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anos

Ano XL
Janeiro/Fevereiro de 2023
No 426
ISSN 0102-4728

MINERAÇÃO - METALURGIA - SIDERURGIA

7º Mineração &/X Comunidades


Fórum Brasil Mineral 2022

PERSPECTIVAS
MINERAÇÃO BRASILEIRA DEVE
RETOMAR CRESCIMENTO
EDITORIAL

O QUE MUDA PARA A MINERAÇÃO?

A
pesar da queda no valor da produção em ser o combate às atividades de extração ilegal,
2022, por conta da redução de preços de sobretudo em territórios indígenas. É de se
algumas commodities minerais no mer- prever, também, um maior rigor no controle
cado internacional, principalmente o minério das atividades de mineração, principalmente no
de ferro, as perspectivas para a indústria mi- que se refere à gestão de rejeitos e na punição
neral brasileira parecem promissoras em 2023 de infrações. Mas, neste caso, somente terão
e nos próximos anos. algo a temer os que praticam irregularidades,
Primeiramente, o volume de investimentos ou seja, uma minoria, pois a maioria do setor já
previstos pelo setor, para o quinquênio 2023- percebeu que a sustentabilidade é um caminho
2027, teve um aumento em relação ao período sem volta.
anterior, passando de US$ 40,5 bilhões para Por outro lado, o governo atual considera a
cerca de US$ 50 bilhões. Isto significa que descarbonização uma prioridade e uma opor-
novos projetos foram acrescentados à cartei- tunidade para o Brasil e neste caso a indústria
ra existente, numa demonstração de que as mineral pode desempenhar um papel prepon-
empresas apostam em crescimento, mesmo derante, seja aportando os bens minerais que o
numa conjuntura internacional ainda incerta, mundo precisa para promover a descarboniza-
principalmente no que se refere à China – ção ou contribuindo para reduzir o desmata-
ainda o maior mercado de commodities mi- mento, pelo menos no entorno das operações e
nerais no mundo – à continuidade da guerra mesmo atuando no reflorestamento de áreas já
Rússia-Ucrânia e à elevada inflação na Europa desmatadas, sobretudo na Amazônia e outros
e Estados Unidos. É que, nessa situação ainda biomas como o Cerrado.
incerta, as previsões de preços para alguns me- A maior parte dos dirigentes de empresas
tais – como cobre, níquel, ouro – são positivas de mineração tem claro que os governos são
para 2023 e provavelmente nos anos vindouros. transitórios, enquanto a atividade mineral é
Mesmo o minério de ferro, que andou tendo al- de longo prazo, o que significa que o horizonte
guns revezes em 2022, deve alcançar preços que temporal da maior parte dos projetos extrapola
ainda remuneram os produtores, notadamente os mandatos de governos. É claro que mudanças
aqueles que têm produtos de maior teor e com bruscas de política governamental podem afetar
baixos níveis de contaminantes e que contri- os projetos. Mas, pelo menos no caso do Brasil,
buem para a descarbonização da siderurgia.
não é previsível que algo nesse sentido ocorra.
Do ponto de vista da conjuntura interna,
Assim, a previsão é de que a trajetória atual
a mudança de governo não parece assustar
de crescimento continuado da indústria de
os investidores, pelo menos até agora, como
mineração deve se manter.
mostraram as discussões realizadas durante o
A não ser que aconteça algo
Fórum Brasil Mineral (veja nesta edição) com
de inusitado na conjuntura
dirigente de empresas e entidades. Os movi-
internacional, o que não pa-
mentos do novo governo até agora não indicam
rece factível. ☐
mudanças bruscas na política para o setor. Por
enquanto, a prioridade governamental parece Francisco Alves, Editor

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ÍNDICE

FÓRUM BRASIL MINERAL RECURSOS HUMANOS


Previsibilidade e segurança jurídica. A acelerada transformação da mineração ...................................... 94

.
É o que o setor espera do novo governo ........................................... 6
MEIO AMBIENTE

.
PERSPECTIVAS Criação de Solos Saudáveis a partir de Rejeitos e Estéreis:
Com novos projetos, mineração um Possível Legado da Mineração................................................ 102

.
brasileira deve retomar crescimento .............................................. 26
.
EQUIPAMENTOS & TECNOLOGIAS ................................................114

.
7º MINERAÇÃO &/X COMUNIDADES
O caminho sem volta do engajamento e governança social ........... 46 ABIROCHAS INFORMA #11 ................................................. 90

.
.
EXPEDIENTE

ISSN 0102-4728
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Alexandre Paes Dias
Diretor Editorial armazemdecriativos@gmail.com
Francisco E. Alves
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Diretor Comercial 04140-000 - São Paulo - SP
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Periodicidade
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mara@signuseditora.com.br ferroligas, petróleo, engenharia e projetos, geologia,
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­
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Para orientação de sua linha editorial, principalmente Iran Ferreira Machado


a avaliação do conteúdo técnico de seus artigos, Brasil Geólogo
Mineral constituiu o seu Conselho Consultivo, integrado João Luiz Nogueira de Carvalho
pelos profissionais relacionados abaixo e que, além de Engenheiro
serem conhecidos no setor, possuem notória compe-
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tência. Esclarecemos que estes profissionais participam
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Geólogo Luiz Enrique Sanchez
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Geólogo Manoel Régis de Moura Neto
Daniel Debiazzi Neto Geólogo
Engenheiro Maria Amélia Enriquez
Elmer Prata Salomão Economista
Geólogo Maria José G. Salum
Eugenio Singer Engenheira de Minas
Engenheiro
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Engenheiro Metalurgista
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Fernando Valverde Engenheiro Químico
Geólogo
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Francisco R. C. Fernandes
Economista Jornalista
Giorgio De Tomi Umberto Raimundo Costa
Engenheiro Geólogo
Hildebrando Hermann Vicente Lôbo
Advogado Engenheiro de Minas
Homero Delboni Jr. Virgínia Ciminelli
Engenheiro Engenheira

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Fotos: Leo Fontes FÓRUM BRASIL MINERAL

Maria José Salum conduz as discussões da primeira rodada

PREVISIBILIDADE E SEGURANÇA JURÍDICA.


É O QUE O SETOR ESPERA DO NOVO GOVERNO
Francisco Alves/Rodrigo Gabai

P
or ser uma atividade de longo prazo, a No primeiro bloco de discussões, mo-
mineração precisa de previsibilidade derado por Maria José Gazzi Salum (do
nas regras e segurança jurídica, a fim Conselho Consultivo de Brasil Mineral)
de que seus projetos não sofram solução o Forum teve como debatedores André
de continuidade. Esse foi o ponto de vista Maciel Machado (Superintendente de Pro-
expressado pelos dirigentes das Empresas dução da Itaminas), Ivan Simões (Diretor
do Ano do Setor Mineral de 2022 e repre- de Relações Corporativas e Sustentabili-
sentantes de entidades do setor durante o dade da Anglo American), Ediney Maia
Forum Brasil Mineral, realizado no dia 15 Drummond (Diretor Presidente da Lun-
de dezembro passado, em Belo Horizonte din Mining Brasil), Paulo Misk (ex-CEO
(MG). da Largo Inc.), Marcos André Gonçalves

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FÓRUM BRASIL MINERAL
(Presidente do Conselho da ADIMB).
Abrindo as discussões, Maria José Sa-
lum, que estava regressando da COP-27,
realizada no Cairo (Egito) no início de no-
vembro, disse que o novo presidente eleito
do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, coloca
uma série de questões de preocupação geral
em relação à Amazônia. “Esperava-se que
nesta COP a questão do carvão fosse mais
abordada, mas as discussões ficaram muito
mais centradas na questão do desmatamen-
to na Amazônia, o chamado desmatamento
ilegal”, disse ela, salientando que gostaria
de abordar o tema na perspectiva de uma
fronteira mineral. “Sabemos que temos uma
fronteira mineral em toda a região norte do
País, na Amazônia Legal como um todo,
Maria José Salum
inclusive com a possibilidade de que ve-
nhamos a ter jazidas e minas dos chamados precisa se unir, já que a mineração brasileira
minerais críticos. Mas como se dará essa tem uma diversidade muito grande, abran-
política de contenção do desmatamento gendo de grandes a pequenas mineradoras.
ilegal, no que diz respeito à contenção do “É preciso criar padrões de sustentabilida-
garimpo ilegal? Já foi colocado na política de, para que todo o setor possa seguir. Não
do novo governo o combate real ao garimpo adianta a empresa de mineração dizer que o
ilegal, que na verdade é uma questão quase material que está sendo produzido é essen-
que de segurança pública e não de respon- cial para a transição energética. É preciso
sabilidade do setor mineral. O que gostarí- produzir esse material com sustentabilida-
amos de saber é o que vem na nova política de. Do contrário, a equação não vai fechar.”
em relação à questão da mineração na nova Marcos André Gonçalves, da ADIMB,
fronteira da região amazônica, como ela comentou que o setor precisa atender cada
se dará, se haverá algo mais restritivo, do vez mais os anseios da sociedade.“O que
ponto de vista social e ambiental”. meus filhos aprendem hoje na escola é
Abordando a questão da descarboniza- que o minerador destrói, que mineração
ção, ela disse que gostaria que fosse abor- e garimpo ilegal são a mesma coisa, que
dada sob o ponto de vista dos minerais crí- nós somos os grandes vilões da Amazônia”,
ticos, que podem estar nessa fronteira onde observou.
o mundo está de olho, no caso a Amazônia. O dirigente disse que é preciso haver
Para Maria José, “o setor mineral está uma política mais nacional de acesso aos
pronto para seguir o seu rumo e para isso territórios, para se conhecer. “Todos sabem

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que tempos atrás criamos uma série de Uni-
dades de Conservação, que até hoje não têm
plano de manejo. Há sérias restrições aos
territórios e precisamos acessá-los de uma
maneira melhor, para que assim seja visto
e aceito pela sociedade. Este é o grande de-
safio. Acredito que esse é um ponto que vai
afetar seriamente tudo o que conhecemos
como mineração na região da Amazônia
Legal”, salientou.
Ele acrescentou que é necessário se co-
nhecer as lacunas que existentes nos terri-
tórios já conhecidos, porque a expansão da
Marcos André Gonçalves, da Adimb
mineração vai acontecer lá”.
Ele mostrou otimismo com relação à pendente se é o governo A ou B, se estamos
interlocução com o governo. “O Brasil tem passando por crise mundial ou não”.
uma oportunidade clara. Acredito que con- Sobre a fronteira da mineração na região
tinuamos dialogando, que há trânsito com o amazônica, ele afirmou que primeiro é
governo. Precisamos trabalhar de uma for- preciso ter claro a necessidade de transfor-
ma que a mineração seja vista positivamente mação da imagem da atividade para com a
e seja aceita pela comunidade”. sociedade como um todo. “Precisamos mos-
Ediney Drummond, presidente da Lun- trar claramente para a sociedade quais são
din Mining Brasil, disse que a mineração os impactos positivos da mineração, porque
continua acreditando nas pessoas do País. os negativos aparecem muito facilmente na
“Quando acreditamos no nosso povo, po- mídia. Precisamos ser inteligentes para mos-
demos fazer qualquer transformação, inde- trar os impactos positivos da mineração”.

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FÓRUM BRASIL MINERAL

Ediney Drummond (ao centro), da Lundin Mining


Sobre a transição energética, Drummond Isso se faz com comunicação, com conversa,
disse que é impossível se avançar sem a com diálogo e acima de tudo com muita
mineração. “A transição energética depende transparência”, afirmou, acrescentando que
muito de minerais essenciais como lítio, historicamente a mineração é conhecida
nióbio, cobre. Hoje estamos do lado de uma pelo baixo índice de transparência em seus
transformação mais fácil de ser vista, com negócios. Somos nós que vamos mudar isso.
os veículos elétricos, que já estão nas nossas Evoluímos nos últimos anos, mas ainda há
garagens. Só para se ter uma ideia, para muito a se fazer.
se fabricar um veículo convencional são Com relação à mineração na região
usados, em média, 20 a 21 kg de cobre. No Amazônia, o dirigente da Lundin Mining
caso do veículo híbrido, o número dobra: Brasil lembrou que não se pode esquecer
são necessários 42 a 43 kg de cobre. E para de outras restrições que existem, como mi-
um veículo totalmente elétrico, é necessá- neração em terras indígenas, a questão das
rio mais de 80kg de cobre. Portanto, como cavidades (restrição à mineração em algu-
vamos fazer a transição energética sem a mas áreas onde há cavidades) e a mineração
mineração? É impossível” em regiões de fronteira. “Nós somos um dos
Sobre o novo governo, Drummond dis- poucos países no mundo onde não se pode
se que o setor espera ser visto visto como minerar numa certa faixa de fronteira”.
essencial para esse processo de redução da Por fim, ele disse que o setor espera do
emissão de carbono, da transição energéti- governo ser visto como essencial, como
ca. “Precisamos ser hábeis o suficiente para amigo do meio ambiente. “Porque temos
demonstrar o quão essencial é o nosso setor. exemplos fantásticos de mineração na

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Amazônia onde o footprint tem um ba- monstrar que se consegue ter um impacto
lanço muito mais positivo do que negativo. positivo para o meio ambiente e certamente
Temos uma grande oportunidade agora, para a sociedade como um todo”, afir-
nessa mudança de governo, de iniciar um mou, salientando que atualmente a Anglo
relacionamento mais favorável para o setor”. American está desenvolvendo uma mina
Ivan Simões, da Anglo American, afir- subterrânea dentro de um parque nacional
mou que a mineração é uma indústria de da Inglaterra, com toda a sustentabilidade.
longo prazo e que vai conviver com cinco “No Brasil, na Amazônia, acreditamos que
ou até dez governos. “E de todos eles espe- é plenamente possível”, disse ele, lembrando
ramos a mesma coisa: previsibilidade, para que, embora não tenha atualmente nenhum
podermos fazer os investimentos que levam projeto na Amazônia, a Anglo American é
grande tempo de maturação e retorno, di- a única empresa privada que faz doações ao
álogo e segurança jurídica, para viabilizar projeto ARPA (Áreas Protegidas da Ama-
esses investimentos”. zônia), que é o maior programa de con-
Sobre a questão da Amazônia, ele disse servação de florestas tropicais do mundo.
que a mineração responsável pode ser feita “São 70 milhões de hectares e mais de 90
em qualquer lugar. “Os exemplos mundo Unidades de Conservação, uma área duas
afora e também no Brasil estão aí para de- vezes o tamanho da Alemanha, que está

Ivan Simões (esq), da Anglo American

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FÓRUM BRASIL MINERAL
seja, o Escopo 3”.
André Maciel, da Itaminas, lembrou que
há uma guerra em curso, o que ressalta a
importância de se ter o bem mineral bem
conhecido e bem mapeado. Para ele, a
mineração tem o desafio da união, porque
ainda não é tão unida quanto outros seto-
res lembrando que, enquanto países como
Austrália e Estados Unidos estão hoje pre-
ocupados com os preços das commodities,
a América Latina está preocupada com a
segurança jurídica, ambiental e social, “o
que demonstra que ainda temos muito a
amadurecer”.
Em relação à questão de como a socie-
dade vê a mineração, ele disse que, mais
André Maciel, da Itaminas do que nunca é necessário comunicação,
sendo conservada com o apoio de diversas “pois os meios de comunicação hoje têm
instituições e temos a honra de fazer parte um fator de multiplicação muito grande
desse projeto”. no conhecimento ou desconhecimento da
Ele também salientou que não haverá realidade da mineração e mais uma vez
transição energética sem a mineração, a necessidade de sermos unidos tem um
sem os metais que são necessários para papel muito importante”.
que se possa alcançar uma economia de O dirigente da Itaminas chamou atenção
baixo carbono. “Independente disso, na para a evolução dos custos da mineração,
Anglo American temos o nosso Plano de que aumentaram muito no Brasil, embora
Mineração Sustentável, que tem diversas a inflação oficial esteja na faixa de 5,9%.
metas, entre elas ser neutro em carbono, Em sua opinião, os custos aumentaram
em que todas as ações vão até 2040. No mais de 20%, puxados pelos preços dos
Brasil hoje já zeramos as emissões do combustíveis, enquanto os preços das
escopo 2, toda a nossa energia elétrica commodities minerais (especificamente
é de fontes renováveis, principalmente o minério de ferro) caíram cerca de 50%.
eólica e solar, estamos no caminho de Isto é um problema, segundo ele, porque as
redução do Escopo 1 através do uso de mineradoras precisam ter margem de ren-
hidrogênio para substituir alguns com- tabilidade, inclusive para inovar e investir
bustíveis, trazendo caminhões movidos em descarbonização. “Quando falamos de
a hidrogênio também para o Brasil e for- descarbonização o que vem a cabeça é a
necendo um produto que ajuda a reduzir matriz energética, mas creio que podemos
a emissão da indústria siderúrgica, ou brigar de outra maneira também: temos que

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Deixar um legado de
desenvolvimento sustentável,
onde processos tecnológicos
e infraestrutura moderna estão
ligados ao cuidado com a vida
e ao bem estar das pessoas.

Pro je t o S o cia l: Mã o s q u e b o rd a m - C a e t it é Ba h ia

BRASIL MINERAL - nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023 w w w. b am i n . c o m . b r 13


FÓRUM BRASIL MINERAL

Paulo Misk, ex-Largo Inc.


olhar a eficiência operacional, concluir de pequena em relação à riqueza e ao número
recuperação em nossas plantas, evoluir em de empregos que gera. “Se observarmos, em
nossos processos. Este é um caminho muito média, no Brasil, a mineração paga 34% de
válido, que tem de ser percorrido por quem imposto sobre o seu faturamento. Isto mos-
quer chegar na frente”. tra que ela tem um potencial de contribuição
Paulo Misk, da Largo Inc., afirmou enorme. E quando vemos que a mineração
que, em relação ao novo governo, espera o vai a lugares carentes – a realidade que vemos
mesmo que todos os brasileiros e todos os no estado da Bahia mostra muito claramente
setores da economia: “que tenhamos um isso, as oportunidades da mineração em sua
governo voltado para a melhoria da quali- grande maioria estão no interior, uma área
dade de vida, muito focado em educação, muito carente, muito pobre. Lá geramos
porque não há outro caminho, para que emprego, privilegiamos compras locais,
possamos buscar um Brasil melhor, que seja investimos muito em educação e qualidade
responsável, cuide do seu povo, do meio de vida. E todos os benefícios e programas
ambiente, que possa ter um caminho para são estendidos para a comunidade. Quando
o desenvolvimento”. resgatamos essa função da mineração, nada
No setor mineral, acrescentou que é pre- mais justo do que ter a contribuição dos
ciso resgatar o papel da mineração, que é governos, da sociedade, para que possamos
uma atividade que ocupa uma área muito cumprir essa vocação”.

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Sobre o problema da imagem da mine- uso do vanádio no aço pode economizar,
ração perante a sociedade, que tem afetado em massa, até 40%. Significa que se pode
bastante o setor”, ele disse que “cabe a nós reduzir o footprint de toda a cadeia do aço.
mudar essa imagem. Na Bahia temos fei- Lembrando que a China usa em vergalhão
to um trabalho em que, ao invés de ficar e não apenas em aços especiais”.
falando de grandes números, procuramos Ele ainda informou que a Largo tem titâ-
mostrar como atuamos na vida das pessoas”. nio em seus rejeitos e atualmente está im-
Nesse sentido, segundo Misk, “temos de plementando – deve ficar pronto em maio
trabalhar junto com o governo. Não dá pra de 2023 – uma produção de ilmenita, que
ficar só jogando pedra do outro lado. Temos é o mineral de titânio, a partir do rejeito. E
que caminhar para a frente, identificando na sequência a empresa vai produzir pig-
o que é bom para o Brasil, para as pessoas, mento de titânio. “Para não impactarmos
para que avancemos”. o meio ambiente, desenhamos a planta
Sobre a Amazônia, ele afirmou a mi- para ser instalada em Camaçari (a Bahia),
neração é uma das duas atividades mais aproveitando a amônia que é produzida lá,
adequadas para a região, porque é uma como um efluente ácido, para produzirmos
atividade que atua pontualmente, promo- fertilizante”.
vendo um benefício social muito grande. Ele acrescentou que, no final de 2020,
“E se olhamos o exemplo da Vale, com a a Largo comprou as patentes para lançar
Floresta Nacional de Carajás, vemos que baterias de vanádio. São grandes baterias
um empreendimento mineral tem o po- estacionárias em que se tem eletrólito de
tencial de proteger, de gerar uma condição vanádio no cátodo e no anodo e que tornam
de preservação, de uma área muito maior, a produção de energia renovável (eólica e
coisa que o governo não dá conta de fazer solar) disponível 24 horas por dia. “O obje-
sozinho. É muito difícil tomar conta de uma tivo da bateria de vanádio é equalizar pro-
área tão grande quanto a Amazônia. Então dução e consumo ao longo do dia. Temos
temos de ter esse tipo de parceria. São ativi- uma empresa nos EUA que está instalando a
dades pontuais que geram benefícios e uma primeira bateria na Espanha, em Mallorca.
vida digna para a população de 20 milhões E estamos formando uma joint venture com
de pessoas, seguindo todos os parâmetros uma empresa italiana cujo principal negó-
legais e de conservação ambiental”. cio era fazer geradores e turbinas a partir
Quanto ao aspecto da descarbonização, de gás natural e está indo para o lado da
o dirigente da Largo disse estar em posição energia renovável. E a ideia é desenvolver
bem confortável para falar, porque o vaná- essas baterias e implementar na Europa a
dio (que é o principal produto da Largo) partir dessa joint venture. E a partir de lá
por si só já promove uma descarbonização teremos uma expertise desenvolvida para
muito grande. “Uma pequena quantidade aplicar no mundo inteiro”.
de vanádio acrescentada ao aço aumenta a Por fim, Misk disse que tudo o que é
resistência do material em 84%. Ou seja, o feito pela empresa tem as pessoas como

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FÓRUM BRASIL MINERAL
foco principal. “A mineração só existe para João Luiz de Carvalho, da ABPM e
melhorar a vida das pessoas. Ela só existe presidente do grupo Geopar, afirmou que
porque há uma tecnologia vindo que requer “estamos passando por um processo de
matérias primas. E o minerador está pre- mudança do foco da mineração em si. No
cisando resgatar a responsabilidade do seu Brasil, temos um mineral que pesa muito
papel no mundo de hoje”, concluiu. em nossa balança comercial, que é o miné-
rio de ferro. Temos que abrir um pouco os
Diversificação da produção mineral olhos e não pensar que somos realmente
O segundo bloco contou com a mode- monomineral. Nós temos uma oportuni-
ração de Francisco Alves, editor-chefe da dade grande pela frente. Temos que pensar
Brasil Mineral e teve como participantes não somente num único mineral, mas em
Lauro Dias Amorim – VP de Sustentabi- tudo que podemos explorar no Brasil. Mas
lidade e Assuntos Corporativos da Anglo- para isso dependemos também que a ANM
Gold Ashanti, Fábio Guimarães – Diretor (Agência Nacional de Mineração) dê cele-
de Exploração da Bemisa, Alexandre ridade aos processos para viabilizar os pro-
Aigner – Diretor Financeiro da BAMIN, jetos que requerem investimentos pesados.
Julio Nery – Diretor do Ibram e João Luiz João Luiz informou que a ABPM (Asso-
de Carvalho – vice-presidente da ABPM e ciação Brasileira das Empresas de Pesquisa
Conselheiro da Brasil Mineral. Mineral), está trabalhando juntamente

João Luiz de Carvalho, da ABPM

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Júlio Nery (centro), do Ibram

com o IBRAM, BNDES (Banco Nacional gócio, que requer desmatamento para que
de Desenvolvimento Econômico e Social) se possa plantar.
e outras associações, através do Investmi- “Sobre o que esperar do novo governo,
ning, no sentido de mostrar as possibilida- temos alguns pontos que foram colocados
des de investimento na cadeia mineral do pela ABPM, que são os seguintes: diversifi-
Brasil, visando principalmente desenvolver car a cadeia da mineração; apoiar a média e
projetos para produção dos chamados pequena empresa de mineração, porque são
elementos mais nobres muito procurados através delas que surgem as grandes mine-
e atualmente requisitados. “Enquanto em- radoras; preservar a recuperação do meio
preendedores, cientistas da cadeia mineral ambiente; reduzir e combater a atividade
e governo, temos que fomentar e conduzir a garimpeira ilegal; respeitar os povos origi-
diversificação mineral no Brasil. E não ficar nários mas lembrar também que restringir a
produzindo somente alguns bens minerais”. mineração em área de fronteira é algo difícil
Ele acrescenta que a mineração gera um de entender; garantir a autossuficiência pro-
PIB tão grande, numa área tão pequena, dutiva o Brasil, desde o início da exploração
que realmente o melhor investimento para mineral; promover a inclusão do trabalho
a Amazônia é a mineração e não o agrone- formal”, concluiu o dirigente da ABPM.

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FÓRUM BRASIL MINERAL

Alexandre Aigner, (ao microfone), da BAMIN


Fábio Guimarães, da Bemisa, explicou detalhou Guimarães. Ele acrescentou que,
que a empresa foi criada em 2007, inicial- em 2022, a Bemisa começou a montar um
mente com a ideia de preparar áreas para projeto de ouro ao sul de Carajás, na cidade
investimento, mas não para operação. Os de Água Azul do Norte.
projetos deveriam ser vendidos ou ser obje- Em relação ao que a empresa espera do
to de parcerias com empresas que pudessem novo governo, ele disse que a mineração
iniciar a operação. é uma indústria de longo prazo quando
“Chegamos a 2010 já com um bom ativo comparada a outro tipo de indústria. “Por-
em minério de ferro localizado no Vale do que para se tirar um projeto do estágio
Aço (em Minas Gerais) tendo bons resulta- inicial e chegar à operação, muitas vezes
dos, vimos que era uma boa oportunidade se demora décadas. Então, querendo ou
colocar esse projeto em operação, devido não vamos passar por diversos governos
à localização, já que estávamos muito (de esquerda, de direita, de centro), e na
próximos do mercado consumidor e isso verdade o que precisamos é que cada um
mudou um pouco a chave do que a empresa que entre melhore os processos, a eficiência,
esperava para o seu futuro. Em 2014 coloca- tragam novas ideias e dêem continuidade
mos essa operação de minério de ferro em ao desenvolvimento do setor mineral. A
produção e hoje ela está produzindo cerca Bemisa, como é uma empresa de exploração
de 2 milhões t de minério de ferro por ano”, mineral, juntamente com a ABPM espera

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que tudo o que se desenvolveu nos últimos mos muito próximos a Ipatinga (MG), que
anos tenha continuidade, que se fortaleça é uma cidade bem desenvolvida, mas tem
o Serviço Geológico do Brasil, para que ele Antonio Dias e Timóteo, cidades vizinhas a
seja uma ferramenta que ajude as empre- Ipatinga, que não tinham todo esse desen-
sas a encontrar novos depósitos minerais, volvimento. E com a implantação da mina
inclusive todos esses minerais que são Baratinha, conseguimos promover um tra-
necessários à nova matriz energética, que balho de geração de riqueza muito grande
se consiga reduzir a quantidade de áreas nessa região. A mesma coisa acontece em
de pesquisa que estão paradas, e que estão Água Azul do Norte, uma cidade vizinha a
vindo via leilões de disponibilidade, porque Tucumã e Ourilândia do Norte, que apesar
se reduzindo isso se consegue colocar mais de todo o desenvolvimento da implantação
áreas para pesquisa e que se tenha um nível de Onça-Puma (projeto Onça-Puma, da
de descobertas cada vez maior no Brasil”. Vale), vizinha a Canaã dos Carajás, com
Sobre o ESG, o diretor da Bemisa afir- todos os projetos (S11D, Salobo), era uma
mou que entende a mineração como um cidade que havia ficado perdida nesse meio,
drive do desenvolvimento do interior do com um comércio muito pequeno, voltado
País. “Poucas indústrias são capazes de levar basicamente à agropecuária, e a Bemisa,
o desenvolvimento que a mineração leva ao com a implantação do projeto de ouro está
interior do País. No caso da Bemisa, esta- fazendo com que Água Azul entre nesse rol

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publicação que há 40 anos atua como
a voz da mineração brasileira!
BRASIL MINERAL - nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023 19
FÓRUM BRASIL MINERAL

Lauro Amorim, da AngloGold Ashanti


das cidades beneficiadas com a mineração”. para que o projeto deslanchasse. Enquanto
Alexandre Aigner, da BAMIN, abor- trabalhava buscando uma solução logística,
dou o projeto da empresa, “que é bastante a empresa utilizou o tempo para conhe-
grande e bem significativo”. Ele disse que a cimento geológico mais apurado de sua
BAMIN também é uma empresa jovem, que jazida. “Mais de 60 mil metros foram per-
iniciou suas atividades há cerca de 17 anos furados, o que deu uma segurança bastante
e especialmente no período de pandemia significativa para conhecermos a reserva. A
deu uma guinada bastante expressiva. “É Ferrovia de Integração Oeste-Leste, conhe-
uma mina de minério de ferro no interior cida como FIOL, que estava em construção,
da Bahia, que vai produzir 26 milhões de passou a se configurar como uma possi-
toneladas de minério de alto teor e baixís- bilidade e entendemos que aquele seria o
simos níveis de contaminantes, o que con- caminho: competitivo, em escala, e de longo
tribui para a transição energética, para se prazo para aquela jazida. E imediatamente
gerar menos emissões”. Como a mina está fomos buscar a solução de um terminal para
distante do mercado, precisava da logística, embarque do miinério. Existia o projeto do
o que segundo ele demorou um pouco mais governo da Bahia de desenvolver o Porto

20 BRASIL MINERAL - nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023


Sul de Ilhéus, um complexo maior e fomos “É um projeto que tem sinergia com os in-
buscar a solução de um terminal privado. teresses públicos, então para o nosso bem,
Assim, ficou faltando a espinha dorsal, para o interesse do projeto, todos os temas
que era a ferrovia. Tivemos que aguardar tramitaram muito bem e a expectativa é
alguns anos. Tínhamos condições de fazer que continue assim: que o governo que vem
o projeto acontecer mais cedo. E, por uma agora e outros que o sucederão possam ter
decisão de governo, o projeto da ferrovia foi essa perspectiva de realmente trabalhar em
colocado em leilão para a iniciativa priva- prol do País, dos setores que representam o
da, tivemos a oportunidade de participar, País, das leis, da regulação, o suporte de todo
assinamos o contrato em 202, hoje somos arcabouço jurídico, o desenvolvimento para
concessionários e o projeto agora está inte- que possamos ter as bases para atrair o capi-
grado”, explica Alexandre Aigner. tal, e ir em frente. É nisso que acreditamos”.
Ele acrescentou que a empresa nunca teve O dirigente da BAMIN disse, ainda,
nenhuma dificuldade significativa com os que em 2023 a empresa dará seguimento
governos municipais, estadual ou federal. à implantação do projeto em ritmo mais

Público acompanha atento as discussões do Fórum Brasil Mineral

BRASIL MINERAL - nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023 21


FÓRUM BRASIL MINERAL

Fábio Guimarães, da Bemisa


acelerado. “Agora aceleramos mais o projeto então estamos otimizando a nossa estrutura
do porto, porque é um elemento crítico, de capital, mas estamos seguindo em frente,
terminamos toda a diligencia prévia da com o orçamento do próximo ano já apro-
ferrovia, avaliando as condições em que vado. O ambiente é de muita confiança”.
nos foi entregue, todas as questões jurídi- Júlio Nery, do IBRAM, afirmou que a
cas, ambientais, o nosso planejamento de mineração tem que buscar segurança ju-
construção. E na mina nós já temos uma rídica, observando que atualmente muitas
produção de 1 milhão de toneladas, numa vezes o licenciamento ambiental muitas
estrutura provisória, que cessará no mo- vezes termina na Justiça e que há projetos
mento em que o projeto estiver construído. no estado de Minas Gerais em que o licen-
Os nossos desafios hoje são mais relacio- ciamento está tramitando há 11 anos. Ele
nados a ter as parcerias necessárias de em- elogiou a postura da ANM, que demons-
presas: construtores, de suporte, serviços, trou disposição em dialogar com o setor
pessoas capacitadas ao longo da construção. sobre regras recentemente estabelecidas.
Serão 55 mil postos de emprego em todas Para o diretor do IBRAM, é preciso que
as frentes, que precisam andar em paralelo. se entenda que “o tempo das empresas é
E a estrutura de capital está sendo fechada diferente do tempo do setor público, até
agora. Houve uma mexida grande agora porque no caso das empresas tem a pre-
no mercado mundial com relação a custos, mência do capital. A empresa trabalha com

22 BRASIL MINERAL - nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023


financiamento e um dia ela tem que pagar, mundo. Claro que ela tem seus motivos,
enquanto o Ministério Público tem todo o porque não podemos esquecer das tra-
tempo do mundo”. gédias por que passamos, que nos afetou
Ele criticou a taxa de fiscalização da ativi- bastante como setor. E buscamos seguir
dade de mineração imposta pelo estado de essa legislação. Acredito que cumprir a lei
Mato Grosso, que é a mais cara do País e não é obrigação. Todos temos que cumprir a lei.
leva em conta a rentabilidade do minério. Mas como empresa, como setor, temos que
“Todo mundo, quando calcula essas taxas, ir além disso. Temos que mostrar isso pra
se baseia num preço do minério de ferro sociedade, a fim de que tenhamos a licença
de 200 dólares a tonelada e hoje estamos na social, enfatizou.
faixa de 100 dólares. Temos que lembrar que Lauro Amorim, da AngloGold Ashanti,
nem tudo na mineração é minério de ferro. observou que as empresas atualmente estão
Metade da produção mineral brasileira é enfrentando uma pressão muito grande em
de agregados, que não tem a capacidade de termos de aumento de custos, o que é um
absorver taxas desse tipo”, salientou. desafio para as operações.
Nery disse, ainda, que o setor acredita Ele também criticou a legislação sobre
muito na autoregulamentação. “Hoje temos o trabalho em subsolo, que é antiga, não
a legislação de barragens mais exigente do condizente com a realidade de hoje e disse

Empresa do Ano do Setor Mineral,


categoria Exploração Mineral em 2022.

