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• Peci~o - Biblioteca

Revista da Faculdade de
Direito da Universidade
Federal do Paraná

VOLUME 35-2001

AN033

COLEÇÃO ACADÊMICA DE DIREITO


Volume 33

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REVISTA DA FACULDADE DE DIREITO DA UN IVERSIDADE FEDERAL


DO PARANÁ.·· Porto Alegre: Síntese, v. 35, 2001 (Coleção Acadêmica de
Direito; v. 33)
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O Método da Ponderação de
Interesses e a Resolução de Conflitos
entre Direitos Fundamentais

Mestrando em Direito pela UFPR, Pós-graduando em


Direito Processual Civil pela UFPR, Professor de Direito Constitucional da
Universidade Paranaense- Uni par, campus de Toledo.

SUMÁRIO Introdução
~
característica dos Estados efetivamen-
Introdução;
I- A ocorrência de conflitos entre direitos
fundamentais; I.1 - O Estado pluriclasse; I.2 -
E te democráticos a tutela dos interes-
ses relativos aos diversos segmentos
Modalidades de conflitos entre direitos funda- sociais que os compõem. Por isso, os
mentais; ordenamentos jurídicos inerentes às socie.-
li- Insuficiência dos critérios clássicos para dades pluralistas não se resumem ao reco-
a solução de conflitos entre direitos fundamen-
tais; ll.1 - Sociedades pluralistas e o princípio nhecimento apenas dos valores defendidos
da unidade da constituição; I/.2 -Solução de con- por um determinado grupo de interesses: ao
flitos entre regras: o critério cronológico; Il.3 - revés, refletem a complexidade das mais di-
Critério da especialidade; 1!.4- Critério hierár- versas aspirações de todo o corpo social.
quico;
III- Regras e princípios: contribuições para Disto já se infere que tais interesses
o tema; juridicamente protegidos, principalmente
IV- A técnica de solução de conflitos de di- no plano constitucional, podem eventual-
reitos fundamentais: a ponderação de interesses;
IV.l- Ponderação e a realização de valores ftm- mente entrar em conflito. Neste passo, não
damentais; IV.2 - O procedimento da pondera- é preciso esforço para se antever as múltiplas
ção: delimitação do conflito; IV.3- A ponderação possibilidades de desencontros, por exem-
em sentido estrito; IV.4- Ponderação e o princí- plo, entre posições fundadas na livre
pio da proporcionalidade; IV.5 - Subprincípio
da adequação; IV.6- Subprincípio da necessida- iniciativa, de um lado, e nos direitos sociais
de ou exigibilidade; IV.7 - Subprincípio da ou no intervencionisn1o estatal, de outro.
proporcionalidade em sentido estrito;
Em face disso, impende a adoção de
V- Conclusão;
Referências bibliográficas. critérios hábeis a solucionar, de modo
adequado, tais colisões de direitos, de forma

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Mareei 0 Método da Ponderação de Interesses e a Resolução de Conflitos entre Direitos Fundamentais 221

que ambos os interesses em jogo possam va que os Estados modernos têm como restritos a um determinado segmento social. colide com o exercício do direito funda-
desfrutar da máxima efetividade possível ço característico a preocupação com o Portanto, em um Estado pluriclasse o mental por parte de outro titular" 4
diante das peculiaridades do caso concreto. conhecimento e a proteção de int:er<:sse ordenamento jurídico reflete objetivos,
Isto porque, em se tratando de conflitos de relativos aos mais diversos segmentos valores e aspirações relativos aos diversos 1.2 - Modalidades de conflitos
direitos fundamentais, não se pode admitir compõem a estrutura social. Trata-se grupos de interesse que estruturam a entre direitos fundamentais
mecanismos que excluam, a priori, a Estado pluriclasse, identificado pelo sociedade. Conforme destaca ROBERT ALEXY,
realização de um deles em detrimento do como aquele marcado pela possibilidade
Ainda conforme GIANNINI, o as colisões entre direitos fundamentais
outro, uma vez que ambos são constitucio~ acesso destes grupos sociais ao poder
acolhimento destes inúmeros interesses podem ocorrer tanto em sentido estrito
nalmente assegurados. tico, com vistas a obter a tutela estatal
setoriais eventualmente pode ensejar como em sentido amplo.' De uma parte, há
os seus mais diferentes interesses, princ:ipfll
É a esta tarefa que se volta o método conflitos. E a tutela legislativa de princípios colisões em sentido estrito diante das
mente na esfera legislativa.'
da ponderação de interesses, como se pre- jurídicos não raras vezes conflitantes entre situações em que direitos fundamentais de
tenderá demonstrar nos itens desenvolvi- GIANNINI associa o fenômeno si impede o desenvolvimento de uma um titular entram em conflito com direitos
dos a seguir. Com este objetivo, inicialmente ampliação da representação política · normatividade homogênea e enseja incerte- fundamentais de outro titular. Neste caso,
busca-se apontar a ocorrência de conflitos ao poder legislativo. Assim, inicialmente zas quanto ao significado e à aplicação a realização de um direito fundamental de
entre direitos fundamentais enquanto fe- parlamento limitava-se a promover, destas normas. Disto se extrai que tal um determinado titular traz reflexos
nômeno natural aos Estados democráticos. de seus atos normativos, apenas os m1:enos· sistema, incoerente e sem unidade, deman~ negativos sobre direitos fundamentais de
Após, destaca-se a insuficiência dos crité- ses da burguesia, única classe política que dará arbitragem e negociação entre interes- outro. Ainda segundo o autor, estes
rios clássicos de resolução de conflitos en- ele tinha acesso. Porém, com a extensão conflitos podem ocorrer tanto entre direitos
ses conflitantes. 2
tre regras como meio hábil a solucionar co- direito de voto a todos os cidadãos ma:iores fundamentais de mesma natureza, como de
lisões de direitos fundamentais. Para tanto, de idade, sem distinção de renda, O fenômeno se manifesta com maior
naturezas diversas. Assim e por exemplo,
em seguida também se promoverá distin- estudo ou sexo, o corpo eleitoral an1p11a-se clareza no plano consritucional. De fato e
há colisões entre o direito de propriedade
ção entre princípios e regras, enquanto es- cada vez mais, até o a tingimento do surra:gm como recorda ROBERT ALEXY, a maioria
de um titular em face do direito de
pécies normarivas. Por fim, serão lançadas universal. Em decorrência, re]pr<:sent:an:tes, das constituições modernas contêm um propriedade de outro titular, bem como há
algumas considerações a respeito do méto- de todas as classes sociais passam a catálogo de direitos fundamentais que
colisões entre o direito de liberdade de um
do da ponderação de interesses, tarefa cujo acesso ao poder legislativo, que acaba representam os mais variados interesses
titular e o direito à honra de outro.
desempenho é informado pelo princípio da tutelar interesses das mais cli:Ferente' vigentes na sociedade. Ocorre que, em
proporcionalidade e seus desdobramentos, origens. Com isso, transforma-se a esrr"""'" função disto, estes direitos fundamentais Já a categoria de conflitos em sentido
vale dizer, os subprincípios da adequação, do Estado que, se antes era composto eventualmente encontram~ se em oposição amplo refere-se a colisões dl' direitos
necessidade e proporcionalidade em senti- uma classe homogênea, agora passa a diante de determinadas situações.' Nas fundamentais em face de bens coletivos.
do estrito. formado por diversas classes heterogêneas. palavras de J. J. GOMES CANOTILHO, ALEXY fornece exemplo esclarecedor, ao
"considera-se existir uma colisão de direitos recordar que o dever legal incidente sobre
Como reflexo deste novo quaqro
I - A ocorrência de conflitos fundamentais quando o exercício de um as empresas de tabaco, no sentido de colocar
sociopolítico, a legislação não mais •o<1o>·o
entre direitos fundamentais direito fundamental por parte do seu titular advertências sobre prejuízos à saúde,
os interesses de apenas uma, dentre
diversas classes que compõem a sociedade.
1.1 - O Estado pluriclasse Em verdade, acaba por veicular inlter·esses,
2. Conforme Sabino Cassese, "Lo Stato Pluriclasse" In Massimo Severo Gianini, in L'Unità de! Diritto. Bologna, 11 Mulino, 1994, p. 12.
Já em meados do século passado, setoriais, com o que se pretende dizer
3. "Colisão de Direitos Fundamentais e Realização de Direitos Fundamentais". In Revista da Faculdade de Direito da UFRGS, n2
MASSIMO SEVERO GIANNINI destaca- cada um destes interesses protegidos 17, Porto Alegre: Síntese, 1999, p. 268.
4. Direito constitucional e teoria da Constituição. Coimbra: Almedina, 1998, p. 1.137.
5. "Colisão de Direitos Fundamentais e Realização de Direitos Fundamentais". In Revista da Faculdade de Direito da UFRGS, n2
1. Conforme Sabino Cassese, "Lo Stato Pluriclasse~./n Massimo Severo Gianini, in L'Unità de/ Diritto. Bologna, 11 Mulino, 1994, p. 17, Porto Alegre: Síntese, !999, p. 269·273.

