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FANTASMAS DO CELULÓIDE - MOSTRA DE HORROR EXPERIMENTAL

Por

Anderson Cavalcante, Gabriel Cândido, José Avelino Neto, Marina Neves, Suelen Beatriz e Yuri Lins

1. CONCEITO

Desde as origens do cinema, duas forças caminharam lado a lado durante o seu
desenvolvimento enquanto arte: a constante experimentação de suas formas e o fascínio pelo
fantástico e pelas narrativas horripilantes. O cinema, nascido no século industrial, testou os
seus limites em uma velocidade impressionante, enquanto transpôs séculos de literatura e
tradição oral para o meio fílmico, incorporando os mitos que representavam os medos de sua
época. Com o tempo, o cinema aperfeiçoou sua forma, encontrando o equilíbrio perfeito entre
a inteligibilidade de uma história narrada e uma gramática clássica com técnicas e
convenções bem estabelecidas. Dentro dessa tradição, o horror se consolidou como um
gênero autônomo, com suas próprias regras, autores e obras incontornáveis.

Paralelamente à tradição clássica, o cinema de vanguarda estabeleceu uma vasta


tradição, onde os cineastas, distantes da lógica industrial, exploraram ao máximo as
possibilidades inventivas do cinema. Desde as vanguardas europeias, como o surrealismo e o
dadaísmo, até o movimento conhecido como "cinema estrutural" nos anos 60, o cinema
experimental sempre buscou quebrar a noção de realismo, investindo em invenções formais
que visavam à abstração. Cineastas como Luis Buñuel, Maya Deren e Stan Brakhage,
munidos das descobertas da psicanálise, passaram a representar não apenas o mundo físico e
natural, mas também a dimensão heterogênea da mente.

Impulsionado pela investigação da psique humana, o cinema experimental logo


buscou explorar a presença do horror e todos os afetos que ele provoca. Cineastas como
Takashi Ito, Shozin Fukui, Mikio Yamazaki, David Wojnarowicz e Philippe Grandrieux
aplicaram as convenções do gênero fantástico ao cinema experimental, criando uma
interseção em que a abstração dava forma ao puro sentimento de medo que todos
experimentam. Desta forma, os filmes poderiam representar, através de um mar imagético e
sonoro, as vastas movimentações sensoriais que o horror gera em seu público.
A mostra "Fantasmas do Celulóide" preenche uma lacuna relevante no cenário
cinematográfico ao explorar as interações entre o cinema experimental e o cinema do gênero
horror. A falta de estudos acadêmicos e eventos que abordem esse tema específico tem
limitado o entendimento das possibilidades criativas e narrativas que surgem dessa
intersecção. Sendo pioneira nesse propósito, a mostra estabelece-se como um espaço
essencial para ampliar a compreensão das obras e dos cineastas envolvidos.

CONVIDADOS- A mostra contará com a participação de dois pesquisadores que


conduzirão o debate intitulado "O horror e o experimental: intersecções". O primeiro
pesquisador é Rodrigo Carreiro, professor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação
e do Bacharelado em Cinema e Audiovisual da Universidade Federal de Pernambuco. Sua
pesquisa se concentra principalmente no sound design e nos gêneros cinematográficos
populares, especialmente horror e thriller. Ele é autor dos livros "Era uma vez no spaghetti
western: o estilo de Sergio Leone" e "O found footage de horror" (Estronho, 2021).

O segundo pesquisador é Lucas Baptista, crítico e pesquisador de cinema. Ele possui


doutorado em Meios e Processos Audiovisuais pela Escola de Comunicações e Artes da
Universidade de São Paulo (2019), onde também realizou sua pesquisa de mestrado em 2014,
intitulada "Espaço e tempo como parâmetros de composição fílmica: um estudo
comparativo". Lucas é graduado em Cinema pela Universidade Estácio de Sá (2009). Desde
2013, ele é co-editor da revista de crítica online Foco, e desde 2017 colabora com o blog
Estado da Arte, do jornal Estado de São Paulo.

PÚBLICO ALVO - A mostra "Fantasmas do Celulóide" tem como público-alvo tanto


os amantes do cinema de horror quanto os entusiastas do cinema experimental. Seu objetivo é
unir essas duas audiências, proporcionando um espaço de convergência para aqueles que têm
interesse consolidado em ambos os gêneros. Além disso, a mostra também busca despertar a
curiosidade do público em geral, que possui afinidade com o cinema de terror, mas tem pouca
familiaridade com o cinema experimental. Essa abordagem inclusiva visa atrair uma ampla
variedade de espectadores e estimular o diálogo entre diferentes públicos, pomovendo uma
experiência enriquecedora para todos os participantes.

