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Rodrigo
Rennó)
CNU - Políticas Públicas - 2024
(Pós-Edital)
Autor:
Stefan Fantini, Rodrigo Rennó
24 de Fevereiro de 2024
Índice
1) Estado e Governo
..............................................................................................................................................................................................3
3) Características do Federalismo
..............................................................................................................................................................................................
17
4) Federalismo Brasileiro
..............................................................................................................................................................................................
24
5) Coordenação Federativa
..............................................................................................................................................................................................
38
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Um grande abraço,
Rodrigo Rennó
Estado e Governo
Estado e Governo não são a mesma coisa. É comum a confusão entre os conceitos de Estado e
Governo, dada a proximidade de suas funções e interações no âmbito político. No entanto, é crucial
distinguir essas duas entidades para compreender plenamente a mecânica da governança e da
==274356==
administração pública.
1
(Paludo, 2010)
2
(Dias, 2010)
Este poder é essencial para a manutenção do Estado de Direito, pois garante que os direitos
individuais e coletivos sejam protegidos contra possíveis abusos dos poderes Legislativo e Executivo.
A Influência de Montesquieu
A doutrina da separação de poderes foi articulada por Charles-Louis de Secondat, Barão de
Montesquieu, em sua obra seminal "O Espírito das Leis" (1748). Montesquieu defendia que a
liberdade política em um Estado seria mais bem garantida por uma distribuição equitativa de poder
entre ramos independentes, cada um com suas próprias funções e limites. Sua teoria foi inspirada
pela observação da Constituição da Inglaterra, que ele considerava um modelo de equilíbrio entre
poderes3.
3
(Dias, 2010)
(INÉDITA) Qual das seguintes afirmações melhor descreve a diferença entre Estado e
Governo?
A) Estado e Governo são termos intercambiáveis que se referem à mesma entidade
organizacional e administrativa de um país.
RESUMO
“Um Estado simples está constituído sob uma só soberania em uma determinada nação,
apresentando a sua população homogênea, o seu território delimitado e o seu poder
público constituído por uma única entidade expressa como governo nacional.”
Já os Estados compostos são formados pela junção de dois ou mais Estados, com uma coexistência
de soberanias3. Os Estados compostos representam uma configuração mais complexa, onde
múltiplas entidades políticas soberanas se unem sob uma estrutura coletiva.
Este arranjo permite a coexistência de soberanias, preservando a identidade e autonomia dos
Estados membros enquanto estabelece um sistema de governança compartilhada para assuntos de
interesse mútuo.
É o caso das confederações ou das comunidades de nações. As confederações são alianças de
Estados soberanos que se unem para propósitos específicos, como defesa ou política externa,
mantendo sua independência em assuntos internos. Este tipo de estrutura é marcado por um
governo central com poderes limitados, que depende do consentimento dos Estados membros para
a tomada de decisões.
Historicamente, a Confederação Suíça (até sua transformação em um estado federal em 1848) e os
Estados Confederados da América (1861-1865) são exemplos clássicos de confederações. No mundo
contemporâneo, não existem exemplos de confederações no sentido estrito.
Já as Comunidades ou Uniões de Nações são compostas por Estados independentes que colaboram
em diversas áreas — econômica, política, social e jurídica — mantendo sua soberania, mas
abdicando de parte dela em favor de instituições supranacionais.
Como exemplo, temos a União Europeia. Estas entidades visam promover a integração e cooperação
entre os Estados membros, equilibrando a autonomia nacional com objetivos compartilhados.
Um sistema confederado é aquele em que os estados membros mantém sua soberania, sendo mais
fortes politicamente do que a confederação. A lógica deste sistema é a individualidade dos Estados
(pois, têm suas leis próprias), mas estes renunciam a certos poderes para terem uma legislação
2
(Farias Neto, 2011)
3
(Farias Neto, 2011)
comum com os outros entes da confederação, buscando assim vantagens relativas a esta união sem
ter de abrir mão de sua soberania política4.
O termo federal é derivado do latim foedus, que significa pacto ou união5. Desta forma, o federalismo
é um sistema político que se afasta do centralismo do Estado unitário. Assim, um Estado federal
busca garantir uma autonomia para os Estados subnacionais dentro de uma mesma nação.
Ao contrário do Estado federal, um Estado unitário é aquele em que todo o poder se concentra em
um só ente. Dentre alguns exemplos de Estados unitários, por exemplo, temos Portugal.
