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ESPECIAL
ESPECIAL

ESPECIAL INOVAÇÃO • 1º SEMESTRE • 2023


&
Competitividade

Indústria & Competitividade

Neoindustrialização do Brasil passa pelos Institutos SENAI


de Santa Catarina, que desenvolvem soluções alinhadas
às novas tendências globais
EXPEDIENTE
Presidente
Mario Cezar de Aguiar

1º Vice-Presidente
Gilberto Seleme

Diretor 1º Secretário
Edvaldo Ângelo

Diretor 2º Secretário
Ronaldo Baumgarten Junior

Diretor 1º Tesoureiro
Alexandre D’Ávila da Cunha

Diretora 2ª Tesoureira
Rita Cassia Conti

Diretoria executiva
Alfredo Piotrovski
Carlos José Kurtz
Fabrizio Machado Pereira
José Eduardo Fiates

Indústria &
Competitividade
ESPECIAL INOVAÇÃO

Idealização
José Eduardo Fiates

Coordenação
Maurício Cappra Pauletti e
Pedro Paulo Montrose Marques

Edição
Vladimir Brandão

Colaboração
Fabrício Marques e Leo Laps
Jornalista responsável
Elmar Meurer (984 JP)

Edição de arte
Luciana Carranca

Produção executiva
Maria Paula Garcia

Revisão
Lu Coelho

Distribuição
Filipe Scotti

Apoio editorial
Ivonei Fazzioni, Jaison Henicka
e Livia Soares de Paula

imprensa@fiesc.com.br
(48) 3231 4670
www.fiesc.com.br

www.vbcconteudo.com.br
APRESENTAÇÃO

FILIPE SCOTTI

A
neoindustrialização que está
sendo buscada pelo País é
central para a retomada do
desenvolvimento social e econômico.
O poder da indústria para a geração de
riquezas e empregos de qualidade é
reconhecido em todo o mundo, e uma
mostra disso está em Santa Catarina. O
Estado é um dos mais industrializados
e tem a maior diversificação setorial do
Brasil, o que tem relação direta com seus
elevados índices de qualidade de vida,
distribuição de renda e a situação de
pleno emprego que vivemos. Não é por
acaso que os Institutos SENAI de Inovação
e Tecnologia de Santa Catarina dão uma
grande contribuição para a edificação das
bases da nova indústria que está surgindo.
Congregando diversos atores, os Institutos
desenvolvem inovações capazes de elevar
a competitividade da indústria brasileira,
em sintonia com as principais tendências
do mercado mundial como digitalização
e energias renováveis, conforme
demonstrado nesta publicação.

Mario Cezar de Aguiar


Presidente da FIESC
SHUTTERSTOCK

A retomada
da indústria
no Brasil
A inovação é um
dos pilares para
a renovação
A
pós processos de desindustrialização – isto
é, a redução do peso da indústria na eco-
e a expansão nomia –, a retomada da indústria é um fe-
da indústria em nômeno que ocorre celeremente nos Estados Uni-
sintonia com as dos e na Europa, onde os governos criam políticas
industriais robustas e investem altas somas para
grandes tendências estimular a manufatura local. Os objetivos são tra-
globais. Os zer de volta indústrias que nas últimas décadas
Institutos SENAI deslocaram a produção para a Ásia – cujos países
estão entre criaram suas próprias estratégias de industrializa-
ção – e desenvolver localmente setores ligados às
os propulsores novas tendências, como a economia verde.
desse processo O Brasil também despertou para a importância
da revitalização da indústria, e atualmente está em

4 ESPECIAL • INOVAÇÃO
Indústria
gera mais
riqueza
Quanto R$ 1 produzido em cada setor
gera na economia como um todo
INDÚSTRIA 2,43
Agricultura 1,75
Comércio 1,49
e Serviços
Fonte: CNI

debate a criação de uma política Desde então, os 28 ISI espalha-


para a retomada do setor, que se dos pelo Brasil participaram de
enfraqueceu no País nas últimas dé- mais de 2.400 projetos de pesquisa,
cadas. A Confederação Nacional da desenvolvendo novos produtos e
Indústria (CNI) elaborou uma pro- processos para tornar a indústria
posta alinhada com as grandes ten- mais competitiva – alguns dos pro-
dências globais e as potencialidades jetos envolvendo os ISI de Santa
brasileiras, capaz de subsidiar políti- Catarina estão detalhados nesta
cas públicas de combate às mudan- edição. O trabalho das redes de
ças climáticas, descarbonização, di- inovação criadas pelos Institutos
gitalização da economia, segurança ao longo dos anos será fundamen-
alimentar e redução das desigualda- tal para apoiar a nova fase da in-
des sociais, dentre outras. dústria no País.
Para que a indústria brasileira “Busca-se a retomada da in-
se firme como referência interna- dustrialização sobre novas bases,
cional nessas áreas, ocupando po- por isso se usa o termo ‘neoindus-
sições de alto valor agregado nas trialização’. Os Institutos SENAI
cadeias globais de valor, é funda- de Inovação e Tecnologia estão
mental o investimento no ecossiste- adap­ tando e direcionando suas
ma nacional de ciência, tecnologia competências para se alinhar às
e inovação. Um passo importante grandes tendências globais, como
já foi dado nessa direção, com a energias renováveis e digitaliza-
criação dos Institutos SENAI de Ino- ção da economia”, afirma Fabrizio
vação (ISI), a partir de 2012, para a Machado Pereira, diretor regional
realização de pesquisa aplicada. do SENAI/SC.

1º SEMESTRE • 2023 5
SHUTTERSTOCK

Nesse sentido, mesmo regiões Conselho de Administração do Banco


mais industrializadas como Santa Ca- Nacional de Desenvolvimento Econô-
tarina poderão se beneficiar do pro- mico e Social (BNDES).
cesso, agregando novas capacidades Lucchesi, que é também diretor
ao seu tecido industrial. de Educação e Tecnologia da CNI, é
A expectativa é de que a indústria um estudioso da indústria no Brasil
dê um salto de produtividade, compe- e no mundo. Ele afirma que o Brasil
titividade e inserção internacional com já trilhou um caminho de desenvol-
base na inovação. “O BNDES atuará vimento econômico e de geração de
no impulsionamento da indústria em renda baseado na industrialização.
agendas como transição energética, Quando isso ocorreu, entre as déca-
sustentabilidade e descarbonização, das de 1930 e 1980, o País liderou o
que se somam à agenda de neoindus- crescimento econômico mundial. De-
trialização do século 21, onde o com- pois disso, porém, a indústria perdeu
ponente de inovação tem centralida- fôlego e houve um processo de repri-
de”, diz Rafael Lucchesi, presidente do marização da economia. “Perdemos a
capacidade estratégica de pensar no
futuro”, conta Lucchesi.
FILIPE SCOTTI

