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O que é arte?

A arte é geralmente entendida como uma criação humana com valores estéticos (beleza,
equilíbrio, harmonia...) que sintetizam as suas emoções, sua história, seus sentimentos e a sua
cultura, com o objetivo de estimular essas instâncias de consciência em um ou mais
espectadores.
É um conjunto de procedimentos utilizados para realizar obras, e no qual aplicamos
nossos conhecimentos. O artista precisa da arte e da técnica para se comunicar.
A arte tem variadas formas de ser expressa, tais como: artes visuais (desenho,
pinturas, escultura, cinema, etc), a música, o teatro, a dança, a literatura. Atualmente alguns tipos
de arte permitem que o apreciador participe da obra.
Arte é um fenômeno cultural. Regras absolutas sobre arte não sobrevivem ao tempo,
mas em cada época, diferentes grupos (ou cada indivíduo) escolhem como devem compreender
esse fenômeno.

O que é arte visual?


A arte visual é o tipo de expressão artística que é captada pela visão
Ela também é definida conforme seu meio, ou sua mídia, como o desenho, a pintura, a
escultura, a arquitetura, a fotografia, o cinema e o vídeo.

Ela pode ser útil, como a cerâmica e a tecelagem ou pode ser feita apenas para apreciação,
como as esculturas e pinturas.

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Ela também pode ser encarada como uma manifestação natural, parte do
desenvolvimento humano, pois as crianças e os povos primitivos utilizam desenhos e pinturas
para expressar seus sentimentos e o que apreendem do mundo a sua volta.

Pintura rupestre em Traful, Argentina.

A arte visual é uma linguagem?


A arte visual também é definida como uma linguagem.
Existe um conjunto de elementos que estrutura a arte visual e que pode ser ensinado e
aprendido.
Esses elementos carregam consigo interpretações e significados que estão ligados aos
sentimentos humanos. Eles não estão ligados ao discurso lógico e racional da linguagem escrita
ou da matemática, pois são ambivalentes e cada pessoa pode interpretar a seu modo uma obra de
arte visual criada pelo homem.
O estudo da História da Arte fica mais completo quando dominamos a linguagem, pois o
que diferencia a produção de arte de determinada civilização ou período da História é também o
uso que os homens fazem dos elementos da linguagem.
A compreensão dos mais diferentes modos de se utilizar a linguagem é uma chave para
um baú de tesouros chamado Cultura.

Bateria de escola de samba do Carnaval, no Rio de Janeiro, manifestação cultural tipicamente


brasileira que envolve arte visual, dança e música.

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É a compreensão da linguagem que nos ajuda a reconhecer a produção cultural de um
povo.

O que é composição visual?


Todos os trabalhos de arte visual são composições, e para compreendê-las é necessário
conhecer os elementos que estruturam a linguagem e os princípios que regem a combinação
desses elementos.
A composição é a organização ou arranjo dos elementos da arte visual de acordo com os
princípios da arte visual.

Elementos da linguagem visual


Os elementos que estruturam a linguagem visual são chamados de ELEMENTOS
FORMAIS. Estes elementos fazem parte de objetos de arte visual, como as imagens, esculturas
e edifícios, e transmitem muitos sentimentos e sensações. Os elementos formais são:
Ponto Valor
Linha Forma
Textura Figura
Cor Espaço

Princípios da linguagem visual


Podemos organizar os elementos da linguagem seguindo alguns princípios. Os artistas
visuais utilizam os elementos a fim de criar um trabalho especial e pessoal, que resulta em
expressão.

Os princípios da linguagem visual são:


Equilíbrio Ritmo
Ênfase Padrão
Proporção Harmonia
Movimento Variedade

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Elementos Formais
Ponto - o elemento mais simples
O ponto é o elemento mais simples da linguagem visual.
Quando batemos com a ponta do lápis no papel estamos fazendo um registro, uma marca.
Este registro pode ser feito com materiais diferentes em suportes diferentes e, por isso,
pode ter características peculiares e ter diversas interpretações.
Por exemplo: um ponto feito com carvão ou giz pastel é mais seco, e deixa registrado o
gesto do artista, a intensidade da força de sua mão ao desenhar.
Pontos feitos com bico de pena e nanquim são delicados e suaves, e podem criar
texturas.
Pontos feitos com uma goiva na madeira criam texturas que podemos sentir ao tocarmos
em relevos entalhados.
Pequenos furos feitos na argila criam texturas nas cerâmicas e podem caracterizar a
produção artesanal de um povo.

