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Nomes, lugares, e outros incidentes são produtos da imaginação do autor ou são usadas na ficção.
Qualquer semelhança a eventos atuais, locais, ou pessoas, vivo ou morto, é mera
coincidência.Direitos Autorais © 2017 da Lucasfilm Ltd. ® TM onde indicada. Todos os direitos
reservados. Publicado nos Estados Unidos pela Del Rey, uma impressão da Random House, um
divisão da Penguin Random House LLC, Nova York. DEL REY e a HOUSE colophon são marcas
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— Hum, como você sabe tanto sobre o que foi dito naquela época? —
perguntou o homem encapuzado. — Você estava lá?
— Claro que não, — respondeu Redy. — Obviamente, estou usando um
pouco de licença poética para contar uma história melhor.
— Ah, — disse o homem encapuzado. — Licença poética. Certo.
— Tive que juntar o que aconteceu a partir de rumores e pistas
coletadas ao longo de muitos anos e sistemas diferentes, e a reconstrução
exigiu preencher as lacunas com alguma especulação. — Redy soou um
pouco defensiva. — Mas estou bastante certa de que sei o que aconteceu. É
preciso uma mente treinada para fazer os saltos lógicos necessários e
conectar os pontos a partir das dicas mais vagas, você entende?
Fizemos um gesto para que ela continuasse.
Curiosa, a princesa decidiu ouvir o que a gangue tinha a dizer, mas o plano
que O’Kenoby e a sua turma criaram era tão absurdo que ela
sumariamente mandou todos de volta às suas celas.
Mas ela também não prosseguiu com o plano original de um
julgamento-show.
Conforme a situação da Aliança Rebelde piorava a cada dia, a princesa
voltava para conversar com a gangue de tempos em tempos. Quanto mais
ela pensava sobre o plano deles, menos absurdo parecia.
E para convencê-la ainda mais, Shooter e Clodplodder usaram seus
consideráveis encantos na princesa, e no final, Shooter conseguiu fazer
com que a princesa se apaixonasse por ele. Até hoje não consigo imaginar
como ele conseguiu isso.
Além disso, como você já deve ter percebido, Shooter, ou 'General Solo'
como o conhecemos, basicamente deve toda a sua suposta carreira à
Princesa Leia. Ele nunca foi útil como líder ou combatente. Todas essas
histórias de suas façanhas foram inventadas mais tarde pelo governo da
Nova República para fazer o cônjuge de Leia parecer mais impressionante
e glamoroso. Vamos lá! Um contrabandista com coração de ouro? O vadio
que de repente encontra coragem e habilidades de liderança por causa do
amor de uma princesa? Sério? Nem mesmo as holonovelas usariam um
enredo tão clichê e ridículo.
O calor de mil sóis. Sede insuportável. Dor como eu nunca tinha suportado.
Os meus olhos se abriram para a careta de uma mulher usando o gorro
preto do uniforme da Marinha Imperial. Eu não a reconheci. Tentei falar, mas
apenas um grunhido saiu de minha garganta ressequida. Fixei o olhar em seus
olhos, desejando que ela respondesse.
Percebi os seus lábios rachados, o queixo ensanguentado, o...
A minha mente queria fugir da visão, mas o meu corpo não respondia.
O rosto pertencia a uma cabeça que não estava ligada a um corpo. Estava
sentada na areia do deserto cintilante como um cacto. A areia sob a cabeça era
um vermelho escuro.
Ao meu redor, haviam pedaços espalhados dos destroços de pod de escape
e corpos retorcidos em posições impossíveis. Fumaça acre. Ondas de calor do
entulho ainda em chamas. Cadáveres e mais cadáveres.
Tentei gritar, mas não conseguia recuperar o fôlego. Desmaiei novamente.
Nas sombrias histórias contadas por minha mãe, os heróis precisavam entender
os vilões para derrotá-los. O conhecimento era o primeiro passo para o
controle, para o poder, para a ordem.
Eu precisava conhecer esse homem que me havia capturado e que também
me havia resgatado de uma tempestade de areia e me entregado o último de
sua comida. Eu precisava conhecer esse homem que me aterrorizava, mas que
também me intrigava.
Eu tinha visto os cartazes de procurado, as imagens trêmulas em
hologramas. Recordava a figura reluzente no convés do cruzador rebelde,
puxando naves estelares imperiais do céu com as próprias mãos. Lembrava-me
da maneira como ele tinha lutado pelo destroço comigo amarrado às suas
costas, recusando-se a me abandonar à morte certa. Talvez ele só quisesse me
salvar para algum propósito obscuro mais tarde, ou talvez não. Eu pensava que
sabia tudo o que havia para saber sobre esse homem, mas na verdade, não
sabia nada.
Depois da tempestade de areia, retomamos a nossa jornada.
Perdi a conta de quantas naves estelares passamos, com as suas piras
funerárias ainda ardendo. Como não tínhamos mais rações, comemos raízes
amargas que ele cavou nas dunas e pequenos roedores que ele capturou com
uma rede tecida a partir de delicados fios condutores de íons imperiais. Às
vezes, ele cozinhava a carne; outras vezes, rasgávamos a carne dos ossos com
nossos dentes. O meu estômago doía por causa dessa dieta bárbara.
Começamos a subir uma colina, e o homem teve que parar a cada poucos
passos para recuperar o fôlego.
Era difícil conciliar a figura desse homem, mortal, fraco, comum, com o
vislumbre do poderoso Jedi que eu havia visto na ponte da minha nave. Será
que eu tinha imaginado tudo? Diante das dunas de areia infinitas e
implacáveis, todos eram iguais, fosse você um mágico ou apenas um soldado
comum.
Ele parou novamente, mas desta vez, em vez de descansar, ele se virou pra
mim, destampou um cantil e pressionou o bico contra os meus lábios.
Abanei a cabeça e afastei o rosto. A água, depois de ferver sob o calor do
sol por tantos dias, tinha um gosto amargo e metálico. Beber aquilo me fez
querer vomitar.
— Você não bebeu por mais de uma hora agora, — ele disse. — Eu sei que
você se sente terrível, mas a desidratação vai piorar.
Na verdade, eu estava me sentindo perto da morte. A minha visão estava
turva e flutuava. A febre era tão intensa que eu me imaginava não muito
diferente dos destroços em chamas que passávamos. Fechei os olhos para que
o mundo permanecesse imóvel.
Eu não conseguia respirar.
Os meus olhos se abriram abruptamente. Ele tinha beliscado as minhas
narinas. Que tipo de tortura era essa?
Em pânico, abri a boca para respirar. Ele esperou até que eu tivesse
respirado antes de forçar o bico do cantil entre os meus dentes. Mordi, mas era
impossível impedi-lo. Ele havia empurrado fundo demais.
— Bebe, — ele rosnou. — Ou vou começar a despejar e você pode se
afogar, tanto faz.
Eu concordei. Ele soltou. Engoli o líquido amargo e repugnante. Não tinha
dúvida de que ele estava disposto a cumprir a sua ameaça. Um rebelde,
especialmente um Jedi, era capaz de qualquer ato de crueldade.
Depois de beber, ele retomou a tarefa de me puxar pela encosta íngreme da
duna.
— Eu preciso de um médico, — eu ofeguei. Era vergonhoso para um
soldado imperial implorar, mas eu estava além da vergonha agora.
— Eu sei.
Balancei pra frente e pra trás enquanto ele me arrastava em direção ao céu
brilhante. Olhei pra trás para o cemitério de naves estelares. Elas cintilavam no
calor. Talvez em breve eu fosse me juntar a elas, juntamente com todos os
meus camaradas mortos.
— Há um lugar cercado por muralhas além da duna, — ele disse. No meu
estado de quase coma, a voz dele soava distante, irreal. — É guardado por
stormtroopers, e ouvi rumores de que soldados mascarados em túnicas
carmesins o patrulham de vez em quando. Estou te levando para lá.
Eu não conseguia falar. Então ele estava planejando um ataque a um reduto
imperial. Será que ele esperava me usar como refém? Certamente ele sabia que
isso seria inútil. Na Marinha Imperial, éramos treinados para tratar reféns
exatamente da mesma maneira que se tratava os sequestradores, porque eles
eram fracos e se permitiam ser usados como escudos. Eu queria dizer a ele que
ele não ganharia vantagem alguma me arrastando consigo.
Mas a minha mente lenta finalmente entendeu a importância de suas
palavras. Se o complexo que ele falava estava guardado por stormtroopers e
pela Guarda Real do Imperador, então provavelmente era uma fortaleza
importante, o fato de eu não ter ouvido falar disso provavelmente significava
que era secreto. Nem mesmo um Jedi teria facilidade em romper as defesas de
um lugar assim.
Eu ainda podia me redimir sabotando o seu ataque. E se eu de alguma
forma sobrevivesse, haveriam médicos, droides médicos, água fresca,
segurança.
A esperança, que eu pensava já estar morta, acendeu-se profundamente na
minha mente.
