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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

DEPARTAMENTO DE ZOOLOGIA

ZOOLOGIA DE CORDADOS

Saída de campo ao jardim botânico,


RJ

ALUNO: Antônia Ribeiro Cruz Silva; João Pedro Moreira Gonçalves de Oliveira; Maria
Eduarda Lyra Cavalcanti.
CURSO: Ciências biológicas
MATRÍCULA: 2019110005; 20192110027; 20202110018.

SAÍDA DE CAMPO GRUPO B, Giullya Batoreu

17/05/2023 & Jardim Botânico, RJ


1. Introdução

A superclasse tetrapoda conquistou o ambiente terrestre durante o Devoniano, onde as


concentrações de oxigênio na atmosfera haviam se tornado superiores às encontradas nos
corpos d’água (Benedito et al., 2017). Para tal eles necessitaram de adaptações em seu corpo
que suportassem a locomoção e sustentação fora d’água, como o surgimento de membros de
apoio, desaparecimento da conexão entre a cintura peitoral dérmica e o crânio e reforço da
cintura ventralmente para sustentação do corpo, surgimento de uma coluna vertebral
modificada que possuia uma região diferenciada para um pescoço flexível, surgimento de
costelas para dar suporte às vísceras, fusionamento de algumas vértebras para formação do
quadril (Benedito et al., 2017; Standen, et al. 2014).
A classe Amphibia surgiu durante este período de adaptação ao ambiente terrestre e é
caracterizado pela presença da vértebra Atlas que faz a sustentação da cabeça, articulação de
sutura ligando os ossos exoccipitais aos ossos da cobertura dérmica e a mão com 4 dígitos
enquanto o pé possui 5 (Vitt & Caldwel, 2014). Lissamphibia é o grupo monofilético que
reúne os Amphibia atuais, um grande grupo de características une as três linhagens distintas
que ficam agrupadas neste grupo. Possuem dependência da respiração cutânea, par de papilas
sensoriais e dois canais de transmissão de som na região interna do ouvido, células
especializadas para visão na retina (bastonetes verdes), dentes pedicelados, presença de dois
tipos de glândulas mucosas para manter a pele úmida e glândulas granulares que produzem
substâncias químicas para afastar predadores, cavidade orbital se abrindo no céu da boca,
corpos gordurosos associados as gônadas (Benedito et al., 2017; Vitt & Caldwel, 2014;
Kardong et al., 2016; Pough et al., 2008). Lissamphibia é dividida em 3 linhagens evolutivas
independentes, os Gymnophiona que são animais que costumam passam sua vida inteira em
galerias no subsolo, possuem corpo serpentiforme com tentáculos sensoriais na cabeça, olhos
reduzidos e perda dos membros locomotores, Anura possui tronco relativamente curto,
ausência de cauda e com quatro membros locomotores na fase adulta, os membros posteriores
geralmente são maiores e adaptados para se locomover utilizando saltos, Urodela possui
cauda do mesmo tamanho, ou maior, que o tronco, seu corpo é longilíneo com os membros
anteriores e posteriores de tamanho similar, e cabeça relativamente pequena (Benedito et al.,
2017).
O Jardim Botânico do Rio de Janeiro foi criado por D. João VI em 1808, dentro dele
foi criado também o Horto Real que é uma instituição científica que tinha o objetivo de
desenvolver experiências de aclimatação com espécies vegetais de interesse agrícola e
comercial (Dantes, 1988). É um espaço que conserva muito de sua fauna e flora, tornando
possível saídas para observação de diversos grupos biológicos diferentes, como primatas
(Rangel, 2010), plantas (Tatsch & Sepel, 2012) e anfíbios. Essas saídas são de extrema
importância para a formação de alunos de Ciências Biológicas, pois permitem maior contato
com grupos antes visto somente em aulas e também a observação de comportamentos no
habitat que estes grupos estão acostumados a viver (Amaral, 2016).