A indústria chegou a ter participa-


ção de 48% do Produto Interno Bru-
Pereira:
Institutos to (PIB) brasileiro nos anos 1980, de
apoiam acordo com a CNI, mas desde então
retomada da
industrialização a fatia foi reduzida a 24%. Isso con-
sobre novas siderando a chamada indústria total,
bases
que compreende os setores extrati-
vos e a construção civil. Se for levada
em conta apenas a participação da
indústria de transformação, aquela
que mais agrega valor aos produtos e
gera empregos de melhor qualidade,
a participação no PIB gira atualmen-
te em torno de apenas 10%. Uma das
consequências da desindustrialização

6 ESPECIAL • INOVAÇÃO
Produção
de energias
renováveis é
oportunidade
para a indústria

é a perda de relevância internacional avançar. Podemos nos posicionar,


do Brasil, que chegou a ter 3% do PIB por exemplo, como grande produtor
global, mas atualmente detém 1,3%. e exportador de energia limpa se ado-
A revalorização da indústria está tarmos uma estratégia articulada de
associada a percepções geopolíticas fazer disso um driver para a neoindus-
e econômicas. A desarticulação das trialização brasileira”, sugere Rafael
cadeias produtivas globais com a Lucchesi, ressaltando a necessidade
pandemia deixou claro que os princi- de coordenação das estratégias em-
pais países não podem prescindir de presariais com uma agenda de políti-
produção industrial própria – ou em cas públicas alinhadas a determinados
países aliados próximos – em áreas objetivos estratégicos.
estratégicas. Pelo lado econômico, a Foi para avançar nessa agenda
indústria é fundamental porque é o que José Eduardo Fiates apresentou
setor que mais gera recursos para a para a diretoria do BNDES um estu-
economia como um todo, e se consta- do comparativo entre políticas indus-
tou que é difícil desenvolver serviços triais de diversos países e as estraté-
sofisticados ligados à indústria se a
produção física não está presente.
DIVULGAÇÃO

A reativação industrial, portanto,


gera ganhos em todos os setores, até
Lucchesi:
mesmo no primário, que necessita de é necessário
produtos industriais como máquinas, adotar estratégias
articuladas
satélites e drones para obtenção de para orientar a
ganhos de produtividade. “Não se tra- neoindustrialização
brasileira
ta apenas de ter fábricas, mas de ter
o domínio de cadeias produtivas”, diz
José Eduardo Fiates, diretor de Inova-
ção e Competitividade da FIESC.
As transformações digitais, climá-
ticas e geopolíticas representam uma
janela de oportunidade para a reto-
mada da industrialização no Brasil.
“Temos uma enorme fronteira para

1º SEMESTRE • 2023 7
gias que têm se revelado vencedoras, como alta carga tributária, crédito caro
como a criação de ambientes comple- e baixa qualificação profissional, ace-
xos de Ciência, Tecnologia e Inovação lerar a inovação é um dos eixos para
profundamente integrados às cida- a retomada da indústria. O papel dos
des e em conexão com projetos mo- Institutos SENAI é central nesse con-
bilizadores e estruturantes. texto, pois eles já funcionam como
“Os países estão planejando e grandes hubs de inovação setorial.
orientando suas políticas públicas “Além de possuir equipamentos
pela ótica da revitalização da indústria de ponta em suas áreas de especiali-
e da sua integração com zação e corpo técnico com
estratégias de desenvolvi-
mento”, diz Fiates. Ele des-
68% centenas de pesquisado-
res, os ISI se articulam com
taca o conceito de MOIP Participação da dezenas de universidades e
(Mission-Oriented Innova- indústria no total centros de pesquisa e de-
tion Policies), ou Políticas de investimentos senvolvimento do Brasil e
de Inovação Orientadas em P&D no Brasil do exterior”, diz Maurício
por Missão. São políticas Cappra Pauletti, gerente
Fonte: CNI
adotadas por países com executivo de Inovação e
sentido de missões de longo prazo, Tecnologia do SENAI/SC.
como obter a liderança em energias O espaço dos Institutos é compar-
renováveis, por exemplo. Funciona – tilhado por startups, aceleradoras e
se bem articulada – porque estabelece empresas parceiras nos projetos. Os
cooperação entre os setores público e ISI de Santa Catarina são credenciados
privado e evita a disputa e a dispersão como unidades da Empresa Brasilei-
de recursos escassos. ra de Pesquisa e Inovação Industrial
A agenda é extensa. Além da urgên- (Embrapii), o que permite às indústrias
cia em atacar os diversos fatores que contratar diretamente os projetos com
reduzem a competitividade industrial, os Institutos, sem precisar de edital e
com liberação imediata de recursos.
“Com a retomada da indústria
em foco atuaremos ainda mais pró-
ximos das demandas das empresas,
para reduzir o seu risco nos projetos
ISI Sistemas de inovativos e permitir que implemen-
Manufatura,
em Joinville: tem estratégias com maior conteúdo
28 Institutos tecnológico”, afirma Fábio Stallivieri,
SENAI de
Inovação no diretor de Planejamento e Relações
Brasil atuam Institucionais da Embrapii. Entre 2014
em 2.400
projetos e 2022 a organização apoiou o desen-
volvimento de 157 projetos de inova-
ção em Santa Catarina, aplicando mais
de R$ 117 milhões a fundo perdido.
Alguns dos resultados dessas e de ou-
ANDRÉ KOPSCH

tras parcerias pela inovação estão re-


latados a seguir.

8 ESPECIAL • INOVAÇÃO
Em sintonia com as
NOVAS TENDÊNCIAS
Os processos de retomada da
indústria desencadeados por 10 Indústria avançada forjada a laser
diversos países se conectam às Técnicas englobam a produção e o conserto de
peças e componentes por meio de impressão 3D
grandes tendências mundiais
– geopolíticas, tecnológicas
e ambientais. Com o Brasil
não é diferente. Os projetos
14 A tração que vem dos freios
Sistema recupera energia cinética gerada durante
desenvolvidos pelos Institutos a desaceleração de implementos rodoviários
SENAI de Inovação e Tecnologia
aqui descritos estão alinhados,
de alguma forma, às grandes 16 Conversão para uma boa causa
Tecnologia transforma veículos comerciais leves
demandas mundiais e às novas em carros elétricos de baixo custo
oportunidades da indústria.

