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CINECLUBE

QUADRO-A-QUADRO
apresenta:
Cineclube Quadro-a-Quadro

Vitória, ES, 2023.


Créditos

Realização
Cineclube Quadro-a-Quadro

Texto e Diagramação
Felipe Gaze
Wolmyr Alcantara

Revisão
Wolmyr Alcantara

Apoio
Projeto realizado com recursos do Funcultura, Secretaria
da Cultura, Governo do Estado do Espírito Santo
SUMÁRIO

06 Apresentação

07 O que é um cineclube?

08 Que tipos de filmes podem ser


exibidos em um cineclube?

10 Cinema independente e
cineclubismo

12 O cineclube é uma escola

14 Formando um cineclube na
escola

17 Parcerias criativas

19 Entrevista

22 Referências
Apresentação
Olá e bem-vindo(a) à nossa cartilha.

Este material tem como objetivo ajudar a criar e


desenvolver atividades cineclubistas nas escolas,
promovendo o acesso à cultura cinematográfica e o
debate crítico sobre temas relevantes para os estudantes.

O cinema é uma forma de arte poderosa que pode ajudar


a desenvolver a criatividade, a empatia e o pensamento
crítico. Além disso, os filmes podem ser uma ferramenta
importante para discutir questões sociais, culturais e
políticas.

Com "Cinema na escola: um guia prático para organizar


um cineclube", você encontrará informações e dicas para
criar e gerir um cineclube na sua escola. Desde a escolha
dos filmes até a organização de debates e eventos, esta
cartilha oferece um guia para todas essas atividades.

Então, se você está interessado em criar um cineclube na


sua escola ou se já possui um e quer melhorar sua gestão,
este material será uma ferramenta indispensável.

Vamos começar?

06
O que é um cineclube?
A ideia de um cineclube é ir além de uma reunião apenas
para assistir a um filme por pura diversão. Cineclube é
uma organização, uma associação ou mesmo um grupo
pequeno de pessoas que se dedica à reflexão das obras
cinematográficas e dos temas ali presentes, estimulando a
análise e o debate.

Ao contrário dos cinemas tradicionais, um cineclube não


tem fins lucrativos, não é um negócio voltado para a
comercialização. Cineclube é um espaço de socialização
da cultura e do saber, um local onde as pessoas, ao
discutir suas experiências e opiniões sobre os filmes,
compartilham sua paixão pela sétima arte e ampliam seus
horizontes através das reflexões sociais, políticas, culturais
e artísticas presentes nas obras cinematográficas.

da
o C in e m a (A N CINE), por meio
ional d
A Agência Nac d e 2 d e o u tu b ro de 2007,
ativa n.º 63,
Instrução Norm c o m o e sp aç o s de exibição
s cineclubes
regulamenta o au d io visuais naciona
is e
d e ob ra s
não comercial p o d em re alizar atividade
s
ersificadas, qu e m
estrangeiras div e d eb ate s a c erca da linguage
o palestras mo
correlatas, com s d e v e m se r constituídos co
cineclub e
audiovisual. Os s, e m c on form idade com
tiv o
, sem fins lucra
sociedade civil o e n o rm as legais espars
as.
Brasile ir
o Código Civil

07
Que tipos de filmes podem ser
exibidos em um cineclube?

Todos! O importante é ficar atento para o cineclube não


violar qualquer lei ou regulamentação de direito autoral e
de reprodução do filme ou do vídeo, além de observar a
classificação indicativa para o público envolvido.

Em geral, porém, os cineclubes buscam aqueles filmes que


não são de grande sucesso comercial ou que não estão
disponíveis nas salas de cinema convencionais. Filmes
independentes, documentários, produções nacionais, os
antigos clássicos do cinema e curtas-metragens estão
muito presentes nas sessões cineclubistas.

É muito comum cteriza


tá ri o é o g ê n ero que se cara
também os D o cum e n
se ntação objetiv
a
e u m a re p re
cineclubes focarem pela busca d trar
a d e , c o m o o bjetivo de regis
da reali d es
num tema específico, n te c im e n to s reais. São "film
fatos e aco el
escolhendo os filmes re p re se n ta m de forma tangív
q ue
mundo que já
que abordem aspectos de um , p. 26).
rt il h a m o s" (N ICHOLS, 2005
diferentes aspectos co m pa
sobre o assunto. Essa
estratégia, além de trazer para o público variados pontos
de vista, permite uma análise mais enriquecedora das
abordagens e técnicas cinematográficas utilizadas pelos
cineastas para tratar o tema.

