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PRÁTICA COMO COMPONENTE CURRICULAR 1 (PCC)

O presente trabalho visa pesquisar sobre a presença da literatura infantojuvenil


nas grades curriculares de diferentes cursos de Letras, bem como discorrer acerca do
espaço ocupado por tal literatura – que erroneamente ocupa, nos mais diversos espaços
acadêmicos, um espaço de literatura menor – quando em comparação a outras literaturas
chamadas maiores. Inicialmente, vale ressaltar que o objetivo principal desta pesquisa
não se estende ao julgamento e/ou condenação de algum curso ou alguma instituição em
específico, mas visa, principalmente, a uma reflexão sobre a importância que é dada a
essa literatura nas configurações dos cursos de Letras.

Para a pesquisa, foram selecionados cursos de Letras de seis universidades, sendo


três delas privadas e três públicas (uma estadual e duas federais). São elas: UNIUBE
(Universidade de Uberaba), UNITAU (Universidade de Taubaté), UNIP (Universidade
Paulista), UNESP (Universidade Estadual Paulista), UFF (Universidade Federal
Fluminense) e FURG (Universidade Federal do Rio Grande). Para que a pesquisa seja
justa, analisaremos a grade curricular do curso de Letras Português / Inglês, com
habilitação em licenciatura, das suas respectivas universidades.

UNIUBE: Com relação à Uniube, Universidade de Uberaba, instituição de ensino


superior particular com 73 anos de existência, o curso de Letras Português/Inglês é
oferecido somente na modalidade EAD. A disciplina Literatura Infantojuvenil é
obrigatória, ofertada na 5º etapa e possui carga horária total de 80 horas. No livro da
disciplina de Literatura Infantojuvenil, disponibilizado pela gestora do curso de Letras da
Uniube, profa. Luciana Góis, observamos que são trabalhados com os alunos oito
capítulos. Cada um deles percorre um trajeto específico dessa discussão. O primeiro,
“Pequena Introdução à Literatura Infantojuvenil”, apresenta uma investigação da gênese
e especificidade do gênero, situando-a em relação à assunção da noção de criança. O
segundo capítulo intitula-se “Literatura Infantojuvenil” e continua a apresentação dos
autores seminais para a concepção de tal gênero nos cenários francês, inglês, alemão e
americano. No terceiro capítulo, a discussão cruza o Atlântico e chega a terras
tupiniquins, expondo um breve quadro da Literatura Infantojuvenil Brasileira e seus
primórdios, inclusive apresentando as características da fase inicial da literatura no Brasil.
Tal quadro continuará a ser apresentado, em suas particularidades, nos capítulos quatro –
“Fase de Transição - Parte I (1905 – 1930-40)” –, cinco – “Fase de Transição - Parte II
(1930 - 1950)” –, seis – “Fase de Expansão - Parte I (1960 - 1980)” – e sete – “Fase de
Expansão - Parte II (1960-1990)”. No oitavo capítulo, “Literatura Infantojuvenil e Leitura
Hoje”, é apresentada a situação da Literatura Infantojuvenil a partir dos anos de 1990 até
a contemporaneidade, além de uma abordagem da literatura a partir dos modos de
inserção da leitura no contexto da escola brasileira.

UNITAU: No tocante à grade curricular do curso de Letras da Unitau, como é


possível observar no Anexo 2, a Literatura Infantojuvenil aparece nomeada como “Ensino
de Literatura Infantil e Juvenil” uma única vez como disciplina escalada para compor a
grade curricular do curso, apenas no 1º período, ao passo que as demais literaturas, aqui
representadas pelas Literaturas Portuguesa, Brasileira, Inglesa e Comparada, dividem a
maior parte do espaços e aparecem 1 vez no 2º período, 2 vezes nos 3º e 4º períodos, 3
vezes nos 5º e 6º períodos e volta a aparecer 2 vezes nos 7º e 8º período. É importante
pontuar que o curso de Letras da Unitau é conhecido, tanto entre os professores, quanto
entre os alunos, como um curso de caráter bastante literário, em função da extensa carga
horária de Literaturas que compõem a grade. Além disso, a Unitau localiza-se em
Taubaté, cidade do Vale do Paraíba, interior de SP e reconhecida como a Capital Nacional
da Literatura Infantil, justamente por conta das inúmeras ligações de Monteiro Lobato –
pioneiro na dita literatura – com a cidade. Sendo assim, era esperado que a Literatura
Infantojuvenil tivesse determinada representatividade na grade que compõe o curso, mas,
quando se relacionam os números com as demais, é notório que isso não acontece.

