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Judicialização
da Saúde nos
Municípios
TESES JURÍDICAS,
DIAGNÓSTICOS
E EXPERIÊNCIAS DE GESTÃO
Às trabalhadoras e aos trabalhadores do SUS pela resiliência e dedicação
durante a pandemia da Covid-19
Prefácio
As secretarias municipais de saúde têm se deparado ao longo dos anos com
a crescente judicialização da saúde e o CONASEMS, ciente desse cenário,
realizou esforços para apoiar os municípios na resposta a esse fenômeno,
com destaque para a realização de eventos e a elaboração de materiais sobre
o tema, atuação junto à órgãos do Sistema de Justiça e a realização, no âm-
bito do PROADI-SUS, do Curso de Especialização em Direito Sanitário com
Ênfase em Judicialização da Saúde para gestores e trabalhadores do SUS,
sobretudo os que atuam nas secretarias municipais de saúde e seus conselhos
representativos (CONASEMS e COSEMS).
Sumário 3
com essa questão. Além disso, é imprescindível contar com a maior pluralida-
de possível de autores e com a contribuições das mais diversas de localidades
geográficas.
Sumário 4
Autores
Adriana Ribeiro Bloisi
Aldemes Barroso da Silva
Alessandra Cristiane Cano de Souza
Alexander Itria
Amanda Degrande de Paula
Amanda Patrícia Favaron Portella
Ana Maria Bim Gomes
Ana Maria Groff Jansen
Andrei Popovski Kolaceke
Annie Jeanninne Bisso Lacchini
Antônio Jansem Targino de Sousa Filho
Beatriz Cristina de Freitas
Bruno Henrique Silva Santos
Camila Degrande de Paula
Camila Mota Cavalcante
Carina Paula Pacheco
Carmen Silvia Lima de Arruda
Carolina Nogared Cardoso
Caroline Schweitzer de Oliveira
Claiton Leoneti Lencina
Clara de Sousa Gustin
Claudia Marcela Vargas Peláez
Cleide Teresinha Dos Santos Messias
Cristiano Manetti
Dagmar de Paula Queluz
Danilo Di Paiva Malheiros Rocha
Dayane Degner Ribeiro Brasil
Eliene Neves Valadão
Emilienne Estrela de Lacerda Alencar
Emmanuelle Fonseca Marinho de Anias Daltro
Érica Mayumi Tanaka
Fabiely Gomes da Silva Nunes
Fabíola Bagatini Buendgens
Fausto Pereira dos Santos
Felipe Barreto de Melo
Francisca Miriane de Araújo Batista
Gabriela Drummond Marques da Silva
Gabriela Pinheiro Lima Chabbouh
Guilherme Daniel Pupo
Halanna Rocha Ferraz
Helena Hime Funari
Helvécio Miranda Magalhaes Junior
Henrique Yu Jiunn Wang
Hugo Lázaro Marques Martins
Iara Maria Pinheiro de Albuquerque
Iara Veloso Oliveira Figueiredo
Janaina Guldoni Fuzinelli
Jaquison Correa da Cunha
Jean Carlos Debastiani
José Ricardo Messias
Josie Moreira da Silva Katsube
Jussara Moraes Hatae Campoville
Kaite Cristiane Peres
Kelle Oliveira Silva
Laíssa Castro Gomes
Leandro Gomes Lobo
Lenir Santos
Letícia Coelho Simon
Lis Cardoso Marinho Medeiros
Luciana Cugliari Travesso
Luciana Dadalto
Luciana Gaspar Melquíades Duarte
Luciane Anita Savi
Luciano Bertinetti
Lucineia Aparecida de Oliveira
Luís Cláudio Lemos Correia
Luís Henrique Lemes
Luiz Carlos Barufatti
Maclóvia Fontoura
Marco Tulio Antonio Garcíazapata
Mareni Rocha Farias
Maria Camila Abramides Prada
Mariana Skaf Esteves da Rocha
Marília Berlofa Visacri
Marysabel Pintos Telis Silveira
Mônica Cristina Nunes da Trindade
Mônica Silva Monteiro de Castro
Mozer Cardoso Botelho
Natalia Pires de Vasconcelos
Nicolle Chistien Mesquita Marques Megda
Nívia Maria Oliveira de Souza
Olga de Castro Martins
Pablo Maciel Brasil Moreira
Paulo Maximiliano Corrêa
Priscila Ribeiro de Castro
Priscilla Rodrigues Ferreira
Rafael Teixeira Sebastiani
Ricardo de Castro Nascimento
Rodrigo César Maure
Rômulo Paes de Sousa
Rosana Aparecida Garcia
Stefane Cristina Paixão Oliveira
Suzana Souza Santos Andrade
Tatiana dos Reis Balaniuc Monteiro Moreira
Thaís Cidral Testoni
Thiago Campos
Vanessa Elias de Oliveira
Vanessa Limeira de Azevêdo
Vera Lúcia Edais Pepe
Wanessa Debôrtoli de Miranda
Yuran Quintão Castro
Sumário
Prefácio 3
Introdução 15
Diagnósticos 179
Judicialização da Saúde em Santa Catarina – 20 anos de história 180
Kaite Cristiane Peres
Fabíola Bagatini Buendgens
Carolina Nogared Cardoso
Felipe Barreto de Melo
Guilherme Daniel Pupo
Letícia Coelho Simon
Mônica Cristina Nunes da Trindade
Claudia Marcela Vargas Peláez
Mareni Rocha Farias
Perfil da judicialização da saúde pública no município de Piracicaba - SP 206
Beatriz Cristina de Freitas
Dagmar de Paula Queluz
A gestão da judicialização: o caso da Secretaria Municipal de Saúde
de São Paulo - SP 229
Gabriela Pinheiro Lima Chabbouh
Nicolle Chistien Mesquita Marques Megda
Vanessa Elias de Oliveira
O auxílio da Ferramenta Planejamento Estratégico Situacional na
diminuição de processos judiciais de medicamentos em Canguçu - RS 253
Cristiano Manetti
Luciano Bertinetti
Inserção da Assistência Farmacêutica na resolução de processos de
judicialização de medicamentos: Uma parceria tripartite entre
Universidade Federal de Pelotas, Conselho Regional de Farmácia
do Rio Grande do Sul e Defensoria Pública do Rio Grande do Sul 272
Paulo Maximiliano Corrêa
Marysabel Pintos Telis Silveira
Claiton Leoneti Lencina
A intervenção do Poder Judiciário nas políticas de enfrentamento
à Covid-19 em Goiânia - GO 291
Danilo Di Paiva Malheiros Rocha
Alexander Itria
Marco Tulio Antonio Garcíazapata
Demandas judiciais direcionadas à Assistência Farmacêutica de Vitória
da Conquista - BA: aplicação de indicadores para avaliação e
monitoramento 313
Halanna Rocha Ferraz
Kelle Oliveira Silva
Fabiely Gomes da Silva Nunes
Pablo Maciel Brasil Moreira
Priscila Ribeiro de Castro
Demandas e causas de judicialização da saúde no Piauí 335
Aldemes Barroso da Silva
Francisca Miriane de Araújo Batista
Lis Cardoso Marinho Medeiros
O direito à saúde baseada em evidências: Decisões judiciais sobre
o fornecimento de medicamentos no município de Guará - SP 353
Amanda Degrande de Paula
Camila Degrande de Paula
Judicialização nas políticas públicas de saúde na perspectiva do
Ministério Público: uma análise do período 2015 e 2016 no
município de Araputanga - MT 376
Jaquison Correa da Cunha
Utilização da curva ABC para análise de gastos com medicamentos
visando atendimentos judiciais para tratamentos de média e alta
complexidade no município de Campinas - SP e a necessidade de
pactuação federativa para atendimento destas demandas 396
Amanda Patrícia Favaron Portella
Luciana Cugliari Travesso
Impacto econômico da judicialização na política da assistência
farmacêutica em Campinas – SP 411
Stefane Cristina Paixão Oliveira
Rodrigo César Maure
Érica Mayumi Tanaka
Marília Berlofa Visacri
Os textos que compõem esse volume foram escolhidos por meio de um pro-
cesso seletivo. Primeiramente, houve uma chamada pública para a submissão
de um resumo. Os autores dos resumos selecionados foram, então, convida-
dos a enviar um artigo completo. Esse modelo de chamada pública permitiu
maior abrangência geográfica (quase todas as regiões do Brasil estão repre-
sentadas), além de abrir espaço para divulgação de experiências muito ricas
até então desconhecidas.
Nesse bloco estão também artigos que tratam sobre a atuação da Defensoria
Pública na internação de pacientes usuários de álcool e outras drogas e so-
Sumário 16
bre a atuação de municípios no combate à Covid-19, em particular a intera-
ção entre municípios, estados e Judiciário em temas relacionados a medidas
não-farmacológicas para a prevenção de contágio.
Sumário 17
Covid-19 e no de demandas contra municípios para fornecimento de trata-
mentos que, pelas pactuações do SUS, deveriam ser de responsabilidade de
outro ente. Sobre este ponto, o Tema de Repercussão Geral 793 do Supremo
Tribunal Federal foi objeto de análise detida porque, embora resolva algumas
questões, ainda suscita dúvidas quanto à sua aplicação.
O grande diferencial desse livro, além do foco nos municípios, é o fato de que
os trabalhos trazem muitos dados empíricos e a experiência de pessoas dire-
tamente envolvidas com o assunto. São análises que, ao invés de se limitarem
a generalidades e grandes teorizações, olham o impacto concreto da judicia-
lização sobre o sistema de saúde e de como as instituições vão se ajustando e
se transformando para lidar com ela. Portanto, o livro traz contribuições que
não só permitem entender melhor o fenômeno da judicialização da saúde,
como também oferecem subsídios para que os atores dos sistemas de Saúde e
de Justiça possam intervir nele de forma mais qualificada.
Sumário 18
Teses jurídicas e
práticas judiciais
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
Resumo
A incorporação de tecnologias de saúde deve ser primaria-
mente norteada pelo paradigma populacional. Uma vez
incorporada a tecnologia, a decisão quanto à utilização do
recurso em um dado paciente passa a ser clínica, seguin-
do o paradigma individual. Este fluxo hierárquico permite
que gestores pensem socialmente, enquanto médicos man-
têm a natureza de suas decisões centrada no paciente. A
inversão da lógica deste processo promove uma demanda
decisória do individual para o coletivo, quase impossível
de racionalizar. Isto ocorre quando médicos “terceirizam”
aos juízes uma decisão individual. A solução primordial
está no processo de decisão, mais do que no conhecimen-
to de medicina ou de metodologia científica. Neste pro-
cesso, a procura da “certeza baseada em evidências” deve
ser abandonada, dando lugar à incerteza probabilística
das condutas médicas. Da mesma forma, vieses cognitivos
resultantes da valorização de pensamentos de custo-efeti-
vidade em decisões individuais devem ser evitados. A so-
Sumário 20
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
Sumário 21
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
Introdução
A incorporação de tecnologias de saúde deve ser primariamente norteada
pelo paradigma populacional. Uma vez incorporada a tecnologia, a decisão
quanto à utilização do recurso em um dado paciente passa a ser clínica, se-
guindo o paradigma individual. Este fluxo hierárquico permite que gestores
pensem socialmente, enquanto médicos mantêm a natureza de suas decisões
centrada no paciente.
Sumário 22
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
Sumário 23
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
Sumário 24
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Desenvolvimento
As Dimensões da Judicialização
Pergunta 1: É verdade?
Juízes e médicos precisam exercer o ceticismo, sem medo. Ceticismo não é de-
sacreditar ou negar. Ceticismo é duvidar. Judicializações são baseadas em alega-
ções de benefício. Portanto a primeira questão é: este benefício é verdadeiro?
Sumário 25
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
Desta análise, surge a percepção de que estudos científicos podem (1) sugerir
benefício, (2) sugerir ausência de benefício ou (3) não sugerir nada, pois não
há bons trabalhos. Nas situações 1 e 2 fica mais fácil se direcionar. Mas como
fazer quando não sabemos (situação 3)?
Isso pode dar a sensação de que deixamos de fazer algo com grande potencial
de benefício, porém esta é uma falsa percepção. Na verdade, antes de demons-
trada, uma hipótese tem maior probabilidade de ser falsa do que verdadeira.
E isso decorre da ausência de associação entre plausibilidade e probabilidade.
Plausibilidade vem da lógica, probabilidade não. A baixa probabilidade de as
hipóteses serem verdadeiras não é notada, pois vivemos a falácia narrativa de
conviver apenas com hipóteses que vingaram. Nosso denominador mental não
contém a maioria das hipóteses que morreram pelo caminho do empirismo.
Sumário 26
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
Em segundo lugar, devemos pensar que pode haver consequências não in-
tencionais na adoção de uma conduta não suficientemente estudada. Na
verdade, são incontáveis as consequências não intencionais concorrendo
probabilisticamente com uma boa intenção. Quando esta intenção não é
acompanhada de valor conceitual comprovado cientificamente, sua proba-
bilidade final tende a ser menor do que a probabilidade das imprevisíveis e
incontáveis consequências não intencionais.
Importante salientar que nesta fase de análise não estamos propondo pensar
em consequências não intencionais monetárias, visto que aqui adotamos o
conceito de economia clínica. Neste conceito falamos do preço não mone-
tário pago pelo paciente ou pelo ecossistema. No primeiro caso, eventual
estresse psicológico trazido pela conduta médica, esperança descalibrada que
dificulte o processo de resiliência, complicações clínicas, sequelas, eventos ad-
versos, dor física, e outras consequências dessas dimensões pessoais. No caso
do ecossistema, o custo não monetário é o cultivo à cultura anticientífica ou
fantasiosa nos processos de decisão. Na verdade, a presença de custo (maior
ou menor) faz parte de uma dimensão determinística. Enquanto custo é uma
certeza, o benefício é uma probabilidade.
Sumário 27
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
Neste ponto vale salientar que “revisão sistemática ou meta-análise” são apenas
ferramentas que sumarizam evidências, e não são evidências per si. Portanto,
“há uma revisão sistemática que indica benefício” é uma frase a ser contestada
inicialmente. O que indica benefício é a qualidade e resultados dos trabalhos
contidos nesta revisão sistemática. Esta postura evita “ilusões meta-analíticas”,
reconhecendo que uma conclusão positiva de uma revisão sistemática não in-
dica necessariamente um dado de alto valor preditivo positivo.
Desta forma, grande parte das demandas teria uma conclusão negativa nesta
fase em que a análise prima pelo rigor da metodologia científica à procura de
um bom valor preditivo positivo da evidência apresentada.
Pergunta 2: É relevante?
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Sumário 29
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Sumário 30
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Sumário 31
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Conclusão
Ao longo deste texto, argumentamos que, ao fazer as perguntas certas, juízes
exercerão o ceticismo necessário a uma análise de tecnologia em saúde cujo ônus
da prova é alto, tendo em vista que o sistema de saúde não tem a conduta incor-
porada. A valorização da dúvida conceitual (comprovação científica) e a quan-
tificação do benefício baseada em sua probabilidade e em sua importância pro-
moverão uma visão realista ao juiz, que não se sentirá negando um tratamento
importante, nem aprovando um tratamento fútil.
Esse processo tornará mais rígida a avaliação do juiz, sem necessitar entrar em
aspectos monetários, corrigindo a fragilidade do médico que terceiriza ao juiz
o processo de decisão. Em contrapartida, os raros tratamentos de alto nível de
evidência para grandes magnitudes de efeito, que por algum modo não estejam
incorporados, podem ter decisões favoráveis de juízes que sabem se tratar de
decisões individuais, portanto sem impacto orçamentário populacional.
Sumário 32
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
Referências
Marques A, Rocha C, Asensi F, Monnerat DM. Judicialização da saúde e medicaliza-
ção: uma análise das orientações do Conselho Nacional de Justiça. Estudos Avançados
2019; 33: 217-34.
Mariano CM, Furtado ET, Albuquerque FB, Pereira FHLCDAS. Diálogos sanitários
interinstitucionais e a experiência de implantação do NAT-JUS. Revista de Investiga-
ções Constitucionais 2018; 5: 169-88.
Ioannidis JPA. Why Most Published Research Findings Are False. PLOS Medicine
2005; 2(8): e124.
D’Agostino RB, Jr. Debate: The slippery slope of surrogate outcomes. Curr Control
Trials Cardiovasc Med 2000; 1(2): 76-8.
Hoffmann TC, Del Mar C. Clinicians’ Expectations of the Benefits and Harms
of Treatments, Screening, and Tests: A Systematic Review. JAMA Internal Medicine
2017; 177(3): 407-19.
Schmidt U, Zank H. What is Loss Aversion? Journal of Risk and Uncertainty 2005;
30(2): 157-67.
Sumário 33
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Resumo
Este artigo explica a forma da repartição das competên-
cias administrativas dos entes federativos na assistência
terapêutica integral do SUS, tratando separadamente da
assistência farmacêutica e da prestação dos demais ser-
viços de atendimento à saúde e enfatizando quais são
as atribuições dos municípios. Na sequência, aborda os
aspectos processuais das demandas por tecnologias em
saúde com base na tese do Tema 793/STF (RE 855.178),
especialmente a discussão sobre a responsabilidade soli-
dária dos entes federativos, a existência de litisconsórcio
necessário, a possibilidade de chamamento ao processo e
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Sumário 35
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Introdução
A judicialização da saúde é uma realidade já posta e com a qual se faz necessário
lidar. O ideal de reduzi-la ou evitá-la demanda a adoção de medidas estratégicas
efetivas, complexas e harmônicas entre os três poderes da República.
Sumário 36
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Nos termos do art. 19-U da Lei 8.080/90, “a responsabilidade financeira pelo for-
necimento de medicamentos (...) será pactuada na Comissão Intergestores Tripartite”.
Essa regra é reforçada no art. 19-P, I, da mesma lei, pelo qual, na ausência de
protocolo clínico ou de diretriz terapêutica, a dispensação do medicamento
será feita com base na Relação Nacional de Medicamentos - RENAME “e a
responsabilidade pelo fornecimento será pactuada na Comissão Intergestores Tripartite”.
3 Art. 6º Estão incluídas ainda no campo de atuação do Sistema Único de Saúde (SUS): I - a execução
de ações: (...) d) de assistência terapêutica integral, inclusive farmacêutica;
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Sumário 38
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Sumário 39
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Sumário 40
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6 https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/relacao_medicamentos_rename_2020.pdf
7 Art. 19-P. Na falta de protocolo clínico ou de diretriz terapêutica, a dispensação será realizada: (...)
III - no âmbito de cada Município, de forma suplementar, com base nas relações de medicamentos
instituídas pelos gestores municipais do SUS, e a responsabilidade pelo fornecimento será pactuada no
Conselho Municipal de Saúde. (Incluído pela Lei nº 12.401, de 2011)
Sumário 41
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8 Art. 23. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios pactuarão nas respectivas
Comissões Intergestores as suas responsabilidades em relação ao rol de ações e serviços constantes
da RENASES.
Sumário 42
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9 Um bom retrato das desigualdades econômicas regionais e dos seus reflexos no atendimento da
saúde da população pelo SUS pode ser visto na Pesquisa Nacional de Saúde/2019 (Pesquisa nacional
de saúde: 2019: informações sobre domicílios, acesso e utilização dos serviços de saúde: Brasil, grandes
regiões e unidades da federação / IBGE, Coordenação de Trabalho e Rendimento. - Rio de Janeiro:
IBGE, 2020).
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Sumário 44
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13 Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada
e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes: I - descentralização,
com direção única em cada esfera de governo;
14 Neste sentido: NETO, João Pedro Gebran; DRESCH, Renato Luís. A responsabilidade solidária
e subsidiária dos entes políticos nas ações e serviços de saúde. Revista do TRF/4ª Região, Porto Ale-
gre, nº 84, p. 77-103, maio/2014; também: ASENSI, Felipe. Responsabilidade Solidária dos Entes da
Federação e “Efeitos Colaterais” no Direito à Saúde. Revista de Direito Sanitário, São Paulo, v.16 n.3,
p. 145-156, nov. 2015/fev. 2016; e ainda: WANG, D. W. L. et al. Os impactos da judicialização da saúde
no município de São Paulo: gasto público e organização federativa. Revista de Administração Pública,
Rio de Janeiro, v. 48, n. 5, p. 1191-1206, 2014.
15 Suspensão de Segurança. Agravo Regimental. Saúde pública. Direitos fundamentais sociais. Art.
196 da Constituição. Audiência Pública. Sistema Único de Saúde - SUS. Políticas públicas. Judicializa-
ção do direito à saúde. Separação de poderes. Parâmetros para solução judicial dos casos concretos que
envolvem direito à saúde. Responsabilidade solidária dos entes da Federação em matéria de saúde. (...)
(STA 175 AgR, Relator(a): GILMAR MENDES (Presidente), Tribunal Pleno, julgado em 17/03/2010,
DJe-076 DIVULG 29-04-2010 PUBLIC 30-04-2010 EMENT VOL-02399-01 PP-00070)
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(RE 855178 RG, Relator(a): LUIZ FUX, Tribunal Pleno, julgado em 05/03/2015,
PROCESSO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-050
DIVULG 13-03-2015 PUBLIC 16-03-2015)
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Sumário 47
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16 Aparentemente, foi o que ocorreu no seguinte acórdão da 1ª Seção do Superior Tribunal de Justi-
ça, que se reportou ao entendimento originário do STF no RE 855.178, desconsiderando as relevantes
modificações ocorridas por ocasião do julgamento dos embargos de declaração:
Sumário 48
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17 Este entendimento foi adotado pelo Superior Tribunal de Justiça, em acórdão da 1ª Seção:
1. Hipótese em que o Juízo Federal afastou a União do polo passivo da lide, uma vez que sua inclusão
não foi uma escolha da parte, mas decorreu do atendimento de uma decisão judicial. 2. De acordo
com a decisão proferida pelo Juízo Federal, não há litisconsórcio necessário nas ações que buscam o
fornecimento de medicamentos, não sendo possível ao magistrado estadual determinar a emenda da
inicial para a inclusão da União no litígio. 3. Dessa forma, tendo o Juízo Federal reconhecido a ilegiti-
midade da União para figurar no polo passivo do litígio, é de rigor a aplicação da Súmula 150 do STJ:
“Compete à Justiça Federal decidir sobre a existência de interesse jurídico que justifique a presença, no
processo, da União, suas autarquias ou empresas públicas.” 4. Afastada a legitimidade da União para
figurar no polo passivo da demanda pela Justiça Federal, deve-se reconhecer a competência da Justiça
Estadual para o deslinde da controvérsia. 5. Consigne-se que a tese firmada no julgamento do Tema
793 pelo Supremo Tribunal Federal, quando estabelece a necessidade de se identificar o ente respon-
sável a partir dos critérios constitucionais de descentralização e hierarquização do SUS, relaciona-se ao
cumprimento de sentença e às regras de ressarcimento aplicáveis a quem suportou o ônus financeiro
decorrente do provimento jurisdicional que assegurou o direito à saúde. 6. Portanto, o julgamento do
Tema 793 não modifica a interpretação da Súmula 150/STJ, mormente no presente caso, haja vista
que o Juízo Federal não afastou a solidariedade entre os entes federativos, mas apenas reconheceu a
existência do litisconsórcio facultativo, tendo considerado inadequada a decisão exarada pela Justiça
Estadual que determinou a emenda da petição inicial para que fosse incluída a União no polo passivo
da demanda. 7. Registre-se, ainda, que, no âmbito do Conflito de Competência, não se discute o mérito
da ação, cumpre apenas a análise do juízo competente para o exame do litígio. 8. Agravo Interno não
provido. (AgInt no CC 166.929/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado
em 16/06/2020, DJe 23/06/2020)
Sumário 49
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1.1. Premissas
(...)
18 Este é um ponto de extrema relevância a ser observado, porque são comuns argumentos que bus-
cam justificar a manutenção do entendimento original do STF acerca da responsabilidade “pura” com
base em votos de outros ministros.
Sumário 50
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
Isso quer dizer que uma Corte Suprema, ao decidir um caso que pode ou
não se repetir, pode elaborar um precedente, ou melhor, uma norma que
empresta sentido ao direito e, apenas por isso, deve ser observada pelos
juízes e tribunais incumbidos de resolver os futuros conflitos.
19 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz; MITIDIERO, Daniel. Novo Curso de
Processo Civil, vol. 2, 2ª ed., p. 611. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016
Sumário 51
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
Outro aspecto relevante da referida tese que precisa ser ressaltado é o reflexo
gerado no entendimento do Superior Tribunal de Justiça de que não é ca-
bível o chamamento ao processo nas demandas judiciais por medicamentos.
Sumário 52
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Tese (Tema 686): O chamamento ao processo da União com base no art. 77,
III, do CPC, nas demandas propostas contra os demais entes federativos
responsáveis para o fornecimento de medicamentos ou prestação de servi-
ços de saúde, não é impositivo, mostrando-se inadequado opor obstáculo
inútil à garantia fundamental do cidadão à saúde.
Não há dúvida, portanto, de que a Tese 686 dos recursos repetitivos do STJ
foi superada pela Tese 793 da Repercussão Geral do STF.
Sumário 53
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Com base em tudo o que foi dito e voltando a análise à situação dos mu-
nicípios nas demandas por tratamentos do SUS, tem-se que eles são parte
Sumário 54
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Conclusões
A partir de tudo o que foi exposto, é possível chegar às seguintes conclusões:
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b.1) todos os entes federativos são partes legítimas para figurar no polo pas-
sivo da ação. No entanto, aquele que é o competente para o custeio ou
a entrega do tratamento deve obrigatoriamente figurar como réu, seja
mediante provocação dos demais réus – inclusive por meio do chama-
mento ao processo – ou por iniciativa do próprio Juízo;
b.2) na hipótese de a decisão judicial ter sido cumprida por ente diverso do
competente, deve ser assegurado àquele que a cumpriu o ressarcimen-
to pelas respectivas despesas, a ser feito no bojo do próprio processo;
Referências
ALBERT, Carla Estefânia. Análise sobre a judicialização da saúde nos municípios.
Revista Técnica CNM, Brasília, p. 151-175, 2016
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Resumo
Consoante preconizado pela Constituição da República, é
dever do Estado e direito da população a garantia à saúde,
mediante a adoção de medidas que atenuem ou impeçam
o risco de doença ou o seu agravamento. Essas medidas
institucionais de saúde devem integrar uma rede regiona-
lizada e hierarquizada, formando, obviamente, um sistema
único, organizado, porém, descentralizado. Em outras pa-
lavras, há que se ter um sistema único de saúde. Todavia,
isso não significa que todas as esferas de governo devam
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Introdução
Consoante preconizado pelo art. 196, da Constituição da República, é dever
do Estado e direito da população a garantia à saúde, mediante a adoção de
medidas que atenuem ou impeçam o risco de doença ou o seu agravamento.
Neste contexto, não se pode pôr em dúvida que a saúde é um direito de todos
e dever do Estado. Esse direito, no entanto, conforme a própria dicção do art.
196 é garantido “mediante políticas sociais e econômicas”. Isso quer dizer que os
poderes públicos das três esferas hão de desenvolver políticas públicas a fim de
garantir o direito à saúde de todos. Essas políticas de saúde, nos termos do art.
198, devem integrar “uma rede regionalizada e hierarquizada”, formando, obvia-
mente, um sistema único, organizado, porém, “descentralizado”.
Nessa esteira, o Pacto pela Saúde firmado pela Portaria 399/GM2, do Minis-
tério da Saúde, dispôs que cabe aos Estados, a partir da atenção básica que
é tarefa afeta aos Municípios da Federação, as ações e serviços de média e
alta complexidade, de acordo com a programação pactuada e integrada da
atenção à saúde, fomentando o acesso da população aos medicamentos e tra-
tamentos cuja disponibilização seja de sua alçada.
2 http://dtr2001.saude.gov.br/sas/PORTARIAS/Port2006/GM/GM-399.htm
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Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
Sumário 61
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Em outras palavras, há que se ter um sistema único de saúde. Todavia, isso não
significa que todas as esferas de governo devam desenvolver todo e qualquer
tipo de ação relacionada à saúde. O sistema deve ser descentralizado para,
inclusive, evitar ações em duplicidade e para melhor aproveitar os limitados
recursos financeiros.
3 n (RE 393175 AgR, Relator: Min. Celso De Mello, Segunda Turma, julgado em 12/12/2006).
Sumário 62
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
E, nessa esteira, o Pacto pela Saúde firmado pela Portaria 399/GM4, do Mi-
nistério da Saúde, dispôs que cabe aos ESTADOS, a partir da atenção básica
que é tarefa afeta aos Municípios da Federação, as ações e serviços de média
e alta complexidade, de acordo com a programação pactuada e integrada
da atenção à saúde, fomentando o acesso da população aos medicamentos e
tratamentos cuja disponibilização seja de sua alçada.
4 http://dtr2001.saude.gov.br/sas/PORTARIAS/Port2006/GM/GM-399.htm
Sumário 63
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
Sumário 64
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566. 471/RN, que também teve repercussão geral reconhecida (Tema 06):
“Dever do Estado de fornecer medicamento de alto custo a portador de
doença grave que não possui condições financeiras para comprá-lo.” 3. No
contexto enfocado neste processo judicial, o Município/réu não deve ser
responsabilizado pelo fornecimento, por tempo indeterminado, insulina
pleiteada pela parte autora, de custo mais elevado, não incluída no elenco
padronizado de medicamentos dos programas de assistência farmacêu-
tica do SUS. Tal obrigação incumbe ao ESTADO DE MINAS GERAIS e
não deve ser imposta ao MUNICÍPIO/réu, cuja competência em sede de
fornecimento gratuito de medicamentos a usuários do SUS não deve ser
considerada ampla e irrestrita e, em sendo assim, não abrange remédios e
insumos tidos como excepcionais, de alta complexidade, não constantes da
lista da Farmácia Popular Básica”. (Apelação Cível 1.0024.08.272985-6/001.
Relator Desembargador Armando Freire. Dje 01/07/2016)”. (grifamos)
Sumário 65
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
Sumário 66
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
Nesse sentido:
Sumário 67
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
Desta forma, no caso pontuado por este estudo, as demandas que se origina-
ram de ações regressivas foram propostas por cidadãos em face do próprio
ente da Administração Pública municipal e estadual, oportunidade na qual o
município prontamente providenciou a aquisição de medicamentos através
de processos licitatórios sem aguardar a remessa dos mesmos pelo sistema de
Gerência Regional de Saúde – GRS conforme normalmente ocorre, conside-
rando a multa a ser aplicada nas decisões judiciais.
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Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
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Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
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Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
“Art. 884. Aquele que, sem justa causa, se enriquecer à custa de outrem,
será obrigado a restituir o indevidamente auferido, feita a atualização dos
valores monetários.
Sumário 71
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
Conclusão
Conforme o contexto narrado neste estudo, não se pode pôr em dúvida que
a saúde é um direito de todos e dever do Estado, necessitando de um sistema
único de saúde para garantir a sua efetivação de forma equânime e justa a
toda a nação. Todavia, isso não significa que todas as esferas de governo de-
vam desenvolver todo e qualquer tipo de ação relacionada à saúde. O sistema
deve ser descentralizado para, inclusive, evitar ações em duplicidade e para
melhor aproveitar os limitados recursos financeiros.
Sumário 72
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
Referência
Dallari, Sueli Gandolfi; Nunes, Vidal Serrano; Direito Sanitário. São Paulo: Editora
Verbatim, 2010;
RODRIGUES, Silvio. Direito civil: parte geral das obrigações. 24 ed. São Paulo:
Saraiva;
Sumário 73
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
Introdução
A ampliação do papel do Judiciário na elaboração e execução das políticas
públicas não é um fenômeno isolado brasileiro. Também não se limita à polí-
tica de saúde pública, pois tem abarcado a própria política institucional.
1 Doutor em Direito - PUC-SP; Juiz Federal em São Paulo e Professor; Instituto de Direito Público
- IDP-SP; Lattes: http://lattes.cnpq.br/6589638555931926.
Sumário 74
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Sumário 75
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6 Art. 23 da C. F.
7 Art. 23 da C. F.
8 Art. 30, I e II da C. F.
Sumário 76
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
(...)
Cada ente tem sua autonomia, mas todos têm a obrigação constitucional de
atuar coordenadamente. Pode-se afirmar a existência de uma cooperação
e coordenação compulsórias entre os entes federados em matéria de saúde
pública. No melhor exemplo de federalismo cooperativo, a Constituição esta-
belece que “as ações e os serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada
e hierarquizada e constituem um sistema único”9.
9 Art. 198 da C. F.
Sumário 77
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
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Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concor-
rentemente sobre:
(...)
(...)
Em seu artigo 3º, a Lei nº 13.979/2020 elencou as medidas que poderiam ser
tomadas, pelas autoridades competentes, para o enfrentamento da emergên-
Sumário 79
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
Sumário 80
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
§ 9º O Presidente da República disporá, mediante decreto, sobre os serviços públicos e atividades es-
senciais a que se referem o § 8º.
Sumário 81
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13 ADIs nº 6.362, 6387 e 6.625 e ADPFs nº 672, 690, 754 e 709, entre outras.
Sumário 82
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
Sumário 83
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
Conclusão
A separação de poderes na democracia representativa moderna passa tam-
bém por uma partilha territorial dos centros de poder. Diante das nossas
dimensões continentais, a adoção do federalismo como forma de estado pos-
sibilita uma maior flexibilidade da ação estatal compatível com as diferenças
regionais. O estado federal é fator fundamental para unidade da nação, per-
mitindo o partilhamento dos espaços de poder por meio de representantes
eleitos em cada esfera autônoma de poder. É na Constituição que encontra-
mos os parâmetros e regras do pacto federativo.
A omissão do poder central não inibe a ação dos demais entes federados,
que têm espaço assegurado pela Constituição para tomar as medidas que
entenderem necessárias. O resultado positivo de medidas adotadas serve de
exemplo a ser seguido pelos demais gestores.
15 A frase “Ainda há juízes em Berlim” refere-se ao conto O Moleiro de Sans-Souci, de François An-
drieux. Na Prússia, em 1745, um moleiro que se recusava a abandonar sua pequena propriedade
Sumário 84
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
Referências
ALMEIDA, Fernanda Dias Menezes de. Competências na Constituição de 1988. 6ª
ed. São Paulo: Atlas, 2013.
DALLARI, Sueli Gandolfi, NUNES JÚNIOR, Vidal Serrano. Direito sanitário. São
Paulo: Editora Verbatim, 2010.
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 34ª ed. São
Paulo: Malheiros, 2019.
MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 35ª ed. São Paulo: Atlas, 2019.
pretendida pelo rei Frederico 2º. Chamado à presença do monarca para explicar a sua resistência,
teria dito a célebre frase. O moleiro confiava que a Justiça não haveria de distingui-lo do rei. Art. 198
da C. F.
Sumário 85
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
Resumo
A partir da análise de casos concretos – ações civis públicas
envolvendo Saúde Pública ajuizadas em face dos Municí-
pios, Estados e União, em razão da reconhecida responsa-
bilidade solidária dos entes federativos na garantia à saú-
de da população –, o presente ensaio tem como objetivo
compartilhar a experiência na utilização de audiências se-
quenciais para solução mais célere e acordada nos litígios.
Nessas audiências é possível obter uma clara compreensão
da demanda, assim como a apresentação das reais dificul-
dades enfrentadas pelos gestores, e os limites de compe-
tência dos entes federativos envolvidos. As audiências são
oportunidades para o diálogo claro e transparente entre
as partes, capaz de inspirar a necessária cooperação para
a melhoria do sistema, viabilizando maior efetividade na
entrega do serviço e atendimento da população, especial-
1 PhD em Direito Público - Universidade de Pavia, Doutora pelo Programa de Pós-graduação So-
ciologia e Direito - UFF, Mestre em Justiça Administrativa - UFF, Juris Doctor - University of Miami.
Juíza Federal Titular; 15ª Vara Federal da Seção Judiciária do Rio de Janeiro. Lattes: http://lattes.cnpq.
br/0314644085422182.
Sumário 86
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
Sumário 87
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
Introdução
O sensível aumento do número de ações judiciais envolvendo saúde pública,
fenômeno conhecido como judicialização da saúde, passou a exigir pronta
resposta dos Tribunais. Uma das medidas adotadas foi a especialização de
varas federais, como ocorreu com a 15ª Vara Federal em 2017,2 para casos
envolvendo o direito fundamental à saúde, necessitando ainda da utilização
de novas técnicas para soluções dessas complexas questões, estribadas na ju-
risprudência que foi se consolidando ao longo dos anos.
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Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
Sumário 89
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
6 Expressão cunhada pelo Ministro Gilmar Mendes em Voto proferido na AG. REG. Na Suspensão
de Liminar 47. p. 7. Disponível em <https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC-
&docID=610254> Acesso em 16 de junho de 2021
7 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil (1988). Art. 5º [...] XXXV - a lei não ex-
cluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito.
8 Art. 6º e 196 a 200 da Constituição Federal. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
constituicao/constituicaocompilado.htm> Acesso em 10 de abril de 2021.
9 Sobre judicialização da saúde no STF vide https://www10.trf2.jus.br/comite-estadual-de-saude-rj/
judicializacao/stf/> Acesso em 10 de abril de 2021.
10 Disponível em: <https://www.cnj.jus.br/fux-defende-medidas-conjuntas-para-garantir-o-direito-a-
saude/>. Acesso em: 7 abr. 2021.
Sumário 90
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
Judicialização da Saúde
Sumário 91
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
doença grave que não possui condições financeiras para comprá-lo” (Tema
6 do STF)15.
15 “Proponho a seguinte tese para efeito de fixação sob o ângulo da repercussão geral: o reco-
nhecimento do direito individual ao fornecimento, pelo Estado, de medicamento de alto custo, não
incluído em Política Nacional de Medicamentos ou em Programa de Medicamentos de Dispensação
em Caráter Excepcional, depende da comprovação da imprescindibilidade – adequação e necessida-
de –, da impossibilidade de substituição do fármaco e da incapacidade financeira do enfermo e dos
membros da família solidária, respeitadas as disposições sobre alimentos dos artigos 1.694 a 1.710 do
Código Civil”. Recurso Extraordinário 566.471 Rio Grande do Norte. Rel Ministro Marco Aurélio.
Disponível em: http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/RE566471.pdf Acesso em:
4 jun. 2021.
16 “Proponho a seguinte tese para efeito de fixação sob o ângulo da repercussão geral: o registro
do medicamento na Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa é condição inafastável, visando
concluir pela obrigação do Estado ao fornecimento”. Recurso Extraordinário 657.718 Rel Ministro
Marco Aurélio. Disponível em: http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/RE657718.
pdf. Acesso em: 4 jun. 2021.
Sumário 92
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
Sumário 93
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
Neste sentido, vale destacar o trecho de recente decisão proferida por aque-
la Suprema Corte, na qual se consignou que “o controle somente se justifica
nas hipóteses de (i) inobservância do devido processo legal; (ii) exorbitância das
competências do Conselho; e (iii) injuridicidade ou manifesta irrazoabilidade do
ato impugnado”20, devendo, naturalmente, ser compreendido o devido processo
legal em suas duas vertentes: a substantiva, referente aos direitos e garantias fun-
damentais, e a processual, relativa às garantias da ampla defesa e contraditório21.
19 “A intervenção do Poder Judiciário em políticas públicas deve se dar com parcimônia, devendo
ocorrer apenas quando se verificar uma inércia injustificada ou abusiva do Estado, conforme pon-
derações do Min. Celso de Mello no julgamento da ADPF 45/2004: É que, se tais Poderes do Estado
agirem de modo irrazoável ou procederem com a clara intenção de neutralizar, comprometendo-a, a
eficácia dos direitos sociais, econômicos e culturais, afetando, como decorrência causal de uma injus-
tificável inércia estatal ou de um abusivo comportamento governamental, aquele núcleo intangível
consubstanciador de um conjunto irredutível de condições mínimas necessárias a uma existência digna
e essenciais à própria sobrevivência do indivíduo, aí, então, justificar-se-á, como precedentemente já
enfatizado - e até mesmo por razões fundadas em um imperativo ético-jurídico -, a possibilidade de
intervenção do Poder Judiciário, em ordem a viabilizar, a todos, o acesso aos bens cuja fruição lhes haja
sido injustamente recusada pelo Estado”. (BRASIL. Supremo Tribunal Federal. RE 1.249.356. Relator:
Min. Edson Fachin, julg. 29/05/2020, DJe 03/06/2020. Disponível em: <https://jurisprudencia.stf.jus.
br/pages/search/despacho1106071/false>. Acesso em: 14 abr. 2021).
20 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. MS 34.490, Relator: Min. Marco Aurélio, Relator p/ Acórdão:
Min. Roberto Barroso, 1ª Turma, julg. 27/11/2018, DJe 12/04/2019. Disponível em: <https://jurispru-
dencia.stf.jus.br/pages/search/sjur401821/false>. Acesso em: 14 abr. 2021.
