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GRUPO

OPERATIVO
FABIO SANTOS
PICHÓN-RIVIÈRE (1907 – 1977)
• Nasceu em Genebra, onde viveu até os 3 anos de
idade;
• Mudou-se para Corrientes (província argentina);
• Em Goya, cidade de Corrientes, teve seu primeiro
contato com a obra de Freud, aos 13 anos
aproximadamente;
• Em 1924 mudou-se para Rosário, para estudar
medicina;
• Como estudante de medicina – problematizou seu
saber a partir das modernas concepções sobre o
psicossomático;
PICHÓN-RIVIÈRE (1907 – 1977)
• Estudou psiquiatria (psiquiatria dinâmica) – nela articulou todos os
desenvolvimentos da psicanálise;

• Como psicanalista – influenciou seus colegas a trabalhar no hospício, com


a psicose;

• Em 1936 inicia sua prática na Psiquiatria, no “El Asilo del Torres”, para
oligofrénicos perto de Lujan, Buenos Aires;

• Em Buenos Aires trabalha por 15 anos no Hospício de la Merced (hoje


Hospital Neuropsiquiátrico José T. Borda);

• Um dos primeiros trabalhos de Pichón neste hospital foi o de “fazer


grupos e instruí-los quanto ao trato do paciente, iniciando aqui, neste
exato momento, o que conhecemos hoje como “Grupo Operativo”.
DEFINIÇÃO DE GRUPO

Pichon-Rivière define da seguinte forma um


grupo: "conjunto de pessoas, ligadas no tempo e no
espaço, articuladas por sua mútua representação
interna, que se propõem explícita ou implicitamente
a uma tarefa, interatuando em uma rede de papéis,
com o estabelecimento de vínculos entre si."
(AFONSO, 2000, p. 19).
O GRUPO PARA PICHON-REVIÈRE
• Instrumento de Transformação da realidade: partilha de objetivos comuns,
participação criativa e crítica, interação e vínculo;

• Teoria do Vínculo: há uma estrutura triangular (EU – Outro(s) – Figuras


internalizadas) – vínculo é bicorporal e tripessoal (presença sensorial corpórea +
personagens internalizados);

• Mútua representação interna: quando somos internalizados pelo outro e quando


internalizamos o outro.;

No Grupo ocorre: vínculo, mutualidade, constituição de sujeitos e transformação da


realidade.
A CONSTITUIÇÃO DO SUJEITO

• Contradição interna: predominantemente social (precisa vincular-se ao outro para


satisfazer suas necessidade) e seu psiquismo é constituído dos vínculos e relações sociais
internalizados (Pichon Rivière);

• É por meio da interação que se dá a construção do Eu;

• É nas interações sociais que o sujeito: se reconhece (identifica), se individualiza


(diferencia-se), transforma o mundo (os outros e a relação) e é transformado (se refaz
como sujeito);

• Interação = Ação Recíproca;

• Sujeito age e sofre a ação (reciprocidade) – partilha de significados, de


conhecimentos, de valores (Henri Wallon)
GRUPO OPERATIVO (GO)

• Sistematizada a partir das experiências de Pichon-Rivière no Hospital


Psiquiátrico Las Mercedes: a partir de uma greve dos trabalhadores,
Pichon propõe uma nova forma de cuidado entre os pacientes (os menos
comprometidos cuidariam dos mais comprometidos).

• Maior identificação, parceria de trabalho, troca de posições e melhor


integração.

• Começou a trabalhar com grupos: influência do Grupo familiar nos


pacientes (comunicação e interação  Aprendizagem / mudança).

• Técnica Grupo Operativo: trabalho em grupo com o objetivo de


promover a aprendizagem / mudança.
GRUPO OPERATIVO (GO)

• Os grupos operativos se definem como grupos


centrados na tarefa... Há técnicas grupais
centradas no indivíduo (grupos chamados de
psicanalítico ou de terapia), nos quais a tarefa está
centrada sobre aquele a quem chamamos de porta-
voz; e técnicas centradas no grupo, em que o
grupo é considerado como uma totalidade,
inspirado nas ideias de Kurt Lewin.