Revista da Faculdade de Direito da UFPR, v. 35, 2001 Revista da Faculdade de Direito da UFPR, v. 35, 2001
222 Mareei Queiroz Unhares O Método da Ponderação de interesses e a Resolução de Conflitos entre Direitos Fundamentais
223
representa uma intervenção na liberdade de recurso aos critérios hie rárquico, da II.l - Sociedades pluralistas Resta saber se os critérios tradicionais
exercício profission al destes produtores, ou anterioridade e da especialidade. Como se e o princípio da unidade de solução de conflitos e ntre regras jurídicas
seja, em um direito fundamental, a fim de sabe, tais critérios solucionam conflitos da const ituição bastarão para a resolução de todas as tensões
se promover a proteção da população diante entre regras jurídicas revelando qual dentre
Como observa DANIEL SARMENTO, entre as normas constitucionais. Trata-se
de riscos à saúde, vale dizer, com vistas à estas deverá ser aplicável, em detrimento
um dos postu lados do direito moderno é o dos critérios cronológico, hierárquico e da
tutela de um bem coletivo. das demais. Em outras palavras, os mecanis-
da unidade do ordenamento jurídico, segun- especialidade, por meio dos quais sempre
mos de solução de conflitos entre regras não
Também CANOTILHO fez distin- do o qual os elementos que compõem a or- seria possível definir qual a norma aplicável
permitem a aplicação simultânea de ambas:
ção semelhante, aludindo a dois diferen tes dem jurídica vigente em determinado espa- ao caso concreto, com exclusão das demais.
apontará, sempre, no sentido da in cidência
grupos de colisões de dire itos fund a- ço te rritorial devem guardar coerência inter-
de apenas uma delas, com exclusão das 11.2 - Solução de conflitos entre
mentais. Ao primeiro grupo perte ncem as na. Assim, ainda que seja composto por uma
colisões de direitos havidas e ntre titulares
demais que disponham em se ntido regras: o critério cronológico
infinidade de normas, o orde namento jurí-
contrário.
d e direitos fundamentais, em que o dico é entendido como um sistema, eis que O critério cronológico, como observa
exe rcício de um d ire ito fundamental Porém e como se viu, a característica as suas partes encontram-se coordenadas de SARMENTO, pouco contribui para a
pertencente a determinado ti tular colide do Estado pluriclasse é exatamente o forma que cada uma das normas que o inte- solução de conflitos entre normas constitu-
com um direito fundamental pertencente reconhecimento e a proteção de interesses gram será correta e integralmente compre- cionais. Isto porque, à exceção das emendas
a outro. Já no segundo grupo encontram- dos mais variados segmentos sociais, os endida quando em função das demais. constitucionais, editadas após o advento da
se as colisões entre direitos fundamentais, quais necessariamente deverão ser aten- constituição e por meio da qual é possível
O fenômeno se repete no âmbito do
de um lado, e bens jurídicos da comu- didos pelo Estado. Assim, ainda que muitas que se promova a revogação de anterior
direito constitucional. Porém, o auto r
nidade e do Estado de outro lado. Porém, vezes tais interesses sejam conflitantes entre redação do texto constitucional, todas as
observa as dificuldades inerentes à tarefa
quanto a esta ú ltima modalidade de si, não se pode simplesmente desconsiderar demais normas da Constituição são editadas
de atribuir um sentido harmônico a estas
conflitos o mencionado autor observa que determinado interesse protegido constitu- em um único momento, não h ave ndo
normas uma vez que, n as sociedad es
apenas os interesses estatais ou coletivos cionalmente em benefício de outro, de espaço para considerações a respeito de qual
pluralistas e democráticas, o texto consti tu-
juridicamente protegidos podem entrar em forma a satisfazer apen as um dentre estes. norma seria anterior e qual seria posterior.
cional acaba por refletir os diversos valores
conflito com os direitos fund amentais dos Disto já se antevê a necessidade de uma existe ntes n a soc iedade , mu itos deles
particu lares . Nas palavras do autor, nova técnica destinada à composição de 11.3 - Critério da especialidade
potencialmente conflitantes. Nesse campo
"quando se fala em bens co mo ' sa úde conflitos entre direitos fundamentais, por Também o critério da especialidade não
assume relevância o princípio da unidade
pública', 'património c ultural' , 'defesa meio do qual se possa promover a satisfação da constituição, por meio do qual se exige proporciona maiores benefícios, já que so-
n acional', 'integridade territorial', 'família', de todos, obviamente na medida em que mente é aplicável nos conflitos et;n que de-
que o aplicador do direito considere a
alude-se a bens jurídicos constitucional- isto seja possível, sem que dela necessaria- Constituição em seu todo e procure equili- te rminada norma, aplicável a uma relação
mente ' recebidos' e não a quaisquer outros mente resulte a opção pela realização de brar as tensões existentes entre as normas mais específica de situações, promove uma
be n s localiz ad os em uma pré-pos itiva apenas um em detrimento dos demais constitucionais a se rem rea lizadas. Em exceção às hipóteses de aplicação de o utra,
'orde m de valores"'. 6 interesses. outras palavras, por imposição do aludido cujo âmbito de incidência é mais amplo e
princípio, o intérpre te deverá promover a geral.
Ocorre que os confron tos dessa
natureza, ou seja, e ntre direitos fundamen- 11 - Insuficiência dos critérios harmonização entre os dispositivos constitu- Quanto ao tema, DANIEL
tais, não são passíveis de solução por meio clássicos para a solução de cionais conflit a ntes . E, caso a p lena SARMENTO, com respaldo em ALF ROSS
dos critérios tradicionais de resolução de conflitos entre direitos conciliação não seja possível, caberá adotar destaca que as a ntinomias podem ser:
conflitos normativos, vale dizer, através do fundamentais solução que promo va menor restrição a conforme a maior ou menor colidência
cada uma das normas em conflito, isto de entre o âmbito de incidência de cada uma
modo a otimizar a tutela dos bens jurídicos das normas em conflito, dos tipos a) total
6. Direito constitucional e teoria da Constituição. Coimbra: Almedina, 1998, p. 1.138. por elas protegidos.
-total; b) parcial- parcial e c) total- parcial.
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O conflito será do tipo total- total quando Ocorre que, como destaca o uu •.u,, u. contribui para a solução dos conflitos entre não poderiam ser violados sequer pelo po-
as normas em contradição possuírem critério da especialidade somente é "JllliCtt-: normas constitucionais, já que todas as nor, der constituinte originário.
exatamente o mesmo âmbito de validade, vel nos conflitos do tipo total- parcial, mas dessa natureza desfrutam formalmen-
Com respaldo em JORGE MIRANDA,
de forma que qualquer aplicação que seja é nestes que se verifica uma norma de te da mesma estatura. Disto decorre a im-
DANIEL SARMENTO observa que, de fato,
atribuída a uma implicará necessariamente nor âmbito de incidência promovendo possibilidade de se atribuir valor absoluto a
as constituições estão sujeitas a valores éti.-
violação da outra. É o que se dá, por verdadeira exceção às situações de inc:id<ênc uma destas normas, em detrimento das de-
cos transcendentes, de modo a impor limi-
exemplo, com as hipotéticas normas "É cia da norma de âmbito de apllic,,bilida,d(!s mais. Não há relação de hierarquia entre as
tes ao poder constituinte. Todavia, a viola-
proibido fumar no cinema" e "É permitido maior. É o que se dá, por exemplo, na normas constitucionais, mesmo porque o
ção a tais limites não enseja vício de incons.-
fumar no cinema". Qualquer aplicação de ção entre o princípio da anterioridade, fenômeno está ligado à idéia de que uma
titucionalidade, mas de ilegitimidade da
uma das normas representará violação da visto no art. 150, Ill, a, da Const[tuiçãd norma retira seu fundamento de valldade
norma constitucional.
outra. Federal, e a norma que exclui a inc:idiênc:ia de outra que lhe é superior. Demais disso,
do aludido princípio diante dos imJJOstos valer recordar que o princípio da unidade No Brasil, o Supremo Tribunal Fede-
Já o conflito do tipo parcial- parcial
sobre importação, exportação, produtos da Constituição afasta a pretensão de vali- ral já se posicionou no sentido da impossibi-
ocorrerá quando as normas em conflito
dustrializados e operações financeiras, dade absoluta de certas normas em com- lidade de decretação da inconstitucionalida-
possuam âmbito de incidência em parte
que se está diante da aplicação do critério pleto detrimento das demais. 7 de de normas da Constituição originária. Ao
igual e em parte diferente. Neste caso, cada
da especialidade. apreciar ação direta de inconstitucionalidade
uma das normas dispõe de um campo de A despeito disso, o autor destaca que
em que se discutia a constitucionalidade do
aplicação que não colide com o da outra e Porém, as antinomias dessa uaLu'""'" há duas concepções distintas, uma estática
art. 45, § 1ºda CF/88, que estabelece o nú-
um campo onde tal conflito necessaria- não são comuns na esfera constitucional. e outra dinâmica, sustentando a existência
mero mínimo e máximo de deputados fede-
mente ocorre. É o que demonstram as que se dá com maior freqüência é a OC<)IT•ên··.'••· de hierarquia entre as normas constitucio~
rais por Estado, sob o fundamento de que o
hipotéticas normas "É proibido usar calças cia de "interseção parcial" entre as est•eras nais. Segundo uma concepção estática, quan-
aludido dispositivo violava os princípios
brancas nos fins de semana" e "É obrigatório de incidência das normas constitucionais, do duas normas constitucionais colidem, a
supralegais da igualdade de voto e da demo-
usar roupas brancas nos domingos". modo a configurar uma antinomia do de estatura inferior deve ser eliminada do
cracia adotados pelo constituinte, o STF
parcial- parcial, em que o método da esç>ecm, sistema, em razão de sua invalidade. A teo-
Por fim, ocorrerá conflito do tipo deddiu que não cabe àquele Trtbunal "exer-
!idade não é aplicável. O autor recorda ria foi defendida, dentre outros, por OTTO
total - parcial quando o âmbito de inci- cer o papel de fiscalizador do poder consti-
!ação entre o direito à privacidade e a BACHOF em sua obra Normas constitucio-
dência de determinada norma que tuinte originário, a fim de verificar se este
dade de imprensa. Em regra, a tutela nais inconstitucionais?, para o qual determi,
disponha em determinado sentido está teria, ou não, violado os princípios do direi-
incluído no interior da esfera de incidência âmbito privado não afeta a liberdade de · nada norma da constituição poderá ser de-
to suprapositivo que ele próprio havia inclu-
prensa, assim como o exercício dessa clarada inconstitucional caso contrarie prin,
de outra, de aplicabilidade mais ampla, que ído no texto da mesma Constituição". 8
dade não prejudica a privacidade do cípios transcendentes supralegais, acolhidos
disponha em sentido diverso. Desta forma,
duo. Todavia, em determinadas situações pela Constituição. Transparece, nesse en- De outro lado, uma concepção dinâmi-
é possível que algumas hipóteses de
normas constitucionais que tutelam tanto tendimento, uma concepção jusnaturalista, ca da hierarquização dos princípios constitu-
aplicabilidade da norma de âmbito de
privacidade quanto a liberdade de imprensa eis que existiriam certos direitos superiores cionais não aceita a tese de normas constitu.-
incidência mais amplo não represente
poderão incidir ao mesmo tempo, cada ao ordenan1ento jurídico positivo, os quais cionais inconstitucionais. Ao revés, ainda
ofensa àquela de âmbito menor. Todavia,
qualquer situação em que a norma de apontando soluções opostas. Nestes casos,
menor esfera de incidência for aplicada critério da especialidade não contribuirá
7. Como ressalta o autor, isto não significa dizer que não se possa extrair da ordem constitucional uma maior preocupação com a
configurará ofensa ao quanto disposto o deslinde da questão. realização de determinados valores, relativamente a outros também tutelados em sede constitucional. O que se busca ressaltar
é que, sem autorização expressa da Constituição, não se pode escalonar em diferentes graus hierárquicos as normas constitu-
naquela norma de âmbito maior. É o que
11.4 - Critério hierárquico cionais, de forma a promover a realização daquelas de suposta estatura superior, promovendo-se o completo sacrifício daquelas
ocorrerá com as hipotéticas normas uÉ outras de hierarquia inferior.
proibido pisar na grama" e "É permitido Indo avante, DANIEL SARJ..1El\IT•O 8. AO In 815/DF, Rei. Min. MOREIRA ALVES, publicado no Informativo STFn' 43, p. 4 e mencionado por DANIEL SARMENTO em
pisar na grama descalço". observa que tampouco o método hierá1-qu;ico, seu Aponderação de interesses na Constituição Federal. Rio de Janeiro: lumen Juris, 2000, p. 37-38.