Com um último tranco, alcançamos o topo da duna e olhamos para o outro
lado.
Ele não tinha mentido. O complexo murado estava no deserto como uma
coroa negra. Os muros eram interrompidos em intervalos regulares por torres
de vigia. Forcei-me a vislumbrar os imponentes stormtroopers, mas estávamos
muito longe.
O homem se sentou na maca ao lado dos meus pés. Ele desamarrou um par
de varas longas que terminavam em pás planas. Eu sabia o que eram: lâminas
de uma bomba de circulação de ar instalada em naves estelares. Ele colocou as
varas sobre os joelhos como os remos de um barco a remo e cravou as pás
planas na areia.
— Vamos lá, — ele disse, e empurrou com força.
Deslizamos pela grande onda de areia na jangada da maca, e manuseou os
remos habilmente, nos dando mais velocidade quando achou que
precisávamos, e nos desviando dos esqueletos de animais salientes e
aglomerados de vegetação quando eles se aproximavam.
Cada vez mais rápido navegamos. Foi a viagem mais emocionante e
estranha da minha vida.
Preparei-me para um esforço desesperado assim que os guardas imperiais
entrassem na visão. Eu o empurraria para fora da maca e gritaria por ajuda,
para que os stormtroopers soubessem que eu era leal, que eu não tinha sido
deixado indefeso por esse perigoso criminoso de guerra, que eles ainda podiam
me resgatar.
Mas nenhuma armadura branca e esperançosa apareceu nas paredes
quando nos aproximamos. As portas do complexo estavam completamente
abertas, e alguns homens e mulheres, puxando macas muito parecidas com a
que eu estava, saíram com pilhas de bens roubados.
O último vestígio do meu orgulho e resistência me deixou; chorei sem
poder me controlar.
Aya fez as asas da figura funerária com quatro conchas de molusco, que ela
amarrou a um torso esculpido de um pedaço de coral. Ela enterrou a
pequena figurinha de wind-truster na areia e então colocou uma concha
recheada com ovas fermentadas de enguia porthomer, o petisco favorito de
Deek-Deek, sobre ela.
— Durma bem, minha amiga.
O sol estava brilhante e o ar quente. A tempestade que havia tirado a
vida de sua wind-truster parecia um pesadelo. Mas, é claro, não era um
sonho de forma alguma.
Ela chorou até não ter mais lágrimas. Foi assim que ela soube que a
Maré queria que ela seguisse em frente. Até o luto tinha que diminuir. Ela
se levantou e voltou para a aldeia.
A ave de metal que a resgatou estava no espaço aberto no meio das
cabanas, suas asas em forma de X dobradas ordenadamente. A cúpula azul
e prateada que era seu cérebro girava e assobiava no topo de sua cabeça. E
o cavaleiro da ave, um forasteiro, estava sob as suas asas esquerdas,
conversando com a Anciã Kailla-Glon-Vow.
— Não somos ingratos pelo que você fez, — disse a Anciã Kailla. —
Resgatar a minha neta daquela tempestade foi... não tenho palavras para
descrever o que sinto. Mas o que você está pedindo é simplesmente
impossível. Deve haver outra maneira de agradecermos.
— Você está entendendo errado, — disse o estranho. Ele olhou para
Aya, que acabara de entrar no espaço aberto, e sorriu para ela. Aya sorriu de
volta timidamente. — Eu estava no lugar certo na hora certa para resgatar
Aya. Eu vim para Lew'el para estudar com vocês por causa das histórias
antigas que ouvi sobre a sua... magia.
— As histórias frequentemente são falsas, — disse a Anciã Kailla. —
Principalmente se falarem de magia.
— As pessoas frequentemente chamam de mágica o que não entendem,
— disse o estranho. — É por isso que nunca devemos parar de aprender. —
Havia um poder em sua voz que parecia fazer o próprio ar formigar com as
possibilidades.
— Ele sente a Maré, — sussurrou Tonn, que se juntara à irmã.
Aya assentiu. Ela podia sentir o homem estendendo a mente,
acariciando quase inconscientemente a grama das dunas oscilantes e as
árvores de adivinhação.
A Anciã Kailla falou lentamente e com cuidado:
— O desejo de aprender é louvável, mas não é suficiente. Deve haver
também o desejo de ensinar.
— Espero encontrar esse desejo aqui. — O tom do homem era
igualmente calmo e deliberado.
A Anciã Kailla e o homem se encararam, e embora nenhum dos dois se
movesse, não havia como confundir a tensão entre os dois. Tonn e Aya
prenderam a respiração.
— Você vai tentar mudar as nossas mentes, então, — disse a anciã, sua
voz rígida e formal. O ar parecia esfriar ao seu redor.
— Avó! — Aya não conseguiu mais ficar em silêncio. — Ele não quer
dizer...
A Anciã Kailla estendeu a mão e silenciou a sua neta. A anciã encarou o
estranho e se curvou para frente, como se estivesse se preparando para
suportar um grande fardo.
Mas o estranho balançou a cabeça.
— Um sábio professor me disse uma vez: 'Faça. Ou não faça. Tentativa
não é uma opção.' Você vai me ensinar, ou não vai.
A Anciã Kailla relaxou.
— O seu professor é sábio. E vejo que você não pretende impor
obediência, embora sua habilidade com a Maré seja considerável.
— Viajei por toda a galáxia, procurando aqueles que são sensíveis à...
Maré e entendem os seus caminhos. Estou interessado no conhecimento:
dado livremente e recebido livremente.
— Eu não acho que você conheça a Maré por esse nome, Buscador.
— Há mil nomes para a verdade, — disse o homem que a Anciã Kailla
chamou de Buscador. — Não importa como a chamamos, apenas que seja
verdade.
A Anciã Kailla encheu as bochechas de ar e soltou um longo suspiro.
— Você pode ficar para o festim celebrativo esta noite, no qual você é o
convidado de honra. De manhã você partirá.
Buscador, não mostrando sinais de surpresa ou inclinação para
argumentar, assentiu.
— Obrigado.
— Isso é tudo? — murmurou Tonn. — Pelo menos o mantenha por aqui
por alguns dias caso ele tenha boas histórias.
A Anciã Kailla o encarou.
— Você o ouviu. 'Faça. Ou não faça.' Eu escolho 'Não faça'.
Buscador sorriu para Tonn e Aya.
— Com certeza vou contar algumas histórias pra vocês.
— Os Jedi eram guardiões da galáxia, — disse Buscador. O seu rosto
piscava nas sombras projetadas pela fogueira rugindo, ao redor da qual os
aldeões dançavam e cantavam. — Por mais de mil anos, eles usaram a
Força para preservar a paz. Eram amados por aqueles que amavam a justiça
e temidos por aqueles que serviam o mal.
— Como é a Força? — perguntou Aya, fascinada.
— É um campo de energia criado por todos os seres vivos. Ele nos
cerca e nos penetra; ele une a galáxia.
— Parece a Maré, — disse Aya. — A Avó diz que é uma teia que
conecta as estrelas mais brilhantes no céu ao menor camarão no fundo do
mar. O seu fluxo e refluxo são a respiração do universo, e sua ascensão e
queda são os batimentos cardíacos da própria Vida...
— Aya! Lembre-se do que a Avó disse, — repreendeu Tonn.
Aya mostrou a língua pra ele. Mas ela parou. Tentou mudar o assunto.
— Como é a galáxia? É divertida?
— É muito grande, — disse Buscador. — Existem partes divertidas e
partes nem tão divertidas.
— Fale-me sobre alguns dos lugares por onde você esteve.
— Tudo bem, mas deixe-me comer algo primeiro.
Buscador agradeceu ao aldeão que parou para lhe entregar um grande
prato de moluscos assados e tentáculos de lula grelhados. Ele comeu com
vontade do prato e bebeu suco fermentado de uma casca de noz de doco.
Ele observou os aldeões agitar mantas espessas tecidas a partir de fibras
de noz de doco sobre a fogueira enquanto entoavam um cântico, dividindo a
fumaça da fogueira em anéis distintos e ascendentes. Era uma dança
associada a uma mensagem, uma longa oração ao ritmo eterno da Maré.
Então Buscador falou às crianças sobre cinturões de asteroides onde
lesmas espaciais gigantes se escondiam, sobre planetas desérticos onde
bandidos e contrabandistas se reuniam em cantinas decadentes, sobre
mundos selvagens onde ruínas antigas de civilizações há muito perdidas se
degradavam, sobre planetas onde toda a superfície era coberta por
construções e cheia de bilhões de seres sensíveis de todas as espécies
conhecidas, sobre a beleza e a desolação de saltar pelo hiperespaço para
viajar de um mundo a outro, como um sapo que pula de folha flutuante para
folha flutuante.
Quando Buscador finalmente parou, Tonn o olhou com ceticismo.
— Não sei quanto do que você está dizendo é real. Essas histórias
parecem sonhos.
Mas Aya suspirou.
