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Nero - Sarah Brianne
Nero - Sarah Brianne
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deste livro, sem autorização prévia por escrito da editora, poderá ser reproduzida ou
transmitida sejam quais forem os meios empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos,
gravação ou quaisquer outros. Os direitos morais do autor foram declarados.
Esta obra literária é ficção. Qualquer nome, lugares, personagens e incidentes são produto
da imaginação do autor. Qualquer semelhança com pessoas reais, vivas ou mortas, eventos
ou estabelecimentos é mera coincidência.
B86n
1.ed
Brianne, Sarah
Nero [recurso eletrônico] / Sarah Brianne ; tradução Débora Isidoro. - 1. ed. -
Rio de Janeiro : Allbook, 2021.
Elle entrou em casa pela porta da frente, acenou para Chloe antes de fechá-
la e apoiou a cabeça nela.
— Tudo bem, lindinha?
Pulou, assustada.
— Ah, oi, mãe. Sim, tudo ótimo. Cansaço, só isso. — Elle olhou para a sala.
— O papai está na cozinha?
— Não, ele, hum, está na cama dormindo.
— Não levantou o dia inteiro? — Começou a ficar preocupada.
— Não, amorzinho, ele só foi tirar um cochilo. — A mãe dela sorriu. Mas
Elle não acreditou na resposta.
— Tudo bem. Vou fazer a lição de casa no meu quarto, antes de ir trabalhar.
Elle foi andando pela casa, mas quando passou pelo quarto dos pais, ela
parou e pensou se não devia entrar e dar uma olhada no pai. Talvez mais tarde.
Já estou bem deprimida sem isso.
Ela foi para o quarto e ligou o computador.
Quem eu mais amo? Ela pensou no tema da redação. A aula de inglês do
Evans era sua favorita, sem dúvida; queria ser escritora no futuro. Honestamente,
sabia a resposta. Sim, sentia-se um pouco traída pelo pai, no momento — a
pessoa que ela mais amava. Por mais que ele pouco falasse, sempre desejava a ela
uma boa aula, e essa teria sido a última vez. Ela decidiu deixar os sentimentos de
lado em prol das suas notas. Tinha feito metade da redação, mais ou menos,
quando olhou para o relógio e viu que precisava se arrumar para ir trabalhar.
Vestiu o uniforme, que odiava mais que sua vida, provavelmente. Estava
convencida de que ele devia ter uns vinte anos, já que o vermelho havia se
transformado em um cor de laranja queimado. Bom, eu tenho certeza de que era
vermelho, pelo menos.
Elle vestiu o casaco de lã, sua melhor compra no brechó beneficente até
agora.
Pronta, Elle saiu do quarto e foi até a cozinha.
— Ei, Josh. Como foi o primeiro dia? — Elle esquecia todos os problemas
quando via a carinha do irmão de oito anos.
— Tudo bem, acho. — Josh deu de ombros. — E o seu, Elle-bell?
Elle olhou para Josh com firmeza. Com exceção do cabelo loiro, era como se
estivesse olhando para um espelho por causa de sua expressão.
— Foi bom. — Ela decidiu que teria de conversar com ele em breve;
descobrir como estavam as coisas na escola de verdade. — Que cheiro bom, mãe.
Guarda um pouco para eu comer mais tarde?
— É claro, benzinho. Ah, seu pai está na sala. — Dessa vez, ela sorriu de
verdade.
Elle foi até a sala e ficou esperando o pai dizer alguma coisa, mas ele não
falou nada. Ela se dirigiu à porta, mas antes de sair, disse:
— Tudo bem na escola, pai. — Estava realmente desapontada. Não só ele
não havia desejado um bom primeiro dia, como era tradição, como agora nem
havia perguntado como tinha sido.
Elle deixou a mágoa de lado e saiu. O ar frio na pele a deixou contente. O
cheiro era sempre limpo e fresco. Tinha alguma coisa especial no som das botas
esmagando a neve que a animava instantaneamente.
Elle andou até o ponto de ônibus, e de lá o ônibus a levaria até o centro da
cidade. Quando embarcou, escolheu um assento ao lado da janela para olhar a
paisagem. Amava Kansas City, Missouri. Essa era sua casa. Porém, os últimos
anos haviam despertado nela o sentimento de que não cabia mais ali.
Talvez eu precise ir embora com a Chloe.
Seu ponto chegou, e ela desceu do ônibus e andou os poucos quarteirões até
a lanchonete. Enquanto andava, Elle não se incomodava com o barulho e o
movimento; gostava de ver as pessoas se preparando para a noite.
Porém, não demorou muito para ela notar os dois homens parados na frente
do hotel cassino Kansas City, ao lado da lanchonete. Um deles tinha bolsas sob
os olhos e parecia estar alterado. Olhava para trás a todo instante, como se
alguém pudesse atacá-lo a qualquer segundo. O outro falava com ele com ar
sério. Não dava para ouvir o que ele dizia, mas Elle sabia que ele tentava mantê-
lo sob controle.
Quando passou na frente deles, Elle ouviu o homem sério dizer:
— O chefe te deu uma tarefa. Não tem escolha.
O sotaque italiano e o barulho da cidade dificultavam a compreensão.
Elle continuou andando. Não queria saber o que falavam; não era da sua
conta.
Ela entrou na lanchonete e pendurou o casaco no cabide. Era uma
lanchonete velha que precisava de uma boa reforma. Todos os prédios do centro
eram velhos, mas alguns conservavam a elegância do passado. Como esse vestido
que sou obrigada a usar.
Elle não se importava de trabalhar. Era uma oportunidade para conhecer
pessoas que nunca teria conhecido em circunstâncias regulares, especialmente
com o hotel cassino no prédio ao lado. As gorjetas também eram boas. Ganhava
dinheiro suficiente para pagar o restante do valor da mensalidade no colégio.
Elle bateu o ponto e logo começou a servir as mesas. Segunda-feira era
sempre uma noite tranquila, porque todo mundo estava cansado do fim de
semana. Para ela, isso significava um expediente mais lento, que a obrigava a
ouvir os próprios pensamentos. Mas depois de hoje, não queria pensar.
Era uma das duas funcionárias escaladas para fechar a lanchonete esta noite.
Consequentemente, esperava que o movimento aumentasse logo, ou acabaria
enlouquecendo.
Mas o tempo passava, e Elle nunca se livrava dos pensamentos. Durante a
noite toda, a lanchonete teve só alguns poucos clientes de cada vez. Trinta
minutos antes da hora de fechar, ela começou a limpeza para deixar tudo pronto
para a manhã seguinte. Em pouco tempo havia terminado, e só faltava levar o
lixo para fora. Portanto, ela foi vestir o casaco e pegar a bolsa.
Depois, quando foi buscar o saco de lixo, passou pela cozinha e disse:
— Até amanhã, Steve. Boa noite. — Steve era o cozinheiro da lanchonete.
— Até mais, Elle. — Ele continuou limpando o fogão.
Elle saiu pela porta dos fundos para levar o lixo, e pretendia ir embora pela
viela entre a lanchonete o hotel cassino. Trancou a porta e jogou o lixo na
caçamba. Depois se virou e começou a andar em direção ao ponto de ônibus,
quando ouviu vozes na viela.
— Por favor, por favor, não me mata.
— Cala a boca, porra, antes que eu estoure sua cabeça aqui mesmo.
Elle correu e se escondeu atrás da caçamba. Sabia que não queria ficar frente
a frente com aquela voz.
Ela ouviu passos se aproximando.
— Tudo certo, chefe.
O grupo todo entrou na área atrás da lanchonete, e Elle espiou de trás da
caçamba. Estava muito escuro, mas ela conseguiu ver quatro homens, graças à
luz da lanchonete. Um vestia um terno caro e tinha o cabelo escuro penteado
para trás. Era um homem mais velho. Em circunstâncias normais, teria pensado
que ele era sexy e lindo, mas nesse momento ele a apavorava. Definitivamente,
era ele quem estava no comando.
Antes que eu estoure sua cabeça. É, era ele.
Ela notou que o homem imobilizado e mantido de boca fechada era o doido
que vira mais cedo, na porta do hotel cassino. Outro homem mais jovem o
segurava, e era quase tão assustador quanto o que estava no comando. Devia ter
uns vinte anos, mas poderia ser mais ameaçador que o chefe.
— Vai pegar o carro, Sal, e vai depressa.
Elle sentia arrepios cada vez que ouvia essa voz. O cara é pavoroso.
— É claro, chefe. — O terceiro homem não era tão assustador quanto os
outros. Mas poderia ser, se os dois Hannibals Lecters não estivessem ali.
Ele saiu correndo da viela.
Um minuto passou, e Elle notou que o coitado do homem sabia qual seria
seu destino. Talvez estivesse com mais medo que ela no momento. Movido pelo
instinto, tentava lutar contra o outro que o segurava, mordendo a mão que
cobria sua boca. O sujeito abaixou a mão antes que pudesse perder um pedaço
dela, e o imobilizado abriu a boca para gritar.
Mas antes que ele clamasse por ajuda, o Chefe tirou uma arma do bolso do
paletó. Elle não pôde mais olhar. Sabia o que aconteceria.
PÁ.
Não foi necessário mais que um.
Elle começou a hiperventilar e cobriu a boca, com medo de que a escutassem.
Sabia que seria a próxima se não ficasse quieta.
Um carro chegou derrapando, e ela ouviu o barulho de portas se abrindo e de
gente sendo enfiada no veículo. Antes de todas as portas estarem fechadas, o
carro se afastou cantando pneus.
Elle manteve a mão sobre a boca, enquanto os olhos se enchiam de lágrimas.
Tinha de sair dali, antes que alguém voltasse para cobrir as pistas. Você consegue.
Quando espiou novamente de trás da caçamba, não havia ninguém à vista.
Àquela altura, não podia mais perder tempo pensando; tinha de deixar o corpo
assumir o controle. Ela pulou de trás da caçamba e fez a única coisa que podia
fazer: correu como louca.
Sal parou o carro na frente da casa do chefe. Porra, ainda bem que estou em
casa. O cheiro de urina do corpo o enjoava.
— Sal, volta ao cassino e se livra das fitas, e trata de limpar o mijo do infeliz
do meu carro. — Não tinha sido uma boa ideia matar o idiota na viela onde ele
trabalhava, onde pessoas deviam ter ouvido o tiro e onde não tiveram tempo
para limpar o sangue, mas ele se convenceu de que não tinha escolha.
— Certo, chefe. Eu aviso quando terminar tudo.
— Lucca, se livra desse monte de merda e não volta para casa com esse
sangue na porra da camisa. Não sei que vadia você trouxe para casa hoje, mas ela
não vai precisar disso para ficar excitada. Capisce? — Estava furioso com o filho.
Ele não devia ter deixado o sujeito morder sua mão. Havia posto em risco tudo
que o chefe havia conseguido trabalhando a vida inteira.
O rapaz assentiu. O chefe percebeu que o filho estava desapontado com ele
mesmo. Só sabia porque via a mesma cara que ele mesmo fazia quando estragava
tudo. Seu filho ficava mais e mais parecido com ele a cada dia. Sabia que era tão
assustador quanto o pai; só faltava experiência.
Ele desceu do carro e entrou em casa. Precisava de uma bebida depois de
toda aquela confusão. Pegou a garrafa, serviu o líquido marrom em um copo e
foi pegar um charuto na caixa. Então sentou-se na grande cadeira de couro atrás
da enorme escrivaninha e começou a relaxar. Não havia nada como uísque em
uma mão e um charuto na outra para acalmar.
Uma hora depois, seus pensamentos eram menos sombrios. Levava uma vida
dura comandando a família e essa cidade; no entanto, não queria viver de outro
jeito. Seu lugar era no topo, e todo mundo sabia disso.
Batidas na porta arruinaram o momento de solidão.
Ele suspirou e disse em tom ríspido:
— Entra.
— Chefe, as notícias não são boas. — Sal segurava um laptop.
Ele apertou a região entre os olhos com o polegar e o indicador e entregou o
copo a Sal.
— Serve uma dose do tamanho da porra da má notícia.
Sal obedeceu rapidamente e serviu meio copo. Depois de um segundo,
mudou de ideia e completou com uísque até a borda.
— Cacete, Sal, traz a merda do copo e dá logo a má notícia. — O chefe sabia
que, pelo jeito, não era nada que quisesse ouvir.
— A boa notícia para você, chefe, é que sentou no banco da frente. — Sal
abriu o laptop e pressionou uma tecla.
O chefe sabia exatamente o que estava vendo, eram as imagens de uma
câmera de segurança na viela. Para sorte dele, a câmera também capturava a área
atrás da lanchonete ao lado de seu cassino.
Os primeiros segundos não mostraram nada. Era quase como se Sal não
tivesse apertado o play ainda. Depois uma garota saiu pela porta dos fundos da
lanchonete com um saco de lixo, que jogou na caçamba. Um segundo depois, ele
a viu correndo para trás da caçamba e para a escuridão. Não dava mais para vê-
la.
— Merda.
— Ah, espera, chefe, vai melhorar. — O chefe não gostou nada desse tom.
Ele assistiu todo o desenrolar do assassinato. Nada de novo; sabia o que havia
acontecido. Bebeu a dose toda de uma vez só. Sabia exatamente o que ia
acontecer assim que o carro partisse, e é claro que a garota saiu correndo de trás
da caçamba como ele imaginava. E desapareceu.
Sal fechou o laptop.
— Quem é? — Era melhor Sal ter boas respostas.
— Elle Buchanan. Trabalha na lanchonete. Mas temos outro problema,
che...
— Porra, Sal, quanto essa merda toda ainda pode piorar? — O assunto
estava resolvido. Sabia que a menina ia morrer, que outro problema podiam ter?
— Ela é aluna do último ano da Legacy, chefe. Vai fazer dezoito anos no mês
que vem. Sei que você é contra atacar menores de idade, mas ela é praticamente
uma adul...
— O que foi que acabou de dizer? — Não gostava do que tinha ouvido. Essa
família era regida por regras, e nem ele mesmo gostava da ideia de quebrar as
regras da família. Além do mais, de todas as regras, essa era uma que ele jamais
desrespeitaria.
— Desculpa, chefe. Não devia ter falado nada. Só queria proteger a família.
— Sal começou a ficar nervoso; ninguém nunca desrespeita o chefe.
Ele se levantou e encarou Sal. Contraindo a mandíbula, disse:
— Eu decido como proteger essa família, capisce?
Sal engoliu em seco e assentiu.
— Capisce. Então, como vamos resolver isso?
Ele foi servir mais uma dose.
— Deixa o laptop aí. Eu destruo a fita e cuido disso pessoalmente.
Sal saiu da sala. Se o chefe dizia que ia cuidar de tudo, ele ia cuidar de tudo.
Com o copo cheio, ele voltou a sentar atrás da mesa. Tinha uma ideia. Não
só podia cuidar da garota, como teria uma chance de testar a lealdade de um
soldado.
Ele pegou o celular e, depois de dois toques, ouviu um grito agudo de
mulher do outro lado.
— Manda a garota embora. Tenho um serviço pra você, filho. — E desligou.
O grito da mulher ajudou a cristalizar a ideia de que o filho poderia cumprir
essa missão. Descobriria o que a menina tinha visto, exatamente, e se alguma
coisa teria que ser feita com ela em seu aniversário de dezoito anos.
Alguém bateu na porta pela segunda vez naquela noite, e seu filho, diferente
de Sal, não esperou uma autorização para entrar. O chefe estudou Nero ao vê-lo
entrar. O cabelo escuro estava molhado, e ele exalava cheiro de sexo. Pela
primeira vez naquela noite, o chefe sorriu de verdade.
Ele é a pessoa certa para esse serviço.
Elle entendia o maluco. Estava se tornando uma pessoa enlouquecida.
Ela correu para o ponto de ônibus tanto quanto as pernas aguentaram, e quando
estava dentro do ônibus, começou a olhar para todo mundo à sua volta,
pensando se alguém a mataria ali mesmo. Quando desceu, correu o mais
depressa possível de novo até chegar à porta de casa.
As mãos tremiam tanto, que ela quase não conseguiu destrancar a porta.
Teve de tentar algumas vezes, antes de encaixar a chave na fechadura. Depois
entrou, bateu a porta e usou todas as trancas. Em seguida, ficou parada, olhando
pelo olho mágico por uns cinco minutos. Sentia que alguém estava atrás dela.
— O que está faz...?
Elle deu um pulo e um grito tão alto, que praticamente molhou a calça.
— Jesus, pai, quase me matou de susto.
— O que está olhando lá fora? Alguém te seguiu?
Sentiu que o pai começava a se preocupar.
— Não, é claro que não. Achei que tinha visto... um cachorro grande, ou
alguma coisa assim. — Ela espiou pelo olho mágico de novo. Beleza, é a última
vez.
— Bom, seja o que for, não vai passar pela porta fechada.
Elle forçou uma gargalhada.
— É, tem razão. — Agora é a última vez mesmo.
E espiou pelo olho mágico.
— Eu ia esquentar um pouco do que sobrou do jantar. Quer comer comigo?
Sei que não come a comida da lanchonete. — Ele estava certo, mas assistir a um
assassinato tinha acabado com seu apetite. Para sempre.
— Não, obrigada, não estou com fome. Não estou me sentindo muito bem,
pai. — Só queria ir para o quarto.
— Elle, por favor. — A cara dele impossibilitava uma resposta negativa.
— Tudo bem, pai. Quer que eu te leve? — Elle sorriu como pôde. Quando
o pai assentiu, ela segurou as manoplas da cadeira de rodas e o empurrou pela
sala de estar até a cozinha, onde o pôs perto da mesa. — Vou fazer seu prato.
Ela pegou na geladeira as sobras do jantar, frango frito e purê de batatas,
aqueceu no micro-ondas e deixou o prato diante dele com um garfo.
— Desculpa por hoje, Elle. A noite passada foi terrível para mim. Não estava
aguentando e acabei tomando o analgésico. Apaguei o dia inteiro. — Ele pegou
o garfo.
— Tudo bem, pai. Sei que isso tem sido complicado para você nos últimos
anos. — Elle entendia de verdade. Perder a capacidade de andar era algo com
que ela nunca teria sido capaz de lidar.
— Não é desculpa para me entupir de remédio até apagar. Prometo que vou
tentar ser melhor. — E a encarou. Dessa vez, precisava ter certeza de que ela
acreditava nele.
De vez em quando, isso acontecia. Em intervalos de alguns meses. As dores e
o sofrimento mental o derrubavam, e ele acabava tomando os comprimidos.
— Eu sei, pai. — Elle tocou seu ombro. Queria muito acreditar nele.
O pai pegou uma coxa de galinha e mordeu.
Ai, caramba.
— Tem certeza de que não está com fome, Elle? Parece que não come há
dias. — E limpou a boca com o dorso da mão.
Acho que vou vomitar.
— Não sinto muita fome. Acho que estou virando vegetariana. — Elle
levantou da mesa. Tinha de sair dali. — Boa noite, pai.
— Boa noite, Elle-bell.
Se não estivesse quase vomitando depois do que tinha visto naquela noite,
Elle estaria feliz. Amava o pai mais que qualquer outra pessoa, e odiava quando
ele decidia ser outro alguém, mesmo que fosse só por um dia. Antes, eram meses.
Quando finalmente chegou ao quarto, ela tirou o uniforme e vestiu o pijama.
Deitou na cama e ficou olhando para o teto.
Que diabo acabou de acontecer? Elle não sabia o que fazer.
Chamar a polícia? Sabia que nem todos os policiais do mundo a salvariam
daquele homem. Teria de entrar para o programa de proteção à testemunha, e
mesmo assim ele a encontraria, provavelmente.
Sair da cidade? Chloe ficaria sem proteção.
Não. Contar aos pais? Sabia que eles chamariam a polícia ou sairiam da
cidade.
Então, é evidente que minha única opção é fingir que isso não aconteceu. Pelo
menos até ele me encontrar. Quem é ele?
Precisava descobrir quem ele era para poder se preparar. Elle decidiu rever o
que tinha acontecido. Era difícil, já que a única coisa que conseguia lembrar era
o barulho do tiro.
Então uma palavra começou a se destacar em sua cabeça: Chefe. Lembrava
que o homem menos assustador o tinha chamado de chefe. Chefe? Depois, outra
lembrança se destacou. “O chefe te deu uma tarefa. Não tem escolha.” O maluco
estava apavorado. Sabia qual seria seu destino horas antes. Um homem adulto
morrendo de medo dele. O chefe, tarefa, sem escolha.
Puta merda, acabei de ver alguém sendo passado!
Desde que nasceu em Kansas City, Elle ouvia fofocas e histórias sobre a
cidade ser uma das capitais da máfia dos Estados Unidos. Mas achava que isso
era coisa de filme, só boatos.
Ela fechou os olhos e se esforçou para recuperar a imagem do chefe. Viu um
homem maduro, de cabelo escuro e bonito vestido com um terno.
Ai, meu Deus, eles até usam terno.
Elle entendeu que tinha acabado de ver o chefe da máfia de Kansas City —
que ele era o mandachuva, passando gente e tudo mais.
Eu estou muito ferrada.
Elle eestava na aula de inglês e quase não ouviu o sr. Evans falando com a
turma. Com tudo que havia acontecido na noite anterior, havia esquecido de
terminar a redação. A manhã toda estava estranha, confusa a ponto de nem
lembrar direito como tinha ido parar ali.
— Elle, Elle, Elle? — Ela olhou para o sr. Evans.
— Hum... hã? — E continuava perdida.
— Trouxe o trabalho que eu pedi?
Elle sentia que todos olhavam para ela. Sabia que isso serviria para alimentar
o bullying.
— Trabalho? Não, desculpa. — Ela viu o professor seguir para o próximo
aluno.
Quando o sr. Evans voltou à frente da sala, ela notou que a cadeira onde
Cassandra havia sentado no dia anterior estava vazia. Olhou em volta, pensando
que talvez ela tivesse mudado de lugar.
Hum, Cassandra não veio?
Só podia ser uma bênção, já que ela nunca perdia um dia de aula. Nunca. Se
uma garota como ela perdia um dia, sentia que havia perdido um ano de vida.
Cassandra tinha de se meter nos assuntos de todo mundo, por isso faltar um dia
de aula significava perder alguma coisa que podia ser boa.
Elle ainda sentia que todo mundo olhava para ela. E olhou em volta de novo.
Mas não viu nada de diferente. Não era alvo de nenhum interesse em particular,
especialmente agora, depois que o sr. Evans havia estipulado a política de
proibição de bullying em sua aula.
Elle ouviu o sinal e olhou para o relógio.
Nossa, próxima aula já?
Chloe e ela pegaram o material e começaram a caminhar para a porta.
— Elle, posso falar com você um segundo?
Olhou para Chloe, torcendo para ela entender que era para esperar ali.
Depois se dirigiu à mesa do professor.
— Sim?
— Você não é tipo de aluna que deixa de entregar tarefas.
— Não passei muito bem ontem à noite. Estômago. Fiz a metade da redação
antes de ir trabalhar, mas quando cheguei em casa, estava enjoada demais para
terminar. Desculpa. — Esperava que ele acreditasse nisso. Era a pura verdade,
sem os detalhes sangrentos.
— Tudo bem. Não vou dar nota mesmo. Só queria saber o nível de escrita
de cada aluno. Vou pressupor que você está na média, pelo menos, já que espera
ser escritora.
Elle deduziu que ele acreditava em sua justificativa. O sr. Evans era muito
bom para identificar mentiras.
Bem, noventa e nove por cento dos adolescentes mentem sobre os motivos para não
terem feito a lição de casa.
— Obrigada, sr. Evans. Muito obrigada. — Elle percebeu que o professor era
um cara legal. Nenhum outro fez por ela e Chloe o que ele tinha feito.
Ao pensar em Chloe, ela olhou para trás para ver se estava onde a deixara.
Não estava. Droga, por que ela fez isso?
Era hora de ir embora. Elle se dirigiu à porta.
— Que isso não se repita, Elle.
Ela não se incomodou em responder. Apenas saiu e foi para a sala de pré-
cálculo.
Acho bom ela ter ido para a sala.
Andando apressada, sentiu alguém tropeçar nela. Estava tão preocupada com
Chloe, que não verificou quem estava no corredor para estragar seu dia.
Ao sentir os braços em torno de sua cintura, impedindo que caísse, ela teve
de levantar a cabeça para ver quem a culparia pela trombada. Nero. Que
maravilha, não podia ser mais ninguém.
— Desculpa, foi sem quer...
— Por que está se desculpando?
Ele nunca reconheceu sua presença no colégio, nunca falou com ela. Pior, os
braços continuavam em torno de sua cintura. E, ela percebeu, de perto sua voz
era mais profunda. Não gostava de estar tão perto dele. Tentou se afastar, mas
ele não a soltava.
— Fala por que pediu desculpas, e eu te solto.
Ela o encarou, temendo que ele a atacasse de início, mas não havia nenhum
sinal de malícia em seu rosto. Só curiosidade. Elle não sabia o que dizer. Em
parte porque não sabia o que a tinha feito pedir desculpas, em parte porque
estava abalada com o rosto bonito e a voz profunda.
— Eu... não sei por que me desculpei. Instinto, acho. — Falava para o peito
dele; não conseguia encará-lo estando assim tão perto.
Depois de alguns segundos, ela sentiu os braços dele caindo e jurou que,
antes de soltá-la, as mãos deixaram nela uma marca mais forte. Elle olhou para
ele de novo. Seus olhos eram muito verdes. Nunca tinha visto olhos
naturalmente verdes antes.
