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MEGGS.

 História  do  Design  Gráfico.  


São  Paulo:  CosacNaify,  2009.  Prefácio     philip B. Meggs e alston W. purvis

tradução cid knipel


utilizado o livro como referência em minhas aulas e considero uma grande honra O conceito de arte pela arte, de um belo objeto que existe exclusivamente por
e distinção ser chamado a participar como revisor desta nova edição. Espero que seu valor estético, não se desenvolveu senão no século xix. Antes da Revolução In-
esta, com seu conteúdo ampliado e novas imagens, a exemplo das edições anterio- dustrial, a beleza das formas e imagens produzidas pelas pessoas estava ligada à
res, ilumine e alente tanto estudantes como profissionais como um recurso fun- sua função na sociedade humana. As qualidades estéticas da cerâmica grega, dos
damental e permanente para essa área do saber instigante e sempre em evolução. hieróglifos egípcios e dos manuscritos medievais eram totalmente integradas a
valores utilitários; a arte e a vida eram unificadas num todo coeso. A eclosão e a
Alston W. Purvis, 2006 repercussão da Revolução Industrial giraram o mundo de cabeça para baixo num
processo de agitação e progresso tecnológico que continua a acelerar-se a uma ve-
locidade sempre crescente. Ao arrancar as artes e ofícios de seus papéis sociais e
econômicos, a era da máquina criou um abismo entre a vida material das pessoas
Prefácio à primeira edição e suas necessidades sensoriais e espirituais. Tal como existem vozes que clamam
por uma restauração da unidade entre os seres humanos e o ambiente natural,
há também uma consciência crescente da necessidade de restabelecer os valores
Em alemão há uma palavra, Zeitgeist, que não possui equivalente em português. humanos e estéticos ao ambiente produzido pelo homem e pela comunicação de
Ela significa o espírito do tempo e refere-se a tendências e preferências culturais massa. As artes do desenho – arquitetura e design de produto, de moda, de inte-
características de determinada era. O caráter imediato e efêmero do design grá- riores e gráfico – oferecem um meio para essa restauração. Mais uma vez, a habi-
fico, combinado com sua ligação com a vida social, política e econômica de uma tação, os artefatos e a comunicação da sociedade podem manter um povo unido.
determinada cultura, permite que ele expresse mais intimamente o Zeitgeist de Os ameaçados valores estéticos e espirituais podem ser restabelecidos. Uma in-
uma época do que muitas outras formas de expressão humana. Ivan Chermayeff, tegração entre carência e ânimo, reunidos mediante o processo do design, pode
renomado designer, disse: o design da história é a história do design. contribuir bastante para a qualidade e o sentido da vida nas sociedades urbanas.
Desde os tempos pré-históricos, as pessoas buscam maneiras de dar forma Esta crônica do design gráfico é escrita com a convicção de que entendendo
visual a ideias e conceitos, armazenar conhecimento sob a forma gráfica e trazer o passado seremos mais capazes de dar continuidade ao legado cultural da bela
ordem e clareza às informações. No curso da história, essas necessidades foram forma e da comunicação eficaz. Se ignorarmos esse legado, correremos o risco de
atendidas por diversas pessoas, entre as quais escribas, impressores e artistas. afundar no atoleiro insensato de um mercantilismo cuja miopia ignora os valores
Foi somente em 1922, quando o destacado designer de livros William Addison e necessidades humanos ao adentrar a escuridão.
Dwiggins cunhou o termo graphic design para descrever as atividades de alguém
que trazia ordem estrutural e forma visual à comunicação impressa, que uma Philip B. Meggs, 1983
nova profissão recebeu seu nome adequado. Entretanto, o designer gráfico con-
temporâneo é herdeiro de uma ancestralidade distinta. Os escribas sumérios que
inventaram a escrita, os artesãos egípcios que combinaram palavras e imagens
em manuscritos sobre papiros, os impressores chineses de blocos de madeira, os Agradecimentos
iluminadores medievais e os tipógrafos do século xv, que conceberam os primei-
ros livros europeus impressos, tornaram-se parte do rico legado e da história do
design gráfico. Em geral, essa é uma tradição anônima, já que o valor social e as re- No curso deste projeto muitos estudiosos, colecionadores, amigos, colegas e de-
alizações estéticas desses profissionais, muitos dos quais foram artistas criativos signers ofereceram generosamente seus conselhos e sua experiência, e seria im-
de extraordinária inteligência e visão, não foram devidamente reconhecidos. possível expressar devidamente minha gratidão a todos eles. Especialmente, sou
A história é, em grande medida, um mito, pois o historiador olha em retrospec- grato a Elizabeth Meggs por seu incentivo, confiança, amizade e dedicada catalo-
tiva para a grande e larga rede do esforço humano e tenta construir a partir dela uma gação de imagens desde a edição anterior.
malha de significação. O excesso de simplificação, a ignorância das causas e seus Entre meus colaboradores, desejo inicialmente expressar minha gratidão e
efeitos e a falta de um ponto de vista objetivo são riscos graves para o historiador. dívida para com Robert e June Leibowits por sua generosidade, ajuda e apoio in-
Quando tentamos registrar as realizações do passado, partimos do ponto de vista de telectual a este e todos os meus esforços literários. Além disso, eles concederam
nosso próprio tempo. A história se torna um reflexo das necessidades, sensibilida- acesso a seu extenso acervo de design gráfico do século xx, o que enriqueceu mui-
des e atitudes do tempo do cronista, tal como, sem dúvida, representa as realizações tíssimo a quarta edição desta História do design gráfico.
de eras passadas. Por mais que nos empenhemos em busca da objetividade, as limi- Durante muitos anos o leal apoio de Wilma Schuhmacher tem sido particular-
tações do conhecimento e das percepções pessoais acabam por se impor. mente gratificante. Ela continua a compartilhar generosamente seu extraordiná-

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