocês estão no ramo por fama, eu vou tentar por dinheiro. Agora com licença que
alguém nessa casa precisa estudar.
Arranquei o papel das mãos de Pat e, roubando mais um donnut do prato de John,
deixei a sala e os dois intrigados.

°°°

O intervalo daquela manhã – finalmente fria – típica de Londres estava me deixando


apreensiva. Como se eu não fosse uma pessoa apreensiva normalmente. Olhava pros
lados desconfiada enquanto Alice lixava as unhas sentada num banco com muita
atenção e cuidado. Até língua pra fora a garota estava colocando. Se eu estivesse
numa situação normal, riria.

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Nos intervalos os pátios lotavam de estudantes ricos e bem vestidos de todos os


cursos borbulhando de fofocas para espalhar. Não sei se eu estava fora do normal,
mas sentia meu sutiã apertar meu peito e impedir minha respiração de uma forma
desconfortável. Não sei como, mas no momento em que pensei isso senti, ele abriu
de repente e Bri apareceu rindo na minha frente.
­ QUE DROGA! FECHA ISSO AGORA!
Levantei irritada do encosto do banco onde eu estava sentada e virei de costas pra
ele. Garotos tinham essa mania boba e sem graça nenhuma. Acho que fazendo isso
eles provavam pra si mesmos que conseguiam abrir um sutiã com uma mão.
Patéticos.
­ Qual dos níveis? – perguntou ele rindo e eu bufei de raiva. Ninguém o mandou
abrir aquela merda.
­ Último. – murmurei entre dentes aproveitando pra liberar a minha respiração antes
apertada pelo primeiro fecho do sutiã.
­ Desculpa tenho­peitos­grandes­o­suficiente­para­usar­no­último­nível. – disse ele
ainda rindo tentando enfiar o gancho na argola, mas sem sucesso.
­ Ah pra abrir você é rápido, agora na hora de fechar você é um lento.
­ A minha área é abrir né. Fechar é com vocês. – finalmente ele conseguiu fechar e
senti sua mão escorregando do sutiã até minha cintura descoberta. No meio do
campus. Dei um pulo e ele me puxou, dando um beijo no meu pescoço. Bem no
momento em que eu me encolhi ao toque dos seus lábios na minha pele e comecei a
rir descontroladamente avistei ao longe quem eu menos queria ver naquele
momento. E quem eu menos queria que visse aquela cena de amorzinho.
Danny caminhava com as mãos nos bolsos da frente da jeans e com um olhar
fuzilante sobre nós. Eu afastei Bri rápido e encarei o chão, desviando o olhar do dele.
Sentei ao lado de Alice que me olhou sem entender. Arrisquei checar onde Danny
estava há segundos atrás mas não havia mais nada, só algumas garotas rindo. Meu
coração estava batendo num fluxo desumano, me dando a impressão de que todos a
minha volta podiam ouvir também. Além de mim, claro, que estava quase surda com
as batidas. Um vento repentino e forte passou por nós e eu encolhi minhas pernas
com o olhar fixo na grama a minha frente. Aquilo iria acontecer uma hora ou outra,
eu sabia disso. Mas por mais que eu soubesse que teria que ver Danny naquela
universidade, só de pensar na sensação de trocar um único olhar com ele me dava
calafrios tão intensos que nem a corrente mais forte de vento causava.
Senti meu celular vibrar no bolso traseiro da jeans. Levantei do banco e me afastei
dos dois.
­ Alô?
­ Finalmente consigo ouvir a voz da minha filha!
Era minha mãe. Ótima hora pra ligar, mãe. Quando sua filha está no meio de um
furacão de sentimentos.
­ Mãe, nos vimos fim de semana passado. – respondi sem ânimo andando de um
lado pro outro enquanto chutava uma pedrinha.
­ Não me acostumo com o fato de não te ver mais todos os dias. Como andam as
coisas?
­ Ótimas. – murmurei com uma falha perceptível, mentir não era o meu forte.
­ Estão se comportando, você e Alice? Espero que estejam limpando o apartamento.
Rolei os olhos incrédula.
­ Estamos, mãe. Eu já tenho quase dezenove anos. Isso é quase vinte. Um quinto de
cem anos. Sou muito vivida.
­ Sei, você ainda tem muito o que viver e aprender. Enfim, está na universidade, não
é?
­ Sim, estamos no intervalo. Sorte sua, se esse celular tocasse no meio da aula eu era
expulsa.
­ Sua tolinha, eu sei todos os seus horários! Mas estou te ligando pra te contar uma
novidade que talvez você nem esteja sabendo ainda.
­ Duvido, eu sei de tudo.
­ Seu primo está na cidade! Dá pra acreditar? Ele está morando em Londres! E está

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estudando na mesma faculdade que você. Isso é muito bom, vocês podem se ver
todos os dias.
Era só o que me faltava mesmo. Meus pais ficarem sabendo do Danny. Agora mesmo
que eu nunca iria esquecer esse caipira idiota, pra onde eu ia tinha ele. Engoli em
seco pensando se fingia surpresa ou respondia simpática que já tinha falado com ele
e que saímos pra tomar um sorvete e conversar sobre coisas banais. Ah, Deus. Nunca
me imaginaria fazendo isso com Danny.
­ Ah, sim. Eu sei, já vi ele.
­ Espero que tenha sido a filha que eu eduquei e tenha falado com o garoto. Eu sei
que vocês têm problemas de relação, mas ele é da sua família. Eu esperava que vocês
tivessem resolvido isso na semana que passou na fazenda.
­ É, nós estamos normais agora.
­ Que bom! Porque quero que convide­o pra jantar aqui em casa sábado à noite.
Faça isso hoje, querida, é muito importante. Seu pai está louco pra conversar com
Daniel.
­ MÃE. Pelo amor de Deus, isso não vai acontecer. Não com a minha presença.
­ Mell, eu não estou acreditando na sua impessoalidade. Você vai vir nesse jantar e
vai trazer o seu primo, é uma ordem. Somos uma família!
­ Isso é totalmente não negociável. Impossível, eu não vou falar com ele. E nem vai
ter jantar nenhum.
­ Está querendo voltar a morar com a gente, mocinha? Discuta comigo mais uma vez
sobre isso e vai voltar pro ninho.
­ Você só pode estar brincando. Me fazer largar Alice por causa daquele... caipira
idiota. Mãe, não tem NADA a ver jantar com ele. Pare de inventar moda!
­ Seu pai vai ficar sabendo dessa sua teimosia, deixa eu só desligar o telefone.
­ TÁ! Tudo bem, eu convido. Que droga. Vou me matar.
­ Pare de drama. Pegue um papel e uma caneta, vou te passar o endereço dele caso
não o encontre na universidade.
Fitei o tronco da árvore na minha frente incrédula. Ela queria que eu fosse ATÉ o
subúrbio onde ele estava morando pra convidá­lo pra jantar. Porque minha vida não
podia simplesmente parar de ficar mais tosca possível? Já estava tudo tão ferrado
antes dessa ligação...
­ Não precisa. Eu falo com ele aqui.
­ Mas eu vou te passar de qualquer jeito, pegue algo pra anotar.
Segurei um grito de raiva e andei até Alice fazendo sinal para me arranjar algo pra
anotar. Ela abriu a bolsa com pressa e tirou sua agenda e uma caneta, me
entregando. Anotei o endereço demoníaco e desliguei o celular.
­ ARGH! – gritei atirando a caneta e a agenda para Alice que por milésimos não
levava uma na cara. Ela encarou a página aberta onde eu tinha escrito o endereço e
depois me olhou esperando alguma explicação. Bri fez o mesmo.
­ De quem é isso? – perguntou ele curioso.
Olhei significativamente para Alice que, se eu não estava enganada, entendeu de
quem era.
­ Do Danny. – respondi desviando o olhar de Bri que me olhou sério.
­ Pra que o endereço do Danny?
­ Minha mãe quer que eu o convide pra jantar na casa dos meus pais.
­ Você pode convidar aqui mesmo! – disse ele rápido. Eu estava quase explodindo e
não estava afim de explicar as loucuras da minha mãe. Peguei a agenda da mão de
Alice e arranquei a página com o endereço, guardando no bolso.
­ Eu preciso ir no banheiro. – murmurei pegando minha mochila do banco e
desaparecendo da frente dos dois perdidos.
Se você estiver ferrada e se perguntar se pode ficar pior ou não, aqui vai a resposta:
sim, pode ficar MUITO pior.

°°°

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Eu não sou uma pessoa escandalosa e nem transparente, eu simplesmente


mantenho dentro de mim tudo o que eu sinto. Acredito ser uma qualidade incrível,
mas em relação à Mell nada comigo é comum. Simplesmente deixei a universidade
momentos depois de ver ela com outro garoto. Eu estava me sentindo tão
deslocado, tão intruso naquele lugar, que eu precisava sair dali. O que eu estava
pensando? Que ela sem pensar duas vezes largaria tudo e correria pros meus
braços? Que eu não teria que conviver com a rejeição? Odiava profundamente essa
minha ingenuidade do interior. É cruel, mas é verdade. Eu era um idiota. E pensar
que uma ponta de esperança surgiu dentro de mim depois daquela tarde no aquário.
Coloquei o capuz do moletom que estava usando e fechei o casaco até o pescoço,
alguns respingos estavam começando a cair do céu. Talvez embaixo da chuva minhas
estúpidas lágrimas seriam invisíveis. Eu parecia uma garotinha traída, mas era
inevitável. Chutei com força um saco de lixo que estava no meio da calçada e ele
abriu, esparramando tudo pelo chão. Eu tinha vontade de sair quebrando tudo,
berrando pro mundo como eu era otário e inexperiente. Incrível como segundos
podem arruinar o seu dia, incrível como um simples ato de duas pessoas podem
arruinar as suas esperanças.
Caminhei pelas ruas de Londres por um bom tempo esquecendo completamente das
aulas e de que eu tinha uma bolsa a cumprir. Bolsistas não tinham o direito de se dar
ao luxo de, num ataque de ciúmes, matar aula e perambular pela cidade sem
destino. Mas eu estava fazendo isso, menino selvagem e destemido. Patético.
Entrei no primeiro pub que encontrei, não fazia ideia de onde estava. Um cheiro
agradável de comida fez meu estômago roncar, e percebi que já estava perto do
meio dia. Tirei o capuz encharcado do moletom e sentei no balcão esperando alguém
me notar e me atender. O que não aconteceu. Tossi encarando o atendente gordo e
careca que limpava uns copos de vidro com um pano imundo. Ele me olhou e andou
até mim.
­ O que quer?
­ O que vocês têm pra comer?
­ Temos o prato do dia, senhor, recomendado pelo chefe. – murmurou ele irônico e
alguns homens num canto riram. Porque todo mundo tinha que me fazer sentir mal
tipo o tempo inteiro? Cara, eu era amaldiçoado.
­ Como você é desalmado, homem, tratar o garoto desse jeito!
Uma mulher, igualmente gorda, surgiu dos fundos do pub e deu com um pano de
prato no homem que resmungou e voltou a fazer o que estava fazendo. Ela veio
sorrindo até mim.
­ Bom dia, querido, está com fome?
Lembrou a minha avó, e eu senti uma nostalgia dentro de mim.
­ É, pode ser.
­ Eu vou te trazer o prato do dia, ignore esses bêbados. – falou ela sorrindo e pegou
um copo vazio, colocando na minha frente e ao lado uma latinha de coca. Sorri
agradecido quando ela desapareceu pela suposta cozinha do lugar. Examinei por
cima o copo e a latinha com medo de encontrar alguma coisa não identificável e me
servi, bebendo um gole. Acho que a mulher tinha me achado menor de idade por me
oferecer uma coca, mas eu estava muito cansado e com fome pra discutir. Senti
alguém sentar do meu lado e me olhar com atenção. Me virei devagar e uma mulher
que eu julguei ter uns quarenta anos me fitava com curiosidade. Ela na verdade era
bem bonita para estar naquele lixo de lugar.
­ Desculpe, perdeu alguma coisa? – perguntei receoso percebendo que a mulher não
ia desistir de tirar os olhos da minha cara.
­ Ah, me desculpe. Você me pareceu alguém que... eu conheço. – respondeu ela
desviando os olhos do meu rosto e encarando o copo de uísque na sua mão. Me
senti uma criança idiota bebendo coca conversando com uma mulher bonita. Nota
dez pra mim.
­ Quem?
Ela demorou um pouco pra responder.
­ Filho de um amigo meu. O velho Steve Jones, devo muito àquele homem.

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Arregalei os olhos a encarando com medo. Ela acabara de citar o nome do meu pai
ou eu estava tendo alucinações?
­ Como é o nome do filho desse cara? – perguntei rápido demais e ela me olhou sem
entender.
­ Daniel.
­ Oh, meu Deus. – murmurei a olhando espantado. – Sou eu.
­ Daniel? Danny? – perguntou ela sorrindo para mim. Eu concordei meio perdido.
­ Meu pai é Steve Jones e meu nome é Daniel.
­ Eu não acredito. – disse ela sorrindo até demais e jurei que uma lágrima escorreu
dos olhos dela, enquanto ela segurava meu rosto e me analisava.
­ Desculpe, mas da onde nos conhece?
Ela colocou uma das mãos na boca e olhou pro nada espantada.
­ Eu fui uma grande amiga do seu pai antes de você... nascer. E continuei sendo
depois também.
­ “Amiga” você diz...
­ Ah Danny, não seja bobo. Somos amigos, nada mais.
Ao ouvir ela me chamar de Danny senti algo estranho dentro de mim. Parecia
conhecer ela de algum lugar, mas não sabia da onde. Ela era muito familiar. Era bom
ouvir a voz dela, e isso era muito estranho. Parecia que eu já tinha ouvido ela pela
minha vida toda.
­ Ahn, como se chama?
­ Tracy Stewart. – respondeu ela ainda sorrindo ao me olhar nos olhos. Aquilo estava
muito estranho. – Mas me conte, Danny, que eu me lembre você e seu pai são de
Bolton!
­ Estou estudando aqui em Londres.
­ Ah é? O quê?
­ Biologia marinha.
­ Como pude esquecer, você sempre teve aptidão nessa área...
­ Como sabe disso? – perguntei já começando a sentir medo. Ela estava agindo
como se tivéssemos um longo passado.
­ Ah, seu pai me falava muito sobre você. Ele tem muito orgulho do filho que tem. –
respondeu ela fungando emocionada. A gorda saiu de dentro da cozinha e colocou
na minha frente um prato de comida. Purê de batatas e bife. O cheiro me deixou
tonto, eu estava morrendo de fome.
­ Não vou mais te atrapalhar, pode comer.
­ Tudo bem, não está atrapalhando. – falei pegando os talheres e começando a
comer.
­ Ah Daniel, como você cresceu. – murmurou ela colocando a mão no meu ombro
maternalmente. Sorri sem graça.
­ O que faz da vida? – perguntei tentando anular o silêncio entre nós enquanto
comia. Era meio estranho.
­ Eu tenho uma loja. Nada demais, artigos Wicca. Seu pai nunca aprovou esse meu
gosto excêntrico.
­ Você... é uma bruxa? – perguntei parecendo um garotinho assustado. Ela riu se
divertindo com a minha ignorância.
­ Somos incompreendidas. Tem muitas pessoas por aí que fazem parte desse “ramo”
e você não faz a mínima ideia.
Olhei discretamente para a sua roupa, esperando ver ela usando um vestido preto ou
algo do tipo, mas nada além de calças jeans e um casaco surrado de couro.
­ A mídia exagera. Quer dizer, você não vai me ver voando numa vassoura de palha
dentro de um vestido preto. – disse ela rindo lendo meus pensamentos. – É uma
religião como qualquer outra.
­ Eu acho... legal essas coisas.
O sorriso dela se abriu parecendo orgulhosa.
­ Que bom, talvez um dia possa ver minha loja. Adolescentes particularmente gostam
de entrar lá.
Quase falei que eu já era um adulto mas para adultos somos sempre adolescentes

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então não discuti, apenas concordei. Me perguntei mentalmente da onde meu pai
tirava essas amizades alternativas. Quer dizer, a mulher acabou de me contar que é
uma bruxa. Eu nem sabia que existia esse troço de bruxaria. Meu Deus, Danny, você
é um caipira sem cultura.
­ Algo o preocupa. – murmurou ela dando um gole no uísque e encarando o balcão
velho de madeira. – Uma garota.
Tudo bem, eu estava realmente começando a ficar com medo. E achando meio legal
ao mesmo tempo. Fala sério, ela conseguiu adivinhar o meu problema.
­ Você tem algum tipo de poder mágico?
Ela riu.
­ Eu conheço os homens. São todos iguais, posso sentir a sua tensão.
­ Não é nada demais.
­ Claro que não. Ela gosta de você, espere as coisas se acertarem e você verá.
A olhei por alguns segundos espantado.
­ Posso me consultar com você? Não, é sério. O que mais você sabe? – perguntei
falando sério e ela riu.
­ Sei que você é um garoto valioso, sincero e fiel. E sei que no final tudo termina
bem, então não deixe o passado arruinar a sua existência e viva o presente. Tudo vai
terminar como você quer.
Confesso que fiquei sem palavras. Esperei realmente que ela estivesse falando a
verdade e me empolguei um pouco. Não que eu estivesse acreditando nas previsões
de uma louca que surgiu do nada dizendo que era amiga do meu pai mas qualquer
coisa naquele momento me animava.

°°°

É claro que eu não consegui encontrar Danny em lugar nenhum depois da ligação da
minha mãe e aquilo me desesperou completamente. Quando eu queria ver aquele
garoto ele não aparecia, mas nos momentos mais tensos lá estava ele com aquele
olhar profundo e aquele jeito hipnotizável. Não que eu me importasse com isso. Já
era sete da noite e eu estava enrolando e andando pelo apartamento sem saber o
que fazer. O turno do abominável deveria acabar em algumas horas e eu seria
obrigada a ir convidar ele pra essa zica da minha mãe, se não adeus morar sozinha
com a melhor amiga. Sentei em frente à Alice na mesa de jantar enquanto ela
estudava concentrada. Talvez nem tanto.
­ Pare de andar pela casa e vá convidar o seu primo pra jantar com a sua família.
Uma hora ou outra isso vai ter que acontecer.
­ Já sei. Você vai comigo. Assim eu não preciso ficar sozinha com ele e tudo vai ser
rápido e natural.
Alice riu irônica.
­ Tudo o que eu quero é que você fique sozinha com o lindo do seu primo e ele te
coma de nova pra você parar de encher o meu saco!
­ Credo! Para com isso! Isso nunca iria acontecer, que medicamentos você anda
consumindo, Alice?
­ O medicamento da realidade. – respondeu ela sem tirar os olhos do livro grosso. Eu
grunhi mas ela me ignorou. – Tá, Mell, para de me incomodar. Daqui a pouco o
garoto já deve estar até dormindo e você vai lá acordar ele. Levanta essa bunda daí
se quer continuar morando comigo.
Levantei devagar da cadeira e fui até o quarto pegar a minha bolsa. Londres não era
uma cidade perigosa pra se andar de noite mas mesmo assim eu não gostava de
fazer isso.
­ Me deseje sorte e que nada de tenso aconteça. – falei voltando do quarto e
pegando o telefone para chamar um táxi.
­ Que você não volte pra casa hoje e que tenham uma noite de sexo louca. Boa
sorte.
­ Eu vou te matar. – murmurei antes que alguém atendesse do outro lado.

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A cidade já estava bem vazia quando finalmente chegamos na rua de Danny,


praticamente do outro lado do mundo. Fiquei até com um pouco de inveja por ele
morar numa casa maior que o nosso apartamento no centro. Foi daí que eu suspeitei
que ele não morava sozinho. Enfrentar outras pessoas: não nos meus planos. Paguei
o taxista e saí meio tremendo de desespero de dentro do táxi. Parei na frente da
porta que era antecedida por algumas escadas e respirei fundo umas trinta vezes
antes de tocar a campainha. Ouvi vozes masculinas do lado de dentro, uns
resmungos e a porta se abriu, revelando um forte cheiro de... maconha? Daniel? Não
era Danny. Era um cara muito mais alto que ele, magro e bem bonito. Ele usava uma
camiseta surrada, calças de pijama e chinelos de dedo. Segurava uma caneca na mão
e me encarava com atenção e um sorriso malicioso.
­ DEVE SER PRA MIM MESMO! – gritou ele pro lado de dentro e voltou a me olhar
com interesse. – Como posso ajudá­la? É uma fã?
­ Fã do que? – perguntei perdida enquanto ele ficava sério e fazia uma cara perdida
também.
­ Como assim do que? Da minha banda! Não é por isso que está aqui?
­ Eu estou aqui pra falar com... ahn... meu primo. Daniel. Acho que ele mora aqui.
O garoto demorou um pouco pra assimilar os dados, mas depois de alguns
segundos arregalou os olhos e soltou uma expressão de espanto. Mais conhecida
como:
­ QUE PORRA! Você é a prima do Danny? Caralho.
Eu o olhei espantada pela quantidade de palavrões seguidos e concordei.
­ Sim, puxa, você pode deixar um recado pra ele? Seria bem melhor do que...
­ Nem pensar, entre agora. Está frio e escuro aí fora.
Droga, eu tinha esperanças. Ele me deu espaço e eu entrei receosa dentro da casa.
Um garoto surgiu na minha frente com um papel higiênico na mão.
­ Sabe o nome disso, O’Callaghan? Papel higiênico. E fica no banheiro. Quando você
terminar de usar, REPONHA!
Eu conhecia aquele garoto.
­ Hey, você não é daquela banda que me parou no meio da rua? – perguntei me
lembrando do rosto do mais assanhado deles.
­ Wow. John, eu não acredito que você conseguiu... Mell?
­ Você lembra o meu nome?
­ Você é bonita, eu não esqueço nomes de pessoas bonitas. Eu sou o Kennedy, se
não lembra. Eu sou feio, é obvio que não lembra.
Eu ri e John o fuzilou.
­ Eu sou péssima com nomes. Por isso eu não conheço você. – falei me virando para
John. – Não estava no dia que eles nos pararam na rua.
­ Infelizmente você perdeu o melhor de todos. Eu estava buscando o seu priminho,
aliás. Ele está no quarto, último andar. Pode ficar por aí, adoramos garotas pela casa.
O olhei estranho.
­ Tudo bem, eu só vou falar rápido.
Subi as escadas e pude ouvir Kennedy se gabando de algo sobre mim para John
antes de lembrar o que eu estava prestes a enfrentar. Danny num quarto. Eu estava
temendo isso mais do que qualquer outra coisa. O segundo andar tinha umas quatro
portas que julguei serem os quartos dos integrantes da banda. Subi o último andar
que nem tinha corredor, apenas uma porta e um espaço na frente pra pisar. Parei na
frente da porta e pensei em voltar e mandar pro inferno esse jantar idiota, tudo tinha
que ser complicado na minha vida. Mas quando vi já tinha batido. Quando vi eu
estava sim querendo entrar naquele quarto.
­ Desde quando você bate? – ouvi a voz de Danny dentro do quarto e imaginei que
ele estava achando que era um dos garotos. É óbvio, na verdade. Quem mais seria?
Eu? Abri a porta devagar fechando os olhos com medo de assustar o garoto, mas ele
estava de costas sentado na escrivaninha. O quarto era bem sótão mesmo, definição
que substitui sujo e velho.
­ O que você q... – Danny se virou falando e parou estático sem se mover quando
me viu. Piscou algumas vezes pra se certificar de que aquilo era mesmo real e se

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levantou rápido. Droga, ele estava de boxers. O que eu fiz pra merecer isso, Deus?
Me concentrei no rosto dele, por mais que aquilo fosse desconcertante. Ele ainda me
encarava espantado.
­ Eu... vim te convidar pra jantar. – Danny se engasgou, tossindo e eu corrigi
desesperada. – Não, quer dizer, pra um jantar.
­ Ahn, tá. Pode sentar, eu acho. Se quiser. – falou ele confuso apontando a cama
semi arrumada e eu concordei, me sentando e sentindo uma vontade gritante de me
deitar ali com ele. FOCO, Mell.
­ Meus pais descobriram que você está morando aqui, provavelmente pela vovó ou
sei lá, e eles querem fazer um jantar pra você. É besteira, eu disse que não tinha
nada a ver, mas minha mãe insistiu. Meu pai quer saber como você está e essas
coisas.
Danny ouviu minha explicação com atenção encostado na mesa, como ele podia ter
tanta calma com tamanha tensão sexual presente dentro daquele quarto?
­ Quando? – perguntou ele e eu demorei um pouco pra traduzir a pergunta na
minha mente. Meu coração estava quase pulando pra fora, ia ser sanguinário o
negócio.
­ Ahn, nesse sábado.
Ele concordou encarando o chão.
­ Pode dizer pros seus pais que eu irei. – disse ele com um pequeno sorriso e eu tive
vontade de chorar. Não sorria na minha presença, Daniel, isso é crueldade. – Era só
isso?
­ E­era. – respondi desviando o olhar pra mesa onde ele estava apoiado. Levantei e
caminhei lentamente até a porta, esperando que ele fosse me chamar de volta que
nem nos filmes ou algo do tipo. Mas o silêncio podia ser cortado com uma tesoura.
Me virei pra ele que ainda me encarava na mesma posição, porém com uma
expressão desanimada. – Boa noite.
­ Boa noite. – respondeu ele e eu saí, fechando a porta atrás de mim.
Feito, fim do sofrimento. Respirei direito pela primeira vez naqueles longos minutos e
fechei os olhos, tentando me controlar. Não faça isso, Mell. Vai se arrepender tanto.
Vai se culpar pro resto da vida e vai arruinar tudo. Eu era razão contra emoção
naquele momento de tensão na frente da porta do garoto ao lado de fora. Mas eu
sabia que não ia adiantar pensar no dia seguinte, nas conseqüências. Quando vi já
estava fechando a porta atrás de mim dentro do quarto de Danny novamente, que
ainda estava parado no mesmo lugar e me olhou sem entender. O encarei por alguns
segundos de dúvida e desespero e ele se desencostou da mesa começando a andar
na minha direção. Tirei a mão da maçaneta e caminhei rápido até ele, grudando
nossos lábios sem excitar nenhum segundo. O abracei forte pelo pescoço enquanto o
beijo se intensificava, tudo o que eu precisava para viver. Mais nada. Ele me abraçou
pela cintura com a mesma intensidade, eu podia sentir a saudade fluindo por entre
os nossos corpos, o meu frio e o dele quente. Coloquei uma de minhas mãos em seu
cabelo e comecei a mexer carinhosamente, enquanto suas mãos escorregavam por
dentro de minha blusa, tocando minha pele fria e causando um choque seguido de
um arrepio de corpo inteiro. Nada importava naquele momento, que fosse pro
inferno a razão. Eu amava aquele garoto e tinha os meus direitos. Senti uma lágrima
escorrer dos meus olhos, não sei se de tristeza ou felicidade, eram ambos os
sentimentos brigando dentro de mim. A lágrima se misturou com o beijo e Danny
parou com dificuldade, me olhando com um sorriso encantador. Secou meu rosto e
simplesmente me abraçou. Foi o suficiente para todos os meus problemas
evaporarem. Eu não tinha problemas, eu estava com ele.
­ Me desculpe. – ouvi ele murmurar no meu ouvido e fechei os olhos.
­ Esqueça. Eu te amo, Daniel. – falei me separando dele e o dando um selinho
demorado.
­ Não sabe como eu sonhei com isso. Essas palavras. – disse ele quando voltei a
encarar aqueles olhos azuis, agora brilhantes. Passei minha mão delicadamente pelo
seu rosto e ele fechou os olhos sorrindo.
­ Você sempre soube, Danny. – falei e ele abriu os olhos, grudando os lábios no meu

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pescoço e subindo até meu ouvido.


­ Tendo a minha sorte, dúvidas são freqüentes.
­ Tendo uma prima tão difícil e dramática, as dúvidas são freqüentes. – O corrigi e ele
riu, mordendo o lábio logo em seguida. Ficamos em silêncio por alguns segundos,
apenas com ele fazendo carinho na minha nuca. Eu queria ficar ali pra sempre, mas
sabia que não podia.
­ Está ficando tarde, eu preciso voltar pra casa.
Ele concordou e nos soltamos. Tentei arrumar o cabelo e secar o rosto.
­ É nessas horas que eu me sinto idiota por não ter um carro.
­ Que besteira. Eu vou de táxi, sempre ando de táxi.
­ Quer que eu te acompanhe? Essa hora...
­ Não precisa, eu vim sozinha.
­ Então eu vou com você até a porta.
Concordei e ele vestiu um moletom que estava pendurado na cadeira. Enquanto
descíamos as escadas eu chamei o táxi. Chegando no primeiro andar, percebi John,
Kennedy e outro integrante da banda que eu não sabia o nome jogados no sofá da
sala de estar jogando cartas. John olhou para Danny com um sorriso cheio de
significados e Danny disfarçou, olhando para todos.
­ Essa é a minha prima, Mell.
­ Já sabemos. Parabéns, campeão. Sortudo filho da puta. – disse John tossindo as
últimas palavras. – “Só vou falar rápido”. – ele me imitou levantando do sofá e indo
até a cozinha que era aberta. – Se isso foi rápido, imaginem eles com tempo.
­ John, porque você não cuida da sua vida? Seria bem bom, pra variar. – disse Danny
o olhando com raiva.
­ Você é a minha vida agora, Edward. – falou John com voz de mulher e eu ri, assim
como os outros dois sentados. Uma buzina nos tirou a atenção e eu encarei Danny.
­ É o táxi.
­ Eu vou com você até ali.
Ele abriu a porta da frente e saímos para o frio da noite. Vi Danny se encolher nas
boxers e senti uma pena profunda. Em vez de ele me dar tchau e entrar ele andou
até o taxista e tirou a carteira do bolso.
­ O que está fazendo? Pare, não precisa pagar.
­ Você veio até aqui pra me avisar do jantar, me sinto na obrigação de no mínimo
pagar isso.
Ele estava tão determinado que não tentei discutir. Entregou o dinheiro para o
motorista e abriu a porta de trás pra mim.
­ Nos vemos. – murmurou ele e eu o segurei pelo rosto e o beijei na bochecha. Sorri,
entrando no táxi e ele bateu a porta.

Capítulo 4

Abri a porta do apartamento com cautela, provavelmente Alice estaria atirada no sofá
me esperando, como bem a conheço, tentando manter a cabeça em pé de tanto
sono. Não a culpo, dormir é uma das virtudes da vida, eu era uma praticante fiel.
Teve uma época da minha vida, lá pelos quinze anos, que bastava encostar em
algum lugar que era prato cheio para pegar no sono. Bons tempos. Ultimamente a
insônia tem se hospedado no meu corpo.
Fechei a porta silenciosamente e encarei a televisão na sala de estar ligada, passava
algum episódio de Supernatural que eu já havia assistido. Rastros de Alice
detectados. Me virei em direção à cozinha, cuja luz estava acesa, levando um susto.
Só tive tempo de ver Alice atirar um copo cheio de suco de laranja pra cima junto
com um prato de cookies. Ficamos nos encarando paralisadas por alguns segundos,
com expressões de horror, tanto pelo susto como pelo desastre feito por ela.

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­ Merda, Mell! – exclamou ela, limpando o braço melecado com a barra da blusa.
Levei as mãos à boca meio rindo.
­ Mil perdões. – murmurei rindo sob o olhar de raiva de minha amiga.
­ Você tem noção do nível de estresse que eu chego quando assisto Supernatural
sozinha em casa? Preciso falar?
­ Não, era o episódio da Bloody Mary, né?
­ E se for? Essas coisas não existem.
­ Ah sim, vejo como você faz jus à sua ideologia.
­ Ah, cala boca. – resmungou ela se ajoelhando e começando a juntar os biscoitos do
chão, que agora estavam boiando no meio do suco esparramado. Me abaixei e
peguei alguns em silêncio.
­ AH! COMO FOI COM O DANNY? – gritou ela do nada atirando os cookies pra cima
novamente e me puxando com ansiedade pra cima. – Meu Deus, como eu consigo
esquecer de coisas assim? – disse ela, me arrastando pra sala de estar. Droga.
Prontos para uma Alice convencida? Eu não.
Sentamos no sofá por cima dos cobertores em quantidades exageradas espalhados
por todos os lados, eu sabia que ela usava essa tática para se sentir menos sozinha e
menos em perigo. Na verdade dá um pouco certo sim. Olhei pros lados sem
expressão buscando alguma desculpa ou mentira em vez da verdade, mas o que
vinha na minha mente eram apenas cenas de Danny nas suas boxers me agarrando.
Ótimo.
­ VAMOS! Ah, meu Deus. Eu conheço essa cara de culpa. – disse ela começando a
abrir um sorriso cheio de significados.
­ Não é nada do que você está pensando. Eu apenas transmiti o pedido da minha
mãe e saí do quarto.
­ AI, FOI NO QUARTO DELE! SOZINHOS. TENSO, TENSO.
­ Foi bem tenso mesmo se quer saber.
­ Tudo bem, você saiu do quarto, e depois?
Por que essa maldita tinha que me conhecer melhor do que eu mesmo? E eu lá disse
que tinha “depois”?
­ Depois o que? Eu fui... embora.
Alice riu profundamente, chegando a bater palmas. Dei um tapa no seu braço.
­ Sua garganta está engolindo seco constantemente e você fica esfregando as mãos
nas coxas. Por favor, Mell. Não tente passar por cima dos sinais óbvios.
Caralho, o que essa garota é? Uma detetive particular dos meus pais? Credo, nem é
bom lembrar deles depois desse trágico acontecimento.
Me joguei pra trás, deitando no sofá e colocando as mãos no rosto. A risadinha
imbecil de Alice ecoou pelos meus ouvidos.
­ Eu voltei pra dentro do quarto.
­ Ai meu Deus. Eu sabia que você ia fazer isso. CONTINUA!
­ Ele estava de boxers. – murmurei ainda com as mãos no rosto.
Alice gemeu nervosa.
­ E daí eu cometi o terrível erro de caminhar até ele.
Mais alguns gemidos.
­ E ele me abraçou. E não tinha mais volta.
­ VOCÊS SE BEIJARAM?
­ Não, Alice. Eu abracei ele e saí correndo. – falei sarcástica levantando novamente.
­ Vocês transaram de novo?
­ Claro que não. Você só pensa nisso!
­ Seu primo gostoso de boxers na sua frente não me traz nada de ingênuo na
mente. Enfim, O QUE EU TINHA DITO HÁ UMA HORA MESMO?
­ Você disse que a gente ia passar a noite juntos. Não aconteceu isso.
­ Querida Mell, nas circunstâncias em que nos encontramos um beijo significa muita
coisa. O que vocês falaram? Depois do beijo.
­ É muito drama pra sua cabeça insensível. A gente conversou.
­ E como terminou? Vão casar?
­ Muito engraçado. Vá limpar aquela bagunça no corredor que eu vou tomar banho.

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­ Estou tão feliz por você. É sério.


­ Você deveria estar chorando por mim, isso sim. Eu sou a pessoa mais estúpida do
mundo.
­ Quer saber da verdade? Qualquer garota, repetindo, qualquer garota no seu lugar
faria o mesmo.
­ E pode me explicar porque tinha que ser LOGO EU?
­ Porque Deus quis assim. Vai perguntar pra ele, oras.
A encarei séria por longos segundos. Bom, pensando por esse lado, eu não tinha
tanta culpa assim. Por acaso eu que escolhi ter um primo que estimula meus
hormônios? Por acaso eu escolhi Daniel na minha família?
­ Quer saber, Mell? Viva a vida intensamente. Ah, chuta o balde amiga. Foda­se. O
cara vai casar ano que vem e ter um filho com aquela caipira, eu recomendo dar pra
ele todos os dias. Eu deveria escrever um livro de auto­ajuda para­garotas­que­
gostam­dos­primos.
­ Que bom que você me lembrou da Mary. Estragou todo o clima que eu havia
montado na minha mente.
­ Realismo é um cu mesmo. Mas vai por mim, esse casamento aí vai durar dois meses
até ele se tocar que viver longe de você é um erro.
­ Alice, VAI LIMPAR O CHÃO! Para de me deixar nervosa.

