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COMPLIANCE
MÚLTIPLOS OLHARES EM GOVERNANÇA E CONFORMIDADE
PERSPECTIVAS EM
COMPLIANCE
MÚLTIPLOS OLHARES EM GOVERNANÇA E CONFORMIDADE
ORGANIZADORAS:
NADIALICE FRANCISCHINI DE SOUZA
ZULENE BARBOSA GOMES
AUTORES:
Ana Paula Ribeiro Serra Josilane Fraga Bastos
Aurora Barros Larissa Alencar Sampaio
Blenda Araujo Saraiva Silva Luana Cerqueira Sousa
Carlos Queiroz Lucas Holmes de Rezende Serrano
Cleudes Cerqueira de Freitas Junior Mayanne Pontes
Denilton Leal Carvalho Nadialice Francischini de Souza
Érika L’Amour Ferreira Santos Rubens Sérgio S. Vaz Junior
Fábio S. Santos Sandra Rosa Vespasiano Borges
Fabíola Grimaldi Tássia Barbara F. B. Seixas
Fernando Henrique Cardoso Neves Tatiane Lima dos Santos
Geraldo Almeida Cunha Thalita Matos da Silva
Jamile Souza Calheiros dos Santos Thayana Macêdo
Jamily Duarte da Silva Viviane Cardoso Lacerda Pacheco
José Vicente Cardoso Santos Zulene Barbosa Gomes
© Editora Mente Aberta
Endereço Eletrônico: editoramenteaberta.com.br
E-mail: menteaberta@editoramenteaberta.com.br
Coordenação Editorial
Pedro Camilo de Figueirêdo Neto
Conselho Editorial
DOUTORES: MESTRES:
Claudia de Faria Barbosa Angelo Boreggio
Heliete Rosa Bento Bruno Barbosa Heim
Jessica Hind Ribeiro Costa Fábio S. Santos
José Rômulo de Magalhães Filho Geraldo Almeida Cunha
Luciano Sérgio Ventim Bomfim Geraldo Calasans Silva Júnior
Maria João Guia Isan Almeida Lima
Nadialice Francischini de Souza João Francisco Liberato de Mattos
Régia Mabel da S. Freitas Carvalho Filho
Ricardo Maurício Freire Soares Marcelo Politano de Freitas
Sheila Marta Carregosa Rocha Pedro Camilo de Figueirêdo Neto
Urbano Félix Pugliese do Bomfim Rubens Sérgio S. Vaz Júnior
Thacio Fortunato Moreira
Programação Visual de Capa Revisão
Fernando Campos Adriano Mota Ferreira & Joana Cunha
Diagramação
Alfredo Barreto
A reprodução total ou parcial desta obra, por qualquer modo, somente será
permitida com autorização da editora.
(Lei nº 9.610 de 19.02.1998)
276 p.
ISBN: 978-65-86483-07-9
ASPECTOS GERAIS
5
6 | Diversos Autores
COMPLIANCE ELEITORAL
LGPD E COMPLIANCE
Aurora Barros1
A vida passa tão depressa que nos esquecemos do que realmente im-
porta, dos valores, dos conselhos dos avós e pais, do tempo em família e com
genuínos amigos, daquilo que nos impulsiona, faz-nos acordar todos os dias
revigorados. O que motiva, o que move, a criatividade de viver os dias nos so-
lavancos das cidades, apinhadas de pessoas indo e vindo, atrás de mais e mais,
bater metas inatingíveis, chegar no horário, desviar do trânsito, concluir os
estudos, levar as crianças à escola, obrigações e mais obrigações, no mundo
real e no mundo digital. Vivendo várias vidas em uma só, ou sobrevivendo a
elas.
E todo esse movimento acelerado tem consequências para o mundo e
vem propiciando vários alertas quanto ao bem-estar da população.
Nesse sentido, o tema felicidade, notadamente no mundo corporativo,
vem ganhando impulso diante da representatividade desse sentimento para a
humanidade e seus propósitos, dedicados sobretudo à evolução da sociedade.
1 CONTEXTUALIZANDO O TEMA
3 FELICIDADE NO TRABALHO
certas atitudes negativas. A sociedade também exige das empresas uma nova
postura (LINS, 2020).
Além de ser direito do ser humano, estabelecer um ambiente de trabalho
saudável favorece as organizações e seus objetivos sociais, inclusive de pro-
dutividade positiva.
Há um enorme volume de dados demonstrando que trabalhadores feli-
zes apresentam níveis mais elevados de produtividade, fecham mais vendas,
são mais eficazes em posições de liderança, recebem uma melhor avaliação de
desempenho e são inclinados a tirar menos dias de afastamento por doença,
pedir demissão ou ficar estafados. CEOs felizes são mais propensos a liderar
equipes ao mesmo tempo mais felizes e saudáveis, e criar um ambiente de
trabalho propício ao alto desempenho. A lista de benefícios da felicidade no
trabalho é praticamente interminável (ACHOR, 2012).
Portanto, felicidade no ambiente de trabalho é algo que se impõe e não é
mais possível negociar quando se trata disso. É necessidade do ser humano.
O meio ambiente e a cultura organizacional são fatores básicos para
que se exercite a condição de ser feliz, de estar harmonizado com os outros.
Se a cultura da organização irradia infelicidade, é um ambiente autoritário,
conflituoso, cujo estímulo predominantemente é competir, e não cooperar,
prevalecendo o individualismo, não a equipe, então é quase impossível estar
motivado e feliz (MATOS, 2017).
No tópico seguinte, traremos algumas reflexões de como um programa
de compliance pode ser um catalisador dessas necessárias mudanças em rela-
ção aos aspectos humano e comportamental.
5 RENOVAR E PERPETUAR
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
Carlos Queiroz2
O ideal que se busca nos negócios, sejam eles de que qualquer natureza, é
a lisura e transparência entre as partes; fazer a coisa certa, estejam as partes
contratando com pessoas naturais ou jurídicas, é o anseio social.
O Estado só causa ingerência para punir pessoas naturais e jurídicas
quando estas de algum modo descumprem os ditames legais, atingindo a so-
ciedade como um todo ou alguém diretamente.
Foi a partir do anseio social que surgiu o compliance, o qual busca que
empresas públicas ou privadas desenvolvam suas atividades com total cum-
primento das legislações vigentes e com isso consigam entregar o seu melhor.
Nessa linha de raciocínio, correspondendo à expectativa atual do merca-
do é que as empresas necessitam implantar um programa de compliance que
1 DO SURGIMENTO DO COMPLIANCE
O referido diploma legal, em seu art. 42, trouxe um rol bem extenso de
parâmetros que passaram a servir de base para que se possa avaliar a existên-
cia e efetividade do programa de integridade das empresas.
