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CADERNO DE NOTAS DE

UM ESTUDANTE EUROPEU

José Antonio Primo de Rivera


CADERNO DE NOTAS DE UM ESTUDANTE EUROPEU

José Primo Antonio de Rivera

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Caderno de Notas de um Estudante Europeu

As páginas que se seguem não aspiram a conter um livro


original. Eles formam, não mais nem menos, como o título ex-
pressa sem fingida humildade, uma espécie de caderno, memó-
rias, um índice – sujeito, naturalmente, a uma certa ordem pesso-
al – dos tópicos que dizem respeito a todos os jovens do nosso
tempo. O fato de ter condensado em poucas páginas um grande
número de leituras empolgantes talvez possa ser útil para o tra-
balho do compilador. Sem levar em conta que certos capítulos
podem conter uma maneira própria de olhar que dá um novo
verniz à consideração de certos fenômenos conhecidos.

Todo processo histórico é, em essência, um processo reli-


gioso. Sem descobrir o substrato religioso, nada é compreendi-
do. A situação atual do mundo é, nem mais nem menos, a última
consequência da Reforma. A Reforma: Lutero (a fé sem as obras);
Calvino (a graça imutável). Depois disso: nenhum esforço para
ganhar o Céu, nenhuma preocupação com o Inferno. A energia
é direcionada para o humano. Há como um transbordamento
de alegria. E, ao lado, a irrupção dos novos ricos, compradores
dos bens eclesiásticos. Liberdade de crença? Nada disso; isso
já é um fenômeno do século XIX. A Reforma se manifesta como
uma guerra santa contra o que chama de papismo idólatra; guer-
ra implacável e duríssima: (Genebra, Inglaterra, com os Cecil e
Cromwell; Gustavo Adolfo...). No protestantismo já estão em ger-
me: a civilização mecânica; a interpretação econômica da vida
(o sucesso nos negócios humanos, sinal de predestinação; ideia
calvinista); o capitalismo (em oposição à função feudal da pro-
priedade); o otimismo (os calvinistas acreditam que nem todos
os homens são chamados à graça, mas eles se sentem todos cha-
mados à graça).

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José Antonio Primo de Rivera

II

O otimismo filosófico. Rousseau; o homem é naturalmente


bom. Origem protestante do otimismo filosófico, a graça conce-
dida gratuitamente. Talvez o pecado original seja desnecessário?

O protestantismo sustenta que a Redenção foi suficiente


para devolver a todos nós a graça (aos eleitos, é claro), sem a ne-
cessidade de obras ou Sacramentos; ou seja, nos reintegrou do
estado de penitência (católico) ao estado de inocência — Origem
protestante da “declaração dos direitos do homem” (Constitui-
ções americanas. V. Jellinek). As “declarações” vão além do pen-
samento de Rousseau (o indivíduo não reserva nada, segundo
ele); mas a essência está no otimismo; Rousseau é um defensor
ferrenho disso, o ser coletivo sempre deseja o bem. As consti-
tuições revolucionárias, empiricamente, restringem a aplicação
desse princípio ao limitar o sufrágio. Para elas, “o povo” signi-
fica “a burguesia”, assim como para a revolução socialista, mais
adiante, significará “o proletariado”. A revolução é sempre uma
mudança de aristocracia: a substituição de uma aristocracia que
já não acredita em si mesma por outra classe que acredita em
sua própria vitalidade. A aristocracia do final do século XVIII ri
das sátiras lançadas contra ela (Beaumarchais, Voltaire). Mais tar-
de, veremos uma burguesia covarde flertar com o socialismo (em
outro capítulo).

III

O otimismo econômico. Smith: deixadas as forças econô-


micas agirem livremente, os melhores resultados são produzidos
– circunstâncias em que o otimismo econômico surgiu: as inven-
ções: a máquina de fiar, a máquina de tecer, etc.; a manufatura.—
A política de livre comércio inglesa.
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Caderno de Notas de um Estudante Europeu

IV

A Idade de ouro do liberalismo econômico e político. O


século XIX: progresso material; atividade intelectual; grandes
empresas... O nascimento da Itália; o nascimento da Alemanha...
O estraga-prazeres: Karl Marx; sua análise do processo capitalis-
ta; suas previsões.