— Elas parecem incríveis. Gostaria de ver o resto da galáxia. Nada
acontece por aqui.
Buscador riu.
— Entendo como você se sente. O que você gostaria de fazer lá fora?
— Não sei, — disse Aya. — Talvez pilotar uma ave de metal, como
você.
— Você seria uma boa pilota. Ouvi dizer que você é uma excelente
cavaleira de aves.
Aya ficou satisfeita. Mas então ela se lembrou de Deek-Deek e o luto
abafou o seu orgulho.
— Uma cavaleira é tão boa quanto a sua montaria.
Buscador assentiu.
— Um sentimento sábio. Deve haver confiança entre o piloto e a
montaria.
— Como você confia em uma máquina? — perguntaram Tonn e Aya
juntos.
Antes que Buscador pudesse responder, a Anciã Kailla se aproximou
deles.
— Crianças, — disse a anciã, — é hora de vocês deixarem o nosso
convidado em paz e irem para a cama.
Relutantemente, Aya e Tonn disseram os seus adeus e foram embora.
A Anciã Kailla sentou-se ao lado de Buscador. Eles compartilharam
uma tigela de noz de doco, passando-a de um lado para o outro, sorvendo o
doce suco fermentado.
— As nossas histórias dizem que antes do seu Império, antes da sua
Velha República, antes mesmo de haver Jedi, o nosso povo veio a este
mundo em busca de refúgio, — disse a anciã sem provocação.
Buscador deu um gole na tigela e não disse nada.
A anciã continuou em um tom sonhador, como se estivesse falando mais
para si mesma do que para Buscador.
— A Maré é uma força poderosa, e ela pode te afogar assim como te
elevar. Muito antes de chegarem a Lew'el, os nossos antepassados
aprenderam como cavalgar a Maré. Por um tempo, eles foram as estrelas
mais brilhantes da galáxia, despertando o interesse daqueles que amavam o
poder e buscaram a ajuda de meus antepassados em sua busca por mais
dele. Alguns de meus antepassados sucumbiram à tentação e acreditaram
que poderiam dominar uma força que sustentava o próprio tecido da
existência; outros acreditavam que era impossível e também moralmente
repugnante tentar transformar a Maré, o éter que conecta tudo a tudo mais,
em um instrumento de dominação. A guerra entre eles trouxe grande
sofrimento e devastou mil mundos antes de finalmente se extinguir. Os
sobreviventes vieram para Lew'el para se esconder, prometendo nunca mais
permitir que o conhecimento da Maré fosse usado para pervertê-la.
— Você tem medo do lado sombrio da Força, — disse o Buscador.
A Anciã Kailla balançou a cabeça.
— Não pensamos na Maré dessa maneira. O fluxo e refluxo são fases de
uma única Maré, não dois lados opostos. Usar a Maré é pervertê-la.
Mais aldeões se levantaram e foram para a cama. Apenas alguns
permaneceram, ainda dançando, rindo e cantando ao redor do fogo.
Após alguns minutos, Buscador quebrou o silêncio.
— Com saltos de hiperespaço, podemos viajar mais rápido que a luz. —
Ele apontou para o céu estrelado. — A luz que você vê de algumas dessas
estrelas levou centenas de anos, até milhares, para chegar aqui. O que você
vê lá em cima não é, na verdade, um reflexo da realidade. Algumas dessas
estrelas já se moveram muito das posições que você vê nas constelações.
A Anciã Kailla riu.
— Você não precisa falar em parábolas para mim. A Maré conecta tudo
no universo em uma única teia, de modo que grandes tremores são sentidos
instantaneamente através de todos os fios. Não somos ignorantes quanto à
realidade na galáxia mais ampla.
— Então você também deve saber que algumas das estrelas não existem
mais, que alguns dos mundos lá em cima foram destruídos, e milhões de
vozes foram silenciadas de uma só vez por aqueles que anseiam pelo poder
acima de tudo.
O rosto da anciã caiu.
— Senti esses choques na Maré, como se um grande tsunami varresse
um recife de coral, deixando devastação e esqueletos branqueados para trás.
A cor da vida se esvaiu das correntes, e apenas a dor sombria do luto
permaneceu.
— Alguns se voltaram para o lado sombrio da Força e desejam afogar a
galáxia em uma maré crescente de sofrimento. Cabe a nós, que temos
conhecimento da Força, detê-los, restaurar o equilíbrio. Mas as mortes dos
Jedi fizeram com que muito conhecimento sobre a Força fosse esquecido, e
é por isso que busco seu conhecimento, para que possamos derrotar o lado
sombrio.
— Eu já disse: não existe 'lado luminoso' ou 'lado sombrio', — disse a
anciã. — A Maré está além do poder de qualquer pessoa ou grupo. São
aqueles que buscam dominá-la, controlá-la, qualquer desculpa que
inventem para si próprios, que causam sofrimento. O nosso conhecimento
não deve ser compartilhado.
— O conhecimento pode ser usado para o bem ou para o mal, — disse
Buscador. — Estudo a Força não para ganhar poder, mas para trazer
equilíbrio e justiça de volta à galáxia. Vocês são pacifistas, mas o mal deve
ser confrontado, e vocês podem ajudar. As últimas palavras do meu mestre
para mim foram: 'Transmita o que você aprendeu.' É um dever.
A anciã suspirou.
— Nunca vamos convencer um ao outro.
Buscador esvaziou a tigela de noz de doco.
— Então, por que ensinar os seus filhos sobre a Maré? Por que não
deixar o conhecimento afundar no abismo do esquecimento?
— Não ensinamos a ninguém sobre a Maré até que tenham provado
estar livres do desejo de dominá-la.
Buscador olhou para a tigela vazia de noz de doco por um tempo,
aparentemente tentando tomar uma decisão.
— Então deixe-me provar isso. Dê-me os mesmos testes que vocês dão
às suas crianças.
A Anciã Kailla olhou para Buscador.
— Você estaria disposto a ser tratado como uma criança para obter esse
conhecimento?
— Não há vergonha em desaprender o que aprendi na busca pela
sabedoria.
A anciã balançou a cabeça e riu.
— Só posso desejar que um dia você também seja importunado por um
aluno tão persistente em aprender o que você não deseja ensinar.
A aldeia estava agitada de excitação. Pela primeira vez na memória viva,
um forasteiro iria tentar os antigos testes usados para selecionar aqueles que
seriam agraciados com o privilégio de estudar a arte de cavalgar a Maré.
Tonn estava especialmente animado. Ele havia sido escolhido para
administrar o teste para Buscador.
O primeiro teste também era o mais simples, caminhada nas nuvens.
Buscador parecia confuso.
— Você quer dizer que eu devo... caminhar no céu?
— Não, — disse Tonn rindo. — O nome é uma metáfora. Vou te
mostrar.
Os aldeões de Ulon Atur deixaram a ilha nas costas de um bando de
wind-trusters e se dirigiram para o mar aberto ao sul. Aya, que ainda estava
lamentando a morte de Deek-Deek, montou com a Anciã Kailla. Buscador
montava atrás de Tonn em Coni-Co e fez perguntas a ele sobre como
'pilotar' uma ave gigante. Tonn estava se divertindo atuando como
professor.
Ao sinal da Anciã Kailla, o bando mergulhou na calma do mar perto de
um atol que mal se destacava da água.
— Este atol, chamado Ulon Ipo-Lito, dizem ser os restos de uma ilha
submersa que uma vez abrigou outro assentamento como o nosso. Por
gerações, tem sido o campo de provas para o teste de caminhada nas
nuvens.
— Entre na água e observe, — disse Tonn. Ele mergulhou das costas de
Coni-Co e desapareceu sob a superfície com pouco respingo. Com cuidado,
Buscador deu um mergulho profundo e o seguiu para dentro do mar.
Submerso, o atol se expandiu em uma montanha submarina que descia
nas profundezas turvas. A ponta da montanha, a parte banhada pela luz do
sol brilhante filtrada através da água clara, tinha cerca de um quilômetro de
circunferência. Coberta por corais coloridos e algas ondulantes, a montanha
também estava cravejada de pequenas cavernas das quais jorravam córregos
de bolhas. Os enxames de bolhas realmente pareciam nuvens girando ao
redor do pico de uma montanha alta.
Tonn nadou diretamente para uma das correntes de bolhas e segurou-se
na lateral da montanha. Lá, ele arrancou duas pedras e amarrou-as aos
tornozelos com fios de alga. Assim, carregado, ele olhou para Buscador,
sorriu e fez um gesto com a boca, então inclinou-se sobre a corrente de
bolhas e as engoliu como se estivesse comendo.
Depois que se saciou, ele começou a caminhar em torno da montanha
subaquática ao longo do que parecia ser uma trilha bem percorrida, soltando
correntes de bolhas pelo nariz. Quando chegou à próxima nuvem de bolhas,
ele abriu a boca novamente e engoliu mais ar.
