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DIFISEK+

PARTE 3: Comportamento Mecânico

B. Zhao
CTICM – Centre Technique de la Construction Métallique, France

1. INTRODUÇÃO À ANÁLISE DO COMPORTAMENTO MECÂNICO DE ESTRUTURAS


EM SITUAÇÃO DE INCÊNDIO

Durante um incêndio, o comportamento mecânico da estrutura pode ser considerado como a última
etapa da sequência ilustrada na figura 1. Este é também um dos impactos mais importantes na
estrutura devido a um incêndio.

carregamento
Θ

Colunas
de aço
tempo
1: Ignição 2: Acções térmicas 3: Acções mecânicas

tempo
4: Comportamento 5: Comportamento 6: Colapso
térmico mecânico eventual

Figura 1 – Resistência ao fogo – sequência de eventos

Note-se que o comportamento mecânico de uma estrutura em situação de incêndio está directamente
relacionado com o modo como esta se comporta quando sujeita ao fogo. De um modo geral, a reacção
de uma estrutura ao fogo pode ser descrita da seguinte maneira (ver também a figura 2):
• Variação da temperatura, também designada por comportamento térmico, induzida pela
transferência de calor do incêndio.

WP3 – Comportamento Mecânico 1


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• Uma vez aquecida, a estrutura deforma-se de acordo com o coeficiente de dilatação térmica
que é normalmente positivo.
• Ao mesmo tempo, um aumento de temperatura considerável altera as características dos
materiais: diminuição da rigidez e da resistência dos elementos, provocando deformações
adicionais na estrutura.
• Em alguns casos, a diminuição da rigidez e da resistência é de tal forma relevante que a
estrutura é incapaz de suportar as cargas a que está sujeita, e consequentemente ocorre o
colapso.

aumento de temperatura Î dilatação térmica + diminuição da


rigidez e resistência Î deformações adicionais ⇒ possível colapso

t = 0 ? = 20°C 16 min ? = 620°C

22 min ? = 720°C 31 min ? = 820°C

Figura 2 – Comportamento da estrutura ao fogo

Facilmente se percebe o comportamento geral de uma estrutura em situação de incêndio; mas é


extremamente importante que o engenheiro seja capaz de prever de um modo preciso o
comportamento estrutural de um edifício, de forma a saber exactamente qual o seu nível de segurança
ao fogo. Na actual engenharia de segurança contra incêndio, existem duas formas de se avaliar o
comportamento mecânico das estruturas ou dos elementos estruturais expostos ao fogo (ver figura 3).
• Como é sabido, os ensaios ao fogo são sempre uma forma possível de obter o comportamento
mecânico das estruturas ou dos elementos estruturais. Qualquer que seja o custo que lhes
esteja associado, estes ensaios representam um instrumento muito útil para investigar o
comportamento mecânico das estruturas em situação de incêndio.
• Por outro lado, é cada vez mais comum os engenheiros avaliarem o comportamento mecânico
das estruturas ou dos elementos estruturais expostos ao fogo através de regras de
dimensionamento, que representam o assunto principal deste documento.

WP3 – Comportamento Mecânico 2


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‰ Objectivo
¾ Descrever o comportamento estrutural devido ao efeito de
qualquer tipo de incêndio.
‰ Meios P

Ensaios ao fogo Dimensionamento

P
Deformação Carga resistente

P
Ensaio padrão
Tempo Tempo

Figura 3 – Avaliação do comportamento mecânico de estruturas em situação de incêndio

2. PRINCÍPIOS GERAIS DO DIMENSIONAMENTO AO FOGO EM ESTRUTURAS


METÁLICAS E ESTRUTURAS MISTAS

2.1. Aspectos básicos do comportamento mecânico de estruturas metálicas e mistas em situação


de incêndio

A avaliação do comportamento mecânico de estruturas metálicas e mistas em situação de incêndio,


através das regras de dimensionamento prescritas nos Eurocódigos, implica ter um bom conhecimento
dos aspectos seguintes:
• Em primeiro lugar, o cálculo das acções mecânicas relevantes que actuam na estrutura em
situação de incêndio.
• Em segundo lugar, as propriedades materiais que variam com a temperatura: a relação tensão-
extensão, o módulo de Young e a tensão de cedência para temperaturas elevadas.
• Em terceiro lugar, as diferentes abordagens de cálculo e os seus campos de aplicação, quer
com regras simples de dimensionamento, quer com ferramentas de cálculo avançado de
segurança em situação de incêndio.
• Finalmente, os pontos específico como pormenores construtivos, as ligações entre os
diferentes elementos estruturais, que não são tidos em consideração no cálculo mas que são
extremamente importantes para garantir um nível de segurança suficiente em situação de
incêndio.

2.2. Acções Mecânicas – Combinações de acordo com os Eurocódigos

WP3 – Comportamento Mecânico 3


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Em situação de incêndio, as cargas aplicadas em estruturas podem ser combinadas de acordo com a
expressão seguinte (veja a relação 6.11b da EN1990):

∑G
i ≥1
k, j + (Ψ1,1 ou Ψ2,1 )Qk ,1 + ∑ Ψ2,i Qk ,i
i ≥1

sendo:
Gk,j: valores característicos das acções permanentes
Qk,1: valor característico da acção variável de base
Qk,i: valores característicos das outras acções variáveis
ψ1,1: factor de combinação associado à acção variável de base (valores frequentes – recomendado)
ψ2,i: factor de combinação associado às restantes acções variáveis

Os valores dos coeficientes ψ1 e ψ2 são indicados na tabela A1.1 da EN1990 mas podem ser
modificados de acordo com o Anexo Nacional.

WP3 – Comportamento Mecânico 4


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Outro aspecto amplamente usado no cálculo em situação de incêndio e descrito nos Eurocódigos é o
E d,fi
nível de carregamento para uma situação de incêndio η fi,t , é definido por η fi,t = , sendo E d e
Ed

E d,fi , o valor de cálculo das acções à temperatura ambiente e em situação de incêndio, respectivamente.

Em alternativa, pode ser determinado por:


Gk + ψ fi,1 Qk,1
η fi,t =
γ G Gk + γ Q,1 Qk,1

sendo γ Q,1 o coeficiente parcial de segurança relativo a acção variável de base.

Na realidade, o nível de carregamento depende em grande parte do factor ψ1,1 que varia em função das

características dos edifícios. Na EN1993-1-2 (fogo em estruturas metálicas) e na EN1994-1-2 (fogo


em estruturas mistas), mostra-se a influência da relação das cargas Qk,1 / Gk e o factor ψ1,1 no nível de

carregamento (figura 4).

η 0,8
fi

0,7
Ψfi,1= 0,9
0,6

Ψfi,1= 0,7
0,5

Ψfi,1= 0,5
0,4

0,3
Ψfi,1= 0,2

0,2
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0
Q k,1 / G k

Figura 4 – Variação do factor de redução ηfi com a relação das cargas Qk, 1 / Gk

Em alternativa ao método utilizado para calcular o nível de carregamento η fi,t , existe uma forma, mais

prática, de determinar este valor:


E d,fi
η fi,t =
Rd

sendo R d o valor de cálculo da capacidade resistente à temperatura ambiente, onde certamente


Ed ≤ Rd .

WP3 – Comportamento Mecânico 5


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O nível de carregamento obtido da relação anterior é inferior ao obtido com a carga de


dimensionamento à temperatura ambiente, consequentemente, obtêm-se um dimensionamento mais
económico para a situação de incêndio.

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2.3. Propriedades mecânicas dos materiais de estruturas metálicas e mistas a temperaturas


elevadas

2.3.1. Relações tensão-extensão do aço a temperaturas elevadas

As duas matérias-primas usadas para as estruturas metálicas e mistas são o aço e o betão. É necessário
conhecer as suas propriedades mecânicas a temperaturas elevadas. A EN1993-1-2 e a EN1994-1-2
apresentam informações detalhadas sobre estes dois materiais. No que se refere ao aço estrutural, a
resistência em função da temperatura, assim como as relações tensão-extensão a temperaturas
elevadas, estão ilustradas na figura 5. Pode-se constatar que o aço apresenta grande diminuição de
rigidez e resistência a partir dos 400 ºC. Aos 600 ºC a rigidez reduz em aproximadamente em 70% e a
resistência em aproximadamente 50%.

As propriedades mecânicas detalhadas do aço a temperaturas elevadas podem ser obtidas usando os
dados apresentados na tabela 3.1 e na figura 3.1 da EN1993-1-2.

Resistência
(% do valor normal) Tensão adimensionalizada

Tensão de 20°C 200°C 400°C


100 1
cedência efectiva
0.8 500°C
80
60 0.6 600°C
40 0.4
Módulo de 700°C
20 elasticidade 0.2 800°C
0
0 300 600 900 1200 0 5 10 15 20
Temperatura (°C)
Extensão (%)

‹ O módulo de elasticidade a 600°C reduz para aproximadamente 70%


‹ A tensão de cedência a 600°C reduz para aproximadamente 50%

Figura 5 – Propriedades mecânicas do aço estrutural a temperaturas elevadas

WP3 – Comportamento Mecânico 7


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Tabela 3.1 – Factores de redução para a relação tensão-extensão


do aço carbono a temperaturas elevadas

Factores de redução à temperatura θa referidos ao valor de fy ou Ea a 20 ºC


Factor de redução Factor de redução Factor de redução
Temperatura
(referido a fy) (referido a fy) (referido a Ea)
do aço
para a tensão de para a tensão limite para a inclinação da recta
cedência efectiva de proporcionalidade que representa o domínio
θa
ky,θ = fy,θ / fy kp,θ = fp,θ / fy elástico
kE, = Ea,θ / Ea
20 ºC 1,000 1,000 1,000
100 ºC 1,000 1,000 1,000
200 ºC 1,000 0,807 0,900
300 ºC 1,000 0,613 0,800
400 ºC 1,000 0,420 0,700
500 ºC 0,780 0,360 0,600
600 ºC 0,470 0,180 0,310
700 ºC 0,230 0,075 0,130
800 ºC 0,110 0,050 0,090
900 ºC 0,060 0,0375 0,0675
1000 ºC 0,040 0,0250 0,0450
1100 ºC 0,020 0,0125 0,0225
1200 ºC 0,000 0,0000 0,0000
NOTA: Para os valores intermédios da temperatura do aço, poderá efectuar-se uma
interpolação linear.

