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Uma revista para pastores e líderes de igreja

mar-abr de 2014

Limites da
liberdade, p. 15
A besta de
sete cabeças, p. 24 O lugar do
adventismo
na História
Exemplar avulso: R$ 11,96

Nossa resposta para o


atual momento do mundo
SALA PASTORAL Fred Hardinge
Diretor associado dos Ministérios de Saúde na
Associação Geral dos Adventistas

O servo ganancioso

D
esde que eu era garoto, uma das minhas his- Qual foi o agente da cura de Naamã? Acaso teriam
tórias bíblicas favoritas é a da cura milagrosa sido os minérios especiais que turvavam o Jordão,
de Naamã (2Rs 5) – uma clássica história da ou o ritual de sete mergulhos? Não! Foi “unicamente
provisão de Deus para descrentes. Vejo nesse capítulo seguindo as específicas indicações do profeta, que ele
uma seção jubilosa e outra embaraçosa. Cada uma delas poderia alcançar a cura. Somente voluntária obediência
ilustra poderosamente dois importantes princípios do traria o resultado desejado” (Ellen G. White, Profetas
efetivo ministério de cura hoje. e Reis, p. 249).
Primeiramente, a seção jubilosa. Naamã visitou todos Agora, a seção embaraçosa do capítulo. O profeta
os melhores médicos e curandeiros da Síria, mas não cura- recusou o pagamento pelo que Deus tinha feito. Geazi,
do. Por meio do testemunho de uma criada hebreia que servo de Elias, não tolerou ver Naamã voltar para a Síria
vivia em sua casa, ele soube do profeta de Deus em Israel. O com todos os bens que havia levado, e resolveu tirar
rei da Síria concordou prontamente em escrever uma carta proveito do milagre operado. Assim, correu até Naamã,
de apresentação. Com o coração a fim de conseguir algo para si
cheio de renovadas esperanças, ele mesmo (vs. 20, 21). Quando Na-
partiu de Samaria levando consigo amã o viu, alegremente parou,
considerável fortuna como paga- “O mundo está cheio de pensando que algo devia estar
mento de sua cura. oportunistas oferecendo errado. Mas o ganancioso servo
Finalmente, depois de uma vi- bens espirituais em troca mentiu a Naamã. Com o coração
sita ao rei de Israel, ele chegou à
residência do profeta Elias. Em vez
dos materiais” agradecido, Naamã ofereceu a
Geazi mais do que ele havia pe-
de receber Naamã pessoalmente, o dido, além de dois servos para
profeta lhe enviou seu servo com transportar tudo de volta à casa.
uma mensagem: “Vá e lave-se sete vezes no rio Jordão; Depois de mentir a Elias sobre o que tinha feito e aonde
sua pele será restaurada e você ficará purificado” (v. 10). tinha ido, o profeta declarou que Geazi ficaria leproso,
Pobre Naamã. Ele esperava algo inteiramente diferen- e assim aconteceu.
te. Irado e frustrado, deixou a casa de Elias. Afinal, não O mundo está cheio de oportunistas gananciosos,
eram os rios da Síria mais límpidos que o turvo Jordão? tirando proveito material do serviço espiritual prestado.
Ao voltar para casa, alguns servos raciocinaram com ele: Oferecendo bens espirituais em troca dos materiais. A
“Se o profeta lhe tivesse pedido alguma coisa difícil, o se- esses é dirigida a seguinte advertência:
nhor não faria?” (v. 13). Tendo dissipado a ira, ele voltou “Solenes são as lições ensinadas por esta experiência
ao Jordão, mergulhou nele sete vezes, “e foi purificado; de uma pessoa a quem tinham sido dados altos e santos
sua pele tornou-se como a de uma criança” (v. 14) privilégios. A conduta de Geazi fora de molde a colocar
Um agradecido Naamã e sua comitiva de ajudantes uma pedra de tropeço no caminho de Naamã, sobre cuja
correram à casa do profeta, para lhe oferecer presentes. mente havia incidido maravilhosa luz, e que estava favo-
Entretanto, Elias se recusou a aceitar qualquer pagamen- ravelmente disposto para a adoração do Deus vivo. Para
to e apenas lhe desejou paz. o engano praticado por Geazi não podia haver qualquer
Muitos hoje são como Naamã. Rejeitam as coisas desculpa. Até o dia de sua morte ele permaneceu leproso,
simples que Deus pede, especialmente na área da pre- amaldiçoado por Deus e evitado por seus semelhantes”
venção de doenças comuns. Preferem gastar fortunas em (Ibid., p. 252).
remédios em vez de renunciar aos maus hábitos de saúde, Nosso alvo não deve ser buscar o “próprio bem, mas
adotando o estilo de vida prescrito por Deus. o bem de muitos, para que sejam salvos” (1Co 10:33).

2 MINISTÉRIO
EDITORIAL
Uma publicação da
Igreja Adventista do Sétimo Dia

Ano 86 – Número 511 – Mar/Abr 2014


Periódico Bimestral – ISSN 2236-7071

A resposta de Deus
Editor:
Zinaldo A. Santos
Editor Associado:
Márcio Nastrini
Assistente de Editoria:
Lenice F. Santos

Chefe de Arte:
Marcelo de Souza
Design Gráfico:

A
Marcos S. Santos e Samuel Santana
Capa:
Montagem sobre ilustração de Thiago
pergunta: “Que é a verdade?” (Jo 18:38), feita por Pilatos a Cristo,
Lobo e fotos da NASA sempre ecoou na mente de homens e mulheres empenhados na
Fotos internas:
William de Moraes (Editor),
busca de certeza e rumo para a vida. E, ao longo da História, não
Ministry e cortesia dos autores lhes faltaram opções de definição nem sugestões de como e onde encontrá-la.
Colaboradores Especiais:
Na Idade Média, por exemplo, quem desejasse conhecer a verdade deveria
Carlos Hein; Jerry Page; Derek Morris. buscá-la junto ao clero. Com o advento da Reforma, a verdade passou a ser
Colaboradores:
vista como bem acessível a qualquer pessoa que a pesquisasse nas Escrituras.
Antônio Moreira; Bolívar Alaña; Daniel Em seguida, como se sabe, as revoluções filosófica e científica descartaram
R. Marin; Edilson Valiante; Eliézer Júnior;
Eufracio Quispe; Geovane Souza; Horácio
a autoridade dessas fontes para definir e apontar a verdade, atribuindo a possi-
Cayrus; Jair Garcia Góis; Jeú Caetano; Jim bilidade de sua descoberta à razão humana e à ciência. Assim, o mundo entrava
Galvão; Leonino Santiago; Salomón Arana.
no período moderno da civilização, em que a ciência se tornou a medida de
Diretor Geral: todas as coisas, estando pretensamente destinada a resolver os problemas do
José Carlos de Lima
Diretor Financeiro:
mundo. Ela exploraria os recursos do planeta em benefício do ser humano e
Edson Erthal de Medeiros na construção de um mundo melhor. Com o passar do tempo, surgiram outras
Redator-Chefe:
Rubens S. Lessa
propostas com o objetivo de levar o ser humano à plenitude da felicidade, em
um mundo de justiça e paz. Socialismo, existencialismo, capitalismo e outros
SERVIÇO DE ATENDIMENTO AO CLIENTE
“ismos” são alguns exemplos. Porém, desiludido pela falácia de todas elas, eis
Ligue Grátis: 0800 979 06 06 o homem, hoje, empenhado em construir sua própria verdade, relativa e plu-
Segunda a quinta, das 8h às 20h
Sexta, das 7h30 às 15h45
ralista, divorciada de valores absolutos. Chegamos assim à era pós-moderna.
Domingo, das 8h30 às 14h Para a igreja em sua missão, representa sério desafio esse conceito de ver-
Site: www.cpb.com.br
E-mail: sac@cpb.com.br
dade relativa, composta de “muitas verdades” ou “pela verdade de cada um”,
ajustável a situações, conveniências e gostos pessoais. Ele ameaça a fé, gera
Ministério na Internet:
www.dsa.org.br/revistaministerio
incerteza e constrói resistências. Contudo, novos desafios também abrem por-
www.dsa.org.br/revistaelministerio tas para novas oportunidades e não devem ser temidos. O Senhor da História
Redação: ministerio@cpb.com.br
pode revertê-los em instrumentos para reavaliação de nossas prioridades e
Todo artigo, ou correspondência, para como incentivo à elaboração de métodos que despertem a geração atual para
a revista Ministério deve ser enviado para
o seguinte endereço:
a relevância do evangelho na experiência humana.
Caixa Postal 2600 –70279-970 – Brasília, DF Depois de tudo, é importante lembrar que desafios religiosos, culturais,
Assinatura: R$ 58,10
políticos, intelectuais, sociais ou econômicos jamais representaram obstáculo à
Exemplar Avulso: R$ 11,96 atuação do Espírito Santo. Nos dias apostólicos, a mensagem que os primeiros
cristãos proclamavam suscitou reações: “É loucura!”, diziam os intelectuais
CASA gregos. “É escandalosa!”, vociferavam os religiosos judeus. “Estão transtor-
PUBLICADORA
BRASILEIRA
nando o mundo!”, queixavam-se autoridades políticas. Mas a mensagem do
Editora da Igreja Adventista do Sétimo Dia Cristo crucificado, ressurreto e prestes a vir era, como ainda é e sempre será, a
Rodovia SP 127 – km 106 – Caixa Postal 34
18270-970 – Tatuí, SP
resposta para os dilemas humanos. O próprio adventismo não surgiu no vácuo
da História. Deus suscitou esse movimento com a missão de proclamar Cristo e
Todos os direitos reservados.
Seu “evangelho eterno”, numa época em que também proliferavam tendências
Proibida a reprodução total políticas, intelectuais, sociais e religiosas diversificadas. Não há o que temer!
ou parcial, por qualquer meio,
sem prévia autorização escrita
do autor e da Editora. Zinaldo A. Santos
Tiragem: 0.000  5880/30061

MAR-ABR 2014 3
SEÇÕES
10 “DEPOIS DAQUELES DIAS” 2 SALA PASTORAL
A mensagem de Joel para a igreja dos nossos dias.

3 EDITORIAL
13 O IMPACTO DE UMA DECISÃO
 e que maneira a renúncia de Moisés ao trono egípcio afetou sua
D
vida e a vida do país.
5 ENTREVISTA

15 LIMITES DA LIBERDADE
Autor comenta a posição adventista sobre homossexualidade. 8 AFAM

17 UM LUGAR NA HISTÓRIA 32 MURAL


 ual é a solução adventista para
Q
o atual momento do mundo?
34 RECURSOS

35 D
 E CORAÇÃO
A CORAÇÃO
Imagem: Nasa

21 O BODE EMISSÁRIO
Análise de uma declaração polêmica de Ellen G. White
sobre o assunto.
“O Senhor não
24 A BESTA DE SETE CABEÇAS
Exegese de um dos mais difíceis capítulos da Bíblia. pode trabalhar com
28 LOBOS CONTRA O REBANHO autossuficientes, que se
Como e por que a igreja pós-apostólica cedeu às influências
filosóficas de seu tempo. exaltam a si mesmos.
O eu deve ser
escondido em Jesus.”
Ellen G. White
ENTREVISTA CARLOS BALAREZO

Medicina em missão

“Restaurar a imagem de Deus nas


pessoas e transformar vidas para
atender ao propósito original de
Deus é o objetivo do ministério
médico-missionário”
Foto: Wendel Lima

por Francisco Lemos

C
arlos Balarezo nasceu no prêmio de Honra ao Mérito Extraor- seletivos daquele ano em meu pa-
Peru, mas deixou seu país dinário. Além disso, o Dr. Balarezo, ís. Como eu não queria perder um
para estudar medicina na foi por três vezes homenageado com ano de estudos, decidi participar dos
Universidade de Tucumán, na Ar- o prêmio Bisturi de Ouro, nos Esta- processos seletivos em outro país.
gentina, onde se tornou adventista. dos Unidos, por serviços prestados Junto com amigos, fui à Argentina.
Em 1978, após concluir sua residên- àquele país. Prestei o vestibular na Universidade
cia na Universidade de Loma Linda, de Tucumán. Então, um dos amigos
tornou-se professor associado de ci- Ministério: Como se tornou adven- fez uma promessa: se conseguisse
rurgia naquela instituição. Frequen- tista e quando? passar na prova, ele se tornaria ad-
temente, visitava o Peru para dar Balarezo: Eu estava terminando ventista. Alguns membros de sua
palestras e treinar médicos em seu o ensino médio quando o colégio on- família eram adventistas e um de
país. Recebeu o título de Mestre da de eu estudava, no Peru, entrou em seus irmãos era pastor adventista.
Cirurgia Peruana, honra concedida greve. Com o atraso do ano letivo, Nós dois fomos aprovados. Meu ami-
somente a dois outros médicos, e o não pude participar dos processos go cumpriu a promessa. Depois de

MAR-ABR 2014 5
ENTREVISTA CARLOS BALAREZO
algum tempo, esse amigo, que hoje um paciente que sofreu um acidente, doença. O diagnóstico estava corre-
trabalha no hospital adventista de ou outro que foi baleado, pensar em to. O garoto recebeu o tratamento
Lima, Peru, me convidou para ir à todos os órgãos, descobrir onde es- adequado e se recuperou pronta-
sua igreja. Eu aceitei. Depois de dois tava o problema, eram desafios que mente.
anos estudando a Bíblia, finalmente eu desejava para minha profissão.
decidi que queria ser batizado e me Especializei-me em cirurgia geral e Ministério: Qual é sua opinião
tornei adventista. traumatologia. São 49 anos realizan- sobre os conselhos preventivos que en-
do cirurgias, treinando médicos e contramos nos livros de Ellen G. White?
estudantes de medicina. O senhor os pratica?
“Estudantes e médicos Balarezo: São conselhos oportu-
devem saber que ajudar Ministério: O senhor costuma orar nos. Quando Ellen White escreveu
as pessoas é o que vai antes de operar seus pacientes? sobre saúde, tudo era diferente, as
trazer mais alegria e Balarezo: Nos Estados Unidos pessoas deviam aceitar a mensagem
satisfação na vida” não é permitido orar com os pacien-
tes, mas eu oro em pensamento todo
exclusivamente por fé. Hoje temos
comprovação científica para cada um
o tempo e quando uma cirurgia está dos princípios de saúde apresenta-
Ministério: Por que escolheu a car- complicada, me transformo em um dos por ela. A mensagem de saúde é
reira de médico? humilde assistente, e Jesus Cristo, prática e eficaz. Como médico, apre-
Balarezo: Estava preparado para que é o Médico dos médicos, Ele faz sento esses conselhos, mostrando
ser um engenheiro, tinha as habi- o que é melhor pelo paciente, Ele os benefícios das práticas saudáveis
lidades necessárias e interesse pe- opera e eu só ajudo. que ela defende e também falo sobre
la área, mas desafios são desafios. a comprovação científica de seus es-
Meus amigos diziam que eu jamais Ministério: O senhor pode con- critos. Pessoalmente, também faço
passaria num vestibular de medicina. tar alguma historia sobre um momen- uso dessas orientações e conselhos.
Eu passei! Comecei a estudar e estava to difícil na mesa de cirurgia, no qual
indo muito bem. Realizei algumas sentiu claramente a presença e a ajuda Ministério: Qual é o objetivo da
provas e, com a classificação obti- de Deus? obra médico-missionaria?
da, pude avançar mais rapidamente Balarezo: Tenho certeza de que Balarezo: Restaurar a imagem
com o curso. Porém, eu ainda não muitas vezes foi Jesus quem realizou de Deus nas pessoas e transformar
estava completamente decidido a ser a cirurgia. Eu poderia falar por horas vidas para atender ao propósito ori-
médico, e pensava em fazer outra sobre os milagres que Deus me mos- ginal de Deus. Os pacientes e seus
faculdade. A grande decisão de ser trou. Mas, vou mencionar apenas familiares necessitam da esperança
médico aconteceu quando eu estava dois casos: que pregamos. Os médicos devem
cursando o segundo ano. O profes- Eu estava terminando uma cirur- aproveitar essas oportunidades para
sor de fisiologia me inspirou, desejei gia e prestes a fechar o corte, quan- falar sobre perdão e misericórdia. Os
ser como ele. Eu desejava atuar para do tive a impressão muito forte de estudantes de medicina da Univer-
fazer diferença na vida das pessoas. que deveria olhar os intestinos da sidad Peruana Unión estão sendo
Foi aí que começou meu entusiasmo paciente, procedimento que não era preparados para apresentar nossa
pela medicina cirúrgica. nada usual e não fazia parte daque- fé com sabedoria e, principalmente,
la cirurgia. Obedeci. Encontrei uma estão aprendendo mais sobre como
Ministério: Por que o senhor deci- perfuração no intestino e a vida da compartilhar palavras de esperança
diu estudar na Universidade Adventista paciente foi salva. aos pacientes.
de Loma Linda? Num segundo caso, um menino
Balarezo: Primeiro porque eu de três anos estava doente e não con- Ministério: De que maneira a
queria estudar em uma universida- seguíamos descobrir a causa. Seu es- cooperação entre médicos e pastores
de adventista e segundo porque eu tado piorava rapidamente. Eu estava pode contribuir para o avanço da pre-
queria conhecer procedimentos que descansando um pouco e, senti uma gação do Evangelho?
estavam disponíveis lá. A princípio, forte cotovelada seguida da ordem: Balarezo: As campanhas evange-
as cirurgias cardiológicas me interes- vá ver o menino! Era noite, tudo es- lísticas podem se beneficiar muito se
savam muito, mas logo percebi que tava calmo e silencioso. Ouvi uma tiverem médicos falando sobre os te-
a diversidade do corpo humano me voz, dizendo-me claramente: “tifo mas relacionados à saúde. Há alguns
interessava muito mais. A necessida- exantemático.” Busquei informações anos, participei de uma campanha de
de de pensar e agir rápido diante de nos livros porque não conhecia essa evangelismo em Cusco, Peru. Falava

