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Copyright © 2021 by AllBook Editora.

Direção Editorial: Beatriz Soares


Assistente Editorial: Ana Carolina Consolini
Tradução: Débora Isidoro
Clara Taveira
Preparação e Revisão:
Raphael Pelosi Pellegrini
Capa original: Young Ink Press
Adaptação da Capa,
Cristiane Saavedra
Diagramação e
[Saavedra Edições]
Projeto digital:

Todos os direitos reservados e protegidos pela lei 9.610 de 19/02/1998. Nenhuma parte
deste livro, sem autorização prévia por escrito da editora, poderá ser reproduzida ou
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gravação ou quaisquer outros. Os direitos morais do autor foram declarados.

Esta obra literária é ficção. Qualquer nome, lugares, personagens e incidentes são produto
da imaginação do autor. Qualquer semelhança com pessoas reais, vivas ou mortas, eventos
ou estabelecimentos é mera coincidência.

Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa


(Decreto Legislativo nº 54, de 1995)
CIP - BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DA LIVROS, RJ
MERI GLEICE RODRIGUES DE SOUZA - BIBLIOTECÁRIA - CRB-7/6439

B86n
1.ed
Brianne, Sarah
Nero [recurso eletrônico] / Sarah Brianne ; tradução Débora Isidoro. - 1. ed. -
Rio de Janeiro : Allbook, 2021.

Tradução de: Nero


Modo de acesso: word wide web

ISBN: 978-65-86624-42-7 (recurso eletrônico)

1. Romance americano. 2. Livros eletrônicos. I. Isidoro, Débora. II. Título. III.


Série.
21-70581
CDD: 813
CDU: 82-31(73)

DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO À ALLBOOK EDITORA


contato@allbookeditora.com
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SUMÁRIO
CAPA
FOLHA DE ROSTO
CRÉDITOS
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
CAPÍTULO 35
CAPÍTULO 36
CAPÍTULO 37
CAPÍTULO 38
CAPÍTULO 39
CAPÍTULO 40
CAPÍTULO 41
CAPÍTULO 42
CAPÍTULO 43
CAPÍTULO 44
CAPÍTULO 45
CAPÍTULO 46
CAPÍTULO 47
CAPÍTULO 48
CAPÍTULO 49
ALLBOOK EDITORA
Elle estava na aula de espanhol, olhando para o relógio. Podia jurar que
a temperatura na sala de aula beirava os quarenta graus.
A três minutos do almoço, sentia muita saudade dos dias de folga no Natal.
Durante todo esse tempo, não havia tido esse enjoo horrível. Não fazia diferença
quantas vezes a sensação dominava seu corpo, nunca se acostumava com ela. Era
um sentimento de desgraça iminente.
Odiava a escola. Não, desprezava com todas suas forças. Só sobrevivia graças
a única amiga que tinha no mundo, Chloe Masters.
Chloe precisava dela. Sim, Elle era vítima de bullying, mas Chloe era
torturada. Elle faria qualquer coisa para garantir sua segurança. Ela merecia
proteção, especialmente depois do que tinha acontecido.
Todo dinheiro que havia economizado trabalhando nas férias de Natal foi
para pagar o colégio. Caso contrário, seria expulsa, e isso significaria não poder
proteger Chloe. Felizmente, Elle tinha uma bolsa quase integral por causa das
notas, mas precisava pagar o que faltava, e para isso trabalhava na lanchonete
quase todas as noites.
Dois minutos para o almoço. Pensou que o tempo passava mais devagar por
estar encarando o relógio. Elle temia o almoço. Os alunos não atormentavam as
duas desde o último dia de aula antes das férias, o que significava que
extravasariam toda a agressividade reprimida nelas. Que Deus as ajudasse.
Um minuto para o almoço. Elle olhou para Chloe, já que o relógio não servia
para mais nada. Sentiu o coração se partir. A amiga estava de cabeça baixa, é
claro, torcendo as mãos sobre o colo. Era isso que ela fazia sempre que estava
nervosa.
Imaginou o rosto doce atrás da cortina de cabelos, um rosto marcado por
cicatrizes profundas. Uma se estendia desde a testa, acima de uma sobrancelha,
até a parte mais funda da bochecha; o outro corte começava uns dois centímetros
acima dos lábios e terminava uns dois centímetros abaixo deles. Os dois do lado
direito do rosto.
Elle arrepiou-se ao lembrar a primeira vez que a viu depois das novas
cicatrizes e pulou ao ouvir o sinal. Ela agarrou a mochila e ficou em pé.
Você consegue. Mas a sensação ruim era porque, na verdade, não acreditava
que seria capaz.
Ela se dirigiu à porta e sentiu Chloe logo atrás. Era ali que sempre estava,
bem atrás de Elle, e era assim há três anos e meio. Lentamente, havia se
aproximado um centímetro todo dia, até que, agora, andava praticamente colada
nela. Elas haviam aprendido que andar lado a lado era oferecer um alvo maior.
Elle entrou na fila no corredor e seguiu para a cantina com passos lentos.
Havia criado um sistema para enfrentar o corredor nos intervalos: ia pelo
caminho mais curto para a próxima aula, a menos que houvesse muita gente
nele. Muita gente significava o grupo que as atormentava, como Cassandra, a
abelha-rainha do colégio. Sabia que era melhor não demorar muito fora da sala,
porque estariam mais protegidos lá dentro; os professores costumavam
permanecer em suas salas durante os intervalos, esperando a próxima turma. Por
último, nunca olhava ninguém nos olhos. Mas também não andava de cabeça
baixa; seria uma má ideia e, de qualquer maneira, ela não era esse tipo de pessoa.
Mas esse era o único horário em que estavam seguras nos corredores. A
cantina oferecia perigos maiores para ela e Chloe.
Elle chegou ao refeitório e estudou as opções. Ali havia duas filas. A fila um
mudava todos os dias caso fosse pizza, peru ou bolo de carne; o que fosse
decidido quando o cardápio era organizado no início de cada mês. A linha dois
era sempre igual: hambúrguer de frango ou de carne e batata frita todos os dias.
No entanto, as duas não tinham essas opções, só escolhiam a fila onde houvesse
menos gente assustadora. E isso significava que, normalmente, acabavam na fila
para a comida que não era tão boa.
Aproximou-se do fim da fila mais curta. Todos os outros alunos achavam a
outra opção melhor. Olhou para lá e teve de concordar com eles.
Muito melhor, pensou.
Ela viu duas pessoas furarem a fila. Mas ela e Chloe não fizeram nada, não
reclamaram. Era melhor não chamar atenção.
— Não me ligou nem mandou mensagem nas férias. Não sentiu saudade de
mim? — Cassandra enlaçou o pescoço de Nero com os braços.
Nero a segurou pela cintura.
— Desculpa, baby. Estive ocupado.
Nero Caruso. Ele era a definição de moreno, alto e bonito. Era mais
musculoso que quase todos os outros veteranos, mas permanecia esguio.
Chamava esse tipo físico de “rasgado”. Dava para ver que ele havia cortado o
cabelo nas férias. Era estranho, porque ele sempre usou o cabelo mais comprido
e penteado para trás. Agora que estava bem mais curto, o cabelo tinha
movimento. Ela gostava mais desse jeito.
— Isso quer dizer que vai estar ocupado demais para mim hoje à noite?
Elle notou que Cassandra estufava o peito para levantar os seios.
No instante seguinte, Nero percebeu que Elle o encarava. Sustentou o olhar
com aqueles olhos verdes, depois se inclinou para cochichar alguma coisa no
ouvido de Cassandra.
— Vão para um quarto! — alguém gritou na fila.
Cassandra olhou para trás, viu que eles estavam se encarando e olhou para
Elle com ar ameaçador. Foi o que a ajudou a interromper o contato visual.
Sentia-se constrangida por ter sido pega olhando para eles. Tinha se treinado
para nunca encarar nenhum aluno, especialmente durante demonstrações
públicas de afeto.
Caramba, qual o problema comigo hoje? Era só o que faltava, irritar Cassandra.
Tinha esgotado sua cota disso no primeiro ano, quando um menino de quem
Cassandra devia gostar elogiou o cabelo de Elle. Cassandra garantiu que ela
virasse o alvo do colégio, e o menino nunca mais se aproximou dela desde aquele
dia.
A fila andou, e elas conseguiram pegar uma bandeja. Lasanha, vagem e purê
de maçãs. Honestamente, poderia ser pior.
Ela pegou uma água da geladeira e parou na frente da funcionária para
fornecer seu número:
— 1089.
— Só pode ser assim na primeira semana, Elle, depois você precisa depositar
dinheiro na sua conta ou trazer dinheiro todo dia. — A mulher falou mais alto
do que Elle achava necessário. — Não vamos repetir tudo isso este ano.
Ela duvidou que a sensação de enjoo pudesse ficar mais forte.
— Certo.
Deu um passo adiante para Chloe poder dar seu número.
— 1072.
Descobriu que o enjoo podia aumentar quando viu a cara de medo de Chloe,
que sabia que agora teriam de ir para a mesa.
Começou a caminhar para o lugar de sempre. Havia várias mesas espalhadas
pela cantina. Os alunos mais estudiosos ocupavam as que ficavam mais perto das
filas; não eram maltratados, só ignorados. As mesas no fundo da cantina eram
usadas pela turma dos populares. Elle e Chloe comiam na mesma mesa há três
anos e meio — a que ficava mais perto da porta. Era a mesa que ficava entre os
dois lados, mas mais perto dos estudiosos. Só uma mesa cheia de nerds separava
as duas dos populares. Os robôs.
Elle sentava de costas para a porta. Gostava de ter visão total da cantina.
Chloe sentava na frente dela, queria ficar de costas para o resto do mundo.
— Você dormiu essa noite? — perguntou, solidária. Sabia que Chloe nunca
dormia muito por causa dos pesadelos, mas hoje ela parecia não ter dormido
nem uma hora na noite passada. Estava pálida como um fantasma. O cabelo
preto agora estava reto, uma tentativa de esconder o lado direito do rosto. Dava
para ver as olheiras sob os olhos duros, cinzentos.
— Não muito. Acho que não queria voltar para a escola. — Chloe for-
çou um sorriso.
Elle olhou para ela.
— Não se preocupe, Chloe. Este é nosso último semestre do ensino médio.
Depois, nunca mais teremos que ver a cara dos robôs. Além do mais, quarenta e
cinco minutos podem passar mais depressa do que a gente imagina — disse,
tentando tratar a situação com leveza.
— Só tivemos três semanas de férias, Elle, não três anos.
— Ei, muita coisa pode acontecer em três semanas. Os robôs podem ter
pedido um coração de presente de Natal. — As duas riram disso.
— Se fosse assim, todo meu tempo no ensino médio foi um longo pesadelo,
e eu vou acordar... — Chloe fechou os olhos e os abriu um segundo depois. —
Agora. Bem, parece que ninguém pediu ajuda à Glinda, a Bruxa Boa do Sul. —
Elle riu alto, e Chloe riu com ela. Ficava feliz quando Chloe relaxava.
As duas começaram a comer, enquanto Elle se mantinha atenta às mesas dos
robôs. Aquele lado era bem diversificado. Havia as mesas dos atletas, distribuídas
em uma mesa inteira para o time de futebol americano e o resto, que era uma
mistura de beisebol, softball, basquete e futebol. Além disso, havia só mais
algumas poucas mesas.
A que ela mais odiava era a mesa fashionista, onde só havia roupas de grife e
líderes de torcida. Cassandra estava na ponta dessa mesa, é claro. A mesa ao lado
era a dos podres de rico, e é sério quando falo podres. Era só de meninos, e o
irmão gêmeo de Cassandra, Sebastian, se sentava na ponta da mesa. Elle tremia
de medo não só quando o via, mas quando ouvia o nome dele.
E resta só a última mesa, que Elle realmente não conseguia descrever. Eram
sempre os mesmos três garotos: Nero, que era basicamente o rei da Legacy, e
mais dois, sua equipe, como a escola gostava de chamá-los. O grandão era Amo,
e o menor era Vincent; ambos do último ano. Mas Elle notou que havia um
garoto novo sentado com eles.
“Deve ser calouro”. Elle se perguntou quem era. Tudo que conseguia ver era
a nuca de cabelo loiro-escuro.
De repente, ela sentiu que alguém tinha entrado em seu espaço pessoal. Foi
então que percebeu que havia cometido um enorme erro: tinha baixado a
guarda.
— Passei o dia todo te procurando. Fiz uma sujeirinha, preciso da garçonete
para limpar por mim. — Cassandra pegou o prato de Elle e o jogou da mesa.
Em seguida, sua voz aguda gritou: — Vai, limpa isso aí, garçonete.
Toda a cantina ficou em silêncio. A palavra “garçonete” fez Elle arrepiar,
apesar de ser quase seu nome de batismo para eles.
Elle pensou em suas duas opções. A primeira era ignorar a ordem ou fingir
que não a tinha escutado, e a segunda era dar uma resposta engraçadinha ou
dizer umas poucas palavras curtas. Ela escolheu a primeira e olhou para Chloe,
mas se arrependeu ao ver sua expressão de pânico.
— Vadia, eu sei que você ouviu. — Cassandra pegou o prato de Chloe e o
segurou sobre a cabeça dela. Chloe tentou se afastar depressa, mas duas falsas
loiras da turma de Cassandra se posicionaram perto dela, uma de cada lado,
forçando-a a continuar sentada. — Limpa essa sujeira como uma garçonete deve
fazer, ou a bizarrinha vai ter a própria sujeira para limpar.
“Bizarra” era a única outra palavra que fazia sua pele arrepiar mais do que
garçonete.
Elle sentiu um pano molhado bater em seu rosto, cortesia de Sebastian.
Olhou para Chloe e viu que ela torcia as mãos. Não queria isso para ela.
Que beleza, pensando bem, não podia ser pior. Ótimo dia para servirem as três
comidas mais grudentas. Elle engoliu o orgulho e pegou o pano de limpeza. E
engoliu o orgulho de verdade quando se abaixou para limpar o chão.
Quando terminou de passar vergonha, ela se aproximou de Chloe.
— Vem, Chloe. Vamos. — E estendeu a mão. Sabia que Chloe nunca a
aceitaria, mas entenderia a mensagem para saírem dali.
— Com licença, faltou um pedaço. — Cassandra se preparava para virar o
prato sobre a cabeça de Chloe, e Elle reagiu da única maneira possível.
Empurrou o prato para o outro lado, para cima de Cassandra.
A cantina foi invadida por emoções mistas. Alguns não conseguiram segurar
o riso, enquanto outros ficaram tão chocados, que nem reagiram. Elle sentiu um
enjoo maior do que havia sentido em toda sua vida. Estava quase vomitando o
pouco que tinha comido, antes de seu almoço ser jogado no chão.
— Vadia desgraçada! — A voz de Cassandra era mais aguda do que qualquer
pessoa acreditava ser possível. — Vou acabar com você.
Elle sabia que agora restava apenas uma opção. Correr.
Ela agarrou a parte de trás da blusa de Chloe. Mesmo em choque, Chloe não
atrasou a fuga. Elle correu para a porta; era por isso que sentavam na mesa mais
próxima da saída.
Antes de passar por ela, porém, Elle viu o sr. Evans parado na soleira. O sr.
Evans era seu professor de inglês, o único na Legacy Prep que acreditava que era
possível ser produtivo em inglês; sem mencionar que era bonito. Todas as
garotas tinham um crush nele desde o início do ano, quando ele veio lecionar na
escola.
Merda, estava encurralada. Elle parou, consciente de que estava perdida.
Ninguém que fizesse uma coisa dessa com Cassandra poderia escapar.
— Elle, Chloe, voltem para a sala de aula — o sr. Evans disse com tom
calmo, talvez calmo demais, mas ela não perderia nem um segundo dessa chance
de ouro. Tinha acabado de ganhar na loteria.
As duas saíram correndo do refeitório. Quando estavam saindo, elas ouviram
o sr. Evans dizer:
— Srta. Ross, limpe a sujeira que acabou de fazer. Não posso permitir que
outros alunos pensem que podem fazer a mesma coisa, não é? Ah, e quando
acabar, vá me encontrar na diretoria e... — A voz dele foi ficando mais longe.
Eu estou muito ferrada. Não, estou mais que ferrada.
Quando elas entraram na sala de espanhol e fecharam a porta, Elle falou:
— Desculpa, Chloe. Foi uma reação automática. Não queria que ela jogasse
a comida em você.
— Eu sei, mas o que vamos fazer? Ela vai matar a gente. Sabe disso.
Elle não sabia se Chloe estava ofegante por causa da corrida ou se era medo.
Ela se sentou e apoiou a cabeça na mesa.
— Não faço a menor ideia. — E olhou de novo para Chloe. — Algu-
ma sugestão?
— Sim, a gente pode desistir do colégio. — O tom de Chloe era sarcástico,
mas ela não poderia ter dito nada mais próximo da realidade.
As duas estavam verdadeiramente apavoradas quando o sinal sonoro
anunciou o fim da aula de espanhol. Estavam condenadas.
Na aula seguinte, estariam em turmas separadas. Elle teria artes; Chloe já
havia cursado a matéria no primeiro ano, portanto não pôde se matricular com
ela. Chloe teria aula de saúde, e, é claro, Elle tinha feito essa matéria no primeiro
ano. Era uma pena que a vida das duas tivesse mudado depois de terem montado
o horário para o primeiro ano.
Elle sabia que teria de deixar Chloe na sala de saúde antes de ir para sua sala.
Infelizmente, isso a exporia ao dobro de tempo de corredor. Ótimo.
Chegou ao corredor com Chloe atrás dela. Andava o mais depressa que podia
sem chamar muita atenção para as duas. Felizmente, a sala de Chloe não era
muito distante daquela onde tiveram aula de espanhol. Elle se sentiu grata por
conseguir chegar lá ilesa.
— Espera sentada quando o sinal tocar. Eu venho te buscar. Prometo que
vou ser a primeira a pisar no corredor.
Chloe mordeu o lábio.
— Hum, ok, não vou levantar da cadeira.
— Legal, te vejo daqui a pouco. — Esperava parecer forte para Chloe.
— Toma cuidado, Elle.
Aquela voz doce e sincera tornou mais difícil para Elle dar as costas para a
melhor amiga e ir para a aula. Porém, agora ela precisava se concentrar em
chegar lá em segurança, pois sabia que Cassandra estaria esperando por ela.
Ela praticamente correu para a sala.
Lá, sentou-se. Normalmente, sentava no fundo da sala, mas precisava ficar
perto da porta. Se tinha de ficar separada de Chloe, sentia-se feliz por ser na aula
de artes. Era uma matéria fácil, que não exigia parcerias. Chloe também fazia
uma matéria cuja turma era pequena, e nunca tiveram de formar grupos. Fazer
dupla com alguém era a pior coisa que uma garota na base da cadeia alimentar
podia ouvir.
Elle afundou na cadeira quando as seguidoras de Cassandra passaram pela
porta. É claro, porra.
Quando sentaram do outro lado da sala, elas a olharam com desprezo. Estou
completamente ferrada.
Elas cochicharam alguma coisa, e uma delas pegou o celular para mandar
uma mensagem. Não, agora estou completamente ferrada.
Elle sabia que a mensagem era para Cassandra, que agora sabia exatamente
onde encontrá-la. Pensou em avisar Chloe que talvez logo estivesse morta, mas
sabia que Chloe ficaria preocupada e sairia de seu lugar assim que o sinal tocasse.
Pelo menos Cassandra iria atrás dela, Chloe estaria segura na sala, e quando ela
decidisse ir embora, a maioria dos alunos já teria ido para casa.
Pouco antes do começo da aula, Nero entrou e sentou no grupo dos
populares, formado pelas seguidoras de Cassandra, bonitinhas e burras, e por
alguns atletas. Cada um ali só se preocupava com uma coisa: status. Para eles, era
a coisa mais importante da vida. Se ganhasse um dólar para cada vez que ouvia a
palavra “status”, Elle pensou, teria dez vezes mais do que precisava para pagar
seus estudos.
Ela olhou em volta. Era a única pessoa sentada sozinha em uma das mesas,
completamente consciente de seu lugar na Legacy Prep. Até os nerds sabiam que
não podiam falar com Elle. Não se atreviam nem a olhar para ela. Elle nunca os
culpava por isso. O mundo aqui é cobra comendo cobra.
Assim que a aula começou, a professora pediu para todos começarem o
primeiro projeto. Era fácil: todos deveriam fazer um cartaz que mostrasse sua
personalidade da melhor forma, usando os materiais que quisessem.
Elle olhou para seu cartaz em branco, enquanto pensava em quem era,
exatamente. Bem, sabia quem era, mas aquelas paredes tornavam difícil ser ela
mesma. Não, simplesmente não podia ser ela mesma ali.
Seu cabelo era loiro-avermelhado, de comprimento médio, e os olhos eram
azuis e grandes. A pele era levemente bronzeada, contrastando com cabelo e
olhos. Gostava disso, de ser diferente e ter personalidade; não era como os outros
adolescentes, que se esforçavam para ser todos iguais. Acreditava que parecia
mais nova que as outras meninas de sua idade, mas talvez fosse a ausência de
maquiagem e roupas chiques. Não tinha certeza. De qualquer maneira, sua
aparência não definia quem ela era.
Elle abriu a bolsa e pegou uma folha de papel. O plano era desenhar um
esboço do cartaz para ver se tinha algumas ideias.
Depois de várias tentativas, Elle percebeu que não conseguia se concentrar.
As burrinhas estavam rindo tão alto, que acabariam entrando em combustão a
qualquer momento. Os atletas mais lindos, sem mencionar o rei da Legacy Prep,
estavam em volta delas.
Olhou para o relógio. Não faltava muito para o fim do dia. Ela abstraiu,
mergulhou em sua cabeça cheia de coisas.
Cassandra ia acabar com ela. Não podia proteger Chloe no momento. Estava
na escala para fechar a lanchonete esta noite, e ainda teria de encontrar tempo
para fazer a redação de quinhentas palavras sobre quem você ama mais, tarefa
dada pelo Sr. Evans. É, se eu estiver viva até lá.
Sentiu um tapinha nas costas e voltou ao presente.
— Espero que consiga encontrar a bizarra a tempo. Seria uma pena se
acontecesse alguma coisa. — Era a Bonitinha e Burrinha Número Um, a mais
próxima de Cassandra.
E no instante seguinte, Elle ouviu o ruído dos tubos de tinta espremidos à
sua volta. Não, meu grande e confortável suéter branco não!
A turma toda gargalhava da sessão de tortura. Isso era o que mais a magoava;
ninguém a ajudava, todos se limitavam a rir.
— Pode me agradecer mais tarde, garçonete. Agora tem um bom motivo
para ir dar uma olhada no brechó beneficente.
Elle tinha enfrentado muita coisa para um dia só, e Chloe não estava ali para
lidar com as consequências de suas escolhas. Se ia morrer hoje, pelo menos
morreria lutando.
BRIIIING.
Chloe. Elle pegou a mochila e saiu da sala correndo, esquecendo
imediatamente a retaliação. Chloe precisava dela.
Foi então que a ficha caiu. “Espero que encontre a bizarra a tempo.”
Finalmente ela entendeu. A única maneira de atingi-la era atingir Chloe.
Ai, merda! Estou indo, Chloe. Elle saiu correndo; não se apressou um pouco
nem caminhou a passos acelerados pelo corredor, ela saiu correndo. A essa altura,
não tinha importância se ia chamar atenção.
Quando entrou na sala de aula de Chloe, ela parou de repente. Não
conseguia acreditar no que via. O coração parou de bater por um segundo.
— Chloe, tudo bem?
Elle entrou e viu o sr. Evans conversando com Chloe, que estava com os
cotovelos apoiados na mesa e o rosto escondido nas mãos.
Chloe levantou a cabeça.
— Sim, tudo bem, El... — Ela arregalou os olhos. — Você está bem? O que
aconteceu? — Chloe se levantou e caminhou na direção dela.
Elle olhou para o sr. Evans.
— Eu, ah... sem querer, derrubei tinta em mim na aula de artes. Sobre o que
estão conversando?
O sr. Evans se aproximou delas.
— Eu estava passando e vi Chloe aqui sozinha, só entrei para ver se ela estava
bem. Normalmente, todo mundo fica praticamente em pé na porta esperando o
sinal da última aula.
— É, sei bem como é isso. Eu dou carona a ela, e combinamos que ela ficaria
aqui me esperando.
— Por que aqui, e não na sala de artes? Você teve a última aula na sala mais
próxima da saída.
Elle achou que a expressão do sr. Evans não mostrava nenhuma confusão.
— Acho que não pensamos por esse lado. — Elle começou a sair da sala. —
Até amanhã, sr. Evans. Vamos, Chloe; tenho que me arrumar para ir trabalhar.
— Esperava que isso encerrasse a conversa.
Chloe alcançou Elle, e as duas se dirigiram à porta.
— Elle, se algum dia precisar conversar, sabe onde me encontrar. — Elle
olhou para trás. — Seja mais cuidadosa na aula de artes. Na próxima vez, pode
não ser tinta derramada.
Não, a conversa não estava encerrada. Mas Elle continuou andando.
— Tenha uma boa noite, sr. Evans.
Elas atravessaram a escola e, quando saíram do prédio, sentiram-se livres de
um enorme peso, como se estivessem quase livres.
— E aí, quem derrubou a tinta? E droga, na roupa toda! Esse seu suéter era o
meu favorito.
Elle olhou para si mesma. Droga, ela sujou até meu jeans favorito.
— Uma das ajudantes da Cassandra.
— Qual delas? Aquela ali? — Chloe acenou com a cabeça para Nero, que
estava em pé ao lado de seu Cadillac com a Bonitinha e Burrinha Número Dois.
Elle conseguiu ouvir o que eles diziam.
— Nero, pode me dar uma carona? Hoje eu vim com a Cassandra. — Ela se
apoiou no carro e sorriu.
— Claro, baby. — Nero deixou os olhos descerem do rosto para o peito da
garota. — Leo, vamos!
Elle viu um menino mais novo correndo para o carro. Ele era uma miniatura
de Nero, principalmente antes do corte de cabelo. A única diferença entre eles
era o tom do cabelo, o do garoto era loiro-escuro. Lembrou-se dele sentado à
mesa de Nero, o mais novo membro.
— Banco traseiro, Leo. — Elle teve a impressão de que Leo fez uma careta
fofa, antes de todos entrarem no carro e baterem as portas, o que a trouxe de
volta à realidade.
— Não, a outra. — Elle balançou a cabeça. Eu tenho que sair dessa, sério.
As duas entraram na BMW de Chloe. Diferente dos carros dos outros alunos,
que tinham Mercedes, Porsches e Lamborghinis, o dela era um clássico. Nada
muito caro, nem muito extravagante. É claro, Chloe nunca teria escolhido um
carro como aquele, mas o pai político não havia pedido sua opinião.
Quando elas fecharam as portas, Chloe perguntou, preocupada:
— Elle, está acontecendo alguma coisa? Você está esquisita hoje.
— Tudo certo, Chloe. Acho que só estou me cansando dessa mesma merda
todo dia.
— Olha só, você não precisa ficar. Pode ir. Se seus pais soubessem como
você é tratada aqui, não permitiriam que você viesse...
Olhou para Chloe.
— Não vou te deixar sozinha, Chloe. Já disse isso mil vezes.
— Bom, sobrevivemos durante esse tempo porque não entramos no jogo
deles. Não sou como você, Elle. — Chloe olhou para o volante.
Elle a encarou, consciente do que ela pedia.
— Tudo bem, Chloe. Não vou reagir. Prometo.
Chloe ligou o carro.
— Reagir não vai resolver nada, Elle. Você sabe disso.
Assentiu e sorriu para Chloe. Não, eu sabia, acreditava nisso. Mas tivera a
revelação. Era preciso combater fogo com fogo.

Elle entrou em casa pela porta da frente, acenou para Chloe antes de fechá-
la e apoiou a cabeça nela.
— Tudo bem, lindinha?
Pulou, assustada.
— Ah, oi, mãe. Sim, tudo ótimo. Cansaço, só isso. — Elle olhou para a sala.
— O papai está na cozinha?
— Não, ele, hum, está na cama dormindo.
— Não levantou o dia inteiro? — Começou a ficar preocupada.
— Não, amorzinho, ele só foi tirar um cochilo. — A mãe dela sorriu. Mas
Elle não acreditou na resposta.
— Tudo bem. Vou fazer a lição de casa no meu quarto, antes de ir trabalhar.
Elle foi andando pela casa, mas quando passou pelo quarto dos pais, ela
parou e pensou se não devia entrar e dar uma olhada no pai. Talvez mais tarde.
Já estou bem deprimida sem isso.
Ela foi para o quarto e ligou o computador.
Quem eu mais amo? Ela pensou no tema da redação. A aula de inglês do
Evans era sua favorita, sem dúvida; queria ser escritora no futuro. Honestamente,
sabia a resposta. Sim, sentia-se um pouco traída pelo pai, no momento — a
pessoa que ela mais amava. Por mais que ele pouco falasse, sempre desejava a ela
uma boa aula, e essa teria sido a última vez. Ela decidiu deixar os sentimentos de
lado em prol das suas notas. Tinha feito metade da redação, mais ou menos,
quando olhou para o relógio e viu que precisava se arrumar para ir trabalhar.
Vestiu o uniforme, que odiava mais que sua vida, provavelmente. Estava
convencida de que ele devia ter uns vinte anos, já que o vermelho havia se
transformado em um cor de laranja queimado. Bom, eu tenho certeza de que era
vermelho, pelo menos.
Elle vestiu o casaco de lã, sua melhor compra no brechó beneficente até
agora.
Pronta, Elle saiu do quarto e foi até a cozinha.
— Ei, Josh. Como foi o primeiro dia? — Elle esquecia todos os problemas
quando via a carinha do irmão de oito anos.
— Tudo bem, acho. — Josh deu de ombros. — E o seu, Elle-bell?
Elle olhou para Josh com firmeza. Com exceção do cabelo loiro, era como se
estivesse olhando para um espelho por causa de sua expressão.
— Foi bom. — Ela decidiu que teria de conversar com ele em breve;
descobrir como estavam as coisas na escola de verdade. — Que cheiro bom, mãe.
Guarda um pouco para eu comer mais tarde?
— É claro, benzinho. Ah, seu pai está na sala. — Dessa vez, ela sorriu de
verdade.
Elle foi até a sala e ficou esperando o pai dizer alguma coisa, mas ele não
falou nada. Ela se dirigiu à porta, mas antes de sair, disse:
— Tudo bem na escola, pai. — Estava realmente desapontada. Não só ele
não havia desejado um bom primeiro dia, como era tradição, como agora nem
havia perguntado como tinha sido.
Elle deixou a mágoa de lado e saiu. O ar frio na pele a deixou contente. O
cheiro era sempre limpo e fresco. Tinha alguma coisa especial no som das botas
esmagando a neve que a animava instantaneamente.
Elle andou até o ponto de ônibus, e de lá o ônibus a levaria até o centro da
cidade. Quando embarcou, escolheu um assento ao lado da janela para olhar a
paisagem. Amava Kansas City, Missouri. Essa era sua casa. Porém, os últimos
anos haviam despertado nela o sentimento de que não cabia mais ali.
Talvez eu precise ir embora com a Chloe.
Seu ponto chegou, e ela desceu do ônibus e andou os poucos quarteirões até
a lanchonete. Enquanto andava, Elle não se incomodava com o barulho e o
movimento; gostava de ver as pessoas se preparando para a noite.
Porém, não demorou muito para ela notar os dois homens parados na frente
do hotel cassino Kansas City, ao lado da lanchonete. Um deles tinha bolsas sob
os olhos e parecia estar alterado. Olhava para trás a todo instante, como se
alguém pudesse atacá-lo a qualquer segundo. O outro falava com ele com ar
sério. Não dava para ouvir o que ele dizia, mas Elle sabia que ele tentava mantê-
lo sob controle.
Quando passou na frente deles, Elle ouviu o homem sério dizer:
— O chefe te deu uma tarefa. Não tem escolha.
O sotaque italiano e o barulho da cidade dificultavam a compreensão.
Elle continuou andando. Não queria saber o que falavam; não era da sua
conta.
Ela entrou na lanchonete e pendurou o casaco no cabide. Era uma
lanchonete velha que precisava de uma boa reforma. Todos os prédios do centro
eram velhos, mas alguns conservavam a elegância do passado. Como esse vestido
que sou obrigada a usar.
Elle não se importava de trabalhar. Era uma oportunidade para conhecer
pessoas que nunca teria conhecido em circunstâncias regulares, especialmente
com o hotel cassino no prédio ao lado. As gorjetas também eram boas. Ganhava
dinheiro suficiente para pagar o restante do valor da mensalidade no colégio.
Elle bateu o ponto e logo começou a servir as mesas. Segunda-feira era
sempre uma noite tranquila, porque todo mundo estava cansado do fim de
semana. Para ela, isso significava um expediente mais lento, que a obrigava a
ouvir os próprios pensamentos. Mas depois de hoje, não queria pensar.
Era uma das duas funcionárias escaladas para fechar a lanchonete esta noite.
Consequentemente, esperava que o movimento aumentasse logo, ou acabaria
enlouquecendo.
Mas o tempo passava, e Elle nunca se livrava dos pensamentos. Durante a
noite toda, a lanchonete teve só alguns poucos clientes de cada vez. Trinta
minutos antes da hora de fechar, ela começou a limpeza para deixar tudo pronto
para a manhã seguinte. Em pouco tempo havia terminado, e só faltava levar o
lixo para fora. Portanto, ela foi vestir o casaco e pegar a bolsa.
Depois, quando foi buscar o saco de lixo, passou pela cozinha e disse:
— Até amanhã, Steve. Boa noite. — Steve era o cozinheiro da lanchonete.
— Até mais, Elle. — Ele continuou limpando o fogão.
Elle saiu pela porta dos fundos para levar o lixo, e pretendia ir embora pela
viela entre a lanchonete o hotel cassino. Trancou a porta e jogou o lixo na
caçamba. Depois se virou e começou a andar em direção ao ponto de ônibus,
quando ouviu vozes na viela.
— Por favor, por favor, não me mata.
— Cala a boca, porra, antes que eu estoure sua cabeça aqui mesmo.
Elle correu e se escondeu atrás da caçamba. Sabia que não queria ficar frente
a frente com aquela voz.
Ela ouviu passos se aproximando.
— Tudo certo, chefe.
O grupo todo entrou na área atrás da lanchonete, e Elle espiou de trás da
caçamba. Estava muito escuro, mas ela conseguiu ver quatro homens, graças à
luz da lanchonete. Um vestia um terno caro e tinha o cabelo escuro penteado
para trás. Era um homem mais velho. Em circunstâncias normais, teria pensado
que ele era sexy e lindo, mas nesse momento ele a apavorava. Definitivamente,
era ele quem estava no comando.
Antes que eu estoure sua cabeça. É, era ele.
Ela notou que o homem imobilizado e mantido de boca fechada era o doido
que vira mais cedo, na porta do hotel cassino. Outro homem mais jovem o
segurava, e era quase tão assustador quanto o que estava no comando. Devia ter
uns vinte anos, mas poderia ser mais ameaçador que o chefe.
— Vai pegar o carro, Sal, e vai depressa.
Elle sentia arrepios cada vez que ouvia essa voz. O cara é pavoroso.
— É claro, chefe. — O terceiro homem não era tão assustador quanto os
outros. Mas poderia ser, se os dois Hannibals Lecters não estivessem ali.
Ele saiu correndo da viela.
Um minuto passou, e Elle notou que o coitado do homem sabia qual seria
seu destino. Talvez estivesse com mais medo que ela no momento. Movido pelo
instinto, tentava lutar contra o outro que o segurava, mordendo a mão que
cobria sua boca. O sujeito abaixou a mão antes que pudesse perder um pedaço
dela, e o imobilizado abriu a boca para gritar.
Mas antes que ele clamasse por ajuda, o Chefe tirou uma arma do bolso do
paletó. Elle não pôde mais olhar. Sabia o que aconteceria.
PÁ.
Não foi necessário mais que um.
Elle começou a hiperventilar e cobriu a boca, com medo de que a escutassem.
Sabia que seria a próxima se não ficasse quieta.
Um carro chegou derrapando, e ela ouviu o barulho de portas se abrindo e de
gente sendo enfiada no veículo. Antes de todas as portas estarem fechadas, o
carro se afastou cantando pneus.
Elle manteve a mão sobre a boca, enquanto os olhos se enchiam de lágrimas.
Tinha de sair dali, antes que alguém voltasse para cobrir as pistas. Você consegue.
Quando espiou novamente de trás da caçamba, não havia ninguém à vista.
Àquela altura, não podia mais perder tempo pensando; tinha de deixar o corpo
assumir o controle. Ela pulou de trás da caçamba e fez a única coisa que podia
fazer: correu como louca.

Sal parou o carro na frente da casa do chefe. Porra, ainda bem que estou em
casa. O cheiro de urina do corpo o enjoava.
— Sal, volta ao cassino e se livra das fitas, e trata de limpar o mijo do infeliz
do meu carro. — Não tinha sido uma boa ideia matar o idiota na viela onde ele
trabalhava, onde pessoas deviam ter ouvido o tiro e onde não tiveram tempo
para limpar o sangue, mas ele se convenceu de que não tinha escolha.
— Certo, chefe. Eu aviso quando terminar tudo.
— Lucca, se livra desse monte de merda e não volta para casa com esse
sangue na porra da camisa. Não sei que vadia você trouxe para casa hoje, mas ela
não vai precisar disso para ficar excitada. Capisce? — Estava furioso com o filho.
Ele não devia ter deixado o sujeito morder sua mão. Havia posto em risco tudo
que o chefe havia conseguido trabalhando a vida inteira.
O rapaz assentiu. O chefe percebeu que o filho estava desapontado com ele
mesmo. Só sabia porque via a mesma cara que ele mesmo fazia quando estragava
tudo. Seu filho ficava mais e mais parecido com ele a cada dia. Sabia que era tão
assustador quanto o pai; só faltava experiência.
Ele desceu do carro e entrou em casa. Precisava de uma bebida depois de
toda aquela confusão. Pegou a garrafa, serviu o líquido marrom em um copo e
foi pegar um charuto na caixa. Então sentou-se na grande cadeira de couro atrás
da enorme escrivaninha e começou a relaxar. Não havia nada como uísque em
uma mão e um charuto na outra para acalmar.
Uma hora depois, seus pensamentos eram menos sombrios. Levava uma vida
dura comandando a família e essa cidade; no entanto, não queria viver de outro
jeito. Seu lugar era no topo, e todo mundo sabia disso.
Batidas na porta arruinaram o momento de solidão.
Ele suspirou e disse em tom ríspido:
— Entra.
— Chefe, as notícias não são boas. — Sal segurava um laptop.
Ele apertou a região entre os olhos com o polegar e o indicador e entregou o
copo a Sal.
— Serve uma dose do tamanho da porra da má notícia.
Sal obedeceu rapidamente e serviu meio copo. Depois de um segundo,
mudou de ideia e completou com uísque até a borda.
— Cacete, Sal, traz a merda do copo e dá logo a má notícia. — O chefe sabia
que, pelo jeito, não era nada que quisesse ouvir.
— A boa notícia para você, chefe, é que sentou no banco da frente. — Sal
abriu o laptop e pressionou uma tecla.
O chefe sabia exatamente o que estava vendo, eram as imagens de uma
câmera de segurança na viela. Para sorte dele, a câmera também capturava a área
atrás da lanchonete ao lado de seu cassino.
Os primeiros segundos não mostraram nada. Era quase como se Sal não
tivesse apertado o play ainda. Depois uma garota saiu pela porta dos fundos da
lanchonete com um saco de lixo, que jogou na caçamba. Um segundo depois, ele
a viu correndo para trás da caçamba e para a escuridão. Não dava mais para vê-
la.
— Merda.
— Ah, espera, chefe, vai melhorar. — O chefe não gostou nada desse tom.
Ele assistiu todo o desenrolar do assassinato. Nada de novo; sabia o que havia
acontecido. Bebeu a dose toda de uma vez só. Sabia exatamente o que ia
acontecer assim que o carro partisse, e é claro que a garota saiu correndo de trás
da caçamba como ele imaginava. E desapareceu.
Sal fechou o laptop.
— Quem é? — Era melhor Sal ter boas respostas.
— Elle Buchanan. Trabalha na lanchonete. Mas temos outro problema,
che...
— Porra, Sal, quanto essa merda toda ainda pode piorar? — O assunto
estava resolvido. Sabia que a menina ia morrer, que outro problema podiam ter?
— Ela é aluna do último ano da Legacy, chefe. Vai fazer dezoito anos no mês
que vem. Sei que você é contra atacar menores de idade, mas ela é praticamente
uma adul...
— O que foi que acabou de dizer? — Não gostava do que tinha ouvido. Essa
família era regida por regras, e nem ele mesmo gostava da ideia de quebrar as
regras da família. Além do mais, de todas as regras, essa era uma que ele jamais
desrespeitaria.
— Desculpa, chefe. Não devia ter falado nada. Só queria proteger a família.
— Sal começou a ficar nervoso; ninguém nunca desrespeita o chefe.
Ele se levantou e encarou Sal. Contraindo a mandíbula, disse:
— Eu decido como proteger essa família, capisce?
Sal engoliu em seco e assentiu.
— Capisce. Então, como vamos resolver isso?
Ele foi servir mais uma dose.
— Deixa o laptop aí. Eu destruo a fita e cuido disso pessoalmente.
Sal saiu da sala. Se o chefe dizia que ia cuidar de tudo, ele ia cuidar de tudo.
Com o copo cheio, ele voltou a sentar atrás da mesa. Tinha uma ideia. Não
só podia cuidar da garota, como teria uma chance de testar a lealdade de um
soldado.
Ele pegou o celular e, depois de dois toques, ouviu um grito agudo de
mulher do outro lado.
— Manda a garota embora. Tenho um serviço pra você, filho. — E desligou.
O grito da mulher ajudou a cristalizar a ideia de que o filho poderia cumprir
essa missão. Descobriria o que a menina tinha visto, exatamente, e se alguma
coisa teria que ser feita com ela em seu aniversário de dezoito anos.
Alguém bateu na porta pela segunda vez naquela noite, e seu filho, diferente
de Sal, não esperou uma autorização para entrar. O chefe estudou Nero ao vê-lo
entrar. O cabelo escuro estava molhado, e ele exalava cheiro de sexo. Pela
primeira vez naquela noite, o chefe sorriu de verdade.
Ele é a pessoa certa para esse serviço.
Elle entendia o maluco. Estava se tornando uma pessoa enlouquecida.
Ela correu para o ponto de ônibus tanto quanto as pernas aguentaram, e quando
estava dentro do ônibus, começou a olhar para todo mundo à sua volta,
pensando se alguém a mataria ali mesmo. Quando desceu, correu o mais
depressa possível de novo até chegar à porta de casa.
As mãos tremiam tanto, que ela quase não conseguiu destrancar a porta.
Teve de tentar algumas vezes, antes de encaixar a chave na fechadura. Depois
entrou, bateu a porta e usou todas as trancas. Em seguida, ficou parada, olhando
pelo olho mágico por uns cinco minutos. Sentia que alguém estava atrás dela.
— O que está faz...?
Elle deu um pulo e um grito tão alto, que praticamente molhou a calça.
— Jesus, pai, quase me matou de susto.
— O que está olhando lá fora? Alguém te seguiu?
Sentiu que o pai começava a se preocupar.
— Não, é claro que não. Achei que tinha visto... um cachorro grande, ou
alguma coisa assim. — Ela espiou pelo olho mágico de novo. Beleza, é a última
vez.
— Bom, seja o que for, não vai passar pela porta fechada.
Elle forçou uma gargalhada.
— É, tem razão. — Agora é a última vez mesmo.
E espiou pelo olho mágico.
— Eu ia esquentar um pouco do que sobrou do jantar. Quer comer comigo?
Sei que não come a comida da lanchonete. — Ele estava certo, mas assistir a um
assassinato tinha acabado com seu apetite. Para sempre.
— Não, obrigada, não estou com fome. Não estou me sentindo muito bem,
pai. — Só queria ir para o quarto.
— Elle, por favor. — A cara dele impossibilitava uma resposta negativa.
— Tudo bem, pai. Quer que eu te leve? — Elle sorriu como pôde. Quando
o pai assentiu, ela segurou as manoplas da cadeira de rodas e o empurrou pela
sala de estar até a cozinha, onde o pôs perto da mesa. — Vou fazer seu prato.
Ela pegou na geladeira as sobras do jantar, frango frito e purê de batatas,
aqueceu no micro-ondas e deixou o prato diante dele com um garfo.
— Desculpa por hoje, Elle. A noite passada foi terrível para mim. Não estava
aguentando e acabei tomando o analgésico. Apaguei o dia inteiro. — Ele pegou
o garfo.
— Tudo bem, pai. Sei que isso tem sido complicado para você nos últimos
anos. — Elle entendia de verdade. Perder a capacidade de andar era algo com
que ela nunca teria sido capaz de lidar.
— Não é desculpa para me entupir de remédio até apagar. Prometo que vou
tentar ser melhor. — E a encarou. Dessa vez, precisava ter certeza de que ela
acreditava nele.
De vez em quando, isso acontecia. Em intervalos de alguns meses. As dores e
o sofrimento mental o derrubavam, e ele acabava tomando os comprimidos.
— Eu sei, pai. — Elle tocou seu ombro. Queria muito acreditar nele.
O pai pegou uma coxa de galinha e mordeu.
Ai, caramba.
— Tem certeza de que não está com fome, Elle? Parece que não come há
dias. — E limpou a boca com o dorso da mão.
Acho que vou vomitar.
— Não sinto muita fome. Acho que estou virando vegetariana. — Elle
levantou da mesa. Tinha de sair dali. — Boa noite, pai.
— Boa noite, Elle-bell.
Se não estivesse quase vomitando depois do que tinha visto naquela noite,
Elle estaria feliz. Amava o pai mais que qualquer outra pessoa, e odiava quando
ele decidia ser outro alguém, mesmo que fosse só por um dia. Antes, eram meses.
Quando finalmente chegou ao quarto, ela tirou o uniforme e vestiu o pijama.
Deitou na cama e ficou olhando para o teto.
Que diabo acabou de acontecer? Elle não sabia o que fazer.
Chamar a polícia? Sabia que nem todos os policiais do mundo a salvariam
daquele homem. Teria de entrar para o programa de proteção à testemunha, e
mesmo assim ele a encontraria, provavelmente.
Sair da cidade? Chloe ficaria sem proteção.
Não. Contar aos pais? Sabia que eles chamariam a polícia ou sairiam da
cidade.
Então, é evidente que minha única opção é fingir que isso não aconteceu. Pelo
menos até ele me encontrar. Quem é ele?
Precisava descobrir quem ele era para poder se preparar. Elle decidiu rever o
que tinha acontecido. Era difícil, já que a única coisa que conseguia lembrar era
o barulho do tiro.
Então uma palavra começou a se destacar em sua cabeça: Chefe. Lembrava
que o homem menos assustador o tinha chamado de chefe. Chefe? Depois, outra
lembrança se destacou. “O chefe te deu uma tarefa. Não tem escolha.” O maluco
estava apavorado. Sabia qual seria seu destino horas antes. Um homem adulto
morrendo de medo dele. O chefe, tarefa, sem escolha.
Puta merda, acabei de ver alguém sendo passado!
Desde que nasceu em Kansas City, Elle ouvia fofocas e histórias sobre a
cidade ser uma das capitais da máfia dos Estados Unidos. Mas achava que isso
era coisa de filme, só boatos.
Ela fechou os olhos e se esforçou para recuperar a imagem do chefe. Viu um
homem maduro, de cabelo escuro e bonito vestido com um terno.
Ai, meu Deus, eles até usam terno.
Elle entendeu que tinha acabado de ver o chefe da máfia de Kansas City —
que ele era o mandachuva, passando gente e tudo mais.
Eu estou muito ferrada.

Elle eestava na aula de inglês e quase não ouviu o sr. Evans falando com a
turma. Com tudo que havia acontecido na noite anterior, havia esquecido de
terminar a redação. A manhã toda estava estranha, confusa a ponto de nem
lembrar direito como tinha ido parar ali.
— Elle, Elle, Elle? — Ela olhou para o sr. Evans.
— Hum... hã? — E continuava perdida.
— Trouxe o trabalho que eu pedi?
Elle sentia que todos olhavam para ela. Sabia que isso serviria para alimentar
o bullying.
— Trabalho? Não, desculpa. — Ela viu o professor seguir para o próximo
aluno.
Quando o sr. Evans voltou à frente da sala, ela notou que a cadeira onde
Cassandra havia sentado no dia anterior estava vazia. Olhou em volta, pensando
que talvez ela tivesse mudado de lugar.
Hum, Cassandra não veio?
Só podia ser uma bênção, já que ela nunca perdia um dia de aula. Nunca. Se
uma garota como ela perdia um dia, sentia que havia perdido um ano de vida.
Cassandra tinha de se meter nos assuntos de todo mundo, por isso faltar um dia
de aula significava perder alguma coisa que podia ser boa.
Elle ainda sentia que todo mundo olhava para ela. E olhou em volta de novo.
Mas não viu nada de diferente. Não era alvo de nenhum interesse em particular,
especialmente agora, depois que o sr. Evans havia estipulado a política de
proibição de bullying em sua aula.
Elle ouviu o sinal e olhou para o relógio.
Nossa, próxima aula já?
Chloe e ela pegaram o material e começaram a caminhar para a porta.
— Elle, posso falar com você um segundo?
Olhou para Chloe, torcendo para ela entender que era para esperar ali.
Depois se dirigiu à mesa do professor.
— Sim?
— Você não é tipo de aluna que deixa de entregar tarefas.
— Não passei muito bem ontem à noite. Estômago. Fiz a metade da redação
antes de ir trabalhar, mas quando cheguei em casa, estava enjoada demais para
terminar. Desculpa. — Esperava que ele acreditasse nisso. Era a pura verdade,
sem os detalhes sangrentos.
— Tudo bem. Não vou dar nota mesmo. Só queria saber o nível de escrita
de cada aluno. Vou pressupor que você está na média, pelo menos, já que espera
ser escritora.
Elle deduziu que ele acreditava em sua justificativa. O sr. Evans era muito
bom para identificar mentiras.
Bem, noventa e nove por cento dos adolescentes mentem sobre os motivos para não
terem feito a lição de casa.
— Obrigada, sr. Evans. Muito obrigada. — Elle percebeu que o professor era
um cara legal. Nenhum outro fez por ela e Chloe o que ele tinha feito.
Ao pensar em Chloe, ela olhou para trás para ver se estava onde a deixara.
Não estava. Droga, por que ela fez isso?
Era hora de ir embora. Elle se dirigiu à porta.
— Que isso não se repita, Elle.
Ela não se incomodou em responder. Apenas saiu e foi para a sala de pré-
cálculo.
Acho bom ela ter ido para a sala.
Andando apressada, sentiu alguém tropeçar nela. Estava tão preocupada com
Chloe, que não verificou quem estava no corredor para estragar seu dia.
Ao sentir os braços em torno de sua cintura, impedindo que caísse, ela teve
de levantar a cabeça para ver quem a culparia pela trombada. Nero. Que
maravilha, não podia ser mais ninguém.
— Desculpa, foi sem quer...
— Por que está se desculpando?
Ele nunca reconheceu sua presença no colégio, nunca falou com ela. Pior, os
braços continuavam em torno de sua cintura. E, ela percebeu, de perto sua voz
era mais profunda. Não gostava de estar tão perto dele. Tentou se afastar, mas
ele não a soltava.
— Fala por que pediu desculpas, e eu te solto.
Ela o encarou, temendo que ele a atacasse de início, mas não havia nenhum
sinal de malícia em seu rosto. Só curiosidade. Elle não sabia o que dizer. Em
parte porque não sabia o que a tinha feito pedir desculpas, em parte porque
estava abalada com o rosto bonito e a voz profunda.
— Eu... não sei por que me desculpei. Instinto, acho. — Falava para o peito
dele; não conseguia encará-lo estando assim tão perto.
Depois de alguns segundos, ela sentiu os braços dele caindo e jurou que,
antes de soltá-la, as mãos deixaram nela uma marca mais forte. Elle olhou para
ele de novo. Seus olhos eram muito verdes. Nunca tinha visto olhos
naturalmente verdes antes.
— Faz um favor, não pede desculpas para ninguém que não mereça.
Entendeu? — Ele exigia uma resposta.
Elle não gostava de exigências.
— Não mereço um pedido de desculpas, então?
Nero sorriu e deu um passo na direção dela.
— Não sinto muito. — E o encarou.
Isso está acontecendo?
Não tinha escutado o sinal, e só agora notava que não havia ninguém no
corredor. E quando notou, ela começou a se sentir incomodada. Não gostava de
como Nero a fazia sentir.
— É melhor eu ir para a aula. — Elle precisava ter certeza de que Chloe
estava bem.
Ela se afastou depressa, muito incomodada. Mais ainda, sentia que Nero a
observava, o que a deixava ainda mais perturbada.
— Na próxima vez, olha por onde anda. — Não precisou se virar para ver
que ele estava sorrindo.
Elle chegou à sala de pré-cálculo e, aliviada, viu que Chloe estava lá. Ela não
vai acreditar que a porra do Nero Caruso falou comigo.
Elle decidiu esperar até a hora do almoço para contar a Chloe o que
havia acontecido no corredor, já que qualquer pessoa poderia ouvir a conversa
entre elas na sala de aula.
Descobriu que, sem Cassandra, ninguém prestava atenção nas duas. Era
como se fossem invisíveis. Algumas pessoas achavam que nada podia ser pior que
ser invisível, mas Elle e Chloe certamente gostavam de não ser notadas. Era
como se estivessem de férias. Ah, daria qualquer coisa para ser Gasparzinho, o
Fantasma Camarada e se livrar dos dias de bullying. Quem nunca passou por
isso jamais vai entender o que ela e Chloe enfrentavam cinco dias por semana.
Antes que Elle percebesse, faltavam cinco minutos para o almoço. Não tinha
nem pensado no assassinato desde o intervalo, quando Nero a atropelou no
corredor. Queria saber o que isso significava, mas tirou esse pensamento da
cabeça rapidamente.
Eu devia estar em um hospício, porque nunca estive mais feliz. Agradecia a Deus
por Cassandra não estar no colégio, qualquer que fosse o motivo.
O sinal do almoço tocou, e Elle e Chloe saíram da sala. Assim que chegaram
ao corredor, Chloe falou:
— Este é o melhor dia da minha vida! — Pela primeira vez em anos, Elle viu
Chloe sair pela escola, e no corredor.
— Eu sei. É realmente o melhor dia. Por que será que Cassandra não veio?
— Quem liga? Nunca pensei que uma pessoa fosse o único motivo para o
colégio ser esse pesadelo para nós. — Adorava ver Chloe desse jeito.
— É, nem eu. — Elas entraram na cantina e estudaram as opções. E
escolheram a fila menos intimidadora, porque não queriam abusar da sorte.
Hambúrguer de frango, é isso.
As duas pegaram a comida e foram sentar à mesa de sempre, e então Elle se
inclinou e disse:
— Preciso te contar o que aconteceu hoje de manhã, quando você me
deixou. Aliás, qual é? Por que fez aquilo?
— Porque o sr. Evans disse que precisava falar com você, não comigo. Eu
sabia que era sobre não ter entregado a lição. Ele não ia falar na minha frente,
você sabe. — Chloe pegou uma batata frita e pôs na boca. — Ah, e por que não
entregou o trabalho? Era a primeira tarefa do semestre.
— Passei mal. Olha só, preciso te contar uma coisa. Não vai acreditar em
quem falou comigo e disse que não devo ped...
— Passou mal? Sério, é essa a desculpa que vai me dar? Espero que não tenha
usado essa com ele.
— Ah, sim, passei mal. É verdade, e ele acreditou em mim. Por que está
duvidando?
— Provavelmente, porque você nunca deixou de entregar uma tarefa, e passa
mal o tempo todo. Você vive doente. Não tem um vírus em circulação por aí
que você não pegue.
Elle encarou Chloe. Ela estava certa; vivia doente. Sua amiga não ia aceitar a
conversinha do mal-estar. No entanto, não podia contar que tinha visto um
homem ser assassinado na noite passada. Nunca poderia contar a ninguém o que
havia acontecido. Assistiu a muitos filmes... Quanto menos se soubesse, melhor.
Ninguém machuca alguém para arrancar da pessoa informações que ela não tem.
— Bom, foi diferente. — Esperava que Chloe aceitasse essa desculpa. Queria
mudar de assunto, falar sobre alguma coisa que pudesse contar a ela.
Ela olhou para a mesa do Nero. Ele não estava lá.
Hum, ele sempre está aqui.
— Ei, gata, posso sentar aqui?
Elle virou a cabeça e o viu parado, segurando uma bandeja. Ele realmente
perguntou isso, e realmente me chamou de “gata”?
— Está falando sério? Sentar aqui? — E apontou para a cadeira a seu lado.
— Sim, eu falei com você, não falei? — Nero era um engraçadinho,
decididamente.
Elle olhou para Chloe, que estava de boca aberta. Sabia que ela não queria
ninguém ali, perto dela; Chloe não gostava de pessoas novas.
Além do mais, no momento em que a palavra “gata” saiu daquela boca, ela
tomou sua decisão. Não interessa se é uma boca bonita.
— Não, é claro que não falou comigo, porque meu nome não é “gata”.
Aposto que nem sabe meu nome. Então, não, não pode sentar aqui, Nero. —
Era a primeira vez que dizia o nome dele, a primeira que percebia, pelo menos. E
tinha certeza de que ele não sabia qual era seu nome.
Nero estava chocado com a resposta, era evidente. Ele deve pensar que é só
chamar uma garota de “gata” e pronto, consegue tudo que quer.
— Tudo bem, gata. Vou sentar lá, por enquanto. Eu posso esperar. — E
Nero se afastou. Elle não teve tempo para pensar em uma resposta.
O que ele acabou de dizer? Quando o viu seguir para sua mesa de costume,
Elle notou que todo mundo estava olhando para ela, principalmente as garotas.
Olhou para Chloe, cuja boca ainda estava aberta. Assim que finalmente
conseguiu engolir a comida, ela começou com o interrogatório.
— Não acha que podia ter me avisado?
— Jesus, Chloe, tentei contar duas vezes, mas você me interrompeu. Falei
que você não ia acreditar em quem tinha falado comigo.
— Então conta!
Chloe a sacudiria, se ela não dissesse tudo.
— Depois da conversa com o sr. Evans, fui para o corredor, e ele tropeçou
em mim. Tentei pedir desculpas, mas ele falou para eu não me desculpar por
algo que não tinha feito. Ele falou comigo, e não foi maldoso. — De repente,
Elle se sentiu um pouco mal por ter conversado com ele, mas pensou melhor.
Quero dizer, e se ele está tentando me fazer cair em uma pegadinha, ou alguma coisa
assim?
— Não acredito. Nero é... legal?
— De jeito nenhum. Ele é... — Elle olhou para Nero. Ele era perfeito, pelo
menos por fora. Mas nunca tinha falado com ela antes. Tinha certeza de que
havia dormido com metade das garotas do colégio, portanto não sentia falta de
companhia, o que deixava apenas duas opções. Ele queria dormir com ela ou
fazer alguma coisa terrivelmente cruel.
De qualquer forma, ele não vai me enganar.
— Ele quer alguma coisa, mas não vou descobrir o que é. Sei exatamente
quem é Nero Caruso, e “legal” é a última palavra que eu usaria para descrevê-lo.
— Sim, mas não está nem um pouco curiosa? — Chloe levantou a
sobrancelha direita. Tinha uma falha nela no local da cicatriz. Elle notou que ela
havia penteado o cabelo para trás da orelha. — Eu estou. — Não a via feliz desse
jeito há muito tempo. Odiava pensar que Cassandra voltaria no dia seguinte e
estragaria tudo. Chloe merecia ser feliz.
— Não, não estou. — Elle nem percebeu que mentia para si mesma naquele
momento.
Quando as duas terminaram de almoçar e foram para a aula de inglês, Elle
ainda estava espantada com a audácia de Nero.
“Tudo bem, gata. Vou sentar lá, por enquanto. Eu posso esperar.”
Quem ele pensa que é? Ah, é verdade, o rei de Legacy Prep. Elle não queria saber
se ele era o rei do mundo, sentia que havia uma segunda intenção.
Tipo, por que agora? Por que ele quer falar comigo agora?
Antes que Elle percebesse, era hora da última aula do dia. Elle acompanhou
Chloe até a sala dela e seguiu em frente andando depressa, ainda preocupada,
mas menos que nos outros dias.
— Fica aqui e me espera. Não vamos tentar bancar as ousadas só porque
Cassandra não está aqui. Ela é a líder do grupo, é claro, mas você sabe tão bem
quanto eu que ela não é a única que gosta de infernizar nossa vida.
Elle olhou para Chloe. Queria ter certeza de que ela entendia bem a situação.
— Eu sei. Vou ficar esperando aqui.
Ficou satisfeita por saber que a amiga também não queria correr riscos.
— Tudo bem, te pego mais tarde. — Elle começou a andar na direção de sua
sala.
Quando chegou lá, sentou-se à mesma mesa que havia ocupado no dia
anterior. Ainda queria sair assim que ouvisse o sinal. Não confiava em ninguém
nessa escola, além de Chloe.
Ao sentir que alguém sentava a seu lado, Elle virou-se e viu Nero dividindo a
mesa com ela.
— O que está fazendo?
Nero sorriu.
— Sentando. Decidi não ser legal e pedir sua permissão.
Elle olhou em volta e viu que as seguidoras da Cassandra estavam furiosas.
Todos os outros alunos estavam completamente confusos.
Tão confusos quanto eu.
— Acho que não é uma boa ideia. Seu status está despencando a cada
segundo que passa sentado aqui. — Elle adotou seu tom mais sarcástico.
Ele riu.
— Acha que eu ligo para o que as pessoas pensam?
Ela o encarou. Tipo, olhou para ele de verdade. Nero era muito mais alto
que ela, mas quando estavam sentados, ela não precisava olhar para cima para ver
seu rosto. Um rosto de pele morena e bem barbeado, mas ela não saberia dizer se
ele poderia ter uma barba, como qualquer homem mais velho. Alguma coisa em
seus olhos a intrigava; era como se fossem esmeraldas.
— Não, é claro que não.
Assim que Elle foi ao fundo da sala para pegar seu cartaz, Nero a seguiu.
Encontrou o dele primeiro e voltou para a mesa. Elle pegou seu cartaz vazio e
também voltou. Deixou o cartaz sobre a mesa e sentou-se.
— Por que não desenhou nada?
— Porque não decidi o que fazer.
— Sabe que só precisa rabiscar ou colar umas coisas de que gosta, não sabe?
— Sim, eu sei. — Elle olhou para o cartaz e mordeu o lábio. Quem sou eu?
— Está pensando demais nisso. O que te faz feliz?
Elle olhou para Nero. Dava para ver que ele estava confuso sobre por que ela
não sabia o que pôr no cartaz. Jurava que ele parecia quase preocupado.
O que me faz feliz? Nunca tinha pensado nisso. Muitas coisas em sua vida a
incomodavam. No entanto, sabia a resposta: era como se mantinha equilibrada.
Elle abriu a mochila, pegou um papel pautado e uma caneta.
Olhou para Nero, e pela primeira vez sorriu para ele.
— Obrigada.
Ele passou um braço sobre o encosto da cadeira dela.
— Não foi nada, gata.
E aí ele estraga tudo.
— Não fala comigo desse jeito. Você deveria voltar. — Ele inclinou a cabeça
para mostrar a mesa em que ele havia sentado no dia anterior. As duas garotas a
esfaqueavam com os olhos. — Além do mais, acho que tem gente sentindo falta
de você as chamando de “gata”.
— É, e você sabe muito bem disso. Percebi que ontem ficou me olhando.
— Eu não sei...
Nero segurou sua nuca e a fez olhar para ele.
— Não mente para mim. Nem agora, nem nunca. — Seu tom profundo
ficou sério, e os olhos exigiam uma resposta.
Elle só conseguiu assentir, e a boca começou a ficar seca. Não tinha medo
dele. Mas deveria ter, provavelmente.
— Muito bem. Agora é aqui que eu vou sentar, mesmo que você ache ruim.
Entendo se não quiser que eu sente com você no almoço, por enquanto, mas não
me peça para mudar de lugar de novo.
Depois de um segundo, ela respondeu:
— Tudo bem.
Elle tentou dar a impressão de que permitia que ele sentasse ali, mas sabia
que não era bem assim, pelo jeito como ele sorria. Babaca arrogante.
Ignorou o garoto a seu lado e finalmente conseguiu começar a encher o papel
com palavras. Sempre adorou escrever; ajudava a fugir de tudo que a
incomodava, e ela tinha muitos problemas.
De vez em quando, podia sentir Nero olhando para ela. Era estranho sentir
esse olhar. Não conseguia descrever a sensação, porque nunca a teve antes.
Nenhum menino jamais havia olhado para ela ou prestado atenção nela no
colégio. Agora, em um dia, Nero estava falando com ela e escolhendo sentar ao
lado dela. Não sabia como se sentia em relação a isso.
Suas emoções estavam desgovernadas nos últimos dois dias. Por causa disso,
Elle continuava fazendo o que estava fazendo... escrevendo.
— Pode me emprestar sua caneta um segundo? — Nero estendeu a mão.
— Sim, é claro. — Ela entregou a caneta e o viu desenhar alguma coisa no
cartaz, mas não conseguiu ver o que era.
— Sabe, no armário de material tem canetas muito melhores. As palavras vão
se destacar mais se usar uma caneta melhor.
Elle percebeu que Nero passaria um tempo com sua caneta, por isso se
levantou e foi até o armário no fundo da sala, um espaço com várias prateleiras.
Nem imaginava onde estavam as canetas.
— Aqui. — Elle sentiu o corpo de Nero atrás do dela quando ele estendeu o
braço e pegou alguma coisa em uma das latas na prateleira mais alta, uma caneta
que entregou a ela. Deu um meio sorriso e começou a se afastar do closet, mas
alguma coisa a incomodava; precisava saber um pouco sobre ele, porque, no
momento, não fazia nenhum sentido ele falar com ela.
Elle decidiu virar e perguntar diretamente, olhando em seus olhos.
— Por que agora? Nunca tinha falado comigo, e agora está agindo como se a
gente tivesse acabado de se conhecer, ou alguma coisa assim.
— Quer mesmo saber?
Elle engoliu em seco. Provavelmente, não queria, mas precisava saber. Ela
assentiu e olhou para o peito dele.
— Muito bem. — Ele fechou a porta do closet e deu um passo na direção
dela.
— O... o que está fazendo? — A cada palavra que dizia, ela dava um passo
para trás. Nero dava mais um passo na direção dela, até que ela ficou
encurralada, com as costas contra a parede.
— Ontem eu vi você olhando para mim e Cassandra, e mais tarde vi você
olhando para mim de novo, quando estava no estacionamento com a Stephanie.
— Mais um passo, e a distância entre eles desapareceu. — Normalmente, as
pessoas se sentem pouco à vontade. Nem olham na minha direção. — Nero se
inclinou, e por um momento Elle pensou que ele a beijaria; em vez disso, a boca
se aproximou de sua orelha. — Mas você não conseguia parar de olhar. — As
palavras aqueceram a pele, e o calor se espalhou pelo resto do corpo.
Ele segurou seu queixo para forçá-la a olhar em seus olhos.
— Tem alguma coisa querendo sair... — O dedo deslizou por seu rosto e
parou um pouco acima da curva dos seios. — E eu quero ser o cara que vai trazer
isso para fora, Elle. — Ouvir seu nome a tirou do transe em que ele a havia
posto.
Ele sabe meu nome?
Nero levou a mão às costas dela, na altura da cintura, e girou a maçaneta,
recuando para ela ter espaço para se afastar da porta. Elle se soltou, e o calor
desapareceu de seu corpo. Mas não entendia por que se arrependeu
imediatamente de se afastar.
Quando ele abriu a porta para ela poder sair do closet, Elle ficou
constrangida com todos os olhares. Tinha certeza de que as ajudantes da
Cassandra estavam pensando em mil maneiras para ela morrer, a julgar pela cara
delas.
Elle voltou à mesa, mas antes de sentar-se, o sinal tocou. Hora de ir, graças a
Deus.
Elle pegou a mochila e correu para a porta, saiu tão depressa, que nem viu a
expressão de Nero. Ele estava completamente confuso.
Elle seguia apressada pelo corredor sem saber se corria para Chloe ou para
longe de Nero. Para Chloe, com certeza. Elle pensou mais um pouco. É, para
Chloe!
Ela chegou à sala de Chloe ansiosa para sair de lá.
— Pronta?
— Sim. Você está bem? — Chloe parecia preocupada.
— Hum, sim, por que não estaria? Vem, vamos embora! — Elle quase
segurou a mão de Chloe, mas parou antes do contato. Chloe levou a mão ao
peito e olhou para o chão. — Desculpa, Chloe...
— Tudo bem, vamos embora. — Ela passou por Elle e começou a andar em
direção à saída.
Elle a viu passar por ela. Merda.
De vez em quando, Elle esquecia os problemas e o passado de Chloe, até
estar a um centímetro de tocá-la, e então as lembranças voltavam. E sabia que
não voltavam só para ela, mas para Chloe também.
Elas chegaram ao estacionamento, e Elle teve uma sensação de déjà-vu. Vezes
dois, aparentemente.
As duas bonitinhas e burras estavam apoiadas no carro de Nero. Elle sentiu o
estômago revirar enquanto andava o mais depressa que podia para o carro de
Chloe, passando por ela e chegando primeiro ao automóvel. Desesperada para
entrar no carro, ela tocou a maçaneta.
Levantou a cabeça e só viu a nuca de Nero, que conversava com as garotas.
Podia ver o rosto delas, no entanto, e preferia não ter visto, realmente.
Quando Chloe destravou as portas, Elle praticamente se jogou para dentro
do automóvel, olhando diretamente para frente. Não ia virar a cabeça, de jeito
nenhum. A sensação de enjoo começou a subir devagar.
Chloe ligou o carro e começou a dar ré. Girou o volante e seguiu para a saída
do estacionamento, obrigando Elle a olhar para uma coisa que ela não queria ver:
um par de pernas sobre saltos altos entrando no Cadillac de Nero. Pelos sapatos,
Elle soube que quem ia para casa com ele hoje era a Bonitinha e Burrinha
Número Um.
Elle tocou o peito; a sensação tinha encontrado seu alvo.
Elle precisava ir trabalhar naquela noite, infelizmente. Se quisesse ficar e
proteger Chloe, tinha de continuar trabalhando. Se tivesse se demitido na noite
do assassinato, bem, teria sido como telefonar para o chefe e contar que havia
testemunhado tudo.
Durante toda a noite, Elle observou a lanchonete e olhou com atenção para
todos os rostos. Precisava ter certeza de que nenhum dos três homens estava ali
esperando por ela. Depois, cada vez que alguém entrava na lanchonete, ela
estudava o rosto do recém-chegado. Fez isso muitas, muitas vezes.
Foi servir café para dois homens sentados em uma das mesas. Já os havia
visto muitas vezes na lanchonete.
Quando estava enchendo a xícara do homem loiro, ele perguntou:
— Ouviu alguma coisa sobre alguém ter levado um tiro ontem à noite?
Não era a primeira vez que ela ouvia essa pergunta; devia ser a
quinquagésima. Aparentemente, era algo especial ir a um lugar onde um possível
assassinato havia acontecido. Todo mundo queria saber o que havia acontecido.
Parecia o colégio. Acho que nunca vou escapar disso.
Elle repetiu a mesma história que tinha contado a todo mundo, inclusive aos
policiais. Eles, é claro, tinham feito algumas perguntas, já que ela havia sido
encarregada de fechar a lanchonete na noite anterior.
— Sim, fiquei sabendo hoje, quando cheguei para trabalhar.
Ele tomou um gole de café, enquanto ela enchia a xícara do outro homem.
O de cabelo castanho perguntou:
— Então, não estava aqui ontem à noite, quando aconteceu? — Sua
expressão dizia que estava só fazendo uma pergunta, não estava preocupado. Elle
sentiu os braços arrepiados, mas manteve a calma.
— Eu trabalhei ontem à noite, na verdade. Fechei a lanchonete. Os policiais
disseram que deve ter acontecido logo depois que eu saí. — Elle fez questão de
mencionar os policiais. Agora eles sabem que não abri a boca.
Os dois homens se olharam por uma fração de segundo, confirmando o
receio de Elle. Eles trabalhavam para o chefe.
O homem sorriu.
— Você é uma garota de sorte. Teria sido horrível ver uma coisa assim na sua
idade.
Muita sorte. Elle sorriu de volta.
— É, com certeza eu teria perdido uns parafusos, se visse algo assim. Querem
alguma coisa?
Elle só conseguia manter a calma porque eles nem imaginavam a história
toda. É claro que eles não têm problema nenhum em matar. Caso contrário, eu já
estaria morta.
— Não, obrigado. — Os dois levantaram, e um deles deixou duas notas em
cima da mesa. — Se cuida.
Elle sorriu e assentiu, depois os viu sair, e só então voltou a respirar. Graças a
Deus.
Elle acreditava que estava livre. Por enquanto, pelo menos.

