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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

CENTRO TECNOLÓGICO

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL

KARINA DE OLIVEIRA NASCIMENTO

THIAGO TONONI TURINI

LIGAÇÕES RÍGIDAS EM ESTRUTURAS DE AÇO: PROCEDIMENTOS


E DIMENSIONAMENTO

VITÓRIA

2018
KARINA DE OLIVEIRA NASCIMENTO

THIAGO TONONI TURINI

LIGAÇÕES RÍGIDAS EM ESTRUTURAS DE AÇO: PROCEDIMENTOS


E DIMENSIONAMENTO

Projeto de Graduação apresentado em


cumprimento da graduação em Engenharia
Civil do Centro Tecnológico da Universidade
Federal do Espírito Santo, como requisito
parcial para obtenção do título de Bacharel em
Engenharia Civil.
Orientador: Profº Dr. Macksuel Soares de
Azevedo.

VITÓRIA

2018
LIGAÇÃO EM ESTRUTURAS DE AÇO: PROCEDIMENTOS E
AUTOMATIZAÇÃO DE DIMENSIONAMENTO

Projeto de Graduação apresentado em cumprimento da graduação em Engenharia Civil do


Centro Tecnológico da Universidade Federal do Espírito Santo, como requisito parcial para
obtenção do título de Bacharel em Engenharia Civil.

Aprovado em 06 de dezembro de 2018.

COMISSÃO EXAMINADORA

________________________________________
Prof. Dr. Macksuel Soares de Azevedo
Doutor em Engenharia Civil
Universidade Federal do Espírito Santo
Orientador

________________________________________
Prof. M. Sc. Marcos Antonio Campos Rodrigues
Mestre em Engenharia Civil
Universidade Federal do Espírito Santo
Membro interno

________________________________________
Prof. Dr. Adenilcia Fernada Grobério Calenzani
Doutora em Engenharia Civil
Universidade Federal do Espírito Santo
Membro interno
AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradecemos a Deus por sua presença todos os dias durante o


desenvolvimento deste projeto, nos concedendo força nos momentos onde esta nos faltava,
sabedoria quando os problemas nos desafiavam e amparo quando precisávamos.

Ao nosso orientador, professor Macksuel Soares de Azevedo pela paciência, dedicação,


amizade e por compartilhar conosco um pouco de seus conhecimentos a cada esclarecimento.

Agradecemos também aos nossos familiares, amigos e namorado(a) pelo apoio prático e
emocional, além dos conselhos, dos bons momentos de riso e compreensão quando a nossa
ausência se fez necessária.
RESUMO

A utilização do aço como elemento estrutural na construção civil traz muitos benefícios
durante a realização de uma obra, como redução no tempo de execução, maior garantia na
qualidade, diminuição dos depósitos no canteiro, maior organização e limpeza. Por essas
vantagens, o uso do aço no Brasil tem aumentado. As ligações em estruturas de aço são
responsáveis pela transmissão dos esforços entre seus elementos, sendo de primordial
importância o seu correto dimensionamento. Entretanto, poucos programas computacionais,
acessíveis a classe acadêmica, apresentam a análise completa das regiões nodais da união
entre os elementos de aço. O objetivo deste projeto de graduação é o desenvolvimento de um
programa computacional, em Visual Basic for Applications do Microsoft Excel, para
automatização e análise das ligações rígidas mais utilizadas em sistemas estruturais de aço.
Para tanto, utilizou-se a metodologia de cálculo da ABNT NBR 8800:2008 onde se verifica as
disposições construtivas e os estados limites últimos de cada componente presente nas
ligações. Na validação do programa desenvolvido, utilizaram-se referências da literatura
técnica sobre o tema, a fim de comparar os resultados obtidos sendo possível observar a
precisão do programa.

Palavras chaves: Estrutura de Aço, Ligações Rígidas, Ligações soldadas, Ligações


parafusadas, Dimensionamento de Ligações.
ABSTRACT

The use of steel as structural element in civil construction brings a lot of benefits during
construction realization, like time reduction, quality guarantees, warehouse decrease, better
organization and cleaning. For these vantages, the use of steel in Brazil has grown. The
connections in steel structures are responsible for strain transmissions in your elements, it’s
crucial to have them well designed. However, there is a small amount of computer programs,
accessible to academics, to show complete analysis from nodal regions of union between steel
elements. The objective of the work is the development of a computer program, in Visual
Basic for Applications of Microsoft Excel, to automatize and analyse rigid connections more
used in steel structural systems. Therefore, was used a calculus methodology from ABNT
NBR 8800:2008 where verify constructive arrangements and limit states in wich component
in connections. To validate the develop program, it was used technical literature references, in
order to compare obtained results being possible to note precision of the program.

Keywords: Steel structures; Rigid connections; Welded connections; Screwed connections.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Comportamento de ligação flexível ........................................................................... 13

Figura 2 – Comportamento de ligação rígida .............................................................................. 14

Figura 3 – Classificação das ligações .......................................................................................... 14

Figura 4 - Transmissão de cisalhamento em ligação por atrito .................................................. 17

Figura 5 - Tipos de furos e medidas ............................................................................................. 18

Figura 6 – Representação de esforços produzidos pelo efeito alavanca .................................... 22

Figura 7 - Região de influência do parafuso para o efeito alavanca .......................................... 23

Figura 8 - Exemplos de planos de cisalhamento ......................................................................... 25

Figura 9 - Colapso por pressão de contato................................................................................... 26

Figura 10 - Colapso por rasgamento de chapa ............................................................................ 27

Figura 11 – Região onde não é permitida pintura em superfícies pintadas ou jateadas. .......... 30

Figura 12 - Entalhes em chanfro nas peças ................................................................................. 31

Figura 13 - Distribuição de tensões em soldas de filete e de entralhe ....................................... 31

Figura 14 - Solda de filete ............................................................................................................ 32

Figura 15 - Solda de filete intercalada ......................................................................................... 32

Figura 16 - Tipos de juntas de solda ............................................................................................ 33

Figura 17 - Simbologia de solda para projetos ............................................................................ 33

Figura 18 - Exemplos de representação de solda em projeto ..................................................... 34

Figura 19 - Posições de soldagem ................................................................................................ 34

Figura 20 - Esforços solicitantes em soldas (a) normais e (b) cisalhantes ................................ 36

Figura 21 – Região de atuação das tensões na solda de penetração total. ................................. 38

Figura 45 – Seções de ruptura em ligações soldadas .................................................................. 40

Figura 22 - Dimensão máxima de filete de solda ........................................................................ 41

Figura 23 - Dimensão mínima do filete de solda ........................................................................ 42


Figura 24 – Comprimento de filetes mínimos em chapas submetidas a esforço axial ............. 42

Figura 25 - Distribuição não-uniforme das tensões em ligações de elementos tracionados .... 44

Figura 26 - Furação de elemento plano e possíveis formas de ruptura ...................................... 45

Figura 27 – Ligação com parafusos em perfil I........................................................................... 47

Figura 28 - Área líquida em cantoneiras ...................................................................................... 48

Figura 29 - Perfil I ligado pelas mesas e pela alma..................................................................... 48

Figura 30 - Cantoneira ligada por solda transversal ................................................................... 49

Figura 31 - Excentricidade em perfis de seção aberta ................................................................ 49

Figura 32 - Chapa com solda longitudinal ................................................................................... 50

Figura 33 - Chapa com solda longitudinal e transversal ............................................................. 50

Figura 34 - Excentricidade em barras com seções tubulares retangulares ................................ 51

Figura 35 - Excentricidade em barras com seção transversal tubular circular .......................... 51

Figura 36 - Largura efetiva na seção de Whitmore ..................................................................... 52

Figura 37 - Modo de ruptura de barra comprimida ..................................................................... 54

Figura 38 - Variação de 𝜒 com o aumento do índice de esbeltez reduzido (𝜆𝑜) ...................... 54

Figura 39 – Elemento AL em ligação rígida ............................................................................... 55

Figura 40 - Compressão de elemento AA.................................................................................... 57

Figura 41 - Comprimento efetivo ................................................................................................. 58

Figura 42 – Colapso por rasgamento em perfil I ......................................................................... 61

Figura 43 - Colapso por rasgamento em cantoneira ................................................................... 62

Figura 44 – Variações de 𝐶𝑡𝑠 ...................................................................................................... 62

Figura 46 - Ligação Viga-Pilar com chapa de topo .................................................................... 63

Figura 47 - Disposições usuais de parafusos em ligações viga-pilar ......................................... 64

Figura 48 – Identificação de 𝑑𝑛 em ligação assimétrica ............................................................ 64

Figura 49 - Efeito alavanca com diagrama de momento fletor usado em cálculo em destaque.
........................................................................................................................................................ 65
Figura 50 - Efeito alavanca para mais de uma linha de parafuso em cada lado da chapa
(medidas em milímetros). ............................................................................................................. 65

Figura 51 - Modelo de cálculo proposto para análise da flexão na chapa ................................. 66

Figura 52 – Resultados obtidos pelo FTOOL. (a) Diagrama de momento fletor (kN.m); (b)
Deformação da chapa. ................................................................................................................... 67

Figura 53 – Ligação excêntrica (a) parafusada e (b) soldada. .................................................... 68

Figura 54- Console perpendicular a mesa de pilar ...................................................................... 68

Figura 55 – Tela inicial do programa computacional desenvolvido .......................................... 69

Figura 56 - Menu principal ........................................................................................................... 70

Figura 57 – Tela de dados de entrada do programa .................................................................... 70

Figura 58 – Tela de verificação de disposições construtivas ..................................................... 71

Figura 59 – Tela de verificação de estados-limites últimos ....................................................... 72

Figura 60 - Relatório de verificações realizadas pelo programa ................................................ 73

Figura 61 - Exemplo 1: ligação entre viga e pilar com chapa de topo....................................... 74

Figura 62 – Identificação de menor distância entre furos por TK Ligações Rígidas (a) e por
Fakury et al (b). ............................................................................................................................. 75

Figura 63 – Exemplo 2: ligação excêntrica parafusada de chapa console ................................. 79

Figura 64 – Parâmetros da ligação excêntrica parafusada de chapa console ............................ 82

Figura 65 - Parâmetros da ligação excêntrica soldada de chapa console .................................. 82

Figura 66 – Exemplo 4: ligação excêntrica parafusada em console “T” ................................... 85

Figura 67 – Adaptações do exemplo 4 as condições iniciais de software de cálculo ............... 86


LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Propriedades dos aços utilizados nos parafusos e seus diâmetros comerciais ........ 16

Tabela 2 - Folga dos furos em função do diâmetro do parafuso ou barra ................................. 19

Tabela 3 - Distâncias mínimas de centro de furo a borda........................................................... 20

Tabela 4 - Força mínima de protensão de parafusos ................................................................... 29

Tabela 5 - Compatibilização de eletrodo com metal - base ........................................................ 35

Tabela 6 - Dimensões mínimas do filete de solda....................................................................... 41

Tabela 7 - Esbeltez limite para ocorrência de flambagem local................................................. 56

Tabela 8 - Comparação entre método da norma e método sugerido .......................................... 67

Tabela 9 – Validação das disposições construtivas do exemplo 1 ............................................. 75

Tabela 10 - Validação dos estados-limite últimos do exemplo 1 ............................................... 76

Tabela 11 – Validação dos estados-limite últimos do exemplo 1 .............................................. 77

Tabela 12 - Validação dos estados-limite últimos do exemplo 1 ............................................... 78

Tabela 13 – Validação das disposições construtivas do exemplo 2 ........................................... 80

Tabela 14 - Validação dos estados-limite últimos do exemplo 2 ............................................... 80

Tabela 15 – Validação dos estados-limite últimos do exemplo 2 .............................................. 81

Tabela 16 – Validação das disposições construtivas da perna da solda de filete do exemplo 3


........................................................................................................................................................ 83

Tabela 17 – Validação dos estados-limite últimos do exemplo 3 .............................................. 83

Tabela 18 - Análise de dimensionamento de exemplo ............................................................... 84

Tabela 19 – Validação das disposições construtivas do exemplo 4 ........................................... 85

Tabela 20 – Validação dos estados-limite últimos do exemplo 4 .............................................. 87


SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 12

1.1 CLASSIFICAÇÃO DA LIGAÇÃO QUANTO A RIGIDEZ ..................................... 13

1.1.1 Ligações flexíveis ................................................................................................... 13

1.1.2 Ligações rígidas ...................................................................................................... 13

1.1.3 Ligações semirrígidas............................................................................................. 14

1.2 OBJETIVOS................................................................................................................... 15

1.2.1 Objetivo Geral ........................................................................................................ 15

1.2.2 Objetivos Específicos ............................................................................................. 15

1.3 JUSTIFICATIVA .......................................................................................................... 15

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................................ 16

2.1 ESTUDO DOS PARAFUSOS ...................................................................................... 16

2.1.1 Tipos de furos ......................................................................................................... 18

2.1.2 Disposições construtivas dos parafusos ................................................................ 19

2.1.3 Dimensionamento dos parafusos ........................................................................... 21

2.2 ESTUDO DAS SOLDAS .............................................................................................. 30

2.2.1 Tipos de solda, união de peças e posições de soldagem ...................................... 30

2.2.2 Simbologia das soldas. ........................................................................................... 33

2.2.3 Posições de solda .................................................................................................... 34

2.2.4 Tipos de metal de solda e compatibilização com metal-base .............................. 35

2.2.5 Tensões solicitantes em soldas ou grupos de solda .............................................. 36

2.2.6 Dimensionamento das soldas................................................................................. 38

2.2.7 Disposições construtivas das soldas ...................................................................... 40

2.3 ELEMENTOS DE LIGAÇÕES .................................................................................... 43

2.3.1 Elementos submetidos à tração ............................................................................. 43

2.3.2 Elementos submetidos à compressão .................................................................... 52


2.3.3 Elementos submetidos à cisalhamento .................................................................. 60

2.3.4 Elementos submetidos a momento fletor .............................................................. 60

2.3.5 Elementos submetidos a esforços combinados..................................................... 61

2.3.6 Colapso por rasgamento ......................................................................................... 61

3 TIPOS DE LIGAÇÕES RÍGIDAS ...................................................................................... 63

3.1 LIGAÇÃO ENTRE VIGA E PILAR COM CHAPA DE TOPO ............................... 63

3.2 LIGAÇÃO EXCÊNTRICA PARALELA A MESA DO PILAR ............................... 68

3.3 LIGAÇÃO EXCÊNTRICA PARAFUSADA DE CONSOLE EM “T” .................... 68

4 PROGRAMA COMPUTACIONAL DESENVOLVIDO ................................................. 69

4.1 RESULTADOS .............................................................................................................. 73

4.1.1 Ligação entre viga e pilar com chapa de topo ...................................................... 74

4.1.2 Ligação excêntrica parafusada de chapa console ................................................. 79

4.1.3 Ligação excêntrica soldada de chapa console ...................................................... 82

4.1.4 Ligação excêntrica parafusada em console T ....................................................... 84

5 CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS .............................. 89

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................ 90


12

1 INTRODUÇÃO

A utilização de elementos estruturais de aço permite o desenvolvimento de empreendimentos


não apenas com maior precisão construtiva e leves, como também com alta capacidade
portante. Desta forma, é possível construir pontes, edifícios de múltiplos andares, plataformas
“off-shore”, estádios e galpões.