6 MINISTÉRIO
sobre saúde por apenas 20 minutos Balarezo: Em primeiro lugar, pro-
em cada reunião. Essa campanha foi movemos o espírito de serviço. Os
bem-sucedida e nasceu ali uma igreja “Os médicos devem jovens visitam comunidades carentes
com 300 membros. Os pastores po- levar esperança para conversar com as pessoas sobre
dem ter a colaboração dos médicos aos pacientes e temas que estão estudando. Também
para falar com credibilidade sobre
as informações científicas que corro-
familiares falando- estão envolvidos em um projeto de
visitas semanais a uma clínica para
boram a nossa mensagem de saúde. lhes de perdão e reabilitação de usuários de drogas.
As pessoas serão tocadas por esses misericórdia” Em segundo lugar, tratamos de en-
temas e estarão preparadas para re- volver os estudantes nas atividades
ceber o evangelho. da igreja. Eles são professores da Es-
Ministério: O senhor ainda tem cola Sabatina, participam dos cultos e
Ministério: Em sua opinião, o que alguma ligação com a Universidade de alguns pregam também. Em terceiro
uma pessoa deve fazer para alcançar Loma Linda? lugar está o desenvolvimento desses
esse ideal? Balarezo: Sim, continuo como futuros médicos, que estudam ma-
Balarezo: Para ter um estilo de professor, e sempre que vou aos Es- térias de religião direcionadas para
vida que proporcione longevidade, as tados Unidos trabalho com os resi- os princípios de serviço e ajuda ao
pessoas devem ser temperantes em dentes em medicina da Universidade próximo. Queremos que eles saibam
tudo. Cuidar da alimentação, praticar de Loma Linda e também com os que ajudar as pessoas é o que vai tra-
exercícios físicos que comprovada- residentes do Hospital Regional de zer mais alegria e satisfação na vida.
mente trazem benefícios para o cor- Riverside. Realizo também ativida-
po e a mente (existem estudos que des relacionadas ao projeto do novo Ministério: Qual é o seu maior
atestam o aumento da inteligência centro de simulação de cirurgia da desafio em relação à Escola de Medicina
através da multiplicação dos neurô- UpeU que está sendo desenvolvido de UpeU?
nios em pessoas que se exercitam), com o apoio de Loma Linda. Balarezo: Tenho muitos desafios
usar sabiamente o tempo, confiar em Existem vínculos estreitos entre a todos os dias, mas o maior deles é
Deus e servir ao próximo. Escola de Medicina de Loma Linda e conseguir professores médicos ad-
a Escola de Medicina da UPeU. O di- ventistas capazes de transmitir co-
Ministério: Fale sobre a sua de- retor da Escola de Medicina de Loma nhecimentos técnicos e ao mesmo
cisão de retornar ao Peru, depois de Linda foi meu residente e ajudou a tempo, com seu exemplo, atuar na
tantos anos fora de seu país. estabelecer um convênio para inter- formação de médicos cristãos.
Balarezo: Poder influenciar os câmbio de estudantes entre as duas
estudantes foi algo realmente im- universidades. Além disso, médicos Ministério: Quantos alunos estão
portante na minha decisão de re- de Loma Linda irão ministrar aulas matriculados na primeira turma de me-
gressar ao Peru. Não se trata de um para os alunos da UPeU. A colabora- dicina de UPeU?
trabalho, mas de uma missão, um ção que recebemos da Universidade Balarezo: A primeira turma ini-
sonho de muitos anos. Desejo que de Loma Linda inclui aspectos acadê- ciou com 80 alunos e a segunda com
esses estudantes sejam excelentes micos e tecnológicos principalmente. 91. A maioria dos alunos é de na-
médicos missionários. O treina- A Dra. Gisela Sandy veio de Loma cionalidade peruana. Para a terceira
mento pode levar mais tempo, mas Linda e sua história é bem interes- turma, estamos esperando um bom
o resultado deve ser sempre exce- sante. Tive a oportunidade de tê- número de jovens de outros países,
lente. Quero que os estudantes de la como residente. Ela possui duas inclusive do Brasil.
medicina da UPeU sejam treinados especialidades: cirurgia geral e cui-
para ser excelentes. Eles só pode- dados pós-cirúrgicos intensivos. A Ministério: Se alguém quiser mais
rão se graduar quando atingirem o segunda especialidade da Dra. Sandy informações sobre a Escola de Medicina
desenvolvimento das capacidades não existe no Peru, o que valoriza de UpeU, a quem deve se dirigir?
necessárias para exercer a medi- muito a presença dela neste país. Pa- Balarezo: A UPeU possui uma
cina com excelência. Esse projeto ra vir trabalhar na UPeU ela aceitou área dedicada exclusivamente a aten-
é meu desafio. Estou trabalhando uma redução de 96% em seu salário. der aos interessados, basta escrever
para que os estudantes tenham para internacionales@upeu.edu.pe
bons professores, equipamentos Ministério: O que está sendo ou ligar para 0051 1 6186306. Te-
adequados e inspiração para serem feito na UPeU para formar médicos mos atendimento especializado em
bons, os melhores. missionários? português!

MAR-ABR 2014 7
AFAM Regina Nunes
Esposa de pastor, funcionária da Casa Publicadora Brasileira

Mulher virtuosa
O que a igreja espera da esposa do pastor

C
reio que nenhuma esposa de pastor aprecia é confirmado sempre que chegamos a um novo distrito
ser apontada como exemplo. Afinal, isso exi- pastoral. Somos observadas e muitas pessoas nos têm
ge muito de nós, e sabemos que estaremos como exemplo. Independentemente de tal atitude ser
sempre aquém do ideal. Porém, é verdade que, em nos- correta ou não, é um fato constatado.
so íntimo, temos o sincero desejo de viver cada dia na Diante disso, o que devemos fazer? Embora muitas
Fotos: Shutterstock

contemplação de Cristo e, assim, nos tornar mais se- pessoas aparentem jamais estar satisfeitas com aquilo
melhantes a Ele. Conforme diz conhecido cântico, “o que somos, podemos fazer simplesmente nosso melhor,
cristão é exemplo, mesmo sem o querer”. Parece que isso sob a graça de Deus e deixando com Ele os resultados.

8 MINISTÉRIO
Mas há três palavras-chave que podem ajudar a nortear a o mundo o adotarmos essa moda de vestuário. Devem
vida e a conduta da esposa de pastor. Neste artigo, vamos os cristãos seguir a Cristo, conformando seu traje com
refletir um pouco sobre cada uma delas. a Palavra de Deus. Devem fugir dos extremos. Devem
humildemente seguir um procedimento retilíneo, inde-
Comprometimento pendente de aplauso ou de censura, e devem apegar-se
Uma mulher comprometida é o que o Senhor, o es- ao que é direito, pelos simples méritos do direito” (Men-
poso e a igreja esperem da esposa do pastor. Você não sagens Escolhidas, v. 3, p. 476, 477).
precisa ter o dom de realizar todas as coisas na igreja. Mas é importante entender que a elegância vai além
Mas é muito importante que seja comprometida com o da vestimenta. Além de estar vestida de acordo com a
ministério pastoral. Essa atividade não é apenas do seu situação, e de acordo com os princípios cristãos, a esposa
esposo; é do casal, e você deve fazer seu melhor a fim de do pastor deve ter modos gentis, cortesia cristã, para com
apoiá-lo em todos os sentidos. Evidentemente, os limites todas as pessoas.
pessoais devem ser respeitados, mas é muito triste ver Um item que não podemos ignorar é a maquiagem dos
uma esposa que não se sente chamada para esse traba- olhos ou nos lábios. É aceitável que se corrijam imper-
lho. Cedo ou tarde, isso afetará duramente o ministério feições da pele e dar um aspecto de rosto bem cuidado.
do esposo, pela impossibilidade de executá-lo sozinho. Mas que não haja exageros. Ter unhas bem cuidadas é
também sinal de higiene; porém, no caso de usar esmalte,
Discrição seja esse transparente.
À semelhança do anterior, es- Lembre-se: outras irmãs da
se é um fator muito importante. igreja estão atentas a todos esses
Discrição tem muito que ver com e outros detalhes vistos em nós.
a maneira de alguém se compor-
“Nossa vida deve ser Muitas procurarão brechas para
tar e, em nosso caso especialmen- autêntica, verdadeira. Nosso usar e fazer isto ou aquilo, sob
te, com o vestuário e cuidados falar, cheio do amor e a justificativa de que a esposa
com a aparência. bondade do Salvador” do pastor também usa e faz. O
Quão importante é que a es- princípio ensinado por Paulo, no
posa do pastor entenda a necessi- contexto do uso de alimentação
dade de ser discreta em todas as situações! Por exemplo, sacrificada a ídolos, é válido aqui: “Tenham cuidado para
ela deve ter o cuidado de não expor comentários confi- que o exercício da liberdade de vocês não se torne uma
denciais, evitar falar ou gargalhar tão alto que chame pedra de tropeço para os fracos... Quando você peca
a atenção das pessoas. É preciso estar elegantemente contra seus irmãos dessa maneira, ferindo a consciência
vestida, representando bem a função e, ao mesmo tempo, fraca deles, peca contra Cristo” (2Co 8:9, 12).
ser modesta. Dispense roupas extravagantes, esteja em
sintonia com o tipo de congregação da qual faz parte. Consagração
Não fique aquém do nível da comunidade, muito menos Finalmente, de nada adianta procurarmos nos envolver
pareça esnobe, tentando ficar acima desse nível. Há que no trabalho e ter discrição, se tudo isso for simplesmente
se cuidar com o comprimento da roupa, o tamanho dos aparência exterior. É necessário que brote do coração;
decotes, cavas, transparências e qualidade do tecido. deve ser algo feito de modo natural, fruto de um amor
De acordo com Ellen G. White, não devemos ser os que tem raízes profundas na comunhão diária com Cristo.
primeiros nem os últimos a aderir a alguma novidade É impossível dar algo que não se tem. Assim, nossa vida
no vestuário. Portanto, equilíbrio entre qualidade e eco- deve ser autêntica, verdadeira. Nosso falar, cheio do amor
nomia é o segredo. e bondade do Salvador. Tudo em nossa vida deve refletir
“Não devem os cristãos dar-se ao trabalho de se tornar o fato de que andamos com Ele, diariamente bebendo a
objeto de estranheza por se vestirem diferentemente do Água da Vida, alimentando-nos do Pão do Céu, deixando
mundo. Mas se, em harmonia com sua fé e dever em que Ele nos transforme à Sua semelhança.
relação ao seu traje modesto e saudável, eles se virem É assim que, ao acompanharmos nosso esposo em
fora de moda, não devem mudar sua maneira de vestir seu trabalho, revelaremos real interesse pelo bem-estar
a fim de serem semelhantes ao mundo. Devem, porém, de cada um deles. Amaremos o rebanho que nos foi con-
manifestar uma nobre independência e coragem moral fiado, entregando-nos a essa causa com o mesmo amor
para serem corretos, mesmo que todo o mundo deles demonstrado por Cristo Jesus. A tudo isso, o Supremo
difira. Se o mundo introduzir uma moda de vestuário Pastor saberá recompensar na eternidade e, até que lá
modesta, conveniente e saudável, que esteja de acordo nos encontremos, o exercício do ministério pastoral será
com a Bíblia, não mudará nossa relação com Deus ou com indescritivelmente prazeroso.

MAR-ABR 2014 9
Paulo Alberto B. Leite
Pastor na Associação

EXEGESE Espírito-Santense

“Depois
daqueles dias”
Um ministério profético voltado para o reavivamento

O
livro de Joel foi composto cinco versos represente, sozinha, um alguns elementos do reavivamento
sob as circunstâncias da uma dos capítulos da obra do profeta. e reforma em sua mensagem, como
invasão da cidade de Jerusa- Por fim, três destaques podem ser veremos em seguida.
lém, por inimigos mesopotâmicos, dados à obra de Joel: Ele constrói sua Arrependimento. O primeiro
seja a Assíria, em 701 a.C, ou Babi- mensagem sobre o conceito da Alian- desses elementos é o arrependimen-
lônia em uma de suas duas invasões ça;2 apresenta de forma proeminente to. Curiosamente, não existe menção
em 598 a.C. ou 588 a.C.1 Na primeira o conceito do “Dia do Senhor” e traz a dos pecados que foram cometidos
metade do livro, o profeta descreve elaboração mais compreensiva da dou- pelos receptores da mensagem. Po-
a prevalecente calamidade e, na se- trina referida pelos estudiosos como rém, uma série de maldições conti-
gunda metade, a futura libertação. a democratização do Espírito Santo. das nos termos da aliança é listada
Apesar das incertezas quanto à data pelo profeta (compare Jl 1:4-12,
de composição do livro e da invasão Reavivamento e reforma 16-20; 2:1-11 com Lv 26:14-19;
mencionada nele, o impacto dele Ao passo que, em muitos aspectos, Dt 28:15-68). As maldições que
permanece invencível e sustentável. aparentemente não existe consenso cairiam sobre o povo de Deus, caso
É válido também observar que a dos estudiosos acerca da data, unida- desobedecesse à aliança, alcançou-o
seção de Joel 2:28-32 constitui o ca- de, perspectiva teológica e literalida- nos dias de Joel, especialmente a
pítulo três nas Escrituras Hebraicas, de das imagens, a atenção daqueles devastação da agricultura, destruição
o que consequentemente leva o atual que estudam Joel tem sido dirigida dos animais e invasão por uma nação
capítulo três a ser o quatro. Mais para a ênfase do profeta sobre “as estrangeira. De acordo com Stuart,
uma vez, o tema do derramamento ideias e estruturas da aliança, parti- “do ponto de vista das maldições,
do Espírito Santo é destacado pelo cularmente aquelas sansões da alian- invasão, seca e desolação, evidente-
fato de as Escrituras fazerem com ça mosaica”.3 É justamente a presença mente são as maiores punições da
que essa pequena ação de apenas desse conceito que nos ajuda a inferir infidelidade à aliança mosaica”.4

10 MINISTÉRIO
É necessário lembrar que Joel está Joel vê dois “dias do Senhor”: o Logo, a confissão é um elemento
falando para um povo que conhecia primeiro deles está em andamento decorrente da atitude de súplica e
muito bem os termos desse concerto (1:1-2:17) e deve ser entendido no humilhação diante de Deus, e estava
e que, certamente, reconheceu na contexto das maldições. O exército implícito no apelo de Joel para que o
descrição dessas maldições o resul- inimigo que invade e devasta a cida- povo buscasse a Deus dessa forma.
tado de seus próprios pecados. de atua como instrumento de Deus Especialmente porque confiavam
Quanto à identificação dos ga- na punição da desobediência (2:1, na misericórdia de um Deus fiel à
fanhotos invasores, existe também 11, 25). Já o segundo “dia do Senhor” Sua aliança.
a discussão se seriam eles literais está no futuro, (2:18-3:21). Reforma e restauração. O arre-
ou metafóricos. Estudiosos que se pendimento, a confissão e súplica de
opõem à compreensão literal dos ga- “A promessa do perdão deveriam ser seguidos pelo
fanhotos questionam o fato de que abandono do pecado. Em outras pa-
o campo nativo dos gafanhotos é o Espírito Santo não lavras, pela reforma de vida.
sul, e não o norte, como foi mencio- se refere apenas a Sendo que Deus é onisciente e
nado por Joel (2:20). Além disso, uma realidade futura. vê o que está no coração e na men-
em alguns momentos, exércitos são Também aponta para te, esses passos mencionados não
comparados a gafanhotos, seja por
símiles ou metáforas (Jz 6:5; 7:12;
uma necessidade podiam ser apenas demonstrações
externas ou mesmo limitadas àquele
Na 3:15, 16; Jr 46:23). Se forem presente” momento. Uma verdadeira reforma
compreendidos metaforicamente, se fazia necessária. O profeta cha-
isso se ajusta perfeitamente ao cená- Confissão. As maldições men- mou o povo a “converter-se de todo
rio da invasão babilônica ou assírica. cionadas em Joel evidenciam, por- o coração” e a “rasgar o coração, não
Em seu comentário, Jamieson, tanto, que houve desobediência e as vestes” (Jl 2:12, 13).
Fausset e Brown defendem uma com- pecado. Então, diante da aflição, o O apelo de Joel 2:12, 13 é seguido
preensão metafórica desses invasores. povo é convidado a se converter e por uma promessa, assim traduzida
Para eles, “o exercito do norte” não é se arrepender com súplica, jejuns, por Stuart: “Quem sabe Ele [Deus]
apenas uma expressão geográfica de orações, cingidos com pano de saco, não Se voltará e mostrará compai-
onde o invasor procede, mas o termo e assembleias solenes (Jl 1:13, 14; xão e fará que bênçãos permaneçam
indicaria sua origem, ou seja, Assíria 2:12-17). Essa forma de arrependi- depois disso [i.e. invasão]. Ofertas
ou Babilônia. Segundo eles, essas duas mento encontra eco em outros mo- de manjares e libações pertencem
nações são “o tipo e os precussores mentos de busca e oração na Bíblia. ao Senhor vosso Deus!” (v. 14).8
de todos os inimigos de Israel”.5 O Pode-se mencionar, por exemplo, as Essa promessa, provavelmente, foi
Comentário Bíblico Adventista tam- orações de Neemias e Daniel. construída e está amparada sobre
bém concorda com essa perspectiva Um fato a ser destacado é que as próprias disposições da aliança.
e, segundo ele, dependendo da data quando aparecem nos livros de Nee- Nelas havia também a promessa de
suposta para essa invasão, ela se refere mias e Daniel (Ne 1:4; Dn 9:3), esses restauração das bênçãos da aliança,
aos assírios ou aos babilônios. E acres- mesmos elementos são seguidos de segundo a qual mesmo que o povo
centa: “A devastação causada pelos ba- confissão. Aqui, a humilhação in- pecasse, fosse desobediente e rece-
bilônios poderia ter sido evitada pelo tensifica o arrependimento e o re- besse as mais terríveis maldições, se
sincero arrependimento e reforma.”6 conhecimento dos pecados, levando buscasse a Deus de todo o coração,
Outro conceito destacado no li- o adorador a confessá-los (Ne 1:6, 7; então Ele o ouviria, retornaria Seu
vro de Joel é o do “dia do Senhor”. Dn 9:4-19). Daniel e Neemias não favor para com ele e o restauraria
Esse tema está presente em todas as apenas confessam seus pecados, mas à sua terra (Lv 26:40-45; Dt 30:3).
quatro maiores seções do livro. Ele reconhecem que as tragédias sobre- É essa promessa que Neemias re-
não é apenas um elemento adicio- vieram em forma de maldições, por clama em sua oração de confissão
nado aos seus oráculos, como acon- causa da desobediência à aliança, tal (Ne 8:8-11) e parece estar subenten-
tece com outros profetas do Antigo como Deus havia anunciado por in- dida em Joel 1:14, como afirmado
Testamento. “Esse conceito é tão termédio de Moisés (Ne 1:8; Dn 9:11, anteriormente.
proeminente em Joel que ele pode 13, 14). Além disso, toda confissão As maldições que devastaram a
ser comparado a um motor que im- era precedida pela reafirmação do ca- agricultura, trazendo fome e invasão
pulsiona a profecia.” De acordo com ráter misericordioso de Deus, como inimiga, são revertidas pela restau-
von Rad, “o dia do Senhor é melhor ocorre em Joel 2:13. Nas descrições ração das bênçãos da recompensa
entendido como tendo sua origem de Neemias e Daniel, destaca-se ain- agrícola e a vitória do Senhor so-
numa guerra santa israelita”.7 da a fidelidade de Deus à Sua aliança. bre o exército inimigo (Jl 2:18-26).