Sobre os devido processo legal substantivo e processual: “Nesse ponto, cumpre ressaltar que o duplo
grau de jurisdição integra a cláusula do due process of law, a qual compreende não apenas um conjun-
to de regras de caráter formal e substantivo destinado a assegurar a regularidade do processo judicial,
mas também uma garantia material de que ninguém será arbitrariamente privado de seus direitos e
liberdades. Para que isso se concretize, na prática, é preciso que o sistema legal seja dotado de meca-
nismos que evitem, o mais possível, a ocorrência de erros judiciários, sob pena de transformar-se em
letra morta o princípio do devido processo legal”. (BRASIL. Supremo Tribunal Federal. HC 136.644,
Relator: Min. Ricardo Lewandowski, julg. 18/10/2017, DJe 20/10/2017. Disponível em: <https://juris-
prudencia.stf.jus.br/pages/search/despacho796633/false>. Acesso em: 14 abr. 2021).
Sumário 94
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
para sopesar os distintos desafios que cada um deles enfrenta no combate à Covid-19”. As-
sim, valendo-se dos princípios da separação dos poderes, da deferência adminis-
trativa e da razoabilidade, foi negado seguimento à arguição, resguardando-se a
competência exclusiva das autoridades públicas22.
Pode-se então concluir que, uma vez identificado, após a devida instrução
processual, o descumprimento de preceitos fundamentais, o Poder Judi-
ciário estará autorizado a intervir para corrigir omissões e ilegalidades dos
gestores públicos.
Demandas estruturais
Como o nosso Sistema Único de Saúde (SUS) foi concebido com base nos prin-
cípios da universalidade, integralidade, participação social e gestão coordena-
das dos três entes federativos24, muitas ações coletivas relativas à saúde pública
22 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADPF 671, Relator: Min. Ricardo Lewandowski, Tribunal
Pleno, julg. 03/04/2020, DJe 07/04/2020. Disponível em: <http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.as-
p?incidente=5884983>. Acesso em: 14 abr. 2021.
23 ACO 3483 TP/DF - Julgamento em 09/03/2021Disponível em <https://jurisprudencia.stf.jus.br/
pages/search/despacho1178074/false> Acesso em 10 de junho de 2021.
24 Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e
constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes:
I - descentralização, com direção única em cada esfera de governo;
II - atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços
assistenciais;
III - participação da comunidade.
§ 1º O sistema único de saúde será financiado, nos termos do art. 195, com recursos do orçamento da
seguridade social, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, além de outras fontes.
Sumário 95
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
Sumário 96
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
29 DIDIER JR., Fredie; ZANETI JR., Hermes; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Elementos para
uma teoria do processo estrutural aplicada ao processo civil. Revista do Ministério Público do Estado
do Rio de Janeiro, n. 75, jan./mar. 2020, p. 104. Disponível em: <http://www.mprj.mp.br/documen-
ts/20184/1606558/Fredie_Didier_jr_%26_Hermes_Zaneti_Jr_%26_Rafael_Alexandria_de_Oliveira.
pdf>. Acesso em: 4 abr. 2021.
30 Ibidem. p. 103.
31 Ibidem. p. 112.
32 Ibidem. p. 113.
33 Ibidem. p. 114.
34 Ibidem. p. 115.
35 Ibidem. p. 116.
Sumário 97
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
O que marca esse momento processual é que, como quer que seja, a decisão
estrutural não exaure a função jurisdicional. Ela apenas dá início àquela
que, provavelmente, é a fase mais duradoura do processo estrutural, mar-
cada pela participação efetiva do juiz (e, naturalmente, das partes e de ou-
tros sujeitos) para a implementação do novo estado de coisas36.
36 Ibidem. p. 117.
37 Ibidem. p. 118.
38 Para Sergio Arenhart as decisões em cascata caracterizam-se pela “prolação de uma primeira decisão,
que se limitará a fixar em linhas gerais as diretrizes para a proteção do direito a ser tutelado, criando o
núcleo da posição jurisdicional sobre o problema a ele levado. Após essa primeira decisão – normalmente,
mais genérica, abrangente e quase ‘principiológica’, no sentido de que terá como principal função estabe-
lecer a ‘primeira impressão’ sobre as necessidades da tutela jurisdicional – outras decisões serão exigidas,
para a solução de problemas e questões pontuais, surgidas na implementação da “decisão-núcleo”, ou para
a especificação de alguma prática devida. ARENHART, Sérgio Cruz In Decisões estruturais no direito processual civil
brasileiro”. Revista de Processo. São Paulo: RT, 2013, ano 38, vol. 225, p. 400.”
39 Ibidem. p. 119.
40 Ibidem. p. 121.
Sumário 98
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
Sumário 99
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
45 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI 3.510, Relator: Min. Ayres Britto, Tribunal Pleno, julg.
29/05/2008. DJe 28/05/2010. p. 145. Disponível em: <http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.
jsp?docTP=AC&docID=611723. Acesso em: 14 abr. 2021.
46 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADPF 54, Rel. Min. Marco Aurélio, Tribunal Pleno, julg.
12/04/2012, DJe 30/04/2013. Disponível em: <http://portal.stf.jus.br/processos/downloadPeca.asp?id-
=136389880&ext=.pdf>. Acesso em: 14 abr. 2021.
47 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. SL 47 AgR, Relator: Min. Gilmar Mendes (Presidente), Tri-
bunal Pleno, julg. 17/03/2010, DJe 30/04/2010. p. 22. Disponível em: <http://redir.stf.jus.br/pagina-
dorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=610254>. Acesso em: 14 abr. 2021.
Sumário 100
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Ação da Radioterapia
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Sumário 103
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
54 Ação Civil Pública 0006744-51.2014.4.02.5101. 15ª Vara Federal do Rio de Janeiro. Vide evento
1563.
55 Disponível em <https://www.inca.gov.br/noticias/obras-do-campus-do-inca-serao-retomadas> Aces-
so em 10 de abril de 2021.
56 Prossegue o Parecer do MPF com esclarecimentos: “ A unificação da fila e a instituição da re-
gulação unificada de acesso de todos os pacientes que necessitam de radioterapia (indexado pelo
nome do paciente, pelo tempo de espera e gravidade do quadro), no Estado do Rio de Janeiro, aos
serviços de radioterapia, com a hierarquização dos casos de acordo com a gravidade do quadro clí-
nico de cada um e a indicação nominal, foi de extrema importância para otimizar e obter o melhor
aproveitamento de todas as consultas de 1ª vez para planejamento em radioterapia dos Serviços de
Radioterapia existentes no território, de forma a garantir o atendimento do paciente mais oportuno
possível de acordo com a gravidade da sua doença e com o prazo previsto em lei.
Sumário 104
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
Foram realizadas mais de dez audiências no curso da ação, todas por video-
conferências, em razão das medidas de distanciamento social que acarreta-
ram o fechamento das dependências da Justiça Federal. Participaram as par-
tes, e seus responsáveis técnicos, para oportunizar aos réus a apresentação
de planos de enfrentamento à pandemia atualizados, que incluíssem uma
Sumário 105
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
58 DIDIER JR., Fredie; ZANETI JR., Hermes; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. op. cit. p. 118.
Sumário 106
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
Ação Cível Originária. Direito social à saúde (CF, arts. 6º e 196). Pandemia
do novo Coronavírus. COVID-19. Comprovação, por meio de estudos téc-
nicos qualificados, do recrudescimento da crise de saúde pública no Brasil.
Aumento do número de Estados em zona de alerta crítico (mais de 80%
dos leitos de UTI ocupados). Inércia da União Federal no desempenho da
função institucional de exercer a coordenação nacional do enfrentamento
ao estado de emergência de saúde pública. Comportamento omissivo da
União Federal em face da obrigação de prover auxílio técnico e financeiro
aos entes subnacionais na execução e formulação de políticas sanitárias.
Injustificada redução de custeio dos leitos de UTI nos Estados-membros.
Limites à discricionariedade administrativa na concretização de políticas
constitucionais de saúde pública. Presença dos requisitos do art. 300 do
CPC. Probabilidade de direito evidenciada. Risco de dano caracterizado:
não há nada mais urgente do que o desejo de viver. Tutela provisória de
urgência deferida61 (Grifos nossos).
59 Disponível em https://www.congressonacional.leg.br/materias/medidas-provisorias/-/mpv/142171.
Acesso em 4 de junho de 2020.
60 Lei 14.072 de 14 de outubro de 2020. Disponível em https://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/2020/
lei-14072-14-outubro-2020-790726-norma-pl.html Acesso em 4 de junho de 2021.
61 ACO 3483 TP/DF - Julgamento em 09/03/2021Disponível em <https://jurisprudencia.stf.jus.br/
pages/search/despacho1178074/false> Acesso em 10 de junho de 2021.
Sumário 107
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
Conclusão
“Não há nada mais urgente do que o direito de viver”62, vaticinou a Ministra Rosa
Weber, ao deferir a tutela provisória de urgência, reconhecendo o dever da
União de prover os entes subnacionais na execução e formulação de políti-
cas sanitárias, diante da injustificada redução de custeio dos leitos de UTI
nos Estados-membros63.
62 Medida Cautelar na Ação Civil Originária 3.478. Min Rosa Weber. Disponível em: http://www.stf.
jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/ACO3478.pdf Acesso em 4 de junho de 2021.
63 Medida Cautelar na Ação Civil Originária 3.478. Ação Cível Originária. Direito social à saúde
(CF, arts. 6o e 196). Pandemia do novo Coronavírus. COVID-19. Dever da União de prover os entes
subnacionais na execução e formulação de políticas sanitárias. Injustificada redução de custeio dos
leitos de UTI nos Estados-membros. Limites à discricionariedade administrativa na concretização de
políticas constitucionais de saúde pública. Presença dos requisitos do art. 300 do CPC. Probabilidade de
direito evidenciada. Risco de dano caracterizado: não há nada mais urgente do que o desejo de viver. Tutela
provisória de urgência deferida. Min Rosa Weber. Disponível em: http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/
noticiaNoticiaStf/anexo/ACO3478.pdf Acesso em 4 de junho de 2021.
Sumário 108
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
Referências
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brasileiro. Revista de Processo. São Paulo: RT, 2013, ano 38, vol. 225, p. 400
Sumário 109
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
______. Supremo Tribunal Federal. RE 1.249.356. Relator: Min. Edson Fachin, julg.
29/05/2020, DJe 03/06/2020. Disponível em: <https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/
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p/ Acórdão: Min. Roberto Barroso, 1ª Turma, julg. 27/11/2018, DJe 12/04/2019.
Disponível em: <https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/sjur401821/false>.
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______. Supremo Tribunal Federal. ADI 4.874, Relatora: Min. Rosa Weber, Tribunal
Pleno, julg. 01/02/2018, DJe 01/02/2019. Disponível em: <https://jurisprudencia.stf.
jus.br/pages/search/sjur397310/false>. Acesso em: 14 abr. 2021.
______. Supremo Tribunal Federal. ADI 3.510, Relator: Min. Ayres Britto, Tribunal
Pleno, julg. 29/05/2008. DJe 28/05/2010. Disponível em: <http://redir.stf.jus.br/
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Pleno, julg. 12/04/2012, DJe 30/04/2013. Disponível em: <http://portal.stf.jus.br/
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______. Supremo Tribunal Federal. ADPF 671, Relator: Min. Ricardo Lewandowski,
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DIDIER JR., Fredie; ZANETI JR., Hermes; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de.
Elementos para uma teoria do processo estrutural aplicada ao processo civil. Revista do
Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, n. 75, jan./mar. 2020, p. 104. Disponível
em: <http://www.mprj.mp.br/documents/20184/1606558/Fredie_Didier_jr_%26_Hermes_
Zaneti_Jr_%26_Rafael_Alexandria_de_Oliveira.pdf>. Acesso em: 4 abr. 2021.
Sumário 110
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
THE RISE of Purposivism and the Fall of Chevron: Major Statutory Cases in
the Supreme Court. Harvard Law Review, n. 130, pp. 1227-1248, feb. 10, 2017.
Disponível em: <https://harvardlawreview.org/2017/02/the-rise-of-purposivism-and-the-
fall-of-chevron/>. Acesso em: 14 abr. 2021.
______. Supreme Court. United States v. Mead Corp. 533 U.S. 218 (2001). Disponível
em: <https://supreme.justia.com/cases/federal/us/533/218/>. Acesso em: 14 abr. 2021.
Sumário 111
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
Resumo
O presente artigo aponta que o crônico subfinanciamento
do SUS desde a sua criação é a principal causa de sua deses-
truturação atual, na medida em que impediu a consolida-
ção paulatina do projeto de saúde pública universal ideali-
zado pelo movimento de Reforma Sanitária Brasileira. Da
mesma forma, é igualmente a principal causa indutora da
judicialização da saúde e este fenômeno tem causado difi-
culdades nas políticas do SUS. Assim o é, em razão de os
tribunais estarem trilhando o caminho da maximização da
tutela judicial individual em detrimento da tutela coletiva,
bem como por desconsiderarem as normas legais regentes
das políticas públicas sanitárias. Diante disso, as sentenças
judiciais criam privilégios no acesso ao SUS, produzindo
profundas desigualdades entre usuários e abalando as fi-
Sumário 112
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
Sumário 113
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
Sumário 114
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
aplicamos tão somente US$ 594,90, enquanto que a Argentina emprega US$
992,60, a Costa Rica assegura US$ 977,30 e, por sua vez, o Uruguai aplica
US$ 1.220,20.
5 ALVES, Sandra Maria Campos; DELDUQUE, Maria Célia; NETO, Nicolao Dino (Orgs.). Direito
Sanitário em Perspectiva, Brasília: Fiocruz e ESMPU, Volume II, 2013, p. 96.
6 MENDES, Eugênio Vilaça. Op. Cit. p. 385.
Sumário 115
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
Desta feita, conclui-se facilmente que o custeio das políticas públicas sanitárias
está incompatível com a proteção constitucional do direito à saúde, que foi
encartado no rol de direitos fundamentais sociais (artigo 6º, CF) e recebeu a
distinção de serviços de relevância pública no texto magno (artigo 197, CF).
Sumário 116
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
Pela dicção do artigo 196, caput, da CF, “a saúde é direito de todos e dever do Esta-
do, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de
doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para
sua promoção, proteção e recuperação”.
Sumário 117
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
8 CARVALHO, Guido Ivan; SANTOS, Lenir. Sistema Único de Saúde: Comentários à Lei Orgânica
da Saúde.4ªed.rev e atual. Campinas: Editora da Unicamp, 2006. pág.32.
9 OLSEN, Ana Carolina Lopes. Direitos Fundamentais Sociais: Efetividade Frente a Reserva do
Possível. 1ªed. Curitiba: Juruá, 2012, p. 296.
Sumário 118
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
As diretrizes legais previstas nas leis orgânicas da saúde foram sendo concreti-
zadas por inúmeras portarias editadas pelo Ministério da Saúde no exercício
de seu papel normatizador nacional das políticas públicas de saúde, consti-
tuindo-se em atos normativos infralegais que dão concretude ao disciplina-
mento constitucional e legal do SUS.
Sumário 119
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
Sumário 120
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
Sumário 121
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
Sumário 122
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
O mesmo estudo apontou que “em 2016, o gasto com demandas judiciais na saú-
de consumiu R$ 1,3 bilhão do orçamento do Ministério da Saúde. A lista com os dez
medicamentos mais caros é responsável por 90% desse valor. O dinheiro está saindo de
outros programas da saúde e de outros segmentos do orçamento federal, embora haja
pouca clareza e avaliação sobre os impactos mais gerais desse fenômeno”13.
12 https://www.insper.edu.br/conhecimento/direito/judicializacao-da-saude-dispara-e-ja-custa-r-13-
bi-a-uniao
13 https://www.insper.edu.br/conhecimento/direito/judicializacao-da-saude-dispara-e-ja-custa-r-13-
bi-a-uniao
Sumário 123
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
que significativa parte das ações individuais propostas busca e consegue: (1)
prestação de serviços de alto custo fora dos protocolos do SUS; quando não
intentam (2) acesso a tratamentos que sequer foram regulamentados pela
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) ou mesmo (3) busca tra-
tamentos que, apesar de registrados, serão usados com finalidade diversa à
recomendada pela agência reguladora (off-label).
Assim sendo, referidas decisões judiciais que alteram as listas oficiais de fárma-
cos e de ações e serviços públicos de saúde violam os princípios constitucionais
da igualdade, da separação de poderes e do planejamento estatal.
Sumário 124
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
ção coletiva dos direitos sanitários que, pelo seu elevado custo econômico e
complexidade de efetivação em largo espectro, dependem de concretização
planejada e progressiva ao longo do tempo.
14 “Esse controle judicial deverá, em qualquer hipótese, considerar as previsões orçamentárias com sendo parte do
planejamento da atividade estatal e respeitá-las sempre que não violarem frontalmente o ordenamento jurídico. JA-
COB. César Augusto Alckim. A reserva do possível: Obrigação de previsão orçamentária e de aplicação
da verba, in GRINOVER, Ada Pellegrini; WATANABE, Kazuo. (Coords.). Op. Cit., p. 278.
15 GEORGE, Rafael; MAIA, Kátia (Coord.). A Distância que Nos Une: Um Retrato das Desigualdades
Sociais Brasileiras. www.oxfambrasil.org.br. Oxfam Brasil, setembro, 2017.
Sumário 125
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
A tutela judicial coletiva ordinária do direito à saúde deve ser aquela cujo
objeto vise dirimir violações a direitos sanitários decorrentes da omissão do
Poder Executivo quando da não implementação das políticas públicas sanitá-
rias já delineadas legalmente. Em processos dessa natureza, a tutela judicial
respeitará os limites constitucionais de atuação dos poderes políticos, além
de produzir sentenças judiciais que beneficiarão de forma igualitária um nú-
mero indistinto de pessoas com necessidades em saúde, ao mesmo tempo em
que protegerá e fortalecerá o SUS e suas fontes de financiamento.
Sumário 126
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
Sumário 127
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
Desta feita, urge que o Poder Judiciário amplie o número de Varas especia-
lizadas em matéria de saúde pública, instituindo-as em todos os 27 tribunais
estaduais, alcançando também os tribunais federais.
16 BARROS, Marcus Aurélio de Freitas; FERREIRA, Iago Oliveira. Um Novo Paradigma Para o Con-
trole das Políticas Públicas Prestacionais – Tutela Estrutural em Foco. 1ªed. Curitiba: Brazil Publishing,
2020, p. 163: “O processo coletivo estrutural coloca o litígio coletivo no centro do debate político, de forma a que se
passe a, continuadamente, adotar amplas e sólidas medidas de reestruturação da entidade responsável pela violação,
resolvendo o problema prospectivamente, até que se chegue à efetiva reorganização da entidade e, por conseguinte,
à solução do problema estrutural e afirmação, na prática, do direito transindividual”.
Sumário 128
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
Nessa senda, o Código de Processo Civil (CPC) de 2015 traz diversos instru-
mentos incentivadores à solução consensual dos conflitos, claramente inau-
gurando um novo modelo de processo, em que o Judiciário e as funções
17 BUCCI, Maria Paula Dallari; DUARTE. Clarice Seixas (Coords). Op. Cit. p. 193.
Sumário 129
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
As possibilidades legais são amplas. O código de processo prevê nos arts. 113
a 118 o instituto do litisconsórcio, em que “duas ou mais pessoas podem litigar, no
mesmo processo, em conjunto, ativa ou passivamente” quando existe comunhão de
direitos ou obrigações relativas à lide, há conexão em razão do pedido ou da
causa de pedir ou, por fim, existe afinidade de questões por pontos comuns,
de fato ou de direito.
Sumário 130
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
Por fim, a lei processual civil em seu artigo 138, caput, ainda possibilita ao juiz
“solicitar ou admitir a participação de pessoa natural ou jurídica, órgão ou entidade
especializada, com representatividade adequada”, por meio do instituto denomina-
do amicus curiae cuja participação se dá mesmo que este não seja parte e que
não tenha interesse jurídico na lide.
Sumário 131
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
Por tudo isso, é muito relevante que as defesas processuais no bojo das ações
judiciais sanitárias resultem de uma coordenação entre a Secretaria de Saú-
de, Secretaria de Finanças e a Procuradoria Municipal Judicial.
Conclusão
À guisa de conclusão, asseveramos que o Poder Judiciário distribuirá justi-
ça social quando atuar majoritariamente para efetivar o controle judicial de
violações a direitos sanitários decorrentes da omissão do Poder Executivo
quando da não implementação das políticas sanitárias delineadas legalmente
pelas leis orgânicas da saúde e por meio das portarias ministeriais.
Sumário 132
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
Referências
ALVES, Sandra Maria Campos; DELDUQUE, Maria Célia; NETO, Nicolao Dino
(Orgs.). Direito Sanitário em Perspectiva, Brasília: Fiocruz e ESMPU, Volume II, 2013.
GEORGE, Rafael; MAIA, Kátia (Coord.). A Distância que Nos Une: Um Retrato das
Desigualdades Sociais Brasileiras. www.oxfambrasil.org.br. Oxfam Brasil, setembro, 2017.
Sumário 133
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
VIEIRA, Fabíola Sulpino; SANTOS, Isabela Soares (Org.); REIS, Carlos Ocké;
RODRIGUES, Paulo Henrique de Almeida. Políticas Sociais e Austeridade Fiscal.
Rio de Janeiro: CEBES, 2018.
Sumário 134
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
Resumo
Sabe-se que o reconhecimento da força jurídica dos di-
reitos fundamentais contribuiu para a concretização do
direito à saúde como direito essencial e, assim, obrigação
estatal. Ademais, a dimensão subjetiva desse colabora para
o aumento da judicialização de medicamentos e tratamen-
tos de saúde ineficazes, podendo ser propiciada, inclusi-
ve, pela falta de comunicação adequada na relação entre
profissionais de saúde e pacientes. Em razão disso, o pa-
ciente não compreende, de fato, que o medicamento ou
tratamento, prescrito pelo profissional de saúde, pode vir
1 Doutora em Ciências da Saúde - Universidade Federal de Minas Gerais; Mestre em Direito Privado
- Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais; Professora - Centro Universitário Newton Paiva;
Lattes: http://lattes.cnpq.br/2434143079314894.
2 Pós-graduanda em Direito Processual Civil - Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais;
Pós-Graduada em Direito Médico e Hospitalar - Centro Preparatório Jurídico; Graduada em Direito
- Centro Universitário Newton Paiva; Pesquisadora do Grupo de Estudos e Pesquisa em Bioética (GEP-
Bio) - Centro Universitário Newton Paiva. Lattes: http://lattes.cnpq.br/4679532361821847.
3 Graduada em Direito - Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais; Pesquisadora do Grupo
de Estudos e Pesquisa em Bioética (GEPBio) - Centro Universitário Newton Paiva. Lattes: http://lattes.
cnpq.br/2230277744165897.
Sumário 135
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
Sumário 136
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
Introdução
A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CF/1988) elevou,
em seu artigo 6º, o direito à saúde na esfera dos direitos sociais. Assim, con-
sagrou o acesso à saúde como um direito humano fundamental social, reco-
nhecendo-o como um direito de todos e dever do Estado, bem como assegu-
rando-o por meio de políticas sociais e econômicas (art. 196).
4 MARMELSTEIN, George. Os Direitos Fundamentais como Direitos Exigíveis. In: Curso de Direitos
Fundamentais. 2. ed. - São Paulo. Editora Atlas S.A., 2009, p. 291-295.
5 ARAÚJO, Cynthia Pereira de; LÓPEZ, Éder Maurício Pezze; JUNQUEIRA, Silvana Regina San-
tos. Judicialização da Saúde: Saúde pública e Outras Questões. Porto Alegre, Verbo Jurídico, 2016.
Sumário 137
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
Destaca-se ainda que pesquisas sobre o tema apontam que a maioria dos pe-
didos judiciais em demandas de saúde refere-se a medicamentos7. Inclusi-
ve, no ano de 2019, o Ministério da Saúde gastou R$ 1,37 bilhão apenas
com a aquisição de medicamentos e depósitos judiciais para ressarcimento
de pacientes8.
6 AZEVEDO, Paulo Furquim de; AITH, Fernando Mussa Abujamra (Coord. Acadêmicos). Judiciali-
zação da saúde no Brasil: perfil das demandas, causas e propostas de solução. Instituto de Ensino e Pes-
quisa – INSPER, Brasília: Conselho Nacional de Justiça – CNJ, 2019. Disponível em: <https://www.cnj.
jus.br/wp-content/uploads/2019/03/66361404dd5ceaf8c5f7049223bdc709.pdf>. Acesso em: 10 dez. 2020.
7 EMPÓRIO DO DIREITO. Números de 2019 da Judicialização Da Saúde no Brasil – Por Clenio Jair
Schulze, 02/09/2019. Disponível em: <https://emporiododireito.com.br/leitura/numeros-de-2019-da-ju-
dicializacao-da-saude-no-brasil>. Acesso em: 07 abr. 2020.
8 OLIVEIRA, Mariana; VIVAS, Fernanda. Governo não pode ser obrigado a fornecer remédio de alto custo
fora da lista do SUS, decide STF. G1, 11/03/2020, TV Globo Brasília. Disponível em: <https://g1.globo.
com/politica/noticia/2020/03/11/governo-nao-pode-ser-obrigado-a-fornecer-remedio-de-alto-custo-fora-
da-lista-do-sus-decide-stf.ghtml>. Acesso em: 13 mar. 2020.
9 XAVIER, Christabelle-Ann. Judicialização da Saúde: Perspectiva Crítica sobre os Gastos da União
para o Cumprimento das Ordens Judiciais. In: Coletânea Direto à saúde: dilemas do fenômeno da
Sumário 138
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
À vista disso, Clenio Jair Schulze elucida que grande parte dos medicamen-
tos judicializados amenizará os sofrimentos dos pacientes, autores das ações,
contudo, não oferecerá a cura de suas enfermidades. Expõe também que,
por trás desse contexto de judicialização, os magistrados enfrentam grandes
dilemas no decorrer do julgamento dessas demandas. Isso porque parte das
ações no âmbito da saúde possui como objeto tratamentos experimentais,
que sequer estão incorporados no Sistema Único de Saúde (SUS), ou no rol
de procedimentos da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Assim,
em razão da alta complexidade e tecnicidade que envolvem o tema, os magis-
trados são inseridos em um mar de incertezas entre amparar pacientes que
depositam sobre o Judiciário a expectativa do poder de cura de suas enfer-
midades, ou em indeferir pedidos de tratamentos e procedimentos médicos
sem evidências científicas que, muito provavelmente, não trarão qualquer
benefício para os autores das ações10.
judicialização da saúde. Organizadores Alethele de Oliveira Santos, Luciana Tolêdo Lopes - Brasília
(DF): CONASS, 2018, v2, p. 53-61.
10 SCHULZE, Clenio Jair. Direito à Saúde e a Judicialização do Impossível. In: Coletânea Direto à
saúde: dilemas do fenômeno da judicialização da saúde. Organizadores Alethele de Oliveira Santos, Luciana
Tolêdo Lopes - Brasília (DF): CONASS, 2018, v2, p. 16-24.
Sumário 139
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
Sabe-se que a segunda metade do século XX foi marcada por diversas mu-
danças e transformações no âmbito dos direitos civis, como o advento dos
direitos dos pacientes, impulsionados por movimentos sociais organizados.
A principal reivindicação, comum entre os movimentos, era a defesa dos pa-
cientes em face do paternalismo médico. Demandava-se a necessidade de
romper com a lógica paternalista presente até as décadas anteriores, em que
Sumário 140
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
11 ALBUQUERQUE, Aline; PARANHOS, Denise G.A.M. Direitos Humanos dos Pacientes e Vulnerabi-
lidade: O Paciente Idoso à Luz da Jurisprudência da Corte Europeia de Direitos Humanos. Revista
Quaestio Iuris, vol. 10, nº. 04, Rio de Janeiro, 2017. p. 2845. Disponível em: <https://www.e-publi-
cacoes.uerj.br/index.php/quaestioiuris/article/view/27401>. Acesso em: 21 jul. 2020. DOI: 10.12957/
rqi.2017.26686
12 CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA. Recomendação CFM nº 1/2016. Dispõe sobre o processo
de obtenção de consentimento livre e esclarecido na assistência médica; Brasília: CFM; 2016.
13 ALBUQUERQUE, Aline; PARANHOS, Denise G.A.M. Direitos Humanos dos Pacientes e Vulnera-
bilidade: O Paciente Idoso à Luz da Jurisprudência da Corte Europeia de Direitos Humanos. Re-
vista Quaestio Iuris, vol. 10, nº. 04, Rio de Janeiro, 2017. Disponível em: <https://www.e-publi-
cacoes.uerj.br/index.php/quaestioiuris/article/view/27401>. Acesso em: 21 jul. 2020. DOI: 10.12957/
rqi.2017.26686
14 ALBUQUERQUE, Aline; PARANHOS, Denise G.A.M. Direitos Humanos dos Pacientes e Vul-
nerabilidade: O Paciente Idoso à Luz da Jurisprudência da Corte Europeia de Direitos Humanos.
Revista Quaestio Iuris, vol. 10, nº. 04, Rio de Janeiro, 2017. Disponível em: <https://www.e-publi-
cacoes.uerj.br/index.php/quaestioiuris/article/view/27401>. Acesso em: 21 jul. 2020. DOI: 10.12957/
rqi.2017.26686
15 NEVES, Maria Patrão. Sentidos da vulnerabilidade: característica, condição, princípio. Revista
Brasileira de Bioética 2006; 2:157-72.
Sumário 141
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
Como já dito, nos estudos realizados sobre o assunto, a maioria dos pedidos
judiciais em demandas de saúde refere-se a medicamentos16. Ocorre que o
paciente em diversas situações judicializa medicamentos que não possuem a
sua evidência científica comprovada, acarretando na “Judicialização do im-
possível”, que segundo Clenio Jair Schulze se consuma “quando são postu-
lados aos magistrados tratamentos que não apresentam resultados úteis ou
satisfatórios e, mesmo assim, são veiculados com a expectativa de resolver o
problema de saúde do autor da ação judicial”17.
16 EMPÓRIO DO DIREITO. Números de 2019 da Judicialização Da Saúde no Brasil – Por Clenio Jair
Schulze, 02/09/2019. Disponível em: <https://emporiododireito.com.br/leitura/numeros-de-2019-da-ju-
dicializacao-da-saude-no-brasil>. Acesso em: 07 abr. 2020.
17 SCHULZE, Clenio Jair. Direito à Saúde e a Judicialização do Impossível. In: Coletânea Direto à
saúde: dilemas do fenômeno da judicialização da saúde. Organizadores Alethele de Oliveira Santos, Luciana
Tolêdo Lopes - Brasília (DF): CONASS, 2018, v2, p. 14-25.
Sumário 142
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
18 SANTOS, Ivone L; SHIMIZU, Helena E.; GARRAFA, Volnei. Bioética de intervenção e pedagogia
da libertação: aproximações possíveis. Revista bioética (Impr.). 2014; 22 (2) p. 271-280. Disponível em:
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19 GOMES DE SOUSA, Eduardo David; FRANCISCO, António Hélder; ALFREDO, Edson; MAN-
CHOLA, Camilo. Termos de esclarecimento e responsabilidade à luz da bioética de intervenção. Revista bioética
(Impr.). 2018; 26 (3): p. 360-370. Disponível em: <https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pi-
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Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
20 CORDEIRO, Mariana Dantas; SAMPAIO, Helena Alves de Carvalho. Aplicação dos fundamentos do
letramento em saúde no consentimento informado. Revista bioética. (Impr.). 2019; 27 (3): 410-8. DOI: https://
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21 CORDEIRO, Mariana Dantas; SAMPAIO, Helena Alves de Carvalho. Aplicação dos fundamentos do
letramento em saúde no consentimento informado. Revista bioética. (Impr.). 2019; 27 (3): 410-8. DOI: https://
doi.org/10.1590/1983-80422019273324.
Sumário 144
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
22 CORDEIRO, Mariana Dantas; SAMPAIO, Helena Alves de Carvalho. Aplicação dos fundamentos do
letramento em saúde no consentimento informado. Revista bioética. (Impr.). 2019; 27 (3): 410-8. DOI: https://
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23 SCHULZE, Clenio Jair. Direito à Saúde e a Judicialização do Impossível. In: Coletânea Direto à
saúde: dilemas do fenômeno da judicialização da saúde. Organizadores Alethele de Oliveira Santos, Luciana
Tolêdo Lopes - Brasília (DF): CONASS, 2018, v2, p. 16-24.
24 ARAÚJO, Cynthia Pereira de. Existe direito à esperança? saúde no contexto do câncer e fim de vida.
Tese (Doutorado) – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Belo Horizonte, 2018, p. 58.
Sumário 145
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Sumário 146
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
A busca por esta concretização tem feito com que indivíduos pleiteiem no
Poder Judiciário inúmeras questões, por exemplo: contratempos na mar-
cação de consultas, realização de cirurgias, tratamentos e, principalmente,
medicamentos25.
25 ARAÚJO, Cynthia Pereira de; LÓPEZ, Éder Maurício Pezze; JUNQUEIRA, Silvana Regina San-
tos. Judicialização da Saúde: Saúde pública e outras questões. Porto Alegre, Verbo Jurídico, 2016, p. 61.
26 DRESCH, Renato Luís. Judicialização da Saúde: Medidas de Aprimoramento Técnico das demandas
Judiciais. In: GEBRAN NETO, João Pedro; AVANZA, Clenir Sani; SCHULMAN, Gabriel (org.) Direto da
Saúde em perspectiva: Judicialização, gestão e acesso. Vitória, Editora ABRAGES, Vol. 2, 2017, p. 91-118.
27 DRESCH, Renato Luís. Judicialização da Saúde: Medidas de Aprimoramento Técnico das demandas
Judiciais. In: GEBRAN NETO, João Pedro; AVANZA, Clenir Sani; SCHULMAN, Gabriel (org.) Direto da
Saúde em perspectiva: Judicialização, gestão e acesso. Vitória, Editora ABRAGES, Vol. 2, 2017, p. 91-118.
Sumário 147
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
28 ATALLAH, Álvaro Nagib. Direito à saúde e a não maleficência. Uma definição da Medicina Ba-
seada em Evidências. Diagn Tratamento. 2010;15(3):103. Disponível em: <http://files.bvs.br/uploa-
d/S/1413-9979/2010/v15n3/a1528.pdf>. Acesso em: 11 jul. 2020.
29 ARAÚJO, Cynthia Pereira de. A Concessão Judicial de medicamentos para o tratamento onco-
lógico? Uma questão de normatividade. Revista da AGU, n. 141, nov. 2013. Disponível em: <http://
www.tjmt.jus.br/INTRANET.ARQ/CMS/GrupoPaginas/126/1127/a_concessao_judicial_de_medicamen-
tos_para_o_tratamento_oncologico_-_uma_questao_de_normatividade_-_c-5.pdf>. Acesso em: 12 abr.
2020.
Sumário 148
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
30 ARAÚJO, Cynthia Pereira de. A Concessão Judicial de medicamentos para o tratamento oncológico?
Uma questão de normatividade. Revista da AGU, n. 141, nov. 2013. Disponível em: <http://www.tjmt.
jus.br/INTRANET.ARQ/CMS/GrupoPaginas/126/1127/a_concessao_judicial_de_medicamentos_para_o_tra-
tamento_oncologico_-_uma_questao_de_normatividade_-_c-5.pdf>. Acesso em: 12 abr. 2020.
31 ROMA, Zillá Oliva. Da farmacialização do judiciário: breves considerações. Revista de Processo,
vol. 270/2017, p. 279-310, Ago/2017. Disponível em: <https://anotacoesdeprocessocivil.blogspot.
com/2017/11/da-farmacializacao-do-judiciario-breves.html>. Acesso em: 13 mar.2020.
32 ARAÚJO, Cynthia Pereira de. Existe direito à esperança? Saúde no contexto do câncer e fim de vida. Tese
(Doutorado) – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Belo Horizonte, 2018, p. 113.
Sumário 149
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
com o intuito de proporcionar aos Tribunais de Justiça dos Estados e aos Tri-
bunais Regionais Federais subsídios técnicos para que, nos casos de ações no
âmbito da saúde, a tomada de decisão seja realizada com base em evidências
científicas. Ademais, também foi criado o projeto Banco Nacional de Pare-
ceres – Sistema E-NATJUS que se trata de uma plataforma digital, formada
por pareceres técnico-científicos e notas elaboradas em evidências científicas,
constando dados acerca de medicamentos já incorporados pela política públi-
ca, emitidos pelos Núcleos de Apoio Técnico ao Judiciário (NATJUS) e pelos
Núcleos de Avaliação de Tecnologias em Saúde (NATS). Uma das finalida-
des da referida plataforma é orientar os magistrados a partir de pareceres e
notas técnicas, em prol de evitar decisões em desacordo com temas relativos
a medicamentos e/ou tratamento médico não recomendados, bem como a
judicialização desenfreada destes33.
Sumário 150
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
Considerações finais
A partir da promulgação da CF/1988 o direito à saúde foi incluído no âmbito
dos direitos sociais, consagrando o acesso à saúde como um direito humano
fundamental social, sendo um direito de todos e dever do Estado. Entretan-
to, decorrente de sua dimensão subjetiva, permite que seus titulares, em face
de pretensões perante o Poder Judiciário, depositem sobre os magistrados
a expectativa de obter respostas para seus anseios, principalmente no que
concerne a medicamentos e tratamentos médicos.
Para além disso, é indispensável que, diante de uma situação à qual o pacien-
te deseje ajuizar uma ação judicial pleiteando o recebimento de determinado
medicamento ou tratamento médico, o profissional de saúde não deixe de
transmitir as informações necessárias acerca dos possíveis efeitos colaterais ou
até mesmo a ineficácia destes, de modo a evitar, tanto a propositura de ações
infundamentadas, quanto o possível risco à saúde do próprio - caso haja defe-
rimento da demanda. Alude-se aqui para a importância do TCLE, que deve
ser realizado apenas após o devido diálogo com o médico assistente, de modo
a assegurar a ciência e compreensão pelo paciente em face dos benefícios e
malefícios do medicamento ou tratamento em questão.
Sumário 151
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
Referências
ALBUQUERQUE, Aline; PARANHOS, Denise G.A.M. Direitos Humanos dos
Pacientes e Vulnerabilidade: O Paciente Idoso à Luz da Jurisprudência da Corte
Europeia de Direitos Humanos. Revista Quaestio Iuris, vol. 10, nº. 04, Rio de Janeiro,
2017. Disponível em: <https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/quaestioiuris/
article/view/27401>. Acesso em: 21 jul. 2020. DOI: 10.12957/rqi.2017.26686
ARAÚJO, Cynthia Pereira de; LÓPEZ, Éder Maurício Pezze; JUNQUEIRA, Silvana
Regina Santos. Judicialização da Saúde: Saúde pública e Outras Questões. Porto
Alegre, Verbo Jurídico, 2016.
Sumário 152
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
AZEVEDO, Paulo Furquim de; AITH, Fernando Mussa Abujamra (Coord. Acadê-
micos). Judicialização da saúde no Brasil: perfil das demandas, causas e propostas
de solução. Instituto de Ensino e Pesquisa – INSPER, Brasília: Conselho Nacio-
nal de Justiça – CNJ, 2019. Disponível em: <https://www.cnj.jus.br/wp-content/
uploads/2019/03/66361404dd5ceaf8c5f7049223bdc709.pdf>. Acesso em: 10 dez. 2020.
Sumário 153
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
OLIVEIRA, Mariana; VIVAS, Fernanda. Governo não pode ser obrigado a fornecer
remédio de alto custo fora da lista do SUS, decide STF. G1, 11/03/2020, TV Globo
Brasília. Disponível em: <https://g1.globo.com/politica/noticia/2020/03/11/governo-
nao-pode-ser-obrigado-a-fornecer-remedio-de-alto-custo-fora-da-lista-do-sus-decide-
stf.ghtml>. Acesso em: 13 mar. 2020.
Sumário 154
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
Resumo
O presente artigo reflete sobre a importância de se vence-
rem alguns desafios do direito sanitário, como o de con-
solidar uma teoria jurídica; superar vácuos legislativos
e sistematizar suas normas, fatos que contribuirão para
o seu fortalecimento, melhoria na atuação do SUS, na
elaboração, exegese e aplicação das normas sanitárias,
fortalecendo assim o direito à saúde na tomada de deci-
são mais estruturada e uniforme dos gestores da saúde.
Certamente o aprofundando da doutrina e a melhoria da
jurisprudência fundados num regime jurídico sanitário
Sumário 155
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
Sumário 156
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
Introdução
A saúde como direito tardou a ser reconhecida no Brasil, o que, por consequên-
cia, adiou a discussão teórico-jurídica do direito sanitário, principiada somente
nos anos 903 e encorpada, ainda que de modo enviesado, pelas discussões jurí-
dicas ensejadas pela busca da tutela jurisdicional de prestações individuais de
saúde. Um ramo do direito, portanto, que se construiu menos por uma teoria
de pensamento jurídico-sanitário estruturado e mais pelas batalhas travadas na
arena judicial em defesa da saúde.