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226 Mareei O Método da Ponderaçüo de Interesses e a Resolução de Conflitos entre Direitos Fundamentais 227

que potencialmente conflitantes, todos os gosto do intérprete, como de escalão observa que os "conflitos de direitos funda- possível. Por isso é viável que um princípio
princípios e regras contidos no texto consti- rior. Demais disso, muitas vezes a terttaltÍ\ mentais reconduzem . . se a um conflito de seja aplicado em graus diferenciados,
tucional deverão subsistir. Porém, a hierar- de tornar absolutos e incontrastáveis princípios''. 10 Desta forma, a resolução de conforme o caso que o atrai" .li
quização será necessária quando da solução minados valores, em detrimento de conflitos envolvendo direitos fundamentais,
Disto já se infere que a resolução do
de casos concretos que envolvam o conflito também tutelados no plano cotostitucicma ou entre tais direitos e outros valores asse . .
conflito entre princípios será orientada pela
entre duas normas constitucionais. Assim, a acoberta o desejo de fazer pr,ev;;tecer.; gorados no plano constitucional, demanda
necessidade de conciliação entre estes,
questão será resolvida em favor da norma posicionamento ideológico de detei·miina uma correta compreensão desta espécie
aplicando.-se tais princípios com extensões
considerada de maior estatura, promoven, do grupo social. Por fim, também rec:orda normativa.
variadas, de acordo com a relevância de
do-se o completo e incondicionado sacrifí- autor que uma concepção absoluta de
Assim, inicialmente o mencionado cada qual no caso concreto. Desta forma,
cio da norma constitucional entendida como tos direitos pode impossibilitar a "''lU<lU
autor destaca que a doutrina identifica duas busca-se aplicar ambos os princípios em
de escalão inferior. ção de novos direitos sociais. A defesa
grandes espécies de normas: regras e prin- conflito com a máxima intensidade que as
solura e incondicional dos postulados
Como observa SARMENTO, trata- cípios. De um lado, as regras referem-se às circunstâncias do caso permitirem, eis que,
rico-econômicos do liberalismo u<tss:Lco
se de aplicação ao campo constitucional do normas que, diante da concreta ocorrência como se disse, os princípios configuram
promovida por parte da jurisprudência
que JOHN RAWS designou como ordem dos fatos descritos em sua hipótese de inci- mandamentos de otimização, ou seja,
te-americana no final do século passado
léxica entre princípios, segundo a qual há dência, exigem, proíbem ou permitem algo demandam uma realização "ótima" diante
meados dos anos 30, levou à Sls:teiloát:ic
uma ordenação entre estes, que deverá ser de modo categórico. Em outras palavras, do caso concreto.
rejeição de toda a legislação social e
observada de forma que o primeiro daqueles não haverá espaço para uma aplicação gra-
mica promovida pelo governo arrtenican< Enquanto mandamento de otimi-
princípios deva ser satisfeito antes que o dual dos efeitos jurídicos que a regra pres-
destinada à superação dos malefícios zação, a integral compreensão da esfera de
segundo seja considerado, e que o segundo creve. Isto porque um conflito entre regras
rentes daquele sistema. abrangência de um princípio não resulta
seja aplicado antes de se promover a resolve-se no plano da validade, o que sig-
realização do terceiro dentro desta ordem de Por tudo, o autor observa que os nifica dizer que a aplicação de uma das nor- imediatamente da leitura da norma que o
princípios. Assim, o princípio de escalão térios tradicionais para a solução de mas conflitantes será afastada diante da consagra. Antes, deve ser complementado
inferior não será atendido enquanto o de mias não se revelam suficientes para a verificação de sua invalidade. pelas possibilidades fáticas e jurídicas apre-
escalão superior não estiver plenamente posição de conflitos entre normas sentadas pelo caso concreto. Por isso
Já os princípios são espécie normativa GUSTAVO GONET BRANCO observa
realizado ou não se aplicar ao caso. Não há tucionais. Disto decorre a necessidade
que exigem a realização dos valores por eles que a normatividade dos princípios é, nes-
espaço para a ponderação entre princípios adoção de um método mais dinâmico e
assegurado da melhor forma possível, tendo- se sentido, provisória, "potencial, com
porque aqueles que se encontrarem antes na xível, adequado a enfrentar as numtpta~
se em vista as possibilidades fáticas e virrualidades de se adaptar à situação fática,
escala tem valor absoluto em relação aos variantes que tais conflitos podem
jurídicas apresentadas pela situação con- na busca de uma solução ótinla'
1 12
posteriores, sendo aplicáveis sem exceção. cionar. •
creta. Nas palavras do autor, os "princípios
Em decorrência, a solução do conflito sempre Também ROBERT ALEXY, após
III - Regras e princípios: são determinações para que um determina-
se dará através da adoção do princípio destacar que apenas os critérios fornecidos
do bem jurídico seja satisfeito e protegido
superior em detrimento de outro inferio1: 9 contribuições para o para o deslinde de colisões entre princípios
na maior medida que as circunstâncias
SARMENTO adverte que este en- Como observa PAULO permitirem. Daí se dizer que são manda- são adequados para solucionar conflitos
tendimento promove o esvaziamento das GONET BRANCO, as normas "A".oeiénri> mentos de otimização, já que impõem que entre direitos fundamentais, faz distinção
normas reputadas de hierarquia inferior, que nais que veiculam direitos sejam realizados na máxima extensão em sentido semelhante.
restam absolutamente ineficazes sempre que assumem mais freqüentemente a
confrontadas com outras entendidas, pelo de princípios. Por isso, o mencionado
1O. Hermenêutica constitucional e direitos fundamentais. Brasília: Brasília Jurídica, 2000, p. 182.
11. Hermenêutica constitucional e direitos fundamentais. Brasília: Brasília Jurídica, 2000, p. 181·182.
9. RAWLS, John. A theory oi justice. Cambridge: Havard Universily Press, 1994, p. 43, cilada por DANIEL SARMENTO em
Ponderação de interesses na Constituição Federal. Rio de Janeiro: lumen Juris, 2000, p. 38-39. 12. Hermenêutica constitucional e direitos fundamentais. Brasília: Brasília Jurídica, 2000, p. 183.

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228 Mareei O Método da Ponderação de Interesses e a Resolução de Conflitos entre Direitos Fundamemais 229

Como esclarece o mencionado autor, caso concreto que se poderá aferir em que estas podem se revelar tanto por Enquanto que para ROBERT ALEXY
de um lado, principias "são normas que orde- medida determinado princípio intermédio de regras como de princípios. e GOMES CANOTILHO a distinção a que
nam que algo seja realizado em uma medida receber aplicação, o que variará de Dentre as distinções a que procede o autor, se procede é entre princijJios e regras, espécies
tão ampla quanto possível relativamente a com o peso relativo que assumirá em resta destacar que os princípios são verda- do gênero normas, para RONALD
possibilidades fáticas ou jurídicas. Princípios dos demais princípios também mc:íd<,ntes:t: deiras normas, mas que se diferem das regras DWORKIN a contraposição é entre normas,
são, portanto, mandamentos de otimização". 13 jurídicas sob dois aspectos. De um lado, os de um lado, e princíjJios de outro, ainda que
E o critério adequado à solução
Isto equivale a dizer que os princípios exi- princípios são normas jurídicas que deman, lhes conferindo critérios metodológicos
colisões de princípios é a ponderação.
gem que o seu conteúdo seja atendido da dam uma "otimização'' para o caso concreto, semelhantes à dicotomia entre princípios e
para o autor, princípios e ponderações
forma mais intensa possível, diante das pe- vale dizer, são passíveis de experimentar regras.
dois lados do mesmo objeto. De uma
culiaridades fáticas e das circunstâncias ju- vários graus de concretização, conforme
quem realiza ponderações no campo Para este autor, tanto as normas como
rídicas apresentas pelo caso concreto. E den- alteram-se as peculiaridades fáticas e
direito pressupõe que as normas objeto os princípios são conjuntos de balizas que
tre as circunstâncias jurídicas que condicio.- jurídicas de cada situação a que se aplicam.
tais ponderações têm a estrutura de apontam para decisões individuais, impon-
nam a aplicação do conteúdo de Já as regras jurídicas prescrevem automati-
cípios. De outra, quem classifica as do deveres jurídicos ou direitos subjetivos nos
determinado princípio encontram-se os prin- camente uma determinada exigência, não
como princípios deve chegar a ponden1çêie: casos concretos. A diferença reside no
cípios e regras jurídicas também incidentes deixando espaço para soluções interme-
caráter da orientação que são hábeis a
sobre o caso concreto e que eventualmente Porém, situação diversa ocorre diárias: diante da validade de uma regra,
proporcionar. De um lado, as nonnas são
apontem em direção oposta. as regras. Estas são normas que >utlllem< esta deve ser cumprida com a precisa
podem ser cumpridas ou não cumpridas. aplicáveis de forma disjuntiva, com o que se
intensidade de suas prescrições, nem mais
Assim, se de um lado todos os efeitos pretende dizer que, uma vez presentes os
a regra vale, deve-se proceder cx:otam<,nn nem menos. 16 De outra parte, a convivência
jurídicos de uma regra aplicável a uma pressupostos fáticos necessários à sua
de acordo com o que ela prescreve, entre princípios é conflitual, a convivência
determinada situação deverão ser neces- incidência, haverá espaço apenas para duas
mais nem menos. Trata-se de numdarrtentd entre regras é antinômica. Por isso, os
sariamente sentidos, de outro, a realização hipóteses: a) ou a norma é válida, situação
definitivos, cuja forma de aplicação não princípios coexistem, as regras antinômicas
de um princípio pode eventualmente se dar em que todos os seus efeitos necessariamente
ponderação, mas a subsunção. excluem,se. Em conseqüência, ao exigirem
com maior ou menor intensidade, em razão deverão recair sobre o caso a ela subsumido,
uma otimização em sua aplicação, os
de sua ponderação em face de outros Do mesmo modo, J. ]. determinando a única solução cabível; ou b)
princípios permitem o balanceamento e
princípios. Por isso, não há espaço para uma CANOTILHO faz distinção '""'""'""·« a norma é inválida, hipótese em que deverá
harmonização de valores e interesses,
opção, a priori, entre princípios igualmente aludindo à dicotomia entre princípios e
conforme o seu peso e a consideração de ser desconsiderada quando da resolução do
aplicáveis: será diante das peculiaridades do Trata-se de duas espécies de normas, 15
outros princípios eventualmente conflitan- caso concreto, não proporcionando qualquer
tes. Já quanto às regras vigora a "lógica do contribuição para o seu d.eslinde. Nas
13. "Colisão de Direitos Fundamentais e Realização de Direitos Fundamentais~. In Revista da Faculdade de Direito da tudo ou nada", ou seja, ou uma regra vale palavras de DWORKIN, "se os faros que a
17, Porto Alegre: Síntese, 1999, p. 275. e, portanto, seus efeitos jurídicos se regra estipula estão presentes, então ou a
14. ALEXY, Robert. Teoria de los derechos fundamenta/es. Madrid: Centro de Estudos Constitucionales, 1993, p. 86, i verificarão, ou não vale, situação em que regra é válida, e nesse caso o comando que
DANIEL SARMENTO em seu Aponderação de interesses na Constituição Federal. Aio de Janeiro: Lumen Juris, 2000, p.
não será aplicável ao caso concreto, sendo ela estabelece tem de ser aplicado, ou ela é
15. Para o autor, as normas são um "modelo de ordenação juridicamente vinculante" abstrato e geral que, por meio de um
de concretização" destinado à sua aplicação no plano da realidade dos fatos, é capaz de ensejar uma "norma de i insustentável a validade simultânea de inválida, e nesse caso ela não contribui em
o caso concreto. Este processo de concretização parte do '1exto da norma", do qual se extrai uma "norma jurídica", regras contraditórias. 17 nada para a decisão do caso". 18
permitirá apontar para uma solução para o caso concreto, fixando uma "norma de decisão" para a questão. São hábeis a
uma norma de decisão tanto os princípios jurídicos como as regras de direito, ambas manifestações das normas. UJr<Jito <:Or
tucional e teoria da Constituição. Coimbra: Almedina, 1998, p. 1.075, 1.076, 1.094 e 1.095. Também para
GRAU a norma é gênero, do qual são espécies as regras e princípios. Assim o é porque os princípios, assim 16. CANOTILHO, J. J. Gomes. Diret)o consütucional Coimbra: Almedina, 1992, p. 174, citado por DANIEL SARMENTO em seu A
igualmente reproduzem a estrutura peculiar às normas jurídicas, pois que possuem um pressuposto de fato, cuja i ponderação de interesses na Constituição Federal. Aio de Janeiro: Lumen Juris, 2000, p. 47.
relação às regras é se reportar a uma séria indeterminada de facti species, bem como também assumem uma estatuiçíio,
17. Direito constitucional e teoria da Constituição. Coimbra: Almedina, 1998, p. 1.035.
peculiaridade é que seu sentido muitas vezes se revela quando da sua conexão com outras normas jurídicas. Aordem
cana Constituição de 1988. São Paulo: Malheiros, 1998, p. 11 O. 18. Los derechos en seria. Barcelona: Editorial Arlel S.A., p. 74 e ss.