MAR-ABR 2014 11
A restauração é completada com o apontar um tempo futuro indefinido Cristo, bem como nos habilitará a
restabelecimento do relacionamento da era da restauração (Jr 31:29, 33; pregar de forma plena e poderosa a
da aliança, envolvendo a presença de 33:15, 16; Zc 8:23), sendo que a mais terceira mensagem angélica. “A gran-
Deus com Seu povo: “Então vocês comum é o singular “naquele tempo”, de obra do evangelho não deverá ser
saberão que Eu estou no meio de literalmente, “naquele dia”.9 encerrada com menor manifestação
Israel. Eu sou o Senhor, o seu Deus, É em Joel que encontramos a do poder de Deus que a que assinalou
e não há nenhum outro” (Jl 2:27). mais elaborada doutrina da demo- seu início.”14
cratização do Espírito Santo. Ele Entretanto, a promessa do Espíri-
é limitado ao privilégio de poucos to Santo não se refere apenas a uma
“A grande obra do (Nm 11:29). Todos, filhos e filhas, esperança e necessidade futura. Ela
evangelho não deverá jovens e velhos, servos e servas, re- também aponta para uma grande
ser encerrada com ceberiam o Espírito. “Aqui, profecias,
sonhos e visões são feitos os símbo-
necessidade presente. É o Espírito
Santo (a chuva temporã que temos
menor manifestação los da manifestação completa de Si hoje) que nos conduz nos estágios
do poder de Deus que mesmo a todo Seu povo.”10 de crescimento espiritual diário. A
assinalou seu início” Quando é observado o pano de menos que a primeira chuva faça sua
fundo de Joel e suas ligações com ou- obra, a menos que obtenhamos “vi-
tros escritos do Antigo Testamento, tória sobre toda tentação, orgulho,
O segundo “dia do Senhor” apre- pode-se notar que essa promessa não egoísmo, amor ao mundo, e sobre
sentado por Joel se refere a um cum- está fora do contexto do livro. Ela toda palavra e ação errada”, “não po-
primento futuro e, em certo sentido, também é resultado da restauração deremos compartilhar o refrigério”15
também está ligado ao processo de das bênçãos da aliança: “Então eles da chuva serôdia.
restauração das bênçãos da alian- saberão que Eu sou o Senhor, o seu Portanto, a igreja de hoje também
ça. Nos dias de Joel, a promessa de Deus, pois, embora os tenha enviado precisa orar pedindo “uma operação
restauração dessas bênçãos incluiu para o exílio entre as nações, Eu os mais profunda do Espírito em seu
a destruição do exército invasor reunirei em sua própria terra, sem povo”,16 já que sem essas chuvas a
(Jl 2:20). Também envolve o julga- deixar um único deles para trás. Não terra não produzia safras. Busque-
mento das nações pelo que fizeram mais esconderei deles o rosto, pois mos esse poder, pois quem pro-
ao povo de Deus (3:2-7, 12, 14, 19), derramarei o Meu Espírito sobre a meteu é fiel à Sua aliança e às Suas
das quais o exército do norte, que nação de Israel. Palavra do Soberano, promessas.
invadiu Jerusalém, e outros povos o Senhor” (Ez 39:28, 29).
inimigos funcionaram como tipo Esse era o plano de Deus para o Referências:
1
Douglas Stuart, World Biblical Commentary:
(v. 19). O segundo “dia do Senhor” é Israel restaurado. Contudo, “devido Hoseah-Jonah (Dallas: Word Incorporated,
tanto julgamento das nações inimi- ao fracasso do povo, e a consequen- 2002), p. 223.
gas como a vindicação do povo de te rejeição da nação judaica, as pro-
2
Felipe A. Massoti, Paulo A. B. Leite, A Teoria
da Intertextualidade e as Escrituras, disponível
Deus, pois o Senhor vem realizar a messas não foram cumpridas para o em http://www.unasp-ec.com/revistas/index.
ceifa (v. 13). Aqui, o Israel espiritual, Israel literal. Elas foram transferidas php/kerygma/article/view/47/41.
o povo da nova aliança em Cristo, para o Israel espiritual”.11
3
Douglas Stuart, Op. Cit., p. 235.
4
Ibid., p.230.
desfrutará da presença eterna de No dia de Pentecostes, Pedro iden- 5
Robert Jamieson, A. R. Fausset, David Brown,
Deus na Nova Jerusalém (vs. 17, 18, tificou o derramamento do Espírito A Commentary, Critical and Explanatory, on
19, 20, 21); Ap 21:3). Aliança restau- Santo como cumprimento parcial da the Old and New Testament (Oak Harbor, WA:
Logos Research Systems, 1997), Jl 2:20.
rada não necessariamente depois das profecia de Joel.12 Porém, sua pleni- 6
The Seventh-day Adventist Bible Commentary,
penalidades de seus pecados, mas tude ainda está reservada para os v. 4, p. 944.
pelo que sofreram por estar ao lado cristãos que aguardam o segundo
7
Apud Douglas Stuart, Op. Cit., p. 230, 231.
8
Ibid., p. 247.
de Cristo. Esse dia traz a certeza da pentecostes. 9
Ibid., p. 261.
vitória do povo de Deus. 10 
Robert Jamieson, A. R. Fausset, David Brown,
Reavivamento e promessa do Necessidade atual Op. Cit., Jl 2:28.
11
 he Seventh-day Adventist Bible Commentary,
T
Espírito. Talvez a seção mais conhe- Para Stuart, a promessa encon- v. 4, p. 246.
cida do livro de Joel seja a que trata trada no livro de Joel é “talvez a 12
Ibid.
do derramamento do Espírito Santo ligação mais marcante de salvação
13
Douglas Stuart, Op. Cit., p. 258.
14
Ellen G. White, O Grande Conflito, ed.
sobre o povo de Deus (2:28-32). A com espiritualidade no Antigo Tes- Condensada, p. 359.
promessa é precedida pela expressão tamento”.13 E, certamente, é a chuva 15
___________, Primeiros Escritos, p. 71.
“naqueles dias”, ou “depois disso”. serôdia que nos preparará para as
16 
Warren W. Wiersbe, Comentário Bíblico
Expositivo (Santo André, SP: Geográfica,
Essa é uma forma bíblica usual para últimas pragas e a segunda vinda de 2012), v. 4, p. 420.

12 MINISTÉRIO
Richard Litke
Professor emérito da

PESQUISA BÍBLICA Universidade Walla Walla,


Estados Unidos

O impacto de
uma decisão
“Pela fé Moisés, já adulto, recusou ser chamado filho da filha
do faraó, preferindo ser maltratado com o povo de Deus a
desfrutar os prazeres do pecado durante algum tempo”

S
e lá estivéssemos em pessoa, tempo. Por amor de Cristo, conside- séculos mais cedo do que a que os
provavelmente pensaríamos rou sua desonra uma riqueza maior eruditos normalmente criam.1 Is-
que estávamos testemunhando do que os tesouros do Egito, por- so significa que mesmo eruditos de
uma das mais implacáveis disputas que contemplava a sua recompensa” mentalidade liberal agora podem
familiares na História. A senhora (Hb 11:24-26). concordar que o Êxodo deve ter
mais velha, com o queixo empinado O que torna extremamente fasci- ocorrido próximo ao ano 1445 a.C.,
numa imagem de determinação re- nante a decisão de Moisés é a recen- como a cronologia bíblica sempre
al podia ter quase 50 anos naquele te publicação de alguns detalhes, até sugeriu. Porém, de que maneira is-
tempo. Sendo a próxima na linha agora desconhecidos. Esses detalhes so impacta nossa compreensão da
do trono, devia ter sido acostumada nos dão nova e empolgante evidência experiência de Moisés? A época do
a ter seus desejos pessoais pronta- dessa antiga querela familiar e nos Êxodo nos permite agora ter o tempo
mente atendidos. Mas ali estava um permitem obter uma imagem da prin- mais exato para episódios da vida de
jovem – um príncipe – que resoluta- cesa egípcia que havia adotado Moisés Moisés, incluindo seu nascimento e
mente proferia obstinadas palavras e a quem ele enfrentou. Atualmente, sua decisão de renunciar à sua posi-
diante dela, sobre uma decisão a ser podemos compreender mais plena- ção na família real. Essa informação
tomada. Que poderia ela fazer para mente que a decisão de Moisés não nos permite mais facilmente ligar
que ele visse a profunda sabedoria apenas afetou sua vida e suas ações sua vida com os membros da família
do seu conselho e a suposta falta de futuras, mas também teve profundo real que governou o Egito durante
sentido da decisão que ele tomava? efeito sobre o governo do Egito, du- sua existência.
A Bíblia nos dá a mais breve des- rante muitas gerações futuras. Aceitando a data de 1445 a.C.
crição daquele emocionante mo- para o Êxodo e reconhecendo que a
mento. “Pela fé Moisés, já adulto, Apoio cronológico Bíblia estabelece que Moisés tinha
recusou ser chamado filho da filha Em janeiro de 2012, a edição da 80 anos naquela ocasião (Êx 7:7),
do faraó, preferindo ser maltratado Biblical Archaeology Review citou somos levados a concluir que Moisés
com o povo de Deus a desfrutar os novas informações que localizaram deve ter nascido em 1524 a.C. En-
prazeres do pecado durante algum a data do Êxodo como sendo dois tão, se aceitamos que Moisés tinha

MAR-ABR 2014 13
aproximadamente 30 anos quando resgatou Moisés do Nilo. Isso coloca- suposta masculinidade. Então, logo
atingiu a maioridade, podemos che- ria seu nascimento perto do ano 1545 depois de assumir o trono, ela pro-
gar ao ano 1495 a.C., como a época a.C. Porém, de acordo com Brown, moveu Tutmosis III a segundo faraó
em que ele tornou claro que não mais Hatshepsut não começou a governar com ela. Mas ele sempre foi forçado
seria “filho da filha do faraó”. Ao fa- o Egito até 1479 a.C. O período de seu a aparecer secundariamente, com ela
zer tal declaração, obviamente Moi- reinado foi de 1479 a.C. até 1458 a.C. à frente, num papel que o irritava.
sés renunciava à possibilidade de se Isso significa que a família real deve Tutmosis III revelou seus verda-
tornar o seguinte governador do Egi- ter tido pelo menos 15 ou 16 anos deiros sentimentos para com Hat-
to. Portanto, isso representou uma para considerar os potenciais efeitos shepsut depois da morte dela em
decisão de grande consequência. da afirmação de Moisés. 1458 a.C. Primeiramente, o corpo
Seguramente teria sido neces- dela mumificado foi grosseiramente
Ambiente familiar sária muita súplica para que fosse retirado do sarcófago que ela havia
Outro artigo publicado pela Na- demovido da decisão tomada. Essa preparado, e a múmia foi mesmo
tional Geographic coloca Moisés no possibilidade é apontada pelo fato de jogada de sua câmara funerária pa-
ambiente familiar adequado às fa- que havia poucos homens herdeiros ra um sala adjacente que havia sido
mílias reais do Egito.2 Isso nos ajuda do trono do Egito naquele tempo. preparada para colocar alguns servos
a determinar quem eram o faraó e Além de Moisés, havia outro rapaz e seus suprimentos para a suposta
a “a filha do faraó” durante os anos que remotamente poderia ser consi- vida após a morte. Então, em vá-
em que Moisés cresceu no palácio e derado, e era filho de uma segunda rios lugares através do Egito, suas
confirmar o ano em que ele tomou esposa do faraó anterior. Esse rapaz, imagens e estátuas foram sistema-
a importante decisão. que posteriormente recebeu o nome ticamente mutiladas para mostrar o
À luz dos detalhes fornecidos por de Tutmosis III, era dez ou vinte anos desprezo que seu sucessor nutria em
Brown, a mulher pode ser identifi- mais jovem que Moisés. ralação a ela.
cada com a famosa princesa conhe- Os anos restantes de Moisés e de
cida nos registros do Egito antigo outros atores nos eventos daquele Fazendo a escolha certa
como Hatshepsut, cuja extensão de período, agora estão mais fáceis de Na verdade, essa história tão dra-
vida e governo sobre o Egito agora ser esclarecidos. Depois de tornar mática possui um poderoso apelo
se correlacionam a episódios perti- pública sua decisão, Moisés perma- homilético que nos anima a fazer
nentes da vida de Moisés. Portan- neceu no Egito apenas pouco mais de escolhas certas na vida. Cada um de
to, parece historicamente claro que dez anos, isto é, até 1485 a.C. Então, nós pode vir a enfrentar tempos de
a Hatshepsut do artigo de Brown depois de ter matado um egípcio, ele luta. Corremos o perigo de fazer más
deve ser vista realmente como re- fugiu do país (Êx 2:12-15) porque escolhas sob promessas de grandes
presentando a mesma antiga prin- temeu o rei que naquele tempo ainda vantagens, à semelhança do trono do
cesa egípcia que tirou Moisés do rio poderia ter sido Tutmosis II, pai de Egito para Moisés. Porém, o exemplo
Nilo. Por exemplo, no artigo, Brown Hatshepsut. do grande legislador deve nos ani-
menciona um pequeno detalhe: “Seu Seis anos depois da fuga de Moi- mar a refletir muito cuidadosamente
mordomo chefe e arquiteto se refere sés, Tutmosis II morreu e Hatshep- essas escolhas e seguir o caminho
a ela como ‘filha primogênita do rei’, sut necessitou agir. Obviamente, ela certo. Caso contrário, podemos ter-
distinção que acentua sua linhagem não se sentiria à vontade em casar minar a história de nossa vida como
como herdeira de Tutmosis I, não com o jovem que mais tarde se torna- uma interessante peça de museu em
como esposa de Tutmosis II.”3 ria Tutmosis III, e não havia nenhum algum lugar. Em vez de se interessar
De fato, o escritor do livro aos outro homem herdeiro deixado pa- por esse papel, a Moisés foi dado o
hebreus descreve Moisés como fi- ra ela. Consequentemente, em um privilégio de ser um dos conselheiros
lho adotivo da “filha de faraó”. Ob- bizarro capítulo da história antiga, de Jesus no monte da transfigura-
viamente, agora existe uma razão Hatshepsut assumiu corajosamente ção. Agora, provavelmente, ele tem
histórica para a referência segundo a o comando como se fosse homem e a responsabilidade por alguma área
qual ele “recusou ser chamado filho se declarou faraó do Egito. administrativa no governo celestial
da filha do faraó”. Hatshepsut governou o Egito co- de Deus.
Mas, na área da cronologia rela- mo um homem aproximadamente Quão maravilhoso é que ele soube
tiva a Moisés, o artigo da National 21 anos. Durante esse tempo, ela te- como fazer a escolha certa!
Geographic se torna mais ajudador e ve muitas imagens e estátuas de si
Referências:
informativo. Sem dúvida nenhuma, mesma, porém sempre apareceu com 1
Hershel Shanks, Biblical Archaeology Review 38,
poderíamos ser justificados por de- vestes tipificando um rei – nunca nos nº 1 (2012), p. 62, 67.
fender que a filha do faraó devia ter trajes de rainha. De fato, ela aparecia
2
Chip Brown, National Geographic 215, nº 4
(abril 2009), p. 88-111.
aproximadamente 20 anos quando com barba artificial para acentuar sua 3
Ibid.