LOCAL - A mostra será realizada na Fundação Joaquim Nabuco (FUNDAJ), em sua


unidade localizada no bairro do Derby. As sessões ocorrerão principalmente no auditório da
sala João Cardoso Ayres, um espaço adequado para exibições em película de 16mm e
equipado com um projetor digital para reprodução no formato H264.
A sala principal do cinema da Fundação, denominada José Carlos Cavalcanti Borges,
será reservada para as projeções em DCP e/ou 35mm, levando em consideração a
disponibilidade de agenda e a programação diária do espaço. Essa divisão permite explorar
diferentes formatos de exibição, adaptando-se às características de cada filme selecionado
para a mostra.

O Cinema da Fundação possui uma localização privilegiada, pois está


estrategicamente posicionado próximo a um dos principais corredores de ônibus da cidade, a
Praça do Derby, que também oferece acesso rápido ao centro da cidade pela Conde da Boa
Vista. Além disso, a praça conta com um ponto fixo de táxi e uma estação de BRT,
proporcionando facilidade de transporte para os visitantes. A localização central do Cinema
da Fundação possibilita alcançar e atrair diferentes públicos de todas as regiões da cidade,
sejam da zona sul, norte, leste ou oeste.

A região próxima ao cinema apresenta uma variedade de opções gastronômicas,


incluindo restaurantes e lanchonetes para atender às diferentes preferências e orçamentos do
público. Entre as opções disponíveis, destacam-se o CocoBambu, o McDonald's, o Gildo
Lanches e o bar Drive In. Além disso, é importante ressaltar que a FUNDAJ conta com um
café em suas instalações, o Castigliani, reconhecido como um dos melhores da cidade,
proporcionando aos visitantes uma experiência gastronômica de qualidade. Dessa forma, os
participantes da mostra terão uma ampla gama de escolhas para desfrutar de refeições durante
o evento.

No que diz respeito à segurança, embora a praça mantenha os desafios comuns aos
centros urbanos, é importante ressaltar que ela é constantemente monitorada e patrulhada por
viaturas, devido à sua importância como ponto de encontro e passagem. Além disso, a
FUNDAJ conta com um serviço de segurança interna dedicado a proteger a instituição e
garantir a tranquilidade dos frequentadores.

Dessa forma, o Cinema da Fundação, além de oferecer uma programação


cinematográfica de excelência, está localizado em uma área estratégica, de fácil acesso e com
infraestrutura adequada, o que torna a mostra atraente para um público diversificado e
proporciona uma experiência segura e confortável aos visitantes.
RECURSOS, INFRAESTRUTURA E EQUIPAMENTO - A mostra será
financiada pela FUNDAJ, contando com o apoio do coordenador Luiz Joaquim, responsável
por viabilizar a realização do evento junto à instituição.

A mostra exigirá um investimento de 70 mil reais, que será utilizado em várias áreas
de sua produção. Uma parte significativa desse valor será destinada à obtenção das cópias dos
filmes em película e na melhor qualidade digital disponível.

Os gastos com os pesquisadores convidados, incluindo transporte aéreo ou terrestre


para o Recife, hospedagem, alimentação e transporte local, serão contemplados no
orçamento. Também serão necessários recursos para o transporte de HDs ou cópias em 35mm
dos filmes que serão exibidos durante o festival.

A FUNDAJ dispõe de duas salas para a mostra: a Sala João Cardoso Ayres, adequada
para exibições em película de 16mm e H264, e a Sala José Carlos Cavalcanti Borges,
destinada a projeções em DCP e/ou 35mm.

É importante mencionar que a FUNDAJ não possui um projetor 16mm, portanto será
necessário alugar esse equipamento de um fornecedor terceirizado. Em Recife, há o
colecionador Velocidade, conhecido por alugar seus projetores e oferecer suporte operacional
durante as sessões.

Grande parte dos filmes selecionados para a mostra serão adquiridos através da
distribuidora “Light Cone”, uma renomada organização sem fins lucrativos dedicada à
distribuição, promoção e preservação do cinema experimental. A Light Cone possui acervos
de realizadores como Stan Brakhage e Takashi Ito, o que facilitará a curadoria e o acesso às
cópias,

Além disso, para os filmes que não possuem cópias em película, há a possibilidade de
obter cópias digitais. É importante destacar que todos os filmes selecionados para a mostra
foram lançados em DVDs ou Blu-rays, o que indica a existência de cópias restauradas
disponíveis.