Pintura corporal Ianomâni


Observe a pintura corporal deste índio ianomâni. Ela representa sua tribo.
Pontos coloridos pintados numa superfície, um ao lado do outro, podem criar uma ilusão
de ótica que une as cores para criar outra cor. Essa técnica de pintura é chamada de Pontilhismo,
e seu criador foi Georges Seurat, pintor francês pós-impressionista.

“Um domingo de verão na ilha da Grande Jatte” (1884-1886), de Georges Seurat

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Pontos feitos com tinta respingada numa tela guardam um momento, uma ação que o
artista quis deixar registrada para sempre. Observe esta tela de Jackson Pollock, artista plástico
americano expressionista abstrato. Seu trabalho é chamado de action paint, “pintura de ação”.

“Branco e negro” (1948), de Jackson Pollock

Linha - unidade expressiva


Na linguagem visual, as linhas podem ser usadas literalmente, como na tecelagem, nos
bordados ou nas esculturas de arame.

Um grupo de artesãs guatemaltecas confecciona, em teares Esta peça, produzida em Nuremberg em princípios do século XVIII,
tradicionais, mantas e tecidos de colorido brilhante com fibras serve como uma aula de bordado. Os diversos tipos de bordado
naturais, em alguns casos previamente tingidas com tinturas naturais. aparecem especificados nos cinco retângulos da parte inferior.

Tipos de linha
Na linguagem visual, as linhas podem variar de direção, tamanho, espessura e cor.
Por exemplo, uma linha reta pode ser inclinada, longa, grossa e amarela.
Ou pode ser horizontal, curta, fina e azul.
Elas podem ser:

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Linha e expressão
Esses elementos da linguagem visual também podem expressar sentimentos e sensações.
Por exemplo:
Linhas horizontais e verticais são estáveis e seguras. Observe esta tela de Piet
Mondrian, pintor holandês, criador do movimento da Arte Moderna De Stjil. Ele usou linhas
retas negras, horizontais e verticais para nos transmitir segurança, estabilidade, solidez.

“Composição em vermelho, azul e amarelo” (1930),


de Piet Mondrian

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Linhas quebradas não estão nem na vertical nem na horizontal, e, portanto estão em
movimento. Elas nos passam uma sensação de raiva e força.
Linhas diagonais são confusas, vibrantes. Nas composições bidimensionais linhas
diagonais indicam profundidade, criando uma ilusão de perspectiva.
Linhas curvas e espirais criam movimento, fluidez e passam a sensação de sonho.
Linhas sinuosas são sensuais e suaves, e podem transmitir uma sensação de sonho.

Observe este trabalho de Van Gogh, pintor holandês pós-impressionista. Ele usou linhas
curvas para desenhar a textura do campo de trigo e das plantas, e também para desenhar as
montanhas e as nuvens, transmitindo uma sensação de movimento, de alucinação.

“Campo de trigo e ciprestes” (1889), de Vincent Van Gogh

Alguns desenhos podem ter linha de contorno, e o tipo de linha usada pode tornar o
desenho mais delicado ou mais pesado. Observe esta xilogravura do Sutra do Diamante. Seus
traços são delicados e suaves.

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Textura - sensação e sentimento
Algumas coisas têm um relevo em sua superfície, a que chamamos de textura. Nós
podemos perceber a textura dos objetos ao tocá-los ou apenas observando a sua superfície
atentamente.
A textura pode ser macia, áspera, lisa, enrugada etc.
A textura pode nos transmitir sensações e sentimentos, como:
Textura lisa: tranquilidade, suavidade, fria.
Textura áspera: raiva, calor.
Textura macia: conforto, aconchego.
Textura enrugada: tristeza, umidade.