14 MINISTÉRIO
Carlos Hein
Secretário ministerial da

COMPORTAMENTO Divisão Sul-Americana

Limites da liberdade
Amor e respeito não significam aceitar as
condutas rechaçadas pela Bíblia

A
s Escrituras descrevem os se- Exemplos bíblicos Deus não deseja que ninguém
res humanos como possuin- Jesus disse que “o homem bom tira pereça, mas que todos sejam salvos
do mente e vontade própria. coisas boas do bom tesouro que está (1Tm 2:4; 2Pe 3:9). Essas expressões
Portanto, em sentido limitado, so- em seu coração, e o homem mau tira não teriam sentido, não fosse o livre-
mos arquitetos de nossa própria coisas más do mal que está em seu arbítrio que nos foi outorgado. Jesus
conduta, nosso caminho e destino, coração, porque a sua boca fala do lamentou, dizendo: “Jerusalém, Je-
sejam estes de acordo com a vontade que está cheio o coração” (Lc 6:45). rusalém... Quantas vezes Eu quis
de Deus ou não. Disse mais: “Pois do coração saem os reunir os seus filhos, como a galinha
Lembremo-nos de que o livre- maus pensamentos, os homicídios, os reúne os seus pintinhos debaixo das
arbítrio ou direito de livre escolha é adultérios, as imoralidades sexuais, suas asas, mas vocês não quiseram”
o atributo mediante o qual os seres os roubos, os falsos testemunhos e as (Mt 23:37).
humanos têm o poder de escolher calúnias” (Mt 15:19). A explicação final Há um aspecto sumamente im-
e tomar suas próprias decisões. A para a conduta humana é encontrada portante que devemos entender.
doutrina do livre-arbítrio é uma das na autodeterminação do ser humano. Deus nos conferiu a capacidade de
crenças fundamentais do cristianis- Alguns exemplos bíblicos da ca- escolher fazer o bem ou fazer o mal;
mo. Caso não fôssemos senhores de pacidade que o ser humano tem de porém, não nos deu a capacidade de
nossas decisões, por que haveríamos escolher são encontrados em histórias decidir o que é bem ou mal. Essa atri-
de ser julgados um dia? E, se não como as de Salomão, que fez o mal buição não pertence ao ser humano.
tivéssemos de ser julgados, Jesus diante dos olhos de Deus porque se ha- Somente Deus pode estabelecer o
Cristo teria vindo ao mundo para via distanciado de dEle ((1Rs 11:6, 9), que é correto e o que não é.
salvar-nos de quê? ou Roboão, que agiu mal “porque não “Sendo a lei do amor o fundamen-
“Deus poderia ter criado o homem teve o firme propósito de buscar ao to do governo de Deus, a felicidade
sem a faculdade de transgredir Sua Senhor” (2Cr 12:14), o rei Zedequias, de todos os seres inteligentes depen-
lei; poderia ter privado a mão de que “fez o que o Senhor, o seu Deus, de da perfeita harmonia com seus
Adão de tocar no fruto proibido; nes- reprova, tornou-se muito obstinado grandes princípios de justiça. Deus
te caso, porém, o homem teria sido, e não quis se voltar para o Senhor, o deseja de todas as Suas criaturas o
não uma entidade moral, livre, mas Deus de Israel” (2Cr 36:11-13). Deus serviço de amor, serviço que brote
um simples autômato. Sem liberdade perguntou a Jerusalém: “Até quando de uma apreciação de Seu caráter.
de opção, sua obediência não teria você vai acolher projetos malignos Ele não tem prazer na obediência
sido voluntária, mas forçada. Não no íntimo?”, e apelou: “lave o mal do forçada; e a todos concede vontade
poderia haver desenvolvimento de seu coração para que você seja salva” livre, para que Lhe possam prestar
caráter. Tal maneira de agir seria (Jr 4:14). Em Isaías 30:1, disse o Se- serviço voluntário” (Ibid., p. 34).
contrária ao plano de Deus... e teria nhor: “Ai dos filhos obstinados... que Deus criou as condições neces-
apoiado a acusação, feita por Satanás, executam planos que não são Meus, sárias para que o ser humano fosse
de governo arbitrário por parte de fazem acordo sem Minha aprovação, plenamente feliz. Criou as leis que
Deus” (Patriarcas e Profetas, p. 49). para ajuntar pecado sobre pecado.” nos protegem e as instituições que

MAR-ABR 2014 15
nos brindaram com o ambiente “Deus tencionava que o casamen- “A Bíblia não dá margem à ati-
adequado para que fôssemos plena- to de Adão e Eva servisse de modelo vidade ou relação homossexual.
mente felizes. É verdade que, como para todos os casamentos posterio- Os atos sexuais realizados fora do
consequência da desobediência de res, e Cristo endossou este conceito círculo de um matrimônio heteros-
nossos primeiros pais, perdemos o original: ‘Então, respondeu Ele: Não sexual são proibidos (Levítico 20:7-
privilégio de continuar vivendo no tendes lido que o Criador, desde o 21; Romanos 1:24-27; 1 Coríntios
Éden. Porém, a Bíblia repete muitas princípio, os fez homem e mulher 6:9-11). Jesus Cristo reafirmou o
vezes a promessa de que voltaremos e que disse: Por esta causa deixará propósito da criação divina, quan-
a viver no Éden restaurado, se deci- o homem pai e mãe e se unirá a sua do disse: ‘Vocês não leram que, no
dirmos ser fiéis a Deus. mulher, tornando-se os dois uma só princípio, o Criador os fez homem
carne? De modo que já não são mais e mulher, e disse: Por essa razão, o
Felicidade divinamente projetada dois, porém uma só carne. Portanto, homem deixará pai e mãe e se uni-
Mesmo que hoje não vivamos no o que Deus ajuntou não o separe o rá à sua mulher, e eles se tornarão
Éden, podemos desfrutar de duas homem’ (Mt 19:4-6). O casamento, uma só carne? Assim, eles já não
instituições que permanecem ao assim instituído por Deus, é um re- são dois, mas sim uma só carne’
nosso alcance, como fontes de fe- lacionamento monogâmico e hete- (Mt 19:4-6). Por essas razões, os
licidade: 1) O sábado, sétimo dia rossexual entre um homem e uma adventistas se opõem às práticas e
da semana, no qual celebramos mulher” (Manual da Igreja, p. 148). relações homossexuais.”
Deus como nosso criador e des- Cristo e a Igreja afirmam a digni-
frutamos mais plenamente de Sua Parâmetros do amor dade de todos os seres humanos e
companhia. 2) A família, que nos “Deus nos criou como seres sexu- estendem compassivamente as mãos
ama, protege e nos dá o sentido de ais: homem e mulher, macho e fêmea. às pessoas que sofrem as consequên-
pertencimento. Esse sentido é indis- O Criador também instituiu o casa- cias do pecado. Cristo e a Igreja di-
pensável para todo ser humano. O mento e o fez com três propósitos: ferenciam Seu amor pelos pecadores
maior sofrimento que o ser humano União, procriação e prazer. Usar um de seus claros ensinos sobre as prá-
pode enfrentar não é a ausência de desses atributos fora do casamento é ticas pecaminosas. Hoje, à Igreja e a
dinheiro, abrigo ou comida, mas o alijar-se do plano de Deus, que inclui todos os que se consideram cristãos
de não sentir que pertence a alguém respeito, fidelidade, amor e conside- corresponde amar e respeitar todas
ou que alguém lhe pertence; nin- ração para com as necessidades do as pessoas, independentemente da
guém que o recebe quando chega outro. A relação sexual é o presente conduta que tenham escolhido se-
ou se despeça quando sai. Pergunte de casamento de Deus a Seus filhos. guir. Esse amor e respeito não signi-
sobre isso ao sem-teto que vagueia Portanto, para que agradeçamos tam- ficam aceitar as condutas rechaçadas
pelas ruas da cidade. bém por esse plano, temos que evitar pela Bíblia. Significa simplesmente
Ao instituir a família, Deus tam- o sexo fora do casamento, e outras aceitar a pessoa, assim como é e, na
bém criou leis que podem garantir a práticas, para ter nossa mente pura medida do possível, ajudá-la a ser
felicidade dessa instituição. Temos e para viver mais próximos de Deus. plenamente feliz.
o direito de obedecer ou não a essas ‘Porque Deus não nos chamou para a Nos dias em que vivemos deve-
leis; porém, não temos o direito de impureza, mas para a santidade’ (1Ts mos nos lembrar de que Deus criou
estabelecê-las ou modificá-las. Já 4:7)” (Divisão Sul-Americana, 2012, todo ser humano dotando-o com
foram estabelecidas por Deus. Documento Sobre Estilo de Vida). livre-arbítrio. Também devemos nos
O casamento é uma instituição A declaração a respeito da homos- lembrar de que toda pessoa mere-
estabelecida pelo próprio Deus antes sexualidade (DSA, 95-391) estabele- ce nosso respeito, mesmo que não
da queda, quando tudo era “muito ce o seguinte: concordemos com o estilo de vida
bom” (Gn 1:31). “Por isso, deixa o ho- “Os adventistas do sétimo dia que ela adotou. Liberdade para es-
mem pai e mãe e se une à sua mulher, cremos que a intimidade sexual é colher não significa liberdade para
tornando-se os dois uma só carne” apropriada unicamente dentro da determinar ou modificar o que Deus
(Gn 2:24). “Deus celebrou o primeiro relação marital de um homem e uma já determinou como certo e errado.
casamento. Assim, esta instituição mulher. Esse foi o desígnio estabe- Além do chamado para amar
tem como seu originador o Criador lecido por Deus na criação. As es- e respeitar todas as pessoas, cada
do Universo... foi esta uma das pri- crituras declaram: ‘Por essa razão, o membro da Igreja Adventista do Sé-
meiras dádivas de Deus ao homem, homem deixará pai e mãe e se unirá timo Dia foi chamado também para
e é uma das duas instituições que, à sua mulher, e eles se tornarão uma manter os princípios estabelecidos
depois da queda, Adão trouxe con- só carne’ (Gn 2:24). Esse padrão he- pelo Criador e ajudar a quem desejar
sigo aquém das portas do Paraíso” terossexual é afirmado através de conhecer e praticar o estilo de vida
(O Lar Adventista, p. 25, 26). todas as Escrituras. proposto pela Bíblia.

16 MINISTÉRIO
Elijah Mvundura
Escritor,

ATUALIDADE reside em Calgary, Canadá

Um lugar na História
O papel do adventismo, com sua mensagem
apocalíptica, no atual momento da história do mundo

O
adventismo surgiu no século da atual crise econômica, devemos problemas, “a única questão” que os
19, com a missão de pregar notar os fundamentos das nossas editores inflexivelmente notaram foi:
“o evangelho eterno... aos instituições políticas e econômicas “Quanta ruptura, quanto caos e derra-
que habitam na terra, a toda nação, no século 19. Elas já não podem su- mamento de sangue ainda marcarão a
tribo, língua e povo” (Ap 14:6). Con- portar as estruturas do século 21. transição da velha ordem para o que
forme de maneira notável diz George quer que surja para substituí-la?”5
Knight, “impelido por uma visão apo- Desintegração da velha ordem Entretanto, o ponto crucial do
calíptica extraída do coração do livro De acordo com o que foi realça- problema é que, por causa das rup-
de Apocalipse”, vendo todo o mundo do em uma recente edição da revista turas e do caos, transições de uma
como seu campo missionário, os ad- National Interest, especializada em as- velha ordem para uma nova, histo-
ventistas do sétimo dia “se tornaram suntos internacionais, a velha ordem ricamente, têm sido acompanhadas
o mais disseminado grupo protestan- continua a se desintegrar. “Estamos de fortes movimentos espirituais
te unificado na história do cristia- vivendo em um período de transição”, ou reavivamentos. Aparentemen-
nismo”.1 Porém, hoje, conforme ele escreveram os editores, transição para te, quando se encontram diante de
lamenta, “o adventismo, em grande uma incerta nova ordem.3 Na matéria situações desesperadoras, os seres
medida, tem perdido o fundamento de capa, Brent Sowcroft, ex-consultor humanos recorrem a meios muitas
apocalíptico de sua mensagem”.2 para segurança nacional dos presiden- vezes insólitos. Se a racionalidade
Entretanto, perder a visão apo- tes Gerald Ford e George W. Bush, falha, de acordo com o que afirmou
calíptica diante dos problemas que chamou a atenção para o fato de que Ernst Cassirer, “permanece sempre a
afligem o mundo nestes últimos dias a crise financeira de 2008 “demons- última razão, o poder do miraculoso
é inaceitável. Todos os problemas trou que tínhamos um único sistema e misterioso”.6 Foi assim que as re-
globais pulsam com notificação de financeiro mundial, no qual uma crise ligiões de mistério apareceram nos
catástrofes: distúrbios no Oriente em uma área poderia rapidamente impérios grego e romano. Gnosticis-
Médio, Afeganistão e Paquistão; se espalhar através do mundo. Mas mo, neoplatonismo, hermetismo e
política nuclear do Irã; problemas o mundo evidentemente não tinha cabala, que somadas à tradição místi-
econômicos mundiais, calamidades uma única maneira global de admi- ca ocidental, surgiram contra o pano
naturais, entre outras coisas. A fim nistrar aquela crise”.4 E, sem “uma de fundo do colapso econômico do
de compreender a profundidade única maneira global” de resolver os Império Romano.

MAR-ABR 2014 17
O ocultismo também voltou à to- significativo que o mito da unidade fundamental: Cogito ergo sum, ou seja:
na quando o Renascimento e a Re- primitiva seja o meta-mito de todas “Penso, logo existo”. Uma paródia do
forma abalaram o universo medieval. as religiões pagãs e fale de um tem- divino “Eu sou o que sou”, destronan-
O ocultismo inundou a Europa no po em que seres humanos, natureza do Deus e deificando a mente huma-
início do século 18, seguindo difíceis e deuses partilhavam um universo. na, tornando a razão o fundamento
mudanças culturais e sociais produ- da realidade e da verdade.
zidas pelo surgimento do capitalis- A ambição de Descartes foi a de
mo industrial. Mais recentemente, “O anseio humano por elaborar uma ciência universal que
em nossa história, a excitação da um governo justo e veraz “conquistaria a natureza e subjuga-
espiritualidade fundamentalista no é profundo. E o coração ria o Deus onipotente”.7 Conforme
judaísmo, cristianismo e islamismo, ele mesmo afirmou: “Agora, o livre-
no início do século 20, esteve intima-
da esperança adventista é arbítrio é, em si mesmo, a coisa mais
mente ligada à crise da modernidade que somente Deus pode nobre que podemos ter, porque nos
e à derrocada do secularismo. unificar, e certamente o torna de certa forma iguais a Deus e
Todos esses movimentos espiritu- fará, todas as coisas” nos isenta de ser Seus súditos.”8
ais ou reavivamentos, a despeito de Ao deificar a razão, Descartes de-
seus diferentes contextos históricos, sencadeou as paixões egomaníacas que
geográficos e sociais, para não men- Paixão de Babel modelariam o Iluminismo do século
cionar as diferenças fundamentais De fato, na Bíblia, a proposta de 20. Nessas paixões, o demonismo se
de crenças, partilha uma saliente unidade em Babel não foi apenas ne- tornou perceptível na década anterior
característica: a paixão por misturar gada por Deus, mas Babel se tornou a 1789 e tomou forma ideológica con-
fragmentos de um mundo em de- o típico símbolo de rebelião contra creta durante a Revolução Francesa.
sintegração a fim de construir uma Ele, de uma unidade global alinha- Conforme assinalou Robert Darnton,
ordem sociorreligiosa unificada. A da contra o Criador. Historicamen- muitos líderes-chave da Revolução
paixão por uma ordem divina explica te, podemos localizar essa unidade eram escravos do magnetismo animal
por que fundamentalistas judeus, desde o sagrado primitivo, passando ou mesmerismo, a crença de que um
cristãos e islâmicos são um em sua pelos antigos impérios, cristandade “fluido” magnético corria através de
aversão ao pluralismo democrático, medieval, até as épocas de Napoleão, todos os corpos no Universo e podia
em particular à separação entre reli- Hitler e Stálin. No âmbito filosófico, ser invocado para curar enfermidades
gião e política. Mas, uma ordem to- a mesma paixão por unidade pode ser físicas e sociais. A fim de invocar esse
do-abarcante, que não separe religião traçada desde a filosofia grega, pas- poder invisível, os líderes praticavam
de política remete ao sagrado primi- sando pelo escolasticismo medieval e inúmeras artes de magia negra, co-
tivo, quando o humano e o divino, o o todo abrangente sistema dos racio- mo por exemplo, comunicação com
visível e o invisível, fundiam-se ou, nalistas do século 17, dos idealistas e os mortos, alma, espíritos distantes,
Fotos: Thiago Lobo e NASA

mais precisamente, confundiam-se. positivistas do século 19. Na verda- além de sonambulismo.9


Se essa confusão proveu uma cober- de, houve uma mudança radical com Esse pungente espiritualismo ex-
tura perfeita para que o diabo brin- Descartes, o pai da filosofia moderna, plica a razão pela qual a Revolução
casse de Deus, achamos altamente mudança apreendida em seu axioma Francesa, conforme foi mencionado

18 MINISTÉRIO
por Alexis de Tocqueville, “embora apenas um mediador... entre Deus e começando com os gregos e atingin-
ostensivamente política em sua ori- o homem.”12 Devido à sua capacidade do o topo na mente de Hegel, atinge
gem, funcionou em várias direções e criativa, os artistas também seriam o conhecimento absoluto e se torna
assumiu muitos dos aspectos de uma mediadores. Eles são “deuses em for- consciente de si mesmo como Deus
revolução religiosa”. Mais uma vez ma humana”, disse Lavater, ou um na mente dos filósofos.
a paixão era totalitária. A ambição “deus dramático”, conforme Herder.13 O hegelianismo, conforme reela-
“não era simplesmente a de uma mu- Novalis destituiu o próprio Deus, borado por Feuerbach, Marx e outros,
dança no sistema social da França, vociferando: “Vi que agora, na Terra, sustentava que o homem é Deus, e
mas... uma regeneração de toda a os homens devem se tornar deuses.” nada existe além da matéria. Darwin
humanidade”.10 Essa arrogância na A respeito de si mesmo, ele disse: apoiou esse materialismo, ao pre-
intenção de “transformar o mundo Gott ist Ich! (“Deus sou eu!”).14 Por tender explicar um projeto (criação)
e a natureza humana”, nas palavras sua vez, Shelley disse: “Vamos crer sem projetista (Criador). Se a seleção
de Eric Voegelin, um dos mais no- em um tipo de otimismo no qual nós natural eliminou totalmente o Deus
táveis cientistas políticos do século somos nossos próprios deuses.”15 Criador, o materialismo histórico
20, “alcançou sua mais obsessiva e Essa autodeificação levou intelec- eliminou Deus da História e da so-
lasciva profundidade no século 19”.11 tuais do século 19 a filosoficamente ciedade. Na conjectura desses reinos
matarem Deus, eliminando-O comple- naturais e sociais sem Deus, Marx
O Homem se torna Deus tamente. Como Nietzsche intempesti- e Darwin concretizaram a ambição
O grande alvo dos românticos, vamente blasfemou: “Deus morreu... E de Descartes quanto a uma ciência
pensadores e artistas que estabele- nós O matamos.”16 Então, eles transfe- universal que destrona Deus e liberta
ceram o tom cultural do século 19, riram todos os atributos e prerrogati- o ser humano do Seu senhorio. Na
era criar uma nova mitologia e uma vas de Deus para todos os abrangentes verdade, a lógica das ciências sociais é
Bíblia para o mundo moderno – uma sistemas metafísicos – sistemas nos transformar e dirigir a sociedade con-
mitologia que reunificaria os seres quais atribuíam a eles mesmos papéis forme as leis científicas sem referên-
humanos com a natureza e recriaria o divinos. Hegel é um exemplo clássico cia a Deus. Mas, segundo o argumen-
tipo de coesão social similar à antigui- dessa atitude. Ele absorveu Deus no to de Voegelin, ao usar a ciência como
dade pagã ou à cristandade medieval. Espírito Absoluto (Geist), o conceito meio de transformar a humanidade,
A ambição era reencantar o mundo, central, ou mais precisamente, o pro- muito além dos seus próprios limites,
reanimá-lo com mistério e magia. tagonista de todo o seu abarcante sis- cientistas sociais, à semelhança de
Nesse mundo reencantado, artistas, tema filosófico. O Geist abrange toda a Marx, transformaram a ciência em
semelhantes aos antigos sacerdotes natureza e toda a História, une o finito uma forma de religião esotérica.
pagãos, ou medievais, seriam os no- com o infinito e reconcilia todas as De acordo com Voegelin e con-
vos sacerdotes. Com isso, atacando a contradições, até mesmo o bem com o forme outros eruditos revelaram re-
posição de Cristo como nosso único mal. Antecipando a teoria da evolução, centemente, ao tornar a ciência em
“Mediador entre Deus e os homens” Hegel invocou o Geist como autocria- religião, deificando o eu e matando
(1Tm 2:5), a revista Athenaeum decla- do, independente, autossustentável e Deus, os pensadores do século 19 fo-
rou: “Somente o preconceito e a pre- autoevoluído. Entretanto, a evolução é ram profundamente inspirados pelo
sunção mantêm a ideia de que existe histórica; um processo no qual o Geist, antigo gnosticismo e hermetismo.17