Para viabilizar a exibição dos filmes, será necessário arcar com os custos de aluguel e
transporte das cópias. Esses valores serão cobertos pelo orçamento da mostra. Para mais
informações sobre a Light Cone, você pode acessar o site deles:
https://lightcone.org/en/about-light-cone
Os convidados que participarão dos debates terão suas passagens aéreas e
hospedagens cobertas pelo evento. Para garantir a comodidade e facilidade de acesso, a
mostra conta com opções de hotéis localizados nas proximidades da FUNDAJ. Entre as
alternativas, destacam-se o Novo Hotel Recife, situado na Rua Henrique Dias, no bairro da
Boa Vista, próximo ao Derby, e o Recife Plaza Hotel, localizado no final da Avenida Conde
da Boa Vista.

PROGRAMAÇÃO E PERFIL CURATORIAL - A mostra "Fantasmas do


Celulóide" está agendada para o mês de julho na cidade do Recife, aproveitando a ausência
de eventos de cinema no primeiro semestre. Além disso, sendo um período de férias,
espera-se que a mostra atraia um público mais amplo e diversificado para as sessões.

As sessões acontecerão diariamente a partir das 19h, buscando atrair o público que
sai do trabalho no início da noite. As sessões serão cuidadosamente planejadas para não
ultrapassar 1h30 de duração, incluindo a exibição dos filmes em conjunto. Isso também se
aplica ao debate com os pesquisadores Lucas Baptista e Rodrigo Carreiro, que ocorrerá após
a sessão do terceiro bloco de filmes no sábado. Nos demais dias, os blocos de filmes serão
repetidos.

A seleção dos filmes apresentará uma programação organizada em três blocos


distintos. O primeiro bloco, intitulado "A tradição como horror", exibirá curtas-metragens
que utilizam imagens de clássicos do cinema de horror, reeditando-as para extrair um efeito
de abstração e desconstruindo o medo proporcionado pela narrativa convencional.

Nesse contexto, três filmes destacam-se como referências. O primeiro é "Frank Stein"
(1972), de Iván Zulueta, uma leitura pessoal do clássico de terror cult "Frankenstein" (1931),
de James Whale, filmado diretamente de sua transmissão televisiva e reduzindo o original de
Whale a apenas três minutos intensos e vertiginosos, nos quais o sensível monstro do filme
evolui de maneira incomum.

O segundo filme será "Outer Space" (1999) de Peter Tscherkassky, que reelabora de
maneira magistral sequências do filme de terror dos anos 80 "The Entity" (1982), de Sidney
J. Furie, em uma experimentação tátil e imersiva do espaço cinematográfico. Tscherkassky
cria um turbilhão de fragmentos audiovisuais, destruindo de forma impressionante as normas
narrativas.
O terceiro destaque é "Dellamorte Dellamorte Dellamore" (2000), de David
Matarasso, uma releitura do filme "Della Morte Dellamore" (1995), dirigido por Michele
Soavi. Nessa abordagem, Matarasso atua como reeditor das imagens originais,
conferindo-lhes uma aura abstrata que se aproxima do horror primordial. Por meio do recorte
e da remontagem das imagens, Matarasso cria uma nova montagem que transcende a
narrativa convencional do filme, explorando uma perspectiva única e provocativa.

O segundo bloco intitula-se "Espaço, abstração e fantasmagoria". Os filmes


exploram uma chave de abstração da forma cinematográfica, porém, mantendo a ideia de um
espaço reconhecível que se torna o palco dos experimentos. Contudo, essa abstração é regida
pelo signo do terror: casas assombradas, espaços abandonados e manifestações de entidades
míticas, temáticas comuns ao cinema de horror mas que ganham força no contexto
experimental.

Neste bloco, destaca-se "Ghost" (1984), de Takashi Ito. O diretor utiliza técnicas
como fotografia de longa exposição, stop motion e pintura com luz para criar uma
experiência no espaço assombrado. Essas técnicas trazem efeitos visuais que capturam o
movimento do fantasma e dão vida a objetos inanimados, resultando em uma atmosfera
imersiva. O filme transporta o espectador para um mundo além da realidade, proporcionando
uma experiência única.

Também de Takashi Ito, mais dois de seus filmes se destacam na mostra: "Thunder"
(1982) e "Grim" (1985). Em "Thunder", o filme apresenta uma série de slides fotográficos de
uma mulher com uma aparência fantasmagórica, repetidamente cobrindo e descobrindo o
rosto com as mãos. Essas imagens são projetadas nas paredes interiores de um prédio de
escritórios vazio, criando dobras e distorções nas superfícies. Já em "Grim", a imagem de
objetos é copiada, flutua no ar e depois é colada em diferentes objetos. Esse filme foi filmado
quadro a quadro e utilizou a técnica de longa exposição. Ambos os filmes exploram de forma
única a relação entre a imagem e o espaço, proporcionando uma experiência visual intrigante.