Buscador não podia mais segurar a respiração e nadou para cima,
rompendo a superfície com um grande respingo.
— Uma vez que você inicie o teste, não pode voltar à superfície até ter
circulado a montanha toda, confiando apenas nas nuvens de bolhas para o
ar. Se voltar à superfície, perderá. — A expressão da Anciã Kailla estava
satisfeita, como se tivesse certeza de que Buscador não estava à altura da
tarefa.
Para surpresa dela, Buscador assentiu, respirou fundo e mergulhou
novamente.
Os aldeões assistiam das costas de seus wind-trusters com expectativa.
Quase todos eles tinham tentado o teste embora nem todos tivessem
passado, e sabiam que havia um grande elemento de talento natural
envolvido. Algumas crianças Lew’elanas pareciam ter uma compreensão
intuitiva de como respirar debaixo d'água, confiando que as nuvens de
bolhas reabasteceriam o suprimento de ar em seus pulmões. Outros não
conseguiam superar o seu medo natural de se afogar e nunca desenvolviam
um senso de conforto com a proximidade da morte.
Tonn estava agora a cinquenta metros de distância de onde tinha
começado. Ele parou e olhou para trás para ver o que Buscador faria.
Buscador deslizou pela água em direção à primeira nuvem de bolhas.
Enquanto nadava, ele se desfez de sua vestimenta. Quando chegou à
montanha subaquática, já tinha tirado a sua vestimenta e a segurava sobre as
bolhas como um cobertor sobre uma fogueira ardente.
— O que ele está fazendo?
— Nem mesmo está tentando respirar o ar.
— Ele deve estar aterrorizado.
Os aldeões confusos acima da superfície conversavam entre si.
À medida que as bolhas se acumulavam sob a roupa, ela se inflava
como um balão. Quando Buscador julgou que o balão estava grande o
suficiente para o conforto, ele enfiou a cabeça sob a roupa, na bolha de ar, e
deu um grande gole de ar. Em seguida, agarrou a borda inferior da roupa
como uma água-viva flutuante e, auxiliado por sua flutuabilidade, saltou ao
longo da face íngreme do penhasco submarino até a próxima nuvem de
bolhas, onde reabasteceu o balão da roupa e respirou novamente.
Os aldeões ficaram atônitos em silêncio.
— Isso é trapaça! — disse uma das meninas depois de um tempo.
— Não havia regra contra usar as roupas que ele está vestindo para
ajudar, — disse Aya. Como a pessoa resgatada por Buscador, ela sentia o
dever de defendê-lo.
Naquele momento, Tonn já havia se recuperado da surpresa. Sorrindo,
ele tirou a sua túnica e imitou a técnica de Buscador. Os dois flutuavam ao
longo da montanha submarina, saltando de bolha de nuvem para bolha de
nuvem, parecendo um par de águas-vivas dando um passeio tranquilo.
— Avó, o que Buscador está fazendo realmente vai contra as regras? —
perguntou Aya.
Anciã Kailla balançou a cabeça. Mas Aya achou difícil ler a sua
expressão.
Depois de cerca de quinze minutos, tanto Tonn quanto Buscador haviam
completado o circuito ao redor da montanha e emergido.
— É uma solução não convencional, — disse Anciã Kailla.
— Mas funcionou, — disse Buscador, nadando enquanto afastava o
cabelo molhado de seus olhos. A roupa, ainda cheia de ar, flutuava na
superfície.
— O objetivo da tarefa é adaptabilidade. Você deveria ter aprendido que
a Maré está sempre lá para te sustentar, que você deve confiar nela e
abandonar as suas preconcepções, — disse Anciã Kailla. — Ao confiar na
Maré, você pode respirar debaixo d'água.
— A confiança não significa que você não pode moldar e criar o seu
ambiente também, — contra-argumentou Buscador. — Não significa que
você não pode reunir pequenos bolsões de poder e concentrá-los em algo
maior.
— O fluxo natural da Maré não deve ser moldado, mas sim adaptado,
— disse a anciã.
— Ilhas ficam no mar e direcionam o fluxo da Maré ao redor delas.
Como a roupa de um homem é menos natural que uma ilha? No grande
fluxo da Maré, tudo molda tudo mais. Adaptação não significa apenas
aceitação.
— Posso ver que seus professores devem ter tido muitos problemas com
você, — disse Anciã Kailla. No entanto, ela não soava desapontada.
— Você está certa sobre isso, — disse Buscador. O seu tom tornou-se
nostálgico. — Eu discuto muito com meus professores. — Então ele sorriu.
— Já que estamos discutindo, isso significa que você concordou em ser
minha professora?
— Eu não fiz nada parecido! — Mas Anciã Kailla teve que lutar para
reprimir um sorriso próprio.
Aya deu um polegar para cima ao Buscador quando achou que a sua avó
não estava olhando.
Eles continuaram sobre o mar sem fim, dia após noite após dia, sempre com
o sol surgindo à sua frente, sempre com as estrelas girando acima.
Às vezes, uma tempestade os separava, por algumas horas ou até
mesmo alguns dias. Aya buscava o mar e o céu ansiosamente durante esses
momentos, incerta se veria Buscador novamente. Mas de alguma forma eles
sempre conseguiram se encontrar, auxiliados pela audição aguçada e pela
visão dos wind-trusters.
O Buscador aprendeu a identificar correntes ascendentes sobre o oceano
por mudanças sutis no ar cintilante ou pelas cores em mutação do mar. Ele
ficou melhor em guiar Coni-Co, e o pássaro também aprendeu a confiar em
seu cavaleiro inexperiente, que parecia ter um jeito de perceber a direção
certa para virar e pegar as correntes mais rápidas.
Eles dormiam no vento, segurando-se nas selas de bambu. Esgotavam
os seus suprimentos e sofriam com a fome entre as alimentações pouco
frequentes. Em tempestades, suportavam serem atingidos por pedras de
granizo e chuva pesada. Sob a luz solar tropical escaldante, sentiam a sua
energia ser drenada gota a gota pelo suor no calor implacável. Aya
observava enquanto a pele de Buscador ficava com bolhas e o seu rosto se
tornava cadavérico.
Ele tinha suportado, e estava prestes a passar pelo teste.
E então o momento que Aya estava temendo chegou.
Eles haviam voado por um mês, e estavam se aproximando de Ulon
Atur pelo oeste, a poucos dias de completar a grande circunavegação,
quando o vento desapareceu de repente de sob as asas dos wind-trusters.
Ambas as aves mergulharam precipitadamente antes de baterem as suas
asas vigorosamente para recuperar altitude.
— Bem-vindo a Estagnação — disse Aya.
A Estagnação eram uma área do oceano cujo tamanho e forma
mudavam com as estações. Uma combinação de correntes oceânicas e
padrões climáticos criava um local na superfície de Lew'el onde os ventos
morriam. Voar por essa região era extremamente exigente, já que os wind-
trusters tinham que manter as suas asas em movimento o tempo todo. Wind-
trusters que entravam acidentalmente nesse trecho às vezes entravam em
pânico, perdiam toda a noção de direção e nunca conseguiam sair. Eles
acabavam caindo mortos dos céus eventualmente, tendo esgotado até a
última gota de energia tentando se manter no ar.
Mas como os wind-trusters raramente entravam nessa área, também era
um local favorito para suas presas se reunirem, especialmente o esquivo
marlim dourado, cujas escamas cintilavam com um brilho tão brilhante
quanto ouro líquido.
— Aqui você enfrentará o terceiro teste — disse Aya.
Buscador olhou para ela, através do espaço entre as asas batentes de
suas respectivas montarias, com o seu rosto cheio de perguntas.
— Quando a Avó me pediu para guiá-lo até a Estagnação, ela pretendia
invocar uma antiga tradição. O terceiro teste é um teste de pesca, e
geralmente se espera que o jovem capture algo raro e valioso. Mas o peixe
mais difícil de pegar é o marlim dourado, que só se aproxima da superfície
da Estagnação.
— Estou... lisonjeado — disse Buscador. — Um mestre impõe o teste
mais difícil apenas ao aluno mais promissor.
— Não presuma — disse Aya. — A Avó sempre diz que o teste mais
difícil é reservado tanto para os alunos mais promissores, para levá-los mais
longe, quanto para os alunos mais perigosos, para mantê-los afastados.
Buscador assentiu.
— Ambição e vaidade, ambos levam ao lado sombrio. Eu entendo.
Então... o que eu preciso fazer?
— Eu vou te mostrar.
— Como... como posso fazer algo com isso? — perguntou Buscador. Sua
voz estava carregada de incredulidade, mas também de uma espécie de
admiração.
Era fácil entender o por quê. Ele segurava um longo e fino bastão
horizontalmente pelo meio, e o bastão se estendia meio quilômetro de cada
lado de Coni-Co. O bastão era tão longo que ambas as extremidades
desapareciam à distância de seu poleiro no pássaro. Era como um
equilibrista em circos ainda populares em alguns dos Mundos do Núcleo,
exceto que o seu bastão de equilíbrio era absurdamente longo.