Entretanto, para que as estruturas tenham propriedades como rigidez, capacidade resistente e
estabilidade preservadas, os elementos que a compõem precisam estar unidos por meio de
vínculos que transmitem, de forma satisfatória, os esforços entre os elementos estruturais e
resistam conjuntamente a eles. Esses vínculos são denominados ligações.

De acordo com Fakury, Silva e Caldas (2016), as ligações em estruturas de aço são compostas
por duas partes: elementos de ligação, tais como cantoneiras, enrijecedores e chapas; e meios
de ligação, sendo os parafusos e soldas.

Tanto o primeiro como o segundo grupo devem ser dimensionados seguindo os estados
limites últimos (para casos de estruturas usando toda a sua capacidade de carga) ou para os
estados limites de serviço (para casos de análise de estruturas em situações normais de uso).

Para determinação do tipo de ligação a se utilizar em projeto, deve-se observar sua


classificação quanto a rigidez, ou seja, quanto à capacidade de seus elementos integrantes
girarem relativamente entre si, definindo assim a transmissão ou não de momento fletor entre
as peças. Em geral, as ligações em estruturas de aço são classificadas como rígidas,
semirrígidas e flexíveis, porém na prática, se considera as ligações como flexíveis (rotuladas)
ou rígidas (engastadas), uma vez que, para ligações semirrígidas é necessário definir a relação
entre rotação e transferência de momento, algo muito difícil de ser determinado por meio de
cálculos, sendo necessário ensaios em laboratório, o que faria aumentar consideravelmente o
custo e o tempo para realização do projeto.

Diante disso, neste trabalho abordaremos a análise do dimensionamento dos meios e dos
elementos de ligação, disposições construtivas, características mecânicas do aço e estados
limites a serem observados.
13

1.1 CLASSIFICAÇÃO DA LIGAÇÃO QUANTO A RIGIDEZ

1.1.1 Ligações flexíveis

De acordo com Pfeil e Pfeil (2009), ligações flexíveis são aquelas que permitem rotação
relativa entre as peças (Figura 1) com um comportamento próximo ao de uma rótula, e
transmitindo um pequeno momento fletor. Isso se dá devido a não possibilidade de
construção, na prática, de uma ligação que represente de fato o comportamento de uma rótula
perfeita, admitindo assim a transmissão de momento fletor de baixo valor e tomando-o como
nulo, porém há a transmissão integral de força cortante e axial.

Figura 1 – Comportamento de ligação flexível

Fonte: Fakury, Silva e Caldas (2016).

1.1.2 Ligações rígidas

Admite-se como ligação rígida quando esta apresenta rotação aproximadamente nula em
relação aos seus elementos componentes (Figura 2), de forma a se obter transmissão integral
de todos os esforços entre as peças.
14

Figura 2 – Comportamento de ligação rígida

Fonte: Fakury, Silva e Caldas (2016).

1.1.3 Ligações semirrígidas

Aquela o qual apresenta comportamento intermediário entre os de ligações rígidas e flexíveis


(Figura 3). Porém esta se mostra pouco usual na prática, por apresentar dificuldades na
obtenção da relação entre momento transmitido e rotação relativa.

Figura 3 – Classificação das ligações

Fonte: Pfeil e Pfeil (2009).


15

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 Objetivo Geral


O objetivo geral deste projeto de graduação é a elaboração de um programa computacional
para o dimensionamento de ligações rígidas mais utilizadas em estruturas de aço.

1.2.2 Objetivos Específicos

Os objetivos específicos são:

• Obter conhecimento por meio de pesquisa bibliográfica de estudos relativos ao


dimensionamento de ligações rígidas em estruturas de aço;
• Aprender a linguagem de programação Visual Basic for Applications (VBA) do
Microsoft Excel para o desenvolvimento do programa computacional capaz de fazer a
verificação do dimensionamento de ligações rígidas em estruturas de aço;
• Validar os resultados obtidos por meio da literatura técnica.

1.3 JUSTIFICATIVA

A utilização do aço como elemento estrutural na construção civil traz muitos benefícios
durante a realização de uma obra, como redução no tempo de execução, maior garantia na
qualidade, diminuição dos depósitos no canteiro, maior organização e limpeza. Por essas
vantagens, o uso do aço no Brasil tem aumentado. "A construção em aço representa
atualmente cerca de 15% do universo do setor de edificações no Brasil", afirma Carolina
Fonseca (2015), gerente executiva do Centro Brasileiro da Construção do Aço (CBCA).
Porém, para exercerem desempenho efetivo de sua capacidade resistente, as estruturas de aço
precisam estar conectadas entre si por meio de ligações que garantem integridade na
transmissão dos esforços. Dessa forma, destaca-se a importância do correto dimensionamento
das ligações em estruturas de aço, uma vez que a presença de falhas nesses elementos pode
acarretar mau funcionamento da estrutura e até o colapso.
Entretanto, atualmente, poucos programas computacionais, acessíveis a classe acadêmica,
apresentam a análise das regiões de ligação entre elementos estruturais de aço, isso faz com
que a utilização de métodos manuais de cálculo, presentes na literatura, surjam como
alternativa, mais viável, para o dimensionamento, podendo acarretar erros. Nesse contexto, o
16

programa computacional elaborado neste trabalho visa automatizar a verificação de


dimensionamento de ligações rígidas em estruturas de aço, gerando maior agilidade no
processo e segurança para as edificações.

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 ESTUDO DOS PARAFUSOS

Os parafusos são elementos responsáveis por prover a estabilização das estruturas devido ao
seu aperto na região das ligações. São formados por uma barra redonda, onde em uma
extremidade é rosqueada e na outra possui cabeça, podendo ser quadrada ou sextavada, que
possibilita a utilização de ferramentas para realizar o seu aperto.

Os parafusos podem ser separados em dois tipos, os comuns (que usam aço com baixo teor de
carbono, o que resulta a baixa resistência) e os de alta resistência (que usam aço com alto teor
de carbono). Os parafusos comuns são formados pelos aços ASTM 307 e ISO 898-1 Classe
4.6. Os parafusos de alta resistência são formados pelos aços ASTM A325 ou A490 e ISO
4016 Classe 8.8 ou 10.9. A Tabela 1 descreve as tensões características de cada tipo de aço.

Tabela 1 – Propriedades dos aços utilizados nos parafusos e seus diâmetros comerciais

(continua)

Tensão de Tensão de Diâmetros


Escoamento Ruptura Comerciais
Tipo Especificação
(MPa) (MPa) mm Pol.

ASTM A307 - 415 - ½a4


Comum
ISO 898-1
235 400 12 a 36 -
Classe 4.6

635 825 16 a 24 1/2 a 1


ASTM A325
Alta
560 725 24 a 36 1a1½
Resistência
ASTM A490 895 1035 16 a 36 ½a 1½
17

Tabela 1 – Propriedades dos aços utilizados nos parafusos e seus diâmetros comerciais

(conclusão)

Tensão de Tensão de Diâmetros


Escoamento Ruptura Comerciais
Tipo Especificação
(MPa) (MPa) mm Pol.

ISO 4016
640 800 12 a 36 -
Classe 8.8
Alta
Resistência
ISO 4016
900 1000 12 a 36 -
Classe 10.9

Fonte: Fakury, Caldas e Silva (2016)

O tipo de aço do parafuso está ligado diretamente aos esforços que o mesmo suporta, visto
que os parafusos comuns podem estar submetidos apenas aos esforços por contato, devido a
sua baixa resistência. Os parafusos de alta resistência podem sofrer esforços por contato ou
por atrito, sendo este último devido a pretensão dos parafusos.

Nas ligações por atrito, os esforços são resistidos numa primeira fase por esse atrito (Figura 4)
e, em uma segunda fase, quando o atrito é vencido e ocorre o deslizamento relativo das peças,
ocorrendo contato do corpo dos parafusos com as paredes do furo.

Figura 4 - Transmissão de cisalhamento em ligação por atrito

Fonte: Autores.
18

Em determinados projetos, para garantir que os estados limites de serviço não sejam
ultrapassados em algumas situações, pode ser empregado durante o aperto do parafuso uma
pretensão inicial, sendo esta, no valor mínimo de 70% do valor da força de tração resistente
nominal.

2.1.1 Tipos de furos

Nas ligações de estruturas de aço é possível ter grande precisão em suas medidas, de modo
que, um pequeno erro na locação de um furo em uma peça pode fazer com que os furos
localizados em outra peça não coincidam, sendo necessário alargar o furo ou fazer outro furo.
Esses procedimentos podem ocasionar pontos de fragilidade na ligação, gerando folga no
local do parafuso e ocorrendo deslocamento relativo entre as peças, podendo danificar a
estrutura como um todo.

Buscando evitar esses problemas, foram definidos, além do furo-padrão, outros três tipos de
furos, sendo usados em situações aonde a precisão para montagem não é alta, tendo assim
uma folga para o operador conseguir realizar seu serviço. Esses furos são identificados na
Figura 5, tendo as folgas definidas pela Tabela 2. Um exemplo onde os furos alargados ou
alongados podem ser imprescindíveis é para fixação de um elemento de aço em estruturas de
concreto, onde, caso o centro do furo esteja na direção de uma barra da armadura do concreto,
é possível deslocar esse parafuso sem grandes problemas, não afetando a estrutura como um
todo.

Figura 5 - Tipos de furos e medidas

Fonte: Autores.
19

Tabela 2 - Folga dos furos em função do diâmetro do parafuso ou barra

Diâmetro do Furo
Furo Padrão Furo Pouco Alongado Furo muito alongado
parafuso Alargado

𝒅(𝒎𝒎) 𝒅𝒉 (𝒎𝒎) 𝒅𝒉 (𝒎𝒎) 𝒅𝒉 (𝒎𝒎) 𝑳𝟏 (𝒎𝒎) 𝒅𝒉 (𝒎𝒎) 𝑳𝟐 (𝒎𝒎)

≤ 22,2 𝑑 + 1,6 𝑑 + 4,8 𝑑 + 1,6 𝑑 + 6,3 𝑑 + 1,6 2,5𝑑

25,4 27 31,8 27 33,3 27 63,5

≥ 28,6 𝑑 + 1,6 𝑑 + 7,9 𝑑 + 1,6 𝑑 + 9,5 𝑑 + 1,6 2,5𝑑

Fonte: ABNT NBR 8800:2008

A NBR 8800:2008 ainda prevê que, caso os furos nas peças sejam feitos por meio de punção,
deve-se acrescentar uma folga de dois milímetros no diâmetro do furo, devido ao desgaste que
a borda do furo tem quando é realizado esse processo.

2.1.2 Disposições construtivas dos parafusos

A ABNT NBR 8800:2008 determina alguns limites mínimos e máximos para disposição de
furos dos parafusos em ligações, com o intuito de minimizar problemas nessas regiões,
geralmente mais fracas por terem muito manuseio nas operações (soldas, furos, lixamentos e
outros), ou por questões executivas da ligação. Portanto, temos as seguintes disposições
mínimas construtivas que devem ser seguidas nos projetos em aço:

a) Distância mínima e máxima do centro de um furo a borda mais próxima;

Essa distância deve respeitar as medidas informadas na Tabela 3, que varia de acordo com o
procedimento de corte da peça.

Para furos alargados, alongados e muito alongados, existe uma parcela 𝛽𝑑𝑏 , sendo:

𝛽 = 0 para furos alongados na direção paralela a borda considerada;

𝛽 = 0,12 para furos alargados;

𝛽 = 0,20 para furos alongados na direção perpendicular a borda considerada;

𝛽 = 0,75 para furos muito alongados na direção perpendicular a borda considerada.


20

Tabela 3 - Distâncias mínimas de centro de furo a borda

Diâmetro do Borda cortada com Borda laminada ou


parafuso (𝒅𝒃 ) serra ou tesoura cortada a maçarico

pol. mm mm Mm
1/2 22 19
5/8 16 29 22
3/4 32 26
20 35 27
7/8 22 38 29
24 42 31
1 44 32
1 1/8 27 50 38
30 53 39
1 1/4 57 42
36 64 46
> 1 1/4 > 36 1,75𝑑𝑏 1,25𝑑𝑏

Fonte: ABNT NBR 8800:2008

Os limites entre o centro de furo e a borda são estabelecidos na Inequação 2.1.

𝑒𝑓𝑏 ≤ 12 𝑡 ; 𝑒𝑓𝑏 ≤ 150𝑚𝑚 (2.1)

Sendo 𝑡 a espessura da chapa mais fina.

b) Espaçamento mínimo e máximo entre centros de furos;

O espaçamento mínimo entre centros de furos não deve ser menor do que 3𝑑𝑏 , porém, devido
a necessidades construtivas, pode ser reduzido a 2,7𝑑𝑏 .

A distância máxima depende de como é o tratamento do aço da ligação, sendo definido:

• Entre centro de furos com elementos resistentes à corrosão não pintados (Inequação
2.2).
21

𝑒𝑓𝑓 ≤ 14 𝑡 ; 𝑒𝑓𝑓 ≤ 180𝑚𝑚 (2.2)

• Entre centros de furos com elementos pintados ou não sujeitos a corrosão (Inequação
2.3).

𝑒𝑓𝑓 ≤ 24 𝑡 ; 𝑒𝑓𝑓 ≤ 300𝑚𝑚 (2.3)

c) Distância mínima entre bordas de furos:

A distância mínima entre bordas de furos não pode ser menor do que um diâmetro de furo,
como mostra a Inequação 2.4.

𝑒𝑏𝑏 ≥ 𝑑𝑏 (2.4)

d) Distância de centro de furo a chapa:

A distância mínima entre centro de furo e chapa deve respeitar a Inequação 2.5.

𝑒𝑓𝑐 ≥ 1,35 𝑑𝑏 (2.5)

2.1.3 Dimensionamento dos parafusos

a) Parafusos submetidos à tração

Em ligações onde há a presença de parafusos submetidos à força de tração, ocorrem dois


estados limites, tração no parafuso e flexão na chapa. A ABNT NBR 8800:2008 verifica o
parafuso à tração conforme as Equações 2.6, 2.7 e 2.8.