"Atman" (1975), um curta-metragem japonês dirigido por Toshio Matsumoto. O


filme retrata uma figura sentada em um ambiente ao ar livre, usando uma túnica e uma
máscara Hannya, que é uma indumentária típica do teatro clássico japonês Noh. Essa máscara
representa uma mulher serpente-demônio, associada a sentimentos de ódio e inveja. A obra
utiliza imagens em recuo e em movimento capturadas quadro a quadro. A montagem cria
efeitos de aproximação e recuo diante dessa figura enigmática, gerando uma profunda
sensação de mistério e desconforto. A máscara Hannya carrega consigo uma carga simbólica
da mitologia japonesa e também evoca sua utilização no cinema de horror, como no clássico
"Onibaba" (1964), dirigido por Kaneto Shindô.

O terceiro bloco, intitulado "Horizonte abstrato", apresenta uma seleção de filmes que
exploram a abstração como elemento central na criação de um sentimento de horror. Nesses
filmes, a busca pela imersão sensorial e a experiência cinematográfica ultrapassam os limites
do realismo, mergulhando em uma atmosfera de medo que se constrói por meio da própria
linguagem cinematográfica

Será exibido "The Dante Quartet" (1987), de Stan Brakhage, que consiste em uma
representação visual em quatro partes da internalização de um homem do livro "Divina
Comédia", de Dante Alighieri . O filme apresenta pinceladas multicoloridas contra um fundo
branco, representando o Inferno. Em seguida, há imagens em rápida montagem mostrando
cores em movimento, com breves vislumbres de estrelas e da lua. O Purgatório é retratado
com borrões de cores que ocasionalmente desaceleram e congelam, revelando momentos
fugazes de janelas e rostos. Por fim, cores vivas giram e piscam, intercaladas com vislumbres
momentâneos de atividade vulcânica.

Dentro deste bloco, será exibido o único longa-metragem de nossa seleção: Sleep Has
Her House (2017), de Scott Barley, é um filme que transporta o espectador para uma jornada
contemplativa dentro de uma floresta marcada por inúmeras tragédias humanas. Com
tomadas longas e estáticas, somos levados de volta às origens, onde a natureza revela suas
camadas mais profundas e sombrias. Através da imersão na paisagem sonora, as vozes dos
mortos ecoam pelo solo, ressurgindo de um passado perdido. A combinação de imagens reais,
fotografias estáticas e desenhos à mão cria uma atmosfera que evoca as raízes ancestrais
dessa floresta, enquanto um horror primordial emerge e toma forma de maneira tangível.

É importante ressaltar que os filmes mencionados até agora são apenas uma seleção
preliminar. Cada bloco do programa terá uma variedade maior de filmes, que serão resultado
de uma pesquisa mais abrangente realizada pela curadoria. Essa pesquisa minuciosa garantirá
uma seleção cuidadosa e diversificada, enriquecendo ainda mais a programação com obras
relevantes e representativas do tema proposto.

LOGÍSTICA - A realização da mostra "Fantasmas do Celulóide" demandará a


obtenção de cópias dos filmes disponíveis nos formatos DCP, 16mm e 35mm. Para garantir
um transporte seguro dessas cópias, será contratado um serviço especializado em logística.
Além disso, um funcionário designado da mostra será responsável por receber e armazenar as
cópias em um local seguro dentro das instalações da FUNDAJ.

No que se refere aos pesquisadores convidados, eles serão acomodados em hotéis


previamente providenciados pela mostra. Também será oferecido um serviço de transporte
para levá-los do hotel até o local do evento. Quanto à alimentação, o hotel fornecerá todas as
refeições necessárias, incluindo café da manhã, almoço, lanche e jantar. Para a equipe da
mostra, serão distribuídos vouchers para que possam desfrutar de refeições em restaurantes
próximos.

O debate com os pesquisadores poderá ser realizado tanto na sala principal do Cinema
da Fundação, dependendo de sua disponibilidade, quanto na sala João Cardoso Ayres, que,
por não ter uma programação regular, pode ser utilizada não apenas para exibições de filmes,
mas também para debates. Todos os membros da equipe da mostra receberão credenciamento,
assim como será disponibilizado credenciamento para empresas de mídia interessadas em
cobrir o evento.

No que diz respeito à divulgação, a mostra contará com uma assessoria de imprensa
responsável por enviar comunicados à imprensa e alimentar as redes sociais do evento. Além
disso, aproveitaremos as redes sociais ativas da FUNDAJ e do Cinema da Fundação para
promover a mostra. Um designer profissional será contratado para criar peças gráficas e
desenvolver a identidade visual da mostra, contribuindo para uma divulgação coerente e
atrativa.

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