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Aula 07 (Prof.

Rodrigo
Rennó)
CNU - Políticas Públicas - 2024
(Pós-Edital)

Autor:
Stefan Fantini, Rodrigo Rennó

24 de Fevereiro de 2024

02849056235 - nazare maciel da silva


Stefan Fantini, Rodrigo Rennó
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Índice
1) Estado e Governo
..............................................................................................................................................................................................3

2) Estado Simples e Estado Composto


..............................................................................................................................................................................................
11

3) Características do Federalismo
..............................................................................................................................................................................................
17

4) Federalismo Brasileiro
..............................................................................................................................................................................................
24

5) Coordenação Federativa
..............................................................................................................................................................................................
38

6) Modelos de Gestão Federativa


..............................................................................................................................................................................................
44

7) Organização e Funcionamento dos Sistemas de Programas Nacionais


..............................................................................................................................................................................................
49

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FEDERALISMO E DESCENTRALIZAÇÃO DE POLÍTICAS


PÚBLICAS NO BRASIL

Teoria das Formas de Estado

Estado e Governo

Estado e Governo não são a mesma coisa. É comum a confusão entre os conceitos de Estado e
Governo, dada a proximidade de suas funções e interações no âmbito político. No entanto, é crucial
distinguir essas duas entidades para compreender plenamente a mecânica da governança e da
==274356==

administração pública.

O Estado: Uma Entidade Permanente


O Estado é uma estrutura sociopolítica e jurídica que possui soberania sobre um território e sua
população. Caracteriza-se pela estabilidade (ao menos teoricamente), pois transcende as mudanças
políticas e governamentais.
Ele estabelece leis, mantém a ordem interna, defende-se de ameaças externas e organiza a vida em
sociedade através de instituições permanentes. O Estado é, portanto, uma entidade abstrata,
definida mais por seu papel regulador e normativo do que por sua tangibilidade.

O Governo: A Execução Dinâmica do Poder


Em contraste, o Governo é a expressão dinâmica do Estado; é o conjunto de órgãos e indivíduos
responsáveis pela direção política, pela tomada de decisões e pela implementação de políticas
públicas1.
O Governo opera através de suas funções básicas: executiva, legislativa e jurídica, atuando como o
motor que impulsiona a realização dos objetivos estatais.
Diferentemente do Estado, o Governo é caracterizado por sua transitoriedade, visto que seus
membros e políticas mudam de acordo com os resultados eleitorais, refletindo a vontade do povo
e as necessidades emergentes da sociedade.
Assim, o Governo é um instrumento pelo qual o Estado atua na arena pública. Desta maneira, é um
ente tangível, enquanto o Estado é um ente intangível.
De acordo com Dias2:

1
(Paludo, 2010)
2
(Dias, 2010)

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“O governo constitui-se no sujeito principal da ação política. Podemos defini-lo como o


conjunto de órgãos estáveis que atualizam, coordenam, instrumentam e orientam a ação
política que se expressa como fins do Estado e que se desenvolve no exercício de suas
funções básicas: executiva, legislativa e jurídica.”

Essa definição mostra a centralidade do Governo na articulação e execução da visão do Estado,


enfatizando seu papel ativo na gestão pública e na liderança política.

Três Poderes do Estado

O conceito do Estado moderno é fundamentalmente ancorado na separação e no equilíbrio de


poderes, uma inovação política projetada para promover a governança eficaz e prevenir a tirania.
Esta estrutura é composta por três ramos distintos: o Poder Executivo, o Poder Legislativo e o Poder
Judiciário. A essência dessa divisão é garantir um sistema de "freios e contrapesos", evitando a
concentração de poder que poderia levar ao abuso e à dominação.

O Poder Legislativo: A Força da Lei


O Poder Legislativo, encarregado da criação de leis, representa a vontade do povo. Seus membros
são eleitos diretamente pela população ou por meio de representação proporcional.
Este poder é o cerne da democracia, pois legisla sobre os assuntos de Estado, determinando as regras
pelas quais a sociedade deve se organizar e comportar.
No entanto, sua função é claramente delimitada; ele não possui a capacidade de executar as leis que
cria nem de julgar os conflitos que delas decorrem.

O Poder Executivo: A Implementação das Leis


O Poder Executivo é responsável pela administração do Estado, assegurando que as leis e políticas
estabelecidas pelo Legislativo sejam implementadas. Liderado pela figura do Presidente, Primeiro-
Ministro ou Monarca, dependendo do sistema de governo, este poder tem a tarefa de gerir os
recursos nacionais, defender o país, e administrar os serviços públicos.
Embora tenha a autoridade de propor legislação e, em certos contextos, emitir decretos, sua
principal função é a execução, não a criação de leis do zero, nem a interpretação jurídica delas.

O Poder Judiciário: O Guardião da Justiça


O Poder Judiciário, por sua vez, é o pilar da interpretação, aplicação e fiscalização da lei.
Independentemente dos outros poderes, tem a última palavra sobre a legalidade das ações do
governo e dos cidadãos, assegurando que tanto as leis quanto sua aplicação estejam em
conformidade com a constituição.

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Este poder é essencial para a manutenção do Estado de Direito, pois garante que os direitos
individuais e coletivos sejam protegidos contra possíveis abusos dos poderes Legislativo e Executivo.

A Influência de Montesquieu
A doutrina da separação de poderes foi articulada por Charles-Louis de Secondat, Barão de
Montesquieu, em sua obra seminal "O Espírito das Leis" (1748). Montesquieu defendia que a
liberdade política em um Estado seria mais bem garantida por uma distribuição equitativa de poder
entre ramos independentes, cada um com suas próprias funções e limites. Sua teoria foi inspirada
pela observação da Constituição da Inglaterra, que ele considerava um modelo de equilíbrio entre
poderes3.

(ALMG – ANALISTA) O Estado e o Governo, a partir do Estado de Direito, possuem a seguinte


correlação:
A) Governo e Estado são sinônimos, identificando-se os membros do governo como pessoas
do Estado.
B) Governo é função do Estado de alternância periódica, cujos membros são distintos do
Estado e sujeitos à responsabilidade.
C) O Estado se sujeita irrestritamente ao governo, ainda que este seja composto por
alternância periódica.
D) Os membros do povo possuem, perante o Estado, qualidade de súditos, mas, perante o
Governo, possuem a qualidade de cidadãos/indivíduos.
Comentários
A letra A está errada, pois Estado e Governo não são sinônimos. O Estado é uma entidade que
possui soberania e é composto por três elementos essenciais: território, povo e soberania. O
Governo, por outro lado, é um dos elementos constitutivos do Estado, responsável pela
administração pública e pela implementação de políticas públicas, mas não é sinônimo de
Estado.
Já a letra B está perfeita. O Governo é de fato uma função dentro do Estado, caracterizada
pela alternância periódica de seus membros através de eleições ou outros mecanismos de
transição de poder. Os membros do Governo são distintos do Estado em si, e estão sujeitos a
responsabilidades e obrigações legais.
A letra C está errada. O Estado, enquanto entidade soberana, não se sujeita irrestritamente ao
Governo. O Governo é um órgão do Estado, e suas ações devem estar alinhadas com a
Constituição e as leis do país, estando sujeito a mecanismos de controle e fiscalização.

3
(Dias, 2010)

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Finalmente, a letra D está incorreta. Em um Estado de Direito, os membros do povo são


considerados cidadãos tanto em relação ao Estado quanto em relação ao Governo. O conceito
de súditos é mais associado a regimes monárquicos ou autoritários, onde há uma
subordinação clara e a falta de direitos políticos plenos.
Gabarito: letra B

(INÉDITA) Qual das seguintes afirmações melhor descreve a diferença entre Estado e
Governo?
A) Estado e Governo são termos intercambiáveis que se referem à mesma entidade
organizacional e administrativa de um país.

B) O Estado refere-se à estrutura física do país, incluindo suas edificações governamentais e


infraestrutura, enquanto o Governo é o conjunto de leis e regulamentos que regem o país.
C) O Estado é uma entidade jurídica permanente composta por território, povo e soberania,
enquanto o Governo é a instituição ou conjunto de instituições que exercem a autoridade e
conduzem a política do Estado, sendo sujeito a mudanças devido a eleições ou outras formas
de seleção de liderança.
D) O Governo é responsável por estabelecer o território nacional, enquanto o Estado é uma
entidade transitória que muda com a eleição de novos governantes.
E) Estado é o conjunto de políticas públicas implementadas para o bem-estar social, e o
Governo é a organização internacional que fiscaliza a implementação dessas políticas.
Comentários
Esta questão aborda claramente as diferenças fundamentais entre Estado e Governo,
enfatizando a permanência e os elementos constitutivos do Estado em contraste com a
natureza transitória e administrativa do Governo.
A letra A está errada. Estado e Governo não são termos intercambiáveis. O Estado é uma
entidade que possui uma base jurídica permanente e inclui território definido, uma população
permanente, e soberania. O Governo, por outro lado, é o conjunto de instituições ou
indivíduos que administram e conduzem os assuntos do Estado em um dado momento, sujeito
a mudanças por eleições ou outros processos.
A letra B está também errada. O Estado não se limita à estrutura física ou às edificações
governamentais. O Governo não é simplesmente o conjunto de leis e regulamentos; ele é a
instituição responsável pela execução e administração das políticas públicas, pela manutenção
da ordem e pelo exercício da autoridade estatal.
Já a letra C é a afirmação correta. Ela distingue adequadamente entre o conceito de Estado e
o Governo.
A letra D está errada, pois o território nacional é um dos elementos constitutivos do Estado,
não algo que o Governo estabelece. Além disso, o Estado não é uma entidade transitória; ele
mantém sua continuidade independentemente das mudanças de Governo.