MAR-ABR 2014 19
Se a busca da divindade é primordial (v. 8). A pungência da “ira de Deus” convergir em Cristo todas as coisas,
– evocando a mentira da serpente, no (v. 10) deve ser considerada contra a celestiais ou terrenas, na dispensação
Éden: “Serão como deuses” (Gn 3:12) criminosa violência que tem acom- da plenitude dos tempos” (Ef 1:10).
– os pensadores do século19 mag- panhado os projetos totalitários. Ao Em sentido oposto, qualquer sis-
nificaram essa mentira em todos os perseguir suas utopias, a descendên- tema que se reivindicar detentor da
sistemas abrangentes. Porém, consi- cia da filosofia do século 19 – fascis- solução final para os mistérios da
derando que o ser humano é finito, vê mo e comunismo – mataram mais de História e tentar unificar tudo e to-
e sabe apenas em parte (1Co 13:12), 140 milhões de pessoas. dos é identificado como Babilônia e
os sistemas abrangentes são sempre E até 1989, o sistema global ame- seu líder, o anticristo.
reducionistas, eles diminuem a reali- ricano pós-guerra foi uma reação de- Referências:
dade para o que pode ser alcançado. fensiva aos horrores do fascismo e o 1
George Knight, The Apocalyptic Vision and the
Neutering of Adventism (Hagerstown, MD:
Na medida em que o reducionis- espectro do comunismo. Evidente- Review and Herald, 2008), p. 14.
mo exclui Deus, esse é um empreen- mente, o século 19 lançou uma longa 2
Ibid.
dimento profundamente espiritual sombra sobre o século 20. A extensão 3
National Interest, maio-junho 2012, p. 5.
4
Ibid., p. 8.
contra rogos e advertências divinas. da sombra reanima o encontro proféti- 5
Ibid., p. 6
Em outras palavras, o reducionismo co de 1844 como o início do Juízo Pré- 6
Ernst Cassirer, The MIth of the State (New
envolve uma obstinada resistência -Advento e o tempo do fim. O quebra- Haven, CT: Yale University Press, 1946), p. 279.
7
Michael Allen Gillespie, Nihilism Before
a Deus. Nessa resistência, de acordo -cabeça profético está se encaixando. Nietzsche (Chicago: University of Chicago
com Voegelin, o pensador se torna O comunismo faliu em 1989 e agora Press, 1995), p. 34.
cônscio da inverdade de sua especu- o capitalismo está em profunda crise, 8
Descartes, citado in Charles Taylor, Sources
of the Self: The Making of the Modern Identity
lação, mas persiste. E a persistência enfraquecendo a liderança global ame- (Cambridge, MA: Harvard University Press,
no engano criado da revolta contra ricana. Com muita pertinência, Pierre 1989), p. 147.
Deus mostra ser seu motivo e pro- Manent, eminente filósofo francês, 9
Robert Danton, Mesmerism and the End of
the Enlightenment in France (Berlin: Schoken
pósito. Realmente, continuando projetou um papel global-chave para Books, 1968).
“no pleno conhecimento do motivo a Igreja Católica. Ele escreveu: “Ela é 10 
Alexis de Tocqueville, The Old Regime and the
da revolta, o engano finalmente se o centro do qual e para o qual a cons- France Revolution, tradução de Stuart Gilbert,
(Nova York: Anchor Books, 1955), p. 11-13.
torna ‘falsidade demoníaca’”.18 Esse telação espiritual da humanidade está 11
Ted V. McAllister, Revolt Against Modernity:
engano demoníaco, que tem seduzi- ordenada.”19 “Ao se referir à atual crise Leo Strauss, Eric Voegelin and the Search for a
do o mundo (Ap 12:9), estruturou global, o papa Bento XVI, em 2009, na Postliberal Order (Lawrence, KS: University
Press of Kansas, 1995), p. 126.
a filosofia do século 19 e definiu o encíclica Caritas in Veritate, que chei- 12
Athenaeum, citado in Liah Greenfeld,
ateísmo ou revolta contra Deus. ra a cristianismo medieval, chamou Nationalism: Five Roads to Modernity
a atenção para o estabelecimento de (Cambridge, MA: Harvard University Press,
1992), p. 328.
Revivificando a visão uma “verdadeira autoridade política” 13
Ibid., p. 336.
Contra essa revolta, o surgimento para controlar o capitalismo e traba- 14
Novalis, citado in Nicholas V. Riasanovsky,
do adventismo no século 19, com lhar pelo bem universal.”20 The Emergence of Romanticism (Oxford:
Oxford University Press, 1992), p. 80.
uma mensagem extraída do coração O anseio humano por um governo 15
Shelley, citado in M. H. Abrams, Natural
do Apocalipse, foi providencial. O justo e veraz é profundo e primordial. Supernaturalism: Tradition and Revolution
chamado para temer, adorar e dar E o demônio sempre tem explora- in Romantic Literature (Nova York: W. W.
Norton, 1971), p. 447.
glória ao Deus Criador nega clara- do esse anseio para estabelecer seu 16
Friedrich Nietzsche, The Gay Science,
mente a blasfema autodeificação do domínio. Daí, a irrupção do mordaz tradução de Walter Kauffmann), (Nova York:
homem naquele século (Ap 14:7). espiritualismo e o impulso coercitivo Vintage Books, 1974), p. 181.
17
Stephen A. McKnight e Geoffrey L. Price
Se o chamado evangélico a “a toda em busca de respostas unificadas e (editors), International and Interdisciplinary
nação, tribo, língua e povo” (v. 6) totalitárias durante catástrofes so- Perspectives on Eric Voegelin (Columbia. MO:
confirma a diversidade e lembra a ciais. Contra esse miasma satânico University of Missouri Press, 1997). Ver também
Glenn Alexander Magee, Hegel and the Hermetic
negação de Deus feita por Babel e sua o desafio é manter as distinções ins- Tradition (Ithaca, NY: Cornell University Press,
pretendida manutenção da unidade critas por Deus entre o sagrado e o 2001); e Erns Benz, The Mystical Sources of
primitiva, a explícita injunção para profano, o político e o religioso, o German Romantic Philosophy (Eugene, OR:
Pickwick Publications, 1983).
adorar “Aquele que fez os céus, a ter- natural e o sobrenatural. Somente 18
Eric Voegelin, Sience, Politics and Gnosticism
ra, o mar e as fontes das águas” (v. 7) Deus pode unificar, e certamente o (Washington, DC: Regency Publishing,
alude às distinções de Deus inscritas fará, todas as coisas. Na realidade, o 1968), p. 23.
19
Pierre Manent, First Things, outubro 2012, p. 23.
na criação e desafia diretamente as coração da esperança adventista – o 20
Bento XVI, “Caritas in Veritate”, Vaticano,
paixões totalitárias daquele século. coração que devemos reanimar com acessado em 20 de agosto de 2013 no
A queda de Babilônia salienta o fervor apocalíptico – é que somente site: http://www.vatican.va/holy_father/
benedict_xvi/encyclicals/documents/
vazio da insolência humana, de seu Deus tem a solução final para os pro- hf_ben-xvi_en_20090629_caritas-in-
esforço para unificar todas as coisas blemas do mundo, “isto é, de fazer veritate_en.html.

20 MINISTÉRIO
Alberto R. Timm
Diretor associado do

DOUTRINA DO SANTUÁRIO White Estate, na


Associação Geral dos
Adventistas, Estados Unidos

O bode emissário
A história de uma declaração polêmica
feita por Ellen G. White

A
identificação e o significado observações sobre um raro manus- literatura adventista do sétimo dia
escatológico do bode expiató- crito completamente diferente de sobre o assunto, incluindo os escritos
rio de Levítico 16 têm gerado todos os outros escritos dela e do de Ellen G. White. Digno de nota é
muita discussão nos círculos acadê- pensamento adventista em geral. o fato de que já em 1847, A Word to
micos. Dentro da antiga tradição ju- the “Little Flock” saiu do prelo com o
daica, o bode expiatório sempre foi Contribuição de Crosier seguinte parágrafo de sua própria pe-
visto como um ser demoníaco.1 Po- A compreensão adventista a res- na: “O Senhor me mostrou em visão,
rém, desde o período pós-apostólico, peito da purificação do santuário mais de um ano atrás, que o irmão
muitos expositores cristãos têm ten- celestial (Dn 8:14; Hb 9:23) e do Crosier tinha a verdadeira luz sobre
tado identificá-lo com Cristo e Sua último papel de Satanás como bode a purificação do santuário; e que era
morte sacrificial. Os adventistas do emissário escatológico (Lv 16; Ap 20) Sua vontade que o irmão Crosier pu-
sétimo dia têm salientado uma clara foi, em grande parte, formada pelas blicasse o ponto de vista que nos deu
distinção entre os bodes de Levítico interpretações bíblicas apresentadas na edição extra do Day-Star, de feve-
16:8, considerando aquele que era no artigo “The law of Moses”, publi- reiro de 1846. Sinto-me plenamente
“para o Senhor” como sendo um tipo cado numa edição especial do jornal autorizada pelo Senhor a recomendar
de Cristo, e o “bode emissário [he- Day-Star, em 7 de fevereiro de 1846.2 aquela edição a cada santo.”4
braico Azazel]” como representante Em sua abordagem desse tema, Cro- Pesquisando seus escritos publi-
de Satanás. Essa mesma visão é tam- sier apresentou oito principais ra- cados e não publicados, é possível ve-
bém expressada por Ellen G. White. zões pelas quais o bode emissário rificar que Ellen G. White continuou
Este artigo apresenta um exame devia ser identificado como Satanás a falar de Satanás como o antitípico
cronológico das afirmações de Ellen e argumentou que “a ignorância da bode emissário.
G. White a respeito do bode expia- lei e seu significado é a única origem
tório antitípico. A discussão come- possível para a opinião de que o bode Primeiras afirmações
ça com a contribuição de O. R. L. emissário era um tipo de Cristo”.3 No verão de 1849, Ellen G. White
Crosier, que lançou o fundamento A visão de Crosier a respeito de afirmou que os pecados confessa-
da compreensão adventista do sé- Satanás como o bode emissário an- dos antes do tempo de prova “serão
timo dia sobre o assunto, continua titípico foi plenamente aceita pelos colocados sobre o bode emissário e
com as primeiras e últimas declara- primeiros adventistas sabatistas. levados para longe”.5 Em 4 de agos-
ções de Ellen G. White relacionadas Os argumentos apresentados por to de 1850, ela escreveu uma carta
ao tópico, e termina com algumas ele ecoaram consistentemente na encorajando a família Hastings “a

MAR-ABR 2014 21
orar muito para que seus pecados Declarações posteriores à Terra, que então se achará desolada,
pudessem ser confessados sobre a Nos anos 1880 e 1890, Ellen G. sem moradores, e ele sofrerá final-
cabeça do bode emissário e levados White escreveu seus mais fortes ar- mente a pena completa do pecado nos
para longe à terra do esquecimen- gumentos sobre Satanás como o bo- fogos que destruirão todos os ímpios.
to”.6 Nenhuma das duas declarações de emissário escatológico. Na edição Assim, o grande plano da redenção
provê qualquer indício significativo de 1884 de The Great Controversy atingirá seu cumprimento na extirpa-
para a identificação do bode emissá- Between Christ and Satan [O Grande ção final do pecado e no livramento
rio. Porém, meses depois, em 23 de Conflito, capítulo “O Santuário Ce- de todos os que estiverem dispostos
outubro de 1850, ela teve uma visão lestial, Centro de nossa Esperança”], a renunciar ao mal.”10
segundo a qual, antes de Cristo ter- leem-se as seguintes palavras: Novamente, no capítulo 41 do
minar Seu ministério no santuário “Verificou-se também que, ao pas- livro citado, ela reforça o mesmo
celestial, acontecerá o seguinte: so que a oferta pelo pecado aponta- conceito de que “assim como o bode
“Ele virá à porta do tabernáculo, va para Cristo como um sacrifício, emissário era enviado para uma terra
ou porta do primeiro compartimen- e o sumo sacerdote representava não habitada, Satanás será banido
to e confessará os pecados de Israel a Cristo como mediador, o bode para a Terra desolada, que se encon-
sobre a cabeça do bode emissário. emissário tipificava Satanás, autor trará como um deserto despovoado
Então, colocará as vestes de vingan- do pecado, sobre quem os pecados e horrendo”.11
ça. Então as pragas cairão sobre os dos verdadeiros penitentes serão fi- Essas três afirmações foram pre-
ímpios, e elas não caem até Jesus nalmente colocados. Quando o sumo servadas com seu palavreado origi-
colocar esses trajes de vingança e Se sacerdote, por virtude do sangue da nal na edição revisada de 1911 de
sentar sobre a grande nuvem bran- oferta pela transgressão, removia do O Grande Conflito, excetuando-se o
ca. Então, enquanto as pragas estão santuário os pecados, colocava-os so- fato de que o termo inglês para bode
caindo, o bode emissário é levado pa- bre o bode emissário. Quando Cristo, emissário usado com hífen na edição
ra longe. Ele luta vigorosamente para pelo mérito de Seu próprio sangue, anterior (scape-goat) foi escrito nes-
escapar, mas é firmemente seguro remover do santuário celestial os sa edição sem o hífen (scapegoat).12
pelas mãos que o levam para longe... pecados de Seu povo, ao encerrar- Conceitos similares também foram
“Enquanto Jesus passou pelo lu- se o Seu ministério, Ele os colocará expressos em 1890 e 1895.13 No livro
gar santo ou primeiro compartimen- sobre Satanás, que, na execução do Patriarcas e Profetas, ela argumentou
to, à porta para confessar os pecados juízo, deverá encarar a pena final. O que “visto que Satanás é o origina-
de Israel sobre o bode emissário, um bode emissário era enviado para uma dor do pecado, o instigador direto de
anjo disse: ‘Este compartimento é terra não habitada, para nunca mais todos os pecados que ocasionaram a
chamado santuário.’”7 voltar à congregação de Israel. Assim morte do Filho de Deus, exige a justi-
Essa declaração provê lampejos de será Satanás para sempre banido da ça que Satanás sofra a punição final”.14
discernimento em direção à identi- presença de Deus e de Seu povo, e De todas essas declarações, con-
ficação do bode emissário. Assim eliminado da existência na destrui- cluímos claramente que Ellen G.
como Levítico 16:8 distingue o bode ção final do pecado e dos pecadores.”8 White identificou Satanás como o
“para o Senhor” do “bode emissário”, Em 1888, a edição revisada e bode emissário escatológico. Porém,
Ellen G. White distingue Jesus do ampliada de O Grande Conflito não há uma intricada afirmação, de 1897,
bode emissário escatológico. A dis- apenas preservou o parágrafo citado, que merece considerações especiais.
tinção se torna ainda mais evidente mas também adicionou mais duas
quando ela diz que o próprio Jesus, afirmações sobre o mesmo assunto.9 Uma declaração incomum
como nosso verdadeiro Sumo Sa- No capítulo “O Grande Juízo Inves- O Manuscript 112, de 1897, sob o
cerdote, confessará os pecados do tigativo”, ela diz: título “Diante de Pilatos e Herodes”,
povo de Deus “sobre a cabeça do “Como o sacerdote, ao remover do é um documento datilografado, com
bode emissário”, e que “enquanto santuário os pecados, confessava-os típicas correções editoriais feitas pe-
as pragas estão caindo, o bode emis- sobre a cabeça do bode emissário, las secretárias de Ellen G. White, a
sário é levado para longe”. Somado semelhantemente Cristo porá todos maioria das quais feitas por Maggie
a isso, o fato de que esse bode “luta esses pecados sobre Satanás, o origi- Hare. Esse documento foi carimbado
vigorosamente para escapar” de seu nador e instigador do pecado. O bo- com o nome “E. G. White” no fim
trágico exílio mortal descarta qual- de emissário, levando os pecados de do conteúdo de 19 páginas. Esse
quer identificação dele com Cristo. Israel, era enviado ‘à terra solitária’ era um procedimento comum em
Mesmo sem mencionar nominal- (Lv 16:22); de igual modo, Satanás, le- seu escritório, quando eram feitas
mente Satanás, é mais que evidente vando a culpa de todos os pecados que múltiplas cópias em carbono de al-
que Ellen G. White o tinha em mente induziu o povo de Deus a cometer, gum manuscrito de Ellen G. White.
como o verdadeiro bode emissário. estará durante mil anos circunscrito Existem apenas três cópias originais

