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EDUCAÇÃO ÉTICA
Bel Moherdaui
1. SER RESPONSÁVEL
A mãe chega em casa exausta de um dia de trabalho e, em vez de sentar para jantar e
conversar com os filhos, começa uma interminável catação dos brinquedos que estão
espalhados pela sala. Soa familiar? Embora à primeira vista pareça ser a atitude mais
lógica a tomar, estamos falhando como pais quando fazemos esse tipo de coisa, alerta
o psiquiatra Içami Tiba, de São Paulo, que acaba de lançar o livro Educação Familiar
Presente e Futuro (Integrare). É que perdemos a chance de ensinar às crianças um dos
primeiros grandes valores: responsabilidade. "Filhos não nascem folgados, são os pais
que os fazem assim. Às vezes porque querem ter a casa em ordem, em outras por
pressa, eles não se preocupam em ensinar organização. E nem falo de responsabilizar
os filhos por cuidar do que é de todos, mas apenas do que é deles", diz o especialista.
"Crianças capazes de pegar o brinquedo da prateleira têm condições de guardá-lo de
volta."
Aos poucos, esse ensinamento pode ser expandido para a arrumação da cama, do
quarto até que a criança aprenda a cuidar do que está à sua volta. Na escola, em geral,
a responsabilidade é cobrada em relação à entrega da lição, mas pode ir além
também. "Há situações que estimulam esse princípio de forma mais completa. Por
exemplo, delegando aos alunos pequenas responsabilidades na organização de
atividades comuns, como a quadrilha da festa junina", indica Flávia. Quando se
compromete com esse tipo de tarefa, a garotada costuma cumprir o combinado, pois
há um grupo esperando aquilo. "O jovem não quer romper o contrato feito com a
turma." Construir valores em situações significativas para a criança ou o adolescente é
ainda mais efetivo.
"Os pais, mais do que dar as soluções, devem perguntar: ‘O que você acha?', ‘O que
faria?'.
Devolver a dúvida para o filho instiga a um desafio. Ele pode até reclamar de ter que
resolver, mas, no fim, vai adorar perceber que consegue fazer aquilo sozinho. E,
conforme for vencendo etapa após etapa, se sentirá fortalecido para confiar mais na
própria capacidade, adquirindo cada vez mais autonomia. As mães devem colocar na
cabeça que elas não precisam ser úteis aos filhos o tempo todo. Ok, é difícil cortar esse
cordão, uma vez que não queremos ver nosso pequeno tropeçando ou sofrendo no
caminho. Mas só assim ele vai aprender realmente e conseguir se virar em situações
difíceis, tanto agora quanto quando forem adultos - em um mundo que não economiza
na distribuição de obstáculos.
Se nós, adultos, somos assim, como cobrar das crianças que aprendam a notar o que
está em volta e, mais, colocar-se no lugar do amigo? Como mostrar que ninguém é
pior por ter tido uma dificuldade em português ou ter errado o gol no jogo de futebol?
E que pode, sim, ficar chateado ao ouvir os colegas rindo de suas falhas? "Os jovens de
hoje são muito autocentrados. Eles pensam apenas no que diz respeito a eles e seus
amigos ou familiares", aponta Flávia, que é também coordenadora pedagógica da
Escola Municipal Wilson Hedy Molinari, de Poços de Caldas (MG), considerada por
especialistas em educação um exemplo no ensino de valores.
"Para se colocar no lugar do outro, é preciso se exercitar. A escola deve criar situações
para que o aluno pense nisso. Por exemplo, assembleias para discussão de questões do
grupo, reuniões para construção de regras de convivência e trabalho comunitário."
Ouvindo os colegas, fica mais fácil entender que o outro é diferente e tem
necessidades que também precisam ser atendidas. "Ter empatia é perceber as
intenções do outro, se ele está feliz ou sofrendo, se aquela sua atitude vai prejudicá-lo
ou não. E isso é fundamental na vida", analisa Tiba.
Ao premiar sem mérito, corremos o risco de criar uma geração de mimados que não
sabe o valor do empenho e vai cobrar, lá na frente, que a promoção recebida pelo
colega de trabalho seja estendida a ele também. Ou, então, não vai saber lidar com a
frustração de não ter sido agraciado. É a postura do "herdeiro", que vive de mesada,
sem suor próprio, e só gasta o legado recebido - muito diferente da atitude do
sucessor, que se preocupa em multiplicar e expandir o que ganhou porque entende o
valor que aquilo embute.
Flávia, entretanto, atenta para um cuidado que a questão exige no meio escolar:
"Reconhecimento pelo esforço é uma coisa, premiar grandes resultados é outra.
Existe uma tendência nas escolas de dar destaque ao aluno que se sai bem em
determinada matéria. Como mostrar a importância do conhecimento para aquele que
nunca conseguiu chegar em primeiro? Isso desestimula", questiona. E diz: "Acaba-se
sempre trabalhando o fim, não o meio". Por isso, ela recomenda uma avaliação do
processo e ensinar o aluno a ver e comparar como estava no início e aonde chegou.
Assim, fica mais clara a evolução - que, aí sim, pode ser premiada.