2. Materiais e métodos

● 1 lanterna
● 1 pote médio transparente e fundo
● 2 puçá
● 1 régua

A saída de campo teve início após o encontro com todo o grupo no lago das
tartarugas, próximo ao centro de visitantes no horário noturno marcado com uma seta na
Figura 1. A turma foi dividida em dois grupos com seus respectivos guias que iriam guiar
pelo jardim botânico. Após a divisão do grupo, fomos direcionados para o primeiro local de
coleta. O trajeto foi realizado seguindo respectivamente os seguintes pontos indicados na
figura 1: Chafariz (1), Chafariz das Marrecas (2); Parquinho (3), Lago do Bromeliário (4),
Restinga (5), Ruínas (6), Lago do cactáceo (7) e Jardim sensorial (8). Durante o percurso foi
utilizado a lanterna, apenas sendo apagadas durante a procura de indivíduos. A técnica
utilizada para encontrar os anuros foi a escuta e localização através da vocalização dos
animais seguindo a voalização, uma busca em meio a folhagem de bromélias e outras plantas
ou pedras as quais estavam próximas das lagoas e corpos de água (Figura 2).
Para a captura em casos onde os indivíduos estavam dentro do corpo de água foi utilizado o
puçá, sendo inserido no líquido envolvendo a rede por todo o animal. Quando era encontrado
em meio às folhas foi capturado manualmente, o cercando com a mão sem pressionar. Os
indivíduos capturados os quais estavam na fase adulta ou na fase imago foram manuseados
pelas patas traseiras segurando firmemente pelo final do dorso e dando apoio para a porção
anterior do animal (Figura 3; A, B) , uma pressão que fosse o suficiente para impedir do
exemplar fugir e sem que pudesse causar danos. Os girinos capturados foram colocados em
uma vasilha transparente com a água do próprio local de origem (Figura 3; E). Cada
indivíduo capturado foi medido sendo colocado sob ou ao lado de uma régua de 30 cm
(Figura 3; C, D). Nos casos em que não foi possível manter o espécime parado para inferir o
comprimento, foi necessário balançar levemente com a mão sem machucar o animal para que
ficasse levemente tonto e pudesse ser feito a medição. O comprimento foi avaliado do início
da cabeça até o final do dorso ou até o final da cauda em casos onde essa ainda estava
presente (Figura 3; C, D). Após examinar os exemplares dando enfoque nas estruturas de
interesse e fotografar foram depositados no local onde foram encontrados.
Figura 1- Mapa do Jardim botânico, marcado em uma seta vermelha, o ponto de encontro do grupo. Os círculos
pretos indicam os pontos de coleta: Chafariz (1), Chafariz das Marrecas (2); Parquinho (3), Lago do Bromeliário
(4), Restinga (5), Ruínas (6), Lago do cactáceo (7) e Jardim sensorial (8). Fonte:
https://pt.map-of-rio-de-janeiro.com/parques,-jardins-mapas/jardim-bot%C3%A2nico-do-rio-de-mapa

Figura 2- Possíveis locais onde poderiam ser encontrados os indivíduos. A) Ololygon trapicheiroi na folhagem
no Chafariz das Marrecas; B) Boana albomarginata na folha de uma bromélia.
Figura 3- A e B) Métodos de manuseio correto de anuros; C) Comprimento de imago do começo da
cabeça até final da cauda; D) Comprimento de um indivíduo metamorfoseado completo do inicio da cabeça até
o final do dorso; E) Pote transparente com a presença de girinos e um imago.
3. Sistemática
4. Resultados e Discussão

No primeiro ponto (figura 11), o chafariz, foram identificados girinos na água e entre
os capturados foram diferenciadas duas espécies. Um girino de Scinax similis (Cochran,
1952) em semi metamorfose medindo 3,7 cm (figura 11, B). Havia a presença de princípios
da pata traseira sendo formada e a cauda ainda bem desenvolvida. Um exemplar da mesma
espécie medindo 3 cm de comprimento (figura 4) em fase imago, com as patas dianteiras e
traseiras já desenvolvidas, porém com a presença da cauda (Figura 11; C). Esta espécie é
popularmente conhecida como perereca-manchada e quando adulta possui uma coloração
dorsal acinzentada, com manchas irregulares (Vaz-Silva et al., 2020). Os outros girinos eram
de Rhinella ornata (Spix, 1824) (figura 11, A), sendo somente um espécime medido com 1,4
cm de comprimento. Neste mesmo ponto também foi encontrado um Rhinella ornata adulto
(figura 11, D), porém este não foi possível capturá-lo para medir-lo. Os adultos de Rhinella
ornata são caracterizados pela faixa branca no meio de seu dorso (Spix, 1824) e esta espécie
é popularmente conhecida como sapo-cururuzinho e sua vocalização é um trêmulo grave e
prolongado, similar ao sapo-cururu.
Figura 11- Anuros encontrados no Chafariz. A) Girinos de Rhinella ornata; B) Girino em
semi metamorfose de Scinax similis; C) Cauda do imago de Scinax similis; D) Adulto de
Rhinella ornata
No ponto 2, o Chafariz das marrecas, foi encontrado dois espécimes de Scinax
trapicheiroi (A. Lutz & B. Lutz, 1954) no meio das folhagens, ambas com 2,6 cm de
comprimento. Estes espécimes possuem uma mancha escura interocular em W (Lutz, 1973)
que ajuda a identificar sua espécie, porém o primeiro indivíduo (figura 5 e 12) encontrado
possuía uma coloração mais verde enquanto o outro era mais escuro, sendo esta diferença
provavelmente pelo local onde foram encontrados e também porque um ficou mais tempo
exposto as luzes das lanternas. O segundo Scinax Trapicheiroi mais escuro não foi capturado
em foto. Ao sair do ponto 2 foi ouvido uma Adenomera marmorata Steindachner, 1867
vocalizando porém não foi possível encontrá-la. Esta espécie contém uma vocalização
especial contendo somente uma nota sem pulsação, e seus adultos possuem um padrão com
muitas manchas de diversos tamanhos e formatos pelo dorso, uma mancha escura triangular
interocular seguida por outra mancha escura quase que bifurcada em formato de ampulheta,
sendo essas duas últimas as mais características da espécie (Kwet, Axel & Steiner, 2009).
Seguindo para o ponto 3, o parquinho, foi ouvido vocalizações na vegetação de uma parede
úmida e mesmo em silêncio e com as lanternas desligadas nenhum indivíduo foi identificado.