22 MINISTÉRIO
datilografadas desse manuscrito. através de seus escritos. O fato de O que sabemos é que em todos
Uma delas contém todas as 19 pági- existir um único parágrafo datilogra- os outros comentários de Ellen G.
nas, e outras duas, incluindo a cópia fado de origem questionável, falando White, ela identifica o bode emis-
de arquivo, terminam na página 17, de Cristo, em vez de Satanás, como sário como Satanás. Outro fato co-
sendo omitidas as páginas 18 e 19. o antitípico bode emissário não deve nhecido é que ela jamais incluiu esse
O conteúdo das páginas omitidas ser usado como evidência de que ela parágrafo em seus escritos, embora
não é incomum, exceto pelo primeiro tivesse mudado de opinião sobre esse outras linhas do manuscrito fos-
parágrafo da página 18, que trata tema. Se fosse o caso, deveríamos es- sem usadas.20 Assim, embora não
especificamente do “bode emissário”. perar encontrar tal mudança refletida tenhamos respostas claras sobre a
Esse parágrafo diz o seguinte: em seus escritos depois de 1897. Isso real origem desse único parágrafo,
“Alguns aplicam o solene tipo, o teria mudado toda a estrutura esca- não há incerteza quanto à compre-
bode emissário, a Satanás. Isso não tológica, mudando o bode emissário ensão que Ellen G. White mante-
está correto. Ele não pode levar seus de Satanás para Cristo e o antitípico ve, durante toda a vida, a respeito
próprios pecados. Diante da escolha Dia de Expiação da era pós-1844 de da identidade do bode emissário
de Barrabás, Pilatos lavou suas mãos. volta à cruz. Porém, nenhum dos seus antitípico.
Ele não pode ser representado como escritos reflete tal mudança.
o bode emissário. O terrível clamor, Referências:
1
Ver Robert Helm, Andrews University Seminary
proferido com terrível ousadia pela
multidão inspirada por Satanás, au- “No fim de sua vida, Studies 32, nº 3 (Outono de 1994), p. 217-
226; William H. Shea, Journal of the Adventist
mentou cada vez mais e alcançou o Ellen G. White continuou Theological Society 13, nº 1 (Primavera de

trono de Deus: ‘Que o sangue dele identificando Satanás 2


2002), p. 1-9.
O. R. L. Crosier, Day-Star Extra, 07/02/1846,
caia sobre nós e sobre nossos filhos!’ como o bode emissário p. 37-44.
Ibid., p. 43.
escatológico”
3
Cristo era o bode emissário, o qual é 4
Ellen G. White, A Word to the “Litte Flock”
representado no símbolo. Somente (Brunswick, ME: James White, 1847), p. 12.
Ele pode ser representado pelo bode 5
___________, Manuscript 6, 2849, Ellen G.
enviado ao deserto. Somente Ele sobre Independentemente de como essa White Estate.
6
___________, Carta 8, 04/08/1850, in
quem a morte não tinha poder, estava questionável declaração se tornou Manuscript Releases, (Silver Spring, MG: White
habilitado a levar nossos pecados.” parte do Manuscript 112, em 1897, Estate, 1993), v. 19, p. 131, 132.
Essa declaração de 1897 diverge ela deve ser vista como excepcional.
7
Ellen G. White, Manuscript 15, 1850, E. G.
White Estate.
completamente de tudo o que Ellen Ela não oferece razão para ninguém 8
___________, O Grande Conflito, p. 266, 267.
G. White escreveu sobre o assunto cair na perigosa falácia da “genera- 9
Ibid., p. 422.
anteriormente (conforme foi visto lização”, pela qual uma ou poucas
10
Ibid., p. 485, 486.
11
Ibid., p. 658.
nas outras citações mencionadas exceções são generalizadas como to- 12
Ibid., p. 422, 485, 486, 658.
neste artigo), ou depois (de acordo da a regra.19 Os escritos de Ellen G. 13
Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, p.
com a edição de 1911 de O Grande White nos dão suficientes evidências 358; Signs of the Times 28/04/890, p. 258;
16/05/1895, p. 4, Mensagens Escolhidas, v. 3,
Conflito). Na edição de 1911, prepa- de que, no fim de sua vida, ela conti- p. 355, 356.
rada sob sua supervisão,16 ela falou nuou identificando Satanás como o 14
Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, p. 358.
da era pós-1844 como o “Dia de Ex- bode emissário escatológico.
15
___________, Manuscript 112, 1897.
16
Ver Arthur White, The Later Elmshaven
piação antitípico”,17 que culminará Porém, ainda somos deixados Years, 1905-1915: Ellen G. White
com a destruição final de Satanás, no com algumas questões óbvias: Aca- (Washington, DC: Review and Herald,
fim dos mil anos de Apocalipse 20, so escreveu Ellen G. White aquele 1982), v. 6, p. 302-337.
17
Ellen G. White, O Grande Conflito, p. 431.
como o antitípico “bode emissário”.18 surpreendente parágrafo? Como ele 18
Ibid., p. 422, 485, 486, 658.
Assim, não há nenhuma razão con- se tornou parte de um dos seus ma- 19
Ver David H. Fischer, Historians’ Fallacies:
vincente para se crer que ela tivesse nuscritos? Quando ele foi tirado do Toward a Logical of Historical Thought (Nova
York: Harper & Row, 1970), p. 103-130.
mudado sua opinião sobre o assunto. restante do documento? Sabemos 20
Algumas frases e expressões do Manuscript
apenas que a cópia reduzida é o que 112, 1897, aparecem no livro O Desejado
Como explicar? estava no arquivo quando a cole- de Todas as Nações, p. 733. Na página 18
do manuscrito, no parágrafo seguinte à
Os adventistas aceitam os argu- ção de seus escritos não publicados declaração problemática, está a seguinte
mentos bíblicos de O. R. L. Crosier, foi microfilmada, por questões de afirmação: “Aquela súplica foi ouvida. O
no sentido de que Satanás é o anti- custódia, em 1951. Contudo, nenhu- sangue do Filho de Deus caiu sobre seus
filhos e filhas em uma viva maldição
típico bode emissário que entra em ma informação adicional tem sido perpétua. Os filhos de Israel que escolheram
ação no tempo do segundo advento encontrada para ajudar a responder Barrabás no lugar de Cristo sentiram a
de Cristo. Ellen G. White não ape- àquelas questões. Portanto, qualquer crueldade de Barrabás enquanto o tempo
durar.” Com algumas poucas alterações, essa
nas partilhou da mesma visão, mas tentativa de respondê-las está no do- declaração aparece em O Desejado de Todas as
também a ensinou consistentemente mínio especulativo. Nações, p. 739.

MAR-ABR 2014 23
Ranko Stefanovic
Professor no

PROFECIA Seminário Teológico


da Universidade Andrews

A besta
de sete
cabeças
Análise minuciosa de um dos
mais difíceis capítulos da Bíblia

N
o ano passado, a renúncia do “durante pouco tempo”. Junto ao levado alguns a associá-lo ao sétimo
papa Bento XVI e a eleição oitavo rei, a besta será levada à des- rei. Assim, o recém-eleito papa Fran-
do seu sucessor, papa Fran- truição (v. 11). cisco é visto como o último papa no
cisco, ocuparam generosos espaços Durante as últimas décadas, al- ofício, antes que chegue o fim.
na mídia e na internet. As notícias guns intérpretes adventistas têm De onde vieram tais ideias? Pode-
publicadas despertaram entre os es- associado essas sete cabeças ou reis mos afirmar que, infelizmente, elas
tudantes das Escrituras um renova- aos sete papas sucessivos desde 1929 não resultam de cuidadoso estudo
do interesse na enigmática profecia – ano em que o Tratado de Latrão re- do texto bíblico, mas de manchetes
de Apocalipse 17:9-11, resultando conheceu a cidade do Vaticano como noticiosas passadas e atuais, que têm
no surgimento de algumas inventi- um estado soberano independente. sido pervertidas em predições bíbli-
vas propostas de interpretação. Durante algum tempo, João Paulo II, cas sensacionalistas. Fatos históricos
Apocalipse 17 descreve uma besta pontífice de 1978 a 2005, foi consi- e textos bíblicos foram criativamente
com sete cabeças (v. 3). Subsequen- derado o último papa. Entretanto, distorcidos a fim de que pudessem
temente, um anjo intérprete explica sua morte motivou uma reinterpre- ser ajustados a uma preestabelecida
a João o revelador que essas cabeças tação dessa profecia. O fato de que interpretação, carente do apoio de
Ilustração: Thiago Lobo

representam sete reis consecutivos Bento XVI tenha sido o sétimo papa qualquer evidência textual.
dos quais “cinco já caíram, um ainda eleito desde 1929 e seu pontificado Na realidade, o ponto de vista de
existe, e o outro ainda não surgiu” tenha durado relativamente pou- que a cura da ferida mortal papal
(v. 10). Quando ele vier, permanecerá co tempo (cerca de oito anos) tem ocorreu em 1929 é somente uma

24 MINISTÉRIO
suposição, não um fato histórico. O se alinhar com o oponente do povo grandemente surpreso ao ver a pros-
fato de haver sido concedido ao pa- de Deus e Seu remanescente fiel no tituta. Ele reconhece nela a mulher
pado um estado pequeno, soberano tempo do fim. Assim, Babilônia é um que havia fugido para o deserto a fim
e independente, dificilmente pode nome corporativo para uma entidade de escapar da perseguição do dragão
ser visto como cumprimento dessa apóstata no tempo do fim. durante o período profético dos 1.260
profecia, cujo escopo é de amplitu- anos na Idade Média (Ap 12:13, 14).
de mundial, conforme descrito em “As profecias do Em resposta ao assombro de João,
Apocalipse 13:11-18. Embora o ano de o anjo intérprete promete descobrir
1929 possa ser marcado como o início Apocalipse têm o “mistério” da prostituta e da besta
da cura da ferida mortal, o fato de que objetivos práticos: escarlate que a leva, bem como sua
tenham se passado 84 anos desde o ensinar-nos como viver função no tempo do fim (Ap 17:7).
Tratado de Latrão contradiz qualquer hoje, preparar-nos para João descreve a besta como “era e
evidência que apoie a visão de que a
ferida mortal papal tenha sido curada.
o futuro e nos motivar já não é. Ela está para subir do Abis-
mo” (V. 8). Essa identificação da besta
Além disso, a aplicação do “pouco a cumprir a missão” remete ao título divino “que era, que
tempo” (Ap 17:10) de governo do é e que há de vir” (Ap. 4:8). Assim,
sétimo rei aos oito anos do papado É importante notar que, inicial- essa identificação descreve a besta
de Bento XVI ignora o ainda menor mente, a prostituta é mencionada como uma paródia de Deus. Entre-
período de pontificado do papa João como sentada “sobre muitas águas” tanto, essa fórmula tripartite tam-
Paulo I, falecido 34 dias depois de (v. 1). Entretanto, quando João real- bém mostra que a besta tem passado
assumir o trono em 1978. Muitas mente a vê, ela aparece “montada através de três fases de existência.
outras inconsistências ajudam a con- em uma besta vermelha”. Isso não Por sua vez, isso liga a besta escarlate
cluir que essa adaptação da profecia devia causar surpresa, devido a uma de Apocalipse 17 à besta do mar em
bíblica é espúria e inconclusiva. característica literária que aparece Apocalipse 13 (Ap 13:1; 17:3).1
Portanto, convido você a se unir regularmente no livro (ver Ap 5:5, 6). Primeira fase: a besta “era”. Em
a mim em uma análise mais atenta Portanto, as águas e a besta são dois outras palavras, existiu no passado.
e um esforço para descobrirmos o símbolos que representam a mesma O “era” dessa fase se refere a suas ati-
significado do que Deus tencionou realidade. De acordo com Apocalipse vidades durante o período profético
com essa enigmática passagem. 17:5, as águas sobre as quais a prosti- de 1.260 dias ou anos (Ap 13:5). O
tuta foi vista simbolizam os poderes ano 538 a.D. marcou o início desse
A prostituta e a besta civis, seculares e políticos do mundo. período profético, quando a igreja
Apocalipse 17 é composto de Jeremias 51:13 mostra que “muitas da Europa ocidental, liderada pelo
duas partes: 1) A visão (vs 1-6), na águas” se refere ao rio Eufrates. Assim papado romano, estabeleceu-se co-
qual João o revelador observa uma como a antiga Babilônia dependia do mo poder eclesiástico e dominou o
mulher que é descrita como uma rio Eufrates para sua existência, no mundo ocidental ao longo da Idade
prostituta cavalgando a besta; e 2) a tempo do fim, Babilônia espiritual Média. Em nosso tempo, caracteri-
audição (vs 6-18), na qual o anjo in- também dependerá dos poderes civis, zado pela tolerância religiosa, tais
térprete explica a João o significado seculares e políticos do mundo para afirmações podem ser consideradas
da visão da prostituta e a besta na reforçar seus planos e propósitos. dissonantes e incorretas; mas a rea-
qual ela está montada. Além disso, a besta permanece co- lidade presente não pode apagar os
Durante a visão, João foi convida- mo símbolo de um poder ou sistema fatos históricos.
do a testemunhar o julgamento da político. O fato de que a prostituta es- Em seguida, a besta chegou à fase
grande prostituta que “está sentada teja sentada ou cavalgue sobre a besta “não é” de sua existência, em 1798,
sobre muitas águas”, enganando os mostra que esse sistema religioso terá quando em resultado dos eventos
habitantes da Terra (vs 1, 2). Essa controle sobre os poderes políticos da Revolução Francesa ela foi mor-
mulher é subsequentemente iden- mundiais no tempo do fim. Assim, talmente ferida (Ap 13:3). Isso signi-
tificada como “Babilônia, a grande: a profecia mostra que, no tempo do ficou o fim do poder político opres-
a mãe das prostitutas” (v. 5). Nas fim, haverá uma união político-reli- sor da igreja. A besta desapareceu
Escrituras hebraicas, o símbolo de giosa, quando os poderes políticos da durante algum tempo do cenário do
uma prostituta se refere ao povo de Terra se unirão ao sistema religioso mundo; porém, sobreviveu.
Deus em apostasia (Is 1:21; Jr 3:1; apostatado chamado Babilônia. Em terceiro lugar, com a cura da
Ez 16; 23; Os 3; 4). A descrição da ferida mortal, a besta ressurgirá para
prostituta em Apocalipse 17 mostra Três fases da besta a vida cheia de ira contra o povo fiel
que ela representa uma entidade que Na segunda parte do capítu- de Deus. Assim, a profecia nos mos-
no passado foi fiel a Deus, antes de lo, João é descrito como estando tra que o sistema político-religioso

MAR-ABR 2014 25
que dominou o mundo durante a que somente pode ser comunicado Judá no Antigo Testamento é fre-
Idade Média será revitalizado no pelo Espírito Santo, não por meio de quentemente referido como Monte
tempo do fim e dominará o mundo brilhantismo mental ou habilidade Sião (Sl 48:1-3; Is 29:8).
à semelhança do que fez no passado. intelectual (Tg 1:5). Somente através O anjo não se refere a montanhas
Essa restauração da besta encherá os dessa sabedoria divinamente comu- literais, considerando que imediata-
habitantes do mundo com respeito e nicada o fiel será capaz de discernir o mente ele explica a João que essas
admiração (Ap 13:8; 17:8). verdadeiro caráter do poder satânico sete montanhas realmente represen-
Portanto, Apocalipse 17 descreve nesse tempo do fim. tam “sete reis” (Ap 17:9, 10). Porém,
claramente a besta do capítulo 13 no Avançando em nosso estudo, pode- isso não pode ser interpretado como
tempo em que sua ferida mortal tem mos ver que a besta tem sete cabeças reis individuais, pelo menos por três
sido curada. Sobre essa besta ressur- como o dragão vermelho (Satanás) razões. Primeira, já estabelecemos
gida, João vê a prostituta Babilônia de Apocalipse 12:3. A existência da que o Apocalipse não trata com per-
do tempo do fim sentada. Assim, o besta permanece inseparável de suas sonalidades individuais, mas com
sistema religioso do tempo do fim sete cabeças. Ao longo da História, a sistemas. Segunda, esses sete reis
que desempenhará um papel-chave besta somente tem governado e sido são igualados a sete montanhas –
no conflito final é uma continuação ativa através das atividades de suas símbolo de reinos ou impérios. Ter-
do sistema político-religioso que in- cabeças. Quando uma delas recebe ceira razão, no Antigo Testamento,
juriou e oprimiu o povo de Deus du- um golpe mortal, toda a besta morre “reis” é outra expressão para reinos
rante o período profético dos 1.260 (cf Ap 13:12-14). Isso nos leva à ne- ou impérios (Dn 2:37-39; 7:17).
anos na Idade Média. cessidade de analisar mais atentamen-
O Apocalipse nos diz que a reli- te o que essas cabeças representam. Impérios sucessivos
gião mais uma vez dominará e con- “As sete cabeças são sete mon- Tendo como base a evidência bí-
trolará a política, como aconteceu tanhas sobre as quais está sentada blica, a interpretação que faz maior
no passado, embora seja por pouco a mulher” (Ap 17:9). Encontramos sentido é aquela segundo a qual as
tempo. Entretanto, há uma notável aqui um novo símbolo adicionado. sete montanhas, sobre as quais a
diferença entre seu poder durante o Primeiramente, somos informados Babilônia prostituta está sentada,
período medieval e o tempo do fim. de que a mulher está sentada “sobre significam os sete impérios sucessi-
Enquanto a besta que surgiu do mar, muitas águas” (v. 1); então, sobre vos que dominaram o mundo ao lon-
representando a igreja medieval, era “uma besta vermelha” (v. 3). Agora, go da História e por meio dos quais
um poder político religioso, a besta o anjo explica que ela realmente es- Satanás trabalhou em oposição a
escarlate ou vermelha é exclusiva- tá sentada sobre sete montanhas. Deus.2 Esses impérios tinham traços
mente um poder político. Esses dois As águas, a besta e as colinas são comuns de controle político-religioso
são distintos no tempo do fim. diferentes símbolos dos poderes po- e coerção, utilizados para causar da-
líticos, seculares e civis (cf. v. 15), os no ao povo de Deus e persegui-lo.
Sete cabeças quais proverão apoio popular para Como o anjo explica a João da
Isso nos leva ao nosso texto-chave Babilônia, como sistema religioso perspectiva de seu tempo, cinco
de Apocalipse 17:9-11: “Aqui se re- apostatado no tempo do fim. Deve- desses reinos caíram, um existe e
quer mente sábia. As sete cabeças são mos ter em mente que o Apocalipse o sétimo somente apareceria no
sete montanhas sobre as quais está não trata com personalidades indi- futuro. Conforme anteriormente
sentada a mulher. São também sete viduais, sejam elas do passado ou mencionado, esse texto tem gerado
reis. Cinco já caíram, um ainda exis- presente, mas de sistemas e poderes muitas interpretações especulativas,
te, e o outro ainda não surgiu; mas, do mundo – políticos ou religiosos. principalmente por causa da falha
quando surgir, deverá permanecer A palavra grega oros significa dos intérpretes em notar que o sig-
durante pouco tempo. A besta que “montanha”, não “colina”, como al- nificado desses reinos sucessivos foi
era, e agora não é, é o oitavo rei. É um guns tradutores sugerem, a fim de explicado a João no contexto de seu
dos sete, e caminha para a perdição.” mostrar que a cidade de Roma, situ- próprio tempo, não do nosso. Em
O texto abre com um chamado ada sobre sete colinas, é aqui iden- nenhum lugar do texto é indicado
à sabedoria (“mente sábia”) como tificada. Porém, desde que as sete que João tenha sido transportado a
pré-requisito para compreender o montanhas em Apocalipse 17 são outro tempo. O anjo simplesmente
significado das cabeças da besta. A contínuas, elas não podem ser in- explica o que ele já tinha visto ante-
sabedoria requerida por João nesse terpretadas literalmente. No Antigo riormente na visão.
texto é a mesma sabedoria mencio- Testamento, montanhas frequente- Portanto, a chave para decodificar
nada em conexão com o número da mente representam poderes ou im- o significado dessas sete cabeças está
besta (Ap 13:18). Essa sabedoria se périos mundiais (Jr 51:25; Ez 35:2-5; no sexto reino, que é descrito como
refere ao discernimento espiritual Dn 2:35). Por exemplo, o reino de “existe”. Isso se refere ao tempo de