°°°

­ É HOJE, JESUS CRISTO! Cadê a erva, Kennedy? Preciso me chapar se não eu vou
ter um colapso.
Um saquinho voou na minha frente quase dando na minha cara e eu olhei para John
sem entender o motivo da manifestação nervosa.
­ Vocês poderiam ficar tipo algumas horas sem parecerem um bando de retardados
com sono? – falei encarando o grupo sentado no sofá. John arrumava nervoso uma
mochila enquanto Garrett montava um baseado. O resto se olhava numa tensão
cortante.
­ Por acaso lhe ocorreu que hoje é a nossa primeira apresentação para um grupo
maior do que duas pessoas? É no BLACK BEARD, um dos pubs mais famosos de
Londres. Daniel, você nunca entenderá essa vida de artista que levamos.
­ Eu já toquei na apresentação de final de ano da minha escola, sim, eu entendo.
­ Ah, um bando de crianças babonas nem vai notar se você errar uma nota. Agora
um bando de adolescentes loucos pra tirar com a cara de alguém é outra história.
­ Sabe que eu prefiro você sóbrio assim? É tão mais humano. – falei bagunçando os
cabelos de John que me deu um soco.
­ Por pouco tempo. – murmurou Garrett feito um robô. Rolei os olhos.
­ Tudo bem, eu tenho que ficar a tarde inteira no aquário então talvez eu chegue
meio atrasado. Eu prometo que vou tentar chegar na hora.
­ Daniel, se você não estiver lá no horário certo eu vou cortar o seu pinto fora e você
nunca mais vai comer a sua prima! É uma ameaça!
­ O que você disse? – perguntei semicerrando os olhos fingindo não ter ouvido o
absurdo.
­ E acho bom você vender esses ingressos até de noite, porque eu sei que você ainda
tem uns três aí com você! Eu estou te sustentando, seu desgraçado.
­ O que? John, eu pago as contas dessa casa desde o momento que você implantou
essa regra tosca de que eu só moraria aqui se pagasse dois terços das despesas.
Então não me venha com desculpas de mãe. É capaz de eu estar pagando até essa
grama de vocês.
­ Danny, acho que você está um pouco atrasado pra aula de babuínos. Esteja no
Black Beard às onze horas.
Suspirei profundamente me esforçando para ignorar o escárnio de John e bati a
porta atrás de mim, sentindo um vento forte arrepiar meu corpo inteiro. John era
bem temperamental quando não estava chapado. Por um lado era bom, mas por
outro...

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Cheguei atrasado na universidade por culpa da confusão que John e o resto estavam
fazendo desde cedo da manhã. Não recomendo morar com uma banda. Mas na
verdade eu não ligava, nada poderia me aborrecer desde o momento em que ela
voltou. Ela voltou por mim. Tudo bem, “voltar” no sentido de voltar pra dentro do
quarto mas mesmo assim, agora eu tinha completa certeza de que ela sentia o
mesmo que eu sentia. Se déssemos sorte nada de ruim iria acontecer e poderíamos
ficar um pouco juntos, coisa que na verdade a gente nem fez direito ainda. Meu
relacionamento com Mell era na base da velocidade. Tudo era tão rápido e quando
eu via, ela já tinha ido embora ou estava brava novamente. Será que um dia a gente
iria ter um relacionamento normal?
E daí eu lembrava do casamento com Mary e do meu futuro filho e a felicidade se
esvaía com o forte vento de Londres.

Com o final da primeira aula, eu me arrastava pelos corredores do prédio de ciências


biológicas em direção ao laboratório para a aula prática e senti uma mão na minha
cintura, me fazendo pular. Não é sempre que alguém surge do nada e te acaricia na
cintura.
­ Você desapareceu. – disse Michelle me olhando com um sorriso discreto.
­ Ah, eu ando bastante ocupado. Como está?
­ Melhor agora, estou te procurando a semana inteira.
­ Hm, é? Qual o motivo? – perguntei voltando a caminhar, ela me acompanhou.
Porque eu tinha um sorrisinho idiota nos lábios? Será que eu não tenho um pingo de
decência?
­ Você já foi informado do trabalho interdisciplinar sobre a universidade?
A olhei curioso. Eu nunca sei de nada.
­ Não, do que você está falando?
­ Talvez te avisem em algum período de hoje. É que a universidade está fazendo 174
anos e vai ter um projeto onde teremos que fazer um vídeo relacionando o nosso
curso com o que a universidade representa pra gente, e será em duplas. Eu queria
saber se você já tinha dupla, mas você nem sabia disso.
­ É, eu realmente não fazia ideia disso. Vai ter prêmio ou sei lá?
­ Os dez melhores serão passados no baile de inverno. Não é grande coisa, mas vai
pro currículo. E aí, vamos fazer?
­ Ah, claro. Eu não ia ter dupla de qualquer forma.
­ Está me colocando como última opção? – perguntou ela se fazendo de ofendida.
­ Claro que não! Eu pensaria em você como primeira opção! Afinal você foi a única
generosa nesse lugar até agora. As pessoas são meio convencidas por aqui.
­ Tem razão, são um bando de riquinhos mimados. Mas eu acho bom você estar
pronto pra ganhar, eu não aceito derrota.
­ Acho bom você saber que eu também não.
Ela riu e ficamos em silêncio por alguns segundos. De repente me lembrei dos
ingressos.
­ Ahn, Michelle... meus amigos vão fazer um show hoje de noite no Black Beard, você
não quer comprar um ingresso? São 10 libras. Eu estou vendendo.
­ Hm, eles são bons? – perguntou ela com um sorriso irônico.
­ Posso dizer que serão a nova sensação do rock.
­ Se é assim... – disse abrindo a bolsa e tirando a carteira. Meus olhos brilharam de
alegria. – Espero que você não me deixe sozinha.
Ela me entregou uma nota de 10 libras e eu tirei do bolso um ingresso.
­ Prometo não desgrudar. Não tem mais ninguém pra levar?
­ Prefiro que seja só nós dois se você não vai desgrudar de mim.
Eu ri meio desconcertado e lembrei só depois que Mell estaria lá. Mas que droga, eu
só faço merda. Sou o rei da merda.

°°°

Bri e Alice riam descontroladamente na minha frente, se eu não estava enganada a

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garota chegou a cuspir milk shake longe, mas meu olhar estava perdido no chão
quadriculado em preto e branco da lanchonete.
­ Argh você me babou! – ouvi Bri falar com uma voz engraçada e soltei uma risada
voltando a encarar os dois. – Sua amiga é o ser mais meleca do mundo.
Ele levantou do sofá, passando por cima com vontade de Alice que começou a dar
gritos de nojo, ainda meio babada. Entreguei um guardanapo pra garota que ainda
ria feito uma hiena. Ela respirou fundo e me encarou séria.
­ Quando vai contar pra ele? – perguntou de repente, me fazendo parar de mastigar
as batatas fritas sem entender.
­ Contar o quê pra quem? – perguntei de volta perdida.
­ Contar que você tem um affair perigoso com o seu primo pro Bri, afinal ele é o
nosso melhor amigo e merece saber das coisas.
­ Nunca! Está maluca, nem fala disso perto dele!
­ Posso entender o porquê desse desespero?
­ Até parece que você não sabe.
­ É, eu não sei.
­ Mas você sabe que ele meio que... você sabe... por mim.
­ Acha que ele não superou? Se você já superou. Depois do seu primo né, não tem
quem não supere.
­ Cala a boca! Ele não pode ficar sabendo, você viu como ele reagiu quando viu o
Danny né? Saiu feito um revoltado. E só porque eu passei as férias com ele, imagina
se soubesse o que eu fiz!
­ É mas ele precisa entender que...
­ Shh, ele está vindo.
Bri sentou novamente no sofá e nos encarou sério.
­ O que estão fofocando, pra variar?
­ Estamos falando sobre o show hoje à noite. Ainda acho que deveria ir. – falei
voltando a comer as batatas fritas já meio frias e murchas.
­ Eu tenho prova amanhã de manhã cedo, desculpa meninas. Fica pra próxima.
­ Amanhã é sábado. – resmungou Alice sem paciência.
­ Bem vinda à universidade, querida. Enfim, boa festa pra vocês. Não bebam, não
fumem, não se droguem e não peguem ninguém.
­ Então pra que ir? – disse Alice e eu a olhei irônica. Como se ela fizesse tudo isso.
­ Nossa, desculpa aí party girl. Eu estou falando sério. Não façam nada que vão se
arrepender depois.
­ Bri, quem você pensa que a gente é?
­ Ninguém, mas sempre depois dos shows tem festa no Black Beard e bem... Ah,
tanto faz, transem com quem quiserem.
Ele pegou a mochila e nos deixou com cara de babacas se olhando.
­ Já sabe com que roupa vai? – perguntou Alice cinco segundos depois como se nada
tivesse acontecido.
­ Eu estou me sentindo sexy ultimamente então... meu mais novo vestido justo vai
entrar em ação.
­ Nossa, o que um primo não faz com as pessoas, né?
­ Cale a boca.

O tempo passa voando quando você gasta ele decidindo o que vai vestir. E pode
crer, quando uma mulher está com os hormônios à flor da pele, isso pode levar uma
eternidade. Decidi usar um vestido preto justo, meias sete oitavos e um ankle boot
também preto que eu estava esperando há algum tempo o momento certo para
usar, já que aquele sapato não era o que eu chamaria de apropriado para ir ao
supermercado.
Alice apareceu na porta do meu quarto vestindo uma calça jeans e um tomara que
caia vermelho. Me encarou de cima a baixo por alguns segundos e depois olhou
espantada pro meu rosto.
­ Eu sou muito santa ou você está no cio?
­ Estou no cio. – murmurei parando na frente do espelho e finalizando minha

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maquiagem.
­ Ok. Se você não quiser se sentir nua sozinha eu posso colocar o meu biquíni e daí a
gente da pra todo mundo.
­ Alice, eu estou num processo de amor próprio. Que horas são?
­ Onze e dez. Estamos um pouco atrasadas, não?
­ É, mas o show deve começar lá pela meia noite. De qualquer forma eu já estou
pronta, quero te apresentar pro John antes.
­ Por quê?
­ Porque você precisa transar e ele é bonito. Quer dizer, você que vive reclamando,
só vou dar uma ajudinha.
­ Mas eu nem conheço ele!
­ Ahá, quando é pra valer você fica com medinho, né?
­ Minha virgindade é uma virtude.
­ Então pare de encher os meus ouvidos. Vamos logo.
­ Aposto que você vai acabar a noite numa cama com o seu primo. Já está na hora
de recomeçar os velhos hábitos.
Rolei os olhos desistindo de me importar com o que Alice falava.

O Black Beard estava demasiado cheio quando saímos de dentro do táxi. Esfreguei os
braços sentindo a corrente de vento arrepiar a minha pele. Entregamos os ingressos
pro segurança que se encontrava na porta do lugar e entramos, logo um bafo
quente me fez soltar um grunhido de horror. O que eles tinham contra ar
condicionado? Eu não sou muito fã de um bando de gente suada se esfregando, viu.
­ Pra onde vamos? – ouvi Alice gritar no meu ouvido e me encolhi de susto. Apontei
pro palco, provavelmente algum sinal dos garotos eu encontraria ali. Segurei a mão
dela e a puxei por entre as pessoas pulando ao som de alguma música de rock
desconhecida pelo meu cérebro limitado. A primeira coisa que vi foi um vulto alto
encostado no palco fumando. John era uma chaminé. Paramos na frente dele e eu
esperei ele levantar a cabeça. Iria ser uma sorte se ele me reconhecesse. Mas, graças
ao bom pai, ele sorriu meio avulso.
­ Mell! Que bom que veio. – Ele deu uma tragada e me puxou para um abraço meio
desnecessário. Encarou Alice esperando explicações, com um sorriso esperto.
­ Essa é a minha amiga Alice. Estava comigo quando o resto da banda nos parou na
rua.
­ Espertinhos. – Consegui fazer uma leitura labial antes de ele cumprimentar Alice
com dois beijos. Ela me olhou meio corada por um segundo. – John O’Callaghan, ao
seu dispor. Vamos entrar em alguns minutos, eu só vim dar uma aliviada aqui, os
caras estão no camarim.
­ Ah, diz pra eles que a gente deseja sorte. O público está grande.
­ Você viu? Achei que não viria nem a metade. Mas vendemos praticamente tudo.
­ Fico feliz por vocês! Agora, você sabe se o...
­ Daniel acabou de me mandar uma mensagem dizendo que em cinco minutos estará
aqui. Acho bom mesmo. – disse ele resmungando a última frase. – Eu preciso voltar
lá pra dentro. Aproveitem o show!
Antes de eu poder falar mais alguma coisa ele sumiu por uma porta preta vigiada por
um segurança. Olhei para Alice com um sorriso discreto e ela devolveu.
­ E aí? – perguntei cruzando os braços.
­ O quê? – respondeu ela fingindo não entender.
­ O que achou do John?
­ Ele é bem charmoso. – falou ela corando e olhando pro lado, evitando contato
direto com os meus olhos. Da mesma forma que ela me conhece eu a conheço muito
bem. De repente ela fixou os olhos num ponto fixo, desviando a cabeça das pessoas
que passavam atrapalhando sua vista.
­ Mell... – murmurou ela. – Seu primo chegou. E ele não está sozinho.
Olhei instantaneamente para onde ela estava olhando e consegui ver no meio de um
monte de gente dançando Danny tentando se deslocar e ao mesmo tempo falando
perto do ouvido de uma garota. Dei dois passos, ficando na frente de Alice já com

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meu olhar fuzilante em cima daquela cena absurda.


­ Vou precisar de muita bebida pra aguentar as palhaçadas do Danny. – murmurei já
me afastando de Alice em direção ao bar e ela me segurou.
­ Calma, menina! Você nem sabe o que está acontecendo! Quem sabe ela só
perguntou onde é o banheiro. Agora você vai querer que ele não fale com ninguém
só porque gosta de você?
Voltei a encarar o ponto onde antes eles estavam e vi os dois dançando. Semicerrei
os olhos para Alice.
­ Ah, ela perguntou onde é o banheiro e aproveitou pra dar uma dançadinha com
ele, é? Por favor.
Me soltei dela e continuei meu caminho da roça até o bar. Quando se trata de Danny
eu realmente não penso no que eu faço. É como se meu cérebro derretesse a partir
do momento que ele o detecta e eu começo a agir sem pensar. Eu nem era uma
pessoa da bebida. Mas parece que quando estamos falando do Danny eu passo a ser
uma louca descontrolada. Ciumenta.
Cheguei no balcão e levantei o dedo para o barman, sem ter ideia se ele entenderia
que eu estava pra qualquer tipo de líquido. Ele me entregou uma garrafa de cerveja
aberta.
As luzes se apagaram, a música parou e o palco foi iluminado. A banda entrou ao
som de palmas e John pegou o microfone.
­ Boa noite Black Beard! Nós somos o The Maine e tocaremos pra vocês hoje.
Os primeiros acordes de uma música agitada começaram a ser tocados e eu bebi um
gole da garrafa, sentando no único banco livre do balcão. Eles eram realmente muito
bons, inclusive John, que tinha uma voz impressionante.
Depois da terceira música, agora lenta, resolvi levantar do banco e procurar Alice, a
tinha abandonado cruelmente. Droga, não sei porque mas a música que eles
tocavam me lembrava o Danny. Que aliás tinha se perdido com a fulana no meio das
pessoas, não que eu estivesse preocupada.
Uma trombada forte em toda a lateral do meu corpo me fez cambalear e esfregar o
ombro com dor. Danny me olhava assustado.
­ Ai meu Deus, Mell. Desculpa. Eu estava te procurando. – disse ele preocupado e
depois sorriu, me olhando de cima a baixo. – Você está linda.
Ele me abraçou repentinamente pela cintura e por um momento toda a raiva que eu
tinha dele e da fulana sumiram. Depois de cinco segundos de abraço eu me rendi,
colocando meus braços em volta de seu pescoço. O perfume.
­ Te machuquei? – perguntou ele no meu ouvido, fazendo todo o meu corpo se
arrepiar numa velocidade indescritível.
­ Não, estou bem. – respondi o soltando. Ele sorriu novamente. PARE DE SORRIR.
­ Está gostando dos garotos? Você nunca tinha os ouvido tocar, né?
­ Não, eles são muito bons! Essa música é incrível.
­ I Must Be Dreaming. – disse ele no exato momento que a frase foi cantada por
John. – É muito boa.
Concordei, corando um pouco. Eu ainda corava na presença dele. Depois de tudo o
que aconteceu.
­ Veio sozinha? – perguntou, olhando em volta. Ah, Danny demonstrando seu lado
possessivo. Não sou só eu.
­ Alice veio comigo. E você?
Eu precisava confirmar minhas suspeitas.
­ Ah, tive que vir com minha colega da universidade. Ela não conhece ninguém e eu
precisava vender um ingresso.
Resposta na defensiva, típico dos homens. E ainda fingindo sacrifício, como se fosse
muito ruim vir a uma festa com uma menina bonita.
­ Eu preciso encontrar a Alice, nos vemos mais tarde. – falei me afastando, sem o
deixar responder qualquer coisa. Sim, eu tenho ciúmes e me descontrolo. Se alguém
souber o antídoto do ciúmes me avise, eu estou precisando.
Passei praticamente o resto do show procurando Alice que aparentemente tinha
evaporado, dei a volta no local duas vezes e fiquei parada no mesmo lugar por dez

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minutos. A última música terminou e eu comecei a ficar preocupada. Alice é meio


dependente, ficar sozinha por muito tempo não era do feitio dela. Uma música do
Cobra Starship começou a tocar quando a banda saiu do palco em meio a muitos
aplausos.
­ Onde você se enfiou? Eu estou morta! – Alice surgiu na minha frente meio
descabelada e eu a olhei com medo.
­ Eu que te pergunto. Foi me procurar aonde, embaixo da terra?
­ Odeio ficar sozinha em show ou festa! Já fui cantada por cinco caras. CINCO!
­ Isso deveria ser uma coisa boa partindo de você.
­ Só porque eu sou virgem não significa que eu queira dar pra qualquer um. Enfim,
adorei a banda.
­ É, eu também.
­ E aí, falou com o Danny?
­ Sim, ele está com uma colega da universidade. Que inconveniência.
­ Ahh... eles devem ser amigos. Tá, isso é óbvio.
Fiz uma expressão de desprezo mas o nosso silêncio durou pouco tempo. Alguém
me abraçou por trás e me girou, tive que ficar uns bons dez segundos focalizando
quem era. Alice me olhava paralisada.
­ O que acharam do show? – perguntou John transbordando felicidade ao lado de
Garrett e Pat.
­ É óbvio que elas gostaram. A gente falou que vocês não iriam se arrepender. –
disse Pat convencido. Nós rimos.
­ Vocês têm futuro, todas as músicas são boas! – falou Alice sorrindo para ele, que
corou. Garrett empurrou Pat pro lado e se enfiou na frente de Alice com um sorriso
engraçado.
­ É óbvio que você prestou atenção em mim, ele fica lá atrás.
E os dois começaram uma discussão sem sentido sobre posições no palco sendo
assistidos por uma Alice confusa.
­ Vamos procurar o seu primo enquanto os dois babacas dão em cima da sua amiga.
Eu ainda não consegui falar com ele. – falou John pegando a minha mão e me
levando por entre as pessoas.
Em cinco minutos ele já estava na segunda garrafa de cerveja e eu me perguntando
da onde ele tinha tirado aquilo, já que não tínhamos parado no bar. De repente ele
parou no meio do caminho e eu dei um encontrão nas suas costas. Olhei confusa
para o seu rosto e ele olhava o ponto na sua frente com uma expressão de
desespero.
­ Que porra.
­ O que houve? – perguntei perdida olhando na direção de seus olhos já achando
que alguém vinha na nossa direção bater nele. Essas coisas acontecem o tempo
todo.
Na verdade ninguém estava vindo na nossa direção.
Na verdade na parede ao lado do banheiro Danny era espremido pela amiga da
universidade. E ele parecia gostar disso, porque até mão na coxa eu tive o desgosto
de ver.
Senti tudo girar na minha volta e comecei a respirar rápido procurando o ar que eu
não achava pra respirar. Meus olhos começaram a marejar e eu me segurei pra não
deixar a primeira lágrima escorrer. John olhava de mim pra cena meio sem saber o
que fazer. O deixei parado no meio da pista e saí correndo em direção a saída do bar.
Nessa altura eu já estava com o rosto molhado. Empurrei uma boa quantidade de
gente pra fora do meu caminho, eu não estava nem triste, eu estava com raiva.
Depois de tudo o que a gente passou.
O ar do lado de fora do Black Beard estava gelado, não sei se foi por isso mas
provavelmente foi um dos fatores que ajudaram meu corpo começar a tremer. Já na
calçada comecei a andar de um lado pro outro com os olhos fixos no chão. Eu
precisava me acalmar. Sorte minha que a rua estava vazia, mas no momento eu não
dava a mínima.
­ Mell... – ouvi a voz receosa de John atrás de mim e o olhei, com os olhos

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obviamente borrados.
­ Seu amigo é a pessoa mais estúpida que existe no mundo. – murmurei e depois
soltei um grunhido de raiva esquisito. As lágrimas voltaram a escorrer e eu senti meu
corpo descendo até o chão. Eu não tinha mais forças pra ficar de pé.
­ Não senta aí, o chão está gelado. – disse ele me levantando do chão e me
segurando. – Eu não sei o que te dizer. – continuou ele olhando nos meus olhos.
­ Não precisa dizer nada. – murmurei entre lágrimas e me encostei na parede do
prédio atrás da gente. Me virei de costas pra rua encostando a cabeça na pedra fria
tentando me acalmar. Eu não podia mais chorar por ele.
John se encostou do meu lado e ficou me encarando por alguns segundos. Eu
comecei a soluçar descontroladamente e ele colocou a mão nas minhas costas, me
virando delicadamente para si.
­ Esqueça o que viu por alguns minutos e apenas respire fundo. Prometo que a dor
vai passar. – falou limpando as minhas lágrimas e tirando uma mecha de cabelo
intrusa do meu rosto. Fechei os olhos fazendo o que ele mandou e respirei
profundamente, sentindo o vento agora relaxante secar a umidade da minha pele.
Algo macio e quente encostou nos meus lábios e se afastou depois de alguns
segundos. Abri os olhos e John estava a centímetros do meu rosto com uma
expressão séria. Ele acariciou o meu rosto de leve e voltou a grudar lentamente
nossos lábios. Eu estava tão entorpecida que não pude fazer nada se não
corresponder ao beijo. Ele me abraçou pela cintura e eu mesma intensifiquei a
velocidade das nossas línguas, mas ainda sim de uma forma delicada. Era difícil
compreender o que estava acontecendo, eu só sabia que eu não conseguia me
soltar, alguma coisa me atraía nele.
­ O que é isso?
A voz de Danny interrompeu nosso beijo e John me soltou, se afastando alguns
metros. Eu olhava pro chão tentando voltar pro planeta Terra. Levantei a cabeça
lentamente e fuzilei Danny com uma raiva profunda.
John me olhava sem saber o que falar. Me desencostei da parede e parei na frente de
Danny.
­ Você é desprezível. – murmurei e ele arregalou os olhos indignado.
­ Você estava beijando o meu melhor amigo e eu sou desprezível!
­ Na hora de agarrar a piranha que você trouxe junto não pensou em mais nada, não
é?
­ Eu... ela me beijou. Ela está afim de mim desde o primeiro dia que a gente se
conheceu.
­ E DAÍ? – perguntei alto demais e logo depois empurrei ele com força e comecei a
me afastar. – EU TE ODEIO, DANIEL!
­ Me desculpe. Eu deveria ter impedido.
­ Eu já estou farta das suas desculpas.
­ É, mas o meu erro não elimina o seu!
­ Você que começou, seu idiota! Não tem moral nenhuma!
Eu estava a alguns metros dele e a voz de John ecoou pela rua, do outro lado de
Danny.
­ Foi minha culpa. Eu beijei ela.
Danny se virou lentamente e o olhou desamparado.
­ Pensei que éramos amigos. – murmurou ele devagar.
­ Nós somos. Eu... foi um impulso do momento.
­ Não acredito que você foi capaz de beijar a garota que eu amo.
­ QUE VOCÊ AMA? – gritei do outro lado me aproximando novamente. – Seu cínico!
Se me amasse tanto assim não teria me deixado sozinha a noite inteira e ter ficado se
preocupando com a sua “amiguinha”! John não tem culpa nenhuma na confusão
que você armou, não coloque as culpas em cima dele! Você sabe que não é só isso,
Daniel. Será que você não consegue ficar sem fazer merda? VOCÊ ENGRAVIDOU UMA
GAROTA, QUE DROGA! Como consegue ser tão canalha!
­ Já conversamos sobre isso. – falou ele encarando o chão.
­ NÃO SIGNIFICA QUE AGORA VOCÊ PODE ESQUECER ISSO E SAIR BEIJANDO TODO

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MUNDO! E ALIÁS, ONDE EU ENTRO?


­ Mell, foi um deslize! Ela veio pra cima de mim! Eu gosto de você!
­ Vai se foder. Nunca mais fala comigo.
Deixei os dois parados no meio da calçada e voltei pra dentro do Black Beard. Incrível
como em alguns minutos um circo era montado na minha vida.

Capítulo 5

Na minha vida, as coisas conseguem piorar em questão de uma noite. Eu


sinceramente não sei se é só comigo, se eu sou uma azarada do caralho que faz tudo
errado e só se relaciona com pessoas que atrapalham tudo em vez de me ajudar. O
problema nem é tão complicado assim, mas por mais que eu pense que não é, eu
acabo o tornando milhões de vezes maior fazendo uma merda atrás da outra. É tipo
pintar a unha na TPM, você passa uma mão, daí vai abrir a barra de chocolate
porque precisa comer alguma coisa se não vai morrer e borra tudo. Tenta concertar e
piora mais ainda. Atira tudo pro alto, grita com todo mundo e se isola da vida. É a
mesma coisa, a vida é cheia de metáforas, é só a gente saber perceber elas. Não que
isso me ajude a analisar a minha situação, nem tem o que analisar, de tanto que eu
ferrei tudo.
Eu sei que me culpar não vai adiantar nada também, porque afinal quem me traiu foi
ele primeiro, e quem me beijou depois foi o John. Se olhar por esse lado eu não fiz
absolutamente nada, era só eu ter ficado parada que as coisas começariam a
acontecer e quando eu olhasse já estava tudo destruído. Eu sou um imã de dar
errado. Se alguém souber desvendar esse meu pequeno problema, me manda um e­
mail porque todos os dias alguma coisa acontece de ruim pra piorar meu
relacionamento torto com o Danny.
Ah, Danny. Seu canalha desgraçado. Quanto mais você me trair, mais eu vou gostar
de você. Mais essa paixão insana vai aumentar dentro de mim, cada vez a
intensidade vai crescer me fazendo querer aliviar e gritar pro mundo que eu te amo.
Eu acho que o ciúmes é um dos fatores que estimulam a paixão, é estranho mas
quando eu não o tenho eu o amo mais do que se eu estivesse com ele na cama
agora. Faz algum sentido? Pra mim não.

O rímel da noite passada fazia meus olhos coçarem profundamente, resultado de


ignorar as regras pós festa. Sempre tire a maquiagem antes de dormir, se não quiser
acordar sentindo areia dentro dos olhos.
Principalmente se você for chorar.
Levantei da cama e me arrastei lentamente pro banheiro, lamentando ter de encarar
aquela imagem de prostituta no final da madrugada. Fiz minha higiene sem ter forças
para pensar em qualquer outra coisa sem ser conversar com Alice. Eu devia
explicações pra ela depois da merda toda que eu consegui armar.
Entrei no quarto silencioso e sentei cautelosa na poltrona em frente à cama de Alice,
encolhendo minhas pernas e abraçando elas. Alice dormia calmamente mas logo, de
alguma forma que eu não faço ideia, percebeu minha presença e abriu os olhos
devagar.
­ Algum problema? – perguntou ela me olhando estranho, sentando meio sonolenta
na cama.
­ Te devo explicações.
Ela continuou sem expressão facial, me encarando.
­ Sobre ontem, o que aconteceu entre eu e o... John.
­ Você surgiu na minha frente berrando os fatos, ainda estou processando.
­ Eu sei que você gostou dele, e era pra você ter beijado ele. Não eu. Eu sou a menos
indicada pra isso. Eu sou uma idiota.

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­ Não tem problema, eu nem conhecia ele.


­ Eu queria que você o conhecesse direito. Estraguei tudo.
­ Você disse que ele te beijou. Não teve culpa.
­ Eu podia ter empurrado, mas eu continuei.
­ Bom... ele é bonito. Seria estranho você empurrar um cara bonito te beijando. E eu
não tinha nem sequer um clima com ele, ou seja, sem culpas. Tire essa ideia de
amiga traíra da cabeça.
­ Se eu fosse você estaria com um pouco de raiva de mim. Sabe, eu já gosto do meu
primo e...
­ Eu não tenho raiva de você, eu entendi o que aconteceu. Ele estava te consolando
porque o Danny beijou outra garota. Totalmente compreensível. Esqueça isso.
­ Tem certeza?
­ Claro que eu tenho.
­ Eu ainda quero que vocês se conheçam melhor. Seria muito estranho?
­ Por mim não, mas eu duvido que ele não goste de você depois disso. Boa sorte,
seu primo e o melhor amigo vão brigar por você.
­ Não, isso não vai acontecer. Ele não gosta de mim. Eu sei que não. Foi
momentâneo.
­ Tudo bem, Mell. Relaxa. Por que você não vai escolher sua roupa pra hoje à noite e
tentar se distrair? Sua cabeça deve estar um caos.
­ Hoje a noi... Ai não. AI NÃO. O JANTAR COM O DANNY. VOU ME MATAR.
­ Não finja que não está gostando disso.
­ Não quando ele me trai uma noite antes.
­ Você também “o traiu”. Estão quites, prontos pra outra.
­ Alice, não se trata de dar o troco ou não. Se trata de ele não lembrar de mim
quando está com outra garota!
­ Vamos não tentar entender a mente dos homens, por favor? A luxúria vem antes
de tudo, só isso que eu sei e não preciso saber de mais nada pra entender o que
aconteceu ontem.
­ Você está eliminando a traição dele porque os homens pensam antes em sexo e
depois em quem amam? Alice? Qual o seu problema?
­ Mell. Se você ouvisse o que fala não teria beijado o John. Perdão é uma virtude,
sabe.
­ Orgulho também.
­ Não, não é. Vá bem bonita hoje.
­ Eu vou colocar a roupa mais fechada possível, aquele idiota não vai aproveitar nada
de mim esta noite. Estou cansada de ser colocada em segundo plano. Ele já vai ter
um filho com outra, e ainda por cima beija OUTRA? Tipo, que tipo de retardado faz
isso?
­ Seu primo.
Grunhi com raiva e saí do quarto dela, direto para o meu closet. Eu estava falando
sério quando eu disse que ia com uma roupa fechada, e eu precisava encontrar ela.

°°°

Eu poderia me matar. Mas talvez não fosse o suficiente para pagar o quanto eu sou
idiota, então eu prefiro a rejeição, que é muito pior.
Não sei de quem mais eu tinha raiva. De mim mesmo, por cair nas tentações de uma
garota praticamente desconhecida; do John, que na maior lealdade foi lá e beijou a
minha prima, pela qual aliás eu estou nessa cidade e pela qual meu coração está
apertado agora; ou dela, por no maior impulso de se vingar revidou o beijo do meu
melhor amigo.
O problema é que eu não consigo sentir raiva das pessoas que eu amo, então sobrou
ter raiva de mim mesmo. Sou um merda, não vai mudar nada. Refleti sobre tudo isso
durante meu já conhecido banho gelado de pobre de manhã cedo, em pleno frio
cortante de Londres. Espelunca de lugar.
Depois de congelar, peguei um papel e uma caneta e fiz uma lista dos possíveis

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covers que eu faria naquela noite depois da tensa janta que eu teria na casa dos pais
da Mell. Porque é claro que o meu bico no pub tinha que ser na noite do jantar.
Coloquei as músicas que eu gostava e que eu achei que as pessoas iriam gostar de
ouvir. Um bando de bêbados abandonados. Não que eles fossem ligar pra o que eu
fosse tocar.
Toquei cada uma das músicas da lista com meu violão velho e descascado, tentando
lembrar os acordes porque algumas fazia um tempo que eu não tocava.
Daí eu lembrei que não tinha roupas. Não poderia simplesmente ir num jantar com
os pais da garota que eu amo vestido feito um caipira perdido na cidade. E ainda
mais com ela com raiva de mim, dar motivos pra ela me odiar mais ainda? É, eu
precisava de umas compras. O problema era que eu não tinha noção de nada de
moda. Não que eu esperasse ter.
Peguei minha carteira, vesti um casaco de moletom, uma calça jeans e desci rumo ao
desastre de comprar roupas.
Encontrei John encarando o teto na sala, atirado no sofá. Ele me olhou tenso e
levantou. Não entendi o movimento e parei, o olhando estranho.
­ Precisamos conversar. – disse ele batucando com os dedos na própria perna,
nervoso.
­ Olha, se é sobre ontem, nem precisa se esforçar.
­ Danny, eu sou seu melhor amigo e fiz uma coisa terrível com você. Eu sei que você
não faria isso comigo, por isso preciso que você entenda que eu me arrependo
profundamente. Das minhas entranhas.
O olhei por uns segundos e percebi, com um pouco de esforço, que ele falava a
verdade. Sorri de canto.
­ Eu sei. Nós dois erramos ontem, por isso esqueça. Não vou te culpar.
­ Quero que saiba que não vai acontecer de novo, se você quiser eu nem chego mais
perto dela.
­ Não seja exagerado. Vamos apagar o que aconteceu.
John sorriu e estendeu a mão. Apertei e começamos a rir, sem motivo aparente.
­ Somos uns merdas. Ferramos tudo. – falou ele e eu ri mais ainda. – Onde está
indo?
­ Preciso comprar roupas novas, percebi que meus panos de chão não são
adequados pra cidade grande.
­ Você sabe que vai gastar dinheiro em vão se escolher as suas próprias roupas, não
é? Você e moda não pertencem ao mesmo mundo.
­ Muito obrigado.
­ Eu vou com você, me dê um minuto. Você está precisando de um estilo mais rock
n’ roll.
­ Tudo bem.
John me encarou por alguns segundos antes de concluir:
­ Você também precisa cortar o cabelo. Está um ninho.
Levantei as sobrancelhas pasmo com a verdade atirada na cara. Nunca vi problemas
com meus cachos.

°°°

Já era a quarta vez no dia que minha mãe me ligava confirmando o evento tão
esperado, eu estava quase explodindo de desespero. Não poderia ter mais nada
inadequado pra ser fazer naquele fim de semana.
­ Você só pode estar brincando.
A voz de Alice atingiu meus ouvidos sensíveis depois de horas de silêncio trancada no
quarto criando coragem.
­ Qual o problema?
Ela me olhou de cima a baixo e espremeu os olhinhos de predadora.
­ Vai numa janta ou numa missa?
­ Numa janta com o Danny. Vingança é um prato que se come frio, querida amiga.
Refleti muito sobre o plano.