𝐹𝑆𝑑 (2.6)
𝐹𝑡,𝑆𝑑 =
𝑛𝑡

𝜙𝑎 𝐴𝑏𝑒 𝑓𝑢𝑏 (2.7)


𝐹𝑡,𝑅𝑑 =
𝛾𝑎2

𝐴𝑏𝑒 = 0,75 𝐴𝑏 (2.8)


22

Sendo:

𝐹𝑡,𝑆𝑑 a força de tração em cada parafuso da ligação;

𝐹𝑆𝑑 a força de tração total da ligação;

𝑛𝑡 o número de parafusos tracionados da ligação;

𝛾𝑎2 o coeficiente de ponderação de resistência do aço para ruptura;

𝜙𝑎 o fator de redução devido ao efeito alavanca, explicado abaixo;

𝐴𝑏𝑒 a área efetiva da seção transversal do parafuso, sendo uma área média entre a seção do
parafuso na região que não tem rosca e a área na raiz da rosca;

𝑓𝑢𝑏 a tensão de ruptura do aço do parafuso.

A flexão na chapa, também denominado efeito alavanca, ocorre devido a força de tração da
ligação com parafusos que promove a deformação das chapas unidas pelo mesmo. Essa
deformação promove o aparecimento de forças nas extremidades da chapa (força Q conforme
Figura 6), ocasionando um momento fletor que deve ser combatido pelos parafusos.

Figura 6 – Representação de esforços produzidos pelo efeito alavanca

Fonte: Fakury, Silva e Caldas (2016).

A determinação dessa força é complexa, visto que depende, principalmente, da espessura da


chapa e da geometria da ligação. Desta forma, a ABNT NBR 8800:2008 determina dois
procedimentos simplificados que conseguem prever esse efeito, sendo necessário apenas
atender um para ter o efeito alavanca considerado no dimensionamento.
23

• Na determinação das espessuras das chapas das partes ligadas, for empregado o
momento resistente plástico e a força resistente for reduzida de 33%, ou seja, 𝜙𝑎 =
0,67.
• Na determinação das espessuras das chapas das partes ligadas, for empregado o
momento resistente elástico e a força resistente for reduzida de 25%, ou seja, 𝜙𝑎 =
0,75.

Os parafusos tracionados não ficam no centro geométrico da peça e geram um momento fletor
na chapa da ligação. Assim como todo dimensionamento, deve respeitar a Inequação (2.9).

𝑀𝑆𝑑 ≤ 𝑀𝑅𝑑 (2.9)

Sendo 𝑀𝑆𝑑 o momento fletor solicitante de cálculo, dado pela Equação 2.10, e 𝑀𝑅𝑑 o
momento fletor resistente de cálculo.

𝑀𝑠𝑑 = 𝐹𝑡,𝑆𝑑 𝑏 (2.10)

Sendo 𝑏 e 𝑎 definidos conforme Figura 7. Para que o procedimento de cálculo seja válido, a
dimensão 𝑎 não pode ser menor que a dimensão 𝑏.

Figura 7 - Região de influência do parafuso para o efeito alavanca

Fonte: Autores

O momento fletor resistente da chapa depende da análise escolhida para considerar o efeito
alavanca. A equação 2.11 estabelece o momento resistente plástico.
24

𝑀𝑝𝑙 𝑍 𝑓𝑦 𝑝 𝑡 2 𝑓𝑦 (2.11)
𝑀𝑅𝑑 = = =
𝛾𝑎1 𝛾𝑎1 4 𝛾𝑎1

Sendo:

𝑀𝑝𝑙 o momento fletor resistente de plastificação do aço;

𝛾𝑎1 o coeficiente de ponderação da resistência do aço a escoamento;

𝑍 o módulo resistente plástico do aço;

𝑓𝑦 a tensão de escoamento do aço da chapa;

𝑝 a região de influência do parafuso, definido pelas fórmulas.

Se for considerado o momento fletor resistente elástico utiliza-se a Equação 2.12.

𝑀𝑒𝑙 𝑊 𝑓𝑦 𝑝 𝑡 2 𝑓𝑦 (2.12)
𝑀𝑅𝑑 = = =
𝛾𝑎1 𝛾𝑎1 6 𝛾𝑎1

Onde 𝑊 é o módulo resistente elástico do aço.

Sendo 𝑝 a largura de influência do parafuso, definido conforme as Equações 2.13 para


parafusos de borda e 2.14 para parafusos internos.

𝑒2 𝑒1 (2.13)
⁄2
𝑝 = (< { 𝑏 + 0,5𝑑 ) + (< { )
𝑏 𝑏 + 0,5𝑑𝑏

𝑒1 (2.14)
⁄2
𝑝 = 2 (< { )
𝑏 + 0,5𝑑𝑏

b) Parafusos submetidos ao cisalhamento

Quando os parafusos estão submetidos à força de cisalhamento, leva-se em consideração o


local por onde o plano de cisalhamento intercepta o parafuso (na rosca ou no fuste), sendo
plano de cisalhamento as seções do parafuso onde há forças cisalhantes de sentidos inversos.
25

Figura 8 - Exemplos de planos de cisalhamento

Fonte: Autores

É importante levar isso em consideração, pois a região da rosca tem uma seção transversal
menor que o fuste, reduzindo a resistência do parafuso.

Com as considerações citadas, conseguimos definir os esforços resistentes e solicitantes com


as Equações 2.15 e 2.16.

𝐹𝑣,𝑆𝑑 (2.15)
𝐹𝑣,𝑆𝑑1 =
𝑛𝑝 𝑛𝑠

𝑐 𝐴𝑏 𝑓𝑢𝑏 (2.16)
𝐹𝑣,𝑅𝑑 =
𝛾𝑎2

Sendo:

𝐹𝑣,𝑆𝑑1 a força solicitante de cisalhamento em apenas um parafuso da ligação;

𝐹𝑣,𝑅𝑑 a força resistente de cisalhamento em apenas um parafuso da ligação;

𝑐 o coeficiente que depende do aço do parafuso e se a força cisalhante está passando na rosca
ou no fuste do parafuso:

0,4 para parafusos formados com aço comum e para parafusos formados com aço de
alta resistência com a força cisalhante interceptando a rosca;

0,5 para parafusos formados com aço de alta resistência com a força cisalhante não
interceptando a rosca.

𝑛𝑠 o número de planos de corte que passam pelo parafuso;

𝑛𝑝 o número de parafusos que resistem a força cortante.


26

c) Esforços combinados de tração e cisalhamento no parafuso

Porém, não é em todos os casos que se atuam apenas uma das forças, sendo importante
também colocar limitações quando temos o caso de tensões de tração e cisalhamento
ocorrendo nas peças.

Para isso, a ABNT NBR 8800:2008 define que para solicitações combinadas de tração e
cisalhamento deve-se atender a seguinte inequação:

2 2 (2.17)
𝐹𝑡,𝑆𝑑 𝐹𝑣,𝑆𝑑
( ) + ( ) ≤ 1,0
𝐹𝑡,𝑅𝑑 𝐹𝑣,𝑅𝑑

d) Pressão de contato do parafuso na chapa

Quando o parafuso está submetido à força de cisalhamento, deve-se analisar também o


elemento em contato com os parafusos. A força aplicada na região do furo pode ocasionar o
rasgamento da chapa, como na

Figura 10, ou o esmagamento do furo, como na Figura 9. Esse estado limite último é
denominado pressão de contato.

Figura 9 - Colapso por pressão de contato

Fonte: Autores.
27

Figura 10 - Colapso por rasgamento de chapa

Fonte: Autores.

Para fazer o correto dimensionamento dessa situação, a ABNT NBR 8800:2008 estabelece a
Inequação 2.18.

1,2 𝑙𝑓 𝑡 𝑓𝑢
𝛾𝑎2
𝐹𝑐,𝑆𝑑 ≤ 𝐹𝑐,𝑅𝑑 ≤ (2.18)
2,4 𝑑𝑏 𝑡 𝑓𝑢
{ 𝛾𝑎2

Sendo:

𝑙𝑓 é a menor distância, na direção da força, entre a borda do furo e a borda do furo adjacente
ou entre a borda do furo e a borda da parte ligada;

𝑓𝑢 é a tensão de ruptura do aço da chapa analisada.

e) Ligações por atrito

Nas ligações por atrito, deve-se fazer uma verificação adicional para não ocorrer o
deslizamento entre peças parafusadas, pois o deslocamento pode levar a estrutura a entrar no
seu estado limite último ou de serviço, principalmente se os furos usados não forem do tipo
padrão.

Para esse tipo de ligação, a ABNT NBR 8800:2008 recomenda o uso de parafusos de alta
resistência. A ABNT NBR 8800:2008 recomenda também o uso de ligações parafusadas por
atrito ou ligações soldadas, nas situações:

• Emendas de pilares em estruturas com mais de 40m de altura;


28

• Em ligações de vigas com pilares ou em vigas que dependam do sistema de


contraventamento, em estruturas com mais de 40m de altura;
• Ligações ou emendas de treliças de cobertura;
• Contraventamento de pilares;
• Mão francesa ou mísulas para reforço de pórticos;
• Ligações de peças-suporte de pontes rolantes, nas estruturas com pontes rolantes de
capacidade superior a 50 kN;
• Onde a peças sujeitas a ações que produzam impactos ou tensões com inversão
sentido.

Para dimensionamento, a ABNT NBR 8800:2008 descreve que para furos alargados, furos
pouco alongados ou muito alongados na direção paralela a força aplicada, o deslocamento
entre peças deve ser considerado como estado limite último. Já para os furos padrão, pouco
alongados ou muito alongados na direção perpendicular a força aplicada, admite-se o cálculo
para o estado limite de serviço.

A Equação 2.19 estabelece a força resistente ao deslizamento em relação ao estado limite


último.

1,13 𝜇 𝐶ℎ 𝐹𝑇𝑏 𝑛𝑠 𝐹𝑡,𝑆𝑑 (2.19)


𝐹𝑓,𝑅𝑑 = (1 − )
𝛾𝑒 1,13 ∗ 𝐹𝑇𝑏

Para o estado limite de serviço, deve ser atendida a Equação 2.20.

𝐹𝑡,𝑆𝑘 (2.20)
𝐹𝑓,𝑅𝑘 = 0,80 𝜇 𝐶ℎ 𝐹𝑇𝑏 𝑛𝑠 (1 − )
0,80 ∗ 𝐹𝑇𝑏

Sendo:

𝐹𝑇𝑏 a força mínima de pretensão por parafuso, definido pela ABNT NBR 8800:2008,
indicado na tabela 4;

𝐹𝑡,𝑆𝑑 a força de tração solicitante de cálculo;

𝛾𝑒 o coeficiente de ponderação das resistências, sendo 1,20 para combinações normais,


especiais ou de construção e 1,00 para combinações excepcionais;
29

𝜇 o coeficiente de atrito, definido por:

0,35 para superfície laminada, limpa, isenta de óleos ou graxas, sem pintura ou para
superfícies galvanizadas à quente com rugosidade aumentada devido a escova de aço;

0,50 para superfícies jateadas sem pintura;

0,20 para superfícies galvanizadas a quente.

𝐶ℎ o fator de furo, sendo:

1,00 para furo padrão;

0,85 para furos alargados e pouco alongados;

0,70 para furos muito alongados.

𝐹𝑡,𝑆𝑘 a força solicitante característica no parafuso que reduz a força de pretensão, calculada
pelas combinações raras de serviço ou, de forma simplificada, 70% da força de tração
solicitante de cálculo.

Tabela 4 - Força mínima de protensão de parafusos

Diâmetro 𝑑𝑏 𝐹𝑇𝑏 (kN)

Pol mm ASTM A325 ASTM A490


1/2 53 66
5/8 85 106
16 91 114
3/4 125 156
20 142 179
22 176 221
7/8 173 216
24 205 257
1 227 283
27 267 334
1 1/8 250 357
30 326 408
1¼ 317 453
36 475 565
1 1/2 460 659
Fonte: ABNT NBR 8800:2008
30

Para o caso de superfícies laminadas, limpas, isentas de óleos ou graxas ou superfícies


jateadas sem pintura, a região mínima que pode ficar sem tratamento é definida pela Figura
11.

Figura 11 – Região onde não é permitida pintura em superfícies pintadas ou jateadas.

Fonte: ABNT NBR 8800:2008

2.2 ESTUDO DAS SOLDAS

A solda é o meio de ligação mais utilizado devido, principalmente, à sua facilidade de ser
executada, tendo bastante resistência e necessitando de pouca mão de obra. A solda também
consegue ter uma grande vantagem econômica, visto que não precisa de chapas para ligação
de peças, como no caso de ligações parafusadas, e segundo Bellei (1998) é possível
economizar até 15% no peso do aço em estruturas de grande porte, tais como estruturas de
pontes.

2.2.1 Tipos de solda, união de peças e posições de soldagem

O local onde é depositado o eletrodo durante a solda pode ser preparado ou não, levando a
dois tipos de solda, de filete e de penetração, esta última podendo ser total ou parcial.
31

A solda de penetração total é colocada diretamente no encontro das faces das peças a serem
unidas, sendo feito um chanfro para melhor fixação da solda, como mostra a Figura 12. A
característica que diferencia a solda de penetração total da parcial é que a as peças tem
continuação através da solda, como se fossem um único objeto, esse tipo de solda tem a
vantagem de fazer a transmissão de tensões entre os elementos ser a mais uniforme possível.
A Figura 13 mostra a comparação de distribuição de tensões entre soldas de filete e soldas de
penetração.

Figura 12 - Entalhes em chanfro nas peças

Fonte: Autores.

Figura 13 - Distribuição de tensões em soldas de filete e de entralhe

Fonte: Vasconcellos (2011).

As soldas de filete possuem maior facilidade de execução uma vez que não é necessário a
preparação das faces dos elementos a serem ligados. A Figura 14 mostra como é uma solda de
filete.
32

Figura 14 - Solda de filete

Fonte: Autores.

Porém, diferente da solda de penetração, a solda de filete pode ser especificada para ser
intercalada, principalmente quando os elementos a serem unidos não forem muito espessos.
Esse procedimento pode acarretar no empenamento da chapa, devido a alta temperatura em
que ocorre no processo de soldagem. A Figura 15 mostra um exemplo de solda de filete
intercalada.

Figura 15 - Solda de filete intercalada

Fonte: Autores.

Independente do tipo de solda utilizado, o objetivo sempre é a união de peças, que podem ser
de quatro tipos, conforme mostra a Figura 16.
33

Figura 16 - Tipos de juntas de solda

Fonte: Autores.

2.2.2 Simbologia das soldas.


Nos projetos estruturais de aço é muito importante que todas as soldas estejam identificadas,
quanto ao seu tipo, espessura (para os casos de soldas de filete e, caso necessário, o tamanho e
o espaçamento do cordão da solda intermitente), como deve ser feita a sua execução (sendo
em campo ou não) e outros dados que o calculista julgar necessário ser informado. Apesar de
não existir uma norma que defina um padrão para as simbologias de solda, uma vez que a
ABNT NBR 7165:1982 foi cancelada em dezembro de 2012, os seus símbolos são usados até
hoje como simbologia padrão para projetos. A Figura 17 mostra os símbolos com seus
respectivos significados e a Figura 18 mostra exemplos das simbologias em uso.
Figura 17 - Simbologia de solda para projetos

Fonte: Autores
34

Figura 18 - Exemplos de representação de solda em projeto

Fonte: Autores

Essa simbologia ainda tem alguns requisitos:

O lado o qual a seta aponta é o lado de execução do trabalho;

Soldas para ambos os lados e do mesmo tipo tem as mesmas dimensões, exceto
quando indicado;

As soldas são consideradas contínuas, exceto aonde indicado seu passo;

A bifurcação do símbolo é usada quando se tem especificações para aquela solda.