— Faz um favor, não pede desculpas para ninguém que não mereça.
Entendeu? — Ele exigia uma resposta.
Elle não gostava de exigências.
— Não mereço um pedido de desculpas, então?
Nero sorriu e deu um passo na direção dela.
— Não sinto muito. — E o encarou.
Isso está acontecendo?
Não tinha escutado o sinal, e só agora notava que não havia ninguém no
corredor. E quando notou, ela começou a se sentir incomodada. Não gostava de
como Nero a fazia sentir.
— É melhor eu ir para a aula. — Elle precisava ter certeza de que Chloe
estava bem.
Ela se afastou depressa, muito incomodada. Mais ainda, sentia que Nero a
observava, o que a deixava ainda mais perturbada.
— Na próxima vez, olha por onde anda. — Não precisou se virar para ver
que ele estava sorrindo.
Elle chegou à sala de pré-cálculo e, aliviada, viu que Chloe estava lá. Ela não
vai acreditar que a porra do Nero Caruso falou comigo.
Elle decidiu esperar até a hora do almoço para contar a Chloe o que
havia acontecido no corredor, já que qualquer pessoa poderia ouvir a conversa
entre elas na sala de aula.
Descobriu que, sem Cassandra, ninguém prestava atenção nas duas. Era
como se fossem invisíveis. Algumas pessoas achavam que nada podia ser pior que
ser invisível, mas Elle e Chloe certamente gostavam de não ser notadas. Era
como se estivessem de férias. Ah, daria qualquer coisa para ser Gasparzinho, o
Fantasma Camarada e se livrar dos dias de bullying. Quem nunca passou por
isso jamais vai entender o que ela e Chloe enfrentavam cinco dias por semana.
Antes que Elle percebesse, faltavam cinco minutos para o almoço. Não tinha
nem pensado no assassinato desde o intervalo, quando Nero a atropelou no
corredor. Queria saber o que isso significava, mas tirou esse pensamento da
cabeça rapidamente.
Eu devia estar em um hospício, porque nunca estive mais feliz. Agradecia a Deus
por Cassandra não estar no colégio, qualquer que fosse o motivo.
O sinal do almoço tocou, e Elle e Chloe saíram da sala. Assim que chegaram
ao corredor, Chloe falou:
— Este é o melhor dia da minha vida! — Pela primeira vez em anos, Elle viu
Chloe sair pela escola, e no corredor.
— Eu sei. É realmente o melhor dia. Por que será que Cassandra não veio?
— Quem liga? Nunca pensei que uma pessoa fosse o único motivo para o
colégio ser esse pesadelo para nós. — Adorava ver Chloe desse jeito.
— É, nem eu. — Elas entraram na cantina e estudaram as opções. E
escolheram a fila menos intimidadora, porque não queriam abusar da sorte.
Hambúrguer de frango, é isso.
As duas pegaram a comida e foram sentar à mesa de sempre, e então Elle se
inclinou e disse:
— Preciso te contar o que aconteceu hoje de manhã, quando você me
deixou. Aliás, qual é? Por que fez aquilo?
— Porque o sr. Evans disse que precisava falar com você, não comigo. Eu
sabia que era sobre não ter entregado a lição. Ele não ia falar na minha frente,
você sabe. — Chloe pegou uma batata frita e pôs na boca. — Ah, e por que não
entregou o trabalho? Era a primeira tarefa do semestre.
— Passei mal. Olha só, preciso te contar uma coisa. Não vai acreditar em
quem falou comigo e disse que não devo ped...
— Passou mal? Sério, é essa a desculpa que vai me dar? Espero que não tenha
usado essa com ele.
— Ah, sim, passei mal. É verdade, e ele acreditou em mim. Por que está
duvidando?
— Provavelmente, porque você nunca deixou de entregar uma tarefa, e passa
mal o tempo todo. Você vive doente. Não tem um vírus em circulação por aí
que você não pegue.
Elle encarou Chloe. Ela estava certa; vivia doente. Sua amiga não ia aceitar a
conversinha do mal-estar. No entanto, não podia contar que tinha visto um
homem ser assassinado na noite passada. Nunca poderia contar a ninguém o que
havia acontecido. Assistiu a muitos filmes... Quanto menos se soubesse, melhor.
Ninguém machuca alguém para arrancar da pessoa informações que ela não tem.
— Bom, foi diferente. — Esperava que Chloe aceitasse essa desculpa. Queria
mudar de assunto, falar sobre alguma coisa que pudesse contar a ela.
Ela olhou para a mesa do Nero. Ele não estava lá.
Hum, ele sempre está aqui.
— Ei, gata, posso sentar aqui?
Elle virou a cabeça e o viu parado, segurando uma bandeja. Ele realmente
perguntou isso, e realmente me chamou de “gata”?
— Está falando sério? Sentar aqui? — E apontou para a cadeira a seu lado.
— Sim, eu falei com você, não falei? — Nero era um engraçadinho,
decididamente.
Elle olhou para Chloe, que estava de boca aberta. Sabia que ela não queria
ninguém ali, perto dela; Chloe não gostava de pessoas novas.
Além do mais, no momento em que a palavra “gata” saiu daquela boca, ela
tomou sua decisão. Não interessa se é uma boca bonita.
— Não, é claro que não falou comigo, porque meu nome não é “gata”.
Aposto que nem sabe meu nome. Então, não, não pode sentar aqui, Nero. —
Era a primeira vez que dizia o nome dele, a primeira que percebia, pelo menos. E
tinha certeza de que ele não sabia qual era seu nome.
Nero estava chocado com a resposta, era evidente. Ele deve pensar que é só
chamar uma garota de “gata” e pronto, consegue tudo que quer.
— Tudo bem, gata. Vou sentar lá, por enquanto. Eu posso esperar. — E
Nero se afastou. Elle não teve tempo para pensar em uma resposta.
O que ele acabou de dizer? Quando o viu seguir para sua mesa de costume,
Elle notou que todo mundo estava olhando para ela, principalmente as garotas.
Olhou para Chloe, cuja boca ainda estava aberta. Assim que finalmente
conseguiu engolir a comida, ela começou com o interrogatório.
— Não acha que podia ter me avisado?
— Jesus, Chloe, tentei contar duas vezes, mas você me interrompeu. Falei
que você não ia acreditar em quem tinha falado comigo.
— Então conta!
Chloe a sacudiria, se ela não dissesse tudo.
— Depois da conversa com o sr. Evans, fui para o corredor, e ele tropeçou
em mim. Tentei pedir desculpas, mas ele falou para eu não me desculpar por
algo que não tinha feito. Ele falou comigo, e não foi maldoso. — De repente,
Elle se sentiu um pouco mal por ter conversado com ele, mas pensou melhor.
Quero dizer, e se ele está tentando me fazer cair em uma pegadinha, ou alguma coisa
assim?
— Não acredito. Nero é... legal?
— De jeito nenhum. Ele é... — Elle olhou para Nero. Ele era perfeito, pelo
menos por fora. Mas nunca tinha falado com ela antes. Tinha certeza de que
havia dormido com metade das garotas do colégio, portanto não sentia falta de
companhia, o que deixava apenas duas opções. Ele queria dormir com ela ou
fazer alguma coisa terrivelmente cruel.
De qualquer forma, ele não vai me enganar.
— Ele quer alguma coisa, mas não vou descobrir o que é. Sei exatamente
quem é Nero Caruso, e “legal” é a última palavra que eu usaria para descrevê-lo.
— Sim, mas não está nem um pouco curiosa? — Chloe levantou a
sobrancelha direita. Tinha uma falha nela no local da cicatriz. Elle notou que ela
havia penteado o cabelo para trás da orelha. — Eu estou. — Não a via feliz desse
jeito há muito tempo. Odiava pensar que Cassandra voltaria no dia seguinte e
estragaria tudo. Chloe merecia ser feliz.
— Não, não estou. — Elle nem percebeu que mentia para si mesma naquele
momento.
Quando as duas terminaram de almoçar e foram para a aula de inglês, Elle
ainda estava espantada com a audácia de Nero.
“Tudo bem, gata. Vou sentar lá, por enquanto. Eu posso esperar.”
Quem ele pensa que é? Ah, é verdade, o rei de Legacy Prep. Elle não queria saber
se ele era o rei do mundo, sentia que havia uma segunda intenção.
Tipo, por que agora? Por que ele quer falar comigo agora?
Antes que Elle percebesse, era hora da última aula do dia. Elle acompanhou
Chloe até a sala dela e seguiu em frente andando depressa, ainda preocupada,
mas menos que nos outros dias.
— Fica aqui e me espera. Não vamos tentar bancar as ousadas só porque
Cassandra não está aqui. Ela é a líder do grupo, é claro, mas você sabe tão bem
quanto eu que ela não é a única que gosta de infernizar nossa vida.
Elle olhou para Chloe. Queria ter certeza de que ela entendia bem a situação.
— Eu sei. Vou ficar esperando aqui.
Ficou satisfeita por saber que a amiga também não queria correr riscos.
— Tudo bem, te pego mais tarde. — Elle começou a andar na direção de sua
sala.
Quando chegou lá, sentou-se à mesma mesa que havia ocupado no dia
anterior. Ainda queria sair assim que ouvisse o sinal. Não confiava em ninguém
nessa escola, além de Chloe.
Ao sentir que alguém sentava a seu lado, Elle virou-se e viu Nero dividindo a
mesa com ela.
— O que está fazendo?
Nero sorriu.
— Sentando. Decidi não ser legal e pedir sua permissão.
Elle olhou em volta e viu que as seguidoras da Cassandra estavam furiosas.
Todos os outros alunos estavam completamente confusos.
Tão confusos quanto eu.
— Acho que não é uma boa ideia. Seu status está despencando a cada
segundo que passa sentado aqui. — Elle adotou seu tom mais sarcástico.
Ele riu.
— Acha que eu ligo para o que as pessoas pensam?
Ela o encarou. Tipo, olhou para ele de verdade. Nero era muito mais alto
que ela, mas quando estavam sentados, ela não precisava olhar para cima para ver
seu rosto. Um rosto de pele morena e bem barbeado, mas ela não saberia dizer se
ele poderia ter uma barba, como qualquer homem mais velho. Alguma coisa em
seus olhos a intrigava; era como se fossem esmeraldas.
— Não, é claro que não.
Assim que Elle foi ao fundo da sala para pegar seu cartaz, Nero a seguiu.
Encontrou o dele primeiro e voltou para a mesa. Elle pegou seu cartaz vazio e
também voltou. Deixou o cartaz sobre a mesa e sentou-se.
— Por que não desenhou nada?
— Porque não decidi o que fazer.
— Sabe que só precisa rabiscar ou colar umas coisas de que gosta, não sabe?
— Sim, eu sei. — Elle olhou para o cartaz e mordeu o lábio. Quem sou eu?
— Está pensando demais nisso. O que te faz feliz?
Elle olhou para Nero. Dava para ver que ele estava confuso sobre por que ela
não sabia o que pôr no cartaz. Jurava que ele parecia quase preocupado.
O que me faz feliz? Nunca tinha pensado nisso. Muitas coisas em sua vida a
incomodavam. No entanto, sabia a resposta: era como se mantinha equilibrada.
Elle abriu a mochila, pegou um papel pautado e uma caneta.
Olhou para Nero, e pela primeira vez sorriu para ele.
— Obrigada.
Ele passou um braço sobre o encosto da cadeira dela.
— Não foi nada, gata.
E aí ele estraga tudo.
— Não fala comigo desse jeito. Você deveria voltar. — Ele inclinou a cabeça
para mostrar a mesa em que ele havia sentado no dia anterior. As duas garotas a
esfaqueavam com os olhos. — Além do mais, acho que tem gente sentindo falta
de você as chamando de “gata”.
— É, e você sabe muito bem disso. Percebi que ontem ficou me olhando.
— Eu não sei...
Nero segurou sua nuca e a fez olhar para ele.
— Não mente para mim. Nem agora, nem nunca. — Seu tom profundo
ficou sério, e os olhos exigiam uma resposta.
Elle só conseguiu assentir, e a boca começou a ficar seca. Não tinha medo
dele. Mas deveria ter, provavelmente.
— Muito bem. Agora é aqui que eu vou sentar, mesmo que você ache ruim.
Entendo se não quiser que eu sente com você no almoço, por enquanto, mas não
me peça para mudar de lugar de novo.
Depois de um segundo, ela respondeu:
— Tudo bem.
Elle tentou dar a impressão de que permitia que ele sentasse ali, mas sabia
que não era bem assim, pelo jeito como ele sorria. Babaca arrogante.
Ignorou o garoto a seu lado e finalmente conseguiu começar a encher o papel
com palavras. Sempre adorou escrever; ajudava a fugir de tudo que a
incomodava, e ela tinha muitos problemas.
De vez em quando, podia sentir Nero olhando para ela. Era estranho sentir
esse olhar. Não conseguia descrever a sensação, porque nunca a teve antes.
Nenhum menino jamais havia olhado para ela ou prestado atenção nela no
colégio. Agora, em um dia, Nero estava falando com ela e escolhendo sentar ao
lado dela. Não sabia como se sentia em relação a isso.
Suas emoções estavam desgovernadas nos últimos dois dias. Por causa disso,
Elle continuava fazendo o que estava fazendo... escrevendo.
— Pode me emprestar sua caneta um segundo? — Nero estendeu a mão.
— Sim, é claro. — Ela entregou a caneta e o viu desenhar alguma coisa no
cartaz, mas não conseguiu ver o que era.
— Sabe, no armário de material tem canetas muito melhores. As palavras vão
se destacar mais se usar uma caneta melhor.
Elle percebeu que Nero passaria um tempo com sua caneta, por isso se
levantou e foi até o armário no fundo da sala, um espaço com várias prateleiras.
Nem imaginava onde estavam as canetas.
— Aqui. — Elle sentiu o corpo de Nero atrás do dela quando ele estendeu o
braço e pegou alguma coisa em uma das latas na prateleira mais alta, uma caneta
que entregou a ela. Deu um meio sorriso e começou a se afastar do closet, mas
alguma coisa a incomodava; precisava saber um pouco sobre ele, porque, no
momento, não fazia nenhum sentido ele falar com ela.
Elle decidiu virar e perguntar diretamente, olhando em seus olhos.
— Por que agora? Nunca tinha falado comigo, e agora está agindo como se a
gente tivesse acabado de se conhecer, ou alguma coisa assim.
— Quer mesmo saber?
Elle engoliu em seco. Provavelmente, não queria, mas precisava saber. Ela
assentiu e olhou para o peito dele.
— Muito bem. — Ele fechou a porta do closet e deu um passo na direção
dela.
— O... o que está fazendo? — A cada palavra que dizia, ela dava um passo
para trás. Nero dava mais um passo na direção dela, até que ela ficou
encurralada, com as costas contra a parede.
— Ontem eu vi você olhando para mim e Cassandra, e mais tarde vi você
olhando para mim de novo, quando estava no estacionamento com a Stephanie.
— Mais um passo, e a distância entre eles desapareceu. — Normalmente, as
pessoas se sentem pouco à vontade. Nem olham na minha direção. — Nero se
inclinou, e por um momento Elle pensou que ele a beijaria; em vez disso, a boca
se aproximou de sua orelha. — Mas você não conseguia parar de olhar. — As
palavras aqueceram a pele, e o calor se espalhou pelo resto do corpo.
Ele segurou seu queixo para forçá-la a olhar em seus olhos.
— Tem alguma coisa querendo sair... — O dedo deslizou por seu rosto e
parou um pouco acima da curva dos seios. — E eu quero ser o cara que vai trazer
isso para fora, Elle. — Ouvir seu nome a tirou do transe em que ele a havia
posto.
Ele sabe meu nome?
Nero levou a mão às costas dela, na altura da cintura, e girou a maçaneta,
recuando para ela ter espaço para se afastar da porta. Elle se soltou, e o calor
desapareceu de seu corpo. Mas não entendia por que se arrependeu
imediatamente de se afastar.
Quando ele abriu a porta para ela poder sair do closet, Elle ficou
constrangida com todos os olhares. Tinha certeza de que as ajudantes da
Cassandra estavam pensando em mil maneiras para ela morrer, a julgar pela cara
delas.
Elle voltou à mesa, mas antes de sentar-se, o sinal tocou. Hora de ir, graças a
Deus.
Elle pegou a mochila e correu para a porta, saiu tão depressa, que nem viu a
expressão de Nero. Ele estava completamente confuso.
Elle seguia apressada pelo corredor sem saber se corria para Chloe ou para
longe de Nero. Para Chloe, com certeza. Elle pensou mais um pouco. É, para
Chloe!
Ela chegou à sala de Chloe ansiosa para sair de lá.
— Pronta?
— Sim. Você está bem? — Chloe parecia preocupada.
— Hum, sim, por que não estaria? Vem, vamos embora! — Elle quase
segurou a mão de Chloe, mas parou antes do contato. Chloe levou a mão ao
peito e olhou para o chão. — Desculpa, Chloe...
— Tudo bem, vamos embora. — Ela passou por Elle e começou a andar em
direção à saída.
Elle a viu passar por ela. Merda.
De vez em quando, Elle esquecia os problemas e o passado de Chloe, até
estar a um centímetro de tocá-la, e então as lembranças voltavam. E sabia que
não voltavam só para ela, mas para Chloe também.
Elas chegaram ao estacionamento, e Elle teve uma sensação de déjà-vu. Vezes
dois, aparentemente.
As duas bonitinhas e burras estavam apoiadas no carro de Nero. Elle sentiu o
estômago revirar enquanto andava o mais depressa que podia para o carro de
Chloe, passando por ela e chegando primeiro ao automóvel. Desesperada para
entrar no carro, ela tocou a maçaneta.
Levantou a cabeça e só viu a nuca de Nero, que conversava com as garotas.
Podia ver o rosto delas, no entanto, e preferia não ter visto, realmente.
Quando Chloe destravou as portas, Elle praticamente se jogou para dentro
do automóvel, olhando diretamente para frente. Não ia virar a cabeça, de jeito
nenhum. A sensação de enjoo começou a subir devagar.
Chloe ligou o carro e começou a dar ré. Girou o volante e seguiu para a saída
do estacionamento, obrigando Elle a olhar para uma coisa que ela não queria ver:
um par de pernas sobre saltos altos entrando no Cadillac de Nero. Pelos sapatos,
Elle soube que quem ia para casa com ele hoje era a Bonitinha e Burrinha
Número Um.
Elle tocou o peito; a sensação tinha encontrado seu alvo.
Elle precisava ir trabalhar naquela noite, infelizmente. Se quisesse ficar e
proteger Chloe, tinha de continuar trabalhando. Se tivesse se demitido na noite
do assassinato, bem, teria sido como telefonar para o chefe e contar que havia
testemunhado tudo.
Durante toda a noite, Elle observou a lanchonete e olhou com atenção para
todos os rostos. Precisava ter certeza de que nenhum dos três homens estava ali
esperando por ela. Depois, cada vez que alguém entrava na lanchonete, ela
estudava o rosto do recém-chegado. Fez isso muitas, muitas vezes.
Foi servir café para dois homens sentados em uma das mesas. Já os havia
visto muitas vezes na lanchonete.
Quando estava enchendo a xícara do homem loiro, ele perguntou:
— Ouviu alguma coisa sobre alguém ter levado um tiro ontem à noite?
Não era a primeira vez que ela ouvia essa pergunta; devia ser a
quinquagésima. Aparentemente, era algo especial ir a um lugar onde um possível
assassinato havia acontecido. Todo mundo queria saber o que havia acontecido.
Parecia o colégio. Acho que nunca vou escapar disso.
Elle repetiu a mesma história que tinha contado a todo mundo, inclusive aos
policiais. Eles, é claro, tinham feito algumas perguntas, já que ela havia sido
encarregada de fechar a lanchonete na noite anterior.
— Sim, fiquei sabendo hoje, quando cheguei para trabalhar.
Ele tomou um gole de café, enquanto ela enchia a xícara do outro homem.
O de cabelo castanho perguntou:
— Então, não estava aqui ontem à noite, quando aconteceu? — Sua
expressão dizia que estava só fazendo uma pergunta, não estava preocupado. Elle
sentiu os braços arrepiados, mas manteve a calma.
— Eu trabalhei ontem à noite, na verdade. Fechei a lanchonete. Os policiais
disseram que deve ter acontecido logo depois que eu saí. — Elle fez questão de
mencionar os policiais. Agora eles sabem que não abri a boca.
Os dois homens se olharam por uma fração de segundo, confirmando o
receio de Elle. Eles trabalhavam para o chefe.
O homem sorriu.
— Você é uma garota de sorte. Teria sido horrível ver uma coisa assim na sua
idade.
Muita sorte. Elle sorriu de volta.
— É, com certeza eu teria perdido uns parafusos, se visse algo assim. Querem
alguma coisa?
Elle só conseguia manter a calma porque eles nem imaginavam a história
toda. É claro que eles não têm problema nenhum em matar. Caso contrário, eu já
estaria morta.
— Não, obrigado. — Os dois levantaram, e um deles deixou duas notas em
cima da mesa. — Se cuida.
Elle sorriu e assentiu, depois os viu sair, e só então voltou a respirar. Graças a
Deus.
Elle acreditava que estava livre. Por enquanto, pelo menos.
Nero sentiu o telefone vibrar em sua mão. Virando-o, leu as palavras: Que tal uma
troca?
Nero ficou intrigado. O que você quer?
Um minuto depois, leu: Se você quiser meu horário, vamos ter que chegar cedo à escola,
antes da Chloe.
Nero gostava de saber que Elle se importava tanto com a amiga. Isso
mostrava que ela era leal. No entanto, lealdade não mudava o fato de ele não
gostar da ideia. Nunca foi uma pessoa matinal. Já precisaria se levantar cedo para
pegar Elle e levá-la à escola. De jeito nenhum acordaria tão cedo. Decidiu
contra-atacar.
Elle sentiu o telefone vibrar no avental enquanto servia café em uma das
mesas. Ia ganhar uma boa gorjeta esta noite; a lanchonete estivera cheia
praticamente a noite toda. Ela foi até o balcão e pegou o telefone, sem entender
por que tudo tinha que ser tão difícil com Nero. A mensagem era breve: Vou dizer
ao Amo para chegar cedo. Ele pode vigiá-la.
Elle não sabia por que estavam discutindo. Era ela quem tinha a agenda. Sem
agenda, então. E apertou a palavra enviar.
Elle tinha enchido as xícaras de café até a borda quando a mensagem seguinte
chegou. Ninguém para cuidar da Chloe, então.
Elle resmungou um palavrão. Devia ter pensado que ele usaria a segurança de
Chloe contra ela.
Decidiu enviar uma mensagem para Chloe primeiro. Amo estará na escola antes de
você. Fique com ele até eu chegar, ok?
Ela foi anotar o pedido de um de seus clientes habituais. Sempre gostava
quando ele aparecia. Ele contava piadas engraçadas e dava boas gorjetas.
Depois de fazer o pedido, ela leu a mensagem de Chloe. Por favor, não, Elle. Eu vou
ficar bem.
Elle pensou um pouco. Não, ela não ia ficar bem.
Mandou outra mensagem para Chloe. Cassandra pode estar de volta amanhã. Amo vai
encontrar você na sua vaga no estacionamento, certo? Você sabe que é o melhor a se fazer.
Depois de levar o pedido de uma das mesas, ela voltou ao balcão e riu da
resposta de Chloe. Saco, ok!!
Elle decidiu voltar para a cozinha e tirar outra foto da agenda. Deixaria Nero
vencer a batalha novamente. Mas a partir de agora, as coisas iriam mudar.
Ganharia a droga da guerra.
Nero pensou que fosse cochilar na cadeira de couro antes que Elle
respondesse. Sabia que tinha a situação sob controle quando mandou uma
mensagem dizendo que ninguém estaria lá para cuidar de Chloe. Portanto, não
entendia por que a demora para responder. Ela já havia perdido.
Quando seu telefone finalmente vibrou, ele leu a resposta. E aí, Amo vai estar lá?
Nero sabia que havia vencido novamente. Sim, bem cedo. Você tem minha palavra.
Um minuto depois, ele leu sua resposta. Diga a ele para encontrar Chloe na vaga dela
no estacionamento.
Um momento depois, a foto chegou. Ele clicou para abrir e ampliar a
imagem. Era melhor do que ele esperava; poderia usar isso a seu favor.
Quando ele examinou o cronograma da semana, o nome de Elle
definitivamente se destacou. Droga, ela trabalha praticamente todas as noites.
Nero pensou no que havia acontecido essa noite. E percebeu que, se não
fizesse o trabalho, ficaria de cabelo branco ainda jovem.
Quando a porta finalmente se abriu e um rosto familiar apareceu, Nero o
ouviu dizer:
— Ele vai te receber agora.
Nero decidiu enviar a mensagem que havia digitado antes de a porta se abrir.
Combinado.
Ao se levantar da cadeira, respondeu:
— Obrigado, Sal.
O chefe ouviu Sal dizer:
— Ele está lá fora esperando há um tempo, chefe. — A reunião estava
praticamente encerrada.
— Ele pode esperar. Por que acham que ele está aqui, rapazes?
— Eu vi a garota. Ela não é como a maioria. É o tipo de mulher com quem
você se casa e depois trepa. — Ele olhou para o filho, parado no canto enquanto
punha um cigarro na boca e o acendia com o isqueiro de metal.
Tinha sido um presente do chefe no dia em que o filho se tornou o subchefe.