Ele ouviu o celular vibrando em cima da mesa de madeira. Pegou o aparelho


sem olhar para a tela.
— Ela é esperta. Foi trabalhar como se nada tivesse acontecido, dizendo que
tinha perdido a coisa toda. Os tiras já falaram com ela. Pelo jeito, não
conseguiram arrancar nada da menina.
— É, Sal telefonou há uma hora, mais ou menos. Ela se fez de burra com os
policiais. Você é meu consigliere, Vinny; o que acha? — Ele pegou um charuto
da caixa e cortou a ponta.
— Meu conselho é que você resolva isso sozinho. Vai ser bom para você. Só
me mantenha informado.
— Tudo bem, por enquanto tenho tudo sob controle. — Ele desligou e
acendeu o charuto. Seu consigliere estava certo: ela era muito esperta. Não ia
abrir a boca. A única coisa que não sabia era se a menina o tinha visto com os
rapazes, ou se só ouviu o que tinha acontecido. E era isso que precisava
descobrir. Ela não disse nada, mas nunca se sabe se uma pessoa vai mudar de
ideia. Além do mais, se seus inimigos descobrissem que ele havia deixado uma
testemunha viva, isso poderia acabar com toda a operação, com tudo que ele
havia feito para ser aquele que dava as cartas.
Elle só estava no lugar errado na hora errada. Isso é coisa que eu conheço bem.
Ele ignorou a lembrança ruim. Não podia sentir pena da menina. Seu filho
estava lá, Sal também; tinha que protegê-los. Há muito tempo havia jurado
proteger a família.
Ele se encostou na cadeira de couro e levou o charuto à boca. Depois soprou
a fumaça e a viu encher a sala.
Era hora de fazer contato e se informar sobre os progressos feitos.

Nero estava deitado na cama, olhando para o teto. Alguma coisa o


incomodava desde que Elle fugiu dele na aula de artes. Nenhuma garota jamais
tinha fugido dele, e certamente não fugiriam depois do que tinha feito com ela
no closet. Qualquer outra teria implorado para transar ali mesmo.
Brincar com Elle o havia deixado tenso. Precisava extravasar, e quando
encontrou Stephanie e Stacy esperando por ele ao lado do carro, soube
exatamente como. Stacy foi a escolhida por ser exatamente o que ele precisava;
com ela, nada era proibido. E era isso que ele achava que queria, mas continuava
de pau duro. Pela primeira vez em anos, Nero se sentia sexualmente frustrado.
Merda, ela ia fugir?
O telefone tocou.
— Sim?
— Como foi?
Nero levantou da cama e abriu a porta para a varanda. Saiu e fechou a porta.
— Bom, ela foi à aula. Sério, fiquei meio chocado quando ela apareceu. Mas
devia ter imaginado, ela não ia deixar a amiga ir à escola sozinha. Na primeira
aula, ficou um pouco distraída. Parecia cansada, mas logo se encontrou.
— Falou com ela?
— Não parece surpreso. — Nero devia ter perdido algum detalhe.
— Mandei Vinny e Enzo darem uma olhada nela na lanchonete. A menina
teve a coragem de ir trabalhar, estava agindo como se tivesse saído antes de tudo
acontecer. Quando a polícia falou com ela sobre o assassinato, ela fingiu que era
a primeira vez que ouvia aquela história.
— Então imagino que isso tenha sido um teste. Como me saí... chefe? —
Nero queria que o pai o entendesse.
— Nada pessoal, filho. Só responde o que eu perguntei.
— Sim, falei com ela. Mas vai demorar um pouco para ela confiar em mim.
Essa garota não tem motivos para confiar em ninguém na escola. Como pode
ver, ela não é uma típica aluna de ensino médio.
— É, estou percebendo. Principalmente depois de ter passado anos vendo as
garotas que você e seu irmão trazem para casa. Por que nenhum dos dois arruma
uma moça como essa?
— Provavelmente porque daria muito trabalho tirar a calcinha dela.
— Bem, tem um mês para tirar a dela e descobrir o que ela viu. Ah, e não
quero ver outra garota passando pela porta da minha casa, a menos que seja a
Elle. Já cometeu o primeiro erro. E aqui vai um conselho de pai para filho: ela
não é do tipo que aceita traição. Acabou a putaria. Considere-se casado até
terminar esse serviço.
Depois disso, Nero ouviu apenas o silêncio, sinal de que o pai considerava a
conversa encerrada.
Nero apertou o telefone. Acabou a putaria. Que palhaçada.
Ele abriu a porta e voltou para a cama, pensando no que o pai tinha dito
sobre Elle: “A menina teve a coragem de ir trabalhar”.
Elle havia enganado os policiais e todo mundo, menos a família.
Nero sorriu. Elle, vou me divertir com você.
Ouviu um barulho quando Stacy abriu a porta do banheiro e saiu de lá limpa
e vestida, e seguiu diretamente para a porta.
— A gente se vê amanhã, Nero.
— Eu te dei permissão para ir embora? — Agarrou a mão dela.
Stacy sorriu e pulou em cima dele.
Não, ainda não tinha encerrado a noite com ela; e pensar em Elle só havia
aumentado a ereção. Nero tinha certeza de que transaria com Stacy até parar de
pensar em Elle. Mal sabia ele, no entanto, que o sono chegaria antes disso.

Elle estava deitada na cama, exausta. O trabalho havia sido mentalmente


esgotante, o tempo todo havia estado preocupada com quem passaria pela porta.
E depois ainda havia chegado em casa e feito a lição.
Para completar, pensar em Nero indo para casa com outra garota estava
confundindo suas ideias. Por que me importo com ele?
Não entendia por que os garotos se sentiam atraídos por meninas como
Cassandra. Ah, sei, certo.
Elle sabia que não tinha nada de parecido com elas. Não tinha dinheiro, não
comprava roupas chiques e não se jogava em cima dos rapazes. Sou só uma
garçonete.
Era irritante não conseguir expulsá-lo dos pensamentos, porque, claramente,
ele só queria cama, e nenhuma garota significava nada para ele. Além disso,
nunca se imaginava com um cara como Nero.
Honestamente, Elle nunca se imaginava com ninguém. Nunca gostou de
ninguém o suficiente para isso. Era virgem... Droga, nunca beijou ninguém. Não
sou o tipo dele, e ele não é o meu.
Há muito tempo havia decidido que, mesmo que muita coisa mudasse,
nunca ficaria com ninguém da Legacy, porque ninguém ali dava a mínima para
ela. Sempre foi vítima de bullying, alvo de risadas e olhares, e os culpava tanto
quanto aos que causavam o sofrimento real.
Elle passou a noite implorando para o sono chegar e resgatá-la dos próprios
pensamentos, mas nem o sono deu a ela um descanso de Nero.
Quando Elle entrou na aula de inglês na manhã seguinte, ela parou,
fazendo com que Chloe trombasse com ela. Depois foi andando lentamente para
o seu lugar, incapaz de acreditar. Ela parou na cadeira da frente, olhando para
um Nero exultante. Queria muito tirar aquele sorriso afetado do rosto dele.
— Bom dia, Elle.
Elle podia ouvir o choque de Chloe ao ouvi-lo chamá-la pelo nome.
Ignore-o completamente, Elle decidiu.
Ela se sentou e, claro, tudo o que podia ver na sua frente era Nero. Tinha
passado a noite inteira tentando esquecê-lo, e agora o via bem ali na sua frente.
Ela virou a cabeça para olhar para Chloe, incapaz de continuar olhando para
ele; até a nuca era bonita. Não queria nem começar a pensar nos músculos das
costas que via sob a camisa branca de botões.
Não demorou muito para Elle não conseguir olhar para Chloe também; ela
tinha um grande sorriso malicioso no rosto. Tentando ignorar os dois, Elle só
sentia o cheiro da colônia de Nero; era o cheiro dele. O aroma trouxe de volta a
lembrança de ontem no armário de materiais de arte. Ela se arrepiou ao lembrar
do dedo correndo por sua pele. PARA!
Elle jurou que essa era a aula mais longa de sua vida. Precisava ficar longe
dele.
Ela pulou da cadeira quando o sinal tocou e pegou em sua bolsa. Esperaria
por Chloe no corredor. O problema era que Nero estava preparado para sua
fuga. Ele a agarrou pelo braço.
— Será que dá para parar com isso, por favor?
Elle olhou para a mão quente que a segurava.
— Parar com o quê? — E sorriu como havia sorrido para ela antes.
— Fugir de mim.
Elle riu.
— Não estou...
Nero apertou levemente a mão dela.
— Lembre-se do que eu disse ontem, Elle.
Elle olhou nos olhos dele. Droga, ele realmente não devia gostar de
mentirosos.
— Eu só queria te acompanhar até a sala da próxima aula.
— Não, desculpa.
Ela puxou o braço, se soltou e saiu correndo de lá.
No corredor, ficou esperando que Chloe aparecesse e se animou quando
a viu.
Elle não perdeu tempo e caminhou rapidamente para a próxima aula. Assim
que entraram na sala, elas se sentaram.
Uma vez acomodada, Elle não pôde deixar de sentir os olhos de Chloe nela.
Olhou para a melhor amiga e viu que ela estava sorrindo de orelha a orelha.
— Para! Eu juro, se você não parar de olhar para mim desse jeito, vou
procurar outra pessoa para ser minha amiga. — Elle cobriu o rosto com as mãos.
Era difícil não sorrir com Chloe.
— Hmm, uma pessoa como o Nero? — Chloe estava feliz demais para o
gosto de Elle.
Ela escorregou para baixo na cadeira. Queria não gostar de Nero, mas tudo
sugeria que gostasse dele.
— Elle, não sei por que está se esforçando tanto para não gostar dele. É
evidente que ele gosta de você.
— Está brincando? — Elle não estava rindo.
— Hum, não.
— Não gosto dele porque ele não deu a mínima todas as vezes em que fui
empurrada e agredida. Ou todas as vezes em que fui chamada de garçonete, e em
todo o abuso mental que sofri, não, nós sofremos. E faz só dois dias que ele
chamou você de aberração na aula de inglês, eu sei que foi ele. — Isso tinha
acontecido no nosso primeiro dia depois das férias de Natal, na aula de inglês. O
sr. Evans pediu que nos apresentássemos e, quando Chloe terminou, alguém
cochichou “aberração”, e o sussurro veio da direção de Nero. — Agora, por
alguma razão estranha, ele quer ser meu amigo? Não, que se dane. — Elle estava
cansada de pensar nele; não perderia mais tempo com isso.
— Escuta, Elle, só sei que quando o vejo olhar para você, sei que ele gosta de
você. Talvez deva dar uma chance a ele. Acho que está lutando contra seus
sentimentos por minha causa.
— Chloe, não importa. — Elle não queria falar sobre isso.
— Importa. Eu quero que você seja feliz, Elle. Não faça isso por causa dos
meus medos. Não acho que Nero faria qualquer coisa para machucar você ou a
mim. Eu poderia me acostumar com a presença de Nero, por você, é claro. —
Chloe olhou para as mãos.
Elle sorriu. Amava a melhor amiga, significava tudo para ela. Seria muito
difícil para Chloe confiar em Nero, no entanto.
Ele teria de provar seu valor.
O dia passou, e Elle percebeu que Cassandra ainda não tinha aparecido na
escola. Ela e Chloe tiveram mais um dia de paz e aproveitaram cada segundo
disso. A única coisa ruim sobre isso era que tinham certeza de que, quando ela
voltasse amanhã, seria um inferno.
As duas foram para o refeitório quando o sinal tocou e entraram na fila para
comer hambúrguer de frango novamente. Depois que sentaram, Elle examinou a
sala. Sabia que estava procurando Nero, mas não queria admitir. Quando
finalmente o viu, ele estava na mesa de costume.
Elle olhou para sua comida e começou a comer, mas percebeu pelo canto do
olho que Sebastian se aproximava. Não tinha tempo de avisar Chloe. Isso vai ser
ruim.
Não estava prestando atenção quando ele se levantou, olhando para ela.
— Sabe por que Cassandra não está aqui?
Elle mantinha os olhos grudados em Chloe.
— Bom, ela foi suspensa. Sabe por quê?
Podia sentir que ele perdia a paciência a cada segundo que passava. Mas não
ia olhar para ele. Honestamente, ele a apavorava.
Sebastian bateu com as mãos na mesa.
— Estou falando com você, garçonete!
Quando a cantina inteira ficou em silêncio depois da explosão, Elle viu que
Chloe estava absolutamente apavorada; ela deu um pulo da cadeira. Elle
finalmente olhou para ele e pensou que ele parecia um psicopata completo.
— Então, você sabe por quê?
Elle não disse nada, só ficou olhando para o rosto transtornado. Nunca fazia
sentido responder ao Sebastian; só pioraria as coisas. E, sim, costumava ser pior do
que isso.
— Você sabe?! — Pronto; ele tinha perdido a cabeça. Elle podia vê-lo saltar
em sua direção. Ele queria colocar as mãos nela e obrigá-la a responder. Elle
fechou os olhos, esperando o que estava por vir.
— Acho melhor não te ver encostar em um fio de cabelo da Elle, nunca. Não
quero te ver falando com ela, nem olhando na direção dela, e isso também vale
para a Chloe. Porque, se isso acontecer, vou fazer todo mundo nesse colégio te
chamar de aberração. Entendeu?
Elle não estava mais com medo de Sebastian depois de olhar para Nero. Sua
voz era absolutamente calma, o rosto era tranquilo, mas os olhos verdes juravam
que as palavras eram sinceras.
Sebastian ficou chocado. Mas sabia que não deveria questioná-lo. Ele apenas
acenou com a cabeça. Mas isso não o impediu de olhar para Elle avisando que a
pegaria na próxima vez, quando Nero não estivesse por perto. Ela sabia que ele
também cumpriria a promessa. Não tenho dúvidas disso.
Quando Nero se deu por satisfeito por ter sido entendido, finalmente o
deixou ir. Depois olhou em volta, verificando se todos na cantina estavam
prestando atenção.
— Elas têm nome, Elle e Chloe, e vocês vão chamá-las pelos nomes.
Elle não esperava por isso, e pela expressão no rosto de Chloe, ela também
não esperava. Não conseguia acreditar que ele não só havia enquadrado
Sebastian, mas a escola inteira. Durante todos esses anos, ela nunca teve
ninguém para defendê-la, e ali estava Nero enfrentando a escola inteira.
Ela viu Nero se aproximando.
— Tudo bem?
Esperava não estar com cara de idiota, como imaginava. Mas estou. Eu sei que
estou.
— Hum, sim, estou bem. — Ela olhou para Chloe para ver se ela estava
bem. Ela não parecia mais apavorada; parecia um pouco atordoada. Elle tinha
certeza de que dava a mesma impressão.
Nero sorriu.
— Será que agora eu posso sentar aqui?
Elle sabia que ele merecia algum reconhecimento pelo que tinha feito. Ainda
assim, sentia que isso não mudaria nada. Não acreditava que as intenções dele
eram boas e sabia que um cara como Nero nunca iria gostar dela. Mas podia
permitir que ele sentasse ali com ela. Não vai durar muito mesmo.
Olhou para Chloe para se certificar de que estava tudo bem. Sabia que ela
não estava muito contente, mas lidaria com a situação.
Voltou-se para ele e sorriu.
— Claro, por que não?
— Legal.
Nero levantou a cabeça e acenou chamando alguém. Elle viu os amigos dele
se levantando da mesa para atender ao chamado. Ai, merda.
Ela se levantou imediatamente e ficou ao lado de Chloe.
— O que está fazendo? — Podia sentir o nervosismo da amiga.
— Hum, vou sentar aqui, e eles sentam onde eu estou.
— Não, eu disse que você pode sentar aqui. Não disse que eles podiam.
— Qual é o problema?
Elle viu a compreensão iluminar os olhos dele quando fez a pergunta. Só
precisava olhar para ela parada ao lado de Chloe para entender tudo.
— Eles não podem sentar aqui, Nero.
Ela viu Nero levantar a mão, detendo os amigos.
— Ba-Elle, escuta; deixar que eles sentem aqui vai garantir que ninguém vai
falar ou fazer nada com você e Chloe novamente. Eles não vão te machucar. Eu
prometo. — Ele fez questão de olhar diretamente para ela, deixando claro que
dizia a verdade. —Não vão tocar em Chloe também. Eu te dou minha palavra.
Elle olhou para Chloe. Sabia que estava ficando sem armas para proteger a
amiga nesse inferno. O semestre começava muito mal, e era só a primeira
semana. Elle sabia que precisava de ajuda, e se alguém nesta escola poderia
proteger Chloe, seria Nero e sua turma. Desculpa, Chloe.
Elle se sentou ao lado de Chloe.
— É melhor você não estar mentindo para mim, Nero.
Sabia que ele a tinha ouvido; ele acenou com a cabeça, não apenas para ela,
mas para chamar os amigos.
Elle sussurrou para Chloe:
— Vai ficar tudo bem. Não deixei ninguém aqui te machucar, deixei? — E
era verdade. Elle fazia o que tinha de ser feito para garantir que ninguém
encostasse um dedo nela. Sim, isso significava que Elle estava em desvantagem
aqui, mas Chloe estava em desvantagem lá fora também.
Elle sorriu para Chloe quando ela finalmente respondeu, balançando a
cabeça para dizer que não.
Ela viu o sinal que Nero fez para o garoto loiro, indicando que ele devia
sentar ao lado de Chloe. Isso a deixou com o coração um pouco apertado. Foi
uma boa escolha, porque ele era praticamente uma criança e nunca tinha
participado do bullying.
Nero se sentou do outro lado de Elle e colocou o braço sobre as costas da
cadeira dela, enquanto Amo e Vincent ocupavam as outras duas cadeiras
restantes na frente deles.
— Este é meu irmão mais novo, Leo.
Leo mostrou os dentes brancos e brilhantes.
Jesus, ele é um Nero em miniatura.
— Leo, esta é Chloe. — Ele acenou com a cabeça na direção dela.
— Oi, Chloe. — Leo estendeu a mão.
Elle a apertou rapidamente.
— Desculpa, ela é neurótica com germes. Eu sou Elle.
Elle viu que os quatro rapazes olhavam para ela e Chloe. A situação já estava
estranha, e isso só tornava tudo ainda mais difícil.
— Isso é simplesmente genial, Nero. Por que não pensamos nisso, depois de
todas as mãos nojentas que tivemos de apertar? — Leo riu da própria piada,
todos os outros participaram, e Elle não pôde deixar de rir com eles. Até Chloe
riu.
Elle gostou automaticamente de Leo. Era algo inevitável; ele era
completamente adorável, com os longos cabelos naquele tom escuro de loiro e os
olhos azuis e profundos. Sabia como se comportar, mesmo sendo ainda tão
novo, e Elle sabia que ele tinha herdado isso do irmão mais velho.
Surpreendentemente, Elle achou que o almoço estava indo bem. Nero, Amo
e Vincent conversaram principalmente entre eles o tempo todo, enquanto Elle
fazia perguntas a Leo sobre o que ele estava achando do ensino médio. Leo, que
era alguém fácil de conversar, fez Chloe entrar na conversa também. Foi um
bom almoço. Elas nunca tinham companhia além delas mesmas. Eles, é claro,
nunca se importaram, mas era bom mudar de vez em quando. Antes que
percebesse, era hora de voltar para a sala de aula.
Elle e Chloe se levantaram primeiro para levar as bandejas e jogar os restos no
lixo, mas Nero chamou Elle. Ele tirou a bandeja da mão dela, enquanto Amo fez
a mesma coisa com Chloe. Chloe, no entanto, não desistiu; continuou
segurando a bandeja com força. Amo segurou com mais força e, devagar, a
puxou até tirá-la das mãos dela.
— Posso jogar meu próprio lixo. — Chloe mantinha os olhos cravados no
chão; de jeito nenhum ela olharia de frente para um cara grande como Amo.
Elle se esforçou para não rir da pequena Chloe enfrentando Amo por sua
bandeja.
— Sim, e daí? — Amo estava fazendo uma pergunta retórica, porque sabia
que Chloe não seria capaz de responder. Ele se dirigiu à lata de lixo com Nero e
jogou dentro dela tudo que havia na bandeja.
— A gente se vê mais tarde, meninas. — Elle e Chloe sorriram para Leo, que
corria para a aula. Ele é muito fofo.
— Qual é sua próxima aula? — Nero perguntou a Elle.
— Espanhol, por quê?
— Porque vamos levar vocês até lá. — Amo começou a andar na frente, e
Nero segurou o braço de Elle para que ela o acompanhasse. Chloe ia logo atrás
de Elle, como sempre. Nero parou e olhou para trás. — O que está fazendo,
Chloe?
— Hum, andando?
— Por que está colada na bunda da Elle?
— É assim que eu sempre ando.
O rosto de Chloe expressava confusão. Por que isso importava?
— Jesus Cristo. — Nero passou a mão pelo cabelo, enquanto Amo e Vincent
balançavam a cabeça. — Chloe, ande ao lado da Elle.
Quando Chloe deu um passo hesitante para a frente e se posicionou ao lado
dela, Elle sorriu para ela e acenou com a cabeça, sugerindo que seguissem em
frente. Demorou um minuto para ela caminhar confortavelmente ao lado de
Elle, porque era difícil olhar para alguma coisa que não fossem as costas dela.
Até para Elle o novo arranjo era um pouco estranho. Tinha se acostumado
com Chloe bem atrás dela. Também era difícil para ela relaxar e confiar na
palavra de Nero. No entanto, lá estava ela, caminhando com a melhor amiga à
sua direita e Nero à sua esquerda, enquanto Amo e Vincent cuidavam da frente e
da retaguarda.
Ela tentou não notar os olhares que atraíam nos corredores; não que pudesse
condená-los.
Tinham começado o dia como invisíveis, e agora andavam pela escola com o
rei e sua corte.
Eles chegaram à sala de aula, e Chloe praticamente correu para dentro. Amo
e Vincent se encostaram em alguns armários próximos. Elle estava entrando na
sala, mas Nero segurou seu braço e a puxou de volta.
— Qual é, por que está fugindo de mim? — Ele a puxou para perto e a
segurou pela cintura. Ela tentou se soltar, mas foi inútil.
— Para com isso. Está todo mundo olhando para nós.
A atenção a deixava vermelha.
— Deixem olhar. Ainda não ouvi um obrigado, sabe?
— Bem, nem vai ouvir agora. — Ele ainda não se mostrava propenso a soltá-
la, nem que fosse só um pouco.
Nero sorriu.
— Essa não era a resposta certa. Agora não vai gostar de como vai ter que me
agradecer.
Elle riu.
— Ah, sério? E como vai ser?
— Vou precisar de um beijo. — Ele segurou seu queixo para posicionar o
rosto.
— Não, não, não. Não vou beijar você. Se acha que vou te beijar na frente
de todo mundo, só pode estar maluco. — Ela sentiu o rosto ficar ainda mais
vermelho. De jeito nenhum meu primeiro beijo vai ser aqui, com ele.
— Eu posso esperar, então. Vou querer meu beijo no fim do dia. Ah, e
espera aqui. A gente volta para buscar vocês, nem pensem em ir embora sem nós.
É melhor estar com o traseiro bem aqui, entendeu?
— Como é que é? — O corpo de Elle voltou ao normal. Ele não pode me
dizer o que fazer.
Nero a segurou com mais força.
— Não vai querer me desafiar, Elle. Não esquece, você me deve um
obrigado. — Ele a soltou.
Elle estava perplexa quando entrou na sala de aula. Quem ele pensa que é?
Ela o achava inacreditável. De jeito nenhum aquela boca chegaria perto da
dela. “Vou precisar de um beijo como agradecimento.” Ha! Até parece!
Elle de repente percebeu que tinha feito um acordo com o diabo.
Elle tinha perdido toda a concentração nas aulas, com tudo que
acontecia. Agora sua vida parecia uma zona nebulosa e confusa. Além disso,
ainda não tinha ideia de como lidar com a coisa toda do assassinato. Precisava
descobrir mais sobre este chefe e ver se ela poderia ficar em paz.
E ainda tinha Cassandra.
“Bem, ela foi suspensa. Você sabe por quê?” Elle sabia por quê. Foi por causa
dela no refeitório. Cassandra daria o troco, e não seria nada bonito. Nem
precisava se preocupar com a possibilidade de ser morta pelo chefe, Cassandra a
mandaria para baixo da terra assim que pusesse os pés de volta na escola.
Elle se encolheu ao lembrar de um momento no primeiro ano.

Cassandra e suas duas amigas loiras estavam ao lado dela no vestiário.


— Nós ouvimos sobre o que aconteceu com seu pai. Ainda bem que ele pagou a
escola antes do início do ano letivo.
— Como assim?
— Bem, como ele vai ganhar dinheiro em uma cadeira de rodas? Eu sei que ele
perdeu o emprego. Uma pena que o primeiro ano na escola vai ser o último.
As risadas sádicas invadiram seus ouvidos. Mas não ia deixar ninguém falar
assim de seu pai.
— Sim, e é uma pena que você tenha que colocar enchimento no sutiã. Não pode
encher os dois lados iguais, pelo menos? — Elle sabia que a tinha atingido com isso.
Ela começava a se afastar, encerrando a conversa, quando Cassandra pulou em
cima dela por trás e a fez bater com a cabeça em um banco. Rápida, Cassandra
sentou em cima de suas costas.
Elle resistiu à dor latejante em sua cabeça. Tinha de se levantar.
Elle tentou se levantar do chão.
— Ajudem aqui!
As outras duas garotas se aproximaram e seguraram seus braços contra o chão.
— Chloe, dá ela aqui — Cassandra falou.
Elle viu uma garota aparecer de trás de uma fileira de armários através de um
véu de sangue que escorria pela testa e por cima dos olhos. Lembrava de tê-la visto no
primeiro dia de escola e pensado que ela era linda com aquele cabelo preto de pontas
onduladas e olhos incomuns. Nunca havia pensado que existisse alguém com olhos
cinzentos. Ela se destacava entre as outras meninas da turma por ser baixinha e já ter
um corpo de mulher, para sua idade. Elle notou que a garota estava desconfortável,
não concordava com o que estava acontecendo.
— Chloe, dá logo.
Chloe puxou uma tesoura de trás das costas.
— Você não quer ser como ela, quer? — Cassandra perguntou.
Chloe balançou a cabeça segurando a tesoura, e Cassandra a pegou.
— Agora, vadia, pense duas vezes da próxima vez que virar as costas para mim.
— Cassandra agarrou o rabo de cavalo de Elle e começou a cortá-lo. Elle só
conseguia chorar a cada tesourada. Não havia ninguém por perto para ajudá-la, e
estava indefesa com as três garotas a segurando.
Quando Cassandra terminou, ela balançou o rabo de cavalo cortado na frente do
rosto de Elle.
— Uma garota como você não precisa de um cabelo comprido e bonito como este,
de qualquer maneira.
Cassandra finalmente saiu de cima de Elle e, com as duas amigas, saiu do
vestiário. Elle continuou chorando, segurando as pernas contra o peito.
Quando olhou para cima, viu a menina linda parada; seus olhos brilhavam
como se estivesse à beira das lágrimas. Ela sussurrou:
— Desculpa — antes de sair correndo do vestiário atrás de Cassandra.
Elle aprendeu uma lição valiosa naquele dia enquanto chorava, sangrando e
sozinha no vestiário. Aprendeu a nunca baixar a guarda.

O sinal interrompeu a recordação sombria. O passado é passado, e a lição foi


aprendida.
Ela decidiu que levaria Chloe até a sala de aula, como de costume, e Nero
teria de lidar com isso. Elle e Chloe se levantaram para mudar de sala, mas Elle
foi puxada de lado assim que pisou no corredor.
— O que foi que eu te disse?
— Você disse, mas decidi não ouvir. — Quando Elle sorriu e deu um passo
em direção à próxima sala de aula de Chloe, Nero agarrou sua mão e entrelaçou
os dedos nos dela.
— Acha mesmo que eu deveria deixar você levar Chloe para a sala dela e
depois ir sozinha para a aula de arte? Tenho certeza de que Sebastian está
morrendo de vontade de te pegar sozinha. Mas e quando eles perceberem que
você não dá a mínima para o que fazem com você e forem atrás da Chloe?
Cassandra está suspensa, mas vai voltar, Elle. E até lá, Sebastian vai fazer o
trabalho sujo por ela, assim como Stephanie e Stacy.
— Sim, e você sabe tudo sobre Cassandra e Stephanie; todos vocês são muito
próximos. Ah, espere, eu esqueci a Stacy também.
Ouvir os nomes trouxe de volta as lembranças de quando ele esteve com as
três nos últimos dias.
— Essa é outra história sobre a qual podemos conversar mais tarde. No
momento, estou perguntando: você quer que a Chloe sofra? Porque sabe que
estou certo.
Elle sabia que ele estava certo, embora isso não significasse que gostava da
verdade.
Ela olhou para Chloe.
— Ele está certo, Elle.
Elle deixou escapar um suspiro.
— Tudo bem, vamos lá.
Elle tentou andar, mas Nero a manteve parada.
— Vamos fazer as coisas do meu jeito agora. Amo está na turma de saúde
com a Chloe, então ele vai com ela para a aula e a traz para você na aula de arte.
Certo?
— De jeito nenhum. — Elle começou a sacudir a cabeça violentamente de
um lado para o outro.
— Isso não é mais uma discussão, Elle. Chloe, ele está na sua classe?
— Hum, sim. — Chloe olhou para o chão.
— Legal. Amo vai te acompanhar na entrada e saída das aulas, por enquanto.
— Nero olhou para o rosto irritado de Elle. — Só na última aula do dia, e ele
vai se sentar ao lado dela na aula. Tudo bem, Chloe?
— Não, não está. — Elle observava Chloe com atenção. Era bom ela
dizer não.
Quando Chloe olhou para ela, Elle sabia qual seria a resposta.
— S-sim. — Chloe abaixou a cabeça e começou a torcer as mãos.
— Tudo bem. Pode ir, Chloe. Você vai estar segura com o Amo.
Nero apertou a mão de Elle. Ela havia esquecido que ele estava a segurando.
No entanto, nesse momento o odiava e não queria que ele a tocasse. Ela tentou
puxar a mão, mas ele a segurou com força. Ela ouviu Vincent rir e parou de
tentar se soltar.
— Vamos, Chloe. — Amo começou a andar, e Chloe ficou atrás dele.
Parecia estar com medo, mas Elle não sabia se era porque temia encará-la, ou por
ter que acompanhar o maior cara de toda a escola. Elle olhou para o grandalhão
na frente do corpo minúsculo de Chloe. Provavelmente as duas coisas.
Elle encarou Nero.
— Espero que esteja feliz.
Nero sorriu.
— Ainda não, mas vou ficar quando ganhar meu beijo mais tarde.
— Você é bem idiota se acha que vou...
— Elle, o que eu disse sobre mentiras?
Elle revirou os olhos.
— Vem, vamos lá.
Elle ficou surpresa quando ele seguiu na mesma direção que Chloe e Amo,
considerando que a sala deles ficava do outro lado. Andavam alguns metros atrás
deles. Elle os via o tempo todo, pois não era difícil ver Amo no pequeno
corredor cheio de outros alunos. Todos se afastavam como o mar vermelho para
deixá-lo passar. Ela deduziu que por isso ele havia caminhado na frente deles
antes.
Elle tentava não sorrir. Não queria que Nero soubesse que gostava de poder
seguir Chloe para ter certeza de que ela estava segura. Eu ainda não gosto dele.
Ela tentou soltar a mão dele novamente, mas ele a puxou para mais perto.
Ela ouviu novamente a risada de Vincent e olhou para trás para fazer uma careta.
Ele continuou rindo.
Elle viu Amo abrir a porta da sala de aula. Chloe ficou lá, esperando que ele
entrasse primeiro. Ela o viu parar e dizer “vai” quando ela hesitou. Chloe entrou,
e Amo entrou atrás dela, balançando a cabeça enquanto fechava a porta.
Ela estava segura. Elle não queria admitir, mas provavelmente estava mais
segura com Amo do que jamais estivera com ela.
— Podemos ir para a aula agora, ou você quer perder o dia todo olhando
para a porta? — Quando Elle continuou olhando para a porta, ele segurou seu
queixo para virar o rosto em sua direção. — Elle, ela vai ficar bem, prometo.
Elle assentiu, e eles caminharam de mãos dadas para a aula de arte.
— Obrigada por me deixar vê-la entrar na sala. — Não queria agradecer,
mas tinha de fazer isso.
Um sorriso surgiu nos lábios de Nero.
— Ah, agora você me agradece. Então eu sei fazer coisas boas para Chloe,
mas não para você. Vocês duas sempre foram inseparáveis?
Elle pensou sobre a lembrança que tivera pouco antes.
— A gente se conheceu aqui.
— Sério? E como se aproximaram tanto tão depressa? Porque eu me lembro
de vocês duas no primeiro ano, e naquela época você sempre andava na frente da
Chloe.
Elle deu de ombros e continuou olhando para frente.
— Acho que a gente se identificou.
Sentia que Nero estava olhando para ela e sabia que ele tentava ler alguma
coisa em seu rosto. Por isso fez questão de não revelar nada.
Eles estavam na metade do caminho para a sala de aula, quando Elle
realmente percebeu o que estava acontecendo. Era surreal que estivesse andando
pelo corredor de mãos dadas com Nero, enquanto todos os alunos olhavam para
eles. Ouvia os sussurros, via a maioria das meninas olhando feio para ela. Elle
decidiu não se importar. Não era como se pudessem torturá-la mais do que já
tinham feito. Podia pelo menos aproveitar o momento em que um menino
segurava sua mão pela primeira vez.
O contato era agradável, como se fosse um encaixe perfeito. Pelo menos o que
eu acho perfeito.
Sua mão era forte. Nem muito macia, nem áspera. A ponta de seus dedos
tocava o nó dos dedos dele, que pareciam grandes e ossudos. Ele provavelmente
estala os dedos demais.
Ela moveu levemente os dedos e sentiu um arranhão na articulação do dedo
do meio, o que a fez pensar que ele podia ser do tipo que socava paredes.
Chegaram à aula de artes, e Nero acenou com a cabeça para se despedir de
Vincent, que os seguiu até lá andando alguns passos atrás deles.
Elle decidiu fazer a mesma pergunta.
— Vocês três sempre foram inseparáveis? — perguntou quando eles
sentaram.
Nero riu.
— Sim, quase sempre. Nossos pais são amigos, então fomos basicamente
forçados a gostar um do outro quando éramos pequenos. Agora somos uma
grande família.
— Ah, que coisa mais fofa e adorável.
— Shhh... Não, não é, Elle. — Ele olhava em volta para ver se alguém tinha
escutado. Elle não conteve o riso.
— É adorável que seus pais sejam amigos. — Enquanto Nero tentava cobrir
sua boca para fazê-la parar, ela continuava rindo e desviou o rosto, segurando as
mãos dele para terminar de falar. — E o mesmo acontece com seus filhos. É
fofo, tipo um filme da Disney. — Elle ria tanto, que lágrimas escorriam de seus
olhos.
— Agora chega. — Ele se levantou e pegou a mão dela, puxando-a para o
fundo da sala, para o armário de materiais de arte.
A risada dela ainda flutuava no ar.
— O que está fazendo? — ela perguntou com dificuldade.
— Cobrando meu agradecimento — ele murmurou.
Elle parou de rir imediatamente. Merda.
Nero forçou Elle a entrar no armário. Ela se arrependeu de provocá-lo.
Quando ele fechou a porta, acabou a graça.
Nero a empurrou contra a parede.
— Eu... sinto muito. Não vou mais brincar sobre como isso é fofo. — Nero
a olhava como se fosse um lobo, e ela, sua presa. Ele agarrou uma mecha de seu
cabelo e a enrolou no dedo. — Quero dizer, definitivamente não é fofo. Não, é
viril que todos os pais e filhos sejam melhores amigos. — Elle ficava cada vez
mais nervosa a cada palavra que dizia. Sabia que não estava melhorando a
situação.
— Você não está se ajudando, Elle. — Ele colocou a mão sob a orelha dela,
os dedos segurando o cabelo e a palma apoiada na lateral de seu pescoço,
posicionando-a.
Elle não sabia o que fazer. Então deixou escapar um comentário que talvez a
salvasse.
— Não. Eu nunca beijei antes.
Nero olhou para ela por um segundo e viu que não estava mentindo. Ele
deslizava o polegar para frente e para trás em seu queixo.
— Tudo bem. Como é a primeira vez, vou dar só um beijinho.
O coração de Elle parou de bater.
— Aqui?
Nero assentiu e inclinou o rosto para baixo, a boca a centímetros da dela.
— Aqui.
Ela sentiu uma vibração no estômago. Fechou os olhos quando os lábios
tocaram os dela. Ele não a forçou; cumpriu o que disse, foi só um beijinho.
Apenas um breve segundo dos lábios roçando os dela, e acabou.
Quando Elle abriu os olhos, a vibração no estômago não parou. Ele parecia
mais faminto do que antes, mas se afastou. Elle sabia que era melhor parar agora,
antes que o lobo mudasse de ideia sobre o beijinho. Sem uma palavra ou som,
ela saiu de cabeça baixa. Elle estava muito envergonhada, temendo olhar para
alguém que pudesse tê-la visto entrando no armário com Nero. Sentou-se,
olhando para a mesa, com a cabeça totalmente confusa.
Ela viu seu cartaz aparecer sobre a mesa, diante dela, depois Nero sentou-se a
seu lado. Não conseguia olhar para ele, por isso pegou um papel e começou a
escrever, dedicando a maior parte do tempo à tarefa. Era difícil se concentrar
depois do que tinha acontecido, mas estava realmente com vergonha de o olhar.
Espiava pelo canto dos olhos de vez em quando, quando sabia que ele não
estava prestando atenção. Em uma das vezes, quando os olhos desviaram na
direção dele, ela notou os nós dos dedos. Tinha sentido os arranhões, mas não
havia percebido quanto estavam inflamados. Estavam muito vermelhos. Antes
que ela pensasse muito sobre isso, o sinal tocou. O instinto entrou em ação, e ela
se levantou para ir buscar Chloe.
Nero segurou a mão dela.
— Não, Amo vai trazer Chloe até aqui, e todos nós vamos sair juntos.
Elle viu os alunos saírem antes dela e achou estranho; ela sempre foi a
primeira a sair.
— Por favor, me deixa ir buscar a Chloe.
— Elle, olha para mim. — Elle olhou para Nero depois de perceber que ele
não a deixaria ir se não o encarasse. — Você confia em mim?
Elle o estudou com atenção. Por alguma razão, sabia que, quando ele fizesse
uma promessa, a cumpriria.
Ele era exatamente esse tipo de cara. E ela não conseguia explicar.
Elle disse baixinho:
— Sim.
— Ok, senta, então.
Elle não queria se sentar; queria esperar Chloe do lado de fora. Nero suspirou
e a puxou-a para o colo.
— Você precisa começar a me ouvir.
Ela tentou se levantar, mas um braço envolveu suas costas, segurando seu
quadril, e o outro cobriu suas pernas, com uma das mãos segurando a sua.
Quando ela resistiu, ele apenas a segurou com mais força, deixando a mão subir
pela perna.
— Relaxa, Elle. Eles vão chegar em um minuto.
Ela não queria se sentir uma idiota, então parou de lutar e só afundou em seu
colo. Depois de um minuto, estava mais calma. Pela primeira vez, se sentia quase
segura entre aquelas paredes.
No momento em que Elle viu Amo ao longe, pulou do colo de Nero. Foi
esperar na porta, onde Vincent já estava há um minuto, antes que Amo se
juntasse a eles. Quando Amo parou na frente dela, Chloe saiu de trás dele.
— Nero, a gente precisa conversar. Chloe não sai de trás da minha bunda.
Falei para — Amo olhou diretamente nos olhos de Chloe — andar ao meu lado,
mas ela se recusa a dizer uma palavra que seja.
— É... é assim que eu ando! — Chloe deixou escapar.
Elle começou a rir; era muito difícil não rir.
— Ah, agora você fala porque Elle está perto?
Elle apenas riu mais.
— A culpa é sua! — Ele apontou para Elle.
— Minha? O que foi que eu fiz?
— Você a ensinou a andar assim.
Elle deu um passo à frente, dirigindo-se a Amo de igual para igual. Sim, ele é
grande. E sim, ele é assustador, mas não sabe de nada.
— Não, eu não ensinei nada para ela. Ela aprendeu a andar atrás de mim
quando todos começaram a nos intimidar.
— Nós nunca intimidamos vocês.
— Não, mas também não impediram. Vem, Chloe. Vamos embora.
— Tudo bem, se acalma. — Nero agarrou a mão dela, e de novo a impediu
de sair. Isso está me irritando de verdade. — Você tem razão. Nós somos
igualmente culpados. Nós três pedimos desculpas e vamos tentar reparar nosso
erro a partir de agora. Mas você e a Chloe precisam colaborar. Chloe, escuta o
Amo e tenta falar com ele de vez em quando.
— E... — Amo interferiu.
— E sai de trás da bunda de Amo. Anda ao lado dele, a partir de agora. É
mais seguro de qualquer maneira. Alguém pode agarrar você atrás dele se quiser.
Chloe engoliu em seco e assentiu.
— Sim, como se ela tivesse muito espaço para andar ao lado da besta. — Elle
mostrou a língua.
Amo abriu a boca para responder, mas Nero ergueu a mão. Em vez disso,
Amo começou a caminhar para a porta da frente. Nero puxou Elle para andar ao
lado dele e Chloe ficou atrás, com Vincent seguindo todos eles.
— Chloe, ao lado.
Chloe saiu de trás de Elle de cabeça baixa, enquanto Amo balançava a cabeça
na frente deles. Ele está realmente me irritando.
Quando Chloe finalmente levantou a cabeça, Elle sorriu para ela; achava
bom finalmente andar ao lado de sua amiga novamente.
Quando passaram pela porta, o ar frio foi como um tapa no rosto, e Nero a
puxou para mais perto. Ela adorava o frio, mas também gostava do calor de
Nero.
Elle viu Sebastian olhando para eles antes de entrar no carro. Também notou
que ele tinha um olho roxo, e foi então que tudo fez sentido. Nero não socava
paredes, apenas rostos.
Eles chegaram ao BMW de Chloe, e Amo foi o primeiro a notar que algo não
estava certo.
— Alguém furou a porra dos pneus dela.
Nero passou a mão na cabeça, afastando as mechas escuras do rosto.
— Tudo bem. Elle e Chloe, vou levar vocês duas para casa.
— Não precisa. Já furaram meus pneus antes. Posso dirigir com eles assim
por alguns quilômetros até a concessionária.
— Ai, meu Deus, ela está falando sério?
Elle ficou chocada com o comentário de Vincent.
— Chloe, você não vai dirigir com os pneus furados, não com Elle. Vou
levar vocês para casa. Seu pai pode cuidar do carro, certo?
— Eu... posso dirigir. Foi para isso que me deram o carro.
Elle ficou com pena de Chloe. Ela definitivamente não contaria ao pai. Não
era como se ele fosse se importar de qualquer forma.
— Jesus Cristo, eu tenho que sair daqui. Eu deixo o Leo em casa para você.
Boa sorte com essas malucas. — Amo se afastou e gritou para Leo entrar no
carro dele.
— Chloe, ou você vai para casa comigo e com a Elle, ou o Vincent vai te
levar para casa.
Vincent deu um sorriso malicioso para Chloe. Embora ele fosse o mais baixo
dos três, Amo e Nero eram assustadoramente altos. Além disso, Vincent era o
menino bonito do grupo; tinha a estatura ideal e um corpo perfeito. Bom, se você
gosta de tudo perfeito.
O cabelo loiro claro e os olhos azuis, combinados com o rosto bonito,
garantiam que todas as garotas estivessem sempre competindo por sua atenção.
— Eu vou com você e Elle.
— Eu sabia. Até mais tarde, cara. — Eles seguiram caminhos separados, com
Elle e Chloe acompanhando Nero e Vincent indo em direção ao próprio carro.
Nero segurou a mão de Elle enquanto abria a porta traseira para Chloe
entrar. Ela entrou e fechou a porta, e ele então abriu a porta do passageiro para
Elle. Ela subiu no Cadillac de Nero, pensando em como praticamente todos as
outras garotas da escola também haviam sentado naquele banco. Odiava pensar
nisso; isso a deixava enjoada. Mas o que quer que acontecesse, sabia que não seria
como uma daquelas meninas.
Nero não precisava perguntar qual era o caminho para ir para a casa de
Chloe; ele sabia exatamente onde ela morava. Toda a cidade sabia. Ele
estacionou na frente da casa dela, uma casa branca, grande e perfeita em uma rua
sem saída.
Chloe abriu a porta.
— Eu mando uma mensagem para você mais tarde, Elle.
Elle olhou para trás e sorriu.
— Ok. Tchau, Chloe.
Chloe saiu do carro e fechou a porta, depois virou e acenou para a amiga.
Elle acenou de volta e murmurou “boa sorte” para ela antes de Nero ir
embora.
Quando eles voltaram à longa estrada pavimentada, Elle se deu conta de algo
importante enquanto dizia a ele onde morava. Agora estava sozinha com Nero,
no carro dele.
Maravilha!
Elle aproveitou que finalmente estava sozinha com Nero em um espaço
confinado e realmente o estudou. Sua mão machucada segurava o volante com
força moderada. Ele estava calmo, parecia quase em paz. Talvez estivesse
pensando, talvez dirigisse para pensar. Ele parecia amar dirigir. Os olhos, que
lembravam os de um animal, estavam cravados na estrada à sua frente.
Por que tinha pensado nele como um lobo antes? Talvez por causa da cor.
O cabelo preto caía sobre parte do rosto. Dava para perceber que ele ainda
estava se acostumando com o cabelo mais curto, pelo jeito que o puxava para trás
para alisá-lo. Ela gostava quando ele fazia isso, porque só fazia quando estava
sentindo alguma coisa. Porque ele age como se não tivesse emoções.
Sua pele contrastava com a camisa branca, criando a impressão de que era
mais bronzeado do que realmente era. Ele sempre usava uma camisa de botões
cara, de cor clara, mas nunca a abotoava totalmente; consequentemente, sempre
se podia ver uma sugestão do peito. Ele também usava calças escuras, sempre em
tons de cinza-escuro, marinho ou preto. Na verdade, isso era típico de uma
escola preparatória; cada aluno se vestia para impressionar. No entanto, o visual
de Nero era muito sem graça, comparado com os outros alunos do sexo
masculino que se vestiam de forma extravagante. Eles teriam usado um paletó de
cor horrível e transformado a roupa em um traje completo.
O sorriso de Nero interrompeu seus pensamentos.
— Em que está pensando?
— Tentando descobrir no que você está pensando.
— Ah, por isso não tirou os olhos de mim.
Elle olhou para a estrada. Estava constrangida por ele a pegar olhando.
— Estava pensando sobre o que você disse antes. Sobre como nunca fizemos
nada para impedir que machucassem vocês.
Elle manteve os olhos na estrada e não disse nada. A questão era que não
havia nada a dizer.
— Não sei por que não fizemos nada. Para ser sincero, pensei que fossem só
as meninas. Não sabia que Sebastian estava metido nisso. — Elle viu sua mão
agarrar o volante, os nós dos dedos ficando brancos com a pressão.
Ela virou e olhou pela janela do passageiro. Não queria que seu rosto
mostrasse nada. Nero tirou a mão direita do volante e segurou a mão dela.
— Ele fez alguma coisa para você antes, não é?
Elle olhou para a mão segurando a dela e observou os nós dos dedos. Ela
tocou o arranhão na articulação e deslizou a ponta do dedo por cada área
vermelha sobre as articulações.
— Eu vi o rosto de Sebastian no estacionamento. Você devia colocar um
pouco de gelo nisso.
O silêncio de Elle foi a resposta.
— Então, ele e eu acertamos as contas. — Ela continuou deslizando os dedos
pelos ferimentos, enquanto a mão permanecia em seu colo. — Você não vai me
dizer o que ele fez, vai? — Ele tirou os olhos da estrada por um segundo para
olhar para ela.
— Não.
— Por que não?
Elle pensou sobre essas palavras. Por que não? Depois desses últimos anos, ela
nunca contou a ninguém sobre o que aconteceu com ela na escola, e nunca
revelou a ninguém o que aconteceu com Chloe. Então, duas noites antes, vira
alguém ser assassinado e teve imediatamente a certeza de que nunca contaria
aquilo a ninguém por toda sua vida. E por que não? Elle se sentia como se
houvesse sido programada assim – para manter segredos, para manter a boca
fechada. Ela sempre foi assim. Estava em seu DNA. Imaginou o chefe, e isso a fez
entender exatamente por que nunca contaria.
— Porque eu não sou dedo-duro.
Quando Nero olhou para ela, ela o encarou e sentiu como se ele estivesse
quase sorrindo por dentro; os olhos, pelo menos, davam essa impressão.
— Tudo bem, isso é algo que eu posso respeitar.
O passeio de carro foi bom. Ela estava muito confortável ali, segurando a
mão dele. Não precisavam forçar uma conversa; ambos gostavam do silêncio, às
vezes.
Quando estavam na metade do caminho para a casa dela, ele perguntou:
— Posso te convidar para sair algum dia?
— Tipo em um encontro? — Elle não esperava por isso.
Nero riu.
— É, tipo um encontro.
Elle não sabia como responder.
— Vou tentar adivinhar, nunca teve um encontro antes?
— Hum, não, nunca. Eu trabalho, você sabe, então não sei se posso.
Nero soltou a mão da dela.
— Passa seu telefone.
— Por quê?
Quando Nero olhou para ela com cara de “não me questione”, ela enfiou a
mão na bolsa e entregou o telefone. Foi um momento perfeito, ele parou em
uma placa de pare.
— Que diabo de celular é esse? Tem umas porras de botões.
— Você quer dizer um teclado, sim.
— Sim, estou vendo. — Ele apertou alguns botões, e ela ouviu o telefone
tocar. — Pronto, salva esse número.
Ela pegou o telefone de volta e começou a salvar o contato dele.
— Ok, B-A-B-A-C-A. Pronto. — E sorriu, orgulhosa da piada.
— Muito engraçado. Manda sua agenda mais tarde para que eu possa ver
quando podemos sair.
— Não vamos sair em um encontro.
— E por que não?
— Porque você namorou todas as garotas da escola desde o início deste
semestre. — Claro, podia estar exagerando, mas só um pouco. Ele namorou
praticamente todas as garotas da escola, e foram três na última semana. As três
que tornavam sua vida um inferno todos os dias.
— Eu não namoro com elas, Elle.
— Ah, assim fica melhor! — Elle cruzou os braços. O cara era um idiota.
A voz dele ficou séria.
— Elle, eu pedi para te comer?
Elle ficou desconfortável, recusou-se a responder.
— Não, eu te convidei para sair. Um encontro. E nunca fiz isso com
nenhuma garota antes.
Elle olhou para ele. Sabia que não era mentira. Nero não era do tipo que
levava uma garota para um encontro; ele era do tipo que as levava para a cama.
Mas ainda não tinha uma resposta para ele.
— Eu cansei daquelas garotas. Sei que não acredita em mim, e tudo bem,
mas te conto isso do mesmo jeito.
— Ainda é não.
— Sabe, é um pouco difícil acreditar nisso, já que você segurou minha mão
praticamente desde que entramos no carro.
Elle não se importou, não estava segurando a mão dele agora.
Ele parou junto ao meio-fio e saltou antes que ela pudesse colocar a mão na
maçaneta. Abriu a porta, e ela saiu do carro enquanto ele a bloqueava com o
corpo, a mão apoiada na porta para que ela não pudesse se mover.
— O que está fazendo agora?
— Preciso de outro obrigado.
Ela colocou as mãos em seu peito para protestar, mas antes que pudesse dizer
qualquer coisa, os lábios encontraram os dela.
Foi um beijo diferente do anterior. Dessa vez, ele estava mais ávido e tentou
ir um pouco mais além, mas Elle não abriu a boca. Ele segurou sua nuca para
tentar levantar o rosto, esperando que ela entreabrisse os lábios. Nada. A língua
traçou o contorno do lábio inferior de Elle antes de ele se afastar.
Ela percebeu que mantinha as mãos em seu peito quando voltou à realidade.
Não saberia dizer se havia correspondido ao beijo. Tinha certeza de que ele havia
feito todo o trabalho. As vibrações de antes voltaram quando os lábios tocaram
os dela, e ainda estavam lá.
— Venho te buscar amanhã cedo para ir à escola.
— O quê? — Ainda estava confusa depois do beijo.
— Chloe não pode vir te buscar, o carro vai estar na oficina. Duvido que
quem for levá-la queira sair do caminho para vir te buscar.
Sim, eles não iam querer mesmo.
— Eu posso pegar o ônibus.
— Sério, Elle? O ônibus?
— Sim, eu vou quase todos os dias para a lanchonete no centro da cidade.
O rosto de Nero parecia quase chocado.
— Você pega a porra do ônibus que vai para o centro à noite?
— Sim. E daí?
— Você não entende como isso é perigoso para uma garota de dezessete
anos?
— Você não entende que não tenho escolha?
— Bem, agora tem. Que horas você trabalha hoje à noite?
— Não, você não vai me levar para o trabalho. Sobrevivo há muito tempo
andando de ônibus.
— Jesus, Elle, eu vou te levar para o trabalho. — Os olhos de Nero tinham
aquele brilho assustador novamente.
— Não, você não vai! — Quando ela empurrou seu peito para fazê-lo sair da
frente, ele nem se mexeu. Em vez disso, Nero chegou mais perto, colando o
corpo ao dela. E segurou seu queixo para ter certeza de que ela veria seu rosto.
Sua expressão era faminta novamente, como se o lobo tivesse voltado.
— Essa merda tem o efeito oposto em mim, Elle, então, toma cuidado da
próxima vez que perder o controle. — Nero inspirou e expirou profundamente.
— Vai trabalhar de ônibus. Mas aproveita, porque isso não vai durar muito
mais.
Elle tentou abrir a boca para falar, mas ele não deu tempo.
— Estarei aqui amanhã de manhã para te levar para a escola. Se entrar
naquele ônibus, vai ter que aguentar as consequências. Eu te desafio a pegar o
ônibus amanhã, porque, seja como for, eu vou ganhar. — Seu sorriso era quase
mortal.
— Só porque acha que é o grande lobo mau, devo fazer o que você diz? Bem,
não é assim que funciona comigo.
Nero piscou algumas vezes. Parecia confuso.
— O grande lobo mau?
— Sim, é o que você parece, um lobo — Elle disse com naturalidade.
Nero balançou a cabeça.
— Elle, pega leve nesses filmes que anda assistindo.
— Não. Posso ir agora?
Nero sorriu.
— Claro, se me der um beijo de despedida.
— Então se eu te beijar posso ir?
Nero sorriu ainda mais.
— Sim.
— Promete?
Quando Nero assentiu, Elle ficou na ponta dos pés. Aproximou a boca da
dele. Quando estava bem perto, virou o rosto e beijou a bochecha dele. Depois
pôs os calcanhares no chão e riu.
— Isso não vale.
Ainda rindo, Elle disse:
— Vale, sim. Você disse que eu poderia ir se te beijasse. É culpa sua não ter
dito onde. Você prometeu. — Sabia que o tinha encurralado. Ele havia
prometido.
— Tem razão. Eu cumpro minhas promessas, Elle. Lembra disso. — Nero
tirou a mão da porta do carro para deixá-la passar. — Não se esqueça de me
mandar uma mensagem com sua agenda. Na verdade, tire uma foto da sua
agenda — ele concluiu, sorrindo.
Elle decidiu que já tinha aguentado o suficiente. Passou por ele, erguendo a
mão e apontando para a agenda com a outra.
— Na verdade, vou esfregar um pouco de sujeira nela.
Nero riu, fechando a porta e se apoiando no carro.
— Sete e meia, Elle. Estarei bem aqui. — E Nero ficou parado, vendo Elle
correr para casa.
Havia uma vantagem quando ela fugia dele. A vista era ótima.
Quando Elle finalmente fechou a porta, deixando Nero lá fora, ela voltou
a respirar.
— Elle, quem é o menino bonito? Você não me disse que tinha namorado.
Elle se virou e ficou constrangida ao ver a mãe olhando pela janela.
— Ele não é meu namorado.
— Ah, querida, pode me contar. Ele é bonito. Você devia trazer o menino
para jantar.
Elle esfregou as têmporas.
— Mãe, ele não é meu namorado. Só me deu uma carona para casa.
— Por que Chloe não te deu carona para casa? — seu pai perguntou.
Ela não o tinha visto ao entrar.
Elle pensou depressa.
— O carro dela não pegava. — Agora ela mentia bem.
— Sua mãe tem razão: traga o rapaz para jantar. Eu gostaria de conhecê-lo.
— Ele conduziu a cadeira para a cozinha.
O dia estava ficando cada vez melhor. Elle viu Josh atrás da mãe, olhando
pela janela também.
— Qual é o nome dele? — Josh perguntou curioso.
— Hum, Nero. — Não sabia por que ele queria saber.
Josh começou a correr pela sala, gritando:
— Elle e Nero sentados sob uma árvore, B-E-I-J-A-N-D-O. Primeiro...
Elle começou a caminhar para o quarto no momento em que ele começou a
cantar. Bateu a porta e o deixou lá fora. Cada vez melhor.
Ela pulou na cama, pensando em descansar um pouco antes de se arrumar
para ir trabalhar.
Elle pegou o telefone, olhou para ele e decidiu ligar para Chloe. Depois de
alguns toques, Chloe atendeu.
— Oi — ela disse, tranquila.
— Contou para o seu pai?
— Não. Não adianta. Contei para a Lana, e ela disse que o marido dela vai
resolver isso para mim.
Lana era a governanta, trabalhava na casa dela há anos. Ela era praticamente
a única mãe de Chloe. Chloe só precisava dizer de que precisava, e Lana a
ajudava.
— Que bom.
— Lana vai me levar à escola até eu pegar meu carro de volta, então... —
Chloe não queria contar.
— Tudo bem. Nero disse que me daria carona amanhã de manhã, e eu
sempre tenho o ônibus.
— Ah, sério? Conta, como foi a viagem de carro até sua casa? — A voz de
Chloe sugeriu um sorriso.
— Legal.
— Legal?
— Sim. Foi tudo bem, Chloe.
— Ele beijou você, não beijou?
O silêncio foi a resposta.
— Ah, ele beijou! Fala, como foi seu primeiro beijo?
— Bom, tecnicamente, não foi o meu primeiro.
— Ai, meu Deus, o quê?
— Ele me beijou mais cedo, na aula de arte, no armário de materiais.
— Isso é tão lindinho.
— É, é, é. Escuta, Chloe, se você chegar à escola antes de mim, não vou
poder te ajudar.
— Eu sei. Mas posso pensar em alguma coisa, acho. Vou chegar na mesma
hora de sempre.
Elle odiava ouvir a voz de Chloe voltar ao tom triste de sempre, mas
precisava alertá-la.
— Tudo bem. Vou tentar chegar lá na mesma hora de sempre, mas sabemos
que Nero se atrasa praticamente todas as manhãs.
— Eu sei.
Elle se sentia péssima. Teria de pensar em alguma coisa.
— Vejo você amanhã, então.
— Tchau.
Elle desligou o telefone. Não conseguiu dizer tchau.
As engrenagens começaram a girar em sua cabeça, tentando encontrar um
jeito de resolver esse problema. Ela decidiu pensar enquanto se vestia para o
trabalho.
Enquanto pensava, algo que Nero havia dito antes passou por sua cabeça.
“Você não entende como isso é perigoso para uma garota de dezessete anos?” Como
ele sabia que tinha dezessete anos? Na verdade, a maioria dos veteranos já tinha
dezoito, exceto ela e Chloe. Como ele podia saber disso?

Nero começou a se sentir confinado em casa, principalmente em seu quarto.