Cactus do deserto de Nova Califórnia,


Estados Unidos

Textura desenhada
Na linguagem visual, a textura pode ser trabalhada de diversas maneiras. Nós podemos
desenhar texturas usando pontos, linhas retas, curvas, sinuosas ou quebradas.
Observe esta litografia de Honoré Daumier, pintor e caricaturista francês do século
XIX. Usando apenas linhas e pontos ele fez uma crítica da sociedade da época.

"Os prazeres da vida no campo", de Honoré Daumier

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Outra maneira de desenharmos texturas é fazendo frottage. É uma técnica que foi
valorizada por um pintor surrealista chamado Max Ernst. Consiste em rabiscar, com grafite,
num papel sobre uma superfície que tenha uma textura característica, como por exemplo, um
chão de madeira.
Então, como mágica, a textura da madeira passa para o papel, e é justamente essa força
do acaso e das infinitas possibilidades de reprodução que encantou os surrealistas. Para eles, a
arte tinha a função de representar o inconsciente, o acaso; eles buscavam a arte pura dos loucos e
das crianças.
Alguns artistas modernos e contemporâneos trabalham com texturas como tema em si.
Suas pinturas e esculturas enfocam a sensação que as texturas causam nos espectadores, seja por
meio do olhar ou do tato.
São múltiplas mídias, ideias e suportes. A imagem e seu simbolismo são revalorizados
em todas essas linguagens.

Colagens e relevos
Para conseguirmos o efeito de textura num desenho, podemos colar objetos texturizados
numa superfície ou usar materiais como massa corrida e gesso, que dependendo de como os
trabalhamos, quando secam ficam rugosos ou ásperos.
Observe a capa desse manuscrito do século XI, onde foram incrustados pedras e objetos
entalhados:

Capa de um manuscrito do século XI

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Nós podemos tocar os relevos e as esculturas e sentir a textura dos materiais com que
foram feitos. Podemos criar texturas entalhando a madeira ou a pedra, vincando o metal ou
marcando a argila.
Observe estes relevos:
A aspereza morna da madeira: A suavidade gelada do mármore:

Talha medieval, procedente da porta de uma igreja norueguesa Baixo-relevo em mármore do fim do século VI a.C - arte etrusca.
– arte viking.

Observe nestas esculturas:


A superfície lisa do metal: A delicadeza gelada do mármore:

O David (1430-1435) de bronze, de Donatello, é o primeiro Coquille baillante (1964-65) é uma escultura realizada pelo escultor e poeta
nu na escultura renascentista. dadaísta francês Jean Arp. Criada em mármore, é uma cópia de um estuque ou
gesso original. Arp, que foi um dos primeiros escultores a criar formas deste tipo,
as denominou "concreções".

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Cor - um mundo expressivo
Nós vemos as cores por causa da luz.
Cada coisa neste mundo, quando iluminada, emite ondas que nos fazem ver determinada
cor.
Cada pessoa percebe a cor diferentemente de outra pessoa, pois a cor também depende do
olho de quem vê.
Muitas vezes uma mesma cor pode mudar quando está perto de outra cor, pois a nossa
percepção cria uma terceira cor entre elas. Observe como a mesma cor parece diferente
dependendo da cor do fundo do desenho:

Os artistas visuais estudam as cores e os efeitos que elas causam umas nas outras quando
estão juntas. Eles experimentam várias combinações de cores como forma de estudo e também
para escolher a sua paleta.
Algumas cores quando estão juntas criam um conjunto harmonioso, suave, delicado.
Observe esta pintura de Gino Severini, pintor italiano fundador do Futurismo, movimento da
arte moderna.

“Trem suburbano” (1883-1966), de Gino Severini

Algumas cores quando estão juntas criam um efeito vibrante, contrastante. Observe este
quadro de Rosso Fiorentino, pintor italiano maneirista.

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“Descida da cruz” (1521), de Rosso Fiorentino

Propriedades da cor
As cores têm três propriedades:
Tom ou matiz: É o nome da cor.

Amarelo

Intensidade: É a característica de pureza ou de mistura de uma cor.

Amarelo azulado Amarelo avermelhado

Valor: É a característica de claridade ou escuridão de uma cor, ou a quantidade de preto


ou de branco que uma cor tem.

Amarelo escuro Amarelo claro

Tanto a gradação suave de intensidade quanto a gradação suave de valor de um tom ou


matiz nos dão a sensação de luz, de iluminação.