Ele achava que nenhum homem deveria ter um isqueiro de noventa e nove
centavos que podia comprar no caixa de um posto de gasolina. Não, esse
isqueiro era passado de geração em geração. Ele mesmo o havia usado durante
anos. A única coisa era que ele queria que o filho acendesse charutos, não
cigarros. Tem muita coisa que eu gostaria que ele fizesse diferente.
— Então, você a tem seguido?
— Não exatamente — respondeu enquanto soprava a fumaça.
O cheiro fazia o chefe querer pegar um charuto, mas ele não gostava de
misturar essa merda com suas coisas boas.
— Então, o que esteve fazendo, exatamente?
— Eu a observei um pouco. — Ele deu outra tragada no cigarro.
— Para quê? — Sabia por que, mas queria ouvir a resposta.
— Eu precisava ter certeza de que as coisas estavam indo na direção certa.
— E estão?
— Que tal perguntarmos a ele? — Ele inclinou a cabeça em direção à porta.
Seu filho estava certo; não era o único que estava um pouco desconfiado de
que Nero talvez não conseguiria fazer o serviço, o irmão dele também estava.
— Sal, mande-o entrar.
Ele viu Sal abrir a porta e sair. Nero entrou e fechou a porta. Ao contrário do
irmão mais velho, ele se sentou em uma das cadeiras.
— Como foi a escola hoje, filho? — Pela expressão no rosto de Nero, sabia
que ele entendia o que queria dizer.
— Promissora. Eu a fiz mudar de ideia.
— Mesmo? Como? — Ele estudava o filho. Queria ter certeza de que tudo
que saísse de sua boca seria verdade.
— Ganhei a confiança dela. Ela não é exatamente a garota mais popular da
escola, então fiz todo mundo dar um tempo para ela e amiga. E tive sorte,
alguém furou os pneus da amiga dela, a mesma amiga que a leva para a escola.
Eu a levei para casa. Vou dar carona para o colégio e vou fazer disso um hábito.
— Isso é bom. Você tem alguma prova de que conquistou a confiança dela?
Não que eu não acredite em você, filho, mas ela é mais inteligente do que pensa.
— Acreditava que Nero estava dizendo a verdade, mas sabia que uma garota
como Elle poderia enganá-lo.
— Sim, ela me deu seus horários de trabalho. Disse a ela que precisava de sua
agenda para ver quando poderíamos sair. — Nero mostrou seu telefone com a
imagem já aberta na tela. Chefe Caruso deu uma olhada.
Ele ouviu o ruído do isqueiro, o filho mais velho acendendo outro cigarro.
Ele o viu fechar o isqueiro. Seu filho tinha aprendido todos os truques com o
Zippo. Ele vai quebrar essa merda daqui a pouco. A única razão para não pegar o
isqueiro de volta era que sabia que o filho o consertaria, se fosse necessário.
Ele pegou um charuto. Não se importava com a mistura de cheiros a essa
altura. Pegou o próprio isqueiro e acendeu o charuto.
Inspirando o sabor maravilhoso, continuou:
— Então, o que tinha para me dizer?
Ele viu Nero passar as mãos na cabeça.
— Eu não acho que ela vai abrir a boca. Ela esconde muita coisa. Apanhou
muito algumas vezes, mas nunca contou de quem. Perguntei se uma
determinada pessoa fez alguma coisa com ela, e ela não me contou. Ele é um
verdadeiro bosta, então não há razão para ela o proteger. Perguntei por que não
contava tudo, e ela me disse que não é dedo-duro.
Ele exalou após um instante.
— Ela disse que não é dedo-duro, especificamente? — Quando viu o filho
assentir, contraiu a mandíbula. Seguiria em frente por enquanto. — Quem é a
amiga dela? — Elle pode abrir a boca para essa garota.
Para sua surpresa, foi o outro filho que respondeu à pergunta, e Nero parecia
igualmente chocado.
— Chloe Masters. — Ele viu seu filho surgir do canto e apertar o ombro de
Nero. — De nada, irmão. Achei que ela poderia te dar alguma coisa boa pela
carona para casa. Espero que consiga salvá-la antes do aniversário de dezoito
anos. Não se importa de dividir, não é? Não se preocupe; você pode ser o
primeiro. Virgens não são minha praia. Eu prefiro um pouco de experiência.
Nero se levantou e encarou o irmão.
— Não acho que nenhum de nós seja o tipo dela.
— Vamos torcer para ela aprender a amar um Caruso em um mês, de boa
vontade. Você sabe, pelo bem dela. — Ele deu uma tragada no cigarro.
— Sim, Lucca, vamos torcer para que seja eu. Você sabe, pelo bem dela. —
Nero saiu da sala e bateu a porta.
O chefe Caruso apertou a ponte do nariz.
— Chloe Masters, é?
Lucca finalmente sentou-se à sua frente.
— Exatamente.
— Merda, estava indo tudo tão bem. — O relacionamento que tinham com
o pai de Chloe era crucial para os negócios. Demorou um pouco para colocá-lo
na folha de pagamento, e não foi fácil.
— Sim, uma grande família feliz. — Lucca apagou o cigarro no cinzeiro e se
levantou para sair.
— Continua de olho nela, filho.
No segundo em que viu aquele horário de uma semana, ele soube que Elle
estava um passo à frente de Nero. Ele era o dono do hotel cassino, portanto sabia
que as programações eram feitas com uma semana de antecedência,
normalmente.
— Esse é o plano, chefe.
Lucca saiu da sala sem fazer barulho. O chefe Caruso nem tinha certeza de
que a porta havia se fechado.
Ele pensou no que Nero havia dito enquanto levava o charuto à boca. “Ela
me disse que não é dedo-duro”. Seu instinto estava certo; ela tinha feito mais do
que apenas ouvir o que aconteceu naquele beco, e ele faria o que fosse necessário
para descobrir exatamente o que ela tinha visto. Soprou a fumaça em uma
tentativa de se livrar do cheiro horrível de cigarro que permeava a sala. Eu vi
muitos homens virarem dedos-duros.
Nero não poderia ficar mais chateado do que estava. Não entendia como
Amo conseguia receber uma porra de um agradecimento sem pedir. Como ele
conseguia um beijo sem pedir. Como é que ela nunca se joga em cima de mim e me
dá um abraço? Eu quero a porra de um abraço.
Ele decidiu manter a calma, no entanto.
— Ela acabou de fazer o que eu acho que fez? — Amo perguntou,
apontando na direção em que Elle tinha fugido de Nero novamente.
— Sim, ela fez.
Amo ergueu as mãos.
— Ei, cara, eu não fiz nada.
Nero segurou Amo pelos ombros.
— Está tudo bem, cara. Alguém parece mal hoje. Noite difícil?
— Manhã difícil. — Amo baixou a voz. — Aquela garota é doida. Não
posso mais cuidar dela. Manda o Vince cuidar disso; ele vai gostar de ficar de
olho nela.
— É exatamente por isso que não pode ser ele. Elle não vai confiar nele por
perto. — Droga, Nero não confiaria a irmã ao Vincent. Em cinco segundos, ele
podia fazer qualquer garota cair de joelhos.
— Bem, eu não sei o que te dizer. Ela praticamente gritou quando quase a
toquei, e não foi o tipo de grito que ouvi de Christa na noite passada.
Nero sabia que esse trabalho não seria fácil. As garotas eram provavelmente
mais unidas do que ele e sua turma.
— Escuta, você sabe qual é a tarefa. Queremos entrar, não é?
Amo assentiu.
— Ok. Beleza. — Nero decidiu mudar de assunto. — Christa, é?
— Sim, e Christa tem uma tonelada de amigas esperando para conhecer
alguns caras do colégio amanhã.
— Legal. Você, eu e Vince merecemos uma recompensa depois dessas duas.
— Nero precisava transar.
Sentir a boca de Elle havia piorado tudo. Ele não tinha planejado beijá-la
assim. No entanto, a única outra coisa que queria fazer era esganá-la por ter dito
que ele devia ir dormir mais cedo. Só havia passado a noite toda acordado
porque estava pensando em um jeito de fazê-la parar de andar de ônibus. E
queimando os miolos. Então, quando ela gemeu em sua boca, ele teve de parar;
se ela emitisse mais um som, ele certamente a jogaria em cima do capô do carro.
— Sim, merecemos, cara. Ah, isso me lembra, quando encontrei a Chloe
hoje cedo, o carro dela ainda estava lá. Achei que o pai dela vinha buscar.
— É, eu também. Talvez ele esteja muito ocupado administrando a cidade.
— Ele não sabia por que mais alguém abandonaria um BMW.
— Ou talvez ele não goste de lidar com aquela maluca, como eu.
— Elle, eu não consigo lidar com ele. Ele é louco! — Chloe tentava falar
baixo, mas Elle sabia que ela estava prestes a perder o controle.
— Shhh, eu sei, mas você está aqui, inteira, intocada, não está? — Elle estava
verificando se alguém havia tentado criar problemas para sua amiga.
— Por muito pouco! Ele tentou me empurrar para eu andar ao lado dele.
Tudo o que precisava fazer era pedir.
Elle riu.
— Chloe, você tem que começar a se acostumar a andar ao nosso lado. Tudo
bem, desde que a gente esteja com eles. Essa coisa que começou agora é boa. Eu
não estou mais tão preocupada. Você está?
Elle sabia que não, aparentemente. Ela havia dormido mais de uma hora, era
evidente. Depois de um minuto, Chloe finalmente respondeu:
— Não, não tenho tanto medo quando eles estão por perto.
— Viu, Chloe? Eles podem garantir nossa sobrevivência até o fim do
semestre. Então, quando estivermos fora daqui, não vamos mais precisar deles.
— Sabia que finalmente estariam livres, e seriam apenas ela e Chloe.
Chloe suspirou.
— Tudo bem. Ok.
— Quer ir fazer compras amanhã? Eu tenho a sexta-feira de folga. Acho que
merecemos. — Seu armário precisava seriamente de ajuda, e ela merecia uma
noite de menininha.
— Com certeza merecemos, agora que estamos rodeadas por aqueles três
idiotas.
Elle viu Nero entrar na sala de aula. Seja lá o que ele e Amo estivessem
conversando, ele não tinha gostado. Nossa, pensei que ele estivesse chateado antes.
Desta vez, Nero estava furioso. Elle pensou que provavelmente deveria estar
um pouco assustada. Quando se sentou bem na frente dela, ele a olhou com uma
expressão de morte. Ok, agora estou um pouco assustada.
Não tinha ideia do que tinha acontecido entre eles no corredor, mas algo lhe
dizia que provavelmente não ia querer saber.
Depois que o sr. Evans escolheu Beowulf para a aula do dia, eles começaram
a trabalhar cada um lendo uma cena em voz alta. Elle não estava prestando
atenção; estava muito preocupada pensando em qual seria o motivo para Nero
estar tão chateado.
O olhar de morte de Nero trouxe uma lembrança à sua mente.
— Elle, é a sua vez. Elle. — Elle foi trazida de volta pelo som da voz do sr.
Evans.
— Minha vez? — Começou a ficar envergonhada quando viu todos olhando
para ela, especialmente quando Nero se virou.
— Sim, Chloe passou a vez para você. — Elle não conseguia acreditar que
alguém tinha escolhido Chloe. Provavelmente, queriam ouvi-la gaguejar.
Elle ficou grata quando Chloe se aproximou e colocou o dedo no lugar onde
ela deveria começar a leitura. Começou a ler imediatamente, tentando não criar
uma cena ainda maior. Quando ela passou a voz para Nero, decidiu acompanhá-
lo desta vez porque tinha medo de que a mesma coisa acontecesse novamente. A
aula passou muito depressa depois disso, agora que Elle decidira entrar na
história.
O sinal tocou, e Nero realmente saiu da sala de aula. Por alguma razão, ela
pensou que a esperaria. Elle e Chloe guardaram suas coisas e saíram. Nero, Amo
e Vincent estavam encostados nos armários, conversando. Elle caminhou na
direção deles, sentindo Chloe logo atrás.
Assim que se aproximou, a conversa acabou. Nero acenou com a cabeça para
Amo, e ele começou a andar. Ainda estava bravo e não fazia força para parecer
agradável. Elle decidiu não se importar e começou a seguir Amo.
Chloe caminhava ao lado dela. Embora ainda estivesse um pouco insegura,
estava pegando o jeito. Elle também imaginou que Nero andaria ao lado dela,
mas ele a desapontou novamente. Olhou para trás e viu que ele andava ao lado
de Vincent.
Elle estava começando a ficar com raiva de si mesma. Não sabia por que se
importava tanto, mas se importava. Ela realmente estava se acostumando com ele
andando com ela e segurando sua mão. Não sinto falta de segurar a droga da sua
mão. Elle decidiu tirar isso da cabeça.
— Por que ele está tão estouradinho? — Ela ouviu Chloe sussurrar.
— Não sei. Ele estava bem antes da aula de inglês. No momento em que ele
entrou, porém, apertou um botão e se transformou em uma pessoa diferente. —
Elle também cochichava. Os corredores eram barulhentos o suficiente para
encobrir qualquer coisa que dissessem. Além disso, elas estavam andando alguns
metros à frente dele e alguns metros atrás de Amo.
— Ele provavelmente é bipolar, Elle. Você viu a cara dele ontem com o
Sebastian.
Chloe devia estar certa. O que quer que tivesse, no entanto, Nero precisava
tomar remédios para seus problemas.
— Aposto que você está certa... — Elle sussurrou de volta. — Deve haver
alguma coisa errada com ele. Ninguém é tão perfeito e bonito sem ter um
parafuso solto.
Elle foi para o seu lugar sem acreditar em como Nero estava agindo com ela.
Nem para falar tchau! Assim que se acomodaram, Chloe fez a pergunta que Elle
estava esperando.
— Você está bem? Parece ter desligado de tudo. — Sabia que Chloe estava
sempre preocupada.
— Sim, estou bem, Chloe. Só estou um pouco cansada do trabalho.
Chloe assentiu, e a aula começou, levando Elle de volta à memória de antes.
Ela teve de arrumar o nariz e fraturou o braço. Esse foi outro dia em que havia
aprendido uma lição valiosa. Não encare ninguém.
Infelizmente, Elle não foi a única que aprendeu uma lição. Daquele dia em
diante, Chloe começou a andar completamente atrás dela. Elle a acolheu nesse
lugar escolhido por ela. Sentia-se satisfeita por ter se tornado sua armadura.
A aula de cálculo voou, e Elle esperava que Nero não estivesse mais tão
azedo. Algo nela até se perguntava se os encontraria no corredor esperando por
elas.
Quando saiu da sala de aula, não sabia se estava grata por encontrá-los lá ou
infeliz. Olhou para a cara ainda fechada de Nero e chegou a uma conclusão.
Estava infeliz. Muito infeliz.
Esse intervalo no corredor foi igual ao anterior. Nero continuou andando
atrás dela, ao lado de Vincent, quando podia segurar sua mão. Isso era o que a
estava deixando maluca. Sua mão ardia pela dele, mesmo que não quisesse
admitir.
Estavam perto da porta da aula de espanhol e, mesmo assim, Nero se
recusava a falar com ela. Agia como uma criança.
Elle realmente odiava essa coisa toda de dar gelo.
Ela viu Amo fazer o que sempre fazia; ficar ao lado da porta. Sabia que ele
não abria a porta porque isso a forçaria a entrar sem falar com Nero.
Chloe entrou na sala de aula, e os pés de Elle disseram que ela devia entrar
também, mas a mente dizia o contrário. Optou por enfrentar Nero.
— Qual é o problema? — Olhava diretamente para os olhos verdes e
assustadores, desejando não ter dito nada.
Ela viu Vincent sorrir e se aproximar de Amo, deixando-a sozinha para lidar
com Nero.
Ele perguntou calmamente:
— O que você acha, Elle?
Não gostou da voz calma, porque não combinava com como sabia que ele se
sentia.
— Não sei qual é o problema, é por isso que estou perguntando. — Tentou
imitar sua voz calma.
Nero foi rápido. Ele a segurou pelos braços e a afastou dos ouvidos dos
outros, levando-a para perto dos armários. Qual é a dele com essa mania de me
empurrar contra as coisas?
Nero abaixou a cabeça para falar em seu ouvido, mantendo as mãos em seus
braços para prendê-la no lugar.
— O problema é simples, Elle. O problema é você não ter dificuldade para
dizer obrigada a outra pessoa. O problema é você abraçar outra pessoa. E a
merda do grande problema é você não se importar em beijar outra pessoa.
Nunca, nem uma vez fez essas coisas comigo sem que eu pedisse ou porque
queria, não porque eu queria que fizesse.
Elle ouviu cada palavra. Nunca tinha imaginado que ele estava bravo com
ela, muito menos que pudesse estar bravo por isso. Ela nem pensou no que fez
com Amo; só estava exultante. Chloe estava sã e salva.
Nero olhava para o rosto dela esperando a resposta, mas ela não sabia o que
dizer. Foi pega desprevenida.
— E... nem pensei. Fiquei feliz por ele ter levado Chloe em segurança.
— Por que acha que ele fez isso, Elle? — Seus olhos ficavam ainda mais
furiosos.
Elle sabia, mas as coisas eram diferentes entre eles.
— Eu sei, Nero, mas não gosto de Amo. — Ela virou a cabeça; não
conseguia continuar olhando nos olhos dele, não daquele jeito. — Não é fácil,
para mim, fazer essas coisas, quando nunca as fiz nem com alguém de quem
gosto.
Ela ouviu Nero respirar fundo antes de segurar seu queixo para obrigá-la a
olhar para ele.
— Não quero ver você tocar em outro cara novamente. Pode beijar e abraçar
seu pai e seu irmão, mas se eu descobrir que tocou em outro cara, não dou a
mínima para quem é, ele não vai viver para deixar isso acontecer de novo.
Elle engoliu em seco e assentiu. Acreditava nele. Não conseguia acreditar que
ia dizer isso.
— Desculpa.
Achava que Nero estava esperando alguma coisa, mas ele a beijou. Foi um
beijo duro, e ela deixou as línguas se encontrarem por um breve segundo antes
que ele se afastasse.
— Ainda estou chateado, mas vamos nos atrasar para a aula. — Ele a soltou,
e ela se afastou e entrou na sala de aula. Vermelha, correu para dentro da sala
quando viu Amo e Vincent sorrindo. Desta vez, Amo segurou a porta para ela
passar.
O sinal do almoço tocou, e Elle e Chloe saíram da aula de espanhol. Elle
ficou feliz ao ver que o rosto e os olhos de Nero se acalmaram. Aproximou-se
dele quando Amo começou a caminhar em direção ao refeitório. Relutante,
começou a segui-lo quando viu que Nero continuava parado. Acho que ele ainda
está chateado.
Depois de alguns passos em direção ao refeitório, Elle sentiu a mão de Nero
segurar a dela. Olhou para ele e sorriu, e então, por conta própria, decidiu se
aproximar mais dele. Tinha sentido falta de segurar sua mão.
Quando chegaram ao refeitório, Amo parou para esperá-los. Quando todos
se reuniram, Nero falou.
— E aí, o que vocês querem comer?
Elle largou a mão de Nero quando Chloe olhou para ela. Não sabiam como
responder.
— É pizza ou a mesma fila de sempre de hambúrguer de carne ou de frango.
— Elle e Chloe olharam para Nero. Nunca escolhiam pelo gosto.
— Tanto faz — Elle disse.
— É, hum, para mim também. — Chloe olhou para o chão.
— Jesus, escolham logo. Estou morrendo de fome. — Amo ainda estava
rabugento e cansado. Elle olhou para as duas filas. Não tinha quase ninguém na
de frango e hambúrguer.
— Acho que hambúrguer de frango é legal.
— Quem não escolhe pizza? — Vincent não estava feliz com a escolha delas.
— Elle, você gosta de pizza? — Ela olhou para Nero e lembrou o que ele
havia dito sobre mentir. Já o tinha irritado uma vez hoje, e descobriu que não
gostava quando ele ficava com raiva dela.
— Gosto.
— Chloe, você come pizza? — Amo perguntou.
Chloe olhou para Elle, e Elle esperava que ela tivesse entendido que era para
dizer a verdade. Ela assentiu.
— Então por que diabos eu não posso comer pizza? — Vincent claramente
queria pizza.
— Elle, por que escolheu aquela fila? — Ela olhou para Nero e mordeu o
lábio. Não queria mentir para ele. Portanto, a única coisa que podia fazer era
ignorar a pergunta, e, pela cara dos três, essa opção não existia.
Decidiu não olhar nos olhos deles.
— Nós sempre escolhemos a fila que não tem ninguém.
— E o que acontece se as filas estiverem quase iguais?
Ela queria muito que Nero parasse de fazer perguntas.
Sentiu que todos os olhos estavam sobre ela, esperando pela resposta, exceto
os de Chloe. Ela olhava para o chão, torcendo as mãos. Também não queria que
eles soubessem.
— Ei, pessoal, e aí? — Leo os encontrou e juntou-se ao grupo, dando a ela a
esperança de não ter de responder.
— Cala a boca, Leo. Responda a porra da pergunta, Elle.
Elle ficou chocada quando Amo disse isso. Toda a esperança desapareceu.
Decidiu usar uma tática de Chloe e olhou para o chão.
— Aí a gente escolhe a fila que tiver as pessoas menos assustadoras.
— Jesus Cristo — disse Nero.
— Pelo amor de Deus — Amo entrou na conversa.
— Filhos da puta — acrescentou Vincent.
— Isso significa que elas não querem piz...?
— Cala a boca, Leo! — Nero, Amo e Vincent disseram ao mesmo tempo,
fazendo Elle e Chloe pularem. — De agora em diante, vocês comem o que
quiserem. Vocês duas entenderam?
Elle acenou com a cabeça. Chloe não respondeu.
— Chloe, se você quer a porra da pizza, você come a porra da pizza,
entendeu? — Amo gritou com ela. Chloe não perdeu tempo e assentiu.
Elle estava pronta para encerrar o assunto e decidiu correr para a fila da pizza,
sem dar ouvidos aos instintos, que gritavam para ela escolher a outra fila. Chloe
a seguiu.
Enquanto Elle se afastava apressada, ela pensou ter ouvido Vincent dizer:
— Vamos matar esses caras, porra.
Leo acabou sendo o primeiro a se juntar a elas. Estavam no fim da fila,
porque ficaram conversando enquanto todo mundo entrava. Quando os três
finalmente se juntaram a eles, não pareciam muito satisfeitos. Não sei por que me
perguntaram o que eu queria comer, se pizza era a única opção.
— Não vou esperar tanto tempo, de jeito nenhum. Você sabe que a pizza
acaba. Vamos furar a fila — disse Amo.
Pela cara deles, todos concordavam. Elle não se sentia confortável com isso.
— Não, isto está errado. Não vamos furar a fila. — Ela olhou para Nero para
ter certeza de que ele havia entendido.
— Desculpa, querida. Depois do que você acabou de contar, francamente,
não dou a mínima para o que é certo e errado. — Vincent passou por eles e
gritou “sai” para a pessoa da frente. Ela viu Amo se juntar ao amigo, e os dois
foram afastando as pessoas na fila.
Elle foi empurrada para frente por Nero, e ela e Chloe não tiveram
alternativa, senão furar a fila. Estava chocada com o que Nero a obrigava a fazer;
não se sentia bem passando na frente das pessoas.
Quando chegaram às bandejas, os três pararam e pegaram uma. Amo
entregou a dele a Chloe e Vincent entregou a dele a ela. Elle estendeu a mão e a
pegou, jurando que a expressão de Vincent a fazia agir assim.
Agora que ela e Chloe tinham uma bandeja, Elle entrou na fila, imaginando
que poderia muito bem se divertir. A partir da semana seguinte, seria sorte
comer sem o dinheiro para o almoço. O preço do almoço havia subido para um
valor ridículo, mas ninguém em uma escola particular ousaria reclamar.
Elle saiu da fila primeiro, registrando o valor em sua conta. Depois esperou
Chloe sair da fila. Depois de como os garotos tinham irritado todo mundo, ela
decidiu não sair dali até que um deles passasse pelo caixa. Nero foi o primeiro a
passar e começou a voltar para a mesa com Elle logo atrás dele.
Assim que se sentaram, Elle se surpreendeu quando ele a puxou e beijou seu
rosto.
Ainda não estava acostumada com ele e, definitivamente, não estava
acostumada com tudo isso quando estava perto de Chloe.
Ficou feliz quando Leo se sentou novamente na cadeira vazia ao lado de
Chloe. Percebeu que ela relaxou um pouco. Olhou em volta e viu que todos os
meninos haviam comprado um pedaço extra de pizza. É por isso que nunca sobra
para elas.
Elle sorriu quando pegou sua pizza de pepperoni e viu Chloe pegar a dela.
Pela primeira vez, realmente gostava do que tinha para o almoço.
— Quando foi a última vez que você comeu pizza na escola?
Nero não podia simplesmente me deixar curtir o momento, não é? Estava
realmente começando a odiar toda essa coisa de honestidade.
— Desde o fim do fundamental.
— Eu comi no primeiro ano. — Elle olhou para Chloe. Isso não ajudou,
Chloe.
Os garotos estavam ficando agitados com suas respostas, e ela não entendia
por que faziam essas perguntas, sabendo que não gostariam do resultado.
Imaginou que Leo sentia que todos estavam nervosos, porque tentou mudar
de assunto.
No entanto, a pergunta que ele fez foi a pior que poderia ter feito.
— Chloe, como conseguiu essas cicatrizes? — Ela sabia que Leo era muito
novo para saber como as tinha conseguido, mas percebeu que todos já tinham
ouvido falar sobre esse assunto.