WP3 – Comportamento Mecânico 8


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Domínio de Tensão σ Módulo tangente


extensões
ε ≤ εp,θ ε Ea,θ Ea,θ

b(ε y,θ - ε )
εp,θ < ε < εy,θ [
f p,θ - c + (b/a) a 2 - (ε y,θ - ε )2 ] 0,5

[
a a − (ε y,θ - ε )2
2
] 0,5

εy,θ ≤ ε ≤ εt,θ fy, 0

εt,θ < ε < εu,θ f y,θ [1 - (ε - ε t,θ )/ (ε u,θ - ε t,θ )] -

ε = εu,θ 0,00 -
Parâmetros εp,θ = fp,θ / Ea,θ εy,θ = 0,02 εt,θ = 0,15 εu,θ = 0,20

a = (ε y,θ - ε p,θ )(ε y,θ - ε p,θ + c/ E a,θ )


2

b = c (ε y,θ - ε p,θ ) E a,θ + c


2 2

Funções
(f y,θ - f p,θ ) 2

(ε y,θ - ε p,θ ) E a,θ - 2( f y,θ - f p,θ )


c=

Tensão σ

f y,θ

f p,θ

E a,θ = tan α
α
εp,θ ε y,θ ε t,θ ε u,θ Extensão ε

fy,θ: tensão de cedência efectiva; fp,θ: tensão limite de proporcionalidade; Ea,θ: inclinação da
recta que representa o domínio elástico; εp,θ: extensão limite de proporcionalidade; εy,θ:
extensão de cedência;εt,θ: extensão limite para o patamar de cedência; εu,θ: extensão última.

Figura 3.1 – Relação tensão-extensão para o aço carbono a temperaturas elevadas

2.3.2. Relação tensão-extensão do betão a temperaturas elevadas

WP3 – Comportamento Mecânico 9


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Da mesma forma, as propriedades mecânicas do betão a temperaturas elevadas podem ser obtidas da
EN1994-1-2 (ver figura 6). No que respeita à resistência à compressão do betão, pode-se afirmar que
esta decresce gradualmente até aproximadamente 50% do seu valor à temperatura ambiente aos 600ºC,
algo semelhante ao aço estrutural.

O procedimento para se estabelecer as propriedades mecânicas do betão a temperaturas elevadas está


indicado na tabela 3.1 e na figura 3.1 da EN1994-1-2.

Resistência Tensão adimensionalizada


Extensão (%)
% do valor normal
6 1.0 20°C
Extensão εcu 200°C
100 para a 5
0.8
resistência 400°C
4
máxima 0.6
3 600°C
Normal-
50 0.4
weight 2
Concrete
1 0.2 800°C

0 0
400 800 1200 1 2 3 4
Temperatura (°C) Extensão (%) εcu
‹ A resistência à compressão a 600°C reduz para aproximadamente
50%
Figura 6 – Propriedades mecânicas do betão normal a temperaturas elevadas

σc,θ

f c,θ

I II

ε cu,θ ε ce,θ ε c,θ

I:

⎡ ⎛ε ⎞ ⎧⎪ ⎛ ε c ,θ ⎞
3
⎫⎪⎤
σ c ,θ = f c ,θ ⎢ 3 ⎜ c ,θ ⎟ ⎨2 + ⎜ ⎟ ⎬⎥
⎢ ⎜⎝ ε cu ,θ ⎟
⎠ ⎪⎩
⎜ε
⎝ cu ,θ

⎠ ⎪⎭⎥⎦

f c,θ ⎫
k c,θ = ⎪
f c ⎬ para ser escolhido de acordo com os valores da Tabela 3.3
and ε cu ,θ ⎪ ⎭

II: Para efeitos numéricos deve ser adoptado um membro descendente


Figura 3.2 – Modelo matemático para as relações tensão-extensão do betão em compressão a
temperaturas elevadas

WP3 – Comportamento Mecânico 10


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WP3 – Comportamento Mecânico 11


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Quadro 3.3 – Valores dos dois parâmetros principais das relações tensões-extensões
do betão de massa volúmica normal (NC) e do betão leve (LC) a temperaturas elevadas
Temperatura do betão k c ,θ = f c ,θ f c ε cu ,θ . 10 3
θ c [°C] NC LC NC
20 1 1 2,5
100 1 1 4,0
200 0,95 1 5,5
300 0,85 1 7,0
400 0,75 0,88 10,0
500 0,60 0,76 15,0
600 0,45 0,64 25,0
700 0,30 0,52 25,0
800 0,15 0,40 25,0
900 0,08 0,28 25,0
1000 0,04 0,16 25,0
1100 0,01 0,04 25,0
1200 0 0 -

2.3.3. Dilatação térmica do aço e do betão

Paralelamente às propriedades mecânicas, é necessário ter-se em consideração a dilatação térmica do


aço e do betão na avaliação da segurança em situação de incêndio, em particular, nos modelos
avançados de cálculo. Deste modo, a EN1993-1-2 e a EN1994-1-2 recomendam a utilização das
curvas de dilatação indicadas na figura 7, respectivamente para o aço e betão. As expressões
matemáticas destas curvas apresentam-se de seguida.

WP3 – Comportamento Mecânico 12


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20 ∆L/L (x103)

15 betão normal

10 aço

0
0 200 400 600 800 1000 1200
temperatura (°C)
∆l / l = − 2,416 . 10 −4 + 1,2 . 10 −5 θ a + 0,4 . 10 −8 θ 2a for 20 °C <θ a ≤ 750 °C

∆l / l = 11 . 10 −3 for 750 °C <θ a ≤ 860 °C


Steel
∆l / l = − 6,2 . 10 −3 + 2 . 10 −5 θ a for 860 °C <θ a ≤ 1200 °C

Or in simple way: ∆l / l = 14 . 10 −6 (θ a − 20 )

∆l / l = − 1,8 . 10 −4 + 9 . 10 −6 θ c + 2,3 . 10 −11 θ 3c for 20 °C ≤ θ c ≤ 700 °C

Concrete ∆l / l = 14 . 10 −3 for 700 °C < θ c ?≤ 1200 °C

Or in simple way: ∆l / l = 18 . 10 (θ c − 20 )
−6

l is the length at 20°C of the steel or concrete member


where: ∆l is the temperature induced elongation of the steel or concrete member
θ a and θ c are respectively the steel or concrete temperature

Figura 7 – Dilatação térmica do aço e do betão (EN1992-1-2, EN1993-1-2 e EN1994-1-2).

2.4. Cálculo do comportamento mecânico de estruturas em situação de incêndio

Relativamente ao cálculo do comportamento mecânico de estruturas expostas ao fogo, estão previstas


três abordagens diferentes como se indica seguidamente (ver também a figura 8):
• Análise de elementos isolados, no qual cada elemento da estrutura é avaliado de forma
independente considerando-se por isso completamente isolado dos restantes. As condições de
ligação entre os elementos são substituídas por condições de fronteira apropriadas.
• Análise de partes da estrutura, na qual uma parte da estrutura é tida directamente em conta na
avaliação, usando condições fronteira apropriadas para reflectir as suas ligações com outras
partes da estrutura.
• Análise global da estrutura, na qual toda a estrutura é analisada.

WP3 – Comportamento Mecânico 13


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Análise global da estrutura

Análise de partes da estrutura

Análise de elementos isolados


(aplicado essencialmente quando se
pretende verificar a resistência a um
incêndio padrão)

Figura 8 – Abordagens de análise do comportamento mecânico de estruturas em situação de


incêndio.

Relativamente à avaliação do comportamento mecânico de estruturas em situação de incêndio, podem


ser feitas as seguintes observações sobre os procedimentos de cálculo:
• A análise de elemento será aplicada aos elementos isolados da estrutura (elemento a elemento),
é fácil de usar em particular com métodos simplificados de cálculo, por conseguinte
amplamente usada em condições de incêndio nominal (por exemplo: incêndio padrão ISO-834).
• A análise de partes da estrutura ou a análise global considera vários elementos estruturais
ligados para que o efeito de interacção entre eles seja contemplado. A redistribuição dos
esforços nas partes aquecidas (partes menos resistentes dentro do compartimento de incêndio)
para partes mais frias (partes mais resistentes fora do compartimento de incêndio) é considerada
no comportamento global das estruturas. Desta analise obtêm-se um comportamento mecânico
em situação de incêndio mais aproximado da realidade.