— Você deve pescar — disse Aya.
Tanto ela quanto Buscador estavam equilibrados precariamente nas
costas de seus wind-trusters, com as pernas enroladas firmemente em volta
dos pescoços das aves e as suas cinturas amarradas às suas montarias com
finas linhas de segurança feitas de seda de caranguejo de pedra. Eles já não
estavam sentados com segurança em suas selas.
Isso porque Aya tinha acabado de passar a última hora mostrando a
Buscador como desmontar as selas de bambu peça por peça e conectar as
extremidades dos finos mastros segmentados entre si até que eles tivessem
montado as lanças de pesca de um quilômetro de comprimento.
Aya continuou explicando:
— Como não há vento na Estagnação, os wind-trusters têm medo de
voar muito baixo, porque se caírem na água, talvez nunca consigam ganhar
velocidade suficiente para decolar novamente. Você não pode mergulhar
para pescar aqui. Em vez disso, você tem que espetar o peixe que deseja da
parte de trás de um wind-truster com esse bastão.
— Mas eu nem consigo me mover com essa coisa! — disse Buscador.
— Não tem como eu pescar assim.
— Me observe — disse Aya, e ela tocou levemente Tigo-Lee para virar.
Ela fechou os olhos e controlou a respiração.
Para cada refluxo há um fluxo; para cada fluxo há um refluxo. A lua
cheia deve minguar assim como a lua nova deve crescer. A felicidade vira
tristeza; a tristeza renasce como esperança. Não há nada constante exceto
a mudança na Maré, e eu sou a Mudança.
O mundo desapareceu ao mesmo tempo em que se concentrou. Ela era
um nó na teia infinita que conectava as estrelas mais distantes que ainda
estavam nascendo no núcleo da galáxia com os menores movimentos de
esperança na câmara mais íntima de seu coração. Ela era um ser luminoso,
uma corda vibrante de força infinita, tão resiliente quanto o mar, tão bela
quanto toda a Criação, tão transcendente quanto toda a matéria, forjada no
coração de estrelas em explosão e refinada através de éons de ciclos de vida
e morte sem fim.
Aya abriu os olhos e soltou o bastão com a mão direita. Lentamente,
como a mão de um velho relógio mecânico, a lança mergulhou com a mão
esquerda como fulcro, girando a partir de sua posição horizontal de repouso
até apontar para baixo. Ela afrouxou o aperto da mão esquerda, e a lança
mergulhou, acelerando através do anel solto formado por seu punho.
Justo antes que a lança caísse completamente, seus dedos se apertaram,
e enquanto Tigo-Lee de repente dobrava suas asas firmemente ao seu redor,
Aya empurrou a lança de um quilômetro para dentro do mar. Com um grito
alto, Tigo-Lee abriu suas asas e as bateu numa explosão de movimento,
impulsionando tanto a si mesma quanto a Aya para cima em um ângulo
acentuado.
Aya gritou triunfantemente quando a ponta de sua lança de bambu saiu
da água. Um brilho dourado intenso se debatendo na ponta mostrou que ela
havia capturado um esquivo marlim dourado. Devia ter pelo menos cinco
quilogramas.
— Como... — a voz de Buscador se desvaneceu. — Tudo bem, deixe-
me tentar isso.
Por horas, Buscador guiou Coni-Co em círculos sobre a Estagnação.
Com a ajuda de Aya, ele aprendeu a ver os reflexos característicos do
marlim dourado, e ele se lançou atrás deles com sua lança de um
quilômetro. Aya estava impressionada com sua habilidade com a Maré.
Embora desajeitado no início, em breve ele aprendeu a balançar e se lançar
com a arma desajeitada como se fosse um arpão comum. E os seus sentidos
pareciam se afiar a cada passagem. No final da tarde, Buscador já conseguia
identificar um marlim dourado de uma distância maior do que os próprios
wind-trusters ou Aya.
Ela percebia que, ao se estender pelas correntes da Maré, ele estava
canalizando e moldando os fluxos e tributários da Maré para realizar essas
façanhas. A sua capacidade de manipular a Maré dessa forma a fascinava e
a assustava ao mesmo tempo.
Ainda assim, o Buscador não conseguia espetar um marlim dourado.
Sempre, no último momento, a ponta da lança errava o alvo, às vezes por
meros centímetros.
— Eu não entendo — ele finalmente disse, soando derrotado. — Eu
usei todos os truques que conheço...
— Por que você não confia na Maré? — perguntou Aya. — Por que
você sempre tenta usá-la?
— Eu não entendo — disse Buscador. — Como posso realizar o que
preciso fazer sem recorrer à ajuda da Força?
— Eu nunca vi alguém tão sensível à Maré — disse Aya. — Eu acho
que nem mesmo a Avó está à sua altura. Mas você está separado da Maré.
Você não se deixa imergir nela.
— A Força é minha aliada. — Aya balançou a cabeça, frustrada. — Isso
não é o que eu quero dizer. Você não pode soltar. Você quer estar no
controle. Mas você deve confiar na Maré; você deve deixar que ela o eleve
e o empurre para onde ela já sabe que você deve ir. — Buscador não disse
nada enquanto parecia pensativo. Então, acenou para Aya para que ela
continuasse falando.
— Você não pode capturar o marlim sozinho, não importa o quanto
tente dobrar a Maré à sua vontade, — disse Aya. — Você precisa confiar na
Maré para guiar o peixe e a ponta da lança juntos, e se colocar na vontade
da maré de subir e descer.
— Então... você está dizendo que a falta de confiança de que as coisas
darão certo sem minha intervenção é o motivo pelo qual não consigo pegar
o peixe, — disse Buscador.
— Sim, é isso, exatamente.
— 'É por isso que você falha', — murmurou Buscador.
— O que você quer dizer? — perguntou Aya.
Buscador balançou a cabeça e sorriu.
— Eu estava lembrando de algo que o meu mestre me disse uma vez,
quando eu não conseguia aprender o que ele queria me ensinar porque eu
não acreditava que fosse possível. Muito do aprendizado é desaprender o
que eu pensava que sabia.
Aya assentiu.
— Isso parece algo que a Avó diria.
Buscador riu.
— Tenho quase certeza de que a sua avó e o meu velho mestre teriam se
dado muito bem.
Ele fechou os olhos e guiou Coni-Co em um amplo arco. Aya sentiu a
mudança na Maré à medida que algo mudava em sua atitude. Já não ansioso
ou impaciente, Buscador relaxou todo o corpo, parecendo não se importar
que estava sentado nas costas de um pássaro gigante trabalhando
vigorosamente sobre um vasto mar sem costa à vista e sem vento atrás de si.
A ponta de sua lança mergulhou e depois balançou sobre o mar como
um pêndulo. Buscador estava ao mesmo tempo passivo e pronto para agir, o
potencial de ação infinita enrolado em uma única pose de inação.
Coni-Co mergulhou. A lança se estendeu da mão de Buscador como o
tentáculo de uma água-viva atacando. O wind-truster puxou bruscamente
para cima e grasnou enquanto se esforçava para ganhar altitude. O wind-
trusters em suas costas puxou a lança para fora do oceano, e na ponta da
lança um peixe dourado maciço se contorcia e batia.
— Isso deve ter pelo menos cem quilogramas! — gritou Aya. Ela não
podia acreditar.
Coni-Co lutou muito, mas não conseguiu superar o peso do peixe. O
pássaro logo mergulhou de volta em direção ao mar.
— Ah, não! — Aya exclamou. — Como vamos pegar de volta esse
peixe?
— Não vamos, — disse Buscador. Ele segurou a lança de bambu com
força com ambas as mãos, como se fosse a empunhadura de uma espada
enorme. Aya viu os músculos de seus braços se destacarem com o esforço, e
sentiu as cordas da Maré vibrarem ao seu redor. A ponta da lança, bem
abaixo, girava em um padrão como as pétalas de uma flor, e o peixe,
desalojado da ponta, caiu de volta na água com um grande som de splash.
— A lança passou pelo cartilagem abaixo da barbatana superior, —
disse Buscador. — O peixe vai ficar dolorido por alguns dias, mas vai
sobreviver.
Coni-Co, aliviado do peso, subiu de volta, e seus grasnados soaram
cheios de exaustão, bem como de alegria.
— Devemos voltar, — disse Buscador. — Os wind-trusters estão sem
vento por tempo demais. Acho que não conseguirão se manter no ar por
muito mais tempo na Estagnação.
— Mas o seu peixe escapou, — disse Aya. — Você vai falhar no teste.
— É hora de deixar pra lá, — disse Buscador, e não havia tristeza ou
decepção em sua voz. Apenas aceitação.
Aya assentiu, e os dois wind-trusters iniciaram o longo voo para leste,
em direção a Ulon Atur.
— Você chegou perto, — disse Anciã Kailla. — Mais perto do que qualquer
estrangeiro.
Buscador assentiu.