Ela esperou que alguém o mandasse calar a boca, porque realmente seria o
momento certo para isso, mas ninguém disse nada. Eles também queriam saber,
era óbvio.
Elle olhou para Chloe, que estava olhando para o prato. Realmente odiava
que Leo tivesse perguntado isso, então decidiu acabar com a história.
— Ela sofreu um acidente de carro.
— Ah, droga. Quando? — Leo ficou intrigado.
Elle largou a pizza.
— Quando éramos calouras.
— Isso é péssimo.
Elle segurou a cabeça. Ouviu um zumbido e começou a piscar, tentando se
concentrar no que acabara de acontecer. Tinha visto algo voar pelo canto do
olho um momento atrás, e a cabeça começou a doer. Quando o zumbido
diminuiu, tudo que Elle pôde ouvir foram risadas.
Ela sentiu Nero e os outros se levantarem, e então ouviu a voz de Nero.
— Quem foi?
A sala ficou estranhamente silenciosa, e Elle ficou assustada. Os meninos já
estavam aborrecidos; não queria que eles se machucassem por causa dela.
Conseguiu pronunciar a palavra “não” enquanto tirava a mão da cabeça,
tentando agarrar a de Nero. Foi quando viu o sangue em sua mão.
Nero também percebeu imediatamente, e isso o distraiu.
— Merda, Nero. Ela precisa sair daqui — Vincent falou.
Elle ainda sentia Nero furioso enquanto tentava fazê-la se levantar.
— Sim, vamos tirar as duas daqui, depois pegamos o filho da puta fora da
escola. — Ela ouviu Amo falar baixinho.
Nero ajudou Elle a se levantar, segurando-a pela cintura quando ela ficou em
pé.
— Vai ficar tudo bem, baby — ele murmurou.
Elle tentou acenar com a cabeça, aliviada por ele não ter começado uma
briga. Vincent deu a volta para ajudá-la a sair do refeitório, e Elle os deixou levá-
la para fora. Quando chegaram à porta e saíram, Nero se abaixou e a pegou,
segurando-a nos braços.
Ela tentou olhar para Chloe, com medo de que ela estivesse chocada demais
para sair de lá.
— Chloe.
— Shhh, Amo está com ela.
Elle se acalmou e relaxou em seus braços. Lutava contra o impulso de fechar
os olhos, mas descansava a cabeça em seu peito.
Quando Nero passou pela parede da vitória, coberta de recordações e
prêmios de esportes e protegida por vidro, ela se perguntou onde ele a estava
levando. Ouviu uma porta de metal se abrir e viu um teto que parecia ter 300
metros de altura. Não entendia por que ele a estava levando para o ginásio.
Ele caminhou até o outro lado da extremidade, e ela sentiu para onde era
levada. Não tinha exatamente as melhores lembranças daquele lugar.
— Vince, traz o kit de primeiros socorros.
Nero sentou Elle em um dos bancos. Ela sabia que ele a estava levando
para o vestiário. Ouviu a porta se abrir novamente e viu Vincent colocar uma
caixa branca no banco ao lado dela, antes de sair sem dizer uma palavra. Tinha a
sensação de que ele podia estar tão chateado quanto Nero.
Nero foi até a pia e molhou um monte de toalhas de papel. Depois voltou e
entregou uma para ela limpar a mão antes de se abaixar na frente dela. Elle só
conseguia olhar para Nero enquanto ele pressionava as toalhas em sua cabeça.
Seu rosto estava calmo, mas os olhos cor de esmeralda pareciam em chamas.
Estava acostumada com o exterior tranquilo, enquanto seus olhos mostravam os
verdadeiros sentimentos. Ele é tão bonito...
— Não acho que vai precisar de pontos — disse Nero, abrindo o kit de
primeiros socorros.
Elle tentou aliviar o clima com uma risada.
— Bem, é a primeira vez, então. — Ela se arrependeu no momento em que
as palavras saíram de sua boca.
— Elle, isso não tem graça. — Nero parou o que estava fazendo para olhar
para ela. — Não posso mais deixar que façam isso com você. É difícil o
suficiente ouvir que você escolhe o que comer com base em quem te assusta
menos.
— Eu sei, Nero, mas por favor. — Pegou sua mão e tocou os dedos
machucados. — Você me prometeu que ia tentar.
Ela viu Nero respirar fundo antes de voltar à caixa e pegar um tubo branco,
cujo conteúdo foi espremido na ponta do dedo. Ele estendeu a mão e massageou
sua cabeça.
Elle fez uma careta quando começou a arder.
— Ah, é, pode doer — disse ele.
Elle sorriu, finalmente capaz de acalmá-lo um pouco.
— Obrigada por me avisar com antecedência.
Nero sorriu de volta.
— De nada.
Ele pegou um Band-Aid do kit e o abriu.
— Como aprendeu a usar o material de um kit de primeiros socorros? Será
que eu quero saber? — Provavelmente não.
Ele colocou o Band-Aid na cabeça dela e a puxou para baixo. Elle sentiu os
lábios roçarem sua pele logo acima do ferimento.
— Não.
Imaginei.
Nero se levantou e segurou a mão de Elle para ajudá-la a ficar em pé, depois
afastou o cabelo de sua testa. Ela o observou olhar a região com mais atenção.
— Como conseguiu essa cicatriz? — Tocou a parte alta de sua testa. De um
lado, havia uma pequena cicatriz que quase desaparecia no couro cabeludo.
Elle não gostava do rumo que a conversa estava tomando. Desviou o olhar
do dele, incapaz de responder. Nero segurou seu rosto.
— Como conseguiu a porra da cicatriz?
— E... eu não posso falar. — Elle nunca poderia contar isso a ele. Não queria
que ele descobrisse que Chloe tinha feito parte disso ali mesmo onde estavam. E
não podia correr o risco de mentir e deixá-lo com raiva dela também.
Elle ficou com medo quando ele reagiu.
— Caramba, Elle! — Nero pegou o kit de primeiros socorros e o jogou
contra uma parede cheia de armários.
O kit se partiu ao meio, e tudo saiu voando. Nero puxou o cabelo para trás e
fechou os olhos.
Ela percebeu que ele havia atingido o limite. Estava prestes a testemunhar o
inferno vindo à tona.
Ele começou a caminhar para a porta, e Elle correu atrás dele. Tinha medo
de que acabasse fazendo algo terrível. E se ele fosse expulso? Aí ele vai me deixar.
Estendeu a mão para segurá-lo.
— Nero, por favor. Por favor pare.
Ele o fez quando a mão de Elle tocou a sua. Ela se aproximou e o abraçou,
passou os braços em torno de seu pescoço.
— Não me deixa — sussurrou, colocando a cabeça na curva do pescoço.
Nero deu dois passos para trás, colocando-a de costas contra uma parede de
armários e apoiando as mãos nos armários dos dois lados dela.
Elle murmurou em seu pescoço:
— Se você começar uma briga, vai ser suspenso ou, pior, expulso.
Nero resmungou:
— Meu bem, não posso deixar que eles saiam bem dessa.
Ela sentiu que Nero ficava completamente quieto, embora ainda tivesse a
impressão de que ele poderia fazer alguma coisa.
— Nero, não quero ficar sozinha de novo. — Elle o abraçou mais forte e
tentou empurrar o rosto contra seu pescoço mais profundamente.
Nero disse cada palavra com um tom ríspido:
— Então me faça ficar.
Elle levantou a cabeça e o encarou, entendendo o que ele pedia. Agora sabia
o que era estar perto dele sem ser tocada. Não queria descobrir como seria não o
ver; por isso, cederia e daria a ele o que ele queria.
— Tire a jaqueta. — A voz ainda áspera começou a deixá-la nervosa. Nero
não se moveu um centímetro; era como se fosse de gelo.
Relutante, Elle começou a tirar a jaqueta, embora ele não lhe desse nenhum
espaço para se movimentar, mantendo os braços ainda apoiados nos armários e o
corpo contra o dela. Sentiu os olhos sobre seu corpo enquanto encolhia os
ombros. Quando a jaqueta caiu no chão, o coração de Elle começou a bater com
força no peito. Não tinha ideia do que fazer, só sabia que Nero desejava que
fizesse algo para ele, para variar.
Decidiu fazer o que estava morrendo de vontade de fazer desde a primeira
vez em que ficaram sozinhos no armário de materiais de arte. Sempre prestou
atenção principalmente ao seu peito por vários motivos. Um, não conseguia
olhar nos olhos dele na maioria das vezes. Dois, seus olhos estavam naquela
altura. Por último, gostava de olhar para ele sob as camisas brancas.
Elle levantou as mãos e tocou o botão mais alto que ele tinha abotoado acima
do meio do peito. Ela o desabotoou, trêmula, revelando um pouco mais da pele.
Movendo as mãos para baixo, ela conseguiu abrir outro botão, expondo todo o
peito e a parte superior do abdômen.
Elle achava que seu coração ia explodir enquanto olhava para aquele peito
perfeitamente definido. A pele bronzeada implorava para que o tocasse, e ela
colocou as mãos lentamente nos músculos rígidos. Depois se inclinou e beijou de
leve a área entre as duas partes da camisa, movendo as mãos sobre seu peito.
Amava a sensação da pele quente e suave sob suas mãos. Ela beijou seu peito
várias vezes, determinada a fazê-lo ficar.
Desta vez, quando beijou novamente, deixou a língua deslizar pela pele.
Nero tinha um gosto melhor do que ela imaginava. Aproveitando o sabor, subiu
um pouco, beijando e lambendo em direção ao pescoço. Sentia sua raiva se
transformar em desejo a cada segundo, enquanto deslizava as mãos por seu peito,
depois na nuca e no cabelo.
Estava ansiosa para passar as mãos nos cabelos escuros, sentia inveja cada vez
que ele fazia isso. Puxou a cabeça dele para mais perto para poder alcançar o
pescoço sem forçar as pernas. Deu à área a mesma atenção que tinha dado ao
peito, mas ainda não tinha conseguido abrandar Nero.
Ávida, chupou a pele e mordeu de leve. Elle sorriu sem afastar a boca de seu
pescoço quando um ruído rouco escapou por entre os lábios. Espero que tenha
deixado uma marca.
Sim.
Nero ainda se recusava a reagir, e ela lambeu a marca da mordida, orgulhosa
por pensar que ela estaria ali por algum tempo.
Sentiu Nero finalmente afastar as mãos do armário. Ele segurou seu cabelo e
puxou, enquanto a outra mão descansava sobre a parte inferior de suas costas.
Ela o encarou e viu que seus olhos estavam famintos. No entanto, não estavam
mais com sede de sangue.
Elle estava pronta para o beijo desta vez. Queria isso tanto quanto ele. Ela
queria o gosto de sua boca. Portanto, quando a língua entrou, ela a chupou,
tentando imitar o que ele havia feito antes.
Nero agarrou a bunda de Elle, apertando de leve e a tirando do chão. Ela
sentiu a ereção através da calça jeans. Anteriormente, isso a assustava, mas agora
era movida por pura luxúria. Ele a estava fazendo sentir coisas que nunca havia
sentido antes, e Elle tinha certeza de que isso deveria assustá-la.
Ele deslizou as mãos por suas costas, por baixo da camisa. Ela não achava que
poderiam ser melhores do que quando as segurava. Ah, mas eram!
Nero retribuiu o gesto de Elle, beijando-a do queixo até o pescoço. Lambeu a
pele, arrancando dela um gemido de sensibilidade, provocando arrepios.
Elle começou a ofegar; seu toque a estava deixando louca. Ele chupou seu
pescoço, a fazendo agarrar seu cabelo e o trazer para mais perto. Elle gemeu
novamente quando ele chupou outra parte do pescoço. Ao ouvir o som, Nero
moveu as mãos para o abdômen dela, deixando um rastro de fogo na pele.
Quando a mão subiu, o feitiço começou a se dissipar. Ela conseguiu
pronunciar seu nome e teve certeza de que soou como um gemido, então puxou
o cabelo dele para trás.
Nero mudou para o outro lado do pescoço, lambendo e chupando, dando a
mesma atenção. Elle se sentiu derreter mais uma vez antes de as mãos
começarem a subir novamente, fazendo sua pele queimar. Ele estava chegando
muito perto de seu sutiã. Mesmo estando em puro êxtase, Elle não estava pronta
para essa etapa.
Ela tentou novamente.
— Nero. — E firmou a voz. — Por favor. — Felizmente o pedido não
pareceu um gemido, dessa vez.
Podia sentir o quanto ele queria subir as mãos só mais um pouco; por isso
tocou seus braços.
— Eu não posso.
Enquanto Nero descansava a cabeça em seu pescoço, esperando a respiração
se acalmar, Elle também conseguiu recuperar o fôlego. O ar frio do vestiário na
pele ainda exposta da barriga a fez estremecer. Sabia que ele provavelmente
continuava pensando em como sentir seus seios.
Soltou um suspiro profundo quando as mãos dele desceram lentamente de
volta à barriga. Podia estar um pouco arrependida, mas sabia que ele fazia de
tudo para aumentar esse arrependimento. E deu certo.
Sentiu falta do rosto de Nero em seu pescoço quando ele levantou a cabeça e
a encarou. Perguntou-se se tinha sido uma boa decisão começar algo assim com
um cara como Nero. Sabia que ele era como um lobo. Era definitivamente um
animal e a via apenas como alimento. No entanto, isso excitava uma pequena
parte de Elle, e isso era o que mais a assustava.
Nero voltou à posição original, com as mãos apoiadas nos armários. Sério,
isso não acabou de acontecer?
— Veste a jaqueta. — Elle não soube o que pensar quando ouviu isso, mas
decidiu que faria o que ele pedisse se com isso pudesse impedi-lo de se meter em
uma briga por sua causa. Sem mencionar que não queria testá-lo quando ele
estava a um segundo de rasgar suas roupas.
Elle escorregou pelos armários no pouco espaço que Nero lhe dava,
mantendo os olhos em seu corpo, tentando ter certeza de que ele não a atacaria
quando tentava pegar sua jaqueta no chão. Sentiu o olhar atento e olhou nos
olhos dele, ainda agachada a seus pés. Um arrepio percorreu suas costas. Tinha a
sensação de que ele havia planejado tudo isso.
Pegou a jaqueta, desejando poder desviar o olhar, mas ele mantinha o
contato visual como se a desafiasse a rompê-lo. Não havia nada que fizesse Elle
aceitar esse desafio. Levantou-se lentamente, sentindo o desejo crescer entre as
pernas.
Engoliu em seco enquanto olhava em seus olhos lascivos. Pela primeira vez,
sabia exatamente o que ele estava pensando, a imagem que ocupava sua mente.
Tinha de vestir a jaqueta de alguma forma no espaço restrito.
Os seios encontraram o peito dele, ainda exposto, através do sutiã fino e da
camiseta enquanto ela puxava a jaqueta para cima. No momento em que
terminou de vesti-la, Elle recuou tanto quanto podia, desejando de alguma
forma poder derreter nos armários.
— Agora abotoa minha camisa. — A voz dele ainda soava áspera. Elle temia
que, quando isso acabasse, ele fosse bater em alguém para extravasar.
Ela decidiu perguntar com educação:
— Quando eu terminar, você vai sair correndo daqui e matar alguém...?
— Baby. — A voz rouca soou em seu ouvido enquanto ele ocupava o pouco
espaço que ela ainda tinha. — Você não vai querer me testar agora.
Elle uniu as pernas com força. O que ele está fazendo comigo?
Quando ela abotoou os botões mais baixos, decidiu se inclinar uma última
vez para provar seu sabor. Daria a ele um motivo para ir à escola amanhã. Com
doçura, beijou a parte do peito que estava prestes a cobrir, depois terminou de
abotoar a camisa.
Nero não é o tipo de cara doce. Por isso, dessa vez, ela passou a língua pela
pequena área do peito que estava prestes a ser coberta pelo último botão.
Elle sorriu para ele, satisfeita, mas não devia ter feito isso. Ai, merda.
Nero a agarrou e girou, empurrando a frente de seu corpo contra os
armários, garantindo que o lado de seu rosto que não estava machucado ficasse
encostado neles. Elle sentiu toda a frente do corpo de Nero contra o traseiro.
Podia sentir através da calça jeans que ele estava mais duro que uma pedra. As
mãos tocavam seu abdômen novamente, mas, desta vez, estavam em cima da
camiseta fina. Elle pensou que as pernas falhariam se as comprimisse com mais
força.
Nero falou em seu ouvido:
— Eu vou descobrir quem te machucou hoje, e vou gostar de ouvir essa
pessoa gritando de dor. Vou descobrir cada coisa que qualquer um e todos
fizeram com você e vou gostar de ver todos eles gritando de dor.
Nero moveu as mãos por cima de sua camiseta e agarrou um seio em cada
uma, fazendo Elle se arquear contra ele.
— Depois vou gostar de ouvir você gritar enquanto eu te fodo porque, baby,
vou estourar esse champanhe muito em breve. — Nero deve ter lido seus
pensamentos ao apertar seus seios mais uma vez. — Dou minha palavra, meu
pau vai ser o primeiro e único a entrar e sair dessa sua bocetinha apertada e
molhada, e vai ser você quem vai rastejar e me implorar para eu te pegar.
Elle não conseguia acreditar no que ouvia, mas o corpo a traía sentindo
prazer com cada palavra áspera. Ela não sabia como responder, e ainda não tinha
pensado em nada quando ele a virou para beijar sua boca pela última vez. A boca
também a traiu deixando aquela língua entrar. Nero segurou sua mão assim que
terminou de provar seu ponto. Sim, me violando completamente!
Nero a acompanhou para fora do vestiário. Quando voltou ao ginásio, ela se
sentiu confusa, usada e carente. Seu corpo pegava fogo depois de tudo que havia
acontecido.
Quando ela viu Amo, Vincent, Leo e Chloe nas arquibancadas, o corpo
decidiu adicionar vergonha a essa lista de sentimentos.
Ela olhou para Nero, viu seu rosto presunçoso e lindo e sentiu que estava em
suas mãos habilidosas. Ele a tinha onde a queria, e ela sabia disso. Vai ser você
quem vai rastejar e me implorar para eu te pegar.
Com o que tinha acontecido no vestiário, ela já estava no chão prestes a
começar a rastejar e implorar. E estava lá porque percebia que não queria perder
Nero ainda.
Gostava quando ele segurava sua mão. Gostava quando ele prestava atenção
nela. Gostava de olhar para ele e falar com ele. Acima de tudo, sentia que ela e
Chloe estavam um pouco mais seguras naquele inferno com ele por perto.
Se estar no chão é o que mantém essas coisas boas na minha vida, tudo bem. Mas
não vou rastejar, não vou implorar de jeito nenhum.
Lobo idiota!
Garota estúpida, você não tem ideia do que acabou de fazer. Agora que Nero
tinha visto um lampejo da verdadeira Elle, ele faria de tudo para trazê-la à tona.
Ele não achava que uma garota pudesse ser tão inocente e sexy ao mesmo tempo.
A forma como Elle estava ansiosa para agradá-lo e louca para tê-lo tornava
quase impossível, para ele, não ir em frente. A única razão pela qual se esforçava
era porque planejava tê-la para sempre. Não sabia se era porque ela estava prestes
a morrer pelas mãos de seu pai, ou se era por ter descoberto os extremos da
tortura a que tinha sido submetida. Pode ter sido o momento em que ele viu o
sangue em sua mão, ou o olhar orgulhoso depois que ela o lambeu.
Nero sorriu para si mesmo enquanto caminhava pelo ginásio. Quando disse
para ela fazê-lo ficar, só esperava que o beijasse. Em vez disso, Elle deu o passo
seguinte, desabotoando sua camisa. Foi quando ele soube que ela realmente o
queria.
Então decidiu ver até que ponto ela queria agradá-lo e disse para ela vestir a
jaqueta. Quando ela escorregou para baixo colada aos armários, seu pau ficou
duro como nunca tinha estado em toda a vida. Além disso, quando viu nos olhos
dela que sabia exatamente o que ele imaginava – ela chupando seu pau – a ereção
ficou ainda maior. Ela estava bem ali, no chão, e ele não fez o que queria. É, e
meu pau se arrepende.
Então ele pensou que o mínimo que Elle poderia fazer era abotoar sua camisa
de volta. Nero tinha de tirar algum proveito disso se saía da história com as bolas
doloridas, e foi assim que decidiu mostrar a ela qual seria seu futuro. Ela só
precisou me lamber e me olhar com aquela cara de orgulho.
Sentir seus seios e a bunda nas mãos foi exatamente como ele imaginava que
seria. Um pouco mais que perfeito. Depois disso, tudo que Nero precisava fazer
era segurá-los, depois de arrancar a roupa dela.
Quando Nero e Elle se aproximaram da arquibancada, ele a deixou correr
para perto de Chloe. De alguma forma, não estava chocado por Chloe parecer
pior que Elle, depois de tudo, e isso o fez lembrar da hora do almoço. O ódio
voltava a superar as necessidades sexuais.
Um momento depois, Amo, Vincent e Leo se aproximaram.
— Por favor, diz que podemos matar todos os filhos da puta naquele
refeitório agora. — Ele sabia que Vincent estava pronto para uma briga.
— Eu quero o merdinha que jogou a caixa de leite. De onde saiu?
Nero não esperava que alguém tentasse criar uma cena dessas com ele e os
amigos lá. Embora soubesse que a pessoa havia atingido o alvo pretendido,
poderia ter atingido qualquer um deles. Ele se culpava; estava prestando atenção
ao que Elle dizia. Eu deveria ter previsto isso.
Os três balançaram a cabeça.
— Tudo bem, precisamos perguntar por aí e fazer as pessoas falarem. —
Nero alisou o cabelo. — Por alguma razão, Elle se recusa a me contar o que mais
eles fizeram com ela. Essa é pelo menos a segunda cicatriz que ela vai ter na
cabeça, e não há como dizer que tipo de merda não deixou marcas. Não importa
quem tocou nela, se foram os caras ou as vadias. Vamos fazer exatamente o que
fizeram com ela. Quero cada detalhe.
Amo finalmente falou:
— Isso parece justo, cara. — Nero sabia que Amo estava tão perto quanto ele
de matar alguém. Bom, eu quero que Amo quebre alguns pescoços.
— Sim, muito justo — Vincent concordou.
Perfeito, vamos quebrar uns pescoços.
— Então temos três rodadas de retaliação.
Nero olhou para Elle sentada ao lado de Chloe, sussurrando. Sabia que ela
estava tentando confortá-la. Nero se sentiu atraído por Elle pela maneira como
ela protegia Chloe. Eu só queria que, para isso, ela não virasse alvo.
— Ela está bem? — Amo perguntou.
— Infelizmente, ela assimila bem os golpes. — Não gostava de como
conseguia fazer piada com o que tinha acontecido. Provavelmente, estava feliz
por ter sido a cabeça dela a atingida.
Nero não gostava disso.
— Ela é durona. — A voz de Vincent parecia orgulhosa.
— Sim, acho que a questão é: ela vai ficar bem? — Nero percebeu que Chloe
não parecia tão bem. Amo estava ansioso pela destruição que se anunciava. —
Vamos descobrir.
Quando Elle viu a cara de Chloe, correu para ela e sentou-se a seu lado na
arquibancada.
— Você está bem, Chloe?
Seu olhar era vago e permanecia voltado para o chão. Era como se não
houvesse nada dentro dela, mas Elle sabia que estava lutando contra os próprios
demônios. Seu cabelo era uma cortina do lado direito do rosto; isso acabava com
Elle.
Chloe estava começando a se sentir um pouco confortável. Elle percebeu que
ela tinha dormido, comia e mostrava mais o rosto com o passar dos dias. Agora
foi tudo por água abaixo.
Quando a amiga não respondeu, tentou novamente:
— Estou bem. Foi só uma pancada, mais nada. Você sabe, não foi a pior
coisa que poderia acontecer comigo. Há algo de bom em tudo isso; eles não
podem se aproximar de nós com esses monstros. — Apontou para os caras
conversando a poucos metros de distância. — Então agora têm que jogar coisas
em nós. Uma caixa de leite, hein? Isso é totalmente clichê. Não acredito que os
robôs pensaram que iriam nos derrubar com isso. — Elle sabia que Chloe
apreciava uma boa piada.
Quando Chloe olhou para ela, Elle soube que podia trazê-la de volta.
— Poderia ter sido pior, sabe?
— Quanto? — sussurrou.
Elle sorriu. Conseguiu fazê-la falar.
— Bem, a pior coisa que poderia ter acontecido era a caixa de leite estourar.
Leite com chocolate é uma merda para sair.
Conseguiu relaxar quando viu Chloe tentar sorrir.
— Então, o que acha que eles vão fazer quando descobrirem quem jogou a
caixa? — Olhou para os quatro caras.
— Algo me diz que prefiro não saber. — Chloe baixou a voz ainda mais, não
queria que soubessem que estavam falando sobre eles. — Achei que Nero fosse
louco, mas você viu o Vincent? Ele tem transtorno dissociativo de identidade, é
muito pior que ser bipolar.
Elle também falou baixo. Definitivamente não quero que eles ouçam.
— Eu percebi isso também. Ele passou de Brad Pitt para Rambo em dois
segundos.
Quando Chloe soltou uma risada, ela não pôde deixar de rir também.
Elle viu os meninos se aproximarem.
— Ai, merda, eles escutaram? — a amiga perguntou, nervosa.
Elle olhou para as caras de irritação.
— Rápido, aja como se ainda estivesse chateada. — Ela viu Chloe abaixar a
cabeça quando os meninos se aproximaram.
Vincent sentou ao seu lado e passou um braço sobre os ombros de Elle.
