Você está na página 1de 79

Relatório de

2024 Projeções
RelatórioFiscais
de
2
Março
Projeções Fiscais
Ministro da Fazenda
Fernando Haddad

Secretário-Executivo do Ministério da Fazenda


Dario Carnevalli Durigan

Secretário do Tesouro Nacional


Rogério Ceron de Oliveira

Secretária Adjunta do Tesouro Nacional


Viviane Aparecida da Silva Varga

Subsecretário de Planejamento Estratégico Fiscal – SUPEF Subsecretário de Dívida Pública – SUDIP


David Rebelo Athayde Otavio Ladeira de Medeiros

Coordenadora-Geral de Planejamento e Riscos Coordenador-Geral de Planejamento Estratégico da Dívida


Fiscais – COPEF Pública – COGEP
Cristina Gonçalves Rodrigues Luiz Fernando Alves

Coordenador de Suporte ao Planejamento e Riscos Coordenador de Suporte ao Planejamento Estratégico da


Fiscais – CSPEF Dívida Pública – COPED
Cristiano Beneduzi Paulo Moreira Marques

Coordenador de Modelagem e Análises Fiscais – COMAF Coordenador de Suporte a Estudos e Inovações da Dívida
Seiji Kumon Fetter Pública – CINOV
Fausto José Araújo Vieira
Coordenador-Geral de Estudos Econômico-Fiscais – CESEF
Pedro Ivo Ferreira de Souza Junior Equipe Técnica
Josiane Kuhnen da Silva Almeida
Coordenador de Suporte aos Estudos Econômico-Fiscais – Plínio Portela de Oliveira
COEFI Poliana de Carvalho Pereira
Alex Pereira Benício

Coordenador de Suporte às Estatísticas Fiscais – COEST


Rafael Perez Marcos

Equipe Técnica
Alex Sander Ferreira da Silva
André Luiz Greve Pereira
Eduardo Brandão Curi
Arte
Elvis de Almeida Silva
Assessoria de Comunicação Social do Tesouro Nacional
Flávia Fernandes Rodrigues Barbosa
Hugo Pullen
Gian Barbosa da Silva
Helder Lara Ferreira Filho
Informações
João Sérgio Pereira da Silva Júnior
Assessoria de Comunicação Social do Tesouro Nacional
Marcus Lima Franco
Telefone: (61) 3412-1843
Mauricio Dias Leister
Correio eletrônico ascom@tesouro.gov.br
Natália Ayres Lopes
Disponível em: www.tesourotransparente.gov.br
Pedro Padilha Pontes
Pedro Petronillio Hernandes
Roberto Mendes Altavilla Luttner
*Permitida a reprodução total ou parcial desta publicação
Rodrigo André de Castro Souza Rêgo
desde que citada a fonte.
Rodrigo Leandro de Moura
Sâmia Marques Russo
Thaís Riether Vizioli
Tiago Zaterka Segantini
Sumário
Prefácio........................................................................................................................................................... 3
Sumário Executivo ........................................................................................................................................... 4
1. Cenário Fiscal de Médio Prazo.................................................................................................................. 7
1.1. Cenário Macroeconômico .......................................................................................................................... 7
1.2. Cenário Base ............................................................................................................................................... 8
Receitas Primárias do Governo Central ................................................................................................................... 9
Despesas Primárias do Governo Central ............................................................................................................... 17
Resultado Primário do Governo Central ................................................................................................................ 29
1.3. Cenário de Referência .............................................................................................................................. 31
Receitas Primárias do Governo Central ................................................................................................................. 36
Despesas Primárias do Governo Central ............................................................................................................... 38
Resultado Primário do Governo Central ................................................................................................................ 45
1.4. Comparativo com Projeções de Outras Fontes ........................................................................................ 48
1.5. Resultado Primário do Setor Público ........................................................................................................ 50
1.6. Necessidade de Financiamento do Setor Público e Gasto com Juros ...................................................... 51
1.7. Dívida Bruta e Líquida do Governo Geral ................................................................................................. 52
2. Análise de Sensibilidade da Dívida a Cenários Alternativos ..................................................................... 56
2.1. Resultado Primário Requerido para Convergência da Dívida a Diferentes Parâmetros .......................... 56
2.2. Análise de Cenários: Perspectivas da Dívida com o Cenário Fiscal Alternativo ....................................... 58
2.3. Análise de Cenários: Perspectivas da Dívida com a Previsão das Variáveis Macroeconômicas Extraídas
da Pesquisa Focus do Banco Central ..................................................................................................................... 60
2.4. Elasticidade da Dívida a Choques ............................................................................................................. 63
2.5. Choque Selic, PIB e Resultado Primário.................................................................................................... 64
2.6. Simulações Estocásticas............................................................................................................................ 66
Apêndices...................................................................................................................................................... 70
A. Parâmetros Macroeconômicos................................................................................................................. 70
B. Tabelas Completas .................................................................................................................................... 71
C. Premissas de Projeção .............................................................................................................................. 76

Boxes
Boxe 1 – Receita Líquida Ajustada (RLA) .................................................................................................................... 11
Boxe 2 – Projeção de sentenças judiciais frente à decisão do Supremo Tribunal Federal ........................................ 19
Boxe 3 – As despesas de pessoal da União ................................................................................................................ 23
Boxe 4 – Medidas de receita do PLOA 2024 .............................................................................................................. 32
Boxe 5 – Evolução das despesas discricionárias em cenários alternativos para os gastos mínimos em saúde e
educação .................................................................................................................................................................... 42
Prefácio
Trata-se da quarta edição do Relatório de Projeções Fiscais (RPF), publicação da Secretaria do Tesouro Nacional
(STN), que tem como objetivo compartilhar com a sociedade reflexões relevantes para a maior compreensão do
atual panorama das finanças públicas da União. Com esse propósito, busca-se expor o assunto, permitindo
avaliações que fomentem o debate sobre a trajetória e a sustentabilidade das contas públicas.
Os resultados, premissas e metodologias aqui exibidos não refletem o posicionamento do Tesouro Nacional em
relação às trajetórias simuladas ou às escolhas de políticas públicas do governo. As trajetórias simuladas, baseadas
nas hipóteses subjacentes explicitadas, revelam diferentes cenários fiscais de médio prazo.
O presente relatório apresenta e discute projeções para as principais variáveis fiscais da União e está dividido em
duas seções, além do Sumário Executivo. A primeira delas traz as projeções de receitas primárias, despesas
primárias, resultado fiscal e endividamento, em dois cenários, o de referência que pressupõe o cumprimento das
metas de primário estabelecidas na LDO 2024, e o cenário base, que considera apenas as medidas fiscais já em
vigor. Nesta parte, apresentam-se também análises da trajetória da dívida pública e do resultado primário
requerido para estabilizar a dívida. As projeções apresentadas nesta edição contemplam as regras do Regime Fiscal
Sustentável, de acordo com a Lei Complementar nº 200, de 30 de agosto de 2023.
Já a segunda seção traz uma análise de sensibilidade a cenários alternativos, em que é apresentado o cenário fiscal
de acordo com as projeções macroeconômicas da Pesquisa Focus do Banco Central, o efeito de choques em
variáveis econômicas e fiscais e uma análise estocástica em torno do cenário macroeconômico principal.
Além do conteúdo recorrente deste relatório, são apresentados cinco boxes, que tratam de temas de interesse
associados à política fiscal: i) o primeiro sobre Receita Líquida Ajustada (RLA) que é a referência para o cálculo do
limite de despesas sob a égide da Lei Complementar nº 200, de 2023 (Regime Fiscal Sustentável); ii) o segundo
sobre projeção de sentenças judiciais frente à decisão do Supremo Tribunal Federal em relação à
inconstitucionalidade das Emendas Constitucionais nºs 113, de 8 de dezembro de 2021, e 114, de 16 de dezembro
de 2021; iii) o terceiro sobre despesas de pessoal da União, uma das rubricas mais relevantes de despesa; iv) o
quarto sobre as medidas de receitas enviadas com o PLOA 2024, que foram recentemente sancionadas,
consubstanciadas na LOA 2024; e v) o último sobre a evolução das despesas discricionárias em cenários alternativos
para os gastos mínimos em educação e saúde

3
Sumário Executivo
A Tabela 1 sumariza os principais resultados da quarta edição do Relatório de Projeções Fiscais referentes às
projeções de médio prazo para o cenário fiscal brasileiro. As projeções, realizadas para o período de 10 anos,
consideram o cenário macroeconômico elaborado pela Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda
(SPE/MF), de janeiro de 2024, assim como as regras aprovadas no âmbito do Regime Fiscal Sustentável (Lei
Complementar nº 200, de 30 de agosto de 2023 – LC nº 200, de 2023).

Tabela 1 – Resumo das projeções fiscais no cenário de referência (% do PIB)


Fonte: Elaboração própria
Discriminação 2023 2024 2025 2026 2027 2028 2029 2030 2031 2032 2033
Resultado Primário do Setor Público -1,9 -0,1 0,1 0,6 0,6 0,4 0,8 1,2 1,4 1,5 1,6
Governo Central -2,1 0,0 0,2 0,7 0,7 0,4 0,9 1,2 1,5 1,6 1,7
Receita Líquida 17,5 18,9 19,2 19,7 19,2 18,7 18,6 18,7 18,7 18,7 18,7
Despesa Total 19,6 18,9 19,0 19,0 18,5 18,2 17,8 17,4 17,3 17,2 17,1
Governos Regionais 0,3 -0,1 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Estatais Federais -0,0 -0,1 -0,1 -0,1 -0,1 -0,1 -0,1 -0,1 -0,1 -0,1 -0,1
Juros Nominais 6,6 6,7 6,1 5,6 5,6 5,4 5,2 5,1 5,0 4,9 4,8
Resultado Nominal do Setor Público -8,9 -6,9 -6,0 -5,0 -5,0 -5,0 -4,4 -3,9 -3,6 -3,4 -3,2
Dívida Líquida do Governo Geral 60,0 63,4 64,5 65,1 65,3 65,8 65,7 65,2 64,4 63,7 62,7
Dívida Bruta do Governo Geral 74,3 77,3 78,0 78,1 78,1 78,1 77,6 76,6 75,5 74,2 72,6
Obs.: O déficit nominal de 2023 supera a soma do déficit primário com os juros nominais em virtude da não contabilização dos R$ 26,0 bilhões de ingresso
de recursos não reclamados do Fundo PIS/PASEP segundo a metodologia das estatísticas fiscais do Banco Central do Brasil, que trataram tal ingresso como
ajuste patrimonial.

O cenário macroeconômico que baseia este relatório mantém um crescimento real médio do PIB (2024-2033) de
2,5% ao ano com forte crescimento da massa salarial e redução da Selic acumulada ao longo do horizonte de
previsão.
Após atingir 17,5% do PIB em 2023, espera-se uma recuperação da receita primária líquida ao longo do período,
que deve registrar um pico de 19,7% do PIB em 2026 e se estabilizar em 18,7% do PIB de 2030 em diante. Essa
recuperação prevista para o triênio 2024 a 2026 presume a efetivação das medidas de receita incluídas na LOA
2024, as quais foram sancionadas até o fim de 2023 com poucas alterações no que tange ao seu impacto
inicialmente estimado. Uma parte relevante dessas medidas possui efeito perene sobre a arrecadação, resultando
em uma elevação estrutural das receitas em todo o horizonte.

O relatório estima, ainda, o esforço adicional de arrecadação que pode ser necessário para concretizar o alcance
das metas de resultado primário. Tomamos este como o cenário de referência. Neste cenário a partir de 2027 a
dívida fica no mesmo patamar de 2026, a partir de onde se estabiliza e até reduz para 72,6% no horizonte máximo
simulado, que é 2033, conforme descrevemos logo a seguir.

Quanto à despesa primária, parte-se dos dados realizados de 2023 e projeta-se sua evolução conforme as regras
do Regime Fiscal Sustentável (RFS). Isto é, o crescimento real do limite de despesa equivale a uma proporção do
crescimento real da Receita Líquida Ajustada (RLA)1, resguardados os limites de crescimento superior e inferior de
2,5% e 0,6%, respectivamente. A essa dinâmica, adicionam-se as projeções das despesas não sujeitas ao limite.

1
Receita primária de que trata o art. 5º da LC nº 200/2023, calculada conforme Portaria MF nº 1.165, de 5 de outubro de 2023.
4
Com efeito, a despesa primária parte de 19,6% do PIB em 2023, impactada pelo pagamento do passivo de
precatórios, e reduz-se até atingir 17,1% do PIB em 2033. Essa redução se dá de maneira mais acentuada a partir
de 2027, quando a totalidade das despesas com precatórios é incluída no limite de despesas.

As despesas obrigatórias sujeitas ao limite de despesa apresentam crescimento real médio de 2,7% a.a. entre 2024
e 2033, com destaque para a evolução crescente das despesas com benefícios previdenciários do Regime Geral de
Previdência Social (RGPS), do Benefício de Prestação Continuada (BPC), das despesas com sentenças de custeio e
capital e das despesas associadas aos mínimos de saúde e educação. Como reflexo desse crescimento médio maior
do que o limite superior permitido pelo RFS, as despesas discricionárias se reduzem no horizonte de projeção. Essa
evolução na composição das despesas sugere que a adoção de novas políticas públicas dependerá de uma revisão
de despesas que leve em conta uma avaliação de prioridades e de custos e benefícios das políticas vigentes.

A partir das medidas de recomposição da base tributária, espera-se uma evolução favorável das receitas primárias
a ponto de zerar o déficit em 2024, inclusive com leve superávit, conforme previsto na Lei Orçamentária Anual –
LOA 2024. Ante a uma despesa total com tendência de queda em proporção do PIB, projeta-se que o resultado
primário do Governo Central continue crescendo até atingir 1,7% do PIB em 2033. O resultado primário do Setor
Público também tende a ser favorável a partir de 2024, atingindo 1,6% do PIB em 2033.
Quanto à evolução do endividamento público, as projeções do cenário de referência deste relatório indicam que a
DBGG e a DLGG alcançam, ao final de 2024, 77,3% e 63,4% do PIB, respectivamente. A DBGG apresenta uma
trajetória ascendente até atingir 78,1% do PIB entre 2026 e 2028. Em 2029, inicia uma trajetória decrescente até o
fim do horizonte de projeções, quando fecha em 72,6% do PIB. Já a DLGG segue uma trajetória similar, com
crescimento até 2028, iniciando então uma trajetória de queda nos anos seguintes, e chega a 62,7% do PIB em
2033.

Devido ao nível mais alto dos juros nominais e do déficit primário, a DBGG/PIB registrou aumento de 2,6 p.p. do
PIB em 2023 em comparação com 2022. Por outro lado, a evolução do PIB foi o principal fator que atuou reduzindo
a razão dívida/PIB em 2023. Em comparação com o relatório publicado em julho de 2023, o cenário para a DBGG
do presente relatório mostra valores mais altos ao longo da trajetória, em função de um cenário com menor
crescimento do PIB nominal e de um resultado primário menos favorável, especialmente nos primeiros anos da
projeção.
A partir do cenário de referência, o relatório apresenta análises do primário médio requerido do Governo Central
para estabilizar já em 2024 a dívida/PIB ao nível registrado ao final de 2023 e para estabilizá-la ao nível projetado
para 2026. Para estabilizar em 2024 a DBGG/PIB ao nível de 2023, o primário requerido seria 2,8% do PIB nesse
ano, enquanto o primário médio de 2024 a 2033 é de 0,9% do PIB no cenário de referência. Já para estabilizar a
dívida ao nível de 2026, seria necessário, em 2027, um resultado primário de 0,7% do PIB. Conforme adiantado
acima, o cenário de referência presume a realização de medidas adicionais de receita para atingir requeridos
resultados primários estabelecidos na LDO 2024, os quais resultam em uma DBGG constante de 2026 para 2027.
O relatório traz ainda cenários alternativos, nos quais diferentes premissas para o resultado primário são adotadas.
No cenário base, contendo apenas a legislação vigente de receita, a DBGG/PIB cresceria por mais tempo e
encerraria 2033 em 76,7% do PIB contra 72,6% do PIB no cenário de referência. Já no cenário Focus STN2, que se

2
Como detalhado na seção 2.3, estimamos o resultado primário do Setor Público a partir do modelo da STN para projeção de
receitas e despesas do cenário de referência considerando os principais parâmetros macroeconômicos (tais como juros,
inflação, câmbio, PIB) da Pesquisa Focus, divulgada pelo BCB. Estamos denominando este cenário como Focus STN. Ele difere
do cenário de referência somente em virtude dos parâmetros macroeconômicos, pois adota as mesmas medidas de receita

5
vale das mesmas hipóteses fiscais do cenário de referência, mas reestima as receitas, despesas e dívida com base
nos parâmetros macroeconômicos da Pesquisa Focus no lugar da grade da SPE, a dívida atinge, em 2033, 94,8% do
PIB no caso da DBGG e 81,7% do PIB no caso da DLGG. A dívida bruta é aproximadamente 22,2 p.p. mais alta ao
final de 10 anos quando comparada ao cenário de referência.
Em complemento, são apresentadas simulações estocásticas para a DBGG e a DLGG, no formato de intervalos de
confiança, diante de choques correlacionados no PIB e no resultado primário. Esse exercício evidencia como a
dinâmica do PIB e do resultado primário geram incertezas na trajetória de dívida. Partindo de um cenário central
no qual o endividamento ainda se mostra elevado, tal análise remete à importância de uma gestão fiscal prudente
e da adoção de políticas macroeconômicas sólidas e de medidas para mitigar os riscos fiscais, incluindo esforços
para melhorar o balanço fiscal, promover a redução da dívida e garantir a estabilidade financeira a longo prazo.

contidas no cenário de referência. Dessa forma, em função da diferença em juros, inflação, câmbio e PIB, notadamente, esse
cenário alternativo apresenta resultados para a estimativa do nível da relação dívida/PIB maiores do que no cenário de
referência.
6
1. Cenário Fiscal de Médio Prazo
Nesta seção, apresentam-se projeções de receitas e despesas primárias do Governo Central, resultado primário do
Governo Central e do Setor Público não financeiro, despesas com juros e necessidade de financiamento do Setor
Público e dívidas bruta e líquida do Governo Geral, baseadas em um exercício de modelagem dessas variáveis
fiscais. O cenário macroeconômico apresentado na seção 1.1, por sua vez, é oriundo das projeções oficiais, de
janeiro de 2024, elaboradas pela Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda (SPE/MF).

Para o cenário fiscal, as projeções consideraram as regras do Regime Fiscal Sustentável (RFS), instituído pela Lei
Complementar n° 200, de 30 de agosto de 2023, balizado por metas de resultado primário e limites de despesa
atrelados à variação da RLA.

Foram elaborados dois cenários: o primeiro, chamado cenário base, considera apenas a legislação vigente. O
segundo, chamado cenário de referência, presume o atingimento das metas fiscais presentes na Lei de Diretrizes
Orçamentárias (LDO) de 20243, isto é, metas de resultado primário zero em 2024, 0,5% do PIB em 2025 e 1,0% do
PIB em 2026. Adicionalmente, conforme o § 1º do art. 2º da LC nº 200/2023, considera-se o alcance de uma
trajetória de resultado primário suficiente para estabilizar a relação DBGG/PIB. Neste cenário de referência,
incorporam-se os efeitos das medidas de arrecadação enviadas com o PLOA 2024, as quais foram mantidas na LOA
2024, além de medidas adicionais necessárias ao cumprimento da trajetória de resultado primário. Destaca-se que,
para o alcance das metas no cenário de referência, não são necessárias e, portanto, não são consideradas medidas
de contingenciamento, hipótese distinta da adotada na edição anterior deste relatório. Esta hipótese é consistente,
pois adota-se a suposição de que medidas adicionais superam a necessidade de contingenciamento. As diferentes
hipóteses de receitas em cada cenário repercutem em evoluções distintas para as despesas, em virtude da
vinculação da taxa de crescimento real do limite de despesas primárias à RLA.
Cabe salientar que o cenário macroeconômico e as projeções fiscais4 deste relatório não levam em conta os efeitos
da Reforma Tributária (EC nº 132/2023), tendo em vista a necessidade de regulamentação posterior de vários de
seus dispositivos.5

1.1. Cenário Macroeconômico

Nesta subseção, apresenta-se o cenário macroeconômico da Grade de Parâmetros da SPE/MF de janeiro de 2024,
comparado com a grade de maio de 2023 que subsidiou o RPF anterior. A Tabela 2, abaixo, mostra que o
crescimento real do PIB caiu levemente na maioria dos anos, por exemplo, de 2,3% para 2,2% em 2024, porém

3
Lei no 14.791, de 29 de dezembro de 2023.
4
Tendo em vista a necessidade de regulamentação posterior de vários itens previstos na Emenda, foram mantidas as
metodologias de projeção de receita com base nos tributos atualmente vigentes. Quanto às repercussões sobre a despesa,
destaca-se a criação do Fundo Nacional de Desenvolvimento Regional (FNDR) e do Fundo de Compensação de Benefícios Fiscais
ou Financeiro-Fiscais (FCBF), cujos aportes da União foram definidos diretamente nos artigos 12 e 13 da Emenda
Constitucional, com impactos a partir de 2029 e 2025, respectivamente. Outros dois Fundos, o Fundo de Sustentabilidade e
Diversificação Econômica do Estado do Amazonas e o Fundo de Desenvolvimento Sustentável dos Estados da Amazônia
Ocidental e do Amapá, ainda ficaram pendentes de regulamentação por Lei Complementar, inclusive quanto aos valores e
momentos dos aportes da União.
5
A Secretaria Extraordinária da Reforma Tributária – SERT – estima um potencial impacto de 12% a 20% no crescimento
econômico ao longo de 15 anos. Disponível em: https://www.gov.br/fazenda/pt-br/acesso-a-informacao/acoes-e-
programas/reforma-tributaria/apresentacoes/apresentacao-reforma-tributaria-para-o-brasil-crescer-ela-precisa-acontecer-
02-8-2023 . Acesso em: 19/01/2024. Entretanto, a Grade de Parâmetros da SPE ainda não incorpora esses efeitos.
7
apresentou uma média de 2028 a 2033 igual à grade anterior. É o deflator do PIB que apresenta as maiores
mudanças, reduzindo-se de 5,5% para 3,8% em 2024, bem como nos demais anos, aproximando-se do IPCA. De
fato, o diferencial entre deflator e IPCA tende a se reduzir ao longo dos anos, evidenciando a convergência de
expectativas inflacionárias, uma vez que o deflator é um índice mais amplo e capta as variações de uma série de
bens e serviços que não estão numa cesta específica, como ocorre com o IPCA. Esse movimento de queda mais
ampla da inflação também favorece a queda contínua da Selic Acumulada (redução do aperto monetário) que se
estabiliza, em média, em 6,0% ao ano a partir de 2028, com Selic Real em 2,9% ao ano.

Com relação à taxa de câmbio, percebe-se uma apreciação do real em 2024, de R$ 5,19 por US$ para R$ 4,94 por
US$, que também se repete nos demais anos. Sob o ponto de vista fiscal, a apreciação pode reduzir receitas que
dependem de importações ou de mercados ligados a cotações internacionais de preços, como de petróleo. Quanto
a essa commodity, a elevação nas expectativas para o preço do barril de petróleo Brent, que subiu 5,0% na
reestimativa para 2024, pode compensar parcialmente esse movimento.
Por fim, o crescimento nominal da massa salarial foi revisto para cima, elevando-se de 6,4% para 10,0% em 2024,
apresentando uma dinâmica mais forte em todos os 10 anos de projeção. Cabe apontar que o crescimento nominal
da massa salarial está levemente acima do crescimento nominal do PIB, o que pode repercutir sobre receitas e
despesas atreladas ao mercado de trabalho.

Tabela 2 – Comparativo de Grades de Parâmetros: maio de 2023 e de janeiro de 2024


Fonte: Elaboração própria

Média
2024 2025 2026 2027
Variável 2023 2028 - 2033
mai/23 jan/24 mai/23 jan/24 mai/23 jan/24 mai/23 jan/24 mai/23 jan/24
PIB Real* 3,0% 2,3% 2,2% 2,8% 2,6% 2,5% 2,6% 2,6% 2,5% 2,5% 2,5%
PIB (R$ bilhões)* 10.852 11.601 11.509 12.512 12.289 13.406 13.105 14.370 13.947 18.628 17.850
Deflator* 4,5% 5,5% 3,8% 4,9% 4,1% 4,5% 3,9% 4,4% 3,8% 3,9% 3,7%
IPCA (Acumulado) 4,6% 3,6% 3,6% 3,0% 3,1% 3,0% 3,0% 3,0% 3,0% 3,0% 3,0%
Diferencial Deflator - IPCA
-0,10 1,89 0,19 1,90 1,01 1,50 0,92 1,42 0,79 0,85 0,66
(p.p.)
IGP-DI (Médio) -3,6% 4,0% 2,0% 3,8% 3,9% 3,8% 3,8% 3,8% 3,8% 3,4% 3,2%
Selic Acumulada 13,2% 10,4% 9,6% 7,8% 8,2% 7,0% 7,1% 7,1% 7,0% 6,0% 6,0%
Selic Real 8,2% 6,5% 5,8% 4,7% 4,9% 3,9% 4,0% 3,9% 3,9% 2,9% 2,9%
Câmbio (Média) 4,99 5,19 4,94 5,17 5,00 5,25 5,05 5,30 5,10 5,49 5,34
Petróleo Brent (US$) 82,19 72,83 76,46 70,62 73,48 69,01 71,13 67,67 69,56 67,16 68,27
Massa Nominal (cresc.) 11,5% 6,4% 10,0% 5,0% 7,1% 4,8% 6,7% 4,8% 6,2% 4,3% 6,3%
*Para valores do PIB, 2023 ainda é uma estimativa, refletindo a grade de janeiro da SPE.

1.2. Cenário Base

Conforme mencionado no início da seção, o cenário base é apresentado considerando apenas a legislação vigente,
isto é, considera apenas as medidas de receita vigentes, com as despesas evoluindo conforme o limite estabelecido
pelo Regime Fiscal Sustentável e com a aplicação de medidas de contingenciamento. Trata-se, portanto, de
instrumento de comparação com o cenário de referência, que será apresentado posteriormente, o qual pressupõe
a consecução das metas fiscais da LDO 2024 e esforços adicionais de receita que garantam a estabilização da dívida.
Assim, enquanto no cenário base discute-se mais pormenorizadamente as diferentes hipóteses e aspectos de
modelagem que balizam as projeções dos agregados de receitas e despesas, a seção dedicada ao cenário de

8
referência traz maior foco à discussão sobre o esforço fiscal necessário para o cumprimento das metas de resultado
primário e seus efeitos sobre as despesas vinculadas às receitas e sobre as despesas discricionárias.