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Meu vestido nem era tão comportado assim. Era azul marinho de mangas compridas
e uma gola curtinha com alguns babados. As mangas tinham um estilo meio
medieval, eu gostava daquele vestido. Só nunca tinha usado por ser muito fechado.
Mas ele era no meio das coxas, então não era lá tão comportado. Foi o máximo que
eu encontrei.
­ Ainda está em pé o convite, pode ir comigo. Eu insisto. Tanto.
A ironia no rosto de Alice pedia um soco na cara.
­ Filme e depois me mostre. É sério, eu não quero atrapalhar as indiretas e coices que
um vai dar no outro.
­ Eu não vou nem olhar pra ele. Aquele cafajeste não merece minha atenção.
Alice riu entre pausas, me irritando mais ainda. Eu estava à flor da pele.
­ Prenda os cabelos pra mostrar o pescocinho e deixar ele com vontade. Isso da
muito certo.
­ Quem disse que eu quero deixar ele com vontade? Não quero nada daquela
criatura sem controle.
Peguei em cima do aparador uma presilha preta e prendi o cabelo num coque mal
feito, sob o sorriso maldoso de Alice.
­ Não quer nada você, imagina. Bom, é melhor você se apressar se quiser pegar o
metrô a tempo. Essa hora é barra pesada. Vá de táxi, pela última vez.
­ Alice, a casa dos meus pais é tão longe que eu gastaria cinquenta libras só de ida.
Metrô é muito bom.
­ Boa sorte. Me ligue quando chegar lá, se não vou achar que você foi seqüestrada.
­ Sim, mamãe. – murmurei, pegando de cima da cama minhas duas bolsas, uma
maior com roupas e objetos pessoais. Mamãe havia me forçado a dormir lá depois do
jantar, tola eu se pensei que isso não iria acontecer.

Amaldiçoei­me mentalmente depois de andar encolhida até a estação de metrô mais


próxima pelo fato de estar congelando e eu não ter pegado nem um casaco. Londres
tinha a deliciosa vantagem de possuir como sensação térmica sempre o dobro do
que realmente está marcando nos termômetros.
Recomendo muitos, muitos casacos extras. Não importa a estação do ano, se
começar a chover, você está fodida.
Comprei a passagem numa bilheteria vazia e silenciosa, as atividades finalizavam cedo
mesmo nos fins de semana. O único movimento próximo era um faxineiro varrendo
o chão alheio ao mundo, com fones de ouvido.
Não demorou muito para a minha linha chegar, o que me assustava era apenas que
eu seria uma das únicas pessoas a pegá­la. Eu e os assentos vazios, o corredor frio e
o silêncio assustador.
Ah, adorava momentos como esse.
Entrei no transporte e, para minha surpresa, havia algumas pessoas dentro. Todas
com expressões de sono e cansaço, do tipo “não fale comigo, eu só quero ir pra casa
e dormir pra sempre”. Um cara de preto que estava sentado ao fundo colocou seus
olhos em mim quando me sentei. Senti um calafrio e tentei ignorar, mexendo no
celular. Droga, odiava andar sozinha.
Vinte arrastados minutos depois, regados por uma tensão crescente entre o cara de
preto me encarando e minha paranóia, o metrô chegou na zona onde meus pais
moravam e anteriormente, eu também. Levantei do assento rezando para que o
homem continuasse sentado mas, para meu horror, ele levantou e saiu alguns
segundos depois de mim.
Tentei me acalmar, imaginando que ele só estava indo para casa depois de um longo
dia de trabalho. O único problema era que ele não tinha nem um pouco o jeito de
quem trabalhava. Era mais pro lado do tráfico, sabe. Ou do assassinato.
Subi as escadarias da estação, dando de cara com uma rua escura e uma praça logo
do outro lado. Olhei rapidamente para trás e percebi um vulto negro me
acompanhando a alguns metros. Eu só podia ter feito muita coisa ruim nessa vida
mesmo, pra ser perseguida por um assassino em pleno sábado à noite, no meio da
rua. A casa dos meus pais ficava a algumas quadras, ou seja, eu não conseguiria

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chegar viva até lá. Era o meu fim.


A única saída era ligar para alguém, mas a ideia de aterrorizar minha mãe não era das
melhores. Pioraria a situação ouvir seus ataques do outro lado da linha. Eu até que
tinha chances, se começasse a correr.
Em vez disso, eu entrei numa cabine telefônica, duas quadras depois da estação.
Eu entrei. Numa cabine telefônica. Que tipo de vítima, ao ser perseguida, entra numa
cabine telefônica?
O desespero tomou conta do meu corpo e a única coisa que pude pensar era me
proteger. O problema é que isso não iria acontecer dentro de uma cabine telefônica
totalmente vulnerável numa rua deserta. Tirei o telefone do gancho e fingi discar
qualquer número, olhando em volta dos vidros e vendo o assassino se aproximar.
Ferrou tudo.
Ele parou ao lado de fora, como se esperasse sua vez para usar. Consegui perceber
que era loiro por baixo da touca cinza que usava. Não sei como ainda não tinha
desmaiado. Depois de cinco minutos de terror, tive que criar coragem e sair de
dentro daquela porcaria, nada adiantaria ficar parada ali dentro.
O cara me encarou e sorriu malicioso, se aproximando da porta e de mim. Suas
olheiras eram maiores do que o normal, ajudando no visual vampiro faminto. Era só
o que me faltava, virar vampira, depois de toda aquela porcaria que estava a minha
vida. Ia ajudar muito, sabe.
­ Está funcionando? – perguntou ele de repente, depois de me analisar.
­ O quê? – respondi com outra pergunta, que mais saiu um sussurro desajeitado e
esganiçado.
­ O telefone.
­ Er, sim.
­ Nos conhecemos de algum lugar.
Pronto, fodeu tudo.
­ Não, acho que está enganado. Não moro pra esses lados.
­ Nem eu.
Certa de que estava mais do que na hora de começar a correr, me virei na tentativa
de fazer exatamente isso mas ele me segurou pelo braço.
­ Me solte! – gritei, fazendo um movimento brusco com o braço e o afastando de
mim com um empurrão. Ele me olhou com raiva.
­ Não devia ter feito isso. – murmurou ele, indo na minha direção com uma
expressão selvagem e eu fechei os olhos, pronta pro meu fim.
­ Algum problema?
Achei que era uma ilusão da minha mente afetada pelo medo, mas quando abri os
olhos Danny estava parado na minha frente, entre eu e o cara, que era mais baixo
que ele.
­ Quem é você? Dê o fora, está atrapalhando. – disse o cara, mas não com tanta
imposição assim como antes.
­ O que disse? Eu estou com ela, vá pro inferno. Covarde.
­ Vocês não se conhecem, é apenas um babaca querendo fazer os lados com
qualquer garota em perigo.
­ Você acreditando ou não, se não sair daqui em cinco segundos vai aprender à força
como tratar uma garota.
O cara olhou Danny de cima a baixo com desprezo e começou a se afastar,
completamente enraivecido. Danny ficou imóvel até ele dobrar a esquina e
desaparecer de vista.
Soltei o ar pesadamente, me apoiando na cabine ao meu lado. Puta que pariu.
­ Da onde você surgiu? – perguntei o olhando ainda meio tremendo. Meu queixo
tremia de frio. Nem sabia mais porque estava tremendo, se era de medo, de frio ou
da terceira opção que eu prefiro não verbalizar. Me recuso.
­ Calma. – disse ele se aproximando devagar e descruzando meus braços logo em
seguida. Segurou minhas mãos congelando por um momento e levantou as
sobrancelhas. – Como imaginei.
Ele tirou o casaco xadrez que usava por cima de uma jaqueta de couro. Danny? De

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jaqueta de couro? Só depois de perceber seu visual inteiro notei que ele tinha
cortado o cabelo bem mais curto, os cachos não existiam mais e suas roupas
estavam modernas e bonitas. O que fizeram com meu primo caipira?
Danny me ajudou a vestir o casaco e eu suspirei de prazer quando o tecido quente
me cobriu. Uma das melhores coisas da vida, colocar um casaco já quente. Com o
perfume dele. Ignorem.
Coloquei as mãos nos bolsos depois de ele pegar minha bolsa maior. Começamos a
andar em direção da casa dos meus pais.
­ Agora que você está devidamente coberta... Eu estava no caminho da sua casa.
Quem era aquele cara?
­ Boa pergunta.
­ Você é louca o suficiente para andar na rua de noite sozinha? Nunca mais faça isso.
Não vou poder aparecer sempre pra te salvar.
Aquilo soou muito arrogante, ou eu interpretei assim, já que a raiva por ele ainda
não tinha desaparecido por completo.
­ Eu não preciso da sua ajuda, Daniel. Ele não ia fazer nada, posso me defender
muito bem.
­ Não rejeite minha ajuda quando está usando meu casaco. Não faz sentido. Ele iria
te bater.
­ Eu ia dar um soco nele, você atrapalhou tudo.
­ Você estava encolhida. Por favor.
­ Não muda o fato de eu não precisar da sua ajuda.
­ Estou impressionado com a sua gratidão. Da próxima vez eu vou assistir a tentativa
de estupro e sua defesa, em vez de tentar ajudar. Que besteira da minha parte, que
tipo de cara faz isso? Ajudar a prima. Ninguém.
­ Cala a boca. Vou ter que te aguentar a noite inteira ainda.
Argh, odiava ficar perto dele e ter como única forma de escapar da visível tentação o
desprezo. Odiava tratar ele desse jeito, por mais que tenha me traído na cara dura.
­ O que achou do meu cabelo? – perguntou ele depois de alguns segundos de
silêncio, bagunçando os fios.
­ Ridículo.
­ Ah, que bom.
­ Pelo menos aparou o arbusto.
­ Você não vai mais ter o que puxar na hora do...
­ Cala a boca, Daniel. Seu repugnante. Pare de falar comigo.
­ Você está me dando corda.
­ O que você tem que falar você não fala!
­ Você já sabe que eu te acho gostosa com qualquer roupa, não vai ser um vestido
comportado que vai diminuir meu tesão e minha vontade de te agarrar.
O olhei incrédula. Quanta petulância numa pessoa só.
Dobramos a esquina da rua dos meus pais, que era preenchida por milhões de casas
semelhantes, tipicamente londrinas.
­ Eu já pedi desculpas, Mell. Sei do que está falando e sei o que está martelando sua
cabeça nesse exato momento. Eu só posso dizer que sou um imbecil e você escolheu
se relacionar com a pior espécie.
­ Eu não escolhi porcaria nenhuma. O que John disse?
­ Nós estamos normais, eu não me importei com o que aconteceu entre vocês dois.
­ Mentira, está corroído pelo ciúme.
­ É claro, mas não é por isso que vou ser injusto com meu melhor amigo.
­ Ah, então se eu beijar qualquer um você vai fingir que nada aconteceu? Bom saber.
­ Não disse isso! A situação era diferente.
­ Vamos parar de falar de coisas constrangedoras na frente da casa dos meus pais.
Danny olhou pro lado e percebeu estávamos agora parados na frente de minha
antiga casa. Subi as escadas do hall exterior e tirei a chave da bolsa, abrindo a porta.
Dei espaço para Danny entrar atrás de mim, tentando esconder minhas mãos que
ainda tremiam um pouco pelo susto. Sou muito sensível.
­ Ah, meu Deus! – ouvi a voz de minha mãe não muito distante, vindo da sala de

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estar. – Quem é esse rapaz, minha filha? Eu te disse pra não trazer ninguém. Nada
contra você, querido. É um jantar de família.
Danny me olhou segurando a risada e eu encarei minha mãe com um silencioso “o
que foi isso?”.
­ Mãe, esse é o Danny. – falei óbvia balançando a cabeça numa lamentação
misturada com vergonha quando minha mãe abriu a boca espantada.
­ O QUÊ? – exclamou ela, fazendo uma análise completa do corpo de Danny,
tentando encontrar alguma coisa que denunciasse minha suposta piada. – Daniel?
­ Olá, Heather. – disse Danny meio tímido com um sorriso irresistível. Senti que
minha mãe teve um colapso interno, assim como eu.
­ Não posso acreditar que aquele franguinho frito se transformou nesse homem
lindo! MARTY! VENHA VER SEU SOBRINHO!
Escondi meu rosto nas mãos depois do comentário desnecessário da minha mãe. Me
diz pra quê.
Ela deu dois beijos em Danny e depois o olhou mais um pouco, tentando ainda
comprovar o que já estava óbvio.
­ Você cresceu demais.
­ Daniel!
Meu pai apareceu no topo da escada e eu soltei um gemido de desespero. Mais
vergonha, mais comentários desnecessários.
Ele abraçou Danny e o olhou com um orgulho paterno inexplicável. Tão
desconfortável esse instinto paternal que meus pais tinham por ele. Não poderia nem
imaginar o que fariam se descobrissem o incesto louco que nós praticávamos.
­ Como andam os estudos? E o trabalho? Soube que arranjou um emprego!
­ Ah, está ótimo. Não é fácil manter a média 9 mas é o mínimo que eu posso fazer.
­ Sua bolsa então está firme?
­ Claro. Trabalho no aquário.
­ Que maravilha! Garoto, estou feliz por você. Vamos conversar na sala.
­ Olá, papai. – murmurei entre dentes atrás dos dois. Meu pai se virou e sorriu pra
mim.
­ Olá querida, quanto tempo. Como está? – perguntou enquanto sentava na
poltrona de costume.
­ Bem.
­ E Alice? – perguntou minha mãe em pé. Danny sentou do meu lado no sofá que na
verdade era apertado demais na condição que eu estava. De não poder encostar
nele. Nossas mãos se roçaram e eu afastei rápido.
­ Está bem. Mandou lembranças pros dois.
­ Ah, o mesmo para ela. Mas, Daniel, quer alguma coisa? O jantar está quase pronto.
­ Estou ótimo, obrigado.
­ Vocês estão na mesma faculdade, então? Se falam muito? – perguntou meu pai
sem dar tempo pro garoto respirar.
­ Sim, não nos falamos muito, os prédios são afastados demais.
­ Ah, mas tenho certeza que vocês já saíram juntos. Não posso acreditar que Mell
está levando adiante essa birra antiga.
Rolei os olhos e joguei a cabeça pra trás, apoiando no encosto. A noite ia ser longa.
­ Não, ela está me aceitando melhor. – respondeu Danny com risinhos evaporando
segundos sentidos para mim. O belisquei forte na cintura por baixo da jaqueta e ele
deu um pulo, começando a se coçar para disfarçar. – Ainda não tivemos a
oportunidade de nos encontrar fora da escola, apesar de eu já ter sugerido algumas
opções. Em uma semana não da pra fazer muita coisa.
­ Sim, claro. Espero que mantenham uma boa relação. Já vejo um avanço entre
vocês. Nem se olhavam antes.
­ Na verdade temos uma ótima relação. Ótima. É simplesmente incrível como mudou.
Cerrei os dentes me segurando para não voar em cima dele e cravei minhas unhas
em suas costas nuas. Ele soltou um gemido que foi seguido por uma risada.
­ Mell tem um pouco de dificuldade, mas estamos lidando com isso. Em breve
seremos como irmãos.

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­ Acho ótimo, você é um bom exemplo a ser seguido, Daniel. Sua perseverança é
invejável. Para um garoto de Bolton conseguir uma bolsa na Universidade de
Londres não é nada fácil.
­ Ah, eu faço o que posso.
Meu pai concordou com a cabeça.
­ E como andam as coisas com Mary?
­ Ah. – Danny ficou sério novamente. – Estou enviando a mesada mensalmente, no
próximo feriado irei visitá­la. Está correndo tudo em ordem.
­ Que bom. Desejo que vocês sejam muito felizes com o bebê.
­ Obrigado.
­ Vou ser tio avô! Nem acredito.
Danny riu tenso e eu encarei o chão. Eu tinha a facilidade de esquecer desse assunto
muito rápido.
­ Eu convidaria você para ficar por aqui, mas Heather me disse que você vai trabalhar
depois, não é? Vai tocar num pub?
­ É, salário extra. Estavam precisando de alguém. Não é muito longe daqui, mas eu
vou voltar pra casa dos garotos depois. John vai me levar o carro dele e meu violão,
essas coisas.
­ Sim... Como está John e a banda?
­ Muito bem. Fizeram o primeiro show ontem no Black Beard.
­ É mesmo? Já estão nesse nível?
­ Eles são muito bons.
Ao lembrar do show, um novo clima de tensão se instalou entre nós e nossos joelhos
se encostando me deixaram desconfortável. Eu nem tinha percebido.
Mamãe apareceu novamente na sala anunciando que o jantar estava servido e nos
encaminhamos pra sala de jantar, do outro lado da casa e em frente a cozinha.
Danny sentou na minha frente e minha mãe do meu lado. Meu pai na ponta.
­ Espero que goste de massa, Danny. – disse minha mãe se oferecendo para servi­lo.
­ Ah, eu adoro. – respondeu ele e trocamos um olhar rápido. Me servi de salada e
pretendia ficar por um bom tempo nela. Meu estômago estava embrulhado demais
para suportar carboidrato puro.
Basicamente, o jantar inteiro foi meu pai perguntando sobre todos os detalhes
possíveis da vida profissional de Danny, que respondia tudo com a maior paciência
possível. Fico me perguntando se ele é mesmo meu parente, porque esse dom que
ele tem de aguentar a família perguntando besteira não é normal mesmo.
O meu único problema naquela noite foi não conseguir parar de imaginar Danny sem
camisa com aquele cabelo novo dele. Ele estava simplesmente gostoso, como se já
não fosse, e eu tenho a leve impressão de que ele cortou só pra me provocar,
porque a gente não está se falando. Em teoria.
A sensação de imaginar esse tipo de fantasia sexual com meu primo na frente dos
meus pais me deixava completamente desconfortável. Era como se todos pudessem
ouvir meus pensamentos, toda aquela luxúria gritante na minha mente. Nunca tive
abstinência, mas deveria ser mais ou menos a mesma coisa que eu estava sentindo.
Depois que todos terminaram de comer mamãe nos arrastou pra sala e desenterrou
um álbum de fotos antigo, transbordando fotos minhas e de Danny na fazenda. As
fotos não transmitiam lá tanto amor, eu sempre saía ou olhando pra ele com nojo,
ou ele me mostrando a língua. Bons tempos.
Estávamos sentados nos mesmos lugares de antes, eu totalmente tensa ao lado de
Danny que olhava compenetrado as fotos que minha mãe lhe passava. Num de seus
movimentos para conseguir alcançar minha mãe, sua camiseta se esticou e vislumbrei
um pedaço de sua tatuagem no braço. Por dentro da gola. Um arrepio percorreu
meu corpo e eu me levantei subitamente.
­ Preciso ir ao banheiro. – falei, me afastando sem olhar a reação dos três. Subi as
escadas correndo e entrei no banheiro do corredor, em frente ao meu quarto e ao
quarto de hóspedes.
Controle­se. Seu objetivo é ignorá­lo, vai estragar tudo agora? Só porque ele tem
músculos? Coisa que não tinha antes?

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Me apoiei na parede, encostando a testa no ladrilho gelado. Aquilo esfriou um pouco


o fogo que estava se alastrando pelo meu corpo. O que eu sou? Uma cadela no cio?
Que coisa mais descontrolada.
A única coisa que ouvi no momento seguinte foi um clique, que ecoou pelo banheiro.
Levantei a cabeça, sem me virar. Antes que eu pudesse ver o que estava
acontecendo, as luzes do banheiro se apagaram e eu me virei rápido, no escuro. Não
via nada, nem um único reflexo de luz. Minhas mãos começaram a tremer, assim
como meu corpo inteiro. Senti uma respiração bater contra meu rosto e fechei os
olhos. Não podia estar acontecendo.
Fui virada novamente contra a parede, com certa brutalidade que me deixou num
nível de excitação maior. Danny me espremeu completamente com seu corpo e
grudou os lábios no meu pescoço, roçando com eles por toda a minha pele daquela
área. Meus cabelos foram soltos e ele me virou novamente, agora estávamos de
frente um para o outro.
­ Desculpe, mas eu não posso esperar mais. – Ele sussurrou e beijou meus lábios
com delicadeza. Minhas pernas vacilaram numa demonstração de fraqueza óbvia
perto dele. Danny passou um de seus braços pela minha cintura e me apertou com
força. Senti uma de suas mãos descerem pela lateral do meu corpo e entrarem para
baixo do meu vestido.
Foi quando lembrei da cena desprezível dele fazendo praticamente o mesmo com a
garota no Black Beard.
O empurrei pra longe, tentando resistir ao perfume desgraçado que aquele garoto
exalava, minha concepção do paraíso, e fui na sorte em direção a porta, acendendo a
luz no interruptor que ficava ao lado.
­ Pense duas vezes antes de satisfazer suas vontades com outra garota. – falei, mais
num tom de lamentação do que de raiva. Saí do banheiro, o deixando sozinho.

Não demorou muito tempo para Danny decidir que já estava tarde e precisava ir para
o pub tocar depois do corte que lhe dei. Não havia o mínimo clima de qualquer que
fosse o sentimento entre nós, eu não podia nem olhá­lo que meus olhos
lacrimejavam.
Ele se despediu dos meus pais, concordando freneticamente aos convites para
encontros futuros que minha mãe fazia no maior entusiasmo. Não correspondi ao
sorriso que ele me lançou na tentativa de uma despedida, depois saindo porta a fora.
­ Danny está lindo. Deve receber propostas o tempo inteiro, mas pobre do garoto,
vai casar ano que vem. – disse minha mãe voltando com meu pai para a sala de
jantar. Fiquei alguns segundos parada no hall encarando o chão, sem saber o que
pensar.
Balancei a cabeça, tentando afastar a lerdeza que tinha me atingido e voltei para o
andar de cima, entrando no meu quarto.
Deitei imediatamente na minha cama e senti algumas lágrimas escorrerem, mentindo
para mim que era alergia a colcha. Peguei no sono depois de meia hora.

Acordei com o a freqüência cardíaca alta, percebendo que estava embaixo das
cobertas e de pijama. Olhei o céu lá fora, através da janela um pouco embaçada pelo
frio que fazia. O dia não tinha sido tão insuportável, mas alguma lei da química
deveria explicar minha janela embaçada. Algo que eu realmente não me importava,
sob as circunstâncias em que me encontrava. Uma dor no peito estava me
incomodando desde o momento em que Danny deixou a casa, e aquilo não era, de
forma alguma, um bom sinal. Eu sabia exatamente qual era o significado dessa dor,
mas apenas não conseguia admitir para mim mesma.
Levantei da cama e caminhei com passos demorados até o espelho pendurado na
minha parede. Tire essa ideia absurda da cabeça, pensei comigo mesma. Você precisa
aprender que não podemos fazer o que nos der vontade a qualquer momento, é
simplesmente uma lei natural da vida, aceite.
Acontece que leis naturais não se encaixavam no meu relacionamento perturbado
com Daniel Jones.

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Tirei o pijama que provavelmente tinha sido colocado pela minha mãe enquanto eu
dormia pesadamente e coloquei novamente meu vestido e meu sapato, arrumando
da melhor forma possível meu cabelo já devastado pelo tempo.
Eu podia sentir a atração a quilômetros de distância. Eu sentia.
Abri a porta do quarto devagar, tomando cuidado para que meus movimentos
fossem silenciosos, sem antes tirar da cadeira minha bolsa de camurça.
Todas as minhas decisões implicavam arrependimentos no dia seguinte, mas aquilo
não podia esperar. Já fazia muito tempo e eu já não estava mais agüentando. Eu
havia me tornando uma viciada numa droga ilícita sem cura. Ilícita na minha mente,
pois de acordo com a minha ética e as minhas virtudes, o que eu estava prestes a
fazer era contra tudo o que eu acreditava e respeitava.
A casa já estava escura, com meus pais dormindo no quarto. Desci as escadas na
ponta dos pés e logo já estava ao lado de fora, exposta ao frio inesperado daquela
noite de sábado. Esfreguei meus braços apesar de estarem cobertos pelo tecido do
meu vestido, que não era tão fino assim. Eu não fazia ideia de pra onde ir, quando se
trata de direção e localização eu sou inútil. Mas alguma coisa, alguma força
inexplicável tomou conta do meu corpo e, em alguns minutos andando pelas ruas
vazias da cidade, me dei conta de que estava parada em frente ao pub que Danny
havia citado mais cedo, explicando que faria uma apresentação por alguns trocados.
Abri a porta rústica e pesada com dificuldade, e no momento em que a fechei atrás
de mim e um cheiro de mofo misturado com cerveja me atingiu, eu ouvi.
A voz. Aquela maldita voz.
Nada, repetindo, nada me deixava mais aturdida do que aquela voz cantando
qualquer tipo de melodia. E, daquela vez, a melodia ajudava muito para que eu
sentisse meu coração apertado, retorcido.
Adentrei o pub com cautela, felizmente sendo ignorada pelo atendente morto­vivo
que limpava alguns copos atrás do balcão. O lugar estava cheio de gente estranha
alternativa, que fuma grama na abstinência de maconha. Não que isso seja possível,
mas eu não duvidava nada de que o cara que estava apoiado no balcão, de olhos
fechados e soltando para o alto uma fumaça, não estivesse fumando algum tipo de
erva indiana desconhecida. A maioria das pessoas estava sentada em mesas
espalhadas pelo lugar, alguns conversando e outros encarando o pequeno palco no
fundo do estabelecimento.
Quando coloquei os olhos em Danny, senti o chão desaparecer debaixo dos meus
pés. Tive que me apoiar no balcão atrás de mim, não sabia se aquilo tudo era o
efeito que aquele canalha tinha em mim ou se os diversos odores eram muito fortes
para minha cabeça.
O que eu temia superficialmente aconteceu, logo depois de eu colocar os cotovelos
atrás do balcão em que estava encostada. Danny passou seus olhos por mim e, sem
parar de cantar, voltou a me encarar sem expressão aparente. Provavelmente deveria
achar que estava imaginando coisas, mas eu não queria que a minha presença ali
fosse ignorada simplesmente pelo fato de ele estar com medo do que seus olhos
poderiam criar. Me desencostei da superfície e andei alguns passos para frente,
ficando embaixo de um foco de luz das lâmpadas no teto. Não conseguia tirar meus
olhos de seu rosto, que transmitia uma espécie de onisciência e sofrimento. Apesar
de eu ter certeza de que ele estava surpreso por dentro, só apenas sabia disfarçar
muito bem.
Mr writer why don't you tell it like it really is
Why don't you tell it like it always is
before you go on home

Os últimos acordes da música foram seguidos por aplausos e alguns assovios alheios
de algum bêbado. Não que alguém precise estar bêbado para apreciar o talento de
Danny, mas bêbados geralmente se manifestam espalhafatosamente. Dei meia volta
e saí do pub, parando no meio da calçada e encarando o chão, enquanto o vento
batia com força nos meus cabelos.
Senti uma presença atrás de mim e o olhei sobre o ombro. Ele estava parado atrás

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de mim, segurando a case do violão e me encarando, esperando uma explicação. Me


virei devagar e não pude evitar o olhar nos olhos, que eram visíveis apenas pela luz
da lua e de alguns postes da rua.
­ Eu... – comecei, cruzando os braços pelo frio no mesmo momento em que ele me
interrompeu.
­ Vamos entrar no carro, você está congelando. – disse ele descendo os olhos por
um momento para minhas pernas descobertas. Concordei com a cabeça, o seguindo
até a esquina, que na verdade dava para um beco sem saída. O Impala do avô de
John estava estacionado de costas para a rua no beco escuro. Danny abriu a porta
do carona e eu entrei, já prevendo que fim levaria aquela situação. Fechei os olhos e
respirei fundo antes de ele sentar ao meu lado no motorista depois de guardar seu
violão no banco de trás, acendendo a luz do painel.
­ Acho que sabe por que estou aqui. – murmurei depois de alguns segundos de
silêncio cortante.
­ Fale. – disse ele gentilmente, me olhando. Não fiz o mesmo, de início. Fiquei alguns
segundos em silêncio simplesmente porque eu não sabia o que dizer. Mas sabia que
era só eu o olhar para ele entender. Então o fiz.
Não tive nem dez segundos para a preparação mental e Danny afastou uma mecha
de cabelo do meu rosto, colocando atrás de minha orelha. Sua mão passou
delicadamente pelo meu rosto e seu polegar acariciou meu lábio inferior, tudo isso
com uma expressão séria. Ele aproximou seu rosto do meu e grudou lentamente
seus lábios nos meus, me beijando delicadamente. Entre pausas, começou a dar
chupadas curtas no meu lábio inferior, me provocando de uma forma agonizante.
Segurei sua nuca e fiz ele parar de ir e voltar, iniciando o beijo elaborado. Senti sua
mão descer até minha cintura, parar por alguns segundos e terminar o percurso até
minha coxa descoberta. Aquilo me excitou descontroladamente, e, em um milésimo,
eu já estava sentada em seu colo. Desistindo de segurar minha nuca, desceu também
a outra mão, que foi parar na minha cintura por baixo do vestido. Seu toque poderia
me fazer gozar sem penetração, o prazer era inexplicável. Uma de suas mãos deslizou
até meu ventre e entrou na minha calcinha. Sem perder tempo ele me penetrou,
fazendo movimentos circulares lentos e sacrificantes enquanto eu beijava seu
pescoço com uma fúria que nunca tive.
Em poucos minutos eu já estava grunhindo pedindo que parasse e começar o que
interessava. Tirei eu mesma meu vestido e ele a camisa e a camiseta. Já podia sentir
com vigor seu volume por cima da calça, e aumentou drasticamente quando nossos
troncos nus se encostaram e, enquanto nos beijávamos e finalizávamos a preliminar,
eu arranhava suas costas o excitando mais ainda. Apressada demais para continuar
aquela tortura, abri sua jeans enquanto beijava seu peito em diferentes lugares. Ele
abriu meu sutiã e o atirou no banco ao lado. Logo depois abaixou a calça e a boxer,
sentando reto no banco e colocando ele mesmo uma camisinha que eu não sei da
onde surgiu. Abaixei minha calcinha e não tive tempo de tocá­la longe ele já havia
me puxado, me fazendo o deixar penetrar com brutalidade pela força do puxão. Os
dois gemeram alto na primeira investida, não achei que iria aguentar mais tempo e
só haviam se passado alguns segundos.
A única coisa negativa de se transar em um carro eram as opções limitadas de
posições, mas aquilo não interferia no prazer gigantesco que suas investidas me
causavam. Era difícil admitir mas eu senti falta daquela sensação, mais que qualquer
outra coisa.
Suas mãos não se decidiam e mudavam de posição loucamente enquanto
aumentávamos a velocidade do movimento, alternando entre muito devagar e
rápido o suficiente para não nos fazer atingir o clímax tão cedo. Senti sua língua no
meu pescoço e me arrepiei com o primeiro chupão da noite. Nunca fui muito fã, mas
o prazer que aquilo, vindo de Danny, me causava, me fazia mudar de ideia. Pude
contar cinco chupões antes de ele gozar exausto. Apesar disso não parou até ser a
minha vez, logo depois paramos respirando rápido.
Saí de cima dele e sentei de volta no carona, me encolhendo de frio enquanto tirava
os cabelos do rosto. Olhei novamente para Danny e ele me encarava irônico,

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recolocando a boxer.
­ O que foi? – perguntei perdida.
­ Não resistiu ao abominável, não é?
Fiquei estática por um tempo, não acreditando no que acabara de ouvir. Como ele
sabia que eu o chamava, mentalmente, de abominável?
­ Cala a boca. – resmunguei virando o rosto pra janela. Senti um beijo no meu
ombro e sorri, ainda com o rosto virado.
­ Cara, como eu amo essa sua birra pós sexo. É simplesmente adorável.
O olhei sorrindo, vendo em minha mente meu rosto vermelho. Ele me beijou
calmamente.
­ Precisa me levar de volta pra casa. – falei interrompendo o beijo e começando a me
vestir. Meus pais não podiam nem sonhar que eu tinha saído no meio da noite.
Danny concordou com a cabeça, meio desapontado, e começou a se vestir também.
Por mais que eu tenha me entregado novamente a ele e tenha ignorado toda a
confusão da noite passada, eu sabia que nada estava bem. Sempre teria uma
barreira nos dividindo, nos forçando a seguir caminhos distintos. Não sabia se
conseguiria quebrá­la algum dia.

Capítulo 6

A única coisa que eu conseguia enxergar em minha mente era a noite de sábado.
Aquilo estava me prejudicando drasticamente, seja na faculdade ou no trabalho. Eu
estava cometendo erros que não cometia, eu sentia meu estômago embrulhar cada
vez que a via na universidade e ela fingia não me conhecer. Está para existir o
primeiro homem que compreender a mente feminina.
Na sexta­feira à noite, meu pai me ligou pela primeira vez em duas semanas, eu até
tinha suspeitas de que ele havia esquecido da minha insignificante existência, até ele
se justificar. Não que eu tenha engolido.
­ Danny! Como estão as coisas?
­ Oi pai. Está tudo bem. – respondi sem ânimo.
­ Você vai me perdoar por não ter te ligado nesses últimos dias, as coisas estão
difíceis por aqui. Mas Marty me manteve informado do jantar que vocês fizeram. Fico
feliz que estejam se encontrando.
­ Ah sim. Foi bom.
­ Tenho uma boa notícia pra te dar! Estive olhando alguns apartamentos no centro e
aluguei um pra você. Me sinto um péssimo pai te deixando morar com amigos, você
precisa de um lugar só seu.
­ O quê? Você alugou um apartamento pra mim?
­ Sabia que você ia gostar. Ele é mobiliado, até porque você não tem móveis. Não se
preocupe, o lugar é limpo.
­ Pai... eu estou bem na casa do John. – menti, eu tinha um orgulho meio neurótico
de tentar resolver tudo sozinho.
­ Daniel, pare com esse seu orgulho neurótico de tentar resolver tudo sozinho. A
chave do apartamento vai chegar hoje de noite em Londres, junto com alguém que
quer te ver.
­ O quê? QUEM?
­ Tenho que desligar! Me ligue quando precisar.
­ Estou te ligando agora! Preciso de você agora! Quem vai vir? PAI?
Desliguei o celular e fiquei por uns cinco minutos encarando um ponto fixo qualquer
no chão, sentindo o desespero dominar meu corpo.
Entrei na casa de John ainda em choque, tombando com o próprio atravessando o
corredor enquanto devorava um hambúrguer.

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­ E aí, meu? – murmurou ele parando de frente pra mim, de braços cruzados,
mastigando sem muita empolgação.
­ Você precisa me ajudar. – falei sem o olhar, caminhando sem vida até a sala e
jogando minhas coisas no sofá.
­ Bom, nós temos um show hoje de noite, mas manda aí, tem a vida toda pra
resolver o drama.
­ Eu acho que Mary vai aparecer aqui hoje. Com a chave do meu novo apartamento.
­ Novo apartamento? Você vai nos largar brutalmente?
­ Não tive escolha. Esse não é o problema! Mary está vindo!
­ E o que você quer que eu faça? Despiste ela enquanto você foge pro exterior?
Minhas formas de despistar são bem eróticas.
­ Cala a boca, John! Provavelmente ela vai ficar por aqui no fim de semana. Por isso
meu pai quis me dar o apartamento. É claro! Ela vai vir sempre e teremos que morar
num lugar sozinhos. Minha vida acabou.
­ Calma aí, Jones. Por acaso ela tem alguma doença contagiosa? Pelo que eu sei ela é
bem bonita e saudável. Qual é o seu medo?
­ Eu vou ter que fingir que sou um namorado feliz. Suficiente pra você? Nem sei se
estamos juntos! Estamos?
­ Sei lá, vocês vão ter um filho. Devem estar.
­ Droga. É o meu fim.
­ Você é disputado por milhões de mulheres bonitas e está surtando. Qual o seu
problema?
­ Milhões? Pare com essas hipérboles irritantes.
­ Mary, Mell e aquela sua “amiga” da universidade. Devem existir mais, eu é que não
sei. Você podia fazer uma doação aqui pro John.
­ Fique com Michelle, ela não me preocupa.
­ Nossa. – disse ele me olhando estranho. – Você está mesmo precisando nascer de
novo. Já viu o traseiro dela? Ah sim, já. Você estava agarrando ele na semana
passada.
­ JOHN! DÁ PRA PARAR? Estou atolado de problemas!
­ Desculpe, amiga. Eu vou tomar banho, se quiser ir no meu show com a Mary está
convidada. Vai ser fabuloso. – falou ele com uma voz afeminada, gesticulando de
forma delicada enquanto subia as escadas.
Suspirei, me jogando no sofá. É, as coisas estavam dificultando, finalmente.