— Como você se sente, amorzinho?
Olhou para os olhos azuis de Vincent. Brad Pitt estava de volta.
— Bem. Dei um pau naquele achocolatado, não foi?
— Sim, levou a nocaute. — Vincent riu.
Elle e Leo riram com ele, e até Chloe deixou escapar uma risadinha, mas
Nero e Amo não viram graça na piada.
Vincent aproveitou a chance para perguntar a Chloe:
— E você, como está, meu bem?
— E... eu estou bem. — Elle não conseguia decidir se ela ainda tentava fingir
que estava chateada ou se não conseguia lidar com o flerte de Vincent.
— Será que vocês duas têm alguma ideia de quem pode ter jogado isso?
Elle queria saber por que Vincent estava fazendo tantas perguntas. Quando
olhou para o lindo rosto de menino, ela descobriu o porquê. Ele estava tentando
usar a boa aparência e o charme para obter respostas.
— Não. E você, Chloe? — Elle se virou para ela, esperando que não ousasse
abrir a boca também.
— Eu também não. — Chloe balançou a cabeça.
Vincent sorriu.
— E se eu saísse fazendo umas perguntas por aí?
— Talvez uma merendeira tenha visto. Eu começaria por aí. — Elle sorriu
de volta.
— Eu acho que devemos começar pelo Sebastian — Amo sugeriu.
— Aquele psicopata de ontem? — Leo perguntou.
— Esse mesmo. Vamos levar as meninas de volta para a aula. — Nero falava
como se eles não pretendessem voltar.
Elle levantou, relutante. Não queria ir para a aula de espanhol, porque lá não
conseguiria ficar de olho nele.
Nero a encarou, esperando que começasse a andar, mas Elle queria que todos
entendessem uma coisa.
— Escutem, vou dizer uma coisa e realmente espero que todos vocês prestem
atenção. Essa foi a primeira vez, desde que comecei a estudar aqui, que eles
sentiram medo de mostrar a cara. Normalmente, ficam bem na minha frente e
fazem o que querem, enquanto os professores olham para o outro lado. Não sou
rica e minha família não tem poder; é por isso que eles escapam impunes, e é
isso. Mas você não pode sair por aí machucando alunos cujos pais viriam aqui
furiosos, ameaçando tirar os filhos da escola. A Legacy Prep só quer uma coisa:
dinheiro. Se eu sair por causa de bullying, eles ficam com o dinheiro da minha
bolsa de estudos, e ela vale muito mais que meu salário e as gorjetas que junto
para pagar o restante. — Elle esperava ter mostrado seu ponto de vista.
— Nós vamos só conversar com eles, meu bem — disse Vincent, e ficou
em pé.
Vou ter que ser mais clara.
— Imaginem só. Se vocês três começam um monte de brigas, são expulsos da
escola. Isso deixa a mim e a Chloe sozinhas com todas as pessoas que vocês
irritaram. Então pensem nisso quando forem falar com eles.
— Isso não vai acontecer, porra — disse Amo, cruzando os braços.
Quando Elle abriu a boca para insistir, Nero interferiu:
— Elle. Aula. Agora.
Quando saiu pisando firme, pronta para torcer o pescoço de todos eles, ouviu
Chloe se levantar e correr atrás dela. Nero a alcançou, tentando segurar sua mão,
mas ela não estava com disposição para isso. Infelizmente, Nero não poderia ter
se importado menos, e ela foi obrigada a voltar para a aula de mãos dadas com
ele.
Quando chegaram à sala de aula, Elle disse algumas palavras de despedida.
— É melhor nenhum de vocês fazer nada idiota. — E foi embora sem se
despedir de Nero.
— Ela sabe com quem está falando? — Amo perguntou quando Elle bateu a
porta da sala de aula.
— Oh, sim, ela sabe, e esse é o problema. — Depois do que ele havia feito
com ela no vestiário, Elle sabia bem que tipo de homem ele era.
Nero viu os caras balançarem a cabeça. Todos nós vamos ter muita sorte se
sairmos dessa sem perder a cabeça. Ele olhou para Leo:
— Vai para a aula. Presta atenção e pergunta por aí. Se descobrir alguma
coisa, me avisa.
— Tudo bem, até mais tarde. — Leo foi embora.
Nero e os amigos perderiam a última parte do dia de aulas novamente para
passar um tempo a sós com Sebastian mais uma vez.
Vincent começou a caminhar em direção ao fundo da escola.
— Três chances para adivinhar onde a vadiazinha está, e as duas primeiras
não contam.
Nero seguiu Vincent pela porta dos fundos da escola; ela quase não era
usada e só existia para um caso de emergência. Do lado de fora, foram andando
pela lateral do prédio, seguindo o cheiro.
Quando encontraram os riquinhos babacas fumando maconha, Nero teve de
fazer um esforço enorme para não bater em Sebastian ali mesmo.
— Fora daqui. — Nero queria deixar claro que eles não queriam acabar com
a maconha deles, mas que, principalmente, gostavam de vê-los correr.
Quando Sebastian tentou fugir também, Nero o empurrou com força e o
jogou de costas no chão.
— Você não.
— Ei, eu não fiz nada. — Sebastian ergueu as mãos.
Nero se agachou ao lado dele.
— Nada mesmo? Sério? Então você não jogou a porra do leite na cara da
Elle?
— N... não, claro que não. Acha mesmo que eu seria capaz de jogar alguma
coisa do outro lado do refeitório e não errar?
Nero viu Sebastian quase derramar algumas lágrimas.
— É, tem razão. Aposto que você não consegue nem mijar dentro do vaso.
Sebastian tentou sorrir e rir.
— É, nem isso.
— E acho que não viu quem foi, então?
Sebastian balançou a cabeça violentamente.
Nero olhou para Amo e Vincent, em pé ao lado deles.
— E aí? Acham que ele está dizendo a verdade?
Vincent sorriu.
— Talvez a gente deva ajudar o cara a lembrar.
Sebastian estava praticamente chorando.
— Não. E... eu não sei de nada, jur...
— Tudo bem, fica tranquilo. — Ele precisava de Sebastian para mandar um
recado. — Vou te dar uma última chance. Conta tudo que fez com Elle e Chloe,
e não deixo o Amo te matar.
Nero viu Sebastian olhar para Amo. Amo não precisava parecer assustador.
Ele era assustador.
Sebastian pensou em suas próximas palavras.
— Eu nem toquei nelas, porra.
Nero agarrou seu rosto acima da boca, apertando o mais forte que podia sem
arrancar a porra da sua cabeça.
— Se eu descobrir que está mentindo para mim, juro, vai ficar irreconhecível
quando eu acabar com você. Entendeu?
Sebastian assentiu o mais forte que pôde, e Nero empurrou seu rosto para
trás, fazendo a cabeça bater no chão de concreto. Sebastian finalmente deixou as
lágrimas correrem.
— Agora pode dar o fora daqui.
Nero viu Sebastian se levantar e sair correndo. Sim, como uma vadiazinha.
Realmente, não podia fazer muito mais com Sebastian, por mais que quisesse
esmagar a cara do mentiroso. Elle estava certa; tinham de ser espertos com o que
faziam nas dependências da escola. No entanto, fora dali a história seria
completamente diferente.
Levantou-se e percebeu que os amigos não pareciam muito satisfeitos. Droga,
Nero não estava satisfeito por não poder pegar Sebastian do jeito que gostaria.
— Encontraremos alguém para nos contar tudo. Então o pegaremos fora da
escola. — Nero precisava fazer os caras se concentrarem. Como Elle disse, olhe
para o contexto geral.
— Beleza. — Vincent não ficou feliz com escolha, mas não era ele quem
mandava. Amo começou a se afastar.
— Vou voltar para a aula.
Nero sabia que Amo não aprovaria. Quando queria machucar alguém, não se
importava se a pessoa era inocente ou culpada; ia para cima e não dava a
mínima. Nero sabia disso porque normalmente agiria da mesma maneira, mas
dessa vez era diferente. Tinha de pensar em Elle, e queria que a questão fosse
tratada do jeito mais adequado.
Nero viu Amo se afastar e sumir de vista. Ele apoiou as costas na parede da
escola e apertou a ponte do nariz. Estava começando a se arrepender de sua
decisão.
Vincent se encostou na parede ao lado dele.
— Ele vai mudar de ideia. Você sabe como Amo fica quando quer matar
alguém.
— Sim, o que está me fazendo querer mudar de ideia.
— Por mais que eu queira cortar o pau do Sebastian, você está certo. Vai ser
muito mais divertido pegar o cara depois que a gente souber o que ele fez. —
Vincent disse exatamente o que ele pensava, e isso ajudou Nero a aceitar sua
decisão.
Relaxou.
— Vai ser, não vai?
Vincent sorriu.
— Vai, mas não sei se vai ser tão divertido quanto o que você e Elle fizeram
no vestiário feminino. Imagino que tenha aproveitado a situação.
Nero tirou proveito de Elle ter levado uma pancada na cabeça. Eu mereço
alguma compensação, se não posso matar alguém.
Olhou para Vincent e o viu olhar para seu pescoço. Nero sorriu, lembrando a
mordida forte de Elle. Nunca teria imaginado que era do tipo violento. A
mordida o fez ceder e brincar com ela.
— Claro que sim. Ela me pegou de jeito, não foi? — Não tinha olhado no
espelho ainda, mas sabia que tinha uma bela marca.
Vincent riu.
— Pegou. Droga, por favor, diz que seguiu meu conselho.
— Ah, coloquei a garota de joelhos, mas quero que ela rasteje antes.
— Ai, meu Deus, você não fez isso. Nero, é uma questão de boa educação; a
garota fica de joelhos, e você dá alguma coisa para ela fazer.
Vincent começou a balançar a cabeça.
Nero sorriu para ele.
— É só pensar em como vai ser muito mais divertido depois que ela estiver lá
por um tempo.
— Cara, sua sorte é que eu sei que você realmente gosta dela; caso contrário,
mostraria para ela como é um cara bem-educado. Espera, você gosta dela, certo?
Porque temos uma coisa legal rolando com as outras meninas na escola.
Nero nem precisou pensar.
— Se tocar nela, eu corto seu pau.
— Então isso significa que posso pelo menos pensar nela chupando...
Elle mal podia esperar o fim da aula de espanhol. Estava muito ansiosa para
ver se os garotos realmente estariam lá, porque, se não estivessem, bem, ela e
Chloe não poderiam mais continuar na Legacy Prep.
Quando o sinal tocou, Elle não estava mais tão ansiosa para sair e ver se eles
estavam lá fora. Eu sei que eles não conseguiram se segurar. Ela pensou em como
todos pareciam furiosos no ginásio. Não conseguiram, não tinha jeito.
Elle se levantou, relutante, e se dirigiu à porta. Quando olhou para o
corredor, lá estavam eles, encostados nos armários. Bem, quem sou eu para saber
de tudo?
Notou que Vincent mancava um pouco, mantinha a mão sobre o estômago e
parecia prestes a vomitar. Preocupada, ela se aproximou dele.
— Vincent, tudo bem? — Elle perguntou ao passar por Nero.
Vincent ergueu a mão.
— E... eu estou bem.
Elle parou onde estava, mas ainda achava que ele não parecia muito bem. Por
isso deu mais um passo e levantou a mão para ter certeza.
Vincent acenou com a mão na frente dela.
— Não, não se aproxime. Estou bem.
O que estava acontecendo? Elle não sabia o que havia acontecido com ele.
Nero a segurou pela cintura e a puxou para perto dele.
— Ele já falou que está bem.
Elle o encarou, e Nero aproveitou a oportunidade para beijar sua boca. Foi
um beijo rápido, firme, que a fez esquecer... Espera, do que eu estava falando?
— Tudo bem, Amo. Pode levar Chloe para a aula — disse Nero, acenando
com a cabeça na direção de Amo.
Elle foi pega de surpresa pelo beijo, mas as palavras a trouxeram rapidamente
de volta à realidade.
— O quê? Não. Precisamos caminhar todos juntos.
Elle não podia deixar Chloe andar apenas com Amo depois do que havia
acontecido no refeitório, com todos juntos sentados à mesa.
— Vamos, Chloe. — Amo acenou para Chloe começar a andar, todos se
comportando como se não tivessem ouvido uma palavra do que ela acabou de
dizer.
Elle empurrou o peito de Nero para que ele dissesse alguma coisa, e Chloe
olhou para o chão e começou a andar lentamente. Nero só apertou os quadris
dela com mais força, sem dizer uma palavra, enquanto os via caminhar para a
aula de saúde. Elle tentou se contorcer e escapar do abraço, enquanto ele a
segurava pela cintura com um braço. Um braço? Sério?
Nero ergueu a outra mão e agarrou seu cabelo, puxando-o para baixo.
— Você precisa parar de me questionar. Sou eu quem tem um pau aqui, e
quanto mais cedo você perceber isso, mais fácil vai ser. Acredite em mim, baby,
vai começar a gostar de tudo ser desse jeito. — Nero soltou o cabelo dela. —
Vamos.
Ele segurou a mão dela e a levou na mesma direção em que Amo e Chloe
haviam seguido. Eu não entendo esse cara, às vezes. Eles os seguiram mantendo a
distância do dia anterior. Elle viu que Chloe ainda andava atrás dele. Velhos
hábitos são difíceis de abandonar.
Quando Amo parou e virou, Elle viu o rosto assustador e percebeu que ele
estava dizendo alguma coisa para Chloe. Ela correu e passou a andar ao lado
dele.
Elle e Nero riram dos dois, e ela ouviu Vincent tentar dar risada, mas o som
que ele produziu foi de dor. Elle virou para o olhar e o viu mais afastado deles do
que normalmente ficava. Quando ela o encarou, ele olhou para o outro lado. O
que está acontecendo hoje?
Elle virou novamente e viu Chloe caminhar em segurança para a sala de aula.
Quando eles estavam a alguns metros da porta, ela tentou correr. Estava com a
mão na maçaneta, quando até Elle ouviu Amo gritar:
— Chloe!
Elle tentou correr até ela, mas Nero segurou sua mão com força, fazendo-a
ficar no lugar. Elle se lembrou do que ele tinha acabado de dizer: Sou eu quem
tem um pau aqui. Elle, relutantemente ficou onde estava e viu Chloe afastar a
mão da maçaneta. Amo se aproximou e abriu a porta para ela, que manteve os
olhos baixos enquanto caminhava lentamente para dentro da sala, como se
tivesse sido derrotada por Amo, que a seguiu e fechou a porta.
Nero começou a andar novamente, puxando Elle pela mão para irem para a
aula.
— Amo sabe que o estamos seguindo? — Elle não sabia dizer.
Nero deu de ombros.
— Eu não disse a ele que estamos, mas ele pode perceber por conta própria.
Mas não se acostume com isso; ela precisa aprender a não depender de você.
Elle sorriu para Nero antes de apoiar a cabeça em seu braço. Gostava quando
Nero era doce. Bem, tentava ser doce.
Percebeu que Vincent mal conseguia acompanhá-los e ficou para trás. Ela
decidiu perguntar a Nero o que havia acontecido com ele.
— Por que Vincent está agindo desse jeito estranho? Ele nem olha para mim.
Poderia jurar que viu Nero sorrir por um segundo.
— Não sei.
Elle tentou novamente:
— Você sabe o que aconteceu com ele? Parece que se machucou ou alguma
coisa assim.
— Acho que é um pouco de falta de ar.
Elle achou melhor desistir. Não conseguiria descobrir no que eles tinham se
metido.
Depois que Nero a levou até a sala de aula, ela se sentou enquanto ele foi
pegar os cartazes no fundo da classe. Estava tirando da bolsa um papel em
branco e uma caneta, quando percebeu que Nero não tinha voltado. Ela
levantou a cabeça e o viu praticamente encurralado pelas duas bonitinhas e
burrinhas.
O coração de Elle começou a doer. Era uma dor como se o coração se
partisse em dois. Ela só podia ficar olhando, enquanto Nero folheava os cartazes
na mesa do fundo, com uma garota de cada lado, as duas se esfregando nele
enquanto conversavam. Não dava para ouvir a conversa.
Ela teve de baixar o olhar, antes que seu coração se partisse em dois. Eu não
posso olhar para isso.
Pegou a caneta e rapidamente começou a escrever. Nero se juntou a ela
alguns segundos depois com os cartazes. Ela não levantou a cabeça para o olhar;
não queria ver seu rosto. Sabia que devia estar sorrindo.
Também não queria que as duas vissem que a machucaram. Portanto, passou
a aula inteira escrevendo, sem levantar os olhos do papel. Era difícil para Elle se
concentrar e escrever com fluidez sem deixar Nero perceber que estava tentando
ignorá-lo. Mais tarde, percebeu que também não queria que Nero visse que
estava machucada.
Ela nem sabia se tinha o direito de ficar chateada, já que não tinha visto Nero
corresponder à investida. Sim, mas ele também não tentou impedir. Não conseguia
parar de imaginar as duas esfregando os seios em seu braço. Eu tenho a porra do
direito de estar chateada.
Nero tentou algumas vezes chamar sua atenção flertando com ela durante a
aula. No entanto, Elle não cedeu e manteve sua atenção voltada para o trabalho.
Quando o último sino da escola tocou, Elle guardou o material na bolsa sem
pressa.
Nero só falou quando a sala de aula ficou vazia.
— Algum problema?
— Não. — Elle brincava com o zíper de sua bolsa. Sabia que era melhor não
levantar.
Nero praticamente abria um buraco em seu rosto.
— Tem certeza?
— Sim.
Elle e Nero ficaram sentados em silêncio. Ela não tinha nada a dizer. Sabia
que era uma piada acreditar que Nero poderia ficar satisfeito com uma mulher
só.
Normalmente, eram três por dia. Triste, ela desejou estar exagerando.
Eu não quero ver você tocar em outro cara de novo. Quando Nero disse isso um
pouco mais cedo, ela acreditou que era sério. Não tinha percebido que ele não
tratava a questão como uma via de mão dupla.
Elle levantou e se dirigiu à porta quando Amo e Chloe chegaram.
— Lana vem te buscar?
— Sim, ela está lá fora me esperando — disse Chloe, tentando sorrir.
Elle sabia que Lana não poderia levá-la para casa, mas não custava pedir.
Sorriu para Chloe a fim de a tranquilizar e começou a caminhar para a saída. Ela
nem esperou Amo tomar a dianteira; queria sair de lá e de perto de Nero o mais
rápido possível.
Saiu sozinha, com todos os outros atrás dela. Esperou na área de embarque e
desembarque de alunos para ver Chloe entrar no carro de Lana. Um minuto
depois, Chloe a alcançou e sussurrou “tchau”, já se dirigindo ao carro. Elle sabia
que ela tinha percebido sua chateação com alguma coisa, mas fez questão de
sorrir para deixar claro que não tinha nada a ver com ela. Mandaria uma
mensagem mais tarde para ter certeza de que ela havia entendido. Elle não estava
nem chateada com Nero ou com as burrinhas; estava chateada consigo mesma
por pensar que ela e Nero poderiam dar certo.
Depois que viu Chloe fechar a porta do carro, ela começou a caminhar em
direção ao ponto de ônibus.
Nero gritou:
— Aonde você vai? — Ele e os amigos estavam esperando a uns três metros
dela, enquanto observava Chloe entrar no carro.
Elle continuou andando.
Nero gritou novamente:
— Elle?
Ela continuou andando.
Até o sentir agarrar seu braço.
— Onde acha que vai?
Ela tentou puxar o braço, mas como geralmente acontecia quando ele a
segurava, foi inútil. Cansei dessa merda!
— Me solta! Eu vou pegar o ônibus!
— Não vai não, Elle. Você vai comigo. — Nero a puxou na direção oposta.
Elle não queria mais que ele dissesse o que podia ou não fazer. Ele não decide
o que faço ou em quem não posso tocar.
— Não, porra, não vou! — Elle bateu no braço de Nero com toda força que
tinha e se soltou. Mas não era burra. Assim que escapou, começou a correr.
Elle esperava contar com o fator surpresa e corria o mais rápido que podia.
Não olhava para trás para ver se Nero a seguia. Também não sou tão idiota.
Infelizmente, porém, era idiota o suficiente para pensar que poderia fugir de
Nero.
Nero a agarrou por trás, e Elle começou a espernear e se debater para tentar
escapar. A voz de Nero soou fria.
— Elle, pare agora.
Ela não se importava com quanto o aviso parecia assustador; não ia parar. A
sensação de ver as meninas se esfregando em Nero tinha deixado seu corpo fora
de controle.
Nero a virou de frente para ele e segurou seus braços com força para
imobilizá-la. Ele mantinha a atitude gelada quando falou:
— Agora fala, qual é o problema.
— Vai se foder!
Quando as palavras saíram de sua boca, Elle viu Nero arregalar os
olhos. Ele se inclinou e a jogou em cima do ombro antes de virar e caminhar na
direção do estacionamento dos alunos.
Do alto, ela viu que não tinha ido muito longe antes que Nero a pegasse.
— Me solta! — Elle tentou bater nas costas dele, e espernear, e tentar chutar,
mas não queria cair de cara no concreto.
Sem dizer nada, Nero batia em sua bunda cada vez que ela batia em suas
costas. Que porra é essa? Ele não pode fazer isso.
Ela batia nas costas dele a cada palavra.
— Me. Solta. Agora.
SLAP, SLAP, SLAP.
Elle olhou em volta.
— Ninguém liga? Ele está me forçando a entrar no carro!
Ninguém dava a mínima para o que estava acontecendo.
Nero debochou:
— Todos olham para o outro lado, lembra?
Infelizmente, Elle tinha dito a verdade; ninguém se importava com ela.
Quando Nero finalmente passou por Amo e Vincent, eles o seguiram
gargalhando. Ela teve de encarar os dois, porque riam tanto, que estavam
praticamente chorando.
— Vincent, vai deixar ele fazer isso comigo?
Vincent respondeu rápido demais para o gosto dela.
— Sim, eu vou.
— Eu perguntaria à besta, mas já sei a resposta dele. — Elle estava
começando a ficar furiosa com todos.
Ninguém a ajudaria.
Portanto, tentaria outra tática.
— Por favor, me põe no chão.
— Ponho, se me disser qual é o problema.
Elle realmente não queria que Nero a carregasse pelo resto do caminho, e
pelo menos dessa forma, quando falou com ele, Nero não podia ver seu rosto e
quanto estava chateada.
Elle respirou fundo.
— Eu as vi as burrinhas loiras esfregando os seios em você, Nero. E elas
praticamente estavam no cio. Não, na verdade, retiro o que disse; elas estavam
no cio.
— Burrinhas loiras? Quem são? — Vincent perguntou, rindo ainda mais.
— As duas ajudantes de Cassandra. — Elle odiava saber que Nero dormia
com quem a tratava tão mal.
Vincent sorriu, maldoso.
— Ah, está falando da Stacy e da Stephanie.
— Ai, Deus! Tem alguma garota com quem vocês não dormem? — Agora
sabia que eles compartilhavam garotas.
Amo se defendeu.
— Ei, eu nunca comi as duas, não me acuse.
Elle sabia exatamente por que não. Eu sei que não é por ser um bom menino.
— Sim, porque elas têm medo de você. Confie em mim. Eu também teria
medo de ver o que você tem guardado. — Elle sentiu o corpo tremer com a
risada de Nero.
— Não, gatinha, elas não têm medo de mim. Eu só prefiro comer garotas
que não vou ter que ver de novo.
Elle estava de boca aberta. Imaginava que Amo fosse o pior dos três, mas não
tinha percebido quanto. Queria mudar de assunto. Sabia que todos eles
dormiam com todo mundo, e ela só queria descer dali. Eu disse a ele qual era o
problema.
— Me põe no chão. Você disse que ia me soltar.
— Mas isso foi antes de saber por que você está brava — disse Nero.
Hã?
— O que isso significa?
— Significa que você vai fugir.
Elle pretendia mesmo. Merda! Ela gritou e bateu em suas costas com toda
força que tinha. Queria que ele sentisse alguma dor, pelo menos.
SLAP.
— Ai! — Elle revirou os olhos e desistiu. Já estamos quase lá, de qualquer
maneira.
Quando chegou ao carro, Nero destrancou as portas e abriu a do lado do
passageiro, depois a pôs lá dentro. Elle ouviu o som da fechadura novamente e
viu Nero encostar na porta do passageiro enquanto falava com Amo e Vincent.
Ela considerou as opções. É claro que correr não funciona, gritar não funciona
e contar a ele por que estou chateada também não funciona. Ela estava sem opções.
Nero a levaria para casa. Ela não queria que vencesse completamente, então
olhou em volta. Quando olhou para o banco traseiro, Elle soube exatamente o
que fazer.
Pulou para trás, sorrindo. Sabia por que Nero a queria em seu carro.
Porque ele vai escapar dessa falando coisinhas fofas e segurando minha mão, me
fazendo desistir.
Elle sabia que, depois do que tinha acontecido no vestiário, ela
provavelmente desistiria, porque foi exatamente o que fez. Não dessa vez.
Nero entrou no carro, e Elle gostou da cara que ele fez quando percebeu que
ela não estava lá. E gostou ainda mais quando ele olhou no espelho retrovisor e a
viu sorrindo para ele.
Como eu disse, vai se foder! Elle tinha aprendido a falar esse tipo de coisa em
sua cabeça.
Ouviu Nero respirar fundo e o viu passar as mãos na cabeça. Elle ficou meio
chocada quando ele não disse nada e ligou o carro.
Nero engatou a ré, saiu da vaga e do estacionamento.