O serviço que o pai havia dado a ele começava a perturbar seus pensamentos. Era
sua primeira tarefa, o trabalho que o levaria à família.
Sim, seu sangue pode ser o mesmo da família, mas não fazia parte dela de
fato. Pelo menos, não até que concluísse esse serviço.
Ele sempre esteve ciente, desde que era pequeno, que seguiria os passos do
pai e do irmão. Sangraria e morreria ao lado da família. Qualquer que fosse o
preço.
Ele se perguntava por que Elle estava atrás da caçamba de lixo naquela noite.
Qualquer outra garota teria sido mais fácil de dobrar – droga, a missão já estaria
cumprida, se ela fosse como todas as outras garotas com quem já esteve. Mas não
Elle. Não conseguia nem fazer a garota abrir a porra da boca para enfiar a língua
nela, muito menos arrancar seus segredos. Ela se sentou em seu carro e até
protegeu um bosta como Sebastian, portanto induzi-la a contar o que tinha
acontecido não seria fácil.
Pensar em Sebastian o irritou. Não conseguia tirar da cabeça a imagem dele
avançando em Elle. Ela ficou onde estava, só fechou os olhos.
Ele precisou pegar Sebastian, pôr as mãos nele. Por isso, ele e sua turma
fizeram questão de encontrá-lo sozinho. Criaram um plano, oferecer a ele um
pouco de maconha assim que deixassem as meninas na aula de espanhol. Deram
a Sebastian uma chance de propor uma trégua, dizer que ele sentia muito, que
tinha sido um momento de cabeça quente. E a cabeça dele esquentou de
verdade.
Ele socou o merdinha atrás da escola. O bostinha levou um soco e apagou. Isso
não deteve Nero e sua turma. Cada um acertou um chute em seu corpo inerte.
Nero sorriu. Elle não tinha visto os belos hematomas que Sebastian
certamente tinha sob suas roupas. Novamente, pensar em Elle o deixou ereto.
Seu corpo estava fora de controle. Normalmente, alguma garota estaria em sua
cama para resolver a situação, mas depois que o pai o proibiu de levar para casa
outras garotas além de Elle, não podia arriscar. Beijá-la definitivamente o afetou.
Até o quase nada que foi o beijo no armário o deixou perturbado.
Normalmente, aquilo teria sido um beijo de brincadeira, mas alguma coisa
ali o fez querer mais. Mais tarde, quando chegaram à casa dela, ele a beijou
novamente, com mais força. Ela nem correspondeu, o que tornou tudo ainda
pior. Nenhuma garota jamais havia deixado de corresponder a um beijo seu.
Sabia que beijava bem – bem, antes, tinha certeza disso.
Quando ela o empurrou, foi preciso um grande esforço para não a jogar no
banco de trás e fazer o que queria, certo de que a convenceria a participar.
Ele sorriu ao lembrar de como ela o tinha chamado, “o lobo mau”. Elle
estava certa; ele era o lobo mau. Sabia que o apelido o descrevia perfeitamente
porque a cada vez que olhava para Elle, via um bichinho fofo e indefeso.
Gostava do tamanho de Elle; ela tinha uma boa combinação. Não era alta,
mas não era baixa. Sua bunda e os seios eram proporcionais, ambos cabiam em
um pouco mais do que uma mão cheia, e ele gostava disso. Mas o cabelo e os
olhos eram o que mais gostava.
O cabelo loiro mais escuro tinha um toque avermelhado e um belo ondulado
sem ser encaracolado. Os olhos eram enormes e azuis como o oceano. Por isso a
via como um bichinho fofo, porque toda vez que olhava em seus grandes olhos
azuis, o lobo mau queria experimentar. Queria mais que sentir um gostinho.
Quando Nero percebeu que estava prestes a enlouquecer, ele deu um
telefonema. E falou assim que alguém atendeu do outro lado:
— Elle está trabalhando?
— Elle não está aqui agora. Ela chega em uma hora, mais ou menos. Quer
deixar um recado?
Ele sabia o que viria a seguir.
— Não, eu disse Mel, não Elle. — Não podia arriscar de o cara que atendeu
o telefone contar que alguém tinha ligado para ela.
— Que eu saiba, não tem nenhuma Mel aqui.
— Desculpe, número errado. — Ele desligou o telefone, levantou da cama e
pegou as chaves de cima da mesa de cabeceira. Tinha um serviço a fazer.
Nero estacionou o carro um pouco longe da casa. Desligou o motor,
apagou as luzes e foi completamente cercado pela escuridão. Só precisou esperar
cerca de cinco minutos até a porta da frente se abrir e seu alvo aparecer. Bem na
hora.
Enquanto ela caminhava pela calçada, ele percebeu como estava vestida. O
casaco cinza-escuro cobria um vestido laranja-escuro. Ele nunca a tinha visto de
vestido antes. Notou as pernas longas e esguias e se perguntou por que ela só
usava jeans. Sabia que o vestido era um uniforme, mas estava funcionando muito
bem para ele. Disse a si mesmo que precisava vê-la de perto em algum momento
antes do fim do turno.
Quando ela virou na esquina, ele ligou o carro. Esperou até quase perdê-la de
vista antes de colocar o carro em movimento, ficando longe o bastante até ela
chegar ao ponto de ônibus. Desengatou a marcha quando ela sentou no banco.
Quando um cara mais velho chegou e se sentou no banco ao lado dela, algo
cresceu em seu estômago. Nero viu os dois conversando, sem entender por que
ela era tão simpática com um completo estranho. Sabia que eles não se
conheciam pela maneira como ela apertou sua mão e se apresentou.
Nero observou o homem atentamente até que o ônibus chegou, e eles
entraram. No caminho para o centro da cidade, ele ficou colado no para-choque
do ônibus o tempo todo. Conseguia enxergar lá dentro quando paravam nos
semáforos. O cara se sentou diretamente atrás de Elle. Nero não gostou nem um
pouco. Havia outros vinte lugares vazios.
Quanto mais a via no ônibus, mais tinha vontade de pará-lo e jogá-la em seu
carro. Era homem, sabia exatamente o que o homem mais velho atrás dela estava
pensando. Droga, queria parar o ônibus só para matar o cara.
Na parada seguinte, ele viu Elle se levantar e se virar para dar tchau ao
homem. Que merda! Ela estava pedindo para morrer.
Onde Elle achava que ela morava? A cidade era governada pela porra da máfia.
Ela não só sabia disso, como ela vira alguém ser assassinado nas ruas apenas
alguns dias atrás. E ela não tinha ideia de que o chefão da família Caruso tinha sido
o responsável por isso.
Foi então que soube que Elle queria morrer. Ela se jogava na frente de Chloe
todas as vezes na escola; trabalhava em uma lanchonete à noite no centro da
cidade e pegava um ônibus para chegar lá.
Quando ela saiu do ônibus e as portas se fecharam com o cara ainda lá
dentro, ele começou a se acalmar de volta e recuperar a sanidade. Ficou atrás dela
nos poucos quarteirões que ela teve de andar para chegar na lanchonete. Quando
ela entrou, Nero estacionou o carro novamente. Passou as mãos na cabeça e
fechou os olhos. Estava ficando com dor de cabeça depois de ver Elle ser tão
descuidada com sua segurança.
Ele a observou por um tempo pelas grandes janelas da lanchonete, onde ela
servia café e anotava pedidos. A lanchonete estava lotada principalmente de
homens, e a maioria deles tinha saído do hotel cassino. Ele sabia porque os tinha
visto caminhar de uma das portas até a lanchonete. Depois de um bom tempo,
se cansou de ver os rostos dos homens quando ela se aproximava da mesa. Eu
não posso mais assistir a isso.
Nero desligou o carro, saiu e trancou as portas. Se olhasse para Elle por mais
um segundo, acabaria entrando lá e passaria o resto da noite vendo a garota
servir café. Em vez de entrar na lanchonete como queria, ele foi até a porta do
hotel cassino. Precisava se libertar da aflição e concluir de vez esse serviço.
Quando ele abriu as portas e entrou, o cheiro de fumaça o envolveu e os
diferentes sons de máquinas caça-níqueis invadiram seus ouvidos. Por algum
motivo, Nero adorava o cheiro e os barulhos. Ele via paz nisso. Era sua segunda
casa.
Ele caminhou pelo cassino e subiu pela escada rolante, onde virou para trás
para olhar a vista. As pessoas rindo e se divertindo, as luzes diferentes e a fumaça
que pairava no ar o fizeram sorrir. Ele podia ver seu futuro à medida que a
escada o levava para mais alto, e isso o deixava excepcionalmente feliz.
Ele saiu da escada rolante e passou por uma verificação de segurança dos
quartos do hotel. O guarda acenou para que ele seguisse em frente, deixando
Nero passar pelas pessoas que esperavam para mostrar as chaves do quarto.
Nero entrou no elevador para ir ao último andar, apertando uma série de
botões até ver a luz piscar. Isso permitia que subisse sem parar para as pessoas
entrarem no elevador. Gostava do recurso. Caso contrário, demoraria a noite
toda para chegar ao último andar.
Após a viagem tranquila, Nero viu a porta se abrir. Ele caminhou pelo longo
corredor, pensando no que ia dizer. Quando chegou à porta protegida, parou.
— Ele não estava esperando você esta noite.
— Eu não esperava vir aqui.
— Tudo bem. Um segundo.
Nero viu o cara sussurrar pelo microfone do fone de ouvido por um breve
momento.
— Ele disse que você pode entrar.
O grandalhão abriu a porta e saiu do caminho.
— Era o que eu esperava — respondeu Nero ao passar pela porta.
Quando a porta se fechou, Nero olhou ao redor da grande sala sem
iluminação, mas clara. Quase nenhuma luz estava acesa, mas todas as telas de TV
lá dentro projetavam sua luz. As pessoas que olhavam para as telas nem se
viraram para ver quem havia entrado.
Nero caminhou pela sala, chegando a uma cadeira ao lado de outra porta. Ele
se sentou, sabendo por experiência própria que poderia demorar um pouco.
Puxou seu celular. Tinha algumas mensagens, mas não a que ele queria. Ele
percorreu seus contatos, parando no nome de Elle. Apertou o botão de texto,
abrindo uma nova janela de mensagens, e digitou: Você já está no trabalho?
Quatro minutos se passaram, e ele recebeu uma resposta que o fez sorrir.
Talvez.
Abriu o teclado: Agenda?

Elle olhou para o telefone embaixo do balcão e leu a mensagem de texto


que acabara de receber, antes de colocá-lo de volta no bolso do avental. Ela
passou pela porta giratória para a cozinha. Lá, se dirigiu à parede onde ficava a
pasta com todos os dados dos funcionários, ao lado de uma folha de papel. Leu
as palavras no alto da folha. “Agenda quinzenal de turnos.” Seus olhos
percorreram o papel, olhando para os horários das próximas duas semanas.
“Tire uma foto da sua agenda”. Ela não sabia se dar a ele seus horários era
uma boa ideia. Nesse caso, não poderia mentir para ele e usar o trabalho como
desculpa para não aceitar convites.
Elle olhou para o papel mais um pouco, chegando a uma conclusão e uma
solução.
Puxou o telefone do bolso do avental e tirou uma foto de seus turnos. Depois
abriu as mensagens recentes, sabendo exatamente o que ia dizer.

Nero sentiu o telefone vibrar em sua mão. Virando-o, leu as palavras: Que tal uma
troca?
Nero ficou intrigado. O que você quer?
Um minuto depois, leu: Se você quiser meu horário, vamos ter que chegar cedo à escola,
antes da Chloe.
Nero gostava de saber que Elle se importava tanto com a amiga. Isso
mostrava que ela era leal. No entanto, lealdade não mudava o fato de ele não
gostar da ideia. Nunca foi uma pessoa matinal. Já precisaria se levantar cedo para
pegar Elle e levá-la à escola. De jeito nenhum acordaria tão cedo. Decidiu
contra-atacar.

Elle sentiu o telefone vibrar no avental enquanto servia café em uma das
mesas. Ia ganhar uma boa gorjeta esta noite; a lanchonete estivera cheia
praticamente a noite toda. Ela foi até o balcão e pegou o telefone, sem entender
por que tudo tinha que ser tão difícil com Nero. A mensagem era breve: Vou dizer
ao Amo para chegar cedo. Ele pode vigiá-la.
Elle não sabia por que estavam discutindo. Era ela quem tinha a agenda. Sem
agenda, então. E apertou a palavra enviar.
Elle tinha enchido as xícaras de café até a borda quando a mensagem seguinte
chegou. Ninguém para cuidar da Chloe, então.
Elle resmungou um palavrão. Devia ter pensado que ele usaria a segurança de
Chloe contra ela.
Decidiu enviar uma mensagem para Chloe primeiro. Amo estará na escola antes de
você. Fique com ele até eu chegar, ok?
Ela foi anotar o pedido de um de seus clientes habituais. Sempre gostava
quando ele aparecia. Ele contava piadas engraçadas e dava boas gorjetas.
Depois de fazer o pedido, ela leu a mensagem de Chloe. Por favor, não, Elle. Eu vou
ficar bem.
Elle pensou um pouco. Não, ela não ia ficar bem.
Mandou outra mensagem para Chloe. Cassandra pode estar de volta amanhã. Amo vai
encontrar você na sua vaga no estacionamento, certo? Você sabe que é o melhor a se fazer.
Depois de levar o pedido de uma das mesas, ela voltou ao balcão e riu da
resposta de Chloe. Saco, ok!!
Elle decidiu voltar para a cozinha e tirar outra foto da agenda. Deixaria Nero
vencer a batalha novamente. Mas a partir de agora, as coisas iriam mudar.
Ganharia a droga da guerra.

Nero pensou que fosse cochilar na cadeira de couro antes que Elle
respondesse. Sabia que tinha a situação sob controle quando mandou uma
mensagem dizendo que ninguém estaria lá para cuidar de Chloe. Portanto, não
entendia por que a demora para responder. Ela já havia perdido.
Quando seu telefone finalmente vibrou, ele leu a resposta. E aí, Amo vai estar lá?
Nero sabia que havia vencido novamente. Sim, bem cedo. Você tem minha palavra.
Um minuto depois, ele leu sua resposta. Diga a ele para encontrar Chloe na vaga dela
no estacionamento.
Um momento depois, a foto chegou. Ele clicou para abrir e ampliar a
imagem. Era melhor do que ele esperava; poderia usar isso a seu favor.
Quando ele examinou o cronograma da semana, o nome de Elle
definitivamente se destacou. Droga, ela trabalha praticamente todas as noites.
Nero pensou no que havia acontecido essa noite. E percebeu que, se não
fizesse o trabalho, ficaria de cabelo branco ainda jovem.
Quando a porta finalmente se abriu e um rosto familiar apareceu, Nero o
ouviu dizer:
— Ele vai te receber agora.
Nero decidiu enviar a mensagem que havia digitado antes de a porta se abrir.
Combinado.
Ao se levantar da cadeira, respondeu:
— Obrigado, Sal.
O chefe ouviu Sal dizer:
— Ele está lá fora esperando há um tempo, chefe. — A reunião estava
praticamente encerrada.
— Ele pode esperar. Por que acham que ele está aqui, rapazes?
— Eu vi a garota. Ela não é como a maioria. É o tipo de mulher com quem
você se casa e depois trepa. — Ele olhou para o filho, parado no canto enquanto
punha um cigarro na boca e o acendia com o isqueiro de metal.
Tinha sido um presente do chefe no dia em que o filho se tornou o subchefe.
Ele achava que nenhum homem deveria ter um isqueiro de noventa e nove
centavos que podia comprar no caixa de um posto de gasolina. Não, esse
isqueiro era passado de geração em geração. Ele mesmo o havia usado durante
anos. A única coisa era que ele queria que o filho acendesse charutos, não
cigarros. Tem muita coisa que eu gostaria que ele fizesse diferente.
— Então, você a tem seguido?
— Não exatamente — respondeu enquanto soprava a fumaça.
O cheiro fazia o chefe querer pegar um charuto, mas ele não gostava de
misturar essa merda com suas coisas boas.
— Então, o que esteve fazendo, exatamente?
— Eu a observei um pouco. — Ele deu outra tragada no cigarro.
— Para quê? — Sabia por que, mas queria ouvir a resposta.
— Eu precisava ter certeza de que as coisas estavam indo na direção certa.
— E estão?
— Que tal perguntarmos a ele? — Ele inclinou a cabeça em direção à porta.
Seu filho estava certo; não era o único que estava um pouco desconfiado de
que Nero talvez não conseguiria fazer o serviço, o irmão dele também estava.
— Sal, mande-o entrar.
Ele viu Sal abrir a porta e sair. Nero entrou e fechou a porta. Ao contrário do
irmão mais velho, ele se sentou em uma das cadeiras.
— Como foi a escola hoje, filho? — Pela expressão no rosto de Nero, sabia
que ele entendia o que queria dizer.
— Promissora. Eu a fiz mudar de ideia.
— Mesmo? Como? — Ele estudava o filho. Queria ter certeza de que tudo
que saísse de sua boca seria verdade.
— Ganhei a confiança dela. Ela não é exatamente a garota mais popular da
escola, então fiz todo mundo dar um tempo para ela e amiga. E tive sorte,
alguém furou os pneus da amiga dela, a mesma amiga que a leva para a escola.
Eu a levei para casa. Vou dar carona para o colégio e vou fazer disso um hábito.
— Isso é bom. Você tem alguma prova de que conquistou a confiança dela?
Não que eu não acredite em você, filho, mas ela é mais inteligente do que pensa.
— Acreditava que Nero estava dizendo a verdade, mas sabia que uma garota
como Elle poderia enganá-lo.
— Sim, ela me deu seus horários de trabalho. Disse a ela que precisava de sua
agenda para ver quando poderíamos sair. — Nero mostrou seu telefone com a
imagem já aberta na tela. Chefe Caruso deu uma olhada.
Ele ouviu o ruído do isqueiro, o filho mais velho acendendo outro cigarro.
Ele o viu fechar o isqueiro. Seu filho tinha aprendido todos os truques com o
Zippo. Ele vai quebrar essa merda daqui a pouco. A única razão para não pegar o
isqueiro de volta era que sabia que o filho o consertaria, se fosse necessário.
Ele pegou um charuto. Não se importava com a mistura de cheiros a essa
altura. Pegou o próprio isqueiro e acendeu o charuto.
Inspirando o sabor maravilhoso, continuou:
— Então, o que tinha para me dizer?
Ele viu Nero passar as mãos na cabeça.
— Eu não acho que ela vai abrir a boca. Ela esconde muita coisa. Apanhou
muito algumas vezes, mas nunca contou de quem. Perguntei se uma
determinada pessoa fez alguma coisa com ela, e ela não me contou. Ele é um
verdadeiro bosta, então não há razão para ela o proteger. Perguntei por que não
contava tudo, e ela me disse que não é dedo-duro.
Ele exalou após um instante.
— Ela disse que não é dedo-duro, especificamente? — Quando viu o filho
assentir, contraiu a mandíbula. Seguiria em frente por enquanto. — Quem é a
amiga dela? — Elle pode abrir a boca para essa garota.
Para sua surpresa, foi o outro filho que respondeu à pergunta, e Nero parecia
igualmente chocado.
— Chloe Masters. — Ele viu seu filho surgir do canto e apertar o ombro de
Nero. — De nada, irmão. Achei que ela poderia te dar alguma coisa boa pela
carona para casa. Espero que consiga salvá-la antes do aniversário de dezoito
anos. Não se importa de dividir, não é? Não se preocupe; você pode ser o
primeiro. Virgens não são minha praia. Eu prefiro um pouco de experiência.
Nero se levantou e encarou o irmão.
— Não acho que nenhum de nós seja o tipo dela.
— Vamos torcer para ela aprender a amar um Caruso em um mês, de boa
vontade. Você sabe, pelo bem dela. — Ele deu uma tragada no cigarro.
— Sim, Lucca, vamos torcer para que seja eu. Você sabe, pelo bem dela. —
Nero saiu da sala e bateu a porta.
O chefe Caruso apertou a ponte do nariz.
— Chloe Masters, é?
Lucca finalmente sentou-se à sua frente.
— Exatamente.
— Merda, estava indo tudo tão bem. — O relacionamento que tinham com
o pai de Chloe era crucial para os negócios. Demorou um pouco para colocá-lo
na folha de pagamento, e não foi fácil.
— Sim, uma grande família feliz. — Lucca apagou o cigarro no cinzeiro e se
levantou para sair.
— Continua de olho nela, filho.
No segundo em que viu aquele horário de uma semana, ele soube que Elle
estava um passo à frente de Nero. Ele era o dono do hotel cassino, portanto sabia
que as programações eram feitas com uma semana de antecedência,
normalmente.
— Esse é o plano, chefe.
Lucca saiu da sala sem fazer barulho. O chefe Caruso nem tinha certeza de
que a porta havia se fechado.
Ele pensou no que Nero havia dito enquanto levava o charuto à boca. “Ela
me disse que não é dedo-duro”. Seu instinto estava certo; ela tinha feito mais do
que apenas ouvir o que aconteceu naquele beco, e ele faria o que fosse necessário
para descobrir exatamente o que ela tinha visto. Soprou a fumaça em uma
tentativa de se livrar do cheiro horrível de cigarro que permeava a sala. Eu vi
muitos homens virarem dedos-duros.

Nero saiu da sala fumegando por dentro. Só esperava não se delatar.


Quando chegou ao elevador, decidiu enviar uma mensagem de texto para Elle
novamente.
Precisa de uma carona para casa?
Enquanto o elevador descia, fez questão de manter a calma. Precisava ter em
mente que todo o lugar tinha câmeras.
Ao sair do elevador, começou a jornada de volta ao carro passando pelos
seguranças, descendo a escada rolante e saindo do cassino. Havia entrado ali mais
cedo com uma sensação diferente da que tinha agora, ao sair.
Quando o barulho da cidade o recebeu, ele virou a cabeça para olhar para a
lanchonete ao lado. Teve de fazer um grande esforço para não entrar lá e se
sentar a uma das mesas, especialmente ao ver que agora o lugar estava lotado de
homens. Ele respirou fundo e alisou o cabelo antes de voltar para o carro.
Destrancou as portas e entrou, feliz pelas janelas escuras. À noite, era
impossível ver o interior do automóvel.
Ele socou o volante com a mão já machucada, tirando sangue dos nós dos
dedos pela segunda vez no mesmo dia.
“De nada, irmão”.
Nero queria brigar com o irmão como geralmente faziam quando não
concordavam. Mas, desta vez, não conseguiu. Era um assunto relacionado ao
trabalho, e ninguém brigava com o subchefe, a menos que estivesse preparado
para ter a mão decepada. Nem mesmo se vocês fossem irmãos. A família se
baseava em uma coisa: respeito.
Sabia que seu irmão não tocaria em Elle dessa forma, mas, mesmo assim, não
gostou das palavras que saíram de sua boca sobre ela.
Não é por isso que estou furioso, disse a si mesmo. Eles não acreditam que sou
capaz de cumprir essa missão.
Odiava que estivessem agindo por suas costas. Depois que se dá a tarefa a
alguém, a tarefa é só dessa pessoa. Sem palhaçada. Esse era o primeiro trabalho
de Nero, e ele não queria ajuda.
Eu consigo fazer isso sozinho.
Nero observava Elle pelas janelas da lanchonete. Ele a viu rindo enquanto
enchia as xícaras em uma mesa cheia de homens. Ele agarrou o volante, sentindo
que estava no limite. Ia entrar lá.
Saiu do carro e viu Elle ir ao balcão. Ela olhou para baixo e começou a sorrir.
Ele parou onde estava. O sorriso o fez parar. Nunca tinha visto aquele sorriso
antes. Ele sentiu o telefone vibrar.
Não fode... ele leu.
Abriu o teclado. Eu adoraria fazer isso e um pouco mais quando te levar para casa.
Ficou parado, olhando para ela só mais um pouco.
Ela voltou ao balcão e sorriu de novo, aquele mesmo sorriso que fazia seu
peito ficar um pouco mais fraco. Não sabia bem o que era.
Seu telefone vibrou novamente.
Aposto que sim, lobo. Posso ir para a casa da vovó sozinha.
Nero mandou uma mensagem de volta: Você vê filmes demais. Qual é o seu filme
favorito, por sinal? Nero sorria ao voltar para o carro. O sorriso de Elle o acalmou.
Agora que sabia como era seu sorriso verdadeiro, os que ela distribuía para os
clientes nem se comparavam.
Eu não tenho um só. Eu gosto de muitos. E o seu? Ele leu quando o telefone vibrou
novamente.
Nero e Elle trocaram mensagens de texto durante seu turno de trabalho, se
conhecendo. Surpreendentemente, Nero gostou disso; gostou de ver o sorriso
atrás do bar quando pensava que ninguém estava olhando para ela, enquanto
secretamente enviava mensagens de texto.
Não gostava de enviar mensagens de texto para meninas. Realmente nunca
deu a mínima para o que elas tinham a dizer. Garotas do ensino médio só
queriam fofocar, e ele só queria transar com elas. Elle era diferente; apenas
respondia às perguntas dele e perguntava o que queria saber. Disse a si mesmo
que isso era bom para o trabalho; ela precisava conhecê-lo para confiar
completamente nele.
Ele a observou terminar o turno e vestir o casaco. Estava aliviado por ela
finalmente sair de lá. Elle caminhou alguns quarteirões até o ponto e entrou no
ônibus, enquanto Nero a seguia o tempo todo. Saiu do ônibus, e ele desligou os
faróis, seguindo-a até que ela chegasse em sua casa.
Quando ela entrou, Nero esfregou os olhos. A noite tinha sido difícil para
ele. Não acreditava que poderia vê-la indo e voltando do trabalho novamente. A
cidade era perigosa, e Nero sabia exatamente o quanto podia ser. Não tinha ideia
de como ela ainda estava inteira, ou sã, aliás, considerando o tempo em que
trabalhava lá. Teria de inventar alguma coisa. E depois de ver sua agenda, sabia
que precisava ser rápido. Caso contrário, o único a perder a sanidade seria ele,
para sempre.
Nero pegou o telefone e rolou a lista de contatos para fazer a ligação. O
telefone tocou três vezes antes de ser atendido.
— O que é agora, Nero?
Nero riu.
— Você não deixou as duas garotinhas mexerem com você, deixou?
— Não, de jeito nenhum.
Nero ouviu alguma coisa ao fundo. Sorrindo, perguntou:
— É alguém que eu conheço?
— Não, ela estuda na escola pública. Prefiro não pegar todas as suas sobras
babadas.
Nero começou a pensar.
— Escola pública, é?
— Sim, lá elas são menos enjoadas.
— E têm amigas? — Nero sabia que ficaria louco se não encontrasse alguém
para dar uma aliviada.
— Muitas. Essa é a melhor parte da escola pública.
— Bem, vamos armar alguma coisa. — Nero olhou para a casa de Elle. —
Imediatamente.
Uma risada profunda ecoou do outro lado.
— Parece que uma garotinha está mexendo com você.
— Bom, foi exatamente por isso que liguei. Amo, tenho um serviço para
você.
Elle acordou exausta na manhã seguinte. Seu corpo não estava
acostumado a ir para a escola e trabalhar. Sabia que levaria até o final da semana
para recuperar o ritmo. Saiu da cama e cumpriu a rotina matinal.
Olhou para sua pequena coleção de roupas, e não conseguiu decidir o que
vestir. Eu realmente tenho que fazer compras logo.
Decidiu pegar uma de suas camisetas favoritas – o brechó beneficente sempre
foi bom em ter camisetas incríveis, fossem engraçadas, estranhas ou de banda.
Esta era branca e estampada com sua banda favorita. Ela escolheu jeans escuros e
apertados, botinhas marrons e uma velha jaqueta de couro da mesma cor: era
outra peça de brechó que se tornou um coringa.
Estava feliz com a vestimenta. Nunca tinha acreditado que a etiqueta de
preço determinava quanto uma roupa poderia ficar boa. No entanto, sem
etiquetas extravagantes costuradas, todos na escola se sentiam no direito de
incomodá-la.
Começou a escovar os cabelos ondulados, fazendo-os brilhar. Aplicou a
maquiagem leve de costume; pó, rímel e batom rosa. Satisfeita com sua
aparência, pegou a mochila e saiu do quarto.
Caminhou pela casa e viu que horas eram. Nero deveria chegar em cinco
minutos. Ela não tinha certeza se ainda pegaria carona; tomaria a decisão quando
passasse pela porta da frente.
Quando chegou à cozinha, sua família já estava sentada à mesa, tomando
café da manhã. Ela pegou um pãozinho e começou a recheá-lo com geleia de
uva.
— Bom dia, querida — disse a mãe.
Elle sorriu.
— Bom dia, mãe. — E se aproximou do irmão, passando a mão em sua
cabeça. — Oi, garoto.
— Oi — disse Josh, mexendo na comida.
— Ele não quer ir para a escola hoje — anunciou o pai.
— Por que não quer ir para a escola? — Elle olhou para seu irmão.
— Eu só não quero pegar o ônibus. — Ele mexeu na comida um pouco
mais.
— Eu sei, garoto. Eu odiava andar de ônibus escolar também. Quer que eu
te acompanhe até o ponto de ônibus?
— Acho que sim. — Ele largou o garfo.
— Tudo bem, vai buscar suas coisas. — Elle deu uma mordida no pão.
— Aquele garoto vai te levar para a escola hoje? — seu pai perguntou.
— Não sei ainda. — Elle deu outra mordida.
— Bem, diz para a sua mãe em que dia você está de folga esta semana, e ela
vai preparar um jantar para que você possa convidá-lo. — Elle olhou para o pai.
Ele não parecia muito satisfeito, pelo jeito como empurrava a comida no prato.
— Pai, não é assim que funciona com a gente.
O pai de Elle parou de enfiar comida na boca.
— Faça o que eu disse.
Elle assentiu e deu outra mordida no pão antes de deixá-lo no prato. Josh
estava pronto, com a mochila nos ombros. Elle verificou as horas, sete e meia.
Ela e Josh saíram de casa, e ela segurou a mão de Josh enquanto caminhavam
pela garagem. Nero não estava lá, então ela interpretou a ausência como um sinal
para pegar o ônibus. Deixaria Josh na parada do ônibus escolar, que ficava no
caminho. Eles começaram a descer a rua.
— Tem um motivo para não querer mais pegar o ônibus?
Josh não disse nada.
— Aluno do quinto ano?
— Como você sabe? — Josh olhou para ela finalmente.
— Porque também sofri com isso.
— O que você fez?
Elle pensou por um segundo e decidiu contar a verdade.
— Nada.
— É o que eu faço, e eles não param.
O coração de Elle começou a se partir. Não queria que o irmão passasse o
que ela passou.
Quando estavam na metade do caminho para a parada de Josh, um carro que
Elle reconheceu passou por eles e estacionou junto ao meio-fio, um pouco à
frente. Nero saiu do carro e se apoiou nele, cruzando os braços. Elle notou que
Nero parecia ainda mais insatisfeito do que normalmente estava. Ótimo, era
exatamente o que eu precisava.
— Ei, esse não é o seu namor...? — Elle cobriu a boca do irmão.
O rosto de Nero começou a ficar menos irritado.
— Eu ouvi.
Elle e Josh se aproximaram de Nero, e ela sentiu os olhos dele a examinarem
da cabeça aos pés. Percebeu que ele já não parecia mais irritado.
Ficou constrangida e fechou a jaqueta com as mãos.
— Josh, este é meu amigo, Nero. Nero, este é meu irmão, Josh.
— Oi, rapazinho. — Nero estendeu o punho. Elle percebeu que parecia pior
do que no dia anterior. Josh sorriu e bateu em seu punho.
— Oi, Nero. Nome legal!
— Obrigado, é italiano. Algum motivo para estar andando em direção ao
ponto de ônibus, Elle?
Elle decidiu não contar toda a verdade.
— Sim, eu disse a Josh que o deixaria no ponto de ônibus. — E baixou a
voz. — Acho que um aluno do quinto ano está causando problemas para ele.
— E você acha que ir com ele vai resolver o problema?
— Talvez eu possa falar com a criança e...
— Jesus, Elle, isso só vai piorar as coisas. Vem, vamos. — Nero acenou com
a cabeça em direção ao ponto de ônibus, e Elle e Josh começaram a andar
novamente com Nero caminhando ao lado de Elle pelo resto do caminho até a
parada.
Quando eles estavam a poucos metros de distância, Nero parou.
— Tudo bem, Elle, espere aqui.
Elle decidiu não discutir. Não sou popular. Ele deve saber o que faz.
Bagunçou o cabelo de Josh.
— Tudo bem, garoto, te vejo mais tarde.
— Tchau, Elle-bell. — Josh abraçou sua cintura antes que ele e Nero
seguissem para o ônibus.
Quando chegaram lá, Elle percebeu exatamente quem eram as crianças que
estavam mexendo com Josh. Eles já estavam atormentando outro pobre garoto.
No entanto, assim que notaram Nero e Josh, todas as crianças ficaram olhando.
Elle também sabia por que; também ficou um pouco apavorada quando viu
Nero pela primeira vez, e isso tinha sido anos atrás.
Quando o ônibus escolar parou, Josh e Nero bateram os punhos novamente
e Josh entrou no ônibus. Nero se aproximou dos encrenqueiros mais velhos. Um
garoto conseguiu escapar quando Nero chegou perto deles. Ela sabia que Nero
estava falando com eles, mas não conseguia ouvir o que ele dizia. Pela cara das
crianças, sabia que não eram coisas que se deve dizer a uma criança. Em
circunstâncias diferentes, Elle poderia ter se importado com a maneira como eles
correram, como se a vida deles dependesse disso, quando ele terminou de falar,
mas estava ficando cansada de tanto bullying. Além disso, certamente não iria
tolerar, agora que a vítima era seu irmão mais novo.
Nero começou a caminhar na direção dela com uma expressão presunçosa no
rosto. Ele pode ter gostado um pouco demais disso.
Então, Elle lembrou da cara chateada de Josh. Não.
Quando a alcançou, ele segurou sua mão para começar a caminhada de volta
ao seu carro. Elle não resistiu. Ele havia acabado de ajudar o Josh.
— Hum, que tipo de agradecimento será que mereço por isso?
Era por isso a expressão presunçosa.
— O prazer de aterrorizar crianças?
— Não, isso foi só um bônus. — E a puxou um pouco mais perto. — Vou
pensar em alguma coisa.
Elle riu.
— Não tenho dúvidas.
— Bom, Elle-bell... — Nero disse com tom sarcástico.
— Ai, meu Deus. Não comece isso.
— O quê? Eu acho fofo, tipo filme da Disney ou uma merda dessas. — O
sarcasmo persistia. Mas ela achava que talvez merecesse.
— Sim, quando é dito por um menino de oito anos.
Os dois caminharam pacificamente até o carro. Ela quase não queria que
acabasse. Gostava de caminhar pela rua no frio ao lado dele.
Nero segurou sua mão e se aproximou da porta do passageiro. Elle esperava
que ele abrisse para ela; em vez disso, ele a empurrou contra o carro.
— Então, vou fingir que você ia voltar e me esperar na frente da sua casa.
— Eu só estava indo ajudar Jo...
Enquanto Nero se movia e prendia seu corpo contra o dele, ela o encarou,
agradecendo a Deus por isso não estar acontecendo na frente de sua casa. Notou
que seu rosto parecia cansado, como se ele mal tivesse dormido na noite anterior,
e que o estava deixando irritado, era óbvio.
— O que eu disse sobre mentir para mim, Elle? — Seu rosto estava a apenas
alguns centímetros do dela.
Ela percebeu que ele estava muito mal-humorado. No entanto, não sabia por
que estava descontando nela.
— Acho que você me disse para não mentir para você. Nem agora, nem
nunca. — Não gostava nada da atitude dele. É problema dele se não consegue
dormir.
— Então por que acabou de tentar mentir para mim?
Elle não sabia o porquê, exceto que, honestamente, a essa altura isso era
reflexo. Nero agarrou seu cabelo, o que a obrigou a levantar o rosto.
— Por que acabou de mentir para mim?
Elle chegou ao limite.
— Não precisa ficar tão mal-humorado logo cedo. Vai dormir mais cedo, se
está tão cansado.
Elle viu alguma coisa brilhar nos olhos de Nero. O que tinha acabado de
dizer o tocou, de alguma forma. Ela percebeu que não devia ter falado quando
sentiu os lábios dele cobrirem os dela. Dessa vez, a vibração no estômago voltou
mais forte. Ela não achava que fosse possível, mas Nero estava muito mais
faminto do que na última vez que a beijou.
Elle esqueceu tudo sobre sua atitude e colocou as mãos em seu peito. A
maneira como ele a estava beijando a fez começar a corresponder desta vez.
Nero a segurou pelo quadril com a mão livre, puxando-a ainda mais para
perto de seu corpo. Elle podia sentir a saliência crescendo contra a região inferior
de sua barriga, e isso a fez perceber o que estava acontecendo. Ela tentou
empurrar o peito dele, e Nero mordeu seu lábio. Ai. Ele então chupou sua boca
para aliviar a dor, fazendo Elle esquecer o quanto estava ficando excitado. E ele
começava a provocar coisas nela com aquele jeito de lamber sua boca, tentando
entrar nela. Nero puxou seu cabelo com mais força, e ainda não conseguiu o que
queria.
Elle o ouviu murmurar a palavra “abre” junto de seus lábios. Não gostou
quando ele se afastou para falar, e o desejo a confundiu. Ela abriu a boca.
A sensação da língua entrando era algo de que Elle achava que não gostaria,
mas quando as línguas se encontraram, Elle se perguntou por que tinha resistido
tanto. A língua dele conseguiu fazer a dela sair da boca, dando a Nero a
oportunidade que estava esperando. Ele sugou a língua para dentro de sua boca,
fazendo Elle se erguer na ponta dos pés e cravar as unhas em seu peito. Sem
querer, ela deixou escapar um gemido.
O gemido fez Nero fazer o oposto do que Elle pensava que ele faria. Ele
encerrou o beijo, a devolveu ao chão. Depois apoiou a testa na dela enquanto
respiravam, ofegantes. Elle ainda sentiu aquela saliência antes de ele projetar o
quadril para trás, e sabia que ela tinha aumentado.
Depois de alguns segundos, Elle recuperou o fôlego e percebeu o que tinha
acontecido entre eles.
— Você me mordeu! — Ela tocou o lábio para ver se havia sangue. Não
havia, mas parecia um pouco inchado.
Nero riu.
— Tecnicamente, você disse que esperava por tudo. Lembra?
— Eu estava sendo sarcástica. — Elle lambeu o lábio para ver se sentia gosto
de sangue, e percebeu que ele começava a pulsar. Nero estava novamente com
aquela cara de fome. Ela pensou que ele a beijaria novamente com a mesma
violência, mas dessa vez ele beijou com ternura seu lábio inferior, deixando a
língua deslizar sobre a parte que parecia queimar.
Em seguida, levantou a cabeça.
— Melhor?
Elle não achava que um cara como Nero pudesse ser tão doce, mas a maneira
como agia fez seu coração afundar no peito, descer até o estômago e se juntar à
vibração que o dominava.
A capacidade de formar palavras a abandonou naquele momento e, por isso,
ela só assentiu. Nero sorriu.
— Legal. — Ele finalmente recuou, dando espaço para ela se mover e, assim,
permitir que abrisse a porta. — A gente vai se atrasar.
Elle entrou no carro, e a capacidade de raciocínio começou a voltar. Muito
devagar, pelo jeito.
Ele abriu a porta do motorista e entrou.
— A propósito, não pense que esqueci que você tentou mentir para mim de
novo.
A mente se recuperou totalmente.
— Então, quanto tempo vai demorar para eu me transformar em um lobo,
para que possa fugir de você?
Nero deu uma boa gargalhada. Ela nunca o tinha ouvido rir assim antes.
O humor dele melhorou muito. Sim, porque ele finalmente enfiou a língua na
minha garganta.
— Só não mente para mim de novo. Não vou tolerar da próxima vez.
Elle sabia que tinha mesmo que começar a eliminar as mentiras.
— Tudo bem, não vou mais mentir para você.
Nero olhou para ela e, quando ficou satisfeito com a resposta, deu partida no
carro. Uma vez na estrada, Elle decidiu fazer a pergunta que a estava
incomodando desde o dia anterior.
— Como sabia que eu tenho dezessete anos? — Ela encarava Nero.
— Todos os veteranos têm dezessete ou dezoito anos. Só chutei o que
apareceu primeiro na minha cabeça. Palpite de sorte.
Ela observou Nero e viu que ele não tirava os olhos da estrada. Sabia que
Nero só tinha duas opções. Era um chute com cinquenta por cento de chance de
acerto.
— Quantos anos você tem?
— Fiz dezoito em agosto.
— Sente alguma diferença? — Elle estava curiosa para saber se se sentiria
adulta, embora já se sentisse uma.
— Além de poder comprar cigarros e ser cobrado como adulto, não.
Elle riu muito. Era o que imaginava.
Nero olhou para Elle, que parou de rir quando ele agarrou sua mão.
Olhando para as mãos entrelaçadas, ela percebeu novamente que, na verdade, os
ferimentos pareciam muito piores que ontem.
— Havia outro rosto que precisava de um soco?
Nero sorriu.
— Não.
— Nero, você não pode mentir para mim se eu não puder mentir para você.
— Queria garantir que tudo seria justo entre eles.
Nero olhou para Elle.
— Não estou mentindo. Não soquei ninguém.
Elle sabia que ele não estava mentindo. Os mentirosos não olham nos olhos
quando mentem.
— Você me faria o favor de parar de socar pessoas e coisas?
Ele apertou a mão dela.
— Não faço promessas que não posso cumprir, Elle.
— Bem, me faz o favor de tentar parar de socar pessoas e coisas?
Nero beijou o dorso da mão dela.
— Por você, eu vou tentar.
Ele manteve sua mão no colo. Ela pensou em puxá-la, mas a cara dele a fez
reconsiderar.
Relaxou pelo resto do caminho até a escola. Gostaria de não precisar ir,
adoraria ficar no carro dele, mas precisava estar presente para Chloe.
Eles pararam no estacionamento, e Elle olhou em volta procurando a amiga.
Quando não a viu, começou a ficar ansiosa para sair do carro.
Percebeu que Nero tinha entendido sua reação.
— Elle, eu disse a Amo para vir mais cedo e levá-la para a sala de aula. Ela vai
estar lá quando chegarmos. — E segurou a mão dela com um pouco mais de
força. — Juntos.
Elle decidiu se acalmar.
— Ok. — Tenho certeza de que ela está bem com Amo.
Nero finalmente largou a mão dela, e Elle saiu do carro, pegando a mochila.
Decidiu confiar em Nero e, em vez de correr para a sala de aula, ficou ao lado do
carro. Nero se aproximou, segurou sua mão, e os dois começaram a caminhar
juntos para o prédio. Elle andava mais depressa do que achava que Nero gostaria,
mas não se importava com isso, só queria ver Chloe.
Quando chegaram perto da sala de aula, Elle notou Amo encostado nos
armários. Ele parecia ainda mais mal-humorado que Nero esta manhã.
Elle espiou dentro da sala. O alívio a invadiu quando viu Chloe no lugar de
sempre, no fundo da classe. Dava para notar que Chloe podia ter ficado um
pouco irritada, mas ela ia acabar superando.
Grata, ela fez uma coisa que tinha certeza de que se arrependeria mais tarde,
mas estava muito feliz por Chloe estar segura. Posso finalmente contar com alguém
para garantir a segurança dela.
Elle abraçou Amo, se ergueu na ponta dos pés e beijou seu rosto, apesar da
dificuldade para alcançá-lo.
— Obrigada.
Depois correu para a sala de aula para ficar com a melhor amiga. Não
poderia estar mais feliz.

Nero não poderia ficar mais chateado do que estava. Não entendia como
Amo conseguia receber uma porra de um agradecimento sem pedir. Como ele
conseguia um beijo sem pedir. Como é que ela nunca se joga em cima de mim e me
dá um abraço? Eu quero a porra de um abraço.
Ele decidiu manter a calma, no entanto.
— Ela acabou de fazer o que eu acho que fez? — Amo perguntou,
apontando na direção em que Elle tinha fugido de Nero novamente.
— Sim, ela fez.
Amo ergueu as mãos.
— Ei, cara, eu não fiz nada.
Nero segurou Amo pelos ombros.
— Está tudo bem, cara. Alguém parece mal hoje. Noite difícil?
— Manhã difícil. — Amo baixou a voz. — Aquela garota é doida. Não
posso mais cuidar dela. Manda o Vince cuidar disso; ele vai gostar de ficar de
olho nela.
— É exatamente por isso que não pode ser ele. Elle não vai confiar nele por
perto. — Droga, Nero não confiaria a irmã ao Vincent. Em cinco segundos, ele
podia fazer qualquer garota cair de joelhos.
— Bem, eu não sei o que te dizer. Ela praticamente gritou quando quase a
toquei, e não foi o tipo de grito que ouvi de Christa na noite passada.
Nero sabia que esse trabalho não seria fácil. As garotas eram provavelmente
mais unidas do que ele e sua turma.
— Escuta, você sabe qual é a tarefa. Queremos entrar, não é?
Amo assentiu.
— Ok. Beleza. — Nero decidiu mudar de assunto. — Christa, é?
— Sim, e Christa tem uma tonelada de amigas esperando para conhecer
alguns caras do colégio amanhã.
— Legal. Você, eu e Vince merecemos uma recompensa depois dessas duas.
— Nero precisava transar.
Sentir a boca de Elle havia piorado tudo. Ele não tinha planejado beijá-la
assim. No entanto, a única outra coisa que queria fazer era esganá-la por ter dito
que ele devia ir dormir mais cedo. Só havia passado a noite toda acordado
porque estava pensando em um jeito de fazê-la parar de andar de ônibus. E
queimando os miolos. Então, quando ela gemeu em sua boca, ele teve de parar;
se ela emitisse mais um som, ele certamente a jogaria em cima do capô do carro.
— Sim, merecemos, cara. Ah, isso me lembra, quando encontrei a Chloe
hoje cedo, o carro dela ainda estava lá. Achei que o pai dela vinha buscar.
— É, eu também. Talvez ele esteja muito ocupado administrando a cidade.
— Ele não sabia por que mais alguém abandonaria um BMW.
— Ou talvez ele não goste de lidar com aquela maluca, como eu.

— Elle, eu não consigo lidar com ele. Ele é louco! — Chloe tentava falar
baixo, mas Elle sabia que ela estava prestes a perder o controle.
— Shhh, eu sei, mas você está aqui, inteira, intocada, não está? — Elle estava
verificando se alguém havia tentado criar problemas para sua amiga.
— Por muito pouco! Ele tentou me empurrar para eu andar ao lado dele.
Tudo o que precisava fazer era pedir.
Elle riu.
— Chloe, você tem que começar a se acostumar a andar ao nosso lado. Tudo
bem, desde que a gente esteja com eles. Essa coisa que começou agora é boa. Eu
não estou mais tão preocupada. Você está?
Elle sabia que não, aparentemente. Ela havia dormido mais de uma hora, era
evidente. Depois de um minuto, Chloe finalmente respondeu:
— Não, não tenho tanto medo quando eles estão por perto.
— Viu, Chloe? Eles podem garantir nossa sobrevivência até o fim do
semestre. Então, quando estivermos fora daqui, não vamos mais precisar deles.
— Sabia que finalmente estariam livres, e seriam apenas ela e Chloe.
Chloe suspirou.
— Tudo bem. Ok.
— Quer ir fazer compras amanhã? Eu tenho a sexta-feira de folga. Acho que
merecemos. — Seu armário precisava seriamente de ajuda, e ela merecia uma
noite de menininha.
— Com certeza merecemos, agora que estamos rodeadas por aqueles três
idiotas.
Elle viu Nero entrar na sala de aula. Seja lá o que ele e Amo estivessem
conversando, ele não tinha gostado. Nossa, pensei que ele estivesse chateado antes.
Desta vez, Nero estava furioso. Elle pensou que provavelmente deveria estar
um pouco assustada. Quando se sentou bem na frente dela, ele a olhou com uma
expressão de morte. Ok, agora estou um pouco assustada.
Não tinha ideia do que tinha acontecido entre eles no corredor, mas algo lhe
dizia que provavelmente não ia querer saber.
Depois que o sr. Evans escolheu Beowulf para a aula do dia, eles começaram
a trabalhar cada um lendo uma cena em voz alta. Elle não estava prestando
atenção; estava muito preocupada pensando em qual seria o motivo para Nero
estar tão chateado.
O olhar de morte de Nero trouxe uma lembrança à sua mente.

Elle e Chloe deixaram a aula de ciências um pouco depois do toque do último


sinal do dia, esperando até a multidão se dispersar. Elle notou que Chloe começou a
andar um passo atrás dela, mas ainda meio ao seu lado. Todos os dias, desde que
começaram a se tornar amigas, ela a via ficar cada vez mais para trás. Elle entendeu
por que... droga, ela até andava de cabeça baixa, a ponto de precisar dela para guiá-
la.
Elle não se importava de ser sua guia. Sabia que era difícil para Chloe mostrar as
novas marcas. Elle teria agido da mesma forma. Os cortes ainda pareciam vermelhos
e feios, mas cicatrizavam e melhoravam a cada dia. Só desejava que sua mente
começasse a se curar.
Enquanto caminhava pelo corredor, viu Sebastian e um veterano fazendo algo
suspeito. Sebastian entregou o dinheiro, e o veterano deu a ele uma bolsinha. Elle
percebeu que eles acreditavam estar seguros ali no corredor dos fundos, pois todos os
professores tinham ido embora uma hora atrás.
Quando o negócio foi concluído, Sebastian olhou em volta enquanto o veterano
ia embora com o dinheiro. Elle rapidamente virou a cabeça, com medo de que
Sebastian pudesse vê-la. Concluiu que não, ou ele teria ido atrás dela.
Estava perto da porta, quando teve de fazer uma curva fechada para sair dos
corredores e chegar à área da frente. Quando ela fez, sentiu uma forte pancada no
rosto. Jurou que tinha ouvido o nariz quebrar com o golpe. O impacto foi tão forte,
que ela caiu sentada. Ao tocar o nariz, sentiu o sangue escorrer pelo rosto, ensopando
sua camisa.
Elle olhou para cima e viu Chloe paralisada no lugar e Sebastian de pé na sua
frente com um enorme livro de biologia nas mãos. Ficou apavorada com a expressão
no rosto dele.
— Você tem que cuidar da porra da sua vida, vadia.
— Eu não ia falar nada. Não me interessa o que você faz. — Suas mãos e braços
agora estavam cobertos de sangue.
— O que foi que disse? Não te interessa o que eu faço? — Sebastian ergueu o
livro novamente, e Elle cobriu a cabeça. Sentiu uma pancada no antebraço e rezou
para que não ter sofrido outra fratura, por causa do barulho que ouviu.
— Fiquem com a porra da boca fechada, vocês duas.
Elle levantou a cabeça. Tinha medo de que ele fosse atrás de Chloe. Exatamente
como temia, ele levantava o livro novamente, desta vez na direção de Chloe.
— Nããão! — Elle se moveu para agarrar sua perna e ficou feliz quando não
ouviu o barulho da pancada com o livro.
— Não me diga o que fazer. — Sebastian ergueu o livro pela terceira vez.
Elle conseguiu levantar os braços para se proteger novamente, mas ele acertou o
mesmo braço. Pelo barulho, ela soube que agora, com certeza, estava quebrado.
Sebastian finalmente se afastou, satisfeito com o que havia acontecido. Elle nem
se importou com o braço quando olhou para Chloe e viu que ela chorava. As lágrimas
tinham uma luminosidade vermelha do lado direito, onde corriam sobre as cicatrizes.
Valeu a pena para ela...

— Elle, é a sua vez. Elle. — Elle foi trazida de volta pelo som da voz do sr.
Evans.
— Minha vez? — Começou a ficar envergonhada quando viu todos olhando
para ela, especialmente quando Nero se virou.
— Sim, Chloe passou a vez para você. — Elle não conseguia acreditar que
alguém tinha escolhido Chloe. Provavelmente, queriam ouvi-la gaguejar.
Elle ficou grata quando Chloe se aproximou e colocou o dedo no lugar onde
ela deveria começar a leitura. Começou a ler imediatamente, tentando não criar
uma cena ainda maior. Quando ela passou a voz para Nero, decidiu acompanhá-
lo desta vez porque tinha medo de que a mesma coisa acontecesse novamente. A
aula passou muito depressa depois disso, agora que Elle decidira entrar na
história.
O sinal tocou, e Nero realmente saiu da sala de aula. Por alguma razão, ela
pensou que a esperaria. Elle e Chloe guardaram suas coisas e saíram. Nero, Amo
e Vincent estavam encostados nos armários, conversando. Elle caminhou na
direção deles, sentindo Chloe logo atrás.
Assim que se aproximou, a conversa acabou. Nero acenou com a cabeça para
Amo, e ele começou a andar. Ainda estava bravo e não fazia força para parecer
agradável. Elle decidiu não se importar e começou a seguir Amo.
Chloe caminhava ao lado dela. Embora ainda estivesse um pouco insegura,
estava pegando o jeito. Elle também imaginou que Nero andaria ao lado dela,
mas ele a desapontou novamente. Olhou para trás e viu que ele andava ao lado
de Vincent.
Elle estava começando a ficar com raiva de si mesma. Não sabia por que se
importava tanto, mas se importava. Ela realmente estava se acostumando com ele
andando com ela e segurando sua mão. Não sinto falta de segurar a droga da sua
mão. Elle decidiu tirar isso da cabeça.
— Por que ele está tão estouradinho? — Ela ouviu Chloe sussurrar.
— Não sei. Ele estava bem antes da aula de inglês. No momento em que ele
entrou, porém, apertou um botão e se transformou em uma pessoa diferente. —
Elle também cochichava. Os corredores eram barulhentos o suficiente para
encobrir qualquer coisa que dissessem. Além disso, elas estavam andando alguns
metros à frente dele e alguns metros atrás de Amo.
— Ele provavelmente é bipolar, Elle. Você viu a cara dele ontem com o
Sebastian.
Chloe devia estar certa. O que quer que tivesse, no entanto, Nero precisava
tomar remédios para seus problemas.
— Aposto que você está certa... — Elle sussurrou de volta. — Deve haver
alguma coisa errada com ele. Ninguém é tão perfeito e bonito sem ter um
parafuso solto.

Nero ouviu Vincent rir e perguntou:


— Que foi? — Ele olhava para Elle à sua frente.
— Nada.
Um momento depois, viu Elle se virar. Era isso. Imaginava que ela ficaria
confusa por não estar ao lado dela, segurando sua mão. Não queria segurar a
mão dela agora; mal havia conseguido se conter e não dar um soco na cara de
Amo antes. Em vez disso, só o segurou pelos ombros.
Estava preparado para brigar com um de seus melhores amigos por uma
garota idiota, e nem era culpa de Amo. Embora ele não tenha nem se mexido. Não,
em vez disso, ele a deixou abraçá-lo e beijá-lo.
— Sério? Porque, pela cara dela, acho que pode haver algum problema. —
Vincent ainda sorria. Nero achou que ele estava gostando do show.
— Ela fez uma coisa que eu não queria que tivesse feito. — Nero pensou em
confiar um pouco em Vincent, que era o maior pegador. Não só dormia com
garotas de sua idade, mas também com garotas muito mais velhas que eles. Nero
tinha quase certeza de que ele dormiu até com a mãe gostosa de uma garota.
— Basta falar com ela sobre isso. As garotas adoram essa merda. Diga que ela
te machucou de verdade e que precisa pedir desculpas chupando seu pau. É o
que eu faria.
Nero balançou a cabeça para o amigo. O cara era louco. De jeito nenhum
Nero falaria com ela primeiro. Ela precisava entender sozinha o que havia feito.
Nero não daria a Elle a satisfação de saber que o tinha machucado.
— Não, cara, vou gostar de ver Elle voltar para mim rastejando.
Nero decidiu. Ela vai rastejar e não vai fazer isso de novo.
Olhou para Vincent quando ele falou:
— Um conselho: aquela garota nunca vai rastejar por ninguém. Vai ter sorte
se conseguir colocar a menina de joelhos, ponto final.
— Se eu tiver a sorte de colocar a menina de joelhos, por que você acha que
ela teria que pedir desculpas me chupando? — Nero observava Elle. As duas
cochichavam. Ele percebeu que Elle estava falando sobre ele. Sobre quanto já está
sentindo minha falta.
A risada de Vincent chamou a atenção de Nero.
— Eu disse o que eu faria, cara.
Agora a cabeça de Nero era dominada pela imagem de Elle chupando o pau
de Vincent, o que só o deixou ainda mais furioso. Ficou feliz quando eles
finalmente chegaram à sala de aula das meninas; não conseguia mais olhar para
Elle. Andar atrás dela era uma tortura; era difícil não olhar para sua bunda,
pensar em ceder e falar com ela apenas para poder beijá-la novamente e agarrá-la.
Nero viu Amo esperar na porta enquanto Chloe entrava na sala de aula antes
de Elle virar novamente, olhando diretamente para ele. Nero olhou de volta
como se não desse a mínima, e Elle entrou na sala.
Nero olhou para os amigos, que riam e balançavam a cabeça. Estava prestes a
dar uma lição nos dois. Ele passou as mãos na cabeça.
— Vamos. — O dia vai ser longo.