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230 Mareei 0 Método da Ponderação de Interesses e a Resolução de Conflitos entre Direitos Fundamentais 231

Em outras palavras, diante de um tar a importância ou o peso que cada de forma que apenas uma prevaleça, com a intensidade em que isto for possível
conflito entre normas, uma delas não po~ cípio assume. De fato, pode ocorrer desconsiderando-se por completo a outra. diante das condicionantes fáticas e jurídi-
derá ser válida. Como recorda MARIA outros princípios, igualmente aplicávcek cas. Isto porque, assim como os princípios,
Em suma, enquanto o ordenamento
HELENA DINIZ, critérios como o da an- situação concreta, apontem para a · também os direitos fundamentais deman-
jurídico não tolera antinomias entre suas
terioridade, da especialidade e da hierarquia oposta. Neste caso, é possível que o dam uma otimização de seu conteúdo
regras, em decorrência de sua coerência
nortearão a identificação da norma que do princípio não prevaleça. Todavia, diante das peculiaridades do caso concre-
deverá incidir no caso concreto. 19 interna, o mesmo não ocorre com os to, como esclarece ROBERT ALEXY ao
não se pode extrair que não se trate de
princípios. Estes podem apontar para destacar que também as colisões de direi-
De outro lado, não é desta forma que princípio reconhecido pelo
soluções diametralmente opostas em tos fundamentais devem ser qualificadas
operam os fJrincípios jw·fdicos, uma vez que jurídico porque, em outra situação em
determinados casos concretos, sem que isto como colisões de princípios. 20
estes não estabelecem conseqüências não estejam presentes aquelas
configure quebra do sistema jurídico.
jurídicas que decorram automaticamente da ções em sentido contrário, tal princípio Demais disso, CANOTILHO recor-
verificação das condições fáticas para a sua derá ser decisivo na solução da questão. Por tudo, a solução de conflitos esta- da que apenas um sistema aberto 11 de prin-
incidência. Em outras palavras, a presença que importa ressaltar é que se trata de belecidos entre bens juridicamente prote- cípios proporciona um espaço para o desen-
das circunstâncias previstas como neces; critério juridicamente vinculante, ou gidos não poderá se valer dos mesmos cri- volvimento e solução de conflitos decorren-
sárias à incidência de determinado princípio que deverá obrigatoriamente ser levado térios aplicáveis aos conflitos entre regras tes dos inúmeros valores e interesses, muitas
não impõe necessariamente a aplicação de conta pelos aplicadores do direito como jurídicas, de forma que a tutela de um dos vezes contraditórios, de uma sociedade
seus efeitos ao caso concreto. tério a nortear o ato decisório, caso bens envolvidos necessariamente levaria ao pluralista. Nas palavras do autor, "conside-
pertinenre à situação enfrentada. desacolhimento do outro. Como ambos os rar a constituição como uma ordem ou sis~
O que se dá é que, diferentemente
interesses em jogo estão albergados pelo tema de ordenação totalmente fechado e
das regras, os princípios assumem uma Ao contrário das regras, diante de
direito, não poderão ser sumariamente harmonizante significaria esquecer, desde
dimensão de peso e importância que falta conflito entre princípios não é
desconsiderados a jJriori pelo aplicador. Há logo, que ela é, muitas vezes, o resultado de
às normas, que se revela quando dois simplesmente desconsiderar determinorln
que se ponderar os interesses envolvidos, um compromisso entre vários actores so
princípios, ambos igualmente aplicáveis ao princípio em favor de outro.
com vistas a realizar a ambos, na medida e dais, transportadores de idéias, aspirações
caso concreto, entram em colisão. Assim, a pertinentes a um caso concreto, os ormc:k
solução do confronto demanda a aferição pios serão sempre aplicáveis, ainda que
do peso relativo assumido por cada um dos produzam integralmente seus efeitos
20. ~colisão de Direitos Fundamentais e Realização de Direitos Fundamentais~. In Revista da Faculdade de Direito da UFRGS, n2
princípios envolvidos em face das circuns- razão da incidência de outros princípios
17, Porto Alegre: Síntese, 1999, p. 275. Às páginas 276 e 277 o autor esclarece que a solução dos conflitos de direitos fundamen-
tâncias do caso concreto, de forma a definir apontem para solução em sentido dh"'en;o.< tais mediante a teoria das regras, e não por meio da teoria dos princípios, traz conseqüências indesejáveis eis que levaria
em que medida cada princípio cederá Deverá haver uma ponderação entre necessariamente a uma das seguintes conclusões: a) a necessidade de declaração de pelo menos uma das n9rmas constitucio-
espaço ao outro. nais garantidoras de direitos fundamentais colidentes como inválida ou juridicamente não vinculativa, o que seria inviável pois
e não a opção em favor de um e todas têm dimensão constitucional e devem, portanto, ser aplicadas; b) a adoção de uma interpretação restritiva para as normas
É verdade que nem sempre é possí- detrimento de outro. garantidoras de direitos fundamentais, de forma que uma das situações fáticas lamentadas não pudesse ser subsumida no
âmbito de proteção das aludidas normas. Este entendimento colocaria termo ao "aparente" conflito entre direitos já que uma
vel uma mediação exata entre tais princí- Já com relação às regras jurídicas interpretação restritiva demonstraria que um dos interesses em jogo configuraria mera aparência ou alegação de direito, não se
pios, e que poderá haver controvérsias ares.- solução é diversa. Quando duas encontrando efetivamente dentro do campo de incidência da norma invocada. Todavia, tal critério hermenêutica não guarda
consonãncia com as características inerentes à interpretação de direitos fundamentais; e c) reconhecimento de que o não·
peito da importância de cada um quando aparentemente incidem sobre a me:smm prevalecimento de uma norma constitucional garantidora de direitos fundamentais em determinado caso seria decorrente de
em confronto com os demais. Todavia, o situação fática, tal conflito é uma exceção à regra geral de sua aplicação, e não como resultado de uma ponderação. E isto levaria à conclusão de que, sendo
autor ressalta que esta dimensão é inerente admitidas inúmeras exceções às regras garantidoras de direitos, seria juridicamente possível criar tantas outras a ponto de
mediante a aplicação dos aludidos critérios esvaziar por completo o conteúdo do direito fundamental em questão.
aos princípios e sempre terá sentido pergun- hierárquico, cronológico e da es[Jecialidade, 21. Como destaca CANOTILHO, a abertura de um sistema constitucional édecorrente do caráter geral e indeterminado de muitas de
suas normas e que, exatamente por isso, se "abrem" a uma atividade legislativa concretizadora. A abertura comporta uma
"delegação relativa nos órgãos concretizadores", com o objetivo de conferir densidade à norma, ou seja, dotar-lhe de maior
19. Tais critérios referem-se à solução de antinomias aparentes, pois que o próprio ordenamento jurídico oferece os instrumeni<>S precisão quanto aos seus efeitos jurídicos e às suas condições de aplicação. Direito constitucional e teoria da Constituição.
para superá-las. Lei de introdução ao Código Civil brasileiro interpretada. São Paulo: Saraiva, 1998, p. 71 e ss. Coimbra: Almedina, 1998, p. 1.054·1.055.

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232 Mareei O Método da Ponderação de Interesses e a Resolução de Conflitos entre Direitos Fundamentais 233

e interesses substancialmente diferenciados disse, afasta alternativas radicais de "tudo compatibilizar tais interesses, permitindo
e até antagônicos ou contraditóriosn.zz tuição assume, por meio de seus pri.ncípios;, ou nada 28 11
• que todos sejam realizados. E o mencionado
os valores e interesses das mais vana·cta,;: autor ressalta que não há liberdade do
Por isso, o autor observa que "a pre~ Também MARÇAL )USTEN FILHO
matizes. Portanto, pode ocorrer que aplicador do direito nesta tarefa de
tensão de validade absoluta de certos prin- destaca o papel da ponderação como
princípios entrem em conflito diante ponderação: os critérios que pautarão tal
cípios com sacrifício de outros originaria a mecanismo de realização de valores
determinada situação fática. Como ob:>ervo" atividade são aqueles fornecidos pela
criação de princípios reciprocamente in- juridicamente assegurados. O autor observa
DANIEL SARMENTO, citando Constituição e pelos princípios gerais do
compatíveis, com a conseqüente destruição que, diante da ocorrência de atritos entre
ENGISH, o confronto principiol•6gico direito."
da tendencial unidade axiológico-norma- valores igualmente tutelados pelo direito, a
configura fenômeno inevitável, uma
tiva da lei fundamental". ZJ Daí a necessida- integral e absoluta satisfação de um Mesmo porque a doutrina observa
que se trata de mero reflexo das '"rle•.'"''"'
de de se reconhecer a existência de momen- determinado interesse poderia inviabilizar que a ponderação de interesses é limitada
manias que surgem numa ordem j
tos de tensão ou antagonismo entre os vá~ a realização dos demais. Assim, o papel da pela necessidade de respeito ao núcleo
pelo facto de, na constituição
rios princípios e de se aceitar que os ponderação é o de promover, de modo mais essencial dos direitos fundamentais. Com
tomarem parte diferentes idéias '"'"''.c
princípios não obedecem à lógica do "tudo intenso possível, a satisfação de todos os isso se pretende dizer que tais direitos
mentais entre as quais se pode estabelecei
ou nada", demandando ponderação e equi- valores consagrados pelo ordenamento contêm um conteúdo mínimo, que não
conflito' 25 1