Figura 12- Foto de Scinax trapicheiroi.

No ponto 4, o largo do bromeliário, logo ao chegarmos foram avistados vários


Rhinella ornata, sendo que um espécime estava vocalizando diferente com um machucado na
pele (figura 13, A). Este foi pego e guardado em um saco plástico para examiná-lo em
laboratório, este espécime tinha 7,5 cm de comprimento. Foi avistado outro Rhinella ornata
coaxando de agonia, porém era provavelmente de desconforto por ser capturado. Foi
observado diversos pares desta mesma espécie fazendo amplexo nas bordas do lago (figura
13, B). Foi encontrado e capturado manualmente e com o auxílio do puçá um Boana
albomarginata (Spix, 1824) (figura 7) no meio de bromélias, com tamanho de 5,3 cm de
comprimento e coloração verde com pintas pretas, com uma linha branca lateral em ambos os
lados e patas alaranjadas (figura 13, C, D e E). Este indivíduo é popularmente conhecido
como perereca-araponga e durante o dia ele pode apresentar uma coloração verde clara e sem
as pintas pretas a favor de uma melhor camuflagem (Spix, 1824). Ela ao ser capturada ela fez
tanatose (figura 13, D) e ao relaxar foi possível ver seu olho sem a pupila dilatada e as listras
prateadas presentes nele. O outro grupo encontrou no largo das Cactáceas um girino desta
mesma espécie, Boana albomarginata (figura 13, F e G) em fase imago e com uma coloração
mais avermelhada e com a linha branca lateral mais evidente.
Figura 13- Exemplares coletados no ponto 4. A) machucado em Rhinella ornata; B)
amplexo de Rhinella ornatas; C) Linha branca na lateral do corpo e linhas cinzas presente no
olho de Boana albomarginata ; D) Boana albomarginata fazendo tanatose; E) Coloração nas
patas traseiras de Boana albomarginata; F) Imago de Boana albomarginata;G) cauda
remanescente de imago de Boana albomarginata.
No ponto 5, a restinga, foi encontrada uma Rhinella ornata, que não foi medida por já
ter sido feito a medição desta espécie anteriormente, e foram ouvidas diversas Scinax
perpusillas (Lutz & Lutz, 1939) (figura 8) vocalizando nas bromélias, principalmente onde
não havia lanternas iluminando e mais afastado do barulho das pessoas. Foi capturado um
exemplar medindo 2,2 cm de comprimento. As Scinax perpusillas são popularmente
conhecidas como perereca-de-bromélia por reproduzirem e passarem todo seu ciclo de vida
nas bromélias (Peixoto, 1995), sua coloração é cinza com uma mancha escura irregular
seguindo de seus olhos até a área pélvica (Cochran, 1955) que foi possível de observar ao
segurar o indivíduo na porção posterior do dorso e alongando a perna traseira.
No ponto 6, as ruínas foi capturado próximo a vegetação de bromélias um Scinax
cuspidatus (figura 9) com 3,1 centímetros de comprimento, esta espécie possui uma
variedade de padrões morfológicos externos, variando tanto a cor de seu dorso quanto o
padrão e cor das manchas, por isso é de difícil reconhecimento (Nunes et al., 2008).
Chegando no ponto 7, o largo do cactáceo, foram ouvidas vocalizações nas áreas mais
afastadas e com alta vegetação de bromélias e assim foi possível ver e capturar espécimes de
Scinax perpusilla, que não foram medidas pois já foi medido outro espécime capturado
anteriormente. Ao chegar no último local, o ponto 8, o jardim sensorial. No lago foi possível
avistar um girino de Boana faber (Wied-Neuwied, 1821) (Figura 10) de 4,7cm de
comprimento, que é popularmente conhecido como perereca-martelo por seu coaxar soar
como um ferreiro martelando, sua coloração pode variar de marrom a bege com uma linha
longitudinal dorsal escura (Wied-Neuwied, 1821).

5. Referências

AMARAL, A., C. A importância da saída de campo na formação de alunos de licenciatura


em ciências biológicas. (2016). TCC (Licenciatura em Ciências Biológicas) - Curso de
Ciências Biológicas. Universidade Federal do Rio de Janeiro. 1 - 49

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Scinax cuspidatus (A. Lutz, 1925) e S. alter (B. Lutz, 1973) (Amphibia, Anura, Hylidae).
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