Análise de elementos Análise global da estrutura


isolados

¾ análise individual de cada um ¾ efeito da interacção entre as


dos elementos estruturais diferentes partes da estrutura
¾ fácil de aplicar ¾ importância da compartimentação
¾ curvas de incêndio nominal ¾ estabilidade global
(ex. curva ISO-834)

Figura 9 –Abordagens de análise do comportamento mecânico de estruturas em situação de incêndio

WP3 – Comportamento Mecânico 14


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De acordo com Eurocódigos actuais, as abordagens de cálculo acima mencionadas apresentam três
níveis de sofisticação de cálculo para avaliar o comportamento mecânico de estruturas em situação de
incêndio, a saber:
• Métodos de cálculo simples baseados em valores tabelados, sendo este método apenas
aplicável a estruturas mistas de aço - betão.
• Métodos simplificados de cálculo. Este tipo de métodos de cálculo pode ser dividido em dois
grupos diferentes, o primeiro é o famoso método da temperatura crítica, extensamente
aplicado à análise de elementos estruturais metálicos, e o segundo são todos os modelos
mecânicos simples desenvolvidos para a análise de elementos estruturais metálicos e mistos.
• Métodos avançados de cálculo. Esta metodologia pode ser aplicada a todos os tipos de
estruturas, baseiam-se em métodos de elementos finitos ou métodos de diferenças finitas.
Actualmente, na engenharia de segurança contra incêndio, estes métodos tem sido cada vez
mais usados devido às numerosas vantagens que advém da sua aplicação.

Antes de caracterizar detalhadamente os métodos de cálculo anteriores, é importante realçar os seus


domínios de aplicação. A tabela da figura 10 mostra as diferentes possibilidades de aplicação de três
métodos de avaliação em condições de incêndio nominal (padrão). Facilmente se vê que para a análise
de elementos isolados podem ser aplicados os três métodos de avaliação. Em muitos poucos casos, o
método simplificado de cálculo pode ser aplicado à análise da resistência mecânica de partes de
estruturas sujeita ao fogo, como por exemplo, as armaduras. Assim, os métodos simplificados de
cálculo estão praticamente limitados à análise de elementos isolados. Mesmo em situação de incêndio
nominal, no cálculo ao fogo com estruturas complexas deve usar-se, em geral, modelos avançados de
cálculo.

‰ Acções térmicas:
curvas de incêndios nominais

Tipos de métodos Métodos


análise tabelas simplificados de avançados de
cálculo cálculo
análise de sim
elementos Incêndio standard sim sim
isolados ISO-834
análise de
partes da Não se aplica sim sim
estrutura (se disponível)
análise global
da estrutura Não se aplica não se aplica sim

Figura 10 – Domínio de aplicação dos diferentes métodos de cálculo em situação de incêndio nominal

WP3 – Comportamento Mecânico 15


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Em condições de incêndios naturais, a aplicação de métodos simplificados de cálculo está


consideravelmente limitada uma vez que a respostas térmica do elemento aquecido é completamente
diferente da que acontece em situação de incêndio padrão. Esta é a razão pela qual na tabela da figura
11 existe um número maior de situações em que é impossível aplicar os métodos simplificados de
cálculo para este tipo de incêndios; a única excepção diz respeito a elementos metálicos com ou sem
protecção e completamente expostos ao fogo.

A aplicação de métodos avançados de cálculo, no caso de condições de incêndio naturais, é possível


em qualquer situação. Estes métodos contemplam a resposta térmica de todos os elementos estruturais
sujeitos a acções térmicas variáveis assim como a resposta mecânica dos elementos estruturais, partes
da estrutura ou a totalidade da mesma, tendo em conta a resistência real dos materiais, os factores de
redução da rigidez, o efeito da dilatação térmica e o gradiente térmico, etc.

‰ Acções térmicas:
curvas de incêndios naturais

Tipos de métodos Métodos


análise tabelas simplificados de avançados de
cálculo cálculo
análise de
elementos Não se aplica sim sim
isolados (se disponível)
análise de
partes da Não se aplica Não se aplica sim
estrutura
análise global
da estrutura Não se aplica não se aplica sim

Figura 11 – Domínio de aplicação dos diferentes métodos de cálculo em situação de incêndio natural

Todos os procedimentos para aplicação dos métodos anteriores estão definidos nos Eurocódigos (ver a
figura 12).

WP3 – Comportamento Mecânico 16


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Método s d e cálcu lo

Re gras pre scritivas


(Acçõe s térmi cas dad as pel o fo go no mina l)

Anál ise de Aná lise d e parte An áli se da estrutura


u m e leme nto d a estrutura comp leta

D etermin ação d as D etermin ação d as Sel ecção


acçõ es mecân icas acçõ es mecân icas
d as acçõe s
e da s co ndi ções e da s co ndi ções
mecâ nica s
d e fro nteira d e frontei ra

Mo de los Mo del os Mod elo s Mod el os


Da do s Mod elo s
ta bel ado s a vança dos si mpli fi cado s d e ava nçad os ava nçad os
simp lifica dos de d e cálcu lo cá lcul o de cá lcul o de cá lcul o
cál culo (caso existam)

Re gul amen to b asea do no d esemp enh o


(Acçõe s térmi cas defin ida s co m b ase físi ca)

Sel ecção d e mode lo s de


d esen volvi mento de i ncên dio
si mple s o u avan çado s

An áli se de Aná lise d e parte Aná lise d a estrutura


um el emen to da estrutura co mple ta

De te rmina ção da s D etermin ação d as


Se lecçã o
acçõe s me câni cas acçõ es mecân icas d as acçõ es
e das con diçõ es e da s co ndi ções me câni cas
de fron teira d e frontei ra

Mod elo s Mode los Mo del os Mo del os


simp lifica dos de avan çado s ava nçad os a vança dos
cál culo de cál culo de cá lcul o d e cálcu lo
(caso exi sta m)

Figura 12 – Procedimentos de cálculo alternativos

WP3 – Comportamento Mecânico 17


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3. DESCRIÇÃO DOS PRINCÍPIOS DOS MÉTODOS DE CÁLCULO PARA ANÁLISE DE


ELEMENTOS DE ESTRUTURAS METÁLICAS E MISTAS

3.1. Valores tabelados

Após se apresentar os domínios de aplicação dos vários métodos de cálculo, é interessante fazer-se
uma abordagem sobre os princípios de aplicação destes métodos. Em primeiro lugar, um dos métodos
de cálculo mais usado para a análise de elementos mistos de aço-betão, os valores tabelados.

Como se apresenta na figura 13, este tipo de método de cálculo aplica-se aos seguintes elementos
estruturais:
• Vigas mistas de aço e betão com o betão colocado parcialmente ou completamente nas vigas
de aço
• Pilares mistos de aço e betão com o betão parcialmente ou completamente encaixado nos
perfis
• Pilares mistos de aço e betão com secções ocas preenchidas com betão (CHS ou RHS)

Vigas mistas Pilares mistos

Laje

Betão como protecção

Figura 13 – Domínio de aplicação dos métodos de cálculo com valores tabelados

Qual é o princípio do método de cálculo com valores tabelados para análise de elementos mistos de
aço e betão?
Este método utiliza valores predefinidos que resultaram de ensaios ao incêndio padrão e que foram
ajustados de acordo com simulações numéricas (ver figura 14). Todos os valores estão relacionados
entre si, de acordo com a resistência padrão ao fogo, o nível de carregamento, as dimensões mínimas
das secções dos elementos, a armaduras necessária e o recobrimento mínimo do betão, numa ou em

WP3 – Comportamento Mecânico 18


DIFISEK+

mais tabelas de consulta rápida que apresentam a dimensão do elemento a usar numa determinada
situação de incêndio.

A maior vantagem deste método consiste na facilidade da sua aplicação e na obtenção de resultados
mais seguros que os métodos de cálculo simplificados ou avançados. Desta forma, os arquitectos ou
engenheiros podem aplicar este método durante o pré-dimensionamento de um edifício, para
determinarem a dimensão mínima aproximada da secção dos elementos estruturais em situação de
incêndio.

ef
Segurança
Ac As h Resistência ao contra
fogo padrão
us incêndio
ew
us Nível de
b R30 R60 R90 R120
Relação mínima entre as espessuras da alma e do banzo
carregamento
0,5
ew/ef
Dimensões
dimensões mínimas da secção transversal para o
1
nível de carregamento
ηfi,t ≤ 0,28
da secção
dimensões mínimas h e b [mm]
1.1 160 200 300 400
distância ao eixo mínima us dos varões da armadura
1.2 - 50 50 70
[mm]
1.3 - 4 3 4
percentagem mínima de armadura As/(Ac+As) em %
dimensões mínimas da secção transversal para o ηfi,t ≤ 0,47
2
nível de carregamento Armadura de
2.1
dimensões mínimas h e b [mm]
distância ao eixo mínima us dos varões da armadura
160 300 400 - reforço
2.2 - 50 70 -
[mm]
2.3 - 4 4 -
percentagem mínima de armadura As/(Ac+As) em %
Recobrimento
dimensões mínimas da secção transversal para o
3
nível de carregamento
ηfi,t ≤ 0,66 do betão
dimensões mínimas h e b [mm]
3.1 160 400 - -
distância ao eixo mínima us dos varões da armadura
3.2 40 70 - -
[mm]
3.3 1 4 - -
percentagem mínima de armadura As/(Ac+As) em %

Figura 14 – Valores tabelados e parâmetros relevantes (exemplo de pilares mistos envolvidos


parcialmente com betão)

A aplicação de valores tabelados pode ser feita para duas situações distintas (ver a figura 15): i)
verificação da segurança quando já são conhecidas as dimensões dos elementos estruturais e ii) pré-
dimensionamento onde só as acções de cálculo estão definidas.