Até mesmo por sua pequena dimensão territorial, não se fez necessária para o Estado português a
descentralização do poder. Desta forma, toda a estrutura normativa (sistema jurídico) é única (ou
seja, não existe justiça federal e estadual, como no Brasil).
De acordo com Mendes6, um governo unitário é aquele no qual o controle das decisões
governamentais está nas mãos do governo nacional. Não há governos estaduais ou municipais com
poderes constitucionais, mas apenas agências locais sob o comando do governo central.
Já o sistema de governo federal tem um grau de unificação maior do que a confederação e menor do
que no governo unitário. De acordo com Matias-Pereira7:
4
(Mendes, 2004)
5
(Matias-Pereira, 2009)
6
(Mendes, 2004)
7
(Matias-Pereira, 2009)
Segregação Agregação
Associação
Estado
de Estados Confederação Federação
Unitário
Unitários
==274356==
De acordo com Abrucio8, duas condições levam à formação de uma federação. A primeira é a
existência de heterogeneidades dentro da nação. Estas podem ser derivadas de diferenças
geográficas (por exemplo, regiões em áreas tropicais terão necessidades e desejos diferentes de
regiões em áreas de clima frio), étnicas, linguísticas, socioculturais (áreas mais desenvolvidas
economicamente do que outras) e políticas (forma de desenvolvimento e origem de sua elite política
e sua relação com outras lideranças), dentre outras.
A outra condição, de acordo com o autor, é a existência de um discurso e uma prática defensores
da unidade na diversidade. Desta maneira, as diferenças são aceitas e compreendidas, mas se busca
a união para que todos sejam beneficiados. Assim, existe uma autonomia local, mas a integridade
territorial é conservada.
De certa forma, o federalismo é um sistema que permite que grupos com diferentes culturas,
religiões e características possam conviver em um mesmo país em harmonia9. Por exemplo, o Canadá
mantém-se até hoje unido, apesar de conter em seu território populações que foram colonizadas por
diferentes países (França e Inglaterra) e que falam línguas diferentes.
De acordo com Elazar10,
“Em essência, um arranjo federal é uma parceria, estabelecida e regulada por um pacto,
cujas conexões internas refletem um tipo especial de divisão de poder entre os parceiros,
baseada no reconhecimento mútuo da integridade de cada um e no esforço de favorecer
uma unidade especial entre eles.”
8
(Abrucio, 2005)
9
(Mendes, 2004)
10
(Elazar, 1987) apud (Abrucio, 2005)
11
(Acir, 1981) apud (Almeida, 2005)
1. Federalismo Dual – neste tipo, existe uma divisão clara de competências e um alto nível de
autonomia dos entes. Desta forma, os assuntos de âmbito nacional são deixados ao encargo
da União enquanto os assuntos de âmbito regional são tratados pelos estados. Cada ente
arrecada e administra seus próprios recursos;
2. Federalismo Centralizado – neste tipo, o poder fica centralizado na União. Assim, os Estados
tornam-se quase que agentes locais de um governo central, que arrecada praticamente todos
os tributos e controla boa parte das verbas orçamentárias;
3. Federalismo Cooperativo – caracteriza-se por uma ação conjunta entre os entes políticos.
Nesta situação, os Estados mantêm autonomia decisória e capacidade de arrecadar seus
recursos e administrá-los. Entretanto, há uma cooperação e integração maior do que no
Federalismo Dual. As principais políticas públicas necessitam de uma coordenação entre os
governos para funcionar. De acordo com a literatura, este é o sistema em que se encontra o
Brasil.
RESUMO
Características do Federalismo
Distribuição de Competências
A relação entre a União e as unidades federadas é regida por uma distribuição de competências
estabelecida na Constituição. Este arranjo detalha as responsabilidades exclusivas de cada nível de
governo, bem como as áreas de competência compartilhada.
Tal distribuição busca otimizar a governança ao permitir que cada nível de governo se concentre nas
áreas em que pode ser mais eficaz, seja na implementação de políticas nacionais ou no atendimento
às necessidades locais.
Autonomia Financeira
Para garantir que tanto a União quanto as unidades federadas possam cumprir suas
responsabilidades de forma efetiva, a cada esfera de governo é atribuída uma fonte de renda
própria. Isso significa que tanto o governo federal quanto os estaduais ou regionais têm autonomia
para arrecadar impostos e alocar seus recursos financeiros de acordo com suas competências e
necessidades.