líbrio, de acordo com o seu peso relativo e jurídico. Para tanto, o princípio demanda pode ser violado, seja pelo legislador, seja,
as circunstâncias do caso concreto. Assim, É diante da necessidade priorizar e ponderar interesses. Em face do pelo aplicador do direito. Em decorrência,
ao lado da segurança jurídica ensejada pe- "encontrar o direito" para solucionar caso concreto, caberá ao aplicador do a observância desse núcleo essencial
las regras jurídicas, os princípios permitem casos de tensão entre bens j'tJridic:arnent~ direito identificar os valores a serem constituiria um limite a ser observado
uma otimização entre os vários compromis~ protegidos que surgem as idéias aplicados e, diante de valores de diferente quando da restrição de direitos inerente ao
sos assumidos por um Estado democrático. 24 ponderação ou balanceamento de relevância, deverá adotar a conduta que processo de ponderação, de forma que o
teresses, como observa J. ]. GOM trouxer menor sacrifício ao valor de inferior conteúdo nuclear de tais direitos não poderá
IV - A técnica de solução de CANOTILH0. 26 De fato, como não há importância. Somente assim será possível ser desconsiderado."
conflitos de hierarquia prévia e abstrata entre tais
direitos fundamentais: a a solução destes conflitos demandará
inerentes ao caso concreto. Ocorre que tal ponderação abstrata não configura verdadeiramente uma ponderação de interesses,
norma de decisão adaptada às
ponderação de interesses já que possui as mesmas caracterfsticas comuns à interpretação jurídica tradicional. De fato, por meio de tal ponderação abstrata
tâncias fáticas. Para tanto, exige~se busca·se extrair a extensão do significado dos princípios da constituição por meio de uma interpretação sistemática das suas
normas. Já a ponderação propriamente dita ê efetivada diante das características da situação fática enfrentada, tomando-se em
IV.l- Ponderação e a realização ponderação, uma pesagem ou bal
conta em que medida os interesses conflitantes estão sendo afetados e qual o peso específico que cada um destes deverá
de valores fundamentais ceamento entre tais bens diante do assumir em face das peculiaridades fáticas apresentadas pelo problema. A ponderação de interesses na Cpnstituição Federal.
concreto, 27 método típico de solução Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2000, p. 109 e ss.
Como reflexo da pluralidade de 28. Direito constitucional e teoria da Constituição. Coimbra: A!medina, 1998, p. 1.109.
conflitos entre princípios que, como
idéias e concepções existentes em urna 29. Comentários à lei de licitações e contratos administrativos. São Paulo: Dialética, 1999, p. 66.
30. Conforme CANOTJLHO, há duas correntes doutrinárias diversas sobre o tema do núcleo essencial dos direitos, denominadas
teoria absoluta e teoria relativa, as quais apontam para soluções diferentes. De um lado, a teoria absoluta sustenta que o
22. Direito constitucional e teoria da Constituição. Coimbra: A!medina, 1998, p. 1.056.
conteúdo essencial dos direitos fundamentais deve ser fixado abstratamente, vale dizer, sem que se leve em consideração as
23. Direito constitucional e teoria da Constituição. Coimbra: Almedina, 1998, p. 1.056. peculiaridades do caso concreto. Disto se extrai que tal núcleo essencial não pode ser violado ou comprimido em nenhuma
24. Direito constitucional e teoria da Constituição. Coimbra: Almedina, 1998, p. 1.036·1.037. hipótese, ainda que isto seja necessário para a realização de outro direito fundamental em determinada situação fática. De outro
25. Introdução ao pensamento jun'dico. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1983, p. 318, citado por DANIEL lado, a teoria relativa sustenta que o núcleo essencial de um direito fundamental é o que resulta de uma ponderação, constituindo
seu A ponderação de interesses na Constituição Federal. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2000, p. 97, aquela parte do direito fundamental que, comprimido em face de outros direitos ou bens constitucionalmente protegidos e que
com aquele colidam, acaba por ser entendida como prevalente e que não mais poderá ser limitada no caso concreto. O autor
26. Direito constitucional e teoria da Constituição. Coimbra: AImedi na, 1998, p. 1.109. inclina-se em favor da teoria absoluta, ao destacar que, se é verdade que o âmbito de proteção de um direito pode ser obtido,
27. DANIEL SARMENTO ressalta que a apenas a ponderação realizada tomando·se em vista as peculiaridades do caSIJ CO>nCfE caso a caso, mediante ponderação com outros direitos contrapostos, também é certo que a proibição da diminuição do conteúdo
efetivamente corresponde a uma ponderação de interesses conflitantes. O autor destaca que a doutrina nenom1na 11e do núcleo essencial, previsto na constituição portuguesa, somente teria sentido se de fato representar um reduto último
ção abstrata a fixação de critérios destinados à compatibilização de princípios constitucionais potencialmente confiitarJ!es,al intransponível por qualquer medida restritiva de direitos. Direito constitucional e teoria da Constituição. Coimbra: Almedina, 1998,
vês da recíproca compressão dos respectivos campos de aplicação, sem que sejam tomadas em consideração as pecu11ru1oa< p.419·420.

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234 O Método da Ponderaçüo de Interesses e a Resolução de Conflitos entre Direitos Fundamentais 235

Disto já se infere que a ponderação princípios e regras integrantes Por isso, tal princípio representa a ser observado, quando do procedimento de
de interesses não representa apenas uma namento jurídico. principal orientação a ser observada no pro- resolução dos conflitos de interesses, os
técnica meramente procedimental de Ainda segundo SARJv!ENTO, non1oc> cedimento de ponderação entre interesses, valores insculpidos na ordem constitucio-
resolução de conflitos entre princípios no jurídico o princípio da dignidade da exigindo a solução mais consentânea com nal, dentre os quais assume relevo o princí~
constitucionais. DANIEL SARMENTO soa humana expressa a máxima kantiana os valores humanitários que o princípio con- pio da dignidade da pessoa humana. O que
destaca que o método assume relevante segundo a qual o homem deve ser Cot1sicte- grega, como observa DANIEL SARMENTO. ll DANIEL SARMENTO ressalta é que a téc-
caráter substancial, uma vez que a pondera~ rado como um fim em si mesmo e Todavia, o mencionado autor adverte nica de ponderação não poderá desconsi-
ção destina-se a produzir resultados voltados como um meio. Em outras palavras, o que a observância ao aludido princípio não derar a exigência de promoção da dignida-
para a promoção dos valores constitucionais humano precede o Estado e o direito, que levará necessariamente a uma decisão de do homem, objetivo maior buscado pela
da liberdade, igualdade, justiça e fra- justificam apenas em função daquele. desfavorável aos demais interesses consti- Constituição. 34
ternidade, dentre outros. Ainda segundo o dizer de MIGUEL REALE, a pessoa "u''"'ê tucionais que eventualmente com ele
autm; tais valores restam condensados no na deve ser tratada como valor-fonte do colidam. Isto porque o conceito, como já se IV.2- O procedimento
princípio da dignidade da pessoa humana, denamento jurídico, cabendo ao Estado ressaltou, assume um conteúdo compatível da ponderação:
reconhecido como fundamento da República tarefa primordial de promover e defen,dera com o pluralismo axiológico, constituindo delimitação do conflito
Federativa do Brasil, tal como previsto no sua dignidade 31 Trata-se de valor nu,de:arcla mecanismo suficientemente maleável para De fato, o método da ponderação de
art. 1º, III, da Constituição Federal, o qual ordem constitucional, cujos efeitos são acolher valores potencialmente conflitan- interesses é critério hábil a compor tais con . .
confere unidade teleológica a todos os demais diados para todo o ordenamento jurídico. tes, tais como liberdade e segurança. Mesmo flitos constitucionais. Porém, a elasticidade
porque não é possível extrair~se uma inerente ao método da ponderação traz di-
hierarquia formal, a priori, entre princípios ficuldades na definição de uma metodologia
Já DANIEL SARMENTO sustenta a prevalência da teoria relativa, argumentando que determinadas siluaç<>es 'concrellas 1p00enr
afetar ao mesmo tempo o núcleo de dois direitos fundamentais contrapostos. Nestes casos, o juiz terá de optar por um
constitucionais, razão pela qual a resolução racional e controlável que possa lhe confe-
detrimento do outro, cujo cerne será violado. A aplicação da teoria absoluta a estes casos não trará solução sali,sfat<iria. de conflitos entre interesses constitucio~ rir um contel1do mais preciso. E a fixação
esse~~ci1ali !d:;o:si~di~retto:~,i~~~~fj~~~~~~
1
nalmente assegurados demandará sempre de uma técnica segura de sua aplicação é
para esta écorrente
conteúdo reveladonão se no
ainda pode, emabstrato.
plano qualquerOhipótese concreta,
autor formula adentrar
exemplo no núcleo
elucidativo, segundo qual um
publicar de forma sensacionalista às vésperas de uma eleição, que determinado político importante é
uma ponderação em cada caso concreto, essencial para a legitimação da ponderação,
advertido do fato antes da publicação da matéria, promove medida judicial visando proibir I cujo resultado poderá variar em função das que deverá ser exercida dentro dos parâme-
o direito à privacidade. Por sua vez, o jornal alega estar respaldado pela liberdade de imprensa. Nesta peculiaridades da situação. tros inerentes a um Estado de direito, vale
apenas duas opções: vedar a reportagem, em favor do direito à privacidade, em detrimento da liberdade d~~f.~~~~,~~~; ;~~:.~~:;!)
apublicação, tutelando a liberdade de imprensa em desfavor do direito à privacidade. Não há espaço para u 1 Disto decorre que o atendimento ao dizer, de modo que também possa proporcio-
Sendo assim, para o autor o núcleo fundamental somente pode ser delineado em face do caso concreto, o que se fará interesse coletivo pode autorizar uma res . . nar segurança jurídica e a transparência dos
da ponderação dos interesses que porventura venham a colidir. No dizer de DANIEL SARMENTO, tal entendime'"to atos estatais.
adequado à dinâmica do processo decisório inerente às questões constitucionais mais complexas. A ponderação de inte,resses, trição a direitos fundamentais, tal como se
na Constituição Federal. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2000, p. 111, 112 e 113. dá quando a legislação processual penal Assim, inicialmente vale advertir que
31. "A Pessoa, Valor-Fonte Fundamental do Oireito~./n Nova Fase do Direito Moderno. São Paulo: Saraiva, 1990, p. 59-69. permite a prisão de réu ainda não condena- somente haverá espaço para a ponderação
32. SARMENTO observa que as constituições assumem uma determinada concepção sobre o homem e suas relações com do, quando sua liberdade representar peri- de interesses quando efetivamente restar
nidade, a qual é extraída de cada sistema constitucional. Todavia, tais conceitos não são atemporais, sofrendo
go considerável para a coletividade. caracterizada a colisão entre, pelo menos,
tempo e no espaço. Assim, por exemplo, a primeira fase do constitucionalismo, surgida com o Estado liberal, é
perspectiva individualista e abstrata da pessoa humana. Neste período, cabia ao Estado respeitar a liberdade e a auliJnomia Seja como for, a liberdade do opera- dois princípios igualmente incidentes sobre
indivíduos. Porém, não lhe incumbia promover as condições reais de subsistência do homem, de modo que
efetivamente, exercitar tal liberdade que formalmente lhe era assegurada. A promoção do bem estar do indivíduo era dor do direito sempre terá como limite a um determinado caso concreto. 35 Portanto,
apenas a este tocava. Atualmente, o ser humano é considerado um valor em si mesmo, superior ao Estado e a I
vidade de que seja integrante. Porém, o que se tem em vista é um ser humano real, com necessidades~::;:;}!:(:;:~~·~~~~~
atendidas. Por isso, o princípio da dignidade da pessoa humana não possui apenas um aspecto negativo, 33. A ponderação de interesses na Constituição Federal. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2000, p. 74.
intransponível para a atuação do Estado, de forma a retirar a eficácia jurídica de ato administrativo, legislativo
configure violação à dignidade da pessoa humana. Também assume um perfil positivo ao exigir uma postura 34. A ponderação de interesses na Constituição Federal. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2000, p. 76.
sentido de promover um mínimo necessário à existência humana. Em outras palavras, não é apenas o des,espeiito à's liberd,ad 35. DANIEL SARMENTO observa que a resolução dos conflitos entre regras não se dá mediante ponderação de interesses, mas por
individuais que ofende a dignidade do homem. A falta de acesso à alimentação, saúde, educação, moradia produz o intermédio dos critérios hierárquico, cronológico e da especialidade, dos quais resultará sempre a aplicação de apenas uma das
eleito. A ponderação de interesses na Constituição Federal. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2000, p. 68 e ss. normas ao caso concreto, em detrimento da outra. Porém, há situações em que determinadas regras configuram manifestação