Elle afundou no banco do carro e fechou os olhos. Encostou a cabeça na
janela e sentiu o vidro frio. Em silêncio, pensou sobre os eventos do dia. Ela não
sabia como tinha passado do ataque com uma caixa de leite para Nero a
empurrando contra os armários e praticamente a sequestrando porque ela havia
ficado chateada depois de ver as garotas em cima dele. Foi um dia de muitas
emoções, e agora começava a se sentir exausta.
Uma parte dela ainda estava carente, querendo que Nero terminasse o que
havia começado, enquanto outra parte queria chorar. Queria chorar por si
mesma, por ser atacada, agredida com objetos arremessados e publicamente
humilhada. E queria chorar porque alguma coisa dentro dela tinha começado a
gostar de Nero de verdade, e Elle sabia que, no final das contas, nunca daria
certo entre eles.
Começou a se sentir esmagada pelas emoções, e uma lágrima escorregou pelo
rosto. Ela a enxugou rapidamente, desejando que os problemas desaparecessem
com a mesma facilidade. Durante todo o trajeto de carro, Elle sofreu com seus
pensamentos, e a viagem foi longa.
Abriu os olhos quando o carro parou; não estava na frente de sua casa como
esperava, mas estavam perto. Não sabia por que Nero tinha parado ali. No
entanto, Nero saiu do carro e, um momento depois, Elle viu a porta abrir do
outro lado. Ele entrou e virou de frente para ela enquanto apoiava o braço no
encosto do banco.
— Baby, vem cá. — A voz de Nero soou autoritária. A parte ainda carente e
a parte que gostava de Nero queriam fazer o que ele pedia, mas Elle queria lutar
contra o sentimento.
Ela encostou a cabeça na janela e fechou os olhos, pensativa.
— Agora. — Ele soou ainda mais autoritário.
Elle levantou a cabeça e olhou para o corpo de Nero, na sua frente. As duas
partes de Elle lutavam uma contra a outra, e quando uma finalmente venceu, ela
escorregou pelo banco para perto dele. Não sabia por que cedia, mas ainda não
tinha percebido que mais da metade dela queria Nero e nunca haveria uma
grande luta quanto a isso.
Quando o quadril de Elle tocou sua perna, os braços de Nero a envolveram e
puxaram contra seu corpo. A cabeça dela não estava mais apoiada na janela, mas
no peito de Nero. A mão que antes descansava no banco agora estava em seu
cabelo enquanto ele afagava sua cabeça, e a outra deslizou para baixo de sua
jaqueta para fazer a mesma coisa em suas costas.
Elle se aninhou junto dele e se deixou acalmar. Percebeu que ele a tinha visto
chorar, por isso agira desse jeito. Ninguém nunca cuidou dela em todas aquelas
noites que passou chorando em silêncio na cama. Só Chloe conhecia seu
tormento, e ela tinha muito mais motivos para chorar.
Não soube quanto tempo passou deitada em seus braços. De olhos fechados,
pensou que poderia ter cochilado, até que a voz de Nero quebrou o silêncio do
carro.
— Não era o que parecia. Sim, talvez do ponto de vista delas, mas, juro, eu
não queria que aquilo acontecesse. — Nero enroscou uma mecha de cabelo dela
no dedo e continuou: — Lamento que tenha visto aquilo e estou pedindo para
confiar em mim. Não quero mais ninguém e não vou ter mais ninguém, Elle.
Queria continuar ouvindo o som da voz quente, mas precisava ter essa
conversa com ele.
— Como vou acreditar em você, Nero? — Você sempre foi e, provavelmente,
sempre será um conquistador.
Nero pensou na resposta antes de falar.
— Se você fosse qualquer outra garota, Elle, eu teria te comido hoje no
vestiário feminino. Confie em mim: você teria deixado, e com certeza teria
gostado. Mas não fiz isso porque a faria como todas as outras garotas com quem
estive. — Ele fez uma breve pausa. — Completamente sem sentido. — Nero
agarrou seu cabelo, e Elle finalmente olhou para ele. — Eu disse para você não
tocar em ninguém, e agora estou dizendo que não vou tocar em ninguém. Eu te
dou minha palavra, Elle.
Quando o via falar, sempre sentia que ele estava dizendo a verdade.
Não acredito que vou confiar nele. A mente ainda não estava acompanhando o
corpo.
— Promete? — Precisava ouvir.
Nero sorriu.
— Prometo, baby.
Elle sorriu de volta antes de ser beijada. Ela o acolheu, deixou que
determinasse o ritmo. Ele acariciou seus lábios, cuidando para conhecer cada
centímetro deles antes de deixar a língua se aventurar dentro de sua boca para
conhecê-la também.
Ao contrário da última vez, quando se esforçou para agradá-lo, agora queria
que ele a agradasse. Nero não parecia se incomodar com isso quando a puxou
para o colo, montada nele. Suas mãos buscaram o cabelo dele para que pudesse
lembrar da sensação de tocá-los. Elle deveria ter previsto que ele apertaria seu
traseiro de novo.
Nero aprofundou o beijo, procurou sua língua com a dele e, de novo, ela
amou a sensação. Queria ter feito isso antes.
Nero mudou da boca para o pescoço, mordendo e lambendo melhor que
antes. Sim, porque ele tem que me compensar. Elle estava decidida a obrigá-lo.
Nero continuou descendo e beijou sua clavícula, enquanto as mãos viajavam
pela frente de seu corpo por cima das roupas. Elas a seguraram pelas laterais do
corpo, logo abaixo dos seios, e a respiração de Elle ficou presa na garganta
quando sentiu a boca descer ainda mais e capturar o seio direito. O decote da
blusa normalmente ficava acima deles, mas Nero o puxou para baixo, expondo a
ponta do sutiã fino.
Elle jurou que seus seios começaram a inchar quando sentiu a boca sobre
eles. Quando puxou sua cabeça para mais perto, com medo de uma interrupção,
Nero ergueu as mãos um pouco mais e começou a esfregar os mamilos com a
ponta dos polegares, massageando-os rapidamente até ficarem rígidos. Ela não
conseguia se concentrar, estava mais uma vez dominada por Nero.
Seus mamilos começaram a doer, e os seios ficaram muito sensíveis. Quando
Elle sentiu a ponta dos dedos de Nero sob o sutiã, em cima do seio esquerdo,
rapidamente agarrou sua mão, esperando que ele não o abaixasse. Elle deixou
escapar um gemido quando Nero mordeu seu seio, retribuindo o que ela tinha
feito com ele antes.
Nero tentou abaixar seu sutiã enquanto afagava a região que tinha mordido,
mas Elle tocou a mão dele e a segurou.
— Baby, por favor, me deixa sentir — Nero pedia enquanto beijava sua pele.
Elle choramingou “não” em seu ouvido. Queria que ele a sentisse. Tipo,
quero muito. Mas tinha a sensação de que Nero não iria parar depois disso. Sabia
que um cara como Nero não se contentava em provar, tinha de devorar. Gostaria
de ser devorada por ele, mas não era a hora ou o lugar certo para ela.
Nero jogou a cabeça para trás no assento, e ela o viu tentar se recompor
enquanto fazia a mesma coisa. Quando deixou a mão cair, Elle não pôde deixar
de sorrir. Não importava se queria – e sabia o quanto ele a queria, porque tinha
sentido a ereção sob seu corpo –, ele nunca a forçaria. Se ela não quisesse, Nero
não a obrigaria.
Elle deu um beijo rápido nele.
— Obrigada.
Nero soltou:
— De nada.
Ela começou a tentar sair de cima dele, e sentiu a ereção roçando seu corpo.
Nero agarrou seus quadris e a fez parar.
— Cuidado, ou o cavalheiro vai sumir, e seus seios vão pular bem na minha
cara.
Elle parou de respirar, nervosa com o que ele poderia fazer.
Ainda segurando seu quadril, ele a tirou do colo e a colocou ao seu lado. Elle
se sentiu aliviada e quase desapontada ao mesmo tempo.
Nero finalmente a soltou e passou as mãos na cabeça.
— Não apalpava os seios de uma garota por cima da blusa desde que era
menino.
Elle se esforçou para não rir. Pobre Nero. Orgulhava-se de ser a única garota
que o fazia esperar.
Elle se inclinou e deu outro beijo em sua bochecha.
— Desculpa. — Sabia que não parecia lamentar nada, pelo jeito como sorria.
— Você vai me recompensar. — A voz de Nero tinha recuperado o tom
autoritário.
Elle não gostava nada do rumo que a conversa estava tomando, mas olhava
diretamente para ele e esperava para ouvir que tipo de compensação ele queria. E
agora?
— Vou te levar para o trabalho hoje à noite.
— Mas...
Nero tapou sua boca com a mão.
— E todas as noites, de agora em diante. — Quando os olhos de Elle
tentaram dizer o contrário, ele continuou: — Não estou perguntando. Estou
informando. — Ele tirou a mão de cima de sua boca e a beijou.
Por que não? Era o mínimo que ela podia fazer por seu cavalheirismo. Fala
sério, teria carona grátis, e, se não gostasse, descobriria um jeito de escapar disso.
Era bom para todo mundo.
E já que tinha cedido e aceitado a imposição da carona, ela pensou em
aproveitar para resolver outra questão que seria complicada.
— Nero, quer conhecer meus pais?
Elle apertou a mão de Nero enquanto caminhavam para a porta da
casa. Eu deveria estar fazendo isso? É realmente uma boa ideia?
Percebeu que esse seria um dia tão bom quanto qualquer outro. Se fizesse o
que o pai queria, convidar Nero para jantar, poderia ser muito pior. Os jantares
eram longos e estressantes. No entanto, com ela precisando ir trabalhar hoje à
noite, isso seria um Band-Aid que arrancaria imediatamente. Nero teria de voltar
para pegá-la de qualquer maneira.
Elle colocou a mão na porta. Meus pais vão ficar bravos porque não avisei
antes.
Ela pensou que seria muito engraçado se tudo isso desse errado e Nero se
visse no meio de algo – e algo podia ser qualquer coisa. Tipo, e se o papai tomou os
remédios de novo? Ou Josh destruiu a casa?
Elle segurou a maçaneta, pensando se não devia desistir e tirar Nero dali.
Foda-se! Elle girou a maçaneta.
Quando entrou em casa, ela encontrou a família inteira olhando pela janela
da frente.
— Mãe, pai?
— Ei, Nero! — Josh saiu de trás da cortina e correu na direção dela e de
Nero. Nero estendeu o punho.
— E aí, carinha? Como foi a viagem de ônibus hoje?
Josh bateu com o punho no dele.
— Ótima, obrigado por ter ido comigo até o ponto.
Nero sorriu.
— Quando quiser.
Elle sorriu para si mesma ao ver Josh correr para o quarto. Quando o irmão
desapareceu, ela olhou para os pais.
Bem, é isso aí.
— Mãe, pai, este é meu amigo Nero.
A mãe de Elle se aproximou e o abraçou.
— Elle nunca trouxe um amigo em casa, ninguém além de Chloe, muito
menos um amigo tão bonito.
Elle ficou um pouco envergonhada pela mãe, mas tinha de concordar; Nero
era muito sexy.
A mordida tinha deixado uma marca horrível no pescoço dele. Feliz-
mente, Nero havia encontrado uma gravata no carro. Ele abotoou a camisa e
colocou a gravata preta, cobrindo a mancha arroxeada, desde que não virasse o
pescoço muito para o lado. Ela odiava esconder uma obra-prima tão bonita, mas
todo arrumado como estava, Nero parecia ainda mais assustador, mas sensual ao
mesmo tempo.
Nero beijou a bochecha de sua mãe.
— É um prazer conhecê-la, Sra. Buchanan.
A mãe de Elle notou sua cabeça, e se aproximou para examiná-la.
— Ah, querida, bateu na parede de novo?
Elle deu uma risadinha.
— Sim.
Nero olhou para ela por um momento, depois se dirigiu ao pai na cadeira de
rodas e estendeu a mão.
— É um prazer conhecê-lo, senhor.
Elle teve a impressão de que o tempo parava enquanto esperava o pai apertar
a mão dele.
— Nero…?
— Caruso.
— O prazer é meu, Nero. Sente-se — disse o pai dela, virando a cadeira de
rodas na direção do sofá.
Nero se sentou no sofá, e Elle se sentou ao lado dele. A mãe escolheu a
poltrona na frente do sofá.
Elle sabia que a mãe estava morrendo de vontade de conversar com Nero. Ela
sempre pedia para a filha levar alguns amigos em casa e perguntava como ia na
escola. Pela cara dela, pensou que talvez devesse ter prevenido Nero.
— Então, Nero, você estuda na Legacy com a Elle? — a mãe perguntou.
— Sim, também sou veterano lá.
O sorriso da mãe de Elle ficou mais largo.
— Então, me conta, Elle é a garota mais popular da escola? Ela costuma me
contar...
Elle começou a rir.
— Ah, mãe...
— Elle, deixe sua mãe terminar. — Nero sorriu e apoiou o braço atrás dela
no sofá. — Então, o que é que ela conta?
Eu cometi um grande erro.
O sorriso da mãe de Elle voltou.
— Ela me conta sobre todos os amigos maravilhosos e o quanto ela ama a
escola. Depois do acidente do pai, não sabíamos se ela poderia continuar lá, mas
Elle implorou para ficar. Ela disse que adora a escola.
Elle olhava para o chão. Meu Deus, isso é pior do que eu poderia ter imaginado.
— Sim, bem, ela é a garota mais popular da escola. Todo mundo a ama. Foi
difícil conseguir fazer a Elle falar comigo.
A mãe começou a rir.
Elle conseguiu rir com sua mãe enquanto olhava para Nero. Ele estava
gostando muito disso.
— Então, vai ficar para o jantar, Nero? — A mãe de Elle perguntou.
— Não, eu trabalho esta noite, mãe. Nero vai me dar uma carona.
— Oh, ok, querida. Sim, minha Elle só tira as notas mais altas. Isso garante a
bolsa que paga a maior parte da mensalidade. Ela trabalha na Magical Cupcakes
para pagar o resto. — Sua mãe estava radiante.
Ai, merda. Ai, merda. Ai, merda.
O rosto de Nero se contraiu.
— Onde?
— Na Magical Cupcakes. Foi inaugurada há alguns anos, fica um pouco
longe do centro. É lá que Elle trabalha, é claro.
Elle olhou para Nero, implorando silenciosamente.
— Sim, Nero, eu disse que trabalho lá. Lembra?
Nero a encarou por alguns segundos, depois olhou para a mãe dela.
— Ah, sim. Desculpa, eu esqueci.
— Querida, por que você e Elle não vão preparar um lanche? Tenho certeza
de que eles estão com fome depois da escola.
O pai de Elle não tirava os olhos de Nero.
— Claro. Vem, querida. Deixa os rapazes conversarem. — A mãe dela se
levantou, sorrindo de orelha a orelha, e começou a caminhar para a cozinha.
Elle olhou para Nero, esperando que ele entendesse que não devia falar
muito. Oh, e boa sorte.
Levantou-se e foi atrás de sua mãe. Estava grata por Nero não ter se
incomodado com as mentiras óbvias que ela contava aos pais há tantos anos.
Na cozinha, a mãe pegou um pouco de uma carne comprada pronta,
enquanto Elle foi pegar o pão, sabendo que fariam sanduíches.
— Ele é tão educado e bonito, querida. Eu gosto dele.
Elle riu da mãe. Não poderia estar mais feliz por Elle o ter convidado. Fazia
anos que implorava para que levasse os amigos em casa. Sim, Chloe a visitava,
mas sua mãe sempre quis conhecer os outros de quem ela dizia ser amiga.
— Sim, ele é muito legal.
Nero viu Elle se levantar para sair da sala. Tinha de ser honesto; estava
morrendo de vontade de conhecer seus pais. Queria conhecer os filhos da mãe
que deixaram Elle continuar frequentando o colégio onde era intimidada. Mas,
caramba, a mãe dela era a mulher mais legal da Terra. Era muito amável e
ingênua, acreditava em cada mentira que Elle tinha contado. Sua mãe era
claramente o exemplo de pessoa alienada, do tipo que acredita que não existe
violência.
E o pai estava em uma cadeira de rodas. Que porra é essa? No início, Nero
estava disposto a perdoá-lo como havia perdoado a mãe dela, mas agora, olhando
para aqueles olhos cheios de ressentimento, não dava a mínima se o homem não
conseguia mais andar. Nero estava começando a ter uma boa ideia de como Elle
poderia ter sido machucada no passado, e o homem que o encarava devia estar
bem ciente de que algo não ia bem para ela na escola.
Nero sustentou o olhar. Tinha sido criado por homens muito mais
assustadores que ele. O pai de Elle era um coelhinho, comparado ao dele. Ele
acha mesmo que pode me assustar?
O pai de Elle não desviava o olhar de Nero.
— Suponho que Elle não tenha contado que vivo em uma cadeira de rodas,
não é?
Nero continuou sustentando o olhar.
— Não, ela não contou.
— Eu já imaginava. Tem muita coisa que essa garota não conta.
E por que não a faz contar, porra?
— É, estou percebendo.
— Seu sobrenome é Caruso. Parece familiar. Será que conheço seus pais?
De jeito nenhum.
— Acho que não. Minha mãe faleceu quando eu era mais novo, e meu pai
vive praticamente isolado, cuidando da própria vida.
— Sinto muito. — Seu tom de voz sugeria que não sentia nada. — O que
seu pai faz?
Nero estava esperando por essa pergunta desde que disse seu sobrenome.
— Ele é dono de um hotel cassino no centro da cidade.
— É mesmo? Duvido que consiga viver isolado sendo dono de um hotel
cassino.
Nero deu de ombros.
— Ele tem ótimos gerentes.
— Aposto que sim. Você planeja trabalhar com seu pai ou vai para a
faculdade?
Nero tinha a sensação de que o sr. Buchanan já sabia a resposta.
— Vou trabalhar com meu pai.
Nero viu o pai de Elle sorrir e relaxar.
— Elle vai para a faculdade. Ela ainda não decidiu, mas pode escolher
qualquer uma, o que quiser.
Nero sorriu de volta.
— Isso é bom. Elle deve ir para a faculdade mesmo.
Podia ver que o Sr. Buchanan não esperava essa resposta. O sorriso dele
voltou em seguida.
— Hum, por algum motivo, Elle não se inscreveu na universidade daqui.
Ah, por que será?
— Bem, ainda falta meio ano para se inscrever. Quem sabe? Ela pode mudar
de ideia.
Nero viu que a expressão dele mudava, traindo a irritação, e que estava
prestes a dizer alguma coisa, quando ouviu Elle e a mãe entrarem na sala. Nero
manteve o sorriso, feliz por ter mandado uma mensagem clara para o pai de Elle.
Ele olhou para a mãe de Elle, que lhe estendia um copo de água. Ela parecia
uma versão mais velha da filha, a única diferença era que exibia linhas de
expressão e era ligeiramente gorda, o que deixou Nero satisfeito. Era bom saber
que Elle envelheceria bem.
Nero aceitou a água.
— Obrigado, sra. Buchanan.
A mãe de Elle sorriu e se sentou.
— De nada. Espero que água esteja bom.
— Está ótimo, obrigado.
Ele olhou para Elle, que não tinha sentado. Segurava um prato de sanduíches
e o próprio copo.
— Vem, Nero. Vamos comer no meu quarto.
Nero mal podia esperar para ficar a sós com Elle e conversar com ela sobre
todas as mentiras que ela contara aos pais. Não é à toa que ela não consegue parar
de mentir para mim, está vivendo duas vidas diferentes.
Elle revirou os olhos.
— De porta aberta.
Ele olhou para o pai de Elle, que estava furioso.
Nero se levantou, sorrindo. Elle não vai a lugar nenhum.
BRRRING.
— Posso resolver esse problema? — ela perguntou à professora. Elle decidiu
terminar o problema de álgebra, enquanto todos corriam para fora da sala de aula
para ir almoçar. Não era como se tivesse pressa para se sentar sozinha no almoço, de
qualquer forma.
— Vá em frente. Feche a porta quando sair.
Elle não teve tempo nem de assentir, antes de a professora correr para a sala dos
professores.
Terminou o problema e saiu para almoçar, lembrando de fechar a porta. A sala
de aula ficava nos fundos da escola.
Quando ela começou a andar pelo corredor, ouviu as risadas de um grupo
grande. Elle continuou andando até o fim do corredor dos fundos, para o corredor
principal. Quando entrou nele, viu um grupo de pessoas. Já conhecia as garotas, mas
não sabia quem eram os meninos.
— É sobre ela que eu estava falando, Sebastian. — Cassandra apontou para
Elle.
O garoto que caminhava na direção dela era quase idêntico a Cassandra. Só não
eram exatamente iguais por ele ser do sexo oposto.
— Então, você é a vadia que desrespeitou minha irmã?
Elle tentou passar por ele. Sabia exatamente como isso podia acabar.
— Ah, não, não vai, não. Vamos dar uma voltinha. — Sebastian enganchou o
braço no dela e a levou de volta para o corredor dos fundos.
— Sai de perto de mim. — Tentou não ser levada por Sebastian e começou a
lutar contra ele.
Outro cara segurou seu outro braço, e os dois começaram a puxá-la pelo corredor.
Elle tentava resistir desesperadamente, esperneando e gritando. As lágrimas
começaram a inundar seus olhos, e ela foi tomada por uma sensação poderosa de que
o que estava para acontecer a mudaria para sempre.
Foi levada para a porta dos fundos da escola. Em meio às lágrimas, via as
meninas atrás deles e ouvia suas risadas e seus gritos...
Elle balançou a cabeça. Não importa mais. Ela já havia chorado muitas noites
por causa daquele dia, e a lembrança era muito ruim. Eu não quero estragar um
bom dia.
Estava tendo um dia agradável. Nero foi buscá-la novamente, parou na frente
da casa vizinha, é claro, e Amo tinha levado Chloe sã e salva para a aula de inglês
esta manhã. Agora ela teria um ótimo almoço, independentemente do que
alguém decidisse jogar nela.
Quando o sinal tocou, Elle se levantou, sorrindo.
Chloe sorriu para ela.
— Alguém está feliz.
Elle riu.
— Sim, você não parece muito infeliz. — Na noite passada, tinha contado a
Chloe por que estava chateada ontem. Chloe defendeu Nero, concordando com
o que ele disse a ela no carro. Desnecessário dizer que ela gostava de ter três
grandes escudos à sua frente.
Elle parou na porta, olhando para os três encostados nos armários.
— É, acho que eles não são tão ruins.
Chloe parou ao lado dela.
— Tem razão. — Fez uma pausa. — Bom, menos a besta. — As duas
começaram a rir, incapazes de se conter.
Nero se aproximou de Elle, sorrindo.
— Do que vocês estão rindo?
As duas se entreolharam.
— De nada.
— Sei, é claro, de nada. É claro que estavam falando da gente — disse Amo,
cruzando os braços na frente do peito.
Elle sorriu.
— Não, só de você.
Começou a rir de novo da cara dele, e Chloe também deu risada.
Nero pegou a mão de Elle, rindo também.
— Parem com isso, deixem o cara em paz.
Elle deixou Nero a empurrar e a Chloe pelo corredor, ainda rindo da cara de
Amo. Ela viu Vincent dar um tapinha nas costas dele antes de se virar. Sabia que
Amo simplesmente não estava acostumado com garotas falando com ele desse
jeito. Aparentemente, ele não falava com garotas quando podia fazer outra coisa
com elas. Elle percebeu que era por isso que provocá-lo ficava ainda melhor.
Quando entraram na cantina e formaram uma rodinha para conversar, Elle
teve um déjà-vu.
— O que você quer comer? — Nero perguntou, olhando para ela.
Elle estava prestes a virar e olhar para a fila, mas a voz de Vincent a deteve.
— A pergunta foi: o que você quer.
Elle olhou para Chloe e sorriu.
— Tacos? — Mal podia acreditar que havia chegado o dia em que podia
escolher o que queria comer na escola.
Chloe sorriu de volta.
— Tacos.
— Jesus Cristo, provavelmente nunca comeu tacos também. — Amo
caminhou para a fila.
Ele estava certo, mas Elle não admitiria.
Eles entraram na fila, desta vez sem passar na frente de ninguém, exceto Leo.
Tecnicamente, no entanto, ele furou a fila para se juntar a eles. Elle percebeu que
Nero havia dito a eles para não passar na frente, considerando a cara infeliz de
Amo e Vincent.
Quando saiu da fila, Elle se dirigiu à mesa de sempre, mas viu que já estava
ocupada.
O quê? Sempre sentamos aqui.
— Vamos, Elle. Nós mudamos. — Nero a empurrou para frente e
continuou andando até verem a única mesa vazia no canto do fundo, bem no
meio do território dos robôs.
— Vocês duas sentam aqui. — Nero apontou para as duas cadeiras de frente
para o resto da cantina.
Elle e Chloe sentaram, e eles se acomodaram nas outras cadeiras. Elle não
conseguia ver o resto do refeitório, porque eles bloqueavam sua visão. Ela se
sentia estranha.
— Por que mudamos? Esta não é nossa mesa.
Nero pegou seu taco e deu uma mordida.
— Agora é.
— Sentamos na mesma mesa desde o primeiro ano. — Elle precisava ficar
perto da porta para poder fugir, se fosse necessário.
— Ninguém liga, meu bem. — Vincent mordeu um pedaço do taco.
Elle olhou para os meninos, que continuavam comendo. Por que fizeram a
gente mudar de mesa? Olhou para trás. São apenas paredes. Olhou para a frente.