18 Além de carga, informação


No campo das energias renováveis, Com aquisição e processamento de dados de
destacam-se os projetos que implementos, sistema permite a gestão de frotas
desenvolvem produtos e processos
para eletrificação automotiva. Já
as inovações produzidas pelo ISI
20 Transformação digital e cultural
MBI em Fundição 4.0 capacita colaboradores
Processamento a Laser e o Instituto da Tupy e potencializa resultados
SENAI de Tecnologia em Logística
de Produção se inserem no campo
da digitalização de indústrias 22 A caçadora de gargalos
tradicionais, da mesma forma que Simulação computacional de fábricas aponta o
caminho para ganhos de produtividade
o MBI em Fundição 4.0 da Tupy.

MATURIDADE TECNOLÓGICA • O estágio dos projetos apresentados


nesta publicação é avaliado conforme o Technology Readiness Level (TRL)

TRL 1 e 2 TRL 3 a 5 TRL 6 e 7 TRL 8 e 9


Pesquisa básica Pesquisa aplicada e Validação: análise Fases pré-comercial
e formulação da protótipo; testes em do protótipo em (testes certificatórios/
tecnologia; concepção ambiente controlado ambiente próximo homologatórios)
de possíveis e em ambiente ao esperado e em e de aplicação da
aplicações simulado ambiente operacional tecnologia
Indústria avançada
FORJADA A LASER
Multiplicam-se as aplicações da tecnologia,
favorecendo a competitividade de empresas de
setores como óleo e gás, energia e automotivo

O
processamento de materiais equipamentos que fornece.
a laser ganhou aplicações di- “Estamos falando, por exemplo, de
versas na indústria avançada, substituir estoques físicos de peças de
desde o desenho e a produção de pe- reposição por estoques digitais”, expli-
ças e dispositivos leves, ultrarresisten- ca o engenheiro mecânico Luís Gonza-
tes e com geometria complexa, até o ga Trabasso, pesquisador-chefe do ISI
conserto de componentes danificados Sistemas de Manufatura e Processa-
ou desgastados, por meio de técnicas mento a Laser, em Joinville, que lidera
como impressão 3D com deposição de uma equipe de 135 pessoas, entre as
pó metálico ou tratamento de superfí- quais 90 pesquisadores. Trabasso se
cies com pulsos de laser para prevenir refere à possibilidade de armazenar
sua fadiga. Mas o impacto deste tipo em uma espécie de biblioteca digital
de tecnologia na competitividade da os múltiplos parâmetros da receita
indústria vai muito além da qualida- para construir peças consideradas
de ou das propriedades especiais dos críticas para uma indústria – e de fa-
bricá-las e fornecê-las rapi-
ANDRÉ KOPSCH

damente, assim que surgir


uma necessidade premente,
apertando um botão de um
equipamento de impressão
a laser de alto desempenho.
“O conceito que usamos é o
de ‘manutenção aditiva’, que
é um recorte da manufatura
aditiva voltado para a repo-
sição de componentes.”
Uma biblioteca desse tipo
vem sendo desenvolvida pelo
Instituto SENAI e já dispõe de
Instituto da Indústria em Joinville: biblioteca digital de itens mais de uma dezena de itens,
que podem ser impressos sob demanda
encomendados por parceiros

10 ESPECIAL • INOVAÇÃO
do setor privado. A maioria deles resulta impressos sob demanda pode eliminar
de um projeto com a Petrobras. A em- custos de logística e infraestrutura.
presa definiu alguns componentes que A equipe do Instituto SENAI tem visi-
são fundamentais para a manutenção tado empresas de diferentes segmentos
de dutos e plataformas. O ISI Processa- para difundir esse tipo de serviço tec-
mento a Laser desenvol- nológico, desenvolvido no
veu os arquivos digitais, MANUFATURA DIGITAL âmbito do projeto Manu-
com as características e fatura Digital, que também
INDÚSTRIAS PARCEIRAS
parâmetros necessários envolve colaborações com
para fabricação dos com- • Petrobras e fornecedores empresas como a fabri-
ponentes. “Se a peça pre-
• Zeiss cante de sistemas ópticos
cisa ser substituída, im- INSTITUIÇÕES ENVOLVIDAS Zeiss e o Instituto Frau-
primimos e fornecemos nhofer, ambos da Alema-
ra­pidamente para a em- • ISI Processamento a Laser nha. O ISI Processamento
• Instituto Fraunhofer
presa”, explica Trabasso. a Laser já estabeleceu par-
O lucro cessante de TECNOLOGIAS cerias com a Furnas Cen-
uma plataforma de pe- trais Elétricas para ampliar
tróleo que produz de 15
• Deposição direcionada a biblioteca e conversa
de energia a laser
mil a 20 mil barris por • Fusão em leito de pó a laser com outros segmentos, a
dia é de US$ 2 milhões • Laser cladding exemplo de montadoras
por hora. Daí a impor- de automóveis.
INVESTIMENTOS
tância de se produzir e Além de produzir peças
entregar em poucos dias • R$ 16 milhões sob encomenda, o proces-
a peça requisitada. Há samento a laser pode aju-
outras utilidades da ma- APLICAÇÕES dar empresas a consertar
nufatura aditiva, como a • Fabricação, reparo e grandes equipamen­tos que­
substituição de equipa- revestimento de brados ou desgastados.
componentes metálicos
mentos que estão fora Com duração de três anos,
de linha. A construção o projeto Ferramentas Ma-
MATURIDADE TEC.
de uma biblioteca digital nufaturadas Aditivamente
de itens que possam ser • TRL 3 a 6 (FERA) teve início em 2021

1º SEMESTRE • 2023 11
e reúne quatro instituições de ciência,
tecnologia e inovação e um consórcio
de 26 empresas ligadas à cadeia auto-

ANDRÉ KOPSCH
motiva. Entre as empresas há grupos
automotivos como General Motors e
Stellantis, fabricantes de peças como
Maxion e Bosch, e empresas tradicio-
nais, como Romi e Sabó. Financiado
por meio do programa Rota 2030, en-
volve investimentos da ordem de R$ Laboratório de revestimentos, corte e
solda a laser: produção de peças com
11,6 milhões. geometria complexa
O objetivo do FERA é transferir co-
nhecimento para o consórcio. A inicia- multânea a deposição do pó metálico
tiva tem como foco duas tecnologias e a sua fusão, quando é alvo de uma
bastante disseminadas no exterior: fonte de energia. O L-DED pode ser útil
fusão em leito de pó a laser (L-PBF), para fazer o reparo de grandes ferra-
que permite fabricar peças de geo- mentas de estampagem, recuperando
metrias complexas com peso menor defeitos e desgastes de forma rápida e
e resistência maior do que os propor- sem desperdício de material.
cionados por técnicas convencionais, “A proposta é substituir o uso da
e deposição direcionada de energia a solda pela manufatura aditiva a laser
laser (L-DED), que viabiliza de forma si- no reparo de peças”, explica Trabas-