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Gradação de intensidade de tom é do amarelo ao azul

Gradação de valor é do amarelo ao preto

Gradação de tom e de valor

Cores primárias, secundárias e terciárias


As cores primárias são três cores que, quando misturadas, criam todas as outras cores.
Existem dois tipos de cor: cor luz e cor pigmento.
Aqui falaremos das cores pigmento.
A partir do final do século XIX o vermelho pigmento aceito como primário é o vermelho
magenta, pois esse pigmento puro só foi desenvolvido nessa época.
As cores primárias são:

Vermelho magenta

Azul e

Amarelo

Elas são chamadas primárias porque com elas fazemos todas as outras cores.
As cores secundárias são aquelas que conseguimos com a mistura de duas cores
primárias em partes iguais:

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Amarelo + Vermelho = Laranja

Amarelo + Azul = Verde

Vermelho +Azul = Roxo

O preto é mistura de todas as cores, e o branco é a ausência de cor, de pigmento.

Este é o círculo cromático. Ele auxilia o


estudo das cores, pois podemos ver o
resultado da mistura das cores primárias.

As cores terciárias, que conseguimos com a mistura das cores secundárias entre si, criam
o marrom e seus tons e são as chamadas cores terrosas.

+ =

A mistura do preto e do branco cria os mais variados tons de cinza.

Tintas
Na linguagem visual, de modo geral, para pintar nós precisamos das tintas.
As tintas são formadas pelo pigmento, pelo aglutinante e pelo solvente.
Os pigmentos, que dão a cor às tintas, em geral são encontrados na natureza, como os
minerais e as plantas, e são utilizados em pó.

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Processo industrial de fabricação de tintas.

O aglutinante é a liga da tinta. Ele une o pó do pigmento, e dá as características da tinta:


- A tinta óleo tem como aglutinante óleo de linhaça,

- A tinta guache tem como aglutinante goma e gesso,

- A tinta aquarela tem como aglutinante água,

- A tempera tem como aglutinante a gema de ovo.


O solvente é o líquido que dissolve a tinta. Por exemplo: o solvente da tinta óleo é a
terebentina; o solvente do guache, da têmpera e da aquarela é a água.

Cores complementares
As cores complementares são aquelas
que ocupam lugares opostos no círculo
cromático.

A cor primária que não faz parte da


mistura da cor secundária é chamada de
cor complementar.
As cores complementares são:
Vermelho e verde
Laranja e azul
Amarelo e roxo

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Tanto as cores complementares quanto o preto e o branco, quando estão juntos, criam um
efeito contrastante, vibrante, dando força e equilíbrio ao trabalho.

Observe esta tela de Stuart Davis, artista americano expressionista abstrato. Ele usou
cores puras, vibrantes, contrastantes, como as cores complementares, o preto e o branco.

Abstraction (1937), de Stuart Davis

Cores análogas
São as que aparecem lado-a-lado no gráfico. São análogas porque há nelas uma mesma
cor básica. Pôr exemplo o amarelo-ouro e o laranja-avermelhado tem em comum a cor laranja.
As cores análogas, ou da mesma "família" de tons, são usadas para dar a sensação de
uniformidade.
Uma composição em cores análogas em geral é elegante, porém deve-se tomar o cuidado
de não a deixar monótona.

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Cores frias e cores quentes
Chamamos de cores quentes aquelas que têm amarelo na sua composição.

Chamamos de cores frias aquelas que têm azul na sua composição.

É uma gama muito extensa de cores e tons, portanto o que importa é a sensação que as
cores passam para nós e não uma regra específica sobre quais são as cores frias e quais são as
quentes.
O conjunto das cores em uma pintura, por exemplo, pode ser mais frio ou mais quente
dependendo da maioria das cores do quadro.
As cores frias e quentes também podem estar associadas aos sentimentos, como alegria e
tristeza. As cores quentes são cores mais alegres, e as cores frias são cores mais tristes.
Observe esta pintura de Pieter Brueghel, o Velho, pintor renascentista flamengo. As
cores desta pintura são predominantemente frias.