A partir desse rol, as corporações passaram a ter um verdadeiro manual
de medidas que as auxiliam na difícil e árdua missão de combate à corrupção
em sua estrutura interna, além de combater as famosas e corriqueiras fraudes
em licitações. Ressalvadas as adaptações necessárias, a depender da natureza
empresarial, porte da empresa, entre outras particularidades, um programa
de integridade é para todos, sem exceção.
Perspectiva em Compliance | 33
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
também não se aplica: não dá para achar que vai ter sucesso na implantação,
seguindo a linha do terrorismo, ou a linha policialesca. Compliance também
não é isso, é equilíbrio entre estas duas alternativas, sempre com a preocu-
pação na manutenção do programa, que deve ser factível e aderente, e com a
continuidade do negócio, também apoiada pelo compliance.
O principal objetivo de um programa de compliance é fazer com que as
empresas consigam otimizar seus recursos, de modo a angariar a melhor qua-
lidade possível em seus produtos, serviços e no relacionamento da empresa
com a sociedade, mesmo que os recursos sejam escassos, ou seja, conseguir
ser o mais efetiva possível em tudo o que faz, ainda que com limitações or-
çamentárias. Tudo isso por meio da ética e de uma conduta íntegra, que não
dependem apenas de gastos, mas de investimento de tempo, de mudanças de
atitude e de comprometimento real de todos os envolvidos no ecossistema
corporativo.
[...] conseguiu conquistar 20 novas obras nos últimos dois anos e até já
voltou a contratar. A carteira de projetos da empreiteira cresceu R$ 8,2 bi-
lhões até junho e somou R$ 11,1 bilhões – ainda distante dos R$ 30 bilhões
de 2014, quando a construtora foi envolvida na Lava Jato, mas um alento
em tempos de baixo crescimento econômico. (PEREIRA, 2019).
Mas como fazer com que a cultura da integridade seja implantada com
sucesso? Alguns cuidados devem ser tomados. Falaremos sobre algum deles,
mas sem a pretensão de que se torne um checklist, porém, deixando o alerta
que são pontos de atenção que devem ser observados com muito critério, pois
que, como cada empresa tem uma cultura própria, um segmento específico e
cada CNPJ atua como uma persona diferente da outra, cada caso é um caso.
Justamente por envolver uma mudança cultural, por mais que se traba-
lhe com frameworks ou metodologias criadas especificamente para a implan-
44 | Érika L’Amour Ferreira Santos
R$ 5,00 (antes do acordo) para R$ 27,85, dia 28 de agosto 2019. Não há dú-
vidas de que com esta margem é possível manter financeiramente todas as
ações relacionadas ao compliance e ao programa de integridade.
3.3 TREINO
Sim! O treinamento precisa ser repetido várias vezes, não de modo igual,
mas com abordagens e temas diferentes, preferencialmente por meio de me-
todologias ativas, para que possa se enraizar na mente dos colaboradores e
fornecedores. A integridade vem de berço, faz parte da constituição do cará-
ter, da forma que somos criados por nossos pais, dos exemplos e estímulos
que recebemos ao longo da vida, tanto em casa, como na escola, no trabalho
de na sociedade.
É justamente por este motivo que o bom exemplo pode e deve ser
ensinado através dos treinamentos, para que através de simulações de
situações cotidianas se desenhe um novo padrão na mente dos envolvidos,
gravado como tatuagem, assim como a metodologia de repetição usada pelas
crianças quando estão em fase de aprendizagem.
Do mesmo modo que os pais precisam repetir várias vezes, para que
uma empresa consiga fazer com que seus funcionários e fornecedores sigam
uma determinada conduta, é preciso treinar, com métodos diversos, todas as
mensagens, regras e padrões de conduta que se quer passar.
Vale observar que, quando o tema é treinamento em compliance (no có-
digo de conduta, nas políticas internas etc.), muitas empresas caem no erro
de acreditar que apenas na fase de implantação do programa de integridade
(como foco na conduta) ou no programa de compliance (foco na conduta e na
conformidade com as leis e regras do setor) é que é preciso ter esta preocu-
pação. O cuidado deve ser ainda maior na manutenção, para que de fato faça
parte da rotina dos funcionários, de modo que eles consigam, inclusive, levar
para a sociedade e para suas casas aquilo que aprenderam na empresa.
Outro erro muito comum é a preocupação com o prazo de conclusão do
treinamento, e não com a forma com a qual ele é conduzido. Infelizmente, ge-
ralmente por questões orçamentárias, algumas empresas focam em concluir o
treinamento com 100% dos funcionários no mínimo de tempo possível, para
atender, em alguns casos, regras ou normativos específicos de seu setor de
atuação. Com isso, muitas acabam não resistindo à tentação do “menor custo”
e colocam entre 100 e 200 colaboradores em uma sala de aula e, ao final, dão-
-se por satisfeitos, pois “bateram a meta”.
Por mais que se trate de treinamentos válidos e que vão ajudar com in-
formações e esclarecimentos de dúvidas que poderiam surgir no dia a dia do
46 | Érika L’Amour Ferreira Santos
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
CRONOLOGIA
FASES PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS
APROXIMADA
É, ou será, marcada pelo perfil não apenas técnico
Fase 6:
do colaborador, mas sobretudo por suas condutas,
Fase da
seus aspectos éticos e morais, e com a introdução
Conduta (ou Ocorre nos dias
dos programas coletivos e politicamente corretos
Compliance) atuais
indexados ao perfil empresarial da própria
(Nossa
organização, que prima por direitos difusos e
proposta)
coletivos de toda a sociedade.
Fonte: Adaptado de Dutra (2014) e adequado à realidade atual.
factíveis de cada ação, de forma que o código de conduta ética nas empresas
pode vir a ser utilizado como uma importante ferramenta de unificação de
objetivos e comportamentos, além de importante balizador de consenso de
eventuais ajustes de condutas.
2 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
Luana Cerqueira6
2 O QUE É CRISE?
ser antecipadas com a sua real magnitude e a empresa vai se deparar com
uma crise (DELLOITE, 2015).
Uma crise jamais será gerada por um evento isolado e podemos compa-
rála à queda de um avião, o meio de transporte mais seguro do mundo.
Em que pese ser considerado o mais seguro, nada é 100% seguro, sendo
este o motivo central para a criação de planos de ação a serem utilizados
quando as coisas saem do controle ao ponto de desencadear uma crise.
Dito isto, temos que, para que um avião caia, faze-se necessária uma série
acontecimentos em, e não um isolado, o que faz com que a sua origem demore
a ser identificada e que suas consequências devam ser tratadas com urgência,
celeridade e competência (O PODCAST, 2020).