Essa autonomia financeira é crucial para a operação independente dos diferentes níveis de governo,
permitindo uma gestão fiscal mais responsável e adaptada às realidades locais.
A formação de Estados Federais pode seguir diferentes trajetórias, cada uma refletindo as
circunstâncias históricas, políticas e sociais de suas unidades constituintes. Esses processos podem
ser categorizados principalmente em dois modos: centrípeto e centrífugo, que, apesar de
conduzirem ao federalismo, partem de pontos de partida opostos.
competências e autonomia.
Por exemplo, o nosso federalismo, que foi implantado com a Proclamação da República,
realmente descentralizou poderes, que anteriormente pertenciam ao governo central, aos
estados.
Gabarito: correta
(ALMG – ANALISTA) O federalismo moderno tem sua origem histórica nos Estados Unidos
do século XVIII, sendo visto como engenharia institucional para acomodar conflitos sociais e
políticos de base territorial e para constituição do Estado Nacional (SOARES; MACHADO,
2018). Essa experiência se expandiu pelo mundo, ganhando variados contornos e
especificidades, mas preservando algumas características básicas. Analise as afirmativas
sobre os elementos, dentre outros, que caracterizam o federalismo:
I. Divisão do poder realizada verticalmente, de modo que diferentes níveis de governo tenham
autoridade sobre a mesma população e território, sendo a eles atribuídas distintas jurisdições
governamentais de forma que sejam independentes entre si.
II. A pactuação entre as forças centrípetas que impulsionam a defesa da autonomia política e
decisória para as comunidades territoriais, e as forças centrifugas impulsionadoras do
fortalecimento do poder central em suas competências de caráter nacional.
III. A descentralização legislativa ou jurisdicional que significa a capacidade dos entes
nacionais de criar legislação própria, de forma que possam atuar livres de quaisquer
constrangimentos legais do poder central.
IV. Um processo de distribuição de poder que preserva um espaço jurisdicional exclusivo do
nível central, que lhe permita atuar independente da autorização prévia das unidades
territoriais autônomas.
Estão CORRETAS apenas as afirmativas:
A) I e IV.
B) I, II e III.
C) II e III.
D) II, III e lV.
Comentários
A primeira afirmativa descreve um princípio fundamental do federalismo: a divisão vertical do
poder. No federalismo, diferentes níveis de governo (federal, estadual, municipal) possuem
autoridade sobre a mesma população e território, mas com jurisdições distintas e certa
independência entre si.
Isso permite a coexistência de políticas governamentais em diversos níveis, cada um com suas
próprias competências e responsabilidades.
Já a segunda frase está errada, pois confunde o efeito do Federalismo por Agregação (Modo
Centrípeto) com o Federalismo por Segregação (Modo Centrífugo).
A terceira frase está também errada. Esta afirmativa sugere que os entes federativos possam
legislar livremente, sem qualquer restrição do poder central.
Embora o federalismo promova a descentralização legislativa, não significa que as unidades
federativas atuem completamente livres de constrangimentos legais impostos pelo governo
central. Há limites e competências definidas constitucionalmente que devem ser respeitados
Finalmente, a quarta frase está certa. No federalismo existe um espaço jurisdicional exclusivo
do governo central, permitindo-lhe atuar independentemente das unidades federativas. Isso
se refere às competências exclusivas do governo central, as quais não necessitam de
autorização prévia das entidades federativas para sua execução, assegurando que certas
funções essenciais ao Estado, como defesa nacional, política externa etc.
Gabarito: letra A
RESUMO
Federalismo Brasileiro
Contexto Histórico
Quando o Brasil trocou a coroa do império pela bandeira da república, abriu-se um novo capítulo na
história do país: o nascimento do federalismo. Este movimento não foi apenas uma mudança de
regime, mas uma resposta direta ao desejo de se afastar do centralismo que marcou o período
imperial.
Fabio Giambiagi aponta que essa transformação foi fundamental para entender a evolução política
do Brasil1.
A Virada de 1930
Em 1930, a harmonia entre as oligarquias foi quebrada, levando a uma revolução militar que mudou
a direção do país. Getúlio Vargas, uma figura central na história brasileira, emergiu desse período
turbulento como o novo líder do Brasil. Sua liderança marcou o início de uma era onde o governo
central retomou as rédeas, reduzindo significativamente a autonomia dos estados.