Anglo American
Grupo Bemisa: geração, pesquisa,
desenvolvimento e operação de ativos minerais.

Desde 2007, atuamos no desenvolvimento de Investimos e operamos os ativos minerais para


oportunidades minerais por todo Brasil. Nosso que cada etapa seja realizada em linha com
trabalho abrange desde a pesquisa geológica as melhores práticas de mercado, com atenção
em campo e campanhas de sondagem, até a aos cuidados ambientais, à geração de
engenharia e implantação das minas e usinas empregos e ao apoio em projetos sociais nas
de processamento mineral. áreas de esporte, saúde, educação e cultura.

BRASIL MINERAL - nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023 23


FÓRUM BRASIL MINERAL
que as empresas estão investindo forte em especialmente para o Brasil talvez seja um
automação, inclusive para aumentar a se- grande tema que possamos alavancar e
gurança das operações. “Cada vez mais vai nos apropriar disso como país, por meio
ser demandado automação e segurança, as dos minérios e das novas tecnologias de
tecnologias estão vindo, mas a pressão con- geração de energia. Tem vários minérios
tinuará e temos que pensar como trazer ex- hoje empregados existentes no País com
celência operacional aos nossos processos, jazidas em que precisamos trazer segu-
aprender com outros segmentos e outras rança jurídica, oportunidades de pes-
empresas, de forma que consigamos atrair quisa, legislações estáveis, para que eles
melhores oportunidades e talentos para ter sejam pesquisados, identificados, men-
o desenvolvimento correto nesse processo. surados, licenciados, lavrados, para que
A questão da automação nós vemos possam propiciar essa descarbonização,
como essencial para o mercado, hoje. O esse processo novo. Então, a mineração
investimento em tecnologia é o grande talvez possa ter grandes bandeiras como
contribuinte para que nós possamos trazer o desenvolvimento social, atração de no-
novas reservas, novos corpos ou explorar
vos investimentos, nessa nova economia
corpos que não seriam tão atrativos, em
que está por vir, de baixo carbono, com
função do preço e custo. Com tecnologia
grandes processos que podem ser trazidos
nós conseguimos fazer esse processo com
e alavancados em termos de mineração.
mais eficiência”, ponderou.
Isso vai requerer não só estabilidade, mas
O dirigente da AngloGold Ashanti
principalmente pessoas. É um investi-
disse que é preciso se pensar em como
o setor de mineração pode ser indutor mento que a mineração tem que fazer
da inovação, não só para si próprio mas para atrair novos talentos, novas gerações
também para outros processos e que a e novos processos que podem ser um
descarbonização já é uma realidade. “Se marco dessa nova indução do setor. ☐
analisarmos hoje as políticas de ESG, ve-
remos que quem não focar na descarboni-
zação estará afastado. Se olhamos a COP,
a postura dos governos internacionais, o
ICMM (International Council on Mining
and Metals), veremos que as principais
companhias mineradoras do mundo já
anunciaram suas metas de redução, e
isso faz parte não somente como com-
promisso social mas para uma atração da
própria mineração como indutor dessa
oportunidade. A mineração tem um papel
fundamental e deve tomar a liderança. E Participantes da segunda mesa

24 BRASIL MINERAL - nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023


Mineração
sustentável:
esse é o nosso legado

Nosso propósito vai além da produção de alumínio.


Queremos impactar positivamente a sociedade
e o meio ambiente, inspirando o setor a atuar
de maneira mais sustentável e ampliando
a consciência de todos.
Um mundo sustentável é
mais colaborativo.

Acesse o site e saiba mais


esg.cba.com.br
BRASIL MINERAL - nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023 Área Experimental em parceria com a Universidade Federal de Viçosa
localizada na Unidade de Miraí, Zona da Mata Mineira
25
PERSPECTIVAS

COM NOVOS PROJETOS, MINERAÇÃO


BRASILEIRA DEVE RETOMAR CRESCIMENTO
Francisco Alves

A
o contrário de 2021, quando o valor da do basicamente pelo menor preço obtido
Produção Mineral Brasileira alcançou pelas commodities minerais no mercado,
o valor recorde de R$ 339,1 bilhões particularmente o minério de ferro, que
(cerca de US$ 63 bilhões), em 2022 o va- lidera a produção mineral brasileira, tendo
lor da PMB, de acordo com as estimativas registrado um valor de R$ 153,5 bilhões
tendo por base a arrecadação da CFEM em 2022, ou mais de 61% do total da PMB.
(Contribuição Financeira pela Exploração Isto indica que, apesar da diversificação da
Mineral), foi de aproximadamente R$ 250 produção mineral, o Brasil continua for-
bilhões (cerca de US$ 48 bilhões). Ou seja, temente dependente do minério de ferro
houve uma queda em torno de 26% em para impulsionar a sua indústria mineral.
relação ao ano anterior, o que é explica- Os outros bens minerais que tiveram par-

26 BRASIL MINERAL - nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023


jota campelo
Somos Kinross,
somos Paracatu
Somos uma das maiores produtoras de ouro do Brasil e fazemos parte do
grupo canadense Kinross Gold Corporation. Nossa principal operação está em
Paracatu, no coração do Cerrado mineiro.
Sabemos que o sucesso do nosso trabalho por um desenvolvimento cada vez
mais sustentável depende do respeito às pessoas, ao meio ambiente e à cultura
do território que abriga nossa unidade.
Juntos, fazemos o futuro acontecer.

Saiba mais sobre a gente:


kinross.com.br

BRASIL MINERAL - nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023 27


PERSPECTIVAS
ticipação mais expressiva na PMB em 2022
foram: ouro (R$ 23,9 bilhões), cobre (R$
15,2 bilhões), calcário dolomítico (R$ 8,55
bilhões) e bauxita (R$ 5,66 bilhões).
Em termos geográficos, ao contrário do
ano anterior, em 2022 o estado de Minas
Gerais ocupou a liderança no valor da
produção mineral, com R$ 100,5 bilhões,
enquanto o Pará, que havia liderado a
produção no ano anterior, colocou-se em
segundo lugar, com R$ 92,3 bilhões. A
lista dos cinco maiores estados produtores
inclui ainda a Bahia (com R$ 10,1 bilhões),
Goiás (R$ 9,04 bilhões) e São Paulo (R$ 7,8
bilhões).
Como decorrência da redução no valor da
produção mineral, a arrecadação da CFEM
(Contribuição Financeira pela Exploração
Mineral) também diminuiu, alcançando
R$ 7,018 bilhões em 2022, contra R$ 10,3
bilhões em 2021, com uma queda de pou- e seus concentrados (-18,6%), devido à re-
co mais de 30%. Os municípios paraenses dução de preços no mercado internacional.
de Parauapebas (R$ 1,385 bilhão) e Canaã Pelo lado das importações, houve um
dos Carajás (R$ 1,060 bilhão) lideraram aumento de 68,9% da indústria extrativa,
a arrecadação, seguidos pelos municípios com um total de US$ 22,05 bilhões, con-
mineiros de Conceição do Mato Dentro (R$ tribuindo para o aumento nas importações
391,8 milhões), Itabirito (R$ 317,6 milhões) total do Brasil.
e Mariana (R$ 299,0 milhões). Os principais produtos da indústria
extrativa exportados pelo Brasil em 2022
Redução das exportações
foram o minério de ferro, com US$ 28,88
A indústria extrativa registrou uma que- bilhões, ouro, com US$ 4,926 bilhões e o
da de -4,7% no total nas exportações em minério de cobre, com US$ 2,7 bilhões.
2022, com um total de US$ 76,29 bilhões. Já pelo lado das importações, os que mais
Mesmo assim, o segmento superou o agro- pesaram foram: adubos ou fertilizantes
negócio, cujas exportações somaram US$ químicos (US$ 24,7 bilhões), carvão (US$
74,98 bilhões, com crescimento de 36% em 5,54 bilhões), e fertilizantes brutos (US$
relação a 2021. A baixa da indústria extra- 287,8 milhões).
tiva foi puxada pelo minério de ferro e seus No total, as exportações brasileiras em
concentrados (-35,3%) e minérios de cobre 2022 somaram US$ 334,46 bilhões e as

28 BRASIL MINERAL - nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023


realizadas) em 2022 somaram 1.510, em
comparação a 1.654 em 2021. O estado de
Minas Gerais manteve a liderança, com
542 relatórios, seguido por São Paulo (248),
Paraná (141), Santa Catarina (110) e Rio
Grande do Sul (93).
Quanto às portarias de lavra, que são o
ponto de partida para a abertura de novas
minas, totalizaram 661 em 2022, um nú-
mero bem menor do que as 760 de 2021.
Minas Gerais, com 217 portarias, segue na
liderança e na sequência estão Paraná (105),
São Paulo (85), Goiás/Distrito Federal (41)
e Bahia (também com 41).

A retração no minério de ferro


Mesmo liderando o valor da produção
mineral brasileira em 2022, o minério de
ferro teve uma redução significativa em
relação a 2021, o que é explicado mais
importações US$ 272,7 bilhões, com um pelo preço do minério do que pelo volume
resultado positivo de US$ 61,76 bilhões, produzido. Se em 2021 a matéria-prima
valor praticamente igual a 2021, quando o participava com 74% do valor total da PMB,
saldo foi de US$ 61,4 bilhões. com R$ 249,8 bilhões, no ano passado o
percentual de participação caiu para 61%,
Exploração mineral com R$ 153,5 bilhões. Como consequência,
A julgar pelo número de alvarás de pes- a arrecadação de CFEM proporcionada pela
quisa (permissões para exploração) publi- substância também se reduziu, caindo de
cados, a atividade de exploração mineral uma participação de 84,5% em 2021 para
apresentou menor ritmo em 2022. Segundo cerca de 76,0% em 2022.
as estatísticas da ANM, foram publicados, A Vale continua liderando a produção
no ano passado, 9.732 alvarás de pesquisa, brasileira de minério de ferro, com um va-
contra um total de 10.098 títulos em 2021. lor declarado, para fins de recolhimento de
Os estados que mais tiveram títulos publi- CFEM, de R$ 115,2 bilhões (incluindo-se
cados foram Minas Gerais (2.245), Bahia o valor atribuído à Minerações Brasileiras
(1.823), Goiás/Distrito Federal (650), Ceará Reunidas) o que corresponde a aproxima-
(593) e Mato Grosso (562). damente 46% do valor total da produção
Já os relatórios de pesquisa (que expres- mineral brasileira em 2022. O ranking dos
sam atividades de exploração efetivamente maiores produtores de minério de ferro

BRASIL MINERAL - nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023 29


PERSPECTIVAS
no Brasil, em 2022, inclui ainda a Anglo
American, CSN Mineração, Mineração
Usiminas, ArcelorMittal Brasil, Mineração
Corumbaense Reunida, Vallourec Tubos,
Mineração Conemp, Gerdau Açominas,
Itaminas, Mineração Baratinha (grupo
Bemisa), BAMIN e outras.
Ao contrário de 2021, os produtores de
minério de ferro não se beneficiaram com
os altos preços da commodity, que alcançou
uma média de US$ 100,40 /dmt (tonelada
métrica base seca) em 2022. Paralelamente,
eles tiveram que conviver com uma eleva-
Vale - Empilhadeira minério
ção dos seus custos, seja como decorrência
da inflação ou dos investimentos feitos em siderúrgica, ao invés de ser apenas um gran-
instalações para mudança dos métodos de fornecedor de minério de ferro. Com
para tratamento e estocagem dos rejeitos. essa nova estratégia, a companhia deixa
Portanto, os resultados exuberantes que as em segundo plano a meta de chegar a um
empresas haviam obtido em 2021 não se volume de produção de 400 mil t/ano. De
repetiram em 2022. Mesmo assim, ninguém acordo com fato relevante divulgado ao
perdeu dinheiro. Só ganhou menos. Mas os mercado, as metas de produção de minério
produtores tinham consciência de que a bo- de ferro são de 310-320 milhões t em 2023,
nança vivida pelo segmento do minério de indo a 340-360 milhões t em 2026 e 360
ferro em 2021 era um ponto fora da curva e milhões t em 2030. Isso quer dizer que a
que os preços atuais estão mais próximos da meta anterior, de chegar a um volume de
realidade do mercado. E, nesta realidade, a produção de 400 milhões t, foi deixada de
maioria dos projetos de minério de ferro em lado. Em compensação, a empresa vai tripli-
implantação ou programados permanecem car o seu volume de produção de pelotas e
economicamente viáveis, já que nenhum briquetes, que passará de 33 milhões t para
deles tem break-even superior a US$ 50/ 100 milhões t em 2030. A empresa acredita
dmt. Só que agora os produtores muda- que o mundo vai continuar demandando
ram sua estratégia, trocando a quantidade aço, porém esse aço terá que ser cada vez
pela qualidade, inclusive procurando gerar mais “verde” e ela se prepara para liderar o
produtos que contribuam para a descarbo- atendimento dessa demanda, fornecendo
nização da siderurgia e, consequentemente, produtos aglomerados (briquete verde) e
obtenham melhores preços no mercado. pelotas, para eliminar sinterização e otimi-
É o caso da Vale, que pretende se tornar zar os altos fornos. Nessa nova estratégia, a
uma líder mundial em soluções sustentáveis Vale também trabalha para reduzir o custo
para apoiar a descarbonização da indústria total (AISC). No minério de ferro, a ideia

30 BRASIL MINERAL - nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023


é baixar o custo de US$ 49/t, em 2022, ano de minério com 65% Fe, com start up
para US$ 42/t em 2026. Para suportar essa também no final de 2025; Recuperação de
estratégia de crescimento, a Vale deve man- Rejeitos da Barragem B4, com capacidade
ter um nível elevado de Capex durante os prevista de 2,5 milhões t/ano de minério
próximos anos. As projeções indicam que com 66% Fe, a iniciar operação no segundo
o Capex passará de US$ 5,5 bilhões, em trimestre de 2025; Itabirito P4+, no qual
2022, para US$ 6,0 bilhões em 2023 e uma se prevê uma produção de 4,4 mihões t/
média anual entre US$ 6,0 bilhões e US$ ano de minério com 65% Fe a partir do
6,5 bilhões entre 2024 e 2027. segundo trimestre de 2026; e, finalmente,
A CSN Mineração, que em 2022 decla- o projeto Recuperação de Finos de CdP, no
rou um valor de produção de R$ 7,9 bilhões, qual devem ser produzidas 2,5 milhões t/
decidiu mudar o cronograma do seu plano ano de minério com 66% Fe com start up
de expansão da capacidade, composto por no primeiro trimestre de 2028. Com estes
vários projetos. A Fase 1 de seu plano, que projetos, a CSN Mineração acrescentará
vai de 2022 a 2027, prevê investimentos de 26,9 milhões de toneladas a sua capaci-
R$ 13,8 bilhões, visando elevar a capacidade dade própria atual. Para ajudar a custear
de produção de 34 milhões para 68 milhões a implantação dos projetos, a empresa
t, incluindo compras de terceiros. Essa fase concluiu recentemente um acordo de for-
inclui seis projetos: Recuperação de Ultrafi- necimento de 13 milhões t/ano de minério
nos, com volume de produção de 1 milhão no período de quatro anos, mediante um
t/ano de minério com 66% Fe, cujo start up pré-pagamento de até US$ 500 milhões.
deverá ocorrer no quarto trimestre de 2024; Assim como outros players do segmento de
Itabirito P15, capacidade de 15 milhões t/ minério de ferro, a CSN Mineração também
ano de minério com 67% Fe, com início de está focada na melhoria da qualidade de
produção no final de 2025; Recuperação seus produtos, para obtenção de melhores
dos Rejeitos da barragem de Pires, para o preços no mercado internacional, que está
qual se prevê capacidade de 1,5 milhão t/ premiando os minérios de mais alto teor de
ferro e mais baixos níveis de contaminantes
como sílica e alumina.
A Anglo American, que se colocou em
segundo lugar entre os produtores brasilei-
ros de minério de ferro em 2022, com um
valor de R$ 11,2 bilhões, está em fase de
ramp up de uma nova planta de concen-
tração magnética no Projeto Minas-Rio,
no qual está investindo cerca de R$ 300
milhões. O novo processo será responsável
por recuperar o ferro do rejeito da etapa da
CSN Mineração - Casa de Pedra deslamagem da planta de beneficiamento

BRASIL MINERAL - nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023 31


PERSPECTIVAS
nho de 2024. A expansão da filtragem (Fase
03) é outro projeto da Itaminas, para o qual
se prevê investimentos de R$ 129 milhões.
A previsão é que o projeto esteja concluído
em dezembro de 2024. Mais R$ 276 milhões
deverão ser destinados pela empresa ao
projeto de expansão das britagens (Fase 02),
que prevê a instalação de nova unidade de
britagem e peneiramento. A nova unidade
deve operar em dezembro de 2025. Tam-
bém se prevê a instalação de uma unidade
Anglo American Minas Rio - Sistema moagem
de beneficiamento que utiliza tecnologia
em Conceição do Mato Dentro (MG) e tem de flotação, para a qual estão programados
um potencial de ganho de produção final de investimentos de R$ 140 milhões e start-up
1 milhão t/ano. A concentração magnética, em dezembro de 2026. Outro projeto é a
além de permitir um aumento de produção expansão da unidade de beneficiamento
de 1 milhão t/ano, vai proporcionar redução localizada próximo ao complexo de con-
do percentual de rejeitos enviados para a centração magnética, com a instalação de
barragem. dois moinhos de bolas que vão gerar 480
A Itaminas está realizando importantes mil t/mês de finos que serão destinados à
investimentos em aumento da capacidade produção de pellet feed. O investimento
e melhoria de seus processos produtivos. previsto é de 82 milhões e o início da ope-
O primeiro projeto é a Fase 1 de expansão ração deve ocorrer em dezembro de 2027.
das britagens, no qual estão sendo inves- A Itaminas implantará, ainda, uma unidade
tidos R$ 64 milhões, a ser concluído em de beneficiamento que utilizará tecnolo-
meados de 2023. Mais R$ 78 milhões estão gia de flotação próxima ao complexo de
sendo investidos em uma nova unidade concentração, com um circuito de células
de beneficiamento localizada próximo de flotação totalmente automatizado para
ao complexo de concentração magnética, produção de pellet feed Premium entre 64
com start up em junho de 2024. Outros e 65% Fe. A capacidade de processamento
R$ 121 milhões deverão ser investidos será de 480 mil t/mês e o investimento de
na expansão da concentração magnética R$ 190 milhões.
ITM8, para aumentar o volume de produ- A BAMIN está acelerando a implan-
ção de pellet-feed com 63% Fe. Esta uni- tação do seu projeto integrado no estado
dade deve operar em dezembro de 2023. da Bahia, que envolve uma mina de mi-
O portfólio de projetos da empresa ainda nério de ferro, para produzir 26 milhões
inclui investimento de R$ 75 milhões para de toneladas de minério de alto teor e
implantação de uma nova unidade de con- baixíssimos níveis de contaminantes, uma
centração. O horizonte deste projeto é ju- ferrovia (FIOL) para transporte do miné-

32 BRASIL MINERAL - nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023


rio de ferro e um terminal de embarque, produção de minério de ferro em sua mina
no porto Sul de Ilhéus (BA). No todo, o de Serra Azul, no município de Itatiaiuçu,
empreendimento exige investimentos da Minas Gerais. Com o investimento, a capa-
ordem de R$ 20 bilhões. Na mina, a empresa cidade em Serra Azul será ampliada para
já está produzindo minério a uma escala de 4,5 milhões a 5,0 milhões t/ano. Além deste
1 milhão t/ano. A ferrovia terá capacidade empreendimento, a empresa está investin-
para movimentar 60 milhões t por ano e a do na ampliação da capacidade de lavra da
BAMIN utilizará pouco mais de 1/3 dessa mina do Andrade, que tem sua produção
capacidade. O restante deverá ser utilizado voltada para o abastecimento da usina de
por outras mineradoras, pelo agronegócio Monlevade. Este aumento em Andrade faz
e outros setores que necessitem escoar seus parte do investimento na ampliação da ca-
produtos. O Porto Sul também terá sua ca- pacidade em Monlevade, na qual a Arcelor-
pacidade de movimentação compartilhada Mittal está investindo US$ 500 milhões. A
com outras cargas. Um terminal de águas expansão em Serra Azul vai possibilitar o
profundas estará apto a receber navios com aproveitamento do minério itabirito com-
capacidade de até 220 mil toneladas. pacto, de menor teor, e terá como prioridade
A ArcelorMittal está investindo US$ o abastecimento de uma pelotizadora que
350 milhões para ampliar a capacidade de o grupo ArcelorMittal possui no México e

BRASIL MINERAL - nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023 33


PERSPECTIVAS
que utiliza pelotas de minério de ferro. A produção de 8 a 9 milhões de toneladas,
previsão é que o projeto de expansão em o que significaria um incremento de 10%
Serra Azul inicie produção no segundo sobre o volume atual de produção. Para isso,
semestre de 2023. Já a ampliação de Mon- a empresa estima investir R$ 1,6 bilhão,
levade deve estar concluída no segundo dos quais R$ 721 milhões para obras de
semestre de 2024. descaracterização de barragens, que estão
A SAM – Sulamericana de Metais, em estágio avançado. A expectativa da
controlada pelo grupo chinês Honbridge, empresa é retomar a capacidade produtiva
obteve da ANM (Agência Nacional de Mi- total até 2028.
neração), a aprovação do Plano Integrado O grupo Bemisa, que opera uma mina
de Aproveitamento Econômico (PIAE) do no estado de Minas Gerais, com produção
Projeto Bloco 8, para o qual estão previstos atual de 2 milhões t/ano de minério de fer-
investimentos de US$ 2,1 bilhões. O PIAE é ro, anunciou que vai investir R$ 1,5 bilhão,
um documento imprescindível para qual- através de sua controlada Planalto Piauí
quer empreendimento minerário, sendo Participações e Empreendimentos S.A., na
requisito fundamental para o Requerimen- implantação de um Terminal de Granéis
to de Lavra. A empresa aguarda apenas a Sólidos Minerais no complexo portuário
obtenção da Licença Prévia, para dar início de Suape, no estado de Pernambuco, com
aos trabalhos visando a implantação do em- capacidade para movimentar até 13,5 mi-
preendimento. O Projeto Bloco 8 foi um dos lhões de toneladas de minério de ferro por
quatro considerados prioritários no âmbito ano. Além disso, o grupo deverá investir
da Política Pró-Minerais Estratégicos, ins- mais R$ 10 bilhões em um pacote de ações
tituída e qualificada no Programa de Par- que prevê a construção de uma ferrovia (R$
cerias de Investimentos (PPI) pelo Decreto 5,7 bilhões) e outros R$ 2,8 bilhões para
nº 10.657/2021. O empreendimento torna adequação de uma mina de ferro, localizada
viável a extração de minério de ferro de bai- no estado do Piauí.
xo teor (média de 20%) e a transformação A mineradora Ligga pretende desenvol-
do minério do norte do estado de Minas ver, até 2033, o projeto Ferro Sul, localiza-
Gerais em um produto de alta qualidade do nos estados do Pará e Maranhão. Em
(66,5%). O projeto prevê a construção de meados de 2022, a empresa lançou a pedra
um complexo em Grão Mogol (MG) com fundamental de uma planta experimental
capacidade para produzir 27,5 milhões de para processamento de minério de ferro no
toneladas de minério de ferro por ano a município de Parauapebas (PA), na qual
partir da extração de minério com teor de investiu R$ 26 milhões. Segundo a empresa,
20% Fe, além de uma planta de beneficia- os recursos minerais potenciais situam-se
mento para sua transformação em produto acima de 5,5 bilhões de toneladas e a produ-
de alta qualidade. ção projetada é de 75 milhões de toneladas/
A Samarco, que está operando com 26% ano em 2033. Na fase experimental deverão
de sua capacidade, prevê para 2023 uma ser produzidas 600 mil t/ano de minério.