Assim, para que se identifique se aquele fato ou aqueles acontecimentos
possuem o condão de desencadear uma crise, é primordial entender a evolu-
ção de um “problema” até que este possa ser considerado uma “crise”, bem
como a diferença entre ambos.
Problemas são eventos previsíveis, inseridos na rotina e que devem
ser facilmente resolvidos pelos líderes de uma empresa que entende o
funcionamento dos seus processos e procedimentos.
Esses problemas passam a ser vistos como emergências a partir do mo-
mento em que são previsíveis, mas a sua ocorrência pode interromper a execu-
ção/prestação do serviço por um determinado período de tempo (DELLOI-
TE, 2015). Como exemplo teríamos o site de vendas de um produto que sai
do ar ou de uma aeronave que precisa de manutenção mesmo quando todos
os passageiros estão embarcados.
Vale chamar a atenção para o fato de que a prestação de serviço foi inter-
rompida, mas a possibilidade de ocorrer da forma como aconteceu já estava
prevista e, quando eventos como esses se tornam reais, a empresa já deve
possuir fluxograma para que a emergência seja mitigada.
Já a crise aparece a partir do momento em que uma situação classificada
como de baixa probabilidade e alto impacto se torna real. Assim, a crise é o
ápice, é o evento de grande dimensão que pode comprometer a perenidade e
a reputação de uma empresa, podendo ter sido previsto ou não (DELLOITE,
2015).
A palavra crise vem do grego krísis, que significa névoa de incerteza e
era utilizada pela medicina antiga para fazer referência ao momento decisivo
de uma doença, na qual o resultado seria a cura ou a morte do paciente (CI-
BER, 2010).
Da mesma forma que os médicos gregos estavam repetidamente diante
de krísis, as empresas precisam gerir crises a todo momento, independen-
temente do seu porte, por se tratar de algo inerente ao negócio. Tal fato
decorre principalmente do aumento do acesso a informação proporcionado
66 | Luana Cerqueira
3 QUEM É A SALLVE
4 A CRISE NA SALLVE
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
PARTICIPAR
DOMÍNIOS COMPREENDER COMPARTILHAR
E INCLUIR
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
Thayana Macêdo8
princípio remonta aos anos de 190610 e 191311, com atenção para o ramo de
alimentos, medicamentos e instituições financeiras. No Brasil, as primeiras
exigências com característica de compliance surgiram por meio das “normas
penais, introduzidas pela legislação que criminalizou a lavagem de dinheiro”
(VERÍSSIMO, 2017, p 15), todavia verdadeiramente ganharam força com
advento da Lei nº 12.846, de 1º de agosto de 2013, cujo propósito fundou-se
em responsabilizar administrativa e civilmente pessoas jurídicas pela prática
de atos contra a Administração Pública, nacional ou estrangeira – combate à
corrupção (BRASIL, 2013).
Com o presente estudo, buscamos apresentar uma visão lato sensu daqui-
lo que entendemos ser o instituto do compliance, haja vista o seu “coração”
tratar, com primazia, de assuntos relacionados aos riscos corporativos de
desconformidade, para além do foco de estudo ao combate da corrupção. Isso
porque não há sentido em estudar compliance sem antes entender-se o risco e
a imprescindibilidade de alcançar as formas de sua mitigação.
Os cenários prospectivos despontam, então, como ferramenta moderna
e eficaz de potencializar o compliance, através da gestão de riscos baseada em
estruturas proativas visando sustentabilidade e diferencial para as corpora-
ções no mercado.
Nesse sentido, passaremos a apresentar conformidade/compliance, livre
de conceitos que a se prendam ao sentido restrito de integridade, para am-
pliá-los conforme as melhores práticas e estruturas de gerenciamento de ris-
cos, com maior estruturação de controles internos, amparado no estudo dos
cenários prospectivos, como ferramenta estratégica para tomada de decisão
por parte da alta administração, mais confiáveis e possíveis a ampliar compe-
titividade e sobrevivência das organizações.
1 O QUE É COMPLIANCE?
10 “1906, com a promulgação do Food and Drug Act, o governo norte a mericano criou
um modelo de fiscalização centralizado, como forma de regular as atividades relacionadas
à saúde alimentar e ao comércio de medicamentos, contudo, foi devido às instituições
financeiras que o Compliance avançou” (CARNEIRO, 2019, p. 45).
11 “O despertar do compliance surgiu em 1913, ao tempo da criação do Banco Central
Americano” (PIZARRO, 2016, p. 30).
90 | Thayana Macêdo
12 Modelo das três linhas de defesa. Adaptação da Guidance Company Law Directive
da Europan Federantion of Risk Manager Associations (ECIIA-FERMA): “A segunda
linha de defesa tem um propósito específico, dar suporte à gestão e o processo de
governança corporativa, e não tem função de tomada de decisão, pelo contrário, deverá
apresentar subsídios legais e operacionais para que os gestores tomem suas decisões
em conformidade, uma vez que conhecem os riscos envolvidos” (ECIIA-FERMA, 2013,
apud ASSI, 2017, p. 54).
94 | Thayana Macêdo
4 APONTAMENTOS FINAIS
REFERÊNCIAS
1 MARCO REGULATÓRIO
2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA
a) os escrituradores;
e) as companhias securitizadoras; e
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
1.6 COMPLIANCE
[...] estar de acordo com a lei, normas, políticas e procedimento, com obje-
tivo de prevenir, detectar e punir atos ilegais e em desacordo com o código
de ética e conduta da empresa, através da implantação de um programa
de melhoria continua, preservando a reputação e a imagem da empresa, as
suas finanças, de maneira eficiente, segura e sustentável, mitigando os seus
riscos, combatendo a corrupção interna e externamente nas relações com
organizações públicas, privadas e a sociedade em geral.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
internos, mas também existirem para que as pessoas jurídicas possam, antes
de negociar, conhecer os parâmetros e as regras a serem seguidas.
REFERÊNCIAS
1 CONCEITOS
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
Mister se faz destacar que tais pilares devem estar alicerçados em dois
pressupostos ou pré-requisitos para início de um programa de integridade:
suporte da alta administração (tone from the top) e a análise de riscos (risk
assessment).
O pilar da prevenção é constituído pela elaboração do código de ética e
condutas; a criação de políticas e procedimentos; comunicação e treinamento;
due diligence, e pela sensibilização, ou seja, disseminação da cultura da inte-
gridade.
No pilar da detecção, encontram-se as medidas de criação do canal de
ética/denúncias, implementação de controles, investigações internas, audito-
rias e monitoramento contínuo.