Elle foi para o seu lugar sem acreditar em como Nero estava agindo com ela.
Nem para falar tchau! Assim que se acomodaram, Chloe fez a pergunta que Elle
estava esperando.
— Você está bem? Parece ter desligado de tudo. — Sabia que Chloe estava
sempre preocupada.
— Sim, estou bem, Chloe. Só estou um pouco cansada do trabalho.
Chloe assentiu, e a aula começou, levando Elle de volta à memória de antes.
Ela teve de arrumar o nariz e fraturou o braço. Esse foi outro dia em que havia
aprendido uma lição valiosa. Não encare ninguém.
Infelizmente, Elle não foi a única que aprendeu uma lição. Daquele dia em
diante, Chloe começou a andar completamente atrás dela. Elle a acolheu nesse
lugar escolhido por ela. Sentia-se satisfeita por ter se tornado sua armadura.
A aula de cálculo voou, e Elle esperava que Nero não estivesse mais tão
azedo. Algo nela até se perguntava se os encontraria no corredor esperando por
elas.
Quando saiu da sala de aula, não sabia se estava grata por encontrá-los lá ou
infeliz. Olhou para a cara ainda fechada de Nero e chegou a uma conclusão.
Estava infeliz. Muito infeliz.
Esse intervalo no corredor foi igual ao anterior. Nero continuou andando
atrás dela, ao lado de Vincent, quando podia segurar sua mão. Isso era o que a
estava deixando maluca. Sua mão ardia pela dele, mesmo que não quisesse
admitir.
Estavam perto da porta da aula de espanhol e, mesmo assim, Nero se
recusava a falar com ela. Agia como uma criança.
Elle realmente odiava essa coisa toda de dar gelo.
Ela viu Amo fazer o que sempre fazia; ficar ao lado da porta. Sabia que ele
não abria a porta porque isso a forçaria a entrar sem falar com Nero.
Chloe entrou na sala de aula, e os pés de Elle disseram que ela devia entrar
também, mas a mente dizia o contrário. Optou por enfrentar Nero.
— Qual é o problema? — Olhava diretamente para os olhos verdes e
assustadores, desejando não ter dito nada.
Ela viu Vincent sorrir e se aproximar de Amo, deixando-a sozinha para lidar
com Nero.
Ele perguntou calmamente:
— O que você acha, Elle?
Não gostou da voz calma, porque não combinava com como sabia que ele se
sentia.
— Não sei qual é o problema, é por isso que estou perguntando. — Tentou
imitar sua voz calma.
Nero foi rápido. Ele a segurou pelos braços e a afastou dos ouvidos dos
outros, levando-a para perto dos armários. Qual é a dele com essa mania de me
empurrar contra as coisas?
Nero abaixou a cabeça para falar em seu ouvido, mantendo as mãos em seus
braços para prendê-la no lugar.
— O problema é simples, Elle. O problema é você não ter dificuldade para
dizer obrigada a outra pessoa. O problema é você abraçar outra pessoa. E a
merda do grande problema é você não se importar em beijar outra pessoa.
Nunca, nem uma vez fez essas coisas comigo sem que eu pedisse ou porque
queria, não porque eu queria que fizesse.
Elle ouviu cada palavra. Nunca tinha imaginado que ele estava bravo com
ela, muito menos que pudesse estar bravo por isso. Ela nem pensou no que fez
com Amo; só estava exultante. Chloe estava sã e salva.
Nero olhava para o rosto dela esperando a resposta, mas ela não sabia o que
dizer. Foi pega desprevenida.
— E... nem pensei. Fiquei feliz por ele ter levado Chloe em segurança.
— Por que acha que ele fez isso, Elle? — Seus olhos ficavam ainda mais
furiosos.
Elle sabia, mas as coisas eram diferentes entre eles.
— Eu sei, Nero, mas não gosto de Amo. — Ela virou a cabeça; não
conseguia continuar olhando nos olhos dele, não daquele jeito. — Não é fácil,
para mim, fazer essas coisas, quando nunca as fiz nem com alguém de quem
gosto.
Ela ouviu Nero respirar fundo antes de segurar seu queixo para obrigá-la a
olhar para ele.
— Não quero ver você tocar em outro cara novamente. Pode beijar e abraçar
seu pai e seu irmão, mas se eu descobrir que tocou em outro cara, não dou a
mínima para quem é, ele não vai viver para deixar isso acontecer de novo.
Elle engoliu em seco e assentiu. Acreditava nele. Não conseguia acreditar que
ia dizer isso.
— Desculpa.
Achava que Nero estava esperando alguma coisa, mas ele a beijou. Foi um
beijo duro, e ela deixou as línguas se encontrarem por um breve segundo antes
que ele se afastasse.
— Ainda estou chateado, mas vamos nos atrasar para a aula. — Ele a soltou,
e ela se afastou e entrou na sala de aula. Vermelha, correu para dentro da sala
quando viu Amo e Vincent sorrindo. Desta vez, Amo segurou a porta para ela
passar.
O sinal do almoço tocou, e Elle e Chloe saíram da aula de espanhol. Elle
ficou feliz ao ver que o rosto e os olhos de Nero se acalmaram. Aproximou-se
dele quando Amo começou a caminhar em direção ao refeitório. Relutante,
começou a segui-lo quando viu que Nero continuava parado. Acho que ele ainda
está chateado.
Depois de alguns passos em direção ao refeitório, Elle sentiu a mão de Nero
segurar a dela. Olhou para ele e sorriu, e então, por conta própria, decidiu se
aproximar mais dele. Tinha sentido falta de segurar sua mão.
Quando chegaram ao refeitório, Amo parou para esperá-los. Quando todos
se reuniram, Nero falou.
— E aí, o que vocês querem comer?
Elle largou a mão de Nero quando Chloe olhou para ela. Não sabiam como
responder.
— É pizza ou a mesma fila de sempre de hambúrguer de carne ou de frango.
— Elle e Chloe olharam para Nero. Nunca escolhiam pelo gosto.
— Tanto faz — Elle disse.
— É, hum, para mim também. — Chloe olhou para o chão.
— Jesus, escolham logo. Estou morrendo de fome. — Amo ainda estava
rabugento e cansado. Elle olhou para as duas filas. Não tinha quase ninguém na
de frango e hambúrguer.
— Acho que hambúrguer de frango é legal.
— Quem não escolhe pizza? — Vincent não estava feliz com a escolha delas.
— Elle, você gosta de pizza? — Ela olhou para Nero e lembrou o que ele
havia dito sobre mentir. Já o tinha irritado uma vez hoje, e descobriu que não
gostava quando ele ficava com raiva dela.
— Gosto.
— Chloe, você come pizza? — Amo perguntou.
Chloe olhou para Elle, e Elle esperava que ela tivesse entendido que era para
dizer a verdade. Ela assentiu.
— Então por que diabos eu não posso comer pizza? — Vincent claramente
queria pizza.
— Elle, por que escolheu aquela fila? — Ela olhou para Nero e mordeu o
lábio. Não queria mentir para ele. Portanto, a única coisa que podia fazer era
ignorar a pergunta, e, pela cara dos três, essa opção não existia.
Decidiu não olhar nos olhos deles.
— Nós sempre escolhemos a fila que não tem ninguém.
— E o que acontece se as filas estiverem quase iguais?
Ela queria muito que Nero parasse de fazer perguntas.
Sentiu que todos os olhos estavam sobre ela, esperando pela resposta, exceto
os de Chloe. Ela olhava para o chão, torcendo as mãos. Também não queria que
eles soubessem.
— Ei, pessoal, e aí? — Leo os encontrou e juntou-se ao grupo, dando a ela a
esperança de não ter de responder.
— Cala a boca, Leo. Responda a porra da pergunta, Elle.
Elle ficou chocada quando Amo disse isso. Toda a esperança desapareceu.
Decidiu usar uma tática de Chloe e olhou para o chão.
— Aí a gente escolhe a fila que tiver as pessoas menos assustadoras.
— Jesus Cristo — disse Nero.
— Pelo amor de Deus — Amo entrou na conversa.
— Filhos da puta — acrescentou Vincent.
— Isso significa que elas não querem piz...?
— Cala a boca, Leo! — Nero, Amo e Vincent disseram ao mesmo tempo,
fazendo Elle e Chloe pularem. — De agora em diante, vocês comem o que
quiserem. Vocês duas entenderam?
Elle acenou com a cabeça. Chloe não respondeu.
— Chloe, se você quer a porra da pizza, você come a porra da pizza,
entendeu? — Amo gritou com ela. Chloe não perdeu tempo e assentiu.
Elle estava pronta para encerrar o assunto e decidiu correr para a fila da pizza,
sem dar ouvidos aos instintos, que gritavam para ela escolher a outra fila. Chloe
a seguiu.
Enquanto Elle se afastava apressada, ela pensou ter ouvido Vincent dizer:
— Vamos matar esses caras, porra.
Leo acabou sendo o primeiro a se juntar a elas. Estavam no fim da fila,
porque ficaram conversando enquanto todo mundo entrava. Quando os três
finalmente se juntaram a eles, não pareciam muito satisfeitos. Não sei por que me
perguntaram o que eu queria comer, se pizza era a única opção.
— Não vou esperar tanto tempo, de jeito nenhum. Você sabe que a pizza
acaba. Vamos furar a fila — disse Amo.
Pela cara deles, todos concordavam. Elle não se sentia confortável com isso.
— Não, isto está errado. Não vamos furar a fila. — Ela olhou para Nero para
ter certeza de que ele havia entendido.
— Desculpa, querida. Depois do que você acabou de contar, francamente,
não dou a mínima para o que é certo e errado. — Vincent passou por eles e
gritou “sai” para a pessoa da frente. Ela viu Amo se juntar ao amigo, e os dois
foram afastando as pessoas na fila.
Elle foi empurrada para frente por Nero, e ela e Chloe não tiveram
alternativa, senão furar a fila. Estava chocada com o que Nero a obrigava a fazer;
não se sentia bem passando na frente das pessoas.
Quando chegaram às bandejas, os três pararam e pegaram uma. Amo
entregou a dele a Chloe e Vincent entregou a dele a ela. Elle estendeu a mão e a
pegou, jurando que a expressão de Vincent a fazia agir assim.
Agora que ela e Chloe tinham uma bandeja, Elle entrou na fila, imaginando
que poderia muito bem se divertir. A partir da semana seguinte, seria sorte
comer sem o dinheiro para o almoço. O preço do almoço havia subido para um
valor ridículo, mas ninguém em uma escola particular ousaria reclamar.
Elle saiu da fila primeiro, registrando o valor em sua conta. Depois esperou
Chloe sair da fila. Depois de como os garotos tinham irritado todo mundo, ela
decidiu não sair dali até que um deles passasse pelo caixa. Nero foi o primeiro a
passar e começou a voltar para a mesa com Elle logo atrás dele.
Assim que se sentaram, Elle se surpreendeu quando ele a puxou e beijou seu
rosto.
Ainda não estava acostumada com ele e, definitivamente, não estava
acostumada com tudo isso quando estava perto de Chloe.
Ficou feliz quando Leo se sentou novamente na cadeira vazia ao lado de
Chloe. Percebeu que ela relaxou um pouco. Olhou em volta e viu que todos os
meninos haviam comprado um pedaço extra de pizza. É por isso que nunca sobra
para elas.
Elle sorriu quando pegou sua pizza de pepperoni e viu Chloe pegar a dela.
Pela primeira vez, realmente gostava do que tinha para o almoço.
— Quando foi a última vez que você comeu pizza na escola?
Nero não podia simplesmente me deixar curtir o momento, não é? Estava
realmente começando a odiar toda essa coisa de honestidade.
— Desde o fim do fundamental.
— Eu comi no primeiro ano. — Elle olhou para Chloe. Isso não ajudou,
Chloe.
Os garotos estavam ficando agitados com suas respostas, e ela não entendia
por que faziam essas perguntas, sabendo que não gostariam do resultado.
Imaginou que Leo sentia que todos estavam nervosos, porque tentou mudar
de assunto.
No entanto, a pergunta que ele fez foi a pior que poderia ter feito.
— Chloe, como conseguiu essas cicatrizes? — Ela sabia que Leo era muito
novo para saber como as tinha conseguido, mas percebeu que todos já tinham
ouvido falar sobre esse assunto.
Ela esperou que alguém o mandasse calar a boca, porque realmente seria o
momento certo para isso, mas ninguém disse nada. Eles também queriam saber,
era óbvio.
Elle olhou para Chloe, que estava olhando para o prato. Realmente odiava
que Leo tivesse perguntado isso, então decidiu acabar com a história.
— Ela sofreu um acidente de carro.
— Ah, droga. Quando? — Leo ficou intrigado.
Elle largou a pizza.
— Quando éramos calouras.
— Isso é péssimo.
Elle segurou a cabeça. Ouviu um zumbido e começou a piscar, tentando se
concentrar no que acabara de acontecer. Tinha visto algo voar pelo canto do
olho um momento atrás, e a cabeça começou a doer. Quando o zumbido
diminuiu, tudo que Elle pôde ouvir foram risadas.
Ela sentiu Nero e os outros se levantarem, e então ouviu a voz de Nero.
— Quem foi?
A sala ficou estranhamente silenciosa, e Elle ficou assustada. Os meninos já
estavam aborrecidos; não queria que eles se machucassem por causa dela.
Conseguiu pronunciar a palavra “não” enquanto tirava a mão da cabeça,
tentando agarrar a de Nero. Foi quando viu o sangue em sua mão.
Nero também percebeu imediatamente, e isso o distraiu.
— Merda, Nero. Ela precisa sair daqui — Vincent falou.
Elle ainda sentia Nero furioso enquanto tentava fazê-la se levantar.
— Sim, vamos tirar as duas daqui, depois pegamos o filho da puta fora da
escola. — Ela ouviu Amo falar baixinho.
Nero ajudou Elle a se levantar, segurando-a pela cintura quando ela ficou em
pé.
— Vai ficar tudo bem, baby — ele murmurou.
Elle tentou acenar com a cabeça, aliviada por ele não ter começado uma
briga. Vincent deu a volta para ajudá-la a sair do refeitório, e Elle os deixou levá-
la para fora. Quando chegaram à porta e saíram, Nero se abaixou e a pegou,
segurando-a nos braços.
Ela tentou olhar para Chloe, com medo de que ela estivesse chocada demais
para sair de lá.
— Chloe.
— Shhh, Amo está com ela.
Elle se acalmou e relaxou em seus braços. Lutava contra o impulso de fechar
os olhos, mas descansava a cabeça em seu peito.
Quando Nero passou pela parede da vitória, coberta de recordações e
prêmios de esportes e protegida por vidro, ela se perguntou onde ele a estava
levando. Ouviu uma porta de metal se abrir e viu um teto que parecia ter 300
metros de altura. Não entendia por que ele a estava levando para o ginásio.
Ele caminhou até o outro lado da extremidade, e ela sentiu para onde era
levada. Não tinha exatamente as melhores lembranças daquele lugar.
— Vince, traz o kit de primeiros socorros.
Nero sentou Elle em um dos bancos. Ela sabia que ele a estava levando
para o vestiário. Ouviu a porta se abrir novamente e viu Vincent colocar uma
caixa branca no banco ao lado dela, antes de sair sem dizer uma palavra. Tinha a
sensação de que ele podia estar tão chateado quanto Nero.
Nero foi até a pia e molhou um monte de toalhas de papel. Depois voltou e
entregou uma para ela limpar a mão antes de se abaixar na frente dela. Elle só
conseguia olhar para Nero enquanto ele pressionava as toalhas em sua cabeça.
Seu rosto estava calmo, mas os olhos cor de esmeralda pareciam em chamas.
Estava acostumada com o exterior tranquilo, enquanto seus olhos mostravam os
verdadeiros sentimentos. Ele é tão bonito...
— Não acho que vai precisar de pontos — disse Nero, abrindo o kit de
primeiros socorros.
Elle tentou aliviar o clima com uma risada.
— Bem, é a primeira vez, então. — Ela se arrependeu no momento em que
as palavras saíram de sua boca.
— Elle, isso não tem graça. — Nero parou o que estava fazendo para olhar
para ela. — Não posso mais deixar que façam isso com você. É difícil o
suficiente ouvir que você escolhe o que comer com base em quem te assusta
menos.
— Eu sei, Nero, mas por favor. — Pegou sua mão e tocou os dedos
machucados. — Você me prometeu que ia tentar.
Ela viu Nero respirar fundo antes de voltar à caixa e pegar um tubo branco,
cujo conteúdo foi espremido na ponta do dedo. Ele estendeu a mão e massageou
sua cabeça.
Elle fez uma careta quando começou a arder.
— Ah, é, pode doer — disse ele.
Elle sorriu, finalmente capaz de acalmá-lo um pouco.
— Obrigada por me avisar com antecedência.
Nero sorriu de volta.
— De nada.
Ele pegou um Band-Aid do kit e o abriu.
— Como aprendeu a usar o material de um kit de primeiros socorros? Será
que eu quero saber? — Provavelmente não.
Ele colocou o Band-Aid na cabeça dela e a puxou para baixo. Elle sentiu os
lábios roçarem sua pele logo acima do ferimento.
— Não.
Imaginei.
Nero se levantou e segurou a mão de Elle para ajudá-la a ficar em pé, depois
afastou o cabelo de sua testa. Ela o observou olhar a região com mais atenção.
— Como conseguiu essa cicatriz? — Tocou a parte alta de sua testa. De um
lado, havia uma pequena cicatriz que quase desaparecia no couro cabeludo.
Elle não gostava do rumo que a conversa estava tomando. Desviou o olhar
do dele, incapaz de responder. Nero segurou seu rosto.
— Como conseguiu a porra da cicatriz?
— E... eu não posso falar. — Elle nunca poderia contar isso a ele. Não queria
que ele descobrisse que Chloe tinha feito parte disso ali mesmo onde estavam. E
não podia correr o risco de mentir e deixá-lo com raiva dela também.
Elle ficou com medo quando ele reagiu.
— Caramba, Elle! — Nero pegou o kit de primeiros socorros e o jogou
contra uma parede cheia de armários.
O kit se partiu ao meio, e tudo saiu voando. Nero puxou o cabelo para trás e
fechou os olhos.
Ela percebeu que ele havia atingido o limite. Estava prestes a testemunhar o
inferno vindo à tona.
Ele começou a caminhar para a porta, e Elle correu atrás dele. Tinha medo
de que acabasse fazendo algo terrível. E se ele fosse expulso? Aí ele vai me deixar.
Estendeu a mão para segurá-lo.
— Nero, por favor. Por favor pare.
Ele o fez quando a mão de Elle tocou a sua. Ela se aproximou e o abraçou,
passou os braços em torno de seu pescoço.
— Não me deixa — sussurrou, colocando a cabeça na curva do pescoço.
Nero deu dois passos para trás, colocando-a de costas contra uma parede de
armários e apoiando as mãos nos armários dos dois lados dela.
Elle murmurou em seu pescoço:
— Se você começar uma briga, vai ser suspenso ou, pior, expulso.
Nero resmungou:
— Meu bem, não posso deixar que eles saiam bem dessa.
Ela sentiu que Nero ficava completamente quieto, embora ainda tivesse a
impressão de que ele poderia fazer alguma coisa.
— Nero, não quero ficar sozinha de novo. — Elle o abraçou mais forte e
tentou empurrar o rosto contra seu pescoço mais profundamente.
Nero disse cada palavra com um tom ríspido:
— Então me faça ficar.
Elle levantou a cabeça e o encarou, entendendo o que ele pedia. Agora sabia
o que era estar perto dele sem ser tocada. Não queria descobrir como seria não o
ver; por isso, cederia e daria a ele o que ele queria.
— Tire a jaqueta. — A voz ainda áspera começou a deixá-la nervosa. Nero
não se moveu um centímetro; era como se fosse de gelo.
Relutante, Elle começou a tirar a jaqueta, embora ele não lhe desse nenhum
espaço para se movimentar, mantendo os braços ainda apoiados nos armários e o
corpo contra o dela. Sentiu os olhos sobre seu corpo enquanto encolhia os
ombros. Quando a jaqueta caiu no chão, o coração de Elle começou a bater com
força no peito. Não tinha ideia do que fazer, só sabia que Nero desejava que
fizesse algo para ele, para variar.
Decidiu fazer o que estava morrendo de vontade de fazer desde a primeira
vez em que ficaram sozinhos no armário de materiais de arte. Sempre prestou
atenção principalmente ao seu peito por vários motivos. Um, não conseguia
olhar nos olhos dele na maioria das vezes. Dois, seus olhos estavam naquela
altura. Por último, gostava de olhar para ele sob as camisas brancas.
Elle levantou as mãos e tocou o botão mais alto que ele tinha abotoado acima
do meio do peito. Ela o desabotoou, trêmula, revelando um pouco mais da pele.
Movendo as mãos para baixo, ela conseguiu abrir outro botão, expondo todo o
peito e a parte superior do abdômen.
Elle achava que seu coração ia explodir enquanto olhava para aquele peito
perfeitamente definido. A pele bronzeada implorava para que o tocasse, e ela
colocou as mãos lentamente nos músculos rígidos. Depois se inclinou e beijou de
leve a área entre as duas partes da camisa, movendo as mãos sobre seu peito.
Amava a sensação da pele quente e suave sob suas mãos. Ela beijou seu peito
várias vezes, determinada a fazê-lo ficar.
Desta vez, quando beijou novamente, deixou a língua deslizar pela pele.
Nero tinha um gosto melhor do que ela imaginava. Aproveitando o sabor, subiu
um pouco, beijando e lambendo em direção ao pescoço. Sentia sua raiva se
transformar em desejo a cada segundo, enquanto deslizava as mãos por seu peito,
depois na nuca e no cabelo.
Estava ansiosa para passar as mãos nos cabelos escuros, sentia inveja cada vez
que ele fazia isso. Puxou a cabeça dele para mais perto para poder alcançar o
pescoço sem forçar as pernas. Deu à área a mesma atenção que tinha dado ao
peito, mas ainda não tinha conseguido abrandar Nero.
Ávida, chupou a pele e mordeu de leve. Elle sorriu sem afastar a boca de seu
pescoço quando um ruído rouco escapou por entre os lábios. Espero que tenha
deixado uma marca.
Sim.
Nero ainda se recusava a reagir, e ela lambeu a marca da mordida, orgulhosa
por pensar que ela estaria ali por algum tempo.
Sentiu Nero finalmente afastar as mãos do armário. Ele segurou seu cabelo e
puxou, enquanto a outra mão descansava sobre a parte inferior de suas costas.
Ela o encarou e viu que seus olhos estavam famintos. No entanto, não estavam
mais com sede de sangue.
Elle estava pronta para o beijo desta vez. Queria isso tanto quanto ele. Ela
queria o gosto de sua boca. Portanto, quando a língua entrou, ela a chupou,
tentando imitar o que ele havia feito antes.
Nero agarrou a bunda de Elle, apertando de leve e a tirando do chão. Ela
sentiu a ereção através da calça jeans. Anteriormente, isso a assustava, mas agora
era movida por pura luxúria. Ele a estava fazendo sentir coisas que nunca havia
sentido antes, e Elle tinha certeza de que isso deveria assustá-la.
Ele deslizou as mãos por suas costas, por baixo da camisa. Ela não achava que
poderiam ser melhores do que quando as segurava. Ah, mas eram!
Nero retribuiu o gesto de Elle, beijando-a do queixo até o pescoço. Lambeu a
pele, arrancando dela um gemido de sensibilidade, provocando arrepios.
Elle começou a ofegar; seu toque a estava deixando louca. Ele chupou seu
pescoço, a fazendo agarrar seu cabelo e o trazer para mais perto. Elle gemeu
novamente quando ele chupou outra parte do pescoço. Ao ouvir o som, Nero
moveu as mãos para o abdômen dela, deixando um rastro de fogo na pele.
Quando a mão subiu, o feitiço começou a se dissipar. Ela conseguiu
pronunciar seu nome e teve certeza de que soou como um gemido, então puxou
o cabelo dele para trás.
Nero mudou para o outro lado do pescoço, lambendo e chupando, dando a
mesma atenção. Elle se sentiu derreter mais uma vez antes de as mãos
começarem a subir novamente, fazendo sua pele queimar. Ele estava chegando
muito perto de seu sutiã. Mesmo estando em puro êxtase, Elle não estava pronta
para essa etapa.
Ela tentou novamente.
— Nero. — E firmou a voz. — Por favor. — Felizmente o pedido não
pareceu um gemido, dessa vez.
Podia sentir o quanto ele queria subir as mãos só mais um pouco; por isso
tocou seus braços.
— Eu não posso.
Enquanto Nero descansava a cabeça em seu pescoço, esperando a respiração
se acalmar, Elle também conseguiu recuperar o fôlego. O ar frio do vestiário na
pele ainda exposta da barriga a fez estremecer. Sabia que ele provavelmente
continuava pensando em como sentir seus seios.
Soltou um suspiro profundo quando as mãos dele desceram lentamente de
volta à barriga. Podia estar um pouco arrependida, mas sabia que ele fazia de
tudo para aumentar esse arrependimento. E deu certo.
Sentiu falta do rosto de Nero em seu pescoço quando ele levantou a cabeça e
a encarou. Perguntou-se se tinha sido uma boa decisão começar algo assim com
um cara como Nero. Sabia que ele era como um lobo. Era definitivamente um
animal e a via apenas como alimento. No entanto, isso excitava uma pequena
parte de Elle, e isso era o que mais a assustava.
Nero voltou à posição original, com as mãos apoiadas nos armários. Sério,
isso não acabou de acontecer?
— Veste a jaqueta. — Elle não soube o que pensar quando ouviu isso, mas
decidiu que faria o que ele pedisse se com isso pudesse impedi-lo de se meter em
uma briga por sua causa. Sem mencionar que não queria testá-lo quando ele
estava a um segundo de rasgar suas roupas.
Elle escorregou pelos armários no pouco espaço que Nero lhe dava,
mantendo os olhos em seu corpo, tentando ter certeza de que ele não a atacaria
quando tentava pegar sua jaqueta no chão. Sentiu o olhar atento e olhou nos
olhos dele, ainda agachada a seus pés. Um arrepio percorreu suas costas. Tinha a
sensação de que ele havia planejado tudo isso.
Pegou a jaqueta, desejando poder desviar o olhar, mas ele mantinha o
contato visual como se a desafiasse a rompê-lo. Não havia nada que fizesse Elle
aceitar esse desafio. Levantou-se lentamente, sentindo o desejo crescer entre as
pernas.
Engoliu em seco enquanto olhava em seus olhos lascivos. Pela primeira vez,
sabia exatamente o que ele estava pensando, a imagem que ocupava sua mente.
Tinha de vestir a jaqueta de alguma forma no espaço restrito.
Os seios encontraram o peito dele, ainda exposto, através do sutiã fino e da
camiseta enquanto ela puxava a jaqueta para cima. No momento em que
terminou de vesti-la, Elle recuou tanto quanto podia, desejando de alguma
forma poder derreter nos armários.
— Agora abotoa minha camisa. — A voz dele ainda soava áspera. Elle temia
que, quando isso acabasse, ele fosse bater em alguém para extravasar.
Ela decidiu perguntar com educação:
— Quando eu terminar, você vai sair correndo daqui e matar alguém...?
— Baby. — A voz rouca soou em seu ouvido enquanto ele ocupava o pouco
espaço que ela ainda tinha. — Você não vai querer me testar agora.
Elle uniu as pernas com força. O que ele está fazendo comigo?
Quando ela abotoou os botões mais baixos, decidiu se inclinar uma última
vez para provar seu sabor. Daria a ele um motivo para ir à escola amanhã. Com
doçura, beijou a parte do peito que estava prestes a cobrir, depois terminou de
abotoar a camisa.
Nero não é o tipo de cara doce. Por isso, dessa vez, ela passou a língua pela
pequena área do peito que estava prestes a ser coberta pelo último botão.
Elle sorriu para ele, satisfeita, mas não devia ter feito isso. Ai, merda.
Nero a agarrou e girou, empurrando a frente de seu corpo contra os
armários, garantindo que o lado de seu rosto que não estava machucado ficasse
encostado neles. Elle sentiu toda a frente do corpo de Nero contra o traseiro.
Podia sentir através da calça jeans que ele estava mais duro que uma pedra. As
mãos tocavam seu abdômen novamente, mas, desta vez, estavam em cima da
camiseta fina. Elle pensou que as pernas falhariam se as comprimisse com mais
força.
Nero falou em seu ouvido:
— Eu vou descobrir quem te machucou hoje, e vou gostar de ouvir essa
pessoa gritando de dor. Vou descobrir cada coisa que qualquer um e todos
fizeram com você e vou gostar de ver todos eles gritando de dor.
Nero moveu as mãos por cima de sua camiseta e agarrou um seio em cada
uma, fazendo Elle se arquear contra ele.
— Depois vou gostar de ouvir você gritar enquanto eu te fodo porque, baby,
vou estourar esse champanhe muito em breve. — Nero deve ter lido seus
pensamentos ao apertar seus seios mais uma vez. — Dou minha palavra, meu
pau vai ser o primeiro e único a entrar e sair dessa sua bocetinha apertada e
molhada, e vai ser você quem vai rastejar e me implorar para eu te pegar.
Elle não conseguia acreditar no que ouvia, mas o corpo a traía sentindo
prazer com cada palavra áspera. Ela não sabia como responder, e ainda não tinha
pensado em nada quando ele a virou para beijar sua boca pela última vez. A boca
também a traiu deixando aquela língua entrar. Nero segurou sua mão assim que
terminou de provar seu ponto. Sim, me violando completamente!
Nero a acompanhou para fora do vestiário. Quando voltou ao ginásio, ela se
sentiu confusa, usada e carente. Seu corpo pegava fogo depois de tudo que havia
acontecido.
Quando ela viu Amo, Vincent, Leo e Chloe nas arquibancadas, o corpo
decidiu adicionar vergonha a essa lista de sentimentos.
Ela olhou para Nero, viu seu rosto presunçoso e lindo e sentiu que estava em
suas mãos habilidosas. Ele a tinha onde a queria, e ela sabia disso. Vai ser você
quem vai rastejar e me implorar para eu te pegar.
Com o que tinha acontecido no vestiário, ela já estava no chão prestes a
começar a rastejar e implorar. E estava lá porque percebia que não queria perder
Nero ainda.
Gostava quando ele segurava sua mão. Gostava quando ele prestava atenção
nela. Gostava de olhar para ele e falar com ele. Acima de tudo, sentia que ela e
Chloe estavam um pouco mais seguras naquele inferno com ele por perto.
Se estar no chão é o que mantém essas coisas boas na minha vida, tudo bem. Mas
não vou rastejar, não vou implorar de jeito nenhum.
Lobo idiota!
Garota estúpida, você não tem ideia do que acabou de fazer. Agora que Nero
tinha visto um lampejo da verdadeira Elle, ele faria de tudo para trazê-la à tona.
Ele não achava que uma garota pudesse ser tão inocente e sexy ao mesmo tempo.
A forma como Elle estava ansiosa para agradá-lo e louca para tê-lo tornava
quase impossível, para ele, não ir em frente. A única razão pela qual se esforçava
era porque planejava tê-la para sempre. Não sabia se era porque ela estava prestes
a morrer pelas mãos de seu pai, ou se era por ter descoberto os extremos da
tortura a que tinha sido submetida. Pode ter sido o momento em que ele viu o
sangue em sua mão, ou o olhar orgulhoso depois que ela o lambeu.
Nero sorriu para si mesmo enquanto caminhava pelo ginásio. Quando disse
para ela fazê-lo ficar, só esperava que o beijasse. Em vez disso, Elle deu o passo
seguinte, desabotoando sua camisa. Foi quando ele soube que ela realmente o
queria.
Então decidiu ver até que ponto ela queria agradá-lo e disse para ela vestir a
jaqueta. Quando ela escorregou para baixo colada aos armários, seu pau ficou
duro como nunca tinha estado em toda a vida. Além disso, quando viu nos olhos
dela que sabia exatamente o que ele imaginava – ela chupando seu pau – a ereção
ficou ainda maior. Ela estava bem ali, no chão, e ele não fez o que queria. É, e
meu pau se arrepende.
Então ele pensou que o mínimo que Elle poderia fazer era abotoar sua camisa
de volta. Nero tinha de tirar algum proveito disso se saía da história com as bolas
doloridas, e foi assim que decidiu mostrar a ela qual seria seu futuro. Ela só
precisou me lamber e me olhar com aquela cara de orgulho.
Sentir seus seios e a bunda nas mãos foi exatamente como ele imaginava que
seria. Um pouco mais que perfeito. Depois disso, tudo que Nero precisava fazer
era segurá-los, depois de arrancar a roupa dela.
Quando Nero e Elle se aproximaram da arquibancada, ele a deixou correr
para perto de Chloe. De alguma forma, não estava chocado por Chloe parecer
pior que Elle, depois de tudo, e isso o fez lembrar da hora do almoço. O ódio
voltava a superar as necessidades sexuais.
Um momento depois, Amo, Vincent e Leo se aproximaram.
— Por favor, diz que podemos matar todos os filhos da puta naquele
refeitório agora. — Ele sabia que Vincent estava pronto para uma briga.
— Eu quero o merdinha que jogou a caixa de leite. De onde saiu?
Nero não esperava que alguém tentasse criar uma cena dessas com ele e os
amigos lá. Embora soubesse que a pessoa havia atingido o alvo pretendido,
poderia ter atingido qualquer um deles. Ele se culpava; estava prestando atenção
ao que Elle dizia. Eu deveria ter previsto isso.
Os três balançaram a cabeça.
— Tudo bem, precisamos perguntar por aí e fazer as pessoas falarem. —
Nero alisou o cabelo. — Por alguma razão, Elle se recusa a me contar o que mais
eles fizeram com ela. Essa é pelo menos a segunda cicatriz que ela vai ter na
cabeça, e não há como dizer que tipo de merda não deixou marcas. Não importa
quem tocou nela, se foram os caras ou as vadias. Vamos fazer exatamente o que
fizeram com ela. Quero cada detalhe.
Amo finalmente falou:
— Isso parece justo, cara. — Nero sabia que Amo estava tão perto quanto ele
de matar alguém. Bom, eu quero que Amo quebre alguns pescoços.
— Sim, muito justo — Vincent concordou.
Perfeito, vamos quebrar uns pescoços.
— Então temos três rodadas de retaliação.
Nero olhou para Elle sentada ao lado de Chloe, sussurrando. Sabia que ela
estava tentando confortá-la. Nero se sentiu atraído por Elle pela maneira como
ela protegia Chloe. Eu só queria que, para isso, ela não virasse alvo.
— Ela está bem? — Amo perguntou.
— Infelizmente, ela assimila bem os golpes. — Não gostava de como
conseguia fazer piada com o que tinha acontecido. Provavelmente, estava feliz
por ter sido a cabeça dela a atingida.
Nero não gostava disso.
— Ela é durona. — A voz de Vincent parecia orgulhosa.
— Sim, acho que a questão é: ela vai ficar bem? — Nero percebeu que Chloe
não parecia tão bem. Amo estava ansioso pela destruição que se anunciava. —
Vamos descobrir.

Quando Elle viu a cara de Chloe, correu para ela e sentou-se a seu lado na
arquibancada.
— Você está bem, Chloe?
Seu olhar era vago e permanecia voltado para o chão. Era como se não
houvesse nada dentro dela, mas Elle sabia que estava lutando contra os próprios
demônios. Seu cabelo era uma cortina do lado direito do rosto; isso acabava com
Elle.
Chloe estava começando a se sentir um pouco confortável. Elle percebeu que
ela tinha dormido, comia e mostrava mais o rosto com o passar dos dias. Agora
foi tudo por água abaixo.
Quando a amiga não respondeu, tentou novamente:
— Estou bem. Foi só uma pancada, mais nada. Você sabe, não foi a pior
coisa que poderia acontecer comigo. Há algo de bom em tudo isso; eles não
podem se aproximar de nós com esses monstros. — Apontou para os caras
conversando a poucos metros de distância. — Então agora têm que jogar coisas
em nós. Uma caixa de leite, hein? Isso é totalmente clichê. Não acredito que os
robôs pensaram que iriam nos derrubar com isso. — Elle sabia que Chloe
apreciava uma boa piada.
Quando Chloe olhou para ela, Elle soube que podia trazê-la de volta.
— Poderia ter sido pior, sabe?
— Quanto? — sussurrou.
Elle sorriu. Conseguiu fazê-la falar.
— Bem, a pior coisa que poderia ter acontecido era a caixa de leite estourar.
Leite com chocolate é uma merda para sair.
Conseguiu relaxar quando viu Chloe tentar sorrir.
— Então, o que acha que eles vão fazer quando descobrirem quem jogou a
caixa? — Olhou para os quatro caras.
— Algo me diz que prefiro não saber. — Chloe baixou a voz ainda mais, não
queria que soubessem que estavam falando sobre eles. — Achei que Nero fosse
louco, mas você viu o Vincent? Ele tem transtorno dissociativo de identidade, é
muito pior que ser bipolar.
Elle também falou baixo. Definitivamente não quero que eles ouçam.
— Eu percebi isso também. Ele passou de Brad Pitt para Rambo em dois
segundos.
Quando Chloe soltou uma risada, ela não pôde deixar de rir também.
Elle viu os meninos se aproximarem.
— Ai, merda, eles escutaram? — a amiga perguntou, nervosa.
Elle olhou para as caras de irritação.
— Rápido, aja como se ainda estivesse chateada. — Ela viu Chloe abaixar a
cabeça quando os meninos se aproximaram.
Vincent sentou ao seu lado e passou um braço sobre os ombros de Elle.
— Como você se sente, amorzinho?
Olhou para os olhos azuis de Vincent. Brad Pitt estava de volta.
— Bem. Dei um pau naquele achocolatado, não foi?
— Sim, levou a nocaute. — Vincent riu.
Elle e Leo riram com ele, e até Chloe deixou escapar uma risadinha, mas
Nero e Amo não viram graça na piada.
Vincent aproveitou a chance para perguntar a Chloe:
— E você, como está, meu bem?
— E... eu estou bem. — Elle não conseguia decidir se ela ainda tentava fingir
que estava chateada ou se não conseguia lidar com o flerte de Vincent.
— Será que vocês duas têm alguma ideia de quem pode ter jogado isso?
Elle queria saber por que Vincent estava fazendo tantas perguntas. Quando
olhou para o lindo rosto de menino, ela descobriu o porquê. Ele estava tentando
usar a boa aparência e o charme para obter respostas.
— Não. E você, Chloe? — Elle se virou para ela, esperando que não ousasse
abrir a boca também.
— Eu também não. — Chloe balançou a cabeça.
Vincent sorriu.
— E se eu saísse fazendo umas perguntas por aí?
— Talvez uma merendeira tenha visto. Eu começaria por aí. — Elle sorriu
de volta.
— Eu acho que devemos começar pelo Sebastian — Amo sugeriu.
— Aquele psicopata de ontem? — Leo perguntou.
— Esse mesmo. Vamos levar as meninas de volta para a aula. — Nero falava
como se eles não pretendessem voltar.
Elle levantou, relutante. Não queria ir para a aula de espanhol, porque lá não
conseguiria ficar de olho nele.
Nero a encarou, esperando que começasse a andar, mas Elle queria que todos
entendessem uma coisa.
— Escutem, vou dizer uma coisa e realmente espero que todos vocês prestem
atenção. Essa foi a primeira vez, desde que comecei a estudar aqui, que eles
sentiram medo de mostrar a cara. Normalmente, ficam bem na minha frente e
fazem o que querem, enquanto os professores olham para o outro lado. Não sou
rica e minha família não tem poder; é por isso que eles escapam impunes, e é
isso. Mas você não pode sair por aí machucando alunos cujos pais viriam aqui
furiosos, ameaçando tirar os filhos da escola. A Legacy Prep só quer uma coisa:
dinheiro. Se eu sair por causa de bullying, eles ficam com o dinheiro da minha
bolsa de estudos, e ela vale muito mais que meu salário e as gorjetas que junto
para pagar o restante. — Elle esperava ter mostrado seu ponto de vista.
— Nós vamos só conversar com eles, meu bem — disse Vincent, e ficou
em pé.
Vou ter que ser mais clara.
— Imaginem só. Se vocês três começam um monte de brigas, são expulsos da
escola. Isso deixa a mim e a Chloe sozinhas com todas as pessoas que vocês
irritaram. Então pensem nisso quando forem falar com eles.
— Isso não vai acontecer, porra — disse Amo, cruzando os braços.
Quando Elle abriu a boca para insistir, Nero interferiu:
— Elle. Aula. Agora.
Quando saiu pisando firme, pronta para torcer o pescoço de todos eles, ouviu
Chloe se levantar e correr atrás dela. Nero a alcançou, tentando segurar sua mão,
mas ela não estava com disposição para isso. Infelizmente, Nero não poderia ter
se importado menos, e ela foi obrigada a voltar para a aula de mãos dadas com
ele.
Quando chegaram à sala de aula, Elle disse algumas palavras de despedida.
— É melhor nenhum de vocês fazer nada idiota. — E foi embora sem se
despedir de Nero.

— Ela sabe com quem está falando? — Amo perguntou quando Elle bateu a
porta da sala de aula.
— Oh, sim, ela sabe, e esse é o problema. — Depois do que ele havia feito
com ela no vestiário, Elle sabia bem que tipo de homem ele era.
Nero viu os caras balançarem a cabeça. Todos nós vamos ter muita sorte se
sairmos dessa sem perder a cabeça. Ele olhou para Leo:
— Vai para a aula. Presta atenção e pergunta por aí. Se descobrir alguma
coisa, me avisa.
— Tudo bem, até mais tarde. — Leo foi embora.
Nero e os amigos perderiam a última parte do dia de aulas novamente para
passar um tempo a sós com Sebastian mais uma vez.
Vincent começou a caminhar em direção ao fundo da escola.
— Três chances para adivinhar onde a vadiazinha está, e as duas primeiras
não contam.
Nero seguiu Vincent pela porta dos fundos da escola; ela quase não era
usada e só existia para um caso de emergência. Do lado de fora, foram andando
pela lateral do prédio, seguindo o cheiro.
Quando encontraram os riquinhos babacas fumando maconha, Nero teve de
fazer um esforço enorme para não bater em Sebastian ali mesmo.
— Fora daqui. — Nero queria deixar claro que eles não queriam acabar com
a maconha deles, mas que, principalmente, gostavam de vê-los correr.
Quando Sebastian tentou fugir também, Nero o empurrou com força e o
jogou de costas no chão.
— Você não.
— Ei, eu não fiz nada. — Sebastian ergueu as mãos.
Nero se agachou ao lado dele.
— Nada mesmo? Sério? Então você não jogou a porra do leite na cara da
Elle?
— N... não, claro que não. Acha mesmo que eu seria capaz de jogar alguma
coisa do outro lado do refeitório e não errar?
Nero viu Sebastian quase derramar algumas lágrimas.
— É, tem razão. Aposto que você não consegue nem mijar dentro do vaso.
Sebastian tentou sorrir e rir.
— É, nem isso.
— E acho que não viu quem foi, então?
Sebastian balançou a cabeça violentamente.
Nero olhou para Amo e Vincent, em pé ao lado deles.
— E aí? Acham que ele está dizendo a verdade?
Vincent sorriu.
— Talvez a gente deva ajudar o cara a lembrar.
Sebastian estava praticamente chorando.
— Não. E... eu não sei de nada, jur...
— Tudo bem, fica tranquilo. — Ele precisava de Sebastian para mandar um
recado. — Vou te dar uma última chance. Conta tudo que fez com Elle e Chloe,
e não deixo o Amo te matar.
Nero viu Sebastian olhar para Amo. Amo não precisava parecer assustador.
Ele era assustador.
Sebastian pensou em suas próximas palavras.
— Eu nem toquei nelas, porra.
Nero agarrou seu rosto acima da boca, apertando o mais forte que podia sem
arrancar a porra da sua cabeça.
— Se eu descobrir que está mentindo para mim, juro, vai ficar irreconhecível
quando eu acabar com você. Entendeu?
Sebastian assentiu o mais forte que pôde, e Nero empurrou seu rosto para
trás, fazendo a cabeça bater no chão de concreto. Sebastian finalmente deixou as
lágrimas correrem.
— Agora pode dar o fora daqui.
Nero viu Sebastian se levantar e sair correndo. Sim, como uma vadiazinha.
Realmente, não podia fazer muito mais com Sebastian, por mais que quisesse
esmagar a cara do mentiroso. Elle estava certa; tinham de ser espertos com o que
faziam nas dependências da escola. No entanto, fora dali a história seria
completamente diferente.
Levantou-se e percebeu que os amigos não pareciam muito satisfeitos. Droga,
Nero não estava satisfeito por não poder pegar Sebastian do jeito que gostaria.
— Encontraremos alguém para nos contar tudo. Então o pegaremos fora da
escola. — Nero precisava fazer os caras se concentrarem. Como Elle disse, olhe
para o contexto geral.
— Beleza. — Vincent não ficou feliz com escolha, mas não era ele quem
mandava. Amo começou a se afastar.
— Vou voltar para a aula.
Nero sabia que Amo não aprovaria. Quando queria machucar alguém, não se
importava se a pessoa era inocente ou culpada; ia para cima e não dava a
mínima. Nero sabia disso porque normalmente agiria da mesma maneira, mas
dessa vez era diferente. Tinha de pensar em Elle, e queria que a questão fosse
tratada do jeito mais adequado.
Nero viu Amo se afastar e sumir de vista. Ele apoiou as costas na parede da
escola e apertou a ponte do nariz. Estava começando a se arrepender de sua
decisão.
Vincent se encostou na parede ao lado dele.
— Ele vai mudar de ideia. Você sabe como Amo fica quando quer matar
alguém.
— Sim, o que está me fazendo querer mudar de ideia.
— Por mais que eu queira cortar o pau do Sebastian, você está certo. Vai ser
muito mais divertido pegar o cara depois que a gente souber o que ele fez. —
Vincent disse exatamente o que ele pensava, e isso ajudou Nero a aceitar sua
decisão.
Relaxou.
— Vai ser, não vai?
Vincent sorriu.
— Vai, mas não sei se vai ser tão divertido quanto o que você e Elle fizeram
no vestiário feminino. Imagino que tenha aproveitado a situação.
Nero tirou proveito de Elle ter levado uma pancada na cabeça. Eu mereço
alguma compensação, se não posso matar alguém.
Olhou para Vincent e o viu olhar para seu pescoço. Nero sorriu, lembrando a
mordida forte de Elle. Nunca teria imaginado que era do tipo violento. A
mordida o fez ceder e brincar com ela.
— Claro que sim. Ela me pegou de jeito, não foi? — Não tinha olhado no
espelho ainda, mas sabia que tinha uma bela marca.
Vincent riu.
— Pegou. Droga, por favor, diz que seguiu meu conselho.
— Ah, coloquei a garota de joelhos, mas quero que ela rasteje antes.
— Ai, meu Deus, você não fez isso. Nero, é uma questão de boa educação; a
garota fica de joelhos, e você dá alguma coisa para ela fazer.
Vincent começou a balançar a cabeça.
Nero sorriu para ele.
— É só pensar em como vai ser muito mais divertido depois que ela estiver lá
por um tempo.
— Cara, sua sorte é que eu sei que você realmente gosta dela; caso contrário,
mostraria para ela como é um cara bem-educado. Espera, você gosta dela, certo?
Porque temos uma coisa legal rolando com as outras meninas na escola.
Nero nem precisou pensar.
— Se tocar nela, eu corto seu pau.
— Então isso significa que posso pelo menos pensar nela chupando...

Elle mal podia esperar o fim da aula de espanhol. Estava muito ansiosa para
ver se os garotos realmente estariam lá, porque, se não estivessem, bem, ela e
Chloe não poderiam mais continuar na Legacy Prep.
Quando o sinal tocou, Elle não estava mais tão ansiosa para sair e ver se eles
estavam lá fora. Eu sei que eles não conseguiram se segurar. Ela pensou em como
todos pareciam furiosos no ginásio. Não conseguiram, não tinha jeito.
Elle se levantou, relutante, e se dirigiu à porta. Quando olhou para o
corredor, lá estavam eles, encostados nos armários. Bem, quem sou eu para saber
de tudo?
Notou que Vincent mancava um pouco, mantinha a mão sobre o estômago e
parecia prestes a vomitar. Preocupada, ela se aproximou dele.
— Vincent, tudo bem? — Elle perguntou ao passar por Nero.
Vincent ergueu a mão.
— E... eu estou bem.
Elle parou onde estava, mas ainda achava que ele não parecia muito bem. Por
isso deu mais um passo e levantou a mão para ter certeza.
Vincent acenou com a mão na frente dela.
— Não, não se aproxime. Estou bem.
O que estava acontecendo? Elle não sabia o que havia acontecido com ele.
Nero a segurou pela cintura e a puxou para perto dele.
— Ele já falou que está bem.
Elle o encarou, e Nero aproveitou a oportunidade para beijar sua boca. Foi
um beijo rápido, firme, que a fez esquecer... Espera, do que eu estava falando?
— Tudo bem, Amo. Pode levar Chloe para a aula — disse Nero, acenando
com a cabeça na direção de Amo.
Elle foi pega de surpresa pelo beijo, mas as palavras a trouxeram rapidamente
de volta à realidade.
— O quê? Não. Precisamos caminhar todos juntos.
Elle não podia deixar Chloe andar apenas com Amo depois do que havia
acontecido no refeitório, com todos juntos sentados à mesa.
— Vamos, Chloe. — Amo acenou para Chloe começar a andar, todos se
comportando como se não tivessem ouvido uma palavra do que ela acabou de
dizer.
Elle empurrou o peito de Nero para que ele dissesse alguma coisa, e Chloe
olhou para o chão e começou a andar lentamente. Nero só apertou os quadris
dela com mais força, sem dizer uma palavra, enquanto os via caminhar para a
aula de saúde. Elle tentou se contorcer e escapar do abraço, enquanto ele a
segurava pela cintura com um braço. Um braço? Sério?
Nero ergueu a outra mão e agarrou seu cabelo, puxando-o para baixo.
— Você precisa parar de me questionar. Sou eu quem tem um pau aqui, e
quanto mais cedo você perceber isso, mais fácil vai ser. Acredite em mim, baby,
vai começar a gostar de tudo ser desse jeito. — Nero soltou o cabelo dela. —
Vamos.
Ele segurou a mão dela e a levou na mesma direção em que Amo e Chloe
haviam seguido. Eu não entendo esse cara, às vezes. Eles os seguiram mantendo a
distância do dia anterior. Elle viu que Chloe ainda andava atrás dele. Velhos
hábitos são difíceis de abandonar.
Quando Amo parou e virou, Elle viu o rosto assustador e percebeu que ele
estava dizendo alguma coisa para Chloe. Ela correu e passou a andar ao lado
dele.
Elle e Nero riram dos dois, e ela ouviu Vincent tentar dar risada, mas o som
que ele produziu foi de dor. Elle virou para o olhar e o viu mais afastado deles do
que normalmente ficava. Quando ela o encarou, ele olhou para o outro lado. O
que está acontecendo hoje?
Elle virou novamente e viu Chloe caminhar em segurança para a sala de aula.
Quando eles estavam a alguns metros da porta, ela tentou correr. Estava com a
mão na maçaneta, quando até Elle ouviu Amo gritar:
— Chloe!
Elle tentou correr até ela, mas Nero segurou sua mão com força, fazendo-a
ficar no lugar. Elle se lembrou do que ele tinha acabado de dizer: Sou eu quem
tem um pau aqui. Elle, relutantemente ficou onde estava e viu Chloe afastar a
mão da maçaneta. Amo se aproximou e abriu a porta para ela, que manteve os
olhos baixos enquanto caminhava lentamente para dentro da sala, como se
tivesse sido derrotada por Amo, que a seguiu e fechou a porta.
Nero começou a andar novamente, puxando Elle pela mão para irem para a
aula.
— Amo sabe que o estamos seguindo? — Elle não sabia dizer.
Nero deu de ombros.
— Eu não disse a ele que estamos, mas ele pode perceber por conta própria.
Mas não se acostume com isso; ela precisa aprender a não depender de você.
Elle sorriu para Nero antes de apoiar a cabeça em seu braço. Gostava quando
Nero era doce. Bem, tentava ser doce.
Percebeu que Vincent mal conseguia acompanhá-los e ficou para trás. Ela
decidiu perguntar a Nero o que havia acontecido com ele.
— Por que Vincent está agindo desse jeito estranho? Ele nem olha para mim.
Poderia jurar que viu Nero sorrir por um segundo.
— Não sei.
Elle tentou novamente:
— Você sabe o que aconteceu com ele? Parece que se machucou ou alguma
coisa assim.
— Acho que é um pouco de falta de ar.
Elle achou melhor desistir. Não conseguiria descobrir no que eles tinham se
metido.
Depois que Nero a levou até a sala de aula, ela se sentou enquanto ele foi
pegar os cartazes no fundo da classe. Estava tirando da bolsa um papel em
branco e uma caneta, quando percebeu que Nero não tinha voltado. Ela
levantou a cabeça e o viu praticamente encurralado pelas duas bonitinhas e
burrinhas.
O coração de Elle começou a doer. Era uma dor como se o coração se
partisse em dois. Ela só podia ficar olhando, enquanto Nero folheava os cartazes
na mesa do fundo, com uma garota de cada lado, as duas se esfregando nele
enquanto conversavam. Não dava para ouvir a conversa.
Ela teve de baixar o olhar, antes que seu coração se partisse em dois. Eu não
posso olhar para isso.
Pegou a caneta e rapidamente começou a escrever. Nero se juntou a ela
alguns segundos depois com os cartazes. Ela não levantou a cabeça para o olhar;
não queria ver seu rosto. Sabia que devia estar sorrindo.
Também não queria que as duas vissem que a machucaram. Portanto, passou
a aula inteira escrevendo, sem levantar os olhos do papel. Era difícil para Elle se
concentrar e escrever com fluidez sem deixar Nero perceber que estava tentando
ignorá-lo. Mais tarde, percebeu que também não queria que Nero visse que
estava machucada.
Ela nem sabia se tinha o direito de ficar chateada, já que não tinha visto Nero
corresponder à investida. Sim, mas ele também não tentou impedir. Não conseguia
parar de imaginar as duas esfregando os seios em seu braço. Eu tenho a porra do
direito de estar chateada.
Nero tentou algumas vezes chamar sua atenção flertando com ela durante a
aula. No entanto, Elle não cedeu e manteve sua atenção voltada para o trabalho.
Quando o último sino da escola tocou, Elle guardou o material na bolsa sem
pressa.
Nero só falou quando a sala de aula ficou vazia.
— Algum problema?
— Não. — Elle brincava com o zíper de sua bolsa. Sabia que era melhor não
levantar.
Nero praticamente abria um buraco em seu rosto.
— Tem certeza?
— Sim.
Elle e Nero ficaram sentados em silêncio. Ela não tinha nada a dizer. Sabia
que era uma piada acreditar que Nero poderia ficar satisfeito com uma mulher
só.
Normalmente, eram três por dia. Triste, ela desejou estar exagerando.
Eu não quero ver você tocar em outro cara de novo. Quando Nero disse isso um
pouco mais cedo, ela acreditou que era sério. Não tinha percebido que ele não
tratava a questão como uma via de mão dupla.
Elle levantou e se dirigiu à porta quando Amo e Chloe chegaram.
— Lana vem te buscar?
— Sim, ela está lá fora me esperando — disse Chloe, tentando sorrir.
Elle sabia que Lana não poderia levá-la para casa, mas não custava pedir.
Sorriu para Chloe a fim de a tranquilizar e começou a caminhar para a saída. Ela
nem esperou Amo tomar a dianteira; queria sair de lá e de perto de Nero o mais
rápido possível.
Saiu sozinha, com todos os outros atrás dela. Esperou na área de embarque e
desembarque de alunos para ver Chloe entrar no carro de Lana. Um minuto
depois, Chloe a alcançou e sussurrou “tchau”, já se dirigindo ao carro. Elle sabia
que ela tinha percebido sua chateação com alguma coisa, mas fez questão de
sorrir para deixar claro que não tinha nada a ver com ela. Mandaria uma
mensagem mais tarde para ter certeza de que ela havia entendido. Elle não estava
nem chateada com Nero ou com as burrinhas; estava chateada consigo mesma
por pensar que ela e Nero poderiam dar certo.
Depois que viu Chloe fechar a porta do carro, ela começou a caminhar em
direção ao ponto de ônibus.
Nero gritou:
— Aonde você vai? — Ele e os amigos estavam esperando a uns três metros
dela, enquanto observava Chloe entrar no carro.
Elle continuou andando.
Nero gritou novamente:
— Elle?
Ela continuou andando.
Até o sentir agarrar seu braço.
— Onde acha que vai?
Ela tentou puxar o braço, mas como geralmente acontecia quando ele a
segurava, foi inútil. Cansei dessa merda!
— Me solta! Eu vou pegar o ônibus!
— Não vai não, Elle. Você vai comigo. — Nero a puxou na direção oposta.
Elle não queria mais que ele dissesse o que podia ou não fazer. Ele não decide
o que faço ou em quem não posso tocar.
— Não, porra, não vou! — Elle bateu no braço de Nero com toda força que
tinha e se soltou. Mas não era burra. Assim que escapou, começou a correr.
Elle esperava contar com o fator surpresa e corria o mais rápido que podia.
Não olhava para trás para ver se Nero a seguia. Também não sou tão idiota.
Infelizmente, porém, era idiota o suficiente para pensar que poderia fugir de
Nero.
Nero a agarrou por trás, e Elle começou a espernear e se debater para tentar
escapar. A voz de Nero soou fria.
— Elle, pare agora.
Ela não se importava com quanto o aviso parecia assustador; não ia parar. A
sensação de ver as meninas se esfregando em Nero tinha deixado seu corpo fora
de controle.
Nero a virou de frente para ele e segurou seus braços com força para
imobilizá-la. Ele mantinha a atitude gelada quando falou:
— Agora fala, qual é o problema.
— Vai se foder!
Quando as palavras saíram de sua boca, Elle viu Nero arregalar os
olhos. Ele se inclinou e a jogou em cima do ombro antes de virar e caminhar na
direção do estacionamento dos alunos.
Do alto, ela viu que não tinha ido muito longe antes que Nero a pegasse.
— Me solta! — Elle tentou bater nas costas dele, e espernear, e tentar chutar,
mas não queria cair de cara no concreto.
Sem dizer nada, Nero batia em sua bunda cada vez que ela batia em suas
costas. Que porra é essa? Ele não pode fazer isso.
Ela batia nas costas dele a cada palavra.
— Me. Solta. Agora.
SLAP, SLAP, SLAP.
Elle olhou em volta.
— Ninguém liga? Ele está me forçando a entrar no carro!
Ninguém dava a mínima para o que estava acontecendo.
Nero debochou:
— Todos olham para o outro lado, lembra?
Infelizmente, Elle tinha dito a verdade; ninguém se importava com ela.
Quando Nero finalmente passou por Amo e Vincent, eles o seguiram
gargalhando. Ela teve de encarar os dois, porque riam tanto, que estavam
praticamente chorando.
— Vincent, vai deixar ele fazer isso comigo?
Vincent respondeu rápido demais para o gosto dela.
— Sim, eu vou.
— Eu perguntaria à besta, mas já sei a resposta dele. — Elle estava
começando a ficar furiosa com todos.
Ninguém a ajudaria.
Portanto, tentaria outra tática.
— Por favor, me põe no chão.
— Ponho, se me disser qual é o problema.
Elle realmente não queria que Nero a carregasse pelo resto do caminho, e
pelo menos dessa forma, quando falou com ele, Nero não podia ver seu rosto e
quanto estava chateada.
Elle respirou fundo.
— Eu as vi as burrinhas loiras esfregando os seios em você, Nero. E elas
praticamente estavam no cio. Não, na verdade, retiro o que disse; elas estavam
no cio.
— Burrinhas loiras? Quem são? — Vincent perguntou, rindo ainda mais.
— As duas ajudantes de Cassandra. — Elle odiava saber que Nero dormia
com quem a tratava tão mal.
Vincent sorriu, maldoso.
— Ah, está falando da Stacy e da Stephanie.
— Ai, Deus! Tem alguma garota com quem vocês não dormem? — Agora
sabia que eles compartilhavam garotas.
Amo se defendeu.
— Ei, eu nunca comi as duas, não me acuse.
Elle sabia exatamente por que não. Eu sei que não é por ser um bom menino.
— Sim, porque elas têm medo de você. Confie em mim. Eu também teria
medo de ver o que você tem guardado. — Elle sentiu o corpo tremer com a
risada de Nero.
— Não, gatinha, elas não têm medo de mim. Eu só prefiro comer garotas
que não vou ter que ver de novo.
Elle estava de boca aberta. Imaginava que Amo fosse o pior dos três, mas não
tinha percebido quanto. Queria mudar de assunto. Sabia que todos eles
dormiam com todo mundo, e ela só queria descer dali. Eu disse a ele qual era o
problema.
— Me põe no chão. Você disse que ia me soltar.
— Mas isso foi antes de saber por que você está brava — disse Nero.
Hã?
— O que isso significa?
— Significa que você vai fugir.
Elle pretendia mesmo. Merda! Ela gritou e bateu em suas costas com toda
força que tinha. Queria que ele sentisse alguma dor, pelo menos.
SLAP.
— Ai! — Elle revirou os olhos e desistiu. Já estamos quase lá, de qualquer
maneira.
Quando chegou ao carro, Nero destrancou as portas e abriu a do lado do
passageiro, depois a pôs lá dentro. Elle ouviu o som da fechadura novamente e
viu Nero encostar na porta do passageiro enquanto falava com Amo e Vincent.
Ela considerou as opções. É claro que correr não funciona, gritar não funciona
e contar a ele por que estou chateada também não funciona. Ela estava sem opções.
Nero a levaria para casa. Ela não queria que vencesse completamente, então
olhou em volta. Quando olhou para o banco traseiro, Elle soube exatamente o
que fazer.
Pulou para trás, sorrindo. Sabia por que Nero a queria em seu carro.
Porque ele vai escapar dessa falando coisinhas fofas e segurando minha mão, me
fazendo desistir.
Elle sabia que, depois do que tinha acontecido no vestiário, ela
provavelmente desistiria, porque foi exatamente o que fez. Não dessa vez.
Nero entrou no carro, e Elle gostou da cara que ele fez quando percebeu que
ela não estava lá. E gostou ainda mais quando ele olhou no espelho retrovisor e a
viu sorrindo para ele.
Como eu disse, vai se foder! Elle tinha aprendido a falar esse tipo de coisa em
sua cabeça.
Ouviu Nero respirar fundo e o viu passar as mãos na cabeça. Elle ficou meio
chocada quando ele não disse nada e ligou o carro.
Nero engatou a ré, saiu da vaga e do estacionamento.
Elle afundou no banco do carro e fechou os olhos. Encostou a cabeça na
janela e sentiu o vidro frio. Em silêncio, pensou sobre os eventos do dia. Ela não
sabia como tinha passado do ataque com uma caixa de leite para Nero a
empurrando contra os armários e praticamente a sequestrando porque ela havia
ficado chateada depois de ver as garotas em cima dele. Foi um dia de muitas
emoções, e agora começava a se sentir exausta.
Uma parte dela ainda estava carente, querendo que Nero terminasse o que
havia começado, enquanto outra parte queria chorar. Queria chorar por si
mesma, por ser atacada, agredida com objetos arremessados e publicamente
humilhada. E queria chorar porque alguma coisa dentro dela tinha começado a
gostar de Nero de verdade, e Elle sabia que, no final das contas, nunca daria
certo entre eles.
Começou a se sentir esmagada pelas emoções, e uma lágrima escorregou pelo
rosto. Ela a enxugou rapidamente, desejando que os problemas desaparecessem
com a mesma facilidade. Durante todo o trajeto de carro, Elle sofreu com seus
pensamentos, e a viagem foi longa.
Abriu os olhos quando o carro parou; não estava na frente de sua casa como
esperava, mas estavam perto. Não sabia por que Nero tinha parado ali. No
entanto, Nero saiu do carro e, um momento depois, Elle viu a porta abrir do
outro lado. Ele entrou e virou de frente para ela enquanto apoiava o braço no
encosto do banco.
— Baby, vem cá. — A voz de Nero soou autoritária. A parte ainda carente e
a parte que gostava de Nero queriam fazer o que ele pedia, mas Elle queria lutar
contra o sentimento.
Ela encostou a cabeça na janela e fechou os olhos, pensativa.
— Agora. — Ele soou ainda mais autoritário.
Elle levantou a cabeça e olhou para o corpo de Nero, na sua frente. As duas
partes de Elle lutavam uma contra a outra, e quando uma finalmente venceu, ela
escorregou pelo banco para perto dele. Não sabia por que cedia, mas ainda não
tinha percebido que mais da metade dela queria Nero e nunca haveria uma
grande luta quanto a isso.
Quando o quadril de Elle tocou sua perna, os braços de Nero a envolveram e
puxaram contra seu corpo. A cabeça dela não estava mais apoiada na janela, mas
no peito de Nero. A mão que antes descansava no banco agora estava em seu
cabelo enquanto ele afagava sua cabeça, e a outra deslizou para baixo de sua
jaqueta para fazer a mesma coisa em suas costas.
Elle se aninhou junto dele e se deixou acalmar. Percebeu que ele a tinha visto
chorar, por isso agira desse jeito. Ninguém nunca cuidou dela em todas aquelas
noites que passou chorando em silêncio na cama. Só Chloe conhecia seu
tormento, e ela tinha muito mais motivos para chorar.
Não soube quanto tempo passou deitada em seus braços. De olhos fechados,
pensou que poderia ter cochilado, até que a voz de Nero quebrou o silêncio do
carro.
— Não era o que parecia. Sim, talvez do ponto de vista delas, mas, juro, eu
não queria que aquilo acontecesse. — Nero enroscou uma mecha de cabelo dela
no dedo e continuou: — Lamento que tenha visto aquilo e estou pedindo para
confiar em mim. Não quero mais ninguém e não vou ter mais ninguém, Elle.
Queria continuar ouvindo o som da voz quente, mas precisava ter essa
conversa com ele.
— Como vou acreditar em você, Nero? — Você sempre foi e, provavelmente,
sempre será um conquistador.
Nero pensou na resposta antes de falar.
— Se você fosse qualquer outra garota, Elle, eu teria te comido hoje no
vestiário feminino. Confie em mim: você teria deixado, e com certeza teria
gostado. Mas não fiz isso porque a faria como todas as outras garotas com quem
estive. — Ele fez uma breve pausa. — Completamente sem sentido. — Nero
agarrou seu cabelo, e Elle finalmente olhou para ele. — Eu disse para você não
tocar em ninguém, e agora estou dizendo que não vou tocar em ninguém. Eu te
dou minha palavra, Elle.
Quando o via falar, sempre sentia que ele estava dizendo a verdade.
Não acredito que vou confiar nele. A mente ainda não estava acompanhando o
corpo.
— Promete? — Precisava ouvir.
Nero sorriu.
— Prometo, baby.
Elle sorriu de volta antes de ser beijada. Ela o acolheu, deixou que
determinasse o ritmo. Ele acariciou seus lábios, cuidando para conhecer cada
centímetro deles antes de deixar a língua se aventurar dentro de sua boca para
conhecê-la também.
Ao contrário da última vez, quando se esforçou para agradá-lo, agora queria
que ele a agradasse. Nero não parecia se incomodar com isso quando a puxou
para o colo, montada nele. Suas mãos buscaram o cabelo dele para que pudesse
lembrar da sensação de tocá-los. Elle deveria ter previsto que ele apertaria seu
traseiro de novo.
Nero aprofundou o beijo, procurou sua língua com a dele e, de novo, ela
amou a sensação. Queria ter feito isso antes.
Nero mudou da boca para o pescoço, mordendo e lambendo melhor que
antes. Sim, porque ele tem que me compensar. Elle estava decidida a obrigá-lo.
Nero continuou descendo e beijou sua clavícula, enquanto as mãos viajavam
pela frente de seu corpo por cima das roupas. Elas a seguraram pelas laterais do
corpo, logo abaixo dos seios, e a respiração de Elle ficou presa na garganta
quando sentiu a boca descer ainda mais e capturar o seio direito. O decote da
blusa normalmente ficava acima deles, mas Nero o puxou para baixo, expondo a
ponta do sutiã fino.
Elle jurou que seus seios começaram a inchar quando sentiu a boca sobre
eles. Quando puxou sua cabeça para mais perto, com medo de uma interrupção,
Nero ergueu as mãos um pouco mais e começou a esfregar os mamilos com a
ponta dos polegares, massageando-os rapidamente até ficarem rígidos. Ela não
conseguia se concentrar, estava mais uma vez dominada por Nero.
Seus mamilos começaram a doer, e os seios ficaram muito sensíveis. Quando
Elle sentiu a ponta dos dedos de Nero sob o sutiã, em cima do seio esquerdo,
rapidamente agarrou sua mão, esperando que ele não o abaixasse. Elle deixou
escapar um gemido quando Nero mordeu seu seio, retribuindo o que ela tinha
feito com ele antes.
Nero tentou abaixar seu sutiã enquanto afagava a região que tinha mordido,
mas Elle tocou a mão dele e a segurou.
— Baby, por favor, me deixa sentir — Nero pedia enquanto beijava sua pele.
Elle choramingou “não” em seu ouvido. Queria que ele a sentisse. Tipo,
quero muito. Mas tinha a sensação de que Nero não iria parar depois disso. Sabia
que um cara como Nero não se contentava em provar, tinha de devorar. Gostaria
de ser devorada por ele, mas não era a hora ou o lugar certo para ela.
Nero jogou a cabeça para trás no assento, e ela o viu tentar se recompor
enquanto fazia a mesma coisa. Quando deixou a mão cair, Elle não pôde deixar
de sorrir. Não importava se queria – e sabia o quanto ele a queria, porque tinha
sentido a ereção sob seu corpo –, ele nunca a forçaria. Se ela não quisesse, Nero
não a obrigaria.
Elle deu um beijo rápido nele.
— Obrigada.
Nero soltou:
— De nada.
Ela começou a tentar sair de cima dele, e sentiu a ereção roçando seu corpo.
Nero agarrou seus quadris e a fez parar.
— Cuidado, ou o cavalheiro vai sumir, e seus seios vão pular bem na minha
cara.
Elle parou de respirar, nervosa com o que ele poderia fazer.
Ainda segurando seu quadril, ele a tirou do colo e a colocou ao seu lado. Elle
se sentiu aliviada e quase desapontada ao mesmo tempo.
Nero finalmente a soltou e passou as mãos na cabeça.
— Não apalpava os seios de uma garota por cima da blusa desde que era
menino.
Elle se esforçou para não rir. Pobre Nero. Orgulhava-se de ser a única garota
que o fazia esperar.
Elle se inclinou e deu outro beijo em sua bochecha.
— Desculpa. — Sabia que não parecia lamentar nada, pelo jeito como sorria.
— Você vai me recompensar. — A voz de Nero tinha recuperado o tom
autoritário.
Elle não gostava nada do rumo que a conversa estava tomando, mas olhava
diretamente para ele e esperava para ouvir que tipo de compensação ele queria. E
agora?
— Vou te levar para o trabalho hoje à noite.
— Mas...
Nero tapou sua boca com a mão.
— E todas as noites, de agora em diante. — Quando os olhos de Elle
tentaram dizer o contrário, ele continuou: — Não estou perguntando. Estou
informando. — Ele tirou a mão de cima de sua boca e a beijou.
Por que não? Era o mínimo que ela podia fazer por seu cavalheirismo. Fala
sério, teria carona grátis, e, se não gostasse, descobriria um jeito de escapar disso.
Era bom para todo mundo.
E já que tinha cedido e aceitado a imposição da carona, ela pensou em
aproveitar para resolver outra questão que seria complicada.
— Nero, quer conhecer meus pais?
Elle apertou a mão de Nero enquanto caminhavam para a porta da
casa. Eu deveria estar fazendo isso? É realmente uma boa ideia?
Percebeu que esse seria um dia tão bom quanto qualquer outro. Se fizesse o
que o pai queria, convidar Nero para jantar, poderia ser muito pior. Os jantares
eram longos e estressantes. No entanto, com ela precisando ir trabalhar hoje à
noite, isso seria um Band-Aid que arrancaria imediatamente. Nero teria de voltar
para pegá-la de qualquer maneira.
Elle colocou a mão na porta. Meus pais vão ficar bravos porque não avisei
antes.
Ela pensou que seria muito engraçado se tudo isso desse errado e Nero se
visse no meio de algo – e algo podia ser qualquer coisa. Tipo, e se o papai tomou os
remédios de novo? Ou Josh destruiu a casa?
Elle segurou a maçaneta, pensando se não devia desistir e tirar Nero dali.
Foda-se! Elle girou a maçaneta.
Quando entrou em casa, ela encontrou a família inteira olhando pela janela
da frente.
— Mãe, pai?
— Ei, Nero! — Josh saiu de trás da cortina e correu na direção dela e de
Nero. Nero estendeu o punho.
— E aí, carinha? Como foi a viagem de ônibus hoje?
Josh bateu com o punho no dele.
— Ótima, obrigado por ter ido comigo até o ponto.
Nero sorriu.
— Quando quiser.
Elle sorriu para si mesma ao ver Josh correr para o quarto. Quando o irmão
desapareceu, ela olhou para os pais.
Bem, é isso aí.
— Mãe, pai, este é meu amigo Nero.
A mãe de Elle se aproximou e o abraçou.
— Elle nunca trouxe um amigo em casa, ninguém além de Chloe, muito
menos um amigo tão bonito.
Elle ficou um pouco envergonhada pela mãe, mas tinha de concordar; Nero
era muito sexy.
A mordida tinha deixado uma marca horrível no pescoço dele. Feliz-
mente, Nero havia encontrado uma gravata no carro. Ele abotoou a camisa e
colocou a gravata preta, cobrindo a mancha arroxeada, desde que não virasse o
pescoço muito para o lado. Ela odiava esconder uma obra-prima tão bonita, mas
todo arrumado como estava, Nero parecia ainda mais assustador, mas sensual ao
mesmo tempo.
Nero beijou a bochecha de sua mãe.
— É um prazer conhecê-la, Sra. Buchanan.
A mãe de Elle notou sua cabeça, e se aproximou para examiná-la.
— Ah, querida, bateu na parede de novo?
Elle deu uma risadinha.
— Sim.
Nero olhou para ela por um momento, depois se dirigiu ao pai na cadeira de
rodas e estendeu a mão.
— É um prazer conhecê-lo, senhor.
Elle teve a impressão de que o tempo parava enquanto esperava o pai apertar
a mão dele.
— Nero…?
— Caruso.
— O prazer é meu, Nero. Sente-se — disse o pai dela, virando a cadeira de
rodas na direção do sofá.
Nero se sentou no sofá, e Elle se sentou ao lado dele. A mãe escolheu a
poltrona na frente do sofá.
Elle sabia que a mãe estava morrendo de vontade de conversar com Nero. Ela
sempre pedia para a filha levar alguns amigos em casa e perguntava como ia na
escola. Pela cara dela, pensou que talvez devesse ter prevenido Nero.
— Então, Nero, você estuda na Legacy com a Elle? — a mãe perguntou.
— Sim, também sou veterano lá.
O sorriso da mãe de Elle ficou mais largo.
— Então, me conta, Elle é a garota mais popular da escola? Ela costuma me
contar...
Elle começou a rir.
— Ah, mãe...
— Elle, deixe sua mãe terminar. — Nero sorriu e apoiou o braço atrás dela
no sofá. — Então, o que é que ela conta?
Eu cometi um grande erro.
O sorriso da mãe de Elle voltou.
— Ela me conta sobre todos os amigos maravilhosos e o quanto ela ama a
escola. Depois do acidente do pai, não sabíamos se ela poderia continuar lá, mas
Elle implorou para ficar. Ela disse que adora a escola.
Elle olhava para o chão. Meu Deus, isso é pior do que eu poderia ter imaginado.
— Sim, bem, ela é a garota mais popular da escola. Todo mundo a ama. Foi
difícil conseguir fazer a Elle falar comigo.
A mãe começou a rir.
Elle conseguiu rir com sua mãe enquanto olhava para Nero. Ele estava
gostando muito disso.
— Então, vai ficar para o jantar, Nero? — A mãe de Elle perguntou.
— Não, eu trabalho esta noite, mãe. Nero vai me dar uma carona.
— Oh, ok, querida. Sim, minha Elle só tira as notas mais altas. Isso garante a
bolsa que paga a maior parte da mensalidade. Ela trabalha na Magical Cupcakes
para pagar o resto. — Sua mãe estava radiante.
Ai, merda. Ai, merda. Ai, merda.
O rosto de Nero se contraiu.
— Onde?
— Na Magical Cupcakes. Foi inaugurada há alguns anos, fica um pouco
longe do centro. É lá que Elle trabalha, é claro.
Elle olhou para Nero, implorando silenciosamente.
— Sim, Nero, eu disse que trabalho lá. Lembra?
Nero a encarou por alguns segundos, depois olhou para a mãe dela.
— Ah, sim. Desculpa, eu esqueci.
— Querida, por que você e Elle não vão preparar um lanche? Tenho certeza
de que eles estão com fome depois da escola.
O pai de Elle não tirava os olhos de Nero.
— Claro. Vem, querida. Deixa os rapazes conversarem. — A mãe dela se
levantou, sorrindo de orelha a orelha, e começou a caminhar para a cozinha.
Elle olhou para Nero, esperando que ele entendesse que não devia falar
muito. Oh, e boa sorte.
Levantou-se e foi atrás de sua mãe. Estava grata por Nero não ter se
incomodado com as mentiras óbvias que ela contava aos pais há tantos anos.
Na cozinha, a mãe pegou um pouco de uma carne comprada pronta,
enquanto Elle foi pegar o pão, sabendo que fariam sanduíches.
— Ele é tão educado e bonito, querida. Eu gosto dele.
Elle riu da mãe. Não poderia estar mais feliz por Elle o ter convidado. Fazia
anos que implorava para que levasse os amigos em casa. Sim, Chloe a visitava,
mas sua mãe sempre quis conhecer os outros de quem ela dizia ser amiga.
— Sim, ele é muito legal.

Nero viu Elle se levantar para sair da sala. Tinha de ser honesto; estava
morrendo de vontade de conhecer seus pais. Queria conhecer os filhos da mãe
que deixaram Elle continuar frequentando o colégio onde era intimidada. Mas,
caramba, a mãe dela era a mulher mais legal da Terra. Era muito amável e
ingênua, acreditava em cada mentira que Elle tinha contado. Sua mãe era
claramente o exemplo de pessoa alienada, do tipo que acredita que não existe
violência.
E o pai estava em uma cadeira de rodas. Que porra é essa? No início, Nero
estava disposto a perdoá-lo como havia perdoado a mãe dela, mas agora, olhando
para aqueles olhos cheios de ressentimento, não dava a mínima se o homem não
conseguia mais andar. Nero estava começando a ter uma boa ideia de como Elle
poderia ter sido machucada no passado, e o homem que o encarava devia estar
bem ciente de que algo não ia bem para ela na escola.
Nero sustentou o olhar. Tinha sido criado por homens muito mais
assustadores que ele. O pai de Elle era um coelhinho, comparado ao dele. Ele
acha mesmo que pode me assustar?
O pai de Elle não desviava o olhar de Nero.
— Suponho que Elle não tenha contado que vivo em uma cadeira de rodas,
não é?
Nero continuou sustentando o olhar.
— Não, ela não contou.
— Eu já imaginava. Tem muita coisa que essa garota não conta.
E por que não a faz contar, porra?
— É, estou percebendo.
— Seu sobrenome é Caruso. Parece familiar. Será que conheço seus pais?
De jeito nenhum.
— Acho que não. Minha mãe faleceu quando eu era mais novo, e meu pai
vive praticamente isolado, cuidando da própria vida.
— Sinto muito. — Seu tom de voz sugeria que não sentia nada. — O que
seu pai faz?
Nero estava esperando por essa pergunta desde que disse seu sobrenome.
— Ele é dono de um hotel cassino no centro da cidade.
— É mesmo? Duvido que consiga viver isolado sendo dono de um hotel
cassino.
Nero deu de ombros.
— Ele tem ótimos gerentes.
— Aposto que sim. Você planeja trabalhar com seu pai ou vai para a
faculdade?
Nero tinha a sensação de que o sr. Buchanan já sabia a resposta.
— Vou trabalhar com meu pai.
Nero viu o pai de Elle sorrir e relaxar.
— Elle vai para a faculdade. Ela ainda não decidiu, mas pode escolher
qualquer uma, o que quiser.
Nero sorriu de volta.
— Isso é bom. Elle deve ir para a faculdade mesmo.
Podia ver que o Sr. Buchanan não esperava essa resposta. O sorriso dele
voltou em seguida.
— Hum, por algum motivo, Elle não se inscreveu na universidade daqui.
Ah, por que será?
— Bem, ainda falta meio ano para se inscrever. Quem sabe? Ela pode mudar
de ideia.
Nero viu que a expressão dele mudava, traindo a irritação, e que estava
prestes a dizer alguma coisa, quando ouviu Elle e a mãe entrarem na sala. Nero
manteve o sorriso, feliz por ter mandado uma mensagem clara para o pai de Elle.
Ele olhou para a mãe de Elle, que lhe estendia um copo de água. Ela parecia
uma versão mais velha da filha, a única diferença era que exibia linhas de
expressão e era ligeiramente gorda, o que deixou Nero satisfeito. Era bom saber
que Elle envelheceria bem.
Nero aceitou a água.
— Obrigado, sra. Buchanan.
A mãe de Elle sorriu e se sentou.
— De nada. Espero que água esteja bom.
— Está ótimo, obrigado.
Ele olhou para Elle, que não tinha sentado. Segurava um prato de sanduíches
e o próprio copo.
— Vem, Nero. Vamos comer no meu quarto.
Nero mal podia esperar para ficar a sós com Elle e conversar com ela sobre
todas as mentiras que ela contara aos pais. Não é à toa que ela não consegue parar
de mentir para mim, está vivendo duas vidas diferentes.
Elle revirou os olhos.
— De porta aberta.
Ele olhou para o pai de Elle, que estava furioso.
Nero se levantou, sorrindo. Elle não vai a lugar nenhum.