34 BRASIL MINERAL - nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023


27 a 29
de junho de 2023
Goiania – GO

PROGRAMAÇÃO PRELIMINAR
 O novo cenário regulatório
 O mercado consumidor de minerais industriais
 O mercado créditos de carbono e a mineração
 Minerais críticos e transição energética
 Novos mecanismos de financiamento
 ESG nos currículos de profissionais de mineração
 Agrominerais: fertilizantes e remineralizadores
 Transformação de garimpos em empresas de mineração
 Destinação de cavas de minas inativas em regiões urbanas

REALIZAÇÃO

Evento Associado
ENTIDADES PARCEIRAS

BRASIL MINERAL - nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023 35


PERSPECTIVAS
A Tombador Iron, listada na bolsa aus- Ouro continua atraindo investimentos
traliana, anunciou os resultados do Estudo O ouro ocupou o segundo lugar no valor
de Pré-Viabilidade (PFS) de seu projeto de da Produção Mineral Brasileira em 2022, com
minério de ferro Tombador, no município um total de R$ 23,9 bilhões, o que corres-
de Sento Sé, no estado da Bahia, controlado ponde a 9,5% do total da PMB. É importante
por sua subsidiária Tombador Iron Minera- observar que esse valor contempla a produ-
ção. De acordo com o estudo, as reservas de ção das empresas e a parcela proveniente de
minério somam 5,590 milhões de toneladas garimpos que é comercializada legalmente,
de minério com 65.5%Fe, o que permitiria ou seja, com recolhimento da CFEM. Houve
uma produção de 1.2 milhão t/ano por um uma queda em relação à produção registrada
período de cinco anos. O projeto prevê uma em 2021, que foi de R$ 27,05 bilhões.
mina a céu aberto, com circuitos de britagem As principais empresas produtoras de ouro
e peneiramento. Os investimentos em Capex no País, no ano passado, foram a Kinross Brasil,
previstos totalizam US$ 13,1 milhões, sendo AngloGold Ashanti, Mina Tucano (em recu-
US$ 5,7 milhões na fase de pré-produção e peração judicial), NX Gold, Mineração Serra
US$ 7,4 durante a vida útil da mina. Grande (controlada pela AngloGold Ashanti) e
A Santa Fé Mineração avançou na con- Salinas Gold. Já as DTVMs (Distribuidoras de
solidação dos principais fundamentos para a Títulos e Valores Mobiliários), que comerciali-
implantação da primeira etapa de produção zam o ouro extraído de forma artesanal, que se
de uma planta de pellet feed de alto teor com destacaram no valor da PMB em 2022 foram,
65% de ferro no sudoeste da Bahia. A primei- pela ordem: Fênix DTVM (R$ 2,8 bilhões), F.D.
ra planta terá capacidade de produção de 1 Gold (R$ 1,17 bilhão), OM (R$ 1,14 bilhão),
milhão de toneladas anuais. Em médio prazo, Parmetal DTVM (R$ 999,3 milhões), Carol
a capacidade de produção da Santa Fé poderá DTVM (R$ 324,9 milhões), Patacão DTVM
atingir 10 milhões de toneladas por ano, com (R$ 264 milhões) e Coluna DTVM (R$ 261,8
possibilidades para ampliar essa capacidade milhões).
de produção em unidades de 1 milhão de to- Para os próximos anos, a expectativa é de
neladas anuais, tendo em vista a comprovação crescimento da produção de ouro, já que há
de 1 bilhão de toneladas de recursos minerais vários projetos em implantação nos estados do
nas diversas áreas da Santa Fé. Pará, Goiás, Bahia, Mato Grosso e Tocantins.
A Mineração Corumbaense Reunida,
que foi adquirida da Vale pela J&F Minera-
ção, do grupo JBS, retomou suas atividades
de produção na mina de Urucum, no estado
de Mato Grosso, com capacidade para pro-
duzir 2 milhões t/ano de minério de ferro
e 450 mil t/ano de manganês. A empresa
acenou com a possibilidade de expansão,
mas não detalhou os planos. G Mining Venture - Projeto Tocantinzinho

36 BRASIL MINERAL - nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023


A GMining Ventures iniciou, em 2022,
a implantação, do projeto Tocantinzinho,
localizado no município de Itaituba, no
estado do Pará, para o qual se prevê inves-
timentos totais de US$ 605 milhões, sendo
US$ 442 milhões na implantação, US$ 151
milhões em sustaining e US$ 12 milhões
nas atividades de encerramento da mina.
O projeto envolve a lavra, a céu aberto, por Aura Minerals - projeto em Almas no Tocantins
um período de 10 anos, de um depósito que já resultou em aumento de sua produ-
contendo 1,870 milhão de onças de ouro. ção em mais de 100%, chegando a um volu-
A produção total prevista, ao longo da vida me superior a 255 mil onças equivalentes de
útil do empreendimento, é de 1,625 milhão ouro. E a empresa espera crescer mais 80%
de onças, a uma escala de 187 mil onças nos próximos três a quatro anos, podendo
anuais nos primeiros oito anos. A expectati- chegar a um volume de produção de 450
va é que a produção comercial seja iniciada mil onças de ouro, em 2025, colocando
no terceiro trimestre de 2024. em operação três novos empreendimen-
tos: Almas, no Tocantins (em construção),
Matupá, no Mato Grosso (com estudo de
viabilidade concluído) e Borborema, no Rio
Grande do Norte (um projeto já licenciado,
adquirido recentemente da Big River). Atu-
almente, o foco da Aura Minerals está na
implantação do projeto Almas, em Tocan-
tins, que está com mais de 80% construído
e a meta é iniciar a produção em abril de
Hochschild - Projeto Posse 2023. O investimento no projeto é de US$
A Hochschild está implantando o pro- 73 milhões e a produção estimada é de 51
jeto Posse, em Mara Rosa, estado de Goiás, mil onças de ouro por ano durante os qua-
no qual está investindo cerca de R$ 900 mi- tro primeiros anos, com vida útil prevista
lhões. Trata-se de uma mina a céu aberto e de 17 anos. O projeto Matupá, cujo estudo
usina para processamento de minério aurí- de viabilidade foi aprovado recentemente,
fero com capacidade para produzir 900 mil requer um investimento total da ordem de
onças de ouro ao longo de dez anos. O start US$ 107 milhões para uma capacidade de
up está previsto para o primeiro semestre produção de 54,7 mil onças de ouro por
de 2024, devendo a produção comercial ano nos quatro primeiros anos de operação.
de ouro ocorrer no final daquele semestre. Inicialmente, a vida útil do empreendimen-
A Aura Minerals tem adotado uma es- to será de sete anos, mas a empresa espera
tratégia de forte crescimento desde 2018, poder ampliar a vida útil, com depósitos

BRASIL MINERAL - nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023 37


PERSPECTIVAS
adicionais que estão sendo perfurados. Já A TriStar Gold está aguardando, ainda
o projeto Borborema, que tem 1,8 milhão para 2023, a obtenção da licença ambiental
de onças de recursos medidos e indicados, para seu projeto de ouro, de US$ 261 mi-
pode gerar uma produção de 80 a 100 mil lhões, em Castelo de Sonhos, no estado do
onças anuais de ouro, por um período de 20 Pará. O CAPEX inicial aumentou de US$
anos. O projeto está totalmente licenciado, 184 milhões para US$ 261 milhões, devido
pronto para iniciar a construção, o que pode à expansão da capacidade da planta, à in-
acontecer já a partir de 2023. clusão de uma frota de mineração operada
A Equinox Gold, que em 2022 recolocou pelo proprietário e ao aumento dos custos,
em operação no Brasil a mina de Santa Luz, de acordo com o estudo de pré-viabilidade
na Bahia, planeja investir US$ 154 milhões mais recente, de 2021. A produção média é
na abertura de uma lavra subterrânea na estimada em 121 mil onças/ano em 11 anos.
mina Aurizona, localizada no estado do Ma- A Serabi Gold, que pretende alcançar
ranhão e a exploração de depósitos-satélites um volume de produção de 60 mil onças
concomitantemente com a operação da mina em 2025, está investindo US$ 25 milhões
a céu aberto, que atualmente tem capacida- no desenvolvimento do projeto Coringa,
de para processar 8 mil t/dia de minério. A que envolve uma mina subterrânea e uma
produção anual prevista com o novo projeto planta para processamento de ouro no
é de 137 mil onças de ouro por ano, por um estado do Pará. A produção anual de ouro
período de 11 anos. Com a expansão, a em- prevista para Coringa é de 38 mil onças, a
presa espera alcançar uma produção média um custo AISC de US$ 852/onça e o tempo
de 400 mil onças de ouro no Brasil. de vida útil previsto para a mina é de 9 anos.
A JMC Yamana Gold planeja chegar a A Cerrado Gold, através das Serra Alta
uma produção de 1.5 milhão de onças de Mineração, planeja investir US$ 126 mi-
ouro nos próximos anos. No Brasil, o pla- lhões na implantação de uma mina a céu
no prevê a expansão da planta Fase 3 em aberto e planta de processamento no estado
Jacobina, no estado da Bahia, com produ- de Tocantins, com capacidade para produ-
ção adicional esperada de 40 mil onças de zir 131 mil onças de ouro por ano, por um
ouro, a instalação da planta da Fase 4 em período de 8 anos, a um custo AISC de US$
Jacobina com produção esperada de 75 612/onça, sendo que nos primeiros cinco
mil a 125 mil onças de ouro e um projeto anos o AISC previsto é de US$ 431/onça.
de lixiviação da pilha de Lavra Velha com No Mato Grosso, a PA Gold está inician-
produção aguardada de 60 mil a 70 mil on- do operação do projeto Mina Paraíba, que
ças de ouro. A ideia é aumentar a produção compreende uma mina subterrânea e planta
em Jacobina para cerca de 270 mil onças de de processamento de minério aurífero com
ouro por ano até 2025. Uma nova expansão capacidade de 200 mil t/ano. Para implanta-
da Fase 4, de até 15 mil t/dia de minério, ção do empreendimento, localizado a 11km
poderia elevar a produção para mais de 350 do município de Peixoto Azevedo (MT), a
mil onças de ouro por ano. empresa está investindo US$ 51 milhões. A

38 BRASIL MINERAL - nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023


área era um antigo garimpo e há dez anos a de ouro em desenvolvimento no Brasil, o
PA Gold vem trabalhando para transformá- Volta Grande, localizado no município de
-la em um empreendimento em escala in- Senador José Porfírio, no estado do Pará,
dustrial. A mina conta com uma reserva de próximo ao município de Altamira. Com
617 mil onças de ouro e recursos da ordem um Capex previsto de US$ 298 milhões, o
de 1,0 milhão de onças, o que permite uma empreendimento deverá produzir anual-
vida útil de 15 anos de operação. O AISC mente 268 mil onças de ouro nos dez pri-
(All In Sustaining Cost) é de US$ 791 por meiros anos ou um total de 3,53 milhões de
onça de ouro produzida. onças durante a vida útil, a um custo AISC
A Bemisa está concluindo a implantação (All In Sustaining Cost) de US$ 779/onça
da Fase 1 de seu projeto Água Azul, que con- de ouro. O estudo de viabilidade considerou
siste em um complexo minero-industrial de reservas de 3,8 milhões de onças e recursos
extração a céu aberto e de processamento de (medidos e indicados) de 5,0 milhões de on-
minério de ouro. O empreendimento está ças. A implantação do projeto já deveria ter
localizado ao sul do distrito polimetálico sido iniciada, mas tem havido dificuldades
de Carajás, a 7 quilômetros de Água Azul para obtenção do licenciamento ambiental.
do Norte, no estado do Pará. Na Fase 1, que
está iniciando operação, a planta terá capa- Avançando nos minerais críticos
cidade para processar 100 mil toneladas de Gradativamente, o Brasil avança na pro-
minério (run of mine) ao ano. A Fase 2, de dução daquilo que o mercado convencionou
produção industrial, envolve uma planta chamar de Minerais Críticos, mais especifi-
com capacidade anual de processar 1,5 mi- camente aqueles que terão papel importante
lhão de toneladas de minério, com start-up na transição energética, porque são necessá-
previsto para 2025. rios na produção de veículos elétricos e na
A Belo Sun, controlada pelo grupo For- geração e estocagem de energias renováveis
bes & Manhattan, tem um grande projeto como a fotovoltaica e a eólica. O cobre já é

BRASIL MINERAL - nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023 39


PERSPECTIVAS
o terceiro mineral mais importante na pro- Tucumã; US$ 80 a US$ 90 milhões para
dução mineral brasileira (com um valor de entregar projetos sob a iniciativa Pilar 3.0,
R$ 15,2 bilhões em 2022) e deve continuar incluindo a expansão da planta da Caraíba
crescendo; há novos projetos de níquel e a construção do novo poço externo na
sendo implantados; um dos principais Mina Pilar. Para exploração, estão previstos
projetos de lítio no mundo está entrando entre US$ 31 milhões e US$ 40 milhões,
em operação (com expansões já previstas) incluindo uma alocação significativa em
e há outros no horizonte; existem projetos perfuração para o programa de exploração
de ampliação da produção de nióbio; e o de níquel da Caraíba, em andamento.
Brasil abriga a única mina de vanádio nas A Vale, que ocupa a liderança na produ-
Américas. ção nacional de cobre, com os empreendi-
Cobre mentos de Salobo e Sossego, ambos no Pará,
pretende aumentar a sua capacidade de
Em cobre, a Ero Brasil (controlada da produção do metal, no qual está apostando
Ero Copper) tem planos para duplicar sua fortemente. O objetivo da empresa é passar
capacidade de produção nos próximos qua- de um volume de produção de 260 mil t,
tro anos, saindo de 46,3 mil toneladas (vo- em 2022, para nada menos que 900 mil t,
lume produzido em 2022) para 92 mil a 102 em 2030, dentro e fora do Brasil. Estão pre-
mil toneladas em 2025. Para isso a empresa
vistas novas expansões em Salobo e outros
conta com dois novos projetos: expansão da
projetos na região de Carajás. Para expandir
mina de Pilar, na Bahia, e implantação do
sua atuação no negócio de metais básicos
projeto Boa Esperança, no estado do Pará.
(incluindo o níquel), a Vale pretende atrair
Para 2023, a empresa programou investi-
um sócio minoritário, com participação de
mentos em Capex, incluindo programas de
até 10%. A ideia é que esses negócios sejam
exploração, entre US$ 342 milhões e US$
geridos a partir de estrutura diferenciada da
389 milhões. O valor inclui US$ 150 a US$
165 milhões para a construção do Projeto empresa. Depois de colocar em operação o
projeto Salobo III, que acrescenta 30 a 40
mil t/ano de capacidade de produção de
cobre, no qual foi investido US$ 1,1 bilhão,
a Vale estuda a opção de implantação do
projeto Salobo IV, que acrescentaria mais 30
mil t/ano de cobre contido em concentrado
à capacidade do empreendimento. Outro
projeto no portfólio da empresa é o Alemão,
cujo estudo de viabilidade indica a implan-
tação de uma mina subterrânea no local
onde antes existia a mina de ouro de Iga-
rapé Bahia, também na região de Carajás.
Mina da Ero Brasil Caraíba A capacidade será de 60 mil t/ano de cobre

40 BRASIL MINERAL - nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023


Níquel
Em níquel, há novos projetos em pers-
pectiva. A Horizonte Minerals, avança em
ritmo acelerado com a implantação do projeto
Araguaia, para produção de ferro-níquel, no
estado do Pará, que demanda investimentos
de US$ 537 milhões. Em sua primeira etapa,
com start up previsto para 2024, a planta de-
verá produzir 14.500 t/ano, capacidade que
será duplicada na segunda etapa. A empresa
também está trabalhando para obter a licença
ambiental para o projeto Vermelho, também
no Pará, para produção de níquel-cobalto. O
Estudo de Viabilidade deve ser publicado no
primeiro semestre de 2024.
MIna de Salobo, da Vale A Vale anunciou a aprovação da cons-
e para o investimento a Vale poderá fazer trução do segundo forno em Onça-Puma,
um streaming (venda antecipada de ouro), no Pará, para o qual estão previstos US$
já que Alemão possui altos teores do me- 555 milhões, adicionando 12 mil a 15 mil
tal. O terceiro projeto em cobre da Vale no t/ano de capacidade de produção de níquel.
Brasil é Cristalino, próximo às instalações A previsão é que o projeto inicie operação
de Sossego, no que a Vale chama de Hub no primeiro semestre de 2025. A empresa
Sul. O projeto, que se encontra atualmente também informou que será feita a reorga-
em fase de estudo de viabilidade, deverá nização das operações de metais básicos no
aportar 80 mil t/ano de cobre e permitirá a Brasil para centralizar os ativos de cobre
extensão da vida útil da planta de proces- e níquel em duas sociedades, permitindo
processos e gestão mais eficientes. Os ativos
samento de Sossego. Ainda como parte da
de cobre e níquel continuarão a ser conso-
extensão do Hub Sul, a empresa estuda o
lidados e detidos integralmente pela Vale.
aproveitamento de depósitos satélites como
A Atlantic Nickel, controlada pelo
Bacaba, Visconde e 118, o que incluiria a
grupo Appian Capital Brazil, tem um Pla-
implantação de uma nova planta de pro- no de Avaliação Econômica Preliminar
cessamento na região. Nas proximidades de (PEA) que amplia de oito para 34 anos as
Salobo, a Vale estuda a viabilidade do que operações da Mina Santa Rita, localizada
ela denomina Hub Norte e que envolve o em Itagibá, estado da Bahia. O novo PAE
aproveitamento de vários depósitos (Paulo indica potencial de exploração subterrânea
Afonso Sul, Pojuca, Gameleira, Furnas e por 26 anos, o que ampliaria o total para
Grota Funda), que poderiam aportar uma 34 anos (8 anos de mina a céu aberto + 26
produção de 70 a 100 mil t/ano de cobre. anos de mina subterrânea). A operação em

BRASIL MINERAL - nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023 41


PERSPECTIVAS
Santa Rita seria dividida em duas etapas. material equivalente a 1GWh de produção
Inicialmente, a Atlantic Nickel manteria de células de bateria, o que posiciona a
exclusivamente a exploração da mina a Echion como a primeira no mercado a ga-
céu aberto até 2028, período em que a rantir o fornecimento comercial de células
companhia avançaria na sua capacidade de baterias com ânodo à base de Nióbio e
de produção, estimada entre 20 e 25 mil permitirá atender a crescente demanda por
toneladas anuais de níquel contido no con- eletrificação. Com a estratégia de ter 25%
centrado. Já na segunda etapa é prevista a de sua receita proveniente de produtos não
implantação de uma mina subterrânea com siderúrgicos até 2030, a CBMM investirá
capacidade de exploração por mais 26 anos. US$ 80 milhões na expansão de toda a sua
De acordo com o PAE, seria necessário um linha de produção de óxidos de nióbio, que
investimento de cerca de US$ 355 milhões incluirá a nova planta. Além disso, a CBMM
nos primeiros cinco anos. anunciou um plano de investimentos de R$ 7
A Jervois Mining está investindo US$ bilhões, iniciado em 2022, para ampliar sua
65 milhões na reforma e construção da capacidade de produção de nióbio na planta
refinaria de zinco e cobalto de São Miguel de Araxá (MG), das atuais 150 mil toneladas
Paulista (SP), que foi adquirida da CBA por ano para 210 mil toneladas anuais.
– Companhia Brasileira de Alumínio, do
grupo Votorantim. a expectativa é que as Lítio
instalações voltem a operar no primeiro A partir de abril de 2023, o Brasil, que já
trimestre de 2024, com capacidade para é produtor de lítio grau químico, se tornará
produzir 10 mil t/ano de níquel e 2 mil t/ ambém produtor de lítio greentech grau
ano de cátodo de cobalto. bateria, quando a Sigma Lítio colocar em
operação a Fase 1 do seu projeto Grota do
Nióbio Cirilo, no estado de Minas Gerais. Nesta
Em nióbio a CBMM, em parceria com a fase, a empresa produzirá 270 mil t/ano de
Echion Technologies, empresa de inovação lítio, devendo obter 36,7 mil t/ano de car-
no segmento de baterias, prevê a construção bonato de lítio equivalente (LCE). Recen-
de uma nova fábrica de óxidos de Nióbio temente, a empresa concluiu um Relatório
na planta da CBMM em Araxá (MG). A Técnico demonstrando a viabilidade de
unidade terá capacidade de fornecimento expansão da produção em Grota do Cirilo
de 2.000 toneladas/ano e o material será para 768 mil t/ano de lítio, ou 104,2 mil t/
aplicado na tecnologia exclusiva da Echion ano de LCE. O Capex previsto para a ex-
chamada XNO, que utiliza o óxido de pansão seria de US$ 155 milhões.
Nióbio no ânodo das células das baterias, A AMG Mineração está instalando uma
promovendo benefícios como segurança, nova planta química de lítio no estado de
carregamento ultrarrápido e maior vida Minas Gerais, que receberá investimentos
útil. Com inauguração prevista para 2024, de R$ 1,2 bilhão. A unidade de beneficia-
a nova planta terá capacidade para fornecer mento transformará o concentrado em

42 BRASIL MINERAL - nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023


45%. A conclusão está prevista para o final
do primeiro trimestre de 2023. Já a unidade
de beneficiamento para carbonato de lítio
deverá estar concluída em meados de 2024.

Vanádio
No vanádio, o único produtor no Brasil é
Sigma - projeto Grota do Cirilo a Largo Inc., que agora está apostando no
carbonato de lítio. As operações estão pre- desenvolvimento de baterias à base de va-
vistas para 2026. Atualmente, a empresa nádio, na ampliação do uso do vanádio na
está em fase de expansão da produção da produção de aço e na produção de titânio,
mina de Volta Grande, entre os municípios um plano que demandará investimentos da
de Nazareno e São Tiago, na região Central ordem de R$ 2 bilhões. No final de 2020,
do estado de Minas Gerais, com aportes a Largo comprou as patentes e atualmente
de R$ 200 milhões. A expansão em Volta está desenvolvendo a bateria de vanádio
Grande permitirá um salto das atuais 90 nos EUA e instalando a primeira bateria na
mil toneladas anuais para 130 mil toneladas Espanha, além de formar uma joint-venture
por ano, o que representa um aumento de com uma empresa italiana no sentido de

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BRASIL MINERAL - nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023 43


PERSPECTIVAS
implementar baterias na Europa. Em 2021, bilhões em um empreendimento integrado
a empresa decidiu incorporar ao seu portfó- de mineração, produção e granulação de
lio o titânio, que está presente na ilmenita, fosfatados, instalações portuárias e centros
o minério de titânio que ocorre juntamen- de distribuição para as regiões Norte e Nor-
te com o vanádio nas jazidas de Maracás, deste do País. Além de fertilizantes, o com-
no estado da Bahia. Em 2022, a empresa plexo de Santa Quitéria deverá produzir
iniciou a construção da planta de benefi- fosfato bicálcico e yellowcake (concentrado
ciamento de ilmenita, que deverá começar de urânio), que será totalmente destinado à
a produzir em meados do próximo ano. Na INB (Indústrias Nucleares do Brasil). Com
sequência, a Largo vai produzir pigmento esse projeto, a Galvani aumentará sua ca-
de titânio no pólo petroquímico de Cama- pacidade de produção de fosfatados de 540
çari, também na Bahia. (BA). O projeto tem mil t para 2,2 milhões t e multiplicará por
como objetivo produzir 120 mil toneladas mais de cinco o seu faturamento, no perí-
de pigmento de titânio, o que corresponde odo de cinco anos. Atualmente o projeto
a dois terços do consumo brasileiro. encontra-se em fase final de licenciamento
e a empresa espera iniciar a implantação do
Fertilizantes: dependência de importações empreendimento ainda em 2023.
O Brasil continua fortemente dependen- A Águia Fertilizantes obteve a Licença
te de importações de fertilizantes, já que, de Instalação (LI) para construir uma plan-
embora seja o quarto maior consumidor no ta de fosfato no município de Lavras do Sul
mundo, é apenas o décimo maior produtor, (RS). A expectativa é que a unidade seja
o que coloca a necessidade de aumento da construída em até doze meses após o início
produção interna nos próximos anos para das obras, com investimento de cerca de
atender ao crescimento do agronegócio. R$ 35 milhões. A Aguia produzirá 300 mil
As importações de fertilizantes têm con- toneladas anuais de fertilizante fosfatado
tribuído para reduzir o superávit da balança natural, com capacidade de atendimento de
comercial brasileira obtido com as expor- até 15% da demanda do Rio Grande do Sul.
tações de minério de ferro, ouro, cobre e Em potássio, a Potássio do Brasil está em
até da soja, que é o segundo item nas ex- processo de licenciamento para construção de
portações brasileiras. Tentando influir para um complexo em Autazes, no estado do Ama-
reduzir essa dependência, o governo lançou zonas, no qual já investiu US$ 230 milhões.
um plano nacional de fertilizantes, em 2022, O projeto prevê a produção de 2,2 milhões t/
que por enquanto teve poucos avanços. que ano de cloreto de potássio, o que corresponde
as chances para o Brasil reduzir a depen- a cerca de 20% do consumo atual do Brasil.
dência residem principalmente no fosfato, Até o final da construção se prevê que serão
embora haja projetos importantes também investidos mais US$ 2,5 bilhões na instala-
no potássio. Em fosfato, o principal projeto ção de uma mina subterrânea, uma planta
em vista é o Santa Quitéria, da Galvani, que de beneficiamento, além da parte logística,
prevê investimentos da ordem de R$ 2,5 compreendendo estrada e porto. ☐

44 BRASIL MINERAL - nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023


BRASIL MINERAL - nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023 45
7º MINERAÇÃO &/X COMUNIDADES

O CAMINHO SEM VOLTA DO ENGAJAMENTO


E GOVERNANÇA SOCIAL
Mara Fornari/Rodrigo Gabai

A
relação com as comunidades vem ocu- mento e Governança Social: um caminho
pando papel cada vez mais decisivo e sem volta?”, a sétima edição aconteceu de
relevante nas ações das mineradoras 8 a 10 de novembro de 2022, no Centro de
– constatação que há sete anos originou o Eventos da Associação Médica de Minas
evento “Mineração &/X Comunidades”, Gerais, em Belo Horizonte (MG), e contou
uma realização da revista Brasil Mineral, com o patrocínio ouro das empresas Appian
com a coordenação técnica assinada desde Capital, Bamin, CBA, ERO Brasil e Kinross;
o início pela Integratio Mediação Social e patrocínio prata das companhias Anglo
Sustentabilidade, através de seu presidente American, Bemisa, Largo e Hochschild; e
Rolf Georg Fuchs. Marcando o retorno das patrocínio cobre da Aura Minerals, Buriti-
discussões presenciais sob o tema “Engaja- rama, Galvani e Potássio do Brasil.

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7º MINERAÇÃO &/X COMUNIDADES
os ODS em seus negócios e operações para
promover o desenvolvimento sustentável
inclusivo em diferentes níveis”.
A primeira edição do Atlas trouxe 14
casos de sucesso, sendo sete de empresas de
grande porte, seis de médio porte e uma de
pequeno porte. Já a segunda edição, realiza-
da em 2022, destacou casos de 11 empresas,
sendo duas de grande porte, sete de médio
porte e duas cooperativas de garimpo. Em
todos eles, os ODS foram salientados em
sua totalidade e na preocupação de “não
deixar ninguém para trás”, com ações que
potencializaram os impactos positivos e
mitigação dos impactos negativos, “com
transparência e precisão das informações,
com contínuo processo de reavaliação e
considerando que a melhor contribuição
vai além do óbvio”, pontuou Dione.
Dois exemplos foram citados em sua
apresentação. O primeiro deles é o projeto
Dione Macêdo desenvolvido pela Mosaic Fertilizantes, que
“Como conciliar ESG e ODS para desen- trabalhou na capacitação para ampliação e
melhoria das práticas sustentáveis com em-
volver territórios sustentáveis na minera-
presas parceiras, que teve como resultado
ção” abriu a primeira parte do encontro. Em
a inclusão formal do tema sustentabilidade
mensagem gravada, Dione Macêdo, então
nas estratégias de negócios, a criação de
coordenadora-geral do Departamento de
programas específicos de diversidade e
Desenvolvimento Socioambiental na Mi- melhoria de gestão e pessoas, a melhoria na
neração da SGM-MME, fez um balanço do legislação vigente pertinente a segurança e
trabalho “Mapeando os ODS na Mineração saúde no trabalho e meio ambiente e o aper-
Brasileira”, desenvolvido pela Secretaria feiçoamento do programa do uso eficiente
de Geologia, Mineração e Transformação de recursos naturais. O segundo exemplo é
Mineral desde 2018 e contextualizou que, o da Cooperativa COOGAMAI, de Ametis-
um ano antes, através de uma parceria entre ta do Sul (RS), que atuou na legalização dos
o MME e o Programa das Nações Unidas garimpos da região, recuperação de áreas
para o Desenvolvimento (PNUD) foi lança- degradadas com aproveitamento dos rejei-
do um Atlas “que incentiva as empresas de tos e diversificação da matriz econômica,
mineração de todos os portes a incorporar a integração de placas solares no garimpo,

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melhorias nas condições de trabalho dos Brasil não tem isso, principalmente no que
garimpeiros, incluindo a técnica de perfu- se refere à Governança”.
ração a úmido em parceria com a UFRGS, Giovana Kill, Head de ESG da Galvani
responsável pela redução da silicose nesses Fertilizantes, disse que a “governança típica
trabalhadores. das empresas, quanto a efeitos decisórios”
Dione citou ainda que, embora os 17 precisa ser avaliada em relação às demandas
ODS tenham natureza global, o Atlas da das comunidades em seu entorno e que um
SGM-MME dialoga com as políticas e ações ponto relevante é saber como levar isso aos
nos âmbitos regional e local, uma das razões stakeholders – “o diálogo deve ser a tônica
que favorecem seu vínculo com a minera- central”. Ela explicou que a Galvani traba-
ção, “uma vez que a rigidez locacional faz lha com fosfatados, desde a mineração até
com que a atividade tenha que lidar com a produção de fertilizantes, “mas quando
diferentes realidades econômicas, sociais e falamos do total, nós vemos vários territó-
ambientais de um país como o Brasil, de di- rios e como intervimos neles, uma cadeia
mensões continentais”. E finalizou afirman- de valor de vários segmentos diferentes”.
do que “ESG e ODS estão intrinsecamente A empresa está fazendo uma releitura dos
conectados na mineração, para orientar o ESGs ou, como prefere chamar, dos ASGs,
setor nos investimentos, ações e projetos. onde o “A”, do Ambiental, deve estar pró-
É mais que cumprir uma obrigação legal ximo de todos.
ou técnica. Os ODS são bons para pessoas, “Não podemos nos contentar com alguns
organizações e instituições”, disse Dione. avanços tecnológicos, como a concentração
Renato Ciminelli, diretor do Mercado a seco, que embora elimine a necessidade
Mineral, entende que os ODS representam de barragens pode trazer uma falsa sen-
mais territórios e comunidades, enquanto sação de ‘conforto’. Estamos na etapa final
o ESG é mais empresarial. “Não conse- dessa releitura, que envolve todos os níveis
guimos ter uma aproximação dessas duas de coordenação, gerência e de analistas.
dimensões, mas estamos cada vez mais Envolvendo os seus colaboradores nessa
próximos. O importante é que as partes perspectiva de ASG, a Galvani possui o
têm trabalhado de forma mais sinérgica, Instituto Lina Galvani, que há 19 anos ouve
com uma proximidade maior entre mi- as necessidades das comunidades para co-
neração e território. O ODS 17 significa -criar soluções para o território”, continuou
cooperação e induz à colaboração, onde Giovana.
haja o relacionamento entre empresas e Outro exemplo abraçado pela Galvani
comunidades”. Para Ciminelli, essa siner- é o Parque Vila Cerrado, que existe há
gia irá gerar maior economia, velocidade 16 anos e que tem um criatório de vidas
e contemplar as necessidades de ambos os silvestres reconhecido pelo IBAMA, que
lados (empresas, sociedade e territórios): abriga 28 espécies em risco de extinção.
“o problema do alinhamento de ter uma “Questionamo-nos se bastava apenas ajudar
cultura para trabalhar ODS e ESG é que o na regeneração das florestas, se isto seria o

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7º MINERAÇÃO &/X COMUNIDADES

Renato Ciminelli e Giovana Kill


suficiente para o Matopiba, no oeste baiano. todas as cadeias industriais. Falta apenas um
Foi quando surgiu a ‘troca’ com os grandes olhar através de outro prisma para imple-
fazendeiros e pequenos produtores rurais”. mentar uma via de mão dupla com a comu-
Recentemente a Galvani se juntou com o nidade, de acordo com Thaís – “temos que
GEF (Global Environment Foundation) entender os nossos problemas para fazer as
para ajudar animais a serem reintroduzidos grandes diferenças. É necessário entender a
na natureza. Outro projeto é o assenta- vocação de cada território, de forma genuína
mento Rio das Ondas, que é um banco de e ampla, considerando a vocação e preceitos
sementes para gerar trabalho, emprego e do local para ter continuidade. Nós sabemos
renda aos produtores locais. que o tempo na vida útil de uma mina muda
Para Thais Laguardia, diretora de Saúde, e para isso temos que ter estratégia ESG,
Segurança, Meio Ambiente, Gestão Social e com propósito e coração. São dois processos
Sustentabilidade da ERO Brasil, ODS e ESG importantes para o mundo”.
são intrínsecos, “já que há um propósito Thais cita o exemplo do projeto da cadeia
entre eles, que é o sentimento humano que produtiva da caprinovinocultura, desenvol-
liga as duas vertentes. ESG e ODS devem vido no Vale do Curaçá (BA) – “vamos da
caminhar juntos, sendo complementares”. palma ao queijo e entendemos a necessidade
A atividade de mineração responde por de darmos suporte aos laticínios da região.
5% do PIB do país e é matéria-prima para Nosso trabalho começa com os criadores de

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ovinos, ensinando como melhorar a parte Indagada, no debate, sobre como a es-
genética e ter maior produtividade. Esse tratégia de ESG e ODS se relacionam com
suporte de conhecimento é uma das coisas os resultados financeiros, Giovana Kill
mais importantes dentro do território onde respondeu que não os vê de forma separa-
atuamos. Além do queijo, é possível produ- da. “Estamos conversando com bancos e
zir leite e comercializar a carne também”. existe expectativa irreal de se ter o bônus
Hoje a ERO possui o terceiro melhor queijo sem obrigações. A Galvani trabalha com
de cabra do Brasil. Para um projeto social uma necessidade de rastreabilidade muito
dar certo, é preciso respeitar a tradição dos grande e os bancos cobram implementa-
empreendedores locais, afirma Thais. ção de adesão aos Princípios do Equador,
Marcelo Dutra, gerente-geral de Meio implementação de equidade e diversidade,
Ambiente e Relacionamento com Comuni- para que a empresa contribua cada vez mais
dades da Bamin, comentou sobre a comple- para a sociedade. Marcelo Dutra completou
xidade dos ODS e como a empresa trabalha afirmando que fazer o certo é mais caro, já
com o ESG no complexo que integra, mina, que o mercado de commodities é imprevisí-
ferrovia e porto na Bahia. “Nós temos con- vel e não se tem as benesses financeiras. “A
dicionantes socioambientais linkadas aos Bamin brigou dois anos internamente para
ODS, como a cooperativa que fomentamos aprovar um projeto de filtragem e empi-
e ajudamos a gerar investimento de R$ 500 lhamento a seco para ter uma aceitação da
milhões. Temos também programa de mo- comunidade e ter licença social para operar.
nitoramento de cetáceos e da própria biota Acredito que vale a pena cumprir os ODS e
do oceano Atlântico. O principal problema os ESG”. Ciminelli complementou dizendo
da mineração junto às comunidades é a ser necessário conciliar ODS e ESG pelas
falta de comunicação, pois o setor é muito diferenças culturais dos atores existentes.
reativo. Temos que mostrar o que fazemos “Temos que aproveitar o modismo do ESG
de positivo”. Revista - Galvani (21cmX9,3cm).pdf 1 24/02/2023e trazer
ai167724760042_Anúncio 11:06 experiências que fiquem no futuro”.

