Você está na página 1de 10

Observação macro e microscópica da morfologia de cnidários e

identificação de estruturas dos grupos de Anthozoa, Medusozoa e Myxozoa


Ana Luiza Reis Passos*, Camile Aléxia da Silva Leão, Maria Fernanda Silva Sacchi,
Michelle Miranda de Oliveira Jacinto;

Introdução
O grupo dos cnidários se trata de um dos mais antigos dentre os metazoários (NEVES,
2007). Além disso, apresentam um mecanismo de defesa “desenvolvido e consistente”, que
pode ultrapassar a exposição a micróbios nocivos (STABILI, 2018). Este filo, pode ser
dividido em três subfilos: Anthozoa, Medusozoa e Myxozoa.
O primeiro subfilo, Anthozoa, se destaca por apresentar a ausência de estágio
medusóide e por ser constituído de duas importantes subclasses, sendo essas, Octocorallia e
Hexacorallia. Elas se diferenciam quanto ao número de tentáculos presentes, sendo a primeira
subclasse composta por cnidários com geralmente oito tentáculos, e a segunda subclasse com
estes variando entre os múltiplos de seis (BRUSCA E BRUSCA, 2018).
Como segundo subfilo, denominado de Medusozoa, é possível observar ao decorrer de
sua vida dois estágios, como formas sésseis (estágio polipóide) e formas de vida livre (estágio
medusóide). Neste subfilo, pode-se destacar duas importantes classes que compõem os
Medusozoa, chamadas de Scyphozoa e Hydrozoa.
Os Scyphozoa apresentam um predomínio da forma medusóide durante seu ciclo de
vida, além de uma diferenciação nos seus tentáculos que os tornaram mais espessos,
nomeados de braços orais. Já os Hydrozoa, animais estes compostos por um exoesqueleto de
quitina ou de carbonato de cálcio, manifestam algumas notáveis sinapomorfias, como uma
mesogléia acelular, medusas craspedotas, aquelas compostas por um véu, e, cnidócitos
exclusivamente epidérmicos (BRUSCA E BRUSCA, 2018).
Por fim, o último subfilo presente nos cnidários, identificado como Myxozoa,
compõem em sua maioria parasitas intracelulares de pecilotérmicos, além de possuírem
estruturas de filamentos semelhantes aos nematocistos, encontrados nas Medusas, em suas
cápsulas polares, e micrósporos (BRUSCA E BRUSCA, 2018).
Nesse sentido, a presente prática tem como objetivo a observação de diferentes grupos
de cnidários, com ênfase na identificação de estruturas dos indivíduos do grupo Anthozoa,
Medusozoa e Myxozoa.
Metodologia
A presente prática foi dividida em duas aulas, na primeira foram observados cnidários
macroscópicos, enquanto na segunda aula foram observadas estruturas microscópicas e
macroscópicas.
Na primeira aula, exemplares de coral mole, coral duro, zoantídeo e anêmona foram
observados com o auxílio de um estereoscópico, o qual possibilitou melhor visibilidade das
estruturas desses diferentes antozoários. A observação foi realizada em grupo para facilitar a
identificação das estruturas desses indivíduos com auxílio de um manual de aulas práticas.
Já na segunda aula prática, parte da observação foi realizada em microscópio fotônico,
pois tratava-se de indivíduos do grupo Medusozoa muito pequenos fixados em lâminas. Além
disso, foi utilizado também um estereoscópio para identificar a estrutura de um hidrocoral.