08
A temática de um cineclube contribui, ainda, para a
formação da sua identidade, atraindo pessoas com
interesses semelhantes e criando um senso de
comunidade em torno de suas atividades. O cineclube é,
antes de tudo, um espaço de resistência, um lugar para
explorar e celebrar a diversidade de vozes, histórias e
culturas.

Como uma prática coletiva, o bom funcionamento de um


cineclube depende da participação de todos nas muitas
atividades envolvidas. Delegar função é uma maneira de
dividir as responsabilidades e garantir que o cineclube
funcione de forma mais organizada, fortalecendo a
prática democrática e o trabalho em equipe. É
interessante, portanto, que tenha alguém para cuidar da
organização geral do cineclube para que outro fique
responsável pela curadoria, um terceiro pelo local de
exibição, além dos encarregados pelos equipamentos, da
mediação dos debates, da divulgação etc..

e re - se a um tipo
ref
e in d e pendente á fic a que é
Film ma to g r
e p r od u ção cine is t rib uído fora
d zido e d
a n c ia do, produ d o s grande
s
fin n a is
is tradicio de outro
s
dos cana w o o d o u
de Holly de mídia
.
estúdios e ra d o s
conglom
grandes

09
Cinema independente e
cineclubismo
Filmes independentes são uma ótima opção para
cineclubes, pois muitas vezes apresentam uma visão mais
autêntica e fora do comum do cinema, com temáticas e
abordagens que não costumam ser exploradas nas
grandes produções comerciais. Além disso, filmes
independentes muitas vezes são feitos com orçamentos
reduzidos, o que permite que cineclubes com recursos
limitados possam exibir obras de qualidade sem precisar
pagar altos valores de licenciamento para grandes
estúdios.

Os filmes independentes também são uma forma de


ampliar a diversidade cultural e promover o diálogo e a
reflexão sobre questões sociais relevantes. Esses filmes
muitas vezes retratam a realidade de minorias sociais,
mostrando suas lutas e desafios, e abordando temas que
muitas vezes são ignorados pela indústria cinematográfica
dominante. Assim, ao exibir essas obras, os cineclubes
podem contribuir para a conscientização e a promoção da
diversidade cultural.

e esco la é tão profícua qu anto necessária


mação entre cineclube
Compreendemos que a aproxi pertório cu ltur al e esté tico dos participantes.
ampliação do re
à medida em que possibilita a (Bárbara Cazé, educadora e cin
eclubista.)

10
Outra vantagem de exibir filmes independentes em
cineclubes é a possibilidade de promover o contato direto
com os realizadores, por meio de debates e discussões
após as exibições. Muitas vezes, os próprios cineastas
independentes participam desses debates, compartilhando
suas experiências e respondendo a perguntas do público.
Isso pode enriquecer ainda mais a experiência dos
espectadores, permitindo que eles entendam melhor o
processo de criação dos filmes e a mensagem que os
cineastas desejam transmitir.

Por todas essas razões, filmes independentes são uma


excelente opção para cineclubes, que buscam
proporcionar experiências cinematográficas diferenciadas
e promover a reflexão e o diálogo sobre questões sociais e
culturais importantes.

A Lei 13.006/2014,
o lu ta pe lo
ism
sancionada em 26 de O cineclub a to d as as
junho de 2014, alterou o d o públic o
aces so cu lt ural
artigo 26 da LDB (Lei de
a nifest aç ã o
form as de m h u ma
Diretrizes e Bases da
u e n en
Educação Nacional) e en te s e para q
exist p o st a a outra.
ja im
cultura se
estabeleceu a
obrigatoriedade das
cineclubis ta.)
de Jesus,
(Claudino
escolas brasileiras
exibirem, no mínimo,
duas horas de filmes
nacionais por mês.