Receitas Primárias do Governo Central

O cenário base considera, além da evolução dos parâmetros macroeconômicos e sua relação com as receitas
públicas, a legislação vigente. Nesse sentido, a publicação de diversos normativos envolvendo o pacote de medidas
de arrecadação, incluídos na LOA 2024, alteraram substancialmente este cenário em relação à última edição deste
relatório. Conforme tratado no Boxe 4 em maiores detalhes, as projeções base de receita passaram a incorporar
todos os impactos esperados no pacote do PLOA, como o novo tratamento dado a subvenções de ICMS para
investimentos, a arrecadação decorrente da regulamentação das apostas de quota fixa, as mudanças nos regimes
de tributação para fundos exclusivos e de ativos financeiros no exterior, e a recuperação de créditos no CARF e com
transações tributárias. Boa parte dessas medidas representam aumentos estruturais de arrecadação, influenciando
todo o horizonte de projeção.
Com relação a gastos tributários, supõe-se, em geral, a manutenção das renúncias de acordo com suas respectivas
vigências. A esse respeito, cabe mencionar que o cenário incorpora os efeitos da MP 1.202/2023, relatados na
Exposição de Motivos nº 75/2023 MF, tendo em vista ser a norma vigente quando da elaboração das projeções
deste relatório. A medida instituiu uma desoneração parcial da folha de pagamentos e revogou o Programa
Emergencial de Retomada do Setor de Eventos (Perse). Portanto, o cenário não incorpora, ainda, as mudanças
implementadas pela Medida Provisória nº 1.208, de 27 de fevereiro de 2024, que revogou alguns de seus
dispositivos.
Como se observa no Gráfico 1, as receitas partem do nível realizado de 21,7% do PIB em 2023, para receita total, e
de 17,5% do PIB, para receita líquida, em uma trajetória ascendente em todo o horizonte. O ano passado
apresentou uma elevação real da arrecadação das receitas federais administradas pela RFB de 1,0%, deflacionado
pelo IPCA. Alguns fatores específicos influenciaram tal movimento, tais como a manutenção da redução de
alíquotas de IPI (R$ 19,0 bilhões) e do PIS/COFINS sobre combustíveis (R$ 28,7 bilhões). Sem considerar alterações
legislativas do tipo e outros fatores atípicos, haveria um crescimento real de 3,0% na arrecadação do período
acumulado, relativamente a 2022, de acordo com o Relatório de Arrecadação da Receita Federal6.
Por outro lado, alguns tributos apresentaram desempenho ainda mais favorável, como a receita previdenciária,
que totalizou crescimento real de 5,04%, em função da variação real de 6,6% da massa salarial, apesar do
crescimento de 32,1% nas compensações tributárias com débitos de receita previdenciária. O IRRF-rendimentos de
capital apresentou uma arrecadação bruta de R$ 123,6 bilhões, resultando em um crescimento real de 21,6%, em
função de aplicações em renda fixa e do desempenho dos fundos de renda fixa, sendo também influenciado por
uma arrecadação de R$ 3,9 bilhões decorrentes da tributação dos fundos de investimento fechados assinalados no
art.28, inciso I, da Lei nº 14.754/2023. Destacam-se também demais impostos de renda retidos na fonte, como o
IRRF – rendimentos de residentes no exterior (crescimento real de 12,4%) e o IRRF – rendimentos do trabalho
(crescimento real de 3,6%). Este desempenho de 2023 leva, por aumento de base, a uma elevação das projeções
para esses tributos ao longo de todo o horizonte.

Para 2024, espera-se uma elevação da receita líquida em 1,4 p.p., para 18,9% do PIB, fruto do desempenho das
medidas de receita publicadas ao longo de 2023. Em 2025, a receita líquida atinge 18,2% do PIB, o que configura,

6
Disponível em: https://www.gov.br/receitafederal/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/relatorios/arrecadacao-
federal/2023/analise-mensal-dez-2023.pdf/view Acesso em: 01 de fevereiro de 2024.
9
ainda, uma elevação de 0,7 p.p. relativamente a 2023. Com efeito, estima-se um aumento estrutural de receitas da
ordem de 0,6% do PIB em decorrência das medidas no pacote do PLOA 2024.
No médio prazo, observa-se uma melhora da arrecadação, com acréscimo de 1,7 p.p. da receita total como
proporção do PIB em 2033 (23,4%) ante 2023 (21,7%). A receita líquida cresce em menor proporção, 1,2 p.p. do
PIB, atingindo 18,7% em 2033 ante 17,5% em 2023.

Gráfico 1 – Projeção da receita primária total e da receita líquida no cenário base (% do PIB)
Fonte: Elaboração própria

25
24 23,5 23,3 23,3 23,4
23,1 23,2
22,7 22,8 22,9
23 22,6
21,7
22

21
20
18,9 18,7 18,7 18,7
18,4 18,5 18,6 18,7
19 18,2 18,3
18 17,5

17
16
15
2023 2024 2025 2026 2027 2028 2029 2030 2031 2032 2033

Receita Total Receita Líquida

Na análise dos componentes da receita total (Gráfico 2), destacam-se a elevação das receitas administradas
(exclusive RGPS) em 2,4 p.p. do PIB e a queda de 1,1 p.p. nas receitas não administradas entre 2023 e 2033. A
arrecadação líquida para o RGPS se eleva em 0,4 p.p. do PIB, de 5,5% em 2023 para 5,9%, influenciada pela reversão,
a médio prazo, da desoneração da folha de pagamentos.

10
Gráfico 2 – Projeção dos componentes da receita total do cenário base (% do PIB)
Fonte: Elaboração própria

18
15,4 15,6 15,7
16 15,0 14,8 14,8 14,9 15,0 15,2
14,7
13,3
14

12

10

8
5,5 5,6 5,6 5,7 5,7 5,7 5,8 5,8 5,8 5,8 5,9
6

2 2,9 2,9
2,3 2,3 2,3 2,3 2,3 2,2 2,1 1,9 1,8
0
2023 2024 2025 2026 2027 2028 2029 2030 2031 2032 2033

Receita Adm. pela RFB ex. RGPS Arrecadação Líquida para o RGPS Receitas Não Adm. pela RFB

Com relação às receitas não administradas, a previsão de ingresso dos R$ 26,0 bilhões relativos a recursos não
reclamados do Fundo PIS/PASEP se materializou em setembro de 2023, mas não há previsão de ingressos
significativos de receitas não recorrentes para além de 2024, de forma alinhada com a LOA. Essa rubrica tende a
estabilizar em torno de 2,3% do PIB até 2029, caindo para 1,8% em 2033 em virtude, principalmente, de redução
de expectativa na receita de exploração de recursos naturais, tanto devido à estabilização do preço do petróleo
Brent em nível 16,9% inferior ao de 2023, quanto pela perda de dinâmica na produção de petróleo a longo prazo.
Ressalta-se a dificuldade inerente à projeção das receitas não administradas, que apresentam significativa
volatilidade e suscetibilidade a eventos não recorrentes. A partir da publicação da LC nº 200, de 2023, com a
vinculação entre o crescimento real das receitas primárias e o crescimento real do limite de despesas, a projeção
de receitas acaba influenciando ainda mais diretamente o planejamento orçamentário das políticas públicas.
Contudo, conforme se discute no Boxe 1, o Regime Fiscal Sustentável buscou amenizar o impacto da volatilidade e
imprevisibilidade de certas receitas no limite de despesas, a partir da criação da RLA.

Boxe 1 – Receita Líquida Ajustada (RLA)

O objetivo deste Boxe é explorar o conceito de Receita Líquida Ajustada – RLA, que é a referência para o cálculo
do limite de despesas do novo arcabouço fiscal.
A Lei Complementar nº 200, de 30 de agosto de 2023, instituiu o Regime Fiscal Sustentável para garantir a
estabilidade macroeconômica do País e criar as condições adequadas ao crescimento socioeconômico, conforme
previsto no art. 6º da Emenda Constitucional nº 126, de 21 de dezembro de 2022. Para tal, atrela a possibilidade
de crescimento real das despesas à evolução real das receitas primárias. O art. 11 da LC nº 200/2023 também
prevê que o Anexo de Metas Fiscais do PLDO deverá conter um marco fiscal de médio prazo, com projeções para

11
os principais agregados fiscais, como um novo requisito na Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar 101,
de 4 de maio de 2000 - LRF).
Em primeiro plano, o crescimento real das despesas está restrito a determinado percentual do crescimento real
apurado das receitas, sem perder de vista o alcance da meta de resultado primário. O limite superior de
crescimento real estabelecido é de 2,5%, de forma a promover o abatimento do endividamento nos momentos
de crescimento mais forte da economia e da arrecadação. Já o limite inferior de crescimento real estabelecido é
de 0,6%, para evitar que despesas importantes sejam descontinuadas em períodos de recessão (§1º, art. 5º da LC
nº 200/2023). O objetivo primordial desses limites é a promoção de uma evolução saudável do orçamento
público, minimizando a volatilidade que poderia ser observada ao vincular o crescimento da despesa à receita e
que atentaria ao planejamento dos gastos, uma vez que a estabilidade das políticas públicas configura condição
necessária ao objetivo de maior eficiência do gasto público.
Para definir o crescimento real da despesa, a LC nº 200/2023, no seu art. 4º, considera o crescimento das receitas
referentes ao período de 12 (doze) meses encerrado em junho do exercício anterior ao que se refere a lei
orçamentária anual, deflacionada pela inflação acumulada no mesmo período. Como se verá mais adiante, o uso
de dados realizados, ao invés de projetados, é relevante, seja para blindar as projeções de receitas de qualquer
possibilidade de superestimação, seja porque a arrecadação pode se realizar com desvio significativo do
planejado, especialmente no que diz respeito às receitas não tributárias.

Já o art. 5º estabelece quais os itens de receita serão considerados e quais serão excluídos. A receita resultante,
regulamentada pela Portaria MF nº 1.165, de 5 de outubro de 2023, chamada de Receita Líquida Ajustada – RLA
– já foi incorporada à publicação do Resultado do Tesouro Nacional de agosto de 20237.
Dessa forma, algumas receitas primárias foram retiradas da base de cálculo da RLA com o objetivo de reduzir a
volatilidade da base de crescimento das despesas. Logo, não só a receita realizada, relevante para a determinação
das despesas, será menos volátil, mas também a sua projeção para anos futuros terá um nível menor de incerteza,
contribuindo para a projeção de despesas que impactarão a determinação das metas fiscais e a construção do
marco fiscal de médio prazo. Em consequência, optou-se pela exclusão de itens de receitas que podem apresentar
maior variância ou que são afetadas por eventos pouco recorrentes, mas de elevada materialidade,
especialmente as de concessões e permissões, dividendos e participações e de exploração de recursos naturais.
A seguir, discorre-se sobre esse aspecto de previsibilidade da RLA.

Como exemplo do caráter não recorrente da série de concessões e permissões, em dezembro/2019, houve
recebimento de recursos relativos ao leilão dos Volumes Excedentes da Cessão Onerosa de Petróleo (R$ 70,6
bilhões), mais o ingresso de R$ 8,9 bilhões da 16ª rodada de concessões de campos de petróleo e de R$ 5,0 bilhões
da 6ª rodada de partilha do petróleo do pré-sal, sem contrapartida em dezembro de 20188. Em 2022, por sua vez,
houve o recebimento de R$ 11,1 bilhões relativos à Segunda Rodada do Leilão dos Volumes Excedentes da Cessão
Onerosa do Petróleo9, somados a R$ 26,5 bilhões referentes ao bônus de outorga dos novos contratos de

7
Vide tabela 1.8 do Boletim Resultado do Tesouro Nacional em
https://www.tesourotransparente.gov.br/publicacoes/boletim-resultado-do-tesouro-nacional-rtn/2023/9
8
Disponível em: https://www.gov.br/fazenda/pt-br/centrais-de-conteudos/publicacoes/transparencia-fiscal/boletim-
resultado-fiscal-estrutural/2023/boletim-rfe-2023-2022-final.pdf. Acesso em: 7 de fevereiro de 2024
9
Disponível em: https://www.gov.br/anp/pt-br/rodadas-anp/rodadas-concluidas/lveco/2-lveco/resultados. Acesso em: 7 de
fevereiro de 2024.
12
concessão de geração de energia elétrica advindos da desestatização da Eletrobras. Assim, uma receita que,
tipicamente, renderia menos de R$ 10,0 bilhões ao ano pode apresentar arrecadação superior a R$ 90,0 bilhões
em determinados períodos.

As receitas de royalties, participação especial e comercialização, por sua vez, são diretamente influenciadas pela
cotação do barril de petróleo Brent e de outras commodities. O Brent variou 66,5% de 2020 para 2021 e 41,7%
de 2021 para 2022. O último Relatório de Projeções Fiscais (julho de 2023)10 apresentou estimativas da ordem de
R$ 36,7 bilhões para a arrecadação decorrente desse movimento cíclico em 2022. Observa-se, portanto, que a
arrecadação na linha exploração de recursos naturais fica sujeita à volatilidade da formação de preços para o
Brent, de difícil previsibilidade. Com efeito, ao longo de 2023 a grade de parâmetros da SPE já reestimou a cotação
do Brent para o fim de 2023 de USD 80,98, em março, para USD 89,27, em novembro, uma revisão de 10,2%. Tal
revisão foi em linha com demais instituições, por exemplo o Fundo Monetário Internacional (FMI), que revisou a
cotação do Brent em 9,3% entre o World Economic Outlook de abril de 2023 e de novembro de 2023.
Em relação às receitas de dividendos e participações, observou-se a entrada de R$ 18,9 bilhões do BNDES em
2022, três vezes o valor da média dos 10 anos anteriores. Os dividendos da Petrobras atingiram R$ 20,2 bilhões e
R$ 33,4 bilhões, respectivamente em 2021 e 2022, cifras maiores que a média dos últimos 10 anos (R$ 1,2 bilhão),
afetadas pela volatilidade do preço do barril do petróleo. Ademais, a política de distribuição de dividendos e
participações depende da política de distribuição das empresas e não diretamente da União. Em 2023, a receita
de dividendos com essas empresas caiu 44,8% e 49,1%, respectivamente, para R$ 10,4 bilhões e R$ 28,7 bilhões.
Tendo em vista a variabilidade das receitas acima exemplificadas, não seria prudente que estivessem na RLA, pois
não garantiriam o financiamento das despesas decorrentes da variação positiva daquelas para os próximos
períodos. Por isso, a opção da Lei Complementar em criar o conceito de RLA para ajuste das despesas.

Outro caso a ser destacado se refere à não contabilização de receitas pontuais na RLA, como, por exemplo, as de
recursos não sacados do PIS/PASEP que ocorreram em setembro de 2023, conforme determinou o art. 121 do
Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT). Justifica-se a sua exclusão por se tratar de uma receita
não recorrente. Na prática, foram R$ 26,0 bilhões arrecadados que poderiam influenciar o cálculo da RLA para
2025, mas sem previsão de ocorrer novamente.
Outras receitas também não consideradas na RLA dizem respeito aos Programas Especiais de Recuperação Fiscal.
São parcelamentos de débitos fiscais para pessoas físicas ou jurídicas com dívidas com a Receita Federal do Brasil
– RFB e a Procuradoria Geral da Fazenda Nacional – PGFN, em condições especiais, por exemplo, instituindo
descontos sobre principal, multas e juros. Aqui, o objetivo é não considerar a assimetria gerada pelos altos valores
de entrada e o restante diluído em diversas parcelas, ou seja, mais uma volatilidade que se quer expurgar. Frise-
se que a LC nº 200/2023 excluiu da apuração da RLA apenas os programas especiais, não afetando demais
programas e institutos perenes de renegociação de dívidas, tais como as transações tributárias disciplinadas na
Lei nº 13.988, de 14 de abril de 2020.
Com efeito, há três anos, as transações tributárias têm se consolidado como uma verdadeira política pública de
regularização fiscal, incrementando a arrecadação primária consistentemente ao longo dos anos. Em 2022, foram
R$ 14,2 bilhões arrecadados por meio de transações tributárias, e se esperam R$ 21,5 bilhões para 2024,

10
Disponível em: https://www.tesourotransparente.gov.br/publicacoes/relatorio-de-projecoes-fiscais/2023/20. Acesso em: 7
de fevereiro de 2024.
13
conforme se vê no Gráfico 3. O Programa Litígio Zero junto à Receita Federal e à PGFN, por sua vez, arrecadou R$
5,6 bilhões em 2023.

Gráfico 3 – Evolução das transações tributárias (R$ bilhões correntes)


Fonte: Elaboração própria

21,5
20,7

14,2

6,3

1,7

2020 2021 2022 2023 2024*

*Estimativas baseadas no PLOA 2024.

Em 2024, além das modalidades já existentes incorporadas nesse valor, esperam-se incrementos adicionais a
partir da transação no contencioso de relevante e disseminada controvérsia jurídica, que foi aprimorada com a
aprovação da Lei nº 14.689, de 20 de setembro de 2023. As novas condições para as transações de teses11 no
contencioso podem ampliar a capacidade de negociação da Fazenda Nacional12 e gerar aumento perene de
receitas a partir do alongamento dos parcelamentos aprovados. Essas receitas não são excluídas da RLA.
Com o intuito de ilustrar os fatos acima relatados, apresenta-se, abaixo, uma sequência de gráficos mostrando o
percentual realizado em relação às estimativas das respectivas Leis Orçamentárias Anuais das receitas
administradas e não administradas e das principais receitas que não fazem parte da RLA (arrecadação realizada
dividido pelo valor orçado)13.

11
Um exemplo é o Recurso Extraordinário 1.233.096 no Supremo Tribunal Federal em que se discute, à luz do artigo 195, inciso
I, alínea b, da Constituição Federal, a constitucionalidade da inclusão da COFINS e da contribuição ao PIS em suas próprias
bases de cálculo (Supremo Tribunal Federal (stf.jus.br)).
12
A Advocacia-Geral da União (AGU), a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) e a Receita Federal do Brasil (RFB)
lançaram, em 06/11/2023, uma consulta pública para receber sugestões relativas a um edital de transação em teses tributárias
referentes ao Imposto Sobre a Renda das Pessoas Jurídicas (IRPJ) e à Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) da
empresa investidora domiciliada no Brasil auferido através da sua investida no exterior. Disponível em:
https://www.gov.br/pgfn/pt-br/assuntos/noticias/2023/agu-pgfn-e-receita-federal-lancam-consulta-publica-sobre-
transacao-tributaria
13
Cabe mencionar que existem outras métricas tecnicamente mais avançadas para a validação da qualidade de projeções, tais
como o erro quadrático médio, o erro absoluto médio ou o erro absoluto médio percentual. A simples média dos erros anuais
pode passar uma impressão de normalidade quando um erro positivo anula um erro negativo, aspecto este que as métricas
mencionadas expurgam. Por simplicidade e tendo em vista que a subestimação em 2020 foi comum a todas as séries, manteve-
se a análise dos erros médios no texto, mas se confirma que os erros absolutos médios percentuais usando os mesmos dados

14
O Gráfico 4 apresenta o percentual realizado do total das receitas administradas (inclusive RGPS) e das receitas
não administradas em relação às LOAs de 2018 a 2023.

Gráfico 4 – Percentual de realização das receitas administradas e não administradas relativamente às LOAs
Fonte: Elaboração própria

164,1% 160,0%
143,0%

115,7% 112,1%
115,8%

90,6% 107,7%
100,0% 98,4% 103,0%
80,1%
Não Administradas
Administradas (incl. RGPS)
Média Não Administradas= 129,28%
Média Administradas= 102,6%

2018 2019 2020 2021 2022 2023

Tem-se que o percentual realizado variou entre 80,1% e 164,1% para as receitas não administradas, com uma
média de 129,2% de realização ao longo do período e um desvio padrão de 32,4%, e entre 90,6% e 115,7% para
as receitas administradas, com uma média de 102,6% e desvio padrão de 8,6%. Claramente, as receitas não
administradas como um todo são mais difíceis de se prever, tanto por desviarem mais relativamente à
programação, quanto pelos eventuais desvios serem mais erráticos.
O Gráfico 5 mostra o comportamento das receitas de concessões e permissões com uma variabilidade de
realização entre 38,8% e 911,9%. A média do percentual realizado é de 338,3%, com um desvio padrão de 341,9%.
Dessa forma, o tamanho do desvio com relação à estimativa no orçamento é aproximadamente três vezes maior
do que para as receitas administradas e não administradas. Cabe citar o ano de 2020, que tinha como previsão a
desestatização da Centrais Elétricas Brasileiras S/A – Eletrobras. Entretanto, o processo somente ocorreu em
2022, devido às diversas etapas para a aprovação de Projeto de Lei e para a conclusão do processo em si, o que
incluiu, por exemplo, a conclusão de estudos e realização de operações de ajuste de natureza societária.

resultam em: 6,5% para receitas administradas, 35,5% para receitas não administradas, 259,6% para concessões, 28,8% para
exploração de recursos naturais e 138,1% para dividendos, ou seja, todas as conclusões do Boxe permanecem válidas.
15
Gráfico 5 – Percentual de realização das receitas de concessões e permissões relativamente às LOAs
Fonte: Elaboração própria

Concessões e Permissões 911,9%


Média não administradas
Média administradas

596,8%

211,6%
154,9%
116,1% 129,2%

38,8% 102,6%
2018 2019 2020 2021 2022 2023

A seguir, o Gráfico 6 demonstra a realização das receitas de exploração de recursos naturais e se verifica que o
seu percentual de realização em relação às LOAs varia entre 83% e 158%, aproximadamente. Apura-se uma média
de 115,2% de percentual realizado e um desvio padrão de 32,0%. É interessante verificar que esta rubrica
apresenta média e variância próximas das receitas não administradas como um todo, sendo que representa cerca
de um terço desse agrupamento em valores nominais. Comparado com as receitas administradas, a média do
percentual de realização é apenas 12,6 p.p. maior, porém, o desvio padrão é quatro vezes maior. O gráfico reforça
a intensidade da contaminação dos movimentos cíclicos imprevistos dos preços das commodities na capacidade
preditiva para a orçamentação.

Gráfico 6 – Percentual de realização das receitas de exploração de recursos naturais relativamente às LOAs
Fonte: Elaboração própria

158,3%

133,4% 138,2%

129,2%

102,6%
88,2% 83,0%
90,1%

Exploração de Recursos Naturais


Média não administradas
Média administradas

2018 2019 2020 2021 2022 2023

16
Por fim, o Gráfico 7 trata da trajetória de realização das receitas de dividendos e participações com uma média
de 221,0% de realização das receitas estimadas e 149,7% de desvio padrão, sendo que o menor valor realizado
foi 48,6% e o maior 433,6%. Similarmente às concessões, a média e a variância são superiores às receitas
administradas e não administradas como um todo.

Gráfico 7 – Percentual de realização das receitas de dividendos e participações relativamente às LOAs


Fonte: Elaboração própria

Dividendos e Participações 433,6%


Média não administradas
Média administradas
331,0%
278,8%

129,2% 120,8%
113,2%

102,6%

48,6%

2018 2019 2020 2021 2022 2023


Conclui-se que as receitas de concessões, exploração de recursos naturais e dividendos, em conjunto, além de
terem uma variabilidade relevante, tendem a se realizar em magnitudes significativamente diferentes das
previstas na lei orçamentária, o que reforça o aspecto de dificuldade preditiva.
Dessa forma, o uso de dados realizados para a determinação do orçamento do ano seguinte é uma opção
metodológica relevante, pois mesmo a RLA possuirá um erro de projeção não desprezível. Para além disso, a
exclusão das receitas mais voláteis e de difícil projeção da RLA favorecerá o planejamento fiscal de médio prazo,
na medida em que confere maior previsibilidade para a evolução das despesas.

Despesas Primárias do Governo Central

Conforme descrito no Boxe 1, o ponto de partida para a projeção da despesa sujeita ao limite no cenário base é a
variação real da RLA. A Tabela 3 ilustra a definição do crescimento do limite de despesa a partir das receitas
projetadas no cenário base. Conforme as regras do Regime Fiscal Sustentável (RFS), o resultado primário do ano t
impacta a proporção da variação real da receita a ser aplicada no crescimento do limite de despesa no ano t+2.
Como o cenário base não considera medidas adicionais para melhorar a situação fiscal, apenas leva em conta as
medidas já estabelecidas e aprovadas pelo Congresso Nacional e o contingenciamento de despesas seguindo as
regras vigentes, o resultado primário decorrente da estimativa não consegue atingir o limite inferior das metas
anunciadas pelo governo nos anos de 2025 e 2026, de tal forma que a proporção do crescimento da receita aplicada

17
à despesa é de 50% nos anos de 2027 e 2028. Diferentemente do RPF de julho de 2023, este relatório considera
que em 2024 não será aplicada a cláusula de exceção prevista no art. 14 da LC 200/2314.
Para o exercício de 2025, aplica-se 70% da variação da receita, tendo em vista a inexistência de intervalo de
tolerância para a meta de resultado primário no ano de 2023. Em relação aos anos posteriores a 2026, para os quais
não há metas de resultado primário definidas, assume-se que o resultado primário projetado equivale à meta de
resultado primário, de forma que, a partir de 2029 (ano para o qual se utiliza o cumprimento da meta de resultado
primário em 2027 para fins de aplicação da proporção da RLA), o crescimento aplicado ao limite da despesa equivale
a 70% da variação da RLA.

Tabela 3 – Crescimento do limite de despesa conforme projeção e parâmetros do cenário base


Fonte: Elaboração própria

2024 2025 2026 2027 2028 2029 2030 2031 2032 2033

Variação real da receita líquida ajustada (t-1) 2,4 7,2 6,9 2,9 3,7 3,5 3,5 3,6 3,7 3,7

Cumprimento da meta de resultado primário1 sim não não sim sim sim sim sim sim sim

Proporção aplicada à RLA 70% 70% 70% 50% 50% 70% 70% 70% 70% 70%

Valor da proporção aplicada à variação da RLA 1,7 5,0 4,8 1,4 1,8 2,4 2,5 2,5 2,6 2,6

Ajuste do crescimento real do limite de


despesa conforme parâmetros mínimos e 1,7 2,5 2,5 1,4 1,8 2,4 2,5 2,5 2,5 2,5
máximos
1 A aferição do cumprimento da meta de resultado primário considera o atingimento do intervalo de tolerância inferior.