3 O estudo do direito sanitário iniciou-se mais efetivamente nos anos 90, com o surgimento de for-
mação acadêmica do direito sanitário (especialização) em curso pioneiro promovido pelo Centro de
Estudos e Pesquisas em Direito Sanitário (CEPEDISA, SP, 1989); o do Instituto de Direito Sanitário
Aplicado – IDISA, SP no ano 2000; e ainda o da Escola de Saúde Pública da Fiocruz, RJ. Destaca-se a
participação de Lenir Santos, Guido Ivan de Carvalho, Suely Dallari nessa construção, sem isso signi-
ficar desconsideração de outros profissionais do direito e da saúde que se dedicaram ao tema.
4 O Convênio SUDS foi firmado em 1987 pela União com os Estados-membros para unificar e
descentralizar as ações e serviços de saúde a cargo da União, no âmbito do Decreto Federal n° 94.657,
de 20.07.1987.
Sumário 157
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
Com o aumento das demandas judiciais na saúde nos primeiros anos do século
XXI, o direito sanitário passou a chamar a atenção dos operadores e pensa-
dores do direito e das autoridades sanitárias. Esses sujeitos se viam na con-
tingência de operar o direito sanitário quase sempre de modo urgente para o
Sumário 158
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
5 Não basta a consolidação das portarias do Ministério da Saúde, sendo necessária a sua revisão
pós-consolidação, por ser impossível compreender e aplicar mais 10 mil artigos, afora os colossais
anexos descritivos.
6 A Lei Orgânica da Saúde define em seu artigo 7° diretrizes do SUS como princípio e vice-versa.
Um exemplo é denominar como princípio do SUS a integração executiva de ações e serviços de saúde.
Sumário 159
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
como exemplo, a direção única em cada esfera de governo que muitas vezes
embaraça a uniformidade conceitual necessária do SUS, sem falar, até mes-
mo, no discernimento sobre a vigência de alguns regramentos. Importante,
pois, melhor alicerçar o direito sanitário, aprofundar seus estudos científicos,
promover debates jusfilosóficos, teórico-jurídicos, para garantir um sistema de
conceitos sólidos a marcar a sua aplicação, a sua hermenêutica, em especial a
sua produção legislativa.
Importa ainda definir os contornos jurídicos do direito à saúde dada a sua flui-
dez, por se tratar de um conceito jurídico aberto, indeterminado, que necessita
de enquadramento. A possibilidade de se discriminarem de modo seguro quais
serviços estão a cargo do SUS e quais os serviços indiretos com efeitos diretos
na saúde das pessoas, permitiria a adequada responsabilização da autoridade
pública omissa. Tanto isso é fato que o artigo 5° da LOS define como um dos
objetivos do SUS identificar as condicionantes e determinantes da saúde para
o estabelecimento de políticas públicas intersetoriais dadas as conexões com a
saúde da população.
Assim, a saúde como um direito natural que deve ser garantido a todos, nos
leva a considerar a grave crise por que passa a humanidade pelo surgimento,
em 2019, do novo coronavírus, que jogou luz no direito sanitário, nas políticas
de saúde, na necessidade da presença do Estado e na proteção da vida pela
saúde. Este artigo não poderia deixar de considerar essa grave crise sanitária,
com previsões drásticas de doença e morte e as exigências dos sistemas de
saúde, além do forte tensionamento político-social em busca de soluções para
dilemas éticos, sociais e jurídicos que têm surgido diuturnamente.
Sumário 160
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
Sumário 161
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
Neste século XXI, estamos vivendo de modo real esse protagonismo da doen-
ça coletiva com a grave epidemia da Covid-19, que está a alterar o rumo da
história de modo trágico e rápido, em todos os seus campos.
7 Consultar: Rosen, G. Scliar, M. Ibidem; Berlinguer, Ética da Saúde. Editora Hucitec, 1996;
G. Sigerist, H.E. Civilização & Doença. São Paulo: Hucitec Editora, 2007.
Sumário 162
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
Sumário 163
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
Pode-se dizer que, a partir dessa data, o mundo jurídico público de modo
ainda incipiente despertou para a existência e importância do direito sanitá-
rio e a imperiosa necessidade de seu estudo. Esparsas obras9, artigos jurídicos
doutrinários, pesquisas e estudos, cursos de especialização foram surgindo
timidamente e o crescimento da judicialização da saúde nos anos 2.000, com
liminares urgentes e de efeito satisfativo, passaram a embaraçar a organiza-
ção e o funcionamento do SUS e a prejudicar o aprofundamento do tema
pelo próprio Judiciário. Isso tudo certamente embaraçou a construção de
uma sólida base teórica do direito sanitário.
9 A publicação em 1992, da obra Comentários à Lei Orgânica da Saúde (Editora Hucitec), da autoria
de Guido Ivan de Carvalho e Lenir Santos, talvez tenha sido a primeira obra pós-Constituição de 88 a
tratar de tema vinculado ao direito sanitário ao tecer comentários à Lei n° 8.080, de 1990.
Sumário 164
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
Sumário 165
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
Saúde como direito social e individual tem concepção complexa que extra-
pola o convencional conceito médico-biológico-terapêutico que a pautava
anteriormente, quando, ao se falar em saúde, associava-se à enfermidade e
aos meios de sua cura ou minoração. Contudo, a medicina, o médico e o bio-
lógico perderam a sua primazia com a ampliação do conceito saúde quando
se passou a compreender seus aspectos econômico, político, social, cultural12,
não mais se regendo exclusivamente pela área médica e biológica, mas sim
por considerações de ordem socioeconômica, pelo desenvolvimento tecnoló-
gico e biotecnológico e pelo estilo de vida.
12 Scliar, M. Do mágico ao social. Editora Senac São Paulo. 2002, 2ª edição, p.17.
Sumário 166
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
Pode-se dizer que saúde lato sensu é direito à proteção de um estado de ser o
mais sadio possível e não tão somente prestações de serviços assistenciais. As
prestações de serviços em geral pressupõem algum agravo e, por isso, o Poder
Público, prioritariamente, deve agir preventivamente para que as pessoas não
adoeçam por causas evitáveis, interrelacionando políticas públicas que preser-
vem a saúde das pessoas com meios de sua promoção e recuperação.
Sumário 167
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
13 Regular para prevenir agravos, diga-se; prestar serviços para também prevenir mediante a medi-
cina diagnóstica e recuperar a saúde agravada.
Sumário 168
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
São dois os núcleos do direito à saúde, sendo o primeiro objeto dos mais di-
versos setores públicos de modo indireto e o segundo o objeto do SUS, pres-
tado de modo direto à população. O marco legislativo, o estudo do direito, a
Sumário 169
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
Isso tudo nos leva a considerar na estruturação de uma teoria geral do di-
reito sanitário, a necessidade de discriminação das responsabilidades dire-
tas e indiretas na saúde em razão da existência no mundo fático de serviços
próprios e impróprios, decorrentes da concepção de saúde que contempla
não tão-somente as ações diretas dos órgãos sanitários, mas também aquelas
que interferem com a saúde de modo indireto, produzindo efeitos sanitários
ainda que não estejam no setor saúde. Havendo responsabilidades sanitárias
diretas e serviços de saúde próprios e responsabilidades sanitárias indiretas e serviços de
saúde impróprios, como a questão do meio ambiente saudável, o saneamento,
a alimentação, importante essa discriminação para a fixação das responsa-
bilidades sanitário de agentes públicos não-sanitários. (Ações impróprias da
saúde por seus efeitos indiretos na vida do cidadão e ações próprias pelos
seus efeitos diretos.)
14 Bisol, J; Rey Filho, M. DIREITO SANITARIO Org. Lemos, A.; Alves, Sandra. Por que uma teoria
geral do direito sanitário? – Editora Matrioska 2020. Acessível em: https://www.cadernos.prodisa.fio-
cruz.br/LIVRO_PDF_Direito_Sanitario_digital_link_ajustado-1.pdf Acesso em 7.1.2020.
Sumário 170
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
15 Cf. Santos, L. Distribuição de competência no Sistema Único de Saúde. O papel das três esferas de
governo no SUS. Publicação OPAS, 1994.
Sumário 171
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
Sumário 172
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
Sumário 173
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
sanitário com seus vazios teóricos, normativos, doutrinários pode ter contri-
buído para interpretações equivocadas de autoridades políticas, sanitárias e
judiciais, tumultuando ainda mais a vida política e sanitária no país.
Sumário 174
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
Mais uma vez vimos aprofundar uma judicialização que poderia ter sido des-
necessária ou minimamente desaconselhada pelos órgãos jurídicos compe-
tentes da União, caso o direito sanitário estivesse mais consolidado no país,
mesmo que muitas demandas tenham tido cunho político. Competências
quase que indelegáveis do Poder Executivo foram transferidas para a deci-
são do Poder Judiciário pelos flancos existentes ainda neste ramo do direito,
como exemplo a necessidade de se reafirmarem conceitos jurídico-sanitários
que, em 32 anos do direito à saúde, não deveriam mais suscitar dúvidas. O
direito sanitário repentinamente passou a ser fortemente demandado em sua
estrutura teórico-jurídica e normativa e dado o desinteresse de anos e anos
por esse ramo do direito que não se fortaleceu, foram muitas as inadequações
operativas durante a pandemia.
Sumário 175
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
Considerações finais
Os complexos aspectos jurídico-administrativos e sanitário do SUS precisam
ser mais aprofundados, compreendidos, sistematizados para uma atuação
harmoniosa, com menor judicialização possível. Uma teoria jurídica sanitá-
ria importa para o fortalecimento do direito sanitário, como bem pontuou
o professor Aith (2006),
a Teoria Geral do Direito Sanitário (...) possibilita uma visão mais ampla deste
importante ramo jurídico, oferecendo elementos para a sua compreensão e
para a interpretação dos textos normativos que o compõe. Auxilia também as
autoridades públicas responsáveis por tomar decisões vinculadas às normas
de Direito Sanitário, na medida em que tais decisões devem observar o regi-
me jurídico do Direito Sanitário sempre que este for cabível.
Sumário 176
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
Muitas são ainda questões não resolvidas do SUS. Há dificuldades em sua ope-
racionalidade, na compreensão conceitual ensejando decisões díspares e o não
cumprimento de diretrizes fundamentais. Um dos exemplos são as regiões de
saúde, essenciais na organização do SUS e que até hoje não conseguiram alcan-
çar os resultados necessários. Um sistema regionalizado que ainda não conta com
reais regiões de saúde. Se o SUS se define como um sistema integrado de ações
e serviços de saúde dos entes federativos em rede regionalizada e hierarquizada,
não poderia, após 32 anos, ainda não ter cumprido tal determinação constitu-
cional. Ainda que haja regiões de saúde, elas não alcançaram o seu desiderato.
Referências
AITH, Fernando Mussa Abujamra. Teoria geral do direito sanitário brasileiro.
2006. Tese (Doutorado em Serviços de Saúde Pública) - Faculdade de Saúde Pública,
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006. doi:10.11606/T.6.2006.tde-23102006-
144712. Acesso em: 2020-03-31.
BISOL, J; Rey Filho, M. Direito Sanitário Org. Lemos, A.; Alves, Sandra.
Por que uma teoria geral do direito sanitário – Editora Matrioska 2020. Acessível
em: https://www.cadernos.prodisa.fiocruz.br/LIVRO_PDF_Direito_Sanitario_digital_
link_ajustado-1.pdf Acesso em 7.1.2020.
Sumário 177
Judicialização da Saúde nos Municípios Teses Jurídicas e Práticas Judiciais
ROMERO, Luiz Carlos P. Saúde & Política. A doença como protagonista da história.
Brasília: Outubro Edições, 2019.
ROSEN, George. Uma história da Saúde Pública. São Paulo: Editora Unesp, 1985.
SANTOS, Lenir. Direito à Saúde. org. Lenir Santos. Direito à Saúde e Sistema Único
de Saúde: Conceitos e atribuições. O que são ações e serviços de saúde. Campinas: Saberes
Editora, 2010.
SIGERIST, H.E. Civilização & Doença. São Paulo: Hucitec Editora, 2007.
Supremo Tribunal Federal, ADPF 672. Relator Min. Alexandre de Moraes. Acesso
em 12 de abril de 2021. Disponível em www.stf.jus.br
Sumário 178
Diagnósticos
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Resumo
Introdução: A judicialização da saúde, principalmente a
que envolve tecnologias curativas como os medicamentos,
Sumário 180
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 181
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Introdução
O debate sobre a judicialização na saúde inclui diferentes causas e múltiplas
abordagens. Abrange a busca insaciável pela garantia de direitos individuais
e o exercício da cidadania; a primazia de direitos individuais em detrimento
de direitos coletivos; a exposição de falhas e o potencial efeito desorganiza-
cional na gestão das políticas públicas; o alto preço das tecnologias em saúde;
os fundamentos fáticos e jurídicos mencionados nas demandas e a atuação
do Poder Judiciário; o crescimento do número das demandas judiciais e as
medidas de enfrentamento.
Sumário 182
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Metodologia
Trata-se de um estudo ecológico, realizado a partir de dados secundários,
provenientes de ações judiciais impetradas contra o Estado de Santa Catari-
na, envolvendo a assistência à saúde, no período de 2000 a 2019.
Sumário 183
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 184
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
<25 mil habitantes); médio (≥25 mil e <50 mil habitantes); grande (≥50 mil
e <100 mil habitantes); e muito grande (>100 mil habitantes).
Resultados e Discussão
Sumário 186
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 187
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 188
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
4.800
Nº de ações
150 4.400
4.000
3.600
3.200
100 2.800
2.400
2.000
50 1.600
1.200
800
400
0 0
2004
2014
2000
2001
2002
2003
2005
2006
2007
2017
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2015
2016
2018
Ano 2019
Muito grande Grande Médio Pequeno
Muito pequeno Micro porte Nº de Municípios
Fonte: Elaboração própria a partir do sistema de gerenciamento das ações judiciais da Secretaria de Estado da
Saúde de Santa Catarina (SES/SC).
Legenda: Nº = número.
Sumário 189
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 190
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 191
Nº de Ações Proporção
Nº Ação
Regiões de Saúde Popula- acumula-
Sumário
Acumu-
(Nº de municípios) ção da 1.000
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
2019
lado
Hab
Alto Vale do Itajaí (n=27) 0 0 0 3 13 33 73 75 68 80 115 130 255 299 330 418 366 211 205 211 2885 269.424 10,71
Alto Vale do Rio do Peixe 0 0 1 6 25 40 76 72 59 84 86 95 133 194 220 244 190 152 167 158 2002 274.305 7,30
(n=20)
Judicialização da Saúde nos Municípios
Carbonífera (n=12) 1 1 10 11 39 94 290 573 279 134 184 330 485 696 720 962 851 633 489 486 7268 403.737 18,00
Extremo Oeste (n=30) 0 0 1 1 13 18 36 56 67 70 109 126 276 225 277 294 279 182 152 191 2373 223.547 10,62
Extremo Sul Catarinense 0 0 1 1 8 20 64 108 84 55 89 115 182 240 231 337 172 125 98 98 2028 180.808 11,22
(n=15)
Foz do Rio Itajaí (n=11) 0 1 4 15 53 80 125 139 159 189 268 242 305 370 412 580 536 412 284 266 4440 555.564 7,99
Grande Florianópolis (n=22) 1 1 19 108 207 374 597 620 609 568 733 755 1184 1248 1188 1171 1029 708 719 855 12694 1.012.233 12,54
Laguna (n=18) 0 0 1 3 13 21 114 375 591 462 473 576 541 576 583 1085 1194 534 489 618 8249 345.487 23,88
Médio Vale do Itajaí (n=14) 0 2 1 13 29 35 233 151 170 286 181 257 314 415 450 784 625 429 330 364 5069 666.938 7,60
de saúde, no período de 2000-2019. n = 66.721
Meio Oeste (n=20) 0 1 2 5 7 8 17 32 26 40 42 39 102 140 157 218 184 105 147 136 1408 179.824 7,83
Nordeste (n=13) 0 1 2 10 31 56 125 125 99 111 206 206 271 359 409 448 427 1238 378 501 5003 868.530 5,76
Oeste (n=25) 0 1 1 10 42 43 132 100 132 127 233 205 285 298 284 319 272 231 259 279 3253 319.662 10,18
gerenciamento das ações judiciais da Secretaria de Estado da Saúde de Santa Catarina (SES/SC).
Planalto Norte (n=13) 0 0 0 4 5 24 42 64 69 97 134 152 200 163 117 229 202 223 241 287 2253 354.200 6,36
Serra Catarinense (n=18) 0 1 1 6 13 24 40 95 147 135 269 347 354 404 480 609 357 230 253 257 4022 286.238 14,05
Tabela 1 Representatividade do número de ações judiciais da saúde distribuído por região
Diagnósticos
Legenda: Nº ou n = número / HAB= habitantes / Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do sistema de
192
Xanxerê (n=21) 0 0 0 6 17 69 128 85 132 79 131 145 208 263 358 306 236 168 175 125 2631 189.054 13,92
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 193
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 194
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
GH IDSUS
GH1 1 (0,3) -
% Feminina +60 anos 6,5 (1,3) 3,2 - 9,9 6,5 (1,3) 3,2 - 9,9
% Total +60 anos -9,4 (10) -28,5 - 29,7 12,4 (2,5) 6,6 - 19,6
Legenda: DP – Desvio Padrão; GH – Grupo Homogêneo; Máx – Máximo; Min – Mínimo; n - nú-
mero; IDHM - Índice de Desenvolvimento Humano Municipal; IDSUS - Índice de Desempenho
do Sistema Único de Saúde.
Fonte: Elaboração própria.
Sumário 195
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 196
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Ações Ações
Variáveis Nº Ações Nº Ações
Acumula- Acumula-
Acumula- Acumula-
das/1.000 das/1.000
das r (P) das r (P)
Hab r (P) Hab r (P)
Sumário 197
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 198
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
r=0,882; r²aj=0,773
r=0,392; r²aj=0,145
Sumário 199
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Subconjunto (n=284)
r=0,863; r²aj=0,739
r=0,410; r²aj=0,159
Sumário 200
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Conclusão
Os resultados apresentados mostram que a expansão da judicialização na área
da saúde em Santa Catarina nos últimos 20 anos atingiu todos os municípios
do Estado e apontam para uma correlação com indicadores de maior acesso
aos serviços de saúde e maior nível de desenvolvimento dos municípios, o
que corrobora com resultados de estudos prévios. Dado que os indicadores
utilizados nesta análise partem da perspectiva da área da saúde, é necessário
aprofundar nos estudos da perspectiva da estrutura do setor Judiciário e do
acesso ao mesmo.
Sumário 201
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Referências
ASENSI, Felipe Dutra. Judicialização ou juridicização? As instituições jurídicas e
suas estratégias na saúde. Physis Revista de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, 20(1):
33-55, 2010.
Sumário 202
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
FERRAZ, Octávio Luiz Motta. Brazil. Health inequalities, rights and courts: the
social impact of the judicialization of health. In: YAMIN, Alicia; GLOPPEN, Siri
(Org.). Litigating the right to health. Cambridge: Harvard University Press, p. 76-
102, 2011.
Sumário 203
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
OHLAND, Luciana. The joint liability of the Federation entities in the supply of
drugs. Direito & Justiça. Porto Alegre, 36(1): 29-44, 2010.
WANG, Daniel Wei L.; VASCONCELOS, Natália Pires de; OLIVEIRA, Vanessa
Elias de; TERRAZAS, Fernanda Vargas. Os impactos da judicialização da saúde no
município de São Paulo: gasto público e organização federativa. Revista de Adminis-
tração Pública, [online]. Rio de Janeiro 48(5):1191-1206.
Sumário 205
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Resumo
Há divergência na literatura quanto à compreensão dos
motivos e efeitos da judicialização da saúde nas políticas
públicas e na gestão da saúde. Objetivo: Analisar o perfil
da judicialização da saúde pública no município de Piraci-
caba - SP. Métodos: Estudo transversal descritivo, realiza-
do em 2020, referente a dados secundários de 2ª instân-
cia, do município de Piracicaba - SP, disponíveis no site do
Tribunal de Justiça de São Paulo, no período de janeiro
de 2010 a dezembro de 2020. Para composição da amos-
tra foi considerado um intervalo de confiança de 95%, e
um erro de 5%, totalizando uma amostra aleatória de 265
acórdãos. As variáveis analisadas foram: ano, sexo, carac-
terísticas e principais demandas, principais doenças, tipo
de decisão, representação jurídica. Resultados: Houve
um aumento relativo de demandas judiciais entre o ano
Sumário 206
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 207
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Introdução
O direito à saúde, inserido como direito fundamental no arcabouço jurídico
brasileiro pela Constituição Federal de 1988, foi elevado a um princípio im-
portante do “Estado Democrático de Direito”, (Art. 1º inc. III da Constitui-
ção Federal CF/88) (BRASIL, 1988).
Com base em todo esse arcabouço legal, a população brasileira passou a usu-
fruir o direito ao acesso à saúde integral e universal e, de acordo com a CF e
os princípios normativos do SUS, ações e serviços de saúde devem ser pres-
tados sem discriminações e gratuitamente no sentido de consolidar o acesso
universal (AITH, 2019).
Sumário 208
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 209
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Outros autores (BIEHL; SOCAL; AMON, 2016; AITH ET AL., 2014, DINIZ;
ROBICHEZ; PENALVA, 2014) observaram que a judicialização das deman-
das da saúde pode apresentar um caráter positivo ao apontar falhas sistêmi-
cas na efetivação das políticas de saúde quando essas políticas negam acesso
a bens e serviços de saúde aos quais o cidadão teria direito, por demora na
avaliação das solicitações em nível administrativo, protocolos clínicos assisten-
ciais desatualizados ou não acompanhamento das portarias de políticas de
saúde já instituídas.
Sumário 210
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Método
Trata-se de um estudo transversal, descritivo, realizado em 2020, referente
a dados secundários de 2ª instância, do município de Piracicaba, São Paulo,
disponíveis no site do Tribunal de Justiça de São Paulo - TJSP, no período de
janeiro de 2010 a dezembro de 2020.
Sumário 211
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Resultados
De acordo com os descritores de busca utilizados foram identificados 851
acórdãos judiciais no período de 2010-2020. A evolução numérica dos acór-
dãos no período, apesar de uma redução entre 2013 e 2014 apresenta uma
tendência linear crescente (Figura 1).
120
100
80
60
40
20
0
2008 2010 2012 2014 2016 2018 2020 2022
n acórdãos Linear (n acórdãos)
Período analisado 2010-2020
Demandas n %
Medicamentos 225 85
Foi ampla a variação das doenças envolvidas nas demandas judiciais do mu-
nicípio, mas as principais doenças envolvidas nos acórdãos judiciais foram
categorizadas conforme apresentado na Tabela 2. As doenças foram categori-
zadas pelo pleito da demanda, mas a maioria dos demandantes apresentava
diversas comorbidades. Nas doenças citadas como “outras” (Tabela 2), estão
agregadas todas as demais doenças citadas que não se repetiram nos proces-
sos analisados, como vários tipos de neoplasias, doenças neurológicas, Alzhei-
mer, nefropatias, doenças respiratórias, doenças raras, déficit de atenção e
aprendizagem, autismo, entre várias outras. Não foi possível a categorização
Sumário 213
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Doenças N %
Cardiopatias 47 18
Diabetes 31 12
Obesidade 26 10
Hepatite 21 8
Saúde mental 13 5
Discussão
No Brasil observa-se um aumento do número de decisões judiciais obrigando
o poder público a fornecer medicamentos, insumos, equipamentos e cirur-
gias (WANG et al., 2014).
Sumário 214
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Wang et al., (2014) apontam que esse fenômeno pode impactar ainda mais
os municípios que possuem, normalmente, orçamentos menores e infraes-
trutura menos desenvolvida que Estados e a União para enfrentamento do
problema.
Travassos et al. (2013) analisando dados dos Tribunais de Justiça dos Estados
de Pernambuco, Rio Grande do Sul e Minas Gerais também apontaram que
a litigação é predominantemente individual.
Sumário 215
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 216
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 217
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 218
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 220
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Este estudo teve como limitação a falta de dados suficientes para traçar o perfil
socioeconômico dos demandantes, pois os acórdãos não possuíam dados sobre
escolaridade, naturalidade, profissão e renda. No entanto, em 85,5% dos acór-
dãos judiciais analisados, os demandantes solicitaram gratuidade da justiça.
Sumário 221
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
O que se discutiu em muitos dos acórdãos judiciais analisados por essa pes-
quisa foi a vantagem, ou mesmo a necessidade, do uso de determinado me-
dicamento não incorporado pelo SUS em relação às alternativas terapêuticas
já incorporadas para o tratamento de certas doenças. Nesse sentido, torna-se
importante e necessário discutir arranjos institucionais e a proposição de es-
tratégias de conciliação entre os participantes desse processo, médicos, pa-
cientes, gestores e Judiciário. Asensi e Pinheiro (2016) apontam que a amplia-
ção de arranjos institucionais dialógicos promoveu a redução da litigiosidade
em Lages - SC e que esses arranjos permitiram uma importante atuação ex-
trajudicial e fomentaram o diálogo entre os diversos atores envolvidos.
Sumário 222
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Outro aspecto relevante observado nos acórdãos analisados por esta pesquisa
foi que a falta de dados relativos aos pacientes para a negativa inicial da de-
manda pela Secretaria de Saúde do Município favoreceu a decisão em segun-
da instância, não permitindo a reversão da decisão inicial. A simples alegação
da falta de recursos ou que o item demandado não era de competência do
município não foram condições suficientes para serem acatadas pelo Judiciá-
rio, nem para justificar a negativa administrativa. Destacam-se aqui a falta de
informações precisas sobre o cuidado e o gerenciamento da atenção à saúde
dos pacientes usuários do sistema, de forma a subsidiar as concessões ou ne-
gativas a nível administrativo.
Sumário 223
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Conclusão
Conclui-se que o perfil da judicialização da saúde pública no município de
Piracicaba – SP busca acesso, principalmente, a medicamentos não constan-
tes nas listas oficiais do município. As principais doenças envolvidas nas de-
mandas judiciais analisadas são crônicas, epidemiologicamente reconhecidas
como grandes problemas de saúde pública.
Referências
ALBERT, C. E. Análise sobre a judicialização da saúde nos municípios. Revista
Técnica CNM, Brasília, p. 151-175, 2016.
AMARAL, R., et al. Aspectos jurídicos e sanitários condicionantes para o uso da via
judicial no acesso aos medicamentos no Brasil. Rev. salud pública, v.14, n.2, p.340-
349, 2012.
BIEHL J., et al. The Judicialization of Health and the Quest for State Accountabili-
ty: Evidence from 1,262 Lawsuits for Access to Medicines in Southern Brazil. Health
Hum Rights, v.18, n.1, 2016.
Sumário 224
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
CABRAL I, REZENDE LFR. Análise Das Ações Judiciais Individuais Para Forneci-
mento De Medicamentos em São João Da Boa Vista. Dir. sanit., São Paulo v.16 n.1,
p. 59-77, mar./jun. 2015.
Sumário 225
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
PAIM, L.F.N.A. et al. Qual é o custo da prescrição pelo nome de marca na judicia-
lização do acesso aos medicamentos. Cad. Saúde Colet., 2017, Rio de Janeiro, v.25,
n.2, p.201-209, 2017.
Sumário 226
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
PPA Plano Plurianual 2018 – 2021. Prefeitura do Município de Piracicaba - PMP. São
Paulo. Secretaria de municipal de saúde. Plano Municipal de Saúde.
SCHULZE, CJ, NETO, JPG. Direito à Saúde. Análise à luz da judicialização. Porto
Alegre. Ed. Verbo Jurídico, 2015.
VIEIRA, FS, ZUCHI P. Distorsões causadas pelas ações judiciais à política de me-
dicamentos no Brasil. Rev Saúde Pública, v.41, n.2, p 214-22, 2007.
RODRIGUES, M.A.P et al. Uso de serviços básicos de saúde por idosos portadores
de condições crônicas, Brasil. Rev. Saúde Pública, São Paulo, v. 43, n. 4, p. 604-
612, Aug. 2009. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttex-
t&pid=S0034-89102009000400006&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 03 Mar. 2021.
SCHULZE, C.J., NETO, JPG. Direito à saúde análise à luz da judicialização. Porto
Alegre: Verbo Jurídico, 2015.260p.
Sumário 227
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 228
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Resumo
O artigo analisa as ações judiciais impetradas contra a Se-
cretaria Municipal de Saúde de São Paulo (SMS-SP) e o
efeito dessas ações judiciais sobre o Poder Executivo mu-
nicipal. A metodologia aplicada é quali-quantitativa, ten-
do como principal método o estudo de caso, centrada em
uma abordagem empírica de dados sobre a judicialização
da saúde e complementada com entrevistas para a capta-
ção da percepção dos gestores municipais sobre o fenôme-
no da judicialização no município de São Paulo. Primeira-
mente, são apresentados dados sobre o volume de ações
recebidas, os itens judicializados e o volume de recursos
despendidos com ações judiciais em saúde nos anos de
1 Mestre em Políticas Públicas - UFABC; Analista de Políticas Públicas; Prefeitura Municipal de São
Paulo; Lattes: http://lattes.cnpq.br/3321872230187148.
2 Graduada em Direito - Universidade Presbiteriana Mackenzie; Procuradora do Município de São
Paulo; Prefeitura Municipal de São Paulo; Lattes: http://lattes.cnpq.br/9779924092839682.
3 Doutora em Ciência Política - USP; Professora Associada; Universidade Federal do ABC; Lattes:
http://lattes.cnpq.br/4500064778115550.
Sumário 229
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 230
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Introdução
O presente trabalho reconhece a importância da sistematização de informa-
ções sobre a judicialização da saúde nos municípios brasileiros e, em especial, a
respeito das ações judiciais em saúde no maior município brasileiro: São Paulo.
Sendo assim, optou-se por centrar esse estudo em uma abordagem empírica,
a partir de dados disponíveis no âmbito municipal, complementados pela per-
cepção dos gestores, operadores do direito e técnicos da Secretaria Municipal
de Saúde de São Paulo (SMS-SP) sobre esse processo. A partir desses dados,
discutem-se aspectos da judicialização da saúde e da gestão de informações
sobre as ações judiciais em saúde no âmbito do município de São Paulo.
Sumário 231
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 232
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
6 Das 452 ações ajuizadas em 2015, 92 foram cadastradas no sistema da PGM-SP em 2016.
7 Das 874 ações ajuizadas em 2019, 102 foram cadastradas no sistema da PGM-SP em 2020.
Sumário 234
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Gráfico 1 Número de Ações Judiciais de Saúde contra o Município de São Paulo por ano
874
808 Ações Ajuizadas
622 617 588
452
332 329
259
178
2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020
Fonte: Sistema Integrado de Ações Judiciais Digital- SIAJ-d, fev. 2021. Elaboração Própria.
Além da análise dos números gerais de ações ajuizadas, com o início do fun-
cionamento do SIAJ-d foi possível uma melhor subclassificação do objeto das
ações em saúde. Antes do sistema, os processos enquadravam-se em uma
única classificação geral de saúde/medicamento/hospitais e, depois, passaram
8 No número de novas ações de 2020 foi computado apenas as ações cadastradas no sistema da PG-
M-SP até o dia 31/12/2020.
Sumário 235
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
9 Nesse trabalho as ações que não tinham subclassificação, ou seja, que estavam vazias conforme a
planilha recebida, foram agrupadas com as ações diversas.
10 Nos casos em que a pessoa não possua condições de suporte familiar ou social suficientes para
garantir as suas necessidades de moradia, o Ministério Público ou outra pessoa ajuíza as ações de aco-
lhimento que visam a inclusão do tutelado, no Serviço Residencial Terapêutico (SRT) ou Residência
Inclusiva, que pertence a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social – SMADS.
Sumário 236
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Gráfico 2 Ações Judiciais de Saúde contra o Município de São Paulo por ano e por tipo
2020
2019
2018
Consulta ou exame 34 61 44
Acolhimento 2 4 41
Dieta 19 18 24
Insumos 42 17 21
Mista 25 35 18
Homecare 14 19 15
Vaga em UTI 47 46 14
Fralda 26 20 11
Leite 9 9 5
Cadeira de rodas 5 15 2
Órtese ou prótese 2 3 0
(Vazias) 32 42 16
Fonte: Sistema Integrado de Ações Judiciais Digital (SIAJ-d), fev. 2021. Elaboração Própria.
Sumário 237
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 238
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Com o ajuizamento das ações, há uma quebra nas políticas públicas de saúde
feitas pelo Estado, pois a maioria das demandas no município de São Paulo
é individual, visando medicamentos e tratamentos que não fazem parte da
lista do SUS11. Assim, inicia-se um processo de dispêndio de dinheiro do or-
çamento da saúde para salvaguardar direitos individuais em detrimento do
direito do restante da população.
Sumário 239
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Somente em 2018 foram criadas dotações específicas para gastos com ações
judiciais, possibilitando a divisão das despesas diretas e indiretas. A partir
desse momento houve a possibilidade de vincular no orçamento de forma
direta os gastos com as ações judiciais, o que facilitou o planejamento e a
visualização dos gastos pelo gestor público, pois com elas é possível separar
uma parte do orçamento para as ações e acompanhar quanto do dinheiro
orçado está sendo utilizado.
R$ 7.000.000,00
R$ 6.000.000,00
R$ 5.000.000,00
R$ 4.000.000,00
R$ 3.000.000,00
R$ 2.000.000,00
R$ 1.000.000,00
R$ 000,00
Material Médico Medicamentos Dietas
Hospitalar e Ambulatorial
Sumário 240
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
material médico
ano hospitalar e medicamentos dietas
ambulatorial
Fonte: Coordenadoria de Finanças e Orçamento (CFO) da SMS-SP fev. 202.1 Elaboração Própria.
Do gráfico acima, pode-se depreender que as despesas diretas com ações ju-
diciais somaram o total de R$ 12.808.518,37 no ano de 2018, R$ 8.042.739,17
no ano de 2019 e R$ 7.635.543,43 no ano de 2020. Dessa forma, verifica-se
que, aparentemente, os gastos com as ações estão caindo.
14 Conforme informações retiradas do Diário Oficial da Cidade (DOC), utilizando as palavras chaves:
nusinersena e spinraza, realizadas no dia 21/03/2021 às 17:45.
Sumário 241
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Gráfico 4 Total das despesas com medicamentos por ano sem Nusinersena-Spiranza
R$ 2.267.130,29
R$ 2.113.656,79
R$ 1.669.356,87
Conclui-se que, apesar da diminuição dos valores totais utilizados com as com-
pras por dispensa de licitação e atas de registro de preço das ações judiciais,
não é possível afirmar a existência de uma tendência de queda dos gastos.
Sumário 242
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
O objetivo das entrevistas era captar a percepção dos agentes públicos sobre a
judicialização no município. Para isso foi utilizado roteiro de perguntas (Ane-
xo I - Roteiro Entrevistas), orientado a tratar do seguinte conjunto de temas:
a) o fenômeno da judicialização; b) as características das ações judiciais; c) a
sistematização de dados; d) desafios e potenciais de melhoria no cumprimen-
to das decisões judiciais; e) o impacto da pandemia de Covid-19.
Sumário 243
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
A) O fenômeno da judicialização
Segundo os entrevistados, uma parte das ações judiciais é legítima, pois visa
preencher uma lacuna no atendimento do SUS, seja porque o sistema não
providenciou o tratamento no prazo adequado, seja porque o tratamento do
SUS foi insuficiente para o caso particular. No entanto, outra parte das ações
é desnecessária e acontece, muitas vezes, pela falta de organização do SUS e
pela falta de protocolos mais objetivos.
Sumário 244
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Ainda sobre o perfil das ações judiciais, vários informaram que a maior parte
dos medicamentos não constava nas listas do SUS. As informações sistemati-
zadas pela Prefeitura de São Paulo não permitem confrontar essa percepção
com os dados, mas pesquisa de 2019 registrou que:
Sumário 245
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 246
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
17 Conselho Nacional de Justiça. Judicialização da Saúde no Brasil: perfil das demandas, causas e
soluções. Insper, 2019, p. 69-72, Disponível em: https://static.poder360.com.br/2019/03/relatorio-judi-
cializacao-saude-Insper-CNJ.pdf. Acesso em: 30 mar 2019.
18 Trechos retirados das entrevistas realizadas para elaboração do presente artigo.
Sumário 247
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 249
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Conclusão
A temática do tratamento das ações judiciais é extremamente complexa. A
judicialização envolve muitas áreas governamentais e muitos atores. Por um
lado, o envolvimento do setor jurídico é indispensável, por se tratar de uma
demanda apresentada pela via judicial (exigindo a atuação de procuradores
na defesa da instituição e de seu dirigente). Por outro lado, o envolvimento
dos profissionais da saúde é tão ou mais importante, já que o conteúdo do
pleito é o acesso à saúde, ou seja, tem caráter altamente técnico e exige a ela-
boração de pareceres para a defesa do município.
Sumário 250
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Referências
ALBERT, C. E. Análise sobre a judicialização da Saúde nos Municípios. Revista
Técnica CNM. Brasília, v. 1, p. 151-175, 2016.
BRASIL. Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. Lei Orgânica do SUS; dispõe so-
bre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização
e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. Brasília,
DF, 20 set. 1990. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8080.
htm>. Acesso em: 20 mar. 2021.
Sumário 251
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 252
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Resumo
A judicialização no Brasil teve início na década de 80 com
o Grupo de Apoio à Prevenção à Aids em São Paulo e o
Grupo Pela Vidda do Rio de Janeiro. Pesquisas científi-
cas nesta área apontam para o aumento da demanda judi-
cial, fazendo com que os municípios tenham que comprar
medicamentos que não fazem parte da Relação Nacional
de Medicamentos Essenciais (RENAME) ou Relação Mu-
nicipal de Medicamentos (REMUME). Este trabalho tem
1 Cursando Especialização em Atenção à Saúde das Pessoas com Sobrepeso e Obesidade, Aperfei-
çoamento em Atenção Integral à Saúde - Doenças Negligenciadas - FIOCRUZ. Especialista em Gestão
em Saúde - FIOCRUZ, Especialista em Vigilância em Saúde Ambiental - UFRJ, Aperfeiçoamento em
Farmacêuticos na Atenção Básica/Atenção Primária à Saúde: Trabalhando em Rede - UFRGS, Espe-
cialista em Gestão da Assistência Farmacêutica - UFSC, Especialista em Farmácia Clínica-Farmacologia
- Universidade Católica de Pelotas, Graduado em Formação Pedagógica de Docentes - Universidade
Católica de Pelotas e em Farmácia e Bioquímica com Ênfase em Análises Clínicas pela Universidade
Católica de Pelotas; Farmacêutico Responsável Técnico; Farmácia Municipal da Prefeitura Municipal
de Canguçu/RS; Lattes: http://lattes.cnpq.br/3724774750842299.
2 Graduado em Fisioterapia - Universidade da Região da Campanha; Secretário Municipal de Saú-
de; Prefeitura Municipal de Canguçu/RS; Lattes: http://lattes.cnpq.br/9550835062701540.
Sumário 253
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 254
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Introdução
A obtenção de medicamentos através de processos judiciais teve origem no
Brasil na década de 80 com o Grupo de Apoio à Prevenção da Aids (GAPA)
em São Paulo e o Grupo Pela Vidda (GPV) do Rio de Janeiro. No entan-
to, houve uma demanda maior nos anos 90 como alternativa de acesso ao
tratamento do HIV/Aids, pois não era fornecido pelo governo brasileiro
(BRASIL, 2005).
Este trabalho tem como objetivo apresentar um comparativo dos gastos com
processos judiciais contra o Município de Canguçu - RS antes e após a atuali-
zação da REMUME, através da Ferramenta Planejamento Estratégico Situa-
cional (PES). Neste relato de experiência, o autor não se coloca apenas como
observador, mas como propositor e membro da equipe que elaborou o plano
de intervenção na realidade da assistência farmacêutica do município. As in-
formações foram obtidas por meio de oficinas de construção do Plano Opera-
tivo (PO), pesquisa bibliográfica e anotações ao longo da vivência do processo.
Sumário 255
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
A judicialização no Brasil
De acordo com Everson Macêdo Silva et. al. (2017), o Distrito Federal gas-
tou entre setembro de 2014 a agosto de 2016, R$43,7 milhões de reais com
ações judiciais solicitando medicamentos. Destes, 17% não apresentavam re-
gistro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Chagas e San-
tos (2018) realizaram um levantamento dos gastos com processos judiciais da
Secretaria Estadual de Saúde do Distrito Federal de 2013 a 2017, o gasto total
foi R$ 122 milhões de reais. A maioria dos recursos foi utilizada para empe-
nhar 607 processos (17,1%) em 2017, correspondendo a R$ 29,2 milhões de
reais (23,9%).
