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Critério de dimensionamento de Bobinas e Transformadores

Jorge Guilherme

Escola Superior Tecnologia de Tomar


Instituto Politécnico de Tomar

Resumo
Este artigo apresenta um breve resumo sobre o projecto
de bobinas e transformadores, fornecendo um método Ae
rápido de dimensionamento para projectistas. O método
utilizado é o da área-produto, sendo um dos mais
utilizados no projecto de componentes magnéticos.

Aw Aw
Introdução
A evolução da electrónica de potência tem sido
extremamente rápida nos últimos 10 anos. Esta evolução Jtípico 2-3 A/mm2
tem permitido o desenvolvimento de novos sistemas mais Jmax 10 A/mm2.
eficientes e portáteis. Qualquer conversor de electrónica Bmáx Densidade máxima do fluxo
de potência tem sempre alguma bobina ou transformador. Ku Factor de ocupação da janela de cobre.
Importa então ter métodos rápidos de projecto que Típico 0.3 a 0.5.
auxiliem o designer a dimensionar os componentes
magnéticos. Estes componentes são essencialmente O numero de espiras vem dado por
bobinas e transformadores. L ⋅ ILmax
N = (1)
Bmax ⋅ Ae
1. Projecto de Bobinas e a área de cobre por
A eficiência dos conversores electrónicos de potência N ⋅ IL
depende do dimensionamento adequado das bobinas. Os Ku ⋅ Aw = (2)
J
requisitos impostos às bobinas podem ser expressos em
O produto das áreas AP permite dimensionar o núcleo
função de 3 parâmetros:
para uma dada aplicação.
L ⋅ IL2
- A corrente contínua à qual a bobina deve servir de
Ap = Ae ⋅ Aw = (3)
suporte (IL). B ⋅ J ⋅ Ku
- O tremor da corrente como percentagem de IL (∆ie). tendo em conta que a densidade de corrente obtém-se
- O rendimento da bobina em função das perdas no por
cobre (Pcu). IL
J= (4)
Objectivos do projecto: Acu

- Menor núcleo que satisfaz as exigências. 2. Passos de projecto para bobinas


- Número de espiras (N). O projecto de uma bobina passa pelos seguintes passos:
- A secção do fio de cobre a utilizar (Acu).
- O comprimento do entreferro (lg). 1 - Escolha do núcleo:
Ap’ ≥ Ap = Ae . Aw
Critério:Via produto das áreas Ap = Ae . Aw
2 - Determinação do nº espiras:
Ae = área do núcleo L ⋅ ILmax
N’ ≥ N = (5)
Aw = área do cobre Bmax ⋅ Ae
IL
A densidade de corrente é adoptada como parâmetro de 3 - Determinação de Acu: Acu = (6)
projecto. J
seguidamente verifica-se se o fio cabe todo na janela Aw
Ku.Aw ≥ N’.Acu’ => Acu’ ≥ Acu ∂ ( Nφ )
Da lei da Farady E=− (11)
4. Acu ∂ t
o diâmetro do fio D vem calculado por: D =
π pode ser determinada a tensão que pode ser suportada
4 - Determinação do comprimento do fio do enrolamento: por determinado núcleo

Lt = t.N’ (7) V1 = 4.Bmax.N1.Ae.Fs (12)


t - Comprimento de uma espira média V2 = 4.Bmax.N2.Ae.Fs (ondas quadradas )
V1 = 4,44.Bmax.N1.Ae.Fs (13)
5 - Determinação de Pcu: V2 = 4,44.Bmax.N2.Ae.Fs (ondas sinusoidais)
A densidade de corrente é adoptada como parâmetro.
N '⋅t ⋅ IL2 N ' 2 ⋅t ⋅ IL2
Pcu = Re⋅ IL = ρ2
=ρ (8)
Acu Ku ⋅ Aw A área total de cobre vem dada por:
com ρ = 1.724µΩ/cm I1 I2
Ku ⋅ Aw = N 1 ⋅ Acu1 + N 2 ⋅ Acu 2 = N 1 + N2
2 J J
Ter em conta o efeito pelicular δ= (9) (14)
ωµσ
V 1 ⋅ I1 + V 2 ⋅ I 2
π . D 2 π . ( D − 2 .δ )
2 Ae ⋅ Aw = Ap = (15)
Acu = − 4 ⋅ Bmax ⋅ Ku ⋅ J ⋅ Fs
4 4
µ = µo e σ = 1/ρ Considerando rendimentos elevados (1% a 2% perdas)