O pilar da resposta é composto por medidas disciplinares (advertência,
suspensão, demissão, exclusão de sócio, rescisão contratual, imposição de
multa etc.) e ações corretivas.
Fácil inferir-se, pois, que o pilar da prevenção é o principal, haja vista
que o objetivo precípuo de um programa de compliance é manter as práticas
da empresa em conformidade com o ordenamento jurídico e normas éticas,
visando a agregar valor reputacional e ganhos financeiros.
No entanto, detectada eventual desconformidade, faz-se mister a adoção
das medidas elencadas no pilar da resposta, com aplicação de medidas disci-
plinares e corretivas.
Como destacado alhures, um programa de compliance tem por escopo
prevenir a prática de atos ilícitos e/ou em desacordo com as regras, normas,
políticas ou procedimentos de integridade, visando à preservação da reputa-
ção da empresa e, consequentemente, sua saúde financeira.
Nessa senda, forçoso concluir que, realizada uma prática em desconfor-
midade com os preceitos acima elencados, os componentes do pilar da detec-
ção (canal de ética/denúncias, auditorias etc.) constatarão a infração, fazendo
com que seja infligida uma medida disciplinar/corretiva (advertência, sus-
pensão, demissão, exclusão etc.) ao(s) autor(es) do ato infracional. Esta é a
lógica e o fluxo de um programa de integridade.
Entrementes, nem sempre o pilar da resposta terá uma fácil aplicação.
Suponha-se que, numa sociedade empresarial, o departamento de compliance
detecte que um dos sócios ou um alto executivo da corporação está agindo
em desconformidade com uma política de integridade, causando prejuízos à
empresa. Inexoravelmente, a simples tentativa de aplicação de uma medida
disciplinar dará azo a um conflito societário, que certamente se degenerará
numa demanda judicial.
Quais as consequências desse conflito societário levado ao poder judiciá-
rio? As piores possíveis, indubitavelmente.
146 | Denilton Leal Carvalho
(art. 2º, VII, art. 30 e art. 31 da Lei nº 13.140/2015) e com rito flexível, mo-
dulado pelas partes.
Na arbitragem, os envolvidos delegam a solução da contenda a uma pes-
soa ou instituição qualificada e especializada que, em um determinado prazo,
previamente estabelecido, decidirá de forma definitiva a controvérsia.
De acordo com a Lei nº 9.307/96, o árbitro é juiz de fato e de direito, e a
sentença que proferir não fica sujeita a recurso ou a homologação pelo Poder
Judiciário, sendo reconhecida como um título executivo judicial – artigo 31
da Lei de Arbitragem e artigo 515, inciso VII, do Código de Processo Civil.
Assim como a mediação, a arbitragem, em regra, revela-se mais econô-
mica que um processo judicial (especialmente nas demandas empresariais).
Ademais, a arbitragem é muito mais célere que a demanda judicial. A Lei
de Arbitragem estabelece o prazo de seis meses para a prolação da sentença
arbitral, se outro não houver sido convencionado pelas partes. Consigne-se,
ainda, que a decisão será proferida por um expert escolhido pelas partes e
o processo também é protegido pela confidencialidade. Além do dever de
discrição do árbitro, previsto no art. 13, § 6º da Lei nº 9.307/96, os regula-
mentos de praticamente todas as câmaras de arbitragem trazem a previsão de
confidencialidade do processo arbitral.
Infere-se, pois, que a mediação e a arbitragem, além de outras, possuem
três características de suma relevância na resolução de um conflito empresa-
rial, sobretudo quando societário, quais sejam: confidencialidade, celeridade
e economicidade. Sem desconsiderar importância da celeridade e da economi-
cidade no âmbito empresarial, no que diz respeito à proteção reputacional, a
confidencialidade dos conflitos revela-se um atributo indispensável.
Nessa senda, a complementação de um programa de compliance com os
institutos da mediação e arbitragem como meios adequados para solução dos
conflitos decorrentes de uma imposição de sanção em razão da constatação
da prática de alguma irregularidade ou ato de não conformidade, mitiga sig-
nificativamente o risco reputacional, evitando-se o dano à imagem da orga-
nização.
Assim, no exemplo alhures apontado, constatando-se que um dos sócios
agiu em desacordo com uma política de compliance, instaura-se um procedi-
mento de mediação. E aqui cabe reavivar uma das principais características
da mediação: ela é indicada para situações em que existe um vínculo jurídico
ou pessoal prévio e continuado entre as partes envolvidas no conflito, bus-
cando-se, sempre que possível, a preservação da relação. Sem dúvidas, numa
sociedade empresarial, não há nada mais importante que a própria vida da
empresa. Ademais, esse conflito, por força da confidencialidade, não poderá
ser levado ao conhecimento dos demais stakeholders.
Perspectiva em Compliance | 149
Note-se que, ainda que malogre a busca pela solução consensual, entra
em cena a arbitragem, cuja decisão será proferida por um expert no tema, es-
colhido pelas partes envolvidas num processo de caráter sigiloso.
E o mais importante: o conflito, seja na mediação, seja na arbitragem,
estará sob a égide da confidencialidade, o que preservará a reputação da em-
presa, mitigando, conseguintemente, os riscos de danos financeiros e à ima-
gem da corporação.
Acrescente-se que a solução, advinda da mediação ou da sentença ar-
bitral, será muito mais célere, bem como os custos serão reduzidos, quando
comparados aos do processo judicial.
2 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
Para Holmes e Sustein (2012), autores que tratam do tema “custos dos
direitos”, não há direitos sem a presença do Estado enquanto garantidor e,
para tal conformação, é inexorável a judicialização de políticas públicas e o
protagonismo judicial nesse processo.
Para Ingo Sarlet (2003), a teoria da “reserva do possível”, na sua origem,
não se relacionava exclusivamente à existência de recursos financeiros sufi-
cientes para a efetivação dos direitos sociais, mas à razoabilidade da preten-
são proposta em face da sua concretização.
Destarte, os condicionamentos impostos pela cláusula da “reserva do
possível” ao processo de concretização dos direitos de segunda geração
compreende, de um lado, a razoabilidade da pretensão individual/social de-
duzida em face do Poder Público e, de outro, a existência de disponibilidade
financeira do Estado para tornar efetivas as prestações positivas dele recla-
madas (BRASIL, 2004).