UNIP: Já a UNIP, universidade presente em mais de 900 localidades no Brasil e


que dispõe de cursos presenciais e a distância, de acordo com nossas pesquisas, não
apresenta a Literatura Infantojuvenil como componente de sua grade curricular, o que se
comprova pelo Anexo 3. É possível notar que, na mesma grade, outras Literaturas, sendo
elas Literatura Brasileira, Comparada, Inglesa, Norte Americana, Portuguesa, Pós-
Colonial e Africanas, somam juntas uma carga horária de 450h, de modo que nenhuma
dessas tantas horas se dedicam ao ensino e à aprendizagem da literatura escrita para
pequenos leitores. Com base nessa constatação, percebe-se que uma área que representa
10,42% de toda a carga horária total do curso (4.320h) não possui espaço para a
considerada – e talvez aqui, infelizmente, ratificada – literatura menor.

UNESP: Para fins de pesquisa, o campus da Universidade Estadual Paulista “Júlio


de Mesquita Filho” selecionado foi o da sede em São José do Rio Preto, em SP. Essa
distinção é importante, visto que as matrizes curriculares entre o campus localizado em
Araraquara, por exemplo, e o selecionado divergem em termos de disciplinas obrigatórias
e suas cargas horárias respectivas. Inserida na série 3 do curso, no período diurno, a
disciplina de Literatura Infantojuvenil aparece no hall de disciplinas obrigatórias, com
carga horária de 30 horas, ministrada na duração de um semestre (enquanto outras
disciplinas, como a de Literatura Clássica, apresentam cargas horárias duplicadas e de
duração anual). Nesse sentido, é interessante perceber que, dentro da carga horária
obrigatória total do curso, a porcentagem que a literatura em estudo ocupa é
aproximadamente equivalente a, aproximadamente, 1,07% desse total. Um aspecto
interessante e digno de análise, ainda, dá-se pela presença de uma disciplina optativa de
60 horas, de duração anual, nomeada Tradução e Adaptação de Obras Literárias para o
Público Infantojuvenil: questões teóricas e práticas. Consideramos, pois, que estar essa
disciplina nas opções de escolha, entre as optativas, talvez seja um indício de que a
Infanto-Juvenil tenta achar meios de resistir, de se fazer presente e de se mostrar
necessária para a formação de professores capacitados na licenciatura.

UFF: A Universidade Federal Fluminense, para o curso de Letras Português e


Inglês campus Niterói, apresenta a exigência de uma carga horária distribuída em 3730h
de disciplinas obrigatórias, 30h de disciplinas eletivas, 60h de disciplinas optativas e 60h
de disciplinas optativas de ênfase. Tendo em vista a valorização dada às disciplinas
optativas pela universidade, o que se expressa pela exigência de 120h totais de disciplinas
optativas, é de suma importância reconhecer a existência de duas disciplinas de Literatura
Infantojuvenil integrantes do currículo em sua versão mais atual, o que é comprovado no
Anexo 5. As disciplinas nomeiam-se “Lit Bras XXII: liter infanto-juvenil”, com carga
horária de 60h, e “Literatura Infanto-juvenil africana”, também com carga horária de
60h”. Sendo assim, é imprescindível sinalizar a grande representatividade da Literatura
Infantojuvenil proposta pela universidade, de modo que não apenas implementa a
literatura para pequenos leitores em âmbito brasileiro, mas também expande essa reflexão
para a cultura africana que, por sua vez, se revela uma grande produtora de literaturas de
língua portuguesa fortemente produtivas em discussões literárias para o contexto do curso
de Letras no Brasil.