°°°

Já estava de pijamas, sentada no sofá da sala segurando um dos meus livros


preferidos quando Alice apareceu com um sorriso suspeito. Nunca tenho paz.
­ O que vai fazer hoje de noite?
Encarei lentamente o livro em minhas mãos e depois meu pijama. Ela continuou me
olhando com a mesma expressão.
­ Ficar em casa. – falei devagar. Devemos ser pacientes com pessoas retardadas.
­ Sabe onde você poderia ir? – perguntou ela sentando ao meu lado. Suspirei.
­ Onde?
­ Na casa do Danny. – respondeu com o mesmo sorriso maníaco. – Sua cara de
“preciso de sexo” está me deixando louca.
­ Agradeço a ajuda, mas estou muito confortável. E eu já vou sair domingo em
função da faculdade.
­ Onde vai?
­ Num desfile de moda.
­ Deus, você é muito sortuda.
­ Ah, sou. – murmurei sarcástica abrindo o livro. Ela puxou das minhas mãos com
uma cara indignada.
­ Pare! Você vai à casa do Danny. Vá colocar uma roupa decente, que provoque
orgasmos.
Encarei seu rosto por alguns segundos sem paciência. Para Alice tudo era fácil e se

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resolvia rapidamente.
­ O que te impede? Imagine o rosto meigo de Danny sozinho numa sexta­feira à
noite, provavelmente estudando em seu quarto no sótão. Sua cama pedindo duas
pessoas se amando. Vai negar isso?
Sorri de canto e ela começou a rir. Droga.
Levantei do sofá e me arrastei até o quarto com Alice dando pulos de alegria atrás de
mim. Não entendia essa obsessão dela em apoiar meu relacionamento com Danny.
Acho que amigas são pra isso.

Fechei automaticamente meu casaco verde com manga três quartos ao sentir o
vento bater forte em meu rosto, levando meus cabelos junto. Meu coração parou de
bater quando saí do táxi e olhei para a porta da casa de John. Danny estava parado
na porta com uma mochila nas costas, segurando uma mala. Desceu dois degraus do
hall de entrada e uma garota surgiu atrás dele, falando com John que surgiu logo
atrás.
Mary estava em Londres.
­ Muito obrigada pelo carro, John. Devolvemos amanhã.
­ Sem problemas, já usei hoje. – falou ele indo atrás de Danny para ajudá­lo a abrir o
porta­malas. – Espero que fique bem sem mim, Daniel. Sabe que sou seu porto
seguro, estou aqui pra tudo.
Ele parou de falar no momento em que colocou seus olhos em mim, que estava
parada há alguns metros observando a cena. Olhou para Danny sem saber o que
fazer, mas já era tarde demais.
­ Mell! – exclamou Mary, largando a bolsa dentro do carro e correndo até mim. Me
abraçou exageradamente forte. – O pai de Danny me disse que você estava aqui
também! Bom te ver novamente.
Sorri amarelo.
­ Como está o bebê? – perguntei, baixando os olhos até sua barriga sem pistas de
gravidez pelo pouco tempo.
­ Ah, até agora está se desenvolvendo bem. Foi o que o médico disse. – respondeu
ela sorrindo. Não sei por que, mas a raiva que eu tinha de Mary se amenizou no
momento em que ela falou do filho.
­ Ahn, vocês... – comecei, apontando para o carro, evitando o olhar de Danny.
­ Danny está se mudando para um apartamento no centro, estou só ajudando. Vou
ficar até segunda­feira.
­ Ah! – concordei sem ânimo.
­ Podemos fazer alguma coisa juntos no fim de semana! Eu adoraria sair com você!
Antes de poder responder, Danny já estava parado atrás de Mary.
­ Er, Mary, será que você poderia nos dar licença? Preciso falar com ela. Assuntos da
universidade. É rápido.
­ Claro, eu vou entrando no carro. John, onde estão os meninos mesmo?
A voz de Mary se diluiu enquanto Danny me puxava com delicadeza para mais alguns
metros de distância.
­ Eu não sabia que ela iria vir. Me desculpe.
­ O que isso significa?
Ele cruzou os braços e encarou o chão, mexendo com o pé desconfortável.
­ Significa que isso tudo é real. A gravidez e o meu futuro com ela. Quando ela estava
longe, em Bolton, tudo parecia apenas uma ideia, algo distante. Agora vejo como
não tenho saída.
­ Não tem saída?
Ele por fim olhou nos meus olhos e, com espanto, percebi que estavam marejados.
Meu coração acelerou com a possível frase seguinte.
­ Acho que não devemos mais alimentar esperanças. É isso, estou terminando o que
temos. Digo, sei que não temos nada muito concreto, mas o que temos deve acabar.
Fiquei encarando seu rosto por alguns segundos sem expressão aparente. Só
conseguia piscar e respirar com dificuldade. Danny tentou disfarçar, limpando uma
lágrima que escorreu contra sua vontade. Meus olhos começaram a marejar, mas

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continuei sem falar nada.


Ele tirou seus olhos dos meus e olhou para o chão novamente.
­ Eu sinto muito. – finalizou, mordendo o lábio inferior logo em seguida, voltando a
me encarar.
No segundo seguinte eu estava sozinha na calçada mal iluminada.
Não tinha coragem de me virar e assistir Danny partir com Mary, meu pesadelo se
tornando realidade.
Senti as lágrimas escorrerem numa velocidade inexplicável quando olhei por sobre os
ombros o carro se afastar. Limpei meu rosto com a manga do casaco, ação inútil,
pois ele estava encharcado novamente no segundo em que abaixei o braço.
Comecei a soluçar emitindo sons que comprovavam meu desespero. Me virei para ir
embora mas braços me envolveram repentinamente, aliviando um pouco minha
solidão. Afundei meu rosto no peito de John e ele afagou meus cabelos com
delicadeza.
­ Vai ficar tudo bem, eu estou aqui. – sussurrou ele em meu ouvido depois de um
minuto. A freqüência do meu choro aumentou e o abracei pra valer pelo pescoço.
Senti um beijo no meu pescoço e me arrepiei levemente. – Engraçado como eu
sempre acabo aqui, com você.
Sabia que ele estava se relacionando ao seu abraço e suas palavras de consolo. Sorri,
o encarando pela primeira vez.
­ Obrigada. – murmurei com a voz fanha de tanto chorar. Ele sorriu me dando um
beijo no rosto.
­ Sem problemas. Vamos entrar, está frio.
­ Não, eu...
­ Nem pensar, não vou te deixar sozinha depois do que aconteceu. – disse ele
segurando o meu queixo. Olhei para baixo corando um pouco com a aproximação. –
Vai negar um pedido do cara que quer te ver sorrir mais do que qualquer coisa?
Fiquei séria. Estávamos indo longe demais ou...?
­ Tudo bem, O’Callaghan. – Fingi resmungar. Ele me abraçou pelos ombros, me
conduzindo até a porta.
­ O que você quer fazer? Está com fome?
Suspirei segurando mais uma onda crescente de lágrimas que ameaçavam começar a
escorrer ao lembrar do rosto de Danny com os olhos marejados. Eu não estava com
raiva dele, só lamentava. Eu sabia que uma hora ou outra aquilo iria acontecer.
Entramos na casa e John me conduziu pelos ombros até o sofá, ligando a televisão
logo em seguida.
­ Eu vou fazer chocolate quente, tudo bem? Afinal John O’Callaghan não é lá tão
inútil.
Concordei com a cabeça e a encostei no encosto do sofá, encarando sem interesse o
programa que passava. Era seqüência de clipes antigos, e agora passava Without
You da Mariah Carey. Ótima escolha, John. As lágrimas começaram a escorrer pelas
minhas têmporas e em poucos segundos eu estava soluçando envolvida na paixão
do clipe.
Alguns minutos depois John surgiu da cozinha segurando uma caneca e me olhou
assustado. Seguiu meus olhos e encarou o final do clipe, depois que percebeu trocou
rápido o canal.
­ Desculpe, nem vi. – murmurou ele sentando ao meu lado e me entregando o
chocolate quente. Limpei meu rosto e funguei dramática.
­ Tudo bem. Olha, obrigada por me ajudar.
­ Não se preocupe com isso, é sempre um prazer estar com você.
Sorri envergonhada, dando um gole. O líquido desceu pela minha garganta
causando uma sensação súbita de conforto. Fechei os olhos tentando enganar meu
cérebro e fingir que por um momento não havia nada de errado.
Senti os olhos de John me analisando e o olhei. Ele não estava sorrindo, como de
costume.
­ Você poderia ser feliz.
Franzi o cenho sem entender o sentido de sua frase.

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Não foram necessários nem dois segundos para John eliminar a distância existente
entre nossos lábios, me beijando delicadamente. Com o susto, derrubei um pouco de
chocolate quente da caneca no meu peito, um pouco abaixo do pescoço. John parou
de me beijar percebendo o acidente mas não hesitou nem um momento ao descer
seus lábios até a região onde o líquido tinha caído e lamber. Fechei os olhos
tentando evitar um gemido de prazer culpado, sentindo seus beijos se
encaminharem novamente até minha boca, passando por todo o meu pescoço. Me vi
segurando sua nuca com uma das mãos livres, mas logo não estava mais com a
caneca pois John a pegou e colocou na mesa de centro sem parar de me beijar. Ele
tirou meu casaco enquanto eu bagunçava seus cabelos, envolvida e entorpecida pelo
momento inesperado. Senti ele agarrar minhas coxas com certa força e me
posicionar no sofá de forma a ficar por cima de mim. Parou de me beijar e aproximou
sua boca do meu ouvido, sussurrando:
­ Desde o momento em que coloquei os olhos em você imaginei essa situação.
No segundo seguinte eu estava apenas de sutiã e sentia minha jeans ser
desabotoada.
Parecia completamente errado deixá­lo saciar minha carência, mas também parecia
bastante errado Danny morando no mesmo apartamento que Mary.
John abaixou lentamente minha jeans e, enquanto abaixava minha calcinha com
menos pressa ainda, passava os lábios provocante pela minha barriga descoberta.
Não demorou muito para eu estar apenas de sutiã e salto alto. Ele desceu seus lábios
até minha genital, abrindo minhas pernas com delicadeza. Senti sua língua penetrar a
região interna do meu órgão e gemi de prazer. Ele começou com movimentos lentos
enquanto apertava minhas coxas por dentro, fazendo minha respiração aumentar a
freqüência. Ficou naquilo por alguns demorados e sofridos minutos, para meu
desespero. Eu não estava mais agüentando.
O puxei pra cima pelos cabelos, sim, pelos cabelos, eu estava desesperada. O
empurrei para deitar no sofá e tirei sua camiseta. John me puxou para baixo com
força, apertando minha cintura contra a sua. Senti seu volume impressionante
enquanto ele me beijava com ferocidade. Tirou do bolso traseiro um pacotinho e
logo depois se desfez da calça jeans. Eu estava um pouco apressada então arranquei
o pacote da mão dele e tirei eu mesma sua boxer. Coloquei em seu membro a
camisinha e ele me puxou novamente contra sua cintura, agora me penetrando com
força. Começamos rápido mas parecia que John gostava de apreciar cada
movimento, diminuindo nossa velocidade em intervalos de tempo. Aquilo aumentava
muito meu tesão, de uma forma que nunca aconteceu com nenhum outro cara.
Chegamos juntos ao clímax e eu caí sem fôlego por cima dele. Senti sua mão
acariciar minhas costas nuas, descendo até meu cóccix lentamente e voltando até a
parte superior várias vezes. De uma forma estranha eu me sentia confortável em seus
braços.
­ Como se sente?
Ouvi sua voz preencher o vazio de minha cabeça.
­ Péssima.
­ Obrigado.
­ Não! Não é isso... – Levantei a cabeça sorrindo para ele. Beijei seu lábio inferior
antes de completar a frase. – Você sabe do que estou falando.
­ Espero pelo menos que tenha te ajudado de alguma forma.
­ Me ajudou, muito obrigada. Pulei a fase “depressão sem fim pós fora”
Ele sorriu e acariciou meu rosto de leve.
­ Você sabe que não fiz isso com esse objetivo.
­ O que quer dizer?
­ Fiz porque estava com vontade, muita vontade. Não para te fazer esquecer do
Danny. Até porque você não vai. Talvez nunca esqueça dele. O amor que existe entre
vocês dois é muito maior do que esse fora que ele te deu hoje.
O encarei em silêncio por alguns segundos, tentando absorver a informação.
­ Não se sente mal transando com alguém que ama outra pessoa?
­ Não, sei que você sente por mim a mesma atração que eu sinto por você.

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Sorri indignada.
­ Que convencido!
­ Imagina, querida. Sou observador.
Ri fechando os olhos logo em seguida.

°°°

Então, é, podemos descrever minha situação atual como “indesejavelmente


incomum”. Sabem o que significa descobrir que toda a sua família acha que você está
tendo um relacionamento verdadeiro e cheio de futuro com alguém por quem você
não sente absolutamente nada?
Provavelmente não.
Posso já adiantar que é bem desagradável.

Ajudei Mary com as malas até meu novo apartamento, que por incrível que pareça,
era a única coisa que me agradava naquilo tudo. Até eu descobrir que só tinha um
quarto com uma cama de casal, me levando a concluir que meu pai estava mais do
que certo do meu casamento e da minha futura família a ser formada. O preço a ser
pago para quem não usa camisinha pode ser bem ruim, vão por mim.
­ Danny, acho que precisamos esclarecer algumas coisas. – disse Mary sentada na
cama, me observando colocar suas malas no chão. A olhei imóvel, sem muita
coragem de começar aquela conversa.
­ Sim? – respondi depois de pigarrear, recorrendo há alguns poucos segundos de
preparação mental.
­ Estamos juntos, certo? – perguntou ela com uma expressão séria e até um pouco
ameaçadora, e eu percebi que não estava mais conversando com a mesma Mary que
eu conhecia.
­ Desculpe?
­ Estou esperando um filho seu, isso é mais do que suficiente para estarmos
realmente juntos. Somos um casal.
Olhei pros lados tentando entender aonde ela queria chegar com aquilo, não muito
crente que aquele assunto estava sendo verbalmente exposto.
­ Mary, você precisa entender uma coisa... – comecei, mas ela levantou
repentinamente com os olhos semicerrados e eu não me atrevi a continuar.
­ Não, Daniel, você precisa entender que eu sei o que você e Mell andam fazendo e
não preciso de muitos motivos pra contar tudo pros seus avós, seu pai e a família
inteira. Eles não vão gostar nem um pouco de saber que, além de ter me
engravidado, você anda transando com a sua prima de sangue. – Ela fez uma pausa
dramática e sorriu maleficamente. – Então, estamos juntos?
­ O quê? Você está me ameaçando?
­ Entenda como quiser, eu não estou aqui para brincar de casinha com você. Um
deslize seu e você está completamente ferrado.
­ Mary, o que aconteceu com você?
Ela gargalhou, jogando a cabeça pra trás. Os meus únicos movimentos eram minhas
pálpebras piscando sem acreditar.
­ Você me trocou pela sua priminha idiota e acha que vai sair ileso? Por favor, você
não tem noção nem da metade do que eu posso fazer. Sempre fui apaixonada por
você e ainda sou, isso você já deve saber.
­ Me desculpe, Mary, mas eu não te amo, não pode me obrigar a gostar de você.
Muito menos me chantageando dessa forma.
­ Você não tem vergonha mesmo, não é, Jones? Incesto é crime.
­ Incesto! Você fala como se eu fosse pai dela! Isso não é incesto!
­ Não tente mentir para si mesmo, a culpa dentro de você é tão grande que eu posso
vê­la em seus olhos. É melhor responder a minha pergunta e é melhor que a sua
resposta seja a que eu quero ouvir, se não você vai se arrepender amargamente de
ter me trocado.

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Engoli em seco e respirei fundo algumas vezes, passando a mão pelo cabelo, com
esperanças de aquilo fosse um pesadelo desagradável.
­ Estamos juntos. – murmurei sentando na cama e massageando minhas têmporas,
sentindo uma dor de cabeça terrível se espalhar aos poucos.
­ Ótimo. – disse ela, se abaixando na frente da mala e começando a desfazê­la. – É
melhor você trazer suas coisas, querido. A partir de agora vai morar aqui. –
continuou ela, mudando o humor numa velocidade assustadora. A encarei sem
entender por alguns segundos e depois balancei a cabeça.
­ Amanhã de manhã eu pego na casa do John.
­ Sabe que vai ter que fazer muito melhor do que isso, não é? – perguntou ela
atropelando minha resposta forçadamente natural. De repente ela tirou o casaco e a
blusa que estava usando, ficando de sutiã. Um sorriso malicioso estava estampado
em seu rosto quando ela começou a se aproximar devagar de mim.
­ O que está fazendo? – perguntei tenso quando ela começou a abrir meu casaco,
sentando no meu colo de frente para mim.
­ O que garotas fazem com garotos quando eles estão juntos. Esqueceu como me
engravidou? – respondeu ela e logo em seguida grudou seus lábios nos meus,
pressionando com tanta força que fui obrigado a ceder.

°°°

Um som ensurdecedor me acordou, me fazendo sentar assustada aonde quer que eu


estivesse. Senti minhas costas gritarem de dor, eu sabia que nódulos desgraçados
haviam se formado apenas pelo fato de dormir no sofá. Olhei pro lado e dei de cara
com John dormindo pesado, de boxers. Toda a noite passada veio como um tsunami
na minha mente e segurei minha voz para não soltar um gemido de desespero. A
televisão, grande causa do barulho que tinha me acordado, estava ligada num
volume não tão alto como pareceu. Levantei e a desliguei, percebendo que estava
apenas com minha blusa listrada de preto e branco com mangas compridas, sutiã e
calcinha. Nada adequado. Fechei os olhos e os cocei sem piedade, quando a
campainha tocou.
Previ que eram os garotos chegando de uma noite muito louca que deveriam ter
passado na casa de algum desconhecido. Não me prestei a colocar calças, eles que
vissem, eu já estava numa situação deprimente mesmo. Me arrastei até a porta e
girei a chave, abrindo­a logo em seguida.
Demorei um tempo para focalizar e acreditar na pessoa parada na minha frente.
Danny me olhou de cima a baixo com uma cara assustada, depois parou no meu
rosto. Seus olhos beiravam o desespero. Ele entrou devagar na casa sem falar nada,
me forçando a dar espaço. Andou receoso até o sofá e encarou John dormindo sem
a maioria das roupas.
­ Não acredito que fez isso. – murmurou ele com um sorriso raivoso, me dando um
pouco de medo. – Qual o seu problema?
­ Qual o seu problema? Eu faço o que eu quiser com quem eu quiser.
­ Eu não morri!
­ A partir do momento em que me deu um fora eu passei a ter esse direito. Diga
onde você passou a noite e deixe a hipocrisia ser liberada no ar. Vamos, Daniel.
­ Eu não tive escolha. Você teve, e tenho certeza que transou com ele só pra se
vingar do fora que eu te dei.
­ Não sou mulher de me preocupar com o que os homens pensam ou sentem em
relação aos meus atos. Pegue suas coisas e volte para sua querida Mary.
­ Você é patética. – murmurou ele dando meia volta e sumindo pelas escadas. Senti
algumas lágrimas se formarem, mas me obriguei a engolir o choro. Não era possível
ele me ofender e eu chorar por isso. Coloquei minha calça jeans e me apoiei no
encosto do sofá. John hibernava embaixo de mim.
Cinco minutos depois Danny apareceu no hall com suas coisas. Andei lentamente até
a porta e a abri.
­ Espero que queime no inferno. – falei antes de fechar em sua cara. Posso até ter

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pegado pesado, mas aquilo aliviou, e muito, minha raiva.

Deixei John dormindo no sofá na mesma posição, era melhor não envolvê­lo na nova
briga que acabara de acontecer. Cheguei em casa e entrei sem pensar duas vezes
embaixo do chuveiro, eu precisava renovar minhas forças para enfrentar os
problemas da minha vida que pareciam não desaparecer nunca. E quando
desapareciam, algumas horas depois outros piores apareciam.
Alice não estava em casa, o que foi bom, precisava pensar um pouco antes de ser
bombardeada com perguntas e sermões. Alguém poderia me explicar o que eu fiz
pra merecer essa montanha­russa de desastres na minha vida? Já havia perdido a
conta de quantas vezes eu tinha me entendido com Danny e no dia seguinte quase
saíamos no tapa. Recomendo não se relacionar sexualmente com primos, só vai lhe
dar dor de cabeça e vontade de quebrar a casa inteira. E um prazer indescritível. Mas,
como ele mesmo disse, eu era patética, então acho que paramos por aqui. Ninguém
me ofende dessa forma, muito menos um caipira idiota que pensa que tem algum
valor na minha vida. Primeiro, me dispensa brutalmente do nada e depois age como
se eu fosse a culpada.
Quem você pensa que é, Daniel? Cutucou a fera, é melhor começar a correr.
Estava segurando a colher com tanta força enquanto mexia a panela de arroz que ela
chegou a entortar. Eu nem sabia que tinha força suficiente para entortar uma colher
daquele tamanho. Acontece que quando estamos falando de Daniel Jones tudo no
meu corpo aumenta.
Não consegui terminar de fazer o almoço e Alice adentrou ofegante a casa com
roupas esportivas. Provavelmente tinha saído para correr.
­ Mell! – exclamou ela entrando na cozinha e sentando no balcão. Abriu um sorriso
malicioso depois de lembrar onde eu estava. – Então a noite foi boa?
Me virei com a cara mais fechada e vingativa possível, e ela parou de sorrir.
­ O que aconteceu dessa vez?
­ Mary aconteceu. Danny terminou comigo. – murmurei entre dentes, desligando o
fogo.
­ Mary está em Londres? Ele terminou com você pra ficar com ela?
­ Mais ou menos isso. – respondi de costas.
­ E onde passou a noite?
Me virei com uma cara de quem fez coisa muito errada.
­ Na casa do John. Danny se mudou para um apartamento com Mary.
­ Você e John...
­ É.
­ Wow.
­ Eu estava devastada e ele começou a me consolar, foi muito estranho e... bom.
­ Pelo menos alguma coisa boa aconteceu. Os meninos não passaram a noite em
casa, não é? Estava correndo no Hyde Park e encontrei o Kennedy atirado no banco
de uma praça. Disse que estava pensando na vida. Ele é completamente pirado mas
é muito fofo.
Abri um sorriso ao ouvir a última frase.
­ Conversaram?
­ Sim, ficamos umas boas duas horas jogando conversa ao vento. Ele é realmente
um amor. Achei que era apenas mais um chapado. Mas e aí? John é bom?
­ Alice!
Ela começou a rir.
­ O quê? Qual o problema em saber!
­ Ele é muito bom.
­ Melhor que o Danny?
A olhei sem paciência. Sabia que ela iria comparar John com Danny.
­ São diferentes. Cada um tem um jeito, não tem como escolher. Vai ver isso quando
começar a dar pra todo mundo. Porque eu sei que quando começar a atividade,
ninguém vai te segurar.
­ Que horror! Eu sou muito conservadora. Ah, não esqueça que amanhã de noite

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você tem um desfile na universidade pra ir.


­ O QUÊ? Mas amanhã é domingo!
­ É, bem vinda a vida de universitário.
­ Preciso de acompanhante! Será que o Bri vai comigo?
­ Leve o John.
­ Está maluca? Chega de confusão. Chega de Danny e John por enquanto, os dois só
complicam a minha vida.
­ É, e te dão o maior prazer também.
Semicerrei os olhos enquanto dava uma última mexida no arroz nojento que eu
estava fazendo. Alice se aproximou da panela e encarou com repulsa o alimento que
eu estava preparando.
­ Deus, já sei por que ele te largou. Espera só o John ver isso.
Não pude responder a altura porque meu celular berrou em cima do balcão. Larguei,
para o bem e a saúde de todos a nhaca branca e atendi.
­ Sim? – falei receosa para o número desconhecido.
­ Mell? É a Mary!
Ah, ótimo. Sério, muito bom.
­ Ahn, oi Mary! – respondi olhando para Alice com nojo. Ela arregalou os olhos.
­ Você está livre hoje à noite? Eu realmente gostaria de sair com você!
Não me diga.
­ Eu... acho que tenho...
­ Ah, você não vai se importar de cancelar seu compromisso, não é mesmo? Só vou
ficar até segunda! Nos encontre no Hard Rock Café às nove horas. Beijos.
Permaneci com o celular no ouvido por alguns segundos antes de me tocar que ela
já tinha desligado. Alice me olhava apreensiva.
­ Onde essa sem sal conseguiu meu celular?
­ Com o Danny, óbvio. O que ela queria?
­ Ela quer sair comigo. Eu, ela e o Danny.
­ Não! Qual o problema dela?
­ Se ela pensa que eu vou aguentar aquela cara de Taylor Swift a noite toda... Preciso
falar com o John.
­ Vai levar ele? O Danny vai te matar!
­ Se ele pode, eu também posso. E trate de ligar pro Kennedy, você vai também.
­ O QUÊ?
­ Alguém precisa impedir que eu faça besteiras, e esse alguém é você. Preciso de
muitos aliados nessa batalha desgastante. – falei maníaca enquanto procurava John
na minha lista de contatos no celular. ­ Algo me diz que não vai ser nada agradável
esse jantar.

Capítulo betado por Amy Wonder

Capítulo 7

Alice fitava meus dedos batucando na bancada da cozinha numa velocidade inumana,
enquanto eu segurava o celular no ouvido me segurando para não soltar um grito de
raiva por John não atender o celular. Com certeza aquela criatura expelida pelo
universo paralelo ainda estava jogada no sofá dormindo seu qüinquagésimo sétimo
sono. Minhas unhas começaram a arranhar a madeira da bancada e Alice segurou
meus dedos com os olhos arregalados de agonia e medo.
­ Qual é, Mell?
Uma voz que não era a de John atendeu o celular e eu soltei o ar pesadamente. Deus
empurrou alguém pra atender aquela porcaria.
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­ Quem é?
­ É o Kenny.
­ Kennedy, passa pro John.
­ Eu acabei de chegar, o John está dormindo no sofá. Tem certeza que você quer
que eu o acorde? Da última vez eu fiquei com um...
­ Agora.
Silêncio. Alguns gemidos, resmungos, xingamentos. Muitos xingamentos. Barulho de
algo quebrando. Que Deus proteja o Kennedy.
­ Bom dia, meu amor. ­ A voz embriagada e com um toque de ironia de John
atendeu, seguida de alguns pigarros.
­ Você poderia me fazer um favor?
­ Sou seu servo.
­ Me acompanhe num jantar com o Danny e a Mary hoje de noite.
­ O Kennedy faz isso. – respondeu ele de imediato.
­ Não, tem que ser você.
­ Por quê? Fui tão bem ontem de noite? Cara, temos que repetir.
­ Danny se rasga de ciúmes da gente. Preciso que faça isso. Você disse que iria me
ajudar.
John suspirou profundamente do outro lado da linha. Ouvi Kennedy perguntar o que
eu queria e ser ignorado.
­ Tudo bem, mas eu não vou fazer nada pro Danny sentir ciúmes. Ele ainda é meu
melhor amigo.
­ Ele me traiu. Você precisa me ajudar, John. Não tenho mais ninguém nesse mundo.
­ Traição não é algo que eu possa ter alguma moral pra discutir. Sabe como é. Eu
tenho uma banda. Eu tenho tietes.
­ John. – Grunhi com raiva. Eu precisava fazer melhor do que aquilo. – Você é um
covarde. Acha que não vai ser homem suficiente para provocar ciúmes no Danny, né?
Tudo bem, coloca o Kennedy na linha.
­ O QUÊ? RETIRE O QUE DISSE! TE PEGO AS OITO.
Hehe.
­ Leve o Kennedy de qualquer forma.
­ Eu posso fazer sozinho!
­ Não é isso. Alice também vai.
­ Ah, tudo bem. Pense bem no que vai me forçar a fazer.
­ Nada que você já não tenha feito.
Desliguei o celular antes que John pudesse retrucar mais uma vez. Alice ficou
encarando meu rosto por uns bons dez segundos antes de começar a cacarejar que
eu estava ficando louca e que aquilo não iria levar a nada. E blábláblá.
As pessoas realmente não sabem do que eu sou capaz.

Eu estava na dúvida entre o visual “prostituta só para quem me merece” ou “você


pode olhar mas não pode me tocar”. Fiz uma mistura dos dois e sinceramente tenho
que me dar os parabéns, se Danny não tirasse a camisa no momento em que
colocasse os olhos em mim não sei mais nada dessa vida.
Você sabe que consegue seduzir um homem até calçando um all star, então, como
eu era muito auto­confiante, a primeira peça definida do meu visual pra guerra era
essa.
Mulheres poderosas não precisam usar salto alto, até de pés descalços eu iria
conseguir o que eu queria.
Desculpem, só estou preparando minha mente.
Enfim, nesses insignificantes anos de vida amordaçada pude fazer uma análise
valiosa: caras vão achar muito mais fofo meninas de all star do que meninas de salto
alto. Espero que aquele caipira seja igual, porque se não eu metralho todo mundo
naquele bar.
Ah vida, você é cheia de desafios.
Tirei um dos milhões de tops que eu tinha no armário e coloquei, junto com uma
skinny jeans escura. Eu amava tops. Fazia coleção, tinha uma pilha deles floridos.

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Eles aumentam os peitos, sem querer ser muito detalhista.


Estava terminando de me maquiar quando ouvi alguém sentando na minha cama.
Olhei para Alice esperando alguma recomendação materna, mas nada fez ela se
mexer. Desci meus olhos e analisei sua roupa nada inocente.
­ Não vou nem perguntar. – falamos juntas, gerando mais alguns segundos de
estranhamento.
­ Foda­se. – murmurei voltando a passar o delineador.
­ Quando eu me visto feito uma virgem tentando transar você coloca um TÊNIS?
Que porra é essa?
­ Não estou afim de explicar minhas teorias de conquista. A teoria é cheia de detalhes
complexos e Danny é caipira, ele não vai perceber.
­ Você está com os pés doendo.
­ Não, só acho que pra conquistar um homem eu não preciso usar salto alto. Vou ser
eu mesma e ele vai perceber a merda que está fazendo.
­ Você não precisa conquistar ninguém, sua idiota. O cara te ama. E provavelmente
John está no caminho.
­ John? – perguntei, soltando uma gargalhada longa e irritante. – Alice, John só está
comigo pra garantir uma transa e porque isso tem a ver com o Danny. Ele não dá a
mínima pros meus sentimentos.
Depois de falar isso, pensei um pouco. Ele já tinha me ajudado duas vezes depois de
ser decepcionada pelo Danny.
­ Talvez ele se importe com o que eu sinto, mas sabemos que é tudo imagem.
­ Você vai ter que agradecer muito bem o John depois de tudo o que ele está
fazendo pra você.
­ Como se fosse um sacrifício fazer sexo.
­ Podemos por favor não falar de sexo enquanto eu for virgem? É desagradável.
­ Não se preocupe, dou menos de um mês pro Kennedy resolver isso daí. Que horas
são?
Alice não teve tempo de responder nenhuma das duas frases, meu celular berrou em
cima do aparador, vibrando até cair no chão. Soltei um palavrão e me estiquei,
tentando alcançar sem sair da cadeira.
­ Estão prontas?
Foi o que ouvi quando atendi, depois de muito esforço na missão de alcançar o
celular.
­ Eu ainda tenho que fazer cachos no meu cabelo, me dê uma meia hora.
­ CACHOS? Seu cabelo já é cacheado! Pra quê essa porra?
­ Meu cabelo não é cacheado. Só nas pontas, o que é bem diferente de ter ele
totalmente cacheado.
­ Mell, sério. Eu não tenho a menor dúvida de que você vai ficar linda sem cachos,
pode ir até, sei lá, careca. Não vai fazer diferença. Estamos entrando na sua rua.
Meu sorriso se desfez e olhei espantada para Alice.
­ JOHN? Merda! Ele desligou.
­ O que ele disse pra você fazer essa cara de apaixonada?
­ Nada, besteira pra me fazer andar rápido. Eles estão aqui.
­ Como assim aqui?
­ O QUE EU FAÇO COM O MEU CABELO?
A campainha tocou e eu comecei a fingir chorar enquanto Alice rolava os olhos e saía
do quarto. Fiz um coque meio solto e encarei meu rosto no espelho na minha frente.
Não, eu parecia uma empregada vingativa. Desisti do cabelo e voltei a passar o rímel,
quando uma gritaria invadiu meu quarto.
­ ... você sabe que eu faço! – disse John rindo para Kennedy. Todos pararam e me
encararam. Olhei para John e deixei o rímel cair no chão, manchando o carpete
branco.
­ Mell! – gritou Alice em desespero, abrindo caminho entre os dois e se jogando no
chão. Eu teria rido, se não estivesse com os olhos fixos em John.
­ Oi. – murmurou ele meio envergonhado pela primeira vez desde que eu o conheci.
Meu coração estava a mil, minha garganta estava seca, eu não conseguia falar. Desde

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quando ele era tão lindo daquele jeito?


­ O que fez? – murmurei, sentindo o olhar de Kennedy e Alice em cima da gente.
­ O que quer dizer?
Levantei meio errada da cadeira e o olhei de cima a baixo, demorando mais do que o
normal porque ele era alto. Fora do normal.
­ Você está lindo.
Kennedy começou a rir, mas John continuava me encarando nervoso.
­ Ah, isso. Quando me escalam pra fazer alguma coisa, eu faço pra valer. – disse ele
abandonando o nervosismo e voltando a ser o convencido de sempre.
­ Que bom. – murmurei voltando a me olhar no espelho.
­ Estou brincando. Obrigado, eu cortei o cabelo eu mesmo. Sério que deu certo?
Ele parou do meu lado no espelho e começou a mexer sem compromisso.
­ Não é só o cabelo. Você está todo lindo.
John me olhou com uma cara forçando emoção e me deu um beijo no rosto.
­ Por acaso você levou mesmo a sério aquilo de não ser macho o bastante pra causar
ciúmes no Danny?
­ Eu? Claro que não. – respondeu ele sentando na minha cama. É óbvio que ele
tinha. – Só acho que você me merece arrumado, porque eu só me arrumo pra
poucas garotas.
­ Awn, John. Você vai me fazer largar o Danny de mão e me apaixonar de verdade
por você. – falei o olhando com ternura.
­ Quisera eu. – murmurou ele e eu ri. – Qual era o drama? O cabelo?
Eu ia responder mas percebi o quarto vazio. Kennedy e Alice tinham saído.
­ Estamos sozinhos.
John olhou pro corredor e deu uma risadinha evaporando segundas intenções.
­ Finalmente. Vem aqui.
O encarei séria.
­ Pra quê?
Ele começou a rir muito, chegando a deitar na cama.
­ Posso fingir que somos namorados de verdade? Quer dizer, se você permitir.
­ Bom, é o objetivo. Mas na frente dos outros. Sozinhos podemos ser nós mesmos.
­ Estou sendo eu mesmo. Você acha que transei com você pros outros?
Ele estava sério. John sério. Não estava sendo irônico. Sorri e sentei do seu lado na
cama.
­ Eu sei, obrigada por me ajudar. – falei, ajeitando seu novo cabelo. Ele segurou
minha mão e entrelaçou nossos dedos.
­ Saiba que eu gosto de você, acima desse futuro teatro que estamos prestes a fazer.
­ Também gosto de você, de verdade.
Ele sorriu e grudou seus lábios nos meus. Eu já não estava entendendo mais nada na
minha vida. Senti meu cabelo ser solto e ele me olhou, parando de me beijar.
­ Está perfeito assim. Você está linda. Danny vai gostar.
Mordi o lábio meio envergonhada por ele mencionar Danny com tanta compaixão,
dava pra sentir que ele ainda considerava aquele caipira, e muito. Levantei da cama e
peguei em cima do aparador uma tiara vermelha, colocando.
­ Pronto?
­ Só se você estiver.
Coloquei minha jaqueta de couro e saímos do quarto.

­ Ninguém me avisou que estávamos indo pra uma festa.


Foi a frase que definiu nossas expressões quando paramos na frente do Hard Rock.
­ Er, esqueci de avisar pra vocês esse detalhe. Nos sábados isso daqui vira um
inferno. – disse John engolindo em seco.
Eu achei que era um jantar.
­ Não deixa de ser um jantar. – falou Kennedy lendo meus pensamentos quando
entramos no estabelecimento não tão cheio quanto o esperado. Havia, sim, um tipo
de pista improvisada no meio do restaurante, que provavelmente seria lotada mais
tarde. Mas as mesas continuavam ali.