Para os anos de 2025 e 2026, mesmo com o contingenciamento de despesas previsto na LDO, não é possível atingir
o limite inferior da meta de resultado primário, o que implica aplicação da proporção de 50% da RLA nos anos de
2027 e 2028. Para fins de projeção do montante a ser contingenciado, considera-se o disposto no inciso II do § 18
do art. 71 da LDO 2024, que limita o contingenciamento à garantia de crescimento mínimo de 0,6% das despesas
sujeitas ao limite. Como resultado, projeta-se contingenciamento de R$ 38,1 bilhões e R$ 39,0 bilhões em 2025 e
2026, respectivamente, em valores de 2024, ou 0,3 p.p. do PIB de cada ano.

Em termos reais, as projeções indicam um crescimento médio anual da despesa sujeita ao limite de 2,3%15 entre
2024 e 2033, equivalente ao ritmo de crescimento médio da despesa primária total, tendo em vista que as despesas
a ele sujeitas representam em média 95,7% da despesa primária total. Entretanto, tendo em vista a hipótese de
contingenciamento nos anos de 2025 e 2026, o crescimento real da despesa sujeita ao limite nesses dois anos é
inferior ao da despesa primária total.

14
De acordo com o art. 14 da LC 200/2023, no exercício financeiro de 2024, o limite do Poder Executivo poderia ser ampliado
se na segunda avaliação bimestral de receitas e despesas primárias fosse verificado que 70% do crescimento real da receita
para 2024 estimado naquela avaliação resultaria em limite superior ao calculado quando da elaboração do PLOA 2024 (1,7%).
15
A despeito do crescimento real do limite de despesas ser de apenas 1,70% em 2024 e de 1,85% em 2028, diferenças na
composição do limite de despesas que passou a vigorar em 2024 em relação ao limite que vigorava até 2023 justificam uma
variação real da despesa sujeita ao limite de 2,6% entre 2023 e 2024, contribuindo para elevação da média do período de
projeção.
18
Em relação ao PIB, a despesa primária parte de 19,6% do PIB em 2023 (sendo que o pagamento do passivo de
precatórios regularizado corresponde a 0,9 p.p. desse valor), e se reduz gradualmente até alcançar 17,5% do PIB
em 2033. Em 2025 e 2026, o contingenciamento de despesas (equivalente a 0,3% do PIB nos dois anos) supera o
pagamento de precatórios expedidos, há ligeira redução da despesa em proporção do PIB, que atinge 18,7%, ante
os 18,9% do PIB observados em 2024. Entre 2026 e 2027, ocorre uma queda mais acentuada da despesa primária
(0,5 p.p.), que alcança 18,3% do PIB em 2027, uma vez que a totalidade da despesa de precatórios volta a sujeitar-
se ao limite de despesas, reduzindo o espaço das despesas discricionárias e a despesa total como um todo. A esse
efeito, soma-se a redução do crescimento real do limite de despesas em 2027, ano em que o limite se eleva 1,4%,
após crescimento de 2,5% por dois anos consecutivos.

Tabela 4 – Evolução da despesa primária total sob as premissas do cenário base


Fonte: Elaboração própria

2023 2024 2025 2026 2027 2028 2029 2030 2031 2032 2033
Despesa primária total (R$ Bilhão) 2.128,2 2.177,2 2.300,0 2.444,6 2.549,4 2.673,5 2.817,5 2.977,4 3.143,3 3.319,3 3.503,4
Variação real da despesa primária
11,3 -2,2 2,0 3,1 1,2 1,8 2,3 2,6 2,5 2,5 2,5
total (% a.a.)
Variação real da despesa primária
10,1 4,1 0,6 2,8 3,3 1,8 2,4 2,5 2,5 2,5 2,5
sujeita ao limite (% a.a.)
Despesa primária total (% do PIB) 19,6 18,9 18,7 18,7 18,3 18,0 17,9 17,8 17,7 17,6 17,5

Boxe 2 – Projeção de sentenças judiciais frente à decisão do Supremo Tribunal Federal

Em decisão tomada no âmbito do julgamento das Ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADI) 7064 e 7047, o
Supremo Tribunal Federal (STF) julgou inconstitucional o subteto para pagamento de precatórios estabelecido
pela Emenda Constitucional nº 114 (EC 114), de 2021. A decisão também autorizou o pagamento dos precatórios
expedidos nos exercícios de 2022 a 2026 que excedam o mencionado subteto via crédito extraordinário, portanto,
fora do limite de despesas definido pelo Regime Fiscal Sustentável (LC nº 200, de 2023). O STF determinou, ainda,
que esses valores não serão considerados para fins de verificação do cumprimento da meta de resultado primário.

Com a decisão, o Governo Federal quitou, em dezembro de 2023, R$ 92,4 bilhões, ou 0,9% do PIB, em precatórios,
equivalentes aos passivos gerados em 2022 e 2023 e ao previsto para 2024. Este valor foi dividido da seguinte
forma: R$ 51,5 bilhões (55,7% do total) em sentenças de custeio e capital, R$ 27,7 bilhões (30,0%) em previdência,
R$ 12,8 bilhões (13,9%) em pessoal, e R$ 0,4 bilhão em BPC (0,5%). Com esse evento, o pagamento total de
precatórios em 2023 chegou a R$ 122,8 bilhões, ou 1,1% do PIB, incluindo os pagamentos inicialmente previstos
na Lei Orçamentária do ano passado.
Em relação às projeções, para 2024 estas contemplam apenas o pagamento do montante de precatórios já
previsto na LOA 2024 que ocorrem dentro do limite de pagamentos de precatórios e, portanto, dentro do limite
de despesas. Para 2025 e 2026, assume-se o pagamento integral das expedições previstas nos anos
correspondentes, sendo que apenas a parte sujeita ao limite de pagamento de precatórios previsto na EC 114
está sendo computada dentro do limite de despesa e no resultado primário usado para a verificação da meta,
conforme decisão do STF. A partir de 2027, todos os pagamentos de precatórios são realizados dentro do limite
de despesa, sendo também incluídos no resultado primário para fins de verificação da meta.

19
Ressalta-se que não houve mudança no regramento relativo ao pagamento dos precatórios relacionados ao
Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef)16,
assim como daqueles considerados de grande vulto17, que continuam sendo pagos de forma parcelada fora do
limite de despesa, porém são contabilizados no resultado primário para fins de apuração da meta. Os precatórios
utilizados para fins de compensação de dívidas, quitação de débitos, compra de imóveis, entre outras operações18
também se mantêm como exceções ao limite de despesas.

O gráfico a seguir ilustra a mudança na projeção do pagamento de sentenças judiciais em relação às hipóteses
usadas na edição anterior deste relatório19, respeitando as regras de pagamento do art. 107-A do ADCT, e a
projeção adotada na edição atual. Nota-se um aumento significativo dessas despesas em 2023, 2025 e 2026 (0,8
p.p., 0.3 p.p. e 0,3 p.p. do PIB, respectivamente) compensado por diminuição expressiva do valor projetado em
2027 (-1,5 p.p. do PIB), por conta das premissas adotadas para projetar essas despesas no relatório anterior, que
consideravam o sublimite de pagamento de precatórios então vigente.

Gráfico 8 – Projeção de pagamento de sentenças (Precatórios, RPVs e demais sentenças) (p.p. do PIB)
Fonte: Elaboração própria

2,5 2,3

2,0

1,5 1,4

1,0 0,8 0,8 0,8 0,8 0,8


0,6 0,6 0,7 0,7 0,7

0,8 0,8 0,8 0,8 0,8


0,5 0,6 0,7 0,7
0,6 0,6
0,5 0,4
0,0
2022 2023 2024 2025 2026 2027 2028 2029 2030 2031 2032 2033

Hipótese anterior Pós decisão

Adicionalmente, cabe ressaltar que o pagamento de precatórios projetados estará distribuído em todas as linhas
de despesa da Necessidade de Financiamento do Governo Central (NFGC) que possuem sentenças judiciais em
sua composição: Benefícios Previdenciários, Pessoal e Encargos Sociais, Benefícios de Prestação Continuada e
Sentenças de Custeio e Capital.

16
Conforme disposto no art. 4º da Emenda Constitucional nº 114 de 16 de dezembro de 2021.
17
Conforme disposto no §20 do art. 100 da Constituição Federal.
18
Conforme §§ 11 e 21 do art. 100 da Constituição Federal.
19
Nas outras edições do Relatório de Projeções Fiscais, considerava-se o pagamento do passivo em 2027 e a excepcionalização
completa do pagamento de sentenças judiciais do limite de despesas a partir daquele ano.
20
A projeção para os pagamentos de todas as sentenças judiciais20 por linha da NFGC, assim como a abertura entre
o que está dentro e fora do limite de despesas, e fora do resultado primário para aferição do cumprimento da
meta é apresentada na Tabela 5, a seguir. As premissas de projeção de tais despesas encontram-se detalhadas no
Apêndice C.

Tabela 5 – Projeção de sentenças judiciais por linha da NFGC (% do PIB)


Fonte: Elaboração própria

2023 2024 2025 2026 2027 2028 2029 2030 2031 2032 2033
Benefícios Previdenciários 0,5 0,3 0,4 0,4 0,4 0,4 0,4 0,4 0,4 0,4 0,5

Pessoal e Encargos Sociais 0,2 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1

BPC 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0

Sentenças de Custeio e Capital 0,7 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2

Total 1,4 0,6 0,7 0,7 0,7 0,7 0,8 0,8 0,8 0,8 0,8

d.q. Sujeitas ao Limite de Despesas 0,4 0,4 0,4 0,4 0,7 0,7 0,8 0,8 0,8 0,8 0,8

d.q. Não Sujeitas ao Limite de Despesas 1,0 0,1 0,3 0,4 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0

Memo: Fora do resultado primário para aferição do cumprimento da


0,9 0,0 0,3 0,3 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
meta

Despesas Obrigatórias

A evolução das despesas obrigatórias é bastante semelhante entre o cenário base e o cenário de referência, tendo
em vista que ambos têm como insumo o mesmo cenário macroeconômico. Pequenas diferenças nas projeções
entre esses cenários decorrem de despesas cujas estimativas dependem do desempenho da receita, como a
complementação da União ao Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino (Fundeb) e as despesas com o
Fundo Constitucional do Distrito Federal (FCDF), além dos gastos mínimos de saúde e de educação, que dependem
dos valores da Receita Corrente Líquida (RCL) e da Receita Líquida de Impostos (RLI) estimados.
Os principais componentes das despesas obrigatórias, considerando os resultados de 2023, apresentam as
seguintes participações relativas na despesa primária total: Benefícios Previdenciários do Regime Geral de
Previdência Social (RGPS) (42,2%), Pessoal e Encargos Sociais (17,0%), Bolsa Família (7,8%), Benefícios de Prestação
Continuada (4,4%), Abono e Seguro Desemprego (3,4%), Complementação da União ao Fundeb (1,8%), Sentenças
Judiciais e Precatórios de Custeio e Capital (3,4%), restando às demais despesas obrigatórias a participação de
11,4%21.
A Tabela 6 sintetiza os resultados da projeção de despesa, apresentando as principais linhas conforme estrutura do
Resultado do Tesouro Nacional (RTN), em percentual do PIB, para o período de projeção:

20
As sentenças judiciais reúnem despesas referentes a Precatórios, Requisições de Pequeno Valor (RPV), sentenças de estatais
e demais sentenças judiciais.
21
A análise segue segmentação apresentada no Boletim Resultado do Tesouro Nacional. Para uma análise sobre a composição
das despesas governamentais sob a ótica funcional, em que é possível segmentar os gastos considerando as funções de
governo ou seus objetivos socioeconômicos, como saúde, educação, proteção social e defesa, sugerimos a consulta do
relatório Cofog – Despesas por Função do Governo Central, disponível em
https://www.tesourotransparente.gov.br/publicacoes/cofog-despesas-por-funcao-do-governo-central.
21
Tabela 6 – Projeção de despesas obrigatórias (% do PIB)
Fonte: Elaboração própria
Discriminação 2023 2024 2025 2026 2027 2028 2029 2030 2031 2032 2033
Benefícios Previdenciários 8,3 8,1 8,2 8,1 8,1 8,1 8,1 8,1 8,2 8,2 8,3

Pessoal e Encargos Sociais 3,3 3,2 3,1 3,1 3,0 2,9 2,8 2,8 2,7 2,6 2,6

Benefícios de Prestação Continuada da LOAS/RMV 0,9 0,9 0,9 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 1,1 1,1 1,1

Bolsa Família (Auxílio Brasil) 1,5 1,5 1,5 1,4 1,3 1,3 1,2 1,1 1,1 1,0 1,0

Abono e Seguro Desemprego 0,7 0,7 0,7 0,7 0,7 0,7 0,7 0,7 0,7 0,8 0,8

Fundef/Fundeb - Complementação da União 0,3 0,4 0,4 0,5 0,5 0,5 0,5 0,5 0,5 0,5 0,5

Sentenças Judiciais e Precatórios (Custeio e Capital) 0,7 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2

Demais Despesas Obrigatórias 2,2 2,2 2,1 2,1 2,0 2,0 2,0 2,0 2,0 2,0 2,0

Os gastos previdenciários, em proporção do PIB, apresentam leve queda entre 2023 e 2024, devido ao pagamento
integral em 2023 do passivo de precatórios relativos aos anos de 2022, 2023 e 202422. Isso ocorre a despeito do
efeito de elevação de despesa em decorrência da adoção de hipóteses sobre a redução da fila de requerimentos
de benefícios e de pedidos de compensação previdenciária no âmbito do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS)
ao longo do exercício de 2024. A oscilação entre 2024 e 2025 também é explicada pela antecipação do pagamento
de precatórios de 2024 em 2023, o que afeta a base de comparação da despesa de 2024. A partir de 2025, a despesa
previdenciária segue em trajetória ascendente até 2033, quando alcança 8,3% do PIB.
A preços de 2024, a despesa do RGPS sai de R$ 940,423 bilhões em 2023 para R$ 1.266,0 bilhões em 2033.
Concorrem para essa dinâmica: i) o aumento do valor médio do benefício, devido à política de valorização
permanente do salário mínimo24; ii) o arrefecimento dos efeitos da Reforma da Previdência de 2019, aliado ao
envelhecimento populacional; e iii) a aceleração nas compensações financeiras entre o RGPS e os demais sistemas
de previdência social. Estes fatores contribuem para uma elevação na taxa de crescimento real dos gastos com
benefícios e compensações previdenciárias (isto é, exceto sentenças judiciais), que sai de uma média de 2,6% a.a.
entre 2024 e 2027, para atingir 3,5% entre 2028 e 2033.
Já as despesas de pessoal, que constituíram 17,0% do total da despesa primária em 2023, apresentam trajetória
declinante no período de 2024 a 2033, quando atingem 2,6% do PIB, 0,8 p.p. abaixo do nível de 2023, dadas as
hipóteses de projeção25. Em valores constantes de 2024, estima-se que esse gasto totalize R$ 407,0 bilhões em
2033, valor próximo à despesa de R$ 393,3 bilhões realizada em 2023, refletindo uma variação real anual média de
0,9% no horizonte de projeção. Ressaltamos, entretanto, que a evolução desta rubrica será definida pela política
de pessoal a ser adotada no futuro, tanto em termos de contratação de novos servidores quanto de concessão de
reajustes salariais.

22
Mais detalhes no Boxe 2.
23
Trata-se de valor real superior ao projetado para 2024, de R$ 934,7 bilhões, tendo em vista o pagamento do passivo de
precatórios em 2023, que afetou a despesa com o RGPS.
24
A Lei n° 14.663, de 28 de agosto de 2023, estabelece valorização real do salário mínimo equivalente à variação real positiva
do PIB de dois anos anteriores. Essa hipótese impacta significativamente a projeção da despesa com RGPS e demais despesas
vinculadas ao salário mínimo, tais como Benefício de Prestação Continuada (BPC), Abono Salarial e Seguro Desemprego.
25
Ver mais detalhes no Boxe 3 e no Apêndice C.
22
Em relação à projeção da despesa com o BPC, conforme se observa na Tabela 6, estima-se sua elevação no
horizonte de projeção, de 0,9% do PIB em 2023 para 1,1% do PIB em 2033, tendo em vista o aumento da quantidade
de beneficiários (em especial em razão do envelhecimento populacional), a indexação do benefício ao salário
mínimo e o desrepresamento da fila de benefícios em 2024, cujos efeitos se estendem no horizonte de projeção.
Em termos reais, a despesa com BPC cresce de R$ 97,0 bilhões em 2023 para R$ 170,4 bilhões em 2033, em valores
constantes de 2024, o que representa uma média anual de crescimento real de cerca de 5,7% para o período
analisado, ritmo de crescimento bem superior ao das outras linhas de despesa.

Quanto às despesas com o Programa Bolsa Família, projeta-se redução desta despesa de 1,5% do PIB em 2023 para
1,0% do PIB em 2033, em decorrência das hipóteses adotadas para a sua projeção: manutenção da quantidade do
número de famílias beneficiadas (21,2 milhões a partir de 2024) e reajuste do benefício médio (R$ 684,31)26 pela
inflação do ano anterior a cada dois anos, a partir de 2025, sob um cenário macroeconômico que prevê crescimento
real do PIB superior a 2% e diferencial positivo entre deflator do PIB e IPCA anualmente durante todo o período de
projeção.
As despesas com abono e seguro-desemprego apresentam leve tendência de alta em proporção do PIB ao longo
do período, mantendo-se em 0,7% do PIB até 2031 e posteriormente elevando-se para 0,8% do PIB em 2032 e
2033. O aumento projetado se deve às tendências de alta da massa salarial superior ao crescimento do PIB,
impactando mais fortemente as despesas do seguro-desemprego, e à política de valorização do salário mínimo,
que tem maior impacto sobre a projeção do Abono Salarial.
As Sentenças Judiciais e Precatórios de Custeio e Capital apresentam queda relevante entre 2023 e 2024, de 0,7%
do PIB para 0,2% do PIB, refletindo os efeitos do pagamento do passivo gerado pela EC nº 114, em atendimento à
decisão do STF, conforme detalhado no Boxe 2. Posteriormente, essa despesa se mantém em 0,2% do PIB até 2033.
Em valores de 2024, essa despesa sai de R$ 75,1 bilhões em 2023, cai para R$ 24,2 bilhões em 2024 e passa a
crescer em média 4,8% a.a. em termos reais, até atingir R$ 36,9 bilhões em 2033.
Por fim, também crescem no período as despesas com a complementação da União ao Fundeb, em função do
aumento até 2026 do percentual de complementação devido pela União e pelo crescimento projetado para as
receitas27. Essas despesas saem de 0,3% do PIB em 2023 para 0,5% do PIB a partir de 2026, mantendo-se neste
patamar para o restante do horizonte de projeção. Em termos reais, essa despesa cresce a uma taxa anual média
de 5,1% no período, passando de R$ 39,2 bilhões em 2023 para R$ 70,4 bilhões em 2033, em valores de 2024.

O restante das despesas obrigatórias apresenta tendência de leve redução em proporção do PIB ao longo do
período, saindo de 2,2% do PIB em 2023 para 2,0% do PIB em 2027, permanecendo neste patamar até 2033.

Boxe 3 – As despesas de pessoal da União

A despesa de pessoal é uma das rubricas mais importantes das despesas primárias, representando cerca de 17% da
despesa primária total em 2023, atrás somente da despesa com o Regime Geral de Previdência Social. Com a
instituição do Regime Fiscal Sustentável, uma análise mais criteriosa dessas despesas deve ser realizada, com vistas
a verificar o que aconteceu historicamente e avaliar os impactos das premissas adotadas sobre os cenários futuros.

26
O número de famílias e o valor médio do benefício equivalem à média observada entre os meses de julho de 2023 a janeiro
de 2024 (período a partir do qual vigoram as regras do novo programa).
27
Conforme regras estabelecidas pela EC 108/2020, pela Lei 14.113/2020 e pelo Decreto 10.656/2021.
23
Conforme detalhado no Apêndice C, as projeções de pessoal levam em consideração os reajustes já acordados e
reajustes pela inflação do ano anterior a partir de 2026 em diante, período para o qual não existem reajustes
acordados para a maioria das carreiras. Além disso, assume-se que a quantidade de servidores ativos é fixa, isto é,
cada novo aposentado seria reposto por um novo servidor, assim como a de pensionistas, enquanto a de
aposentados cresce a uma taxa de 1,0% a.a.. É importante destacar, portanto, que as projeções são sensíveis a essas
hipóteses, que dependem fundamentalmente de decisões políticas a serem tomadas nos próximos anos.

Gráfico 9 – Despesa de pessoal da União, exceto sentenças judiciais e FCDF (% do PIB, eixo esquerdo, colunas; R$
bilhões de 2024, linha)
Fonte: Elaboração própria

7% 400 393
390 386
378
6% 381

371 372 354 352


5% 350
345 348 353
338
347 349 351
4% 341 342

3%

2%

1%

0%

Ativo Aposentadorias e pensões Total

1De 2014 a 2023, são utilizados dados extraídos do Tesouro Gerencial, similares aos constantes da aba 2.5 do Resultado do Tesouro Nacional (RTN), com a
principal diferença de que foram excluídas as despesas do Fundo Constitucional do Distrito Federal (FCDF) e despesas com sentenças judiciais. A partir de 2024,
são feitas projeções de despesa com modelo próprio, conforme Apêndice C.

Como se pode observar no Gráfico 9, a despesa de pessoal (exceto sentenças judiciais e FCDF) estava em 3,7% do
PIB em 2014, distribuídos entre 2,0 p.p. (54%) em ativos e 1,7 p.p. (46%) em aposentados e pensionistas. A partir
de então, passou a flutuar em torno de 4,0% do PIB, chegando a 4,1% do PIB em 2020, quando entrou em trajetória
de queda até atingir 3,0% do PIB em 2023. Neste momento, 53% da despesa se relacionava a servidores ativos (1,6
p.p. do PIB), enquanto 47% (1,4 p.p. do PIB) se referia a aposentados e pensionistas.
As principais razões para essa queda mais acentuada foram: i) a não concessão de reajustes salariais a boa parcela
do funcionalismo entre 2020 e 202228; ii) a redução na quantidade de concursos públicos, realizados em montante

28
Tal período em que não se observou concessão de novos reajustes salariais decorreu, em especial, do disposto no art. 8º da
LC 173/2020.
24
inferior à reposição das aposentadorias29 (redução de 5,7% de servidores ativos entre 2017 e 202330); iii) a redução
do ritmo de novas aposentadorias causada pela Reforma da Previdência (entre 2015 e 2019, a taxa média de
variação dos servidores aposentados foi de 2,2% a.a., enquanto entre 2020 e 2023, após a EC 103/2019, passou a –
0,4% a.a.); e iv) a evolução benigna do denominador (tanto do deflator implícito do PIB quanto do crescimento real).
Em valores de 2024, essa despesa, após alcançar R$ 399,8 bilhões em 2019, decresceu a cerca de R$ 340,6 bilhões
em 2023, o que significou uma queda média anual de 3,2%. A partir daí, projeta-se que a despesa de pessoal atinja
R$ 337,8 bilhões em 2025, e depois apresente dinâmica ascendente, chegando a R$ 353,3 bilhões em 2033, valor
similar ao de 2022 – sempre a preços de 2024. Apesar de as projeções indicarem elevação do valor real de 2025 em
diante, estima-se queda das despesas com pessoal em relação ao PIB de 2023 em diante: o indicador atingiria 2,3%
em 2033, sendo 1,2 p.p. (51%) de ativos e 1,1 p.p. (49%) de aposentados e pensionistas.

Trata-se, portanto, de uma queda de 4,1% do PIB em 2020 para 2,3% do PIB em 2033, uma redução de 1,8 p.p. do
PIB, contribuindo para o ajuste entre as despesas no horizonte de projeção deste relatório. Ainda, a despesa de
pessoal, obedecidas as premissas incorporadas nas projeções, tende a contribuir para a preservação do espaço das
despesas discricionárias, na medida em que se espera um crescimento real médio anual de 0,5% na rubrica de
pessoal, abaixo do crescimento médio de 2,0% esperado para o limite de despesa global no cenário de referência,
ambos entre 2025 e 2033.
A despesa de pessoal por poder

Conforme pode ser observado no Gráfico 10, segregando a análise ao período entre 2014 e 2023, é possível
observar diferentes dinâmicas na evolução da despesa de pessoal por poder. No caso do poder Executivo, a despesa
com os servidores civis apresentou redução de R$ 29,7 bilhões (passando de R$ 218,8 bilhões a R$ 189,1 bilhões)
no período, o equivalente a uma queda de 0,5 p.p. do PIB, enquanto a despesa com os militares teve uma queda de
R$ 4,3 bilhões (passando de R$ 97,3 bilhões a R$ 93,0 bilhões), equivalente a -0,1 p.p. do PIB.

29
A redução da taxa de reposição no serviço público pode ter se beneficiado de ganhos de produtividade nos serviços públicos,
notadamente em áreas que se beneficiaram da digitalização ou automatização de processos administrativos.
30
Dados de ativos, aposentados e pensionistas para o Poder Executivo obtidos no Painel Estatístico de Pessoal (PEP) e, para os
demais poderes e órgãos autônomos, obtidos a partir da agregação de dados coletados pela Secretaria do Tesouro Nacional
nos painéis de transparência de cada órgão.
25
Gráfico 10 – Despesa de pessoal da União exceto sentenças judiciais e FCDF, por poder - R$ bilhões de 2024
(gráfico esquerdo) e variação acumulada no período (gráfico direito)
Fonte: Elaboração própria
250
219 20%
189 199
15%
200
10% 5,4%
-0,7%
5%
150
0%
97 -5,2%
93 92 -5% -4,4%
100
-10%
48 48 51 -9,1%
50 -15% -13,6%
14 -15,1%
11 12 -20%
-21,4%
0 -25%

2014
2015
2016
2017
2018
2019
2020
2021
2022
2023
2024
2025
2026
2027
2028
2029
2030
2031
2032
2014
2015
2016
2017
2018
2019
2020
2021
2022
2023
2024
2025
2026
2027
2028
2029
2030
2031
2032
2033

Executivo Civil Executivo Militar Executivo Civil Executivo Militar

Legislativo Judiciário, MPU e DPU Legislativo Judiciário, MPU e DPU

Também entre 2014 e 2023, os poderes Legislativo, Judiciário, Ministério Público da União (MPU) e Defensoria
Pública da União (DPU) tiveram reduções em sua despesa de pessoal. O poder Legislativo partiu de uma despesa de
R$ 13,7 bilhões em 2014 e alcançou R$ 10,8 bilhões em 2023, enquanto a despesa do poder Judiciário, do MPU e
da DPU passou de R$ 48,0 bilhões para R$ 47,7 bilhões no mesmo período. Assim, entre 2014 e 2023, a redução das
despesas de pessoal (considerando os dados em valores de 2024) foi de 13,6% para o Executivo civil, de 4,4% para
o Executivo militar, de 21,4% para o Legislativo e de 0,7% para o Judiciário, MPU e DPU. As projeções para o período
de 2024 a 2026 consideram os reajustes acordados. Assim, para o Executivo, houve apenas o reajuste de 9% em
2023 para os servidores civis e não há previsão de reajuste para 202431. Para os demais poderes, consideram-se os
reajustes médios de 6% a.a. entre 2023 e 202532. A partir de 2026, por hipótese, projetam-se reajustes pela inflação
do ano anterior para todos os poderes. Dessa forma, ao final de 2033, Executivo civil e militar atingem R$ 198,8
bilhões e R$ 92,3 bilhões, respectivamente, enquanto o Judiciário, MPU e DPU alcançam R$ 50,6 bilhões e o
Legislativo, R$ 11,6 bilhões. Em proporção do PIB, na mesma sequência, esses valores representariam 1,3%, 0,6%,
0,1% e 0,3%.