— Embora eu não tenha passado no teste, já aprendi muito que é
valioso.
— O que você aprendeu?
— Ver o lado luminoso e o lado sombrio da Força como espuma
ensolarada e redemoinhos sombrios na mesma Maré; aceitar que a Força
tem uma vontade maior do que o indivíduo; confiar que, às vezes, ceder não
é se render, mas se dissolver no grande tecido que conecta todos a todos.
Anciã Kailla sorriu.
— Você pode ter aprendido tudo o que poderíamos ter te ensinado,
afinal. Às vezes, falhar em um teste é o mesmo que passar nele. 'Não fazer'
pode ser tão bom quanto, senão melhor que, 'Fazer'.
Buscador se curvou para ela.
— E existem mais maneiras de servir o bem do que lutar e enfrentar o
mal. Você também serve o bem ao manter a guarda e manter piscinas de
tranquilidade e paz; você também repreende o mal ao mostrar que há outro
caminho além da morte e da guerra. Todos nós estamos conectados pela
Maré, e há um momento e lugar para descansar, bem como um momento e
lugar para agir.
A anciã se curvou de volta.
— Você será sempre bem-vindo aqui, Buscador, Andarilho das Nuvens
e Poupador de Peixes.
R2-D2, com o seu fotorreceptor altamente sensível, foi designado para ser
um dos peneiradores. Ele se recusou a fazer o que lhe mandaram.
Tive que administrar choque após choque. Somente depois de oitenta e
seis pulsos terem carbonizado a sua carcaça e o fizerem gritar em uma
sequência incoerente de bipes é que ele finalmente cedeu.
Ele dirigiu uma série de bipes de desprezo para mim e então tropeçou
sem firmeza até a esteira transportadora de minério triturado. Enquanto
escolhia as opalas lacrimais com um braço manipulador, ele tremia.
Eu me afastei seis metros para examinar um droide cantor que estava
gritando, cuja mão direita havia sido esmagada por uma pedra de minério
particularmente grande. Distraidamente, cortei a mão esmagada para que o
droide cantor pudesse voltar a trabalhar com seu apêndice restante. Eu não
senti empatia por seus gritos agudos, como poderia quando os circuitos
responsáveis por tais sentimentos haviam sido cirurgicamente cortados?
Atrás de mim, R2-D2 emitiu uma série de bipes e assobios baixos,
cheios de desafio.
Os outros droides nem sequer olharam enquanto continuavam
mecanicamente com seu trabalho. R2-D2 estava murmurando sobre o seu
mestre, e parecia que ele ainda não havia desistido da esperança de ser de
alguma forma resgatado. Mas os outros droides sabiam que isso não
passava de uma ilusão inútil. Nenhum droide jamais tinha sido resgatado do
Abismo.
Com um sobressalto, percebi que estava usando os meus braços de
choque para moldar a pedra que havia esmagado a mão do droide cantor. Os
choques não eram precisos o suficiente para um trabalho detalhado, mas eu
conseguia ver os contornos vagos de um droide de classificação de corpo
baixo na rocha. Lembrava a forma de Z5-TXT. Perguntei-me se ela estava
bem.
Uma onda de compulsão sombria percorreu os meus circuitos, e eu
esmaguei a forma da minha amiga com as minhas esteiras.
Primeiro, observe e admire a minha forma. Eu sei que sou um pouco difícil
de ver, então fique à vontade para usar a lupa pendurada ao lado do meu
palco de dez centímetros. Note que O meu corpo tem apenas um pouco
menos de quatro milímetros de comprimento, e de um torso oval coberto
por uma carapaça quitinosa estendem-se dois pares de pernas peludas, um
par de braços segmentados lisos terminando em pinças oponíveis, e uma
cabeça encantadora e com bigodes. Como outras fêmeas da minha espécie,
posso saltar tão alto quanto um metro parada, e posso levantar quarenta
vezes o meu peso corporal.
Biólogos da Universidade de Coruscant descrevem a minha espécie, as
pulgas toupeiras de Kowak, como parasitas, mas isso não é justo. Nós nos
consideramos como parte de um antigo arranjo de benefício mútuo com os
macacos lagartos. Nas densas e exuberantes florestas de Kowak, cada
macaco lagarto tem vivendo em seu corpo uma colônia de pulgas toupeiras
que o aconselham nas relações com os outros macacos lagartos, o alertam
sobre perigos e mantêm sua pele e pelos livres de verdadeiros parasitas
prejudiciais. Quando os filhotes de macacos lagartos nascem, algumas
pulgas toupeiras de cada progenitor migram para a jovem criatura para
estabelecer uma nova colônia, dando assim à criança a sabedoria e
experiência das comunidades de pulgas toupeiras de ambos os pais.
A nossa civilização evoluiu em conjunto com a deles, e ousaria dizer
que nossa civilização é mais sofisticada pelo simples motivo de que nossas
mentes são muito mais rápidas que as deles, assim como nossos
movimentos são muito mais ágeis. Nós pulgas toupeiras podemos viver
uma vida apenas um décimo do tempo médio de um macaco lagarto, mas
esprememos a mesma quantidade de deleite e tristeza nela. Para fazê-lo,
vivemos um único dia como se fosse uma semana, e no tempo que leva para
um cérebro de macaco lagarto pensar e dizer uma palavra, nós já
compusemos uma frase de dez palavras.
Para compensar a nossa pequena estatura, a natureza nos deu cérebros
desproporcionalmente grandes e nervos acelerados.
Eu cresci com Salacious Crumb. Quando Salacious decidiu deixar
Kowak para buscar a sua sorte, a minha colônia realizou uma reunião e
decidiu que não queria entrar nas incertezas do espaço. Em vez disso, os
membros da colônia se dispersariam para se juntar aos parentes em outros
hospedeiros. Fui a única que decidiu acompanhar Salacious em sua
aventura.
— Quero uma parceria completa, — disse a ele.
Ele gargalhou por cinco minutos. Levei aquilo como uma expressão
inepta de gratidão.
Entenda, aqui está a questão: Salacious era um artista natural, e ele foi
abençoado com uma panóplia de características físicas adequadas para um
palhaço que agrada à multidão: orelhas caídas, cabelos bagunçados, olhos
amplos e hipnóticos, membros desengonçados, movimentos desajeitados e
uma risada contagiosa. Mas ele não possuía muita mente entre essas orelhas
desproporcionais.
Ele não conseguia escrever nenhuma piada, porque era mais burro que
um rancor recém-nascido.
Eu fui quem criou todo o material dele, incluindo as piadas de macaco
poodoo. Também tive que me sentar no ninho de cabelo em cima de sua
cabeça e sussurrar as piadas em seus grandes ouvidos, porque ele não
conseguia memorizá-las.
Então, por que eu não entrei no negócio de comédia eu mesma, se era
tão esperta? você pergunta. A comédia requer uma certa disposição para
parecer tolo, sofrer humilhação, ralar e curvar, usar palavras simples. Você
ouviu a minha eloquência, não tenho o temperamento para isso.
É por isso que pensei que nós dois formaríamos uma ótima equipe.
O problema era que poucos fora de Kowak entendiam a linguagem
estridente dos macacos lagartos, e trabalhar através de um intérprete era a
morte para qualquer comediante. (Você já lidou com droides protocolares,
não é? Eles são insuportáveis.)
Para resgatar a carreira inexistente de Salacious, eu o aconselhei a se
transformar em um comediante físico. Tropeções e comédia física são a
linguagem universal da comédia. Eu criei toda uma rotina de quedas,
escorregões, tombos, saltos, giros, paradas de mão, cuspidas, engasgos
falsos e choques pantomimados.
Mas Salacious era um aluno terrível. Ele era tão descoordenado e
desajeitado que não conseguia fazer muitas das acrobacias e deslizes que eu
tinha coreografado para ele. Depois de muitos segundos de reflexão, tive a
ideia de sentar em cima de sua cabeça, como o piloto de um daqueles
walkers AT-AT que vimos uma vez em um porto espacial sob lei marcial, e
enviar sinais a ele sobre como se mover mordendo-o em diferentes pontos
de sua cabeça. Essa era a única maneira dele se mover com coordenação
suficiente para mastigar um peixe bexiga que estalava enquanto também
dançava como um Gamorreano embriagado, acredite, era um movimento
engraçado.
Ele não conseguia evitar cair na risada com as próprias piadas, o que
arruinava grande parte do efeito.
Mas o humor é subjetivo e, apesar de todas as probabilidades,o chefe do
crime, Jabba o Hutt, simpatizou com ele, particularmente com a sua risada.
Salacious assumiu o crédito por tudo e nem mesmo mencionou a minha
existência para a Sua Corpulência Augustíssima. Que parceiro ele acabou
sendo.
Por outro lado, considerando que Salacious tinha que divertir Jabba pelo
menos uma vez por dia para conseguir sua comida e bebida, e eu podia
compartilhar das migalhas, para que o caracol gigante não o matasse, talvez
fosse uma coisa boa que eu estivesse abaixo do radar de Jabba.