Caso não tenha, ela deve ser omitida;

Dimensões sempre em milímetros;

Caso o símbolo de solda esteja no lado superior da seta, significa que a solda é na
posição indicada, mas no lado oposto.

2.2.3 Posições de solda

Segundo Fakury, Caldas e Silva (2016) existem quatro tipos de posições de soldagens, plana,
horizontal, vertical e sobrecabeça, mostradas na Figura 19. A utilização de cada uma depende
do posicionamento do local da solda e em que momento da montagem da estrutura de aço está
ocorrendo a solda, sendo a plana a melhor posição e a de sobrecabeça a pior.

Figura 19 - Posições de soldagem

Fonte: Autores
35

2.2.4 Tipos de metal de solda e compatibilização com metal-base

Existem vários tipos de metal de solda, classificados de acordo com a resistência que se
obtém após a sua aplicação na ligação. Conforme Dos Santos (1977) a classificação é feita da
seguinte forma:

EXX Y1Y2

Onde:

• XX identifica a resistência do eletrodo, sendo:

60 = resistência a tração de 60000 𝑙𝑏𝑠⁄𝑝𝑜𝑙2 ou 413 MPa;

70 = resistência a tração de 70000 𝑙𝑏𝑠⁄𝑝𝑜𝑙2 ou 483 MPa;

80 = resistência a tração de 80000 𝑙𝑏𝑠⁄𝑝𝑜𝑙2 ou 552 MPa;

110 = resistência a tração de 110000 𝑙𝑏𝑠⁄𝑝𝑜𝑙2 ou 759 MPa.

• Y1 identifica as posições que a solda pode ser realizada, sendo:

1 = Todas as posições;

2 = Horizontal e plana somente;

3 = Plana somente.

• Y2 identifica o revestimento do eletrodo.

Ainda segundo Fakury, Silva e Caldas (2016), o eletrodo a ser escolhido para a solda deve ter
pelo menos a resistência de ruptura a tração maior do que a resistência ao escoamento do
metal base onde essa solda será aplicada, conforme mostra a Tabela 5.

Tabela 5 - Compatibilização de eletrodo com metal - base

Eletrodo Resistência 𝑓𝑤 (MPa) Metal-base compatível

Classe 6 ou 60 415 𝑓𝑦 ≤ 250 MPa; 𝑡 ≤ 19 mm

Classe 7 ou 70 485 𝑓𝑦 ≤ 380 MPa

Classe 8 ou 80 550 𝑓𝑦 ≤ 450 MPa

Fonte: Fakury, Silva e Caldas (2016).


36

Porém, existem outros cuidados que devem ser tomados com relação a solda de componentes
de aço. Por exemplo, a solda não tem efeito em componentes galvanizados, visto que a
camada de zinco que compõe o material não permite que ocorra a fusão entre o metal da solda
e o metal base.

Além disso, em emenda de perfis que possuem grande espessura (no caso de perfis soldados
com mesa acima de 50 mm e perfis laminados com mesa acima de 44 mm) deve-se fazer um
pré-aquecimento da peça para uma temperatura superior a 175 ºC, visto que somente o calor
fornecido pelo equipamento de solda não é suficiente para fazer ocorrer a fusão dos dois
metais.

2.2.5 Tensões solicitantes em soldas ou grupos de solda

Por ser um elemento com o comprimento muito maior que as medidas da sua seção
transversal, as soldas podem ser consideradas como linhas, não sendo necessário considerar a
sua espessura no momento de calcular as suas propriedades geométricas. Além disso, podem
ser consideradas como um único objeto, também facilitando o cálculo. Na Figura 20 pode-se
observar a localização de um grupo de solda em um eixo cartesiano, identificando também as
posições dos esforços solicitantes de cálculo.

Figura 20 - Esforços solicitantes em soldas (a) normais e (b) cisalhantes

Fonte: Autores

A Equação 2.21 mostra como calcular a resultante de tensões normais no ponto mais crítico
da solda.

𝐹𝑧,𝑆𝑑 (𝑀𝑥,𝑆𝑑 𝐼𝑦 + 𝑀𝑦,𝑆𝑑 𝐼𝑥𝑦 )𝑦 − (𝑀𝑦,𝑆𝑑 𝐼𝑥 + 𝑀𝑥,𝑆𝑑 𝐼𝑥𝑦 )𝑥 (2.21)


𝜎𝑤,𝑆𝑑 = +
𝐴𝑒𝑤 (𝐼𝑥 𝐼𝑦 − 𝐼𝑥𝑦 2 )
37

Onde:

𝐹𝑧,𝑆𝑑 é a força solicitante de cálculo normal a solda;

𝑀𝑥,𝑆𝑑 é o momento solicitante de cálculo normal a solda em relação ao eixo X;

𝑀𝑦,𝑆𝑑 é o momento solicitante de cálculo normal a solda em relação ao eixo Y;

𝐴𝑒𝑤 é a área efetiva do metal de solda, calculada como ∑𝑛𝑖=0 𝑙𝑤𝑖 𝑎𝑤𝑖 , sendo:

𝑙𝑤𝑖 é o comprimento do cordão de solda;

√2
𝑎𝑤𝑖 é a garganta efetiva da solda, calculado por 𝑑𝑤 ;
2

𝑑𝑤 é a dimensão da perna da solda.

𝐼𝑥 é o momento de inercia do grupo de solda no eixo X;

𝐼𝑦 é o momento de inercia do grupo de solda no eixo Y;

𝐼𝑥𝑦 é o produto de inercia do grupo de solda (se os eixos X e Y forem os principais, o valor de
𝐼𝑥𝑦 é zero);

𝑦 é a maior distância do grupo de solda em relação ao eixo X;

𝑥 é a maior distância do grupo de solda em relação ao eixo Y.

As tensões de cisalhamento, são dadas pelas Equações 2.22 e 2.23

𝐹𝑥,𝑆𝑑 𝑀𝑧,𝑆𝑑 𝑦
𝜏𝑤,𝑥,𝑆𝑑 = + (2.22)
𝐴𝑒𝑤 𝐼𝑧

𝐹𝑦,𝑆𝑑 𝑀𝑧,𝑆𝑑 𝑥
𝜏𝑤,𝑦,𝑆𝑑 = + (2.23)
𝐴𝑒𝑤 𝐼𝑧

Sendo:

𝐹𝑥,𝑆𝑑 é a força cisalhante solicitante no eixo X;

𝐹𝑦,𝑆𝑑 é a força cisalhante solicitante no eixo Y;

𝑀𝑧,𝑆𝑑 é o momento torçor no grupo de solda;

𝐼𝑧 é o momento de inércia no eixo Z, calculado pela soma 𝐼𝑥 + 𝐼𝑦 .


38

Com isso é possível estabelecer a tensão resultante de cisalhamento conforme Equação 2.24.

𝜏𝑤,𝑆𝑑 = √𝜏 2 𝑤,𝑥,𝑆𝑑 + 𝜏 2 𝑤,𝑦,𝑆𝑑 (2.24)

2.2.6 Dimensionamento das soldas

Para verificação dos elementos, a fim de se determinar se eles atendem aos critérios dos
estados limites últimos, deve-se analisar tanto o metal da solda quanto o metal-base presente
na ligação.

a) Soldas de penetração

Segundo Fakury, Silva e Caldas (2016), na solda de penetração as tensões atuantes são iguais
tanto no metal-base quanto no metal da solda, conforme mostra a Figura 21. Ao considerar
que a resistência do metal da solda sempre é superior a do metal base, vide Tabela 5, verifica-
se somente o metal-base quanto a escoamento. As tensões que o aço resiste são calculadas
pelas Equações 2.25 e 2.26. Quando atuarem tensões normais e de cisalhamento de forma
simultânea, a resistência deve obedecer ao critério de Von Mises, definido pela Equação 2.27.

Figura 21 – Região de atuação das tensões na solda de penetração total.

Fonte: Autores

Sendo que 𝐴𝑒𝑤 é a área de solda na união das duas chapas e 𝐴𝑀𝐵 é a área do metal base que
está em união com a solda.

𝑓𝑦
𝜎𝑀𝐵,𝑅𝑑 = (2.25)
𝛾𝑎1
39

0,6𝑓𝑦
𝜏𝑀𝐵,𝑅𝑑 = (2.26)
𝛾𝑎1

𝑓𝑦
√𝜎 2 𝑀𝐵,𝑆𝑑 + 3 𝜏 2 𝑀𝐵,𝑆𝑑 ≤ (2.27)
𝛾𝑎1

b) Soldas de filete

Em soldas de filete os estados-limite que se aplicam são a ruptura da seção efetiva da solda
(Equação 2.28) e o escoamento do metal-base (Equação 2.29).

0,6 𝑓𝑤
𝜏𝑤,𝑅𝑑 = (2.28)
𝛾𝑎2

0,6 𝑓𝑦
𝜏𝑤,𝑅𝑑 = (2.29)
𝛾𝑎1

Quando as tensões normais e de cisalhamento atuam simultaneamente, a Equação 2.30 deve


ser atendida.

0,6𝑓𝑦
√𝜎 2 𝑤,𝑆𝑑 + 𝜏 2 𝑤,𝑆𝑑 ≤ (2.30)
𝛾𝑎2

Uma observação importante, citado por Dos Santos (1977), é da relação entre consumo de
metal de solda e a sua resistência. Duas soldas com o mesmo comprimento, porém uma com
perna de 5 mm e outra com perna de 8mm, tem uma diferença de consumo 150% maior,
aumentando a resistência em apenas 60%. Assim, deve-se optar por soldas mais longas e com
uma perna menor, poupando tempo e material no momento da execução.

c) Ruptura na região da solda

De acordo com Fakury, Silva e Caldas (2016), em ligações com uso de solda é possível que
haja a ruptura do metal base na região adjunta a solda (seções de ruptura), como representado
na Figura 22. Para que isso seja evitado é necessário que a espessura dos elementos ligados
por solda obedeça a Equação (2.31.
40

2,25 𝑛 𝑎𝑤 𝑓𝑤,𝑟𝑒𝑠,𝑆𝑑
𝑡≥ (2.31)
𝑚 𝑓𝑢

2 2
𝑓𝑤,𝑟𝑒𝑠,𝑆𝑑 = √𝜎𝑤,𝑆𝑑 + 𝜏𝑤,𝑆𝑑 (2.32)

Onde 𝑓𝑤,𝑟𝑒𝑠,𝑆𝑑 é a tensão solicitante de cálculo na solda (Equação (2.32), 𝑚 é o número de


linhas de ruptura e 𝑛 é o número de soldas.

Figura 22 – Seções de ruptura em ligações soldadas

(a) Junta em Tê com solda de filete: chapa 1 com n=2 e m=2 e chapa 2 com n=2 e m=1;
(b) Junta em Tê com solda de penetração total: chapa 3 com n=1 e m=2;
(c) Junta com transpasse com solda de filete: 6 com n=2 e m=1. Na ausência da chapa 7, n=1 e m=1.

Fonte: Autores.

2.2.7 Disposições construtivas das soldas

As disposições construtivas mínimas e máximas são válidas apenas para as soldas de filetes,
visto que o comprimento e a espessura da solda de entalhe são controlados pelas dimensões
dos elementos da ligação.

a) Dimensão mínima da perna de solda

A dimensão mínima do filete de solda é definida de acordo com a espessura da chapa mais
fina que está se ligando. A

Tabela 6 mostra as dimensões mínimas do filete de solda de acordo com a ABNT NBR
8800:2008.
41

Tabela 6 - Dimensões mínimas do filete de solda

Dimensão mínima da
Espessura 𝑡 da chapa mais fina (mm)
perna 𝑑𝑤 (mm)

𝑡 ≤ 6,30 3

6,30 < 𝑡 ≤ 12,5 5

12,5 < 𝑡 ≤ 19,0 6

𝑡 > 19,0 8

Fonte: Fakury, Silva e Caldas (2016).

b) Dimensão máxima do filete de solda

A dimensão máxima do filete de solda é válida apenas quando ocorre união de chapas com
transpasse, onde a espessura da chapa determina a dimensão da perna de solda. Para chapas de
até 6,3mm a perna de solda tem que ser menor que a espessura, entretanto, para chapas mais
grossas a dimensão máxima fica limitada pela espessura da chapa menos 1,5mm. A Figura 23
mostra essas duas situações.

Figura 23 - Dimensão máxima de filete de solda

Fonte: Autores

c) Comprimento mínimo de solda intermitente

O comprimento mínimo de solda intermitente se deve ao fato de que os cordões de solda


apresentam imperfeições no começo e no fim do cordão, não podendo ser considerado no
42

cálculo como um trecho resistente. Assim, é determinado pela ABNT NBR 8800:2008 que as
dimensões do cordão não podem ser menores do que 40 mm e também menor do que 4 vezes
a perna do filete, caso contrário, apenas 25% do comprimento o filete pode ser considerado
para cálculo de resistência (Figura 24).

Figura 24 - Dimensão mínima do filete de solda

Fonte: Autores

d) Comprimentos mínimos de solda em chapas submetidas a força axial

No caso de união de chapas submetidas a esforços axiais, caso a solda vá até a extremidade,
deve-se estender a solda longitudinal no lado transversal até a uma distância mínima de 2𝑑𝑤
(Figura 25), contornando-a. Além disso, distância máxima entre soldas paralelas à força de
tração não deve ser maior do que 200 mm.

Figura 25 – Comprimento de filetes mínimos em chapas submetidas a esforço axial

Fonte: Autores
43

e) Comprimento mínimo de transpasse de chapas soldadas

No caso de transpasse entre chapas, esse transpasse deve ser de no mínimo 5𝑡, sendo t a
menor espessura das chapas soldadas. Dessa forma, evita-se rotação excessiva na parte da
ligação, podendo acarretar até em escoamento do aço.

f) Cordões e solda de grande comprimento

Para cordões de solda muito grandes (dimensão longitudinal maior que 600 vezes a perna
da solda), usa-se um fator de ponderação do comprimento de solda, com o intuito de levar
em consideração o efeito de tensões não uniformes causadas por ligações com grande
comprimento. Sendo assim, o comprimento de solda a ser considerado é 𝛽 𝑙𝑤 , onde 𝛽 é
definido pela Equação 2.33.

𝑙𝑤
𝛽 = 1,2 − 0,002 ( ) (2.33)
𝑑𝑤

2.3 ELEMENTOS DE LIGAÇÕES

O dimensionamento dos elementos que compõem as ligações inclui a análise de enrijecedores,


chapas de ligação, cantoneiras, consolos, entre outras partes afetadas localmente pela ligação.