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Finalmente, a letra E também é incorreta. O Estado não se limita ao conjunto de políticas


públicas; ele é uma entidade soberana com território, povo e governo. O Governo, por sua vez,
não é uma organização internacional, mas sim o conjunto de instituições nacionais que
executa e administra as leis e políticas dentro de um Estado.
Gabarito: letra C

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Estado Simples e Estado Composto

Na análise das organizações políticas globais, os Estados manifestam-se através de estruturas


variadas, refletindo a diversidade de suas histórias, culturas e objetivos políticos. Os Estados podem
ser classificados em simples e compostos.
O Estado simples é o mais comum em nossa sociedade e pode ser dividido em Estado Unitário e
Estado Federal1.
De acordo com Farias Neto2,

“Um Estado simples está constituído sob uma só soberania em uma determinada nação,
apresentando a sua população homogênea, o seu território delimitado e o seu poder
público constituído por uma única entidade expressa como governo nacional.”

Já os Estados compostos são formados pela junção de dois ou mais Estados, com uma coexistência
de soberanias3. Os Estados compostos representam uma configuração mais complexa, onde
múltiplas entidades políticas soberanas se unem sob uma estrutura coletiva.
Este arranjo permite a coexistência de soberanias, preservando a identidade e autonomia dos
Estados membros enquanto estabelece um sistema de governança compartilhada para assuntos de
interesse mútuo.
É o caso das confederações ou das comunidades de nações. As confederações são alianças de
Estados soberanos que se unem para propósitos específicos, como defesa ou política externa,
mantendo sua independência em assuntos internos. Este tipo de estrutura é marcado por um
governo central com poderes limitados, que depende do consentimento dos Estados membros para
a tomada de decisões.
Historicamente, a Confederação Suíça (até sua transformação em um estado federal em 1848) e os
Estados Confederados da América (1861-1865) são exemplos clássicos de confederações. No mundo
contemporâneo, não existem exemplos de confederações no sentido estrito.
Já as Comunidades ou Uniões de Nações são compostas por Estados independentes que colaboram
em diversas áreas — econômica, política, social e jurídica — mantendo sua soberania, mas
abdicando de parte dela em favor de instituições supranacionais.
Como exemplo, temos a União Europeia. Estas entidades visam promover a integração e cooperação
entre os Estados membros, equilibrando a autonomia nacional com objetivos compartilhados.
Um sistema confederado é aquele em que os estados membros mantém sua soberania, sendo mais
fortes politicamente do que a confederação. A lógica deste sistema é a individualidade dos Estados
(pois, têm suas leis próprias), mas estes renunciam a certos poderes para terem uma legislação

2
(Farias Neto, 2011)
3
(Farias Neto, 2011)

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comum com os outros entes da confederação, buscando assim vantagens relativas a esta união sem
ter de abrir mão de sua soberania política4.

Estado Unitário e Estado Federal

O termo federal é derivado do latim foedus, que significa pacto ou união5. Desta forma, o federalismo
é um sistema político que se afasta do centralismo do Estado unitário. Assim, um Estado federal
busca garantir uma autonomia para os Estados subnacionais dentro de uma mesma nação.
Ao contrário do Estado federal, um Estado unitário é aquele em que todo o poder se concentra em
um só ente. Dentre alguns exemplos de Estados unitários, por exemplo, temos Portugal.
Até mesmo por sua pequena dimensão territorial, não se fez necessária para o Estado português a
descentralização do poder. Desta forma, toda a estrutura normativa (sistema jurídico) é única (ou
seja, não existe justiça federal e estadual, como no Brasil).
De acordo com Mendes6, um governo unitário é aquele no qual o controle das decisões
governamentais está nas mãos do governo nacional. Não há governos estaduais ou municipais com
poderes constitucionais, mas apenas agências locais sob o comando do governo central.
Já o sistema de governo federal tem um grau de unificação maior do que a confederação e menor do
que no governo unitário. De acordo com Matias-Pereira7:

“No sistema federativo, a soberania enquanto poder supremo, uno e indivisível é


prerrogativa exclusiva da União, a quem cabe gerir os assuntos de interesse geral. Aos
Estados federados são garantidas aquelas competências e autonomias necessárias à
gestão e decisão sobre assuntos locais e a eleição de seus governantes.”

4
(Mendes, 2004)
5
(Matias-Pereira, 2009)
6
(Mendes, 2004)
7
(Matias-Pereira, 2009)

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Segregação Agregação

Associação
Estado
de Estados Confederação Federação
Unitário
Unitários

==274356==

Figura 1 - Formas de Estado

De acordo com Abrucio8, duas condições levam à formação de uma federação. A primeira é a
existência de heterogeneidades dentro da nação. Estas podem ser derivadas de diferenças
geográficas (por exemplo, regiões em áreas tropicais terão necessidades e desejos diferentes de
regiões em áreas de clima frio), étnicas, linguísticas, socioculturais (áreas mais desenvolvidas
economicamente do que outras) e políticas (forma de desenvolvimento e origem de sua elite política
e sua relação com outras lideranças), dentre outras.
A outra condição, de acordo com o autor, é a existência de um discurso e uma prática defensores
da unidade na diversidade. Desta maneira, as diferenças são aceitas e compreendidas, mas se busca
a união para que todos sejam beneficiados. Assim, existe uma autonomia local, mas a integridade
territorial é conservada.
De certa forma, o federalismo é um sistema que permite que grupos com diferentes culturas,
religiões e características possam conviver em um mesmo país em harmonia9. Por exemplo, o Canadá
mantém-se até hoje unido, apesar de conter em seu território populações que foram colonizadas por
diferentes países (França e Inglaterra) e que falam línguas diferentes.
De acordo com Elazar10,

“Em essência, um arranjo federal é uma parceria, estabelecida e regulada por um pacto,
cujas conexões internas refletem um tipo especial de divisão de poder entre os parceiros,
baseada no reconhecimento mútuo da integridade de cada um e no esforço de favorecer
uma unidade especial entre eles.”

De acordo com a tipologia de Acir11, existem três tipos de federalismos:

8
(Abrucio, 2005)
9
(Mendes, 2004)
10
(Elazar, 1987) apud (Abrucio, 2005)
11
(Acir, 1981) apud (Almeida, 2005)

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1. Federalismo Dual – neste tipo, existe uma divisão clara de competências e um alto nível de
autonomia dos entes. Desta forma, os assuntos de âmbito nacional são deixados ao encargo
da União enquanto os assuntos de âmbito regional são tratados pelos estados. Cada ente
arrecada e administra seus próprios recursos;
2. Federalismo Centralizado – neste tipo, o poder fica centralizado na União. Assim, os Estados
tornam-se quase que agentes locais de um governo central, que arrecada praticamente todos
os tributos e controla boa parte das verbas orçamentárias;
3. Federalismo Cooperativo – caracteriza-se por uma ação conjunta entre os entes políticos.
Nesta situação, os Estados mantêm autonomia decisória e capacidade de arrecadar seus
recursos e administrá-los. Entretanto, há uma cooperação e integração maior do que no
Federalismo Dual. As principais políticas públicas necessitam de uma coordenação entre os
governos para funcionar. De acordo com a literatura, este é o sistema em que se encontra o
Brasil.

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Características do Federalismo

A formação de um estado federado é um processo de união que transcende a simples colaboração


entre Estados, criando uma entidade nova e soberana. Os Estados Federados têm as seguintes
características comuns:

Compartilhamento do Poder Político


Uma característica fundamental de um estado federado é o compartilhamento do poder político.
Esse poder é dividido de maneira estruturada entre a União, que detém a soberania do Estado
Federal, e as unidades federadas, que são os Estados ou regiões que compõem a federação.
Essa distribuição permite que ambos os níveis de governo tenham papéis significativos na
governança, com áreas de responsabilidade claramente definidas para evitar sobreposições ou
conflitos de autoridade.

Base Jurídica e Constituição


Ao contrário de uma aliança formada por tratados entre Estados soberanos, a base jurídica de um
estado federado é solidificada através de uma Constituição. Esta Constituição é a lei suprema do
país, estabelecendo não apenas a estrutura de governo e os direitos fundamentais dos cidadãos,
mas também delineando o relacionamento entre a União e as unidades federadas.
É ela que define os poderes compartilhados e as limitações de cada nível de governo, servindo como
o alicerce legal sobre o qual todo o sistema federativo é construído.

Soberania do Estado Federal


Dentro de uma federação, apenas o Estado Federal é reconhecido como soberano. Isso significa
que, embora as unidades federadas mantenham uma certa autonomia interna, elas não possuem
soberania no sentido internacional do termo.
O Estado Federal é quem representa a federação como um todo nas relações exteriores, detém o
poder de defesa e segurança nacional, e exerce a autoridade última sobre questões que afetam o
país como um todo.

Ausência do Direito de Secessão


Uma implicação importante da formação de um estado federado é a inexistência do direito de
secessão para as unidades federadas. Ao entrar na federação, as unidades comprometem-se a
permanecer parte do Estado Federal, sem a opção de se separar unilateralmente.
Isso assegura a estabilidade e a integridade territorial do Estado Federal, evitando a fragmentação e
os conflitos internos que poderiam surgir se a secessão fosse permitida.

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Distribuição de Competências
A relação entre a União e as unidades federadas é regida por uma distribuição de competências
estabelecida na Constituição. Este arranjo detalha as responsabilidades exclusivas de cada nível de
governo, bem como as áreas de competência compartilhada.
Tal distribuição busca otimizar a governança ao permitir que cada nível de governo se concentre nas
áreas em que pode ser mais eficaz, seja na implementação de políticas nacionais ou no atendimento
às necessidades locais.