• A tarefa é essencial ao processo grupal, por isto é


chamado de grupos centrados na tarefa.
GRUPO OPERATIVO (GO)

A denominação de Grupo Operativo foi concebida a


partir das circunstâncias que estes grupos nasceram:
em ambiente de tarefa concreta.
Os pacientes “operaram” funções de enfermeiros pela
falta dos mesmos na instituição que P.R. trabalhava.
A aprendizagem das tarefas de enfermagem
ofereceram aos pacientes benefícios terapêuticos.
P.R. conclui que não há distinção clara entre grupos
terapêuticos e de aprendizagem.
GRUPO OPERATIVO (GO)

É criado artificialmente com indivíduos em


situação semelhante: sobre a base de
vínculos internalizados a partir da
internalização de outros vínculos (grupo
familiar e subsequentes grupos com os quais
o sujeito se relaciona);

• Objetivo Primordial: mudança (ocorre


gradativamente)
Resistência dos membros do grupo ao contato com o
outro ou consigo mesmo
Medo das incertezas, de perda de referencial próprio,
PRÉ-TAREFA medo do contato.

Entrar ou não entrar de cabeça no grupo?

Quando o grupo elabora as ansiedades, rompe


estereotipias e se abre para o desconhecido
TAREFA
Encontro

Planejar o futuro.

PROJETO Objetivos que vão além do aqui e agora

Fim do grupo, separação.


A TAREFA NO GO

É o modo como cada integrante interage a partir


de suas próprias necessidades

•Compartilhamento das necessidades


(flexibilidade, descentramento e abertura para o
novo);
• Problematização das dificuldades que emergem
no grupo (aprendizagem, projeto de mudança);
• Explicitação do Implícito (Resistências, ansiedades
e medos devem ser desvelados rumo à tarefa do
grupo).
A TAREFA NO GO

Os fundamentos da tarefa grupal é superar e


resolver situações fixas e estereotipadas,
possibilitando sua transformação em situações
flexíveis, que permitam questionamentos,
favorecendo o debate, o diálogo, numa lógica
dialética;

O grupo, através da realização de uma tarefa, irá


transpor do ponto "dilemático" para o ponto
"dialético".
A TAREFA NO GO

Execução da tarefa propriamente


Aspectos manifestos
dita, ou seja, tratamento do
(explícitos) Tema.

Toda execução de tarefa


existem dois aspectos: o
explícito e o implícito
Dificuldades / lacunas / cortes
Aspecto latente
na comunicação (obstáculo
(implícitos) epistemológico)

O “trabalho” funciona como uma aspiral constante (através do explícito se


descobre o implícito)
A TEORIA DO CONE INVERTIDO

• Pichón-Rivière estruturou um esquema de avaliação


do processo de interação grupal, que pode estar
fluente ou paralisado, por meio de vetores, conhecido
como cone invertido.

• A ideia do cone invertido elucida a dinâmica


existente entre o explícito (manifesto) e o implícito
(latente).

• seis vetores: afiliação e pertença, cooperação,


pertinência, comunicação, aprendizagem e tele.
CONE INVERTIDO
Indica o grau de envolvimento do sujeito com a tarefa e com os demais
Afiliação e Pertença integrantes do grupo, que tende a transpor-se de um nível mais básico
(afiliação) para um de maior envolvimento e profundidade (pertença).

Capacidade que cada integrante possui para colaborar com os outros


membros, com o coordenador na execução da tarefa do grupo, em uma
Cooperação relação de complementaridade e de acordo com suas possibilidades no
momento.

Consiste no centramento do grupo na tarefa proposta, rompendo


Pertinência estereótipos, ansiedades, vencendo a resistência à mudança e outros
tantos movimentos recorrentes no “aqui e agora” do grupo.
possibilita observar os vínculos estabelecidos entre os integrantes, sendo assim, a base do grupo

de um para todos (líder)


Comunicação de todos para um (bode expiatório)
Formas de entre dois ou mais entre si excluindo os demais (subgrupos)
comunicação
entre todos mutuamente, sem se escutarem (caos)

entre todos, mas se escutando e respeitando as intervenções de cada um


(boa comunicação).

