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Capítulo 5 – Grupos operativos: Papéis grupais

Fique atento aos objetivos desse capítulo:

 Possibilitar maior compreensão sobre a técnica dos grupos


operativos e os papéis grupais.

1. Introdução

Para Pichon-Rivière, o grupo se estrutura sobre a base de interjogo de


mecanismos de assunção e atribuição de papéis. O conceito de papel tem
larga tradição nas contribuições da antropologia, da sociologia e da psicologia
social funcionalista. Um dos autores mais importantes que utiliza tal conceito é,
sem dúvida, Geroge Mead. Através do conceito de papel, aborda, em seu livro
“Espírito, Pessoa e Sociedade”, o estudo das relações interpessoais, os vínculo
sociais, e etc.

2. Papéis grupais

Na tradição dramática, o papel é um modo de identificar-se


imaginariamente com um personagem. Assim, um papel em uma obra teatral
existe independentemente do ator particular que o encarne.
Nesse sentindo, um papel social também tem uma existência
independente de quem o desempenhe. Portanto, poderíamos dizer que, na
sociedade, os papéis preexistem aos indivíduos, sob formas de conduta a
assumir em função da situação que ocupam, ou seja, da posição.
Etimologicamente, o termo “papel” provém do francês “role”, que tem,
por sua vez, uma origem latina: “rotulus”. Estes termos referem-se a um papel,
“rolo”, onde se anotavam determinadas coisas. Já na época medieval
anotavam-se nestes “rolos”, por exemplo, o intercâmbio de mercadorias ou o
embarque destas. “Rolo”, também, era o papel ou o monólogo que os atores
deveriam recitar. Somente no século XVII o termo papel começa a ser
empregado em seu sentido figurado, como função social ou profissão
(PICHON-RIVIÈRE, 1988).
Psicologia dos Grupos I

A teoria do papel, a partir da sociologia funcionalista, tem se


desenvolvido em função do conceito de posição: uma posição define um
mínimo de comportamento obrigatório para o individuo, ainda que não possa
garantir que este desempenhará tal comportamento com perfeição. Partindo-se
desta concepção se dominará o papel, ao desempenho real de uma pessoa em
uma dada situação, isto é, papel é a maneira em que uma pessoa desempenha
os requerimentos de sua posição. Por sua vez, papel é o aspecto dinâmico do
status. Com este termo se alude a uma espécie de marca de identificação
social que coloca aos indivíduos em relação com os outros indivíduos.

O como uma pessoa se comportara dependerá, em grande parte, do


status em que se ache, quer dizer, é um modelo organizado relativo a uma
certa posição do individuo em um rede de interação ligado a expectativas
próprias e dos outros (PICHON-RIVIÈRE, 1988).
Distinguem-se papéis formais ou prescritos, como aqueles que estão
determinados pela posição que o sujeito ocupa em determinada organização
ou instituição. Assim, o papel social remete como dizíamos anteriormente, a um
lugar ou status.
E papéis informais, quando os sujeitos jogam um papel,
situacionalmente dado, no aqui e agora, dependendo, estes, da rede de
interação grupal.

Interjogo de papéis

Existem:

Papéis formais: Profissão, família,


atividade...
Psicologia dos Grupos I

Papéis informais: Quando sujeitos jogam


um papel, situacionalmente dado, no aqui e
agora, dependendo, estes da rede de
interação grupal.