2.3.1 Elementos submetidos à tração


De acordo com Pfeil (2009), denominam-se peças tracionadas aquelas sujeitas a solicitações
de tração axial. Para garantir a segurança nos elementos tracionados, estes devem atender a
Equação 2.34.
𝐹𝑡,𝑆𝑑 ≤ 𝐹𝑡,𝑅𝑑 (2.34)
Onde 𝐹𝑡,𝑆𝑑 é a força de tração solicitante de cálculo no elemento e 𝐹𝑡,𝑅𝑑 é a força de tração
resistente de cálculo do elemento.

O elemento tracionado está sujeito a dois tipos de estados-limites últimos, escoamento da


seção bruta e ruptura da seção líquida.
44

a) Escoamento da seção bruta: se dá quando a estrutura de aço é tracionada até que a


tensão atuante sobre sua seção bruta (𝐴𝑔 ) atinja o valor da resistência ao escoamento
do aço (𝑓𝑦 ), causando o escoamento generalizado e fazendo com que a barra sofra
alongamento excessivo. A força de tração resistente de cálculo, para escoamento da
seção bruta é dada pela Equação 2.35.
𝐴𝑔 𝑓𝑦
𝐹𝑡,𝑅𝑑 = (2.35)
𝛾𝑎1
Onde 𝛾𝑎1 é o coeficiente de ponderação da resistência para escoamento, igual a 1,10.

Ruptura da seção líquida: quando uma barra, conectada por parafusos ou soldas em
apenas alguns pontos de sua seção, sofre tração, os esforços não se distribuem de
forma uniforme entre os componentes interligados (Figura 26), uma vez toda
solicitação deve ser transmitida inicialmente aos elementos de ligação e estes por sua
vez, os conduzirão ao próximo componente estrutural. Desta forma conclui-se que as
tensões são mais elevadas nas proximidades dos furos, devido a sua concentração.
Figura 26 - Distribuição não-uniforme das tensões em ligações de elementos tracionados

Fonte: Autores

A área bruta da seção não é inteiramente solicitada, com isso utiliza-se o coeficiente
𝐶𝑡 , denominado coeficiente de redução da área líquida, de forma a se obter a área da
seção que de fato estaria sofrendo o esforço de tração com distribuição uniforme, esta
área é tida como área líquida efetiva (𝐴𝑒 ) e é obtida conforme a Equação 2.36.
45

𝐴𝑒 = 𝐶𝑡 𝐴𝑛 (2.36)

Onde 𝐴𝑛 é a área líquida da seção.

O escoamento da seção líquida não é considerado um estado-limite, uma vez que esse
fenômeno se restringe apenas a região de ligação, não desencadeando grandes
alterações às dimensões da barra. Portando haverá colapso na estrutura apenas com o
rompimento da seção, ou seja, quando a tensão atuante sobre a seção líquida efetiva
atinge o valor da resistência de ruptura do aço (𝑓𝑢 ), fazendo com que a força de tração
resistente de cálculo seja obtida segundo a Equação 2.37.

𝐴𝑒 𝑓𝑢
𝐹𝑡,𝑅𝑑 = (2.37)
𝛾𝑎2
Onde 𝛾𝑎2 é o coeficiente de ponderação da resistência para ruptura, igual a 1,35.

2.3.1.1 Conceitos importantes para determinação da área líquida efetiva

a) Linha de ruptura
Linha de ruptura é o percurso que passa por um conjunto de furos em uma ligação parafusada,
segundo o qual se rompe uma barra tracionada. Esse percurso é formado por um conjunto de
segmentos retos, que podem ser perpendiculares à força de tração 𝐹 ou formarem um ângulo
no qual a reta não esteja na mesma direção dessa força, como apresentado na Figura 27.

Figura 27 - Furação de elemento plano e possíveis formas de ruptura


46

Fonte: Autores.
Além disso, o primeiro segmento das linhas de ruptura sempre deve situar-se na seção
transversal e unir uma extremidade longitudinal da chapa a um furo, e o último segmento
também deve localizar-se na seção transversal e unir a outra extremidade longitudinal da
chapa a um furo. Observa-se que as possíveis linhas de rupturas sempre passam pelos
parafusos mais próximos da força de tração 𝑁.

b) Largura líquida (𝒃𝒏 )


Por meio de experimentos obteve-se que a largura líquida deve ser determinada conforme a
Equação 2.38, porém adota-se a linha de ruptura que apresentar menor largura líquida.
𝑛 𝑠𝑖2
𝑏𝑛 = 𝑏𝑔 − ∑ 𝑑ℎ + ∑ (2.38)
𝑖=1 4𝑔𝑖

Onde:
𝑏𝑔 é a largura total da seção transversal;
∑ 𝑑ℎ é a soma dos diâmetros de todos os furos-padrões da linha de ruptura considerada;
𝑛 é o número de segmentos diagonais;
𝑠 é o espaçamento entre dois furos do segmento diagonal, na direção paralela à linha de
atuação da força de tração;
𝑔 é o espaçamento entre dois furos do segmento diagonal, na direção perpendicular à linha de
atuação da força de tração.

Sendo que, em casos onde o furo é do tipo padrão e feito por broca, 𝑑ℎ deve obedecer a
Equação 2.39, caso feito por punção, a Equação 2.40.
47

𝑑ℎ = 𝑑𝑏 + 1,5 𝑚𝑚 (2.39)
𝑑ℎ = 𝑑𝑏 + 3,5 𝑚𝑚 (2.40)

Onde 𝑑𝑏 é o diâmetro do parafuso.

c) Área líquida (𝑨𝒏 )


Sabe-se que tensão é a atuação de uma força sobre uma área, sendo essa área líquida (𝐴𝑛 ), nos
elementos de ligação. Assim, em uma ligação realizada por meio de solda, a área líquida do
elemento é igual à área bruta da seção (𝐴𝑔 ). Porém quando há a presença de furos no
elemento, a área líquida (𝐴𝑛 ) é tomada como sendo área bruta (𝐴𝑔 ) reduzida da área dos
furos.
Área líquida de um elemento plano é determinada conforme a Equação 2.41 é obtida pelo
produto da largura líquida pela espessura (𝑡):

𝐴𝑛 = 𝑏𝑛 𝑡 (2.41)

A área líquida dos perfis I, H e U: utiliza-se um procedimento simplificado que consiste na


determinação da área de cada elemento do perfil. No perfil I, representado na Figura 28, é
possível determinar a área líquida pela Equação 2.42.

Figura 28 – Ligação com parafusos em perfil I

Fonte: Autores.
48

(𝐴𝑛 )𝑝𝑒𝑟𝑓𝑖𝑙 = ∑(𝐴𝑛 )𝑒𝑙𝑒𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜𝑠 = (𝐴𝑛 )𝑀𝑒𝑠𝑎 𝑠𝑢𝑝𝑒𝑟𝑖𝑜𝑟


(2.42)
+ (𝐴𝑛 )𝐴𝑙𝑚𝑎 + (𝐴𝑛 )𝑀𝑒𝑠𝑎 𝑖𝑛𝑓𝑒𝑟𝑖𝑜𝑟

Na área líquida de cantoneiras, suas abas devem ser rebatidas como na


Figura 29, admitindo-se sua análise como uma chapa.
Figura 29 - Área líquida em cantoneiras

Fonte: Autores.

d) Coeficiente de redução da área líquida (𝑪𝒕)


Quando a força de tração for transmitida diretamente para cada um dos elementos da seção
transversal da barra, por soldas ou parafusos, como representado na Figura 30, não existindo
assim, nenhum elemento não conectado, deve-se adotar 𝐶𝑡 igual a 1.
Figura 30 - Perfil I ligado pelas mesas e pela alma

Fonte: Top informática. Disponível em:<http://www.topinformatica.pt> Acesso em: 15 mar. 2018.

Em barras conectadas apenas por soldas transversais, como na Figura 31, deve-se utilizar a
Equação 2.43.
𝐴𝑐
𝐶𝑡 = (2.43)
𝐴𝑔
Onde 𝐴𝑐 é tido como a área da seção transversal conectada do elemento.
49

Figura 31 - Cantoneira ligada por solda transversal

Fonte: Autores.

Nas barras com seções transversais abertas quando a força de tração não for transmitida para
todos os elementos da seção transversal da barra, 𝐶𝑡 é calculado conforme a Equação 2.44.
𝑒𝑐
𝐶𝑡 = 1 − (2.44)
𝑙𝑐
Onde 𝑒𝑐 é a excentricidade da ligação, igual à distância do centro geométrico da seção da
barra, G, ao plano de cisalhamento da ligação (Figura 32) e 𝑙𝑐 é o comprimento efetivo da
ligação.
Figura 32 - Excentricidade em perfis de seção aberta

Fonte: ABNT NBR 8800:2008

Caso a Equação 2.44 encontre um valor de 𝐶𝑡 superior a 0,90, por medidas de segurança, 𝐶𝑡
deve assumir como limite superior 0,90. No entanto, se o valor encontrado para 𝐶𝑡 for inferior
a 0,60, isso significa que a ligação é pouco eficiente, sendo necessário então que seja
modificada (Fakury, Silva e Caldas, 2016).
50

Em chapas planas quando a força de tração é transmitida por meio de soldas no sentido
paralelo a força e presente em ambas as bordas longitudinais da chapa (Figura 33), 𝐶𝑡 é
definido conforme as Inequações 2.45, 2.46 e 2.47.

𝐶𝑡 = 1 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑙𝑤 ≥ 2𝑏 (2.45)
𝐶𝑡 = 0,87 𝑝𝑎𝑟𝑎 2𝑏 > 𝑙𝑤 ≥ 1,5𝑏 (2.46)
𝐶𝑡 = 0,75 𝑝𝑎𝑟𝑎 1,5𝑏 > 𝑙𝑤 ≥ 𝑏 (2.47)

Onde 𝑙𝑤 é o comprimento dos cordões de solda e 𝑏 é a largura da chapa.

Figura 33 - Chapa com solda longitudinal

Fonte: Autores.
Em chapas planas quando, além das soldas longitudinais em ambas as bordas, há também
solda transversal (Figura 34), 𝐶𝑡 igual a 1.
Figura 34 - Chapa com solda longitudinal e transversal

Fonte: Autores.
Em barras com seções tubulares retangulares: quando a força de tração for transmitida por
meio de uma chapa de ligação concêntrica ou por chapas de ligação em dois lados opostos da
seção (Figura 35), 𝐶𝑡 é definido conforme a Equação 2.44. Porém o comprimento da
51

ligação, 𝑙𝑐 , não pode ser inferior à dimensão da seção na direção paralela à(s) chapa(s) de
ligação.
Figura 35 - Excentricidade em barras com seções tubulares retangulares

Fonte: ABNT NBR 8800:2008

Em barras com seção transversal tubular circular: quando a força de tração for transmitida por
meio de uma chapa de ligação concêntrica (Figura 35), 𝐶𝑡 é definido conforme as Inequações
2.48 e 2.49.
Figura 36 - Excentricidade em barras com seção transversal tubular circular

Fonte: ABNT NBR 8800:2008

𝐶𝑡 = 1 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑙𝑐 ≥ 1,3𝐷 (2.48)


𝑒𝑐
𝐶𝑡 = 1 − ≤ 0,9 𝑝𝑎𝑟𝑎 1,3𝐷 > 𝑙𝑐 ≥ 𝐷 (2.49)
𝑙𝑐

e) Área efetiva na seção de Whitmore


Para determinação da área em uma chapa com seção de Whitmore é necessário,
primeiramente, determinar sua largura efetiva, como mostra a Figura 37. Para isso deve-se
52

considerar uma distribuição das tensões de tração em um ângulo de 30° a partir do início da
ligação, e ambos os lados, ao longo da linha de ação da força.
Figura 37 - Largura efetiva na seção de Whitmore

Fonte: Autores.
Para chapas de ligação tracionadas com emendas parafusadas admite-se que a área líquida
efetiva da seção não seja superior a 85% de sua área bruta.

2.3.2 Elementos submetidos à compressão


Por se tratar de um elemento esbelto, se comparado às estruturas de concreto, as estruturas de
aço quando sujeitas à compressão tendem a perder sua estabilidade global, nesse caso a barra
como um todo sofre um deslocamento lateral, em um efeito denominado flambagem por
flexão. Porém quando o perfil possui elementos que compõem sua seção transversal, estas
também apresentam instabilidade, em um efeito denominado flambagem local, onde o
elemento componente sofre um deslocamento transversal à chapa.
Para garantir a segurança nos elementos comprimidos, estes devem obedecer a Equação 2.50.

𝐹𝑐,𝑆𝑑 ≤ 𝐹𝑐,𝑅𝑑 (2.50)

Onde 𝐹𝑐,𝑆𝑑 é a força de compressão solicitante de cálculo no elemento e 𝐹𝑐,𝑅𝑑 é a força de


compressão resistente de cálculo do elemento, esta definida pela Equação 2.51 para o estado-
limite último.

𝐾𝐿 𝑓𝑦 𝐴𝑔
𝑆𝑒 ≤ 25 𝑒𝑛𝑡ã𝑜 𝐹𝑐,𝑅𝑑 = (2.51)
𝑟 𝛾𝑎1
53

Onde 𝐾𝐿 é o comprimento de flambagem e 𝑟 é o raio de giração.

Caso 𝐾𝐿 ⁄𝑟 > 25 deve-se aplicar o estado-limite último de flambagem de forma que a força
de compressão resistente de cálculo do elemento seja definida conforme a Equação 2.52.
𝜒 𝑄 𝐴𝑔 𝑓𝑦
𝐹𝑐,𝑅𝑑 = (2.52)
𝛾𝑎1

Onde 𝜒 é o fator adimensional de redução associado à instabilidade global e 𝑄 é o fator de


redução associado à flambagem local.

2.3.2.1 Flambagem por flexão

Em uma barra perfeitamente reta, sem tensões residuais, constituída de material homogêneo e
elástico, ao sofrer compressão por uma carga perfeitamente centrada, não apresentará
deslocamento lateral até que a força atuante alcance o valor da força axial crítica de
flambagem (𝑁𝑒 ). Porém, na prática as barras apresentam uma curvatura inicial (𝑣𝑜 ), limitada
pelo comprimento da barra dividido por 1500, e também tensões residuais provenientes de seu
processo de fabricação.

a) Determinação do fator de redução 𝝌

Ao ser comprimida, a barra tende a ter sua curvatura inicial aumentada até que se inicie o
escoamento da seção central, uma vez que o centro da barra está sujeita ao maior momento
fletor (Figura 38), essa etapa é tida como fase elástica, caracterizada pela elevação do valor
da força atuante de zero até o valor correspondente ao início do escoamento (𝑁𝑐,𝑟 ).
Posteriormente, com o aumento da força de 𝑁𝑐,𝑟 o escoamento se propaga pela seção central
para as fibras internas da seção central e para as seções vizinhas, o que faz com que a rigidez
da barra se reduza cada vez mais e os deslocamento aumentem em ritmo mais pronunciado
(Fakury, Silva e Caldas, 2016). Há o colapso quando toda a seção central sofre o escoamento,
obtendo a denominada rótula plástica na seção, neste contexto a barra atinge a força axial
resistente (𝑁𝑐,𝑅𝑘 ).
54

Figura 38 - Modo de ruptura de barra comprimida

1- Barra com curvatura inicial; 2- Início do escoamento; 3- Propagação do escoamento; 4- Formação da rótula
plástica; 5- Colapso.