Fábrica da GM
em Joinville:
técnicas
permitem
reparo rápido
de ferramentas
de estampagem
sem desperdício
de material
EDISON VARA/DIVULGAÇÃO GM

12 ESPECIAL • INOVAÇÃO
so. Um dos principais PROJETO FERA parceria com empre-
entraves do projeto sas como a Embraer, a
não é tecnológico, mas INDÚSTRIAS PARCEIRAS Randon e a Tupy, e com
tem a ver com o des- o ISI Processamento a
• 26 empresas: ferramentarias,
conhecimento do setor montadoras de automóveis, Laser, para desenvol-
de ferramentarias das fabricante de pó metálico, ver no Brasil aplica-
fabricante de máquinas e
empresas, principal- fabricante de programas de ções da tecnologia de
mente no segmento computador para a cadeia de laser shock peening. Por
automotivo, sobre as
ferramentarias meio dela, superfícies
suas vantagens. Outro INSTITUIÇÕES ENVOLVIDAS metálicas produzidas
desafio, este mais am- por manufatura aditi-
plo, consiste em criar
• ISI Processamento a Laser va são bombardeadas
• Centro de Competência em
no Brasil uma cadeia de Manufatura (CCM-ITA) • IPT por pulsos de laser que
suprimentos que abas- • Instituto Fraunhofer IPK lhes conferem mais re-
teça a manufatura adi- sistência e previnem a
TECNOLOGIAS
tiva – os pós metálicos propagação de trincas
usados para imprimir • L-PBF • L-DED e fissuras.
peças atualmente são “As peças produ-
importados. INVESTIMENTOS zidas por manufatura
A manufatura adi- • R$ 11,6 milhões aditiva possuem uma
tiva é o processo de rugosidade que pode
fabricação de peças tri- MATURIDADE TEC. ser prejudicial em algu-
dimensionais por meio • TRL 4 mas situações. O laser
da adição de camadas shock peening funciona
sucessivas de material baseado em um como uma espécie de micromartela-
modelo digital. Além desta modalidade, mento da superfície”, afirma Antonio
o laser também pode ser usado em ma- Fasano, diretor técnico da Omnitek,
nufatura subtrativa, que é a remoção empresa de equipamentos de automa-
de material em escala nanométrica a ção sediada em São Paulo que se inte-
fim de dar novas características a uma grou ao projeto da Embrapii. A Omnitek
superfície. “É uma técnica interessante foi criada em 1995 e é especializada na
para aperfeiçoar o processo de pintura produção de sistemas industriais base-
de um componente, pois pode aumen- ados em laser – hoje vende impresso-
tar a ancoragem da tinta”, conta Trabas- ras 3D de metal a laser para empresas
so. Por fim, há a manufatura transfor- e institutos de pesquisa no Brasil e em
mativa, que não remove nem adiciona países como Canadá e Estados Unidos.
camadas, mas transforma o material Juntamente com a equipe do ISI
com laser, por meio da soldagem de pe- Processamento a Laser vai desenvol-
ças, por exemplo. ver um equipamento manipulador, ca-
Mas também existem técnicas a paz de submeter as peças, que podem
laser voltadas para aprimorar a quali- ter geometrias bastante complexas, ao
dade de componentes produzidos por bombardeamento de pulsos de laser. A
manutenção aditiva. A Empresa Bra- ambição é ter, em dois anos, um equi-
sileira de Pesquisa e Inovação Indus- pamento de laser shock peening desen-
trial (Embrapii) lançou um projeto, em volvido no Brasil com uso comercial.

1º SEMESTRE • 2023 13
JUNIKO BONDAN
A TRAÇÃO
que vem dos freios
Sistema e-Sys, da Randoncorp, tem seu rendimento potencializado
devido ao relevo irregular do Brasil: em declives o semirreboque
recupera e armazena energia que é utilizada para vencer aclives

A
Suspensys, maior fabricante de o Centro Tecnológico Randon (CTR) e a
suspensões e eixos para veícu- Gerdau Aços Especiais.
los pesados da América Latina, O sistema recupera energia cinética
que pertence à Randoncorp, com sede gerada durante movimentos de desace-
em Caxias do Sul (RS), incorporou em leração, que seria perdida na forma de
sua linha de produtos uma tecnologia calor, e a guarda em baterias, podendo
capaz de armazenar parte da energia usá-la para reforçar a tração do veículo,
produzida pela frenagem e utilizá- em subidas e ultrapassagens, por meio
-la em seguida para complementar a de motores elétricos. A inovação é se-
força do motor a combustão. Batizada melhante ao Sistema de Recuperação
de e-Sys, a tecnologia foi desenvolvida de Energia Cinética (KERS) utilizado em
pela Suspensys em colaboração com o carros de Fórmula 1. Dependendo da
Instituto SENAI de Inovação em Siste- situação, a economia de combustível
mas de Manufatura, em Joinville, com proporcionada pelo e-Sys pode chegar a