Na verificação da segurança, quando já são conhecidas as dimensões da secção transversal do


elemento estrutural e a capacidade resistente do elemento R d , pode-se calcular as acções mecânicas
em situação de incêndio E fi,d de forma a definir o nível de carregamento η fi,t = E fi,d R d . Com base

neste valor, nas dimensões e nas exigências das dimensões da secção transversal do elemento, obtêm-
se o nível de resistência que o elemento garante ao fogo.

WP3 – Comportamento Mecânico 19


DIFISEK+

No caso de pré-dimensionamento, as dimensões da secção transversal do elemento estrutural não estão


definidas. Pelo contrário, sabe-se o efeito das acções E d e E fi,d das combinações de acções especificas

para dimensionamento à temperatura ambiente e em situação de fogo. Neste caso, e de um modo


conservativo, pode-se adoptar que o nível de carregamento é η fi,t = E fi,d E d . Com base neste valor e

na classe de resistência ao fogo pretendida, são definidas as dimensões mínimas da secção transversal
e as disposições construtivas do elemento. Dessa forma, a secção transversal definida será verificada
para o dimensionamento à temperatura ambiente, que é R d ≥ E d .

VERIFICAÇÃO PRE-DIMENSIONAMENTO

Rd para θ20°C Efi.d e Ed

Efi.d ηfi,t = Efi.d / Ed

ηfi,t = Efi.d / Rd Avaliação padrão do


incêndio

dimensões da secção dimensões da secção


armaduras armaduras
betão betão

Avaliação padrão do
incêndio
Rd ≥ Ed

Figura 15 – Aplicação de valores tabelados no cálculo ao fogo em duas situações diferentes

3.2. Métodos simplificados de cálculo

Comparativamente ao cálculo com base em valores tabelados, os métodos simplificados de cálculo


podem ser aplicados a elementos metálicos e a elementos mistos de aço e betão, possuindo assim um
domínio de aplicação mais abrangente. Este tipo de método de cálculo é aplicável aos seguintes
elementos estruturais (ver figura 16):
• Quase todos tipos de elementos metálicos, como os elementos sujeitos à flexão, vigas, pilares
etc. com ou sem protecção térmica.
• Vigas mistas de aço e betão com ou sem preenchimento de betão nos perfis metálicos

WP3 – Comportamento Mecânico 20


DIFISEK+

Vigas (metálicas e mistas) Pilares

Figura 16 – Domínio de aplicação dos métodos de cálculo com modelos simplificados de cálculo.

Os métodos simplificados de cálculo podem ser divididos nos três grupos seguintes:
• Os elementos solicitados ao esforço axial ou flexão sem qualquer problema de instabilidade.
Neste caso, o modelo simplificado de cálculo é baseado no diagrama plástico da secção
transversal a temperaturas elevadas.
• Os elementos sujeitos a compressão axial simples e com fenómenos de instabilidade, como o
carregamento axial de pilares esbeltos. Neste caso, os modelos simplificados de cálculo são
geralmente baseados na aproximação às curvas de encurvadura adaptadas para situação de
incêndio.
• Os elementos sujeitos a flexão composta com esforço axial de compressão, como pilares
esbeltos com carga excêntrica, vigas de grande vão com encurvadura lateral, etc. Para este tipo
de elementos, os modelos simplificados de cálculo tem em consideração o efeito da
combinação dos esforços de flexão e compressão, combinando os dois modelos anteriores
para as condições de carregamento simples.

3.2.1. Exemplo de modelos simplificados de cálculo – Vigas mistas de aço e betão expostas ao
fogo

Um exemplo típico de elementos deste tipo é a viga mista de aço e betão simplesmente apoiada, como
se mostra na figura 17. No modelo simplificado de cálculo, a temperatura da secção de aço pode ter
três valores distintos que correspondem ao banzo inferior, alma e banzo superior da secção; para a laje
de betão considera-se um gradiente térmico unidimensional através da sua espessura. Neste caso, é
fácil estabelecer o diagrama de tensões de equilíbrio plástico e calcular o momento resistente da
secção transversal, determinando-se assim a capacidade de carga da viga.

WP3 – Comportamento Mecânico 21


DIFISEK+

Laje de betão
S1

Conector Secção metálica


S1
Secção S1

+
Fc
-
D+
+
+
Ft

geometria distribuição de distribuição momento


da secção temperatura de tensões resistente

+ +
Mfi,Rd+ = Ft × D

Figura 17 – Exemplo de vigas mistas de aço e betão expostas ao fogo

WP3 – Comportamento Mecânico 22


DIFISEK+

3.2.2. Exemplo de modelos simplificados de cálculo – betão parcialmente encaixado em pilares


mistos expostos ao fogo

Outro exemplo típico de aplicação dos modelos simplificados de cálculo são os pilares mistos de aço e
betão com o betão parcialmente encaixado nos perfis (ver a figura 18).

Em geral, é de esperar o seguinte:


• A capacidade de carga pode ser definida de uma forma simples, relacionando a resistência da
secção plástica axial a temperaturas elevadas N fi,pl,Rd com coeficiente de redução para a

encurvadura χ(λ θ )

• O coeficiente de redução para a encurvadura χ(λ θ ) depende do coeficiente de esbelteza

adimensional em situação de incêndio λθ , que por sua vez se relaciona com a resistência axial
plástica da secção N fi,pl,Rd , a rigidez efectiva da secção transversal (EI)eff , fi e o comprimento de

encurvadura L fi a temperaturas elevadas.

P χ(λθ)
Aai Z 1.0

Acj
Y 0.5
Lfi
Ask
0
λθ
Effective section Buckling curve

Load capacity: Nfi.Rd = χ(λθ) Nfi.pl.Rd


with:
0.5
Relative slenderness: λθ = (Nfi.pl.Rd / Nfi.cr)
Plastic load: Nfi.pl.Rd = ∑ A ai fay,θi /γM,fi,a + ∑ A cj fc,θ j /γM,fi,c + ∑ Ask fs,θk /γM,fi,s
Euler buckling load: Nfi.cr = π² (E I)eff,fi / Lfi ²
Effective rigidity: (EI)eff,fi = ∑ ϕa,θ Ea,θi Iai + ∑ ϕc,θ Ec,θj Icj + ∑ ϕs,θ Es,θk Isk

Figura 18 – Exemplo do método de cálculo com modelos simplificados para betão envolvendo
parcialmente os pilares mistos

Pode afirmar-se que no caso de elementos que têm problemas de instabilidade, a resistência ao fogo
destes elementos deve ser avaliada não só em termos de resistência a temperaturas elevadas mas
também no que respeita à sua rigidez.

3.3. Método da temperatura crítica

WP3 – Comportamento Mecânico 23


DIFISEK+

Entre os modelos de cálculo simplificados apresentados nos Eurocódigos 3 e 4, encontra-se um


método específico denominado "método da temperatura crítica". Em princípio, este método só é
aplicável a elementos estruturais que incluam secções de aço com temperatura uniforme ou com
gradiente térmico pequeno. Assim, este método pode ser aplicado aos seguintes elementos estruturais
(ver a figura 19):

• Elementos metálicos ou vigas mistas protegidas ou não-protegidas com a secção de aço


exposta ao fogo nos três ou quatro lados.
• Pilares metálicos com ou sem protecção, completamente expostos ao incêndio.
• Elementos metálicos traccionados expostos ao fogo.

Vigas (metálicas e mistas) Pilares

Figura 19 – Domínio de aplicação do método de cálculo da temperatura crítica

O método da temperatura crítica é baseado em modelos simplificados de cálculo para elementos


metálicos com temperatura uniforme. Neste caso, a resistência do elemento a temperaturas elevadas
R fi,d,t pode ser obtida multiplicando a resistência do elemento a 20ºC pelo factor de redução da

resistência: R fi,d,t ≥ k y,θ R fi,d,0 .

Por outro lado, a resistência ao fogo do elemento é satisfeita se R fi,d,t ≥ E fi,d . Desta relação, pode-se

facilmente ter R fi,d,t ≥ µ 0 R fi,d,0 (ver a figura 20) com µ 0 = E fi,d R fi,d,0 , que corresponde ao grau de

utilização. Então, a resistência necessária ao fogo deve verificar k y,θ ≥ µ 0 . No caso de k y,θ = µ 0 (caso

ideal para satisfazer a resistência ao fogo exigida), a temperatura correspondente é definida como
temperatura crítica.

WP3 – Comportamento Mecânico 24


DIFISEK+

Esta temperatura crítica pode ser obtida com base nos valores de k y,θ dados na tabela 3.1 da EN1993-

1-2. Porém, na maioria dos casos, é necessária uma interpolação para se calcular o valor exacto da
temperatura crítica. De forma a simplificar esta questão, é proposta uma fórmula simples e rápida para
determinar a temperatura crítica baseada directamente no grau de utilização:
⎡ 1 ⎤
θ cr = 39.19ln⎢ − 1⎥ + 482
⎢⎣ 0,9674 µ0 ⎥⎦
3,833

Se duas curvas, respectivamente k y,θ e µ 0 versus temperatura forem apresentadas na mesma figura

(ver a figura 20), elas quase se sobrepõem, evidenciando a validade desta fórmula para determinar a
temperatura crítica de qualquer elemento estrutural exposto ao fogo.