Perspectiva em Compliance | 159
4 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
editado tanto pelo Banco Central (Bacen), por meio das Cartas Circulares de
números 3.978, de 23 de janeiro de 2020,28 e 4.001, de 29 de janeiro de 2020,29
como também pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), através da nova
Instrução CVM nº 617, de 5 de dezembro de 2019.30
Neste deslinde, a proposta deste artigo é sustentar a necessidade do
aprimoramento dos programas de compliance sob a ocorrência de fatores cri-
minógenos contemporâneos e transnacionais que abarquem a incidência do
Direito Penal. É exatamente neste contexto que a prevenção à lavagem de di-
nheiro e ao financiamento ao terrorismo (PLDFT) necessita ser aprimorada
e revestida de saber científico específico para não só prevenir a incidência de
infrações penais, mas também para detectar e remediar potenciais riscos que
podem atingir um determinado conglomerado empresarial e, consequente-
mente, desencadear na responsabilização criminal individual dos seus mem-
bros que compõem a alta administração.
As novas diretrizes regulatórias emanadas tanto pelo Bacen como pela
CVM, demonstram uma maior ampliação e rigor nos controles internos de
monitoramento, nos quesitos de avaliação interna, na política de “conheça
seu cliente” (know your costumer – KYC), nos critérios de avaliação de pessoa
exposta politicamente (PEP), na ampliação dos sinais de alerta de operações
ou situações atípicas, e da necessidade de adoção da figura de um único dire-
tor responsável pelo cumprimento da nova norma de PLDFT.
Não há como negar que, além da ampliação de poderes de supervisão
e controle por parte das instituições financeiras, em decorrência do modelo
gerencial da autorregulação, tais entidades necessitam compartilhar com as
agências estatais um alto fluxo de dados e informações de particulares. Dian-
te de uma forte internacionalização do mercado financeiro, o campo norma-
tivo de adequação se amplia cada vez mais, principalmente de empresas e
instituições que possuem seus negócios em nações com alto rigor legislativo
e agências de enforcement bem capacitadas.
pontos que devem integrar a análise da operação ou situação atípica que foi
detectada, assim como a apresentação dos elementos mínimos que devem
integrar um reporte para a unidade de inteligência financeira.
Ao mesmo tempo que é a primeira Instrução que traz consigo uma nota
explicativa, conforme supracitado, a audiência pública sobre o tema PLDFT
trouxe sugestões à normativa que foram alteradas, sendo as principais noti-
ciadas pela própria CVM em seu site: (i) adoção da figura de um único diretor
que será responsável pelo fiel cumprimento da nova norma de PLDFT; (ii)
reorganização das situações em que as rotinas para a identificação do bene-
ficiário final não serão aplicáveis, assim como das informações requeridas
quando do processo de coleta de informações cadastrais; (iii) flexibilização
dos prazos para a atualização dos cadastros dos clientes; (iv) regulamentação
dos deveres decorrentes da Lei n° 13.810/19, que por sua vez alterou a Lei n°
13.170/15; (v) maior detalhamento dos pontos a serem observados quando
do registro de operações e respectiva manutenção de arquivos.
3 APONTAMENTOS
seja pela interpretação ortodoxa, seja heterodoxa, que as fazem serem ad-
mitidas pela ratificação de tratados internacionais ou mesmo por imposição,
modificam do dia para a noite toda uma série de sanções ou possibilidades
de sanções para vários atores empresariais, tal qual se observou nos últimos
“escândalos de corrupção”, em especial na América Latina.
Nossa apresentação se deu para, além de destacar os novos marcos no
que importa a uma criminal compliance, ou a formulação e implementação
de uma política de conformidade que afasta a responsabilidade criminal de
PLDFT. Não é nosso papel aqui analisar cases de cada uma das possibilidades
do assunto (responsabilidade do Diretor, compartilhamento de informações,
investigações internas etc.), mas sim de, nesse breve exercício, perceber como
a possibilidade de responsabilização criminal cresceu.
Sendo mais cirúrgico, se o bordão “a globalização trouxe a sociedade
de risco”, junto de alguma citação duvidosa de Ulrich Bech é extremamente
batido em qualquer apresentação de “Direito Penal Econômico” para se falar
da “criminalização dos riscos”, a nova regulação PLDFT se dá num contexto
“4.0”, onde o território de ação é intrínseco às novas tecnologias e os riscos
que as estas apresentam.
Para além de observar isso a partir da leitura das normativas, a própria
imprecisão sobre alguns possíveis conflitos – por exemplo, a regulação da
privacidade pela LGPD e/ou sigilos genéricos (comercial, legal etc.) e o re-
passe de informação ao Diretor responsável e/ou órgãos de controle – podem
gerar conformidade perante uma lei (Lei Geral de Proteção de Dados) e falta
de conformidade com a PLDFT, ou viceversa.
A imprecisão atual no que tange à proteção de dados, risco altíssimo
pelos desafios atuais enfrentados pela própria “adequação” do setor público
e privado às normas de segurança da informação e práticas de tratamento
de dados em prol da privacidade, pode ficar ainda maior quando se trata das
novas normativas apresentadas: ao mesmo tempo que uma instituição finan-
ceira tem uma relação com pessoas físicas, também o tem com os órgãos de
controle; ou seja, da mesma maneira que a LGPD incide na relação de con-
sumo sobre as mesmas informações, a PLDFT também o pode, levantando
uma conformidade intersetorial do ponto de vista jurídico, tornando-a mais
complexa e, por isso, “mais arriscada”.
O tempo nos dirá como os órgãos e as instituições se comportarão, em
especial pelo tempo que têm, antes em 1º de julho de 2020, agora, com a De-
liberação CVM nº 848 – que duplicou ou estendeu por 3 meses prazos regu-
latórios – as normativas só entram em vigor no dia 1º de outubro. Enquanto
escrevíamos este artigo, o mundo passava por um delicado momento pandê-
mico, que inclusive aumentou ainda mais a utilização de meios digitais, dando
182 | Lucas Holmes & Fernando Neves
cada vez mais valor a inovações financeiras e toda a sorte de commodities di-
gitais, ressaltando mais uma vez como a cibersegurança e a compreensão das
inovações fazem parte de uma efetiva adequação normativa de PLDFT, assim
como a real compreensão que deve ser feita sobre ela a nível das empresas
como partícipes de uma política internacional que as coloca em competição
global.
Por isso, o profissional com expertise no Direito Criminal está presente
para refletir acerca dos processos a serem implementados e, principalmente,
para discutir com toda a equipe interna e terceiros qual a cultura a ser pen-
sada, ao ponto de se antecipar às tendências regulatórias, evitando surpresas
e desenvolvendo, desde sempre, um relacionamento sadio com as agências de
controle, simplificando as soluções em compliance para uma melhor prolifera-
ção da cultura em toda a sociedade.
REFERÊNCIAS
43 Advogada. Docente. Doutora em Direito pela UFBA. Mestre em Direito pela UFBA.
Especialista em Direito Empresarial pela UFBA. Extensão Universitária em Docência
do Ensino Superior pela ESAB.