Elle entregou o prato de sanduíches a Nero para poder abrir a porta do


quarto. Depois entrou, esperou Nero entrar e fechou a porta. Porcaria. Ela
reabriu a porta, deixando-a encostada.
Virou-se e viu Nero parado com as mãos ocupadas.
— Pode sentar na minha cama.
— Tem certeza disso? — perguntou com sarcasmo.
Elle empurrou a porta mais um pouco.
— Sim.
Dirigiu-se à cama e sentou com as costas apoiadas nos travesseiros, contra a
cabeceira da cama. Nero foi para o outro lado e fez a mesma coisa. Ela o viu se
acomodar e colocar o prato entre eles.
Nero bebeu um grande gole de água e estendeu a mão.
— Controle remoto.
Elle olhou em volta, procurando. Tinha uma televisão velha na frente da
cama. Ela o encontrou em cima da mesa de cabeceira, embaixo de algumas
revistas velhas. Estava aliviada por não ter deixado o quarto muito bagunçado.
Sempre teve um monte de bugigangas e coisas aleatórias, já que tinha problemas
com jogar coisas fora.
Entregou o controle remoto a Nero, curiosa para saber por que ele o pediu
no segundo em que se sentou.
Nero ligou a TV e, em alguns segundos, uma imagem surgiu na tela. Elle
fechou os olhos e começou a coçar a cabeça quando percebeu em que canal tinha
deixado. Só melhora.
Nero olhou para ela.
— Sério, Elle? Disney Channel?
— Ontem à noite passou A Pequena Sereia. — Elle nunca perderia um
clássico, não importava se tinha o DVD.
Nero balançou a cabeça e mudou o canal para ver uma série antiga. Ele
aumentou o volume da TV e pegou um sanduíche.
— Magical Cupcakes, é?
Por isso que ele queria o controle remoto. Elle percebeu que não ia poder ver
uma de suas reprises favoritas, então também pegou um sanduíche e virou para
Nero.
— Sim, não sabia que eu trabalhava lá? — respondeu com tom sarcástico.
— Sim, aquele uniforme pendurado atrás da porta é quase idêntico às
camisetas cor-de-rosa e jeans que eles usam. — Nero deu outra mordida em seu
sanduíche. Tinha quase acabado, com as mordidas enormes que dava. — Tem
alguma coisa sobre a qual não mentiu para seus pais?
— Uh, sim. — SIM!
— Como ter outra amiga, além da Chloe, e amar a escola?
— Eu só falo o que ela gosta de ouvir. O que ela quer ouvir, Nero. — Elle
queria que a mãe fosse feliz, e inventar essas histórias a mantinha feliz.
Nero levantou da cama, terminou o sanduíche e começou a olhar o quarto,
bisbilhotando. Evidentemente, logo encontrou o que estava procurando e pegou
o grande livro de uma estante cheia de filmes, livros, bichos de pelúcia e tudo
mais que se pudesse imaginar.
Então voltou, sentou na cama, abriu o volume com cuidado e estudou cada
foto.
Ela havia começado a preencher o livro ainda menina, colocando fotos dela
em vários lugares e fazendo coisas diferentes.
Teve uma boa infância. Os pais foram ótimos, a escola foi ótima e tudo foi
ótimo, na verdade. Até que o pai foi promovido para um cargo importante na
fábrica e quis dar o melhor para Elle. Eles a tiraram da escola pública e a
matricularam na Legacy Prep no primeiro ano do ensino médio.
Os pais queriam muito isso para ela, e Elle sempre foi capaz de fazer amigos,
portanto não quis decepcioná-los. Foi uma pena o acidente com o pai ter
ocorrido logo após o início do primeiro ano.
Elle engoliu em seco e se preparou, porque a próxima página que Nero veria
era muito diferente das anteriores. Ele virou a página, e Elle percebeu a mudança
em sua expressão. Havia mais ou menos um ano de diferença entre esta página e
as outras. A primeira coisa que se notava era o cabelo curto. Depois, que ela
estava mais magra.
A coisa que mais se notava era Chloe na foto. Não olhava esse álbum de fotos
fazia um tempo, e agora percebia exatamente como as cicatrizes da amiga
pareciam brutais no início. Sua mãe sempre tirava fotos delas duas, mesmo
quando estavam assistindo a um filme ou fazendo um trabalho da escola.
— Engraçado, seu cabelo teve um comprimento a vida inteira, mas na
primeira foto que vejo de você com Chloe, ele está curto.
Elle se limitou a olhar para Nero. Não havia nada que pudesse dizer. Nero
não era burro, e não ia mentir para ele, então era melhor não falar nada.
Ela o viu virar as páginas logo depois de olhar para a foto por uma
eternidade. Sabia que estava analisando, olhando cada centímetro da foto antes
de seguir em frente. Ainda bem que alguns dos ferimentos acumulados ao longo
dos anos estavam escondidos sob as roupas.
Elle ficou feliz em ver Nero finalmente fechar o livro.
Ele olhou para o álbum fechado por um tempo, antes de finalmente levantar
a cabeça e a olhar.
Desta vez, quando a encarou, Elle soube que era diferente. Era quase como se
ele a visse sob uma luz totalmente nova. Fitou os grandes olhos verdes,
esperando o que ele faria a seguir.
— Será que adianta perguntar?
Ela sabia que Nero estava tentando manter a calma.
Elle não disse nada. Em vez disso, tirou lentamente tirou o livro das mãos
dele e se levantou para ir colocá-lo na estante, em seu lugar. Depois voltou para a
cama, para o mesmo lugar. Ficou olhando para a tela da TV, vendo as cenas que
se sucediam.
Nero não se moveu por um tempo, e ela entendeu que estava tentando se
acalmar, pois estavam na casa dos pais dela. No entanto, não havia nada que
pudesse dizer para ajudá-lo a se sentir melhor; nada que fosse verdade, pelo
menos.
Sentiu a mão de Nero tocar seu braço e olhou para ele. Ele começou a puxá-
la, e ela permitiu, se movendo. Podia dar ao menos isso a ele. Ele a abraçou, e
Elle deitou a cabeça em seu peito.
— Você sabe que vou descobrir — disse Nero, confiante.
— Eu sei que vai. — Elle também sabia que, quando um cara como Nero
queria alguma coisa, não desistia enquanto não a tinha.
Eles assistiram à televisão até a hora de Elle se arrumar para ir trabalhar. Ela
sentiu Nero começar a se acalmar lentamente e relaxar na cama com o passar do
tempo. Elle ria das partes engraçadas, e até viu Nero esboçar uma risada. Um
pequeno sorriso conta.
— Preciso me arrumar. — Elle esperava que ele movesse o braço para soltá-
la. Mas não foi o que fez, é claro, e ela riu. — Nero, preciso me vestir.
Ele então moveu o braço rapidamente. Elle o estudou, intrigada. Ok, agora
você move o braço?
Levantou-se da cama, pegou o uniforme pendurado atrás da porta e foi ao
banheiro para se trocar, se vestindo rapidamente e prendendo o cabelo no alto da
cabeça em um coque bagunçado.
Quando voltou ao quarto, viu Nero sentado na beirada da cama. Quando ela
entrou, ela parou ao ver sua expressão. Os olhos percorreram cada centímetro de
seu corpo, antes de um sorriso surgir nos lábios. A mão se ergueu e acenou para
que ela se aproximasse.
Elle não queria ir, mas os pés começaram a andar assim mesmo. Não sabia
como Nero tinha esse poder. Parou na frente dele.
— Você fica uma delícia nesse uniforme. — A expressão de Nero era de
satisfação.
Elle riu e estendeu a mão para endireitar a gravata de Nero.
— Não tanto quanto você com esta gravata.
— Ah, então está realmente a fim de mim? Eu não sabia.
— Ai, dã. Como poderia não estar? — Nero era o sonho de qualquer garota.
— Bom, não me deixou fazer o que queria com você no carro e, além disso,
me apresentou aos seus pais como amigo. — Nero fez questão de dar um tom
extremamente irônico à palavra “amigo”.
Elle se esforçou para não rir, mas falhou. Depois do ataque de riso, Nero
parecia precisar de um afago no ego.
— Nero, você sabe quanto é bonito?
— Não, mas você pode me contar.
Elle sabia que Nero tinha plena consciência da própria beleza, mas, mesmo
assim, disse:
— Você é o cara mais bonito que já vi, e estou muito a fim de você. Mas
acho que já sabe disso.
Nero a agarrou pela cintura.
— E aí, sou só um amigo?
Elle olhou em seus olhos.
— Não sei, você é?
— Não, baby, não sou.
Recostando-se em sua cadeira enorme, ele disse à pessoa que esperava
do outro lado da porta:
— Entra.
Viu a maçaneta girar e o filho mais velho entrar. O chefe Caruso notou a
aparência do filho. Que porra é essa?
— Por favor, me fala, por que você acha que se vestir desse jeito é legal?
Em seu ramo de negócios, o guarda-roupa era limitado. Tudo era
profissional e de fabricação italiana. Você usa um terno caro, sapatos e um relógio.
Fim da porra da história. Eram julgados e respeitados pelo que vestiam, e era
assim que mantinham o controle da cidade. No entanto, seu filho insistia em
usar jeans escuro e camiseta preta.
— É bom te ver também, chefe — ele disse enquanto tirava um maço de
cigarros do bolso.
— Você sabe que eu não gosto dessa merda de cheiro aqui.
Sem dizer nada, ele abriu o isqueiro e acendeu o cigarro, inalando a fumaça
por um bom tempo antes de soprá-la e encher a sala com ela. Lucca nunca
precisava responder, as atitudes substituíam as palavras. Ele se aproximou da
mesa do pai e sentou, puxando um cinzeiro para perto.
O chefe Caruso continuou observando o filho, esperando que ele dissesse o
que tinha a dizer e o deixasse em paz. Tinha passado o dia ali, no hotel cassino,
lidando com pessoas o tempo todo. Queria ir para casa, se trancar no escritório,
fumar seu charuto e beber em paz, mas tinha a impressão de que o filho estava
preocupado com alguma coisa.
Depois de esperar em vão que o filho falasse, ele desistiu.
— Isso tem a ver com a garota?
Lucca bateu a cinza do cigarro no cinzeiro.
— Nero conheceu os pais dela hoje.
Finalmente entendia o descontentamento de seu filho.
— Isso só pode significar uma de duas coisas.
— Sim, ele conseguiu. Ela gosta dele o suficiente para levar para conhecer a
família, mas Nero também pode começar a gostar dela. É difícil assinar a
certidão de óbito de uma garota quando se conhece a família dela.
Ele olhou para o filho, assimilando tudo.
— E daí, ele está brincando com ela ou isso é sério?
Lucca deu uma longa tragada antes de responder.
— Acho que vou ter que descobrir.
Ele apontou para o filho, que apagava o cigarro.
— Da próxima vez que eu te encontrar, é melhor estar usando uma porcaria
de terno, só para variar.
Lucca se levantou e caminhou para a porta, girou a maçaneta e saiu, mas
antes que pudesse fechá-la, o chefe Caruso disse suas palavras finais:
— Você sabe que a família vem antes da família, mesmo que seja seu irmão.
Não esperava que o filho respondesse, mas Lucca deu suas palavras finais.
— Sim, você me ensinou isso com a mamãe, lembra?
A batida da porta ecoou em sua cabeça. Ele se levantou e caminhou até o bar,
pegou um copo de cristal e o segurou por alguns segundos, antes de estilhaçá-lo.
Para ele, isso era inesquecível. Ele serviu a bebida e, com a mão ensanguentada,
pegou o copo cintilante cheio de uísque. Isso vai ajudar.
Nero estava na varanda de seu quarto, olhando para fora. Tinha deixado
Elle e agora estava esperando Stacy e Stephanie. Tenho um comichão que precisa
ser tratado.
Ele havia percebido que não tinha ninguém em casa esta noite, então
mandou uma mensagem para as meninas dizendo para virem imediatamente.
Não teve de esperar muito antes de ouvir a porta do quarto abrir e sapatos de
salto alto pisando em seu assoalho. Nero virou e sorriu para as duas garotas com
cara de vadia que vinham em sua direção na varanda. Um comichão forte.
Quando elas o alcançaram, ficaram uma de cada lado dele, abraçando e
esfregando o corpo no dele.
— Nero, senti saudade — disse Stephanie.
— Eu senti mais — Stacy falou imediatamente.
Nero riu.
— Vamos fazer uma coisa: quem me fizer gozar primeiro, sentiu mais
saudade de mim. Topam?
As duas garotas riram, concordaram e agarraram suas roupas. Tinham
puxado a camisa para fora da calça e desabotoado um botão, quando ouviram a
porta do quarto abrir.
— Nero, você não falou que era uma festa! — As meninas praticamente
pularam de alegria quando viram Vincent e Amo entrarem e se juntarem a eles
na varanda.
Stacy agarrou Vincent, enquanto Stephanie se aproximava de Amo.
— Será que finalmente vamos transar? — Stephanie perguntou, envolvendo
Amo com os braços.
Amo respondeu a empurrando contra a balaustrada de concreto, e Vincent o
imitou fazendo a mesma coisa com Stacy. Nero fechou a porta da sacada,
trancando todo mundo fora do quarto.
Amo e Vincent agarraram as meninas pelos cabelos, puxando até gritarem de
dor.
Nero se aproximou e parou entre as duas, que gritavam e choravam. Ele
deixou o som penetrar nos ouvidos, sentindo-se mais calmo. Nero então ergueu
a mão, fazendo Amo e Vincent pararem.
Ele agarrou as duas garotas e as puxou para perto, passando um braço sobre
os ombros de cada uma.
Elas choravam mais baixo, e Nero as sentia tremendo.
Ele respirou fundo, apreciando a sensação por mais um momento.
— Então, piranhas, sei que vocês adoram falar. Certo? —Stacy chorava um
pouco mais alto. — Vão ter que me contar tudo que vocês ou outras pessoas já
fizeram com Elle.
— O... o quê? N... não sabemos de nada. — Nero olhou para Stephanie
enquanto ela falava, depois olhou para Stacy e a viu concordar.
No final das contas, Nero sabia que essas garotas eram seguidoras; não foram
elas que incentivaram a tortura contra Elle – não o tipo dolorido de tortura, pelo
menos. Mas, evidentemente, nunca deram a mínima.
— Por que não me dão o nome principal? Aí eu deixo as duas em paz para
irem chupar um pau. — Nero queria a principal fonte, aquela que, sem dúvida,
machucou Elle e a obrigou a usar todos aqueles gessos, que a cobriu de
hematomas e cicatrizes. Assim, poderia fazer essa pessoa cantar cada coisinha que
tinha acontecido com Elle, e a pouca consciência que tinha não o atrapalharia.
Porque Elle acabaria descobrindo se ele machucasse alguém, e não queria que
isso fosse alguém que não tivesse feito tanto mal a ela.
Nero olhou para um lado e para o outro, para as duas meninas chorando, e
viu a maquiagem escura escorrendo pelo rosto de cada uma. Quando viu que
elas não pretendiam falar, ele assentiu e agarrou chumaços de cabelo falso com as
duas mãos. Depois as empurrou por cima da balaustrada, obrigando-as a olhar
para baixo de uma altura de dois andares. Os gritos que agora ecoavam eram do
tipo que ele mais gostava. É, mas todas as coisas boas têm um fim.
— Eu quero a porra de um nome! — Ele empurrou as duas um pouco mais
para baixo, e os pés quase saíram do chão.
Os gritos foram torturantes, antes de Stacy tentar pronunciar uma palavra.
Ela tentou outra vez, e finalmente conseguiu.
— Ch-Chloe!
Amo se aproximou.
— Que merda ela acabou de dizer?
Nero puxou as meninas para cima, jogou Stephanie para o lado e segurou
Stacy na frente dele.
— O que você disse?
Soluçando, ela conseguiu dizer:
— F... fala com a Chloe. — Nero soltou Stacy.
— Vincent, conta para elas o que acontece quando falam demais.
Ele passou as mãos pelos cabelos, tentando alisá-los. Ouviu a porta da
varanda abrir e os gritos começaram a se afastar. Ele e Amo ficaram onde
estavam, olhando para alguma coisa ao longe. Esperaram Vincent voltar antes de
dizer qualquer coisa.
— O que ela quis dizer com isso? — Vincent perguntou.
Nero deixou Amo responder.
— Chloe sabe quem machucou Elle. Talvez ela tenha dito para
perguntarmos a Chloe quem foi. — Nero pensou nas palavras de Amo, mas
tinha a impressão de que alguma não encaixava. Ele não entendia como unir as
peças. Estavam todas ali, mas precisava juntá-las.
Ele pensou no álbum de fotos de Elle, lembrando o quanto quis sacudi-la e
obrigá-la a contar tudo. O quanto quis paralisar o resto do corpo do pai dela
depois de ver a foto de Elle com o nariz quebrado e um braço engessado. Os dois
olhos roxos. Nero sabia que era exatamente isso que ele via. Poderia haver várias
marcas embaixo da roupa, sem mencionar todas as vezes que algum ferimento
cicatrizou antes de uma foto ser tirada.
Para tudo tem um limite. Arrancaria respostas de verdade da próxima pessoa
que interrogasse. De um jeito ou de outro.
Nero olhou para Amo para ter certeza de que ele sabia até onde ir, se fosse
necessário.
— Vamos falar com a Chloe, então.
Mais uma vez, Elle viu a lanchonete lotada naquela noite. Melhor assim;
o movimento a ajudaria a não pensar em Nero. O olhar que ele e seu pai
trocaram quando ela saía para trabalhar a deixou confusa sobre o que haviam
conversado. Seja lá o que foi, provavelmente não queria saber. O passeio tinha
sido legal, e ela precisava admitir que havia gostado. Definitivamente, poderia
lidar com ele a levando para o trabalho.
Olhou para a porta para ver quem entrava, ainda alerta para o caso de o chefe
e quem trabalhava para ele aparecerem por lá. Cada vez que aquela porta se
abria, seu coração disparava até ela ver que a movimentação não tinha nenhuma
relação com o assassinato. Quando viu Nero entrar, se acalmou. Espera, o que ele
está fazendo aqui?
Elle o viu caminhar até uma mesa no canto. Ele se sentou com as costas
voltadas para a parede, com uma visão completa do restaurante. Tinha levado
uma sacola. Ela nem imaginava o que ele poderia estar planejando.
Elle se aproximou da mesa.
— O que está fazendo aqui?
Nero sorriu.
— Estou morrendo de fome.
Elle não gostava nada disso, mas sabia que não devia questionar Nero
quando ele estava decidido a fazer alguma coisa. Estava trabalhando e devia
tratá-lo como cliente. Consequentemente, Elle tirou do bolso do avental o bloco
de pedidos e uma caneta.
— O que vai querer?
— Surpreenda-me.
Elle guardou o bloco e a caneta no bolso do avental e sorriu.
— Quer que eu escolha a bebida também?
Nero recostou-se na cadeira.
— Não, vou tomar um café.
Elle percebeu que ele estava à vontade. A noite perfeita para o dia perfeito.
Foi até o balcão e pediu o especial, depois pegou um prato e uma caneca em
uma das mãos e a cafeteira na outra. Voltou à mesa de Nero e colocou o prato e
a xícara na frente dele, encarando-o antes de despejar o líquido escuro na caneca.
Podia ler seu rosto e sabia que ele estava esperando por este momento.
Olhando de novo para a caneca, principalmente porque vê-lo olhar para ela
daquela maneira tinha começado a esquentar seu corpo, ela conseguiu servir o
café com sucesso. A mão de Nero cobriu a dela para indicar que era o bastante, e
Elle o encarou novamente. Elle não sabia como servir café para Nero podia se
tornar algo tão sexual.
— Passa o açúcar? — A mão livre de Nero apontou para os pacotes de açúcar
do outro lado da mesa.
Elle olhou para a caixa de cerâmica que continha os pacotes. Sabia que ele
poderia muito bem pegá-los e seria mais fácil para ele, mas por alguma razão,
Elle se inclinou sobre a mesa, tendo de ficar na ponta dos pés para alcançá-los.
Podia sentir os olhos de Nero em seu corpo, excitando-a. Ela percebeu que essa
sensação era o motivo pelo qual queria o agradar.
Elle empurrou lentamente o açúcar por cima da mesa até que estivesse na
frente dele.
O polegar de Nero acariciou o topo de sua mão.
— Obrigado. — Ele finalmente a soltou e encerrou o contato visual.
Elle lambeu os lábios secos antes de se afastar da mesa sem dizer uma palavra.
Sentia os olhos dele por todo o corpo novamente enquanto se afastava. Tentou
se controlar e os pensamentos enquanto servia outras mesas. Quando conseguiu,
o pedido de Nero ficou pronto.
Pegou o prato quente, se dirigiu à mesa e serviu a comida. Nero agora estava
de cara fechada, diferente de quando Elle tinha servido café. O que deu nele?
Elle se afastou da mesa quando Nero não respondeu, continuou trabalhando,
apesar da presença dele a distrair.
Seus olhos não a abandonavam enquanto ela servia as mesas e ele comia.
Quando foi tirar os pratos sujos, ele parecia irritado. Ela até encheu
novamente sua xícara de café com um sorriso, tentando fazê-lo relaxar, mas não
adiantou. Elle não tinha ideia do que irritava Nero daquele jeito.
Por fim, Nero tirou o laptop da bolsa junto com alguns trabalhos escolares.
Acho que ele vai ficar até eu sair. Isso a deixou nervosa. Nero era uma completa
incógnita para ela, e agora estava em seu local de trabalho. O que ele fizesse ali a
afetaria, e Elle dependia desse emprego para continuar estudando.
Quando o movimento começou a diminuir e seu turno estava quase
acabando, restaram apenas duas mesas, a de Nero e outra com quatro homens.
Elle pegou o bule de café para encher as xícaras e foi servir primeiro a mesa com
mais clientes.
— Querem mais alguma coisa? — Elle perguntou enquanto enchia uma
xícara.
— Não, obrigado, baby — respondeu o bonitão do grupo. Elle percebeu que
eles estavam na faculdade por causa das roupas de universitários.
Sorriu e se afastou depois de encher todas as xícaras.
— Elle. — Ouviu seu nome ser chamado do canto da sala.
Aproximou-se da mesa de Nero. Ele agora estava mais que irritado.
— Senta.
Olhou em volta.
— Não posso.
— Agora.
Olhou para Nero e sentiu que só tinha uma opção, que era obedecer à
ordem. Ela se sentou na frente dele, cansada dos olhares constantes.
— Qual é o problema?
Nero manteve a voz calma e baixa para que ninguém pudesse ouvir a
conversa.
— Não gosto de te ver servindo café e comida para todos esses homens. O
único café que eu quero que você sirva é o meu.
— Hã? — Elle foi pega de surpresa pela resposta. Primeiro, percebeu que
gostava da possessividade, depois percebeu a extensão do sentimento de posse.
— Nero, não é como se eu gostasse...
— Acha que eu gostei de ficar sentado aqui a noite toda, tendo que ver um
bando de velhos olhando para seus peitos e sua bunda?
Elle tentou falar, mas não conseguiu pronunciar uma sílaba.
— E ainda ter que ouvir esses idiotas te chamando de “baby”? — A voz de
Nero começou a ficar alterada.
— Hum, estou pensando aqui, quem será que isso me lembra...? — Elle
disse com tom sarcástico.
— Exatamente, porra. Da próxima vez, manda ir se foder. — Nero agora
estava furioso.
Elle tinha certeza de que Nero estava prestes a fazer algo muito estúpido, por
isso se inclinou e segurou a mão dele sobre a mesa. Respirando fundo, disse:
— Nero, eu trabalho aqui, quero continuar estudando e, infelizmente, pago
a maior parte do que a bolsa não cobre com as gorjetas. Isso significa aguentar
olhares, secadas e ser chamada de baby. Não posso simplesmente mandar um
cliente ir se foder. Posso perder o emprego.
Nero passou as mãos na cabeça e contraiu a mandíbula. Quando ele acenou
com a cabeça para ela voltar ao trabalho, Elle se levantou e começou a se afastar.
— Não esqueceu nada? — Apontou sua xícara de café.
Elle voltou para perto da mesa e decidiu colocar os seios bem na frente da
cara dele enquanto servia mais café. A luxúria que tinha visto antes em sua
expressão voltou, e Elle sorriu novamente. Não sabia por que o queria feliz, ou
por que aquela parte dentro dela queria agradá-lo, mas admitia que gostava
disso.
Afastou-se depressa, rindo quando Nero tentou estender a mão e agarrá-la.
Viu o sorriso em seu rosto e percebeu que, finalmente, ele recuperava o humor.
Começou a limpar tudo; era sua vez de fechar, é claro. Mas dessa vez pediu para
o cozinheiro tirar o lixo. Lição aprendida.
Faltavam dez minutos para o horário de fechar, e os universitários
continuavam rindo e brincando na mesa. Não eram ruidosos, nada disso, mas
dava para ouvir a conversa e as brincadeiras. Eles não pareciam ter planos de ir
embora tão cedo.
Elle se aproximou da mesa e recolheu alguns pratos sujos.
— Vamos fechar em dez minutos.
O bonitão sorriu para ela.
— Já estamos de saída. — Ele moveu rapidamente o cotovelo, e um garfo
caiu no chão. — Desculpa, baby.
O coração de Elle começou a bater mais depressa. Ela olhou para Nero,
implorando em silêncio para que ele não fizesse nada. Quando o cara não fez
nenhum movimento para pegar o garfo e os outros olharam para ela antecipando
o próximo movimento, ela não teve escolha.
Agachou, pegou o garfo rapidamente e ficou em pé. Quando levantou e
pegou o resto dos pratos, notou que os rapazes pareciam descontentes. Era
evidente que esperavam que ela se inclinasse para pegar o garfo. De jeito nenhum.
Elle tentou forçar um sorriso enquanto se afastava. Rezava para Nero não
fazer nada e deixar tudo como estava enquanto ia para trás do balcão e fingia
estar ocupada para ver se algo acontecia. Percebeu que Nero estava prestes a
enlouquecer. Esperava que ele a tivesse ouvido antes.
Quando os universitários saíram da lanchonete, Elle ficou parada, esperando
para ver se Nero iria atrás deles. Quando não foi, ela relaxou.
Elle foi para a mesa agora desocupada e recolheu o restante dos pratos.
Depois de colocá-los na máquina de lavar, dirigiu-se à mesa de Nero, incapaz de
encará-lo.
— Quanto é?
Elle olhava para a mesa.
— Dez pela refeição.
Nero ficou em pé, tirou a carteira cheia do bolso e puxou uma nota de cem
dólares.
— Fica com o troco.
Elle olhou para Nero e balançou a cabeça.
— Não vou aceitar seu dinheiro, Ne...
Nero rapidamente a agarrou e a fez sentar na beirada da mesa. Como?
Afastou as pernas de Elle com o corpo e a pressionou. Seu rosto estava
próximo do dela quando falou com voz rouca:
— Você tem sorte de eu estar pedindo para pegar só o meu dinheiro, depois
do que vi. Estou fazendo um esforço desesperado para me controlar. — Nero
pegou a nota dobrada de cem dólares e tocou seu queixo com ela, antes de
deslizá-la lentamente pelo pescoço até o peito e para dentro do vestido.
O peito de Elle começou a arfar, a respiração ficou pesada. Nero havia
bloqueado suas pernas, o que a impedia de apertar uma contra a outra. Ela
sentiu a umidade começando a molhar a calcinha quando as mãos de Nero
tocaram suas coxas nuas sob o uniforme, o deslizando para cima. Ele a beijou,
faminto, enquanto acariciava as coxas sensíveis, causando arrepios em suas
costas.
As mãos de Nero escorregaram para a parte interna de suas coxas quando ele
disse:
— Agora, por eu não ter metido o pé na bunda daquele otário, você vai me
mandar o resto da sua agenda de trabalho. Não sou idiota, Elle. Sei que tem
mais. — Nero empurrou a mão mais para cima por suas coxas. — Posso ir lá
atrás e pegar o horário sozinho, e ainda vou ter tempo suficiente para pegar o
idiota, se não fizer o que estou dizendo.
As mãos dele estavam agora a poucos centímetros de sua região mais sensível.
Ela tinha certeza de que ele podia sentir o calor e a umidade.
Elle balançou a cabeça para concordar com Nero, metade dela esperando que
ele não fosse mais longe, metade esperando descobrir como seria ser tocada ali
pela primeira vez.
Nero deslizou lentamente as mãos para baixo por suas coxas e a colocou de
pé.
— Não demora. Quero ir embora daqui.
Elle não sabia como conseguiu se manter sobre as pernas, muito menos andar
até a cozinha. Tentava superar o que havia acontecido entre ela e Nero enquanto
pegava seu telefone e mandava para ele a primeira foto que havia tirado ontem,
mostrando toda sua agenda. Elle percebeu que não havia mal nenhum em dar a
ele essa informação. Agora já havia decidido aceitar as caronas dele para o
trabalho.
Ela avisou ao cozinheiro que estava indo embora.
— Vejo você no fim de semana, Steve.
Ele nem mesmo ergueu os olhos dos pratos.
— Tchau, Elle.
Elle passou pela porta giratória, foi até o caixa e deixou lá dez dólares que
tirou de suas gorjetas, em vez de trocar a nota de cem. Depois sorriu. Não queria
pegar dinheiro de Nero. Mas trabalhei por isso a noite toda. Ela apagou algumas
luzes e pegou o casaco antes de ir encontrar Nero na porta.
Seu sorriso não desapareceu nem por um minuto enquanto Nero a levava
para casa. Quando chegaram lá, ele estacionou na frente da casa vizinha, e ela
ficou curiosa para saber por que tinha feito isso. Quando ele a beijou para se
despedir e prolongou o beijo, Elle entendeu o motivo, lembrando da família
inteira parada na frente da janela mais cedo.
Naquela noite, ficou deitada na cama, incapaz de parar de sorrir. Estar com
Nero a fazia feliz de novo. Tinha esquecido de como era essa sensação.
Aquela noite foi a primeira em anos em que Elle adormeceu com um sorriso
no rosto.
Elle estava na aula de espanhol, olhando para o relógio. Caramba,
como as coisas podem mudar. Desta vez, não se importava com o tique-taque, e
geralmente desejava que de alguma forma o tempo parasse para o silenciar.
Este era um momento monumental em sua vida.
Tinha medo da hora do almoço desde...

BRRRING.
— Posso resolver esse problema? — ela perguntou à professora. Elle decidiu
terminar o problema de álgebra, enquanto todos corriam para fora da sala de aula
para ir almoçar. Não era como se tivesse pressa para se sentar sozinha no almoço, de
qualquer forma.
— Vá em frente. Feche a porta quando sair.
Elle não teve tempo nem de assentir, antes de a professora correr para a sala dos
professores.
Terminou o problema e saiu para almoçar, lembrando de fechar a porta. A sala
de aula ficava nos fundos da escola.
Quando ela começou a andar pelo corredor, ouviu as risadas de um grupo
grande. Elle continuou andando até o fim do corredor dos fundos, para o corredor
principal. Quando entrou nele, viu um grupo de pessoas. Já conhecia as garotas, mas
não sabia quem eram os meninos.
— É sobre ela que eu estava falando, Sebastian. — Cassandra apontou para
Elle.
O garoto que caminhava na direção dela era quase idêntico a Cassandra. Só não
eram exatamente iguais por ele ser do sexo oposto.
— Então, você é a vadia que desrespeitou minha irmã?
Elle tentou passar por ele. Sabia exatamente como isso podia acabar.
— Ah, não, não vai, não. Vamos dar uma voltinha. — Sebastian enganchou o
braço no dela e a levou de volta para o corredor dos fundos.
— Sai de perto de mim. — Tentou não ser levada por Sebastian e começou a
lutar contra ele.
Outro cara segurou seu outro braço, e os dois começaram a puxá-la pelo corredor.
Elle tentava resistir desesperadamente, esperneando e gritando. As lágrimas
começaram a inundar seus olhos, e ela foi tomada por uma sensação poderosa de que
o que estava para acontecer a mudaria para sempre.
Foi levada para a porta dos fundos da escola. Em meio às lágrimas, via as
meninas atrás deles e ouvia suas risadas e seus gritos...

Elle balançou a cabeça. Não importa mais. Ela já havia chorado muitas noites
por causa daquele dia, e a lembrança era muito ruim. Eu não quero estragar um
bom dia.
Estava tendo um dia agradável. Nero foi buscá-la novamente, parou na frente
da casa vizinha, é claro, e Amo tinha levado Chloe sã e salva para a aula de inglês
esta manhã. Agora ela teria um ótimo almoço, independentemente do que
alguém decidisse jogar nela.
Quando o sinal tocou, Elle se levantou, sorrindo.
Chloe sorriu para ela.
— Alguém está feliz.
Elle riu.
— Sim, você não parece muito infeliz. — Na noite passada, tinha contado a
Chloe por que estava chateada ontem. Chloe defendeu Nero, concordando com
o que ele disse a ela no carro. Desnecessário dizer que ela gostava de ter três
grandes escudos à sua frente.
Elle parou na porta, olhando para os três encostados nos armários.
— É, acho que eles não são tão ruins.
Chloe parou ao lado dela.
— Tem razão. — Fez uma pausa. — Bom, menos a besta. — As duas
começaram a rir, incapazes de se conter.
Nero se aproximou de Elle, sorrindo.
— Do que vocês estão rindo?
As duas se entreolharam.
— De nada.
— Sei, é claro, de nada. É claro que estavam falando da gente — disse Amo,
cruzando os braços na frente do peito.
Elle sorriu.
— Não, só de você.
Começou a rir de novo da cara dele, e Chloe também deu risada.
Nero pegou a mão de Elle, rindo também.
— Parem com isso, deixem o cara em paz.
Elle deixou Nero a empurrar e a Chloe pelo corredor, ainda rindo da cara de
Amo. Ela viu Vincent dar um tapinha nas costas dele antes de se virar. Sabia que
Amo simplesmente não estava acostumado com garotas falando com ele desse
jeito. Aparentemente, ele não falava com garotas quando podia fazer outra coisa
com elas. Elle percebeu que era por isso que provocá-lo ficava ainda melhor.
Quando entraram na cantina e formaram uma rodinha para conversar, Elle
teve um déjà-vu.
— O que você quer comer? — Nero perguntou, olhando para ela.
Elle estava prestes a virar e olhar para a fila, mas a voz de Vincent a deteve.
— A pergunta foi: o que você quer.
Elle olhou para Chloe e sorriu.
— Tacos? — Mal podia acreditar que havia chegado o dia em que podia
escolher o que queria comer na escola.
Chloe sorriu de volta.
— Tacos.
— Jesus Cristo, provavelmente nunca comeu tacos também. — Amo
caminhou para a fila.
Ele estava certo, mas Elle não admitiria.
Eles entraram na fila, desta vez sem passar na frente de ninguém, exceto Leo.
Tecnicamente, no entanto, ele furou a fila para se juntar a eles. Elle percebeu que
Nero havia dito a eles para não passar na frente, considerando a cara infeliz de
Amo e Vincent.
Quando saiu da fila, Elle se dirigiu à mesa de sempre, mas viu que já estava
ocupada.
O quê? Sempre sentamos aqui.
— Vamos, Elle. Nós mudamos. — Nero a empurrou para frente e
continuou andando até verem a única mesa vazia no canto do fundo, bem no
meio do território dos robôs.
— Vocês duas sentam aqui. — Nero apontou para as duas cadeiras de frente
para o resto da cantina.
Elle e Chloe sentaram, e eles se acomodaram nas outras cadeiras. Elle não
conseguia ver o resto do refeitório, porque eles bloqueavam sua visão. Ela se
sentia estranha.
— Por que mudamos? Esta não é nossa mesa.
Nero pegou seu taco e deu uma mordida.
— Agora é.
— Sentamos na mesma mesa desde o primeiro ano. — Elle precisava ficar
perto da porta para poder fugir, se fosse necessário.
— Ninguém liga, meu bem. — Vincent mordeu um pedaço do taco.
Elle olhou para os meninos, que continuavam comendo. Por que fizeram a
gente mudar de mesa? Olhou para trás. São apenas paredes. Olhou para a frente.
Eles estão bloqueando minha visão. Inclinou-se para enxergar por cima da cabeça
de Vincent e viu que todo o time de futebol estava sentado nas mesas em volta
deles.
Percebeu que só um tanque ou um franco-atirador poderia alcançá-la de
agora em diante. Ela beijou rapidamente a bochecha de Nero, achando muito
fofo ele fazer algo assim por ela. Quando ele sorriu, o coração de Elle começou a
doer. Estava realmente começando a gostar de Nero, e se perguntava se algum
dia ela se arrependeria disso.
Decidiu finalmente começar a comer. Depois de algumas mordidas, ela
olhou para Chloe.
— Vamos fazer compras hoje à noite, ou seu carro ainda não foi arrumado?
— Lana disse que deve estar pronto depois da aula, então vamos — Chloe
respondeu, feliz. — O guincho ia buscar o carro hoje de manhã. Se não ficar
pronto a tempo, ela vai me emprestar o carro dela.
Graças a Deus!
— Bom. Quer dormir em casa?
— Sim, precisamos colocar alguns filmes em dia.
Elle ouviu Nero murmurar baixinho:
— Ai, meu Deus.
Ela então o chutou por baixo da mesa.
— Eu preciso saber: as meninas realmente fazem guerra de travesseiros em
uma festa do pijama? — Vincent sorriu.
Elle revirou os olhos. Típico.
— Sim, eu também quero saber — Leo disse.
— Isso é sério? — Elle olhou para eles. Pareciam sérios.
— Eu quero saber — Amo entrou na conversa.
Nero virou e olhou para ela.
— E aí?
Elle empurrou seu ombro.
— Não, não tem guerra de travesseiro. Fazemos máscaras faciais verdes,
pintamos as unhas e assistimos a filmes antigos.
Ela viu a cara de decepção de todos.
Vincent acabou de comer o taco.
— Uau, Elle, valeu por matar a porra dos nossos sonhos.

Nero olhava para a bunda de Elle, que andava com Chloe para a aula de
espanhol. Ei, não posso evitar.
Tinha a puxado no canto mais cedo para dizer que queria sair com ela
depois, já que esta era a única noite de folga que ela teria na semana. Elle
respondeu que precisava desesperadamente comprar roupas novas e dedicar um
tempo para coisas de menina. Nero sorriu. Estou mexendo com ela.
Não podia reclamar, porque tinha pedido ao Amo para marcar com alguma
garota esta noite. No entanto, ontem havia decidido que nenhuma outra garota
o satisfaria. Seu pau queria Elle. E a terá.
— Não entendo por que o pai de Chloe ainda não consertou o carro dela.
Ela disse que Lana ia cuidar disso, e é ela quem vem trazê-la e buscá-la — Amo
falou quando a porta se fechou.
— É, não sei. Não parece certo, mas talvez o homem seja muito ocupado.
Lana é a empregada da casa, e você sabe que essa gente deixa os filhos nas mãos
dos empregados. Um dia vou perguntar sobre isso a Elle, mas você sabe que ela
não fala muito. — Nero sabia que Elle não ia contar nada, mas se fizesse as
perguntas com alguma estratégia, talvez conseguisse descobrir alguma coisa.
— Bem, sabemos que se ela não quiser falar, boa coisa não é. — Amo
continuou depois de um momento: — Meu pai sabe que armei um esquema
para nós três hoje à noite.
Nero passou as mãos na cabeça.
— Merda.
Amo riu.
— É, imaginei que você pudesse ter mudado de ideia.
— Não importa. Agora tenho que ir. — Nero iria. O pai de Amo contaria a
seu pai, se ele não fosse, e como elas estudavam em uma escola pública e não
eram parentes de Elle, seria estranho ele não ir. Merda, vai dar uma boa impressão
se eu for.
— As garotas querem ir ao Poison — disse Amo.
— Porra. — Nero odiava aquele lugar. Era um bar caro para adolescentes.
Nero nunca precisou ir a um bar escuro e caro para transar e jogar dinheiro fora
com isso. As meninas queriam ir porque, provavelmente, nunca tinham ido.
Nero não teria apenas sua parte, mas as delas também, e nem ia transar, no fim
das contas.
Vincent deu de ombros.
— Ouvi dizer que Cassandra tem planos de ir lá esta noite, então talvez não
seja tão ruim. — Nero sorriu.
— Pelo menos vou tirar algum proveito dessa noite. — Pagaria o dobro do
que esse programa custaria para encontrar Cassandra. Não a via desde que ela
tentou se meter com a Elle no refeitório. — Mas deixem a mais tímida para
mim. Tenho certeza de que não vão se incomodar.
Vincent respondeu depressa:
— Porra, não, cara. Se eu for esperto, posso ter duas para brincar comigo.
— Não se for mais rápido — disse Amo.
Nero balançou a cabeça enquanto se afastava. Talvez a noite não fosse tão
ruim. Poderia se vingar de Cassandra e continuar fazendo o pai pensar que Elle
era só um serviço. Nero sorriu, pensando que tudo estava dando certo.
O que pode dar errado?
Elle estudava as roupas na arara. Os deuses dos brechós beneficentes não estão
cuidando de mim hoje. Elas vasculharam todos os brechós, e Elle só encontrou
mais camisetas. E só gostou de três, e não eram muito boas, com todos os
buracos que haviam acumulado. Elle estava procurando algo diferente, mas, é
claro, essas peças básicas só apareciam de vez em quando.
Examinando as prateleiras, ela pensou sobre o que Nero havia perguntado no
caminho para casa, se ela planejava pegar carona com Chloe novamente quando
o carro dela ficasse pronto. Ela respondeu que não tinha decidido. Gostava de
pegar carona com Nero, mas ajudar Chloe era mais importante. Mas não era isso
que a incomodava.
Ele então perguntou por que o carro de Chloe ainda estava estacionado na
escola naquela manhã. Isso trouxe à tona uma caixa de marimbondos sobre a
qual Elle nunca falaria. Felizmente ele desistiu do assunto bem depressa, mas
agora estava pensando que pode ter dado algumas informações que ele queria
descobrir.
Elle passou para outra arara, sorrindo ao lembrar quando Nero estacionou
uma casa à frente da dela. Deu para perceber que ele ainda estava um pouco
chateado porque não sairiam naquela noite, por isso prometeu a ele que, na
próxima folga, seria toda dele. Foi então que Elle percebeu.
Tudo estava ficando muito sério. Sim, podiam ser só alguns dias desde que
tudo começou, mas desde o primeiro ano, Elle nunca tinha visto Nero com uma
garota só. Tinha visto como ele tratava as meninas, e ele não a tratava da mesma
maneira. Bem, talvez no começo tivesse tratado.
Elle não conseguia descrever o sentimento. Nem tentava entender, mas algo
nela dizia que era certo. Só ficava mais forte a cada segundo que passavam
juntos, como quando Nero a beijava ou tocava quando ninguém estava olhando.
— E isso aqui? — Ela viu Chloe puxar uma peça algumas prateleiras abaixo.
A cor verde-esmeralda chamou sua atenção.
— Amei. — Elle se aproximou e pegou a roupa da mão de Chloe e, em
seguida, foi para o provador. Lá ela tirou a camiseta e vestiu a peça. Elle se olhou
no espelho, amando o que via. Era um suéter justo com gola em V, parecia quase
um vestido. Abraçava todas as suas curvas, e a cor ficava fantástica, em contraste
com seu cabelo e a cor da pele. Elle sabia que combinaria perfeitamente com a
legging preta que tinha em casa.
Elle abriu a porta para que Chloe pudesse ver a roupa.
— Ai, meu Deus, você tem que levar isso. Eu usaria. Bem, se fosse preto.
Elle riu da amiga. Chloe só usava preto. Ela mal conseguia se lembrar de
Chloe em roupas coloridas e alegres, muito tempo atrás. Honestamente, Chloe
ficava bem em qualquer coisa. Suas roupas podiam ser pretas, mas eram caras. O
pai a forçava a se vestir com o que havia de melhor e, embora não aprovasse
muito a cor, pelo menos não a obrigava a usar outra, como rosa.
Elle balançou a cabeça ao pensar em Chloe vestindo cor-de-rosa.
— Graças a Deus. Eu estava começando a achar que não encontraria nada.
Pelo menos esse vai substituir meu suéter branco, aquele que a Bonitinha e
Burrinha Número Um destruiu. — Elle amava aquele suéter, mas este
definitivamente dava para o gasto.
— Eu também. Talvez a pessoa que doou esse tenha trazido outras coisas. É
melhor nos apressarmos para dar uma olhada no resto das prateleiras. É tarde, e
eles vão fechar logo.
Elle assentiu e virou para voltar ao provador. Ela ouviu Chloe rindo atrás
dela, o que a fez olhar para trás antes de fechar a porta.
— Qual é a graça? — Elle perguntou.
— Estava pensando na cara de Nero quando te vir assim.

Nero ouvia a música insuportavelmente alta. Estava muito escuro, apesar


das luzes neon por todos os lados. Estavam sentados a uma mesa alta e
desconfortável e pediam bebidas e petiscos.
Nero olhou em volta da mesa. Amo e Vincent pareciam estar em casa,
sentados ao lado de duas garotas que usavam vestidos justos e chamativos.
Infelizmente, a garota ao lado dele estava vestida da mesma maneira, e não havia
nenhuma tímida no grupo.
Nem ouviu o nome delas quando se apresentaram. Antes de Elle, teria
guardado todos os nomes em um segundo e tirado todos os vestidos no próximo.
Olhando para Amo e Vincent, percebeu que gostavam de vê-lo fora do jogo.
Seus olhos vagaram a noite toda procurando por Cassandra. Eu vou a
encontrar, conseguir o que quero e cair fora desta porra de lugar.
Podia sentir que a garota a seu lado estava ficando um pouco magoada com a
falta de atenção, especialmente por ver os amigos dele, sempre ativos e
brincalhões, bem ali. No início, ele se sentiu um pouco mal, mas depois, quando
ela começou a se mexer um pouco e a brincar, não se incomodou com a chance
de parecer rude ao afastar suas mãos. Essa garota estava longe de ser Elle, e era ela
que suas duas cabeças queriam.
Nero olhou para a pista de dança. Aquela parte era uma loucura, e não tinha
nenhuma intenção de se aproximar dali. Todos estavam a menos de cinco
centímetros de distância, dançando um em cima do outro. Junte um bando de
adolescentes excitados, e o que se tem é uma orgia.
Quando Nero viu uma loira falsa aparecer na pista de dança, ele olhou para
Amo e Vincent e acenou com a cabeça na direção da multidão de dançarinos.
Levantou-se com eles, dizendo às meninas que esperassem ali.
Nero olhava fixamente para a nuca da loira. Peguei você, porra.
Ele e os amigos empurraram para o lado os adolescentes, que precisavam
desesperadamente de uma transa, até que finalmente se aproximaram da garota.
Nero a virou e sentiu que seu controle estava ameaçado.
— Ai, hoje não é meu dia, é? — Elle disse ao terminar de olhar as peças da
última arara.
— Não acredito que encontramos só uma peça. — Chloe agora estava
sentada no chão.
Elle olhou para a amiga, que estava exausta de tentar ajudá-la a encontrar
roupas.
— Pois é. Vamos pagar e dar o fora daqui. Estou morrendo de fome.
— Graças a Deus. Meu estômago está roncando há uma hora — Chloe
confessou.
As duas foram ao caixa e entregaram o suéter verde.
— São três dólares — disse a senhora atrás do balcão.
Deus, eu amo o brechó beneficente. Elle pagou os três dólares, e a mulher
entregou a ela uma sacola de compras com seu suéter dentro. Ela e Chloe então
se dirigiram à porta.
PIM.
Elle pegou o celular enquanto caminhavam para a BMW de Chloe. Tinha
recebido uma mensagem de BABACA, o que a fez rir.
— Quem era? — Chloe perguntou assim que entraram no carro.
Elle sabia que ela estava perguntando porque era a única que costumava
mandar mensagens para ela.
— Nero. Vou ver o que ele quer.
Elle abriu a mensagem e leu: Vem me encontrar no Poison, é urgente. Olhou para o
texto com uma cara confusa.
— E aí?
Olhou para Chloe.
— Ele quer que eu vá encontrá-lo no Poison e disse que é urgente.
Chloe a encarou, tão confusa quanto a amiga.
— Bem, a gente sempre quis saber como era lá dentro.
— Sim, mas não tenho dinheiro para entrar naquele lugar. — Elle não sabia
o que poderia ser tão urgente. Seu estômago começou a revirar de nervoso.
— Você não, mas eu tenho. — Chloe sorriu.
— Eu... eu...
Chloe a interrompeu.
— Elle, ele disse que é urgente. Quer ir ou não quer?
O sentimento de Elle dominou seu corpo.
— Vamos.

Quando Nero olhou para o rosto da garota, ficou imediatamente


desapontado por descobrir que não era Cassandra. Nero soltou a garota e olhou
para os amigos.
— Porra! Não posso ficar mais aqui. — Não conseguia mais se controlar.
Amo riu.
— Deve ser difícil ver que cada palhaço aqui vai voltar para casa e dar uma, e
você ainda nem tirou a blusa de Elle. — Ele teve de falar alto para Nero ouvi-lo.
— Vai se foder. — Ameaçou ir embora, mas viu Vincent paralisado onde
estava, olhando para alguma coisa. Nero seguiu a direção de seus olhos e viu
duas garotas dançando juntas.
— Que é aquela? Preciso conhecer aquela garota, porra — Vincent disse de
queixo caído. Nero soube imediatamente de qual das duas ele estava falando. A
garota usava um vestido preto e largo na parte de cima, mas justo na bunda. O
material mal cobria o que devia, deixando à mostra suas longas pernas. Tinha
certeza de que se ela se inclinasse levemente, sua bunda ficaria de fora. A garota
era alta e esguia, do tipo estreito, e mesmo que não fosse o tipo de Nero por
causa das curvas delicadas – prefiro algo que eu possa agarrar –, estava hipnotizado
por seu jeito de dançar.
Estava muito escuro ali, embora os flashes repentinos de neon de vez em
quando iluminassem o rosto de alguém; no entanto, os caras não tinham visto o
rosto de nenhuma das duas.
Nero percebeu os caras em volta salivando para dançar com as meninas.
Tentavam se aproximar, mas elas se afastavam, o que as tornava ainda mais
desejáveis. Um flash iluminou rapidamente as meninas.
— Espere, acho que conheço as duas. — Vincent apertou os olhos.
Nero olhou para elas com mais atenção. A outra garota, que usava um
vestido roxo em estilo baby-doll, também parecia familiar para ele.
As garotas foram dançando até que ficaram de frente para eles. Outro flash
de luz iluminou seus corpos.
— Puta merda, é minha irmã, porra! — Vincent falou.
Nero reconheceu a garota de vestido roxo, irmã de Vincent, assim que ele
disse isso. Adalyn era irmã postiça de Vincent, sua mãe se casou com o pai dela
quando ele ainda era um bebê. Cresceram juntos sem saber que não eram
parentes, até que pudessem entender o conceito. Adalyn podia ser filha de seu
padrasto, mas para ele, ela era sua irmã.
— Sei, mas quem é aquela, a que tenho que levar para a minha cama? —
Amo também estava apaixonado pelo jeito de dançar da garota.
Vincent olhou para a menina que balançava a bunda enquanto puxava o
cabelo castanho-claro para trás.
— Lake, a melhor amiga da minha irmã.
— Droga, você estava guardando só para você? — Amo não conseguia
desviar os olhos da garota. Infelizmente, nem Vincent.
— Não, cara. Conheço a garota desde a pré-escola, então nem pense nisso.
Nero riu, sua raiva tinha passado. Vincent estava evidentemente surpreso
com ela. Era claro que nunca tinha pensado em Lake dessa forma, mas nesse
momento ele a via sob uma nova luz. Literalmente, luz neon. Nero viu o rosto
de Vincent se transfigurando, dividido entre irritação e tristeza.
— Merda, cara, pense em todos os anos que você perdeu com essa — disse
Amo.
Nero estava tentando parar de rir.
— Elas estão ferradas — Vincent declarou, praticamente soltando fumaça
pelo nariz.
Nero entendia que devia ser difícil ver as duas naquela situação,
especialmente sua irmã.
Enquanto ele olhava para as duas garotas dançando, dois caras se
aproximaram e começaram a agarrar as duas. Ai, merda.
— Não, são eles que estão ferrados, porra! — Vincent começou a abrir
caminho entre as pessoas, seguido de perto por Nero e Amo.
Nero sabia que isso não ia acabar bem para os dois caras, assim como para as
duas moças.
Sorriu quando eles se aproximaram. A noite estava melhorando. Estava
sempre pronto para uma boa briga.
— Vincent? — Adalyn gritou enquanto empurrava o cara para longe dela.
— Hã? — Lake empurrou o outro cara quando se virou.
As duas meninas começaram a caminhar rapidamente na direção deles.
Vincent gritou para elas:
— Que porra estão fazendo aqui?
— Elas estão com a gente. — Dois caras as puxaram para trás.
Nero percebeu que não eram os mesmos que tentavam dançar com elas.
— Beleza, e quem são vocês? — Vincent perguntou, apontando para os dois
que tentaram agarrar a irmã dele e a amiga dela.
Os dois rapazes estenderam a mão para agarrar as meninas de novo.
O que segurava a irmã de Vincent falou:
— Nós somos aqueles que vão transar com elas até o fim da noite. Então vão
procurar outras para vocês.
— Ei, tira a mão de mim! — Lake bateu no cara que apertava sua bunda.
— Você não devia ter dito isso — Adalyn falou para o cara que agarrava sua
cintura.
Vincent começou a arregaçar as mangas.
— Você entendeu tudo errado, filho da puta. É minha irmã que você está
apalpando e, infelizmente, essa é a última garota que você vai poder pegar.
O cara que agarrava Lake começou a rir na cara dele.
— Essa vadia não é sua irmã. — Ele olhou para Lake. — Parece que você é
minha.
Vincent contraiu a mandíbula olhando para os dois caras que apalpavam as
meninas na pista de dança.
— Esses filhos da puta são meus; vocês dois pegam os merdas que trouxeram
elas para cá.
Nero e Amo também puxaram as mangas, sorrindo, olhando para os dois
que ainda tentavam agarrar as garotas.
Nero apertou o ombro de Vincent.
— Cara, pensei que você nunca ia pedir.
Amo deu uma risadinha.
— Podem me agradecer mais tarde por ter trazido vocês para cá.
Elle e Chloe entraram no salão escuro. Elle esperava que a amiga
ficasse bem no meio de tantas pessoas. Olhou e viu que tentava se encolher como
podia para as pessoas não esbarrarem nela.
— Devíamos volt...
— Briga! Briga! Briga! — As pessoas gritavam em coro.
— Merda, é o Nero! — Elle começou a correr na direção da confusão,
seguida de perto por Chloe. Não raciocinava, ia empurrando as pessoas e
abrindo caminho, o corpo apenas reagindo.
As duas finalmente chegaram à frente da multidão, e as duas ficaram de boca
aberta diante da cena que viram.
Nero estava brincando com um cara indefeso, deixando-o chegar perto para
dar um soco, mas então atacava e acertava o rosto dele. O cara era muito lento e
burro para enfrentá-lo.
Olhou para Amo quando ele estendeu a mão e segurou um cara pelo
pescoço, tirando-o do chão. Mas quem realmente chamou a atenção de Elle foi
Vincent. Ele lutava com dois caras, e acabou fazendo os dois se baterem quando
saiu do meio deles. O que se recuperou primeiro voltou a atacar Vincent e
acertou uma joelhada na virilha, fazendo-o cair de joelhos. Vincent se recuperou
rapidamente, segurou a cabeça do cara e deu uma joelhada em seu rosto,
jogando-o no chão. Vincent riu enquanto se aproximava de outro cara, que
agora implorava. Ainda rindo, ele o pegou pela camisa e o pôs em pé.
Vincent levantou o punho.
— Seu merda. — Soco na cara. — Filho da puta. — Outro soco. O cara
caiu no chão, e Vincent pisou na mão dele. — Nunca mais encoste na minha
irmã. — Vincent levantou o pé e esmagou a mão do cara, que gritou de dor.
Quando duas meninas se encolheram dentro do círculo, Elle entendeu que
uma delas devia ser a irmã dele.
Olhou para os três caras, que riam da destruição que causaram. Viu os quatro
caídos no chão. Estavam muito machucados, cobertos de sangue.
Levantou a cabeça e deu um passo à frente.
— Nero?
Os três pararam de rir e olharam para ela.
Nero a encarou como se ela fosse louca.
— Elle, que porra está fazendo aqui?
Ele se comportava como se não tivesse a chamado.
— Você me mandou uma mensagem dizendo para eu vir. — Ele ainda
parecia confuso, e ela repetiu a mensagem: — “Vem me encontrar no Poison, é
urgente”?
Nero balançou a cabeça, ainda confuso.
— Eu não mandei mensagem nenhuma para você.
Elle viu três garotas se aproximarem, todas de vestidos justos e brilhantes.
Cada uma delas passou um braço em torno de Nero, Amo e Vincent.
— Isso foi muito sexy — disse a que enlaçava a cintura de Nero.
Elle deu um passo à frente.
— Quem é você?
Atordoado, Nero tentou empurrá-la e responder, mas ela falou primeiro.
— A garota que está com ele. E você, vadia? — Seu jeito era muito parecido
com o de Cassandra.
Elle recuou antes que as lágrimas começassem a brotar de seus olhos. Abriu
caminho em meio às pessoas, embora tivesse ouvido Nero gritar seu nome.
Corria como louca, sentindo que começava a sufocar. Podia sentir o coração se
partindo. Finalmente, alcançou a saída e respirou o ar frio do lado de fora.
Quando parou e olhou para trás, sua amiga estava bem ali, felizmente. Ela voltou
a correr, agora na direção do carro de Chloe.
— Elle, para! — A voz de Nero ordenou.
Parou no lugar. Cansei de fazer o que você diz e cansei de fugir de você! Elle se
virou e viu que Nero havia parado junto com Chloe, Amo e Vincent, esperando
para ver o que acontecia.
Começou a andar, andava cada vez mais depressa na direção de Nero. Dava
para ver a confusão estampada em seu rosto.
Bateu com toda força no peito de Nero, bateu várias vezes, fazendo-o recuar
um passo a cada golpe.
— Vai se foder, vai se foder, vai se foder! Vai se foder!!
Nero a segurou pelos braços e a fez parar.
— Elle, não é o que parece. Juro.
Ela riu, debochada, em meio às lágrimas que corriam por seu rosto.
— Ah, não é o que parecia? Assim como ontem não era o que parecia
quando você estava no meio das duas outras loiras falsas? Você me prometeu
ontem!
Nero a trouxe para mais perto dele.
— Você precisa confiar em mim.
Elle fitou os olhos verdes.
— Estou farta de todas as suas promessas de merda e desse “te dou minha
palavra”. — O coração despedaçado de Elle finalmente caiu em pedacinhos. —
Nunca mais vou confiar em você, Nero.
Observava os olhos determinados de Nero.
— Elle, ouça...
Elle cuspiu em seu rosto.
— Não! Cansei de te ouvir. Não vou mais fazer o que você pediu. Não fala
mais comigo, porra! — Sua voz ficava mais alta. — Só me deixa em paz, porra!
— Elle puxou seus braços para trás quando seu interior começou a recolher os
pedaços quebrados, tentando juntá-los.
Nero tinha sido uma má ideia desde o início, e Elle sabia disso. Ele não valia
nada disso. Ela recuou e olhou para Chloe.
— Vamos.
Ela viu o rosto da amiga se transformar como nunca tinha visto antes. Chloe
se aproximou de Amo e chutou sua canela.
Amo agarrou a perna.
— Ai! Que foi que eu fiz, porra?
— Você devia ter vergonha de si mesmo. E você também. — Ela apontou
para Vincent, que recuou alguns passos. — Sei que você o meteu nisso.
Chloe se virou e se aproximou de Elle. Quando passou por Nero, parou.
— Não tenho nada para te dizer. Você sabe o que acabou de perder.
Finalmente voltou para perto de Elle, que estava chocada com o
comportamento de Chloe e feliz por ela a ter defendido.
Enquanto andava para o carro de Chloe, agradeceu a Deus em silêncio por
isso ter acontecido agora, não mais tarde. Estava se perguntando o que poderia
ter sido de sua sanidade se tivesse passado muito tempo com Nero.
Entrou no carro e bateu a porta. Fechando os olhos, repetiu as palavras dele.
“Eu prometo, baby.” As lágrimas voltaram a cair.
Elle as enxugou quando Chloe sentou no banco do motorista sem dizer nada.
Apenas dirigiu para a casa de Elle. Estacionou o carro na garagem, e elas
entraram em casa e foram para o quarto. Elle se sentou na cama com a cabeça
entre as mãos.
— Você quer que eu vá embora? — Chloe sussurrou, sentada ao seu lado.
Elle balançou a cabeça e levantou os olhos.
— Não, fica.
— Ok, posso fazer pipoca e pegar sorvete, e a gente assiste ao seu filme
favorito, A Pequena Sereia.
Elle riu em meio às lágrimas; sua amiga sempre conseguia animá-la.
— Já volto — disse Chloe e ficou em pé.
Elle a viu sair, depois se encolheu em posição fetal. Por mais que tentasse, os
pedaços continuavam caindo. Não havia cola suficiente no mundo para
reconstruir seu coração partido.

Nero ficou parado, vendo Elle entrar no carro. Porra!


Ele não tinha ideia de como iria consertar essa merda colossal. Elle tinha
problemas demais, e essa tinha sido a gota d’água para ela. Seu rosto chorando o
destruiu. Não sabia nem por onde começar a contar a verdade.
“Você sabe o que acabou de perder”. As palavras de Chloe o atingiram. Sabia, e
era isso que o destruía.
Nero nem entendia o que ela havia ido fazer ali. Eu não mandei mensagem
para ela. Puxou o celular do bolso e abriu suas mensagens. E lá estavam as
palavras que ela tinha dito, todas elas ali na tela. Nero sabia que ninguém tinha
tirado o aparelho de seu bolso. Como isso aconteceu?
— Precisamos sair daqui antes que a polícia apareça! — Adalyn disse
enquanto ela e Lake se dirigiam à porta da Poison.
— Por que estão aqui? — Vincent perguntou, avançando na direção delas.
Adalyn e Lake puxaram o vestido para baixo e a parte superior para cima para
cobrir o decote.
— O que você acha?
O rosto de Vincent começou a se contrair.
Lake interferiu:
— Eu implorei para ela vir dançar comigo. É minha culpa. O único jeito de
entrarmos era vindo com aqueles caras. Mas não fizemos nada com eles.
Vincent respirou fundo.
— Que bom. Vocês não podem sair com garotos antes de se formarem. Não
me interessa se faltam poucos meses. Não vou dizer nada, mas acho bom não
pegar vocês duas de novo.
Nero viu as duas assentirem, embora Lake tenha dado uma cotovelada em
Adalyn para ela reagir.
Vincent ofereceu as chaves.
— Vão para o carro. Vou levar vocês para casa.
Adalyn pegou as chaves, e as duas começaram a correr.
Vincent viu Adalyn segurar o vestido enquanto corria e gritou:
— Você vai queimar essa porcaria de vestido quando a gente chegar em casa!
Lake tentou puxar o vestido para baixo ao ouvir o comentário de Vincent.
Vincent mudou de ideia.
— Na verdade, vão me entregar os vestidos. Quero me livrar deles.
Nero teria rido, em outras circunstâncias. Vincent estava transtornado.
Vincent se aproximou dele.
— Minhas retinas queimaram de ver a bunda da minha irmã naquela pista.
Amo conseguiu rir.
— Sei, é claro, você estava muito ocupado olhando para a bunda de Lake
para perceber que era a da sua irmã ao lado.
Vincent ia responder, mas parou, pensou e olhou para Nero.
— Sinto muito sobre Elle, cara.
— É, estou me sentindo muito mal. Eu armei tudo isso, e aí aconteceram as
duas coisas, Elle e a irmã de Vincent — disse Amo.
Nero passou as mãos na cabeça.
— Ah, verdade, temos que agradecer, não é?
— Porra, muito obrigado. — Vincent disparou.
Eles começaram a ouvir sirenes se aproximando.
— Vamos sair daqui. Amo, você vai ficar me devendo essa.
— Tudo bem, cara, eu entendo.
Todos eles começaram a andar, cada um para o próprio carro.
Enquanto caminhava em direção ao Cadillac, Nero pensou nas últimas
palavras de Elle. “Me deixa em paz, porra!” Ele abriu a porta do carro e entrou.
Nem em um milhão de anos, baby.
Nero saiu de lá antes da chegada da polícia. Ainda não sabia como a
conquistaria de volta; tudo que sabia era que não desistiria enquanto não tivesse
Elle. Para sempre.
Elle passou o fim de semana inteiro na cama, tentando não chorar. Sim,
sem sucesso. A única vez que ela saiu do quarto foi para ir trabalhar, porque não
podia evitar. Odiava sair de casa para isso, no entanto.
O gosto de ver a cidade passar pela janela do ônibus e enquanto ela
caminhava para o trabalho havia sumido. Estava péssima; os olhos estavam
vermelhos, o cabelo estava despenteado e as roupas não combinavam. Ela
realmente agradecia a Deus por usar uniforme.
Elle passou por emoções variadas. Foi da satisfação por tudo ter acabado tão
cedo entre eles para a tristeza por ter acabado e o impulso assassino por ele ter
feito aquilo com ela, e tudo que havia no meio.
Prometeu a si mesma que se recuperaria. Nero não a veria nesse estado.
Estava decidida a não permitir que ele pensasse que tinha levado a melhor
parte dela. Seguiria em frente, e ele veria isso na aula.
Quando a manhã de segunda-feira chegou e o despertador de Elle tocou, ela
pensou em uma nova maneira de destruí-lo quando as aulas finalmente
acabassem. Acordou grogue. Como se eu estivesse me sentindo uma merda.
Acendendo a luz do banheiro, viu o horror no espelho. Ela não sabia
exatamente se aquilo tudo era corrigível. Queria que Chloe estivesse ali para
ajudar. Espera, Chloe pode ajudar.
Elle correu de volta para seu quarto e discou o número de Chloe. Tocou
várias vezes. Sabia que era muito cedo e achou que deveria desligar, mas então
ela atendeu.
— Alô?
Chloe parecia bem acordada. Imaginava que ela mal tinha dormido, mas,
caramba, era cedo.
— Chloe, preciso de ajuda. Estou horrível.
A voz soou quase alegre:
— Estou indo. Tchau.
Chloe definitivamente era a pessoa certa para o trabalho. Precisava ficar linda
muitas vezes por causa do trabalho do pai. Ela teve de ir a muitos eventos com os
pais e parecer o papel da filha bela e perfeita. Infelizmente, com aquelas
cicatrizes, seu pai não economizava para deixá-la sempre impecável e distrair a
atenção dos cortes em seu rosto.
Elle sabia que se qualquer outra garota tivesse as marcas de Chloe, não
conseguiria essa proeza, mas como Chloe era mais que linda naturalmente, as
fazia parecer lindas. Chloe podia fazer qualquer coisa.
Escovou os dentes e lavou o rosto antes de a amiga chegar. Quando ela
chegou, começou a trabalhar imediatamente. Elle manteve as mãos no colo e não
se moveu enquanto trabalhavam nela. Imaginava que Chloe usaria luvas antes
mesmo de começar a trabalhar. Ela não fez isso, e Chloe fez questão de usar
todas as ferramentas.
— Ok, o que vai vestir? — Chloe perguntou enquanto guardava o
equipamento de cabelo.
Elle deu de ombros.
— Não sei. Só uma camiseta e jeans, eu acho.
— Eu não fiz sua maquiagem e arrumei seu cabelo emaranhado para você
vestir camiseta e jeans. — Chloe entrou no closet de Elle e logo saiu. — Onde
está o suéter verde?
Elle olhou para o chão.
— Não quero usar isso.
— Por que não? — Chloe perguntou, sentando em sua cama.
Elle sabia que era estúpido, mas a única razão pela qual ela gostou
instantaneamente foi porque a cor lembrava os olhos de Nero. Mas não queria
dizer isso a Chloe. Então só deu de ombros.
— Elle, você quer fazer o cara se arrepender de ter traído você e jogar isso na
cara dele?
Elle pensou por um segundo. Sim, eu quero, porra.
Levantou-se, foi ao closet e fechou a porta. Ela se vestiu no pequeno espaço,
colocando a legging preta e tirando o suéter da prateleira de cima. Depois calçou
botas pretas de cano alto.
Quando ela saiu, Chloe abriu a boca.
— Essa noite, ele vai chorar até dormir.

