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Educação:
possibilidades do
cinema no
contexto escolar
1. Introdução.
Essa é, sem dúvida, uma maneira muito popular e bastante intuitiva de se utilizar o
cinema como recurso pedagógico, que deriva de nossa cultura audiovisual: crescemos
assistindo a filmes, seja no cinema, através do vídeo e do DVD e na própria televisão. Filmes
fazem parte de nosso imaginário e de nosso espectro de objetos e acontecimentos que
compõem nosso meio social e nosso campo cultural. É quase natural que ele seja também
utilizado em sala de aula.
Dentro desse contexto, o que mais o audiovisual pode oferecer de novo para as
relações de ensino e aprendizagem? O que vemos é que, justamente por essa ubiquidade do
audiovisual em nossas vidas – levando em conta os aspectos afetivos, sociais e culturais – é
que se faz necessário trazer para dentro da escola não somente o audiovisual como recurso
pedagógico, mas criar possibilidades de refletir sobre o que é e o que faz o audiovisual na
nossa vivência diária.
1Yasmin Bidim Pereira dos Santos é Mestra em Imagem e Som pela Universidade Federal de São Carlos e
doutoranda em Literatura pela mesma universidade.
Assim, compreendendo a importância de se colocar em cheque o audiovisual em si,
enxergamos no cineclubismo uma possibilidade de criar novos usos do audiovisual dentro do
contexto escolar.
2. O que é cineclube?
Nos anos 1950 e 1960 o movimento passa pela sua fase de organização, com diversas
entidades se estabelecendo, como o Centro de Cineclubes de São Paulo, que tinha como
sede a Cinemateca Brasileira; e também as Federações de Cineclubes de Minas Gerais e do
Rio de Janeiro.
Nos anos 1990, com a extinção da Embrafilmes pelo governo Collor, o cinema
nacional sofre um grande revés e o número de produções nacionais cai drasticamente.
Historicamente, o cinema nacional sempre esteve atrelado a mecanismos de financiamento
estatais, e uma indústria que sempre foi fragilizada diante do domínio norte-americano se
viu ainda mais enfraquecida. O movimento cineclubista, que sempre esteve intimamente
ligado às produções nacionais, também se desarticula.
Vale destacar aqui ações como o Cine Mais Cultura e os Pontos de Difusão Digital,
programas de políticas públicas que tinham como objetivo democratizar o acesso ao
audiovisual para comunidades historicamente excluídas de ambientes como as salas de
cinema dos grandes shoppings. O cineclubismo na era digital também tem importante papel
de distribuição e circulação de uma produção independente e alternativa, que se multiplicou
com as novas possibilidades de produção de filmes.
3. Cinema e Educação.
Estamos querendo afirmar que os produtos audiovisuais em si, para além de seus
temas e narrativas, podem agir como instrumentos de transformação do indivíduo. E aqui
fazemos a conexão com o cineclubismo, visto que o cineclube entende esse potencial de
transformação do cinema, e trabalha essencialmente essas três funções que acabamos de
levantar.
Local: Espaço físico onde ocorrem as sessões. Pode ser um local aberto ou fechado.
Lembrando que se for aberto, é bom se prevenir em caso de chuva e ter um local
alternativo.
Acervo: É de onde virão os filmes que serão exibidos. É inegável que, no contexto
contemporâneo, o principal meio de acesso aos filmes é a internet. Mas a internet é um
ambiente que contém muita informação que nem sempre está organizada e sistematizada.
Por isso é importante pesquisar e descobrir fontes específicas onde seja possível encontrar
filmes e obras audiovisuais em geral que possam ser exibidas. E vale ainda destacar que é
essencial não descartar a possibilidade de acessar filmes de forma física, afinal nem tudo
está na internet e existem ainda muitas obras que podem ser encontradas em VHS e DVD,
por exemplo. Pode-se fazer parcerias com videolocadoras, conversar com pessoas que
tenham acervos pessoais e coleções de filmes. Também é possível entrar em contato com a
prefeitura ou outros órgãos de cultura, como bibliotecas, e saber se existe um acervo
público de filmes.
4 – Divulgação: deve ser muito bem planejada e constantemente avaliada para saber
se está sendo efetiva.
A programação pode e deve ser pensada por todos da equipe. É uma forma de
garantir uma pluralidade maior na programação e também de manter a equipe integrada.