Fonte: Autores.

De acordo com a ABNT NBR 8800:2008 para barras com curvatura inicial, 𝜒 é representado
pela curva presente na Figura 39, definido pelas Equações 2.53 e 2.54.

Figura 39 - Variação de 𝜒 com o aumento do índice de esbeltez reduzido (𝜆𝑜)

Fonte: ABNT NBR 8800:2008


2
𝜆𝑜 ≤ 1,5; 𝜒 = 0,658 𝜆𝑜 (2.53)
0,877
𝜆𝑜 > 1,5; 𝜒= (2.54)
𝜆2𝑜
55

𝜆𝑜 é calculado conforme a Equação 2.55.

𝑄 𝐴𝑔 𝑓𝑦
𝜆𝑜 = √ (2.55)
𝑁𝑒

Por apresentarem travamento longitudinal, garantido por soldas e parafusos, e pequena


esbeltez, admite-se χ = 1,0 para os elementos de ligação.

2.3.2.2 Flambagem local

As ligações são formadas por elementos que, quando ligados a outros em ambas as
extremidades, é denominado apoio-apoio (AA), por sua vez, quando ligado em apenas uma
extremidade é denominado apoio-livre (AL), como é possível observar na Figura 40.

Figura 40 – Elemento AL em ligação rígida

Fonte: Autores.

Ao se classificar um elemento componente como AA ou AL é possível determinar 𝑄, porém


observam-se distinções no comportamento de cada um quando sujeitos a flambagem local, ou
seja, quando a relação largura/espessura (𝑏/𝑡) ultrapassa (𝑏/𝑡)𝑙𝑖𝑚 , definido pela Tabela 7,
caso contrário não haverá flambagem local de forma que 𝑄 = 1.
56

Tabela 7 - Esbeltez limite para ocorrência de flambagem local

Fonte: ABNT NBR 8800:2008

𝑘𝑐 presente no grupo 5 é o coeficiente determinado pela Equação 2.56.

4
𝑘𝑐 = 0,35 ≤ ℎ ≤ 0,76 (2.56)
√ℎ⁄𝑡𝑤

Onde ℎ é a altura da alma e 𝑡𝑤 sua espessura.


57

Na presença de elementos AA e AL sujeitos a flambagem local defina-se 𝑄 conforme a


Equação 2.57. Entretanto, caso haja apenas elementos AA deve-se considerar 𝑄 = 𝑄𝑎 e caso
apresente apenas elementos AL 𝑄 = 𝑄𝑠 .

𝑄 = 𝑄𝑎 𝑄𝑠 (2.57)

𝑄𝑎 é definido como coeficiente de redução relacionado a elementos AA, cujo valor é obtido
conforme Equação 2.60 e 𝑄𝑠 coeficiente de redução relacionado a elementos AL, calculado
pelas Equações 2.61 a 2.68.

a) Elementos comprimidos AA

Um elemento AA quando comprimido está sujeito a tensão uniforme ao longo da largura de


sua seção até que se alcance a tensão de início de escoamento, nesse processo as fibras
transversais se tornam tracionadas e se opõem ao movimento, em um processo denominado
resistência pós-flambagem, esse fenômeno é mais intenso juntos as bordas conectadas e
desprezível na região central, de forma que ao se aumentar a tensão atuante, a região central
tende a perder sua capacidade resistente (Figura 41), sendo a tensão, em geral, suportada pela
região próxima aos apoios. De forma simplificada admite-se que a tensão esteja atuando de
maneira uniforme sobre um comprimento efetivo (𝑏𝑒𝑓 ), determinado pela Equação 2.58,
dividido entre as regiões próximas a cada apoio (Figura 42).

Figura 41 - Compressão de elemento AA

Fonte: Autores.
58

Figura 42 - Comprimento efetivo

Fonte: Autores.

𝐸 𝑐𝑎 𝐸
𝑏𝑒𝑓 = 1,92 𝑡 √ (1 − √ )≤𝑏 (2.58)
𝜎𝑚á𝑥 𝑏 ⁄𝑡 𝜎𝑚á𝑥

𝑐𝑎 é igual a 0,34, exceto para almas e mesas de seções tubulares retangulares, onde é tido
como 0,38 e, forma conservadora, adota-se 𝜎𝑚á𝑥 = 𝑓𝑦 .

A área efetiva (𝐴𝑒𝑓 ) da seção transversal e é definida conforme a Equação 2.59 e onde 𝐴𝑔 é a
área bruta.

𝐴𝑒𝑓 = 𝐴𝑔 − ∑(𝑏 − 𝑏𝑒𝑓 ) 𝑡 (2.59)

𝐴𝑒𝑓
𝑄𝑎 = (2.60)
𝐴𝑔

b) Elementos comprimidos AL

De acordo com a ABNT NBR 8800:2008, os valores de 𝑄𝑠 podem variar conforme o grupo ao
qual o elemento pertence, podendo ser definido pelas Equações de 2.61 a 2.68.

• Elemento do grupo 3:

𝑏 𝑓𝑦 𝐸 𝑏 𝐸
𝑄𝑠 = 1,34 − 0,76 √ , 𝑝𝑎𝑟𝑎 0,45 √ < ≤ 0,91√ (2.61)
𝑡 𝐸 𝑓𝑦 𝑡 𝑓𝑦
59

0,53 𝐸 𝑏 𝐸
𝑄𝑠 = 2 , 𝑝𝑎𝑟𝑎 > 0,91√ (2.62)
𝑏 𝑡 𝑓𝑦
𝑓𝑦 ( )
𝑡

• Elementos do grupo 4:

𝑏 𝑓𝑦 𝐸 𝑏 𝐸
𝑄𝑠 = 1,415 − 0,74 √ , 𝑝𝑎𝑟𝑎 0,56 √ < ≤ 1,03√ (2.63)
𝑡 𝐸 𝑓𝑦 𝑡 𝑓𝑦

0,69 𝐸 𝑏 𝐸
𝑄𝑠 = , 𝑝𝑎𝑟𝑎 > 1,03√ (2.64)
𝑏 2 𝑡 𝑓𝑦
𝑓𝑦 ( )
𝑡

• Elementos do grupo 5:

𝑏 𝑓𝑦 𝐸 𝑏 𝐸
𝑄𝑠 = 1,415 − 0,65 √ , 𝑝𝑎𝑟𝑎 0,64 √ < ≤ 1,17√ (2.65)
𝑡 𝑘𝑐 𝐸 (𝑓𝑦 ⁄𝑘𝑐 ) 𝑡 (𝑓𝑦 ⁄𝑘𝑐 )

0,9 𝐸 𝑘𝑐 𝑏 𝐸
𝑄𝑠 = , 𝑝𝑎𝑟𝑎 > 1,17√ (2.66)
𝑏 2 𝑡 (𝑓𝑦 ⁄𝑘𝑐 )
𝑓𝑦 ( )
𝑡

• Elementos do grupo 6:

𝑏 𝑓𝑦 𝐸 𝑏 𝐸
𝑄𝑠 = 1,908 − 1,22 √ , 𝑝𝑎𝑟𝑎 0,0,75 √ < ≤ 1,03√
𝑡 𝐸 𝑓𝑦 𝑡 𝑓𝑦 (2.67)

0,69 𝐸 𝑏 𝐸
𝑄𝑠 = 2 , 𝑝𝑎𝑟𝑎 > 1,03√ (2.68)
𝑏 𝑡 𝑓𝑦
𝑓𝑦 ( )
𝑡
60

2.3.3 Elementos submetidos à cisalhamento

Os elementos submetidos ao cisalhamento devem ser dimensionados de forma que a força


cortante solicitante (𝐹𝑣,𝑆𝑑 ) seja menor ou igual à força cortante resistente (𝐹𝑣,𝑅𝑑 ), esta última
deve ser determinada por meio da análise quanto ao estado-limite último de escoamento
(Equação 2.69) e ao estado-limite último de ruptura (Equação 2.70), adotando-se o menor
valor.

0,6 𝑓𝑦 𝐴𝑔𝑣 (2.69)


𝐹𝑣,𝑅𝑑 =
𝛾𝑎1

0,6 𝑓𝑢 𝐴𝑛𝑣 (2.70)


𝐹𝑣,𝑅𝑑 =
𝛾𝑎2

Onde 𝐴𝑔𝑣 é a área bruta sujeita ao cisalhamento e 𝐴𝑛𝑣 é a área líquida.

2.3.4 Elementos submetidos a momento fletor

O elemento sujeito à momento fletor deve possuir momento resistente de cálculo (𝑀 𝑅𝑑 ) maior
ou igual ao momento solicitante de cálculo (𝑀 𝑆𝑑 ), onde o momento resistente deve ser
verificado quanto ao estado-limite de ruptura, conforme a Equação 2.71.

𝑍𝑒𝑓 𝑓𝑢 (2.71)
𝑀𝑅𝑑 =
𝛾𝑎2

𝑍𝑒𝑓 é o momento plástico efetivo, obtido descontando as áreas dos recortes e furos.

No caso de vigas com furos ou recortes na mesa tracionada, o momento fletor resistente de
cálculo à ruptura é obtido pela Equação 2.72.

𝑓𝑢 𝐴𝑓𝑛 𝑊𝑡 (2.72)
𝑀𝑅𝑑 =
𝛾𝑎2 𝐴𝑓𝑔

Onde 𝐴𝑓𝑛 é a área líquida da mesa tracionada; 𝐴𝑓𝑔 é a área bruta da mesa tracionada e 𝑊𝑡 é o
módulo de resistência elástico do lado tracionado da seção bruta, relativo ao eixo de flexão.
61

2.3.5 Elementos submetidos a esforços combinados

De acordo com Fakury, Silva e Caldas (2016), quando houver esforços combinados nos
elementos de ligação, admite-se a utilização do critério de escamento de von Mises (Equação
2.73) como forma de verificação da resistência as tensões combinadas.

2 2 2
𝑓𝑦
√𝜎𝑥,𝑆𝑑 + 𝜎𝑥,𝑆𝑑 𝜎𝑦,𝑆𝑑 + 𝜎𝑦,𝑆𝑑 + 3 𝜏𝑆𝑑 ≤ (2.73)
𝛾𝑎1

Onde:

𝜎𝑥,𝑆𝑑 é a tensão normal solicitante na direção x;

𝜎𝑦,𝑆𝑑 é a tensão normal solicitante na direção y;

𝜏𝑆𝑑 é a tensão de cisalhamento solicitante de cálculo no plano xy.

2.3.6 Colapso por rasgamento

Este estado-limite último consiste na análise do possível rompimento na região de ligação


sujeita ao cisalhamento e, ao mesmo tempo, a tração perpendicularmente, podendo haver
separação de parte dos elementos conectados, como representado na Figura 43 e Figura 44,
desta forma a força resistente de cálculo deve ser determinada conforme a Equação 2.74.

Figura 43 – Colapso por rasgamento em perfil I

Fonte: Autores.
62

Figura 44 - Colapso por rasgamento em cantoneira

Fonte: Autores.

0,6 𝐴𝑛𝑣 𝑓𝑢 + 𝐶𝑡𝑠 𝐴𝑛𝑡 𝑓𝑢


𝛾𝑎2
𝐹𝑅𝑑 ≤ (2.74)
0,6 𝐴𝑔𝑣 𝑓𝑦 + 𝐶𝑡𝑠 𝐴𝑛𝑡 𝑓𝑢
{ 𝛾𝑎2

Onde:

𝐴𝑔𝑣 é a área bruta sujeita ao cisalhamento;

𝐴𝑛𝑣 é a área líquida sujeita ao cisalhamento;

𝐴𝑛𝑡 é a área líquida sujeita a tração;

𝐶𝑡𝑠 é o coeficiente igual a 0,5 quando a tensão de tração é não-uniforme na área líquida e 1,0
quando uniforme (Figura 45).

Figura 45 – Variações de 𝐶𝑡𝑠

Fonte: ABNT NBR 8800:2008.


63

3 TIPOS DE LIGAÇÕES RÍGIDAS

3.1 LIGAÇÃO ENTRE VIGA E PILAR COM CHAPA DE TOPO

Em ligações rígidas entre viga e pilar utilizando chapa de topo, essa é soldada à viga e
parafusada à mesa do pilar. Por ser uma ligação rígida, o momento fletor é transmitido da viga
para o pilar gerando esforços localizados no contato das mesas da viga com a chapa de topo e,
consequentemente, o pilar. Para evitar deformações localizadas, se faz necessário colocar
enrijecedores entre as mesas do pilar, a fim de criar uma extensão da mesa da viga, entre as
mesas do pilar, enrijecendo o local, conforme mostra a Figura 46.

Figura 46 - Ligação Viga-Pilar com chapa de topo

Fonte: Vasconcellos (2017).

É comum admitir que o momento fletor atuante na viga, esta conectada ao pilar por meio de
uma ligação simétrica, esteja decomposto em um binário de forças localizado nas mesas da
viga, ou seja, com a distância entre eles dado pelo intervalo entre ponto médio das mesas da
viga, causando tração na mesa superior e compressão na mesa inferior.

Entretanto, quando a simetria da ligação não é respeitada (Figura 47-C), este método de
cálculo se torna inválido. Por Murray e Shoemaker (2003) a força solicitante de cálculo, para
casos de ligações simétricas ou assimétricas, pode ser tomada conforme Equação 3.1.
64

Figura 47 - Disposições usuais de parafusos em ligações viga-pilar

Fonte: Autores.

𝑀𝑆𝑑 𝑁𝑆𝑑
𝐹𝑡,𝑆𝑑 = + (3.1)
(∑ 𝑑𝑛 ⁄𝑛𝐿 ) 2

Sendo 𝑀𝑠𝑑 o momento fletor de cálculo atuante na viga, 𝑑𝑛 a distância de cada linha de
parafusos a mesa da viga de local oposto a localização da linha (Figura 48), 𝑛𝐿 sendo o
número de parafusos tracionados e 𝑁𝑆𝑑 a força axial de cálculo atuante na viga.

Figura 48 – Identificação de 𝑑𝑛 em ligação assimétrica

Fonte: Autores.