As últimas consequências do liberalismo político incluem


a fragmentação dos partidos políticos, a breve duração dos go-
vernos, a intensidade das disputas políticas, o uso de difamação
como estratégia polêmica, a fragilidade da imprensa, a prolife-
ração de bibliotecas noturnas que produzem pseudointelectu-
ais que se consideram cultos por conhecerem manuais tenden-
ciosos de diversas disciplinas, o colapso das hierarquias, a falta
de solidariedade e um tipo de nacionalismo que difere da ideia
hegeliana de nação como realização histórica, assemelhando-se
mais ao exemplo tradicional da Inglaterra. No entanto, a Ingla-
terra é um caso especial, pois tem a capacidade de gastar sua
grande riqueza herdada. Ela construiu sua unidade espiritual de
maneira inflexível, enfrentando perseguições religiosas no pro-
cesso, e adotou o sufrágio universal apenas em 1918, após pas-
sar por várias etapas, tendo mantido um regime oligárquico até
recentemente. Hoje, já se observam sinais de divisão.

VI

As últimas consequências do liberalismo econômico: su-


perindustrialização (a produção em massa de bens de primeira
necessidade ocorrendo ao mesmo ritmo da produção de bens
de consumo, resultando na saturação dos mercados). Industriali-
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José Antonio Primo de Rivera

zação em todos os países. Concentração de capitais. Proletariza-


ção dos artesãos (e, de certa forma, da classe média, que em sua
maioria agora é assalariada; a diferença salarial é apenas quanti-
tativa e não qualitativa; a classe média não possui mais casas ou
patrimônio familiar; ela depende da existência material do che-
fe que a sustenta com seu salário). As profecias de Karl Marx. As
grandes crises. O desemprego.

VII

Harmonia entre o homem e seu ambiente; essa fórmula


expressa o desconforto de nosso tempo. Quadro do mundo con-
temporâneo: uma sociedade em crise e sem vigor para enfrentá-
-la. Uma vida confortável (aquecedores, geladeiras, elevadores,
alimentos fáceis...) (V. Carrell). Crise da antiga aristocracia, não
devido à degradação (a média dos duques é melhor do que a
dos professores), mas devido à sua renúncia; agora meramente
decorativa. Crise das novas dinastias: os filhos dos capitães da
indústria são aristocratas. Crise da vitalidade burguesa (paralelo
com o fenômeno precursor da Revolução Francesa: a covardia
dos burgueses liberais, bajuladores do proletariado). Ameaça da
plebe urbana, arrogante, ressentida, insolente, insuportável... Os
bárbaros às portas.

VIII

As épocas medievais, ascendentes, transformam-se em


épocas clássicas; as épocas clássicas, em sua plenitude, não se
tornam épocas medievais; elas degeneram e terminam em catás-
trofe. A catástrofe, o intervalo histórico, e depois a nova era me-
dieval ascendente, na qual os valores permanentes da era ante-
rior ressurgem.

Considerando mil anos ou cem anos de distância, a catás-


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Caderno de Notas de um Estudante Europeu

trofe não importa; a longo prazo, tudo o que é autêntico é salvo;


mas para a geração que a enfrenta, é definitiva. Nossa geração
sente a catástrofe iminente; diagnosticou-a como o fim de uma
era (inúmeros livros: Spengler, Berdiaeff, Carrell); mas traz uma
vantagem para épocas gêmeas: ela sabe disso. E até deseja cons-
truir uma ponte sobre a invasão dos bárbaros.