Autonomia Financeira
Para garantir que tanto a União quanto as unidades federadas possam cumprir suas
responsabilidades de forma efetiva, a cada esfera de governo é atribuída uma fonte de renda
própria. Isso significa que tanto o governo federal quanto os estaduais ou regionais têm autonomia
para arrecadar impostos e alocar seus recursos financeiros de acordo com suas competências e
necessidades.
Essa autonomia financeira é crucial para a operação independente dos diferentes níveis de governo,
permitindo uma gestão fiscal mais responsável e adaptada às realidades locais.

Processos de Formação do Federalismo - Modos Centrípeto e Centrífugo

A formação de Estados Federais pode seguir diferentes trajetórias, cada uma refletindo as
circunstâncias históricas, políticas e sociais de suas unidades constituintes. Esses processos podem
ser categorizados principalmente em dois modos: centrípeto e centrífugo, que, apesar de
conduzirem ao federalismo, partem de pontos de partida opostos.

Modo Centrípeto: A União por Acordo


No modo centrípeto, o federalismo nasce do acordo entre unidades políticas previamente
independentes. Essas unidades, seja por reconhecimento de afinidades culturais, econômicas ou pela
necessidade de fortalecer sua posição em um contexto internacional, decidem unir forças sob uma
nova estrutura estatal.
Esse federalismo por agregação, é caracterizado pela concentração de poderes que anteriormente
estavam dispersos.
O acordo é formalizado por um tratado, que estabelece as bases do novo Estado Federal, definindo
a natureza da união e as competências de cada membro. Os Estados Unidos representam um
exemplo clássico do modo centrípeto.
Originalmente, as treze colônias britânicas na América do Norte, após a Declaração de Independência
em 1776, reconheceram a necessidade de uma união para fortalecer sua recém-conquistada
liberdade e proteger seus interesses comuns.
Após um período sob os Artigos da Confederação, percebeu-se a necessidade de uma estrutura
federal mais robusta, culminando na Constituição de 1787, que criou um sistema federal duradouro.

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Modo Centrífugo: A Transformação do Estado Unitário


Contrastando com o processo centrípeto, o modo centrífugo envolve a transformação de um Estado
unitário preexistente em um Estado Federal. Essa mudança é geralmente motivada pela necessidade
de acomodar diversidades regionais, étnicas ou linguísticas dentro de um único país, concedendo às
unidades constituintes um grau de autonomia.
O processo envolve a redistribuição de poderes do governo central para as unidades, permitindo-
lhes participar mais ativamente na formação da vontade política da União. Esse federalismo por
segregação descreve a descentralização do poder de um Estado central para unidades constituintes
dentro de um país.
O Brasil é um exemplo emblemático do modo centrífugo de federalismo. Originalmente organizado
como um Estado unitário após sua independência de Portugal em 1822, o país passou por várias
reconfigurações territoriais e políticas.
A Proclamação da República em 1889 marcou a transição para um sistema federativo, em resposta
às demandas por maior autonomia das províncias, que se tornaram estados federados. Esse
movimento visava integrar diversas regiões sob um governo central, respeitando suas
particularidades e conferindo-lhes participação na governança nacional.

(DPE-SP - DEFENSOR PÚBLICO) Quanto ao federalismo é correto afirmar:


a) Consiste na divisão de poder entre governo central e governos regionais na qual cada ente
federativo, definido geograficamente, mantém sua soberania.
b) É uma forma de Estado frequente: há mais de duas vezes estados federais que unitários.
c) Não permite diferentes formas de governo entre as unidades regionais ou locais
componentes da federação e as unidades centrais.
d) É costumeiro em países relativamente extensos ou aqueles de menor diversidade social e
cultural.
e) A autonomia federativa assenta-se na existência de órgãos governamentais próprios e com
competências exclusivas.
Comentários
A primeira alternativa está incorreta, pois no Federalismo os entes subnacionais mantêm sua
autonomia, e não soberania. A letra B inverte a situação, pois o Estado unitário é bem mais
frequente que o Estado federal.
A Letra C também está equivocada, pois não existe nenhuma limitação para que existam
formas diferentes de governo dentro do Estado federal, desde que permitidas pela

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constituição. A opção D também está com um pequeno erro. O federalismo é comum em


países que têm maior (e não menor) diversidade social e cultural.
A alternativa E está correta.
Gabarito: letra E

(IRBR - DIPLOMATA) O federalismo constituiu-se em diferença marcante em relação ao


Império, cuja estrutura unitária conferia amplos poderes ao governo central.
Comentários
A afirmação destaca uma característica fundamental do federalismo em contraste com
sistemas de governo unitários, como era o caso de muitos impérios históricos. O federalismo,
como forma de organização estatal, se distingue precisamente por sua estrutura de divisão de
poder entre diferentes níveis de governo (federal, estadual, local), cada um com suas próprias
==274356==

competências e autonomia.
Por exemplo, o nosso federalismo, que foi implantado com a Proclamação da República,
realmente descentralizou poderes, que anteriormente pertenciam ao governo central, aos
estados.
Gabarito: correta

(ALMG – ANALISTA) O federalismo moderno tem sua origem histórica nos Estados Unidos
do século XVIII, sendo visto como engenharia institucional para acomodar conflitos sociais e
políticos de base territorial e para constituição do Estado Nacional (SOARES; MACHADO,
2018). Essa experiência se expandiu pelo mundo, ganhando variados contornos e
especificidades, mas preservando algumas características básicas. Analise as afirmativas
sobre os elementos, dentre outros, que caracterizam o federalismo:
I. Divisão do poder realizada verticalmente, de modo que diferentes níveis de governo tenham
autoridade sobre a mesma população e território, sendo a eles atribuídas distintas jurisdições
governamentais de forma que sejam independentes entre si.
II. A pactuação entre as forças centrípetas que impulsionam a defesa da autonomia política e
decisória para as comunidades territoriais, e as forças centrifugas impulsionadoras do
fortalecimento do poder central em suas competências de caráter nacional.
III. A descentralização legislativa ou jurisdicional que significa a capacidade dos entes
nacionais de criar legislação própria, de forma que possam atuar livres de quaisquer
constrangimentos legais do poder central.
IV. Um processo de distribuição de poder que preserva um espaço jurisdicional exclusivo do
nível central, que lhe permita atuar independente da autorização prévia das unidades
territoriais autônomas.
Estão CORRETAS apenas as afirmativas:
A) I e IV.
B) I, II e III.

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C) II e III.
D) II, III e lV.
Comentários
A primeira afirmativa descreve um princípio fundamental do federalismo: a divisão vertical do
poder. No federalismo, diferentes níveis de governo (federal, estadual, municipal) possuem
autoridade sobre a mesma população e território, mas com jurisdições distintas e certa
independência entre si.
Isso permite a coexistência de políticas governamentais em diversos níveis, cada um com suas
próprias competências e responsabilidades.
Já a segunda frase está errada, pois confunde o efeito do Federalismo por Agregação (Modo
Centrípeto) com o Federalismo por Segregação (Modo Centrífugo).
A terceira frase está também errada. Esta afirmativa sugere que os entes federativos possam
legislar livremente, sem qualquer restrição do poder central.
Embora o federalismo promova a descentralização legislativa, não significa que as unidades
federativas atuem completamente livres de constrangimentos legais impostos pelo governo
central. Há limites e competências definidas constitucionalmente que devem ser respeitados
Finalmente, a quarta frase está certa. No federalismo existe um espaço jurisdicional exclusivo
do governo central, permitindo-lhe atuar independentemente das unidades federativas. Isso
se refere às competências exclusivas do governo central, as quais não necessitam de
autorização prévia das entidades federativas para sua execução, assegurando que certas
funções essenciais ao Estado, como defesa nacional, política externa etc.
Gabarito: letra A

(CÂMARA DOS DEPUTADOS - ANALISTA) O federalismo, embora não elimine a


possibilidade de ocorrência de conflitos políticos entre os estados-membros, oferece
alternativas de resolução desses conflitos.
Comentários
O federalismo, de fato, não elimina a possibilidade de conflitos políticos entre os estados-
membros ou entre estes e o governo central. Esses conflitos podem surgir por várias razões,
incluindo disputas sobre a distribuição de recursos, competências legislativas, políticas
públicas, e questões de autonomia e soberania.
No entanto, o federalismo também é projetado para oferecer mecanismos de resolução
desses conflitos, contribuindo para a estabilidade política e a coesão social dentro de um país
diversificado.
Assim, por exemplo, o sistema judiciário desempenha um papel crucial na resolução de
conflitos no federalismo. Cortes constitucionais ou supremas cortes frequentemente têm a
autoridade final para interpretar a constituição e as leis, resolvendo disputas entre estados-
membros e entre estes e o governo central.
Gabarito: correta

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Federalismo Brasileiro

Contexto Histórico
Quando o Brasil trocou a coroa do império pela bandeira da república, abriu-se um novo capítulo na
história do país: o nascimento do federalismo. Este movimento não foi apenas uma mudança de
regime, mas uma resposta direta ao desejo de se afastar do centralismo que marcou o período
imperial.
Fabio Giambiagi aponta que essa transformação foi fundamental para entender a evolução política
do Brasil1.

O Poder nas Mãos dos Estados


Nos primeiros dias da República, algo notável aconteceu: os governos estaduais ganharam uma
força surpreendente. Esse período, conhecido como República Velha, é famoso pela política do
"café-com-leite", uma expressão que reflete a alternância de poder entre as oligarquias de Minas
Gerais e São Paulo.
Essas duas potências econômicas comandavam o cenário político nacional, garantindo que o controle
do país passasse de uma mão para outra, mantendo o poder dentro de um círculo fechado.
Esta dinâmica deu aos governadores uma autonomia sem precedentes, fortalecendo seus papéis e
influências sobre o governo federal. Porém, como em muitas histórias, este equilíbrio de poder não
durou para sempre.

