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BLEULER

A ambivalência das atitudes e do comportamento humano.


Quase no veio aristotélico, identificou três tipos de ambivalência:
(1) Emocional (ou afetivo): o mesmo objeto, provoca sentimentos tanto positivos como negativos.
Exemplo: relação entre pais e filhos.
(2) Voluntário (ou conativo): desejos conflitivos tornam difícil ou impossível decidir como agir.
(3) Intelectual (ou cognitivo): os homens defendem ideias contraditórias.

Muito antes que o termo fosse cunhado, a experiência humana da ambivalência- de ser impulsionado
em duas direções psicologicamente opostas- tinha sido, é claro incessantemente notada.

Nenhum observador da condição humana poderia, por muito tempo, deixar de notar a grande evidência
de sentimentos mistos, crenças mistas e ações contraditórias. Seria necessário tão-somente olhar para
dentro de sua própria psique, ou para fora, para o comportamento dos de mais.

E, é claro, o próprio Freud observou, anos antes que Bleuler lhe desse nome, a alternância de amor e
ódio pela mesma pessoa, com a separação precoce dos dois sentimentos geralmente levando à
repressão do ódio.

Os fatos da ambivalência têm sido observados principalmente ou inteiramente em seus aspectos


psicológicos.

O foco tem sido sobre a experiência interior e os mecanismos psíquicos acionados pelos esforços para
lidar com emoções, pensamentos e ações conflitantes.

A estrutura das relações sociais é tida como dada nessas considerações, não se tornando ela própria o
foco de pesquisa sistemática.

Outra forma de colocar o problema é dizer que, apesar das relações sociais entre pessoas terem sido
inevitavelmente desenhadas na análise psicológica da ambivalência, nunca foram seu ponto central.
São tomadas como fatos de circunstância histórica, mais que examinadas nos termos da dinâmica da
estrutura social para ver como e em que extensão a ambivalência vem a ser construída na própria
estrutura das relações sociais.
Um exemplo: o padrão do amor do aprendiz, a devoção do pupilo ou discípulo por seu mestre, revela o
inevitável, ainda que periférico, terreno reservado às relações sociais nas teorias psicológicas e nos
estudos sobre a ambivalência.

Ao contrário da orientação psicológica, a sociológica põe em foco os caminhos através dos quais a
ambivalência chega a ser construída dentro da estrutura dos status e dos papéis sociais. Ela nos dirige
para o exame dos processos da estrutura social que afetam a probabilidade de que a ambivalência
apareça em tipos particulares de relações do papel. E, finalmente, indica-nos as consequências sociais
da ambivalência para o funcionamento das estruturas sociais.

A pesquisa sociológica sobre a ambivalência não substitui a pesquisa psicológica, mas a completa
instrutivamente .

O CONCEITO DE AMBIVALÊNCIA SOCIOLÓGICA


A teoria psicológica da ambivalência, procura principalmente saber como este ou aquele tipo de
personalidade desenvolve uma ambivalência particular e lida com ela.

A teoria sociológica da ambivalência, visa outros problemas bem diferentes. Reporta-se à estrutura
social, e não à personalidade.

Num sentido mais amplo, a ambivalência sociológica reporta-se a expectativas de atitudes, crenças e
comportamentos incompativelmente normativos, atribuídos a um status (isto é, a uma posição social)
ou a um conjunto de status numa sociedade.

Num sentido mais restrito, a ambivalência sociológica reporta-se a expectativas normativas


incorporadas num único papel de um único status social (por exemplo, o papel terapêutico do médico
em distinção de outros papéis de seu status, como pesquisador, administrador colega de profissão ou
membro da associação profissional, etc).

Tanto no sentido mais amplo como no sentido mais restrito, a ambivalência localiza-se na definição
social de papéis e status, e não no estado sentimento de um outro tipo de personalidade.

A ambivalência sociológica é uma importante fonte de ambivalência psicológica.

Os indivíduos em um status ou conjunto de status que tenha uma grande dose de incompatibilidade em
sua definição social serão levados a desenvolver tendências pessoais para sentimentos, crenças e
comportamentos contraditórios.

Embora as formas psicológicas e sociológicas da ambivalência sejam empiricamente ligadas, elas são
teoricamente distintas. Encontram-se em planos diferentes da realidade fenomênica, em planos
diferentes de conceitualização e em planos diferentes de causação e consequências.

A teoria sociológica trata dos processos através dos quais as estruturas sociais geram as circunstâncias
em que a ambivalência se incrusta em determinados status e conjunto de status, juntamente com os
papéis sociais a eles associados.

Uma fonte da ambivalência deve ser procurada no contexto estrutural de um status particular.

Outra fonte é encontrada nos múltiplos tipos de funções atribuídas a um status por exemplo, funções
expressivas e instrumentais.

Estas duas fontes foram identificadas em uma série continua de análises sociológicas da ambivalência
durante os últimos vinte anos ou mais.

Um segundo tipo de ambivalência sociológica é a que envolve um conjunto de status dentro de um


conjunto de status (isto é, o conjunto de posições sociais ocupadas por indivíduo). É essencialmente um
padrão de “conflito de interesses ou de valores” no qual os interesses e valores incorporados em
diferentes status ocupados pela mesma pessoa resultam em sentimentos mistos e um comportamento de
compromisso. São interesses e valores conflitantes no conjunto de status do indivíduo.