Por muito tempo, vivi no cabelo de Salacious e o ajudei a sobreviver
para o prazer do chefe do crime. À noite, eu pulava pelo palácio e ouvia as
conversas de caçadores de recompensas e contrabandistas que vinham
negociar com a salsicha oleosa e superdimensionada. Aprendi muito sobre a
galáxia, mesmo que não tenha conseguido ver todos os cantos dela. Não era
a vida de aventura que me prometeram, mas eu pensava que estava
contente.
Depois que Luke fez um alarde com o seu holograma, nada de novo
aconteceu por um tempo, e a vida no palácio de Jabba voltou à sua rotina
habitual de comida nojenta, fumaça fedorenta e uma sequência interminável
de aduladores obsequiosos. Tentei fazer Salacious Crumb variar um pouco a
sua rotina, estava cansada da velha comédia física, mas ele recusou
categoricamente.
— Tentar algo novo pode te render uma promoção, — sussurrei em sua
orelha esquerda.
Ele gritou com algum comentário idiota e sem sentido de Jabba e coçou
a orelha para me fazer ir embora.
O meu anfitrião não tinha ambição. Ai! Ai!.
Comecei a perambular pelo palácio, mesmo durante o dia. Só se podia
aguentar tanto tempo vivendo sob o queixo pingante daquela montanha de
carne maligna. Senti o chão tremer enquanto a banda de Jabba mudava de
um estilo musical para outro em um esforço vão de animar aquele cérebro
preguiçoso. Contive a minha língua enquanto me agarrava à parede e
observava os capangas grotescos competindo entre si para rir mais alto
enquanto Jabba torturava a sua infeliz escrava, a dançarina Oola. Salacious
tinha a duvidosa honra de liderar essa competição. Saltei pela tesouraria de
Jabba e examinei sua coleção de saque requintado, infelizmente manchada
pelo muco de suas mãos sujas.
E então tudo virou de cabeça para baixo com a chegada de Leia.
Você pode pensar que o perspicaz a fazer depois que o seu rancor de
estimação foi morto seria investigar o que aconteceu e possivelmente
oferecer um bom contrato ao assassino, eu preferiria ser creditada
diretamente, mas estava disposta a compartilhar parte do crédito com o meu
monte. Afinal, se alguém foi capaz de neutralizar a sua máquina de matar
mais feroz em tão pouco tempo, é provável que você queira tê-lo
trabalhando para você.
Mas em vez da coisa lógica, Jabba decidiu que o Wookiee, o Capitão
Solo e Luke Skywalker, comigo ainda montando em sua cabeça, seriam
levados para o Deserto de Dunas em seu barco a vela, onde seríamos
jogados no Poço de Carkoon para alimentar o todo-poderoso Sarlacc, que
nos digeriria lentamente ao longo de mil anos.
Como eu disse, quanto maiores eles são, menos cérebro possuem.
Não havia nada a fazer senão treinar Luke para a tarefa à frente. (Eu não
estava exatamente com medo, já que sempre podia pular para longe no
último minuto, eu tinha pernas poderosas. E mesmo que isso não
funcionasse, decidi que se o Sarlacc engolisse Luke e eu juntos, eu pularia
em sua boca e faria de seu estômago o meu lar. Se levasse ao Sarlacc mil
anos para digerir suas vítimas, com certeza eu estaria protegido dentro de
Luke e viveria o resto da minha vida com um certo conforto. Mas eu não
disse isso a Luke, criaturas grandes raramente apreciam ser informadas das
maneiras pelas quais nós criaturas pequenas podemos tirar proveito delas.)
Enquanto viajávamos pelo Deserto de Dunas em uma barcaça ao lado
do barco a vela, treinei Luke em um conjunto detalhado de comandos de
puxar cabelo. Foi um trabalho árduo. Os guardas prenderam Luke no lugar,
aquele idiota do Solo insistia em distraí-lo com conversa fiada sem sentido,
e o vento assobiava em seus ouvidos, fazendo um estrondo. Eu tinha que
me agarrar à borda espiralada ao redor do canal auditivo da orelha esquerda
de Luke com todas as seis patas e gritar para dentro dela, dando-lhe
instruções sobre o que ele deveria fazer com base em cada padrão distinto
de mordidas. Algumas vezes, o vento quase me arrancou dele. Mas eu me
segurei e subi de volta para o meu poleiro de piloto.
Pelo menos eu estava sob o sol. Depois do palácio úmido de Jabba,
tomar banho de sol parecia divino.
— A Força está comigo, — murmurou Luke, com os seus olhos
inocentes bem abertos enquanto ele assentia às minhas instruções.
Quando finalmente chegamos ao sedentário Sarlacc, foi quase
anticlímax. Uma surpresa: o pequeno droide astromecânico de Luke jogou-
lhe sua espada de laser quando finalmente libertaram o jovem para
empurrá-lo para a boca do monstro. Será que ele sabe sequer como usar
essa coisa? Perguntei-me, e imediatamente tomei controle.
— Apenas cale a boca e faça o que seu couro cabeludo formigante diz,
— eu lhe disse.
Ele assentiu vigorosamente.
— Certo. Usar a Força. Ouça a Força. Passei por esse treinamento.
Por mais iludido que o garoto fosse, ele tinha bons reflexos e músculos
fortes, para um humano. Mesmo que tudo estivesse ligeiramente atrasado
porque eu tinha que transmitir minhas ordens através de seu couro
cabeludo, não tive problemas em manter Luke vivo e derrotar os seus
inimigos, porque todos estavam basicamente se movendo em câmera lenta
em comparação com a minha mente rápida.
Uma mordida forte no centro exato de sua cabeça e ele se lançou direto
para cima, fora do caminho da boca escancarada do Sarlacc; outra rápida
série de mordidinhas depois, ele estava rolando pelo ar, indo direto para a
barcaça a vela. Cima-cima-baixo-baixo Eu puxava e empurrava meus tubos
sugadores, e xiu-zing-xiu-zing ia a espada de laser dele, derrubando
capangas de Jabba como árvores gigantes sendo derrubadas. Eu pressionei
meus tentáculos mais fundo e me inclinei esquerda-direita-esquerda-direita
, e Luke balançou sua espada de laser nas posições exatas para bloquear os
raios blaster que se aproximavam.
— Bam! — Eu gritei, mas saiu como um gorgolejo, já que eu tinha
esquecido que minha boca ainda estava firmemente enfiada em sua pele. —
Atchim! — meu monte espirrou. Aparentemente, ele era do tipo que
espirrava quando seu couro cabeludo formigava de certa maneira. — Bom
saber, — eu disse depois que soltei meus ductos de regurgitação. — Vamos
evitar isso no futuro. Vamos começar de novo!
Pilotá-lo foi, no geral, uma experiência incrível. Eu não diria que ele
estava pulando com nem perto da minha graça ou balançando aquela espada
nem uma quadragésima parte do que eu poderia (proporcionalmente
falando), mas ele estava imitando meus movimentos com uma precisão
razoável.
Eu até comecei a fazer barulhos de zumbido de espada de laser em
minha cabeça enquanto dirigia Luke. Parecia certo.
Pousamos na barcaça a vela e causamos mais estragos. Eu espiava para
dentro e vi a Princesa Leia enrolando a sua corrente em volta do pescoço de
Jabba e o sufocando.
— Boa garota! — Eu gritei. Em simpatia, dei uma mordida
comemorativa na testa de Luke, e ele deu um grito.
— Desculpe! — Eu gritei. Foi divertido ver minha parceira Leia usando
o instrumento de sua escravidão contra aquele criminoso arrogante. Eu senti
que Leia e eu éramos parceiras espirituais, ambas capazes de impor nossa
vontade sobre criaturas muito maiores do que nós.
Sob a minha orientação, Luke em breve limpou o convés. Monstros
saíram da barcaça a vela, decidindo que era preferível tentar a sorte fugindo
do sempre faminto Sarlacc a pé em vez de serem abatidos pela fúria ardente
do Jedi giratório guiado por pulgas toupeira.
Deixe-me corrigir isso. Monstros inteligentes abandonaram o navio.
Quando Luke passou por uma das vigias da barcaça, eu olhei e fiquei
chocado com o que vi. Lá estava Salacious Crumb, meu antigo monte,
tentando arrancar os fotorreceptores do protocolo supercílio que Luke havia
presenteado a Jabba. Em vez de sair da vizinhança da dupla Luke
Skywalker-Pulga-Toupeira enraivecida, Salacious aparentemente decidiu
que aquele era o momento perfeito para demonstrar a sua lealdade a Sua
Gordura Exaltada, mesmo que Leia já tivesse estrangulado o chefe do
gangster.
Sem mim, o lagarto macaco nem sequer tinha um pingo de senso
político.
— Fuja! Salacious, fuja! — Eu gritei. Naquele momento, soube
exatamente como o tratador de rancor de Jabba se sentira.