‰ De acordo com os métodos simplificados, para perfis metálicos


sujeitos a temperatura uniforme:
Rfi,d,t = ky,θ Rfi,d,0
‰ Por outro lado, a resistência ao fogo deve satisfazer:
Efi,d
Rfi,d,t ≥ Efi,d = Rfi,d,0 = µ0Rfi,d,0 ky,θ ≥ µ0
Rfi,d,0
‰ No caso particular, em que ky,θ = µ 0, a temperatura θ cr (°C)
correspondente é definida como temperatura crítica θ cr 1200
µ0
‰ No eurocódigo EN1993-1-2, a temperatura crítica θ cr é calculada 800 k y,θ
através da seguinte expressão: 400
1 0
θ cr = 39.19 ln - 1 +482 0 0.5 1.0
0.9674µ0 3.833 2 µ 0 (k y,θ )

Figura 20 – Princípio do método de cálculo da temperatura crítica

Na prática, o cálculo ao fogo com o método da temperatura crítica pode ser aplicado de acordo com os
seguintes passos (ver a figura 21):

• Em primeiro lugar, é necessário determinar o efeito das acções em situação de incêndio E fi, d

• Em segundo lugar, deve-se calcular a resistência de cálculo R d ou a acção de cálculo E d

• Em terceiro lugar, deve-se calcular o correspondente nível de carregamento η fi,t : η fi,t = E fi,d R d

• O grau de utilização µ 0 pode ser determinado facilmente por µ 0 = η fi,t γ M,fi γ M

• Finalmente, a temperatura crítica é calculada directamente a partir de:


⎡ ⎤
θ cr = 39.19ln⎢
1
− 1⎥ + 482 ou pela aplicação de um procedimento iterativo (limitado a
⎣⎢ 0,9674 µ0 ⎥⎦
3,833

duas iterações) para esta relação.

WP3 – Comportamento Mecânico 25


DIFISEK+

Deve ter-se especial atenção no cálculo do grau de utilização µ 0 e do nível de carregamento η fi,t . A

diferença entre estes é que o grau de utilização µ 0 é determinado relativamente à resistência ao fogo
no instante t=0 R fi,d,o , ou seja, à temperatura ambiente mas com o factor de segurança em situação de

incêndio γ M,fi ; pelo contrário, o nível de carregamento η fi,t é determinado usando R d , a resistência

última de cálculo à temperatura ambiente, com o factor de segurança correspondente γ M que é


diferente de γ M,fi (ver a figura 21). Por conseguinte, tem-se que R fi,d,0 = R d γ M γ M,fi da qual:

E d,fi E d,fi E d,fi γ M,fi γ M,fi


µ0 = = = = η fi,t
R d,fi,0 R d γ M γ M,fi Rd γM γM

Uma observação importante é que o grau de utilização µ 0 é geralmente inferior ao nível de


carregamento η fi,t , uma vez que γ M é geralmente superior a γ M,fi .

RESISTÊNCIA AO FOGO desde que: Rd = f (…, γ M) e


Acções em situação de incêndio Efi.d Rfi,d,0 = f(…, γ M,fi)
γM
Resistência a 20°C: Rd ou então: Rfi,d,0 = Rd
γ M,fi
acções a 20°C: Ed
γM
e µ 0 = η fi,t
γ M,fi
Factor de redução Efi,d
η fi = Incêndio 20°C
do carregamento: Rd Material γ M,fi γM

γ M,fi aço 1.0 1.1


Grau de utilização: µ 0 = η fi,t
γM armaduras 1.0 1.1

betão 1.0 1.5


Temperatura crítica: θ cr
• método directo ligações 1.0 1.25
• método iterativo

Figura 21 – Como aplicar o método da temperatura crítica no cálculo ao fogo

A figura 21 mostra que a temperatura crítica deve ser obtida por um processo iterativo em alternativa
ao cálculo directo. Como pode esta situação ocorrer? Vejamos um pilar metálico exposto ao fogo
(figura 22).
• Se o pilar é bastante curto de forma a que não haja encurvadura, a sua resistência a
temperaturas elevadas pode ser calculada simplesmente através da expressão
N b,fi,t,Rd = Ak y,θ max f y γ M,fi . Neste caso, a resistência do pilar versus temperatura dependerá

apenas do factor de redução da resistência k y,θ , uma vez que todos os outros valores são

parâmetros fixos.
• Caso contrário, se o pilar é esbelto de tal forma que a encurvadura é um modo de colapso a
temperaturas elevadas, a sua resistência deve ser calculada por N b,fi,t,Rd = χ(λ θ )Ak y,θ max f y γ M,fi .

A resistência do pilar versus temperatura dependerá do factor de redução da resistência k y,θ e

WP3 – Comportamento Mecânico 26


DIFISEK+

do coeficiente de esbelteza adimensional em situação de incêndio λθ que varia não só em

função da resistência k y,θ mas também da rigidez k E,θ : λ θ = λ [k y,θ / k E,θ ] 0,5 . Como

consequência, não é possível obter de forma directa a temperatura crítica θ cr que depende
apenas de k y,θ , pelo que, nesta situação é necessário um processo iterativo simples (máximo

duas iterações) para determinar a temperatura θ cr .

O processo iterativo acima indicado parece ser complexo ao aplicar o método da temperatura crítica.
Para evitar esta situação, é possível considerar um valor fixo e seguro para [k y,θ / k E,θ ] 0,5 de forma que

λ θ = λ [k y,θ / k E,θ ] 0,5 já não varie com a temperatura, e o cálculo directo de temperatura crítica seja

aplicável até mesmo no caso de fenómenos de instabilidade.

• Pilares curtos 1
sem problemas Nb,fi,t,Rd = A ky,θmax fy
γM,fi
de instabilidade
Factor de redução da resistência ky.θ.max para θ a,max

• Pilares esbeltos 1
com risco de Nb,fi,t,Rd=χ(λ θ )Aky,θmaxfy
γM,fi
instabilidade

Factor de redução para a encurvadura χ(λ θ ) depende de:


• resistência
• rigidez
• Consequentemente, é necessário um processo iterativo simples para
determinar com precisão θ a,max no caso de elementos com problemas de
instabilidade

Figura 22 – A razão pela qual se usa o cálculo directo ou o cálculo iterativo para se obter a
temperatura crítica

3.4. Métodos avançados de cálculo

Os métodos avançados de cálculo, em princípio, podem ser aplicados em qualquer tipo de análise de
elementos estruturais ao fogo. Porém, têm de se consideradas as seguintes características:
• Os métodos avançados de cálculo utilizados para avaliar o comportamento mecânico das
estruturas baseiam-se nos princípios e hipóteses da teoria das estruturas, tendo em
consideração as mudanças das propriedades mecânicas com a temperatura.
• Qualquer modo de eventual colapso não abrangido pelo método avançado de cálculo
(incluindo encurvadura local e rotura ao corte) deve ser eliminado através de medidas
apropriadas. Por exemplo, no caso da análise numérica que utiliza elementos viga.

WP3 – Comportamento Mecânico 27


DIFISEK+

• Considerando que as propriedades dos materiais são conhecidas para uma determinada gama
de temperaturas, podem ser usados métodos avançados de cálculo com qualquer curva de
aquecimento.
• Devem ser considerados os efeitos das tensões e extensões induzidas termicamente devido ao
aumento da temperatura e gradientes térmicos.
• O modelo para o comportamento mecânico deverá considerar:
- O efeito combinado das acções mecânicas, imperfeições geométricas e acções térmicas.
- A variação das propriedades mecânicas dos materiais em função da temperatura (ver a
secção 3).
- Efeitos geométricos não-lineares.
- Os efeitos de propriedades não-lineares dos materiais, inclusive os efeitos desfavoráveis dos
ciclos carga e descarga das acções na rigidez estrutural.

Um exemplo comum de aplicação de modelos avançados de cálculo é o apresentado na figura 23, no


qual uma viga metálica de secção alveolar está exposta a um incêndio padrão. Utilizou-se um modelo
avançado de cálculo porque nos Eurocódigos não existem regras simples para este tipo de elementos.
O único meio, por enquanto, de resolver esta questão é recorrer a modelos avançados de cálculo.
Porém, antes da aplicação destes modelos, é necessário validá-los através de ensaios ao fogo não só
em relação ao comportamento global (deformações, tempo até ao colapso, etc.), mas também o modo
de rotura do elemento durante a exposição ao fogo. Podemos concluir, pelo exemplo apresentado, que
todas estas condições podem ser facilmente cumpridas, se forem adoptados modelos numéricos
avançados apropriados.

Modo de rotura experimental


300
Deformação (mm)

250
ensaio
200
numérico
150
100
50
0
0 20 40 60 80 100 120 140
time (min)
Resultados numéricos vs Modo de rotura observado no
resultados experimentais modelo numérico

Figura 23 – Exemplo de aplicação do modelo de cálculo avançado para o cálculo ao fogo (viga
alveolar)

WP3 – Comportamento Mecânico 28


DIFISEK+

4. DESCRIÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA ANÁLISE GLOBAL DE ESTRUTURAS

4.1. Regras gerais de aplicação do cálculo ao fogo pela análise global de estruturas

A análise global de estruturas é cada vez mais utilizada para avaliar a segurança contra incêndio. Os
Eurocódigos definem regras específicas para lidar com este tipo de análise. Relativamente à análise do
comportamento mecânico, devem ser tidas em consideração as seguintes características:
• A análise global da estrutura necessita, na maioria dos casos, de modelos avançados de
cálculo.
• É importante definir um modelo estrutural adequado (dimensões, tipo, etc.).
• As condições fronteira existentes devem ser representadas de forma correcta.
• O carregamento na estrutura deve corresponder à situação de incêndio considerada.
• Os modelos dos materiais usados na modelação numérica devem ser representativos do
comportamento real dos materiais a temperaturas elevadas.
• No caso de modelação de parte de uma estrutura, as condições de apoio dadas pelas partes não
modeladas da estrutura devem ser correctamente consideradas.
• É necessário proceder a uma análise profunda dos resultados numéricos, nomeadamente no
que se refere aos critérios de rotura.
• Deve ser efectuada uma revisão das características que não são consideradas na análise
directa, de forma a haver consistência entre o modelo numérico e os detalhes construtivos.