14 ESPECIAL • INOVAÇÃO
25%, com diminuição também no des- conectar a parceiros que preencham la-
gaste de componentes, geração de re- cunas tecnológicas. No nosso caso, foi
síduos e emissão de gases causadores buscar conhecimento no Instituto Tec-
do efeito estufa. A redução no custo do nológico de Aeronáutica, o ITA, que é
frete é estimada em 10%. um hub de engrenamento muito forte”,
“O relevo brasileiro é predomi- afirma Boaretto, que também destaca
nantemente irregular. A oscilação a importância do ISI no gerenciamento
topográfica de picos e vales é propí- operacional e financeiro do projeto e
cia para uma tecnologia que tem, por no cuidado com a confidencialidade ao
princípio, a recuperação de energia ci- longo do desenvolvimento tecnológico,
nética”, explica Joel Boaretto, diretor para evitar que detalhes da tecnologia
de Ciência, Tecnologia e Inovação do vazassem e houvesse apropriação in-
Instituto Hercílio Randon (IHR), orga- devida da propriedade intelectual.
nização responsável por Os sistemas elétricos
desenvolver inovações INDÚSTRIAS PARCEIRAS aplicam torque instantâ-
para a Randoncorp e • Fras-le S.A. • Suspensys neo na engrenagem, exi-
mantê-la conectada com • Gerdau S.A. • Companhia gindo ainda mais da qua-
tendências tecnológicas. Industrial de Peças (CIP) lidade do aço utilizado na
“A indústria da mobilida- sua fabricação. A Gerdau
INSTITUIÇÕES ENVOLVIDAS
de está se reinventan- Aços Especiais entrou
do e a eletrificação se • ISI Sistemas de Manufatura como parceira no proje-
torna, a cada dia, uma
• Fundação Universidade de to fornecendo diferentes
Caxiasdo Sul (UCS)
alternativa atraente, • Centro Tecnológico combinações de tecnolo-
dado o constante apri- Randon (CTR) • Instituto gia e aços para suportar a
Hercílio Randon (IHR)
moramento tecnológico • Centro de Competência em nova aplicação, como os
dos sistemas de arma- Manufatura (CCM) aços da marca GG TECH.
zenamento de energia A Randon, maior fa-
e da conexão destes APLICAÇÕES bricante de reboques e
com as infraestruturas. • Tecnologia possível em semirreboques da Amé-
É, realmente, um cami- caminhões, implementos rica Latina, vertical mon-
rodoviários e ônibus
nho sem volta”, diz. O tadora da Randoncorp, já
projeto foi desenvolvido MATURIDADE TEC. apresentou ao mercado
no âmbito do Rota 2030, uma exclusiva linha de
programa federal para
• TRL 8 semirreboques equipa-
fomentar Pesquisa e Desenvolvimen- dos com o sistema de tração auxiliar
to na cadeia automotiva. elétrico: a solução Hydrid R. No final de
A parceria com o Instituto SENAI 2022 dois modelos de semirreboques
foi importante para desenvolver e foram comprados por uma mineradora
aperfeiçoar, por exemplo, o sistema do Chile para trabalhar na extração de
de engrenagens do e-Sys. “Uma das lítio no deserto do Atacama. No Brasil,
grandes vantagens de trabalhar com um modelo para transporte de madei-
o SENAI é que a instituição dispõe de ra será incorporado por uma fabricante
clusters de conhecimento com voca- de celulose, que será usado no trans-
ções para necessidades específicas porte de produtos entre as cidades
de empresas. E também é capaz de se gaúchas de Guaíba e São Gabriel.

1º SEMESTRE • 2023 15
CONVERSÃO U
m dos grandes desafios do mer-
cado de mobilidade elétrica é a
redução de preços dos veículos,

PARA UMA ainda muito mais caros do que os con-

boa causa
vencionais. Enquanto montadoras e for-
necedores desenvolvem tecnologia para
baixar o custo das baterias e outros com-
ponentes, o retrofit surge como uma al-
ternativa mais econômica, que pode ace-
lerar o processo e democratizar o acesso.
Trata-se da conversão de veículos com
Com metodologia motores de combustão interna para mo-
de retrofit, veículos tores elétricos.
A Stellantis, dona de 14 marcas como
comerciais leves com Fiat, Jeep, Peugeot, Citröen e RAM, desen-
motores a combustão volve projetos de retrofit na Europa e no
poderão se tornar carros Brasil que se integram ao plano estratégi-
co de se tornar carbono neutro até 2038.
elétricos de baixo custo Por aqui, o SENAI é parceiro no projeto,
e o desenvolvimento de soluções está
a cargo do ISI Sistemas Embarcados. A
parceria envolve ainda o ISI Sistemas de

Projeto inclui
remoção do
powertrain a
combustão
e instalação
de kit de
conversão DIVULGAÇÃO
e baterias

16
Manufatura e o Institu- das e os materiais ne-
INDÚSTRIAS PARCEIRAS
to SENAI de Tecnologia cessários à conversão.
em Mobilidade Elétrica e • Stellantis • WEG O projeto começou
• FuelTech
Energias Renováveis, to- com o desenvolvimento
dos em Santa Catarina. INSTITUIÇÕES ENVOLVIDAS da etapa de remoção do
O projeto integra o powertrain a combustão
programa Rota 2030, do • ISI Sistemas Embarcados e a instalação do kit de
• ISI Sistemas de
Governo Federal, e mira a Manufatura • IST conversão e o conjunto
conversão de veículos co- Mobilidade Elétrica e de baterias. Os primeiros
Energias Renováveis
merciais leves, tanto no- veículos convertidos são
vos quanto usados, para INVESTIMENTOS dos modelos Fiat Fiorino
atender a demanda de e Peugeot Partner Rapid,
transportadores urbanos • R$ 1,4 milhão furgões compactos para
que rodam até 100 qui- transporte de cargas.
APLICAÇÕES
lômetros por dia – este é Posteriormente ini-
o limite para as baterias • Conversão de veículos ciaram-se os testes de
nessa configuração. As elétricos para utilização rodagem em ambiente
na cadeia logística
baterias são acomodadas controlado para ava-
no compartimento de car- MATURIDADE TEC. liação da performan-
gas dos veículos para que ce. A coleta de dados é
não sejam necessárias
• TRL atual: 5 realizada por meio de
• TRL final esperado: 8
mudanças estruturais. um módulo desenvolvi-
Já o motor a combustão é substituído do pelo ISI Sistemas Embarcados. A
por um kit powertrain elétrico produ- análise dos dados permite o ajuste
zido pela WEG. Também é parceira no fino dos parâmetros e a melhoria de
projeto a FuelTech, fabricante da VCU processos e componentes. Após esta
(Vehicle Control Unit), responsável pelo etapa o projeto deverá atingir o nível
gerenciamento do veículo. de maturidade tecnológica que possi-
Não se trata simplesmente de uma bilitará sua inserção no mercado.
troca. O objetivo é assegurar qualida- “A metodologia é mais um passo
de na conversão de veículos como na direção da oferta de mobilidade
equipamento original de fábrica, com sustentável e acessível, que é nossa
homologação, para que se possa as- prioridade”, afirma o diretor dos Pro-
segurar segurança e durabilidade. gramas e Planejamento de Produtos
Em outras palavras, os convertidos da Stellantis para a América do Sul,
pelo processo se tornarão veículos de Breno Kamei. A intenção é estender
emissão zero com garantia de fábrica. o projeto para outros modelos, para
Para se atingir esse estágio é ne- atender todos os públicos. Para o SE-
cessário estruturar um novo modelo NAI é uma oportunidade para o de-
de negócio que garanta eficiência e senvolvimento de competências para
um custo final acessível. O trabalho que possa se inserir de forma cada
dos Institutos SENAI inclui a realiza- vez mais aprofundada no processo
ção de um mapeamento completo de descarbonização da economia,
do processo, considerando variáveis uma das principais tendências de
como o número de horas despendi- mercado da atualidade.