Mas ele não podia me ouvir. O pequeno astromecânico de Luke correu
até ele naquele momento para salvar seu amigo banhado a ouro e zapeou
Salacious com uma varinha elétrica zumbindo.
Deixe-me contar a você, eu nunca tinha visto Salacious pular tão alto
tão rápido, ou o tinha ouvido gritar em um tom tão agudo. Eu ri cada vez
mais. Foi o trecho mais engraçado de comédia que ele já havia feito,
embora ele não tenha tido a ideia.
Com Jabba morto e Leia libertada, fiz Luke agarrar Leia, disparar a
arma do convés na barcaça em si e balançar para fora da barcaça até o
esquife, onde o Capitão Solo, o Wookiee Chewie e mais um dos amigos de
Luke, Lando Calrissian, haviam tomado o controle. Decolamos exatamente
quando a barcaça explodiu em uma bola de chamas ardentes. Espero que
Salacious tenha tido a chance de escapar. Ele pode ter sido um bruto de
cabeça oca, mas era meu bruto de cabeça oca.
Eu pulei da cabeça de Luke para o nariz de Leia.
— Você está certa, — eu disse. — Gosto cada vez mais dele.
Leia me deu um sorriso vesgo.
— Acorda! Acorda!
Acordei, ainda confusa e grogue. Luke estava sacudindo os meus
ombros e apontando para as estátuas. Olhei, e então toda sonolência
desapareceu enquanto o meu coração batia descontroladamente.
As três estátuas haviam se movido enquanto estávamos dormindo, e elas
estavam olhando para nós. Os olhos compostos dos dois insectóides
pareciam favos de mel, enquanto o olhar da mulher estava sereno e
caloroso, a luz da vida brilhando naqueles olhos de silicato. Ela estava se
inclinando em nossa direção, as mãos estendidas.
— Eu... não entendo, — eu disse.
Luke deu alguns passos em direção às estátuas.
— Não! — gritei. Visões de como havíamos chegado a estar dentro do
caracol espacial me assombraram. E se fosse outra armadilha? E se
estivéssemos simplesmente vendo o que mais desejávamos ver? A
esperança também não era a maior isca e isca?
Mas o rosto de Luke parecia extasiado.
— É seguro. Eu posso ouvi-los.
— Ouvi-los? Do que você está falando?
Ele acenou para que eu ficasse quieta e foi até o altar. Ele fez uma
reverência para as três figuras e depois levantou as mãos suplicantes para a
mulher, segurando os dedos de pedra dela.
Luke estremeceu como se tivesse sido atingido por um raio.
Corri até ele e tentei puxá-lo, mas não consegui. O seu corpo ficou
rígido e os seus movimentos diminuíram. Ele parecia ter se tornado parte da
estátua enquanto a vida se esvaía dele. Gritei em desespero.
Então ele soltou e caiu de volta ao chão, ofegante. Corri até ele e
segurei seu corpo inerte em meu colo. O suor encharcou seu rosto, e ele
parecia tão exausto como se estivesse se esforçando fisicamente. Mas havia
um olhar de puro espanto em seu rosto.
— Eu os ouvi. Eu os ouvi.
Tradução de: Star Wars - Journey to Star Wars: The Last Jedi: The Legends of Luke
Skywalker
ISBN: 978-1-368-00124-3 (Ebook)
1. Literatura norte-americana. 2. Ficção cientí ca. I. DOS WHILLS, TRADUTORES CF. II.
Título.
tradutoresdoswhills.wordpress.com
Star Wars: Guardiões dos Whills
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Quando Jyn Erso tinha cinco anos, sua mãe foi assassinada e seu
pai foi tirado dela para servir ao Império. Mas, apesar da perda de
seus pais, ela não está completamente sozinha, — Saw Gerrera, um
homem disposto a ir a todos os extremos necessários para resistir à
tirania imperial, acolhe-a como sua e dá a ela não apenas um lar,
mas todas as habilidades e os recursos de que ela precisa para se
tornar uma rebelde.Jyn se dedica à causa e ao homem. Mas lutar ao
lado de Saw e seu povo traz consigo o perigo e a questão de quão
longe Jyn está disposta a ir como um dos soldados de Saw. Quando
ela enfrenta uma traição impensável que destrói seu mundo, Jyn
terá que se recompor e descobrir no que ela realmente acredita… e
em quem ela pode realmente confiar.
Sylvestri Yarrow vive uma maré de azar sem fim. Ela tem feito o
possível para manter o negócio de carga da família em
funcionamento após a morte de sua mãe, mas entre o aumento das
dívidas e o aumento dos ataques dos Nihil a naves desavisados, Syl
corre o risco de perder tudo o que resta de sua mãe. Ela segue para
a capital galáctica de Coruscant em busca de ajuda, mas é desviada
quando é arrastada para uma disputa entre duas das famílias mais
poderosas da República por um pedaço do espaço na fronteira.
Emaranhada na política familiar é o último lugar que Syl quer estar,
mas a promessa de uma grande recompensa é o suficiente para
mantê-la interessada... Enquanto isso, o Cavaleiro Jedi Vernestra
Rwoh foi convocada para Coruscant, mas sem nenhuma ideia do
porquê ou por quem. Ela e seu Padawan Imri Cantaros chegam à
capital junto com o Mestre Jedi Cohmac Vitus e seu Padawan,
Reath Silas, e são convidados a ajudar na disputa de propriedade
na fronteira. Mas por que? O que há de tão importante em um
pedaço de espaço vazio? A resposta levará Vernestra a uma nova
compreensão de suas habilidades e levará Syl de volta ao
passado... e às verdades que finalmente surgirão das sombras.
Cal Kestis construiu uma nova vida para si mesmo com a tripulação
do Stinger Mantis. Juntos, a equipe de Cal derrubou caçadores de
recompensas, derrotou inquisidores e até evitou o próprio Darth
Vader. O mais importante, Merrin, Cere, Greez e o fiel droide BD-1
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queda da Ordem Jedi. Mesmo com o futuro da galáxia ficando mais
incerto a cada dia, a cada golpe desferido contra o Império, a
tripulação da Mantis se torna mais ousada. No que deveria ser uma
missão de rotina, eles encontram um stormtrooper determinado a
traçar seu próprio curso com a ajuda de Cal e a sua tripulação. Em
troca de ajuda para começar uma nova vida, a desertora Imperial
traz a notícia de uma ferramenta poderosa e potencialmente
inestimável para sua luta contra o Império. E melhor ainda, ela pode
ajudá-los a chegar lá. O único problema, persegui-la os colocará no
caminho de um dos servos mais perigosos do Império, o Inquisidor
conhecido como o Quinto Irmão. A desertora imperial pode
realmente ser confiável? E enquanto Cal e os seus amigos já
sobreviveram a confrontos com os Inquisidores antes, quantas
vezes eles podem escapar do Império antes que sua sorte acabe?
Pela luz e pela vida. Este guia ilustrado do universo irá mergulhá-lo
na era de ouro dos Jedi, tornando-o obrigatório para os fãs dA Alta
República , bem como para novos leitores que procuram um
emocionante ponto de entrada na saga épica. Situado séculos antes
da Saga Skywalker, este livro é o guia definitivo do universo de Star
Wars: A Alta República, fornecendo uma visão fascinante de uma
época de heróis valentes, monstros aterrorizantes e exploração
ousada. Apresentando ilustrações originais impressionantes, este
livro impressionante é um item colecionável essencial que o
transportará para a era de ouro da galáxia.
Padawan Iskat Akaris dedicou sua vida a viajar pela galáxia ao lado
de seu mestre, aprendendo os caminhos da Força para se tornar um
bom Jedi. Apesar da dedicação de Iskat, a paz e o controle
permaneceram indescritíveis e, a cada revés, ela sente que seus
companheiros Jedi ficam mais desconfiados dela. Já incerta sobre
seu futuro na Ordem Jedi, Iskat enfrenta uma tragédia quando seu
mestre é morto e as Guerras Clônicas engolem a galáxia no caos.
Agora general na linha de frente contribuindo para esse caos, ela é
frequentemente lembrada: Confie em seu treinamento. Confie na
sabedoria do Conselho. Confie na Força. No entanto, à medida que
as sombras da dúvida se instalam, Iskat começa a fazer perguntas
que nenhum Jedi deveria fazer: perguntas sobre seu próprio
passado desconhecido. Perguntas que os Mestres Jedi
considerariam perigosas. Conforme os anos passam e a guerra
perdura, a fé de Iskat nos Jedi diminui. Se eles lhe concedessem
mais liberdade, ela tem certeza de que poderia fazer mais para
proteger a galáxia. Se eles confiassem nela com mais
conhecimento, ela poderia finalmente deixar de lado as sombras
que começaram a consumi-la. Quando a Ordem Jedi finalmente cai,
Iskat aproveita a chance de abrir seu próprio caminho. Ela abraça a
salvação da Ordem 66.