Remuneração média por poder


Outro ponto que vale observar é a remuneração média dos servidores de cada poder, cuja evolução é apresentada
no Gráfico 11. A discrepância observada está associada, em parte, à composição dos quadros de pessoal – em
termos de percentual de servidores em inatividade – e aos serviços prestados por cada Poder – que resultam em
carreiras com patamares remuneratórios distintos.

31
Considera-se apenas R$ 1,8 bilhão de reajuste previsto no Anexo V da LOA 2024.
32
Conforme Lei nº 14.523/2023 para o poder Judiciário, Lei nº 14.524/2023 para os servidores do MPU e do CNMP, Lei nº
14.525 para os servidores da DPU, Lei nº 14.526 para o Senado, Lei nº 14.528 para o TCU e Lei nº 14.528 para a Câmara.
26
Quando são analisados os dados realizados, entre 2014 e 2023, nota-se uma redução da remuneração real percebida
pelos servidores do Executivo Civil, passando de R$ 12,7 mil para R$ 11,1 mil (-12,4%). No caso dos Militares, houve
queda de R$ 10,5 mil para R$ 9,6 mil (-8,2%). No Legislativo, houve uma queda de R$ 30,1 mil para R$ 25,6 mil (-
15,0%), enquanto para o Judiciário, MPU e DPU, o valor passou de R$ 23,0 mil para R$ 21,6 mil (-6,3%). Logo,
atualmente, a remuneração média do poder Executivo Civil é cerca de 43,3% da remuneração do Legislativo e 51,4%
do Judiciário, MPU e DPU.

Gráfico 11 – Remuneração mensal média da União entre 2014 e 2033 – por poder (R$ de 2024)
Fonte: Elaboração própria

35.000

30.000

25.000

20.000

15.000

10.000

5.000

0
2014

2015

2016

2017

2018

2019

2020

2021

2022

2023

2024

2025

2026

2027

2028

2029

2030

2031

2032

2033
Executivo Civil Executivo Militar Legislativo Judiciário, MPU e DPU

Despesas Discricionárias do Poder Executivo


Como resultado da evolução dos componentes da despesa obrigatória, observa-se um crescimento real médio
dessas despesas sujeitas ao limite de 2,7% a.a. entre 2024 e 2033. As despesas discricionárias, por sua vez,
projetadas no cenário base como um resíduo entre o limite de despesa e as despesas obrigatórias a ele sujeitas,
apresentam variação real média negativa de 2,1% a.a. entre 2024 e 2033. Essa redução ocorre notadamente a
partir de 2027, quando o pagamento da totalidade das despesas com sentenças judiciais e precatórios volta a se
sujeitar ao limite de despesa. Como consequência, o volume de despesas discricionárias cai de 1,7% do PIB em 2023
para 1,0% do PIB em 2033, ao passo que sua participação em relação à despesa primária total se reduz ao longo do
horizonte de projeção, saindo de 8,8% em 2024 para 6,0% em 2033.

27
Gráfico 12 – Projeção da despesa discricionária sob as premissas do cenário base (R$ bilhões a preços de 2024 e
% do PIB)
Fonte: Elaboração própria

1,7 1,7 1,8


1,6
1,5 1,6
1,5
1,3 1,3 1,4
285 1,2
1,2
1,1 1,2
1,0
1,0

4
0,8
57 42 25
135 102 114 89 68
107 0,6
180
157 171 0,4
130 144
107 118
90 81 96
73 0,2
11
-15 -12 0,0
2023 2024 2025 2026 2027 2028 2029 2030 2031 2032 2033

Discricionárias Rígidas Demais Discricionárias Discricionárias % PIB (eixo da direita)

Importa destacar que a evolução das despesas discricionárias depende do crescimento da RLA, tendo em vista que
elas equivalem ao espaço fiscal resultante da diferença entre o limite de despesa e as despesas obrigatórias sujeitas
ao limite. Entretanto, como as despesas obrigatórias sujeitas ao limite crescem a uma taxa superior ao crescimento
anual médio do limite de despesas calculado nesse cenário (2,7% a.a. e 2,3% a.a., respectivamente), a dinâmica
aqui estimada para a RLA não é suficiente para permitir expansão das despesas discricionárias no horizonte de
projeção. Cumpre salientar que crescimentos da RLA inferiores ao projetado no cenário base levariam a
compressões mais rápidas e significativas da despesa discricionária.
A hipótese de contingenciamento também afeta o espaço para as despesas discricionárias, sobre as quais a redução
de 0,3 p.p. do PIB na despesa primária total é integralmente aplicada, fazendo com que a despesa sujeita ao limite
fique inferior ao limite.
Adicionalmente, cabe salientar que o espaço para o custeio da máquina pública é afetado pela existência de
“despesas discricionárias rígidas”, nome atribuído às despesas classificadas como discricionárias, mas que, em
conjunto, estão associadas ao cumprimento de regras específicas.

28
São elas: i) gastos mínimos em saúde e educação33; e ii) emendas parlamentares de execução obrigatória34. Quando
adicionamos essas despesas às obrigatórias sujeitas ao limite, seu crescimento real médio se eleva para 3,0% a.a.,
uma vez que os gastos mínimos em saúde e educação e as emendas parlamentares de execução obrigatória são
despesas vinculadas a receitas e apresentam crescimento mais acelerado do que o limite de despesa nesse cenário
de projeção. Consequentemente, observamos compressão das demais despesas discricionárias, que saem de 1,6%
do PIB em 2023 e ficam próximas de zero a partir de 2032.
A análise apresentada demonstra que um maior crescimento da receita tem dois efeitos sobre a dinâmica do gasto:
i) ampliação do espaço fiscal para despesas discricionárias pelo maior crescimento permitido para as despesas; e
ii) compressão das despesas discricionárias não rígidas pelo maior crescimento dos gastos sujeitos ao limite de
despesa e indexados à receita, como os gastos mínimos de saúde e educação e as emendas obrigatórias. Esses
efeitos poderão ser sentidos em maior ou menor intensidade a depender da composição da receita, uma vez que
a RLA, a RLI e a RCL possuem composições distintas. Nesse sentido, interessante notar que há uma elevação do
espaço para as “demais discricionárias” entre 2024 e 2025, tendo em vista a redução da RCL e da RLI em 2025 neste
cenário base, o que reduz os mínimos de saúde e educação projetados para o exercício, enquanto a RLA que é
utilizada para fins do cômputo do limite de despesas refere-se ao acumulado até junho de 2024.
Nesse sentido, importante ressaltar que, devido ao intervalo possível de variação do limite de despesa (de 0,6% a
2,5%), taxas de crescimento da RLA inferiores a 0,9% e superiores a 3,6% não sensibilizam tal limite. Entretanto,
elas acabam afetando gastos indexados às receitas, possibilitando um descasamento entre o limite e as despesas
a ele sujeitas e influenciando o espaço para as despesas discricionárias “livres”.
De forma semelhante, o crescimento do PIB projetado, além de afetar a evolução da receita e contribuir para os
efeitos destacados anteriormente, também leva a aumento de despesas obrigatórias decorrente de seu efeito
como indexador da valorização real do salário mínimo, cuja elevação impacta diretamente as despesas do RGPS,
BPC, abono salarial e seguro-desemprego, conforme hipóteses adotadas nas projeções deste relatório.

Resultado Primário do Governo Central

O Gráfico 13 apresenta as trajetórias do cenário base para as receitas líquidas e as despesas totais ao longo do
período. Em 2024, a meta de resultado primário é atingida, em decorrência da aprovação das medidas incluídas na
LOA. Contudo, mesmo com a adoção de contingenciamento em 2025 e 2026 (que implica despesa inferior ao limite
em 0,3% do PIB nestes anos), na ausência de novas medidas, a receita líquida se encontra abaixo das despesas
neste período. Em 2027, as receitas líquidas ultrapassam as despesas primárias, evidenciando um resultado
primário superavitário. Com efeito, o resultado primário do cenário base, mostrado no Gráfico 14, atinge 0,1% do
PIB em 2027 e cresce até atingir 1,3% em 2033. Em comparação com a LDO 2024, que prevê resultado primário do

33
A revogação do disposto no art. 110 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) após a promulgação da LC
200/2023, conforme dispôs a EC 126/22, implica retorno à regra de vinculação constitucional dos gastos mínimos em saúde e
educação à receita a partir de 2024. Assim, para 2023, a classificação de parte das despesas discricionárias como rígidas usou
como referência o gasto mínimo calculado sob a regra estabelecida pela EC 95/2026, inferior ao de fato realizado. As
contribuições de itens específicos da despesa aos respectivos gastos mínimos consideram a manutenção da proporção
projetada para 2023 das despesas com os gastos mínimos de saúde e educação nas despesas de pessoal, o percentual de 30%
da Complementação da União ao FUNDEB e a correção pela variação da RCL e da RLI para as despesas obrigatórias com controle
de fluxo. Por fim, o resíduo entre o valor mínimo e o valor alocado nas rubricas obrigatórias é alocado nas despesas
discricionárias.
34
Tais despesas são consideradas em montante deduzido do valor contingenciável das emendas de execução obrigatória e do
valor que possui intersecção com mínimos de saúde e educação.
29
Governo Central 0,5% em 2025 e 1,0% em 2026, o resultado esperado é de déficits de 0,5% em 2025 e 0,4% em
2026. Dessa forma, fica evidente que o cenário base (sem novas medidas de receita para 2025 e 2026) não promove
as metas estabelecidas na LDO para além de 2024, demandando esforço fiscal para atingi-las. O cenário de
referência, a seguir, demonstrará os esforços para atingir tais metas.

Gráfico 13 – Projeção da receita líquida e da despesa total do cenário base (% do PIB)


Fonte: Elaboração própria

21

20 19,6

18,9
19 18,7 18,7 18,6 18,7 18,7 18,7 18,7
18,4 18,5
18,9
18 18,3 18,3
18,2
18,0 17,9 17,8
17,7 17,6 17,5
17 17,5

16

15
2023 2024 2025 2026 2027 2028 2029 2030 2031 2032 2033

Receita Líquida Despesa Total

Importante destacar o mecanismo de ajuste fiscal estabelecido pelo Regime Fiscal Sustentável, que é demonstrado
pela dinâmica da evolução das receitas, despesas e resultado primário no cenário base. Mesmo na ausência de
medidas adicionais para cumprimento das metas de resultado primário estabelecidas, a penalização pelo não
cumprimento dessas metas e os parâmetros de crescimento real do limite da despesa indicam evolução contida
das despesas ao longo do tempo. Com isso, há geração de resultados primário positivos e crescentes a partir de
2027, que promovem a estabilização da dívida mesmo nesse cenário.

30
Gráfico 14 – Projeção do resultado primário do cenário base (% do PIB)
Fonte: Elaboração própria

1,5 1,3
1,1
1,0
1,0 1,0 0,9
0,8
0,5
0,5 0,5
0,1
0,0 0,0
0,0

-0,5 -0,4
-0,5
-1,0

-1,5

-2,0
-2,1
-2,5
2023 2024 2025 2026 2027 2028 2029 2030 2031 2032 2033

Superávit Déficit Meta Bandas

1.3. Cenário de Referência

O cenário de referência, que parte do mesmo cenário macroeconômico do cenário base, traz as principais projeções
deste relatório em linha com o atingimento das metas de resultado primário estabelecidas na LDO. Este cenário
considera o alcance das metas estabelecidas na LDO 2024, equivalentes a resultados primários de 0% do PIB em
2024, 0,5% do PIB em 2025 e 1% do PIB em 2026. A despeito de assumirmos o cumprimento da meta de resultado
primário, o resultado primário projetado para os anos de 2025 e 2026 não resultam nos valores equivalentes às
metas, pois contemplam o pagamento do excedente ao subteto de precatórios, que, por decisão do STF, não é
contabilizado para fins de cumprimento da meta35.
A partir da premissa de implementação de medidas adicionais, isto é, além da legislação vigente, para incremento
das receitas e atingir esses objetivos, a Tabela 7 resume esse esforço, obtido pela diferença entre o cenário de
referência e o cenário base sem contingenciamento. Portanto, no cenário de referência, todo o esforço fiscal
concentra-se em medidas de receita, enquanto a despesa ocupa todo o limite possibilitado pelo Regime Fiscal
Sustentável.
Em 2024, será necessário concretizar o esforço arrecadatório já previsto na LOA e incorporado no cenário base,
tendo em vista a sanção das respectivas medidas legislativas. Em 2025 e 2026, serão necessários 1,0% do PIB e
1,3% do PIB, respectivamente.
O esforço fiscal previsto para 2027 e 2028, que totaliza 0,7% do PIB e 0,2% do PIB, respectivamente, compreende
estimativas para as receitas adicionalmente necessárias, para além do cenário base, de modo que o resultado

35
Mais informações sobre o cômputo do pagamento de precatórios na meta podem ser consultadas no Boxe 2.
31
primário atinja o valor do primário requerido para estabilizar a dívida. No cenário de referência, a dívida permanece
estável de 2026 para 2027 e 2028, como proporção do PIB.
Destaca-se que, a depender do tributo sensibilizado pelas medidas adicionais de receita, há a necessidade de um
esforço de receita maior em termos brutos para atingir as metas da LDO, tendo em vista a repartição constitucional
e legal de receitas aos entes subnacionais.

Tabela 7 – Esforço fiscal adicional do cenário de referência (% do PIB)


Fonte: Elaboração própria

Discriminação 2024 2025 2026 2027 2028

Esforço de Receita Total (I) 0,0 1,0 1,3 0,7 0,2

(-) Desconto de Transferências* 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0

Esforço de Receita retido pelo Governo Central (I') 0,0 1,0 1,3 0,7 0,2

Contingenciamento de despesas (II) 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0

Esforço Fiscal Total (I + II) 0,0 1,0 1,3 0,7 0,2

Esforço Fiscal Líquido (I' + II) 0,0 1,0 1,3 0,7 0,2

*Por simplicidade, as medidas adicionais de receita são inseridas no cenário de referência em termos líquidos, conforme se explicita no Apêndice. Dessa
forma, por construção, não são computadas transferências decorrentes desse esforço de receita.

Ressalta-se, ainda, que diferentemente da última edição deste relatório, esta edição não considera execução de
despesa em nível inferior ao limite de despesas estipulado pelo Regime Fiscal Sustentável no cenário de referência.
Entretanto, o esforço fiscal refletido na tabela acima poderia ser alcançado a partir de uma combinação de várias
medidas, como medidas adicionais de receita, revisões de gastos, redução das vinculações entre despesas e
receitas, execução da despesa abaixo da dotação orçamentária (empoçamento), medidas de contingenciamento,
entre outras. De fato, conforme projetado para o cenário base, o contingenciamento poderia contribuir em 0,3 p.p.
do PIB para o esforço fiscal necessário ao cumprimento das metas de resultado primário.

Boxe 4 – Medidas de receita do PLOA 2024

Em 14 de abril de 2023, o Executivo encaminhou a proposta de Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias - PLDO
para o ano de 2024. O Projeto estabeleceu meta de zerar o déficit primário dos Orçamentos Fiscal e da Seguridade
Social (OFSS) em 2024, com intervalo de tolerância em montante equivalente a 0,25% do Produto Interno Bruto
(PIB), para cima ou para baixo, o que correspondia a R$ 28,8 bilhões, segundo os parâmetros adotados. A sanção
da LDO 2024, na forma da Lei nº 14.791, de 29 de dezembro de 2023, manteve as metas fiscais nos valores
propostos.
Consistente com essa diretriz, o PLOA 2024 foi encaminhado, inclusive, com uma previsão de superávit primário
no valor de R$ 2,8 bilhões, enquanto a LOA sancionada na forma da Lei nº 14.822, de 22 de janeiro de 2024, prevê
um superávit primário de R$ 9,1 bilhões. Para atingir a meta, foram consideradas medidas de arrecadação
condicionadas à aprovação de proposições legislativas pelo Congresso Nacional, conforme o art. 135 do PLDO 2024
(atual art. 139 da LDO 2024). Dessa maneira, foram incluídos os efeitos de tais medidas legislativas com impacto

32
positivo na arrecadação da ordem de R$ 168,5 bilhões em termos brutos, ou seja, ainda sujeito a transferências
por repartição de receitas com os entes subnacionais.
Ao longo do processo orçamentário no Congresso Nacional, as medidas de receita propostas foram consideradas
e tiveram seus valores mantidos no autógrafo da LOA, enquanto demais projeções foram atualizadas com novos
parâmetros macroeconômicos. Desde então, algumas dessas medidas, que ainda tramitavam no Congresso ou
aguardavam sanção, foram publicadas. Nas tabelas abaixo, relatam-se as medidas submetidas no PLOA e os valores
correspondentes considerados na projeção deste Relatório, refletindo alterações encontradas nas versões
sancionadas das propostas, bem como o desempenho de arrecadação e evolução da conjuntura. Cabe destacar
que os valores considerados não envolvem reestimativas oficiais das medidas e explicitam apenas ajustes
realizados para fins do exercício de projeção.

Tabela 8 – Medidas de receitas do PLOA 2024


Fonte: Elaboração própria

Valor previsto Valor potencial


Medida Ato Legal Tributos envolvidos
para 2024 para 2024

Subvenções para Investimento - Novo IRPJ, CSLL, PIS/Pasep e


35,3 35,3
Tratamento COFINS
Lei nº 14.789, de 29 de
Fim dedutibilidade dos Juros sobre o Capital dezembro de 2023
Próprio na apuração do lucro real e da base IRPJ e CSLL 10,4 10,4
de cálculo da CSLL.

Imposto de renda e Outras


Apostas de Quota Fixa – Regulamentação 0,7 1,1
Administradas
Lei nº 14.790, de 29 de
dezembro de 2023
Receitas Não
Taxas de loteria – Aposta de Quota Fixa 0,9 3,1
Administradas

Novo Regime de Tributação simplificada para Portaria COANA nº 130, de


Imposto de Importação 2,9 2,9
Remessas Postais Internacionais 25 julho de 2023

Instrumentos Financeiros - Tributação


Imposto de Renda 13,3 14,5
periódica dos fundos (fundos exclusivos)
Lei nº 14.754, de 12 de
dezembro de 2023
CFC Pessoa Física e tributação de ativos
Imposto de Renda 7,0 5,6
financeiros no exterior (Offshore)

IR, CSLL, PIS/Cofins, IPI,


Recuperação de créditos no CARF Previdência, Outras 54,7 54,7
Administradas
Lei nº 14.689, de 20 de
setembro de 2023 IR, CSLL, PIS/Cofins, IPI,
Transação Tributária (Receita + PGFN) Previdência, Outras 43,2 43,2
Administradas

TOTAL 168,5 170,8

Conforme se observa na tabela anterior, o total das medidas foi atualizado de R$ 168,5 bilhões para R$ 170,8
bilhões, uma elevação de R$ 2,3 bilhões, porém com pontos de atenção a serem discutidos a seguir.
No caso da medida da subvenção para investimento, a Lei nº 14.789/2023 trouxe a possibilidade de regularização
dos débitos anteriores mediante transação tributária especial em razão da disseminação de casos controvertidos
no contencioso administrativo e judicial, ou autorregularização, com previsão de desconto de 80% caso o
contribuinte resolva quitar a dívida em 12 meses, ou com descontos menores caso quite em 5 anos ou 7 anos.

33
Como essa nova possibilidade não teve valor estimado anteriormente, não foi acrescido ainda aos R$ 35,3 bilhões
previstos. Já para a medida que previa extinguir a dedutibilidade dos juros sobre capital próprio na apuração do
lucro real e da base de cálculo da CSLL, incluída na mesma lei, a versão sancionada alterou substancialmente o
valor da medida, sem reestimativa oficial. Porém, correm discussões a respeito de novas formas de tratar o tema,
conforme se relata na mídia, razão pela qual se optou por manter seu impacto potencial de R$ 10,4 bilhões.
A elevação na estimativa de arrecadação com imposto de renda nas apostas de quota fixa reflete a alíquota linear
de 15% para os ganhos com a modalidade, e pressupõe a manutenção do veto relativo à isenção da tributação
sobre os prêmios líquidos abaixo da primeira faixa da tabela progressiva anual do IRPF, refletindo o estado vigente
da medida. Já a elevação nos valores de outorga para R$ 3,1 bilhões incorporou o aumento do número de
companhias interessadas em participar no setor.

No que tange às offshores e aos fundos fechados, as novas projeções refletem as alterações nas alíquotas presentes
na Lei nº 14.754/2023, o que representaria uma redução de seu impacto. Para offshores, a medida tratou das
regras de incidência do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF) sobre os rendimentos auferidos em aplicações
financeiras no exterior. Até a publicação da Lei, foi possível represar os rendimentos no exterior dos contribuintes
brasileiros por meio de diferimento da tributação, ou seja, a arrecadação só ocorria no momento de resgate. Essa
antiga forma estava desalinhada com as demais formas de investimentos financeiros. Incluiu-se a possibilidade de
tributação antecipada, em que os contribuintes poderão atualizar seus bens e direitos no exterior para o valor de
mercado em 31 de dezembro de 2023 e tributar a diferença (mercado menos aquisição) à alíquota definitiva de
8%, enquanto a proposta original (PL nº 4.173/2023) incialmente previa alíquota de 10%, o que reduziu a
estimativa para a medida.
No caso dos fundos fechados, com alterações inicialmente estabelecidas pela Medida Provisória nº 1.184, de 28
de agosto de 2023, a matéria acabou sendo incorporada na tramitação do PL nº 4.173/2023 que se transformou
na referida Lei nº 14.754/2023. A nova regulamentação tem o objetivo de aplicar, aos rendimentos apurados em
fundos de investimento fechados, as mesmas regras e alíquotas atualmente em vigor relativas aos fundos abertos,
de forma a promover isonomia entre eles, adotando o sistema de tributação periódica (“come-cotas”). A medida
proposta pretendia tributar os estoques a 10%, porém foi reduzido para 8%, o que ocasionaria redução da
estimativa de impacto. Porém, conforme relatado nos Relatórios de Arrecadação da Receita Federal, houve um
ingresso além do esperado para a regra de transição que afeta os rendimentos apurados até 31 de dezembro de
2023, o que gerou uma elevação da expectativa de impacto das parcelas remanescentes a serem recolhidas em
2024. O bom desempenho efetivamente anulou as perdas previstas com as alterações de alíquotas na soma das
duas medidas.

Por fim, destaca-se a publicação da Lei nº 14.689/2023, que revogou o fim do voto de qualidade no CARF, para
que o Governo Federal tenha o voto final nas decisões do Conselho, e previu a hipótese de transação de débitos
que estão em fase de cobrança administrativa ou inscritos em Dívida Ativa, conferindo uma nova estrutura de
incentivos para que os débitos sejam renegociados. Abarcando um total de quase R$ 98,0 bilhões dentro dos R$
170,8 bilhões previstos em medidas, corresponde a 57,3% das medidas em termos de aumento bruto na
arrecadação, que não depende mais de aprovação legislativa. Apesar de o sucesso dessas medidas depender do
grau de adesão dos contribuintes, cabe ressaltar que a nova legislação trouxe uma série de incentivos importantes
à regularização tributária, como redução de encargos e aumento de prazos de pagamentos, bem como a
possibilidade de utilizar prejuízo fiscal e base negativa, entre outros aspectos.
A Tabela 9 apresenta os valores esperados por tributo a partir das medidas acima.

Tabela 9 – Impacto das medidas de receitas do PLOA 2024, por tributo

34
Fonte: Elaboração própria

Receitas esperadas Impacto líquido para a União


Impactos das medidas nas Receitas
(R$ bilhões) (R$ bilhões)

Imposto sobre a Importação 4,0 4,0

Imposto sobre Produtos Industrializados 4,6 2,1

Imposto sobre a Renda 83,6 42,2

I.R. - Pessoa Física 7,5 3,8

I.R. - Pessoa Jurídica 57,1 28,8

I.R. - Retido na Fonte 19,0 9,6

I.R.R.F. - Rendimentos do Trabalho 1,4 0,7

I.R.R.F. - Rendimentos do Capital 15,4 7,8

I.R.R.F. - Outros Rendimentos 2,2 1,1

I.O.F. - Imposto sobre Operações Financeiras 0,7 0,7

I.T.R. - Imposto Territorial Rural 0,1 0,1

COFINS - Contribuição da Seguridade Social 15,0 15,0

Contribuição para o PIS/PASEP 2,6 2,6

CSLL - Contribuição Social sobre o Lucro Líquido 15,5 15,5

Outras Receitas Administradas 39,6 39,6

Receita Previdenciária 2,2 2,2

Não administradas 3,1 3,1

TOTAL 170,8 127,0

Conforme se observa na tabela acima, do valor total de R$ 170,8 bilhões, as medidas impactarão sobremaneira o
Imposto de Renda – IR em um total de R$ 83,6 bilhões (49,0% do total), com destaque para o Imposto de Renda
sobre Pessoa Jurídica – IRPJ, que arrecadará R$ 57,1 bilhões em 2024. Junto com CSLL, seriam R$ 72,6 bilhões.
Contudo, é necessário ter em conta o impacto líquido para o governo central, pois parte da arrecadação é
transferida para entes subnacionais. De fato, metade do impacto no Imposto de Renda está sujeito a transferências
constitucionais e legais, sendo 21,5% para o Fundo de Participação dos Estados – FPE, 24,75% para o Fundo de
Participação dos Municípios e 3% de repasse para os Fundos Constitucionais, de modo que o impacto líquido dessas
medidas em imposto de renda para a União é de R$ 41,4 bilhões.
O total das contribuições COFINS, PIS/PASEP e CSLL será de R$ 33,1 bilhões (19,4% do total). São destinadas, à
seguridade social (saúde, previdência e assistência social), pagamento de seguro-desemprego e abono salarial. Ao
final, considerando todas as medidas, caberá à União o valor total líquido de R$ 127,0 bilhões, ou seja, 74,4% do
valor total das medidas propostas na LOA 2024.