(Gayotto, M. L.C. e Domingues, I. 1995)

Como dissemos anteriormente, para Pichon-Rivière, a estrutura e função


de grupo estarão dados pelos interjogo dos mecanismos de atribuição e
assunção de papéis. Estes representam modelos de conduta correspondentes
à posição (relativa) dos indivíduos nessa rede de interações, e estão ligados às
expectativas próprias e às dos outros membros do grupo. Desta maneira, o
papel, e seu nível, o status, ligam-se aos direitos, deveres, a ideologias que
contribuem para a coesão da unidade.
Nas palavras de Lucchese e Barros (2002):

A psicologia social de Pichon-Rivière está voltada ao estudo do


homem como um ser social, que se relaciona com o outro em grupo.
Visualiza o homem com necessidades que são internas que
mobilizam ações diante do mundo externo, dando-se um interjogo
dialético entre mundo interno/externo. [...] Os níveis articulares no
grupo relacionados à inserção da pessoa são: verticalidade referente
à vida pessoal de cada membro e horizontalidade que é a história
grupal, compartilhada entre os integrantes, que surge com base na
existência do grupo até o momento presente. Estes níveis
representam as histórias do indivíduo e do grupo que se fundem,
conjugando o papel a ser desempenhado. Características peculiares
da técnica: a) o grupo centrado na tarefa. A mobilização dos
elementos do grupo em direção ao' objetivo contratado, mediante a
clareza do porque, para que se reúnem e interagem. b) porta-voz,
bode expiatório, líder e sabotador: papéis a serem aclarados. O grupo
operativo estrutura-se no interjogo de assunção e adjudicação desses
papéis que são funcionais e rotativos. c) coordenador e observador:
uma visão pichoniana (LUCCHESE, BARROS, 2002, p. 67).
Psicologia dos Grupos I

3. Contribuições de Pichon-Rivière

Estes mecanismos fazem referencia à posição em que cada um dos


integrantes de um grupo assume nesta rede de interações. Tal rede estará
intimamente ligada à história individual desse sujeito, tanto a sua forma de
inserção no grupo. A tarefa que dito grupo realiza constitui sua finalidade e
estará baseada fundamentalmente:

No explícito: no objetivo que dito grupo se dá (recreativo, terapêutico, de


aprendizagem, etc).

No implícito: na elaboração de duas ansiedades básicas: o medo da


perda (ansiedade depressiva), e o medo ao ataque (ansiedade paranoica).
Estas duas ansiedades configuram a situação básica de resistência à
mudança.

O papel do coordenador, para Pichon-Rivière, consiste em esclarecer,


através de assinalamentos e interpretações, as pautas estereotipadas de
conduta que dificultam a aprendizagem e a comunicação. Isto é, toda
interpretação deve favorecer o nível de operatividade de um grupo. Para isso
deverá incluir, sempre, a leitura dos níveis horizontal e vertical do acontecer
grupal, que permitirão a ruptura do estereótipo (PICHON-RIVIÈRE, 1985).
Sobre a base destes lineamentos, Pichon elabora a técnica de grupos
operativos, para sua leitura do acontecer grupal. No interjogo de papéis
propriamente dito, que, como havíamos dito, tem para Pichon um caráter
estruturante no grupo destaca especialmente três papéis que poderíamos
apresentar como prototípicos:
Psicologia dos Grupos I

O porta-voz;

O bode expiatório;

O líder;

Estes papéis não são fixos ou estereotipados, mas funcionais e


rotativos. Isto é, em cada situação grupal um individuo tomará tal ou qual de
acordo a sua situação individual, e à situação geral no aqui e agora grupal.
Por porta-voz, entende-se o membro que em certo momento denuncia o
acontecer grupal, as fantasias que o movem, as ansiedades e necessidades da
totalidade do grupo. Portanto, não fala por si só, mas por todos. Articula-se nele
uma fantasia inconsciente individual entrecruzada com o acontecer grupal.
Volta a fazer referencia aos registros horizontal e vertical de todos os membros
do grupo, em relação com a tarefa, exemplificando o problema e enunciado
pelo porta-voz (PICHON-RIVIÈRE, 1985).
Por bode expiatório, entende-se a depositação de um membro do
grupo de aspectos negativos ou atemorizantes do mesmo ou da tarefa,
aparecendo mecanismos de segregação frente a tal integrante.
Por líder, entende-se a depositação, em um membro do grupo, de
aspectos positivos; Destacam-se distintos tipos de liderança: Laizze-faire,
autocrático, democrático, e etc.
Psicologia dos Grupos I

Ambos os papéis, o líder e o bode expiatório, estão intimamente


relacionados, já que um surge como preservação do outro, em virtude
do denominado processo de dissociação que todo grupo implementa
em sua tarefa de discriminação.