Uma vila de Bruxelas, de Pieter Brueghel, o Velho

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Agora observe esta outra pintura de Pieter Brueghel. Esta tela tem cores quentes.

A Torre de Babel (1563), de Pieter Brueghel, o Velho

Valor - luz e sombra


A passagem gradativa de um valor a outro nos dá a sensação de luz, de iluminação, e por
consequência de volume (isto também serve para os desenhos em preto e branco). As figuras de
um desenho que têm cores mais claras e mais vibrantes são as mais iluminadas, enquanto as que
têm as cores mais escuras e pastéis são as menos iluminadas. Observe a Mona Lisa, de
Leonardo da Vinci, pintor italiano renascentista.

Monalisa – Leonardo Da Vinci

Forma - representação
Na linguagem visual, as formas podem estar nas imagens, como nos desenhos, pinturas,
fotografias, vídeos e filmes.

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The Other Side of Midnight, 2000, de Kenneth Noland, pintor americano
expressionista abstrato.

Ou podem ser construídos, como as esculturas, os objetos, os relevos e os edifícios.

Coluna maquete (1923), de Naum Gabo, artista construtivista


russo.

Formas figurativas
Tanto as imagens das formas quanto as formas construídas podem ser figurativas,
representações de coisas conhecidas, verdadeiras cópias da realidade. Observe esta tela de Jan
Vermeer, pintor holandês barroco. Ela é quase uma fotografia, e registra um momento do dia-a-
dia de uma holandesa do século XII.

A leiteira (1659-1660), de Vermeer

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Formas figurativas estilizadas
As formas figurativas podem ser estilizadas, pois o artista pode interpretar as coisas do
mundo com seu traço particular. Observe esta tela de Fernand Léger, pintor francês cubista, onde
a figura humana estão geometrizadas.

Mulher com gato, 1921 Fernand Léger ( França,1881-1955).Óleo sobre tela, 65 x 92 cm

Formas abstratas
As formas também podem ser abstratas. As formas abstratas podem ser orgânicas,
geométricas, ornamentais ou simbólicas.

Formas abstratas orgânicas


Formas orgânicas são formas irregulares e assimétricas. Observe esta obra de Barbara
Hepworth, escultora inglesa moderna. Ela usava o espaço vazio em suas obras.

Hieroglyph, de Barbara , Hepworth

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Formas abstratas geométricas
Formas geométricas são aquelas que correspondem às figuras geométricas como os
quadrados, retângulos, triângulos. Observe este exemplo de arquitetura contemporânea.

Finlândia Hall, em Helsinki, Finlândia.

Formas abstratas ornamentais


Formas ornamentais são usadas como padrões ou estampas de tecido, por exemplo.
Observe este tapete:

Este tapete foi feito para a mesquita-mausoléu do xú Tahmasp, em


Ardabil, Irã. O motivo central, em forma de medalhão, é típico dos
tapetes das mesquitas.

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Formas abstratas simbólicas
Outro tipo de formas são as simbólicas. São formas figurativas que perdem seu
significado original porque o artista lhes deu outro significado. Observe esta instalação de
George Segall, escultor americano contemporâneo. Ele utilizou elementos do cotidiano para
expressar solidão.

Instalação. A cortina (1974), de George Segal

Figura – positivo e negativo


Na linguagem visual, quando pensamos em formas, imaginamos que elas existem em
relação a um fundo, um espaço, que pode ser o plano do papel ou mesmo o espaço real, no caso
de uma escultura.

Formas positivas e negativas - figura e fundo


A relação entre a figura e o fundo nos traz outra definição de forma:
Forma positiva: É a figura.
Forma negativa: É o fundo.
Observe esta tela de Franz Kline, pintor americano expressionista abstrato. Ele pintava
grandes formas de cor negra que parecem flutuar sobre a brancura da tela.

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Meryon (1960-1961), de Franz Kline

O reconhecimento do que é figura e do que é fundo é um grande passo no aprendizado da


linguagem visual.
A percepção de figura e fundo está condicionada por nosso instinto de colocar ordem e
significado nas informações visuais.
Quando olhamos para uma imagem tendemos a finalizar uma conclusão sobre o
significado, e ignoramos as outras possibilidades. É difícil perceber as outras imagens. Treinar o
olho a perceber depois da primeira impressão é um desenvolvimento crucial na alfabetização
visual.
Observe este desenho que utiliza formas bidimensionais:

Afinal, o que é figura e o que é fundo neste desenho?