A Instabilidade de 1964
No entanto, a história tem seu jeito de testar as estruturas políticas. Em 1964, em meio a uma
crescente instabilidade política, um novo golpe militar abalou o Brasil. Os militares assumiram o
1
(Giambiagi & Além, 2008)
controle, iniciando um período em que o poder foi novamente centralizado, desta vez sob uma
ditadura que duraria até a década de 1980.
De acordo com Abrucio2:
2
(Abrucio, 2005)
3
(Giambiagi & Além, 2008)
A Crise da Descentralização
Na década de 1990, o aumento dos repasses desses fundos incentivou a criação de muitos
municípios, muitos dos quais não tinham condições de se sustentar sem auxílio externo. Esse
período viu o estabelecimento de um federalismo caracterizado por relações intergovernamentais
predatórias e não-cooperativas, marcadas por um comportamento individualista dos governadores.
De acordo com Abrucio5:
Este cenário levou a um comportamento individualista dos governadores, que utilizaram esta maior
autonomia para projetos personalistas de poder. Dentre os instrumentos utilizados, temos o uso dos
bancos estaduais como financiadores das ações dos próprios governos estaduais. Estes governos
transformaram estes bancos, portanto, em uma “máquina de fazer moeda”.
Este cenário explosivo de irresponsabilidade dos governadores gerou diversos “rombos” nas contas
estaduais. Por diversas vezes a União foi chamada para financiar os déficits dos estados.
E, de certa forma, com esta alternativa de ajuda os estados se sentiam “livres” para ter uma postura
irresponsável com as finanças públicas. Os entes subnacionais tinham sempre esta “porta” de
salvação, ou seja, de repassar suas dívidas para a União.
4
(Salles, 2010)
5
(Abrucio, 2005)
A busca pelo “socorro” da União era sempre a solução desejada pelos governadores nestes
momentos. De acordo com Mendes6:
“Essa situação começou a mudar quando o governo central percebeu que a estabilidade
macroeconômica do país dependia da imposição de uma restrição orçamentária forte aos
governos locais.”
Desta forma, a partir deste momento a União iniciou um extenso programa de renegociação das
dívidas estaduais, exigiu a privatização de diversos bancos estaduais e modelou um novo arcabouço
normativo que acabaria por gerar, entre outras medidas, a Lei de Responsabilidade Fiscal (que,
apesar de valer também para a União, foi um instrumento que buscou aumentar a disciplina dos
entes subnacionais).
Além disso, outro aspecto derivado da descentralização foi o imenso número de municípios criados
entre a Constituição Federal de 88 e a Emenda Constitucional n°15 de 1996.
Como a CF/88 tinha repassado aos estados a competência de instituir os critérios legais para a criação
de municípios, os estados passaram a incentivar a criação destes de forma irresponsável, “de olho”
nos recursos automáticos advindos do Fundo de Participação dos Municípios.
Isto ocorria porque cada município criado ganhava o direito de receber o FPM instantaneamente
depois de criado. Deste modo, ocorreu uma competição predatória entre os estados neste ponto7.
6
(Mendes, 2004)
7
(Torres, 2004)
Como mencionamos, após vinte anos de governo militar autoritário e centralizador, existia uma
grande demanda por uma maior descentralização política e uma gestão pública mais transparente
e democrática.
Este movimento irá “mostrar sua cara” na Assembleia Constituinte. A nova Constituição Federal
acabou transferindo poder da União para os estados e municípios.
Com a redemocratização, muitos dos “problemas” derivados de qualquer processo democrático
insipiente começaram a aparecer. Além disso, o colapso da economia na década de 80 só fez
aumentar as críticas, justas e injustas, sobre a capacidade do Estado de responder aos desafios da
sociedade brasileira.
A Constituição Federal de 1988 só aumentou os desafios deste Estado, pois criou diversos novos
direitos (sem especificar como seriam custeados) e distribuiu competências aos entes
subnacionais, dificultando a coordenação das políticas públicas entre a União e estes entes.
Um aspecto importante foi a descentralização, que, a princípio, aproxima os recursos e as
competências dos problemas concretos. A ideia era de que quanto mais próximo dos problemas
estivesse o Estado, melhor.