Um estudo realizado por Vilvert, S. H. et. al. (2019) sobre o perfil de pro-
cessos judiciais em assistência à saúde contra o estado de Santa Catarina, no
período de dezembro de 2015 a dezembro de 2016, mostrou que o gasto com
processos judiciais em 2015 foi de R$ R$ 135.549,39, caso a aquisição fosse
realizada pelo Estado, o gasto mensal seria de R$ 82.016,29. Em dezembro
de 2016, os custos com bloqueios judiciais foram de R$ 833.634,88, o gasto
seria de R$ 447.357,68 se a compra fosse realizada de forma administrativa.
Foi observado um aumento de 858,82% dos gastos com medicamentos obti-
dos através de processos judiciais, do ano de 2015 para 2016.
Sumário 256
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
A judicialização em Canguçu
O município de Canguçu - RS possuía um elevado número de processos ju-
diciais devido à desatualização da REMUME, que havia sido elaborada em
2006. Em maio de 2016 foi realizada uma atualização com a inclusão de vá-
Sumário 257
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 258
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
De acordo com Pepe et al. (2010) existem três ângulos com efeitos negativos:
o primeiro fala sobre o deferimento absoluto de processos, causando proble-
mas ao serviço público infringindo os princípios do SUS. O segundo refere-se
a compra emergencial através de procedimentos sem licitação pública, logo
com maior gasto na aquisição destes medicamentos. O terceiro ângulo refere-
se à segurança do usuário em virtude de possíveis prescrições inadequadas
sem evidências científicas comprovadas.
Sumário 259
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 260
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 261
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 262
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 263
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 264
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Resultados e Discussão
Após a atualização da REMUME do município de Canguçu - RS em 2016, o
número de processos judiciais vem diminuindo expressivamente (gráfico 1).
Percebe-se (gráfico 2) um aumento no número de processos administrativos,
logo a população está procurando essa via, que é mais rápida, para obter seus
tratamentos. Houve um aumento considerável de 2019 para 2020, em espe-
cial os fármacos pertencentes ao componente excepcional.
800
700
600
500
400
300
200
100
0
2015 2020
2020
Excepcional 2019
Especial
Processos
Administrativos
Sumário 265
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
2020
Fora da Lista
2019
Excepcional
Estratégico
Especial
Básico
Processo Judiciais
Em relação aos gastos com processos judiciais, é possível constatar que houve
um aumento expressivo em 2017 e em 2018. A partir de 2019, começou a
ocorrer uma diminuição das despesas judiciais, tendo uma redução significa-
tiva em 2020 (gráfico 4).
Sumário 266
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
R$ 800.000,00
R$ 700.000,00
R$ 600.000,00
R$ 500.000,00
R$ 400.000,00
R$ 300.000,00
R$ 200.000,00
R$ 100.000,00
R$0,00
2015 2016 2017 2018 2019 2020
Este aumento nos gastos judiciais ocorreu devido à falta de envio dos medica-
mentos do Estado ao Município, gerando um custo extra aos cofres públicos
municipais. A Comarca de Canguçu – RS entende que a guarda é comparti-
lhada, ou seja, ambos, Município e Estado, são responsáveis pelo fornecimen-
to dos medicamentos à população. Além disso, o preço dos medicamentos é
reajustado periodicamente, elevando as despesas na aquisição dos mesmos.
Sumário 267
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
R$ 140.000,00
R$ 120.000,00
R$ 100.000,00
R$ 80.000,00
R$ 60.000,00
R$ 40.000,00
R$ 20.000,00
R$0,00
2016 2017 2018 2019 2020
R$ 1.600.000,00
R$ 1.400.000,00
R$ 1.200.000,00
R$ 1.000.000,00
R$ 800.000,00
R$ 600.000,00
R$ 400.000,00
R$ 200.000,00
R$0,00
2016 2017 2018 2019 2020
Conclusão
Este trabalho apresentou um comparativo dos gastos com processos judiciais
contra o município de Canguçu - RS antes e após a atualização da REMUME,
através do PES. Conclui-se que a utilização desta ferramenta, que proporcio-
nou um trabalho colaborativo, auxiliou na redução do número de processos
judiciais, através de um melhor planejamento na compra de medicamentos,
tendo por base o perfil epidemiológico da população. Apesar da diminuição
no número de processos judiciais, as despesas do município tiveram um au-
mento significativo, pois a redução dos gastos não depende exclusivamente
do planejamento da Secretaria Municipal de Saúde, o governo do estado do
Rio Grande do Sul também precisa fazer a sua parte, enviando ao Município
os fármacos de sua competência.
Sumário 268
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Referências
ARTMANN, Elizabeth. O planejamento estratégico situacional no nível local: um
instrumento a favor da visão multissetorial. 2000. Disponível em: <http://www6.ensp.
fiocruz.br/repositorio/resource/356595>. Acesso em: 16 mai. 2021.
Sumário 269
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
CHIEFFI, Ana Luiza; BARATA, Rita de Cássia Barradas. Ações judiciais: estratégia
da indústria farmacêutica para introdução de novos medicamentos. Revista de Saú-
de Pública. São Paulo, p. 421-429, 2010. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S0034-89102010000300005&lng=pt&nrm=iso>. Acesso
em: 16 mai. 2021.
PEPE, Vera Lúcia Edais [et al]. A judicialização da saúde e os novos desafios da
gestão da assistência farmacêutica. Ciência & saúde coletiva. Rio de Janeiro, p.
2405-2414, 2010. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttex-
t&pid=S1413-81232010000500015&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 16 mai. 2021.
Sumário 270
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
TREZZI, Humberto; OTERO, Julia. Com 113 mil processos, o RS é campeão na-
cional em ações judiciais na saúde. Jornal Zero Hora. Porto Alegre: 3013. Dispo-
nível em: <http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/noticia/2013/11/com-113-mil-proces-
sos-rs-e-campeao-nacional-em-acoes-judiciais-na-saude-4336052.html>. Acesso em:
16 mai. 2021
VIEIRA, Fabiola Sulpino; ZUCCHI, Paola. Distorções causadas pelas ações judi-
ciais à política de medicamentos no Brasil. Revista de Saúde Pública. São Paulo, p.
112-126, 2007. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttex-
t&pid=S0034-89102007000200007&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 16 mai. 2021.
Sumário 271
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Resumo
Considerando a importância do acesso e promoção do uso
racional de medicamentos, criou-se um convênio, entre a
Universidade Federal de Pelotas (UFPel), o Conselho Re-
gional de Farmácia do Rio Grande do Sul (CRFRS) e a
Defensoria Pública do Rio Grande do Sul (DPERS). Esse
Sumário 272
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 273
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Introdução
O direito à saúde no Brasil é garantido pela Constituição Federal de 1988
como um direito social a ser realizado por meio de políticas públicas que, en-
tre outras tarefas, devem promover e garantir o acesso universal e igualitário
às ações e serviços para promoção, proteção e recuperação da saúde dos cida-
dãos (BRASIL, 1988). Assim sendo, coloca-se o Estado como responsável pela
promoção de bens e serviços relacionados à saúde, abrindo caminhos para o
processo de judicialização do direito à saúde (BRITO, 2011).
Sumário 274
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
prolongado com alto custo unitário, cujas linhas de cuidado estão definidas
em Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas - PCDT, publicados pelo Mi-
nistério da Saúde (RENAME, 2015).
Sumário 275
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 276
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Este projeto tem importância social e comunitária, uma vez que propicia re-
dução do tempo de espera para acesso ao medicamento e racionaliza a soli-
citação de judicialização quando esta se faz necessária, fornecendo tanto ao
prescritor quanto à Defensoria Pública, subsídios para a obtenção do melhor
resultado final. Também propicia diminuição dos processos judiciais para
aqueles medicamentos pertencentes às listas da AF, reduzindo desta forma os
custos públicos que provêm de todo o processo judicial assim como os custos
gerados pela aquisição destes medicamentos demandados, que muitas ve-
zes afetam expressivamente o orçamento da gestão. Ainda, quando possível,
enrobustece o pedido fundamentado na Medicina Baseada em Evidências
(MBE), aumentando, assim, as chances de deferimento. Em consequência
destas características, o usuário tem acesso mais rápido ao seu tratamento e
de forma mais racional.
Desenvolvimento
O município de Pelotas foi o local da realização deste trabalho. A cidade con-
ta, de acordo com o último censo, com 328.275 habitantes (IBGE, 2020). O
trabalho foi executado através de um convênio tripartite entre a Universida-
de Federal de Pelotas (UFPel), a Defensoria Pública do Estado do Rio Grande
do Sul (DPERS) e o Conselho Regional de Farmácia do Rio Grande do Sul
(CRFRS). A UFPel é uma instituição de ensino superior, extensão e pesquisa
reconhecida nacional e internacionalmente. Desde a assinatura do acordo e
Sumário 277
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 278
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 279
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Embasamento
técnico-científico Solução
administrativa
Consulta Parecer
técnica INTERNO Ajuizamento
Sumário 280
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 281
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Resultados
Nos quatro anos do projeto foram realizados 44, 51, 20 e 56 pareceres, res-
pectivamente, tendo média de 42,75 pareceres por ano. Ao todo foram judi-
cializados 296 medicamentos, uma média de 1,73 medicamentos por proces-
so (Tabela 1). Foram incluídos todos os pareceres encaminhados ao grupo de
estudo da UFPel no período citado.
Sumário 282
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Tabela 1 Dados
Média de medi-
Medicamentos
Período Pareceres camentos por
judicializados
processo
1° ano 44 74 1,68
2° ano 51 75 1,47
3° ano 20 41 2,05
Sumário 283
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 284
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
F - Transtornos mentais e
25% 19% 21% 23%
comportamentais
I - Doenças do
16% 22% 21% 20%
aparelho circulatório
J – Doenças do
15% 3% 6% 9%
aparelho respiratório
G - Doenças do
7% 8% 6% 11%
sistema nervoso
C00 a D48 –
6% 3% 6% 5%
Neoplasias
K – Doenças do
2% 6% 6% 3%
aparelho digestivo
Sumário 285
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Conclusão
O projeto de inserção da judicialização de medicamentos na resolução de
processos vem gerando bons resultados desde sua criação. A contribuição do
conhecimento técnico do profissional farmacêutico na análise das demandas
por medicamentos tem contribuído para o melhor entendimento dos profis-
sionais do Judiciário quanto aos aspectos técnicos que envolvem a tomada de
decisão. Com a experiência adquirida ao longo da avaliação dos processos,
podemos observar que se faz necessário um trabalho de educação continua-
da junto aos profissionais prescritores visando esclarecer pontos que dificul-
tam a análise do mérito do processo, ocasionando atraso na elaboração dos
pareceres e no andamento do processo como um todo. Os pontos a serem
abordados seriam aspectos legais da prescrição, como o emprego da nomen-
clatura genérica na confecção das prescrições, bem como do conhecimento
da equipe clínica quanto aos medicamentos que compõem as relações de me-
dicamentos fornecidos pelo SUS. Além disso, foi identificada a necessidade
de que os prescritores tenham maior cuidado em detalhar o histórico clínico
e terapêutico do paciente.
Sumário 286
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Limitações
Após elaborar os pareceres e liberá-los à DPERS, os membros do grupo de
trabalho da UFPel não tiveram mais acesso ao andamento dos processos. O
DPERS não realiza o rastreamento dos processos após o ajuizamento, sendo
assim, não foi possível avaliar o impacto dos pareceres nos números relacio-
nados com o ajuizamento dos processos.
Agradecimentos
Os autores agradecem às defensoras Gabriela Przybysz Vaz (DPERS) e Eleo-
nora Mascarenhas Mendonça Caldeira (DPERS) pela cordialidade no tra-
balho e oportunidade de atuação conjunta, a docente Farmacêutica Maria
Cristina Werlang (UFCSPA) pelo empenho na viabilidade e atuação nas fases
iniciais, assim como aos farmacêuticos Zelma Padilha (CRFRS), William Peres
(CRFRS) e Éverton Borges (CRFRS) pela viabilidade do convênio e apoio.
Por fim, agradecemos à Pró-Reitoria de Extensão e Cultura e à Pró-Reitoria
de Pesquisa e Pós-Graduação da Universidade Federal de Pelotas pela dispo-
nibilidade de bolsas aos alunos participantes.
Referências
AITH, F. et. al. Os princípios da universalidade e integralidade do SUS sob a pers-
pectiva da política de doenças raras e da incorporação tecnológica. Revista Direito
Sanitário. 2014, v. 15, n. 1, p.10-39.
Sumário 287
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
BIEHL, J. SOCAL, M.P. AMON, J.J. The Judicialization of Health and the Quest
for State Accountability: Evidence from 1,262 Lawsuits for Access to Medicines in
Southern Brazil. Health and Humans Hight Journal. 2016, v. 18, n. 1, p. 209-220.
Sumário 288
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
FREITAS, B.C. FONSECA, E.P. QUELUZ, D.P. A Judicialização da saúde nos siste-
mas público e privado de saúde: uma revisão sistemática. Interface – Comunicação,
Saúde, Educação. 2020, v. 24.
OLIVEIRA, J.A.C. FORTES, P.A.C. De que reclamam afinal? Estudo das ações
judiciais contra uma operadora de plano de saúde. Revista Direito Sanitário. 2013, v.
13 n. 3, p.33-58.
Sumário 289
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
VIEIRA, F.S. Ações judiciais e direito à saúde: reflexão sobre a observância aos
princípios do SUS. Revista de Saúde Pública. 2008, v. 42, p.365-9.
ZIOLKOWISKI, M.I. et. al. Judicialization of Health: lawsuits for access to medici-
nes in Uruguaiana-RS. ABCS Health Science. 2021, v. 46, n. 1, p. 1-6.
Sumário 290
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Resumo
A presente pesquisa se justifica pela necessidade de se ve-
rificar até que ponto as políticas públicas de saúde, espe-
cificamente da Covid-19, sofrem interferência do Poder
Judiciário e agravam a disseminação do novo coronavírus.
Objetiva-se verificar a evolução das políticas municipais de
enfrentamento à Covid-19; identificar as ações judiciais re-
lacionadas à Covid-19; e analisar a interferência das deci-
sões judiciais nas políticas municipais. Utilizaram-se dados
(ações judiciais) obtidos através da Procuradoria Geral do
Município de Goiânia entre 1º de março a 31 de dezem-
bro de 2020. Contemplaram-se os seguintes indicadores:
Sumário 291
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 292
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Introdução
A Covid-19, doença causada pelo coronavírus denominado SARS-CoV-2, foi
registrada na China, em dezembro de 2019. Em 30 de janeiro de 2020, a
Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que a epidemia da Covid-19
constituía uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacio-
nal (ESPII) e, em 11 de março de 2020, uma pandemia (CRODA; GARCIA,
2020).
4 An emergency situation in which people are not allowed to freely enter, leave, or move around in
a building or area because of danger (Cambridge Dictionary).
Sumário 293
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
O objetivo principal deste trabalho é analisar se, por meio das decisões do
Poder Judiciário, houve flexibilização nas políticas públicas de combate à
pandemia da Covid-19.
Sumário 294
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Desenvolvimento
No município de Goiânia foi editado o primeiro decreto municipal em 13 de
março de 2020 sobre o enfrentamento ao novo coronavírus. Fundamentou-
se na Emergência em Saúde Pública de Importância Internacional da Orga-
nização Mundial da Saúde, de 30 de janeiro de 2020, declarando SITUA-
ÇÃO DE EMERGÊNCIA em Saúde Pública no Município de Goiânia. Na
ocasião, dispensou-se a licitação para aquisição de bens, serviços e insumos de
saúde destinados ao enfrentamento da emergência de saúde pública, criou-
se o Centro de Operações de Emergência em Saúde – COE, determinou-se
quarentena de 14 dias para servidores que estavam em viagem ou férias e
proibiu-se a realização de eventos que pudessem causar aglomeração de pes-
soas, dentre outras (Decreto nº 736).
Sumário 295
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
No dia 17 de março de 2020, foi editado o Decreto Estadual nº 9.637, que foi
implicitamente aderido pelo município de Goiânia. Baseado no aumento dos
casos da doença, suspenderam-se todas as atividades em feiras, inclusive as
feiras livres (hortifrutigranjeiros); shopping centers, galerias e polos comer-
ciais de rua atrativos de compras; cinemas, clubes, academias, bares, restau-
rantes, boates, teatros, casas de espetáculos, clínicas de estética e consultórios
de saúde bucal/odontológica, pública e privada, exceto aquelas relacionadas
ao atendimento de urgências e emergências. Na mesma semana proibiram-se
reuniões e eventos religiosos, filosóficos, sociais e/ou associativos (Decreto nº
9.638, de 20 de março de 2020).
Sumário 296
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 297
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 298
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
5 A região da 44 é um polo de comércio de roupas fazendo com que Goiânia seja o segundo maior
polo de vendas de roupas e calçados do Brasil, atrás de São Paulo, segundo o IBGE.
6 Art. 81, inciso XIX, da Lei n.° 8.741, de 19 de dezembro de 2008, aproximadamente no valor de
R$ 627,38 (seiscentos e vinte e sete reais e trinta e oito centavos).
Sumário 299
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 300
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 301
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Mês 7;
quantidade; 32
Mês 10;
Mês 5; quantidade; 17
Mês 4; quantidade; 7
Mês 9;
quantidade; 1
Mês 8; quantidade; 18
quantidade; 9
Mês 6; Mês 11;
quantidade; 1 quantidade; 3
Chama atenção que dentre 88 processos, apenas 2 foram movidos por pes-
soas físicas, (e 86 por pessoas jurídicas). Destes dois, ambos diziam respeito
à solicitação para liberação de cerimônias de casamento com a justificativa
de que poderiam diminuir o quantitativo de pessoas. Tais argumentos não
foram aceitos e, por conseguinte, foram indeferidos pelo magistrado. Neste
primeiro aspecto processual, há de se entender que, uma vez que as normas
vigentes impediam temporariamente o funcionamento dos estabelecimentos,
restou a busca pela tutela jurisdicional para determinar a possibilidade ao
direito de produção de bens e serviços. O Judiciário neste aspecto assume
dois papéis que não lhe competem: 1) a de gestor público; 2) a de gestor sa-
nitário, uma vez que as determinações e decretos objetivavam gerar menor
circulação de pessoas, isolamento social e minimizar a cadeia de transmissão
do vírus.
Sumário 302
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Tipos de ações
As ações judiciais possuem procedimentos específicos que devem ser segui-
dos tanto pelas partes quanto pelos julgadores. Desta forma, não cabe ao juiz
mudar prazos e inverter procedimentos, sob pena de violar princípios pro-
cessuais como, por exemplo, o princípio do devido processo legal.
80%
17%
1% 1% 1%
Sumário 303
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Motivos
Ao levantar os aspectos acerca da motivação que levou à busca ao Judiciá-
rio, nos deparamos de um lado com conceitos específicos, mas de outro com
conceitos amplamente contextualizados nas mídias populares e redes sociais,
como o caso do “direito de ir e vir”, que no momento da pandemia foi pro-
pagado, sem algum aspecto mais aprofundado. O gráfico 3 retrata quais os
motivos apresentados pelos demandantes.
Direito a
liberdade culto
Princípio
da isonomia
Atividade essencial
PORCENTUAL
Respeita
os protocolos
Estabelecimento
alega CNAE de bar
Direito a liberdade
economica
Outros
Ainda nesta seara, a busca ao Judiciário foi, durante toda a pandemia, in-
cessante, ao solicitar que os magistrados pudessem declarar a essencialidade
Sumário 304
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Demandantes
Demandantes são as pessoas (físicas ou jurídicas) que reivindicam seus direi-
tos em face de outrem. Também são denominados de “autores” em face do(s)
“réu(s)”. Os demandantes podem propor ações de forma individual ou em
conjunto, desde que exista comunhão de direitos, conexão pelo pedido ou
pela causa de pedir ou ocorrer afinidade de questões por ponto comum de
fato ou de direito (DIDIER JR, 2015).
Sumário 305
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Gráfico 4 Demandantes
Sindicatos; Quantidade; 2; 2%
Hotel; Quantidade; 2; 2% Condomínio Residencial;
Quantidade; 7; 8%
Casamento; Quantidade; 2; 2%
Estética; Quantidade; 3; 3%
Varejo; Quantidade; 4; 5%
Casa Noturna; Quantidade; 5; 6%
Condomínio; Quantidade; 4; 5%
Berçário; Quantidade; 4; 5% Clubes Recreativos; Quantidade; 5; 6%
Bares; Quantidade; 5; 6%
Dos pedidos
O pedido é a conclusão da exposição dos fatos e dos fundamentos jurídicos,
exprimindo o que o autor pretende em face das políticas determinadas pelos
gestores. Sua finalidade é dupla: obter a tutela jurisdicional do Estado (uma
condenação, uma declaração) e fazer valer um direito subjetivo frente ao réu.
Sumário 306
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Quantidade;
Retomar
atividades; 52
Quantidade;
Quantidade;
Flexibilização
Suspensão Quantidade; Quantidade;
da área Quantidade;
Interdição; 12 comum; 10 Acesso Criança Realizar
12 anos; 3 Assembleia; 3 Outros; 6
Concessão de liminares
Nos casos que requerem uma prestação jurisdicional urgente é possível a
prolação de decisões provisórias até que seja proferida a definitiva. São as
Sumário 307
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
8 Fato ocorrido com mandados de segurança impetrados por escolas, pois com a liberação das ativi-
dades escolares em 19 de outubro de 2020 (Decreto nº 1.851), tornou-se desnecessária a manutenção
da ação judicial.
Sumário 308
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Indeferidas; Participação;
Defiridas; Participação;
0,423076923076924; 42%
0,576923076923079; 58%
Conclusão
O presente trabalho abordou a temática da saúde pública e das relações sa-
nitárias presentes na pandemia de Covid-19 criando uma relação frente às
decisões tomadas pelo Poder Judiciário em face das políticas públicas imple-
mentadas no município de Goiânia, capital do Estado de Goiás.
Sumário 309
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Referências
BRASILA. Ministério da Saúde (BR). Ministério da Saúde declara trans-
missão comunitária nacional [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde;
2020 [citado 2020 abr 7]. Disponível em: https://www.saude.gov.br/noticias/
agencia-saude/46568-ministerio-da-saude-declaratransmissao-comunitaria-nacional
Sumário 310
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
CASTRO Márcia C., CARVALHO Lucas Resende, CHIN Taylor, KAHN Rebec-
ca, FRANCA GiovannyA., MACARIO Eduardo Marques, OLIVEIRA, Kleber de.
Demand for hospitalization services for COVID-19 patients in Brazil. MedRxiv
[Internet]. 2020 ABR [citado 2020 Apr 7]. Disponível em: https://www.medrxiv.org/
content/10.1101/2020. 03.30.20047662v1
CHIEN Li». Influenza. fn: Hoeprich, P,D. {ed.): Infectious diseases, 3 cd, Philadel-
pliia, Harper & Row Publ., 1983.
CRODA Júlio Henrique R., GARCIA Leila Posenato. Resposta imediata da Vigi-
lância em Saúde à epidemia da COVID-19. EpidemiolServ Saúde [Internet]. 2020
mar [citado 2020 abr 7];29(1):e2020002. Disponível em: https://doi. org/10.5123/
s1679-49742020000100021
Sumário 311
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 312
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Resumo
A saúde é garantida ao cidadão brasileiro na Constituição
Federal e, com objetivo de efetivar este direito, o Poder
Judiciário intervém nas políticas públicas determinando
Sumário 313
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 314
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Introdução
A garantia constitucional da saúde como um direito social a ser assegurado
pelos entes federados (União, Estados e Municípios) aparenta ser a causa da
judicialização da saúde. Esta se manifesta como forma de efetivar o cumpri-
mento de tal direito, tendo em vista que há grandes dificuldades na imple-
mentação de políticas estatais no país (BRASIL, 1988; ANDRADE; JÚNIOR;
FERREIRA, 2017). A Lei Orgânica da Saúde (Lei nº 8.080/1990) reconhece a
necessidade de formulação da política de medicamentos a partir da responsa-
bilidade de execução das “ações de assistência terapêutica integral, inclusive
farmacêutica” (BRASIL, 1990).
A judicialização pode ser uma via legítima de defesa dos direitos dos indiví-
duos em casos nos quais o Estado não consegue efetivar as políticas públi-
cas de acesso aos serviços de saúde, incluída a Assistência Farmacêutica (AF)
(TORRES, 2010). Também pode indicar uma incapacidade do Poder Público
em atender as necessidades básicas da população, seja pela falta dos medica-
mentos, seja pela falta de recursos humanos capacitados, o que torna mais
complexa essa realidade (CHIEFFI; BARATA, 2009).
Sumário 315
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 316
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Metodologia
Trata-se de um estudo transversal, retrospectivo com abordagem descritiva
que analisou as demandas judiciais atendidas pela AF do município de Vitó-
ria da Conquista, Bahia, no período de janeiro de 2013 a julho de 2017.
Nos processos em que não constavam dados referentes à renda familiar men-
sal per capita nas fontes sugeridas pelo referido manual, foi utilizada a classi-
ficação de hipossuficiente ou não-hipossuficiente, considerando a origem do
processo, impetrado pela Defensoria Pública ou não, respectivamente, e de
acordo com os critérios utilizados pela referida instância.
Sumário 317
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Resultados
No período determinado para o estudo, foi encontrado um total de 240 ações
judiciais nas quais foi exarada decisão liminar ou de antecipação de tutela
em favor do autor, para o fornecimento de medicamentos, insumos, fórmu-
las alimentares e fraldas (no período avaliado, não existia em cumprimento
nenhum processo com sentença). Ao agrupar as ações judiciais que deman-
daram apenas insumos, alimentos e fraldas, sem solicitação de pelo menos
um medicamento, foram excluídas da análise 80 ações. Ao fazer a busca pe-
los termos que comprovavam o recebimento do medicamento, observou-se
a existência de 33 ações judiciais cujas liminares ou antecipações de tutela
foram concedidas em período anterior a 2013 (2009 a 2012), mas que ainda
tiveram cumprimento no período selecionado para o estudo e, por tal moti-
vo, foram adicionadas para análise.
Sumário 318
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
No caso do indicador renda per capita mensal, não foi possível sua avaliação,
pois nos processos não consta esta informação. Há apenas em boa parte deles
declarações de hipossuficiência, quando estas são impetradas pela Defensoria,
ou declarações de carência, quando impetradas por advogados particulares ou
dativos. Desta forma, não foi possível analisar as diferenças na concentração da
renda familiar, já que 79,8% dos processos contavam com declaração de hipos-
suficiente e 14,5% dos processos não continham informação alguma quanto à
condição financeira do autor, de acordo com a Tabela 1.
indicador frequência %
Não-hipossuficiente 11 5,7
1–4 9 4,7
5–9 14 7,2
10 – 14 16 8,3
15 – 19 26 13,5
20 – 59 39 20,2
60 – 69 49 25,4
Sumário 319
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
indicador frequência %
Doméstica 5 2,6
Estudante 15 7,8
Outros 11 5,7
Sumário 320
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Tabela 2 Tempo mínimo, médio, máximo e mediano, em dias, para concessão de liminar,
intimação da instância de saúde e fornecimento do medicamento ao autor
Máximo 225 41 93
Mínimo 1 1 28
Médio 28 8 52
Mediano 13 6 61
Sumário 321
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Em se tratando da razão das ações judiciais coletivas, indicador 10, nesta avalia-
ção nenhum dos processos que demandavam medicamentos era ação coletiva
(todos tratavam de demandas individuais).
Sumário 322
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
indicador frequência %
Sumário 323
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
indicador frequência %
Trombofilia 5 2,6
Sumário 324
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Para análise das prescrições por nome genérico, foi considerada todas as vezes
em que o medicamento foi prescrito, e cada uma delas foi contabilizada. Des-
sa forma, observou-se que 51,9% dos medicamentos prescritos não estavam
em conformidade com a Denominação Comum Brasileira. A frequência de
medicamentos prescritos que estão selecionados na Relação Nacional de Medi-
camentos Essenciais foi de 38,7%. Todos os processos continham documentos
além da prescrição médica, predominando o relatório médico, seguido de exa-
mes complementares.
Sumário 325
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Tabela 4: Razão de gasto com medicamentos de demandas judiciais nos anos 2015 a 2017*
Razão liminar/
Medicamento por via
ano Programação AF programação
Judicial
(Indicador 9)
Média 0,20
Sumário 326
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
indicador frequência %
Básico 63 22,0
Especializado 40 13,9
Estratégico 8 2,8
Sumário 327
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 328
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 329
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 330
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
itens prescritos), o que mostra que em parte não estão sendo consideradas as
responsabilidades dos entes federativos, neste caso, a responsabilidade do Es-
tado e/ou União.
Conclusão
A avaliação dos indicadores mostrou que ainda há uma escassez de informa-
ções socioeconômicas sobre os autores de ações judiciais, não podendo assim
afirmar se há ou não uma classe social ou grupo específico menos favorecido.
Ficou clara a necessidade de verificar se o maior percentual de idosos recor-
rendo à via judicial se deve ao fato de o sistema de saúde não estar conseguin-
do garantir o acesso aos medicamentos, à pressão da indústria farmacêutica
sobre os prescritores para indicação dos medicamentos de suas marcas (já
que mais de 50% não foi prescrito com nome genérico) ou apenas a falha
na comunicação e divulgação por parte do setor saúde, o que causa a não
utilização da REMUME, resultando em prescrições de medicamentos não
fornecidos pelo município.
Sumário 331
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Referências
ANDRADE, L.C.; JÚNIOR, J.B.; FERREIRA, L.N.; OLIVEIRA, M.H.B. Direito à
saúde e judicialização: estudo dos processos judiciais em saúde no município de
Vitória da Conquista (BA). In: Direitos humanos e saúde: construindo caminhos,
viabilizando rumos./
Sumário 332
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
LEITÃO, L.C.A.; SILVA, P.C.D. da; SIMÕES, A.E.O.; BARBOSA, I.C.; PINTO,
M. E. B.; SIMÕES, M.O.S. Análise das demandas judiciais para aquisição
de medicamentos no estado da Paraíba. Saúde e Sociedade, [S.L.], v. 25, n.
3, p. 800-807, set. 2016. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/
s0104-12902016153819.
Sumário 333
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
PEREIRA, J.G.; PEPE, V.L.E. Acesso a medicamentos por via judicial no Paraná:
aplicação de um modelo metodológico para análise e monitoramento das
demandas judiciais. Revista de Direito Sanitário, [S.L.], v. 15, n. 2, p. 30, 6 jan.
2015. Universidade de São Paulo Sistema Integrado de Bibliotecas - SIBiUSP. http://
dx.doi.org/10.11606/issn.2316-9044.v15i2p30-45.
SIQUEIRA, P.S.F. de. Judicialização em saúde no estado de São Paulo. In: Para
entender a Gestão do SUS 2015 / Direito à Saúde / Conselho Nacional de Secretários
de Saúde – Brasília: CONASS, 2015. 113 p.
Sumário 334
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Resumo
No Brasil, a discussão sobre o acesso às ações e aos servi-
ços de saúde pela via judicial ganhou importância teórica
e prática ao suscitar crescentes debates entre acadêmicos,
operadores do direito, gestores públicos e sociedade civil.
Objetivo: Analisar as demandas e as causas de judiciali-
zação da saúde no Estado do Piauí. Métodos: Estudo de
caso quantitativo, descritivo, longitudinal e exploratório,
realizado nas Secretarias Municipais de Saúde, Complexo
Regulador Estadual e Farmácia de Dispensação de Medi-
camentos Excepcionais do Piauí, no período de maio de
Sumário 335
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 336
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Introdução
No Brasil, a Declaração Universal dos Direitos Humanos e a Constituição Fede-
ral, promulgada em 1988, concretizaram a universalização do direito à saúde
por meio de instrumentos normativos e de programas estratégicos que permi-
tiram ao cidadão reivindicar o acesso aos tratamentos e aos insumos necessários
para promoção, proteção e recuperação da saúde, assim como à participação
social na gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) (ONU, 1948; BRASIL, 2016).
Sumário 337
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Outras discussões sobre o acesso às ações e aos serviços de saúde pela via
judicial vem crescendo em todos os estados brasileiros e ganhou importância
teórica e prática ao suscitar debates entre acadêmicos, operadores do direito,
gestores públicos, profissionais e sociedade civil, trazendo para o centro da
discussão a atuação do Poder Judiciário em relação à garantia do direito à
saúde (VERBICARO et al., 2017).
Método
Trata-se de estudo de caso quantitativo, descritivo, longitudinal e explorató-
rio, desenvolvido no Programa de Mestrado Profissional em Saúde da Mu-
lher. Os dados foram obtidos nas Secretarias Municipais de Saúde, no Com-
Sumário 338
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Ainda, foi realizada revisão da literatura nas bases de dados que compõem o
portal Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) utilizando os seguintes Descritores
em Ciências da Saúde (DeCS): Judicialização da Saúde; Acesso aos Serviços de
Saúde e Rede de Comunicação de Computadores. A combinação dos termos
de busca foi realizada por meio do operador booleano AND e para inclusão das
evidências consideraram-se artigos primários, teses e dissertações, publicados
no período de 2008 a 2019, nos idiomas português, inglês ou espanhol.
Sumário 339
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Resultados
Neste estudo participaram gestores procedentes dos seguintes municípios:
Teresina, Oeiras, Uruçuí, Pimenteiras, Piripiri, Elesbão Veloso, Bom Jesus,
Floriano, Bocaina, Francisco Ayres, Joaquim Pires, São Gonçalo do Gurguéia,
Campo Maior, Angical do Piauí, Ribeiro Gonçalves, Picos, Parnaíba, Coronel
José Dias, além dos responsáveis pela Farmácia de Medicamentos Excepcionais
Sumário 340
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Variável n % p-valor
Farmácia 5 25,0
Causa da Judicialização
Medicamentos 13 65,0
Leito 1 5,0
Diagnóstico 7 25,0
Tratamento 8 28,6
0,9941
Desfecho 9 32,1
Outro 4 14,3
Sumário 341
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Variável n % p-valor
Resolutiva 11 55,0
Surpreso 5 25,0
Insegurança 3 15,0
Ameaçadora 2 10,0
Tranquila 2 10,0
Sumário 342
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
60% 40%
Não Sim
Fonte: Pesquisadores.
Sumário 343
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Categoria Percepção
Fonte: Pesquisadores.
Sumário 344
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Categoria Percepção
Sumário 345
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Categoria Percepção
Fonte: Pesquisadores.
Discussão
O processo de judicialização da saúde no estado do Piauí constituiu uma prática
expressiva na busca pela aquisição de recursos diagnósticos e terapêuticos, sendo
realidade expressiva em municípios de grande e de pequeno porte, com popu-
lações que variam entre 3.041 e 864.845 habitantes. Não foi possível identificar
uma diferença significativa no tipo das demandas judicializadas em razão do
tamanho do município.
Sumário 346
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 347
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
ça que parcela significativa de municípios não conta com insumos para este
monitoramento. Assim, o resultado dos recursos empenhados nos processos
judicializados não tem acompanhamento se não houver estreita colaboração
entre a Justiça e a Saúde.
Indagada sobre qual reação teve ao receber o processo judicial, a maioria ex-
pressou tranquilidade, seguida de sentimentos de surpresa e de insegurança.
Há relatos ainda de que, na grande maioria, a judicialização ocorreu sem
contato direto com o usuário, embora boa parte dos envolvidos abordasse o
gestor de forma ameaçadora.
Sumário 348
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Outro estudo desenvolvido por Pepe et al. (2010) apresenta os fatores de dificul-
dade que devem ser considerados, fazendo-se importante compreender e de-
senvolver instrumentos operacionais. Um deles envolve a criação de mecanismos
para constante atualização de informações sobre a demanda judicial, que possam
ser compartilhadas entre os diversos atores e setores envolvidos na garantia do
direito à assistência farmacêutica.
Conclusão
Este estudo evidenciou que a judicialização da saúde no estado do Piauí cons-
tituiu uma prática expressiva e que ocorre nos diversos municípios piauien-
ses. A atuação dos participantes se concentrou em clínicas médicas, setores
Sumário 349
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Referências
ANDRADE et al. A judicialização da saúde e a política nacional de assistência
farmacêutica no Brasil: gestão da clínica e medicalização da justiça. Rev Méd Minas
Gerais, v. 18, n. 4, S 46-50, 2008.
Sumário 350
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 351
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 352
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Resumo
O direito à saúde é definido como um direito de todos e
um dever do Estado, estando condicionado à implemen-
tação das políticas públicas de saúde, que dependem das
decisões dos administradores e da disponibilidade de re-
cursos financeiros. Por ser interpretado como um direito
absoluto e ilimitado, a insatisfação social com a ausência
de concretização do direito à saúde acarretou o fenômeno
da judicialização, que aumenta expressivamente todos os
anos. Esse fenômeno acarreta a desorganização das polí-
ticas públicas de saúde, uma vez que gera o atendimen-
to individualizado em detrimento do coletivo. O trabalho
problematiza a relação entre o acesso à justiça e a efetivi-
Sumário 353
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 354
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Introdução
As normas constitucionais que asseguram o direito à saúde não podem ser
interpretadas como um direito individual ao acesso gratuito e ilimitado aos
meios de proteção à saúde. Por exigirem uma prestação positiva do Estado
para a sua implementação, através de políticas públicas de saúde, estão con-
dicionadas às decisões dos administradores e à disponibilidade de recursos
financeiros. A concretização desse direito fundamental ensejou a ascensão do
Poder Judiciário como garantidor dos direitos negados pelos Poderes Exe-
cutivo e Legislativo, diante da incapacidade do Estado de efetivar integral-
mente o direito à saúde. A insatisfação social com a ausência da concretização
dos direitos fundamentais, especialmente do direito à saúde, acarretou o fe-
nômeno da judicialização.
Sumário 355
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
O direito à saúde
Internacionalmente, o direito à saúde foi reconhecido em 1948 pela Orga-
nização Mundial de Saúde (OMS), em seu documento de criação. Durante
a Conferência Internacional sobre Cuidados Primários da Saúde, o conceito
de saúde foi definido como um “estado completo de bem-estar físico, mental
e social, e não apenas a mera ausência de doença” na Declaração de Alma-A-
ta (1978), que ainda afirma se tratar de um direito humano fundamental.
Nesta Conferência, foi estabelecido que a saúde é a mais importante meta
social mundial, sendo necessária a participação efetiva dos Estados para a
promoção de políticas de saúde que visem o bem-estar físico, mental e social
da população.
Sumário 356
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 357
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Conforme exposto, para Canotilho e Moreira (1984, p. 342 apud SILVA, J.,
2015, p. 312) o direito à saúde apresenta duas vertentes, a primeira vertente
tem natureza negativa, ao impor ao Estado ou terceiros a supressão de atos
prejudiciais à saúde, e a segunda vertente tem natureza positiva, uma vez
que consiste no dever do Estado de executar medidas e prestações visando a
prevenção das doenças e seu tratamento. Nesse sentido, Figueiredo e Sarlet
(2008, p. 7) afirmam que os deveres fundamentais relacionados ao direito à
saúde podem impor obrigações originárias, como a implementação do Siste-
ma Único de Saúde, a aplicação mínima dos recursos em saúde e o dever de
respeito à saúde, e também obrigações derivadas quando o direito à saúde
depende de regulação pela legislação infraconstitucional.
Sumário 358
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
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Sumário 360
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Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Para Castro (2014 apud GEBRAN NETO; SCHULZE, 2015, p. 29-30), o di-
reito à saúde no Brasil está atrelado ao mito do governo grátis, no qual o
Estado deve prestar tudo sem nenhum custo. Esse pensamento incentiva até
mesmo o próprio Poder Judiciário a tomar decisões que desequilibram o sis-
tema público de saúde.
Sumário 364
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
(ii) ineficiência alocativa, uma vez que remédios são adquiridos em pequena
escala para atender às decisões, por vezes desconsiderando a existência de
alternativas similares disponíveis nas listas oficiais; e
Sumário 365
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 366
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
A autora apresenta alguns impactos negativos das decisões judiciais que descon-
sideram as normas de funcionamento do SUS, uma vez que o Poder Judiciário:
Sumário 367
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
No que tange às políticas públicas de saúde, esse avanço foi conquistado com a
instituição da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (CO-
NITEC), órgão responsável pela incorporação de tecnologias no SUS. Através
desse órgão a administração pública realiza a atualização dos protocolos clíni-
cos e diretrizes terapêuticas e da RENAME, demonstrando uma tentativa de
consolidar as políticas públicas através de ferramentas que orientam os profis-
sionais da saúde e os pacientes sobre os tratamentos disponibilizados no SUS.