1º SEMESTRE • 2023 17
Além de carga,
INFORMAÇÃO
Com Fleetsense os implementos rodoviários ficam
mais inteligentes e passam a fornecer dados essenciais
a gestores de frotas e motoristas de caminhão

A
catarinense Librelato, uma das básicas como os quilômetros rodados
principais fabricantes de imple- – o que se monitora é apenas a quilo-
mentos rodoviários do País, en- metragem do caminhão. “O foco princi-
controu no ISI Sistemas Embarcados o pal do projeto é a evolução tecnológica
parceiro ideal para se tornar também dos implementos rodoviários”, resume
uma fornecedora de serviços, sem per- Paulo Violada, pesquisador chefe do ISI
der o foco em sua área de atuação. O Sistemas Embarcados.
Fleetsense, produto resultante da par- A solução é composta por diversos
ceria, é um sistema de telemetria ca- sensores instalados nos implementos.
paz de fornecer a gestores de frotas ou Os dados obtidos são agregados em
motoristas de caminhão uma série de um módulo desenvolvido no âmbito do
dados essenciais para o controle do de- projeto. Outro módulo permite a gera-
sempenho de seus implementos. ção de dados inerciais e de geolocaliza-
De acordo com a companhia, o ob- ção e a coleta de dados do EBS, o freio
jetivo do projeto é o desenvolvimento eletrônico disponível em alguns imple-
da cadeia logística, considerando que mentos. Os dados são enviados à
os transportadores de carga, em ge-
ral, sabem muito pouco sobre
seus implementos, nem
mesmo informações

Transportadores
sabem pouco
sobre seus
implementos, e
projeto oferece
soluções
SHUTTERSTOCK

18 ESPECIAL • INOVAÇÃO
nuvem, onde as in- nexões tinham que
formações são pro- ser suficientemente
cessadas por meio robustos para su-
de algoritmos e in- portar o peso dos
teligência artificial. equipamentos, a
A visualização má condição das
das informações e rodovias e o calor
a gestão dos im- extremo em algu-
Plataforma digital
plementos são feitas por fornece informações mas localidades. Sem falar
meio da plataforma Fleet- como localização nas limitações das redes de
e pressão e
sense, que é um aplicativo temperatura dos telefonia, necessárias para
pneus
de celular. Por ali o usuário o envio dos dados à nuvem.
pode saber a localização do Para que os resultados
implemento e a rota, além de tempera- viessem mais rápido a companhia deci-
tura e pressão dos pneus, alertas de ve- diu criar uma startup que se dedicasse
locidade e diversas outras informações, integralmente ao aperfeiçoamento do
como o peso da carga que está sendo sistema e à sua comercialização. Nas-
transportada. Para esta função o proje- ceu daí a Sigaway, uma spin-off, deriva-
to desenvolveu um sensor específico, a da da empresa-mãe, com maior capa-
Balança Embarcada, que torna possível cidade para explorar o novo mercado.
ao usuário saber se o “O objetivo foi ganhar
implemento está sendo INDÚSTRIAS PARCEIRAS agilidade. Em uma startup
subutilizado ou se opera • Librelato • Sigaway as decisões precisam ser
com carga acima da per- • Transportadora Peregrina rápidas, o que a estrutura
mitida. A balança gerou • BCL Empreendimentos de grandes empresas às
duas patentes proto- vezes não permite”, afir-
INSTITUIÇÃO ENVOLVIDA
coladas e passará a ser ma José Carlos Sprícigo,
fabricada pela Librelato, • ISI Sistemas Embarcados CEO da Librelato.
que dessa forma agre- O projeto de Pesqui-
gará mais um produto TECNOLOGIAS sa e Desenvolvimento foi
ao portfólio. • Electronic Braking System transferido para a Siga-
O projeto teve início (EBS) Wabco • Arm Mbed OS way, que se instalou nas
na Librelato em 2021,
• Amazon Web Services (AWS) dependências do ISI Sis-
• Google Maps • React • Java
contando com apoio do • Sensor de deslocamento e temas Embarcados, em
programa federal Rota carga • LabVIEW Florianópolis. De fato os
2030, voltado ao desen- processos se aceleraram,
APLICAÇÕES
volvimento da cadeia au- tanto que os protótipos
tomotiva, e da Embrapii. • Gestão de frota e manutenção desenvolvidos puderam
Alguns dos principais de-
de implementos rodoviários ser apresentados ao mer-
safios enfrentados pelos cado na Fenatran de 2022,
INVESTIMENTOS
pesquisadores eram re- a principal feira de trans-
lacionados ao porte dos • R$ 3,76 milhões porte e logística do País,
implementos e às condi- ocasião em que a plata-
ções das estradas. Sen- MATURIDADE TEC. forma foi disponibilizada
sores, hardwares e co- • TRL 6 para diversos clientes.

1º SEMESTRE • 2023 19
DIVULGAÇÃO
Transformação
DIGITAL E CULTURAL
MBI em Fundição 4.0, criado pela Tupy e SENAI/SC, capacita
colaboradores a entender e a adotar as novas tecnologias, potencializando
os resultados dos investimentos realizados pela companhia

A
transformação digital de uma para que serve e como funciona a tec-
companhia do porte da Tupy, nologia da Indústria 4.0, os resultados
multinacional brasileira sediada esperados não serão alcançados. “Nos-
em Joinville, com 19 mil colaboradores so maior desafio está em fazer com que
e presença em mais de 40 países, é um as pessoas compreendam e adotem as
processo tão necessário quanto com- tecnologias habilitadoras em Indústria
plexo. Engana-se quem imagina que 4.0”, afirma Daniel Moraes, gerente
investimentos em tecnologia, equipa- executivo de Inovação e Transforma-
mentos e sistemas são capazes de, por ção Digital da Tupy.
si só, resolver a questão. A transforma- Foi com esse objetivo que a Tupy e
ção é antes de tudo cultural. Se os co- o SENAI de Santa Catarina estruturaram
laboradores não entenderem o que é, um MBI (Masters in Business Innovation)