Resultados
Na primeira aula, o primeiro Anthozoa observado pelo grupo tratava-se de um coral
mole da ordem Gorgonacea. Nesse indivíduo foram identificadas quatro estruturas principais
destacadas na Figura 1, são elas: cenênquima, coralito, esqueleto axial e placa basal.
B

D.
Figura 1. Coral mole da ordem Gorgonacea pertencente ao grupo Anthozoa.
(A- cenênquima; B- esqueleto axial; C- coralito; D- placa basal)
Ilustração: Maria F S Sacchi

O segundo é conhecido como coral duro e pertence à ordem Scleractinia. As


principais estruturas observadas, destacadas na Figura 2, foram os esclerosseptos, o coralito e
a placa basal.
A
B

C
Figura 2. Coral duro da ordem Scleractinia pertencente ao grupo Anthozoa.
(A- coralito; B- esclerosseptos; C- placa basal)
Ilustração: Maria F S Sacchi

O terceiro era um antozoário do grupo dos zoantídeos, caracterizado por apresentar


três estruturas: um estolão, um disco oral e colunas, indicadas na Figura 3.

C
Figura 3. Zoantídeo pertencente ao grupo Anthozoa.
(A- disco oral; B- coluna; C- estolão)
Ilustração: Maria F S Sacchi

O último antozoário era uma anêmona, a qual apresentava tentáculos retraídos, coluna,
disco basal e disco oral, conforme indicado na Figura 4.
B
C
A

D
Figura 4. Anêmona pertencente a Anthozoa com tentáculos retraídos.
(A- disco oral; B- tentáculos; C- coluna; D- vesículas; E- disco basal)
Ilustração: Maria F S Sacchi

Já na segunda aula, foram observados indivíduos de diferentes grupos de Medusozoa.


O primeiro era um pólipo colonial microscópico de Hydrozoa, no qual foi possível destacar
diferentes estruturas em três lâminas distintas. Foram elas: hidróide, hidroteca, perissarco e
cenossarco, indicados na Figura 5, assim como tentáculos retraídos (Figura 6) e tentáculos
expostos (Figura 7).

Figura 5. Pólipo de Hydrozoa


(A- hidróide; B- hidroteca; C- cenossarco; D- perissarco)
Ilustração: Maria F S Sacchi
Figura 6. Pólipo de Hydrozoa com tentáculos retraídos indicados pela seta vermelha
Ilustração: Maria F S Sacchi

Figura 7. Pólipo de Hydrozoa com tentáculos expostos indicados pela seta azul
Ilustração: Maria F S Sacchi

O segundo indivíduo era um hidrocoral também do grupo dos Hydrozoa (único animal
macroscópico observado nessa aula) o qual possuía poros (Figura 8). Apesar da semelhança
fisiológica desses corais com os corais de Anthozoa, os hidrocorais possuem apenas pequenos
poros ao redor de sua estrutura., enquanto os corais duros de Anthozoa possuem coralitos e
esclerosseptos, que formam um desenho na superfície semelhante a conchas como visto na
Figura 2.
Figura 8. Poros de um Hidrocoral pertencente a Hydrozoa indicados pela seta vermelha
Ilustração: Maria F S Sacchi

O terceiro, eram micrósporos, no qual foram identificados o filamento polar e a


cápsula, indicados na Figura 9.

A B

Figura 9. Micrósporos do grupo Myxozoa


(A- filamento polar; B- cápsula)
Ilustração: Maria F S Sacchi

No quarto Hydrozoa pertencente ao grupo das hidromedusas foi possível identificar as


quatro gônadas, os tentáculos, o manúbrio e a umbrella, destacados na Figura 10.
A B

D
Figura 10. Hydromedusa pertencente ao grupo Hydrozoa
(A- gônadas, B- umbrella; C- tentáculos; D- manúbrio)
Ilustração: Maria F S Sacchi

Por fim, o último cnidário observado era uma éfira de Scyphozoa, que possuía
manúbrio, oito ropálios e gônadas ainda em formação, indicados na Figura 11.