Um terceiro tipo de ambivalência sociológica, é encontrado no conflito entre vários papéis associados
com um determinado status.
Um quarto tipo de ambivalência sociológica é encontrado sob a forma de valores culturais
contraditórios assumidos pelos membros de uma sociedade. Esses valores não são restritos a
determinados status, mas são normalmente esperados em toda a sociedade (por exemplo, patriotismo e
honestidade).
Enquanto essas premissas de valores são defendidas amplamente, e não estão organizadas como um
conjunto de normas para um ou outro papel em particular, podem ser vistas como casos de conflito
cultural.

Um quinto tipo de ambivalência sociológica é encontrado na disjunção entre as aspirações


culturalmente prescritas e as vias socialmente estruturadas para a realização dessas aspirações (o que
um de nós descreveu longamente como a "estrutura da oportunidade"). Não se trata de conflito cultural
nem de conflito social, mas da contradição entre a estrutura cultural e a estrutura social. Ela vem à tona
quando os valores culturais são internalizados por aqueles cuja posição na estrutura social não dá
oportunidade de agir de acordo com os valores que aprenderam a apreciar.

Um sexto tipo de ambivalência sociológica desenvolve-se entre pessoas que viveram em duas ou mais
sociedades e, portanto, estiveram sendo orientadas dentro de diferentes conjuntos de valores culturais.
Por exemplo: imigrantes.

Ambivalência sociológica: tendências normativas opostas na definição social de um papel.

RELATOS DE PAPÉIS SOCIAIS: PICTÓRICO, SOCIOGRÁFICO, ANALÍTICO

Relatos pictóricos dos papéis sociais: retratos de representações. Ex: papel de executivo de negócios,
da dona de casa ou do líder operário. São o que romancistas ou historiadores tentam fazer. O sociólogo
não está preparado para cumprir.

A sociografia dos papéis sociais descreve, mas não situa seus personagens principais numa trama mais
ou menos complexa que ajude o romancista a mostrar a complexidade das relações sociais.
A sociografia também classifica os papéis principais, mas em categorias desenhadas a partir da vida
diária e não a partir das reformulações mais abstratas da teoria sociológica.
O sociógrafo em ação é um pouco como o homem comum que poderia descrever a água como um
líquido incolor, transparente, insípido e inodoro, e que com isso estava percebendo alguns atributos
verificáveis pelo fato de terem sido notados por sua visão (e por outros órgãos dos sentidos).
O sociógrafo não é como o poeta.

Grande parte do estudo sociológico dos papéis sociais permanece no nível da sociografia.

Tais relatos sociográficos constituem, é claro, uma fase indispensável do movimento em direção à
análise sociológica dos papéis sociais. Descrições razoavelmente concretas das normas incorporadas a
um papel social são obviamente requeridas antes que possam ser submetidas a análises mais abstratas.

A sociografia não constitui um substituto permanente da análise sociológica.

O processo do sociólogo teórico, do ponto de vista da Sociologia teórica, os papéis sociais são
combinações de propriedades escolhidas e compostas por componentes escolhidos.
Justapondo-se, em parte, à classificação de Sorokin está a classificação de "variáveis-padrão" de
Talcott Parsons, que com isso designa aspectos de padrões normativos que se incorporam nos papéis
sociais. Nessa visão, todo papel social está composto tanto de afetividade (normas exigindo a rápida
expressão do sentimento) quanto de neutralidade (não-expressão de afeto); difusão (obrigações muito
amplas) ou especificidade (obrigações expressamente limitadas); universalismo (obrigações sem
consideração para com o status social dos demais) ou particularismo (obrigações exclusivamente em
relação aos possuidores de um status determinado); interesse para com as qualidades ou atributos do
parceiro do papel ou com o desempenho; e finalmente, tanto auto-orientado (o papel exigindo a
satisfação dos interesses próprios) como orientado para a coletividade (exigindo que o auto-interesse
seja subordinado ao interesse coletivo).

A extensão normativamente prescrita da observância do desempenho do papel, por exemplo, é uma


variável crucialmente significante, que afeta o caráter das relações sociais. Outros atributos estruturais
dos papéis incluem o conjunto e a complexidade de conjuntos de papéis, variabilidade normativamente
padronizada na distância concedida para que os ocupantes de determinado status se afastem do estrito
cumprimento das normas, restrições padronizadas sobre o número dos que desempenham o mesmo
papel (como na monogamia e em outros jogos sociais), o grau de clareza ou de falta de precisão das
determinações do papel, e assim por diante.

NORMAS E CONTRANORMAS

Está em questão a maneira como concebemos a estrutura dos papeis sociais. A partir da perspectiva da
ambivalência sociológica, vemos um papel social como a organização dinâmica de normas e
contranormas, e não como uma combinação de atributos dominantes (tais como neutralidade afetiva ou
especificidade funcional). Propomos que as grandes normas e as contranormas menores governam
alternadamente o comportamento do papel para produzir ambivalência.

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