184
Perspectiva em Compliance | 185
No Brasil, a aplicação dessa teoria foi vista pela primeira vez no caso do
roubo ao Banco Central do Brasil em Fortaleza, Ceará. Pouco tempo após o
fato ilícito, um dos criminosos efetuou a compra de onze carros e adiantou a
compra de outros à vista e em espécie, totalizando um valor de R$ 980.000,00
(novecentos e oitenta mil reais). O que chamou a atenção é que tudo foi pago
em espécie e em notas de R$ 50,00 (cinquenta reais), acondicionadas em sa-
cos. O juiz condenou os sócios da revendedora de automóveis pelo crime
de lavagem de dinheiro sob o argumento de que, apesar de não saberem da
origem ilícita do dinheiro, deveriam ter desconfiado, ou seja, ignoraram deli-
beradamente o fato (BRASIL, 2020)
A sua popularização somente ocorreu com o julgamento da Ação Penal
n. 470 – conhecida como Mensalão –, aparecendo especificamente no voto do
ministro Celso de Mello ao acompanhar o voto do relator no item VII da AP
470, sobre lavagem de dinheiro. Ele reconheceu expressamente a possibili-
dade de utilização dos critérios da teoria da cegueira deliberada para a con-
figuração do crime de lavagem de dinheiro, entretanto, “com muita cautela”
(STF, 2012).
Victor Augusto Estevam Valente (2017) aponta que, com o julgamento
do Mensalão, a “a jurisprudência passou a considerar a ignorância deliberada
Perspectiva em Compliance | 189
4.º) Decisão de não conhecer por parte do agente, ou seja, que o estado de
falta de representação decorra de uma decisão do próprio indivíduo. A op-
ção pela ignorância deve ser voluntária, ou ao menos, consciente, podendo
traduzir-se tanto em ações concretas que objetivem evitar a informação,
com também em omissões do dever de conhecer.
Dessa forma, apesar do seu uso pelos Tribunais, a teoria da cegueira de-
liberada não é totalmente aceita pela doutrina penal, havendo discussão sobre
a sua legalidade e adequação ao sistema penal brasileiro.
figura do compliance officer. Mas este poderia ser responsabilizado com base
na teoria da cegueira deliberada?
O entrelaçamento entre compliance e Direito Penal surgiu mais recente-
mente como reflexo da expansão do Direito Penal Econômico e da crimina-
lidade empresarial. Dessa interligação é que surge a necessidade de agentes
internos nas empresas com a obrigação de “avaliar constantemente os proce-
dimentos (desta) com vistas a garantir a conformidade de sua atuação com as
exigências normativas, em especial quanto ao cumprimento das obrigações
de prevenção e repressão à lavagem de dinheiro”, a exemplo do compliance
officer. (MAGALHÃES, 2014).
Uma das hipóteses aventadas para a incidência dessa teoria é a situação
em que o compliance officer, deliberada e conscientemente, deixa de implantar
ou de supervisionar a implantação do programa de integridade pelo qual é
responsável, mecanismos imprescindíveis para o “recebimento de informa-
ções de operações suspeitas de lavagem de capitais, criando conscientemente
um mecanismo que veda a chegada ao seu conhecimento de qualquer dúvi-
da sobre a licitude dos bens” (SANTO, 2017).
Nesse caso, há a obrigação legal de garante, de agente econômico-finan-
ceiro protetor de um bem jurídico, e o indivíduo que detém essa responsa-
bilidade deve impedir o resultado danoso. Vlamir Costa Magalhães (2014)
entende que, caso esse agente opte pela “ignorância confortável, comportan-
do-se como o avestruz que enterra a cabeça para não ver a luz do sol”, ou seja,
se coloque em uma posição de fazer “vista grossa” e “ouvidos de mercador”,
permitido a ocorrência do crime, deve ser responsabilizado.
Essa é uma tese bastante controversa e que ainda merece ser bastante
discutida. David Rechulski (2020) defende que a aplicação da teoria da ce-
gueira deliberada aos casos em que o compliance officer se coloca propositada-
mente em uma situação de não querer ver o fato, ou mesmo em uma posição
de “desinteresse em melhor conhecer ou investigar a fundo algum fato poten-
cialmente ilícito no âmbito da empresa implicaria a assunção dolosa do risco
da ocorrência de um resultado lesivo”, não é o melhor caminho. Ele ainda
completa afirmando que, para esses casos, deve-se ter a incidência da figura
da omissão penal, prevista no artigo 13, § 2º, do Código Penal, que se:
[...] aplica quando o omitente poderia e deveria agir para evitar o resulta-
do, quedando-se inerte”. De acordo com o Código Penal, tal dever incumbe
a quem tenha por lei obrigação de cuidado, proteção e vigilância; a quem
criou, com seu comportamento anterior, o risco da ocorrência do resulta-
do; ou a quem, de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o
resultado lesivo e nada fez para tanto. [...] o Compliance Officer tem o dever
de tudo fazer ao seu alcance para impedir a prática daquelas condutas
192 | Nadialice Francischini de Souza
associadas à corrupção, à subvenção da prática de atos ilícitos, às fraudes
nos procedimentos licitatórios, e outras correlatas, especialmente por meio
da implementação de um programa de compliance efetivo. Ao se omitir,
seja ao não implementar um programa de compliance efetivo, seja ao não
fiscalizar-lhe o cumprimento, ainda que podendo fazê-lo, e assim concorrer
para a ocorrência do resultado lesivo a que lhe comanda a lei evitar, poderá
ele ser envolvido no cenário das apurações para avaliar-se a relevância de
sua omissão diante do crime perpetrado. (RECHULSKI, 2020).
4 CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS
Pode-se dizer que se experimenta uma nova era do Direito Penal, em que
as obrigações de observância, a probabilidade de criminalização de pessoas
jurídicas, a responsabilização de seus sócios ou dirigentes e a necessidade da
prevenção de riscos empresariais constituem-se questões relevantes na con-
cepção da responsabilização criminal.
Nos últimos tempos, com o avanço da tecnologia, dos meios de comu-
nicação, da economia global e das transações comerciais, observou-se o sur-
gimento de novas condutas, consideradas dignas de tutela penal pelo legis-
lador. Em meio a esse cenário surge o instituto do compliance, que pode ser
compreendido como a implementação de políticas e mecanismos de contro-
les internos para fiscalizar as atividades empresariais, e o cumprimento das
normas legais e reguladoras, com a finalidade de prevenção e repressão de
delitos.