35
O Relatório de Receita do Congresso Nacional, que reestimou a receita que consta no Orçamento de 202436, não
retirou nenhuma das medidas propostas pelo governo, nem revisou suas estimativas de impacto. Incluiu, por sua
vez, três medidas que implicam renúncia de receita, quais sejam: o Regime Especial de Tributação do Minha Casa,
Minha Vida, a prorrogação de benefícios tributários da SUDAM e SUDENE, e a prorrogação do Reporto – Regime
Tributário para incentivo à modernização e ampliação da estrutura portuária. Juntas, as medidas que tramitam no
Congresso somam R$ 1,8 bilhão em renúncias de receitas em 2024, que foram compensadas mediante a
incorporação da reestimativa de parâmetros macroeconômicos, sobretudo com elevação da arrecadação com a
exploração de recursos naturais. O Relatório de Receita conclui com uma expectativa de elevação da receita líquida
do Governo Central acrescida em R$ 0,8 bilhão relativamente ao PLOA, valor este que se manteve na LOA
sancionada.

Cumpre lembrar que a LOA 2024 não incluiu medida de prorrogação da desoneração da folha de pagamento
(Contribuição Previdenciária sobre a Receita Bruta – CPRB) que se deu posteriormente à aprovação da lei
orçamentária no Congresso, por meio da Lei nº 14.784, de 27 de dezembro de 2023, expandindo, inclusive, o
benefício para alguns municípios. Porém, na sequência, a Medida Provisória nº 1.202/2023 foi editada, a qual i)
revoga uma série de benefícios fiscais de que tratam o art. 4º da Lei nº 14.148, de 3 de maio de 2021, (Programa
Emergencial de Retomada do Setor de Eventos (Perse), ii) revoga, igualmente, benefícios tributários de setores
referentes aos art. 7º a art. 10 da Lei nº 12.546, de 14 de dezembro de 2011; iii) desonera parcialmente a
contribuição previdenciária sobre a folha de pagamento; iv) revoga a alíquota reduzida da contribuição
previdenciária aplicável a determinados Municípios; e v) limita a compensação de créditos decorrentes de
decisões judiciais transitadas em julgado. Dessa forma, a MP nº 1.202/2023 revogou a ampliação da CPRB para
Municípios e, no lugar da manutenção da desoneração da folha de pagamento ou do fim abrupto desse gasto
tributário, propôs uma reoneração graduada, até 2027.
Como, na data de elaboração das projeções deste relatório, a legislação vigente era a MP nº 1.202/2023, os
cenários fiscais aqui apresentados levam em consideração a desoneração parcial compensada pela revogação do
Perse. Por outro lado, não foram incluídos eventuais efeitos da limitação das compensações tributárias de créditos
decorrentes de decisões judiciais, dada a dificuldade de se quantificar seus impactos, não existindo estimativas
oficiais até o momento. Sob uma perspectiva de médio prazo, pondera-se que a limitação dessas compensações
não surtirá efeito relevante, tendo em vista que se trata de mera postergação dessas devoluções. O relatório não
incorpora, assim, os efeitos da Medida Provisória nº 1.208, de 27 de fevereiro de 2024, que revogou alguns
dispositivos da MP nº 1.202/2023.

Receitas Primárias do Governo Central

A Mensagem Presidencial37 de envio do PLOA 2024 ressalta algumas ações permanentes de receita implementadas
em 2023 e que terão efeito estrutural na arrecadação em 2024. Dentre elas: i) a exclusão do ICMS da base de
cálculo dos créditos do PIS/Cofins, em conformidade com decisão do Supremo Tribunal Federal (STF); ii) a

36
Disponível em: https://legis.senado.leg.br/sdleg-getter/documento?dm=9521869&ts=1702394105128&disposition=inline
Acesso em: 12 de dezembro de 2023.
37
Disponível em: https://www.gov.br/planejamento/pt-br/assuntos/orcamento/orcamento/orcamentos-
anuais/2024/ploa/mensagem-presidencial/mensagem-presidencial-ploa-2024.pdf. Acesso em: 12 de dezembro de 2023.
36
reoneração do PIS/Cofins e da CIDE incidentes sobre combustíveis; iii) a reoneração de PIS/Cofins sobre receita
financeira e iv) a reoneração do Adicional ao Frete para Renovação da Marinha Mercante (AFRMM).
Também evidencia uma série de medidas com o potencial de arrecadação de R$ 170,8 bilhões, conforme Boxe 4,
que serão fundamentais para o alcance do ponto de equilíbrio entre receitas e despesas em 2024 e nos anos
seguintes, tendo em vista que se estima em torno de R$ 74,0 bilhões ao ano (0,6% do PIB) de componente
permanente nessas medidas. Todas as medidas sancionadas em 2023 estão inseridas também no cenário base
deste relatório.

Para os exercícios de 2025 a 2028, além de considerar a parte perene das medidas adotadas já em vigor, são
somadas medidas adicionais de receita necessárias ao cumprimento da meta de resultado primário, além do
primário requerido para estabilizar a dívida, conforme consta no Apêndice B. Entretanto, a incerteza sobre quais
medidas seriam adotadas não permite sua caracterização de maneira perene, de forma que, conservadoramente,
optou-se por não considerar essas receitas no cenário de referência a partir de 2029.
As projeções constantes do cenário de referência (Gráfico 15) indicam uma arrecadação de receitas líquidas de
18,9% do PIB em 2024, 19,2% do PIB em 2025 e 19,7% do PIB em 2026, que permitem atingir as metas para esse
período, e demonstram o esforço fiscal líquido de 1,0% do PIB (2025) e 1,3% do PIB (2026) em relação às receitas
líquidas do cenário base. Em 2027, um esforço de 0,7% do PIB deve ser realizado relativamente ao cenário base
para sustentar a receita líquida no patamar de 19,2%, mantendo a dívida estável. Em 2028, um esforço de 0,2% do
PIB ainda será necessário, porém, a partir de 2029, quando não se consideram mais receitas adicionais devido à
perspectiva de queda da DBGG, há leve redução da receita líquida de 18,7% do PIB para 18,6% do PIB. A partir de
então, as receitas do cenário de referência passam a seguir trajetória semelhante à do cenário base, convergindo
para 18,7% do PIB no horizonte de 10 anos.

Gráfico 15 – Projeção da receita líquida nos cenários base e referência (% do PIB)


Fonte: Elaboração própria

21

20 19,7
19,2 19,2 19,1 19,1
18,9 19,0 19,1
18,9
19 18,9 18,7 18,7 18,7 18,7
18,7 18,6
18,3 19,1 18,9
18,8 18,7 18,7 18,7
18,6 18,6 18,7
18,3 18,4 18,5
18 18,2

17,5
17

16
2023 2024 2025 2026 2027 2028 2029 2030 2031 2032 2033

Cenário Base Cenário de Referência RPF jul/23

Em relação à edição anterior deste relatório, destaca-se a redução das receitas líquidas de 0,8 p.p. do PIB em 2023
e de 0,4 p.p. do PIB, em média, de 2028 a 2033. Parte da queda deveu-se à revisão da estimativa do PIB, mas
37
também é atribuída ao desempenho mais fraco da arrecadação no segundo semestre de 2023, o qual afeta as
projeções no médio prazo por efeito base. No período de 2024 a 2027, a razão para a elevação das receitas do
cenário de referência se deve, essencialmente, à mudança na hipótese de contingenciamento dado que, por
construção do cenário de referência, as metas fiscais devem ser atingidas por meio de esforço fiscal concentrado
na receita líquida. Essa elevação, por sua vez, também leva a aumentos em despesas atreladas a receitas, como
Fundeb e FCDF, de modo que se faz necessário reestimar as despesas a fim de considerar a diferente trajetória das
receitas relativamente ao cenário base. Esse processo iterativo leva a necessidades de receitas ainda maiores.

Despesas Primárias do Governo Central

O crescimento da despesa primária no cenário de referência usa a variação real da RLA com medidas adicionais de
receitas, que apresenta média de 4,3% a.a. entre 2024 e 2033. Embora tal crescimento seja equivalente ao
crescimento médio observado no cenário base, o cenário de referência, ao prever medidas adicionais de receita no
período de 2024 a 2028, apresenta uma maior volatilidade no crescimento da RLA ao longo do horizonte de
projeção, conforme se observa na Tabela 10. Tal fato se dá pela já mencionada incerteza acerca de quais medidas
seriam adotadas, de forma que o esforço adicional de receitas pode ser transitório. Essa volatilidade se reflete no
crescimento real do limite de despesa.

Tabela 10 – Crescimento do limite de despesa conforme projeção e parâmetros do cenário de referência


Fonte: Elaboração própria

2024 2025 2026 2027 2028 2029 2030 2031 2032 2033
Variação real da receita líquida
2,4 7,2 10,0 6,6 2,9 0,4 1,4 3,1 3,7 3,7
ajustada (t-1)
Cumprimento da meta de resultado
sim sim sim sim sim Sim sim sim sim sim
primário1
Proporção aplicada à RLA 70% 70% 70% 70% 70% 70% 70% 70% 70% 70%
Valor da proporção aplicada à
1,7 5,0 7,0 4,6 2,0 0,2 1,0 2,1 2,6 2,6
variação da RLA
Ajuste do crescimento real do limite
de despesa conforme parâmetros 1,7 2,5 2,5 2,5 2,0 0,6 1,0 2,1 2,5 2,5
mínimos e máximos
1 A aferição do cumprimento da meta de resultado primário considera o atingimento do intervalo de tolerância inferior.

De fato, no cenário de referência, após anos iniciais de crescimento elevado, resultante do incremento da receita
líquida, a variação projetada da RLA reduz-se no acumulado até junho de 2028 e de 2029, o que contribui para um
crescimento da despesa inferior a 2,5% entre 2028 e 2031 (enquanto o cenário base prevê crescimento inferior a
2,5% entre 2027 e 2029). Dessa forma, a presença de maior volatilidade acaba por gerar menor crescimento anual
médio do limite de despesa em comparação ao projetado para o cenário base.
A Tabela 11 evidencia ainda que, no cenário de referência, dada a hipótese de atingimento das metas, em todos os
anos aplica-se a proporção de 70% da RLA ao crescimento da despesa, diferentemente do cenário base, em que se
aplicava a proporção de 50% nos anos de 2027 a 2028. Todavia, isso não é suficiente para compensar o efeito da
volatilidade da RLA no cenário de referência, devido principalmente à existência do limite máximo de 2,5% para o
crescimento do limite de despesa.

Como consequência, entre 2024 e 2033, o crescimento real médio do limite de despesa passa de 2,3% no cenário
base para 2,1% a.a. no cenário de referência. Dessa forma, em 2033, a despesa primária sujeita ao limite e a despesa
primária total no cenário de referência são menores do que no cenário base, a despeito de o cenário de referência
possuir nível de receita superior.

38
Em decorrência dessa dinâmica, a despesa primária total em proporção do PIB cai de forma mais acentuada no
cenário de referência, alcançando 17,1% do PIB em 2033, em comparação ao cenário base, no qual a despesa
equivale a 17,5% do PIB no mesmo período, conforme ilustra o Gráfico 16. No mesmo gráfico, observamos que a
despesa do cenário base é inferior à do cenário de referência em 2025 e em 2026, tendo em vista a necessidade de
contingenciamento. Somente a partir de 2029 a despesa do cenário de referência passa a ser menor.

Tabela 11 – Evolução da despesa primária total sob as premissas do cenário de referência


Fonte: Elaboração própria

2023 2024 2025 2026 2027 2028 2029 2030 2031 2032 2033
Despesa primária total (R$ Bilhão) 2.128,2 2.177,2 2.339,5 2.487,5 2.577,7 2.706,9 2.801,8 2.918,3 3.070,3 3.242,3 3.422,1
Variação real da despesa primária total (% a.a.) 11,3 -2,2 3,7 3,1 0,6 2,0 0,5 1,1 2,1 2,5 2,5
Despesa primária total (% do PIB) 19,6 18,9 19,0 19,0 18,5 18,2 17,8 17,4 17,3 17,2 17,1

A Tabela 11 mostra, ainda, redução acentuada na despesa em proporção do PIB em 2027, pela inclusão, a partir
desse ano, da totalidade das despesas com sentenças judiciais e precatórios no limite de despesa, assim como
ocorre no cenário base. Já a redução em 2029 e 2030 ocorre em decorrência da redução no crescimento real do
limite de despesa, conforme ilustrado na Tabela 10.

Gráfico 16 – Projeção da despesa primária total (% do PIB)


Fonte: Elaboração própria

20,0

19,5
19,6
18,9 19,0 19,0
19,0
18,5
18,5 18,7 18,7 18,2

18,3 17,9
18,0 17,8
17,7
18,0 17,6
17,5
17,5 17,8
17,4
17,0 17,3
17,2
17,1
16,5
2023 2024 2025 2026 2027 2028 2029 2030 2031 2032 2033

Cenário Base Cenário de Referência

Enquanto as despesas obrigatórias seguem a mesma dinâmica do cenário base, com alteração apenas nas projeções

39
de despesas associadas a receitas38, as despesas discricionárias do Poder Executivo neste cenário refletem
diretamente a alteração nos limites de despesa.
Como resultado, as despesas discricionárias do Poder Executivo caem de 1,7% do PIB em 2024 para 0,7% em 2033,
0,3 p.p. do PIB abaixo do cenário base. Adicionalmente, verifica-se compressão adicional das despesas
discricionárias não rígidas, que se reduzem não apenas pela redução do limite de despesa, mas também pela
elevação da receita frente ao cenário base, que majora algumas despesas obrigatórias e discricionárias rígidas, em
especial os gastos mínimos em saúde e educação e as emendas de execução obrigatória.

Gráfico 17 – Projeção da despesa discricionária sob as premissas do cenário de referência (R$ bilhões a preços
de 2024 e % do PIB)
Fonte: Elaboração própria

300 1,7 1,7 1,7 1,8 2,0


1,6 1,5
1,2 1,5
0,9
0,8 0,7 1,0
0,7
150 122 123 97 91 42
103 0,5
180 197
158 177
139 0,0
101 107 120
89 84 95
-0,5
0 11
-15
-46
-74 -1,0
-97
-1,5

-150 -2,0
2023 2024 2025 2026 2027 2028 2029 2030 2031 2032 2033

Discricionárias Rígidas Demais Discricionárias Discricionárias % PIB (eixo da direita)

A esse respeito, é importante destacar que esse relatório é conservador quanto ao impacto das medidas de receita
na despesa, pois como a maior parte seria retida pela União, por hipótese, a RCL e a RLI também são
substancialmente afetadas. Assim, o maior esforço arrecadatório do cenário de referência se traduz em mais
despesas obrigatórias e discricionárias rígidas no cenário projetado. Uma composição diferente de medidas de
receita, por outro lado, poderia impactar de forma diferente as discricionárias não rígidas.
Ademais, cumpre ressaltar que este relatório não considera medidas de revisão de gastos obrigatórios em curso no
âmbito do Governo Federal, que podem contribuir para o aumento do espaço fiscal das despesas discricionárias,
ou, alternativamente, para melhores resultados primários. A hipótese de inclusão da totalidade das despesas com
precatórios no limite de despesas a partir de 2027, hipótese distinta do relatório anterior, também desempenha
papel importante na compressão das discricionárias. O Boxe 5 apresenta diferentes cenários para as despesas

38
Em especial, destaca-se o impacto do cenário de receitas sobre o FUNDEB e o FCDF, que impacta a despesa total, tendo em
vista serem despesas excepcionalizadas do limite de gastos.
40
discricionárias não rígidas caso fossem adotadas regras distintas para a fixação dos gastos mínimos com saúde e
educação.

41
Boxe 5 – Evolução das despesas discricionárias em cenários alternativos para os gastos mínimos em
saúde e educação

No Regime Fiscal Sustentável, a evolução das despesas discricionárias está diretamente associada ao crescimento
da RLA, uma vez que equivalem ao espaço fiscal resultante da diferença entre o limite de despesa e as despesas
obrigatórias sujeitas ao limite. A projeção no cenário de referência deste relatório apontou que, ao se deduzir do
total das despesas discricionárias os gastos com as “despesas discricionárias rígidas”, classificadas dessa forma
por estarem associadas ao cumprimento de regras específicas, o espaço fiscal restante para as “demais
discricionárias” apresenta tendência de compressão no médio prazo.
Um exercício analítico relevante frente aos resultados, portanto, é verificar o comportamento das “demais
discricionárias” na existência de cenários alternativos para a evolução de despesas que possuem regras de
vinculação no arcabouço fiscal brasileiro. Em particular, simulam-se diferentes regras para a evolução dos gastos
mínimos da União em saúde (Ações e Serviços Públicos de Saúde - ASPS) e em educação (Manutenção e
Desenvolvimento do Ensino - MDE), que atualmente são indexados a percentuais da Receita Corrente Líquida
(RCL) e da Receita Líquida de Impostos (RLI), respectivamente39.
Os cenários alternativos apresentados consideram que os gastos mínimos de saúde e educação cresceriam, em
termos reais, de acordo com: i) o limite de despesa do cenário de referência; ii) o crescimento populacional do
ano anterior, de forma a manter constante o gasto real per capita; e iii) o crescimento do PIB real per capita do
ano anterior.
O Gráfico 18 apresenta o espaço adicional que se somaria ao das “demais despesas discricionárias” conforme
cada uma das hipóteses de alterações das regras citadas40. O ponto de partida para a adoção das novas regras
seria o valor mínimo projetado para os gastos em ASPS e MDE de 2024, conforme percentuais da RCL e da RLI,
respectivamente.

39
Conforme estabelecem os arts. 198 e 212 da Constituição Federal.
40
Cabe ressaltar que as despesas que compõem os gastos mínimos em saúde e educação não são todas classificadas como
discricionárias: em 2023, por exemplo, apenas 20% e 23% das despesas realizadas com ASPS e MDE, respectivamente, foram
despesas discricionárias. Para fins de projeção da distribuição dos gastos mínimos entre as rubricas de despesa, este exercício
considera a manutenção da proporção projetada para 2023 das despesas com os gastos mínimos de saúde e educação nas
despesas de pessoal, o percentual de 30% da Complementação da União ao FUNDEB e a correção pelas regras alternativas
propostas para os mínimos nas despesas obrigatórias com controle de fluxo. Por fim, o resíduo entre o valor mínimo e o valor
alocado nas rubricas obrigatórias é alocado nas despesas discricionárias.
Ademais, a alteração da distribuição dos mínimos de saúde e educação entre as rubricas de despesas classificadas como
obrigatórias com controle de fluxo ou “discricionárias rígidas” altera o valor das despesas discricionárias totais, tendo em vista
o limite de gastos. Entretanto, tal mudança não tem efeito sobre as demais discricionárias.
42
Gráfico 18 – Espaço adicional em Demais Discricionárias em cenários alternativos de evolução dos gastos
mínimos em Saúde e Educação a partir de 2025 - (R$ bilhões de 2024)
Fonte: Elaboração própria

140 131

120
107

100
84
80 69
62 62
60 50 54
42 39 40
40
25 28 26 26
23
20 15 15
8 11 7 11
2 1
0
-5 -2 -2
-20
2025 2026 2027 2028 2029 2030 2031 2032 2033

Limite de Despesa PIB per capita População

Os resultados indicam que, apesar de nos anos iniciais ser marginal a ampliação que ocorre no espaço fiscal a ser
ocupado pelas “Demais Discricionárias”, já em 2026 ele passa a ser relevante, em especial nos cenários onde os
gastos mínimos com saúde e educação estão vinculados ao crescimento real do PIB per capita ou da população.
Para o caso da evolução dos gastos mínimos alinhada ao crescimento do limite de despesa, o efeito passa a ser
mais relevante no médio prazo, a partir de 2029.
Esses efeitos são importantes para reforçar a perenidade do Regime Fiscal Sustentável no médio e longo prazo,
uma vez que são os recursos projetados como “demais discricionárias” que estão disponíveis para implementação
de novos projetos governamentais não obrigatórios e que visam atender às necessidades da população em
momentos específicos do tempo.
O Gráfico 19, a seguir, ilustra o mesmo exercício, mas para o início das mudanças já em 2024, considerando-se
como base o gasto realizado com ASPS e MDE em 2023. Nota-se que, nos três cenários alternativos simulados, os
efeitos são mais intensos, já a partir de 2024. Isso acontece por causa da forte elevação projetada no cenário de
referência deste relatório para a RCL e a RLI em 2024, relativamente a 2023, de 17% e 24%, respectivamente.

43
Gráfico 19 – Espaço adicional em Demais Discricionárias em cenários alternativos de evolução dos gastos
mínimos em Saúde e Educação a partir de 2024 – R$ bilhões de 2024
Fonte: Elaboração própria

250

201
200
177

153 149145
150 134
129 127
118
106 111
101
100 90 93
83 86 82 78
71 70 68 69 66 67
61
54 60 56 53 61
50

0
2024 2025 2026 2027 2028 2029 2030 2031 2032 2033

Limite de Despesa PIB per capita População

Além de permitir maior discricionariedade na alocação dos gastos públicos em momentos de elevação da receita,
permitindo atendimento das demandas da sociedade, a vinculação dos gastos mínimos em saúde e educação às
regras alternativas aqui elencadas apresenta vantagem relativamente ao regramento atual: há garantia de que os
gastos mínimos nunca serão reduzidos41. Ademais, quaisquer dessas regras geram cenários menos voláteis para
sua evolução do que quando vinculados à receita, permitindo maior previsibilidade e qualidade na execução
dessas despesas.

Comparação das projeções: RPF de julho de 2023 e RPF de março de 2024


Conforme pode ser observado no Gráfico 20, entre 2024 e 2026 a despesa primária do Governo Central projetada
nesta edição do Relatório de Projeções Fiscais (RPF) encontra-se em patamar superior à projetada na edição de
julho de 2023. A diferença decorre principalmente dos efeitos da decisão do STF sobre o regime de pagamento dos
precatórios, conforme detalhado no Boxe 2, e dos efeitos da LC 201/202342. Para os exercícios de 2024 a 2026,
destaca-se a alteração na hipótese relativa ao contingenciamento, não considerada no cenário de referência deste
relatório. A partir de 2027, a tendência se inverte, sendo os resultados da projeção atual menores que o da última
edição, em consequência da redução no limite de crescimento da despesa relativamente ao RPF anterior e dos

41
Exemplo dessa possibilidade é ilustrado no Gráfico 12, que apresenta as discricionárias projetadas para o Cenário Base deste
relatório. Entre 2024 e 2025, há uma redução das discricionárias rígidas, em função de queda projetada na RCL e na RLI, o que
impacta os mínimos de saúde e educação.
42
A LC 201/2023 definiu os efeitos da LC 194 relativos à compensação aos estados pela redução do ICMS, inclusive com
antecipação dos valores previstos para pagamento em 2024. Ademais, previu compensação adicional por reduções nos fundos
de participação dos estados e municípios em 2023. Esses valores foram excepcionalizados do limite de despesa, o que elevou
a despesa primária total em cerca de R$ 21 bilhões.
44
efeitos da inclusão da integralidade das despesas com sentenças judiciais e precatórios no limite de despesa,
reduzindo a despesa não sujeita ao limite e, consequentemente, a despesa primária total.

Gráfico 20 – Comparativo das projeções de despesa primária entre Relatórios de Projeção Fiscal (% do PIB)
Fonte: Elaboração própria

21,0
20,0
20,0 19,6
18,9 19,0 19,0 18,4
19,0 18,1
19,0
18,0 17,9 17,8
18,0 18,6 18,5
18,3 18,2
18,1
17,8
17,0 17,4 17,3 17,2 17,1

16,0

15,0

14,0
2023 2024 2025 2026 2027 2028 2029 2030 2031 2032 2033

RPF jul/23 RPF mar/24

Resultado Primário do Governo Central

O resultado primário no cenário de referência reflete o esforço de implementação de medidas necessárias para
consolidação fiscal. Conforme o Gráfico 21, a partir de 2024 o resultado primário assume trajetória positiva e
crescente, saindo de 0,0% do PIB em 2024 para 1,7% do PIB em 2033, com queda pontual em 2028, refletindo uma
menor necessidade de geração de superávits para estabilizar a dívida, após quatro anos sem déficits. Observa-se
que os valores de 2025 (0,2% do PIB) e 2026 (0,7% do PIB) não atingem plenamente a meta fiscal delineada na LDO
2024, pois consideram o excedente de precatórios que foram excluídos da apuração da meta em função da decisão
do STF, conforme destacado no Boxe 2. Cabe notar que se optou por tratar como perene apenas parte das medidas
aprovadas e inseridas na LOA 202443, de acordo com as respectivas versões sancionadas em lei, o que resulta em
uma contribuição de aproximadamente 0,6% do PIB para todo o horizonte. Como já aludido no início desta
subseção, novas medidas extraordinárias de receita adicionadas ao cenário de referência serão necessárias para o
cumprimento das metas fiscais de 2025 e 2026, bem como para alcançar o objetivo de estabilizar a DBGG em 2027
e 2028.