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Espaço - arte em três dimensões
O espaço, na linguagem visual, pode ser definido como:
Tridimensional: É o espaço real, onde as obras de arte tridimensionais estão situadas.

"Trowel" (1971-1976), de Claes Oldenburg

Bidimensional: É a representação do espaço tridimensional em uma superfície


bidimensional, como a superfície do papel ou a tela da pintura.

"Cenas urbanas", de Debret


Num desenho, quando a figura e o fundo se separam, temos a impressão de que existem
vários planos e de que as formas são tridimensionais. Por exemplo: pinturas, imagens de
fotografias, imagens da tv, do cinema, dos cartazes, das revistas e dos livros estão em superfícies
bidimensionais e mesmo assim representam formas tridimensionais.

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Formas côncavas, convexas, planas e
vazadas.
As formas tridimensionais podem ser convexas. Por exemplo: nosso corpo tem formas
convexas, e as esculturas figurativas realistas utilizam formas tridimensionais convexas.

A Vênus de Milo (150?-100 a.C.), descoberta em Milo em


1820, É a escultura clássica produzida em mármore mais
conhecida do mundo antigo. Mede 2,05 metros de altura e
representa Afrodite (Vênus, na mitologia romana), a deusa
grega do amor e da beleza.

As formas tridimensionais podem ser côncavas, como nos objetos utilitários de cerâmica.

Artesão trabalhando a argila no torno.

Podem ter espaços vazios ou serem furadas. Observe esta escultura de Henry Moore,
escultor inglês moderno. Ele usava o espaço vazio em suas obras.

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"Figura reclinada no. 2" (1963), de Henry Moore

As formas tridimensionais podem ser planas.


Observe este detalhe de uma escultura de Anthony Caro, escultor minimalista inglês. Ele
utilizou formas planas em sua obra.

Detalhe "Early One Morning"


(1962), de Anthony Caro

Espaço bidimensional - formas desenhadas


Podemos desenhar as formas no espaço bidimensional com pontos, linhas retas, linhas
curvas, linhas sinuosas, linhas quebradas, com cores, com texturas, com todos esses elementos
juntos ou com cada um separadamente.
Num desenho, quando unimos as linhas, criamos as formas. As linhas fechadas criam
formas. Observe esta tela de Roy Lichtenstein, pintor americano da Pop Art. Seus desenhos têm
uma linha de contorno bem marcada, pois têm inspiração nas histórias em quadrinhos.

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"Whaam!" (1963), de Roy Lichtenstein

Já nesta tela de Pierre Bonnard, pintor francês impressionista, as formas são feitas com
massa de cor, sem linha de contorno, criando uma atmosfera cheia de luz e tranquilidade.

"Café da manhá", de Pierre Bonnard

Nesta tela de Gustav Klimt, pintor austríaco que pertenceu ao grupo dos Nabis, as
formas são definidas pelas texturas e padrões criados pelo artista.

"O beijo" (1907-1908), de Gustav Klimt

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Ilusão de três dimensões no espaço
bidimensional
As formas desenhadas em superfícies bidimensionais podem criar a ilusão de ter três
dimensões. Para isso podemos usar os seguintes recursos:
Sobreposição
Quando duas formas estão sobrepostas em um desenho, àquela que tem o contorno
completo é a que está na frente, e isso nos dá a impressão de existirem vários planos.
Observe esta pintura de Renê Magritte, pintor belga surrealista. Sabemos que o homem
está atrás da maçã porque seu rosto está incompleto, e sabemos que o homem está na frente do
muro de pedras, porque o desenho do muro está interrompido, incompleto.

"O filho do homem", de Magritte

Tamanho das formas


Em um desenho, as formas maiores parecem estar mais perto de nós e as menores, mais
distantes. Observe esta gravura de Toulouse-Lautrec, pintor francês pós-impressionista. As
pessoas maiores parecem estar mais próximas de nós e as menores mais distantes, criando uma
ilusão de profundidade.