Na seara penal, o criminal compliance pode ser definido como uma pos-
sibilidade de se combater o que se entende atualmente como criminalidade
moderna, ou seja, combater a corrupção, lavagem de dinheiro, entre outros.
Assim, pode-se compreendê-lo como uma nova forma de mecanismo guiado
por um dever de colaborar com o Estado na prevenção da criminalidade no
ambiente empresarial.
O conceito de compliance constitui-se algo recente, surgido na década de
noventa, tornando-se o foco de estudos jurídicos ainda de maneira introver-
tida, porém, definitiva. Assim, verifica-se:
Perspectiva em Compliance | 199
Compliance estabelece uma relação, portanto, entre um “estado de con-
formidade” e uma determinada “orientação de comportamento”. Se esta
“orientação de comportamento” é uma norma jurídica, está-se diante de
Compliance jurídico, cuja designação varia conforme a área do direito, a
qual a norma a ser seguida se insere. (SAAVEDRA, 2016, p. 245).
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
1 DESENVOLVIMENTO
especiais devem existir para os dirigentes da empresa, já que sua conduta po-
derá ser observada e controlada apenas por poucas e determinadas pessoas.
Assim, ainda poderia ser utilizado um comitê de compliance especial, para o
qual os dirigentes devam reportar regularmente.
Por fim, a Lei Anticorrupção mencionou um já antigo conhecido do Di-
reito Penal: o acordo de leniência. Explicitamente, a Lei Anticorrupção refe-
riu, em seu art. 16, a possibilidade da autoridade máxima de cada órgão ou
entidade pública de celebração de acordo de leniência:
2 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
Fábio S. Santos47
Cleudes Cerqueira de Freitas Junior48
Insta salientar que tal proibição da celebração das coligações apenas en-
trará em vigor a partir das eleições de 2020, como fundamentado no art. 2°
da Emenda Constitucional n° 97/2017. Sendo assim, ainda permanece a cele-
bração de coligações para a disputa de cargos no Poder Executivo.
Outra alteração no que tange à Carta Magna deu-se no § 3º do art.
17, que regulamentou sobre o acesso dos partidos políticos aos recursos do
fundo partidário e ao tempo de propaganda gratuito no rádio e na televisão,
pois só terão direito a tais recursos, na forma da lei, os partidos políticos que
alternativamente:
A referida lei foi a primeira norma a destacar o que poderia ser facilmen-
te traduzido como um programa de compliance como meio de ponderação de
sanções. A pretensão de um compliance é fiscalizar diligentemente as contas
para evitar que recursos sejam destinados, de maneira indevida, ao financia-
mento de candidatos. A cultura de transparência e rejeição da corrupção faz
Perspectiva em Compliance | 233
assunto deve ser abordado com a seriedade exigida, sem delongas ou escusas
que possam modificar o propósito de ampliação da transparência, da pro-
bidade e o respeito à legalidade na atuação dos partidos (LAMARCHIA e
PETRARCA, 2018).
4 CONSIDERAÇOES FINAIS
REFERÊNCIAS
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_______. Lei nº 13.488, de 6 de outubro de 2017. Altera as leis nºs 9.504, de
30 de setembro de 1997 (Lei das Eleições), 9.096, de 19 de setembro de 1995,
e 4.737, de 15 de julho de 1965 (Código Eleitoral), e revoga dispositivos da
Perspectiva em Compliance | 235
Lei nº 13.165, de 29 de setembro de 2015 (Minirreforma Eleitoral de 2015),
com o fim de promover reforma no ordenamento político-eleitoral.
CANDELORO, Ana Paula P.; DE RIZZO, Maria Balbina Martins; PINHO,
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COLARES, Wilde Cunha. Ética e compliance nas empresas de outsourcing.
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FERREIRA, Manoel Rodrigues. A evolução do Sistema Eleitoral Brasileiro.
2. ed. Brasília: Secretaria de Documentação e Informação do Tribunal
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GOMES, José Jairo. Direito Eleitoral. 7.ed. ver., atual. e ampl. São Paulo:
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RAMAYANA, Marcos. Direito eleitoral. 10. ed. Rio de Janeiro: Impetus,
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TSE. Fundo Partidário. Tribunal Superior Eleitoral, 2018. Disponível em:
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VEGARA, Sylvia Constant. Projetos e relatórios de pesquisa em
administração.13. ed. São Paulo: Atlas, 2013.
18
PROGRAMAS DE INTEGRIDADE PARA OS
PARTIDOS POLÍTICOS FRENTE À REGRA
CONSTITUCIONAL DO ARTIGO 17
autônomos, que são aquelas que, segundo Filho (2014), são pessoas jurídicas
de direito privado criadas por lei para, atuando sem submissão à Admi-
nistração Pública, promover o atendimento de necessidades assistenciais
e educacionais de certas atividades ou categorias profissionais, que arcam
com sua manutenção mediante contribuições compulsórias.
2 PRINCÍPIO DA AUTONOMIA
Art. 15. O Estatuto do partido deve conter, entre outras, normas sobre:
3 PROGRAMAS DE INTEGRIDADE
Cabe, aqui, uma pergunta: por que uma empresa, e até mesmo um parti-
do político, depois de tais acontecimentos, motivar-se-ia a criar um programa
de compliance ou programa de integridade?
No caso das empresas, para que possam resgatar sua credibilidade pe-
rante o mercado, os investidores e principalmente entre seus clientes. Já os
partidos políticos, para recobrarem a simpatia e a confiança dos filiados, so-
bretudo dos eleitores, já que os programas, de modo geral, têm a finalidade
de monitorar e assegurar que todos os envolvidos estejam de acordo com as
suas práticas de conduta, que são organizadas através da elaboração de um
código.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ou seja, ainda que de fato ocorra crime, este deverá ser detectado de
modo a preservar o organismo ou, nesse caso, o partido político. Em outras
palavras, é saudável em todas as relações esclarecer quais serão as “regras do
jogo” e suas respectivas penalidades para que os envolvidos possam entrar,
“no jogo”, conscientes e cientes de suas leis.
Tais programas não possuem uma forma única, engessada, vez que tra-
zem como características orgânicas da capacidade de se moldarem para aten-
der às necessidades, excluindo os riscos de determinada atividade. O mesmo
se aplica ao código de conduta criado a partir da avaliação de riscos e da due
diligence ou “devida diliência” (ALBUQUERQUE BISNETO, 2019), face ao
organismo que pretende atingir.
A implementação de programas de integridade e programas de com-
pliance no âmbito dos partidos políticos é tema de discussão há alguns
anos, levantando inúmeras questões sobre sua aplicação, conforme pôde ser
apresentado ao longo do texto, inclusive sobre a violação da autonomia dos
partidos, prevista na Constituição Federal.
