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Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)

Escola Paulista de Polı́tica, Economia e Negócios (EPPEN)

Matemática II

Prof. Leandro Maciel


2o Semestre de 2018

AULA 4: DERIVADAS DIRECIONAIS E

FUNÇÕES IMPLÍCITAS

Matemática II Prof. Leandro Maciel 2018/2 1 / 35


Conteúdo

1 Derivadas direcionais e gradiente;

2 Funções implı́citas;

3 Funções homogêneas;

4 Bibliografia.

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1. Derivadas direcionais e gradiente

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1. Derivadas direcionais e gradiente

Temos uma função do tipo f (x1 , x2 , . . . , xn );

Qual a taxa de variação dessa função em x∗ na direção v = (v1 , . . . , vn )?

Derivada direcional de f em x∗ na direção v:

∂f ∗
 
(x )
 ∂x1 
 .. 
 = v · DFx∗
(v1 v2 . . . vn ) 
 . 
 ∂f 
(x∗ )
∂xn

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1. Derivadas direcionais e gradiente

Exemplo 1
Considere a função de produção Q = f (K , L) = 4K 3/4 L1/4 em que a firma utiliza
K = 10.000 e L = 625. Qual é a variação da produção na direção v = (1, 2)?

Qual o interesse em se calcular a derivada direcional?

Objetivo → maximizar o crescimento da quantidade produzida;

Em qual direção atingimos tal objetivo?

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1. Derivadas direcionais e gradiente

Derivada direcional de uma função de n variáveis:

∂f ∗
 
(x )
 ∂x1 
 .. 
.
 
 
 ∂f 
(x∗ )
∂xn

Vetor gradiente de f em x∗ ou gradiente de f em x∗ ;

Denotamos o vetor gradiente como ∇f (x∗ );

∇f (x∗ ) de f em x∗ aponta na direção em que f cresce mais rapidamente.

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1. Derivadas direcionais e gradiente

Exemplo 2
Para a função de produção Q = f (K , L) = 4K 3/4 L1/4 em que a firma utiliza K = 10.000
e L = 625, pergunta-se: em quais proporções devemos acrescentar K e L a (10.000, 625)
para aumentar a produção mais rapidamente?

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1. Derivadas direcionais e gradiente

Trabalhamos com funções de apenas uma variável endógena f : <n → <1 ;

Sistemas econômicos complexos apresentam várias variáveis endógenas, ou seja:

q1 = f1 (x1 , x2 , . . . , xn )

q2 = f2 (x1 , x2 , . . . , xn )
..
.
qm = fm (x1 , x2 , . . . , xn )

Temos m funções de n variáveis: F : <n → <m ;

Variação ∆x = (∆x1 , . . . , ∆xn ) é aproximada em termos do diferencial:


∂f ∗ ∂f ∗
f (x∗ + ∆x) − f (x∗ ) ≈ (x ) · ∆x1 + . . . + (x ) · ∆xn
∂x1 ∂xn

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1. Derivadas direcionais e gradiente

Para uma função do tipo F : <n → <m :

∂f1 ∗ ∂f1 ∗
f1 (x∗ + ∆x) − f1 (x∗ ) ≈ (x ) · ∆x1 + . . . + (x ) · ∆xn
∂x1 ∂xn

∂f2 ∗ ∂f2 ∗
f2 (x∗ + ∆x) − f2 (x∗ ) ≈ (x ) · ∆x1 + . . . + (x ) · ∆xn
∂x1 ∂xn
.. .. ..
. . .
∂fm ∗ ∂fm ∗
fm (x∗ + ∆x) − fm (x∗ ) ≈ (x ) · ∆x1 + . . . + (x ) · ∆xn
∂x1 ∂xn

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1. Derivadas direcionais e gradiente

Em termos matriciais:

∂f1 ∗ ∂f1 ∗
  
(x ) ··· (x ) ∆x1
 ∂x1 ∂xn   ∆x 
2
.. .. ..
F (x∗ + ∆x) − F (x∗ ) ≈ 
 
 . 
. . .  . 
. 

 ∂f ∂fm ∗ 
m
(x∗ ) ··· (x ) ∆xn
∂x1 ∂xn

Tal que F (x) = (f1 (x1 , . . . , xn ), f2 (x1 , . . . , xn ), . . . , fm (x1 , . . . , xn )).

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1. Derivadas direcionais e gradiente

Do conceito de vetor gradiente, podemos escrever:

∂f1 ∗ ∂f1 ∗
 
(x ) ··· (x )
 ∂x1 ∂xn 
 .. .. .. 
DFx∗ ≈ 
 . . .


 ∂f ∂fm ∗ 
m
(x∗ ) ··· (x )
∂x1 ∂xn

Que é denominada derivada ou derivada jacobiana de F em x∗ .

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1. Derivadas direcionais e gradiente

Exemplo 3
Num mundo de duas mercadorias, considere o par de funções demanda de elasticidade
constante:

q1 = 6p1−2 p2 y e q2 = 4p1 p2−1 y 2


3/2

Os preços e renda atuais são: p1∗ = 6, p2∗ = 9 e y ∗ = 2. Qual a variação na demanda


das duas mercadorias se os preços aumentam em 0,1 e a renda cai por 0,1? Calcule a
variação em termos do diferencial das funções individuais e utilizando a derivada
jacobiana do sistema.

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1. Derivadas direcionais e gradiente

Regra da Cadeia para funções de <n → <m , g = F (u(t)):

g 0 (t) = DF (u(t)) · u0 (t)

Exemplo 4
Considerando o exemplo anterior (Exemplo 3), suponha que p1 , p2 e y variam ao longo
do tempo segundo as equações:

p1 (t) = 12t, p2 (t) = t 2 e y (t) = t − 1

Qual a variação da demanda em relação ao tempo em t = 3?

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1. Derivadas direcionais e gradiente

Solução Exemplo 4, pela regra da cadeia:

g 0 (t) = DF (u(t)) · u0 (t)

dp1
 
 dq
1
 ∂q1

∂q1 ∂q1

 dt 
 dt 
  ∂p1 ∂p2 ∂y   
dp2 
 = 
 

dq2
 
∂q2 ∂q2

∂q2   dt 
 
dt ∂p1 ∂p2 ∂y  dy 
dt

Substituindo...

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2. Funções implı́citas

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2. Funções implı́citas

Funções em que as v.s endógenas são funções explı́citas das v.s exógenas:

y = f (x1 , x2 , . . . , xn )

Nos modelos econômicos nem sempre é essa a situação encontrada;

Variáveis exógenas representadas em conjunto com as variáveis exógenas;

y como uma função implı́cita de (x1 , . . . , xn ):

G (x1 , x2 , . . . , xn , y ) = 0

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2. Funções implı́citas

Considere a seguinte função implı́cita:

4x + 2y − 5 = 0

Podemos escrever facilmente sua função explı́cita como: y = 2, 5 − 2x;

E em casos que não conseguimos escrever a função explı́cita correspondente?

Ainda estamos interessados em saber como variações em x afetam y .

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2. Funções implı́citas

Seja G (x, y ) uma função em torno de (x0 , y0 ) em <2 ;

dy
Pela regra da cadeia, calculamos (x0 ) como:
dx

∂G
dy (x0 , y0 )
(x0 ) = − ∂x
dx ∂G
(x0 , y0 )
∂y

Conhecido como Teorema da Função Implı́cita.

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2. Funções implı́citas

Exemplo 5
Para a função G (x, y ) = x 2 − 3xy + y 3 − 7 = 0, calcule a derivada de y em relação a x
em torno do ponto (x0 , y0 ) = (4, 3)

Para funções implı́citas de mais de uma variável exógena:

∂G ∗
(x1 , . . . , xn∗ , y ∗ )
∂y ∗ ∗ ∂x
(x1 , . . . , xn ) = − i
∂xi ∂G ∗
(x1 , . . . , xn∗ , y ∗ )
∂y

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2. Funções implı́citas

Exemplo 6
Considere a função F (x1 , x2 , y ) = x12 − x22 + y 3 . Calcule as derivadas parciais de y em
relação a x1 e x2 no ponto x1 = 6 e x2 = 3. Além disso, se x1 cresce para 6,2 e x2
decresce para 2,9, estime a variação correspondente de y .

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3. Funções homogêneas

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3. Funções homogêneas

Homogeneidade → propriedade de algumas funções;

Exemplos: funções demanda, produção, lucro, custo, etc;

Utilizadas por economistas para provar teoremas de modelos econômicos;

y = ak → é homogênea de grau k;

y = x 3 + 3x 2 → não é homogênea;

y = ax1k1 x2k2 x3k3 → é homogênea de grau k1 + k2 + k3 ;

y = x12 x2 + 3x1 x22 + x23 → é homogênea de grau 3;

y = 4x12 x23 − 5x1 x22 → não é homogênea.

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3. Funções homogêneas

Para uma função ser homogênea suas parcelas devem ter mesmo grau;

Podemos enquadrar uma função como homogênea ao observar sua expressão;

Tais funções apresentam algumas propriedades importantes;

Definição: Para um escalar k, f (x1 , x2 , . . . , xn ) é homogênea de grau k se:

f (tx1 , tx2 , . . . , txn ) = t k f (x1 , x2 , . . . , xn ) para quaisquer x1 , x2 , . . . , xn e t > 0

Em geral trabalhamos com funções homogêneas definidas em <n+ .

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3. Funções homogêneas

Sabemos que y = x12 x2 + 3x1 x22 + x23 é homogênea de grau 3;

Substituindo x1 , x2 e x3 por tx1 , tx2 e tx3 , temos:

y = (tx1 )2 (tx2 ) + 3(tx1 )(tx2 )2 + (tx2 )3

y = t 2 x12 tx2 + 3tx1 t 2 x22 + t 3 x23

y = t 3 (x12 x2 + 3x1 x22 + x23 )

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3. Funções homogêneas

A definição de homogeneidade também vale para expoentes fracionários;

Qual o grau de homogeneidade das seguintes funções?

1/2 3/2
f1 (x1 , x2 ) = 30x1 x2

1/2 1/4 −5/4


f2 (x1 , x2 ) = x1 x2 + x12 x2

x17 − 3x12 x25


f3 (x1 , x2 ) =
x14 + 2x12 x22 + x24

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3. Funções homogêneas

Conveniente utilizar funções homogêneas como função de produção;

Se q = f (x1 , x2 , . . . , xn ) é uma função de produção homogênea de grau um:

f (tx1 , tx2 , . . . , txn ) = tf (x1 , x2 , . . . , xn )

Sendo (x1 , x2 , . . . , xn ) uma cesta de insumos;

Para t = 2 → se a firma duplicar cada insumo, o produto será duplicado;

Nesse caso, dizemos que a firma apresenta retornos constantes de escala.

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3. Funções homogêneas

A firma pode apresentar uma função de produção homogênea de grau k > 1;

Se ela dobrasse os insumos (t = 2) seu produto aumenta na ordem 2k ;

Dizemos que a firma apresenta retornos crescentes de escala;

Também temos o caso em que a função de produção é homogênea de grau k < 1 ;

Se dobrar os insumos, a produção aumenta por um fator menor que 2;

Dizemos que a firma apresenta retornos decrescentes de escala.