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Melhor pra mim, pensei com um sorriso nos lábios. Danny ia pagar cada segundo
que eu perdi praguejando por estar apaixonada por alguém que me chama de
patética.
­ Tudo bem, você sabe o que fazer, né? – perguntei estalando os nós dos dedos de
uma forma agressiva. John encarou o movimento com os olhos apertados. Alice
olhava em volta, procurando provavelmente o rei e a rainha do baile de inverno.
Passei meus olhos por Kennedy e ele cantarolava a música que estava tocando,
alheio a qualquer interrupção.
­ Como não poderia, você repetiu tudo o que eu deveria fazer trezentas e quarenta e
cinco vezes vindo pra cá. Só não concordo com metade do seu plano, mas vamos lá.
­ Vamos ter essa discussão de novo? – perguntei o fuzilando.
­ Não. – resmungou ele entre dentes.
­ Lá estão eles. – Ouvi a voz distante de Alice, dissipada pelo som alto da música.
Senti a mão de John apertando a minha cintura e o olhei estranho.
­ Estou fazendo o que pediu. – disse ele antes que eu pudesse lhe dar um tapa ou
algo do tipo. Caminhamos até a mesa onde os dois estavam, estilo sofá, John
resmungando que nunca mais faria isso de novo. Danny e Mary estavam em silêncio,
sem se encarar, provavelmente sem respirar também. Danny deu um gole na sua
bebida e levantou os olhos, engasgando à nossa aproximação. Mary o olhou e ele
levantou, sem motivo aparente. Foi a situação mais estranha do mundo. Mary nos
olhou e sorriu, nenhum sinal de falsidade. Droga. Ela era boa.
­ Mell! Trouxe... seus amigos. – disse ela, encarando Alice que sorriu como se tivesse
acabado de devorar um hambúrguer e estava mais do que satisfeita. Cara, eu amo
essa garota.
­ É, mas você já conhece o John e o Kennedy. A Alice mora comigo.
Mary sorriu para todos e olhou para Danny, que me encarava sério. Sorri o mais
cínica possível e ele colocou os olhos em John, como pedindo uma explicação. John
olhou pros lados numa péssima tentativa de fingir que não era com ele e pigarreou,
me abraçando pela cintura. Senti Kennedy se encolhendo de rir atrás da gente.
­ Vocês estão juntos? – perguntou ela empolgada, arregalando os olhos. John
murmurou qualquer afirmação e ela bateu palminhas. Olhei de canto do olho para
Alice. – Isso é ótimo, parabéns! Você combinam.
­ Obrigada. – respondi, me soltando de John. Alice e Kennedy responderam ao sinal
de Mary para sentarem na mesa. Alice sentou ao lado de Danny, Kennedy ao lado de
Alice. Sentei ao lado de Kennedy e John se atirou do meu lado. A mesa era redonda,
então meio que todos ficavam um de frente para os outros. Isso seria bem
interessante. O garçom trouxe mais pratos, colocando na nossa frente. Danny
fuzilava John, eu sabia que ele estava mais irritado com o amigo do que comigo.
­ Por que não me contou que estava namorando minha prima, John Cornelius
O’Callaghan V?
Segurei muito profundamente minha risada, não sei se era pela cara de Danny ou
pelo nome de John.
John começou a gaguejar e eu o chutei embaixo da mesa. Ele ficou imóvel por
alguns segundos e depois respondeu.
­ Bom, esperei esse momento pra te contar. É importante, eu valorizo a Mell, tinha
que ser num evento mais elaborado.
A mesa inteira ficou num silêncio constrangedor, e eu fiquei com muita vontade de
parabenizar John pela resposta. Constrangida era o que eu não estava no momento.
­ Ah, sério? Engraçado, eu nem sabia que vocês estavam ficando ou algo do tipo.
­ Você pode falar comigo, John não namora sozinho. – falei e Danny engoliu em
seco, levantando as sobrancelhas.
­ Vindo de você, eu já deveria saber. – murmurou ele e Mary o olhou espantada.
­ Isso é jeito de falar com ela? Não acredito que vocês continuam com essa besteira
de se odiarem!
Danny olhou significativo para Mary e ela fingiu não perceber. Tinha alguma coisa
acontecendo entre os dois e eu não estava sabendo?
­ Não sei, sinceramente, como você consegue odiar alguém tão doce e linda como a

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Mell. – disse John me envolvendo pela cintura e eu fechei os olhos, não acreditando
que ele tinha soltado aquilo.
­ Você poderia não se meter? Não sabe nem da metade. – falou Danny e eu o olhei
com raiva.
­ Vamos pedir! Estou, tipo, morrendo. Não como faz uns cinco dias. – disse Kennedy
abrindo um dos cardápios que estavam empilhados no centro da mesa.
­ Eu gostaria que vocês dois não brigassem, te convidei pra nos divertimos, Mell!
Danny, quer ser um pouco humano?
­ Desculpe. – murmurou ele pegando um dos cardápios. John pegou um e abriu,
escondendo o rosto atrás dele. Peguei o meu e fiz o mesmo, o olhando espantada.
Ele sussurrou um “que porra foi essa?” e eu disse “continua, tá ótimo”. Ele
continuou sussurrando, a música estava alta mas pude ler nos seus lábios “ele está
me odiando!”. Rolei os olhos e disse “esse é o objetivo”. John tirou o cardápio do
rosto e colocou dois segundos depois. “Estão nos encarando.” Sorri maliciosa e puxei
John pelo colarinho, começando a beijá­lo. Entreguei desajeitada o cardápio para
Kennedy, revelando nossas travessuras atrás do esconderijo.
Quantos anos eu tinha, doze?
Senti a mão de John na minha cintura descoberta, apertando e me fazendo pular.
Sorri de orgulho do meu subordinado durante o beijo.
­ Vocês podem optar por uma bebida por enquanto.
Soltei John e encarei a garçonete que já deveria estar ali por um bom tempo.
­ Podemos optar por não sermos ridículos e idiotas? – perguntou Danny e a
garçonete o olhou sem entender.
­ É, pode ser. Já que ninguém se pronuncia, pode trazer pra todo mundo o cocktail
da noite? Vocês têm isso, né?
Mary fingindo não perceber a raiva de Danny me fazia imaginar os dois casados. Ia
ser assim.
­ Temos, já trago.
Encarei Danny com os olhos semicerrados e ele devolveu, completamente sério, de
uma forma que eu nunca tinha visto antes. Sem aviso prévio, ele colocou o braço em
volta dos ombros de Mary, que o encarou sem entender. Depois sorriu convencida.
Senti meus dedos agarrarem a faca que estava na minha frente e começar a
pressioná­la na mesa de madeira. Danny observou o movimento e levantou uma
sobrancelha, me desafiando. Você sabe que eu posso te matar se eu quiser, não é?
Não ia sentir remorso nenhum. Iria ser até um alívio.
Mary começou a se aproximar do rosto de Danny e começou a beijá­lo
delicadamente no rosto. A faca enterrou na mesa. John puxou a faca das minhas
mãos e a colocou num lugar inalcançável. Alice me encarava enquanto esmagava um
dos dedos de Kennedy embaixo da mesa. Kennedy era o mais perdido. Ele
provavelmente só sabia da situação por cima, porque não estava muito preocupado
com nada.
Danny virou o rosto depois de me lançar um olhar perverso e juntou seus lábios com
os de Mary. Aquilo era extremamente patético, eu sabia que ele não estava nem um
pouco afim de fazer aquilo. Diferente de mim, eu gosto do John.
­ Você trouxe? – perguntou John de repente olhando por cima de mim para
Kennedy, que concordou. Do que eles estavam falando? – Que bom, vou precisar.
Desviei meus olhos da pouca vergonha na minha frente e dei uma olhada no
ambiente. O lugar já estava bem cheio, inclusive a pista de dança. As bebidas
chegaram e eu avancei sem piedade no meu copo, bebendo tudo em três goles.
Tudo girou por dez segundos e eu senti um enorme prazer pós tontura. O que eles
colocavam naquilo, meu Deus?
Começou a tocar Club Can’t Handle Me, eu estava muito enjoada dessa música, mas
sorri, não sei porque. Olhei para John, ignorando um Danny na minha frente
tentando fingir que estava muito afim de beijar a Mary.
­ O quê? – murmurou John com receio.
­ Vamos dançar. – falei com uma expressão de orgasmo.
­ Não vamos nem comer? – perguntou ele e eu rolei os olhos, passando por cima de

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seu colo e o puxando pra fora da mesa.


­ Não temos tempo pra comer.
O arrastei por entre as pessoas até um lugar visível da parte de Danny e comecei a
me mexer da forma mais sexy que consegui. Não era muito difícil, se é que me
entendem, meninas. Somos mulheres, por favor. John me abraçou por trás e
começamos a dançar juntos. Dou cinco minutos para Danny sair daquela mesa.
Não precisou nem um.
No meio daquela turbulência de luzes consegui ver o abominável se aproximando
com a Taylor Swift e comecei a rir sozinha. O que ele ia fazer? Começar a dançar em
cima de mim?
Nunca mais vou cogitar essa hipótese.
Já estava separada de John e senti um esbarrão nas costas, me lançando alguns
centímetros pro lado. Danny me olhava com uma irônica cara de desculpas e meu
sangue começou a borbulhar. Puxei John com tudo pelo pescoço e engatei um beijo
selvagem, com direito a sangue se facilitar. Coloquei minhas mãos embaixo de sua
camisa com o único objetivo de excitá­lo mais do que ele já estava, e senti um de
seus dedos brincando com o fecho de trás da minha blusa. Não, aqui não,
O’Callaghan. Ficar pelada já era demais.
Puxei John na direção de Danny e dei com as costas nas dele com toda a minha força
humana. Aquilo era muito idiota mas eu não ia ficar parada. Você também não
ficaria.
­ Você quer que eu soque ele? Vai ser mais rápido e prático, e essa palhaçada vai
terminar. – John sussurrou no meu ouvido depois de dez minutos de agarração.
­ Não ouse. – Sibilei sem tirar os olhos de Danny que estava de costas. Me virei
novamente para encarar John e pensar em um novo plano quando senti alguém
passar a mão na minha bunda. Olhei para as mãos de John, que estavam atrás de
seu corpo. Espremi meus olhos de raiva e me virei para Danny, agora ele estava
mudando a tática? Ele me olhou com uma cara de superior e, como ele estava bem
perto, não precisei me aproximar muito para lhe dar um tapa na cara. John segurou
meu braço e Danny colocou a mão no rosto, abismado.
­ QUE PORRA É ESSA? – gritou ele soltando a mão de Mary do seu braço e vindo na
minha direção. Ah, ele ia me bater?
Quase. Ele me empurrou e eu bati meu corpo contra o de John, que me passou pra
trás e foi pra cima de Danny. Ops.
Puxei John pela camisa para longe de Danny, que encarava o amigo
desafiadoramente.
­ Pare de passar a mão em mim! – berrei a centímetros de seu rosto, segurando
minhas mãos. Eu estava com muita raiva.
­ Eu não estou nem aí pra você! Pare de inventar motivos pra falar comigo!
­ EU TENHO MOTIVOS DE SOBRA PRA FALAR COM VOCÊ, SE NÃO SABE.
­ Ah, é? Eu não tenho nenhum. Agora me deixe em paz.
­ Você continua o mesmo covarde. – murmurei mais para mim mesma mas ele ficou
imóvel, de costas. Senti a mão de John no meu ombro, o que não adiantou em
muita coisa. Danny em menos de um segundo pegou meu pulso com força e
começou a me arrastar pra fora da pista. Que porra ele estava fazendo?
Tentei cravar meus pés no chão mas ele continuou me puxando, minha força nem se
comparava com a dele. Meu pulso estava latejando. Quando vi estávamos na frente
do banheiro feminino. Ele chutou a porta e me puxou pra dentro, trancando logo em
seguida. Verificou se não tinha ninguém nas cabines, chutando as portas feito o que
ele era mesmo, um selvagem. Eu estava imóvel encostada na pia, esperando ele
começar o ataque.
­ O QUE VOCÊ QUER? – gritei sem paciência quando ele chutou o lixo. Se ele estava
achando que ia me meter medo chutando as coisas, estava bem enganado. Não
custava muito pra eu chutar a cara dele e parar com aquela idiotice.
­ PARE DE SE FAZER DE RIDÍCULA! O QUE JOHN ESTÁ FAZENDO AQUI?
­ Bom, ele é meu namorado. Aceite.
­ Cale a boca, Mell. Ele está fazendo um favor pra você.

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Minha boca se abriu sem saber o que dizer. Eu não estava acreditando que ele tinha
dito aquilo. Involuntariamente lhe dei um soco no rosto, logo depois uma joelhada
no meio das pernas. Ele se ajoelhou no chão, gemendo de dor.
­ Pense duas vezes antes de falar merdas típicas de quem não sabe uma porra da
vida. Bem vindo à cidade grande, Daniel.
Ele levantou o rosto, o nariz pingando de sangue. Eu não sabia que era capaz de
fazer aquilo com um homem forte. Parabéns, Mell. Nível dois: lutadores profissionais.
­ Qual o seu problema?
­ Quer perder o pênis? Porque ele não serve pra muita coisa.
­ Não serve. – debochou ele, soltando uma risada assustadora. – Você gemendo em
cima de mim mostra realmente como meu pênis não serve pra muita coisa.
­ Porco estúpido. Não sei como alguém pode gostar de você.
­ Você é apaixonada por esse porco estúpido. Eu posso sentir sua vontade de tirar a
roupa nesse exato momento.
­ O que aconteceu com você? Virou um monstro!
­ Não, é que você não conhecia esse lado.
­ Esse lado que surge quando você está pateticamente enciumado? Você não faz
ideia de como John é melhor. Em tudo.
­ Então porque está aqui? Se não sentisse mais nada por mim não estaria tentando
me fazer ciúmes com meu melhor amigo. Estaria fodendo com ele.
­ POR QUE VOCÊ TERMINOU COMIGO?
­ PORQUE EU VOU TER UM FILHO COM OUTRA PESSOA! QUE MERDA!
Meus olhos começaram a marejar e eu dei alguns passos desajeitados até a porta.
­ Espere. Me desculpe.
Destranquei a porta e a abri.
­ Mell. Me desculpe, não sei o que me deu!
Fui puxada pra fora do banheiro e a porta se fechou. John me agarrava pelo ombro
me encarando nervoso.
­ O que ele fez? Droga, eu deveria prever essa situação. Danny se descontrola muito
fácil.
­ Não fez nada. Eu que fiz. Não deveria ter vindo aqui com você. O que é isso?
Ele olhou para a mão, que segurava um cigarro.
­ Nada.
Inspirei a fumaça e respondi minhas dúvidas. Onde ele conseguia aquelas coisas?
Puxei o baseado da mão dele e dei uma tragada toda errada.
­ Mell! Pare com isso! Essas coisas não são pra você!
­ Porque todo mundo acha que sabe da minha vida? – murmurei continuando a
tragar, desviando de John que tentava sem sucesso me alcançar.
Danny saiu do banheiro, já não estava mais sangrando e parecia ter lavado o rosto.
Encarou nossa cena sem entender. Traguei o baseado sem tirar os olhos dele, que
arregalou os próprios. Mancou até a gente e tirou o cigarro das minhas mãos.
­ O que está fazendo? Não vou deixar você usar as merdas do John!
­ Vá se foder, quem você pensa que é?
­ Ainda sou seu primo.
Ele jogou o baseado no chão e pisou, o apagando. Olhou para o amigo com uma
expressão de incredulidade.
­ Eu a deixo com você e é isso que faz?
­ O quê? – perguntei com a voz esganiçada.
­ Ela arrancou o bagulho de mim. Você nem estava aqui!
­ Puta merda, John. Pensei que tinha um pingo de responsabilidade. Desde quando
você fuma maconha? – Ele me olhou por último.
­ Desde quando eu devo explicações pra alguém que me trata do jeito que você me
tratou há minutos?
­ O que você fez? – perguntou John todo enrolado.
­ Não se meta.
­ Tem alguma coisa muito estranha em você e no seu relacionamento sem sentido
com essa Mary. Você está diferente. – falei o olhando estranho.

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­ Não, você não entende.


­ É, eu não entendo. – concordei, puxando John pela mão e deixando Danny sozinho
beirando o abandono.

Capítulo 8

O ser humano ainda tem que ser estudado muito a fundo para se compreender tudo
o que acontece num cérebro apaixonado e rejeitado. Fica a dica para os psiquiatras,
psicólogos, psicotudo. A raiva, a vergonha, a humilhação e o arrependimento eram
apenas parte do que eu estava sentindo, porque a porcentagem maior era de
tristeza. Eu não queria aquilo pra mim, ficar vivendo em função de um cara que
provavelmente não dava mais a mínima pra mim porque ia ter um filho com outra.
Eu precisava parar. Parar de tentar.
Respirei o ar gelado profundamente, sentindo minha garganta doer pelo frio que
estava fazendo. Uma lágrima escorreu pelo meu rosto e eu limpei rapidamente, com
vergonha de que alguém me visse chorando por um canalha. Sem aviso prévio, uma
garrafa de cerveja surgiu na minha frente. John sentou ao meu lado, no meio fio da
calçada em frente ao estabelecimento e deu um grande gole na sua.
­ Eu sinto muito por não ter dado certo. – murmurou ele tragando com emoção o
baseado nas suas mãos. Encarei o movimento imaginando meu rosto inchado e
horrível, achando desumano que alguém precisasse me ver naquele estado.
­ Me responda uma coisa. – falei, minha voz saindo totalmente falha, enquanto eu
abria a garrafa.
­ Fale.
­ Você está fazendo um favor pra mim? É assim que vê as coisas?
Sim, era verdade, tudo o que Danny tinha me falado no banheiro horas atrás estava
martelando na minha cabeça. Eu estava realmente chateada com tudo.
­ Claro que não, já disse que gosto de você. Assim como gosto dele, é difícil explicar,
mas tenho certeza que se não fosse eu aqui as coisas seriam bem piores. Danny
poderia estar no hospital ou sei lá.
­ O que quer dizer?
­ Quero dizer que você iria arranjar um cara qualquer pra fazer ciúmes pra ele, e ele ia
se sentir muito pior do que deve estar se sentindo por causa da gente. E eu acho
que nessas horas você precisa de alguém que se importe com o que está
acontecendo, não qualquer um.
Eu estava mais confusa do que antes.
­ Você quer dizer que está fazendo isso porque gosta da gente?
­ É por aí. Sabe Mell, com os homens o negócio é diferente. A gente não sente essa
raiva que as mulheres sentem entre si quando uma está com o cara da outra. Parece
estranho, mais é mais deprimente que isso.
­ Danny não vai concordar com isso, ele está morrendo de raiva mesmo.
­ Ele está arrasado, e vai continuar assim até eu conversar com ele e explicar o que
está acontecendo.
­ Você não vai fazer isso!
­ Não acha melhor eu entender o ponto de vista dele e te falar depois?
­ Ele já sabe de tudo, eu é que não sei de nada. Ele está muito estranho com aquela
Mary.
­ Se eu conversar com ele, tenho certeza que ele vai me falar a verdade. Somos
amigos há muito tempo, ele sabe que não consegue mentir pra mim. Da mesma
forma que sua amiga Alice sabe todos os detalhes da história de vocês, eu também
sei.
­ Não quero que fale com ele, estou cansada do Danny.

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­ Não, você está cansada de fugir da realidade.


Alguém abriu a porta do bar e a música entorpecente se adornou da calçada por
alguns segundos. Uma garota discutia com um cara. Apoiei minha testa em uma das
minhas mãos e massageei os cantos dos meus olhos, odiava o fato de John saber
tudo o que eu sentia em menos de um mês. Por acaso músicos têm algum tipo de
poder que pessoas normais não tem?
Bebi um grande gole da garrafa, não ia fazer diferença nenhuma ficar bêbada, o
negócio estava tão complicado que nem cachaça ia me fazer esquecer. Mas ia me
deixar um pouco relaxada.
­ Não acha que vale a pena lutar por um amor? Pelo amor?
­ Quando é recíproco. O problema é que ele parece estar mais preocupado com esse
filho do que comigo.
­ É normal e esperado. É uma criança, Mell. Um ser humano. Você não é a única na
vida dele, o cara deve estar enlouquecendo.
­ Vai defender muito ele?
­ Estou defendendo o amor de vocês dois... que é maior do que tudo isso. Toda essa
besteira de fazer ciúmes, isso não vai mudar nada.
­ Então o que você quer que eu faça, John? Espere ele pra sempre? Quer dizer, nem
o pra sempre vai ser suficiente já que ele vai casar com a Mary e ter a própria família.
O negócio é esperar a próxima encarnação porque essa daqui tá difícil.
­ Está tudo escrito, tenha paciência. – disse ele fungando profundamente e tragando
o baseado, olhando em direção ao céu estrelado.
­ Conversar com você é tipo ouvir uma música.
­ E isso é bom?
­ É impressionante.
A porta se abriu novamente e Alice e Kennedy foram expelidos do lado de dentro
feito dois bêbados no final da carreira. Na verdade a parte do bêbados era verdade,
somando com os baseados nas mãos dos dois. Arregalei os olhos, achando que Alice
era mais ingênua. Levantamos do meio fio e cada um segurou seu respectivo amigo,
Alice não parava de rir enquanto eu tentava agarrar seus braços e fazê­la parar de se
mexer.
­ Você não fica assim quando bebe e fuma. – concluí, encarando John assustada.
­ Eu sou veterano nessa área, já o Kennedy além de virar um panaca leva os outros
junto. Vamos embora.
­ Hm, você sabe se o Danny foi embora? – hesitei antes de perguntar, já arrastando
Alice pela calçada atrás de John e Kennedy. Ele me olhou sério.
­ Não sei.
­ Danny está caidiiiinho por você. É só tirar a roupa – disse Alice de olhos fechados e
eu suspirei.
­ Assim como você está por mim, quer dizer. – riu Kennedy e John o olhou estranho.
­ O quê? Vocês estão de casinho, é isso?
­ Está bravo, papai? Ops, esqueci de pedir a mão da moça.
Alice gargalhou, fazendo minha cabeça latejar de dor.

°°°
Por mais que o quarto estivesse silencioso, meus ouvidos estavam sob um apito
constante, me impedindo de pegar no sono pelo resto da noite. Levantei da cama o
mais silenciosamente que pude, tentando evitar qualquer movimento que acordasse
Mary ao meu lado. Eu estava me sentindo sujo, e essa sujeira era interna e
externamente. Saí do quarto, antes pegando uma roupa qualquer no armário, e
entrei no banheiro do outro lado do corredor. Meus olhos mal se abriam.
Entrei embaixo da água gelada, esperando que a temperatura me acordasse e me
ajudasse a pensar se o que eu estava fazendo fazia algum sentido. Fingir que não me
importava com a Mell porque Mary estava me chantageando. Se eu não o fizesse,
provavelmente toda a nossa família morreria, se desintegraria e me condenaria
eternamente. E Mell não sairia ilesa também. Era melhor mesmo seguir em frente
com isso? Eu precisava conversar com alguém, não estava mais agüentando passar

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por aquilo tudo sozinho.


Coloquei o pé fora do banheiro e meu celular gritou, em cima da mesa da sala. Me
xinguei mentalmente, tudo o que eu menos queria era acordar Mary. Pelo menos ela
voltaria pra Bolton hoje e eu estava parcialmente livre da confusão.
Abri o celular e esperei a pessoa se manifestar do outro lado da linha.
­ Danny?
A voz de John me surpreendeu e eu andei até a janela do apartamento,
completamente tenso.
­ John?
­ Hun, você não quer tomar um café? Eu preciso conversar com você.
­ Por quê?
­ Acho que sabe a resposta.
­ Não sei se precisamos conversar.
­ É sério, Daniel, na boa. Sei que precisa conversar comigo.
­ E você eliminou o que fez comigo ontem de noite, é isso?
­ A noite de ontem é um dos motivos.
Suspirei, fechando os olhos.
­ Tudo bem.
­ Me encontre na Starbucks de Notting Hill.
Olhei o relógio na parede da sala, marcava nove da manhã.
­ Vou demorar pra chegar.
­ Não tem problema.
John desligou e eu fechei o celular, pegando meu casaco em cima do sofá, minha
carteira na bancada da cozinha e saindo com muito receio do apartamento.

Praticamente uma hora depois, cheguei ao destino imposto por John, ele não
poderia ter escolhido lugar mais complicado. Empurrei a porta pesada do café e olhei
em volta, procurando uma girafa. Meus olhos caíram sobre um John no canto mais
obscuro do lugar, de óculos escuros e um sobretudo preto. Parecia um espião.
Segurei a risada, eu sentia falta daquele desgraçado. Andei meio tenso até sua mesa,
que ficava ao lado da janela.
­ Desculpe a demora. – murmurei, me sentando em sua frente.
­ Sem problemas – disse ele dando um gole no copo de café. – Como está?
­ Levando. O que está fazendo aqui? É meio longe da sua casa. E da minha também.
­ Eu estava vendo uma loja de vinis, mas isso não vem ao caso. Eu queria explicar
meu lado do rolo todo, pra você entender o porquê de eu não ser um filho da puta.
Uma atendente nos interrompeu, me perguntando se eu queria alguma coisa. Pedi
um mocaccino e ela se afastou.
­ Ok, continue.
­ Bom, por mais estranho que pareça, estou torcendo por vocês dois. Você sabe que
eu quero o seu melhor.
­ Namorando a garota que eu amo?
­ Tem noção de como seria pior se fosse qualquer outro cara no meu lugar? Um
desconhecido se envolvendo nesse assunto sério e delicado?
Fiquei em silêncio.
­ Danny, eu adquiri um grande carinho pela sua prima e eu meio que estou cuidando
dela nesse meio tempo, entende. Como eu te conheço, fica mais fácil conversar com
ela sobre esse assunto. Ela precisa de alguém pra segurar as pontas, ela está
enlouquecendo.
­ Eu também, e você fica do lado dela. Muito estranho.
­ Eu estou do lado de vocês dois, cara! Eu quero que tudo dê certo!
­ Por que transou com ela se está torcendo pela gente? E eu tenho certeza que vocês
têm os seus momentos mesmo quando não estão me fazendo ciúmes, eu te
conheço, John.
­ Ela estava carente e se sentindo desprezada por você, o que mais queria que eu
fizesse?
­ Qualquer coisa menos transar com ela! Meu Deus!

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­ Ela se sentiu bem mais confiante depois da nossa noite, se quer saber. Acho até
que teve mais certeza que quer continuar com você mesmo, porque depois que as
garotas se rendem aos meus encantos, esquecem do resto. Ela não esqueceu de
você.
­ Que coisa, hein? – concordei irônico, achando tudo aquilo um absurdo.
­ Eu sei que eu errei, Danny, mas você também não tem toda a moral do mundo.
Engravidou outra garota e está com ela... Como você acha que a Mell está?
­ Você não entende.
­ É, eu te chamei aqui pra entender.
O olhei nos olhos e pela primeira vez percebi que ele estava sendo o mais verdadeiro
possível, e que eu ainda tinha o meu melhor amigo na minha frente, apesar de tudo.
­ Não sei se estou fazendo a coisa certa, John. – murmurei e fomos interrompidos
novamente pelo meu pedido trazido pela atendente.
­ O que está fazendo?
Mexi o líquido por alguns segundos, em dúvida sobre até que ponto contar a ele.
­ Mary está me chantageando, disse que se eu não ficar com ela e continuar com a
Mell, vai contar tudo pra nossa família.
John me encarou impressionado por um tempo.
­ Nossa.
­ Pois é.
­ Então você está com a Mary para proteger o que aconteceu e está acontecendo
entre você e a Mell?
­ Exato. Ela se tornou obsessiva e maníaca, me ameaçou da forma mais cruel
possível.
­ Se ela não tivesse feito isso você estaria com a Mell agora?
­ É claro que sim, antes da Mary chegar em Londres eu já tinha passado uma noite
com a Mell aqui. Achei que iríamos começar a namorar.
­ Que loucura.
­ Eu não sei mais o que fazer, John. Você precisa me ajudar.
Deitei meu tronco na mesa sentindo o desespero tomar conta ao verbalizar os
acontecimentos.
­ Acha que sua família vai ficar muito doida se souber a verdade?
­ Está brincando? Meu pai e o pai da Mell são as pessoas mais conservadoras da face
da terra. Os caras são do interior, totalmente fechados pra esse tipo de coisa fora do
comum. Iriam me mandar pra outro país ou me expulsar da família.
­ Você sabe que essa mentira não vai durar pra sempre, né? Só se vocês seguirem
caminhos diferentes na vida e esquecerem do que aconteceu. Mas pelo seu estado
isso não vai acontecer.
­ Como eu vou esquecer a garota que eu amo? Ela está na minha cabeça 24 horas
por dia, quando estou acordado e quando estou dormindo sonho com ela. Se ela for
embora, eu não sei o que vai ser de mim. Ela já foi uma vez, não quero perder ela de
novo.
­ Parece que alguém lá em cima está do lado de vocês, pra te mandar aqui pra
Londres atrás dela.
­ Isso se chama destino.
­ Isso se chama Jesus Cristo.
­ Enfim, o que eu faço?
­ Eu sugiro conversar com a Mell e explicar que você não está com ela por causa da
chantagem da Mary.
­ Está maluco? Ela vai surtar, vai querer ir atrás da Mary e acabar com a vida da
garota e do meu filho. Sem chance.
­ Você quer continuar com isso?
­ Eu achei que se eu fingisse que não amava mais ela, ela hipoteticamente poderia
desistir de mim e encontrar outra pessoa mais digna.
­ Você conseguiria?
­ Claro que não, eu iria correr atrás dela até ouvir da sua boca que não me amava
mais e que tinha desistido de mim. E mesmo assim não ia adiantar nada, eu não iria

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me recuperar completamente. Sabe o que é isso? Eu amo essa garota desde criança.
Não vai mudar.
­ Desculpe Danny, mas se ama tanto ela acho que deveria estar disposto a contar
toda a verdade para a sua família.
­ Não posso, não ainda. Você precisa me prometer que não vai contar nada dessa
conversa pra ela.
­ Tudo bem. Como eu posso ajudar?
­ Bom, eu vou ter que continuar com o meu plano ridículo de ignorar o fato de amar
ela, você precisa dizer pra ela não desistir de mim.
­ Eu não preciso dizer isso, ela não vai.
­ Evite que ela faça qualquer coisa resultante do meu afastamento momentâneo.
John apertou os olhos tentando entender minha frase atropelada.
­ O quê?
­ Não deixe ela fazer nada de errado! Ela deve estar muito chateada, mas eu não
posso fazer nada.
­ Não vou deixar, Danny. É por isso que estou com ela.
­ Temos um trato?
­ É claro, não se preocupe.
­ E não fique beijando ela e afins. Não precisa fazer isso.
­ Eu estou namorando a garota, Daniel. Se eu não fizer isso, ela vai se sentir pior
ainda. Pare de ser neurótico possessivo, meus beijos não vão mudar o que ela sente
por você.
­ Ótimo. – murmurei emburrado, tomando um gole do mocaccino.

°°°

­ Será que eu fiquei com o Kennedy?


Estava completamente compenetrada na minha leitura sobre a história da moda no
mundo, porque, pra facilitar mais ainda a minha vida, eu tinha prova segunda­feira e
não tinha lembrado. Alice sentou na minha cama e ficou me encarando até eu
responder. Respirei fundo, tentando acalmar meus nervos.
­ Você realmente acha que eu vou saber se você beijou o Kennedy depois de tudo o
que me aconteceu? Eu nem ao menos te vi direito.
­ Estou com vergonha de falar com ele sem saber se nos beijamos. Imagina se
demos o maior amasso? Droga, nunca mais bebo e fumo. E eu lá fumo? Por que
aliás eu fumei? Sabe o que é isso? Menos dez segundos de vida, de acordo com
estudos comprovados.
­ Sabe o que eu descobri essa manhã? Que não vai ser um desfile coisa nenhuma
hoje, vai ser uma palestra. Por que eles não se decidem?
­ Então porque você achou que ia ser um desfile?
­ Me falaram que era um...
­ Viu, não presta atenção na aula e tem que perguntar pra quem não sabe depois.
­ Isso se chama primo caipira atrapalhando a minha concentração.
­ Você deve ficar imaginando cenas de sexo com o Danny durante as aulas.
A olhei imóvel por alguns segundos.
­ Essa palestra não é só pro meu curso, provavelmente o Bri também vai. Graças a
Deus não preciso mendigar companhia.
­ Falando no Bri, qual é a dele? Anda sumido. Não fala mais com a gente...
­ Vou descobrir hoje. Será que ele está com alguém? Ai meu Deus, será que ele é gay
e está com vergonha de contar?
­ Claro que não, ele gosta de você.
­ Por que você insiste nesse assunto?
­ Porque é verdade.
­ Era verdade.
­ Você nunca vai contar pra ele sobre o Danny? Ele merece saber, é nosso melhor
amigo.
­ Estava pensando em contar pra ele hoje...

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­ Faça isso, mas evite os detalhes sexuais. Isso nem eu sei.


­ Pode deixar. – concordei com ironia mas ela não percebeu.

°°°
Mary colocou sua última blusa de volta na bolsa que havia trazido consigo de Bolton,
sentindo um pouco de raiva por ter de partir assim tão cedo. Longe de Londres não
conseguiria ter o controle que gostaria da situação, mas ela tinha uma ajuda muito
conveniente.
Pegou o celular dentro da bolsa que estava em cima da cama e discou o número que
a ajudaria.
­ Alô?
Uma voz doce atendeu do outro lado da linha e Mary sorriu.
­ Michelle.
­ Mary? Você não ia embora hoje?
­ E vou, só preciso confirmar se lembra de todos os passos. Não vou estar aqui para
dizer a você o que fazer.
­ Eu sei o que fazer, e ele também sabe. Não se preocupe, hoje mesmo ele vai
começar. No final da semana acabou tudo.
­ Vai levar muito mais tempo, as coisas não se resolvem em uma semana.
­ Phillip acha que não é uma boa ideia, mas se você diz...
­ Quem é Phillip pra achar alguma coisa, meu Deus? Ele concordou em não se meter
no assunto mais.
­ Bom, você está envolvendo alguém que faz parte da família dele, ou seja, ele meio
que está no meio também.
­ Esqueça esse idiota, nem é bom falar dele dentro do apartamento do Danny.
Quando eu voltar pra Bolton vou esclarecer algumas coisas com esse garoto.
­ Calma, até parece que ele vai...
­ Pare com isso, não mude o assunto. Me ligue depois que essa palestra terminar.
Preciso saber como ele se saiu no primeiro dia.
­ É sério, não se preocupe. O poder da sedução é de família.
­ Espero que seja mesmo. Se nem você o beijando funcionou, só nos resta essa
última opção.
­ Desculpe, mas seu queridinho é muito apaixonado pela prima.
­ Eu não te perguntei. Essa palhaçada vai terminar, escreva o que eu digo.
­ Você me dá medo, às vezes.
­ Melhor assim, sabe o que vai acontecer se vocês falharem.