está sendo alcançado quando se somam as contribuições de cada integrante em direção à


tarefa, possibilitando a mudança de atitude.
é a adaptação do integrante de maneira ativa à realidade, que modifica o sujeito e o
meio, fazendo com que o indivíduo e o grupo possam desenvolver suas capacidades de
condutas alternativas diante de possíveis obstáculos, não se deixando cristalizar em
Aprendizagem comportamentos já conhecidos e estereotipados

desenvolve-se a partir da comunicação, em saltos de qualidade que incluem tese, antítese e


síntese.
implica em criatividade, em elaboração das ansiedades e em adaptação ativa à realidade.
refere-se à disposição positiva ou negativa para trabalhar a tarefa
grupal e estar em interação ou não com o grupo.

consiste no sentimento desperto de atração ou rejeição dos


participantes entre si de maneira espontânea e de acordo com a
Tele dramática ou temas do grupo

o “clima” do grupo, e os vetores guardam entre si uma inter-


relação, sendo que a análise da comunicação pode ser indicativa
de como estão os demais vetores.
Coordenador
FIXOS
Observador

Aquele que leva o grupo para a reflexão, proporciona a


tarefa do grupo (explicita o que está implícito)
Porta-Voz

figura que passa a ser de muita confiança para o grupo.

é aquele que explicita o que o grupo não quer ver


FLEXÍVEIS (explicita o não aceitável)
Bode-Expiatório
Figura depositária de raivas e discriminações

Surge no momento em que o porta-voz explicita algo


aceito pelo grupo
Líder de Mudança
figura responsável pelo movimento dialético do
grupo.
AS INTERNALIZAÇÕES DE PAPEIS NOS GRUPOS

Pichón-Rivière parte da seguinte hipótese: no grupo familiar um membro assume o papel de


PORTA-VOZ (o que o torna depositário de todas as angústias, ansiedades e patologias que
circulam no espaço em que vive). O porta-voz passa a funcionar como paradigma para o
comportamento do grupo familiar como um todo. Um membro pode assumir o papel de BODE
EXPIATÓRIO (passa a ser o depositário de todos os fracassos da família).

Coisa semelhante acontece no grupo operativo: surge um PORTA-VOZ (simboliza os ideais do


grupo e passa a servir como modelo aproximado para a conduta dos seus membros em cada nova
experiência com que se defrontam). Pode também surgir o BODE-EXPIATÓRIO (passa a ser a
ameaça do grupo)
A TÉCNICA DO GO

Papel do coordenador Papel do Observador

DESVELAMENTO

TAREFA

MUDANÇA
• Registra o que acontece no grupo;
Indaga e problematiza • Resgata a História;
• Analisa com o coordenador.
COMO PROVOCAR O DESVELAMENTO DO
IMPLÍCITO?

• Buscar espaços para fazer emergir


falas dos sujeitos.
• Procurar desestabilizar o que está
consolidado e rígido.
• Psicólogo (auxiliar da produção do
grupo)
COMO SE PROCESSA O GO

• Ocorre o estabelecimento de interações (pessoas falam livremente, partilham


experiências comuns).
• Formam-se vínculos (estrutura triangular) – identificação, diferenciações /
Estabelece-se a mutualidade: internalização do outro.
• Torna-se um espaço de escuta: onde o coordenador indaga, pontua e
problematiza.

Grupos Operativos têm o caráter terapêutico:


principalmente porque gera mudança.
RESISTÊNCIA A MUDANÇA

Existem dois medos básicos em toda a patologia e frente a


tarefa a iniciar

Medo da Medo do
perda ataque

ANSIEDADE DEPRESSIVA ANSIEDADE PARANOIDE


perda dos instrumentos que eram utilizados na enfermidade

medo da perda do “já adquirido” (ganho secundário, conserva,


acomodação, segurança)
Medo da
perda “não querer curar-se”

medo de perder uma situação previamente conquistada


Sentimento de perder o que já possui

vulnerabilidade frente a uma nova situação  (“medo” do novo)


Medo do
medo diante da falta de instrumentação
ataque
Sentimento de achar-se indefeso diante de um meio novo,
sem a instrumentalização capaz de protegê-lo.
ECRO
• ECRO – Esquema Conceitual Referencial Operativo;

• Sua teoria está constituída por 3 grandes campos disciplinares: Ciências Sociais, Psicanálise e Psicologia
Social.

• Pichón-Rivière define ECRO como um conjunto organizado de conceitos gerais, teóricos, referidos a um setor
do real, a um determinado universo de discurso, que permite uma aproximação instrumental ao objeto
particular.