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236 O Método da Ponderação de Interesses e a Resolução de Conflitos entre Direitos Fundamentais 237

antes de tudo caberá ao aplicador do direito nesta esfera", 37 a fim de se verificar Como observa DANIEL SARMENTO, contrapostos, tratando.-se, em verdade, de
verificar se tais princípios, que a priori interesse invocado encontra . . se "cuyu•ura- no campo dos direitos fundamentais a fixa- interesses que não se encontram no campo
parecem colidir, efetivamente encontram, do" no âmbito de proteção da norma. ção da topografia do conflito corresponde à juridicamente tutelado pelas normas
se em oposição. sim e por exemplo, a propaganda identificação dos limites imanentes de cada invocadas.
siva e a instigação não entram na direito. Em outras palavras, trata-se da de-
Sendo assim, a primeira etapa do Assim, o autor recorda que não se
juridicamente protegida pela Hu,ctcmu.e cte limitação da extensão da área juridicamen-
processo de ponderação consiste na corre- pode invocar a liberdade religiosa para a
manifestação de pensamento, como te protegida de determinado interesse, ou
ta interpretação dos cânones envolvidos, 36 realização de sacrifícios humanos, ou
tacao autor. 38 seja, da fixação da fronteira externa dos di-
a fim de precisar a extensão e a profundi- invocar o direito de propriedade para
reitos fundamentais.
dade do campo normativo de cada princí- Nas palavras de ROBERTO BIN, esquivar-se ao pagamento de impostos, ou
pio e, com isso 1 verificar se a situação fática se de definir a topografia do conflito, o A questão envolve, no dizer de ainda sustentar o direito de educar os filhos
enfrentada está realmente compreendida significa precisar, de um lado, se efc~tb:a2 PAULO GUSTAVO GONET BRANCO, a como fundamento para espancá-los violen-
no campo de incidência de mais de um mente e em que medida, a esfera JUlrid:icà: tarefa de "revelação dos limites máximos tamente. Nestas situações, não há propria-
destes princípios. Esta primeira etapa, mente tutelada do interesse albergado de conteúdo" do direito fundamental, por mente um conflito entre os supostos direitos
como observa CANOTILHO, demanda a uma norma se sobrepõe à esfera jurididi' meio do qual se identifica qual a parcela da invocados, ou seja, o direito de agredir os
delimitação do âmbito de proteção da nor- mente protegida do interesse resgu:udadé realidade que o constituinte houve por bem filhos, de não pagar tributos, de promover
ma invocada, com o que se pretende esta . . por meio de outra norma. De outro definir como o âmbito de proteção alber- sacrifícios humanos, e outros direitos ou
belecer uma distinção entre o que restará também se deve definir o espaço '"'u''" gado pela garantia constitucional em valores que lhe são opostos, tais como o
albergado neste âmbito e o que dele estará que restará ao exercício de cada um debate. Deste modo, será possível aferir se direito de educar os filhos, o dever de
excluído. Em outras palavras, busca-se interesses conflitantes, sem que se a pretensão do indivíduo envolvido pelo recolher tributos, o direito à liberdade
"precisar a esfera de proteção da norma e no campo em que os dois princípios conflito efetivamente se inclui no âmbito religiosa. O que se dá, em verdade, é que o
excluir certas dimensões não reentrantes sobrepõem. 39 de proteção do direito fundamental por ele próprio preceito constitucional invocado
invocado. 40
para justificar tais interesses não comporta
E a prévia fixação dos limites imanen- a extensão pretendida, ou seja, exclui de seu
ou desdobramento de princípios, razão pela qual dependem materialmente destes. Sendo assim, é possível que o tes dos direitos fundamentais é indispen- âmbito normativo tais situações. 41
informativo de determinada regra encontre-se, no caso concreto, em conflito com outro princípio. Nestas situações,
SARMENTO observa que, como em verdade se trata de conflitos entre princípios, uma ponderação entre os iinlere,sses lulela<lo sável à resolução dos conflitos, uma vez que Vale recordar que a natureza aberta
pelos principias em jogo pode eventualmente levar à não-aplicação, por exemplo, daquele primeiro 1 este conflito apenas restará configurado e elástica dos princípios, os quais não
que também as regras dele decorrentes serão ineficazes para o caso concreto. O autor destaca que o enl13ndime11to r:amloém. quando a situação concreta realmente se
compartilhado por EROS ROBERTO GRAU, o qual observa que "não se manifesta 1 1 1 desfrutam de um campo de incidência
encontrar no interior dos limites imanentes
regras jurídicas. Estas operam como concreção daqueles. Em conseqüência, quando em confronto dois onnCIOIIJ>, perfeitamente delimitado, to;na extrema-
cendo sobre o outro, as regras que dão concreção ao que foi desprezado são afastadas: não se dá a sua aplicaçiio a del1>rmi de mais de uma norma constitucional,
mente difícil senão impossível, a definição
da hipótese, ainda que permaneçam integradas, validamente, no ordenamento jurídico". Aponderação de interesses na conforme destaca o mencionado autor.
Federal. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2000, p. 106·107. a priori de seus respectivos âmbitos de
36. CANOTILHO observa que esta etapa ainda não configura verdadeira ponderação, porque se trata de "delimitar o JOSÉ CARLOS VIEIRA DE ANDRADE, incidência, ou seja, das hipóteses que
proteção de uma norma constitucional, estabelecendo uma espécie de linha de demarcação entre o que entra nesse citado por DANIEL SARMENTO, fornece estariam por ele albergadas. Disto decorre
que fica de fora". Ê o que a doutrina norte-americana denomina por definitional balancing, por meio da qual se •;;~~;~~~\ alguns exemplos em que não se está diante
campo de proteção da norma e se exclui certas situações que não se enquadrem nesse campo. Por isso, o autor N
a relevância da análise do caso concreto na
"definitional balancing não é, em rigor, um modelo de ponderação, pois localiza-se ainda no procedimento interpretativo de uma efetiva sobreposição de áreas constatação da ocorrência de eventual
do a determinar o âmbito de protecção de normas garantidoras de direitos e bens constitucionais. Define-se, por via juridicamente protegidas de interesses conflito entre princípios.
abstracta, os 'campos normativos'". Direito constitucional e teoria da Constituição. Coimbra: Almedina, 1998, p. 1.112.
37. Direito constitucional e teoria da Constituição. Coimbra: Almedina, 1998, p. 1.112.
38. Direito constitucional e teoria da Constituição. Coimbra: Almedina, 1998, p. 1.112. 40. Hermenêutica constitucional e direitos fundamentais. Brasília: Brasília Jurídica, 2000, p. 187.
39. Din'tti e Argomenti -I/ Bilanciamento degli lnteressi nella Giurisprudeza Costilucionale. Milão: Giuffrê, 1992, p. 62-63, 41. Os direitos fundamentais na Constituição portuguesa de 1976. Coimbra: Almedina, 1987, p. 216-217, citado por DANIEL
DANIEL SARMENTO em seu Aponderação de interesses na Constituição Federal. Aio de Janeiro: Lumen Juris, 2000, p. 1 SARMENTO em seu Aponderação de interesses na Constituição Federal. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2000, p. 101.