IX

Atitudes. — Anarquismo: busca resolver a falta de harmonia


entre o homem e seu entorno dissolvendo a coletividade em in-
divíduos. — Fascismo: busca resolvê-la absorvendo o indivíduo na
coletividade (o comunismo não é uma terceira atitude: é a própria
invasão dos bárbaros como ditadura do proletariado); o anarquis-
mo — utópico — como uma aspiração remota. — O anarquismo é
impraticável. — O fascismo é fundamentalmente falso: acerta ao
pressentir que se trata de um fenômeno religioso, mas tenta subs-
tituir a religião por idolatria.

Nacionalismo. O nacionalismo é romântico, anticatólico:


portanto, em última instância, antifascista. Daí seu caráter mas-
sivo, cansativo devido à permanência na tensão. Falso também
economicamente, pois não aborda a verdadeira base: o capita-
lismo. O sistema corporativo é apenas uma frase: mantém a du-
alidade patrão-trabalhador, embora ampliada nos sindicatos. Ou
seja, persiste o esquema bilateral da relação de trabalho e, de
forma atenuada ou não, a mecânica capitalista da mais-valia. No
entanto, o fascismo percebe (talvez, sobretudo na Alemanha) que
há algo de natureza ascética a ser assumido. Isso será explorado
no próximo capítulo.

A essência religiosa da crise. A unidade católica: o sentido


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José Antonio Primo de Rivera

total da vida religiosa na Idade Média, ou seja, não o sacrifício do


indivíduo em prol da coletividade, nem a dissolução da coletivi-
dade em indivíduos, mas a síntese do destino individual e cole-
tivo em uma harmonia superior, à qual ambos servem. — Então,
dizem os tradicionalistas, basta voltar à religião. Claro! Como um
professor de francês que diz “faites comme moi” aos alunos desa-
jeitados na fonética francesa. Isso pressupõe, de maneira irreligio-
sa, que a religião é adotada um dia como escolher uma gravata
colorida depois de um luto. Não. A religião é, fundamentalmen-
te, um dom de Deus; deve ser implorado e aguardado, mas não
se adquire da noite para o dia. Além disso, a fervorosa devoção
religiosa das pessoas não é uma questão política. O que pode
ser tentado politicamente é a preparação para a espera da graça
(Pascal aconselha aqueles que não sentem a caridade a agirem
como se já a sentissem). Ascetismo: inocência e penitência.

XI

A nova tendência de voltar à natureza. Écloga e geórgica.


O sentido georgiano do novo regresso. Desmantelamento do ca-
pitalismo; solidariedade corporativa, descongestionamento urba-
no. Descongelamento da superindustrialização. Vida difícil para
as classes médias e intelectuais. Treinamento militar das classes
superiores. Alegria pré-religiosa. Espanha?

“E talvez um dia, a alegria católica se acenda novamente sobre a


Europa unificada.”

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Caderno de Notas de um Estudante Europeu

APÊNDICE

O que é a Espanha? Uma nação? Mas antes disso: o que é


uma nação? Nacionalismo = individualismo das nações. O indiví-
duo, o nativo; a nação, o nativo; em contraste com o indivíduo, a
pessoa; em contraste com a nação (esta nação), unidade de des-
tino = algumas unidades de destino no âmbito universal. Entre
elas, a Espanha = o destino da Espanha: a incorporação de um
mundo à cultura, à católica. A Espanha estava precisamente no
ponto (em forma) quando o mundo apresentou aquela conjuntu-
ra. A Espanha então abraçou decididamente a causa da unidade
católica: a bula de Alexandre VI, Trento, Lepanto, Valtelina, Guerra
dos 30 anos...

II

Mas a causa católica foi descartada. A Reforma — Sentido


religioso da Reforma: deslocamento do centro da vida espiritual
para a terra. — Calvinismo: a graça de Deus não pode ser resistida.
A predestinação se revela no sucesso das empreitadas humanas.
— Sentido econômico da Reforma: enriquecimento da burguesia
à custa da Igreja (Alemanha, Inglaterra, Suíça, França...). Somados:
um apelo para aproveitar as possibilidades de bem-estar econô-
mico neste mundo. Isso, muito acima do livre exame. A questão
do livre exame veio muito depois: intransigência do protestantis-
mo original (Sorel). — No protestantismo está a semente da civi-
lização mecânica: cidade contra campo; burguesia enriquecida
contra Igreja, Império e aristocracia. Capitalização. O otimismo
protestante.