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"La Goulue entrando no Moulin Rouge", de Toulouse-
Lautrec

Perspectiva linear
Refere-se à ilusão na qual os objetos parecem convergir para um ponto de fuga (PF) em
relação à linha do horizonte (LH).
O ponto de convergência pode estar em diversos lugares no plano, dependendo do ponto
de vista do observador, e ele pode ser visível ou imaginário.
Observe esta tela de Rafael, pintor renascentista. O ponto de fuga está no centro do
quadro, e a convergência nos dá a impressão de profundidade.

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Perspectiva atmosférica
Na perspectiva atmosférica o que está mais perto tem mais detalhes, contraste, textura e
está desenhado na metade inferior do desenho. Normalmente a maioria dessas qualidades é usada
em combinação e nos dão a impressão de profundidade, de três dimensões.
Observe esta paisagem do pintor romântico espanhol Carlos de Haes.

"Los picos de Europa" (1876), de Carlos de Haes

Registro da luz e da sombra


Para ressaltar o volume de um objeto retratado e dar-lhe tridimensionalidade precisamos
criar uma atmosfera de luz incidente usando a gradação de tons e valores, para ressaltar suas
sombras. Observe este retrato feito por Lucian Freud, pintor alemão contemporâneo.

"Francis Bacon" (1952), de Lucian Freud

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Transparência
O uso de formas transparentes em desenhos ou pinturas é um recurso para criar a ilusão
de vários planos. Em geral, as formas transparentes parecem estar na frente de formas opacas.
Observe como o círculo parece estar mais próximo de nós.

Princípios da Linguagem Visual


Podemos organizar os elementos da linguagem seguindo alguns princípios.
Os artistas visuais utilizam os elementos a fim de criar um trabalho especial e pessoal,
que resulta em Expressão.
Não existe nenhum modo de julgarmos o que é certo ou errado numa composição visual.
Mas o aprendizado dos princípios da linguagem nos auxilia tanto na nossa produção de arte
quanto no reconhecimento do estilo de um artista ou de um povo.
O aprendizado dos princípios da linguagem também nos ajuda na tarefa de decifrar as
mensagens que as obras de arte visual carregam.
Os princípios da linguagem visual são:
• Equilíbrio • Ritmo
• Ênfase • Padrão
• Proporção • Harmonia
• Movimento • Variedade

Equilíbrio
O equilíbrio cria uma sensação de estabilidade ao olharmos para uma obra de arte visual.
Podemos citar dois tipos de equilíbrio para uma composição: Equilíbrio simétrico e assimétrico.

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Equilíbrio simétrico
É a distribuição dos elementos do quadro de ambos os lados de um ponto ou eixo central, de
modo a que umas partes estejam em correspondência com outras.
A composição simétrica leva em si mesma a expressão de ideias como a religiosidade, a
severidade, a solenidade, a grandiosidade, o luxo e força. O equilíbrio simétrico, também denominado de
"formal".

Equilibrio Simétrico

O homem vitruviano – Leonardo Da Vinci.

Equilíbrio Assimétrico
É bem caracterizado pela distribuição de objetos com "pesos" visuais diferentes,
contrabalançando um e outro, produzindo informalidade e tensão na composição. Não existe o
equilíbrio que se possa dizer correto, ambos apresentam diferentes vantagens e propostas.
As formas e cores equilibram-se de maneira informal. Nossos olhos passeiam pela tela
até conseguir decifrá-la, causando uma sensação de ansiedade.

Equilíbrio Assimétrico

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A Vênus do Espelho – Velázquez, Nacional Gallery

Ênfase
Ênfase é quando o artista usa elementos contrastantes da linguagem para exagerar um
sentimento, uma opinião, uma sensação. Observe esta tela de Goya, pintor espanhol do
romantismo, onde ele usou o contraste do claro e escuro das cores para nos mostrar o desespero
do condenado.

Três de maio de 1808 – Francisco Goya

Proporção
A proporção é o uso de formas de tamanhos contrastantes. Ela pode ser usada para dar
impressão de profundidade ou para expressar sentimentos.
Esta é uma página do manuscrito Livro dos Mortos. Ela mostra o uso da proporção
característica da arte egípcia, onde quanto maior fosse o desenho de um homem em relação aos
outros homens, mais poder ele tinha.

