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AVALIAÇÃO E INTERVENÇÃO
PSICOPEDAGÓGICA
INSTITUCIONAL
CONTEXTUALIZANDO
O teórico responsável pela criação dos estudos sobre grupos operativos foi
Pichon Rivière. Segundo Rivière (2009), o processo grupal se caracteriza por uma
dialética, na medida em que é permeado por contradições – a tarefa principal,
aqui, é justamente analisar essas contradições. O autor utiliza uma representação
para mostrar o movimento de estruturação, desestruturação e reestruturação de
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um grupo, que é o cone invertido. O cone invertido é então esse instrumento que,
por meio de uma representação gráfica, considera a análise de seis vetores de
estudo articulados entre si e que possibilitam verificar os efeitos de uma mudança,
objetivo de crescimento de todo grupo em tarefa. O cone invertido busca identificar
os entraves que prejudicam o desenvolvimento da tarefa, para posteriormente
levar os participantes a aprender a pensar e operar – isso é, desenvolver a
capacidade de resolver contradições dialéticas, que são situações conflitantes que
imobilizam o crescimento do grupo.
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O cone é um esquema constituído por vários vetores, na base dos quais se
fundamenta a operação no interior do grupo. A partir da análise inter-relacional
desses vetores, chega-se a uma avaliação da tarefa que o grupo realiza. A eleição
do desenho do cone invertido se deve a que, em sua parte superior, estariam os
conteúdos manifestos e, em sua parte inferior, a fantasia latente do grupo.
Pichon propõe que o movimento de espiral é que vai fazer explícito o que
é implícito, além de atuar ante medos básicos subjacentes, permitindo enfrentar o
temor à mudança.
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Para exemplificar a situação de pertença: quando um aluno do time de
basquete não falta aula, chama os colegas para treinos extras e, se vai faltar,
avisa a todos os envolvidos. Ele sente-se integrante da equipe.
Agora, vejamos a ideia de cooperação:
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de cada um, é importante que não haja “formação de ruídos” na comunicação, o
que causaria dificuldades para enfrentar a tarefa.
A existência de ruído na comunicação vai obrigando emissor e receptor a
modificarem seu código, fato que pode levar à formação de subgrupos no interior
de um mesmo grupo. A comunicação oral, identificada por Enrique Pichon com a
fase oral estudada por Sigmund Freud, pode levar o grupo a uma relação de
dependência, através da qual fica clara a comunicação de um que sabe para
outros que não sabem e usufruem desse saber. Um exemplo seria o professor
que procura sua coordenação correspondente para perguntar se o planejamento
está sendo feito corretamente, a cada página/dia que escreve. A comunicação
anal é aquela que denigre o outro, que humilha e desqualifica. Um exemplo é o
diretor que chama a atenção de um funcionário em uma reunião com todos os
integrantes da equipe. A comunicação fálica foi vista como aquela que impõe seu
ponto de vista, quando não há espaço pra discussões. Um exemplo é o
coordenador que decide por uma atividade específica durante um evento e,
quando questionado por algum professor, o ameaça (direta ou indiretamente),
dizendo que pode passar no RH se não estiver satisfeito. Na comunicação genital,
é permitida a troca de opiniões e a alteração do rumo inicial do que foi
comunicado. Um bom exemplo para explicitar essa comunicação é quando se
está numa reunião pedagógica que visa decidir sobre o tema da Feira de Ciências
e a coordenação dá sua sugestão e a embasa, mas diz que quer ouvir outras
sugestões.
TEMA 4 – TELE
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Esse vetor refere-se ao clima relacional que permeia um grupo em
diferentes momentos. É o vetor que revela o grau de empatia positiva ou negativa
que acontece entre os integrantes do grupo. Quando num grupo há afastamento
e aproximação entre as pessoas, isso não significa que a “indisposição” aparente
tenha a ver com a pessoa presente. Muitas vezes o contexto real remete à
recordação de outras pessoas e outras situações.
Um exemplo que bem representa que a análise da tele pode sinalizar um
impeditivo para a aprendizagem é um aluno cujo pai é autoritário, injusto e
agressivo. Ao se deparar com algum coordenador ou professor de atitudes mais
impositivas, que use o grito ou ameaça como forma de se impor, com certeza o
aluno sentirá angústia, medo e insegurança – como o que sente com o pai. Esse
contexto relacional se tornará um obstáculo para a aprendizagem.
TEMA 5 – MUDANÇA
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tempo todo, sem se retroalimentar das informações que busca, para sair da
confusão. É o estágio que desencadeia o medo à confusão.