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7º MINERAÇÃO &/X COMUNIDADES

Thaís Laguardia e Marcelo Dutra


Sobre os bônus para funcionários ligados ma de comunicação deve ser alterada e a
às metas ESG, os participantes da mesa res- mineração deve ter o objetivo de co-criar
ponderam, em sua totalidade, que os bônus e não de coexistir”. Giovana explicou que a
não estão atrelados apenas a metas finan- Galvani trabalha para prosperar conjunta-
ceiras, mas à participação e cumprimento mente com a comunidade, tendo visão de
de propósitos de ESG e ODS. As empresas prosperidade e diálogo enquanto as partes
têm que olhar para o profissional e se pro- caminham. Já Marcelo fechou o primeiro
por a ajudar os empregados a ter maior en- bloco dizendo que a parte social está cada
gajamento. Ciminelli disse que a mineração vez mais em franco desenvolvimento, e que
está atrás do sinergismo entre ESG e ODS, é preciso empresas de consultorias sérias
mas não é o alinhamento da empresa fazer para atender às necessidades de cada co-
tudo: “eu investiria muito em Governança, munidade: “é pensar e fazer junto”.
em sistemas complexos de multiculturas, A íntegra desta apresentação está dispo-
em que se contempla Governança. Quem nível em nosso canal no Youtube:
está no ODS quer tirar proveito do ESG”.
Thais disse que a comunicação deveria ser
intencional e direcionada frequentemente CLIQUE E ASSISTA
e por vários tipos de plataforma – “a for-

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COMO ANDA A REPUTAÇÃO DO SETOR MINERAL?
Paulo Henrique Soares, diretor de Co-
municação do IBRAM e Marcela Ferreira,
Senior Director, Advisory (AMERICAS) da
Reptrak, dividiram a apresentação da ‘Pesqui-
sa de Reputação do Setor Mineral - IBRAM’.
O representante do Ibram admite que o setor
tem problemas não apenas de comunicação,
mas de reputação e isto tem que ser tratado:
“é um conjunto de atributos que levam as
pessoas a perceber o que é o setor mineral. A
reputação perdeu relevância para a sociedade
Marcela Ferreira
após os acidentes das barragens de Mariana
e Brumadinho”. recursos naturais. “Ser transparente é saber o
Segundo Paulo Henrique, as questões que o outro quer e a comunicação pode ajudar
financeiras são conhecidas por todos, mas o neste caso”, diz Paulo Henrique.
trabalho junto à sociedade, como a geração Com base na última pesquisa realizada
de empregos e o recolhimento de impostos, pela Reptrak, Marcela comentou que o setor
nem sempre. Dentre os fatores de maior peso se relaciona com as comunidades em uma
na reputação do setor mineral estão a condu- avaliação mediana e fraca, mas nunca forte. O
ta (ética, responsabilidade e transparência); estudo identificou que a comunicação precisa
Segurança operacional; Aspectos ligados ao ser mais clara com a sociedade e comunida-
trato social (diálogo aberto e boas relações des. “Destaco a heterogeneidade do setor, com
com as comunidades) e Uso responsável de atores grandes e pequenos, com diferentes
dificuldades de demanda e para atender aos
territórios. Todos os atores devem o diálogo
Foto Glenio Campregher

no trato social e isso demonstra a necessida-


de de um investimento social”. É claro que
existem iniciativas importantes, mas há de
se estabelecer um investimento social mais
estruturado, contínuo e consistente que leve
à qualidade de vida das comunidades onde as
atividades minerais estão inseridas.
Elementos centrais de desafio, transparên-
cia e comunicação foram muito citados du-
rante a pesquisa – “falta transparência quanto
aos resultados dos tributos pagos pelo setor
Paulo Henrique Soares e essa resposta depende do poder público”.

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7º MINERAÇÃO &/X COMUNIDADES
O legado da empregabilidade e da renda nas conduta, segurança operacional, cidadania e
regiões também foram muito lembrados e o liderança estão entrelaçadas. Quanto ao que
que mais preocupa os líderes comunitários é o “impacto”, Marcela diz que a visão das
e as ONGs é saber se os empregos gerados mineradoras parece caminhar no sentido
são temporários ou se os empregados serão de que “é algo previsível, mitigável e que está
realmente efetivados – “são de fato melhoria sob controle”. Já na visão dos líderes comu-
de vida real para a população ou não?”. nitários e ONGs, o impacto é imprevisível e
Na lógica do ESG, o que se coloca como assustador. E Marcela insiste que a contri-
mais desafiador na visão dos públicos ouvidos buição dada para a comunidade precisa ser
pelo estudo é a questão social. Na questão informada e, acima de tudo, é necessário
ambiental há o reconhecimento da evolução “definir as linhas mestras dessa contribuição,
da responsabilidade do setor, embora ainda assim como os canais de diálogos”.
exista uma caminhada a se cumprir. Mas, no A íntegra desta apresentação está dispo-
campo social, os empregados das minerado- nível em nosso canal no Youtube:
ras dizem que o impacto positivo deve ir além
do pagamento de impostos.
Dentre os pontos que mais influenciam a CLIQUE E ASSISTA
reputação do setor mineral, as temáticas de

COMO TRABALHAR A REPUTAÇÃO E SER UMA


ATIVIDADE MELHOR ACEITA?
“Como a mineração pode trabalhar sua Carlos Eduardo, do MPMG, trouxe a
reputação e se tornar uma atividade melhor visão do Ministério Público sobre a repu-
aceita na sociedade?” – este foi o tema do tação da mineração, sobretudo depois dos
painel moderado por Francisco Alves, di- dois rompimentos das barragens de Fundão
retor editorial da revista Brasil Mineral e e Brumadinho. “Na minha visão, o setor se
que contou com a participação de Carlos comunica mal, mas é preciso entender que
Eduardo Ferreira, promotor de Justiça a disseminação de informações e as deman-
do Ministério Público de Minas Gerais das atuais são mais radicais, pois querem
(MPMG), Ana Luísa de Castro Almeida, sempre uma resposta rápida”.
professora da Fundação Dom Cabral, Para o promotor, é complicado falar de
Cristiano Parreiras, assessor especial da reputação, seja de uma empresa ou de todo
presidência e do Conselho do Sindiextra o setor, pois cada atuação atinge todo o
e Luis Mauricio Azevedo, vice-presidente setor. Na mudança do comportamento ve-
CNI/Comin e presidente da ABPM. rificado nos últimos anos, Carlos Eduardo

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de Compromisso foi assinado por diversas
empresas com as auditorias independentes
e, por último, dentro da evolução do sistema
de comando e controle, em 2022 outro TC
foi firmado para a prorrogação do prazo de
descaracterização das barragens.
A nova forma de diálogo horizontal com a
sociedade é um indicador muito poderoso e
também importante para o Ministério Público,
cujo papel está ligado diretamente à reputação
Carlos Eduardo Ferreira das empresas e trazido para o licenciamento
ambiental. “Como instituição voltada à defesa
diz que “o primeiro marco para o setor foi do meio ambiente, temos uma grande respon-
a lei Mar de Lama Nunca Mais, política do sabilidade para garantir que os investimentos
estado de Minas Gerais que proíbe as barra- com legitimidade sejam feitos com máxima
gens à montante e obriga a descaracteriza- segurança e hoje a atividade mineral sofre uma
ção das estruturas pelo prazo de três anos”. demonização por parte da sociedade civil”,
Logo depois, no final de 2019, um Termo prosseguiu o Promotor.

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7º MINERAÇÃO &/X COMUNIDADES

Luis Maurício Azevedo e Cristiano Parreiras


Segundo Carlos Eduardo, uma reputação por convicção – temos muito a fazer e o
construída por décadas pode ser abalada Ministério Público pode ser um aliado do
por pequenos fatos diários. Depois dos setor na comunicação com a sociedade, de
acidentes de Mariana e Brumadinho, o forma a mostrar a importância da atividade
Promotor reforça a necessidade de transpa- para todos”.
rência das ações, uma vez que informações Luis Maurício Azevedo, do Comin da
ligadas a segurança e gestão de barragens CNI e da ABPM, concorda que o setor se
de rejeitos têm domínio público e devem comunica mal, mas que diante de tudo o
ser repassadas para as comunidades que que aconteceu na indústria mineral ficará
circundam o empreendimento – “uma pre- a marca dos acidentes e isto provoca uma
missa de atuação do Ministério Público de resistência. “Apesar das empresas terem
Minas Gerais”. melhorado, elas falharam, e resgatar a repu-
E finalizou fazendo um reconhecimento tação demandará resiliência. No Brasil, há
às boas ações praticadas pelas mineradoras, diversas regiões e os impactos são distintos.
de forma voluntária, destacando que a Vale Por exemplo, em Minas Gerais existem os
hoje é “outra empresa”, com ambiente de acidentes e no Amazonas a desigualdade
diálogo propositivo e busca de soluções – “o social criada pela mineração”.
aprendizado com as tragédias serviu para Em seu entendimento, para resgatar a
que boas práticas viessem a tona e o futu- reputação o país precisa conhecer a atu-
ro é promissor para o setor. Sou otimista ação do pequeno e do médio minerador,

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distribuídos de forma mais expressiva Ao lembrar os atributos do setor mineral
dentro da sociedade e a melhor forma de – como conduta, ética, responsabilidade e
comunicação se dará com os agentes locais, transparência, segurança operacional, as-
no dia a dia. Como exemplos de sucesso ele pectos ligados ao trato social, diálogo aber-
destaca os casos da Aura Minerals e da Sig- to e boas relações com a comunidade, além
ma Lithium. Para o representante do CNI/ do uso responsável dos recursos naturais
Comin, “também é preciso entender que – Ana Luisa perguntou aos presentes se a
existe a percepção contrária e a imprensa mineração de fato havia entregue os pontos
adotou esta posição contra a mineração. O citados nos últimos cinco anos e disse não
setor precisa mostrar o que pode fazer para ter visto isso – “a mineração ter sido ‘fraca’
cultivar as comunidades e levar os escritó- com a imprensa e as comunidades é uma
rios para onde está a mineração”. tradução da realidade. As empresas têm
Ana Luísa de Castro Almeida, professo- uma relação assimétrica de poder muito
ra da Fundação Dom Cabral, disse tger uma forte, mas quando o preço das commodities
postura crítica às mineradoras, apesar de caem, os projetos sociais caem também”.
trabalhar com elas, por acreditar que essas E continuou sua apresentação dizendo
empresas podem ser melhores no futuro. que as empresas definem os projetos em
razão do que acham que as comunidades
querem – “elas falam que escutam, fazem
diagnóstico, mas implantam o que consi-
deram que as comunidades precisam. As
comunidades vivem sem políticas públicas,
o que gera insegurança alimentar, ausência
de educação, violência doméstica. Quais
projetos as mineradoras têm para estes
problemas? Não é apenas dar benesse, ser
paternal. Isso não muda a percepção da
mineração”.
Ana Luísa comentou ainda que a má co-
municação do setor representa a ausência
de investimentos no setor: “não adianta
discurso sem prática. Enquanto as minera-
doras não agirem de forma diferente, nada
vai mudar. Para mudar, o setor precisa fazer
uma reflexão para valer e entender as ques-
tões que hoje a sociedade valoriza”.
Cristiano Parreiras, do Sindiextra, co-
mentou que tudo que não é plantado, é mi-
Ana Luísa de Castro Almeida nerado. A mineração é uma atividade que

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7º MINERAÇÃO &/X COMUNIDADES
traz uma série de benefícios e a reputação da empresa, para mostrar a segurança com
deve ser trabalhada com a agenda ESG/ empregados, além de programas de diversi-
ODS para o setor se comunicar melhor dade e inclusão (não exclusão). “Há vários
com a sociedade. Há uma correlação direta movimentos empresariais para mudar o
da agenda para transformar a reputação. ambiente de negócios. Eles são frutos da
“É necessário trabalhar para entregar uma elevação da consciência coletiva da po-
mineração cada vez mais sustentável – o pulação que mostra um amadurecimento.
setor já faz muito nas três áreas de ESG”. Sobre Governança, há preocupações legí-
Na área de meio ambiente é fundamental timas onde as empresas estão instaladas”,
reduzir impacto ambiental, realizar a recu- finalizou.
peração de material e de depósitos, eliminar A íntegra desta apresentação está dispo-
as barragens, proteger o meio ambiente e nível em nosso canal no Youtube:
fazer uso responsável dos recursos naturais,
como reaproveitamento dos bens minerais,
recirculação de água, entre outros.
CLIQUE E ASSISTA
Parreiras disse também ser importante
que o Social esteja atrelado à Governança

‘FÓRUM DE LÍDERES - A GOVERNANÇA SOCIAL


É UM CAMINHO SEM VOLTA?

A última sessão do primeiro dia do 7º


Mineração &/X Comunidades contou com
o já tradicional Fórum de Líderes, que pro-
curou responder se a questão da Governan-
ça Social é um caminho sem volta. Modera-
do por Ana Cunha, conselheira do IBRAM
e diretora de Relações Governamentais
& Responsabilidade Social da Kinross, o
fórum teve como participantes Rodrigo
Lopes, professor convidado da Fundação
Dom Cabral, Wilfred Bruijn (Bill), presi-
dente da Anglo American no Brasil, Paulo
Castellari, CEO da Appian Capital Brazil,
Adriana Alencar, vice-Presidente de Re-
cursos Humanos da Mosaic Fertilizantes
e Gilberto Azevedo, presidente e General
Manager da Kinross Brasil Mineração. Ana Cunha

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mundo a ser descoberto, mas a necessidade
de transformar o modo como as pessoas
vivem, momento de revitalizar a nova fé”.
E voltou a frisar que a mineração, da mais
simples à mais complexa, é um “exercício
de fé”. Por não fazer parte do setor mine-
ral, o professor contou um caso: que certa
vez estava próximo a uma comunidade e
a janela começou a tremer, porém todas e
as pessoas continuaram a conversar nor-
malmente. Após isso, tocou a sirene. “Foi
muito impactante e não é difícil entender
porque as comunidades vêem a mineração
com ressalvas”.
Rodrigo Lopes Wilfred Brujin (Bill), da Anglo Ame-
rican, comentou que o setor mineral tem
Rodrigo Lopes começou sua participação
uma diversidade muito grande e ressaltou
falando sobre pertencimento, no sentido de
a necessidade de se fazer o que é o melhor
pertencer a algo, a uma comunidade diferente
para a empresa e para os stakeholders –
de todas as outras espécies. E citou a noção
“hoje em dia, a mineração tem tratado mais
de pertencimento nos primórdios a partir de
dos assuntos relacionados à preservação do
um objeto muito rico, no caso o ouro. A se-
nosso planeta, como descarbonização, e das
gunda imagem abordada em sua explanação
comunidades, por meio de suas demandas,
tem a ver com fé: “no início das navegações
nem sempre gigantescas, mas genuínas”.
na Europa, muitos passaram a atribuir ao ca-
pitalismo a forma de se produzir, o que não é
verdade”. Segundo Rodrigo, a mudança drás-
tica ocorreu quando as pessoas começaram a
se identificar com o futuro: “na Idade Média
se pensava o futuro na instância da morte e,
devido ao capitalismo, o futuro deixa de ser
morte e passa a ser algo novo, uma grande
mudança. A mineração é um exercício de fé”.
Indo além, Rodrigo disse que se não
fosse a descoberta das riquezas minerais,
essa fé seria em vão – “a grande quantida-
de de riqueza produzida por diversos bens
minerais permitiu uma grande mudança
na forma de produzir e no modo de exis-
tir das pessoas. Hoje não existe um novo Wilfred Bruijn

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7º MINERAÇÃO &/X COMUNIDADES
Para Bill, a percepção da sociedade so- são responsáveis pela Governança Social,
bre a atividade mineral tem uma história: pois o diagnóstico é total falta de interesse,
“vemos que quando voltamos no tempo, o de informação. “A movimentação da in-
setor não tinha necessidade de se comunicar formação é muito lenta e perversa. Temos
com a sociedade e a comunidade não tinha que pensar o que fazemos nos momentos
grandes demandas – eles conviviam harmo- bons da mineração e que podemos fazer de
niosamente em silêncio. Mas isso passou”. Os forma diferente”. Ele entende que o diagnós-
recentes acidentes com barragens colocaram tico é simples, mas a posologia complexa:
o setor mineral em evidência e Bill diz que “existe total dissonância de interesses, de
mesmo sabendo das vantagens da atividade informação. Há mais de duas décadas ouço
mineral, é preciso melhorar cada vez mais que a mineração precisa mostrar o que faz
a reputação do setor, “de forma honesta e de bom, mas a movimentação nesse senti-
transparente”. Em seu entendimento, o único do é muito lenta”. Castellari também citou
caminho para mudar essa imagem se dará desafios estruturais, como o impacto con-
através do diálogo sobre os aspectos des- centrado e benefício dissipado – “os bens
conhecidos e sobre os impactos que geram produzidos são usados em diversas partes
medos nas comunidades – “relação que tem do mundo, mas o impacto ambiental se
que ser a melhor possível para gerar menor concentra em um único lugar”. Para mudar
impacto à comunidade”. esse cenário, Castellari defende maior in-
Paulo Castellari, da Appian Capital Bra- vestimento das indústrias do setor mineral
zil, avalia que todos do setor da mineração em comunicação, na formação das pessoas
e na percolação de ativos tangíveis.
Adriana Alencar, da Mosaic, disse
acreditar em um propósito do setor, en-
volvendo empresas e comunidades para se
estabelecer relações e pensar em um futuro
para todos. “É necessário confiança para
se começar qualquer projeto e enxergar a
importância do ‘e’ e não do ‘ou’. Como po-
demos ter trabalho, atividade e gerar renda,
emprego, para um futuro melhor”. Para ela,
transparência e comunicação são funda-
mentais para o contato entre as partes. A
relação com a comunidade deve caminhar
no sentido de oferecer coisas básicas e o
legado que se deixa no território. “Preci-
samos de processos e programas para que
não existam fronteiras entre as empresas e
Paulo Castellari comunidades”.

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com todos os stakeholders envolvidos. Bill
respondeu que matematicamente é compli-
cado afirmar que a riqueza está sendo cor-
retamente distribuída, pois varia muito de
país para país, de demanda para demanda.
Mas disse acreditar que “esse equilíbrio está
mais próximo do que já esteve em momentos
passados, uma vez que o nível de cobrança e
de demanda se faz cada vez mais presente e
as empresas hoje têm maior consciência do
seu papel em relação às sociedades”.
Rodrigo disse que quando se pensa
em mineração, a imagem mais imediata
é a do “mundo material” e acredita que
o equilíbrio só será encontrado quando a
mineração ocupar o espaço do “imaterial”,
referindo-se à comunicação e aos projetos
Adriana Alencar sustentáveis. Adriana acrescentou que mais
que a distribuição quantitativa, a mais im-
Gilberto Azevedo, da Kinross, vê o ESG portante é a qualitativa – “um maior nível de
como um esforço da sociedade para colocar consciência do que se precisa, no lugar certo
processos claros que permitam esse esfor- e de forma adequada. Essa distribuição é
ço coletivo. “Para que consigamos atuar
coletivamente, é preciso um mínimo de
governança. Na Governança, a mineração
é só mais um ator que sofre a cobrança da
sociedade e do poder público. Nós devemos
nos associar às demais entidades para atuar
junto ao poder público, já que ele tem a capa-
cidade de criar um ambiente de cooperação
e construção”. Segundo Gilberto, o equilíbrio
é fundamental: “os impactos e benefícios
provocados pela mineração precisam ser
conhecidos. Mas o setor ainda tem dificul-
dades de ajustar as expectativas, o que pode
gerar o fracasso, iludir o outro. O equilíbrio
é a única forma de conseguirmos avançar”.
Finalizando o fórum, Ana Cunha quis sa-
ber dos participantes se a riqueza gerada pela
atividade mineral está sendo compartilhada Gilberto Azevedo

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7º MINERAÇÃO &/X COMUNIDADES
um caminho sem volta”. Gilberto disse que intencionalidade para que um ecossistema
a questão relativa à eficiência é importante como o da mineração seja capaz de gerar
e um debate necessário. Para Castellari, não um mundo melhor para todos”.
existe uma resposta – “o conceito de distri- A íntegra desta apresentação está dispo-
buição, como o Bill colocou, vai depender nível em nosso canal no Youtube:
de onde se está. Não há uma solução única
para uma equação complexa de distribui-
ção. Ela deve ser diretamente proporcional
ao o que a sociedade exige”. Ana Cunha CLIQUE E ASSISTA
concluiu afirmando que “é preciso muita

“COMO A SOCIEDADE PODE SE ORGANIZAR PARA


A MINERAÇÃO ARTESANAL LEGAL E CORRETA?”
O segundo dia do 7º Mineração &X mineração de pequeno porte. Citou como
Comunidades começou com o Painel exemplo o trabalho que desenvolve junto
“Como a sociedade pode se organizar para às cooperativas de garimpeiros. “Esses
a mineração artesanal legal e correta?”. membros da cooperativa são, em geral, a
Participaram da mesa-redonda Gilson população local da região”. Em termos de
Camboim, presidente da FECOMIN/MT, organização, os cooperados coordenam
Pedro Eugênio, diretor de Operações da suas frentes de lavra e as cooperativas tra-
Fênix Participações, Caio Mario Trivellato zem soluções e orientações técnicas para
Seabra Jr, Superintendente de Ordenamen- fortalecer a atividade.
to Territorial e Disponibilidade de Áreas da
Agência Nacional de Mineração (ANM),
Antônio João Paes de Barros, geólogo
da METAMAT, tendo como moderador
Fernando Gabriel Araújo, diretor do De-
partamento de Pesquisa em Engenharia e
Educação Continuada (DEPEC/Gorceix).
O primeiro participante, Gilson Cam-
boim, fez um esclarecimento: “a palavra
garimpo se assemelha à ilegalidade. O
correto seria usar o termo extração ilegal,
algo que abominamos, pelas problemáticas
que traz”. Sendo assim, ele iniciou o debate
falando sobre a extração legal da mineração
industrial, das atividades garimpeiras e da Gilson Camboim

62 BRASIL MINERAL - nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023


Nesse sentido, as responsabilidades
ambientais e demais compromissos são
assumidos junto às prefeituras. Ele lembra
que durante o período de pandemia, nas
regiões de Lourenço e Peixoto de Azevedo,
no Mato Grosso, e em algumas localidades
do Pará, na região do Tapajós, Tucumã e
Ourilândia, as cooperativas foram fun-
damentais na aquisição de respiradores,
máscaras e medicamentos, ações que lhe
trouxeram maior relevância junto às co-
munidades. Outro ponto fundamental foi
a consciência financeira para o público que
atua no segmento – “os garimpeiros têm
uma boa renda, mas não possuem um grau
de instrução para boa gestão dos recursos
e melhor desenvolvimento da atividade”.
Para Camboim, este trabalho tem sido Antônio João Barros
ampliado por meio do cooperativismo de
do garimpo. Mas, com o passar do tempo,
crédito, para inserir a população local. “O
houve mudança de percepção e descobriu-
cooperativismo ajuda a inserir e envolver
-se que uma mineração completa a outra. “A
a população local e a atividade está ligada
mineração artesanal e a de pequena escala
ao meio ambiente, seja atuando indepen- envolvem a sociedade que aos poucos co-
dentemente ou em parceria com o poder meça a se relacionar com o projeto”.
público por meio da distribuição de mudas Na sequência, Antônio João, da
junto à comunidade local para desenvolver METAMAT, disse que a empresa se baseia no
a responsabilidade ambiental”. trabalho de geologia para resolver problemas
Como as lavras desenvolvidas pelas co- de conflitos entre garimpeiros e minera-
operativas têm um período de sete a dez doras, que envolvem ações do Ministério
anos de existência, durante o período de Público pelo domínio do subsolo. “O Mato
recuperação dessas áreas se busca sem- Grosso tem as províncias auríferas de Alta
pre identificar uma afinidade econômica, Floresta, Guaporé e da Baixada Cuiabana,
inserindo atividades como piscicultura, além de quatro províncias diamantíferas. Es-
fruticultura, pecuária, entre outros. Ele afir- sas províncias são compostas por migrantes
mou que o cooperativismo pratica o ESG da Bahia e Minas Gerais, fluxo responsável
e o ODS há tempos junto às comunidades, pela criação de mais de 20 cidades”.
acrescentando que, no passado, algumas Sobre o arcabouço legal do regime de
empresas minerais tinham receio da pe- Permissão de Lavra Garimpeira (PLG), An-
quena mineração, por causa da questão tônio João disse que antes da Constituição

BRASIL MINERAL - nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023 63


7º MINERAÇÃO &/X COMUNIDADES
de 1988 havia o regime de matrícula, uma estabelece os bens minerais e deixa outras
carteira de porte individual emitida por um formas ao enquadramento da ANM”. Mas
sindicato de garimpeiros. Mas o artigo 21 da na realidade, a maior parte dos garimpos de
Constituição mudou este cenário e a União ouro e cassiterita na Amazônia são ilegais
passou a estabelecer as áreas e as condições ou encontram-se fora das áreas estabele-
para o exercício da atividade de garimpo, cidas. “Fica difícil seguir uma lei, onde o
de forma associativa. E o artigo 174 esta- minerador fica como um ‘clandestino’”.
belece que as cooperativas criadas terão Antônio João cita como casos de sucesso
prioridades de autorização nas áreas de de ordenamento e regularização no Mato
pesquisa e lavra onde estão atuando, como Grosso a reserva garimpeira de Peixoto
nas reservas garimpeiras, o que favorece a Azevedo, onde houve enfrentamentos e
atividade. “O regime de PLG abrange ativi- riscos ao ambiente de produção e negócios,
dades garimpeiras cuja práxis exploratória mas a METAMAT, em parceria da ANM,
assinou um Termo de Conciliação que per-
é fincada em três pilares: 1) aproveitamen-
mite aos garimpeiros organizar as coopera-
to imediato do jazimento, independente
tivas para obter o subsolo. Outra iniciativa
de pesquisa prévia; 2) Aproveitamento
é a 6ª rodada do edital para regime de PLG
das substâncias minerais no interior das
para a reserva garimpeira do Cabeça. “As
áreas estabelecidas para tal finalidade e 3)
cooperativas de garimpeiros são geridas
por aqueles que têm maior conhecimento
empresarial, e a regularização dessas áreas
requer um nível de capitalização e investi-
mento para obter a concessão do subsolo,
centralizada na ANM e licenciamento am-
biental, processo oneroso e lento. Outro
problema é a falta de políticas públicas para
comunidades garimpeiras tradicionais, de
forma similar ao que ocorre com as comu-
nidades extrativistas, quilombolas etc com
respeito a espaços geográficos, direitos,
cultura, valores e identidade.
Caio Seabra, da ANM, disse que o
ordenamento do território é o principal
desafio para União, estados e municípios:
“uma política pública malfeita pode preju-
dicar todo o futuro de um trabalho. Existe
exploração garimpeira ilegal e a ANM
busca regularizar a situação de todos,
Caio Seabra mas não podemos outorgar títulos para

64 BRASIL MINERAL - nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023


qualquer um”. Como exemplo, ele cita as
províncias que eram reservas garimpei-
ras na década de 1980, no Norte do Mato
Grosso, que foram extintas. Mas hoje é
possível encontrar, nesses mesmos locais,
uma exploração garimpeira ilegal e cabe à
Agência buscar a regularização e forma-
lização dessa atividade. Outro motivo de
conflito são as Unidades de Conservação
da Proteção Integral e Uso Sustentável, que
foram demarcadas e publicadas sobre áreas
tradicionais de garimpo ou de mineração.
Além desse caos de ordenamento territo-
rial, é preciso tornar a mineração artesanal
legal e correta, segundo ele, para que haja
possibilidade de explorar uma área dentro Pedro Eugênio
da lei. As cooperativas são de grande impor-
Pedro Eugênio, da Fênix, comentou
tância para legitimação e fortalecimento de
sobre a importância da responsabilidade
grupos e para que se alcance uma solução
para evitar uma extração ilegal degrada- da iniciativa privada para a mineração ar-
dora. É uma possibilidade para evoluir no tesanal. “Nós atuamos na cadeia produtiva
relacionamento entre comunidade, empre- da pequena e média mineração do minério
sa e cooperativas rumo ao mesmo objetivo. de ouro, que é comercializado no Brasil.
“Entretanto, muitas das cooperativas não Com uma experiência no exterior, nós
têm assistência técnica devida”, trabalho vimos que teríamos que aplicar práticas
que, segundo Seabra, vem sendo realizado internacionais que seguem regras rígidas
pela Metamat para apoio e evolução desses e sérias, alinhadas com o meio ambiente e
grupos. exploração mineral, para poder acessar o
Recentemente, a ANM realizou um mercado do País”.
projeto piloto colocando 420 áreas em Além da mineração artesanal sustentá-
disponibilidade para a permissão de lavra vel e do combate à mineração ilegal, Pedro
garimpeira. Seabra conta que a iniciativa Eugênio ressaltou que a autorregulação da
foi muito criticada e considerada complexa cadeia produtiva é importante, “pois a atual
e danosa ao setor, mas que o objetivo do é fraca, arcaica e o mercado não se apoia
edital era unir as áreas em disponibilidade mais nisso. Nas políticas internas da Fênix,
com aptidão para a lavra garimpeira, dando vamos além do que a lei impõe, com a atu-
prioridade de requerimento para as coope- ação em frentes de desenvolvimento dessas
rativas. Uma maneira de fazer com que a diretrizes para uma mineração sustentável.
mineração artesanal se torne legal e correta. Nos inspiramos também no mercado de

BRASIL MINERAL - nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023 65


7º MINERAÇÃO &/X COMUNIDADES
câmbio, que tem várias diretrizes positivas A íntegra desta apresentação está dispo-
que em termos de regulação é excepcional. nível em nosso canal no Youtube:
As discussões envolvem tecnologias, novas
possibilidades de mercado e qual é o motivo
para não trazer isso para o ouro?”, provocou CLIQUE E ASSISTA
o representante da Fênix.