Sumário 368
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 369
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Através da análise dos processos judiciais foi verificado que o Poder Judiciá-
rio ao condenar a Fazenda Pública Municipal, não embasa a decisão em co-
nhecimentos científicos da medicina baseada em evidências, ocasionando di-
versos efeitos, como à desorganização orçamentária e a ineficiência dos gastos
públicos com despesas para atender as determinações judiciais individuais
em detrimento do atendimento coletivo.
Apesar da não fixação da tese os votos dos ministros Luís Roberto Barroso e
Alexandre de Morais propõem um diálogo entre o Poder Judiciário e os en-
tes com capacidade técnica para a avaliação das tecnologias em saúde, como
a CONITEC, a fim de verificar se o medicamento pleiteado não possui substi-
tuto terapêutico incorporado ao Sistema Único de Saúde e a comprovação da
eficácia, segurança e efetividade do medicamento pleiteado fundamentada
na medicina baseada em evidências.
Sumário 370
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 371
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Considerações finais
A atuação do Judiciário na judicialização da saúde está atrelada à premissa
do direito à saúde ilimitado e absoluto. As decisões judiciais desconside-
ram as políticas públicas de saúde e a competência de cada ente federativo
quanto à execução das ações e serviços de saúde. A judicialização da saúde,
apesar de demonstrar as falhas na execução das políticas públicas, não re-
sulta em benefício para a população, uma vez que as despesas públicas para
o atendimento das determinações judiciais individuais ocasionam prejuízos
ao atendimento coletivo.
Sumário 372
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Referências
ARAUJO, C. P.; JUNQUEIRA, S. R. S; LÓPEZ, E; M. P. Judicialização da saúde:
saúde pública e outras questões. Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2016. 364p.
Sumário 373
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 374
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 375
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Resumo
A pesquisa tem como objetivo fazer uma análise da judi-
cialização nas políticas públicas de saúde do município de
Araputanga no período de 2015 e 2016 a partir da pers-
pectiva do Ministério Público. Tal propósito se alavanca no
desejo de contribuir para uma gestão participativa, a par-
tir do diálogo sobre o tema entre os poderes constituídos e
os atores sociais, buscando identificar os principais pontos
que levam ao processo de formalização da judicialização.
Adotamos como metodologia a pesquisa bibliográfica, do-
cumental e pela pesquisa de campo, para a qual foi entre-
vistada a representante do Ministério Público Estadual da
Comarca do município de Araputanga - MT. Foi realizado
levantamento do número de ofícios encaminhados pelo
Sumário 376
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 377
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Introdução
A crescente preocupação com a interferência do Poder Judiciário nas ações
do Poder Executivo através do processo de judicialização ganha mais ex-
pressividade no cenário da Administração Pública, uma vez que esta tem
um papel de destaque frente aos demais poderes no cotidiano das pessoas.
Esse aspecto nos leva a crer que a efetivação do direito fundamental à saúde,
atualmente, parece estar intrinsecamente ligada ao processo de judicialização
do direito à saúde.
Por esse motivo, a presente pesquisa analisará esse fenômeno que resulta na
interferência do Poder Judiciário junto ao Poder Executivo, bem como os
efeitos no orçamento público, decorrentes das decisões judiciais que obri-
gam ao fornecimento de medicamentos e a promoção de políticas públicas de
saúde direcionada a indivíduos e não à coletividade. Para que haja a devida
Sumário 378
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
efetivação do direito à saúde como um dos bens da vida a que todo cidadão
deve ter acesso, é primordial o diálogo entre os diferentes atores que prota-
gonizam o processo de judicialização, sendo necessário observar se no mu-
nicípio de Araputanga - MT está presente a necessária aproximação entre o
Poder Executivo e a sociedade no processo de planejamento das ferramentas
de promoção da saúde.
É importante destacar que o processo de política pública não possui uma ra-
cionalidade manifesta, ou seja, o processo de criação de políticas públicas não
é uma ordenação tranquila, na qual cada ator social conhece e desempenha
o papel esperado. Não há, no presente estágio de evolução, alguma possibili-
dade de fazer com que a racionalidade lógica consiga descrever os processos
de política, pois as mesmas acontecem em meio a diferentes tensões.
Para Saraiva (2006, p. 29), a turbulência das políticas públicas gera a sen-
sação da não governabilidade, que se reflete na insegurança frente às ações
governamentais e ainda gera uma percepção de aparente “desordem”. Essa
sensação não afeta apenas o cidadão, mas a todos os atores administrativos,
políticos e seus analistas que constatam a extrema complexidade das políti-
cas públicas e as aparentes debilidades do Estado para cumpri-las. Não obs-
tante, as instituições estatais, como as organizações, buscam a realização de
finalidades que não são exclusivamente resposta às necessidades sociais, mas
também se configuram como ações que estruturam, modelam e influenciam
os processos econômicos.
Sumário 379
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 380
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Portanto, apesar de sempre ter sido dada a devida atenção ao direito à saúde
em todas as Constituições Brasileiras, somente na Constituição de 1988, a
saúde foi elevada à condição de direito fundamental, demonstrando a inten-
ção do legislador brasileiro em estar em sintonia com as declarações interna-
cionais que visam garantir os direitos inerentes à pessoa humana.
Sumário 381
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 382
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
do vírus HIV buscaram, através das demandas judiciais, acesso rápido e efi-
ciente a medicamentos e tratamento eficaz para a doença. Ademais, grada-
tivamente, o Poder Judiciário mostrou-se efetivo na busca por melhorias no
âmbito da saúde e, nesse contexto, as demandas aumentaram e superlotaram
as instâncias judiciais de tomada de decisão.
Sumário 383
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Nesse viés, Marion, Leal e Mass (2015, p. 05) enfatizam que o próprio Poder
Judiciário demonstrou preocupação com o efeito de suas decisões em ma-
téria de direito à saúde e das políticas públicas de direito à saúde, quando
convocou, em face dos inúmeros processos pertinentes à matéria no Supre-
mo Tribunal Federal, a Audiência Pública da Saúde em 2009. A audiência
serviu para questionar o dever do Estado na criação de vagas em UTI’s e
em hospitais, no fornecimento de medicamentos e tratamentos médicos, es-
pecialmente nos casos em que um único tratamento implica em montantes
elevados, além de situações em que o tratamento necessário não está previsto
nos Protocolos do Sistema Único de Saúde.
Sumário 384
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 385
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Quanto ao processo da ACP, a Promotora relata que ela contempla dois en-
tes no polo passivo, isto é, a ação demanda contra o Estado e o Município.
Ela explica que, mesmo sendo competência somente do Estado, é colocado
o município como ente que assume responsabilidade solidária. Quanto aos
pedidos de bloqueio, a representante do MP destaca que ele é requerido em
um eventual descumprimento de liminar, assim, o MP solicita ao juiz que
proceda ao bloqueio das contas do Estado para garantir o fornecimento do
objeto requerido na ação. Nesse movimento processual, o Ministério Público
Sumário 386
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 387
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Quanto às ACPs ajuizadas por motivo da negatória desses ofícios, dos 30 ofí-
cios requerendo medicamentos, 06 foram ajuizados como Ação Civil Pública;
dos 21, referente a tratamentos e consultas médicas, 06 (seis) abriram ACP;
dos 17, requerendo exames, somente 01 levou a ajuizamento de ACP; dos 15
relativos a procedimentos cirúrgico, 03 levaram a ser ajuizadas ACPs.
Nº de ACPs
Objetos Requeridos Arquivados
requisições Ajuizadas
Medicamentos 30 6 24
Tratamentos e Consultas 21 6 15
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Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Nº de ACPs
Objetos Requeridos Arquivados
requisições Ajuizadas
Exames 17 1 16
Cirurgias 15 3 12
Materiais e insumos 8 0 8
Internação 3 0 3
Prótese 1 0 1
TOTAL 95 16 79
Podemos observar no gráfico abaixo que grande parte dos ofícios foi atendi-
da em vias administrativas, ou seja, a demanda inicial apontada pelo ofício do
Ministério Público foi arquivada por ter sido atendida e por isso não foram
judicializadas, isto é, não ensejaram a abertura de ACPs.
Sumário 389
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
35
30
25
20
15
10
5
0
Medicamentos Exames Tratamentos Cirurgias Materiais Prótese Internação
e consultas de insumos
Esses resultados são bastante relevantes para a pesquisa; pois, conforme o en-
tendimento de Marion, Leal e Mass (2015), a posse desses dados se torna um
momento de fortalecimento da gestão do SUS, visto que a gestão municipal
passa a conhecer quais foram os pontos que necessitam de implementação e
que mais geraram requerimentos em demandas judiciais. Da mesma forma,
se tem ciência dos objetos fornecidos pelo SUS que foram requeridos em
vias administrativas sem atender pontualmente a coletividade e sim algumas
individualidades, demonstrando claramente a falta de planejamento. Logo,
tais resultados possibilitam a visualização dos objetos mais necessitados e mais
demandados pela população do município de Araputanga, o que pode se
tornar um instrumento que auxiliará o Executivo a planejar e aperfeiçoar o
investimento dos recursos da saúde.
Sumário 390
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Neste sentido, Marion, Leal e Mass (2015, p. 06) relatam que todos os dados
levantados podem propiciar momentos de discussão e de diálogo que con-
duzam a uma perspectiva de cooperação e consequente racionalização das
demandas e da atuação do Judiciário. Logo, o diálogo entre os atores envol-
vidos (Poder Judiciário, Secretaria da Saúde, Defensoria Pública, Gabinete
de Assistência Judiciária e a própria sociedade) é fundamental, pois nele são
discutidos os pontos cruciais para se determinar mecanismos que diminuam
a judicialização da saúde, sem comprometer a eficácia e efetividade do direito
fundamental à saúde.
Segundo Marion, Leal e Mass (2015, p. 07) outro ponto a ser observado no
campo da pesquisa são as falhas na execução das políticas públicas existen-
tes no município. Assim, observamos que em Araputanga - MT, a alegação
da escassez de recursos conduz a um embate entre “mínimo existencial” e
“reserva do possível”, o que tem gerado o fenômeno de judicialização do
direito à saúde, quando o Poder Judiciário aparece como um protagonista
importante no espaço da garantia desse direito. Todavia, ao determinar
o fornecimento de determinados medicamentos ou procedimentos, pode
agravar ainda mais as dificuldades orçamentárias e financeiras já vivencia-
das pelo Poder Público Executivo.
Sumário 391
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Portanto, Marion, Leal e Mass (2015, p. 07) discutem que para o debate da
efetivação do direito à saúde é necessário que ocorra um processo de com-
prometimento de inúmeras instâncias do poder, sendo a esfera judicial ape-
nas uma delas.
Sumário 392
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Considerações finais
Ao retornarmos na linha do tempo, podemos observar a grande luta que a
população brasileira enfrentou no século passado, para que então pudésse-
mos hoje ser merecedores dos direitos e garantias fundamentais, dentre eles,
aos serviços de Saúde Pública de forma universal, igualitária e integral. Ade-
mais, a VIII Conferência Nacional de Saúde, realizada em 1986, se tornou o
marco inicial de uma grande batalha da participação da sociedade, reivindi-
cando que todos pudessem ter direitos ao acesso à saúde.
Sumário 393
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Assim, esta pesquisa suscita que representantes de outros poderes, tais como
os gestores públicos (Prefeito Municipal e Secretário de Saúde), Defensor
Público, Magistrado da Comarca e o Presidente do Conselho Municipal de
Saúde, também partes integrantes do fenômeno da judicialização, sejam ou-
vidos, uma vez que implicados na executividade das ações de saúde no mu-
nicípio de Araputanga. Mesmo assim, cumpre-nos sugerir que seja implan-
tado no município de Araputanga um consistente diálogo entre os Poderes
constituídos e a própria sociedade, criando-se mecanismos para minimizar
os efeitos da judicialização da saúde no orçamento do município e realizar
uma gestão democrática e de planejamento com políticas públicas finalísticas
que venham ao encontro das necessidades da comunidade e da efetivação do
direito à saúde.
REFERÊNCIAS
BARBOSA, Valquiria. Análise crítica do princípio da reserva do possível à luz do Sis-
tema Único de Saúde frente à judicialização do direito fundamental à saúde. Revista
Brasileira de Direito Municipal, Belo Horizonte, n. 54, p. 173-184, out./dez. 2014.
Sumário 394
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
MARION, Dgiulia; LEAL, Mônia Clarissa Hennig; MAAS, Rosana Helena. Judiciali-
zação da saúde: um estudo de caso no município de Santa Cruz Do Sul. Santa Cruz
do Sul, 2015. Disponível em: https://online.unisc.br/acadnet/anais/index.php/sidspp/
article/view/13103/2232. Acesso em: 30 set. 2017.
SILVA, Rogerio Lira; SANTOS, José Janaildo dos; RITA, Luciana Peixoto Santa;
PINTO, Ibsen Mateus Bittencourt Santana. Judicialização e Políticas Públicas: o
impacto do fornecimento de medicamentos por determinação judicial no orçamento
da política de saúde do estado de alagoas (2010-2017): Revista de Administração de
Roraima-UFRR, Boa Vista, Vol. 8 n.2, p.326-350, jul-dez. 2018.
SOUZA, Celina. Políticas Públicas: uma revisão da literatura, Sociologias, Porto Ale-
gre, 2003. Disponível em:<http://repositorio.enap.gov.br/bitstream/1/2914/1/160425_
coletanea_pp_v1.pdf>. Acesso em: 30 set. 2017.
Sumário 395
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Resumo
Segundo a OMS, saúde é um estado de completo bem-es-
tar físico, mental e social e não somente a ausência de en-
fermidades. O artigo 196 da Constituição Federal reco-
nhece a saúde como direito de todos e dever do Estado,
sendo Direito Fundamental do ser humano. Nosso sistema
Sumário 396
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 397
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Introdução
Sumário 398
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 399
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
to de ordens judiciais que têm por objeto insumos e serviços que são da esfera
de competência da União e do Estado.
Que o Supremo Tribunal Federal decidiu no Tema 793 (RE 855178) que a
responsabilidade entre os estados é solidária também hoje é pressuposto, na
medida em que decidiu que:
Sumário 400
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
A luz que se deve lançar sobre essas zonas de certezas e incertezas está pre-
sente na Lei nº 12.401/11, que esclarece a necessidade da existência de proto-
colos clínicos definidos. Na ausência desses, tais definições devem ocorrer de
forma pactuada no âmbito das Comissões Intergestores Bipartite e Tripartite
(art. 19-M e art. 19-P).
Assim, para além do que já existe, e deve ser forçosamente utilizado para
atribuir a competência correta de cada ente federado, há que se lançar mão,
onde houver zona cinzenta, daquilo que foi pactuado nas Comissões Inter-
gestores Bipartite e Tripartite.
Desenvolvimento
O estudo foi realizado na Farmácia Judicial, que é responsável pelo atendi-
mento dos mandados judiciais impetrados contra a Prefeitura Municipal de
Campinas. Apesar de os atendimentos envolverem dietas, suplementos ali-
mentares, itens de enfermagem, higiene pessoal, equipamento, entre outros.
O objetivo do estudo foi mensurar o estoque de medicamentos da farmácia
por meio da classificação ABC e da análise baseada na complexidade e valo-
res dos tratamentos.
A curva ABC de estoques teve sua origem em estudos realizados pelo eco-
nomista e sociólogo italiano Wilfredo Frederigo Samaso, ou mais conhecido
Sumário 401
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
como Vilfredo Pareto, que viveu entre os anos 1848 e 1923. Pareto observou
que uma pequena parcela da população desses países, em torno de 20%,
concentrava a maior parte da riqueza, cerca de 80%. Ele observou uma re-
gularidade na distribuição da renda nesses países, a qual não dependia das
características específicas dessas nações (VIANA, 2000). A curva ABC é um
procedimento que tem por objetivo identificar os produtos em função dos
valores que eles representam e, com isso, estabelecer formas de gestão apro-
priadas à importância de cada item em relação ao valor total dos estoques
(VECINA E REINHARDT, 1998).
As informações buscadas para desenhar a curva ABC foram obtidas por meio
do sistema informatizado utilizado pela Secretaria Municipal de Saúde para
auxiliar na gestão de estoque e consideraram o período de janeiro a dezem-
bro de 2020. Este sistema foi parametrizado para fornecer, como valor unitá-
rio médio, o valor referente às últimas aquisições do item.
Tabela 1: Dados obtidos por meio da curva ABC para medicamentos dispensados
pela Farmácia Judicial do Município de Campinas
Percentual Percentual
Quantidades de referente referente
Curvas Valor (R$)
medicamentos à quantidade ao valor total
total de itens (%) dos itens (%)
Sumário 402
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
GRUPO A
Sumário 403
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Dentre os medicamentos que compõem este grupo, observa-se que 39% são
medicamentos destinados ao tratamento oncológico como Ibrutinib, Nivo-
lumabe, Vismodegibe, Abiraterona, Bevacizumabe, Vemurafenibe, Daratu-
mumabe, Cobimetinibe, Trastuzumabe Entansina, Rituximabe, Pazopanibe e
Pertuzumabe. Estes medicamentos representam 28,53% do valor total gasto
pelo município de Campinas para atendimento de mandados judiciais que
visam o fornecimento de medicamentos.
Sumário 404
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
GRUPO B
É composto pelo grupo intermediário. Este grupo representa 16,7% dos itens
fornecidos pela Farmácia Judicial e representa 16% do valor total consumido
em 2020.
Desta forma, para este grupo também seria necessária a análise e discussão
visando a divisão de responsabilidade entre as esferas de governo e participa-
ção das esferas Estadual e Federal.
GRUPO C
Sumário 405
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Desta forma, este grupo é composto de itens com menor custo e em grande
parte menor complexidade. Neste grupo, alguns medicamentos como, por
exemplo, Losartana, Enalapril, Propanolol, Metformina, Glicazida, Sinvasta-
tina, são incorporados pelo SUS, integram a Relação Municipal de Medica-
mentos e são distribuídos gratuitamente nas Unidades Básicas do município.
Quando comparamos o valor médio unitário dos itens que compõem os gru-
pos A, B e C com os medicamentos que compõem a REMUME a diferença é
Sumário 406
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Esta afirmação ganha maior relevo na medida da fixação da tese pelo Supre-
mo Tribunal Federal no âmbito do Tema 793:
Sumário 407
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Conclusão
O cenário encontrado no município de Campinas, embora num contexto
administrativo organizado no que diz respeito ao tratamento que se dá às
ações judiciais, demonstra claramente o peso que as condenações trazem ao
orçamento municipal quando relacionadas a itens que não são de responsa-
bilidade do município, mas da União ou do Estado.
Por certo que não se pretende afrontar ou negar o direito inegável do pa-
ciente-cidadão solicitante e tampouco os princípios fundamentais do direito
sanitário. No entanto, propõe-se que, internamente na rede interfederativa
e perante o Judiciário, deve-se buscar e insistir para que a racionalidade
já regulamentada seja realidade tangível nos municípios deste país. Esse
entendimento é especialmente relevante ao se levar em conta que estes tra-
vam sua luta diuturna para também garantir a segurança farmacêutica do
paciente-cidadão, analisando detidamente as ações judiciais e as prescrições
realizadas e solicitando as adequações pertinentes que resultem em melhor
cumprimento da integralidade da assistência. Esta detida avaliação só pode
ser realizada no “varejo” e individualmente, e não com discussões genéricas
realizadas no “atacado”, incapazes de considerar sutilezas da judicialização
da saúde.
Referências
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESCLEROSE MÚLTIPLA. Incidência e Trata-
mento. ABEM. Disponibilidade: http://www.abem.org.br/incidencia.html. Acesso em:
21/03/2021.
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Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 409
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
123-144.
Sumário 410
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Resumo
A Assistência Farmacêutica (AF) é o conjunto de ações
voltadas à promoção, proteção e recuperação da saúde,
tendo o medicamento como insumo essencial e visa seu
acesso e uso racional. Os recursos financeiros destinados
pela esfera municipal do Sistema Único de Saúde (SUS)
para compra de medicamentos pela via judicial crescem a
cada ano. Diante deste contexto, o objetivo deste estudo
Sumário 411
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 412
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Introdução
A Constituição Federal Brasileira de 1988 (CF/88) consagrou a saúde como
um direito social (art. 6º da CF/88), um direito de todos e dever do Estado,
garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do ris-
co de doença e de outros agravos, bem como o acesso universal e igualitário
às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação (art. 196 da
CF/88). Para isso, o Estado brasileiro, por meio da cooperação mútua entre
a União, os Estados e os Municípios, tem a responsabilidade de formular
e executar as políticas de saúde visando o equilíbrio do desenvolvimento e
do bem-estar-social (art. 23, art. 24 e art. 30 da CF/88) (BRASIL, 1988). No
entanto, este direito é constantemente submetido para apreciação judiciária,
o que implica altos gastos públicos, dificultando direta ou indiretamente a in-
serção de políticas públicas, principalmente da Assistência Farmacêutica (AF)
(MAPELLI JUNIOR, 2015).
Sumário 413
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 414
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Diante desta perspectiva, este trabalho objetivou caracterizar o perfil das de-
mandas judiciais sobre o direito à saúde no contexto da judicialização da
Política de Medicamentos em Campinas - SP, com enfoque no impacto eco-
nômico desse fenômeno no Sistema Público Municipal de Saúde. O presente
diagnóstico pode permitir aos gestores da saúde pública um efetivo planeja-
mento, com estabelecimento de medidas que reduzam os custos atuais decor-
rentes dessas ações judiciais e possibilite que os recursos sejam destinados de
acordo com as políticas de AF implementadas.
Metodologia
O presente estudo é um trabalho retrospectivo, descritivo e quantitativo ba-
seado na análise dos dados extraídos do registro informatizado (Banco de
dados Access) das demandas judiciais, coordenadas pela Farmácia Sub Ju-
dice e das informações quanto ao financiamento da AF fornecidas pelo Fun-
Sumário 415
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
a) Já pertencer a uma das listas oficiais do SUS: RENAME 2020 (BRASIL, 2020);
Relação Municipal de Medicamentos Essenciais - REMUNE / Lista de Medi-
camentos Padronizados para dispensação nas unidades de saúde (02/02/2021)
(PREFEITURA MUNICIPAL DE CAMPINAS, 2021);
Sumário 416
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Resultados
O município de Campinas - SP possui 1.213.792 habitantes (IBGE, 2020) e,
em 2020, 678 pacientes (0,056%) tiveram acesso a pelo menos um medica-
mento, material médico-hospitalar e/ou nutrição enteral/suplementos pela
Prefeitura Municipal de Campinas via decisões judiciais individuais, o que
representou um gasto total anual em dispensações realizadas pela Farmácia
Sub Judice (saídas) superior a 10,5 milhões de reais.
No total, 500 tipos de itens foram dispensados, dos quais 12% pertencem à
Curva A, 17% à Curva B e 72% à Curva C e representam 80%, 15% e 5% dos
gastos, respectivamente. O grupo de itens mais requerido judicialmente foi o
de medicamento (344 itens diferentes, 71% do gasto anual), seguido por ma-
Sumário 417
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Tabela 1: Proporção dos itens de medicamentos solicitados nas ações judiciais em relação
à apresentação farmacêutica disponível para compra no mercado nacional e o recurso
financeiro requerido para aquisição pelo Município de Campinas, São Paulo, Brasil, 2020.
Medicamentos
15 (4%) R$ 10.794,97 (0,1%)
manipulados
Medicamento
importado, sem
3 (1%) R$ 93.335,62 (1,3%)
registro ANVISA e
aprovação CMED
Medicamento com
registro ANVISA
286 (83%) R$ 7.329.071,28 (98,1%)
e aprovação CMED,
fora da REMUNE
Medicamento com
registro ANVISA
e aprovação CMED, 40 (12%) R$ 34.337,87 (0,5%)
constante na
REMUNE
Fonte: Sistema de registro informatizado, Farmácia Sub Judice, 2020 / Relação de medicamentos padronizados
para dispensação nas unidades de saúde, 2021. Secretaria Municipal de Saúde de Campinas / São Paulo.
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Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
100,0%
% do valor total (custo)
80,0%
60,0%
40,0%
20,0%
0,0%
Itens Individualmente
% Individual % Acumulada
c) Duas das tecnologias (4%): caneta auto injetável de adrenalina 0,3 mg (agente
adrenérgico) e sulfonato de poliestireno 454g (tratamento de hipercalemia e
hiperfosfatemia) não estão disponibilizadas no mercado nacional, requerendo
importação cujo preço não é regulado pela CMED;
Sumário 419
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
e) 74,5% foram prescritos com nome comercial, em desacordo com a DCB, dos
quais 38,3% possuíam equivalente terapêutico;
Agentes antineoplásicos e
24 51,1%
imunomoduladores
Aparelho digestivo e
8 17,0%
metabolismo
Sangue e órgãos
2 4,3%
hematopoiéticos
Vários 1 2,1%
Total 47 100%
Sumário 420
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Porcentagem em
Materiais médico-hospi- Itens diferentes Valor total
relação ao valor
talares (n) (R$)
(%)
Bombas de infusão de
21 1.196.213,08 54,5%
insulina e acessórios
Outros acessórios e
29 360.959,24 16,4%
insumos para diabetes
Fraldas / toalhas
28 325.162,33 14,8%
umedecidas
Dispositivos e acessórios
7 148.951,18 6,8%
do trato geniturinário
Dispositivos e acessórios
6 63.140,75 2,9%
de traqueostomia
Dispositivos e acessórios
de nutrição enteral e 13 37.339,98 1,7%
parenteral
Luvas / máscaras
8 16.084,79 0,7%
cirúrgicas
Antissépticos de pele e
6 3.016,77 0,1%
mucosas
Coletor de artigos
perfurocortantes / sacos 2 74,52 0,0%
de lixo descartáveis
Sumário 421
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Salienta-se que a maioria das ações judiciais foi determinada que os itens ti-
vessem marcas específicas. Desta forma, mesmo existindo diversos itens com
a mesma função terapêutica, obriga-se que o município entregue a marca
específica. Além disso, 42 (32,6%) itens dos materiais médico-hospitalares es-
tavam previstos em algum programa ofertado pelo SUS do município ou
poderiam ser substituídos por algum item existente.
2020 R$ 9.650.031,74
2019 R$ 10.428.621,11
2018 R$ 10.372.125,02
2017 R$ 5.978.397
2016 R$ 5.451.662
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Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Discussão
Este trabalho construiu um diagnóstico da judicialização no município de
Campinas - SP e mensurou o impacto econômico global das demandas judi-
ciais sobre os recursos totais utilizados no financiamento da AF no município
em 2020, bem como os recursos liquidados a fim de cumprimento de ações
judiciais na Assistência nos últimos cinco anos (2016 - 2020).
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Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Importante ressaltar que apesar de 2020 ter sido um ano atípico devido à
pandemia causada pelo SARS-CoV-2, não foi observada mudança no perfil
das solicitações de itens da AF via judicialização.
Sumário 424
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Os resultados deste trabalho mostraram que em muitos casos não está ocor-
rendo uma prescrição racional. Por exemplo, mesmo itens que são ofer-
tados pelo SUS ou que poderiam ser substituídos por algum item com de
mesma função terapêutica são judicializados, como é o caso das insulinas
citadas previamente, indicando que o Poder Judiciário e os médicos pres-
critores não levam em consideração os protocolos e políticas públicas imple-
mentadas pelo SUS (CHIEFFI, 2017). Ainda, a maioria dos medicamentos
foi prescrita pelo nome comercial, em desacordo com a DCB, e outros não
tinham registro na ANVISA.
Sumário 425
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Outro resultado obtido foi que, com os gastos relacionados a ações judiciais,
64% do financiamento da AF foi realizado com recursos municipais. Fato
constatado também por Wang et al. (2014), que traz que a judicialização da
saúde afeta principalmente os municípios, que são frequentemente requeri-
dos por estarem mais próximos da população, mas geralmente possuem o or-
çamento mais restrito e estrutura menos desenvolvida que Estados e União.
De acordo com a estrutura federativa do SUS, foi atribuído aos municípios
ações de baixa ou média complexidade. Desta forma, o Judiciário, ao descon-
siderar essa organização de competências, afeta o planejamento e a gestão da
saúde pública do ente federativo.
Conclusão
Os dados desta pesquisa foram comparáveis aos relatados em estudos bra-
sileiros quanto ao aumento exponencial na judicialização da saúde, em
especial, na AF, visto que o item que responde pelo maior número de
ações interpostas em face do Poder Público e pelo maior volume de gastos
é o de medicamento.
Sumário 426
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Referências
BATISTELLA, Paula Mestre Ferreira et al. Ações judiciais em saúde: uma revisão
integrativa. Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília, v. 72, n. 3, p. 809-817, 2019.
BESSA, Silvana Mara Queiroz; AGUIAR, Simone Coêlho. O direito social à saúde e
a atuação do poder judiciário: limites na intervenção em políticas públicas de distri-
buição de medicamentos de alto custo. Revista de Estudos Jurídicos da UNESP, São
Paulo, v. 20, n. 31, p. 381-400, 2016.
Sumário 427
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
DAVID, Grazielle et al. Direito a medicamentos - Avaliação das despesas com me-
dicamentos no âmbito federal do sistema único de saúde entre 2008 e 2015. 1ª ed.
Brasília/Distrito Federal. 2016.
Sumário 428
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
PAIM, Luís Fernando Nunes Alves et al. Qual é o custo da prescrição pelo nome de
marca na judicialização do acesso aos medicamentos? Cadernos Saúde Coletiva,
Rio de Janeiro, v. 25, n. 2, p. 201-209, 2017.
Sumário 429
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
UCKER, Juliana Maronn et al. Perfil dos medicamentos fornecidos via processo
judicial na assistência farmacêutica do município de Santa Rosa/RS. Tempus Actas
de Saúde Coletiva, Brasília, v. 10, n. 1, p. 127-149, 2016.
Sumário 430
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Resumo
O município de São Paulo é um dos mais atingidos pela pan-
demia de Covid-19. No início da crise sanitária, o município
era também um dos líderes nacionais em número de ações
judiciais propostas contra sua Secretaria de Saúde. Em um
cenário onde saúde pública e os dilemas dessa política se
tornam mais agudos e proeminentes, este trabalho investi-
ga o que ocorreu com esta judicialização da saúde. Através
da análise de uma amostra representativa de casos de saú-
de para 2019 e 2020 demonstramos que a pandemia de
Covid-19 não afetou a argumentação de juízes(as) ou o re-
Sumário 431
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 432
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Introdução
Em 14 de março de 2020, o município decretou estado de calamidade pú-
blica diante da pandemia de Covid-19 que se alastrava pelo país. Foco dos
primeiros casos confirmados no Brasil, a gestão municipal temia pelo esgar-
çamento e insuficiência de sua rede de atendimento hospitalar. Diferentes
medidas foram postas em prática pelo município para priorizar o atendimen-
to de pacientes Covid-19 e realocar recursos humanos e financeiros para o
enfrentamento da crise. Além de ampliar sua capacidade hospitalar através
da construção de hospitais de campanha, o município explicitamente suspen-
deu procedimentos e cirurgias eletivas, desviando grande parte de sua rede
hospitalar para a Covid-19.
Não por acaso, no início da pandemia, o município também era um dos líde-
res em número de ações judiciais propostas contra sua Secretaria de Saúde.
Entre 2017 e 2018, estavam em curso mais de 4 mil ações judiciais contendo
o município no polo passivo. A maior parte destas ações corria junto à justiça
estadual (88%), 61% delas requerendo medicamentos e insumos, e 39% pro-
cedimentos cirúrgicos, exames, consultas, internações ou outros serviços de
saúde (PSANQUEVICH & MOREIRA, 2019).
Sumário 433
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 434
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Para responder a esta pergunta, o texto se divide em cinco partes, além desta
introdução. A seguir, discutimos como a literatura tem analisado a judicializa-
ção da saúde em nível municipal, com especial ênfase para os trabalhos sobre
o tema no município de São Paulo. Na seção 3 descrevemos nossos métodos
e testes empíricos, para na seção 4 apresentar os resultados. Discutimos os
achados na seção 5 e encerramos o trabalho com uma conclusão que retoma
os pontos mais importantes do texto, discute suas limitações e propõe uma
agenda de pesquisa.
Sumário 435
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Estudos sobre os Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul,
por exemplo, apontam para uma taxa de concessão dos pedidos de deman-
dantes em primeira instância em torno de 80%, chegando a mais de 90% em
segunda instância (WANG et al., 2020; VASCONCELOS, 2021)
5 Esta tese, da responsabilidade solidária entre União, Estados e Municípios (CARLI & NAUDORF,
2019) permite que demandantes processem todo e qualquer ente federativo, independentemente das
atribuições da política. O tema da responsabilidade solidária entre entes federativos foi analisado pelo
STF no julgamento do Tema 793, no RE 855178, j. 23/05/2019. Embora a decisão não se contraponha
à posição original do Tribunal de que o “polo passivo pode ser composto por qualquer um deles, iso-
ladamente, ou conjuntamente”, o Tribunal ponderou que, para otimizar a compensação de recursos
entre os entes, a autoridade judicial deveria “diante dos critérios constitucionais de descentralização e
hierarquização, direcionar, caso a caso, o cumprimento conforme as regras de repartição de competên-
cias e determinar o ressarcimento a quem suportou o ônus financeiro”. Nesta pesquisa não analisamos
especificamente o impacto desta nova regra sobre a jurisprudência do TJSP, especialmente porque
nos concentramos sobre a parcela de casos que envolvem o município apenas na justiça estadual (não
incluímos casos que foram transferidos para a Justiça Federal). Uma pesquisa sobre o tema precisa ser
capaz de mapear a judicialização que envolve também ou somente Estados e União.
Sumário 436
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
A mesma pesquisa da CNM revelou ainda que 647 dos municípios respon-
dentes destacaram como principal dificuldade a falta de profissionais especia-
lizados; e 518, a falta de estrutura adequada para lidar com as demandas. O
cumprimento de ações judiciais em municípios sem centros de média e alta
complexidade ou equipes especializadas, por exemplo, impõe dificuldades
de logística como o transporte de pacientes.
Sumário 437
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 438
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Metodologia
Este trabalho parte de pedido de informação realizado através do Portal de
Transparência do município de São Paulo, onde se solicitou à Procuradoria
Geral do Município (PGM) lista com todos os processos judiciais em saúde
ajuizados entre janeiro de 2019 e dezembro de 2020. A PGM enviou lista com
o total de 1.605 processos que contavam com o município no polo passivo da
ação e cuja atuação da PGM (registro em seu sistema eletrônico) ocorreu a
partir de 2019. Destes, 162 tramitavam junto à Justiça Federal (132 em se-
gredo de justiça) e não foram analisados pela pesquisa. Dos que tramitavam
junto à Justiça Estadual, 812 foram registrados pela PGM em 2019, e 631 em
2020, sendo 262 e 119 nos respectivos anos em sigilo de justiça.
Sumário 439
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
H1. Diante da crise sanitária, juízes e juízas teriam incorporado considerações so-
bre a Covid em suas decisões ou argumentos. Logo, a pandemia teria um
efeito causal sobre a argumentação de juízes;
Resultados
Descritivas Gerais
Sumário 440
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
6 Uma possível explicação para a queda no número de ações é o fato de a Portaria Nº 154 ter sus-
pendido parcialmente as consultas. Afinal, com a diminuição de consultas, há menos diagnósticos e,
como consequência, menor indicação para exames e consultas. Agradecemos aos editores por terem
ressaltado este ponto.
Sumário 441
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
120% 120
110% 113
100% 17% 23% 100
90% 25%
80% 17% 83 82 80
70% 33% 32% 6% 0%
28% 65 53 6%
62
60% 27% 27% 4% 60
27%
50% 52 13% 21%
40% 23% 25% 7% 9%
34% 6% 15% 40
30% 37%
20% 37% 40% 20
10% 22%
33% 32% 15 38% 31%
0% 12%
0
2019-1 2019-2 2019-3 2019-4 2020-1 2020-2 2020-3 2020-4
LIMINAR SENTENÇA
Parcialmente
9.43% 7.62% 4.63% 5.17%
concedido
Sumário 442
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
LIMINAR SENTENÇA
* O número de casos acima totaliza menos que 600 casos porque na amostra há casos sem decisão liminar, sem
sentença e casos que foram enviados à Justiça Federal em conflito de competência.
Sumário 443
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Por fim, cabe mencionar que o padrão dos argumentos mais utilizados nas
tutelas provisórias se repete nas sentenças, com exceção dos que abordam es-
cassez de recursos e a reserva do possível. Movidos pela “urgência” da liminar,
a preocupação com o orçamento é aparentemente posta de lado. Entretanto,
esse argumento é utilizado especialmente nos casos em que há concessão par-
cial ou indeferimento da sentença, enquanto casos de provimento completo
fazem menos considerações orçamentárias ou sobre escassez, alegando que
não seriam justificativas válidas para a violação do direito à saúde.
7 Nestes casos, o provimento parcial se deu porque o acesso a serviços ou exames solicitados pelo/a
requerente ou a perícia foram suspensos em razão da COVID-19. Em um caso, o/a magistrado/a de-
feriu parcialmente a entrega de todos os medicamentos solicitados pelo/a requerente, mas indeferiu a
parcela do pedido que dependeria de exame pericial pelo IMESC. Em outro caso, a decisão liminar
deferiu parcialmente o pedido para pedir informações sobre a possibilidade de procedimento cirúrgico
diante da pandemia.
Sumário 444
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Parcial- Parcial-
Indefe- Indefe-
Resultado Deferido mente Deferido mente Extinto
rido rido
Deferido Deferido
Direito à
46.6% 40.0% 10.6% 80.0% 57.1% 25.0% 2.7%
saúde
Prescrição
48.5% 55.6% 14.2% 62.9% 35.7% 25.0% 2.7%
médica
Respon-
sabilidade 11.4% 2.2% 0.0% 34.3% 42.9% 25.0% 1.8%
Solidaria
Escas-
sez de
recursos e 0.6% 2.2% 0.0% 18.1% 28.6% 6.3% 0.9%
reserva do
possível
* O número de casos acima totaliza menos que 600 casos porque na amostra há casos sem decisão liminar,
sem sentença e casos que foram enviados à Justiça Federal em conflito de competência. Consideramos aqui
todos os casos da tabela cedida pela PGM, incluindo casos distribuídos antes de 2019 (62 casos), mas cuja
atuação da PGM se iniciou em 2019. Excluímos da tabela acima casos que não envolvem algum desses ar-
gumentos mais frequentes.
Sumário 445
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Teste de Hipóteses
Como vimos na descrição dos achados, não parece haver diferença significa-
tiva entre os percentuais de deferimento antes e depois da pandemia tanto
nas liminares quanto nas sentenças. Para testar esta relação, construímos um
modelo de regressão logit em que a variável resposta indica se o pedido foi
deferido (valor = 1) ou negado (valor = 0), e o beta indica a probabilidade
de concessão do pedido. As tabelas 3 e 4 abaixo mostram os resultados para a
variável de interesse liminar dummy e sentença dummy, que assumem os valores
0 para decisões antes da pandemia e 1 para decisões depois, referindo-se,
respectivamente, a decisões liminares e sentenças.
Sumário 446
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
(0.0597) (0.0589)
comarca_tipo = 3 - -
(0.0836) (0.0864)
(0.0494) (0.0498)
(0.0577) (0.0584)
Sumário 447
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
(0.0970) (0.108)
comarca_tipo = 3 - -
comarca_tipo = 4 - -
(0.104) (0.106)
(0.127) (0.134)
Observações 92 86 92 86
Sumário 448
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Por fim, testa-se se a pandemia afetou o tempo de resposta dos juízes e juízas
de primeiro grau na Capital. Essa relação seria esperada quer como um efeito
indireto da pandemia sobre o funcionamento da Justiça e a condução de atos
processuais como produção de provas, citação das partes, prestação de infor-
mações etc.; quer como uma decisão dos/as magistrados/as de oferecer mais
tempo para a defesa ou cumprimento de decisões pela fazenda municipal.
8 Vasconcelos, Machado e Wang (2020) encontram resultados semelhantes sobre diferenças de gêne-
ro afetando o resultado de decisões. Naquela ocasião, as autoras e o autor mediram a taxa de concessão
de habeas corpus ajuizados durante a pandemia e encontram que desembargadoras tenderiam a inde-
ferir mais pedidos que desembargadores.
9 Os pedidos foram classificados nas seguintes categorias, cada uma delas correspondendo a uma
variável de controle: medicamento, vaga_hospitalar, consulta_atendimento, procedimento_cirúrgico,
vulnerabilidade social/assistência social, saúde da mulher, câncer de próstata, doenças oncológicas,
diabetes, doenças cardiovasculares e vasculares, transtornos psiquiátricos, síndromes de má-formação
cognitiva, doenças ortopédicas, doenças respiratórias.
Sumário 449
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
especial, tipo 3 para vara cível e tipo 4 para vara da Infância e da Juventude –
e pelas partes – se houve a presença do estado no polo passivo e da defensoria
no polo ativo. Para fins de exposição dos resultados, apresentamos apenas as
variáveis que apresentaram significância estatística.