A Virada de 1930
Em 1930, a harmonia entre as oligarquias foi quebrada, levando a uma revolução militar que mudou
a direção do país. Getúlio Vargas, uma figura central na história brasileira, emergiu desse período
turbulento como o novo líder do Brasil. Sua liderança marcou o início de uma era onde o governo
central retomou as rédeas, reduzindo significativamente a autonomia dos estados.

A Constituição de 1946 e o Retorno ao Equilíbrio


A busca por um equilíbrio federativo encontrou luz ao fim do túnel com a Constituição Federal de
1946. Este documento foi um marco, pois reestabeleceu um sentido de ordem e distribuição de
poder mais equitativa entre o governo central e os estados, procurando um meio-termo entre
autonomia estadual e unidade nacional.

A Instabilidade de 1964
No entanto, a história tem seu jeito de testar as estruturas políticas. Em 1964, em meio a uma
crescente instabilidade política, um novo golpe militar abalou o Brasil. Os militares assumiram o

1
(Giambiagi & Além, 2008)

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controle, iniciando um período em que o poder foi novamente centralizado, desta vez sob uma
ditadura que duraria até a década de 1980.
De acordo com Abrucio2:

“O interregno 1946-1964 foi o primeiro momento de maior equilíbrio em nossa


federação, tanto do ponto de vista da relação entre as esferas de poder como da prática
democrática. Mas o golpe militar acabou com este padrão e por cerca de 20 anos
manteve um modelo unionista autoritário, com grande centralização política,
administrativa e financeira.”

Quando o modelo desenvolvimentista adotado com o regime militar começou a se esgotar, o


processo de democratização começou a ganhar força e a ideia da descentralização assumiu um papel
de destaque.

O Fortalecimento dos Governos Estaduais


Com o processo de abertura política e a eleição dos governadores em 1982, essas autoridades
estaduais passaram a ter um papel cada vez mais significativo. Eles foram peças-chave na elaboração
da nova Constituição, procurando refletir um cenário em que os entes federativos - estados e
municípios - ganhavam força e autonomia.
De acordo com Giambiagi3:

“o processo de descentralização no Brasil, iniciado nos anos 1980 e aprofundado com a


Constituição de 1988, teve basicamente uma motivação política. O objetivo era o
fortalecimento financeiro e político de estados e municípios em detrimento do governo
central, visto como essencial ao movimento de redemocratização do país.”

Inovações da Constituição de 1988


A Constituição de 1988 trouxe inovações importantes para o federalismo brasileiro. Pela primeira
vez, os municípios foram reconhecidos como entes federativos, equiparados aos estados e à União
em termos de deveres e direitos.
Além disso, houve uma transferência significativa de receitas para estados e, principalmente,
municípios. No entanto, muitos municípios enfrentavam limitações em termos de capacidade
gerencial e arrecadação para implementar políticas públicas de forma eficaz.

Competição entre Municípios


A descentralização também incitou uma competição acirrada por investimentos privados entre os
municípios. Em vez de focar os recursos na oferta de serviços à população, muitos municípios

2
(Abrucio, 2005)
3
(Giambiagi & Além, 2008)

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entraram em uma disputa predatória por investimentos, um fenômeno chamado de


“Hobbesianismo municipal” 4.
Esse cenário de competição exacerbada exigia o apoio financeiro da União para manter os estados e
municípios funcionando, especialmente através de fundos constitucionais como o FPM (Fundo de
Participação dos Municípios) e o FPE (Fundo de Participação dos Estados).

A Crise da Descentralização
Na década de 1990, o aumento dos repasses desses fundos incentivou a criação de muitos
municípios, muitos dos quais não tinham condições de se sustentar sem auxílio externo. Esse
período viu o estabelecimento de um federalismo caracterizado por relações intergovernamentais
predatórias e não-cooperativas, marcadas por um comportamento individualista dos governadores.
De acordo com Abrucio5:

“Dois fenômenos destacam-se nesse novo federalismo brasileiro, desenhado na década


de 1980 com reflexos ao longo dos anos 1990. Primeiro, o estabelecimento de um amplo
processo de descentralização, tanto em termos financeiros como políticos. Em segundo
lugar, a criação de um modelo predatório e não-cooperativo de relações
intergovernamentais, com predomínio do componente individualista.”

Este cenário levou a um comportamento individualista dos governadores, que utilizaram esta maior
autonomia para projetos personalistas de poder. Dentre os instrumentos utilizados, temos o uso dos
bancos estaduais como financiadores das ações dos próprios governos estaduais. Estes governos
transformaram estes bancos, portanto, em uma “máquina de fazer moeda”.
Este cenário explosivo de irresponsabilidade dos governadores gerou diversos “rombos” nas contas
estaduais. Por diversas vezes a União foi chamada para financiar os déficits dos estados.
E, de certa forma, com esta alternativa de ajuda os estados se sentiam “livres” para ter uma postura
irresponsável com as finanças públicas. Os entes subnacionais tinham sempre esta “porta” de
salvação, ou seja, de repassar suas dívidas para a União.

A Busca por Responsabilidade Fiscal


A situação começou a mudar quando ficou claro que a estabilidade macroeconômica do país
dependia de uma gestão fiscal mais rigorosa nos governos locais.
Como o cenário econômico estava posto como o problema número um do governo central, a busca
pela estabilidade econômica centralizou as atenções da União até 1994. Entretanto, com o plano
Real a inflação se reduziu, expondo os diversos “esqueletos” (palavra que, resumidamente,
significava “problemas que estavam escondidos até então”) estaduais.

4
(Salles, 2010)
5
(Abrucio, 2005)

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A busca pelo “socorro” da União era sempre a solução desejada pelos governadores nestes
momentos. De acordo com Mendes6:

“Essa situação começou a mudar quando o governo central percebeu que a estabilidade
macroeconômica do país dependia da imposição de uma restrição orçamentária forte aos
governos locais.”

Desta forma, a partir deste momento a União iniciou um extenso programa de renegociação das
dívidas estaduais, exigiu a privatização de diversos bancos estaduais e modelou um novo arcabouço
normativo que acabaria por gerar, entre outras medidas, a Lei de Responsabilidade Fiscal (que,
apesar de valer também para a União, foi um instrumento que buscou aumentar a disciplina dos
entes subnacionais).
Além disso, outro aspecto derivado da descentralização foi o imenso número de municípios criados
entre a Constituição Federal de 88 e a Emenda Constitucional n°15 de 1996.
Como a CF/88 tinha repassado aos estados a competência de instituir os critérios legais para a criação
de municípios, os estados passaram a incentivar a criação destes de forma irresponsável, “de olho”
nos recursos automáticos advindos do Fundo de Participação dos Municípios.
Isto ocorria porque cada município criado ganhava o direito de receber o FPM instantaneamente
depois de criado. Deste modo, ocorreu uma competição predatória entre os estados neste ponto7.

As Mudanças após a Estabilização Econômica


Após a estabilização da economia brasileira na metade dos anos 1990, ocorreram importantes
mudanças na maneira como o governo federal, estados e municípios interagem e compartilham
recursos.
Uma das principais transformações foi o fortalecimento do papel do Governo Federal no sistema
federativo do Brasil. Isso aconteceu de duas maneiras principais:
✓ Recentralização dos Recursos Tributários: O Governo Federal começou a coletar mais
impostos que antes eram compartilhados com estados e municípios. Isso foi feito
aumentando as taxas e contribuições que ficam inteiramente com a União, sem necessidade
de dividir com outras esferas de governo.
✓ Redução dos Empréstimos Predatórios pelos Estados: Antes, os estados muitas vezes se
endividavam usando métodos não muito transparentes ou justos, contando que a União
cobriria essas dívidas. Após a estabilização, o governo federal reduziu essas práticas,
limitando a capacidade dos estados de criar dívidas que acabariam sendo pagas com o
dinheiro de todos os brasileiros.

6
(Mendes, 2004)
7
(Torres, 2004)

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O Caminho para o Federalismo Cooperativo


Concluindo, o modelo brasileiro de federalismo foi derivado de um processo centralizador, próprio
de nossa história. Portanto, em nossa história a União concentrou, durante diversas
oportunidades, inúmeros poderes e recursos.
Entretanto, passamos por momentos de descentralização de tempos em tempos, como os vividos
na década de 1980, que se refletiram na CF/88.
Portanto, ainda estamos em busca do modelo cooperativo, que é previsto na CF/88, mas ainda não
conseguimos pôr este modelo totalmente em prática, enfrentando o desafio de equilibrar autonomia
local com responsabilidade fiscal e governança cooperativa.

Descentralização e Democracia Pós CF/1988

Como mencionamos, após vinte anos de governo militar autoritário e centralizador, existia uma
grande demanda por uma maior descentralização política e uma gestão pública mais transparente
e democrática.
Este movimento irá “mostrar sua cara” na Assembleia Constituinte. A nova Constituição Federal
acabou transferindo poder da União para os estados e municípios.
Com a redemocratização, muitos dos “problemas” derivados de qualquer processo democrático
insipiente começaram a aparecer. Além disso, o colapso da economia na década de 80 só fez
aumentar as críticas, justas e injustas, sobre a capacidade do Estado de responder aos desafios da
sociedade brasileira.
A Constituição Federal de 1988 só aumentou os desafios deste Estado, pois criou diversos novos
direitos (sem especificar como seriam custeados) e distribuiu competências aos entes
subnacionais, dificultando a coordenação das políticas públicas entre a União e estes entes.
Um aspecto importante foi a descentralização, que, a princípio, aproxima os recursos e as
competências dos problemas concretos. A ideia era de que quanto mais próximo dos problemas
estivesse o Estado, melhor.
Entretanto, muitos dos municípios não tinham nenhuma estrutura e capacidade técnica e gerencial
para gerir as políticas públicas. Além disso, existia (e ainda existe) uma desigualdade muito grande
entre as capacidades das cidades grandes e das pequenas cidades (que muitas vezes são as mais
carentes). Portanto, a própria descentralização veio com seus pontos positivos e negativos.
O cenário pós Constituição Federal foi de grande dificuldade na gestão do Estado, pois a crise
econômica dificultava o planejamento e a falta de recursos e de coordenação entre os entes
prejudicava a gestão das políticas públicas que poderiam “reduzir” este impacto.
Com isso, começa a aparecer um discurso anti Estado, que o culpava pelo estado das coisas e
postulava uma retração tanto da intervenção deste na economia quanto das políticas públicas
sociais. Foi o que se chamou de neoliberalismo, a busca pelo Estado-mínimo.