Nero estava encostado no carro no estacionamento dos alu-


nos. Amo e Vincent o tinham encontrado alguns minutos antes. Seu carro estava
a poucos metros da vaga de Chloe. Nero sabia que ele e os amigos ainda
precisariam dar proteção; se alguém soubesse que ele e Elle terminaram, ela
estaria perdida.
Esfregou os olhos. Não tinha dormido muito nas últimas noites. Queria
acreditar que seria fácil reconquistá-la, mas, honestamente, não tinha ideia de
por onde começar. Não tinha experiência com mulheres fora do quarto.
Ele passou o fim de semana seguindo Elle no caminho de ida e volta entre o
trabalho e a casa dela. Além disso, achou ainda mais miserável do que na
primeira vez. Vê-la tão perto e não falar com ela era uma tortura. Não entrar na
lanchonete enquanto ela trabalhava era o pior tipo de tortura.
Percebeu que ela não estava normal, claramente estava sofrendo. Entendeu
que era por isso que não tinha falado com ela ou aparecido na lanchonete; não
queria causar mais danos. Ela está farta disso.
— E aí, cara? — Vincent perguntou, interrompendo seus pensamentos.
— Tudo bem — respondeu rapidamente, tentando não demonstrar que
estava destruído por causa de uma garota.
— E como ela está? — Amo perguntou.
— Ela parecia muito dura na noite passada — confessou.
Vincent riu.
— Você vai ter que inventar alguma coisa muito boa, cara. Graças a Deus, eu
não sou você.
— É, eu sei. Escuta, precisamos estar com elas. Acho que Cassandra volta
hoje. — Nero sabia que não seria capaz de chegar muito perto sem fazer as pazes
com Elle, mas precisava chegar o mais perto que pudesse.
Amo e Vincent assentiram. Eles esperaram cerca de cinco minutos até que o
BMW de Chloe apareceu e parou na vaga.
Nero viu quando a porta do passageiro se abriu e um par de botas pretas
pisou no chão. Quando a porta foi fechada, ele piscou os olhos várias vezes antes
de perceber que a imagem não mudaria. Mas que inferno.
Nero sentia uma grande variedade de emoções enquanto via a bunda de Elle
balançando pelo estacionamento naquela roupa. Em primeiro lugar, queria
transar com ela. Em segundo lugar, queria que ela se vestisse assim com mais
frequência. Por último, queria saber por que ela parecia tão bem.
Quando só as costas de Elle estavam visíveis, sua primeira emoção voltou
com mais força. Já faz muito tempo, ok?
Nero percebeu que seus amigos estavam boquiabertos.
— Ei, filhos da puta, olhem para outra pessoa.
— Droga, Nero, você estava certo. Elle está inconsolável. — Amo não
conseguiu conter a risada. Nero se afastou do carro e passou as mãos na cabeça.
Então olhou para eles e viu Vincent fechando os olhos, sussurrando algo.
— Que diabos está fazendo?
Vincent sussurrou mais alguma coisa antes de abrir os olhos.
— Estava agradecendo a Deus pelas leggings.

As duas passaram pela fila do hambúrguer de frango. Escolher o que


queriam comer era coisa do passado. Sabia que tinha sido bom enquanto durou
e, honestamente, nem sabia se seria capaz de comer hoje. Tinha esquecido
completamente o dinheiro do almoço, não que fosse pagar o preço ridículo da
refeição.
Entraram na fila. Ela havia se mantido alerta a manhã toda, e Chloe tinha
voltado a andar atrás dela. Tinha visto que os três patetas as seguiram o dia todo.
Eu não preciso de ninguém atrás de mim!
Pegaram uma bandeja cheia de batatas fritas e um hambúrguer de frango e
foram dar seu número à funcionária. Elle prendeu a respiração, se perguntando
se escaparia impune. Quando escapou, quase não conseguiu acreditar. Percebeu
que a única razão pela qual havia conseguido escapar era que a funcionária na
outra fila era muito mais dura. Então acho que vou comer hambúrguer de frango
até o fim do semestre.
Caminhou na direção da mesa que sempre ocupou com Chloe, mas já havia
alguém nela.
— Merda.
Olhou em volta e viu que a única mesa desocupada era aquela do canto,
onde tinham almoçado na sexta-feira. Elle se virou e caminhou para aquela
mesa. Foi então que viu Nero, Amo, Vincent e Leo sentados à mesa mais
próxima a ela. Claro. As outras mesas em volta ainda eram ocupadas pelo time
de futebol.
Sentou-se de frente para o refeitório novamente, e Chloe sentou-se na frente
dela, como sempre fazia antes. Acho que algumas coisas nunca mudam.
Elle deu a Chloe um sorriso tranquilizador. Ela não estava preparada para
voltar aos velhos tempos. Elle a observou enquanto a amiga voltava ao seu antigo
eu. Tinha sido o mais feliz que a viu desde que a conheceu no primeiro dia de
escola.
Pegou o sanduíche para dar uma mordida, quando notou a funcionária da
outra fila vindo em sua direção.
— Uh, Chloe, por que ela está vindo para cá?
Chloe balançou a cabeça e falou baixinho:
— Devemos ter medo agora?
— Eu não...
Elle engasgou quando a funcionária pegou o sanduíche de sua mão e o
colocou de volta na bandeja.
— Eu disse na semana passada, Elle, você precisa pagar pelo almoço. Não
tem mais fiado. — Elle a ouviu murmurar baixinho — Isso aqui não é caridade
— enquanto se afastava.
As duas ficaram de boca aberta enquanto ela caminhava direto para a lata de
lixo e jogava fora sua bandeja. Ela sabia que a escola realmente tinha ido para o
próximo nível quando eles preferiam jogar comida fora a alimentar uma aluna
faminta.
— Ela pode fazer isso? — Chloe perguntou, se virando.
— Ela acabou de fazer — disse Elle, querendo desaparecer.
Chloe empurrou sua bandeja.
— Você pode ficar com o meu. Eu não estou com tanta fome.
— Não, Chloe. Eu não quero. Não era o que eu queria mesmo.
Chloe torceu as mãos no colo.
— É, nem eu.

— Isso acabou de acontecer? — Nero ouviu Leo perguntar.


— Foda-se essa escola. Por que continuamos aqui? — Amo disparou.
Vincent olhou para Nero.
— Essa foi a coisa mais cretina que eu já vi. Alguma coisa tem que ser feita.
Nero estava tentando se acalmar. Sim, pensando em mil maneiras de matar
aquela vadia velha. Cuidaria disso mais tarde.
Ele respirou fundo.
— Vincent, preciso de um favor.
Vincent sorriu.
— Estrangular a cretina?
Não era má ideia.
— Talvez mais tarde. Preciso que você vá comprar outro almoço para Elle, e
não compre o sanduíche de frango. Eu sei que elas não queriam essa merda. —
Nero parou e olhou para a mesa. — Compra outro almoço para as duas.
Vincent parecia surpreso.
— Por que eu?
— Porque Elle não vai aceitar nada de mim, e ela vai pensar que eu paguei se
Leo for levar. — Fez uma pausa, porque não queria que as próximas palavras
saíssem de sua boca. — E por alguma razão, ela gosta mais de você.
Vincent olhou para a funcionária que tinha jogado o sanduíche de Elle fora.
— Vai ser um prazer.
Elle levantou a cabeça da mesa quando sentiu que havia alguma coisa
em cima dela.
— O que é isto? — Elle olhou para a bandeja que estava sendo colocada
diante dela, cheia de tiras de frango, purê de batata e milho. Ela também viu
Vincent colocar uma bandeja na frente de Chloe.
— Almoço. — Vincent então colocou uma garrafa de água na frente dela.
Elle empurrou a bandeja para ele.
— Leva de volta.
Ele suspirou e puxou uma cadeira para sentar.
— Escuta, meu bem, sei que você não quer aceitar por causa do que
aconteceu com você e Ne...
— Não tem nada a ver com isso. Eu não quero — Elle respondeu enquanto
empurrava a bandeja para mais perto dele.
Vincent colocou a mão na bandeja e a empurrou para ela. Ele a encarou
enquanto falava.
— Tem tudo a ver com isso, mas o que você precisa entender é que eu
também me importo com você. Então vai comer e vai gostar. E vou levar vocês
duas para a aula até você e Nero resolverem essa merda. — Vincent olhou para
Chloe. — Porque estou cansado de ver você andar atrás de Elle. Anda ao lado
dela, porra.
Elle viu a amiga arregalar os olhos. Tentou protestar, mas Vincent era meio
louco para ouvir um não. Ela gostava de Vincent e podia lidar com ele por perto.
Mas não há nada a resolver entre mim e Nero.
Quando Vincent ficou satisfeito, pegou o prato anterior de Chloe do meio
da mesa e o jogou na lata de lixo mais próxima da funcionária da lanchonete
enquanto a encarava.
— Ai, meu Deus. Acho que ele precisa ser internado — Chloe sussurrou.
Elle a olhou.
— Ele é um psicopata, com certeza, mas é o mais legal dos três.
— Desculpe, Elle, mas não é. Nero é o mais legal — disse como se fosse um
fato.
A garota abriu a boca.
— Não, não é!
Chloe pegou uma tira de frango e deu uma mordida.
— Ele é. Você só está no estágio de negação.
Elle pegou sua tira de frango e deu uma mordida.
— Estágio de negação?
— Sim. Os cinco estágios do coração partido.
Elle revirou os olhos para a melhor amiga. Isso não existe.
As duas almoçaram bem, apesar do que aconteceu antes. Quando chegou a
hora de ir para a aula, Vincent voltou para acompanhá-las. Bastou olhar para a
cara dele, e ela se conformou. Trazer Hannibal Lecter à tona não estava em sua
lista de coisas para fazer naquele dia.
Vincent caminhava ao lado de Elle, que andava ao lado de Chloe. Tinha de
admitir que era muito estranho, porque antes Vincent andava atrás de Chloe,
enquanto Nero costumava andar ao lado dela. Ela virou a cabeça e viu Nero e
Amo caminhando alguns metros atrás deles. Afe!
Teria de superar tudo isso porque, infelizmente, eles poderiam andar para
onde quisessem.
Quando olhou para frente de novo, Cassandra apareceu do nada. Elle parou
imediatamente.
Ai, merda.
Elle a tinha visto de volta na aula de inglês e não estava ansiosa para saber o
que ela faria por causa da suspensão.
— Há quanto tempo, garçonete — disse Cassandra com aquela voz
estridente.
Vincent passou um braço sobre os ombros de Elle.
— Achei que a essa altura já teria descoberto que Nero avisou todo mundo
para não chamar mais Elle desse jeito. Acho que ninguém dá a mínima para você
quando não está aqui.
Cassandra abriu a boca e a fechou rapidamente quando deu um passo à
frente.
— Eu soube. E simplesmente não acreditei. Perdi quatro dias de escola,
graças a você, e agora está se achando a rainha? — Cassandra a olhou de cima a
baixo, rindo histericamente. — Você está usando o suéter que minha mãe jogou
na caixa do brechó beneficente no mês passado. Você é uma garçonetezinha
desprezível e nunca vai ser mais que isso. — Elle olhava para o rosto perturbado
de Cassandra, que ria descontroladamente, e quis correr e tirar a porcaria do
suéter.
— E você é só uma piranhazinha vagabunda que está com inveja porque seus
peitos nunca encheram esse suéter. — Vincent riu na cara dela. — Bem que
achei que era familiar, mas acho que estou acostumado a te ver sempre sem
roupas e de joelhos.
Elle não podia acreditar no que estava ouvindo e ficou chocada, enquanto
Cassandra parecia ter levado um soco na cara.
Vincent puxou Elle para seguirem em frente, enquanto dava o golpe final.
— Vamos, Elle. Não se preocupe, ninguém vai reconhecer o suéter da
vagabunda em você. Todos nós estamos acostumados a ver essa garota pelada e
engolindo.
Elle acompanhou Vincent, ainda atordoada. Olhou para Chloe e balançou a
cabeça, se perguntando se era real.
— Acho que isso pode ter sido um pouco duro. — Cassandra nunca havia
sido tratada assim em sua vida.
Elle desprezava Cassandra, mas não desejava estar na pele dela.
— Meu bem, sinceramente, não dou a mínima.

Elle não conseguia mover um osso do corpo enquanto as lágrimas deslizavam pelo rosto.
Tinha olhado para o rosto da garota linda chamada Chloe enquanto ela chutava
suas costelas. Não tinha mais nada, estava entorpecida e paralisada desde que a
segunda pessoa do grupo bateu nela.
Tinha implorado a princípio – implorado –, mas a surra continuou. Então Elle
desistiu, pensando que talvez ficar ali deitada e destruída fosse o suficiente para fazê-
las parar.
O riso invadia seus ouvidos junto com as piadas. Doíam tanto quanto os vários
sapatos chutando seu rosto e o corpo.
— Vamos sair daqui — ela ouviu uma delas dizer. — A cadela entendeu o
recado. Bom trabalho, Chloe.
Elle não pôde deixar de olhar nos olhos cinzentos, tentando transmitir sua
mensagem. Quando não pôde mais vê-la, soube que Chloe tinha entendido.
Ficou ali, se perguntando quanto tempo levaria para a morte vir e salvá-la de seu
pesadelo. Fechou os olhos, sentindo o líquido quente e vermelho começar a envolver
seu corpo. Sabia que isso aconteceria em breve. Em breve, ela estaria livre...

Elle ouviu as batidas invadirem seu sonho.


— Querida, você não trabalha esta noite?
Tentou abrir os olhos, piscando para conter a umidade que se formara em
seu sono.
O ruído voltou.
— Elle?
Finalmente viu a porta do quarto à frente e conseguiu lembrar onde estava.
— Sim. Desculpa, mãe. Peguei no sono.
— Tudo bem, docinho. Só vim dar uma olhada.
Esfregou os olhos quando ouviu a mãe se afastar. Mal se lembrava de como
tinha ido parar ali. Finalmente acordada, ela se lembrou do dia inteiro. Se ao
menos eu pudesse esquecer...
Quando voltou para casa depois da aula, estava mentalmente exausta e foi
direto para a cama. Encolheu-se em posição fetal, incapaz de deixar de pensar
sobre o dia.
Nero havia respeitado seu espaço, sem nunca andar muito perto dela, ficando
sempre para trás. Não se sentou ao lado dela na aula de inglês, no almoço, nem
mesmo na aula de arte. Ele foi sentar com alguns atletas do time de futebol. Pelo
menos não sentou com as burrinhas bem na minha frente.
Elle admitiu que foi difícil vê-lo novamente. Havia se acostumado a ficar
perto dele no pouco tempo que tiveram. Por alguma razão que ela desconhecia,
tinha se apegado a ele.
Agora tinha de lidar com Vincent. Ele não era ruim. Ok, ele é terrível, mas há
piores. Elle ficou feliz por ele estar por perto quando Cassandra a encontrou; caso
contrário, não sabia o que teria acontecido. Ele a tinha levado para a sala de aula
sem que ninguém causasse mais problemas. Por isso, estava grata. Além disso,
embora preferisse não ver Vincent por causa de Nero, lidaria com isso porque ele
garantia sua segurança e a de Chloe.
Elle virou para ver que horas eram. Precisava começar a se preparar para o
trabalho. Esta noite era responsável por fechar a lanchonete novamente.
Bocejou, querendo poder ficar na cama um pouco mais. Prestes a se levantar,
olhou para a estante de livros e notou que havia algo errado.
Estudou a estante abarrotada de coisas diferentes, sabendo que faltava alguma
coisa ali. Ela viu o espaço onde costumava ficar seu álbum de fotos. Não estava
lá.
Levantou-se e foi até a estante, se perguntando se o tinha mudado de lugar.
Ela olhou tudo. Não estava lá. Olhou em volta. Nada.
Elle se lembrava nitidamente de Nero o colocando de volta na prateleira.
Nero!

Nero não podia acreditar que ia sofrer mais uma noite vendo Elle entrar no
ônibus para ir trabalhar. Por que não posso falar com ela?
Não sabia como reconquistá-la. Esperava encontrar algum jeito na escola,
mas não surgiu nenhuma oportunidade.
Seguiu o ônibus até o ponto em que Elle desceu. Quando ela começou a
andar, ele sentiu um incômodo que se manifestou no estômago. Tinha um cara
de moletom escuro andando alguns passos atrás dela.
Nero manteve os olhos grudados nela enquanto estacionava o carro, sentindo
o incômodo mais forte. Quando saiu do carro, um ônibus passou na sua frente,
bloqueando sua visão. O instinto começou a gritar para ele correr para Elle, mas
Nero teve de esperar o ônibus sair da frente para continuar. Quando o veículo
acelerou, ele procurou por Elle.
Onde ela estava?
Atravessou a rua correndo, procurando por ela ou pelo cara de moletom, mas
não conseguiu ver nenhum dos dois. Merda.
Ao notar um beco a poucos passos de onde vira Elle pela última vez,
começou a correr o mais rápido que podia, fazendo uma curva fechada à
esquerda. O coração de Nero parou junto com o mundo ao seu redor.

Elle foi empurrada para o fundo de um beco.


Antes que pudesse gritar, sua boca foi coberta. Esperneou e bateu na pessoa,
que a segurava por trás. O chefe veio me buscar.
Sabia que provavelmente não sairia dessa viva, mas faria o que fosse
necessário para tentar sobreviver.
Fechando os olhos, mordeu a mão sobre sua boca, exatamente como tinha
visto o homem que havia sido assassinado fazer. Porra, ele morreu.
Mordeu mais forte quando o cara não removeu a mão. Sentiu seu corpo ser
jogado contra uma parede de tijolos, e então ouviu o barulho do crânio batendo
no tijolo. Elle escorregou pela parede, sentindo que perdia lentamente a
consciência.
— Merda, eu não... — Ela ouviu uma voz profunda dizer enquanto alguém
segurava seu rosto entre as mãos.
Elle tentou lutar contra a escuridão, mas as pálpebras estavam muito pesadas
para manter os olhos abertos. Fica acordada! Manteve os olhos abertos por mais
um momento, o suficiente para ver o rosto de um homem que tinha visto no
restaurante. Era o universitário que derrubou o garfo. Por que ele...?
Os olhos de Elle se fecharam, e a mente desacelerou, tentando desligar. Ela
sentiu uma comoção a seu lado e ouviu o som de carne batendo em carne.
Tentou dizer um nome quando a escuridão a envolveu.
Nero se sentou na cadeira ao lado da cama, tentando firmar as mãos. Os
olhos não se afastavam de Elle deitada, imóvel. Continuava dizendo a si mesmo
que ela ficaria bem; só queria poder acreditar nas palavras do médico.
Ele ligou para o médico cujos serviços sua família usava – legal e ilegalmente
– e pediu para ele ir até sua casa o mais rápido possível. Ele disse a Nero que ela
ficaria bem e que tinha sofrido uma concussão. Nero se perguntava quantas vezes
mais ela poderia bater a cabeça antes de haver alguma lesão séria. Só Deus sabe
quantas vezes ela não foi atingida ali.
Passou as mãos na cabeça e se levantou para ficar perto dela. Nunca tinha
visto nada mais bonito em sua vida. Deslizou os dedos pela pele bronzeada de
sua bochecha, sentindo a suavidade. Ela parecia em paz, e ele teria pensado que
estava realmente, se ela não tivesse um curativo na cabeça.
Nero esperava ter Elle em sua cama, e lá estava ela, usando uma de suas
camisetas velhas. Mas o sentimento não era o que ele esperava.
Olhou para sua mão, agora arrebentada. Tinha espancado o cara até
transformá-lo em uma massa ensanguentada e o deixou lá para viver ou morrer.
Não dou a mínima, de verdade.
Os últimos dias confundiram Nero. As coisas aconteceram uma depois da
outra em relação a Elle, e ele sabia que estava perdendo alguma coisa. Além
disso, só ficou ainda mais confuso quando o idiota que a machucou reagiu como
se lamentasse o que tinha acontecido.
Nero respirou fundo e saiu do quarto, relutante. Desceu as escadas e
atravessou a casa, caminhando na direção da porta que procurava. Girou a
maçaneta e entrou.
— Estava me perguntando quando você finalmente descobriria. Espero que
não esteja muito bravo, irmão. — Nero se aproximou da mesa sobre a qual
Lucca mantinha os pés.
— Bravo porque você cortou os pneus de Chloe? Não. Porque pagou para
um bando de caras me deixar com ciúmes? Não. Bravo porque você hackeou
meu celular e mandou uma mensagem para Elle para ela me pegar com outra
garota? Não.
Lucca apagou o cigarro.
— Tecnicamente, Sal hackeou seu telefone; eu só dei a ordem.
Nero contraiu a mandíbula. A atitude indiferente do irmão o estava tirando
do sério. Ele pensou em Elle deitada no andar de cima, e foi então que chegou
ao limite.
Nero estendeu a mão e bateu no encosto da cadeira inclinada com toda a
força que tinha, derrubando Lucca com ela. Nero sentiu os pés saírem do chão
quando Lucca agarrou seus tornozelos, puxando-o para junto dele no chão.
— Filho da puta, ele podia ter acabado com a vida dela! — Nero foi para
cima de Lucca, tentando segurá-lo.
Lucca deu risada e o afastou para o lado.
— Sim, mas ele não acabou. No momento que vi a garota, eu soube que
você ia acabar gostando dela. Então tive que ver quanto você realmente gostava.
Só não sabia que ela te pegaria tão depressa.
Nero deu uma cotovelada no estômago de Lucca.
— Por que fez tudo isso para provar que eu gostava dela?
Lucca virou rapidamente Nero de costas e segurou seu pescoço com força.
— Cuidado, irmão. Isso tem a ver com a família, e eu sou seu subchefe. Não
vamos brigar por uma garota. Essa menina viu Sal, eu e papai matando um
homem. E qualquer um que brigasse comigo por causa de um serviço não teria
mais as duas mãos.
Nero sabia que era verdade. Estava quebrando muitas regras só porque ele era
seu irmão. Relaxou sob a mão de Lucca ao se dar conta disso, parou de lutar, e o
irmão soltou seu pescoço e se levantou.
— O tempo está passando, Nero. Você precisa descobrir se ela viu o rosto de
algum de nós. Se viu, aí você vai ter que encontrar um jeito de evitar que o papai
mate a garota. Ela precisa confiar em você, e você precisa fazer tudo isso andar
um pouco mais rápido.
Quando Lucca estendeu a mão para ajudá-lo a se levantar, Nero a aceitou.
— E pagar um filho da puta falido de faculdade para sequestrar a menina vai
ajudar em alguma coisa?
Ele sorriu para o irmão.
— Ela foi arrastada para um beco, e você a resgatou. Sinto que vai rolar um
maravilhoso sexo de reconciliação.
Nero passou as mãos na cabeça, afastando os cabelos dos olhos. Lucca
colocou Elle exatamente onde Nero a queria.
— O que você ganha com tudo isso?
Lucca pegou sua cadeira do chão e sentou-se nela.
— Nada, além da felicidade do meu irmão.
Nero deu uma risadinha.
— Sei, é claro.
Lucca deu de ombros.
— Ok, eu posso ganhar algo com isso. É só lembrar o que estou fazendo por
você e Elle.
Nero caminhou em direção à porta. Sabia que Lucca estava tentando ajudá-
lo a impedir que seu pai a matasse. É um jeito horrível de me ajudar.
Girou a maçaneta para sair.
Lucca sorriu ao dizer:
— De nada.
Nero saiu e bateu a porta. Sabia exatamente o que o irmão quis dizer com
“de nada” – fazia quase um ano que Nero estava esperando Elle ir parar em sua
cama.
Quando a mente de Elle começou a voltar à vida, ela estranhou sentir sua
cama tão grande e quente. Afundou no colchão, amando a sensação. Sua mente
piscou novamente. A cabeça estava pesada e dolorida; não queria nem tentar
movê-la. Por que minha cabeça dói tanto?
Tudo voltou à memória; ela se lembrou de ser empurrada para um beco. Ou
foi um sonho? A cabeça gritou, e o gosto de sal invadiu sua mente quando a
lembrança de morder a mão do homem voltou.
Elle abriu os olhos, e a imagem diante dela era inteiramente desconhecida. A
ansiedade invadiu seu corpo quando ela se lembrou de ter sido jogada contra
uma parede. Onde estou? O chefe me pegou?
Ela sentiu a cama afundar a seu lado e braços fortes a envolverem. Elle se
lembrou do cheiro, que trouxe boas lembranças e a fez se aproximar do abraço.
— Estou com você, baby — uma voz murmurou, uma voz que ela
reconheceu e a fez se sentir segura.
Amava o cheiro que começou a envolvê-la junto com a voz profunda que
murmurava doce em seu ouvido. Como eu sei…?
Sua mente despertou totalmente quando os olhos se abriram. O rosto estava
pressionado contra o peito de Nero, o corpo era amparado pelo dele. Ela
empurrou seu peito, tentando se afastar.
— Sai de perto de mim.
— Calma, Elle. Você bateu a cabeça. — Nero se apoiou sobre o cotovelo
direito, sem soltá-la. Sua outra mão estava em sua cintura, mas ele a abaixou para
lhe dar algum espaço.
Elle olhou para o quarto enorme. Era quase todo branco, com móveis
marrons. Ela viu uma poltrona de couro ao lado da cama, que parecia que
alguém tinha acabado de se levantar dela. Seu foco então mudou para a porta de
vidro, uma varanda do outro lado. O quarto era masculino, mas bonito.
— Onde estou?
Nero riu.
— Meu quarto.
Elle pensou em como tinha ido parar lá. O rosto do estudante universitário
apareceu em sua mente, acompanhado pelo som de luta.
Olhou para Nero.
— Como chegou lá tão rápido?
Ele demorou um minuto para responder, não queria admitir a resposta.
— Tenho tentado encontrar um jeito de falar com você desde sexta-feira. Por
algum motivo, acabei só te seguindo.
Ela olhou em seus olhos. Ele está me seguindo?
Não sabia como se sentia em relação a isso, mas podia dizer que estava
abalada. Era como se não dormisse há alguns dias.
Fechou os olhos por um momento, tentando entender como tinha ido parar
naquela cama gloriosa, vestindo...
— Que raio de roupa é esta?
Nero sorriu mostrando os dentes.
— Uma das minhas camisetas.
Elle bateu várias vezes em seu braço.
— Você trocou minha roupa!
Nero agarrou os pulsos de Elle, segurando-os acima de sua cabeça enquanto
rolava o corpo para cima do dela.
— Não, foi minha irmã, mas posso consertar isso com facilidade.
O coração de Elle começou a bater forte, e a vibração que ela não sentia há
dias invadiu sua barriga. Não!
— Sai de perto de mim, Nero. Não quero seus germes nojentos em cima de
mim.
Nero sorriu enquanto inclinava a cabeça na direção do pescoço dela.
— Não está falando sério.
Sim, eu estou.
— Estou, sim!
Nero afastou as pernas dela e pressionou o membro duro dentro da calça em
sua abertura.
— Você quer que eu pare, baby? — Nero deu um beijo no pescoço dela.
A respiração de Elle estava presa na garganta. Não.
— Sim — ela disse lentamente.
Nero ainda mantinha o corpo sobre o dela.
— O que eu falei sobre mentir? — Ele a lambeu. — Você quer que eu pare?
A umidade de Elle começou a molhar a calcinha. A ereção de Nero estava a
apenas um tecido de distância.
Sussurrou a confissão:
— Não, mas você me magoou. Eu não sou e não ajo como todas as garotas
com quem você transa, e não quero ser como elas. Nunca serei o bastante para
você, Nero. — Doía mais do que qualquer coisa que ela pudesse ter imaginado.
Elle era o oposto das garotas com as quais ele estava acostumado, e isso a fazia
sentir como se ele nem se sentisse atraído por ela.
Ele se inclinou para que ela pudesse ver seu rosto.
— Eu não iria, e planejava deixar Amo e Vincent brigarem pela terceira
garota. — Queria que os olhos confirmassem o que estava dizendo. — Ouvi
dizer que Cassandra estaria lá. Mas ela não estava. E eu estava indo embora
quando Vincent encontrou a irmã dele lá.
Elle olhou para Nero para ver se ele falava a verdade. Deixou escapar um
suspiro, sem saber se deveria realmente acreditar nele. O corpo podia não
precisar da explicação, não se importar com os motivos dele para ter ido àquele
lugar, mas o coração e a mente precisavam entender.
Nero começou a beijar e chupar seu pescoço, enquanto as mãos deslizavam
por seus braços.
— Eu não queria te magoar, baby. Admito que marquei o encontro, mas isso
foi antes de finalmente perceber que queria você.
O coração de Elle começou a juntar os pedaços quebrados, colando-os
novamente. Ela agarrou o cabelo de Nero, incapaz de impedir o corpo de tocá-
lo.
Nero moveu as mãos pelo corpo dela até o alto das pernas nuas.
— Eu amo o jeito que você é. O cabelo loiro-avermelhado e os grandes olhos
azuis. — Nero deslizou uma das mãos pela parte detrás de sua perna, por baixo
da camiseta enorme, passando por cima da sua minúscula calcinha. — Eu amo
sua bunda. — Ele subiu pela barriga para agarrar os seios por cima do sutiã fino.
— E eles.
Foi difícil para Elle se concentrar nas palavras. Estava feliz por ter decidido
usar uma roupa íntima que cobria mais do que as outras. Porque não podia lutar
contra Nero; era muito bom sentir as mãos dele sobre seu corpo.
Quando arqueou o corpo contra o dele, sentindo que ele clamava por mais,
Nero gemeu em seu pescoço, e a mão que não tinha se movido da coxa foi para
sua vagina, tocando a área sensível através do tecido quase imperceptível.
A voz de Nero ficou rouca.
— Não vou transar com você hoje, porque sei que você não é como as
garotas com quem estive, mas vai me deixar brincar.
Elle prendeu a respiração, ficou nervosa, não sabia o que “brincar” significava
para Nero. Nunca tinha experimentado nada sexual em sua vida. Ela adivinhou
que Nero sentiu seu nervosismo quando a beijou com força nos lábios. A
lembrança que guardava do gosto não era tão boa quanto a coisa real. Ela o
beijou com avidez, tentando compensar os beijos que tinham deixado de dar.
Sentiu a mão dele começar a esfregar sua calcinha, esfregando-a para frente e
para trás. Pressionou o corpo contra a mão, a excitação crescendo ainda mais
enquanto a umidade se espalhava por suas dobras.
Nero encostou os lábios na sua orelha.
— Você está molhada para mim, baby. Já gozou alguma vez? — Outra onda
de umidade saiu de seu corpo enquanto ela ouvia suas palavras. Não queria
responder. Nero mantinha o ritmo entre suas pernas, mas depois deslizou a
outra mão para baixo do sutiã para apalpar a pele sensível que estava ansioso para
segurar.
— Já? — Ele não sussurrava mais.
Elle balançou a cabeça, incapaz de negar uma resposta.
Seu peito se elevou quando ele esfregou os mamilos, em pequenos bicos. Os
dedos pareciam ásperos sobre a pele delicada, provocando uma sensação quase
insuportável.
— Bom. A primeira vez que você gozar vai ser na minha mão, e a segunda
vez será com meu pau dentro de você. — Nero enfiou a língua em sua boca
quando o polegar encontrou seu clitóris.
A maneira como ele acariciava aquela saliência a fez revirar os olhos. O prazer
que Elle sentia sacudiu seu corpo, e o quadril começou a se projetar de um jeito
incontrolável, querendo mais e mais.
Agarrou Nero para se segurar enquanto se movia na beirada, e a falta de
experiência não a deixou esperar muito. Sua cabeça caiu para trás, e ela gemeu.
Estava perto.
Ela sentiu que Nero se controlava com esforço em cima dela, queria
encontrar alívio também, mas continuava dando prazer apenas a ela.
Começou a sentir o tremor e, desta vez, Nero cobriu seus lábios enquanto ela
gemia em sua boca. Apertou as coxas enquanto as ondas se sucediam dentro
dela, ganhando força à medida que Nero mantinha o ritmo.
Elle ficou meio mole, enquanto o corpo sentia os efeitos da explosão. Pouco
depois, o coração começou a se acalmar junto com as vibrações. Percebeu que
Nero também precisava de um minuto.
Nero saiu de cima dela, rolou para o lado, deitou de costas e a puxou sobre o
peito. Depois falou, ofegante:
— Baby, você é mais do que suficiente para mim.
Elle riu.
— Promete?
Nero beijou sua testa através do curativo.
— Prometo.
Ela sentiu o coração começar a se recompor. Desistiu de lutar contra Nero.
O instinto ordenava que confiasse nele. Ele tinha se preocupado em dar prazer a
ela antes de pensar no próprio prazer, e imaginava que isso fosse muito difícil
para ele.
— Obrigada.
Nero segurou seu cabelo e o puxou para trás com delicadeza para que ela o
encarasse.
— Eu não vou deixar você continuar virgem para sempre. Sei que você me
quer tanto quanto eu te quero, baby, e é por isso que não vai demorar muito
mais tempo.
Elle sorriu de sua determinação.
— Vamos ver.
Sabia que realmente ia durar um pouco. Faria Nero se esforçar por isso,
depois do que ele a tinha feito sentir. Eu não me importo se ele acabou de me dar...
Puta merda! Acabei de ter meu primeiro orgasmo.
Escondeu o rosto no peito de Nero, não queria que ele visse sua expressão.
— Elle? — Nero tentou fazer com que ela o fitasse.
Ela cobriu o rosto com as mãos quando ele levantou a cabeça. Não demorou
muito para Nero remover as mãos da frente. Ela tentou não demonstrar que
estava vermelha.
Nero riu quando finalmente entendeu tudo.
— Não tem nada de que se envergonhar sobre seu primeiro orgasmo. Se
quer saber, isso foi muito sexy.
Elle abriu os olhos.
— Como se isso ajudasse.
— Você vai ter muito mais, Elle, é melhor se acostumar com isso. — Nero
falava como se isso fosse um fato. Elle revirou os olhos, e ele riu, convencido de
que eles estariam juntos também sexualmente. Olhando para o rosto que nunca
desistia, ela se perguntou quanto tempo ainda aguentaria.
A cabeça doía um pouco, e ela lembrou de como tinha ido parar ali. Ainda
podia ouvir aquele barulho que tinha registrado antes de desmaiar.
Agarrou a mão de Nero e a estudou. Dava para perceber que ele queria
esconder, mas Elle estudou sua mão de qualquer jeito. Estava se curando da
última vez que a tinha examinado, mas agora a mão inteira estava seriamente
danificada. Cada articulação estava inflamada e coberta de rastros de sangue.
Não conseguia entender como não estavam quebrados.
— O que fez com ele?
Nero não mentiu.
— Bati nele e o deixei lá.
Elle sentia que isso a devia ter assustado. Em vez disso, ela levou a mão dele
aos lábios e beijou cada dedo.
— Você deveria procurar alguém para dar uma olhada nisso, Nero.
— Vai ficar tudo bem. Mais tarde, vou desinfetar e fazer um curativo nos
ferimentos.
Olhou para ele com ar de súplica:
— Você pode, por favor, parar de brigar agora? Só tentar não funciona
muito bem com você.
Nero esperou um momento para responder.
— Sim, por você eu paro.
Eu já ouvi isso antes.
— Foi o que você disse da última vez.
Nero deu de ombros.
— Dessa vez é sério.
Elle ouviu o telefone de Nero tocar.
— Chloe está aqui.
O quê?
— Ela está?
— Sim, Amo e Vincent também.
Elle desceu a enorme escada de ferro para o hall. Nero deu a ela um
short minúsculo e disse que era da irmã dele. Não é diferente da minha calcinha,
mas pelo menos estou um pouco mais vestida.
Nero ligou para Chloe do celular de Elle, contando o que aconteceu e
avisando que ela ia dormir na casa dele. Quando pediu para a amiga dizer que
Elle ia passar a noite em sua casa, Chloe insistiu em vê-la para ter certeza de que
estava bem. A única coisa que Elle não sabia era por que Amo e Vincent
decidiram aparecer.
Finalmente chegou ao fim da escada, onde Chloe estava esperando. Soube
imediatamente que ela deveria estar em um jantar importante, pela maneira
como estava vestida. Usava um vestido peplum preto, de mangas compridas,
com meia-calça da mesma cor e salto alto. Era para ser um traje formal, mas as
curvas de Chloe faziam parecer que ela estava vestida para um encontro sensual.
— Você não saiu antes do fim, não é? — Elle ficou preocupada. Não queria
que se metesse em problemas.
Chloe balançou a cabeça.
Elle viu que a amiga estava um pouco abalada com o que havia acontecido
com ela. Já esperava por isso.
Ela tentou sorrir.
— Estou bem. Felizmente, Nero estava lá, e isso é tudo que importa. —
Desejou poder confortar adequadamente a amiga com um abraço, mas não
conseguiu e teve de se contentar com as palavras.
Chloe assentiu.
Elle sussurrou:
— Você acha que mamãe vai acreditar que vou passar a noite na sua casa? —
Elle teria de pensar em uma razão, porque, em três anos e meio, nunca tinha
passado a noite lá. Quase passou uma vez, logo depois que se tornaram amigas,
mas, infelizmente, não demorou para Elle ir embora, pedindo a Chloe para ir
com ela.
Chloe finalmente falou.
— Eu... não sei.
Ela também não sabia.
— E se eu dissesse a ela que temos um projeto para entregar amanhã? —
Chloe tentou se acalmar. — Pode funcionar.
— Venham aqui um segundo! — gritou Nero da outra sala.
Elle não sabia por que Nero precisava gritar. Por que não vinha falar com
elas? Então ela se lembrou que ele era italiano. Ah, é.
As duas seguiram a voz e foram a uma sala enorme que era uma combinação
da sala de estar com a cozinha. O espaço era gigantesco. Ela queria ver como era
o exterior, porque tinha certeza de que estava em uma pequena mansão.
Enquanto caminhava em direção a Nero, vendo apenas as costas dele,
também notou Vincent, Amo e Leo ao lado dele. Excelente.
Viu Nero se virar para olhar para ela e, atrás dele, uma loira de pernas
compridas. Ela era deslumbrante, parecia uma jovem modelo da Victoria’s
Secret, mesmo no vestido simples de estampa floral. Elle se lembrava de tê-la
visto na escola, mas nunca tinha falado com veteranos ou mesmo conhecido
alguns deles. Os de seu ano já eram ruins o suficiente.
Elle a viu caminhar em sua direção, e a garota a abraçou.
— Você deve ser a Elle. É um prazer te conhecer. — Sua voz era doce, o
oposto do que esperava que seria.
— Esta é minha irmã, Maria. — Nero riu, olhando sua cara de surpresa.
Elle a abraçou de volta com delicadeza.
— O prazer é todo meu.
Maria se afastou e foi abraçar Chloe, mas ela deu um passo para trás.
Elle tentou rir disso.
— Esta é Chloe. Ela tem algumas preocupações com germes.
— Oh, desculpe. Eu sou louca por um abraço, e ainda não aprendi que nem
todo mundo gosta. Muito prazer, Chloe.
Ela tentou sorrir.
— Igualmente.
Elle perguntou rapidamente:
— Quantos irmãos são? — Queria saber se devia se preparar para outro
irmão Caruso.
Maria riu.
— Tem mais um, o Lucca. Ele é o mais velho. Depois sou eu, o Nero e o
Leo. Ah, e meu pai, esses são os moradores da casa.
Elle sabia que Maria era mais velha que Nero, mas imaginou que não podia
ser muito. E quanto ao outro irmão? Admitiu que não estava muito ansiosa para
conhecer o mais velho. Tinha um pressentimento: se os dois mais novos eram
destruidores de corações, não queria ver o último.
— Isso é muito Caruso.
— Você sabia que Nero é italiano, não? — Maria puxou Elle para o sofá e
acenou para que Chloe também viesse.
Elle foi pega de surpresa.
— Hum, sim, ele mencionou.
Depois que ela se sentou no sofá ao lado de Maria, Chloe se sentou do outro
lado dela.
Maria sussurrou para as duas:
— Não falo com ninguém além da minha família desde o semestre passado.
Só tenho esta semana, e então as aulas recomeçam.
As duas começaram a rir. Agora Elle entendia a pobre garota: estava cercada
por rapazes e morria de vontade de ter companhia feminina.
— Eles não deixam você sair?
— Estou na faculdade, e eles ainda me tratam como se eu tivesse treze anos.
Era só olhar para ela para saber por que a tratavam assim. Ela era a definição
de estonteante. Elle queria saber como seriam os pais que criaram três filhos
fantásticos – o quarto ainda estava por ser visto.
— Você frequenta a universidade aqui?
— Sim. Não tive a opção de me inscrever em nenhum outro lugar. — Maria
balançou a cabeça.
— O que está estudando? — Elle perguntou a ela.
— Administração. — Maria olhou para Chloe. — Adorei sua roupa.
Chloe ergueu as sobrancelhas.
— Obrigada.
Elle sabia que a amiga estava chocada, não esperava nem estava acostumada a
receber elogios de ninguém. Começava a gostar de Maria. Todas as garotas
bonitas da escola eram más com ela e Chloe, e nenhuma delas estava nem perto
de ser tão bonita quanto Maria. Ela se sentiu mal por ela, no entanto;
claramente, os irmãos haviam passado para o próximo nível de superproteção.
— Talvez eu possa convencer Nero a irmos juntas fazer compras, nós três?
O rosto de Maria se iluminou.
— Sim! Estou morrendo de vontade de fazer compras! Isso seria muito
divertido.
Elle sorriu, sabendo que se dariam muito bem.
Elas passaram um tempo conversando e rindo, falando de filmes, roupas e
maquiagem, enquanto os meninos falavam sobre Deus sabe o quê. Nero pediu
algumas pizzas, insistindo que ela precisava comer alguma coisa. Pela quantidade
de pizzas que pediu, no entanto, todos tirariam proveito dessa necessidade.
Assim que a refeição chegou, Elle percebeu como Chloe estava ficando
desconfortável em um grupo e em um ambiente diferente. Ela a viu olhando
para as duas portas que davam para o quintal e, pelo que podia ver, para um
lindo jardim.
— Acha que Nero se importaria se eu fosse lá fora? — Chloe sussurrou para
ela quando todos se levantaram para ir para a mesa.
Elle negou com a cabeça.
— Não, acho que não. — E sorriu, sabendo que ela precisava de um pouco
de ar fresco. — Vai lá.
Ambas se levantaram, mas seguiram em direções opostas. Elle foi para a mesa
onde todos estavam reunidos em torno das caixas de pizza, pegando uma fatia, e
Chloe saiu pela porta dos fundos.
Vincent jogou um braço sobre seus ombros.
— Como você está, meu bem?
Elle riu, lembrando que ele havia perguntado a mesma coisa na primeira vez
em que ela se machucou.
— Tudo bem. Foi só mais uma pancada na cabeça.
— É, eu sei. — Vincent riu, e se afastou para ir sentar à mesa.
Elle olhou para a única cadeira que restava, ao lado de Nero. Todas as outras
cadeiras eram um pouco espaçadas, mas essa estava bem perto da outra.
Ela se sentou, e a perna tocou a dele. Percebeu que ele não parecia muito
feliz; evidentemente, a ouviu dizer que tinha sido só mais uma pancada na
cabeça.
Viu Nero pegar uma fatia de pizza da caixa e jogá-la em um prato. Ele o
empurrou para a frente dela.
— Come.
Honestamente, não estava com fome, mas o rosto de Nero anunciava que era
melhor comer. Ela percebeu que poderia comer alguns pedaços para deixá-lo
satisfeito.
— Cadê a Chloe? — Amo perguntou, olhando em volta.
Elle respondeu rapidamente:
— Ela comeu antes de vir e estava morrendo de vontade de ver o quintal. —
E olhou para Nero. — Espero que esteja tudo bem.
Ele assentiu enquanto mordia um pedaço de pizza.
Todos conversavam ao redor da mesa, e ela via os meninos comerem pizza
como se não pesassem nada. Elle deu algumas poucas mordidas e desistiu; depois
bebeu um gole da água que Nero tinha deixado em cima da mesa, esperando por
ela.
Nero colocou o braço nas costas de sua cadeira.
— Não vai terminar seu pedaço?
Ela o olhou e balançou a cabeça.
— Não estou com muita fome. — A gente perde o apetite quando quase é
sequestrada.
— Você precisa comer. — Ele parecia impaciente.
Ela olhou ao redor da mesa e percebeu que ninguém estava prestando
atenção neles. Eu realmente não consigo comer.
— Não estou...
A outra mão de Nero tocou a parte de cima de sua coxa nua.
— Termina de comer a pizza.
Novamente o olhou antes de lentamente pegar sua fatia. Não sabia por que,
mas seu corpo parecia estar destinado a agradá-lo. Sempre tinha uma sensação de
formigamento sob a pele quando fazia o que Nero pedia.
Deu uma mordida, o enjoo desapareceu estranhamente e o sabor agora era
delicioso. Quando ela sentiu Nero começar a afagar sua coxa, deu outra mordida
e lambeu um pouco de molho de tomate do lábio.
Nero deslizou a mão para cima, sob a mesa, e o coração de Elle disparou.
Achava erótico estar comendo sua pizza enquanto Nero continuava acariciando
sua coxa sem ninguém saber. Depois de ter comido tudo e até lambido os dedos,
Nero deu à recompensa um toque especial ao roçar de leve a região entre suas
pernas.
Quando não havia nem mais um pedaço, Elle saiu do transe.
O que está acontecendo comigo?
Chloe se sentou no lindo gazebo branco no meio do que provavelmente
era um jardim com luzes brancas em volta. Achava o quintal mais bonito que o
interior, e isso não era pouco.
Havia nevado um pouco, e o chão estava branco como ela nunca tinha visto
na vida.
O espaço era enorme para Kansas City. Dava para imaginar como era
durante a primavera. Ela desejou poder ver.
O gazebo tinha um banco de ferro, duas cadeiras e uma mesinha, todos
juntos. Felizmente, ainda não tinham sido cobertos de neve por causa do
telhado. Ela escolheu sentar-se no banco por estar no meio, com vista para todo
o quintal.
Sentia uma paz repentina ali. Eu viveria aqui se pudesse.
Tecnicamente, Chloe queria morar em qualquer lugar que não fosse sua casa.
Foi por isso que se candidatou a praticamente todas as faculdades do país. Ela só
tinha alguns meses pela frente, depois iria para o mais longe que pudesse.
Estava feliz por ter decidido fugir, fazendo o que sempre fez. Chloe sempre
fugia quando tinha de ir a um evento com o pai, ou se pessoas importantes iam
visitá-la. Estava sempre disponível para ser vista, para compor a cena da família
perfeita. Mal sabia a cidade quanto isso era uma fraude.
Chloe olhou para a casa, para dentro dela, e viu todos eles sentados ao redor
da mesa, rindo e comendo pizza. Eu não pertenço a lugar nenhum.
Tinha problemas para se encaixar. Cada vez que conhecia uma pessoa nova,
sentia que ela olhava apenas para suas cicatrizes. Tinha perdido toda a confiança
em si mesma depois dessas marcas. Antes delas, era extrovertida e livre. Agora,
mal conseguia falar com ninguém, só respondia o mínimo.
A única pessoa com quem posso ser eu mesma é Elle.
Perto de Elle, ela se sentia segura, e a velha Chloe podia aparecer. No
entanto, uma vez que alguém se aproximava delas, ela se retraía. Recentemente,
no entanto, conseguia conviver com Nero, Amo, Vincent, Leo e, agora, Maria.
Um pouco. Não entendia como, porque, honestamente, as pessoas a assustavam,
e ela tinha um bom motivo para isso.
Chloe continuou a observá-los. Eu acho que eles nem sabem que saí. Seu
coração estava vazio por muito tempo, querendo encontrar um lugar seguro ao
qual pudesse pertencer.
— Oi, querida — uma voz profunda soou atrás dela.
Chloe pulou, assustada. Um segundo depois, um homem apareceu do outro
lado do gazebo. Ele era terrivelmente bonito, e a assustava muito,
independentemente da beleza. Ela achava que não deveria existir um homem tão
bonito, nem tão assustador.
Não moveu um músculo, completamente congelada no mesmo lugar.
Ele continuou caminhando em direção à entrada do gazebo e subiu a escada.
— Eu não queria te assustar.
Ela não tinha ideia de como não o tinha ouvido. Não sabia nem de onde ele
tinha vindo.
Chloe o viu inclinar-se sobre um pilar, bloqueando a saída. Depois que todos
os fios de cabelo ficaram de pé em seu corpo com aquele olhar, Chloe abaixou a
cabeça e começou a retorcer as mãos.
— Eu sou irmão do Nero, Lucca. Eu apertaria sua mão, mas você não ia
querer. — Chloe olhou para ele rapidamente antes de olhar para baixo
novamente. Como ele sabia disso? Lucca leu seus olhos. — Ouvi dizer que você
tem fobia de germes.
Ela o olhou novamente.
Ouviu dizer? Agora estava ficando realmente assustada.
Tentou decidir se devia mesmo ter medo e tentar fugir. Sim, eu deveria.
No entanto, Lucca estava bloqueando a única saída, e não se aproximaria
dele.
Viu que ele se moveu. Consequentemente, teve de olhar para ele de novo,
infelizmente. Prendeu a respiração quando ele colocou a mão no bolso para
pegar alguma coisa. Quando viu um maço de cigarros, ela voltou a respirar.
Continuou a observá-lo tirar um cigarro e segurá-lo entre os lábios enquanto
colocava o maço de volta no bolso. Depois pegou o isqueiro do outro bolso.
Chloe pensou que teria um ataque cardíaco se ele enfiasse a mão no bolso
novamente.
Lucca abriu seu isqueiro e acendeu o cigarro.
— Você não se importa, não é?
Balançou a cabeça lentamente. Gostaria de parar de olhar para ele, mas estava
com muito medo. Dava para ver que ele era irmão de Nero, sem dúvida; ambos
exalavam confiança e sexo. E eram muito parecidos.
Lucca tinha a mesma cor de pele, mas ela não conseguia dizer se o cabelo era
preto ou castanho. Como os olhos; não sabia se eram azuis ou verdes. Podia jurar
que eram de uma cor, mas a luz mudava, e eles mudavam de cor, e ela mudava
de ideia. Lucca, entretanto, era um bilhão de vezes mais assustador e um milhão
de vezes mais bonito que Nero. Ela percebeu que tinha a ver com a diferença de
idade.
Mas uma coisa em que eram muito diferentes era a maneira como se vestiam.
Nero usava apenas camisas de botão e calça social, enquanto Lucca vestia um
moletom preto e jeans escuros baixos.
Ela não estava acostumada a ver cabelos compridos como os dele. Eram
penteados para trás, mas cobriam a nuca. Ele claramente não se importava se não
os tivesse aparados e arrumados, assim como não ligava para a barba por fazer.
Todos com quem ela convivia estavam sempre impecáveis, fazendo com que sua
aparência de bad boy sugerisse alguma coisa como “não me aborrece, ou mato
sua árvore genealógica inteira”. Não acho que importa o que ele veste; ele seria
assim de qualquer maneira.
— Você não está com um pouco de frio aqui, querida? — Sua voz também
exalava tanta confiança quanto a de Nero.
Ela se sentiu desconfortável com ele a chamando assim. Se eu disser meu
nome, ele vai parar.
— M... meu nome é Chloe.
Ela o viu sorrir e dar uma tragada, segurando o cigarro entre o polegar e o
indicador. Depois ele soprou a fumaça.
— É a filha do prefeito, não é?
Chloe assentiu suavemente. Tinha consciência de que praticamente todos
sabiam que ela era a filha única do prefeito. Certo?
— Você sofreu aquele acidente de carro alguns anos atrás. Lembro de ter lido
sobre isso nos jornais. É assim que explica as cicatrizes para todo mundo? —
Lucca bateu as cinzas na neve sem desviar os olhos dela.
Chloe engoliu em seco e olhou novamente para as mãos.
— Foi assim que elas surgiram.
— Não, não foi. Eu reconheço um corte de faca quando vejo um.
Ela voltou a olhar para ele. Como ele sabia?
— Eu... não sei do que você está falando.
Lucca jogou o cigarro no quintal.
— Sim, você sabe.
Um calafrio correu por suas costas, e ela endireitou os ombros, incapaz de
continuar perto dele por mais tempo e incomodada com o rumo que a conversa
tomava.
Deu um passo à frente, esperando que ele se movesse. O corpo musculoso
bloqueava a passagem. Não queria saber quantas horas ele passava na academia;
podia ver os músculos embaixo do moletom grosso e escuro. Ele continuou onde
estava, e ela deu mais um passo. Por favor, sai daí, sai daí.
Estava agora a apenas alguns passos de distância, e recusava-se a ir adiante.
— Vo... você pode me dar licença? — Suas pernas começaram a tremer
quando ele enfiou a mão no bolso de novo. Os saltos prejudicavam seu
equilíbrio.
Lucca pegou outro cigarro, abriu o isqueiro e o acendeu lentamente, sem
tirar os olhos dela. Soprou a fumaça, que envolveu seu corpo. Em vez de colocar
o isqueiro de volta no bolso, ele acendeu novamente o Zippo prata. Lucca fez
um de seus truques, rolando o Zippo aceso entre os dedos.
— Eu dou, se você me disser quantos anos tem.
Espera, o quê?
Chloe ficou em transe, olhando para a chama se movendo entre os dedos
dele. Não sabia como ele não se queimava.
Respondeu sem pensar e devolveu a pergunta, cativada pelo brilho.
— Dezessete. E você?
Lucca de repente fechou o isqueiro.
— Vinte e seis.
Pela cara dele, não estava muito feliz com sua resposta.
Vinte e seis. Ela não tinha ideia de por que perguntou quantos anos ele
tinha.
Depois que o viu se mover ligeiramente para deixá-la passar, ela desejou ter
mais espaço.
Chloe se aproximou lentamente e virou o corpo de lado, mantendo os olhos
nele, com medo de que se movesse quando ela estivesse se movendo. Prendeu a
respiração enquanto começava a andar com cuidado. O rosto estava na altura do
meio de seu peito, mesmo de salto alto, e os ombros dele estavam logo acima de
sua cabeça.
Quando conseguiu passar com sucesso, apesar de haver apenas alguns
centímetros de distância, Chloe começou a andar o mais depressa que podia,
tentando não correr de volta para a casa.
A voz de Lucca ecoou pelo pátio.
— Você não pode fugir da verdade para sempre, querida.
Chloe moveu os pés ainda mais depressa.
Sim, eu posso. Faço isso há anos.
Nero esperou até os amigos irem embora para chamar a irmã e pedir
que deixasse Elle escolher em seu armário uma roupa para ir à escola no dia
seguinte. Ele teve sorte, pois Chloe disse a elas para ficarem à vontade, porque
também estava indo embora.
Viu Elle sair correndo da sala de estar com sua irmã, adorando ver como
ficava vestida com sua camisa. Nero tinha conseguido reconquistá-la, e a vira
ofegando e gemendo embaixo dele. Eu amo o som da derrota.
No entanto, ainda não conseguia entender por que não a tinha comido ali
mesmo. Ela estava quente e pronta, mas, mesmo assim, negara ao corpo a
satisfação de tê-la. Que diabo está acontecendo comigo?
Não sabia se transar com ela muito cedo a influenciaria e faria pensar que era
como todas as outras garotas que ele teve, ou se transar com ela antes de Elle
saber a verdade o incomodava. Apesar de tudo, Nero tinha experimentado a
entrada e estava pronto para o cardápio completo.
Preciso agradecer ao Lucca. Mas ele se lembrou dela deitada e indefesa, e
mudou de ideia. Entendia por que Lucca tinha feito aquelas coisas. Havia feito
um teste com o universitário na lanchonete para ver se ele incomodava Nero.
Depois os separou, porque Lucca os estava seguindo e sabia que não poderia se
aproximar dela com Nero constantemente por perto, o que levou ao sequestro.
Foi um teste, porque Nero não deveria ter se importado com o que acontecia
com ela. A morte de Elle teria sido a melhor coisa para sua família, mas, em vez
disso, lutou pela vida dela, mostrando suas cartas a Lucca – seu irmão e seu
subchefe. Isso podia ter acabado muito mal para Elle e ele. Ainda pode, se Lucca
contar ao meu pai.
Não acreditava que o irmão contaria. Queria ganhar alguma coisa com essa
história toda, e Nero precisava descobrir exatamente o que era.
Ele viu Chloe vestir o casaco e se aproximou dela.
— Posso falar com você? Preciso te mostrar uma coisa.
— Hum, sim — concordou, ansiosa.
Antes mesmo de perguntar, sabia que ela não ficaria confortável com o que
eles conversariam.
Nero pegou a jaqueta que estava pendurada ao lado do casaco de Chloe.
— Vamos andar lá fora.
Caminhou em direção à porta dos fundos, por onde ela havia saído antes.
Abriu a porta para ela e viu que estava nervosa.
— Por favor, é sobre a Elle.
Chloe saiu, hesitante, e ele fechou a porta.
Começou a andar e foi recebido pelas maravilhas do inverno.
— Minha mãe passou meses fazendo o paisagismo deste quintal. Quando
finalmente terminou, ela passava praticamente o dia inteiro aqui. — Nero parou
para sorrir. — Ainda me lembro dela chorando quando esfriava e todas as flores
morriam.
— É lindo — Chloe sussurrou.
Nero continuou caminhando pelo enorme quintal, indo em direção ao
mirante.
— É, sim. Minha mãe estava sempre olhando para a porta dos fundos,
morrendo de vontade de escapar.
Chloe olhou para ele.
— Desculpa, não consegui evitar.
Nero riu.
— Tudo bem. Fico feliz por alguém ter gostado de novo.
— Eu gostaria de ver isso na primavera — Chloe confessou.
Nero subiu a escada e sentou na cadeira, e viu Chloe se sentar no meio do
banco. Ele a viu olhar para o quintal e notou o brilho em seus olhos.
— Infelizmente, não é mais a mesma coisa. Agora que ela faleceu, não é mais
igual, a maioria das flores não volta mais.
Chloe olhou para ele, e o brilho havia sumido.
— Meus pêsames.
Nero acenou com a cabeça, agradecendo. Era hora de passar para o porquê
ele precisava falar com ela, no entanto.
— Você sabe que eu gosto da Elle, certo?
Ela assentiu.
— Sim, eu sei.
— Então sabe que preciso saber se já tocou nela.
Chloe começou a torcer as mãos.
— Por... por que não pode perguntar a Elle?
Nero balançou a cabeça. Ela não vai me dizer, porra.
— Ela não vai me dizer.
— Eu... eu também não quero contar.
Nero respirou fundo.
— Achei que você fosse dizer isso.
Nero ergueu a mão, e eles ouviram a porta dos fundos da casa se abrir. Chloe
os viu aparecer. Nero sabia que ela estava pensando em fugir. Um momento
depois, no entanto, Amo e Vincent se juntaram a eles no gazebo.
Amo e Vincent sentaram um de cada lado dela, enquanto Chloe torcia as
mãos e tentava ficar o menor que podia. Os dois mantinham alguma distância
do corpo dela.
Vincent deu um livro a Chloe. Ela engoliu em seco quando o pegou, e o
abriu na primeira página.
Nero a viu virar as páginas. Era evidente que nunca tinha visto aquilo antes,
não sabia que Elle tinha feito o álbum. Ele estudou seu rosto cuidadosamente
enquanto novas fotos iam aparecendo.
Quando ela estava na última página e não havia mais nada para ver, ele falou:
— Agora me mostre as fotos e me diga como ela conseguiu todas as marcas.
Os olhos de Chloe percorreram os meninos.
— Não posso. Vocês todos... não vão me machucar.
Nero alisou o cabelo para trás, sem saber o que fazer. Esperava que ela
contasse tudo quando se visse cercada por eles. Ela desmascarava seu blefe, no
entanto. E eu não quero ter que...
— Acho que ela precisa ser convencida, irmão.
Ele ouviu a voz de Lucca atrás do gazebo e o viu se aproximar.
Nero olhou para Chloe e a viu agarrar o álbum de fotos. Enquanto Lucca se
aproximava, ela o olhou e engoliu em seco. Então ele colocou delicadamente as
mãos sobre o livro aberto e começou a puxar. Chloe o soltou, deixando-o
escorregar de suas mãos.
— Obrigado, meu bem. — Lucca colocou o livro sobre a mesinha preta de
ferro, destinada para chá gelado e cerveja. Depois pegou a mesa e a colocou bem
na frente dela, fazendo-a pular com o barulho.
Nero viu o irmão empurrar a cadeira para perto da mesa. Ele também se
levantou, puxando a dele para mais perto. Tinha a sensação de que os dois já
haviam se conhecido. Quando foi isso?
Olhou para Amo, que estava com as mãos fechadas, visivelmente contrariado
com a chegada de Lucca. Nero deixou seus pensamentos de lado; ele não estava
ali para isso. Olhou para o livro diante deles, ainda na última página.
Lucca pegou um cigarro.
— Vamos começar de novo. — Ele acendeu o cigarro. — Diga a ele tudo
que você sabe. — E fechou o isqueiro.
Chloe viu a fumaça envolver seu rosto e olhou para o livro.
— Eu... eu... eu...
Nero interferiu:
— Vamos começar devagar. O que ela dizia aos pais quando voltava para
casa com hematomas, arranhões e ossos quebrados?
Chloe tentou começar:
— No início...
Lucca acendeu o isqueiro, movendo-o entre os dedos.
Chloe respirou fundo, olhando para a chama.
— No início, ela fez o possível para esconder usando muitas roupas. Ela me
disse que revelaria uma marca diferente de cada vez para fingir que tinha
acontecido uma por dia. — Chloe apertou as mãos com força. — Então, quando
as coisas pioraram, ela mentiu e disse que tinha entrado no futebol. Deu certo,
eles quase não saíam de casa, seu pai ainda estava se recuperando. Isso tornou
tudo mais fácil para ela. Eles não se preocuparam com os detalhes, de tão
envolvidos com o acidente que estavam. No fim, acho que se acostumaram com
ela se machucando, já que fingia ser muito desajeitada, e ela pôde parar de dizer
aos pais que jogava futebol, e eles simplesmente acreditaram que Elle é propensa
a acidentes.
Nero apertou a ponte do nariz. Isso era apenas o começo.
Ele notou que Chloe estava meio hipnotizada, olhando fixamente para a
chama na mão de Lucca. Ela examinava as fotos, explicando o que tinha
acontecido e quem tinha feito aquilo. Seu corpo estava imóvel como o dela, a
mente ocupada com assimilar todas as informações, tomando cuidado para não
perder nenhum detalhe. Tinha ouvido sobre o primeiro semestre do último ano,
segundo e terceiro anos. Quando ela chegou ao primeiro ano, contou sobre
como Sebastian tinha batido com a porra de um livro na cara e no braço de Elle.
Chloe virou a página, chegando à primeira foto dela e Chloe juntas. Não
havia nenhuma marca visível; no entanto, era a imagem em que o cabelo de Elle
estava mais curto e as cicatrizes de Chloe, mais recentes. Chloe não disse nada
sobre a foto.
Nero viu o rosto dela ser tomado pela tristeza. Havia algo que ela omitia.
Ele enfiou a mão no bolso e tirou uma foto da carteira.
— Achei isso aqui atrás daquela foto.
Chloe viu Nero jogar uma foto de Elle em cima da outra. Ela começou a
balançar a cabeça.
— Eu... eu... n... não quero...
Nero se inclinou para frente e apoiou os cotovelos nos joelhos.
— Fala.
— Não posso. Você vai me odiar. — Chloe não conseguia parar de mexer
nas mãos.
— Talvez seja demais para ela — disse Amo.
Lucca fechou o isqueiro com um estalo forte.
— Ela está bem.
Nero olhou para Amo, incapaz de esconder o que sentia por forçar Chloe a ir
longe demais. Talvez devesse deixá-la parar e se contentar com tudo que tinha
descoberto.
Não.
— Fala. — Dessa vez, seu tom era um pouco mais duro.
Lucca acendeu o isqueiro de novo. Ele o movia entre os dedos, acendendo e
apagando a chama com um dedo diferente a cada truque que fazia.
Chloe moveu a foto para olhar a que estava embaixo novamente. Ela voltou
àquela espécie de transe.
— Cassandra começou a falar comigo logo que as aulas começaram. Ela era
popular, e eu só queria me encaixar. Ela começou a dizer coisas maldosas para as
pessoas, e eu só ficava lá, sentada, e ouvia o que ela dizia. Eu me sentia mal e
queria falar alguma coisa, mas não falava, porque tive medo de ela começar a
mexer comigo. — Chloe respirou fundo. — Um dia, estávamos no vestiário, e
ela me deu uma tesoura. Ela falou alguma coisa para Elle sobre o pai dela e, pela
primeira vez, ouvi alguém responder. Elle começou a se afastar quando
Cassandra, Stacy e Stephanie a jogaram no chão, imobilizaram e bateram com a
cabeça dela no concreto. Quando Cassandra me pediu para trazer a tesoura, eu
não queria, mas Cassandra me perguntou se eu queria acabar igual a ela, então
entreguei a tesoura. Ela sentia inveja do cabelo de Elle e o cortou. Foi nesse dia
que Elle e eu nos conhecemos.
Nero respirou fundo. Estava desapontado com Chloe, mas entendia a pressão
do ensino médio. Sabia que havia um motivo para Elle ter cabelo curto depois
de tantos anos sem cortá-lo, mas isso não explicava a imagem de Elle espancada e
desfigurada.
— O que aconteceu com ela, Chloe?
— Ca... Cassandra, Stacy e Stephanie queriam fumar atrás da escola com
Sebastian na hora do almoço. Nós... encontramos Elle no caminho, e Cassandra
contou para ele que ela a tinha enfrentado no vestiário. Sebastian arrastou Elle
para fora e todos começaram a chutá-la e espancá-la. — Chloe cravava as unhas
na palma das mãos.
Nero começou a ficar enjoado. Percebeu que Amo e Vincent também
estavam passando por momentos difíceis. E sabia que não era tudo, no entanto.
Havia algo que ela não queria contar.
— Termine a história.
Chloe continuou falando.
— Eu... eu estava com medo e só fiquei parada. Quando terminaram, eles
começaram a se afastar, mas Sebastian percebeu que eu não tinha participado.
Ele me disse... Ele me disse que era melhor eu chutá-la. — Desviou os olhos da
chama e olhou para a foto. — Eles tiraram uma foto e deram a ela mais tarde
como um lembrete. Quando me aproximei dela e a vi daquele jeito, não
consegui. Elle viu que eu não ia conseguir, e murmurou para eu chutá-la, e disse
que não sentia mais dor. — Chloe olhou para Nero. — Eu a chutei com força
suficiente para satisfazer Sebastian e convencê-los a irem embora. Quando olhei
em seus olhos, ela me implorou para ir com eles, e eu fui. Não sei por que ela se
importou com o que eles fariam comigo se eu não fizesse aquilo, porque não me
preocupei com ela o suficiente para defendê-la.
Nero respirou profundamente, incapaz de olhar para ela por mais tempo.
Odiava o que ela tinha feito para Elle, mas sabia que Chloe já tinha sofrido. E
compreendeu que o sofrimento dela foi o que as uniu, mas essa era uma história
que Chloe não conseguiria contar.
Viu Lucca pegar o livro e folhear as páginas. Lucca olhou para Chloe.
— Como é que você nunca se machucou?
— O... o quê? — Chloe olhou para ele.
Lucca fechou o livro com força.
— Por que eles só machucaram Elle?
Chloe mordeu o lábio.
— Ela nunca deixou que encostassem em mim. Se... se tentavam, Elle fazia
alguma coisa para que eles batessem nela.
— Chega. Pode ir. — Nero se levantou e deu as costas para ela, caminhando
até a grade do gazebo para se apoiar nela. Ela trabalha para poder ir para a escola
e ser espancada, só para Chloe não se machucar.
Enquanto Chloe se levantava e saía do gazebo, Nero estava prestes a
enlouquecer. Descobriu o que queria saber. Sebastian tinha feito coisas horríveis
com ela durante anos. Ele vai morrer, porra. Cassandra e todo mundo que tinha
testemunhado ou feito alguma coisa contra ela também teriam o que mereciam,
mas agora Sebastian era sua prioridade. Estou fazendo um esforço tremendo para
não ir atrás dele agora.
Quando Chloe foi embora, Nero se virou e viu a mesma batalha nos olhos de
Amo e Vincent.
Vincent ficou em pé.
— Como ela ainda está inteira ou viva? Por favor, me diz que a gente vai
começar agora.
As mãos de Nero queriam retaliação, mas a mente hesitava.
— Vão para casa. Eu ligo para vocês se decidir fazer alguma coisa.
Vincent assentiu antes de desaparecer.
Nero viu Amo levantar. Era evidente que queria dizer alguma coisa, mas
encarou Lucca por alguns instantes, depois foi embora, finalmente.
— O que vai fazer, irmão?
Olhou para Lucca. Nunca era capaz de descobrir o que se passava em sua
mente. Seu irmão nunca gostou muito de palavras, nem se importou realmente
com nada em sua vida. Mas, esta noite, ele tinha visto algo diferente.
Nero sentou novamente na mesma cadeira.
— O que você acha?
Lucca acendeu o isqueiro e olhou para a chama.
— Acho que matar é fácil demais.
Elle se sentou na cama de Nero, se perguntando o que tinha acontecido.
Tudo parecia bem, a noite tinha sido ótima, então Nero disse a ela para subir
com Maria.
As duas realmente se divertiram. Ela tentou seguir todos os conselhos de
Maria e ganhou várias roupas. Bem, aquelas que não eram muito femininas.
Maria gostava muito de flores e cor-de-rosa para o gosto de Elle, mas tinha
algumas coisas que comprou quando passou por uma fase. Elle não queria
aceitar, mas Maria insistiu, dizendo que as doaria de qualquer maneira. Depois
de olhar para o enorme closet lotado de Maria, Elle não se sentiu muito mal.
Quando Nero entrou no quarto de Maria, seu rosto era mais assustador do
que ela jamais tinha visto. Tudo o que ele disse a Elle foi: “Meu quarto, agora”.
Ela podia sentir a fúria irradiando do corpo dele quando sentou na cama, e
ele entrou no banheiro da suíte.
Agora, ali estava ela, confusa e preocupada, sentada na cama dele, ouvindo o
barulho do chuveiro. Depois de um tempo, decidiu usar esse tempo para ligar
para o chefe e explicar por que não tinha ido trabalhar, esperando que isso a
distraísse. Quando a ligação terminou, ela pensou que Nero devia ter percebido
há quanto tempo estava demorando no banho, e logo o barulho de água cessou.
Elle estava roendo as unhas, esperando que a porta se abrisse, e quando ele
finalmente apareceu, seu coração parou. Nero saiu do banheiro ainda todo
molhado. Ela nunca o tinha visto senão em roupas sociais, e agora ele usava
apenas uma toalha baixa em volta dos quadris.
Ela observou seu corpo perfeitamente tonificado se mover na direção da
cômoda. Tipo, perfeito. Dava para ver todos os músculos sob a pele de Nero. Não
eram volumosos; seu corpo era esguio e definido. Tudo era definido: braços,
peito e abdômen... Elle acompanhou uma gota d’água descendo por sua barriga,
escorrendo pela pele bronzeada até a toalha a absorver logo acima do...
Elle virou a cabeça de repente.
— Não se veste aqui! — Ela tinha visto a toalha começar a cair.
— Olha para o outro lado, então.
— Estou olhando — debochou. Ela cruzou os braços e manteve a cabeça
virada, mas virou lentamente o rosto para enxergar com o canto do olho.
Quando viu a bunda dele, olhou rapidamente para o outro lado, lambendo os
lábios e tentando não pensar em como era maravilhosa.
Elle sentiu uma brisa sob as cobertas, virou a cabeça e viu Nero se metendo
sob os lençóis vestindo uma cueca boxer escura. Ela tentou se levantar para sair
da cama. É claro que Nero está pronto para ir para a cama.
Nero agarrou a mão dela.
— Onde pensa que vai?
— Hum, pensei em ir dormir com a Maria.
Nero a puxou para perto dele, prendendo a parte superior de seu corpo sob o
dele.
— Não vai, não.
Como ele sempre faz isso? Elle não tinha ideia de como Nero sempre conseguia
moldar seu corpo como massinha, do jeito que queria.
Elle tentou empurrar seu peito nu.
— Nero, não vou dormir com você.
— Vai, sim.
O corpo de Elle a traiu novamente, cedendo à exigência de Nero, embora
nunca tivesse dormido ao lado de um menino antes. Ela se lembrou de que ele
tinha dado a ela seu primeiro orgasmo, portanto dormir estava um degrau
abaixo. Certo?
— Então pode trocar de roupa, por favor?
— Eu geralmente durmo nu. Prefere assim? — Nero zombou.
Elle respondeu rapidamente:
— Não.
Tentou se acomodar em Nero e na cama. A raiva havia diminuído, mas ela
ainda podia perceber que estava bravo, o que a impedia de relaxar. Minutos se
passaram com eles ali deitados em silêncio, antes que Elle começasse a realmente
se preocupar.
— Fiz alguma coisa errada? — sussurrou.
Nero respirou fundo e a puxou para mais perto.
— Não, baby, você não fez nada de errado.
Elle respirou fundo e se aninhou a ele, conseguindo finalmente desfrutar o
calor e a sensação de seu corpo, sentindo-se derreter. Seja lá o que o estivesse
incomodando, ele não queria falar sobre isso, e ela não insistiu.
— Eu tive uma noite ótima, obrigada. — Ela nem agradeceu por Nero ter
salvado sua vida.
Nero começou a mover os dedos para cima e para baixo nas costas dela.
— Não precisa agradecer. Estou feliz por ter se divertido.
— Muito. Gostei da sua irmã, com abraços e tudo. — Estava sendo sincera.
Era revigorante conhecer uma garota rica e linda que não era má com ela.
Nero riu.
— Sabia que ia gostar.
Agora que Nero estava mais tranquilo, achou que poderia pedir um favor.
— Gostei especialmente do armário dela. Ela me deu algumas roupas que ia
doar, então seu armário está ficando muito vazio.
Nero deu uma risadinha.
— Sei. E qual é o seu ponto?
Elle realmente esperava que isso desse certo para a nova amiga.
— Bem, pensei que Chloe e eu poderíamos ir fazer compras com Maria.
— Entendi. Ela te meteu nisso?
Elle suspirou.
— Nero, ela está morrendo de vontade de conviver com garotas, não com os
irmãos. Vocês não têm que cuidar dela vinte e quatro horas por dia, sete dias por
semana. Ela é adulta. — Elle não entendeu por que, pelo que Maria contou, ela
nunca era deixada sozinha. Alguém sempre cuidava dela e, francamente, isso não
fazia sentido.
Nero não disse nada por alguns momentos.
— Podem ir, com uma condição.
Elle não gostava nada disso.
— Ok…?
— Vai me deixar comprar roupas para você, e não vai ser na porra de um
brechó beneficente ou de qualquer outro lugar onde se compre roupas usadas.
Roupas novas de onde quer que minha irmã compre as dela.
— Não há nada de errado em comprar roupas do brechó da Boa Vontade.
— Elle sempre era julgada por comprar roupas em brechós, mas o fato era que se
podia conseguir roupas pouco usadas por um preço baixo e, na maioria das
vezes, as marcas vendiam roupas novas com cara de velhas por um preço
absurdo, quando se é possível comprar as usadas de verdade no brechó por quase
nada. Ela devia saber que Nero a julgaria. Tipo, olha para essa casa.
Tentou empurrar Nero, mas ele se manteve firme.
Nero a puxou de volta contra o corpo.
— Não foi isso que eu quis dizer, baby. Não me importo se usa roupas
velhas, mas acho que devia ter algumas novas também. Você merece roupas que
foram só suas. Também não há nada de errado em comprar roupas novas.
Droga. Nero virou a história completamente contra ela. Sem mencionar que
essa era a coisa mais doce que ele tinha dito, possivelmente.
Elle beijou seu peito.
— Tudo bem.
Nero beijou o topo de sua cabeça e estendeu a mão para a mesinha de
cabeceira para desligar o abajur.
Pela primeira vez, Elle estava em paz, não tinha de pensar em como ia
sobreviver a outro dia na Legacy Prep. Ela se sentia segura, e logo começou a
adormecer.
— Ah, e esqueci de mencionar; você tem que gastar a mesma quantia que
Maria.