Todas as características anteriores serão explicadas em detalhe para um exemplo real de aplicação da
análise global de uma estrutura num projecto de engenharia de segurança contra incêndio (ver secção
4.3).

4.2. Exigências de aplicação do modelo avançado de cálculo na análise global de estruturas


metálicas e mistas

Para estruturas metálicas e mistas, a análise global de uma estrutura deve considerar os seguintes
pontos:
• Relativo aos modelos dos materiais:
- Decomposição da extensão total nas várias componentes das extensões a temperaturas
elevadas.
- Modelo cinemático dos materiais para a evolução da temperatura.
- Resistência dos materiais durante a fase de arrefecimento.

WP3 – Comportamento Mecânico 29


DIFISEK+

• O regime transiente de aquecimento nas estruturas durante o incêndio exige a utilização de


processos iterativos, em vez de uma análise fixa para um determinado intervalo de tempo.
• As condições fronteira existentes devem ser representadas de forma correcta.
• As condições de carregamento da estrutura modelada têm de corresponder à situação de
incêndio em causa.
• Os modelos dos materiais usados na modelação numérica devem ser representativos do
comportamento real dos materiais a temperaturas elevadas.
• Na utilização de cálculo deve ter-se sempre cuidado com certas características específicas que
em geral não são consideradas na modelação directa, como a rotura da armadura devido a um
alongamento excessivo, fendilhação e esmagamento do betão, resistência das ligações entre
elementos metálicos e ligação entre o aço e o betão, etc.

4.2.1. Decomposição da extensão total do modelo de material na modelação numérica avançada

Na modelação numérica avançada para a análise global de estruturas metálicas e mistas, é necessário
não esquecer que a extensão de qualquer elemento exposto ao fogo é composta por várias
componentes (ver a figura 24):
ε t = ε th + (ε σ + ε c + ε tr ) + ε r
sendo:
ε t a extensão total; ε th a extensão devida ao alongamento térmico; ε σ a extensão devida à tensão;

ε c a extensão devido ao efeito da fluência a temperaturas elevadas; ε tr a extensão devida ao regime

de aquecimento transiente e não-uniforme para o betão; ε r a extensão devida à tensão residual


presente frequentemente no aço.

Os Eurocódigos consideram que a extensão devida à fluência e a extensão devida ao aquecimento


transiente estão implicitamente incluídas na relação tensão-extensão do próprio material. Além disso, a
extensão residual não é em geral considerada à excepção de algumas análises estruturais especiais.

WP3 – Comportamento Mecânico 30


DIFISEK+

Decomposição da extensão
εt = εth + (εσ + εc) + εr
εt: extensão total
εt: extensão devido ao alongamento térmico
εσ: extensão devido ao tensor das tensões
εr: extensão devida à tensão residual (se existir)
εc: extensão devida à fluência
y
εσ
ε th
θ εt εc
z G
εr

Secção Distribuição da Temperatura Extensão unitária


z = constante

Figura 24 – Decomposição da extensão do modelo do material em modelação numérica avançada

4.2.2. Modelo cinemático do material para ter em conta a evolução da temperatura

Em situação de incêndio, o campo de temperaturas dos elementos estruturais varia no tempo. Por outro
lado, todas as propriedades mecânicas dos materiais são mais ou menos dependentes da temperatura.
Como consequência, durante um incêndio, os materiais de uma estrutura comportam-se de tal modo
que as suas propriedades variam constantemente. Este tipo de comportamento material tem de ser
adequadamente considerado nos modelos avançados de cálculo, e são denominados por modelos
cinemáticos dos materiais. No que respeita aos dois materiais principais das estruturas metálicas e
mistas, o aço e o betão, eles são muito diferentes, sendo necessário aplicar regras cinemáticas
diferentes (ver a figura 25).

No aço, a passagem de uma curva tensão-extensão para uma outra devido à mudança de temperatura
deverá ser efectuada mantendo uma extensão plástica constante entre dois níveis de temperatura. Esta
regra é aplicável em qualquer estado de tensão do aço (tensão ou compressão). No betão, o processo
envolve maior complexidade uma vez que este material tem um comportamento diferente à tracção e à
compressão. Desta forma, devem ser utilizadas regras diferentes para a passagem das curvas tensão-
extensão de acordo com a condição do material – se este está sujeito à tracção ou à compressão (ver a
figura 25).

Normalmente, estes modelos dos materiais já estão implementados em todos os modelos de cálculo
avançados destinados à engenharia de segurança contra incêndio. Porém, é importante para o
projectista saber usar usá-los em aplicações práticas.

WP3 – Comportamento Mecânico 31


DIFISEK+

Aço Betão
(material
( isotrópico) ((material anisotrópico à
tracção e à compressão)
⎛ dσ ⎞ Compressão
paralelo a ⎜ (θ1, ε = 0) σ
⎝ dε ⎠
θ1 = θ (t) θ1 = θ (t)

θ2 = θ (t+∆t)
θ2 = θ (t+∆t)

⎛ dσ ⎞
paralelo a ⎜ (θ2, ε = 0)
⎝ dε ⎠ ε ε

Tracção

Figura 25 – Modelo cinemático do material tendo em consideração a evolução da temperatura

4.2.3. Princípio da resolução iterativa e incremental no cálculo numérico avançado

Em geral, a análise estrutural em situação de incêndio é baseada na análise ao estado limite último, o
que significa estabelecer o equilíbrio da estrutura entre a sua resistência e as acções aplicadas para
vários níveis de aquecimento. Porém, ocorrem inevitavelmente deformações na estrutura, devidas à
perda de rigidez dos materiais e à dilatação térmica, que conduzem a uma grande plastificação dos
materiais. Nesta situação, a análise de cálculo avançado ao fogo deixa de ser linear elástica e passa a
ser não-linear elasto-plástica, na qual a resistência e a rigidez se comportam não-linearmente. De
ponto de vista matemático, a solução desta análise não se obtém directamente e devem-se utilizar os
seguintes procedimentos (ver a figura 26):
• Análise incremental de forma a obter o estado de equilíbrio da estrutura em vários instantes
para diferentes campos de temperatura.
• Em cada intervalo de tempo, é necessário recorrer a uma solução iterativa para se determinar o
estado de equilíbrio da estrutura que se comporta de modo elasto-plástico.

¾ O processo de cálculo deve ter em consideração a variação da


resistência e da rigidez da estrutura em função da temperatura

t0 = 0 θ0 = 20°C t1 = 20 min θ1 = 710°C t2 = 27 min θ2 = 760°C

Carregamento

Pfi t0 = 0 t1 t2

θ1 θ2

θ0

Deslocamento U

WP3 – Comportamento Mecânico 32


DIFISEK+

Figura 26 – Princípio da resolução iterativa e incremental no cálculo numérico avançado

4.2.4. Comportamento mecânico do betão durante fase de arrefecimento

Outro aspecto a ser considerado na aplicação do modelo avançado de cálculo para estruturas metálicas
e estruturas mistas em condições de incêndio naturais, é o comportamento dos materiais durante fase
de arrefecimento. Sabe-se que nos aços mais comuns, a degradação das propriedades mecânicas pelo
efeito da temperatura é muito reduzida, e normalmente assume-se que todas as características
mecânicas são recuperadas após o aquecimento e posterior arrefecimento. Porém, este fenómeno não
acontece no caso do betão, cuja composição é totalmente alterada no caso de ser aquecido até uma
determinado temperatura. Depois de arrefecer, o betão não recupera a sua resistência inicial. Além
disso, sua resistência pode até ser pior do que a que possui para a temperatura máxima de
aquecimento. Por este motivo, a EN1994-1-2 define uma regra para atender a este fenómeno (ver a
figura 27). O betão que é aquecido a mais de 300ºC, quando arrefecer até aos 20ºC, a sua resistência
residual deverá ser considerada 10% inferior à resistência para o estado de aquecimento máximo. Este
aspecto é bastante importante pois significa que uma estrutura de betão pode colapsar durante a fase de
arrefecimento de um incêndio.

‰ Assume-se que o aço recupera a sua resistência total após o


arrefecimento
‰ Betão durante arrefecimento:
temperatura do betão resistência
θ max
1.0

300 fc,θ max


0.9 fc,θ max
20 0
tmax tempo tmax tempo

Por exemplo, se θ max ≥ 300 °C


fc,θ,20°C = 0.9 fc,θ max
A interpolação linear aplica-se a fc,θ para θ entre θ max e 20°C

Figura 27 – Comportamento mecânico do betão durante a fase de arrefecimento.