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De acordo com Farah8,

“A ocorrência de práticas de cunho clientelista e marcadas pela corrupção após a


democratização dos anos 80 e a maior visibilidade destes fenômenos, decorrente da
própria democratização, articularam-se à onda minimalista de corte neoliberal que
propõe a redução radical do Estado, contaminando a visão que os cidadãos têm da ação
governamental e da administração pública em todas as esferas de governo.”

Esta visão de mundo postulava que grande parte dos problemas da sociedade se dava pelo excesso
de Estado. Com isso, pedia um reposicionamento da intervenção do Estado.
Dentre as mudanças ocorridas na década de 90, uma das principais foi o processo de privatização de
empresas estatais e a criação de agências reguladoras, de modo que o Estado trocasse sua posição
de executor para uma posição de regulador da atividade econômica.
Outro aspecto importante foi a da publicização, com a descentralização das ações em direção a
atores não estatais, como as Organizações Sociais e as Organizações da Sociedade Civil de Interesse
Público – OSCIPs. A ideia era a de que estas organizações poderiam ser mais eficientes do que a
máquina estatal no fornecimento de serviços à população.
Além disso, passa a existir uma ideia de focalização dos gastos do governo. Ou seja, de que em um
contexto de escassez, deveriam existir prioridades. Assim, se não existem recursos para garantir
todos os direitos previstos na Constituição, dever-se-iam buscar atingir, prioritariamente, a
população mais carente.
Outra preocupação é a descontinuidade das políticas públicas. Com a transferência de poder de FHC
para Lula em 2003, e a manutenção de várias iniciativas e políticas do governo anterior, passou a
existir uma preocupação maior com a continuidade e as consistências das políticas públicas.
Sem essa continuidade, muitas políticas não conseguem se consolidar e mostrar resultados, pois
dependem de um prazo maior do que os mandatos eleitorais de quatro anos para funcionar.
Infelizmente, apesar de progressos recentes nesta área, ainda existe muita descontinuidade na
política brasileira.

Características do Federalismo no Brasil


O federalismo no Brasil é definido por uma série de princípios e estruturas que organizam a relação
entre o governo central e as unidades federativas. Este sistema é projetado para equilibrar o poder,
garantir a autonomia regional e promover a participação de todas as unidades na governança do
país. Vamos explorar as características fundamentais que moldam o federalismo brasileiro.

Indissolubilidade do Vínculo Federativo


Um pilar central do federalismo brasileiro é a indissolubilidade do vínculo federativo, considerado
uma cláusula pétrea pela Constituição. Isso significa que a estrutura federativa do país, baseada na

8
(Farah, 2001)

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união permanente e indissolúvel entre seus entes, não pode ser abolida ou alterada, assegurando
a permanência e a estabilidade do pacto federativo.

Divisão Constitucional de Competências


A Constituição brasileira de 1988 estabelece uma clara divisão de competências entre a União, os
estados, o Distrito Federal e os municípios. Essa divisão constitucional especifica quais
responsabilidades pertencem a cada nível de governo, abrangendo áreas como educação, saúde,
transporte e segurança.
Esse sistema permite uma distribuição equilibrada do poder e promove a eficiência administrativa,
garantindo que cada ente federado possa atender às necessidades específicas de sua população.

Participação dos Entes na Formulação da Vontade Geral


Outra característica distintiva do federalismo brasileiro é a participação das unidades federativas na
formulação da vontade geral do país. Isso é realizado por meio de mecanismos como o Senado
Federal, onde cada estado e o Distrito Federal têm representação igualitária, independentemente
de seu tamanho ou população.
Essa estrutura assegura que os interesses de todas as regiões sejam considerados nas decisões
nacionais.

Autonomia dos Estados-Membros


Os estados-membros no Brasil possuem capacidade de auto-organização e auto-administração. Eles
podem constituir suas próprias leis, desde que não contrariem os princípios e as normas
estabelecidas pela Constituição Federal.
Essa autonomia é fundamental para adaptar a gestão pública às realidades locais, permitindo que
cada unidade federativa desenvolva políticas públicas adequadas às suas especificidades.

Composição da República Federativa do Brasil


A Constituição define o Brasil como uma República Federativa, composta pelos seguintes entes
federativos: a União, os estados, o Distrito Federal e os municípios. Essa composição é única no
contexto global, especialmente pela inclusão dos municípios como entes federativos, dotando-os
de competências próprias e autonomia administrativa, legislativa e tributária.

Autonomia e Competências Próprias


Todos os entes federados no Brasil detêm autonomia administrativa, legislativa e tributária. Eles
têm o poder de se auto-organizar por meio de leis próprias, administrar seus recursos e instituir e
cobrar tributos.
Essa autonomia é crucial para o funcionamento eficaz do federalismo, permitindo que cada nível de
governo atue de maneira independente dentro do âmbito de suas competências, mas sempre em
harmonia com o sistema federativo como um todo.

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(ALMG – ANALISTA) No debate sobre os processos de descentralização que sustentam o


federalismo, os argumentos buscam demonstrar que a descentralização das decisões sobre a
oferta de bens públicos para os entes subnacionais promoveria maior eficiência alocativa, vis
a vis a centralização das decisões.
Nessa perspectiva, entende-se que,
A) a oferta de bens localmente customizados e seus baixos custos informacionais, que
garantem maior eficiência alocativa, derivam do fato de que as preferências locais são mais
homogêneas, o que permite o desenvolvimento de políticas redistributivas ou equalizadoras.
B) quando as decisões de uma ou mais localidades produzem externalidades negativas sobre
outras cujas escolhas locais ficaram comprometidas ou prejudicadas, essa situação poderia ser
resolvida pela flexibilização e capacidade de absorver as vantagens competitivas que o local
traz na oferta de bens públicos.
C) quanto maior a oferta de bens públicos localmente definidos pela descentralização das
decisões, maiores ganhos de escala e maior eficiência ao baixar o custo unitário dos bens e
serviços, os preços dos fatores de produção sendo mais favoráveis, dado o baixo custo que a
logística do local propicia.
D) quanto mais heterogênea a distribuição das preferências por bens públicos em dado
território, maiores vantagens traria a descentralização das decisões sobre a oferta desses
bens, uma vez que o atendimento poderia ser mais flexível do que sob a provisão centralizada.
Comentários
Esta questão aborda um debate central na teoria do federalismo sobre os benefícios da
descentralização, particularmente em termos de eficiência alocativa na oferta de bens
públicos. Vamos analisar cada alternativa:
A letra A aponta corretamente para uma das principais vantagens atribuídas à
descentralização: a capacidade de customizar a oferta de bens públicos às preferências locais,
o que tende a ser mais eficiente devido ao conhecimento mais preciso das necessidades e
desejos da população local. Entretanto, a eficiência alocativa não deriva apenas da
homogeneidade das preferências, mas também da maior proximidade dos decisores com as
necessidades locais.
A letra B está também errada, pois sugere que as externalidades negativas produzidas por
decisões locais podem ser mitigadas pela capacidade de um local de absorver vantagens
competitivas. No entanto, a questão das externalidades negativas é mais complexa e
geralmente requerem coordenação e regulação em um nível superior (como o governo
central) para serem efetivamente administradas, em vez de simplesmente contar com
vantagens competitivas locais.
A letra C está incorreta, pois associa a descentralização com ganhos de escala. Na verdade, a
descentralização frequentemente resulta na redução de ganhos de escala, pois a produção de

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bens e serviços é fragmentada entre várias localidades menores, em vez de ser concentrada.
Ganhos de escala são mais tipicamente associados à centralização, onde a uniformidade e a
escala da produção podem reduzir os custos unitários.
Finalmente, a letra D está perfeita e indica corretamente um dos argumentos chave a favor da
descentralização: quanto mais heterogêneas forem as preferências locais por bens e serviços
públicos, maior será a vantagem de descentralizar as decisões sobre a oferta desses bens.
Isso permite que políticas e serviços sejam ajustados às necessidades específicas de diferentes
comunidades, promovendo uma alocação de recursos mais eficiente do que seria possível sob
um sistema centralizado.
Gabarito: letra D

(INÉDITA) Qual mecanismo assegura a participação das unidades federativas na formulação


da vontade geral do Brasil?
A) A Câmara dos Deputados.
B) O Senado Federal.
C) O Supremo Tribunal Federal.
D) As Assembleias Legislativas estaduais.
E) Os Conselhos Municipais.
Comentários
A questão aborda o mecanismo pelo qual as unidades federativas (estados e o Distrito Federal)
participam na formulação da vontade geral do Brasil, um aspecto central do federalismo
brasileiro.
Na letra A, a Câmara dos Deputados é uma das casas do Congresso Nacional, responsável pela
representação popular na esfera federal. Os deputados são eleitos proporcionalmente ao
número de habitantes de cada estado e do Distrito Federal, o que significa que esta casa reflete
mais diretamente a população dos estados, mas não é o mecanismo desenhado
especificamente para assegurar a participação equitativa das unidades federativas na
formulação da vontade geral do país.
Já a letra B está perfeita. O Senado Federal é a casa do Congresso Nacional que representa os
estados e o Distrito Federal, independentemente de seu tamanho ou população, com cada um
tendo o mesmo número de senadores. Isso garante que todas as unidades federativas tenham
voz equivalente nas decisões nacionais, refletindo o princípio federativo de igualdade entre os
estados na formulação da vontade geral do país.
A letra C está errada. O STF é o órgão máximo do Poder Judiciário no Brasil, responsável por
guardar a Constituição. Embora o STF possa decidir sobre questões que afetam os estados e
o equilíbrio federativo, seu papel principal não é assegurar a participação dos entes federativos
na formulação da vontade geral, mas sim resolver disputas constitucionais e interpretar a lei.
Na letra D, As Assembleias Legislativas têm um papel crucial na legislação e na administração
dos respectivos estados, mas seu papel está confinado à esfera estadual. Elas não têm um
papel direto na formulação da vontade geral do Brasil na esfera federal, embora possam