Entretanto, muitos dos municípios não tinham nenhuma estrutura e capacidade técnica e gerencial
para gerir as políticas públicas. Além disso, existia (e ainda existe) uma desigualdade muito grande
entre as capacidades das cidades grandes e das pequenas cidades (que muitas vezes são as mais
carentes). Portanto, a própria descentralização veio com seus pontos positivos e negativos.
O cenário pós Constituição Federal foi de grande dificuldade na gestão do Estado, pois a crise
econômica dificultava o planejamento e a falta de recursos e de coordenação entre os entes
prejudicava a gestão das políticas públicas que poderiam “reduzir” este impacto.
Com isso, começa a aparecer um discurso anti Estado, que o culpava pelo estado das coisas e
postulava uma retração tanto da intervenção deste na economia quanto das políticas públicas
sociais. Foi o que se chamou de neoliberalismo, a busca pelo Estado-mínimo.
Esta visão de mundo postulava que grande parte dos problemas da sociedade se dava pelo excesso
de Estado. Com isso, pedia um reposicionamento da intervenção do Estado.
Dentre as mudanças ocorridas na década de 90, uma das principais foi o processo de privatização de
empresas estatais e a criação de agências reguladoras, de modo que o Estado trocasse sua posição
de executor para uma posição de regulador da atividade econômica.
Outro aspecto importante foi a da publicização, com a descentralização das ações em direção a
atores não estatais, como as Organizações Sociais e as Organizações da Sociedade Civil de Interesse
Público – OSCIPs. A ideia era a de que estas organizações poderiam ser mais eficientes do que a
máquina estatal no fornecimento de serviços à população.
Além disso, passa a existir uma ideia de focalização dos gastos do governo. Ou seja, de que em um
contexto de escassez, deveriam existir prioridades. Assim, se não existem recursos para garantir
todos os direitos previstos na Constituição, dever-se-iam buscar atingir, prioritariamente, a
população mais carente.
Outra preocupação é a descontinuidade das políticas públicas. Com a transferência de poder de FHC
para Lula em 2003, e a manutenção de várias iniciativas e políticas do governo anterior, passou a
existir uma preocupação maior com a continuidade e as consistências das políticas públicas.
Sem essa continuidade, muitas políticas não conseguem se consolidar e mostrar resultados, pois
dependem de um prazo maior do que os mandatos eleitorais de quatro anos para funcionar.
Infelizmente, apesar de progressos recentes nesta área, ainda existe muita descontinuidade na
política brasileira.
8
(Farah, 2001)
união permanente e indissolúvel entre seus entes, não pode ser abolida ou alterada, assegurando
a permanência e a estabilidade do pacto federativo.
bens e serviços é fragmentada entre várias localidades menores, em vez de ser concentrada.
Ganhos de escala são mais tipicamente associados à centralização, onde a uniformidade e a
escala da produção podem reduzir os custos unitários.
Finalmente, a letra D está perfeita e indica corretamente um dos argumentos chave a favor da
descentralização: quanto mais heterogêneas forem as preferências locais por bens e serviços
públicos, maior será a vantagem de descentralizar as decisões sobre a oferta desses bens.
Isso permite que políticas e serviços sejam ajustados às necessidades específicas de diferentes
comunidades, promovendo uma alocação de recursos mais eficiente do que seria possível sob
um sistema centralizado.
Gabarito: letra D
==274356==
RESUMO
Coordenação Federativa
Muitas das políticas públicas em um país que adota o federalismo dependem da atuação de dois ou
mais níveis de Estado (poder central, estados e municípios). Desta forma, estes governos (no caso
do Brasil: União, estados e municípios) devem entender que são interdependentes e que devem
compartilhar as decisões e responsabilidades.
De acordo com Abrucio1:
“No caso dos sistemas federais, em que vigora uma soberania compartilhada, constituiu-
se um processo negociado e extenso de shared decision making (“processo decisório
compartilhado”), ou seja, de compartilhamento de decisões e responsabilidades.”
Desta forma, este compartilhamento deve acontecer para que as políticas públicas tenham sucesso.
Muitas ações governamentais devem ser aplicadas no nível local, por exemplo, mas necessitam de
financiamento da União para que possam acontecer.
Por outro lado, os estados e os municípios, devem desejar participar dos programas, ou seja, se não
existir um incentivo à participação destes entes regionais estes poderão não apoiar e executar a
política pública.