MANUAL DE RELACIONAMENTO COM AS COMUNIDADES


Keyty Silva, cientista socioambiental e médias e grandes empresas para melhorar
coordenadora de Projetos da Integratio e o relacionamento com as comunidades.
Paulo Misk, Ex-CEO da Largo, presidente “O objetivo é que todos possam participar
do Sindimiba – Mineração na Bahia, con- e evoluir em todas as comunidades inseri-
selheiro da CNI/Comin, ABPM e IBRAM, das. As minerações têm responsabilidade
apresentaram o “Manual de Relaciona- social muito forte”, disse Paulo Misk, em
mento com Comunidades em projetos de mensagem de vídeo.
mineração”, um guia elaborado pela Inte- Keyty Silva complementou a apresenta-
gratio e pela Confederação Nacional da ção dizendo que o manual teve um processo
participativo com as empresas e que contou
Indústria (CNI) para orientar pequenas,
com diversas reuniões para levantamento
das expectativas e ações já realizadas, além
da identificação dos gargalos. “É um docu-
mento orientador e complementador para
que as empresas não fiquem fora do con-
texto do território, mas que integre, sendo
um agente interno”, continuou ela.
O manual é um documento orientador
para que as empresas integrem o interesse
comum dos territórios. O capítulo que fala
sobre os princípios do bom relacionamento
com as comunidades, por exemplo, consi-
derou a diversidade sociocultural brasileira
e as legislações especificas para comunida-
des tradicionais.
Entre os princípios orientadores do
documento, Keyty citou: ética e transpa-
rência, escuta ativa, participação social,
responsabilidade operacional, capacidade
Keyty Silva social, diversidade e inclusão, aderência

66 BRASIL MINERAL - nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023


diretrizes são formadas por um conjunto de
ações de relacionamento, tendo a inserção
social como objetivo. O manual aconselha
que as ações iniciais de relacionamento se-
jam executadas por um profissional, com a
identificação dos envolvidos e a elaboração
de um plano de atuação. O manual também
indica quais são os mecanismos de escuta e
de resposta, como fazer um diagnóstico so-
cial participativo, assim como a importân-
cia dos comitês e dos fóruns participativos.
Ações para a gestão interna do relacio-
namento, dos compromissos e parcerias
também receberam especial atenção na
elaboração do manual, com a descrição de
diversas metodologias, como o Diagnóstico
Rápido Participativo (DRP), o Mapeamento
Paulo Misk de Ativos Comunitários, o Mapeamento
aos pactos nacionais e internacionais (inde- Participativo e as Oficinas Participativas
pendente da escala do empreendimento) e Territoriais.
O Engajamento Comunitário é o ápice
engajamento com as comunidades, “atitude
de todas as etapas do projeto, prosseguiu
de grande importância hoje”.
Keyty, mencionando ainda que no capítu-
A diversidade sociocultural brasileira lo que trata sobre padrões e referências, o
considera a diferença cultural dos mais Manual fez as correlações com os Princípios
diversos grupos, os marcos e mecanismos do Equador – “em cada parte do Manual
legais e os direitos específicos dos povos há também um checklist onde as empresas
indígenas, comunidades quilombolas e podem identificar e, se for o caso, melhorar
outros grupos sociais tradicionais. Todas as suas ações”.

O CICLO DE VIDA DAS MINERAÇÕES E AS ALTERNATIVAS


DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
Fechando a manhã do segundo dia do Associados e Municípios - IBRAM, Marco
evento, o painel “O ciclo de vida das mine- Antonio Lage, prefeito de Itabira, Eduardo
rações e as alternativas de desenvolvimento Leão, gerente de Sustentabilidade da G Mi-
econômico”, contou com as presenças de ning Ventures, Ronaldo Souza, diretor de
Alexandre Mello, diretor de Relações com RH, Administração e Relacionamento com

BRASIL MINERAL - nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023 67


7º MINERAÇÃO &/X COMUNIDADES
Comunidades da Largo, João Cruz Reis Fi- e não encontro também outro para qualifi-
lho, diretor técnico do Sebrae e moderação car a minha, a nossa indiferença diante de
de Virgínia Ciminelli, professora da UFMG tanta opulência inerte. Somos tão ricos, em
e conselheira da Brasil Mineral. Itabira, que não nos preocupamos com a
Virginia Ciminelli “provocou” os par- nossa própria riqueza. Temos riqueza para
ticipantes citando o trecho de um texto dar ao mundo inteiro e ainda sobra para
escrito em 1933 por Carlos Drummond 499 mundos possíveis. Se oferecêssemos a
de Andrade: “...É curiosa a vila de Utopia, cada habitante do planeta a insignificância
posta na vertente da montanha venerável e de uma tonelada de ferro, quase todo o
adormecida na fascinação do seu bilhão e rebanho humano estaria servido, pois a
500 milhões de toneladas de minério com cifra total do rebanho não vai além de 1
um teor superior a 65% de ferro, que darão bilhão e 700 milhões de criaturas. Somos
para ‘abastecer quinhentos mundos durante perdidamente, inefavelmente milionários.
quinhentos séculos’, conforme garantia o No entanto, a arrecadação da prefeitura, em
visconde do Serro Frio. Os números que 1932, não excedeu de 216 contos (inclusive
exprimem a quantidade de minério de Ita- 20 contos de saldo do exercício anterior), e
bira, confirma o professor Labouriau, são uma honesta parcimônia pauta a vida dessa
astronômicos: de tão grandes tornam-se gente ensimesmada e grave, que nada tem
inexpressivos. Inexpressivo é bem o termo: nem pede ao governo, e passa honrada-
mente pelos guichês do Banco Comércio e
Indústria, para emitir ou reformar as suas
promissórias. Tanta riqueza em potência
vem sendo, talvez, um grande mal para
a vila de Utopia”. Não se passaram 500
anos, “mas Itabira vive hoje na iminência
de fechamento de suas minas”, salientou
Virginia.
Segundo o prefeito Marco Antonio
Lage, Itabira pode servir como case para a
construção de um novo relacionamento das
mineradoras com as comunidades, visando
garantir a sustentabilidade do território
pós-mineração. O desafio do momento é
buscar a diversificação econômica como
elemento de qualidade de vida, como garan-
tia do legado da mineração. Hoje, Itabira já
soma mais de 2,5 milhões de toneladas de
minério de ferro destinadas à industriali-
Virginia Ciminelli zação do mundo.

68 BRASIL MINERAL - nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023


A outra frente a que se referiu o prefeito
é um trabalho de cogestão com a própria
Vale, “uma vez que a cidade vive 85% ainda
em função da mineração de uma empresa,
suas ramificações e repercussões numa eco-
nomia de serviços também. Este é o cenário
vivido pela cidade que já recebeu o anúncio
da exaustão mineral e que precisa se rein-
ventar produtivamente, com planejamento
estratégico, investimentos estruturantes
e com a participação da sociedade civil
organizada, que precisa se apropriar das
medidas que estão sendo tomadas”. A Vale
contratou uma empresa internacional com
15 Grupos de Trabalho e 62 projetos es-
truturantes de reconversão produtiva para
ver como será Itabira daqui a 20 anos, no
pós-mineração de um território minerado
sustentável. Caberá à prefeitura utilizar os
recursos do CFEM de forma correta e, nas
Marco Antônio Lage
propostas feitas à Vale, Lage garante que
“Para isso trabalhamos em duas frentes um terço dos investimentos será bancado
importantes em Itabira, como na utiliza- pela prefeitura – “dinheiro arrecadado pela
ção dos recursos públicos na garantia da própria mineração”.
qualidade de vida e na preparação do am- Virginia defendeu que se deve aproveitar
biente para receber um novo ciclo social e o auge da produção para a construção dos
econômico. Trabalhamos em parceria com projetos de diversificação econômica – “no
o Sebrae para uma reconversão produtiva entanto, essa discussão está em atraso no
pós-ciclo mineral”, disse Lage, salientando país”.
que a mineração tem sido debatida mais Na sequência, Eduardo Leão, da G Mi-
abertamente depois dos dramáticos even- ning, abordou a APA do Tapajós, onde há
tos de Mariana e Brumadinho. “Mais que uma reserva garimpeira desde a década
discutir segurança de barragens, o funda- de 1930 e onde não há apenas o garimpo,
mental para o momento é a reconversão mas uma atividade mineradora. “Há um
produtiva”, prosseguiu Lage. Itabira tem descompasso no fechamento da mina e na
atualmente 17 barragens, das quais 15 per- diversificação econômica do território com
tencem à Vale, com 500 milhões de m³ de 100 mil garimpeiros. Não há boi, não tem
rejeitos de minério de ferro – volume 500 agricultura familiar, então, como ensinar
vezes superior a Brumadinho. uma pessoa a fazer diversificação econô-

BRASIL MINERAL - nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023 69


7º MINERAÇÃO &/X COMUNIDADES
prazo de desenvolvimento estratégico do
território. Virginia pontuou que a visão de
território é óbvia, mas que falta o básico. E
alertou para a questão da colaboração.
Alexandre Mello, do IBRAM, iniciou
sua participação lembrando que o plano de
fechamento de mina deve ser apresentado
por todos os empreendimentos desde a sua
concepção até como ficará a lavra após a
atividade, o que aquele território vai traçar
para o futuro, e a diversificação econômica
para a comunidade ser beneficiada após o
término da atividade minerária no muni-
cípio.
Eduardo Leão Ele informou que o IBRAM tem dois
mica se ela só sabe garimpar há 50 ou 60 projetos de diversificação econômica – “o
anos?”. primeiro convênio de reconversão pro-
O garimpo é digno, segundo ele, por dutiva em parceria com a AMIG, ICLEI
estar em uma reserva garimpeira, e por (foco na agenda climática), Sebrae, FIEMG,
querer se regularizar. Há uma ideia de criar, BDMG entre outros atores, e o segundo, de
em parceria com o ICMBio, um plano de diversificação econômica, especificamente
diversificação econômica (manejo) com o
garimpo. Para Leão, o impacto provocado
pelo garimpo é pequeno e pode ser rever-
tido. “Há garimpo com viveiros de mudas,
mas os ilegais não possuem PLG e não
conseguem ter uma licença com o ICMBio”.
Para ilustrar o que fazer após a mine-
ração, Leão trouxe uma experiência do
agronegócio com o Pronafe, uma política
de Governo para fazer o financiamento de
agricultura familiar, com baixas taxas. Dos
144 municípios do Pará, Leão acredita que
140 estejam negativados para o Pronafe, por
falta de assistência técnica. Em seu ponto
de vista, faltam políticas públicas e projetos
de desenvolvimento de território alinhados
com a sociedade e com as empresas da
região. É preciso criar um pacto de longo Alexandre Mello

70 BRASIL MINERAL - nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023


com a AMIG, para ampliar a atuação em pelo IBRAM, com várias informações sobre
outros municípios. Empresa, poder pú- barragens, eventos extremos, pluviosidade,
blico e comunidade devem trabalhar em que proporcionará maior informação via
conjunto, e caso um destes falhe, o projeto celular para a comunidade. Por fim, Mello
será prejudicado”. abordou a Licença Social, onde o IBRAM
O projeto piloto foi iniciado em Itabira tem todo um processo regularizado em que
e posteriormente aplicado em Itabirito. No as empresas precisam atuar e, em alguns
momento está sendo realizado em Con- anos, vamos chegar a uma regulamentação
ceição do Mato Dentro, baseado no tripé: geral e um projeto de diversificação eco-
Empresa, Poder Público e Comunidade, nômica irá aderir à própria Licença Social
com a sensibilização das lideranças. A na região.
carta compromisso, com 12 ações e metas, Ronaldo Souza, da Largo, explicou
lançada há dois anos pelo IBRAM, se trans- como se estabelece o relacionamento com a
formou no ESG da Mineração. Ele destacou comunidade durante todo o projeto, desde
nesse sentido dois Grupos de Trabalho: o de o início até o fechamento da mina – “é um
Relacionamento com as Comunidades e o longo caminho, mas é finito”. No Brasil,
de Desenvolvimento Local, cujo foco será o trabalho da Largo está concentrado no
a diversificação econômica. interior da Bahia e a mina fica distante
Sobre a questão das barragens, Mello 50 Km da cidade de Maracás, cidade com
antecipou na ocasião o lançamento do 24 mil habitantes – “no entorno da nossa
PROX, um aplicativo desenvolvido pela mina temos seis comunidades e devemos
CEMIG, Defesa Civil de Minas Gerais e respeitá-los, pois já estavam lá quando
chegamos para o desenvolvimento do em-
preendimento. Quando se inicia uma con-
versa sobre um projeto mineral, começam
as expectativas com o que pode ser gerado
com o projeto. A Largo dialoga e busca en-
tender as expectativas dos territórios, para
formar e capacitar lideranças comunitárias
e identificar até onde podemos ir. É uma
relação construída em conjunto na geração
de emprego e renda para que a comunidade
possa ter o mesmo padrão inclusive depois
do fechamento da mina”.
Ele disse que a Largo atua na área am-
biental para minimizar ao máximo os
impactos junto das comunidades, além de
incentivar esporte, cultura e lazer. O ponto
Ronaldo Souza mais evidente é a questão de emprego e

BRASIL MINERAL - nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023 71


7º MINERAÇÃO &/X COMUNIDADES
Para Cruz, não há como ignorar a impor-
tância da mineração para Minas Gerais. Se-
gundo levantamento feito pelo Sebrae, com
base em critérios técnicos (participação no
recurso da CFEM, geração de empregos e
de massa salarial), 11 territórios têm área
maior que 11 municípios e que são de fato
economicamente dependentes da minera-
ção. “Nesses territórios não há como pensar
em desenvolvimento econômico local sem
cooperação. Os territórios têm vocações
econômicas novas e nisso o projeto de re-
conversão produtiva se encaixa bem. Ele
tem efeito inédito que pode juntar diferen-
tes atores, como IBRAM, UFMG, Governo
do Estado e empresas para construir cada
um desses territórios dependentes da mine-
João Cruz ração. Mas isso não é uma tarefa simples”.
renda. “Temos uma parceria com o SESI/ Além de Itabira, Cruz lembrou que no
Senai em um programa para formar as pes- passado outros territórios enfrentaram o
soas para o mercado de trabalho, além de problema da exaustão mineral e que não
Maracás. O SESI/Senai realizou pesquisa e houve um planejamento de reconversão
disse que 20% já atuam em alguma área em produtiva. “Precisamos pensar ações de
que se formaram no SESI/Senai. Isto tudo curto, médio e longo prazo que possam
gera um ciclo de crescimento. Todos nós promover a diversificação econômica des-
queremos as mesmas coisas e temos que dar sas áreas. Um dos caminhos é identificar
as mãos para conseguir o melhor resultado”.
e potencializar a vocação do território, ou
João Cruz, do Sebrae-MG, disse que a
diversificar produtos e serviços dentro da
entidade tem um trabalho de desenvolvi-
própria cadeia de mineração, que não são
mento econômico local em parceria com
prefeituras para melhorar o ambiente de percebidos pelos agentes daquele território,
negócios no estado – “damos apoio aos gerando novas oportunidades”.
pequenos negócios visando o desenvolvi- O principal gargalo está na Governança
mento econômico local na identificação de para fazer a reconversão – “a comunidade
ações transversais para melhorar o ambien- precisa fazer parte do combinado, é neces-
te de negócios. Nesse contexto, a prefeitura sário que haja um engajamento. O projeto
simplifica os pequenos empreendimentos e pensa o território de Minas Gerais como
nos fez entender as ações estratégicas para um todo e analisa o desdobramento das
ajudar no desenvolvimento”. governanças em nível local”, concluiu Cruz.

72 BRASIL MINERAL - nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023


A FISCALIZAÇÃO DA APLICAÇÃO DA CFEM PARA SUA CORRETA
DESTINAÇÃO PELOS MUNICÍPIOS TEM FUNCIONADO?
Os trabalhos da tarde do segundo dia do do estado do Pará (TCM Pará) e Rogério
7º Mineração &/X Comunidades, iniciaram Moreira, Consultor Jurídico da AMIG.
com o painel “A fiscalização da aplicação Maria Amélia informou aos presentes
da CFEM para sua correta destinação pelos que a compensação financeira, interna-
municípios tem funcionado?”. A modera- cionalmente conhecida como “royalty da
ção foi realizada da conselheira da Brasil mineração”, foi criada na Constituição de
Mineral, economista e professora da UFPA, 1988 e que antes existia a figura do Impos-
Maria Amélia Enríquez, e contou com a to Único sobre os Minerais, o IUM, que
participação de Maria Green, do Centro foi extinto. Com isso, a base tributária da
mineração passou a ser feita pelo ICMS e
de Tecnologia Mineral – CETEM, Sérgio
foi criada a compensação financeira pela
Leão, do Tribunal de Contas do Município
exploração dos recursos minerais. Esse
dispositivo foi regulamentado posterior-
mente pela Lei nº 7.990/89 e pela Lei nº
8001/90. Seguiram-se, depois, 27 anos sem
qualquer mudança na legislação. Em 2017,
a Lei nº 13.540 trouxe duas novidades: a
arrecadação passou a incidir sobre a receita
bruta e não pelo faturamento líquido e, no
parágrafo 6º, foi incluída a recomendação
de que ao menos 20% da compensação
financeira seja utilizado para a diversifi-
cação econômica, mineração sustentável e
para a ciência, tecnologia e inovação. Já o
parágrafo 13º do artigo 2º fala da absoluta
transparência no uso desse recurso, em
consonância com a Lei da Transparência
Pública. Na questão da distribuição não
houve mudanças: o principal beneficiário
continua sendo o município, que recebe
60% dessa compensação e os municípios
impactados recebem 15%.
Maria Green, do CETEM, apresentou a
pesquisa dos royalties da mineração e sua
Maria Amélia Enríquez transparência. A arrecadação da CFEM au-

BRASIL MINERAL - nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023 73


7º MINERAÇÃO &/X COMUNIDADES
em todos os níveis de transparência de 2019
para cá”, disse Maria.
Há uma grande concentração de CFEM
em 30 municípios, o que aumenta o repasse
do ICMS, mas Maria disse faltar transpa-
rência no uso dos recursos – “a pesquisa
sobre transparência teve como objetivo
saber como está sendo gasto os recursos da
CFEM e como a receita dinamiza o territó-
rio, com participação da sociedade. Nós não
sabemos se a CFEM está sendo bem usada”.
Nos últimos anos, segundo ela, tem sido
ampliado o debate de questões legislativas
até uma maior participação social relacio-
nados com a CFEM – “temos que pensar a
renda gerada na extração mineral minerais
Maria Green e onde os recursos serão alocados”.
mentou nos últimos anos, somando R$ 29 Rogério Moreira, da AMIG, disse faltar
bilhões de 2015 a 2021, fonte significativa mecanismos eficientes para que a transpa-
de recursos para os municípios. Ela lem- rência seja palatável ao acesso público, da
brou que a Lei nº 13.540 trouxe a novidade sociedade. Ele contestou que houvesse falta
da repartição da CFEM entre os municípios de transparência das informações por parte
produtores e os municípios afetados e que dos municípios. “É como se não estivesse sen-
a pesquisa do CETEM busca justamente do feito o processo indicado pela legislação,
identificar como a CFEM vem sendo gasta e isso não é real. Todo o uso de CFEM que
pelos principais municípios mineradores. passe pelos procedimentos prévios, são legais
A base do estudo são os dados da ANM e legítimos, pois praticados por aqueles de
de 2019, que mostram que os 30 maiores direito”. Ele acrescentou que se alguém bus-
arrecadadores representam 90% de re- car direto no Tribunal de Contas, verá toda
colhimento da CFEM – “de 2019 para cá a rastreabilidade de onde está indo o recur-
iniciamos o levantamento das LOAs (Lei so público, acrescentando que isso está em
Orçamentária Anual) na etapa de planeja- processo de evolução: “Minas Gerais está na
mento e aplicação desse recurso. A CFEM frente, é a versão 2.0 de transparência. O pro-
tem um peso muito grande na receita or- blema talvez seja os mecanismos legais para
çamentária do município e quando é feito a transparência por parte dos municípios”.
esse tipo de pesquisa, há uma dificuldade O representante da AMIG disse que, pri-
técnica tanto para o especialista como para meiro, se deveria olhar para o passado e ver
o leigo que queira conhecer o assunto. Ne- que a Constituição determinou o uso dos
nhum município conseguiu se enquadrar 20% em educação e saúde. “Mas isso foi fei-

74 BRASIL MINERAL - nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023


cas públicas. A ANM tem informações que
Foto Glenio Campregher

as mineradoras oferecem, mas que não é


repassado ao ente municipal.
Sérgio Leão, do TCM Pará, comentou
que os municípios mineradores têm situ-
ação diferenciada em relação aos demais
municípios, devido à possibilidade de ge-
ração de riquezas, com distribuição para
os munícipes. “Eu vejo a realidade dos
municípios e acho que a lei dos royalties
precisa ser alterada, pois não é obrigatório,
mas é preferencial o uso dos 20% da CFEM.
É difícil alterar para aumentar o controle e
transparência, pois tudo é misturado nas
receitas”. Leão diz que os municípios que
recebem CFEM têm que ser mais cobrados,
com uma responsabilidade no uso e na de-
Rogério de Souza Moreira
cisão do uso do recurso. “É necessário unir
to? Colhemos bons resultados? Como vamos todos os atores para realizar uma mudança,
nos preocupar com as próximas gerações, se caso contrário há pactuações para que se
ainda estamos muito atrasados pela falta de estabeleçam novas formas de relaciona-
empatia atual? O Estado não consegue dar mentos”, concluiu Leão.
um resultado sem o comprometimento da
sociedade. Em Minas, ainda não foi elabora-
do o Plano Estadual da Mineração (proposta
de 1989), então, devemos realizar acordos
que tivessem instrumentos capazes de se-
rem cobrados. Caso contrário, é necessário
alterar a lei, mas não a desrespeitar”.
A moderadora Maria Amélia comentou
que a nova lei demorou uma década para
ser votada. O foco do acordo de cooperação
técnica celebrado parte de duas premissas:
melhorar e otimizar a malha fiscalizatória
federal e conseguir dar celeridade aos pro-
cessos, principalmente de pesquisa, para
ajudar a ANM a desafogar os passivos de
requerimentos. E, por último, o comparti-
lhamento de dados ajudarão os municípios
a ter capacidade de planejamento de políti- Sérgio Leão

BRASIL MINERAL - nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023 75


7º MINERAÇÃO &/X COMUNIDADES
DESAFIOS PARA FAZER SIMULADOS
DE EMERGÊNCIA EFICIENTES E EFETIVOS
A lei nacional mais atual, que prevê a
realização de simulados, é a nº 14.066/2020,
mas sem ter uma periodicidade definida.
Cada estado vai definir o período dos simu-
lados. Entretanto, em Minas Gerais, por de-
creto estadual, ficou definida uma periodi-
cidade anual para todas as barragens, onde
há uma série de requisitos para elaboração
do Plano de Ação de Emergência (PAE).
Para a realização dos simulados é obriga-
tória mobilização dos públicos externos
(comunidades) e internos (funcionários)
e todos devem estar preparados para o en-
frentamento de qualquer problema; realizar
simulados em condições desfavoráveis para
encarar chuva, lama, o que é mais difícil
devido à infraestrutura a ser montada,
envolvimento das Defesas Civis dos muni-
Guilherme Ferrari
cípios; Gestão das sirenes – tem que ter um
Na sequência ocorreu o Painel “Desafios estudo de engenharia para definir a melhor
para fazer simulados de emergência eficien- instalação dos equipamentos, reforço na
tes e efetivos”, com a moderação de Francis- comunicação e no relacionamento com
co Alves, da Brasil Mineral, e os convidados a comunidades; divulgação dos canais de
Guilherme Ferrari, da Integratio, Roberto comunicação e obtenção de conhecimento
Junio Gomes, analista ambiental da FEAM da população da ZAS : aspectos sociais,
e Nilson Gonçalves Bigogno, da CBA. econômicos e ambientais.
Guilherme Ferrari foi o primeiro parti- Na sequência, Nilson Bigogno, da CBA,
cipante a abordar o tema no painel e disse falou sobre a governança das duas bar-
que o simulado precisa fazer parte perio- ragens localizadas em Minas Gerais – “a
dicamente da rotina das empresas e das CBA foi muito conservadora no método de
comunidades, como cultura de prevenção construção das estruturas, em etapa única e
de riscos, e para as pessoas entenderem a sem alteamento (rejeitos e água), tem duas
importância da conscientização das ações ETAs (uma para cada barragem), então,
preventivas em uma possível situação de isso nos passa muita segurança”. O outro
emergência. pilar é a disciplina que engloba toda cadeia

76 BRASIL MINERAL - nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023


rasse mais longe dos pontos de encontro”.
A CBA faz a medição de quantas pessoas
participam dos simulados pela presença da
comunidade local e efetiva. “Às vezes, as
pessoas não comparecem aos simulados por
motivos diversos, mas sempre procuramos
saber as razões posteriormente”.
O último participante foi Roberto Go-
mes, da FEAM, o qual comentou que o
Estado de Minas Gerais enfrenta desafios
com a nova lei, pois é obrigado a resgatar
pessoas e animais, proteção de patrimônios
culturais e resguardar o fornecimento de
água potável. “Além disso, o Plano de Emer-
gência é vinculado à concessão de licença
de operação, o que coloca o Estado em uma
situação complicada para aprovar estudo
e desenvolvimento de qualquer empreen-
dimento que haja risco. Ao receber esta
tarefa na regulamentação, o Estado busca

Nilson Bigogno
hierárquica da CBA e as reuniões semanais;
o terceiro é a transparência com o público
que está no entorno das barragens. “Não se
pode subestimar a inteligência das pessoas e
é preciso ouví-las e explicar tudo o que que-
rem saber, de forma didática”. Por último,
o relacionamento com a comunidade, que
exige vários encontros, cultivado durante
o ano. “Fazemos 12 testes anuais, fora os
simulados, com um planejamento anual
para a população ter ciência do que iremos
fazer. O importante é não terceirizar o ser-
viço com a comunidade”. Outro ponto im-
portante para a CBA foi a manutenção dos
simulados durante a pandemia em parceria
com a Defesa Civil e Secretarias de Saúde.
“O simulado foi feito com a pessoa que mo- Roberto Gomes

BRASIL MINERAL - nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023 77


7º MINERAÇÃO &/X COMUNIDADES
padronizar sobre o que já é conhecido”. Essa ponto é a dificuldade da comunicação
regulamentação deveria contemplar todas com populações diversas e níveis escola-
as barragens de mineração e indústria (re- res distintos. Precisamos de profissionais
jeitos, água etc). “O decreto transfere para preparados para realizar a comunicação
as secretarias estaduais a percepção de que com estas pessoas; e o último ponto é a
elas podem regulamentar o processo de confiança entre empresa e população a
aprovação. Para esta anuência, todos os jusante, principalmente depois dos aci-
órgãos precisarão estar envolvidos”. dentes. A comunidade tem questionado
Para ele, os principais desafios são a muito mais as mineradoras. “Não pode
consciência e a cultura do risco e o quanto ser normalizada a falta de confiança entre
isto é negligenciado no Brasil; o segundo as partes”.