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influenciar indiretamente por meio da articulação política e da representação de interesses


estaduais.
Finalmente, na letra E, os Conselhos Municipais, ou Câmaras de Vereadores, desempenham
funções legislativas no nível municipal. Como as Assembleias Legislativas estaduais, eles
operam dentro de uma esfera específica de governo e não são mecanismos projetados para
garantir a participação das unidades federativas na formulação da vontade geral em nível
nacional.
Gabarito: letra B

==274356==

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Coordenação Federativa

Muitas das políticas públicas em um país que adota o federalismo dependem da atuação de dois ou
mais níveis de Estado (poder central, estados e municípios). Desta forma, estes governos (no caso
do Brasil: União, estados e municípios) devem entender que são interdependentes e que devem
compartilhar as decisões e responsabilidades.
De acordo com Abrucio1:

“No caso dos sistemas federais, em que vigora uma soberania compartilhada, constituiu-
se um processo negociado e extenso de shared decision making (“processo decisório
compartilhado”), ou seja, de compartilhamento de decisões e responsabilidades.”

Desta forma, este compartilhamento deve acontecer para que as políticas públicas tenham sucesso.
Muitas ações governamentais devem ser aplicadas no nível local, por exemplo, mas necessitam de
financiamento da União para que possam acontecer.
Por outro lado, os estados e os municípios, devem desejar participar dos programas, ou seja, se não
existir um incentivo à participação destes entes regionais estes poderão não apoiar e executar a
política pública.
Como estes entes são autônomos, a organização dos programas governamentais em sistemas
federativos é uma tarefa mais complexa do que em um Estado unitário 2. Como sabemos, um
Presidente da República não tem comando sobre um Governador.
Assim, estes governos devem atuar em conjunto. Infelizmente, nem sempre as políticas públicas são
bem coordenadas. De acordo com Pierson3:

“No federalismo, dada a divisão de poderes entre os entes, as iniciativas políticas são
altamente interdependentes, mas são, de modo frequente, modestamente
coordenadas.”

De acordo com o autor, todo federalismo concentra ações de cooperação e competição. Um


comportamento cooperativo é fundamental para que os recursos sejam mais bem geridos, para que
um ente mais capacitado financeiramente possa auxiliar ao outro ou para a troca de informações
valiosas entre os entes.
Além disso, a cooperação é um instrumento importante para diminuir certas diferenças entre as
regiões do país. Podemos ver isto no caso brasileiro, em que a União auxilia com recursos financeiros
e humanos certas regiões menos favorecidas e desenvolvidas.

1
(Abrucio, 2005)
2
(Abrucio, 2005)
3
(Pierson, 1995) apud (Abrucio, 2005)

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Já a competição federativa é importante para que o poder central não consiga dominar os outros,
bem como para que a inovação possa florescer. É comum que diversas práticas administrativas
inovadoras e políticas públicas apareçam inicialmente em entes subnacionais.
Os próprios programas de renda mínima, tão elogiados atualmente, foram introduzidos nos estados
antes do governo federal (por exemplo, no governo do Distrito Federal em 1995).
Além disso, as diversas estratégias e modelos de gestão adotados nos diversos entes podem ser
comparados pelos eleitores, criando uma “competição positiva” entre os gestores públicos.
Entretanto, a competição pode ser danosa quando “joga” um ente contra os outros, em vez de levá-
los à cooperação e a integração. De acordo com Abrucio4, em países com grandes diferenças
socioeconômicas (como o Brasil) a competição entre os entes deve ser limitada para que as
diferenças não se acentuem.
Outro problema da competição federativa é a “guerra fiscal”, processo em que os estados e
municípios oferecem cada vez mais vantagens aos investidores para atrair projetos para suas regiões.
==274356==

Este processo pode levar a um enfraquecimento financeiro de todos os entes, pois o leilão (onde
cada estado oferece mais vantagens aos investidores) se torna predatório e os governos perdem suas
principais fontes de receita.
De acordo com Arretche5, o processo de coordenação federativa pode acontecer de acordo com
vários instrumentos:
1. Regras legais que obriguem os atores a compartilhar decisões e tarefas – definição das
competências no terreno das políticas públicas, por exemplo;
2. Existência de fóruns federativos, com a participação dos próprios entes – como são os
senados em geral;
3. Existência de cortes constitucionais, que possibilitem aos mesmos acionar a defesa de seus
direitos;
4. Construção de uma cultura política baseada no respeito mútuo e na negociação no plano
intergovernamental.

(INÉDITA) Qual é o principal benefício do processo decisório compartilhado no federalismo?


A) Permite uma gestão centralizada das políticas públicas.
B) Facilita a independência total dos estados e municípios.
C) Promove o compartilhamento de decisões e responsabilidades entre os diferentes níveis de
governo.

4
(Abrucio, 2005)
5
(Arretche, 2004) apud (Abrucio, 2005)

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D) Garante a supremacia do governo federal sobre os entes subnacionais.


E) Elimina a necessidade de cooperação entre os entes federativos.
Comentários
A questão aborda o conceito de processo decisório compartilhado no contexto do
federalismo, conforme discutido por Abrucio. A letra A está errada, pois não reflete o principal
benefício do processo decisório compartilhado no federalismo.
A gestão centralizada é mais característica de sistemas unitários de governo, onde o poder
central tem controle predominante sobre as políticas públicas, ao contrário do federalismo
que promove a distribuição e compartilhamento de poder.
A letra B está errada também. Embora o federalismo promova certo grau de independência
para os estados e municípios, o processo decisório compartilhado não visa facilitar a
independência total desses entes. Pelo contrário, busca a cooperação e coordenação entre
diferentes níveis de governo.
Já a letra C está certa. O federalismo envolve uma soberania compartilhada e um processo
negociado de tomada de decisões conjuntas. O principal benefício desse processo é
justamente promover o compartilhamento de decisões e responsabilidades, permitindo que
diferentes níveis de governo trabalhem juntos para alcançar objetivos comuns e atender às
necessidades da população de maneira eficaz.
A letra D está errada, pois o objetivo não é garantir a supremacia de um nível de governo sobre
o outro, mas sim estabelecer um ambiente de colaboração e responsabilidade mútua.
Finalmente, a letra E está errada. Ao contrário do que sugere esta alternativa, o processo
decisório compartilhado reforça a necessidade de cooperação entre os entes federativos. A
cooperação é fundamental para a efetividade das políticas públicas em um sistema federal,
onde as competências são distribuídas e compartilhadas entre diferentes níveis de governo.
Gabarito: letra C

(INÉDITA) Qual dos seguintes é um desafio para a implementação de políticas públicas em


sistemas federativos?
A) A absoluta autonomia dos entes subnacionais, impedindo qualquer forma de coordenação.
B) A falta de interdependência entre os diferentes níveis de governo.
C) A complexidade decorrente da autonomia dos entes e da necessidade de cooperação.
D) A proibição de competição entre os entes federativos.
E) A ausência de diferenças socioeconômicas entre regiões.
Comentários
A letra A está errada, pois embora a autonomia dos entes subnacionais seja uma característica
do federalismo, ela não é absoluta a ponto de impedir qualquer coordenação. O federalismo
busca equilibrar autonomia com interdependência, não a eliminar completamente.
A letra B está errada porque ao contrário, os sistemas federativos são caracterizados pela
interdependência entre os diferentes níveis de governo, não pela falta dela. Esta

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interdependência é fundamental para a coordenação e implementação eficaz de políticas


públicas, o que contradiz a ideia de que a falta de interdependência seria um desafio.
A letra C está perfeita. Esta complexidade surge da tentativa de balancear a autonomia com a
necessidade de trabalhar conjuntamente para atingir objetivos comuns, o que pode ser
desafiador.
A letra D está incorreta. Na verdade, a competição entre entes federativos pode ser uma
característica do federalismo, levando à inovação e ao desenvolvimento de melhores práticas.
O desafio não é a proibição da competição, mas sim como balanceá-la com a cooperação para
evitar resultados negativos.
Finalmente, a letra E está errada. existência de diferenças socioeconômicas entre regiões é
uma realidade em muitos países federativos, incluindo o Brasil, e pode representar tanto um
desafio quanto um ponto de partida para políticas de redistribuição e equalização.
Gabarito: letra C

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Modelos da Gestão Federativa

De acordo com muitos autores, o modelo de gestão das relações e dos programas governamentais
impacta diretamente nos resultados deles1.
Agranoff e McGuire, analisando o contexto dos programas governamentais norte-americanos,
descreveram quatro modelos de gestão federativa. Estes seriam2:
✓ Modelo de cima para baixo (top-down) - representa a manutenção do controle da esfera
federal sobre as demais no estabelecimento das relações necessárias à implementação e
execução de programas intergovernamentais. Ele enfatiza o emprego de normas e
instrumentos padronizados desenhados unilateralmente, o monitoramento dos resultados, o
domínio das transferências financeiras e sua regulação centralizada, entre outros;
✓ Modelo de trocas mútuas - enfatiza a construção de instrumentos de gestão e o alcance dos
objetivos por meio de mútua dependência entre os atores envolvidos. A base da gestão
consiste em processos de negociação a partir dos vínculos intergovernamentais construídos
pelo sistema federativo, em detrimento da dominação completa da esfera federal.
✓ Modelo de jurisdição - adota como princípio de gestão o estabelecimento, por governos
locais, de bases normativas, estratégias e vínculos necessários ao adequado cumprimento
das funções que lhes foram atribuídas no processo de descentralização. Para atingir seus
objetivos, os gestores locais selecionam e contatam os atores que detêm os recursos
estratégicos para o desenvolvimento das atividades, programas e projetos considerados
essenciais. Embora esse modelo proporcione maior grau de autonomia aos governos locais,
as esferas federal e regional ainda impõem restrições a sua ação, uma vez que ela se destina
a cumprir funções delegadas de cima, e não a construir ou aprimorar vocações próprias;
✓ Modelo de gestão em rede - a ação dos diversos atores relacionados à gestão do sistema
intergovernamental se verifica num ambiente onde os atores ou organizações não têm o
poder de determinar as estratégias dos demais. Logo o princípio da gestão consiste em
desenvolver vínculos colaborativos intensificando as relações de interdependência.
Dentro destes modelos, o que mais tem se mostrado adequado aos relacionamentos intraestatais
mais complexos, como o nosso caso, é o modelo de gestão em rede.

