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Retratos da leitura no Brasil: por que estamos perdendo leitores

Enquanto cresce o número de leitores de 5 a 10 anos, esse percentual cai a partir dos 11
anos e entre leitores de nível superior e classe A; veja esses e outros destaques da 5ª
edição da pesquisa nacional
Por Stephanie Kim Abe

No Brasil, existem cerca de 100 milhões de leitores, que compõem 52% da população.
É o que mostra a 5ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, divulgada no
último dia 14 de setembro, com dados de 2019. Esses leitores são, em números
absolutos, não estudantes (61,2 milhões), da classe C, D e E (70 milhões) e de renda
familiar entre um e cinco salários mínimos (76,3 milhões).

Quando olhamos em termos de porcentagens, é maior o número de leitores entre os que


possuem Ensino Superior (68%), da classe A e B (67 e 63%, respectivamente), e de
renda familiar de mais de 10 salários mínimos (70%).

Imagem da 5ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil – Classe e Renda


familiar.
Imagem da 5ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil – Classe e Renda
familiar
A pesquisa revela que houve uma queda de cerca de 4,6 milhões de leitores, entre 2015
e 2019. A Retratos da Leitura no Brasil é realizada pelo Instituto Pró-Livro (IPL), Itaú
Cultural e IBOPE Inteligência, e considera leitor toda pessoa que leu, inteiro ou em
partes, pelo menos um livro nos últimos 3 meses antes de sua realização.

“Foi uma surpresa para nós a queda em leitores de classe A e B e de Ensino Superior,
que historicamente sempre tiveram um percentual maior de leitores. Também
verificamos uma queda no percentual de leitores na população de 11 a 17 anos – sendo
que nas três últimas edições eles se mantiveram em um patamar parecido”, explica
Zoara Failla, coordenadora da pesquisa.

Acesse a apresentação completa da 5ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil

Leitura e outras formas de entretenimento e cultura


82% dos leitores responderam que gostariam de ler mais. A falta de tempo (47%) é o
principal fator indicado pelos leitores pela não-leitura. Entre os não-leitores, as
principais causas são a falta de tempo (34%) e o fato de não gostarem de ler (28%).

A pesquisa mostra também que os leitores têm usado o tempo livre para assistir
televisão, assistir filmes ou vídeos em casa, escutar música ou rádio, usar a Internet,
WhatsApp e redes sociais.

Imagem da 5ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil – Tempo livre.


Imagem da 5ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil – Tempo livre
“Vemos que as pessoas, principalmente da classe superior, estão usando o tempo livre
nas redes sociais, e não para leitura ou prazer. Foi um percentual de elevação muito
significativo. A maior dificuldade que eles têm é tempo para ler ao longo do ano – e o
tempo que sobra está sendo usado nas redes sociais. Acho que isso de certa forma
explica em parte essa queda”, argumenta Zoara Failla.

Outro ponto destacado pela coordenadora da pesquisa é que, na comparação entre a


população leitora e não-leitora, há uma diferença de variedade de atividades culturais
realizadas no tempo livre. Os leitores apresentam mais diversidade de atividades
realizadas (cerca de 7, contra 5 dos não leitores). “Isso mostra como a leitura é também
uma ferramenta de acesso cultural”, diz.

Imagem da 5ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil – O que fazer no tempo


livre.
Imagem da 5ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil – O que fazer no tempo
livre
Gosto pela leitura alto entre crianças – mas vai diminuindo
A única faixa etária que apresentou aumento no número de leitores foi de 5 a 10 anos de
idade: passou de 67% (2015) para 71% (2019). A pesquisa mostra que as crianças são as
que leem mais, leem mais livros de literatura, por vontade própria e com mais
frequência.

Ao contrário, as faixas etárias de 14 a 17 anos e de 18 a 24 anos são as que apresentam


maior percentual de queda de leitores, de 8 pontos percentuais.
Sobre a motivação para ler, 48% dos leitores entre 5 e 10 anos de idade indicam o gosto
pela leitura como principal fator. Esse percentual vai diminuindo significativamente,
chegando aos 17% na população entre 18 a 24 anos. A partir dessa faixa etária, passam a
apontar o crescimento pessoal e a atualização cultural ou conhecimento geral como
motivos para a leitura.

Imagem da 5ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil - Principal motivação


para ler um livro.
Imagem da 5ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil – Principal motivação
para ler um livro
Importância de professores(as) e mediadores(as)
Se as crianças gostam de ler, por que estamos perdendo leitores conforme vão ficando
mais velhos?

Um dos motivos apontados pelos organizadores pode estar na mediação. Até os 10 anos
de idade, as famílias costumam ocupar esse lugar de ler para as crianças, assim como
os(as) professores(as) do Ensino Infantil também utilizam muito a contação de histórias
em suas práticas.