A DISPOSIÇÃO DOS REJEITOS E AS COMUNIDADES


A última sessão do dia teve como tema Christian Andrade, gerente das Unidades
“Que tipo de mudanças na disposição de da Zona da Mata da CBA.
rejeitos as empresas adotaram em função O primeiro a participar foi Júlio Nery,
das comunidades?”, moderado por Vânia do IBRAM, que citou duas coisas das quais
Andrade, química e membro do Conse- a sociedade mais reclama da mineração e
lho de Administração da ABM, e com o que o setor precisa fazer para o futuro.
O primeiro motivo é passar a sensação de
a participação de Luiz Henrique Passos
segurança para a comunidade que foi afe-
Rezende (ANM/MG), Júlio Nery, diretor
tada após os dois rompimentos de Fundão
de Sustentabilidade e Assuntos Regulató-
e Brumadinho, mas a função é trazer essa
rios (IBRAM), Yuri Azevedo, gerente de segurança novamente para a população. O
Meio Ambiente da Mineração Usiminas, e segundo ponto é minimizar os riscos ao
meio ambiente, pois o setor não pode mais
Foto Glenio Campregher

aceitar outro acidente. Outro trabalho é


reduzir as pilhas de rejeitos e citou como
exemplo positivo o case da Nexa, em Pa-
racatu, que usa os rejeitos e estéreis para
corretivos de solo para a agricultura.
“Em relação ao futuro, a maior preocu-
pação que eu vejo está relacionada com a
viabilização das pilhas de rejeitos desagua-
dos, já que a pilha anda mais lentamente
que uma barragem. Temos que fazer formas
de disposição mais seguras e recuperar a
Júlio Nery credibilidade do setor junto à sociedade”.

78 BRASIL MINERAL - nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023


para Barragens de Mineração que aborda
quem deve operar, como fazer e como
avaliar e integrar empresas, sociedade civil
e comunidades. “A essência da mineração
é para quem ela minera”.
Christian Andrade, da CBA, começou
a falar sobre as comunidades na Zona da
Mata há 40 anos, onde produz bauxita há
30 anos. “Transparência e relacionamento
com comunidades é algo natural e nossa
mineração é pontual, superficial, temporá-
ria e progressiva. E já estabelecemos mais
de 400 contratos de servidão minerária.
Luiz Henrique Passos Rezende A nossa operação se mistura à produção
Luiz Rezende, da ANM, abordou os agrícola e vice-versa”.
quatro acidentes a que atendeu desde que Na implantação da unidade de Miraí, a
entrou na agência – Miraí (2007), Her- CBA não tem estéril e trabalha para não ter
culano (2014), Bento Rodrigues (2015), rejeitos. “Em um trabalho de persistência,
Brumadinho (2019). Após todos, adotaram em 2015, em parceria com a Haver, pensa-
o PAEBM – Plano de Ação de Emergência mos na peneira desagregadora da bauxita
e desta forma conseguimos substituir a
tecnologia antiga”. Com as questões das bar-
ragens, a CBA pensou em uma separação
sólido-líquido e chega a uma torta de argila,
de onde surge a argila para produção do
solo para aplicar no processo de reabilitação
ambiental. Desde 2018, a empresa trabalha
com tecnossolo para aplicar nessas áreas,
para, em 2026, iniciar a primeira aplicação
mundial de tecnossolo em processo de fa-
bricação, sem utilização de rejeitos.
Yuri Azevedo, gerente de meio Am-
biente da Mineração Usiminas, trouxe o
exemplo recente de conclusão da descarac-
terização das duas barragens a montante em
fevereiro de 2022 e o descomissionamento
da barragem a jusante e 100% do processo
é de rejeito filtrado. “Explicamos para a
Christian Fonseca de Andrade comunidade como seria a migração do pro-

BRASIL MINERAL - nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023 79


7º MINERAÇÃO &/X COMUNIDADES
cesso, já que a barragem passa a não existir,
mas surge uma grande pilha”.
A nova tecnologia do rejeito filtrado
tem que ser explicada para a comunidade
e as empresas têm que saber como entregar
essa informação. “Temos a sorte de estar
em uma comunidade com perfil minerá-
rio. A nova tecnologia traz um ganho na
recirculação de água e qual seria o ganho
do processo, tudo precisa ser nítido para a
sociedade. Quando não se utiliza rejeitos é
uma grande notícia para todos”.
Todos os painéis da tarde do dia 9 de
novembro podem ser assistidos em nosso
canal no YouTube:

CLIQUE E ASSISTA
Yuri Azevedo

ENGAJAMENTO SOCIAL E AS RESISTÊNCIAS


AOS PROJETOS DE MINERAÇÃO
O terceiro e último dia da 7ª edição Em sua apresentação, Márcio Santilli
do Mineração &/X Comunidades, 10 de comentou que quando começou a atuar via
novembro, teve a palestra “Engajamento a mineração como uma alavanca, uma ponta
Social na mineração”, com Márcio Santilli, de lança para o desenvolvimento industrial
sócio-fundador do Instituto Socioambiental brasileiro, abrindo novas portas para o futu-
(ISA), e o painel “O que fazer para viabilizar ro, mas que, décadas depois, o que se tem,
e vencer as resistências aos projetos de mi- de modo geral, é uma visão um tanto quanto
neração?”, com moderação de Rolf Fuchs, negativa do setor. “Tínhamos uma relação
conselheiro da revista Brasil e Mineral e com o produto e o resultado que a mineração
presidente da Integratio, e participação de tinha na promoção econômica, e atualmente
Frederico Munia Machado (SEPPI), José é mais sobre o fazer do que sobre o produto
Fernando Gomes (SEDEME-PA), Luiz Ves- da atividade mineral, que envolve mudança
sani (SIEEG), Adriano Espeschit, presidente do ambiente onde se desenvolve e a polêmica
da Potássio do Brasil e Edson Del Moro, do como fazer, como se o bem mineral fosse
Country Manager Brasil da Hochschild. banal, e o processo um problema”.

80 BRASIL MINERAL - nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023


biental de cada ente na mineração para o
País. Houve um crescimento do movimento
indígena nos últimos anos para compreen-
der melhor os seus direitos e, inclusive, a
mineração, para entender tudo que envolve
a indústria mineral no País”.
Segundo Santilli, o resultado das eleições
traz algumas novidades importantes, com a
nomeação de indígenas para cargos executi-
vos, além de o próximo Governo prometer a
criação do Ministério dos Povos Originários
(o que se concretizou) . Isto, em sua opinião,
garantirá uma maior representatividade in-
Márcio Santilli
dígena no âmbito do poder executivo, pois
Para ele, situações como os acidentes novos interlocutores estarão na cena para
com barragens acirraram essa visão e as aprofundar o assunto, para chegar a um bom
pessoas questionam se compensa mesmo resultado. “Há um horizonte promissor, e
fazer a mineração, com todas as suas impli- precisa do aprofundamento de diálogo e
cações, embora a atividade continue sendo relações entre as partes”.
estratégica para o desenvolvimento econô- O tema da consulta, na opinião do soció-
mico do Brasil. “Vejo que prevalece a visão, logo, continuará sendo central em relação a
em ONGs ou em organizações indígenas, comunidades indígenas e outros povos que
de que existe um conluio entre o garimpo estejam em áreas de projetos minerários.
predatório, que invade terras indígenas, Ele considera que a questão da consulta
depreda os recursos naturais e provoca uma vem sendo mal tratada nas propostas mais
série de impactos sociais nessas regiões e a recentes de regulação, onde as comunidades
atividade da mineração legal, industrial”. são consultadas, mas não são ouvidas. “Um
Santilli diz que quando acontecem ca- projeto de mineração estará no mesmo lugar
sos de empresários do setor relacionados por décadas e uma convivência e um bom
com a extração ilegal, as pessoas associam relacionamento de longo prazo não deveria
o empresário com a exploração ilegal de começar com a redução do papel de uma
minérios em terras indígenas. A situação das partes porque isso vai se refletir em re-
de invasões em terras indígenas ganhou sultado negativo no futuro”. A consulta não
tamanha proporção nos últimos quatros é um mero protocolo e a comunidade não
anos, que o trauma só cresce e aumenta a deve ser vista como algo que atrapalhe. “É
desinformação na comunidade. “Considero um ato que não deve ser negativo, e sim algo
importante que haja esforço coordenado duradouro e não uma tragédia continuada”.
das empresas e organizações representativas A Constituição prevê que as comunida-
da mineração sobre qual é o papel socioam- des participem do resultado da lavra, mas

BRASIL MINERAL - nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023 81


7º MINERAÇÃO &/X COMUNIDADES
invariavelmente as propostas apresentadas também na sociedade como um todo. Acho
designam as comunidades indígenas a legítimo que indígenas decidam não querer
participar no formato do pagamento de atividade de mineração em seu território,
royalties. “O royalty tem uma relação pre- mesmo sabendo de jazidas importantes.
cária e empobrecedora com a comunidade No caso das Terras Indígenas, duas coisas
provavelmente afetada pelo projeto mine- se justificam – o empreendimento mineral
ral. As comunidades têm que ser partícipes altamente significativo economicamente
e não receber um valor no final do mês, mas para o crescimento do País e a estratégia
precisam ser protagonistas”. de desenvolvimento indígena. O que temos
Atualmente, a conversa muda, depen- hoje de mineração predatória não se justi-
dendo da região e da maior escolaridade fica em lugar nenhum e entendo perfeita-
e compreensão da comunidade. Eles não mente aqueles que não querem a atividade
querem apenas receber os royalties, mas no seu espaço de convivência, por conta de
ter uma relação mais profunda de entendi- contaminação de rios, por mercúrio, por
mento e pertencimento sobre o projeto e os exemplo. Com informação, as comunidades
bens minerais existentes em seus territórios. podem tomar as posições mais adequadas
Indagado sobre se as comunidades indí- para seus territórios”.
genas estão prontas para gerir esse dinheiro, Outro ponto abordado é que de 1988
Santilli respondeu que há grupos indígenas para cá (Constituição), se questiona se ha-
ainda muito isolados e por outro lado ou- veria espaço em um novo cenário político
tras comunidades bem estruturadas para eleito para regulamentação da permissão
conversar sobre projetos minerais. “Há uma mineral em área indígena: “já participei
necessidade crescente de formação de geó- de uns 30 projetos de lei formulados ou
logos e advogados dentre os próprios indí- apresentados no Congresso para debater o
genas. Não vejo motivo pelo qual o indígena assunto. A situação de conflito é um obs-
não possa participar dentro da empresa, já táculo, pois enquanto estivermos voltados
que o projeto estará na comunidade durante aos traumas da mineração predatória,
décadas. Há indígenas com nível superior. contaminação, a regulamentação será mais
Como estará a comunidade daqui a 40, 50 difícil, pois não há disposição para debater
anos? Ela não pode ser receptora de um o assunto com racionalidade. A prioridade
royaltiy, mas pode evoluir para ser prota- é resolver essas questões de minerações
gonista em uma atividade desse nível, que predatórias. Se o Poder Público não tem
cresce junto com o território”. controle e não aplica a lei, a discussão sobre
Outro questionamento abordou o for- regulamentação fica suspeita, sem efetivi-
talecimento dos movimentos sociais e dade, gera uma desconfiança. “No entanto,
como o ISA avalia a participação destes entre as propostas, algumas foram criadas
nos processos. Santilli respondeu que “é pelos próprios indígenas, mas que têm no
um processo em que há muitas visões con- seu bojo um capítulo sobre mineração em
turbadas a serem superadas. Isso acontece TIs. Temos que criar um ambiente sadio,

82 BRASIL MINERAL - nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023


livre de conflitos, em que ocorra o debate da União e o povo tem direito de posse per-
entre os interlocutores”. manente. Se for uma Reserva Extrativista, é
Caso a consulta pública tenha uma ne- outra situação por ser um bem público, e a
gativa, ainda há disponibilidade para o em- comunidade ocupante não tem os mesmos
preendimento? “Se a comunidade não quer direitos de uma comunidade indígena. A
o projeto, é NÃO. Estaríamos construindo situação jurídica é distinta.
um paradigma negativo e a Constituição é Sobre os mecanismos que as minera-
ponderada para construirmos paradigmas doras poderiam adotar para consultar as
positivos. Acho complicado não respeitar
comunidades com maior frequência ao
uma posição contrária à comunidade ou
longo do empreendimento, Santilli disse
que provoque divisões para eternização de
que é importante saber que povos indíge-
conflitos”.
Questionado sobre como pode funcionar nas tentaram produzir os seus protocolos
o direcionamento dos royalties nas comu- – “é preferível encarar os ritos dos povos e
nidades tradicionais, Santilli disse que é preservar as chances de um resultado mais
preciso uma definição jurídica por parte consistente. É complexo o processo de con-
do Estado para que as atividades possam sulta e ir além dela, pois temos um tempo
se desenvolver. No caso de TI não demar- indefinido e a qualidade da relação entre
cada, a demarcação é uma condição para o as partes – conflito ou colaboração junto a
desenvolvimento. A TI é uma propriedade comunidades”.

“O QUE FAZER PARA VIABILIZAR E VENCER


AS RESISTÊNCIAS AOS PROJETOS DE MINERAÇÃO?”
O encerramento do encontro se deu com participação de Frederico Munia Machado,
o painel “O que fazer para viabilizar e vencer Secretário Especial Adjunto da Secretaria
as resistências aos projetos de mineração?”, Especial do Programa de Parcerias de Inves-
com moderação de Rolf Fuchs, conselheiro timentos do Ministério da Economia (SEP-
da revista Brasil e presidente da Integratio, e PI), José Fernando Gomes Jr, Secretário de
Estado de Desenvolvimento Econômico,
Mineração e Energia (SEDEME-PA), Luiz
Antonio Vessani, conselheiro do COMIN/
CNI e diretor da ABPM, Adriano Espeschit,
presidente da Potássio do Brasil, e Edson
Del Moro, Country Manager Brasil da
Hochschild.
“Um tema espinhoso”, disse Rolf Fuchs
Rolf Georg Fuchs abrindo o painel e reforçando que “a rique-

BRASIL MINERAL - nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023 83


7º MINERAÇÃO &/X COMUNIDADES
za, a pujança, a grandeza e a importância e balizado nos princípios do desenvolvi-
do setor mineral é clara a todos e hoje não mento sustentável. “As diretrizes foram
se faz mais nenhuma atividade de mine- transformadas em políticas públicas para
ração sem a aceitação da sociedade”. Ele gestão de pesquisa, lavra, exploração e
ressaltou que vários projetos, como o da aproveitamento de recursos minerários,
Águia Fertilizantes, no Rio Grande do Sul, fomento à verticalização dos minerais me-
acabam de receber a Licença de Instalação tálicos e não-metálicos, fomento ao setor
depois de anos de “batalha”. Rolf disse ain- de gemas e metais preciosos, entre outras
da que o projeto da Belo Sun até hoje não ações”, explicou José Fernando.
se viabilizou e que o projeto da Potássio As contribuições do governo paraense
do Brasil enfrenta muita dificuldade para e do setor mineral para o novo modelo
ser viabilizado – “estes são apenas alguns de desenvolvimento econômico tiveram
exemplos que justificam o tema do debate”. como exemplos a assinatura do protocolo
O primeiro a falar foi José Fernando Go- de intenções para construção da primeira
mes, da SEDEME-PA, que disse acreditar refinaria de ouro da NorthStar (inaugu-
na mineração moderna, que respeita o meio rada em dezembro do ano passado), com
ambiente. E para isto citou uma fala do go- investimento superior a R$ 50 milhões e
vernador Helder Barbalho: “Precisamos de capacidade inicial de 24 toneladas anuais.
um novo modelo de desenvolvimento que Outro projeto de verticalização ocorreu em
promova a conciliação entre a floresta em Marabá, com a instalação de uma aciaria de
pé, a geração de oportunidade de emprego tarugos, de US$ 300 milhões entre Vale e
e renda para o presente e futuro”. Ele disse SINOBRAS, e capacidade para produzir 500
que o Pará faz isso e mencionou a criação mil toneladas/ano de produtos laminados
do Programa Estadual de Mineração até de aço. O projeto irá atender às demandas
2030, construído a partir do diagnóstico das regiões Norte. Nordeste, e Centro-
do setor mineral, das 13 oficinas temáticas -Oeste. “Outra tecnologia nova implantada
para produção de ferro-gusa vai substituir
o combustível fóssil por biomassa em Ma-
rabá. O projeto da TECNORED está com a
terraplanagem pronta, e, em 2023, começa
a construção civil, para operar com os alto-
-fornos em 2024. Além disso, apoiamos a
implantação de uma fábrica de cimento da
CSN no estado, em São João do Pirabas,
que deve gerar 12,5 mil empregos na fase
de instalação e outros 2,5 mil quando a
fábrica entrar em operação. A CSN deve
investir mais de R$ 1 bilhão”, prosseguiu o
José Fernando Gomes representante da SEDEME-PA.

84 BRASIL MINERAL - nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023


Em relação à Governança, José Fernando
comentou que o governador aprovou uma lei
para que o estado possa usar 20% da CFEM da
mineração paraense em inovação e startups.
Mais uma medida adotada pelo Pará foi a
assinatura de acordo de cooperação técnica,
via SEDEME, com a Agência Nacional de
Mineração (ANM) para trocar informações
para a fiscalização no estado, além de diversos
acordos com as prefeituras locais.
“O ESG no setor mineral paraense
contou com a união de esforços de várias
secretarias para entrar nas comunidades.
Em parceria com a iniciativa privada, ins-
talamos várias Usinas da Paz, sendo dez na
área mineral – sete com a Vale, três com a
Luiz Antônio Vessani
Hydro – e uma com a North Energia e pre-
vemos mais 15 a 20 em todas as regiões para um conceito mais útil em um debate social
atender a sociedade. “As usinas oferecem e econômico”. O PIB mineral brasileiro é 4%
diversos serviços e fazem as mineradoras da economia, dos quais mais de 60% vêm
olharem além dos projetos, ao oferecer do minério de ferro. Juntando-se as grandes
capacitação técnica, lazer, cultura, inclu- mineradoras de metais básicos, se chega a
são digital, meio ambiente, esporte, etc., às 80% do PIB mineral (130 empresas em um
comunidades”. universo de sete mil e 200).
Na área ambiental, o secretário destacou “Nós conversamos sobre grandes em-
a iniciativa do Bioparque Vale – Parque presas e grandes projetos e a questão é a
Zoobotânico de Carajás e informou que no qualidade da representação política junto
próximo ano o Pará receberá a Exposibram à sociedade. O que diferencia as grandes
2023 na Amazônia, em Belém. Sobre as e pequenas minerações é que a pequena é
comunidades, o representante do SEDEME um negócio familiar, inserido na sociedade,
diz que as comunidades querem mais um um negócio próximo à família, enquanto a
planejamento conjunto: “a Vale, por muitos grande mineração se perde na inserção social
anos. brigou com os Xicrins, e agora resol- que a pequena mineração tem. A grande
veu o problema e atua bem, tem diálogo mineração não tem uma inserção social e
com os índios”. isso é o que devemos buscar,” disse Vessani.
Luiz Vessani, da ABPM, na sequência Um pequeno projeto dentro de uma co-
disse que “a expectativa é que no futuro se munidade tem importância relativa, já que
tire o X do nome do evento e que mineração negocia com cliente próprio, como é o caso
deve ser entendida como minero-negócio, do produtor de corretivo agrícola. Por outro

BRASIL MINERAL - nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023 85


7º MINERAÇÃO &/X COMUNIDADES
nossas entidades não possui uma Frente
Parlamentar. Acontece que há um conjunto
de parlamentares organizados diante da
nossa incompetência que criou uma Frente
Parlamentar deles, tudo dentro da legali-
dade, mas que tem um estatuto secreto e a
mineração não reconhece. O conjunto de
projetos da Frente Parlamentar criada não
nos representa. Nós não temos bancada
parlamentar”.
A respeito das comunidades, ele disse
que, na melhor das hipóteses, as comuni-
dades não querem a relação do jeito como
é feita hoje. “O mercado dita muito o mo-
Edson Del Moro mento de se buscar coisas e é o motor que
lado, a grande mineração tem conexões faz as coisas acontecerem. A questão social
econômicas com clientes e fornecedores, o não é um problema. Somos incompetentes
que representa um potencial revolucionário e temos que buscar distribuir benefícios,
de transformação e traz desenvolvimento além de maior inserção na sociedade. O
concreto para a comunidade. “Os grandes que existe é um problema de comunicação”.
empreendimentos incomodam e devemos Edson Del Moro, Country Manager Bra-
ter competência ao vendê-los para as co- sil da Hochschild, começou a apresentação
munidades”, prosseguiu ele. dizendo que o município de Mara Rosa já
Vessani comentou ainda que o setor viveu uma grande mineração e tem uma
mineral precisa edificar sua representação grande abertura para grandes projetos mi-
e profissionalizar-se politicamente: “nós nerais. A comunidade viu os benefícios da
precisamos fortalecer a pequena/média mineração com o empreendimento passado
empresa para viabilizar ao máximo o ne- (há 30 anos). “A Hochschild é peruana com
gócio; aumentar o número de investidores foco em ouro e prata, com diversos projetos
em ações; incentivar a entrada de minera- na América do Sul e um em uma reserva
ção na Bolsa e combater o garimpo, uma indígena no Canadá. O projeto em Mara
vergonha para a mineração. Nós não temos Rosa está numa fase bastante evoluída,
capacidade de solucionar os problemas. além do Brasil ser bastante receptivo para
Não podemos ser odiados pelos dois lados a mineração. Nosso empreendimento tem
(garimpeiros e sociedade), além da rees- investimento em torno de R$ 1 bilhão e pro-
truturação na nossa representação política”. dução prevista para começar no primeiro
Sobre a Frente Parlamentar da Mine- trimestre de 2024”. O foco, segundo ele, é
ração e seu funcionamento, Vessani disse na inteligência social através da formação
que “a mineração organizada formada por de mão-de-obra e fornecedores locais, para

86 BRASIL MINERAL - nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023


de comida, um prato sai do Brasil para ali-
mentar a população mundial e a expectativa
é que o Brasil forneça ainda mais alimentos
com a previsão de aumento da população nos
próximos anos. Ele lembrou que há bacias de
potássio em apenas cinco países no mundo
e ressaltou que na Amazônia, a 800m de
profundidade, está localizada a segunda ou a
terceira maior bacia evaporítica do mundo,
sem reconhecimento geológico, mas uma
descoberta da Petrobras. “É uma ocorrência
mineral com impacto mínimo na superfície,
pois teremos uma planta de beneficiamento,
dois shafts para a retirada do minério e 100%
fora de área indígena. Nosso projeto tem
enorme aceitação local, estadual e federal, e
está em três programas do Governo (Pró-Mi-
nerais Estratégicos, Programa de Participação
em Investimentos (PPI) e Plano Nacional de
Adriano Espeschit
Fertilizantes (PNF))”.
que todos possam crescer e trabalhar jun- Segundo Adriano, o projeto da Potássio
tos, deixando um legado para comunidade. é bem aceito, por unanimidade, nas audi-
“Parece simples, mas vender mineração é ências públicas: “estamos emperrados por
difícil, mas o ambiente é favorável em Mara causa de uma consulta baseada na OIT
Rosa”, concluiu Moro. 169, uma convenção da ONU referente a
Moro disse que atualmente a mineração Povos Indígenas e Tribais, um documento
se comunica muito mal e a dicotomia entre assinado por apenas 21 países, dentre eles
planejamento x necessidade mostra isso. o Canadá, que pratica a mineração em
“Precisamos melhorar isso dentro e com o territórios indígenas há muitos anos. No
público de fora em várias áreas distintas”. Brasil, há um ECI – Estudo de Componente
Para fechar, ele disse que a mineração pre- Indígena, que é fundamentado em um ter-
cisa ser cada vez mais transparente no tema, mo de referência da própria FUNAI. Nós
para todos saírem ganhando. temos o ECI, contratamos empresas para
Em seguida falou Adriano Espeschit, pre- dialogar com os indígenas e levantar suas
sidente da Potássio do Brasil, sobre o projeto necessidades. Segundo essas referências,
em Autazes, que a empresa tem no Amazonas. implantamos um Programa de Pesca Sus-
“Pouca gente conhece o projeto da empresa, tentável, cujos benefícios podem ir além da
fundamental para a segurança alimentar pesca, caso essa comunidade queira evoluir
brasileira e mundial. De cada cinco pratos nas oportunidades relacionadas”.

BRASIL MINERAL - nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023 87


7º MINERAÇÃO &/X COMUNIDADES
Mas hoje a Potássio do Brasil tem ação
civil pública que previu a suspensão do li-
cenciamento ambiental do projeto por seis
meses até a deflagração do procedimento de
consulta ao povo Mura. “Temos que consul-
tar uma terra indígena que está a 100km de
distância pelo fato do povo ter decidido des-
sa forma. Já depositamos R$ 1 milhão, mas
a Justiça não libera para os indígenas para
que nós consigamos continuar o protocolo”.
Adriano voltou a reforçar que a Potássio
não atua em áreas indígenas e comprometeu-
-se a comprar e reabilitar uma área dez vezes
maior do que a que vai ocupar no projeto:
“pretendemos criar uma reserva indígena Frederico Munia
que é propriedade do solo, e é do índio, além da atividade mineral para o território. E,
dos 38 programas entre indígenas e não-in- por último, é preciso socializar e maximizar
dígenas, em que valorizamos a mão-de-obra os recursos da atividade mineral, como a
local, onde cerca de 80% será de indígenas CFEM. Os benefícios devem atender aos
e não-indígenas. Adriano comentou que o interesses nacionais, no caso, a sociedade.
IDH é a maior prova de que a mineração Outra diferença é que o projeto de mine-
trabalha em conjunto com a sociedade. Os ração fica muito na mão do privado, que
IDHs dos municípios que recebem projetos fica responsável em buscar todas as coisas”.
minerais são muito melhores. Para Munia, tudo isso ganha relevância
O último participante foi Frederico Mu- quando está relacionado a populações
nia, da (SEPPI), que comentou que grandes tradicionais, pois se tem que lidar com co-
projetos de um modo geral têm problemas munidades específicas e que precisam ser
relacionados à resistência das comunidades. consultadas. A mineração tem avançado
E não é só na mineração. “Vejo três questões cada vez mais para áreas complexas e a
de projetos de mineração que os diferen- tendência é aumentar os conflitos e dificul-
ciam de outros projetos de infraestrutura. dades para obtenção do licenciamento am-
A primeira delas é a reputação da minera- biental. Sobre a PPI, “os projetos considera-
ção, principalmente devido aos acidentes dos estratégicos têm prioridade de análise,
de barragens e aos garimpos ilegais, cuja ganham apoio de equipe especializada para
situação tem sido ignorada por diversos estruturação e auxiliam o projeto a avançar
governos e esse problema precisa ser en- em termos de licenciamentos ambientais”.
dereçado. Além disso, existe a má compre- Ao abordar a parceria do PPI com a Po-
ensão da atividade, já que a população de tássio do Brasil, Munia disse que foi criado
um modo geral não percebe os benefícios um programa no âmbito de pró-minerais

88 BRASIL MINERAL - nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023


estratégicos a exemplo de Autazes (Potássio clara: “se a consulta é prévia demais, não há
do Brasil), Vale no Pará, e projeto Três Esta- muitas informações sobre os impactos. Não
das, no Rio Grande do Sul. “Não basta só boa podemos deixar como está. Há uma inse-
vontade do Governo Federal, outros órgãos gurança jurídica generalizada. Precisamos
muitas vezes travam os avanços dos projetos”. trazer para estes eventos pessoas de fora do
De acordo com Munia, a questão das setor, como Ministério Público, indigenis-
comunidades implica em dois pontos: tas, ambientalistas, para que possam conhe-
Terra Indígena e Convenção 169. Quanto cer e a partir daí fazer juízo de valor do que
à primeira, houve encaminhamento de tratamos”. E encerrou o debate afirmando
proposta ao Congresso e chegou-se a um que “a mineração pode ser um indutor de
consenso, mas não permitiram debater proteção dos indígenas e do meio ambiente”.
As discussões do último dia do 7º Mine-
o projeto e com isso tira-se o direito dos
ração &/X Comunidades podem ser revistas
indígenas de decidirem como querem se
em nosso canal no Youtube: ☐
desenvolver. “Também tentamos avançar
na demarcação de Terras Indígenas, mas
não houve diálogo”. Já na Convenção 169
CLIQUE E ASSISTA
existe a dificuldade da regulamentação. A
consulta deve ser prévia, mas ainda não é

BRASIL MINERAL - nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023 89


#11

SOBRE A CADEIA PRODUTIVA


DE ROCHAS ORNAMENTAIS
Geólogo Cid Chiodi Filho, consultor técnico da ABIROCHAS

O
s materiais rochosos naturais A cadeia produtiva das rochas de
utilizados para ornamentação e processamento especial, que constitui
revestimento podem ser agru- o foco do texto a seguir apresentado,
pados, pelo tipo de beneficiamento, é basicamente integrada pelas etapas
como rochas de processamento simples de lavra (extração de blocos), beneficia-
e rochas de processamento especial. mento primário (serragem e polimento
Pela composição mineralógica, pode-se de chapas) e marmoraria (acabamentos
enquadrá-los como rochas carbonáticas, e elaboração das peças finais).
rochas silicáticas e rochas silicosas, com
dois subgrupamentos das silicáticas (ro- A partir do Projeto Academia das Ro-
chas ultramáficas e rochas ardosianas). chas, a ABIROCHAS elaborou e divulgou
Cada variedade comercial das rochas diversos documentos técnicos sobre a
de processamento especial tem nome cadeia produtiva das rochas ornamen-
próprio e os seus preços não são de- tais, incluídos nas séries Marmoraria e
finidos pelo mercado, mas sim pelos Arquitetura. Tais documentos e o Estudo
produtores. da Competitividade Brasileira do Setor de
Rochas Ornamentais, que constitui outra minerais, tratando-se de manufaturas
referência técnica e econômica importan- entregues já prontas pela natureza. Suas
te, também devida à ABIROCHAS, podem frentes de lavra não são descontinuadas
ser visualizados no site abirochas.com.br. pela exaustão das reservas, mas pelo
Lavra esgotamento de mercado do material
ou materiais lavrados.
Tanto como blocos, chapas ou peças
acabadas, os produtos comerciais das ro- Em média, as chapas com acabamento
chas ornamentais não são commodities de faces podem agregar quatro a cin-
#11

talha-blocos. Os teares podem ser multi-


fios diamantados, multilâminas de aço e
multilâminas diamantadas, para produção
de grandes chapas. Os talha-blocos são
normalmente multidiscos diamantados,
prestando-se à elaboração de tiras.
Os teares produzem em média 32 m2
de chapas, com 2 cm de espessura, por
metro cúbico de rocha. Para chapas mais
delgadas, e utilizando-se os teares multi-
fio com fios de menor diâmetro, pode-se
Foto por Eleno de Paula Rodrigues produzir até 55 m2/m3. É desta forma que
se consegue visualizar por que frentes de
co vezes o valor de comercialização do lavra não são paralisadas pelo esgotamen-
bloco que lhe deu origem. Os produtos to das reservas: é muito elevada a taxa
acabados podem agregar até dez vezes de aproveitamento das matérias-primas,
o valor do seu bloco de origem. Cada vez frente a sua disponibilidade, diversidade e
mais a agregação de valor desloca-se para perfil de demanda ditado pelas tendências
jusante da cadeia produtiva, devendo-se, do mercado consumidor.
portanto, nortear políticas públicas de
Com quase 400 teares multifios ins-
industrialização da matéria-prima.
talados nos últimos 10-12 anos, o Brasil
As atividades de lavra são atualmente possui o maior e mais moderno parque
realizadas em maciços rochosos e a céu mundial de serragem, tendo-se tornado
aberto, através de bancadas baixas, banca- referência internacional na produção de
das altas ou fatias verticais. Os cortes pri- grandes chapas de rochas abrasivas e
mários das frentes de lavra são efetuados estruturalmente complexas. Viabilizou-
sobretudo com fios diamantados, execu- -se o aproveitamento econômico de
tando-se com marteletes pneumáticos os quartzitos maciços e pegmatitos, que se
cortes secundários e o esquadrejamento incluem no conjunto de rochas de maior
final dos blocos. Esses blocos geralmente valor agregado entre as atualmente ex-
constituem prismas retangulares, com portadas pelo Brasil. A capacidade bra-
volumes que podem variar de 5 a 12 m3. sileira instalada de serragem de chapas
Em 2021, a produção brasileira foi esti- soma atualmente 90 a 100 Mm2/ano, 2/3
mada em 10,2 Mt envolvendo rochas de dos quais voltados para atendimento do
processamento simples e especial. mercado interno.