Como pode ser visto na tabela 7, percebemos que a nossa hipótese não se
confirma. Em sentido contrário, o beta da variável de interesse mostra que,
após o início da pandemia, os processos obtiveram uma medida liminar em
média aprox. 31 dias mais rápido. De forma também não esperada, quando o
processo corre nos juizados especiais, o tempo até a decisão liminar aumenta
em média aprox. 29 dias10.
10 Isso para processos que tiveram início tanto antes como depois da pandemia.
Sumário 450
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
(6.529) (6.430)
(6.223) (6.764)
(12.07) (12.11)
(8.063) (7.941)
(6.740) (6.581)
Sumário 451
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
(19.61) (19.03)
(13.75) (13.93)
(20.39) (19.98)
(15.69) (15.59)
(18.20) (17.11)
Como achado relevante desse modelo tem-se o efeito da variável doenças respira-
tórias: processos com esses pedidos têm a sentença proferida em média aprox.
45 dias mais rápido. Também é notável que os processos das varas cíveis têm
um tempo de resposta da decisão final em média 80 dias mais rápido.
Sumário 452
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Discussão
O principal achado desta pesquisa é que há poucas evidências de que a Co-
vid-19 afetou a judicialização da saúde no município de São Paulo. A pan-
demia não afetou a argumentação dos juízes ou o resultado das liminares e
sentenças. Como em outros estudos (WANG et al., 2020; WANG et al., 2014;
CHABBOOUGH, 2020), a maioria das liminares é decidida em favor da par-
te demandante. Observa-se, contudo, uma proporção menor de sentenças
por provimento. Isso ocorre porque uma grande proporção dos casos tem
liminares satisfativas, que encerram a lide com a concessão do serviço de
saúde e/ou desistência da parte. O perfil da judicialização de serviços, predo-
minante no caso do município de São Paulo, afeta, assim, os resultados dos
processos, que praticamente se encerram após curto contraditório. Esse pon-
to também ilustra a importância de se estudar o posicionamento de juízes(as)
em primeira instância nos momentos iniciais do processo.
Sumário 453
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
O perfil das demandas também se alterou pouco, com uma queda do número
de demandas sobre serviços de saúde no segundo trimestre de 2020. Com a
suspensão de grande parcela do atendimento de saúde presencial relaciona-
do a procedimentos eletivos, é provável que essa queda esteja relacionada à
própria ausência de interação com a administração pública e, assim, de uma
negativa que justifique a ação judicial. Os números, contudo, voltam a crescer
no terceiro trimestre, o que parece indicar que há uma lenta normalização
da demanda.
A única hipótese que não foi rejeitada por esta pesquisa demonstra correla-
ção entre o tempo médio do processo e a pandemia. A correlação encontra-
da, contudo, tem sentido inverso do esperado. Ao invés de mais tempo para
decisões, em decorrência das dificuldades operacionais de realizar os atos do
processo em meio à pandemia, ou mesmo refletindo escolhas não explícitas
de magistrados/as por mais deferência à Fazenda, encontramos que casos
após a pandemia têm tempo médio para decisões menor, especialmente no
caso de liminares. Este achado é consistente com outro estudo sobre ações
judiciais durante a pandemia (HARTMANN et al., 2020).
Prováveis explicações para este resultado podem estar relacionadas com uma
maior produtividade de magistrados/as em home office, ou mesmo a queda
no número geral de processos distribuídos por magistrados no primeiro se-
mestre de 2020 – ao todo em 2020 foram distribuídos no Judiciário paulista
Sumário 454
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Conclusão
Como vimos, na Capital e para casos que envolvem o município de São Pau-
lo, a pandemia parece ter afetado muito pouco o conteúdo e os resultados
da judicialização. Esta pesquisa é a primeira de um conjunto de esforços do
Núcleo de Direito, Saúde e Políticas Públicas do Insper em analisar os efeitos
da pandemia sobre a judicialização da saúde em São Paulo. Em pesquisas
futuras espera-se comparar os níveis estaduais e municipais para uma fo-
tografia mais completa sobre a ação de juízes(as) na pandemia. Esta é uma
limitação desta pesquisa: seu recorte apenas permite conclusões para a atua-
ção de juízes(as) de primeira instância na Capital do Estado e para casos que
envolvem o município de São Paulo. Uma avaliação completa precisa analisar
tanto a distribuição quanto os padrões decisórios em todos os casos de saúde
que estes(as) juízes(as) decidem, considerando também sua carga para outros
temas comparativamente. Outra limitação desta pesquisa está na parcela de
processos que não puderam ser acessados por tramitarem em segredo de
justiça. Mesmo com essas limitações, os achados são consistentes com a litera-
tura sobre judicialização da saúde no município de São Paulo, o que fortalece
a correção e representatividade dos achados para, inclusive, mais casos além
dos municipais.
11 Confira o relatório do Conselho Nacional de Justiça, Justiça em Números para 2019 (https://
www.cnj.jus.br/pesquisas-judiciarias/justica-em-numeros/), e notícia sobre a quantidade de proces-
sos distribuídos em primeira instância na justiça estadual de São Paulo – “TJSP fecha 2020 com
mais de 4,3 milhões de processos julgado” Tribunal de Justiça de São Paulo, 07/02/2021, disponível
em: https://www.tjsp.jus.br/Noticias/Noticia?codigoNoticia=63248&pagina=1#:~:text=O%20total%20
de%20processos%20distribu%C3%ADdos,Especial%20e%20da%20C%C3%A2mara%20Especial. (acesso
13/04/2021)
Sumário 455
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Referências
ALBERT, Carla Estefânia. Análise sobre a judicialização da saúde nos Municípios.
Revista Técnica CNM, 2016.
AZEVEDO, P. F.; AITH, F.; AYRES, F.; LOPES, H. F.; YEUNG, L.; OLIVEIRA, V.
E.; VASCONCELOS, N. P.; CARLOTTI, D.; MORGULIS, M. C. A.; BOARATI, V.;
CABRAL, L.; FALCAO, M.. Judicialização da Saúde no Brasil: Perfil das Demandas,
Causas e Propostas de Solução. 2019. (Relatório de pesquisa), Conselho Nacional de
Justiça, 2020.
Sumário 456
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
WANG, D., de Vasconcelos, N. P., Poirier, M. J., Chieffi, A., Mônaco, C., Sritharan,
L., Van Katwyk, Susan Rogers Van & Hoffman, S. J. (2020). Health technology
assessment and judicial deference to priority-setting decisions in healthcare:
Quasi-experimental analysis of right-to-health litigation in Brazil.
Social Science & Medicine, 265, 113401.
WANG, Daniel W. Liang; FERRAZ, Octavio Luiz Motta. Reaching out to the
needy-access to justice and public attorneys’ role in right to health litigation in the
city of Sao Paulo. SUR-Int’l J. on Hum Rts., v. 18, p. 159, 2013.
WANG, Daniel Wei L.; VASCONCELOS, Natália Pires de; OLIVEIRA, Vanessa Elias
de and TERRAZAS, Fernanda Vargas. Os impactos da judicialização da saúde no
município de São Paulo: gasto público e organização federativa. Rev. Adm. Pública
[online]. 2014, vol.48, n.5, pp.1191-1206. ISSN 0034-7612.
Sumário 457
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Anexos
Tabela 9: Prazo para liminar antes e depois da Pandemia
vulnerabilidade social/assistencia
134.4 134.4 132.7 133.2
social
doenças cardiovasculares e
0.0614 -0.744 1.080 -0.147
vasculares
Sumário 458
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
sindromes de má-formação
13.32 13.82 11.91 12.79
cognitiva
(6.529) (6.430)
(6.223) (6.764)
(12.07) (12.11)
(8.063) (7.941)
(6.740) (6.581)
Sumário 459
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
vulnerabilidade social/assistencia
31.67 27.04 34.76 31.48
social
doenças cardiovasculares e
-19.56 -22.50 -20.27 -23.75
vasculares
sindromes de má-formação
-13.88 1.133 -13.67 1.267
cognitiva
Sumário 460
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
(19.61) (19.03)
(13.75) (13.93)
(20.39) (19.98)
(15.69) (15.59)
(18.20) (17.11)
Sumário 461
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
vulnerabilidade social/assistencia
-2,163 -2,790 -1,464 -2,022
social
doenças cardiovasculares e
-175.3 -130.5 33.99 114.3
vasculares
sindromes de má-formação
-476.5 -375.8 -1,328 -1,339
cognitiva
Sumário 462
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
(1,095) (1,109)
(4,878) (4,923)
(2,880) (2,888)
(1,057) (1,075)
(1,161) (1,173)
Observations 95 95 95 95
Sumário 463
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
procedimento_
0.0275 0.00239 0.0193 -0.00531 0.0270
cirurgico
vulnerabilidade social/
- - - - -
assistencia social
doenças cardiovascula-
0.120* 0.118* 0.116* 0.115* 0.0720
res e vasculares
transtornos
-0.0776 -0.114 -0.0312 -0.0614 -0.103
psiquiátricos
Sumário 464
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
sindromes de má-
-0.0615 -0.123 -0.0626 -0.144 -0.135
formação cognitiva
(0.0487) (0.0483)
comarca_tipo = 3 - -
(0.0702) (0.0634)
genero_juiz -0.136***
(0.0496)
tempo_magistratura -2.29e-06
(4.16e-06)
(0.0446) (0.0443)
(0.0460) (0.0451)
Standard errors in
parentheses
*** p<0.01, **
p<0.05, * p<0.1
Sumário 465
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
procedimento_
-0.0151 -0.0167 -0.0776 -0.0605 -0.0576
cirurgico
vulnerabilidade social/
- - - - -
assistencia social
cancer de prostata - - - - -
doenças cardiovascula-
0.0921 0.0467 0.0758 0.0748 0.134
res e vasculares
transtornos
-0.313* -0.277 -0.267* -0.225 -0.296*
psiquiátricos
Sumário 466
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
sindromes de má-
- - - - -
formação cognitiva
(0.0982) (0.106)
comarca_tipo = 3 - -
comarca_tipo = 4 - -
genero_juiz -0.104
(0.0924)
tempo_magistratura -2.16e-06
(8.28e-06)
(0.0971) (0.101)
(0.117) (0.125)
Observations 97 91 97 91 92
Standard errors in
parentheses
*** p<0.01, **
p<0.05, * p<0.1
Sumário 467
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Resumo
O presente trabalho averiguou, no contexto da pandemia
de Covid-19, a partir da análise de decretos publicados
pelo município de Juiz de Fora - MG, se a competência
comum dos entes da federação, confirmada pelo Supremo
Tribunal Federal, para adoção de medidas de saúde, foi
respeitada. Partiu-se da hipótese de que os entes federa-
dos, têm legitimidade para tratar dos assuntos relaciona-
dos a cada um, independente de interferência dos demais.
O estudo lastreou-se no referencial teórico do Pós-posi-
tivismo, especialmente nas concepções de Alexy (2001;
1 Doutora em Direito Público - UFMG; Professora; Universidade Federal de Juiz de Fora; Lattes:
http://lattes.cnpq.br/9612622153460207
2 Mestrando em Direito e Inovação - UFJF; Advogado e Pesquisador; Universidade Federal de Juiz
de Fora; Lattes: http://lattes.cnpq.br/9459346457267661
Sumário 468
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 469
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Introdução
O contexto da pandemia de Covid-19 demandou a adoção de iniciativas rápi-
das e eficientes pelas entidades federadas, tendo em vista o contínuo avanço
da doença nos respectivos territórios. Complexos conflitos principiológicos
evidenciaram-se. Nesse sentido, o presente trabalho debruçou-se sobre as
competências a serem desempenhadas pelas entidades federativas no con-
texto da pandemia.
Sumário 470
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 471
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 472
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Para tanto, o discurso jurídico, espécie do discurso prático-geral, faz uso das
fontes do Direito: precedentes, doutrina, costumes e normas (ALEXY, 2001;
2002). Quanto às últimas, Dworkin (2002), relevante autor pós-positivista,
propõe que são classificadas em duas espécies: regras ou princípios; estes são
derivados dos valores sociais e, da mesma forma que aquelas, são vinculantes,
ou seja, geram direitos e deveres a todos os indivíduos.
Com isso, Dworkin (2002) referenda a ideia de que o Direito não é apartado
da moral. O autor considera que o princípio jurídico é capaz de vincular e
ser considerado legítimo em virtude da moral, por ela representar as prá-
ticas sociais. Segundo a teoria pós-positivista, inexistem regras meramente
programáticas no ordenamento. Isso posto, pondera que decisões políticas
são arriscadas, pois podem romper com o Estado de Direito, por não terem
o condão de salvaguarda dos princípios norteadores desse.
Sumário 473
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 474
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 475
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 476
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 477
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 478
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Dessa forma, não foi permitido ao Chefe do Poder Executivo Federal deter-
minar quais seriam os serviços essenciais em todo o país, sem que se respeitas-
se a autonomia de cada ente local. Assim, reforçou-se o respeito ao conteúdo
do inciso II do artigo 23 da Constituição (BRASIL, 1988), que considera a
competência comum entre todos os entes públicos para tratar de assuntos
relacionados à saúde.
Sumário 479
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 480
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 481
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Essa postura restritiva, aliás, permaneceu até junho do ano de 2020, mês em
que se publicou o Decreto nº 13.975 (JUIZ DE FORA, 2020d), estabelecendo,
por exemplo, restrição ao funcionamento de bares. Ademais, o artigo 11 do
mencionado decreto dispôs que:
Trata-se, com isso, de norma (decreto municipal) que vincula o ente público,
a partir da adesão aos protocolos sanitários, sob pena de aplicação, pelos
órgãos de controle das ações das entidades públicas, de penalidades concer-
nentes à configuração de improbidade administrativa, por exemplo.
Sumário 482
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Desse modo, averiguou-se que o município de Juiz de Fora - MG, após a ade-
são ao referido plano, optou por seguir, em grande medida, os protocolos sa-
Sumário 483
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Conclusão
Demonstrou-se que as medidas de restrição à livre-iniciativa, publicadas por
meio de decretos do Poder Executivo do município de Juiz de Fora no perío-
do de 6 de fevereiro de 2020 a 31 de dezembro de 2020, em busca da con-
tenção a Covid-19, coadunam-se com preceitos do Estado de Direito, tendo
em vista a ponderação que promovem entre os direitos fundamentais à saúde
e à livre iniciativa. Consoante os pressupostos do Pós-positivismo, as normas
constitucionais devem ser efetivamente respeitadas, sob pena do comprome-
timento do Estado de Direito.
Sumário 484
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 485
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Referências
ALEXY, Robert. Teoria da Argumentação Jurídica. São Paulo: Landy, 2001.
Sumário 486
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
DWORKIN, Ronald. Levando os direitos a sério. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
Sumário 487
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 488
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 489
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Resumo
Dentre as crescentes demandas elencadas nos serviços de
saúde pública, judicialização de medicamentos, insumos e
serviços têm chamado atenção pelo aumento da demanda
nos últimos anos. Neste cenário, assumimos que o usuário
fica “exposto”, sendo ele a parte mais “fraca e frágil” da re-
Sumário 490
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 491
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Introdução
A judicialização da política é um fenômeno mundial, que emergiu no século
XX, nas democracias já consolidadas dos Estados de bem-estar social. No
Brasil esse tipo de organização política tomou discreto lugar no ordenamento
jurídico a partir da Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil
de 1934, com o comando de que compete concorrentemente à União e aos
Estados “cuidar da saúde e assistência públicas”, nos termos do inciso II do
Art. 10 do referido texto constitucional, demarcando nitidamente a separa-
ção do Estado liberal para a democracia social.
O tema ganha ainda mais importância, pois declara que o acesso à saúde é
“direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e
econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos”,
conforme disposto no Art. 196, da Carta Magna.
Sumário 492
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 493
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sendo assim, esse estudo tem por objetivo analisar a abordagem jurídica jun-
to às demandas vinculadas à Secretaria Municipal da Saúde de Corbélia – PR,
com aproximadamente dezoito mil habitantes no oeste do Paraná, entre os
anos de 2017 e 2020. Este recorte se justifica pela mudança de perfil de co-
municação entre o Poder Executivo Municipal e o Ministério Público local
que ocorreu nesta região, com vistas a acolher as demandas originárias deste
setor, antes que estas venham a se tornar processos judiciais mandatórios.
Materiais e métodos
Em vista da necessidade de se compreender a realidade da demanda do mu-
nicípio de Corbélia em relação às suas demandas judiciais, foram levantados,
Sumário 494
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Resultados
Os resultados obtidos ao levantamento de dados demonstram desde logo que,
no período de recorte, foram demandados por trinta e quatro pacientes ape-
nas medicamentos, organizados na tabela 01 pelo nome, período de forneci-
mento, tipo de documento autorizativo e custo aproximado de fornecimento.
Sumário 495
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
PERÍODO CUSTO
PRODUTO TIPO
(início – fim) (aprox.)
Venlafaxina +
2014 – atual Mandado Judicial 10.152,00
mirtazapina
Sacubitril, apixabana,
bisoprolol,
2011 – atual Mandado Judicial 779,51
dapagliflozina,
pregabalina
Sumário 496
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
PERÍODO CUSTO
PRODUTO TIPO
(início – fim) (aprox.)
Divalproato de sódio
2012 – 2019 Mandado Judicial 6.993,72
ER
Progesterona
2017 – 2017 Recomendação ADM 1.337,05
micronizada
Progesterona
2019 – 2019 Recomendação ADM 1.337,05
micronizada
Metronidazol,
ciprofloxacino,
2017 – 2017 Recomendação ADM 846,20
codeína, paracetamol,
plasil, enoxaparina
Depakote ER,
Venlafaxina, Prolopa,
2017 – 2017 Mandado Judicial 10.000,00
Cilostazol, entre
outros.
Fonte: Própria.
Sumário 497
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Recomendação Admi-
Ano Mandado Judicial TOTAL
nistrativa
Fonte: Própria.
Fonte: Própria.
Sumário 498
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Discussão e Conclusão
A apuração de índices de saúde vai muito além da mera quantificação do for-
necimento de tratamentos e de ausência de doença, avança principalmente
na seara da falta de acompanhamento do Estado das condições da comunida-
de, acabando por expor as falhas na execução de ações e serviços de saúde.
Neste sentido, a judicialização da saúde promove também alguns benefícios
ao sistema. Neto (2007), afirma que:
Sumário 499
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
De acordo com os autores Santos (2016), Girão, Stival (2016), Pepe, et al.
(2010), é notório que o crescimento no número de ações judiciais na área da
saúde é assunto preocupante para os gestores. Ainda temos que avançar no
diálogo entre os Poderes Executivo e Judiciário, com a finalidade de definir
claramente competências e possibilidades de todos os atores envolvidos no
processo de judicialização: pacientes, médicos, Judiciário, Ministério Público,
Advogados e sociedade em geral, em busca da melhoria do acesso e qualida-
de do sistema público de saúde, conforme parte da análise extraída a seguir:
Sumário 500
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Saleh (2011) reforça que a saúde não pode estar subordinada às teorias de
aspectos apenas econômicos. O Estado deve observar a dignidade da pessoa
humana e a proteção integral à pessoa, buscando uma sadia qualidade de
vida. Isso tudo deve ser o norte para escolha do medicamento ou congênere
a ser fornecido pelo Estado.
Sumário 501
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
para todo o sistema de saúde pública, ou seja, acaba por causar uma disfun-
ção em todo o sistema.
Exposto tais pontos que possam embasar de forma satisfatória a grande lacuna
criada no SUS em via da execução de ordens judiciais, na tentativa de reafirmar
o direito à Saúde elencado na Lei nº 8.080 de 1990, podemos discutir as mudan-
ças do perfil adotado no município de Corbélia a partir do ano de 2017, quando
houve a mudança na gestão municipal. Após a troca de gestão, pautaram-se os
problemas observados e, dessa forma, foram elencados os processos necessários
a se implementar para que houvessem as mudanças necessárias na saúde pública
municipal, com vistas ao planejamento estratégico realizado para tal fim.
Sumário 502
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 503
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
que têm seus direitos a ações e serviços de saúde assegurados de forma integral
e eficiente, sem necessidade de lançar mão do Poder Judiciário.
Referências
BARROSO, L. R. Da falta de efetividade à judicialização excessiva: direito
à saúde, fornecimento gratuito de medicamentos e parâmetros para a atuação
judicial. Revista de Direito da Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janeiro,
Rio de Janeiro, n. 63, 2008. Disponível em: <https://www.pge.rj.gov.br/comum/code/
MostrarArquivo.php?C =MTI2MQ%2C%2C>. Acesso em: 15 abr. 2021.
Sumário 504
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
PEPE, Vera Lúcia Edais et al. A judicialização da saúde e os novos desafios da gestão
da assistência farmacêutica. Ciência & Saúde Coletiva, v.15, n.5 p.:24052414,
2010. Disponível em: <https://www.scielosp.org/article/csc/2010.v15n5/ 24052414/>.
Aceso em 25 set. 2018.
Sumário 505
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Resumo
O estudo trata do Direito à Saúde e à Saúde Pública, sobre
a ótica da Constituição da República Federativa do Brasil
de 1988, jurisprudência e doutrina. O direito à saúde foi
incluso dentre os Direitos Sociais, previsto no art. 6º do
texto constitucional e reafirmado sua relevância, no art.
196 da CF/88, em que atribui ao Estado a obrigação de for-
necê-lo e direito a todos a exigi-lo. Ainda, busca consolidar
conceitos doutrinários, assim como destacar decisões rele-
vantes do Poder Judiciário. Utiliza, ainda, de dados públi-
cos, como despesas da 7ª Coordenaria Regional de Saúde
para cumprimento de decisões judiciais. Também aponta
possíveis soluções que podem ser debatidas e implantadas
Sumário 506
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 507
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Introdução
A Constituição Federal de 1988 prevê o direito à saúde como um dos di-
reitos sociais, assegurando-o ao cidadão e obrigando o Estado a fornecê-lo.
A análise jurídica da judicialização da saúde é de grande relevância, já que
influencia diretamente as finanças dos entes federados, colocando em jogo a
saúde da população e o planejamento da gestão sobre a alocação de recursos.
Desta forma, este estudo faz uma análise dos dados fornecidos pela 7ª Coor-
denadoria Regional de Saúde, como o custo para cumprimentos das decisões
judiciais e os quantitativos de demandas atendidas para cumprimento das
decisões do Poder Judiciário. Com isso, pretende-se descobrir o impacto e
os motivos da judicialização na região estudada, que nada mais é que um
obstáculo para o bom funcionamento do serviço público de saúde no Brasil.
Sumário 508
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 509
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 510
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
O direito à saúde deve ser visto como uma forma de obrigar o Estado a forne-
cer Políticas Públicas voltadas para o bem-estar da sociedade, ligando o direi-
to expresso na Constituição com a legislação ordinária, que visa implantar os
princípios, com o objetivo de manter o mínimo existencial para toda a socie-
dade por meio do Sistema Único de Saúde (SUS) (LEAL, 2009, p. 150-151).
Sumário 511
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
No que se refere aos novos medicamentos, o Brasil possui uma lista de for-
necimento obrigatório pelos entes federados, a Relação Nacional de Medica-
mentos Essenciais (RENAME). A RENAME representa um avanço na gestão
e no planejamento da saúde pública do país, porém sofre quando o assunto
é inovação, já que tem dificuldades em ser atualizada, visto que, a inclusão de
novos medicamentos não ocorre de forma automática.
Sumário 512
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 513
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Foi eleito como parâmetro o salário mínimo nacional em razão da sua padro-
nização, ou seja, podemos afirmar que o salário mínimo nacional aplicado
em São Paulo é o mesmo que no Estado do Rio Grande do Sul. A utilização
de parâmetros que possam ser aplicados em outras localidades facilita o de-
senvolvimento e prosseguimento do estudo em outras regiões, assim como
possibilita a análise conjunta dos dados.
9; 2%
49; 9%
Mais da metade, 59%, dos alvarás2 têm valor de até um salário mínimo, o que
corresponde a 316 ordens judiciais, totalizando o valor de (R$140.569,58). A
segunda maior demanda está nos medicamentos com valor de 1 salário mínimo
(R$ 937,00) até 10 salários-mínimos (R$ 9.370,00), que corresponde a 30% (159)
dos alvarás no período pesquisado, totalizando um valor de (R$ 405.201,50).
2 Trata-se de ordem judicial acatando o pedido de que solicita, para que forneça algo ou quantia
certa, garantir direito que seja suficientemente comprovado.
Sumário 514
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 515
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Por meio deste estudo, foi observado que há muitas pessoas que estão de-
mandando medicamentos de baixo custo. Dentre os vários motivos para isso,
podemos citar a falta de recursos da população, que pode se dar em razão
da região possuir uma renda familiar inferior às demais regiões. Também,
pode estar motivando a busca pela via judicial para fornecer medicamentos
de baixo valor, a falta de fornecimento de medicamentos de sua obrigação,
na forma administrativa.
Para isso, foi realizada uma pesquisa juntos ao sítio do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), no qual se encontrou as seguintes informações:
Tabela 1: Valor do rendimento nominal mediano mensal per capita dos domicílios
particulares permanentes – Urbana
UF MUNICíPIO RENDA
DF Brasília R$ 825,00
RS Candiota R$ 744,00
RS Bagé R$ 511,00
Sumário 516
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
UF MUNICíPIO RENDA
RS Aceguá R$ 400,00
A região tem ainda uma média 13% menor que a média do Estado do Rio
Grande do Sul, que gira em torno de R$606,22 (IBGE, 2017). Contribuindo
para que um maior número de pessoas dependa do Estado, abrangendo tam-
bém as demandas da área da saúde, como a de medicamentos. A escassez de
recursos e a baixa capacidade financeira da população pode preencher um
dos requisitos elencados pelo Supremo Tribunal Federal, a hipossuficiência
dos demandantes de arcar com tratamento medicamentoso.
Sumário 517
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Neste caso, confrontando a tese de que nosso poder aquisitivo seja tão baixo
com relação a outros Estados e regiões, é possível perceber uma relação entre
o crescimento da judicialização da saúde na região de atuação da 7ª Coorde-
nadoria Regional de Saúde. Porém, é necessário levar em consideração ou-
tros fatores como o custo de vida, melhor qualidade de vida, acesso à justiça
e acesso à informação, entre outros motivos que acarretam uma pressão na
capacidade financeira das famílias.
Sumário 518
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
A demanda judicial que resulte em benefício do coletivo pode ser uma alter-
nativa para consolidação do direito à saúde, ao mesmo tempo que conserva
o direito de acesso à Justiça. Como exemplo, podemos imaginar uma ação
coletiva que tenha a pretensão da construção de um Centro Especializado ao
Atendimento de Pessoas com Diabetes ou que no centro de referência, seja
oferecido todos os medicamentos necessários para a manutenção da quali-
dade de vida do usuário do serviço público, ou seja, a ação seria favorável a
diversas pessoas, inclusive o demandante. A exigência de que a demanda ju-
dicial não seja individualizada não serve para todos os casos, pois há situações
de difícil solução, em que o requerente pode vir a óbito pelo agravamento do
seu quadro clínico.
Sumário 519
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
De fato, a saúde não se reduz à mera ausência de doença, pois envolve as-
pectos que se encontram relacionados ao bem-estar físico, mental e social.
Isto traz um desafio ainda mais complexo para as instituições jurídicas, pois
se torna fundamental promover uma visão desmedicalizada da saúde, que
deve considerar o paciente como ser humano inserido em um contexto so-
cial específico e com subjetividades singulares. (CNJ, 2015, p. 130).
Sobre esta ótica, deve haver um esforço do Poder Público em afastar a visão
de que o usuário é um agente passivo, ou seja, apenas recebe as informações
de forma concentrada pelos profissionais da saúde, sendo apenas um objeto
de estudo da medicina, afastando-o da participação direta das políticas públi-
cas relacionadas à saúde, o que também ajuda a não as compreender (SILVA,
2014, p. 38).
Sumário 520
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 521
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 522
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 523
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Considerações finais
Através do estudo realizado, observou-se que as demandas judiciais têm fun-
damentos jurídicos bem amplos no que se refere ao direito à saúde, visto que
não há uma norma específica que vincule a Administração Pública ao forne-
cimento de determinado medicamento. Esta lacuna sobrecarrega o Poder Ju-
diciário, que lhe compete julgar o caso, por expressa previsão constitucional,
conforme o princípio da inafastabilidade da jurisdição.
Desta forma, após uma vasta análise quanto aos valores e quantidade de al-
varás judiciais cumpridos pela 7ª Coordenadoria de Saúde do Rio Grande
do Sul, foi constatado um elevado número de demandas judiciais por medi-
camentos com valores inferiores a um salário-mínimo nacional, aproximada-
mente 59% das demandas judiciais.
Foi observado outro fator que pode vir contribuir para o elevado número de
condenações judiciais. A baixa capacidade financeira da população da região
estudada pode justificar o alto número de pedidos de medicamentos com
valores abaixo de um salário-mínimo. Embora outros fatores possam favo-
Sumário 524
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Referências
ALEXY, Robert. Teoria de los derechos fundamentales. Madrid: Centro de Estudíos
Politicos y Constitucionales. 2008.
Sumário 525
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 18. ed. São Paulo: Saraiva, 2014.
Sumário 526
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
MORAES, Alexandre. Direito Constitucional. 21. ed. São Pulo: Atlas, 2007.
Sumário 527
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
A judicialização de medicamentos
em uma cidade de pequeno porte -
Santa Rita de Caldas - MG: uma análise
na perspectiva do usuário
Priscilla Rodrigues Ferreira1
Rosana Aparecida Garcia2
Resumo
Esse estudo é parte de uma Dissertação de Mestrado rea-
lizada na UNICAMP/SP e teve como objetivo analisar o
processo de judicialização de medicamentos como garan-
tia de direito à saúde na perspectiva do usuário e descre-
ver os fatores que o levaram a entrar com uma ação judi-
cial. O estudo foi realizado em uma cidade de pequeno
porte – Santa Rita de Caldas – estado de Minas Gerais,
no período de 2007 a 2019. Foram utilizadas entrevistas
semiestruturadas e analisadas na perspectiva da macro/
micropolítica do caminho percorrido pelos usuários neste
Sumário 528
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 529
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Introdução
O setor saúde é uma área que envolve o direito enquanto cidadania, onde os
usuários exigem do poder público maiores investimentos no setor e o acio-
nam judicialmente para obrigá-lo a prover principalmente medicamentos,
sendo o investimento do governo no orçamento da saúde insuficiente para
garantir as necessidades de alguns usuários (CABRAL; REZENDE, 2015).
Pandolfo et al. (2012) também relatam que muitas dessas ações judiciais
solicitam medicamentos que ainda são experimentais e sem registro na
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), além de condutas
médicas discordantes dos Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas
(PCDT) e das listas de medicamentos do Componente Especializado da
Assistência Farmacêutica.
Sumário 530
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Por ter estes diferentes olhares sobre o tema, a judicialização da saúde precisa
ser analisada a partir de várias perspectivas e tratada sem preconceitos contra
os usuários que entram com ações judiciais e contra o Poder Judiciário, o qual
pode ser utilizado para equacionar conflitos existentes e ajudar a não gerar
maiores prejuízos aos usuários e aos cofres públicos.
Sumário 531
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
rio, dentre outros. E apesar de ser um tema debatido por muitos autores, este es-
tudo inova por sua perspectiva de análise ainda pouco encontrada na literatura:
o olhar do usuário que judicializa o medicamento como direito à saúde.
Desenvolvimento
O estudo é parte de uma Dissertação de Mestrado, realizada na Universidade
Estadual de Campinas (UNICAMP/SP). É uma pesquisa qualitativa que teve
como objetivo analisar o perfil dos usuários com concessão de ordem judicial
de medicamentos e descrever os fatores que os levaram a entrar com uma
ação judicial com essa finalidade.
Sumário 532
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Após levantamento das ações judiciais ativas, foi feito contato com os usuários
que receberam medicação neste período. Todos foram convidados a parti-
cipar das entrevistas, não havendo recusa, dando início a coleta de dados.
Por haver limitação de saúde ou idade avançada de 5 (cinco) usuários, estes
foram representados por seus familiares.
Não foram considerados os usuários que tiveram ações negadas, pois o aces-
so a tais ações possui outros fluxos, visto que não ficam arquivadas no setor
jurídico da Prefeitura Municipal de Santa Rita de Caldas.
Sumário 533
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 534
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Para caracterizar o perfil dos usuários que entraram com ações judiciais de me-
dicamentos deferidas no período de 2007 a 2019, segue um panorama geral,
descrito por meio da Tabela 1.
Ensino Fundamental
Rosa F 52 Do Lar
Incompleto
Ensino Fundamental
Vermelho F 56 Do Lar
Incompleto
Ensino Fundamental
Lilás F 78 Pensionista por morte
Incompleto
Ensino Fundamental
Marrom M 28 Agricultura familiar
Incompleto
Ensino Fundamental
Verde M 80 Aposentado
Incompleto
Ensino Fundamental
Cinza F 77 Aposentada
Incompleto
Fonte: Elaborado pela pesquisadora com base nos dados da pesquisa (2020).
Sumário 535
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
[...] antes de entrar com a ação judicial foi muito transtorno, a gente ia num
lugar eles mandavam aqui, daqui mandava ali, sinceramente pensei em
desistir [...]. (RE Marrom). Grifos nossos.
[...] Olha foi bem desgastante, um tanto humilhante. (UE Vermelho). (grifo
nosso).
Sumário 536
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
[...] até que me mandaram entrar com a ordem judicial, de certo acharam
que eu não entraria, mas entrei porque ele necessitava do remédio e nós
temos direitos, a gente paga as contas nossas e pagamos caro por isso [...].
(RE Marrom). (grifo nosso).
[...] É que eu não tinha condições de comprar o remédio né? Era muito
caro pra mim. (UE Rosa). (grifo nosso).
[...] Porque eu não tinha dinheiro para comprar, não tinha para onde me
virar. (UE Vermelho). (grifo nosso).
De uma maneira geral, os usuários justificaram ter entrado com ação judicial
para acessar os medicamentos por motivos como: a grande quantidade de
medicamentos prescritos e a falta destas medicações no SUS, aliadas ao alto
custo das medicações e às condições financeiras que os usuários possuem. Por
estas razões, e por referirem ser a medicação que fez efeito em sua patologia,
entraram com o processo de judicialização.
Sumário 537
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Percebemos que os usuários que entraram com ação judicial para acessar
medicamentos referem uma procura inicial pelo “SUS municipal” na “ten-
tativa de uso das medicações existentes na farmácia do município”. Quando não
conseguem o medicamento, vão para o nível secundário sem, no entanto, um
ordenamento e uma coordenação deste cuidado.
Algumas fragilidades nas Redes de Atenção à Saúde (RAS) que fazem com
que o usuário tome decisões próprias são passíveis de propostas organizacio-
nais e de fluxos internos, não necessitando de uma ação externa.
Sumário 538
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
A situação de perda de vínculo com a APS também precisa ser trabalhada, pois
é necessário avaliar o motivo, os fluxos, os ruídos que não permitiram uma res-
posta eficiente. Segundo a usuária, “os funcionários se estressavam com ela”, e a sua
situação de saúde não foi compreendida pela equipe, o que a levou a procurar o
serviço particular para consultas cardiológicas e vasculares. É uma usuária com
problema circulatório e possui uma ferida que não cicatriza na perna. Uma re-
ferência na APS precisa tomar casos e situações como esta e discutir como uma
sentinela na assistência, para reinserir o usuário ao sistema, corrigindo possíveis
fluxos equivocados ou ruídos e orientando à usuária os limites existentes.
Para tal, pressupõe que se o paciente necessitar ser encaminhado para outro
ponto de atenção à saúde, a APS precisa coordenar o cuidado e não somente
“trocar receita”. A informação dada pelos usuários foi de que houve a “troca de
receita” para que a ação pudesse ser ajuizada.
Oliveira e Pereira (2013) relatam que a unidade de APS ou equipes de ESF têm
a função de atuar como centros de comunicação com os serviços de atenção
secundária e terciária e o apoio diagnóstico e terapêutico.
Sumário 539
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Não houve, em nenhum dos casos entrevistados que entraram com ação para
acesso à medicação via judicial, a referência de uma continuidade na assistên-
cia, um acompanhamento, um monitoramento da situação de saúde.
Não foi relatado um acolhimento ao caso. A dor descrita e sentida por nós,
nos fez escolher a cor preta, para representar esta entrevista, justamente pelo
luto que sentimos e a mobilização interna que esta entrevista nos causou, nos
deixando sem palavras e com sentimento de impotência. Chegamos a pedir
desculpas durante a entrevista, por fazê-la voltar a tantas lembranças.
Conclusão
Como observado neste estudo, o impacto do macrocontexto na APS é real e
fragiliza o trabalho em rede. No caso específico do usuário que judicializa o
acesso a medicamentos como direito, podemos notar que nem sempre é por
interesses particulares. Evidenciamos que seus problemas de saúde não são
acompanhados pela APS do Munícipio, o que foi observado em várias falas
Sumário 540
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
O Poder Judiciário pode ser uma estratégia para o acesso ao direito a medi-
camentos no SUS que, muitas vezes, estão sendo negligenciados pelo poder
público, seja por licitações desertas, faltas de recursos, ou outros. Da mesma
maneira, pode ser considerado uma porta de entrada na incorporação de
novas tecnologias (medicamentos) pelo SUS, quando há lacunas nas políticas
de saúde.
Desta forma, podemos inferir que a cidade de Santa Rita de Caldas, um mu-
nicípio de pequeno porte, tem similaridade com a maioria dos municípios do
mesmo porte no Brasil, que devem também possuir dificuldades em manter
uma atenção à saúde dentro dos princípios e diretrizes da APS, e o trabalho
em RAS, onde o usuário deveria ser ouvido em sua real necessidade.
Dentro desta rede, muitas vezes fragmentada, o usuário que precisa de uma
medicação para resolver seus problemas de saúde não tem a quem recor-
rer, pois seu problema transcende o nível de complexidade municipal. Esta
perspectiva de olhar precisa ser mais bem incorporada aos debates públicos,
desmistificando o atual preconceito em relação à temática da judicialização
da saúde e repensada pelos gestores públicos.
Esperamos que este estudo possa ser replicado em outros municípios de pe-
queno porte no país e que o tema da judicialização de medicamentos possa
ser olhado em uma perspectiva que contemple as realidades distintas do país
Sumário 541
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Referências
BRASIL. Resolução nº 238 de 06 de setembro de 2016. Dispõe sobre a criação
e manutenção, pelos Tribunais de Justiça e Regionais Federais de Comitês
Estaduais da Saúde, bem como a especialização de vara em comarcas com mais
de uma vara de fazenda Pública. Brasília, 2016.
CECÍLIO, LCO. et al. Os mapas do cuidado: o agir leigo na saúde. São Paulo:
Hucitec, Fapesp; 2014.
Sumário 542
Judicialização da Saúde nos Municípios Diagnósticos
Sumário 543
Experiências
e propostas
de gestão
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Resumo
Este trabalho apresenta a experiência de cooperação entre
a Defensoria Pública Estadual e a Secretaria de Saúde do
município de Santo Antônio de Jesus, Estado da Bahia,
com vistas a solucionar as demandas da saúde apresenta-
das pelos assistidos residentes no referido município de
Sumário 545
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Sumário 546
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Introdução
O direito à saúde é reconhecido como uma prerrogativa fundamental inerente
à pessoa humana e um dever do Estado, resultante da afirmação dos valores
democráticos e da exaltação da cidadania. Neste contexto, a partir do processo
de redemocratização brasileira, por intermédio da promulgação da Constituição
da República Federativa do Brasil (CRFB), ocorrida em 1988, foi criado o Siste-
ma Único de Saúde (SUS) que possui entre os seus objetivos a formulação das
políticas de saúde.
Todavia, verifica-se, por vezes, iniquidades no acesso aos bens e serviços de saúde
e, a partir deste quadro, a judicialização do direito à saúde surge como uma fer-
ramenta de garantia, sendo, ao menos em teoria, um meio de aperfeiçoamento
da universalização do direito à saúde no Brasil.
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A CRFB (1988) informa, em seus artigos 196 ao 200, que o direito à saúde é
garantido mediante políticas sociais e econômicas que tenham como objeti-
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Segundo Dresch (2016), o direito à saúde pertence à categoria dos direitos fun-
damentais de segunda geração, também denominados direitos sociais. Para o
autor, esses direitos surgiram a partir da transição político-econômica do Estado,
que, no século XX, deixou de atuar como mero garantidor de direitos indivi-
duais, passando a assumir a competência de fornecer prestações positivas aos
cidadãos como forma de atendimento e satisfação de suas necessidades básicas.