Para verificação de flexão na chapa utilizam-se as Equações 2.9 a 2.11, conforme a ABNT
NBR 8800:2008, utilizando o modelo de viga com borda livre e engastada (Figura 49).
65

Porém, a norma brasileira não abrange peculiaridades de situações onde há quantidade


superior a uma linha de parafusos verticais em cada lado da chapa.

Figura 49 - Efeito alavanca com diagrama de momento fletor usado em cálculo em destaque.

Fonte: ABNT NBR 8800:2008

Sendo assim, cabe uma análise comparativa, observando-se o comportamento da chapa à


tração quando temos mais de uma linha de parafusos verticais em cada lado da chapa.

Simulando o comportamento de uma chapa sujeita a força de tração solicitante de cálculo (F)
igual a 100 kN, com espessura (t) de 12,5 mm e com três linhas de parafuso (diâmetro de 12,5
mm) em cada lado da chapa tracionada (Figura 50).

Figura 50 - Efeito alavanca para mais de uma linha de parafuso em cada lado da chapa (medidas em milímetros).

Fonte: Autores.
66

Seguindo a metodologia presente na ABNT NBR 8800:2008, admitindo que apenas a


primeira linha de parafusos presentes em cada lado da chapa tracionada seja responsável por
resistir a força F, tem-se o momento solicitante dado conforme Equação 3.2.

𝑀𝑠𝑑 = 𝐹𝑡,𝑆𝑑 𝑏 (3.2)

Porém, para uma análise que representa melhor o comportamento da flexão na chapa de topo
adotou-se modelo com elemento biengastado na primeira linha dos parafusos (Figura 51). Foi
considerado mesma seção transversal apresentada na Figura 50, com 𝑝 determinado segundo
Equação 3.3, b tido como a menor distância de furo a chapa (6,76 cm), além de carga centrada
com valor igual a tração aplicada na chapa (F=100kN).

𝑒2 𝑒1 (3.3)
⁄2
𝑝 = (< {𝑏 + 0,5𝑑 ) + (< { )
𝑏 𝑏 + 0,5𝑑𝑏

0 0,0319⁄
= (< { ) + (< { 2 )
0,0676 + 0,5 ∗ 0,0125 0,0676 + 0,5 ∗ 0,0125
= (0) + (0,01595)

𝑝 = 0,01595 𝑚

Figura 51 - Modelo de cálculo proposto para análise da flexão na chapa

Fonte: Autores.

Nesse modelo, o momento solicitante máximo que a chapa sofreria seria de acordo com a
Equação 3.4, que representa o momento fletor máximo em uma viga biengastada com carga
concentrada no meio.

𝐹𝑏 3 𝐹𝑏
𝑀𝑆𝑑 = = (3.4)
4𝑏 2 4
67

Se utilizando do software de cálculo FTOOL obtiveram-se os resultados representados na


Figura 52.

Figura 52 – Resultados obtidos pelo FTOOL. (a) Diagrama de momento fletor (kN.m); (b) Deformação da
chapa.

Fonte: FTOOL
Assim, ao utilizar esse modelo tem-se uma redução do momento solicitante em torno de 50%
em relação ao modelo de cálculo da ABNT NBR 8800:2008, como mostrado na Tabela 8.

Tabela 8 - Comparação entre método da norma e método sugerido

ABNT NBR 8800:2008 Viga biengastada

𝑀𝑠𝑑 100 𝐹𝑏 100 ∗ 0,0676


𝐹𝑡𝑏 𝑏 = ∗ 0,0676 = 3,38 = = 1,69
(kN.m) 2 4 4

Fonte: Autores.

Podendo então concluir que a norma apresenta resultados conservadores. Vale ressaltar que,
no programa computacional desenvolvido, utilizou-se o dimensionamento conforme a ABNT
NBR 8800:2008. Essa análise não se restringe somente a ligação de chapa de topo, podendo
também ser utilizada em outras ligações em estruturas de aço.
68

3.2 LIGAÇÃO EXCÊNTRICA PARALELA A MESA DO PILAR

Esta ligação excêntrica é executada com a fixação de uma chapa console, paralelamente à
mesa do pilar, por meio de parafusos (Figura 53 (a)), ou soldas (Figura 53 (b)). Esse tipo de
ligação é usada, por exemplo, para apoiar vigas que não foram alinhadas com o pilar.

Figura 53 – Ligação excêntrica (a) parafusada e (b) soldada.

Fonte: Autores

3.3 LIGAÇÃO EXCÊNTRICA PARAFUSADA DE CONSOLE EM “T”


A ligação excêntrica parafusada de console em “T” é composta por uma chapa soldada na
chapa de topo, que é parafusada a mesa do pilar, mostrado a Figura 54. Esta ligação pode ser
utilizada para apoio de pontes rolantes em galpões de aço, por exemplo.

Figura 54- Console perpendicular a mesa de pilar

Fonte: Autores
69

4 PROGRAMA COMPUTACIONAL DESENVOLVIDO

O programa computacional de dimensionamento de ligações rígidas em estruturas de aço foi


desenvolvido na linguagem de programação Visual Basic for Applications (VBA) no
Microsoft Office Excel e denominado TK Ligações Rígidas. Na tela inicial têm-se as
informações sobre o programa desenvolvido como mostra a Figura 55. Ao selecionar o menu,
o usuário pode escolher o tipo de ligação a ser utilizada conforme a Figura 56.

Figura 55 – Tela inicial do programa computacional desenvolvido

Fonte: Autores.
70

Figura 56 - Menu principal

Fonte: Autores.

Após a seleção da ligação desejada, devem ser fornecidos os dados de entrada ou, em caso de
modificação da ligação, retornar ao menu principal (Figura 57). Neste trabalho foram
considerados apenas perfis laminados e a utilização de momento resistente plástico em chapas
submetidas ao efeito alavanca.

Figura 57 – Tela de dados de entrada do programa

Fonte: Autores.
71

Após preenchimento de todos os dados necessários para o dimensionamento da ligação, o


usuário pode verificar as disposições construtivas (Figura 58) ou os estados-limites últimos
aplicáveis à ligação (Figura 59).

Figura 58 – Tela de verificação de disposições construtivas

Fonte: Autores.
72

Figura 59 – Tela de verificação de estados-limites últimos

Fonte: Autores.

Posteriormente à verificação da segurança estrutural, pode-se emitir relatório com todas as


análises realizadas pelo programa (Figura 60) e as equações utilizadas. O usuário pode então
imprimir ou retornar à tela inicial do programa.
73

Figura 60 - Relatório de verificações realizadas pelo programa

Fonte: Autores.

4.1 RESULTADOS

Com a finalidade de validar o programa desenvolvido foi realizada análise comparativa dos
resultados obtidos com exemplos disponíveis em literaturas técnicas sobre ligações em
estruturas de aço.
74

4.1.1 Ligação entre viga e pilar com chapa de topo

A Figura 61 mostra exemplo de ligação rígida de chapa de topo de Fakury, Silva e Caldas
(2016).

Figura 61 - Exemplo 1: ligação entre viga e pilar com chapa de topo

Fonte: Fakury, Silva e Caldas (2016).

A ligação é constituída de viga, pilar, chapa de topo e enrijecedores em aço USI CIVIL 350.
Parafusos com diâmetro de 19 mm em aço ASTM A325, com plano de corte passando pela
rosca e furos realizados por punção. Soldas com eletrodo 70XX. Momento fletor solicitante
de cálculo (Msd,viga) igual a -100kN.m, força cortante solicitante de cálculo (Vsd,viga) igual a -
290kN, força axial de tração solicitante de cálculo (N sd,viga) igual a 10kN e força cortante na
região superior do pilar (Vsd,superior,pilar) igual a -45kN.

A comparação entre as disposições construtivas obtidas no exemplo são dadas conforme


Tabela 9.
75

Tabela 9 – Validação das disposições construtivas do exemplo 1

Fakury, Silva e Caldas (2016) Software


Parâmetros Mínimo Real Máximo Mínimo Real Máximo
Effmáx (mm) 57,00 - 300,00 57,00 415,00 300,00
Effmín (mm) 57,00 80,00 300,00 57,00 72,50 300,00
Efbmín (mm) 23,75 40,00 150,00 23,75 40,00 150,00
Efbmáx (mm) 23,75 60,00 150,00 23,75 60,00 150,00
ebb (mm) - - - 19,00 50,00 -
efc (mm) 25,65 30,00 - 25,65 30,00 -
Solda de filete em enrijecedor (mm) 5,00 6,00 - 5,00 6,00 -
Solda em mesa da viga (mm) - - - - - -
Solda de filete em alma da viga (mm) 5,00 6,00 - 5,00 6,00 -

Fonte: Fakury, Silva e Caldas (2016)

Na Tabela 9 verifica-se uma pequena variação de resultados em uma das distâncias de furo,
isso ocorre devido a não verificação de Fakury, Silva e Caldas (2016) das distâncias verticais
entre furos da ligação (Figura 62 (a)), mas apenas do espaçamento horizontal entre furos
(Figura 62 (b)).

Figura 62 – Identificação de menor distância entre furos por TK Ligações Rígidas (a) e por Fakury et al (b).

Fonte: Autores.
76

A Tabela 10 apresenta comparação de resultados obtidos por meio de análise dos estados-
limite últimos da ligação.

Tabela 10 - Validação dos estados-limite últimos do exemplo 1

(continua)

Fakury, Silva e Caldas (2016) Software

Critério Esforço Esforço Esforço Esforço


solicitante resistente solicitante resistente

Tração na mesa e
nos enrijecedores da 210,10 682,90 210,13 682,87
viga (kN)
Compressão nos
enrijecedores e na 200,10 795,50 200,13 745,24
mesa da viga (kN)
Cisalhamento na
290,00 861,50 290,00 906,82
alma da viga (kN)
Cisalhamento nos
36,25 69,42 36,25 69,31
parafusos (kN)
Tração nos
52,53 87,21 52,53 87,07
parafusos (kN)
Cisalhamento e
tração nos parafusos 0,64 1,00 0,64 1,00
(kN)
Flexão na chapa de
1,58 2,27 1,58 2,27
topo (kN.m)
Pressão de contato
na chapa de topo e
36,25 243,20 36,25 242,78
na mesa do pilar
(kN)
Cisalhamento no
painel entre 260,10 715,90 260,13 715,91
enrijecedores (kN)
77

Tabela 11 – Validação dos estados-limite últimos do exemplo 1

(continuação)

Fakury, Silva e Caldas


Software
(2016)
Critério
Esforço Esforço Esforço Esforço
solicitante resistente solicitante resistente

Cisalhamento dos
105,10 583,33 105,06 583,33
enrijecedores (kN)
Ruptura do metal solda
116,20 215,60 116,57 215,56
(MPa)
Solda entre Escoamento do metal
- - 82,41 190,91
alma da viga base (MPa)
e a chapa de Ruptura na região da solda
topo Real Mínimo Real Mínimo
Espessura da alma (cm) 0,95 0,44 0,95 0,45
Espessura da chapa (cm) 1,90 0,22 1,90 0,22
Ruptura do metal solda
- - 169,88 215,56
(MPa)
Solda entre Escoamento do metal
- - 120,10 190,91
mesa da viga base (MPa)
e a chapa de Ruptura na região da solda
topo Real Mínimo Real Mínimo
Espessura da mesa (cm) - - 1,25 -
Espessura da chapa (cm) - - 1,90 0,34
Solda entre Ruptura do metal solda
- - 132,09 215,56
enrijecedores (MPa)
e mesa do Escoamento do metal
- - 93,39 190,91
pilar base (MPa)
78

Tabela 12 - Validação dos estados-limite últimos do exemplo 1

(conclusão)

Fakury, Silva e Caldas


Software
(2016)
Critério
Esforço Esforço Esforço Esforço
solicitante resistente solicitante resistente

Ruptura na região da solda


Solda entre
Real Mínimo Real Mínimo
enrijecedores
Espessura da mesa (cm) - - 2,50 0,50
e mesa do
Espessura do enrijecedor
pilar - - 1,25 0,50
(cm)
Ruptura do metal solda
59,60 215,60 117,94 215,56
(MPa)
Escoamento do metal
Solda entre - - 83,38 190,91
base (MPa)
enrijecedores
Ruptura na região da solda
e a alma do
Real Mínimo Real Mínimo
pilar
Espessura da alma (cm) 1,25 0,11 1,25 0,11
Espessura do enrijecedor
1,25 0,23 1,25 0,23
(cm)

Fonte: Fakury, Caldas e Silva (2016).

Observa-se ao verificar compressão nos enrijecedores e na mesa da viga, que há diferenças


entre os valores das forças resistentes. Isso se deve ao fato de que Fakury et al (2016) não
calcula a resistência à compressão dos enrijecedores, mas apenas da mesa da viga, o que,
nesse caso, foi primordial para a diferença dos resultados apresentados. De acordo com a
ABNT NBR 8800:2008 os enrijecedores se encaixam como elementos pertencentes ao grupo
4 (Tabela 7), enquanto Fakury, Silva e Caldas (2016) utilizou-se de perfil soldado, elemento
pertencente ao grupo 5, desta forma foram utilizados métodos de cálculo distintos
corroborando para a diferença dos resultados.

Na análise do Cisalhamento na alma da viga são verificadas diferenças entre os valores das
forças resistentes. Isso ocorre devido a utilização da altura total do perfil ao se calcular a área
79

de cisalhamento pelo programa, algo estipulado na norma ABNT NBR 8800:2008, mas que
não foi considerado em Fakury, Silva e Caldas (2016), uma vez que utilizou a altura interna
do perfil. Além disso, o software não permite recortes na alma da viga, diferente do exemplo
de Fakury et al (2016) e que também causou a divergência da área líquida sujeita ao
cisalhamento.

4.1.2 Ligação excêntrica parafusada de chapa console

Para se apurar a ligação excêntrica parafusada de chapa console, utilizou-se exemplo obtido
de Fakury, Silva e Caldas (2016) conforme Figura 63.

Figura 63 – Exemplo 2: ligação excêntrica parafusada de chapa console

Fonte: Fakury, Silva e Caldas (2016).

A ligação é formada por chapas em aço USI CIVIL 350. Parafusos em aço ISO Classe 8.8,
diâmetro de 22 mm, com rosca fora do plano de corte, trabalhando por atrito em superfícies
sujeitas a corrosão atmosférica e furos realizados por punção.

A Tabela 13 mostra a comparação das disposições construtivas obtidas por Fakury, Silva e
Caldas (2016) e o programa desenvolvido.
80

Tabela 13 – Validação das disposições construtivas do exemplo 2

Fakury, Silva e Caldas (2016) Software


Espaçamento Mínimo Real Máximo Mínimo Real Máximo
effy (mm) 66,0 75,0 150,0 66,0 75,0 175,0
effx (mm) 66,0 130,0 150,0 66,0 130,0 175,0
efbx (mm) 27,5 50,0 150,0 27,5 50,0 150,0
efby (mm) 27,5 60,0 150,0 27,5 60,0 150,0

Fonte: Fakury, Silva e Caldas (2016).