26 MINISTÉRIO
João. Esse apóstolo viveu no tempo usada no Apocalipse para indicar bre- base a análise cuidadosa do texto,
da sexta cabeça – o Império Romano. vidade de tempo (Ap 6:11; 20:3). Em alicerçada sobre princípios de inter-
Os cinco que já haviam caído foram contraste, oligon não indica extensão pretação bíblica. A ideia de que as
impérios que governaram o mun- de tempo, mas é usada no sentido sete cabeças se referem a indivíduos,
do e causaram prejuízo ao povo de qualitativo. Por exemplo, Apocalipse representados pelos sete papas desde
Deus, antes do tempo de João: 1) 12:12 estabelece que, tendo sido ex- 1929, não está de acordo com o tex-
O Egito foi o poder que escravizou pulso do Céu, Satanás compreendeu to. Essa interpretação é especulativa
e oprimiu Israel, buscando destruí- que tinha apenas “pouco tempo” [oli- e sobreposta ao texto bíblico.
lo; 2) A Assíria destruiu e dispersou gon kairon]. Esse “pouco tempo” não O Apocalipse adverte contra acres-
as dez tribos de Israel; 3) Babilônia se refere à extensão de tempo, pois centar ou remover palavras da pro-
destruiu Jerusalém e exilou Judá; 4) milhares de anos já são transcorridos fecia do livro (Ap 22:18, 19). O livro
A Pérsia quase aniquilou os judeus desde a expulsão de Satanás do Céu. de Apocalipse é a Palavra de Deus
no tempo de Ester; 5) A Grécia opri- Essa é outra forma de dizer que o dada por meio de Cristo (Ap 1:2).
miu e tentou destruir os judeus por tempo de Satanás é limitado, igual Falsificar profecias do Apocalipse
meio de Antíoco Epifânio. O sétimo à pessoa sentenciada à morte que gera consequências de longo alcan-
reino que ainda não havia chegado compreende lhe restar apenas “pouco ce – perdição eterna. Àqueles que
se refere ao papado medieval que, tempo”, apesar do fato de que a exe- acrescentarem palavras às profecias
da perspectiva do tempo de João, se cução possa demorar muitos anos. do livro Deus acrescentará as pragas
manifestaria no futuro, depois da ali descritas. Essa falsificação tem
queda do Império Romano. que ver com distorcer e interpretar
Posteriormente, o anjo explicou “Interpretações erroneamente as profecias apocalíp-
a besta vermelha ou escarlate como ticas, com o propósito de adaptá-las
parte da fase do oitavo reino, o poder
especulativas das aos propósitos de alguém. Também
mundial que deve surgir no tempo profecias nunca está relacionada à imposição de ideias
do fim. Porém, é uma das sete ca- resultam em e pontos de vista especulativos não
beças previamente notadas. Embo- fortalecimento da fé” atestados pelo texto.
ra essa oitava cabeça seja uma das No trato com as profecias do Apo-
sete anteriores, é considerada um calipse, devemos deixar que a Bíblia
novo poder. Qual dos sete? Muito Esse mesmo significado para a interprete a si mesma. Devemos ser
provavelmente a sétima cabeça, que palavra oligon também é encontra- cuidadosos para não especular além
foi mortalmente ferida, mas reviveu do em Apocalipse 17:10. Portanto, do que a profecia nos revela. Toda
depois que a ferida foi curada. que o sétimo poder deve permanecer interpretação fundamentada em
Esse sétimo poder reaparecerá “durante pouco tempo” não significa notícias da mídia ou eventos atuais
como a oitava cabeça no tempo do extensão do tempo, curto período com o propósito de causar sensa-
fim e exercerá a mesma autorida- de existência, mas é uma forma dife- cionalismo popular é especulativa e
de exercida durante a Idade Média. rente de dizer que a existência desse subjetiva. Essas interpretações nun-
Durante o tempo da oitava cabeça, a poder é determinada por Deus e que ca resultam em fortalecimento da fé
besta escarlate carrega a prostituta ele terá seu fim, à semelhança do caso nas profecias. Na verdade, enfraque-
Babilônia. Vivemos agora no tempo de Satanás em Apocalipse 12:12. O cem a confiança nelas. Apropriada-
da sétima cabeça, pois a oitava ainda sétimo poder receberia uma ferida mente entendidas, as profecias do
não adquiriu seu poder. Entretanto, mortal: um evento que aconteceu na Apocalipse têm objetivos práticos:
ela aparecerá no cenário mundial no Revolução Francesa em 1798. ensinar-nos como viver hoje e nos
tempo do fim e imporá seu governo preparar para o futuro. Uma com-
aos habitantes da Terra. Advertência preensão correta da profecia também
Essa breve análise mostra que as nos inspirará e motivará a fim de
“Pouco tempo” sete cabeças sucessivas da besta de alcançar outras pessoas com a men-
Interpretações errôneas prevale- Apocalipse 17 representam sete rei- sagem do evangelho.
centes da frase: “deverá permanecer nos ou impérios que existiram na Referências:
durante pouco tempo” têm dito que História, em vez de reis individuais. 1
Para se ter uma visão diferente, ver Ekkhardt
o oitavo papa governará pouco tem- Cinco existiram antes do tempo de Mueller, “The Best of Revelation 17: A
Suggestion”, Journal of Seminary 10. Nº 1
po. O termo adjetival grego para a João, o sexto foi Roma (de acordo (2007), p. 38-40.
expressão temporal “pouco tempo” com o tempo de João) e o sétimo 2
William Johnsson, “The Saints’ End-
aqui utilizada é oligon, que significa foi o papado medieval que viria no Time Victory Over the Forces of Evil”, em
Symnposium on Revelation – Book 2, Daniel and
“um tempo curto” ou “pouco tempo”. futuro, da perspectiva do tempo de Revelation Committee Series 7 (Silver Spring,
Essa palavra é diferente de micron João. Essa compreensão tem como MD: Biblical Research Institute, 1992), p. 17.

MAR-ABR 2014 27
Eliezer Gonzalez
Candidato a PhD, em Teologia

HISTÓRIA CRISTÃ e Estudos Judaico-Cristãos,


Gold Coast Austrália

Lobos contra
o rebanho
Como e por que a liderança da igreja pós-apostólica
se afastou das crenças e práticas das Escrituras

Q uando mencionamos a his-


tória da igreja, pensamos no
período do Novo Testamen-
to, na Reforma, ou nos tempos atu-
(At 20:29). As cartas desse apóstolo
são evidências de primeira mão de
que os lobos atuavam e sérias divi-
sões ameaçavam a igreja.
Testamento, o que inclusive moti-
vou o conselho de Paulo a Timóteo
para que evitasse “conversas inúteis
e profanas e as ideias contraditórias
ais. Porém, não podemos esquecer do que é falsamente chamado conhe-
a era pós-apostólica imediata, vital Ataques filosóficos cimento” (1Tm 6:20). As posições
para a formação do cristianismo. Li- Dois fortes ataques filosóficos afe- gnósticas foram combatidas longa e
ções daquele período devem levar taram a igreja primitiva: Gnosticismo arduamente por líderes pós-canôni-
líderes cristãos de volta à Palavra e, e docetismo. Os gnósticos eram du- cos, desde Inácio a Tertuliano.
especialmente, a seu Autor. alistas cujo ensinamento dizia que Intimamente relacionado ao gnos-
No fim do primeiro século, to- o espírito era bom e a matéria, má. ticismo estava o docetismo, que tam-
dos os apóstolos estavam mortos. Consequentemente, o corpo era mau bém ensinava que o corpo era mau;
Haviam completado seu trabalho, e a alma era boa. O corpo era mortal. na verdade, tão mau que Jesus não
tinham dado a vida proclamando Mas, adquirindo conhecimento espe- teria tido um corpo real porque Ele
que o Salvador havia ressuscitado cial (gnosis), depois da morte, a alma era Deus. A aparência e experiências
dos mortos. deixaria o corpo e teria vida imortal, humanas de Jesus eram apenas ilu-
Tudo parecia funcionar bem, ape- no Céu. Somente poucos privilegia- são; inclusive Ele nem teria morrido
sar da forte oposição dos romanos, dos poderiam ter o conhecimento es- na cruz. Esses falsos ensinamentos
das filosofias pagãs e dos ataques pecial provedor dessa liberdade, e esse influenciaram alguns cristãos primi-
culturais. Mas, algumas das maio- conhecimento estaria escondido na tivos, mesmo no período apostólico,
res ameaças enfrentadas pela igreja Bíblia, em tipos, símbolos e mistérios. de tal modo que eles duvidavam da
surgiam dentro dela mesma, de “lo- As ideias gnósticas estavam realidade da encarnação. Por isso, em
bos vorazes” mencionados por Paulo presentes nos tempos do Novo sua primeira carta, João mencionou

28 MINISTÉRIO
que escrevia a respeito do Jesus real, acesso ao conhecimento especial, conhecido por seu método alegórico
“o que vimos com os nossos olhos, o então era importante aprender so- de interpretação. A simples narrati-
que contemplamos e as nossas mãos mente delas, desde que tinham a va da entrada triunfal de Jesus em
apalparam” (1Jo 1:1). Pouco depois, chave para a salvação. Se o corpo era Jerusalém (Mt 21:1-7), nas mãos
Inácio de Antioquia também argu- mau, que necessidade havia para a de Orígenes, tornou-se um veículo
mentou sobre a realidade de “Jesus ressurreição dele? Em vez disso, a al- para alegorizar que o jumento era
Cristo... que realmente [alethos] ma ascendia imediatamente ao Céu. o Antigo Testamento e o potro era
nasceu, alimentou-Se e bebeu; que De fato, não havia necessidade da o Novo Testamento.4 Embora seja
realmente foi perseguido por Pôncio segunda vinda de Jesus, desde que possível encontrar o método alegó-
Pilatos, que realmente foi crucificado não somente o corpo, mas todo o rico de interpretação no Novo Testa-
e morto... que, além disso, realmente mundo era mau. Se Jesus não havia mento, seus autores expuseram uma
ressuscitou da morte”.1 morrido nem ressuscitado, então is- hermenêutica restrita e consistente
A palavra traduzida como “real- so não podia ser a base da salvação, que está ausente em Orígenes e em
mente” é também raiz da palavra e o foco mudava para o que os seres outros pais alexandrinos.5
aletheia, significando “verdade”. As- humanos tinham a conhecer e o que Além dos métodos de interpreta-
sim, Inácio e outros defenderam que tinham que fazer para ser salvos. ção, os líderes da igreja enfrentaram
a encarnação corporal, crucifixão e Dessa maneira, a verdade da justi- outro problema: Estando engajados
ressurreição de Jesus foram reais e ficação pela fé estava obscurecida. com os intelectuais da época, na de-
verdadeiras. fesa da fé, eles obviamente usavam
As ideias gnósticas e docetistas fo- a linguagem e as ideias filosóficas de
ram propagadas por meio de muitos “Pressão popular, seu tempo. Esse engajamento não
“evangelhos” e vasta literatura que números e votos não foi o problema. A questão foi que,
surgiram no cristianismo a partir do decidem o que é a ao fazer assim, eles gradualmente
segundo século. Conforme um texto verdade. A Palavra do absorveram mais e mais daqueles
daquela época, falando sobre a cruci-
fixão, Jesus teria dito o seguinte: “Foi
Senhor deve reinar paradigmas filosóficos, intelectuais
e culturais. De fato, alguns desses
uma brincadeira, digo-vos, foi uma suprema” pais da igreja, como Atenágoras e
brincadeira.”2 Então, teria zombado Clemente, consideravam Platão um
dos cristãos que “proclamam a dou- Por essa razão, os “pais da igre- cristão honorífico, usado por Deus
trina de um Homem morto”.3 ja” tiveram um difícil trabalho em a fim de preparar o caminho para o
Gnosticismo e docetismo foram defesa do evangelho, conforme foi cristianismo.
ideias muito populares na igreja, por- proclamado pelos apóstolos. Entre-
que pareciam ter sentido. Se a salva- tanto, no geral, eles enfrentaram Uma igreja morta
ção era tão especial, então a pessoa o desafio, e escritores como Justi- A igreja cresceu rapidamente e
necessitava saber coisas especiais a no Mártir, Teófilo, Irineu e outros muitos pagãos foram batizados. Es-
fim de ser salva. Se Jesus era Deus, construíram fortes defesas dos en- sas pessoas professavam o cristia-
então não havia maneira pela qual sinos do Novo Testamento, sobre nismo, porém eram essencialmente
Ele realmente tivesse entrado neste temas como a natureza da humani- pagãs em suas crenças e seu estilo
mundo mau. Desde que a carne é dade, o estado dos mortos e o fim de vida. No fim do segundo século,
matéria e, portanto, é má, dizer que do mundo. Porém, mesmo nesses a grande maioria dos professos cris-
Jesus Se encarnou implicaria que escritos, foram lançadas sementes tãos no Império Romano não se reu-
Ele Se tivesse tornado pecaminoso. de futuros problemas. nia em templos nem nas igrejas em
Consequentemente, Jesus não teria A forma pela qual eles interpreta- casa, mas em cemitérios, e celebra-
sido realmente humano. Todos es- vam as Escrituras era parte do pro- vam a Ceia do Senhor em sepulturas,
ses ensinamentos estavam alinhados blema. Muitos deles, à semelhan- em meio a noitadas de embriaguez.6
com os paradigmas intelectuais e cul- ça de Clemente e Orígenes, viam Até mesmo alguns pagãos ficavam
turais da época, e somente pessoas a Bíblia como tendo vários níveis chocados com o comportamento
supostamente “ignorantes” discor- ocultos de significado requerendo desses cristãos, pois as pessoas civili-
davam deles. interpretações que, às vezes, eram zadas iam aos templos para orar. Te-
Assim, as duas correntes cau- muito forçadas. Abandonando o fun- mos o relatório de um prefeito pagão
saram sérias consequências ao damento claro e literal para compre- de uma cidade norte-africana que,
cristianismo. Buscar o significado ensão da Bíblia, eles descartaram os referindo-se ironicamente aos cris-
claro das Escrituras já não parecia limites hermenêuticos que dirigiram tãos, mencionou os cemitérios como
bom para muitos cristãos. Se ape- os escritores do Novo Testamento. lugares “onde todos vocês fazem su-
nas pessoas especiais podiam ter Orígenes, por exemplo, foi bem as orações”.7 Muitas das primeiras