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0 Método da Ponderação de Interesses e a Resolução de Conflitos emre Direitos Fundamentais 239
238

Indo avante, CANOTILHO destaca lução possível, vale dizer, aque11a <lU<' Dl:o• princípios em face de outros, enquanto da diante das peculiaridades da situação
que, uma vez delimitado o âmbito de va a menor restrição possível a cada abstratamente considerados, não implica fática.
proteção das normas garantidoras de interesses envolvidos, apenas a mí:nilna dizer que a solução de eventuais conflitos
De fato, PAULO GUSTAVO GONET
direitos e bens, procede-se à verificação da dispensável para permitir a sua co1ovivêr se dará sempre em favor daqueles primeiros
BRANCO observa que será apenas diante
medida em que a esfera de um direito se com os demais que lhe são cv''""'"JS.'''" e em detrimentos destes últimos. Isto
do caso concreto que se poderá identificar
sobrepõe à esfera de outro direito também porque, diante das peculiaridades do caso
Ainda que as constituições a intensidade com que os princípios em
juridicamente protegido, com o que se concreto, pode ocorrer que o integral
mente não encampem uma escala discussão serão aplicados. Como não há um
precisará o ponto em que tais bens são atendimento ao interesse abstratamente
valores, razão pela qual não há, em critério abstrato de solução de tais conflitos,
conflitantes. 42 preponderante traga resultado desastroso exige-se uma ponderação a ser realizada
técnico, uma hierarquia entre as
sobre aqueles de menor relevância, de forma caso a caso, atentando . . se para a exigência
Sendo assim, poderá ocorrer a constitucionais, isto não equivale a
a esvaziar-lhes o conteúdo. de se comprimir em menor grau possível os
existência de pelo menos dois bens ou que a Lei Fundamental atribui a
direitos que se encontrem acobertados pelas relevância a todos os interesses Disto se extrai que este "peso genérico", direitos em causa.
esferas de proteção de duas normas jurídicas albergados. 44 nas palavras de DANIEL SARMENTO, é
IV.4 - Ponderação e o princípio
que, diante das peculiaridades do caso apenas um indício do upeso específico" que
Assim, por exemplo, da proporcionalidade
concreto, não podem ser realizadas em sua cada princípio assumirá quando da solução
SARMENTO recorda que a jurisp1:ud,ên
integralidade. Também não haverá regras de determinado caso concreto. Isto equivale Tal como observa PAULO GUSTAVO
norte~americana consagrou a
abstratas de prevalência entre tais bens, de a dizer que é apenas diante do caso concreto GONET BRANCO, esta tarefa de pondera-
preferred freedoms ou preferred
modo que se poderá definir prima facie qual que os princípios revelarão seu verdadeiro ção é desempenhada por meio do princípio
segundo a qual atribui-se valor sur>erin>
dentre aqueles deverá preponderar. É então peso em face dos demais, o que variará de da proporcionalidade, que "exige que o
liberdades individuais, tais como a
que se abrirá espaço para uma ponderação acordo com a intensidade com que os sacrifício do direito seja necessário para a
de expressão, de religião e privacidade,
entre tais valores. interesses tutelados por meio dos aludidos solução do problema e que seja proporcional
relação às liberdades econômicas,
princípios estiverem sendo afetados. 46 em sentido estrito, i.e. que o ônus imposto
direito de propriedade e a liberdade
IV.3 -A ponderação em ao sacrificado não sobreleve o benefício que
contratação, ainda que se admita a Desta forma, quanto maior o peso
sentido estrito se pretende obter com a solução". 47
ração entre tais liberdades." específico assumido por determinado prin-
Diante da constatação de que deter- cípio no caso concreto, menor deverá ser, O que se pretende, portanto é a busca
minada situação fática está, efetivamente, em conseqüência, a intensidade da restri~ de uma solução de equilíbrio, que será
fenômeno se repete no direito uu<ououv
abrangida por dois princípios constitucionais ção que lhe poderá ser imposta. Dito de encontrada: a) quando a restrição imposta
ressaltar, por exemplo, que o uuc11u.
que apontem para soluções divergentes, é outra forma, quanto maior o peso específi- a determinado interesse for realmente
liberdade individual encontra
necessário promover-se a ponderação propria- co assumido por determinado princípio, adequada, idônea, apta a promover a
relevância constitucional do que a
mente dita dos interesses conflitantes. Isto se maior a restrição a que se sujeitará o in te~ realização do outro interesse; b) quando,
rança pública, conforme se extrai do art.
dará, no dizer de DANIEL SARMENTO, me- resse oposto, de menor peso específico. Em mesmo assim, tal restrição seja aquela que
do texto magno.
diante recíprocas "compressões,, sobre os resumo, o grau de restrição que poderá menor gravame trouxer ao interesse que
interesses protegidos pelos princípios Todavia, a existência de uma validamente ser imposto a determinado in- está sendo afetado em benefício do outro
conflituosos, de forma a obter a melhor so- maior relevância constitucional de teresse, quando em conflito com outros contraposto e c) ainda que a restrição ao
igualmente tu tela dos, dependerá da maior interesse seja a menor possível, quando os
ou menor importância que lhe seja atribuí- aspectos negativos decorrentes desta
42. Direito constitucional e teoria da Constituição. Coimbra: Almedina, 1998, p. 1.111.
43. Aponderação de interesses na Constituição Federal. Aio de Janeiro: Lumen Juris, 2000, p. 102.
44. Conforme DANIEL SARMENTO em seu Aponderação de interesses na Constituição Federal. Aio de Janeiro: Lumen Juris, 2000, p. 46. Aponderação de interesses na Constituição Federal. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2000, p. 104.
45. Aponderação de interesses na Constituição Federal. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2000, p.1 03. 47. Hermenêutica constitucional e direitos fundamentais. Brasília: Brasília Jurídica, 2000, p. 183.

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O Método da Ponderação de Interesses e a Resolução de Conflitos entre Direitos Fundamentais 241

restnçao sejam inferiores aos aspectos fundamental em conflito seja hábil, de, diante da existência de mais de uma puder constatar, inequivocamente, a
positivos decorrentes da realização mais apta a atingir a realização do outro medida igualmente adequada à realização do existência de outras medidas menos
intensa do interesse contraposto. conflitante. Em outras palavras, a direito fundamental em questão, adotar lesivas". 53 No mesmo sentido, RAQUEL
de um direito terá de ser idônea aquela que se revele a menos gravosa DENlZE STUMM recorda que a necessidade
Por isso, DANIEL SARMENTO
permitir a efetivação de outro conflitaJrrte possível, atingindo com menor intensidade ou exigibilidade da medida empregada é
observa que o princípio da proporcionalidade
No dizer de GILMAR FERREIRA MENDES os direitos e interesses contrapostos. Nas cristalizada pela máxima elaborada pelo
é de extrema relevância no processo de
palavras de SÉRVULO CORREIA, a "indis- mencionado Tribunal Constitucional
ponderação de interesses, já que o raciocínio
pensabilidade (Erforderlichkeit) do meio é alemão, segundo a qual "o fim não pode ser
inerente àquele princípio, em seus três
uma questão que se levanta quando, para atingido de outra maneira que afete menos
aspectos, é exatamente o necessário para a
atingir um certo fim ou resultado, existe mais ao indivíduo". 54
realização da aludida ponderação. O autor
de que um meio dotado de aptidão". Nestas
destaca que proporcionalidade e ponderação Assim e como recorda PAULO
situações, como prossegue o autor, "o meio
pressupõe . . se reciprocamente, uma vez que, BONAVIDES, dentre o universo das medidas
escolhido deverá ser aquele que envolver
no dizer de WILLIS SANTIAGO GUERRA igualmente hábeis à realização de determi-
menor lesão dos interesses privados. Entre
FILHO, é o princípio da proporcionalidade
vários meios com idêntica eficácia, deverá nado interesse, deve-se eleger aquela que
"que permite fazer o 'sopesamento'
ndoptar-se aquele que não envolva restrições menor lesão trouxer aos demais interesses
(Abwagung, balancing) dos princípios e
de direitos fundamentais ou provoque as que lhe são contrapostos. Por isso, o
direitos fundamentais, bem como dos
menores restrições, isto é, o 'mais suave"'. 51 subprincípio da necessidade também pode
interesses e bens jurídicos em que se Deste modo, o subprincípio da
Tal como recorda CANOTILHO, o ser chamado de princípio da escolha do
expressam, quando se encontrem em estado quação revela-se critério hábil ao
meio mais suave. 55
de contradição, solucionando-a de forma que mento do processo de ponderação, eis "princípio da exigibilidade, também
maximize o respeito de todos os envolvidos diante de eventual necessidade de conhecido como 'princípio da necessidade' Nas palavras de GILMAR FERREIRA
no conflito,. 48 ção de direitos, afasta as medidas ou da 'menor ingerência possível', coloca a MENDES, o "subprincípio da necessidade
vas que se revelem incapazes de ~nJmov.' tónica na ide ia de que o cidadão tem direito (Notwendigkeit oder Erforderlichkeit) significa
A fim de melhor delimitar a idéia
a realização do direito contraposto. À a menor desvantagem possível. Assim, exigir- que nenhum meio menos gravoso para o
inerente à proporcionalidade, o princípio em
dência, será desproporcional a in1:erver1cã se-ia sempre a prova de que, para a obtenção indivíduo revelar-se-ia igualmente eficaz na
questão é desdobrado em três elementos,
a direito fundamental quando a de determinados fins, não era possível consecução dos objetivos pretendidos".
denominados de adequação, necessidade e
restritiva adotada se revele m'mifestarneJ adaptar outro meio menos oneroso para o Ainda no dizer do mencionado autor, uo
proporcionalidade em sentido estrito.
te incapaz de promover a realização do cidadão". 52 meio não será necessário se _p objetivo
IV.S - Subprincípio da reito conflitante. DANIEL SARMENTO recorda que o almejado puder ser alcançado com a adoção
adequação Tribunal Constitucional alemão já decidiu de medida que se revele a um só tempo
IV.6- Subprincípio da nece!iSi(lad
No campo do método da ponderação pela inconstitucionalidade de lei quando "se adequada e menos onerosa". 56
ou exigibilidade
de interesses, a proporcionalidade sob o
prisma da adequação exige que a restrição já sob o ângulo da ne•:essid:ade:,;
princípio da proporcionalidade impõe o 51. Legalidade e autonomia contratual nos contratos administrativos. Coimbra: Almedina, 1987, p. 115.
promovida a um determinado direito
52. CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito constitucional. Coimbra: Almedina, 1998, p. 262.
53. Controle de constitucionalidade: Aspectos jurídicos epolíticos. São Paulo: Saraiva, 1990, p. 44, citado por DANIEL SARMENTO
em seu Aponderação de interesses na Constituição Federal. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2000, p. 88.
48. Processo constitucional e direitos fundamentais. São Paulo: Celso Bastos Editor, 1999, p. 66, citado por DAl~ lEI. SI\R~IEN"TO e
54. Oprincípio da proporcionalidade no direito constitucional brasileiro. Porto Alegre: livraria do Advogado, 1995, p. 79.
seu Aponderação de interesses na Constituição Federal. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2000, p. 96.
49. Hermenêutica constitucional e direitos fundamentais. Brasília: Brasília Jurídica, 2000, p. 250. 55. Curso de direito constitucional. São Paulo: Ma!heiros, 1997, p. 361.

50. Curso de direito constitucional. São Paulo: Malheiros, 1997, p. 360. 56. Hermenêutica constitucional e direitos fundamentais. Brasília: Brasília Jurídica, 2000, p. 250.