Beneficiamento Primário Se antes o Brasil era conhecido como


o país dos granitos, ele é atualmente
A partir das frentes de lavra, os blocos também dos quartzitos. Não só isto,
são transportados até instalações indus- pela primeira vez criou-se condições
triais de beneficiamento primário, onde é de mercado para produção nacional de
realizada sua serragem em teares ou em equipamentos de serragem realmente
competitivos, representados justamente
pelos teares multifios, aliviando o volu-
me de suas importações.
Marmoraria
A atividade de marmoraria represen-
ta a última etapa da cadeia produtiva integral da produção e estruturação CAD/
do setor de rochas, sendo responsável CAM, têm tido uma absorção significativa
pela elaboração das peças exigidas nos entre as empresas líderes do setor.
projetos de construção ou reforma de
A partir dos anos 2000, avanços
edificações. As marmorarias, envolvidas
tecnológicos proporcionaram saltos
com a elaboração dos produtos acaba-
qualitativos e quantitativos em todos
dos, representam a principal interface
os elos da cadeia produtiva do setor de
com os consumidores.
rochas ornamentais no Brasil. A lavra de
Suas operações estão centradas no matacões e o uso de explosivos foram
recorte, colagem e acabamento de su- praticamente descontinuados, com o
perfícies e bordas das peças elaboradas. uso de técnicas de corte a frio baseadas
Máquinas automáticas são cada vez mais em fios diamantados. O beneficiamento
exigidas para produção cut-to-size e aten- primário foi revolucionado pelo uso dos
dimento de grandes projetos arquitetôni- modernos teares multifios diamantados,
cos. As mudanças técnicas e normativas para serragem de chapas; da mesma for-
da indústria da construção demandam ma, o polimento dessas chapas foi quase
uma migração de perfil artesanal para um totalmente automatizado. Na elaboração
perfil industrial dessa atividade. dos produtos acabados está sendo cada
Uma crescente intensidade em de- vez mais intensiva a utilização de máqui-
sign é exigida nos produtos acabados, nas CNC, incluindo os tornos multifun-
atendendo principalmente à demanda cionais automáticos.
por aspectos estéticos, ergonômicos, de Nesse sentido a ABIROCHAS vem
aplicabilidade e durabilidade. De maneira realizando ações e apoiando o setor de
geral, os materiais artificiais de revesti- rochas, procurando incorporar ativos
mento procuram imitar o padrão estético ambientais e culturais como ferramentas
dos naturais, até adotando termos geo- de competitividade de sua cadeia produ-
lógicos para sua designação comercial. tiva, justamente em base de negócios
O arranjo “um homem, uma máquina”, sustentáveis segundo padrões interna-
tradicional na lógica histórica da mar- cionais de conduta. Além disso, procura-
moraria, é rompido pela maior presença -se aprofundar a análise das demandas
da automação e reduz os requisitos de tecnológicas capazes de fomentar a
especialização e de destreza manual de interação dos diferentes segmentos da
algumas operações. As técnicas de orga- cadeia produtiva com a matriz de conhe-
nização da produção, como just-in-time, cimento (P&D, educação profissional),
controle total da qualidade, rastreamento incluindo as instituições acadêmicas. 
RECURSOS HUMANOS

A ACELERADA TRANSFORMAÇÃO
DA MINERAÇÃO
Como a pandemia acelerou as mudanças da força de trabalho da mineração
Flávio Alves (*) e Lilian Satkunas (**)

A
pandemia criou enormes desafios. No têm uma vantagem. Um estudo recente,
entanto, ficou claro que também abriu realizado pelo Fórum Econômico Mun-
novas oportunidades e antecipou o dial (WEF), sobre o futuro dos empregos,
cronograma dos esforços de transformação descobriu que cerca de 95% das empresas
existentes. de mineração pesquisadas estão adotando
Os diretores de Recursos Humanos estratégias que criam mais oportunidades
(CHROs) devem repensar sua estratégia de trabalho remoto1 . Há evidências de que
para a era pós-pandemia e explorar novas 85% dos trabalhadores de mineração este-
maneiras de reorganizar e redesenhar sua jam prontos para aceitar essas mudanças
força de trabalho, com a experiência dos em seu ambiente2. Por outro lado, apenas
funcionários e novas ferramentas digitais cerca de 80% das empresas em setores si-
no centro dessa transformação. A boa notí- milares estão planejando tais mudanças.
cia é que os CHROs do setor de mineração Especialmente no Brasil, a implementação

94 BRASIL MINERAL - nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023


de minas autônomas e de Centros de Mo- ções. Os CHROs têm a rara oportunidade
nitoramento de Operações Remotas ainda de aproveitar esse progresso por meio de
não é uma realidade em todas as minerado- políticas direcionadas que explorem todo
ras. Muitas empresas têm essas iniciativas o potencial do trabalho remoto e da digita-
em seus roadmaps de transformação, porém lização. Por exemplo, eles podem expandir
serão concretizadas apenas em longo prazo. seus esforços ao deixar de apenas adquirir e
Nesses casos, o RH tem vantagem para, reter uma força de trabalho com competên-
a partir de agora, começar a planejar essa cias digitais e passar a habilitar e capacitar
nova força de trabalho, desde a definição uma força de trabalho em grande parte re-
dos novos perfis até o reskilling dos seus mota. A transformação digital e a mudança
profissionais e das comunidades em que cultural profundas ajudarão a atrair novos
atuam, para ocuparem essas novas fun- talentos vitais para o futuro da mineração,

BRASIL MINERAL - nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023 95


RECURSOS HUMANOS
Por exemplo, um CHRO disse que sua
empresa precisava manter cerca de 60%
da força de trabalho de suas operações
trabalhando localmente para manter a con-
tinuidade dos negócios, mesmo durante o
lockdown. Isso foi possível recorrendo-se
a ciclos de turnos mais longos, em vez da
tradicional escala fly-in/fly-out. No entanto,
com o aumento da digitalização e da auto-
mação das tarefas operacionais no local, a
parcela da força que trabalha remotamente
deve aumentar.
Após cerca de 6 meses de lockdown rí-
gido, os CHROs entrevistados sugeriram
que havia um plano de retorno gradual
ao trabalho implementado. Por exemplo,
alguns CHROs entrevistados sugeriram
ajudando a isolar o setor da escassez cíclica que a força de trabalho para operações no
de competências. local aumentou entre 70% e 80%, enquanto
As mineradoras já planejavam uma a força de trabalho no escritório operava
realocação gradual dos trabalhadores dos com cerca de 30% a 40% da capacidade pré-
locais remotos para os escritórios, e dos -pandemia. O que ficou claro é que todos
escritórios para as residências, em um es- os CHROs esperam não ter os mesmos nú-
forço para criar um local de trabalho mais meros da força de trabalho pré-pandemia
seguro e inclusivo. A COVID-19 foi um trabalhando no escritório ou localmente no
catalisador para uma recalibração urgente futuro próximo.
dessas estratégias (figura 1). Com o distanciamento social devendo
A Accenture entrevistou recentemente ser a norma por algum tempo, os CHROs
CHROs de grandes empresas de mineração estão analisando funções e identificando
em todo o mundo para entender a resposta quais delas não precisarão atuar localmen-
às interrupções causadas pela COVID-19. te. Questões sobre quem precisa estar fisi-
A pesquisa revelou que essas empresas tive- camente presente e quais funções podem
ram que fazer com que sua força de trabalho dar suporte ao negócio virtualmente são
no escritório, que operava remotamente e a principal preocupação dos executivos,
correspondia a 10% do total antes da pan- assim como a identificação de quaisquer
demia, passasse para cerca de 90% no início atividades periféricas que possam ser des-
da pandemia. A mudança para o trabalho continuadas.
remoto foi menos dramática para a força Por exemplo, muitos CHROs entrevista-
de trabalho atuando no local. dos disseram que funções operacionais fora

96 BRASIL MINERAL - nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023


do local – como RH e planejamento e finan- À medida que as minas se tornam cada
ças – foram imediatamente transformadas vez mais digitalizadas, permitindo maior
em trabalho remoto quando a pandemia controle remoto das máquinas, uma estru-
começou. Basicamente, os CHROs agora tura de trabalho escalonado surgirá. Menos
estão reconhecendo que “onde” o trabalho pessoas trabalharão localmente e as sedes
é feito se tornou tão importante quanto “a provavelmente serão menores do que as
forma” como ele é feito. existentes na pré-pandemia, uma vez que
Antes da pandemia, poucos funcionários mais pessoas trabalharão em casa. Mui-
adotavam a política de trabalho flexível do tos CHROs que entrevistamos sugeriram
empregador, e poucos líderes a promoviam que os escritórios do futuro serão usados
ativamente. A figura 2 mostra a discre- principalmente para tarefas que requerem
pância na percepção entre o que líderes e colaboração para fins de inovação contínua.
funcionários tradicionalmente pensavam Tradicionalmente, a maioria das funções
sobre a adoção da política de trabalho fle- do setor de mineração exercidas localmente
xível da sua organização. Enquanto cerca são de natureza mecânica: operadores de
de dois terços das empresas de mineração, máquinas, trabalhadores de manutenção
metalurgia e energia participantes da pes- e engenheiros que lidam com máquinas e
quisa sugeriram que o trabalho flexível é veículos pesados.
fundamental para que seus funcionários Essas funções envolvem tarefas que são
prosperem no local de trabalho, menos altamente especializadas e repetitivas, o
de um terço dos funcionários pesquisados que as torna candidatas a uma consequente
pensava o mesmo. automação. O relatório sobre empregos do
No entanto, como a pandemia forçou WEF descobriu que 67% das tarefas repeti-
muitos trabalhadores dos escritórios do tivas e manuais – como processamento de
setor de mineração a trabalhar em casa, dados e de informações –, e cerca de 60%
o trabalho flexível encontrou uma nova das tarefas que envolvem trabalho físico
defesa. Muitos líderes que trabalham com serão automatizadas3. Por outro lado, o
equipes remotas perceberam rapidamente relatório diz que as duas principais fun-
que não havia perda de produtividade na ções emergentes que serão fundamentais
comparação com o trabalho no escritório. para o futuro do setor de mineração são as
Na verdade, em alguns casos, eles viram um de especialistas em inteligência artificial e
aumento da produtividade. aprendizado de máquina (IA/ML) e espe-
Embora muitos CHROs acreditem que o cialistas em automação de processos.
trabalho remoto e flexível será a norma para É importante ressaltar que, no Brasil, a
o local de trabalho no futuro, eles também maior parte da força de trabalho da mine-
reconhecem a necessidade de uma política ração ocupa funções com alta porcentagem
de retorno ao trabalho que sirva como um de trabalho manual. Em uma pesquisa feita
modelo para a divisão correta entre traba- pela Accenture, 42% do tempo do trabalha-
lho remoto e trabalho no escritório. dor de mineração poderá ser automatizado

BRASIL MINERAL - nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023 97


RECURSOS HUMANOS
várias peças de maquinário autônomo; e os
engenheiros de mineração precisarão usar
tecnologia para planejar e projetar locais
de perfuração.
Competências digitais e analíticas já
eram muito buscadas antes da pandemia4.
Com uma dependência cada vez maior do
trabalho remoto e virtual, os CHROs agora
estão enfatizando a necessidade de compe-
tências socioemocionais mais flexíveis.
O relatório sobre empregos do WEF
confirma isso, listando a liderança e a in-
fluência social como os principais atributos
nos quais os programas de requalificação ou
aumento da qualificação das empresas de
mineração estão focados. Isso é importante
porque a pandemia levou a um aumento
dos problemas de saúde mental à medida
que os funcionários tiveram que responder
ao isolamento e às pressões do trabalho re-
moto, exigindo que os líderes demonstrem
maior empatia. Assim que os gestores pas-
sarem da gestão de trabalhadores manuais
e 49% poderá ser alavancado por tecnolo-
para a análise de dados e gestão de equipes
gia. Apenas 10% desse tempo não será im-
remotas, eles também precisarão de com-
pactado. Ou seja, a necessidade de planejar
petências de comunicação superiores e de
e implementar programas de reskilling com
experiência na gestão de mudança e de
foco em habilidades analíticas é extrema-
projetos.
mente relevante. No início do lockdown, os CHROs rela-
Portanto, quando se trata de mix de com- taram níveis de produtividade semelhantes,
petências, as empresas de mineração estão se não maiores, entre os trabalhadores que
se preparando para uma mudança onde as operavam remotamente ou com capacidade
funções mecânicas serão, principalmente, menor no local. No entanto, eles também
funções de planejamento e análise. Por observaram que, ao longo do tempo, a novi-
exemplo, um mecânico precisará trabalhar dade do trabalho remoto estava começando
com a tecnologia de IA/ML para prever a a se desgastar, levando a uma sensação de
falha do maquinário e realizar reparos pre- fadiga. Os funcionários trabalhavam mais
ventivos; um operador de veículo de mine- horas, dormiam menos e se sentiam exaus-
ração precisará supervisionar remotamente tos, levando os CHROs entrevistados a con-

98 BRASIL MINERAL - nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023


cluir que o "trabalho remoto permanente" dindo seu tempo entre trabalhar em casa
não poderia ser uma solução sustentável. e no escritório, novas regras de interação
Outro CHRO que realizou uma pesquisa e participação podem agravar ainda mais
com os funcionários sobre trabalho remoto os problemas de saúde mental. As empre-
no início do lockdown descobriu que 70% sas devem continuar a fornecer suporte
dos empregados não queriam voltar para o contínuo para o bem-estar físico e mental
escritório. Quando a pesquisa foi repetida dos funcionários.
alguns meses depois, apenas 50% não queria Antes da pandemia, os CHROs buscavam
voltar. Os CHROs entrevistados relataram talentos técnicos que tinham experiência em
que o trabalho remoto exacerba sentimen- ambientes industriais de alto capital, e isso
tos de solidão e isolamento e, quando isso não mudou. Atualmente, metas ambientais,
é combinado com a fadiga causada pelas sociais e de governança (ESG) estão obrigan-
características desse tipo de trabalho, podem do os CHROs a também olhar para novos
ocorrer problemas de saúde mental. tipos de talentos, como cientistas climáticos
O custo de não abordar os problemas e talentos que podem ajudar a construir es-
de saúde mental deve ser de aproxima- tratégias para ajudar a mineração a prosperar
damente US$ 16 trilhões até 2030, e em um mundo VUCA – um mundo volátil,
essa foi uma estimativa pré-pandemia5. incerto, complexo e/ou ambíguo6 . Há uma
Os gestores que lidam com uma equipe oportunidade para atrair uma nova leva de
remota devem estar mais atentos e se es- funcionários de setores adjacentes que estão
forçarem mais para verificar as condições acostumados a trabalhar em um mundo ágil,
de cada membro individual. Mas há um rápido e focado em tecnologia. As culturas
ponto positivo nisso. Por exemplo, quase de trabalho precisam evoluir para atrair esses
o dobro dos trabalhadores (85%) que têm novos talentos.
gestores que defendem o seu bem-estar e Com isso em mente, as mineradoras de-
a igualdade empregam significativamente vem criar um ambiente que não seja apenas
mais esforços em seu trabalho, em compa- flexível, mas aberto, focado em sustentabi-
ração àqueles que não têm (47%)6. Ainda lidade, centrado na comunidade e transpa-
assim a pesquisa da Accenture (figura rente. As empresas devem demonstrar que
3) sugere que os líderes de empresas do uma nova cultura de trabalho não é apenas
setor de mineração, metais e energia têm para a era pandêmica; ela está aqui para ficar.
ficado aquém em ajudar os trabalhadores Todos os CHROs entrevistados concor-
a se sentirem seguros quando expõem daram que a pandemia ajudou a avançar
preocupações sobre problemas de saúde na tão necessária diversificação da força de
mental. As empresas precisam mudar essa trabalho. A pesquisa da Accenture sugere
percepção rapidamente. À medida que que os funcionários que trabalham para
nos encaminhamos para um mundo pós- líderes que criam métricas dedicadas de
-COVID-19 e os funcionários retornarem I&D têm experiências mais positivas do
a um modelo de trabalho “híbrido”, divi- que os funcionários que trabalham para

BRASIL MINERAL - nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023 99


RECURSOS HUMANOS
As mulheres foram desproporcional-
mente impactadas pela perda de empregos
em 2020 e há muito trabalho a ser feito para
reequilibrar o dano que a pandemia parece
ter causado à luta pela igualdade8. Cabe aos
CHROs se esforçarem e garantirem que a
diversificação esteja incorporada à nova
cultura de trabalho.
As empresas precisam de várias rotas
para requalificar a força de trabalho com
os atributos vitais identificados pelos
CHROs, incluindo alfabetização digital,
empatia e inovação.
Dados de outro estudo da Accenture, de-
talhados na figura 4, mostram que cerca de
dois terços das mineradoras pesquisadas se
concentram em treinamentos reativos, foca-
dos em indivíduos e contínuos que dão aos
funcionários acesso a cursos online (como os
Massive Open Online Courses ou MOOCs),
em vez de empregar um programa de trei-
namento digital mais proativo, estratégico e
em larga escala. As empresas devem fornecer
ambos os tipos de treinamento e encontrar o
equilíbrio ideal entre a aprendizagem proativa
e a reativa, criando o maior número possível
líderes que não as definem7. Eles esperam de oportunidades para aumentar a qualifi-
que políticas de trabalho remoto flexíveis cação. Os esquemas de mentoria e mentoria
atraiam mais funcionárias, um grupo his- reversa também devem ser um componente
toricamente subrepresentado no setor. vital dos esforços de requalificação.
Pessoas com famílias, saúde precária ou As empresas de mineração podem
outras responsabilidades e restrições tam- aprimorar o conhecimento digital dos tra-
bém terão um incentivo maior para aderir balhadores antigos fazendo-os trabalhar
à força de trabalho recém-flexibilizada do junto com os mais novos, e os mais novos,
setor da mineração. No entanto, o relatório da mesma forma, podem aprender com
sobre empregos do WEF 2020 aponta que, os mais antigos. Esses esquemas podem
na ausência de esforços proativos, a desi- ajudar a mitigar o possível impacto nega-
gualdade provavelmente será exacerbada tivo da aprendizagem virtual e do trabalho
pelo impacto da pandemia. remoto na saúde mental, conectando os

100 BRASIL MINERAL - nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023


funcionários de maneira construtiva. essa evolução muito mais rapidamente, com
As mineradoras precisam de um novo as transformações estratégicas da força de
construto organizacional que funcione trabalho dominando a agenda atual. É claro
com um sistema de crenças completamente que, embora os desafios apresentados pela
diferente. A pandemia nos lembrou que os pandemia tenham sido amplos, eles tam-
empregadores e os CHROs tendem a ver bém têm agido como um catalisador para
apenas uma dimensão do eu “completo” de as mudanças tão necessárias. A COVID-19
um funcionário no trabalho. Os CHROs pre- reforçou a necessidade de uma transformação
cisam olhar para todas as dimensões de cada digital completa na mineração e de maiores
trabalhador (pessoal, profissional, indivíduo oportunidades para diversificar a força de
e papel do indivíduo) como parte do todo). trabalho, visando preparar melhor o setor
Reconhecer essa realidade e adaptar-se a ela para a escassez cíclica de competências. Com
pode ajudar as organizações a operarem com o impulso atual para encontrar novas abor-
maior compreensão e empatia, transforman- dagens e claras oportunidades no horizonte,
do, em última instância, o local de trabalho agora é a hora da mudança. ☐
e a força de trabalho no processo.
*Flávio Alves Líder para Mineração, Metais e Side-
A pesquisa da Accenture descobriu que rurgia no Brasil flavio.alves@accenture.com
as empresas que utilizam todo o potencial **Lilian Satkunas Líder de Talent & Organization
de sua força de trabalho têm um desem- para Natural Resources Brasil lilian.satkunas@
penho melhor do que aquelas que não o accenture.com
fazem. As empresas prosperam quando
Referências
abordam toda a gama de necessidades fun-
1 https://www.weforum.org/reports/the-future-
damentais da força de trabalho, deixando-
-of-jobs-report-2020/in- full/country-and-indus-
-a em melhor condição. try-profiles
Especificamente, é imperativo garantir 2 https://www.accenture.com/us-en/insights/
o bem-estar financeiro, emocional, mental future-workforce/ employee-potential-talent-
e físico da força de trabalho, bem como -management-strategy
3 https://www3.weforum.org/docs/WEF-Future-
melhorar seu senso de pertencimento e -of-Jobs-2020.pdf
de inclusão e sua busca para encontrar 4 https://www.weforum.org/reports/the-future-
propósito em seu trabalho. Finalmente, -of-jobs-report-2020/in- full/country-and-indus-
as empresas precisarão ajudar sua força try-profiles
5 https://www.reuters.com/article/us-health-
de trabalho a melhorar a empregabilida-
-mental-global/mental- health-crisis-could-cost-
de oferecendo novas oportunidades para -the-world-16-trillion-by-2030- idUSKCN1MJ2QN
aumentar as competências. 6 https://www.mecmining.com.au/vuca-plan-
ning-what-does-a-resilient- mine-plan-look-like/
Conclusão 7 https://www.accenture.com/us-en/blogs/ac-
centure-research/how-to- reverse-the-startling-
A natureza do trabalho de mineração -impact-of-covid-19-on-women
vem evoluindo há muitos anos. A pandemia 8 https://www.accenture.com/us-en/insights/
simplesmente forçou os CHROs a avançar future-systems/future- ready-enterprise-systems

BRASIL MINERAL - nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023 101


MEIO AMBIENTE

CRIAÇÃO DE SOLOS SAUDÁVEIS A


PARTIR DE REJEITOS E ESTÉREIS:
UM POSSÍVEL LEGADO DA MINERAÇÃO
Aline Nunes1, Fabio Perlatti2, Giani Aragão3, Rodrigo S. Corrêa4, Vania L. Andrade5

Introdução retorne para a sociedade de forma estável

Q
e apta a gerar valores ecossistêmicos e so-
uando a sociedade, através de seus
cioeconômicos.
órgãos reguladores, outorga um título
Como a mineração é uma atividade de
para extração de um bem mineral,
duração finita, sua aceitação social fica
cede temporariamente ao empreendedor a dependente da percepção da relação custo
área requerida para permitir a sua atividade. versus benefícios econômicos, ambientais
No entanto, existe a expectativa e previsão e sociais, principalmente no longo prazo,
em lei que, após o seu término, esta área ou seja, após o fechamento da mina. Este

102 BRASIL MINERAL - nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023


destas estruturas, normalmente de volumes
CERCA DE 90% DOS REJEITOS expressivos, contendo milhões de toneladas.
GERADOS SÃO ESTOCADOS EM No Brasil são gerados mais de 500 milhões
de toneladas de rejeitos de mineração a cada
BARRAGENS, SENDO QUE AQUELAS ano, segundo levantamento do IPT (Moraes,
QUE FORAM CONSTRUÍDAS
S. 2017). Segundo o Sistema Integrado de
Gestão de Barragens de Mineração – SIGBM
A MONTANTE ESTÃO SENDO Público, da Agência Nacional de Mineração
– ANM (dados consultados em 05 de agosto
DESCARACTERIZADAS E, de 2022), no Brasil já estão estocados mais
EM ALGUNS DESTES CASOS, de 4,2 bilhões de metros cúbicos de rejeitos
em barragens de mineração.
OS REJEITOS SÃO REMOVIDOS Cerca de 90% dos rejeitos gerados são
estocados em barragens, sendo que aquelas
E DESTINADOS À FORMAÇÃO que foram construídas a montante estão
DE PILHAS sendo descaracterizadas e, em alguns destes
casos, os rejeitos são removidos e destina-
é um dos pontos mais críticos da Licença dos à formação de pilhas. Uma quantidade
Social para Operar (LSO), que tem sido significativa do rejeito atualmente gerado
apontada por empresas de análise de ris- pelos processos produtivos é também
co, como a Ernest Young, há mais de uma filtrada e disposta em pilhas, processo de
década, como um dos 10 maiores riscos da disposição que tende a aumentar no futuro.
mineração no mundo inteiro. Este é um A estabilidade geotécnica destas estruturas
movimento em nível mundial e verdadeiro, ainda é objeto de muitos estudos, uma vez
particularmente no Brasil, após os rompi- que é solução mais recente. As mudanças
mentos das barragens de Fundão em 2015 climáticas, nas quais há a expectativa de
e Brumadinho em 2019. aumento na ocorrência de eventos climá-
Os rejeitos dispostos em pilhas ou bar- ticos extremos, são uma das variáveis que
ragens, assim como as pilhas de estéreis, mais preocupam os pesquisadores da geo-
são sabidamente algumas das principais tecnia de pilhas, que também focam suas
estruturas deixadas nos territórios após a investigações em soluções que aumentem
atividade mineral. Recentemente têm sido a estabilidade destas estruturas.
feitos grandes esforços de se utilizar estes Este trabalho tem o objetivo de apresen-
materiais em outras atividades econômicas, tar algumas possíveis soluções mais sus-
como na construção civil, agricultura, entre tentáveis no longo prazo para as questões
outras aplicações, dentro do conceito de eco- mencionadas. A transformação de territó-
nomia circular. São esforços de grande im- rios minerados em solos saudáveis abre al-
portância, porém de resultado relativamente gumas opções de uso futuro, seja facilitando
modesto na solução do impacto territorial a recuperação de sua biodiversidade, seja a

BRASIL MINERAL - nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023 103


MEIO AMBIENTE
de permitir outros usos econômicos como das barragens e pilhas dobra e a área de
produção agrícola/florestal, além do poten- estéril expande cinco vezes. Se permanecer
cial aumento da estabilidade geotécnica e esta tendência, em uma projeção até 2050,
diminuição do uso de barragens. as estruturas geotécnicas de disposição/
Inicialmente serão apresentados a relevân- contenção de rejeitos/estéreis terão dimen-
cia e os benefícios da definição do uso futuro sões gigantescas. Como consequência, o
destes territórios já na etapa do projeto do em- potencial de risco cresce significativamente,
preendimento, no conceito chamado Design assim como o desafio para garantir a esta-
for Closure. Posteriormente, como potenciais bilidade dessas estruturas.
soluções, são apresentados os conceitos e ca- Outro fator agravante é a proximidade
sos de sucesso da aplicação das tecnologias entre as comunidades e os empreendi-
Tecnossolos e Biossólidos, para transforma- mentos, com suas estruturas geotécnicas,
ção dos estéreis e rejeitos em solos saudáveis. causando inquietação da sociedade com
O uso destas tecnologias ainda é recente no a mineração. Os recentes rompimentos
Brasil e algumas aplicações bem-sucedidas envolvendo barragens e pilhas agravaram
no exterior podem servir de ponto de parti- esta percepção, o que resultou em legislação
da. Sabe-se que os desafios não são poucos, mais restritiva e maior intolerância com os
mas a relevância do tema justifica todos os problemas geotécnicos. Parafraseando Ro-
esforços para o domínio destas soluções pelos bertson, “esta pode ser a última década em
profissionais das empresas de mineração, em que a sociedade irá tolerar esta situação, se
especial as de grandes volumes, como as mi- não conseguirmos demonstrar que é pos-
neradoras de ferro, fosfatos, cobre e algumas sível garantir a segurança das estruturas”.
operações de ouro. Dessa forma, torna-se fundamental a
busca por soluções que venham ao encontro
Benefícios da incorporação da do aumento da estabilidade das estruturas
solução de uso futuro desde a etapa geotécnicas. Para isto é necessário unir for-
de projeto das barragens e pilhas ças para que possamos alcançar o sucesso
O setor mineral enfrenta desafios cons- no menor tempo possível.
tantes, como por exemplo, a redução dos Uma das formas é o estabelecimento do uso
teores, o aumento na produção, a redução futuro, que deve ser planejado desde a fase de
de custos, entre muitos outros fatores, o projeto conceitual das barragens e pilhas. Nes-
que reflete na maior geração de resíduos ta oportunidade é possível avaliar um maior
(rejeitos/estéreis), projeção de estruturas numero de alternativas e buscar os menores
geotécnicas com dimensões que há alguns custos associados, visto que estes podem ser
anos atrás eram inimagináveis e, em caso diluídos ao longo da etapa de implantação e
de falhas, com consequências catastróficas. operação, propiciando uma condição susten-
Segundo Robertson (2019), a partir de tável e integrada ao ambiente do entorno.
dados históricos, a cada 30 anos a quanti- Para que se possa alcançar o uso futuro
dade de rejeito aumenta dez vezes, a altura almejado, as condicionantes física, química

104 BRASIL MINERAL - nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023


Figura 1- Exemplo da sequência do processo de estabilização física de estrutura geotécnica de uma mina de cobre. Fonte: Pineau, 2009.

e biológica devem ser consideradas. mento parcial do fundo da cava com resíduos
Em relação à estabilidade física, esta deve provenientes do processo de descomissiona-
englobar, de modo geral, o controle de pro- mento da mina e a reintrodução espontânea
cessos erosivos e a condição estrutural (por da vegetação, após a adequada conformação
exemplo, taludes estáveis), a implantação das bermas. Isto só foi possível porque duran-
e adequação da drenagem de condução te a operação da mina a cava foi desenhada
da água superficial e o estabelecimento com as bermas mais largas.
de cobertura vegetal. A transformação do No que se refere à estabilidade química,
substrato superficial das pilhas de estéril e é imprescindível a adequação das proprie-
rejeitos (normalmente com pequena quan- dades químicas do solo e/ou substrato, de-
tidade de nutrientes) em solos saudáveis vendo este estar livre de contaminação. Os
pode ser um importante agente facilitador procedimentos específicos para recuperação
para uma adequada cobertura vegetal, re- dos solos e/ou substratos dependem essen-
fletindo no aumento da estabilidade física. cialmente das propriedades físicas, químicas,
A figura a seguir, demonstra um processo biológicas e mineralógicas dos mesmos.
de reabilitação de uma pilha de rejeitos de Já a estabilidade biológica da área de-
um empreendimento de cobre, ilustrando a pende da garantia da estabilidade física,
relevância da implementação da conforma- química e do uso futuro estabelecido.
ção topográfica, com adequada drenagem Conclui-se que, para se conseguir a estabi-
e cobertura vegetal. Isto garante, ao final, o lidade física, química e biológica, o processo
sucesso e integração da estrutura ao ambien- de revegetação pode ser considerado como
te de entorno. As fotos são do mesmo local, ponto chave, uma vez que contribui para a
com intervalos de alguns anos entre elas. restauração do equilíbrio ambiental na área,
Um processo semelhante é ilustrado na propiciando o desenvolvimento das espécies
figura 2 a seguir. A foto A, à esquerda, apre- vegetais e o retorno da biodiversidade. Mas
senta uma cava após a exaustão de uma mina, para isso, é necessário que o solo, a base de
no Canadá. A foto B à direita apresenta a sustentação para as plantas e o reestabeleci-
mesma área, na qual foi feito um preenchi- mento de todo ecossistema, esteja saudável.