43
Por exemplo, algumas medidas incluídas na LOA 2024 preveem a tributação de estoques de ativos, como os mantidos por
pessoas físicas no exterior e os mantidos em fundos fechados no país, tratados na Lei nº 14.754/2023. Já a regularização de
passivos tributários, na forma da Lei nº 14.689/2023, pode gerar valores mais elevados de entrada em seu primeiro ano, como
tipicamente ocorre nos parcelamentos incentivados.
45
Gráfico 21 – Projeção do resultado primário do Governo Central do cenário de referência (% do PIB) 44
Fonte: Elaboração própria

2,0 1,7
1,5 1,6
1,5 1,2

1,0 1,0 0,7 0,9


0,7 0,4
0,5 0,5
0,0 0,2
0,0 0,0

-0,5

-1,0

-1,5

-2,0
-2,1
-2,5
2023 2024 2025 2026 2027 2028 2029 2030 2031 2032 2033

Superávit Déficit Bandas Meta


Conforme se vê no Gráfico 22, o cenário de referência apresenta uma trajetória de resultado primário mais robusta
do que o cenário base. Isso decorre, essencialmente, de dois fatores. Em primeiro lugar, devido à receita líquida
mais alta até 2028, consistente com o alcance das metas de resultado primário e do primário requerido para
estabilizar a dívida. Em segundo lugar, surgem efeitos dinâmicos do lado das receitas, que vão se reduzindo entre
2026 e 2029, levando a um momento de transição nesse período com crescimento real das receitas abaixo do
cenário base, o que acarreta uma evolução mais comedida das despesas, favorecendo o resultado primário. Tais
efeitos não aparecem no cenário base porque este apresenta uma trajetória de receita líquida mais estável, com
crescimento gradual entre 2025 e 2030, conforme ilustrado no Gráfico 15.
De forma análoga ao apresentado no cenário base, no cenário de referência também há diferenças relevantes em
relação ao RPF anterior, por conta dos efeitos do pagamento do passivo de precatórios em 2023, 2025 e 2026, que
pioram o resultado primário desses exercícios. Ao contrário, em 2027, há uma elevação do resultado primário em
relação ao cenário de referência da edição de julho de 2023, tendo em vista que aquela publicação considerava
todo o pagamento do passivo de precatórios acumulado até aquele ano. Ademais, a partir de 2027 a integralidade
das despesas com sentenças judiciais é incluída no limite de despesas, contribuindo para uma melhora do resultado
primário.
Tendo em vista que a hipótese de alcançar as mesmas metas de resultado primário, esses movimentos na despesa
se refletem de forma paralela nas receitas, excetuando-se o fato de que os pagamentos do passivo de precatórios
não são considerados na apuração da meta, de modo que o resultado primário piora nesse montante em 2025 e

44
Conforme mencionado nas seções anteriores, os resultados primários do cenário de referência estão diferentes das metas
estipuladas no PLDO 2024 em função da decisão do STF, de dezembro de 2023, que excepcionalizou o valor pago de precatórios
acima do limite estipulado pelo art. 107-A do ADCT para fins de avaliação do cumprimento de metas fiscais, vide Boxe 2.
46
2026. Além disso, a hipótese de atingir o resultado primário requerido para estabilizar a dívida pública, introduzida
neste relatório, também contribui para explicar um resultado primário mais elevado em 2027.

Gráfico 22 – Projeção do resultado primário do Governo Central nos cenários base e referência (% do PIB)
Fonte: Elaboração própria

2 1,7
1,5 1,6
1,2
1,0 1,3
0,7 0,9 1,3
1 0,6 1,0 1,3
0,5 0,4 0,8 1,0 1,1
0,8 0,9
0,0 0,7
0 0,5
0,2
0,0 0,1
-0,8 0,0
-0,4
-0,5
-1
-1,1

-2
-2,1

-3
2023 2024 2025 2026 2027 2028 2029 2030 2031 2032 2033

Cenário Base Cenário de Referência RPF jul/23

É interessante comparar as projeções para 2024 deste cenário de referência com os números constantes da LOA,
como apresentamos na Tabela 12. Nota-se a aderência entre as projeções de referência deste relatório e as
projeções oficiais, em que a receitas totais atingirão 23,5% (RPF) e 23,6% (LOA) do PIB, cuja diferença de 0,2 p.p. se
deve essencialmente às receitas administradas pela RFB, exclusive RGPS. Nesse sentido, cabe notar que as
projeções deste relatório incorporam os resultados de arrecadação de novembro e dezembro de 2023, bem como
a Grade de Parâmetros atualizada em janeiro de 2024, ao passo que os parâmetros da LOA se embasam, ainda, nos
resultados de arrecadação até outubro de 2023 e parâmetros macroeconômicos estimados em novembro de 2023.

47
Tabela 12 – Comparativo das projeções do cenário de referência com projeções oficiais (% do PIB)
Fonte: Elaboração própria
2024
Descrição
Ref. LOA Dif.
RECEITA TOTAL 23,5 23,6 -0,2
Receita Administrada pela RFB, ex. RGPS 15,0 15,2 -0,2
Arrecadação Líquida para o RGPS 5,6 5,5 0,0
Receitas Não Administradas pela RFB 2,9 2,9 0,0
TRANSFERÊNCIAS 4,5 4,6 -0,1
RECEITA LÍQUIDA 18,9 19,0 -0,1
DESPESA TOTAL 18,9 19,0 0,0
Benefícios Previdenciários 8,1 7,9 0,2
Pessoal e Encargos Sociais 3,2 3,3 -0,1
Outras Despesas Obrigatórias 2,8 2,8 0,0
Despesas Obrigatórias com Controle de Fluxo 3,2 3,1 0,0
Despesas Discricionárias do Executivo 1,7 1,8 -0,2
RESULTADO PRIMÁRIO 0,0 0,1 0,0

Ainda, em relação à LOA 2024, a projeção de despesas previdenciárias é 0,2 p.p. do PIB superior, tendo em vista
que as projeções deste relatório não consideram medidas administrativas de redução de despesa e incluem
hipótese de desrepresamento da fila de requerimentos de benefícios em análise. Demais divergências decorrem
das metodologias e premissas de projeção de despesas usadas neste relatório, que são descritas em mais detalhes
no Anexo C.

1.4. Comparativo com Projeções de Outras Fontes

Em novembro de 2023, a Instituição Fiscal Independente – IFI publicou o Relatório de Acompanhamento Fiscal –
RAF45 com as projeções macrofiscais para os próximos anos e que serão objeto de comparação com as projeções
deste RPF por meio da Tabela 13 e do Gráfico 23, abaixo. Para o ano de 2024, novas projeções, do RAF de janeiro,
estão disponíveis.
Em relação à última publicação em maio, com projeções de 10 anos, a IFI destaca, em seu cenário base, que as
principais revisões nas projeções macroeconômicas ocorreram no curto prazo. A previsão para o PIB para 2024 foi
reduzida de 1,4% (maio) para 1,2% devido à resistência da atividade econômica. Em contrapartida, aponta
melhorias nos índices de inflação, de 4,12% para 4% (2024).
Comparando o presente RPF com o relatório da IFI, observa-se que o cenário macroeconômico que baseia as
projeções deste RPF prevê um crescimento real do PIB 1 p.p. maior para 2024 (2,2%), 0,5 p.p. maior para 2025
(2,6% ante 2,1%) e 0,5 p.p. maior para 2026 (2,6% ante 2,1%), estabilizando com um diferencial de 0,5 p.p. para os
anos seguintes (2,5% contra 2%). Quanto à inflação, o cenário deste RPF antevê melhoria significativa a partir de
2024 (3,6%) e 2025 (3,1%) ante 4,0% e 3,4% prevista pela IFI, respectivamente. Para os demais períodos, RPF e IFI
convergem para 3,0% a.a. em direção ao centro da meta. Um outro ponto a ser destacado é a diferença de previsão

45
Disponível em: https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/644346/RAF82_NOV2023.pdf. Acesso em: 12 de
dezembro de 2023.
48
sobre o crescimento da massa salarial, em que a IFI prevê valores bem inferiores ao da Grade de Parâmetros da
SPE: 1,4% (IFI) ante 10,0% (RPF) em 2024. Não obstante, está acima do RAF de maio, mas não considera uma
recuperação consistente.

A IFI considerava, em novembro, nos cenários delineados as incertezas no plano doméstico, em especial quanto ao
cumprimento e a possibilidade de alteração da meta de resultado primário, bem como os elementos adversos do
cenário externo, tais como conflitos no Oriente Médio e elevação das taxas de juros nos Estados Unidos. Verifica-
se, dessa forma, que a IFI previa o Resultado Primário do Governo Central em proporção do PIB bem diferente para
o período em análise, especialmente 2024 (-1,1%), 2025 (-1,1%) e 2026 (-0,9%), diante dos valores do cenário de
referência deste relatório.

Tabela 13 – Comparativo de projeções com a IFI (RAF de janeiro de 2024 para 2024 e novembro de 2023 para
demais anos)
Fonte: Elaboração própria
2024 2025 2026 2027 Média 2027 - 2032
Variável
Referência IFI Referência IFI Referência IFI Referência IFI Referência IFI
PIB Real (%) 2,2 1,2 2,6 2,1 2,6 2,1 2,5 2,0 2,5 2,0
PIB (R$ bilhões) 11.509 11.525 12.289 12.066 13.105 12.778 13.947 13.507 18.628 15.989
IPCA (%) 3,6 4,0 3,1 3,4 3,0 3,0 3,0 3,0 3,0 3,0
Câmbio (dezembro, em R$/US$) 5,0 5,1 5,0 5,1 5,1 5,2 5,1 5,2 5,3 5,3
Ocupação - crescimento (%) 2,8 0,9 1,5 1,1 1,7 1,1 1,7 1,1 1,5 1,0
Massa Salarial - crescimento (%) 10,0 1,4 7,1 2,1 6,7 2,1 6,2 2,0 6,3 2,0
Selic (%) 8,6 9,5 7,9 8,3 7,0 7,5 7,0 7,0 6,3 7,0
Juros reais ex-ante (%) 5,8 5,3 4,9 4,3 4,0 4,1 3,9 4,0 2,9 3,9
Resultado Primário do Governo Central
0,0 -1,1 0,2 -1,1 0,7 -0,9 0,7 -1,7 1,0 -0,2
(% do PIB)

O Gráfico 23 apresenta o comparativo das projeções de resultado primário do Governo Central para os cenários
deste relatório com projeções externas, adicionando as previsões do Prisma Fiscal e o cenário base da IFI. O Prisma
traz as previsões medianas -0,7% (2024 e 2025) e -0,5% (2026), ligeiramente abaixo do cenário base deste relatório,
que traz projeções de -0,5% (2025), e -0,4% (2026). A IFI, por sua vez, apresentava uma projeção estritamente
abaixo da mediana de mercado, o que pode refletir um pessimismo maior com o desempenho das medidas de
receita previstas, entre outros fatores.

49
Gráfico 23 – Comparativo das projeções de resultado primário do Governo Central com projeções externas (% do
PIB)
Fonte: Elaboração própria

2,0 1,7
1,5 1,6
1,5 1,2 1,3
1,0 1,1
0,7 0,9
0,8 0,9
1,0 0,7
0,4
0,5 0,2 0,1
0,0 0,5
0,0 -0,4
-0,5 0,0 0,1
-0,7 -0,2 -0,2 -0,1
-0,5 -0,3
-0,7 -0,5 -0,5
-1,0
-1,1 -0,9
-1,1
-1,5
-2,1
-2,1
-2,0 -1,7

-2,5 -2,1
2023 2024 2025 2026 2027 2028 2029 2030 2031 2032 2033

Prisma jan/24 Base RPF mar/24 IFI nov/23 e jan/24 Referência RPF mar/24

1.5. Resultado Primário do Setor Público

Tendo como base o cenário de referência, o resultado primário do setor público apresenta, na Tabela 14, uma
trajetória em linha com o resultado do governo central. Em 2023, os governos regionais contribuem positivamente
para o resultado, porém o superávit é parcialmente explicado pelas transferências do governo central decorrentes
da LC 194/2022, que previu a compensação pela redução do ICMS e compensação adicional por reduções nos
fundos de participação dos estados e municípios em 2023.

Tabela 14 – Projeções para o resultado primário do setor público (% do PIB)


Fonte: Elaboração própria
Discriminação 2023 2024 2025 2026 2027 2028 2029 2030 2031 2032 2033
Governo Federal -2,1 -0,1 0,1 0,6 0,6 0,4 0,8 1,2 1,4 1,5 1,6
Governo Central -2,1 0,0 0,2 0,7 0,7 0,4 0,9 1,2 1,5 1,6 1,7
Estatais Federais* -0,0 -0,1 -0,1 -0,1 -0,1 -0,1 -0,1 -0,1 -0,1 -0,1 -0,1
Governos Regionais* 0,0 -0,1 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Setor público não financeiro -2,1 -0,1 0,1 0,6 0,6 0,4 0,8 1,2 1,4 1,5 1,6
Metas LDO para o Setor público** -0,6 -0,1 0,5 1,0
*As projeções para o resultado primário das estatais federais e dos governos regionais refletem atualizações realizadas até novembro de 2023. No caso
das estatais federais, considera o resultado das empresas do grupo ENBPar, apesar de este resultado estar excluído da apuração da meta fiscal, conforme
o §1º do art. 3º da LDO 2024. Não obstante, esse componente foi incluído por afetar as Necessidades de Financiamento Primárias no conceito “abaixo da
linha” e, portanto, a projeção de dívida.
** Para 2023, a meta de déficit primário prevista para o Governo Central é de R$ 65,9 bilhões, porém a LDO 2023, a EC 126/2022 e a Lei Complementar nº
195, de 8 de julho de 2022, permitem uma compensação da meta da ordem de R$ 147,7 bilhões. Como a meta ajustada para o Governo Central é de R$
213,6 bilhões, a meta ajustada para o setor público é de um déficit de R$ 216,7 bilhões, ou 2,0% do PIB em 2023. Com a decisão no STF em relação ao
pagamento dos precatórios, outros R$ 94,3 bilhões poderão ser compensados na meta, chegando a R$ 311,0 bilhões ou 2,9% do PIB.

50
O Gráfico 24 compara a projeção do resultado primário do setor público entre este relatório e a edição passada.
Como no resultado para o governo central, apesar de uma projeção de médio prazo aderente a partir de 2028, o
cenário para os próximos 3 anos sofreu maiores alterações. Em particular, houve uma piora de 0,3 p.p. do PIB em
2025 e 2026 e uma melhora de 0,6 p.p. em 2027, essencialmente devido ao movimento no pagamento de
precatórios, a partir de decisão do STF, que não serão contabilizados para fins de aferição da meta e que majoram
os gastos projetados em 2025 e 2026 e os reduzem em 2027.

Gráfico 24 – Comparativo das projeções para o resultado primário do setor público (% do PIB)
Fonte: Elaboração própria

2,0 1,6
1,4 1,5
1,5 1,2
0,9 0,8
1,0 0,6 1,2 1,3
0,4 1,0
0,5 0,1 0,6 0,8
0,4 0,5
0,0 -0,1
-0,5
-0,1
-0,5

-1,0

-1,5 -1,2

-2,0
-2,1
-2,5
2023 2024 2025 2026 2027 2028 2029 2030 2031 2032 2033
RPF jul/23 RPF mar/24

1.6. Necessidade de Financiamento do Setor Público e Gasto com Juros

A necessidade de financiamento do setor público (NFSP), ou déficit nominal, fechou 2023 em 8,9% do PIB,
influenciada pelas taxas de juros mais altas e pelo déficit primário. No cenário de referência deste relatório, projeta-
se que a NFSP caia, em 2024, para 6,9% do PIB, queda de 2,0 p.p. em relação ao ano passado. Conforme Gráfico
25, a NFSP segue uma trajetória de queda constante e gradual, seguindo o movimento do resultado primário e o
cenário de queda dos juros.

51
Gráfico 25 – Necessidade de financiamento do setor público (% do PIB)
Fonte: BCB e elaboração própria

15,0
13,3
13,0

11,0 4,1
8,9
9,0
6,9
7,0 5,8 6,0
4,3 4,6 5,0 5,0 5,0 3,9
5,0
6,6 4,4 3,6 3,4 3,2

5,0 6,7
3,0 5,8 6,1 5,6 5,6 5,4 5,2 5,1
5,0 5,0 4,9 4,8
1,0

-1,0

-3,0
2019

2020

2021

2022

2023

2024

2025

2026

2027

2028

2029

2030

2031

2032

2033
Déficit Primário Juros Nominais NFSP
A trajetória de queda da NFSP, no médio prazo, pressupõe melhora gradual do resultado primário, apoiada no novo
arcabouço fiscal, e redução estrutural das taxas de juros do País, que contribuiria para a diminuição das despesas
de juros da dívida pública, impactando positivamente a trajetória do endividamento público.

1.7. Dívida Bruta e Líquida do Governo Geral

Em 2023, a DBGG subiu 2,7 p.p. para 74,3% do PIB. A alta se explica, principalmente, pelo nível mais alto dos juros
nominais, que pressionam a dívida para cima, além do déficit primário registrado em 2023, conforme se observa
no Gráfico 26, que traz os fatores de variação da DBGG em 2023. A evolução do PIB é o principal fator que atuou
reduzindo a razão dívida/PIB em 2023, seguido das operações do Banco Central, que alteram a liquidez, afetando
o nível de operações compromissadas. Já a DLGG subiu para 60,0% do PIB, pressionada pelo diferencial entre a taxa
de juros e a taxa de crescimento do PIB.

52
Gráfico 26 – Fatores de variação da DBGG em 2023 (% do PIB)
Fonte: BCB e elaboração própria

Emissões líquidas*

* Obs.: Os itens “Primário GG” (resultado primário do Governo Geral), “Bancos Oficiais” (Retorno de créditos junto a bancos oficiais), “Operações do BCB”
(que inclui fatores de variação da base monetária, como moeda manual, depósitos no BCB, operações cambiais, resultado de swaps cambiais e outras) e
“Demais emissões líquidas” compõem a rubrica “Emissões líquidas”, divulgada pelo BCB na Tabela 19 da Nota de Estatísticas Fiscais, aqui desagregada em
abertura gerencial pela COGEP/STN.

As projeções do cenário de referência deste relatório indicam que a DBGG e a DLGG alcançam, ao final de 2024,
77,3% e 63,4% do PIB, respectivamente. Conforme o Gráfico 27, a DBGG apresenta uma trajetória de relativa
estabilidade de 2025 até 2028. Em 2029, a DBGG inicia um movimento decrescente e atinge 72,6% do PIB em 2033.
Já a DLGG segue uma trajetória crescente até 2028, passa a cair gradualmente a partir de 2029, atingindo 62,7% do
PIB em 2033.

53
Gráfico 27 – Projeções da dívida pública (% do PIB)
Fonte: BCB e Elaboração própria

90,0
86,9
85,0

80,0 77,3 78,0 78,1 78,1 78,1 77,6


77,3 76,6
75,5
74,3 74,2
75,0 72,6
71,7
74,4
70,0

65,0
65,4 65,1 65,3 65,8 65,7 65,2
64,5 64,4 63,7
60,0 63,4 62,7
59,5 60,0
55,0 57,3 56,5
50,0
2019 2020 2021 2022 2023 2024 2025 2026 2027 2028 2029 2030 2031 2032 2033

DBGG DLGG

Com isso, espera-se um aumento da DBGG/PIB de 3,0 p.p. em 2024 em comparação ao valor realizado em 2023.
Essa alta esperada se explica, principalmente, pelo nível dos juros nominais, que seguem pressionando a dívida
para cima, como se observa na Tabela 15, que traz os fatores de variação da dívida entre 2024 e 2033. O resultado
primário próximo a zero praticamente não influencia a DBGG em 2024 e a evolução do PIB é o principal fator que
atua reduzindo a razão dívida/PIB no ano.
As expectativas de resultados primários positivos e de redução dos juros/PIB serão determinantes para assegurar
a trajetória de queda da DBGG/PIB no médio prazo. Em média, conforme Tabela 15, haveria um superávit primário
de 0,9 p.p. do PIB do Governo Geral contra despesas de juros equivalentes a 5,4 p.p. do PIB por ano. Além disso, as
projeções consideram um cenário para operações associadas com ações do Banco Central no âmbito da gestão de
liquidez da economia, notadamente os fatores condicionantes da base monetária, como operações com moeda
manual, depósitos (compulsórios ou voluntários) e linhas de liquidez. Nesse cenário, essas variáveis contribuiriam
para uma redução de cerca de 0,3 p.p. do PIB por ano nas operações compromissadas e, por conseguinte, na
DBGG46. Por fim, a evolução do PIB contribui para reduzir a razão dívida/PIB (via denominador) em 4,6 p.p. por ano,
na média, sendo 1,9 p.p. associado ao PIB real e 2,7p.p. referentes ao deflator do PIB.

46
A premissa subjacente é de que a base monetária fique constante em relação ao PIB a partir de 2024. Esse fator, contudo,
não afeta a DLGG, nem a DLSP. No caso da DLGG, isso acontece porque as compromissadas não integram o conjunto de
passivos contido no indicador. Já para a DLSP, sua composição inclui passivos do BCB, como depósitos de instituições
financeiras e a própria base monetária. Nesse sentido, as operações do BCB que afetam as operações compromissadas e a
DBGG resultam em mudanças na composição desses passivos, sem alterar a DLSP em um primeiro momento, ainda que possa
alterá-la ao longo do tempo, se houver diferencial de remuneração entre os passivos trocados.
54
Tabela 15 – Cenário para os fatores de variação da DBGG/PIB (p.p. do PIB)
Fonte: Elaboração própria
Fatores de variação da DBGG/PIB 2024 2025 2026 2027 2028 2029 2030 2031 2032 2033 Média
DBGG Inicial 74,3 77,3 78,0 78,1 78,1 78,1 77,6 76,6 75,5 74,2
1. Resultado Primário - Governo Geral 0,0 -0,2 -0,7 -0,7 -0,5 -0,9 -1,3 -1,5 -1,6 -1,8 -0,9
2. Juros nominais 6,7 6,2 5,6 5,5 5,4 5,2 5,0 4,9 4,8 4,7 5,4
3. Retorno de Bancos Oficiais -0,1 -0,1 -0,1 -0,1 -0,1 -0,1 -0,1 0,0 0,0 0,0 -0,1
4. Operações do BCB -0,2 -0,4 -0,4 -0,4 -0,4 -0,4 -0,3 -0,3 -0,3 -0,3 -0,3
5. Demais emissões líquidas 0,4 0,0 0,2 0,3 0,2 0,3 0,2 0,3 0,2 0,1 0,2
6. Ajustes metodológicos 0,3 0,1 0,2 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,1
7. PIB real -1,6 -1,9 -2,0 -1,9 -1,9 -1,9 -1,9 -1,8 -1,8 -1,7 -1,9
8. Deflator do PIB -2,6 -3,0 -2,9 -2,8 -2,8 -2,7 -2,7 -2,6 -2,6 -2,5 -2,7
DBGG Final 77,3 78,0 78,1 78,1 78,1 77,6 76,6 75,5 74,2 72,6

Em comparação com o relatório publicado em julho, o cenário para a DBGG do presente relatório mostra trajetória
deslocada para cima, como ilustra o Gráfico 28. Em média, a trajetória da projeção de março está 2,4 p.p. acima da
trajetória de julho.

Gráfico 28 – Comparativo das projeções da Dívida (% do PIB)


Fonte: Elaboração própria
80,0

78,0 78,1 78,1 78,1


78,0 77,6
77,3
76,6

76,0 75,5
75,1 76,0 75,9
75,5 75,3 74,2
74,0 74,7 74,5
74,3
72,6
73,5
72,0 72,4

71,2
70,0
2023 2024 2025 2026 2027 2028 2029 2030 2031 2032 2033
DBGG RPF mar/24 DBGG RPF jul/23

O deslocamento para cima na trajetória da DBGG desde o último relatório se deve à diferença na Grade de
Parâmetros Macroeconômicos, como mostra a Tabela 2, especificamente à projeção de menor crescimento do PIB
nominal, em função de um deflator, na média 0,7 p.p. mais baixo.

55
2. Análise de Sensibilidade da Dívida a Cenários Alternativos
2.1. Resultado Primário Requerido para Convergência da Dívida a Diferentes Parâmetros

A realização de superávits primários pode ser uma condição importante para estabilizar a relação dívida/PIB de um
país, juntamente com o crescimento do PIB e taxas de juros mais baixas. Ao trazer o resultado primário das contas
públicas para o campo positivo, o governo consegue reduzir a necessidade de financiamento e destinar esses
recursos para pagar ao menos parte dos juros da dívida.
Assim, uma pergunta frequente é qual seria o resultado primário requerido para estabilizar a dívida/PIB ou para
conduzir essa razão para determinado patamar. A resposta não é trivial e depende de várias premissas, como o
horizonte temporal e os parâmetros macroeconômicos subjacentes à análise. Além disso, é crucial saber de qual
agregado de dívida estamos falando, pois a resposta pode mudar bastante se nos referimos à DBGG ou à DLGG.

Feitas essas considerações, esta seção traz algumas análises sobre o primário requerido para estabilizar a
dívida/PIB. Veremos que estabilizar a DLGG requer um esforço fiscal maior ao longo do tempo.
Como vimos, o cenário de referência deste relatório apresenta superávits primários para o Governo Central (GC)47
de 2024 a 2033. Nesse período, o resultado primário médio do GC equivale a 0,9% do PIB (superávit) por ano,
gerando uma trajetória para a DBGG/PIB que, ao fim do horizonte de projeções, fica em nível inferior ao de 2024
(ponto de partida).
Conforme Gráfico 29, em 2024, o resultado primário do Governo Central precisaria ser um superávit de 2,8% do
PIB para que a DBGG/PIB em 2024 se estabilizasse no mesmo patamar de 2023 (74,3% do PIB), bem superior ao
resultado primário próximo de zero do cenário de referência. Para estabilizar a DBGG em 2027 ao nível de 202648,
o primário requerido seria igual ao primário para esse ano no cenário de referência. Conforme adiantado na seção
1.3, o cenário de referência presume a realização de medidas adicionais de receita para atingir esse primário
requerido.

47
Nesta seção, o resultado primário é calculado pelo critério conhecido como “abaixo da linha” e, pode, portanto, divergir do
apresentado nas demais seções.
48
A estimativa resultou na estabilização da dívida em 2027, em função dos resultados primários estabelecidos na LDO 2024
para os exercícios de 2024 a 2026.
56
Gráfico 29 – Primário requerido para níveis de dívida/PIB selecionados (% do PIB) – Cenário de Referência
Fonte: Elaboração própria.

2,8

1,7

0,9
0,7 0,7

0,0

Referência DBGG = 2023 DLGG = 2023 Referência DBGG = 2026 DLGG = 2026
Dívida em 2024 Dívida em 2027

Já o primário requerido para estabilizar a DLGG/PIB em 2027 ao nível de 2026 seria de 0,9 p.p. do PIB. Além de
diferenças entre as taxas de juros implícitas na DBGG e na DLGG, destacam-se os fatores condicionantes da base
monetária, com efeito nas operações compromissadas do BCB (tal como ilustrado na Tabela 15), que reduzem a
DBGG, mas têm efeito nulo sobre a DLGG e, assim, ajudam a explicar um primário requerido maior para estabilizar
a DLGG.

A consolidação fiscal é mais difícil em cenários com menor crescimento do PIB ou taxas de juros mais altas. Choques
nessas variáveis modificam o tamanho do resultado primário requerido para se conduzir a dívida para determinado
patamar, como mostra o Gráfico 30.

57
Gráfico 30 – Primário requerido para níveis de dívida/PIB selecionados (% do PIB) – Cenário de Referência com
choques
Fonte: Elaboração própria.