Todavia, esse arcabouço jurídico que fundamenta a prestação de saúde não ga-
rante que o SUS consiga combater todos os problemas de saúde da população,
como, por exemplo, a falta de medicamentos e a escassez de procedimentos mé-
dicos. Na prática, isso leva os usuários do SUS a se utilizarem do Poder Judiciá-
rio para conseguir solucionar suas demandas, que são inúmeras e específicas de
indivíduo para indivíduo.
Sumário 549
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Sumário 550
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
A judicialização da saúde
De acordo com Cruz (2014), a observância da lei, a gestão eficiente, além da
disponibilização e correta utilização de recursos financeiros, são pilares que
oferecem sustento à efetivação do direito à saúde e à existência de políticas
públicas, assim como equilíbrio ao sistema de saúde. Contudo, apesar de ser
considerado um dos maiores e mais modernos sistemas públicos de saúde do
mundo, o SUS vem sofrendo déficits de financiamento decorrentes de oscila-
ções nos níveis de arrecadação fiscal, de crises econômicas e políticas, da gestão
ineficiente, bem como desvio de dinheiro público. (MEDEIROS; MEDEIROS;
CAETANO, 2017).
Neste cenário, a maneira encontrada pelos usuários que dependem do SUS para
o pronto restabelecimento da sua qualidade de vida é acionar o Judiciário como
forma de garantir o pleno gozo dos direitos à saúde.
Sumário 551
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dos seus direitos, como a ação direta de inconstitucionalidade por omissão, a ar-
guição de descumprimento de preceito fundamental e o mandado de injunção.
O mínimo existencial
Considerando que o direito à saúde é um direito fundamental, devendo,
portanto, ser obrigatoriamente efetivado pelo Estado, independente de
questões orçamentárias, tendo por base o princípio do mínimo existencial,
Moraes (2018) enfatiza que a dignidade do ser humano está intrinsecamen-
te ligada à sua qualidade de vida, sendo necessário que sejam cumpridas,
por parte do Estado, prestações positivas e viabilizadoras da fruição básica
dessa dignidade.
Desta forma, entende-se que o Poder Público deve socorrer todos os cida-
dãos, e prestar toda a assistência necessária, sob pena de estar violando não
só o direito à saúde, mas todos os direitos fundamentais que lhe são vincula-
dos. Barroso (2017) afirma que a noção de mínimo existencial representa
o conjunto de prestações materiais essenciais e elementares sem as quais o
indivíduo está destinado a permanecer abaixo da linha da dignidade, ao
passo que o não cumprimento dessas prestações indica concreta violação
aos mandamentos constitucionais.
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Apesar do descaso com a efetivação dos direitos sociais, seja pelo mal planeja-
mento das verbas pelo Estado ou pela criação de políticas públicas insuficien-
tes para atender às carências de saúde da população, Lenza (2018) comple-
menta que o Poder Legislativo, ao regulamentar os direitos, deve respeitar
o seu núcleo essencial, oferecendo as condições para que a Administração
assegure a implementação dos direitos constitucionalmente assegurados.
Frente aos dilemas da não garantia do acesso aos serviços de saúde, Santos
(2017) informa que o papel da Defensoria Pública, como uma das entidades
alinhadas com os propósitos do Estado Social e Democrático de Direito, assim
como a ampliação da sua autonomia – funcional, administrativa e financeira
– acaba por permitir a sua independência com relação à atuação nas deman-
das contra o Estado, no caso, as que reivindicam prestações sociais, entre as
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SIM
Defensoria Demanda
estrutura?
Pública
NÂO
Componente
Municipal Reunião da Comissão
de Auditoria Interinstitucional
Esse encaminhamento dos pacientes é feito por meio de ofício físico e eletrô-
nico oriundo da Defensoria Pública contendo um breve resumo da demanda
do assistido - demanda estruturada - e o pedido de requisição de providên-
cias que o Poder Público Municipal precisa efetuar para garantir o acesso à
saúde do demandante. Nessa senda:
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Tipo de demanda N %
Medicamentos 12 27,9
Cirurgia 5 11,6
Transporte/remoção 2 4,7
Vacina 2 4,7
Fisioterapia 1 2,3
Diálise 1 2,3
Total 43 100,0
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Status da demanda N %
Resolvida 11 33,3
Ajuizada 0 0,0
Total 33 100,0
Conclusão
O presente artigo analisou a experiência de cooperação entre a Defensoria
Pública Estadual e a Secretaria de Saúde do município de Santo Antônio de
Jesus - BA, com vistas a solucionar as demandas da Saúde, apresentadas pelos
assistidos residentes no referido município, de forma mais célere.
Sumário 559
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Como limite da experiência, nota-se que, mesmo com ampla divulgação pela
mídia local da cooperação interinstitucional entre a Defensoria Pública e a Secre-
taria de Saúde Municipal, parte da população não sabe da existência do projeto
e dos trâmites de encaminhamento para a solução das demandas por esta via.
Referências
BAHIA. Projeto de cooperação interinstitucional que entre si celebram a 6ª Re-
gional da DPE/BA e a secretaria de saúde do município de Santo Antônio de Jesus
para solução extrajudicial das demandas de saúde, 2017.
Sumário 560
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DE MELLO, Celso Antônio Bandeira. Apontamentos sobre a teoria dos órgãos públi-
cos. Revista de Direito Administrativo e Infraestrutura, v. 2, n. 4, p. 423-434, 2018.
LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado / Pedro Lenza. 22ª ed. São
Paulo: Saraiva, 2018
MEIRELLES, Hely L. Direito Administrativo Brasileiro. 43ª Ed. São Paulo: Malhei-
ros, 2018.
Sumário 561
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Resumo
As políticas de saúde na área de Assistência Farmacêutica
(AF) prevêem as diferentes responsabilidades das instân-
cias gestoras quanto ao fornecimento de medicamentos no
Sistema Único de Saúde (SUS). Ao transportar essas pre-
missas para o âmbito judicial, e à luz do Tema 793 do Su-
premo Tribunal Federal, torna-se evidente a necessidade
de formalizar em Comissão Intergestores a operacionaliza-
ção dos serviços demandados judicialmente. Neste contex-
to e buscando melhor eficiência na administração pública,
a representação dos municípios na Câmara Técnica de As-
sistência Farmacêutica da Comissão Intergestores Biparti-
te (CIB) de Santa Catarina propôs uma normatização dos
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Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Sumário 563
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Introdução
O acesso a medicamentos no Brasil é parte do direito à saúde e a sua garantia
depende, dentre outras questões, do contexto econômico, social e político.
A ampliação do acesso geralmente está associada à melhoria das condições
socioeconômicas da população, mas também à capacidade de financiamen-
to dos sistemas de saúde, à promoção do uso racional dos medicamentos,
à eficiência na gestão dos recursos e na elaboração e execução de políticas
públicas relacionadas à assistência farmacêutica (AF) (CHIEFFI; BARATA,
2009; PEPE et al., 2010; CATANHEIDE, LISBOA, SOUZA, 2016; OLIVEI-
RA; NASCIMENTO; LIMA, 2019).
Sumário 564
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Segundo Bevilacqua e Santos (2019), a tese fixada pelo STF privilegia o aces-
so à Justiça e pode fomentar a judicialização da saúde ao acelerar a concessão
judicial de medicamentos; e leva a concluir que os municípios podem ficar
vulneráveis quando do descumprimento da segunda parte da tese, referente
ao ressarcimento interfederativo, haja vista a complexidade e fragilidade da
sistemática atual de reembolso intergovernamental. Portanto, percebe-se que
o ente com menor capacidade financeira e com menor potencial de gerar
economia de escala em aquisições seria o menos indicado para adquirir pro-
dutos demandados judicialmente, ainda que se vislumbre a possibilidade de
ressarcimento, que na prática se mostra morosa e complicada.
Nogueira (2019) conclui que o Tema 793 não é claro sobre qual ente fede-
rado deve compor o polo passivo e ser condenado nas prestações da saúde,
motivo pelo qual a identificação do mesmo deve ser uma preocupação dos
litigantes e dos operadores do direito, inclusive para assunção das eventuais
penalidades por descumprimento. Deduz-se, assim, que ao ente mais frágil
no polo passivo interessa a identificação do devedor da prestação.
Ventura et. al. (2010) afirma que a efetividade do direito à saúde, o que inclui
a AF, requer um conjunto de respostas políticas e ações governamentais mais
Sumário 565
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É fato que parte dos municípios catarinenses, em sua grande maioria de pe-
queno porte, vem contribuindo com a gestão estadual no cumprimento de
ações judiciais, inclusive quando não fazem parte do polo passivo da ação,
ao assumirem a tarefa da entrega dos medicamentos adquiridos pelo Esta-
do. Para tanto, a gestão municipal tem cedido recursos humanos e estrutura
física para o armazenamento, dispensação dos medicamentos e demais ati-
vidades pertinentes. Contudo, não são raros os casos de desabastecimentos
desses medicamentos, gerando transtornos entre os autores e as farmácias
municipais, além de penalidades contra os municípios por descumprimento
de ordem judicial, uma vez que estes nem sempre possuem pactuação formal
com os demais réus sobre a divisão de responsabilidades e a operacionali-
zação do cumprimento da demanda e por isso não conseguem defender-se
judicialmente quando são penalizados.
Sumário 566
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Ao considerar que as demandas judiciais estão cada vez mais presentes na ro-
tina das secretarias de saúde, fica evidente a necessidade da organização das
ações e serviços decorrentes destas demandas de forma mais célere, eficiente
e ao menor custo para a sociedade, especialmente quando o magistrado não
especifica qual ente é o responsável pelo cumprimento. Nesse contexto, a
representação dos municípios catarinenses na Câmara Técnica de Assistência
Farmacêutica (CTAF) da Comissão Intergestores Bipartite de Santa Catarina
(CIB/SC) propôs uma normatização, a ser pactuada na CIB/SC, dos fluxos e
etapas operacionais e administrativas relacionadas ao cumprimento de or-
dens judiciais para o fornecimento de medicamentos.
Desenvolvimento
Os impactos na gestão da AF provocados pela judicialização da saúde não se
restringem à entrega de medicamentos. Há características específicas desta
demanda, que vem exigindo um tipo de atuação do gestor, administrativa e
judicial, diferenciada para responder às ordens judiciais, evitar o crescimento
de novas demandas e preservar os princípios e as diretrizes do SUS. Entre os
impactos na operacionalização da AF, a agilidade necessária para o forneci-
mento de medicamentos não previstos no planejamento faz com que se crie
uma estrutura paralela nas secretarias de saúde, além de compras emergen-
ciais mais dispendiosas.
Sumário 567
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Considerando (...)
RESOLVE:
Sumário 568
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Art. 2°. Caberá à SES/SC disponibilizar sistema informatizado que integre SES/SC
e SMS para o gerenciamento e acompanhamento das demandas judiciais, conforme
funcionalidades expostas nesta Deliberação, e que inclua previsão, controle e rastrea-
mento dos estoques dos medicamentos.
§ 1º. As pactuações individualizadas para cada processo judicial serão realizadas nos
casos não previstos nesta Deliberação, podendo haver consensos específicos para cada
demanda, a critério dos referidos gestores.
§ 3º. Considera-se o prazo de até 15 (quinze) dias para resposta da proposta de pac-
tuação ao gestor proponente, após o recebimento da intimação judicial.
§ 5º. O termo de pactuação poderá ser apresentado nos autos, se necessário, para
identificar o ente responsável pelo cumprimento da demanda.
Sumário 569
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§ 2º. Caberá à SMS solicitar a extinção do processo judicial ou, no caso do município
não figurar no polo passivo da ação, fornecer subsídios para que a SES/SC solicite a
extinção do processo judicial.
Sumário 570
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§ 2º. Caberá à SES/SC solicitar a extinção do processo judicial ou, no caso do Estado
não figurar no polo passivo da ação, fornecer subsídios para que a SMS solicite a
extinção do processo judicial.
Art. 10º. A distribuição e o transporte dos medicamentos adquiridos pela SMS, con-
forme Capítulo IV, bem como a sua logística dentro do município, será responsabili-
dade da SMS.
§ 4º. Na eventualidade do estoque enviado pela SES/SC ser insuficiente para todos
os autores, a SES/SC deverá identificar os autores desatendidos, bem como informar a
previsão de reabastecimento em relatório que deverá acompanhar as guias de remessa.
§ 6º. Quantitativos superiores à média semestral poderão ser entregues à SMS desde
que haja espaço e local adequado para o armazenamento.
Sumário 571
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§ 7º. A SMS poderá recusar o recebimento dos medicamentos caso estejam com validade
inferior a 90 dias, em más condições de acondicionamento, quebrados, violados, com
sinais de umidade e outras características que sinalizam a inadequação do produto, de-
vendo registrar detalhadamente o motivo da recusa para [especificar o setor] da SES/SC.
§ 8º. A SMS poderá recusar medicamentos de uso e/ou aplicação hospitalar ou que
exijam ambiente apropriado para a sua manipulação (ex. alguns antineoplásicos),
cabendo à SES/SC providenciar o ambiente adequado para a administração do me-
dicamento no demandante.
Art. 12º. O armazenamento deve garantir a qualidade dos medicamentos desde o recebi-
mento até o fornecimento ao destinatário através de procedimentos técnicos que incluem:
III - Segurança – cuidado dos produtos contra danos físicos, furtos e roubos, incluin-
do a segurança da equipe e do ambiente de trabalho;
Sumário 572
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§ 2º. O armazenamento dos medicamentos adquiridos pela SMS, bem como daqueles
enviados pela SES/SC, conforme Capítulo IV, será responsabilidade da SMS.
Art. 17°. Compete à SMS verificar a legitimidade da receita médica e demais do-
cumentos pertinentes, conforme legislação sanitária, para autorizar o fornecimento
do medicamento.
Sumário 573
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Art. 18º. Compete à SMS inserir os dados e/ou digitalizar as receitas médicas no
sistema informatizado, conforme Capítulo I.
§ 1º. A SMS não arquivará receitas médicas (via farmácia) e poderá descartá-las
após 180 dias se não retiradas pela SES/SC.
§ 1º. A SES/SC poderá fornecer mobiliário, equipamentos e imóveis, bem como recur-
sos humanos, para a abertura e manutenção do serviço (armazenamento, farmácia e
suporte administrativo) através de acordo direto com o município.
§ 2º. A SES/SC poderá providenciar, para uso dos municípios, atas de registro de
preços para aquisição de mobiliário e equipamentos destinados à abertura e manu-
tenção do serviço.
Sumário 574
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§ 3º. Caberá à SMS solicitar a extinção do processo judicial ou, no caso do município
não figurar no polo passivo da ação, fornecer subsídios para que a SES/SC solicite a
extinção do processo judicial.
Art. 22º. Após a distribuição dos estoques pela SES/SC, caberá à SMS armazenar e
fornecer os medicamentos do Componente Especializado da Assistência Farmacêutica
– CEAF vigente, insulinas, análogos de insulina e outros medicamentos de com-
petência estadual pactuados em instâncias intergestores para cumprimento de ações
judiciais independentemente de quem sejam os réus.
§ 2º. Caberá à SES/SC solicitar a extinção do processo judicial ou, no caso do Estado
não figurar no polo passivo da ação, fornecer subsídios para que a SMS solicite a
extinção do processo judicial.
Art. 23º. O fornecimento dos demais medicamentos enviados pela SES/SC para cum-
primento de ações judiciais independentemente de quem sejam os réus, serão realiza-
das pela SMS.
§ 1º. A SMS não fornecerá medicamentos diretamente aos usuários, caso estes medi-
camentos sejam de uso e/ou aplicação hospitalar ou que exijam ambiente apropriado
para a sua manipulação (ex. alguns antineoplásicos).
Art. 24º. Compete à SES/SC emitir os recibos de fornecimento, os quais poderão ser
gerados via sistema informatizado, conforme Capítulo I.
Sumário 575
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
§ 3º. A SMS não arquivará recibos físicos e poderá descartá-los após 180 dias se não
retiradas pela SES/SC.
Art. 26º. Caberá à SMS registrar cada fornecimento no sistema informatizado (Ca-
pítulo I), bem como controlar o seu estoque, de modo a permitir que a SES/SC iden-
tifique remotamente estoques remanescentes e providencie sua redistribuição, quando
necessário.
§ 1º. A SMS deverá notificar a [especificar setor] SES/SC sobre estoques abandona-
dos, sobras por motivos diversos, erros em remessas ou outras situações que demandem
o recolhimento de medicamentos.
§ 2º. A SMS deverá notificar a [especificar setor] SES/SC sobre estoques com valida-
de inferior a 90 dias para que sejam remanejados e se evite sua perda.
Capítulo XI - DO DESCARTE
Art. 28º. Caberá à SMS o descarte dos medicamentos vencidos, quebrados, violados
ou inutilizados que adquiriu, bem como aqueles que não foram devidamente notifica-
dos à SES/SC, conforme Capítulo X.
Art. 29º. Caberá à SES/SC o descarte dos medicamentos vencidos, quebrados, vio-
lados ou inutilizados que adquiriu, bem como aqueles devidamente notificados pelas
SMS, conforme Capítulo X.
Art. 30º. Caberá à SES/SC o descarte dos medicamentos que enviar à SMS com
validade inferior a 90 dias.
Sumário 576
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
§ 1º. A SES/SC poderá utilizar-se de mecanismos com os seus fornecedores para evi-
tar perdas por vencimento, a exemplo das cartas de comprometimento de troca.
Art. 31º. As regionais de saúde serão referências para apoio logístico e técnico para a
execução das atividades previstas nesta Deliberação.
Conclusão
Esta proposta construída pelos técnicos municipais foi apresentada à Câmara
Técnica de Assistência Farmacêutica da CIB/SC e encontra-se sob análise da
gestão estadual, aguardando acatamento ou contraproposta (CIB/SC, 2019).
Sumário 577
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Referências
BEVILACQUA, Lucas; dos SANTOS, Julia Maria Tomás. A saúde no STF: o res-
sarcimento interfederativo à luz do Recurso Extraordinário nº 855.178. Cadernos
Ibero-Americanos de Direito Sanitário, [S. l.], v. 8, n. 3, p. 186-205, 2019. Disponível
em: https://doi.org/10.17566/ciads.v8i3.554. Acesso em: 29 mar. 2021.
Sumário 578
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Sumário 579
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
OLIVEIRA, Luciane Cristina Feltrin de; NASCIMENTO, Maria Angela Alves do;
LIMA, Isabel Maria Sampaio Oliveira. O acesso a medicamentos em sistemas uni-
versais de saúde – perspectivas e desafios. Saúde em Debate [online]. v. 43, n. spe5,
p. 286-298, 2020. Disponível em: https://doi.org/10.1590/0103-11042019S523. Acesso
em: 29 mar. 2021.
PEPE, Vera Lúcia Edais; FIGUEIREDO, Tatiana de Aragão; SIMAS, Luciana; OSO-
RIO-DE-CASTRO, Cláudia Garcia Serpa; VENTURA, Miriam. A judicialização da
saúde e os novos desafios da gestão da assistência farmacêutica. Ciência & Saúde
Coletiva, Rio de Janeiro, v. 15, n. 5, p. 2405-2414, 2010. Disponível em: http://dx.
doi.org/10.1590/S1413-81232010000500015. Acesso em: 29 mar. 2021.
VENTURA, Miriam; SIMAS, Luciana; PEPE, Vera Lúcia Edais; SCHRAMM Fermin
Roland. Judicialização da saúde, acesso à justiça e a efetividade do direito à saú-
de. Physis, Rio de Janeiro, v. 20, n. 1, p. 77-100, 2010. Disponível em: https://doi.
org/10.1590/S0103-73312010000100006. Acesso em: 29 mar. 2021.
Sumário 580
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Resumo
As demandas judiciais para solicitações de fórmulas e mó-
dulos nutricionais industrializados contra os entes públi-
cos no Brasil cresceram exponencialmente, constituindo-
se como um novo desafio para gestores do Sistema Único
de Saúde. Sem o acesso na própria unidade de saúde, o
município é acionado por parte destes pacientes por meio
de demandas judiciais. No entanto, outros pacientes aca-
bam ficando sem o acesso às formulações ou dependem de
custeio próprio. O estudo focou na viabilidade de implan-
tação de um Programa Municipal de Dietas e Suplementos
Sumário 581
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Sumário 582
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Introdução
A Organização Mundial de Saúde (OMS) em 1946 definiu a saúde como um
estado completo de bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência
de doença ou enfermidade. Em sentido amplo e contemporâneo, saúde é,
sobretudo, uma questão de cidadania e de justiça social. Ela transpõe o mero
estado biológico ao incorporar a concepção de que o estado de saúde também
é determinado pelas condições de vida e de trabalho dos indivíduos, pela
conjuntura social, econômica, política e cultural de determinado país, por
aspectos legais e institucionais relativos à organização dos sistemas de saúde
e do nível de acesso dos usuários aos serviços como educação, saúde, servi-
ços sociais, transportes e lazer. Dentre os determinantes de saúde de maior
impacto na saúde da população estão os econômicos e sociais, uma vez que
pobreza, exclusão social, baixa renda, por exemplo, pode não favorecer um
estilo de vida que permita a escolha e manutenção de alimentação adequada
e saudável para cada etapa da vida.
Sumário 583
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Sumário 584
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Do ponto de vista clínico, essa via de acesso ao sistema gera atraso no início
do tratamento do paciente ao compreender que a Terapia Nutricional En-
teral Domiciliar (TNED) tem o objetivo de fornecer a quantidade necessária
Sumário 585
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Metodologia
Realizou-se o levantamento acerca dos tipos de fórmulas e módulos nutri-
cionais prescritos aos seus usuários com seus respectivos quantitativos, bem
como o número de pacientes em uso das fórmulas nutricionais em 8 servi-
ços de saúde da rede municipal sendo: 4 Distritos de Saúde de Campinas, 2
Centros de Referência (Centro de Referência do Idoso, Centro de Referência
em Reabilitação), 2 ambulatórios de especialidades (Ambulatório de crianças
prematuras e de alto risco - Ambulatório Fênix - e Ambulatório de crianças
de 0 a 16 anos egressos do eixo UTI e enfermaria pediátrica do HMMG por-
tadores de múltiplos dispositivos como sondas, traqueostomia, gastrostomia,
derivações, oxigênio suplementar e/ou BiPAP - Bilevel Positive Pressure Airway
- Ambulatório Andorinhas - por meio de ofício encaminhado pelo Sistema
Eletrônico SEI utilizado pela Prefeitura Municipal de Campinas.
Sumário 586
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Desenvolvimento
A contagem demonstrou que os serviços possuem 388 pacientes dependendo
de fórmulas nutricionais para se alimentar, sendo 302 adultos e 86 crianças.
Sumário 587
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SAD Sul 82
SAD Sudoeste 64
SAD Noroeste 34
Total 302
SAD Sul 09
SAD Sudoeste 16
SAD Noroeste 6
Fênix 5
Andorinhas 36
Total 86
Sumário 588
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Valor
Necessidades Necessidades Valor
aquisição
apontadas pelos apontadas pelos aquisição
ITEM Nº de pacientes em TNE Registro
serviços de saúde serviços de saúde sub judice
de Preço
(Kcal)/ ano (Kcal)/ ano R$/Kcal
R$/Kcal
Sumário 589
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Valor
Necessidades Necessidades Valor
aquisição
apontadas pelos apontadas pelos aquisição
ITEM Nº de pacientes em TNE Registro
serviços de saúde serviços de saúde sub judice
de Preço
(Kcal)/ ano (Kcal)/ ano R$/Kcal
R$/Kcal
Sumário 590
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Valor
Necessidades Necessidades Valor
aquisição
apontadas pelos apontadas pelos aquisição
ITEM Nº de pacientes em TNE Registro
serviços de saúde serviços de saúde sub judice
de Preço
(Kcal)/ ano (Kcal)/ ano R$/Kcal
R$/Kcal
Sumário 591
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Sumário 592
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Tabela 4A: Comparativo dos preços praticados quando da aquisição por via judicial
e da aquisição por Registo de Preço, na modalidade Pregão Presencial Eletrônico, para
atendimento da necessidade anual do município de fórmulas nutricionais.
Sumário 593
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
R$ R$
TOTAL 127.508.640 17.845.944
2.642.865,21 2.197.055,88
Tabela 4B: Comparativo dos preços praticados quando da aquisição por via judicial
e da aquisição por Registo de Preço, na modalidade Pregão Presencial / Eletrônico, para
atendimento da necessidade anual do município de módulos nutricionais.
Necessidade Cobertura
anual apontadas calórica anual SUB JUDICE REGISTRO DE
DESCRITIVO TÉCNICO
pelos serviços de / aquisições sub (R$) PREÇO (R$)
saúde (g) judice (g)
Sumário 594
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Sumário 595
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Conclusão
Os resultados do presente estudo permitiram verificar que a cobertura da
necessidade da população, quando comparada com as quantidades de fór-
mula adquiridas sub judice, é de apenas 15% e que os valores dos produtos
representam uma diferença de 17,1% entre uma modalidade ou outra.
Referências
OPAS/ OMS BRASIL - Organização Pan-Americana da Saúde /Organização Mundial
da Saúde (OMS) Brasil. Desenvolvida pela Organização Mundial da Saúde para as
Américas. OPAS/OMS apoia governos no objetivo de fortalecer e promover a saúde
mental da população. Disponível em: https://www.paho.org/bra/index.php. Acesso
em: 18 mar. 2021.
Sumário 596
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Sumário 597
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
PEREIRA, T.N, et al. Perfil das demandas judiciais para fornecimento de fórmulas
nutricionais encaminhadas ao Ministério da Saúde do Brasil. DEMETRA: Alimen-
tação, Nutrição & Saúde. Rio de Janeiro, v. 9, Supl.1, p. 199-214, 2014.
Sumário 598
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Sumário 599
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Resumo
O crescimento das demandas judiciais é uma realidade
em Estados e Municípios do Brasil, com variação de suas
principais características de acordo com a realidade lo-
cal. Medicamentos mantêm-se como os principais bens de
saúde demandados, por vezes sem fazer parte da Relação
de Medicamentos Essenciais, com concentração em gru-
pos terapêuticos de alto custo, com predomínio de repre-
sentação de advogados privados e de poucos prescritores
concentrando as demandas judiciais. Demandas judiciais
de alguns medicamentos estiveram relacionadas a práticas
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Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
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Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Vian (2020) define corrupção como um abuso de poder para auferir um ganho
privado e nela se inclui a fraude e abuso, pois em geral elas envolvem abuso
de poder. Desse modo, o termo “corrupção” utilizado no presente trabalho
possui significado mais amplo, de acordo com a literatura internacional, não se
restringindo à definição legal constante nos artigos 317 e 333 do Código Penal
Brasileiro. Inclui também fraude, suborno, apropriação indevida, desfalques,
desvio de patrimônio público, tráfico de influência, abuso de função e enrique-
cimento ilícito. Entende-se por fraude o fato de obter um benefício ilegalmente
de qualquer natureza pela infração intencional da lei e de obter um benefício
de maneira injusta, seja qual for sua natureza, sabendo que está atuando “no
limite” da lei ou se aproveitando da ausência de uma lei.
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Leal & Ritt (2015) referem que dentre os maiores problemas na judicialização
da saúde está a possibilidade da má utilização do Judiciário para fins escusos,
como o atendimento de interesses da indústria farmacêutica, por exemplo.
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et al., 2019b; SILVA et al., 2017; ZAGO et al., 2016; UCKER et al., 2016; PIN-
TO et al., 2015; OLIVEIRA & SOUZA, 2014; BARRETO et al., 2013; BAR-
REIRA, 2012). Em decisões liminares de 154 demandas judiciais de medica-
mentos, contra o município de Salvador, entre 2014 a 2016, predominou o
Componente Básico da Assistência Farmacêutica (45,9%). O medicamento
mais demandado, no período, foi o ranibizumabe, não incorporado ao SUS
para degeneração macular (RIOS, 2019). O autor informa que neste período
não havia rotinas ou instrumentos para a detecção de fraudes.
Sumário 611
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Recente estudo em município mineiro observou que apenas 51% dos 56 pa-
cientes utilizando medicamentos judicializados para diabetes mellitus tipo 2,
em 2019, foram consultados no SUS. Três demandas eram de medicamentos
não pertencentes à Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (FERREI-
RA et al., 2020).
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Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
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Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Aumentar a detecção
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Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Fonte: Wartell et al, 2013 (modificado). 1.Wartell et al, 2013; 2. Azevedo e Aith, 2019; 3. Bertot et al, 2020; 4.
Holenan et al, 2016; 5. Kohler & Bowra, 2020); 6. Mackey et al, 2017; 7. TCU, 2016; 8. Joudaki et al, 2015; 9.
Ferreira et al, 2020.
Considerações finais
O acesso a medicamentos, de forma equitativa e de acordo com as necessida-
des sanitárias, ainda constitui um desafio no Brasil. Por um lado, fragilidades
na gestão da Assistência Farmacêutica e atraso na incorporação de medica-
Sumário 616
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Referências
ADVOCACIA GERAL DA UNIÃO. Parecer Referencial nº0019/2017/CONJUR-MS/
CGU/AGU. Tribunal Regional Federal (3ª Região). NUP: 00737.013564/2016-73.
Interessados: Coordenação Geral de Acompanhamento Jurídico. Brasília, 2017.
Disponível em: https://www.trf3.jus.br/documentos/natjus/AGU-2017-Procysbi-
Cisteamina.pdf. Acesso em 20/02/2021.
Sumário 617
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Sumário 618
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
CABRAL, I.; REZENDE, L.F. Análise das ações judiciais individuais para
fornecimento de medicamentos em São João da Boa Vista. Rev de Direito Sanitário.
v. 16, n. 1, p. 59-77, 2015.
Sumário 619
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Sumário 620
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Sumário 621
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
OLIVEIRA, Jeandro Silva; FRANÇA, José Rivaldo Melo de; OLIVEIRA, Maria Helena
Barros de. Ações judiciais sobre medicamentos no município de Vitória da Conquista
(BA): efeitos orçamentários entre 2010 e 2014. In. Oliveira, Maria Helena Barros de;
Erthal, Regina Maria de Carvalho; Vianna, Marcos Besserman; Da Matta, Jairo Luis
Jacques; Vasconcellos, Luiz Carlos Fadel de; Bonfatti, Renato José. Direitos Humanos e
saúde: construindo caminhos, viabilizando rumos. Rio de Janeiro, Cebes, 2017.
Sumário 622
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Sumário 623
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
SILVA, Luis Virgilio Afonso da; TERRAZAS, Fernanda Vargas. Claiming the Right
to Health in Brazilian Courts: The Exclusion of the Already Excluded? Law & Social
Inquiry, Hoboken, NJ, v. 36, n. 4, p. 825-853, 2011.
Sumário 624
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
WANG, Daniel Wei L.; VASCONCELOS, Natália Pires de; OLIVEIRA, Vanessa
Elias de;TERRAZAS, Fernanda Vargas. Os impactos da judicialização da saúde no
município de São Paulo: gasto público e organização federativa. Rev. Adm. Pública,
Rio de Janeiro, v. 48, n. 5, p. 1191-1206, 2014
WARTELL, J & Nancy G. LA VIGNE, NGL. Prescription Drug Fraud and Misuse.
2nd Edition. Center for Problem-Oriented Policing, Inc. The U.S.. Department of
Justice. 2013. Disponível em: https://cops.usdoj.gov/RIC/Publications/cops-p257-pub.
pdf. Acesso em 02/05/2021.
Sumário 625
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Resumo
O direito à saúde é fundamental a todos e é dever do Es-
tado, conforme a Constituição Federal de 1988. Contudo,
sabe-se que o Sistema Único de Saúde passou por sucessi-
vos subfinanciamentos, bem como que a judicialização da
saúde tende a gerar gastos mais elevados aos entes públi-
cos. No município de Santa Rita - PB, com a finalidade de
evitar o aumento e os custos extraordinários das demandas
judiciais, o Jurídico da Secretaria de Saúde buscou quali-
ficar os atendimentos de forma estratégica para melhor
instrução das solicitações administrativas e das demandas
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Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Sumário 627
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Introdução
Todos os brasileiros, possuindo um plano de saúde privado ou não, depen-
dem do Sistema Único de Saúde (SUS), pois este abrange, entre tantas outras
vertentes, o controle da qualidade da água que chega nas casas, o controle
da qualidade e segurança de alimentos e medicamentos para consumo e o
controle de doenças. Por isso, classifica-se o Direito à Saúde como sendo um
direito fundamental.
Acontece que, mesmo sendo um direito fundamental, a saúde precisa ser ga-
rantida por meio de políticas sociais e econômicas, como ensina o mesmo art.
196 da CF/88 e, portanto, não pode ser ofertada sem o acompanhamento e a
atenção do Estado, de modo que a manutenção daquela é seu dever.
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Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Os entes federativos, por meio de suas equipes de saúde, devem buscar for-
necer o melhor serviço possível; para tanto, é recomendável que se prepa-
rem com informações como: em que área atuar com maior intensidade, quais
os medicamentos previstos em relação padronizada que a população mais
precisa, quais os procedimentos que exigem maior urgência. A partir des-
se estudo, ocorre organização para realizar licitações, contratos, convênios e
parcerias, visando contínuo abastecimento do necessário.
Sumário 629
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Dito isso, este artigo tem o intuito de demonstrar, por meio de experiências
vivenciadas pelos servidores públicos da Coordenadoria Jurídica da Secreta-
ria Municipal de Saúde de Santa Rita - PB, que existem formas de melhor
enfrentar a Judicialização da Saúde, com o cumprimento de todos os deveres
da Administração Pública, bem como com o respeito e a busca à efetivação do
direito dos usuários do SUS.
Para elaboração deste artigo, foram utilizados como fontes dados oriundos
da Secretaria Municipal de Saúde de Santa Rita; legislação; jurisprudência;
doutrina e publicações relacionadas ao tema; estudos com dados sobre ju-
dicialização da Saúde em outros entes federativos; enunciados do Conselho
Nacional de Justiça e Notas Técnicas de órgãos de avaliação de tecnologias
em saúde.
De acordo com estudo inédito realizado pelo Insper, por encomenda do Con-
selho Nacional de Justiça, entre 2008 e 2017, as demandas judiciais envol-
vendo saúde tiveram aumento de 130% (BRASIL, 2019). Percebeu-se que
houve consequências diretas no orçamento do Ministério da Saúde, o qual
registrou, no ano de 2016, gastos 13 vezes maiores com demandas judiciais.
A pesquisa verificou, ainda, que poucas decisões citam os órgãos que as qua-
lificariam, como os Núcleos de Apoio Técnico (NATs) e a Comissão Nacional
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Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Com o passar dos anos, o cenário só se agravou e, no ano de 2019, foi lançado
o Relatório Analítico Propositivo Justiça Pesquisa do CNJ com o tema: “Ju-
dicialização da Saúde no Brasil: Perfil das Demandas, Causas e propostas de
Solução” (BRASIL, 2020). Segundo esse levantamento, no Estado da Paraíba,
no qual se insere o município de Santa Rita, foram feitas apenas 70 (setenta)
solicitações de Notas Técnicas ao NAT-JUS Nacional.
Classificada por Schulze (2020), mas relativa a anos anteriores, a visão cor-
respondente à primeira fase encontra-se bem descrita no seguinte excerto de
Vieira (2008):
Sumário 631
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Em uma terceira fase (SCHULZE, 2020), espera-se avaliação quanto aos reais
benefícios para os autores de processos judiciais e aumento da investigação
sobre as evidências em saúde (análise de eficácia, efetividade, eficiência e
equidade).
Sumário 632
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
4 Muitos veículos de comunicação apresentaram notícias sobre as diversas interdições ocorridas, po-
demos citar como exemplo o título da matéria veiculada pelo G1, qual seja: “CRM interdita mais duas
unidades de saúde em Santa Rita” (G1, 2015). Ao longo do texto noticiado verificamos que, à época,
já se contavam 22 unidades interditadas pelo CRM, interdições éticas e estruturais. A título de com-
plementação, sugerimos a leitura de mais duas matérias, outra veiculada pelo G1, com título: “CRM
interdita dez postos de saúde de Santa Rita”(G1, 2015); e outra veiculada pelo Portal Correio, de título:
“CRM acha irregularidades e interdita 15 unidades de saúde de Santa Rita” (CORREIO, 2015).
Sumário 633
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
estrutura disponível, mas foi retomado após alguns meses de esforços con-
juntos entre os servidores da Secretaria de Saúde (SANTA RITA, 2017).
O lixo e a sujeira tomaram conta das ruas da cidade durante meses, o que
agravava ainda mais a situação da saúde local (A UNIÃO, 2016). Ademais,
diversas obras da Secretaria Municipal de Saúde espalhadas por toda a ex-
tensão territorial da cidade encontravam-se paralisadas. Somando a isso o
fato de que a edilidade pública estava sucateada e com escasso pessoal espe-
cializado. Estava montado o cenário de caos.
Contudo, mesmo diante do cenário descrito acima, várias ações foram toma-
das para que as medidas cabíveis ao reaparelhamento dos setores prejudica-
dos pudessem se concretizar e, enfrentando os desafios apresentados, a nova
gestão municipal aos poucos foi vencendo cada etapa, como se demonstra
pela reabertura do SAMU, pela retomada do Programa Mais Médicos e pelo
trabalho desenvolvido para organização de processos administrativos e en-
frentamento de demandas judiciais, neste exposto.
Sumário 634
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Observou-se que as ações judiciais em saúde terminam por gerar maior gasto,
visto que impõem mobilização de pessoal da Administração Pública para rea-
lizar defesa e para providenciar o cumprimento de decisões, geralmente em
curtíssimo prazo, inviabilizando a economicidade advinda de processos licita-
tórios regulares. Somam-se a isso eventuais multas pecuniárias (por vezes de
valores mais altos do que o objeto do processo) e sequestro de verbas públicas.
Diante desse quadro fático, dentre as medidas mais plausíveis para diminui-
ção dos impactos negativos decorrentes da judicialização da saúde, foram
identificadas como estratégias viáveis e econômicas o oferecimento de alter-
nativas administrativas, por meio da qualificação e da humanização da infor-
mação à população. Outra importante estratégia foi a ampliação do diálogo
entre o corpo técnico da Secretaria de Saúde e a Procuradoria Municipal,
bem como entre o referido corpo técnico e o Ministério Público, a Defensoria
Pública e o Poder Judiciário.
Sumário 635
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Interno da Secretaria Municipal de Saúde de Santa Rita - PB, por meio de seus
agentes públicos, criaram uma série de mecanismos e critérios administrativos
para que pudessem aprimorar o trabalho com eficiência, resguardando os di-
reitos dos cidadãos e o planejamento orçamentário, financeiro e administrativo.
Sumário 636
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Sumário 637
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Sumário 638
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Todavia, mesmo não sendo exigível por lei, a equipe da Coordenadoria Ju-
rídica, ciente da importância de requerimentos que envolvem saúde e da
realidade da judicialização no Brasil, optou por fazer dos Pareceres Jurídi-
cos documentos bem embasados, que unem informações técnicas, evidências
científicas, legislação, jurisprudência e enunciados.
Sumário 639
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
5 Registre-se que, na experiência vivenciada pelos autores, raramente se recebeu laudo circuns-
tanciado baseado em evidências científicas. Em alguns casos, ocorreu a substituição por objetos pre-
vistos no SUS ou a emissão de laudo genérico apenas afirmando a necessidade do item não constante
na rede pública.
Sumário 640
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Sumário 641
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Esse proceder causou impacto bastante positivo ao evitar novas decisões ju-
diciais em desfavor do município ou ao provocar modificações que tornaram
determinações jurisdicionais já em trâmite menos gravosas ao ente público.
Sumário 642
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Resultados obtidos
Como primeiro resultado positivo obtido, percebeu-se que a experiência
aplicada evitou demandas judiciais de procedimentos de baixo custo, pois
muitos foram substituídos por tratamentos alternativos no âmbito do SUS ou
foram fornecidos administrativamente.
6 Essa decisão corresponderia a um exemplo da primeira fase da judicialização da saúde descrita por
Schulze (2019) e exposta no item II deste artigo.
Sumário 643
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
467
2017 173
21 3,28%
519
2018 234
21 2,78%
O percentual não só foi baixo, como foi decrescente; ademais, foi mantida a
quantidade de novas decisões judiciais com intimação à Secretaria de Saúde
para cumprimento (21 no ano de 2017 e 21 no ano de 2018), tendo se mos-
trado, no período, positivamente, em movimento oposto à tendência que se
apresentava no cenário nacional, segundo analisado no tópico II.
Sumário 644
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
processos judiciais tem-se o caso concreto de fórmula para criança com APLV,
fixado o fornecimento até dois anos de idade, quando deve haver introdução
alimentar, conforme relatório CONITEC; há também casos de modificações de
medicamentos e de repartição de materiais de alto custo com o Estado.