4.3. Exemplo de aplicação da análise global de estruturas metálicas e mistas

4.3.1. Descrição da estrutura a ser investigada

WP3 – Comportamento Mecânico 33


DIFISEK+

Depois da explicação sobre as exigências de aplicação do modelo de cálculo avançado na análise


global de estruturas metálicas e mistas, apresenta-se um exemplo prático de aplicação destes conceitos
para melhor compreensão. O exemplo escolhido (ver a figura 28) corresponde a uma estrutura de dois
pisos compostos por um sistema de pisos misto (vigas metálicas ligadas à laje mista aço-betão) e
pilares metálicos. As dimensões da estrutura são as seguintes:
• Vão da viga secundária: 15 m
• Vão da viga principal: 10 m
• Vão da laje mista: 3.33 m
• Altura de primeiro piso: 4.2 m
• Altura de segundo piso: 3.2 m

Em situação de incêndio, um dos pavimentos dos dois pisos será aquecido localmente por uma fonte
de ignição natural que ocupa uma área de 5 m x 12 m = 60 m². A carga térmica aplicada reproduz um
incêndio natural em vez do regime de aquecimento do fogo padrão.

Laje mista
Zona padrão do Plataforma de aço: 0.75 mm
sistema de piso

3.2 m
4.2 m

15 m

10 m 15 m
10 m
15 m
10 m
Figura 28 – Exemplo de uma estrutura metálica com pisos mistos

Neste exemplo, apenas são explicadas as características relacionadas com a análise do comportamento
mecânico da estrutura. Outras características, como o cenário de incêndio, o desenvolvimento do
incêndio e o comportamento térmico da estrutura não são avaliadas.

4.3.2. Escolha do modelo estrutural e dos pormenores de modelação

Na análise mecânica desta estrutura exposta ao incêndio natural localizado, são possíveis duas formas
de modelação através de cálculo avançado; a primeira corresponde a uma modelação da estrutura

WP3 – Comportamento Mecânico 34


DIFISEK+

mista por um pórtico plano 2D, e a segunda a um modelo da estrutura 3D (mais complexo). De
seguida apresenta-se as vantagens e desvantagens destas duas abordagens:

• Modelação da estrutura mista em pórtico plano 2D apenas com elementos de viga :


- Não é possível a redistribuição de esforços ao longo da viga mista.
- Não se considera o efeito de membrana (da deformação) da laje mista entre vigas paralelas.
- São necessárias várias simulações numéricas para se lidar com um cenário de incêndio.
- O custo associado a cada simulação numérica por computador é baixo e a eficiência é
elevada.

• Modelo de piso misto tridimensional com lajes, vigas e elementos de ligação:


- É considerado o efeito membrana (da deformação) em todo o pavimento misto.
- A redistribuição de esforços torna-se possível com a ajuda dos elementos de casca.
- Uma simulação numérica é suficiente para um cenário de incêndio.
- O custo computacional é elevado devido aos muitos elementos usados na modelação.

Comparando as duas estratégias de modelação, pode admitir-se que a modelação bidimensional é mais
eficiente; no entanto, certas vantagens mecânicas do pavimento misto não contempladas pelo que o
comportamento da estrutura em situação de incêndio é penalizado, obtendo-se uma estrutura metálica
mais pesada ou com excesso de protecção térmica. Torna-se preferível a opção definitiva pela
modelação tridimensional. Porém, a aplicação de tal modelo de cálculo complexo exige validação com
observações reais; neste caso, o piso misto aqui apresentado foi previamente estudado e validado
através de diversos projectos de investigação recentes da ECSC com a realização de ensaios ao fogo à
escala real.

Tempo (min)
0 15 30 45 60 75
Desl. vertical (mm)

0
-40
-80
-120
-160
Ensaio
Ensaio -200
Cal. 3D
Desl. horizontal (mm)

60
Cal. 2D
40

20

0
0 20 40 60 80
Modelo tridimensional Tempo (min)

Figura 29 – Validação do modelo de piso misto tridimensional.

WP3 – Comportamento Mecânico 35


DIFISEK+

A validação corrente é a realização de ensaios ao fogo através de incêndios naturais em parques de


estacionamento (ver a figura 29). Da comparação de resultados dos modelos bidimensionais e
tridimensionais, observa-se que estes últimos se aproximam bastante bem dos resultados
experimentais. Na estratégia de modelação 3D é necessário definir o grau de pormenorização a atingir;
note-se que a modelação de uma estrutura mista completa no modelo tridimensional acarreta elevados
custos computacionais (podendo demorar semanas ou meses se forem utilizados computadores mais
usuais). No entanto, o facto de se ter um piso aquecido localmente (ver a figura 30), permite usar uma
área reduzida no modelo tridimensional, que corresponde exactamente a um dos três procedimentos de
análise estrutural proposta pelos Eurocódigos, isto é, a análise de parte da estrutura. Neste caso,
considera-se uma área do piso tão pequena quanto possível no modelo numérico, o que representa uma
modelação, em termos de dimensão, bastante inferior à totalidade da estrutura (é considerada uma
parte do piso que ocupa uma área de 15x20=300 m² da estrutura, sendo a área total do piso de
45x30=1350 m²).

Adicionalmente à opção anterior de modelar apenas parte da estrutura, é necessário especificar os


pormenores de modelação adoptados. O piso misto é representado pelos seguintes elementos finitos:
• Elementos casca para a parte sólida da laje mista.
• Elementos viga para os elementos metálicos, chapas perfiladas e armadura da laje mista.
• Elementos de ligação rígido para uma ligação total entre as vigas metálicas e a laje mista.

Zona de
incêndio

Detalhe da
modelação
numérica
Análise global da estrutura
sem a laje mista

Figura 30 – Estratégia de modelação dum piso misto tridimensional

4.3.3. Condições de carregamento e condições fronteira

WP3 – Comportamento Mecânico 36


DIFISEK+

Após a escolha da parte da estrutura a usar no cálculo ao fogo é necessário considerar os seguintes
aspectos:
• Condições de carregamento da estrutura
• Condições de fronteira da parte modelada da estrutura

No cálculo à temperatura ambiente, é suposto que o pavimento seja submetido a quatro tipos de
cargas:
• Cargas permanentes (peso próprio da estrutura, revestimentos, etc.): G
• Cargas variáveis: Q
• Acção do vento: W
• Acção da neve: S

Em situação de incêndio, devem considerar-se diferentes combinações de acções, de forma a


determinar-se a situação mais desfavorável. No caso desta estrutura, desde que a estabilidade lateral
seja assegurada por um sistema de contraventamento, o efeito da acção do vento no pavimento pode
ser desprezado. Existem então as seguintes possibilidades para combinar a carga permanente G, a
carga variável Q e a acção da neve S:
• G + Ψ1,1Q + Ψ2,1S = G + 0.7Q + 0.0S = G + 0.7Q

• G + Ψ1,1S + Ψ2,1Q = G + 0.6Q + 0.2S

Entre as combinações de carga anteriores, conclui-se que a situação mais desfavorável corresponde à
primeira combinação porque conduz a um valor de carga total mais significativo.

Relativamente às condições de fronteira, a estrutura modelada não é sujeita a qualquer condição inicial
de fronteira. Não obstante, porque é apenas uma parte da estrutura, há algumas condições de apoio na
estrutura não-modelada a serem tidas em consideração. Estas condições de apoio podem ser
representadas através de condições fronteira equivalentes, tais como (ver a figura 31):
• Bases dos pilares completamente fixas devido à continuidade dos pilares e do pavimento
inferior manterem-se a temperaturas baixas.
• Restrição da rotação e deslocamento lateral na laje apoiada devido às condições de
continuidade da laje.

WP3 – Comportamento Mecânico 37


DIFISEK+

Carga uniformemente distribuída: G + Ψ 2,1Q


θ= 0

Continuidade das
condições na laje de betão

Continuidade das
θ= 0 condições nos
pilares

Figura 31 – Aplicação das acções mecânicas assim como das condições fronteira para a modelação
de parte da estrutura

4.3.4. Resultados numéricos

Os resultados obtidos da modelação 3D de parte da estrutura apresentam-se na figura 32: deformação


do piso em dois momentos particulares do incêndio. Dado que o piso é sujeito a um incêndio natural
localizado, facilmente se observa a principal consequência do desenvolvimento do incêndio nas
deformações do piso, a flecha vertical máxima aumenta de 140 mm aos 20 minutos de incêndio para
os 310mm aos 40 minutos de incêndio.

¾ Deformação do piso e verificação dos modos de rotura


correspondentes

140 mm 310 mm

20 min 40 min

Figura 32 – Análise dos resultados numéricos do comportamento mecânico de parte da estrutura


modelada

Aos 60 minutos de incêndio, a flecha máxima do pavimento diminui para os 230 mm mas a área
deformada aumenta devido ao desenvolvimento do incêndio. A diminuição da flecha deve-se ao facto

WP3 – Comportamento Mecânico 38


DIFISEK+

de que o incêndio já passou a sua fase de aquecimento máximo e entrou na fase de arrefecimento (ver
a figura 33).

Relativamente à flecha máxima das vigas metálicas, pode ver-se que esta é de 280 mm para as vigas
secundárias e 110 mm para vigas principais, valores afastados dos critérios de deformação que limitam
a flecha a um máximo de L/20, sendo L o vão da viga. Deste ponto de vista, o comportamento do
pavimento pode ser considerado satisfatório nas condições de incêndio apresentadas.