3,4

1,9
1,5 1,5

0,0

-0,1
Estressado DBGG = 2023 DLGG = 2023 Estressado DBGG = 2026 DLGG = 2026
Dívida em 2024 Dívida em 2027

Em um cenário com choques de estresse, em que a taxa de juros é 1 p.p. mais alta e o crescimento do PIB, 0,5 p.p.
mais baixo do que no cenário de referência, o primário requerido subiria para 3,4% do PIB para estabilizar a dívida
em 2024 ao nível de 2023 e para 1,5% do PIB para estabilizar a dívida em 2027 ao nível de 2026. A evolução mais
desfavorável para o PIB também afetaria negativamente o resultado primário, principalmente através do
desempenho pior das receitas. Esse cenário reduz o primário projetado para 2024 e 2027, mesmo mantendo as
mesmas hipóteses fiscais do cenário de referência, como novas medidas de receitas. Dessa forma, não só o primário
requerido é maior devido à dinâmica da dívida, mas o esforço fiscal também precisaria ser ainda maior para
compensar as perdas na capacidade arrecadatória.

2.2. Análise de Cenários: Perspectivas da Dívida com o Cenário Fiscal Alternativo

Em complemento à análise de resultado primário do cenário de referência explorado anteriormente neste


relatório, esta seção busca mostrar como a projeção de dívida é sensível aos diferentes cenários fiscais. Assim,
dentre os insumos usados para a projeção de dívida, alteramos apenas o resultado primário e mantivemos as
demais variáveis nas projeções de dívida do cenário referência e cenário base aqui apresentadas. O Gráfico 31
mostra que o cenário base é mais conservador, sobretudo na trajetória das receitas, e, assim, a DBGG/PIB apresenta
uma trajetória deslocada para cima em quase 2,3 p.p. na média. A DBGG/PIB encerraria 2033 em 76,7% do PIB
contra 72,6% do PIB no cenário de referência.

58
Gráfico 31 – Projeções da DBGG: utilizando o cenário fiscal base (% do PIB)
Fonte: BCB e elaboração própria

82,0
80,4 80,4
79,9 80,0
80,0 79,4
78,8 78,7
77,8
78,0 77,3
78,0 78,1 78,1 78,1 76,7
77,3 77,6
76,0 76,6
75,5
74,0
74,3 74,2

72,0 72,6

70,0
2023 2024 2025 2026 2027 2028 2029 2030 2031 2032 2033

Cenário Base Cenário de Referência

A DLGG, no cenário base, apresenta trajetória crescente até 2028 e fecha 2033 em 66,7% do PIB, 4,0 p.p. acima da
DLGG no cenário de refrência.

Gráfico 32 – Projeções da DLGG: utilizando o cenário fiscal base (% do PIB)


Fonte: BCB e elaboração própria

70,0
68,1 68,1 68,0
67,6 67,6 67,4
68,0
66,8 66,7

66,0 65,3
65,8 65,7
65,1 65,3 65,2
64,0 63,4
64,5 64,4
63,4 63,7
62,0 62,7

60,0
60,0

58,0
2023 2024 2025 2026 2027 2028 2029 2030 2031 2032 2033

Cenário Base Cenário de Referência

59
2.3. Análise de Cenários: Perspectivas da Dívida com a Previsão das Variáveis Macroeconômicas
Extraídas da Pesquisa Focus do Banco Central

Como uma alternativa ao uso das projeções do cenário de referência, esta seção busca mostrar qual seria a
evolução da DBGG e da DLGG com o uso da mediana das projeções contidas na pesquisa Focus do Banco Central
para as variáveis macroeconômicas49. A utilização de projeções alternativas também auxilia na compreensão de
como outros atores econômicos veem o comportamento da economia nos próximos anos. Nesse sentido, quanto
maior a divergência entre os cenários de governo e Focus, mais importante seria o esforço do governo em
compreender tais divergências, para melhor decisão e comunicação de suas propostas de política pública.
Importante mencionar que, considerando a grande influência destas projeções no direcionamento das decisões
dos agentes econômicos, elas podem afetar as taxas de juros da economia e, consequentemente, o custo de
financiamento das dívidas pública e privada.
Para este exercício, estimamos o resultado primário do Setor Público a partir do modelo da STN para projeção de
receitas e despesas do cenário de referência tendo por base a Pesquisa Focus para os principais parâmetros
macroeconômicos (tais como juros, inflação, câmbio, PIB), o qual será referenciado por Focus STN nas tabelas e
gráficos. Para garantir que o cenário de referência e o cenário Focus STN difiram somente em virtude dos
parâmetros macroeconômicos, as mesmas medidas de receita adicionadas ao cenário de referência são mantidas
em valores nominais no Focus STN. Dessa forma, esse cenário alternativo não necessariamente alcança as metas
de resultado primário da LDO 2024, mesmo descontando os pagamentos de excedentes de precatórios. O Gráfico
33 traz um comparativo com o cenário de referência deste relatório para o resultado primário do setor público. O
PIB real mais fraco tende a prejudicar as receitas, efeito marginalmente compensado pela expectativa de inflação
mais alta. O impacto da inflação nas despesas, por sua vez, leva a um efeito líquido negativo no resultado primário,
que apresenta uma diferença de 0,8 p.p. do PIB em 2033 relativamente ao cenário de referência deste relatório.

49
A Pesquisa Focus é uma pesquisa realizada pelo Banco Central, na qual as instituições informam suas projeções para diversas
variáveis macroeconômicas. Como data de corte, foram utilizadas as estimativas apuradas no dia 12 de janeiro de 2024. Como
a pesquisa Focus tem projeções para um horizonte até cinco anos, estendemos a grade considerando que os valores previstos
se estabilizariam no último valor disponível pela pesquisa. Apenas no caso da taxa de câmbio, usou-se um diferencial de
inflação (doméstica em relação à prevista nos Estados Unidos) para atualização de seu patamar para além de cinco anos.
60
Gráfico 33 – Projeção para o resultado primário do Setor Público com base nos parâmetros macroeconômicos
da pesquisa Focus (% do PIB)*
Fonte: Elaboração própria
2,0 1,7
1,5 1,6
1,5 1,2
0,7
0,9
1,0 0,7
0,4 0,9
0,5 0,8 0,9
0,2 0,7
0,0
0,5 0,4
0,0 0,3
0,0 0,0 0,0
-0,5

-1,0

-1,5

-2,0

-2,5 -2,1
2023 2024 2025 2026 2027 2028 2029 2030 2031 2032 2033
Focus STN Cenário de Referência

*O Focus STN refere-se a projeções partir do modelo da STN para projeção de receitas e despesas do cenário de referência, utilizando-se dos parâmetros
macroeconômicos da Pesquisa Focus (tais como juros, inflação, câmbio e PIB).

Com destaque, este cenário Focus é menos benigno para as taxas de juros e inflação e câmbio e há uma perspectiva
pior quanto ao crescimento econômico. Com tais previsões para as variáveis macroeconômicas, a dívida
apresentaria trajetória ascendente em todo o horizonte de projeções, atingindo, em 2033, 94,8% do PIB no caso
da DBGG e 81,7% do PIB no caso da DLGG, quando os parâmetros macroeconômicos Focus são usados no modelo
de projeções de dívida da STN.
A título de comparação, as projeções Focus para a DBGG50 também foram adicionadas. Essa trajetória de dívida –
aqui chamada de Focus Pleno – é semelhante à trajetória da projeção Focus STN em quase todo o horizonte de
projeções, mas em patamar inferior. Enquanto a DBGG no Focus Pleno atinge um ponto de inflexão em 2031 para
fechar em 90,2% do PIB em 2032, a projeção Focus STN apresenta trajetória crescente em todo o horizonte de
projeções, atingindo 94,8% em 2033. Essa diferença pode ter origem em opções metodológicas de projeção
distintas e nas hipóteses fiscais, por exemplo, quanto ao desempenho das medidas de receita propostas.

50
Mediana das expectativas das projeções para a DBGG coletadas pelo Focus. O Focus não tem projeções para a DLGG.
61
Gráfico 34 – Projeções da DBGG: utilizando previsões extraídas da pesquisa Focus (% do PIB)*
Fonte: BCB e elaboração própria

100
94,8
93,7
92,5
91,0
89,5
90 88,0
86,4 90,8
84,2 89,8 90,2
88,5
81,4 87,0
85,1
78,6 83,2
80
81,1
78,4 78,0 78,1 78,1 78,1 77,6
77,3 76,6
75,5
74,3 74,2
70 72,6

60
2023 2024 2025 2026 2027 2028 2029 2030 2031 2032 2033

Cenário de Referência Focus Pleno Focus STN


*O cenário Focus Pleno refere-se à mediana das projeções da Pesquisa Focus para a DBGG, enquanto o cenário Focus STN refere-se a projeções partir do
modelo da STN para projeção de receitas, despesas e dívida do cenário de referência, utilizando-se dos parâmetros macroeconômicos da Pesquisa Focus (tais
como juros, inflação, câmbio e PIB).

Gráfico 35 – Projeções da DLGG: utilizando previsões extraídas da pesquisa Focus (% do PIB)*


Fonte: BCB e elaboração própria
90

81,7
80,6
79,0
80 77,7
76,2
74,7
72,9
70,8
70 67,8
64,8

65,1 65,3 65,8 65,7 65,2


64,5 64,4 63,7
60 63,4 62,7
60,0

50
2023 2024 2025 2026 2027 2028 2029 2030 2031 2032 2033
Cenário de Referência Focus STN

*O Focus STN refere-se a projeções partir do modelo da STN para projeção de receitas, despesas e dívida do cenário de referência, utilizando-se dos parâmetros
macroeconômicos da Pesquisa Focus (tais como juros, inflação, câmbio e PIB).

62
O cenário Focus apresenta uma taxa SELIC média de 8,6% a.a.51, enquanto a média no cenário de referência é de
6,9% a.a. Com relação ao PIB, o cenário Focus aponta um crescimento, em média, de 2,0% a.a. em termos reais no
período analisado. O cenário de referência deste relatório traz expectativa de crescimento potencial mais elevado
no médio prazo (2,5% a.a.).
Deste modo, os exercícios reforçam a importância do aperfeiçoamento do ambiente macroeconômico nos
próximos anos, indicando que o tamanho da dívida pública dependerá da magnitude futura da taxa de juros e do
crescimento econômico, duas variáveis importantes para uma trajetória de dívida decrescente no médio prazo.
Embora o deflator52 também possa influenciar a trajetória da dívida/PIB, seu nível maior normalmente é reflexo de
maior inflação, o que não se projeta a médio prazo.

2.4. Elasticidade da Dívida a Choques

A análise da sensibilidade (elasticidade) estima o impacto na trajetória da dívida derivado de modificações nas
variáveis que determinam seu custo, como a taxa de juros, a inflação e a taxa de câmbio. A Tabela 16 ilustra o efeito
mais imediato na DBGG caso essas variáveis se desviem das expectativas presentes no cenário central.
Considerando a composição por indexadores e o perfil de vencimentos da dívida em dez/23, um aumento de 1 p.p.
na taxa de juros Selic (mantido por 12 meses) geraria um aumento de R$ 44,0 bilhões (ou 0,4 p.p. do PIB) no ano
no custo e, por conseguinte, no estoque da dívida. No caso da inflação, a cada ponto percentual no IPCA, por ano,
haveria um aumento de R$ 19,0 bilhões (ou 0,2 p.p. do PIB) na DBGG.

Tabela 16 – Composição, perfil de vencimentos e elasticidade a choques da DBGG


Fonte: BCB e elaboração própria

Indicador dez/22 dez/23


Composição da DBGG R$ bilhões % da DBGG R$ bilhões % da DBGG

Prefixados 1.613 22,3 1.730 21,4

Índices de preços 1.805 25,0 1.944 24,1

Flutuantes 3.359 46,5 3.979 49,3

Cambial 449 6,2 426 5,3

Perfil de Vencimentos R$ bilhões % da DBGG R$ bilhões % da DBGG

Até 12 meses 1.924 26,6 2.347 29,0

Entre 1 e 3 anos 1.764 24,4 2.000 24,8

Acima de 3 anos 3.537 49,0 3.732 46,2

Elasticidade R$ bilhões % do PIB R$ bilhões % do PIB

Inflação (1 p.p.) 18 0,2 19 0,2

Selic (1 p.p.) 38 0,4 44 0,4

Câmbio (1%) 10 0,1 0 0,0


Para a elasticidade, assume-se choque de 1 ponto percentual na inflação e na taxa de juros Selic por 12 meses e choque instantâneo de 1% na taxa de
câmbio.

51
A pesquisa FOCUS apresenta expectativas de Selic até 2028. Para os anos seguintes assumiu-se o valor da última projeção
disponível.
52
Como o deflator não é uma das variáveis abarcadas pela pesquisa Focus, projetou-se essa variável com base em modelos
internos que usam os valores previstos pela pesquisa Focus e outras variáveis com previsão realizada pelo FMI.
63
Alterações nos indexadores de remuneração da dívida tendem a ter impactos reduzidos nos pagamentos da dívida
no curto prazo. Em geral, esses impactos são absorvidos na forma de variação do estoque, sendo seus efeitos nos
fluxos distribuídos ao longo de vários anos, conforme ocorram os vencimentos da dívida. Nesse sentido, a Tabela
17 mostra como a despesa orçamentária da Dívida Pública Federal (DPF) se alteraria diante de mudanças de 1,0
p.p. nas taxas de juros e inflação ou de 1,0% na taxa de câmbio.

Tabela 17 – Sensibilidade dos pagamentos da DPF a choques nos indexadores


Fonte: Elaboração própria
2024 2025 2026
Indexador
R$ milhões % PIB R$ milhões % PIB R$ milhões % PIB

Inflação (1 p.p.) 2.471 0,021 4.182 0,034 10.815 0,084

Juros (1 p.p.) 2.215 0,019 6.191 0,051 10.879 0,084

Câmbio (1%) 206 0,002 731 0,006 803 0,006

Assume-se choque de 1 p.p. na inflação e na taxa de juros Selic e choque instantâneo de 1,0% na taxa de câmbio, sendo esses choques mantidos ao longo
do tempo.

2.5. Choque Selic, PIB e Resultado Primário

Choques nas variáveis econômicas podem mudar consideravelmente a trajetória futura da dívida. Os exercícios de
estática comparativa53 a seguir servem para ilustrar como as projeções do endividamento público se modificam
quando variáveis-chave, como o crescimento real do PIB, o resultado primário e a taxa de juros se desviam do
cenário de referência ao longo de todo o horizonte.

Alterações na taxa de juros sensibilizam o custo da dívida e a transmissão de mudanças na taxa Selic para o custo
da dívida tende a ser rápida, uma vez que existe elevada proporção de instrumentos de financiamento expostos às
mudanças nos juros de curto prazo. Por outro lado, avanços positivos na economia brasileira, incluindo o balanço
fiscal, que resultem em redução estrutural nas taxas de juros, contribuem decisivamente para um endividamento
mais baixo no médio prazo.
A geração de superávit fiscal primário é essencial para uma dívida mais baixa no futuro, como já vimos nas seções
anteriores. Como o Gráfico 36 e o Gráfico 37 evidenciam, ao adicionarmos maior crescimento econômico a um
cenário de melhora fiscal, o indicador de endividamento declina mais rapidamente e, por último, o prospecto fica
ainda mais favorável se esses movimentos ocorrem com taxas de juros mais baixas. Em outra direção, contudo, a
manutenção de déficits primários por tempo mais prolongado resultaria em trajetórias arriscadas para a dívida/PIB.
Nesse contexto, choques que comprometam o ritmo da atividade econômica e elevem as taxas de juros colocariam
pressão adicional ao nível de endividamento, gerando as trajetórias superiores nas figuras citadas.

53
Exercícios de estática comparativa mostram como a variável principal, a dívida/PIB neste relatório, se altera quando uma ou
mais variáveis do cenário de referência são modificadas, enquanto as demais são mantidas constantes.
64
Gráfico 36 – DBGG (% do PIB) – choques combinados
Fonte: BCB e elaboração própria
95
89,4 90,2
87,5 88,5
90 86,4
85,0
85 83,2
81,5
80,0
80 78,1
77,7
75
76,4 76,0 72,6
74,3 74,7
70 73,2
71,5
67,3
65 69,3
66,5
60 63,6
60,3 56,7
55
2023 2024 2025 2026 2027 2028 2029 2030 2031 2032 2033

+Selic -primário -PIB -primário Referência +primário -Selic +primário +PIB

O exercício de sensibilidade aplica choques de +/- 0,5 p.p. no primário; +/- 0,5 p.p. na taxa de crescimento do PIB
real; +/- 1 p.p. na taxa de juros Selic, sempre em relação ao cenário de referência e ao longo de toda a trajetória.

Gráfico 37 – DLGG (% do PIB) – choques combinados


Fonte: BCB e elaboração própria.
85

80 78,3
77,2
75,7
74,6
75 73,2
71,6
69,6
70 67,8
66,1 67,8
64,0
65
62,7
60 62,7 62,8 62,2
60,0 61,2 60,2 56,9
55 58,5
56,4
50 53,9
51,3
48,3
45
2023 2024 2025 2026 2027 2028 2029 2030 2031 2032 2033

+Selic -primário -PIB -primário Referência +primário -Selic +primário +PIB

Em resumo, políticas que favoreçam o crescimento econômico sustentado e a manutenção de taxas de juros baixas

65
por mais tempo, combinadas com uma política fiscal responsável, são essenciais para a preservação de níveis
prudentes de endividamento.

2.6. Simulações Estocásticas

No Gráfico 38, apresenta-se um exercício de simulação de Monte Carlo54, construída a partir de uma distribuição
multivariada em torno da Grade de Parâmetros fornecida pela SPE. O gráfico apresenta uma faixa de 50% de
probabilidade em volta do cenário de referência, entre os percentis 25 a 75, e outra de 80%, entre os percentis 10
a 90. Os cenários estocásticos foram construídos supondo que as medidas de receita estão fixas, de modo a refletir
a incerteza puramente macroeconômica em torno do cenário de referência.

Gráfico 38 – Comparativo das projeções para o resultado primário do Setor Público (% do PIB)
Fonte: Elaboração própria

7,0
5,6
5,0
3,6
3,0
1,5 1,6 1,7
1,0 1,2
0,7 0,9
1,0 0,5 0,4
0,0
0,7 -0,2
0,2
-1,0 0,0

-2,1
-3,0 -2,1

-5,0
2023 2024 2025 2026 2027 2028 2029 2030 2031 2032 2033

10 a 25 25 a 50 50 a 75 75 a 90 Referência Metas

Dentro da banda mais provável de 50% em torno da mediana, estima-se que o resultado primário de 2024 possa
variar de um déficit de 0,7% do PIB a um superávit de 0,9% do PIB, a depender da efetiva evolução dos parâmetros
macroeconômicos. É interessante notar que o déficit de 0,7% do PIB equivale à projeção mediana do Prisma Fiscal
de janeiro de 2024, conforme relatado na seção 1.4. Como essa incerteza se compõe ao longo dos anos, em 2033
se tem um leque de 3,7 p.p. do PIB para a banda de 50% e um leque de 7,6 p.p. do PIB para a banda de 80%, o que
reflete o desafio inerente ao planejamento fiscal, mesmo sem incluir o risco de frustração de medidas de aumento
de receita.

A incerteza por trás das trajetórias de dívida reside, sobretudo, na dinâmica do PIB, do resultado primário e das
taxas de juros. O Gráfico 39 e Gráfico 40 trazem fan charts contendo os resultados de simulações estocásticas para
a DBGG e DLGG, no formato de intervalos de confiança, diante de choques correlacionados no PIB e no primário ao
longo do tempo, mantendo-se constantes as demais variáveis, inclusive juros.

54
Modelo probabilístico (estocástico) para previsão de variados resultados possíveis.
66
Gráfico 39 – Cenários estocásticos para DBGG (% do PIB)
Fonte: BCB e elaboração própria

110
108,7
100

90 89,2

80
77,3 78,0 78,1 78,1 78,1 77,6 76,6
70 74,3 75,5 74,2 72,6
60
55,7
50

40
39,1
30
2023 2024 2025 2026 2027 2028 2029 2030 2031 2032 2033

10-25 25-50 50-75 75-90 Referência

Gráfico 40 – Cenários estocásticos para DLGG (% do PIB)


Fonte: BCB e elaboração própria

100
96,4

90

80 78,3

70

60 64,5 65,1 65,3 65,8 65,7 65,2 64,4


63,4 63,7 62,7
60,0
50
45,9
40

30,6
30
2023 2024 2025 2026 2027 2028 2029 2030 2031 2032 2033

10-25 25-50 50-75 75-90 Referência

Com taxas de juros mais elevadas, torna-se maior o risco de a DBGG e a DLGG superarem as projeções do cenário
de referência na presença de choques desfavoráveis à atividade econômica e à consolidação fiscal. É o que ilustram
os fan charts apresentados no Gráfico 41 e no Gráfico 42 para a DBGG e a DLGG, que diferem dos anteriores porque

67
simulam uma taxa de juros 1 p.p. acima do cenário de referência, para, então, simular os choques estocásticos no
PIB e no primário. Trata-se de um exercício complementar de avaliação de downside risk.

Gráfico 41 – Cenários estocásticos para a DBGG (% do PIB) com choque na taxa de juros
Fonte: BCB e elaboração própria

130
121,5
120

110

100 98,3
90

80
77,3 78,0 78,1 78,1 78,1 77,6 76,6
70 74,3 75,5 74,2 72,6
60 60,7

50
43,3
40
2023 2024 2025 2026 2027 2028 2029 2030 2031 2032 2033

10-25 25-50 50-75 75-90 Referência

Gráfico 42 – Cenários estocásticos para a DLGG (% do PIB) com choque na taxa de juros
Fonte: BCB e elaboração própria

110
107,3

100

90
85,1
80

70

60 64,5 65,1 65,3 65,8 65,7 65,2 64,4


63,4 63,7 62,7
60,0
50 50,9

40
34,1
30
2023 2024 2025 2026 2027 2028 2029 2030 2031 2032 2033

10-25 25-50 50-75 75-90 Referência

68
Os intervalos superiores dos fan charts aqui apresentados para a trajetória da dívida/PIB fornecem uma visualização
dos riscos e incertezas associados à sustentabilidade da dívida pública. Partindo de um cenário central no qual o
endividamento ainda se mostra elevado, as simulações desta seção mostram uma exposição da dívida/PIB a
choques nas variáveis relevantes para sua dinâmica. Tal análise remete à importância de uma gestão fiscal
prudente, políticas macroeconômicas sólidas e a adoção de medidas para mitigar esses riscos, incluindo os esforços
para melhorar o balanço fiscal e promover a redução da dívida, e garantir a estabilidade financeira a longo prazo.