FURG: A Universidade Federal do Rio Grande, localizada no Sul do país, é uma


universidade que nos surpreendeu positivamente no decorrer da pesquisa, pois apresenta
dois espaços reservados para a Literatura Infantojuvenil, de modo que possui duas
disciplinas denominadas “Literatura Infantil e Juvenil I” e “Literatura Infantil e Juvenil
II”, sendo que cada uma possui 45h como carga horária, totalizando 90h para essa área
da Literatura. Contudo, a quebra de expectativa ocorreu quando, por meio da legenda do
fluxograma do curso, descobrimos que essas disciplinas não se qualificam como
disciplinas obrigatórias na matriz curricular do curso, mas sim como optativas, o que não
garante as discussões acerca dessa temática literária a todos os graduandos. Contudo,
apesar dos fatos citados, é mister considerar que, ainda que de forma optativa, a presença
dessa literatura na grade da FURG em dose dupla viabiliza o que reconhecemos como
desmarginalização da Literatura Infantojuvenil.

CONCLUSÃO: Com base nos números apontados, nas percepções realizadas e


nas análises feitas, é possível chegar à conclusão de que o título de literatura menor para
a Literatura Infantojuvenil infelizmente é ratificado quando esta é procurada em meio às
grades curriculares do curso de Letras das universidades tanto públicas quanto privadas.
Esse cenário se explica no status de instrumento da educação burguesa assumida por tal,
isto é, na relação da infantojuvenil com a tarefa de mostrar padrões e comportamentos e
de ter uma moral e um ensinamento, o que a coloca em um patamar de inferioridade
dentro dos estudos literários acadêmicos em função de todo o conceito de literatura girar
em torno da ideia de ser uma expressão que não sirva à nada e nem à ninguém. Logo,
quando a literatura infantojuvenil absorve essa missão, estando a serviço de uma moral e
um ensinamento, ela sofre com as críticas que a consideram uma produção sem valor
estético, resultando na sua marginalização e desprestígio. Contudo, ainda que apareça de
forma sútil e não-obrigatória em algumas grades, o fato dessas disciplinas estarem
disponíveis para escolha dos alunos pode ser lido como uma tentativa de permanência e
resistência dessa literatura tão fundamental para a formação de novas perspectivas e
leituras no processo de formação do futuro docente. É ansiada a consonância ao que
afirma Marisa Lajolo em “Embora ainda hoje certas malhas do sistema literário -
sobretudo as universitárias - tratem como subalternos tanto o gênero infantil quanto seus
autores e pesquisadores, o panorama começa a se alterar” (LAJOLO, 2010, p. 104).
ANEXO 1 – UNIUBE

Figura: Lista de disciplinas obrigatórias da 5ª etapa de Letras Português/Inglês

ANEXO 2 - UNITAU

Figura: Lista de disciplinas obrigatórias do 1º, 2º e 3º período (com recorte)


Figura: Lista de disciplinas obrigatórias do 3º, 4º e 5º período

Figura: Lista de disciplinas obrigatórias do 6º, 7º e 8º período


ANEXO 3 – UNIP

Figura: Lista de disciplinas obrigatórias gerais em ordem alfabética, com recorte

ANEXO 4 - UNESP

Figura: Lista de disciplinas obrigatórias (série 3), com recortes


Figura: Lista de disciplinas optativas, com recortes

ANEXO 5 - UFF

Figura: Lista de disciplinas optativas, com recorte


Figura: Lista de disciplinas optativas, com recorte

ANEXO 6 – FURG

Figura: Fluxograma de disciplinas gerais, com recorte


Figura: Quadro de informações da disciplina “Literatura Infantil e Juvenil I”

Figura: Quadro de informações da disciplina “Literatura Infantil e Juvenil I”


Atividade: PCC 1
Alunas: Bárbara Tiveron,
Bruna Batista, Fernanda Gonçalves,
Maria Eduarda Costa, Rebeca
Machado e Tyfane Costa
Data: 06/05/2021
Profª: Deolinda Freire

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