MAR-ABR 2014 29
basílicas cristãs, incluindo a Basílica e mártires intercediam no Céu, então É importante que os cristãos se
de São Pedro, foram construíras so- a ideia de Jesus como nosso Interces- lembrem de que, fundamentalmen-
bre cemitérios.8 sor foi rebaixada, desde que havia ou- te, as pessoas ainda são as mesmas.
Por que os cristãos faziam isso? A tros meios de salvação com os quais Elas desejam aceitação e popularida-
razão é simples: Eles estavam apenas as pessoas podiam se relacionar.12 de. Sempre é mais fácil aceitar o pon-
praticando o culto tradicional aos Os méritos humanos, em termos to de vista da maioria, mas é preciso
mortos, como sempre haviam fei- de agradar aos santos na vida pós- coragem para que os líderes cristãos
to quando eram pagãos. Na mente, morte, começaram a ganhar mais e permaneçam em defesa dos princí-
eles criavam sua própria mistura de mais importância no cristianismo. pios da Palavra de Deus. Se houve
cristianismo com o estilo de vida e De fato, a igreja necessitou encon- um tempo em que líderes cristãos
crenças do paganismo. trar formas para interpretar a Bíblia, capitularam no erro, hoje eles devem
Durante 200 anos, os líderes da porque as antigas não funcionavam permanecer ao lado de Deus.
igreja toleraram esse culto “cristão” para os tempos “modernos”. De todas as importantes lições
aos mortos, porque pouco eles po- A grande pergunta é: Depois de que devemos aprender da igreja cris-
diam fazer. Quando começaram a ter lutado contra essas coisas por tã, uma se destaca: Pressão popular,
escrever contra ou excomungar a mais de 200 anos, por que os líderes números e votos não decidem o que
prática, era muito tarde. A maioria da igreja cederam tanto? Por que eles é a verdade. Muito menos o faz a
das pessoas não dava ouvidos. Esta- traíram as crenças do Novo Testa- eminência das pessoas que defen-
vam acostumadas com o que então mento, anteriormente estabeleci- dem e querem impor seus pontos de
era simples tradição “cristã”. Quando das e defendidas com muita luta? vista particulares. Não é a antigui-
Agostinho, bispo de Hipona, tentou Os fatos de que eles interpretavam dade de crenças e práticas que deci-
reformar essas práticas, o povo se a Bíblia alegoricamente e que haviam de o que é a verdade. A Palavra do
queixou: “Por que agora? Aqueles que absorvido muito dos paradigmas Senhor deve reinar suprema. Jesus
permitiram isso no passado certa- filosóficos de seus dias podem ser deve ser o Senhor em nossa vida
mente não eram pagãos.”9 Eventu- contados como fatores que levaram à e na vida da igreja. Esse conceito
almente, bispos como Ambrósio e capitulação, mas não explicam tudo. não é menos relevante para a igreja
Agostinho decidiram usar outra es- Em última instância, não foram hoje, do que foi quando viveram os
tratégia: em vez de banir as práticas essas coisas nem gnosticismo ou do- apóstolos.
populares, manteriam tudo sob con- cetismo que causaram a derrocada.
Referências:
trole.10 Assim o culto semi-cristão A razão fundamental pela qual os lí- 1
Inácio, em The Apostolic Fathers: Greek Texts
aos mortos foi transformado no cul- deres da igreja naufragaram pode ser and English Translations, ed. Michael W.
to oficial aos santos. A oferta da Ceia encontrada nos números. Quando Holmes (Grand Rapids, MI: Baker Academic,
2007), p. 220, 221.
do Senhor nas sepulturas dos santos viram que os pontos de vista popu- 2
Marvin Meyer, trad., The Second Discourse
se tornou a oferta da Missa pelos lares poderiam ganhar, eles toma- of Great Seth, 60.13, em The Nag Hammadi
mortos no altar das grandes igrejas, ram o caminho mais fácil. A falta Scriptures: The Revised and Update Translation
of Sacred Gnostic (Nova York: Harper Collins,
sobre o corpo dos santos que haviam de coragem andou de mãos dadas 2008), p. 482.
sido sepultados novamente.11 com o desejo de ser aclamados pelas 3
Ibid., 60.20, p. 482.
As mudanças físicas progressivas pessoas. Acomodaram-se aos pontos
4
Orígenes, Commentary on the Gospel of John,
v. 10, p. 18.
no culto, realizadas nos séculos 4 e de vista e práticas do grande número 5
Algumas parábolas de Jesus, como a parábola
5, corresponderam à aceitação de de membros da igreja. do semeador (Mc 4:1-20), são interpretadas
mudanças para os ensinos da igre- alegoricamente. Paulo também usou
interpretações alegóricas em muitas partes da
ja. Mas esses “novos” ensinamentos Lições da História epístola aos gálatas (Gl 4:21-31).
foram aqueles nos quais a maioria Houve pessoas corajosas que pro- 6
Ver Cartas de Agostinho, 29, p. 10, 11; Sermon
dos cristãos havia crido durante mui- testaram. Vigilantius foi uma dessas 311, p. 5; Paulino de Nola, Poem 27, p. 542-
547, 595.
to tempo. O culto aos santos levou pessoas. Ele se opôs na Itália à práti- 7
A cta Purgationis Felicis 5, em Optatus the
a igreja a reduzir seu foco sobre a ca cristã do culto aos mortos. Como Donatists, (liverpool: Liverpool University
ressurreição na segunda vinda de resultado, Jerônimo o chamou de Press, 1997), p. 174.
8
R amsay MacMullen, Journal of Biblical
Jesus, considerando que os márti- “insano”.13 Nada do que ele escreveu Literature 129, nº 3 (2010), p. 597-613.
res e santos já estavam no Céu com foi preservado, e tudo o que se sa- 9
St. Augustine: Select Letters, (Londres:
Deus; e a maioria dos cristãos acre- be a respeito dele é proveniente dos Heinemann, 1965), p. 81, 82.
10
Confissões de Agostinho 6, p. 2.
ditava que, quando eles morressem, escritos de seus inimigos. Mas, em 11
Robin M. Jensen, Commemorating the Dead:
iriam se juntar àqueles mártires e todas as épocas, o povo de Deus tem Texts and Artifacts in Context – Studies of
santos. Com isso, a igreja também permanecido firme em favor do que é Roman, Jewish, and Christian Burials (Berlin:
Walter de Gruyter, 2008), p. 120.
renunciou à sua longa batalha contra certo, e sabemos que Ele terá um povo 12
Cipriano, Letter 21.3.2.
o dualismo platônico. E se os santos fiel até o fim da história do mundo. 13
Jerônimo, Vigilantius 5.

30 MINISTÉRIO
MURAL

JUBILADOS 2013
“Combati o bom combate, completei a carreira... Agora, a coroa da justiça me está
guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele dia...!”

EDVALDO RODRIGUES REGO – Nascido em Itapecuru, MA, é casado com Raimunda Silva Rego e tem
dois filhos: Ednalva e Edvaldo Júnior. Trabalhou como colportor (1971-1976) e obreiro bíblico (1976-
1979) e, após concluir o curso teológico no ENA, iniciou as atividades pastorais, em 1984, na Missão
Baixo-Amazonas. Em 1995, foi transferido para o Maranhão, onde trabalhou até ser jubilado.

GEZER PEREIRA DO LAGO – Paranaense de Cornélio Procópio, o pastor Gezer iniciou seu ministério
no segundo semestre de 1986, na Associação Amazônia Ocidental, Campo no qual permaneceu até
à jubilação no ano passado, depois de pastorear igrejas nos estados de Rondônia e Acre. Em 1973,
casou-se com Dagmar de Souza Lago e, dessa união, nasceram os filhos Alessandra, Andreia, Aleandra
e Gezer Júnior. “Ao lançar um olhar retrospectivo sobre meu ministério”, diz o pastor Gezer, “não tenho
dúvida de que ‘até aqui o Senhor me ajudou’.”

JORGE PEDROSA GUIMARÃES – Nasceu em Manaus, AM, onde foi batizado em dezembro de 1965. Em
1978, concluiu a Faculdade de teologia no ENA, onde conheceu Raimunda Francisca Martins Evangelista,
com quem se casou tornando-se pai de Leila Cássa, Joergeane Kelli e Lílian Janne. O pastor Pedrosa ini-
ciou suas atividades no estado de Roraima, na então Missão Central-Amazonas. Nesse Campo, também
trabalhou como diretor do Departamento de Jovens e pastoreou outras igrejas. Também trabalhou na
Associação Baixo-Amazonas. Em 1988, concluiu o mestrado em Teologia no Unasp. Jubilou-se como
pastor do distrito de Codajás, AM.

WALVETRUDE ANDRADE DE CARVALHO NINO – É pernambucano de Recife, porém completou o


Ensino Fundamental e Ensino Médio em Salvador, onde se converteu após a leitura do livro A Reconquista
do Homem e a influência do gerente da empresa na qual trabalhava. Terminou seu preparo teológico
no ENA, em 1978, e o mestrado em 1988, no Unasp. Iniciou a carreira pastoral em Salvador, BA, como
obreiro bíblico. Nesse estado, cumpriu seu ministério, pastoreando igrejas e trabalhando como professor
da Faculdade de Teologia do Iaene.
Fotos: Cortesia dos entrevistados

ANTÔNIO FRANCISCO RIBEIRO – Nasceu em Palmeirais, PI, em 1950, sendo batizado em 1973.
Ingressou na colportagem e, em 1976, iniciou o curso teológico no ENA. Em 1981, começou o trabalho
ministerial na Associação Amazônia Ocidental, onde pastoreou igrejas e liderou o Departamento de
Colportagem. Transferido para a Missão Costa-Norte, liderou vários departamentos. Posteriormente,
liderou igrejas na Associação Espírito-Santense, onde foi jubilado. De seu casamento com Julimar Cesário,
nasceram os filhos Naasom, Nara Júlia e Nadlene.

32 MINISTÉRIO
ATÍLIO MENEGAZZO – O pastor Atílio nasceu em Conselheiro Pena, MG, tendo sido batizado aos
12 anos, em 1962. Estudou no Edessa, como aluno bolsista e, em 1974, em Belo Horizonte, tornou-se
colportor com a esposa, Dilcéa Scardini Menegazzo. Em 1975, ingressou na Faculdade de Teologia do
Unasp-SP, de onde saiu em 1978 para exercer o ministério durante 35 anos, pastoreando igrejas no
estado de Minas Gerais. O casal Menegazzo tem três filhos: Beverly, Cleber Roger e Eiblyng, e três netos.

ELIAS VIEIRA DOS SANTOS – Baiano de Itabuna, é casado com Inalda Maria Porto Santos, de cuja
união nasceram os filhos Jefferson, Wandenberg e William. Durante todo o seu ministério pastoreou
igrejas nas Associações Mineira Central e Mineira Leste, onde recebeu a jubilação.

EURICO MANOEL DE OLIVEIRA – Em 1965, a colportora Wilma Kukatto trabalhou em Guaíra, SP, e
costumava colocar folhetos dentro de garrafas, jogando-as no Rio Grande. O menino Eurico achou uma
delas contendo um folheto sobre a vinda de Jesus. Guardou-o, depois de lê-lo, e passou a frequentar
a igreja escondido dos pais. Descoberto, foi rejeitado, mas se manteve firme e foi batizado em 1967.
Dirigiu-se então para o Iasp (Unasp-3), e ali fez o Curso Fundamental e o Ensino Médio. Em 1980, concluiu
o curso teológico no ENA. Trabalhou como assistente e diretor de colportagem e outros departamentos
em vários Campos, e pastor de igrejas na Associação Espírito-Santense, onde foi jubilado. Casado com
Balbina Oliveira, tem duas filhas: Keila e Karla.

JOE LUIZ DE BARROS NASCIMENTO – O pastor Joe nasceu no Rio de Janeiro, em 1951 e foi batiza-
do em 1969. Casou-se com Maria Doralice, de cuja união nasceram os filhos Evandro, Kelly e Poliana.
Depois de ter sido militar e membro da igreja batista, o pastor Joe se tornou adventista e ingressou
na colportagem. Iniciou os estudos teológicos no ENA, onde se formou em 1978, trabalhando a partir
de então, durante 35 anos, como pastor de igrejas nas Associações Rio de Janeiro e Rio Fluminense.

JOSÉ DA ROCHA CAMÕES NETO – Tendo sido inicialmente colportor, em 1974, o carioca José da
Rocha Camões Neto foi para o ENA, em 1976, cursar Teologia. Concluindo seu preparo ministerial, ini-
ciou a carreira como obreiro bíblico, na Missão Costa-Norte, trabalhando depois como pastor de igrejas,
secretário ministerial e evangelista. Posteriormente, pastoreou igrejas nas Associações Rio de Janeiro e
Sul Espírito-Santense, onde foi jubilado. Do casamento com Milca Almeida Camões nasceram os filhos
José, Bonnye e Samir.

IGNÁCIO DA CONCEIÇÃO – Nascido em São Mateus, ES, o pastor Ignácio fez os cursos Fundamental e
Médio no Edessa. Formou-se em Teologia e fez mestrado, respectivamente no ENA e no Unasp. Também
possui formação em Pedagogia, pós-graduação em Metodologia do Ensino Superior e mestrado em
Educação. Iniciou seu trabalho na área educacional, em 1987, na Associação Bahia, onde pastoreou
igrejas, o que também fez nos estados de Sergipe, Alagoas e Espírito Santo. Foi diretor acadêmico no
ENA, capelão e professor nas faculdades da Fadminas, Lavras, MG. Do casamento com Iauda Novaes
nasceram dois filhos: Silas e Loide.

ZACARIAS GOMES DOS SANTOS – Nascido em São José do Jacuípe, BA, foi batizado em São Paulo,
no ano 1966, aos 16 anos. É formado em Pedagogia, pós-graduado em Direito Educacional, e concluiu o
curso de Estudos em Religião, em 1994, no Rio Grande do Sul. Foi professor, secretário e diretor de esco-
las, supervisor escolar, orientador educacional e diretor do Departamento de Educação, nas Associações
Paulistana, Paulista Leste, Sul-Rio-Grandense e Rio de Janeiro. Em 2010, foi ordenado ao ministério pastoral,
na Associação Espírito-Santense, onde pastoreou dois distritos. Recebe a jubilação, após 37 anos de trabalho.

MAR-ABR 2014 33
RECURSOS
MEXA-SE: O QUE MIL IGREJAS REVELAM
PENSE BIBLICAMENTE SOBRE CRESCIMENTO ESPIRITUAL
John MacArthur (editor), Editora Hagnos, São Paulo, Greg L. Hawkins e Cally Peterson, Editora Vida, São
SP, e-mail hagnos@hagnos.com.br, 541 páginas. Paulo, SP, tel.: (11) 2618-7000, www.editoravida.com.br,
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Com a Bíblia nas mãos, John Neste livro, o leitor encontrará


MacArthur e outros autores material suficiente e profundo,
do The Master’s College preparado progressivamente
confrontaram as falsas visões em três partes: Como uma
de mundo que dominam a estrutura nova e mais relevante
vida pós-moderna. Os autores para o crescimento espiritual
apresentam modelos para é apresentada; como essa
cultivar uma postura bíblica em estrutura facilita o crescimento
áreas como adoração, psicologia, espiritual; e como pastores e
gramática, ciência, educação, líderes podem servir com mais
leituras, governo, economia eficiência aos membros de suas
e literatura. Este livro é útil respectivas igrejas.
para todo leitor que esteja empenhado em pensar
biblicamente.

UMA IGREJA SEM PROPÓSITOS


O CAMINHO DE VOLTA
Jorge Henrique Barro (organizador), Editora Mundo
Barry Gane, Casa Publicadora Brasileira, Tatuí, SP, tel.:
Cristão, São Paulo, SP, tel.: (11) 5668-7000,
0800 979 06 06, e-mail: sac@cpb.com.br, 112 páginas.
www.mundocristao.com.br, 234 páginas.

O autor apresenta informações Este é um livro a favor de um


preciosas para fechar “a ministério pastoral e uma
porta dos fundos” da igreja e igreja local profundamente
escancarar a “porta de entrada”, bíblicos, relevantes para o
atraindo com amor aqueles que contexto presente. A tensão
abandonaram a casa do Pai. Ele entre fidelidade às Escrituras
ainda explora as razões pelas e a relevância no presente é
quais tantos jovens decidem o grande desafio da vida e da
partir, analisa a complexidade missão da igreja. O diferencial
da mente adolescente e oferece proposto neste livro nos convida
estratégias efetivas para lidar à busca incessante de uma nova
com o fenômeno da apostasia. espiritualidade comunitária e
ministerial.

34 MINISTÉRIO
Herbert Boger DE CORAÇÃO A CORAÇÃO
Secretário ministerial associado da Divisão Sul-Americana

Como está seu coração?

N
“ osso coração está confiante no Senhor.” Es- importância que a figura do mentor teve para eles em
sa é a resposta que damos, minha esposa, determinada fase de sua carreira profissional.
Elizabete, e eu, com William e Elise, nossos De acordo com John Crosby, executivo norte-ameri-
filhos de oito e seis anos respectivamente, sempre que cano citado pela Sociedade de Gerenciamento e Recursos
somos interrogados sobre o novo desafio como secretário Humanos, “ter um mentor significa ter mais ideias dis-
ministerial associado da Divisão Sul-Americana. poníveis, ter um ouvido que o ouça e um estímulo para a
Temos nossa vida biblicamente fundamentada em três direção correta”. Todo Davi deveria ter um Natã que lhe
palavras que encontramos no Salmo 37:3, 5, 7: “Confia”, abrisse os olhos. Um grande pregador chamado Pedro,
“entrega” e “descansa”. Amamos esta Igreja e dedicamos que levou à conversão “cerca de três mil pessoas” em um
nossa família ao serviço dela. Ver famílias, líderes e pasto- sermão, teve em Jesus o mentor que sempre acreditou
res felizes e apaixonados por Jesus é nossa maior alegria. no que alguém é capaz de se tornar. O apóstolo Paulo
No livro El Ministério Pastoral, à página 21, Ellen G. teve em Barnabé alguém que se arriscou pela certeza de
White escreveu o seguinte, a respeito das características canalizar todo potencial para a direção certa.
de todos aqueles que se dispõem a atender ao chamado “Feliz é o pastor que tem um fiel Arão e Ur para fortale-
divino para o ministério: “Queremos homens que cami- cer suas mãos quando se tornam cansadas, e sustentá-las
nhem com Deus diariamente, que tenham uma conexão por meio da fé e oração. Tal apoio é uma ajuda poderosa
viva com o Céu. O Senhor não aos servos de Cristo em Sua
pode trabalhar com autossu- obra, e frequentemente fará a
ficientes, que se exaltam a si “O pastor que tem um colega causa da verdade triunfar glo-
mesmos. O eu deve ser escon- a quem possa abrir o coração, riosamente” (Ellen G. White,
dido em Jesus.” com sinceridade e confiança, Testemunhos Para a Igreja,
“Como está seu coração?”, foi v. 4, p. 531).
a pergunta feita por um pastor a
é mais feliz” Em certa ocasião, Ellen G.
outro colega. A resposta foram White viveu uma experiência
lágrimas, durante alguns minutos. Em seguida, o desa- que podemos imitar. Assim ela a descreveu: “Eu senti
bafo: “Não aguento mais!” Logo depois, muitas coisas em minha alma que seria um grande privilégio para
vieram à tona. Quase no fim da conversa, calmo e agra- mim reunir alguns servos experimentados de Deus e nos
decido, com seus sentimentos drenados e pensamentos unirmos em oração, para solicitar ajuda e força de que
organizados, ele disse: “Eu jamais teria falado nada do tanto necessitava. Segui o desejo ardente do meu coração.
que falei, se a pergunta: ‘Como está seu coração?’ não Todos os pastores presentes, unidos em oração. O Senhor
fosse feita.” escutou essas orações. Sentimo-nos muito contentes” (El
O pastor que tem um colega com quem possa con- Ministério Pastoral, p. 57).
versar livremente, abrir o coração com sinceridade e Certamente, o pastor terá seus talentos multiplicados,
confiança, é mais feliz. Ao mesmo tempo terá aumenta- se tiver um grupo de dois ou três orando frequentemente
do seu sentimento de realização pessoal, dispondo-se a com ele e em favor dele. Tenha também um mentor, colega
ouvir outro colega. O psicólogo Levinson realizou uma de ministério, amigo, leal e confiável. Como resultado dessa
pesquisa entre profissionais bem-sucedidos em várias interação, que as bênçãos celestiais fluam através de você
áreas, nos Estados Unidos. Todos enfatizaram a decisiva e alcancem muitas pessoas.

MAR-ABR 2014 35
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semana
santa
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