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As Noções de Papel, Estatuto, Pessoa e os

Estereótipos

A especificidade destes "fenómenos sociológicos" consiste no facto de serem "agidos e


vividos" pelos indivíduos. Contrariamente aos factos naturais, eles implicam uma atitude,
uma representação. O conceito de atitude liga o plano psicológico e o plano social,
porque a atitude traduz a posição de um sujeito face a um problema colectivo e a intenção
de assumir uma certa escolha, um certo papel.

A noção de papel constitui igualmente uma ponte entre as perspectivas psicológica e


sociológica porque supõe um nível individual e um nível colectivo. Num certo sentido, os
papéis preexistem ao agente sob a forma de conduta em função de um determinado
estado, de uma determinada situação. Cada sujeito assume o seu segundo papel segundo
o seu próprio estilo.

Deste modo, existe num grupo organizado, uma certa repartição de papéis que preexiste
às pessoas e no interior dos papéis, há os problemas das atitudes, uma vez que cada um
desempenha o seu papel de acordo com a sua atitude pessoal.

Na noção de "papel", podemos distinguir dois aspectos:

• um aspecto afectivo, funcional


(que está em relação com uma posição social, com referência a regras e costumes;
digamos que é o lado sério do papel, por exemplo, assume-se o papel de pai, de
chefe, de conselheiro, etc.),

• um aspecto imaginário, teatral


(desempenha-se um papel; assume-se uma personagem; põe-se uma máscara que
permite a dissimulação da identidade e a identificação da forma imaginária, quer
ao nível da linguagem, quer dos fantasmas).

Podemos distinguir três níveis de abordagem à noção de "papel":

• Nível institucional ou perspectiva sociológica


(O papel é uma prescrição; é imposto em função do lugar que ocupamos na
sociedade. O papel é o aspecto dinâmico da posição; o estatuto, o aspecto estático.
No meio profissional e não só, o papel sobrepõe-se ao estatuto, o papel suscita o
estatuto. O estatuto determina o comportamento do indivíduo, satisfaz a sua
necessidade de segurança e, graças a ele, o indivíduo adquire valor aos seus
próprios olhos, valoriza-se);

• Nível individual ou perspectiva psicológica


(Aqui, o papel tem uma função de expressão, através dele, exprimimo-nos. Cada
um assume o seu papel mais ou menos fielmente em função da sua personalidade
singular. A interiorização dos modelos já não é uniforme, isto é, para cada um,
entra em linha de conta a sua equação pessoal ou, por outras palavras, o seu
coeficiente de deformação pessoal. Note-se na diferença entre papel e modo como
se assume o papel, pois este depende da atitude do sujeito e da sua percepção dos
modelos ambiente. Para que possamos falar de uma pessoa, a personalidade terá
de, através de uma síntese, criar e exercer a escolha dos papéis e a sua
interpretação pessoal. Se a síntese for conseguida, falar-se-á de uma pessoa; se a
síntese for apenas um compromisso e o papel ultrapassa e submerge a
personalidade, falar-se-á preferencialmente de um personagem);

• Nível interaccional ou perspectiva psicosociológica


(Nesta perspectiva, os papéis são considerados no seu aspecto de
complementaridade. Não somos seres solitários; somos seres "com". Os modelos,
as normas, as atitudes só se actualizam na interacção e não há papel sem contra-
papel. Neste processo comunicação, cada um vai-se confrontar com o outro num
conjunto de acções/reacções e a qualidade da comunicação é condicionada por
diferentes aspectos, a saber:

1. A expectativa do papel (a antecipação do comportamento das pessoas em


função do que se sabe sobre a sua posição social, o seu estatuto);
2. A evolução eventual das atitudes no interior do papel (a transformação da
nossa maneira de ser com outro que supõe um máximo de plasticidade e
faz apelo a uma maior maleabilidade do interlocutor);
3. A disparidade entre o papel desempenhado e as percepções que dele têm
os interlocutores (disparidade que aparece a vários níveis, nomeadamente
entre a expectativa de papel e o comportamento real; entre o que se queria
fazer e o que se faz realmente e entre o papel desempenhado e o papel tal
como é entendido pelo outro).

Psicologicamente e sociologicamente falando, ser é ser "percebido" e todo o drama da


comunicação está em tentar que o outro nos "veja" tal como gostaríamos de ser.

ESTEREÓTIPOS

A nossa pertença a um grupo social específico, qualquer que ele seja, modela a nossa
maneira de compreender e de reagir e estes modelos são os estereótipos. Em Psicologia
Social, chama-se estereótipo à maneira rígida de conceber e julgar as pessoas por
pertencerem a um determinado grupo, estando nós próprios impregnados dos modelos do
nosso próprio grupo. São imagens genéricas, carregadas de afectividade, fontes de
crenças e de comportamentos que resistem à lógica e à contradição dos factos.

Por exemplo, no decurso de um exercício de grupo, uma participante (que era professora)
manifestava a mais viva agressividade face a um outro participante que era padre e os
seus juízos reflectiam os traços do seu estereótipo de padre; ela dizia por exemplo: "Não
gosto de padres". Contudo, acabou por ser surpreendida pelas reacções de um terceiro
participante que, "enquanto pai de um aluno" não ocultava o seu desprezo pelos
"professores de instrução primária".

Falamos do outro, identificando-o a um grupo (os médicos, os professores, os assistentes


sociais, as mulheres, os negros, etc.) e situamo-nos a nós próprios num grupo solidário ou
hostil.

A atenção ao significado intelectual do que é formulado por outrem arrisca-se,


paradoxalmente, a obnubilar a compreensão do quadro de referência, do contexto pessoal
vivido, no qual o interlocutor disse o que disse.
Se consideras, depois de leres estes textos que tens dificuldades nesta ou noutras áreas da
tua vida, podes sempre recorrer ao GAPA, onde encontrarás um/a psicólogo/a
profissional que pode ajudar-te a ultrapassar as barreiras ao teu crescimento pessoal e ao
teu sucesso académico.

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