Contudo, adotar um programa de integridade no âmbito político-parti-
dário é medida não só oportuna, mas também necessária, notadamente para
resgatar a credibilidade dos partidos políticos e, consequentemente, da classe
política.
Como é sabido, os partidos políticos são submetidos a diversas normas
já dispostas na legislação eleitoral e até nos seus estatutos, mas conforme foi
visto nas últimas eleições, muitas foram as regras e vedações aplicadas aos
partidos visando a redução de práticas ilícitas e até mesmo corruptas, como
as “candidaturas laranjas”, de fachada (G1, 2019), por exemplo.
Assim, seria conveniente, analisando principalmente o cenário das elei-
ções do ano de 2018, que os partidos também criassem um método de con-
trole, principalmente por se tratarem de entidades que lidam com e recebem
recursos públicos.
Espera-se que, por meio de tais programas, ainda que inicialmente seja
estranha a aplicação e adaptação das agremiações partidárias, estas terão,
na prática, uma importante ferramenta no combate à utilização indevida do
dinheiro público e atos de corrupção intrapartidárias, resgatando, dentre ou-
tros, a confiança e a credibilidade tão desgastadas em meio aos escândalos
políticos noticiados diariamente.
Contudo, uma das maiores vantagens na aplicação de práticas éticas por
parte dos partidos políticos é que, ao agirem com transparência e probida-
de, em contrapartida, os partidos também podem se proteger de responsa-
bilidades eventualmente impostas pelo Poder Judiciário e demais órgãos de
Perspectiva em Compliance | 245
REFERÊNCIAS
A crise na política brasileira que vem arrastando-se anos após anos des-
pertou a necessidade de se buscar mecanismos de fortalecimento para as en-
tidades partidárias, haja vista que é cada vez mais significativa a ascensão
da corrupção no Brasil e, por conseguinte, a perda da credibilidade dessas
instituições perante a sociedade.
As práticas adotadas nas agremiações tornaram-se, com o passar dos
anos, mecanismos de desconfiança para a população, tendo os escândalos en-
volvendo corrupção política e dos partidos o sobressalto para firmar o total
descrédito social. Por esta perspectiva, passou-se a encarar o compliance como
uma possível solução para a má gestão dos partidos políticos e também ten-
tativa de incorporar maior transparência aos atos praticados por estes.
No presente artigo, buscou-se demonstrar a essência da formação das
agremiações partidárias e seu funcionamento, analisado a partir do disposto
1 PARTIDOS POLÍTICOS
A função dos partidos políticos está atrelada à tutela dos seus programas
concebidos a partir dos seus princípios, por meio dos quais se dá a concre-
tização dos anseios sociais ou pelo menos parte deles. “Os partidos políticos
contribuem para a legitimação como instrumentos de concretização das ideo-
logias políticas nos âmbitos do poder. Possuem, portanto, obrigações como
intermediadores e canalizadores dos interesses cidadãos” (COELHO, 2016,
p. 216).
Perspectiva em Compliance | 255
Desde 1995, quando foi criada a Lei dos Partidos Políticos, houve um
considerável progresso entre as entidades, e estas buscaram instituir inter-
namente processos democráticos, maior participação dos filiados em suas
convenções, para que através disso todos os seus integrantes interagissem e
dialogassem sobre as decisões, perspectivas e caminhos pelos quais os parti-
dos estariam seguindo.
Frisa-se que a utilização do termo democracia não se traduz como mera
participação da população nas decisões do Estado, mas numa concepção ma-
cro, implica confiança, transparência, previsibilidade, além da instituição cla-
ra e objetiva de princípios e regras que visem a garantir a probidade parti-
dária.
Visto isso, pode-se afirmar que a democratização inserida pelos parti-
dos contribuiu significativamente para o aumento do número de filiações. No
ano de 2019, em levantamento divulgado pelo Tribunal Superior Eleitoral,
chegou-se à marca de 15.687.917 (quinze milhões, seiscentos e oitenta e sete
mil novecentos e dezessete) pessoas filiadas a partidos políticos, os quais são
divididos em 33 (trinta e três).
Contudo, apesar da crescente evolução ao que demanda a democracia
intrapartidária, quando os olhares passam a analisar questões de governança,
por exemplo, as perspectivas tendem a mudar. Em análise das organizações,
seja por ausência de legislação, seja por fiscalização do Estado, os partidos
encontram-se em total desacordo com o ordenamento jurídico vigente no
256 | Jamily Duarte da Silva
Art. 37-B. Para fins do disposto nesta Lei, programa de integridade con-
siste, no âmbito de um partido político, no conjunto de mecanismos e
procedimentos internos de integridade, controle, auditoria e incentivo à
denúncia de irregularidades, e na aplicação efetiva de códigos de ética e
de conduta, políticas e diretrizes, inclusive estendidas a terceiros, com o
objetivo de detectar e sanar desvios, fraudes, irregularidades e atos ilícitos
praticados ou atribuídos ao partido político. (BRASIL, 2017).
tuam da busca da lisura e ética, além de ser uma fonte de garantia do sigilo
destas denúncias.
A Empresa Brasileira Acreditadora de Compliance (EBANC) editou a
norma DSC 10.000, que prescreve diretrizes para o sistema de compliance que
consigna a importância dos canais de comunicação para a validade e eficiên-
cia do programa a ser adotado:
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
Fabíola Grimaldi56
Mayanne Pontes57
Assim, qualquer operação que envolva dados pode ser considerada como
tratamento e deve seguir os parâmetros legais, desde que seja realizada em
território nacional, por pessoa física ou jurídica de direito público ou privado,
cujos titulares estejam localizados no Brasil ou que tenha por finalidade a
oferta de produtos ou serviços no Brasil. Caso contrário, esse tratamento po-
derá, segundo os acordos internacionais e diretrizes do direito internacional,
ser regido pela GDPR.
É importante pontuar que o titular do dado pessoal deve, de forma expressa,
livre, informada e inequívoca, exprimir o seu consentimento para o tratamento
do dado. Se provado qualquer vício no consentimento, o tratamento desse
dado estará vedado, uma vez que o consentimento é elemento essencial para o
tratamento pois garante, acima de tudo, a transparência.
A únicas exceções são o tratamento de dados pessoais realizado por pes-
soa natural para fins exclusivamente particulares e não econômicos, o rea-
268 | Fabíola Grimaldi & Mayanne Pontes
2 PRINCÍPIOS DA LGPD
3 COMPLIANCE
e) Comunicação;
f) Treinamento;
h) Monitoramento;
i) Indicadores de desempenho e,
4 COMPLIANCE NA LGPD
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS