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Jesus Palacios
Universidade de Sevilha
Significa que a maioria dos adoptados tem algum destes problemas. Significa
que a percentagem de crianças adoptadas que têm estas dificuldades é maior
do que a percentagem de crianças não adoptadas que as têm. A maioria dos
adoptados não tem problemas clínicos de comportamento, mas a proporção
dos que têm é mais elevada do que a encontrada na população infantil em
geral.
Dado que na história inicial destas crianças existem situações de
abandono, negligência, maus tratos, institucionalização... não é de estranhar
que os problemas de vinculação façam parte do quadro de dificuldades mais
frequente nos adoptados do que nos não adoptados. De acordo com a meta-
análise de van IJzendoorn e Juffer (2006), os problemas de vinculação
inseguros e desorganizados são frequentes n a s crianças adoptadas à chegada
aos seus lares adoptivos. As dificuldades de vinculação podem, de facto,
assumir várias formas: nalguns casos, trata-se de uma vinculação desinibida
ou de uma sociabilidade indiscriminada (crianças que não aprenderam a
relação de vinculação privilegiada com uma só pessoa e parecem estar
igualmente à vontade com conhecidos e desconhecidos); noutros casos, pelo
contrário, são muito retraídas e isoladas dos outros. Pelo contrário, a
vinculação desorganizada resulta num padrão de comportamentos erráticos e
complexos, por vezes sem uma relação clara com as circunstâncias. Nos
nossos próprios dados de investigação sobre adoção internacional, 55% das
crianças mostraram sinais ou evidências claras de sociabilidade in-
discriminada à chegada (Palacios, Sánchez-Sandoval e León, 2005a).
Embora não haja muita investigação sobre a recuperação subsequente
destas dificuldades, a meta-análise de van IJzendoorn e Juffer (2006) mostra
duas coisas interessantes: primeiro, depois de algum tempo com a família
adotiva, as taxas de vinculação segura aumentaram claramente. Em segundo
lugar, mesmo após esta recuperação significativa, os problemas de vinculação
entre os adoptados são mais elevados do que os encontrados entre os não
adoptados, com uma menor presença de vinculação segura e uma maior
incidência de vinculação desorganizada. Tal como noutras áreas, quanto mais
tarde ocorrer a adoção e quanto maior f o r a adversidade anterior, maior será a
probabilidade de dificuldades.
Nos últimos anos, os investigadores têm-se interessado não só pelos
comportamentos de vinculação, mas também pelos chamados modelos internos
de vinculação, ou seja, os padrões de relações interpessoais que supostamente
nos são impressos como consequência das nossas experiências de vinculação
na infância. Os dados longitudinais de Hodges, Steele, Hillman, Henderson e
Kaniuk (2005) têm, tal como os anteriores, um interesse duplo: do ponto de
vista destas representações internas, a segurança não pára de aumentar com o
tempo. No entanto, a insegurança não diminui proporcionalmente ao aumento
da segurança. De facto, há uma certa manutenção das representações mentais
de relações caracterizadas pela insegurança, muitas vezes em resultado de
experiências passadas de insegurança e do traço de incerteza que esta pode ter
deixado no psiquismo.
Barth, Crea, John, Thoburn e Quinton (2005) alertaram para o risco de
Anuario de Psicología, vol. 38, nº2, setembro de 2007, pp. 181-
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2007, Universitat de Barcelona, Facultat de Psicologia
194 J. Palacios
atribuir todo o tipo de comportamentos e dificuldades a problemas de
vinculação.
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