20 ESPECIAL • INOVAÇÃO
em Fundição 4.0, um curso de pós-gra- integrados com problemas concretos
duação com disciplinas sobre automa- que enfrentam.
ção e digitalização industrial aplicadas A aposta na formação de colabo-
ao segmento da fundição. O conteúdo radores não é novidade na Tupy: em
foi talhado para as necessidades da 1959, o então presidente da empresa,
Tupy, permitindo aos colaboradores um Hans Dieter Schmidt, criou a Escola Téc-
mergulho nas mudanças tecnológicas nica Tupy, para preparar mão de obra
que estão moldando o futuro da empre- para a indústria. Nesta área a empresa
sa. Após dois anos de curso, a primeira tem forte relacionamento com o SENAI,
turma de 45 funcionários que oferece formação pro-
com diferentes perfis e ex- fissional nas áreas de me-
periências – há alunos das talurgia e usinagem, dentre
áreas operacional, admi- outras, o que pavimentou
nistrativa, comercial, de a criação conjunta do MBI.
finanças e de tecnologia – “Não é um curso de prate-
se formou no primeiro se- leira, mas algo com tópi-
mestre de 2023. cos avançados, construído
O MBI tem duração para as necessidades de
prevista de 360 horas e uma empresa que é líder
envolve docentes da Facul-
SEDE em um setor importante
Joinville
dade SENAI Joinville, pes- para Santa Catarina e o
quisadores dos Institutos FÁBRICAS Brasil”, diz Mauricio Cappra
SENAI de Inovação de Join- Joinville, Mauá (SP), Pauletti, gerente executivo
Betim (MG), Saltillo e
ville e Florianópolis, espe- Ramos Arizpe (México) de Inovação e Tecnologia
cialistas da Tupy e consul- e Aveiro (Portugal) do SENAI/SC.
tores em áreas específicas. COLABORADORES O MBI é voltado para
A primeira parte do curso 19 mil profissionais em cargos
é dividida em módulos de PRODUTOS de coordenação e gerên-
estratégia de planejamen- Componentes cia, que na estrutura da
to e liderança para Indús- estruturais de alta Tupy é o público mais en-
tria 4.0, fábricas inteligen- complexidade volvido com projetos di-
em ferro fundido
tes e modelos de negócios gitais ou que vai começar
em produtos inteligentes. RECEITA LÍQUIDA a usar as tecnologias. A
R$ 10,2 bilhões
“O objetivo é capacitar (2022) intenção é que eles atuem
os colaboradores, mos- como multiplicadores, dis-
trando quais são os pilares seminando novas práticas
da Indústria 4.0 e as novas competên- entre os subordinados e por toda a
cias requeridas, além de trazer solu- companhia. Não é ocasional que, para
ções e aplicações relacionadas a vários a primeira turma, os alunos tenham
tipos de tecnologia”, explica Thais Ball- sido recrutados em todas as áreas da
mann, docente e pesquisadora da Fa- empresa. “A Tupy inteira precisa ser di-
culdade SENAI Joinville, coordenadora gital, por isso houve o cuidado de reu-
do MBI. A segunda parte é voltada ao nir um grupo bem diverso, o que criou
chão de fábrica – os projetos de conclu- um desafio extra para o SENAI”, afirma
são de curso dos alunos devem estar Daniel Moraes.

1º SEMESTRE • 2023 21
A caçadora de
GARGALOS
Simulação Computacional ajusta processos produtivos e permite
converter tempo de movimentação de pessoas e mercadorias em
tempo de produção, gerando ganhos de produtividade

L
ocalizada em Maravilha, no Ex- em um projeto de Simulação Com-
tremo Oeste de Santa Catarina, putacional junto ao IST Logística de
a JJ Instalações Comerciais é es- Produção, de Itajaí, para desenvolver
pecializada na produção de equipa- o melhor layout possível para seus
mentos expositores como gôndolas, processos produtivos.
balcões, adegas e sistemas de ar- A simulação foi realizada tanto
mazenagem para supermercados. A para a unidade nova quanto para a
empresa vem dobrando de tamanho antiga, que ainda não implementou
ano após ano desde 2018, e para dar todos os itens sugeridos no projeto.
conta da expansão construiu uma fá- Falta, por exemplo, instalar um rebo-
brica nova. Mas antes de levantar os cador que circulará pelos corredores
alicerces a JJ investiu, ainda em 2021, da planta, coletando e entregando

DIVULGAÇÃO

Fábrica da JJ,
em Maravilha:
redução de
movimentações
pode chegar a
quase 80%

22 ESPECIAL • INOVAÇÃO
Custo para
simulação de
processos
na JJ foi de
R$ 64 mil

materiais. Mesmo assim o proprietá- dávamos conta do volume de movi-


rio da empresa, Thiago Simon, afirma mentação que isso gerava. A mudan-
que já foi percebida uma economia ça deve trazer ganhos significativos”,
de 60% em movimentações dentro informa o empresário.
da indústria – o projeto prevê que a O IST Logística de Produção come-
redução chegue a 79%. “Foi o ponto çou a oferecer serviços de Simulação
que mais chamou atenção no proces- Computacional para a indústria e ao
so. A movimentação dentro da fábri- setor público em 2013. O primeiro
ca antiga estava sendo feita de forma cliente foi a siderúrgica ArcelorMittal,
errada, o layout parecia uma teia de em um projeto em São Francisco do
aranha. Conseguimos melhorar mui- Sul. Desde então, empresas como
to com as opções desenvolvidas atra- Britânia, Hering, BRF, Kyly e os por-
vés da simulação”, conta Simon. tos de Itajaí, Navegantes e Itapoá,
Outra ideia surpreendente que a além dos departamentos de trânsito
Simulação Computacional permitiu de cidades como Itajaí e Xanxerê, já
testar foi a inserção do almoxarifado se beneficiam da tecnologia para me-
da nova fábrica no centro da planta, lhorar processos, identificar gargalos,
como uma ilha servindo todos os se- otimizar o uso de equipamentos, di-
tores. A JJ vem implementando tec- minuir filas de espera e aumentar a
nologias da Indústria 4.0, incluindo o competitividade.
uso de robôs, e conta com uma das Nilton Bendini Junior, instrutor e
linhas de pintura mais tecnológicas consultor sênior do Instituto SENAI
do País, totalmente autônoma e au- e especialista em Simulação Compu-
tomatizada. A simulação permitiu tacional, elaborou o termo “visão de
inserir a máquina de pintura ao lado arquibancada” para explicar o poten-
da linha de montagem, e não somen- cial de uma simulação para proces-
te no final do processo de corte e sos complexos como os que ocorrem
dobra, como era na planta anterior. em uma fábrica. “No futebol existe a
“Havia vários processos da linha de visão do técnico, a do jogador e a da
montagem que dependiam da pintu- arquibancada, de onde se consegue
ra. Nós sabíamos disso, mas não nos ver o jogo como um todo”, explica