11
O cineclube é uma
escola
Cineclube e escola têm tudo a ver! Ambos são espaços de
aprendizado, de encontro, de amizade, de
compartilhamento de experiências, de conhecimento,
diálogo e, acima de tudo, de criação de laços de afeto e
confiança. O cineclube não é interessante apenas para os
alunos. Ele pode ser um poderoso instrumento para o
professor mobilizar temas do cotidiano e diversificar suas
estratégias de ensino, tornando a escola um espaço mais
diversificado e atrativo.

Ao elevar as discussões também para os elementos


formais do cinema, o cineclube dá outra perspectiva para
o audiovisual na escola, superando aquela ideia do filme
como mais um recurso didático ou de entretenimento. Ele
fortalece o diálogo da cultural com a educação, centraliza
o filme e o vídeo em
compromisso com a reflexão
O cineclubismo é
escola de crítica e leva a sétima arte a
democracia, intelig um público que nem sempre
ência e tem acesso a obras
liberdade. audiovisuais fora do eixo
(Marcos Valé rio Guimarães, comercial.
professor e cineclu
bista)

12
Um cineclube na escola traz para o primeiro plano a
formação da leitura das imagens que, junto com os
diálogos, a música e os efeitos sonoros, criam a atmosfera
e a narrativa dos filmes. O movimento cineclubista coloca
os alunos em contato com diferentes culturas, realidades e
perspectivas, fornecendo uma experiência mais plena com
o audiovisual e uma oportunidade única para ampliar
horizontes e compreender melhor o mundo que nos cerca.
O cineclube vai além da mera exibição de filmes e criação
de plateia, ele promove no aluno um consumo fílmico mais
autoral e crítico.

Cineclubismo é resistência, reivindicação, é um movimento


de transformação onde pautas sensíveis e sérias se fazem
necessárias. Mas é também, por que não, um momento
em que uma galera se reúne para assistir filmes e comer
salgadinhos. O cineclube pode e deve ser um espaço
divertido de socialização. Afinal, como nos lembra Foucault
(1977), “não imaginem que seja preciso ser triste para ser
militante, mesmo se o que se
combate é abominável. É a
o cin e cl u b ista se ligação do desejo com a
açã
Uma organiz m projeto de realidade (e não sua fuga
u
aproxima de u t il s u b versão nas formas da
ma s
cidadania, u e m p rol de representação) que possui
o con su m o
da lógica d
uma força revolucionária”. E
de n te e autoral.
aç ão mais indepen é esse entendimento talvez o
uma primeiro passo para
z e, p ro fe s so re
(Felipe Ga )
organizar um cineclube na
cineclubista escola. Vamos aos próximos!

13
Formando um
cineclube na escola
Agora que entendemos o que é um cineclube e como ele
pode colaborar na dinâmica de uma escola, chegou o
momento de pensarmos quais são as etapas para se
organizar um.

Identifique o interesse Além disso, o nome e a identidade


dos alunos visual podem indicar a
especificidade do cineclube. Por
Antes de iniciar o cineclube, é
exemplo, o professor de História,
importante avaliar o interesse
junto com seus alunos, pode criar
dos alunos em relação a filmes.
um espaço de exibição voltado
Isso pode ser feito por meio de
apenas a filmes com conteúdo
questionários ou discussões
relacionado a sua disciplina. Da
informais em sala de aula.
mesma forma, um professor de
literatura pode pensar em um
Desse primeiro momento, podem
cineclube que trabalhe somente
surgir inclusive ideias para o
com adaptações literárias. Um
nome, a identidade visual e o
cineclube também pode se
conceito do cineclube
especializar em filmes feitos por
mulheres, ou estar voltado para
Escolha um bom nome e discussões sociais, por exemplo.
identidade visual
Escolher o nome e a identidade
visual do cineclube pode ser uma
tarefa divertida e uma excelente
oportunidade para os alunos
mostrarem sua criatividade e
talento.

14
Selecione os filmes Divulgue o cineclube
Com base nos interesses dos Divulgue o cineclube para alunos,
alunos, nas conversas, na escolha pais e comunidade escolar por
do nome, identidade visual e meio de cartazes, redes sociais,
conceito, selecione os filmes que site da escola e boletim
serão exibidos no cineclube. Esta informativo.
é a etapa da curadoria.