No momento do aprender dissociado, o aprendente começa a delimitar sua
compreensão com dados específicos. É quando as valências positivas e negativas
começam a ser discriminadas. Percebe o que sabe e o que não sabe, se sabe
mais ou menos que o outro. É um momento do aprender que gera condutas de
proteção, por medo ao ataque. São muitas as condutas decorrentes desse
estágio, que é também onde as pessoas mais ficam fixadas. Algumas condutas
típicas dessa fase são evitação, medo, isolamento, mania de perseguição,
sedução, histeria, obsessão. Os integrantes do grupo que, durante a realização
de alguma tarefa, apresentarem essas condutas, revelam que saíram da
confusão, compreenderam as polaridades e objetivos da tarefa final, mas
precisam de apoio, de uma liderança operativa, para encarar o terceiro e último
momento da aprendizagem, que é o momento integrativo.
O momento de aprender integrado é quando o sujeito compreende que toda
aquisição de aprendizagem é a aceitação do positivo e negativo do ato; é perder
a referência do que dominava até então para incorporar uma nova ideia ou
conhecimento. Essa sensação muitas vezes impede o aprendiz de sair do vínculo
dissociado, por medo à perda. É uma etapa que gera, mesmo que brevemente,
condutas reflexivas e depressivas.
Constatamos que a situação de aprendizagem criada por essa
operatividade grupal gera nos sujeitos três ansiedades básicas: medo de
confusão, medo de perda e medo de ataque. Esses medos coexistem e cooperam
na operatividade do grupo, uma vez que mobilizam tipos de conduta em prol do
alcance dos objetivos propostos. Não importa qual o tipo de grupo operativo, há
sempre, sob uma tarefa, outra implícita que aponta para a ruptura, que decorre do
esclarecimento das pautas estereotipadas que dificultam a aprendizagem e a
comunicação, o que resulta em obstáculos frente a toda situação de progresso ou
mudança.
Pensando num trabalho psicopedagógico institucional, é relevante
perceber que a transformação (a mudança, a melhoria e o crescimento) se cumpre
nesses três momentos, por meio de um processo de esclarecimento que vai do
explícito ao implícito. A unidade de trabalho que permite a realização de tal
esclarecimento é integrada pelo existente (material trazido pelo grupo através de
um membro qualquer, que nesse momento cumpre a função de porta-voz), pela
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interpretação realizada pelo coordenador, líder ou copensor do grupo, e pelo novo
emergente – conduta derivada da organização de elementos distintos que surgem
como resposta a essa interpretação.
Mudar exige ir além dos "medos". Conhecer como se dá esse movimento,
nos integrantes do grupo e em seu funcionamento geral, mune o psicopedagogo
de informações para o diagnóstico e principalmente para que seja possível partir
para a ação posterior, de intervenção.
FINALIZANDO
Em um grupo, seja ele qual for, sempre haverá uma tarefa em comum a ser
realizada. A tarefa é a trajetória que o grupo percorre para atingir seus objetivos;
ela está relacionada ao modo como cada integrante interage a partir de suas
próprias necessidades. Compartilhar essas necessidades, em torno dos objetivos
comuns do grupo, pressupõe flexibilidade, descentramento e perspectiva de
abertura para o novo. Quando o grupo aprende a problematizar as dificuldades
que emergem no momento da realização de seus objetivos, podemos dizer que
ele entrou em tarefa, pois a elaboração de um projeto comum já é possível, e
assim o grupo pode passar a operar um projeto de mudanças.
Cada integrante do grupo comparece com sua história pessoal consciente
e inconsciente, isto é, com sua verticalidade. Na medida em que se constituem
em grupo, passam a compartilhar necessidades em função de objetivos comuns,
e assim criam uma nova história – a horizontalidade do grupo, que não é
simplesmente a somatória de suas verticalidades, afinal há uma construção
coletiva resultante da interação de aspectos de sua verticalidade, que hera uma
história própria, inovadora, que dá ao grupo sua especificidade e identidade
grupal.
No trabalho com grupos, toda resistência à mudança se revela de maneira
discreta e implícita. Esse “escondido” tem que vir à tona e ficar em evidência, para
que o medo da perda e do ataque deixem de ser situações perigosas, que não
podem ser vividas e superadas – enfim, para que ocorra a aprendizagem. É
justamente a explicitação do implícito que faz o grupo caminhar em direção à
tarefa, como no movimento de uma espiral dialética.
A técnica de grupo operativo acarreta na presença e intervenção de um
coordenador, que indaga e problematiza, estabelecendo articulações entre as
falas e os integrantes, sempre direcionando o grupo para a tarefa comum. No caso
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da instituição escolar, esse coordenador pode ser o psicopedagogo. Afinal, esse
profissional é conhecedor dos obstáculos que influenciam a aprendizagem, das
técnicas de observação e do cone invertido; poderá, então, dar início ao processo
prático de diagnóstico institucional, que será apresentado na aula 4.
LEITURA OBRIGATÓRIA
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REFERÊNCIAS
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OLIVEIRA, M.A. C. Intervenção psicopedagógica na escola. 2. ed. Curitiba:
Iesde, 2009.
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