Figura 11. Éfira de Scyphozoa


(A- manúbrio, B- gônadas em formação, C- ropálio)
Ilustração: Maria F S Sacchi

Discussão
Através das análises realizadas, foi possível observar que assim como dito por
Alexandra (2018), se trata de um grupo que apresenta uma alta diversidade morfológica e tal
como mencionado por Antônio-de-Souza (2002), uma espécie pode apresentar variedades
morfológicas consequentes de fatores como grau de sedimentação da água e luminosidade do
ambiente, morfologias estas que são fundamentais e consideradas a principal forma de
identificação do animal.
Referente ao coral mole analisado, indivíduo do grupo dos invertebrados sésseis, a
característica fundamental deste tipo de organismo é o fato de apresentarem oito tentáculos
pinados e oito septos completos. Além de seus corpos serem constituídos por uma substância
orgânica ou um esqueleto composto de espículas calcárias, conforme dito por Lopes, no ano
de 2014, e por estruturas como a placa basal que auxilia na sustentação do animal, como
citado por Ribeiro-Costa e Rocha (2016).
Já em relação ao segundo indivíduo, um coral duro, observou-se a presença de
esclerosseptos, que assim como mencionado por Diniz (2017), se tratam de pequenos relevos,
que por sua vez, refletem a tetrametria. Conforme dito por Ribeiro - Costa e Rocha (2016),
este coral duro é caracterizado por possuir uma porção esqueletal presente em cada um dos
pólipos, denominada de coralitos e uma placa basal que estabiliza o organismo, o que
demonstra uma similaridade ao que foi estudado.
Em relação aos zoantídeos, foi possível observar que eles possuem uma estrutura
denominada estolão, que os interliga na região basal, e também, apresentam um disco oral,
localizado na boca e ausente de uma região cercada por tentáculos, com a forma achatada e
ampla, conforme já observado por Rabelo (2007). Quanto ao último grupo, as anêmonas, por
meio das análises em laboratório destes indivíduos, pode-se dizer que são organismos
solitários e caracterizados pela presença de um disco basal, aderido a um substrato e que
geralmente se expande em formato circular ou irregular, como também visto por Ribeiro-
Costa e Rocha (2016).
Sobre o pólipo colonial microscópico, um medusozoário, observou-se algumas
estruturas, como a denominada hidróide, que tal como dito por Carrera (1993), se trata da
estrutura reprodutiva medusóide abortiva dos pólipos. A hidroteca, que assim como explicado
por Oliveira (2006), tem a função de proteger os hidrantes. O perissarco, que recobre estes
hidrantes/gonozoóides, como mencionado por Melchior (2022). E o cenossarco, que por meio
de sua coloração é possível distinguir as espécies, assim como observado por Silva (2014).
Como segundo indivíduo, foi observado um hidrocoral cujo qual apresenta um esqueleto de
calcário provido de poros.
Posteriormente, foi possível analisar os micrósporos, estruturas presentes nos
indivíduos de Myxozoa, este contém algumas semelhanças com as cnidas possuindo valvas de
casca, sendo duas ou mais, assim como descrito por Brusca e Brusca (2018).
Em relação ao grupo das Hidromedusas, é válido ressaltar a presença de algumas
estruturas, identificadas através da análise no laboratório e mencionadas por Müller (2018),
como as gônadas, responsáveis pela reprodução e situadas sobre os canais radiais destes
organismos, um manúbrio, estrutura o qual a boca se encontra pendurada, tentáculos radiais e
urticantes, e por fim, uma umbrella, que pode ser dividida em duas faces, uma face convexa
interna, chamada de subumbrella, e uma face convexa externa, denominada de exoumbrella.
Referente ao Scyphozoa, foi observado através do microscópio a morfologia de éfiras
de Scyphozoa, cifomedusas jovens, o qual apresentaram semelhanças quanto as estruturas
citadas por Jordano (2018) e as analisadas em laboratório, como a presença de projeções na
boca desses indivíduos dando origem a oito ropálios, bem como também, uma formação
tubular, denominada de manúbrio, com uma ampla abertura bucal.
Por fim, observou-se que conforme dito por Luz (2016), apesar dos Anthozoarios e os
Hydrozoarios apresentarem determinadas semelhanças como a relação dos endossimbiontes
com os hospedeiros, a presença da cavidade gastrovascular, boca rodeada por tentáculos,
ausência de anus e mesma composição da parede corporal (epiderme, endoderme e
mesogléia), eles também possuem aspectos diferentes. Ao contrário dos Anthozoa, os corais
de Hydrozoa não se tratam de corais verdadeiros, além disso, no caso dos corais verdadeiros
(anthozoarios), o esqueleto é secretado de forma externa e já os hidrocorais, de forma interna
e apresentam dois tipos de poros: dactilióporo e gastróporo.