Capítulo betado por Amy Wonder

Capítulo 9

Você vai ter que aprender a conviver com isso. Minha consciência era extremamente
determinada, mas meu coração era um poço de dúvidas e indecisões. O mistério está
todo dentro de nós mesmos, o segredo é decifrar o que é certo e seguir em frente.
Eu estava começando a acreditar que, se o erro se repetia tantas vezes, era porque
não era pra ser. Aceite isso, minha mente ordenava.
Meu coração dizia o contrário.
­ Bri está na sala te esperando.
A voz de Alice me tirou das minhas conspirações internas e eu encarei meu rosto pela
última vez no espelho do armário. É a vida, disse o meu reflexo com uma certeza
duvidosa.
Que droga essa vida.
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Peguei minha bolsa e meu sobretudo vermelho em cima da cama, prevendo uma
chuva impiedosa. Foda­se, eu ia parecer a chapeuzinho vermelho.
Bri sorriu ao me ver parar em sua frente, já no primeiro andar. Ele estava sentado de
uma forma nobre no sofá. Estava até bem elegante. Sorri de volta, sentindo uma
saudade repentina dele.
­ Quanto tempo, hein? – disse ele antes de levantar e me abraçar. Já comentei como
os abraços dele limpam a minha alma? Estou inspirada ultimamente.
­ Nunca mais desapareça por mais de uma semana.
­ Os estudos me matam. Prometo te dar mais atenção. Como está?
­ Hm, é. Precisamos conversar sobre esse fator.
­ O fator “como anda a sua vida”?
­ Exatamente.
­ Lá vamos nós, para as profundezas da vida obscura de uma pós­adolescente em
crise.
­ Não estou em crise. Pelo menos acho que não.
­ Me conte no caminho.

Bri parou o carro em uma das vagas do estacionamento da universidade, desligando


o motor e, assim, deixando tudo no breu. Por um momento ficamos em silêncio,
durante o percurso inteiro eu contei tudo o que estava acontecendo na minha vida,
evitando alguns detalhes “eróticos” desnecessários e particulares demais. Ele não
havia dito uma palavra, portanto eu não sabia de sua opinião em relação ao que eu
sentia por Danny e vice­versa. Quer dizer, não sei mais se existe um vice­versa.
­ O que vai fazer agora? – Ele quebrou o silêncio. Respondi com um suspiro meio
desesperado.
­ Não faço ideia.
­ Eu sabia que você estava com um problema e não estava me contando.
­ Danny não é um problema. E eu não te contei porque estava com medo que você
me rejeitasse.
­ Então você tem uma ideia bem estranha sobre mim. Eu nunca vou te deixar.
­ Me desculpe, queria ter te contado antes. Você meio que sumiu.
­ Você ama ele, não é? Mesmo?
Ele me olhou e eu pude distinguir apenas sua silhueta na escuridão.
­ Mais do que eu queria.
Um raio atravessou o céu, fazendo tudo se iluminar por um segundo. Seguido, veio
o trovão. Começava a chover.
­ Ótimo. – murmurou Bri, eu não sabia se ele estava falando da minha resposta ou
da chuva.
­ Foi tudo tão rápido. Como se de repente um sentimento adormecido dentro de
mim acordasse depois de anos.
­ Não vou mentir pra você, não gosto nada disso.
­ Eu sabia que você não iria gostar. Mais um motivo para eu relutar.
­ Nada é como era antes, não é? – perguntou ele, me olhando e mordendo o lábio
em dúvida. – Você não sente mais o que sentia por mim.
­ Como sabe que eu sentia algo por você?
­ Porque eu também sentia.
Um tapa na cara doeria menos. Silêncio constrangedor. Talvez nem tanto, nossa
intimidade permitia que momentos como esse não fossem tão estranhos como
deveriam ser.
­ Eu sinto muito. Você ainda sente alguma coisa?
­ Eu amo você, Mell. E é isso que me permite entender o seu lado. Você é muito
importante pra mim, vou te apoiar em qualquer escolha. Bom, até o momento em
que esse caipira idiota te decepcionar, então eu interfiro.
­ Então é melhor você interferir, porque eu não poderia estar mais decepcionada.
­ Eu falo pra ele te deixar em paz, tudo bem?
­ Não, Bri. Eu quero o contrário.
Virei o rosto para a janela, já molhada pelas gotas da chuva, sentindo algumas

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lágrimas ameaçarem despencar.


­ É isso que te aflige?
­ Não sei se ele me ama mais. Isso me corrói. Ele está distante, não consigo mais
entender o que ele está sentindo quando olho em seus olhos. Danny mudou.
­ Bom, existe o fator Mary e gravidez. Isso não impede tanto assim o amor de vocês
dois.
­ Claro que impede, Danny parece estar aceitando o fato de que terá de casar e ter
uma vida conjugal com ela.
­ Eu não sei o que fazer, Mell. Se ele quer seguir em frente, acho que você deveria
seguir também. Eu não o conheço, não sei como ele é. Se soubesse seria mais fácil.
­ Você não faria o que está dizendo.
­ Eu estou fazendo.
­ Bri, eu sinto muito por não corresponder mais aos seus sentimentos, mas eu sei
que a nossa amizade é maior que isso. Eu simplesmente não posso viver sem ele,
então não me diga para seguir em frente.
­ Você vai se matar se ele não quiser ficar com você, é isso?
­ Claro que não, só não vou conseguir amar mais ninguém.
­ Mell, por favor, você é jovem. Se eu posso, você também pode. Da mesma forma
que eu te amo e quero o melhor para você, você também o ama e quer que ele seja
feliz. Se ele escolheu ficar com ela, não tem mais o que fazer.
­ Ainda não terminou. Eu tenho vontade de me jogar de um penhasco cada vez que
eu penso nele, porque ele não merece, mas é inevitável.
­ Então dê um tempo, quem sabe ele também está fazendo isso.
­ Estou exigindo demais de você, me desculpe. Estou amolando todo mundo com os
meus problemas e nem sei dos seus. Quer conversar?
­ A palestra vai começar, é melhor a gente entrar.
Bri abriu a porta do carro, deu a volta e abriu a minha. Fez sinal para eu colocar o
capuz. O mundo estava caindo, em todos os sentidos.

Até chegar ao pavilhão onde se localizava o auditório, nós já estávamos praticamente


encharcados. De nada adiantou aquele sobretudo idiota, meu cabelo deveria estar
uma vassoura velha. Algumas pessoas estavam paradas conversando na área coberta
em frente à porta de entrada. Uma música ambiente tocava, era mesmo uma espécie
de evento. Um segurança imóvel estava parado na frente da porta. Ao lado, havia
um bar que eu nunca tinha notado. Alguns alunos e pessoas alheias tomavam café.
­ Quer alguma coisa?
­ Você vai comprar algo?
­ Eu ia comprar um café pra mim.
­ Então eu te acompanho.
Bri se afastou, me deixando parada meio desconfortável no meio de tantas pessoas
que eu desconhecia. Algumas eu conhecia das aulas, alguns eram até meus colegas.
Poucos.
Puxei a manga do sobretudo e dei uma olhada no relógio. Ainda faltava meia hora
pra começar. Quando levantei o olhar novamente, meu coração disparou. Tenho
certeza de que minha frequência cardíaca, de oitenta, passou para cento e cinquenta.
Estava escuro e chovendo, mas eu reconheci Danny andando embaixo da chuva,
passando reto pelo pavilhão. Ele não estava tão longe, se olhasse para minha direção
com certeza me veria.
Ele olhou.
Danny estava com um moletom da universidade, usando o capuz. Estava todo
molhado e andava com pressa, até colocar os olhos em mim. Tirou uma das mãos do
bolso e abaixou o capuz, sua expressão estava séria.
Por um momento achei que ele iria se aproximar e falar comigo.
O que ele fez a seguir me machucou mais do que qualquer agressão física ou
qualquer palavra. Ele virou o rosto e continuou andando, como se eu não estivesse
ali.
Não consegui acreditar. Meus olhos se encheram de lágrimas e eu segurei um grito

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de raiva na minha garganta. Estava cansada de chorar por ele. Era todo dia, toda
hora. Não queria que Bri me visse chorando, ele iria ficar chateado.
Tirei meu convite do bolso e entreguei ao segurança. Ele arrancou a parte destacável
e me entregou a que sobrou. Entrei apressada, desviando de algumas pessoas na
entrada. O auditório era uma espécie de teatro antiquado e muito grande. Continuei
andando sem rumo, limpando algumas lágrimas.
Uma dor lancinante se apossou do meu ombro ao esbarrar em alguém, mais alto que
eu.
­ Me desculpe. – murmurei sem olhar para a pessoa, mas ela segurou o meu braço.
­ Ei, o que houve? – perguntou ele segurando de leve o meu pulso. Olhei pra trás e
dei de cara com um estranho. Um estranho muito lindo e loiro.
­ Nada. – respondi fungando e limpando o rosto com pressa.
­ Não fui eu, né? Eu não te vi, desculpa.
­ Não, não tem nada a ver com você.
­ Você estuda aqui? – continuou ele, soltando o meu pulso. Não tinha percebido que
ele estava segurando por todo esse tempo. A pele onde ele havia tocado estava
formigando.
­ Sim, faço moda. Nunca vi você por aqui.
­ Eu sou aluno novo. Prazer, Alex.
­ Mell. – respondi com um sorriso que não deveria estar ali. Qual era o meu
problema? Estava cheia de gracinhas num momento crítico.
­ Eu faço publicidade, achei que seria interessante assistir a essa palestra. Sabe sobre
o que é?
­ Não muito bem. Eu não sei de nada, na verdade.
Ele riu, senti meu rosto corar. O desgraçado era lindo e seu charme era um pouco
familiar.
­ Se sentar comigo podemos compartilhar a ignorância. Você pode até me contar, se
achar adequado, o que te fez chorar.
­ Hm... – olhei para a entrada, esperando encontrar Bri. Nada. – Eu estou
acompanhada.
­ Namorado?
­ Não, não. É um velho amigo.
­ Não vejo problemas, então.
­ Eu encontro ele depois.
O que eu, pelo amor de Deus, estava fazendo?
Eu tinha acabado de levar um fora não­verbal do Danny e estava agindo como se ele
não existisse. Pare com isso. É só um cara lindo bonitinho dando em cima de você.
Nada incomum.
O acompanhei até sua poltrona e sentei do seu lado.
­ Problemas amorosos?
­ Como sabe?
­ O jeito que você me olhou. O sofrimento estava transbordando junto com suas
lágrimas. Ele deve ser muito importante.
­ É.
­ Ele te viu com o seu amigo e ficou chateado?
­ Longe disso. Ele está me ignorando por motivos desconhecidos.
­ Bom, ele está fazendo o contrário do que se deveria fazer com uma garota tão
bonita como você. Sorte minha.
Sorri involuntariamente. Ô desgraça, mulher não resiste à cantadas desse tipo.
­ É deprimente, não é motivo pra se comemorar.
­ Pense pelo lado bom. Você me conheceu por causa dele.
­ Primeiro lado bom na história até agora. Enfim, não quero falar dele. Você é de
Londres mesmo?
­ Sim, você também?
­ Nasci aqui, mas minha família é do interior.
­ Legal, que cidade?
­ Bolton. Você conhece algum estudante já?

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­ Sou um peixe fora d’água. Achei que vir nessa palestra iria favorecer a minha
socialização. Deu certo.
­ Conversar comigo não é bem se socializar. Existem milhões de garotas mais
sociáveis, eu sou apenas uma melancólica deslocada.
­ Gosto das melancólicas. Dão um drama a mais na relação.
As luzes diminuíram e percebi que quase todos os lugares já estavam preenchidos.
Bri iria me matar. Uma agitação suspeita no palco principal. A palestra iria começar. O
retroprojetor foi ligado e um vídeo começou a rodar no grande telão que eu também
não tinha percebido estar ali.

No geral, foi tudo uma chatice. Explicaram detalhe por detalhe as táticas de se
vender um produto, todo o esquema de oferta e procura e afins. A única coisa
empolgante era a mão de Alex esbarrando na minha eventualmente, me deixando
nervosa e com uma empolgação vergonhosa. Então eu voltava a pensar em Danny e
tudo desmoronava. Era sempre assim. Quando eu tinha um vestígio de alegria na
minha vida, vinha o Danny e estragava tudo. Antes era porque nos odiávamos
mesmo, agora é porque eu o amo demais. E tudo me faz pensar nele. Ó Deus, todo
poderoso, quando isso vai chegar ao fim?
A palestra terminou, as luzes se acenderam e meus olhos arderam pela claridade
repentina. Alex se espreguiçou levantando os braços num movimento sexy e
ensaiado, me deixando fora do ar por alguns segundos.
­ Preciso procurar o Bri, ele deve estar bravo comigo.
Levantei, ele levantou junto.
­ Antes de você sair correndo de novo, não vai me dar a honra de me passar o seu
telefone? Nossa relação não pode terminar tão cedo.
Eu ri.
­ Olha Alex, minha vida amorosa está um lixo. Não sei se é o melhor momento pra
gente ter qualquer coisa.
­ Nossa, cortou todas as minhas esperanças pela raiz. Não, é sério, eu gostei de você.
Não podemos ser amigos?
­ Bom, então tudo bem.
Abri minha bolsa e vasculhei uma caneta. Peguei sua mão e anotei o meu celular. Ele
olhou pra mão com orgulho, ficando sério logo em seguida.
­ Espero que não tenha colocado o número errado. Já caí nessa.
­ Alguma garota já fez isso com você? – perguntei rindo.
­ Não, mas nos filmes elas fazem.
­ Não se preocupe, estamos na vida real. Se bem que se você fosse feio e chato eu
poderia fazer isso tranquilamente.
­ Obrigado.
­ Prazer em te conhecer, mas agora eu preciso mesmo procurar o meu amigo.
­ Nos vemos, então.
Ele me deu um beijo no rosto e eu me virei, sumindo por entre as pessoas. Meu
rosto estava queimando.
Eu só me metia em encrencas. Quando eu achava que já tinha homem demais
metendo o bedelho na minha vida, surgia mais um.
Não que isso seja ruim, mas só um me importava. E esse estava me ignorando.
A vida é mais do que sarcástica comigo.

Capítulo 10

Eu estava cansada de envolver as pessoas nos meus problemas com Danny,


principalmente por Bri ter ficado chateado com tudo o que aconteceu na noite da
palestra na universidade. Consegui deixá­lo o dobro chateado depois de explicar que

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tinha sumido pelo fato de ter visto Danny e ele ter me ignorado, me fazendo chorar.
Não iria mais envolver ninguém, só se perguntassem. A semana seguinte se arrastou,
Bri não estava mais me tratando do mesmo jeito de antes. Estava distante, não fazia
mais piadas e só falava o básico. Adivinhem se com Danny foi diferente? Foi sim, foi
pior. Eu o via todos os dias de manhã, e ele virava o rosto, como se tivesse colocado
os olhos numa qualquer que não fizesse diferença nenhuma em sua vida. O que ele
estava fazendo? Será que tinha desistido do nosso amor defeituoso?
Eu não tinha, eu nunca desistiria. Não importa a forma que ele me tratasse, eu iria
esperar. Pode parecer exagero, mas para uma pessoa que não está amando é difícil
entender o lado de quem morreria por um amor. Na verdade é impossível, então eu
peço que não me julguem, não me acusem por não ter orgulho ou amor próprio, ou
mesmo dignidade. Eu tinha tudo isso, mas quando se trata de quem amamos, pouco
importa. Perguntava a John o que estava acontecendo com Danny, e o máximo que
eu obtinha como resposta era “Ele deve estar muito ocupado com o estágio e os
estudos” ou “Mary deve estar exigindo demais dele por causa do filho”. E ele logo
trocava de assunto, me falando para ter paciência e não fazer nenhuma besteira. O
que ele queria dizer com isso? Eu estava confusa e perdida, mas sabia que John
estava ciente de tudo o que estava acontecendo com Danny. Eu tinha certeza que
eles estavam se falando, pois John estava muito onisciente em relação ao assunto.
E ele não estava mais me beijando como antes.
Será que todos os homens decidiram me odiar de repente?
Quando John me beijava eu sentia como se ele estivesse com um pé atrás ou como
se ele não devesse fazer aquilo. Não era mais a mesma coisa, e aquilo praticamente
confirmava minhas suspeitas de que ele estava falando com Danny sobre nós.

Já havia se passado duas semanas desde que eu tinha falado pela última vez com
Danny (ou brigado, tanto faz) e estávamos mais distantes do que nunca. Meus dias
estavam começando a se tornar uma obrigação cada vez que eu colocava os olhos
nele e não era correspondida. Eu tentava ver o lado bom, encontrar algum motivo
para não me atirar no Tâmisa e morrer dramaticamente, carregando comigo o amor
agora não tão correspondido por Danny, mas a curiosidade em saber se o final
daquilo tudo iria ser tão deprimente assim me dava alguma esperança.
Eu acreditava no amor e isso bastava. Foi com esse pretexto meloso e cheio de
esperanças que juntei toda a coragem que eu tinha e, na sexta­feira da segunda
semana, eu fui até o aquário procurar por Danny.
Agora vocês se perguntam se tem algo de sensato em correr atrás de um cara que
antes transava com você com todo o amor que tinha e agora nem olha mais para
sua cara.
Não tem, mas eu precisava saber o que estava acontecendo. Qualquer outra em meu
lugar usaria John para fazer mais ciúmes e esperaria Danny se render, mas eu já
estava cansada de fingir que conseguia viver sem ele. Do que adianta ter orgulho e
não ter Danny? Foda­se o orgulho, ele mais atrapalha do que ajuda.
Menti para Alice, dizendo que precisava resolver uns problemas na universidade,
porque eu sabia que ela não iria concordar e iria começar a fazer um discurso de
dignidade que eu não estava a fim de ouvir. Simplesmente porque ela não
entenderia. Nem ela, nem ninguém.

Eu estava hesitante, receosa, com vergonha, indecisa, insegura e com medo da


rejeição. Apesar de tudo, alguma coisa me dizia que eu precisava entrar naquele
lugar e entender o que estava acontecendo. Não poderia passar mais uma noite em
claro refazendo meus passos e procurando erros que eu poderia ter cometido.
O táxi parou em frente ao London Aquarium e eu desci, agradecendo por não estar
tão lotado como eu achava que estaria. Agora era torcer para Danny não estar muito
ocupado com turistas e responder aos meus questionamentos. Se é que ele me daria
respostas, poderia muito bem mandar eu me foder e nunca mais procurá­lo.
Tudo dependia da minha coragem de entrar lá.
Comprei o ingresso mais barato, e quando fui pagar minha mão estava tremendo

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tanto que o vendedor da bilheteria perguntou se eu estava bem e se precisava de


alguma assistência. Eu disse que tinha Parkinson nível 1, e que não tinha tomado
meus medicamentos. Ele recomendou que eu tomasse, tolo rapaz. Meu único
remédio estava dentro daquele aquário, em meio aos peixes, fazendo seu digno
trabalho de biólogo.
Oh Deus, a ficha tinha caído.
Entreguei o ingresso para um dos funcionários, depois de enfrentar uma fila
significativa, e tentei desviar ao máximo das pessoas mais lentas que paravam para
fotografar qualquer peixe dourado que se mexia na primeira ala. Como eu iria
descobrir onde ele estava? O lugar era gigante, cheio de corredores e alas de
animais. No primeiro dia que o vi, Danny estava na parte das tartarugas, então andei
meio apreensiva, lembrando­me do caminho que tinha feito. Ele não estava lá, claro.
Havia, porém, uma garota de uniforme falando sobre a alimentação das tartarugas,
então a esperei terminar e os turistas se afastarem para perguntar o paradeiro de
Danny.
­ Hun, oi – falei meio hesitante. – Pode me dar uma informação?
­ Claro! Sobre as tartarugas? – respondeu ela empolgada.
­ Não exatamente, estou procurando uma pessoa que trabalha aqui. Talvez você não
conheça.
­ Qual o nome dela?
­ Ele, meu primo Daniel Jones. Está fazendo estágio aqui e é estudante da
Universidade de Londres.
Ela pensou um pouco, deveria haver milhões de pessoas trabalhando ali. Ou não.
­ Ele é do interior, não é?
­ Isso mesmo.
­ Sei quem é, um garoto muito simpático, aliás! Eu o vi há meia hora se preparando
pra alimentar as arraias. Não sei se vai conseguir falar com ele, porque, bem, ele deve
estar submerso.
­ Como assim?
Ela estreitou os olhos, não acreditando na minha lentidão.
­ Mergulhando, embaixo da água, dentro do aquário. Bom, faça o seguinte – Ela
tirou um mapa dos corredores do bolso e apontou a área das arraias. – Siga esse
mapa até as arraias, se alguém estiver mergulhando, é ele. Faça algum sinal ou sei lá,
ele vai falar com você depois de terminar.
­ Muito obrigada.
Danny mergulhando com arraias não me pareceu uma atividade muito segura, então
tive um pouco de pressa para chegar logo até onde ele estava.
Não demorou muito, era perto dali. Só que tinha muita gente assistindo. E eu
confesso, fiquei impressionada. Eu não sabia que Danny sabia mergulhar, então certo
constrangimento tomou conta de mim por não conhecer tanto assim o cara que eu
amava. O que mais ele sabia fazer que eu desconhecia? Era encantador vê­lo nadar
com aqueles animais, e eu sabia que era ele e não poderia ser mais ninguém. Por
mais que a roupa escondesse completamente sua aparência, para mim era
totalmente reconhecível. Seus movimentos, seu carinho com os animais, aquilo só
Danny tinha. Ele acenou para as pessoas que acenaram de volta empolgadas, rindo e
se divertindo. Meus olhos lacrimejaram, eu sentia orgulho dele. Eu sentia orgulho do
meu primo caipira e aquilo me emocionava. Quem era eu e o que tinha feito comigo
mesma? Danny se despediu das pessoas que assistiam e subiu, sumindo de vista. A
multidão se dispersou e eu me dirigi ao único funcionário ali presente.
­ Eu poderia falar com o mergulhador?
Ele me olhou estranho, com uma cara irônica.
­ Algum motivo especial ou apenas se encantou?
­ Eu sou prima dele e preciso falar com ele. É urgente.
­ Como é o seu nome?
­ Mell.
­ Vou lá dentro perguntar se ele pode falar com você, espere aqui.
Meu coração disparou. Danny seria informado de minha presença. Ah, meu Deus.

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O funcionário voltou alguns minutos depois, de uma porta lateral e preta ao lado do
vidro. Fez sinal para eu me aproximar, sem sair de dentro.
­ Não fazemos isso nunca, mas como ele confirmou o parentesco eu vou deixar você
entrar.
Ele deu espaço e eu entrei, depois ele fechou a porta. Ao contrário do que eu
pensava, ali dentro era tudo branco e meio pacífico. Uma escada bem à frente
interrompia o corredor.
­ Ele ficou muito surpreso. Não querendo me intrometer, mas... Vocês não se falam?
­ É complicado.
­ Ele gosta muito de você, né?
­ Por que? – perguntei assustada, enquanto subíamos as escadas por um corredor
estreito. Ele ia à frente.
­ Porque ele sorriu e ficou vermelho. Depois tentou disfarçar, mas eu saquei tudo.
­ Somos primos, nada mais. Assunto de família.
­ Hm, entendo.
Chegamos finalmente no topo da escada, que na verdade era uma área grande, fria,
meio fedorenta, branca e molhada. Era a superfície do aquário das arraias, onde
eram tratadas pelos funcionários. Eu nunca tinha entrado em um lugar assim, era
meio legal, até. Achei tudo lindo e incrível, até colocar os olhos em Danny. Ele estava
sentado na borda do tanque, ainda vestido com a roupa de mergulhador, e tentava
tirar os pés de pato.
Eu quase vomitei de tão nervosa.
­ Bom, ele está ali. Desculpe pelo fedor e pelo frio, mas você que quis falar com ele.
­ Não tem problema, muito obrigada. Sério mesmo.
­ Às ordens. – respondeu ele, fazendo um sinal positivo de despedida para Danny e
desceu as escadas, desaparecendo.
Danny colocou os pés de pato de lado, tirou a máscara da cabeça e levantou,
bagunçando os cabelos, tentando arrumá­los. Aproximou­se enquanto tentava abrir
o fecho da roupa.
­ Oi. – disse ele simplesmente enquanto lutava com o fecho.
­ Oi. – respondi, e minha voz falhou, claro.
­ Aconteceu alguma coisa? – perguntou ele depois de alguns segundos de silêncio
tenso. Ele ainda lutava com o fecho.
­ Quer ajuda? – perguntei por impulso, o observando se contorcer.
­ Seria ótimo. – disse ele, se virando de costas.
Ótima ideia, Mell.
De verdade, você é muito esperta.
Já não bastava a constante tensão sexual que se formava quando estávamos juntos,
era quase que natural, e agora eu tinha que dar mais um motivo para essa tensão
aumentar, me oferecendo para abrir um fecho que ia praticamente até a bunda dele.
Por que eu tinha o dom de atiçar os problemas? Abaixei o fecho tentando não olhar
a pele que aparecia aos poucos de suas costas nuas. Parei em um nível seguro, um
pouco acima do cóccix.
Ele se virou novamente, tirando as mangas e abaixando toda a parte de cima da
roupa.
Ele ficou quase pelado, na minha frente.
Tudo bem, ainda usava a metade inferior da roupa, mas mesmo assim era
provocante demais para mim. Tentei focalizar seu rosto.
­ Faz frio aqui, né? – falou ele, esfregando os braços. Uma mulher se aproximou
concentrada em uma prancheta, e entregou sem nos olhar uma toalha branca para
ele.
­ Você precisa estar pronto em quinze minutos.
­ Tudo bem, obrigado. – concordou ele, secando o tronco e enrolando a toalha pelos
ombros.
­ Pode falar agora.
Coragem, chegou a hora. Apareça, onde está você? Desgraçada.
­ Eu, hum, queria saber, bem, o que está acontecendo?

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­ O que quer dizer?


Tive vontade de estrangulá­lo. Ele tinha que dificultar.
­ Por que não está mais falando comigo? Por que está me ignorando? Tudo o que
você sentia por mim não existe mais, é isso? Fiquei sozinha com esse sentimento
errado e insistente?
Larguei tudo de uma vez, sem respirar, como se eu tivesse corrido uma maratona e
estivesse falando pela primeira vez depois de horas correndo.
Ele engoliu em seco, me olhando nos olhos. Quando fazia isso, eu sentia que ele
podia ver tudo dentro de mim, inclusive por trás das roupas.
Ele também respirava sem fôlego, só que com menos intensidade e mais
discretamente.
­ Estou tentando seguir minha vida.
­ Ah, é isso? Você simplesmente aceitou o fato de que não podemos ficar juntos e
parou de me amar? Não sabia que era fácil assim. Me ensine, porque eu realmente
preciso aprender.
­ Não parei de te amar em nenhum momento. Só estou tentando seguir em frente,
um dia você vai entender. Eu juro, vai fazer sentido. Mas não podemos ficar juntos,
eu sinto muito. Mary precisa de mim mais do que você.
Ah, o doce tapa na cara verbal. Eu podia ter ficado sem aquela resposta, de verdade.
Eu não sabia o que falar.
­ Tudo bem, então. Obrigada por me atender.
Me virei em direção às escadas mas ele segurou minha mão, sua temperatura estava
quente. Eu estava tremendo de frio, e ele, mesmo molhado, estava quente.
Limpei uma lágrima e o olhei novamente.
­ Eu realmente sinto muito. Por favor, não chore por mim. Eu não mereço. Fique
com John.
­ JOHN? – falei um pouco alto, e alguns funcionários me olharam. – Você é muito
insensível mesmo, Daniel.
­ Você vai entender no final, eu prometo.
­ Que final? Como você já sabe o final disso?
­ Não sei, mas quando ele chegar, eu estarei com você.
Meu nariz começou a coçar, indício principal de lágrimas destruidoras. O que ele
queria? Me fazer chorar ou não? Decida­se, garoto cruel.
Eu me soltei de sua mão e andei rápido na direção das escadas, sem olhar pra trás.

Eu poderia simplesmente fingir que aquela tarde não tinha acontecido, mas minhas
lágrimas me denunciavam e não me deixavam esquecer do fora depressivo que levei
de Danny e, principalmente, do jeito apaixonado que ele fazia aquilo. O cara
conseguia me dar o fora e ao mesmo tempo se declarar, e é aí que eu percebo que
minha vida está mais confusa que fones de ouvido enrolados.
É, mas eu continuava com raiva. Raiva por ele não pensar na minha situação, não se
colocar no meu lugar e agir de um jeito egoísta, como se ele fosse o único do
relacionamento conturbado. Sinto muito, Daniel, mas somos dois. E um dos dois não
concorda com o que você está fazendo.
Cheguei em casa aos prantos, é claro, e pra facilitar Alice estava estudando na sala. Já
entrei dando de cara com problema.
­ O QUE VOCÊ FEZ?
Engraçado que ela pergunta o que eu fiz, e não o que fizeram comigo. Com amigas
assim, você já tem inimigas. Expliquei o que tinha acontecido naquela tarde, recebi o
sermão que tentei evitar e ainda lição de moral.
Você não tem orgulho próprio? Onde está a sua dignidade?
Eu falei que ninguém iria entender o meu lado. Será que eu podia ficar sem receber
conselhos por, tipo assim, uma noite? O que eu menos precisava naquele momento
era uma amiga me enlouquecendo.
Me tranquei no meu quarto, me enfiei embaixo das cobertas e coloquei mais lágrimas
pra fora. Eu provavelmente já tinha chorado um tanque naquele mês. Dava pra
suprir a África inteira.

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Depois de duas horas alagando meu quarto, recebi uma ligação que salvaria minha
noite. Ou não, eu teria de pagar pra ver.
­ Mell?
Não reconheci de primeira aquela voz, mas depois de dois segundos veio uma
imagem na cabeça. Levantei com o coração pulando.
­ Alex? – perguntei receosa.
­ Nossa, me falaram que minha voz é diferente no telefone. Acho que mentiram.
­ Por que me ligou?
Eu não estava brincando mesmo.
­ Ah, sei lá, eu não tenho nada pra fazer hoje. Achei adequado esperar um tempo pra
te chamar pra sair. Você disse que estava toda enrolada com seus amores aí, era
melhor esperar a poeira abaixar.
A poeira só aumentou, se quer saber.
­ Na verdade é o momento perfeito.
­ Jura? Então vamos logo pra um motel. Brincadeira! O que acha de um pub? Eu
conheço um ótimo, muito bem frequentado.
­ Ótimo, anote meu endereço. Estarei pronta em quinze minutos.
Lhe ditei a rua e o número e desliguei, abrindo logo em seguida o armário, limpando
as lágrimas começando a escolher a roupa mais ousada possível.
Eu estava prestes a fazer uma merda, mas a raiva era muito maior.
Acontece que eu tinha um obstáculo muito difícil de ultrapassar, e esse obstáculo se
chamava Alice.
­ O que está fazendo?
Sem parar de atirar as roupas pro alto, procurando algo adequado pro momento,
resmunguei qualquer coisa indecifrável em resposta. A sina de morar com amigas.
São comparáveis às mães.
­ Mell, me responda direito!
­ Eu não te devo satisfações. Me deixe em paz.
­ Me responda. Aonde vai?
­ Alice, sai do meu quarto.
­ Não enquanto não me explicar o que está acontecendo. É o Danny de novo?
­ NÃO!
­ É sim.
­ EU VOU SAIR COM O ALEX! AGORA ME DEIXE SOZINHA!
­ Você não vai fazer isso.
­ Quem é você pra me impedir?
­ Sua melhor amiga que quer o seu bem. Você vai se arrepender, chega de confusão.
Mell, pare com isso. Sair com um desconhecido não vai fazer o Danny mudar. Você já
tentou fazer ciúmes com o John e só conseguiu brigar com seu primo.
­ Eu não quero fazer ele sentir ciúmes, que merda! Só estou tentando esquecê­lo,
como ele mesmo está fazendo.
­ E você realmente acha que saindo com qualquer um vai funcionar?
­ Eu decido o que é melhor pra mim.
­ Pode ser perigoso, você não o conhece.
­ Eu sei me cuidar, agora com licença.
Empurrei ela levemente pra fora do quarto e tranquei a porta. Eu precisava fazer
aquilo, ninguém iria me impedir.

°°°
Eu não conseguia me concentrar no que estava lendo. Chegava ao meio do
parágrafo e eu já estava totalmente disperso, pensando na merda que eu tinha feito.
Ou melhor, em mais uma merda que eu tinha feito. Porque, afinal, é só isso que eu
sei fazer e eu tinha certeza que aquilo não daria certo. Digo fingir que está tudo bem
e mais uma vez dar um fora na garota que eu amo. Conheço­a e sei que quando está
com raiva faz coisas que se arrepende depois, e aquilo estava me enlouquecendo.
Como eu era capaz de ficar estudando em casa como se nada tivesse acontecido hoje
de tarde?

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Eu era uma bosta.


E aí o meu celular tocou.
­ DANNY?
O grito do outro lado foi tão alto que eu deixei meu livro cair no chão, em cima do
meu pé. Aquilo pesava uns cinco quilos. Doeu pra caralho. Gemi de dor antes de
responder um “eu” todo errado.
­ É A ALICE, LEMBRA?
­ Alice? Amiga da Mell? O que houve?
­ Você precisa ir atrás dela. Faz uns quinze minutos que ela saiu não sei pra onde
com um cara desconhecido.
­ O QUÊ? Você não sabe pra onde eles foram? Como eu vou atrás dela?
Eu já estava de pé colocando os sapatos e checando quanto eu tinha de dinheiro na
carteira pra pegar um metrô sabe­se lá pra onde enquanto Alice cacarejava nos meus
ouvidos que Mell havia se rejeitado a revelar o lugar para onde tinha ido quando
lembrei de um detalhe. Um detalhe muito importante e útil. Meu pai tinha me dado
uma moto na última semana, e eu ainda não estava acostumado com o fato de ter
um veículo próprio. Fiz de tudo para ele mudar de ideia, eu estava bem me
transportando de metrô, mas ele insistia em dizer que eu precisava de algo pequeno
e prático. Na verdade eu odiava motos, John que gostava e tinha usado algumas
vezes nas últimas semanas.
­ Não lembra nem se era um restaurante, um pub, um shopping?
­ ERA UM PUB! Liga pra ela e pergunta! Ela pode estar sendo estuprada.
­ Pare de me deixar nervoso! O John não cumpre com nenhum acordo, aquele
imbecil!
­ O quê?
­ Nada. Eu vou ligar pra ela, obrigado por avisar.
­ Ela nunca vai te falar, provavelmente vai desligar na sua cara.
­ Na sua também, pelo que estou vendo.
­ É mais fácil ela falar pra mim do que pra você.
­ É aí que você se engana.

Enquanto descia as escadas do prédio, eu tentava achar Mell na minha agenda do


celular. O problema é que eu estava com pressa, tremendo, nervoso e desesperado.
Finalmente vi seu nome na tela e cliquei quinhentas vezes, quase afundando o botão.
É óbvio que ela não atendeu de primeira.
Eu já estava na frente da minha moto no estacionamento, pegando o capacete
quando ela resolveu atender. Depois de umas dez tentativas.

°°°
Confesso, eu estava apavorada. O lugar era assustador, só bêbados mal encarados
frequentavam, e era tipo uma espelunca cheia de prostitutas e motoqueiros
assassinos. No que eu tinha me metido, Senhor?
­ Bom, parece que mudou desde a última vez que eu vim.
Foi o que Alex disse me fazendo sentar em uma mesa.
­ Não quer ir pra outro lugar? Estão nos encarando.
­ Esqueça eles, não estão incomodando.
Um gordo sujo parou na nossa frente e perguntou o que a gente queria ali. Sério, foi
bem assim. Alex pediu duas cervejas e sorriu, me olhando.
­ Vamos, não fique com essa cara de assustada. Eu estou com você, eles não vão
fazer nada. Coloque a cadeira pra cá.
Fiz o que ele falou e aproximei minha cadeira da dele. Quando sentei novamente
senti meu celular vibrar no bolso da jeans. Xinguei Alice mentalmente, enquanto
abria a tela.
Encarei o nome de Danny e quase tive uma parada cardíaca. Ignorei, colocando no
silencioso, mas o celular continuou vibrando por mais dez minutos. Pedi licença para
Alex e levantei, me afastando sob os olhares de homens estranhos e horrorosos.
­ O que quer, seu idiota?

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­ Qual o nome do pub onde você está?