Como estes entes são autônomos, a organização dos programas governamentais em sistemas
federativos é uma tarefa mais complexa do que em um Estado unitário 2. Como sabemos, um
Presidente da República não tem comando sobre um Governador.
Assim, estes governos devem atuar em conjunto. Infelizmente, nem sempre as políticas públicas são
bem coordenadas. De acordo com Pierson3:
“No federalismo, dada a divisão de poderes entre os entes, as iniciativas políticas são
altamente interdependentes, mas são, de modo frequente, modestamente
coordenadas.”
1
(Abrucio, 2005)
2
(Abrucio, 2005)
3
(Pierson, 1995) apud (Abrucio, 2005)
Já a competição federativa é importante para que o poder central não consiga dominar os outros,
bem como para que a inovação possa florescer. É comum que diversas práticas administrativas
inovadoras e políticas públicas apareçam inicialmente em entes subnacionais.
Os próprios programas de renda mínima, tão elogiados atualmente, foram introduzidos nos estados
antes do governo federal (por exemplo, no governo do Distrito Federal em 1995).
Além disso, as diversas estratégias e modelos de gestão adotados nos diversos entes podem ser
comparados pelos eleitores, criando uma “competição positiva” entre os gestores públicos.
Entretanto, a competição pode ser danosa quando “joga” um ente contra os outros, em vez de levá-
los à cooperação e a integração. De acordo com Abrucio4, em países com grandes diferenças
socioeconômicas (como o Brasil) a competição entre os entes deve ser limitada para que as
diferenças não se acentuem.
Outro problema da competição federativa é a “guerra fiscal”, processo em que os estados e
municípios oferecem cada vez mais vantagens aos investidores para atrair projetos para suas regiões.
==274356==
Este processo pode levar a um enfraquecimento financeiro de todos os entes, pois o leilão (onde
cada estado oferece mais vantagens aos investidores) se torna predatório e os governos perdem suas
principais fontes de receita.
De acordo com Arretche5, o processo de coordenação federativa pode acontecer de acordo com
vários instrumentos:
1. Regras legais que obriguem os atores a compartilhar decisões e tarefas – definição das
competências no terreno das políticas públicas, por exemplo;
2. Existência de fóruns federativos, com a participação dos próprios entes – como são os
senados em geral;
3. Existência de cortes constitucionais, que possibilitem aos mesmos acionar a defesa de seus
direitos;
4. Construção de uma cultura política baseada no respeito mútuo e na negociação no plano
intergovernamental.
4
(Abrucio, 2005)
5
(Arretche, 2004) apud (Abrucio, 2005)
RESUMO
De acordo com muitos autores, o modelo de gestão das relações e dos programas governamentais
impacta diretamente nos resultados deles1.
Agranoff e McGuire, analisando o contexto dos programas governamentais norte-americanos,
descreveram quatro modelos de gestão federativa. Estes seriam2:
✓ Modelo de cima para baixo (top-down) - representa a manutenção do controle da esfera
federal sobre as demais no estabelecimento das relações necessárias à implementação e
execução de programas intergovernamentais. Ele enfatiza o emprego de normas e
instrumentos padronizados desenhados unilateralmente, o monitoramento dos resultados, o
domínio das transferências financeiras e sua regulação centralizada, entre outros;
✓ Modelo de trocas mútuas - enfatiza a construção de instrumentos de gestão e o alcance dos
objetivos por meio de mútua dependência entre os atores envolvidos. A base da gestão
consiste em processos de negociação a partir dos vínculos intergovernamentais construídos
pelo sistema federativo, em detrimento da dominação completa da esfera federal.
✓ Modelo de jurisdição - adota como princípio de gestão o estabelecimento, por governos
locais, de bases normativas, estratégias e vínculos necessários ao adequado cumprimento
das funções que lhes foram atribuídas no processo de descentralização. Para atingir seus
objetivos, os gestores locais selecionam e contatam os atores que detêm os recursos
estratégicos para o desenvolvimento das atividades, programas e projetos considerados
essenciais. Embora esse modelo proporcione maior grau de autonomia aos governos locais,
as esferas federal e regional ainda impõem restrições a sua ação, uma vez que ela se destina
a cumprir funções delegadas de cima, e não a construir ou aprimorar vocações próprias;
✓ Modelo de gestão em rede - a ação dos diversos atores relacionados à gestão do sistema
intergovernamental se verifica num ambiente onde os atores ou organizações não têm o
poder de determinar as estratégias dos demais. Logo o princípio da gestão consiste em
desenvolver vínculos colaborativos intensificando as relações de interdependência.