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Mareei da de Interesses e a entre Direitos Fundamentais

O que se pretende por meio do "poupado" possível quanto à unott:aç situação. Pode ocorrer, ainda, que uma CANOTILHO, "meios e fim são colocados
aludido princípio é promover a observância direitos fundamentais que enseja. que se revele, ao mesmo tempo, em equação mediante um juízo de pondera-
e a garantia dos direitos fundamentais do ângulo espacial, o âmbito da medida ~dequ:ada à realização de determinado in- ção, com o objectivo de se avaliar se o meio
cidadão diante de medidas restritivas de adotar apenas a extensão esrnron como também necessária, no senti~ utilizado é ou não desproporcionado em
direitos, necessárias à realização de outros indispensável. A exigibilidade de que não se antevê outra que promo~ relação ao fim. Trata-se, pois, de uma
interesses juridicamente assegurados, o que significa que a medida deve menor restrição a direitos, acabe por questão de 'medida' ou 'desmedida' para se
se faz exigindo-se que a medida restritiva seja apenas à pessoa ou às pe»•oas c maiores danos ao titular do direito alcançar um fim: pesar as desvantagens do
aquela que proporcione a menor ingerência interesses devem ser sacrificados. do que benefícios ao titular do meio em relação às vantagens do fim". 62
possível aos direitos individuais que se a exigibilidade temporal delimita no cuja realização se pretende através
SÉRVULO CORREIA observa que o
pretende limitar. Nesse sentido, SUZANA DE a duração da medida restritiva. aludida restrição. Como se vê, é preciso
equilíbrio, também entendido como propor-
TOLEDO BARROS recorda que o Tribunal sentido, SUZANA DE TOLEDO '"''esr>P:'" se a medida restritiva promove,
cionalidade em sentido estrito, é definido
Constitucional alemão declarou a inconsti- destaca que se pode estabelecer fato, mais benefícios do que malefícios,
pelo Tribunal Constitucional Federal alemão
tucionalidade de determinado meio empre- de pertinência lógica entre o em vista todos os interesses en--
no sentido de que uma determinada
gado pelo Estado, quando restar claro que duração da medida restritiva e a .,,,Juicln.s.60
providência "não agrave excessivamente o
seria possível recorrer a outro igualmente pela qual foi imposta. Assim e por seu destinatário" e (!não lhe exija demais".
Disto já se infere que o subprincípio
eficaz, porém menos restritivo aos interesses a possibilidade de restrição ao .,,,,].,.c a análise da relação custo-benefício O que se procura apontar, como esclarece o
dos particulares envolvidos. De fato, em comunicações telefônicas, prevista
medida avaliada. Em outras palavras, a próprio autor, é a necessidade de uma relação
decisão de 1971 aquele tribunal decidiu pela 5º, XII, da Constituição Federal, não
:m<,attla restritiva empregada deve ensejar de equilíbrio entre meio e fim. Para tanto,
inexigibilidade de determinado provimento ser empregada sem qualquer
(benefícios superiores ao direito tutelado do aquele tribunal busca sopesar os interesses
legislativo, diante da ocorrência de outras temporal, prolongando-se a int:en:e):>ta(
os ônus impostos ao direito restringido. perseguidos pelo ato com os interesses
medidas menos restritivas. Para tanto, o telefônica ad etemum. A limitação
dizer de GILMAR FERREIRA MENDES, protegidos por direitos fundamentais que tal
julgado consignou que o meio legislativo direito deverá ocorrer apenas pelo
"juízo definitivo sobre a proporcio- medida atinge, o que se faz partindo-se da
empregado somente "é necessário quando o estritamente necessário, de forma
da medida há de resultar da premissa de que "quanto mais intensa for a
legislador não poderia ter escolhido outro desconsiderar por completo a gar·antia riPnrr1Sa ponderação e do possível equilíbrio agressão a estes últimos interesses, tanto mais
meio, igualmente eficaz, mas que não questão. 59
o significado da intervenção para o ponderosos precisam de ser os interesses
limitasse ou limitasse da maneira menos atingido e os objetivos perseguidos pelo públicos prosseguidos. E, inversamente,
sensível o direito fundamental"." IV.7- Subprincípio da
legislador" .61 quanto maior for o peso ou a urgência dos
proporcionalidade
Como observa CANOTILHO, sob o interesses públicos, tanto mais intensa a
em sentido estrito O que se exige é a adoção de uma
prisma da exigibilidade, a proporcionalidade 11 intervenção ablativa (Eingriffl 'de interesses
justa medida", com o que se pretende dizer
da medida restritiva de direitos demanda a privados que eles legitimam". 63
que o resultado obtido por meio da inter-
investigação a respeito da necessidade do taca que, muitas vezes, a verificação
venção restritiva de direitos deverá ser Como observa DANIEL SARMENTO,
meio empregado quanto aos seus aspectos quação e necessidade não é suficiente
proporcional à intensidade da limitação o princípio exige do aplicador da norma um
material, temporal, espacial e pessoal. 58 De que se possa afirmar a pn8p•8rc:ionalidade
promovida. Nas palavras de GOMES exercício de ponderação: de um lado da
um ângulo material, o meio deve ser o mais medida restritiva de direitos em

57. Oprincípio da proporcionalidade e o controle de constitucionalidade das leis restritivas de direitos fundamentais. Brasília: 60. Oprincípio da proporcionalidade e ocontrole de constitucionalidade das leis restritivas de direitos fundamentais. Brasília: Brasília
Jurídica, 1996, p. 78. Jurídica, 1996, p. 80.
58. Direito constitucional e teoria da Constituição. Coimbra: Almedina, 1998, p. 262. Hermenêutica constitucional e direitos fundamentais. Brasília: Brasília Jurídica, 2000, p. 251.
59. Oprincípio da proporcionalidade e ocontrole de constitucionalidade das leis restritivas de direitos fundamentais. Brasília: CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito constitucional. Coimbra: Almedína, 1998, p. 263.
Jurídica, 1996, p. 79-80. Legalidade e autonomia contratual nos contratos administrativos. Coimbra: Almedína, 1987, p. 115.

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Mareei 0 Método da Ponderação de Interesses e a Resolução de Conflitos entre Direitos Fundamemais 245
balança, encontram~se os interesses cuja to maior o grau da não satisfação ou de ordenamento jurídico, o que acaba por mite a restrição dos interesses em oposição,
realização é buscada através da medida tação de um princípio, tanto maior ensejar um certo atrito entre tais valores. desde que tal medida se revele, a um só tem-
restritiva; do outro lado, devem ser ser a importância da satisfação do outro:> po: a) adequada à realização do direito con-
considerados os bens jurídicos que serão O problema é deslocado, portanto,
traposto i b) necessária, ou seja, menos
restringidos ou sacrificados pela aludida Por tudo, DANIEL SARMENTO para a descoberta de mecanismos de
gravosa, dentre as demais igualmente ade-
medida. Caso a balança venha a pender para clui que, por exigência do princípio composição destes confrontos que não
quadas e; c) proporcional em sentido estri-
o lado dos interesses tutelados, a medida proporcionalidade, quando a "''""'"i''o imponham soluções radicais, no sentido de
to, com o que se pretende dizer que o resul-
será válida, eis que o "peso" dos interesses determinado interesse juridicamente se optar por um dos interesses conflitantes,
tado da ponderação deverá ensejar maio-
realizados pela medida é superior ao "peso" gurado demandar a restrição de outros em detrimento dos demais. Isto porque as
res benefícios ao direito tutelado do que
dos interesses por ela restringidos ou teresses com aqueles conflitantes, tal alternativas que pretendam a integral e
dida restritiva de direitos deverá, ao malencios ao direito restringido.
sacrificados. Todavia, ocorrendo o inverso absoluta realização de apenas um dos
a medida será desproporcional.64 mo tempo, "ser apta para os fins a que valores em jogo inevitavelmente inviabili- De tudo quanto se expôs, que ao
destina, ser a menos gravosa possível zarão a realização dos demais. E, como se menos se guarde o indispensável papel
No dizer de RAQUEL DENIZE que se logrem tais fins e causar benefícios pretendeu demonstrar, trata-se de interesses exercido pelo método da ponderação de
STUMM, da ponderação realizada entre os superiores às desvantagens que pnJp<Jrci(); constitucionalmente assegurados e que, por interesses no contexto de uma sociedade
pesos assumidos no caso concreto pelos di- na" 66 Ou, nas palavras de WILLIS isso, deverão necessariamente ser efetivados democrática. Ainda que referentes ao
reitos e bens contrapostos deve resultar uma GO GUERRA FILHO, pode-se dizer pelo aplicador do direito, na medida em que princípio da proporcionalidade, são adequa-
medida que permita alcançar a melhor pro- "uma medida é adequada, se atinge o isto se revele possível diante do caso das ao tema as palavras de MARÇAL
porção entre os meios empregados e os fins almejado, exigível, por causar o menor concreto. JUSTEN FILHO. Após destacar o antago-
pretendidos. Como os princípios assumem juízo possível e finalmente, proporcional nismo insuperável entre totalitarismo e
pesos relativos, em caso de colisão entre A esta tarefa se volta o método da
sentido estrito, se as vantagens que trará proporcionalidade, eis que enquanto
estes o critério da ponderação promoverá ponderação de interesses. Informado pelo
perarem as desvantagens" ,67 "aquele significa a prevalência absoluta e
uma compressão do conteúdo de ambos os princípio da proporcionalidade, tal método
ilimitada de certos valores, esta se traduz
princípios. Porém, tais princípios devem ser permite a realização, de modo mais intenso
V - Conclusão na impossibilidade de realizar com exclusi-
atendidos com a maior intensidade possí- possível, de todos os valores albergados pelo
vidade um único interesse", o mencionado
vel diante do caso concreto, ou seja, de- ordenamento jurídico. Para tanto, diante de
A ocorrência de eventuais conflitos autor adverte que, "quanto mais demo~
vem ser otimizados. Por isso, em caso de entre direitos fundamentais não configura, colisões entre direitos fundamentais, cabe-
crática uma sociedade, tanto maior é a
colisão entre princípios, a restrição promo~ por si só, patologia a ser combatida e rá ao aplicador do direito promover, tendo
relevância reconhecida aos diferentes pólos
vida a cada um deles deverá adotar a in- erradicada do sistema jurídico. Em verdade, em vista as peculiaridades do caso concre-
de interesse, aos variados grupos sociais, à
tensidade apenas indispensável à satisfação to, recíprocas compressões nos direitos
trata-se de situação inerente às so•:ieda,jes•··••• pluralidade, à diversidade. A convivência
do outro. De fato, é inerente aos princípios conflitantes, mas apenas com a intensida~
pluralistas e democráticas, marcadas pelo democrática significa ceder passo à propor-
a possibilidade de que, diante de conflitos reconhecimento e realização dos valores de necessária para a equilibrada realização
cionalidade"."
entre estes, seu conteúdo seja relativizado, de ambos. Isto equivale a dizer que a solu-
sensíveis aos mais diferentes segmentos
tendo em vista o peso relativo do princípio ção de questões desta natureza exclui a pos-
compõem a estrutura social. Portanto, Referências bibliográficas
colidente. Por isso que a autora recorda sibilidade de mera e sumária desconsi-
há homogeneidade absoluta entre os valores
passagem de ALEXY, segundo a qual "quan- deração de um dos interesses colidentes em ALEXY, Robert. "Colisão de Direitos Fundamentais
a cuja satisfação se volta um determinado
favor do outro, já que ambos devem, por e Realização de Direitos Fundamentais". In
imposição constitucional, lograr efetiva rea- Revista da Faculdade de Direito da UFRGS, nº
64. Aponderação de interesses na Constituição Federal. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2000, p. 89. lização. Mas, de outra parte, tal tarefa per- 17. Porto Alegre: Síntese, 1999.
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66. Aponderação de interesses na Constituição Federal. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2000, p. 90.
68. Ap<esentação à obra de PAULO ARMINIO TAVARES BUECHELE, Oprincípio da proporcionalidade e a interpretação da Consti-
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