Prepare o espaço
Importante: Lembre-se de levar
em consideração a classificação Prepare o espaço onde os filmes
indicativa dos filmes e garantir serão exibidos. Pode ser uma sala
que eles sejam apropriados para de aula, biblioteca ou auditório.
a faixa etária dos alunos. Priorize locais com pouca luz
natural, paredes claras e sem
reflexos que podem interferir na
Defina a frequência e
projeção. Certifique-se de ter
horário equipamentos necessários, como
Defina com os alunos a projetor, caixas de som e telão, e
frequência e horário de exibição lembre-se de testá-los com
dos filmes. Pode ser uma vez por antecedência para evitar
mês, a cada duas semanas ou imprevistos.
semanalmente. É importante
escolher um horário que seja Escolha o formato
conveniente para todos.
adequado
Fique atento para evitar que a
imagem do vídeo saia distorcida
ou cortada. O formato mais
Curadoria é a seleção comum é o widescreen (16:9), mas
e a organização de alguns filmes, principalmente os
filmes para serem mais antigos, podem ter sido
exibidos nas sessões produzidos no formato 4:3. O
importante é que a tela e o
do cineclube.
projetor sejam compatíveis com o
formato do filme e que a imagem
projetada seja nítida e de alta
qualidade.

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Envolva outros um público maior do que se
professores estivessem limitadas a uma
localização física, além de facilitar
Os professores podem ajudar a
o intercâmbio com outros
divulgar o cineclube e incentivar a
convidados.
participação dos alunos. Além
disso, eles podem ajudar a
selecionar os filmes e até mesmo
Diversifique as
conduzir discussões após as atividades
exibições. Além das exibições e debates, é
interessante o cineclube articular
Conduza as exibições outras atividades na escola, como
Durante as exibições, certifique- podcasts, oficinas, palestras,
se de que os equipamentos publicações e até suas próprias
estejam funcionando produções em vídeo. Essa é uma
corretamente e que o ambiente boa estratégia de manutenção do
seja adequado para assistir aos cineclube, consolidando-o como
filmes. Por exemplo, é referência cultural para a
fundamental que a sala seja comunidade escolar.
arejada ou fresca, as cadeiras
confortáveis e a luminosidade
n ive rs o a u d io vi su a l através da
A imersão no u
ajustada para que a exibição não
fique comprometida.
ca c in e c lu b is ta c o mo forma de
práti u e respeite
m a E d u c a çã o q
Dica: Após as exibições, promova implantação de u abalhe a
discussões para que os alunos
ife re n ç as e q u e tr
as d
possam compartilhar suas
aç ã o d o pú b li c o e m coletivos,
opiniões e debater sobre os autoorganiz n d o cu ltural e
ss o a o m u
temas abordados nos filmes.
através do livre ace o , tr az em si, a
o m o u m d ire it
audiovisual c rá tic a e plural
Faça sessões on-line a d o ra d e m o c
prática transform d e re n unciarmos
Muito populares desde a
m o s o ri sc o
pandemia da Covid-19, quando os sem a qual, corre e.
cineclubes tiveram que suspender a nossa humanidad
os encontros presenciais, as S á , c in e ast a e c ineclubista)
sessões on-line podem alcançar
(Sáskia

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Parcerias criativas
Buscar parcerias com outros cineclubes e cineclubistas é
uma forma de manter o cineclube como um espaço ativo
e relevante, possibilitando novas e contínuas
oportunidades de divulgação e colaboração.

As parcerias tornam-se ainda mais importantes quando


levamos em consideração que a Escola, por natureza, se
constitui como um espaço transitório. Enquanto alguns
estudantes, ao final do ano letivo, deixam a escola depois
de cumprirem mais uma etapa da formação básica,
outros, por variados motivos, mudam de instituição ao
longo desse tempo.