­ O quê? Como sabe que... Alice. Eu vou matá­la.
Desliguei o celular, mas ele tocou cinco segundos depois.
­ Eu não vou te falar, afinal você está tentando me esquecer. Pare de me incomodar.
­ É sério, Mell, eu não estou brincando. Onde você está e com quem? Será que é
difícil ter um pouco de responsabilidade?
­ Será que é difícil você parar de ser um completo babaca? Não me ligue mais, está
atrapalhando meu encontro.
Finalizei a ligação e desliguei o celular. Ele só podia estar brincando.
Voltei pra mesa, as cervejas já tinham chegado e Alex já estava bebendo.
­ Você está com cara de quem precisa beber.
­ Eu sei, passe isso pra cá.
Bebi um copo inteiro numa levantada, aquilo me deu um pouco de enjoo, mas eu
continuei bebendo.
­ Por que aceitou sair comigo? – perguntou Alex rindo depois de nossa quarta
rodada em silêncio.
­ Porque eu preciso esquecer. – respondi rindo igualmente. Eu já estava fora de mim,
aquilo não iria dar certo.
­ Esquecer o Danny?
Eu parei de rir. Nunca tinha falado do Danny na frente dele.
­ Como sabe que o nome dele é Danny?
Ele continuou rindo, ainda mais.
­ Eu sei de tudo. E vou te ajudar.
Alex segurou meu rosto e grudou nossos lábios delicadamente. Não senti prazer
nenhum, apesar de ele ser estrondosamente bonito. Senti suas mãos em minhas
coxas descobertas e não o impedi de nada. Intercalávamos beijos, risadas e goles de
cerveja. Eu estava me sentindo uma daquelas prostitutas, mas chega um momento
em que o álcool alivia suas culpas e parece que independente do que você fizer, não
vai importar depois. É, não é bem assim.
Alex me beijava enfurecidamente, segurando minha cintura por dentro da blusa
quando fomos interrompidos por uma voz embriagada.
­ Quanto está a hora dela? Vai demorar muito?
Alex o olhou tenso.
­ Cale a boca.
­ Com quem você pensa que está falando, seu merdinha? Libera essa puta logo
senão eu te quebro.
­ Nos deixe em paz. – respondeu ele com um sorriso nervoso. O que ele estava
fazendo? Nem pra me defender? Me levar numa espelunca daquelas e arregar para
um gordo fedorento? Eu estava bêbada, mas não era surda. Só que as palavras não
saíam da minha boca.
­ Você vai se arrepender.
­ Chega dessa palhaçada, Frank. Volte pro seu lugar.
O dono do bar interrompeu a discussão e o gordo nojento (que era bem parecido
com o próprio dono) se afastou resmungando. Eu estava com lágrimas nos olhos, e
Alex simplesmente continuou bebendo.
­ Que idiota. – disse ele depois de um tempo.
­ Por que não fez nada? – perguntei rejeitando um novo copo de cerveja.
­ Fazer o que? Vai levar a sério o que ele disse?
­ Você é inacreditável.
­ Ah, para vai. Vem aqui, esquece isso.
Ele me puxou tentando me beijar novamente, mas eu virei o rosto. Ele começou a
beijar meu pescoço, me segurando com força, estava difícil de me desvencilhar.
A única coisa que eu consegui perceber depois de um minuto tentando me soltar de
Alex foi o próprio sendo puxado pra trás, levando um soco e caindo deitado no chão.
Minha vista estava meio turva e eu imaginei que fosse o gordo nojento me
querendo, então comecei a chorar desesperada. Até ouvir a voz.
­ Encoste nela de novo e você vai ver o que é um soco. Isso não foi nada.

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Danny puxou Alex do chão pela camisa e o empurrou até a parede. Eu estava em
prantos, não sabia se era de alívio, medo ou desespero. Acho que tudo junto.
­ Ouviu? Qual é o seu problema, trazer uma garota para cá?
Alex não respondeu, estava tremendo. Danny era mais forte, isso metia medo em
algumas pessoas. Até em mim.
­ Espero que tenha entendido, ela não é para você.
Ele soltou Alex que se apoiou nos joelhos, cuspindo sangue no chão. O gordo dono
do bar estava berrando para sairmos dali, e o gordo nojento ria de tudo,
principalmente de Alex.
­ Você está bem? – perguntou Danny estendendo a mão e pegando a minha. Saímos
do pub e eu desatei a chorar novamente. Como se eu tivesse parado, né.
­ Não. – gemi parando de andar e afundando o rosto no peito dele.
­ Por que fez isso, Mell? Eu quase morri de preocupação.
Ele me abraçava pela cintura e seu perfume fez eu me acalmar um pouco. Lembrei do
gordo nojento me chamando de puta e voltei a chorar feito um bebê. Meu
sobrenome era sensível, muito prazer.
­ Me chamaram de puta. – choraminguei sem o olhar. Ele me abraçou mais forte,
subindo uma das mãos para as minhas costas.
­ O cara que estava com você?
­ Não, um gordo estranho. Ele perguntou o preço e tudo. – falei chorando e Danny
me encarou com piedade, depois deu um beijo no meu rosto.
­ Vamos sair daqui.
­ Não quero que me ajude por pena.
­ Estou te ajudando porque eu te amo.
Cinco lágrimas escorreram sucessivamente e eu comecei a soluçar. Ele me olhou de
cima a baixo, balançando a cabeça em negação.
­ Por que está vestida assim? Essa não é a minha prima. Não acredito que fez isso,
Mell.
­ Pare de me questionar, foi tudo culpa sua.
­ Você sabe que não é verdade. O seu orgulho sempre acaba te levando a fazer
coisas que você não está com vontade e sabe que é errado.
Ele me conduziu até uma moto, eu nem sabia que ele tinha uma moto, e me
entregou um capacete.
­ Coloque, conversamos depois, você nem está sóbria. O que esse cara fez com você,
meu Deus?
Coloquei o capacete séria, tentando parar de chorar. Eu sabia que ele não queria
discutir comigo porque simplesmente é um saco discutir com quem está bêbado.
Ele colocou o próprio capacete e subiu na moto.
­ Suba e se segure em mim.
Fiz o que ele pediu, ou melhor, fiz a metade do que ele pediu.
­ Se segure direito. Esqueça seu orgulho por um minuto, não tem outro jeito de
andar de moto sem ser como você está pensando.
Grunhi e o abracei por trás. Ele deu a partida e saímos dali, deixando pra trás toda a
confusão que eu consegui fazer em poucas horas.

Capítulos betados por Bianca

Capítulo 11

Um mês havia se passado desde a noite em que eu resolvi agir com meu coração
destroçado. Porque é isso o que acontece quando decidimos fazer as coisas seguindo
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ele: ou dá tudo certo, ou dá tudo errado. Deu tudo errado, óbvio. Danny,
esfregando na minha cara mais uma vez que eu precisava dele pra tudo, inclusive
para me salvar de enrascadas tipo ser chamada de puta e afins, aparecendo no pub
onde eu estava com aquele sujeito estranho e aleatório chamado Alex, cujo
paradeiro eu desconheço agora. Se vocês querem saber o que aconteceu depois de
todo esse tempo, eu posso dizer com uma sinceridade espontânea: nada. John
continuou me “namorando”, se é que podemos chamar isso de namoro, e Danny
continuou me ignorando. Para variar um pouco. Até quando, Jesus?
­ Se você quer tanto saber, não, ainda não transamos.
Alice surgiu de repente no meu quarto, sentando na cama. Pelo jeito, ela implorava
por uma conversa.
­ Ué, está cedo ainda.
Alice estava ficando com Kennedy, finalmente. Eu já achava isso um grande avanço, e
ela já reclamava de sexo. De novo. Sério, essa garota tem complexos.
­ Cedo? Você transou com Danny na primeira semana que foi pra fazenda. Ou sei lá.
­ Não somos exemplo – respondi entediada. Sempre o mesmo argumento. – E além
do mais, aquela fazenda tem algo afrodisíaco. Acho que o meio do mato induz o sexo
selvagem.
­ Espera, tem mais. Você transa com o John. Tipo uma vez por semana!
­ Alice, sério, você é extremamente hiperbólica. Você realmente acha que o John fica
só comigo?
­ Deveria, vocês são namorados.
­ Eu amo outro cara! Ele tem todo o direito de ficar com a menina que quiser...
Somos um casal casual. Amigos com benefícios, o que quiser chamar.
­ Você fugiu do tópico inicial: Alice Nunca Transou e Kennedy Não Faz Nada.
­ Então você deveria valorizá­lo ao máximo! Isso demonstra que ele te respeita e
gosta mesmo de você.
­ Sabe o que ele deveria fazer?
­ O quê?
­ Me com...
Meu celular vibrou e o som de um novo e­mail não deixou Alice completar sua
blasfêmia em meu aposento. Peguei o aparelho em cima de minha escrivaninha e
desbloqueei, checando minha caixa de e­mails enquanto Alice continuava
praguejando suas frustrações. Meu coração disparou de uma forma que não o fazia
há um mês.
O remetente do e­mail que eu havia recebido era, surpreendentemente, Danny
Jones. O destinatário... Não, não era eu. Era eu e mais umas trinta pessoas. Por
Deus, o que eu estava fazendo em um e­mail coletivo com o assunto “Fazenda”? Que
porra estava acontecendo?

“Bom, como eu havia prometido, aqui está o e­mail referente ao fim de semana na
fazenda dos meus avós. Eles vão viajar e o caminho está liberado, apenas devo
lembrar que eles não sabem disso, então, por favor, não destruam nada nem
toquem nos animais. Levem barracas, roupa de banho e essas coisas. Me paguem
antecipadamente, porque bebida boa não é barato. Cinco libras cada um. Sexta­feira
à tarde, lá pelas 15h, estarei indo. Portanto é melhor vocês irem depois, não adianta
nada chegarem lá e não ter ninguém para abrir o portão. Em anexo, estou enviando
o mapa com o caminho. Até lá.

P.S.: Não levem ninguém, já tem bastante gente na lista. É sério, eu deixo dormindo
num motel.”

Fiquei encarando a tela por uns bons dois minutos após ler três vezes o e­mail. A voz
de Alice já não era mais ouvida e processada pelo meu cérebro transtornado. Danny
estava fazendo um fim de semana na fazenda a troco de quê? E por que me
convidou? E que direito ele tem de inventar uma porra dessas sem me consultar?
Afinal, eu ainda era neta dos nossos avós e, por direito, um pouco dona da fazenda

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também.
­ Você olhou sua caixa de e­mails?
­ Hein? Hoje não, por quê?
­ Olha isso.
Alice se aproximou do celular e leu o e­mail, não demonstrando nenhum tipo de
emoção.
­ Epa, indiretamente te convidando pro tchê tchê re re...
­ O quê?
­ Ele quer te laçar. Entendeu? Porque ele é um caipira. Há há.
­ Você está mais por fora da história do que o Kennedy. Danny está me ignorando há
séculos, até parece que não sabe.
­ Ele está com saudadinhas.
­ Ah, que fofo. Ele que vá para o inferno. Eu não vou nessa porcaria, nem que me
arrastem.
­ O John vai?
­ É óbvio... todos vão.
­ Então nós também vamos. Deixa de ser covarde.
­ Eu não quero ver o Danny se esfregando com a Mary a troco de nada.
­ Ah, e ficar em casa foragida vai resolver muita coisa.
Encarei a janela por alguns segundos. Realmente, nas últimas semanas eu estava
vivendo na base dos lamentos, como se fosse um fardo me manter viva. Eu precisava
parar. Parar e voltar a viver que nem gente.
­ Tem razão, mas primeiro eu preciso tirar algumas satisfações.
Deixei Alice no vácuo, peguei minha bolsa e saí de casa. Parada na calçada,
completamente sem rumo, para falar a verdade, liguei para John. John era sempre
quem eu recorria quando o rumo se perdia na minha vida.
­ Fala princesa.
­ Eca, onde aprendeu isso?
­ Na vida. Qual o problema?
­ Recebeu o e­mail de Danny?
­ Hm, sim, eu ia falar com você sobre isso...
­ Onde ele está? Quer dizer, que horas é o intervalo dele?
­ Hun, no Aquário? Sei lá, Mell. Você acha que eu o stalkeio?
­ Deveria saber, é o melhor amigo do cara. John, sério, amigos sabem os horários
dos outros amigos.
­ Argh, tá bom, ele tem um intervalo de meia hora às 15h, quando troca de sessão
no aquário. Quer saber qual o bicho que ele vai cuidar depois das 15h30min?
Tubarões.
­ Não, obrigada, John.
­ Por favor, não vá tirar satisfações...
­ Já fui. Quem ele pensa que é? Sério, ele não pode dar uma festa e não me
consultar. Moro lá tanto quanto ele.
­ Você não mora lá. Ficou anos sem ir.
­ Não se trata disso, se trata de direitos. Boa tarde pra você também.
Desliguei o celular e olhei o horário. Eu tinha ainda uns vinte minutos até às 15h. E lá
vamos nós pegar metrô, porque a vida não nos presenteia com um carro quando
fazemos dezesseis anos.
Eu não podia parar para pensar muito, se não ia me sentir completamente ridícula
me deslocando com o objetivo de xingar o Danny.
Cumprindo minha missão infantil, cheguei até o Aquário reunindo toda a minha
raiva. Ele não pode simplesmente me ignorar e depois dar uma festa na NOSSA
fazenda, ME convidando. Meu Deus, esse cara é muito antissocial. Eu não mereço
amar alguém tão caipira.
Por sorte (ou não) Danny estava sentado em um banco na frente do lugar, tomando
café pensativo. Meu coração pulou ao vê­lo, inédito.
­ Posso saber que ideia tosca foi essa?
Já saí perguntando, sou assim mesmo, vou direto ao assunto.

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Danny levantou o olhar lentamente, confuso. Depois me olhou como se eu fosse


louca.
­ Desculpe?
­ Inventar um fim de semana na fazenda sem me consultar e me convidar para me
provocar? Danny, por favor, eu não estou nem aí para o que você inventa, mas me
consulte antes. É a casa da minha família.
­ Oh, me desculpe minha soberana, não acontecerá de novo.
Ele deu um gole no café e continuou olhando o rio na sua frente. Eu tinha vontade
de dar uns tapas nele.
­ Vou contar pra vovó.
Danny suspirou, rolando os olhos.
­ O que você quer de mim?
O olhei com os olhos espremidos. Ele me olhou sério, e eu pigarreei desconfortável.
Ele sabia o que eu queria.
­ Que cancele essa idiotice.
­ Não vou fazer isso, o pessoal da universidade está me enchendo o saco há um
tempo por causa da fazenda. Eles querem passar um fim de semana lá, são meus
amigos, não vejo problemas. Não quer ir, não vai. Só convidei porque o John vai, e
se bem te conheço, iria ficar toda irritadinha se eu não te colocasse na lista.
­ Eu não dou a mínima, Daniel. Me poupe, você me convidou porque gosta de mim.
Idiota.
Ele bebeu o último gole do café, levantou e o jogou em um lixo ao lado do banco.
­ Tanto faz.
Ele se aproximou demais ao falar isso e senti o hálito de café. Por que ele faz isso?
Que droga. Danny me deu as costas e começou a se afastar. Eu corri atrás dele,
ainda indignada. Isso, se humilha bastante, amiga.
­ Aonde pensa que vai? Você não pode sair assim. Cancele essa farra no meio do
mato agora!
­ Vou trabalhar, coisa que você desconhece. Já está no meu horário, com licença.
­ Sério Danny, eu vou contar pra vovó.
­ Não tem problema, ela confia em mim. Hoje mesmo ligo e explico que alguns
amigos vão pra lá passar o fim de semana.
­ Falta vinte minutos pro seu intervalo terminar, seu mentiroso. Vai mentir pra vovó
também?
­ Você anda me perseguindo agora? Como sabe meus horários?
­ Não interessa, pode sentar naquele banco que ainda não terminamos.
­ Você pode até mandar no John, mas em mim você nunca mandou e não vai ser
agora.
­ Você é um grosso. Estou tentando te proteger! Aquela casa vai ficar destruída, você
é um caipira inocente mesmo! Nunca fez um fim de semana pra universitários... Acha
o quê? Que eles vão sentar em volta da fogueira e comer marshmallows? Vai ter
gente transando até em cima da árvore!
­ Já está escolhendo o local? – perguntou ele com um sorrisinho. Eu. Não. Acredito.
Nisso.
­ Você é muito idiota mesmo... Nem fazendo um filho você toma vergonha na cara!
Ele apenas sorriu. Tirou uma carteira de cigarros do bolso e acendeu um, começando
a tragar.
­ O que é isso? Achei que tinha parado de fumar! Largue isso.
­ Mell, quer fazer o favor de ir embora? Estou tentando relaxar. Se você não sabe, eu
vou ter que entrar num tanque gelado agora, com esse frio.
­ Pode relaxar, mas só se cancelar esse maldito fim de semana.
Danny olhou pra cima, dando sinais de impaciência. É Danny, me abandonar para
ficar com a Taylor Swift tem suas consequências.
­ Tudo bem, eu cancelo – disse ele e eu não acreditei no meu poder de persuasão. –
mas você vai ter que se ver com universitários furiosos, querendo te afogar numa
piscina infestada de enguias. Eu vou enviar um e­mail, explicando que a minha
querida prima Mell não concordou com o final de semana. Sua vida acaba de se

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tornar um inferno.
O encarei com minha fúria habitual, começando a grunhir de raiva. Ele continuava
fumando tranquilamente.
­ Você é o pior primo do mundo. – praguejei, voltando a ter dez anos de idade.
­ Às ordens.
Aquela conversa tinha terminado, portanto me virei e saí feito uma criança
emburrada batendo o pé.
°°°

­ Sete pessoas naquela banheira durante três horas e meia. É sério, eu não quero ir.
Alice e eu já estávamos na casa de John, encarando o The Maine inteiro atirado no
sofá esperando o horário certo para cair na estrada.
­ Primeiro, meu carro é um clássico. Segundo, vai demorar mais que três horas e
meia, pois sendo um clássico, é mais lento.
­ ÓTIMO! Bom, se for pra lembrar as últimas vezes que fui, eu e meu pai levávamos o
dia inteiro...
Ele parava em todos os lugares possíveis. Estamos na vantagem.
­ Viu, vai ser um final de semana incrível. Você vai ver. Agora sente aqui e me ame
um pouco. – John, na sua essência. Sentei ao seu lado e ele me puxou brutalmente
para um abraço. – Tenho que aproveitar nossos últimos momentos juntos antes que
você chegue lá e só tenha olhos, mente e corpo para certo caipira.
­ O quê? John, cale a boca, se não for pedir muito.
Todos começaram a rir na sala.
Não demorou muito para fechar 16h da tarde, horário que John determinou ser mais
do que ótimo. Mal sabia ele que todos saíram às 15h e ignoraram o aviso do
abominável no e­mail. Aquela viagem duraria mais de quatro horas, sem exagerar,
porque com aquele carro do John ir de cavalo seria melhor.

A única vantagem de viajar com cinco meninos nos amassando num carro de
quinhentos anos atrás era a música. The Maine de graça, durante mais de quatro
horas! John tinha uma voz incrível, não cansava de dizer isso, e ouvi­lo cantar
durante todo o percurso era relaxante.
Enquanto John ia no volante, se achando um máximo dirigindo seu carro “clássico” e
sendo útil uma vez na vida, eu e Alice nos espremíamos no carona e o resto da
banda apertada no banco de trás. E eu tentava entender como eles ainda
conseguiam tocar violão naquele aperto.
Tirando as trinta e cinco paradas para eles fazerem xixi.
­ Quanto tempo falta, John?
A estrada já estava escura, e, apesar de o sol ter se posto, muitos carros viajavam
assim como nós, pois era sexta­feira.
John parecia estar concentrado na nova música que eles decidiram compor para
passar o tempo.
­ Haha, olha Mell, essa música é em homenagem à vocês dois. Escuta o refrão – ele
olhou para Kennedy pelo retrovisor e o outro começou a tocar. – The more you treat
me cruel, oh it just adds fuel to the fire. Tease me like you do but it just fuels my
desire. You say you don’t want me, I think you’re a liar… Love or lust, it just adds
fuel to the fire.
John me olhou orgulhoso, como se tivesse acabado de preparar o bolo mais gostoso
que eu já tinha provado.
­ Eu não vejo similaridades com a minha vida.
­ Oh, claro que não. – ironizou Alice. – O nome dessa música deveria ser Mell e
Danny.
­ Você poderia responder a minha pergunta? – continuei furiosa, olhando para John.
­ E qual seria ela?
­ Quanto tempo falta?
­ Zero. Chegamos. O carro fez uma curva e entrou numa parte instável, fazendo tudo
balançar e todos resmungarem. Depois de alguns metros à dentro, John buzinou

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com tudo, como se alguém fosse ouvir lá da casa. Eram muitos metros de estrada
antes de chegar à fazenda.
­ Qual o seu problema? Você acha que Danny vai ouvir daqui? Ligue pra ele.
­ Ué, ele podia estar... – John grunhiu indignado, pegando o celular e discando.
Murmurou alguma coisa e depois desligou.
­ Não é nada prático trancar os portões. Nada mesmo.
­ Estamos sozinhos na fazenda, sem adultos.
­ Ah, porque seu avô iria parar uma quadrilha com as próprias mãos.
­ Não, mas a culpa vai ser nossa se algo acontecer. A maconha está te deixando cada
dia mais lento.
Dois minutos se passaram e uma caminhonete parou na frente do portão, pela parte
de dentro. Danny desceu já incorporado. Digo, já tinha voltado a ser o caipira de
sempre: camisa xadrez e calça jeans surrada.
­ Demoraram hein. – comentou ele para John.
­ Os últimos serão os primeiros.
­ Em quê, exatamente? – me meti, já sem paciência pelo comentário idiota do
Danny.
­ Em tudo, gata.
Danny riu, não sei porquê, e entrou de volta na caminhonete. Fez a volta e deu
espaço para passarmos.
­ Podem ir, eu vou fechar aqui e vou atrás.
John concordou e seguiu em frente.

Dois minutos depois chegamos na casa que estava com as luzes todas acesas e um
som muito alto tocava Strokes. Umas vinte pessoas ocupavam a varanda da casa,
conversando e rindo alto. Bebiam garrafas de cerveja e fumavam, já demonstrando
alegria incomum, a meu ver.
­ Parece que vamos ter muito nesse final de semana, pessoal. – comentou John
rindo, enquanto descia do carro.
­ Muito o quê? – perguntou Alice perdida. Kennedy a puxou de lado e explicou, e ela
sorriu.
­ Não deixe ela fumar, Kennedy, sério. – pedi, e Alice me olhou com os olhos
espremidos.
­ Tchau pra vocês que tem muita universitária gata por aqui. – falou Garrett, sendo
seguido por Jared. Pat nos olhou, esperando alguma ordem. Ele era extremamente
tímido.
A caminhonete de Danny estacionou ao nosso lado segundos depois e ele desceu,
enquanto se concentrava em abrir dois botões de sua camisa. Depois de conseguir,
nos olhou.
­ Bem­ vindos, jovens. Vocês não precisam pagar, se estão se perguntando. Sirvam­
se. Mell, sem maconha.
O olhei incrédula.
­ Desculpe?
­ Você ouviu.
­ Qual o seu problema, Daniel? O mundo não gira em torno de você, sabia? Que
direito tem sobre mim?
­ Por que você tinha que começar? – murmurou John para Danny. Alice e Kennedy
rolaram os olhos e se afastaram, puxando Pat junto.
­ Só dei um aviso. É pro seu bem, você sabe que John faz todas as suas vontades.
­ Eu? Da onde?
­ Não se meta no nosso relacionamento. Onde está Mary, aliás? – perguntei.
­ Na cozinha.
­ Ótimo. Vá ajudar ela.
John suspirou impaciente começando a se afastar.
­ Olha, não precisa falar comigo durante esse final de semana, ok? Fique com seu
namorado e seus amigos. Eu preciso, além de controlar o pessoal, cuidar dos
animais. Te convidei por educação e obrigação, então mantenha distância.

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­ Não precisava nem ter pedido.


E foi exatamente o que aconteceu naquela noite. Para ser sincera, eu não vi Danny
depois daquilo. Bebemos e jogamos alguns jogos bestas e depois, já de madrugada,
montamos as barracas. Eu e Alice levamos uma, os meninos outra. Elas não eram
grandes, mas eu, John, Alice e Kennedy conseguimos entrar em uma, e Jared,
Garrett e Pat em outra.
Imaginar Danny dormindo com Mary em seu quarto me deixava um pouco puta.
Tudo bem, muito puta, mas não fazia diferença. Eu não iria falar com aquele caipira
nos próximos dois dias mesmo.

Quisera eu.
Fui a primeira a acordar, de todas as sete barracas, provavelmente. Estava tudo
silencioso e calmo, nem parecia o mesmo lugar da noite passada. Eu me sentia suja e
grudenta, precisava de um banho. Eu era herdeira daquela fazenda também,
portanto o banheiro estava dentro dos meus direitos. Cambaleante, andei até a casa
e entrei, fechando a porta atrás de mim. Antes de subir, resolvi passar na cozinha e
pegar algo para beber, que não contivesse nenhuma gota de álcool. Suco, talvez.
Eu nunca deveria ter passado na cozinha.
Ele e aqueles morangos. De novo.
Danny estava de costas para a porta, apoiado com os braços na bancada, enquanto
comia aqueles morangos idiotas. Mergulhava­os no açúcar, vez ou outra. Estava, pra
piorar tudo, apenas com uma calça de moletom. Muito, muito abaixo do lugar
normal de uma calça.
Cara, eu odeio homens usando calça de moletom. Fica tudo marcado. Inferno!
Sai daí, sua imbecil. Vai tomar banho.
Danny se virou de repente, ouvindo minha respiração pesada. Era muita coisa pra
quem tinha acabado de acordar. Abriu um sorriso irônico minúsculo, quase nem dava
pra notar.
­ Bom dia. – murmurou ele, agora encostado na bancada, virado pra mim.
Não respondi, apenas entrei na cozinha e abri a geladeira. Lotada de cerveja, claro.
Não iria encontrar a droga do suco nunca.
Danny se aproximou e abriu o freezer, encostando o corpo um pouco no meu.
Abominável. Tirou dali o suco.
­ Ontem usamos pra fazer algumas bebidas.
­ Deve estar congelado.
­ O freezer é tão velho que não congela mais. Precisamos comprar outra geladeira há
tempos.
Ele serviu um copo para mim e colocou a caixinha de volta no freezer. Por que ele
tinha que ser irritantemente gentil?
­ Obrigada. – resmunguei, pegando o copo e saindo da cozinha.

Quando terminei de tomar banho, já estava uma barulheira lá fora. E eu, esperta,
tinha me esquecido de pegar uma roupa limpa. Só tinha meu pijama.
Abri a porta do banheiro só de toalha, sem saber o que fazer.
Por sorte, ou não, Danny passou já vestido e me olhou de cima a baixo com sua
irritante expressão irônica.
­ Precisa de ajuda?
Eu não queria pedir ajuda a ele. Tudo menos aquilo. É, não tinha outro jeito.
­ Preciso que encontre Alice e peça para ela te alcançar minhas roupas. Fale que fui
tomar banho e me esqueci de pegar.
­ Tudo bem, já volto.
Esperei por cinco minutos dentro do banheiro. Algumas batidas me tiraram dos
meus costumeiros devaneios em situações de espera. Abri a porta e Danny estava
parado no corredor, segurando minhas roupas dobradas.
­ Não olhou minha calcinha, né? – perguntei desconfiada depois de encontrar minhas
roupas de baixo no meio das outras.
­ Eu já te vi sem elas muitas vezes, priminha. Não deveria se importar mais.

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Grunhi com raiva e bati a porta em sua cara. Me vesti em poucos segundos e saí do
banheiro, já ouvindo a música alta mais uma vez.
Desci as escadas e ouvi pessoas na cozinha rindo. Já estavam todos espalhados mais
uma vez pela varanda e pelo gramado. John e os outros estavam sentados na frente
das barracas tocando algo com algumas meninas desconhecidas em volta.
­ Onde estava? – perguntou John parando de tocar. Todos me encaravam.
­ Tomando banho.
­ Sei.
O olhei sem entender. Por que estava fingindo ser meu namorado na frente daquelas
garotas?
­ Hm, o que vamos almoçar? Se é que o abominável pensou nisso.
­ Quem? – perguntou John sem entender. Precisava manter esses apelidos apenas
em minha cabeça.
­ Danny.
­ Ah, ele vai fazer churrasco. Hambúrguer, sabe? Aquele caipira pensa em tudo.
As garotas riram.
­ Pena ele estar praticamente casado com aquela garota! Danny é muito lindo e fofo.
– falou uma delas e as outras concordaram. John me olhou meio rindo.
­ Ele não é para vocês. – murmurei sem querer. Todas me olharam sérias.
­ Você é prima dele, né? – perguntou uma loira bronzeada.
­ Sim.
­ Haha, aposto que ela já provou! – riu uma morena, e as outras riram.
­ Credo! Eles são primos, sua pervertida. – disse a loira.
­ Ah, fala sério. Quem nunca pegou um primo bonito?
Elas falavam aquilo com uma naturalidade inacreditável. Eu, que sofri tanto por sentir
a culpa de ficar com um primo, me senti uma caloura no assunto.
O problema é que Danny não era qualquer primo que você vê duas vezes a cada
cinco anos. Eu o via sempre quando menor, era estranho pensar nele como um
homem. Acontece que eu não podia mais me preocupar com isso depois de tudo o
que fizemos.

Gostaria de ressaltar que Danny passou o almoço inteiro nos amores com Mary, coisa
que eu achei muito estranha, sabendo que ele não gosta dela. Pelo menos eu achava
que não. Aquilo estava começando a me irritar e, depois de uma hora encarando
aquelas cenas nojentas, estilo casal feliz, eu estava quase quebrando toda a varanda.
Uma das coisas que aprendi depois dessas três insignificantes e tranquilas horas de
almoço na fazenda dos meus avós, com pessoas de cursos distintos, é que não dá
certo reunir tanta gente e achar que consegue controlar todo mundo. Principalmente
quando seu primo, que você é apaixonada, está com outra garota e faz questão de
esfregar isso na sua cara.
Eu estava a ponto de afogá­lo no lago e ao mesmo tempo arrancar suas roupas,
porque quando ele quer ser gostoso, ele consegue. Sabia que era tudo para me
provocar, todos seus movimentos, olhares, risadas, beijos e piadas eram com o
objetivo de me deixar irritada e dar o troco por eu estar namorando seu melhor
amigo. O fato era que eu estava fazendo isso por pura vingança, John sabia disso,
mas o sexo era bom e John era um cara muito legal, então ele concordava. E eu
sentia uma coisa estranha pelo John, era tipo gostar de um cara bonitinho no
colégio. Você não está apaixonada, mas sente aquela coisa estranha no estômago.
Além de ser estonteantemente lindo e irresistível. Sim, Daniel Jones, existem outros
homens gostosos sem ser você e sim, eu estou aproveitando ao máximo.
Enfim... Depois de ter gritado com Danny milhões de vezes para ele me ajudar pelo
menos a limpar a sujeira que seus amiguinhos estavam fazendo na varanda e ser
brutalmente ignorada, me arrastei grunhindo palavrões ilegais até o pequeno celeiro
fedorento, que mais era uma espécie de depósito, para procurar um pano
suficientemente grande que limpasse toda a cerveja derramada de uma vez, em vez
de ficar colocando guardanapinhos inúteis em cima das poças como todo mundo
estava fazendo ao derrubar. Pra completar a minha raiva, Danny tinha desaparecido

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nos últimos vinte minutos, assim como Mary.


Não estava mais me responsabilizando pelos meus atos se visse aquela garota na
minha frente novamente.
Primeiro passo sobre o feno no celeiro: enfio o pé num balde e tropeço feito uma
estúpida. Um grunhido tenebroso saiu de minha garganta antes de atirar a porcaria
longe e fazer um dos cavalos amarrados perto dali relinchar de horror.
Um segundo depois do relincho, Danny surgiu de trás de uma pilha gigantesca de
feno a alguns metros de distância me olhando estranho.
­ Por que fez isso? – perguntou ele me olhando como se eu fosse uma doente
mental. Andei pisando forte até onde ele estava e revistei sem piedade toda a região,
tentando detectar alguma Mary sem roupas.
– Eu estou sozinho.
­ Não te perguntei. – resmunguei voltando a procurar um pano ou algo do gênero. –
Aliás, saia da minha frente antes que eu te mate.
­ Tente.
Estava abaixada revirando algumas caixas e levantei devagar, sem o olhar. Respirei
fundo, tentando controlar a vontade de me virar e dar um tapa em sua cara.
­ Não me provoque, abominável.
­ Você é tão infantil. – disse ele rindo e eu me virei, o olhando indignada.
­ Sério? Você acha? Adivinhe, eu não dou a mínima.
­ Dá sim, tanto dá que está me respondendo e tentando me provar e provar a si
mesma que não se importa com o que eu penso sobre você. Pena que comigo não
funciona.
­ Eu não dou a MÍNIMA para o que você pensa ou deixa de pensar, simplesmente
porque você é ridículo e insignificante. Seu valor na minha vida é mais baixo do que
o da sua namoradinha caipira.
­ Insignificante? Tem certeza? – perguntou ele sorrindo. Deu dois passos. Eu fui para
trás. – Por favor, você está me comendo com os olhos desde que chegamos aqui.
Abri a boca numa expressão de indignação completa.
­ Eu tenho namorado, se você não percebeu! Muito mais bonito, gostoso e bom de
sexo do que você.
Hm, tocamos no ponto fraco. Danny ficou sério e começou a me olhar com raiva,
soltando o ar pesadamente e trincando os dentes. Sorri convencida, eu era muito
boa naquilo. No momento em que sorri ele voou pra cima de mim e me empurrou
com força contra a parede mais próxima. O encarei com os olhos arregalados, pronta
para começar a gritar.
­ QUANDO ELE TE FODE VOCÊ PENSA EM MIM! – gritou ele enfurecido, enquanto
agarrava meus braços com força, fazendo­os latejar de dor. Sem pensar dei um tapa
com toda a minha força em seu rosto, o fazendo me soltar e colocar a mão na face
atingida. Fiquei paralisada o encarando, sem coragem de sair correndo.
Era o meu fim.
Com o rosto vermelho e uma gota de sangue na boca (nossa, eu era capaz disso?)
ele se aproximou novamente, me olhando como se fosse me espancar. Fechei os
olhos e me encolhi de medo e covardia, e ele deu um soco.
Na parede ao lado da minha cabeça.
Confusa, abri os olhos e encarei a parede ao lado, com a tábua partida ao meio.
Depois o olhei incrédula, dois centímetros para o lado e ele teria acertado o meu
rosto.
Sem sinal prévio ele segurou meus pulsos em cima da minha cabeça, me deixando
imóvel. Grudou seu tronco no meu, imobilizando minha única defesa restante,
minhas pernas, e me olhou nos olhos.
Nada do que tinha acontecido fazia nenhuma diferença, eu sabia que ele nunca teria
sido capaz de me machucar de verdade.
Meu peito subia e descia numa frequência inumana, meu corpo já prevendo o que
iria acontecer em seguida. Danny eliminou os centímetros de distância entre nossos
lábios a zero, roçando­os de uma forma provocante nos meus. Me deu um selinho
demorado, sugando meu lábio inferior. Senti um leve gosto de sangue se misturar

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com o beijo. Me debati sem forças, eu estava completamente imóvel, ele era muito
forte. Nós dois sabíamos que minha resistência era apenas para não sujar minha
dignidade que era sempre afetada em momentos como aquele. Nós dois sabíamos
que meus hormônios estavam gritando por aquilo.
Consegui virar o rosto e interromper o beijo quente e delicioso, mesmo sem língua.
Ele se sentiu ofendido e me soltou completamente, dando cinco passos pra trás.
Continuei com o rosto virado para o lado por alguns segundos, tentando voltar ao
normal.
O olhei e coloquei uma mecha do meu cabelo atrás da orelha. Minhas mãos estavam
tremendo. O analisei de cima a baixo e mordi o lábio inferior, me desencostando da
parede. Ele observava meus movimentos com atenção, parecia apreensivo e
decepcionado.
Não tente resistir a algo que é irresistível, ouvi minha consciência sussurrar dentro da
minha cabeça. Ela nunca me ajudava naquelas horas.
Resisti a minha própria consciência e desviei meu olhar de seu rosto, passando reto
por ele e começando a me afastar.
Acontece que uma vez metida com Danny, era lei natural não sair zerada.
Ele segurou meu pulso, me impedindo de dar mais um passo, e me puxou para
perto de si, me deixando grudada em seu corpo, mas ainda de costas. Fechei os
olhos já percebendo a derrota.
Senti sua mão encostar minha pele da cintura por baixo da blusa e começar a
escorregar até a minha barriga. Um gemido involuntário escapou pela minha boca.
Agora suas duas mãos passeavam livremente e sem interrupções por todo o meu
tronco, embaixo da blusa. Suas unhas me arranhavam de leve, provocando mais
excitação, se aquilo era possível. Seus lábios encostaram meu pescoço e, fora de
mim, segurei sua nuca.
Ele desabotoou devagar meu short jeans e eu me virei, finalmente.
Segurei seu rosto com as duas mãos, o encarando numa mistura de sofrimento e
arrependimento prévio. Puxei seu rosto para perto do meu e o beijei com tanta
vontade que parecia que nunca tínhamos feito aquilo antes. O abracei pelo pescoço e
senti seus braços se fecharem em volta da minha cintura. Num movimento rápido
(que eu não entendi direito como ele conseguiu sozinho) ele pegou minhas coxas e
me fez magicamente fechar minhas pernas em volta de seu tronco. Me carregou até
o monte gigante de feno e eu não pude evitar de rir internamente. Belo lugar. O
nojo de fazer o que estávamos prestes a fazer num lugar sujo daqueles não foi maior
que a vontade.
Me deitou e ficou em pé na minha frente, enquanto tirava a camisa xadrez
lentamente, me provocando. Me segurei muito para não sorrir e não aumentar mais
aquele ego dele.
­ Anda logo, caipira. – murmurei meio raivosa e tirei eu mesma minha blusa, ficando
apenas de sutiã. Ele deitou por cima de mim e o peso me fez gemer de prazer. Não
sei de onde era prazeroso ter um cara pesado em cima de mim, mas eu achava.
Muito. Principalmente se ele fosse o Danny. Ele abaixou meu short com certa pressa
e eu fiz o mesmo, demorando mais, com sua calça. Eu particularmente achava muito
mais excitante ter o homem por cima de mim, até porque eu era daquelas que
gostava de ser dominada, odiava dominar no sexo. Vai entender.
Danny pegou do bolso traseiro da calça jeans abaixada até os joelhos um pacote de
camisinha e o abriu com os dentes, numa mordida faminta. Hm. Colocou com certa
pressa e abaixou minha calcinha, eu não consegui segurar o sorriso. Investiu sem
piedade, provavelmente matando toda a vontade que tinha conservado naquele
meio tempo sem me ter. Ele sabia, caipira idiota, que eu ultrapassava meu nível de
excitação quando ele fazia movimentos lentos e demorados e começou a fazer isso
repetidamente. Em poucos minutos atingi meu clímax. Várias investidas depois,
agora mais rápidas, e ele gozou, soltando seu corpo em cima do meu.
Eu o abracei pelo pescoço e naquela altura nem me sentia mais envergonhada, como
era no início. Tínhamos construído uma intimidade sexual bem diferente de qualquer
outra que tivéssemos sem estarmos transando. Era como dividir todos os meus

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segredos com ele. Era bom.