Nas disposições construtivas ocorreram diferenças nos valores entre as distâncias máximas
entre furos, isso ocorre porque o exemplo proposto considera a distância máxima entre furos
como sendo o menor valor entre 150 mm e 12 vezes a espessura da chapa mais fina presente
na ligação. Diferentemente, a ABNT NBR 8800:2008 declara que, para elementos sujeitos à
corrosão atmosférica, a distância entre furos deve ser o menor valor entre 180 mm e 14 vezes
a espessura da chapa mais fina da ligação, resultando no espaçamento máximo apresentado
(mínimo(180mm; 14*12,5=175mm)).

A Tabela 14 mostra a comparação de resultados obtidos por meio de análises de estados-


limite últimos da ligação.

Tabela 14 - Validação dos estados-limite últimos do exemplo 2

(continua)

Fakury, Silva e Caldas


Software
(2016)
Critério
Esforço Esforço Esforço Esforço
solicitante resistente solicitante resistente
Cisalhamento nos
42,48 112,60 42,25 112,63
parafusos (kN)
Ligação por atrito
42,48 63,68 29,58 44,7
(kN)
Pressão de contato
na chapa console 42,48 207,20 42,25 206,94
(kN)
81

Tabela 15 – Validação dos estados-limite últimos do exemplo 2

(conclusão)

Fakury, Silva e Caldas


Software
(2016)
Critério
Esforço Esforço Esforço Esforço
solicitante resistente solicitante resistente
Compressão na
76,00 619,70 76,00 783,34
chapa console (kN)
Cisalhamento na
76,00 537,60 76,00 537,5
chapa console (kN)
Rasgamento na
76,00 734,40 76 734,38
chapa console (kN)
Flambagem lateral
Resistência a 11,02 64,39 11,02 64,42
com torção (kN.m)
momento fletor
Ruptura na chapa
na chapa console 11,02 66,30 11,02 65,91
(kN.m)

Fonte: Fakury, Silva e Caldas (2016).

Na ligação por atrito verificou-se que o exemplo apresenta resultados referente a força
resistente de cálculo, entretanto a ABNT NBR 8800:2008 expõe método de cálculo referente
a força resistente característica para furos-padrão. Sendo assim, o programa de cálculo segue
as orientações descritas pela norma, corroborando com a diferença entre resultados.

Na comparação entre os resultados gerados pelo exemplo e pelo software no critério de


compressão na chapa console, a diferença observada se deve a diferença na área comprida
utilizada nos cálculos. O programa computacional adota comprimento de 𝑎 (Figura 64)
somado a distância até a primeira fileira de parafusos, porém o exemplo apresenta apenas o
comprimento 𝑎 como estando sofrendo o efeito da compressão.
82

Figura 64 – Parâmetros da ligação excêntrica parafusada de chapa console

Fonte: Autores.

4.1.3 Ligação excêntrica soldada de chapa console

A Figura 65 mostra exemplo de ligação rígida excêntrica soldada com chapa de console
desenvolvido pelos autores.

Figura 65 - Parâmetros da ligação excêntrica soldada de chapa console

Fonte: Autores.
83

A ligação é formada por chapas em aço ASTM A36 com força atuante de 100 kN. Mesa do
pilar com comprimento de 230 mm (𝑏𝑓), chapa com medida paralela a medida da mesa de
220 mm (𝑏𝑓 − 𝑆), chapa console com espessura de 12,5mm, comprimento externo a mesa do
pilar de 190 mm (𝑎) e altura de 270 mm (𝐻). Solda com filete de 8 mm e eletrodo E70XX.

As disposições construtivas da ligação obedecem aos valores máximos e mínimos de filete de


solda, bem como são iguais tanto no software como no exemplo, indo de acordo com os
limites estabelecidos pela ABNT NBR 8800:2008 (Tabela 16).

Tabela 16 – Validação das disposições construtivas da perna da solda de filete do exemplo 3

Exemplo desenvolvido pelos


Software
autores
Solda Mínimo Real Máximo Mínimo Real Máximo
Console
5,0 8,0 11,0 5,0 8,0 11,0
(mm)

Fonte: Autores

Tabela 17 – Validação dos estados-limite últimos do exemplo 3

(continua)

Exemplo desenvolvido
Software
pelos autores
Critério
Esforço Esforço Esforço Esforço
solicitante resistente solicitante resistente
Compressão na
100,00 539,77 100,00 539,77
chapa console (kN)
Cisalhamento na
100,00 460,22 100,00 460,23
chapa console (kN)
Rasgamento na
100,00 782,40 100,00 782,41
chapa console (kN)
Resistência a Flambagem lateral
9,50 48,83 9,50 48,86
momento com torção (kN.m)
fletor na chapa Ruptura na chapa
9,50 67,50 9,50 67,50
console (kN.m)
84

Tabela 18 - Análise de dimensionamento de exemplo

(conclusão)

Exemplo desenvolvido
Software
pelos autores
Critério
Esforço Esforço Esforço Esforço
solicitante resistente solicitante resistente
Ruptura do metal
Solda entre 86,70 215,50 86,08 215,56
solda (Mpa)
chapa console
Escoamento do
e pila 61,30 136,30 60,86 136,36
metal base (Mpa)

Ruptura na região da solda

Solda entre Real Mínimo Real Mínimo

chapa console Espessura chapa


1,25 0,27 1,25 0,27
e pilar console (cm)
Espessura mesa pilar
2,50 0,27 2,50 0,27
(cm)

Fonte: Autores.

4.1.4 Ligação excêntrica parafusada em console T

A ligação excêntrica parafusada em console “T” utilizada na validação é mostrada na Figura


66 e foi obtida de Fakury, Silva e Caldas (2016).
85

Figura 66 – Exemplo 4: ligação excêntrica parafusada em console “T”

Fonte: Fakury, Silva e Caldas (2016).

O exemplo é composto por chapas em aço USI CIVIL 350. Parafusos em aço ISO Classe 8.8,
diâmetro de 22 mm, com rosca passando pelo plano de corte, compondo ligação por contato,
superfícies pintadas ou não sujeitas à corrosão atmosférica e furos realizados por punção.
Soldas com eletrodo 70XX. O suporte não é verificado.

A Tabela 19 mostra a comparação entre as disposições construtivas obtidas no exemplo 4,


onde a literatura de referência e o programa computacional obtiveram os mesmos resultados.

Tabela 19 – Validação das disposições construtivas do exemplo 4

Fakury, Silva e Caldas


Software
(2016)
Espaçamento Mínimo Real Máximo Mínimo Real Máximo
eff (mm) 66,00 75,00 300,00 66,00 75,00 300,00
efc (mm) 29,70 35,00 - 29,70 35,00 -
efbx (mm) 27,50 41,25 150,00 27,50 41,25 150,00
efby (mm) 27,50 60,00 150,00 27,50 60,00 150,00
Solda Mínimo Real Máximo Mínimo Real Máximo
Console 5,00 8,00 - 5,00 8,00 -

Fonte: Fakury, Silva e Caldas (2016).


86

A Tabela 20 mostra a validação dos resultados obtidos por meio de análises de estados-limite
últimos. Para que o exemplo em questão se adaptasse as condições iniciais disponíveis no
software de cálculo, fez-se necessário ampliar o local de aplicação da carga, de forma a se
obter o mesmo valor de momento solicitante de cálculo tanto no programa computacional
quanto na literatura utilizada (Figura 67).

Figura 67 – Adaptações do exemplo 4 as condições iniciais de software de cálculo

Fonte: (a) Fakury, Caldas e Silva (2016) e (b) Autores.

Onde 𝐿 é igual a 29 cm e 𝑉𝑠𝑑 igual a 76kN.

Dessa forma, por Fakury, Silva e Caldas (2016) e pelo programa computacional desenvolvido,
obtém-se momento solicitante de cálculo conforme Equações 4.1 e 4.2, respectivamente.

𝑀𝑆𝑑 = 4 ∗ (9,5 + 9,5) ∗ (9,5 + 5) = 1102 kN. cm (4.1)


29
𝑀𝑆𝑑 = 76 ∗ = 1102 kN. cm (4.2)
2
Devido a essa adaptação encontrou-se diferenças nos esforços resistentes correspondentes a
compressão na chapa console e a flambagem lateral com torção, que serão explicadas
posteriormente.
87

Tabela 20 – Validação dos estados-limite últimos do exemplo 4

(continua)

Fakury, Caldas e
Software
Silva (2016)
Critério
Esforço Esforço Esforço Esforço
solicitante resistente solicitante resistente
Cisalhamento
nos parafusos 12,67 90,07 12,67 90,11
(kN)
Tração nos
36,75 113,20 36,44 113,20
parafusos (kN)
Cisalhamento e
tração nos 0,13 1,00 0,12 1,00
parafusos (kN)
Pressão e
contato chapa 12,67 371,60 12,67 371,56
topo (kN)
Flexão na chapa
1,29 2,40 1,28 2,40
topo (kN.m)
Rasgamento na
76,00 1438,00 76,00 1441,89
chapa topo (kN)
Cisalhamento na
76,00 1634,00 76,00 1634,00
chapa topo (kN)
Compressão na
chapa console 76,00 657,40 76,00 801,77
(kN)
Flambagem
Resistência a lateral com 9,58 65,12 9,58 62,98
momento fletor torção (kN.m)
na chapa console Ruptura na
- - 9,58 72,49
chapa (kN.m)
Cisalhamento
chapa console 76,00 644,30 76,00 644,32
(kN)
Tensões
combinadas na
5,73 31,82 5,73 31,82
alma console
(kN/cm²)
Ruptura do
metal solda 73,40 215,60 73,98 215,56
Solda entre
(MPa)
chapa console e
Escoamento do
chapa topo
metal base - - 52,30 190,91
(MPa)
88

Tabela 21 – Validação dos estados-limite últimos do exemplo 4

(conclusão)

Fakury, Caldas e
Software
Silva (2016)
Critério
Esforço Esforço Esforço Esforço
solicitante resistente solicitante resistente

Ruptura na região da solda

Solda entre Real Mínimo Real Mínimo


chapa console e
Espessura chapa
chapa topo 1,25 0,38 1,25 0,38
console (cm)
Espessura chapa
1,90 0,19 1,90 0,19
topo (cm)
Fonte: Autores.

No estado limite último compressão na chapa console, a diferença encontrada nos resultados
se deve ao aumento da extensão da chapa console, arranjando assim uma maior área para
resistir ao esforço e, consequentemente, uma maior resistência do elemento. Pode-se observar
abaixo a diferença de aproximadamente 21%, sendo a mesma diferença notada entre os
valores.

𝐴𝑒𝑥𝑒𝑚𝑝𝑙𝑜 = (5 + 9,5 + 9,5) ∗ 1,25 = 30 𝑐𝑚² (4.3)


𝐴𝑠𝑜𝑓𝑡𝑤𝑎𝑟𝑒 = 29 ∗ 1,25 = 36,25 𝑐𝑚² (4.4)
𝐴𝑠𝑜𝑓𝑡𝑤𝑎𝑟𝑒
⁄𝐴 = 1,208 (4.5)
𝑒𝑥𝑒𝑚𝑝𝑙𝑜

No estado limite último de a flambagem lateral com torção foi encontrada a diferença citada
também pela alteração realizada para priorizar o momento fletor solicitante encontrado no
exemplo. Neste caso, o dado que foi alterado foi o comprimento da chapa console, que é um
𝐿𝑏
dos dados usados para se calcular o parâmetro 𝐿𝑏 , que corresponde a 𝜆 = ⁄𝑟𝑦 , alterando

assim o valor do momento fletor de cálculo.


89

5 CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

Este projeto possibilitou o desenvolvimento do programa computacional TK Ligações Rígidas


por meio de linguagem de programação Visual Basic for Applications (VBA) do Microsoft
Excel.

O software permite a verificação das disposições construtivas e dos estados-limite das


ligações mais usuais em estruturas de aço, além de gerar relatório com os resultados obtidos e
as fórmulas utilizadas.

O programa possui interface amigável e grande possibilidade de variações das ligações, por
meio dos diversos parâmetros disponíveis.

Por meio de validação constatou-se a precisão do programa frente aos resultados presentes na
literatura analisada, observando assim, poucas divergências de valores e, portanto,
apresentado conclusões satisfatórias. Entretanto, permitiu promover discussões sobre a
interpretação dos autores a respeito dos métodos de cálculo apresentados pela ABNT NBR
8800:2008, como também da necessidade de criação de métodos que permitam variações de
seus atributos e possibilitem a análise de uma gama maior de cenários, como por exemplo, o
estudo do efeito alavanca em casos de ligação assimétrica.

Por existir diversos problemas que se submetem ao campo de conexões em estruturas de aço,
sugerem-se alguns trabalhos que podem ser realizados como complementação deste:

• Análise numérica, realizada em programas que utilizem Método dos Elementos


Finitos, de ligações rígidas e flexíveis, procurando comparar os resultados com
métodos analíticos e analisar situações em ligações não previstas na ABNT NBR
8800:2008;
• Desenvolvimento de programa computacional de dimensionamento de ligações de
placas de base para pilares de aço;
• Elaboração de programa computacional para dimensionamento de ligações
híbridas entre estruturas de aço e de concreto;
• Desenvolvimento de programa computacional para dimensionamento de emendas
de vigas e pilares de aço.
90

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7165: Símbolos gráficos


de solda para construção naval e ferroviário. Rio de Janeiro, 1982.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 8800: Projeto de


estruturas de aço e de estruturas mistas de aço e concreto de edifícios. Rio de
Janeiro, 2008.

BELLEI, I. H.. Edifícios industriais em aço: Projeto e cálculo. 2. ed. São Paulo: Pini, 1998.

FAKURY, R. H.; SILVA, A. L.; CALDAS, R. B.. Dimensionamento de elementos


estruturais de aço e mistos de aço e concreto. São Paulo: Pearson, 2016.

SOARES, R. C.; SILVA, H. J. F.; SILVA, J. M.. Ligações para estruturas de aço: guia
prático para estruturas com perfis laminados. Gerdau.

MURRAY, T. M.; SHOEMAKER, W. L.. Steel design guide series 16: Moment end-plate
connections. Chicago, 2003.

PFEIL, W.; PFEIL, M.. Estruturas de aço: Dimensionamento prático de acordo com a
NBR 8800:2008. 8. ed. São Paulo: LTC, 2009.

SANTOS, A. F.. Estruturas metálicas: projeto e detalhes de fabricação. 3. ed. São Paulo:
McGraw-Hill do Brasil, 1977.

Valor Econômico. Estrutura metálica é aposta na construção. Disponível em


<http://www.cbca-acobrasil.org.br/>. Acesso em: 14 de Agosto de 2018.

VASCONCELLOS, A. L.. Ligações em estruturas metálicas. Rio de Janeiro: CBCA, 2011.

VASCONCELLOS, A. L.. Ligações em estruturas metálicas. Rio de Janeiro: CBCA, 2017.

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