Eles estão bloqueando minha visão. Inclinou-se para enxergar por cima da cabeça
de Vincent e viu que todo o time de futebol estava sentado nas mesas em volta
deles.
Percebeu que só um tanque ou um franco-atirador poderia alcançá-la de
agora em diante. Ela beijou rapidamente a bochecha de Nero, achando muito
fofo ele fazer algo assim por ela. Quando ele sorriu, o coração de Elle começou a
doer. Estava realmente começando a gostar de Nero, e se perguntava se algum
dia ela se arrependeria disso.
Decidiu finalmente começar a comer. Depois de algumas mordidas, ela
olhou para Chloe.
— Vamos fazer compras hoje à noite, ou seu carro ainda não foi arrumado?
— Lana disse que deve estar pronto depois da aula, então vamos — Chloe
respondeu, feliz. — O guincho ia buscar o carro hoje de manhã. Se não ficar
pronto a tempo, ela vai me emprestar o carro dela.
Graças a Deus!
— Bom. Quer dormir em casa?
— Sim, precisamos colocar alguns filmes em dia.
Elle ouviu Nero murmurar baixinho:
— Ai, meu Deus.
Ela então o chutou por baixo da mesa.
— Eu preciso saber: as meninas realmente fazem guerra de travesseiros em
uma festa do pijama? — Vincent sorriu.
Elle revirou os olhos. Típico.
— Sim, eu também quero saber — Leo disse.
— Isso é sério? — Elle olhou para eles. Pareciam sérios.
— Eu quero saber — Amo entrou na conversa.
Nero virou e olhou para ela.
— E aí?
Elle empurrou seu ombro.
— Não, não tem guerra de travesseiro. Fazemos máscaras faciais verdes,
pintamos as unhas e assistimos a filmes antigos.
Ela viu a cara de decepção de todos.
Vincent acabou de comer o taco.
— Uau, Elle, valeu por matar a porra dos nossos sonhos.
Nero olhava para a bunda de Elle, que andava com Chloe para a aula de
espanhol. Ei, não posso evitar.
Tinha a puxado no canto mais cedo para dizer que queria sair com ela
depois, já que esta era a única noite de folga que ela teria na semana. Elle
respondeu que precisava desesperadamente comprar roupas novas e dedicar um
tempo para coisas de menina. Nero sorriu. Estou mexendo com ela.
Não podia reclamar, porque tinha pedido ao Amo para marcar com alguma
garota esta noite. No entanto, ontem havia decidido que nenhuma outra garota
o satisfaria. Seu pau queria Elle. E a terá.
— Não entendo por que o pai de Chloe ainda não consertou o carro dela.
Ela disse que Lana ia cuidar disso, e é ela quem vem trazê-la e buscá-la — Amo
falou quando a porta se fechou.
— É, não sei. Não parece certo, mas talvez o homem seja muito ocupado.
Lana é a empregada da casa, e você sabe que essa gente deixa os filhos nas mãos
dos empregados. Um dia vou perguntar sobre isso a Elle, mas você sabe que ela
não fala muito. — Nero sabia que Elle não ia contar nada, mas se fizesse as
perguntas com alguma estratégia, talvez conseguisse descobrir alguma coisa.
— Bem, sabemos que se ela não quiser falar, boa coisa não é. — Amo
continuou depois de um momento: — Meu pai sabe que armei um esquema
para nós três hoje à noite.
Nero passou as mãos na cabeça.
— Merda.
Amo riu.
— É, imaginei que você pudesse ter mudado de ideia.
— Não importa. Agora tenho que ir. — Nero iria. O pai de Amo contaria a
seu pai, se ele não fosse, e como elas estudavam em uma escola pública e não
eram parentes de Elle, seria estranho ele não ir. Merda, vai dar uma boa impressão
se eu for.
— As garotas querem ir ao Poison — disse Amo.
— Porra. — Nero odiava aquele lugar. Era um bar caro para adolescentes.
Nero nunca precisou ir a um bar escuro e caro para transar e jogar dinheiro fora
com isso. As meninas queriam ir porque, provavelmente, nunca tinham ido.
Nero não teria apenas sua parte, mas as delas também, e nem ia transar, no fim
das contas.
Vincent deu de ombros.
— Ouvi dizer que Cassandra tem planos de ir lá esta noite, então talvez não
seja tão ruim. — Nero sorriu.
— Pelo menos vou tirar algum proveito dessa noite. — Pagaria o dobro do
que esse programa custaria para encontrar Cassandra. Não a via desde que ela
tentou se meter com a Elle no refeitório. — Mas deixem a mais tímida para
mim. Tenho certeza de que não vão se incomodar.
Vincent respondeu depressa:
— Porra, não, cara. Se eu for esperto, posso ter duas para brincar comigo.
— Não se for mais rápido — disse Amo.
Nero balançou a cabeça enquanto se afastava. Talvez a noite não fosse tão
ruim. Poderia se vingar de Cassandra e continuar fazendo o pai pensar que Elle
era só um serviço. Nero sorriu, pensando que tudo estava dando certo.
O que pode dar errado?
Elle estudava as roupas na arara. Os deuses dos brechós beneficentes não estão
cuidando de mim hoje. Elas vasculharam todos os brechós, e Elle só encontrou
mais camisetas. E só gostou de três, e não eram muito boas, com todos os
buracos que haviam acumulado. Elle estava procurando algo diferente, mas, é
claro, essas peças básicas só apareciam de vez em quando.
Examinando as prateleiras, ela pensou sobre o que Nero havia perguntado no
caminho para casa, se ela planejava pegar carona com Chloe novamente quando
o carro dela ficasse pronto. Ela respondeu que não tinha decidido. Gostava de
pegar carona com Nero, mas ajudar Chloe era mais importante. Mas não era isso
que a incomodava.
Ele então perguntou por que o carro de Chloe ainda estava estacionado na
escola naquela manhã. Isso trouxe à tona uma caixa de marimbondos sobre a
qual Elle nunca falaria. Felizmente ele desistiu do assunto bem depressa, mas
agora estava pensando que pode ter dado algumas informações que ele queria
descobrir.
Elle passou para outra arara, sorrindo ao lembrar quando Nero estacionou
uma casa à frente da dela. Deu para perceber que ele ainda estava um pouco
chateado porque não sairiam naquela noite, por isso prometeu a ele que, na
próxima folga, seria toda dele. Foi então que Elle percebeu.
Tudo estava ficando muito sério. Sim, podiam ser só alguns dias desde que
tudo começou, mas desde o primeiro ano, Elle nunca tinha visto Nero com uma
garota só. Tinha visto como ele tratava as meninas, e ele não a tratava da mesma
maneira. Bem, talvez no começo tivesse tratado.
Elle não conseguia descrever o sentimento. Nem tentava entender, mas algo
nela dizia que era certo. Só ficava mais forte a cada segundo que passavam
juntos, como quando Nero a beijava ou tocava quando ninguém estava olhando.
— E isso aqui? — Ela viu Chloe puxar uma peça algumas prateleiras abaixo.
A cor verde-esmeralda chamou sua atenção.
— Amei. — Elle se aproximou e pegou a roupa da mão de Chloe e, em
seguida, foi para o provador. Lá ela tirou a camiseta e vestiu a peça. Elle se olhou
no espelho, amando o que via. Era um suéter justo com gola em V, parecia quase
um vestido. Abraçava todas as suas curvas, e a cor ficava fantástica, em contraste
com seu cabelo e a cor da pele. Elle sabia que combinaria perfeitamente com a
legging preta que tinha em casa.
Elle abriu a porta para que Chloe pudesse ver a roupa.
— Ai, meu Deus, você tem que levar isso. Eu usaria. Bem, se fosse preto.
Elle riu da amiga. Chloe só usava preto. Ela mal conseguia se lembrar de
Chloe em roupas coloridas e alegres, muito tempo atrás. Honestamente, Chloe
ficava bem em qualquer coisa. Suas roupas podiam ser pretas, mas eram caras. O
pai a forçava a se vestir com o que havia de melhor e, embora não aprovasse
muito a cor, pelo menos não a obrigava a usar outra, como rosa.
Elle balançou a cabeça ao pensar em Chloe vestindo cor-de-rosa.
— Graças a Deus. Eu estava começando a achar que não encontraria nada.
Pelo menos esse vai substituir meu suéter branco, aquele que a Bonitinha e
Burrinha Número Um destruiu. — Elle amava aquele suéter, mas este
definitivamente dava para o gasto.
— Eu também. Talvez a pessoa que doou esse tenha trazido outras coisas. É
melhor nos apressarmos para dar uma olhada no resto das prateleiras. É tarde, e
eles vão fechar logo.
Elle assentiu e virou para voltar ao provador. Ela ouviu Chloe rindo atrás
dela, o que a fez olhar para trás antes de fechar a porta.
— Qual é a graça? — Elle perguntou.
— Estava pensando na cara de Nero quando te vir assim.
Elle não conseguia mover um osso do corpo enquanto as lágrimas deslizavam pelo rosto.
Tinha olhado para o rosto da garota linda chamada Chloe enquanto ela chutava
suas costelas. Não tinha mais nada, estava entorpecida e paralisada desde que a
segunda pessoa do grupo bateu nela.
Tinha implorado a princípio – implorado –, mas a surra continuou. Então Elle
desistiu, pensando que talvez ficar ali deitada e destruída fosse o suficiente para fazê-
las parar.
O riso invadia seus ouvidos junto com as piadas. Doíam tanto quanto os vários
sapatos chutando seu rosto e o corpo.
— Vamos sair daqui — ela ouviu uma delas dizer. — A cadela entendeu o
recado. Bom trabalho, Chloe.
Elle não pôde deixar de olhar nos olhos cinzentos, tentando transmitir sua
mensagem. Quando não pôde mais vê-la, soube que Chloe tinha entendido.
Ficou ali, se perguntando quanto tempo levaria para a morte vir e salvá-la de seu
pesadelo. Fechou os olhos, sentindo o líquido quente e vermelho começar a envolver
seu corpo. Sabia que isso aconteceria em breve. Em breve, ela estaria livre...
Nero não podia acreditar que ia sofrer mais uma noite vendo Elle entrar no
ônibus para ir trabalhar. Por que não posso falar com ela?
Não sabia como reconquistá-la. Esperava encontrar algum jeito na escola,
mas não surgiu nenhuma oportunidade.
Seguiu o ônibus até o ponto em que Elle desceu. Quando ela começou a
andar, ele sentiu um incômodo que se manifestou no estômago. Tinha um cara
de moletom escuro andando alguns passos atrás dela.
Nero manteve os olhos grudados nela enquanto estacionava o carro, sentindo
o incômodo mais forte. Quando saiu do carro, um ônibus passou na sua frente,
bloqueando sua visão. O instinto começou a gritar para ele correr para Elle, mas
Nero teve de esperar o ônibus sair da frente para continuar. Quando o veículo
acelerou, ele procurou por Elle.
Onde ela estava?
Atravessou a rua correndo, procurando por ela ou pelo cara de moletom, mas
não conseguiu ver nenhum dos dois. Merda.
Ao notar um beco a poucos passos de onde vira Elle pela última vez,
começou a correr o mais rápido que podia, fazendo uma curva fechada à
esquerda. O coração de Nero parou junto com o mundo ao seu redor.
Porra-porra-porra-porra- porra-porra-porra!!
Nero olhou para o cartaz de Elle. Ela havia escrito um poema em cada
página, com uma caligrafia excelente, em vários tamanhos diferentes. Depois os
colou como um mosaico. Eram muitos papéis brancos cobertos de palavras
pretas. Foi legal ver qual palavra chamou sua atenção. Tentou ler os poemas
antes, mas Elle tinha ficado envergonhada, dizendo que não eram bons. Teve
alguns vislumbres e leu alguns enquanto ela trabalhava neles, mas nunca tinha
conseguido ler todos juntos, até agora.
Nero se aproximou do cartaz e arrancou um pedaço. Ela os tinha visto.
Entregou o papel para Amo e passou as mãos na cabeça.
Amo leu rapidamente o pedaço de papel.
— Merda.
Vincent o arrancou das mãos de Amo.
— Porra, cara. O que vai fazer?
Nero pegou o papel da mão de Vincent, dobrou e o colocou no bolso.
— Eu preciso encontrar meu pai. Vocês têm que ficar com a Elle. Ela tem
dezoito anos agora, e eu não confio nele, sei que vai acabar fazendo a ligação.
Nero e Vincent concordaram.
— Vamos.
Quando chegou à parede da fama, Elle e Chloe não estavam lá, e ele
começou a se preocupar.
— Onde elas se meteram? Elle disse que ia esperar aqui.
— Hã, Nero? — Vincent falou com tom calmo.
— Que é? — Nero virou para olhar para Vincent e o viu apontando para o
vidro. — Porra!
Homens de Sucesso
Vejo quatro homens de sucesso em pé, não vou contar nada.
O chefe.
O apavorante.
O assustador.
O paranoico.
Vejo três homens de sucesso em pé, não vou contar nada.
O chefe.
O apavorante.
O assustador.
Eu nunca vou contar.
Elle olhou para o grande “A+” vermelho na parte inferior do papel. Fechou
os olhos e segurou a chave na mesma posição em sua cabeça. Depois de um
momento, foi capaz de abrir os olhos.
Ela se levantou e voltou à mesa do sr. Evans, onde deixou os papéis. Depois
se virou para sair.
— Sabe, eu fico na frente da sala de aula todos os dias, e tudo que vejo é você
com o nariz enfiado nos livros e nos trabalhos.
Elle olhou para trás.
— Não é isso que tenho que fazer?
— Sim, mas você não consegue vê-lo.
Elle olhou para o chão.
— Por que está fazendo isso?
— Eu sei que seus anos aqui foram uma porcaria. Odiaria te ver vivendo do
mesmo jeito lá fora.
Elle olhou para o sr. Evans e assentiu. Saiu da sala e começou a caminhar
para a próxima aula.
Continuou com a rotina do dia sem conseguir parar de visualizar
mentalmente o que Nero havia escrito. A chave em sua cabeça ameaçava virar,
ligar tudo de novo.
Quando o sinal do almoço tocou, ela soube que precisaria ver Nero, e vê-lo
agora era algo que ela não seria capaz de suportar até que tivesse recuperado o
controle. Queria pensar sobre isso, dormir sobre isso e decidir se queria voltar
para aquele longo e difícil caminho.
Sim.
NÃO.
Elas foram até a metade do caminho para a cantina, antes que Elle sentisse
que não podia continuar.
— Preciso ir ao banheiro.
— Ai, Elle, tem certeza? — Chloe perguntou.
— Sim. — As duas não iam ao banheiro da escola há anos. Aguentavam de
qualquer jeito, porque o lugar mais assustador da Terra era o banheiro das
meninas.
Elle praticamente correu para lá e foi direto para as pias. Abriu a torneira de
água fria e enfiou as mãos embaixo dela.
Chloe ficou bem perto da porta.
— Você está bem?
Elle não respondeu. Em vez disso, abaixou a cabeça e começou a jogar água
no rosto.
A porta de um reservado se abriu.
A cabeça de Elle foi empurrada com força contra a pia, batendo contra a
torneira. O cabelo de Elle foi puxado para trás, ela se levantou e, pelo espelho,
viu Cassandra em pé atrás dela.
— Chloe, corre! — gritou.
Sua cabeça começou a latejar, mas a descarga de adrenalina foi forte. Ela
agarrou a mão que a segurava e cravou as unhas nela. Com a outra mão, agarrou
o cabelo de Cassandra e começou a puxar com toda força que tinha. Quando a
ouviu gritar, usou todo o peso do corpo para empurrá-la para trás e se libertou.
Elle virou depressa e ficou tonta. Não conseguiu se mover com a rapidez
necessária, antes que Cassandra corresse e a empurrasse contra a pia,
derrubando-a no chão.
Cassandra estava em cima dela, como havia acontecido anos atrás.
— Nero não está aqui para te proteger agora. — Ela levantou o pé e a
chutou na altura do estômago.
Tentou evitar que os olhos se fechassem.
— Ele te deu um pé na bunda porque você é só uma merda de garçonete. —
E enfiou o pé na barriga dela de novo.
Ela sentiu a poça de sangue se formando embaixo do rosto, assim como as
lágrimas que encharcavam o travesseiro.
— Isso é pelo Sebastian.
Luzes que se apagam.
No dia seguinte, Elle teve um dia cheio. Eles a haviam transferido da UTI para
o quarto andar, onde era muito mais silencioso, e o quarto era mil vezes maior.
Disseram que ela estava com boa aparência. Comia bem, andava bem, falava
bem e ia sozinha ao banheiro. Ainda estava dolorida, mas era de se esperar. Os
médicos disseram que a manteriam em observação por mais uma noite, depois
poderia ir para casa.
Agora que ela estava fora da UTI, todos finalmente podiam ir visitá-la à
vontade. Ela disse ao pai para avisar Nero que ainda não queria vê-lo e, para sua
surpresa, ele respeitou sua vontade.
Todo mundo tinha ido visitá-la: Chloe, Amo, Vincent, Leo e até Maria
junto com sua família. Ela levou flores e cartões e, em troca, Elle se desculpou
com todos com quem não havia falado nos últimos meses, das pessoas de quem
se afastara por causa de Nero. Mesmo que tivessem ajudado a esconder a verdade.
Quando começou a escurecer, ela mandou a família para casa e disse que só
queria descansar um pouco, como na noite anterior. Mas Elle não conseguia
descansar, ficou sentada na cama, olhando para a tela vazia da TV.
Ouviu uma batida rápida na porta e viu a enfermeira entrar.
— Estou fazendo minha ronda da noite antes de ir embora. Como se sente?
— E se aproximou para verificar as leituras nas máquinas.
Olhou para ela com um meio sorriso.
— Bem, obrigada.
— Que bom, querida. Precisa de alguma coisa?
Elle olhou pela janela e viu o céu escuro. Respirou fundo.
— Ele ainda está lá?
A enfermeira sorriu para ela.
— Está perguntando sobre o rapaz que esteve aqui o dia todo, um muito
bonito? — E bateu de leve em sua mão. — Está.
Engoliu em seco.
— Você pode pedir para ele...? — Parou.
A enfermeira afagou sua mão.
— Vou buscá-lo para você.
Elle continuou olhando pela janela enquanto os minutos passavam. Mal
ouviu a porta se abrindo e os passos se aproximando da cama.
— Elle, você vai olhar para mim?
Não conseguia se lembrar da última vez que tinha ouvido a voz dele, a última
vez que ele falou seu nome. Sua voz ainda era uma canção em seus ouvidos e
acalmava sua alma, mesmo depois de todo aquele tempo.
Virou lentamente a cabeça. Ouviu o suspiro suave, depois o grunhido
contido. Então fez algo que tinha treinado para não fazer. Pela primeira vez em
meses, Elle ergueu os olhos para encará-lo. Mesmo que só enxergasse bem com
um olho, notou as mudanças de Nero.
O cabelo estava comprido, o rosto, abatido, e as olheiras mostravam que era
impossível saber quando ele havia dormido pela última vez. Nunca tinha visto
Nero menos que impecável, mas agora ele parecia estar com as mesmas roupas
que usava quando ela chegou aqui.
Elle de repente não se sentiu bem depois de ver a aparência de Nero. Eu fiz
isso com ele. Agora entendia por que Lucca tinha ido vê-la.
Viu Nero sentar na beirada da cama e se afastou, com medo de tocá-lo. Ele
suspirou.
— Elle, estou...
Elle o interrompeu, apressada.
— Por que não vai para casa descansar um pouco? Vou ter alta amanhã.
Podemos conversar depois que formos para casa e tomarmos um banho.
Nero balançou a cabeça.
— Não vou te deixar.
— O sr. Evans me mostrou sua redação... — sussurrou de repente.
Ele não respondeu.
— Por favor, vai para casa e descansa um pouco, prometo que vamos
conversar. — Fitou seus olhos cheios de dor. — Por mim, Nero.
Ele alisou o cabelo comprido para trás, mas os fios voltaram ao lugar de
antes.
— Tudo bem. — Levantou-se e olhou para os hematomas. — Sabe quem fez
isso? — A voz dele era mortal.
Minta.
— Não, não me lembro de nada.
Nero contraiu a mandíbula.
— Tudo bem. A gente se vê amanhã.
— Tchau — disse tranquilamente ao vê-lo sair do quarto.
Deitou a cabeça na cama, grata por não ter mais de o olhar. Agora se odiava
pela aparência dele. Era muito doloroso ver o preço que havia cobrado. Sabia
que não estava linda nesse momento, mas isso era diferente. Ela sempre podia
lidar com a possibilidade de se ver machucada, mas ver outra pessoa ferida e
saber que era a causa disso era demais para ela. Especialmente alguém que ela…
Elle balançou a cabeça, percebendo que tinha mentido para ele, mesmo
depois de ter ficado zangada por todas as mentiras. A verdade era que havia se
lembrado do que aconteceu, mas não queria que ele soubesse, pois tinha muito
medo de que ele a matasse.
Foi a Cassandra.
— Basta assinar aqui e você pode ir embora.
Elle assinou o papel na linha pontilhada. Onde estão meus pais? Ela olhou
para a enfermeira, que segurava uma bolsa.
— M-minha carona ainda não chegou.
— Chegou, querida. Ela está esperando lá fora. Vem, vou te ajudar a se
vestir.
Elle entendeu que a mãe não quis deixar o pai sozinho por muito tempo no
carro, então se levantou lentamente e aceitou a ajuda da enfermeira para vestir
um moletom e uma camiseta que mandaram de casa. Depois sentou na cadeira
de rodas que a esperava. Ah, finalmente posso ir para casa. Nem é preciso dizer
que Elle estava farta da comida do hospital, do monitoramento constante e das
camas terrivelmente desconfortáveis.
A enfermeira a empurrou pelo corredor, para o elevador e pelas portas de
correr. Quando as portas se abriram, Elle viu um Cadillac preto de janelas
escuras. Nero, novinho em folha, estava lá, encostado no carro. Nero?
Ele abriu a porta do passageiro.
Elle queria dizer alguma coisa para a enfermeira. Olhou em volta. Merda,
mas quem vai me levar para casa? A enfermeira estacionou a cadeira de rodas. No
entanto, Elle não levantou, ainda confusa com como foi parar nessa situação.
Quando a enfermeira não a ajudou, porque Nero estava lá, ela não teve
escolha a não ser ficar de pé. Levantou-se, trêmula, e sentiu os braços de Nero
envolvendo sua cintura. Olhou para ele, querendo protestar, mas isso só fez seu
corpo derreter mais junto do dele. Viu o lampejo de desejo encher seus olhos
instantaneamente com o toque. Seu corpo lembrou da noite que ela e Nero
viveram, que parecia ter acontecido anos atrás. Queria nunca ter experimentado
o verdadeiro prazer, porque, se você nunca o experimenta, nunca vai saber o que
estava perdendo.
Nero a pôs sentada no carro, e ela sentiu que ele demorava para a soltar. Até
afivelou o cinto de segurança, e tudo que Elle pôde fazer foi olhar para o rosto
renovado a centímetros do dela.
Nero havia cortado o cabelo como ela gostava, mais curto. Tinha até feito a
barba, o que ressaltava a pele perfeitamente bronzeada e o queixo quadrado. As
olheiras ainda eram visíveis, embora atenuadas, mas ela sabia que uma noite de
sono não resolveria o problema. O cheiro de homem limpo, fresco e quente a
envolveu, e era exatamente como ela lembrava. As roupas também eram novas e
impecáveis.
Quando Nero finalmente fechou a porta e deu a volta no carro, ela fechou os
olhos com força. Droga, droga, droga! Tentou pensar em qualquer coisa, exceto
em seu rosto e cheiro, enquanto mantinha as pernas bem fechadas.
Nero entrou no carro e partiu.
— Por que você veio me buscar? — Elle finalmente perguntou.
Ele deu de ombros.
— Porque fui até a casa dos seus pais para pegar algumas coisas e disse a eles
que viria.
Elle sentiu o queixo cair. Casa dos meus pais!
— Que porra é essa? Você paga minhas despesas médicas, e eles estendem
um tapete dourado!
Nero sorriu, mostrando os dentes para ela, que cruzou os braços.
— Nero, você não pode simplesmente pagar minhas contas de almoço,
escola e hospital para consertar o que aconteceu entre nós. Eu não me importo
com quanto dinheiro você tem!
Ele agarrou o volante.
— Eu sei que você não dá a mínima para quanto dinheiro eu tenho. Além
disso, não paguei tudo para compensar o que fiz, Elle. Fiz isso para tornar sua
vida mais fácil, e o que você faz? Você vai trabalhar em turnos ainda mais longos
do que fazia quando entrou na escola.
Elle olhou para ele.
— Como sabe disso?
— Acha mesmo que eu deixaria você ir trabalhar sozinha depois do que
aconteceu?
— Passou esse tempo todo me seguindo? — Elle sussurrou.
— Todos os dias — grunhiu.
Ai, meu Deus. Ela piscou, ainda em choque com as atitudes de Nero. Se não
tivesse virado um zumbi nos últimos meses, teria notado e talvez...
Viu Nero passar direto pela rua de sua casa.
— Você errou o caminho.
— Não errei, não — respondeu com naturalidade.
— Bem, então para onde estamos indo? — Ela não entendia. Não estava em
condições de ir a lugar nenhum.
— Para casa.
O que ele está pensando?
— Nero, não vou a lugar nenhum com você. Especialmente para a sua casa,
onde você trepou com um monte de garotas e transou comigo no mesmo lugar.
E nem quero imaginar com quantas garotas você trepou nos últimos meses.