Quem é o mediador a partir dos 11 anos? A família percebe esse despertar do interesse
pela leitura na infância, na apropriação de múltiplas linguagens. Mas depois ela acha
que não é mais a mediadora – apesar de poder ser, sim. A escola precisa suprir esse
papel, e precisamos ter políticas públicas voltadas para os(as) professores(as) de Ensino
Fundamental e Médio para que eles(as) consigam ser mediadores(as)

Zoara Failla, coordenadora da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil


O(a) professor(a) e as mães são apontados como os principais influenciadores(as) do
gosto pela leitura (15%), seguidos pelos pais (6%). Quando falamos especificamente do
gênero literatura, o(a) professor(a) desponta como maior responsável por incentivar o
interesse dos alunos (52%), à frente de filmes baseados em livros (48%) e a indicação
de amigos (41%).

Imagem da 5ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil – Influência para a


leitura.
Imagem da 5ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil – Influência para a
leitura
Necessidade das políticas públicas de incentivo à leitura
Para Marcos Pereira, vice-presidente do Instituto Pró-Livro (IPL), a diminuição no
número de leitores também é reflexo da falta de políticas públicas de incentivo à leitura.

O governo, em 2015, suspende todos os programas de literatura nas escolas, para fazer
uma grande revisão do Programa Nacional Biblioteca na Escola (PNBE). Somente em
2019 é feito o novo modelo, o Programa Nacional do Livro e do Material Didático
(PNLD) Literário – que eu acho melhor, mais inclusivo. Mas estamos vendo agora o
custo desses quatro anos sem nenhuma renovação de acervo, sem essa utilização da
biblioteca e indicação de leitura

Marcos Pereira, vice-presidente do Instituto Pró-Livro (IPL)


A pesquisa Retratos da Leitura no Brasil também traz dados sobre a percepção e o uso
das bibliotecas. De acordo com ela, apenas 17% da população brasileira frequenta
bibliotecas (escolares ou públicas) sempre ou às vezes. A maioria vai às bibliotecas para
pesquisar ou estudar (51%) e 33% para ler livros por prazer.

Imagem da 5ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil – Biblioteca.


Imagem da 5ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil – Biblioteca
“Com relação aos motivos que faria ir mais à biblioteca, é interessante como esses três
primeiros itens apontam para uma biblioteca de modelo vivo. Tanto os frequentadores
quanto os não frequentadores gostariam que a biblioteca oferecesse um acervo mais
atualizado, uma oferta maior de biblioteca em todos os bairros e tivesse mais atividades
culturais”, explica Zoara.

Para Marcos Pereira, os dados das bibliotecas reforçam a importância de pensar no


papel do mediador.

“Infelizmente, não estamos indo para lugar nenhum. E a pesquisa das bibliotecas mostra
que o investimento em profissionais formadores do hábito de leitura é a coisa mais
importante de todo esse ciclo. Claro que a gente precisa de bons acervos, boas
instalações, precisamos trabalhar com outras mídias, mas não estamos investindo nos
profissionais: o formador, o professor, o bibliotecário, o contador de história”, defende.

Imagem Retratos da Leitura no Brasil.


Imagem: Divulgação.
Ciclo de debates sobre a 5ª edição Retratos da Leitura no Brasil

Para discutir os dados da pesquisa e pensar políticas públicas para melhorar o cenário da
leitura no Brasil, o IPL e o Itaú Cultural promovem, a partir de hoje (22/09), quatro
painéis de debate.

Abertos ao público, porém com vagas limitadas, eles vão ocorrer às terças-feiras até o
dia 13 de outubro, sempre às 17h. As vagas já estão esgotadads, mas os debates devem
ser disponibilizados no YouTube do Itaú Cultural após a sua realização. Confira a
programação:

• Dia 22/09: Retratos da Leitura – O comportamento leitor dos brasileiros


• Dia 29/09: Retratos da Leitura em Bibliotecas – percepções e avaliação
• Dia 06/10: Retratos da Leitura – o perfil, as leituras e as motivações dos leitores de
literatura e dos consumidores de livros
• Dia 13/10: Retratos da Leitura no Brasil – Leituras em outros suportes e leitores
mutantes

Clique aqui para conhecer os debatedores e se inscrever

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Postado em: Leitura e Escrita
TAGS:bibliotecas, bibliotecas públicas, contação de histórias, educação infantil, ensino
fundamental, família, formação de leitores, Ibope Inteligência, incentivo à leitura,
Instituto Pró-Livro, IPL, Itaú Cultural, leitores, leitura, mediação de leitura, mediadores
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Biblioteca na Escola, Programa Nacional do Livro e do Material Didático, Retratos da
leitura no Brasil
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