¾Deformação do piso e verificação dos modos de rotura


correspondentes
110 mm ≤ L/ 20 = 500 mm
230 mm
0

Deformação (mm)
- 50
-100
-150
viga
-200
Viga principal
secundária
-250
-300
0 10 20 30 40 50 60
Tempo (min)
60 min
280 mm ≤ L/ 20 = 750 mm

Figura 33 – Verificação dos critérios de colapso relacionados com a deformação

Outro critério de colapso a ser analisado nesta estrutura é o alongamento das armaduras na laje mista
(ver figura 34). Considerou-se que o alongamento máximo da armadura não deve exceder os 5%, o
que, na realidade, corresponde ao valor mínimo de capacidade de alongamento de todos os tipos de
armaduras especificados na EN1992-1-2 (fogo em estruturas betão). Além disso, este critério de
colapso foi validado também em dois projectos ECSC através da modelação numérica de ensaios ao
fogo em edifícios à escala natural (ver as referências). Neste exemplo, o alongamento máximo das
armaduras obtido através da simulação numérica foi de 1.4%, (< 5%). Ou seja, este critério de colapso
também foi satisfeito no piso misto adoptado.

A abordagem aqui apresentada para análise global de estruturas por modelos numéricos tem sido
amplamente usada em vários projectos da ECSC para verificar os ensaios ao fogo à escala real em
edifícios mistos de aço e betão. Verificou-se que a concordância entre este tipo de modelos numéricos
avançados e os resultados experimentais é muito satisfatória (ver as referências).

WP3 – Comportamento Mecânico 39


DIFISEK+

¾Verificação do critério de rotura: alongamento das armaduras

1.4 % ≤ 5 %

1.3 % ≤ 5 %

Deformação das armaduras Deformação das armaduras ⊥


// vão da laje vão da laje

Figura 34 – Verificação do critério de colapso relacionado com o alongamento das armadura

4.3.5. Disposições construtivas consistentes com os modelos numéricos

Paralelamente à análise numérica, é extremamente importante que os pormenores construtivos sejam


de tal forma detalhados para haver coerência entre a realidade e as hipóteses consideradas nos modelos
numéricos. Para a estrutura mista anterior, foram considerados os seguintes pormenores construtivos
(ver a figura 35):
• De forma a aumentar a resistência ao fogo do piso, considerou-se ligação, com ajuda das
armaduras, entre os banzos, assim como nos pilares de canto e laje mista.
• De forma a aumentar o momento resistente em situação de incêndio, considerou-se uma
pequena abertura entre o banzo inferior das vigas e pilares assim como nos banzos inferiores
das vigas secundárias e principais.
• Ligações simples viga-viga e viga-coluna de acordo com as duas exigências anteriores.
• Ligação com transmissão de esforço transverso entre vigas metálicas e laje mista.

Armaduras entre a
laje e pilares de
canto

φ12 em S500

Distância máxima de 15
mm entre:
i) a viga e o pilar, e
ii) entre a viga secundária, gap
e o banzo inferior da viga
principal gap ≤ 15 mm

WP3 – Comportamento Mecânico 40


DIFISEK+

Figura 35 – Pormenores construtivos consistentes com os modelos numéricos

4.3.6. Exemplo real de um edifício projectado com ajuda de análise global da estrutura na
avaliação do incêndio

Na figura 36 apresenta-se um exemplo de um parque de estacionamento em frança, cuja estrutura foi


calculada para condições de incêndio natural, com base numa análise global através de modelos
avançados de cálculo. Para este edifício, foram estudados vários cenários de incêndio e para cada um
deles, foi estabelecido um modelo detalhado de cálculo. Em todos os cenários, foram verificados os
critérios de colapso relacionados com a deformação das vigas metálicas e com o alongamento das
armaduras na laje mista. Este projecto de engenharia de segurança contra incêndio culminou na
construção, em França, do edifício mais largo, até então, com a estrutura metálica completamente
desprotegida.

Durante a construção Obra final

Figura 36 – Exemplo real de cálculo ao fogo com análise global da estrutura em condições de
incêndio natural

WP3 – Comportamento Mecânico 41


DIFISEK+

5. CONSIDERAÇÕES ESPECÍFICAS NO DIMENSIONAMENTO AO FOGO DE


ESTRUTURAS METÁLICAS E MISTAS

Na apresentação do exemplo anterior, mencionou-se que no dimensionamento ao fogo de estruturas


metálicas e estruturas mistas, são necessárias considerações específicas no que se refere às disposições
construtivas:
• Ligações entre os elementos metálicos
• Ligações entre o betão e o aço

De facto, o dimensionamento ao fogo baseado na análise global de estruturas assume que a integridade
da estrutura deve ser garantida. Se não for o caso, os fundamentos deste tipo de análise não são
válidos. Além disso, não é aceitável, que exista um colapso global inadequado da estrutura devido à
rotura dos elementos de ligação.

Outro aspecto relacionado com as ligações que deve ser considerado, é a possibilidade destas
romperem durante a fase de arrefecimento. Este aspecto é muito importante não só para a análise
global da estrutura em situação de incêndio natural, na qual se deve considerar que parte da estrutura
está aquecida e outra parte pode já estar em fase de arrefecimento, mas também porque no
dimensionamento ao fogo de estruturas metálicas e estruturas mistas é imperativo considerar o
desenvolvimento do incêndio real.

Na EN1993-1-2 e na EN1994-1-2, recomendam-se modelos de cálculo simples e pormenores


construtivos para o cálculo ao fogo de ligações. Um exemplo comum refere-se às disposições
construtiva de vigas e pilares nas estruturas mistas (ver a figura 37). É sugerido usar uma pequena
abertura entre o banzo inferior da viga metálica e o pilar metálico. Como consequência, em condições
de temperatura ambiente, a ligação é considerada como uma ligação simples porque a flecha da viga é
reduzida. Porém, em situação de incêndio, devido ao efeito da temperatura na deformação e na perda
de resistência, a flecha vai ser elevada, o que conduz a uma rotação significativa junto aos apoios e
mesmo com uma pequena abertura entre o banzo inferior da viga metálica e o pilar metálico, o banzo
inferior da viga entrará facilmente em contacto com o pilar que, em conjunto com as armaduras da laje
de betão, cria um momento resistente superior na viga. Este momento resistente adicional aumenta a
resistência ao fogo da viga consideravelmente.

Além da ligação entre as vigas metálicas e a laje de betão no caso de estruturas mistas, outro exemplo
comum é a ligação entre o aço e o betão, no caso de vigas mistas preenchidas parcialmente com betão.
De modo a garantir a eficácia da ligação (as armaduras longitudinais a trabalhar em conjunto com o
perfil metálico), a EN1994-1-2 recomenda as disposições construtivas que se apresentam na figura 38.

WP3 – Comportamento Mecânico 42


DIFISEK+

O objectivo principal destas disposições construtivas não é somente criar uma ligação mecânica eficaz
entre os diferentes componentes da viga, mas também garantir um sistema de protecção contra o
destacamento do betão, um fenómeno prejudicial que pode acontecer em situação de incêndio e que,
por conseguinte, pode expor as armaduras directamente ao fogo.

Armadura de
continuidade

conector
Uma pequena
folga que permite o
desenvolvimento de
momento negativo
na situação de
folga
incêndio
Secções preenchidas
com betão

Figure 37 – Exemplo de pormenores construtivos executados para se adquirir um maior momento


resistente em situação de incêndio de acordo com a EN1994-1-2

Existem muitos outras disposições construtivas. No cálculo ao fogo, sejam quais forem as
circunstâncias, o engenheiro deve prestar particular atenção aos pormenores construtivos para que
possa obter a melhor solução de segurança contra o fogo.

‰ Ligação aço-betão para vigas embebidas em betão

φr ≥ 8 mm soldadura hν conectores
aw ≥ 0,5 φs
φs ≥ 6 mm d ≥ 10 mm
lw ≥ 4 φs hν ≥ 0,3b
φr ≥ 8 mm
b
Soldadura de Soldadura de
estribos à alma conectores à alma

Figure 38 – Exemplo de pormenores construtivos utilizados para se obter uma maior resistência na
ligação entre o aço e o betão em situação de incêndio de acordo com a EN1994-1-2

6. REFERÊNCIAS

WP3 – Comportamento Mecânico 43


DIFISEK+

EN1990: Eurocódigo 0: Basis of structural design, Brussels, CEN, July 2001

EN1991-1-2: Eurocódigo 1: Actions on structures – Part 1-2: General rules – Actions on structures
exposed to fire, Brussels, CEN, November 2002

EN1993-1-2: Eurocódigo 3: Design of steel structures – Part 1-2: General rules – Structural fire
design, Brussels, CEN, 2005

EN1994-1-2: Eurocódigo 4: Design of composite steel and concrete structures – Part 1-2: General
rules – Actions on structures exposed to fire, Brussels, CEN, 2005

EN1992-1-2: Eurocódigo 2: Design of concrete structures – Part 1-2: General rules – Structural fire
design, Brussels, CEN, 2004

7215 SA125: Competitive steel buildings through natural fire safety concept, final report of CEC
agreement 7210 – SA125, 126, 213, 214, 323, 423, 522, 623, 839, 937, British Steel, March 1999

7215 SA112: Design Tools of the behaviour of multi-storey steel framed buildings exposed to natural
fire conditions (CARD (2)), Rapport final of ECSC project, TNO, January 2003

7215 PP025: Demonstration of real fire tests in car parks and high buildings, final report of ECSC
project-EUR 20466 EN 2002, CTICM, Brussels, December 2003

WP3 – Comportamento Mecânico 44

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