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José Antonio Primo de Rivera

III

O otimismo filosófico: Rousseau. — O otimismo econômi-


co: Smith. — A declaração dos direitos do homem: a liberdade
de opinião, a quebra da unidade espiritual. — O livre comércio: o
progresso indefinido; a superindustrialização: as massas desem-
pregadas. O capital. A profecia de Karl Marx.

IV

Visão do mundo contemporâneo: a cidade e os subúrbios


(luxo e, a quinhentos metros dali, miséria insultante); no entan-
to, os subúrbios, irritados, envenenados, pensam e votam. — Ins-
trumentos de envenenamento espiritual: comícios, liberdade de
pensamento (ou intolerância: por exemplo, na Inglaterra), impren-
sa, cinema (apresentação provocante de vidas suntuosas), rádio.
Instrumentos auxiliares de envenenamento físico: velocidade, ba-
rulho, alimentos adulterados, atmosfera poluída, superlotação. —
Resultado: a plebe urbana. — Resumo: perda da harmonia entre
o homem e seu ambiente. (Liberalismo = desperdício de econo-
mias).

O instante: o fim de uma era. — Épocas clássicas e épocas


medievais. As épocas medievais terminam em épocas clássicas.
— As clássicas não se transformam em medievais: terminam em
catástrofe, em invasões bárbaras. Em seguida, dentro da nova cul-
tura, bárbara, as constantes mais valiosas da época clássica afun-
dada começam a operar e uma nova era média, material, ascen-
dente começa. — Todos os sinais apontam para o colapso de um
mundo (previsto por Marx). — Mas nem tudo está perdido nele:
muito deve viver e sobreviverá até mesmo à catástrofe. Agora, a
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Caderno de Notas de um Estudante Europeu

questão é: devemos nos resignar a confiar em uma ressurreição


distante? Devemos permitir que a torrente chegue e, por enquan-
to, destrua tudo? Em outras palavras, devemos nos resignar a ser
testemunhas da catástrofe prevista por Marx?

VI

Atitudes. A abordagem catastrófica (comunismo) não tenta


resolver a antinomia entre o homem e seu ambiente: ela aceita
a chegada da catástrofe, aconteça o que acontecer depois. Em
alguns casos, antecipa a estrutura de uma sociedade nova (anar-
quista); nesse aspecto, ela se encaixa no segundo grupo. A solu-
ção catastrófica foi experimentada na Rússia: acabou sendo ape-
nas uma mudança na aristocracia. As revoluções costumam trazer
sangue novo; mas custam muito caro... A solução catastrófica é a
preferida de todos os mentalmente e sexualmente fracos, dos in-
vejosos, dos desclassificados e dos ressentidos: a preguiça, musa
revolucionária.

VII

Soluções extremas: 1. — Anarquismo: dissolução da socie-


dade em indivíduos. Crítica. 2. — Fascismo: absorção do indivíduo
na coletividade. As grandes realizações dos sistemas fascistas e
sua ruptura interna: exterioridade religiosa sem religião. Alema-
nha: se tornaria um sistema profundo e estável se levasse suas úl-
timas consequências: o retorno à unidade religiosa da Europa; ou
seja, se se afastasse da tradição nacionalista e romântica da Ale-
manha e retomasse o destino imperial da Casa de Áustria. Caso
contrário, os fascismos terão vida curta.

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José Antonio Primo de Rivera

VIII

Solução religiosa: a recuperação da harmonia entre o ho-


mem e seu ambiente em busca de um objetivo transcendente.
Este objetivo não é a pátria nem a raça, que não podem ser ob-
jetivos em si mesmos: devem ser um objetivo de unificação do
mundo, no serviço do qual a pátria pode ser um instrumento; ou
seja, um objetivo religioso. — Católico? Certamente, de orientação
cristã.

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