1º SEMESTRE • 2023 23
Uma simulação envolve a aplicação de algoritmos e estruturação de dados
para modelar uma operação do mundo real dentro de um ambiente virtual
Bendini. “A simulação permite enxer- mite criar situações de forma muito
gar o processo de cima, ver tudo ao rápida, determinando, por exemplo,
mesmo tempo. Isso dá condições de quantos metros o colaborador an-
ter insights de forma muito mais rápi- dou, quanto tempo ficou carregando
da, e com comprovação, para tomar e descarregando, quanto tempo ficou
decisões e realizar mudanças.” ocioso. O sistema pode prever com-
O processo de Simulação Compu- portamentos, quebra de máquinas e
tacional tem cinco etapas. As duas avaliar o que um novo equipamento
primeiras são de criação e validação traria de benefício para os processos.
do cenário inicial, que inclui a coleta “É uma simulação da realidade, muito
de dados. Em seguida vêm as fases mais dinâmica que uma planilha de
de desenho de soluções propostas, Excel”, argumenta Bendini.
experimentação de cenários e avalia- Os resultados são apresentados de
ção dos resultados. O software per- forma didática, em painéis e em de-
monstrações que lembram jogos de
computador. Há também uso de ócu-
los de realidade virtual para um “pas-
seio” pela fábrica simulada. Finalizado
o processo, o Instituto entrega a simu-
lação para o cliente com uma interfa-
ce que permite fazer outros testes e
ajustes de forma independente.
Os investimentos realizados na
fase de projeto são dissipados rapi-
damente durante a execução, quan-
do há não apenas mais retorno fi-
nanceiro, mas também aceleração
nos resultados. “O que estamos fa-
zendo, no caso da JJ, por exemplo, é
eliminar tempo de movimentação e
Simulações
na Electro converter em tempo de produção”,
Aço Altona: resume Bendini.
projetos
podem levar à A Electro Aço Altona, de Blume-
reformulação nau, começou a se valer de simula-
de toda
a planta ções computacionais em 2017, pri-
industrial
meiramente focada em um único
setor. Os resultados obtidos fizeram
a quase centenária empresa de fun-
dição e usinagem apostar em um pro-
jeto de grande envergadura: simular
e, talvez, reformular todos os setores
da planta de 113 mil metros quadra-

24 ESPECIAL • INOVAÇÃO
AJUSTES LUCRATIVOS
Alguns resultados que podem ser
obtidos com Simulação Computacional
• Balanceamento da linha de produção
• Melhoria na aderência do planejado versus realizado
• Identificação das oportunidades de melhoria em
estruturas e processos
• Redução de processos burocráticos
• Desdobramento das diretrizes
• Identificação e redução dos custos logísticos

SHUTTERSTOCK
• Capacitação da equipe
• Aderência aos pilares da Indústria 4.0

dos para fazer frente a um aumento em quase 40% a entrega da fábrica:


de demanda que a fábrica não conse- de 800 toneladas para 1.100 tone-
guia atender. “A empresa tem muitos ladas por mês. O primeiro projeto,
setores, nosso processo envolve mui- de 2017, já havia dividido o setor de
tas áreas de atuação, e chegamos a moldagem em duas linhas e obtido
um limite. Não conseguíamos simular ganhos de 50% de produtividade.
internamente todos os subprocessos A empresa constatou que um dos
ao mesmo tempo, mas com as ferra- principais benefícios da Simulação
mentas da Simulação Computacional Computacional é dar confiança para
isso foi possível”, diz Danilo Cor- quebrar paradigmas e tomar decisões
reia, diretor industrial da Altona. que custam caro e precisam dar retor-
A Simulação Compu- no. “Trabalhamos com duas
tacional completa, reali-
zada pelo Instituto SENAI,
R$ 329 MIL unidades de negócio que se
cruzam durante a produ-
permitiu uma visão mais Investimento ção. São processos diferen-
assertiva dos gargalos e
da Altona em tes, o que torna tudo muito
se transformou em um
Simulação complexo, difícil de visua-
verdadeiro plano diretor
Computacional lizar em um papel ou uma
para a empresa. As prin-
cipais mudanças já reali-
40% planilha. A simulação traz
essa confiança, e facilita
zadas incluem uma alte-
Aumento da
entrega da fábrica até mesmo a mudança de
ração na linha de peças após os ajustes cultura dentro da empre-
pós-usinagem, mudando sa”, analisa o especialista
a forma de operação de cada tra- em gestão de recursos e capacidade,
balhador, e a inserção de um robô Guilherme Mendes. Ele acredita que
para fazer o lixamento das peças, a parceria com o Instituto SENAI será
permitindo uma maior padroniza- um projeto contínuo. “Estamos sem-
ção da entrega das peças para a fase pre alterando produtos e processos.
seguinte de produção e diminuin- Não vejo mais a Altona fazendo gran-
do o retrabalho. Com as alterações des mudanças sem simular antes”,
propostas, a empresa aumentou conclui Mendes.

1º SEMESTRE • 2023 25
REDE DE Institutos SENAI de Tecnologia
Apoiam indústrias de todos os portes com

INOVAÇÃO
serviços técnicos de metrologia e consul-
toria, e criam novos produtos e processos
com base em tecnologias já existentes.
Também atuam em projetos de pesquisa

para a indústria
aplicada. Há 59 unidades especializadas no
País, sendo sete em Santa Catarina:
• Alimentos e Bebidas (Chapecó)
• Ambiental (Blumenau)
• Cerâmica (Criciúma)
ISI Processamento a Laser (Joinville) • Logística de Produção (Itajaí)
É o primeiro centro de processamento de me- • Madeira e Mobiliário (São Bento do Sul)
tais a laser da América Latina, com pesquisas em • Mobilidade Elétrica e Energias
manufatura aditiva metálica a laser, deposição Renováveis (Jaraguá do Sul)
metálica a laser, modificação de superfícies, tra- • Têxtil, Vestuário e Design (Blumenau)
tamento térmico localizado e soldagem a laser

JOINVILLE
SÃO BENTO DO SUL

JARAGUÁ DO SUL

CHAPECÓ

ITAJAÍ
BLUMENAU

ISI Sistemas de
FLORIANÓPOLIS

Manufatura (Joinville)
Possui uma estrutura completa de laboratórios e
pesquisadores para desenvolver e validar proje-
tos de máquinas especiais, robótica não conven-
cional e processos de manufatura
CRICIÚMA

ISI Sistemas Embarcados (Florianópolis)


Produtos que englobam Transformação Digital,
IoT, Indústria 4.0 e máquinas e equipamentos
inteligentes por meio de desenvolvimento de
software, hardware e ciência de dados
FOTOS: ARQUIVO FIESC

26 ESPECIAL • INOVAÇÃO
EDIÇÃO
EDIÇÃO
ESPECIAL
ESPECIAL

ESPECIAL INOVAÇÃO • 1º SEMESTRE • 2023


&
Competitividade

Indústria & Competitividade

Neoindustrialização do Brasil passa pelos Institutos SENAI


de Santa Catarina, que desenvolvem soluções alinhadas
às novas tendências globais

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