ECRO é o conjunto de experiências, conhecimentos e afetos com os quais o sujeito pensa/sente/age

• Pichon afirma que cada um de nós possui um ECRO individual;


• Ele é constituído pelos nossos valores, crenças, medos e fantasias;
• Dialogamos com os outros, ou melhor, com os ECROs dos outros, e levamos também nosso ECRO;
• Como nem sempre explicitamos os nossos ECROs o nosso diálogo pode ser dificultado.
ECRO

• Quando se está trabalhando em grupos, a realização da tarefa estabelecida


pode ser dificuldade pelas diferenças de ECROs que estão em jogo;
• Possibilidade de construção de um ECRO grupal;
• Este ECRO seria um esquema comum para as pessoas que participam de um
determinado grupo – sabendo o que pensam em conjunto – poderem partir para
agir coletivamente com o aclaramento das posições individuais e da construção
coletiva que favorece a tarefa grupal.
ECRO

O referencial em questão refere-se ao conjunto de experiências,


conhecimentos e afetos prévios com que os indivíduos pensam e agem
em grupos, mas que, para se tornar operativas, ou seja, gerador de
mudanças pretendidas, necessita de aplicação de uma estratégia (a
criação de uma situação de laboratório social), de uma tática (a
abordagem grupal) e de uma técnica (privilegiando a centralização na
tarefa proposta).

Nesse esquema a tarefa do coordenador consiste basicamente em criar,


manter e fomentar a comunicação entre os membros do grupo.
TEORIA DO VÍNCULO

• Além da visão intrapsíquica da psicanálise esta visão situa o homem no


contexto de suas relações interpessoais;
• O vínculo, seria uma estrutura dinâmica que engloba tanto o indivíduo
como aqueles com quem interage e se constitui em uma Gestalt em
constante processo de evolução;
• Nesta perspectiva, está presente a noção de movimento e contingência
da mudança como indissociáveis do existir tanto individual como grupal.

TEORIA DOS
INTRAPSÍQUICO INTERRELACIONAL
VÍNCULOS
HORIZONTALIDADE X VERTICALIDADE

 A verticalidade designa a história, as experiências, as circunstâncias pessoais de um membro do grupo.


 A horizontalidade constitui o denominador comum da situação grupal, ou seja, aquilo que é
compartilhado por todos os membros consciente ou incoscientemente.

• A verticalidade se articula com a horizontalidade, pondo em evidência o emergente grupal;


• O vertical representa os antecedentes pessoais que se veem atualizados em um dado momento do
processo grupal e o horizontal é a expressão desse presente grupal que permitiu compartilhamento pelos
demais membros do grupo dos afetos suscitados por um deles (o porta-voz).

EMERGENTES
VERTICALIDADE HORIZONTALIDADE
GRUPAL
Depositário (paciente)
Depositante (demais membros da família)
Depositado (conteúdo patológico)

• O paciente (indivíduo doente) denuncia a enfermidade familiar, assumindo os


aspectos patológicos da situação, que compromete tanto o sujeito depositário como
os depositantes.
• O estereótipo se configura quando a projeção dos aspectos patológicos é maciça.
• O indivíduo fica paralisado, fracassando em seu intento de elaboração de uma
ansiedade tão intensa e adoece... Com a posterior segregação do depositário, pelo
perigo representado pelos conteúdos depositados.
• Então, o paciente passa da condição de agente protetor da enfermidade para a
de bode expiatório.
UNIDADE DE TRABALHO
1) Existente
2) Interpretação
3) Novo emergente

1)Existente - refere-se a tarefa enunciada;

2) Interpretação – coordenador propõe uma nova perspectiva para


a situação; interpreta ou assinala dificuldades que estão;

3)Novo emergente – o que surge como resposta / conteúdo que


surge a partir da interpretação de um material implícito / nova
situação que se estrutura como uma consequência da interpretação
do coordenador
COMO TORNAR UM GRUPO OPERATIVO?

• Um grupo se torna operativo quando preenche as


condições preconizadas nos 3Ms:

 MOTIVAÇÃO para a tarefa;


 MOBILIDADE nos papéis a serem desempenhados;
 Disponibilidade para MUDANÇAS que se evidenciam
necessárias.
REFERÊNCIAS

AFONSO, Lúcia (Org.). Oficinas em dinâmica de grupo na área da saúde. Belo Horizonte: Campo Social, 2003.

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