Agrega-se, além disso, o papel de sabotador, que será aquele


integrante que em determinado momento assume a liderança da resistência à
mudança (PICHON-RIVIÈRE, 1985).

4. Retomando os conceitos de horizontalidade e verticalidade:

A horizontalidade constitui a maneira de o grupo expressar-se como um


todo pertencente à totalidade do grupo. Em realidade, verticalidade e
horizontalidade são unidades de trabalho. Chama-se em geral, unidades de
trabalho quando opera de maneira complementar, quando a horizontalidade e a
verticalidade coincidem em momento dado pela soma dos elementos que
constituem a unidade. Isso é todo um conjunto operativo (VISCA, 1987).
A verticalidade, no sentido real da palavra, seria o testemunho dado em
termos verticais, pessoais, enquanto a horizontalidade se dá não em termos
pessoais diretos, mas sim concordantes (o horizontal do grupo), o coincidente
nos integrantes do grupo. Por exemplo, a verticalidade se daria pelo aspecto
direcional dentro da própria tarefa grupal, seria um passe ajustado no futebol.
Suponhamos que a bola seja atirada na direção certa e que se possa
retomá-la para um ajuste, para uma nova direção de jogo: a horizontalidade
seria quando este ajuste mútuo se dá, e, então, temos uma operação onde a
soma da velocidade vertical se encontra com a horizontal, formando uma tarefa
Psicologia dos Grupos I

conjunta que pode chegar a ser operativa se o ajuste for perfeito no tempo e
espaço (VISCA, 1987).

A dialética individuo-grupo, verticalidade-horizontalidade, faz-se


compreensível pelo conceito de porta-voz.
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Exercício resolvido:

Em relação ao conceito de grupos, para as questões abaixo, marque V


(verdadeiro) ou F (falso) e assinale a alternativa correta:

( ) A teoria do papel, a partir da sociologia funcionalista, tem se desenvolvido


em função do conceito de posição: uma posição define um mínimo de
comportamento obrigatório para o individuo, ainda que não possa garantir que
este desempenhará tal comportamento com perfeição.

( ) Os papéis informais são quando sujeitos jogam um papel, situacionalmente


dado, no aqui e agora, dependendo, estes da rede de interação grupal.
( ) Estes papéis são fixos e estereotipados, e não funcionais e rotativos. Isto
é, em cada situação grupal um individuo tomará tal ou qual de acordo a sua
situação individual, e à situação geral no aqui e agora grupal.

Alternativa correta é:
a) V, V, V
b) V, V, F
c) F, V, F
d) V, F, V
e) F, F, F
REFERÊNCIAS

BASTOS, A. B. A técnica de grupos-operativos à luz de Pichon-Rivière e Henri


Wallon. Psicólogo in Formação, ano 14, n, 14 jan./dez. 2010.
LEMA, V.Z. Conversaciones com Enrique Pichon-Rivičre: sobre el arte y la
locura. Buenos Aires: Ediciones Cinco; 1997.
PICHON-RIVIÈRE, E. Teoria do vínculo. São Paulo: Martins Fontes, 1988.
PICHON-RIVIÈRE, Teoria do vínculo. 5 4 ed. São Paulo: Martins Fontes; 1995.
WALLON, H. A Evolução Psicológica da criança. Lisboa: Edições 70, 1968.
______. Objetivos e métodos da psicologia. Lisboa: Estampa, maio 1975.
______. Psicologia e Educação da Infância. Lisboa: Estampa, maio 1979.
VISCA, J. Clínica psicopedagógica: epistemologia convergente. Porto Alegre:
Artes Médicas, 1987.

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