Três semanas depois

Elle começou a colar no cartaz os pedaços de papel preenchidos com


suas palavras. Não conseguia parar de sorrir, pensando nas últimas semanas com
Nero. Desde a noite em que dormiu na casa dele, sua vida mudou
completamente. Honestamente, não sabia nem por onde começar.
Maria havia se tornado outra boa amiga para ela e Chloe. As três se deram
bem desde o dia em que foram fazer compras pela primeira vez e, sim, Nero a fez
gastar a mesma quantia que Maria gastou, porque estava lá. Nero, Amo e
Vincent as buscaram, mas ficaram afastados, só de olho nelas. Elle não entendia
por que havia monitoramento constante de Maria, mas quando a via jogar o
cabelo dourado para trás do ombro, começou a entender.
Essa não foi a única vez em que Nero gastou dinheiro com ela. Um dia
depois de se reconciliarem, Nero disse à merendeira para botar o almoço de Elle
na conta dele. Elle tentou protestar, mas a mulher a serviu antes que ela pudesse
dizer uma palavra. Achou estranho que a funcionária não tivesse alguma coisa a
dizer sobre isso, considerando que foi ela quem jogou fora sua bandeja. No dia
seguinte, Elle pensou que seria inteligente e não comeria nada, mas não deu
certo porque Nero colocou uma bandeja na frente dela.
Elle queria que ele tivesse parado por aí. Entretanto, quando foi à secretaria
pagar sua parte da mensalidade, como havia estabelecido no plano de
pagamento, o pagamento já havia sido feito. Quando ela confrontou Nero sobre
isso, ele fez o que estava fazendo, dizendo que ela merecia tudo. Depois a beijou
para fazê-la ceder. Finalmente, ele fez seu último pedido.
Pediu para ela reduzir seus turnos, já que podia ficar com o dinheiro. Mais
uma vez, ela protestou, mas Nero encontrou uma maneira de persuadi-la,
dizendo que eles poderiam passar esse tempo juntos, assistindo a todos os filmes
que ela quisesse. No entanto, Nero não via muita coisa, e Elle mal conseguia
prestar atenção.
Por último, Elle e Chloe não eram mais alvos constantes. Todos que já as
tinham atacado não mais falavam, olhavam ou chegavam perto delas.
Elle ergueu os olhos de seu cartaz e viu Stacy e Stephanie limpando e
enxugando os olhos. Ultimamente, Elle tinha notado que elas usavam muito
reboco no rosto e estavam de óculos escuros, e isso era o suficiente para tornar
tudo muito incomum. Mesmo assim, todo mundo dizia que havia um vírus
circulando. Elle olhou para os olhos escuros e meio inchados das duas. Espero
não pegar nada.
Elle conseguiu colar a peça final antes de o sinal tocar.
Nero esperou até que todos saíssem e a fez sentar em seu colo.
— O que vai fazer hoje à noite?
Ela colocou os braços em volta de seu pescoço.
— Algo me diz que você fez planos para mim.
Nero riu.
— Talvez.
— E aí, vai me contar?
— Não, é surpresa. — Ele colocou as mãos no cabelo de Elle e puxou seu
rosto contra o dele para beijá-la.
Elle o beijou de volta, movendo a língua para acompanhar o contorno de sua
boca. Sua fome chegava a novos níveis. Nero não tinha feito um grande
movimento com ela desde aquela noite, três semanas atrás, quando deu a ela
aquele orgasmo, o primeiro. Ele ainda a beijava implacavelmente e a tocava sobre
as roupas, mas não havia tentado nada como naquela noite.
No início, Elle ficou grata, mas a cada dia seu corpo queimava mais e ansiava
por algum movimento de Nero, qualquer coisa. Não entendia por que ele não
tentava algo, já que havia sido persistente no início. Quando as coisas
esquentavam entre os dois, ele parava, a fazendo pensar que havia algo de errado
com ela.
— Vocês dois já acabaram de enfiar a língua na garganta um do outro?
Porque eu gostaria de dar o fora daqui.
Elle rapidamente se afastou e se levantou ao ouvir a voz de Vincent. Nero
suspirou ao se levantar.
— Vou me lembrar disso.
— Tenho certeza de que vai. — Vincent riu.
Elle saiu da sala de aula, tentando não corar quando viu Chloe e Amo
conversando baixinho enquanto tentavam não rir. Elle não podia acreditar que
os dois realmente começavam a se dar bem. Bom, na maior parte do tempo.
Tinha notado que Chloe não conseguia nem olhar para os caras um dia
depois de passar a noite com Nero, mas também não olhou muito para Elle
naquele dia. Percebeu que algo devia ter acontecido na casa naquela noite
porque, a cada dia depois disso, Chloe ficava cada vez mais confortável.
Nero agarrou sua mão, e eles começaram a caminhar para o estacionamento
dos alunos. Quando finalmente chegaram ao BMW de Chloe, ele abriu a porta do
passageiro, e Elle entrou.
— Eu vou te ligar. — Nero a beijou rapidamente antes de fechar a porta.
— Ele sabe?
Elle olhou para o rosto sorridente de Chloe.
— Sabe o quê?
— Que seu aniversário é amanhã — respondeu.
Ela ergueu a sobrancelha.
— Você contou?
A amiga riu.
— Não.
— Então não.
Nero sentou-se no capô do carro, cercado por árvores e uma estrada de
terra. O sol se punha, e ele sabia que aconteceria a qualquer minuto.
Vinte minutos se passaram antes que os faróis iluminassem seus arredores.
Ele ouviu a porta abrir e bater com um estrondo.
Nero foi até o carro, e outro som o recebeu. O som vibrou em sua alma.
Finalmente.
— Pronto, irmão? — Lucca apareceu ao lado dele.
Nero baixou os olhos para as mãos e cerrou os punhos.
— Eu não posso usar minhas mãos.
— Eu imaginei que você diria isso. — Lucca abriu a porta de trás, debruçou
sobre o banco, pegou um taco de madeira e o jogou para o irmão.
Nero caminhou em direção ao porta-malas, e o som ficou mais alto. Ele
agarrou o bastão com as duas mãos.
— Agora estou pronto.
Lucca abriu o porta-malas, e Sebastian, chorando, pediu perdão.
Nero o agarrou pela camisa e o puxou para fora do porta-malas antes de jogá-
lo no chão. Olhou nos olhos suplicantes de Sebastian. Esperava há três semanas
por este momento, planejando tudo com perfeição. Tinha começado a se vingar
do pessoal da escola, todos que fizeram a vida de Elle miserável, depois os que
tocaram nela. E, finalmente, os que a torturaram. Isso fez todos que já haviam
machucado Elle entrarem em pânico, esperando e imaginando se ele iria pegá-
los. Sebastian foi o que esperou por mais tempo, e passou as últimas três semanas
assustado, todos os dias. Desta vez, Nero disse a Amo e Vincent que precisava se
vingar sozinho.
— Você mentiu para mim, Sebastian.
Sebastian tinha chantageado o quarterback para jogar a caixa de leite em Elle.
Depois disso, o rapaz ficou mal, e por isso chamou o time para proteger a mesa
da jovem. Confessou tudo quando Nero iniciou sua primeira rodada de
vinganças.
Sebastian caiu de joelhos.
— P... p... por favor, não...
Nero levantou o bastão e bateu com ele em seu braço. Podia implorar o
quanto quisesse. Ele não deu a mínima quando Elle implorou.
Não tinha pressa, batia com o bastão no corpo de Sebastian e pensava em
cada lugar que ele já havia tocado Elle. O som dos soluços combinado aos sons
de ossos quebrando acalmou sua alma.
Nero se abaixou e agarrou o rosto de Sebastian quase inconsciente. Tomou o
cuidado de quebrar cada centímetro de seu corpo, mas deixou seu rosto
intocado.
— Eu prometi que você ficaria irreconhecível, e eu cumpro minhas
promessas.
Afastou o cabelo do rosto. Enquanto se levantava, ele olhou para Lucca,
encostado no carro fumando um cigarro.
— Eu finalmente vou ter uma chance?
Nero se aproximou dele.
— O que vai fazer com ele quando terminar?
Lucca jogou o cigarro na direção do corpo de Sebastian.
— Pensei em dar uma carona para ele até o hospital.
Nero voltou para o carro, satisfeito em entregá-lo a Lucca. Tinha acabado de
criar uma obra de arte, mas Lucca fazia obras-primas.
Entrou no carro e pegou o celular. Agora que tinha se vingado de todos que
já machucaram Elle, finalmente podia reivindicar o prêmio que agora sentia ser
merecedor.
Dirigiu pela estrada de terra, sorrindo para a luz que tremulava ao longe.

Elle viu Maria segurar um vestido.


Maria balançou a cabeça.
— Não, eu não gosto.
Elle riu.
— Está planejando ir a algum lugar?
Nero ligou e perguntou se ela poderia passar a noite com Maria, dizendo que
parecia precisar de companhia feminina. Elle, é claro, concordou e disse aos pais
que ia para a casa de Chloe, já que o pai não gostaria que ela ficasse na casa de
Nero. Como também era meio de semana, disse que tinham outro trabalho para
entregar – afinal, funcionou bem da primeira vez.
Maria ergueu outro.
— O que você acha?
Elle torceu o nariz.
— É terrivelmente rosa...
Maria colocou de volta.
— Tem razão.
Elle balançou a cabeça, rindo. Viu Maria olhar mais alguns vestidos antes de
parar.
Maria suspirou e resmungou alguma coisa, depois puxou um vestido branco
do fundo do armário.
O queixo de Elle caiu.
— Isso é seu? — O vestido era branco, mas de tecido caro. Mas o que
chocou Elle foi que o vestido era extremamente curto e parecia apertado.
Maria se aproximou dela.
— Experimenta.
Elle negou com a cabeça.
Não vou caber nisso.
— Vamos, Elle. Só quero ver como fica em você. Por favor? — Maria a
olhou com cara de cachorrinho.
— Tudo bem, vou tentar caber nele. — Pegou o vestido.
Maria riu e saiu do closet para fechar a porta.
— Ah, não pode usar sutiã e calcinha com esse vestido.
O quê? Pensei que ia só experimentar. Elle tirou a roupa e, para contentar
Maria, despiu-se completamente. Enfiou as pernas no vestido e o ajeitou,
puxando para cima e encaixando os braços nas alças.
Ela alisou o vestido, percebendo que não era muito curto. Curto o suficiente.
No entanto, em Maria, teria sido uma sorte se cobrisse o traseiro. Elle se
perguntou como ela conseguiu manter o vestido escondido de seus irmãos.
— Ok, pode entrar.
Maria abriu a porta um segundo depois.
— Oh, meu Deus. É perfeito!
Maria correu e pegou a mão de Elle, em seguida a arrastou até sua
penteadeira e a sentou.
Elle viu o brilho em seus olhos. Oh, Senhor.
— O que está fazendo agora?
— Elle, estou morrendo de vontade de arrumar e enfeitar alguém. Só quero
me divertir.
Ela olhou para os olhos de cachorrinho de Maria novamente. Não havia
como dizer não e, por isso, decidiu ser uma Barbie em tamanho real para a moça
brincar.
Ficou sentada na cadeira pelo que pareceram horas, enquanto Maria enrolava
seu cabelo e fazia a maquiagem.
Quando terminou, ela a fez colocar uma sandália branca de tiras e salto alto.
Elle então se levantou para que a mais velha pudesse ver sua criação.
Maria bateu palmas, rindo.
— Ele vai me amar por isso.
— O quê? — Ele quem?
Maria pegou a mão de Elle e a levou para a frente do espelho pela primeira
vez — ela teve o cuidado de não a deixar ver durante o processo — para que
pudesse apreciar o resultado.
Elle engasgou ao ver seu reflexo. Seu cabelo descia em ondas quase
bagunçadas, dando volume ao cabelo.
A maquiagem era ousada, com olhos puxados e brilho labial rosa. Maria não
conseguiu resistir.
Mas o vestido era demais.
O decote redondo revelava o topo de seus seios, bem sustentado pelas alças
grossas. Elle entendia agora por que não podia usar nada por baixo: a peça era
uma segunda pele. Embora o material não fosse transparente, dava para ver os
contornos de qualquer coisa embaixo dele. Ela nunca esteve ou se sentiu tão
bonita em toda sua vida.
— Você está linda, Elle — elogiou Maria.
— Graças a você e ao tempo que gastou para fazer isso. Bem, está na hora.
— Espere, que horas são? — Maria olhou para o relógio. — 11h45! —
Maria agarrou a mão de Elle e a arrastou para o meio de seu quarto. — Espere
aqui. — E desapareceu.
Hum, tudo bem…

Nero abriu a porta do quarto.


— Que porra é essa, Maria?
— Desculpe, Nero. Eu precisava dela para uma coisa — Maria tentou
acalmá-lo.
— Eu disse que era para distraí-la por trinta minutos, não a noite inteira. Só
dissemos que você precisava dela para que ela viesse aqui.
Maria revirou os olhos.
— Sim, sim, sim. Ok, pode me agradecer mais tarde.
— Por quê? Por roubar Elle de mim?
Maria começou a rir:
— Tudo bem, vou sair com Lucca. Elle está no meu quarto. — Maria
começou a andar pelo corredor. — Oh, não fique bravo comigo por causa do
vestido. Na verdade, nunca consegui usá-lo.
— O quê?
Eram 11h45? Elle nem havia percebido que era tão tarde, embora
soubesse que era tarde quando chegou. É, mas, droga, o tempo voou.
Olhou em volta, estudando o quarto de Maria e se perguntando quanto
tempo ela demoraria. Tentava esperar exatamente onde ela disse que devia ficar,
mas estava entediada, até que ouviu a porta do quarto se abrir.
Elle olhou para a porta.
— Final... — Seu queixo caiu quando viu Nero parado na porta. E ele
parecia tão surpreso quanto ela.
Nero começou a se aproximar, e Elle tentou recuar. Achava que ele parecia
um lobo se aproximando da presa, e começou a se sentir desconfortável com sua
vestimenta.
Eu vou matar Maria.
— Hum... o que está fazendo aqui? — Ele estava bem na frente dela.
— Eu moro aqui, lembra?
Certo. Elle se perguntou para onde Nero tinha ido esta noite. Parecia ainda
mais sexy na camisa de botões, que dessa vez era cinza-escuro. A cor destacava os
olhos cor de esmeralda e dava a ele uma aparência mais letal e sexy. Elle lambeu
os lábios, que de repente começavam a ficar secos.
Nero estendeu a mão e segurou a dela, puxando-a para perto.
— Você está linda.
O coração de Elle começou a bater quando ele se inclinou para beijá-la
levemente nos lábios. Quando ele se afastou, começou a puxá-la para fora do
quarto.
— Hum, cadê a Maria?
— Ela foi embora. Mais tarde, me lembra de agradecer e matar minha irmã
por esse vestido.
Foi embora? O coração agora batia acelerado quando Nero caminhou para o
quarto. De repente, sentiu que tudo isso podia ter sido planejado.
Nero sorriu ao abrir a porta do quarto para ela.
Elle olhou para dentro e viu uma pequena mesa e duas cadeiras colocadas
perto da porta da varanda. Ele fez isso por mim?
A mão de Nero tocou a parte inferior de suas costas e a empurrou
suavemente para dentro do quarto antes de fechar a porta. Depois ele a guiou em
direção à mesa e puxou uma cadeira para ela. Elle olhou para o cupcake cor-de-
rosa e para os morangos no prato à sua frente, enquanto Nero se sentava ao seu
lado.
Ele enfiou a mão no bolso e pegou dois objetos. Pôs uma vela branca em
cima do cupcake e a acendeu com um isqueiro.
— Feliz aniversário, Elle.
Ela o encarou, chocada.
— Como você sabia?
Nero deu de ombros.
— Josh me contou.
É claro. Os dois passaram algum tempo juntos, e Nero começou a conquistar
a confiança de Josh, que não era incomodado desde o episódio com os
encrenqueiros naquele dia, no ponto de ônibus.
Elle sorriu enquanto beijava rapidamente os lábios de Nero.
— Obrigada.
Ele sorriu de volta.
— De nada, baby.
Ela olhou para a vela acesa e a soprou rapidamente.
— Você fez um pedido?
Pensou em como sua vida tinha mudado drasticamente em questão de um
mês.
— Sim, mas não vou contar, ou não vai se realizar.
Nero pegou um morango do prato.
— Estou pensando em realizar todos os seus desejos.
— Eu tenho muitos — brincou Elle.
— Acho que você merece. — Sua expressão era séria.
O coração de Elle derreteu. Nunca pensou que Nero pudesse ser doce.
Quando o viu colocar o morango na boca e dar uma mordida, Elle foi pegar
um também, mas Nero empurrou sua mão. Ele mesmo pegou outro morango e
o colocou entre seus lábios.
Elle abriu a boca e deu uma mordida. O gosto era doce e ligeiramente azedo,
e ela não sabia se era o melhor morango que já tinha comido por causa do sabor
ou porque Nero a servia.
Ele pegou um pedaço do cupcake e o aproximou de seus lábios. Elle
começou a sentir uma vibração no peito quando abriu a boca e tocou com os
lábios o pedaço de cupcake e a ponta dos dedos dele.
— Que gosto tem, baby?
Sentiu o corpo esquentar. Lambeu os lábios.
— Delicioso.
Enquanto Nero pegava outro pedaço para pôr em sua boca, Elle o encarou
ao entreabrir os lábios. Desta vez, deslizou os lábios mais para baixo por seus
dedos e chupou o bolinho saboroso. Ela o viu levar os dedos à boca e lamber um
pouquinho do glacê que havia sobrado. Elle queria retribuir o favor.
— Posso te dar um pedaço?
Nero sorriu, satisfeito com sua pergunta.
— Pode.
O coração de Elle batia depressa quando ela pegou um pedaço de cupcake.
Quando o colocou na boca de Nero, seu corpo ficou esperando a reação. Ele
agarrou sua mão, pôs os dedos inteiros na boca e chupou. Ela se arrepiou ao
sentir a boca de Nero.
— Gostou? — perguntou ofegante.
Ele segurou sua mão e chupou o glacê que ainda havia nos dedos.
— Delicioso.
Sentiu a umidade entre suas coxas quando ele espalhou glacê no próprio
dedo e o ofereceu. Não conseguia desviar os olhos dele quando aproximou a
boca de seus dedos e chupou. Ela ficou satisfeita quando os viu limpos.
Quando Nero pegou mais um pouco de cobertura e passou em seu pescoço,
Elle congelou. Ele segurou seu cabelo e a puxou para perto, antes de se inclinar e
lamber a trilha de glacê, chupando seu pescoço de leve.
Ela inclinou a cabeça para o lado para que ele tivesse mais espaço. Sentiu que
começava a beijar seu pescoço e boca. Dessa vez, o beijo não foi leve e rápido; foi
intenso e ávido. Quando recebeu sua língua na boca, ele a segurou pela cintura e
puxou sobre o colo. Ela se viu montada sobre suas pernas, agarrando seus
ombros. Estava tão faminta quanto ele. Não a beijava assim há três semanas.
Sentiu as mãos apertando seu traseiro quando ele se levantou da mesa e a fez
enlaçar sua cintura com as pernas.
Nero a colocou de pé ao lado da cama, as mãos deslizando da cintura
lentamente e subindo até seus ombros, puxando as alças do vestido para baixo.
Ela sentiu o nervosismo contrair seu estômago e recuou para interromper o
beijo.
— Nero...
Ele apoiou a testa na dela.
— Elle, eu tenho esperado por você. Por favor, baby, não consigo esperar
mais.
Podia sentir a necessidade e o sofrimento de Nero, sabia que ele não
aguentava mais. Pensou em como Nero havia planejado tudo isso. Ele queria que
a ocasião fosse especial. Só queria ouvi-lo dizer três palavras. Três palavras que
ela havia sentido quando o encontrou no corredor, um mês atrás. Só havia
demorado para perceber.
Só não queria ser a primeira a dizer, porque tinha medo de que ele fugisse.
Sabia que Nero não a tratava como todas as outras em seu passado, e algo nela
sabia que ele também a amava. Ele havia progredido, mas dizer isso também
seria difícil para ele. Seu coração o amava, e o corpo precisava dele com a mesma
intensidade. Elle queria dar a Nero algo em troca de tudo que ele tinha feito por
ela.
Beijou seu pescoço enquanto tocava os botões de sua camisa; tinha sentido
saudade de tocar aquele peito. Ela o beijava e lambia enquanto continuava
desabotoando a camisa. Quando o despiu, olhava em seus olhos cheios de desejo.
Nero puxou o cabelo dela para trás para se apoderar de sua boca novamente,
e as mãos voltaram ao vestido. Elle achava que o coração ia explodir quando ele a
beijou enquanto puxava o vestido para baixo para expor os seios, o abdômen e a
região entre as pernas. E percebeu sua surpresa.
Nero falou com voz rouca:
— Porra, não imaginei que não tivesse nada por baixo.
Quando voltou a beijá-la, ele tirou rapidamente a calça, que deixou no chão.
Elle viu que Nero era enorme antes de ele a pegar novamente e deitar no
meio da cama. Sem chance.
Tentou empurrar Nero para trás, novamente nervosa.
Nero agarrou suas mãos e as segurou contra a cama, dos dois lados da cabeça.
— Você confia em mim?
Sustentou seu olhar e soube que, por mais que quisesse, não poderia mentir
agora.
— Sim... — sussurrou.
Ela fez o possível para não tremer enquanto Nero se abaixava para beijar seu
pescoço. Ele a beijou com leveza, descendo devagar até que ela sentiu o hálito em
seu mamilo direito, ofegando quando a língua tocou o botão duro e rosado.
Arqueou as costas para chegar mais perto enquanto ele a lambia e chupava.
Apertou as mãos dele com força e sentiu a mordida suave na carne sensível,
deixando-a ainda mais úmida.
— Eu esperei tanto tempo para sentir esse sabor. — Passou para o mamilo
esquerdo, dedicando a ele a mesma atenção.
Ele soltou suas mãos e segurou seus seios, descendo lentamente e deslizando a
boca pela barriga, beijando devagar e com suavidade enquanto os dedos
brincavam com os mamilos.
Quando separou suas coxas, ela brilhava diante dele.
Elle deixou a cabeça cair para trás quando ele a penetrou com a língua e
começou a acariciar aquele botão sensível em um ritmo constante. Em seguida,
quando a boca se apoderou de seu clitóris, ela agarrou seu cabelo.
— Você tem até gosto de morango.
Nero deslizou um dedo pela entrada apertada, e Elle começou a sentir um
pequeno tremor de dor antes de ele a chupar com mais força. Um momento
depois, e ela sentiu outro dedo entrando em seu corpo. Nero começou a mover a
mão, entrando e saindo.
O polegar encontrou seu clitóris.
— Baby, vou fazer o possível para você não sentir dor na primeira vez. Mas
você é muito apertada.
Elle não o entendia, sentia cada centímetro do corpo queimar de prazer.
Precisava de alívio. O quadril se projetava para frente acompanhando o ritmo
dos movimentos, mas Nero parou e voltou a beijar seu corpo, negando aquilo de
que ela precisava.
Choramingou, aflita embaixo dele, quando Nero se moveu para pegar uma
camisinha na gaveta da mesinha de cabeceira; o corpo precisava dele de volta.
Ela sentiu a ponta do membro roçar sua entrada enquanto ele segurava suas
coxas afastadas com firmeza, não querendo que ela se movesse.
Falou, ofegante:
— Nero, por favor. Eu preciso de você. — Tentou levantar o quadril.
Quando ele começou a penetrá-la devagar, avançando um centímetro de cada
vez, não foi rápido o suficiente. Ela gritou, movendo o quadril: — Agora, Nero!
— Porra, baby. — Nero a penetrou mais fundo e encontrou a membrana
fina. Elle gritou quando se rompeu.
Nero rapidamente a beijou na boca, e o polegar voltou à vulva e encontrou o
clitóris, que começou a acariciar.
Elle sentiu a dor diminuir quando o desejo voltou. Ela o enlaçou com as
pernas e apertou suas costas, sentindo Nero começar a se mover bem devagar,
entrando e saindo com cuidado, a deixando louca novamente.
Perdeu a noção do mundo ao seu redor quando Nero aumentou a velocidade
e começou a tirar o pênis cada vez mais, só para penetrá-la mais fundo em
seguida. Elle sentiu a tensão crescer em seu corpo. O quadril acompanhava o
dele, seguindo sua velocidade. Ela o apertou com mais força entre as pernas,
querendo senti-lo mais fundo.
Nero massageou o clitóris com mais força.
— Você quer gozar, baby?
Elle assentiu furiosamente e cravou as unhas em suas costas.
— Sim, eu quero.
Nero roçou a boca na dela, esfregando o botãozinho com habilidade. O
quadril subia e descia vigorosamente, fazendo as bolas baterem em sua bunda.
Elle cravou as unhas com mais força em suas costas quando Nero encontrou
um ponto específico dentro dela, fazendo-a gemer de prazer. Ela o segurou com
força enquanto gozava.
Ele se moveu mais algumas vezes, antes de ela ouvir seus gemidos. Embaixo
dele, sentiu seus espasmos e o acompanhou na explosão, antes de Nero cair sobre
ela, exausto, mas com cuidado para não a esmagar com seu peso.
Respiravam juntos, ofegantes. Quando recuperou o controle, ele rolou para o
lado, tirou o preservativo e o jogou na lata de lixo ao lado da cama.
A respiração de Elle tinha finalmente se acalmado quando ele a puxou para
deitar em seu peito. Ela se aninhou em seu corpo, completamente exausta.
Nero começou a mover os dedos por suas costas, subindo e descendo
lentamente.
— Eu te machuquei?
Ela deu um beijo em seu peito.
— Não, foi perfeito.
— Bom. Da próxima vez, vou te mostrar como é foder de verdade.
Elle se sentou na cama, sorrindo enquanto observava sua bunda
perfeita a caminho do banheiro. Os olhos encontraram a gaveta da mesinha de
cabeceira aberta e a caixa de preservativos lá dentro. Antes de desviar o olhar,
Elle notou uma foto no fundo da gaveta.
Curiosa, puxou o lindo porta-retratos da gaveta. A foto era de quatro
crianças e uma bela mulher. Ela reconheceu a versão infantil de Nero, Maria e
Leo instantaneamente. Aaahhh. O quarto filho que via só podia ser Lucca. Elle
olhou para ele por mais tempo, sentindo como se o tivesse visto em algum lugar,
mas não conseguisse determinar onde. Ele devia ter entrado na lanchonete uma
noite qualquer.
Elle olhou para a bela mulher. Tinha cabelos loiros e grandes olhos verdes.
Sabia que era a mãe de Nero. Cada vez que perguntava sobre sua família, sentia
que ele não queria falar sobre o assunto. Consequentemente, ela não insistiu,
queria dar tempo e espaço para ele falar quando se sentisse pronto.
Elle ouviu a porta do banheiro abrir e se virou. Seus olhos encontraram
Nero, que estava perfeitamente imóvel na porta.
— Nero, ela é linda. — Elle o viu respirar fundo, talvez de alívio, e caminhar
em sua direção. Talvez ele não soubesse como tocar no assunto.
Subiu na cama e a puxou para perto.
— Ela era.
Ela franziu o cenho.
— O que aconteceu?
Ele pensou por um segundo antes de responder.
— Foi assassinada na frente de um mercado quando eu estava na sexta série.
Elle respirou fundo.
— Eu sinto muito. — Sabia que Nero ainda não queria falar sobre isso,
então, não insistia nos detalhes da morte. — Qual era o nome dela?
— Melissa.
Elle acariciou o rosto da mulher através da moldura.
— Bem, ela é linda, e agora eu sei como todos vocês são tão bonitos. — Riu
e então tocou o rosto do jovem, que era o único na foto que não sorria. Não
conseguia imaginar quanto ele era assustador agora. — Até ele.
Nero forçou uma risada ao pegar a moldura da foto e colocá-la na mesinha
de cabeceira, onde deveria estar.
— Sim. Lucca é... o Lucca.
Elle olhou para ele.
— Quando vou conhecê-lo e ao seu pai?
Nero encolheu os ombros.
— Em breve.
Espero que sim. O único sobre quem ela realmente não sabia nada era o pai
dele; nada mesmo. Queria saber uma coisa, pelo menos:
— Qual o nome do seu pai?
— Dante.

Os dois penduraram seus projetos de arte na parede da sala de aula e deram


um passo para trás.
— Nero, é lindo. — Ela olhou para o grande desenho de Kansas City. Estava
surpresa em como ele desenhava bem. E com uma caneta! Também percebeu
como era apaixonado pela cidade. Não podia criticá-lo; ela também era.
Nero a puxou para perto.
— Não é tão bonito quanto o seu.
— Nero, isso é tão fofo. Eu não sabia que você sabia desenhar — Vincent
falou atrás deles.
Amo riu.
— Sim, é lindo para cacete.
— Não dê ouvidos para eles — Chloe interrompeu.
Elle se esticou e colocou os braços em volta do pescoço de Nero.
— Não liga pra eles. Estão com ciúmes. — E beijou sua boca rapidamente.
— Você tem razão, baby. — Nero virou para olhar os pôsteres. — As
meninas adoram... — Ele fez uma pausa. — Elle, você e Chloe podem dar um
minuto para nós? Preciso falar com Amo e Vincent.
Elle olhou para ele com um ar de curiosidade. Nunca entendia os meninos,
mesmo depois de um mês com eles.
— Claro, vamos esperar na parede da fama.
Elle soltou Nero e foi para a porta, mas Vincent estendeu a mão para segurá-
la e beijou sua bochecha. Depois sorriu, malicioso.
— Feliz aniversário, Elle.
— É, feliz aniversário — Amo concordou.
Riu do impulso suicida de Vincent. Ele sempre tentava tirar Nero do sério,
mas todo mundo sabia que eles eram amigos.
— Obrigada.
Olhou para Nero antes de sair, dizendo com o olhar para ele se comportar.
Sabia que algo o estava incomodando, mas ele deu um sorriso tranquilizador
antes que ela saísse para o corredor.
A sala de arte ficava perto da academia e da parede da fama, uma espécie de
estante embutida com troféus e prêmios esportivos acumulados ao longo dos
anos.
— Então, acho que Nero descobriu, certo?
Elle olhou para o rosto sorridente de Chloe.
— Sim, o Josh contou para ele.
Chloe deu uma risadinha.
— O que vamos fazer no seu aniversário este ano?
— A mesma coisa que sempre fazemos: engordar com pipoca, bolo e sorvete
e depois assistir a um filme.
— Que bom que já deixei a mochila pronta hoje cedo.
— E quando é que você não está preparada? — ela brincou.
Por que ele está demorando tanto? Na verdade, quase nenhum tempo tinha
passado, mas Elle mal podia esperar para sair daquele lugar. Olhou para a
parede, só para ter alguma coisa para fazer. O time de futebol da escola ocupava
praticamente todo o espaço. Havia muitas fotos das equipes ao longo dos anos.
Seus olhos foram atraídos por uma imagem específica de uma equipe de vários
anos antes.
O jogador de futebol ao lado do treinador foi o que chamou sua atenção. À
primeira vista, ela pensou que fosse um treinador por causa da maturidade e do
tamanho, mas o uniforme desmentia essa ideia.
O coração de Elle começou a bater mais depressa; ela o conhecia. Era o rosto
um pouco mais jovem de um dos homens mais assustadores que já tinha visto
em sua vida. O assassino.
Chloe percebeu seu olhar imóvel.
— Que foi? — Chloe se virou e seguiu a direção dos olhos dela. — Puxa, ele
era igualmente aterrorizante naquela época... — sussurrou.
Hã? Elle piscou e olhou para Chloe.
— O que você disse?
A amiga colocou o dedo sobre o vidro e apontou para o jogador.
— Lucca, irmão de Nero. Ele é assustador. Você não o conheceu?
Elle começou a perder o fôlego, o peito começou a subir e descer depressa.
Ela queria agarrar Chloe e sacudi-la.
— Chloe, esse é o irmão do Nero? V-você o conheceu? Quando?!
— Aham, depois que você foi atacada, na casa do Nero. Eu o conheci no
quintal. — Ela se soltou rapidamente do aperto de Elle. — Que foi? Você está
me assustando.
— Chloe, precisamos ir para o seu carro. — Elle agarrou a jaqueta de Chloe
e começou a correr. — Agora!

Porra-porra-porra-porra- porra-porra-porra!!
Nero olhou para o cartaz de Elle. Ela havia escrito um poema em cada
página, com uma caligrafia excelente, em vários tamanhos diferentes. Depois os
colou como um mosaico. Eram muitos papéis brancos cobertos de palavras
pretas. Foi legal ver qual palavra chamou sua atenção. Tentou ler os poemas
antes, mas Elle tinha ficado envergonhada, dizendo que não eram bons. Teve
alguns vislumbres e leu alguns enquanto ela trabalhava neles, mas nunca tinha
conseguido ler todos juntos, até agora.
Nero se aproximou do cartaz e arrancou um pedaço. Ela os tinha visto.
Entregou o papel para Amo e passou as mãos na cabeça.
Amo leu rapidamente o pedaço de papel.
— Merda.
Vincent o arrancou das mãos de Amo.
— Porra, cara. O que vai fazer?
Nero pegou o papel da mão de Vincent, dobrou e o colocou no bolso.
— Eu preciso encontrar meu pai. Vocês têm que ficar com a Elle. Ela tem
dezoito anos agora, e eu não confio nele, sei que vai acabar fazendo a ligação.
Nero e Vincent concordaram.
— Vamos.
Quando chegou à parede da fama, Elle e Chloe não estavam lá, e ele
começou a se preocupar.
— Onde elas se meteram? Elle disse que ia esperar aqui.
— Hã, Nero? — Vincent falou com tom calmo.
— Que é? — Nero virou para olhar para Vincent e o viu apontando para o
vidro. — Porra!

— Chloe, você pode dirigir mais rápido?


— Não, não posso, não sem saber do que estamos fugindo.
Elle tentou acalmar a voz.
— Já falei, não posso contar.
— Bom, então não posso dirigir mais rápido. Posso levar uma multa por
excesso de velocidade.
— Seu pai é o prefeito, pelo amor de Deus! Quem se importa?
Merda.
Elle viu o rosto da amiga e imediatamente quis retirar o que tinha dito.
Respirou fundo.
— Desculpa, Chloe.
Elle afundou no assento e a deixou dirigir do jeito que ela queria.
Não fazia diferença. Vou morrer de qualquer jeito. Elle tentou não pensar em
Nero, mas não estava conseguindo no carro silencioso. Quanta mentira.
Ela levou a mão ao peito.
Tinha se apaixonado por Nero, e tudo era uma grande mentira.
Ela não conseguia deixar de pensar em todas as vezes em que estiveram
juntos. Sim, como na noite passada.
Uma lágrima rolou por seu rosto. Tinha dado a Nero uma parte dela que
nunca poderia recuperar. Pensava que o que haviam compartilhado era real, mas
nem sabia quem era o verdadeiro Nero. A parte mais triste é que estivera diante
do rosto dele o tempo todo. Estava apenas cega demais de amor para enxergar.
Chloe passou pela casa dos vizinhos de Elle, e foi então que ela viu um carro
escuro em sua garagem, com Amo e Vincent sentados no capô.
Elle começou a ficar nervosa de novo. Tinha que afastar a amiga para
garantir sua segurança. Ela era um caso perdido de qualquer maneira.
— Chloe, escuta. Assim que eu sair do carro, quero que saia daqui e vá direto
para casa. Não vá a lugar nenhum.
— Elle...
— Não é brincadeira. Faz o que estou dizendo! — ordenou.
— Tu... tudo bem. — Chloe parou o carro para a amiga sair.
Elle respirou fundo antes de abrir a porta e saltar.
— Vai! — Ela bateu a porta.
Quando ouviu Chloe ir embora, Elle pensou em correr, mas eles a tinham
visto e já se aproximavam.
Elle levantou as mãos.
— Chloe não sabe de nada. Eu nunca contei para ela, juro.
Vincent respirou fundo.
— Entra no carro, Elle.
Ela olhou para as duas pessoas que antes via como amigos.
— Prometam que não vão fazer mal a ela.
Vincent agarrou o braço de Elle e a puxou para o carro.
— Vamos, meu bem.

Nero bateu na porta e, um segundo depois, Lucca atendeu. Ele entrou no


escritório do pai em sua casa e se sentou bem na frente dele.
Dante se recostou na cadeira.
— Acabou o tempo, filho.
Nero tirou o pedaço de papel dobrado do bolso e o jogou em cima da mesa.
Viu o pai ler o texto e largar o papel. Poderia jurar que ele quase franzia a testa.
— Ela nos viu.
Ela viu. Nero concordou com a cabeça.
Dante olhou para seu filho.
— Parabéns, filho. Você cumpriu a missão.
— Bem, eu não teria conseguido sem Amo e Vincent.
Dante assentiu uma vez.
— Vamos planejar para o Omertà.
Mesmo que Nero não tivesse feito seus votos, não ia deixar que isso o
detivesse.
— Quero esclarecer uma coisa primeiro. Nós dois sabemos que ela não vai
falar nada a ninguém, então você não vai matá-la. — Nero deu de ombros. —
Senão eu conto a Maria e ao Leo que você cortou a garganta de Elle. Você não
vai ter mais nenhuma família de verdade. — Os olhos de Nero eram firmes.
Dante olhou para Lucca, que estava parado no canto.
Ele se aproximou e pegou o papel da mesa de seu pai.
— Eu gosto dela. — Viu a boca do pai se distender em um sorriso.
— Acho que é hora de eu conhecer a menina.
Elle tentou impedir que seu corpo tremesse enquanto caminhava até a
casa de Nero. Vincent e Amo tinham de empurrá-la para manter os pés em
movimento. Quando a porta da frente se abriu e ela entrou, Nero apareceu no
hall. Elle virou o rosto como se tivesse levado uma bofetada.
Levei.
Nero suspirou.
— Vem comigo.
— Por que não me mata aqui...? — Elle sussurrou.
Nero se aproximou e estendeu a mão, mas ela pulou para trás. Não me toque.
Ele passou as mãos na cabeça.
— Elle, ninguém vai te machucar. Prometo.
A jovem ergueu as mãos.
— Não.
Ela tinha ouvido sua voz profunda fazer promessas a ela, fazendo seu corpo
reagir, acreditar que ele estava dizendo a verdade, mas agora sabia que não estava.
Seu corpo teria de se recuperar mais tarde.
Desta vez, Nero lentamente estendeu a mão e puxou Elle. Ele a levou para
uma enorme porta dupla de madeira pela qual ela nunca tinha passado antes e
girou a maçaneta. Elle tentou engolir a bile quando abriu a porta, exibindo uma
sala cheia de fumaça.
Olhou através da fumaça e viu um homem impecável, de cabelo preto
azulado e terno completo. Ai, merda!
Por alguma razão, nunca tinha pensado que o encontraria. Espera, por que ele
está aqui? Nero a puxou para dentro e fechou a porta.
— Elle, este é meu pai...
— O chefe... — ela sussurrou.
Dante sorriu.
— Nero, me deixa conversar com ela a sós.
Elle engoliu em seco quando Nero a abraçou antes de sair.
Dante soltou mais fumaça na sala.
— Sente-se, Elle.
Seu corpo obedeceu ao comando. Quando se sentou e olhou para os olhos
frios e azuis, não entendeu como não tinha percebido antes. Todos eles falavam e
agiam da mesma maneira e tinham a mesma aparência. A única diferença era
que, com a idade, todos ficavam mais assustadores.
— Não precisa ter medo. Eu não vou te machucar.
Elle olhou para as suas mãos trêmulas.
— Não vai?
— Não. Minha família deixou claro que não devo tocar em você.
Ah, é? Elle respirou fundo e tentou se acalmar. Funcionou. Mais ou menos.
— Nero me mostrou isto. — Dante entregou a ela um pedaço de papel.
Ela o pegou e viu a folha que antes esteve em seu cartaz.

Homens de Sucesso
Vejo quatro homens de sucesso em pé, não vou contar nada.
O chefe.
O apavorante.
O assustador.
O paranoico.
Vejo três homens de sucesso em pé, não vou contar nada.
O chefe.
O apavorante.
O assustador.
Eu nunca vou contar.

Dante se recostou na cadeira e puxou a fumaça do charuto.


— É muito bom. Só estou curioso para saber por que acha que o homem
que matei era bem-sucedido.
Elle o olhou, curiosa.
— Quando eu estava indo trabalhar, passei por ele e por outro cara. Ele
pareceu se assustar quando o outro cara disse que o chefe o tinha encarregado de
uma tarefa e que ele não tinha escolha.
Viu algo se acender em seu rosto. Ele não sabia daquilo.
— Infelizmente, não pude interrogá-lo, então obrigado. Em troca, entenda
que vou te deixar viva, independentemente do que meus filhos pensam.
Portanto, espero que este seja primeiro e último poema que escreve sobre mim.
Que filhos? Nero e Leo? Elle tentou limpar a garganta para a voz não sair tão
apavorada quando falasse.
— Sim, prometo. Escrevo para tirar as coisas do peito, foi só por isso que
escrevi.
Ela o viu dar um sorrisinho.
— Minha esposa costumava cuidar do jardim. Era assim que ela lidava com
as coisas. — Ele apagou o charuto. — Nero já te contou sobre como ela morreu?
— Só que ela foi assassinada do lado de fora de um mercado.
Dante se inclinou para frente.
— Nero ficou doente, e ela foi ao mercado comprar remédio e sopa. Eu
precisava de todos os meus homens, o que, infelizmente, não a deixou muito
protegida. O que estou tentando explicar é que Nero se sente responsável pela
morte dela, mas nós dois sabemos que isso teria acontecido em qualquer lugar.
Eu escolho a família em vez da minha família, e isso é algo com que tenho que
conviver todos os dias.
Ela não conseguia imaginar como eles se sentiam. Foi muito difícil lidar com
o acidente de seu pai, ela não poderia nem pensar em como teria sido se o tivesse
perdido.
— Elle, você é inteligente o bastante para saber que você e Nero nunca
dariam certo porque, em última análise, ele não vai se manter fiel a você. Eu dei
a ele uma missão, fazer o que fosse necessário para descobrir o que você sabia.
No primeiro dia de trabalho, ele trouxe uma garota para casa, e eu disse que ele
tinha que parar de brincar até cumprir a tarefa.
Não faça isso, Elle. Apesar do quanto as palavras a feriam e de como o coração
doía, ela se controlou. Não queria que ele a visse chorar.
— Não importa se ele te trai ou não. Nero cumpriu a tarefa e agora se torna
oficialmente parte da família. É algo que ele sempre quis, desde criança. Não
pode ser fiel a duas famílias. Eu descobri isso. Você não merece acabar morta
como minha esposa.
Elle assentiu, séria. Precisava desesperadamente sair dali. Tenho que sair desta
casa.
— É isso. Foi bom finalmente conhecê-la, Elle. — Dante estendeu a mão.
Elle se levantou e a apertou. Não posso dizer o mesmo.
Dante continuou segurando sua mão.
— Eu sou um homem de palavra: não vai acontecer nada de mal com você.
— Obrigada. — Elle finalmente caminhou para a porta, sentindo as paredes
se fechando à sua volta.
Quando girou a maçaneta, ele falou novamente:
— Para o seu bem, espero nunca ter que te encontrar novamente.
Elle abriu a porta e saiu, incapaz de ficar ali mais um momento. Teve de
fazer um enorme esforço para não sair correndo. Era difícil até ficar de pé e ereta.
Ouviu uma porta se abrir e, antes que pudesse reagir, foi puxada para dentro
de um cômodo e empurrada contra uma parede. Ela olhou para cima e viu Nero.
— Sai... — Ela não conseguiu pronunciar todas as palavras antes de Nero
capturar sua boca. Seus lábios se moveram com os dele.
Não! Elle parou de corresponder e tentou afastar a boca.
— Para com isso. — Nero a beijou novamente, enquanto a mão agarrava seu
cabelo.
As lágrimas de Elle transbordaram.
— Por favor. — Ela conseguiu interromper o beijo atormentado.
Nero se afastou.
— Desculpa, baby. Não achei que os tivesse visto. Não queria que
descobrisse desse jeito.
— Foi tudo mentira, Nero.
Nero enxugou as lágrimas de seu rosto.
— Não, não foi.
Elle olhou através das lágrimas para os olhos cor de esmeralda.
— Então quando estávamos no closet da aula de artes e eu perguntei por que
naquele momento, aquilo foi mentira?
Quando Nero não disse nada, ela teve a resposta.
— Você foi forçado a ficar comigo, e foi tão ruim, que trepou com a Stacy
na primeira noite. — Elle fechou os olhos com força. — Na mesma cama, você
transou com todas as outras garotas e depois comigo. Eu te dei algo que nunca
vou poder recuperar. — Elle abriu os olhos para encarar Nero, para ele poder ver
o que tinha feito. — E fez com que eu me apaixonasse por você, e é por isso que
eu te odeio mais.
Um golpe, e o coração cicatrizado de Elle se desmanchou em pedacinhos que
ela nunca poderia colar. Sua mente, corpo e sua alma sabiam que Nero era seu
único amor verdadeiro – a coisa dentro dela que nunca poderia descrever. Ela
sabia, no entanto, que o fato de ele ser seu verdadeiro amor não tornava a
recíproca verdadeira.
Nero segurou o rosto dela entre as mãos.
— Não faz isso. Baby, eu...
— Me solta. Por favor, Nero, me solta. — Seus olhos produziam novas
lágrimas que tomavam o lugar das que ele havia enxugado. Eles imploravam. Me
deixa ir. Ela viu a guerra que acontecia no fundo dos olhos dele, antes de
finalmente soltá-la.
Nero enfiou a mão no bolso e tirou uma pequena caixa preta envolta em
uma fita de seda cor-de-rosa.
— Eu ia te dar isso hoje à noite. — Nero agarrou a mão dela e colocou a
caixa no centro da palma.
Elle balançou a cabeça.
— Eu não quero isso.
A voz de Nero ficou séria.
— Leva.
Elle segurou a caixa apenas para se afastar dele, antes que mudasse de ideia.
Quando ele deu um passo para trás, ela conseguiu abrir a porta. Segurou a
maçaneta com a mão trêmula, olhando para Nero pela última vez. Depois saiu e
fechou a porta.
Percorreu o corredor, mal conseguindo sustentar o próprio peso. Quando
chegou ao hall, ela viu Amo e Vincent esperando, nervosos.
Tentou enxugar rapidamente as lágrimas.
— Vincent, pode me dar uma carona?
— Claro, meu bem. — Vincent abriu a porta da frente para ela.
Elle parou na mesinha ao lado da porta, onde costumava haver só flores; hoje
ela estava coberta de fotos em lindas molduras de toda a família de Nero. Deixou
a caixinha que Nero tinha dado em cima da mesa e saiu pela porta da frente.

Dante se recostou em sua enorme cadeira de couro, franzindo a testa.


Acabei de salvar a porra da vida dela.
Dante entendia por que sua família tinha se apaixonado por ela.
Sinceramente, soube que eles se apaixonariam no momento em que assistiu à fita
com as imagens da menina saindo de trás da caçamba de lixo.
Eu fiz um favor a ela e a Nero. Dante tinha aprendido a lição anos atrás,
nunca se envolver com nenhuma mulher fora da cama. Pensava que o filho não
amaria uma mulher pelo menos por mais alguns anos, mas devia saber que Nero
era antiquado.
Ele ouviu as batidas na porta e, uma fração de segundo depois, viu Lucca e
Sal entrarem.
— A menina disse que passou por ele no caminho para o trabalho. Ouviu ele
e outro cara conversando sobre como o chefe tinha dado a ele uma tarefa.
O cara tinha entrado em seu hotel com cara de quem estava tramando
alguma coisa. Nesse ramo, você simplesmente sabe quando alguém está armando
algo ruim. Eles o estavam revistando quando o idiota tentou sacar a arma.
Felizmente, tudo aconteceu na porta do beco, e eles conseguiram resolver o
problema. Foi o que pensamos.
Lucca cruzou os braços e encostou na parede.
— Existem apenas duas famílias nesta cidade.
— Acha que eles estão tentando retomar o controle? — Sal perguntou.
A família Caruso e a Luciano dividiam a cidade antes da época de Dante. As
duas famílias se entendiam, mas, com o tempo, uma guerra estourou entre as
duas; os Caruso venceram e assumiram o controle da cidade, dando um pedaço
pequeno dela ao Luciano.
— Talvez. Vamos manter isso entre nós, por enquanto. Eles acham que não
sabemos de nada, então todos precisamos manter isso em segredo e investigar
por conta própria. Não preciso de uma guerra nas mãos, a menos que eles
peçam.
Lucca e Sal concordaram com a cabeça.
Dante beliscou a ponte de seu nariz.
— Tenho ouvido boatos sobre uma porra de um infiltrado.
— O que sabemos? — Lucca perguntou.
— Não muito. Tudo o que sei é que estão fazendo tudo certo desta vez. Não
vamos suspeitar por um tempo, talvez anos.
— Tudo bem, vamos ficar de olho. — Lucca acenou com a cabeça.
Dante decidiu contar a eles o que queriam saber quando entraram.
— Vamos deixar a menina viver. Por enquanto, pelo menos.
Elle pegou uma bandeja na fila do almoço, pensando em como os olhos
doíam. Não tinha conseguido parar de chorar até passar pela porta da escola esta
manhã. Por mais que as pessoas tivessem rido dela e batido nela, nada havia
doído mais que isso.
Via Nero em todos os lugares; não podia escapar dele. Teria de vê-lo todos os
dias até se formar, e isso sempre seria o mais doloroso. O lembrete constante de
como fui uma tremenda idiota. Sem mencionar que era apenas o primeiro dia
depois da separação. Era a segunda semana de fevereiro, e Elle não estaria livre
até a segunda semana de junho.
Elle tirou o dinheiro do almoço do bolso para entregá-lo à merendeira; hoje
estava preparada. Trouxe todo o dinheiro que havia economizado no mês, já que
Nero pagou parte de sua mensalidade. Pagaria pelo almoço com um mês de
antecedência. Dessa forma, não sentiria nenhuma pressão para voltar a trabalhar
todas as noites.
Chegou ao caixa e entregou o dinheiro.
— 1089.
A mulher devolveu o pagamento.
— Seu almoço está pago até o fim do semestre.
O que foi que ela disse?
— Desculpa?
— Não precisa mais trazer dinheiro para almoçar. Próximo.
Elle se afastou lentamente, de boca aberta. Ela a fechou rapidamente quando
passou pela nova mesa de Nero. Era a mesma em que eles se sentaram quando
terminaram anteriormente.
Ela foi se sentar à mesa no canto, e Chloe a seguiu.
A amiga se inclinou sobre a mesa.
— Quando teve saldo na sua conta do almoço?
— Nunca. — Elle empurrou a bandeja. — Eu nem quero comer, Chloe. —
Não se ele pagou por isso.
— Não, isso é comida de graça. É melhor você comer. — Ela suspirou. —
Elle, nunca vai me contar o que aconteceu?
Elle balançou a cabeça, olhando para a comida. Sentia-se muito mal por estar
com fome, apesar de tudo.
— Elle, me fala alguma coisa. Eles também eram meus amigos, você sabe
disso.
Olhou para Chloe. Ela estava começando a gostar deles de verdade, e ficava à
vontade com os meninos.
Ela está certa.
— Lembra de quando o pegamos na Poison com outra garota? — Chloe
assentiu. Elle suspirou. — Bom, dessa vez o peguei em uma mentira ainda
maior. Ele brincou comigo o tempo todo, Chloe. Todos eles brincaram.
Ela ficou grata quando Chloe decidiu não insistir. A amiga sabia que quando
Elle guardava um segredo, especialmente dela, devia ser algo ruim.
Durante o almoço, ela se obrigou a não olhar para a mesa de jeito nenhum.
Quando eles foram jogar os restos da refeição no lixo, colocou a mão no bolso e
tocou o dinheiro que usaria para pagar o almoço. Espera.
Ela correu para fora do refeitório em uma fração de segundo.
Chloe quase não conseguiu alcançá-la.
— Elle, aonde vai?
— Na secretaria.
Elle chegou à secretaria logo depois e abriu a porta. Foi direto ao balcão.
— Preciso pagar minha conta.
— Ok, qual é o seu nome mesmo? — perguntou uma mulher com os
cabelos castanhos apertados em um coque e óculos no rosto.
Sério, não consegue se lembrar do meu nome nenhuma vez depois de todos esses
anos?
— Elle Buchanan — disse como se tivesse pressa, e viu a mulher encará-la.
Ela clicou duas vezes com o mouse, e seu rosto se transformou com a
surpresa.
— Você não deve nada. Semestre quitado.
Quitado! Ele não pagou só a conta que ia vencer. Não, ele pagou tudo!
— Não fui eu que paguei. Cancela! — Elle começou a tirar todo o dinheiro
que tinha do bolso e jogar sobre a mesa.
— Eu não posso fazer isso...
— Cancela! — Seus olhos se enchiam de lágrimas novamente.
Pela primeira vez na vida de Elle, Chloe agarrou seus braços.
— Elle, está tudo bem. Vai ficar tudo bem.
Agora que era oficialmente junho, o clima havia se transformado, o
verão deixava quente a cidade. Elle andava pelo corredor olhando para todos os
shorts, saias e vestidos. Ela ainda usava as mesmas coisas que tinha vestido nos
últimos meses, jeans e uma camiseta de três dólares de seu lugar favorito na
Terra. Tinha aprendido a entender o amor de Chloe pelo preto, especialmente as
camisetas pretas muito desbotadas e velhas com uma banda de heavy metal cujo
nome ela mal conseguia ler, porque as letras eram descascadas.
Desde seu surto na secretaria, Elle tinha aprendido a virar a chave. Apesar de
Nero pagar sua mensalidade, ela ainda trabalhava todas as noites para se manter
ocupada. Quando ia para a cama, chorava até dormir, tendo de virar o
travesseiro para escapar da poça que havia criado. E assim que saía da cama de
manhã, se desligava e se tornava um zumbi. Nada a fazia feliz e nada a deixava
triste. Depois, tudo começava de novo assim que o rosto tocava o travesseiro.
Todos os dias, chorava cada vez menos antes de dormir, até que o zumbi a
preencheu por completo. Quase tudo nela. Os pensamentos agora eram difíceis
de acessar. Era melhor para ela não pensar nada; caso contrário, ela teria
enlouquecido pensando em Nero.
Ela treinou para não olhar para ele, e, depois de um tempo, ele entendeu a
mensagem e não se aproximou mais. Além disso, já não sentia mais os olhares
dele em suas costas. Nero não precisava mais segui-la; ninguém falava com ela
além de Chloe.
Quando soube que Sebastian estava em estado crítico e com todo o lado
direito do rosto queimado, ela juntou as peças. Compreendeu que ninguém
estava resfriado porra nenhuma. Nero manteve a promessa de fazer todos que já
a haviam machucado gritarem de dor. Infelizmente, a última promessa – ela
gritar seu nome – também tinha sido cumprida.
Elle não conseguia acreditar como havia deixado de perceber o quanto todos
eles eram terríveis. Matavam para ganhar a vida, era evidente. Ela fez questão de
manter Chloe, além de si mesma, longe de todos eles, inclusive Maria.
Mas, no fim das contas, sentiu-se mal por não falar com Maria. Ela não tinha
culpa de pertencer àquela família. Mas Elle sabia que, se mantivesse a amizade
com ela, isso daria uma oportunidade a Nero.
Elle havia desejado que os últimos meses passassem voando, mas,
infelizmente, eles foram os mais lentos de toda sua vida. As atividades dos
formandos apenas tornaram tudo mais lento e muito mais irritante. Tinha de
ouvir toda aquela conversa sobre quem levaria quem ao baile. Sim, ela tinha
ouvido várias garotas convidarem Nero, e sim, ela e Chloe não compareceram.
Não teriam ido nem se ela e Nero ainda estivessem juntos. Chloe não teria sido
capaz de lidar com isso, e Elle nunca teria ido sem ela. E havia também algo
sobre ela ter estado absolutamente infeliz na escola nos últimos quatro anos.
Elle estava mais perto que nunca de partir; apenas mais duas semanas a
separavam da liberdade. Ela e Chloe iam estudar em Stanford no outono e
finalmente poderiam seguir em frente com suas vidas.
BRRING.
Elle nem percebeu que a aula de inglês havia começado, e agora já havia
acabado. Pegou a bolsa e se dirigiu à porta.
— Elle, posso falar com você? — o sr. Evans perguntou de trás da mesa.
Elle acenou com a cabeça para Chloe ir para a aula, depois voltou à sala e se
aproximou da mesa do professor.
— Sim?
Ele parecia preocupado.
— Terminei a avaliação das redações finais e gostaria que você desse uma
olhada nos seus primeiros trabalhos.
— Ok. — O trabalho final foi, na verdade, uma revisão do primeiro trabalho
que ele pediu à classe, uma redação de quinhentas palavras sobre quem você mais
amava. Desta vez, ele pediu uma de cinco a sete páginas. Basicamente, queria
que víssemos nosso próprio crescimento e como nossos sentimentos podiam
mudar em relação a uma pessoa.
O sr. Evans segurava um enorme maço de papel nas mãos.
— Eu gostaria de dizer que sinto muito por seu pai. Deve ter sido difícil. Dá
para perceber que você realmente o ama.
Elle estendeu a mão.
— Obrigada.
O sr. Evans colocou a grande pilha de folhas de papel nas mãos dela. Não se
lembrava de ter escrito tantas.
— Sabe, às vezes, sem querer, grampeio os trabalhos dos alunos. — Ele
soltou os papéis. — Pode ler aqui mesmo. Vou precisar deles. Não quero que os
alunos pensem que estou sendo parcial por deixar você ver sua nota primeiro.
Elle olhou para o Sr. Evans antes de se virar para sentar.
Depois de ver um grande “A” vermelho no topo, Elle folheou as páginas até
chegar a um papel que não havia escrito e notou o nome de Nero no alto da
folha. Ela fechou os olhos rapidamente.
Respirou fundo e verificou se tinha virado a chave antes de abrir os olhos e
começar a ler.
Nero começava a redação falando sobre a mãe, sobre o quanto ele a amou e
ainda amava. Ele falava sobre como nunca mais foi o mesmo depois que a
perdeu. Elle parou de ler na frase seguinte.
Mordeu o lábio e retomou a leitura.

No início do semestre, quando você perguntou quem eu mais amava, uma


imagem da minha mãe surgiu em minha cabeça. Quando você me perguntou quem
eu mais amava pela segunda vez, não era mais uma imagem da minha mãe. Ela
tinha sido substituída pela imagem de uma menina de cabelos loiros avermelhados e
grandes olhos azuis.
Levei muito tempo para descobrir o momento exato em que me apaixonei por ela,
em parte porque neguei que estivesse apaixonado até ser tarde demais.
Estraguei tudo e fiz muitas coisas erradas, a ponto de não ter volta, por isso a
deixei ir. A parte altruísta dentro de mim quer dizer que fiz a coisa certa, e a parte
egoísta pensa que cometi o maior erro da minha vida. Acho que o lado altruísta
venceu, porque, cada vez que olho para ela e vejo o que fiz, percebo que não a
mereço.
Eu nunca deveria ter me apaixonado por ela, mas esse foi o melhor erro da
minha vida. Sempre vou amá-la. Eu a amo desde que esbarrei nela de propósito no
corredor.