Conclusão
O acesso à saúde por meio da judicialização tornou-se uma das temáticas
mais debatidas nacionalmente. O aumento desenfreado de novos processos
judiciais e seu impacto na organização do orçamento público geraram de-
sordem nas políticas públicas e programas do SUS, desrespeitando também
os princípios da igualdade, equidade e integralidade, obstaculizando o uso
racional de recursos.
Sumário 645
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Sumário 646
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Referências
BRASIL. Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS. Fórmulas
nutricionais para crianças com alergia à proteína do leite de vaca – Relatório de
Recomendação, 2018. Disponível em: http://conitec.gov.br/images/Relatorios/2018/
Recomendacao/Relatorio_ Formulasnutricionais_APLV.pdf. Acesso em 26 mar 2021
Sumário 647
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
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www.santarita.pb.gov.br/destaque/base-do-samu-e-reaberta-em-santa-rita/ Acesso em:
28 mar 2021
CRM interdita mais duas unidades de saúde em Santa Rita, na Paraíba. G1, 2015.
Disponível em: http://g1.globo.com/pb/paraiba/noticia/2015/10/crm-interdita-mais-
duas-unidades-de-saude-em-santa-rita-na-paraiba.html Acesso em: 28 mar 2021
CRM interdita dez postos de saúde de Santa Rita, na Grande João Pessoa. G1,2015.
Disponível em: http://g1.globo.com/pb/paraiba/noticia/2015/09/crm-interdita-dez-pos-
tos-de-saude-de-santa-rita-na-grande-joao-pessoa.html Acesso em: 28 mar 2021.
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. São Paulo: Atlas, 2002.
LIXO invade ruas e rios de Santa Rita. A União, 2016. Disponível em: https://au-
niao.pb.gov.br/noticias/caderno_paraiba/lixo-invade-ruas-e-rios-de-santa-rita Acesso
em: 28 mar 2021.
Sumário 648
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Prefeito de Santa Rita, na PB, decreta estado de calamidade pública. Santa Rita,
2015. Disponível em: http://g1.globo.com/pb/paraiba/noticia/2015/10/prefeito-de-santa-
rita-na-pb-decreta-estado-de-calamidade-publica.html. Acesso em: 28 mar 2021.
SANTOS, Nelson Rodrigues dos. 2018. SUS 30 anos: o início, a caminhada e o rumo.
Sumário 649
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Estratégias multidisciplinares
e humanizadas para efetividade dos
serviços na atenção básica no município
de Bastos - SP e seu impacto na redução
da judicialização em matéria de saúde
Rafael Teixeira Sebastiani1
Jussara Moraes Hatae Campoville2
Alessandra Cristiane Cano de Souza3
Josie Moreira da Silva Katsube4
Luiz Carlos Barufatti5
Janaina Guldoni Fuzinelli6
Resumo
A escassez ou mesmo inexistência de recursos públicos
não exime os entes estatais do dever de garantir os direi-
Sumário 650
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Sumário 651
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Introdução
Os estudos empíricos sobre a judicialização da saúde no Brasil, à guisa de biblio-
grafias em razão da atualidade da temática, indicam que medicamentos são o
principal objeto de contestação nas Cortes (PEPE, et al., 2010; FREITAS, 2020).
Sumário 652
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Sumário 653
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Desenvolvimento
O aumento nas demandas judiciais para fornecimento de medicamentos, vi-
sando à otimização dos recursos públicos em 2017, ensejou a instituição da
Comissão de Avaliação Técnica (CAT) através da Portaria nº 4.912/17. A co-
missão é composta por um médico regulador, um procurador jurídico, um
assistente social, uma farmacêutica, um enfermeiro e uma nutricionista com
o objetivo de acompanhar as solicitações de prescrições de medicamentos e
outros insumos que não são padronizados no elenco do SUS, elaborando
Relatórios Técnicos para cada caso acompanhado.
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Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
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Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
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Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Sumário 658
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
A partir desta decisão judicial no âmbito dos recursos repetitivos junto ao STJ,
que possui validade em todo âmbito nacional, a CAT, haja vista a presença de
um integrante com conhecimentos técnicos da seara jurídica, passou a integrar
em suas análises de requerimentos de medicamentos não incorporados pelo
SUS os requisitos constantes do Tema 106 do STJ, o que também foi observado
pelo Ministério Público e pelo Poder Judiciário nos casos concretos.
Sumário 659
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
2020 5
2019 4
2018 5
2017 7
2016 19
2015 23
0 5 10 15 20 25
Fonte: Próprio Autor.
Conclusão
As articulações, reuniões, visitas domiciliares, discussão técnica e multidis-
ciplinar dos casos submetidos à avaliação da CAT, bem como as estratégias
de enfrentamento e atuação efetiva, ensejaram resultado positivo, com a
redução de 74% (setenta e quatro por cento) dos casos levados ao Poder
Judiciário entre os anos de 2015 e 2020 na comarca e município de Bastos,
Estado de São Paulo.
Sumário 660
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Sumário 661
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Referências
BASTOS. município de Bastos. Portaria nº 4.912/2017. Institui a Comissão de
Avaliação Técnica. Bastos, São Paulo. Disponível em: https://www.bastos.sp.gov.br/
legislacao/detalhe/41/portarias-491017-a-491817/. Acesso em 10 mar. 2022.
Sumário 662
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Sumário 663
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Resumo
O município de Ribeirão Preto tem um histórico robusto
na questão da judicialização da saúde, tendo inclusive re-
cebido o Prêmio Mário Covas por trabalho apresentado
pela equipe da época em parceria com o DRS XIII e HC
da FMRP USP na categoria inovação em gestão em 2008.
Em 2002, constituiu a CASE - Comissão de Análise de Soli-
citações com o objetivo de fornecer subsídios técnicos obje-
tivando maior eficiência nas demandas judiciais. A Comis-
são nunca teve caráter jurídico, sempre analisou apenas
a questão técnica dos pedidos, sejam eles medicamentos,
dietas, insumos, equipamentos, internações, cirurgias ou
qualquer outro tipo. Diversas iniciativas foram sendo to-
madas no Estado de São Paulo para auxiliar os gestores a
1 Mestra em Ciências - USP, Especialista em Direito Sanitário - IDISA e em Saúde Pública - UNAERP,
Pós-Graduada em Vigilância Sanitária - FIOCRUZ e Graduada em Direito - UNAERP; Fiscal da Vigi-
lância Sanitária e Diretora de Controle e Auditoria da Secretaria Municipal da Saúde de Ribeirão Preto
- SP; Lattes: http://lattes.cnpq.br/6765406206448585.
Sumário 664
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Sumário 665
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Introdução
Como consta na própria portaria instituidora, a CASE - Comissão de Análise
de Solicitações (CASE) é uma instância colegiada, de natureza consultiva, atual-
mente vinculada à Secretaria Municipal da Saúde de Ribeirão Preto, que tem
como atribuição emitir parecer nos pedidos de ações judiciais enviadas pelas
Varas Especializadas do Poder Judiciário e pelo Ministério Público Estadual.
Esta Comissão, que existe até a presente data e da qual faço parte desde
2015, foi constituída através da Portaria Estadual nº 02/04 (revogada em
2014)2. Mesmo passando anos num vazio normativo a Comissão nunca dei-
xou de exercer suas atividades e hoje, formalizada pela Portaria Municipal nº
178/20193, possui apenas 04 técnicos da área da saúde e 01 da área adminis-
trativa, todos servidores municipais voluntários, pois os técnicos do Hospital
das Clínicas e Secretaria do Estado deixaram de participar.
2 SÃO PAULO, SP. Portaria do Diretor, de 29 de março de 2014. Revoga a Portaria de 02, publicada
em 04 de agosto de 2004 alterada em 28 julho 2008 e 15 de agosto 2009, que constituiu a Comissão de
Análise de Solicitações Especiais da então DIR XVIII de Ribeirão Preto, atualmente DRS XIII. Diário
Oficial do Estado de São Paulo. São Paulo, SP, Seção 1, p. 104.
3 RIBERÃO PRETO. Portaria nº 178/2019, de 19 de dezembro de 2019. Constitui a CASE - COMIS-
SÃO DE ANÁLISE DE SOLICITAÇÕES ESPECIAIS, da Secretaria Municipal da Saúde de Ribeirão
Preto/SP. Diário Oficial do Município de Ribeirão Preto, Estado de São Paulo. Ribeirão Preto, SP, ano
47, n. 10.839, p.2.
Sumário 666
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Seu objetivo continua sendo fornecer subsídios técnicos objetivando maior efi-
ciência nas demandas judiciais. A Comissão nunca teve caráter jurídico, sem-
pre analisou apenas a questão técnica dos pedidos, sejam eles medicamentos,
dietas, insumos, equipamentos, internações, cirurgias ou qualquer outro tipo.
Sumário 667
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Diante disso, tal sistema deve ser utilizado, exclusivamente, para garantir o
direito universal à saúde da população brasileira.
Sumário 668
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Um dos enunciados mais importantes a meu ver é o Enunciado 14, que reco-
menda a demonstração da inefetividade do tratamento oferecido e disponi-
bilizado pelo SUS aos seus usuários.
Sumário 669
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
dem a iniciativa do CNJ como essencial para nortear uma seara tão complexa,
mas também há os que defendem que o Conselho extrapola suas funções e
tenta legislar criando enunciados de natureza jurisdicional. Na prática, vive-
mos, cotidianamente, a experiência da grande importância dos enunciados.
Sumário 670
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Existe ainda, como mais uma ferramenta técnica, que foi instituída em 2018
pelo TJSP, o NATJus, que já vem sendo utilizado por alguns juízes do mu-
nicípio de Ribeirão Preto. Trata-se de um núcleo de apoio técnico do Poder
Judiciário que fornece às varas e câmaras do Tribunal notas e respostas téc-
nicas com fundamentos científicos que auxiliem na análise de pedidos que
envolvam procedimentos médicos e fornecimento de medicamentos.
Sumário 671
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
3. Produto solicitado pelo descritivo técnico, não devendo constar nome comer-
cial e histórico de tratamentos anteriores;
Sumário 672
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Membros da comissão
Ao ser constituída em Portaria Municipal, foi determinado que os profissio-
nais designados para compor a CASE são proibidos de ter qualquer relação
que possa vir a configurar conflito de interesses com indústria farmacêutica,
laboratórios e com o profissional prescritor, como rendimentos pecuniários,
prêmios, presentes e vantagens assemelhadas. Esta vedação se estende tam-
bém aos cônjuges, parentes colaterais, ascendentes ou descendentes de pri-
meiro grau dos membros da Comissão.
Outra questão delicada é que o nome dos membros da CASE consta na Portaria,
gerando, em algumas circunstâncias, certo desconforto. Esta função continua
a ser um trabalho não remunerado, considerando-se como serviço relevante.
Embora esse programa estadual tenha se mostrado eficiente, pois visa dimi-
nuição de ações judiciais desnecessárias e ainda oferta informações técnicas
para os magistrados antes das decisões judiciais, ele requer um aporte fi-
nanceiro e de recursos humanos por parte do município que precisam ser
discutidos e avaliados.
Sumário 673
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
O Ministério Público, por sua vez, em conduta sempre impecável, apenas pro-
põe ações nas causas com parecer favorável da Comissão, respeitando as mani-
festações técnicas, que informam sempre se a demanda solicitada tem opção de
tratamento disponível pelo SUS, entre outras informações relevantes.
Sumário 674
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Sumário 675
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Importante destacar que desde a sua criação o SUS sofre com o sub-finan-
ciamento e, em tempos atuais, tal financiamento permanece insuficiente em
razão da limitação do teto de gastos e outras medidas legislativas predatórias.
A questão não é simples e por mais que a decisão do magistrado seja extre-
mamente importante, a questão orçamentária também deve ser discutida
com a mesma intensidade, pois, embora a discussão judicial tenha a vida
Sumário 676
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
8 BLIACHERIENE, Ana Carla; SANTOS, José Sebastião dos. Direito à vida e à saúde: impactos
orçamentário e Judicial. São Paulo: Atlas, 2010.
Sumário 677
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
9 BRASIL. Tema 793 do Supremo Tribunal Federal - Responsabilidade solidária dos entes federados
pelo dever de prestar assistência à saúde; em andamento. Recurso extraordinário em que se discute, à luz
dos arts. 2º e 198 da Constituição Federal, a existência, ou não, de responsabilidade solidária entre os entes
federados pela promoção dos atos necessários à concretização do direito à saúde, tais como o fornecimento
de medicamentos e o custeio de tratamento médico adequado aos necessitados. Disponível em: <http://
www.stf.jus.br/portal/jurisprudenciaRepercussao/verAndamentoProcesso.asp?incidente=4678356&numer-
oProcesso=855178&classeProcesso=RE&numeroTema=793#>. Acesso em 10 de março de 2022.
Sumário 678
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Cabe aqui informar que os “temas” são uma categoria processual autônoma,
emanada da Suprema Corte após o julgamento de questões nacionalmente
relevantes. Em virtude de sua “repercussão geral”, seus efeitos automatica-
mente irradiam para todas as ações semelhantes em tramitação na Justiça.
10 MOROZOWSKI, Ana Carolina. Migalhas, 2020. Tema 793 do STF e responsabilidade dos en-
tes federados no SUS. Afinal, o que deve repercutir?. Disponível em: <https://www.migalhas.com.br/
depeso/332592/tema-793-do-stf-e-responsabilidade-dos-entes-federados-no-sus--afinal--o-que-deve-reper-
cutir>. Acesso em 21 de março de 2021.
Sumário 679
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
É importante destacar que o voto condutor definiu ainda que processos que
pleiteiam medicamentos não padronizados devem ter a União no polo passi-
vo. A União, entretanto, vem tentando mesmo assim se eximir da responsa-
bilidade em diversas ações, deixando o gestor municipal muitas vezes numa
situação impossível, pois esses pedidos, geralmente, envolvem medicamentos
e tratamentos caríssimos.
Após demanda tão grande por fraldas via judicial, a Prefeitura de Ribeirão
Preto instituiu um protocolo de sucesso para fornecimento de fraldas descar-
táveis para idosos acamados e pessoas com deficiência física, mental ou neu-
rológica, através do Programa “Cuidar e Bem-estar”, regulamentado pela
Lei nº 13.528, de 03/06/201511, diminuindo imensamente a judicialização
deste item.
11 RIBEIRÃO PRETO. Lei nº 13.528, de 03 de junho de 2015. Dispõe sobre a distribuição gratuita
pelo poder público municipal de fraldas descartáveis para idosos acamados e pessoas com deficiência
física, mental ou neurológica, com mobilidade reduzida, e dá outras providências. Diário Oficial do
Município de Ribeirão Preto, Estado de São Paulo. Ribeirão Preto, SP. Disponível em: <https://www.
ribeiraopreto.sp.gov.br/legislacao-municipal/pesquisa/lei/36290>. Acesso em 10 de março de 2022.
Sumário 680
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
A Lei nº 3.044/2020
Finalmente, chegamos à Lei Municipal nº 304412, publicada no final de 2020,
que veio para fortalecer a importância de uma demanda bem instruída e bem
documentada ao enfatizar que o parecer favorável dos técnicos da CASE au-
toriza o Procurador Municipal a não contestar, não recorrer e não compare-
cer em audiências tendo como objeto a matéria aqui abordada (judicialização
na área da saúde).
Sumário 681
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Para que isso ocorra, é necessário que, ao ser distribuída a ação, ou feita a so-
licitação no Ministério Público, a cópia remetida à Comissão venha instruída
com todos os documentos necessários para emissão do parecer (formulário de
solicitação assinada pelo médico prescritor; receita médica nos termos da Re-
solução 1851/08 do Conselho Federal de Medicina13, ou seja, legível, datado,
detalhado, no laudo deve constar além da doença e/ou diagnóstico de forma
extensa e com CID; relatório e exames médicos, todos datados, assinados e
legíveis; cópia do RG, CPF, cartão SUS e comprovante de endereço).
Sumário 682
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
3. Fortalecer a Comissão com mais técnicos, questão essencial não apenas pelo
volume de trabalho, mas pela responsabilidade envolvida e, se possível, esca-
lar técnicos da gestão estadual para agregar ao time municipal.
Conclusão
Como consta no artigo “A influência da gestão do sistema de saúde na utili-
zação da via judicial para acesso a produtos e serviços” (BLIACHERIENE &
SANTOS, 2010), “a inexistência de recursos financeiros não pode prosperar frente a
iminência da morte” e desta forma teremos demandas para sempre.
Não esperamos que elas deixem de existir, mas que estratégias sejam sempre
discutidas e implementadas para que a Justiça possa ser oferecida tanto ao
Sumário 683
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
usuário quanto ao ente público que vem trabalhando com afinco para
oferecer saúde de forma integral e universal à população, com grande
eficiência, apesar dos recursos finitos.
Referências
BLIACHERIENE, Ana Carla; SANTOS, José Sebastião dos. Direito à vida e à saú-
de: impactos orçamentário e Judicial. São Paulo: Atlas, 2010.
Sumário 684
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Sumário 685
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Sumário 686
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Resumo
A internação compulsória é uma medida de intervenção
destinada a usuários com transtorno mental ou transtorno
por uso de substâncias, associado a risco de auto e heteroa-
gressão, determinado pelo Poder Judiciário, sem o con-
sentimento do sujeito, em casos mais graves e extremos,
após ineficiência de medidas intervencionais voluntárias.
Este trabalho objetiva evidenciar à comunidade acadêmica
o processo de internação compulsória a usuários em uso
de álcool e outras drogas no município de Porto Alegre,
no Estado do Rio Grande do Sul. Trata-se de um relato
de experiência acerca desse processo, que é conduzido
Sumário 687
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Sumário 688
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Introdução
O uso abusivo de álcool e outras drogas se constitui como uma questão de
saúde pública, podendo desencadear problemas biológicos, sociais e psíqui-
cos, como o Transtorno por Uso de Substâncias (TUS) (LIMA et al., 2018;
BALLONE, 2010; BRASIL, 2015).
3 No âmbito da saúde mental, nomeamos os indivíduos de “usuários” por estarem utilizando servi-
ços extra-hospitalares vinculados ao SUS, como o CAPS AD.
Sumário 689
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Sumário 690
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Processo metodológico
Sumário 691
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Sumário 692
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
4 Devido ao fato de o CAPS AD ser um serviço vinculado ao SUS, a grande maioria da comunidade
assistida são pessoas economicamente hipossuficientes. Portanto, os familiares acessam a DPE para
auxílio na concretização da medida.
Sumário 693
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
A busca ativa via contato telefônico pode ser entendida como um primeiro
contato com o usuário pelo profissional responsável pelo caso, o Terapeuta
de Referência (TR), objetivando um possível início do acompanhamento no
serviço. Já a visita domiciliar ou atendimento domiciliar visa um atendimento
no local de morada do indivíduo, para compreensão de seu contexto, de suas
relações e do planejamento do acompanhamento futuro (BRASIL, 2015).
Sumário 694
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Sumário 695
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Sumário 696
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
A alta será avaliada pelo médico psiquiatra e pela equipe multiprofissional que
acompanharam o caso, devendo ser informadas em, no máximo, 72 horas ao
MP, à DPE e aos órgãos de fiscalização do município, conforme o fluxograma 1.
- ao MP
- a DPE
- e aos órgões de fiscalização
Conclusão
O processo de internação compulsória a usuários em uso de álcool e outras
drogas é destinado a casos mais graves, de uso com riscos ao usuário e à co-
munidade e envolve o âmbito jurídico e da saúde desde a avaliação inicial do
caso até a concretização da medida. Tal processo evidencia-se como uma me-
dida mais agressiva, por ser contrário à vontade do usuário e, em alguns casos,
poder deixar traumas em relação ao acompanhamento. Em contrapartida, a
medida é concretizada apenas após avaliação rigorosa de uma equipe especia-
lizada em saúde mental, sendo, portanto, necessária naquele momento.
Sumário 697
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Acredita-se que todo esse cuidado seja necessário, de modo a visar maior
entendimento e autonomia do indivíduo em seu processo de reabilitação.
Quando o sujeito entende os efeitos do uso de SPAs em sua vida, consequen-
temente terá maior discernimento acerca das questões envolvendo o uso e
das possibilidades existentes de acompanhamento psicossocial.
Referências
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION (APA). Diagnostic and Statistical
Manual of Mental Disorders, Fifth Edition (DSM-V). Arlington, VA: American
Psychiatric Association, 2013.
Sumário 698
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
BRASIL. Ministério da Saúde. Lei nº 10.216, de 6 de abril de 2001. Dispõe sobre a pro-
teção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo
assistencial em saúde mental. Diário Oficial, Brasília, 2001. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10216.htm. Acesso em 04 de fevereiro de 2021.
Sumário 699
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
LIMA, Deivson Wendell da Costa et al. Ditos sobre o uso abusivo de álcool e outras
drogas: significados e histórias de vida. SMAD, Rev. Eletrônica Saúde Mental
Álcool Drog. Ribeirão Preto, v. 14, n. 3, p. 151-158, 2018.
Sumário 700
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Sumário 701
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Resumo
O presente artigo apresenta o Curso de Atualização em
Políticas de Saúde e Gestão do Sistema Único de Saúde,
que foi promovido pela Escola Nacional de Saúde Pública,
pela Fundação Oswaldo Cruz e pela Escola de Magistratu-
ra Regional Federal da 2ª Região, entre os dias 02/10/2020
e 19/03/2021. Essa iniciativa é uma continuidade do diálo-
go iniciado entre o sistema judiciário e o sistema de saú-
de brasileiros a partir da Audiência Pública nº 4 do STF,
ocorrida nos dias 27, 28 e 29 de abril, e 4, 6 e 7 de maio
de 2009. O artigo inicialmente descreve como o Judiciá-
rio procurou, desde a referida Audiência, manter o diá-
1 Graduada em Direito - UFRJ; Oficial de Justiça Avaliador Federal; Justiça Federal do Rio de Janeiro.
Sumário 702
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Sumário 703
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Introdução
Nas últimas décadas, o notável aumento das demandas judiciais em matéria de di-
reito à saúde levou o Poder Judiciário brasileiro a questionar se o sistema de Justiça
estaria fazendo bem à Saúde (I FÓRUM NACIONAL DO JUDICIÁRIO, 2010).
Sumário 704
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
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Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Sumário 707
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
O Curso foi dividido em quatro módulos, com corpo docente adequado aos
objetivos específicos de cada um deles.
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Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Sumário 710
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Sumário 711
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
O Curso teve início com uma turma de dezesseis alunos, sendo quatorze mu-
lheres, dentre elas sete magistradas, cinco servidoras da SJRJ e TRF2 e duas
Sumário 712
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Conclusão
O reconhecimento de que a atuação do Judiciário estava desestruturando as
políticas sanitárias do Sistema Único de Saúde (BISOL, 2009) foi fundamen-
tal para que o Sistema Judiciário procurasse aperfeiçoar suas decisões em
matéria de Saúde.
Sumário 713
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Nas palavras da Juíza Federal Substituta Mônica Cravo, lotada na Vara Fede-
ral Única de Macaé/SJRJ,
Sumário 714
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Sumário 715
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Referências
AMARAL, M. A. (Outubro de 2018). Conversações para a Ação: um Desafio a
Superar para o Fortalecimento do SUS. Coletânea Direito à Saúde – Boas Práticas e
Diálogos Institucionais, p. 13/22.
CARVALHO, M. A., Pepe, V. L., & Castro, C. G. (27 de Março de 2021). Entrevista
com as Coordenadoras do Curso de Atualização em Políticas Públicas de Saúde
e Gestão do SUS, Maria Amélia, Vera Pepe e Claudia Osorio. (E. N. Valadão,
Entrevistador) Rio de Janeiro: plataforma Google Meet.
Sumário 716
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Sumário 717
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Resumo
Nas últimas décadas, a judicialização da saúde se tornou um
tema amplamente estudado. O Judiciário se constituiu como
Sumário 718
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Sumário 719
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Introdução
No Brasil, nas últimas décadas, tornou-se recorrente a provocação do Poder
Judiciário para obter acesso a serviços e produtos na área da saúde, tanto em
relação ao sistema público quanto ao sistema privado (VIEIRA, 2017). As deci-
sões judiciais impondo obrigação de fazer e fornecer prestações em saúde pelo
poder público têm crescido ao longo dos anos. A tendência do Judiciário é des-
considerar o impacto orçamentário das decisões e de apresentar o entendimen-
to majoritário de que todos os entes da federação têm responsabilidades iguais
pela prestação de Saúde. Porém, os municípios possuem maior dificuldade em
se defender nos processos e menores orçamentos do que a União e os Estados,
tornando particularmente preocupante o impacto das decisões judiciais para seu
orçamento, tema ainda pouco explorado pela literatura (WANG, 2014).
A chave para realizar essas pesquisas é a coleta de dados por meio das estatísti-
cas judiciais. A maior parte da produção científica sobre o tema utiliza dados de
tribunais já informatizados e com dados mais estruturados ou se restringem a
recortes específicos, com quantidade limitada de dados. Além disso, essas pes-
quisas têm se concentrado nas regiões sudeste e sul do Brasil, onde há maior
abrangência dos sistemas informatizados, fornecendo uma visão fragmentada
do universo de ações na Justiça (CHRISPIM et al., 2018).
Sumário 720
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Sumário 721
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Apesar de o PJe ter sido definido como padrão pela Resolução nº 185/13, ainda
existem tribunais que utilizam outros sistemas (COELHO, 2019). O Novo Có-
digo de Processo Civil (CPC) incorporou novas atribuições ao CNJ, destacando
em seu art. 1.069 a responsabilidade de promover, periodicamente, pesquisas
estatísticas para avaliação da efetividade das disposições do próprio CPC.
Desenvolvimento
Este trabalho foi desenvolvido em duas etapas: na primeira, foi feito um le-
vantamento das variáveis processuais utilizadas para pesquisas sobre a judi-
cialização da Saúde e das dificuldades e limitações para obtenção dos dados.
Na segunda etapa, a partir da revisão feita, foi apresentada a sugestão das
variáveis a serem preenchidas de forma obrigatória no formulário de proto-
colo da petição inicial do PJe.
Para a primeira etapa, realizou-se uma revisão narrativa da literatura, com a se-
leção de estudos que utilizaram variáveis advindas das ações judiciais. A revisão
narrativa é um método apropriado para estudos que descrevem e discutem o
estado da arte, sob um enfoque teórico, proporcionando ao leitor a visualização
do conhecimento produzido em determinada área em curto espaço de tempo
Sumário 722
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
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Sumário 725
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Réu(s) da ação
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Doenças informadas
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Sexo
Idade
Características Escolaridade
sociodemográficas
dos proponentes Ocupação
Renda
Domicílio
Data de entrada
Réu(s) da ação
Natureza do estabelecimento
de saúde
Médico prescritor
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Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Sumário 730
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
saúde. Dessa forma, este estudo identificou iniciativas isoladas para melhor
preenchimento das informações processuais. E, em um esforço de contribuir
para a jurimetria brasileira, sugere uma padronização do preenchimento de
variáveis ao se ajuizar uma ação judicial.
Sumário 731
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Tipo de pessoa
Tem a importância de quantificar se os litigantes são
(física ou Média
indivíduos ou empresas ou outros entes jurídicos.
jurídica)
Sumário 732
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Sumário 733
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Pedido de
Liminar ou
Alta Permite identificar a urgência do pedido.
Antecipação de
tutela
Sumário 734
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Houve tentativa
Importante para saber se esgotou a via
de obter o
administrativa antes de acionar o judiciário. E se
produto ou
houve negativa indevida é um diagnóstico de falha
serviço pelo
que pode ajudar a melhorar o sistema e as políticas.
plano de saúde? Alta
Também é uma variável importante para conhecer
Houve negati-
se o usuário possui plano de saúde e está acionando
va? Escrita ou
o SUS. Sugestão baseada nas informações incluídas
verbal? Em que
no Relatório Médico proposto pelo CESMG.
data?
Sumário 735
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Sumário 736
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Conclusão
As principais recomendações deste texto são: utilização de um formulário pa-
drão por todos os tribunais brasileiros, definindo variáveis de preenchimen-
to obrigatório, para melhorar a alimentação e organização da informação e
possibilitar a análise e a compreensão sobre a judicialização da saúde. Estas
recomendações são consistentes com as apresentadas pelo CNJ (CNJ, 2020a).
Apesar da evolução do tema no país, ainda há importantes lacunas a serem
exploradas para melhor compreensão do fenômeno e suas implicações.
Sumário 737
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Referências
CAMPOS NETO, O. H. et al. Médicos, advogados e indústria farmacêutica na
judicialização da saúde em Minas Gerais, Brasil. Revista de Saúde Pública, v. 46,
n. 5, p. 784–790, out. 2012.
Sumário 738
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
COELHO, G. TCU manda CNJ parar de mandar dinheiro a tribunais que não
usam PJe. CONJUR, 2019. Disponível em: <https://www.conjur.com.br/2019-
jul-03/tcu-manda-cnj-parar-mandar-dinheiro-tribunais-nao-usam-pje> Acesso em
14, jul. 2020.
CESMG. Comitê Estadual da Saúde de Minas Gerais. Relatório médico para judi-
cialização do acesso à saúde. Fev. 2016 Disponível em: <https://bd.tjmg.jus.br/jspui/
handle/tjmg/8237?mode=full&submit_simple=Mostrar+o+registro+em+formato+co-
mpleto> Acesso em 15, jul. 2020.
KOZAN, J. F. Por que pacientes com câncer vão à Justiça? Um estudo sobre ações
judiciais movidas contra o Sistema Único de Saúde (SUS) e contra os planos de
saúde na Cidade de São Paulo. Mestrado em Medicina Preventiva—São Paulo:
Universidade de São Paulo, 3 out. 2019.
Sumário 739
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Sumário 740
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Resumo
A Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) traz diretrizes no
âmbito do SUS no sentido de fortalecer a assistência à saú-
Sumário 741
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Sumário 742
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Introdução
Em 2017 foi instituído no âmbito da Secretaria Municipal de Saúde de Floria-
nópolis (SMS), o Núcleo de Atendimento Judicial para fornecimento de Servi-
ços de Saúde e Insumos – NAJ-SeI, subordinado à Assessoria Jurídica. A partir
desse Núcleo foi possível constatar um aumento das determinações judiciais
para acolhimento institucional dos/as usuários/as para cumprimento por parte
do município de Florianópolis. Contudo, as determinações não especificavam
e ainda não especificam se a responsabilidade é da Secretaria Municipal de
Saúde (SMS) ou da Secretaria Municipal de Assistência Social (SEMAS).
Sumário 743
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
“conflitos que não são levados ao Judiciário, mas que são discutidos sob o
ponto de vista jurídico, principalmente em momentos pré-processuais, en-
quanto judicialização se trata de conflitos que são levados ao Judiciário na
forma de ação civil pública ou algum outro instrumento processual”
Sumário 744
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Desenvolvimento
Os serviços de acolhimento para pessoas em sofrimento mental são os ser-
viços especializados que oferecem proteção às pessoas e famílias afastadas
temporariamente do seu núcleo familiar e/ou comunitários de origem, e se
encontram em situação de abandono, ameaça ou violação de direitos. Tais
serviços funcionam como moradia provisória até que a pessoa possa retornar
à família de origem, ser encaminhada para família substituta ou ser capaz
de exercer autonomia e autocuidado por conta própria. Estes equipamentos
podem estar vinculados aos serviços de saúde ou de assistência social.
Sumário 745
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Vale frisar que o conceito de pessoa com deficiência é de indivíduo que tem
impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sen-
sorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua
participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as
demais pessoas (BRASIL, 2016).
Sumário 746
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Já nos casos em que a pessoa não seja totalmente dependente, cabe aos equi-
pamentos de alta complexidade da assistência social o acolhimento destas
pessoas considerando a importância em “fortalecer possibilidades de intera-
ção entre os residentes, inclusive com pessoas com diversos graus de depen-
dência convivendo entre si’’ (BRASIL, 2016).
> Unidade de Acolhimento (UA): ambiente residencial para pessoas com necessi-
dades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas, que apresentem
intensa vulnerabilidade social e/ou familiar e estejam em tratamento no CAPS
Ad, com permanência de seis meses;
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Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
> Serviço de acolhimento institucional para mulheres em situação de violência com risco
de morte ou ameaças em razão de violência doméstica e familiar;
> Serviço de acolhimento institucional para jovens e adultos com deficiência cujos vín-
culos familiares estejam rompidos ou fragilizados. É previsto para jovens e adultos
com deficiência que não dispõem de condições de autossustentabilidade, de reta-
guarda familiar temporária ou permanente ou que estejam em processo de desli-
gamento de instituições de longa permanência, e ocorre em Residências Inclusivas.
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Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Fluxo de Acolhimento
SUAS SUS
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Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Fonte: Nota técnica sobre Acolhimento Institucional, Acolhimento para Tratamento e Internação Psiquiátrica
nos Serviços de Saúde e Socioassistenciais. SMS Florianópolis, 2018.
Por fim, a busca pela manutenção dos direitos humanos e fundamentais no que
tange à assistência em saúde mental tem impactado de forma significativa no
acesso e cuidados em saúde à população com transtorno mental e/ou pessoas
com outros problemas relacionados ao uso de álcool e outras drogas.
Resultados
Dentro da área temática “Experiência no enfrentamento da judicialização”, o
presente estudo trouxe como metodologia uma análise descritiva, em forma
de relato de experiência, que se inicia com a criação do Comitê em 2019 até
a presente data.
Sumário 751
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Conclusão
Após um ano de experiência como membros do Comitê, fica evidente a me-
lhora do diálogo intersetorial e interinstitucional. Por meio das reuniões
periódicas foi possível a criação de fluxos de encaminhamentos efetivos, de
documentos que unificassem as falas dos setores, contribuindo assim para o
desfecho favorável dos casos judicializados e juridicizados.
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Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Referências
ASENSI, Felipe Dutra. Judicialização ou juridicização? As instituições jurídicas e
suas estratégias na saúde. Physis: Revista de Saúde Coletiva, [S.L.], v. 20, n. 1, p.
33-55, 2010. FapUNIFESP (SciELO).
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Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
A experiência do município de
Florianópolis - SC na organização do
atendimento das demandas judiciais de
acesso a produtos e serviços de saúde
Luciane Anita Savi1
Caroline Schweitzer de Oliveira2
Lucineia Aparecida de Oliveira3
Laíssa Castro Gomes4
Ana Maria Bim Gomes5
Resumo
Este trabalho apresenta a organização de Florianópolis -
SC para atender às demandas judiciais de acesso a medica-
mentos, insumos e serviços de saúde, tendo como desafio
a preservação dos princípios e diretrizes do Sistema Úni-
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Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
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Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Introdução
Face à dificuldade do Poder Executivo em cumprir seu dever institucional
quanto à saúde da população ou mesmo à incompreensão da sociedade quan-
to às políticas públicas de saúde pautadas nos princípios do Sistema Único de
Saúde (SUS), o cidadão tem encontrado uma nova forma de acesso a produtos
e serviços de saúde por meio dos processos judiciais. Este fenômeno, conhecido
por “judicialização da saúde”, compreende a provocação e a atuação do Poder
Judiciário em prol da efetivação da assistência médica e/ou farmacêutica. O
Executivo, por sua vez, passa a ser constrangido, nas vias jurisdicionais, a pres-
tar indiscriminadamente atendimento médico e assistência farmacêutica, pro-
vocando repercussões tanto na política de saúde como sobre os cofres públicos.
Tal fenômeno envolve aspectos políticos, sociais, éticos e sanitários, de modo
que não se limita aos componentes jurídico e de gestão de serviços públicos
(VENTURA et al., 2010; LEITÃO et al., 2014).
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Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
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Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
O impacto das decisões nos orçamentos da União e de alguns estados tem sido
objeto de muitas pesquisas. Porém, salvo algumas exceções, pouco se conhece
sobre como decisões judiciais obrigando o fornecimento de bens e serviços de
saúde - principalmente medicamentos - afetam os municípios (WANG et al.,
2014), motivo pelo qual a organização municipal se mostra necessária.
I – Verificar se a ordem judicial está sendo cumprida por outro réu, de modo a
evitar multiplicidade de atendimento e gastos desnecessários;
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Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
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Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
III – Verificar se a ordem judicial está sendo cumprida por outro réu, de modo a
evitar multiplicidade de atendimento e gastos desnecessários;
IX – Acompanhar o estoque dos insumos demandados por ação judicial, tendo por
base as compras solicitadas, o consumo e as informações de estoque a serem
fornecidas pelo almoxarifado;
Sumário 762
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
a) Evitar multiplicidade de atendimento da ordem pelos réus (uma vez que não
existe um sistema de dados que disponibilize aos envolvidos as informações
sobre o processo);
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Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
O quadro atual da saúde no país aponta que o problema ainda está longe de
ser resolvido, incumbindo ao poder público buscar alternativas para resulta-
dos efetivos, tanto a longo quanto a curto prazo. O Estado deve sempre ser
Sumário 764
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Sumário 765
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Conclusão
Não há dúvidas de que o fortalecimento da assistência à saúde no sistema pú-
blico é um dos principais caminhos para a redução da judicialização da saúde
e para a promoção do acesso aos tratamentos pelo SUS. Esse fortalecimento
envolve, sobretudo, a qualificação da gestão e dos serviços, a disponibilização
de um rol abrangente de produtos e serviços padronizados, o qual está atrela-
do ao financiamento adequado, entre outros pontos (SAVI; SANTOS, 2013).
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Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Referências
BAPTISTA TWF; MACHADO CV; LIMA LD. Responsabilidade do Estado e direito
à saúde no Brasil: um balanço da atuação dos Poderes. Ciênc. saúde coletiva, Rio
de Janeiro, v. 14, n. 3, p. 829-839, June 2009.
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Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
SAVI LA; SANTOS ES. O papel do administrador público nas demandas judiciais
no serviço de assistência farmacêutica. Cad. IberAmer. Direito. Sanit., Brasília, v.2,
n.2, jul./dez. 2013.
WANG DWL et al. The impacts of health care judicialization in the city of Sao
Paulo: public expenditure and federal organization. Rev. Adm. Pública, Rio de
Janeiro, v. 48, n. 5, p. 1191-1206, out. 2014
ZUCCHI P, DEL NERO C, MALIK AM. Gastos em saúde: os fatores que agem na
demanda e na oferta dos serviços de saúde. Saúde e Soc. 9(1/2):127-150, 2000.
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Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Resumo
A judicialização da Saúde é um tema de alta relevância
para a administração pública e o seu crescimento expo-
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Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Introdução
O crescimento exponencial da judicialização da saúde é uma verdadeira via de
mão dupla. De um lado assegura a tutela do direito individual à saúde, de outro,
pode comprometer os escassos recursos públicos e as necessidades coletivas.
(...)
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(...)
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As compras públicas têm suas regras gerais estabelecidas pela Lei nº 8.666,
de 21 de junho de 1993, que disciplina a licitação e estabelece critérios para
sua inexigibilidade ou dispensa, que são tidas como regimes excepcionais para
aquisição de bens pelos entes estatais.
As demandas judiciais, por vezes, têm como objeto tecnologias não incorpora-
das pelo SUS, como é o caso das frequentes ações que versam sobre o forneci-
mento de medicamentos que não estão previstos nas listas oficiais (por exem-
plo, RENAME – Relação Nacional de Medicamentos e REMUME – Relação
Municipal de Medicamentos). Em razão disso, os municípios, quando se en-
contram diante da obrigação de fornecimento de medicamentos demandados
judicialmente, frequentemente não contam com os produtos demandados em
seus estoques, nem tampouco têm condições de prever a necessidade de forne-
cimento de tais itens para fins de inclusão em seus planejamentos de compras,
o que dificulta e posterga o cumprimento das decisões judiciais.
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Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Sumário 779
Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Por meio da análise de evidências científicas, faz-se uma avaliação sobre eficá-
cia, segurança e custo-efetividade da tecnologia. A verificação das alternativas
terapêuticas para a condição clínica em questão é pautada preferencialmente
pelas indicações expressas nos Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas
do Ministério da Saúde, relatórios de recomendação da Comissão Nacional
de Incorporação de Tecnologias no SUS, portarias do Ministério da Saúde e
protocolos Municipais.
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Conclusão
A análise de propostas de atuação colaborativa como o PROGREJUS de-
monstra que, apesar da complexidade do fenômeno da judicialização da saú-
de, é viável a implementação de processos regionalizados de gestão, controle
e enfrentamento, mitigando as iniquidades e demais efeitos nocivos que fre-
quentemente estão relacionados ao crescimento desenfreado das demandas
judiciais relativas à saúde pública.
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Judicialização da Saúde nos Municípios Experiências e propostas de gestão
Referências
ALBERT, Carla Estefânia. Análise sobre a judicialização da saúde nos
municípios. Revista técnica da CNM 2016, Brasília, 2016. Disponível em:
<https://www.cnm.org.br/cms/biblioteca_antiga/An%C3%A1lise%20sobre%20a%20
Judicializa%C3%A7%C3%A3o%20da%20Sa%C3%BAde%20nos%20Munic%C3%ADpios.
pdf>. Acesso em 28/03/21.
Sumário 783
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