BRASIL MINERAL - nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023 105


MEIO AMBIENTE
Créditos: Giani Aragão.

Figura 2- Recuperação paisagística da cava- Mina de Pichi, Canadá.


A estabilidade física, química e biológi- têmicos básicos, servir de suporte para
ca é condição básica para uma adequada recuperação ambiental, prover condições
transferência de custódia ao final da vida básicas para o restabelecimento de espé-
útil do empreendimento. cies vegetais, assim como se tornar solos
Com tudo isso, nota-se a importância de de qualidade, seja para produção agrícola
incorporar o tema “uso futuro” na rotina das ou florestal, promovendo o sequestro de
atividades de planejamento, implantação e carbono, dentre outras possibilidades.
operação das estruturas geotécnicas e do fe- Tecnossolo é uma nova classe de solo re-
chamento da mina, tendo como benefícios a conhecida pela FAO (Food and Agricultural
promoção da recuperação progressiva, redu- Organization of the United Nations) em
zindo o passivo e facilitando a transferência 2006, cujas propriedades e pedogênese são
de custódia, a integração das práticas ESG, predominantemente técnicas, ou seja, são
o atendimento aos objetivos de desenvolvi- solos que contém quantidade significativa
mento sustentável e a facilitação da obtenção de artefatos nos primeiros 100 cm (>20%),
da licença social para operar. tendo como material de origem todos os
tipos de materiais feitos ou expostos pela
Uso de tecnossolos como alternativa
atividade humana que de outra forma não
sustentável para aproveitamento de rejeitos ocorreriam na superfície da Terra (IUSS
e criação de solos saudáveis Working Group WRB, 2014). Os rejeitos de
A utilização da tecnologia de tecnos- mineração se enquadram nesse conceito de
solos no material estocado em pilhas ou artefatos uma vez que, apesar de não serem
barragem de rejeitos destaca-se como uma materiais produzidos pelo homem, só estão
alternativa promissora, uma vez que pode expostos (e alterados) na superfície da terra
ser construída a partir de grandes volumes por conta da ação humana.
de rejeitos e outros resíduos. Com uso desta Os primeiros trabalhos científicos aplica-
tecnologia, as barragens e pilhas podem dos com tecnossolos foram publicados em
ser devolvidas ao meio ambiente de modo 2006, sendo que atualmente já são mais de
a sustentar e promover serviços ecossis- 180 artigos científicos (SCOPUS), que de-

106 BRASIL MINERAL - nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023


Figura 3. Tecnossolos desenvolvidos a partir de rejeitos de calcário. Fonte: adaptado de Ruiz et al. 2020a.
Créditos: Jaqueline Freitas

Figura 4. Recuperação cava de mineração de areia com tecnossolos evoluídos espontaneamente e plantio de espécies nativas.

mostram a viabilidade de se construir solos tempo que promovem a reciclagem de nu-


a partir de rejeitos de mineração. Dada à trientes essenciais e captura e estabilização
heterogeneidade dos rejeitos e estéreis e a de carbono, sendo um método importante
versatilidade com que esses solos podem ser e viável de reutilização de rejeitos na re-
construídos a partir de diferentes misturas cuperação de áreas degradadas (Pascaud
de rejeitos e resíduos, são quase que infini- et al., 2017). Além disso, a utilização de
tas as possibilidades de construção desses tecnossolos como melhoradores de solos
solos. Porém é importante ressaltar a ne- degradados pode favorecer o crescimento
cessidade do conhecimento biogeoquímico de plantas, microrganismos e a produti-
prévio e aprofundado dos materiais que irão vidade agrícola (Mingorance et al., 2017;
compor esses solos, uma vez que a pedogê- Montiel-Rozas et al., 2018).
nese, ou seja, o processo de transformação No Brasil ainda são poucos os estudos
dos rejeitos (material de origem) em solos aplicados com tecnossolos, mas um excelente
será diretamente afetado pelos materiais exemplo da capacidade em se utilizar rejeitos
utilizados e sua organização. para criação de solos saudáveis é demonstrada
Os tecnossolos podem se desenvolver por Ruiz et al (2020 a, b), mostrado na figura
espontaneamente ou serem criados para 3. Esses trabalhos mostram que em apenas
solucionar problemas específicos, como a 20 anos, rejeitos e estéril da mineração de
neutralização dos efeitos tóxicos de metais calcário tiveram uma evolução pedogenética
pesados (Leguédois et al., 2016), ao mesmo rápida, com elevada capacidade em suportar

BRASIL MINERAL - nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023 107


MEIO AMBIENTE
culturas agrícolas como cana de açúcar (3 e dem ser beneficiadas e produzir o chamado
7 anos) e pastagem (20 anos). Além disso, o biominério, pela técnica denominada agro-
tecnossolo que evoluiu a partir dos rejeitos mineração (van der Ent et al., 2018).
demonstrou uma elevada capacidade de se- A título de exemplo, considerando a
questrar e estabilizar carbono: em torno de densidade específica média de rejeitos de
82 toneladas de carbono por hectare, apenas minério de ferro (2,7 g/cm3), ao se utili-
nos primeiros 20 cm da superfície. zar esse material seco para construir 10
Também temos bons exemplos de recu- hectares de tecnossolo com 2 metros de
peração de cavas de mineração de areia/ espessura, poderiam ser utilizados 540 mil
argila em São Paulo, onde espécies nativas toneladas de rejeitos que deixariam de ser
vêm sendo plantadas em tecnossolos espon- dispostos em barragens ou pilhas. Este ma-
tâneos com excelentes resultados. Em 10 terial possui grande potencial para se tornar
anos, podemos ver uma área reflorestada, solos de qualidade para suportar espécies
onde seria impensável imaginar que se trata vegetais, seja para recuperação ambiental
de um tanque de decantação de lama do ou para produção agroflorestal. Ainda
beneficiamento da areia (figura 4). nesse sistema, outros resíduos poderiam
No caso de rejeitos que contenham me- ser utilizados para melhorar a qualidade
tais pesados, também é possível planejar a do tecnossolo, como resíduos orgânicos,
construção de solos com esses materiais, ob- arenosos, de calcário.
jetivando imobilizar os metais em diferentes Portanto, como principais benefícios que
componentes do solo (óxidos, matéria orgâ- podemos destacar na construção e utilização
nica, carbonatos etc), de modo que fiquem de tecnossolos, está a redução do volume de
estáveis e não sejam biodisponibilizados aos rejeitos dispostos em barragens e pilhas e o
seres vivos (Asensio et al., 2019). Por outro retorno desse material à natureza na forma
lado, também podem ser construídos e ma- de solos saudáveis, práticas em consonância
nejados, de modo que possam potencializar com os conceitos de economia circular e
a liberação dos metais para serem absorvidos “Nature-based solutions”, muito aplicado em
e translocados para a parte aérea por plantas ações de reutilização e recuperação de áreas
hiperacumuladoras, que posteriormente po- degradadas em todo o mundo.

Reconstrução de solos por meio da incorpora-


CONSIDERANDO-SE QUE A GERAÇÃO ção de biossólidos a substratos minerados
DE RESÍDUOS REPRESENTA A crescente e inesgotável produção de re-
INERENTEMENTE UM PROBLEMA, SEU síduos urbanos tem levado ao seu uso como
fontes alternativas de matéria orgânica para
REAPROVEITAMENTO CONTRIBUI solos e nutrientes para plantas. No Brasil, a
PARA ALIVIAR A PRESSÃO SOBRE O geração anual de resíduos sólidos domés-
ticos atingiu 80 milhões de toneladas em
MEIO AMBIENTE 2019 (Abrelpe, 2020). Da mesma forma, o

108 BRASIL MINERAL - nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023


Figura 5. Substrato de mineração tratado com biossólidos, mostrando a reconstrução de ambiente edático
e o consequente recrudamento de plantas que cobre a superfície minerada

saneamento das cidades elevará a produção são coletados e tratados. Ainda assim, essa
de lodo de esgoto, cuja disposição adequa- pequena parcela representa a produção de
da representa uma preocupação crescente. mais de duzentas mil toneladas de lodo de
Além disso, considerando-se que a geração esgoto (base seca) a cada ano.
de resíduos representa inerentemente um A principal via de descarte de lodos de
problema, seu reaproveitamento contribui esgoto no Brasil são os aterros sanitários e
para aliviar a pressão sobre o meio ambiente. esse manejo representa um desperdício de
A produção per capita diária de resíduos matéria orgânica para os solos e nutrientes
sólidos domésticos no Brasil é de aproxi- para as plantas (Corrêa et al., 2010). Quan-
madamente 1 kg, sendo a metade material do utilizados de maneira segura e benéfica,
orgânico (Barreira et al., 2006). Todavia, lodos de esgotos são referidos como bios-
apenas 1% de todo o material recolhido no sólidos, termo que carrega consigo os be-
Brasil sofre algum processo de tratamento, nefícios da reciclagem de matéria orgânica
tal como a compostagem (Mélo Filho & e de reuso de nutrientes (Torri et al., 2017).
Corrêa, 2006). A produção per capita bra- Com a entrada em vigor do Decreto Federal
sileira de esgoto se situa em torno de 150 nº 4.954/2004 (Brasil, 2004) e da Resolução
l/dia, mas quase a metade da população no 375/2006 do Conselho Nacional do Meio
não é servida pela sua coleta e apenas 46% Ambiente - Conama (Brasil, 2006), houve
do esgoto doméstico coletado são tratados um avanço na utilização de biossólidos na
(PSB, 2022). Dessa forma, apenas 20% do reconstrução de solos a partir de sua incor-
volume de esgoto doméstico gerado no país poração a substratos minerados (Figura 5).

BRASIL MINERAL - nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023 109


No Distrito Federal, por exemplo, desde o A matéria orgânica existente em biossólidos
ínício dos anos 2000, essa tem sido a princi- apresenta cargas livres e significativas con-
pal destinação do lodo de esgoto gerado nas centrações de nitrogênio, fósforo, enxofre,
estações de tratamento. (Corrêa et al., 2010). boro, cobre, zinco e outros elementos. Esse
A mineração expõe à superfície material conjunto eleva a fertilidade do solo ou subs-
de composição variada, que são generica- trato ao qual é incorporado, sua capacidade
mente denominados de substrato, estéril de troca catiônica (CTC), estimula a atividade
ou rejeito (Corrêa et al., 2017). Como regra, de microrganismos de solo, contribui para a
esses materiais são inapropriados para o estruturação física do ambiente edáfico e cria
estabelecimento de plantas, pois se apresen- condições favoráveis para o recrutamento e
tam compactados, com baixa capacidade de desenvolvimento de plantas (Al-Dhumri et
armazenamento de água, baixa capacidade al., 2013; Corrêa et al., 2018). Os principais
de troca catiônica (CTC), baixas concen- componentes da interação entre biossólidos,
trações de nutrientes e são desprovidos de solos e plantas se referem às elevações dos
organismos (Corrêa et al., 2018). Apesar teores de matéria orgânica, CTC, pH e níveis
disso, o estabelecimento de uma vegetação de nitrogênio, fósforo, enxofre, zinco e alguns
é a medida de recuperação mais adotada outros elementos que funcionam como mi-
em áreas de mineração, e a falta de matéria cronutrientes para as plantas (Al-Dhumri et
orgânica tem sido considerada o principal al., 2013; Corrêa et al., 2010). Todavia, bios-
problema edáfico que impede o estabeleci- sólidos não apresentam concentrações balan-
mento de plantas sobre substratos originados ceadas e suficientes de todos os nutrientes e,
pela atividade minerária (Corrêa et al., 2010; portanto, cálcio, magnésio e potássio devem
2018). A incorporação de doses elevadas de ser aplicados a solos e substratos tratados com
matéria orgânica tem sido a solução mais co- esse resíduo (Corrêa et al., 2010).
mum para se construir um ambiente edáfico Como resultado do incremento da CTC,
adequado, pois ela eleva a fertilidade, cria da concentração de nutrientes e de outras
condições favoráveis às plantas, aos organis- melhorias, substratos de mineração tratados
mos de solo e ao restabelecimento de ciclos com biossólidos são rapidamente coloniza-
biogeoquímicos no local revegetado (Neves dos por plantas que recrutam sobre o “solo
et al., 2019; Petrova et al., 2022). Dessa for- reconstruído” (Corrêa et al., 2010). Nesse
ma, a utilização de resíduos orgânicos para a sentido, a recuperação da cobertura vegetal
reconstrução de solos em áreas de mineração e da capacidade de produção de biomassa
representa a união de dois problemas em são etapas essenciais para a reabilitação de
uma solução (Figura 5). áreas com a superfície exposta (Corrêa et
Lodos de esgotos são originados pela con- al., 2017). Projetos de restauração ecológica
centração de matéria e nutrientes existentes priorizam o plantio de espécies nativas e,
nos esgotos e pela proliferação de microrga- mais uma vez, a sobrevivência e o desenvol-
nismos que aumentam a concentração de vimento dessas espécies sobre substratos de
carbono e alguns nutrientes nesse resíduo. mineração tratados com biossólidos (Bal-

BRASIL MINERAL - nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023 110


duíno et al., 2019, 2020; Corrêa et al. 2017; de desenvolvimento social e ambiental, pode
2018) e outros resíduos orgânicos (Silva & ser inserida no movimento da Economia Cir-
Corrêa 2008) têm sido considerados satis- cular, que também é um dos maiores anseios
fatórios. Além disso, o desenvolvimento da do mundo moderno.
vegetação sobre substratos de mineração Além de permitir novo uso, o incremento
estabiliza a paisagem, facilitando a sucessão da fertilidade e qualidade dos solos permite
natural, o controle da erosão e contribuindo uma robusta cobertura vegetal, o que traz
para a o processo de neo-pedogênese no maior estabilidade física, química e biológica
“solo reconstruído” (Corrêa e Bento, 2010). das estruturas geotécnicas, ponto chave das
operações mineiras.
Conclusões Finais Finalmente, e não menos importante, a
As barragens e pilhas de rejeito e estéril, possibilidade de usar estas extensas áreas,
além da cava, são sabidamente as principais muitas vezes consideradas degradadas, para
estruturas deixadas nos territórios após a recuperação da biodiversidade e cumprimento
atividade mineral, e são consideradas de alto das metas de descarbonização configura-se em
impacto socioambiental. Adotar processos uma aliada do combate ao aquecimento global.
que venham a mitigar estes efeitos é uma das A adoção dessas soluções deve ser acom-
prioridades das empresas que desejam seguir panhada e incentivada por políticas públicas,
a agenda ESG na sua gestão. Isto traz, entre em sintonia com a demanda dos órgãos re-
outros desdobramentos, grande oportunidade guladores, fiscalizadores e outras entidades
de minimizar e até reverter a crise reputacional representativas da sociedade em geral. ☐
do setor, facilitando a obtenção da Licença 1
Aline Nunes. Engenheira de Minas, Doutora em Tecnologia
Social para Operar, identificada como o maior
Mineral, Coordenadora de Assuntos Minerários no IBRAM. aline.
risco da indústria no mundo contemporâneo. nunes@ibram.org.br;
A adoção genuína da gestão ESG é valorizada 2
Fabio Perlatti. Engenheiro Agrônomo, Doutor em Ecologia e
pelo mercado, seja pela necessidade de ter uma Recursos Naturais, Especialista em Recursos Minerais na Agência
cadeia minero-metalúrgica alinhada com os Nacional de Mineração – ANM/SP. fabio.perlatti@anm.gov.br;
valores sociais e ambientais, seja por condi- 3
Giani Aragão. Mestre em Engenharia Mineral aplicada à Geo-
ções mais atraentes de financiamento e maior tecnia, Coordenadora de Segurança de Barragens na Pimenta de
atratividade aos investidores. Ávila Consultoria Ltda. giani.aragao@pimentadeavila.com.br;
O presente trabalho técnico apresentou as
4
Rodrigo Studart Corrêa. Docente do Programa de Pós-Gradua-
ção em Ciências Ambientais (PPGCA) da Universidade de Brasília
possibilidades dos processos de tratamento dos (UnB). rodmanga@yahoo.com.br;
rejeitos e estéreis com Tecnossolos e Biossó- 5
Vania L. Andrade. Química, MSc, Consultora, Conselheira da
lidos, que visam a criação de solos saudáveis ABM, vania.lima.andrade@gmail.com.
a partir dos materiais ali estocados. São pro-
cessos inovadores e complementares, muito Referências Bibliográficas
promissores para facilitar a reabilitação desses Abrelpe (2020). Panorama dos resíduos sólidos
territórios. A possibilidade de prover um novo no Brasil. Disponível em
valor econômico dessas áreas, criando opções https://abrelpe.org.br/panorama/. Acesso em

BRASIL MINERAL - nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023 111


MEIO AMBIENTE
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BRASIL MINERAL - nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023 113


EQUIPAMENTOS & TECNOLOGIAS
mentos de licenciamento socioambiental.
Rodrigo Lisboa, Gerente de Licenciamento
da CLAM, lembra ainda que estudos multi-
disciplinares robustos, tais como o Estudo
de Impacto Ambiental (EIA) e respectivo
Relatório de Impacto Ambiental (RIMA)
são comumente requeridos para empreen-
dimentos minerários em seus processos de
licenciamento, desde o ano de 1986 – “já
considerava como impactos as atividades
O bom relacionamento com as comunidades é essencial para o setor mineral que afetassem a saúde, a segurança e o bem-
-estar da população; as atividades sociais e
CLAM MEIO AMBIENTE econômicas; a biota; as condições estéticas
e sanitárias do meio ambiente; e a qualidade
EXPERTISE EM DIAGNÓSTICOS dos recursos ambientais. Desde a promul-
SOCIOAMBIENTAIS gação da Resolução CONAMA 001/86
até os dias atuais, muitos desdobramentos
O desempenho dos empreendimentos ocorreram e a discussão relacionada aos
minerários passa pela forma com a qual estudos socioeconômicos evoluíram so-
se relacionam com as comunidades do bremaneira”.
seu entorno, ou da sua área de influência. Nesse contexto, foram incluídos os atri-
Comunidades que são adequadamente butos relacionados ao patrimônio cultural,
consideradas e geridas pelos empreendi- turismo e comunidades tradicionais, áreas
mentos minerários podem se tornar aliadas onde a CLAM já desenvolve estudos e
na rotina operacional, trazendo ganhos de projetos. Tais atributos se relacionam dire-
imagem e ESG, além de fortalecer os ati- tamente à constituição do território brasi-
vos empresariais, diz a Coordenadora de leiro e são fundamentais para se entender
Socioeconomia da CLAM Meio Ambiente, os diferentes contextos sociais em que as
Isabela Oliveira, ressaltando a expertise da populações se estabelecem e vivem. Lisboa
empresa nos diagnósticos socioambientais ressalta as legislações específicas em nível
participativos e no relacionamento perso- federal, estadual e municipal, que trouxe-
nalizado com as comunidades. ram muitas novidades para os processos de
É claro que as atividades de mineração, licenciamento ambiental.
assim como de qualquer outro segmento Sendo assim, a gestão social é também
industrial, podem acarretar alterações parte do conjunto de requisitos legais a
positivas ou negativas nos territórios e nos serem observados por empreendimentos
modos de vida de determinada população, minerários. Acompanhando a legislação,
sendo necessárias avaliações minuciosas os estudos e instrumentos de licencia-
dos impactos socioambientais em instru- mento, entre outras análises relacionadas

114 BRASIL MINERAL - Nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023


às questões biológicas e físicas, carregam nômicos, Educação Patrimonial, Gestão
em seu escopo diagnósticos socioeconô- de Tráfego, Apoio ao Desenvolvimento
micos e culturais, focados nos territórios Territorial, Gestão e Capacitação de Mão-
e comunidades, os quais são fundamentais -de-Obra, entre outros – “cada programa
para compreensão dos contextos sociais possui diferentes metodologias de execu-
existentes, tendo em vista as fragilidades e ção, tendo em vista as especificidades de
potencialidades de cada região. cada território e populações. Os métodos
De acordo com Isabela Oliveira, a adotados consideram os grupos focais,
avaliação criteriosa e detalhada das pesquisas de percepção, diagnósticos socio-
questões socioeconômicas e culturais participativos, aplicação de questionários,
nestes territórios consubstanciadas em cursos de capacitação e oficinas. Além da
um diagnóstico, “é fundamental para mitigação dos impactos negativos e poten-
permitir a identificação e avaliação dos cialização dos positivos, a implementação
impactos, bem como sua valoração por destes programas permite a geração de
meio de análise integrada, que levará em bancos de dados com novas informações
consideração a sinergia e cumulatividade socioambientais das áreas de influência do
destes impactos potenciais, sejam eles empreendimento minerário”.
positivos ou negativos. Nessa perspecti-
va, são imprescindíveis as atividades de ABB
campo para, minimamente, caracterizar
estes territórios sob à ótica socioeco- DIGITALIZAÇÃO MULTI-SITES
nômica e compreender a percepção das
comunidades acerca do ambiente onde PARA A VOTORANTIM CIMENTOS
vivem e do futuro empreendimento. Maior produtividade, processos simpli-
Desta forma, desdobram-se dos estudos ficados, manutenção reduzida e economia
ambientais, respectivos diagnósticos e de energia por meio das soluções Industry
prognósticos os Planos de Controle Am- 4.0 são os resultados de um contrato de
biental ou Planos Básicos Ambientais, longa data entre a Votorantim Cimentos e
os quais contemplam programas, planos
e projetos ambientais, com o objetivo de
mitigar impactos negativos e potenciali-
zar os positivos durante a implantação e
operação do empreendimento minerário”.
Rafael Zeferino, Analista Comercial na
CLAM Meio Ambiente, acrescenta ainda
que comumente adotam-se programas de
Educação Ambiental, Comunicação So-
cial e Relacionamento com Comunidades,
Monitoramento de Indicadores Socioeco- Ferramenta de digitalização multi-sites da ABB

BRASIL MINERAL - Nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023 115


EQUIPAMENTOS & TECNOLOGIAS
a ABB, responsável pelo fornecimento de AA. “A Votorantim Cimentos está focando
automação avançada e tecnologias digitais mais na operação de uma planta inteligente
para plantas da produtora de cimento loca- e isso garantirá menos impactos ao meio
lizadas em quatro países. Além de otimizar ambiente”, afirmou Marie O'Grady-Hills,
simultaneamente a produção, as soluções Gerente Global de Vendas, Indústrias de
vêm permitindo a descarbonização das Processos da ABB.
operações. Além de ajudar seus clientes a reduzirem
As soluções digitais ABB Ability™ Ex- as emissões de CO2, a Estratégia de Sus-
pert Optimizer e ABB Ability™ Knowledge tentabilidade 2030 da ABB inclui atingir a
Manager foram recentemente instaladas neutralidade de carbono em suas próprias
nas fábricas da Votorantim Cimentos na operações. As metas de redução de emis-
Espanha, Turquia, Tunísia e Marrocos. O sões de gases de efeito estufa da ABB foram
Expert Optimizer, implantado nas plantas validadas pela iniciativa Science Based Tar-
da Votorantim desde a década de 1990, gets como estando de acordo com o cenário
garante a otimização de todo o processo e de 1,5°C do Acordo de Paris da ONU.
reduz significativamente as emissões, en-
quanto o Knowledge Manager auxilia na
padronização e garantia de consistência na
HENKEL
coleta e análise de dados laboratoriais nas ADESIVOS INDUSTRIAIS PODEM
plantas.
Trabalhando em estreita colaboração EVITAR PARADAS NA MINERAÇÃO
com a Votorantim em engenharia e ge- A parada não programada nas minera-
renciamento de projetos, a ABB também doras implica em perda de produtividade
forneceu o módulo Expert Optimizer
RMP para melhorar a qualidade da mis-
tura das matérias-primas que vão para
o forno. Em relação ao cimento, dados
distintos de laboratório são combinados
com dados de processo contínuo para oti-
mizar a produção, mantendo a qualidade
do cimento.
“Estamos aumentando nossos esforços
para impulsionar a eficiência energética
para atingir nossas metas de emissões. A
Votorantim Cimentos se comprometeu
com uma redução substancial nas emissões
de CO2 até 2030”, afirmou Juan Antonio
Gimenez Soriano, Gerente de Capex de
Manutenção e Sustentabilidade da VCE- Fábio Costa, Gerente Regional de Vendas da Henkel

116 BRASIL MINERAL - Nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023


e, consequentemente, de lucro. Estudo está instalado, simplificando o processo
feito pela empresa britânica de manuten- e agilizando o retorno à operação. Em
ção preditiva Senseye, adquirida recente- alguns casos, a manutenção não pode
mente pela Siemens, estimou o prejuízo durar mais de 6 horas para a liberação do
causado por inatividades inesperadas: equipamento, exigindo produtos de cura
praticamente um dia inteiro, ou 23 horas, rápida para esses intervalos pequenos de
é desperdiçado a cada mês nas indústrias manutenção. Além disso, o reparo adesivo
minerais por problemas que, na grande elimina a necessidade de solda de chapas
maioria dos casos, poderiam ter sido metálicas e com performance mais lon-
detectados antes mesmo da ocorrência ga, utilizado principalmente em chutes
surgir. O custo dessa hora parada no se- em mineração, carregadores de grãos
tor mineral, segundo o estudo, equivale a em entrepostos e bombas em diversas
US$ 188 mil (quase R$ 1 milhão). aplicações.
Fábio Costa, Gerente Regional de Ven-
das da Henkel, explica que a realização de MEDIÇÃO
manutenções não planejadas dentro de
mineradoras acontece em grande parte ENDRESS+HAUSER
para reparar danos causados pela abrasi-
vidade – “equipamentos e bombas estão
COMEMORA 70 ANOS
sujeitos a impactos de pedras e outros Especialista em tecnologia de medição e
insumos do processo que prejudicam o automação, a Endress+Hauser inicia as co-
desempenho e a produtividade, podendo memorações de seus 70 anos em bom estilo:
provocar paradas com custos altíssimos”. no ano passado, as vendas consolidadas da
Para garantir a integridade das má- companhia cresceram quase 17%, alcançan-
quinas, Costa defende que “produtos do mais de 3,3 bilhões de euros. "2022 foi
adesivos compostos por elastômeros são marcado por um forte crescimento. Con-
trunfos na resistência a impactos, tra- tinuamos a apoiar com confiança nossos
ção e flexão sem danificar as estruturas, clientes apesar das tensões em cadeias de
suprimentos e logística e estamos confiantes
graças à sua propriedade elástica. Essa
de que o crescimento das vendas em 2023
característica é especialmente importante
em etapas do processo em que o miné-
rio muda de nível verticalmente. Nesses
momentos, o produto colide perpendicu-
larmente com as superfícies, o que pode
causar trincas, desplacamentos e furos”.
Mesmo as paradas planejadas de manu-
tenção requerem metodologias específi-
cas. As aplicações adesivas permitem o re-
paro no próprio local onde o equipamento Endress+Hauser registrou forte crescimento nas vendas

BRASIL MINERAL - Nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023 117


EQUIPAMENTOS & TECNOLOGIAS
também será de dois dígitos", relata o CFO
Dr. Luc Schultheiss.
A Endress+Hauser praticamente dobrou Índice de Anunciantes
seu volume de vendas nos últimos dez anos
e aumentou seu número de funcionários
em mais de 50%, somando atualmente mais Appian ....................................................7

.
de 16 mil colaboradores em todo o mundo.
Muito mais que 1,5 bilhões de euros dos Aura ......................................................39
recursos financeiros do Grupo foram in-

.
vestidos em novos imóveis e equipamentos
Bamin ...................................................13
no mesmo período. “Nossos clientes nos

.
valorizam, nossos funcionários são dedica-
dos à empresa e nossos acionistas pensam Bemisa ..................................................23

.
a longo prazo", enfatizou o CEO Matthias
Altendorf. “Podemos nos orgulhar do que Brasmin.................................................91
realizamos e podemos olhar para o futuro
com confiança." CBA .......................................................25
.
CLAM ......................................................9
.
CPRM ....................................................45
.
INSCREVA-SE NO CANAL DA Galvani ..................................................51
.
BRASIL MINERAL NO YOUTUBE
Kinross ..................................................27
.
E ACOMPANHE NOSSO Largo.....................................................33
CONTEÚDO EXCLUSIVO!
.
8º Mineração &X Comunidades .............47
.
INFORMAÇÃO, DEBATES, Pimenta de Ávila ...................................55
ENTEVISTAS, FÓRUNS
.
E MUITO MAIS... Encontro Nacional de Média
e Pequena Mineração ............................35
youtube.com/brasilmineral
.
118 BRASIL MINERAL - Nº 426 - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2023

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