Acu V1.I1 ≈ V2.I2 = P


P
δ
Ap = Ae ⋅ Aw = (16)
2 ⋅ Bmax ⋅ Ku ⋅ J ⋅ Fs

4. Passos de projecto para transformadores


6 - Determinação do entreferro:
O projecto de um transformador passa pelos seguintes
N '2 µo ⋅ Ag N ' 2 µo ⋅ Ae passos:
lg ≈ ≈ (10)
L L
−7 1 - Escolha do núcleo:
µo = 4π ⋅ 10
P
7 - Determinação das perdas no ferro < 10 mW/cm2. Ap’ ≥ Ap = Ae ⋅ Aw =
Recorrer aos gráficos dados pelo fabricante. 2 ⋅ Bmax ⋅ Ku ⋅ J ⋅ Fs

Pm = Ve(Bmax) 2 - Determinação do nº de espiras:


Ve - Volume do material magnético V1 V2
N1 = ∧ N2 =
4 ⋅ Bmax ⋅ Ae ⋅ Fs 4 ⋅ Bmax ⋅ Ae ⋅ Fs
3. Projecto de transformadores 3 - Determinação das áreas de cobre Acu1 e Acu2 e
diâmetro dos fios
Os requisitos a que um transformador deve obedecer
I1 I2
podem ser expressos em termos de : Acu1 = Acu 2 =
J J
- Potência que o transformador deve ser capaz de 4. Acu1 4. Acu 2
processar. D1 = D2 =
- Rendimento do transformador relativamente ás perdas π π
no cobre.
4 - Determinação da potência de perdas no cobre:
Objectivos do projecto:
Pcu = Re1.I12 + Re2.I22
- Menor núcleo que satisfaz as exigências sem saturar.
- Número de espiras do primário N1 e do secundário N2. onde Re é a resistência do fio de cada enrolamento
- Secção do fio de cobre a utilizar. Estas perdas devem ser 1 - 2% da potência P

Critério:Via produto das áreas Ap = Ae . Aw 5 - Determinação da corrente de magnetização:


N 12 µ Ae transformador aumenta. Considerando operação com
Im = ≈ 1% Io (17) ondas sinusoidais, temos:
Lm
µAe
Lm = N12 (18) 1 
lm Pt = Po + 1 ≈ 2 Pin V1 N1 N2
V2 RL

lm - comprimento do circuito magnético η  V2

6 - Determinação do entreferro se necessário:

7 - Minimizar os efeitos das correntes de Eddy:

• Efeito pelicular - Redistribuição da corrente N2 V2 RL

alternada que percorre o condutor do interior para a 1 


Pt = Po  + 2  ≈ 2., 41 Pin
superfície devido ao campo magnético criado pela η 
N1 N2
corrente. V1 V2
• Efeito de proximidade - Fenómeno de indução de
correntes de circulação no condutor por campos
magnéticos variáveis criados pelas correntes em
condutores próximos.
• 1º - Enrolamento em fio de Litz ou N fios cujo
 2  V2
φ≤ 2δ ou em fita cuja h ≤ 2δ. Pt = Po  + 2  ≈ 2 ,82 Pin
N1 N2

 η 
• Disposição dos enrolamentos em camadas
Vb
concêntricas subdivididas e sobrepostas por forma a N1 N2
V2
que a maior corrente seja dividida num paralelo de Ap = Ae . Aw
camadas mais interiores, separadas por camadas de
secções em série do enrolamento que suporta maior
tensões. O calculo apresentado no ponto 1 e 3 suponha uma
densidade de corrente constante. No entanto a densidade
de corrente depende da temperatura máxima admitida no
transformador. Tendo em conta a temperatura Ap vem
N2 N1/2 N2 N1/2 dado por:

x
 Pt.10 4 
V2 Ap =   [ cm 4 ] (19)
 Kf . Bm. Fs. Ku. Kj 
V1 V1
Np = (20)
Nota: Este processo de calculo é valido apenas para Kf . Bm. Ae. Fs
transformadores com um primário e um secundário.
A densidade de corrente J vem em função da temperatura
5. Transformadores com mais de um enrolamento admitida e do tipo de forma.
O critério de dimensionamento anterior permite efectuar
um calculo com uma boa aproximação e suficiente para a J = Kj. Ap y (21)
maioria dos casos. No entanto este critério permite
apenas o dimensionamento de transformadores com um Kf = 4.44 para ondas sinusoidais
primário e um secundário. Em certas aplicações torna-se Kf = 4 para ondas quadradas
necessário dispor de mais do que um primário e um
secundário (caso de um conversor push-pull) e, ao Fs - Frequência de operação do transformador
mesmo tempo pode haver necessidade de uma J - Densidade de corrente no fio
aproximação mais rigorosa tendo em conta com o efeito Ku - Factor de utilização da janela de cobre. Valor típico
da temperatura. 0.4.
Bm - Fluxo em Tesla
Pt = Pin + Po Pin = V1.I1 Po = V2.I2
Pt - Potência total processada pelo transformador
Os coeficientes Kj, x e y dependendo do tipo de forma
Quando temos mais do que um enrolamento no primário vêm dados pela seguinte tabela:
ou no secundário, a potência processada pelo
Tabela 1:
Forma Perdas Kj a Kj a x y
25ºC 50ºC
Pot core Pcu = Pfe 433 632 1.2 -0.17
Powder Pcu >> 403 590 1.14 -0.12
core Pfe G
Laminatio Pcu = Pfe 366 534 1.14 -0.12
n
C core Pcu = Pfe 323 468 1.16 -0.14
Single-coil Pcu >> 395 569 1.16 -0.14
Pfe O valor da indutância vem corrigido devido à dispersão.
Tape- Pcu = Pfe 250 365 1.15 -0.13
wound core
0,4π . N 2 Ae. F.10−8
L≈
lg
[Henry ] (27)

Ae de (27) retira-se N

lg. L
Aw Aw Ae
N = −8 (28)
0.4. π . Ae. F .10

Conclusões
C-core EI-Lamination
Foi descrito um método simples e rápido para o projecto
Ae de bobinas e transformadores. O método apresentado é o
da área-produto sendo um dos mais utilizados pelos
Aw Ae projectistas. Apresentou-se também uma aproximação
Aw
mais rigorosa tendo em conta com o efeito da
temperatura, o que permite um projecto mais robusto.
Tape-wound toroidal core Pot core
Powder core Referencias:
1. Colonel Wm. T. McLyman “Transformer and
Ku.Aw ≥ N1.Acu1 + N2.Acu2 (22) Inductor Design Handbook” Second Edition, Marcel
I I1 I2 Dekker, Inc. 1988.
Acu = Ku. Aw = N1 + N 2 2. Middlebrook, R. D., and S. Cuk “Advances in
J J J
Switched Mode Power Conversion”, vol. 1 and 2,
O calculo das bobinas também pode ser realiza tendo em Teslaco, Pasadena, California, 1981.
conta a temperatura, sendo indicado a seguir. 3. George Chryssis “High-Frequency Swiching Power
Supplies: Theory and Design”, MacGraw-Hill 1984.
1.16 4. Mohan/Undeland/Robbins “Power Electronics,
 2. Energia.104 
Ap = 
 Bm. Ku. Kj 
 [cm ]
4
(23)
Converters, Applications and Design”, 2º Edition,
Wiley 1995.

1
Energia = L. Il 2 (24)
2
Il - Valor de pico da corrente na bobina
Kj - Vem dado pela tabela 1
Ku - 0.4
0,4π . N 2 Ae.10−8
L≈
lg
[ Henry] (25)

lg - Comprimento do entreferro
lm - Comprimento do circuito magnético

Na realidade no entreferro existe dispersão de fluxo. Essa


dispersão pode ser contabilizada na seguinte expressão:
lg  2G 
F = 1+ ln  (26)
Ae  lg 
em que G é a altura da janela para enrolamento

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