Dentro destes modelos, o que mais tem se mostrado adequado aos relacionamentos intraestatais
mais complexos, como o nosso caso, é o modelo de gestão em rede.
1
(Fleury & Ouverney, 2007)
2
(Agranoff e McGuire, 2001) apud (Fleury & Ouverney, 2007)
Coluna A
A1 - Construção conjunta de instrumentos de planejamento, implementação e avaliação e
gestão a partir da negociação entre as partes.
A2 - Estabelecimento por governos locais de suas próprias bases para atuação a partir de
funções delegadas normativamente.
A3 - Manutenção do controle pela esfera federal e emprego de normas e instrumentos
padronizados de regulação e avaliação de resultados.
A4 - Estabelecimento de bases colaborativas e estratégicas, intensificando as relações de
interdependência entre as partes.
Coluna B
B1 - Modelo de cima para baixo (top-down)
B2 - Modelo de gestão de redes ==274356==
(INÉDITA) Qual dos seguintes modelos de gestão federativa enfatiza o controle da esfera
federal sobre as demais na implementação de programas intergovernamentais?
A) Modelo de trocas mútuas.
B) Modelo de cima para baixo (top-down).
C) Modelo de jurisdição.
D) Modelo de gestão em rede.
E) Modelo de gestão autônoma.
Comentários
A questão pede para identificar qual dos modelos de gestão federativa destaca o papel
dominante da esfera federal sobre as outras esferas de governo na implementação de
programas intergovernamentais.
Assim, o gabarito é a letra B. O modelo de cima para baixo caracteriza-se pelo controle e
direção da esfera federal nas relações e na implementação de programas
intergovernamentais.
Ele enfatiza o uso de normas e instrumentos padronizados definidos unilateralmente pela
esfera federal, monitoramento de resultados, domínio das transferências financeiras e
regulação centralizada. Este modelo busca garantir que os objetivos federais sejam atingidos
através de uma gestão direta sobre as atividades das esferas subnacionais.
Gabarito: letra B
A letra D está errada, pois se assemelha à descrição do modelo de trocas mútuas, que enfatiza
a gestão através da dependência mútua entre diferentes níveis de governo e a negociação
como base para alcançar objetivos comuns. Embora a mútua dependência seja um aspecto do
modelo de gestão em rede, a opção A captura mais precisamente o princípio fundamental
desse modelo.
Finalmente, a letra E também descreve o princípio do modelo de cima para baixo (top-down),
que é baseado no controle da esfera federal sobre as demais. Isso contrasta diretamente com
o conceito de gestão em rede, que se baseia na colaboração e interdependência, não no
controle centralizado.
Gabarito: letra A
RESUMO
Ministério da Saúde
Como gestor nacional, o Ministério da Saúde estabelece diretrizes, normas e políticas, em
consonância com o Conselho Nacional de Saúde. Sua atuação é fundamental na Comissão
Intergestores Tripartite, que pactua o Plano Nacional de Saúde, integrando diferentes instituições e
agências federais na execução de suas políticas.
1
Fonte: Sistema Único de Saúde - SUS — Ministério da Saúde (www.gov.br)
Regionalização e Hierarquização
Os serviços de saúde são organizados em níveis crescentes de complexidade e distribuídos
geograficamente, garantindo que o atendimento seja otimizado e direcionado conforme as
necessidades epidemiológicas locais.
municípios maior autonomia. O comando único em cada esfera de governo assegura que, apesar da
autonomia, os princípios e diretrizes gerais do SUS sejam mantidos.
Participação Popular
A inclusão da sociedade na gestão do SUS é realizada através dos Conselhos e Conferências de
Saúde, assegurando que as políticas de saúde reflitam as necessidades e as vontades da população.
Desafios e Autonomia
Apesar da ausência de uma hierarquia formal entre União, Estados e Municípios, o SUS enfrenta
desafios de coordenação e financiamento. A autonomia administrativa, legislativa e tributária de
cada ente federativo é fundamental para a execução das políticas de saúde, porém requer uma
constante negociação e pactuação para garantir a efetividade do sistema.
Conclusão
O SUS, com sua estrutura federativa complexa, representa um marco na saúde pública brasileira,
ilustrando tanto os desafios quanto as potencialidades de uma coordenação federativa eficaz.