Manter-se aberto a formar novos membros do maior


número possível das séries e anos escolares não é só uma
maneira de lidar com essa rotatividade, mas também uma
forma de renovar o grupo,
c ia d o c in e mae
com novas ideias e
e rv a m o s a potên
perspectivas. Além disso, O bs
p o ss ib il id ad e de
c in ec lu bism o na
isso amplia a possibilidade do e s e c u lturas
lida d
de parcerias, afinal, um
aproximar rea n t e s, rural e
aluno cineclubista de hoje
temente d is ta
ap ar en e n ae
pode ser um parceiro
é ric a , in d íg
cultural no futuro. urbana perif .
negra/mestiça
aveira, jorna lista e
(Vitor T
cineclubista)
17
Há, também, outros cineclubes formados em escolas ou
que mantêm um diálogo direto com a Educação. A
interação com esses grupos certamente produzirá
interessantes projetos com benefícios aos alunos e ao
cineclube. Uma maneira de se chegar a esses coletivos é
através das organizações cineclubistas representativas,
como a OCCa - Organização dos Cineclubes Capixabas.
Como Entidade Estadual, a OCCa tem forte participação
na promoção do movimento cineclubista do Espírito Santo
e na construção de políticas públicas para a cultura e o
cinema.

Com Estatuto próprio e diretoria eleita, a


Organização dos Cineclubes
Capixabas (OCCa) conta com um site
(https://occapixabas.wordpress.com/) e
perfil no Instagram (@occapixabas).

Organizado e consolidado, o cineclube escolar pode,


inclusive, aventar sobre a perspectiva de filiação a essas
entidades. É uma parceria que levará apoio aos
cineclubistas, ampliando a rede de contatos e fortalecendo
o movimento cineclubista escolar.

No âmbito nacional, há o Conselho


Nacional de Cineclubes do Brasil
(CNC), uma entidade cultural civil sem
fins lucrativos e representativa dos
cineclubes e entidades estaduais
cineclubistas brasileiras filiadas.

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Entrevista
A professora Francielli, da Rede Estadual do Espírito Santo, conta
sobre sua experiência com cineclube e educação, bem como os
desafios da prática cineclubista na escola.

Como surgiu a ideia de criar naquele momento tivemos que


um cineclube relacionado à reestruturar todo o formato para
educação? o qual havíamos nos preparado.
A ideia surgiu após entender que Acabamos aprendendo muito nas
era uma professora que plataformas digitais e
trabalhava muito com cinema na encontramos meios de nos reunir
escola e que conhecia outros com comunidades escolares mais
professores que faziam o mesmo. distantes.
Então nos unimos para montar Como professora e
um cineclube com o objetivo de cineclubista, na sua opinião,
aproximar nossos alunos ainda como um cineclube pode
mais das questões do audiovisual, contribuir na formação
possibilitar conhecerem e escolar?
participarem do universo do
O cinema, como arte, tem sua
cinema, que envolve produção,
importância para a formação
difusão e mesmo crítica.
humana. É um produto cultural de
grande relevância histórica e
Quais são os principais
antropológica. Inseri-lo na sala de
desafios de manter um
aula, levando em conta a
cineclube voltado para essa diversidade de formatos
área? audiovisuais, contribui muito para
O maior desafio tem sido pensar uma formação crítico-reflexiva. A
os formatos mais acessíveis de se possibilidade de ampliar o acesso
fazer cineclubismo. A pandemia, às mais diversas formas de fazer
sem dúvidas, nos colocou vários cinema é um fator educativo do
empecilhos que acabamos cineclubismo, mas a maior
encontrando soluções contribuição dessa atividade
interessantes. Como cineclubismo acredito que seja o fato de que é
envolve reunião de pessoas, um espaço para comunicar, para

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trocar ideias e olhares com Você acredita que o espaço de
outras pessoas. A gente acaba um cineclube pode ser uma
exercitando a democracia, o que ferramenta para discutir
se faz cada vez mais necessário temas relevantes para a
hoje. sociedade, como violência e
Como a escolha dos filmes é desigualdade?
feita no cineclube em que
Com certeza. Hoje temos uma
você atua? diversidade grande de temas nos
Como atuamos no Espírito Santo, circuitos audiovisuais. Eles
resolvemos focar nas produções
audiovisuais locais, para valorizar
e tornar mais visíveis os artistas
que trabalham aqui. Então, os
filmes de realizadores capixabas
ganham mais destaque na nossa
seleção. Considerando também a
duração de uma aula no ensino
básico, tendemos a trabalhar
mais com curtas.
"
merecem ter espaços para serem
debatidos e um cineclube é ideal
para impulsionar debates sobre
temas como desigualdade social,
racismo, violência, machismo,
capacitismo, entre tantas pautas
humanitárias que são abordadas
em filmes, sejam eles curtas ou
longa-metragem.