(MPOG - EPPGG) Sobre os modelos de gestão intergovernamental de políticas públicas,


associe a coluna A com a coluna B, assinalando a opção que indica as relações corretas.

1
(Fleury & Ouverney, 2007)
2
(Agranoff e McGuire, 2001) apud (Fleury & Ouverney, 2007)

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Coluna A
A1 - Construção conjunta de instrumentos de planejamento, implementação e avaliação e
gestão a partir da negociação entre as partes.
A2 - Estabelecimento por governos locais de suas próprias bases para atuação a partir de
funções delegadas normativamente.
A3 - Manutenção do controle pela esfera federal e emprego de normas e instrumentos
padronizados de regulação e avaliação de resultados.
A4 - Estabelecimento de bases colaborativas e estratégicas, intensificando as relações de
interdependência entre as partes.
Coluna B
B1 - Modelo de cima para baixo (top-down)
B2 - Modelo de gestão de redes ==274356==

B3 - Modelo de trocas mútuas


B4 - Modelo de jurisdição
a) A1-B3, A2-B4, A3-B1, A4-B2
b) A1-B3, A2-B2, A3-B4, A4-B1
c) A1-B1, A2-B3, A3-B2, A4-B4
d) A1-B4, A2-B1, A3-B3, A4-B2
e) A1-B2, A2-B1, A3-B4, A4-B3
Comentários
A banca utilizou nesta questão os conceitos de gestão federativa de Agranoff e McGuire. De
acordo com estes autores, os modelos seriam: de cima para baixo, de trocas mútuas, de
jurisdição e de gestão de redes. A letra A1 está referindo-se ao modelo de trocas mútuas.
De acordo com os autores, este seria um modelo basicamente de negociação, sem que uma
dominação completa da esfera Federal. Seu “par” seria a letra B3. Já a letra A2 fala claramente
em “funções delegadas normativamente”, o que facilita nosso trabalho em associar esta letra
com o modelo de jurisdição (B4).
Gabarito: letra A

(INÉDITA) Qual dos seguintes modelos de gestão federativa enfatiza o controle da esfera
federal sobre as demais na implementação de programas intergovernamentais?
A) Modelo de trocas mútuas.
B) Modelo de cima para baixo (top-down).
C) Modelo de jurisdição.
D) Modelo de gestão em rede.
E) Modelo de gestão autônoma.

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Comentários
A questão pede para identificar qual dos modelos de gestão federativa destaca o papel
dominante da esfera federal sobre as outras esferas de governo na implementação de
programas intergovernamentais.
Assim, o gabarito é a letra B. O modelo de cima para baixo caracteriza-se pelo controle e
direção da esfera federal nas relações e na implementação de programas
intergovernamentais.
Ele enfatiza o uso de normas e instrumentos padronizados definidos unilateralmente pela
esfera federal, monitoramento de resultados, domínio das transferências financeiras e
regulação centralizada. Este modelo busca garantir que os objetivos federais sejam atingidos
através de uma gestão direta sobre as atividades das esferas subnacionais.
Gabarito: letra B

(INÉDITA) No modelo de gestão em rede, qual é o princípio fundamental para a gestão do


sistema intergovernamental?
A) Desenvolver vínculos colaborativos e intensificar relações de interdependência.
B) Monitoramento dos resultados e domínio das transferências financeiras.
C) Estabelecimento de bases normativas e estratégias por governos locais.
D) Construção de instrumentos de gestão por meio de mútua dependência.
E) Manutenção do controle da esfera federal sobre as demais esferas
Comentários
A questão foca no modelo de gestão em rede dentro do contexto de programas
governamentais, especificamente pedindo qual é o princípio fundamental para a gestão do
sistema intergovernamental nesse modelo. Vamos analisar cada alternativa:
A letra A logo é o nosso gabarito. O modelo de gestão em rede é caracterizado pela
colaboração entre diversos atores e organizações que participam da gestão
intergovernamental. O princípio fundamental desse modelo é a formação de vínculos
colaborativos e o fortalecimento das relações de interdependência entre os envolvidos. Esse
modelo busca superar limitações individuais e aproveitar sinergias através da colaboração, o
que é essencial em contextos complexos e interconectados.
A letra B está errada, pois embora o monitoramento dos resultados e a gestão financeira sejam
importantes em qualquer modelo de gestão, esta opção mais especificamente descreve
abordagens que são características do modelo de cima para baixo (top-down), onde a ênfase
está no controle e na regulação pela esfera federal. Portanto, não é a resposta correta para o
modelo de gestão em rede.
A letra C está errada também. Esta opção reflete mais de perto o modelo de jurisdição, onde
governos locais têm a autonomia para estabelecer normas e estratégias para cumprir suas
funções dentro de um processo de descentralização. Embora a autonomia local seja uma parte
importante da gestão em rede, não é o princípio fundamental desse modelo.

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A letra D está errada, pois se assemelha à descrição do modelo de trocas mútuas, que enfatiza
a gestão através da dependência mútua entre diferentes níveis de governo e a negociação
como base para alcançar objetivos comuns. Embora a mútua dependência seja um aspecto do
modelo de gestão em rede, a opção A captura mais precisamente o princípio fundamental
desse modelo.
Finalmente, a letra E também descreve o princípio do modelo de cima para baixo (top-down),
que é baseado no controle da esfera federal sobre as demais. Isso contrasta diretamente com
o conceito de gestão em rede, que se baseia na colaboração e interdependência, não no
controle centralizado.
Gabarito: letra A

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Organização e Funcionamento dos Sistemas de Programas


Nacionais

O Sistema Único de Saúde (SUS) e o Federalismo Brasileiro


No panorama do federalismo brasileiro, a saúde emerge como um domínio de vital importância,
exemplificando a complexidade e a necessidade da coordenação federativa. O Sistema Único de
Saúde (SUS), com sua promessa de universalidade e integralidade, representa um dos mais
ambiciosos esforços de governança compartilhada em todo o país1.
Este sistema, nascido no contexto pós-Constituição de 1988, é fruto de uma visão que busca
transcender os desafios impostos pela estrutura federativa do Brasil, promovendo saúde como
direito de todos.

Estrutura e Governança Federativa do SUS


A gestão do SUS é um exercício de colaboração solidária e participativa entre os três níveis da
Federação: União, Estados e Municípios. A complexidade desse arranjo reside na capacidade de
integrar as diversas esferas de governo em um esforço unificado para fornecer serviços de saúde
abrangentes e acessíveis.
A rede do SUS é vasta, cobrindo desde a atenção primária até serviços de alta complexidade,
incluindo urgências, atenção hospitalar, vigilância epidemiológica, sanitária, ambiental e assistência
farmacêutica. Tal amplitude demanda uma coordenação meticulosa e uma divisão clara de
responsabilidades.

Ministério da Saúde
Como gestor nacional, o Ministério da Saúde estabelece diretrizes, normas e políticas, em
consonância com o Conselho Nacional de Saúde. Sua atuação é fundamental na Comissão
Intergestores Tripartite, que pactua o Plano Nacional de Saúde, integrando diferentes instituições e
agências federais na execução de suas políticas.

Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde


As Secretarias Estaduais de Saúde desempenham um papel crucial na formulação e apoio à
implementação das políticas de saúde, colaborando estreitamente com os municípios e
participando da Comissão Intergestores Bipartite. As Secretarias Municipais de Saúde, por sua vez,
são responsáveis pelo planejamento e execução das ações e serviços de saúde a nível local, em
alinhamento com as diretrizes estaduais e federais.

Princípios Organizativos do SUS

1
Fonte: Sistema Único de Saúde - SUS — Ministério da Saúde (www.gov.br)

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O SUS se organiza em torno de princípios como regionalização e hierarquização,


descentralização com comando único e participação popular. Estes princípios visam garantir que
os serviços sejam oferecidos de forma coordenada e acessível, respeitando a complexidade das
necessidades de saúde da população.

Regionalização e Hierarquização
Os serviços de saúde são organizados em níveis crescentes de complexidade e distribuídos
geograficamente, garantindo que o atendimento seja otimizado e direcionado conforme as
necessidades epidemiológicas locais.

Descentralização e Comando Único


A descentralização é chave para aproximar a gestão da saúde dos cidadãos, conferindo aos
==274356==

municípios maior autonomia. O comando único em cada esfera de governo assegura que, apesar da
autonomia, os princípios e diretrizes gerais do SUS sejam mantidos.