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3. Funções homogêneas

Cobb-Douglas → função homogênea para representar produção e utilidade:

q = Ax1a1 x2a2 · . . . · x3a3

Pn
i=1 ai → determina o grau de homogeneidade da função;
Pn
i=1 ai = 1 → retornos constantes de escala;
Pn
i=1 ai > 1 → retornos crescentes de escala;
Pn
i=1 ai < 1 → retornos decrescentes de escala.

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3. Funções homogêneas
Função de produção é uma função homogênea por hipótese;

Função demanda é homogênea por natureza;

Seja a função demanda x = fD (p1 , . . . , pn , Y );

A demanda é derivada da maximização da utilidade U(x) sujeito a:

p1 x1 + . . . + pn xn ≤ Y

Se os preços e renda triplicam a restrição orçamentária não é afetada, ou seja:

D(tp1 , . . . , tpn , tY ) = D(p1 , . . . , pn , Y )

O que implica que a demanda é homogênea de grau zero (t 0 = 1).

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3. Funções homogêneas
Propriedade:

Se f (x1 , . . . , xn ) é homogênea de grau k, suas derivadas parciais de primeira ordem


são homogêneas de grau k − 1;

Por hipótese...

f (tx1 , . . . , txn ) = t k f (x1 , . . . , xn )

Tomando a derivada parcial em relação a x1 , mantendo t, x2 , . . . , xn fixos, pela


regra da Cadeia:

∂f ∂f
(tx1 , . . . , txn ) · t = t k (x1 , . . . , xn )
∂x1 ∂x1

∂f ∂f
(tx1 , . . . , txn ) = t k−1 (x1 , . . . , xn )
∂x1 ∂x1

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3. Funções homogêneas

Como determinar a homogeneidade de uma função?

Teorema de Euler:

Seja f (x1 , . . . , xn ) uma função em <n+ . Se

∂f ∂f
x1 (x) + . . . + xn (x) = kf (x1 , . . . , xn )
∂x1 ∂xn

para qualquer x em <n+ . Então f é homogênea de grau k.

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3. Funções homogêneas

Exemplo 7
Quais das seguintes funções são homogêneas? Quais são os graus daquelas que são
homogêneas?

3x 5 y + 2x 2 y 4 − 3x 3 y 3

3x 5 y + 2x 2 y 4 − 3x 3 y 4

x 1/2 y −1/2 + 3xy −1 + 7

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3. Funções homogêneas

Exemplo 8
Verifique o grau de homogeneidade das derivadas parciais e teorema de Euler para as
funções que são homogêneas do exemplo anterior.

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3. Funções homogêneas

Exercı́cio 1
Determine se as funções e seguir são homogêneas e, em caso positivo, seu grau de
homogeneidade.
a) x 3/4 y 1/4 + 6x
b) x 3/4 y 1/4 + 6x + 4
(x 2 − y 2 )
c) +3
x2 + y2
x2 2w 2
d) +
y x

e) xy
xy 2
f) + 2xw
w

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3. Funções homogêneas

Exercı́cio 2
Mostre que o produto de funções homogêneas é uma função homogênea.

Exercı́cio 3
Considere a função de produção de elasticidade constante de substituição (CES) dada
por F (x1 , x2 ) = A(a0 + a1 x1ρ + a2 x2ρ )1/ρ . Mostre que F tem retornos constantes de
escala quando a0 = 0.

Exercı́cio 4
Seja o resultado da produção uma função de 3 insumos: Q = AK a Lb N c . Essa função é
homogênea? Mostre. Se for, qual seu grau? Sob qual condição haveria retornos
constantes, crescentes e decrescentes de escala?

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4. Bibliografia

CHIANG, A. C. & WAINWRIGHT, K. Matemática para Economistas. 4


Ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. Capı́tulos 7, 8, 9 e 12.

SIMON, C. & BLUME, L. Matemática para Economistas. Porto Alegre:


Bookman, 2004. Capı́tulos 14, 15 e 20.

Prof. Leandro Maciel


maciel.leandro@unifesp.br

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