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SCHOLLHAMMER, Karl Erik. Ficção brasileira contemporânea.

Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2011.1

O livro Ficção brasileira contemporânea (2011), escrito por Karl Erik


Schollhammer, aborda a produção da ficção no Brasil nas últimas décadas. A
intenção a que o autor é propõe é flagrar o que acontece nessa literatura tão
nova; como ele próprio revela:

A tentativa aqui será flagrar o que acontece de significativo na ficção


brasileira atual, de maneira a enxergar as continuidades e,
principalmente, as rupturas produzidas pelos escritores contemporâneos.
(SCHOLLHAMMER, 2011, p.21).

Neste trabalho, daremos ênfase aos dois primeiros capítulos da obra. No


primeiro capítulo, intitulado “Breve mapeamento das últimas gerações” o autor
aponta para a produção literária de autores contemporâneos e que as suas obras
caracterizam o momento, muitos atingem uma grande fatia do público
consumidor, e buscam o sucesso no mercado editorial. Schollhammer faz uma
retrospectiva desde a década de 60, durante o repressão, falando sobre a as
escolhas estilística da época, passando pela produção dos anos 70 e 80, até
chegar no pós-modernismo, que segundo ele: “sua condição principal residiria no
desenvolvimento de uma economia de mercado que integrou as editoras e
profissionalizou a prática do escritor nacional” (pag.29). A produção literária desse
período retornou aos temas tradicionais da fundação da nação, assim como o
desenvolvimento de uma identidade nacional. Nesse contexto, as produções se
mostraram voltadas ao revisionismo histórico por meio de ficções anacrônicas,
com pitadas de suspense e romance policial, como por exemplo a obra Agosto,
escrita por Rubem Fonseca, que narra a história do atentado contra Lacerda e
sobre o suicídio do presidente Getúlio Vargas.
A combinação hibrida entre alta e baixa literatura advinda do diálogo entre
a cultura popular , literatura e cultura de massa, os gêneros ficção e não-ficção

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Resenha apresentada como requisito parcial na disciplina “O romance brasileiro no século XX “
(LBV) ministrada pela Profª: Dra. Regina Célia dos Santos Alves.
como biografias e outros semelhantes, também se tornaram característicos do
pós-modernismo. Também se tornou caraterístico desse período a narrativa em
que os personagens “se encontram em processo de esvaziamento de projetos e
de personalidade, em crise de identidade nacional, social e sexual, mas sempre à
deriva e à procura de pequenas e perversas realizações do desejo” (pag.32).
Sobre a produção literária no pós-modernismo, nos anos 2000,
Schollhammer aponta que houve uma continuação dos elementos que já vinham
sendo utilizados e a retomada inovadora de alguns temas da década de 70, assim
como a sobrevivência do realismo regionalista.
Sobre o mercado editorial desse período, foi percebido um conflito entre o
mercado e o reconhecimento crítico em relação a carreira e a profissionalização
do escritor, pois o escritor era o que menos tinha retorno financeiro. Embora tenha
acontecido a modernização do mercado editorial, o mercado do livro sofreu
enormes, só após um período de dificuldades, houve uma pequena retomada no
crescimento.
No segundo capítulo, intitulado “O realismo de novo”, Schollhammer
aborda e faz esclarecimentos sobre o “novo realismo”, sendo que os novos
escritores demonstram a vontade de retratar a realidade brasileira nos dias atuais,
pelos ângulos marginais ou periféricos, ou seja “o novo realismo se expressa
pela vontade de relacionar a literatura e a arte com a realidade social e cultural da
qual emerge, incorporando essa realidade esteticamente dentro da obra e
situando a própria produção artística como força transformadora”(pag.54). Em
relação à superexposição da realidade que há nos dias de hoje , por meio dos
“reality shows”, e programas diversos, o autor aponta que a literatura é o meio em
eu é possível fazer a diferença ao aborda a realidade atual, sendo que esse é um
desafio devido ao esvaziamento provocado pela indústria do realismo midiático.
O Hiper-realismo também é tratado neste capítulo, como é o caso da escrita de
André Sant’Anna com as obras Amor (1998) e Sexo (1999),com uma linguagem
semelhante a da cultura de massass, com frase de efeito, lugares-comuns e
clichês discursivos. Também nota-se na escrita de Sant’Anna pelo ritmo oral , e
pelo universo da paródia.
O Miniconto, segundo Schollhammer, também aparece como opção nas
narrativas contemporâneas: “a preferência pelos minicontos e outras formas
mínimas de escrita que se valem do instantâneo e da visualização repentina, num
tipo de revelação cuja realidade tenha um impacto maior” (pag.93). Desse modo,
as formas curtas de narrar ganham a preferência e popularidade. A Literatura
Marginal também surge no mercado como um fenômeno, se mostrando em
diálogo com novas formas de realismo e que propõe reflexões sobre a realidade
brasileira. São biografias, relatos de crimes, prisões e episódios nas periferias.
São as chamadas não ficções documentárias, e que possuem um forte apelo
mercadológico.
Schollhammer termina o capítulo apontando que não se deve confundir a
exploração do mercado com tais narrativos com a literatura testemunhal feita por
pessoas engajadas, ou excluídas do meio social. Nessas literaturas pode-se
encontrar o realismo indicial, feita por pessoas que desejam se beneficiar da
popularidade e o realismo performativo, onde se encontra situações de produção
e recepção comunitárias.

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