Referências Bibliográficas
ALEXANDRA, R. 2018. Morfologia dos gametas, fertilização in vitro, divisão celular e
formação de pólipo de Catostylus tagi (Cnidaria: Catostylidae). S. L.

ANTONIO-DE-SOUZA, C. et al. 2002. Variação morfométrica de algumas espécies de corais


Mussidae (Cnidaria, Anthozoa) do Brasil. Trop. Ocean, v. 30, p. 23-36. S. L.

BRUSCA & BRUSCA. 2018. Invertebrados. Editora Guanabara Koogan LTDA. Travessa
do Ouvidor, 11 Rio de Janeiro – RJ – CEP 20040-040.

CARRERA, M. 1993. Reparos à zoologia dos dicionários: IV. Revista Brasileira de


Zoologia, v. 10, p. 531-534. S. L.

DE MOURA LIMA, R. L. 2003. O ensino da redação. UFAL.


DINIZ, C. Q. C. 2017. Análise da distribuição estratigráfica de Corumbella Werneri
HAHN ET AL. 1982 (Formação Tamengo, Ediacarano): Implicações Tafonômicas e
Paleoambientais. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo.

JORDANO, M. d. A. 2018. Desenvolvimento de éfiras de Scyphozoa (Cnidaria,


Medusozoa) e sua interação com o ambiente fluido. Tese de Doutorado. Universidade de
São Paulo.

LOPES, E. P. et al. 2014. Os Corais em Cabo Verde: um património a proteger. Revista


Internacional em Língua Portuguesa, v. 27, p. 45-64. S. L.

LUZ, D. C. 2016. Estresse oxidativo no hidrocoral Millepora alcicornis exposto à


acidificação da água do mar. Dissertação de Mestrado. S. L.

MELCHIOR, M. P. 2022. Inferências sobre a relação entre atributos reprodutivos e de


defesa em Medusozoa (Cnidaria). Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo.

MÜLLER, P. C. et al. 2018. Comunidade de hidromedusas em um gradiente costeiro-


oceânico na Plataforma Amazônica. S. L.

NEVES, R. F. et al. 2007. Levantamento de registros dos acidentes com cnidários em algumas
praias do litoral de Pernambuco (Brasil). Ciência & Saúde Coletiva, V. 12, p. 231-237. S. L.

OLIVEIRA, O. M. P. d. et al. 2006. Chave de identificação dos hidróides (Cnidaria,


Hydrozoa) epifíticos do Canal de São Sebastião (SE, Brasil). Biota Neotropica, v. 6, 2006. S.
L.

RABELO, E. F. et al. 2007. Influência da luz no comportamento alimentar de Isaurus


tuberculatus Gray, 1828 (Cnidaria: Zoanthidea) em condições de laboratório. S. L.

SILVA, A. G. d. et al. 2014. Vivendo com o inimigo: competição entre os corais invasores
Tubastraea spp. e a esponja Desmapsamma anchorata na Baía de Ilha Grande, RJ. S. L.

STABILI, L. et al. 2018. Cnidarian interaction with microbial communities: from aid to
animal’s health to rejection responses. Marine Drugs, v. 16, n. 9, p. 296. S. L.

Você também pode gostar