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Livro dos mortos, Egito Antigo

Movimento
É o princípio da linguagem visual que cria a sensação de dinâmica e de velocidade.

Movimento literal
Acontece quando as obras de arte têm movimento real, físico. Existem esculturas que se
movimentam de forma eletrônica ou mecânica. Este Móbile de Alexander Calder, artista
americano da arte cinética, movimenta-se com o vento.

The box in the air" (1945), de Calder

Representação do movimento
Os artistas podem usar em desenhos e pinturas as linhas diagonais para representar o
movimento. Podem colocar as formas em posições diagonais e conseguir a impressão de
movimento. Observe esta tela futurista de Frank Kupka, pintor checo.

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The Drilling Machine (1925), de Frank Kupka

As imagens congeladas sugerem inúmeras maneiras de representar o movimento. Observe esta


tela de David Hockney, pintor pop americano.

A Bigger Splash (O grande mergulho, 1967),


de David Hockney

A repetição das formas também sugere o movimento. Observe esta tela de Marcel Duchamp,
pintor francês dadaísta.

Nu descendo uma escada (1912), de Marcel Duchamp

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Ritmo
Nossos olhos se movem quando olhamos para uma composição, criando um ritmo.
O ritmo é a velocidade na qual o espectador percebe os componentes da composição. Os
artistas podem, intencionalmente, levar os nossos olhos a passearem pela tela usando cores e
formas. Observe esta gravura de Daniel Hopfer, artista renascentista. Nossos olhos caminham
acompanhando as formas.

Dança na aldeia, gravura do século XVI, de Daniel Hopfer

Padrão
Na linguagem visual, o padrão é a repetição de unidades de forma ou figura, de linhas, de
pontos e de cores. Nós vemos padrões nos mosaicos, nas estampas das roupas e nas estampas dos
tapetes, por exemplo. Os padrões carregam muita simbologia.
Eles sugerem espiritualidade, pois existem muitas religiões que usam padrões como
símbolos, como as mandalas hindus.
Observe este mosaico romano. Ele tem padrões característicos que nós reconhecemos
como romanos.

Este chão de mosaico, que se


acha na vila romana de
Fishbourne (West Suex), foi
construído entre 71 d.C. e 80
d.C. e representa um tema
aquático: um menino que
monta em um delfim aparece
rodeado por cavalos marinhos
e panteras.

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Observe esta tela de Dante Gabriel Rossetti, artista inglês, criador do movimento Pré-
Rafaelita. Observe como a riqueza de padrões desta pintura nos transmite a delicadeza de
sentimentos dos dois amantes.

Roman de la rose (1864), de Dante Gabriel Rossetti

Harmonia
A harmonia de uma obra de arte visual está no equilíbrio entre todos os elementos,
criando uma unidade coerente e suave. Observe esta construção de Niemeyer e a harmonia de
suas formas e cores.

Palácio do Itamaraty (1962), de Oscar Niemeyer

Variedade
A variedade é a harmonia pela diferença, pelo desequilíbrio. Observe esta tela
expressionista abstrata de Hans Hofmann, artista americano. Quantas linhas gestuais, cores
vibrantes e figuras disformes.

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Flight (Voo), de Hans Hofmann

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Sites e livros recomendados
Pesquise na Internet:
www.artlex.com
Dicionário de termos de arte virtual (em inglês).
www.artchive.com
Galeria de arte virtual (em inglês), com informações sobre artistas e movimentos.
www.artcyclopedia.com
Enciclopédia virtual das artes plásticas (em inglês).
www.art-bonobo.com
Site sobre arte brasileira contemporânea.

Leituras recomendadas:

CÊSAR COLL; ANA TEBEROSKY. Aprendendo Arte. São Paulo: Ática, 2000.
DONIS A . DONDIS. Sintaxe da linguagem visual. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
EDITH DERDYK. Formas de pensar o desenho. São Paulo: Scipione, 1989.
RUDOLF ARNHEIM. Arte e Percepção Visual. São Paulo: Livraria Pioneira, 1997.
STAN SMIT; H. F. TEN HOLT. Manual del artista. Madrid: H. Blume, 1982.

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