Como você avalia a


receptividade dos alunos em
relação aos filmes exibidos O cinema, como
pelo cineclube?
arte, tem sua
Avalio de maneira muito positiva.
É um mundo que se abre para importância para a
eles, descobrem novas formação humana.
expressões, que os impactam de
diferentes maneiras. Alguns É um produto
costumam ser resistentes a ter cultural de grande
contato com modelos estéticos
que ainda não se tornaram relevância histórica
populares ou que não estão em
e antropológica.
circuitos comerciais de massa,
mas quebrar essas resistências
faz parte do trabalho do
professor.

20
Na sua opinião, um cineclube Após a pandemia, muitos
pode ser integrado às cineclubes fizeram sessões on-
atividades curriculares dos line. No cineclube em que você
alunos? Como? Pode dar atua, isso também ocorreu?
sugestões? Pode contar como foi essa
Eu acredito que sim. Um experiência?
cineclube pode ser integrado às Sim. Nós desenvolvemos muitas
atividades curriculares de atividades de forma remota, que
qualquer disciplina. Uma ideia envolveram a articulação em
simples de integração: vamos redes sociais. Nós realizamos
supor que um professor de vários encontros on-line na
história queira desenvolver plataforma Google meet com
atividades cineclubistas com seus professores e alunos de diversas
alunos, ele pode promover escolas do estado do Espírito
mensalmente a exibição de Santo entre 2020 e 2022, em que
documentários que estejam exibimos curtas e conversávamos
relacionados a uma sequência de sobre eles. A partir de 2022,
conteúdos da disciplina em passamos a fazer sessões no
questão, criando várias formato de lives e propomos
atividades a partir daqueles muitas atividades de produção
filmes. O documentário, na para os jovens, como o concurso
verdade, é um gênero de curtas e o de crítica
cinematográfico que merece ser cinematográfica, em que todo o
mais explorado na escola. Os processo foi realizado on-line.
alunos podem ter mais contato
com essa forma audiovisual e
aprender com ela. Por exemplo:
após conhecer alguns filmes
desse gênero, os alunos
poderiam produzir o próprio
material autoral, de maneira
amadora, porque a criação desse
tipo de filme envolve várias
atividades práticas e didáticas,
como pesquisa, elaboração de
texto e contato direto com o
objeto de estudo. É perfeito para
facilitar a aprendizagem. Francielli Noya Toso

21
Referências
ANCINE – Agência Nacional de Cinema: Ministério da Cultura. Instrução Normativa n.º
63, de 2 de outubro de 2007. Disponível em: https://www.gov.br/ancine/pt-br. Acesso
em: 11 de abril de 2023.

BRASIL. Lei n.º 13.006, de 26 de junho de 2014. Disponível em:


https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l13006.htm. Acesso em: 12
de abril de 2023.

CAZÉ, Bárbara Maia Cerqueira. Os usos e atravessamentos do cineclube (e do


cinema) na tessitura dos currículos em redes nos cotidianos. Dissertação (Mestrado
em Educação) - Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal do
Espírito Santo. Vitória, 2015.

FOUCAULT, Michel. Prefácio em: Gilles Deleuze e Félix Guattari. Anti-Oedipus: Capitalism
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Flor do Nascimento.

GAZE, Felipe Nascimento. Práticas do consumo audiovisual: os cineclubes na


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Acesso em: 28 de março de 2023.

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https://mapa.cultura.es.gov.br/files/agent/5940/curr%C3%ADculo_-_portifolio_-
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SÁ, Saskia. Cinema Cineclubismo e Educação na perspectiva do público. In: PIMENTEL


NETO, J.B. (org.). Primeiro Encontro Internacional dos Direitos do Público. Atibaia, SP:
Associação de Difusão Cultural de Atibaia, 2010. Disponível em:
http://www.unicap.br/jubra/wp-content/uploads/2012/10/TRABALHO-133.pdf. Acesso
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TAVEIRA, Vitor. Cineclube El Caracol: Tecendo movimentos descoloniais com filmes


latino americanos. In: FERNANDES, Nathan Moretto Guzzo. Relatos de experiências:
cineclubes capixabas. Vitória: Cousa, 2020.

22
Realização Apoio

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