Participação Popular
A inclusão da sociedade na gestão do SUS é realizada através dos Conselhos e Conferências de
Saúde, assegurando que as políticas de saúde reflitam as necessidades e as vontades da população.

Desafios e Autonomia
Apesar da ausência de uma hierarquia formal entre União, Estados e Municípios, o SUS enfrenta
desafios de coordenação e financiamento. A autonomia administrativa, legislativa e tributária de
cada ente federativo é fundamental para a execução das políticas de saúde, porém requer uma
constante negociação e pactuação para garantir a efetividade do sistema.

Conclusão
O SUS, com sua estrutura federativa complexa, representa um marco na saúde pública brasileira,
ilustrando tanto os desafios quanto as potencialidades de uma coordenação federativa eficaz.
Apesar dos obstáculos, o sistema continua a ser um exemplo de compromisso com a saúde como
um direito universal, refletindo o espírito de solidariedade e participação que caracteriza o
federalismo brasileiro.

A Estruturação do Sistema Educacional Brasileiro


A Constituição Federal de 1988 estabelece as diretrizes para o sistema educacional brasileiro,
priorizando a colaboração entre os diferentes níveis federativos para promover uma educação de

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qualidade. Essa educação visa formar cidadãos conscientes, trabalhadores qualificados e indivíduos
plenos, conforme delineado no Art. 2052.

Estrutura Federativa e Divisão de Competências


A estrutura do sistema educacional se caracteriza pela divisão de competências entre União,
Estados, Distrito Federal e Municípios. Enquanto a execução das políticas educacionais é
responsabilidade dessas últimas instâncias, o financiamento e as diretrizes legislativas emanam
predominantemente do nível federal.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, Lei nº 9.394/1996) define claramente essas
atribuições, garantindo uma base sólida para a educação no país3.

A União como Coordenadora


O papel do governo federal se concentra na coordenação geral do sistema educacional,
incluindo o financiamento e a equalização dos recursos educacionais. Além disso, cabe à União
estabelecer normas gerais e suplementares, desenvolver o Plano Nacional de Educação e prestar
assistência técnica aos Estados e Municípios.
A responsabilidade sobre a Educação Superior também recai sobre o governo federal, dada a
ausência de uma delegação explícita de competência para outras esferas.

Estados e Distrito Federal: Articuladores do Sistema


Estados e Distrito Federal atuam na formulação de políticas educacionais complementares às
diretrizes nacionais. São responsáveis pela oferta do ensino fundamental e médio, garantindo a
universalização do acesso à educação básica. A cooperação com os Municípios é essencial para a
execução de tais políticas, especialmente na oferta do ensino fundamental, conforme estipula o
artigo 8º da LDB.

Municípios: Proximidade com o Cidadão


Os Municípios desempenham um papel crucial na educação infantil e no ensino fundamental,
assegurando a estruturação de creches e pré-escolas. A responsabilidade municipal se estende à
manutenção de suas instituições educacionais e à integração com o sistema estadual e federal.

A Educação Profissional no Contexto Brasileiro


A Educação Profissional, integrada ao sistema educacional básico, é gerida com ênfase na
cooperação entre os diferentes níveis de governo. A União desempenha um papel de
coordenação, visando à integração dessa modalidade com a educação básica e superior.

2
Fonte: Constituição (planalto.gov.br)
3
Fonte: L9394 (planalto.gov.br)

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O FUNDEB: Mecanismo de Redistribuição de Recursos


Um dos pontos centrais na estruturação financeira da educação no Brasil é o Fundo de Manutenção
e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB).
Este fundo especial é composto por 27 fundos individuais – 26 estaduais e 1 do Distrito Federal –,
alimentados principalmente por contribuições dos próprios Estados e Municípios4.
O papel da União é complementar os recursos do FUNDEB sempre que o valor por aluno não
atinge o mínimo estipulado para garantir uma educação básica de qualidade.
Assim, o FUNDEB funciona como um importante mecanismo de redistribuição, considerando o
tamanho das redes de ensino de cada ente federativo e buscando promover a equidade nas
oportunidades educacionais em todo o território nacional.

Desafios e Cooperação Federativa


Apesar da clara divisão de responsabilidades, o sistema educacional brasileiro enfrenta desafios
relacionados à eficiência e à execução de suas diretrizes constitucionais. A descentralização induzida
pela Constituição visa fortalecer a gestão e a cooperação, promovendo processos educacionais mais
transparentes e democráticos.

Conclusão
O sistema educacional brasileiro, estruturado pela Constituição Federal e pela LDB, reflete um
modelo de federalismo descentralizado que busca equilibrar competências entre União, Estados,
Distrito Federal e Municípios.
Embora desafios persistam, a estruturação federativa promove uma colaboração essencial para a
melhoria contínua da qualidade educacional, almejando atender às necessidades de todos os
cidadãos brasileiros.

(PREF. ILHABELA – ANALISTA) Os programas Mais Médicos e Médicos pelo Brasil, apesar
de diferenças em termos de escolha da alternativa de ação, partem de um mesmo diagnóstico:
a falta de profissionais de saúde em diversas localidades brasileiras. Assim, o Ministério da
Saúde busca resolver uma demanda vinda, sobretudo, de municípios com maior
vulnerabilidade social e mais distantes dos grandes centros urbanos. Essas ações evidenciam
um panorama em que

4
Fonte: Fundeb - home — Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (www.gov.br)

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A) a dependência dos entes subnacionais de políticas públicas federais, sobretudo no caso dos
pequenos municípios, é um traço característico do federalismo brasileiro.
B) a dificuldade na implementação dos programas advém do caráter centralizador do SUS.
C) o protagonismo federal na resolução desse problema local é um exemplo pontual, não
ocorrendo em outras áreas em que os municípios têm autonomia para agir.
D) a capilaridade da política pública de saúde é prejudicada por essa ação centralizadora do
governo federal.
E) há a federalização do problema e, portanto, os municípios não podem mais ser
responsabilizados por eventuais fracassos na gestão da saúde em seus territórios.
Comentários
A letra A está certa e reflete a realidade do federalismo brasileiro, onde os municípios
frequentemente dependem de apoio federal para lidar com desafios que ultrapassam suas
capacidades administrativas e financeiras, especialmente em áreas cruciais como a saúde.
A ação do governo federal nos programas Mais Médicos e Médicos pelo Brasil exemplifica essa
dependência, visando superar a escassez de profissionais de saúde em áreas menos acessíveis
e mais vulneráveis.
A letra B está errada, pois o Sistema Único de Saúde (SUS) tem um modelo descentralizado
de gestão, embora enfrente desafios de execução devido a diversos fatores, como
financiamento, gestão de recursos e logística.
A letra C está também errada, pois o protagonismo federal não se limita a um exemplo
pontual; em diversas áreas, especialmente em saúde, educação e segurança, o governo
federal desempenha um papel crucial ao complementar ou subsidiar esforços locais.
A letra D está incorreta. As iniciativas do governo federal, como os programas Mais Médicos e
Médicos pelo Brasil, visam aumentar a capilaridade do SUS, levando serviços de saúde a áreas
onde os municípios sozinhos não conseguem garantir adequada cobertura médica. Portanto,
essas ações tendem a fortalecer, e não a prejudicar, a capilaridade da política de saúde pública.
Finalmente, a letra E está equivocada porque os municípios continuam com a
responsabilidade de gerir a saúde em seus territórios, incluindo a implementação de
programas federais. A cooperação entre os diferentes níveis de governo é essencial, e os
municípios são parte integral desse processo, não estando isentos de responsabilidade.
Gabarito: letra A

(PREF. SÃO PAULO – ANALISTA) A pandemia de Covid-19 exigiu dos entes governamentais
no Brasil uma série de políticas públicas emergenciais, com os atores atuando como
bombeiros diante de uma situação crítica. Observando a dinâmica subnacional na ocasião e
levando em consideração os preceitos do federalismo brasileiro, é correto afirmar que:
A) transcorreu-se uma série de quebras à hierarquia dos entes, que atuavam com estratégias
distintas e, por vezes, contraditórias entre si.
B) ocorreu uma fragmentação das políticas de combate à Covid-19, sobretudo pela falta de
coordenação de uma política nacional.

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C) diante das incertezas e da complexidade da crise pandêmica, a centralização das decisões


no governo federal foi a medida adotada para o enfrentamento do problema.
D) as iniciativas dos entes subnacionais foram distintas e contraditórias entre si, fazendo parte
de uma estratégia nacional de experimentação diante das incertezas.
E) a maior parte das políticas locais se mostraram ineficazes ao longo do tempo, porém
populares, motivo pelo qual foram mantidas.
Comentários
A letra A está errada, pois não existe hierarquia entre os entes. Assim, não faz sentido falar de
quebra de hierarquia.
Já a letra B está correta. A falta de uma coordenação efetiva em nível nacional levou a uma
fragmentação das políticas de saúde pública, com estados e municípios adotando abordagens
variadas, que refletiam tanto suas capacidades administrativas quanto suas avaliações sobre
a situação.
A letra C está errada, pois como vimos acima não tivemos uma centralização, mas uma
fragmentação da abordagem de enfrentamento à pandemia.
O erro da letra D é que as ações distintas e por vezes contraditórias entre os entes subnacionais
não foram necessariamente parte de uma estratégia coordenada de experimentação, mas sim
resultado da autonomia dos entes federativos e da falta de uma política nacional coesa.
Finalmente, a letra E é uma generalização que não reflete adequadamente a complexidade
das respostas locais à pandemia. Algumas políticas locais foram eficazes para o controle da
disseminação do vírus em determinadas áreas, enquanto outras podem ter sido menos
efetivas. A eficácia e popularidade das políticas variaram significativamente entre diferentes
locais.
Gabarito: letra B

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