Elle olhou para o grande “A+” vermelho na parte inferior do papel. Fechou
os olhos e segurou a chave na mesma posição em sua cabeça. Depois de um
momento, foi capaz de abrir os olhos.
Ela se levantou e voltou à mesa do sr. Evans, onde deixou os papéis. Depois
se virou para sair.
— Sabe, eu fico na frente da sala de aula todos os dias, e tudo que vejo é você
com o nariz enfiado nos livros e nos trabalhos.
Elle olhou para trás.
— Não é isso que tenho que fazer?
— Sim, mas você não consegue vê-lo.
Elle olhou para o chão.
— Por que está fazendo isso?
— Eu sei que seus anos aqui foram uma porcaria. Odiaria te ver vivendo do
mesmo jeito lá fora.
Elle olhou para o sr. Evans e assentiu. Saiu da sala e começou a caminhar
para a próxima aula.
Continuou com a rotina do dia sem conseguir parar de visualizar
mentalmente o que Nero havia escrito. A chave em sua cabeça ameaçava virar,
ligar tudo de novo.
Quando o sinal do almoço tocou, ela soube que precisaria ver Nero, e vê-lo
agora era algo que ela não seria capaz de suportar até que tivesse recuperado o
controle. Queria pensar sobre isso, dormir sobre isso e decidir se queria voltar
para aquele longo e difícil caminho.
Sim.
NÃO.
Elas foram até a metade do caminho para a cantina, antes que Elle sentisse
que não podia continuar.
— Preciso ir ao banheiro.
— Ai, Elle, tem certeza? — Chloe perguntou.
— Sim. — As duas não iam ao banheiro da escola há anos. Aguentavam de
qualquer jeito, porque o lugar mais assustador da Terra era o banheiro das
meninas.
Elle praticamente correu para lá e foi direto para as pias. Abriu a torneira de
água fria e enfiou as mãos embaixo dela.
Chloe ficou bem perto da porta.
— Você está bem?
Elle não respondeu. Em vez disso, abaixou a cabeça e começou a jogar água
no rosto.
A porta de um reservado se abriu.
A cabeça de Elle foi empurrada com força contra a pia, batendo contra a
torneira. O cabelo de Elle foi puxado para trás, ela se levantou e, pelo espelho,
viu Cassandra em pé atrás dela.
— Chloe, corre! — gritou.
Sua cabeça começou a latejar, mas a descarga de adrenalina foi forte. Ela
agarrou a mão que a segurava e cravou as unhas nela. Com a outra mão, agarrou
o cabelo de Cassandra e começou a puxar com toda força que tinha. Quando a
ouviu gritar, usou todo o peso do corpo para empurrá-la para trás e se libertou.
Elle virou depressa e ficou tonta. Não conseguiu se mover com a rapidez
necessária, antes que Cassandra corresse e a empurrasse contra a pia,
derrubando-a no chão.
Cassandra estava em cima dela, como havia acontecido anos atrás.
— Nero não está aqui para te proteger agora. — Ela levantou o pé e a
chutou na altura do estômago.
Tentou evitar que os olhos se fechassem.
— Ele te deu um pé na bunda porque você é só uma merda de garçonete. —
E enfiou o pé na barriga dela de novo.
Ela sentiu a poça de sangue se formando embaixo do rosto, assim como as
lágrimas que encharcavam o travesseiro.
— Isso é pelo Sebastian.
Luzes que se apagam.

As mãos de Chloe tocaram a porta do banheiro antes de abri-la. Ela correu


como louca com a imagem do rosto de Elle em sua mente. O cérebro de não
conseguia pensar, mas o corpo sabia o que fazer.
No que pareceu uma fração de segundo, ela estava no refeitório, atravessando
o salão em direção à mesa onde estavam as únicas pessoas em toda a escola que
poderiam ajudar.
Chloe não falava com nenhum deles há meses, muito menos com aquele que
tinha destruído sua melhor amiga, mas isso não importava mais.
— Nero!
A mesa inteira ficou em pé ao ouvi-la, e Nero a encarou, preocupado.
Quando ela viu os olhos dele – a dor e preocupação evidentes –, teve dúvidas de
quem tinha destruído quem afinal.
— Elle. Banheiro — falou, ofegante.
Nero saiu voando do refeitório, e todos o seguiram. Correu pelo corredor até
o banheiro feminino e empurrou a porta, com todo mundo atrás dele.
Quando Chloe viu a poça de sangue e Elle caída indefesa no chão, não soube
se sobreviveria dessa vez, ou se ao menos queria sobreviver. Ela se encostou na
parede para não cair. Tudo acontecia lentamente diante dela. Não, Elle.
Nero caiu de joelhos ao lado do corpo inerte.
— Elle?
Chloe tapou os ouvidos quando Vincent começou a chutar a porta dos
reservados, gritando palavrões e procurando a pessoa que tinha feito aquilo. Ela
começou a escorregar pela parede, as pernas incapazes de sustentar o corpo,
enquanto Leo pegava o celular e discava o número da emergência.
Nero afastou o cabelo do rosto de Elle.
— Vai ficar tudo bem. Estou aqui, baby — ele sussurrou. Chloe finalmente
chegou ao chão e puxou as pernas contra o corpo. Por que não a ajudei? Por que a
deixei sozinha? Ela ouviu a voz de Amo tentando confortá-la. Por que eu sempre
fico parada assistindo a tudo?
Vincent parou ao lado de Nero e Elle.
— Não tem ninguém aqui.
Nero não tirava os olhos de Elle, ainda afagando sua cabeça.
— Quero saber quem foi.
Chloe apertou as pernas com mais força contra o corpo. Por que não posso
chorar por ela? Qual é o problema comigo?
Nero virou e olhou para Chloe.
— Quem foi, porra, fala!
Faça algo certo!
— Cassandra… — ela sussurrou.
— Amo, faz ela entender. — Nero voltou a confortar Elle.
Sua visão foi bloqueada pelo corpo de Amo quando ele se sentou na frente
dela. Agora via seu rosto, mas ao mesmo tempo enxergava além dele.
— Chloe, fala para eles que você não viu nada. Não sabe quem fez isso —
disse Amo.
Não vi nada. Não sei quem fez isso. Não vi nada. Não sei quem fez isso. Sofri
um acidente de carro; isso é tudo que eu sei. Sofri um acidente de carro; ninguém me
machucou...
Nero estava sentado na sala de espera com os amigos e Chloe,
esperando notícias do médico. Não que eles tenham que nos dar alguma
informação. Não somos da família.
Os últimos meses foram pura tortura para ele. Naquela noite, meses atrás,
tinha falado com o pai, gritado por saber que ele tinha falado alguma coisa para
Elle. Quando respondeu, ele lembrou Nero do que tinha acontecido com sua
mãe, perguntou se ele queria o mesmo destino para a jovem. Então Nero desistiu
dela para sempre.
No início, ficou perto dela, porque algo nele esperava em segredo que ela
cedesse e falasse com ele, e isso o fizesse mudar de ideia. Então, quando ela fez
questão de ignorá-lo, de nem o olhar, Nero recuou, deu o espaço de que ela
precisava, porque não suportava vê-la evitando até olhar para ele.
Passou a observá-la de longe. Ela continuou trabalhando à noite, apesar de
ele pagar a escola. Tinha passado todas as noites dos últimos meses seguindo Elle
até o trabalho, observando-a do carro e depois seguindo-a de volta para casa,
para ter certeza de que chegaria em segurança.
A pior parte de tudo foi vê-la se transformar em outra pessoa. Ela não agia da
mesma forma, nem parecia mais a mesma de antes, e tudo por causa dele. Acabei
com ela. Sabia que era tudo culpa sua.
Elle não era a única, no entanto. Nero também havia mudado. Não
conseguia dormir sem vê-la, então era melhor nem dormir. Nada mais era
saboroso para ele, exceto as merdas dos morangos, e comer as merdas dos
morangos era doloroso. Antes de Elle, transava com cada garota que olhava em
sua direção. Agora, não conseguia nem olhar para elas porque não eram a garota
para quem ele queria olhar. Foram vários convites para ir ao baile, e ele recusou
todos. A situação ficou tão ridícula, que, quando uma garota se aproximava, ele
só a dispensava com um gesto, balançando a mão.
Suas bolas oficialmente o odiavam. Seu pau tinha estado em muitas meninas,
e então, quando finalmente entrou em Elle, não havia nem comparação. Não
podia nem tentar transar com outra pessoa. Não ia adiantar nada. Nero tinha de
tomar banho gelado, um após o outro, para aliviar a dor entre as pernas.
Agora, depois de ver Elle indefesa no chão do banheiro, nada disso importava
mais. Não acreditava mais que Elle estava melhor sem ele, e não era seu pai, a
protegeria acima de qualquer outra coisa de agora em diante. Nem mesmo a
família viria antes dela. Nero agora pegaria o que era dele, quisesse ela ou não.
Viu os pais e o irmão de Elle entrarem, pedindo para vê-la. As enfermeiras
pediram que ficassem na sala de espera, aguardando o médico.
A mãe dela chorava, e Josh também.
Nero olhou para o pai dela quando ele entrou.
— O que aconteceu? — o pai de Elle perguntou a Chloe.
Nero se levantou.
— Precisamos conversar, só nós dois.
— Eu não perguntei...
— Agora — disse Nero com tom frio, fazendo a sala de espera ficar em
silêncio.
Ele saiu e, seguido pelo pai dela, atravessou o corredor até uma parte
tranquila do hospital.
— Por que acha que eu quero falar com você? Você foi a pior coisa que já
aconteceu à minha filha — o pai de Elle disse sem rodeios.
Nero contraiu a mandíbula.
— Por que acha que eu quero falar com um pai que não se importa o
suficiente para perceber que a filha está sendo agredida na escola?
— O quê? Ela está? — A preocupação transformou seu rosto.
Nero olhava para ele de cima.
— Talvez, se parasse de tomar analgésicos e superasse o fato de não poder
mais andar, tivesse visto. Mas eu sei que, no fundo, você sabia. E não me diga
que não.
O pai de Elle abaixou a cabeça.
— Não, eu...
— Não quero ouvir porra nenhuma. Quando olharem para ela, garanto que
verão as marcas dos ferimentos anteriores, e nem sei quantos vão encontrar.
Sugiro que converse com os médicos sozinho, a menos que queira que a mãe
dela descubra.
Ele assentiu.
— O que você está fazendo aqui? Se acha que você e minha filha vão ficar
juntos, está enganado. Eu sei tudo sobre a família Caruso, ouvi os rumores. Vou
fazer o que for preciso para mantê-la longe de você. Acho que nós dois sabemos
que você já fez o suficiente.
— Eu sei que estraguei tudo. Essa é a diferença entre mim e você. — Nero se
agachou para poder encará-lo e transmitir claramente sua mensagem. — Ela vai
cursar a faculdade aqui. Vai morar comigo. Elle é minha agora. Se tentar mantê-
la longe de mim, conto a ela a verdade sobre o seu acidente com a empilhadeira
tombada. Sobre como estava bêbado enquanto operava a máquina. — Nero viu
a surpresa em seu rosto. — Sim, é verdade, eu tenho amigos nesta cidade, e se
não se importar com a possibilidade de eu contar a verdade a ela, eu mando um
deles te matar. Dessa forma, ainda vou poder olhar nos olhos de Elle todas as
manhãs. Estamos entendidos?
O pai de Elle levou um minuto para concordar.
Nero se levantou.
— Ótimo. Agora entenda, sei que você ainda é o pai dela e não vou ficar
entre Elle e a família, portanto você e eu podemos começar a nos dar bem. —
Nero estendeu a mão.
O homem olhou para sua mão antes de finalmente a apertar.
— Acho bom Elle não se machucar de novo por sua causa.
— Ela não vai se machucar — respondeu com naturalidade. E saiu andando,
antes de se lembrar de acrescentar mais uma coisa. — Oh, e Josh, ele começou a
ser atacado no ônibus. Já dei um jeito nisso, mas é melhor não desviar o olhar
mais uma vez. Se acontecer, tenho certeza de que Elle não vai se importar com
Josh morando com a gente por um tempo.
Satisfeito, Nero finalmente foi embora.

pi... pi... pi...


Elle ouviu o barulho irritante e tentou entender o que era, bem como o
cheiro estéril e antigo que invadia seu nariz. Abriu os olhos preguiçosamente,
mas só um abriu de verdade. Conseguiu enxergar um quarto branco,
fluorescente, e seu pai no canto, dormindo na cadeira de rodas. Compreendeu
que estava no hospital.
O que aconteceu? Elle não conseguia se lembrar. A última coisa que lembrava
era de ter jogado água no rosto.
Sentiu a dor na barriga e o latejar na cabeça, junto com o olho inchado.
Fechou os olhos para tentar se lembrar de algo. Pia…? Fui empurrada contra a
pia.
Olhou para seu pai.
— Pai? — Sua voz estava rouca.
Ela o viu acordar rapidamente e levar a cadeira para perto da cama.
— Elle, você acordou. Como se sente?
— Doída. Quanto tempo passei dormindo? — Nem queria perguntar o que
havia acontecido. Sabia, pelo menos, que alguém na escola tentou machucá-la.
Tentou? Machucou.
— Um dia. — Ele segurou a mão dela. — Por que não nos contou, Elle?
Ela tentou sorrir.
— Contar o quê?
O pai apertou sua mão.
— Elle, eu sei. Não precisa fingir. O médico me mostrou as imagens e as
radiografias. Felizmente, estou em uma cadeira de rodas, caso contrário, acho
que iam pensar que passei todos esses anos batendo em você. Não se preocupe,
sua mãe acha que foi pontual, que você só irritou alguém agora.
Elle desviou o olhar.
— Tudo começou logo depois do seu acidente. Eu não queria tornar sua
carga ainda mais pesada. Guardei tudo para mim por tanto tempo, que depois
não sabia mais como te contar.
Ele apertou a mão dela com mais força.
— Lamento não ter percebido. Eu deveria ter me importado o suficiente
para ver isso.
Elle olhou para ele.
— Não é sua culpa. Fui uma boa mentirosa, e devia ter contado a verdade.
— Não, Elle, a culpa é minha.
Elle sorriu para o pai.
— Eu amo você.
— Eu também te amo, Elle-bell. — Pigarreou. — Tem alguém lá fora
esperando para te ver.
— Chloe. Ela está bem? — Esperava que ela tivesse escapado.
— Ela está bem. Está na escola agora. Nero está aqui. Ele não saiu daqui
desde que você chegou. — Elle olhou para a cama.
— Ah. Diz para ele que estou bem e que ele pode ir para casa.
— Você não quer vê-lo? — ele perguntou, curioso. Elle negou com a cabeça.
— Ele está aqui há muito tempo, Elle.
— Pensei que não gostasse muito dele.
Ela viu o pai pensar por um momento antes de falar.
— Não gostava, e ainda não gosto, mas quando o hospital me perguntou se
você tinha algum convênio e eu disse que não, eles me pediram para preencher
alguns papéis para pensarmos em uma forma de pagamento. Quando fui levá-los
preenchidos ao balcão, eles me disseram que não era mais necessário, que já
estava tudo resolvido. De qualquer forma, o que estou tentando dizer é que não
sei que tipo de atendimento você estaria recebendo se não fosse por ele, e agora
eu sei que ele quer garantir que você seja bem-cuidada. — O pai pigarreou
novamente. — Então, tem certeza de que não quer vê-lo?
Elle balançou a cabeça novamente, com medo de falar e acabar chorando.
— Ok, vou dizer às enfermeiras que você acordou. — E afagou a mão dela
antes de se afastar na cadeira de rodas.
Elle fechou os olhos com força quando o pai saiu do quarto. A chave tinha
quebrado, e ela podia sentir novamente. Ainda dói.
Não queria que ele a visse assim, destruída. Eu não quero que ele fique comigo
só porque estou toda arrebentada.
Pensou na redação que Nero havia escrito, ainda sem saber o que sentir a
respeito disso. Ele mentiu para mim. Seu pai é um assassino. Eles são todos
assassinos. E Nero faz parte da porra da máfia.
Elle respirou fundo. Não, fique longe dele.
O médico entrou para examiná-la, dizendo que ela tinha sofrido uma
laceração no couro cabeludo e outra concussão, o que significava que tinha
levado mais alguns pontos para adicionar à coleção. Ela havia levado um chute
no olho, mas não haveria sequelas; só teria um belo olho roxo para combinar
com os pontos. Por fim, havia alguns hematomas na barriga, mas o médico disse
que tudo passaria. Ela teve muita sorte por não ter quebrado nada ou se
machucado seriamente. Eles a manteriam na UTI durante a noite em observação,
já que esteve inconsciente por pouco mais de vinte e quatro horas, e depois seria
transferida para um quarto até a alta.
Graças a Deus.
Elle estava dormindo quando sentiu a cama afundar de um lado.
Lentamente, abriu o olho bom e viu a silhueta de um homem que nunca tinha
visto antes. Quando os olhos se ajustaram à iluminação agora fraca do hospital,
ela se concentrou em seu rosto. Ele!
Elle abriu a boca para gritar, mas a mão a cobriu.
— Shhh, eu não vou te machucar. — Sua voz era profunda e sem nenhuma
emoção.
Elle respirou fundo e, apesar do arrepio, com medo de olhar em seus olhos
turquesa, assentiu.
Ele descobriu sua boca.
— Eu sou o irmão de Nero, Lucca. É um prazer te conhecer, finalmente.
Elle engoliu o nó na garganta.
— Como entrou aqui? — Era madrugada, e só amigos e familiares
autorizados podiam voltar para vê-la durante o horário de visitas.
— Sério? Isso fere meus sentimentos.
Que sentimentos? Elle sabia que era uma pergunta idiota; era evidente que ele
entrava onde quisesse. Não devia ter sido difícil.
Sentou-se na cama, não gostava de como ele a olhava de cima.
— O que você quer?
Lucca deu de ombros.
— Conversar.
Sentiu que ele estava sentado muito perto de seu corpo na cama estreita. Era
difícil olhar em seus olhos, estar quase no mesmo nível. No entanto, não queria
demostrar que estava com medo. Além disso, havia algo que também precisava
conversar com ele.
— Você não parece ser o tipo que conversa.
Os olhos se tornaram ainda mais mortais.
— Eu sou, quando o assunto é meu irmão. Sabia que ele ficou sentado lá
fora o tempo todo?
Elle piscou algumas vezes.
— Ele ainda está lá? Pedi para o meu pai dizer que eu estava bem e que ele
podia ir embora.
Lucca apoiou a mão no colchão, do outro lado de seu quadril, e se inclinou
na direção dela, fazendo Elle recuar para se afastar do rosto frio.
— Então sabia que ele estava esperando a porra da sua permissão?
Elle estava apavorada, tinha de admitir, estando a centímetros de seu rosto.
Ela engoliu novamente e assentiu.
— Sabia que ele passou um mês inteiro rastreando cada pessoa que encostou
um dedo em você? Um dia antes do seu aniversário, ele finalmente conseguiu ir
atrás de Sebastian com um taco de baseball, e aposto que finalmente se permitiu
transar com você depois disso. Ele queria merecer você. Já pensou em como veio
para cá? Ele encontrou você deitada no chão do banheiro, e olhando para você
agora, nem quero saber a última imagem sua que ele tem na cabeça. — Lucca se
inclinou um centímetro mais perto. — Portanto, acho que o mínimo que você
pode fazer é deixá-lo te ver.
Eu não sabia. Elle negou com a cabeça.
— Apanhei durante três anos e meio. Ele não me salvou. Durante três anos e
meio, me vendo todos os dias, ele não me quis. Só falou comigo porque seu pai
matou alguém e deu a ele a missão de vir atrás de mim. Eu estava
enlouquecendo, me perguntando quando alguém viria e me mataria, e Nero
estava ali o tempo todo, decidindo se eu viveria ou morreria. Então me desculpe
se não quero vê-lo. — Elle sustentou aquele olhar, por mais difícil que fosse.
Lucca sorriu.
— Eu sabia que gostava de você. — Lucca se afastou dela, mas não retirou a
mão. — Para começar, você não ia morrer. Eu não ia deixar meu pai tocar em
você e, no fundo, ele nunca tocaria em você mesmo.
Você?
— O quê?
— No momento em que te vi, soube que meu irmão se apaixonaria por você.
Sabe por quê? — Elle balançou a cabeça lentamente. — Você parece nossa mãe.
Faz todos nós lembrarmos dela. A mesma cor de cabelo, apesar de o seu ter um
tom avermelhado. Olhos grandes e curiosos. Você é inteligente e, acima de tudo,
é forte. Nossa mãe aguentava ser casada com a máfia, com o chefe da família,
para piorar. É preciso ter muita coragem para lidar com um homem poderoso, e
você pode lidar com isso, não importa quantos degraus Nero suba.
— Não importa...
Lucca a calou com um olhar.
— Nero foi o mais afetado pela morte dela. Ele se culpou, ainda se culpa. Foi
como se ele mesmo tivesse atirado nela. E aí você chega, e tudo acontece de
novo. Ele se culpa por cada pessoa que já te machucou. Ele se culpa agora por
você estar aqui no hospital. E desde que você o deixou, ele age como se tivesse te
matado. Quer que o Nero faça algo assim de novo? Se não superar essa história
de Nero não saber como te contar que o assassinato que você testemunhou foi
cometido pela família dele, você o deixa como nossa mãe o deixou.
Elle se afastou de Lucca, incapaz de continuar olhando para ele. O que ele
disse a fez sentir incrivelmente pequena.
Lucca segurou seu queixo para fazê-la encará-lo novamente.
— Acho bom o Nero poder te ver amanhã à noite. Não me faça vir aqui no
meio da noite outra vez. Entendeu?
Elle assentiu devagar.
— Sim.
Lucca soltou seu queixo.
— Ótimo.
Elle sabia que ele estava de saída, então falou depressa, antes que sua porção
equilibrada a impedisse:
— Chloe me contou que falou com você.
Ela jurou ter visto uma pitada de emoção quando disse o nome dela. Nem
quando falou de Nero ou da mãe ele demonstrou alguma emoção,
independentemente de ter ido até ali por causa do Nero.
— E daí?
Ela também ouviu a ligeira mudança no tom de voz. Acho que não.
— Fica longe dela. — Elle seria capaz de enfrentar qualquer um por Chloe,
até mesmo o bicho-papão que estava em cima da sua cama agora.
Lucca se inclinou de novo e chegou bem perto do rosto dela.
— Você sabe com quem está falando, meu bem? Eu matei homens e
mulheres depois de torturá-los por horas. Sou o subchefe da família Caruso e,
um dia, serei o dono desta cidade.
Elle manteve o controle, apesar dos arrepios.
— Não... não me interessa quem você é. Deixa ela em paz. — A última coisa
de que ela precisa é um homem como ele.
Lucca sorriu.
— Eu sei que você a protegeu e que não podia deixá-la se defender sozinha
na escola. O que aconteceu com ela, para você arriscar sua vida todos os dias só
para ninguém tocar em Chloe?
Eu nunca vou contar. Desta vez, Elle aproximou o rosto do rapaz.
— Se a machucar, eu te mato.
Lucca agarrou seu rosto e acariciou o queixo.
— Tem sorte por eu estar em dívida com você. — Depois a largou e
levantou da cama rapidamente. — Lembre-se, querida, você tem até amanhã à
noite.
Elle o viu desaparecer nas sombras diante de seus olhos... bem, olho. A voz
fria ecoava em sua cabeça: “Em dívida com você”. O corpo de Elle estremeceu. E
ela se deitou e puxou a coberta até a cabeça. Para quê?

No dia seguinte, Elle teve um dia cheio. Eles a haviam transferido da UTI para
o quarto andar, onde era muito mais silencioso, e o quarto era mil vezes maior.
Disseram que ela estava com boa aparência. Comia bem, andava bem, falava
bem e ia sozinha ao banheiro. Ainda estava dolorida, mas era de se esperar. Os
médicos disseram que a manteriam em observação por mais uma noite, depois
poderia ir para casa.
Agora que ela estava fora da UTI, todos finalmente podiam ir visitá-la à
vontade. Ela disse ao pai para avisar Nero que ainda não queria vê-lo e, para sua
surpresa, ele respeitou sua vontade.
Todo mundo tinha ido visitá-la: Chloe, Amo, Vincent, Leo e até Maria
junto com sua família. Ela levou flores e cartões e, em troca, Elle se desculpou
com todos com quem não havia falado nos últimos meses, das pessoas de quem
se afastara por causa de Nero. Mesmo que tivessem ajudado a esconder a verdade.
Quando começou a escurecer, ela mandou a família para casa e disse que só
queria descansar um pouco, como na noite anterior. Mas Elle não conseguia
descansar, ficou sentada na cama, olhando para a tela vazia da TV.
Ouviu uma batida rápida na porta e viu a enfermeira entrar.
— Estou fazendo minha ronda da noite antes de ir embora. Como se sente?
— E se aproximou para verificar as leituras nas máquinas.
Olhou para ela com um meio sorriso.
— Bem, obrigada.
— Que bom, querida. Precisa de alguma coisa?
Elle olhou pela janela e viu o céu escuro. Respirou fundo.
— Ele ainda está lá?
A enfermeira sorriu para ela.
— Está perguntando sobre o rapaz que esteve aqui o dia todo, um muito
bonito? — E bateu de leve em sua mão. — Está.
Engoliu em seco.
— Você pode pedir para ele...? — Parou.
A enfermeira afagou sua mão.
— Vou buscá-lo para você.
Elle continuou olhando pela janela enquanto os minutos passavam. Mal
ouviu a porta se abrindo e os passos se aproximando da cama.
— Elle, você vai olhar para mim?
Não conseguia se lembrar da última vez que tinha ouvido a voz dele, a última
vez que ele falou seu nome. Sua voz ainda era uma canção em seus ouvidos e
acalmava sua alma, mesmo depois de todo aquele tempo.
Virou lentamente a cabeça. Ouviu o suspiro suave, depois o grunhido
contido. Então fez algo que tinha treinado para não fazer. Pela primeira vez em
meses, Elle ergueu os olhos para encará-lo. Mesmo que só enxergasse bem com
um olho, notou as mudanças de Nero.
O cabelo estava comprido, o rosto, abatido, e as olheiras mostravam que era
impossível saber quando ele havia dormido pela última vez. Nunca tinha visto
Nero menos que impecável, mas agora ele parecia estar com as mesmas roupas
que usava quando ela chegou aqui.
Elle de repente não se sentiu bem depois de ver a aparência de Nero. Eu fiz
isso com ele. Agora entendia por que Lucca tinha ido vê-la.
Viu Nero sentar na beirada da cama e se afastou, com medo de tocá-lo. Ele
suspirou.
— Elle, estou...
Elle o interrompeu, apressada.
— Por que não vai para casa descansar um pouco? Vou ter alta amanhã.
Podemos conversar depois que formos para casa e tomarmos um banho.
Nero balançou a cabeça.
— Não vou te deixar.
— O sr. Evans me mostrou sua redação... — sussurrou de repente.
Ele não respondeu.
— Por favor, vai para casa e descansa um pouco, prometo que vamos
conversar. — Fitou seus olhos cheios de dor. — Por mim, Nero.
Ele alisou o cabelo comprido para trás, mas os fios voltaram ao lugar de
antes.
— Tudo bem. — Levantou-se e olhou para os hematomas. — Sabe quem fez
isso? — A voz dele era mortal.
Minta.
— Não, não me lembro de nada.
Nero contraiu a mandíbula.
— Tudo bem. A gente se vê amanhã.
— Tchau — disse tranquilamente ao vê-lo sair do quarto.
Deitou a cabeça na cama, grata por não ter mais de o olhar. Agora se odiava
pela aparência dele. Era muito doloroso ver o preço que havia cobrado. Sabia
que não estava linda nesse momento, mas isso era diferente. Ela sempre podia
lidar com a possibilidade de se ver machucada, mas ver outra pessoa ferida e
saber que era a causa disso era demais para ela. Especialmente alguém que ela…
Elle balançou a cabeça, percebendo que tinha mentido para ele, mesmo
depois de ter ficado zangada por todas as mentiras. A verdade era que havia se
lembrado do que aconteceu, mas não queria que ele soubesse, pois tinha muito
medo de que ele a matasse.
Foi a Cassandra.
— Basta assinar aqui e você pode ir embora.
Elle assinou o papel na linha pontilhada. Onde estão meus pais? Ela olhou
para a enfermeira, que segurava uma bolsa.
— M-minha carona ainda não chegou.
— Chegou, querida. Ela está esperando lá fora. Vem, vou te ajudar a se
vestir.
Elle entendeu que a mãe não quis deixar o pai sozinho por muito tempo no
carro, então se levantou lentamente e aceitou a ajuda da enfermeira para vestir
um moletom e uma camiseta que mandaram de casa. Depois sentou na cadeira
de rodas que a esperava. Ah, finalmente posso ir para casa. Nem é preciso dizer
que Elle estava farta da comida do hospital, do monitoramento constante e das
camas terrivelmente desconfortáveis.
A enfermeira a empurrou pelo corredor, para o elevador e pelas portas de
correr. Quando as portas se abriram, Elle viu um Cadillac preto de janelas
escuras. Nero, novinho em folha, estava lá, encostado no carro. Nero?
Ele abriu a porta do passageiro.
Elle queria dizer alguma coisa para a enfermeira. Olhou em volta. Merda,
mas quem vai me levar para casa? A enfermeira estacionou a cadeira de rodas. No
entanto, Elle não levantou, ainda confusa com como foi parar nessa situação.
Quando a enfermeira não a ajudou, porque Nero estava lá, ela não teve
escolha a não ser ficar de pé. Levantou-se, trêmula, e sentiu os braços de Nero
envolvendo sua cintura. Olhou para ele, querendo protestar, mas isso só fez seu
corpo derreter mais junto do dele. Viu o lampejo de desejo encher seus olhos
instantaneamente com o toque. Seu corpo lembrou da noite que ela e Nero
viveram, que parecia ter acontecido anos atrás. Queria nunca ter experimentado
o verdadeiro prazer, porque, se você nunca o experimenta, nunca vai saber o que
estava perdendo.
Nero a pôs sentada no carro, e ela sentiu que ele demorava para a soltar. Até
afivelou o cinto de segurança, e tudo que Elle pôde fazer foi olhar para o rosto
renovado a centímetros do dela.
Nero havia cortado o cabelo como ela gostava, mais curto. Tinha até feito a
barba, o que ressaltava a pele perfeitamente bronzeada e o queixo quadrado. As
olheiras ainda eram visíveis, embora atenuadas, mas ela sabia que uma noite de
sono não resolveria o problema. O cheiro de homem limpo, fresco e quente a
envolveu, e era exatamente como ela lembrava. As roupas também eram novas e
impecáveis.
Quando Nero finalmente fechou a porta e deu a volta no carro, ela fechou os
olhos com força. Droga, droga, droga! Tentou pensar em qualquer coisa, exceto
em seu rosto e cheiro, enquanto mantinha as pernas bem fechadas.
Nero entrou no carro e partiu.
— Por que você veio me buscar? — Elle finalmente perguntou.
Ele deu de ombros.
— Porque fui até a casa dos seus pais para pegar algumas coisas e disse a eles
que viria.
Elle sentiu o queixo cair. Casa dos meus pais!
— Que porra é essa? Você paga minhas despesas médicas, e eles estendem
um tapete dourado!
Nero sorriu, mostrando os dentes para ela, que cruzou os braços.
— Nero, você não pode simplesmente pagar minhas contas de almoço,
escola e hospital para consertar o que aconteceu entre nós. Eu não me importo
com quanto dinheiro você tem!
Ele agarrou o volante.
— Eu sei que você não dá a mínima para quanto dinheiro eu tenho. Além
disso, não paguei tudo para compensar o que fiz, Elle. Fiz isso para tornar sua
vida mais fácil, e o que você faz? Você vai trabalhar em turnos ainda mais longos
do que fazia quando entrou na escola.
Elle olhou para ele.
— Como sabe disso?
— Acha mesmo que eu deixaria você ir trabalhar sozinha depois do que
aconteceu?
— Passou esse tempo todo me seguindo? — Elle sussurrou.
— Todos os dias — grunhiu.
Ai, meu Deus. Ela piscou, ainda em choque com as atitudes de Nero. Se não
tivesse virado um zumbi nos últimos meses, teria notado e talvez...
Viu Nero passar direto pela rua de sua casa.
— Você errou o caminho.
— Não errei, não — respondeu com naturalidade.
— Bem, então para onde estamos indo? — Ela não entendia. Não estava em
condições de ir a lugar nenhum.
— Para casa.
O que ele está pensando?
— Nero, não vou a lugar nenhum com você. Especialmente para a sua casa,
onde você trepou com um monte de garotas e transou comigo no mesmo lugar.
E nem quero imaginar com quantas garotas você trepou nos últimos meses.
Nero contraiu a mandíbula e agarrou o volante sem dizer uma palavra.
Elle se sentiu mal assim que disse isso, mesmo que fosse verdade. Podia sentir
a raiva dele a seu lado, a dor. Fechou os olhos e apoiou a cabeça na porta,
desejando que a chave voltasse a funcionar. Também queria que seu coração não
tivesse sido roubado. Tinha uma grande ferida bem dentro do peito, e por mais
que o corpo estivesse dolorido, nada doía tanto quanto isso.
Quando Nero não seguiu na direção de sua casa, Elle perguntou várias vezes
para onde ele ia, mas não obteve resposta, nem uma palavra. Realmente
começou a se preocupar quando ele estacionou em frente ao hotel cassino Kansas
City, bem ao lado da lanchonete onde ela trabalhava. Foi de lá que a família de
Nero saiu quando matou aquele homem.
Ela o observou contornar o carro e abrir a porta do seu lado. Não queria
entrar, mas ele se inclinou, puxou-a para fora do carro e a colocou em pé.
— N... Nero, por que estamos aqui? — Tentou se afastar.
Nero a agarrou pela cintura e a manteve no lugar.
— Está tudo bem, Elle. Você sabe que não vou te machucar.
Ela respirou fundo e apoiou o peso do corpo nele, deixando que a levasse
para dentro. Quando ele abriu a porta, sua cabeça ameaçou explodir com todo o
barulho das máquinas e todo o movimento. Precisou fechar os olhos e o deixar
guiá-la. Nero a acompanhou até uma escada rolante e a segurou junto ao corpo
para equilibrá-la. Ela não aguentava mais a dor, portanto apoiou a cabeça em seu
peito, querendo que desaparecesse.
Ele se inclinou para sussurrar em seu ouvido:
— Desculpa, baby. Eu deveria ter ido pela entrada dos fundos. — No alto,
Nero a tirou da escada rolante. Lá em cima não havia tanto barulho, e ela
conseguiu abrir os olhos. Viu um segurança acenar para ele em meio à multidão,
e os dois seguiram na direção de uma fileira de elevadores. Ele a conduziu até um
deles e ia apertar um botão, quando várias pessoas se aproximaram. Ele a puxou
contra o corpo novamente.
Elle escondeu o rosto em seu peito de novo, não queria ver como as pessoas
olhavam para ela. Achava que aquela viagem de elevador foi a mais longa de sua
vida, porque paravam em todos os andares, e estava ficando enjoada.
Sentiu que uma das mãos de Nero se afastava por um momento, antes de
voltar a afagá-la. Desta vez, quando o elevador subiu, não parou por algum
tempo. Quando ela ouviu o barulho da porta abrindo, ele se moveu, e os dois
voltaram a andar. Foi quando Elle percebeu que o botão aceso indicava que
estavam no último andar.
Nero virou à direita e a conduziu por um longo corredor até a última porta à
esquerda. Ele puxou uma chave e a deslizou pela fenda como um cartão de
crédito.
Elle passou pela porta que Nero abria para ela e ficou boquiaberta. Era um
duplex. O andar de baixo tinha uma grande TV de tela plana, um sofá de couro e
uma enorme cozinha e sala de jantar, tudo conectado. Tudo em preto e branco,
tudo novo e moderno. Elle ainda não tinha conseguido fechar a boca quando
notou a vista. Era uma suíte de canto com janelas panorâmicas.
Nero segurou a mão dela e a conduziu escada acima, e lá ela viu uma enorme
cama preta e branca no nível do chão. As janelas ficavam atrás da cama, fazendo
da cidade o pano de fundo.
— Onde estamos? — Ela estava totalmente maravilhada, nunca tinha visto
nada parecido, mesmo em revistas.
Ele não conseguia tirar os olhos de seu rosto surpreso.
— Em casa.
Elle o encarou, chocada.
— Você mora aqui agora? Como?
— Meu pai é dono do hotel, e este apartamento está reservado para mim
desde que eu consigo me lembrar. Eu comecei a projetá-lo há alguns meses, ficou
pronto na semana passada. Gostou?
— Sim, é bonito. — Olhou para o assoalho de madeira escura. — Ele estava
esperando para te dar o apartamento quando você entrasse nos negócios da
família?
Nero suspirou e caminhou em sua direção. Pegando sua mão novamente, ele
a levou até uma porta e a abriu.
E viu um closet tão grande quanto o de Maria... Espera.
— Essas roupas são minhas?
Ele segurou seu queixo.
— Sim. Eu falei que sua casa agora é aqui.
Que porra é essa?
— Meus pais aprovaram isso? Como eles podem ter concordado?
— Eu disse a eles que você precisa ser monitorada e que eu posso cuidar
disso. Tenho um médico de plantão para acompanhar você. Baby, dessa vez a
batida na cabeça foi muito forte. Você acabou de ter dor de cabeça, é evidente, e
se ela piorar, não é um bom sinal.
Elle se afastou. Tudo isso era muito rápido para ela lidar. Sentia-se um pouco
traída pelos pais e por Nero por nem perguntarem se era isso que ela queria. Ele
está agindo como se eu não tivesse escolha.
— Preciso tomar um banho. — Depois vou ligar para alguém e vou embora.
Teria ido imediatamente, se não se sentisse tão nojenta. Ainda sentia o hospital
por toda parte.
Nero assentiu.
— O banheiro é ali. — Apontou para a única outra porta visível.
Elle olhou para as prateleiras do armário, tentando encontrar alguma coisa
confortável para vestir; nada. Notou que algumas de suas roupas não estavam ali,
principalmente as mais velhas. Decidiu olhar nas gavetas de um grande gaveteiro
no closet e viu um monte de lingeries ainda com as etiquetas. Que porra é essa?
Olhou os tamanhos e viu que eram todos corretos para ela. Só pode ser
brincadeira.
Examinou o resto das gavetas, esperando encontrar algo confortável para
vestir, mas a única coisa que parecia confortável eram as camisetas de Nero.
Porra!
Voltou à prateleira e pegou uma calça jeans e um suéter. Antes de sair do
closet, viu um vestido branco pendurado. Quando percebeu que vestido era, quis
pisar nele.
Saiu do armário apenas com seu suéter e o jeans. Quando viu Nero sentado
na cama sorrindo, ela se dirigiu ao banheiro com passos decididos e fechou a
porta.
Vai se foder!
Apoiou a cabeça na porta do banheiro, tentando não chorar. Estava se
sentindo muito oprimida; poucos dias atrás, não sentia absolutamente, e agora
sentia tudo novamente. Todas essas emoções diferentes a atingiam com força
total por ter lido a carta de Nero, estado no hospital e depois conversado com
Nero novamente.
As lágrimas começaram a correr enquanto chorava silenciosamente no
banheiro. Quando virou, viu que o banheiro era tão lindo e moderno quanto o
resto do apartamento. Era de ladrilhos pretos e brancos do chão ao teto, com um
boxe enorme, pias duplas e uma banheira que parecia uma tigela enorme.
Ela se esforçou para conter as lágrimas enquanto tentava tirar a blusa. Um
momento depois, sentiu as mãos de Nero em sua camisa.
— Sai! — gritou chorando.
— Deixa eu te ajudar, baby — ele murmurou enquanto puxava a blusa para
cima.
Cobriu rapidamente os seios expostos e começou a tremer.
— Por... por favor, sai. — Por favor, por favor, por favor. Sabia que não era
forte o suficiente para lutar contra ele.
Ele viu as enormes marcas roxas em sua barriga.
— Não. — As mãos a tocaram novamente e puxaram a calça de moletom e
calcinha. — Eu não vou te abandonar de novo.
Era muito difícil segurar o choro, e Elle simplesmente desistiu.
— Você me machucou, Nero.
Ele a puxou contra o corpo.
— Eu sei que sim, e sinto muito. Desculpa, Elle, por tudo. Lamento não ter
reparado em você durante todos esses anos e não ter feito nada quando eles te
atacavam. Eu devia ter contado sobre minha família, por mais que tivesse medo
de te perder, porque te perdi de qualquer maneira. — Nero a fez olhar para ele.
— Eu não devia ter desistido de você e deixado você sozinha todos esses meses, e
sinto muito por não ter estado presente para te proteger.
Elle piscou para conter as novas lágrimas.
— Desculpa por não ter notado que você estava sofrendo...
— Shhh, baby. Você não tem do que se desculpar. — Ele enxugou as
lágrimas de seu rosto e a levou para o boxe. Rápido, ligou o chuveiro e verificou
a temperatura da água antes de posicioná-la sob o jato.
Ela continuou abraçando o próprio corpo embaixo d’água, vendo Nero tirar
a roupa. Eu sabia que não seria capaz de lutar contra ele. Sinceramente, não queria
mais lutar. Precisava de Nero porque, sem ele, não era nada.
Recuou quando ele entrou no boxe, pegou uma bucha pendurada na parede
e derramou nela um pouco de sabonete. Ficou nervosa quando ele a puxou em
sua direção e parou na sua frente. Ele afastou suas mãos da frente do corpo,
depois aproximou a bucha e começou a lavá-la.
A respiração ficou presa na garganta quando Nero esfregou seus seios.
Depois, quando ele a deslizou levemente para baixo pelo abdômen, os músculos
se contraíram.
— Abre — ordenou Nero.
Elle abriu as pernas ao ouvir a palavra dura de Nero e recuperou a sensação
de prazer de voltar a fazer o que ele pedia. Quando a bucha deslizou entre suas
pernas, Elle mordeu o lábio inferior para sufocar um gemido. Já fazia muito
tempo desde que havia sido tocada ali, e sentia mais a mão de Nero do que a
bucha.
Depois do que pareceu uma eternidade para ela, Nero a virou e lavou suas
costas. Viu o xampu e o pegou para lavar o cabelo; era o mesmo que usava há
anos, um que tinha cheiro de frutas vermelhas. Ela sorriu enquanto derramava
um pouco na mão e começava a esfregar no cabelo. Ele pensava em tudo.
Nero a colocou sob a água e começou a enxaguá-la, massageando seu couro
cabeludo com as mãos. Ela pensou que teria arrancado um pedaço do próprio
lábio antes que isso acabasse, mas, antes que percebesse, estava pronta.
Nero pegou outra bucha, despejou sabonete e a entregou para Elle.
— Me lava.
Ela aceitou a bucha e a aproximou lentamente do peito dele. Começou a
fazer movimentos circulares sobre seu corpo. Foi do peito para os braços e de
volta ao peito, de onde desceu para o abdômen.
Mordeu o lábio novamente quando viu sua ereção. Passou a bucha sobre seu
pênis e bolas e ouviu o gemido profundo de Nero. Olhou para ele e viu a dor
que sentia. Havia antecipado essa sensação só de olhar para a ereção.
Deslizou a bucha pelo pênis novamente, mas dessa vez o segurou com a outra
mão.
Nero agarrou seu pulso e impediu que a mão se movesse.
— Não. Você ainda está dolorida, e eu já estou prestes a te comer.
Elle o encarou, curiosa.
— É por isso que ainda não me beijou?
— Sim — Nero grunhiu.
A sensação de frio na barriga voltou depois de passar meses desaparecida. Elle
se inclinou para frente e o beijou no peito.
— Me beija. — Olhou para ele, e a boca cobriu a sua.
Ela correspondeu com avidez e moveu a mão que ainda estava sobre o pênis
de Nero, fazendo-o soltá-la. Aproveitou a oportunidade e deslizou a mão por
toda sua ereção. Viu sua expressão mudar, e o lobo de que ela se lembrava
apareceu antes de ele sair rapidamente do chuveiro.
Elle franziu a testa. Não queria que a deixasse, mas ele voltou antes que
pudesse protestar, depois de pegar uma camisinha na gaveta do banheiro.
Quando o encarou, ela viu novamente o quanto estava atormentado.
Nero a empurrou com o corpo contra a parede do boxe, mas se conteve antes
de tocá-la.
— Baby, não quero te machucar. — Fome e consciência disputavam o
controle.
Elle não se importava com quanto o corpo estava dolorido, ou com como ele
poderia machucá-la por estar assim, faminto.
Ela se inclinou na direção do peito dele e disse:
— Eu confio em você. — E lambeu um mamilo.
Com um movimento rápido, ele a levantou, passou as pernas dela em torno
de sua cintura e apoiou suas costas na parede, fazendo Elle ofegar e agarrar seus
ombros. Ela sentia a pressão contra sua entrada, e a água do chuveiro não era
mais a única fonte de umidade em sua pele.
Ele respirou fundo, tentando acalmar um tremor.
— Eu te machuquei?
Ela balançou a cabeça, olhando nos olhos verdes.
— Você é a única garota para quem olhei nos últimos meses e imaginei meu
pau entrando. Não fiz sexo desde a noite em que transei com você, Elle, e você é
a última com quem vou transar. Esta noite vai ser a primeira vez que alguém
dorme naquela cama e neste lugar. Não consegui dormir aqui até que você
estivesse na cama ao meu lado, onde é seu lugar.
Segurando-a com um braço em torno da cintura, ele a deslizou lentamente
de encontro ao seu pau. A cabeça de Elle caiu para frente sobre seu ombro, e um
gemido escapou de sua garganta. Então ele começou a se mover e penetrar mais
fundo sua abertura escorregadia.
— Tudo que escrevi naquele texto é verdade. — O quadril se movia
rapidamente para frente e para trás, cada vez mais rápido, e a penetração era cada
vez mais funda.
O coração de Elle começava a voltar ao normal com as palavras e as atitudes
de Nero. Na primeira vez que estiveram juntos, ele foi terno e doce. Agora, ela se
sentia como se estivesse presa entre o prazer e a dor, porque ele a possuía com
força, de um jeito ríspido e rápido, tudo ao mesmo tempo, enquanto a segurava
suavemente contra a parede. Sabia que ele trabalhava em dobro, a impedindo de
mover o quadril, com medo de machucá-la.
Sentia a água batendo nas costas, nas pernas e nos braços, tornando tudo
ainda mais erótico. Sabia que não seria capaz de aguentar muito, porque a tensão
entre as pernas crescia depressa, na mesma velocidade dos movimentos de Nero.
Ela cravou as unhas profundamente em sua carne enquanto as pernas o
apertaram com mais força.
Nero tirou a mão de sua bunda e segurou seu rosto para encará-lo.
— Eu te amo, baby. Eu te amo mais do que tudo.
Elle começou a estremecer e gritar enquanto ele conseguiu penetrá-la com
ainda mais força. O corpo explodiu em um clímax poderoso, envolvente. Ela se
agarrou a ele quando sentiu que também chegava ao clímax, provocando mais
algumas contrações rápidas em seu corpo.
— Também te amo... — sussurrou enquanto sentia os tremores secundários.
Seu coração havia voltado ao normal completamente.
Nero a beijou, enfiou a língua em sua boca e saboreou sua doçura mais uma
vez. Tirou o pênis de dentro dela, mas a segurou contra o corpo enquanto
fechava a torneira e saía do chuveiro. Então a colocou contra a pia.
Elle se abraçou, incapaz de parar de tremer. Não sabia se eram os efeitos do
sexo ou o frio depois do banho. Estremeceu novamente. As duas coisas.
Ela o viu tirar a camisinha e jogá-la na lata de lixo antes de pegar uma toalha.
Depois de enxugá-la rapidamente antes mesmo de se enxugar, ele a pegou nos
braços e a levou para o quarto, onde a colocou na cama.
Esperava que se deitasse ao seu lado, mas em vez disso, ele foi até a mesinha
de cabeceira e puxou a pequena caixa preta embrulhada na fita de seda cor-de-
rosa que ela havia deixado para trás meses antes.
Nero se deitou na cama e puxou Elle para perto. Ajeitou as cobertas sobre
eles e a aconchegou confortavelmente. Depois deu a caixa a ela pela segunda vez.
Elle olhou para ele.
— Você guardou?
— Claro que sim. Abre.
Ela puxou a fita de seda e a soltou. Depois abriu a caixa, que continha uma
corrente de ouro rosa com um pingente de morango.
— Nero, é lindo.
Ele pegou a caixa e, em seguida, o colar.
— Eu tinha planejado te dar a corrente naquela noite e dizer que te amava.
Era o último presente que eu queria que você ganhasse no seu aniversário.
O coração de Elle doeu por todo o tempo que perderam e os meses de
sofrimento. Sentou-se para que Nero pudesse finalmente colocar o colar em seu
pescoço. Depois tocou o pingente e virou para beijar Nero nos lábios.
— Obrigada.
Ele se deitou e a abraçou contra o peito.
— Eu te amo, Elle.
Ela sorriu em seu peito.
— Também te amo, Nero.
Havia sonhado se deitar ao lado de Nero. Tinha sentido falta de sentir o
corpo nu ao lado dela. Quando a mão dele começou a acariciar suas costas, ela se
sentiu derreter e fechou os olhos. Nero apagou a luz e beijou o topo de sua
cabeça.
— Descansa um pouco, baby.
Pela primeira vez no que parecia uma eternidade, Elle adormeceu
profundamente, sem lágrimas.

Elle começou a acordar quando sentiu as cobertas serem removidas de seu


corpo. O ar frio a envolveu, e ela se encolheu. De repente, sentiu os dedos
envolverem seu tornozelo e abriu os olhos. No começo ficou desorientada,
olhando para a cidade à noite através de enormes janelas. Onde estou?
Ela foi então puxada lentamente para o pé da cama e despertou
completamente. Assustada, olhou para ver quem a puxava e viu Nero de joelhos
no chão aos pés da cama. Olhando para seu rosto moreno, ela se lembrou de
onde estava e o que havia acontecido, o que a fez sorrir.
— Nero, o que está fazendo? — perguntou, sonolenta.
Ele a puxou até a beirada, fazendo suas pernas saírem da cama.
Agora sabia por que Nero tinha decorado o apartamento inteiramente em
preto e branco. As luzes da cidade entraram pelas janelas, dando muitas cores ao
quarto. As cores dançavam em seu rosto, e agora que estava mais perto, ela viu a
expressão que a excitava e assustava ao mesmo tempo. Elle parou de respirar
quando Nero se ergueu um pouco mais e abaixou a cabeça.
Ele começou a dar beijos carinhosos em sua barriga, beijando cada
centímetro da área machucada.
— Baby, me fala quem foi.
Elle olhou nos olhos dele e entendeu a expressão assustadora. Seu estômago
embrulhou quando pensou no que Nero poderia fazer com Cassandra. Poderia?
Não, faria com certeza.
Balançou a cabeça.
— Não sei.
Resposta errada. Ela viu algo assustador em seus olhos.
Nero agarrou as pernas de Elle e a trouxe para mais perto dele. Ele as abriu
mais, e o rosto desapareceu entre suas coxas.
Elle jogou a cabeça para trás enquanto a língua de Nero deslizava por toda
sua fenda. Quase sufocou quando a língua finalmente mergulhou entre as dobras
e lambeu o pequeno botão. Ela sentiu a mão deslizar até seu seio e apertar,
tornando-o sensível. Beliscava o mamilo enquanto a penetrava com a língua. Elle
agarrou sua cabeça, segurou os cabelos.
Nero usou a mão livre e começou a esfregar seu clitóris com o polegar,
enquanto a penetrava fundo.
Ela gemeu e o agarrou com mais força quando ele beliscou seu clitóris. Ela
ergueu o quadril da cama e começou a ofegar, pronta para o clímax.
— Você quer gozar? — perguntou enquanto a lambia.
— Sim! Sim! — gritou.
A voz dele ficou sombria.
— Então me fala quem foi.
Elle balançou a cabeça com raiva.
— Não sei!
Nero moveu a língua sobre seu clitóris enquanto deslizava os dedos para
dentro dela. Os dedos entravam e saíam na abertura escorregadia.
Elle estava mais do que pronta para gozar, mas Nero não tocava o ponto que
a faria explodir.
— Nero, por favor — ela choramingou.
Nero mordeu o clitóris e torceu o mamilo.
— Fala — ordenou com raiva.
— Já disse! Não sei! — lamentou. Tentou mover o quadril para que ele a
tocasse naquele ponto onde precisava desesperadamente senti-lo.
Nero jogou as pernas dela por cima do ombro e chupou o clitóris. Penetrava
sua vagina profundamente com os dedos, entrando e saindo.
Elle estava à beira das lágrimas. Nero a levava ao limite, apenas para dar um
passo para trás. Depois fazia tudo de novo. Ela movia a cabeça de um lado para o
outro, implorando para que ele a deixasse gozar. No entanto, cada vez que dizia
“não sei”, ele a levava mais perto do limite, negando o alívio. Elle perdeu a conta
de quantas vezes ele fez isso, e não tinha ideia de há quanto tempo aquilo durava.
Elle tentou se afastar, incapaz de suportar a tortura por mais tempo, mas
Nero a segurou.
— Nero, por favor, para. Por favor. — Começou a chorar.
— Quem. Fez. Isso? — Nero gritou.
Não posso continuar com isso.
— Não sei, Nero! — gritou ela. — Não sei.
Nero rosnou e enfiou os dedos com força em sua entrada molhada. Elle
gritou mais alto do que nunca quando ele finalmente atingiu o local que
esperava em agonia depois da tortura. Ela finalmente chegou ao clímax, e desta
vez, quando aconteceu, sentiu-se nocauteada pela explosão que atingiu todo seu
corpo.
— Por que não pode me dizer, Elle? Eu sei que está mentindo para mim! —
ele gritou ao se levantar.
Elle olhou para ele com os olhos úmidos e começou a tremer. Eu não posso.
Nero respirou fundo e abotoou a camisa.
— Eu sei que foi a Cassandra, Elle.
Ela arregalou os olhos. Ele sabia? Como?
— Chloe me contou. Foi ela quem me contou sobre todo mundo que já te
agrediu. Encontrei uma foto sua quase morta depois de uma surra atrás de outra
foto do seu álbum. — Nero abotoou o último botão com as mãos trêmulas.
O quê? Chloe? Viu Nero se virar para descer as escadas. Não!
Pulou da cama e correu para a frente dele, baixando a cabeça.
— Eu... sinto muito. Não vai.
Nero olhou para ela antes de se mover para seguir em frente, mas Elle
estendeu a mão e, rápida, enlaçou a cintura dele com os braços.
— N... não vai. P... por favor, Nero.
Quando Nero agarrou os braços de Elle e tentou tirá-la de perto dele, ela o
agarrou com mais força.
Ele vai matá-la.
— Não, eu faço qualquer coisa. Não vou mentir para você de novo.
Prometo.
— Elle, ela tem que pagar pelo que fez. — Sua voz era como gelo.
— Por favor! — Desceu por seu corpo e ficou de joelhos. Estendeu a mão
para a calça dele e começou a desabotoá-la com mãos trêmulas. Quando seu
pênis apareceu, ela se inclinou.
— Não! — Nero impediu que sua cabeça se aproximasse, gemendo quando
ela o fitou por entre os cílios molhados.
— Por favor, não a mate! — gritou, agarrada às pernas dele. — Não me
deixe, Nero.
Ele se livrou do abraço desesperado.
— Fica aqui. Não pense em sair. Não vai conseguir; tem um guarda perto do
elevador. — E afastou as mãos dela e fechou o zíper.
Elle deitou no chão. Chorou baixinho, sem conseguir respirar enquanto ele
se afastava.
Por favor, meu Deus, por favor.
Nero estava sentado em uma cadeira em uma sala escura como breu,
pensando em como Elle se sentia. Já fazia muito tempo que não a tocava,
abraçava e beijava. Nunca mais. Nero nunca deixaria essa separação acontecer
novamente.
Ele não gostava do que tinha feito com Elle, mas o fato é que ela nunca disse
nada, e estava decidido a deixar claro que não esconderia mais nada dele.
Ela vai aprender. Nero ensinaria a ela como as coisas seriam diferentes agora.
Agora era um homem de família, e era um amante rude, mas sabia que teria uma
vida inteira para treiná-la.
Ouviu o ruído das chaves e ficou olhando para a porta que se abria no
escuro. Então a luz acendeu.
Cassandra ficou parada ao ver Nero sentado em sua sala, na cadeira de frente
para a porta.
— C... como...
Ele sorriu.
— Eu entrei pela porta da frente.
— M... mãe! Pai! — gritou, imóvel.
Nero ria enquanto ela berrava.
— Eles não estão aqui.
Os olhos de Cassandra se encheram de lágrimas.
— O que você fez com eles?
Nero deu de ombros.
— Nada. Eles tiveram que correr ao hospital, houve uma emergência com
Sebastian. — Ele dizia a verdade. Sebastian ainda estava se recuperando,
tentando andar novamente e superar as queimaduras de terceiro grau. Nero não
via Sebastian fazia algum tempo e decidiu ir dar uma olhada em como ia sua
recuperação. Talvez ele tenha tido uma recaída.
— O que v... você fez com ele? — Uma lágrima escorreu por seu rosto.
Ótimo.
Nero levantou da cadeira e caminhou na direção dela.
— Nada além do que você fez com Elle.
Cassandra continuou imóvel quando Neto parou bem na frente dela.
— Não me machuque... — Ela começou a chorar.
Nero agarrou Cassandra, virou-a e a empurrou contra a parede. Ouviu o
nariz dela quebrar.
— Devia ter pensado nisso antes de dar aquela surra na Elle.
Quando a soltou, ela caiu no chão, berrando.
Nero ergueu as mãos e cerrou os punhos.
— Acontece que Elle fica chateada quando vê minhas mãos machucadas, e
não podemos correr esse risco. Ela também me implorou para não te matar, o
que eu nunca vou entender, porra. Sendo assim, acho que é justo você sentir a
mesma dor que Elle sentiu, do mesmo jeito. Pode vir. — Nero voltou para a
cadeira.
Agora vou assistir à porra do show.
Cassandra ergueu o rosto e olhou na direção do ruído dos saltos. Ela viu uma
loira alta aparecer usando um vestido cor-de-rosa claro e leve. Seus olhos
desceram até os mocassins nude, caros e muito altos.
Ela olhou para cima quando a desconhecida parou a seu lado.
A loira sorriu com doçura.
— Oi, eu sou a Maria. — Cassandra começou a engatinhar para fugir dela.
Maria riu e colocou o salto sobre a mão de Cassandra.
— Querida, não tem nenhum lugar para você se esconder.
Nero riu ao ouvir o grito estridente. Estava assistindo ao melhor espetáculo
de sua vida. Sabia que Maria não teria misericórdia, e tinha vivido para ouvir as
súplicas e os pedidos desesperados de Cassandra.
Quando viu a irmã alisar o cabelo e o vestido, ele se levantou e se
aproximou.
Maria olhou para os sapatos que um dia foram lindos.
— Você me deve um Christian Louboutin novo.
Nero riu.
— Melhor dinheiro que já gastei.
Maria beijou a bochecha do irmão.
— Eu mando o link para você. — E ela saiu da casa ao som do ruído dos
saltos.
Nero olhou para o estrago no chão. Ela era boa.
Havia transformado Cassandra completamente, tinha até caprichado no belo
corte de cabelo.
Ele se inclinou ao lado de Cassandra para ter certeza de que ela o
ouvia bem.
— Então, você sabe o que fazer, certo? — Esperou que respondesse, mas ela
não conseguiu falar. — Ah, tudo bem. Eu vou te lembrar. Meu pai tem o seu na
mão, e eu odiaria te ver pobre e com frio na rua. Vamos encarar os fatos,
querida: você pode fazer uma cirurgia plástica para consertar essa sua cara e
trocar o silicone estourado, mas sabemos que não é do tipo que trabalha. —
Nero agarrou e puxou com força o pouco de cabelo que sobrava em sua cabeça.
— Eu vou matar você e todos os filhos da puta com o sobrenome Ross nessa
porra de cidade se chegar perto da Elle novamente.
Nero se levantou e caminhou para a porta.
— Vai se limpar, bonitinha. Mamãe e papai devem chegar a qualquer
minuto.

Elle estava encolhida sob as cobertas. Não conseguia dormir. Nero tinha
Elle estava encolhida sob as cobertas. Não conseguia dormir. Nero tinha
sumido há horas. Ela nem se mexeu desde que voltou para a cama depois que ele
a deixou.
Praticamente pulou da cama quando ouviu a porta do andar de baixo se
abrir. Quando os passos leves chegaram à escada, ficou nervosa e começou a
ofegar com o coração disparado. Nem se mexeu quando sentiu a presença dele
em pé ao lado da cama.
— Eu sei que você está acordada — disse a voz sombria.
Engoliu em seco quando sentou na cama e segurou as cobertas contra o
peito. Olhou para ele e, pela primeira vez, acreditou estar vendo Nero como ele
realmente era. Um homem poderoso.
Ele sustentou seu olhar, tentando fazê-la entender.
— Eu vou brigar. Eu vou torturar. E vou matar nesse meu trabalho. Eu
sempre soube que me juntaria à máfia, e você vai ter que aceitar, porque não
estou te dando alternativa. É uma parte de mim, como você é uma parte de
mim, mas nada, nada vai ser mais importante que você. Ninguém nunca vai
tocar no que é meu sem sofrer as consequências. Por isso foi preciso cuidar dela.
— Levantou a mão quando Elle pareceu estar prestes a chorar novamente. — Eu
não matei a garota, porra, mas garanto que ela gostaria de estar morta. Mas
nunca mais vou te encontrar no chão do banheiro de novo, e o próximo que
tentar não vai ter tanta sorte. Se alguém puser a mão em você, eu mato, porra, e
não vai ter súplica ou choro capaz de me impedir. Se tentar essa merda de novo,
vou torturar o filho da puta o dobro do tempo. Entendeu?
O corpo de Elle formigava enquanto ele falava. Queria ter medo, mas em vez
disso, seu corpo ficava tenso a cada palavra. Balançou a cabeça lentamente,
olhando em seus olhos verdes.
— Vem cá — ordenou a voz profunda.
Ela se inclinou para frente e se apoiou sobre as mãos. Sabia que era isso que
ele queria, o que estava esperando, pela expressão em seu rosto. Ela não desviou
os olhos enquanto engatinhava na direção dele, progredindo lentamente para
saborear a alegria em seu rosto.
Olhou para o verdadeiro Nero quando se ajoelhou diante dele. Entendeu por
que Nero tinha uma cama tão baixa, e certa de que ia gostar disso tanto quanto
ele, teve certeza de que os joelhos agradeceriam a ele todos os dias. Talvez mais.
Elle apertou as coxas em antecipação, as mãos querendo desesperadamente
alcançar a calça dele.
Arfou quando ele estendeu a mão e segurou seu queixo com firmeza.
— O que você quer?
Lambeu os lábios.
— Posso chupar seu pau?
Ele agarrou seu queixo com mais força.
— Você vai mentir para mim de novo?
— Não — respondeu imediatamente.
— Não o quê?
— Não, eu nunca mais vou mentir para você de novo. Prometo. — Os olhos
mostravam que estava dizendo a verdade.
Nero soltou seu queixo.
— Ótimo. Agora me diz o que você quer.
Elle chegou mais perto.
— Por favor, posso chupar seu pau? — implorou.
— Pode, baby. — Gemeu.
Elle desabotoou sua calça com mãos trêmulas. Dessa vez, o pênis saltou para
fora mais depressa, e estava muito mais duro. Sua mão cobriu todo sua espessura,
e ela pôs a extremidade na boca. Provocou a ponta com a língua antes de olhar
para o rosto atormentado. Ela o enfiou inteiro na boca e deslizou os lábios até
tirá-lo da boca. Quando Nero agarrou seu cabelo, ela obedeceu ao comando
silencioso e chupou com mais força, enquanto as mãos brincavam com suas
bolas.
— Mais fundo — grunhiu, empurrando sua cabeça.
Elle aprendeu rapidamente como ele queria ser chupado. Ela o enfiou
profundamente na boca e deixou a ponta escorregar para o fundo da garganta.
Um ruído profundo escapou da garganta de Nero, e ela o chupou com vontade
enquanto apertava suas bolas. Repetidamente, o devorou até que ele segurou sua
cabeça enquanto gozava, fazendo Elle engolir tudo que inundava sua boca.
— Porra, baby. Eu sabia que você seria boa, mas uau.
Elle sorriu para ele, satisfeita.
Nero foi para a cama e a abraçou e beijou. Depois a pôs novamente de
quatro e puxou seu traseiro para cima.
— Essa é a última caixa de preservativos que vou comprar. O médico vem
amanhã para receitar sua pílula. — Abriu a gaveta do criado-mudo e pegou a
camisinha.
Ela mordeu o lábio quando sentiu que ele a penetrava. Empurrou o traseiro
em sua direção.
— Ah, sim — ela gemeu. — Por favor.
Com um movimento rápido, Nero a penetrou fundo e começou a se mover
mais depressa, com mais força que antes, enquanto a segurava pelo quadril. Elle
gritou e se moveu com ele, feliz por deixá-la se juntar a ele.
Ela não durou muito; o som e a sensação das bolas batendo em seu corpo a
levaram ao limite. Nero a segurou para chegar ao clímax também, e ela ficou
mole em seus braços, sentindo os espasmos dentro dela.
Demorou alguns minutos até Nero se recuperar. Então ele se deitou e a
puxou para perto. A mão começou a afagá-la, como fazia sempre, antes de ele
falar:
— Você ficou na Legacy por causa da Chloe, não foi?
— Sim. — Elle sabia que não tinha contado muita coisa a Nero durante o
mês que passaram juntos, mas não poderia esconder nada dele de agora em
diante. Mas não vou revelar segredos que não são meus.
— Por quê? Ela estava com eles quando fizeram tudo aquilo com você.
Elle respirou fundo.
— O dia em que voltei para a escola, depois da surra, foi o mesmo dia em
que Chloe voltou para a escola com as cicatrizes. Eu pensei que estivesse mal,
mas Chloe... dava para ver que ela estava traumatizada. Eu sabia que ela havia
passado por alguma coisa muito pior que eu. Ouvi quando eles a chamaram de
“aberração” e simplesmente perdi a cabeça.
Os dedos de Nero continuaram o movimento.
— O que aconteceu com ela?
Não posso te contar. Elle não disse nada.
— Ela não sofreu um acidente de carro, não é? — Nero tentou novamente.
Elle podia responder pelo menos isso.
— Não, não sofreu.
Elle e Nero voltaram para a escola na última semana de aulas, e foi a
melhor semana da vida dela. Nero a fez sair da lanchonete e se inscrever na
universidade local. Garantiu que, embora fosse tarde para isso, não havia
nenhuma chance de a recusarem com média geral 10. Ele também disse que, se
demorassem mais de dois dias para aceitá-la, ele faria uma visitinha à secretaria
da universidade para falar sobre sua admissão. Faltava agora um dia para a
formatura, e Nero tinha conseguido convencer Elle e Chloe a subirem no palco
para receber o diploma.
Elle se beliscava todos os dias, perguntando a si mesma se tudo isso era real.
O último primeiro dia de aula tinha sido o pior de sua vida. Ou eu pensei que
fosse. Agora percebia que aquele acabou sendo o melhor dia de sua existência
porque, se nunca tivesse testemunhado o assassinato, Nero nunca teria sido
forçado a falar com ela. Eu nunca teria tido meu felizes para sempre.
BRRING.
Pela primeira vez na vida, esse ruído foi música para os ouvidos dela. Estou
livre. Finalmente livre.
Os dois sorriram um para o outro enquanto todos corriam para fora da sala
de arte, gritando. Nero se levantou e pegou a mão de Elle, ajudando-a a se
levantar.
— Aonde vamos? — Riu quando ele começou a puxá-la.
Nero a conduziu para o fundo da sala, abriu o closet de materiais de arte e a
empurrou para dentro.
— É minha última chance, e tenho essa fantasia desde que trouxe você aqui
pela primeira vez.
Elle tentou o impedir de fechar a porta.
— Nero, nós não podemos...
Ele a empurrou de volta contra a porta e beijou sua boca. Ela perdeu toda
noção quando ele enfiou a língua profundamente em sua boca. Afastando mais
os lábios, ergueu-se na ponta dos pés.
Nero começou a desabotoar a camisa xadrez vermelha e branca que ela vestia
e a empurrou de seus ombros, fazendo-a cair no chão. Seus olhos então
passearam pelo corpo vestido com o sutiã provocante e o short jeans.
O peito de Elle começou a arfar quando ela olhou nos olhos verdes de seu
lobo faminto. Eu amo esse cara.
O olhar de Nero mergulhou em seus grandes olhos azuis.
— Pega a camisa.
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