Uma forma de fazer isso organizadamente é, a cada fim de mês quando for discutida a
programação do mês seguinte, definir responsáveis pela programação de cada sessão, de
acordo com a afinidade e tempo de cada membro da equipe. A produção também pode ser
dividida da mesma forma. Por exemplo, cada membro pode ser responsável por produzir
determinados itens de uma sessão. Dessa forma, a produção se potencializa, nenhum
membro da equipe fica sobrecarregado, e todos conseguem ter um conhecimento mínimo
de cada área. Uma área depende inteiramente da outra e é importantíssimo que cada
membro da equipe esteja ciente dos prazos e das funções, responsabilidades e necessidades
dos outros membros.
Por outro lado, o cineclube pode surgir já com a proposta de um público específico,
que se compreende ser o caso de cineclubes que funcionam dentro de escolas, tendo já de
antemão um público correspondente a uma ou mais turmas. Nesse caso, o público cumpre o
papel de filtro inicial. Tendo essas diretrizes em mente, escolher a programação das sessões
passa a ser uma tarefa de pesquisa.
É necessário assistir aos filmes que se deseja exibir e ter a certeza que haverá uma
cópia disponível para o dia da sessão. Programar filmes que nunca foram vistos ou exibi-los
sem fazer testes com a cópia disponível são dois erros aparentemente inofensivos, mas que
podem comprometer toda a sessão e, consequentemente, a recepção do público. Por fim,
estabelecer um diálogo com o público é essencial para a escolha dos filmes.
A escolha de quais filmes um cineclube irá exibir acaba sendo, portanto, uma decisão
muito pessoal, ligada aos desejos e expectativas dos envolvidos na sua realização. E, se o
cineclube é um espaço que tem como prioridade a criação de um ambiente de
confraternização e formação, o caminho mais lógico é não exibir filmes comerciais ou que já
tenham espaço garantido na grande mídia. O histórico do movimento cineclubista mostra
que a opção pelo novo, pelo diferente e distante é uma vontade comum. Existem muitos
filmes bons que não serão exibidos em espaços comerciais de exibição e é importante dar
vazão para essas produções.
Caso o cineclube exiba filmes no formato digital, a oferta de filmes é maior. No que
diz respeito a direitos autorais, muitos cineclubes optam por não deixar que essa questão
interfira na programação. Os cineclubes com caráter mais educativo ou comunitário
dificilmente terão problemas com direitos autorais exibindo filmes com copyright. No
entanto, principalmente ao trabalhar com curtas-metragens, é bastante possível programar
filmes que tenham autorização, seja estando licenciados em creative commons seja através
de contato direto com o realizador, distribuidora e produtora.
A questão é que esses sites são mega portais que abrigam uma quantidade imensa de
conteúdos audiovisuais de todo o mundo, o que torna o trabalho de curadoria e pesquisa de
filmes bastante complexo e cansativo. Por essa razão é que vale a pena ir atrás de catálogos
e acervos antes. Alguns locais para buscar curtas-metragem são o Porta Curtas e o Curta o
Curta, por exemplo. Existe um canal focado especificamente na produção audiovisual
protagonizada por mulheres, chamado Mulheres Audiovisual, onde é possível ter acesso a
obras para exibição. Há também, dentro do Vimeo e YouTube, canais específicos de longas e
curtas-metragem, como a DF5. E por fim, existem também algumas distribuidoras on-line de
filmes, focadas em distribuir filmes para cineclubes, escolas, centros comunitários etc., como
é o caso da Taturana Mobilização Social e do Videocamp.
Essas são algumas estratégias variadas, e elas podem ou não servir para
determinados tipos de cineclube. Por isso é que, de maneira geral, as linhas de curadoria, os
tipos de filmes exibidos e as preferências do público vão se formando ao longo do tempo,
conforme as sessões vão sendo realizadas.
Portanto, dentro dessa narrativa da formação de público, é normal que haja sessões
com pouca gente ou que uma determinada faixa etária não se mobilize para ir às sessões.
Isso faz parte do processo de conhecer o público com o qual se está trabalhando e aprender
a programar junto com ele e não somente para ele. E também é saber a importância de
exibir filmes não convencionais, que deixem desconforto em vez de confortar. Que tratem
de temas que o cinema comercial não trata e retratem personagens que nas narrativas
dominantes quase não aparecem.
5. Considerações finais
6. Referências bibliográficas
http://poca.ufscar.br/