Apesar dos obstáculos, o sistema continua a ser um exemplo de compromisso com a saúde como
um direito universal, refletindo o espírito de solidariedade e participação que caracteriza o
federalismo brasileiro.
qualidade. Essa educação visa formar cidadãos conscientes, trabalhadores qualificados e indivíduos
plenos, conforme delineado no Art. 2052.
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Fonte: Constituição (planalto.gov.br)
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Fonte: L9394 (planalto.gov.br)
Conclusão
O sistema educacional brasileiro, estruturado pela Constituição Federal e pela LDB, reflete um
modelo de federalismo descentralizado que busca equilibrar competências entre União, Estados,
Distrito Federal e Municípios.
Embora desafios persistam, a estruturação federativa promove uma colaboração essencial para a
melhoria contínua da qualidade educacional, almejando atender às necessidades de todos os
cidadãos brasileiros.
(PREF. ILHABELA – ANALISTA) Os programas Mais Médicos e Médicos pelo Brasil, apesar
de diferenças em termos de escolha da alternativa de ação, partem de um mesmo diagnóstico:
a falta de profissionais de saúde em diversas localidades brasileiras. Assim, o Ministério da
Saúde busca resolver uma demanda vinda, sobretudo, de municípios com maior
vulnerabilidade social e mais distantes dos grandes centros urbanos. Essas ações evidenciam
um panorama em que
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Fonte: Fundeb - home — Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (www.gov.br)
A) a dependência dos entes subnacionais de políticas públicas federais, sobretudo no caso dos
pequenos municípios, é um traço característico do federalismo brasileiro.
B) a dificuldade na implementação dos programas advém do caráter centralizador do SUS.
C) o protagonismo federal na resolução desse problema local é um exemplo pontual, não
ocorrendo em outras áreas em que os municípios têm autonomia para agir.
D) a capilaridade da política pública de saúde é prejudicada por essa ação centralizadora do
governo federal.
E) há a federalização do problema e, portanto, os municípios não podem mais ser
responsabilizados por eventuais fracassos na gestão da saúde em seus territórios.
Comentários
A letra A está certa e reflete a realidade do federalismo brasileiro, onde os municípios
frequentemente dependem de apoio federal para lidar com desafios que ultrapassam suas
capacidades administrativas e financeiras, especialmente em áreas cruciais como a saúde.
A ação do governo federal nos programas Mais Médicos e Médicos pelo Brasil exemplifica essa
dependência, visando superar a escassez de profissionais de saúde em áreas menos acessíveis
e mais vulneráveis.
A letra B está errada, pois o Sistema Único de Saúde (SUS) tem um modelo descentralizado
de gestão, embora enfrente desafios de execução devido a diversos fatores, como
financiamento, gestão de recursos e logística.
A letra C está também errada, pois o protagonismo federal não se limita a um exemplo
pontual; em diversas áreas, especialmente em saúde, educação e segurança, o governo
federal desempenha um papel crucial ao complementar ou subsidiar esforços locais.
A letra D está incorreta. As iniciativas do governo federal, como os programas Mais Médicos e
Médicos pelo Brasil, visam aumentar a capilaridade do SUS, levando serviços de saúde a áreas
onde os municípios sozinhos não conseguem garantir adequada cobertura médica. Portanto,
essas ações tendem a fortalecer, e não a prejudicar, a capilaridade da política de saúde pública.
Finalmente, a letra E está equivocada porque os municípios continuam com a
responsabilidade de gerir a saúde em seus territórios, incluindo a implementação de
programas federais. A cooperação entre os diferentes níveis de governo é essencial, e os
municípios são parte integral desse processo, não estando isentos de responsabilidade.
Gabarito: letra A
(PREF. SÃO PAULO – ANALISTA) A pandemia de Covid-19 exigiu dos entes governamentais
no Brasil uma série de políticas públicas emergenciais, com os atores atuando como
bombeiros diante de uma situação crítica. Observando a dinâmica subnacional na ocasião e
levando em consideração os preceitos do federalismo brasileiro, é correto afirmar que:
A) transcorreu-se uma série de quebras à hierarquia dos entes, que atuavam com estratégias
distintas e, por vezes, contraditórias entre si.
B) ocorreu uma fragmentação das políticas de combate à Covid-19, sobretudo pela falta de
coordenação de uma política nacional.
RESUMO