69
Apêndices
A. Parâmetros Macroeconômicos

Tabela 18 – Parâmetros macroeconômicos


Fonte: Secretaria de Política Econômica
Parâmetro 2023 2024 2025 2026 2027 2028 2029 2030 2031 2032 2033
Câmbio - final período (R$/US$) 4,84 5,00 5,00 5,10 5,10 5,16 5,26 5,31 5,36 5,41 5,47

Câmbio - médio (R$/US$) 4,99 4,94 5,00 5,05 5,10 5,13 5,23 5,28 5,34 5,39 5,44

Crescimento nominal do PIB (% a.a.) 7,7 6,1 6,8 6,6 6,4 6,4 6,3 6,2 6,2 6,2 6,1

Crescimento real do PIB (% a.a.) 3,0 2,2 2,6 2,6 2,5 2,5 2,5 2,5 2,5 2,4 2,4

PIB (R$ bilhões) 10.852 11.509 12.289 13.105 13.947 14.836 15.770 16.753 17.791 18.888 20.046

Deflator do PIB (% a.a.) 4,5 3,8 4,1 3,9 3,8 3,8 3,7 3,7 3,7 3,6 3,6

IPCA acumulado (% a.a.) 4,6 3,6 3,1 3,0 3,0 3,0 3,0 3,0 3,0 3,0 3,0

INPC acumulado (% a.a.) 3,7 3,5 3,0 3,0 3,0 3,0 3,0 3,0 3,0 3,0 3,0

IGP-DI médio (% a.a.) -3,6 2,0 3,9 3,8 3,8 3,8 3,6 3,3 3,1 3,1 3,0

Taxa Selic média (% a.a.) 13,2 9,6 8,2 7,1 7,0 6,8 6,3 5,9 5,9 5,9 5,9

Selic - final de período (% a.a.) 11,9 8,6 7,9 7,0 7,0 6,7 6,2 5,9 5,9 5,9 5,9

Petróleo Brent médio (US$) 82,2 76,5 73,5 71,1 69,6 68,6 68,3 68,3 68,3 68,3 68,3

Crescimento nominal da Massa Salarial (% a.a.) 11,5 10,0 7,1 6,7 6,2 6,5 6,3 6,3 6,3 6,2 6,3

70
B. Tabelas Completas

Tabela 19 – Projeção de Receitas Primárias do Governo Central (R$ bilhões)


Fonte: Elaboração própria
Discriminação 2023 2024 2025 2026 2027 2028 2029 2030 2031 2032 2033
RECEITA TOTAL 2.351 2.701 2.898 3.152 3.285 3.427 3.647 3.883 4.143 4.407 4.690
Receita Administrada pela RFB ex. RGPS 1.439 1.725 1.803 1.937 2.067 2.211 2.371 2.542 2.740 2.937 3.150
Imposto de Importação 54 63 67 72 78 84 91 97 106 114 123
IPI 59 73 74 85 92 98 105 111 119 127 135
Imposto sobre a Renda 696 785 815 880 944 1.020 1.101 1.195 1.303 1.409 1.524
IR - Pessoa Física 59 62 66 70 73 78 82 85 91 96 101
IR - Pessoa Jurídica 262 321 346 384 418 459 509 567 631 693 761
IR - Retido na Fonte 375 403 403 425 453 483 511 543 581 620 662
IRRF - Rendimentos do Trabalho 165 174 183 196 209 222 235 250 265 281 298
IRRF - Rendimentos do Capital 124 134 121 124 131 140 146 154 167 180 193
IRRF - Remessas ao Exterior 67 71 76 81 88 94 101 108 117 126 135
IRRF - Outros Rendimentos 20 23 22 24 25 27 29 30 32 34 36
IOF 62 69 75 82 89 96 106 118 131 146 162
COFINS 293 363 394 412 430 450 469 488 509 530 552
PIS/PASEP 85 103 113 118 123 129 134 139 145 151 157
CSLL 149 163 193 214 232 255 283 309 342 372 406
CIDE Combustíveis 1 3 3 3 3 4 4 4 4 4 5
Outras Administradas pela RFB 41 101 69 71 74 76 78 80 82 84 86
Incentivos Fiscais 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Arrecadação Líquida para o RGPS 593 643 690 741 796 850 908 969 1.033 1.101 1.174
Receitas Não Administradas pela RFB 320 333 279 301 319 338 368 373 370 368 366
Concessões e Permissões 9 44 6 6 7 7 7 7 7 8 8
Complemento para o FGTS 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
CPSS 17 18 18 19 19 19 19 19 19 19 19
Contribuição do Salário-Educação 31 34 36 39 42 45 48 52 55 59 64
Exploração de Recursos Naturais 113 124 117 138 148 159 183 181 171 161 151
Dividendos e Participações 50 42 31 30 32 33 34 35 36 37 39
Receita Própria e de Convênios 21 18 19 20 21 22 22 23 24 25 25
Demais Receitas 78 53 50 50 51 53 54 56 58 59 61
TRANSF. POR REPARTIÇÃO DE RECEITA 452 520 534 577 613 657 706 757 814 871 932
Cide combustíveis 0 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
Exploração de Recursos Naturais 66 76 70 74 74 76 80 80 78 76 73
Contribuição do Salário Educação 18 20 21 23 25 27 28 30 33 35 37
FPE/FPM/IPI-EE 353 407 425 462 496 535 577 625 680 735 794
Fundos Constitucionais 11 13 13 14 14 15 15 17 18 20 22
Repasse Total 23 26 27 29 31 34 36 39 43 46 50
Superávit Fundos -11 -12 -13 -15 -17 -19 -21 -22 -24 -26 -28
Demais 3 4 3 4 4 4 4 4 4 4 4
Receitas Adicionais 0 0 126 172 104 28 0 0 0 0 0
RECEITA LÍQUIDA 1.899 2.181 2.364 2.575 2.672 2.771 2.941 3.126 3.329 3.536 3.758

71
Tabela 20 – Projeção de Receitas Primárias do Governo Central (% do PIB)
Fonte: Elaboração própria
Discriminação 2023 2024 2025 2026 2027 2028 2029 2030 2031 2032 2033
RECEITA TOTAL 21,7 23,5 23,6 24,1 23,6 23,1 23,1 23,2 23,3 23,3 23,4
Receita Administrada pela RFB ex. RGPS 13,3 15,0 14,7 14,8 14,8 14,9 15,0 15,2 15,4 15,6 15,7
Imposto de Importação 0,5 0,5 0,5 0,6 0,6 0,6 0,6 0,6 0,6 0,6 0,6
IPI 0,5 0,6 0,6 0,7 0,7 0,7 0,7 0,7 0,7 0,7 0,7
Imposto sobre a Renda 6,4 6,8 6,6 6,7 6,8 6,9 7,0 7,1 7,3 7,5 7,6
IR - Pessoa Física 0,5 0,5 0,5 0,5 0,5 0,5 0,5 0,5 0,5 0,5 0,5
IR - Pessoa Jurídica 2,4 2,8 2,8 2,9 3,0 3,1 3,2 3,4 3,5 3,7 3,8
IR - Retido na Fonte 3,5 3,5 3,3 3,2 3,2 3,3 3,2 3,2 3,3 3,3 3,3
IRRF - Rendimentos do Trabalho 1,5 1,5 1,5 1,5 1,5 1,5 1,5 1,5 1,5 1,5 1,5
IRRF - Rendimentos do Capital 1,1 1,2 1,0 0,9 0,9 0,9 0,9 0,9 0,9 1,0 1,0
IRRF - Remessas ao Exterior 0,6 0,6 0,6 0,6 0,6 0,6 0,6 0,6 0,7 0,7 0,7
IRRF - Outros Rendimentos 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2
IOF 0,6 0,6 0,6 0,6 0,6 0,6 0,7 0,7 0,7 0,8 0,8
COFINS 2,7 3,2 3,2 3,1 3,1 3,0 3,0 2,9 2,9 2,8 2,8
PIS/PASEP 0,8 0,9 0,9 0,9 0,9 0,9 0,9 0,8 0,8 0,8 0,8
CSLL 1,4 1,4 1,6 1,6 1,7 1,7 1,8 1,8 1,9 2,0 2,0
CIDE Combustíveis 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Outras Administradas pela RFB 0,4 0,9 0,6 0,5 0,5 0,5 0,5 0,5 0,5 0,4 0,4
Incentivos Fiscais 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Arrecadação Líquida para o RGPS 5,5 5,6 5,6 5,7 5,7 5,7 5,8 5,8 5,8 5,8 5,9
Receitas Não Administradas pela RFB 2,9 2,9 2,3 2,3 2,3 2,3 2,3 2,2 2,1 1,9 1,8
Concessões e Permissões 0,1 0,4 0,1 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Complemento para o FGTS 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
CPSS 0,2 0,2 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1
Contribuição do Salário-Educação 0,3 0,3 0,3 0,3 0,3 0,3 0,3 0,3 0,3 0,3 0,3
Exploração de Recursos Naturais 1,0 1,1 1,0 1,0 1,1 1,1 1,2 1,1 1,0 0,9 0,8
Dividendos e Participações 0,5 0,4 0,3 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2
Receita Própria e de Convênios 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1
Demais Receitas 0,7 0,5 0,4 0,4 0,4 0,4 0,3 0,3 0,3 0,3 0,3
TRANSF. POR REPARTIÇÃO DE RECEITA 4,2 4,5 4,3 4,4 4,4 4,4 4,5 4,5 4,6 4,6 4,6
Cide combustíveis 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Exploração de Recursos Naturais 0,6 0,7 0,6 0,6 0,5 0,5 0,5 0,5 0,4 0,4 0,4
Contribuição do Salário Educação 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2
FPE/FPM/IPI-EE 3,3 3,5 3,5 3,5 3,6 3,6 3,7 3,7 3,8 3,9 4,0
Fundos Constitucionais 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1
Repasse Total 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2
Superávit Fundos -0,1 -0,1 -0,1 -0,1 -0,1 -0,1 -0,1 -0,1 -0,1 -0,1 -0,1
Demais 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Receitas Adicionais 0,0 0,0 1,0 1,3 0,7 0,2 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
RECEITA LÍQUIDA 17,5 18,9 19,2 19,7 19,2 18,7 18,6 18,7 18,7 18,7 18,7

72
Tabela 21 – Projeção de Despesas Primárias do Governo Central (R$ bilhões)
Fonte: Elaboração própria
Discriminação 2023 2024 2025 2026 2027 2028 2029 2030 2031 2032 2033
DESPESAS PRIMÁRIAS 2.128 2.177 2.339 2.488 2.578 2.707 2.802 2.918 3.070 3.242 3.422
Benefícios Previdenciários (RGPS) 899 935 1.008 1.066 1.128 1.199 1.276 1.361 1.457 1.557 1.663
Pessoal e Encargos Sociais 363 364 386 403 418 433 448 464 481 498 516
Outras despesas obrigatórias 357 325 350 385 403 434 453 493 522 567 601
BPC/LOAS 93 104 115 125 136 149 162 176 191 207 224
Abono e Seguro Desemprego 73 83 90 96 103 110 117 125 133 142 151
Fundef/Fundeb - Complementação da União 37 46 53 61 65 69 73 77 82 87 92
Sentenças e Precatórios (custeio e capital) 72 24 29 30 28 31 34 37 41 44 49
Subsídios, Subvenções e Proagro 22 21 21 21 21 22 23 24 24 25 26
Demais Despesas Obrigatórias 61 47 43 51 50 54 45 55 51 62 58
Despesas Obrigatórias com Controle de Fluxo 326 363 383 402 412 418 436 450 471 487 510
das quais Bolsa Família/Auxílio Brasil 166 174 180 180 186 186 191 191 197 197 203
Despesas Discricionárias do Executivo 183 192 212 231 217 224 188 149 139 133 132
Despesas não sujeitas ao limite 216 94 128 144 103 107 108 116 122 130 137
Despesas sujeitas ao limite 1.913 2.083 2.211 2.344 2.475 2.600 2.694 2.802 2.948 3.112 3.285
* Projeção considera cenário de referência, isto é, com medidas para ampliar as receitas para alcançar a meta de resultado primário.

Tabela 22 – Projeção de Despesas Primárias do Governo Central (% do PIB)


Fonte: Elaboração própria
Discriminação 2023 2024 2025 2026 2027 2028 2029 2030 2031 2032 2033
DESPESAS PRIMÁRIAS 19,6 18,9 19,0 19,0 18,5 18,2 17,8 17,4 17,3 17,2 17,1
Benefícios Previdenciários (RGPS) 8,3 8,1 8,2 8,1 8,1 8,1 8,1 8,1 8,2 8,2 8,3
Pessoal e Encargos Sociais 3,3 3,2 3,1 3,1 3,0 2,9 2,8 2,8 2,7 2,6 2,6
Outras despesas obrigatórias 3,3 2,8 2,9 2,9 2,9 2,9 2,9 2,9 2,9 3,0 3,0
BPC/LOAS 0,9 0,9 0,9 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 1,1 1,1 1,1
Abono e Seguro Desemprego 0,7 0,7 0,7 0,7 0,7 0,7 0,7 0,7 0,7 0,8 0,8
Fundef/Fundeb - Complementação da União 0,3 0,4 0,4 0,5 0,5 0,5 0,5 0,5 0,5 0,5 0,5
Sentenças e Precatórios (custeio e capital) 0,7 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2
Subsídios, Subvenções e Proagro 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1
Demais Despesas Obrigatórias 0,6 0,4 0,4 0,4 0,4 0,4 0,3 0,3 0,3 0,3 0,3
Despesas Obrigatórias com Controle de Fluxo 3,0 3,2 3,1 3,1 3,0 2,8 2,8 2,7 2,7 2,6 2,5
das quais Bolsa Família/Auxílio Brasil 1,5 1,5 1,5 1,4 1,3 1,3 1,2 1,1 1,1 1,0 1,0
Despesas Discricionárias do Executivo 1,7 1,7 1,7 1,8 1,6 1,5 1,2 0,9 0,8 0,7 0,7
Despesas não sujeitas ao limite 2,0 0,8 1,0 1,1 0,7 0,7 0,7 0,7 0,7 0,7 0,7
Despesas sujeitas ao limite 17,6 18,1 18,0 17,9 17,7 17,5 17,1 16,7 16,6 16,5 16,4
* Projeção considera cenário de referência, isto é, com medidas para ampliar as receitas para alcançar a meta de resultado primário.

73
Tabela 23 – Projeção de Resultado Primário do Setor Público Não Financeiro (R$ bilhões)
Fonte: Elaboração própria
Discriminação 2023 2024 2025 2026 2027 2028 2029 2030 2031 2032 2033
RECEITA TOTAL 2.351 2.701 2.898 3.152 3.285 3.427 3.647 3.883 4.143 4.407 4.690
Receita Administrada pela RFB, exceto RGPS 1.439 1.725 1.803 1.937 2.067 2.211 2.371 2.542 2.740 2.937 3.150
Arrecadação Líquida para o RGPS 593 643 690 741 796 850 908 969 1.033 1.101 1.174
Receitas Não Administradas pela RFB 320 333 279 301 319 338 368 373 370 368 366
Receitas Adicionais 0 0 126 172 104 28 0 0 0 0 0
TRANSF. POR REPARTIÇÃO DE RECEITA 452 520 534 577 613 657 706 757 814 871 932
RECEITA LÍQUIDA 1.899 2.181 2.364 2.575 2.672 2.771 2.941 3.126 3.329 3.536 3.758
DESPESA TOTAL 2.128 2.177 2.339 2.488 2.578 2.707 2.802 2.918 3.070 3.242 3.422
Benefícios Previdenciários 899 935 1.008 1.066 1.128 1.199 1.276 1.361 1.457 1.557 1.663
Pessoal e Encargos Sociais 363 364 386 403 418 433 448 464 481 498 516
Outras Despesas Obrigatórias 357 325 350 385 403 434 453 493 522 567 601
Despesas Obrigatórias com Controle de
326 363 383 402 412 418 436 450 471 487 510
Fluxo
Despesas Discricionárias do Executivo 183 192 212 231 217 224 188 149 139 133 132
PRIMÁRIO GOV. CENTRAL -231 3 24 88 94 64 139 208 259 294 336
Primário Governos Regionais 30 -6 1 1 1 1 2 1 2 2 2
Primário Empresas Estatais Federais -5 -10 -8 -8 -8 -9 -9 -8 -10 -11 -12
PRIMÁRIO SETOR PÚBLICO NÃO FINANCEIRO -205 -13 17 81 87 56 131 201 250 285 327

Tabela 24 – Projeção de Resultado Primário do Setor Público Não Financeiro (% do PIB)


Fonte: Elaboração própria
Discriminação 2023 2024 2025 2026 2027 2028 2029 2030 2031 2032 2033
RECEITA TOTAL 21,7 23,5 23,6 24,1 23,6 23,1 23,1 23,2 23,3 23,3 23,4
Receita Administrada pela RFB, exceto RGPS 13,3 15,0 14,7 14,8 14,8 14,9 15,0 15,2 15,4 15,6 15,7
Arrecadação Líquida para o RGPS 5,5 5,6 5,6 5,7 5,7 5,7 5,8 5,8 5,8 5,8 5,9
Receitas Não Administradas pela RFB 2,9 2,9 2,3 2,3 2,3 2,3 2,3 2,2 2,1 1,9 1,8
Receitas Adicionais 0,0 0,0 1,0 1,3 0,7 0,2 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
TRANSF. POR REPARTIÇÃO DE RECEITA 4,2 4,5 4,3 4,4 4,4 4,4 4,5 4,5 4,6 4,6 4,6
RECEITA LÍQUIDA 17,5 18,9 19,2 19,7 19,2 18,7 18,6 18,7 18,7 18,7 18,7
DESPESA TOTAL 19,6 18,9 19,0 19,0 18,5 18,2 17,8 17,4 17,3 17,2 17,1
Benefícios Previdenciários 8,3 8,1 8,2 8,1 8,1 8,1 8,1 8,1 8,2 8,2 8,3
Pessoal e Encargos Sociais 3,3 3,2 3,1 3,1 3,0 2,9 2,8 2,8 2,7 2,6 2,6
Outras Despesas Obrigatórias 3,3 2,8 2,9 2,9 2,9 2,9 2,9 2,9 2,9 3,0 3,0
Despesas Obrigatórias com Controle de Fluxo 3,0 3,2 3,1 3,1 3,0 2,8 2,8 2,7 2,7 2,6 2,5
Despesas Discricionárias do Executivo 1,7 1,7 1,7 1,8 1,6 1,5 1,2 0,9 0,8 0,7 0,7
PRIMÁRIO GOV. CENTRAL -2,1 0,0 0,2 0,7 0,7 0,4 0,9 1,2 1,5 1,6 1,7
Primário Governos Regionais 0,3 -0,1 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Primário Empresas Estatais Federais 0,0 -0,1 -0,1 -0,1 -0,1 -0,1 -0,1 -0,1 -0,1 -0,1 -0,1
PRIMÁRIO SETOR PÚBLICO NÃO FINANCEIRO -1,9 -0,1 0,1 0,6 0,6 0,4 0,8 1,2 1,4 1,5 1,6

74
Tabela 25 – Projeção da Dívida Pública (R$ bilhões)
Fonte: Elaboração própria
Discriminação 2023 2024 2025 2026 2027 2028 2029 2030 2031 2032 2033
Necessidade de Financiamento do
967 789 735 659 696 748 692 653 636 643 642
Setor Público
Juros Nominais - DLSP 718 776 752 739 782 804 823 854 886 928 968
Juros Nominais - DBGG 816 774 762 739 771 796 813 843 873 912 949
Dívida Líquida do Setor Público 6.613 7.415 8.167 8.820 9.515 10.251 10.932 11.574 12.200 12.833 13.466
Dívida Bruta do Governo Geral 8.079 8.898 9.588 10.233 10.891 11.585 12.231 12.834 13.426 14.005 14.562
Dívida Líquida do Governo Geral 6.521 7.302 7.928 8.525 9.108 9.761 10.355 10.925 11.455 12.039 12.569

Tabela 26 – Projeção da Dívida Pública (% do PIB)


Fonte: Elaboração própria
Discriminação 2023 2024 2025 2026 2027 2028 2029 2030 2031 2032 2033
Necessidade de Financiamento do
8,9 6,9 6,0 5,0 5,0 5,0 4,4 3,9 3,6 3,4 3,2
Setor Público
Juros Nominais - DLSP 6,6 6,7 6,1 5,6 5,6 5,4 5,2 5,1 5,0 4,9 4,8
Juros Nominais - DBGG 7,5 6,7 6,2 5,6 5,5 5,4 5,2 5,0 4,9 4,8 4,7
Dívida Líquida do Setor Público 60,8 64,4 66,5 67,3 68,2 69,1 69,3 69,1 68,6 67,9 67,2
Dívida Bruta do Governo Geral 74,3 77,3 78,0 78,1 78,1 78,1 77,6 76,6 75,5 74,2 72,6
Dívida Líquida do Governo Geral 60,0 63,4 64,5 65,1 65,3 65,8 65,7 65,2 64,4 63,7 62,7

75
C. Premissas de Projeção

Com relação à edição anterior do Relatório de Projeções Fiscais, não houve alterações significativas na
metodologia de projeção de receitas primárias e do resultado dos governos regionais. Entretanto, devido
à constante evolução dos cenários político e fiscal no que tange às incertezas associadas a políticas
públicas que implicam despesas primárias para o Governo Central, relata-se a seguinte atualização de
premissas.
Premissas para projeções de despesas
Valores de 2023 consideram a despesa realizada apresentada no boletim de Resultado do Tesouro
Nacional (RTN), publicado em fevereiro de 2024.
No presente relatório, foram apresentados dois cenários de despesas: o cenário base e o cenário de
referência. Ambos os cenários seguem o limite de despesa definido pelo Regime Fiscal Sustentável,
instituído pela LC nº 200, de 2023. O limite de despesa depende da receita líquida ajustada (RLA), que é
diferente para cada um dos cenários: no cenário base, a RLA considera apenas medidas de receitas
previstas na legislação e já em vigor, enquanto o cenário de referência incorpora medidas de receita
adicionais com o objetivo de atingir o centro da meta de resultado primário da LDO 2024 para os anos de
2025 a 2026, ajustado pelo pagamento do excedente de precatórios, excepcionalizado para fins de
avaliação do cumprimento da meta fiscal. Em ambos os cenários, as despesas discricionárias são
projetadas em forma de resíduo, a partir do espaço fiscal disponível após a projeção do limite de despesas
e das despesas obrigatórias. Diferentemente da última edição deste relatório, não há hipótese de
contingenciamento no cenário de referência deste relatório, tendo em vista que, por hipótese, o esforço
fiscal necessário ao cumprimento das metas de resultado primário seria concentrado na receita.
Para cada um dos cenários apresentados neste relatório, o processo de projeção das despesas primárias
do Governo Central parte da projeção individual das rubricas que compõem a Necessidade de
Financiamento do Governo Central (NFGC), conforme apresentado no Resultado do Tesouro Nacional
(RTN). Cada uma dessas rubricas tem regras de evolução próprias, em geral baseadas na dinâmica das
políticas públicas em vigor ou já anunciadas e na evolução do cenário macroeconômico considerado.
Em relação à projeção das rubricas da NFGC que compõem a despesa primária, apresentamos a seguir
um maior detalhamento para os principais agregados. Para a grande parte das demais despesas assume-
se correção pela inflação. Por hipótese, não há abertura de créditos extraordinários no período.
Para a projeção das despesas relativas ao Regime Geral de Previdência Social (RGPS), que representam a
maior despesa primária do Governo Central, são consideradas as regras de acesso, dados administrativos
históricos e as mudanças demográficas projetadas pelo IBGE para calcular a quantidade de benefícios
pagos por ano55. Para a projeção do valor dos benefícios, utilizam-se projeções oficiais sobre o
crescimento real da massa salarial e assume-se variação real do salário mínimo com base na variação do
PIB de dois anos antes, conforme a Lei n° 14.663, de 28 de agosto de 2023. A mesma metodologia é

55
A estrutura do modelo de projeção usado neste relatório é semelhante ao utilizado pela Secretária da Previdência, cujo
detalhamento é apresentado na seção IV.5 do Anexo de Metas Fiscais do Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2023.
76
aplicada para projetar as despesas com os Benefícios Assistenciais (Benefício de Prestação Continuada -
BPC e Renda Mensal Vitalícia - RMV).
Para a projeção da despesa com pessoal, a segunda maior despesa do governo, assume-se, de maneira
simplificada, a incorporação dos reajustes salariais já definidos pela legislação e reajuste pela inflação a
partir de 2026. Para as quantidades, considera-se aumento de 1% no número de servidores inativos
(aposentados e reformados) e manutenção do quantitativo de servidores ativos e de pensionistas.
Para o Abono Salarial e o Seguro Desemprego, as projeções são feitas utilizando-se modelos de preços e
quantidades: a variação dos preços considera o valor projetado do salário mínimo e, no caso do Seguro
Desemprego, também o salário médio recebido pelo trabalhador enquanto empregado; as quantidades
são estimadas de acordo com a quantidade de trabalhadores formais, número de demissões e média de
meses trabalhados, dados pela dinâmica do mercado de trabalho, além da inflação e do crescimento
populacional.
Para a projeção das despesas do Programa Bolsa Família, assume-se benefício médio de R$ 684,31,
equivalente à média do período entre julho e novembro de 2023, quando começaram a vigorar as novas
regras do programa. Esse valor é atualizado a cada dois anos pela inflação do ano anterior, a partir de
2025. Assume-se também a manutenção do quantitativo de famílias beneficiárias em 21,2 milhões a partir
de 2024.
Para as despesas com a complementação da União ao Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do
Ensino (Fundeb), assume-se manutenção das regras definidas pela Emenda Constitucional nº 108, de 26
de agosto de 2020, que ampliou gradualmente o percentual de complementação do Governo Federal de
12% em 2021 até 23% em 2026, tornando-se o percentual constante a partir de então. Essa despesa
continua como exceção ao limite de despesa, conforme LC nº 200, de 2023.
Quanto às hipóteses relativas às Sentenças Judiciais, projetou-se uma expedição com crescimento real
médio de 3,4% ao ano a partir de 2025. Considera-se as regras decorrentes da decisão do STF relativa ao
pagamento de precatórios, detalhadas no Boxe 2 deste relatório. Em especial, destaca-se que há
pagamento, em 2023, do passivo de precatórios acumulado até 2023 e do excedente ao subteto de
precatórios definido pela EC 114 referente ao exercício de 2024. Esse pagamento ocorre fora do limite de
despesa e não é contabilizado para a meta de resultado primário. Em 2024, mantém-se a dotação prevista
na LOA 2024. Para 2025 e 2026, o excedente ao subteto é pago em cada exercício, respectivamente,
também fora do limite de despesa e não contabilizado para a meta fiscal de cada ano. A partir de 2027,
considera-se o fim do subteto e o pagamento integral das despesas com sentenças judiciais dentro do
limite de despesa.
A projeção das despesas com o Fundo Constitucional do Distrito Federal (FCDF) considera a variação da
receita corrente líquida (RCL) da União no período acumulado em doze meses até junho do exercício
anterior. Esses gastos não são computados no limite de despesas.
Tendo em vista a revogação do disposto nos arts. 110 e 111 do ADCT, após a promulgação do Regime
Fiscal Sustentável, alterou-se a hipótese de projeção das despesas em saúde e educação tidas como
Obrigatórias com Controle de Fluxo, que passaram a evoluir de acordo com a variação da RCL e da RLI. A
hipótese aplicada até a última edição deste relatório considerava sua evolução pelo IPCA do ano anterior.
77
As despesas discricionárias são calculadas como resíduo entre o limite de despesas e as despesas
obrigatórias a ele sujeitas, além das despesas discricionárias não sujeitas ao limite (como despesas com
projetos socioambientais custeadas com recursos de doações ou decorrentes de ações judiciais, despesas
de instituições federais de ensino custeadas com recursos próprios ou de doações, e execução de obras
e serviços de engenharia custeadas com recursos de transferências56). Entretanto, como o limite
estabelecido pela LC 200/2023 é orçamentário, considera-se a existência de um float, decorrente de
diferenças entre a execução orçamentária e financeira57.
Projetam-se, ainda, as “despesas discricionárias rígidas”, que equivalem à parcela das despesas com os
gastos mínimos em saúde e educação alocada nas despesas discricionárias e às emendas individuais e de
bancada de execução obrigatória (conforme proporção não contingenciável). Diferentemente do último
relatório, o piso de investimentos não é considerado como despesa discricionária rígida, tendo em vista
sua possibilidade de contingenciamento. As projeções consideram as interseções entre essas despesas.
A alteração da distribuição dos mínimos de saúde e educação entre as diferentes rubricas de despesa,
decorrente da mudança de hipótese relativa à evolução das despesas com saúde e educação classificadas
como obrigatórias com controle de fluxo reduz o valor das despesas discricionárias, tendo em vista o
limite de gastos. Entretanto, tal mudança não tem efeito sobre as demais discricionárias.
Esses efeitos sobre as discricionárias não rígidas e totais ocorrem porque a parcela da despesa
discricionária necessária para cumprir os gastos mínimos em saúde e educação é obtida descontando-se
do valor mínimo a projeção relativa às despesas obrigatórias. Assim, uma ampliação da despesa
obrigatória sujeita ao gasto mínimo em saúde ou educação, ao passo que diminui a despesa discricionária,
também diminui em mesmo montante a parcela da despesa discricionária necessária para cumprimento
dos gastos mínimos, sem sensibilizar, portanto, a parcela não rígida da despesa discricionária.
Por fim, a projeção do montante contingenciado no cenário base (em que as receitas não são suficientes
para o atingimento do limite inferior da meta de resultado primário nos anos de 2025 e 2026) considera
que a despesa sujeita ao limite deve crescer pelo menos 0,6% em termos reais em relação ao limite de
despesas do ano anterior, conforme previsto no inciso II do § 18 do art. 71 da LDO 2024. Nesse caso, a
despesa sujeita ao limite atinge montante inferior ao limite de despesas.

56
Para essas despesas, considera-se a dotação constante da LOA 2024, atualizada pelo IPCA do ano anterior.
57
Essas diferenças derivam, por exemplo, do espaçamento no tempo entre o empenho e o pagamento de determinadas
despesas, em especial em benefícios previdenciários, BPC, pessoal e encargos e subsídios. O float projetado equivale a cerca
de R$ 5,6 bilhões em 2024 e sua variação depende da evolução das despesas a que está associado.
78

Você também pode gostar