Nero contraiu a mandíbula e agarrou o volante sem dizer uma palavra.
Elle se sentiu mal assim que disse isso, mesmo que fosse verdade. Podia sentir
a raiva dele a seu lado, a dor. Fechou os olhos e apoiou a cabeça na porta,
desejando que a chave voltasse a funcionar. Também queria que seu coração não
tivesse sido roubado. Tinha uma grande ferida bem dentro do peito, e por mais
que o corpo estivesse dolorido, nada doía tanto quanto isso.
Quando Nero não seguiu na direção de sua casa, Elle perguntou várias vezes
para onde ele ia, mas não obteve resposta, nem uma palavra. Realmente
começou a se preocupar quando ele estacionou em frente ao hotel cassino Kansas
City, bem ao lado da lanchonete onde ela trabalhava. Foi de lá que a família de
Nero saiu quando matou aquele homem.
Ela o observou contornar o carro e abrir a porta do seu lado. Não queria
entrar, mas ele se inclinou, puxou-a para fora do carro e a colocou em pé.
— N... Nero, por que estamos aqui? — Tentou se afastar.
Nero a agarrou pela cintura e a manteve no lugar.
— Está tudo bem, Elle. Você sabe que não vou te machucar.
Ela respirou fundo e apoiou o peso do corpo nele, deixando que a levasse
para dentro. Quando ele abriu a porta, sua cabeça ameaçou explodir com todo o
barulho das máquinas e todo o movimento. Precisou fechar os olhos e o deixar
guiá-la. Nero a acompanhou até uma escada rolante e a segurou junto ao corpo
para equilibrá-la. Ela não aguentava mais a dor, portanto apoiou a cabeça em seu
peito, querendo que desaparecesse.
Ele se inclinou para sussurrar em seu ouvido:
— Desculpa, baby. Eu deveria ter ido pela entrada dos fundos. — No alto,
Nero a tirou da escada rolante. Lá em cima não havia tanto barulho, e ela
conseguiu abrir os olhos. Viu um segurança acenar para ele em meio à multidão,
e os dois seguiram na direção de uma fileira de elevadores. Ele a conduziu até um
deles e ia apertar um botão, quando várias pessoas se aproximaram. Ele a puxou
contra o corpo novamente.
Elle escondeu o rosto em seu peito de novo, não queria ver como as pessoas
olhavam para ela. Achava que aquela viagem de elevador foi a mais longa de sua
vida, porque paravam em todos os andares, e estava ficando enjoada.
Sentiu que uma das mãos de Nero se afastava por um momento, antes de
voltar a afagá-la. Desta vez, quando o elevador subiu, não parou por algum
tempo. Quando ela ouviu o barulho da porta abrindo, ele se moveu, e os dois
voltaram a andar. Foi quando Elle percebeu que o botão aceso indicava que
estavam no último andar.
Nero virou à direita e a conduziu por um longo corredor até a última porta à
esquerda. Ele puxou uma chave e a deslizou pela fenda como um cartão de
crédito.
Elle passou pela porta que Nero abria para ela e ficou boquiaberta. Era um
duplex. O andar de baixo tinha uma grande TV de tela plana, um sofá de couro e
uma enorme cozinha e sala de jantar, tudo conectado. Tudo em preto e branco,
tudo novo e moderno. Elle ainda não tinha conseguido fechar a boca quando
notou a vista. Era uma suíte de canto com janelas panorâmicas.
Nero segurou a mão dela e a conduziu escada acima, e lá ela viu uma enorme
cama preta e branca no nível do chão. As janelas ficavam atrás da cama, fazendo
da cidade o pano de fundo.
— Onde estamos? — Ela estava totalmente maravilhada, nunca tinha visto
nada parecido, mesmo em revistas.
Ele não conseguia tirar os olhos de seu rosto surpreso.
— Em casa.
Elle o encarou, chocada.
— Você mora aqui agora? Como?
— Meu pai é dono do hotel, e este apartamento está reservado para mim
desde que eu consigo me lembrar. Eu comecei a projetá-lo há alguns meses, ficou
pronto na semana passada. Gostou?
— Sim, é bonito. — Olhou para o assoalho de madeira escura. — Ele estava
esperando para te dar o apartamento quando você entrasse nos negócios da
família?
Nero suspirou e caminhou em sua direção. Pegando sua mão novamente, ele
a levou até uma porta e a abriu.
E viu um closet tão grande quanto o de Maria... Espera.
— Essas roupas são minhas?
Ele segurou seu queixo.
— Sim. Eu falei que sua casa agora é aqui.
Que porra é essa?
— Meus pais aprovaram isso? Como eles podem ter concordado?
— Eu disse a eles que você precisa ser monitorada e que eu posso cuidar
disso. Tenho um médico de plantão para acompanhar você. Baby, dessa vez a
batida na cabeça foi muito forte. Você acabou de ter dor de cabeça, é evidente, e
se ela piorar, não é um bom sinal.
Elle se afastou. Tudo isso era muito rápido para ela lidar. Sentia-se um pouco
traída pelos pais e por Nero por nem perguntarem se era isso que ela queria. Ele
está agindo como se eu não tivesse escolha.
— Preciso tomar um banho. — Depois vou ligar para alguém e vou embora.
Teria ido imediatamente, se não se sentisse tão nojenta. Ainda sentia o hospital
por toda parte.
Nero assentiu.
— O banheiro é ali. — Apontou para a única outra porta visível.
Elle olhou para as prateleiras do armário, tentando encontrar alguma coisa
confortável para vestir; nada. Notou que algumas de suas roupas não estavam ali,
principalmente as mais velhas. Decidiu olhar nas gavetas de um grande gaveteiro
no closet e viu um monte de lingeries ainda com as etiquetas. Que porra é essa?
Olhou os tamanhos e viu que eram todos corretos para ela. Só pode ser
brincadeira.
Examinou o resto das gavetas, esperando encontrar algo confortável para
vestir, mas a única coisa que parecia confortável eram as camisetas de Nero.
Porra!
Voltou à prateleira e pegou uma calça jeans e um suéter. Antes de sair do
closet, viu um vestido branco pendurado. Quando percebeu que vestido era, quis
pisar nele.
Saiu do armário apenas com seu suéter e o jeans. Quando viu Nero sentado
na cama sorrindo, ela se dirigiu ao banheiro com passos decididos e fechou a
porta.
Vai se foder!
Apoiou a cabeça na porta do banheiro, tentando não chorar. Estava se
sentindo muito oprimida; poucos dias atrás, não sentia absolutamente, e agora
sentia tudo novamente. Todas essas emoções diferentes a atingiam com força
total por ter lido a carta de Nero, estado no hospital e depois conversado com
Nero novamente.
As lágrimas começaram a correr enquanto chorava silenciosamente no
banheiro. Quando virou, viu que o banheiro era tão lindo e moderno quanto o
resto do apartamento. Era de ladrilhos pretos e brancos do chão ao teto, com um
boxe enorme, pias duplas e uma banheira que parecia uma tigela enorme.
Ela se esforçou para conter as lágrimas enquanto tentava tirar a blusa. Um
momento depois, sentiu as mãos de Nero em sua camisa.
— Sai! — gritou chorando.
— Deixa eu te ajudar, baby — ele murmurou enquanto puxava a blusa para
cima.
Cobriu rapidamente os seios expostos e começou a tremer.
— Por... por favor, sai. — Por favor, por favor, por favor. Sabia que não era
forte o suficiente para lutar contra ele.
Ele viu as enormes marcas roxas em sua barriga.
— Não. — As mãos a tocaram novamente e puxaram a calça de moletom e
calcinha. — Eu não vou te abandonar de novo.
Era muito difícil segurar o choro, e Elle simplesmente desistiu.
— Você me machucou, Nero.
Ele a puxou contra o corpo.
— Eu sei que sim, e sinto muito. Desculpa, Elle, por tudo. Lamento não ter
reparado em você durante todos esses anos e não ter feito nada quando eles te
atacavam. Eu devia ter contado sobre minha família, por mais que tivesse medo
de te perder, porque te perdi de qualquer maneira. — Nero a fez olhar para ele.
— Eu não devia ter desistido de você e deixado você sozinha todos esses meses, e
sinto muito por não ter estado presente para te proteger.
Elle piscou para conter as novas lágrimas.
— Desculpa por não ter notado que você estava sofrendo...
— Shhh, baby. Você não tem do que se desculpar. — Ele enxugou as
lágrimas de seu rosto e a levou para o boxe. Rápido, ligou o chuveiro e verificou
a temperatura da água antes de posicioná-la sob o jato.
Ela continuou abraçando o próprio corpo embaixo d’água, vendo Nero tirar
a roupa. Eu sabia que não seria capaz de lutar contra ele. Sinceramente, não queria
mais lutar. Precisava de Nero porque, sem ele, não era nada.
Recuou quando ele entrou no boxe, pegou uma bucha pendurada na parede
e derramou nela um pouco de sabonete. Ficou nervosa quando ele a puxou em
sua direção e parou na sua frente. Ele afastou suas mãos da frente do corpo,
depois aproximou a bucha e começou a lavá-la.
A respiração ficou presa na garganta quando Nero esfregou seus seios.
Depois, quando ele a deslizou levemente para baixo pelo abdômen, os músculos
se contraíram.
— Abre — ordenou Nero.
Elle abriu as pernas ao ouvir a palavra dura de Nero e recuperou a sensação
de prazer de voltar a fazer o que ele pedia. Quando a bucha deslizou entre suas
pernas, Elle mordeu o lábio inferior para sufocar um gemido. Já fazia muito
tempo desde que havia sido tocada ali, e sentia mais a mão de Nero do que a
bucha.
Depois do que pareceu uma eternidade para ela, Nero a virou e lavou suas
costas. Viu o xampu e o pegou para lavar o cabelo; era o mesmo que usava há
anos, um que tinha cheiro de frutas vermelhas. Ela sorriu enquanto derramava
um pouco na mão e começava a esfregar no cabelo. Ele pensava em tudo.
Nero a colocou sob a água e começou a enxaguá-la, massageando seu couro
cabeludo com as mãos. Ela pensou que teria arrancado um pedaço do próprio
lábio antes que isso acabasse, mas, antes que percebesse, estava pronta.
Nero pegou outra bucha, despejou sabonete e a entregou para Elle.
— Me lava.
Ela aceitou a bucha e a aproximou lentamente do peito dele. Começou a
fazer movimentos circulares sobre seu corpo. Foi do peito para os braços e de
volta ao peito, de onde desceu para o abdômen.
Mordeu o lábio novamente quando viu sua ereção. Passou a bucha sobre seu
pênis e bolas e ouviu o gemido profundo de Nero. Olhou para ele e viu a dor
que sentia. Havia antecipado essa sensação só de olhar para a ereção.
Deslizou a bucha pelo pênis novamente, mas dessa vez o segurou com a outra
mão.
Nero agarrou seu pulso e impediu que a mão se movesse.
— Não. Você ainda está dolorida, e eu já estou prestes a te comer.
Elle o encarou, curiosa.
— É por isso que ainda não me beijou?
— Sim — Nero grunhiu.
A sensação de frio na barriga voltou depois de passar meses desaparecida. Elle
se inclinou para frente e o beijou no peito.
— Me beija. — Olhou para ele, e a boca cobriu a sua.
Ela correspondeu com avidez e moveu a mão que ainda estava sobre o pênis
de Nero, fazendo-o soltá-la. Aproveitou a oportunidade e deslizou a mão por
toda sua ereção. Viu sua expressão mudar, e o lobo de que ela se lembrava
apareceu antes de ele sair rapidamente do chuveiro.
Elle franziu a testa. Não queria que a deixasse, mas ele voltou antes que
pudesse protestar, depois de pegar uma camisinha na gaveta do banheiro.
Quando o encarou, ela viu novamente o quanto estava atormentado.
Nero a empurrou com o corpo contra a parede do boxe, mas se conteve antes
de tocá-la.
— Baby, não quero te machucar. — Fome e consciência disputavam o
controle.
Elle não se importava com quanto o corpo estava dolorido, ou com como ele
poderia machucá-la por estar assim, faminto.
Ela se inclinou na direção do peito dele e disse:
— Eu confio em você. — E lambeu um mamilo.
Com um movimento rápido, ele a levantou, passou as pernas dela em torno
de sua cintura e apoiou suas costas na parede, fazendo Elle ofegar e agarrar seus
ombros. Ela sentia a pressão contra sua entrada, e a água do chuveiro não era
mais a única fonte de umidade em sua pele.
Ele respirou fundo, tentando acalmar um tremor.
— Eu te machuquei?
Ela balançou a cabeça, olhando nos olhos verdes.
— Você é a única garota para quem olhei nos últimos meses e imaginei meu
pau entrando. Não fiz sexo desde a noite em que transei com você, Elle, e você é
a última com quem vou transar. Esta noite vai ser a primeira vez que alguém
dorme naquela cama e neste lugar. Não consegui dormir aqui até que você
estivesse na cama ao meu lado, onde é seu lugar.
Segurando-a com um braço em torno da cintura, ele a deslizou lentamente
de encontro ao seu pau. A cabeça de Elle caiu para frente sobre seu ombro, e um
gemido escapou de sua garganta. Então ele começou a se mover e penetrar mais
fundo sua abertura escorregadia.
— Tudo que escrevi naquele texto é verdade. — O quadril se movia
rapidamente para frente e para trás, cada vez mais rápido, e a penetração era cada
vez mais funda.
O coração de Elle começava a voltar ao normal com as palavras e as atitudes
de Nero. Na primeira vez que estiveram juntos, ele foi terno e doce. Agora, ela se
sentia como se estivesse presa entre o prazer e a dor, porque ele a possuía com
força, de um jeito ríspido e rápido, tudo ao mesmo tempo, enquanto a segurava
suavemente contra a parede. Sabia que ele trabalhava em dobro, a impedindo de
mover o quadril, com medo de machucá-la.
Sentia a água batendo nas costas, nas pernas e nos braços, tornando tudo
ainda mais erótico. Sabia que não seria capaz de aguentar muito, porque a tensão
entre as pernas crescia depressa, na mesma velocidade dos movimentos de Nero.
Ela cravou as unhas profundamente em sua carne enquanto as pernas o
apertaram com mais força.
Nero tirou a mão de sua bunda e segurou seu rosto para encará-lo.
— Eu te amo, baby. Eu te amo mais do que tudo.
Elle começou a estremecer e gritar enquanto ele conseguiu penetrá-la com
ainda mais força. O corpo explodiu em um clímax poderoso, envolvente. Ela se
agarrou a ele quando sentiu que também chegava ao clímax, provocando mais
algumas contrações rápidas em seu corpo.
— Também te amo... — sussurrou enquanto sentia os tremores secundários.
Seu coração havia voltado ao normal completamente.
Nero a beijou, enfiou a língua em sua boca e saboreou sua doçura mais uma
vez. Tirou o pênis de dentro dela, mas a segurou contra o corpo enquanto
fechava a torneira e saía do chuveiro. Então a colocou contra a pia.
Elle se abraçou, incapaz de parar de tremer. Não sabia se eram os efeitos do
sexo ou o frio depois do banho. Estremeceu novamente. As duas coisas.
Ela o viu tirar a camisinha e jogá-la na lata de lixo antes de pegar uma toalha.
Depois de enxugá-la rapidamente antes mesmo de se enxugar, ele a pegou nos
braços e a levou para o quarto, onde a colocou na cama.
Esperava que se deitasse ao seu lado, mas em vez disso, ele foi até a mesinha
de cabeceira e puxou a pequena caixa preta embrulhada na fita de seda cor-de-
rosa que ela havia deixado para trás meses antes.
Nero se deitou na cama e puxou Elle para perto. Ajeitou as cobertas sobre
eles e a aconchegou confortavelmente. Depois deu a caixa a ela pela segunda vez.
Elle olhou para ele.
— Você guardou?
— Claro que sim. Abre.
Ela puxou a fita de seda e a soltou. Depois abriu a caixa, que continha uma
corrente de ouro rosa com um pingente de morango.
— Nero, é lindo.
Ele pegou a caixa e, em seguida, o colar.
— Eu tinha planejado te dar a corrente naquela noite e dizer que te amava.
Era o último presente que eu queria que você ganhasse no seu aniversário.
O coração de Elle doeu por todo o tempo que perderam e os meses de
sofrimento. Sentou-se para que Nero pudesse finalmente colocar o colar em seu
pescoço. Depois tocou o pingente e virou para beijar Nero nos lábios.
— Obrigada.
Ele se deitou e a abraçou contra o peito.
— Eu te amo, Elle.
Ela sorriu em seu peito.
— Também te amo, Nero.
Havia sonhado se deitar ao lado de Nero. Tinha sentido falta de sentir o
corpo nu ao lado dela. Quando a mão dele começou a acariciar suas costas, ela se
sentiu derreter e fechou os olhos. Nero apagou a luz e beijou o topo de sua
cabeça.
— Descansa um pouco, baby.
Pela primeira vez no que parecia uma eternidade, Elle adormeceu
profundamente, sem lágrimas.
Elle estava encolhida sob as cobertas. Não conseguia dormir. Nero tinha
Elle estava encolhida sob as cobertas. Não conseguia dormir. Nero tinha
sumido há horas. Ela nem se mexeu desde que voltou para a cama depois que ele
a deixou.
Praticamente pulou da cama quando ouviu a porta do andar de baixo se
abrir. Quando os passos leves chegaram à escada, ficou nervosa e começou a
ofegar com o coração disparado. Nem se mexeu quando sentiu a presença dele
em pé ao lado da cama.
— Eu sei que você está acordada — disse a voz sombria.
Engoliu em seco quando sentou na cama e segurou as cobertas contra o
peito. Olhou para ele e, pela primeira vez, acreditou estar vendo Nero como ele
realmente era. Um homem poderoso.
Ele sustentou seu olhar, tentando fazê-la entender.
— Eu vou brigar. Eu vou torturar. E vou matar nesse meu trabalho. Eu
sempre soube que me juntaria à máfia, e você vai ter que aceitar, porque não
estou te dando alternativa. É uma parte de mim, como você é uma parte de
mim, mas nada, nada vai ser mais importante que você. Ninguém nunca vai
tocar no que é meu sem sofrer as consequências. Por isso foi preciso cuidar dela.
— Levantou a mão quando Elle pareceu estar prestes a chorar novamente. — Eu
não matei a garota, porra, mas garanto que ela gostaria de estar morta. Mas
nunca mais vou te encontrar no chão do banheiro de novo, e o próximo que
tentar não vai ter tanta sorte. Se alguém puser a mão em você, eu mato, porra, e
não vai ter súplica ou choro capaz de me impedir. Se tentar essa merda de novo,
vou torturar o filho da puta o dobro do tempo. Entendeu?
O corpo de Elle formigava enquanto ele falava. Queria ter medo, mas em vez
disso, seu corpo ficava tenso a cada palavra. Balançou a cabeça lentamente,
olhando em seus olhos verdes.
— Vem cá — ordenou a voz profunda.
Ela se inclinou para frente e se apoiou sobre as mãos. Sabia que era isso que
ele queria, o que estava esperando, pela expressão em seu rosto. Ela não desviou
os olhos enquanto engatinhava na direção dele, progredindo lentamente para
saborear a alegria em seu rosto.
Olhou para o verdadeiro Nero quando se ajoelhou diante dele. Entendeu por
que Nero tinha uma cama tão baixa, e certa de que ia gostar disso tanto quanto
ele, teve certeza de que os joelhos agradeceriam a ele todos os dias. Talvez mais.
Elle apertou as coxas em antecipação, as mãos querendo desesperadamente
alcançar a calça dele.
Arfou quando ele estendeu a mão e segurou seu queixo com firmeza.
— O que você quer?
Lambeu os lábios.
— Posso chupar seu pau?
Ele agarrou seu queixo com mais força.
— Você vai mentir para mim de novo?
— Não — respondeu imediatamente.
— Não o quê?
— Não, eu nunca mais vou mentir para você de novo. Prometo. — Os olhos
mostravam que estava dizendo a verdade.
Nero soltou seu queixo.
— Ótimo. Agora me diz o que você quer.
Elle chegou mais perto.
— Por favor, posso chupar seu pau? — implorou.
— Pode, baby. — Gemeu.
Elle desabotoou sua calça com mãos trêmulas. Dessa vez, o pênis saltou para
fora mais depressa, e estava muito mais duro. Sua mão cobriu todo sua espessura,
e ela pôs a extremidade na boca. Provocou a ponta com a língua antes de olhar
para o rosto atormentado. Ela o enfiou inteiro na boca e deslizou os lábios até
tirá-lo da boca. Quando Nero agarrou seu cabelo, ela obedeceu ao comando
silencioso e chupou com mais força, enquanto as mãos brincavam com suas
bolas.
— Mais fundo — grunhiu, empurrando sua cabeça.
Elle aprendeu rapidamente como ele queria ser chupado. Ela o enfiou
profundamente na boca e deixou a ponta escorregar para o fundo da garganta.
Um ruído profundo escapou da garganta de Nero, e ela o chupou com vontade
enquanto apertava suas bolas. Repetidamente, o devorou até que ele segurou sua
cabeça enquanto gozava, fazendo Elle engolir tudo que inundava sua boca.
— Porra, baby. Eu sabia que você seria boa, mas uau.
Elle sorriu para ele, satisfeita.
Nero foi para a cama e a abraçou e beijou. Depois a pôs novamente de
quatro e puxou seu traseiro para cima.
— Essa é a última caixa de preservativos que vou comprar. O médico vem
amanhã para receitar sua pílula. — Abriu a gaveta do criado-mudo e pegou a
camisinha.
Ela mordeu o lábio quando sentiu que ele a penetrava. Empurrou o traseiro
em sua direção.
— Ah, sim — ela gemeu. — Por favor.
Com um movimento rápido, Nero a penetrou fundo e começou a se mover
mais depressa, com mais força que antes, enquanto a segurava pelo quadril. Elle
gritou e se moveu com ele, feliz por deixá-la se juntar a ele.
Ela não durou muito; o som e a sensação das bolas batendo em seu corpo a
levaram ao limite. Nero a segurou para chegar ao clímax também, e ela ficou
mole em seus braços, sentindo os espasmos dentro dela.
Demorou alguns minutos até Nero se recuperar. Então ele se deitou e a
puxou para perto. A mão começou a afagá-la, como fazia sempre, antes de ele
falar:
— Você ficou na Legacy por causa da Chloe, não foi?
— Sim. — Elle sabia que não tinha contado muita coisa a Nero durante o
mês que passaram juntos, mas não poderia esconder nada dele de agora em
diante. Mas não vou revelar segredos que não são meus.
— Por quê? Ela estava com eles quando fizeram tudo aquilo com você.
Elle respirou fundo.
— O dia em que voltei para a escola, depois da surra, foi o mesmo dia em
que Chloe voltou para a escola com as cicatrizes. Eu pensei que estivesse mal,
mas Chloe... dava para ver que ela estava traumatizada. Eu sabia que ela havia
passado por alguma coisa muito pior que eu. Ouvi quando eles a chamaram de
“aberração” e simplesmente perdi a cabeça.
Os dedos de Nero continuaram o movimento.
— O que aconteceu com ela?
Não posso te contar. Elle não disse nada.
— Ela não sofreu um acidente de carro, não é? — Nero tentou novamente.
Elle podia responder pelo menos isso.
— Não, não sofreu.
Elle e Nero voltaram para a escola na última semana de aulas, e foi a
melhor semana da vida dela. Nero a fez sair da lanchonete e se inscrever na
universidade local. Garantiu que, embora fosse tarde para isso, não havia
nenhuma chance de a recusarem com média geral 10. Ele também disse que, se
demorassem mais de dois dias para aceitá-la, ele faria uma visitinha à secretaria
da universidade para falar sobre sua admissão. Faltava agora um dia para a
formatura, e Nero tinha conseguido convencer Elle e Chloe a subirem no palco
para receber o diploma.
Elle se beliscava todos os dias, perguntando a si mesma se tudo isso era real.
O último primeiro dia de aula tinha sido o pior de sua vida. Ou eu pensei que
fosse. Agora percebia que aquele acabou sendo o melhor dia de sua existência
porque, se nunca tivesse testemunhado o assassinato, Nero nunca teria sido
forçado a falar com ela. Eu nunca teria tido meu felizes para sempre.
BRRING.
Pela primeira vez na vida, esse ruído foi música para os ouvidos dela. Estou
livre. Finalmente livre.
Os dois sorriram um para o outro enquanto todos corriam para fora da sala
de arte, gritando. Nero se levantou e pegou a mão de Elle, ajudando-a a se
levantar.
— Aonde vamos? — Riu quando ele começou a puxá-la.
Nero a conduziu para o fundo da sala, abriu o closet de materiais de arte e a
empurrou para dentro.
— É minha última chance, e tenho essa fantasia desde que trouxe você aqui
pela primeira vez.
Elle tentou o impedir de fechar a porta.
— Nero, nós não podemos...
Ele a empurrou de volta contra a porta e beijou sua boca. Ela perdeu toda
noção quando ele enfiou a língua profundamente em sua boca. Afastando mais
os lábios, ergueu-se na ponta dos pés.
Nero começou a desabotoar a camisa xadrez vermelha e branca que ela vestia
e a empurrou de seus ombros, fazendo-a cair no chão. Seus olhos então
passearam pelo corpo vestido com o sutiã provocante e o short jeans.
O peito de Elle começou a arfar quando ela olhou nos olhos verdes de seu
lobo faminto. Eu amo esse cara.
O olhar de Nero mergulhou em seus grandes olhos azuis.
— Pega a camisa.
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