Ele saiu de cima de mim depois de um tempo, provavelmente achando que eu não
estava mais conseguindo respirar, mal sabia ele que eu poderia ficar naquela posição
para sempre. Puxei minha calcinha e meu short jeans pra cima e vesti minha blusa.
Sentei e dei um nó desajeitado no meu cabelo solto e cheio de feno. Danny
observava todos os meus movimentos com uma expressão séria, não deixando
escapar nada. Senti seus olhos sobre mim e o olhei. Ele acariciou minha coxa
descoberta com certa delicadeza. Uma gota de suor escorreu pela lateral de seu rosto
e eu limpei, sem nenhum nojo, como seria o normal. Se eu estivesse normal. Ele
conseguia despertar outra pessoa dentro de mim, que se manifestava apenas com
ele. Danny fechou os olhos ao sentir meu toque e eu encostei nossos lábios
brevemente.
Levantei com dificuldade do monte, limpei minha bunda e minhas costas infestadas
de feno e deixei o celeiro sem o olhar, evitando qualquer deslize e possibilidade de,
ao colocar meus olhos nele novamente, dar meia volta e começar tudo de novo.

Capítulo 12

Havia se passado algumas semanas depois do incidente, chamaremos assim, na


fazenda, e eu me sentia desconfortável com aquilo. Parecia um ciclo sem fim, eu
sempre acabava transando com Danny e nada se resolvia. Juntando a culpa que cada
vez mais crescia dentro de mim. Pelo menos agora ele falava comigo. Com um olhar
de culpa, mas falava. Era sempre a maldita culpa entre a gente.
Seguindo os conselhos insistentes de Alice, resolvi dar uma olhada na piscina da
Universidade. Eu não fazia ideia do tamanho da área construída há anos dedicada à
natação, era impressionante. Como é possível alguém estudar numa universidade e
não conhecer todas as instalações? Eu realmente não tinha vivido muito nas últimas
semanas.
A região da piscina térmica estava completamente vazia quando entrei receosa,
depois de explicar para o segurança que eu ainda não tinha feito uma carteirinha,
obrigatória para quem utilizava a piscina. Me senti intimidada e observada quando
encarei as arquibancadas que ocupavam a minha volta, imaginando que deveriam
ocorrer competições e coisas do tipo naquele lugar. Tirei minha calça jeans, minha
blusa e meu moletom e os deixei junto com minha toalha e meus chinelos na borda.
Sentei na beira de uma das raias e mergulhei as pernas, testando a temperatura.
Estava quente pra caramba. Mergulhei totalmente e nadei até o meio da piscina
olímpica, sentindo a água esquentar meu corpo frio. Fiquei vegetando enquanto a
água quente amortecia todos os meus músculos e eu sentia meus problemas se
esvaírem aos poucos. Mergulhei novamente a cabeça, que era o meu membro mais
complicado de fazer relaxar.
Fiquei por alguns segundos submersa e quando voltei a superfície, mãos me
envolveram pela cintura.
Minha primeira e óbvia reação foi me virar e dar um soco no tarado que pretendia
me estuprar. Juntei todas as minhas forças e enfiei o punho no olho do desgraçado.
Ele se encolheu e colocou as mãos no rosto, gemendo de dor.
Já a alguns metros de distância, reconheci o gemido.
Eu tinha acabado de dar um soco em Danny.
Nadei desesperada até ele, que ainda estava com as mãos no rosto.
­ Ai, meu Deus. – murmurei sem saber onde colocar as minhas mãos, com Danny
todo encolhido a centímetros de mim.
Encostei em seu ombro numa tentativa impessoal de consolo.
­ Me desculpe, não vi que era você. – falei, temendo o momento em que ele tirasse

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as mãos do rosto e eu visse que o tinha transformado no Quasímodo, o corcunda de


Notredame.
Involuntariamente, coloquei meus braços em volta de seu pescoço, o abraçando.
Demorou alguns segundos até ele perceber o que tinha acontecido. Um de seus
braços envolveu devagar meu tronco, e eu me arrepiei.
­ Sinto pena dos caras que já tentaram te estuprar. – disse ele e eu sorri, dando
graças a Deus por ele não estar tão machucado a ponto de não ter humor para fazer
piadas.
­ Você é o primeiro... Quer dizer, esquece. Deixa eu ver o que eu fiz.
Ele riu e me afastou um pouco, sem tirar o braço da minha volta. Tirei delicadamente
suas mãos de cima do olho, dando de cara com uma sobrancelha sangrando e um
vermelhão por toda a região atingida.
­ Droga, eu fiz você sangrar.
Seu olho nem abria direito. Eu o tinha nocauteado sem piedade, e provavelmente
meu anel tinha dado o arranjo que faltava em socos masculinos.
­ Se não tivesse sido você, eu estaria furioso. – Ele encostou de leve no corte
sangrando e gemeu de dor. ­ Seu soco vem com bônus, por acaso?
­ Vamos sair daqui, você precisa colocar um gelo e fazer um curativo.
­ Não, tudo bem. Continue suas atividades que eu interrompi, eu dou um jeito.
­ Cale a boca, Daniel.
O virei de costas e comecei a empurrá­lo de volta para a borda da piscina.
­ É sério, Mell. Estou bem, continue o que você estava fazendo.
­ Eu acabei de te dar um soco no olho, como quer que eu “continue minhas
atividades”? Não sou tão fria assim como pensa.
Continuei empurrando seu corpo enquanto ele resmungava contradições, fazendo
questão de ignorá­los. Saímos da água e nos vestimos.
­ Pressione minha toalha sobre sua sobrancelha, esse sangue está começando a me
assustar. – falei, encarando uma gota vermelha escorrendo pelo seu rosto.
­ Vai manchar.
O olhei séria, eliminando qualquer outra resistência de sua parte. Deixamos o ginásio
de esportes ao som dos dentes de Danny batendo de frio. O que esse caipira tinha
na cabeça?
A caminho do estacionamento, ele fez a primeira pergunta que eu já esperava ouvir.
­ Onde estamos indo?
­ Para o meu apartamento.
Um silêncio desconfortável se instalou entre nós. Eu sabia exatamente o que estava
se passando na cabeça dele.
­ Você não precisa fazer isso, não estamos nem nos falando.
­ A partir do momento em que eu te dou um soco sem motivo, as coisas mudam.
Entre no carro.
­ Você tem carro agora? – perguntou ele parado ao lado da porta do passageiro. O
estacionamento estava silencioso, apenas com o som de alguns passarinhos
cantando. Nenhum outro carro estacionado. – Espere, esse é o carro do John.
Me xinguei mentalmente, prevendo futuros questionamentos irritantes. O que eu
tinha na cabeça? Levar Danny até meu apartamento, colocar um band­aid em sua
sobrancelha e depois?
Abri a porta do motorista e entrei. Danny fez o mesmo, sentando ao meu lado. Ele
ainda tremia de frio.
­ Ele está no seu apartamento?
­ Não Danny, não tem ninguém lá. Eu estava na casa dele antes de vir pra cá, ele
apenas me emprestou.
Ele resmungou qualquer coisa em resposta.
­ Onde está Alice?
Suspirei profundamente ao ouvir ele dando continuidade no interrogatório.
­ Na casa do John. Se não sabe, ela está com o Kennedy agora.
­ Eu vi. – resmungou ele ficando instantaneamente mal humorado por estarmos
“nos acertando” com seus amigos. – Olha, não precisa me levar até o seu

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apartamento. Sei que você deve estar querendo voltar pra casa do John, apenas me
deixe no meu. Será um grande favor.
­ Danny, você não sabe o que eu quero, não tente me controlar.
A frase saiu mais ambígua do que eu esperava, fazendo o constrangimento se
instalar entre nós novamente.
­ Desculpe, só não quero te incomodar.
­ Não se preocupe comigo, você é o atingido por aqui.
Alguns minutos depois, já na rua, lembrei que da última vez que eu estive naquele
carro com Danny nós transamos enfurecidamente. Meu rosto ficou vermelho e todo
o meu corpo ficou quente. Rezei para que ele não se lembrasse disso também, a
situação já estava bastante tensa.
Ficamos em silêncio durante todo o percurso de volta. Resolvi ligar o rádio para
tentar diminuir a tensão sexual que sempre surgia quando estávamos sozinhos, mas
o que eu fiz foi piorar tudo. Hotel California dos Eagles preencheu o ambiente e eu
praguejei mentalmente. Músicas românticas eram o que eu menos precisava naquele
momento.
Olhei de canto para Danny depois do primeiro minuto da música. Ele estava
recostado no banco, de olhos fechados, totalmente concentrado na melodia,
cantando silenciosamente. Lágrimas imaginárias escorreram pelo meu rosto, tendo
que observar aquela cena sexualmente estimulante e maravilhosa, não podendo
fazer nada.
Você consegue se enfiar nos buracos mais fundos, .
Voltei minha atenção para o trânsito de final de tarde, estranhando o número
razoável de carros em pleno sábado.
Parei em um dos semáforos e suspirei, tentando me controlar. Aquela música
chegava a ser afrodisíaca, principalmente com Danny ao meu lado.
Arrisquei dar mais uma olhada discreta para a cena a centímetros de mim, e senti um
frio inexplicável na barriga.
Danny mordia o lábio enquanto ouvia a melodia, ainda de olhos fechados.
Engoli em seco.
Imaginei sua voz cantando aquela letra e fiquei tonta. Aquilo não estava nada certo.
Não percebi que a música tinha terminado, minha atenção estava total e
completamente focada nos lábios de Danny, quando senti seu olhar sobre mim.
Subi minha atenção para seu rosto, assustada.
­ Essa música é linda. – disse ele com um sorriso irônico, provavelmente percebendo
meu desconforto e vontade de agarrá­lo.
­ É. – concordei tensa.
O semáforo abriu e voltei a olhar pra frente.

Estacionei o carro de John em frente ao apartamento completamente receosa em


relação ao que poderia acontecer dali pra frente. Espero que pelo menos uma vez na
vida eu siga minha razão, que é devidamente sana, mas que é brutalmente
atropelada pelos meus hormônios descontrolados e pelo meu coração já desgastado
de tantas fortes emoções. Danny me acompanhou todo encolhido e tremendo até a
entrada, tentei não me colocar em seu lugar e não sentir mais pena do que deveria,
porque o clima de Londres não estava nem perto de ser quente naquele momento.
Abri a porta e entrei, colocando a chave do lado de dentro da fechadura enquanto
Danny entrava atrás de mim. Eu podia sentir o gelo emanando de sua pele quando
ficávamos muito próximos. Fechei a porta e tranquei logo em seguida.
­ Ahn, você não quer tomar banho? Se ficar mais tempo desse jeito vai pegar uma
pneumonia ou sei lá. Ele pensou na oferta por alguns segundos.
­ Não tenho roupa extra, essa aqui já está toda molhada do calção.
­ Roupa é o de menos. – falei com fins inocentes, mas Danny levantou uma
sobrancelha, interpretando a segunda intenção.
Me xinguei mentalmente enquanto soltava um pigarro, tentando disfarçar. Parece
que quanto mais desconfortável é a situação, mais ferrado fica tudo.
­ Eu devo ter alguma coisa do John ou do Tom por aí, vou dar uma olhada.

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Danny não pareceu gostar muito da ideia, mas não fez objeções. O acompanhei até o
andar de cima, onde ficava o meu quarto e o de Alice, junto com o banheiro. Entrei
em meu quarto enquanto ele esperava no corredor e peguei a maior toalha branca
que encontrei.
­ Não está com dor de cabeça? – perguntei enquanto o entregava a toalha e abria a
porta do banheiro, acendendo a luz.
­ Não se preocupe comigo, já está fazendo demais por alguém que...
Ele fez uma pausa e eu o olhei nos olhos.
­ Alguém com quem não está falando.
­ Faço raras exceções quando devo.
Ele sorriu de canto e entrou no banheiro. Eu ainda estava segurando a porta e o
observei largar a toalha em cima do vaso fechado. Ele parou e me encarou,
esperando que eu fechasse a porta. Balancei a cabeça tentando acordar e saí do
banheiro, fechando a porta atrás de mim.
Na verdade fechar não seria bem o verbo que descreveria o que fiz a seguir. Encostei
a porta e uma fresta desgraçada me seduziu. Fechei os olhos obrigando meus pés a
se moverem pra longe dali, mas foi incontrolável. Coloquei os olhos na fresta, a um
passo da porta, com muito receio. Ele tirou a blusa de linha que estava usando e
meu coração acelerou quando analisei suas costas nuas. Ele começou a abrir a calça
jeans e, segurando junto o calção, abaixou os dois ao mesmo tempo.
Virei o rosto bem na hora, vencendo a vontade de vê­lo como não o via há algum
tempo.
Desci até o primeiro andar sentindo uma culpa imensa juntamente com um tesão
que eu nunca tinha sentido antes.
Qual era o meu problema? Se eu tivesse um pênis iria ser totalmente constrangedor.
Sentei no sofá da sala de estar e apoiei minha cabeça nas mãos, tentando voltar ao
normal. Tente esquecer que ele está nu há poucos metros de você, isso não faz
diferença nenhuma. Ele continua sendo o mesmo caipira idiota que acabou com a
sua vida.
Fiquei por alguns poucos minutos tentando me acalmar e levantei de repente,
lembrando que precisava procurar alguma roupa masculina e evitar um Danny
circulando de toalha. Subi novamente até o quarto e comecei a revirar todo o
armário, a faxineira semanal deve ter guardado em algum lugar. Encontrei uma calça
larga xadrez da Abercrombie que só podia ser do John, ele usava umas coisas meio
de hippie.
Droga, sem cuecas. Nenhuma cuequinha disponível, nada.
Isso significava Danny sem cuecas, nada bom.
Foda­se, vai aprender a se controlar, garota.
Saí do quarto e bati na porta do banheiro. Olhei a fechadura, estava destrancada.
Qual era o problema dele?
Ouvi um distante “entre” e abri, com milhões de pés atrás.
­ Droga, Danny!
Fechei a porta com tudo quando percebi que ele ainda estava embaixo do chuveiro,
sua silhueta falha por trás do vidro escuro.
­ Que foi? É só largar a roupa!
Maldito seja esse caipira demoníaco. Abri a porta novamente e coloquei uma mão
nos olhos, espiando o vaso por uma fresta entre os dedos.
­ Por favor, Mell. Não é nenhuma novidade nada dentro desse banheiro.
Sua voz irônica ecoou pela pequena peça e tirei a mão lentamente, abrindo os olhos
logo em seguida.
Danny estava me olhando com um sorriso de deboche, um terço de seu corpo a
mostra pelo vidro aberto.
A frequência de meus batimentos subiu inexplicavelmente, e eu comecei a ofegar de
leve. Ele agora me olhava sério, nada irônico. Eu podia ler em seus olhos o que ele
queria me dizer.
Você sabe o que quer.
A música do carro começou a tocar na minha mente e eu me lembrei dele, sentado

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bem do meu lado, praticamente incorporando os acordes.


Tinha dado dois passos em direção ao chuveiro.
Volte.
Ele abriu o vidro completamente e, em menos de um segundo, me puxou pra dentro
do box.
O que você está fazendo comigo, vida?
A água quente me atingiu em cheio na cabeça, não tive tempo de pensar em mais
nada depois disso. Ele me pressionou com o próprio corpo contra a parede fria, eu
podia sentir seu membro já descoberto e rígido pressionando minha virilha. Apenas a
minha jeans nos impedia.
Seus lábios grudaram nos meus, me obrigando a dar espaço para sua língua
enquanto suas mãos passeavam pelo meu tronco. Ele começou a massagear meus
seios e eu o mordi forte no lábio inferior. Me desfiz da blusa e do sutiã em poucos
milésimos. Ele abriu minha calça jeans e abaixou com certa pressa, junto com minha
calcinha.
Não pude tirar das minhas pernas a calça completamente, ele me penetrou sem
piedade, fazendo minhas costas baterem com força na parede atrás de mim.
Não foram necessários nem cinco minutos de movimentos fortes e dolorosos para ele
gozar. O empurrei para fora e tirei minhas calças, atirando no canto do box.
Ele voltou a me pressionar contra a parede, me beijando com vontade ao mesmo
tempo. Suas mãos puxaram minhas coxas pra cima, fazendo minhas pernas o
envolverem pela cintura e ele me penetrar com mais intensidade do que antes.
Cravei minhas unhas em suas costas, a água quente caindo em cima de nós
aumentava em cem por cento o tesão, se era possível.
Ele segurou o dobro do tempo até gozar novamente, me fazendo gozar junto.
Voltei pro chão ofegante.
­?
A voz distante me fez abrir os olhos e tirar num pulo meus dedos de dentro da
virilha.
Olhei para trás assustada, a sala estava vazia.
Ele estava me chamando do segundo andar.
Porra, o que eu estava fazendo?
­ O quê?! – respondi do sofá. Ele estava de toalha no topo da escada.
­ Você encontrou alguma roupa?
Eu não tinha procurado nada. Subi as escadas e passei por ele tensa, rezando para
que as calças de John não fossem imaginação também.
Graças ao bom Deus John tinha deixado uma muda de roupas descente por ali, e
entreguei ao Danny meio nervosa.
­ Coloque a roupa e eu te levo pra casa.
­ O que houve?
­ Nada, só se vista. Te dou uma carona. Vou buscar um curativo.

O percurso até meu apartamento foi bastante tenso da parte dela. Estava tentando
entender o porquê de ela ter tido tanta pressa de me trazer em casa, porque,
sinceramente, eu esperava que começássemos a lavar a roupa suja e brigar
novamente. Não que eu quisesse, mas apenas duas coisas acontecem quando eu
estou sozinho com Mell: ou discutimos ou dormimos juntos. E nenhuma das duas
aconteceu, portanto havia algo errado. Não que eu estivesse esperando que
fizéssemos algo, mas isso geralmente acontece. Poderia ter acontecido. Tudo bem.
­ Eu desço com você. – disse ela ao estacionar o carro do outro lado da rua do meu
apartamento.
­ Não precisa, já fez demais por mim hoje. Obrigado.
Ela abriu a porta e desceu, como se eu não tivesse falado nada. Desci também e
atravessamos a rua.
­ Quer entrar? – perguntei, tentando ser educado. Ou tentando fazer aquilo
acontecer, e daí você pode concluir que sim, homens são todos iguais.
­ Não, obrigada. Olha, eu já vou indo...

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Ela não concluiu a frase. Um cantar de pneus invadiu nossa audição e ambos
olhamos para onde o som havia surgido. Um carro desconhecido estava vindo
exatamente na nossa direção. Para ser mais exato, na direção de Mell. Parecia estar
calculadamente descontrolado e, ao invés de Mell sair da frente, ela congelou e ficou
parada, encarando o veículo vir para cima dela. No último segundo, a empurrei com
força para longe e não pude ver o que aconteceu depois disso, pois o carro freou ao
meu lado. Mell deveria estar do outro lado, no chão. Só rezava para estar consciente.
A porta do carro se abriu e eu por um momento duvidei da realidade. Mary saiu de
dentro, completamente transtornada, me olhando com uma raiva que eu nunca vira
em seu rosto antes.
­ Eu avisei, Daniel... Mell não se manifestava do outro lado, eu estava começando a
ficar com medo.
­ VOCÊ É LOUCA? – exclamei, dando a volta pelo carro e encontrando­a deitada na
calçada, com os olhos fechados e sangue escorrendo ao lado de sua cabeça. Eu
poderia ter desmaiado naquele momento. Corri e me abaixei ao seu lado, chamando
seu nome. Mary já não existia mais, eu só precisava ver se ela estava bem. Mas ela
não respondia, deveria ter se desequilibrado quando a empurrei. Era isso ou ser
atropelada. E mesmo assim, sabendo que a tinha salvado, me sentia culpado.
­ LIGUE PARA O PRONTO­SOCORRO!
Ela soltou uma gargalhada alta e cruel.
­ Você vai ver para quem vou ligar. Seu avô vai ficar feliz em saber que seu netinho
querido está tendo um caso com... ora, vejamos: a outra netinha!
Por um descuido, ela deixou o celular cair ao meu lado e sem pensar duas vezes o
peguei, pronto para ligar para alguma emergência. Um nome piscava na minha
frente junto com o aviso de uma nova mensagem. Eu não estava mais entendendo
nada. Confuso, cliquei para ler. Minhas mãos tremiam.

“Phillip lhe enviou uma nova mensagem”


Estou cansado dessa mentira, Mary. Já te disse que podemos criar o bebê juntos,
minha família tem bastante dinheiro para isso. Conte logo para Danny que o filho
não é dele, se não o farei eu mesmo. Tenho os meus direitos como pai.

Tive que ler duas vezes para digerir aquelas palavras. Phillip? O filho não era meu. O
bebê que Mary estava esperando era de Phillip, não meu. Eu não sabia nem que eles
mantinham contato. Na verdade nem sabia se Phillip era o Phillip que eu estava
pensando. Liguei para a emergência e dei o endereço logo, não acordava em meus
braços.
­ Isso é verdade, Mary? – Lhe entreguei o celular com a mensagem aberta.
Ela começou a ficar vermelha de raiva.
­ Eu... não... acredito.
­ EU não acredito que foi capaz de mentir todo esse tempo! Você tem ideia do que
fez?
­ Daniel, eu fiz isso porque te amo. Por favor, entenda!
Agora ela estava chorando, provavelmente achando que eu iria ficar com pena.
­ Phillip, meu amigo? Amigo da família? Mas que merda, garota!
Ela continuava chorando com as mãos no rosto. Verifiquei o pulso de Mell, relaxando
um pouco ao ver que seu coração ainda batia. O choro de Mary sessou de repente.
­ Eu ainda tenho os dois em minhas mãos. Vai ter que assumir esse filho, ou contarei
tudo para sua família!
­ Chega, Mary! Conte logo, então! Você é uma maldita de uma chantagista, eu tenho
pena desse bebê!
­ Vai ser expulso da família, bastardo idiota!
­ Bastardo? Do que está falando?
­ Parece que mais gente estava mentindo para você.
A ambulância chegou bem na hora e não pude compreender o que ela estava
falando. Alguns homens desceram e colocaram Mell em uma maca, a imobilizando.
Carregaram­na para dentro do veículo, me perguntando ao mesmo tempo o que

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tinha acontecido. Subi junto meio confuso, explicando tudo.

Capítulos betados por Bianca

Capítulo 13

Depois de avisar os pais de Mell, Alice, John e os outros do ocorrido, me sentei na


sala de espera roendo as unhas. Por que Mary havia me chamado de bastardo? O
que mais estavam mentindo para mim? Era muita informação para processar. Eu não
era mais o pai do bebê. Isso significava que eu poderia finalmente ficar com Mell?
Mas ainda éramos primos, certo? Ainda era errado. Sempre haveria algo entre a
gente, para nos impedir de ficarmos juntos.
Algo mais invadiu meus pensamentos, dobrando minha preocupação. O que eu iria
falar para os pais de Mell? Para a família? Mentir que um carro desgovernado
qualquer quase a atropelou? Não. Chega de mentiras. Eu estava cansado de inventar
desculpas. Estava tudo confuso demais para inventar mais coisas e complicar tudo
mais ainda. Ia contar a verdade, eles entendendo ou não.
Algum tempo depois, talvez quase uma hora, os pais de Mell chegaram
transtornados e foram logo atrás dela, sem me deixar explicar o ocorrido. Uma
enfermeira os colocou sentados de volta na sala de espera, ao meu lado, e os
acalmou, dizendo que o médico já iria vir para explicar como ela estava. Era a hora
de contar toda a verdade.
­ O que aconteceu, afinal, Danny? – Meu tio pareceu bastante fora de si, mal me
olhava. Comecei explicando que havia descoberto que o filho de Mary não era meu,
para evitar futuros transtornos e possíveis socos na minha cara. Eles ficaram bastante
espantados, mas me apressaram para continuar. Quando comecei a contar que eu e
Mell estávamos tendo um caso havia algum tempo, a mãe dela olhou para meu tio
com um ar preocupado, mas não ficaram tão espantados. Estava esperando um
grande surto de ambos. Finalizei explicando as chantagens de Mary e o ataque dela.
­ Onde está esse demônio? – perguntou a mãe de Mell, agora bastante irritada.
­ Acalme­se, querida. Agora não podemos fazer nada. Vamos esperar o médico.
Ele não demorou muito. Perguntou pelos parentes de Mell Jones e nos tranquilizou,
dizendo que ela não havia sofrido nada de grave, mas como a pancada havia sido
forte, ela ainda estava desacordada, sob alguns medicamentos. Agradeci a todos os
santos que conhecia.
John e os garotos chegara junto com Alice e os expliquei tudo. John ficou muito feliz
em saber que o filho não era meu, assim como Alice.
­ O que vai fazer agora? – perguntou John, se servindo de café da máquina, que
estava um pouco afastada. Eu e Alice nos aproximamos dele.
­ Como pode pensar em beber café num momento desses? Mell sofreu um ataque!
­ Por isso mesmo, preciso me manter acordado!
­ Eu não sei, na verdade. Os pais dela já sabem da gente, mas não ficaram zangados
sei lá por que. O problema é meu pai e meus avós.
­ Acho que deve contar para eles o mais cedo possível. – disse Alice.
­ É, mas o único jeito de contar é por telefone. Não gostaria de fazer isso desse jeito.
­ Vai ter que fazer. É o único jeito agora. – falou John, bebendo um gole do café.
Encarei o chão pensativo, prevendo ser excomungado de minha família, sendo
proibido de pisar naquela fazenda e de dirigir a palavra aos meus avós. Era o preço a
pagar, a mentira não poderia ser mantida mais.
Os pais de Mell estavam agora no quarto junto com ela. Aproveitei o momento para
falar com meu pai, depois iria ver como ela estava. Lembrei que havia esquecido meu
celular dentro do carro de Mell, então pedi o de John emprestado.
­ Alô? – Meu pai atendeu, com uma voz de sono.
­ Sou eu, pai. Eu preciso te contar algumas coisas bem importantes.
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­ Pode falar. – disse ele, agora com a voz mais forte.


Contei tudo na mesma ordem que contei para meu tio e a mãe de Mell, sem fazer
nenhuma pausa. Era melhor falar tudo de uma vez.
Ele demorou um pouco para falar. Eu estava preparado para uma explosão.
­ Não dá pra acreditar que Mary foi capaz de fazer tudo isso com vocês dois. Bom,
fico feliz que o filho não seja seu. É bem melhor assim.
­ Tá, é isso? Você não vai surtar por eu amar a minha própria prima? O que
aconteceu com a minha família?
­ Então, sobre isso, acho que chegou a hora de termos uma conversa séria e precisa
ser feita ao vivo. Não estou em Manchester, portanto chegarei o mais rápido que
puder aí. Duas horas, no máximo. Pode me encontrar no seu apartamento?
­ Hm, claro.
Pensei duas vezes antes de falar que não iria deixar Mell sozinha no hospital. Poderia
piorar as coisas. Ela estava em boas mãos.
­ Tudo bem, ligo quando estiver chegando.
Desliguei o celular e o entreguei a John. O expliquei que precisava ir até meu
apartamento para conversar com meu pai e ele concordou, percebendo então que
seu carro havia ficado estacionado em minha rua. Resolvemos chamar um táxi, ele
tinha as chaves reservas para voltar depois.
­ Bom, pelo menos eu vou estar lá para apartar a briga. – disse John e, se não fosse
algo tão sério, eu iria rir.
Os pais de Mell voltaram e falaram que ela tinha voltado a dormir, portanto
deveríamos esperar até a noite para vê­la. Concordamos e saí com John, deixando
Alice e os outros garotos ali.

Já fazia mais de uma hora que eu e John aguardávamos meu pai em meu
apartamento quando ele ligou dizendo que estava chegando na rua.
­ Brace yourselves, winter is coming. – disse John e eu o encarei sem paciência. A
campainha tocou e respirei fundo, me preparando para um soco na cara antes de
abrir.
O que encontrei ali foi pior que um soco na cara. Na verdade, foi estranho.
­ O que ela está fazendo aqui? Por que ela está junto com você?
­ Deixe­nos entrar primeiro. – falou meu pai e dei espaço para ele passar, sendo
seguido pela mulher que eu havia encontrado num pub algum tempo atrás, que dizia
ser amiga do meu pai.
­ Sente­se. – ordenou ele, e eu me sentei, muito confuso. John estava sentado do
meu lado, mas o máximo que meu pai fez foi cumprimenta­lo com a cabeça. – O fato
de Tracy estar aqui vai mudar a sua vida e provavelmente fazer você nos odiar por
um bom tempo, se não para sempre.
­ Querido, gostaria que soubesse que o que vai ouvir agora não vai mudar em nada
seu lugar na sua família ou algo do tipo.
Encarava os dois mais confuso do que nunca. Minha respiração estava rápida.
­ Daniel, essa mulher é a sua mãe de sangue.
Fiquei congelado por alguns segundos e meu pai continuou com mais bombas.
­ E eu, bem, sou apenas seu pai de criação. Você não é meu filho legítimo, embora
eu o considere.
Eu queria gritar com os dois, mas minha voz não saía. Meu corpo não me permitia
me mover.
­ Daniel, quando engravidei de você, eu era muito jovem. Muito mesmo. Seu
verdadeiro pai nos abandonou e eu não tinha nada na cabeça. Era uma hippie sem o
mínimo de consciência. Seu pai, este aqui, era meu amigo e de seu verdadeiro pai e
bem mais velho que nós dois. Portanto decidi deixar você com ele e dar um jeito na
minha vida. Foi mais do que egoísmo, o que fiz foi desumano. Não estou pedindo
que me perdoe, eu não me perdoaria. Só acho que deveria saber a verdade.
­ SÓ ACHA? – Consegui emitir um som estranho, me levantando. – ACHOU
ADEQUADO ESCONDER DE MIM UM DETALHE DESSES? – Agora me dirigia ao
homem na minha frente, que dizia ser meu pai.

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­ Achei. Você estava perfeitamente bem na nossa família, não precisava de um


motivo para largar tudo e ir atrás de sua mãe.
­ Você não tinha esse direito. NÃO TINHA!
Nunca na minha vida tanta coisa me bombardeava. Era muita, muita informação
mesmo. Agora o que Mary havia dito algumas horas atrás fazia sentido, me
chamando de bastardo. O que significava que até ela sabia e eu não.
­ Desculpe­me, Danny. Desculpe­nos. Achei que deveria lhe contar quando me disse
que estava gostando e se relacionando com sua “prima”. Ela não é sua prima, não é
nada sua.
Minha boca se abriu alguns centímetros. Eu havia me esquecido por um momento.
Ela não era a minha prima. Podíamos ficar juntos. Não sabia se ficava feliz ou com
raiva.
Sentei novamente e coloquei a cabeça entre as mãos. Quando Mell descobrisse, era
capaz de ter um colapso.
­ Por mais raiva que eu esteja sentindo de você agora, saiba que continua sendo
meu único pai. Não quero saber de mais ninguém. A senhorita pode voltar com a sua
vida normal agora, não vou mais atrapalhar.
Tracy me olhava com lágrimas nos olhos.
­ Espero que um dia pelo menos possamos ser amigos.
­ Nem amigos fazem esse tipo de coisa.
Ela encarou o chão.
­ Hm, Tracy, melhor você ir embora. Depois podem conversar direito.
­ Não, é sério, não quero mais conversar com você. Pode ir embora para sempre, de
novo.
Ela deixou uma lágrima escorrer e se virou, deixando o apartamento.
­ Como você aceitou uma coisa dessas, pai?
­ Eu não iria deixar um bebê sem ninguém. Você faria o mesmo. E não me arrependo
por nada nesse mundo, você se tornou a melhor pessoa que conheço. Olha, tem
alguém que vai gostar muito de saber disso. Melhor ir contar pra ela.
Encarei John pela primeira vez e ele deu um sorriso.
­ Vou atrás de vocês, preciso explicar as coisas ao Jack, mas primeiro preciso deixar
Tracy em casa.
­ Eles também sabiam, imagino?
­ Sim, os pais dela sempre souberam. Olha, Daniel, eu realmente gostaria que você
se entendesse com a sua mãe.
­ Não sei, pai. Não quero pensar nela agora. O que ela fez não tem perdão.
Ele concordou sério e me levantei, sendo seguido por John.

A porta de número 502 estava fechada em minha frente. Atrás dela estava à resposta
para todos os meus problemas. Eu era capaz de me esquecer de tudo quando a via.
Agora era diferente, estávamos livres. Livres da culpa, uma nuvem escura que nos
seguia desde que Mell apareceu na fazenda pela primeira vez depois de todos aqueles
anos. Saber que nada do que fizemos estava errado me deixava aliviado. O amor
estava certo, afinal de contas.
Quando abri a porta depois de dar três batidas, eu sorria como nunca havia sorrido
antes.

Capítulo revisado por Marcela Spaolonzi

FIM

Nota da autora:

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